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INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE – CAMPUS CAMPOS-GUARUS

CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

LEONAM PORTO DE SOUZA

INFLUÊNCIAS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE ENSINO: UMA


INVESTIGAÇÃO DA APRENDIZAGEM DO ALUNO INICIANTE DE GUITARRA

CAMPOS DOS GOYTACAZES /RJ

2022
1

LEONAM PORTO DE SOUZA

INFLUÊNCIAS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE ENSINO: UMA


INVESTIGAÇÃO DA APRENDIZAGEM DO ALUNO INICIANTE DE GUITARRA

Trabalho de Conclusão de curso apresentado


no Instituto Federal Fluminense – Campus
Guarus, como requisito básico para a conclusão
do curso de Licenciatura em Música.

Orientador: Prof. Esp. Diego Crespo Diogo

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ


2022
Biblioteca Anton Dakitsch
CIP - Catalogação na Publicação

Porto de Souza, Leonam


P729i
INFLUÊNCIAS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE ENSINO:

UMA INVESTIGAÇÃO DA APRENDIZAGEM DO ALUNO INICIANTE

DE GUITARRA / Leonam Porto de Souza - 2022.

88 f.: il. color.

Orientador: Diego Crespo Diogo

1. Ensino a Distância. 2. Ensino Remoto. 3. Iniciante de Guitarra. 4.


Tecnologia. 5. Ensino-aprendizagem. I. Crespo Diogo, Diego, orient. II.
Título.

Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da Biblioteca Anton Dakitsch do IFF com os
dados fornecidos pelo(a) autor(a).
3

LEONAM PORTO DE SOUZA

INFLUÊNCIAS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE ENSINO: UMA


INVESTIGAÇÃO DA APRENDIZAGEM DO ALUNO INICIANTE DE GUITARRA

Trabalho de Conclusão de curso apresentado no Instituto Federal Fluminense –


Campus Guarus, como requisito básico para a conclusão do curso de Licenciatura
em Música.

27 09 2022
Aprovado em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA:

__________________________________________________________________
Prof. Esp. Diego Crespo Diogo – Orientador

__________________________________________________________________
Prof. Dr. Thomas Fontes Saboga Cardoso – Membro da banca

__________________________________________________________________
Prof. Me. Henrique Gonçalves da Costa - Membro da banca
4

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, o Criador de todas as coisas existentes, a


fonte de todo conhecimento concedido ao homem.

À minha maravilhosa esposa Sandy e meu filho João Gabriel, os amores da


minha vida, que compreenderam minha ausência em alguns momentos devido a meu
empenho acadêmico e me incentivaram.

Aos meus pais, Manoel Júnior e Cláudia Márcia, em especial minha mãe,
também educadora e professora, através da qual escolhi seguir os passos no âmbito
profissional. Obrigado pelo incentivo!

Aos meus irmãos e demais familiares, que me incentivaram durante todo


percurso acadêmico.

Ao meu orientador, Diego Crespo Diogo, pela paciência e pelos


direcionamentos neste trabalho e tantos conhecimentos transmitidos que ajudaram
tão construtivamente no alicerce acadêmico.

Aos professores que passaram pela minha trajetória estudantil, desde quando
comecei a aprender o instrumento. Aos professores do Instituto Federal Fluminense
Campus Guarus, tanto da área Musical quanto da Pedagógica, pelo conhecimento
que me foi transmitido, me direcionando a outras dimensões.

Aos colegas de turma 2016.2, que me ajudaram compartilhando experiências,


desde as primeiras aulas de percepção musical até as práticas instrumentais.
Obrigado!

A todos que diretamente e indiretamente ajudaram na minha caminhada, em


especial todos guitarristas e músicos citados ou não neste trabalho. Vida longa!
5

RESUMO

Este trabalho traz a reflexão acerca do ensino de música a distância e remoto para
alunos de música particulares, mais precisamente o ensino de guitarra em suas
diferentes formas como curso livre, aulas on-line, cursos em plataformas e tutoriais de
ensino via site de vídeos. Haverá discussões acerca das vias pelas quais estas
tecnologias de ensino-aprendizagem conduzem o aluno na sua formação, bem como
influências comuns que o aluno recebe nestes meios de aprendizagem e como ele se
comporta em sua forma autônoma de desenvolvimento do saber. Algumas
dificuldades se apresentam para o professor e o aluno, dificuldades estas que fazem
toda a diferença em algumas situações que acontecem no decorrer da caminhada de
estudos e de prática instrumental. Na revisão teórica serão trazidos autores que
discutem a questão da autonomia nestes ensinos, apontando para o fato de que a
avaliação que o próprio aluno faz de si e também da sua própria produção são fatores
que influenciam em sua aprendizagem.
Palavras-Chave: Ensino a distância; Ensino Remoto; Iniciante de guitarra
6

ABSTRACT

This work brings a reflection about distance and remote music teaching for private
music students, more precisely guitar teaching in its different forms such as free
course, online classes, courses on platforms and teaching tutorials via video site.
There will be discussions about the ways in which these teaching-learning
technologies lead the student in their training, as well as common influences that the
student receives in these learning environments and how he behaves in his
autonomous form of knowledge development. Some difficulties present themselves to
the teacher and the student, difficulties that make all the difference in some situations
that happen during the course of studies and instrumental practice. In the theoretical
review, authors will be brought who discuss the issue of autonomy in these teachings,
pointing to the fact that the evaluation that the student makes of himself and also of his
own production are factors that influence his learning.
Key words: Distance learning; Remote Teaching; Guitar Beginner
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TABELA DE SIGLAS

ABEM – Associação Brasileira de Educação Musical

AVA - Ambientes Virtuais de Aprendizagem

CLAM - Centro Livre de Aprendizagem Musical

COVID-19 - Coronavírus

EaD - Ensino a Distância

EM&T – Escola de Música e Tecnologia

ESPII - Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional

GIT - Guitar Institute of Technology

IG&T – Instituto de Guitarra e Tecnologia

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

MEC – Ministério da Educação

Moodle - Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OMS - Organização Mundial da Saúde

OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde

TICs - Tecnologias da Informação e da Comunicação


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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Exemplo de apresentação de um curso na plataforma Moodle ................. 24

Figura 2: Exemplo de apresentação de um curso na plataforma Hotmart ................ 27

Figura 3 – Gráfico de volume de compradores de curso no Hotmart por origem...... 28

Figura 4 – Gráfico de crescimento de transações Hotmart por países........................29

Figura 5 – Crescimento do número de novos compradores de cursos Hotmart..........30


Figura 6 – Exemplo de apresentação de reunião na plataforma de transmissão do
Google Meet...............................................................................................................31

Figura 7 – Exemplo de apresentação de videochamada na plataforma de transmissão


do Whatsapp.............................................................................................................. 36

Figura 8: Comparativo entre ingressos em EAD e Presencial....................................37

Figura 9: Lloyd Loar, engenheiro acústico e músico criador do captador em 1923... 40

Figura 10: Primeiro captador elétrico patenteado oficialmente...................................41

Figura 11: Primeira guitarra elétrica da história: Frying Pan da Rickenbaker..............42

Figura 12: Guitarra Les Paul Model............................................................................42

Figura 13: Cavaquinho elétrico de Dodô e Osmar, percursora da guitarra baiana.... 43

Figura 14: Anatomias da Guitarra e Violão.................................................................44

Figura 15: Palheta......................................................................................................45

Figura 16: Os dois tipos de pontes para guitarra.........................................................47

Figura 17: Exemplo de alavanca para guitarra...........................................................47

Figura 18: Tipos de captadores para guitarra.............................................................48

Figura 19: Exemplo de knob/potenciômetro de volume na guitarra .........................49


9

Figura 20: Anatomia do violão...................................................................................49

Figura 21: Anatomia da guitarra.................................................................................50

Figura 22: Exercícios Psicomotores do tipo 1-2-3-4...................................................54

Figura 23: Patterns de exercícios Psicomotores do tipo 1-2-3-4.................................55

Figura 24: Patterns de exercícios Psicomotores do tipo 1-2-3-4.................................56

Figura 25: trecho de “A Ginga Do Mané” (Jacob do Bandolim) – partitura descrevendo


a utilização da digitação 1-2-3-4 (mão esquerda) .......................................................58

Figura 26: Transcrição parcial de “Forró Brasil” (Hermeto Pascoal), feita pelo autor..61

Figura 27: Demonstração de Posicionamento e Postura na Guitarra.........................66

Figura 28: Demonstração de Posicionamento da mão esquerda na escala da


Guitarra.......................................................................................................................67

Figura 29: Demonstração de Posicionamento da mão esquerda atrás do braço da


Guitarra.......................................................................................................................68

Figura 30: Demonstração de Posicionamento da mão direita no Toque com Apoio...70

Figuras: 31 (a) - 32 (b) – 33 (c): Demonstração de Movimentos da mão direita no


Toque com Apoio........................................................................................................70

Figura 34: Demonstração de Posicionamento e Movimento da mão direita no Toque


sem Apoio...................................................................................................................71

Figura 35: Demonstração de Posicionamento e Movimento do polegar da mão direita


no violão.....................................................................................................................72

Figura 36: Exemplos de tipos de palhetas e algumas de suas medidas.....................74

Figuras: 37 (1) – 38 (2) – 39 (3): Exemplos 1,2 e 3 de posição de mão e segurando a


palheta........................................................................................................................75

Figura 40: Diagrama demonstrando os 5 desenhos da escala diatônica de Dó Maior


no braço da guitarra....................................................................................................78

Figura 41: Quadro mostrando as notas naturais contadas por intervalos. ...............85
10

Figura 42: Diagrama demonstrando as notas naturais nas 12 primeiras casas do


braço da guitarra.........................................................................................................86

Figura 43: Diagrama demonstrando as notas naturais e acidentes nas 12 primeiras


casas do braço da guitarra..........................................................................................86
11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Comparativa das características das aprendizagens formal e informal de


música........................................................................................................................79

Tabela 2: Comparativa das características das instituições formal e informal de


música........................................................................................................................82
12

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 14

2 DADOS DA PANDEMIA E AS CONSEQUENCIAS NA EDUCAÇÃO........... 18

2.1. RELAÇÃO ENTRE ENSINO A DISTÂNCIA E ENSINO REMOTO.................. 20

2.1.1. Ensino a Distância.............................................................................. 21

2.1.1.1. Moodle.................................................................. 24

2.1.1.2. Hotmart................................................................. 27

2.1.1.3. Comparativo entre Moodle e Hotmart................... 30

2.1.2. Contexto do ensino a distância e novas ferramentas...................... 31

2.1.3. Ensino Remoto................................................................................... 35

2.1.3.1. Google Meet......................................................... 35

2.1.3.2. Whatsapp............................................................. 36

2.1.3.3. Comparativo entre Google Meet e Whatsapp........ 37

3 GUITARRA: HISTÓRICO E SEU DESENVOLVIMENTO............................... 38

3.1 O SURGIMENTO DA GUITARRA ELÉTRICA E ALGUMAS DE SUAS


TÉCNICAS................................................................................................................. 39

3.2 COMO A GUITARRA ERA ENSINADA E O SURGIMENTO DO MÉTODO A


MODERN METHOD FOR THE GUITAR – BERKLEE COLLEGE OF MUSIC........... 50

3.3. MÉTODO DE ENSINO DE GUITARRA APLICADO AOS ALUNOS NO NÍVEL


INICIANTE................................................................................................................. 54
13

3.4 SURGIMENTO DA GUITARRA NO BRASIL E SUA METODOLOGIA DE


ENSINO..................................................................................................................... 59

4 APRESENTAÇÃO DOS DOIS ALUNOS PARTICULARES: COMO TUDO


COMEÇOU - INÍCIO DO CURSO LIVRE NO PERÍODO DE PANDEMIA. 64

4.1 EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS DAS AULAS COM O ALUNO JÚNIOR......... 65

4.2 EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS DAS AULAS COM O ALUNO FREDERICO... 83

5 CONCLUSÃO................................................................................................. 89

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 92
14

1. INTRODUÇÃO.

Com o surgimento da pandemia no ano de 2020, os profissionais da música


tiveram que se reinventar pois as aulas na sua forma tradicional não puderam ser mais
feitas. Neste momento surgem dois alunos particulares de guitarra que ficam
impossibilitados de fazer as aulas presencialmente, e logo propõe-se que se fizessem
as aulas num formato digital, por via de ensino pela internet, não presencial. Esta
forma de ensinar se mostrou completamente nova para muitos profissionais e um
momento de descoberta para os professores. Neste processo de mudanças no
formato das aulas surgem alguns desafios e problemáticas que acabam por influenciar
o processo pedagógico de ensino bem como a aprendizagem de todos estudantes
pelo mundo.

