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JOÃO PESSOA
2021
Lucas Benjamin Potiguara
JOÃO PESSOA
2021
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Laura e a Lis, minha família, por terem sempre me apoiado e me ajudado durante
todo o processo deste trabalho, me dando muito amor e carinho. Espero retribuir em dobro.
Aos meus pais e a minha irmã, por terem me propiciado uma ótima educação e por todo o
companheirismo.
À minha querida orientadora Juciane Araldi, por ter aceitado ser minha orientadora, pelas
orientações valiosas, por toda a paciência e pelo empenho em me ajudar nesse desafio.
Aos professores, Francisco de Assis Santana e Marcos Rosa, por prontamente terem aceitado
fazer parte da banca avaliativa, pelas correções, sugestões e provocações que contribuíram
para o aprimoramento da versão final deste trabalho.
Aos meus amigos queridos da graduação, com quem convivi intensamente durante os últimos
anos, pelo companheirismo e pela troca de experiências que me permitiram crescer não só
como pessoa, mas também como formando.
À todos os participantes desta pesquisa, por toda disponibilidade e por sua enorme
contribuição.
E a todas as pessoas que estiveram comigo nessa caminhada, e que contribuíram diretamente
ou indiretamente para essa realização
RESUMO
Este texto tem como temática a tecnologia como recurso na aprendizagem da bateria. Trata-se
de um trabalho de conclusão de curso (monografia) e tem como objetivo geral: compreender
qual o papel dos recursos tecnológicos no processo de aprendizagem do instrumento para os
estudantes de bateria do curso de licenciatura em música da UFPB. Os objetivos específicos
são: analisar quais tecnologias estão presentes no processo de estudo da bateria e como são
utilizadas pelos alunos; discutir desafios e possibilidades do uso dos recursos eletrônicos para
a aprendizagem de bateria; verificar a articulação dos recursos tecnológicos nas aulas de
bateria da UFPB. A metodologia consistiu num estudo qualitativo tendo como fonte de dados:
pesquisa bibliográfica e entrevista coletiva com estudantes de bateria da UFPB. A revisão de
literatura aponta que há uma unidade em relação à potencialidade das transformações
tecnológicas nas formas de aprender, ensinar e consumir música, principalmente tendo como
foco o uso da tecnologia no processo de ensino-aprendizagem do instrumento. Mas também
é possível perceber uma lacuna quando procuramos tratar do ensino-aprendizagem de bateria
aliado a tecnologia, utilizando esta como recurso para a aprendizagem. Os principais
resultados mostram que o uso de recursos tecnológicos podem proporcionar o
desenvolvimento de diferentes experiências de aprendizagem da bateria, como o
desenvolvimento da autonomia e da autoaprendizagem.
This text has as its theme technology as a resource in learning the battery. This is a course
conclusion work (monograph) and has the general objective: to understand the role of
technological resources in the instrument learning process for drum students in the music
degree course at UFPB. The specific objectives are: to analyze which technologies are present
in the battery study process and how they are used by students; discuss challenges and
possibilities of using electronic resources for battery learning; verify the articulation of
technological resources in the UFPB battery classes. The methodology consisted of a
qualitative study having as data source: bibliographical research and collective interview with
UFPB drum students. The literature review points out that there is a unity in relation to the
potential of technological transformations in the ways of learning, teaching and consuming
music, mainly focusing on the use of technology in the instrument's teaching-learning process.
But it is also possible to notice a gap when we try to deal with the teaching-learning of battery
combined with technology, using this as a resource for learning. The main results show that
the use of technological resources can provide the development of different battery learning
experiences, such as the development of autonomy and self-learning.
INTRODUÇÃO 11
1. ESTUDOS SOBRE BATERIA E TECNOLOGIA 15
1.1. A BATERIA E SEUS ASPECTOS MUSICAIS E PEDAGÓGICOS 15
1.1.1 História da Bateria 15
1.1.2 Bateria no Brasil 17
1.1.3 Ensino-aprendizagem na bateria 18
1.2 TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO MUSICAL 21
1.2.1 Tecnologia e ensino de música 21
1.2.2 Tecnologia e ensino/aprendizagem de instrumentos 22
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA 25
2.1 SELEÇÃO DOS PARTICIPANTES 25
2.2 REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS 26
3. RECURSOS TECNOLÓGICOS E APRENDIZAGEM DE BATERIA NA
PERSPECTIVA DOS ESTUDANTES ENTREVISTADOS 28
3.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS 28
3.2 COMO APRENDERAM A TOCAR BATERIA 29
3.3 USO DA TECNOLOGIA NO ESTUDO DA BATERIA 31
3.3.1. Redes e mídias sociais no estudo da bateria 31
3.3.2 Potenciais e desafios no acesso às informações sobre bateria na internet:
construindo a autonomia 34
3.3.3 Apreciação e autoaprendizagem com recursos de gravação 36
3.3.4 Recursos que integram a prática e aprendizagem da bateria 39
3.3.5 O uso de tecnologias nas aulas de bateria na UFPB 44
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 47
REFERÊNCIAS 52
APÊNDICE 54
11
INTRODUÇÃO
1
Termo utilizado em inglês para quando um baterista toca bateria acompanhando uma música gravada, imitando
ou tocando junto de uma bateria já gravada na música.
12
com o uso das gravações de áudio e vídeo. Também criei um canal no YouTube2 e produzi
alguns vídeos meus fazendo drum covers. Nesse período também comecei a explorar o uso de
equipamentos tecnológicos durante a minha prática na bateria, visto o que fiz na apresentação3
do meu recital de conclusão de curso. Pesquisei sobre o uso de pedais de loop durante a
performance e o estudo na bateria, utilizei esse recurso em uma parte da minha apresentação.
Durante a minha graduação consegui desenvolver ainda mais as práticas que explorei
durante meu curso do IFPB, fui capaz de levar práticas utilizadas unicamente no meu estudo
de instrumento para as minhas performances, e ainda consegui explorar outras possibilidades
de uso das tecnologias como recurso e que me trouxeram ótimos benefícios.
Em virtude da minha relação com o uso da tecnologia e o estudo de bateria, vejo a
necessidade de pesquisar mais sobre como a tecnologia pode influenciar na aprendizagem da
bateria, buscando refletir sobre o diálogo entre a bateria e os diversos usos que a tecnologia
nos proporciona nos tempos atuais e como essa utilização contribui para a aprendizagem da
bateria. Visto isso, nesta pesquisa teremos como enfoque compreender como os bateristas
utilizam a tecnologia como recurso para o aprendizado do instrumento.
