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Ministério da Justiça
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MJU00012830
R4821)
DE.P.LEGAL

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H

a
DIREITO ADIHINISTRATIVO
BRASILEIRO

(Obra premiada e aprovada pela Resolução


Imperial de 9 de Fevereiro de 1861 para
uso das aulas da Faculdadede Direito do
Recite e S. Paulo)

PELO

DR. ANTON10 JOAQUIM /BIBA$Ji

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
#' SERVIÇO DE DOCUMENTAÇÃO
1968

lq.J. N.T
Sol"viço do Dtlcumontaçáo

BÍBLIA
AC. J
seRViçO oc.DocuMeNTAÇÃO
BIBLIOTECA
N!

qo $'z é;.f
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P

APRESENTAÇÃO
r
Na bibliografia jurídica brasileira avulta, no juízo de todos os
especialistas, a obra da Conselheiro Àntõnio Joaquim Ribas. Lou-
vada por todos, consideradaoracular por muitos, é aqui apresentada
a sua mais famosa produção doutrinária: O Z)íz'eito .Admínisfrafípo.
Ribasnasceuno Rio de Janeiroa 28 de abril de 1818,conformev
comprovam o diploma e os documentos existentes no arquivo da
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, cuidadosa-
mente examinados pelo prof. Jorre Americano, no melhor estudo
publicado até agora sôbre o grande jurista. (*)
Recebeu
no batismoo nomede Simplício,alteradona crisma
para Antõnio Joaquim, provàvelmente em homenagem ao pai,
Àntõnio Joaquimde Macedo. O apelido Ribas era de origem
materna .

Sua biografia não apresenta nenhum episódio dramático nem


pitoresco. Teve a vida simples e discreta de um grande estudioso.
Em vão se procurarános grandesrepositóriosda vida boémiados
estudantes qualquer anedota a respeito de sua vida académica.
Segundo o testemunho de contemporâneos,era afetuoso, mas
tímido. Fixou-se muito cedo em São Paulo, onde prestou os
exames preparatórios em 1835.
Data dessaépoca sua aproximação e amizade com Júlio Frank,
professor .do curso anexo à Faculdade de Direito, que introduziu
't

no meio cultural paulista o gôsto pela cultura germânica, expressão

(+) lonGE AMERICANO:O Canse!/leira Ribas(Àntõnio Joaquim Ribas) .


São Pavio, Fac. de Direito. 1944. Enganam-sea respeito da data de nasçlmento
todos os biógrafos: BLAKE, ZZcíon. bib/foge., 1, 1883. P. 203; SpEncKn
VAupnÉ: ]i/emódas para a Ãísfóría dal .Academia cle São.Paulo, São Paulo,
1924.1. 450; 'Ç?VAinEMAn
FERREIRO:
Biogr.. na ]?eu. Fac. Z)Ir. (!e São
PauZo, V, 24.
6

que era do meio universitário alemão. Daí um invulgar conheci aula e nósjá começávamos
a chasquear
daquelatão
mento de autores germânicos a par de uma forte formação clássica, grande inteligência engarrafada, quando no quarto dia
Colaborou com Frank na elaboraçãodo seu compêndiode História. êle se nos apresenta e nos diz que debalde havia procurado
Não é possível deixar de considerar essa passagem pela ciência
um livro que nos pudesseservir de compêndio;mas que
histórica como uma preparação excelentepara sua formação jurí- não sendopossível que, por êssemotivo, se deixassede
estudar a matéria; êle se havia lembrado de organizar uns
dica, na consagrada fórmula de Savigny. Não só colaborou com
o mestre na feitura do compêndio, como ainda foi seu sucessor. apontamentosque êle nos daria ou que êle nos iria dando
após a realização de provas públicas de competência. para copiar. e que seriam êsses apontamentos os que
teriam de nos servir de compêndio. Então tirou do bôlso
De seu ensino na cadeira no curso anexo da Faculdade, diz
os tais apontamentos. e desde então no-los principiou a
ALMEIDA NoGUEIR.à que «fêz da fiístória um estudo verdadeira- ler e. ao mesmo tempo, a no-los explicar. Quando a
mentecientífico, contribuindo com muita eficáciapara o progresso aula terminou o homem estava conhecido e soberanamente
da mentalidade brasileira. > ( ')
julgado. Os seus apontamentos eram um verdadeiro
Recebeuo grau de bacharelem 1839,doutorando-seem 1840. primor didático. onde não se sabia o que mais se deveria
Em 1854,por ocasiãoda reforma do ensinorealizadapelo Ministro admirar, se a profundeza, se o método, se a clareza». (*)
Pedreira (Visconde de Bom Retiro), foi nomeadolente substituto.
Regeu as cadeiras de Economia Política, Direito Público, Direito A impressão criada pela exposição foi, ainda, completada pelo
Civil, Direito Eclesiásticoe Direito Administrativo. Mas foi nesta método didática.
que se revelou, acima de tôdas, um pensadore um autêntico jurista. «Propositalnente êle não chamou à lição no segundo.
À palavra z'epeZação é exatamenteo que se aplica em face do no terceiro dia, nem nos subseqüentes,até que sobreveio
que narra um aluno, que testemunhao que foi o sentimentode o sábado.Nessedia, fêz sabatina,não de argüentese
espanto dos estudantes ao verem o rápido domínio da matéria dependentes.
mas dando a palavra sucessivamente aos
pelo jovem mestre. primeiros estudantes do ano e argumentando com êles.
«Aureolado, embora, com a fama de talentoso, foi Pois, esplcAozz-os
a todos; não sòmenteos espichou,mas
êste acolhido com desconfiança pelos rapazes» díz ALMnnA esmagoue pulverizou tôdas as objeções,aniquilou todos
NOGUEIRÀ. (**) os argumentos, a.ponto de reduzir os argüentes a darem
Um grande nome do magistério, o talentoso Senador Silveira o braço a torcer. Foi um triunfo completo,cujo efeito
logo se acentuou no prestígio da cadeira e na popularidade
da Mota, incumbido da regência da cadeira e desistira, tempos
depois, em face de dificuldades com a turma. Ribas foi chamado. e admiração acrescidas para o talento enciclopédico do
como recurso decisivo: Dr. Ribas.> (**)
As tais notas fornecidasaos alunos vieram a constituir o
«Gozando de uma fama muito grande de talento,
[diz outro contemporâneos ninguém acreditava que ê]e mais famoso compêndio de Direito Administrativo da época. Esta
pudessese recusar a tal encargo. Mas dois ou três .dias a obra que justificou o elogio de Clóvis Beviláqua:«um dos
se haviam passadosem que o homemnos aparecessena

t' ) Tradições e reminiscências da Faculdade de Direito de São Paulo (') FKn inA nE RESENOE:]Wínas Recordações. Rio, 1944 (Coleção
DocumentosBrasileiros,na 45) -- P. 288.
-- São Paulo, v. IX, 1912. págs. 23 e 81.
('+) OP. cíf., P 81. ('') ALMEDA NOGUEIR.A,
OP CÍf. -- II1, 1908. P. 81-
8 9

nossos maiores mestres, pela segurança do critério e largueza da obra maior. Traz como subtítulo: 1 -- Noções preZímí/fazes.Foi
erudição.» (*) impressono Rio de Janeiroem 1866,com uma justificativados
A Consolidação do Processo Civil deu maior divulgação ao 7 editores (Tipogr. de Pinheiro 8 Cia . ) , explicando tratar-se de obra
seu nome; (**) mas,-como pensador, a obra que permaneceráno concluída em 1860, retardada a publicação «por motivos inde-
nosso acervo científico, será o Direito Administrativo. pendentes da vontade do autor».

Para completar os dados biográficos a respeito de Ribas, Foi aprovadapor ambasas Faculdadesde Direito (Recitee
digamosainda que foi deputado à ÀssembléiaProvincial de São São Paulo), elogiada pela Seção dos Negócios do Império do
Paulo por pouco tempo, de 1851 a 1863. Pertenceuao Partido
$

Conselhode Estadoe pelo próprio GovêrnoImperial.


Conservador e não revelou grande propensão para a vida política, Para compreender os motivos .de tantas consagraçõesbasta um
apesar de ser orador bastante eloquente. Foi nomeado catedrático ligeiro cotejo com os compêndioscontemporâneosque não foram
em 1860, por Carta Imperial de 2 de outubro de 1860; foi jubilado muitos .
em 1870, com 28 anos de magistério, voltou ao Rio de Janeiro,
Em primeirolugar, o do professorda Faculdadede Direito
onde abriu escritório de advogado. Recebeuo título de Conselheiro de São Paulo PrudêncioGiraldesTavares da Verga Cabras,de
e a comenda da Ordem de Cristo. Foi membro da comissão
cujas excentricidadestão largamente se ocupa Almeída Nogueira.
revisora do prometo de Código Civil de autoria de Joaquim Fenício
Sua obra tem um título digno dos cartapácios setecentistas: Z)ireífo
dos Santos. Mas a maior homenagemque mais Ihe tocou o cor'ação Administrativo Brasileiro . Compreende os projetos de reforma das
foi a de seus alunos do curso de Direito Civil em 1863, que Ihe administt'açõesprovinciais e municipais e as instituições quc o
mandaramfazer o retrato a óleo em tamanhonatural para ser progresso da cíuí/fiação reclama . Foi publicado no Rio de Janeiro
colocado no salão dos atos. Dêsse quadro foi feita em Paras uma (Laemmert), em ]859. Uma simples vista d'olhos pelo grosso
litografia para ser distribuída. Faleceuem Petrópolisa 22 de volume permite apontar imediatamente as suas deficiências: uma
fevereiro de 1890.
bibliografia limitada dos autores francesese uma completa ausência
«Ribasera um homemaltoEb.
disseum seu honrosodis- do espírito de síntese. Ào deixar os princípios dos autores estran-
cípulo. (***) «bem feito, claro, corado, testa espaçosa,e o que se geiros, o professor brasileiro limita-se a expor os fatos e as datas
poderia chamar um homem bonito.> da legislação brasileira . Nenhuma generalização, nenhuma indução
de um sistema que caracterízasse a administração brasileira .
Não nos foi possível conhecer a primeira edição do livro do
Algumas pa[avras ainda a respeito do livro em si mesmo. O
professordo Recite'Vigente Peneira.do Rêgo: .E/emenfos
de dfreífo
Z)íreífo .Admínisfrafípo de Ribas se apresenta como pórtico de
administrativo, comparado com o direito administrativo tTancês.
segundo o método de Pradíer. Sabemos sòmente que é anterior
(#). (:LÓvis BEviLÁQUA: «A cultura jurídica no Brasil». Repísfa do ao de Ribas porque é citado por êste em sua bibliografia.
Jn:sf:Hísfórfcoe Geggr. Brasa/eira:
Anaisdo IP Co/zgresso
de'.f/ísf. da
.Amérlca. Tomo IX, lho, 1930, p. 3-15-318. ' SÓ a terceira edição, com o nome de Compêndio -- ou repe-
(++) . «Muitos estados adoraram por Código do Processo Civil o Regula- fíções escrífas sôbre os elementos de Z)íre;fo Àdmínísfrafít,o (Recite,
mento 737, de.1850 ec nos assentos não alcançados por êste, por serem
peculiares aa Direito Civil, a Consolíkbção de RenAS.>(CAppENTER, Luas
1877) é mais conhecida,mas muito posterior a Ribas.
Frederico Sauerbronn: «O direito processual.> ZíPro do ceízfenáríodos cursos
jurídicos. J?ío, 1928. Quanto ao livro do professor Francisco Mana de Souza
(t++) F. P. FznnEinA nn RESKNDE,
já referido, mais tarde Ministro do Furtado de Mendonça, natural de Angola e professor em São Paulo :
SupremoTribunal Federal. Op. cíf., p. 245. E3ccetpto de Direito Àdministratiuo para seguir de compêndio na
au/a da 3$ cadeira do 5ç ano, São Paulo, 1865 é bem menos
importante 'y

Sôbretodos leva imensavantagemo autor carioca, não só


pela sistematização e orientação da matéria como pela ampliação
da bibliografia que abrange a literatura em língua alemã, italiana
e inglêsal BIBLIOGRAFIA DE A. J RIBAS
No livro clássico de Almeida Nogueira esta o juízo que as k

gerações que Ihe sucederam na Faculdade sôbre êle exararam: (Segunda BLAKn (') e ANTõNio CoNSTÀnTiNO ('*)
«Era um ]ente completo. Metódico e claro na exposição,profundo
(1) Navegação do Parara e seus atiuenfes, o Paraíba e o Ãiogiguaçu --
nas investigações, criterioso nos conceitos, lógico e agudo na
Memória [Bibhografia brasileira -- Rev. mensal. Rio, 1863 -- T
crítica, invencível na argumentação .»
lo -- ne l].

RIHGB uç 25. págs. 149 a 162.


A.MÉDICO JACOBINA LACOMBE
Re/afórfo do Ã/. .Agrícu/&ra, Com. e OI. Púb/. de 1862.

(2) Discursos parZamenfares do Z)r. Gabde/ /osé Rdz. dos Sarzfos coligidos
pelo DU'. A. J. Ribas -- biogr. e retrato da A. Ria, 1863 802 p.
IBiogr. de Ribas 74 p.] .

(3) 1)1reffo admírzísfrafíuo liras;/eira -- premiado e aprovado pela resol.


imperial de 9-11-1861para uso das Fac. do Recite e de São Paulo --
Rio, 1866.

(4) Curso de díreífo cít,fJ brasileiro - Rio de Janeiro, 1865 -- 2v.(bm~


pêndiopara uso das Fac. Direito -- 2' ed. -- Rio, 1880-- 2v.
completamente modificado e acrescido .

(5) Conzso/ilação das disposições /egíslaflpas e rega/amenfares concernentes


ao processo civil, aprovada pela Resol. Imp. de 28#12 mpressa
porordem
do Gov. Imp. Rio,1878H 2 fls. 468p. in 4'
(6) Consolidação das Zeb do processo cít,í/ -- comentadas pelo Cona. À.
J. Ribas,com a colaboraçãode seu filho, Dr. Júlio À. Ribas -- v. l
-- Rio, 1879 -- 529 p. in 4'
{7) 1)a posse t das anões possessórias segunda o direito pátrio, campal'ado
com o díreifo ro/nono e canófzíco# Rio de Janeiro, 1883 -- 400 p
(8) //isíória dos pau/fsías -- !nédita -- Fragmento publ. nos Erzsafo.s
/{feráríosde São Pauta, otitubra de 1850.
[Extrato. diz a nota da revista] .

(+) 1)feio/zárfobíb/iográfíco brasileiro, v. 1. 1883, p. 203.


('+) Contribuição para um catálogo das obras dos antigos alunos
:Reuísfada Fac. de Z)ü. de São Paalo -- T. XXX, fase. ll a v. XXXlll
fase. ll -- (1934'-1936).
12

(9) Discursos, memórias na Replsfa da Academia de São Paulo, no Kalei+


doscópio e outros no Rio.
Poesias: Gefhsemani /À/Z.um /fferárlo de Antõnio Manuel dos Reis --
São Pau[o, 1862]-
À poesia grevista À.cadêmica p. 284] .
(10) O Pírafírzirzga -- periódico po]ítico e literário. São Paulo. 1850. PREFÀÇÃO
O C'onsfí&cíonaZ .--
l
.A /r7zprensa pauZfsfa --- jcom outros] . Escrevendo esta obra, não tivemos em vista dar um tratado
(11) «Da posse:»-- O Z)íreifo -- v. 8, págs. 5, 27, 409 -- v. 9 -- 417 10.- geral de Direito Administrativo, e sim apenas as noções mais
P. 641 -- v. 11, 273. :sintéticas que Ihe servem de base.
(12) «Dos embargos
às sentenças
nas l4 e 2+ instâncias»
-- O l)freira # Queremos mostrar como o nosso Direito Público Positivo se
v. 6 -- p. 367 e v. Vll p. 233.
desdobrano Direito Administrativo, ou deduzir. na esfera dêste
(13) «Os estrangeiros podem ser nomeados tutores au curadore=p? -- O Z)freira
- Vl1, 449. direito, os corolários dos princípios consagrados pela nossa cons-
tituição política.
(14) «Em que a locaçãomercantilse distingueda civil»? Por que leis se
rege a locaçãode serviço civil. -- O l)íreífo - v. l p. 3. Ora, estes corolários são as primeiras e fundamentais noções
(15) «O cônjuge católico. divorciado, que houver mudadode religião, pode da ciência, -de que tratamos.
segundo os ritos acatólicos. contrair novas núpcias, que civilmente, Talvez pensem alguns que se pode fundar a jurisprudência
válidas sejam»? + o Dfreífo -- v. 1, p. 297
administrativa pátria em teorias formuladas pelos jurisconsultos
(16) «Prescriçõesde obrigações comerciais>.O Z)Zreüo-- v. V, p. 161. estrangeiros.
«Da conci]iaçãono cíve] e no comercial». O Z)íreífo-- v. V. págs. 385.;
Mas estas teorias não podem conter a explicação racional
(18) «Institutas do Imperador Justiniano». Ret2ísfaBrasileira -- 1, p. 323..
de leis muito diversas daquelas de que emanam.
Daí os perigos dêssesescritos que, lidos sem grande critério,
tão graves erros têm entre nós propalado.
Longe, porém, estamos de pensar que se deva proscrever
a sua leitura; fera precisodesconhecer
as imensasvantagensdo
estudo das legislações comparadas; muito mais em relação a um
ramo que ainda se está formando. O que afirmamosé que se
não devem aceitar tôdas as suas doutrinas como verdadeiras'e
aplicáveis ao nosso país-
Entretanto, nada é mais fácil do que deixar-se o espírito
desprevenidodominar por elas, vestidas, como soem vir, da beleza
de forma e rigorismo da diabética . Modifica-las convenientemente,
de modo a harmoniza-las com os preceitos da nossa organização
política e administrativa,não está ao alcance de todos.

F4. .J. N
da l)ücurnontação
- H

B LiO
14 15

Talvez entendam outros que se podem dispensar estas idéias Façamos,porém, sério e leal estudo do espírito de nossas
gerais; que o estudo deve consistir no mero conhecimentodos instituições políticas e administrativas; elevemo+nosaos princípios
textos de nossas leis administrativas . geradores do nosso Direito Administrativo, e possuiremos a bússola,
que nos guiará com segurançana senda providencial do pro-
Mas a noção material das leis sem a compreensãodo espírito
gresso.
que as vivifica, e razão que as explica, nunca pode constituir o
jurisconsulto e sim o obscuro leguleio, quer trate-se do direito No regime representativo a ciência e o Direito Administrativo
não devem ser arcanos eleusinos, sòmente revelados a privilegia-
privado,quer do administrativo
ou de qualqueroutro.
Não hâ ciência sem as síntesesfundamentais;tiradas estas, l dos adeptos.
só resta informe acervo de idéias, em cujo labirinto a inteligência A administração trata dos interêsses de todos e responde
não pode deixar de transviar-se. pelos seus atos. Todos devem pois, habilitar-se para julgar estes
ates e conhecera extensãodos seusdireitos e deverespara com a
Pelo contrario, desde que se possuem estas sínteses, dissipa-se
administração. Assim, podia e inscrever neste livro a epígrafe:
o caos, faz-se a luz e a ordem no pensamento; aparece consti
pesfra z'es agífur
tuída a ciência.
É do interêsse da mesma a-dministração, que a opinião pública
Nem é possível fazer acertada a aplicação de conheci- se esclareçasôbre as questões administrativas, a fim de que não
mentos. sem nexo e sem sistema; na falta de mérito científico,
sirva de cego instrumento a interêssesou paixões ilegítimas, e
nem sequer lhes resta verdadeira utilidade prática.
sejam sempre ditadas pela sabedoria suas soberanassentenças-
Fôrça é confessar que a nossa legislação administrativa vai Mais tarde daremos o devida desenvolvimento e aplicação
sendo composta aos retalhos, segundo as exigências da ocasião
às fórmulas genéricas,que ora apresentamos. O trabalho completo
e as inspirações .das idéias do momento; não há método, nehi
constará das seguintes partes :
vestígios de espírito sistemático .
1 -- As noções preliminares que fazem o objeto -da presente
Não só se não filiam entre si os atos legislativose adminis obra.
trativos, expedidos sob a influência de diversos gabinetes. como 11 -- A organização da administração espontânea.
nem sequer se harmonizam os do mesmo gabinete. lll -- Os serviços administrativos relativos aos interêsses do
Grave dificuldade é esta, por certo, para os que querem estado.
e[evar o nosso ])preito Administrativo às alturas da ciência. IV -- Os serviços relativos aos interêsses dos administrados.
V -- A administração contenciosa .
Mas a simples confrontação dessas disposições incoerentes
e a indicação de suas lacunas já constituem grande. vantagem, Não podendo agora entrar em mais especiais desenvolvi-
porque lançam o espírito nas vias de úteis e refletidas reformas. mentos. limitamo-nos a dar a nomenclatura das matérias da
segunda parte, -- a organização da administração espontânea;
Não porqueprevaleçaa inércia na alta administração;
pelo a saber:
contrario, as nossasleis e regulamentos todos os dias se reformam,
e estas reformas são no dia seguinte de novo reformadas. rífuZolç. Da administração
geral.
Noções gerais --. Divisões administrativas .
Hâ perene movimento, mas em sentidos desencontradose
dentro de apertado círculo, -- estéril agitação, não proveitoso Do chefe supremo do estado, como imperante, depositário
progresso. Ê uma espécie de fread-mí/Z administrativo . do Poder Moderador, e chefe do executivo.
16 17

Do Conselho de Estado; sua história, organização, funções Não o escrevemos


sob a influênciade uma ideia a cujo
e processo. triunfo queiramos acomodar a legislação do País . Não expusemos
Do Ministério, sua organização e responsabilidade. aqui o que nos pareceumelhor, mas o que existe; e, se algumas
vozescomparamos
o real como ideal,colocando
um a par do
Das funções governamentaisdo Poder Executivo em relação outro, tivemos sempre o cuidado de distingui-los.
à administraçãointerna, aos podereslegislativoe judicial, às
associações políticas e não políticas estrangeiras . Estudamos desprevenidamenteas nossas instituições políticas
e .administrativas, e procuramos expõ-las fielmente, sistematizando-
Das funções administrativas comuns a todos os ministérios, as e deduzindo os seus corolários, no domínio da jurisprudência.
e especiais a cada um dêles.
Mas a jurisprudêncianão se constituiem um dia; não sai
7íflzZo 2Q. Da administração das províncias.
completa da inteligência do jurísconsulto, como Minerva do
Noções gerais. cérebro de Júpiter; é o resultado do concurso de muitos, do tra-
balho lento dos séculos.
Dos presidentesde província;das suasfunçõesquantoaos
serviços gerais e provinciais; necessidadede conselhos de pre- Erguer o monumento da jurisprudência administrativa não
sidência. é glória que possa caber a um só indivíduo; contentamo-nos,
pois, de ser um dos que primeüo trabalharam em seus alicerces.
Dos serviços gerais, relativos a. cada um dos ministérios .
Dos serviços provinciais; extensãode cada uma das atribui O AUTOR
ções legislativas das assembleias provinciais .

7'ífzzlo 3e. Da administração municipal .

Considerações históricas .

Da organização das câmaras municipais .

Das suas funções.


Das reformas necessárias .
Tíftzlo 4ç. Das condições, direitos e deveres dos funcionários
e empregados públicos.
Da sua nomeação, promoção, remoção, aposentadoria.e
demissão .

Das suas vantagens pecuniárias e honoríficas.


Da subordinação e responsabilidade administrativa .
Tal é o assunto, que ora elaboramos; assim Deus nos auxilie.
Antes de concluirmos devemosponderar que êste livro não
é uma obra de política, menosainda da política cambiantee
incompreensível dos partidos .
TÍTULO l

DÀ CIÊNCIA DO DIREITO ADMINISTRATIVO

Í
Capítulo l

DO DIREITO ADMINISTRATIVO

$ 1'

PLANO DA 'OBRA

Não nos propomosa expor neste trabalho um tratado com-


pleto do Direito AdministrativoPátrio; tentar coordenartôda
nossa vastíssima e confusa legislação administrativa. e deduzir
dela um sistemadesenvolvidoem todos os seusramos e aplica-
ções, fera empresa sobremaneira árdua e laboriosa para poder ser
desempenhada de um lato, com feliz êxito; e ainda mais para
quem tem .de distrair a sua atençãopara outros serviçosde
imperiosa necessidade
Assim, apenas pretendemos agora lançar as bases dêsse
sistema; expor as noções mais sintéticas, que logicamente decorrem
de nossasinstituições políticas e administrativas, e devem servir
de preliminaresao Direito Administrativo Pátrio, e de fio condutor
para mais tarde penetrarmos no vasto e escuro labirinto de nossa
legislação administrativa até às suas mais recônditas profundezas.
Concluído êste trabalho, deve-se julgar constituída a ciência;
e os estudos posteriores nada mais serão do que desenvolvimentos
especiais e complementares dêste

Cumpre-nos, porém, lembrar que, conquanto seja formal-


mente circunscrito o assunto dêste trabalho, contém êle a parte

[ mais difícil e importante da grande obra da organização do nosso


Direito Administrativo. Com efeito, conhecer
de um número mais ou menos avultado de leis administrativas
as disposições

não é tarefa que demande grande esforço intelectual, e possa


22 23

satisfazer o jurisconsulto; mas, conhece-lastôdas, bem como a encerram os fitos legislativos e administrativos de que se compõe
doutrina dos jurisconsultose publicistassôbre êste assunto, e o nossoDireito Positivo. E natural é que assimsu'cedaem um
com estes materiais construir teoria verdadeiramentecientífica Estado de tão nova origem, e cujas instituições não podem ainda
dêste ramo do Direito, que possa logicamente receber todos os ter atingido a todo seu desenvolvimento.
desenvolvimentos e aplicações que a vida prática da administração Se, porém, como ciência distinta, é de moderna data êste
reclama,é tarefa que além de aturadíssimotrabalho exige a mais Direito, não se pode outro tanto dizer dos seus primeiroslinea-
profunda meditação. mentos, pois encontramo nas mais antigas legislações.
Pois que o Direito Administrativo tem pçliL:EiD....tgg111gÉ..21
relações i:ecíprocas da administração g ministradas..o seu
Há certos interêssesgerais ou coletivos de tão grande impor-
egliiião deve começar pelo da natureza das duas entidades. assim tância que, as leis de tôdas as nações que possuem alguma
civilizaçãonão podem deixar de reconhecere definir; há certos
relacionadgâ./{)ividiremos, pois, o assunto das noçõespreliminares,
com que ora nos ocupamos, em três títulos, que compreendem:
pontos de contato tão melindrosos entre a órbita dêssesinterêsses,
e a dos direitos privados, que não podem deixar de ser precisados,
l .Llç) Os princípios abstratos e propedêuticos do Direito a fim de se evitarem os funestos resultados das recíprocasinvasões
/À.dministrativo, considerado como ciência, em relação às demais dessas órbitas .
q. ciências e às suas fontes.
Na verdade,consultando
os monumentos
históricosdas
2ç) As idéias elementares, relativas à natureza da adminis- repúblicas helênjcas e romana! ou de quaisquer outros povos
tração em geral, as suas relações com os poderes"políticos, as civilizados da antigü dade achamos numerosas as instituições
condiçõesde sua organizaçãointerna, a naturezade suas funções, destinadas à proteção da ordem interna e da defesa externa dêsses
as classificações de seus agentes e fórmulas .de seus atos. Estados, bem como dos interêsses coletivos mais importantes
3P) As que se referem aos administrados, suas grandes dos seus cidadãos.
classificações e direitos em geral. Embora em estado embrionário, e confundidas as autoridades
judiciária e administrativa, existiam os serviços administrativos,
$ 2' e conseguintemente direitos e deveresentre os agentesincumbidos
de perfazê-los, e aquêles a quem deviam aproveitar.
ORIGEM HISTÓRICA
Com efeito, muitas das instituições dos imperadoresromanos,
e principalmente dos que me-deramentre Severo-Alexandre e Cons-
. A existência do Direito Administrativo como ciência distinta
tantino, têm por objeto interêsses meramente administrativos/p
e..g..lesultad$-.dm últimos orogressos do Direito Poli!!ço ., A data
(quase todo o IQ livro do Digesto desde o tít. 9 em diante
recente do seu nascimento contém em si a explicação das dia
culdades com que ainda luta êste ramo importante dos estudos versa sôbre regimentos dos principais funcionários daquele grande
jurídicos;novo astro que raia no horizonteda ciência,não pode império; o liv. 39 tít. 4 sôbre a arrecadação dos impostos, seus
coletores e multas; o liv. 43 tít. 7 até 15 sôbre os lugares.
estardesdejá precisamente
determinada
a suaórbita,a sua
constituiçãointerna, a influência que exerceou recebeem relação caminhospúblicos, ruas e rios, a fim de que se não estraguemou
ãs demais entidades, que constituem o sistema a que pertence. obstruam, ou se não desviem as águas, etc.; o liv. 47 tít. 21
sôbrecolégiose corporações;
o liv. 48 tít. 12 sôbrea política
Estas dificuldades, porém, decrescem em presença do acervo dos víveres, sua deterioração e encarecimento; o liv. 49 tít. 14
informe das disposições vagas, incoerentes e incompletas que sôbreo direito do fisco (amplamente);o liv. 49 títs. 16 e 18
24 25

sôbre o estado militar e os veteranos; quase todo o ]iv. 50 sôbre Direito Administrativo, se constituísse como ciência distinta. A
as municipalidades, os seus habitantes e decuriões, e adminis- administração confundia-se com o govêrno, e entendia-se que
tração de seus bens; as honras e empregospúblicos, suas vagas, a sua ação não estava sujeita a regras gerais e fixas. À incoerên-
P
L escusase imunidades;as deputaçõese embaixadas;
as obras cia e o arbítrio dos preceitos administrativos, ou pelo menos
públicas, feiras e mercados, os corretores e o censo ou arrola- a sua falta de apoio em princípios racionais, impediamque êsses
mento da população para o lançamento dos impostos. preceitos fossem elevados à categoria de ciência.
Pelo exame dessa compilação vê-se que muitos dos juras Contudo,à semelhança
dos jurisconsultosromanos,os mo-
dernos não foram estranhos ao estudo da legislação administrativa
consultos romanos aplicaram os seus estudos a êste ramo do n
Direito; com efeito alguns escreveram sôbre as funções anexas na parte em que mais estreitamentese relacionacom a civil, e
a certos cargos públicos, como Papiniano sôbre o ofício dos edis; até publicaram algumas monografias sôbre esta matéria.
Ulpiano sôbre o do procõnsul e síndico da Cidade -- curador A ideia. porém, de assentar a legislação administrativa em
reíptzb/ícae --; Paulo sôbre os do cônsul, e procõnsul; Macem princípios racionais, e de constituí corpo de doutrina, é
sôbre o dos presidentes -- of/icitzm praesídís --; Àrcádio-Charísio filha das tendências filosóficas da revoluçêQ..1:3ncÊ$a dç...!Z$9.
sôbre os cargos civis. Outros escreveramsôbre certos ramos ([êi'aê 22 '
especiaisde administração,como Callistrato sôbre o direito do lia Ün:ml..dáBEOXll, alf....IQ).L
masfoi o qovêrnQ..de
Luiz
fisco: Gaio ao Edita do Pretos sôbre os coletores .de impostos; XVlll auem realizoil.Esta ideia. criando uma cadeira de Direito
o mesmo Paulo e Ulpiano sôbre o censo; Átrio Mlenandro, Macem Administratiiã'na EKola de Direito de Paria, e íncumbindoDe
e Taruntanus-Paternus sôbre o estado militar . Finalmente aquêles Gerando de igqggyl2Lg..Ê=:jno da nova ciência. i..
que, como Ulpiano, Gaio e outros, escreveramsôbre Edito da
Pretos urbano. ou. como Paulo e Gaio, sôbre o Edíto Provincial, A reaçãoque nessepaís então se operavacontra as idéias
da revolução fêz que cedo fôsse suprimida esta cadeira. O
não podiamdeixar de ocupar-se
com as questões
de Direito govêrno conheceuque a luz da ciência, penetrando nos misteriosos
Administrativo, sôbre que em parte versavamaquêlesedítos.
éditos da administração,iria põr peias ao arbítrio dos funcionários,
Entretanto. êste Direito entre os Romanos,estava confundido e dar novas armas ao elemento democrático. Nove anos, porém,
com o -- JtzsPtzb/icem-- que Ulpian9 e as Institutas de Justi- mais tarde teve de ceder de novo à pressão da opinião pública,
niano definem -- qaod ad sfafzm z'eí z'oma/zae
specfaf (Dig. e de restaurar a cadeira suprimida, confiando ainda o seu regime
liv l tít. l fr. 1, $ 2ç; Inst. liv. l tít. 1, $ 4Q), e não formava ao ilustre ínstalador. (Ord. .de 24 de março de 1819,art. 3ç;
corpo distinto de -doutrina, fundado em princípios de ordem 4 de outubrode 1820,art. lç, ns. 3 e 4; 19 de junho de
racional. 1828, art. lç)
O desenvolvimento da civilização moderna trouxe em resul Para preencher sua árdua missão o eminente professor teve
tado a multiplicaçãoe o estreitamentodas relaçõessociais,a de compulsar volumosas coleções, reunir e coordenar mais de
ampliação dos recursos e necessidadespúblicas. Conseguinte- 80.000 textos de leis e regulamentos,e com métodoadmirável
mentea vigilância, a repressãoe a impulsãoda autoridadedeverão É;i;;;;"dêles uma teoria filosófica. Foi assim que êle compôs
tornar e mais vastas e enérgicas,e as instituiçõesadministrativas e deu à luz as suas Institutas de Direi
progressivamente mais desenvolvidas . De então por diante achou-seconstituída naquele país a ciência
Entretanto, com as idéias que vagaram nos séculos anteriores de que é geralmente reconhecido De Gerando como o fundador
sob o regimeda monarquiaabsoluta,não era possívelque o e o pai.
26

\ Assaz, porém, tardou ela em ser importada e nacionalizada .constituídas,nem fixados os seus limites, de modo que o olhar
entro nós. Achava-se ainda suprimida a cadeira de De Gerando/ da inteligência pareceperder-se em horizontesindecisos. Pode-se
quando foram criados os cursos 'superiores de ciências sociais .dizer que as definições acham-se colocadas no pórtico das ciências,
jurídicas, em São Paulo e Olinda (Lei 2+ de ll de agõsto d( como esfinges misteriosas que as resguardam de serem devassa-
1827); e o Direito Administrativo não foi contempladono quadU das pela curiosa leviandade que não tem bastante perspicácia
de seus estudos. Z. e perseverançapara decifrar seus enigmas.
Mas a experiência afinal mostrou quanto era necessáriaa Indaguemoscomo alguns dos mais distintos escritoresdesta
cultura desta ciência,tanto para os que se dedicamà carreira t ciência têm procurado solver a questão: o que é o Direito Admi-
da política e da administração,como para os que se votam à nistrativo?
vida menosbrilhante, porém não menoshonrosa,do íên.. Segundo De Gerando êle tem por objeto, as regras que regem
Conquanto já em 1833 houvesseaparecido pela primeira vez, as relações recíprocas da administração com os administrados.
no relatório apresentado às câmaras pelo Ministrodo Império, Os autores dos .E/emenfos de Z)íreífo ..4dmínisfrafít'o na
o Senador N. P. de Campos Vergueiro,.a ideia -da criação de
.Béigica, adotando e desenvolvendo as idéias de De Gerando,
uma cadeira .de Direito Administrativo, para complemento dos dizem :
estudos de ciências sociais e jurídicas das nossas academias,foi
só em 1851, durante o ministério do Marquês gg..blg=!Ê.Mre, «Por um lado o Direito Administrativo fixa a natureza.das
funções administrativas, faz conhecer o seu fim; estabelece a
que essa necessidadefoi satisfeita pelo Eggg!..!:ggislativo R.Com
esta cadeira foi nessa mesma ocasião criada a de Direito Romana organização administrativa, isto é, a hierarquia dos funcio-
e o govêrno autorizado a dar novos estatutos a estas academias.
nários que exercem as funções administrativas; fixa a competência
(Decreto nç 608 de 16 de agosto de 1851) Três anos depois,
de cada um, bem como as atribuições de cada função. O Direito
Administrativo marca a extensão do domínio administrativo. dá
sendo Ministro do Império o Sr. Conselheiro L. P. do Couto
Ferraz, foram decretadosos atüais estatutos (Decreto nç 1.386 as regras do processo, isto é, as formas que se devem seguir
nas relaçõesentre os administradose a administração,ou entre
de 28 de abril de 1854), e no ano seguinte(1855) coubeao
autor dêste escritoa árdua tarefa de lecionarsôbreesta matéria os diversosagentes;assimse percebeque segurançassão ofere-
na Faculdade de Direito de São Paulo. .lidas a uns e outros. Por outro lado, o Direito Administrativo
determinaa naturezadas relaçõesque ligam a autoridadecivil
$ 3' à fôrça pública, autoriza certo direito de padroado e tutela sôbre
certos estabelecimentos públicos ou privados, ou comunidades
civis ou religiosas.Autoriza a administração,
com um fim de
DEFINIÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO
utilidade pública, a tomar certas medidas para a sustentaçãoda
ordem, salubridade,viabilidade, segurançaindividual, moral
Sendo incontestável a superioridade do método sintético para
pública, etc. Regula a gestão da fortuna públicalõ
a exposição didática de qualquer ciência, e devendo-se sempre
proceder das sínteses mais gerais para as menos gerais, é evidente Laferríêre diz que o Direito Administrativo é o que regula a
que a questãopreliminar de todo o tratado científico é a definição ação e a competência da administração central, das administrações
da ciência; questão difícil e sujeita a incessantesdisputas nas locais, e dos tribunais administrativos, em suas relações .com os
ciências estudadas durante séculos e por muito .maior razão nas direitosou interêssesdos administrados,
e o interessegeral do
que, sendo de recente origem, ainda se não acham perfeitamente Estado, ou o interesseespecialdos centros parciais da população.
28
29

De acôrdo com De Geran.do,ensinaque êste Direito tem por'


objeto as relações da administração com os cidadãos para a .e obrigaçõesdos administrados,em vista do interêssecoletivo ou
execução das leis e regulamentos, isto é, os direitos e deveres. .geral da sociedade. É a ciência que estuda e proclama as regras
recíprocos dos administradores e dos administrados, e acrescenta e condiçõesgerais, que são apropriadas para segurar o melhor
desempenho do serviço administrativo, o bem, a prosperidade
que êle se prende à administraçãono momentoem que esta se
manifesta em relação aos administrados, no mesmo instante em social; é quem examina e esclarece os elementos da administração,
que ela exerce a sua ação sôbre os cidadãos. .as discussões dos negócios públicos, as opiniões e atos dos
conselhos e demais órgãos do poder executivo; é finalmente quem
A definição -de Laferriêre tem sido adotada, com diversas. assinala os vícios, indica as lacunas, as reformas, os melhora-
mas leves alterações,pelos Srs. Pradier-Foderé, (Príncipes du alentos,princípiose leis positivas de um Estado, (O Brasil por
Droit Admín.), Dr. F.V.P. do Rêgo(Riem.de Dir. Admin. exemplo), que regulam a competência, direção ou gestão do seu
Bus.) Conselheiro F.M. de S. Furtado de Mendonça (Elem.
poder executivo, quanto aos direitos, interêsses e obrigações
de Dir. Admin. Pata.) e Conselheiro Cabral ([)ir. Admin.- administrativas da sociedade e dos administrados, na esfera do
Bus . )
interesse geral.
Macarel, ampliando estas noções,diz que o corpo de Direito Desta variedade de definições deduz-se evidentementeque
Administrativo é o complexo das leis: nem todos se colocam no mesmo pon.tQ--.dezobservação para o
l -- oue determinam os direitos e deveres recíprocos da estudo desta ciência; donde proMm, que o seu horizonte se torna
administração e dos administrados . mais ou menos vasto, e paralelamente amplia-se ou restringeHse

[1 -- (]ue organizam os serviços administrativos, isto é,- a matéria a que aplicam a sua inteligência.
que estabelecem . a natureza, hierarquia e atribuições dos agentes. Para nós também o Direito Administrativo se apresentasob
instituídos . dois aspectos diversos, segundo o estudamos no sentido restrito
111-- Que tra.çama forma pela qual a administraçãoe os .õü amplo .
cidadãos devem obrar para preencherem suas obrigações reco Considerado no sentido restrito, isto é, como verdadeira
procas. disciplina jurídica, não pode abranger mais do que o estudo
IV -- E dos regulamentosque desenvolvem
estasleis, pro' de .direitos e deveres, e estes não podem ser outros senão os
vendo à sua execução. que emanamdas relaçõesda administraçãopara com os indi-
víduos sôbre quem exerce a sua ação.
As primeiras, êle denomina /efs de pzíncípíos; as segundas
-- !els de ozganlzação e de afribtzíções; as terceiras -- leis de No sentido amplo, deve êle compreender também o conheci-
mento sintético dos elementos;assim colocados em face um do
processo adminísfrafípo; e tôdas formam o grande ramo das --
!eis administrativas . outro, na sua íntima natureza e mútua ação ou nas relaçõesque
os ligam.
O Sr. Senador José Àntõnio Pimenta Bueno (Direito Pú--
blico Brasileiro) define o Direito Administrativo de dois modos
Assim. no sentido z'esfz'ífo,o Direito Administrativo é a
diversos, considerando-o como ciência, ou como Direito Positivo. ciência dos direitos e deveres recíprocos da administração e dos
«No primeiro caso, diz êle, é a ciência da administração,. administrados,e no sentido amp/o é a ciência que ensina a
a teoria racional da competência e da ação do poder executivo 'organização administrativa, tanto nos seus elementos fundamentais e
e dos seus agentes em sua gestão e relações com os düeitos; universais,como no seu desenvolvimento
prático em um povo
dado; o modo pelo qual ela atua sôbre a massa geral da popula-
30 31

ção, ou os seus centros parciais, isto é, os serviços incumbidos, que se conheçamestasduas entidades em sua natureza e no modo
aos seus agentes gerais ou locais; as formas de que os seus porque reciprocamente amuame reagem uma sôbre outra, deve
ates se revestem,e as modificaçõesjurídicas que em face dêles ser preferidaa acepçãomais ampla da definiçãoe objeto do
e sob sua influência sofrem os administradosem seus direitos e Direito Administrativo.
obrigações. Entretanto, em um plano de organização escolar mais vasto.A
e harmónico do que o das nossas Faculdades, onde se quisesse
$ 4' fazer estudo mais aprofundadoe satisfatório, fõra sem dúvida
conveniente separar-se a substância pròpriamente jurídica dêstes
OBJnTO DO DIREITO ADMINISTRATIVO
conhecimentos das suas partes complementares, e que se referem
à organização administrativa e às suas atribuições hierárquicas.
Pois que a definição de qualquer ciência tem por fim paten
tear, e circunscrever precisamente o seu estudo, é evidente que
o objetodo Direito Administrativohá de variar e tornar-semais
ou menosamplo, segundoo ponto de observaçãoem que cada
um se colocar e a definição que preferir.
Consideradoo Direito Administrativo no sentido restrito e
próprio, tem exclusivamentepor objeto os direitos e deveres da
administração para com os administrados e dêstes para com
aquela.

Aditado o sentido amplo, êste objeto compreende:


1 -- As noções mais sintéticas e fundamentais acerca das
l duas entidades -- admínlsfração e admínísfrados .

11 -- À exposição da organização administrativa ou da


hierarquia dos funcionários e empregados da administração .

111 -- 0 estudo das funções e serviços da administração


atava,tanto em relaçãoaos interêssesdo Estado, como aos dos
particulares.

IV -- A doutrina da competência e fórmulas da adminis


oração contenciosa .

Pode-se põr em questão qual das duas acepções da expressão


-- Z)ízeífo ad/zzínísfrafípodeve ser a preferida, e conseguintemente
qual a amplitude que deve ter o seu objeto.
Não sendo possível o estudo regular e completo .dos direitos
e deveres recíprocos da administração e dos administrados, sem
Capítulo ll

DAS CIÊNCIAS AUXILIARES E FONTES DO DIREITO


ÀDMINIS'l'NATIVO

$ 1'

CIENCIÀS AUXILIARES EM GERAL

Tôdas as ciÊgçj E pçbaZ!=$Ê..p!;élÉlma,.al!..nenlotame!!!g.


!elacio-
nadql umas com outras,,quer tenham por .Qb#etoo mundo moral
giba fi!!çei ,porque tõããi têm por alvo o conheêiãêiitã dãi%s
que regem a criação e constituem a universal harmonia, que se
funda sôbre a unidade do pensamento divino. A
Como uma síntese se decompõe em outras menos vastas, e
estas em outras ainda mais restritas, e assim por diante, em uma
série mais ou menos longa, até chegar-se às noções singulares;
do mesmo modo as ciências ramificam-se de um tronco comum,
de sorte que ou subindo ou descendo nessas séries, sistemàtica-
mente coordenadas, pode-se passar por transição lógica de uma
ciência a outra, ou de um a outro conhecimento. por mais desliga-
dos e afastadosque à primeira vista pareçam.
Assim consideradas,tôdas as ciências são auxiliares umas
das outras. Algumas,porém, há que, achan.do-se mais estreita-
mente relacionadas, prestam-se reciprocamentemais pronto e
eficaz auxílio; a estas é que comumente se costuma denominar
auxiliares. (Falck-Jurístische Encyklopaedie.) É neste sentido
que qualificamoscomo ciênciasauxiliares do Direito Adminis-
trativo :

4 1 -- À Ciência da Administração
r
34 35

11 -- 0 Direito Público Positivo suas relações e41çE11êE


çgH...gE.particylêgÊg:.yA primeira é ciência
111-- 0 Direito Privado. i;iõÕãt 4o Político e do admiãiarador;....Êg!!gl291g..&...ggg!!!!dêle
elÊpri '
Cumpre~nos
indagar quaisas relaçõesdo Direito Adminis- trados . »
trativo com estas três ciências que são as principais auxiliares,
e o faremos nos seguintes parágrafos. -- Antes, porém, de Cumpre, porém, advertir-se que o Direito Administrativo,
entrarmos neste exame, de novo advertiremos que o Direito tomado na sua ampla acepção,compreendeparte da Ciência da
Administrativo tem relações mais ou menos próximas ou remotas ..+.Bçlmipiltlgçãg: .iÊgllquanto não se
com tôdas as outras ciências, e delas recebe auxílios mais ou ciososdesgBIQlüi;bentos
êipó$tlivos e críticos em que entra esta
menos valiosos, e com especialidade os recebe daquelas que têm cjÊnç@,aceita os seus resultados gerais, e nêles funda as relãçõêi
por objeto o homem ou a sociedade. jurídicas dos administrados, que constituem a sua matéria peculiar.
Qualquer que seja o sentido em que tomemosas palavras
-- Direito' Administrativo, é evidente o estreito nexo que liga
esta ciênciaà da Administração;pois não é possívelque se
CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO compreendam bem as relações externas da administração para
com os administrados,sem que se conheçaa administraçãoem
si mesma e as relações internas dos seus agentes.
Muitos há que confundemo Direito Administrativo com a
Ciência da Administração; grande porém, é a diferença que os O estudo ,do Direito Administrativo oressuoõe, portanto, qté
separa, Como vamos expor . cerlg..tpQglg..Q.dê..CJÊBçia
da A41BigiglEaçãp,
e é por êstemotivo
A Ciência da Administração é a que ensina o modo pelo que preferimosa acepçãoampla dêste direito a fim de podermos
qual se acha, ou deve achar+seconsttiuído o mecanismo adminis- compreenderem nosso quadro ao menos os resultadosgerais
trativo para poder preenchersatisfatoriamente a sua missão,as daquela ciência,já que ela entre nós não forma o objeto especial
relações hierárquicas dos seus funcionários e empregados,e a do estudo de instituição alguma. i
parte material e técnica dos serviços que lhes são individualmente Devemosobservar que, em regra, a EçglpçlHig:..EQlítica.s..
a
incumbidos .}Agsim, esta ciência t i Estatística não são imediatamente auxiliares do Direito Adminis-
uva. aue se' ocupa çlçlyljyqlgente cgB..g..gzpg!!çêg.4gg-.i11sl41glgggs
" '''''''''''---=--7 trativo e gjm da Çiênciq: da Administracão.>
Bdpjg$tralivas de um oovo em uma épocadada; outra que se A Economia Política, ensinando qual o poder e as funções
ocypQ com os princípios falo
dos grandes instrumentos da produção da riqueza: -- o trabalha
base e em parte são o'tipo a cuja realização devem apro31mar-se
humano atual, o trabalho passado acumulado nos capitais e os
por meio de progressivas !eforoaa.J agentes naturais que Ihe servem de matéria ou de auxiliar; as
Comparada esta noção com a do Direito Administrativo no condições e os efeitos da circulação dos valores; a influência
sentido restrito, tornam-se evidentesas suas profundas diferenças. da moeda e dos seus sinais representativos; a teoria dos bancos,
/ A...primeira gblange todos os preceitos pgsitjyos gle constituem do salário,dos juros, da rendaterritorial, do imposto,-docrédito
a .adni!!iglEaçag..S
dirigem a siiã ação.e os princípiosgg!!E.gue público e do consumo; fornece conhecimentos indispensáveis para
expljçêB ou devem explicar aquêilii preceitos; e!!g1129Ê2.2..!eg!!!!gg, a Ciência da AdninisUaçãQ.. Hês..gye BãQ.2ÊH,..iDgdiêlg,.iBfluênçjê
sem ocupar-se com a boa o mecanisçio sôbreo Diiçlçg..:A(!niXliâlieg-Ca.
porque quaisquerque sejamos
administrativo, só trai s princípiosda economiapolítica, não têm fôrça para alterar os
37 .
36
Êle se divideem
preceitosdaqueledireito, isto é, para alargar ou restringir a esfera Direito Público Interno e Direito . Público Externo
dos direitos e deveres dos administrados . O primeiro subdivide-se em:
O mesmo diremos a respeito da Estatística, que com Moreau Direito Político ou Governamental,e Direito Administrativo
de Jonés definimos: --- a ciência dos fatos naturais, sociais e O segundo subdivide-se em:
políticos, expressospor têrmos numéricos. Ensinando-nos qual a
extensão, divisões e condições topográficas do país, o estado Direito Internacional ou das Gentes, e
atual e os desenvolvimentos porque tem passado a população,
a indústria agrícola, mahufatureira e comercial, a navegação,
} Direito Eclesiástico.
Se é útil para o estudo do Direito Administrativo o conheci-
finanças, fôrças militares, instrução pública, e outras instituições
mentodas leis que organizama administração,
não menosútil
do Estado, por certo que fornece à ciência da administração
é g..Slgl-.p!!gglElglque constituem o poder que BçlêE..8g..#radia
conhecimentos que ela não pode preterir, mas que não influem
/
imediatamente sôbre o Direit!..êg=inistrativo. Ç!,
Assim, por mais evidente que seja a teoria da Econom#' O Direito Político ou Governamentalque nos forneceestas
noções,bem como as das normas que regulam as relações dêsses
Política sôbre a inconveniênch dos grandes exércitos permanentes,
das leis restritivas do comércioou dos impostossôbre os capitais, poderes entre si, e a parte de intervenção nos negócios públicos
deixada aos cidadãos, ou os seus direitos políticos, não pode
e quaisquer que sejam os dados comprobativos da estatística
deixar de achar-seem íntima relação com o Direito Administra-
sôbre estas ou outras questões,não podem servir de defesa aos
administrados para se eximirem dos ónus que. as leis decretam,
tivo e de p11gtar-lhevalioso auxíljQ r
embora aquelas ciências os condenem. Poderão, sim, servir, para Sendouma das partes mais importantes da missãoda admi-
que o políticoou o administradorreformema administração;
mas nistração a vigilância e proteção aos interêssesdo Estado, e aos
enquanto as suas teorias não forem traduzidas em leis e regula- individuaisdos súditos, em relação às nações estrangeiras;
mentos, que operem esta reforma, não poderão influir -de modo incumbindo-lhe a organização e gerência de importantes serviços
direto no Direito Administrativo . destinados a exercer aquela vigilância e proteção, . torna-se
Ambas estas ciências por certo que influem poderosamente
evidente a relação estreita que existe entre o Direito internacional,
que trata das relaçõesexternasdos Estados entre si ou com os
na constituição do Direito Administrativo, e no desenvolvimento
súditos dos outros Estados, e o Direito Administrativo. tanto
da ação da administração;mas em regra, não influem direta e
lo sentido restrito, como principalmente no amplo
imediatamente
nas relaçõesjurídicasda administração
e dos
administrados . O Direito Público Eclesiástico. que ensina a constituição da
Igreja e os poderesconcedidosà hierarquiasacerdotalpelo seu
$ 3' .Divino Instituidor, que define e regula as relações do poder
político para com o eclesiástico,não pode tambémdeixar de ser
DIREITO PUBLICO POSITIVO consideradocomoum dos poderososauxiliares do Direito Admi-
211111111g;/Cumprindo advertir-se que, tendo os .deveresreligiosos
.'r O Direito Público Positivo, em sua generalidade,ensinaos incontestávelsupremaciasôbre todos os outros, é um dos mais
princípios constitutivos do poder social em seus diversos ramos, importantes direitos dos administrados o conseguir da adminis-
e reguladoresda sua ação, tanto em relação aos próprios súditos tração, tanto quanto dela depende, as facilidades precisas para
como às sociedades estranhas .
38 39

0 cada um no seio da família. quer emanemdos bens, dos contratos


adminj$Çraçãa Q defender a tde IQ$$11CQS ou das sucessões.
:sV10s
Direito Comercialé uma modificaçãodo Direito Civil, na
do sentimento religioso. .z sua aplicação aos comerciantes .
Cumpre observar-se que, além dêste ramo externo e político,
o Direito Eclesiásticotem outro interno, (o Direito Canónico), Direito Internacional Privado é o que rege as relaçõesindi-
viduais dos súditos de diversos Estados, e mostra quando o
que regula a constituição da hierarquia eclesiástica e as suas À
Direito Privado de uma nação deve ser aplicado no território

l
relaçõespara com os membrosda sociedadeeclesiástica. -- Assim das outras.
mais, que alguns destacamdo Direito Administrativo o ramo /

relativo à gestão da fortuna pública, e com êle constituemo (quantoao Direito Criminal..muitose tem discutido,se ê
Direito Financeiro, como ciência distinta; e que os publicistas ramo do Direito Público ou Privado.centre nós a punição de
alemães subdividem a êste em l)ireito Camarário, e Financeiro alguns crimes é direito do ofendido, que êle pode anular pelo
no sentido restrito, segundose ocupa com a administraçãodos perdão, ou pelo não uso no prazo da l+:scrição; e naquelesmesmos
bens e rendas públicas, ou com a distribuição e fiscalização das em que se procedeex-of/leio, a sociedade,representadapelo
1=29":' z ZWínlsféríoPúblico, aparece como parte ofendida, como pessoa
jurídica, perante o poder judicial, a requerer a aplicação da lei
penal.
O Direito Administrativo e Privado acham-se estreitamente
DIREITO PRIVADO
ligados, e reciprocamentese auxiliam. Assim:

O Direito Privado, que os jurisconsultos romanos definiam 1 -- Em certos casos a aplicação do Direito Administrativo
pela autoridade administrativa pressupõe outra aplicação do Direito
-- qlzodad síngzzZorzzm
ufí/ífafem
specfaf, (Inst. l. lç tít. lç,
$ 4ç, D. l. lç tÍt. lç c. IP, $ 29), é o complexodas leis que Privado pela autoridade judiciária .
regem as relações dos indivíduos entre si, e determinam os seus 11 -- É o Direito Privado que regula o exercício de certas
direitos e deveres recíprocos [)e acôrdo com o Sr. Senador atribuições administrativas, como a tutela sôbre as corporações
Pimenta Bueno (Dir. Públ. Bus. tít. Prelim., cap- lç seção 3') e instituições pias, e então torna-se subsidiário do Direito Admi
o dividimosem: nistrativo.
Comum e especial. 111-- É também o Direito Privado que empresta as fórmulas
O Direito Privado Comum é o que também se denomina que são imitadas pelo processocontencioso-administrativo .
Civil Por outro lado o Direito Administrativo auxilia o Privado:
O Direito EliygdQ..glpççjal subdivide-se em : b
1 -- Protegendo o exercício dos direitos particulares que
Comercial e dêste emanam .
Internacional Privado. ,
ll -- Instituindo e regulando a organização judiciária e
Direito Civil é o que regula as relaçõesindividuaise recí- dando as necessárias providências para que ela possa livremente
funcionar.
procas dos membros da associação,quer emanem da posição/de
40 41

111-- Providenciando também sôbre a prevenção dos fatos quanto, não sendo êstes mais do que agentes ou instrumentos do
que o Direito Penal proíbe, ou auxiliando as autoridades judiciá- Poder Executivo, devem aceitar todo o pensamento e a direção
rias a tornarem efetivas as aplicaçõesdêste direito aos delin- que a êste poder aprouver imprimir-lhes, guardando as relações
qiíentes.
IV -- Incumbindo às autoridades judiciárias o exercício de
l hierárquicas que êle julgar conveniente estabelecer, sem que de
qualquer modo possam recalcitrar
algumas atribuições administrativas, de que elas necessitam para Fica, porém, entendido que a esfera regulamentar se amplia
o bom preenchimento de sua missão. em relaçãoaos funcionáriose empregadosadministrativos,no
Quando tratarmos das relações .da administração e do poder sentido de estatuir o Poder Executivo, na ausência ou silêncio da
judicial, teremos ocasião de estudarmos mais largamente os pontos
{

lei, mas nunca em manifesta oposição a ela.


de contacto entre estas duas ordens de autoridades e os das Em lugar convenientetrataremosde extremarmais clara e
leis que elas são incumbidas de realizar (V. t. 2ç, cap. 2ç, $ 3ç). precisamenteos atou administrativos dos legislativos, e determinar
a extensão da esfera regulamentar (Tít. 2ç, cap. 2ç, $ 2P e
$ 5' cap. 7ç)
Cumpre-nos advertir que, não obstante as profundas reformas
FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO'
operadas em conseqüência da proclamação da independência
nacional, e adoçãa do sistema representativo, grande parte da
íQ.Pjlsgt .Ad legislação administrativa de Portugal, anterior a estes sucessos,
primitiva as ]êi;''administrativas. . ou aquelas que, embora não
ainda se acha em vigor.
tenham especialmenteêste caráter, 6ilupam-se acidentalmente !gp
A Conséituínte Brasileira. compreendendo que não era possível
qüãiqiiõi"lãai :.v
reformar e substituir de um jato tôda a legislação que vigorou
Visto que ninguém é obrigado a fazer, ou deixar de fazer durante o período co]onia], determinou expressamentepe]a ]ei 6+
qualquer coisa, senão, em virtude da lei(Const., art. IZ2, $ 1ç), de 20 de outubro de 1823 que ela continuasse em vigor enquanto
é claro que sementeesta oode criar não fôsse substituída por novos códigos, ou especialmente alterada.
para os aamimstiãdos, ou ampliar, restringe!:;J!!gg!elçq! gu extinaui11
o;'êligtê;iiês .(S;'l' Piiienta'Bi;ê;lo. Dir. Públ. Bus. , tít. 6ç.
Assim, o Direito Administrativo Pátrio Geral tem por fontes:
seção 2B ne 326). l --l Os.ates do PodeLÇgnstÜuinte.q Çpnstituiçãg.Política
Entretanto os (=ãiõ;...ienulamêiiã;êi'do Poder Executivo, : são êstes os títulos da ]egítimi
enquanto contidos dentro da órbii='Eõãiiiii;ãõnal, isto é. enquanto dade de todos os podêrespolíticos, a matriz e o padrão de tôdas
sòmente têm por fim a boa execução das leis, participam da as leis, a origem primitiva de todos os direitos e obrigaçõesna
sociedade política.
fôrça obrigatória destas, e são fonte secundêljâ..4oDireito Admi-
nistrativo . ll -- Os do Poder Legislativo Ordinário; nesta classeacha-se
Mas estes atos, conquanto não possam criar direitos ou compreendida, não só a legislação posterior à independência, como
obrigações absolutamente novas para os administrados, isto é, a anterior a ela, mandadavigorar pela citada lei de 20 de outubro
de 1823.
que se não deduzamde uma lei, nem modificar ou extinguir os
existentes, podem contudo cria-los, modifica-los ou extingue-los lll -- Os do Poder Executivo, a saber: os seus decretos,
em relação às diversas séries hierárquicas de administradores. Porá instruções, regulamentos, as resoluções sôbre consulta do Conselho
43

de Estado e Supremo Tribunal Militar, ou sôbre pareceres das l,AproN DE LAonBAT --(,o7eção de princípios de l)ireífo .4.dmtnlsffafipo.
Tn .('HEVALIER -- /urlsprtzdêrzcfa .A.dn7zinfsfrafípa .
seções daquele, as provisões dêste, os avisos, portarias, ordens
BKUNO # (,ódígo J4dmírzísfrafluo J3elga
do tesouroe dos ministros,etc. MÀcnnoT -- Dicionário de Direito Público e Àdministratipo.
(;OnMENiN -- Z)íreífo ..4dmínísfrafípo.
(Sôbre a nomenclatura dos ates administrativos no antigo
DucRocQ -- Ctlrso de Z)íreífo .Adn7}fnísfrafíuo .
regime e no atual, vede tít. 2ç. cap. 7ç) GinARniN --(2tzesfões admírtísfrafíuas e financeiras.
VANVll.LIERS -- ]t/anda/ de Z)freira .í4dmfnísfrafípo .
$ 6' DAnESTE -- JusfÍça .AdntfnísfrafÍt;a .
(aHEVILLÀRD -- l$sftidos de Ad17zínfsfração .
RAaÀun+LAníBiÊnE -- llsfudos /ilsfórícos e .4.dn71lnísfrafípos .
BIBLIOGRAFIA DO DIREITO ADMINISTRATIVO
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BÀTBiE -- 7rafado teórico e práfíco (!o l)ireífo Púb/lco e a4dmínísfrafíuo.
Para o estudo dos princípios gerais que constituemesta ciência
BATBIE .-- Resumo clo Curso de Z)ireifo Público e .Àdmínfsfrafípo.
julgamos útil que se consultem os seguintes escritores: CnÀNTÀcnEt -- Z)Íreffo z4dntí/zísfrafípo 7'eórfco e ;)rafico .
B.. Dn GEnANoo -- /rzsfífufas de Z)íreifo i4.dn7zfnfsfrafípo I'rancês. Go\xsEnu -- Curso de l)ireifo Público e .A.dministraÉiuo.
SiLvesTRZ PINHEIRO -- ;)rirtcípfos de l)ireifo B)üblíco Co/tsfifucíonaZ, .Adizlt+ MALLKrN :--('onsíderações sôbre o l)ireífo .Admínísfrafípo e self l nsí/zo
nfsfrafíuo e das (}enfes. Fooz -- O Direito Àdministratipo Belga .
V. DO UnuauAI -- J?nsaíosôbre o Z)ireífo J4.dr71inísfrafipa,
etc. MiNcnETTI -- orgarzízação .l4ílmírzísfrafípa do ]?efno da /fá/fa .
V. ix) URUCUAt r--- l?sfizdos práflcos sôbre a admlnísfração das /)fotpíRci2s Pozt -- Direito Adminisfratiuo Báparo (Bayerisches Verwalhngsrechf) .
do Brasa/. RonNNB -- ..4 ..4dmírzísfração Prussiana(1)fe PreussíscAe Verwalhng) .