Assim, no decorrer deste tempo de pandemia, aparecem reflexões acerca das


influências refletidas pelos alunos devido ao meio de aprendizagem no ensino digital
em suas diferentes formas. Isto gerou uma provocação e contribuiu para que também
se trouxesse neste trabalho informações que pudessem elucidar os fatos e fazer
entender além do período da pandemia alguns acontecimentos que ocorreram
anteriormente às análises expostas no trabalho.

Para se inserir nesta nova forma de ensino digital é preciso conhecer um pouco
das tecnologias digitais de ensino bem como elas funcionam nas formas EaD (Ensino
a Distância) e Ensino Remoto, pois foram as formas utilizadas neste tempo de
pandemia. No trabalho foi preciso também contextualizar os acontecimentos com os
números referentes à adesão destes meios de ensino no Brasil e no mundo para
constatar o aumento exponencial de adesão desde antes da pandemia. Foi importante
trazer exemplos de plataformas ou aplicativos utilizados como ferramentas
educacionais, porque devido ao período de pandemia, houve uma necessidade de se
investigar, dentro dos avanços tecnológicos, ferramentas que fossem úteis na
manutenção das aulas, assim também apresentando sugestões para os profissionais
que adentrarem o mundo digital de ensino.

Aqui também se apresenta um apanhado histórico da guitarra, desde o


surgimento, bem como o histórico do desenvolvimento e criação das primeiras
metodologias e sistemas de ensino, e também se demonstra um pouco das técnicas
desenvolvidas no decorrer da história, pois a guitarra, por ser um instrumento criado
15

numa história recente, necessita ainda de mais estudos. Para isso foi feito um paralelo
entre o violão e a guitarra: o violão, por sua vez, é um dos antecessores da guitarra
juntamente com outros instrumentos, pertencentes à mesma família de cordas
dedilhadas, assim constatando que os dois, tanto guitarra quanto violão, apesar de
diferentes em diversos aspectos técnicos, possuem inúmeras semelhanças,
principalmente pela comparação de suas formas anatômicas, fazendo com que sejam
os mais semelhantes da família genealógica instrumental que fazem parte.

Ainda há sugestões de metodologias de ensino que motivem o aluno iniciante


à prática instrumental da guitarra e que incentivem a valorização da música nacional,
porque a guitarra por ser um instrumento estrangeiro traz consigo muitos valores
culturais que ultrapassam o estudo do instrumento. Para isso, é trazido um histórico
da guitarra também no Brasil e como foi se desenvolvendo pelos adeptos. Foram
apresentadas as metodologias utilizadas com os dois alunos particulares citados no
trabalho para elucidar e expor os acontecimentos que culminaram no desenvolvimento
da defesa do trabalho. Foi necessário se levantar questões observadas nas
experiências dos casos destes dois alunos específicos.

Neste trabalho serão levantadas algumas reflexões acerca das principais


influências pedagógicas que as tecnologias de ensino trouxeram no contexto da
pandemia1, em que os educadores musicais precisaram se reinventar e dominar
ferramentas e técnicas necessárias ao ensino por vias digitais, e que
consequentemente também foi um vetor de transformação, influenciando na formação
e aprendizagem dos alunos particulares de música, especificamente no objeto de
estudo deste trabalho, que foi o ensino do instrumento guitarra elétrica para dois
alunos iniciantes.

Segundo a página da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), Em 31


de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre
vários casos de pneumonia na cidade de Wuhan, província de Hubei, na República
Popular da China. Tratava-se de uma nova cepa (tipo) de coronavírus, que não havia
sido identificada antes em seres humanos. Uma semana depois, em 7 de janeiro de
2020, as autoridades chinesas confirmaram que haviam identificado um novo tipo de

1O termo “pandemia” se refere à distribuição geográfica de uma doença e não à sua gravidade.
Fonte: Página Oficial da OMS (Organização Mundial da Saúde).
16

coronavírus. Em 30 de janeiro de 2020, a OMS declarou que o surto do novo


coronavírus constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional
(ESPII) – o mais alto nível de alerta da Organização, conforme previsto no
Regulamento Sanitário Internacional. Em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi
caracterizada pela OMS como uma pandemia. A designação reconhece que, no
momento, existiam surtos de COVID-19 em vários países e regiões do mundo. Então,
oficialmente no Brasil é decretado o Lockdown2 no mês de Março de 2020.

Devido à pandemia, a maior parte da sociedade foi forçada a se confinar em


suas casas e, em se tratando do setor educacional, alunos e professores foram
impedidos de exercer suas atividades. O mundo inteiro se deparou com este problema
que afetou a todos e, com isso, levantam-se alguns questionamentos: como enfrentá-
lo? Como agir perante a esta nova realidade?

Assim sendo, as instituições educacionais, como as escolas regulares,


começam a aprofundar as discussões sobre a possibilidade de seguir os planos de
ensino sendo, agora, mediadas pelo uso da internet e suas tecnologias, visto que
estas se apresentam como recursos didático-pedagógicos oportunos e estes métodos
se colocam como possíveis soluções ante a nova realidade de isolamento vivida no
mundo.

Professores de música em todos âmbitos educacionais, dentre eles escolas de


música, conservatórios, faculdades e cursos livres, começam a se inteirar ainda mais
sobre estes assuntos relacionados às realidades virtuais bem como os ensinos por
estes meios. Nota-se, comparando o ensino presencial com o ensino a distância, por
exemplo, que são ambientes, comunicações, interações e planejamentos
completamente distintos, nos quais é preciso adaptar-se e transforma-se para que
seja uma experiência fluida e produtiva entre professor e alunos.

Para Cordeiro (2020) a readaptação da realidade da sala de aula física para a


sala de aula virtual trouxe mudanças para além da linguagem, como a forma de se
relacionar mudou em vista da qual normalmente era utilizada. Segundo Kenski (2004),

2 Lockdown significa bloqueio total ou confinamento total. É a medida preventiva obrigatória que
consiste no bloqueio total. Muitos países adotaram essa estratégia com o objetivo de desacelerar a
propagação do Coronavírus, visto que as medidas de quarentena e isolamento social não foram
suficientes para controlar a infecção.
Fonte. Página Oficial da OMS
17

Estudantes e professores tornam-se desincorporados nas escolas


virtuais. Suas presenças precisam ser recuperadas por meio de novas
linguagens, que os representem e os identifiquem para todos os
demais. Linguagens que harmonizem as propostas disciplinares,
reincorporem virtualmente seus autores e criem um clima de
comunicação, sintonia e agregação entre os participantes de um
mesmo curso. (KENSKI, 2004, p. 67)
Então, este “novo normal” trazido pela pandemia fez com que os profissionais
no ensino de música buscassem caminhos que pudessem amenizar os danos
causados pela mudança de rotina.

Qual a melhor ferramenta a ser utilizada? Este foi o principal questionamento


dentro deste cenário. Duas modalidades de ensino são então propostas aos
educadores, modalidades estas que são velhas conhecidas, porém, desde seu
surgimento, são cada vez mais difundidas nos ambientes educacionais em geral.

No decorrer do tempo vemos o quanto a sociedade, bem como seus agentes,


desenvolvem ferramentas e novas tecnologias. Vimos durante a história mais recente
o avanço das tecnologias digitais e de comunicação a distância. No contexto
educacional, temos o desenvolvimento de novas modalidades de ensino, através dos
novos ambientes virtuais. Dentre estas modalidades, temos o ensino a distância e o
remoto, que são correlacionados, porém diferentes em determinados aspectos.
18

2. DADOS DA PANDEMIA E AS CONSEQUENCIAS NA EDUCAÇÃO.

No ano de 2020, mais precisamente no mês de março, foi o início no Brasil da


pandemia do Covid-19, e foi decretado o chamado Lockdown em diversos países do
mundo inteiro. As pessoas tiveram que se isolar socialmente, vivendo em quarentena
e se desligando da convivência e das atividades em comunidades, que são inúmeras:
trabalho, estudo, reuniões familiares, entre outras. O grande causador de toda
situação pandêmica, o vírus Covid-19, tem uma alta taxa de letalidade de forma geral
na sociedade e as consequências causadas aos que ela contraíram são muitas, sendo
a pior delas o risco de vida, afetando principalmente pessoas com problemas de
comorbidades, mas atingindo as que não apresentavam comorbidades de igual
maneira.

Dentre os muitos sintomas causados pelo vírus, o pior deles é a falta de ar


decorrente do prejuízo que ele causa ao sistema respiratório. Sua transmissão é pelo
ar e o ambiente mais propício a sua propagação são ambientes confinados e de
grande aglomeração, local perfeito para a transmissão de pessoa para pessoa. Assim
sendo, toda esta situação causada pela pandemia atingiu diretamente todos os locais
públicos bem como todas as atividades ali exercidas, pois as pessoas interagem entre
si e têm contato próximo umas das outras.

Segundo Cordeiro (2020), no Brasil, em março de 2020 as redes de ensino


públicas e privadas suspenderam temporariamente as aulas, em combate à pandemia
do novo corona vírus chamado de COVID-19. O relatório da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), propõe aos líderes dos sistemas
e organizações educacionais que desenvolvam planos para a continuidade dos
estudos por meio de modalidades alternativas, enquanto durar o período de
isolamento social, haja vista a necessidade de manter a educação das crianças,
jovens e adultos.

Logo, estes órgãos mundiais de saúde juntamente com as instituições


governamentais emitiram decretos e recomendações, e algumas delas foi o uso de
máscara em todos locais, públicos, principalmente, porque as atividades essenciais
não poderiam ser paralisadas e o confinamento foi a principal recomendação para
atividades consideradas não essenciais, tudo isso se respaldando nos estudos
19

científicos que diziam que, para contenção dos casos de infecção, era necessário a
sua paralisação.

Dentro deste cenário, as instituições educacionais foram colocadas como locais


não essenciais para o funcionamento na forma presencial, segundo o MEC (Ministério
da Educação), de acordo com a portaria nº343 de 17 de março de 2020, o MEC dispõe
a substituição das aulas presenciais por aulas em meio digitais enquanto durar a
situação de pandemia do COVID-19. Neste aspecto todos os meios tecnológicos
como internet, mídias digitais, celulares, smartphones, televisão, tornaram-se
fundamentais neste processo de cerceamento de atividade presencial.

Cordeiro (2020) também ressalta que nem todos os educadores brasileiros


tiveram formação adequada para lidarem com essas novas ferramentas digitais,
precisaram se reinventar e reaprender novas maneiras de ensinar e de aprender. Não
obstante, esse tem sido um caminho que, apesar de árduo, é essencial realizar na
atual situação da educação brasileira. Logo as aulas para milhões de alunos no mundo
foram suspensas e assim professores e alunos tiveram de interromper suas diversas
atividades.

Então, começa uma discussão mais aprofundada dentro das instituições


educacionais acerca do ensino a distância na busca pelas ferramentas que melhor se
adequassem a mediar este tipo de ensino dentro da nova situação vivida. Algumas
que aparecem para os professores autônomos, por exemplo, são os aplicativos e
redes sociais e para as instituições educacionais, por exemplo, o AVA (Ambiente
Virtual de Aprendizagem), que se apresenta como ótima opção frente a este novo
problema enfrentado.

A visão dos caminhos educacionais começa a mudar bastante nesta nova era
que se instaura devido o estado pandêmico enfrentado. Nunca se viu tão necessária
a utilização dos meios tecnológicos e tudo isso trouxe exigências que são pensadas
por nós educadores: como todos os alunos terão acesso pleno aos equipamentos e
transmissões necessárias ao ensino EaD? Quais os parâmetros de avaliação a serem
utilizados no processo de ensino-aprendizagem e como acompanhar? Como se
comunicar de acordo com as demandas exigidas e no tempo adequado? Como avaliar
o progresso destes alunos, como ensiná-los a aprender e buscar conhecimento nesta
nova realidade?
20

Ao mesmo tempo em que somos colocados contra a parede, vemos que


estamos saindo das paredes físicas das escolas tradicionais, e nos encontramos num
mundo novo, podemos não ter um limite estabelecido, em que existem mais meios de
busca, e dentro de um tempo que pode não ser estabelecido e pode estar fora de
padrões, teremos que reaprender a aprender. Novas formas de ensinar e aprender
são colocadas na mesa, nas quais as exigências no que diz respeito à avaliação e ao
planejamento do processo de ensino-aprendizagem aumentam e precisam ser
reestruturadas para esse novo modelo didático-pedagógico que se apresenta.