Esse trabalho tem como foco principal discutir acerca da aprendizagem da bateria
aliado ao uso de recursos tecnológicos nesse processo, procurando compreender quais são as
práticas e que recursos são utilizados por bateristas no seu processo de aprendizagem. Assim,
faz-se necessário um estudo mais aprofundado sobre os diferentes processos de aprendizagem
de bateria e como a tecnologia pode agregar nesses diferentes processos. A fim de
entendermos mais sobre esses assuntos, temos como questão principal o seguinte problema de
pesquisa: o papel dos recursos tecnológicos no processo de aprendizagem da bateria para
os estudantes de bateria do curso de licenciatura em música da UFPB?
Neste trabalho, tivemos como objetivo geral: compreender qual o papel dos
recursos tecnológicos no processo de aprendizagem do instrumento para os estudantes
de bateria do curso de licenciatura em música da UFPB. Assim, seguindo os objetivos
específicos desta pesquisa, discutimos o processo de aprendizagem de bateria e a relação entre
a tecnologia e a educação musical, verificamos quais recursos tecnológicos e como são
utilizados no processo de aprendizagem de bateria, buscando também identificar as
potencialidades e desafios descobertos nesse processo de aprendizagem de bateria e por fim,
investigamos a articulação dos recursos tecnológicos nas aulas de bateria da UFPB.
2
Disponível em: https://www.youtube.com/channel/UCbBtA7UzFBgvIgWqYASZQWw. Acesso 26 de jul de 2021.
3
Disponível em : https://www.youtube.com/watch?v=F2dhPT0DI3k&t=829s. Acesso 26 de jul de 2021.
13
estudados frente à prática baterística dos entrevistados, como relatado por eles e de minhas
experiências e perspectivas sobre o uso de recursos tecnológicos no processo de
aprendizagem de bateria.
15
4
Disponível em: <https://vicfirth.zildjian.com/education/history-of-the-drumset-part-01.html>. Acessado em 06
de jul de 2021.
16
5
Disponível em: <https://vicfirth.zildjian.com/education/history-of-the-drumset-part-02.html>. Acessado em 06
de jul de 2021.
17
Figura 3: Baterista Gene Krupa com seu drum set e a configuração da bateria como
conhecemos hoje
A bateria foi introduzida no Brasil por volta da década de 1920, na época em que
o cinema mudo e as jazz bands estavam em alta. Com a propagação da dança e da música
estadunidense no Brasil, grupos brasileiros, ao agregarem os ritmos norte-americanos à sua
música, passaram a ser conhecidas como jazz bands (BARSALINI, 2013). Entretanto, vale
salientar que as jazz bands brasileiras não contavam com um repertório somente jazzístico,
como o das jazz bands norte americanas. Os grupos brasileiros dispunham de um som mais
6
Disponível em: <https://vicfirth.zildjian.com/education/history-of-the-drumset-part-9.html>. Acesso em 06 de
jul de 2021.
18
dançante e moderno para época, as influências americanas eram mais visíveis nas vestimentas
e na instrumentação.
Autores como Barsalini (2013) e Faleiros (2000 apud BASTOS, 2010)
consideram Luciano Perroni (1908 - 2001) o pai da bateria brasileira. Faleiros (2000 apud
BASTOS, 2010, p. 16) ainda afirma que, “foi Luciano Perrone quem inventou a bateria no
Brasil. Este típico instrumento americano recebeu através das mãos deste baterista, o suingue
e a nobreza dos ritmos brasileiros”. Barsalini (2013) aponta Perroni como o responsável por
parte das transformações musicais ligadas à área da percussão em sua época.
Com o passar das décadas, a bateria foi se tornando cada vez mais popular no
Brasil, como aponta Patriarca (2014), na década de 1950 a chegada da bossa nova e a criação
do ritmo da bossa nova na bateria, tocado com vassourinhas, chamou a atenção e influenciou,
como afirma o autor, “bateristas do mundo inteiro com esse novo estilo” (PATRIARCA, 2014,
p.13). Bastos (2010) aponta em seu trabalho que o movimento tropicalista como mais um dos
responsáveis pela popularização do instrumento. O autor constata que a partir das décadas de
1960 e 1970, o acesso a instrumentos musicais foi ampliado graças ao surgimento de fábricas
nacionais. E que “com a abertura do mercado brasileiro às importações ocorrida na década de
1990, teve início um processo de fortalecimento da indústria nacional, que passou a competir
com as estrangeiras” (BASTOS, 2010, p. 16). E que em consequência disso, a bateria foi
ficando cada vez mais popular e em decorrência dessa popularização, “o mercado do ensino
de bateria se ampliou de forma considerável”(BASTOS, 2010, p. 16).
observação atenta da performance de outros músicos, a fim de entender cada detalhe do que é
tocado. As observações podem ocorrer tanto em apresentações ao vivo, como em vídeos
disponibilizados na internet, que também são conhecidas como videoaulas. Como também
vídeo de performances disponibilizados na Internet podem ser utilizados para a aprendizagem
do instrumento
Atualmente já é possível estudar bateria em ambientes de ensino formal. Bastos
(2010) afirma que a bateria e a percussão passaram por um processo de escolarização a partir
da década de 1980 e hoje em dia esses instrumentos já estão inseridos em conservatórios,
institutos federais, faculdades privadas e universidades públicas. Entretanto, Bastos (2010) em
sua dissertação teve como objetivo conhecer as trajetórias de formação de bateristas que
buscaram estudar o instrumento em ambiente de ensino formal e observou que os bateristas
investigados, mesmo depois de terem ingressado em ambientes de educação formal e
não-formal, ainda continuaram a aprender, cada um da sua forma, de maneira informal. O
autor afirma que “isto foi percebido nos relatos dos entrevistados com relação às suas posturas
em momentos nos quais detectaram que a escola eventualmente não abrange tudo” (BASTOS,
2010, p. 100).
Como dito anteriormente muitos bateristas estudam seu instrumento por conta
própria, mesmo aqueles que têm acesso a aulas em ambientes de ensino formal. Muitas das
informações são obtidas através da internet, ou outras mídias físicas. Desta maneira, em sua
pesquisa, Daniel Gohn (2016) buscou abordar o uso de aplicativos para o aprendizado de
bateria, procurando entender e discutir como as tecnologias têm modificado o aprendizado do
instrumento.
Com o surgimento da internet, surgiram novas oportunidades de se aprender um
instrumento, neste caso a bateria. Segundo Gohn (idem), é possível encontrar facilmente
ofertas diversas de materiais didáticos, videoaulas e aulas online de diversos instrumentos,
inclusive a bateria, possibilitando um contato mais imediato do aprendiz com o professor de
música. Um outro marco importante apontado pelo autor é o surgimento do YouTube:
A criação do YouTube, em 2005, tornou comum a visualização de vídeos
pelas redes eletrônicas, incluindo registro de performances e materiais
didáticos de bateria, assim como de outros instrumentos. Para aprender a
tocar uma música, um indivíduo poderia não somente ouvir gravações
repetidamente, mas também assistir aos movimentos realizados pelos
instrumentistas para produzir os sons registrados (GOHN, 2016, p. 62).