PiwENTA BuENO t-- ])íreffo ])úbZíco lirasíZelro. JAcoBsoN -- O l?soado Prussiano(Z)íe Preusssísche Sfaaf)
STUBENRAUCn -- ÃlanuaZ da .Admf/zfsfração .4usfríaca(lÍandbuch der Oester-
RÊGO -- Elementos de Direitc} Àdminisfra&uo Brasileira.
reichischen Verwaltung) .
FURTADO DE MENpoNÇÀ -- ]!Zemenfos de. Z)freífo .Admüzfsfrafíuo ])á&io .
VXiaA CABRAS -- l)íreüo .4.dmi/zisfraf uo 13ras1lelro.
GwEisT # l)íreífo ConsfífizcíonaJ e Àdmínfsfrafípo afuaJ da /ng/aterra(Das
heutige Englische Verfassungs und Verwaltungs-recht) .
LAPEKpiEnn-- C'urso feóríco e práffco cZel)freira Püb/lco e Àdminísfrafíuo. P. G. DE LA SKRWA -- //uflfucfones de l)Creche .Admírzísfrafípo.
MACAnEL -- Curso de Z)íreífo Àdnzinísfraffuo.
Coimuno -- Derecho .Adminisfrafitlo Espaço!
V?'rViXN -- Esfu(!os Àdminisfraffpos .
Omitimos muitos excelentes tratados especiais. que aliás também podem
CÀSANTOUS -- J?epefíÇões escritas sôbre o Z)nelfo .A.dí7}üzisfrafíuo. ser. consultados com proveito
FoucÀnx -- Elementos de Direito Público e Direita Àdmínisfraeipo.
}íxv} ementas de Direito Público e Àdministratiuo da Bélgica.
GANniLLOT, et Boitnux -- ]t4anuaZ de l)freira .Admirzísfrafipo.
Dupoun -- Tratado Gera/ de Z)íreífo .Admínisfrafíuo
SERRIGNY --(2uesfões e 7'raia(&)s de Z)zreffo .Ad17zínísfrafipo .

BEcnÀRD -- Z)a .í4dmínfsfração /nferlor cZa Franca.


Lnpnavnz H l)a descentralização .
PnÀoiEn FooERÉ -- ]?esunzto de Z)ireífo .l4.dmírzísfrafíuo.
Sou)N -- Repedórío .Admínísfrafiuo e JudícÀárío, e Código Àdmínísfrafíuo.
CnAUVEÀU -- Princípios de Compefênzcía e de Jtzrísdição Àdmínisfrafít,a
TROLLEY -- 7'raiado da //íerarquía J.dmínísfrafítze .
BLocK -- l)ícionárío cZa Admínísfração .
BLANEHE -- Z)Ícíorzárfo(;Fera/ da .Ad/7}ínísfração .
TÍTULO H

DÀ ADMINISTRAÇÃO
K
N

Capítulo l

DÀ NATUREZA E DIVISÕES DO PODER POLÍTICO

$ 1'

DA NATUREZA DO PODER P.OLITICO

O poder porque
é uma condição indeclinável das sociedadçg.bpl9êBasl-quer remon-
iemos à região das teorias, ou desçamos a análises dos fatos,
não se encontra, nem sequer se concebe, a vida das nações sem
êste órgão essencial.-
Se, porém, esta instituição quanto à sua eggÊgçj4..gglâ
além
igualmente qua!!!g
à sua forma, à intensão e extensão da sua atividadel;Doando
a Providência ao homem a inteligência e a liberdade, armou-o
de dois poderosos instrumentos para influir sôbre os seus próprios
destinos no círculo por ela traçado. É modificando as condições
da sua existênciaindividual e social que a ação humanaalcança
esta instituição fundamentaldo Estado, combina por diversos
modos os seus elementos, reveste-a de novas formas, amplia ou
restringe a sua esfera.-
Entretanto, fascinado por falsas teorias, ou por paixões
irrazoáveis, o homem quebra algumas vêzes caprichosamentea
estrutura do poder, e com os seus f a
utópicas, fantásticas combinações., Mas essastentativas são sempre
efémeras e infecundas; porque 'iodo o poder em desacordo com
as condições da vida nacional baqueia por si mesmo, carecedor
de base
48
r'
tuições, qye $çg4g..j!!d8pensáveís aos fins da universalidgdç, ou
A sociedade é a condição imposta à realização da lei suprema das grande
da perfectibilidade, que resume e explica os destinos do homem
esforços segregados tígio dg3utoridade
na terra. O poder é ao mesmo tempo a arma com que a sociedade
e comover os interêsses gerais
se defende, e a mola mais poderosa com que facilita e auxilia o óu coletívos,que, por isso mesmoque a todos ou a muitos dizem
desenvolvimento da perfectibilidade humana . respeito, e não exclusivamente a alguém, ficariam desleixados sem
10 Estado, oorém, i- a vigilância protetora do poder; finalmente, concentrandoem si
Êle é apenas o órgão, que tem por função exprimir mesmo, como em um foco, tôdas as luzes esparsas na nação,
e aplicar a idéia do direito. Ora, além .dêste há outros elementos tomar a dianteira na carreira da civilização, abrir à sociedade
constitutivos da natureza humana,como as idéias de religião, de larga e fácil estrada, e evitar que ela se transvie por perigosos
ciência, de estética e de indústria, cada uma das quais tende a atalhos. is:
criar-se na sociedadeum organismo especialpara a sua manifesta O poder não é, pois, mal necessário, que convém sòmente
ção e desenvolvimento. Até agora, porém, só o direito e a religião suportar tanto quanto fõr indispensável;não é inimigo implacável,
são revestidos de organismos amplos e completos, -- o Estado
sempreávido de conquistas,que cumpre circunvalar em linhas cada
:e a Igreja.
vez mais apertadas, e contra o qual.a sociedade deve estar constan-
As relações sociais concernentes a cada um dêstes elementos temente armada e de atalaia; não, --.o poder é instituição ligada
são regidaspor leis providenciais,mais ou menosfielmente tradu- indissQIÜyelHente
à substância
da sociedadee indispensável
à sua
zidas pelas instituições humanas. E tão infinitamente sabia é a exístênçla; e..2dncípjQ plptetQi...d&ledos os interêsses !ícitos;
combinação dessas leis, que a liberdade indívidua] pode mover auxiliados da atívidade humana, enquanto se esforça para alcançar
largamente sem quebrar a harmonia geral do mecanismo social, os seus fins dentro da esfera do Direito; e tutelados das individua-
nem interromper as evoluçõeslógicas do seu desenvolvimento
. lidades físicas ou morais, que não têm a inteligência, a vonta.de.
/ Êsses organismos especiais são tão distintos e independentes ou as fôrças precisas para velarem sôbre si mesmas. IX
cama as idéias que lhes servem de germe. Mas, assim como estas Guiada pelo.pêg ;gçu]çq..c {grçli$çíyç] da Providênçjg. çamínha
se harmonizam na unidade .da natureza humana, devem êles livremente a sociedade humana para o seu Último e misterioso
harmonizar-sena unidadeda vida social. Cada um dêssesorganis-
fim iÀo poder político incumbe investigar as vias mais adequadas
mos tem, pois, uma missãodupla -- realizar a sua ideia especial
para a realização do direito, e auxiliar o múltiplo desenvolvimento
e auxiliar a realizaçãodos outros elementossociais,salvas a
da natureza humana, designando os fins secundários que servem
autonomia e independência dêstes. /
de meiospara êsseúltimo e providencial,e que são como que
Assim, o poder político não tem só por fim interpretar e os marcos miliários na longa jornada .da vida das nações.
aplicar o direito; cumpre-lhe também coadjuvar o desenvolvimento
e realizaçãoda religião,da çjência,da estéticae ;daindústria. ..) Nas esferasestranhasao Direito êle não poda !ppgLg..!gy
Não Ihe competesémene proteger'';';=stência externada pensam93Ég...PQ! meio da coação; deve limitar;sé ã esclarecer,
sociedade, baldando tôdas as ameaças e perigos que venham de a persuadir, a conceder óii negue:ja";êii"'=i;=ilio .\ Mas na esfera
fora, e subordinarao fim social todos os fins parciais das índivi- lieculíai ão Direito, depois de esgotados os meios suasórios, êle
dualídadei ou fiações díscolas . tem o devere a atribuiçãode empregaros coercítivos,não por
certo contra a sociedadeinteira, que representa,mas para coibia
'l ..âlÉn..çlçlç4..:ni!!eg .puramente negativa, tem êle outra mais
o movimento centrífugo das vontades individuais recalcitrantes.
v.astp e mais importantes ç!!glplç=!be criar e maiitei ãijüêEaéiiis'ti
50 51

g 2' único, qualquer que seja a esfera em que funcione; porque a lei
dei';êj;ãiã8ã=ê;iê.
DAS DIVISÕES DO PODER POLíTIC:O e sim pelo concurso harmêpjço deJõdas;.só no casa dç descentrali-
# zação política ou administrativa êle se fraciona em relação às
divisões territoriais .
:"'Denomina-sepoder político, em geral, o que é incumbido de
realizar a missão do Estado . O Poder Executivo divide-se em governameplgl, admi8jglEê-
As suas funções se resumemnestas duas supremas: -- pres- tívo e judiçjêljg, segundoa esferadentro da qual atua.
crever as normas que devem dirigir os associados,em relação ao O ramo governamental, que também se denomina político,
interesse socia], e tornar efetiva a rea]ização dessasnormas. (quanto no sentido restrito, tem uma missão inteiramente moral e de
à natureza de suas funções, o poder divide-se, pois, em legislativo superintendência . Incumbe-lhe perscrutar atento as tendências da
e executivo . opinião pública para esclarece e guia estudar as paixões
A esfera, porém, da ação do poder varia, porque diversa do povo para modera-las, dirigi-las e aproveita prol da
é a matéria sôbre que se exercemas suas funções. Clom efeito: causa pública; sondar tôdas as suas necessidades,todos os seus
lç) Ulmasvezes êle se aplica a inspirar aos seus principais sofrimentos para sana-los, ou ao menos atenua-los; finalmente
órgãos o pensamento que deve dirigir a política internacional, ou cumpre-lhe, inspirando-se do pensamento nacional, formular prin-
as suas próprias relaçõesgerais para com os associados.< cípios claros e exeqüíveís, transmiti agentes da adminis-
tração, e traçar-lhesas vias que no seu desenvolvimento devem
2ç) Outras vozes desce à aplicação individuada dêsse pensa' trilhar..O seu código é o Direito Público externo e interno.
mento diretor, na gestão dos interêsses diplomáticos e internos;
na organização
das instituições,
que servemde instrumentoe Ao ramo administrativo incumbe a gerência prática dos
auxílio à sua múltipla atividade; ou na administração dos interêsses interêssespúblicos, já em relação às potências estrangeiras, já
coletivos e dos individuais, que em atenção ao interesse social em relação aos próprios membrosda associação;cumpre que êle
cumpre serem protegidos. se disseminahieràrquicamente por todos os pontos do território
nacional e estrangeiro, para estar presente sempre e em qualquer
3ç) Finalmente, tomando por objeto as relações individuais
parte onde precisarem ser representados e .defendidos os interêsses
e recíprocas dos associados, cumpre-lhe também -defender e conter sociais; finalmente resolve-se a sua missão na execução das leis
a atividade dêstes dentro de suas respectivas i21bil2:..jurídicas. de interessegeral ou coletivo, já por medidas de conservaçãoou
Nestas três esferas amuam sucessivamente o Poder Legislativo de prevenção, já por medidas gerais, locais ou individuais. .Ç2
prescrevendo as normas gerais, e o Executivo tornando efetiva a Eçg.sÉglge..SW.
sua realização. Pertenceao ramo judiciário velar sôbre as relaçõesindividuais
C) complexo das normas relativas à primeira dessas esferas c recíprocas dos associados, fazer respeitar os direitos e deveres
constituí o Direito Público. ou Político em seus diversos ramos; que .delasnascem,e aplicar as leis de penalidadecomum. O seu
as que se referem à segunda fazem o objeto especialdo Direito código é o .,3,
Administrativo; as que dizem respeito à terceira constituem o Quando a administração se apresenta como representante
])preito Privado.
da pessoa jurídica -- o Estado, e reclama de algum indivíduo
. O Poder Legislativo, embora exercido por mais de uma câmara, um Direito, ou contesta-lhe uma obrigação em -,,irtude de títulos
ç.com dependo ão, é semore de Direito Privado, ou quando, como autora ou como ré, sustenta
52 53

um litígio sôbre matéria pertencenteao direito dos bens, acha-se senão existisse uma entidade superior a tôdas, a quem competisse
em idêntica posição a daquele com quem litiga, e, não devendo velar incessantemente sôbre êles, para conto-los dentro de suas
fazer-se justiça por suas próprias mãos, submete-seà autoridade órbitas próprias.
do Poder Judiciário, a quem cabe decidir entre ela e o outro Para êste fím foi instituído o poder moderador, a quem se
litigante, com a independência e soberaniaque Ihe são próprias. incumbiu esta suprema missão de superintendência, ponderação e
A distinção que acabamos de esboçar entre os poderes do direção sôbre os mais poderes (Const. art. 98).
Estada, pôsto que essencial em relação à ciência, não importa a Difícil por certo era a tarefa de criar um poder comsuficiente
absoluta separaçãoentre êles. Distintos e até independentes,são fôrça para conter os outros, mas incapaz de absorve-los,ou
contudo íntima e substan-cialmenteentre si ligados, como órgãos simplesmente de atentar contra a sua independência.
componentes.de um ser único e vivo.
O legislador constituinte, porém, com admirável sagacidade,
Eis porque a sua harmonia de ação é condição indeclinável realizou êste desideraftzm,compondo o sublime apanágio do poder
de sua vida comum. Sem ela as fôrças afluirão anormalmente moderadorcom funções tais, que a sua influência sôbre os outros
para um dos órgãos, com prejuízo dos outros; daí a pletora e poderes não pode deixar de ser sempre salutar (Const. art. 101),
atrofia política, que constituemum estadomórbido cujas funestas e confiando-o príPafít,amenfe a um Monarca hereditário (Const.
consequências cumpre prevenir . ans. 3 e 117), que qualifica de Chefe Supremoda Nação e seu
Para manter essaharmonia é mister que exista uma autoridade primeiro Representante. (Const. art. 98).
suprema,que mais ou menosparticipe das funçõesde todos os Embora pois a Nação tambémseja representadapela Assem-
poderes, de sorte que possa estimula-los ou reprime-los, segunda bleia Geral (Const. art. 11), a preeminência na atribuição de
fõr necessário .
representa-la cabe ao Monarca, cujo caráter de soberania emana
Tais são os princípiose as distinçõesque a ciênciaformula; da sua irresponsabilidade (Const. art. 99) e da posição sobran-
mas achar-se-ãoêles de acôrdo com as teses de nossa Lei Fun- ceira do poder moderadorem relação aos outros poderesdo
damental? Examinemo-lo. Estado .

O Monarca é também o chefe do poder executivo,cujas


$ 3'
atribuições são em parte governamentais, e em parte administrativas.
TEORIA CONSTITUCl©NAL Êle, porém, não pode exercitar estas funções senão por meio
de agentes responsáveis (Const. ares. 102 e 132). As mais
O nosso sistema político reconheceos podereslegislativo e importantes, que a Constituição enumera no art . 102, são exercidas
executivo; e, desmembrandodêste as funções judiciárias, com elas por intermédio dos Ministros de Estado; as outras, cujo complexo
constitui um poder distinto (Const. art. lO) . constitui a legislação administrativa, são postas em prática por
A todos proclama independentes, e considera como delegações agentes de categoria inferior, que compõem a imensa hierarquia
administrativa .
da nação (Const.. art. 12 a 98) .
Embora, porém, tenha êle procurado atentamenteequilibrar Assim, na nossa organizaçãopolítica o Imperador impera
e harmonizar as funções dêstes poderes, previu que a sua inde- (Const. art. 4P, ]5, $ 7ç, 36, $ 3ç e 116), governa (Const. ans. 98,
pendênciafàcilmente degeneradaem rivalidade e luta, ou na sua 122-124, 126 e 127), e administra (Const. art. 15, $ 6ç, 37,
final absorção por um dêles, isto é, na anarquia ou despotismo, $ 1ç, 102, 142 e 165).
-54
Não existe pois um poder administrativo-distintoe indepen-
dente do executivo. O poder administrativo,ou a administração,
é o mesmo executivo -- abstração feita das suas funções governa
mentais --, difundido pelas inúmeras ramificações de seus
funcionários e empregados,desdeo Monarca, que é o seu Chefe,
até os mais subalternosagentes.
Capítulo ll
«A administraçãoé o coraçãodo Estado, e sua mola central;
dela devem partir a vida e enerçliapara animar todos os meios
do bem ser público; deve por isso recolher todos os esclarecimentos DAS RELAÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO COM OS
PODÊRESDOESTADO
necessários, organizar os elementos da sua ação, circundar-se de
coadjuvaçãoprestante, enfim desempenhar
em grau elevado o
$ 1'
que faz um bom administrador particular quando quer e sabe
desempenharseu cargo; nada olvidar, tudo prever e reprimir
DAS RELAÇÕES DÀ ADMINISTRAÇÃO C'OM OS PODÊRES
quanto é nocivo, promover, secundar e realizar tudo que é útils». M.ODERADOR E EXECUTIVO GOVERNAMENTAL
(Pimenta Bueno, tít. 6Q cap. 2ç sec. 9' nQ 350)

A administração, pôsto que distinta dos podêres liolíticos,


acha-se ligada a êles por íntimas e perenes relações . Destas nasce
a sua recíprocainfluência,que, em vez de ser um mal, é a
condição de sua existência. Mas esta influência tem uma medida
e um limite. Demarca-loscom a possívelexatidãoé a árdua e
melindrosa tarefa que vamos encetar.
Coloquemosa administraçãoem face de cada um dos podêres
do Estado, e indaguemos que relações os devem ligar, sem que se
comprometa a sua independência .

Conquanto ao Poder Moderador não pertençam funções


administrativas, cabe+lhe uma influência indireta, mas eíicacíssima
na administração pela sua atribuição de nomear e demitir Zíuremenfe
os ministros de estado (Const. art. 101, $ 6q), a cujas diversas
repartições se prende tôda pública administração .
Quanto ao Poder Executivo governamental,tão intimamente
entranhadas são as suas relações com a administração, que muito
árduo se torna traçar entre êles a linha divisória. Com efeito,
exercidos ambos, em parte, pelos mesmos iluncionários, sendo como
que o desenvolvimento
ou o prolongamento
um do outro, a sua
ação e influência se entrelaçam e mesclam a ponto de confundirem-
se freqüentemente
56

Em teoria é fácil discriminar as funções políticas e admínís de atonia política, em que por vêzes caem as sociedades,vê-se
trativas dos agentes do Poder Executivo (Cap. IQ, $ 2ç huj. tít. ); ordinàriamente dominarem êstes princípios exagerados.
mas na pratica nem sempre se pode determinar quando êles exercem
umas ou outras, quando got,ez'namozzadmínlsfram. l (]uan.do o poder governamental ou político
existência, ou a da sociedade, ameaçada por opiniões hostis,
sente a sua

Ào govêrno, como poder governamentalou político, compete audazes, poderosas,e de ardente proselitismo, arma-se ordinària-
mente de todos os seus meios de influência para combata-las, e,
indicar a direção, inspirar o pensamentogeral e imprimir o impulso
a todo o funcionalismo administrativo, tanto nas relações interna- infiltrando o seu pensamentointeresse,e talvez paixões,em
cionais como nas internas .

A missão da administração, pelo contrário, é por assim dizer


} todos os agentes e auxiliares da administração, os transforma
em outros tantos soldados seus, devotados, disciplinados
passivamente obedientes. Então a luta torna-se o seu serviço
e

tôda material ou mecânica; cumpre-lhe organizar os meios práticos, capital, e a vitória o seu primeiro interêsse
e põ-los em ação, para a realização do pensamento governamental.
Desviada assim a administração do seu fim natural, e con-
Ela deve, pois, ser um instrumento .dócil e seguro nas mãos vertida em imensa máquina de guerra, quase sempre o govêrno
do govêrno, enquanto êste obra dentro da sua esfera própria. consegue a vitória, pois raras vozes as opiniões dissidentes
o con possuem organização igualmente vasta, completa, disciplinada,
erário ou dix lç! dar; não pg4e prestigiosa e dotada dos mesmos conhecimentose hábitos do
um que nao s comando, dos mesmos recursos pecuniários e da mesma clientela.
e a vontade de !gt..gpquanto êste SÊ.:jlmitq ê! !!!gl.!!!g$f?es Sim, conseguea vitória; mas quantasvêzes à custa das leis
e iniciativa,de apri 0 violadas, dos dinheiros públicos esbanjados,dos direitos dos
Aapi: porém, deve parar 3 !ubgldjlyção e começar a sua cidadãos conculcados, das necessidades .do serviço público olvi-
dadasl
indeoendência.,7
Outras vêzes, porém, a sociedade cai em atonia, e a política
Quando a administração trata de organizar os serviços
se eclipsa. Então desaparecem essas deploráveis exagerações da
públicos, não deve postergar as vantagensdêle em atenção às
teoria Ja confiança, e o seu mesmoprincípio fundamentalfica
predileçõesou antipatias políticas; quando se ocupa com a esquecido.
execuçãode um preceito legislativo, não deve sofística-lo, torcê-lo,
ou iluda comprazer ao sistema preferido pelo govêrno; No meio desta calmaria equatorial o poder político, nãa
il enxergando adversários, afrouxa a sua vigilância. abandona a
quando se acha em presençados cidadãos,dos seus direitos e
sua iniciativa e impulsão, e deixa o maquinismo administrativo
obrigações,deve, como verdadeira magistratura, fazer respeitar
êsses direitos e cumprir essas obrigações, colocando a sua retidão funcionar de per si, entregue aos próprios instintos. A admi-
e imparcialidade acima de tôdas as considerações da política .
nistração toca então ao máximo da independência;trabalha como
fôrça puramente mecânica e fatal, que, privada de princípio
Descreverem terno de cada uma destas duas entidadesum inteligente e livre que a dirija e Ihe abra a propósito as válvulas
círculo dentro do qual se possa mover larga, harmoniosae de segurança, faz as suas evoluções, sem desviar-se perante os
independentemente,nada há mais difícil do que isso. Não falta obstáculos, sem suspender nte os sofrimentos ou perigos,
até quem sustente os sistemas opostos e extremos, -- da completa e esmagaa sociedadesob as suasrodas insensíveis,
até que se
absorção da administração pela política, ou da inteira anulação despedaceperante um óbice insuperável, ou faça explosão pelo
desta na presença daquela. Nos períodos de febril excitação, ou excesso da própria fôrça. Então, quando ao estampido da catás+
58 59

trote despertam de seu sono culpado os indolentes timoneiros, no exercício das funções do seu cargo, devem tomar lealmente a
l
ouvem muitas vozes uma voz desconhecida proferir as fatídicas direção que êste poder superior lhes quiser imprimir, ficando-lhes
palavras --- é tarde sempre salva a liberdade de pedirem a sua exoneração, quando
O sistema da absoluta subordinação da administração à entenderem que essa obediência compromete a fidelidade que devem
política, entre outros males, traz o de tornar necessáriaa completa guardar às suas opiniões. Mais tarde nos ocuparemosde novo
dêste assunto, e então mostraremosmais precisamentequais
inversão no País oficial, tôdas as vozes que a mudança de
pensamentose faz sentir nas altas regiõesdo poder. Esta inver- os direitos e deveres especiais dos agentes administrativos em
são, que é freqüente na U.dão Anglo-Americana e nos países
relação ao poder político.
que obedecem aos governos absolutos das democracias puras,
$ 2'
repugnacom o princípio de estabilidadee permanência,
que é
uma das bases do regime monárquico, embora modificado pelo
DAS RELAÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO COM O PODER
elemento representativo nacional .
LEGISLATIVO
Às destituições em massa dos funcionários e empregados
administrativos,
além de afetar dolorosamente
a sua sorte e a O legislador é a inteligência que formula a regra; a adminis-
de suas famílias, são prejudiciais ao serviço público, que perde tração é a fôrça mecânicaque a executa.À&.!.administração quem
os seusmais experimentados
agentese passaa ser confiadoa transporta o pensamentolegislativo do mundo subjedvo para o
outros novatos, cujo título principal não é aptidão profissional, 8BM@=lã«ú'rt
e sim a opinião política. Demais, essa multidão de funcionários menos materiais sociais .
destituídos,que pela mor parte se têm tornado imprópriospara
A ]ei deve gçr geral e pç11B211g=Êgi.
e portanto exprimir-se
outras profissões, torna-se naturalmente um núcleo terrível de
oposição,a tramar de contínuo contra o govêrno,a fim de por meio de sínteses aplicáveis a todos os pontos do território,
recuperar as posições perdidas, e, vencido, ou fatigado da luta, e a todos os momentosdo longo período que cumpre que ela viva.
As circunstâncias sociais, entretanto, se modificam e se transformam
o govêrno afinal sucumbe.
129EÊllÊDÊ=Êg..Bg..espaço
e no tempo;
.$ a lei nãopodeprevere
-1 providenciar acerca dessas transformações dç..!gdQg..2g..;nomentos:
funestacomoa primeira inversão,e assima administração,inçada
coma.gma pala de reação em reação, desnorteia-se, desmoraliza-se,
r-+
Assim, para que a sua execuçãonão encontre tropeços, incumbe
q:aquece as tradições oficiais, pçlyç g; !i JQ$ pçgócios,bem como
à administração aplicar sistemàticamente às hipóteses variáveis da
perde tôda a ação e prestlglg!( vida práticao pensamento
da leí, esclarecendo
e completando
a
Mas, se a divergênciade opiniõespolíticasnão deve servir palavra de que ela se serve, e decretando as medidas secundárias
de motivo para a demissão de funcionários meramente adminis- de mera execução. É esta a atribuição que no art. 102, $ 12
trativos, ou para arredar candidatosprofissionalmentehabilitados, a Const. concedeao poder executivo, quando o autoriza a expedir
tambémo cargo administrativo não deve servir de instrumento de decretos, instruções e regulamentos adequados à boa execução
guerra contra o pensamentopolítico que domina a situação. das leis.
Os agentes da administração devem guardar intacta a sua Esta missãosuplementarconfere à administração caráter quase
liberdade de consciência; cumpre, porém, que se abstenham de legislativo; não se trata da faculdade de interpretar as leis, que
hostilizar o poder político, ou de põr-lhe tropeçou. Pelo contrário, é atribuiçãoexclusiva do poder legislativo .(Const. art. 15, $ 8ç):
-- 60 -.- 61

e sim apenas da faculdade de facilitar e dirigir a execução ..da estas cumpre à administração formular a organização dos serviços
[ei, adaptando-as às circunstâncias variáveis das ]oca]idades, ou técnicos .
às novas emergências do tempo, suprindo a ausência do legislador,
As assembleiaslegislativasnão podem ser compostasde inte-
a quem não convém invocar de contínuo para solver as pequenas
ligências enciclopédicas em tôdas as especialidades que constituem
e sempre renascentes dificuldades de execução. I''"
os vários ramos do serviço público; demais, dominadasmais ou
Onde, porém, cessao domínio da lei. e começaa tarefa regula- menos pelo espírito político e habituadas às discussões ruidosas,
mentar da administração? Em tese já respondemos: a lei formula e por vezesapaixonadase tumultuárias,não podem fazer o estudo
sínteses gerais e permanentes; a administração desenvolve estas sereno e refletido que a solução dessas difíceis questões exige.
sínteses, aplicando-as às circunstâncias especiais e variáveis do Pelo contrário, a administração, cercada de conselhos numerosos
[ugar e do tempo; a ]ei proclama os princípios, a administração e especiais, auxiliada pelas notabilidades das ciências, amestrada
deduz e organiza as conseqüências. Na aplicação prática, porém, pela prática dos negócios, pode na tranquilidade do gabinete
desta tese, numerosas difículda.des aparecem, que não acham fácil perscrutar todos os arcgpg! dêsses serviços especiais, de modo
e completa solução na nossa legislação, nem na ciência. entretanto, que satisfaça completamente cada uma de suas necessidades .
cumpre que entremos em alguns desenvolvimentos.
Esta é a razão que explica diversas autorizações concedidas
Para que a lei conserve os seuscaracterespróprios de genera- ao govêrno,comoa de reformaras alfândegase sua pauta, oi
lidade e permanência, é preciso que não desça às medidas consulados. as mesas de rendas, as recebedorias e a arrecadação
1!
modificâveis segundo as necessidades locais; que, atendendo de diversos impostos (Leis n9 243, de 30 de novembro de 1841,
sòmente ao que há duradouro e estável nas relações sociais, ponha art. 10. Rç 369 de 18 de setembrode 1845,ares. 28 e 30, nç 514
de parte as circunstâncias acidentais, transitórias e efêmeras que de 28 de outubro de 1848, art. 46, e nç 1.040 de 14 de setembro
podem modificar estas relações . de 1859, art..19), o regimento das custas judiciárias (D. nç 604
Nemo poderlegislativo,
coma solenidade
e a lentidãode de 3 de julho de 1850), os Estatutos das Faculdadesdo Império
suas discussõesperiódicas,seria próprio para entrar neste estudo (D. nç 608 de 16 de agosto de 1851), a instruçãoprimária e
longo, minucioso, e sempre a renovar-se; para êle sòmente é secundáriado Município da Côrte (D. nç 630 de 17 de setembro
adaptada a administração, cuja ação é perene e inintenompida, de 1851), o Tesouro Público e Tesourarias Provinciais (D. nç 563
cujos agentes hieràrquicamente distribuídos por todos os pontos de 4 de julho de 1850), a Contadoria Geral da Guerra (D. nç 574
do território e todos os ramos do público serviço,podem e devem de 28 de agosto de 1850), a qualificação, organização e serviços
estudar essas circunstâncias locais e efémeras, e de pronto provi- dos Guar.dasNacionaisdas Provínciaslimítrofes (D. nç 520 de
denciar a respeito delas. 14 de fevereiro de 1850), as Secretariasde Estado e de Polícia
Destarte, a lei que organizou as Municipalidades, as eleições, (D. nç 781 de 10 de setembrode 1854), etc
a reforma judiciária e tôdas as outras importantes, têm sido acom- Outras vêzes a matéria é de natureza tal, que não é possível
panhadas de Decretos, Avisos, Portarias, etc., acomodando as formularem-se medidas definitivas; cumpre que se façam ensaios,
suas teses gerais às circunstâncias especiais que no correr dos estudospráticos, que habilitem a optar-se, sem perigo de deploráveis
tempos têm de novo emergido. erros, entre sistemas relutantes .

Assim também, as matérias, cujo estudo exige coniiecimentos O govêrno é quem por meio dos seus regulamentos deve fazer
especiais e técnicos, não convém que sejam desenvolvidas pela estes ensaios,e só depois que se completa o estudo, que as idéias
[ei, que neste caso deve limitar-se a decretar basesgerais, e sôbre se assentame tomam as suas formas definitivas, é que o poder
62 63

legislativo deve intervir com a sua autoridade,para sancionare necessàriamente


variam muito, não pode descer.das suas teses
tornar permanente o resultado dêstes estudos, adotando o sistema genéricas; aliás empreenderia tarefa incompatível com os seus
que se houver mostradopreferível. recursose a naturezade sua missão,e que portanto.seria forçosa-
mente mal desempenhada.
Quanto, porém, as leis que dizem respeito às relações indi
viduais e recíprocas dos cidadãos, ou que diretamente afetam os Fracionado,porém, o território, e por êle disseminado
em
seus direitos primordiais, cumpre que sejam bem explícitas e desen- parcelas análogas o poder legislativo, diminuída conseguintemente
v(!!B:idgg.g fim de que o! glqndes e sagrados interêsses da liberdade, a extensão de sua tarefa, fica êste habilitado a descer dessas teses
da honra, da segurançae da propriedade'ãi;;'ã;;ocjados não quem gerais para outras menos amplas; e tal será o fracionamento dêste
dependentes
do arbítrio,dã ignorânciaou da má-fé daqueles
a poder, que sem inconveniente possa entrar na apreciação dos fatos
q mais especiaise individuais,.identificando assim em parte as suas
funções com as da administração .
Não se entenda, entretanto, que, por serem menos sagrados
ou preciosos os interêsses gerais do Estado, devem ser tratados Ta[ é a razão justificativa da disseminaçãodo poder ]egis]ativo
com menor amplidãopelo poder legislativo; mas sim que estes pelas províncias e municípios; porquanto, o poder legislativo geral,
interêsses são suficientemente protegidos pelas fórmulas gerais a preocupado com as necessidades comuns do Império, não pode
que a ação administrativa está adstrita, pela superintendência das convenientementeestudar e satisfazer os numerosose complicados
câmaras legislativas, pelos debates livres da imprensa, pela respon- interêssesde cada uma das vinte províncias, e neste serviço é
sabilidade dos agentes administrativos, pelo exame inquisitorial vantajosamente substituído pelas assembleias provinciais; assim
com que as opiniões políticas divergentesdo govêrno esquadrinham como estas, por não poderem conhecer as pequenas necessidades
todos os atos dêste e as especiaiscircunstâncias
de cada município,são com igual
vantagem substituídas neste serviço pelas câmaras municipais, cujas
Às pequenas lesões dos direitos ou dos interêsses meramente
atribuições em parte são de natureza puramente legislativa, como
individuaisnão são tidas em igual consideração
pelos órgãos da
se expõe no Cap. 8ç, $ 4ç
opinião pública, e mais fàcilmente passamdesapercebidas;é por
isso que as leis, que a êstes direitos ou interêssesse referem, devem Também o génio, os costumes,as tradições dos povos, podem
ser bem explícitase amplamentedesenvolvidas,
para que suas influir na ampliação, ou restrição, da ação dos poderes políticos
lacunas ou omissões não dêem lugar a abusos e lesões, que por )( Países há, onde a propriedade se acha concentrada em poucas
falta de eco poderoso, que as repercuta, fiquem sem reparação l mãos; onde se encontram grandes influências hereditárias, nomes
e repressão. Í prestigiosos, corporações poderosas pela sua riqueza e clientela.
Tais são as linhas -divisóriasque é possíveltraçar entre a l AÍ a ação do Estado é muitas vozes limitada pela concorrência
ação legislativa e a administrativa, em vista da naturezadas \ dêstes indivíduos ou corporações, que estão na posse de dirigir
funções de que emanam; não são, porém, universais, fixas e acertos ramos do serviço público e de prover as suas necessidades.
permanentes; pelo contrário, se restringem ou ampliam, sg.g.yUÜ Outros, porém, há, como o nosso,onde o nível da igualdade
a maiorou menorextensãodo território,ou os costumes
do povo havendopassadopor tôdas as fortunas e todos os nomesnenhuma
outra grande influência resta além da do Estado; de sorte que os
]êãi:15iíç='ê"7'ãai;iinistração rêãprocamente se insoiram . >c cidadãos, desabituados de todo o esforço espontâneo em prol dos
Quando o poder legislativo tem em perspectivaum país interêssesgerais ou coletivos, confiam inteiramente a gerência
extenso, cuja população, produções, necessidadesé acidentes dêstes à vigilância e recursos dos poderes públicos.
65
64

atribuições que teoricamente se devem classificar como adminis-


Finalmente a maior ou menor confiança que o poder legislativo trativas .
deposita na administração influi poderosamente na amplitude
relativa de sua ação Fácil fera apontar na história dos países Assim, quando êste poder, ao formular as suas teses, entra
pela conexão das matérias no exame dos meios práticos de execução;
estranhos expressivos exemplos destas alternativas.
ou quando aprova tratados que envolvem a cessãoou troca de
Assaz é. porém, lembrarmos que no primeiro reinado o poder território; ou ratifica contratos feitos com os particulares; ou aprova
legislativo, dominado talvez por penicos terrores, se esforçava por pensões e aposentadorias, que exorbitam das leis, ou na ausência
limitar quanto era possível a ação da administração; havendo destas; ou -decretaqualquer medida meramenteindividual em
depois, durante o período regencial, assumido a preponderância. execuçãoda lei, ou suprindoa lacunadesta;é evidenteque êle
não ousava confiar nos recursos desprestigiados da administração, descedas regiões que a ciência Ihe assina, para entrar pelo domínio
nem tão pouco arma a necessária fôrça, receoso de perder próprio da administração . Entretanto razões ponderosas explicam
a sua preponderância. Pelo contrario, sempre em harmonia os e justificam esta desclassificação de atribuições
dois podêres, depois da maioridade do Senhor D. Pedro 11, tem
freqüentes vêzes o legislativo cometido ao executivo o exercício Ê 3'
de funções suas importantíssimas .
Contra os abusos destas delegações legislativas, concedidas RELAÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO COM O PODER JUDICIAL
ao govêrno, sábia e largamente discorre o Sr. Senador Pimenta
Bueno (Dir. Públ. Bus, tít. lç cap. 3ç sec. 3') . Elas envolvem Quando expusemosos mútuos auxílios que se prestam a
a confusãodos PodêresPolíticose feremde frenteo art. 9Pda
Direito Administrativo e o Privado (Tít: lç Cap. 29, $ 4Q), jâ
Constituição, que declara que a divisão dêsses podêres é o princípio indicamos alguns pontos de contacto entre a administração e o
conservadordos direitos dos cidadãose o mais seguro meio de
poder judicial. Mais tarde temos. de ocupar-nos de novo dêste
fazer efetivas as garantias que a Constituiçãooferece. Demais. assunto, descendoàs noções mais individuadas e práticas; assim
importam, embora transitoriamente,a alteraçãonos limites e atei anualmente só nos limitaremos a princípios gerais .
buições respectivas dos poderes legislativo e executivo, o que ê
expressamentevedado às legislaturas ordinárias (Const . art . 178). ATanto a administraçãocomo o poder judicial têm po! missão
Tão inconstitucionais são essas delegações como a que o poder a aiecuçãQ das leis; a primeira, porém, só se ocupa ÇQQ..3E..leis
executivo fizesse de alguma de suas atribuições a qualquer das 4S..ÍnlSEÊ::S..gS:a!&....S
ç! segundo com qs de interêsse orivado; .a
câmaras legislativas.
e o segundo .de dçfçl8çli g!.direjçg! individuais dos associados..r
Entretanto, como não é possível traçar-se linha fixa de demar Desta aiversiaadede missõesprovém a diferença de sua naturêÊa
cação entre a esfera legislativa e a regulamentar, não se deve e de suas funções.
qualificar de infratora da Clonstituição a lei que em matéria
administrativa se limitar a teses gerais, ou a simples bases, deixando /.:assim, p administração, tende...pg lei ?uprema o interêssê"t
o seu desenvolvimento aos regulamentos; pois. como vimos, em geralb,.devemodificar os iêiii ãiÕs na razão da influência que
gõbre êste interesse exercem as circunstâncias -de lugar e tempo.
alguns casosconvém que assim se proceda.
À justiça, Pêlo contrário, sobran
Porém, bem como pela natureza de sua missão a administração ia!!Êx!::sLz ]ei, qualqyçl gue seja o interesse ciue vá !glil..e,
é algumas vozes investida de atribuições quase legislativas, do moldando suamdecisões pelos termos estritos da lei, as promulga l
mesmo.modo o poder legislativo também algumas vêzes exerce
66 67

e executa, sem atender às conseqüênciasque delas possamprovir, alheio, ou pelo menosimpedem os outros de se moveremlivremente
sem ódio, sem temor e sem piedade. dentro da sua própria esfera.
r'../ É por isso que os agentes da administração são amovíveis l À administração, a pretexto de expedir instruções e regula-
}e responsáveis,e seus atos revogáveis, enquanto os magistrados l mentos adequados à boa execução das leis por vezes põe-se a
/são perpétuos, independentes, soberanos em suas decisões, e só / interpreta las, ou pretenda'jjdgL:..d11gçgg
aos magistrada;'';abre o
l por elasresponsáveis
no casode inflaçãode lei penal..Pf &'l 3ç-çiç©..dS.llÍiii(M
L Assim .constituídos a administração e o poder judicial, e girando administrativas, abrangLçumm estas confunde outras de mdêii
dentro de suas órbitas próprias, ficam ao mesmotempo satisfeitas meqgS!!!t.j1141glê!!g.<
estas duas supremas necessidadesda vida social, -- a defesa dos Por outro lado, o poder judicial ao tomar conhecimentode
interêsses coletivos e a dos direitos individuais , , questões.de sua competência,civis ou criminais, encontra com elas
além, os papéis! ou invada e entrelaçadasoutras de ordem administrativa, e as solve conjunta-
mente, ou pçlg..êpjcaçãõ acintosa das leis penais, cerceia a liberdade
profundamente: 'de ação dos agentesadministratiigói';'
Entregar a distribuição da justiça a agentesadministrativos,
Tanto uns como outros dêssesfatos são verdadeirasusurpa-
seria despi-la dos seus caracteres de independência e inflexibilidade,
ções, que cumpre evitar. À quem, porém, incumbir desta repressão?
que são a !g%!
entreçíar estes direitQlà ap
A qual dos dois poderes,que são partes no litígio, -comoautores,
ou vítimas da usurpação? Reservamos a solução destas questões
pelgg..glil cilçpnlçgggas variáveis que de contíguo atuam sôbre o para quando tratarmos dos conflitos .
interêssepúblico e substituir o prin-
c pio do arbítrio ao do direito. À
Também, pelo contrario, entregar a administração aos maxis;
'trados, seria despi-la da sua flexibilidade própria, da sua subor
dilação hierárquica, e sacrificar muitas vozes os interêsses públicos
à supersticiosa,servil e material observânciados textos legislativos.
Entretanto, tão grande não deve ser a separaçãoentre os
dois poderes que se não possa algumas vêzes confiar. aos agentes
de uns algumas funções. que teoricamente pertencem ao outro:
isto, porém, sòmente deve ter lugar quando entre estas funções de
diversa ordem houver ta] nexo e dependência que sem inconveniente
se não possa separa-las, e exclusivamente a respeito de atribuições
de pequenaimportância. Em regra o administradorsòmentedeve
,gn8BgU \!.bgLjyb21J
Como, porém, não é possível traçar-se em tõrno dos poderes
públicos linha de tal modo clara e fixa, que tôda a recíproca
invasão seja impossível, sucede muitas vêzes que estes poderes,
acreditando exercer funções próprias, se intrometem no domínio
Capítulo lll

DAS CONDIÇÕES ESSENCIAIS DA ORGANIZA'ÇÃO


ADMINISTRATIVA

$ 1'

A UNIDADE

{
Para que a administração possa preencher a sua imensa e
gloriosa missão de defender e promover os interêsses nacionais,
de modo a alargar e consolidar cada vez mais a felicidade pública,
é preciso que os esforços de todos os seus agentes se combinem
harmoniosamentee não encontrem solução de continuidade no
espaço, nem no tempo .
À ação de cada um dêstes agentes não deve, pois, ser solitária,
ou segregadada dos outros; pelo contrário, o impulso deve partir
de um centro único, e difundir-se pelos membros da hierarquia
administrativa, espalhadospor todos os pontos do País, como a
seiva aue corre dg..!!onco pala..gg
árvore; ou como o sangue arterial, que do colêSãQ..sai..g..Êgpalhar-se
,
q!!.s«"üW'ü. y
Assim também devem estes agentes encadearem-seuns aos
outros na sucessãodo tempo pela transmissãodas funções e
tradições, de modo que se não rompa a sua solidariedade, e seja
a unidade da administração a imagem fiel da unidade da nação
no tempo e no espaço .
Conquanto algumas vozes se interrompa no tempo a unidade
administrativa em consequência das revoluções políticas, ou do
predomínio sucessivo e intolerante dos partidos nos governos
r
70 71

inspirados pelos caprichos da aura popular, ou do arbítrio individual o concursodo povo, não podem encontra-lo, porque êle se recusa
sem sálio, ninguém pode elevar tal prática às alturas da teoria, a obrar como cego instrumento, sem conhecimento do plano, e sem
ou deixarde reconhecer
os seusgravesinconvenientes
. responsabilidade própria.
Não acontece, porém, o mesmocom a unidade administrativa Nas grandescrises, em que o maquinismoadministrativo se
no espaço; que se denomina centralização. Suas vantagens têm paralisa e se reconheceimpotente, e é preciso que o povo abre
sido exageradas por uns, contestadas por outros, e por poucos espontâneamente, não pode êste faze orque pelo hábito da
apreciadas nos justos limites, por confundirem-na com a unidade inércia perdeu a consciênciadas próprias fôrças, e afez-seao
ou centralização política ou governamental . papel de mero espectador dos públicos negócios .
Cumpre, pois, antes de tudo distinguirmos a centralização A centralizaçãoé antes fôrça negativa, que impede. do que
governamental da administrativa . força criadora,que produz.
A primeira emana da unidade da ação do poder governamental; Esta questãoé independentedada a forma de govêrno. Nas
a segunda da unidade da ação dos agentes a.dministrativos. Embora monarquias . . pode haver grande descentralização administrativa,
estreitaseja a relaçãoque as une, não é ela necessária
e indis- como sucede na Inglaterra: e, pelo contrário, pode encontrar
solúvel. A trança no séculoatual é o mais vivo exemploda grande centralização administrativa nas democracias, como na
coincidência das duas centralizações; a Inglatérra e os Estados Fiança durante o govêrno democrático de 1792 e 1848.
Unidos da América -- da centralização política e descentralização
administrativa .
Deve-se refletir que em certa medida a centralização admi-
nistrativa é consequênciada política ou governamental;mas além
À centralização governamental não pode sofrer sérias objeções; dêste limite é possível, e até necessária, a descentralização adminis-
é condição da vida, da fôrça e da glória nacional. trativa, sem que se comprometa a centralização governamental.
A absoluta centralização administrativa gera mescladamente Os negócios meramente locais, de que não dependem os
bens e males, que cumpre pesar e devidamenteaquilatar. gerais, podem ser incumbidos a autoridades administrativas distintas
Produza ordeme a simetriapor tôda a parte; porémmata e independentes,sem que corram perigo os interêssespolíticos. É
o espíritopúblico.desabitua-ode ocupar-secom os negóciosdo até certo que a administraçãocentral nunca pode ser dotada de
Estado ou da localidade, extingue o interesse e o zelo por êsses perfeita ubiquidade, onisciência e onipotência, de sorte que possa
negócios. satisfazer completamente as necessidades de tôdas as localidades.

Reúne grande massa de fôrças; mas obsta a que se reproduzem. Pelo contrário, as autoridades locais são em regra mais aptas
Concorre mais para a grandeza da pessoa que governa do para preencher êste fim, em consequência dos conhecimentos
que para a prosperidadeda nação. especiaisou topográficos.que possuem,do zelo e interessepessoal
que de ordinário as ligam à localidade e ao bom desempenhodo
O poder central, por mais fortementeorganizadoe por mais serviçode que se trata.
sábio que seja, não pode abranger a vida inteira de um grande
povo; sua ação há de necessàriamente
ser algumas vozes falha e A unidade é a condição da administração quanto aos interêsses
incompleta . gerais; ela, porém, pode e deve cessar quanto aos interêssesde
Levada a centralização ao extremo, produz uma espécie de caráter puramente local.
sonolênciasocial e de imobilidade,que facilita a tarefa dos gover- A nossa lei fundamental estabelece o princípio de descentra-
nantes; quando, porém, estes sentem-se na necessidade de invocar lização administrativalimitada, quando nos ans. 71 e 167 e
72 73

seguintesreconhecee assegurao direito de intervir todo o cidadão para tôdas as instituições de ensino, ora esparsas pelo País sem
nos negócios de sua província, qtze são imecílafamenfe z'elafipos nexo e sem sistema .
a seus ínfez'êssespectz/lares, e atribui a câmaras eletivas o govêrno
económico e municipal das cidades e vilas.12q $ 2'
Êste princípio de descentralização recebeu mais amplo desen-
À INDEPEND'ÊNCIA
volvimento pela lei da reforma constitucional ( 12 -de agosto de
1834), que parecia sòmente considerar como gerais o serviço da $

arrecadaçãoe dispêndio das rendas gerais, o da administração A administração deve ser de tal modo organizada que os
da guerra e marinha, e os cargos de presidente de província, seus agentes não encontrem óbices que suspendam ou retardem
bispo, membros das relações e tribunais superiores, empregados a sua ação;aliás não poderia ela preenchera sua tarefa, a sua
das faculdades de medicina, cursos jurídicos e academias (Ato responsabilidadeseria ilusória e correria risco a mesmaordem
Adicional, art. 10, Ê 7ç) . pública.
Pensou-se,com efeito, geralmenteque todos os outros cargos Entretanto a esta independência não se opõe a subordinação
existentes nas províncias ou municípios, além dos mencionados, lógica, em que está o elementoadministrativo em relação ao mover
eram provinciais ou municipais, e que conseguintemente as assem+ namental e legislativo, visto que esta emana da natureza da
bléias provinciais podiam legislar sôbre êles e sôbre a organização organização política. Ofenderia, porém, esta independência qualquer
dos respectivos serviços, como lhes parecesse melhor, e asshn estorvo que a administração encontrasseda parte do outro poder,
muitas o fizeram. Mas a lei interpretativa de 12 de maio de 1840 comoela incumbidoda execuçãodas leis -- o judicial.
declarou que estas assembleias sòmente podem aumentar ou
X:oqo ambostêm po!
diminuiro númerode empregos
estabe]ecidos
por leis geraise vozes qu
relativas a matéria sôbre que elas não podem legislar, e nunca lei administrativa, para que não está especial e extraordinàriamente
alterar a natureza dêstes empregos e as suas atribuições.
comissíonado,ou que as partes, feridas em seus ihtéiêÉÉêÉ ou em
Achar-se-ão entre nós convenientementetraçadas as raias onde m
cessa a centralização administrativa e começa a descentralização? invocar a esta mesma. ,À.
Questãoé esta importantíssimae difícil que não queremospre- Há com efeito certa zona onde as inteligências menos
julgar; reservamo-nos
para tratar dela quandotivermosde entrar avezadasa êste estudo, fàcilmente confundem a competênciadas
no estudode cada um dos serviçosadministrativosa que ela fõr autoridades de uma espécie com as de outra, concorrendo muito
aplicável.
para êste erro as desclassificaçõesde funções que não raras +êzes
Diremos entretanto que a tendência da opinião pública parece se encontramna legislação. É esta a razão porqueo direito
ser favorável ao alargamento da descentralização administrativa, administrativo procura com especialidadeproteger por êste lado
e, se é verdade que a certos respeitos a centralização tem ído além a in-dependência da administração
dos pontos a que razoàvelmentedevera chegar,a outros ela tem
ficado aquém com manifesto sacrifício dos interêsses públicos.
Dois são os meios pelos quais se efetua esta proteção à ande

l
pendência das funções administrativas :
Assim lembramos que não pode deixar de ser grave embaraço
para o regular desenvolvimento
da instruçãopública a falta de 1 -- A sanção penal é imposta às autoridades judiciárias
centro profissional ou uníuersífárío, donde partam o impulso e a luz que excedem os limites das funções próprias l(Ord. crím. art. 139).
74'- 75

11 -- A suscitação de conflitos que ,gs.constrange..g..!gbre- poder judiciário independente, fortemente organizado, e que pode
estar em qualquer ato que a êles dê fuga; l(Lei de 23 de novembro apresentar tendências ambiciosas, os agentes administrativos
de 1841, art. 7ç, $ 4P; Decreto de 5 de fevereiro de 1842, art. 24 naturalmente se sentirão coactos pelos perigos do processo e
e seguintes). condenação,que podem atrair sôbre si pela sua fidelidade na
Não trataremosaqui da sançãopenal,que está fora da órbita execução do pensamento governamental ou administrativo.
dêstetrabalho.Quantoà suscitação
-deconflitos,é feita na côrte Disposição um pouco semelhantea esta achamos nos ares. 38
pelo Procurador da Coroa, e nas províncias pelos Presidentes, e 47 $ 1ç da Const. e art. ll $ 6ç do Ato Adicional. Porém aí
pode ter lugar, ou em virtude de reclamaçãoda autoridade cujas não vemos a autoridade suprema da administração a proteger os
atribuições estiverem sendo invadidas, ou das partes de cujo negócio seus agentes; é sim o poder legislativo quem defende e isenta da
se tratar, ou ex-o/fícío pelo conhecimentoque a/íu/zdese tenha tido ação judicial a certos funcionários de alta categoria, antes na sua
do fato. qualidade de agentes governamentais -do que administrativos .
Ouvida a autoridade judiciária, o Procurador da Coroa, ou Qualquer cidadão pode queixar-se dos Conselheirose Mi-
o Presidente da Província, manda citar as partes interessadas para nistros de Estado, ou denunciar os seus crimes de responsabilidade
deduzirem o seu direito no prazo razoável que lhes marcar, podendo (Const. art. 179, $ 30, Lei de 15 de outubro de 1827, art. 8.). Mas
antes disto ordenar a cessação de todo o ulterior procedimento. para que possam progredir estas queixas ou denúncias é necessário
quando Ihe parecerem improcedentes as razões da autoridade que a Câmara dos Deputados tome conhecimento delas e decrete
judiciária. a acusação (Const. art. 38, Lei cít. art. 10 e seguintes) . É o
Senado. convertido em Tribunal de Justiça, quem julga dêstes
Findo êste prazo, o Procurador da Coroa. ou o Presidente
processos (Const. art. 47, $$ 1ç e 2P, Lei de 23 de novembro
da Província, resolve provisòriamentesôbre o conflito, devendo,
de 1841, art. 4ç)
no casode decisãoafirmativa,remetê-locomos papéisrelativos
a questão
à Secretaria
da Justiça,
a fim de ser submetido
ao As queixas contra os Presidentes de Províncias devem ser
definitivo julgamento do Conselhode Estado. No caso-dedecisão apresentadas ao Supremo Tribunal de Justiça (Const. art. 164,
negativa, as partes podem interpor recurso para o mesmo Conselho $ 2ç, Cód. do Proc. Crím., art. 77. $ 2ç e art. 155, $ 1Q, e
dentro do prazo de 10 dias (cit. dec.. art. 45). Lei de 18 de setembro de 1828, art. 21 e seguintes); formada,
Em lugar competente veremos como se processam os conflitos porém, a culpa, não pode continuar o processo, nem ser o Presidente
no Conselho de Estado. suspenso do exercício de suas funções, sem que a Assembléiã
Legislativa da Província respectiva assim o decida (Ato Adi-
O Direito Administrativo francês oferece 3ç recurso, que pelo cional, art. 11, $ 6ç)
nosso é desconhecido,a saber: a proibição imposta ao poder
judiciário de prosseguir em qualquer ação criminal contra os O Juízo privilegiado ou especial a quem está abeto o conheci-
agentes da administração por fatos relativos a suas funções sem mento dos crimes de responsabilidade dos agentes administrativos
autorizaçãoprévia dada pelo Conselhode Estado. também lhes oferece alguma segurança, pôsto que os não ísente
Deve reconhecer-sea conveniênciade se transplantar para da ação do Poder Judicial.
o nosso Direito esta disposição logo que a nossa organização Assim os empregadosdo Corpo Diplomático, Bispos e Arce-
judiciária volte ao tipo constitucional, e conste, no cível como bispos são julgados pelo Supremo Tribunal de Justiça (Const.
11 art. 164, $ 2ç, Cód. do Proc. Crim. art. 77; $ 2ç e art. 155,
no crime de juízes e jurados sendo todos os juízes vitalícios
(Const., ans. 151, 153, 155). Porquanto, em presença de um ! lç, Lei nç 609 de 18 de agõsto de 1851); os militares,pelos
76

Tribunais Militares (Const., art. 150, Cód. do Proa. Crim. artigo


155. $ 3ç e art. 171, $ 1ç); todos os outros administrativos (ou
quaisquer empregadospúblicos não privilegiados) pelos Juízes de
Direito (Lei de 3 de dezembrode 1841art. 25, $ ]ç, e Reg. de
31 de janeiro de 1842 art. 200 $ 1ç, art. 396 e seguintes)
Não é sòmente pelas invasões do Poder Judicial que a inde- Capítulo IV
pendência da administração é ameaçada; pode também sê-lo pela
DA NATUREZA DAS FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS
usurpação das autoridades eclesiásticas. Assim, sempre que em
despacho, sentença, mandamento, pastoral, constituição, ato de ! 1'
Concílio Provincial, ou de visita, quer o gravameseja judicial,
ou extrajudicial, a autoridade eclesiásticausurpa a jurisdição e DIVISÕES GERAIS
poder temporal, ou decreta qualquer censura contra empregados
civis em razão de seu ofício, dá-seabtzso,de que há recurso à Observando
a administração
em sua vida prática,ç nela
Coroa (Decreto nç 1 .911 de 28 de março de 1857 art. lç, $$ 1', estudando a natureza íntima de suas funções, entre estas achamos
2ç, 4ç e 5ç)
diferençasessenciais,
que se não esvaecemainda quando variam
SÓ o Conselho de Estado é competente para conhecer dêstes as matérias sôbre que se aplicam.
recursos; entretanto os Presidentes de Província os julgam provi- Assim. umas vozes ela pratica verdadeiros aros de poder
sòriamente,como aos conflitos de jurisdição (cit. Decreto nç 1.91 1, social ou político; outras vozes desempenhaserviços de caráter
art. 3e) . Mais tarde exporemos as formas porque se processam inteiramente privado ou industrial, de que, porém, depende aquêle
estes recursos, e veremos que também têm lugar por notória poder para bem preenchera sua alta missão.
violência no exercício da jurisdição e poder espiritual, postergando Umas vêzes ela se limita à vida tôda subjetiva, e sòmente
se o Direito Natural, ou os Cânones recebidos na Igreja Brasileira
(cit. Decreto art. lç, $ 3ç) indaga o que convém fazer-se; outras vêzes, passando ao mundo
objetivo, põe-se em contacto com os administrados, e lhes impõe
a sua vontade
Ora obra por impulso interno e com inteira espontaneidade;
ora espera ser provocada pelos administrados, que reclamam em
nome dos seus interêsses,ou direitos. por ela feridos.
Daí provém a divisão das funções administrativas em:
1 -- Diretas, e
ll -- Indiretas.
Cada uma destas duas classesde funções subdivide-se ainda
em:
1 -- Consultivas, e
11 -- Ativas .
78 79

As funções ativas subdividem-se em: fiadas. exercem,pois, natural supremaciasôbre todos os que
1 -- Espontâneas, e apenas são destinados a auxilia-los .
11 -- Jurisdicionais. A distribuição das funções diretas ou essenciaisse faz em
E as funções jurisdicionais em: relação às divisões territoriais, de sorte que se dissemínempor
1 -- Graciosas, e todos os pontos do território, passandopor uma série de canais
11 -- Contenciosas. que se ramificamhieràrquicamente
uns nos outros. Assimas
funções da suprema administração do Estado são delegadas na
Trataremos de cada uma destasdivisõese subdivisõesnos $$ e
convenientemedida a agentesterritoriais imediatos,sob cada
capítulos seguintes. um dos quais se devem encontrar outros inferiores, de modo que
o pensamento e a ação da suprema administração possa chegar
$ 2' em tôda sua fôrça e pureza a cada um dos pontos do território.