2.1. RELAÇÃO ENTRE ENSINO A DISTÂNCIA E ENSINO REMOTO.

As características que fazem os ensinos a distância e remoto se diferenciarem


entre si são tempo e espaço. Duas formas os distinguem, que são o ensino de forma
Síncrona3 e Assíncrona4.

Síncrona refere-se aos fatos coincidentes (que ocorrem em simultâneo com


outros) ou coexistentes (que existem juntamente com outros) por ser neste caso um
adjetivo. Síncrona é uma característica, mas no nosso caso vem ser uma expressão:
comunicação síncrona, em que a mensagem é recebida e imediatamente respondida.
Geralmente se refere a interações em que é possível estar presencialmente. Quando
fazemos a contextualização dentro da atividade educativa digital é ensinar em tempo
real e num local (aplicação) comum, ou seja, trazendo para o ensino, significa o
professor e alunos estarem interagindo de forma online numa aula.

Por sua vez, o estudo Assíncrono é antônimo do síncrono, falando de


característica, que não ocorre nem se efetiva ao mesmo tempo. Também constatamos
que não ocorre em conjunto com outra coisa que conserva uma sincronia. Possui
intervalos regulares por não possuir temporizador. Mas trazendo para a forma
comunicativa, é expressão de comunicação que não ocorre nem se efetiva no mesmo
tempo e espaço. Quando falamos do emissor e receptor, consiste numa mensagem

3 A palavra Síncrona tem uma etimologia feminino de síncrono, do grego synkronos, os, on; pelo latim
synchronus, ela é bem abrangente, significa que acontece exatamente ao mesmo tempo que outra
coisa.
Fonte: Site Educador do Futuro
4 Etimologia (origem da palavra assíncrona). Feminino de assíncrono, a + síncrono.

Fonte: Site Educador do Futuro


21

enviada e que não precisa ser respondida naquele exato momento, geralmente se
efetiva por cartas, e-mails etc. É feito em tempos diferentes e não simultâneos entre
professor e aluno.

De forma prática, o professor dispõe o material e o alunos, em outro tempo,


executam os estudos e ambos se comunicam em tempos diferentes, e toda essa
comunicação é feita por uma aplicação hospedeira de conteúdo.

Então temos uma correlação de ensino a distância e do ensino remoto com as


características das comunicações síncronas e assíncronas. Será trazido o conceito
de ambas as formas de ensino para que identifiquemos onde se encaixam essas
formas de comunicação em cada uma das formas de ensino digitais.

2.1.1. Ensino a Distância.

O Ensino a Distância (EaD) vem de muito tempo, não necessariamente foi feito
só em ambiente virtual, ele também é feito por outras vias materiais, como postagens
em correios por exemplo ou um simples manual de ensino, mas trazendo para a
realidade digital, é basicamente uma modalidade que se utiliza nas Tecnologias da
Informação e da Comunicação (TIC) desenvolvidas nos Ambientes Virtuais de
Aprendizagem (AVA), que são softwares que auxiliam no gerenciamento de conteúdo
entre professor e alunos.

O AVA por sua vez é na prática uma plataforma digital que tem papel de
mediadora da comunicação e traz a ambientalização necessária entre a instituição de
ensino e seus coparticipantes. É um processo de ensino/aprendizagem em que o
aluno e o professor estão separados fisicamente total ou parcialmente. Logo, a
organização institucional é transferida para o ambiente digital que por sua vez propõe
as etapas que deveriam ser feitas na maneira física assim substituídas por atividades
digitais. Por ser virtual a mediação, as atividades propostas e avaliações são feitas de
maneira diferente da forma presencial, logo requer uma adaptação no seu manejo se
comparado à maneira da rotina e comportamentos dos agentes no Ensino Presencial.

Podemos nos confundir quando entendemos que o AVA é igual a quaisquer


websites da internet, no entanto, não é bem assim que se estruturam. Ambos são
muito semelhantes mas possuem as suas divergências. Costa e Franco (2005),
22

baseados em uma teoria de Dillenbourg, explicam que um website educacional não


é, necessariamente, um AVA. Por exemplo, disponibilizar na Internet um livro sobre
construção de diagramas em estruturas isostáticas na forma de hipertexto, não
apresenta maiores vantagens com relação ao próprio livro, mesmo que cada capítulo
apresente exercícios com a resolução, podendo ser acessada através de hiperlinks 5.
Da mesma forma, a utilização da tecnologia da realidade virtual em 3D também não
garante as caraterísticas pretendidas. Utilizando o mesmo exemplo, pode-se ter uma
edificação a partir da qual o usuário tem acesso com recursos da realidade virtual. Ao
navegar sobre a edificação, pode-se consultar teoria e exercícios sobre a construção
de diagramas em estruturas isostáticas, inclusive com diferentes animações que
ilustrem os diferentes conceitos envolvidos no estudo. Essas características não são
suficientes para caracterizar um AVA.

Costa e Franco (2005) afirmam que para Dillebourg existe um ponto que mostra
esta diferença entre um website ou um AVA, que é a produção do conteúdo. Ele
salienta que a produção de conteúdo é uma característica particular de ambientes
virtuais, em função das particularidades da Internet. Segundo ele, os estudantes não
estão restritos a consultar as informações da rede, eles se tornam produtores da
informação, participantes do jogo. A utilização de portfólios virtuais para que os alunos
registrem as suas produções ao longo do curso, consiste numa atividade diferente do
que entregar um trabalho apenas para o professor, pois, no primeiro caso, as
informações estarão disponíveis para qualquer pessoa que tenha possibilidade de
acessar a Internet.

Dessa forma, a disponibilização de um livro pelo professor pode consistir


apenas o início de uma atividade que inclua os seguintes itens: a) uma pesquisa a
respeito da temática abordada; b) a disponibilização, no portfólio virtual do aluno, de
uma resenha a respeito do livro; c) a criação de uma lista de discussão que tenha por
objetivo construir um texto coletivo a partir da análise das resenhas dos colegas; d)
outras atividades que possam tornar o ambiente virtual um espaço em que os
estudantes sejam efetivamente protagonistas da informação.

5Nome dado à ligação que leva a outras unidades de informação em um documento hipertexto. O
hiperlink pode fazer referência à outra parte do mesmo documento ou a outros documentos.
Fonte: Site Origiweb
23

Outra teoria que Costa e Franco (2005) trazem em seu artigo é a que Loiselle
descreve a participação do aluno no desenvolvimento do produto, em que

“O estudante conduz suas próprias operações de coleta de


informações e não se coloca como um simples consumidor da
informação”, assim, “o dispositivo estimula os estudantes a
desenvolverem um conteúdo próprio”. Loiselle (2002, apud COSTA e
FRANCO, 2005)
A partir das produções dos alunos, pode-se então enriquecer o que é chamado
de dispositivo de formação multimídia, segundo Loiselle, fazendo dele uma construção
coletiva.
24

2.1.1.1. Moodle

Dentre os Ambientes de Aprendizagem Virtual destaco a plataforma AVA


chamada Moodle, que vem a ser uma das mais utilizadas neste tempo. A plataforma
Moodle dispõe de muitos recursos, como editoração das perguntas e respostas,
provas, avaliações, estimula debates por meio de seus fóruns digitais, que também
estimulam a interação entre turmas, grupo de alunos e tutores, tem uma ótima área
para interação professor e aluno. E disponibiliza também locais de repositório de
material como vídeos, fotos, artigos, livros, entre outros.

Figura 1: Exemplo de apresentação de um curso na plataforma Moodle

Fonte: Printscreen do site da plataforma EAD do Instituto Federal Fluminense

O Moodle é uma plataforma de ensino que traz uma sala virtual que é o
ambiente para desenvolvimento de atividades de quaisquer cursos específicos. A sigla
vem do inglês que é Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment, que
significa Ambiente de Aprendizado Modular Orientado ao Objeto. Criada em 2001, sua
proposta principal é disponibilizar um ambiente comunitário em que é possível
desenvolver atividades e fóruns. Professor e aluno se integram similarmente a uma
sala de aula convencional.
25

A pedagogia do software baseia-se no socioconstrutivismo que vem a ser uma


participação ativa do agente na construção do saber, ou seja, permite que outros se
utilizem da ferramenta e experimentem ao ponto de gradativamente obterem o
conhecimento. Costa e Franco (2005) baseiam-se numa concepção construtivista
para explicar como este AVA por exemplo é refletido na aprendizagem, explicam que
tal concepção considera que o conhecimento se consolida a partir de autorregulações
que ocorrem através das relações estabelecidas entre o sujeito e o objeto. É a partir
da constituição de novas relações baseadas no conhecimento prévio, que se
alcançam patamares cognitivos superiores, sempre levando em consideração o
caráter simultâneo e provisório da teoria piagetiana. Simultâneo por considerar o
patamar inferior e superior ao mesmo tempo; e provisório, por prever patamares
infinitamente superiores, sempre como constituição de relações sobre relações.

Neste contexto, os dois explicam que alguns elementos presentes no ato


educativo precisam ser reinterpretados. O erro, que costuma ter um caráter punitivo e
inibidor, passa a ser construtivo para a aprendizagem. Ele poderá revelar elementos
a respeito do processo de aprendizagem do estudante, podendo assim, auxiliar o
professor nas suas estratégias de mediação. Tratar o erro como um momento
privilegiado de reflexão e investigação, aponta esta fala de Ramos, considerando-os
como acontecimentos significativos e impulsionadores dessa prática, e apontando
Souza, consiste na estratégia fundamental para uma proposta de aprendizagem. Eles
dizem também que Bazzo (2000) ainda reforça que a discussão sobre os erros e
acertos promove a participação ativa dos alunos, tão importante para a visão
epistemológica construtivista. Mais importante que acertar a resposta é dar ênfase ao
processo de elaboração da mesma, segundo Ramos. Apontando Castorina, citada por
Soares et al (2001), Piaget considerava o erro mais fecundo que um acerto imediato,
principalmente porque a consideração da hipótese falsa pode fornecer novos
conhecimentos, quando se analisam as consequências dessa hipótese. O erro
possibilita ao professor identificar as concepções prévias dos alunos, proporcionando
a base para a concepção de novas intervenções pedagógicas.

Em resumo, pode-se dizer que agentes desenvolvem conteúdos e


disponibilizam de forma colaborativa para outros, ou seja, compartilhando o conteúdo
a grupos de pessoas. Porém é recomendado pelos desenvolvedores da plataforma
que os usuários obtenham previamente o conhecimento de como explorar o ambiente
26

e utilizar suas ferramentas. Torres (2013) é autora de um artigo escrito para revista
ABEM sobre ensino a distância em uma experiência de curso superior, que traz uma
abordagem acerca da pedagogia musical online que ela defende, que está
inteiramente inserida neste ambiente que ela chama no artigo de ciberespaço.

Segundo Torres (2013) a pedagogia musical online na plataforma Moodle


ocorre a partir da mediação entre conteúdos, usuários e ferramentas na utilização
desses dispositivos para o processo de ensino e aprendizagem musical. No Moodle,
as ferramentas disponíveis são: os diários/mensagens, os fóruns (de discussão e de
dúvidas), os glossários, as lições, os livros, os recursos/wicks (ferramenta utilizada
para produção de texto coletivo), as tarefas, o vídeo. O YouTube e a webconferência
são anexados ao Moodle e podem ser utilizados através de um link. Para que a
interação ocorra na plataforma Moodle, a ferramenta mais utilizada é o fórum de
discussão. Em função de sua facilidade de acesso e da necessidade de acompanhar
o andamento das disciplinas, o fórum permite o contato com os tutores, a troca de
material didático, o compartilhamento de dúvidas e a solução de problemas, ou seja,
promove momentos de interação, diálogo, discussão que se configuram no “momento
mais vivo” no ensino de música a distância.