Vale ressaltar que apesar do baterista passar a ter acesso a mais informações
referentes ao seu instrumento, ele não tem como saber se aprendeu de fato, pois como não
20
existe interação entre quem publicou o material e o baterista, ele não tem como saber se está
tocando corretamente os exercícios propostos ou até se a sua tentativa de tocar uma música foi
bem sucedida (idem, 2016). O autor ainda reforça que mesmo em contextos onde um músico
ou professor prepara um material didático e posta no YouTube, só é possível estabelecer
alguma interação entre quem produziu o material e quem assistiu, se algum canal de
comunicação for disponibilizado. Podemos considerar também que “ [...] gravações de áudio
e vídeo preservam performances virtualmente por tempo indefinido e não há garantias de que
o músico ainda esteja atuante e disposto a interagir com aprendizes” (GOHN, 2016, p. 62).
Entretanto, é importante apontarmos que no Youtube a interação pode ocorrer por vezes
através dos comentários e redes de comunicação. Como é o caso de vídeos onde o vlogger7
que produziu o conteúdo pede para que seu público entre em contato e interaja por meio dos
comentários do vídeo.
A partir dessa necessidade de uma maior interação entre aluno e professor, novas
plataformas surgiram na internet com o objetivo de oferecer conteúdos específicos para o
estudo de bateria, em forma de websites. Daniel Gohn (2016) cita alguns sites que oferecem
serviços direcionados para o ensino de bateria: “Lesson Face”, “Drumeo”, “Drum Channel” e
o “Artist Works”. Todos esses websites oferecem serviços pagos de aulas de bateria das mais
diversas formas, seja por disponibilização de videoaulas gravadas, aulas com interação em
tempo real utilizando videochamadas, ou interação por vídeos gravados. A principal diferença
entre os vídeos disponibilizados no YouTube e os disponibilizados por esses websites é que no
Youtube os vídeos geralmente são “soltos”, não seguem e nem são disponibilizados
necessariamente seguindo uma organização didática, diferentemente do que acontece nos
websites.
Como já citado anteriormente, uma prática comum entre os bateristas é a de tocar
ouvindo uma música, que consiste basicamente em ouvir o que foi gravado e em seguida
executar tocando e ouvindo a música. Essa prática pode ser feita tanto com uma música onde
temos presente o áudio da bateria, como também com os play alongs, que são músicas onde o
som da bateria é suprimido para que o baterista tenha a sensação de estar tocando junto com
uma banda, como se fizesse parte do conjunto. Essa prática é importante no estudo da bateria
e é um exemplo de como a tecnologia integra esse processo de aprendizagem e prática no
instrumento.
7
Produtor de conteúdo audiovisual para internet como uma espécie de diário pessoal.
21
instrumento, então é preciso refletir sobre como devemos utilizar essas tecnologias, de
conceitos, técnicas e habilidades musicais.
Ou seja, a tecnologia pode ser uma ferramenta agregadora no que diz respeito ao
processo de ensino-aprendizagem do instrumento. Ela pode trazer novas formas de avaliar,
24
Com relação à escolha dos participantes, em artigo escrito por Boni e Quaresma
(2005, p. 73) elas afirmam que “os participantes [podem ser escolhidos] a partir de um
determinado grupo cujas ideias e opiniões são do interesse da pesquisa”. Assim, o grupo
de entrevistados escolhidos para participar foi selecionado a partir do objetivo da pesquisa e
do foco em estudantes do curso de Licenciatura em Música - Bateria, da UFPB. Tendo em
vista que o objetivo da pesquisa é compreender qual o papel dos recursos tecnológicos no
processo de aprendizagem do instrumento para os estudantes de bateria do curso de
licenciatura em música da UFPB, entendemos que seria importante que todos os alunos, ou
a maioria dos matriculados, pudessem contribuir com a pesquisa.
Dentro de todo o curso estão matriculados onze alunos que cursam do primeiro
período (período inicial), até o oitavo período (período final). Porém, destes onze alunos
apenas seis estão matriculados e efetivamente participando das aulas da disciplina de Classe
de Bateria. Vale salientar que além dos seis alunos matriculados, outros quatro alunos de
bateria estão participando das aulas como ouvintes, totalizando assim um número de dez
alunos que participam efetivamente das aulas. É importante ressaltar aqui que, enquanto aluno
8
A Classe de bateria é um Componente Curricular Obrigatório dentro do Curso de Licenciatura em Música da
UFPB, para os alunos com habilitação em bateria. Esta disciplina agrega (obrigatoriamente) alunos matriculados
até o 5º período do curso em aulas coletivas.
26
do curso de licenciatura em música com habilitação em bateria, também estou entre esses dez
alunos participantes das aulas de classe de bateria, portanto apenas oito dos dez alunos
participantes puderam efetivamente participar desta pesquisa. Por critérios de disponibilidade,
apenas oito alunos destes participaram das entrevistas desta pesquisa.
Aqui falaremos sobre o perfil dos alunos entrevistados nesta pesquisa. Dentre os oito
alunos participantes, cinco alunos estão matriculados na disciplina de classe de bateria e três
alunos estão matriculados no curso de bateria e participam da disciplina de classe de bateria
apenas como ouvintes. Por tratar-se de uma disciplina que reúne quase todos os alunos de
bateria do curso de licenciatura em música, este grupo apresenta diferentes vivências musicais
e diferentes características.
Elaboramos um quadro (ver Quadro 1) contendo informações com o propósito de
contribuir para o melhor entendimento do perfil dos entrevistados:
Quadro 1 - Perfil dos alunos entrevistados
A partir do que foi apresentado no Quadro 1, acima, destaco aqui alguns pontos sobre
o perfil dos alunos. Primeiro podemos observar que dos oito alunos entrevistados, metade
teve a bateria como seu primeiro instrumento dos quatro alunos que não tiveram a bateria
como primeiro instrumento, dois tiveram a percussão como primeiro instrumento e os outros
dois tiveram a guitarra e o violão como instrumentos anteriores à bateria.