AS FUNÇOES DIRETÀS E INDIRETAS A distribuição das funções indiretas ou auxiliares é feita


segundo a especialidade da matéria a que se aplicam; e, como
Lançando os olhos sôbre o vasto e complicado mecanismo os seus depositários não. representamsenão parcialmente o pensa-
administrativo, fàcilmente se conhece que algumas .de suas peças mento da administração, e só dela recebem o movimento para
exercem ação de que depende essencialmente o movimento geral certos atos especiais, é necessário que se agrupem e se subordinem
e portanto são indispensáveis para que êle possa preencher o aos agentes diretos ou essenciais que êles estão incumbidos de
auxiliar:\i
seu destino, enquanto outras sòmente têm por fim facilitar e X

coadjuvar a ação das peças essenciais,de modo que a sua exis- Tanto os funcionários diretos como os índíretos, para poderem
tência não é indispensável para o movimento geral. convenientemente preenchera porção do poder social que lhes é
Às funções, de que assim depende a vida da administração confiada, precisam de certos serviços, que têm caráter comum
e o preenchimento de sua míssãa, costumam denominar-se -- aos da vida privada, e que em geral podem se considerarcomo
dírefas e mais exatamente se chamariam -- essenciais; aquelas ramos de indústria, tais são: os trabalhos de escrituraçãoe conta-
que sòmente servem para facilitar o exercício destas geralmente bilidade, da guarda, conservaçãoe transporte das coisas públicas,
se denominam -- fndírefas ou auxfZlaz'es, e também se poderiam ou os das oficinas mantidas pelos Cofres Públicos, etc. Aquêles
qualificar de -- especiais. a quem cumpre perfazer estes serviços entram na classe geral
Estas funções indiretas, auxiliares ou antes especiais, são
de agentes administrativos, mas na tecnologia do Direito Adminis-
verdadeiras fiações do poder social, implicitamente contidas nas trativo se não denominam funcionários, porque nenhuma fiação
do poder social exercem,e sim apenas -- empregados.públicos.
essenciais;
mas que delas se destacampara se lhes dar maior
desenvolvimento, a fim de que possam melhor auxiliar o exercício Serviço público é a utilidade .que por meio dos seus atos
destas. alguémpresta à sociedadeou à parte dela. Funçãopública é
uma fiação do Poder Social; envolve as idéias de autoridade e
Às funções diretas ou essenciais são aquelas a que está ligada
mando em relação aos interêssesdo Estado.
a própria substânciada administração,em que se encarnatodo
o pensamento e impulsãodo poderexecutivo;de modoque sem (quando, porém, estes agentes são destinados a serviço
elas ficaria êste poder habilitado para preencher a sua missão. meramente mecânico ou braçal, ajustados, pagos e despedidos em
Na hierarquia administrativa os agentes,a quem elas estão con virtude de contrato inteiramente particular com o chefe adminisH
80
81

trativo a quem estão subordinados, não lhes cabe a denominação


de emproados públicos no sentido restrito, e sim a de meros art. 156, Lei de 4 .deoutubro de 1831, ans. 9ç. $ 5ç, 104 e 107,
serventes, operários, ou jornaleiros (Av. nç 83 de 5 de março
Decreto de lç de julho de 1830, Cód. Crim. art. 149, Cód. do
de 1857.Decs.nç 1.568 de 24 de deverei.ro
de 1855art. 224, Proc. art. 156, Lei de 3 de dezembro de 1841, art. 125, $ 1ç)
nç 1.769 de 16 de junho de 1856 ans. 6ç, 73 e 81, nQ 2.583 Usa-se da expressão empregos cíuls e poZíflcos em oposição
de 30 de abril de 1860,art. 9ç. Av. 15 de 27 de marçode a mí/ífares e ec/esíásffcos (Const. art. 102, $ 4P, 179, $ 1{,
1861, etc. ) . Cód. do Proa. ans. 155, $ 3ç e 171, $ 1ç, Decreto nç 736 de
Cumpre, porém, atender-se que a fraseologia da nossa legis- 20 de novembrode 1850,art. 37) . A Lei de 4 de outubrode
lação administrativanão está inteiramenteassentadasôbre esta 1831, ans. 103 e ]09, distingue os empregadoscipís, de fazerzda,
!iterários e eclesiásticos.
matéria. Geralmente as palavras -- empregados púb/ecos --
designam não só esta classe especial de agentes da administração A Lei de 23 de novembrode 1841,art. 7ç, $$ 4ç e 5q e
como também todos os seus funcionários diretos e indiretos, e Decreto de 5 de fevereiro de 1842, ares. 24, e seis. servem-sedas
os que compõema hierarquia do poder judicial (Const. ans. 15, expressões -- autoridades judiciárias, administrativas e eclesiás-
Ê 16, 179 $ 29, Ato Ad. art. 10 $$ 7ç e 11, Lei de 12 de ticas. O Decreto nP 736 de 20 de novembro de 1850 compreende
maio de 1840, ans. 2ç e 3ç, Cód. Crím., ans. 129, 135, 136, na expressão -- empregados de /azenha -- todos os funcionários
154. 170, Cód. do Proc. ans. 150, 154, 155, 159, 165, $ 4P. 171 e agentes das repartições fiscais, parecendo apenas distinguir os
e ]74, Lei de lç de outubrode 1828,art. 5{, Lei de 3 de praticantes (alt. 37)
dezembro de 1841, art. 25, $ 1ç, Reg. de 31 de janeiro de 1842, Os Decretos ns. 817 de 30 -de agosto de 1851, e 1.294
ares. 200, $ 1ç e 396, Lei nç 38 de 3 de outubro de 1834,art. 5q de 16 de dezembro de 1853, determinando a forma do provimento
g 2ç, 7ç e seguintes, etc. ) temporário .ou definitivo dos ofícios de justiça e dos empregados
Assim também a palavra -- /uncíonário é empregada algumas dela, os distinguementre si. As palavras -- ofícios de justiça --
vozespara designarnão só os que assimtecnicamentese deno- compreendem os cargos dos tabeliães, escrivães, distribuidores,
minam como quaisquer empregados públicos .(Decreto de 18 de contadores, partídores, promotores públicos, promotores e solici-
junho de 1822, Lei nq 5 de 20 de outubro de 1823, art. 24. tadores de capelase resíduos e curadores gerais dos órfãos . Sôbre
! ]5); e a expressão /uniões públicas para indicar as atribuições a criação e supressão, anexação e desanexação dêstes ofícios,
e aros dos cargos públicos de qualquer categoria (Cód. Crim. vid. .Av. Circular de 30 de janeiro de 1857
ares. 137, 14t), 148, Cód. do Proc., art. 165, $) É fácil de conhecer-seque dúvida e embaraçoesta incerteza
Emprêgo público e ofício algumas vezes se usam como sinó- da fraseologia administrativa deve acarrear, e quanto convém
defina altamente
e fixa
nimos (Dec. de ]8 de junho de 1822, Lei 1+ de 6 de novembro
de 1827,ares.4çe 5ç,Cód. Crim., ans. 130,144,164,etc.)
$ 3'
Outras vêzesas palavras-- o/feiose oficiais só se aplicam
aos cargos de justiça ou de fazenda em geral (Lei de ll de AS FUNÇOES CONSULTIVAS E ATIVAS
outubrode ]827 passam, Dec. de 12 de novembro de 1822,Lei
de 4 de outubro de 1831,art. 6ç, $$ 8ç e 9ç, art. 97, etc
Cód. Crim., art. 148); ou exclusivamente
aos que servemsob Assim como na vida individual se distinguem a deliberação
e a ação, .do mesmo modo elas se discriminam na vida da admi-
as ordens dos juízes ou dos chefes das repartiçõesfiscais (Const.
nistração. Não é esta,por certo, um mecanismoque cegae fatal-
83

mente se move ao impulso alheio; tem conhecimento do fim a que discuti pla e convenientemente;
pelo contrário, o funcionário
se dirige, obra conscienciosamente, acelera, retarda e suspende a consultivo, habituado à lentidão, às hesitaçõe: e mútuas concessões.
sua ação,quando é conveniente,e antesde obrar, medita, discute indispensáveis
nas discussões,
não tem a rapidez,firmezae
e se esclarecesôbre os resultados de seus atos e os meios preferíveis tenacidade que a ação exige.
para alcançar o fim que tem em vista. O princípio, porém, da separação destas ftmções, pôsto que
Assim as funções da administração classificam-se racional- não seja desconhecido
à nossa legislação,não foi ainda nela
mente em duas grandes ordens: aditado em tôda sua amplitude. Em alguns casosacham-seelas
.-- discutir e reunir tôdas as informações e esclarecimentos confundidas e confiadas aos mesmos agentes; vício êste de orga-
acêrca do que convém praticar; resolver e traduzir em atou ma- nização que também se encontra em outros países,onde entretanto
teriais externos as suas resoluções. Daí vem a divisão das funções as ciências administrativas têm feito maiores progressos do que
em consultivas e ativas . entre nós .

Para que a deliberaçãopossaser convenientemente


contro- Os conselhos ou corpos coletivos, a quem são incumbidas
vertida e fundada em estudos especiais e profundos, é necessário as funções consultivas, não deveriam, pois, ter outra missão além
que seja incumbidaa diversosfuncionários,que possamdividir da de discutir e esclarecera deliberação. Assim, porém, não
entre si os trabalhos. e trazer cada um à discussão a sua experiência sucede; atribuições importantes de naturezas heterogéneas lhes são
e o seu modo particular -dever a questão. É da confrontaçãode por vozes confiadas, ou conjuntamente com aquelas, ou só e
opiniões mais ou menos divergentes que mais fàcilmente pode exclusivamente;é por esta razão que os dividimos em:
nascer a luz .
1 -- Conselhos meramente consultivos ou que exclusiva-
A ação pelo contráriodevepartir de um só indivíduo. A mente se .destinam às funções próprias da sua natureza.
participação de vários na mesma ação, não sòmente a retarda e 11 -- Conselhos de gerência que exercem a ação adminis-
enfraquece, submetendo-a a impulsos divergentes que a tornam trativa e.jurisdição graciosa, e
tíbia e hesitante,como também,restringindoa liberdadedos 111 -- Conselhos contenciosos que decidem dos direitos liti
coagentes, divide e afrouxa a sua responsabilidade. ciosos entre a administração e os particulares.
Tão grande é a necessidade de unidade na administração Os conselhos de gerência e contenciosos se subdividem em
atava que, sempre que esta é confiada a corpos coletivos, ou tantas espéciesquanto são as classes de funções da administração
dentre êles surge algum caráter mais enérgico e ousado que espontânea e contenciosa.
absorva e concentra em si as atribuições de seus colegas, ou êsses Cumpre refletir que entre as funções consultivas e ativas
corpos administrativos se nulificam em completa mação. medeia a responsabilidade do agente, a quem estas estão confiadas,
Daí decorre o princípio axiomática de Direito Administrativo de sorte que as funções consultivas não contêm em si necessàriaN
-- que a deliberaçãoé fato de muitos e ação fato de um só. mente a razão ou a explicação das ativas.
Em regra devem achar-se separadas e incumbidas a agentes Pode-se, sim, e até é conveniente, obrigar em certos casos
diversos as funções de cada uma destas classes. Preocupado o funcionário ativo a ouvir o parecer dos funcionáriosconsultivos,
com as contingências e a responsabilidadeda ação, o funcionário masnunca se Ihe deveimpor a obrigaçãode segui-lo. A obrigação
ativo não tem. nem bastante tempo, nem bastante placidez, para de consultar aquêles pareceres aumenta-lhe a responsabilidade,
reunir os dados precisosaos esclarecimentosdos negóciose para tornando-o mais ilustrado sôbre as conseqüênciasdos seus ates;
a obrigação de segui-los aniquilada inteiramente a responsabili-
dade, porque converi:ena o agente em instrumento meramente
passivo de alheias deliberações,que Ihe não fera dado revogar ou
modificar .

Também êste princípio se não acha fielmente realizado na


nossa organização administrativa. Importantes funcionários ativos Capítulo V
há que estão privados do auxílio de conselhosque convenientemente
os esclareçam, ao mesmo tempo que encontramos algumas vêzes
estes corpos, que deveriam ser meramente consultivos, revestidos CONTINUAÇÃ.O: -- DÀS FUNÇÕES ESPONTÂNEAS
de atribuições deliberativas e obrigatórias .
nJunisDlcioNAis
$ 1'

AS FUNÇÕES ESPONTÂNEAS E JURISDICIONAIS EM GERAL

Analisando as funções administrativas de natureza atava,


encontramos certas distinções que por sua delicadeza escapam
ao primeiro olhar, e por isso têm dado ocasião a confusõese
erros deploráveis, mas que nos esforçaremos por deslindar com
a possível clareza.
Deve-se atender que umas vêzes a administração obra por
movimento interno e espontâneo, que promulgue medidas gerais,
locais ou individuais. Outras vezes obra sob o impulso ou a
instigação de pessoas,naturais ou jurídicas, que se dizem lesadas
por seus atos anteriores .

No primeiro caso, e]a tem p]ena liberdade de obrar ou


conservar inerte, conforme as suas próprias inspirações. No
segundo caso, e]a não pode deixar de obrar; tem, sim, liberdade
sôbreo modoe a díreçãoquedevedar à suaação;masnão
pode deixar de sair da inércia, quer seja para satisfazeras recla-
maçõesdas partes, quer para indeferi
Daí vem a divisão das funções ativas da administraçãoem
espontâneas e jurisdicionais .
As primeiras denominamos espontâneas, porque a atividade
do administrador é determinada por sua própria liberdade; as
segundas denominamos jazz'isdícíonafs, porque o administrador
Y'
86 87

sòmente as exerce em virtude do requerimento dos administrados. ofendem a Constituição, os impostos gerais, os direitos das outras
que reclamam em nome de seus interêssesou de seus direitos. províncias, ou os tratados; .dirijem às Assembléias Provinciais,
em sua abertura, uma fala, ínstruindo-as do estado dos negócios
Os agentesda administração,
obrandojurísdicíonalmente.
são públicos e das providências de que mais precisam as Províncias
verdadeiros magistrados administrativos, que se distinguem dos para seu melhoramento (Lei nç 38 de 3 de outubro de 1834,
judiciários, não pela natureza das funções, mas sòmente pelas ârt. 5ç, $$ 2ç, 3P, 12, 13, Lei de 12 de agosto de 1834, ans. 8q
matérias sôbre que as exercem, ou pela sua extensão e per- e seguintes,Decretonç 632 de 27 de agostode 1849)
manência . a
Os Chefesde Políciaenviamanualmente
ao Ministro da
$ 2'

AS FUNÇÕES ESPONTÂNEAS
l Justiça mapas de estatística criminal, acompanhadosde relatório;
participam diàriamente-aosPresidentes de Província as ocorrências
que interessam à ordem e tranqüilidade pública. ou quaisquer
acontecimentosgraves e notáveis; e os Delegados e Subdelegados
As funções espontâneasse classificam do seguinte modo: enviam mapas e informações análogas aos Chefes de Polícia (Lei
de 3 de dezembro
de 1841art. 7ç $$ 1ç e 3ç, Reg. de 31 de
1 -- De órgão de instrução.
janeiro de 1842 ares. 173 a 181 e 185 a 192)
11 -- De instrumento de operações puramente materiais.
Em geral servemde órgãos da instrução aos Ministros de
111-- De poder ou fôrça moral. Estado os diretores gerais e diretores das respectivas secretarias,
IV --De autoridade positiva (De Gerando, Gandillot, Ele-
e a estes os chefes ou diretores de seção (Decretos nç 2.368 de
mentos do Direito Administrativo na Bélgíca, etc. ) 5 de marçode 1859,art. 33 $$ 8ç, 9ç e 11, ns. 2.747 e 2.749
de 16 de fevereirode 1861 (Império); nç 2.350 de 5 de fevereiro
1 -- Como órgão de instrução, a administração provoca,
de 1859 art. 28 $ 39 e seg. e 34 $ 3ç e seg. Rç2.747 e HQ2.750
indaga. recolhe e transmite a luz, informa, verifica, inspeciona,
(Justiça); Rç 2.358 .de 19 de fevereiro de 1859 art. 16 $$ 3q
aprecia as informações e dá declarações autênticas .
e seg. e 18 $$ 3ç e seg. (Negócios Estrangeiros); nP 736 de
É assim que o Conselho de Estado consulta sôbre os negócios 20 de novembro de 1850, nç 2.343 de 29 de janeiro de 1859
que Ihe são sujeitos, prepara as propostas que o poder executivo (Fazenda);nç 2.359 de 19 de fevereirode 1859art. 34 $$ 3ç
tem de apresentar à Àssembléia Geral, e os Decretos, Regulamentos e seg. e 37 $$ 3ç e seg. (Marinha); nç 2.677 de 27 de outubro
e Instruçõespara a boa execuçãodas leis (Lei -de23 de novembro de 1860, art. ll $$ 2ç, 3ç, etc. (Guerra); nQ 2.748 de 16 de
de 1841.art. 7P,Decretode 5 de fevereirode 1842,ans. ll, fevereirode 1861,art 14 $Ê 7Õ,9ç, 14 etc., e nç 2.747 cit. (Abri
21 e seguintes) cultura, Comércioe Obras Públicas)
Os presidentes de Províncias inspecionam tôdas as repartições Servem especialmente de órgãos de instrução:
nelas existentes, participam aa Govêrno Imperial os embaraçosque
1 -- Ao Ministro do Império:
encontram na execução das leis, e os acontecimentos notáveis,
que ocorrem mencionando as suas causas,circunstâncias e resul+ Os diretorese congregações
das Faculdadesde Direito (Decreto
tados; informam os requerimentos que sobem por seu intermédio; nç 1.386 de 28 de abril de 1854,art. 12 $ 12, 21 $$ 1ç e 3q
exigem dos empregadosas informações e participaçõesque julgam vid. Decreto Reg. complem.nP 1.568 de 24 de fevereirode 1855,
convenientes; enviam à Assembleia e Govêrno Gerais cópias autên- Àv. Reg. das aulas preparatóriasde 5 de maio de 1856); e de
ticas dos fitos legislativosProvinciais,a fim de se examinar se medicina(Decretonç 1.887 de 28 de abril de 1854,art. 36
88 89

$$ 12 e 16, 46 $$ 1ç e 3ç; vid. Dec. Reg. Complem. nç 1.764 11 -- Ao Ministro da Justiça


de 14 de maiode 1856,nP2.885 de l de fevereirode 1862); e O Presidente do Supremo Tribunal de Justiça (Lei de 18 de
da Academiade BelasArtes (Decretonç 1.603 de 14 de maio .t

setembro de 1828, art. 4ç $$ 4q e 5'); e o mesmo Tribunal


de 1855,ares. 86 e 95, $$ 6ç,8ç e 19). (Decretonç 557 de 26 de junho de 1850,art. 3')
O inspetor geral da instrução primária e secundáriado muni
Os Presidentes dos Tribunais do Comércio .(Cód. Com.
copioda Côrte (Decretonç 1.331-A,de 17 de fevereirode 1854
art. 39 $$ 5ç,7ç e 9ç, 12-14;videDecreto
n' 1.556de 17 tít. Un. ans. 12e 13); e os mesmos
Tribunais(Decretonç738
de fevereiro de 1855, Àv. Instr. n' l de 5 de janeiro. Àv. Reg. de 25 de novembrode 1850,art. 18 $ 3ç e 19 $$ 1' e 4ç)
\

nç 317 de 20 de outubro de ]855, DecretonQ2.883 de lç de Os Chefes de Polícia da Côrte e Províncias (Reg. nç 120
fevereiro de 1862) de 31 de janeirode 1842,art. 58 $ 18 e art. 181)
O comissário, díretor e junta de professores do Instituto A comissão inspetorae o diretor da Casada Corrcção(De
Comercialdo Rio de Janeiro(Decretosnç 1.763,de 14 de maio
creto nç 678 de 6 de julho de 1850, art. 113 $ 4' e art. 115)
de 1856, art. 64 $$ 2ç e 3ç, 67 $ 5ç, 76 $ 5ç. 10, n' 2.741 de
9 de fevereiro de 1861). (Vice sôbre o Instituto de Menores Artesãos, hoje extinto,
o Decreto H9 2.745 de 13 de fevereiro de 1861)
Os diretores: -- do Imperial Instituto de Meninos Cegos
(Decretos Dç 1.428 de 12 de setembro de 1854, ans. 7ç e 9P. 111-- Ao Ministro dos Negócios Estrangeiros
nç 2.4]0 de 27 de abril de 1859); o de Surdose Mudos recebeu Os Chefes das Missões Diplomáticas (Lei nç 614 de 22 de
subvenção em virtude da Lei nç 939 de 26 de setembro de 1857, agostode 1861;Decretosns. 940 e 941 de 20 de março de 1852)
art. 16 $ 10; do Museu (Decreto nç ]23 de 3 de fevereiro de
Os cônsules(Decreton9 520 de 11 de junho de 1847,ans. 65
1842); do Arquivo Público (Decreto nç 2.541 de 3 de março
de 1860);do Conservatóriode Música (DecretonP1.542 de 23 80 e sega.).
de janeiro de 1855, art. 10 $$ 3ç-5ç). IV -- Ao Ministro da Marinha
O inspetor dos teatros da Côrte (Decretos nç 622 de 24 de O ConselhoSupremoMilitar (Alv. de lç de abril de 1808)
julho de 1849,nQ1.308 de 30 de dezembro
de 1853);o de
Saúde dos Portos (Decretosnç 2.409, de 27 de abril de 1859, O Conselho Naval (Lei n' 874 de 23 de agosto de 1856
art. 4Qe nQ2.416, art. 6P $$ 4ç, 5ç e 89). ans. 4P, 6ç, 9P, e Decreto n' 2.208 de 22 de julho de 1858
A junta central de Higiene Pública (Decretos nç 598 de 14 ans. 9' e seis.)
de setembro de 1850, art. 4ç $ 1ç e nç 828 de 29 de setembro O encarregadodo Quartel General (Decreto n' 2.536 de
de 1851,ans. 81-83). 2 de fevereiro de 1860, art. 7ç $$ 6ç, 9Q,10, etc.)
A comissão administrativa do I'hospital Marítimo de Santa
O diretor e conselho de instrução da Escola .de Marinha
lsabel (Decretosnç 1.103 de 3 de janeiro de 1853,ares. 2ç e
seis. e nç 2.116 de 30 de abril de 1859, art. 66) . $ (Decretosnç 27 de 31 de janeiro de 1839e nç 2.163 de lç de
(Vida sôbre o Conservatório Dramático Brasileiro o Decreto maio de 1858, ans. 116 $$ 2' e 5ç. 135 e 137).
nP425 de 17 de julho de 1845;sôbrea BibliotecaPúblicao A ContadoriaGeral da Marinha (Decretonç 1.739 de 26
Decreto Bç 29 de outubro .de 1810, etc.; sôbre a Academia de de março de 1856,ans. 2ç $ 11, e ll $$ 3ç. 8ç e 9').
Música e ópera Nacional, hoje extinta, os Decretosn' 2.294 Às Intendêncías de Marinha (Decreto nP 1.769 de 16 de
de 27 de outubro de 1858 e Hç 2.593 de 12 de maio de 1860). r
junho de 1846, ans. 2ç $ 6' e ll $$ 3P, 8ç etc.)
-90 91

Os Inspetoresde Arsenais (Decreto Dç 2.583 -de30 de abril (Os .Conselhos Administrativos para fornecimento dos arsenais
de 1860, art. 12 $$ 3', 4ç etc.) de guerra, organizados pelo Decreto nç 1 .090 de 14 de dezembro

O Conselho de Compras para o suprimento dos almoxarifados de 1852,foramextintospela Lei nç 1.220 de 20 de julho de
1864, art. 7ç)
(Decretosu9 2.108 de 20 de fevereirode 1858,art. 11,etc., e
nç 2.545 de 3 de março de 1860) VI -- Ao Ministro da Fazenda
O Cirurgião em Chefe do Corpo de Saúde da Armada O Tribunal do TesouroNacional(Decreton' 736de 20 de
(Decreto nç 783 de 24 de abril de 1851ans. 2ç e seis.) novembro de 1850, ans. 3ç e 49); e os inspetores.das tesourarias
Os Diretores de H.ospitais, enfermarias das armadas e asilo de fazenda das províncias (Decretos nç 870 de 22 de novembro
de inválidos .(Decretos nç 1.104 de 3 de janeiro de 1853 art. 15 de 1851,ares. lç $$ 16 e 18, e 31 $$ 9? e 12, n' 2.647 de 19
Ê 10. e n' 1.138 .de 2 de abril de 1853) de setembrode 1860,.art. 16 $$ 4ç e 5ç, etc.).
(Vide os regulamentos das Capitanias dos Portos, Decreto Os Inspetores das Alfândegas e Administradores de Mesas
n' 447 de 19 de maio de 1846; do corpo de imperiaismarinheiros, de Rendas (Decreto cit. nç 2.647 de 19 de setembro de 1860,
Decretonç 411-A de 5 de junho de 1845;do BatalhãoNaval, art. 126 $$ 20 e 24 etc.)
Decreto Hq 1 .067-A de 24 .de novembro de 1852; das companhias
(Vida sôbre os concursos para os empregos do tesouro,
de.aprendizesartífices, Decreto nç 2.615 de 21 de julho de 1860). tesourarias, alfândegas, recebedorias os Decretos n' 2.549 de 14
V -- Ao Ministro da Guerra de marçode 1860,e nç 3.114 de 27 de junho de 1863).
O Conselho Supremo Militar (cit. Alv. de lç de abril de Os fiscais dos bancos (Decreto nQ 2.680 de 3 de novembro
1808 art. 2ç. Sôbre a organização da respectiva secretaria vid. de 1860, art. lç). Sôbre seus vencimentos vide os Decretos
Decreto Hç 3.084 de 28 de abril de 1863) n' 2.746 de 13 de fevereiroe nç 2.814 de 10 de agosto de 1861.
O Comandante e Conselho de Instrução da Escola Militar, O Provedorda Casada Moeda (Decreton' 2.537 de 2 de
o diretor e congregaçãoda central (DecretosDç3.083 de 28 de março de 1860, art. 30 $$ 3ç, 4ç, etc.)
abril de 1863,art. 74 $$ 2', 6ç e 7P,130 $$ 1ç e 2P,etc., 211 O Administrador da Tipografia Nacional (Decreto nQ 2 .492
e nç 3.107 de 10 de junho de 1863). Vede os anteriores regula- de 30 de setembrode 1859,art. 4ç $ 5ç)
mentos (Decretos
(Decretos nq
nq 2.582
2.582 de
de 21
21 de abril de 1860,nç 2.116
(Vide sôbre as recebedorias o Decreto nç 2.551 de 17 de
de lç de marçode 1858,etc.) .
março de 1860; sôbre as mesas de consuma.do e coletorias o
O Cirurgião-mor do Exército e juntas militares de saúde Decreto de 30 de maio de 1836, Ord. de 6 de dezembro de
(Decreton' 1.900 de 7 de marçode 1857,ans. 33 e seis., 48 1834.Decretode 26 de marçode 1833, Reg. de 28 de janeiro
1 46, etc (Sôbre os hospitais militares, vede Decreto H9 397 e 8 de fevereiro de 1832 etc
de 25 de novembro de 1844)
Vll -- Ao Ministro da Agricultura, Comércio e Obras
Os Diretoresdos Arsenaisde Guerra(Decretosde 21 de Públicas:
fevereirode 1832, n9 113 de 3, n' 115 de 7, nç 119 de 29,
Instruçãode ll de janeiro,e n9210 de 3 de agostode 1842) Os Tribunais de Comércio (Cód. Com. tít. único, art. 9q
Decreto nç 738 de 25 de novembro de 1850, art. 19 $$ 2ç a 4ç)
Os Inspetoresdos Corpos do Exército (DecretosRç 785 de
6 de maio de 1851, n' 998 de 12 de janeiro de 1852, nç 1.879 Os Inspetores Gerais das Obras Públicas, os chefes das
de 3 de janeiro de 1857) inspeções
departamentais
(especialmente
o da Côrte) e das extra-
'Y
92 93

ordinárias :([)ecreto n' 2.922 de ]O de maio de 1862, art. 3ç ré; perceberendas,paga despesas,líquida as .dívidasatiras e
$$ 1ç e 2ç, ans. 6ç e 7ç e n' 2.925 de 1{ de maio de 1862, passivas.
art. 13 $$ 1' e 2ç etc. Av. nç 22 de 17 de marçode 1862). Assim ela fabrica, compra, conserva,e guarda nos arsenais
Os Engenheiros Fiscais das Estudas de Ferro (Decreto Leg. as armas,muniçõese mais material do Exército e Armada; as
nç 641 de 26 de junho de 1852, art. lç $ 14, e Decreto Dç 1.930 máquinas, instrumentos, matérias rimas e mobília das oficinas
de 26 de abril de 1857,ans. 30 e seis.). do Estado; põe em atividade e administra estas oficinas ([)ecretos
n' 2.108 de 20 de fevereirode 1858, nç 1 .090 de 14 de dezembro
O Administrador Geral dos Telégrafos (Decreto nç 3.288 de
20 de junho de 1864, art. 16 $$ 8Pa ll) .
de 1852.de 21 de fevereirode 1832,nç 1.769 de 16 de junho
de 1856,ans. 28 e seis. 46 e seis. VedeDecretosns. 2.108,
O Comandanteda Companhia de Bombeiros (Decreto n' 2.587
2.545 e 2.583)
de 30 de abri] de 1860, art. ]3 $$ 2ç e 3q). Vede Decreto
RP].775 de 2 de julho de 1856,art. 13 Conserva os livros e manuscritos das bibliotecas e arquivos
públicos (Decretos nç 215 de 30 de abril de 1840, art. 56 $ 6ç
Os inspetoresdas fábricas (Decretonç 337 de 3 de janeiro n' 433 de 3 de julho de 1847,nç 1.283 de 26 de novembrode
de 1844). 1853, Rç 2 de 2 de janeiro de 1838); os registros, correspondências
Os DiretoresGerais dos índios (DecretoHP426 de 24 de
julho de 1845, art. lç $$ 2P, 4ç, etc.)
e mais papéis das repartições públicas, mobília destas e dos
palácios das províncias (Decretos nç 736 de 20 de novembro de
Os comissários do govêrno nas empresas por êle coadjuva- 1850.art. 31. np 870 de 22 de novembrode 1851,ans. 28 e
das,comoas de colonização,
etc. (Decretosn' 1.915 de 28 de 38 $ 1ç,nQ2.748 de 16 de fevereirode 1861,ans. 8ç $ 5Qe
março de 1857, art. 31, ne 1.986 de 7 de outubro de 1857, 19 $ 5ç, nç 2.749 de 16 de fevereiro de 1861, art. 10 $ 1ç, e
art. 30). art. ll $ 1ç, etc.; Av. de 19 de janeiro de 1853)
Os Institutos Agrícolas (DecretosEstat. nç 2.500-À de lç,
n' 2.506-À .de18 de novembrode 1859,ans. lç e 2ç.nç 2.516 Guarda, repara, e administra os próprios nacionais,e as
de 22 e nç 2.517 de 23 de dezembrode 1859,HP3.190 de 27 propriedades pertencentes às províncias e municípios (Const.
de novembro de 1863)
art. 15 $ 15; ato Ad. art. ll $ 4ç; Decretosnç 736 de 20 de
novembrode 1850,ans. 3q $$ 4' e 9ç. 16 $ 2ç, nç 870 de 22
A Sociedade Auxilíadora da Indústria Nacional (Decreto de novembrode 1851,ans. lç $ 13, 15 $ 14; Lei de lç de outubro
n? 1.927 de 25 de abril de 1857,art. lç). de 1828.art. 40)
Não pretendendo dar aqui a completa nomenclatura de todos
os órgãos de instrução, cumpre-nos observar que alguns exercem Conserva,vende e doa as terras devolutas (Lei nç 601 de 18
de setembrode 1850,ans. lç e 21; Reg. de 30 de janeirode
exclusivamente
esta função, enquanto outros, pela maior parte,
exercem funções de diferentes ordens; assim mais que, em geral, 1854,ans. 64 e seis., 82 e seis., 87 e seis.)
os chefes de serviços administrativos servem de órgãos de instrução Arrenda os terrenos diamantinos.(Decreto Leg. nç 374 de
ao seu superior hierárquico quanto à matéria dos respectivos 24 de setembrode 1845; Decreto de 17 de agosto de 1846;Aviso
serviços. de 21 de outubro de 1846; Decreto de 5 de dezembrode 1847;
11 -- Como instrumento de operações puramente materiais, Lei de 28 de outubrode 1848,art. 35); e concedepor meiode
a administraçãoconstrói e repara os edifícios e obras públicas; datas minerais a exploração das minas de ouro e de outros metais
guarda, conserva, adquire, aliena por concessãogratuita ou onerosa (Alv. de 8 de julho de 1801, 30 de janeiro de 1802, 13 de maio
os bens públicos; defende-os em juízo, como autora, ou como de 1803.Decretode 17 de setembrode 182{, Lei de 28 de outubro
94 95

de 1848, ans. 33 e 34, Decreto n' 3.350-A de 29 de novembro das câmarasmunicipais (DD. cit. ns. 736, 870, 2.343, e Lei
de 1864) de lç de outubrode 1828,ans. 41 e 81)
Afora os terrenos de marinha (Instr. de 14 de novembro 111 -- Como poder, ou fôrça moral, a administração não
de 1832, Decreto de 5 de dezembro de 1849, Lei de 20 de agosto exerce verdadeiro império, não ordena; limita instruir, animar,
de 1838, art. 9ç, etc.) recompensar, socorrer e proteger; exerce influência inteiramente
moral e sem doação. É esta uma das mais belas prerrogativas
Conserva as matas devolutas, e as reservadaspara monopólio da administração, eminentemente benéfica, pôsto que indeterminada
nacional, ou para a construção naval (Leis de 30 de novembro em suas regras e extensão (De Gerando). Ê por meio desta
de 1841,de 21 de outubrode 1843,Reg. de ]] de junho de prerrogativa que ela concede a todos os cidadãos a instrução
1842,Lei de 18 de setembrode 1850,art. 12 nç 3, e Reg. de primária gratuita; auxilia, inspecionae favorecepor meio de
30 de janeiro de 1854,ares. 80, 81 e 88, Lei Rç 1.040 de 14
prémios e isençõesas instituições particulares de ensino e educa-
de setembro de 1859, art. 12. POTE. n' 577 de ll de dezembro
ção, as religiosas, confrarias, etc. (Const. art. 169 $ 32, Ato
de 1861)
Àd., art. 10 $$ 2ç e 10, Decretos n' 630 de 17 de setembro
Constrói e repara estudas, pontes, calçadas, canais, obras de 1851.n' 1.331-A.de 17 de fevereirode 1854,ans. 112e
hidráulicas, etc., à custa das rendas gerais,provinciais ou muni 114, Ord. liv. lç tít. 62 $ 39 e seis., Lei de 22 de setembro
cipais, quer por meio de administração ou de arrematação, quer de 1828,art. 2ç $$ 19 e 11, ín fine, Decreton' 834 de 2 de
concedendo privilégios a empresários que as façam por sua conta outubro de 1851, art. 44 e seis.)
(Leis de 12 de agosto de 1834, art. 10 $ 8', de IP de outubro
Funda e auxilia por meio de privilégios, ou socorrospecuniá-
de 1828,ans. 47 e 66 $ 6ç,de 29 de agostode 1828,art. I'
rios, hospitais de caridade, enfermarias gratuitas, hospitais marí+
e seis., art. 18 e seis. de ll de outubro de 1837, art. 17, Reis. de
temos para nacionais e estrangeiros afetados de moléstias
l de dezembrode 1836e 12 de marçode 1840)
contagiosas, ou suspeitas, e cemitérios, concedendo condução e
Vende, afora, troca e administra os bens imóveis e móveis sepultura gratuita aos pobres (Lei de 12 de agosto de 1834,
dasmunicipalidades
(Lei de l de outubrode 1828,art. 42 art. 10 $ 10, Alv. de 18 de outubrode 1806,Lei de IP de
e seis.J outubro de 1828. art. 69, D.L. n' 583 de 5 de setembro de
Arrecada os impostos e rendimentos das oficinas e bens 1850, Decretos ne 796 de 14 de junho de 1851, ns. 842 e 843
públicos; toma conta das repartições e empregadosincumbidos de 16 e 18 de outubrode 1851,nq 1.103 de 3 de janeiro de
da arrecadação e dispêndio dos dinheiros públicos; fixa. no caso
]853. D.L. nç 775 de 2 de setembro de 1854, Decreto n' 2.052
de 12 de dezembro de 1857, ans. 4, 6 e 7); casas para a criação
de a]cance, o débito dos responsáveis; liquida, reconhece e paga
as dívidas passivasou os seus juros; emite apólices,bilhetes do de expostos, asilos de indigentes inválidos, depósitos de mendigos
Tesouro, etc. (Decretos nç 736 de 20 de novembro de 1850. HQ870 (Leis de 12 de outubro de 1834, art. 10 $ 10, 1' de outubro de
de 22 de novembro de 1851 e n' 2.343 de 29 de janeiro de 1859). 1828,art. 69, Decreto nç 1 .213 de 29 .de julho de 1853, Pare. de
30 de marçoe Circ. de 26 de abril de 1836,etc.)
Advogaos direitose interêssesda FazendaNacional,Pro-
vincial e Municipal, propondo e defendendoante o poder judiciária Faz distribuir víveres e socorros pecuniários por ocasião das
as açõescompetentes,por meio do procurador da Coroa, soberania grandes calamidades, ou aos brasileiros que dêles necessitam em
e Fazenda Nacional, dos procuradores dos feitos da fazenda na país estrangeiro (Const., art. 179 $ 31, Lei de 12 de agosto
Côrte e províncias, dos da Fazenda Provincial e dos procuradores de 1834,art. 10 $ 10, Lei de 25 de setembrode 1827, Res. n' 359
96 97

de 16 de agostode 1845.Decretonç 520de ll de junhode de agosto de 1852, art. 16, Hç 719 de 19 de setembrode 1853.
1847. ans. 153, 154, 158 e 161) ares. 19 e 21, n9 628 de 17 de setembrode 1851,art. 29);
concedendo-lhes terras devolutas ou próprios nacionais (Leis nP 317
Promove o abastecimento do mercado de víveres, dispensando
de 21 de outubro de 1843, art. 37, nç 514 de 28 de outubro
os criadores e boiadeiros do serviço da Guarda Nacional, regulando
de 1848,ans. 16, 38, 40, 41, nq 628 de 17 de setembro
de
o corte do gado nos matadouros públicos etc. (Lei de lç de
1851, art. ll $ 6, 9 e 30, nv 779 de 6 de setembro de 1854.
outubro de 1828. art. 66 $$ 7ç a 9', Decretos nq 2.046 de 9
art. 18, nç 939 de 26 de setembro de 1857, art. 23 $ 3ç e art. 32,
de dezembrode 1857e nç 3.087, de lç de maio de 1863); -- nP 668 de ll de setembrode 1852, art. 16. Lei Dç 719 de 28 de
o aumento da população, favorecendo a emigração (Lei .n' 8'í0
setembro de 1853, ans. 20, 21); ou privilegiando as apólices
de 15 de setembrode 1855, art. 12, Avs. nç 184 de 2 de maio
dos empréstimos
provinciais(Leis n' 317 de 21 de outubrode
de 1863.nç 300 de 14 e nç 302 de 17 de outubrode 1864)
1843, art. 4ç, H9 514 de 28 de outubro de 1848, art. 36. nç 840
Faz difundir por meioda imprensa,de cursospúblicos,de de 15 de setembro de 1855, art. 14)
instituições-modelos de indústria agrícola e fabril, o conheci-
mento de novos métodos e processos, máquinas e instrumentos; Protege as sociedadescientíficas, literárias e artísticas, premia
os compêndios e tratados úteis ao ensino, auxilia a publicação de
procura melhorar a raça dos animais domésticos,introduzindo obras científicas (Lei nç 628 de 17 de setembro de 1851, art. ll
outras superiores,e estabelecendo coudelarias.ou regenerara $ 4'. DecretosnP 1 .386 de 28 de abril de 1854.art. 72, nQ1.568
cultura das plantas úteis e propagar novas pela importação de de 24 de fevereiro de 1855,art. 257, Leis nç 628 de 17 de setembro
sementese mudas de melhoresespécies(Lei n' 939 de 26 de
de 1851. art. ll $ 4ç, nç 719 de 28 de setembro de 1853. art. ll
setembro de 1857, art. 29 $$ 9ç e 14)
$ 6'. nç 1.177 de 9 de setembrode 1862, art. 23 $ 3ç).
Favorece a navegação, estabelecendoe regulando o serviço
IV -- Como autoridade positiva, a administração expede
dos diques, faróis e faroletes, bóias e balizas, vapores de reboque,
barcas de escavação,práticos para as barras perigosasetc ordens formais, imperativas, e faz obedecer-lhespor meios coerci+
uivos, sendo necessário. São estas as funções substanciais da
(Avs. Rç 528 de 27 de novembro de 1863, nç.Z!.de 18 de fevereiro
de 1862, e n' 114 de 20 de março de 1863) administração, enquanto as primeiras são apenas preparatórias ou
acessórias. É quando ela exerce as funções desta ordem que se
Protege por meio de prémios pecuniários, de isenção ou pode dizer que a administração atinge a plenitude do seu desenvol-
diminuição de impostos sôbre as matérias-primas e instrumentos,
vimento vital. A elas se liga a parte mais importante do Direito
ou por meio de tarifas protetoras (sistemaem geral reprovado
Administrativo, e por isso largamente teremos de ocupar-nos com
pela ciência) a produção nacional (Lei n' 239 de 26 de setembro
a sua exposição em ocasião oportuna. Observaremos sòmente que
de 1857,art. 29 $ 14 e Decreto n' 2.573 de 14 de abril de 1860).
a autoridade administrativa se ocupa com as coisas ou as pessoas;
Concede títulos, honras, ordens militares e distinções em e se exprimepor meio de medidasgerais e permanentes,ou locais,
recompensados serviços feitos ao Estado (dependendoas mercês individuais e transitoríaís .
pecuniárias da aprovação da Assembleia, quando não estiverem
dos
já designadase taxadas em lei), Const. art. 102 $.111 ou $ 3'
serviços extraordinários feitos à humanidade por ocasião de epide-
lüias, incêndios, inundaçõesou naufrágios (Decreto nç 1.579 de AS FUNÇÕES JURISDICIONAIS
14 de marçode 1855,art. 4') .
Sempre que o adilainistrador põe-se em atividade, em virtude
Auxilia as províncias ou municípios. dando-lhes subsídios
de provocação ou de requerimento dos administrados, e que sôbre
pecuniários, impostos gerais ou isenção dêles (Leis n' 668 de ll
98 99

êsteprofere decisão,quer deferindo-o, quer indeferindo-o, exerce obrigada a atendo-los e a respeitar estes direitos, cingindo-se
ato de jurisdição. Mas as pretensõesdas partes podem fundar-se aos textos das leis, regulamentose contratos donde êles emanam
ein (Av. nç 273 de 13 de junho de 1862)
l -- Interêsses, ou (quandoa administração
por atõ seu espontâneo
ou jurisdi-
11 -- Direitos . cional fere interêssesdas partes, têm estas os direitos de fazer
Paralelamente a estas duas ordens de pretensões a jurisdição reclamações; quando fere os seus direitos, podem elas interpor
administrativa,bem como a judiciária, divide-se em: reczzrso.Sôbre êste ponto, porém, como sôbre outros muitos, a
1 -- Graciosa, e nossa fraseologia jurídico-administrativa não se acha definitiva-
11 -- Contenciosa. mente assentada, e muitas vozes na legislação pátria se empregam,
uma pela outra, as expressões -- reclamação e recurso.
A administração exerce a jurisdição graciosa quando conhece
Todos os negócios, que as partes submetem à jurisdição
de pretensões de partes, que falam em nome de meros ínferêsses;
e a contenciosaquando estas procuram fazer valer os seusdirelfos. graciosa ou contenciosa por meio de simples petições, de tecla
mações,ou recursos,são sujeitos a uma forma simples e expedita,
estes direitos podem provir:
que compreendeos atos indispensáveispara a instrução e final
1 -- De leis e regulamentos, ou decisão dos negócios; é isto o que constitui o processo adminis
11 -- De contratos . trativo (Decreton' 2.713 de 26 de dezembro de 1860,art. 58
.ínferêsse
é a vantagemque qualqueresperaobter de algum $ 1ç Obs. 1+,Círcul. de 25 de fevereirode 1861,Av. nç 428
ato administrativo, quer seja . medida geral ou favor individual; de 14 de setembro de 1863)
êle importa a ideia de desmembramento da utilidade geral em Os atos de instrução consistem em títulos, memóriase me
proveitoda particular,e a ausênciado direito. modais, ou quaisquer documentos e alegações, juntos ou apensos
Z)lzeífo é o interesse protegido pela lei. quer emane desta pelas partes; ou em documentos e papéis pertencentes ao expediente
diretamente, quer de atos regulamentares ou especiais da admi+ das repartições públicas, gerais, provinciais ou municipais, como
nistração. guias, atestados de freqüência, fôlhas etc.; ou em informações
oficiais exigidas pelas leis, regulamentos e instruções do govêrno,
Devemos observar, que a administração não se deve limitar a
ou por despachointerlocutório da autoridade que prepara ou tem
respeitar os direitos dos administrados; cumpre-lhe também atender
aos interêsses dêstes, sempre que se não acharem em oposição
de julgar definitivamente o processo (Decreto cít. nç 2.713,
Obs. cit. e ares. 85 $ 7ç, 123, Av. n' 553 de 25 de novembro
com os da sociedade;tanto por sentimentode dever como por de 1861, Circs. nç 104 de ll de março e 119 de 21 de março
cálculo de prudência convém muitas vozes fazer-lhes concessões, de 1862)
que alias lhes poderia negar sem ferir as leis
O julgamento ou decisão final profere-se por despachono
A jurisdição graciosa, porém, é essencialmentediscricionária, requerimentoinicial, e põem termo a instância (Decretos bits.
isto é, não achando-sea administraçãoem frente de direitos dos nç 2.713, ans. 125 e seis.- nç 2.551 de 17 de março de 1860,
administrados, quando a exerce,pode obrar como julgar conveniente ans. 59 e seis. etc., Circo. nç ]03 de 25 de fevereiroe nç 113
aos interêsses gerais e despi:Czaros individuais sempre que os de 26 .de fevereiro de 1859)
considerar antitéticos àqueles (Av. nç 86 de 8 de abril de 1864). A jurisdição administrativa não se pode considerarexcepcío-
Não sucede o mesmo com a jurisdição contenciosa; pois náría em relação à judiciária, nem esta com exatidão denominar-se
falando-lhe os administrados em nome de seus direitos, ela é comlzm (Cormenin t. 2ç cap. 3e)
100 101

Sòmentefera isso exato. se as matériasadministrativas,que A ação espontâneada administraçãocessae começaa sua juris-
não houvessem sido explicitamente atribuídas àquela jurisdição, dição graciosa, desde que aparece petição ou reclamaçãode partes
coubessemna alçada desta só pelo fato do silêncio da lei. Porém, em nome de seus interêsses .
assimnão sucede;cada uma destas jurisdições existe em virtude Entre as jurisdições,graciosae contenciosa,
existemas
de princípiosigualmentelegítimos,distintosum do outro, e tem seguintes distinções:
a sua esferaprópria de açãoe independência. Uma é instituída 1 -- Pode-se sempre recorrer do ato de jurisdição graciosa
para a aplicação das leis de ínterêsse geral ou coletivo; assim para a própria autoridade melhor informada; enquanto o ato de
comoa outra para a aplicaçãodas de interesseprivado,e por jurisdição contenciosa passa em julgado e firma direito entre
extensão -- da legislação penal e geral. (Decreto HQ 2.343 de partes, como na esfera judiciária, quando dêle se não recorre
29 de janeiro e Avs. nç 268 de 3 de outubrode 1859,nç 256 para a instância superior no prazo legal (Instr. de 20 de outubro
de 7 de janeiro, nç 348 de 20 de julho e nç 369 de 8 de agosto de 1859, ans. 2' e ]] etc., ])ecs. cÍts. nç 2.551, art. 61, Rç2.647,
de 1862,nç 56 de 31 de janeiro e n' 286 de 27 de junho de ans. 749, 753 e 771 etc.; 2.713, ans. 124 e 129)
1863,nq 13 (add. ) de 15 de fevereirode 1864) 11 -- A jurisdição graciosa raras vêzes tem fórmulas solenes
A jurisdição grão;osa da administração emana do mesmo e prazos fatais, enquanto a contenciosa não pode dispensa-los,
princípio donde decorre a sua ação espontânea, e são ambas embora as suas fórmulas sejam mais singelas do que as da ordem
exercidas pelos mesmos agentes. É natural, que a autoridade, judiciária (Instr. de 20 de outubro de 1859,art. 10, pr., Decretos
cits. nq 2.551, art. 65, nç 2.647, art. 770, nç 2.713. art. 132)
a quem incumbe executar a lei sem a provocação ou pedido das
111 -- 0 Conselho de Estado conhece por meio de recurso
partes, por maior razão o deva fazer a pedido destas;e que a
que praticou o ato. que dá ocasiãoàs reclamaçõesdos particulares, dos atos de jurisdição contenciosados Ministros de Estada e
tenhao direito e o dever de atendera estespara prover como Presidentes de Província, mas não dos de jurisdição graciosa
(Decreto de 5 de fevereiro de 1842, ans. 45 e 46); pode, porém,
julgar conveniente.
ser consultado também sôbre êste assunto, quando o Imperador
Assim como ela tem o direito de resolver-se espontâneamente
julgar conveniente (Decreto cit. art. 7ç)
antes, durante ou depois do ato, isto é, o direito de pratica-lo,
ou deixar de pratica-lo, de suspendo-lo,ou reforma-lo. por movi-
mento próprio, também o pode fazer em virtude de petição ou de
reclamação
dos interessados.
Ulpianofr. 5 D. De Reg. Jur.
(L. 17) -- N'íAI/ fam nafuraíe esf, ruam eo genere qzzidque
dissotoete. que cattigatum est.
Alguns escritores denominam jurisdição graciosa a aplicação
das leis ou regulamentos
aos casosparticulares,ainda que não
haja petição ou reclamação dos administrados, ou processo a
julgar; e simples administração a execução das leis e regulamentos Ê
em geral, ou a decretaçãode medidas genéricas.Mas é evidente
que a maior ou menor compreensibilidade
do ato não afeta a
natureza da função; que esta é em si a mesma,quer se exerça
sôbre um ou sôbre muitos indivíduos;que o que distingue as
funções é ser a sua ação espontâneaou provocada pelos particulares.
Capítulo VI
CONTINUAÇÃO:-- DO CONTENCIOSO
ADMINISTRATIVO
11
$ 1'
11
ORIGEM DO CONTENCIOSOADMINISTRATIVO

