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3.

TEORIA NEUROCULTURAL DAS EMOÇÕES


As descobertas de Ekman apontam tanto para os aspectos
inatos e universais, ou seja, que já estão configurados antes do
nascimento e são encontrados em toda a espécie, quanto para
aspectos aprendidos e influenciados pela cultura, sociedade e
pelos grupos.
Dentro dos aspectos inatos e universais, encontramos
componentes de expressão (uso) e reconhecimento de algumas
expressões emocionais, bem como o mapeamento de alguns
gatilhos/contextos que levam à experiências emocionais
específicas, isto é, a percepção de perda de algo que se estima,
nos leva a experienciar
tristeza; a percepção de
bloqueio e/ou injustica,
nos leva a experienciar a
raiva; com a percepção de
que algo é tóxico e/ou
pode nos contaminar,
experienciamos o nojo,
por exemplo.
Naquilo que diz respeito aos aspectos aprendidos,
encontramos, principalmente, moderadoras da expressão e da
experiência emocional. Em outras palavras, a cultura que uma
pessoa foi criada e também o grupo (família, amigos, colegas) em
que ela se encontra, influenciam a forma como ela demonstra e
sente as suas emoções. Existem sociedades e estururas sociais que
valorizam e/ou condenam determinadas emoções, em especial,
quando são exibidas em público. Dessa forma, algumas
expressões emocionais, em determinados contextos, podem ser
amplificadas, reduzidas ou mascaradas. Assim como a própria
experiência emocional pode ser acompanhada de sensações

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positivas ou negativas, como o orgulho, a vergonha ou culpa por
ter sentido ou demonstrado determinada emoção durante uma
situação.

“Muito do que escrevi aqui foi influenciado por meus estudos


interculturais de expressão facial. A evidência mudou para sempre
minha perspectiva da psicologia, em geral, e da emoção, em
particular. Essas constatações, em lugares tão diversos como
Papua-Nova Guiné, Estados Unidos, Japão, Brasil, Argentina,
Indonésia e a ex-União Soviética, conduziram minhas idéias a
respeito da natureza da emoção.”

(Ekman, 2011, p. 19)

Um estudo extenso
de Ekman (1972), que
gosto de citar, comparou
as expressões emocionais
de japoneses e norte
americanos que foram
submetidos a assistir
filmes com elementos
para eliciar emoção
(como cenas de acidentes
ou cirurgias). Em resumo,
ele percebeu que quando
estavam sozinhos, ambos
os grupos apresentavam
as mesmas expressões,
Figura 6 - Site do Paul Ekman Group
mas quando havia alguém
por perto, os japoneses tendiam a mascarar as emoções negativas
com a utilização do sorriso.

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“Quando sozinhos, japoneses e norte-americanos exibem as
mesmas expressões faciais ao assistir a filmes de cirurgias ou
acidentes, mas quando um cientista estava perto, os japoneses,
mais que os norte-americanos, mascaravam as expressões
negativas com um sorriso. Em particular, expressões inatas; em
público, expressões controladas”

(Ekman, 2011, p. 22)

Figura 7 - Ekman, P. (1972). Universals and Cultural Differences in Facial Expressions of Emotions. In Cole, J.
(Ed.), Nebraska Symposium on Motivation (pp. 207-282). Lincoln, NB: University of Nebraska Press.

Consultando as pesquisas de Ekman, podemos dizer que ele


começou trabalhando com 5 emoções básicas (alegria, medo,
raiva, tristeza e nojo), passou a trabalhar com 6 (onde acrescentou
a surpresa) e, em alguns trabalhos, investigou o par nojo-
desprezo. Mais adiante, principalmente, pelos anos 80, novas
evidências separaram o par nojo-desprezo e hoje, a teoria
compreende 7 emoções básicas universais que possuem
expressões partilhadas por toda a nossa espécie: alegria, tristeza,
raiva, nojo, medo, surpresa e desprezo.

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Figura 8 - 2018 – CICEM:FEB 2.0 - As Faces das Emoções Básicas (respectivamente, da esquerda para a direita e de
cima para baixo: face neutra, raiva, desprezo, nojo, medo, alegria, tristeza e surpresa).

Outro ponto importante sobre a visão de Ekman sobre as


emoções humanas é o agrupamento delas enquanto famílias de
afetos, isto é, as terminologias utilizadas para falar das 7 emoções
básicas, fazem referência a outros estados relacionados que
possuem variações na intensidade da emoção. Em outras
palavras, dentro da alegria encontramos emoções positivas
relacionadas aos prazeres sensoriais, diversão, alívio, orgulho,
encanto etc; Dentro do nojo encontramos descontentamento,
desagrado, repugnância, asco, abominação etc; Dentro do medo
encontramos inquietude, ansiedade, temor, desespero, pânico,
terror etc; Dentro da raiva encontramos irritação, frustração,
rancor, fúria etc. Dentro da tristeza encontramos
desapontamento, desânimo, impotência, desalento, pesar etc.

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Figura 11 - Alegria - http://atlasofemotions.org/

Figura 10 - Nojo - http://atlasofemotions.org/

Figura 9 - Medo - http://atlasofemotions.org/

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BÔNUS – GESTOS DAS MÃOS
Em 1972, Ekman abordou 3 classes de gestos das mãos que
podem ser mensurados e interpretados (emblemas, ilustradores
e adaptadores), sendo que explorou os aspectos de origem,
codificação e utilização.
A origem se refere o comportamento não verbal que,
inicialmente, começou a ser integrado e fazer parte do repertório
de alguém. Ele distingue 3 tipos de origens: inata ou construída
no sistema nervoso; interações constantes da espécie frente ao
ambiente; e experiências que variam conforme a cultura, classe,
grupo, família ou indivíduo.
A codificação diz respeito à correspondência entre o ato e o
seu significado, sendo que esse significado pode ter variações
mais amplas ou mais específicas. A níveis de semiótica, Ekman diz
que eles não se assemelham a um significante, mas são um
significante.

Figura 12 - Chakraborty, Debasrita & Garg, Deepankar & Ghosh, Ashish & Chan, Jonathan. (2018). Trigger Detection
System for American Sign Language using Deep Convolutional Neural Networks. 1-6. 10.1145/3291280.3291783.

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