Trazendo para a realidade educacional, temos três agentes dentro do Moodle:


o administrador, o professor e o alunos. Cada um exerce papéis específicos na
plataforma. Discorremos acima um pouco da função do administrador, que é
desenvolvimento e criação do software, em que basicamente gerencia todos os
elementos da aplicação e os conteúdos ali carregados, ou seja, toda parte técnica que
engloba aparência e funcionalidade.

Temos o segundo agente, que é o professor, que por sua vez tem um papel
importante de gestão dos conteúdos, então ele é quem vai formatar as atividades, os
fóruns, bem como as programações de aula e seus calendários de atividades. Ele tem
a opção de inserir arquivos de muitos tipos como exemplos .doc e .pdf. Ele vai inserir
as notas das atividades e provas que os alunos farão, logicamente disponibilizada por
ele na ferramenta. As questões das provas podem ser feitas como múltipla escolha
ou forma dissertativa, ou até pode dar instruções para que o aluno carregue um
ficheiro de arquivo naquela atividade e o professor posteriormente o baixa e faz sua
avaliação. O agente professor tem possibilidade de também disponibilizar via chats e
fóruns links externos de comunicação como por exemplo uma aula feita através de
27

uma videoconferência, ou seja, forma síncrona. Mas a base da plataforma é


praticamente um estudo assíncrono, por ter esse formato em fóruns e salas de
estudos.

2.1.1.2. Hotmart

Também deve-se destacar o papel que a plataforma Hotmart teve na


manutenção dos ganhos dos profissionais de ensino de música, muito utilizada
principalmente pelos professores músicos autônomos. Está sendo muito utilizada no
mercado musical e se desenvolveu bastante durante a pandemia, quando também
muitos músicos práticos, impedidos de exercer suas atividades, encontraram nesta
ferramenta a oportunidade de ganhar seus rendimentos neste período. Talvez tenha
sido a melhor saída inclusive de músicos que têm como atividade principal
apresentações musicais, workshops, gravações em estúdios. Estes profissionais
utilizavam anúncios também de sites terceiros como anúncios do google e de redes
sociais nas quais patrocinavam os anúncios e assim eram distribuídos a inúmeros
usuários interessados em aprender um instrumento musical ou até já iniciados que
queriam aprimorar e adquirir novos conhecimentos.

Figura 2: Exemplo de apresentação de um curso na plataforma Hotmart.

Fonte: Printscreen do site do curso do guitarrista brasileiro Cacau Santos


28

A Hotmart tem como premissa a venda e promoção de cursos online e produtos


de ensino digitais. Esta plataforma é uma startup mundial, uma das maiores da
América Latina (segundo dados de seu site oficial) com usuários de todo tipo de
público dentro dos mais diversos segmentos. No gráfico a seguir mostra-se uma
relação entre as redes sociais e a venda dos produtos desta plataforma
correlacionadas aos países pelo mundo.

Figura 3 – Gráfico de volume de compradores de curso no Hotmart por origem

Fonte: Site oficial do Hotmart

Ela é uma intermediadora entre o vendedor e compradores que, na verdade,


são alunos em busca de adquirir cursos on-line. Na plataforma são disponibilizados
os arquivos dos tutores de ensino, sejam eles e-Books em formatos .pdf ou epub,
audiobooks em formatos diversos de áudio, videoaulas em formatos de vídeos
diversos, softwares em formatos .exe ou .msi, imagens em diversos formatos e scripts
e formatos baixados via navegador. Por ser uma intermediadora, o tutor precisa
somente expor seu produto, a plataforma já faz toda parte de negociação financeira e
venda com segurança e repassa os valores para o dono do curso. A customização
pode ser feita pelo tutor de acordo com o template disponibilizado pelo software.
29

Segundo site oficial da marca, depois da pandemia a procura pelos cursos


aumentou exponencialmente devido às implicações geradas pela pandemia de
distanciamento social. No gráfico abaixo eles mostram dados de alguns países pelo
mundo 2 meses antes e depois da recomendação mundial da OMS.

Figura 4 – Gráfico de crescimento de transações Hotmart por países

Fonte: Site oficial do Hotmart

Segundo o site oficial da marca o aumento do volume de novos compradores


indica uma adoção de novos hábitos no ensino. Um dos motivos para esse cenário
pode ser atribuído às pessoas que antes tinham resistência ao ensino online e, agora,
30

impossibilitados de aprender no offline, acabaram migrando e aceitando o ensino a


distância, conforme demonstrado do gráfico a seguir.

Figura 5 – Crescimento do número de novos compradores de cursos Hotmart

Fonte: Site oficial do Hotmart

2. 1.1.3. Comparativo entre Moodle e Hotmart

Temos então duas opções de ferramentas EaD muito eficazes como solução
digital para o ensino/aprendizagem e muito diferentes entre si: o Moodle por sua vez
simula muito bem o ambiente institucional de uma escola bem como as formas mais
tradicionais de ensino e as interações via chats, blog e fóruns, já a proposta do
Hotmart, bem diferente da anterior, vem como solução para a comercialização de
cursos livres e em contrapartida não tem a interação professor/aluno do Moodle,
porém se torna boa na gestão financeira de um negócio digital, opção que o Moodle
31

não traz consigo. Mas ambas dispõem de ótimos meios de ensino, especialmente na
forma assíncrona.

2.1.2. Contexto do ensino a distância e novas ferramentas.

Nos últimos tempos, houve um crescimento considerável na quantidade de


cursos nas modalidades a distância no Brasil e no mundo. Segundo dados do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), por exemplo,
no Brasil a rede privada de ensino tem o número de alunos ingressos na modalidade
EaD maior que na modalidade presencial. Em 2018 foram abertas 7,1 milhões de
vagas nos cursos de educação a distância e 6,3 milhões em cursos presenciais. Além
disso, o número de cursos EaD teve um aumento de 50% em relação ao ano anterior
(2017). Esta foi a adesão do ensino EaD no Brasil segundo dados do Censo da
Educação Superior de 2018.

Figura 6: Comparativo entre ingressos em EAD e Presencial

Fonte: Site G1 Globo


32

Nas mais variadas formas de conhecimento e de desenvolvimento profissional


destacam-se estes estilos de cursos como facilitadores, tanto ao acesso quanto à
adequação à realidade, pois o tempo vivenciado durante a pandemia do Covid-19
obrigou muitas pessoas a cumprirem rigorosamente as recomendações e decretos de
distanciamento social e quarentena.

Contudo, também há fenômenos mais antigos, que incentivam a escolha deste


meio de ensino: pessoas que são moradoras de cidades distantes de polos urbanos
com grandes centros de ensino optam pelo ensino a distância. A impossibilidade de
deslocamentos e também trabalhos que tomam bastante tempo são os principais
fatores desta escolha. Junto com o desenvolvimento tecnológico do nosso século vêm
também novas tecnologias da informação e comunicação (TICs), logo o acesso ao
ensino foi facilitado, pois dispensa a presença do aluno com seu tutor, assim
atendendo estas demandas que foram provocadas pelos novos tempos da sociedade
contemporânea cada vez mais acelerada.

Lévy (2005) diz que não se trata aqui de utilizar as tecnologias a qualquer custo,
mas sim de acompanhar consciente e deliberadamente uma mudança de civilização
que questiona profundamente as formas institucionais, as mentalidades e a cultura
dos sistemas educacionais tradicionais e, sobretudo, os papéis de professor e de
aluno.

Na música não é diferente, a educação a distância vem crescendo muito, com


o passar do tempo vê-se cada vez mais a difusão destes cursos nos meios de
comunicação digitais. Cada vez que acessamos as redes sociais aparece um novo
anúncio de um músico oferecendo um curso de determinado instrumento. A cada dia
novos vídeos de tutoriais musicais são postados em plataformas como o Youtube, por
exemplo. Professores, educadores e tutores difundem o conhecimento em todos os
níveis, desde conteúdos iniciantes a avançados. O aluno, por sua vez, exposto ao
vídeo, se atenta aos detalhes da aula, que são editados na maioria destes vídeos,
trazendo desde partituras até aproximações no instrumento ou nos movimentos do
músico executante da aula, assim o aluno consegue atentar-se a determinados
apontamentos técnicos daquela habilidade a ser aprendida.

Outro ponto é que verifica-se proporcionalmente um aumento considerável


desta modalidade na educação musical atual, em contrapartida ao ensino presencial,
33

que é anterior a todo desenvolvimento tecnológico decorrente do século XX. Até então
o ensino de música e a formação do profissional eram feitos por conservatórios de
música, escolas, igrejas, professores particulares e também por legados familiares.
Com o advindo da popularização da internet e das redes virtuais, estes tipos de
centros de ensino foram se tornando apenas uma das opções, sendo cada vez mais
substituídos por ensinos a distância virtuais, que se consolidaram de vez na vida
acadêmica da sociedade.

Assim, o professor, que antes só utilizava os ambientes presenciais de ensino,


se vê obrigado a mergulhar em um novo formato adaptado ao mundo digital, e
naturalmente há uma quebra de costumes e regimentos de sua antiga forma de
ensinar. Os meios digitais se tornam seu novo ambiente de trabalho e a sua
comunicação digitalizada, junto a isto.

Na experiência demonstrada neste trabalho um dos pontos abordados é que


houve uma perda da organicidade que se tinha nas aulas presenciais, pois situações
que se apresentavam daquele ensino frente a frente quando aconteciam no ensino
digital não puderam ser tratadas na mesma forma. Neste local virtual algumas das
expressões intuitivas que afloram de forma improvisada são perdidas de um certo
modo.

Estes elementos intuitivos, que para este professor eram essenciais, não
apresentam mais a possibilidade de serem utilizados. Aquela interação professor
aluno presencialmente nas quais as conversas e interações mútuas fluem, são
perdidas. O professor se vê então obrigado a adaptar-se e umas das principais
mudanças nesta nova realidade são a linguagem utilizada e a forma de
relacionamento com o aluno.

Segundo Marcon (2020), é admitida a importância da inclusão digital no cenário


educativo contemporâneo, e pensa-se ser urgente refletir sobre a formação de
professores, para que possam reconhecer e participar dessas novas dinâmicas
instituídas. Acredita-se que o professor é um ator central e precisa estar preparado
para operar nesse novo cenário social.

Nesta modalidade de ensino por meio digital é primordial a proposição do


ensino, papel principal do tutor e este acompanhamento deve ser feito por ele de forma
recorrente e minuciosa. As ferramentas principais estão inseridas nos intermediadores
34

do ensino, que são as plataformas de ensino, por isso o tutor tem a função de
alimentar os conteúdos nestas ferramentas, além da função de editoração e
formatação da página digital.

Cordeiro (2020) destaca que nesse sentido, o uso das ferramentas tecnológicas
na educação deve ser visto sob a ótica de uma nova metodologia de ensino,
possibilitando a interação digital dos educandos com os conteúdos, isto é, o aluno
passa a interagir com diversas ferramentas que o possibilitam utilizar os seus
esquemas mentais a partir do uso racional e mediado da informação.
No entanto, muitos professores ainda veem a tecnologia em sala de aula como
mais uma ferramenta de ensino, à qual, por muitas vezes, aplicam manutenção da
mesma forma de posicionamento didático no presencial sendo utilizada no mundo
online de ensino, o que pode significar um retrocesso diante dos avanços tecnológicos
no qual vivemos.
35

2.1.3. Ensino Remoto.

Muito diferente do EaD no mundo tecnológico, há o Ensino Remoto, também


chamado de Ensino Online, que é utilizado paralelamente ou de forma autônoma
pelos educadores musicais. No estudo de caso levantado neste trabalho, foi utilizado
este modelo de ensino com os alunos estudados, de forma síncrona, semanalmente,
devido aos contextos pandêmicos já citados.

Nesta modalidade os agentes não estão em um espaço físico comum, porém


desenvolvem as atividades pedagógicas em um ambiente virtual. Por via de
transmissão houve a possibilidade de manter uma rotina igual à da maneira
presencial. Na pandemia, para que as instituições não ficassem com seus
cronogramas parados, apoderaram-se do ensino remoto por se apresentar esse como
uma solução capaz de permitir a continuidade de suas atividades.

As plataformas de videoconferência se apresentam como uma possibilidade de


simulação da sala de aula, pois elas fazem a interação simultânea entre professor e
aluno, assim as atividades são desenvolvidas na forma síncrona. São ferramentas
com recursos simples de se manipular, devido à facilidade de se compreender os
ícones apresentados no aplicativos, com todas as funcionalidades bem ilustradas por
símbolos que intuitivamente ensinam seus usuários.