A jurisdição contenciosa, como a graciosa, sendo o comple-


mento necessárioda ação administrativa (Portalis), torna-se evi-
dente que decorre da mesmaorigem donde esta emana;pode-se
generalizar as atribuições de todos os cargos públicos à doutrina
de Javolenusfr. 2 D. De Jurisdic. (11, 1) -- Cuí jtzrisdlcffodata
est, ea quoque concessaesse uidentur, sine quibus jurisdictio
explicati non potest.
Função e importante, de um dos poderes sociais, a sua origem
primitiva não pode ser senãoa constituiçãopolítica do Estado,
e não quaisquer leis ordinárias, anteriores ou posteriores a ela.
Assimo art. 10 da Const. que cria o Poder Executivo,e
o art. 102 que define as suas principais atribuições, os ans. 165,
167, 170, os ans. 1, 10 e ll da lei de reforma constitucional
e os demais que criam as administrações especiaisdas províncias,
dos municípios,da Fazenda Nacional, são a matriz da jurisdição
administrativa contenciosa e os títulos de sua legitimidade.
Nem se estranharáque esta função da administração
não
t esteja mais exp]í]:ita e amp]amente desenvo]vida na ]ei fundamental,
se atender-se que as noções relativas a êste ramo da ciência, não
tinham ainda atingido ao grau de dedução,e de clareza, em que
hoje se acham.
A antiga legislação e jurisprudência confundiam o contencioso
judiciário e administrativo, e com êles a ação espontâneae graciosa
104 105

da administração.O que se denominavajurisdição,ou o/feio nobre julgar-se, quer entre os particulares, quer entre êstes e a admi
do juiz, compreendiaatribuições pela mor parte de caráter adminis- nistração.
trativo, especialmente as que eram exercidas sem requerimentos Por tal motivo, extinguindo-se pela Lei de 22 de setembro
$

de partes, por fôrça do regimentodo juiz, ou por interessepúblico de 1828,art. IQas Mesas do Desembarco do Paço e da Consciência
(Peneira e Sousa, Linfa. Civ. nota 980) . A jurisdição, ou ofício e Ordens, passou-sea distribuir as funções pelos juízes civis de
mercenário do juiz, só atuava por provocação das partes, dentro primeira instância (Lei cit. art. 2' $ 1ç); pelos juízes criminais
da medida dela. de sorte que não podia excedero pedido na ação (Lei cit. art. cit. $$ 2P e 3P); pelos juízes de órfãos (Lei
(Ord. Liv. 3' tít. 66 $ 1ç) e terminava com a sentença (Ord. « cit. art. cít. $$ 4o e 5ç); pelas relações provinciais e seus
liv. 3çtít. 65 pric. e tít. 66 $ 6Q);Ulpianofr. 55. D. De presidentes (Lei cit. art. cit. $$ 6ç e 79); pelo Tesouro e Juntas
jurisdic. (XI, 2) -- /zzdex posfeaqtzam serre/ serzfenfíam dixit, da Fazenda (Lei cit. art. cit. $ 8ç); pelo Supremo Tribunal
poster judeu' esse desinit. . . semel enim mala seu bens otticio de Justiça (Lei cit. art. cit. $ 9'); pelas Câmaras Municipais
}unctus est. (Lei cit. art. cit. $ 10 e Lei de lç de outubrode 1828);pelo
Mas, assim como os magistrados judiciários exerciam. e ainda Govêrno (Lei cit. art. cit. $ 11); abolindo-se tôdas as outras
exercem, numerosas e importantes funções administrativas, do funções que não foram atribuídas a estas autoridades, menos as
11 mesmo modo autoridades de natureza indisputàvelmente adminis- que jâ se achavam prevenidas na Constituição e mais leis novíssimas
trativas exerciam funções judiciárias, tais como: ( Lei cit. art. 7ç)
Foi também dêste modo que se devolveu às justiças ordinárias
O Conselhoda Real Fazenda(Lei de 22 de dezembro
de
1761); extinto pela de 4 de outubro de 1831, art. 90 a jurisdição contenciosaque outrora exerciam:
Às Mesas da Inspeção do Açúcar, Tabaco e Algodão (Alva. de
À Mesa de Consciênciae Ordens (Àlvs. de 2 de janeiro de IP de abril de 1751e 30 de janeiro de 1810e Lei de 5 de
1606, 2 de abril de 1808 etc. ); extinta pela Lei de 22 de setembro novembro de 1827, art. 2')
de 1828.
O Provedor-mor da Saúde, Físico-mor, Cirurgião-mor (Lei de
O Conselho Ultramarino (Reg. de 14 de julho de 1642.
30 de agosto de 1828, art. 6ç)
Alva. de 22 de .dezembro
de 1643,e 16 de junhode 1763);unido
O Tribunal da Bula da Cruzada (ao Juízodos Feitos da
ao desembarcodo paço,Alv. de 2 de abril de 1808,ans. lç e 2Q).
Fazenda)Lei de 20 de setembrode 1228,ares. 3çe 4ç
O do Àlmirantado (C. de L. de 26 de outubro de 1799); unido
As Câmaras Municipais (declaradas corporações meramente
ao Conselho Supremo Militar pelo Alv. de I' de abril de 1808,
art
r 2ç admínfsfrafípas, e inibidas de exercer em jurisdição aigtzma corzfe/z-
cíosa) Lei de I' de outubro de 1828, art. 24.
A Junta dos Três Estados (Reis. de 9 de maio de 1654 e 29
de dezembrode 1721) ; extinta pelo Alv. de 8 de abril de 1813,etc Os juízesalmotacés(aosjuízesde paz) Decretode 26 de
agosto de 1830, art. lç
A inauguração do sistema constitucional representativo entre
A Chancelaria-mor do Império (Lei de 4 de dezembro -de
nós deu nova tendência ao espírito dos nossoslegisladores. En- +

1830, art. 4ç)


tendeu-se que era necessário separar-se, e distribuir-se por autori-
dades distintas, as funções de ordem diversa, que êssestribunais O juízo da Conservatória dos Moedeíros (Decreto de 7 de
exerciam;mas, confundindo o contenciosoadministrativo com o dezembro de 1830, art. 2ç)
judiciário, pensou-se que ambos eram da competência do poder O Conselho da Fazenda (Lei de 4 de outubro de 1851,
judicial. que êste devia intervir sempre que houvessepleito a t art. 91), passando-se tôda sua jurisdição contenciosa para os
106 107-

juízes territoria'is, com recurso para a relação do distrito, guardados A opinião pública, porém, tem-se esclarecido sôbre estas tão
os termos de direito . difíceis, quão importantes questões, e se esforça por levar ao domínio
da legislação as distinções e classificações da ciência.
O Conselho Supremo Militar, impassível ao movimento de
reforma que aboliu ou transformou as instituições coloniais, se Se por um lado é necessário que separem-se as funções
conserva estacionário com os seus regimentos de 22 de dezembro judiciárias das administrativas, de modo a tornar realidade a divisão
de 1643 e 26 de outubro de 1796, como foi criado pelo Alv. de e independênciados poderespolíticos do Estado, como determina
I' de abril de 1808,reunindoatribuiçõesadministrativas
e judi- a Lei Fundamental. ans. 9ç, 10 e 98 por outro lado é preciso
ciárias, e até algumas das altas funções do Poder Moderador discriminar completamenteo contenciosoadministrativo do judi-
(Carvalho Moleira; e contra Cunha Mattos, Rep. da Leg . Militar ciário, organiza-lo e desenvolvê-lo dentro da sua esfera própria .
v. pena n' VII) . É de esperar-se que esta necessidade seja brevemente satis-
Esta tendência a restituir ao Poder Judiciário as funções que feita; e jâ o Decreton' 2.343 de 29 de janeirode 1859,art. 46
Ihe haviam sido roubadas, bem como a enriquecê-locom o conten- ! lç mandou que o Ministro da Fazenda expedisse os necessários
regulamentos, prescrevendo -- a forma do processo em matéria
cioso administrativo,que Ihe não pertence,começoua encontrar
contenciosaadministrativa, em tôdas as instâncias, à exceção
reação na Prov. de 24 de outubro de 183{, e mais amplamente
da do Conselho de Estado; o que, em parte, tem-se feito (Decretos
na Lei de 23 de novembro de 1841 e Reg. de 5 de fevereiro
nç 2.551 de 17 de março de 1860, art. 59 e seis. nq 2-.647 de
de 1842,bemcomona Lei de 3 de dezembro de 1841e Reg. de
19 de setembro de 1860, art. 742 e seis. etc. ) .
31 de janeiro de 1842.
A citada Provisãoveio firmar a entãocontestadajurisdição
$ 2'
do Tesouro e Tesourarias sôbre o contenciosaadministrativo, ante-
riormenteexercida pelo erário e tribunal do Conselhoda Fazenda CLASSIFICAÇÃO DAS FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS CONTENCIOSOS
limitando a jurisdição dos juízes territoriais e relaçõesao conten-
cioso judiciário. Para melhor conhecermos as funções contenciosas da admi-
A Lei de 23 de novembro de 1841criou o Conselho de Estado, nistração, convém estuda as nas diversas classes em que se
distribuem; e são as 4 seguintes:
Supremo Tribunal do Contencioso Administrativo, e o respectivo
regulamento, ampliando o pensamento da lei, definiu casos de 1 -- A repartição equitativa de encargos e gozos pelos
recurso e a marcha do processo contenciosoperante o mesmo cidadãos que legalmente dêles devam participar . Conquanto neste
Conselho. caso pareça não haver litígio, há sempre apreciação comparativa
A Lei de 3 de dezembro, também ampliada pelo respectivo dos direitosdos administrados.
que devemser admitidospor si
regulamento, destacou do poder judiciário funções importantes em ou por seus mandatários a sustentar ou discutir, mais ou menos
matéria criminal e concedeu-asa autoridadespoliciais ou admi amplamente, as suas pretensões .
nistrativas . A.ssim, é incontestàvelmente administrativa e pertencente a
Em contraposição, gozam os magistrados judiciários de largas esta classe,a função que a AssembleiaGeral tem de repartir pelas
funções administrativas, especialmente os Juízes de Direito em províncias a confríbzzição dírefa, e as A.ssembléias Legislativas
virtude do regulamento das correcções,(Decreto n9 834 de 2 de destasde a repartirem pelos respectivos municípios (Const. art. 15
outubro de 1851). $ 10,Lei de 12 de agostode 1834,art. 10 $ 6Q).
108 109

Também pertence a esta categoria: 11 -- A tomada de contas dos dinheiros públicos a quaisquer
pessoas a quem tenha sido confiada a sua arrecadação, dispêndio
A repartição do ónus do Serviço Militar, em circunstâncias ou guarda. Para/êste fim institui scussão entre o responsável
ordinárias, fixando o Govêrno Imperial o número de recrutas com
e o funcionário incumbido pelo tesouro ou tesouraria da tomada
que anualmente deve concorrer o município da Côrte e cada Pro-
de contas, podendo se oferecer quaisquer documentos ou expli-
víncia; os presidentesdestaso número que deve caber a cada cações, verbais ou escritas, para o esclarecimento da questão.
município, e nestes a autoridade, que fõr encarregada pelo
Afinal o Tribunal profere julgamento sôbre as contas, mandando
presidente, a parte com que deve concorrer cada freguesia
passar quitação ao responsávelque nelas estiver corrente, ou,
(Lei nç 648 de 18 de agosto de 1852, que determina o modo
em caso de alcance, fixando o débito (Decretos nç 736 de 20 de
prático .de distribuir~se o número de recrutas anualmente preciso
novembro de 1850, art. 2ç $$ 3ç e 5Q,n' 870 de 22 de novembro
para os serviços do ex&cito, Lei de 19 de setembro de 1853,
de 1851, art. lç $$ 3' e 4ç, nç 2.343 de 29 de janeiro de 1859.
art. 2ç, Decreton' 1.401 de 10 de junho de 1854). ans. 4P, 10, 21 $ 2?, n' 2.354 de 16 de fevereiro de 1859.
A do serviço ordinário, de destacamentoou de corpos desta- nç 2.529 de 13 de fevereiro,n' 2.548 de 10 de março,nP2.719
cados, para a Guarda Nacional (Lei Bç 602 de 19 de setembro de de 31 de dezembro de 1860, Av. Rq 529 de 12 de novembro
]850, Decreto nP 722 de 25 de outubro de 1850 etc.) de 1862. etc.).
A concessão dos terrenos de marinha, por aforamento, e a Ju[gadas as contas e inscrita a dívida nos livros competentes,
decisão da preferência entre os pretendentes a êles (Avs. n' 435 caso não seja paga nos prazos que forem marcados,termina a
de lç de outubrode 1861,nç 278 de 19 de junhoe nç 306 ação do contenciosoadministrativo, e a Fazenda Pública, como
de 7 de julho de 1863); a das terrasdevolutas,por doação,aos credora de quantia líquida e certa, comparecepor meio do seu
voluntários que completam o seu tempo de serviço militar -- procurador perante o poder judicial, em foro privilegiado, a pedir
6 anos (Av. n' 110 de 18 de marçode 1851,Lei nç 1.220 o seu pagamento. As contas por certidão extraídas dos livros
de 20 de junho de 1864, art. 3ç $ 29 etc. ); e a outros, nacionais fiscais têm fôrça de escritura pública, e nelas tem a Fazenda
eu estrangeiros, na zona de lO léguas dos limites do Império a suaintençãofundadae liquidadade fato e de direito,de modo
(Decreto nç 1.318 de 30 de janeiro de 1854,ans. 82 a 86); ou, a não precisar de qualquer outra prova; compete-lhe o processo
por venda e aforamento perpétuo, em casos como o da Lei n' 628 executivo (Reg. da Faz. cap. 176, Lei de 22 de dezembro
de 17 de setembro de 1851
de 1761,art. 3ç $ 5', cit. Reg. nç 2.548, art. 25 $ 3Pnç 2)
A distribuição proporcional das quantias votadas para a 111 -- 0 julgamento de quaisquer pretensões fundadas em
indenização de prêsas nos casos do art. 12 do Decreto nç 1.708 direito e recursos das partes interpostos contra atou administrativos,
de 29 .de dezembro de 1855 e Lei nç 834 de ll de agosto do
que hajam ferido os seus direitos. Êste julgamento deve ser
mesmo ano .
sempre precedido de processo, embora sumário ou sumaríssimo,
A distribuição de ações de companhias privilegiadas ou estio com fórmulas regulares e designaçãode instâncias e alçadas,como
pendiadas pelo Estado, no caso de grande concurso de subscritores, foi estabelecido para os recursos relativos às decisões; --- dos
por comissões nomeadas pelo Govêrno, ou segundo instruções capitães dos portos acerca das multas e indenizações, a que
dadas por êste, como fêz-se a respeito das cinqüenta mil ações possam estar obrigados os infratores do respectivo Regulamento
do Bancodo Brasil e das da Estrada.de Ferro de Pedra ll (Decreto nç 447 de 19 de maio de 1846, art. 116 e seis.); -- dos
(Relat. do Sr. Ministro da Fazenda de 1854, pág. 7, Decreto juízes comissários,quando os recorrentes forem posseirosou
e Instr. nç 1.598 de 9 de maio de 1855). sesmeirossujeitos a revalidação ou legitimação (Decreto Hç 1 .328
110 l ll

de 30 de jan.oiro de 1854, ans. 19, 47 a 52); -- dos administra- respeito,ou exprimem-se


de modoindeterminado(Lei de 3 de
doresdas recebedorias
(Decreton' 2.551 de 17 de marçode dezembro de 1841, art. 112 nas palavras -- gtzardado o zespecfípo
1860, ans. 59 e seis.); -- dos inspetores das alfândegas e processo,Leis de 6 de outubro -de 1835,art. 2ç, nç 601 de 18
administradoresde mesasde rendas (Decreto nç 2.647 de 19 de de setembro de 1850, art. 22 etc.)
setembro de 1860, ans. 760 e seis.); -- dos agentes fiscais Na ausência de lei que -determine as formas do processo
acerca da aplicação, isenção e arrecadação do selo, dos prazos administrativopenal em geral, é evidente que a autorizaçãodada
e quotas das revalidações, e respectivasmultas (Decreto nç 2 .713 ao Govêrno para impor penas desta natureza envolve implicitamente
de 26 de dezembrode 1860, ans. 121 e sega.), etc. a faculdade de prescrever as formas do processo, as autoridades
que devem conhecer dêle e os recursos reservados às partes,
É necessário, porém, sistematizar legislação sôbre êste
devendo-sesempreguardar a ordem natural do processo.
assunto e decretar-se medida geral que compreenda todos os casos
de recurso em matéria administrativa e tôdas as instâncias. O Govêrno tem, com efeito, usado desta faculdade, pies'
crevendo o processo para imposição de penas relativas à instrução
IV -- A punição das infrações dos Regulamentos adminis pública (Decretosnç 1.331-A de 17 de fevereiro de 1854,art. 115
trativose reparaçãodo mal causadoao público. Conquantoa e seis., n' 1.386 de 28 de abril de 1854,art. 95 e seis., nQ1.387,
aplicação do Direito Penal comum seja da exclusiva competência art. 130e seis., nç 1.586 de 24 de fevereirode 1855,art. 234
do poder judicial, não se deve privar a administração da atribuição e seis.. nç 1.764 de 14 de maio de 1856, art. 316, e sega., Hç 1.603
de reprimir e prevenir pela punição aquêlesatou que, embora a de ]4 de maio de ]855, art. 136 e seis. etc.); e especialmente
consciência da nação algumas vozes os não qualifique como para a imposição, liquidação e execução das multas pelos: --
criminosos, opõem tropeços ao desenvolvimentoregular da ação inspetoresdas alfândegas,mesasde rendas e administradoresdas
administrativae prejudicama causapública. recebedorias (Decretos nP 2.647 de 19 de setembro de 1860,
Mas. para que a administração possa decretar em seus regula- art. 752 e seis., nç 2.486 de 29 de setembrode 1859,art. 32
mentos penas pessoais ou pecuniárias, necessita -de expressa e seis., nç 2.551 de 16 de marçode 1860,art. 59 e seis.); --
autorização legislativa . Na falta desta, as infrações das disposições comissõesincumbidas de julgar as infrações do regulamento para
regulamentares só estão sujeitas à legislação comum, que as autori o transporte dos emigrados (Decreto n9 2.168 de lç de maio
dades convictas dêste delito impõem as penas dos ans. 129 de 1858, art. 27 e seis.); -- Tribunais de Comércio, no caso
n' 1.154 e 156 do Cód. Crim. e aos administradosas de do art. 463 do Cód. Com. (Decreto nç 879 de 29 de novembro
desobediência (Cód. Cria., art. 128) de 1851);-- capitãesdos portos (Decretonç 447 de 19 de
As leis, que concedem tais autorizações, umas vezes designam maio de 1846, art. 59 e seis.), etc
as autoridades competentespara a imposição das penas adminis- Em conclusão diremos: que a administração contenciosa,
trativas,dão às suas decisõesfôrça de sentença,e marcamo exercendo as funções de 1+ classe, pronuncia entre os particulares;
processoque se deve seguir (Lei n' 387 de 19 de agostode 1846, exercendo as de 2B classe, pronuncia entre o tesouro público
ares. 126 e 127.Res. de 5 de setembrode 1850,art. 7ç etc.); e seus agentes; exercendo as de 3+ classe, pronuncia entre os
outras vêzes dão faculdade ao Govêrno para designar essas particulares e o público; finalmente exercendo as de 49 classe,
autoridades,bem como a forma do processoe recursos (Decretos impõepenasaos particularese os sujeita a indenizações(De
nQ581 de 4 de setembro,nQ594 de 14 de setembro,n' 602 de Gerando,Gandillotet Boileux,Élémentsde Dr. Adm. en Bel
19 de setembro de 1850); outras vozes nada declaram a êste giqueJ
113
112

Os julgamentos do contencioso administrativo, devem pois,


$ 3' ser sujeitos à revisão em superior instância, onde os administrados
ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO CONTENCI'OSAEM GERAL sejam de novo admitidos a discutir e sustentar os seus direitos.
Mas a quem deverá ser dada a atribuição de conhecer dêstes
A jurisdição contenciosa da administração pode ser concedida : recursos?É manifestoque não poderásê-lo ao próprio adminis-
1 -- Conjuntamente com a graciosa aos próprios agentes trador de quemse recorre,cujo juízo está prevenidoe que natural-
a quem estiverem confiadas as funções espontâneas;ou mente persistirá pela maior parte das vêzesna juízo que uma vez
11 -- A Magistrados e Tribunais especiaisde ordem adminis- proferiu.
trativa; ou finalmente Entendemalguns que esta atribuição não pode caber em
111-- Aos Magistrados e Tribunais Judiciários. vista da nossalei fundamentalsenãoao poderjudicial,e que só
êste oferece as necessáriassegurançasde imparcialidade e de
O estreito nexo que une as funçõescontenciosasàs graciosas
acerto. Mas nenhumartigo encontramos
na Constituiçãodonde
e ambas às espontâneas torna necessário incumbir aquelas em se possa deduzir semelhantedoutrina .
regra aos mesmos agentes a quem estas são atribuídas.
Com efeito, se o administrador, sempreque no preenchimento Pelo contrário, no art. 151 ela determina que o poder judicial
serácomposto
de juízese jurados,que terão lugar no cÍt2í/como
de sua tarefa encontrauma pretensãoque se diz fundadaem
no crime; a competênciadêste poder acha-se pois limitada ao civil
direito, deve-se suspender a sua ação e sujeitar a questão a outra
e crime, e dela excluído o administrativo.
autoridade, ver-se-ia a cada passo tolhido no desenvolvimentode
sua atividade, e correriam graves riscos a prosperidadee a própria Demais, quando tão explícita não fôsse a Constituição, assaz
conservação da sociedade seria a distinção fundamental que a ciência faz entre a esfera
É preciso, pois, que em geral êle esteja armado do poder de de ação do poder judicial e a da administração; e sempre deverá
arredar os embaraçosque Ihe possamtentar opor os administrados, ela ser interpretadade acôrdo com os princípios da ciência.
escudadospor pretendidos direitos; e para êste fim deve-lhe set Nem essadoutrina é conciliável com o princípio da independên-
concedida a atribuição de julgar da justiça ou injustiça dessas
cia dos poderes, consagrado pelo art. 98 da Constituição;
pretensões,salvo se os direitos alegadosforem dos que estão porquanto, o executivo seria colocado em posição de dependência
sujeitos à competênciado poder judicial. e subalternidade em relação ao judicial, desde que os seus fitos
Mas deverão ser peremptórios e sem recurso estes julgamentos? estivessemsujeitos à revisão e à confirmação dêste poder, sempre
Não por certo; o princípio, que na ordem judiciária serve de funda que aprouvesseàs partes interpor recursos dêles a pretexto de
mento à diversidade de instâncias, na administrativa justifica com lesão em seus direitos .
maior razão idêntica instituição .
Todo princípio de atividade tende a ampliar-seenquantonão
Na verdade, os julgamentos administrativos não são mais encontraóbices. O poder judicial, independentepois. comoé pela
isentos da humana falibilidade do que os judiciários. Pelo contrário, nossa organização política, não deixaria de arrojar-se certa superin-
preocupadocom a necessidade da rapidez da ação, e com a tendênciasôbre o executivo, desde que Ihe fôsse atribuído o
importânciados interêssessociaisque tem por missãozelar e julgamento dos recursos administrativos; descarte se nulificaria
promover,o administradorestá mais sujeito do que o juiz a a responsabilidadedo poder executivo e se tornaria êle incapazde
menosprezaros direitos dos particulares, quando por acaso contra- preencher a sua alta missão.
digam ou pareçam contradizer àqueles grandes interêsses.
114

Os processos administrativos precisam de pronta decisão,


sempre inspirada pela utilidade geral, quando a isto se não opõem
o texto claro e preciso da lei; os magistradosjudiciários não são,
pois, os mais aptos para conheceremdêles, habituadoscomo são
às fórmulasminuciosase talvez prolixas do processajudiciário
e à inflexibilidade de sua hermenêutica.
A criação de magistrados e tribunais, exclusivamente desti- Capítulo Vll
nados a conhecerem dêstes recursos. traria quase os mesmos
inconvenientes,
se não fõssemde livre nomeação
e demissãodo DÀ COMPETÊNCIA DO CONTENCIOSO
Govêrno; no caso contrário, seriam novas e dispendiosasmolas ADMINISTRATIVO
no já assaz complicado e dispendiosomecanismoadministrativo .
Ê I'
Mais vantajosapareceser a nossaorganização
em que se
aproveitam os agentes da administração' ativa espontânea e da COÁ4PETENCIA DO CONTENCIOS:O ADMINISTRATIVO, EM GERAL
consultiva para converta em magistradose tribunais de superior
instância, respeitando-se o princípio da hierarquia . Já anteriormentetraçámosos limites entre a jurisdição graciosa
e a contenciosa
da administração(cap. 5ç $ 3Q); cumpreque
E não se pode dizer que descartea administraçãotorna-se façamosagorao mesmoentre o contenciosoadministrativoe o
juiz e parte no mesmoprocesso,conhecendoda justiça ou injustiça judiciário. É êste, porém, um dos pontos mais importantes e
da queixa que ela mesma suscitou com os seus fitos; porquanto, difíceis da ciência, e ao mesmo tempo um daqueles em que a
aquando,quer espontâneaquer contencíosamente, ela não trata de legislação pátria é mais deficiente. Na ausência de fórmulas legais,
interêssespròpriamente seus, e sim do bem geral, como conter clarase precisas,recorreremos
à teoria geral do Direito Admi-
vadora e promotora que é da ordem e prosperidade social (Portalis ); nistrativo, tendo sempreem vista a índole de nossasinstituições.
procededo mesmo modo porque o faz o poder judicial quando
Do exposta nos $$ antecedentes se deduz, que para haver
por meiode apelação,
de agravo,ou de recursoconhece
das
contencioso administrativo é mister que os administrados se fun.dem
pretensões -das partes que por êle se dizem lesadas em seus direitos
na l4 instância. em direitos, quando pedem à administração que faça ou deixe
de fazer, consinta ou dê alguma coisa. Cumpre, porém, distin-
À Constituição não declara qual seja o número das instâncias guirmos o duplo caráter em que esta pode põr-se em relação com
no contencioso administrativo, conquanto no art. 158 crê sòmente aquêles.
duas na ordem judiciária nem há conformidadea êste respeito Com efeito, a administração umas vozes atua como ramo
na nossa organização administrativa. O número das instâncias
do poder social, incumbidode velar sôbre o interessegeral; outras
varia segundo a natureza dos negócios, como mostraremos quando vozes atua como representante da pessoa jurídica -- o Estado,
tratarmos dêste assunto em particular equiparado às pessoas naturais quanto aos direitos patrimoniais
de que êle é capaz.
O contenciosoadministrativosó tem lugar no primeiro caso,
isto é, quando se invoca a ação da administração, considerada
como ramo do poder social, ou se recorre de ato por ela praticado
sob êste mesmo caráter. No segundo caso, porém, isto é. quando
116
117

se quer que a administração como representantedo Estado, con-


siderado como pessoa jurídica, faça, consinta ou dê certa coisa, do poder público, -deveexercer uma sua atribuição; como no caso
deve-se invocar o contencioso judiciário . da distribuição dos encargos e gozos comuns.
O contencioso judiciário abrange:
No primeiro caso, os particulares discutem com a administração
os seusdireitosadministrativos.
ou civis no sentidolato; no l -- Os processosentre os particularesem que se litiga
segundo discutem os seus direitos privados, ou civis no sentido acerca dos direitos privados, isto é, acerca dos direitos de família,
restrito (Vede t. 3ç cap. lç parágrafo único) . das coisas, das obrigações, ou das sucessões (Àv. nç 13 ad. de
15 de fevereirode 1864)
As Palavras -- afo admínisfrafíuo podem-se tomar em dois
sentidos: ou para designar semente os que a administração pratica, 11 -- Aquêles em que os particulares mitigam com a admi+
considerada sob o primeiro caráter, ou para designar os que pratica nistração, considerada esta como representante da pessoajurídica
sob ambos os caracteres . -- o Estado, acercados direitos e obrigaçõesde que êsteé capaz.
A capacidade jurídica do Estado compreende o direito de proprie-
Tomadas no primeiro sentido, pode-se dizer que todo o ato
dade, os jura ín ze, os das obrigações e sucessões, como meio
administrativo lesivo dos direitos dos administrados pode dar lugar
de adquirir, e o poder sôbre os escravos (Savigny)
ao recursoadministrativo,quer o ato seja regulamentare geral,
quer seja particular ou individual (DecretosRç 1.930 de 26 de Quanto ao direito penal, a sua aplicação, em regra, pertence
abril de 1857. art. 157. e nç 1 .294 de 16 de dezembro de 1853, ao contenciosojudiciário; mas a das penas administrativas pertence
art. 7' etc. ) . Tomadas essaspalavras no segundo sentido, devemos ao contencioso administrativo (Vida o cap. 6ç $ 2ç)
reconhecerque há atos administrativos que não são da competência Cumpre, porém, atender-se que verificada e liquidada uma
do contencioso
administrativoe sim da do judicial, e são os que dívida passiva do Estado, não pode a autoridade judiciária mandar
a administraçãopratica como representanteda pessoajurídica -- penhorar e arrematar os bens nacionais para pagamento dela,
o Estado visto que seria usurpar as funções do Poder Legislativo a quem
Cumpre também atender-se que ncm tôdas as relações inda exclusivamente compete estabelecer meios convenientes para paga-
viduais e recíprocasdos particulares são da competênciado conten- mento da .dívida pública, e decretar a alienação dos bens nacionais
cioso judiciário; aquelas que se fundam imediatamenteno interesse (Const. art. 15 $$ 14 e 15, Instr. Dir. Ger. do Cont. de lO
geral, e apenasmediatamente
nos privados,são igualmenteda de abril de 1851,art. 14, Av. n' 387 de 18 de agõsto de 1862).
competência do contencioso administrativo, embora em tais litígios O mesmose pode dizer quanto aos bens provinciais e municipais
a administração não seja parte direta. (Av. n' 120 de 24 de março de 1863; vede-- Curso de Dir. Civ.
Bus. tít. 4ç, cap. 5ç, $ 5ç nota 42)
Assim o contencioso administrativo compreende:
l -- Os processos em que os administrados discutem com Mas, se o poder judicial é obrigado a respeitara órbita
a administração.consideradacomo ramo do poder público, o constitucionaldas atribuiçõesdo legislativo, tem êste igual obriga-
direito que julgam ter a obter dela algumacoisa ou algum ato, F ção em relaçãoàquele. Assim, proferida sentençajudiciária contra
positivo ou negativo, que esteja na esfera de suas atribuições; a FazendaNacional e passadaem julgado, não pode constitucio-
como no caso da tomada de contas aos responsáveispelos dinheiros nalmenteo Poder Legislativo entrar na apreciaçãodo mérito dela,
públicos, ou de quaisquer pretensõesque se fundem em direitos . pois seria atentar contra à autoridade da coisa jzz/ganiae os
11 -- Aquêles em que os administradosdiscutementre si os direitos por ela adquiridos, e conseguíntementeusurpar as funções
seus direitos quanto ao modo porque a administração,como ramo do poder judicial, constituindo-se em 34 instância, ou legislar
retroativamente (Const. ans. 158 e 179 $ 3ç)
118 . 119

Para aplicar êste 2' ramo do contenciosojudiciário foi resta- porém, embora reunidas na mesma pessoa, essas duas ordens de
belecidoo foro privilegiadoda fazendae criadoo juízo privativo funções são exercidas segundo a natureza própria de cada uma
dos feitos dela, em 1+ instância (Lei nç 242 de 29 de novembro delas, se a mesma pessoa ora agua como juiz, ora como adminis-
de 1841e Reg. Av. de 12 de janeiro de 1842. Sôbreas atribuições trador, não há desclassificação,
e sim apenasacumulação
de
do juízo dos feitosda fazenda,vida Manual do Procuradordos funções .
Feitos da Fazenda Nacional em 1+instância, pelo Sr. Dr. A. M. Assim, quando a administração contrata, não funciona como
Perdigão Malheiro) . poder público, não exerce ato de império, nem exige obediência;
Tais são os princípiosgeraisque determinamas raias do obra como pessoajurídica, põe-se em contato com a atividade livre
contenciosoadministrativo em relação ao judiciário; êles, porém, dos particulares. O contrato é debatido, rejeitado ou aceito, livre-
estão sujeitos a exceçõeslegais. de que trataremos no parágrafo mente por ambos os contraentes, e gera direitos e obrigações, tanto
seguinte para a administração, como para o administrado.
Êste ato, pois, por natureza pertence à esfera do direito
1 2' privado, e à alçada da autoridade judicial:ia. Entretanto tem-se
entendido que, conservada esta natural classificação, a adminis-
CONTINUAÇÃO : -- DESCLASSIFICAÇOES
tração poderia algumas vozes encontrar estorvos ao livre desenvol-
Pôsto que a ciência extreme, em geral, a órbita do contencioso vimento de sua ação, à realização da sua missão como poder
administrativo em relação às do judiciário e gracioso, reconhece
público. Assentou-se, conseguintemente, em desclassificar estes
que, jâ pela conexão das matérias, já por outros motivos de atos, em transfere-losdo contenciosojudiciário para o adminis-
pública utilidade, convém algumas vêzes alargar ou restringir trativo, e assimde acôrdocom a francesae portuguesa(Cód.
estas órbitas. incluindo matérias estranhas, ou excluindo as Adm. de Porá. art. 280 $ 2ç) o determinoua nossalegislação,ao
próprias : é isto o que tecnicamente se denomina -- desc/ass4ícação. menos quanto aos contratos celebrados pela administração da
Fazenda Nacional (Dec. n' 2.343 de 29 de janeiro de 1859,
Podemos, pois, definir as desclassificações -- exceções, feitas
art I' $ 2ç, Av. nq 369 de 23 de novembro de 1864).
pela lei, nos princípios gerais que determinama competênciado
contencioso administrativo .
11 -- A segunda espécie de desclassificaçãoconsiste na
transferência de uma matéria própria da jurisdição graciosa para
Há duas espécies de desclassificações: a contenciosa,ou vice-versa,isto é, em abrir z'senos casos
1 -- Quando a lei sujeita à jurisdição administrativamatérias em que a lesão só podia dar lugar à reclamação, ou só permitir-se
por naturezajudiciárias,ou pelo contrárioquandosujeitaà júris- a'reclamação nos casos em que pela natureza da lesão se deveria
dição judiciária matérias por natureza administrativas. conceder rectzrso.
Mas o simples fato de dar-se função judiciária à autoridade Na primeira hipótese, o legislador aparta-se dos princípios
administrativa, ou vice-versa, não importa desclassificação . Para gerais -da competência, para dar maiores seguranças a interêsses
@
que esta tenha lugar é preciso que a autoridade administrativa que, embala não sejam direitos, considera assaz importantes para
exerça administrativamente a função judiciária, e vice-versa, isto é, serem discutidos e julgados, como se o fossem; na segunda,
que esta autoridade, ou a judiciária, exerça a função alheia subordinando os direitos dos particulares ao interesse geral,
desclassificada, pelo mesmo modo porque exerce as próprias; que entrega-os à ação discricionária da administração.
conheça da matéria estranha, que a lei transferiu para a esfera da +'
Assim, em caso de perigo iminente, como de guerra ou como'
sua ação, como conhecedas que por natureza Ihe competem. Se, ção, a administraçãopode tomar possedo uso ou domínio da
120 -121
propriedadedos particulares sem outras formalidadesmais do Reg. dos Cont. de Com. cap. 81 e 89, Ord. da Faz. cap. 135
que fazer liquidar o seu valor, e paga-lo ao proprietário ou leva-lo e 190 in fin., Reg. das Cont. cap. 74, 85 e lll, Ord. liv. 2,
a depósito público, quando êste se recuse a recebe-lo (Lei de 9 tít. 53 pr. l4 Lei de 22 de -dezembrode 1761 tít. 3', $$ 2q e 6e
de setembrode 1826,art. 8') . e 2$ Lei da mesmadata tít. 3P,$ 10, Alv. de 28 de junho de
Em caso de incêndio, pede mandar arrombar as portas das 1808tít. 3', $$ 2ç e 4ç, e tít. 7ç, $$ 9ç, 10 e 11, Lei de 4 de
outubro de 1831, art. 88, Decretos nç 657 de 5 de dezembro de
casas incendiadas e das contíguas, ou fazer qualquer demolição
que tornar-se precisa; cumprindo atender-se que estes atos podem 1849,art. 2çe seis., n? 736 de 20 de novembrode 1850,art. 2ç
$ 4P, Leis nq 870 de 22 de novembro de 1851, art. lç $ 4q, e
$

ser determinadas,semprocessoalgum, pelo díretor dos bombeiros


Dç 628 de 17 de setembrode 1851,art. 36, Decretonç 2.343
de acôrdo com a autoridade policial que achar-se presente,ou por
êle só quando não cheguem a acôrdo, ou seja o caso tão urgente de 29 de janeiro de 1859, art. 5', $ 3ç)
que não admita demora (Cód. Crim., ans. 209 e 211, $ 1ç, (quando os agentes, incumbidos do recrutamento, efetuam a
Decretosnç 1.775 de 2 de julho de 1856,ans. 40 e 42 e nP 2.587 prisão dos recrutas que entendem estarem sujeitos à prestação
de 30 de abril de 1860,art. 44) do serviçomilitar; só depois de presosé que se concedeaos
recrutas prazo razoável para justificarem as isençõeslegais.
Quando se trata da construção de estrada de ferro, a apro-
vação das respectivasplantas por decreto imperial importa a moléstias ou defeitos físicos, que os dispensam dêsse serviço. e
desapropriação de todos os prédios e terrenos, compreendidos é a autoridade administrativa quem conhece da procedênciaou
total ou parcialmente
nas ditas plantase planos,que forem improcedêncíadestas alegações (Decretos de 2 de novembro de
necessáriospara a construção, estações,serviço e mais dependências 1835, Hç211 de 6 de agosto de 1842, nç 1 .089 de 14 de dezembro
da dita estrada, e a nenhuma autoridade judiciária ou adminis- de 1852,art. 11,Av. nQ13 de 7 de fevereirode 1845)
trativa é lícito admitir qualquerreclamaçãoou contestaçãocontra Quando sem julgamento de demência pelo juiz competente,
esta desapropriação (Decreto n' 1 .664 de 27 de outubro de 1855, e por mera requisiçãooficial do chefe ou .delegadode polícia, do
art. 2ç) . Ao proprietário só é concedido discutir sumàriamente superior militar, eclesiásticoou religioso, ou a requerimentodo
o preço da indenizaçãoperante a autoridadejudiciária; nem se pai, tutor, curador, marido ou mulher, é um indivíduo recolhido
admitem quaisquer recursos contra o mandado de passe em favor ao hospitaldos alienados,e aí matriculadoe detidoa juízo dos
do empresário ou companhia, e sim sòmente quanto à avaliação facultativos clínicos da instituição (Decreto n' 1.077 de 4 de
da indenização, cuja importância deve ser prèviamente paga ou dezembro de 1852, ares. lO, 12 e 13)
depositada antes .de passar-se aquêle mandado. O direito de livre locomoçãoé do mesmomodo desclassificado
É manifesto, que nestes três casos o direito de propriedade nos casosdo Cód. do Proa. Crim. art. 116,Reg. de 31 de
sofre simultâneamente
ambasas desclassificações;
porquantoé janeiro de 1841, ans. 81 e 82, Decreto nç 1.531 de 10 de janeiro
transferido da esfera judiciária para a administrativa, e do conten- de 1855,art. lç, Av. Reg. de 29 de setembrode 1855,art. ll,
cioso para o gracioso. Semelhantemente é desclassificado o direito « e Av. de 25 de outubro de 1856.
de liberdade nos seguintes casos:
Cumpre atender-se, que a prisão dos devedores fiscais, dos
Quando o tesouro ou tesouraria, ordena a prisão dos tesou- recrutas e, em geral, quando ordenada pela autoridade adminis-
leíros, coletores, recebedores, contratadores ou quaisquer responsá- trativa no exercício de suas atribuições legais, não está sujeita
veis pela arrecadação, dispêndio ou guarda dos dinheiros perten+ ao recurso de /zabeas-corplzs, porque êste só pode ser concedido
centosao Estado (ans. da Siz. cap. 50, Reg. dos Receb.da Faz. 38, pelo juiz superior ao que ordenou a prisão, e entre as autoridades
r'
12'2:

judiciárias e administrativas não há relação de superioridade ou


inferioridade hierárquica (Lei de 3 de dezembrode 1841, art. 69.
$ 7P, Avs. n' 301 de 29 de .dezembro de 1851, nç 191 de 17 de
julho de 1855,nç 83 de 20 de outubrode ]843, e Hç362 de
4 de agosto de 1862)
O ato de suspensão
de gararzfías
importasempreuma des-
classificação do direito de liberdade, porque em virtude dêle pode Capítulo Vlll
qualquer ser preso, desterrado, degradado ou deportado por
simplesato da autoridadeadministrativa,e semsentençaou ordem DA ninnAnQuiÀ ADMINISTRATIVA
legal da autoridade judiciária (Canse. art. 179, $ 35, Ato Ad
art. ll $ 8ç) $ 1'
Talvez, pareça à primeira vista que as desclassificações da PRIMEIRO GRAU DÀ HIERARQUIA: -- O IMPERADOR
l4 espécie,importando a ampliação ou restrição da esfera de ação
do poder judicial em relação à administração,
não podemser As diversas categorias de funções administrativas, de que
decretadasseminflação da Constituição. É fora de dúvida, que o temos tratado, correspondema outras tantas necessidadessociais.
poder executivonão as pode fazer por mero ato seu, visto que, Assim. só se deve entender que a administraçãoestá completa e
achando-sea esfera judiciária definida pelas leis, êste ato envol- apta para satisfazer tôdas estas necessidades, quando aquelas
veria a inflação destas. Como, porém, esta esfera não está funções se acham harmoniosamente combinadas e hieràrquicamente
limitada pela Constituição, embora o esteja pela ciência, segue difundidaspor todos os pontos do território, de modo que o
ao Poder Legislativo incumbe descreve-la,como julgar conveniente pensamento e a ação administrativa possam descer rápida e integral-
aos interêsses públicos. mente do seu supremo centro, através de outros parciais, a tôdas
É só constituciona] e se não pode a]terar por ]ei ordinária as localidades,ou do mesmomodo refluir destaspara o grande
-- o que diz respeito aos limites e atribuições respectivas dos centro nacional.
l5odêrespolíticos, e aos direitos políticos e individuais dos cidadãos, É preciso, pois, que em terno dêste centro geral, bem como
tais como a Constituição os define. Ora, o art. 151 da Const. , longe de cada um dos centros parciais e inferiores, se ache distribuída,
de determinar precisamente os limites e atribuições do poder judicial, na conveniente
medida,a par da funçãoatavaa consultiva,a par
apenas declara -- que é independente e composto de juízes e da espontânea e graciosa (sempre unidas) a contenciosa. Esta
jurados, que terão lugar assim no cível como no crime, nos casos distribuição harmónica de funções e de agentes diretos e auxiliares,
e pelo modo que os códigos determinarem.É evidente pois, que sistematicamente subordinados uns aos outros, é o que constitui
a Constituição quis deixar às leis ordinárias a designaçãodos casos a hierarquia administrativa.
em que devem funcionar os juízes e jurados, e conseguintemente
Mas, visto a administração ser delegação da nação, como
os limites das atribuições do poder judicial.
irradiação que é do poder executivo, torna-se também mister que
em cada um dêssesgraus da hierarquia, a par da ação, do conselho
e da magistratura administrativa, se encontre um órgão eletivo da
sociedade, por cujo intermédio esta inspecione e influa na marcha
da administração(Laferriêre) .
r' 125

l
Para bem preencherem a sua missão, acham-se cercados de
A nossa organização administrativa infelizmente ainda não diversos agentes auxiliares, singulares ou coletivos, a quem está
reproduz êste tipo com fidelidade. incumbido o desempenhodêssesserviços,bem como o estudo de
No primeiro grau da hierarquia acha-se o Imperador, chefe cada uma de suas especialidades, a fim de consultarem a respeito
supremo da nação, como depositário do Poder Moderador ( Const . delas quando lhes fõr exigido. Acima de todos os auxiliares
art. 98) e chefe do executivo (art. 102); dêle decorre tôda a consultivos está o Conselho de Estado, cujas seções são presididas
ação governamentale administrativa,bem como tôda a jurisdição pelos Ministros de cujos negócios se acham incumbidas.
graciosa ou contenciosa. Supremo juiz administrativo, dos seus Além de seremos primeiros agentes da política, os Ministros
atou não pede haver reclamaçãoou recurso algum, senão para são ao mesmotempo administradoresativos e magistradosadmi
êle mesmo. nistrativos(Pimenta B. nç 352). Dos seus alas exercidos,tanto
Colocado no centro da hierarquia, para êle convergem as em uma como em outra qualidade,pode-sesemprereclamarou
luzes da ciência e experiência, difundidas por tôda vasta rêde de .recorrer para o chefe do poder executivo, que decide por decreto
funcionários que se estende sôbre o país; mas ao conselho de com audiência do Conselho de Estado, ou de suas seções,ou sem
ministros e ao de estado incumbe especialmentea função de ela (Decreto de 5 de fevereiro de 1842, art. 46).
esclarece-lo com seus pareceres . A responsabilidademoral e jurídica .dosMinistros não desa-
Como primeiro representanteda nação (Const. art. 98) , bebe parece,nem se atenua, em virtude da ordem vocal ou escrita do
as suas inspirações na consciência de sua missão divina e popular; Monarca (Canse.art. 135); por que podendopedir a sua
não está sujeito a responsabilidade
alguma,nem os seus atos a exoneração do cargo, o pensamento do chefe do poder executivo
inspeção, ou influência de qualquer entidade política ou admi se não realizaráenquantonão achar um Ministro que o adore
nistrativa. e que por êle se responsabilize. Demais, sendo dogma político a
impecabi[idade[ega[ do Monarca, é sua conseqüêncialógica a
Símbolo da nacionalidade, idealização do govêrno e da admi-
responsabilidade ministerial .
nistração, a sua pessoa é inviolável e sagrada.
A acusaçãodos Ministros de Estado só pode ser decreta(la
pela Câmara dos Deputados, e o seu julgamento compete ao
$ 2' Senado (Const. ans. 38 e 47 $ 2ç, Lei de 15 de outubro de 1827).
Todos os seus ates estão sujeitos à controvérsia e à censura; a
SEGUNDO GRAU DA HIERARQUIA: OS MINISTROS E SECRETÁRIOS nação exerce sôbre êles contínua inspeção por meio da tribuna
DE ESTADO
parlamentar,da imprensae do direito de petição (Const. art. 179
$$ 4' e 30)
No segundo grau da hierarquia estão os ministros e secretários
de estado, por cujo indispensável intermédio o Imperador exerce o $ 3'
poder executivo, de sorte que sem a sua referenda não são
TERCEIRO GRAU DA iiiEnÀnQuiÀ: --L os PRESIDENTES DE PROVÍNCIA
exeqüíveis os atos dêste (Const. art. 132)

Por êles estão repartidas as diversas funções do poder No terceiro grau da hierarquia administrativa encontram+se
executivo; cada um dêles é o centro de variados serviços adminis- os presidentesde província. Funcionários diretos ou essenciaisda
trativos e a esfera de sua ação compreendetôda a vastidãodo administração,êles são os agentes de todos os Ministros de Estado
território nacional .
126 127

na divisão territorial a que se estendea sua ação. Como primeiras À.ssimé incontestável
que o GovêrnoImperialestá no seu
autoridades das províncias, são-lhes subordinados os que nelas se direito quando ordena aos presidentesde província que não
acham, seja qual fõr a sua classe ou graduação (Lei de 3 de sancionemcertas leis provinciais, ou quando exige que expunham
outubrode 1834,art. lç e lç de outubrode 1827,art. 18) os motivos porque as sancionam ou deixam de sancionar. (Avs.-
Circo. de 5 de novembro de 1842, 16 de dezembro de 1845 e nç 315
Entretanto, a respeito dos serviços relativos à Fazenda Na- de 7 de novembro de 1861)
cional a sua influência é muito limitada (Ords. n9 212 de 12 de
agosto,nç 230 de 20 de setembrode 1851,nç 68 de lç de março À organização administrativa das províncias é inteiramente
de 1852,n' 365 de 5 de novembrode 1856,Hç32 de 28 de irregular e cheia de lacunas na parte consultiva e contenciosa.
janeiro de 1857 e n' 23 de 10 de fevereiro de 1859). Decidiu-se Outrora existia em cada província um Conselho de Govêrno,
até que os presidentes são apenas os intermediários da correspon- composto de seis membros maiores de trinta anos e com residência
dência entre o Ministro .da Fazenda e as Tesourarias, devendo nela; suas sessõeseram anuais e duravam dois meses,sendo a
sòmente põr o seu t,fofo nos ofícios destas, ou observações à margem sua audiência facultativa em certos casos e em outros obrigatória
dêles, salvo quando forem sôbre assunto reservado (Ords. nç 713 (Leis de 20 de outubro de 1823, 26 de setembrode 1829,Av. de
de 21 de outubro de 1856 e nç 10 de 13 de janeiro de 1852); e 29 de fevereiro de 1834 etc. ) . Estes Conselhos, em vez de serem
que nem sequer têm o direito de repreender os inspetores de convenientementereformados e adaptados à nova ordem de coisas
tesouraria(Ord. n' 29.de 20 de marçode 1846) criadaspelo Ato Adicional, foram extintos pela Lei de 3 de
A missão dos presidentesde província é de dupla natureza; novembrode 183{ art. 11, que declarouque as atribuiçõesque
são delegados da administração geral nas províncias, e ao mesmo pertenciam ao presidente em Conselho seriam por êste sòmente
exercidas.
tempo chefes da administração provincial. Em relação à primeira:
são os executores dos serviços criados e regulados por leis decre- Na falta de órgãos consultivoslegais, os presidentesde pro-
tadas pela Assembleia Geral e por ates do Govêrno Imperial, víncia têm-se visto forçados a consultar os presidentes das relações,
bem como da política dêste; em relação à segunda, são os executores os juízes de direito, os procuradoresfiscais das tesourariase
das leis das Assembléías Provinciais e chefes das respectivas outras autoridades, sôbre objetos estranhos às suas atribuições,
hierarquias administrativas . recorrendo até algumas vezes a meros particulares.
Conquanto não compita ao Govêrno Imperial estatuir sôbre Muito conveniente seria estabelecer êstes conselhos, não só
os serviços desta segunda ordem, não é tão absoluta a independên- para o fim de ilustrar os presidentes com os seus pareceres,como
cia e autonomiados presidentes
de provínciaque possamdeixar também para servirem de depositários das tradições administrativas
e de corretivo à instabilidade das administrações provinciais,
de inspirar-se do seu pensamento, ou contraria-lo, na gerência
podendo ao mesmo tempo funcionar como tribunais administrativos
dos interêsses prõpríamente provinciais .
contenciosos.
Com efeito, emanando do Govêrno Imperial todo o pensamento As vantagens desta instituição, porém, se baldaríam, se em
e ação governamental,devem ser idênticos em todo império, e as
vez de serem nomeadas para estes cargos pessoas honestas e verda-
próprias leis provinciais devem ser sancionadase executadas em deiramenteilustradas. fossemêles consideradoscomo meio de criar
harmonia com êste pensamento. Aliás, em vez de monarquia e
influência ou de lisonjear a vaidade dos potentadoslocais.
de nação unitária, dividida administrativamente em províncias,
teríamos Estados ou soberanias provinciais, ligadas politicamente Semelhantemente desorganizada acha-se a administração con
por uma federação monárquica. tencíosanas províncias; salvo certos ramos, como o da Fazenda
128 -129
Nacional (Ord. HQ 160 de 5 de julho de 1859), pode-se dizer gerais; e pelos $$ 6Pe 7' do citado antiga participam das funções,
que esta concentrada nos seus presidentes. Assim, compete-lhes: do poderjudiciário.
-- suspender provisòriamente os provimentos dados em correcção
Cumpre, porém, observar que, como desmembramentos que
pelos Juízesde Direito, quando versaremsôbre matéria adminis-
são do poder legislativo geral, as funções das AssembleiasPro
trativa (Decreto nç 1.884 de 7 de fevereirode 1857, art. 2'); --
vinciais reduzem-se restritamente àquelas que se acham enumeradas
conhecer dos recursos das decisões dos juízes comissáriosde
medições, das multas impostas pelos vigários, como encarregados no Ato Adicional, devendo-seentenderque continuama pertencer
àquele poder tôdas as que não foram dêle expressamentedestacadas.
do registro das terras possuídas(Reg. nç 1.318 de 30 de janeiro
de ]854 ans. 47 e 95, Av. nQ 397 de 4 de dezembro de 1856 Não sucede o mesmonos Estados Federativos onde. sendo
e Ord. n' 73 de 24 de fevereirode 1857),etc. as legislaturas provinciais os elementos preexistentes, competem-lhes
tôdas as funções que por elas não foram explicitamente delegadas
Entretanto, a sua competêncianão se acha definida claramente
ao poder federal, -- criação sua (Tocqueville -- Democr. en
e de modo geral, nem regulada a forma do processo a seguir-se
Amei)
perante êles: em todo o caso, porém, de suas decisõesrelativas a
serviços gerais há recumo para o Conselho de Estado (Reg. de Não se deve porém entender tão rigorosamente esta doutrina
5 de fevereirode ]842, art. 45 e Res. Imp. de 18 de julho que se pense sòmente pertencerem àquelas Assembleias as atei
de ]853) buições literalmente expressasno Ato Adicional; e sim que também
lhes competem tôdas as que nestas se contém, óu que são indispen-
Quanto aos serviços provinciais, êle julga em primeira e última
instância; pois é certo que às AssembleiasProvinciaisnão cabe sáveis para que destas se possa eficazmente usar (Story)
a atribuição de reformar, como tribunais de segunda instância, os
julgamentos dos presidentes de província em matéria contenciosa; Ê {'
podem sim por meio de medida legislativa altera-lo no sentido
QUARTO GRAU DA HIERARQUIA: -- DEFICIENCIA DE AGENTES
de melhorar a condiçãodas partes que reclamarem,salvo sempre
DIRETOS LOCAIS
os direitos adquiridos por via daquele julgamento.
O direito de inspeçãoe intervençãoda sociedadena adminis-
Nos presidentes de província para a irradiação da adminis
tração provincial, reconhecidopelo art. 71 da Constituição, era oração geral, de sorte que ]hes fa]ecem nas localidades órgãos
outrora exercido pelos ConselhosGerais de Província. Hoje, êste pelos quais transmitam a sua ação e ponham-se em contato cota
direito achasseestabelecidoem mais largas basese com maior as necessidades materiais e morais da população. Esta mesma
autonomia pelo ato adicional, que o conferiu às Àssembléias Pro- falta faz-se sentir em relação aos serviços provinciais, que as
vinciais.
presidentes não têm a quem incumbir nos diversos municípios e
A estas compete, não semente legislar sôbre os interêsses freguesias da província.
])uramenteprovinciais, como também exercer uma espéciede tutela Foram estas circunstâncias uma das causas que outrora deram
sôbre as ClâmarasMunicipais e, cumulativamentecom o Govêrno lugar ao grande desenvolvimentoda autoridade e influência dos
Geral, regular certos serviçosadministrativos.Assim mais, pela juízes de paz. Na falta de delegados administrativos especiais,
generalidade da disposição do art. ]], $ 9ç do Ato Adicional, eram encarregados de todos ou quase todos os serviços gerais
cumpre-lhes
velar na guardada Constituiçãoe das leis na pro- e provinciais, além .da ingerência que tinham na administração
víncia, representandocontra a má gerênciados próprios empregados municipal por meio do julgamento das ínfrações de posturas.
4

130 131

Hoje, os presidentes dirigem-se aos delegados e subdelegados É geralmente reconhecida a necessidade da criação de agentes
de polícia, aos juízes de direito e municipais,a quem, na carência diretos ou essenciais da administração, hieràrquicamente inferiores
de agentes próprios e diretos, incumbem serviços administrativos aos presidentesde província, a quem seja confiada a direção ou
inteiramente estranhos às suas funções judiciárias ou policiais. inspeçãodos serviçosgerais e provinciais que funcionamem cada
Outras vozes os delegam a agentes especiais ou a meros particulares, município, e que sirvam também de executores às posturas e dela
comosucedecom o recrutamento,a inspeçãoda instrução e obras berações das respectivas câmaras, podendo a sua ação e jurisdição
públicas, etc. (Decreto Hç 1.089 de 14 de dezembro de 1852, compreender um ou mais municípios, segundo a extensão dêstes
$ 4ç, Reg. Prov. de São Paulo de 4 de outubro, 8 de novembro e a afluência dos negócios.
de 1851 etc.) Devendo estes funcionários representar nas localidades o
Quanto às Câmaras Municipais, não as podemos considerar pensamentoe a fôrça impulsivada administraçãogeral, é de mister
como agentes da administração geral, nem da provincial, em que sejam nomeadose demitidospelo Chefe de Estado, por
virtude. não só do caráter meramente local da sua missão consti+ propostas dos presidentesde província (Sr. V. -deUruguai)
tucional (Const. ans. 71, 167 e 169), como de certa autonomia É incontestável que as Assembleias Provinciais podem dentro
que emana da sua origem eletíva (Const. art. 168) da esfera, traçada pelo Àto Adicional às suas atribuições, criar
É verdade que pela lei da sua organização(I' de outubro funcionários públicos que nas localidades sirvam de centro aos
de 1828) lhes foi concedida alguma intervenção em serviços nãa serviços decretados pelas mesmas Assembléias, e de delegados
puramentelocais, e até foram incumbidasde participar anualmente, dos presidentes de província quanto à inspeção e direção dêstes
ou quando convier, ao presidente da província e Canse//zo Gez'aZ, serviços (Ato Ad. art. 10, $ 11, Lei de 12 de maio de 1840,
as infrações da Constituição e as prevaricações ou negligências art . 3ç ) .
de fados os empregados, o que importa o direito de inspecionar Assim, poderiam entrar na alçada dêstes delegados locais: --
o seu proceder. a instrução pública; as estudas e obras públicas provinciais; a
É tambémcerto que a sua autonomianão é completa,não só inspeção das casas de prisão, de socorros públicos. dos conventos
porque se acham como que sob a tutela das Assembleias Provin- e quaisquer associações políticas e religiosas; a superintendência
ciais quanto à fixação de suas rendas e despesas,a fiscalização sôbre a arrecadação das rendas provinciais e municipais, sôbre
delas, a decretaçãodas providências relativas à polícia e economia a polícia e economia municipal, a fôrça policial, a estatística,
municipais (Ato Ad., art. 10, $$ 3ç a 7ç, art. 11, $ 3', e Lei catequese etc
de 12 de maio de 1840, ans. lç e 2ç); como porque de seus
atos há recurso para os presidentesde província e para o Govêrno Já em algumas províncias ensaiou-sea criação de empregados
Imperial, qzzarzdo a matéria fór meramente económica e admínís+
tais sob a denominaçãode prefeitos e subprefeitos; mas foram
pouco depois abolidos por prevalecer a opinião, que esta instituição
frafípa (Lei de l de outubro de 1828, art. 73).
é contrária ao Àto Adicional . '
Basta-lhes, porém, a sua natureza coletiva e eletiva para que
não possam convenientemente servir de agentes diretos da adminis- Com instituições semelhantespreencheriam as leis provinciais,
tração geral ou provincial. A sua missãonatural é serviremde ao menos em parte, a falta dêste último elo administrativo, jã que
órgãos a inspeção e legítima intervenção da sociedade na adminis- não o fazem as leis gerais, conquanto por mais de uma vez tenha
tração municipal; e é esta a razão que explica a ingerência que .esta ideia sido apresentada às Câmaras .
pela lei .desua criação lhes foi facultada em negócios não meramente
locais.
Capítulo ]X.

DÀS FÓRMULAS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

$ 1'

ÀS FÓRMULAS DO'SÀTOS ADMINISTRATIVOSNO ANTIGO REGIME

Para segurança do interesse público, que a administração é


incumbida de promover,e dos direitos das particulares,com quem
se põem em contato, é preciso que ela se submeta a certo processo
e os seusates a formas prefixos.
Não queremos,porém,aqui tratar do processoadministrativo
contencioso, que reservamos para assunto de trabalhos especiais,
e só nos ocuparemoscom as fórmulas de que se revestemos ates
da administração espontânea e graciosa .
Na antiga monarquia a autoridade régua,reunindo os podêres
legislativo e executivo, -desenvo]via-se nas cartas de ]ei. cartas
patentes, alvarás, provisões reais, alvarás em forma de lei, regi-
mentos, estatutos, pragmáticas, forais, concordatas, cartas réguas,
decretos, resoluções de consulta,. provisões, avisos, portarias e
assentos da Casa da Suplicação.
Muitas destas fórmulas ainda se observam, e muitos dêstes
atos ainda hoje vigoram e constituem parte da nossa legislação
administrativa .