Todos os alunos entrevistados são homens. A faixa etária é variada, o que é natural nos
cursos de graduação em música, pois enquanto alguns alunos ingressam no curso logo após o
término do ensino médio, outros só vão entrar no curso anos depois. Neste caso é comum que
já estejam atuando profissionalmente e buscam no curso mais uma opção de formação. O
tempo que tocam bateria também é um dado que reúne iniciantes e mais experientes na
mesma turma. Mesmo entendendo que as aulas de bateria se dão de forma individual, nas
aulas de classe de bateria as aulas são coletivas e isso possibilita uma diversidade em vários
aspectos: vivências anteriores e concomitantes a bateria, momentos de vida distintos, tempo
de contato com o instrumento e etc.
Durante as entrevistas, alguns alunos relataram manter entre eles uma rede de contatos
e ajuda em relação ao estudo e suas vivências na bateria. Vale salientar que os alunos mais
velhos da turma já se conheciam antes de ingressarem no curso de licenciatura em música,
alguns até já tiveram relação de aluno e professor, como é o caso do aluno Hugo, que relatou
ter tido aulas de bateria com o aluno entrevistado Ewerton. Alguns alunos também participam
conjuntamente de atividades musicais na UFPB, como é o caso dos alunos Rodrigo, Hugo e
Marcos, que atuam em gravações de grupos de trombone da universidade.
Quando questionados sobre como se deu o início de seus estudos na bateria, apenas
um aluno começou a estudar bateria em um ambiente de ensino formal, os outros sete
entrevistados estudaram por conta própria ou a partir de aulas particulares.
Por fim, a partir dos dados obtidos e analisados das entrevistas, foi possível constatar
que todos os entrevistados fizeram uso de pelo menos um recurso tecnológico em seu estudo
de bateria. Este dado é importante e relevante para o prosseguimento desta pesquisa.
Adessi (2019) chamam de “feedback auditivo”, mesmo que o som reproduzido no editor de
partituras não seja uma reprodução do que o aluno executou, ele pode utilizar o áudio do
software como referência para a sua prática. O aluno Marcos também segue uma perspectiva
do uso da tecnologia na educação musical levantado por Rodrigo Schramm (2009), que é o
“aprendizado de música através do uso da tecnologia”, onde o baterista utiliza a tecnologia
como um recurso que auxilia no aprendizado do instrumento.
Podemos entender que o software faz nesta situação, em parte, um papel que em outro
momento poderia ser exercido pelo professor de bateria, pois o baterista executa o ritmo
desejado na bateria e em seguida escuta o ritmo escrito no programa. Logo, ele entende que
está executando o ritmo corretamente, quando sua execução está soando semelhante ao áudio
reproduzido no software.
Entretanto, a figura do professor não torna-se substituível, na verdade ela pode fazer-se
necessária, na medida em que é importante ter a avaliação e orientação do professor, pois em
algumas situações o aluno ainda não tem o entendimento necessário para se autoavaliar,
principalmente se pensarmos aqui em alunos iniciantes no instrumento, como relata o aluno
Kamillo sobre suas experiências com o uso da observação de videoaulas durante seus anos
iniciais no instrumento, “isso daí foi uma escola para mim durante muito tempo, que tem seus
pontos positivos e os negativos, os negativos é porque a gente não tem como ser avaliado se tá
fazendo certo”. Notamos assim o papel do professor como figura que deve encaminhar,
ajudar, observar e orientar o estudante durante seu processo de aprendizagem no instrumento.
Ademais, apesar de entendermos que o professor pode ter um papel relevante dentro
desse processo inicial de aprendizagem da bateria, é possível perceber que os próprios
bateristas, de maneira individual, já conseguem desenvolver diferentes formas de estudar seu
instrumento.
Ao refletirmos sobre o papel que as redes sociais9 e mídias sociais10 têm no processo
de aprendizagem da bateria, compreendemos que estas também possibilitam ao baterista um
diferente fazer musical, na medida em que estes ambientes virtuais nos trazem uma outra
perspectiva do que é praticar música. O entrevistado Marcos relata que quando começou a
tocar bateria já utilizava as redes sociais para disponibilizar seus registros na bateria, porém,
seu uso não era focado na autoavaliação e sim em disponibilizar material para divulgação do
seu trabalho. Como expõe o entrevistado, “eu não fazia no sentido de me avaliar, eu fazia mas
9
Ambientes virtuais desenvolvidos para interação entre pessoas, possibilitando que o usuário compartilhe
informações sobre si mesmo para seus amigos ou outras pessoas. Como por exemplo o Instagram.
10
Ambientes virtuais de senvolvido para a divulgação de conteúdo, notícias e informações. As interações aqui,
diferentemente das redes sociais, ficam em segundo plano. Como por exemplo o YouTube.
33
no sentido de divulgar, [..] eu tinha essa visão de querer ocupar um espaço”. Esta fala do
aluno Marcos nos faz refletir sobre o papel que as redes sociais podem ter na vida profissional
do músico. As redes sociais possibilitam um acesso imediato a diversos tipos de conteúdos e
diferentes grupos sociais que consequentemente proporcionam uma conexão entre as pessoas
que antes não existia e que também proporcionam uma maior autonomia do baterista, visto
que ele é quem controla o que produz e expõe nas suas redes.
O fazer musical nas redes sociais não precisa ter relação com o fazer musical que é
feito fora desse ambiente, nem tampouco ter qualquer relação com objetivos e perspectivas de
ensino-aprendizagem da bateria. O fazer música pode ter outros objetivos e perspectivas, o
baterista pode não querer fazer música com o objetivo de tocar com artistas ou promover-se
como músico free lancer, mas sim com o objetivo de produzir conteúdo para a internet. Essa
prática de baterista que produz seu próprio conteúdo ou que se apresenta como digital
influencer, já é bastante difundida no YouTube, são diversos os canais e bateristas que se
propõem a produzir conteúdos voltados exclusivamente para a bateria, seja com a gravação de
drum covers, vídeos com dicas de manutenção do instrumento, dicas de microfonação de
bateria, etc. No Instagram estes bateristas também estão presentes com contas profissionais
voltadas apenas para a produção de conteúdo de bateria e para bateristas.
Esse fato no faz refletir sobre as diversas outras práticas que as redes sociais podem
proporcionar para o baterista independente do seu objetivo, entendemos que isso pode ser
vantajoso para o músico, uma vez que ele tem acesso a um ambiente onde é possível expôr
para inúmeras pessoas o seu trabalho e consequentemente utilizar dessas redes como vitrine
para a sua prática musical e para o seu trabalho.
Outra reflexão que levantamos aqui, é a de como esse outro fazer musical pode ter
relação com os processos de aprendizagem dos próprios bateristas que produzem conteúdo
nesse ambiente, mesmo que não seja uma prática feita com essa consciência. Podemos pensar
também que a disponibilização desses materiais podem também afetar os processos de
aprendizagem de outros bateristas.