2.1.3.1. Google Meet

O Google Meet é um serviço de comunicação via transmissão de vídeo. É uma


ferramenta e tanto para que sejam feitas videoconferências, que muito se
assemelham com o ambiente físico de uma sala de aula. A principal característica da
aplicação é que não é necessário ser instalada no computador, isso é bem facilitador,
bem como muitos alunos acessaram as aulas de diversos dispositivos.

Outro fator importante para ter sido escolhido por muitos educadores é sua
segurança. Foi possível através de cadastros limitar acesso de alunos, assim podendo
restringir seu uso para somente membros de determinada turma ou disciplina pois seu
compartilhamento era via link e a porta de entrada então seria a permissão do
administrador, no caso o professor. Outro ponto positivo da ferramenta é sua
36

performance, o número de participantes máximo é de 1506, o suficiente se tratando


de uma turma convencional média de 30 alunos.

Figura 7 – Exemplo de apresentação de reunião na plataforma de transmissão do Google Meet

Fonte: Site oficial do Google

2.1.3.2. Whatsapp

Outro serviço muito utilizado no contexto de ensino remoto foi o Whatsapp. Este
aplicativo é mais utilizado via smartphones, porém também tem sua versão Web
utilizada em navegadores de internet para computador. É uma ferramenta mais
simplificada pois o contato é direto via chamada de vídeo por número de celular. A
chamada pode ser feita de maneira individual ou coletiva. Então professor e aluno
podem interagir também por chamadas em horários previamente marcados.

6
Videoconferências gratuitas em grupo no Google Meet têm limite de 1 hora. A rede limita as videoconferências
com três ou mais participantes a apenas 60 minutos.
O plano Business Standart disponibiliza videochamadas com 150 participantes + gravação e o tempo é ilimitado.
Fonte: Site Workspace do Google.
37

Figura 8 – Exemplo de apresentação de videochamada na plataforma de transmissão do Whatsapp

Fonte: Site oficial do Whatsapp

2.1.3.3. Comparativo entre Google Meet e Whatsapp

Acredita-se que ambos são eficazes na comunicação online e muito rápidos na


mediação entre usuários. Em termos de praticidade no uso, o Whatsapp demonstra
ser uma interface mais fácil de se visualizar e compreender, o usuário aprende a usar
suas ferramentas de forma até mesmo intuitiva somente pela identificação dos ícones
disponíveis. Já o Google Meet é um pouco mais complexo para ser compreendido,
até mesmo pelo fato de primeiramente ser necessário ao usuário possuir uma conta
do Google obrigatoriamente, logo depois ser necessário fazer login e até mesmo
necessitar em alguns casos de uma autorização do criador do link de conexão. Com
relação à qualidade das transmissões, o Google Meet se mostra superior ao
Whatsapp em termos de estrutura técnica e também de ambiente virtual, pois tem um
ambiente que simula bem uma sala de reuniões presencial, possui por exemplo chat
de conversas entre participantes, já o Whatsapp é uma simples chamada de vídeo
sem estes recursos.
38

3. GUITARRA: HISTÓRICO E SEU DESENVOLVIMENTO.

A história da guitarra no mundo tem início na Ásia, onde era conhecida como
Guitarra Mourisca ou Sarracena, pertencendo à família do Alaúde, cuja caixa acústica
era arredondada. Durante a Idade Média, esta guitarra se espalhou por toda a Europa.
Há referências desse instrumento por volta de 1300, apresentando inclusive dois tipos
de guitarra: A Mourisca e a Latina (esta com a diferença de ter sua caixa acústica
chata, provavelmente uma das precursoras do violão português e a Espanha foi o país
que mais se identificou com essa guitarra; daí o nome conhecido como Guitarra
Espanhola). Podemos apontar alguns dos maiores guitarristas internacionais da
história, dentre eles Francisco Tarrega e Andrés Segóvia. Tarrega, nascido em 1893
e falecido em 1909, criou técnicas e posições especiais para os dedos, para o pulso
e também para a maneira de tanger as cordas. Por sua vez, Segóvia, nascido em
1893 e falecido em 1909, é considerado por alguns do meio o maior de todos os
tempos. Podemos citar numa história recente também o Paco de Lucia, entres tantos
outros que revolucionaram a forma de se tocar este instrumento originário.

Já no Brasil, um instrumento semelhante à guitarra espanhola foi introduzido


pelos portugueses por volta do século XVIII, recebendo então o nome de Violão 7. O
violão8 era usado inicialmente por cantores boêmios, como instrumento
acompanhador, e carregou a fama de instrumento boêmio por longos anos. Por esta
razão o violão era um instrumento praticamente proibido nas cerimônias religiosas e
nas Igrejas. Somente nos anos 60 ele começou a ser aceito, uma vez que nesta época
o violão já estava mudando a sua fama para tornar-se também um instrumento erudito.
Através de obras escritas para violão, Villa Lobos foi o principal divulgador da arte
desse instrumento. Sua obra mais conhecida foi Doze Estudos para Violão (1929).

7 “A história do violão começa com a vihuela, que surgiu no século 15, na Península Ibérica, primeiro
instrumento dedilhado com formato de 8 da história ocidental. Além da vihuela, os precursores do violão
também são: a guitarra renascentista, com quatro cordas, a guitarra barroca, com cinco e, finalmente,
a guitarra romântica, com seis. Esta é considerada o precursor direto do violão.”
Fonte: Site Musica Brasilis
8 “Em outros países de língua não portuguesa o nome do Violão é guitarra, como pode se ver em inglês

(Guitar), francês (Guitare), alemão (Gitarre), italiano (Chitarra), espanhol (Guitarra). Aqui no Brasil
especificamente quando se fala em guitarra quer se denominar o instrumento elétrico chamado Guitarra
Elétrica. Isso ocorre porque os portugueses possuem um instrumento que se assemelha muito ao
Violão e que seria atualmente equivalente à nossa " Viola Caipira ". A Viola portuguesa possui as
mesmas formas e características do Violão, sendo apenas pouco menor, portanto, quando os
portugueses se depararam com a guitarra (Espanhol), que era igual a sua viola sendo apenas maior,
colocaram o nome do instrumento no aumentativo, ou seja, Viola para Violão.”
Fonte: Site da Escola de Música Fabíula Mugnol
39

Temos também como expoente do violão no Brasil o Baden Pawell9 que introduziu de
maneira peculiar um jeito diferente de tocar através de sua identidade musical,
difundindo meios, se utilizando das técnicas eruditas e inserindo-as ao jeito popular
de se tocar o violão. Entre os nomes dessa difusão temos Garoto, Dilhermando Reis,
Raphael Rabello, dentre tantos outros que influenciaram novos músicos violonistas no
decorrer do tempo.

3.1. O surgimento da Guitarra Elétrica e algumas de suas técnicas.

Podemos dizer que a guitarra elétrica é a última versão da transformação ou


variação da guitarra espanhola. A história começa por volta da década de 1920 em
diante, quando músicos tiveram a ideia de aumentar a potência sonora da versão
acústica dos instrumentos primos mais distantes. Lloyd Loar, engenheiro e designer
da empresa Gibson, foi o criador do primeiro captador, cuja função é converter a
vibração das cordas dos instrumentos em corrente elétrica. Este, por sua vez,
eletrostático, com formato arredondado semelhante uma moeda, gerava uma
captação não precisa e não uniforme devido ter uma impedância10 extremamente alta.
Outro defeito que o captador de Loar possuía era a fragilidade ante à umidade e o
tempo, pois era extremamente suscetível aos mesmos.

Os projetos de instrumentos elétricos de Loar eram feitos com o bandolim e a


viola, instrumentos estes que ele usava em suas apresentações como músico e

9
Baden Powell de Aquino nasceu em 6 de agosto de 1937 na cidade de Varre-Sai, estado do Rio de
Janeiro, filho de Lilo de Aquino (conhecido como Tic) e de Adelina Gonçalves, a Neném. Tic era
fabricante de calçados e músico amador: tocava violino nos bailes e tuba na banda da cidade, fundada
por seu pai. Também era chefe dos escoteiros de Varre-Sai e admirador do fundador do escotismo, o
britânico Robert Stephenson Smyth Baden Powell, daí a homenagem ao batizar o terceiro filho. Aos 9
anos recebeu o prêmio de Melhor Violão Solo, na Rádio Nacional. Na maioridade, passou a compor e
tocar jazz em boates. Sua música rompeu as barreiras que separam a música erudita da música
popular, trazendo consigo as raízes afro-brasileiras e o regional brasileiro. Pelo conjunto da obra,
ganhou o XV Prêmio Shell da Música Brasileira.
Fonte: Site do Instituto Moreira Salles e Musicabrasilis.
10 Impedância elétrica ou simplesmente impedância é a medida da capacidade de um circuito de resistir

ao fluxo de uma determinada corrente elétrica quando se aplica uma certa tensão elétrica em seus
terminais. Em outras palavras, impedância elétrica é uma forma de medir a maneira como a eletricidade
"viaja" em cada elemento químico. Todo elemento, do isopor ao titânio, possui uma diferente
impedância elétrica, que é determinada pelos átomos que compõem o material em questão.
Obviamente, alguns materiais terão maior impedância comparado a outros, de menor impedância.
Fonte: Site do Infoescola
40

professor. Seu trabalho como construtor de instrumentos de cordas foi demonstrado


por todo os EUA.

Nesta mesma época, se integrou à Gibson, durante os anos de 1919 a 1924, e


suas opiniões neste período em que esteve presente na empresa foram primordiais
para o desenvolvimento futuro de instrumentos elétricos. Enquanto esteve na Gibson
projetou instrumentos elétricos experimentais, em destaque o Bandolim modelo F-5 e
a Guitarra modelo L-5, e ambos possuíam captador eletrostático.

Figura 9: Lloyd Loar, engenheiro acústico e músico criador do captador em 1923

Fonte: Site Eclética Musica

Muitos músicos no durante este tempo tentaram amplificar o som dos


instrumentos acústicos incorporando a eles microfones e alto-falantes. A empresa
pioneira no desenvolvimento do primeiro projeto de guitarra da história foi a
Rickenbacker, fundada em 1931 numa parceria entre Adolph Rickenbacker e George
D. Beauchamp. Porém, nos primeiros testes, inclusive os executados por Adolph e
Beauchamp, surgiu um problema: o bojo do instrumento sofria uma vibração gerada
por estes dispositivos que então produziam um ruído constante e incômodo, que
chamamos de feedback (popularmente chamado de microfonia).
41

A solução seria captar o instrumento de forma mais clara evitando todos ruídos,
interferências e distorções sonoras. Foi então, paralelamente, após um
aperfeiçoamento do projeto similiar do engenheiro acústico Lloyd Loar, que a empresa
Rickenbaker inseriu o componente que faltava na estruturação do projeto de seu
projeto pioneiro de guitarra, criando o captador magnético por bobina elétrica.

Por dominarem bem o conhecimento sobre elétrica, a Rickenbacker


desenvolveu um dispositivo eletromagnético que fazia este trabalho de captação de
som com eficácia. Consistia em um metal que se movia através de um campo
magnético, ou seja, uma corrente elétrica passando por uma bobina. Por isso o
captador desenvolvido por Rickenbaker fez mais sucesso que o do Loar, e se adequou
melhor aos instrumentos de cordas.

Figura 10: Primeiro captador elétrico patenteado oficialmente

Fonte: Site Aprenda como Tocar

Aperfeiçoaram o projeto e oficialmente instalaram em uma guitarra havaiana.


Assim surge a primeira guitarra elétrica do mundo, a Frying Pan em 1932, patenteada
pela empresa Rickenbacker. Ela foi toda produzida em alumínio, diferentemente dos
instrumentos convencionais de madeira.
42

Figura 11: Primeira guitarra elétrica da história: Frying Pan da Rickenbaker

Fonte: Site Aprenda como Tocar

Ainda existia o problema com relação ao feedback nos instrumentos e projetos


de madeira. Para que fosse solucionado este problema, a empresa Gibson, liderada
por Les Paul, teve a brilhante ideia de ao invés de construir o instrumento com caixa
aberta acústica, criou no ano de 1941 um instrumento com a caixa fechada e sólida,
assim resolvendo neste momento o problema da “microfonia” dos instrumentos de
cordas.