Daremos,pois, prévia noção dêles, antes de entrarmosno


estudo da atualidade
À.s /e;s em espécie, cazfas de Zeí, cartas paíenfes, continham
disposições
geraisque deviamdurar por maisde um ano ou
perpètuamente; eram referendadas pelo secretário de estado ou
134 135

quando se expediam em conseqüêncíade resolução régua. pelo Denominavam-se esfafufos os regulamentos dados às corpora-
presidente do respectivo tribunal, e na falta por dois dos seus ções e especialmenteàs instituições de ensino, como os da univer+
Ministros; principiavam pela fórmula -- Z)om .f7. poz' gz'açade cidade de Coimbrã (Alv. de 20 de julho de 1612, 15 de outubro
de Dezzsetc., levavam a assinatura -- El-Rei, e eram publicadas de 1653etc.), os da mesada fazendada congregação
de São
na Chancelaria-Mor da Côrte (Ord. liv. lç, tít. 29, $ 10, 1ív., 2ç, Jerõnímo, os do Colégio de Marra, etc. (Alvs- de 9 de agosto
tÍt. 40, liv. 5', tít. ll e Reg. da Faz. cap. 241, $ 8ç). de 1776 e 30 de setembrode 1780)
Os a/paras e provisões z'eaíscontinham disposições cujo efeito As pragmáfícas eram leis destinadas a reprimir certos abusos
não deviam durar por mais de um ano, salvo os alvarás de mercês públicos, como o luxo imoderado dos vestidos, funerais, carros etc
ou promessas. Quando, porém, continham a cláusula em contrário. {Leís de 29 de outubro de 1609,8 de julho de 1669,25 de janeiro
-- Pa/ezácomo carta, pósfo qtze seu e/eífo, efc., tornavam de 1677,9 de agostode 1686,Alva. de 5 de agostoe de 28
perpétuos e denominavam-se -- .AJparás de Zeí, com /óz'ça de /el de setembro de 1688, 15 de novembro de 1690, 14 de novembro
Olzem foz'made Jeí. Principiavam-- Z?ziE/-Rei. -- Faço saber de 1698,21 de julho de 1702e 26 de abril de 1704,Lei de 6
aos qzzeêste a/Fará t;fz'em.etc., e tinham a assinatura -- Rei. de maio e Alvs. de 31 de maio de 1708 e 5 de outubro de: 1742)
Também se denominavam a/Farás os ates de certos tribunais e Os fozaís .eram leis dadas pelos soberanos ou senhores feudais
magistrados,como as concessõesde fiança, soltura, suprimento às cidades, vilas, conselhos, julgados ou aos simples rendeiros
de licença para casamento,vénia etc.; e assim mais quaisquer de quintais, courelase sítios, declarando os direitos e obrigações
escritos particulares de pessoasprivilegiadas ou não, contendo dos moradores das terras. Tendo-se introduzido grandes abusos
obrigações, quitações ou quaisquer clarezas (Ord. liv. le, tít. 2ç, nestas leis municipais, Fernão de Pino foi incumbido da sua
Ê 16, tít. 75, $ 11; Regim. do Dez. $$ 15, 17, 24 e seis.; reforma; e esta verificou-se pela carta régua de 5 de fevereiro
IÍv. 2e,tít. 38, tít. 39, $$ 4' e 5ç,tít. 40 1ív.3P,tít. 25 pr.. de 1506. Os donatáriosdas capitanias do Brasil eram pelascartas
$$ 7ç e 9P, tít. 59, $$ 10 e 15; liv. 5', tít. 119, $ 5P; Alv. de de doação autorizados a concederem foros às cidades. e vilas
14 de fevereirode 1609,Lei de 23 de agostode 1623,Alv. de que fundassem; e, com efeito, as nossas primitivas povoações
11 de maio.de 1655 etc. ) receberam dêles os seus forais. Eram estes considerados como
Os regimentos, estatutos, pragmáticas, forais, concordatas e leis perpétuasque sòmentepor outras leis contráriaspodiamser
privilégios publicavam-se por meio de leis ou alvarás e sòmente revogadas(Reg. de 20 de abril de 1775$ 63, Prov. de 27 de
se díferençavam pela matéria. novembro de 1776, Alv. de 14 de junho de 1776 $ 2')

Assim os regimentostinhatn por fim regular os serviçosJe As concordatas. ou fzafados eram convenções feitas com os
certas repartições públicas ou os direitos e deveres de certos soberanos estrangeiros sôbre interêsses internacionais . À primeira
funcionários
(Alv. de 8 de novembro
de 1649). Quandose denominação dava-se especialmenteaos convénios feitos com a
achavam em oposição às ordenações,estas eram de preferência Santa SÓ Apostólica. ou os prelados do reino, sôbre negócios
executadas
(Decretode 6 de julho de 1695). Alguns,pôstoque relativos à jurisdição, como os de EI Rei D. Diniz com os prelados,
antiquíssimos, como os de fazenda, datados de 17 de outubro de 23 de agostode 1323e com o bispo e cabidode Lisboa,de
de 1516 etc., ainda acham-seem vigor; conquanto,em grande 26 de julho de 1347e o da RainhaD. Mana l com o S. P
parte, sé hajam tornado impraticáveis pela mudançadas instituições Pio VI, de 20 de julho de 1778,aprovadaa ll de agostodo
políticas e administrativas e das condições económicas e morais mesmoano. A Lei de 30 de abril de 1768mandouobservaras
concordatas n:os casos da Lei de 28 de agosto de 1767 $ 13.
da sociedade(Alv. de 20 de junho de 1767)
-- 136 --= 137

Os pz'Íuilégios eram leis especiais que concediam certas van- 1617,Res. de 8 de maiode 1799em Prov. do Cons. Ultr. de
tagensúteis ou honoríficasa pessoas(naturaisou jurídicas) ou 17 de janeiro de 1800)
a causas determinadas. Sòmente o Rei os podia conceder ou
Os apísos eram ordens expedidas a certas autoridades ou
confirmar, e não quaisquer outras pessoas,por mais elevada que
pessoasparticulares pelos secretários de Estado, com sua assina-
fôssea suahierarquia(Ord. L. 2P,tít. 45 $$ 37 a 40, Àlvs. de tura, mas em nome do monarca.
14 de abriade 1612,e 23 de maio de ]615. Res. de Cons. de
5 de outubro de 1675) . As cartas de concessão ou confirmação As porfaz'ias ou cartas dos secretários não se dirigiam a alguém
de privilégios eram expedidas pelo Desembarco do Paço (Ord. determinadamente e principiavam -- Ãdanda E/-Reí N.S., etc
liv. lç, tít. 3ç pr., Regam. do Des. $$ 19 e 20, Res. de Cona. Os avisos e portarias sòmenteregulavam o caso de que tra-
de ]0 de agostode 1687e Àlv. de 7 de janeirode 1750$ 1g). tavam. e não podiam prejudicar a terceiro, nem revogar ou alterar
As caz'fas réguas eram dirigidas a certas autoridades e pessoas a legislação existente (Res. de Cons. do Des. de 16 de novembro
e começavam pelo nome destas, seguindo-se a fórmula -- Ezz de 1672). A Ord. liv. 2', tít. 41 proíbe que se faça obra por
E/-Re{ t,os ent;io mzzífosatzdar;a sua assinaturaera como a dos êles, e o mesmo determinam os À]vs. de 25 de setembro de 160]
alvaráse a sua remessase fazia em avisosdos secretáriosde e 13 de dezembro de 1604 .
Estado. Algumas vezes continham medida geral e permanente Por El-Rei D. Manoel foi autorizada a Casa da Suplicação
e neste caso faziam parte da legislação. a interpretaras ordenações
e leis por meiode assentos
comfôrça
Os decretos começavam pela exposição da providência. sem legislativa. estes . assentos eram tomados na mesa grande por
que o rei se dirigisse a alguém individualmente;eram assinados ocasião de dúvida proposta por algum dos desembargadores, juízes
com a rubrica. Algumas vêzes estatuiam sôbre certas pessoas da causa, ou por glosa do chanceler, por entender que a sentença
ou negócios, outras vezes continham medida legislativa geral . infringia expressamente as ordenações ou direito (Ord. liv. lç
As raso/rações de conszz/fa eram deliberações tomadas pelo tít. 4' $ 1ç. tít. 5ç $ 5ç, Lei de 18 de agosto de 1769 $ 4P -- Vid.
monarca sôbre pareceresdos tribunais, aprovando-osou não. Val. cap..lO ns. ll e 13, Cab. Dec. 212 nç 6, Curs. de Dir. Civ.
Eram escritas à margem.dosditos parecerescom a fórmula -- Bus. P.G. tít. 2', cap.2ç).
como parece à nzesa do cansei/zooa ao depnfado F, ou não
obsta/zfe o paz'ecer da mesa, etc.; e assinadas com a rubrica.
com a palavra -- Rei, ou algumasvêzespelo Secretáriode Estado.
Às pz'oPlsões eram expedidas pelos tribunais sôbre matéria AS FÓRMULAS DOS ATES ADMINISTRATIVOS NO REGIME ATUAL
de sua competência;principiavam Z)om F'. poz'graça de Z)eus,etc.;
e eram assinadas pelos Ministros do Tribunal (Reg. do Des. No antigo regime todo o poder político, ou o poder absoluto'
g 115). Umas vêzes se passavam peão expediente do tribunal, residia no monarca, que era Zeíanimada na terra (Ord. liv. 3P
H
e semente vigoravam para o caso de que tratavam; outras vezes tít. 75 $ 1ç) . Quod prlncfpl plactzíf, Zegís /zabef Pígorem (Ulp.
em consequência
de resoluçãoou decreto,e então tinham a fr. I'. D. De Constit. 1, 4). As fórmulas administrativas não
autoridade dêstes.
tinham o mesmovalor que têm hoje; pois, o que importava, saber
Quais as matériasque se despachavam
de um ou de outro era qual a vontade do rei. Em todo o caso, êste permanecia
atado, consta dos regimentos dos tribunais (Àlv. de 24 de julho sempre superior às ]eis (Ord. ]iv. 3P tít. 35 $ 21 ) . Prínceps Zegibzzs
il
de 1713;vid. C.R. de 6 de setembro
de ]616. 26 de abril de solzzflzs
est. (Ulp. fr. 31, D. De Leg. -- 1, 3).
138 139

Na nossa atual organização política, porém, os poderes legis- sanção imperial (Const. art. 101 $ 3') e decretos, depois de
lativo e executivo são perfeitamente distintos e separados (cap. lç /'

a receberem,
sendoentãopublicadossob a fórmula-- .frei por
1 3ç huj . tít. ) ; entretanto. como o Monarca, chefe dêste, também bem sancío/zar e ma/zelar qíze se ea'eclzfe a z'esoZízção segzzínfe
tem parte, como poder moderador, na confecçãodas leis, julgamos da .Assembléía Gera/ Zegislafíua; segue-se a íntegra do decreto
que não devemosomitir as fórmulas,de quese revestemos atou e conc]uem -- F., do mezz Corzseí/zo, ]Wínísfro e Secretário de
legislativos, depois que neles tem lugar a intervenção imperial. Estado dos Negócios. . . assim o tenha entendido e taça acecutat.
O decreto é a fórmula comum a certos atos dos poderes -- São assinadoscom a rubrica imperial e referendadospelo Ministro
legislativo, moderador e executivo . da repartição a que se refere o negócio.
Os projetos legislativos sôbre medidas gerais, depois de Além dêstes decretos legislativos, outros há que sòmente
aprovados por ambas as câmaras e antes de obterem a sanção emanamdo Monarca. Com efeito, é esta a fórmula de todos os
imperial, denominam-sedecretos (Const. ans. 62, 67 e 101 $ 3'); ates do Poder Moderador, bem como de alguns do Executivo em
depois de sancionados chamam-seleis. A fórmula da sanção -- que intervém o chefe dêste poder. São também assim expedidasas
ordens do Monarca, relativas à gerência dos palácios e terrenos
O /operador consente -- é lançada nos dois autógrafos, enviados
nacionais, por êle possuídos, ou de quaisquer negócios da imperial
pela câmara ùltimamente deliberante, um dos quais, depois de
casa que interessem a muitos e cujos efeitos devam durar longo
assinado pelo Monarca, é remetido para o arquivo da câmara
tempo.
queo enviou,e o outroserveparase fazera promulgação
da
lei pela respectiva secretaria de estado (Const. . art. 68) A Constituição não exige a referenda ministerial nos decretos
do Poder Moderador, e sim sòmente a exige para a exeqüibilidade
A fórmula da lei depois de sancionadaé -- Z).F. por graça dos do executivo; mas os Ministros regularmente referendam
de Deus e unânime aclamaçãodos papos.Imperador Constitucional
aquêles decretos, assumindo assim, segundo alguns pensam, a
e Defensor Perpétuo da Btasit: Fazemossaber a todos os nossos
responsabilidade dêles, e compartindo-a com os Conselheiros de
súditos que a AssembtéiaGeral Legistatiuadecretarae Nós Estado que os aconselham(Const. art. 143, e Lei de 23 de
queremosa Jeí seguínfe. -- (Segue-sea íntegra da lei em suas novembro de 1841, art. 4ç; vid. o Sr. Pimenta Bueno, Dir. Públ.
disposiçõessòmente, e conclui: Ã4arzdamospoz'farto a fóc/as as
Bus. tít. 5ç, cap. 2ç, sec. 54) . Entretanto sôbre êste importante
autoridadesa quema conhecimento
e e9cecução
da referida!ei ponto da doutrina constitucional, pôsto que muitas vezeslargamente
pertencer que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteita- debatido, longe estão as opiniões de chegarem a acôrdo.
menfecomo negase contém. O seczefáz'ío de estadodos negócios
(o da repartição competente) a faça imprimir, puZ)Zícar e coz'z'er. Os decretos relativos à gerência dos negócios da imperial
A lei é assinadapelo -- Imperador-- com rubrica e guarda; msa, não importando o exercício da função de um poder político,
referendada pelo Ministro competente;selada na Chancelaria-Mor sòmente são assinados pelo mordomo a quem tal gerência concerne
do Império, seção central da Secretaria de Estado dos Negócios ( Const. art. 114) .
da Justiça, e assinada pelo Ministro desta repartição e o respectivo No seguinte capítulo faremos estudo especial dos decretos, que
diretor geral (Const.-art. 69, Decreto nç 2.350 de 5 de fevereiro constituem a mais importante espécie dos ates administrativos;
de 1859, art. 3ç, $ 1ç) agora porém continuaremos na exposição da nomenclatura dêstes.
C)s projetos legislativos sôbre interpretação ou derrogação O Imperador. como chefe da administração, não se exprime
(alteraçãoparcial) das leis, ou sôbre medidaspessoais,individuais sòmentepor meio de decretos;também o faz por meio de resoluções,
ou coletívas, denominam-se -- resoluções, antes de receberem a cartas imperiais, proclamações e manifestos .
141

sòmentepelo Ministro e Secretáriode Estado dos NegóciosEs-


As resoluções imperiais são tomadas sôbre consultas do Con- trangeiros .
selho de Estado. ou sôbre pareceresde suas seções (Decreto
Os avisos são as fórmulas de que comumente usam os Ministros
n' 124de 5 de fevereirode 1841,art. 3ç); sôbreconsultasdo
Conselho Supremo Militar (Alv. de lç de abril de 1808, art. 2Q); e Secretáriosde Estado quando se dirigem uns aos outros, aos
ou do Tribunal do Comércio (Cód. Com. art. 67, DecretosDP738 Presidentes de Província, ou a outras autoridades inferiores .
de 25 de novembrode 1850, art. 18 $ 3', Dç 806 de 26 de julho Os Ministros da Fazenda, porém, quando se dirigem, come'
e nq 863 de 17 de novembrode 1851,etc.) . Presidentes do Tesouro, aos Inspetores, servem-se de orderzs
As resoluções tomadas sôbre consultas do Conselho Supremo (Decretos n' 736 de 20 de novembro de 1850, art. 5ç $ 4ç, nç 870
Militar se costuma expedir sob a fórmula antiquada -- provisões, de 22 de novembrode 1851,art. 31 $ 3Qe art. 42).
como a de 15 de fevereiro .de 1843 acerca das continências e
Os ofíc;os são as fórmulas que as autoridades públicas
honrasmilitares,etc.; ou por meio de avisoscomoo de nç 110 empregam quando se dirigem a seus superiores ou iguais, ou a
de 19 de abril de 1852. Seria porém mais regular generalizar-se funcionários e empregados de elevada categoria; as portarias ou
o preceito estabelecido pelo art. 9ç do cit. Decreto n' 124 acerca ordens, quando se dirigem a empregadossubalternos. Também
das resoluções tomadas sôbre consultas do Conselho de Estado
se fazem por meio de porfarías as criações de alguns lugares, como
ou pareceres de suas seções, e determinar-se que tôdas sejam
expedidas por decretos. Agências de Correio etc., e as nomeaçõesde alguns dêssesempre'
gados subalternos (Decretos nç 514 de 7 de janeiro de 1847,n' 778
A fórmula das provisões, muito usada ainda no primeiro de 15 de abril de 1851,art. 74)
reinado, antes da extinção dos antigos tribunais régios, é a mesma
de outrora, apenas mudados os títulos do monarca (Decreto de Os despachos são as decisões proferidas pelas autoridades nas
13 de outubro de 1822). A dos alvarás tambémcontinuou a ser petições ou memoriais das partes ou em quaisquer processos,conce'
empregada até a promulgação da Constituição; desapareceu então dendo ou negando o que se pede, quer trate-se de matéria graciosa
da coleçãode leis e atosdo Govêrno,semdúvidapor haversido ou contenciosa.
omitida na nomenclaturado art. 102 $ 13 da ]eí fundamental. Os avisos, ordens e portarias dos Ministros e Secretários de
As cartas imperiais são os títulos passados aos funcionários Estado não têm fôrça para revogar. modificar ou suspenderos
ou empregados nomeados pelo Chefe do Estado, ou para a cona decretos imperiais, e menos ainda as leis e decretos legislativos
cessão de certas graças. (Res. l4 de 4 de dezembro
de 1827,e 8q de le de marçode
As proclamações
são falas dirigidasa tôda naçãoou a parte 1830 col. Nab. )
dela, por ocasiãode algum sucessoimportante (Decretos DP2 de
São, porém, anualmente coligidos e impressos sob o título
2 de janeiro de 1838, art. 5ç, nP 5) . Os manifestos são exposições de decisões
do Govêrno(Reg. nP 112de 24 de fevereirode
das causasjustificativas da guerra, dirigidas às naçõesestrangeiras 1838,Reg. Ord. n' 215 de 30 de abril de 1840,art. 5ç $ 99
(Man., de 6 de agostode 1822) Lei nç 369 de 18 de setembrode 1845,art. 35, Ord. nq 27 de
Cumpre, porém, observar-seque também se servem das 12 de março de 1846); porquanto. embora expedidos para uma só
proclamações a Assembleia Geral e cada uma de suas Câmaras, província, devem ser em todos observados, visto que a execução
os Presidentes de Província, os Comandantesdas Armas, os Ge- da lei deve ser uniforme em todo império (Post. de 25 de maio
nerais, Comandantes de Exército em operações e até os Juízes de 1825, Rep. -deCunh. Mat., Av. de le de agosto de 1837).
de Paz; e assim mais que os manifestos são algumas vêzes assinados
]42.

A Lei de 20 de outubro de 1823, art. I', pondo em vigor


a legislação anterior à independência nacional, menciona as ordena
ções, leis, regimentos, alvarás, decretos e resoluções, e omite as
cartas réguas,provisões, avisos, ordens e portarias, que entretanto
não podem deixar de ter valor jurídico, como fontes subsidiárias
para a interpretação do direito vigente.
Capítulo X

CONTIN'UNÇÃO: -- DOS DECRETOS DO PODER


EXECUTIVO

$ 1'

CLASSIFICAÇÃO DOS DECRETOS DO PODER EXECUTIVO

Os decretos do poder executivo podem ser considerados


quanto:
À sua natureza;
À compreensibilidade de suas disposições;
À origem de sua autoridade; e

Ao modo por que são preparados.


Sob cada uma destas relações êles sofrem especiaisclassifi-
caçoes; assim :

1 -.: Considerados quanto à natureza de sua matéria, êles


se dividem (Macarel) em:
lç) Àfos de auforídade, que são os que estabelecemmedidas
gerais sôbre casos futuros, ou proferem decisõesespeciaissôbre
casos pendentes. como sejam a verificação ou declaração de algum
fato, a permissão, determinação ou proibição de alguma coisa,
a concessão ou denegação de alguma autorização ou privilégio,
a aprovação de contrato, previsto pela lei, a apreciação ou fixação
de direitos etc. (Dufour) .

2ç) .Aios de írzsfífzzição, que são os que conferem funções


públicas a alguém, ou o destituem delas; tais são os ates de
145
144
por cada legislatura, dá justa ideia das princípios políticos que
nomeação. promoção, remoção, demissão, aposentadoria, jubilação a dominaram, e das suas relações para com o poder executivo.
e reforma. Algumas vozes essas -delegações são concedidas pelo modo
11-- Em relaçãoà compreensibilidade
de sua matéria,divi- o mais amplo e incondicional, podendo o Govêrno criar e organizar
dem-se os decretos em: certos serviços, estabelecer os direitos e deveres dos agentes admi-
nistrativos e dos administrados, como julgar conveniente, e decretar
I') (;erais ou regtzlamenfares,
que são os que têm por fim
as despesasque entender necessárias. Como exemplos destas
desenvolver as disposições legislativas para facilitar a sua execução. +

delegações,que não parecemconformar com o espírito ea


Nestes atos o Poder Executivo não se põe em contadodíreto e letra da Constituição, mencionamos os citados Decretos, pelos
imediato com os indivíduos; formula regras complementaresda
quais foi o Govêrno autorizado a dar regulamento especial para
lei, que estatuem para o futuro e $e estendem a tôda sociedade
a qualificação, organização e serviço dos guardas nacionais das
ou a grande parte dela; e destartetorna-setambémórgão do poder províncias limítrofes (Decreto nç 520 de 14 de fevereiro de 1850);
regulador do Estado. a reformar o Tesouro Público e Tesourarias Provinciais (Decreto
2ç) .Especiais, e frzdÍpídzzaís,que são aquêles em que a admi- n' 575 de 4 de julho de 1850); a organizar novo regimento de
nistração aplica a cada fato social. ou a cada administrado separa- custas, designar as férias e elevar as alçadas das autoridades
damente, as normas emanadas do legislador, ou dela mesma no ludiciârias (Decreto nQ604 de 3 de julho de 1851); a criar uma
exercício da sua atribuição regulamentar. Assim, alguns dêstes repartição do quartel-mestre general (Lei n' 648 de 18 de agosto
decretos contêm atos de autoridade, outros de instituição . de 1852, art. 10, $ 1ç) etc

111-- Segundo a origem da sua autoridade, ou da sua fôrça Outras vêzeso Poder Legislativo limita a autorização: --
obrigatória, os decretos regulamentares e especiais se dividem em estabelecendoas bases,sôbre que ela deve ser exercida,como
duas classes: nos casos dos Decretos ns. 630 de 17 de setembro de 1851 que
lç) Uns emanamda naturezado PoderExecutivo,da sua reformou o ensino primário e secundário do município da Côrte;
nç 634 de 20 de setembrode 1851 que criou um curso de infantaria
missãode prover à execuçãodas leis, e são expedidossimplesmente
em virtude da sua atribuição constitucional (Const. art. 102 $ 12); e cavalaria na província de São Pedro do Rio Grande -do Sul;
L. nç 683 de 5 de julho de 1853 que concedeua incorporação
»li desta ordem é a maior parte dêles.
de um banco de depósitos,descontose emissãono Rio de Janeiro;
2ç) Outros decorrem de delegaçõeslegislativas, ou de autori- -- ou declarando que os regulamentos ficam dependentes de ato
zações expressas contidas em leis especiais OU ordinàriamente nas legislativo,no todo (Lei nç 585 de 6 de setembrode 1850), ou
leis anuais fixação de fôrças de terra e mar, e de orçamento. na parterelativaao aumentoda despesa(Decretonç 608 de
Fera muito longo e ociosomencionartodos os aros legislativos 16 de agosto de 1851, art. 3ç)
que contêm delegaçõestais; apenas como exemplo apontaremos Neste caso, isto é, quando o poder legislativo declara que
os promulgadosno ano de 1850,a saber:-- o Decreton' 520 autoriza o executivo a expedir regulamentos para a boa execução
de 14 de fevereiro. as Leis n' 555 de 15 de junho, art. ll e nQ556 das leis, ficando êles dependentesda aprovação daquele poder,
de 25 de agostotít. único,ans. lç, 8ç e 27, os DecretosnP563 deve-se entender que quis delegar alguma fiação das suas funções
de 4 de julho, n' 574 de 28 de agõsto,HP583 de 5 de setembro, próprias, aliás aquela autorização seria ociosa, visto que o executivo
art. 7P,n9 598 de 14 de setembro,art. 8ç. as Leis ns. 601 de a possui em virtude da Constituição (art. 102 $ 12). E a
18 de setembro,art. 22, n' 602 de 19 de setembro,art. 137. -- dependência da aprovação legislativa, em que ficam tais regulam
O estudo da importância e número das autorizações, concedidas
146 147

mentor, só se deve referir às disposições oriundas da delegação, 4ç) Do procurador da Coroa, soberania e Fazenda Nacional,
e não às que são de mera execução,
e que estãona órbita das como para a concessãode privilégios aos descobridores, inventores
funções constitucionais do poder executivo . ou introdutores de qualquer indústria útil (Lei de 28 de agosto
Assim, tendo sido o Reg. n' 772 de 31 de março de 1851 de 1830,art. ll)
expedido em virtude de autorização semelhante, concedida pela
5ç) Dos Presidentesde Província, como para a Divisão das
Lei Hç 585 de 6 de setembro de 1850, sòmente alguns de seus
Provínciasem Distritos Eleitorais (Decreto n' 842 de 19 de
artigos ficaram suspensos (art. 39) e tornados dependentes da
setembro de 1855, art. lç $ 4q)
aprovação legislativa, que Ihe foi concedida pela Lei nç 615 de
23 de agosto de 1851, art. 8q 6Ç) Dos Tribunais de Comércio, sôbre o número de corretores
IV -- Em razão do modo por que são preparados, os decretos que deve haver em cada praça, seus emolumentos, e os regulamentos
regulamentares e especiais se classificam nas seguintes ordens: dos mesmos corretores e agentes de leilão (Cód. Com. art. 67
e Decreto n' 738 de 25 de outubro de 1850, art. 18, $ 3ç)
I') Uns são expedidos simplesmente, sem audiência dos
Conselhos -de Ministros e de Estado. Para melhor resguardar 7P) Ou sôbre propostas, informação ou apresentação obri-
a coroa e o princípio de solidariedadeministerial, em regra, deve gatória de certas autoridades; como a repartição de terras públicas,
ser ouvido o Conselho de Ministros a respeito daquelesates em a junta centralde higiene,o Supremo
Tribunalda Justiça,os
que tiver de funcionar o Chefe do Poder Executivo (Decreto Presidentes
de Província,os Chefesde Políciada Côrteetc
nç 523 de 20 de junho de 1847) . Assim também é conveniente, para a decretação de algumas medidas gerais, e atos especiais
para maior segurançade acerto, que seja ouvido o Conselho de de atzforfdadee de ínsfífízlção (Decretos nç 1..318 de 30 de janeiro
Estado em todos os negócios graves, especialmentenos casos inda de 1854,art. 3ç, $$ 3', 5ç e 9ç; Hç 828 de 29 de setembrode
cados na Lei .de 23 de novembro de 1841, art. 7Q
1851,art. 9ç, Hç559de 28 de junho de 1850,art. 2' $ 2ç
Cumpre, porém. notar-se que sendo, em regra, facultativa a nq 557 de 26 de junho de 1850, art. 3', nq 120 de 31 de janeho
audiência quer de um, quer de outro Conselho, e apenas necessária de 1842, art. 25 etc.).
a referenda de um dos Ministros, pode ser dispensadaao mesmo
8ç) Ou com relatório do Ministra e Secretário de Estado
tempo a audiência de ambos os Conselhos sempre que aprouver
ao monarca. respectivo, ouvido, ou não, o Conselho de Estado (Decretos
nq 120de 31 de janeiro,]43 de 15 de março,157de 4 de maio
Outros decretos,pelo contrário, são expedidoscom audiência de 1842,326 de 2 de outubrode 1843,340 de 25 de janeiro
obrigatória. de 1844 etc.)
2ç) Do Conselho de Ministros, como os que abrem créditos
Na nossa nomenclatura administrativa não é possível .dize
suplementares. na ausência do corpo legislativo, para os serviços
renciar por caracteres claros e fixos -- os regulamentos, regí+
11 decretados na lei do orçamento. quando as cotas votadas para
êles não bastam, ou créditos extraordinários para ocorrer a serviços mentor, estatutos e instruções, todos compreendidosna classe --
urgentes, não previstos pela dita lei .(Lei n' 589 de 9 de setembro decretos gerais ou regulamentares; devemos contudo observar que :
de 1850, art. 4ç, $$ 2ç e 3ç) l -- Os regzziamenfos, no sentido restrito, parece deverem
3') Do Conselho de Estado, como para a remoção dos referir-se às leis, que afetam a totalidade dos administrados ou
Juízesde Direito no casodo Decretonç 509 de 23 de janeiro grande porção dêles; são estes os atos de maior compreensibilidade,
de 1850.
e de mais longa duração,que emanamda atribuiçãoregulamentar.
148

11 -- As expressões zegímerzfose esfafufos conservam as 149-


significaçõesque tinham na antiga nomenclatura. Assim, a primeira
se emprega em casos semelhantesaos dos Decretos n' 2.358 de
serviço das suas repartições (Decretos nç 2.350 de 5 de fevereiro
19 de fevereiro de 1859, art. 57, nç 2.359 de 19 de fevereiro
de 1859, art. 28 $ 11, n' 2.358, art. 16 $ 1l etc.). Os Chefes
de 1859, art. 58, nç 738 de 25 de novembro de 1850, art. 19
de Políciadão regulamentos
especiaispara as prisões,os quais
$ 5Q etc. (regimentos internos das secretarias de estado, dos
são sujeitos à aprovação provisória do Presidente de Província,
Tribunaisde Comércioetc.); ou do Decreton' 1.560 de 3 de e a definitivado Ministro da Justiça(Reg. de 31 de janeirode
março de 1855 (regimento das custas judiciárias) . A segunda 1842, art. 147); êles e os .delegadosdão instruções às autoridades
só se aplica aos regulamentos
relativosa certasinstituiçõesde policiais de inferior categoria (Reg. cit. ans. 58, $ 15 e 62, $ 1ç)
ensino,ou a sociedadese companhias comerciais(Lei nQ556 de
25 de junho de 1850, art. 295, Decreto nç 714 de 19 de setembro 1 2'
de 1853etc.)
111-- As ínsfz'tiçõestêm ordinàriamente caráter mais técnico OS DECRETOS GERAIS OU REGULAMENTARES
e provisório; são regras dadas às autoridades públicas, prescre-
vendo-lhes o modo por que devem organizar e põr em andamento Ao Imperador,como Chefe do Poder Executivo, foi pela
certos serviços, e quase sempre se referem aos que são de novo Constituição conferida a atribuição de expedir deck'elos,ínsfruções
criadosou reformados,e vão começara funcionar. Nelas não e regzzZame/zfos
adequados à boa execução das leis (Const. art. 102
se tem tanto em vista definir as relaçõesrecíprocasda adminis- $ 12) Assim, os preceitos regulamentares, enquanto contidos na
tração e dos administrados, como as relações internas dos funcio- órbita que a Constituição lhes traçou, têm em virtude desta para
nários ou empregados que constituem cada um dos mecanismos cs administrados fôrça obrigatória igual a dos preceitos legislativos.
administrativos
(Decretode 13 de dezembro
de 1832,de 13 de A atribuição regulamentar não é sujeita a provocação. Desde
novembro de 1843 etc. ) . que uma lei é promulgada, compete ao Imperador, por meio de
Cumpre observar-se que, além do Chefe do Poder Executivo, seus Ministros, ordenar tôdas as medidas que julgar necessárias
há outras autoridades administrativas, tambémcompetentespara à sua execução, e assim também modifica revoga-las sempre
expedir regulamentos e instruções, pôsto que não sob a fórmula que julgar.conveniente.
de decretos,tais são: -- os Ministros de Estado, cada um sôbre O Poder Legislativo, porém, tem algumas vezes decretado a
os negócios da sua repartição (Reg. Av. de 10 de fevereiro ampliação ou restrição, a derrogação ou abrogação, de alguns
de 1852,Reg. Ord. de 30 de junho de 1852,Rega.Avs. de 24 regulamentos (Lei nç 615 de 23 de agosto de 1851, art. 8', Hç 628
de abril e 8 de maio.de 1854,Reg. Port. de 4 de maia de de 17 de setembrode 1851, ans. 36, 43 etc.); neste caso, a
1856etc); -- os Presidentesde Provínciapara a execuçãodas atribuição do Govêrno deve parar diante da disposição legislativa.
leis provinciais (Lei de 12 de agosto de 1834, art. 24 $ 4Q);--- Deve-se atender que, no exercício desta função, o Imperador
a repartiçãogeral das terras para a mediçãodas terras públicas não participa do Poder Legislativo, senão para suprir as suas
11 (Decreto n' 1.318 de 30 de janeiro de 1854); -- os Tribunais previsões quanto às circunstâncias especiais relativas à execução
de Comércio, para o serviço de suas secretarias (Reg. nç 738 na parte que é confiadaà administração;de sorte que é lícito
de 25 de novembro de 1850, art. 19 $ 5ç) . Os Diretores Gerais àquele poder, sempre que Ihe parecer necessário, regular o moda
das Secretariasde Estado propõemaos respectivosMinistros as prático da execuçãodos seuspreceitos,restringindo assima esfera
instruções necessáriaspara a díreção, distribuição e economia do da função regulamentar(Trolley)
É assimtambémque os regulamentosse devemlimitar a
desenvolver os princípios e a completar a sua dedução, para a
150 151

fim de facilitar a execução das leis, mas não devem estabelecer Estas razões, em parte especiosas, em parte só concludentes
princípiosnovos, porque a fonte primária da obrigaçãoé a ]ei para a necessidadeda atribuição regulamentar no Govêrno, servirão
(Const. art. 179 $ 1Q). Expedir regulamento, cujas disposições de base à circular de 7 de fevereiro de 1856, dirigida aos Pre-
impeçam alguém de fazer o que a lei permite, ou obriguem a fazer sidentesde Província,onde o Govêrno se arroga o direito de
o que não manda. é violar os direitos inviduais do cidadão, defi- decidir por modo gera! e regtzlamerzfarsôbre as dúvidas, obstáculos
nidos pelo art. 179 da Constituição; e portanto o Ministro que e lacunas, que as autoridades judiciárias encontrarem na execução
referendar semelhanteregulamento cometeráo crime de responsa- dasleis relativasao direitocivil, ou penal.
bilidade, previsto pelo art. 5ç da Lei de 15 de outubro de 1827. Desta circular combinadacom os ans. 495 e 497 do regula-
e a autoridadeinferior que o executarau o expedirincorreranas mento de 31 de janeiro de 1842, decorrem os seguintes princípios:
penas do art. 180 do Cód. Cria.
1 -- Que o Govêrno não .deve proferir decisões singulares
Entendem alg.unsestadistas e jurisconsultos que na atribuição sôbre causas pendentes, ou afetas ao poder judicial, e sim decisões
de expedir decretos, instruções e regulamentos,concedida pela gerais, sob a forma regulamentar, sôbre coleção de casos idênticos.
Constituição ao Poder Executivo, acha-seimplícita e virtualmente
incluída a de determinar e uniformizar a inteligência da lei, ou 11 -- Que é preciso verificar e se o caso é realmente duvi
doso e semsolução na jurisprudência, para que o Govêrno formule
a de ínferprefá-Za; porque, se cada um pudesse entender a lei por
a sua decisão;o que não deve fazer quando a dúvida é apenas
modo diverso do que entende o Govêrno, ficariam destruídas pela
base as medidas regulamentares dêste, visto que assentam sôbre o singular
sentidoou inteligênciada lei. [11 -- (]ue o Govêrno deve limitar eclarar o pensa-
Além disto julgam que é impossívelreferir tôdas as dúvidas mento do legislador, segundo as regras da hermenêutica,e nunca
que ocorrem ao Poder Legislativo; -- porque, preocupando-se com a estatuirdireito novo.
as questõespolíticasou complexas,e não tendo existênciaper- IV -- Que a .decisãodeve ser dada por meio de imperial
manente e sim apenas periódica, não Ihe resta tempo para decidir resolução sôbre consulta da seção da justiça do Conselho de
estasdúvidas;-- porqueas suasdecisões sãopor avio de leis. Estado. e não por meio de avisos.
cuja formaçãoestá sujeitaàs fórmulaslentas;-- porquea sua V -- Que ela deve ser preparada por pareceres do presidente
interpretação só é necessáriaquando a sua vontade ou antes o da relaçãoou do Tribunal do Comércio,do procuradorda Coroa
seu pensamentonão pode ser compreendido,mediante os preceitos e outras pessoasdoutas a respeito dos arestos e praxe citados
da hermenêutica,
ou quandomanifestamente
vaí de encontroà (Cit. Relat. do Sr. Ministro da Justiça)
utilidade pública, que ela aliás deve exprimir
Destarte, a circular de 7 de janeiro de 1856, em vez de extirpar
Dizem mais que as diversas e sucessivasorganizações judiciá- os abusos, apenas os circunscrever e regularizou, emprestando-lhes
rias que no império têm havido não poderiamter-se firmado e
caminhado se não fera êste recurso ao Govêrno contra as dúvidas a aparência de legitimidade

e sofismasque embaraçam
as novasleis. E finalmenteque o (]ue o Govêrno Imperial, como qualquer autoridade adminis-
Govêrno tem sempre exercido êste díreífo de interpretação, não trativa ou judiciária, executarada lei, tem o direito de interpreta-la
só por meio de decretos, instruções e regulamentos. como até por para si, isto é, para saber como deve executa-la,não pode haver
simples avisos; não só por medidas gerais e de futuro, como por dúvida. Mas esta é a interpretaçãodoutrinal, que investigao
decisões especiais z'eiafiuas a casos penderzfes (Relat. do Sr . Mi- verdadeiro sentido da lei, segundo as regras -da hermenêutica, ê
nistro da Justiça apresentado às Câmaras em 1856) que não tem outra autoridade que não seja a fôrça moral da
152 153

doutrina ou do raciocínio em que se funda. Mas qual seja com próprios preceitos dêste direito, visto que a sua aplicação pertence
certeza o verdadeiro sentido da lei só pode dize-lo o poder que exclusivamenteao Poder Judiciário. Poderia caber-lhea interpre-
Ihe deu existência: -- (2ufs ením legam aenígmafase/uez'e,ef tação mista, isto é, a doutrinal com fôrça de autêntica, mas fera
emnibusapetite idoneus esseuidebitut. nisi is, cui sob tegislatorem preciso que por lei Ihe houvesse sido conferida tal atribuição, e
essecancesszlm
esf? (Const. 12 $ 1' Cód. De Leg. 1, 14). A esta lei não existe.
interpretaçãodoutrinal sendo, pois, falível, em geral, não pode Assim, o Govêrno Imperial, como o Supremo Executor das
ser obrigatória; qualquer pode conseguintemente apartar-se dela Leis Políticas e Administrativas, tem o direito de interpretar estas
sempre que não fõr convencido pelas razões em que se funda, ou leis doutrinalmente por meio de seus regulamentos; e esta inter-
achar outras melhores . pretaçãoé obrigatória para tôdas as autoridades incumbidas,sob
A interpretação autêntica, pelo contrário, é sempreobrigatória, a sua direção, de põr em execuçãoessasleis As próprias autora
não só porque dá-nos com segurançao pensamentodo legislador, dados judiciárias, quando executam as disposições administrativas
comoporquea lei interpretativatem a mesmafôrça da lei enter que soem acompanhar as de direito privado, devem executar as
pretada. Mas esta interpretação,pela naturezadas coisas e pela leis pelo modo por que o Govêrnoas entende,para que se não
disposiçãoexpressado art. 102 $ 12 da Constituição,só pertence comprometaa unidade de ação, condição essencialda adminis-
ao poder legislativo: -- .Ejzzs esf !egem ínferpz'efaze, czzjtzs esf /egem tração.
condene. É esta a que se deve denominar interpretação por via (quanto às disposições do direito privado, a sua execução
de autoridade não pode consistir senãoem solver os conflitos que nascemdas
Admitindo-se que o legislador possa como que delegar a relações individuais e recíprocas, o que é da exclusiva competência
atribuição de interpretar as leis por modo obrigatório, nos casos do Poder Judicial. Ao Executivo não cabe, pois, a execução
em que é possível alcançar-se o seu sentido por meio das regras da destas disposições,conquanto seja êle quem as promulga e nomeia
hermenêutica, dever-se-á considerar esta espécie de interpretação a autoridade que as execute, e preste outros serviços preparatórios
como mista, porque participa da autêntica, pela fôrça obrigatória e auxiliares destinados a facilitar esta execução .
que o legislador Ihe confere, e da doutrinal, pelos meios de que
Assim ao Poder Executivo não pode pertencer o direito de
se serve para exprimir o pensamentoda lei. Mas, para que qualquer
autoridade se julgue com o direito -deproferir decisõesinterpreta- interpretar obrigatoriamentedisposiçõeslegislativas, que têm de
tivas obrigatórias, é necessário que exista lei que Ihe conceda
ser executadaspor outro poder distinto e independente;a interpõe'
expressamente
êste direito; como foi outrora concedidoà Casa da tação autêntica delas pertence ao Poder Legislativo que as criou,
Sup[ícação (Ord. ]iv. ]ç, tít. 5ç, $ 5ç e ]ei de 18 de agosto de e a doutrinal ao Judícia] que as executa. (quando acidentalmente
o Govêrno tem necessidade .de interpreta-las, pela sua conexão
1769, $ 1v e seis.).
11 com as administrativas, as suas decisõessòmente são obrigatórias
A interpretação autêntica e por si mesma obrigatória não
para os seus agentese não para os membrosdo Poder Judiciário
pode caber ao Govêrno Imperial, visto que é da exclusiva compe-
tência do Poder Legislativo. Pertence-lhe, sim, a interpretação (Cona. em Av. nQ207 de 17 de junho de 1858)
doutrinal, como a qualquer outra autoridade de executou da lei, Fera sem dúvida convenienteuniformizar a inteligência prá-
mas esta, além de não ser em geral obrigatória,não se pode tica das leis de direito privado, confiando a sua interpretação
estender senão às leis cuja execução é confiada ao Govêrno, mista, ou doutrinal-obrigatória, a uma autoridade permanente.
isto é, às leis políticase administrativas,
ou às disposições
desta Mas, caso se julgue possível dar esta providência sem ferir-se a
natureza, incluídas nas leis de direito privado; porém nunca aos Constituição, não pode ser tal atribuição confiada senão à autora
154 155

dade mais elevada na hierarquia judiciária, a qual. assim como Lei nq 317 de 21 de outubrode 1843,art. 48; -- a penade
em cada caso individual tem o direito de substituir o seu modo prisãoaté seismesese a mesmamulta pelo Decreton' 583 de
de entender a lei ao das autoridades inferiores, declarando nulos 5 de setembro de 1850, art. 7e; -- a mesma multa, suspensão
os fitos desta, quando o contrariam, pode semelhantementeser até três mesese prisão até quinze dias etc., pelo Decreto nç 598
incumbida de interpreta-la por meio de fórmulas genéricas,ou de de 14 de setembrode 1850,art. 8ç; -- prisãoaté três mesese
regras obrigatórias. a mesmamulta de duzentosmil réis, pela Lei n' 601 de 18 de
setembro de 1850, art. 22; -- a de cinqüenta até duzentos mil
Atribuição análoga foi concedida aos Tribunais do Comércio,
para declararem os usos comerciais nos casos em que o Código réis pela Lei nç 602 de 19 -de setembro de 1850, art. 137 etc
Comercial os manda guardar (Reg. nç 738 de 25 de novembro Na falta de penas administrativas, os regulamentos estão sob
de 1850,art. 22 e seis.; Cód Com., art. 8q) a salvaguarda do direito penal comum, que impõe as mesmas
penas decretadaspara as infraçõesde lei às autoridadesque os
Em caso nenhum, porém, deveria êste direito ser confiado
ínfríngirem por afeição, ódio, contemplação, ou para promover
ao Poder Executivo, porque fera atentar contra a independência interessepessoalseu (Cód. Crim., art. 123 $ 2q); bem como
do judiciário; com efeito, dado que êste se achassehabilitado
para exercera sua missãosegundoa própriaconsciência, e fôsse as que por ignorância, descuido, frouxidão, negligência ou omissão
deixarem de cumpri-los ou de faze-los cumprir exatamente,ou
forçado a exerce-la segundo o pensamentoou a vontade do não responsabilízarem
efetivamenteos subalternosque os não
executivo, não se poderia mais considerar como independente.
executarem (Cód. Crim. ans. 154 e 156) . A infração dos regula-
O domínio da atribuição regulamentartem por órbita tôda mentos pelos administrados, na falta de pena especial, deve ser
extensão das funções do Poder Executivo; algumas vozes, porém, qualificada como crime de desobediência(Cód. Crim art. 128).
se amplia em virtude de especialautorizaçãolegislativa,como Na jurisprudência francesa, os regulamentos opostos às leis
mostramos no parágrafo antecedente .
não são obrigatórias (Dufour, tít. IQ, cap. I', n' 51) . O mesmo
Os regulamentos,para terem fôrça imperativa,necessitamde entre nós se deve entender, quando a antinomia entre a lei e o
sanção; aliás seriam meros conselhos. Mas a sanção pressupõe regulamento é manifesta, de sorte que a autoridade executou se
o direito de decretarpenase o poder de aplica-las.Quanto a ache colocada na alternativa de executar a lei e violar o regula-
esta atribuição, já vimos que é uma das funções da administração mento,ou de executar
o regulamento
e violara lei. Deveela
contenciosa (Cap. 6' $ 2ç huj. tít.). É porém evidente que a então demorar a execução para representar a êste respeito
decretação de penas só pode ter lugar por ato legislativo; -- a (Cód. Crim., art. 155, ín /íne), e em último caso deixar.de
administração
não é competente
para cria seus regula executa-lo (Cód. Crim. ans. 142 e 143; vid. tambémos ans. 95
mentes, salvo com expressa autorização do Poder Legislativo. e 96 do mesmoCód., Lei de 15 de outubro de 1827,art. 3' $ 2Q).
É assim que as câmaras municipais foram autorizadas pela Mas nos casos duvidosos,ou quando a antinomianão é
Lei de l9 de outubro de 1828, art. 72. a comunicar em suas evidente e díreta, a autoridade administrativa deve cumprir o
posturas as penas de oito dias de prisão e trinta mil réis de multa. lregulamento para resguardar a unidade de pensamento que convém
que nas reincidêncíaspedem ser elevadasaté trinta dias de prisão que anime e dirija todo o maquinismo administrativo.
e sessentami] réis de multa. O Govêrno foi igualmenteautorizado Do mesmo modo deve proceder a autoridade judiciária, quando
a impor: -- a pena de prisão até três mesese multa até duzentos por ventura obra como agente da administração, isto é, quando
mil réis pelaLei nç 54 de 6 de outubrode 1835,art. 2ç,e n' 261 executa disposições administrativas . (quando, porém, funciona
de 3 de .dezembro de 1841, art. 112; -- a mesma multa pela .dentroda esfera de suas atribuiçõespróprias, isto é, quandoaplica
W

157

-156. do Direito Administrativo, como expusemos no cap. 5ç. $ 3ç.


NegáHloseria confundir o poder discricionário com o limitado e

HX8HÚ' :!H,::S'l:Ê definidopor lei, a lesãode interêssescom a de direitos. Nem


sc deve pensar que assaz é franquear nestes casos a via graciosa
e o direito de -denúnciados Ministros que referendar tais atos.
Com efeito, a via graciosa, além de não dar lugar a verdadeüo
debate, e ao pleno esclarecimentoda matéria, pode fàcilmente ser
frustrada, pois que as reclamaçõespodem deixar de chegar ao
.conhecimento do Imperador,sendoín /ímíneindeferidaspelo Mi-
DECRETl0S ESPECIAIS E INDIVIDUAIS nistro, ou a sua decisãoindefinidamenteadiada.
O direito de denúncia,além de prescreverdentro de três
anos, está sujeito a ser do mesmomodo esterilizado,visto que a
acusação dos Ministros de Estado não pode ter lugar senão por
decreto da Câmara dos Deputados (Const. art. 38, Lei de 15
de outubro de 1827, art. 8ç e seis. ) . Porquanto esta, funcionando
como corporação política e não como Tribunal Judiciário, e achando-
se quase sempre estreitamenteligada por sua maioria ao Ministério,
deixa-se muitas vêzes guiar por princípios ou interêssesde outra
ordem que não os da estrita observância das leis, e absolve
infrações manifestas destas, confessadas pelo próprio acusado.
De fatos desta ordemnão faltam exemplosna história parlamentar
de todos os países.
O mesmo se deve pensar acerca dos decretos de instituição,
isto é -de nomeação,promoção, remoção e destituição de funcio-
nários e empregados. Quase sempre êles emanam de atribuição
discricionária;mas nos casosem que estes fitos são sujeitos a
.condições determinadas por lei, e que tais condições são violadas,
bem como os díz'eirasdas partes, deve-se entender permitido a
estas procurar a sua reforma pela via contenciosa,como se acha
estabelecido a respeito da decisão do Govêrno, que declara vago
o ofício de justiça e o sucessornomeadoobrigado,ou não, ao
pagamentoda torça parte do rendimento (Decreto HP1.294 de
i16 de dezembro de 1853, art. 7ç)
TfTULOIH

DOS ADMINISTRADOS

11
11

11
Capítulo l

DOS ADMINISTRADOS EM GERAL

Parágrafo único

A populaçãoque habita o extenso território brasileiro divide-se


nas três seguintesclasses:
l -- Os nacionais ou membros da associação política bra-
sileira.
ll -- Os esfrangefros ou membros de outras associações
políticas, que não a brasileira.
lll -- Os escravos, que de nenhuma associação política fazem
oarte
É evidente que estas diversas classes da população não podem
achar-se colocadas na mesma posição jurídica; com efeito, grandes
são as diferençasque hâ entre os direitos de que gozam. Estes
direitos se classificam nas seguintes ordens:
1 -- Díz'eífos índiuidziais ou /zzndamenfaís, -- que são os
que emanamda pessoalidadeconsideradaem sua íntima natureza,
em suas relações sociais e em sua projeção sôbre as coisas. A
pessoalidade humana é a combinação do elemento absoluto e
divino da razão com o elementofinito -da individualidade. Consi-
derada sob aquêlestrês aspectos,decorremdela os direitos de
liberdade, igualdade, segurança e propriedade, que se denominam
individuais, por que são oriundos da razão individualizada, e
fundamentais, porque são as bases sôbre que se firmam todos os
que constituema vida individual e social do homem.
11 -- Z)íz'eífospz'suados,
ou civis no sentido restrito, -- que
emanam das relações individuais e recíprocas dos homens, regidas
pelo direito privado, comum e especial (Vid. tít. lç. cap. 2', $ 4').
162 163

lll -- l)ireífos admínfsfrafíuos, -- que também se costumam Devemos observar que a Constituição nos ans. 178, 179
denominar civis no sentido lato, e que nascem das relações da pr. e $ 34 denomina direitos individuais ou civis os que classifi-
administração para com os administrados, ou dêstes entre si em camos na primeira categoria; ela proclama a sua inviolabilidade
vista do interesse público . Estas relações, e os direitos e obrigações e a gaz'ante,firmando-a em preceitos e ladeando-a de fórmulas
recíprocas que engendram, são regidas pelas leis administrativas. que expõe nos diversos $$ do dito art. 179.
e constituem o objeto peculiar do Direito Administrativo . estes preceitos e fórmulas constitucionais, protetores dos
IV -- Z)íreífos po/ífícos, -- que decorrem -das relações dos direitos fundamentais,bem como dos políticos, não podem ser
membrosda associaçãopolítica para com esta e o poder que a alterados senão pelo poder constituinte (Const. art. 178)
representa; e consistem na participação direta das funções dêste Sòmente em casos de rebelião ou invasão do inimigo podem ser
poder, ou indireta, constituindo-o por meio da eleição. suspensasalgumas das formalidades protetoras da liberdade indi-
vidual, por ato especial do Poder Legislativo on por medida
Os direitos individuais ou fundamentais pertencem racional
provisória do Govêrno, se não estiver reunida a Assembleia
mente a todos os homens pela sua simples qualidade de homens.
São anteriores e superiores a tôdas as leis humanas. Estas podem (Const. art. 179 $$ 34 e 35)
restringe-los ou mutila-los, mas não desconhece-los absolutamente.
Os .direitos privados são comunsa todos os homens,a quem
a lei reconhecea sua qualidadenatural de pessoa,quer pertençam
a mesmaassociaçãopolítica ou a diversas(Silv. Pinh., Man., do
Cid.,pág. 15,tom I', Obs. à Cara. Const. de Pote., pág. 113).
Quanto aos escravos,emborao direito civil os rebaixe a
condição de coisas, tornando-os objeto do direito de propriedade,
o direito criminal proclama a sua pessoalidadequando, reconhe-
cendo-lhes imputabilidade, os fulmina com a sua mais severa
penalidade
Dos direitos administrativosparticipam em sua plenitude os
nacionais; com algumas restrições os estrangeiros; e os mesmos
escravos são objeto de certas providências especiais da admi-
nistração.
Pôsto que em graus diversos e por meio de preceitos, em parte
diferentes, o Direito Administrativo se ocupa com estas três
classesde indivíduos; é por isso que dêles nos vamos ocupar nos
seguintes capítulos.
Os direitos políticos são exclusivosdos nacionais. SÓ os
membros da associação política podem ser admitidos a participar
de qualquer modo, direto ou indireto, nas funções do poder que
a dirige
Capítulo ll

DOSNÀCIONAIS

$ 1'

NOÇÕES GERAIS

Segundo a antiga legislação portuguesa (Ord. liv. 2ç tít. 55)


sòmenteeram consideradoscomo naturais de Portugal e seus
senhorios,para efeito de gozarem dos privilégios, gr.aças,mercês
e liberdades concedidas aos naturais dêles, os filhos de portugueses
nascidos em Portugal. Assim, não eram considerados como tais:
I') Os estran.genros,embora domiciliados, estabelecidos com
bens em Portugal, e casadoscom portuguesas.
2ç) Os filhos de pai estrangeiro e mãe portuguesa, nascidos
em Portugal, salvo quando aquêle tinha domicílio e bens neste
país e aí havia vivido dez anos contínuos.
3ç) Os filhos de portugueses, nascidos em país estrangeiro.
tendo-se estes ausentado voluntàriamente; não assim quando
enviadospelo rei ou ocupadosem seu serviço ou do Estado.
Estas regras aplicavam tanto aos filhos legítimos como aos
naturais; os espúrios, porém, seguiam a condição -de suas mães.
A legislação francesa (Cód. Civ. ans. 8ç, 99 e 10, Const.,
22 frim. an. Vlll, art. 2') distinguea qualidadede francêsda
de cidadão; a primeira anexa os direitos civis, qualquer que seja
o sexo ou idade do indivíduo; a segunda -- os direitos cívicos
ou políticos, concedidossòmenteaos varões em certas condições.
A qualidade de francês emana do direito de nascimento, ou
do benefício da lei. São franceses por direito de nascimento os
167
166

A qualidade de cidadão brasileiro pode-se adquirir por dois


filhos de francês, quer nascidosem Fiança, quer em país estran-
modos :
geiro. São franceses por benefício da ]ei:
1 -- Pelo nascimento, ou
lç) Os filhos de estrangeiro,nascidos em França, que 11 -- Pela naturalização.
reclamam esta qualidade no ano de sua maioridade e fixam seu Sendo a Constituição política a única lei que regula os modos
domicílio em Fiança.
pelos quais se adquire a nacionalidade brasileira, e reduzindo-se
2ç) Os filhos, nascidosem paísestrangeiro,
de francêsque a estes dois os que ela mencionano art. 6ç, é evidente que por
houver cessadode sê quando quer que reclamemesta qualidade nenhumoutro se pode adquiri-la. Assim, nem o casamentoda
e que estabeleçamo seu domicílio em Fiança . estrangeira com o brasileiro, nem a exposição dos órfãos no território

iii#:pH;=iiwEzi:
3Q) Os estrangeiros naturalizados .
4') A mulher estrangeira que se casa com francês.
Segundoa Constituiçãodo ano Vlll, art. 2q para que um
;iii::z'=i
Bus. n' 638) , sancionadas por diversos códigos estrangeiros, como
francês se tornasse cidadão era necessário: lç, que tivesse a idade o francês,art. 12, o saldo,art. 21, o holandês,art. 6ç,o capo'
de 21 anos; 2ç, que tivesse inscrito no registro cívico; 3', que tivesse litano, art. 11 etc
residido no território da república durante um ano depois desta Entendemos que os meninos expostos e batizados no nosso
inscrição. Ainda hoje se julga estarem em vigor as disposições território se devam presumir brasileiros e gozar dos direitos anexos
desta Constituição, quanto à primeira condição, exigindo e outras, a esta qualidade,enquantose não provar o contrário; mas esta
por disposições posteriores, para o exercício dos direitos eleitorais. presunçãocede à verdade, e portanto logo que se mostrar que o
A nossa legislação não distingue a qualidade de brasileiro da exposto não nasceu no nosso território, e sim no estranho e de
de cidadão,nem torna esta dependente
das condições
de sexo pais estrangeiros,também deve ser havido por estrangeiro.
ou idade; apenas distingue duas classes de cidadãos: -- ativos, O Decreto nç 1.096 de 10 de setembro de 1860, art. 2ç não
e não ativos (Const., art. 9ç) . Os cidadãos ativos são aquêles declara que pelo casamentoa mulher adquire ou perde..a nacio-
a quem ela concede o exercício dos direitos eleitorais; os não ativos nalidade brasileira, e sim sòmente -- que segue a condição cíPÍZ
aquêles a quem ela nega êste exercício, embora gozem de todos do marido.
os outros direitos de cidadão, -- individuais, privados, adminís~ Esta mesma doutrina é, em geral, aplicável às Princesas
trativos e políticos. (Lei nç 166 de 29 de setembrode 1840). Quanto,porém,.a
Princesa ou Príncipe estrangeiro que se casam com o Imperador
A nacionalidade, ou a qualidade -de cidadão, sendo a origem
ou Imperatriz, a Const. (ans. 124 e 125) os considerou natura-
dos direitospolíticos,e achando-sea ela essencialmente
anexa lizados visto haver-lhes confiado a importantíssima função política
a plenitude dos direitos individuais ou civis, segundo a frase da
de presidir a regência provisória (Const. art . 124, Ato A-d. art. 30).
Constituição, é evidente que não pode ser alterada sem que êsses
direitos também o sejam; e, como estes não podem ser alterados $ 2'
pelas legislaturas ordinárias, é lógica conseqüênciaque o art. 6e
da Const., que define a nacionalidade,tambémnão pode sê-lo. AQUISIÇAb0 DA NACIONALIDADE PEIJ0 NASCIMENTO
Acresce que a exclusão da nacionalidade não importa apenas a
modificação ou a restrição dos direitos políticos, e sim a sua Segundo a nossa lei fundamental adquirem pelo nascimento
os direitos de cidadão brasileiro:
absoluta privação.
168 169