Compreendendo que esta prática já é recorrente, como relataram alguns dos
entrevistados, sobre o uso que os bateristas que eles acompanham fazem, através de lives no
instagram, torna-se importante discutir e ter um olhar mais atento acerca do papel que essas
redes sociais têm para a carreira do baterista.
34
A fala do João traz para a discussão dois fatores que são cruciais nesse processo de
articulação entre a tecnologia e a aprendizagem da bateria, que é o volume excessivo de
materiais disponíveis e a falta de orientação durante o processo de ensino-aprendizagem da
bateria.
O primeiro fator aqui exposto está relacionado a diversas questões referentes a
benefícios e malefícios ocasionados pela tecnologia, como o imediatismo, por exemplo. Nesse
sentido, os autores, Junger, Amaral, Leite, Pertanella e Lui (2018, p. 8) apontam que, “[...] a
35
influência das tecnologias faz com que os jovens sejam cada vez mais imediatistas e
consumistas”. Em relação a este imediatismo, o aluno entrevistado Kamillo lança a seguinte
crítica: "as pessoas não estão sabendo usufruir do que tem, meio que a informação perdeu o
valor. [...] Hoje em dia a gente tem vídeo, a todo tempo no YouTube. Muitas vezes a galera
não assiste, bota um pedacinho, não curte, vai para outro. Tá faltando um pouco de foco”.
Este pensamento trazido por Kamillo alinha-se a uma colocação que o sociólogo Bauman
(2016 apud JUNGER et al, 2018) faz em uma palestra:
[...] há uma crise de atenção, tendo em vista a quantidade de notícias
recebidas ao mesmo tempo. Isso faz com que os indivíduos não consigam
mais se concentrar e se dedicar em um longo período de tempo em uma
única atividade, ou seja, buscam sempre uma mudança em algo no dia a dia,
estão se tornando cada vez mais líquidos (BAUMAN, 2016 apud JUNGER
et al, 2018, p. 8)
Isso nos leva a refletir sobre como o acesso a excessivas informações pode ser
negativo para o estudante, pois pode trazer mais dúvidas e frustrações do que aprimoramento
de seu conhecimento. Além de quê, nos mostra que talvez seja importante para o estudante ter
o auxílio de um professor para ajudá-lo a conduzir melhor seu estudo, e possibilitando
também ao aluno um melhor entendimento de quais materiais podem ser mais interessantes
para o seu estudo. Como exposto anteriormente, nem todo material disponibilizado no
YouTube, por exemplo, tem uma finalidade pedagógica, ou seja, tem o intuito de ensinar algo,
o objetivo do material exposto na internet pode ter diversos outros fins. O professor pode
entrar em cena atuando como mediador, estabelecendo com o estudante pontos a serem
observados durante sua prática, para que assim com o tempo o próprio baterista consiga obter
a sua autonomia em relação ao seu estudo.
A construção da autonomia pode estar ligada com os processos de autoavaliação.
Sobre isso, o entrevistado Hugo relata:
[...] eu me avalio de acordo com os parâmetros que alguém me ensinou um
dia. Assim, ‘olhe Hugo, o seu posicionamento da mão esquerda tem que
estar de tal forma’. Aí eu vou lá, não só com a parte do áudio, mas até com a
câmera. [...] eu vou ver, a minha mão esquerda não tá tão legal, tem dia que
ela tá lá no lugar certo, tem dia que ela não quer ficar no lugar certo, e o que
me faz perceber isso é monitoração (HUGO).
Importante salientarmos aqui que a ideia é trazer cada vez mais o estudante para o
protagonismo de sua aprendizagem, a atuação do professor aqui não aparece para criar uma
relação de dependência do aluno com o professor. Assim, o autor Pierre Levy (2010, p. 171)
afirma que em um ambiente tecnológico, “[..] a principal função do professor não pode mais
ser a difusão dos conhecimentos, que agora é feito de forma mais eficaz por outros meios. Sua
36
Não é de hoje que as câmeras filmadoras e gravadores de áudio são utilizadas para
registar momentos ou situações do nosso cotidiano. Desde os primeiros registros em áudio até
os registros em vídeo, percebemos a importância destas tecnologias. Um dos recursos
tecnológicos mais acessíveis hoje em dia é o smartphone. Tal aparelho agrega diferentes
recursos e funções e no campo da música, através dos seus recursos de gravação multipista, é
possível com ele criar até mesmo um estúdio de gravação. Falaremos aqui de duas
ferramentas presentes nestes aparelhos e que se mostram importantes para o estudo de bateria:
a câmera filmadora e os gravadores de áudio.
Na música, estes recursos vêm sendo amplamente utilizados em gravações de discos,
videoclipes, shows, performances, entre outras coisas. Mas será que estes recursos também
podem ser ferramentas utilizadas para auxiliar a aprendizagem de instrumentos? Ou melhor,
no estudo da bateria?
Conforme Gohn:
Pois bem, ao entendermos a importância que uma câmera ou gravador de áudio tem
ao registrar determinado momento no tempo, podemos trazer esse recurso para dentro do
estudo da bateria. Ao fazermos uma gravação em áudio e/ou vídeo um estudo, uma
performance ou uma ideia musical, temos em nossas mãos um retrato de um momento
específico do tempo, proporcionando ao baterista, “ouvi-la diversas vezes, estando sujeito a
perceber e internalizar múltiplos detalhes desse registro, assim como construir outras
possibilidades de arranjos, através da observação dos seus erros e acertos” (MELO, 2011, p.
1718). Isso nos possibilita fazer coisas que jamais poderiam ser feitas antes do surgimento
destas tecnologias, que é a oportunidade de nos vermos e nos ouvirmos. E, consequentemente,
37
isto nos possibilita analisar e apreciar nossa performance. Como relata o entrevistado
Kamillo:
Eu acho que a tecnologia nos possibilita realizar, o que eu acredito que é o
sonho de todo músico, que é se ver tocando. [...] Por exemplo, tem um CD
que eu gravei com uma cantora daqui de samba, acho que foi em 2010.
Bicho, tem uma abertura de chimbal que eu faço toda vez, no mesmo lugar,
em todas as músicas, eu não aguento ouvir esse CD, bicho. Isso era uma
mania, uma falha que eu tinha, que eu só pude perceber ouvindo o CD. Eu
tenho vergonha desse CD por causa disso, mas enfim. [...] Porque tem coisa
que a gente não percebe, porque como a bateria tem muita coisa para prestar
atenção: é timbre, é dinâmica, se for lendo, é leitura, se tiver com click, é
click [metrônomo]. Às vezes tem coisa que termina passando, às vezes
passa, né, normal. E com a gravação, seja só de vídeo, ou de áudio, a gente
consegue ter uma visão macro da coisa. E quando a gente corrige certas
coisas, isso se automatiza e não erra mais (KAMILLO, grifos nossos).