Figura 12: Guitarra Les Paul Model

Fonte: Site Rei da Les Paul


43

No Brasil, paralelamente a estes fatos acontecidos nos Estados Unidos, o


eletrotécnico e músico baiano Adolfo Nascimento, o famoso Dodô, buscava desde
1938 uma forma de usar um captador para amplificar o som de seu cavaquinho. Ele
discutia a ideia com o também músico parceiro de trio elétrico, Osmar Macedo. Essa
dupla, intitulada como Dodô e Osmar, chamada também de “Dupla Elétrica”, também
inventaram o famoso trio elétrico.

Por volta de 1944, Osmar desenvolveu um instrumento que nem corpo tinha,
era apenas um braço de cavaquinho com captador, chamado de pau elétrico. Essa
invenção atraiu a atenção de marinheiros americanos que passavam pela Bahia e
segundo relatos que ela chegou às mãos de inventores americanos, influenciando
também o desenvolvimento da guitarra.

Figura 13: Cavaquinho elétrico de Dodô e Osmar, percursora da guitarra baiana.

Fonte: Site Guita Baiana

Então, por definição, a guitarra elétrica utiliza cristais ou captadores para enviar
os sons das cordas para as caixas amplificadas, por isso, diferentemente do violão,
44

não possui caixa acústica mas sim uma caixa sólida (de maneira geral, pois existem
hoje as guitarras chamadas semiacústicas e semissólidas).

O corpo da guitarra é um fator muito importante para sua sonoridade, que muito
difere do violão acústico, quanto mais madeira, mais sustentação se obtém das notas
que são tocadas na guitarra elétrica. A afinação e a disposição das cordas na guitarra
é a mesma do violão, apenas o seu braço é maior e mais estreito e as técnicas de
execução e dedilhado são bem particulares, abrangendo algumas novas habilidades
nestes quesitos. As técnicas utilizadas pela mão direita para tocar o violão, de maneira
geral, são o dedilhado e a batida, que têm como ferramenta de movimento para o
tanger de cordas a mão direita, sendo executado movimentos com munheca, a palma
do dedo e as unhas.

Figura 14: Anatomias da Guitarra e Violão

Fonte: Site Academia Musical

Na guitarra utiliza-se as mesmas técnicas e se incluem outras devido à inserção


de mais um elemento físico artificial: a palheta. A palheta é um objeto pequeno,
semelhante ao tamanho de uma unha, de forma geral circular, com uma ponta em
uma das extremidades, utilizado pelos guitarristas para tanger as cordas da guitarra.
A forma de se utilizar a palheta no geral é segurando com os dedos indicador e polegar
45

a palheta, simulando uma pinça e com firmeza executando movimentos. A palheta


trouxe consigo possibilidades e desenvolvimento de novas técnicas. A guitarra, por
ser um instrumento elétrico, tem novos espectros sonoros e ampliação da gama de
harmônicos sonoros, que, com a palheta, podem ser explorados.

Figura 15: Palheta

Fonte: Site Amazon

A palhetada alternada é tomada como a base neste quesito técnico. Consiste


em movimentar a palhetada alternando movimentos entre cima e baixo,
consequentemente sem repetição. A partir dela surgem outros tipos de técnicas
relacionadas como o Sweep Picking (palhetada varrendo) que consiste em
movimentar a palheta em um sentido somente da primeira corda à última em
determinada frase como se estivesse espanando o chão com uma vassoura. O efeito
que se dá na palhetada sweep é de ter um fraseado fluido e com ligação entre notas,
ao contrário da palhetada alternada, na qual a sonoridade do fraseado é mais
“martelada”, resultado de som nota a nota.

Daí surgem outras derivações como a Chicken Picking ou Palhetada Híbrida,


muito utilizada na música Country, que, como nome já diz, é uma mistura da técnica
de palhetada com a técnica de dedilhado utilizando a mão. Parte do toque é feito com
a palheta e outra parte é feita pelos dedos, que não seguram a palheta, assim trazendo
um efeito sonoro rico nessa mistura. A forma de palhetada precisa ser bem pensada
na hora da execução das ideias, assim sendo para se chegar a uma finalidade de som
especifica.
46

Outro aspecto a ser analisado, isto se tratando da parte anatômica, em


comparação ao violão, é que para se tornar elétrico, precisa possuir novos elementos
e partes, em sua maioria metálicas. Agora, o cavalete é trocado por uma parte
metálica chamada ponte, parte esta que também fez-se desenvolver por novas
técnicas que até outrora nunca foram utilizadas ou pensadas, e também não havia
condições para que fossem desenvolvidas. A ponte na guitarra é a parte por onde
passam as cordas, onde são encontrados os “carrinhos móveis”, que servem para
alguns novos ajustes como por exemplo alinhamento das oitavas do instrumento e
assim afinando por igual a sonoridade da mesma nota pelas casas no braço.

A ponte proporcionou uma nova técnica chamada Palm Mute: essa habilidade
consiste em um abafamento com a palma da mão das cordas no momento da
execução com mão direita, trazendo um efeito de abafamento ao som. Essa técnica
também tem a função de segurar o som da guitarra, pelo fato de possuir um alto ganho
de amplificação, principalmente utilizando o efeito de distorção.

A distorção faz com que as frequências sejam cortadas, ao contrário do que


muitos pensam, ela elimina os extremos nas frequências, assim fazendo com que
determinada fonte sonora fique distorcida e não seja escutada com seu timbre natural.
Para que ela funcione assim é preciso que o circuito eletrônico seja saturado com
ganhos elevados, por isto é preciso trazer este comportamento ao amplificador de
som, colocando bastante ganho sonoro, não volume. Fazendo isto, os captadores
ficam mais sensíveis e então conclui-se que o instrumento terá uma sensibilidade
maior ao ser tocado.

Há na distorção semelhança a um animal indomável e feroz, sem controle e


que precisaria ser contido, então usa-se a técnica palm mute que vem a ser uma
espécie de arma que fará com que o controle do som seja estabelecido. Com o
abafamento, podemos acalmar o ganho elevado e a iminência de feedback que é
gerado entre a guitarra e o amplificador. A guitarra pode ter dois tipos de ponte: Fixa
e Flutuante. Ambas possuem sistema com alavanca que muda a afinação do
instrumento por alguns instantes, porém a flutuante possui dupla trava, para que não
desafine com facilidade.
47

Figura 16: Os dois tipos de pontes para guitarra

Fonte: Site do guitarrista e educador Leandro de Souza

A alavanca também é um instrumento físico que possibilitou a difusão de novas


técnicas, como exemplo utilizá-la para simular o som de animais ou coisas.

Figura 17: Exemplo de alavanca para guitarra

Fonte: Site do guitarrista e educador Leandro de Souza

Há o exemplo do guitarrista Frank Solari, que em algumas de suas


composições utiliza a alavanca para simular o grito de uma baleia. Ou o guitarrista
Steve Vai, que na composição Bad Horsie simulou o relinchar de um cavalo. Mas o
maior expoente da utilização de técnicas com alavanca é o sueco Mattias IA, que em
48

todas as músicas de sua banda chamada Freak Kitchen usa e abusa da alavanca,
simulando sons de muitos objetos como furadeira, liquidificador, telefone, entre outros.
A alavanca também é utilizada como um simulador da técnica de Slide, que é um
pequeno objeto de formato cilíndrico que é segurado com a mão esquerda e deslizado
pelo braço do instrumento. Para que haja precisão das notas, precisa-se sempre
repousá-lo em cima dos trastes do braço, senão não se consegue obter afinação. O
guitarrista Eduardo Ardanuy se utiliza bastante da alavanca simulando o slide,
trazendo uma sonoridade da música country.

A guitarra elétrica, para ter seu som amplificado em alto-falantes e caixas,


recebeu um sistema de captadores elétricos que são bobinas que envolvem uma barra
metálica, que é responsável pela captação do som das cordas e pela sua
transformação em sinais elétricos que serão enviados para o amplificador de som.
Para o ajuste fino das frequências receptadas pelos captadores, há os
potenciômetros, que são responsáveis pelo controle de volume e tonalidade dos
mesmos.

Figura 18: Tipos de captadores para guitarra

Fonte: Site do guitarrista e educador Leandro de Souza

Até os potenciômetros juntamente aos knobs originaram técnicas para o


instrumento, como por exemplo a utilização do controle de volume para a diminuição
do ganho da guitarra distorcida. Muito difundido pelo guitarrista Jeff Beck, a técnica é
o uso do dedo mínimo da mão direita para controlar o nível de volume, assim
49

transformando por exemplo um efeito de distorção em um Overdrive que vem a ser


uma distorção mais leve e rala.

Figura 19: Exemplo de knob/potenciômetro de volume na guitarra

Fonte: Site do guitarrista e educador Leandro de Souza

Abaixo há duas ilustrações que representam tanto a anatomia da guitarra


elétrica quanto a do violão, assim pode-se analisar as diferenças e semelhanças
anatômicas de ambos os instrumentos:

Figura 20: Anatomia do violão

Fonte: Site do guitarrista e educador Thello Campos

Figura 21: Anatomia da guitarra


50

Fonte: Site do guitarrista e educador Leandro de Souza

3.2. Como a guitarra era ensinada e o surgimento do método

A Modern Method for the Guitar - Berklee College of Music

A guitarra surge em meados da primeira metade do século XX, sendo um


instrumento de características bem inovadoras para a época, trazendo consigo o
pioneirismo dos instrumentos elétricos. Até então, os instrumentos eram acústicos e
tinham funções específicas nas suas aplicações na sociedade e os locais eram
escolhidos apropriadamente pela proposta que tinham. No século anterior a música
majoritariamente servia para apreciação de cortes, igrejas, oligarquias políticas e
influências de sociedade, e os instrumentos tidos como eruditos eram utilizados
majoritariamente em orquestras, grupos de câmaras, igrejas, entre outros.

No meio da música popular não era diferente, nas ruas eram utilizados
instrumentos acústicos. Em se tratando da música erudita, que era a mais
sistematizada da época, nota-se que os compositores escreviam suas músicas para
estes instrumentos em repertórios-cânone, que eram estudos para os instrumentistas,
e os prelúdios também exerciam este papel de desenvolvimento técnico instrumental.
De certa forma, existia uma metodologia para os instrumentos eruditos, que por sua
vez os mestres aplicavam aos alunos.

Segundo afirma Lopes (2013) em seu trabalho, com o passar do tempo chega
então a guitarra elétrica, um instrumento muito experimental, até então sem nenhuma
metodologia de estudo, sem quaisquer sistematizações técnicas, pois ainda estava
51

sendo conhecida por seus criadores e adeptos. Assim, no período dos anos 60, junto
à famosa escola Berklee College of Music, conhecida por ser uma escola muito
procurada por músicos e instrumentistas no mundo, até os dias de hoje, aparece a
primeira tentativa de implementação de uma metodologia de guitarra.

William Leavitt (1926-1990) em 1965 se torna chefe do departamento de


guitarra na escola Berklee, e começa a desenvolver um setor de ensino a nível
acadêmico da guitarra elétrica com uso de palheta. Sendo pioneiro na história, ele
então publica três volumes do famoso “A Modern Method For The Guitar” (LEAVITT,
1966), que tem o objetivo de formar o guitarrista em três áreas: rítmica, técnica e
leitura, abrangendo diversos etilos. O curso se dividia em quatro semestres, estes por
sua vez em tempo integral de estudos, em que o aluno por 2 anos forma-se, esgotando
o conteúdo dos três volumes do livro.

Segundo Lopes (2013), o repertório do método desenvolvido por Leviatt (1966)


era de obras de compositores eruditos como o pianista J. Sebastian Bach, o
compositor violonista Mateo Carcasi e do clarinetista Hyancithe Klóse. A didática
utilizada tinha como objetivo aprofundar questões técnicas do instrumento e outras
naturezas. Lopes (2013) diz que mesmo Leviatt (1966) tendo desenvolvido o estudo
baseado na música erudita, até os dias de hoje vemos proporcionalmente a guitarra
sendo utilizada sem repertório específico para estudos, posto que a mesma não veio
oriunda do meio erudito nem tão pouco é por definição um instrumento solista.

Para a maioria dos guitarristas, desde o surgimento do instrumento até a


atualidade, seu maior uso na música popular é como instrumento base, mesmo tendo
brechas nas músicas nas quais os mesmos “solam” ou improvisam, destacando então
uma de suas maiores aplicações, instrumento para músico improvisador.