1 -- Todos os que nascem no Brasi], quer os pais sejam pertenceo pai; não só porque é esta a vontadepaterna,que
nacionais ou estrangeiros; quer hajam nascido de ventre livre também se presume ser a do filho, como por que êste, sendo
(ingénuos), ou hajam adquirido a liberdade depois de nascidos [egítímo ou legitimado, deve seguir a condição do pai, e sendo
(libertos) . Excetuam-se os filhos de pai estrangeiro que reside natural a da mãe. Na opinião daqueleescritor êste é o verdadeiro
no Brasil por serviço de sua nação,seja ou não a mãe brasileira vínculo moral, a verdadeira pátria de origem, de sangue e de
( Const. art. 6' $ 1,) representaçãopaterna na respectiva sociedade; ali os filhos sucedem
A possenão contestadados direitos de cidadãobrasileiro. não nos bens,na nobreza,nos direitostransmissíveis
de seuspais;
havendoprova em contrário, é suficiente para que se continue a Q filho do Lord emboranascidono Brasil não perde o seu assento
gozar dêles (Decreto n' 500 de 16 de fevereiro de 1847 art. 6ç. no parlamento inglês.
Avós. de 4 de agostode 1854)
Não obstante a larga e hàbilmente deduzida argumentação
ll -- Os filhos legítimos e ilegítimos de pai brasileiro, nas- do distinto publicista, pensamosque, assim como fera absurdo
cidos em país estrangeiro;é necessário porém, que venham entender que o homemé uma produção da gleba e deve acom-
estabelecerdomicílio no império, salvo se o pai estivesseem serviço panha-la no domínio de todos aquêles a quem ela pertencer, do
dêste no país em que nasceram; assim mais, cumpre que os ilegí mesmo modo se não deve entender que a ampliação da família
Elmostenham obti.do o reconhecimentopaterno na forma das leis traga como necessáriocorolário a da sociedadepolítica . Concebe-se
em vigor (Const. art. 6ç $$ 2ç e 3ç, Lei n' 463 de 2 de setembro fàcilmente que o marido e mulher, o pai e os filhos, membros
de 1847) da mesma sociedade doméstica, possam pertencer a sociedades
lll. -- Os ilegítimos de mãe brasileira, nascidos em país políticas diferentes, como podem pertencer a sociedadesreligiosas
diversas.
estrangeiro, que preencherema mesma condição de domicílio
(Const.art. 6 $ 2') A entrada e permanênciade alguém na sociedadepolítica
devem ser fatos perfeitamente livres . .A lei não pode intervir senão
IV -- Os nascidos em Portugal ou seus domínios, que residiam
com o caráter de supletiva, isto é, para declarar a vontade presumida
no Brasil quando se proclamou a independência e a esta aderiram
tácita ou expressamente; a adesão tácita infere-se da continuação do indivíduo, enquanto êle não pode manifesta-la regularmente,
reservando-lheo direito de formulá~la em contrário oportunamente
da sua residência no império (Const. art. 6ç $ 4P)
e indicando-lhe os meios porque pode afastar-se dessa sociedade.
A disposição do art 6P $$ 1' e 2ç .da Canse tem dado
lugar a reclamações por parte de algumas nações. Sendo sôbre Mas a lei tanto pode deduzir esta presunçãode vontade da
origem genealógica,como do lugar do nascimento,e, aditando a
.consultadas as seções dos negócios do império e estrangeiros
do Conselho de Estado, deram amplo e luminoso parecer, de que nossa Constituição êste segundo meio no art. 6ç $ 1P, preferiu
foi relator o falecido Senador Bernarda Pereira de Vasconcellos. o que nos parecemais racional. Com efeito, os homensnão
costumam considerar como pátria o lugar onde seus pais nasceram,
cuja conclusão era que a disposição do $ 1ç do citado artigo é
imperativa . mas sim aquêle onde êles mesmos nasceram, cresceram e se
educaram. As primeiras impressões .do país onde a Providência
Entretanto, o Sr. Senador Pimenta Bueno (Dír. Púb. Bus. colocou o seu berço são sempre mais vivas, mais duradouras, mais
nç 622) argumentaem sentidooposto;diz êle que o filho de rodeadas de encantos, do que aquelas que Ihe podem causar as
estrangeironão podendo por sua vontadeprópria, logo que nasce saudosasdescrições que seus país lhes fazem da sua terra natal. O
ou enquantomenor,entrar na associação
políticado país onde filho (:o estrangeiro nascido no Brasil sente-se tão profundamente
casualmente nasceu, deve-se entender que faz parte daquela a que brasileiro como o filho do brasileiro. É até notável que, embora os
170 171

pais pertençama outros ramos etnográficosque não o nosso, os .alguns países estrangeiros, é-nos mais fácil contesta fazer
filhos adotam a nossalíngua e costumesde preferênciaaos de executar as disposiçõesda nossa lei dentro de nossopróprio país,
suas famílias, não obstante os aturados e por vozes enérgicos .do que ir reclamarpela sua execuçãoem paísesestrangeiros.
esforços destas. Demais, se a Constituição se deixasse inspirar pelo desejo de
Se ao pai estrangeiro não aprouver que seus filhos sejam .evitar a todo o custo questões internacionais sôbre êste ponto, não
cidadãos brasileiros, poderá leva-los para sua pátria e faze-los aí poderia estabelecer regras fixas, visto que as legislações estrangeiras
reconhecer como nacionais. se as instituições dela o permitirem; adotam ora um, ora outro princípio, e às vozes ambos ao mesmo
a lei brasileira não irá aí reclama-los; mas, enquanto existirem tempo.
entre nós, não podem deixar de sujeitar-seàs condições,aliás
Seria necessárioque ela subordinasse às prescrições dos códigos
muito razoáveis, impostas à sua admissão no país.
estrangeiros os princípios que determinam a nacionalidade brasi-
Nem se pode supor que é um benefício dado a fôrça, porque leira, o que por certo não conviria à dignidade e independência
a vontade presumida do menor é que quer pertencer à nação no .de uma nação livre e soberana.
meio da qual nasceue se está educando;e o pai não pode ter Com efeito, o princípio genealógicoé seguido pelo código
o direito de antepor a própria vontadeà lei do país onde vive,
,civil francês ans. 9ç e 10; pelo das Duas Sicilias, ans. 12 e 13;
e que o protege Quando o filho chegar à maioridade e puder pelo Sarda, ans. 19, 20 e 21; pelo Holandês, art. 5'; pelo Aus-
ter vontade própria, a lei o não forçará a pertencer à associação ;tríaco, art. 28
política brasileira, e pelo contrário Ihe indicará os meios pelos
quais poderá deixar -de fazer parte dela (Const. art. 7ç) As legislações
da UlniãoNorte-Americana
e de Buenosvires
.adotam o princípio oposto, consagrado também pela nossa e pela
Também se não deve recear o imaginadoconflito entre a
estatuto pessoal do pai e o do filho, desde que se aplicar ao
da Bolívia. que demais exige que os estrangeiros se tenham demo-
estadocivil do filho a mesmalei que regero do pai, semque rado no país e declaradoa intenção de ali fixarem o seudomicílio,
seja necessário desnacionalizar aquêle . e que os nacionaisvoltem dentro de 10 anosà pátria, para que
Podia a nossa Clonstituição,à semelhançada inglesa, infiel .os filhos de uns.e de outros sejam consideradoscidadãos.
ao princípio que estabeleceuno art. 6' $ 1ç, como origem da As da Inglaterra e llruguai adotam ambos os princípios
nacionalidade, isto é, o lugar do nascimento, considerar como simultâneamente;
consideramcidadãostanto os filhos dos estran-
membrosda nação brasileira os filhos de brasileiro, nascidosem geiros nascidos no país, como os dos nacionais nascidos em terras
país estrangeiro, independentemente de qualquer condição; preferiu, estranhas.
porém, ser conseqüente,e só lhes concedea nacionalidade depois Pelo direito comum da Alemanha perde-se pela emigração a
que vem estabelecerdomicílio no império.
qualidade de cidadão, e segundo a lei prussiana pela residência
Pode assim suceder que fiquem sem pátria alguns dêsses por 10 anos em país estrangeiro.
indivíduos, enquanto não preencherem a condição de domicílio;
A legislação espanhola considerava como nacionais todos os
mas. se o contrário se estabelecesse, sucederia por vezes que ficassem
nascidos em Espanta e os estrangeiros domiciliados nesse país;
com duas pátrias, e arrastariam o Brasil a reclama-los, sem poder mas, em virtude das reclamaçõesda legação francesaem 1837,
.emalguns casos tornar efetivas as suas reclamações. declararam as côrtes que esta disposição legislativa era apenas
Mais prudente foi a Constituição, porque, se o princípio que facultativa, e que aquêles que têm direito a outra nacionalidade
.elaestabelece
podetambémdar lugar a reclamações
da parte de podem preferi-la à que houverem também adquirido na Espanta.
173
172

até as últimas gerações,salvo se quiserem se naturalizar, e assim


se criará no seio do império uma populaçãoestrangeira,que,
.alimentada pela -emigração, se desenvolverá ràpidamente a ponto
de vir talvez a excederou a absorvera nacional. Em todo o caso,
esta crescentepopulaçãoestrangeiraseria grave embaraçoà sua
administração interna (Voto em separado do Sr. Marquês de
.Olinda no parecer da comissão de Constituição do Senado, datado
de lç de julho de 1859).

&x g ;g:l:l uu
as leis estrangeirassão aplicadascom certasrestrições
-
Por ocasiãoda discussão
do Decretonç 1.096 de 10 de
.setembrode 1860 foram largamente debatidas no Senado as
questões relativas a interpretação do art. 6ç $ 1' da Constituição.
Reconheceu-secomo imperativa a disposição dêste artigo, e a
opinião oposta apenas se concedeu, -- que o direito que regula no
Brasil o estado civil dos estrangeiros, aí residentes sem ser por
serviço de sua nação, possa ser também aplicado ao estado civil dos
11
filhos dêstes mesmosestrangeiros, nascidos no império, durante a
11 menoridade sòmente e sem pz'e/tzízo da nacíona/Idade recon/zecída
pe/o az'f. 6e da Consfífzição.Logo que estesfilhos chegamà
maioridade entram no exercício dos direitos de cidadão brasileiro,
sujeitos às respectivas obrigações na líorma -da Constituição e das
11 leis (cit. Decreto nç 1.096, art. I')
11

Assim mais concedeu-se-- que a estrangeira, que casar com


brasileiro, siga a condição do marido; e, semelhantemente,a brasi-
Se se quiser comparar o número de cidadãos que o Brasil
perde,não considerando
comotais os filhos de nacionaisem leira, que casar com estrangeiro,siga a. condição dêste, devendo
a brasileira que enviuvar recobrar a sua condição brasileira, uma

It

l
$HàãiK;SwnÍ'==
Barms, Considerações sôbre heranças jacentes) , e acrescentamos
vez que declareque quer fixar domicílio no império (cit. Decreto
art. 2Q). É bem visto que aqui só se trata da corzdíção
cít,í/
da mulher, pois a Constituição não enumera o casamento desta entre
que em regra aquêles não têm sentimentos mais brasileiros do que os meiosde adqurir ou perdera nacionalidade.A doutrinado
estes
S
Av. nç 147 de 17 de abril .de 1856, nos parece, pois, inteiramente
Muito valiosa também julgamos a observaçãoque, declarados insustentável: tanto mais quando o próprio govêrno tem por vozes

igualmente COHSI
-:.:::
"'--,.:"; " e:jh??.'ET'=j'El:T.=:1 :;: :1::: entendido o contrário.
174 175

1 3' passe a carta de naturalização; ela pode ser-lhe concedida, ou


negada, segundo convier, ou não, aos interêsses do Estado.
DA AQuiSiçÃO DA NACIONALIDADE PELA NATURALIZAÇÃO As condições gerais, exigidas para a naturalização, são (Lei
de 22 de outubro de 1832):
A naturalização é o ato pelo qual uma nação adota como-
1 -- A idade maior de 21 anos .
veu o membro de outra, declarando êste preferi-la à sua anterior
nacionalidade 11 -- 0 gôzo dos direitos cíuís, como cidadão do país a que
À antigalegislaçãoportuguesa
era nimiamente
ciosa da pertence o naturalizado, salvo se os houver por motivos absoluta-
mente políticos.
concessãodesta graça, porque segundo disse o desembarcodo
paço em representaçãodirigida ao Rei: -- em reino tão pequeno 111 -- A declaração, feita por êle na Câmara Municipal,
não podiam haver bastantes prémios para gratificamtantos serviços.. acercade seusprincípios religiosos,sua pátria, e intenção de fixar
Com efeito, o Alv. de 8 de junho de 433 proibiu passarem-se seu domicílio no Brasil
cartas de naturalização.e a Carta Réguade 26 de janeiro de 610 IV -- A residência no Brasil durante dois anos consecutivos
consultarem-sepetições de estrangeiros sôbre êste objeto. depois de feita a .declaração antecedente (Decreto de 30 de agosto
Algumas cartas, contudo, se passaram,como se vê da Res. de de 1843).
21 de junho de 1601, que aliás confirma a regra geral proibitiva V -- A posse de bens de raiz no Brasil, ou de fundos em
para o futuro. Veio, porém, a relaxar-se êste rigorismo com o estabelecimento
industrial, exercício de profissão útil, ou honesta
decursodos tempos,e o Decretode 22 e Av. de 24 de maio subsistência pelo trabalho.
de 1762permitiramnaturalizarem-se
os nascidosem Fiança e
Castelã, que tivessem domicílio e o requeressem-dentro de quarenta O processoa seguir-se para a obtenção das cartas de natura-
dias. Esta concessão foi generalizada a todos os estrangeiros lização é o seguinte: -- o naturalizando deve requerer ao presidente
que a quisessem,
ajuntando-se-lhe
a isençãode direitose emolu- da Câmara do Município onde reside, para Ihe mandar tomar um
mentos (Decretos de 2 de julho de 1774 e 22 de maio de 1801) livro, especialmentedestinado para êste fim, as declaraçõesacerca
Pela Constituição francesa do ano Vlll, que ainda rege esta da sua religião, pátria e intenção de domiciliar-seno Brasil, ins-
matéria, exigem-se três condiçõespara a naturalização: lç, a idade truindo êste requerimentocom documentoslegais, ou justificação
de 21 anos completos; 2ç, a declaração da intenção de fixar -domicílio feita no juízo de paz, ou declarações, certidões e atestados
em Fiança; 3ç, a residênciade 10 anos consecutivosdepois de passadospelos agentes diplomáticos e consulares da respectiva
preenchidas as duas primeiras condições. Êste prazo, porém, foi nação, que provem a idade maior de 21 anos e o gôzo de direitos
reduzido a um ano pelo Sen. Cona. de 19 de fevereiro de 1808 para civis na sua pátria. Passadoo prazo de dois anos,deve justificar
os que prestarem serviços importantes ao Estado, trouxerem a êle- perante o Juiz de Paz da freguesia de sua residência os demais
talentos, invenções ou indústria útil, ou formarem grandes estabe+ requisitos legais, e, julgada a justificação por sentença, deve com
lecimentos . esta requerer a sua naturalização ao Govêrno Imperial por inter+
A concessão de cartas .de naturalização na forma das leis é, médiodos presidentesde província,ou díretamentepelo Ministério
segundo a nossa Constituição, uma das atribuições do poder do Império (Leí de 23 de outubro de 1832, ans. 4' a 7ç, Avs. de
executivo. O estrangeiro, porém, que houver preenchido as con- 15 de fevereiro e Circ. de lç de agõsta de 1849, Avs. de 14 de
diçõeslegais, nem por isso adquire direito para exigir que se Ihe março e 8 de novembro de 1850 e 21 de setembro de 1853)
177
176

Concedidas as cartas de naturalização, não podem produzir Hç397 de 3 de setembrode 1846, art. lç, nç 712 de 16 de setembro
efeito algum sem que se preenchamas seguintescondições (Lei de de 1853, art. 3', e Dç808-A de 23 de junho de 1855, art. 3ç)
23 de outubro de 1832, ans. 99 e 10ç) ll -- Os filhos dos cidadãos naturalizados, em geral, sòmente
são obrigadosa provar: lç, a idade maior de 21 anos; 2ç,a decla-
1 -- 0 -- czzmpra-se -- e o registro nos livros das Câmaras
ração .de que querem ser cidadãos brasileiros, feita perante a
Municipais das residências dos naturalizados .
respectiva Câmara Municipal; 3ç, o meio honesto de subsistência
11 -- 0 juramento de obediência e fidelidade à Constituição (Lei de 23 de outubrode 1832,art. 3')
e às leis do país, e de reconhecer o Brasil como pátria daquele
Os filhos dos colonos, porém, podem obter do presidente da
dia em diante. Quandopor sua religiãoIhe fõr vedadojurar,
Província o título de naturalização, ainda antes de atingirem a
será suficiente prometer, lavrando-se, em todo o caso, termo de
maioridade, uma vez que seus pais, tutores ou curadores façam
juramento ou promessa.
perante a respectiva Câmara Municipal, ou Juízo de Paz, a
111 -- 0 pagamento da taxa de doze mil e oitocentos réis manifestação
de que é estaa sua vontade,e queremfixar o seu
para as despesasdas ditas Câmaras, cumprindo efetuá-lo na ocasião domicí[io no ]mpério, declarando também qual a sua antiga pátria
da presetaçãodo juramento (Av. n9 360 de 12 de outubro de 1857). e religião,salvoo direitode mudaremde nacionalidade
depoisde
[V -- A dec]aração,em livro para êste fim destinadope]as maiores .
Câmaras, do estado do naturalizado. da naturalidade de sua mulher, lll -- Os casados com brasileiras, a quem se dispensam tôdas
se fõr casado, do sexo, idade, religião, estado e naturalidades as condições, menos a declaração, na Câmara Municipal, -- da
de seusfilhos, caso os tenha. sua religião,pátria e intençãode fixar o domicíliono Brasil.
As Câmaras Municipais -devemmandar publicar no princípio Também estão ùnicamente sujeitos a esta condição:
de cada ano, pelos periódicos do município, e, na falta dêles. pelos IV -- Os inventores ou introdutores de um génerode indústria
da capital da província,.
um mapacircunstanciado
de todos os
qualquer.
estrangeiros que se naturalizaram e suas qualificações (Lei circular
art. ll) . V -- Os que tiverem adotado um brasileiro ou brasileira.
Há certas classes de estrangeiros. especialmentefavorecidos VI -- Os que houverem feito uma ou mais campanhas em
para a naturalização, e são: serviço do Brasil, ou em sua defesa tiverem sido gravemente
feridos.
l -- Os estrangeiros que vierem como colonos, comprarem
terras e nelas se estabelecerem,ou vierem à sua custa exercer no A Lei nç 1 .101 de 20 de setembro de 1860, art. 4ç parágrafo
país qualquer indústria útil; basta provarem que têm dois anos de único, determinou que os estrangeiros contratados para o serviço
residência e que declararam por termo, por êles assinado perante do exército pudessem,depois de 2 anos dêste serviço sem nota,
a respectivaCâmara Municipal, que estaé a suavontade,a fim de ser naturalizados cidadãos, dispensadas as formalidades da Lei
que o presidente lhes mande passar o competente título de natura- de 23 de outubro de 1832; sendo a carta de naturalizaçãoisenta
lização, livre de quaisquer despesasou emolumentos,ficando estes de quaisquer despesas ou emolumentos .
cidadãos isentos do serviço militar, menos do da guarda nacional Vll -- Os que por seus talentos e literária reputação tiverem
dentro do município. O Govêrno, porém, pode passar êste titula, sido admitidos ao Magistério das Universidades, liceus, academias
antes de findos os dois anos, aos colonosque julgar dignos dêste
ou cursos jurídicos do Império .
favor (Lei nç 601 de 18 de setembro de 1850, art. 17, Decretos
l
178
l 179

Vlll -- Os que por seusrelevantes


feitosa favor do Brasil,
e sob proposta do Poder Executivo, forem declarados -- beneméz'ífos
êle largamente abusado (Sr. Sen. Pimenta Bueno, Dir. Públ.
Bus. n' 636)
pelo corpo legislativo.
Inspirado pelo desejo de promover a colonização, tem o Poder
A naturalizaçãoé um contratopolítico entre a naçãoe o
Legislativo concedido a certas empresasfavores especiaisrelativos
naturalizando; não pode, pois, ter lugar sem o concurso da vontade
dêste: é ato inteiramente pessoal. Assim, a naturalização do marido à naturalização. Assim, pelos Decretos de 17 de setembrode 1835,
art. 12, e 29 de outubro de 1838, art. 3q, concedeu a naturalização
não pode importar a da mulher, nem a do pai a do filho; apenas
aos colonos da companhiado Rio Doce e da Estrada de Ferro
devem influir para facilita-las. É esta a razão por que aos filhos
dos naturalízados,e dos colonosespecialmente, são concedidosos de São Paulo depoisde um ano de residência;pelo Decreto de
3 de setembro de 1846 aos colonos que já então residiam em
favoresque ficam expostos;e às viúvas dos naturalizandos,que
S. Leopoldo e Tôrres; pelo Decreto de 31 de janeiro de 1850
falecem depois de preenchidas as formalidades que a lei exige para
aos de S. Pedro de Àlcântara e Petrópolis; pelo Decreto de 16 de
a naturalização, se permite aproveitar delas, para obter a respectiva setembro de 1853 aos de D. Francisca.
carta (Lei cit. art. 8')

Não existem entre nós as cartas de grande naftzz'a/ízação $ 4'


da legislação francesa pelas quais se concedeaos estrangeiros de
mérito transcendentea plenitude dos direitos de cidadão daquela PERDA DA NACIONALIDADE
nação, inclusive a elegibilidade para ambas as Câmaras Legislativas
Por mai.oresque sejam os serviçosprestadosentre nós ao Não é lícito ao cidadão brasileiro renunciar esta qualidade
Estado, embora por êles sejam declarados -- be/zemérífos-- pelo por simples declaração de que não quer fazer parte da nação,
salvo aos colonos naturalizados durante a menoridade, como vimos;
corpo legislativo, nunca podem os naturalizados gozar de todos os
direitos dos cidadãos natas. Assim, são inibidos de serem eleitos aliás não faltaria quem o fizesse para se subtrair aos encargos
[1
(Av. R933 de 29 de outubrode 1855,/arma/do ComércioHP24 nacionais, continuando a gozar das vantagens que o país oferece

11 de 1856):

art. 27)
[ -- Regentes do império (Lei de ]2 de agosto de 1834,
(Decreto nP808 e Av. de 23 de junho de 1855,art. 4ç)
Pode-se, porém, perder esta qualidade nos casos previstos pela
Lei Fundamentale com ela todos os direitos políticos e adminis-
trativos que Ihe são inerentes, conservando-seapenas aquêles de
11 -- Ministros e Secretários de Estado (Const., art. 136). que gozam os estrangeiros. Êstes casos são:
111-- Deputadosà AssembleiaGeral (Const. art. 95 $ 2'). 1 -- A naturalização em país estrangeiro (Const. art. 7ç $ 19).
IV -- Deputados provinciais (Lei de 12 de agosto de 1834, É manifestoque, desde que o brasileiro renuncia à sua pátria e
arC.4ç,combinadocom o art. 95 $ 2ç da Const. e cit. Av. de adota outra nova, não deve mais ser considerado como membro
29 de outubro de 1855) da nação brasileira.
O Poder Legislativo não é competente para fazer concessões
Esta regra, porém, sòmenteprocede quando o brasileiro
individuais de naturalização; pode, sim, autorizar o Govêrno a requereu essa naturalização ou aceitou expressa ou tàcitamente,
concedercartas de naturalização, dispensandouma ou mais condi- usando cientemente dos direitos dela emanados . Quando, porém,
ções exigidas por lei. Desta atribuição, de que não devera usar a naturalizaçãoIhe é imposta pela lei do país que habita, em
conseqüência de atou que em presença da lei brasileira não importam
senão em casos raríssimos, para que se não deprecie esta graça, tem
a renúncia da nacionalidade,tais comoa aquisiçãode bens territo-
181
180

Entram nesta classe os serviços meramente industriais, os do


dais, o casamento com estrangeira, a fundação de estabelecimentos
sacerdote,advogado,médico, ou qualquer outro a que não esteja
comerciaisetc., e êle não pratica qualqueroutro ato por onde ligada função política ou administrativa, sendo prestados em virtude
demonstrea intençãode mudar de nacionalidade, não se deve de contrato particular.
entender que perdeu os foros de cidadão brasileiro.
111-- 0 banimentopor sentença (Const. art. 7ç $ 3ç) . A
11 -- A aceitação de emprêgo, pensão ou condecoração de
pena de banimento foi definida pelo Código Criminal, art. 50; mas
qualquer govêrno estrangeiro,sem licença do Imperador (Const.
não tem sido ainda aplicada pela nossalegislação a crime algum .
art. 7ç $ 2') . Por esta aceitaçãocoloca-seo brasileiro em certas
relações de dependência ou gratidão para com o estrangeiro, e Em virtude dela é o réu privado não sòmentedos direitos
contrai compromissos que podem ser incompatíveis com os deveres de cidadão brasileiro, como também inibido perpètuamentede
que o ligam à sua pátria. É, pois, necessárioque o Chefe do habitar o território do império; se, porém, voltar a êste, é condenada
Estado tenha o direito de permiti-la ou proibi-la, segundotrouxer, à prisão perpétua.
cu não, inconvenientespara o país. Rara vez será tal licença Quando o banimento fõr decretado pelo poder moderador em
denegada; quando, porém, isto suceder, e não obstante o nacional comutação da pena imposta por sentença, visto ter substituído a
aceitar essas graças do govêrno estrangeiro, ou quando o fizer esta, e sido aceito pelo delinqüente, deve produzir os mesmos
sem procurar obter a permissão do Govêrno Imperial, com razão efeitos como se fôsse decretado pela sentença. O que a Constituição
se deve entender que afastou-se da nossa associaçãonacional sòmente exclui de produzir efeitos políticos é o banimento, quando
(Decreto de 7 de janeiro de 1829) . imposto por ato arbitrário -do govêrno a indivíduo que não tenha
Deve atender que a Constituiçãosòmentese refere ao sido condenadopelo Poder Judiciário
Govêrno das Associações Políticas, e que, portanto a aceitação de Casos há em que o cidadão, embora conserve a sua naciona-
empregos, pensões ou condecorações conferidas pelos Chefes ou lidade, não pode contudo exercer os direitos políticos que dela
Governos de Associações de outra natureza, não importam a perda emanam; tais são as hipóteses do art. 8' da Constituição:
cla nacionalidade
l -- Incapacidade física, ou moral e
Assim a aceitação de funções meramentereligiosas ou espi
rituais, ou de graças, distinçõese privilégios desta ordem, não é 11 -- Sentença condenatória à prisão, ou degrêdo, enquanto
abrangidapela tese constitucional;pode ser, e com efeito é ato duram os seus efeitos. A Lei de 3 de dezembro de 1841, entretanto,
criminoso, punido pela Legislação (Cód. Crim. ans. 79, 80 e 81); declara que a -- pronúncia não suspende o exercício dos direitos
mas, aquêles que o praticam, não perdem a qualidade de cidadão políticos senão depois de sustentada competentemente
brasileiro. Outros casoshá em que sòmentese suspendeexercíciode
Do mesmomodo a aceitaçãode títulos, distinções ou subsídios certa classe de direitos políticos, tais como os eleitorais, ficando
pecuniários, cargos ou comissões-conferidaspor quaisquer socie+ o indivíduo inibido de tomar parte em qualquer eleição,e conse-
dadas literárias, científicas, artísticas ou industriais estrangeiras, guintemente excluído da massa dos cidadãos ativos (Const.,
isentas da intervenção dos seus governos, não induzem a perda ans. 90 e 93); tais são os casosmencionados
no art. 92 da
daquela qualidade, ou a sujeição a qualquer pena. Constituição (Àv. nç 301 de 17 de setembrode 1856)
Nem se deve julgar vedada a prestaçãode quaisquer serviços Tambémnas hipótesesdos ans. 29, 31, 32 e 94 $ 3ç da
ao govêrno estrangeiro e a percepção da respectiva retribuição, Constituição hâ suspensão parcial do direito político de exercer
uma vez que tais serviços não importem o exercício de alguma certos empregos, ou funções, ou de ser para êles eleito.
oração do poder político e não constituam emprêgo público.
182

O mesmo sucede nos casos de incompatibilidade, definida


por ]ei, ou provenienteda impossibilidade
absolutade exerceros
cargos cumulativamente, ou de desempenha-lossatisfatoriamente
(Lei nç 842 de 19 de agosto de 1846, art. I' $ 20, Decreto nç 1 .082
de 18 de agosto de 1860, art. lç $$ 13 a 15, Av. de 4 de junho
de 1847 etc.)
O exercíciode um emprêgoimportaa suspensão
do direito Capítulo lll
de exercertodos os que com êle são incompatíveisou de ser para
êles eleito. DOSESTRÀNGEIROS

! 1'

CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS

À ideia da unidadeda espéciehumanaé corolária da unidade


de Deus. Se a antigüidadenão as desconheceu
inteiramente,é
pelo menoscerto que foi o cristianismo quem as propalou no mundo,
e com elas a da fraternidade universal dos homens. Para os pagãos
Deus era o poder, a fôrça; para os cristãos é o amor. À lei da
fôrça e da guerra, devia pois ceder lugar à lei do amor e da
caridade.
A fôrça imperava nas relações humanas em tôdas as esferas
da sociedade;entre pai e filhos, marido e mulher no seio da família;
entre as tribos e as castas no seio da cidade; entre as cidades
e províncias no seio da nação, e finalmente entre as nações no
seio da grande sociedade humana .
Mas a fôrça poderosapara a destruiçãonada durador pode
criar e fundar. É um elementode separaçãoe dissolução,enquanto
a religião e o direito são elementosde atração e coesão
Foram a religião e o direito que vieram insuflar a vida nas
sociedades nascentes da eras primitivas, e, travando com a fôrça
luta de morte, Ihe têm ido, e Ihe irão sempre progressivamente,
estreitando a órbita do seu domínio .
A ideia da sociedade humana universal, da sociedade das
nações, não existindo no mundo antigo, os membros de naciona-
lidades diversas não se julgavam ligados por vínculos jurídicos.
185

O estrangeiro estava constantementefora da ]ei, suas pessoas e Os romanosforam um povo de índole essencialmente
jurídica.
seusbens não tinham a proteçãodo direito, contra êles era tudo A sua literatura, as suas ciências e belas artes, foram enxertos
permitido . exóticos que revelavam a sua origem primitiva; enquanto a juras
prudência brotou espontâneamente e desenvolveu-se com caráter
As leis de Manou (Xl1, 43) colocavama çádra abaixo da
de indelével originalidade
elefante e do cavalo na hierarquia dos sêres; os fc/zândâZas,repelidos
de tôdas as castas, eram sujeitos à abjeção ainda maior; nos FaZIa/zs Primitivamente, o direito era peculiar ao cidadão, nam quod
errantes, como feras, nas florestas, estava quase de todo diluído quisque populus ipse subi jus constituir, id ipsius proprium ciuitatis
o sêlo divino da superioridadehumana. Entretanto, tôdas estas esf (Inst. liv. I' tít. 2ç $ 1ç); os estrangeiros, confundidos com
raças envilecidasse julgariam poluídas pelo contato dos estran- os inimigos sob a expressão comum -- /zosfís, eram privados da
geiros (me/éfc/zas); nascidos fora da terra santa dos arcas, impuros proteção do direito. Êste estado social era simbolizado pela lei
de costumese de linguagem, eram objeto do desprezoe do horror das Xll tábuas: -- Àduerszls /zosfem aeferna azzcforisfas esf.
universal. Trazendo a conquistado Latium, e depois a da Itália, grande
número de estrangeiros a Romã, tornou-se indispensável regularizar
No Evito, os estrangeiros não inspiravam menos viva repulsão;
suas relações, e para êsse fim criou-se um magistrado especial ---
eram também consideradoscomo impuros pelos habitantes das proefoz'per]grirzlzs.Êste, porém, nãa lhes aplicava o -- jízs cll;í/e
margensdo Nilo, que julgavam~sepovo eleito de Deus. A hospi-
ou /zzs qczírífítzm, e sim o -- jtzs genfízzm, complexo de normas
talidade e ferocidade de caráter dêstesé conhecida.bem como os
jurídicas, deduzidasdas leis e costumes-detôdas as nações.
sacrifícios humanos de que usavam: -- (2zzísínZazzdafinescif
Busírisdfs aras? (Virgil. Georg. 111, 5) . Objeto especial .desta Entretanto os estrangeiros conservavam sempre alguma infe
aversão eram os nómadas (/zgksos), raça maldita e imunda, e rioridade cm relação aos cidadãos, eram sujeitos a certas penas
especialmenteos hebreus..cuja opressãopelos faraós consta dos infamantes, não podiam vestir a toga, nem usar de nomes romanos
nossos livros sagrados. -- domina gerzfí/iria. l.lama constituição de Antonino Caracala,
afinal, naturalizou em massa os provinciais, e até os bárbaros
O génio helénico,pôsto que eminentemente
expansivo,não que habitavamo império.
]wou a nacionalidade além das raias de cada cidade. Fora daquela
Conseguintemente, embora estes últimos continuassem a ser
onde nascia, o grego era considerado estrangeiro em tôdas as outras
cidadesda Grécia, e privado não só dos direitos políticos,como privados do direito hereditário, ativo e passivo, e da pessoalídade
também dos civis em grande parte; não podiam contratar casamento civil (Cód. Teod. liv. 16, tít. 5ç, Lei nP 36), pouco uso passou
a ter a legislação sôbre os estrangeiros; nas compilações -do Impe-
legal, adquirir bens imóveis, exercer a facção testamentária, atava
e passiva, ou as ações judiciárias. rador Justiniano apenas se trata dêles.

(quanto às nações estranhas à sua raça, os gregos as con- O Império romano foi a mais vasta associação,a mais ousada
tentativa de unidade, a que aspirou a civilização do mundo antigo.
fundiam sob o nome comum de báz'bafos,as julgavam nascidas
para a escravidão e a si mesmos para a liberdade (Eurípides). Foi, porém. o cristianismo quem ampliou as raias da sociedade
Vaidosos por índole, exaltados em seu patriotismo pelas lutas humana de modo a estende-la.por tôda terra, quebrando as barreiras
gloriosas contra os persas, votavam ao estrangeiro (bárbaro) hostis que separavam as nações em odienta segregação.
desprezo e ódio. Um de seus oradores (lsócrates) dizia que os Criadosà imageme semelhança de Deus, filhos de um pai
gregos eram tão superiores aos bárbaros quanto os homens o são comum,foram os homensproclamadosiguais e irmãos. Não /zá
aos animais .
mais judeus nem gregos, escravosnem livres, todos são unl em
186 187

/eslzs Crísfo, disse São Dali/o (Galar. 111 28) . rodo.s os qíze Estrangeiros,
no sentidojurídico, não eram sòmenteos
acreditaTnem ]esus não formam senão um podo,dumarepública membrosde associaçõespolíticas diferentes; eram, sim, os súdítos
(Santo Agostinho) . Sendo os homens irmãos, não podem ser do mesmo soberano, nascidos na mesma cidade, sempre que
estrangeirosuns para os outros, quaisquer que sejam as distâncias oriundos de raças diversas. De cinco pessoas qtze conpez'saíam
que os separem . ozz passeavam jzzrzfas, dizia Agobardo, /zão /zá duas qíze siga/lz
a mesma !ei.
A ideia da unidade de Deus não tinha podido engendrar
todos os seus benéficos corolários entre os hebreus. Como o fogo Pelo trabalho lento dos séculos, pela química misteriosa da
sagrado, religiosamente conservado no santuário, foi ela guardada vida social, fundiram-se as raças que coexistiam no mesmo território,
e elaboraram-se as nacionalidades modernas em sua homogeneidade.
no seio dêste povo escolhido, que vivia segregado de todos os
Então o direito perdeuo caráter de pessoalidadee reassumiua
outros, para melhor defender a centelha divina, donde um dia .unidadedentro das raias de cada soberaniaterritorial .
havia rebentar a luz que tinha de esclarecere regenerara huma-
nidade Entretanto, manteve-se em geral grande desigualdade de
Afinal, a lei cía boa mofa gerou no coração humano um .direito entre os membrosde cada nação e os estrangeiros. Estes,
sentimento novo, inteiramente desconhecido do mundo antigo, o não só foram sujeitos a impostosvexatórios, cobradossob vários
sentimentoda fraternidade universal. Foi ela quem substituiu .pretextos, e a medidas restritivas por parte da administração, como
ao patriotismo pagão, estreito e hostil, o cosmopolitismode fó também foram privados .de diversos direitos de natureza puramente
e de caridade.À pátriaterrestree efémera
de cadaum foi .civil, tanto em relação à família, como à aquisição da propriedade
esquecida pela pátria celeste, páfría uez'dadeiza e zzníuersa!, composta
e à facçãotestamentária,
ativa e passiva.
de cidadãosimortais (Santo Agostinho, De Civil. Dei, 111,17). Hoje, porém, entre as nações civilizadas tendem a firmar-se
na razão pública os seguintesprincípios:
Foi o espiritualismo cristão quem fortaleceu o homem durante
o reinado dos Casarese dos invasoresbárbaros, quadra de dis- 1 -- Que os estrangeiros devem ser absolutamente iguala-
solução moral e social, orgia universal de torpezas, de sangue dos aos nacionaisquanto ao gôzo dos direitos privados ou civis.
e de ruinas. Sem as suas sublimes consolações e imortais espe- 11 -- Que sòmente devem ser sujeitos àquelas restrições
ranças a humanidade, descuida de si mesma e de seus altos destinos, administrativas que forem indispensáveis à segurança e prosperi-
teria então sucumbido em absoluto embrutecimento . dade públicas.
O princípio do cosmopolitismoevangéliconão podia, porém, 111 -- Que cada Estado tem o direito de regular os modos
chegar a tõd?.Eas suas consequênciaspráticas e jurídicas, no meio pelos quais podem ser adquiridos, possuídos,transmitidos ou desa-
das ondas invasoras da barbaria que submergirama civilização propriados, os bens móveis e imóveis, existentes dentro do seu
romana. A distinção entre vencedores e vencidos, e a diversidade território; o estado e capacidade das pessoas nêle domiciliadas;
entre as raças conquistadoras que se sucediamna posse de cada a validade dos contratos e atos que nêle se celebram, e os direitos
país, não permitiam que se reconstituíssea unidadejurídica dos e obrigações que dêstes nascem. E, conseguintemente:
Estados. Êstes eram apenas justaposições de povos, diversos na IV -- Que aos bens situados em país estrangeiro, às pessoas
'origem, na língua, na religião, nos costumes.O direito devia, pois, nêle domiciliadas,aos contratos e atos nêle celebrados.devem
necessàriamente fracionar-se e revestir-se do caráter de pessoali- ser aplicadasas leis do respectivopaís, salvo nos casosexpressa-
dade mente excetuados por lei (Av. nç 259 de 25 de outubro de
11
188 189

1851,n' 77 de 28 de fevereirode 1857,nç 446 de 7 de outubro porventura os estejamexercendo (Av 4 de 16 de agosto de 1831,
de 1861 etc.) Cal. Nab. e Circ. de 18 de agosto de 1831)
Os estrangeiros dividem-se nas seguintes classes: 111-- Ser admitidos, sem expressa autorização do Poder
1 --- Ulns são viajantes erdínários que apenastransitam pelo Legislativo, no Exército ou na Armada, como oficiais ou outras
país, dirigindo-se a outro diverso, ou que vêm demorar-se pouco praças; devendo sòmente ser conservados os que colaboraram em
tempo com a intenção de sair em prazo mais ou menos breve. prol da independência,foram mutilados ou feridos, ou têm contrato
ll -- Outros vêm com a intenção de fixarem definitivamente expresso (Lei de 24 de novembro de 1830, ans. 10 e 25 de
a sua residênciano país, ou pelo menosde estabelecerem-se nêle novembroart. 4') .
por prazo indefinido; o Decreto Hç 2.168 de IQ -de maio de 1858 Tais autorizaçõestêm sido por vozesconcedidas ( Leis n'.42
dá-lhes a denominação genérica de emígranfes. Entram particular- de 20 de setembrode 1838,art. lq $ 4P,n' 86 de 26 de setembro
mentenesta classeos co/anos,que são os que vêm para o fím de 1839,ans. 4çe 6', nQ148 de 27 de agostode 1840,art. 6ç
de se darem aos trabalhos da agricultura, quer em terrenos próprios nç ]92 de 30 de agostode 1841,art. 5?,nç 281de 6 de maiode
ou alheios, quer pelo sistema de parceria, de salário ou por qualquer 1843. art. 6ç. nç 342 de 6 de maio de 1845, art. 6ç, nç 613 de 21 de
outro isto de 1851, art. 4Q,n' 646 de 31 de julho de 1852, art. 2ç
111-- Alguns vêm fugindo de perigo iminente de morte ou n; 694 de 10 de agosto de 1853, art. 2ç etc. )
prisão, perseguidos pela justiça. ou já par ela condenados. estes O Av. nç 222 de 27 de novembrode 1854 declarouque não
reftlglados tomam a denominaçãoespecialde emigrados,quando é proibido enganarindivíduosísoZados
para o Exército, e sim
perseguidos por motivos políticos, e de banidos, quando expulsos sòmente engajá-los em corpos arregimentados . Sôbre o alistamento
por condenaçãojudiciária ou ato do poder político. Os emigrados de estrangeirosvoluntários para o serviço da armada, vid. De-
que se apresentamem armas são desarmadose mandados internar creto nç 1.591 de 14 de abril de 1855, ans. 13 e sega.
para longe das fronteiras do seu país. IV -- Exercer a profissão de advogado, visto ser considerada
IV -- Outros, finalmente, são pelas tempestades lançados: como mtzntzspzzbJÍcum(Av. de 7 de outubro de 1828, Col. Nab. ).
sôbre as costas ou vêm abrigar-se em nossos portos, e -denomínam-
V -- Ser nomeados: -- corretores, agentes de leilão, des-
se nátzfragos. O direito das gentes cristão manda acolhe-los e
pachantes de alfândegas (Cód. Com. art. 39 $ .3ç, Decretos
protege-los, ainda quando sejam criminosos condenados pelos
de 26, 27 e 28 de julho, nç 858 de 10 de novembro de 1851,
tribunais do país onde deram à costa. nç 587 de 27 .de fevereiro de 1849, art. 3' $ 1ç, nç 1 .914 de 28
Ê 2' de março de 1857, art. 51 $ 1ç -- Tarifa das Alfândegas)
VI -- Agentes de coletor e meirinhos (Av. de 30 de julho
DIREITOS DOS ESTRÀNGEIR'OSEM GERAL
.de 1831 e nç 134 de 3 de junho de 1853)
É evidente que aquêles que não fazem parte da associação Vll -- São-lhes igualmente vedados os cargos de párocos.
política nenhum direito ou função política podem exercer. Assim coadjutores, ou quaisquer benefícios eclesiásticos, retribuídos pelo
os estrangeirosnão podem:
1 --
11 --
Suceder na Coroa do Império (Canse. art. 119)
Exercer quaisquer cargos públicos (Prov. de 23 de
Wii:iiVUi?iilÇR! :lll
Res. de 9 de novembrode 1824anexa à Res. 1+de 4 de dezembro
junho de 1828, Col. Nab. ); devendo ser despedidos dêles os que .de 1827 Col. Nab. )
190 191

Podem, porém, exercer funções ou cargos meramente espirituais;..


favor êste feito à colónia D. Franciscapela Lei nP 712 de 16
na forma das leis canónicas;e até ser nomeadosvigários encomen de setembrode 1853, e pelo Govêrno Imperial nos contratos
dados,na falta de saber-dotes
nacionais(Av. nQ349 de 30 de celebradoscom o Dr. Blumenau,Aubé e Nagel, à colóniade
julho de 1862), ficando neste caso sujeitos às mesmas penas e Petrópolis etc. -- O Av. HQ 480 de 24 de outubro de 1861
processo a que estão sujeitos os vigários nacionais (Av. nP 153 decidiu -- que não se deve exigir atestado de exercício de pastor
de 14 de junho de 1864) protestante, mas sòmente certidão de vida.
Assim também podem ser nomeados vice-cônsules do Império« [1 -- ])e manifestação de pensamento por palavras, escritos
(Decretos de 14 de abri] de 1834, art. ]5, nç 520 de ll de junho c imprensa, independentementede prévia censura, sujeitando-se
de 1847,ans. 8' e 9ç,Àv. de 3 de outubrode 1833); e, na às penas das leis pelos abusos que cometerem no exercício dêste
falta de nacionais, têm sido admitidospor contrato a reger aulas direito (Const. art. 179 $ 4ç e Cód. Crim., ans. 229 e 246).
de ensinosecundárioe superior(Res. 1+de ll de novembrode Não podem, porém, responsabilizar-se como autores ou editores,
]831 art. lç, 6e de 25 de agostode 1832,art. 29,Lei de 3 de salvo quando escrevem em causa própria (Cód. Crim. art. 7q
outubro de 1832, art. 4ç, Porá. 24 de ]2 de agosto de 1828. $$ 1' e 2').
Col. Nab., Av. de 28 de fevereiro e 14 de junho de 1834;
111 -- De indústria em seus diversos ramos, menos quandcP
x-id. Decreto n' 2 .741 de 9 -de fevereiro de 1861, ans. 3P a 5ç)
ofender os bons costumes,a segurança e a saúde dos cidadãos
Àos estrangeiros são entre nós concedidos os direitos de. ( Const. art. 179 $ 24)
propriedade e segurança na mesma extensão com que dêles gozam
os nacionais, salvo ligeiras diferenças (Cód. Crim. art. 261;
Assim é-lhes permitido: -- o magistérioparticular, uma vez
Cód. do Proa. Crim., art. 154e Decreto-- Reg. nç 120de que mostrem a capacidade profissional e moral exigidas pela leí
(Decreto n9 1.331-À, de ]7 de fevereiro de 1854 art. 10], $ 4Q);
31 de janeiro de 1842, art. 396; cit. Cód. do Proa. Crim. , art. 340);
e assim tambémamp]a liberdade: -- o exercícioda medicinaou qualquerde seusramos,habilitando-
se prèviamente por meio de exame de suficiência perante alguma
1 -- De .culto, com a única restrição de não poderem praticar das respectivasFaculdadesdo Império, ou mostrandoque foram
os cultos acatólicos publicamente ou em casasque tenham a forma professores de Universidade ou Escola de Medicina, reconhecidas
exterior de templo (Const. art. 5Q), sob pena de serem dispersos, pelosseus governos(Decretos nq 828 de 29 de setembrode 1851,
demolida esta forma exterior e cada um multado em 2$ a 12$000 ans. 25 e seis. e nç 1.387 de 28 de abril de 1854, ans. 20 a 32);
(Cód. Crim. art. 276). São isentos de qualquer perseguição --- a arrecadação das rendas nacionais, não sòmente como sócios
por motivo religioso, uma vez que respeitema religião católica de arrematantesnacionais, como até arrebatando-as em seus pró-
apostólicaromana,que é a do Estado,e não ofendama moral prios nomes,vindo assim a gozar de todos os direitos, açõese
pública (Const. art. 179 $ 5ç)
privilégios que dimanam dêstes contratos de arrematação (Av. nç 47
É punido peia ]ei aquêle que abusar ou zombar de qualquer de 26 de fevereiro de 1849)
culto estabelecido no império por meio de papéis impressos, lato-. Os estrangeiros, porém, estão sujeitos a certas especiais
gravados ou gravados, que se distribuíram por mais de 15 pessoas, restrições da liberdade de indústria; assim, é-lhes vedado:
ou por meio -de discursosproferidos em públicas reuniões,ou na
ocasiãoe lugar em que o culto se prestar (Cód. Crim., art. 277).. lç) O comércio de cabotagem, que os tratados declaram

O desejo de favorecer no maior grau a colonização tem levado privativo dos navios nacionais (Trat. com a Fiança de 6 de
os podêres legislativo e executivo a conceder subsídios a pastores junho de 1826,art. 11; com a Inglaterra, de 17 de agosto de
protestantes e para a construção das respectivas casas de oração,. 1827, art. 10; com as Cidades Hlanseáticas, de 17 .de novembro
192
193

de 1827, art. 5ç; com a Austria, de 29 de novembro de 1827,


art. 3ç; com a Prússia,de 9 de abril de 1828,art. 6'; caiu a organizadas para a exploração dêstes terrenos (Decreto n' 465
Dinamarca. de 26 de outubro de 1828, art. 3ç; com os Estados de 17 de agosto de 1846, art. 27 $ 3ç)
Unidos da América, de 12 de dezembrode 1828, art. 39; com Os contratos de locaçãode serviçosdos estrangeirosregulam-se
os PaísesBaixos, de 24 de dezembrode 1828, art. 2'; com Portugal, pela Lei RQ108 de ll de outubro de 1837
de 19 de maio de 1836, art. 8Q etc.). Há, contudo, casos em
IV -- De acionar e defender em juízo os seus direitos, como
que êste mesmo comércio é permitido aos navios estrangeiros
os nacionais, embora não tenham propriedade ou domicílio ]lo
(Decretonç 2.647 de 19 de setembrode 1860,art. 486 e Av.
país; não podendo, porém, pretender a maior favor ou privilégio
nç 215 de ll de agosto de 1864)
do que estes,nem exigir que alguém seja punido por outros meios
Pela Lei n' 1.177 de 9 de setembro
de 1862,art. 23 $$ 4P que não os regularesdas leis (Àvs. de 12 de abril, lç de 30 de
e 6ç, foi o Govêrno autorizado a abolir esta restrição, permitindo abril, 2' de 9 de maio, 3P de 29 de julho de 1831, 14 de setembro
aos ditos navios estrangeirosa navegaçãocosteira entre os portos de 1833)
em que houver alfândegas.
V -- De locomoção;êste direito, porém, esta sujeito a
2ç) Ter parte ou interesse em embarcação registrada como
algumas restrições, que exporemos no parágrafo seguinte
brasileira, sob pena de ser esta apreendida e aplicado o seu produto,
metadepara o denunciante,e outra metadepara o cofre do Ê 3'
Tribunal do Comércio respectivo (Cód. Com., art. 457)
3ç) Servir como mestres (ou caixas em navios de cabotagem), O DIREITO DE LOCOMOÇÃO
e entrar em mais de um torço na tripulação dos nacionais (Àv. de
7 de novembrode 1830Col. Nab., Av. -- Instr. de 23 de Cumpre reconhecer-se que a liberdade de locomoção era em
dezembrode 1840,Cód. Com. ans. 484,492 e 496) grande parte tolhida aos estrangeirospelo Reg. de 31 de janeiro
Também pela citada Lei n' 1.177 de 9 de setembrode 1862, de 1842, ans. 67 a 110, que lhes impunha a obrigação de não
art. 23 $$ 5ç e 6ç foi o Govêrno autorizado a abolir esta restrição viajarem sem passaporte,de se legitimaram e de tirarem título
à liberdade de indústria dos estrangeiros . de residência. Êsses embaraços,porém, foram destruídos pelo
l)ecreto n9 1 . 531 de 10 de janeiro de 1855, que sòmente lhes impõem
Êstes,porém, podem servir de pilotos (Ord. de 30 de janeiro as seguintes restrições:
de 1845), sôbre cujas habilitaçõesvid. Av. nç 472 de 13 de
outubro de 1862. 1 -- Quando chegamao Império,são obrigadosa apresentar
o seu passaporteà visita da polícia, e declararo seu nome,estado,
Quais sejam as condições que devam reunir as embarcações
naturalidade, profissão, fim a que vieram, quando vieram e para
brasileiras, para que gozem das prerrogativas e favores que nesta
onde vão residir; onde não houver estavisita, a declaraçãodeve
qualidade lhes são concedidas, acha-se exposto no Av. n' 301 de
ser feita ao Chefe de Polícia, Delegado ou Subdelegado dentro
14 de outubro de 1864.
de 24 horas, sob a multa de 10$ a 50$000.
4ç) Obter licença e privilégio para a exploraçãode minas
de ouro (Av. n? 132 de 14 de maio de 1849) e de terrenos 11 -- Se o encarregadoda visita, ou a autoridade policial a
diamantinos (Decreto de 25 de outubro de 1832, art. 11; vid. quem são apresentadosos passaportes,nada acha que dúvida
Decretonç 374 de 24 de setembro
de 1845.art. 16). ou entrar, faça, lhes põe o -- üisúo. .estes mesmos passaportes são suficientes
em número .de mais de metade dos membros, nas companhias para que possam viajar de uma província para outra, ou -dentro
delas, devendoao -- t,lsfo ajuntar-se a cláusula -- para a pro-
195

província de Mato Grosso pelos rios Paraguai e Parada, ou


uíncia de. . .; o que se deve repetir sempre que saírem de unia Viajarem dentro dela ou para as outras províncias, devem-seregular
província para outra. pelo Decreto cÍt. Hç 1 .531 de 10 de janeiro de 1855, subsistindo,
111 -- Havendo dúvida sôbre a legitimidade do passaporte, porém,o regulamento
de 7 de julho de 1853 (que vemjunto ao
cu vindo algumestrangeirosemêle, as autoridadespermitemo Av. de 29 de setembrode 1855), quantoà comunicaçãoentre o
desembarque,quando não suspeitam que é malfeitor . Sendo suspeito Império e a Bolívia.
e não apresentando
atestadodo Ministro ou, na falta dêle,o do
cônsul ou vice-cônsul, as autoridades policiais obrigam o navio Segundo os princípios do direito das gentes, nenhuma nação
que o trouxe a reexportá-lo, dando conta disto ao Govêrno na pode ser compelidaa receber estrangeirosno seu território, e só
Côrte e ao Presidente nas Províncias. os recebe quando julga que a sua admissão nenhum inconveniente
IV -- Quando o estrangeiro não traz passaporte, ou o perde, Ihe pode causar. É, pois, manifesto que, uma vez recebido a
estrangeiro, se a sua presença puder ocasionar pulgas para a
o -- uísfo é lançado no passaportepassadopelo Ministro, Cônsul
ou Vice-Cônsul . tranqüilidade pública oü quaisquer outros males, embora sem a
participação de sua vontade, tem o Govêrno o direito de retirar-lhe
V -- Podem viajar livremente, como os nacionais, os estran- a permissãode residir no país-
geiros que residem no Império por dois anos, tendo algum
estabelecimento e bom procedimento; e os que são casados com Esta faculdade de obrigar o estrangeiro,julgado perigoso, a
brasileira. obtendo do Chefe de Polícia atestado de algumas destas ausentar-sedo território nacional, independentementede processo
condições. e condenação judiciária, é o que se chama direito de deportação

VI -- Não havendo agente diplomático ou consular, ou sendo (Pare. de 6 de novembro


de 1822anexaao Av. 2q de 14 de
julho de 1828, Pare. 1+ de 5 de janeiro de 182'í, 3 de setembro
o estrangeiro refugiado. ou colono. e não estando nos casas
de 1825. 4 de novembro de 1833 etc.) .
mencionados no número anterior, o passaporte deve ser passado
pelas ditas autoridades policiais, sendo gratuito para o colono Aquêles que, tendo cometido certos crimes graves que im-
ou indigente. portam pena aflitiva ou infamante, vão se refugiar no estrangeiro.
São competentespara concederpassaporteou o -- uísfo, os estão sujeitos a serem reexportados e entregues aos seus res-
Ministros de Estado; os oficiais maiores das respectivassecretarias pectivos governos; é o que se denomina -- exfradlção.
aa Côrte; os presidentese seussecretáriosnas capitais das pro- Ela só pode ser determinada pelo Govêrno e nunca pelo Poder
l víncias;os Chefesde Polícia,em sua falta os Delegadas,e na Judiciárioou por qualqueroutra autoridadeem execuçãode ordens
falta de uns e outros os Subdelegados, no lugar do embarque
de prisão ou sentenças condenatórias, emanadas de tribunais
ou da saída.
estrangeiros.
Os estrangeiros, bem como os nacionais, residentes na pro'
Quando a pessoa,que tem de sofrer a extradição, estácumpria'
vencia do Amazonas, que pretendem passar as fronteiras para país
do sentença no país ou sendo processado por outro crime, não
estrangeiro, estão sujeitos a certas medidas especiaisexaradas
no Decreto n9 1.729 de 23 de fevereiro de 1856; vid. Decreto pode verificar tradição, enquanto não terminar o processo
n' 3.216 de 31 de dezembro
de 1863,art. 23. ou cumprimento de.sentença,salvo se o poder moderadoro agradar
por êsse delito. Quando sucedeque haja cometido crimes em mais
O Av. u9 355 de 25 de outubrode 1856declarouque os de um país e seja reclamado pelos respectivos governos, é atendido
passaportesde nacionais e estrangeiros que entrarem e saírem da
196 197

de preferência aquêle em cujo território tiver cometido o maior A extradição de criminosos foi convencionadacom a República
delito e, sendo de igual gravidade, o que primeiro reclamou . do UruguaipeloTrat. de 12 de outubrode 1851art. lç; com
As despesascom a prisão, detençãoe transporte do criminoso a do Peru pelo Trai. de 23 de outubrode 1851art. 3q;com a
do Equador pelo Trat. de 3 de novembro de 1853, art. lç; com
são feitas por conta do Govêrno reclamante,salvo quando o con-
a ConfederaçãoArgentina pelo Trat. de 14 de dezembrode 1857,
trário estiver convencionado (Trat. com Post. de 12 de janeiro art. 9'; com Portugal (a dos falsificadores de moeda) pelo
de 1855 art. 13)
Trat. de 12 de janeirode 1855,art. 7ç, vid. Trat. de 19 de
Para que se realize a extradição, são necessáriasas seguintes maia de 1836, art. 79
condições (Trat. com a Rep. do Equador de 3 de novembro
de 1853): A extradiçãode desertoresdo serviço militar de mar e terra
foi ajustadacoma Confederação
Argentinapelo Trat. de 7 de
[ -- (]ue os crimes, pecos quais se reclama, tenham sido março de 1856 art. 9Ç. Sôbre a prisão de desertores dos navios
cometidos no território do Govêrno reclamante estrangeiros vid. Av. n' 360 de 29 de outubro de 1856; sôbre
a dos marinheiros e mais pessoas que fazem parte das equipagens
11 -- Que êstes crimes, por sua gravidade, sejam capazes
dosnavios,vid. Conv. Cons. entre o Bus. e a Fran. de 10 de
de põr em risco a moral e segurançados povos,como os de
assassinato aleivoso, envenenamento. roubo. incêndio. bancarrota dezembro
de 1860,art. 9P,Decretonç 2.787 de 26 de abril
de 1861
fraudulenta, fabricação ou introdução de moeda metálica falsa ou
qualquer papel que circule como moeda nas estaçõespúblicas,
falsificação de escrituras públicas, de notas de bancos autorizados $ 4'
ou de letras de câmbio, subtração de dinheiros ou de fundos,
cometida por depositários públicos, ou por empregados à cuja OS DIREITOS DOS CÔNSULES E VICE-CÔNSULES ESTRANGEIROS
guarda tenham sido confiados. EM GERAL