Aqui é possível ver como o smartphone tornou mais fácil o acesso a recursos musicais
como o metrônomo. Entretanto, entendendo o smartphone como uma tecnologia e que nesse
sentido tende a trazer cada vez mais inovações, o entrevistado João traz um uso diferente do
convencional para o normalmente oferecido e utilizado nestes aplicativos de metrônomo:
[...] eu sempre organizo meu estudo no caderno e no meu aplicativo de
metrônomo, ele tem um... ele já facilita bastante, porque ele já me diz horas
estudadas, [...] enquanto eu tiver no metrônomo ele está registrando tudo que
eu tô usando, eu posso até gravar por ele o meu estudo, né. Então, eu já
tenho uma noção mais ou menos de tipo, por exemplo, pelo menos todo dia
eu estou estudando uma, duas horas com o metrônomo do meu lado (JOÃO).
A fala do entrevistado João nos expõe uma característica dos smartphones que é a de
unir diferentes ferramentas em um único ponto, como é o caso do aplicativo apresentado por
ele. De acordo com seu relato, o aplicativo não dispõe apenas de um metrônomo digital, mas
também possui recursos de gravação e monitoramento de tempo de estudo.
Assim como este aplicativo relatado por João, existem diversos outros que buscam
trazer diferentes recursos para o usuário, como é o exemplo do aplicativo Loopz11, que tem a
proposta de trabalhar o metrônomo de uma maneira diferente da convencional. Este é um
aplicativo desenvolvido para bateristas e que tem como proposta trabalhar o pulso a partir de
loops de ritmos de bateria, assim possibilitando ao usuário tocar junto, ouvir e entender o que
precisa executar. Ele também possibilita ao baterista a criação de novos loops rítmicos.
Outro ponto interessante para discutirmos aqui é o de como aplicativos, muitas vezes
desenvolvidos para fins que não os pedagógicos, por exemplo, podem servir de recurso para
o processo de ensino-aprendizagem da bateria. Como é o caso de aplicativos de edição de
vídeo que possibilitam mudar a velocidade do vídeo editado, possibilitando assim uma análise
mais minuciosa de determinada frase ou groove de bateria, que proporciona também o tocar
junto, o baterista pode utilizar deste recurso para tocar com uma música começando
11
Disponível em:
https://play.google.com/store/apps/details?id=com.envelopedevelopment.loopz&hl=pt_BR&gl=US. Acesso em
26 de jul de 2021.
41
Fonte: O autor
Agora é possível tocar qualquer música como um play along, pois o aplicativo, por
meio de inteligência artificial, consegue extrair a faixa de áudio de vozes e/ou instrumentos,
proporcionando uma prática musical bem mais significativa, pois o baterista fica livre para
estudar músicas que fazem parte do seu universo, do seu gosto e não precisa mais ficar restrito
a play alongs “genéricos”. Outro uso que o aplicativo moises.ai proporciona ao usuário é o de
fazer produções de mashups, de samples, entre outras coisas: as possibilidades são muitas.
Vale salientar aqui outra possível funcionalidade dos play alongs. Em contextos de
aulas online, o qual estamos vivendo por conta da pandemia de Covid-19, esse recurso pode
ser explorado à medida que as ferramentas disponíveis hoje para aulas online não são
favoráveis para aulas de instrumento, a medida que a sincronização de áudio é um problema
presente nestes ambientes virtuais, e isso impossibilita que o professor, por exemplo,
apresente uma música para que o aluno possa executar simultaneamente. Assim, o estudante
pode utilizar o play along para transmitir ao seu professor sua prática musical. Entretanto, em
plataformas de chamadas de vídeos, como é o caso do Google Meet e o Skype, apesar de
proporcionarem uma interação em tempo real, a compressão de áudio realizada por esses
sistemas não proporciona uma audição fiel do que o estudante ou professor estão executando
no instrumento (GOHN, 2015).
43
Como visto na imagem anterior (Figura 5), este equipamento é uma espécie de
microfone desenvolvido especialmente para microfonação de bateria, acoplado a um módulo
que possibilita a utilização de diversos efeitos sonoros e que pode ter práticas bastante
interessantes para o estudo do instrumento. Falando especificamente da sua relação com o
smartphone, o EAD10 também disponibiliza um aplicativo onde tudo que é captado pelo
microfone pode ser transmitido para o smartphone e sincronizado com a câmera de vídeo. Ou
seja, é possível gravar vídeos tocando músicas com uma captação de som em alta qualidade.
Pensando na modalidade de aulas online, o Yamaha EAD10 torna-se útil para aulas de
bateria, pois quando estamos lidando com aulas de instrumento nesta modalidade, conforme
Daniel Gohn (2020, p. 158-159), “é preciso também dar atenção à qualidade das
comunicações, para minimizar problemas e garantir o aprendizado planejado”. O uso
deste equipamento, ou de interfaces de áudio e microfones adequados, pode proporcionar uma
melhor captação sonora e consequentemente melhorar o som transmitido via chamadas de
vídeo. As possibilidades de uso desses equipamentos, tanto para a produção musical, como
para o ensino-aprendizagem da bateria, mostram-se bastante diversas.
12
Disponível em:
<https://br.yamaha.com/pt/products/musical_instruments/drums/ea_drums/ead/ead10/product.html>.
Acesso em 06 de jul de 2021.
44
Quando indagados sobre o uso de tecnologias dentro das aulas de bateria na UFPB, os
estudantes entrevistados responderam de maneira unânime que este uso não acontece, ou pelo
menos não acontecia até a pandemia e o surgimento do contexto das aulas remotas de bateria.
Tendo em vista a necessidade de trabalhar em ambientes online para dar continuidade às
atividades, a tecnologia passou a ocupar um outro espaço no processo de
ensino/aprendizagem da universidade. Assim, buscamos compreender como esta tecnologia é
utilizada ou como poderia ser melhor utilizada nestas aulas online. Segundo o relato dos
alunos Kamillo e Rodrigo, as aulas de bateria estão ocorrendo de maneira coletiva e com a
característica de aulas de classe, ou seja, aulas em grupo com o intuito de proporcionar
debates relacionados à bateria entre os estudantes e o professor. Ou seja, as aulas, pelo menos
para os alunos entrevistados, não estão ocorrendo de maneira individual e com foco na prática
da bateria. Podemos então pensar aqui possíveis práticas para tornar possível as aulas online
de bateria, com foco na prática do instrumento, como sugere o aluno entrevistado Rodrigo ao
relatar sobre o uso que pretende fazer de recursos tecnológicos durante as aulas online no
período da pandemia:
Eu pretendo, [...] através da filmagem, ter essa conexão com o professor,
sabe. Tipo um estudo, eu digo, “professor, olha como é que tá”, já envio
para ele o vídeo, sabe. [...] Executar um exercício, mandar para o professor e
o professor analisar, e a partir dali você abrir uma discussão sobre aquilo,
depois melhorar, aprimorar, gravar novamente. (RODRIGO)
Ao falarmos sobre o uso da tecnologia dentro das aulas de bateria podemos pensar na
aplicação de todos os usos de recursos tecnológicos citados nos capítulos anteriores. O uso do
smartphone com suas diversas funcionalidades, pode ser um recurso utilizado dentro da sala
de aula. O uso de gravações de áudio e de vídeo para análise do som do instrumento, da
performance do estudante e de outros bateristas, também podem ser utilizados como recursos
nas aulas de bateria.