Então, historicamente a guitarra é um instrumento que o aluno aprende


imitando, todos expostos à forma aural de ensino. Já no Brasil, não foi diferente sua
difusão, pelo fato do país ter vivido uma enorme escassez de informações se tratando
de ensino de música, a maior parte das informações veio de forma importada,
obviamente por meio de pessoas físicas que viajavam em busca de formação. Então
surgem alguns educadores na década de 1970 como o guitarrista argentino Claudio
Gabis (formado na Beerklee College of Music), que formou uma imensa leva de
músicos guitarristas na região do Rio de Janeiro, exemplos como Torquato Mariano,
52

Ricardo Silveira, entre outros. Depois surge uma importante escola em São Paulo na
década de 1980, a CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical). Esta instituição
teve como grande destaque de educador o mestre Mozart Mello, que até os dias atuais
forma gerações de guitarristas, dentre alguns de seus discípulos pontuamos Tomati,
Kiko Loureiro, Andreas Kisser, Eduardo Ardanuy, Juninho Afram, entre outros.

Mas é na década de 1980 que paralelamente a ascensão do estilo Rock no


Brasil se dá o aparecimento da música instrumental bem fortemente e com ela a busca
dos guitarristas por aprimoramento técnico, até por uma questão de “ego” e “ambição”,
adjetivos propulsores do aprendizado destes músicos vide a competividade no meio,
existente naquela época até então. Elementos como comparações de quem é o mais
rápido, o mais técnico, o mais musical, se tornam temas centrais em rodas de
discussão acerca do cenário guitarrístico da época. Lopes (2013) relata bem acerca
dos acontecidos deste tempo (WHITE et al 27 apud ÁLVARES, 2005, p.66)

“Segundo LEÃO (1997 apud LOPES, 2013), durante a década de 1990


surge um número muito grande de guitarristas de rock instrumental e
heavy metal, cantando em inglês para atingir o mercado externo,
notadamente o japonês e europeu, cujos guitarristas têm atuação
destacada, com a utilização de arpejos e escalas extremamente
velozes que remetem ao guitarrista sueco Yngwie Malmsteen.
Destacam-se os guitarristas Kiko Loureiro, da banda Angra; Edu
Ardanuy, da banda Dr. Sin; e Frank Solari, que em seu disco “Um
Círculo Mágico” (1998) flerta mais diretamente com a música
brasileira, tendo regravado “Rabo de Foguete” com as participações
de Ricardo Silveira, compositor do tema, e do percussionista e virtuose
do pandeiro Marcos Suzano. O solo de Solari nesta música soa como
uma espécie de “Pepeu Gomes com esteróides” (citação do autor
deste trabalho), dada a grande exuberância técnica do guitarrista
aliada às sincopes e inflexões típicas do choro, habituais no fraseado
de Pepeu.” (Lopes, 2013)
E são fatos sociais que têm que ser levados em consideração se tratando da
evolução do ensino de guitarra no Brasil.

Na década de 1980 há o surgimento de uma das mais importantes instituições


de guitarra, até mesmo os dias de hoje no mundo, a GIT (Guitar Institute of
Technology) e muitos alunos brasileiros foram apresentados à metodologia desta
escola no início da década de 1990, pois ela foi trazida em 1988 pelo guitarrista
Wander Taffo da banda Rádio Táxi, que foi o diretor geral por muitos anos até seu
falecimento em 2008, da escola de guitarra fundada no mesmo ano por ele, a IG&T –
53

Instituto de Guitarra e Tecnologia (parte constituinte da EM&T – Escola de Música e


Tecnologia) em São Paulo, Brasil.

Um dos alunos da GIT nos Estados Unidos, o guitarrista Nelson Faria, grande
expoente do ensino de música no Brasil até os dias atuais, lançou o livro Arte da
Improvisação (1991), material este muito emblemático e muito utilizado até por
músicos de outros instrumentos, por trazer uma metodologia inteiramente aplicada na
GIT, que apresenta situações harmônicas diversas e dentro destas situações há
acordes estáticos ou progressões, relações de modos e acordes, entre outros. Para
cada situação dessa é sugerida um determinada frase já pronta, em que o aluno
copiando licks recorrentes naquelas ocasiões aplica e assim mergulha no universo
improvisador, que vem a ser a característica mais forte da guitarra no decorrer do
tempo desde seu surgimento.

Segundo Lopes (2013), a abordagem de improvisação contida neste livro é


natural se considerarmos que o autor foi formado na instituição que, conforme
descreve também Gomes (2005, p.111), possui um currículo com “um enfoque linear-
sequencial, típicas dos currículos tradicionais e tecnicistas”.

Deve-se lembrar, neste sentido, que a prática da cópia de solos parece natural
no ensino de música norte-americano, assim como parece adequado a um estudante
dedicado de guitarra procurar aprender trechos ou solos inteiros de seus
instrumentistas de referência, algo que remete ao conceito de competência de
Benjamin Bloom, onde se fundem os domínios cognitivo, afetivo e psicomotor
(BLOOM apud GOMES, 2005, p.106). Ademais, como o livro apresentava seu assunto
de forma concisa e estimulava ao estudante a prática de estudar trechos de solos,
pode ter dado margem à ideia de que improvisar seria tão somente copiar solos.

Nesta época a demanda pelo conhecimento de improvisação era muito grande


entre os estudantes, logo vê-se uma forte influência da metodologia norte-americana
no Brasil, pois os alunos gostavam daquela abordagem trazida por Nelson Faria.
Porém, não retirando a importância de Nelson Faria, que influencia ainda gerações de
guitarristas, mas entre muitas problemáticas levantadas por outros educadores é
unânime que improvisação vai além de simplesmente copiar padrões americanos pois
é fundamental conhecer o conceito estrutural dentro das frases, a origem de como é
54

construída determinada sonoridade musical, habilidade esta ensinada nas aulas de


Análise Musical.

Assim o aluno compreende elementos anteriores a simplesmente reproduzir


um padrão mas sim entender elementos anteriores que intrinsicamente estão
inseridos na construção harmônica e na movimentação melódica dos intervalos de
acorde a acorde.

3.3. Método de Ensino de guitarra aplicado aos alunos no nível iniciante.

A palhetada é um elemento técnico, como descrevemos anteriormente,


fundamental na execução de inúmeras técnicas na guitarra. Seu uso fica quase que
imprescindível quando a pessoa pensa em tocar guitarra. Mesmo existindo guitarristas
que importam elementos do violão clássico na execução do tanger de cordas, vemos
que se torna preciso em muitos dos casos de algumas peças o uso de palheta. Os
exercícios psicomotores são essenciais para adquirir as técnicas de palhetada e
dentro de muitos repertórios brasileiros conseguimos aplicar tais conhecimentos
adquiridos em estudos.

Os exercícios psicomotores são voltados para a melhora da palhetada e a


digitação da mão esquerda. Eles são pré-moldados com padrões na maioria deles
cromáticos nos quais os dedos 1, 2, 3 e 4 da mão esquerda, usados em formas
sequenciais, podem desenvolver respostas rápidas quando executados em outros
padrões alternados de digitação na escala do instrumento.

Figura 22: Exercícios Psicomotores do tipo 1-2-3-4

Fonte: Foto do Caderno Básico da guitarra de Leonam Porto

Este conteúdo está em um material que disponibilizo aos alunos, intitulado O


Básico da Guitarra. É um caderno que tem uma série deste tipo de exercício, porém
55

ele é executado de forma isolada seguindo um cronograma de estudo periódico, todo


desenvolvido por repetição constante. Abaixo segue um trecho deste material
desenvolvido e aplicado aos alunos acerca deste estudo de exercícios psicomotores,
é um bloco de estudos da apostila que contém 8 exercícios a serem praticados, cada
um difere entre si em variações rítmicas e melódicas e estão transcritos com
tablatura11, também em conjunto a partitura para que aumente as opções de leitura
para o aluno e facilite o desenvolvimento da atividade:

Figura 23: Patterns de exercícios Psicomotores do tipo 1-2-3-4

Fonte: Foto do Caderno Básico da guitarra de Leonam Porto

11Tablatura: sistema de notação alternativo para quem vai ler e escrever música para instrumentos de
cordas trastejadas, exemplo guitarra, violão, contrabaixo. Ela representa linhas e cada linha representa
uma corda do instrumento.
Fonte: Livro Guitarra para Leigos
56

É uma sequência de 8 exercícios nos quais cada um tem um nível progressivo


de dificuldade. Os primeiros quatro exercícios são apenas palhetadas em corda solta
subindo e descendo, primeiro com 4 notas por corda, depois 3, 2 e finalmente 1. Como
são exercícios de técnica e que se repetem continuamente, preferi não deixar
específico nenhuma fórmula de compasso. O 5º exercício é um padrão de corda solta
muito bom para treinar palhetada.

Figura 24: Patterns de exercícios Psicomotores do tipo 1-2-3-4

Fonte: Foto do Caderno Básico da guitarra de Leonam Porto


57

Os próximos 3 exercícios ajudam nossa mão esquerda para conseguirmos uma


melhor digitação. O primeiro é mais conhecido entre os educadores como 1, 2, 3 ,4.
Depois faço uma variação desse tocando um na corda acima e um na corda abaixo e
o terceiro é tocado na diagonal. São todos exercícios essenciais se tratando de
palhetada e digitação, mas deixo o aluno livre também para montar padrões diferentes
para seus estudos (logicamente quando constatar que ele alcançou uma maturidade
acadêmica tal para esta finalidade).

Estes exercícios são excelentes para desenvolvimento da motricidade dos


alunos, mas nota-se também que os mesmos não estão inseridos num contexto
atrativo como exemplo tirar uma música. O aluno poder estar gostando de fazer aquele
exercício, que por muitas das vezes torna-se cansativo, pois ele não possui em sua
estrutura uma melodia atraente para que seja utilizada em uma situação de recital ou
simples apresentação entre amigos. Se não tomado o devido cuidado pode gerar no
aluno uma saturação e desestímulo toda essa execução incansável de exercícios para
se alcançar níveis técnicos.

Daí a importância de um repertório que se encaixe num conceito metodológico


e curricular em que os exercícios com finalidade específica estejam inseridos dentro
de determinada música. Esta vem sendo ainda uma das maiores deficiências do
ensino de guitarra nas instituições especializadas de ensino, a sistematização de um
repertório e uma padronização no trabalho de repertórios voltados ao estudo das
técnicas isoladamente.

Geralmente, o exercício psicomotor é executado de forma repetitiva até que se


alcance a fluência no instrumento e uma melhor digitação, no geral, porém como no
exemplo citado acima, pode-se ver que através do repertório consegue-se trabalhar
também a desenvoltura e performance do executante de uma forma leve dentro de
um contexto musical. Assim pode-se também fazer o caminho inverso do exercício
repetitivo, com uma simples música tocada.

Lopes (2013) trouxe como um bom exemplo de obra para trabalhar este
aspecto técnico de digitação no braço da guitarra, a música “A Ginga do Mané”, do
bandolinista Jacob do Bandolim (Jacob Bittencourt, Rio de Janeiro, 1918-1969). Este
58

tema utiliza um tipo de elemento, o cromatismo, muito recorrente em exercícios de


técnica básica de guitarra, os exercícios 1-2-3-412.

Nesta modalidade de exercício, toca-se os dedos nesta ordem (podendo variar


em 23 outras possibilidades), em todas as cordas, da 6a à 1a corda; anda-se uma
casa à frente com os 4 dedos e repete-se a mesma ordem, da 1a à 6a corda. E assim
por diante, por todo o braço do instrumento. Ocorre que este exercício pode parecer
em alguns casos muito “enfadonho” ao aluno, bem como de pouca utilidade para nós
professores enquanto ferramenta melódica.

Figura 25: trecho de “A Ginga Do Mané” (Jacob do Bandolim) - partitura descrevendo a


utilização da digitação 1-2-3-4 (mão esquerda).