[11 -- (]ue estejam provados os crimes, de maneira que as


leis .do país, do qual se reclamoua extradição,justificassema Pôsto que, em geral, estejam os estrangeiros sob a proteção
prisão e acusação,se o crime fôsse cometidodentro da sua dos Ministros diplomáticos das suas respectivas nações, não
jurisdição. trataremos agora dêstes, nem de suas imunidades, honras e isenções,
visto que as suas funções são antes de natureza política do que
IV -- Que o criminoso seja reclamado diretamente, ou por
intermédio do representanteda nação onde realizou-se o delito . administrativa. O contrário, porém, sucede com as dos agentes
consulares, que, já por êste motivo, já por se acharem espalhados
Não pode ter lugar a extradiçãonos seguintescasos:
por diferentes pontos do território, estão em mais imediato contato
1 -- Quando o criminoso reclamado é cidadão do país, a com os seus nacionais, bem como com as autoridades locais; razões
cujo Govêrno se faz a reclamação. estas, que tornam indispensávelo conhecimentomais individuado
dos seus direitos .
11 -- Nos casosde crimespolíticos;e quandoela é concedida
pelos crimes anteriormente enumeradosnão pode o delihüente ser Os cônsules e vice ules estrangeiros no Império, depois
processadoou punido por quaisquer crimes políticos anteriores à que obtêm o exeqízafzzz'
imperial para as suas nomeações,entram
sua entrega, estejam ou não conexos aos crimes que deram lugar no livre exercício das funções do seu cargo que, sem ofensa das
à extradição leis do país, lhes são incumbidas pelos seus governos . Compete-lhes
199
198

marinheiros e soldados que desertam dêles ou dos de guerra,


(Decretosn' 855 de 8 de novembrode 1851 e nç 2.127, de 13 de sendo. porém, obrigados os mesmos cônsules e vice-cônsules pelas
março de 1858, Av. nç 325 -de 15 de julho de 1862): despesas que tais indivíduos fazem nas prisões .
1 -- Favorecer e promover a navegação e comércio legal V -- Nomear agentes consulares, achando-se especialmente
de seus nacionais; protege-los contra medidas ilegais; assisti-los autorizados para êste fim pelos seus governos, e devendo estas
em suas justas pretensões perante às autoridades locais; recorrer. nomeações, feitas pelos cônsules, ser submetidas ao imperial --
no caso de denegação de justiça da parte delas, ao Govêrno cxeqzlafur. Compete a estes agentes representar os respectivos
Imperial por intermédio do Agente Diplomático da sua nação, ou cônsules. sob a responsabilidade dêstes, na arrecadação das heranças
diretamente se não o houver; representar pelo mesmo modo sôbre (na forma dos parágrafos seguintes), e na dos objetos salvados
as medidas adoradas que afetem ou tendam a prejudicar o comércio dos navios que naufragaremno distrito da agência;assim mais
e a navegaçãodo seu país; e finalmentepraticar outros fitos passar certificados de vida, de residência, .e outros de semelhante
administrativos, tais como receber as declarações,protestos, têrmos .,atureza os quais para terem validade devem ser visados pelo
e outros documentos que lhes apresentarem os capitães de navio Cônsul Chefe do Distrito.
da sua nação, legaliza-los. passar certificados de contratos marítimos, VI -- Nos negócios civis e nos delitos individuais que
de casamentosentre os seus nacionais, e outros desta natureza. cometem. os Cônsules e Vice-Cônsules são sujeitos à jurisdição
segundo os seus regulamentos ou as ordenanças dos seus governos. das autoridadesdo Império, quer se trate de negócioque Ihe
11 -- Exercer a autoridade .de juízes árbitros nas questões seja diretamente relativo, quer êste pertença a terceiro e se torne
relativas aos salários das tripulações,e em tôdas as civis que se a sua intervenção como simples particular necessária, guardando-se,
movem entre os seus nacionais, que as compõem,entre os capitães porem. para com êles tôdas as atenções usadas no foro, quando
de diversos navios de sua nação, e nas causasdç comércioentre as citações e intimações se dirigem às pessoasque exercemcargos
as seus concidadãos quando êssesnão preferem recorrer às auto- públicos de elevadacategoria,e dando-se-lhes,não sendo.réusem
ridades do império, e não se acham envolvidos em tais questões matéria crime, assento ao lado da autoridade ou presidente do
direitos de qualquer habitante do império de .diversanacionalidade. Tribunal perante o qual comparecem,salvo quando são negociantes
111-- Tomar conhecimento, segundo os seus regulamentos, ou exercemalgumaoutra indústria no país, e a questãoversa
dos delitos cometidos a bordo dos navios de sua nação por indivíduos sôbre objetos do seu comércio ou indústria, porque neste caso
da tripulação, uns contra outros, durante a viagem, contanto, observa-se para com êles o mesmo procedimento que a respeito
porém, que nem o ofensor nem o ofendido sejam súditos do império, de qualquer outro indivíduo particular
porque em tal caso, não obstante fazerem parte -da mesmatripulação, Vll -- Semente nos delitos que cometem como negociantes,
compete exclusivamente às autoridades locais o conhecimento dêstes ou nos de tal gravidade que não adm.itemfiança, se.pode proceder
delitos.
a sua prisão semautorizaçãodo Govêrno,o qual o faz julgar
Quando os navios mercantes estrangeiros acham-se dentro neto Tribunal competente.quando entendeque, ou em razão das
de qualquer dos portos do Brasil, a jurisdição criminal e policial circunstâncias de que o delito é revestido ou por motivo ponderoso,
dos respectivos agentes consulares não se estende aos delitos não deve entrega-lo ao Govêrno .do qual é súdito, para que o faça
graves, ou que por qualquer modo possamperturbar a tranqüilidade julgar, ou que não basta expelí-lo do império ou cassar
pública, ou afetar particularmente a qualquer habitante do país. -- exeqtlafur
IV -- Requisitar das competentes autoridades territoriais a Quanto às funções dos Cônsules, Vice-Cônsules e Agentes
llecessária intervenção e apoio para o exercício de suas funções Consula.es na arrecadação das heranças, pertencentes aos membros
a bordo dos ditos navios, bem como para a prisão e entrega dos
200 - 201

das suas nações,delas especialmente


trataremosnos parágrafos falecidos no império, bem como a relação que com esta matéria
seguintes.
tem a colonização,uma das mais imperiosasnecessidades
a que
Os arquivos, documentos e correspondênciaoficial das Côn- o Govêrno deve atender, a tomam digna de especial estudo.
sules e Vice-Cônsules estrangeiros são isentos de busca, e de tôda Apesar do benéfico influxo do cristianismo, já o dissemos,
e qualquer investigação e exame por parte das autoridades do os estrangeiros não foram nas legislações modernas colocados em
Império. No caso de prisão ou expulsão de um agente consular, pé de igualdade para com os nacionais, quanto aos direitos não
sem haver quem o substitua no lugar, devem ser os ditos arquivos, políticos.
documentos e correspondências cuidadosamente conservados. sendo
Assim conservou-sepor muito tempo, e ainda hoje, conserva-se
lacrados e selados pelo dito agente, e pela primeira autoridade ern algumas nações civilizadas, o direito de aZbfnagíoou a exclusão
judiciária que residir no termo.
dos estrangeiros
quantoà sucessãodos bens do que morre no
Os Cônsules não são isentos do pagamento dos impostos país, atribuindo-a ao fisco, direito derivado dos romanos. -- (2ui
(Ord. nç 132de 9 de novembrode 1847e Av. nç 94 de 18 de deportantut, si hetedesscribantut, tanquam perigrini capote non
abril de 1864); nem têm a atribuiçãode abrir testamentos(Av. possunt,sed hereditasin ea causaest, in qua esset,si scripti non
n' 305 de 19 de outubro de 1864). flzíssenf (Const. l Cód. De hered. ínstit. -- VI, 24; víd. Ulp.
Às casasem que residemnão gozam.do direito de asilo, nem fr. 6 $ 2' D. De hered,ínstit. -- XXVl11 5)
obstam as citações, prisões e execução de quaisquer mandados Abolido na França o direito de aZbi/zagíopelo Decreto de 8 de
das justiças do país, guardadasas devidasatençõese as garantias abril de ]791, foi restabelecido pelo Código Civil (art. 912) em
e formalidades estabelecidas pelas leis .
relação às nações que também o praticassem, e afinal definitiva-
Tôdas estasconcessõessão feitas na hipótesede encontrarem menteaniquiladopela Lei de 10 de julho de 1819. Hoje os
reciprocidade; quando, porém, algum país se negue a ela, o Govêrno estrangeiros
têm o direito de suceder,de dispor, de receber,do
Imperial tem o direito de retirar aos seus Cônsulese súditos qual- mesmo modo que os franceses, em tôda extensão do Império
quer das ditas concessões,ou tôdas, de modo a estabelecera reci~ (Troplong -- Des donat, entre viés et test, nP 734)
probidade
Na Inglaterra o estrangeiro amigo pode adquirir bens móveis
Os brasileiros que exercem as funções de Cônsules e Vice- e exercer a respeito dêles a facção testamentária, aviva e passiva;
Cõnsules estrangeiros no Brasil não deixam por isso de estar não assim o estrangeiro inimigo, sendo os legados deixados a êste
inteiramente sujeitos à jurisdição ordinária do país, e são proces- devolvidos ao rei. Quanto aos bens imóveis, a antiga proibição
sados e punidos por ela sempre que cometem algum crime, qualquer absolutade adquiri-losé hoje substituídapela faculdadede possuí-
que seja a sua gravidade. Estas funçõestambémnão isentam dos los por prazo não excedente a 21 anos ('Westoby -- Res. de
cargos públicos e do serviço da guarda nacional, quando por leg. ingl.).
outros motivos não sejam isentos (Leí nç 602 de 19 de setembro A reciprocidade quanto ao direito de a/bínagío é o princípio
de 1850, ans. 9Pe seis).) geralmente admitido pela Holanda, Bélgica, Prússia Rhenana.
Ãustria, 'Wurtemberg,Baden, Sardenha,e em geral pela Itâlia,
$ 5. Ilhas Jónicas,Suécia e Noruega, Sérvia e vários cantõesda Suíça;
A ARRECADAÇÃO DE HERANÇAS
nos demais Estados alemães prevalece êste direito em relação aos
estranhos à confederação (St. Joseph, Concord. des Cod. Civil)
Às numerosase graves questõesdiplomáticas a que tem .dado Para honra de Portuga], nunca êste país sancionou êste bárbaro
ocasião a arrecadação das heranças -deixadas pelos estrangeiros direito; os estrangeirossempreforam admitidosa suceder,tanto
. 202
V 203

nos bens móveis como nos imóveis, e a transmiti-los a seus legítimos Pôsto que assim colocados os estrangeiros em posição idêntica
herdeiros .do mesmo modo que os nacionais . a dos nacionais,quanto à arrecadaçãodas herançaspor êles
No Brasil, como em todo ultramar e ilhas pertencentes
a deixadas ou em que têm parte, e admitida a intervenção dos seus
Portugal, a arrecadação das heranças dos estrangeiros, que nãa cadentesconsulares, não se mostraram ainda satisfeitos; repetidas
deixavam herdeiros ou testamenteirosna terra. era da competência reclamações têm sido feitas pelos Ministros diplomáticos de diversas
da prol,edoz'!ados defíznfos e azzsenfes(Regam. de 10 de dezembro nações no sentido de alargar esta intervenção e até de excluir
de 1613, Prov. de 4 de junho de 1731, Res. de 12 de novembro a jurisdição das autoridadesbrasileiras em alguns casos.
de 1726.insertana de 8 de fevereirode 1748,Prov. de 18 de Para satisfazer estas reclamações, tanto quanto o permite
junho de 1677) Extinta a provedoria.passoua ser feita esta a respeito devido aos direitos e interêsses nacionais, o Govêrno
arrecadaçãopelos juízes de órfãos, atribuição que ainda até Imperial,autorizadopela Lei de 28 de outubrode 1848,art. 46,
hoje exercem, (Lei de 3 de novembro de 1830, Decretos Hç 143 expediu o Decreto -- Reg. nç 855 de 8 de novembro de 1851,
de 15 de março de 1842,art. 5ç $ 1l e n' 2.433 de 15 de junho cujas disposiçõesliberais sòmente devem vigorar acerca dos súditos
de 1859art. 33 etc.) daquelas nações que por meio de tratados ou notas reversais
estabelecerema reciprocidadepara com o Brasil, devendo o .Go-
Autorizado pela Lei R9243 de 30 de novembro de 1841,art. 17, vêrno Imperial manda-lasexecutara respeito de cada uma destas
expediu o Govêrno Imperial o Decreto -- Reg. de 9 de maio nações por decretos especiais. Estas disposições são as seguintes:
de 1842,.para melhorar êste serviço e dar mais segurança ao direito
1 -- Logo que falece um estrangeiro domiciliado no Brasil,
das partes, igualando a arrecadaçãodas herançasdos estrangeiros
intestado, que não tem cônjuge na terra nem herdeiros, reconhecidas
à dos nacionais,quandonão houvessem tratados em contrário
mente tais, presentes, aos quais, conforme o direito, pertença ficar
(art 43). Determinou,porém, que todos os aros judiciais ou
administrativos, relativos a estas heranças,sejam feitos com assistên- em possee cabeçade casalpara proceder
a inventárioe dar
partilha; ou embora faleça com testamento, sendo estrangeiro os
cia dos respectivos Cônsules ou de pessoa por êles autorizada, herdeiros, e estando ausentes; e assim também estando ausentes
sendo para êste fim avisados pelo juiz, e procedendo-se à sua os testamenteiros,procedeo juiz de defuntos e ausentescom o
revelia, quando não comparecerem. Pe]os Avs. nç ]02 de 29 de respectivo agente consular à arrecadação da herança, cuja guarda
outubro e n' 125 .dé 28 de dezembrode 1844 declarou-se que é confiada ao mesmo agente, dando logo o dito juiz princípio
nem um tratado existe que obsta a esta arrecadação,salvo os ao inventário exHof/leio, e prosseguindoHse nêle em presença do
artigosperpétuos
do tratadocom a Fiança(Circ. de 25 de Agente Consular. Não tem, porém, lugar a ingerênciadêste,
setembro de 1855, Jorn. nq 312) quando algum herdeiro, reconhecidamentetal, é cidadão brasileiro,
Êste sistema de arrecadação foi reformado pelo Decreto -- pôsto que esteja ausente
Reg. nq 422 de 27 de junho de 1845, que no art. ll declarou que, 11-- Concluído o inventário, são os bens da herançacon-
na assistência facultada aos Cônsules na arrecadação das heranças
fiados à administração e liquidação do Agente Consular, que não
dos defuntos e ausentes de suas nações, deve-se entender permitida
pode dispor dos mesmosou do seu produto, nem devolve-losaos
a faculdade de requererem perante as autoridades do país tôdas seus legítimos herdeiros, até se reconhecer, precedendo anúncios
as providências legais que forem conducentesà boa arrecadaçãoe publicados nos jornais, imediatamente depois da arrecadação,que
administração das mesmas heranças; e bem assim o direito de serem não compareceudentro de um ano, credor algum à mesmaherança;
ouvidosa respeito da escolhae nomeaçãodos curadorese adminis- ou enquantopende alguma questãojudicial sôbre ela, ou não são
tradores dos bens delas.
pagos os direitos a que está sujeita pelas leis do império. q
204 205

Para se verificar se tem ou não lugar o pagamento de direitos. Vll -- Nem os Agentes Consulares, nem os administradores
deve o Agente Consular mostrar, por documentossuficientes e da herança, podem pagar qualquer dívida do defunto sem autori-
devidamente
legalizados,qual é o grau de parentescoentre o zação do juiz, que também não pode ordenar o seu pagamento
falecido e seu herdeiro ou herdeiros. sem audiência dêles. Quanto às despesasdo funeral, deve o juiz
111-- Decorrido o ano de que se trata no número precedente, autoriza-las logo ou, em sua falta, a autoridade policial .do distrito,
não pendendo questão judiciária sôbre a herança, pagos os direitos tendo em atençãoas fôrças da herança.
fiscais,ou verificado que não tem lugar o seupagamento,o Agente Vlll -- Às heranças, deixadas pelos Agentes Consulares
Consular pode -dispor da herança e remeter o seu produto a quem.
estrangeiros, são arrecadadas pelo mesmo modo por que o são as
de direito fõr, segundo as instruções que tiver, sendo então consi
dos membrosdo corpo diplomático, exceto quando aquêles têm
derado pelos tribunais do país como representantedo herdeiro.
exercido alguma indústria no país, porque então se procede segundo
para com o qual é o único responsável.
a regra geral.
[V -- (quando aparecem dúvidas, ou pendem questões que
afetaín sòmenteparte da herança, pode o Agente Consular. Segundo os princípios de direito das gentes geralmente rece-
decorrido um ano, e satisfeitas as condiçõesmencionadasno ne ll. bidos, por morte do Ministro diplomático,o seu secretárioou
outro Ministro da mesma nação, quando haja, procede à aposição
dispor, na forma acima declarada, da parte líquida e desembaraçada
da herança, feito o depósito público da quantia correspondenteà dos selos nos seusbense ao respectivoinventário; na sua falta, estes
importância da dívida ou questão pendente, ou reservado o objeto fitos são feitos pelo Ministro de algumaCôrte aliada e, só em
sôbre que esta versa. caso extremo e com tôdas as devidas cautelas, pelas autoridades
do país. A viúva e famíliado Ministro morto gozampor algum
V -- Quando no lugar onde falece o estrangeiro não existe
tempo, (que lhes é fixado), das imunidadesa que êle teria direito
Agente Consular de sua nação, o juiz dos defuntos e ausentes
se estivesse vivo; a partilha da herança, livre de quaisquer impostos,
procede à arrecadação e inventário da herança em presença de
se regula pelas leis -do país do defunto. (Martens -- Dr. des
duas testemunhasfidedignas, da nacionalidadedo finado, e, na
Gene. $$ 217, 242 e seis., Heffter, Le Dr. intern. publ. $ 225)
falta destas,em presençade dois negociantesou proprietários de
confiança, sendo aquelas ou estesos administradores ou liquidadores IXI -- Os Agentes Consulares são competentes para praticar
da herança,até que se proveja sôbre o destino do produto líquido o que julgarem conveniente para a salvação dos navios da respec'
e não controvertidodela. Estesadministradores
têm direito a uva nação,naufragadosnas praias do Brasil, bem como dos seus
percebera percentagemque as leis do império estabelecem
para os pertences e carregamentos, salvo a intervenção das autoridades
curadores de semelhantes heranças; assim também os emolumentos locais para socorrer os náufragos, manter a ordem, garantir os
do juízo são os mesmos que se pagam nos casos semelhantes. interêsses, tanto das proprietários do casco e carregamento, como
VI -- A fim de que o Ministro dos Negócios Estrangeiros os da Fazenda Pública, para a legalidade do inventário, autentici-
se entenda com a legação ou Agente Consular respectivo sôbre dade dos objetos naufragados, seu depósito na alfândega, e para
o destino do líquido da herança, no caso do número antecedente. todos os incidentes que podem tornar suspeito o procedimento do
deve o juiz remeter he, dentro de 15 dias depois que tiver notícia capitão, pilõto, ou quaisqueroutros condutoresdo navio naufragado.
do falecimento do estrangeiro, a certidão de óbito e uma informação X -- Q.uando o estrangeiro falecido tiver sido sócio de alguma
sôbre a idade, a residência, lugar do nascimento, profissão e o sociedadecomercial,quer esta deva dissolver-sepor sua morte
que constar acerca dos bens e parentes do falecido. quer haja de continuar, sòmente compete ao juízo dos ausentes ou
206 207

ao respectivo consular arrecadar a cota líquida que ficar pertencendo (Vid Sr. Dr. Perdição MalheiroLMan. do Proa. dos Feitos
à herança, não podendo ingerir-se na administração, líquidaçãa da FazendaNacional.tít.' 3 cap. I'; Sr. Dr. Peneirade Barras,
e partilha da sociedade,salvo sòmenteo direito do Agente Con- Consid . sôbre heranças jacentes)
sularde requerero que fõr a bemda herança(Reg. cit. art. 9q
e Cód. Com. , art. 309) 1 6'
XI -- No caso do sócio falecido ter sido o caixa ou gerente
da sociedade, ou, quando não fôsse, sempre que não há mais AS oONVENÇÕES CONSULARES
de um sócio sobrevivente, e ainda, fora dêstes dois casos, quando
o exige um númerotal de credores-
que representemetadede Fundada na disposição genérica e vaga do art. 4ç do tratado
todos os créditos, nomeia-se novo caixa ou gerente para a ultimação de 8 de janeiro de 1826e I' dos adicionaisde 7 de junho do
das negociações pendentes, procedendo-se à liquidação e partilha mesmo ano, mostrava a legação francesa sempre insatisfeita, por
pela forma determinadano art. 344 e seguintesdo Código do mais largas q.ue fossem as concessõesfeitas pelo .Govêrno da
Comércio,com a única diferença de que os credorestêm parte na Brasil aos Cônsulesestrangeiros,como vimos nos parágrafosante-
nomeação da pessoa ou pessoas a' quem se deve encarregar a cedentes. A prolongada discussão, que sôbre êste assunto travou-se,
liquidação. terminou pela convençãocelebrada entre os dois países.a 10 de
Xll -- A doutrina exposta no número X também tem lugar dezembro de 1860, cujas ratificações foram trocadas a 31 de março,
quando o estrangeiro falecido não tem sócio ou não é comerciante. e cuja promulgação
teve lugar pelo Decretouç 2.787 de 26 de
mas tem credorescomerciantes,devendo-seentão nomear dois abril de 1861

administradorese um fiscal, para arrecadar,administrar e liquidar Tanto pela importância desta convenção.como porque as suas
a herançae satisfazertôdas as obrigaçõesdo falecido; esta estipulações'
serviramde tipo a outras que se celebraramcom
nomeação,bem como a do caixa no caso do número antecedente. diversas nações, trataremos dela mais circunstanciadamenteneste
se efetua pelo modo determinado nos ans. 309 e 310 do Código parágrafo.
Com. (Vid. Decreto 2.433 de 15 de junho de 1859, art. 33). 1 -- Direitos, privilégios e imunidadesconsulares(cit. Conv.
Pôsto que manifestas sejam as largas concessõesdo Reg. de con. a-ts. I' a 5')
8 de novembro de 1851, como eram feitas sob a condição de IQ) Os Cônsules Gerais, Cônsules, Vice-Cônsules e Agentes
reciprocidade, foram recusadas por algumas nações. que entenderam Consulares são admitidos e reconhecidos depois de apresentarem
não dever alterar as suas legislações sôbre êste assunto mais ou as suas patentes, segundo a forma estabelecida nos respectivos
menos discordantes da nossa. territórios. O exeqtzafar lhes é dado grafís, e à exibição dêste
as autoridadeslocais, administrativase judiciárias, lhes devem
Assim, sòmente êste regulamento foi mandado executar a
permitir o gôzo imediato das prerrogativas inerentes às suas funções
respeitode Portugalpelo Decreton' 882 de 9 de dezembrode no distrito consular respectivo .
1851; da cona:ederaçãoHelvética pelo Decreto nQ 1.062 de 6 de
novembro de 1852; do ducado de Palma pelo Decreto n' 1.143 2ç) Competem-lhes, bem como aos chanceleres adjuntos à
sua missão, os privilégios geralmente concedidos a estes cargos,
de 12 de abril de 1853;e do Uruguai pelasnotasreversaisde 13 de
tais como, a isenção de alojamento militar e de tôdas as contribuições
novembro e 21 de dezembro de 1857, trocadas entre a legação
diretas, tanto pessoaiscomo de bens móveis ou suntuáríos,salvo se
imperial e o govêrno desta república (Cite. nP 86 de 18 de se tornarem proprietários ou possuidores temporários de bens
fevereiro de 1856).
imóveis. ou se exercerem o comércio, ficando nestes casos sujeitos
209
208

9') Os chefes das missões consulares, logo que chegam ao


as mesmastaxas, encargose contribuições,
que os outros par
titulares. país da sua residência, devem mandar ao govêrno uma lista nominal
das pessoasque fizerem parte das mesmasmissões,bem como
3P) Assim também não podem ser intimados a comparecer comunicar-lhe qualquer alteração que posteriormente houver nesse
perante os tribunais do país para darem qualquer informação; pessoal.
quando, porém, êssesnecessitam dela, devem pedi-la por escrito,
ou transportar-se a seu -domicílio para a receberem de viva voz
10q) Se um brasileiro fõr nomeadoCônsul ou Agente Con-
sular da Fiança, continua,contudo,a ser consideradosúdito da
4ç) Além disto os CônsulesGerais,Cônsulese Vice-Cõn. nação brasileira e sempre sujeito às leis e regulamentos desta, sem
bules, gozam da imunidade pessoal, exceto pelos fatos e ates que que entretanto esta obrigação possa coartar o exercício de suas
a legislaçãopenal da Fiança qualifica crimes e pune como tais. .funções,ou infringir a inviolabilidadedos arquivos consulares.
Sendo comerciantes, só estão sujeitos à prisão nas causas comer-
ciais e não nas civis llç) Estes arquivos e, em geral, os papéis da chancelaria
dos consulados são invioláveis, e não podem ser, sob qualquer
5ç) Têm o direito de colocarpor cima da porta exterior da pretexto e em caso algum, apreendidos ou examinados pela auto-
sua casa as armas da sua nação com a inscrição -- Consta/ado ridade local.
da Franca, e o de arvorar a bandeira nacional nos dias solenes
de festas nacionaisou religiosas-- Não têm o direito de asilo. 12ç) Os Cônsules-Gerais, Cônsules e Vice-Cônsules respecti-
e bem assim os alunos consulares, chanceleres ou secretários,
6') Podem dirigir-se às autoridades locais. e. em caso de têm direito a quaisquer outros privilégios, isenções e imunidades
necessidade,na falta de agente diplomático, da sua nação, recorrer que para o futuro forem concedidosaos agentesda mesmacategoria
ao govêrno superior do Estado para reclamar contra qualquer da nação a mais favorecida.
ínfração, que tiver sido cometida pelas autoridades ou funcionários
11-- Funçõesde notariado(cit. Conv. Cons. art. 6')
públicos, aos tratados ou convenções existentes entre os dois países,
ou contra qualquer outro abuso de que se queixam os seus lç) Os Cônsules Gerais, Cônsules e Vice-Cônsules respecti-
nacionais; e assim também têm o direito de dar todos os passos vos têm direito de receberna sua chancelaria,ou a bordo dos
que julgarem necessáriospara obter pronta justiça. navios de seu país, as declarações e mais atou que os capitães,
equipagens e passageiros, negociantes e súditos de sua nação,
7ç) Tanto os Cônsules Gerais coma os Cônsules podem quiserem ali fazer, inclusivamente os testamentos, as disposições
]iomear Vice-Cônsules ou Agentes Consulares para servirem sob de última vontade, ou quaisqueroutros atos de tabelião, ainda
as suas ordens nos lugares do seu distrito consular, onde os julgarem quando tenham por fim conferir hipoteca.
necessáriosa bem do serviço que lhes está confiado, salvo a
aprovação e exeqzzafzzz'
do Govêrno Imperial. 2Q) Têm além disso o direito de receber em sua chancelaria
quaisquer ates convencionais entre um ou mais de um concidadão,
8P) Os alunos consulares gozam dos mesmos privilégios e
e pessoas do país, ou que sòmente interessem a súditos dêste,
imunidades pessoais dos Cônsules Gerais. Têm o direito. bem
contanto que estes ates se refiram a bens situados na Fiança ou
como os chanceleres ou secretários, em caso de morte, impedimento negóciosque tenham de ser tratados aí.
ou ausência dos Cônsules Gerais, Cônsules e Vice-Cônsules. de
gene interinamente os negócios do estabelecimento consular. 39) Os traslados dêstes ates, devidamente legalizados pelos
devendo para êste fim as autoridades locais prestar-lhes todo o Cônsules Gerais, Cônsules e Vice nsules, e selados com 'o selo
.auxílio e l:avos oficial do consulado ou vice-consulado, fazem fé perante qualquer
210
Y' 211

tribunal ou autoridade do país, como se fossem originais, e têm deve êste sem demora e sem mais formalidades proceder àqueles
a mesma fôrça e validade, como se tivessem sido passados perante dois aios.
os tabeliães e mais oficiais competentes do país; contanto que êstes 5ç) Os ditos funcionários consulares devem proceder segundo
aros sejam lavrados conforme as leis francesase tenham sida o uso do paísà vendade todosos bensmóveisda sucessão
que
prèviamente submetidos ao solo, registro, insinuação ou quaisquer se possam deteriorar; podem administra-los ou liquida-los pessoal-
outras formalidades exigidas pelas leis brasileiras. menteou nomearsob sua responsabilidade
um agente para êste
{') (quando, porém, estes ates se referem a bens imóveis, fim, sem que a autoridade local tenha que intervir nestes novos
situados no Brasil, é mister que o tabelião ou escrivão competente fitos, salvo quando um ou mais súditos do país ou de terceira
do lugar assista à sua celebração, e os assine com o chanceler ou potência têm direitos a fazer valer a respeito dessa sucessão.Neste
o agente, sob a pena de nulidade. caso, havendo reclamação que .dê lugar à contestação, é levada aos
tribunais do país e por êste julgada, procedendo os Cônsules
111-- Funções de arrecadaçãode heranças (cit. Conv. Cona. sòmente como representantes da sucessão. Proferido o julgamento,
art. 7ç) :
o Cônsul Ihe deve dar execução ou apelar. se julgar conveniente.
lç) No caso de morte de um súdito francês,as autoridades 69) São demais obrigados a anunciar a morte do falecido
locais competentes devem imediatamente noticia-lã aos Cõnsules- em um dos jornais de seu distrito, e não podem fazer entrega da
Gerais, Cônsules ou Vice-Cônsules do distrito, e estes àquelas, herança ou do seu produto aos legítimos herdeiros ou aos selas
caso primeiro tenham disto conhecimento
. procuradores, senão depois de pagar tôdas as dívidas contraídas
2ç) No caso de não terem os falecidos .deixado herdeiros, pelo defuntono país,ou depoisde decorridoum ano do dia da
morte sem haver-seapresentadoreclamaçãoalguma contra a
nem designado testamenteiro, ou quando os herdeiros não sejam
herança.
conhecidos. estejam ausentes ou sejam incapazes, ainda quando os
órfãos sejam nascidos no Brasil, devem os Cônsules Gerais, Côn- IV -- Funçõesde polícia (cit. Conv. Cons. ans. 8' e 9ç).
sules ou Vice-Cônsules, põr os selos com a maior brevidade Em tudo o que diz respeito à polícia dos portos, carregamentoe
descarga dos navios, segurança das mercadorias, bens e efeitos,
possível ex o//feio, ou a requerimento dos interessados, em tôda
os súditos franceses são sujeitos às leis e estatutos do país. Entre-
a mobília e papéis do falecido, prevenindo com antecipação dêste
tanto, competeaos CônsulesGerais, Cônsules e Vice-Cônsules:
ato a autoridadelocal competente,
que pode assistir a êle, e,
quando julgue conveniente, cruzar os seus selos com os do Cônsul, lç) Velar sôbre a ordem interior a bordo -dos navios de sua
nação, e tomar conhecimento de tôdas as desavenças entre o
não podendo estes selos duplicados seremtirados senão de comum
acôrdo. capitão, os oficiais, e os indivíduos que estiverem compreendidos
por qualquer título que seja no rol da equipagem. As autoridades
3') Cumpre-lhes mais fazer o inventário de todos os bens locais, porém, podem intervir, quando as desordens daí resultantes
e efeitos que o falecido possuir, em presençada autoridade local são de natureza a perturbar a tranqüilidade pública, ou quando
competente, caso esta julgue dever comparecer . uma ou mais pessoas-do país ou quaisqueroutras estranhasà
4ç) Tanto para o processo da aposição dos selos, como para equipagem, nelas se acham implicadas .
o do inventário, se devefixar o .diae hora de comumacôrdo entre 2ç) Requisitar das autoridades locais o auxílio de que neces-
o funcionário consu]ar e a autoridade ]oca], prevenindo aquêle a sitarem para a prisão dos indivíduos pertencentes à equipagem
esta por escrito. do que se passará recibo. .Caso a autoridade local dos ditos navios que tiverem parte em tais desordens,bem como
se não preste ao convite que Ihe houver feito o funcionário consular. à sua conservação
na cadeia.
212 213

3ç) Mandar prender e remeterpara bordo ou para seu país das disposiçõesque se devem observarpara a entrada e saída
os marinheiros e mais pessoasda equipagemdos navios da sua das mercadorias salvadas e a fiscalização dos impostos respectivos.
nação (caso não sejam brasileiros) que dêles houverem desertado. Na ausência dos ditos funcionários consulares, devem as autoridades
Para êste fim devem dirigir-se às autoridades locais competentes locais tomar tôdas as medidas necessárias para a proteção dos
e justificar pela exibiçãodo registrodo navio e da matrículada in-divíduos e conservação dos efeitos naufragados . As mercadorias
equipagem,ou, no caso do navio ter partido, pela cópia dos ditos malvadas não são sujeitas a imposto algum de alfândega, salvo
documentos, devidamente legalizados por êles, que os homens quando são admitidas a consumo interno.
reclamadosfaziam parte da dita equipagem;em vista da reclamação, Estipulou-se, finalmente, que esta convenção consular deve
assim justificada, não lhes pode ser denegada a entrega. vigorar por 10 anos e que êste prazo se vá sucessivamente renovando
4Q) Requisitar das autoridades locais o auxílio e apoio de ano em ano até a expiraçãode um ano, contadodo dia em
precisospara a busca e prisão dos ditos desertores (caso não sejam que uma das partes tiver notificado à outra a sua intenção dc fazer
brasileiros) os quais podem ser detidos e guardados nas cadeias, cessar os efeitos dela.
a pedidoe à custadosditos funcionários
consulares,
a#éque É evidente que os funcionários e empregados da missão
estes achem ocasião de remete-los para o seu país. (quando deixam consular brasileira na França gozam dos mesmos.direitos, privilégios,
de fazer estaremessadentro do prazode 3 mesescontadosdo imunidades e funções, de que os de igual categoria da missão
dia da prisão, os desertores são postos em liberdade e não podem consular francesa gozam no Brasil .
mais ser presos pelo mesmo motivo. Se, porém, o desertor tem Os plenipotenciários que negociaram esta convenção, foram
cometido algum delito em terra, a sua extradição pode ser deferida por parte do Brasil o Sr. SenadorJ. L. V. Cansançãodo Sinimbu.
pelas autoridades locais até que o tribunal competente haja devida- Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, e por
mente:julgado o último delito e a sentençatenha tido plena parte da Franca o Sr. JosephLéonce, Cavaleiro de St. Georges.
satisfação. enviado extraordinário e Mlinistro Plenipotenciário no Rio de
V -- Outras funções consulares (cit. Conv. Cona. artigos Janeiro.
10 e ! l )
Estipulações iguais a esta foram celebradas com a Confedera-
lç) Tôdas as vêzesque não há estipulaçõescontrárias entre ção Suíça a 26 de janeiro de 1861 e trocadas as suas ratificações
os donosdos navios, carregadorese seguradores, as avarias que a 26 de maio de 1862 (vid. DecretonQ2.955 de 24 de julho
os navios sofreram no mar, indo para os seusrespectivosportos, de 1862); -- com a Itália a 4 de fevereiro de 1863 e trocadas
são reguladas pelos Cônsules Gerais, Cônsules e Vice-Cônsules as suas ratificaçõesa 24 dé abril (vid. Decreton' 3.085 de
da sua nação, salvo quando súditos do país, onde estes residem, 28 dêstemês); -- com a Espanhaa 9 de fevereirode 1863e
se acham interessados nas avarias, pois neste caso são reguladas trocadas as suas ramificaçõesa 8 de julho (vid. Decreto nç 3.136
pela autoridade local, quando não haja compromissoamigável entre de 31 dêste mês); com Portugal a 4 de abril de 1863 e trocadas
as partes interessadas. as suas ratificações a 30 de agosto (vid. Decreto n? 3.145 de
2Q) É também da competência dos ditos funcionários consu-
}

27 dêste mês)
lares dirigir tôdas as operaçõesrelativas ao salvamentodos navios Ampliando, porém, o genuíno sentido destas convenções,os
franceses naufragados ou dados à costa no Brasil; não podendo representantes das potências signatárias entenderam que a naciona-
neste caso ter lugar a intervenção .das autoridades locais, senão lidade dos falecidos é o único princípio regulador da competência
para manter a ordem, assegurar os interêsses dos salvadores, se para a arrecadação das heranças e neste sentido formularam,
forem estranhos às equipagens naufragas, bem como a execução +
em nota coletíva, uma reclamação ao Govêrno Imperial.
214

Êste. respon.dando-lhes largamente, sustentou que essas


cona-ençõessó autorizam a intervenção consular nas ditas arreca
dações quando não há, segundo o direito brasileiro, quem possa
entrai na possee cabeçado casalpara procedera inventárioe
partilha perante a competente autoridade territorial; isto é, que
os Cônsulessòmentepodemarrecadare liquidar os espóliosdos
Capítulo IV
súditos das suas nações, quando estes falecera:
lç) sem deixar herdeiros;
DOSESCRAVOS
2') ou executores testamentários;
3ç) ou quando os herdeiros são desconhecidos;
4ç) legalmente incapazes; ! 1'
5ç) ou estão ausentes.
Assim mais, declarou o govêrno que não compete aos Cônsules A ESCRAVIDÃO
NO TEblPO ÀN'n(X)
a nomeação de tutores aos órfãos filhos dos seus respectivos
nacionais, e menos ainda a de curadores aos quase menores, bem
como não lhes compete a abertura de testamentos e a partilha de Na antiga sociedadereinavam perenesa fôrça brutal e o
heranças (Àvis., Cite. de 27 de janeiro de 1864, 6 de fevereiro egoísmoinexorável;é a idade das lutas violentas,em que o uoe
de 1865,e Relat. apresent.às Camapelo Sr. Ministro dos ufcfisJ do brenrt gaulês era a lei universal das relações humanas.
Negócios Estrangeiros em 1865) Os vencidos estavam à mercê .do capricho feroz e desenfreado
dos vencedores;
umasvozeseram logo isolados no campode
batalha. outras vezes acorrentados e mutilados ornavam o carro
dos triunfos, e seu sangue corria depois em horrendas hecatombes
nos altares abomináveis dos deuses vencedores .

Um sentimento misterioso devia, porém, protestar, embora


timidamente. nos recônditos éditos da consciência dêsses povos
bárbaros contra a ferocidade -da peleja e a atrocidade dos ritos
sanguinários.O mesmoegoísmolhes devia fazer ver que mais
lhes aproveitava servirem-se dos vencidos, como instrumentos de
trabalho, reduzindo-os à condição de brutos, do que dar-lhes a
t morte .

Foi destarteque se introduziu no mundoa escravidão;e


a tão ínfimo grau de degeneraçãotinha descidoo homem,decaído
do seu estado primitivo, que a escravidão foi notável progresso em
relação ao estadoanterior de antropofagia e de sacrifícios humanos.
F
216 217

Na sociedade asiática, dividida em castas, o escravo, votado Entretanto. alguns espíritos mais audaciosos entreviram o prín
a eternotrabalhoe a universaldesprezo,não tinha esperança
de copio da igualdade humana; dizia Juvenal (Sat. 14, 16 sega.)
redenção. Criado por Deus para servir às castas superiores,trazia
.indelével
emsi, e emseusfilhosaté a últimageração,
o selo l .4nímas serporum, ef corpora rzosfra

aviltante da escravidão. Matéria constate putat, paribus-que etementis


A sua sorte melhorou manifestamenteno seio da civilização Os jurisconsultos formados na escola estóica começarama
helénica: não sòmente a tornaram mais tolerável os costumesamenos reprimir a crueldadedos senhoressôbre os escravos,e os impera-
desta raça gloriosa, como principalmentea instituição da alforria 'K
dores os acompanharamnesta tendência. Cláudio declarou livres
foi uma via aberta pela Providência, para que êsses sêres dege- todos os que por seussenhores fossem expostos na ilha de Esculápio;
nerados pudessem sair de uma organização social que tanto a ]ei Petrõnia, promulgada sob mero, proibiu aos senhoressujei-
ultrajava as leis da naturezahumana. tarem os escravosaos combatesdas feras; Gaio (fr. lç $ 2ç D. De
Entre o senhor e o escravo já não havia desigualdade originária /zís qzzistzí pe/ a/. jtzr. stznf. -- 1, 6) nos refere que Antonino
e divina, como na Ásia; desde que se concedeu que a escravidão punhaa morte do escravocomoa do homemlivre; Ulpiano (fr. 2'
pudessecessar, reconheceu-seimplicitamente a igualdade humana cit. loc.) nos conserva o trecho do restrito dêste Imperador,
como princípio. Entretanto} tão profundamente radicada se achava dirigido a Eiius Marcianus,pro-Cônsul da Botica, em que Ihe
esta instituição na sociedadegrega, que os seus dois maiores filó ordenaque tire do poderdo senhore vendaos escravos
-- ue!
safos, Platão e Aristóteles, sustentarama desigualdadede natureza durius habitos, quem oequum est, uet intami injuria attectos; e dll-
entre o homem livre e o escravo . nos que já anteriormente Àdriano exilada certa matrona chamada
U.mbticia, quod ex leuissimis causas ancillas atrocissime tractasset;
Os romanos, aplicando o seu espírito essencialmentejurídico
e que Severo (fr'. I' $ 2ç, D. De Off. Praef. Urb. -- 1, 12)
às relações de senhor e de escravo, deram-lhe forma mais precisa.
põs o pudor dos escravos sob a proteção dos magistrados.
O senhor exercia sôbre o escravo poder e domínio (comi/zíca
pofesfas),e comoobjeto de -domínioo escravoera cotzsade que Então já se não podiam considerar os escravoscomo cousas
o senhor podia usar e abusar, como do restante de sua propriedade. no rigor da palavra; com efeito, Gaio (l, $$ 120 e 121 ) os denomina
Os jurisconsultos equiparavam a escravidão à morte: -- sez'uífus -- será,l/es
persorzae
(vid. fr. 3ç, D. de stat. hom. -- 1. 5) . O
moz'fi adsímíZafzzz',
Ulp. fr. 59 $ 2ç D. De condit. -- XXXV, l; progresso contínuo, embora lento, tinha chegado a tal ponto,
seruiflzfem moz'fa/ífafí fez'e comparamtzs, Id. fr. 209, D. De reg- que o Imperador Justiniano não hesitou em transportar para as
jur. -- L. 17;vid. Id. fr. 5 pr. D. Debon.dama. -- XLVlll, suas institutas as palavras de Florentino -- Zíbez'fas esf /zafzlra/fs
20; Id. fr. l $ 8ç. [). De bon. pois conta. tab. -- XXXV]]; facultam. . . seruitus lutem est constituio buris gentium. . . contra
Paulofr. 49$ 2'. D. Delibert.-- XXXVl11, 2. safaram. .. ($$ 1' e 2ç ]nst. -- ], 3, fr. 4ç pr. e $ 1ç D. De
A sorte dos escravosem Romã era dura e intolerável; seu stat. hom. -- 1, 5)
alimento era escassoe grosseiro; seu trabalho pesado e incessante; Mas, assim como a civilização helénica deu grande passo,
sua habitação subterrâneos insectos . Carregados de terras constan « tirandoà escravidão
a naturezade castae instituindoa alforria.
temente, sujeitos aos caprichos tirânicos de seus senhores, quando do mesmo modo a civilização romana deu ainda um passo adiante,
envelheciam ou adoeciam, eram abandonados em uma ilha do Tibre ampliandoos efeitos da alforria das raias da vida civil para a
aos horrores da fome; outros, ainda vivos, eram lançadosnos política. O liberto tornou-se cidadão romano, quando o senhor
tanques que serviam de viveiros às lampreias como alimenta próprio tambémo era e haviausadoda sua manumissão
solene(Gaio l.
para engorda-las. ]7, Ulpiano, 1, 5 e seis. ) . Nlais tarde Justiniano generalizou o
218 2'}9

direito de cidadea todos os libertos;-- Ef.omnes Jíberfosnu//a Nos tempos da decadência do Império surgiu uma instituição
nec oefafis manízmíssí, nec domíni! manumíssorís, nec in manzz- intermediária
entrea liberdade
e a escravidão,
o co/arado.Às
missianis modo discrimine habito, sicuti jam antes obseruabatur. raças invasoras da Germânia possuíam também uma análoga condi-
cíuifafe romana donas,ímus. (Inst. 1, 5 $ 3ç in fin) ção de pessoas,a dos -- /etzferz.Tanto os co/anoscomoos ielzfen
Entretanto tão numerosasse tornaram as alforrias e tantos achavam-seligados ao solo que cultivavam, mas de que não eram
abusos nelas se introduziram, que os imperadores julgaram dever proprietários; a alienaçãodo solo importava a dos seus cultivadores.
impor-lhes algumas condições. Com efeito, se umas vezes eram Com o volver dos séculos fundiram-se estas duas classes,
motivadaspor princípio louvável, como o desejo de gratificamos uma na outra, e do seu amálgama nasceu a dos servos da média-
escravosfiéis. outras vozes o eram por princípiosfrívolos ou idade, transição feliz para o moderno proletariado. As famílias,
reprovados, como a vaidade de ter em seus funerais longa fileira que por tantos séculos haviam cultivado na dependênciaa terra
de libertos. cobertoscom o barrete da liberdade ou o desejo de alheia, afinal a reconquistarampor meio do seu suor; adquirindo
aumentar o número de seus partídistas, de receber por intermédio a propriedade do solo, adquiriram. igualmente a liberdade
dêles o trigo que a república distribuía aos cidadãos pobres, ou O cristianismo, pregando os dogmas da liberdade e igualdade
a intenção de defraudar os seus credores .Foi para evitar estes humana,não quis contudo revolucionar súbita e materialmente'a
abusos que se promulgaram no tempo de Augusto e Tibério as sociedade;entretanto,o germeque êle plantara no âmagodas
leis Ena Sentia,Fusia Caninia e Junia Norbana. consciências necessàriamente devia desenvolver-se e frutificar algum
Justiniano, porém, inspirado pelo pensamento cristão, entendeu dia, e a escravidãoser abolida,não pela revolta violenta dos
devia facilitar as alforrias, já pelos meios solenesdo direito escravos, mas pela desistência que lenta e naturalmente os senhores
antigo e pela apresentaçãona igreja em presençado povo e dos fizessem dos seus direitos. São homens como nós, disse S. Clemente
bispos que assinavam o ato, já por outros meios de moderna de Alexandria, Deus é o mesmo para todos, para os escravos,
instituição, despidos de solenidades (modos públicos e príPados como para os homens livres (Pard. 111, 12, p. 307)
de manumissão)(Inst. 1, 5 $ 1ç e seg., Cód. Vl1, 6, Const. l) Se a lei evangélica manda o escravo obedecer e resignar-se à
Além disto, aboliram-seos variados modos de direito civil, sua sorte; manda também o senhor considera-lo como irmão.
pelos quais se podia cair na escravidão,restandoùnicamentea respeitar os seus direitos e sua dignidade de homem; ora, racional-
ingratidão do liberto para com seu patrono e a fraude do homem mente, entre irmãos não podem existir as relações de senhor e
maior de 20 anos que, calo de sua liberdade, se fazia vender de escravo,e a escravidãoé o desconhecimento formal dos direitos
como escravo, para enganar o comprador e compartir o preço da e da dignidade humana.
venda. S. Gregório de Nisso assim se exprime (Hom. IV): Deus
Não mencionaremos aqui os esforços que fizeram os cidadãos disse: -- Criámos o homemà nossa imagem. -- É ao ser, que
ingénuos para manter a sua superioridade sôbre os libertos e tornar traz em si a imagemde Deus, que pretendeis vender e comprar?
ilusório o sufrágio dêstes,nem as numerosase importantes incapa- (dual é preço da imagem de Deus? Deus mesmo não poderia
cidades,a que por muito tempo permaneceusujeita esta classe; rebaixar o homem ao estado de cozzsa. Êle o criou para ser
lembraremos sòmente que, por uma espéciede punição providencial, o senhor do mundo, e vós colocais êste senhor da terra na mesma
a população livre se foi extin-guindo ao mesmo tempo que a dos linha em que se acham os animais que êle tem o direito de mandar.
escravos crescia ràpidamente, e os libertos vieram a ocupar as mais Depois da morte. o senhor e o escravo tornam-se ambos -- pó,
elevadas posições sociais. jâ por seus cargos públicos, jã por sua são sujeitos ao mesmojuízo, o céu lhes é comum, assimcomo o
reputação literária . Terêncio era liberto e Horário filho de liberto. inferno.
220 221

S. Cipriano lança em rosto aos pagãosa escravidão,como


um crime do paganismo, e diz: -- Obrigas a servir-te um homem ORIGEM DA ESCRAVIDÃO ENTRE NÓS
que nasce como tu, que morre como tu, cujo corpo é formaElo
da mesmamatériade que o teu é Jíormado. cuja alma tem a mesma O costume de reduzir à escravidão os prisioneiros de guerra
origem?l (Ciprian. ad. Demetr. p. 435 D) transmitiu-sedos povos antigos aos cristãos. Do séculoXllll em
Santo lzidoro escrevia ao senhor de um escravo que se refugiara diante estes deixaram de exercê-lo, uns contra os outros, mas o
na solidão: -- Não sabia que um homemque ama Crista, que mantiveram
emrelação
aosinfiéis. A Ord. liv. 4Ptít. 11, $ 4ç
nos libertou a todos pela sua graça, tinha ainda escravos.
prova que, ainda no comêçodo século XVll, os Mouros eram
reduzidos à escravidão pelos portugueses
(lzid. 1, 142)
Segundo as idéias cristãs, a escravidão é uma expiação, a que A sujeição dos indígenas do Brasil à escravidão pelos colonos
se deve submeterhumilde essa raça deserdadadas glórias do portuguêses e seus descendentes foi pois uma aplicação dêste
mundo; mas ai daqueles que tomam sôbre si a triste missão de costume geral.
supliciarl Aos donatários, por quem D. Jogo 111distribuiu as terras.
pouco antes descobertas por Pedra Alvares Cabral, se reconheceu
A todos cabe o dever de trabalhar sem cessarpara diminuir
expressamentenas respectivascartas de doação o direito de cativar
progressivamente o reinado do mal no mundo. os indígenaspara o seu serviço e dos seus navios e de exportar
A igualdade civil e política são corolários necessários da certo número dêles para Portugal.
igualdade religiosa . Pelo crime de havê-las desconhecido, bem como
Porém os padres da Companhia. de Jesús, êsses incansáveis
a liberdadee a unidadehumana,fôrçafoi queparecesse
o mundo
protetoresdos indígenas do Brasil, conseguiramdos reis de Portugal
antigo. sucessivas medidas em defesa da liberdade dêles
Não se atribua, pois, exclusivamenteao elemento germânico
O seu régio pupilo, D. Sebastião,a 20 de março de 1570
a abolição da escravidão nas sociedades modernas. Não só êsses
procurou limitar a escravidão dêstes indígenas, declarando livres
conquistadores do Império Romano tinham, antes -da invasão, a
todos os que não fossem aprisionados em justa guerra, por êle
classe dos lelzfen, de que falamos, como também possuíamverda-
determinada, lei esta confirmada por Filipe ll a ll de novembro
deiros escravos .
de 1)9)
Q.uaisquerque sejam as diferençasque houvessementre a Filipe 111foi ainda além; nas leis de 5 de junho de 1605 e
condição dêstes e a dos escravos romanos, é certo que êles eram
de 30 de julho de 1609reprovouabsolutamente o cativeiro,
,ainda
igualmente assemelhados às cousas (si qtzis será'tzm, cabaZltzm quando proviesse de justa guerra . Cedendo, porém. a representações
ueZ bouem, auf qtzamlibef rem, etc. -- Lei Sílica XLVll), e feitas em nome dos interêssesdos colonos, o mesmo rei na lei
freqüentes vozes vítimas das mais atrozes violências . de ]0 de setembro de 1611 voltou ao princípio estabelecido por
A escravidão se podia perpetuar nas sociedadesmodernas a D. Sebastiãoacerca dos prisioneiros,feitos em guerra justa, e
par do elemento germânico. se a doutrina evangélica não tivesse decretou as formalidades com que se julgaria da justiça da guerra
vindo regeneraro mundo. que lhes devesse ser declarada, considerando também justo o
Do seio fecundoda igreja cristã é que emanavamos princípios cativeiro dos que, estando prisioneiros entre os mesmosindígenas,
fossem-lhes tomados ou comprados; êste cativeiro sòmente devia
de igualdade e liberdade humana, bem como tôdas as mais preciosas durar 10 anos nos casosordinários.
conquistas da civilização moderna.
222 223

Entretanto. os colonos continuarama reduzir por milhares Logo que começoua colonização do Brasil, foram importados
l
os indígenas à escravidão; levantaram-se em alguns lugares contra naturais de Guiné como escravos. Esta importação, porém, começou
a influência dos padres da companhia, e até chegaram a expulsa-los a avultar, desdeque se põs peias ou fêz cessaro cativeiro dos
do seu Colégio da Vila de São Paulo. indígenasnacionais. Conquantoa lei de 19 de setembrode 1761
declarasselivres todos os que desembarcassemem Portugal, e o
Em parte para satisfazê-los e em parte para refrear, regulari
Alv. de 16 de janeiro de 1773 abolisse inteiramente a escravidão
zando, esta bárbara guerra e escravidão,promulgou D. João IV
[; lei de 9 de abril de 1665. D. Pedro 11,porém, na lei de lç de naquelereino e nos Algarves, continuou esta a subsistir entre
nós, e cada vez mais a aumentar-se a importação de africanos.
abril de 1680 restituiu aos indígenasa plena liberdade,tanto de
suas pessoascomo de seus bens e comércio. D. José l nas leis Entretanto, a Inglaterra, que até então havia feito em larga
escalao tráfico de escravos
africanospara as suascolóniase as
de 6 e 7 de junho de 1755, confirmou esta liberdade e isentou-os
da administração dos padres da companhia, declarando-os quanto de outras potências na América, reconhendoafinal quanto êste
l ao espiritual sujeitos aos bispos, e quanto ao temporal aos magis+ tráfico contraria a doutrina evangélicae fere de frente a dignidade
trados. Estas leis. bem como a bula do S. P. Benedito Xll de humana,não só o aboliu nas suas colónias,como começoua pro'
20 de dezembro de 1741, foram confirmadas pela lei de 8 de março A:ts. Àdds. de 15 de março e C. de 31 de julho de 1823)
de 1751 Com efeito, Portugal obrigou-sepelo Trat. de 22 de janeiro
de 1815e Conv. Ad. de 28 de julho de 1817a proibir o tráfico
PelasCC. Reis. de 13 de maioe 5 de novembrode 1808 nos portos da Âfrica ao Norte do Equador e em alguns do Sul,
v-Ditou-seao antigo sistema, declarando-sea guerra aos Bofocudos e ùltimamentea proibi-lo absolutamenteem todos os outros (Trat.
de Minas e /lugres de São Paulo e obrigandoos primeirosa de 22 de janeiro de 1815. Conv. Ad. de 28 de julho de 1817,
servirem os comandantes militares, que os aprisionassem,por lO Àv. de 17 de fevereiro de 1817, Alv. de 26 de janeiro de 1818,
ou mais anos, enquanto durasse a sua ferocidade, e os segundos
Ares. Ads. de 15 de março e C. de 31 de julho de 1823)
a servirem por 15 anos ao miliciano, ou paisano, que os cativasse.
Pela Conv. de 23 de novembrode 1826obrigou~se
o Brasil
Estas CC. Reis. foram revogadas pela lei de 27 de outubro para com a Inglaterra a não consentir que os seus súditos exer:
de 1831, que desanerouda servidão todos os indígenasque nela cessem
o tráfico de africanos3 anosdepoisde trocadasas ratifi-
se achavam,considerou-oscomo órfãos, põ-los sob os cuidados
cações da mesma convenção, sendo êste tráfico declarado pirataria.
dos respectivosjuízes e incumbiu aos juízes -de paã de vígiareln
sôbre a sua liberdade e ocorrerem aos abusos contra ela. Para tornar efetivas estasestipulações,
promulgou-sea lei
de 7 de novembro de 1831, que declarou livres todos os escravos
Hoje não é lícito empregar outros meios, além dos suasórios, queentraremno territórioou portosdo Brasil,vin.dosde fora,
para retira-los de suasbrenllas e atrai-los ao grêmio da civilização com exceção dos matriculados nas equipagens das embarcações,
cristã
ris
e dos que fugirem do (erritório ou embarcaçãoestrangeira;impôs
Já a lei de 20 de outubro de 1823, art. 24 nç 9 havia incumbido aos importadoresa pena do art. 179 do Cód. Criminal (prisão
ao Presidente em Conselho de promover a catequesedos indígenas. por 3 a 9 anose multa correspondente
à 3e parte do tempo),a
O Àto Adicional, art ll $ 5ç e.ntre as atribuições das assembleias multa de 200$ por cabeçade escravoimportado, além da obrigação
provinciais incluiu a de promover, cumulativamentecom a assem- de pagar a despesade reexportaçãopara a Ãfrica; -definiuquais
bleia geral, a sua catequesee civilização. Em desempenhodesta são os importadores de africanos; e ofereceu o prémio de 30$000
atribuição expediu o Govêrno Imperial o Decreto n' 426 de 24 por cabeça a quem der notícia ou apreender, ainda sem mandado
de julho de 1845. judicial, os ditos africanos ilicitamente importados .
224 225