Mesmo entendendo que estes recursos muitas vezes são explorados pelos próprios
alunos fora do ambiente de aulas formais, acreditamos que ter estes recursos tecnológicos à
disposição do aluno e do professor nos ambientes de aula formal, como em aulas de bateria
em uma universidade, podem trazer resultados favoráveis para o ensino-aprendizagem da
bateria. Este também é o pensamento do entrevistado Kamillo quando fala sobre o estudo da
45
gravação como um recurso utilizado para praticar a análise do som que o baterista faz com
seu instrumento:
[..] a gente sabe que um dos pontos que é negligenciado, e é o principal é o
som. E essas coisas aí de som, a gente sempre aprende na vida, né, tocando e
ouvindo gravações. E eu percebo que isso muitas vezes, embora seja
conversado dentro da universidade, não é trabalhado na prática em si, né.
Porque eu posso falar “você tem que pensar nisso”, mas se tu pudesse
mostrar na prática, tipo eu pedia para o aluno tocar alguma coisa, gravava e
depois ia analisar com ele aquilo que foi gravado. É um recurso que seria
bem interessante (KAMILLO).
[..] eu acho que a tecnologia, ela tem que estar inserida dentro das aulas. Eu
acho que a tecnologia ela já poderia estar desde então, até mesmo antes, por
exemplo, quando eu cheguei, eu percebi que tem duas caixas de som lá na
sala, não sei se vocês ligaram, e assim, não tô dizendo que tá errado, que tá
certo, mas em nenhum momento, pelo menos nas minhas aulas, ela foi
ligada, entendeu? Então, “vamos ouvir uma música”, “vou botar uma música
aqui para você tocar”, “e aí você me mostra”, “e aí a gente analisa o seu
som e aí eu digo onde você pode melhorar”. Então, eu acho que a
tecnologia, ela já poderia estar inserida de alguma maneira. (MARCOS)
O entrevistado ainda relata, em outro momento, que faz este mesmo uso durante as
aulas que ministra, “na escola eu uso o celular ligado em uma caixa de som, eu coloco o play
along ali pro aluno tocar”.
Temos aqui duas sugestões de usos simples de um recurso tecnológico, que é a
gravação e o uso de equipamentos eletrônico, que não necessitam de muitos equipamentos
para tal, o próprio smartphone já consegue ser suficiente para esta prática, tanto para gravar,
como para ser ligado a caixa de som e consequentemente reproduzir até mesmo um som que
foi registrado durante a aula. Podemos inclusive pensar além e sugerir outros usos para este
recurso, como aliar a gravação ao uso play alongs e pensar a análise não mais com foco no
som, mas agora com o foco no tocar bateria. Este recurso pode ser utilizado como forma de
avaliação, possibilitando até uma modalidade de autoavaliação do estudante. Além destes
usos citados acima, podemos também utilizar da gravação em sua principal função, que é a de
registar um momento específico e possibilitar que o estudante possa ver inúmeras vezes o que
foi gravado. Assim relata o aluno Kamillo, ao falar sobre uma experiência que teve em uma
aula particular de bateria:
46
[...] quando eu fui fazer aula com Edu Ribeiro, na aula de vassoura ele que
propôs gravar. Porque o registro ia ficar. Porque já aconteceu comigo, e eu
acredito que com todo mundo. Imagina que o cara tem uma semana, né. Aí o
cara vai, tem uma aula, tem seu entendimento do que é passado e passa uma
semana estudando, né. Às vezes quando você volta, alguma coisa foi
entendido errado, e vai ter que fazer tudo de novo. Então, você pode usar
esse recurso para gravar aula e ter aquilo em casa, para você ter informação
fiel, não correr o risco de ter se equivocado (KAMILLO)
Temos aqui a possibilidade de uso da tecnologia tanto para aulas de forma remota,
como para aulas presenciais. Tal proposta pode se aproximar ou até igualar-se aos vídeos
disponíveis no YouTube, que como relatam os entrevistados, são materiais bastante utilizados
nos seus estudos de instrumento. Com este recurso dentro da sala de aula é possível
disponibilizar ao estudante um material audiovisual com fim didático e que pode ser sempre
revisitado mediante dúvidas que surgirem durante seu estudo.
Ademais, o uso da gravação como um recurso de ensino-aprendizagem também
torna-se necessário para aulas online de bateria, como as que estão ocorrendo no momento em
que está pesquisa está sendo feita por decorrência da pandemia da Covid-19. Visto que, como
já discutido anteriormente, as condições para realização de aulas de bateria por meio de
videoconferências não são as mais favoráveis.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Este trabalho teve como principal objetivo compreender qual o papel dos recursos
tecnológicos no processo de aprendizagem do instrumento para os estudantes de bateria do
curso de licenciatura em música da UFPB. E com base nos dados coletados foi possível
chegarmos a algumas conclusões acerca do papel desses recursos.
O acesso a materiais referentes a bateria foi um ponto colocado pelos alunos durante
as entrevistas. Pudemos perceber que a prática da observação tem um papel importante para a
formação do baterista, as informações que antes eram restritas a métodos de estudos e a
videoaulas, agora estão mais acessíveis. Com o surgimento de ambientes virtuais, como as
mídias sociais, onde o compartilhamento de materiais é facilitado e vasto, como o Youtube e
até o próprio Instagram, o baterista tem acesso a diferentes tipos de conteúdos e estes, mesmo
sem fins pedagógicos, podem influenciar na aprendizagem do baterista, pois o próprio
estudante pode dar este fim pedagógico ao material assistido. Portanto, compreendemos que
o uso de vídeos como recurso para a aprendizagem mostra-se bastante promissor, visto que
neste contexto os bateristas podem desenvolver uma maior independência para escolher o que
querem estudar, com quem querem aprender e como estudar o conteúdo escolhido.
