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O Desejo
O Desejo
Algumas coisas deveriam ficar, para o resto da vida, do jeito que um dia foram, do melhor jeito que
um dia as vimos. A minha mãe deveria ter hoje e sempre aqueles cabelos castanhos e lisos,
brilhantes como seus olhos, como no melhor momento em que a vi. Aí minha irmã teria sempre
dezesseis anos. E eu estaria ainda voltando para casa, depois da aula que deveria ser eterna com a
professora Alba Valéria, e limpando o pé no batente da porta, o olho comprido no corredor que
corria até a cozinha. E não agora, como estou agora, parado diante do local onde havia um batente e
uma porta que dava para um corredor. Ao invés de levar até a cozinha, o corredor leva os meus
olhos até os olhos do homem que, atrás do balcão da venda instalada onde era a sala de visitas de
minha casa, com os pés no piso de cimento onde esparramei meus times de botão, pergunta se
desejo alguma coisa. Respondo apenas que desejo minha vida por inteiro, com meu pai e minha
mãe dentro dela. Esse é o meu desejo, se não for pedir demais.