Continuando, porém, o tráfico por contrabando, decretaram-se Em conseqüênciada grande extensãoda nossa linha divisória
na Lei nq 581 de 4 de setembro de 1850 mais severas medidas com o Ulruguai, e das circunstâncias de ser esta inteiramente aberta,
para a sua repressãoe, a fím de dar-lhesexecução,expediuo e haverem estâncias de brasileiros que ocupam o território de ambos
Govêrno os Decretos ns. 708 e 731 de 14 de outubro e 14 de os países, torna-se manifesta a impossibilidade de considerar sempre
110vembro de 1850, regulando os apresamentos feitos em razão como livre o escravc,que com permissãode seu senhor pisa o
do tráfico e a forma do seu processo na l4 instância, o processo território oriental. Os governos de ambos os países, pelas notas
e julgamento dos réus dêste crime em 1+ instância, e os sinais ieversaistrocadasno Rio de Janeiroa 20 de julho e 10 de
que constituem presunção legal do destino das embarcações ao setembro de 1858, convieram, pois, em ampliar a devolução dos
tráfico. t-lote, felizmenteestá extinto êste iníquo comércio. escravos nos seguintes casos:

A Res. de 10 de maio de 1856 em Av. de 20 do dito mês 1 -- Quando, por qualquer circunstância fortuita e com per-
missão de seu senhor, transpuserem os escravos a linha divisória,
declarou,que acham-secompreendidos
no art. lq da lei de 7 de como por exemplo em seguimento de algum animal que disparado
novembro de 1831 os escravos que por ordem ou em companhia
passe para o Estado Oriental.
de seus senhores, ou por qualquer razão que não a fuga, saem
do Impérioe depoisvoltam a êle. [1 -- (quando, abrangendo as fazendas territórios dos dois
países, forem os escravosmandados à parte situada na República
Quanto aos escravos que fogem para o território dos Estados
a serviço ocasional e momentâneo, ou entrarem nela em ato de
vizinhos,com quem há tratados, a sua devoluçãoe entregaa seus
serviço contínuo.
senhoresregulam-se do seguinte modo:
Pelas mesmas reversais estabeleceram-se regras a fim de
1 -- A reclamação é feita diretamente pelo Govêrno Imperial, assegurar a liberdade dos homens de cõr que, não se achando
ou por meio de seu representante
no país em que o escravose nas circunstânciasindicadas, voltam ao Império depois de terem
acha refugiado. estado na República; e bem assim para impedir que, por outro
11-- Tambémpode ser feita pelo Presidenteda Província meio que não seja o da extradição,se procure reaver do Estado
ande reside ou se acha o senhor do dito escravo ou Oriental os escravos fugidos (Rel. do Sr. Ministro dos Negócios
111-- Pelo senhor do escravo perante a autoridade competente Estrangeiros de 1859, pág. 51)
do lugar onde êle estiver, quando o senhor fõr em seu seguimento
para havê-lo, ou mandar em seguimento agente especialmente 1 3'
autorizadopara êste fim.
IV -- Esta reclamação deve ser acompanhada do título ou CONDlçÃ.O ÀTUAL DOS ESCRAVOS

documento que, segundo as leis brasileiras, sirva para provar a


propriedade que se reclama. Para conhecermos a posição jurídica dos escravos entre nós.
a proteçãoque a legislaçãolhes concede,bem como as restrições
V -- As despesas que se fazem para a apreensão e devolução
a que os sujeita, ser-n.os-áindispensávelrecorrer às leis civis de
do escravo reclamado correm por conta do reclamante. (Vid. envolta com as administrativas; nos limitaremos, porém, a rápida
I'rat. com o Uruguai de 12 de outubro de 1851, art. 6ç; com o sinopse, sem entrarmos em desenvolvimentos especiais .
Peru de 23 de outubro de 1851, art. 5' e reversaistrocadas em
Lamaa 6 de outubro e 10 de novembro de 1854; com a Confederação Abolido o cativeiro da raça indígena, bem como a importação
Argentina de 14 .de dezembro de 1857, art. 69) de africanos, hoje nenhuma outra fonte resta, que alimente a
226 227

instituição da escravidão,se não o princípio -- parflzs seqtzífur Q comprador,ou qualquer outro que concorressepara essavenda,
penfrem ($ 49 Inst. Z)e /ur. pera. -- 1., 3; $$ 19 e 37 Z)e rer eometeríao crime previsto pelo art. 179 do Cód. Crim.
diu. -- 11. 1; Marciano fr. 5' $ 2ç D. De sfaf. /zom. --, 5; A legislação presta certos .cuidados aos escravos e até lhes
Ulp. fr. 27 pr. D. l)e /zered. pefíf. -- V. 3; id. fr. 68 pr. D. reconhecealguns .direitos. Assim podem libertar-se:
Z)ezzsu.fr. -- Vll, 1; Gaio fr. 28 $ 1çD. Z)e usar. ef frtzcf.
1 -- Pelo consentimentoexpressoou tácito do seu senhor.
-- xxn,i')
O consentimento expresso prova-se por cartas ou legados de
Basta, entretanto, que a mãe tenha gozado de liberdade no liberdade, por cartas particulares (per epísfoZas), ou por declaração
momentoda concepção ou do parto,ou emqualqueroutro inter feita em pi:esençade cinco testemunhas(ínfer amigos).
mediário, para que o fi]ho nasça livre (Pr. /rzsf. ])e íngen.
-- 1, 4ç; Paulo, Self. -- 11, 25; Marciano fr. 5 1 2', cit. ) O consentimentotácito deduz-sedos fatos de expor o infante
(Av. de 31 de janeiro de 1775 $ 7'), de abandonar o enfermo
A antiga jurisprudênciaromanareconheciavários modosde (Prov. l4 de 15 de dezembro-de 1823,col. Nab), de prostituir
Direito Civil pelosquaiso homemlivre podia cair no estadode a escrava,vendidacoma condiçãode o não ser, de receberseu
escravidão. Pelas reformas Justinianas foram, porém, reduzidos preço, de casar a escravacom homem livre, constituindo-lhe dote,
a dois -- a ingratidão do liberto para com o patrono e a fraude de dar em ato público ao escravo o nome de filho, de rasgar ou
do homemmaior de vinte anos que, cônsciode sua liberdade, se entregar-lhe em presença de cínico testemunhas os títulos da sua
vendepara compartir o seu próprio preço. escravidão..de constituí-lo herdeiro, etc. (Cód. Vl1, 6)
A Ord. liv. 4v tít. 63, $ 7ç e sega. define os casos em que 11 -- Por benefício da lei. A consulta da seção de justiça
pode ser revogada a alforria pela ingratidão do liberto. do Conselhode Estado,.aprovada
pela Res. de 18 de marçode
Distintos jurisconsultos entendemque esta Ord. não se 1854, declara -- que o senhor não'pode ser obrigado a forrar o
acha em vigor porque, importando a revogaçãoda alforria a perda escravo, porque não há lei que a isto obrigue, e que marque,
dos direitos de cidadão, devera ter sido mencionadano art. 7' como fala'ez.conuíesse,os casos, as condições, modos e formalidades
da Const., como um dos casosem que êles se perdem,o que com que isto teria de fazer-se. Entretanto, a jurisprudênciapátria
entretanto não sucede. Êste argumento, porém, não é aplicável tem admitido que o escravo comum,libertado por um dos sócios,
aos escravos nascidos em país estrangeiro e o cit. art. da Cona possaobrigaros outrosa aceitaremo valor de suaspartes,para
tituição só mencionaos fatos pertencentes
à esfera do Direito assim receber a liber.dade no todo (Card. vb. -- Será,íf. país.
Público, e não à do Direito Privado que, importando a perda da n9 64) , princípio êste que foi confirmado pelo Govêrno na Prov. de
liberdade. trazem como conseqüência secundária ou mediada a 20 de setembrode 1823, (Col. Nab.)
perda da qualidade de cidadão. Sôbre outros casos em que a lei concedia igual benefício
Quanto à venda que alguém fizessede si mesmo,seria em vid. Boro. Carn., l)ír. Cip. $ 34 nç 3, $ 76 nç 5; Val. Cona.
qua[quer hipótese inteiramente nuca, porque a liberdade é direito 24 nq 2; Ca]d. !Vomí]z. quoesf tÍt. 19 HQ22. (quanto ao destino
absoluto e inalienável; e constituiria o crime de estelionato,sendo que se deve dar ao legado de certa quantia para o fím de auxiliar
feita para enganar o comprador e obter o preço da própria venda um escravo na aquisição de sua liberdade, vid. Av. nç 57 de
( Cód. Crim. art. 264 $ 4ç) 26 de janeiro de 1856, e parecer anexo do Sr Procurador da
Igualmentenula seria a vendaque o pai fizessedo filho, ainda Coroa; Marciano fr. 51 $ 2ç D. Z)e fídeícomm. Ziberf. -- XL, 5).
no casode extremapobreza (Post. De Z)onaf. p 2, cáp 30 lll -- Os escravos pertencentes à Fazenda Nacional têm o
nç 19; Gam. Z)ecos.361 nç 3) . Nesta hipótese,tanto o pai como direito de recebera alforria: -- lç, dando o seu valor, que deve
- 228
229

ser arbitrado por peritos nomeadospela tesouraria;a carta deve


ser passadapelo tesouroou pelo inspetorda tesouraria,por ordem
VI -- Em casos extraordinários podem ser desapropriados
pelo Govêrno e libertados; como sucedeu aos que serviram em
do Ministro da Fazenda (Ord. de 30 .de outubro de 1847 e
armas na rebelião da província de São Pedro do Rio Gi'ande
n' 358 de 4 de agosto de 1863; 2ç, prestan.doserviço público
do Sul (Cons. de 26 de junho e DecretoBQ427 de 26 de julho
relevante(Àv. nç 87 de 26 de marçode 1852,nP7 de 8 de de 1845,Lei nç 514de 28 de outubrode 1848,art. 6' $ 26,
janeiro de 1853, 21 de fevereiro de 1842 e Res. de ll de agosto
Ord. de 9 de abril de 1809,col Nab., Provs.de 23 de outubro
de 1831)
de 1823e 16 de setembrode 1824, Res. de 21 de janeiro de 1828,
IV -- Quando vão à hasta pública escravos,como bens de col. cit.)
evento. prefere-se o lanço para a sua liberdade a outro qualquer,
ainda que superior seja. desde que cubra a avaliação (Decreto Vll -- Têm o .direito de contrair matrimónio com pessoalivre
nç 2.433 de 15 de junho de 1859, art. 93) ou escrava, e de receber qualquer outro sacramento, ainda sem o
consentimento de seus senhores. Tem-se até mandado promover
A Res. Imp. de ll e o Av. de 17 de outubro de 1862 o seu casamento.Se, porém, forem ordenadossem licença de
declaram que não cabe ao Poder Executivo ampliar esta disposição seus senhores, devem ser depostos. (Card. cit. vb. Será,íf. pera.
aos escravos pertencentes a heranças jacentes; sustentaram, porém, nç 74 e nç 67; Prov. de 27 de outubro de 1817 e 8 de agõsta
a aplicabilidadedesta disposiçãoa ambasas hipótesesum dos de 1821, col. Nab . ) .
membros .doConselhode Estado e o Dr. ProcuradorFiscal do
Tesouro. O Conselheiro Procurador da Coroa no seu parecer Vlll -- Têm tambémo direito de comparecerem juízo em
anexo ao aviso de 21 de dezembrode 1855cita antigas Provisões nomepróprio, comoautoresou réus. com a assistênciade curador,
da mesa da consciência e ordens que assim o determinam, bem nas causas espirituais e matrimoniais (Car. cit. n' 73); ou para
como que neste caso seja lícito ao escravo escolher e preferir entre defenderem a sua liberdade (Dig. ZI)e /ib. caras.; Cód. Z)e
os lançadores, devendo o juiz aceitar o lanço dêste, ainda que ""rfo.. fo/. )
outro superior haja. E esta questão da esfera do Direito Privado.
e sua solução prática, na ausência de ato legislativo, cabe exclusiva IX -- Podem depor em juízo como infcrmantes, não como
mente ao Poder Judiciário. testemunhas (Ord. liv. 39 tít. 56 $ 3ç e liv. 4P tít. 81 $ 4';
Cód. do Proa. Crim. art. 89); até contra os próprios senhores
V -- Podem obrigar os senhores a vende-los, caso estes lhes
(Res. de Cona. de 20 e Av. de 25 de novembrode 1852). Neste
apliquem castigos imoderados (Res. de Cona. de 20 e Av. de
caso a autoridade policial deve obrigar os senhores a assinarem
25 de novembro de 1852) . Tais castigos são crimes injustificáveis
termo de segurança; e, quando estes o infrinjam, podem os escravos
pelos quais os senhores incorrem na penalidade comum (Cód.
obriga-los judicialmente a que os vendam.
Crim. art. 14 $ 6')
Cumpre atender-se que a nossa legislação reconhece que a
Pela lei de 20 de outubro de 1823, art. 24 $ 10 os Presidentes liberdadeé de direito natural,e que são mais fortes e de maior
de Províncias, em Conselho, foram incumbidos de promover o 7
consideraçãoas razões que há a favor dela do que as que podem
bom tratamentodos escravos,e propor arbítrios para facilitar a
fazer justo o cativeiro (Lei de I' de abril de 1680); que a favor
sualenta emancipação:e pela lei de lç de outubro de 1828,art. 59 da liberdade está a presunção pleníssima de direito, e que portanto
atribuiu-se às Câmaras Municipais o direito de vigiar sôbre os
a prova incumbeaos que contra ela requerem(Lei de 6 de junho
escravos, participando aos Conselhos Gerais os maus tratamentos
de 1755 $ 9Q); que a liberdade é de valor inestimável (Alv. de
de que forem vítimas e indicando os meiosde preveni-los. 16 de janeiro de 1759); e que às.açõese exceçõesem favor dela

l
230 231

são concedidosmuitos favores (Peg. 5 for. cap. 107; Heiàeck, 1835,9 de março de 1837.Avs. de 3 e 17 de fevereiroe de 26 de
VI $$ 154 e 155) agosto de 1837, Decreto ne 1.310 de 2 de janeiro de 1854,
Av. n' 388 de 27 de outubro de 1857)
De acôrdo com estes princípios, tem o govêrno intervindo
em alguns casos individuais, a fim de proteger a a]forria ou livrar 11 -- Não podem viajar sem passaporte, salvo em casos
os escravos de maus tratamentos da parte de seus senhores especiais (Reg. de 31 de janeiro de 1842, ans. 60 e 78) . Esta
(Prov. de ll de outubro de 1823 e Post. l4 de 13 de março restrição lhes é comum com os africanos livres e libertos.
de 1824,col. Nab.. Avs. lç de 8, 2ç de 17 de marçoe 29 de 111-- 0 seu ajuntamento eo quilombos deve ser prevenido
julho de 1830, col. cit., 2' de 22 de agosto, 16 de setembro, e destruído, providência esta especialmente incumbida aos juízes
IQ de 18 de novembro, 3ç de 15 de dezembro de 1831 col. cit.). de paz (Leis de 15 de outubro de 1827, art. 5ç $ 6ç, 3 de dezembro
O Aviso nç 374 de 13 de agosto de 1863 declara: que não de 1841,art. 91 e Reg. de 31 de janeirode 1842,art. 65 $ 5ç).
estão sujeitos ao lançamento da taxa anual os escravos deixados IV -- Os seus serviços são vedados nas repartições públicas
livres em testamento, com a condição de prestarem serviços a alguém gerais, havendo pessoas livres a quem empregar, bem como na
por certo prazo, visto que esta concessão de liberdade deve-se construçãoe custeiodas estudas de ferro; é especialmente
proibido
julgar perfeitae inevogáveldesdeo falecimento
do testados,não aos funcionários públicos de qualquer repartição terem os seus
obstanteo ónus de prestaçãode serviços,o qual não altera a escravostrabalhandonelas (Leis de 25 de junho e 27 de outubro
condiçãoe estadode liberdadee apenasretarda o pleno gôzo de 1831,Decretoleg. nç 641 de 26 de junho de 1852,art. lç
do exercíciodeita. $ 9Qe Av nç.28 (add.) de 9 de maio de 1862)
O Aviso n' 441 de 21 de setembrode 1863decide:que os V -- A sua conservaçãonas cidadesou vilas está sujeita ao
escravoslibertadosem testamento,além das fôrças da torça, estão imposto de 4$ por cada um dêles (Leis de 8 de outubro de 1833,
sujeitos à restituição do excesso por meio -da arremataçãodos art. 59 $ 5ç e n' 884 de IQ -de outubro de 1856, art. ll $ 2Q).
seus serviços, em tanto tempo quanto baste para a indenizaçãa
Finalmente lembraremosque é hoje provincial o imposto sôbre
dos herdeiros lesados em suas legítimas, procedendo-se do mesmo
a venda de escravos (Alv. de 5 de junho de í809 $ 3P, Decreto
modo porque se pratica nos casosem que há excessono legado
de um bem indivisível ou de difícil divisão. de 5 de maio de 1814,Lei n' 40 de 3 de outubro de 1834,art 39,
Àv. Hç 371 de 13 de junho de 1861); que esta venda não pode
Por outro lado, os escravos estão sujeitos a certas medidas ter lugar senãopor escriturapública(Lei n' 1.114de 27 de
repressivas e preventivas peculiares; assim: setembro de 1860, art. 12 $ 7Q); e que o govêrno foi autorizado
a vender em hasta pública os escravos da nação que não conviesse
l -- Incorrem em penalidade especial (Cód. Cria. art. 60,
ad. de 9 de agosto de 1850, nç 109 de 13 de abril de 1855,
conservar (Lei n' 317 de 21 de outubro de 1843, art. 32) .
nç 365 de 10 de junho de 1861) O rápido esbôçoque acabamosde fazer assazmanifestaque
Esta penalidade se torna mais severa e o processo mais expedito
\

longe estamosdos temposem que o escravoera equiparadoàs


e escassode recursos,quando o crime é cometido(ontra a pessoa cousase sujeito ao pleno alvedrio de seu proprietário. Conquanto,
de seus senhores, das mulheres, descendentes ou ascendentes dêstes, porém, a legislaçãotenha extingüido muitas das antigas origens
donde emanava a escravidão e mitigado a sorte dos escravos,
que em sua companhiamorarem,e dos feitores e adminitradores
muito ainda Ihe resta fazer neste sentido, sem atacar de frente a
e mulheresdêstes,que com êles viverem (Decretosde ll de
setembrode 1826, ll de abril de 1829, Leis de 10 de junho de instituição: entre as providênciasdesta ordem ocupa o primeiro
232

lugar a que deve ter por fim resguardar-lhes as relações e os direitos


de família.
Confiadosna lei divina do progressohistóricoe certos de que '\

o dia que a Providênciamarcou há de chegar,esperemosque esta


instituição, eminentementepagã, se irá transformando até desapa-
recer de entre nós, como desapareceu das nações.civilizadasda
Europa, e que a legislação brasileira hâ de afinal sancionar todos ÍNDICE ANALÍTICO (')
'-$
os consectários jurídicos da doutrina evangélica .
CAPITULO l

DO DIREITO ADMINISTRATIVO

$ ]ç -- Objefo desta obra


Pães

Não é um tratado geral de direito administrativo, e sim a exposição


sistemáticade suas noções mais sintéticas e fundamentais 21

Tríplice divisão dêsteobjeto 22

S 2Q + Origem histórica

Origem recente do direita administrativo. como ciência distinta; daí as


muitas dificuldades com que no seu estudo se luta principalmente
em vista do estado da nossa legislação administrativa
Em tôdas as nações civilizadas sempre houve leis administrativas, e
portanto direito administrativa, embora confundido com os outros
ramos do direito 23

Repúblicas helênicas e romana 23

Constituição dos imperadores que medeiam entre Severo Alexandre e


Constantíno 23

Os principais títulos do Digesto que contêm legislação administrativa 23

Jurisconsultosromanos que escreveram sôbre êste ramo do direito 24


Desenvolvimento da ação administrativa em cbnseqüência do progresso
+ da civilização. Debaixo da regime arbitrário não se podia constituir
o direito administrativo como ciência distinta 24

Tendências filosóficas da revolução francêsa; inauguração. da cadeira


de direito administrativo por De Gerando sob Luiz XVlll; sua
supressão e restauração pouco depois 25

(') Foi respeitada a disposição e sequência da primeira edição


-- 234 -= 235

Pâgs Págs.
É omitida esta ciência no quadro dos estudosdos cursos jurídicos \ 3Q + i)ireíío público positivo
criados entre nós. Porém já desde 1833 é oficialmente enunciada
a necessidadede seu ensino. Reforma dos cursos jurídicos em 1854 O que é o direito público positivo e como se divide 36
e criação da cadeira de direito administrativo, conjuntamente com a Relação do direito administrativo com o direito político ou governa
de direito romano 26
mental,com o direito internacionale com o direito público ecle
siástico 37
$ 3ç -- Z)efíníção do dfreífo admírzísfrafípo
Direito eclesiásticointerno(ou canónico). Subdivisõesdo direito admi
26
Necessidade de definir as ciências nístrativo 38
Definição do direito administrativo por De Gerando; pelos autores dos
EZemenfosde Z)freira Àdmfnísfrafíuo na Bélgica; pelos Srs. LaferH $ 4Q -- l)freira príuado
riêre, Pradier-Fodéré, F. de Mendonça, Rego. Cabras, Macarel,
27
O que é o direito privado e como se divide 38
senador Pimenta Bueno
Definição dos diversos ramos do direito privado 38
28
Motivo desta pluralidade de definições
Auxílios prestados pelo direita privado ao administrativo e vice-versa 39
29
Sentido lato e restrito; definição do autor
$ 5' -- Fontes do direito adminísttatiuo
$ 4' -- Objefo do dfreífo admínísfrafípo .A fonte primária é a lei, em geral: a secundária os regulamentos 40
admi.
Sentido restrito dêste objeto; que elementos compreendeo direita Extensão da atribuição regulamentarem relação aos administrados,em
30
nistrativo. considerado no sentido lato geral. e aos agentesadministrativos, em particular
30
Em qual dêstessentidosdeve êle com preferênciaser tomado As três fontesespeciaisdo direito administrativopátrio geral; l aros
clo poder constituinte; ll aros do poder legislativo ordinário; 111os
CAPITULO ll do podem' executivo 41

DAS -CIÊNCIAS AUXILIARES E FONTES DO DIREITO S 6' -- Bibliografia do direito administrafipo


ADMINISTRATIVO Relaçãodos escritores cujas obras são mais úteis ao estudo dos prin
cípios gerais do direito administrativo 42

Ê + Ciências auxiliares em gera!

TITULO ll
Tôdas as ciências são HtilS ou menos auxiliares umas das outras; quais
33
porém tecnicamente assim. sc denominam DÀ ADMINISTRAÇÃO
33
l Ciências auxiliares de direito administrativo
CAPITULO l
$ 2P -- Cfêrzcfa da admínísfração
DA NATUREZA E DIVISÕES DO PODER POLÍTICO
Diferença entre ciências da administração e direito administrativo. tanto
34
no sentido amplo, como no restrito i lq -- Natureza do poder político
.Auxílios prestados ao estudo do direito administrativo pela ciência da O poder social é uma instituição de direito absoluto. Quanto à sua
35
adininist:'ação essência, está fora do alcance da influência humana; não, porém,
Relação da econotnia politica e da estatístiu comi o dize:to adminis- quanto à sua forma, intenção e extensão. Por que modo a ação
35
trativo hun)ana pode modifica-lo duradoura ou efemêramente +7
237
236

Pães
Pães
A administraçãodeve ser um instrumento dócil do govêrno. Distinção
Distinção entre sociedadee Estado; pluralidade de organismossociais;
entre as funções políticas e administrativas do poder executivo 56
caráter providencial de suas leis. Independênciae harmonia dos
organismos sociais 48 Qual a linha em que começa a sua independência 56

Dupla missãode cada um dêles. Missão negativa do poder político; Sistemasda completaabsorçãoda política pela administração,
ou desta
missão positiva 48 por aquela; em que estados da sociedade dominam êstes sistemas
opostos, e as suas funestas conseqüências 56
O podernão é um mal necessário;
é uma instituiçãosubstancial
e in-
dispensável à sociedade 49
Independência das open:ões políticas dos agentes da administração e
seus limites 58
Quando tem as suas funções caráter suasório, ou coercitivo

$ 29 -- Z)ít,ísâo do poder po/ífíco


$ 2' -- Re/anões da admínisfração com o poder /edis/afíPO
Definição do poder político; classificaçãode suasfunções;tríplice esfera
dentro da qual atua 50 O legislador formula as teses gerais; a administraçãoas aplica às cir-
cunstâncias variáveis do tempo, lugar e pessoas; caráter quase le-
Classificação das leis que o regem dentro de cada uma delas 50
59
gislativo da função regulamentarda administração
Unidade do poder legislativo 50
l,imites entre a esfera legislativa e a regulamentar 59
Tríplice divisão do poder executivo, distinção entre os ramos go\ier-
nainental, administrativo e judicial 5.f Inaptidão do poder legislativo, em regra, para o exercício da função
52
regulamentar, principalmente em relação aos serviços técnicos;
Harmonia indispensávelentre os diversos ramos do poder político exemplos da nossa legislação; ou quando se precisam fazer prévios
ensaios 60
$ 3' H Teoria consfífucío/zaZ
.As leis de direito privado, porém, devem ser perfeitamente explícitas
Como a teoria da nossaLei Fundamentalse combinacom a da ciência 52'
e desenvolvidas,porque as suas infrações não excitam tanto inte-
53 Ó2
O poder moderador; como se acha constituído, e a quem foi confiado rêsse, como as das leis políticas ou administrativas

O poder executivo 53 os limites entre as órbitas da ação legislativae administrativase


ampliam ou vesti'ingem segundo a extensão do território (desc:en-
Tríplice função do monarca 53,
tralização administrativa), os costumes,a tradição dos povos e o
Não existe entre nós um poder administrativo distinto e independente grau de confiança que os dois poderes se inspiram; exemplosda
54 história pátria 62
do executivo; o que é a administração
.Abusos da delegação legislativa 64

CAPITULO ll .Atribuições de natureza administrativa, segundo a teoria, exercidas pelo


poder legislativo 64
DAS RELAÇÕES DÀ ADMINISTRAÇÃO COM OS
PODERES DO ESTADO
$ 3' -- Relações da admí/zfsfração com o poder judícíaZ

$ 1Q-- Re/anões da admfrzísfração com os poderes moderador .A. administração executa as leis de interêsse geral; o poder judicial as
e executioo gooetnamental de interesse privado. A administração executa as leis; modificando
a sua ação segundo a sua influência sôbre os interêssesgerais;
Relações da administração com os podêres moderador e executivo go o poder judicial as executa sem atender aos seus resultados 65
vernamental 55
238 .:--- 239

Pâgs Paus
CAPÍTULO IV
Consequências quanto à natureza dos emprêgos de uma e outra ordem;
bem como de se confiarem funções judiciárias aos agentes da admi- DA NÀT[JREZA DÀS FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS
nistração ou administrativas aos do poder judicial, salvo no caso
de íntimo nexo e dependência dessas funções. 66 $ ip -- Z)iuísões gerais

Usurpações recíprocas da administração e poder judicial; conflitos 67 l # Divisões das funções administrativas em diretas e indiretas 77
11 -- Consultivas e atiras
111 + Espontâneas e jurisdicionais
CAPITULO lll
IV Graciosas e contenciosas

DAS CONDIÇÕES ESSENCIAIS DA ORGANIZAÇÃO $ 2' # Farzções dfrefas e f/zdírefas


ADMINIS'lRATIVÀ
O que sãaas funçõesdiretasou essenciais
da administração,
e as in-
diretas, auxiliares ou especiais 78

$ 1ç -- .4 urzidade Como são distribuídasumas e outras 79


Serviçosde que ambasprecisam 79
Necessidade da harmonia: -- unidade de ação dos agentes administra- Distinção entre funções e serviços públicos segundo a ciência 79
tivos, tanto no espaçocomo no tempo 69
Funcionários, empregados,serventes. operários e jornaleiros; disposições
Distinção entre a centralização governamental e a administrativa 69 da legislação pátria a êste respeito 79

Conseqüências de uma e outra 70 Sentido das palavras H ofício e oficiais, e outras classificações empre-
gadas na legislação pátria 80
Esta questão não depende da forma de govêmo; descentralização
administrativa na Inglaterra, centralização na trança revolucionária 7]
$ 3' -- Fzznções corzsu/fípas e afíuas
Necessidade da descentralização administi'aviva de modo a não com-
Distinção entre as funções consultivas e Deitas 81
prometer a centralização política 71
A pluralidade é condição das primeiras, como a unidade o é das se-
Teoria constituciona];]ei de 12 de maio de ]840 72
gundas 82

Necessidade
de corrigir as órbitas dêstesdois princípios 72 Em regra. devem estar separadas;impropriedade dos agentes ativos
para as funções consultivas e vice+versa 82

$ 2' -- .A í/zdependê/zela Classificaçãodos conselhosem: 1 -- Consultivos; ll -- De gerência


lll -- (bntenciosos 83

Em que consiste a independência da administração 73 83


Os pareceres dos conselhos consultivos não devem ser obrigatórios
(duais os dois meios porque é ela protegida 73

Conflitos 74 CAPÍTULO V

O terceiro meio do direito francês não existe entre nós 74 DÀS FUNÇÕES ES.PONTÂNEAS E J[JRISDICIONAIS
Há, contudo, disposiçõesque até certo ponto se Ihe assemelham;foro pri- $ 1q Funções espontâneas e jurisdicionais em goraz
vilegiado 75
85
Distinção entre as funções espontânease jurisdicionais da administração
Conflitos da administração com a autoridade eclesiástica; recurso à
76 86
coroa Magistrados administrativos
240 241

Pães
$ 2' # Ftírzções esponfârzeas Pâgs.
Paz distribuir víveres e socorros públicos 95
Divisão das funções espontâneasem quatro ordens 86
Promove o abastecimento do mercado de víveres 96
1 -- Como órgãosde instrução. O Conselhode Estado 86
Auxilia a agricultura e os outros ramos da indústria nacional 96
Os presidentes de província 86
Favorece a navegação 96
Os chefes de polícia 87
E a produção nacional em geral 96
Os diretores gerais e diretores de secretaria 87
Recompensa os serviços prestados ao Estado e à humanidade 96
órgãos especiais de instrução do ministro do império 87
Auxilia as províncias e municípios 96
Da justiça 89
Protege as ciências,literatura e belas-artes 97
Dos negócios estrangeiros 89
IV -- Como autoridadepositiva; a esta função se liga a parte mais
Da marinha 89
importante do direito administrativo 97

Da guerra 90
1 3Q-- Funções jarísdicíanaÍs
Da fazenda 91

Em que consistem as funções desta espécie 97


Da agricultura, comércio e obras públicas 91
Sua divisão em graciosas e contenciosas 98
11 -- Como instrumento de operações puramente materiais; ela fabrica,
O que são ínferêsses e dfreífo, neste assunto. 98
compra, canserta e guarda nos arsenais o material do exército e
armada 92 A jurisdição graciosa é discricionária; não, porém, a contenciosa 98

Conserva as bibliotecas, arquivos públicos, mobília dos palácios presiH l)istinção entre reclamação e recurso 99
denciais 93 Processo contencioso 99
Os próprios nacionais, provinciais e municipais 93 99
Deve-se considerar como excepcionária a jurisdição administrativa?
Conserva.vende e dâa as terras devolutas 93
Origem da jurisdição graciosa 100
Concede os terrenos diamantinos, minas de ouro e outras, os terrenos Diversos sentidos em que se toma esta expressão 100
de marinha, matas devolutas e reservadas 93
Distinção entre as jurisdições graciosa e contenciosa 10]
Constrói e repara estudas, pontes, etc 94

\l'ende, afora, etc., os bens municipais 94


CAPÍTULO VI
Arrecada os impostos e rendas das oficinas e bens públicos; toma conta
das pessoas incumbidas desta arrecadação, paga dívidas passivas, (CONTINU.AÇÃO) DO CONTENCIOSO
94
ADMINISTRATIVO
emite apólices, etc

Advoga os direitos e interêssesda fazenda nacional, provincial e mu+ $ 1' -- Origem do conferzcíoso admírzisfrafípo
nicipal 94

A função contenciosa da administração decorre da X:;onstituição ÍD3


111-- Como poder e fôrça moral; promove a instrução pública e par'
titular; as confrarias religiosas 95 Confusão do contenciosojudiciário e administrativo na antiga buris
prudência 103
Os hospitais de caridade, cemitérios públicos, casas de expostos, asilos
de indigentes, depósito de mendigos 95 Autoridades administrativas que exerciam funções judiciárias 104
]'
242 243

Pâgs
Pãgs.
Diversas formas e limites com que tais autorizações costumam ser con-
Atribuição do contencioso administrativo às autoridades judiciárias.. 104
cedidas 110
Abolição dos antigos tribunais e autoridadesadministrativase transfe-
rências de suas funções .............''.--''-..-............. 105 Processos para a imposição de cenas relativas à instrução pública lll

Para a imposição, liquidação e execução das multas pelos inspetores


O ConselhoSupremo Militar .......-- --'. .... ... ....-'..... 106 ll l
das alfândegas, mesasde rendas e administradores das recebedorias
Reação no sentido de retirar das autoridades judiciárias o contencioso
Pelas comissões incumbidas de julgar as infrações do regue'amento para
adilln'stratvo po«.mean e UH Baba !P & grBBlps g 106
o transporte dos emigrados ll l
Reformas necessárias 107 Pelos tribunais do comércio ll l

Pelos capitães dos portos ll l

$ 2P -- C/asslffcação das funções adminlsfrafíuas Quais são as partes entre quem pronuncia a administraçãoquando
contencíosas lll
exerce cada uma destas quaüo classes de funções

$ 3' -- Orça/zízação da adminfsfração confencíosa


Divisão das funções desta espécieem quatro classes:
em gera/
l H A repartição equitativa de encargos e gozos; como a contribuição
107 Os três sistemas de organização da administração contenciosa 112
direta
108 Reunião das funções contenciosos,graciosas e espontâneasnos mesmos
O õntls do serviço militar
108 agentes 112
Do serviço da guarda nacional
108 Necessidades dos recursos e das instâncias 113
À concessão dos terrenos de marinha
A quem compete a decisão dêstes recursos, segundo a i(]anstituição 113
A distribuição das quantias votadas para a indenização de prosas; das
108 Inconvenientesda atribuição do contenciosoadministrativo aos magis-
ações de companhiasestipendiadas pelo Estado, em certos casos
trados de ordem judiciária . Magistrados e tribunais, exclusivamente
11 # A tomada de contas dos dinheiros públicos. Processo da tomada destinados a conhecerem dêstes recursos
109
de contas,em geral À nossa anual organização; qual o número das instâncias no contencioso
109
Execução dos respectivos julgamentos administrativo 114

111-- 0 julgamento de quaisquer pretensões fundadas em direito, re-


cursos das partes interpostos contra ates administrativos que hajam CAPÍTULO Vll
ferido seus direitos. Recursos das decisões dos capitães dos por-
tos lm DÀ COMPETÊNCIA DO CONTENCIOSO
109 ADMINIS'lRÀTIVO
Dos juízes comissários
110
Dos administradores das recebedorias
110 $ 1Q -- Conipefêncfa do conferzcfoso admi/zisfrafípo
Dos inspetores das alfândegas e administradores de mesas de rendas em geral
110
Dos agentes fiscais incumbidos da arrecadação do sêco
Importância e dificuldade do assunto ]15
IV -- A punição das infrações dos regulamentos administrativos e re+
110 Os dois modos pelos quais a administraçãopode atear: ip -- Como
paração do mal causado ao público
ramo do poder social; 2ç H como representante da pessoa jurídica
À administração não pode em seus regulamentos decretar penas sem -- o Estado 116
110
autorização legislativa
'1'

244 245

Págs. Págs
Em qual dêstesdois casos tem lugar o contenciosoadministrativo e o CAPÍTULO Vlll
judiciário 116
DÀ HIERARQUIA ADMINISTRATIVA
Os dois sentidos das palavras aios admfnísfrafiuos 116

Em qual dêles tem lugar o contencioso administrativo 116 $ 1' -- 1ç gralz da /zíerarqufa .admínfsfrafípa
O /operador
Certas relações individuais e recíprocas dos particulares, a que também
se estende o contencioso administrativo 116 Necessidade da organização hierárquica na administração 123

Definição precisa dos casos a que se estendeêste contenciosoe dos que O Imperador, origem primitiva da ação governamental e administra
pertencem ao judiciário 117 uva, e da jurisdição graciosa e contenciosa da administração 124

Limites da ação das autoridades judiciárias quanto à cobrançadbs Sua irresponsabilidade e inviolabilidade 124

dívidas passivasdo Estado, das províncias e dos municípios 117


$ 2Q 2g grau da Àierarquía: -+ Os ministros e secrefáríos
O poder legislativo é obrigado constitucionalmente
a decretarfundos de Estado
para pagamentodas ditas dívidas, uma vez que tenham passado
em julgado as sentenças condenatóri'asda fazenda pública 118 Indispensabilidade dos ministros para o exercício das funções do poder
executivo 124
Foro privilegiado e juízo privativo dos feitos da fazenda em primeira
instância 125
118 Agentes auxiliares que os cercam
Os ministras são os primeiros agentes da política e ao mesmotempo
\ 2Q -- Continuação: -- Desctassificações: administradores ativos e magistrados administrativos . Recursos de
seusfitos para o chefe do poder executivo 125

Definição de desclassificação;sua divisão em duas espécies 118 125


Da responsabilidade
Para que haja desclassificação
da primeira espécienão basta que se Da acusação e julgamento 125
dêem funções judiciárias às autoridades administrativas ou vice-
versa; o que mais é necessário 118 $ 3ç + 3q gralz da ;zierazqtzla: H Os presíderzfes
de prouíncfa
Desclassificação acêrca dos contratos da administração 113

(]ue princípios determinam as desclassificações da segunda espécie 119 Os presidentesde província são agentesde todos os ministrosde Estado
125
quanto à administraçãogeral
Exemplos nos casos: de perigo iminente de guerra ou comoção 119
Limites de sua influência quanto aos serviços relativos à fazenda na-
De incêndio 120 126
cional
De desapropriação para construção de estrada de ferro 120
Os presidentessão ao mesmotempo chefesda Administração provincial 126
De prisões fiscais 120 Devem contudo executar as mesmasleis provinciais em harmonia com
De recrutamento 121 o pensamento político do govêrno imperial ]26

De detenção nos hospitais de alienados 121 Ates comprobativos desta proposição 127

Outras restrições do direito de livre locomoção 121 Irregularidade da administraçãodas províncias; antigos conselhos de
Nas prisões administrativas não há lugar o habeas.corpus 12] govêrno; conveniência do seu restabelecimento com as precisas
modificações 127
À suspensão de garantias 122
Desorganizaçãoda administração contenciosa. Sua concentração nos
As desclassificações
importa uma inflação da Constituição 122 127
presidentes
247
246
Págs.
Págs. 135
As concordatas e tratados
128 136
Àssembléias legislativas provinciais Os privilégios
129 136
Suas atribuições em geral e extensão destas As cartas réguas
Os decretos 136

11 $ 4p -- 4Q grau da hierarquia: -- l)eficiência 136


l Às resoluções de consulta
de agentes diremos locais 136
Às provisões
129
Deficiência dêstes agentes quanto aos serviços gerais e provinciais Os avisos 137
129 137
Antiga influência dos juízes de paz Às portarias
130 137
Como é hoje suprida esta lacuna Os assentos
As câmaras}nunicipais,
-- não podemservil' de agentesdiretosda
130 i 2? -- .As fórmu/as dos aros admínfsfrafípos
administração geral ou provincial
130 no íeginle ahlat
Limites da sua autonomia
130
Qual a sua missão natural
Por que estas fórmulas não tinham outrora a mesmaimportânciaque
137
Necessidade da criação de agentes diretos da administração geral e hoje têm?
provincial, e que sirvam ao mesmo tempo de executores das 138
131
Decretos do poder legislativo
posturas e deliberações das câmaras municipais 138
Fórmula da sanção e promulgação das leis
Às assembléiasprovinciais poderiam em parte prover a esta necessi 138
11 dade; antigos prefeitos e subprefeitos
131 Às resoluções legislativas
139
Decretos- imperiais
139
CAPÍTULO IX
À referendo e a responsabilidade ministerial
140
Às resoluções imperiais
140
DÀS FÓRMULAS DOS ÀTOS ADMINISTRATIVOS Sabre que consultas são elas tomadas
140
Às provisões e alvarás
140
$ 1Q -- J4a fórmulas dos aios admínísfrafíuos rzo arzfígo À.s cartas imperiais, as proclamações e manifestos
regime 141
Os avisos
As ordens do tesouro 141
133
Objeto dêsteparágrafo 141
133 Os ofícios
Reditasdas fórmulas. então usadas, ainda hoje subsistem
141
133 Os despachos
As leis em espécie,cartas de lei, cartas patentes
134 Os avisos, ordens e portarias dos ministros e secretários de Estado não
Os alvarás e provisões reais
134 podem revogar. modificar ou suspenderos decretos imperiais, e
Outras espéciesde alvarás 141
134
menos ainda as leis e decretos legislativos
Os regimentos 141
135
Coleção e impressão das decisões do govêrno
Os estatutos
Que atou da antiga legislaçãoa lei de 20 de outubro de 1823art. ]g
135
As pragmáticas 142
põs em vigor
135 '1

Os- forais
l

248 249

Págs.
CAPÍTULO X ]H nstruçHes B.o..gana pp oRBe BSPsaavno pu a8a+uBeH8ssHPBT PBeB. 148

Outras autoridades competentes. além do chefe do poder executivo,


(CONTINUAÇÃO): -- DOS DIREITOS DO PODER
para expedir regulamentos e instruções ....................... 148
EXECUTIVO
$ 2ç -- Os decretos gerais ou regzz/amenfares
S lq -- Classificação dos decretos do poder e9cecufiuo
À quem compete expedir tais decretos 149
Diversas relações sob as quais se podem considerar êssesdecretos 143

Classificação dêles em relação:


a' À atribuição regulamentar não é sujeita à provocação 149

149
Limites desta atribuição
1 -- À natureza de sua matéria;
Opinião dos que entendem que ao govêrno compete a interpretação
1 -- Aros da autoridade 143 150
das leis por meio de regulamentos
2 -- De instituição 143 Doutrina da circular de 7 de fevereiro de 1856 151

11 -- À compreensibilidade de suas disposições: Crítica desta doutrina; ao govêrno só cabe a interpretação doutrinal;
1 -- Decretos gerais ou regulamentares 144 151
a autêntica e obrigatória pertence ao poder legislativo
2 -= Especiais ou individuais 144 t52
Interpretação mista
111 -- À origem de sua autoridade:
O govêrno só pode interpretar doutrinal mas obrigatoriamente as leis
153
1 -- Decretos que emanamda natureza do poder executivo 144 políticas e administrativas; não assim as de direito privado
2 -- 1)e de]egações do legislativo; exemplos destas delegações 144 A nenhuma outra autoridade além do supremo tribunal de justiça fera
Diversas formas sob as quais são feitas; delegaçõesincondicionais 145 conveniente confiar-se a interpretação mista das leis de direito pri-
154
vado por meio .de assentos, como fazia a casa da suplícaçãa
Limitadaspela deretaçãode basesou pela sujeiçãoà apro\raçãolegis-
154
lativa 145 Atribuição análoga concedida aos tribunais do comércio
Necessidade de sanção para os regulamentos 154
Qual a extensão com que devem ser entendidas tais delegações 145

IV -- Ao modo por que são preparadas: Diversas autorizações legislativas à administração para decretação de
penas 154
1 -- Sem audiênciados conselhosde ministros e de Estado 146

146
Na falta de penas administrativas estão os regulamentos sob a salva-
2 -- Com audiência obrigatória do conselho de ministros 155
guarda do direito comum
3 -- Do Conselho de Estado 146
Os regulamentos opostos às leis são obrigatórias? 155
l 4 -- Do pi'ocurador da coroa 147
147
5 -- Dos presidentes de província $ 3' H l)ecrefos especiais e fndíuiduais
6 -- Dos tribunais de comércio 147
156
7 -- Sôbre proposta, informação ou apresentação obrigatória de certas Natureza dos decretos especiais e individuais
autoridades, como a junta central de higiene, o supremo tribunal dis
Reclamações
contra os decretosexpedidosem virtude de poder
156
de justiça, os presidentesde província, os chefes de polícia 147 cricionario
156
8 -- Com relatórios dos ministros e secretáriosde Estado 147 Recurso contra os que ofendem direitos
Direito de denúncia 157
Diferença entre regulamentos 147
157
Regimentos, estatutos 148 )
Os mesmosrecursostêm lugar quanto aos decretos de instituição
250 251

Pâgs. Págs
TITULO lll
Reclamações
a que têm dado lugar as disposiçõesdo art. 6ç $$ ip e
DOS ADMiNis'medos 2q da Constituição 168

Opinião do senador B. P. de Vasconcellos 168


l CAPITULO l
Do sr. senador Pimenta BuCHoe razões em que se funda 168

DOS ADMINISTRADOS EM GERAL Exame e refutação destas razões ]69


Patágtat:o único Disposições das leis estrangeiras sôbre êste assunto 171
a l,uta dos princípiosde soberaniaterritorial e de nacionalidadena 'antiga
Classificação dos administrados em nacionais, estrangeirose escravos 161
jurisprudência 172
Classificaçãodos seus direitos em geral em: H individuais ou funda
Tendência do direito moderno e da legislação pátria 172:
mentais 161
Filhos de brasileiros nascidos em país estrangeiro 172
Privados ou civis no sentido restrito 161

Administrativos
ou civis no sentidolato 162 Doutrina do Deck. de 10 de setembro de 18a0 173:

E políticos 162
$ 3q -- Aquisição da naciorza/idade pe/a natura/ízação
De que direitos goza cada uma das classes de administrados 162
174:
O que é naturalização
Quais os direitos garanffdos pela Constituição e como podem ser alte-
rados Disposições da antiga legislação portuguesa 174
163
E da francesa 174
Suspensão de Para/zfías 163
A quem competeentre nós a concessãodas cartas de naturalização 174

(=)ndições gerais para a naturalização 175


CAPITULO ll
oval o processo
necessário
paraêstefim 175
DOS NACIONAIS 175;
Condiçõespara que as cartas de naturalizaçãopossamproduzir efeito
$ ip + ]Voções J7erafs Classes especialmentefavorecidas para a obtenção das cartas de natu-
ralização Í76
Disposições da antiga legislação portuguêsa acêrca das condições de 178
nacionalidade 165
A naturalização é ato pessoal; consequências dêste princípio
Cartas de grande nafzzra/ízação
em trança 178
Legislação francesa sôbre o mesmo assunto 165
Restriçõesdos direitos políticos dos naturalizados 178
Às condições de nacionalidade entre nós não podem ser alteradas senão
pelo poder constituinte 166 Dispensas legislativas nas . condições para a naturalização ']78

À nacionalidade só se adquire por nascimento ou por naturalização; Favoresespeciais


acercada naturalização.
concedidos
a bemda co-
lonização 178
não pelo casamentoou pe:a exposiçãode órgãosno território na,
cional 167
$ 4' -- Perda da naciona/idade
Decreto de 10 de setembro de 1860 (art. 2ç) 167
O cidadão brasileiro não pode renunciar esta qualidade pela simples
$ 2' -- ./btzfsíção da macio/za/idadepe/o nascímerzfo manifestaçãoda sua vontade: pode porém perdê-la nos casos
Em que casos se adquirem os direitos de cidadão brasileiro pelo nas marcados na Constituição 179
cimento 167 # Análise de cada um dêstes casos 179
252 253

Págs Pâgs
1 -- A naturalização em país estrangeiro 179 IE também de amp]a liberdade:
de govêrno 1 -- De culto 190
11 -- A aceitação de emprêgo, pensão ou condecoração
estrangeiro sem licença do Imperador 180 11 # De manifestação de pensamento 191

111 -- o banimento por sentença


181 111-- De indústria 191

(quando se suspendemos direitos políticos dos cidadãos 181 llV + De acionar e defender em juízo os seus direitos 193

Suspensão parcial 181 V H De locomoção 193


l
182
Incompatibilidades
$ 3ç -- Corzfínuação: -- Z)o díreffo cle Zocomoçâo

CAPITULO lll 'Restrições do direito de locomoção 193

(quem é competente para conceder passaporte ou o -- uisfo 194


DOS ES'mANGEiROS
.Restrições especiais a que estão sujeitos os estrangeiros, como os nado
naif, residentes nas províncias do Àmazonas e Mato-Grosso 194
$ 1q -+ Carzsíderações hísfóricas
A deportação 195
e suas consequências 183
O domínio da fôrça nas antigas sociedades A. extradição 195
184
O estrangeiro estava fora da lei .Suas condições 1'96
184
índia Casos em que não pode ter lugar 196
184
Evito "l'raiados que a estipularam 197
184
Repúblicas helénicas
185 j 4' -- Díreifos dos cõ/zw/es e uíce-cõ/zstzles esfrangefros
Romã
]85 em geral
O cristianismo
186 Necessidade do conhecimento das atribuições consulares 197
Média-idade
187 IEnumeração destas funções em geral 197
Tendência da atual civilização
(classificação dos estrangeiros: .Arquivos do consulado 2W
188 :Casa de residência dos cônsules 200
l Viajantes ordinários
188 Brasileiros que exercem no Brasil as funções de cônsules estrangeiros
11 -- Emigrantes ou colonos 2:)0
188
111 -- Refugiados, emigrados e banidos
$ 5ç -- .A arrecadação de ;heranças
188
IV -- Náufragos
Direito de albinágio 201
\ 2e -- Direito dos estrangeiros em anal Sua aboliçãona trança 201

Os estrangeiros não podem exercer funções políticas; proibições ex- Legislaçãoinglêsa e de outras nações a êste respeito 201
188
pressas nas leis Nunca existiu em Portugal e no Brasil 202

Gozam, porém, dos direitos de propriedade e segurançaem igual ex Modificações por que tem passado a nossa legislação sôbre a arrecada
tensão aos dos cidadãos, salvo ligeiras diferenças 190 f ção de heranças 202
254 255

Pãgs. Pães.
201 221
Disposiçõesda legislação em vigor IModificaçõesda nossalegislaçãoa êste respeito
a forma
Estados que têm estipulado com o Brasil a reciprocidade sôbre .A.boliçãoda guerra e cativeiro dos indígenas 222
206
da arrecadação de heranças dos estrangeiros Sistema de catequese oficial 222

$ 6' -- as corluenções corzsuZares Importação de africanos 223


207 Cessação do tráfico 223
Convenção consular com a Fmnça
207 Legislação relativa ao assunto 223
1 -- Direitos. privilégios e imunidades consulares
209 Devolução dos escravos que fogem para o território dos Estados limí-
11 + Funções de notariado
210: trofes 224
111 -- Funções de arrecadação de heranças
211 225
IV -- Funções de polícia
Ampliação dos casosde devolução.em relação à república do Uruguai
212
V -- Outras funções consulares $ 3' « Condição ahaJ dos escravos
213
Convenções consulares estipuladas com outras nações
213 225
llnica origem atual da instituição da escravidão
N'ovas questões e solução que lhes deu o governa
hlodos de direito romano pelos quais se caía no estado de escravidão. . 226
226
CAPÍTULO rv IRevogação da alforria
Venda de si mesmoe do filho em extrema pobreza 226
DOS ES(R.AVOS .Cuidados que a legislaçãopresta aos escravose direitos que lhes re-
conhece 227

n 227
pelo consentia unto exoresso
press ou tácito do senhor
$ ip -- Corzsfderações bísfórícas
1 -- Alforria
215 [[ H Por benefício da ]ei 227
O bárbaro direito da guerra primitiva
215 alegadode certa quanta-a
para auxiliar um escravona aquisiçãode sua
Instituição da escravidão 227
216; liberdade
Agia
[111--(quando os escravos pertencentes à nação têm direito à alforria 227
216
Repúblicas helênícas
21& :lV # Preferência do lanço para a liberdade a outro qualquer, embora
Romã 228
219' superior, quando os escravos vão à praça, como bens do evento ..
O colonado. Os bárbaros; Jeufen e escravos 228
Escravos pertencentes às heranças jacentes
219*
Média-idade; os servos
V H Escravos,imoderadamente
castigadostêm direito a obrigar os
Influência do Cristianismo em favor da liberdade 219 228
senhores a que os vendam
219
Opinião de alguns SantosPadres :Providências sôbre estes castigos imoderados 228
220'
Lei básica
VI -- Liberdade concedidapelo govêrno aos escravos em casos ex'
traordinários 229
$ 2' -- Origem da escrapídão entre rzós
'Vll -- Direito dos escravos a contrair matrimónio e a receber qualquer
221
À escravidão em Portugal outro sacramento.
menoso de ordem 229
221
Cativeiro dos indígenas do Brásit
'Vlll -- Direito de comparecerem
em'juízo, com assistênciado curador,
221 Í 229
Proteção que lhes foi prestada pelos PP. da (1)mpanhia nas causas espirituais, matHmoniais e de liberdade
256

Pães.
229'
IX -- Capacidade para deparem em juízo, como informante
229 l
Favores concedidos às causas de liberdade
230
Intervenção do govêrno em casos individuais a favor da alfonia
Legados de liberdade com a condição de prestação de serviços por
certo prazo 230

Escravos libertados além das fôrças da terça 230


V
ÍNDICE SINTÉTICO
lpTedidasrepressivas e preventivas peculiares a que os escravos estão
sujeitos 230
Págs.
l -- .Penalidade especial 230:
Apresentação 5
11 Necessidadede passaportes para viajarem 231
Bibliografia de J. A. Ribas 11

111-- Vigilância sôbre a formação dos quilombose sua destruição 231 Prefácio 13

IV + Proibição do serviço dos escravos nas repartições públicas e


estudas de ferro 231'
TITULO l
V -- Impõsto pela sua conservaçãonas cidadese vilas 231

Outras providências especiaisrelativas aos escravos 231 DA CIÊNCIA DO DIREITO ÀDMINIS'lRATIVO


CAPÍTULO l
Conclusão 23k
DO DIREITO ÀDMINIS'lRÀTIVO

$ 1' -- Piano da obra 21

Ê 2p -- Origem histórica 22
$ 3p -- Definição do direito administrativo 26
Ê 4' -- Objeto do direito administrativo 30

CAPITULO ll

DAS CIÊNCIAS AUXILIARES E FONTES

DO DIREITO ÀDMINI.STRÀTIVO

$ ip H Ciências auxiliares em geral 33

$ 29 -- Ciência da administração 34

1 3? + Direito público positivo 36

$ 4? -- Direito privado 38
$ 5' - Fontes do direito administrativo 40
Livraria $ 6' + Bibliografia do direito administrativo 42

'7

PreÇO

c.P
L/.;+.j
258 259

Págs Pães
'tiTULO ll
\
CAPÍTULO VI

DÀ ADMINISTRAÇÃO CONTINUAÇÃO:-- DO CONTENCIOSO


ADMiNis'moTivO
CAPÍTULO l
103
DA NA'l'UREZÀ E DIVISÕES DO PODER
$ 1q Origem do contencioso administrativo
$ 2ç -- Classificação das funções administrativas. contenciosas 107
POLÍTICO
$ 3p + Organização da administração contenciosaem geral 112
47
$ 1q -- Natureza do poder político
50
} 2Q -- Divisões do poder político CAPÍTULO Vll
52
$ 3q -- Teoria constitucional
DÀ COMPETÊNCIA DO (CONTENCIOSO
CAPÍTULO ll
ADMINISTRATIVO
DÀS RELAÇÕESDA ADMINBTRAÇÃO COM ]15
OS PODERESDO ESTADO $ ip -- Competência do contencioso administrativo em geral
118
$ 2p -- Continuação: -- Desclassificações
} lq ações da administração com os poderes moderador e exe-
55
cutivo -- governamental
59 CAPÍTULO Vlll
$ 2p -- Relações da administração com o poder legislativo
65
$ 3p - ilações da administração com o poder judicial DA HIERARQUIA ADR#INISTRATIVÀ
CAPÍTULO lll 12.3
$ 1q'-- 1? grau da hierarquia administrativa: -- O Imperador
DÀS CONDIÇÕES ESSENCIAIS DA ORGANIZAÇÃO $ 2q -- 2' grau da hierarquia: -- Os ministros e secretários de Estada 124
ADMINIS'lRÀTIVA 125
$ 3' --- 3' grau de hierarquia: -- Os presidentes de províncias
69 129
$ 1q -- Da unidade $ 4ç -- 4g grau da hierarquia: -- Deficiência de agentes diretos locais
73
$ 29 -- A
independência
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO IV
DÀS FÓRMULAS.DOS ÀTOS ADMINISTRATIVOS
DA NATUREZA DÀS FUNÇÕES
ADMiNis'mÀTivÀS $ 1ç -- As fórmulas dos atos administrativos no antigo regime
133

77 137
ê l9 -- Divisões gerais $ 2q -- Às fórmulas dos fitos administrativos em regime atual
78
$ 2p -- Funções diretas e indiretas
81 CAPÍTULO X
$ 3g -- Funções consultivas e ativas

CAPÍTULO V CONTINUAÇÃO: H DOS DECRETOS DO PODER


EXECUTIVO
DAS RELAÇÕES ESPONTÂNEAS
EJunlSoicioNAis 143
$ ip -- Classificação dos decretos do poder executivo
85 149
$ 1P -- Funções espontâneas e jurisdicionais em geral $ 2q H Decretos gerais ou regulamentares
86 156
$ 2q -- Funções espontâneas
97 $ 3' -- Decretos especiais e individuais
} 3ç - unções jwisdicionais
- 260

TÍTULO lll

DOS ADMINISTRADOS

CAPÍTULO l

PARÁGRAFO ÜNICO

Dos administrados
em geral 161

CAPITULO ]l

DOS NACIONAIS

IQ H lçoções gerais ]65


2p H Aquisição da nacionalidade pelo nascimento 167

3? -- Aquisição da nacionalidade pela naturalização 174

4' -- Perda da nacionalidade 179

CAPITULO ]ll

DOS ESTRANGEIROS

lç -- Considerações históricas 183

29 -- Direitos dos estrangeiros em geral 188

3Q -- Continuação: -- O direito de locomoção 193

49 -- Direitos dos cônsules e vice-cônsules. estrangeiros em geral 197

5q -- A arrecadação de heranças 200


6' + As convenções consulares 207

CAPÍTULO ]V

DOS ESCRAVOS

$ 1Q-- Considerações históricas 215

$ 29 --- Origem da escravidão entre nós 221

$ 3' -- Condição anual dos escravos 225


Índice analítico 234

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