E ao discutirmos sobre o acesso a materiais, outro debate que surge é a conquista da
autonomia do estudante. Em um ambiente onde o baterista tem a disposição um grande
número de conteúdos sobre bateria torna-se essencial que o estudante tenha autonomia de
identificar quais materiais podem favorecer o seu estudo, pois ao nos depararmos com um
grande número de informações, nem todas são interessantes e têm impacto favorável no
estudo do baterista. É inclusive aqui que a figura do professor pode entrar e atuar como um
mediador e possibilitar que o estudante consiga desenvolver essa autonomia e
consequentemente desenvolver um olhar crítico acerca dos materiais que consome. O
professor pode ajudar o aluno a aprender como selecionar, por exemplo, os materiais que
possam contribuir no estudo de determinado ritmo musical.
Além de proporcionar ao estudante uma maior autonomia nos seus estudos, os
recursos tecnológicos que os entrevistados trouxeram aqui podem também proporcionar ao
baterista uma autoaprendizagem, que entendemos que também se alinha à construção da
autonomia citada anteriormente. A utilização de gravações de áudio e vídeo como recursos
para a aprendizagem da bateria podem possibilitar que o aluno desenvolva esta
autoaprendizagem e em consequência sua autonomia, pois ao registrar a sua prática no
instrumento, qualquer que seja, e posteriormente utilizar este registro como recurso para
avaliação de sua prática, o baterista está aqui desenvolvendo sua autonomia na medida em que
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vez mais independentes e autônomas para o baterista, inclusive com o uso combinado destes
recursos citados. Além disso, percebemos que as mídias sociais também são utilizadas como
recursos tecnológicos para a aprendizagem de bateria pelos entrevistados, porém entendemos
que a utilização destes espaços podem ultrapassar o uso focado na aprendizagem. As mídias
sociais podem ser aliadas do músico/baterista na sua prática musical, gerando diferentes
formas de se fazer música, à medida que há uma dimensão participativa e colaborativa nestes
ambientes. Uma vez que os usuários das mídias sociais postam conteúdos, dão e recebem
likes e dislikes, fazem e recebem comentários, assim entendemos que esses outros fatores
podem agregar na prática musical do baterista. Espaços como o YouTube podem proporcionar
ao baterista um diferente campo de atuação e gerar diferentes oportunidades no mercado de
trabalho da música. Como também é o caso do Instagram, que é uma rede social de
compartilhamento de vídeos e fotos, as práticas citadas no exemplo do YouTube também
aplicam-se a esta outra rede social.
Além disso, as redes sociais também proporcionam um fazer musical que é diferente
do exposto acima. Estes ambientes virtuais também proporcionam um fazer musical onde o
baterista não tem como preocupação questões de ensino-aprendizagem e nem almejam obter
uma carreira musical foram das redes, seu objetivo é fazer música dentro das redes sociais e
para os que consomem seu conteúdo, seja em canais de Youtube dedicados a falar sobre
bateria, ou a contas no Instagram que se propõem a fazer conteúdo voltado exclusivamente
para bateristas.
Por fim, com base nos dados coletados, levantaremos aqui uma discussão referente à
articulação das práticas musicais já estabelecidas no ensino de bateria e as práticas trazidas
pelos entrevistados. Como já discutimos anteriormente, a utilização de recursos tecnológicos
no processo de aprendizagem de bateria pode gerar o desenvolvimento de uma maior
autonomia por parte do aluno, diferentes formas de estudo do instrumento e por fim, pode
proporcionar uma diferente prática musical ao baterista. Assim, compreendemos que a
articulação dos recursos tecnológicos com os processos de aprendizagem de bateria, poderia
potencializar o processo de ensino-aprendizagem na bateria, ao entendermos que os pontos
desenvolvidos a partir do uso de recursos tecnológicos podem trazer benefícios significativos
para o processo de ensino-aprendizagem do baterista. Levamos para dentro da sala de aula tais
recursos, como o uso das gravações para análise de som, de performance e de postura, porém
com a ótica não só do professor, mas também principalmente com a do baterista estudante,
permitindo o desenvolvimento da autonomia que citamos anteriormente, bem como a sua
autoavaliação. Em consequência disso, pode fazer com que, cada vez mais, o aluno se
50
Entendemos que a inserção de tais recursos tecnológicos dentro das aulas de bateria da UFPB
podem trazer benefícios para o processo de aprendizagem de bateria, pois proporcionam ao
aluno diferentes práticas, como o fazer musical dentro das mídias sociais, o uso de recursos
tecnológicos na prática musical com a utilização de equipamentos eletrônicos, aplicativos,
computadores e gravações de vídeo, resultando também em diferentes maneiras de estudar seu
instrumento, o que pode gerar como consequência um maior interesse, entusiasmo e até um
outro desenvolvimento do aluno com seu instrumento.
Por fim, esperamos que esta pesquisa possa trazer benefícios para alunos e
professores, tanto da Universidade Federal da Paraíba, quanto de outras universidades ou de
outros cursos de bateria formais ou não formais, apresentando novos caminhos para a
aprendizagem da bateria. E deixamos aqui a nossa vontade de continuar a pesquisar sobre os
temas trabalhados nesta pesquisa e em outros também relacionados a bateria, sejam níveis de
graduação e ou pós-graduação.
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REFERÊNCIAS
BOLÃO, Oscar. A bateria. In: Ensaio elaborado especialmente para o projeto Músicos do
Brasil: uma Enciclopédia, patrocinado pela Petrobras através da Lei Rouanet. 2008, 2009.
Disponível em: https://pt.slideshare.net/alfeuRIO/a-bateria-por-oscar-bolo. Acesso em 29 Jul.
2021.
_________. Educação Musical com as Tecnologias da EAD. In: SILVA, H.L.; ZILLE, J.A.B.
Música e Educação. Série Diálogos com o Som. Barbacena: EdUEMG, 2015. v. 2. E-book
Disponível em: http://eduemg.uemg.br/images/livros-pdf/catalogo
2015/2015_MUSICA_E_EDUCACAO_SERIE_DIALOGOS_COM_O_SOM_VOL_2.pdf.
Acesso em: 28 jul. 2021.
MELO, Bruno Torres Araújo de. A gravação como ensino prático de bateria. In:
CONGRESSO ANPPOM. 22., Anais[...]. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba,
2012. p. 158 - 164.
SILVA, Davi da Conceição. Play Along: uma ferramenta de suporte aos Exercices Journaliers
(EJ) do Método Completo de Flauta, de Taffanel & Gaubert. In: CONGRESSO NACIONAL
DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 23., 2017, Manaus. Anais
[...]. Manaus: ABEM, 2017. p. 1-15
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APÊNDICE
Roteiro de entrevistas