Fonte: Lopes (2013)

12Digitação da mão esquerda (mão oposta à do uso da palheta): 1-dedo indicador; 2-dedo médio; 3-
dedo anular; 4-dedo mínimo
Fonte: Livro Guitarra para Leigos
59

Padrão melódico então é o objeto principal de estudo no meio guitarrístico se


tratando da improvisação. Este vem de algo já pré-existente, ou seja, como estes
métodos foram importados dos norte-americanos, logo vamos notar entre os músicos
guitarristas brasileiros um jeito de tocar “americanizado”. Isto pela falta da
sistematização voltada para a demanda brasileira deste estudo. A apropriação de
padrões melódicos e rítmicos brasileiros passa pelo “beber” da fonte de repertório
nossa, brasileira. Usar uma abordagem totalmente brasileira seria então em um modo
de pensar apropriado para o ensino de guitarra aqui no país e traria uma formação
dentro da realidade cultural nossa.

3.4. Surgimento da Guitarra no Brasil e sua Metodologia de Ensino.

Voltando ao contexto histórico americano e mundial, após surgimento do


método pioneiro a Modern Method of Guitar de 1966, aconteceu também o problema
semelhante, que mesmo vindo depois e sendo abordado por Leviatt (1966) um jeito
sistemático de se estudar, muitos dos educadores não seguiam essa referência, que
por sua vez proporcionaria o desenvolvimento e trabalho de várias habilidades,
bastava buscar em peças desenvolvidas para outros instrumentos “primos” de cordas
trastejadas, dando exemplo do cenário brasileiro com os instrumentos violão,
cavaquinho e bandolim.

Lopes (2013) pontua que desde do surgimento para o grande público do


primeiro guitarrista, isto citando o introdutor do instrumento no Brasil, Henrique Brito
(1903-1935), violonista do Bando dos Tangarás (banda que o ícone Noel Rosa
participou), que por conta de uma viagem aos Estados Unidos em 1932, retorna deste
país em 1933 como representante da marca do “violão elétrico” da empresa Dobro
Corporation (ENCICLOPÉDIA DA MÚSICA BRASILEIRA, 1977, p.117; MÁXIMO &
DIDIER, 1990, p.218 apud Lopes, 2013). Nesta mesma época, enquanto
paralelamente acontecia o desenvolvimento do rádio com a chamada Era de Ouro,
época em que as gravações dos artistas estavam tendo consigo o som de guitarra,
havia também uma constatação de que estes guitarristas que participavam das
gravações vinham com experiências em outros instrumentos primos, então não
iniciados na guitarra mas sim se adaptando a ela.
60

Outro ponto é que a guitarra vinha como substituta do violão e então os músicos
utilizavam técnicas do violão e nos fonogramas da época nota-se pelas sonoridades
uma performance utilizando-se da técnica de dedilhado, por exemplo, característica
do violão. Então a palheta não é utilizada por muitos guitarristas brasileiros, em suas
formas de tocar e gravar. Note-se que o repertório brasileiro (em especial o
instrumental na forma solista) da época favorecia o uso de palheta pelo fato de a
guitarra se assemelhar aos instrumentos solistas como exemplo do cavaquinho e
bandolim. Estes por sua vez são executados pelos músicos com palheta. Porém, o
violão já detinha os dois papéis: solista e acompanhador, e os músicos guitarristas em
sua maioria vinham do violão, que era tocado utilizando a mão. A guitarra já veio desde
seu surgimento com padrões de tocar utilizando palheta tanto na forma solista quanto
na forma acompanhador.

Outra questão acerca da inserção da guitarra no cenário musical é então


notando-se que a exploração de um repertório específico de outros instrumentos
“parentes” e trazendo essas músicas para o contexto acadêmico acabam servindo de
ferramenta para desenvolvimento técnico do aluno, por exemplo. Na realidade
brasileira, até mesmo da época do surgimento e evolução da guitarra, já existiam
estilos que traziam consigo uma riqueza técnica e estilística que contribuem demais
para o alunos, como o choro, que contribuía para o virtuosismo dos executantes do
estilo, por ter uma música explorada ritmicamente com síncopes, característica
fortíssima na música brasileira. Também a sua forma de arranjos musicais privilegiam
a cultura brasileira em suas regionalidades diversificadas, que na época do início do
século XX já era bem fragmentada.

Então algumas décadas antes das primeiras escolas de guitarra, junto com o
surgimento do choro, samba, entre tantos outros estilos, muitas composições destes
já poderiam ser incorporadas pelos educadores brasileiros em suas aulas e
consequentemente adaptadas para a guitarra. O repertório é imenso e pode
enriquecer ainda mais os estudos para o instrumento, bastaria fazer as devidas
transcrições.

Seria bastante interessante incorporar músicas ao estudos, como as famosas


“Espinha de Bacalhau” de Severino Araújo, “Odeon” de Ernesto Nazareth ou até
mesmo “Desvairada”, de Garoto. No choro temos muito trabalho de digitação das
escalas, o trabalho constante de palhetada e conhecimento das notas no braço do
61

instrumento. Mas também, como foi explicado anteriormente, na diversidade de estilos


existentes no Brasil, pode-se citar a música nordestina, dos mais diferentes gêneros
(baião, forró, xote), que apontam para outros fundamentos técnicos, como música
modal e melodias baseadas nos modos gregorianos (especificamente exploração dos
modos Dórico e Mixolídio), que muito é útil na prática musical, quando se pensa numa
improvisação acorde a acorde, separando os seus modos correspondentes.

Lopes (2013) aponta mais um ótimo exemplo, uma composição nordestina, a


música “Forró Brasil” (Hermeto Pascoal), a melodia elaborada no modo dórico de Dó,
e trabalhada da maneira dos “modos nordestinos” descrita por Siqueira (apud Lopes,
2013), numa construção melódica descendente. Para o estudante de guitarra, a
música poderia se prestar muito bem ao entendimento do modo, e de suas diferentes
aplicações, além de um uso consideravelmente grande de palhetadas para sua
execução, o que levaria a um ganho de técnica e também ganho cultural regionalista.
O padrão rítmico (também inserido no motivo melódico) com grupos de 4
semicolcheias em cada tempo do compasso tem semelhança com estudos ou
prelúdios típicos da música erudita pois seguem um padrão simétrico repetido que
para o aluno é excelente e de boa compreensão em primeiro momento.

Figura 26: Transcrição parcial de “Forró Brasil” (Hermeto Pascoal), feita pelo autor

Fonte: Lopes (2013)

Pelos fatos históricos acontecidos no decorrer da origem até a exportação do


ensino e do instrumento observa-se que naturalmente acontece uma absorção até
mesmo cultural e descolada da realidade brasileira. Pelo fato da guitarra ser um
instrumento norte-americano e experimental para época, os seus estudos são
passados impregnados da cultura originária. Padrões melódicos então são
62

reproduzidos e copiados pelos adeptos. O método é um caminho, e mesmo que o


aprendiz não o “conheça”, ele busca soluções possíveis intuitivamente com
motivações próprias ou de outrem. Conquista ou fracasso são parte do processo de
ensino aprendizagem e assim sendo, o aluno, através de uma mistura de situações
ao seu redor e reagindo em suas diferentes emoções, consegue absorver os
almejados conhecimentos.

Lopes (2013) lembra em sua dissertação que Piaget (apud BORDENAVE &
PEREIRA, 1997, p.28) nos mostrou que a aprendizagem se dá através de dois
processos simultâneos e integrados, mas de sentido contrário: assimilação e
acomodação. Na assimilação, o organismo explora o ambiente, toma parte dele,
transformando-o e incorporando-o a si. Para isto, a mente possui esquemas de
assimilação: ações previamente realizadas, conceitos previamente aprendidos,
configuram esquemas mentais que permitem assimilar novos conceitos. Estes
esquemas se desenvolvem pela estimulação que o ambiente exerce sobre o
organismo. Consequentemente, uma criança que cresce num ambiente rico em
estímulos desenvolverá mais ativamente seus esquemas de assimilação.

Contextualizando, os educadores de guitarra se utilizaram organicamente da


cultura norte americana, isto em todo decorrer da história. Busca-se então um meio
ideal de ensino para que os alunos não percam suas identidades culturais, que vão
expressar por meio da música, e essa expressão virá de impressões advindas de sua
percepção tanto ambiental quanto social.

Lopes (2013) então traz uma possível resposta, que pode ter sido teorizada
pelo educador José Carlos Libâneo e sua pedagogia crítico-social dos conteúdos, uma
proposta pedagógica pensada fundamentalmente para aplicações no ensino
formativo, escolar, mas que ideologicamente se encaixa de forma muito adequada ao
nosso objeto de estudo.

A pedagogia crítico-social dos conteúdos valoriza a escola enquanto


mediadora entre o aluno e o mundo social adulto e desempenha esse
papel pela transmissão e assimilação dos conteúdos culturais
historicamente situados. Entretanto não se trata do aluno receber este
conteúdo passivamente, nem esperar que ele o receba de forma
espontânea. O processo de transmissão/assimilação se dá pela
relação dialética entre os conteúdos sociais sistematizados e a
experiência social concreta trazida pelo aluno (LIBÂNEO, 2011, p.76).
63

Como ressalta Lopes (2013), a pedagogia crítico-social dos conteúdos afirma


que a emancipação das classes populares requer o domínio dos conhecimentos
escolares como requisito essencial para a compreensão da prática social. Acredita
também que o trabalho na escola não é substituído pela prática política fora dela;
antes, a prática escolar é uma prática política, enquanto instância transformadora das
consciências. O conteúdo então não é simplesmente um saber frio e neutro, muito
pelo contrário, é vivo e carregado de valores socioculturais de seus criadores e
agentes ambientais. Tem também um objetivo prático social que se encaixa a
determinado local. Trazendo para o estudo deste trabalho, significa constatar que as
metodologias de guitarra hegemonicamente são carregadas de cultura norte-
americana, e estão sendo “importadas” ao longo do tempo com um jeito de ensinar
exclusivo dessa cultura, assim sendo privilegiado ante a nossa cultura.
Não se quer dizer que deve-se descartar este conhecimento, até porque as
origens tanto do instrumento quanto das primeiras metodologias se dão lá, mas pelo
fato de que em um mundo cada vez mais globalizado se homogeneizar em um único
jeito de se aprender e ensinar, que é um processo que não vem de agora, mas sim
desde o decorrer do século passado até o presente momento. A situação é que os
alunos entram na escola ou em conteúdos cheios de culturas estrangeiras, as
privilegiam naturalmente, reproduzem comportamentos culturais estrangeiros e por
isso perdem os muitos e diferentes conhecimentos que desenvolvemos e vivenciamos
historicamente em se tratando de música, que é tão abrangente neste sentido.
64

4. APRESENTAÇÃO DOS DOIS ALUNOS PARTICULARES: COMO TUDO


COMEÇOU - INÍCIO DO CURSO LIVRE NO PERÍODO DE PANDEMIA.

Os objetos de estudo principais deste trabalho são as vivências que os alunos


Júnior e Frederico tiveram em suas aulas particulares de guitarra. As aulas foram
todas experimentadas de forma on-line no período entre maio de 2020 até maio de
2021. Estes alunos foram submetidos aos estudos inicialmente pela videoconferência
do WhatsApp. Após dois meses foram submetidos às aulas pela plataforma de
videoconferência do Google, o Google Meet, ambas as plataformas de ensino remoto.

O aluno Frederico não era iniciado em música, era sua primeira experiência
nos estudos, já o aluno Júnior tinha tido experiências anteriores de estudo e já toca
em grupo na sua igreja o instrumento contrabaixo elétrico e a guitarra quando
necessário pela falta de músico.

O aluno Júnior informou logo incialmente que vinha de um estudo com


professor contrabaixista de sua igreja e também era autodidata e devido a sua
autonomia buscava vídeos no Youtube que ensinassem como tocar guitarra, sendo
seu novo interesse de estudo e também por necessidade do meio em que estava
inserido na igreja. Júnior garantiu ter tido avanços nos seus estudos e demonstrou na
primeira aula tocar bem alguns dos repertórios de sua igreja e também afirmou ter
comprado cursos livres de professores que ofereciam cursos na rede social Instagram.
Disse que é uma pessoa presente nesta rede virtual e que, por pesquisar muito
conteúdo musical, a plataforma oferecia via anunciantes muitos cursos livres dos mais
diferentes tipos. Um dos cursos que ele comprou tinha como plataforma de ensino a
Hotmart.

Já com Frederico, percebeu-se a necessidade de fazer um trabalho diferente,


pois além de não ser iniciado em quaisquer ensinos de música, também nunca havia
experimentado o ensino de música por via digital remota. Como a primeira aula foi um
reconhecimento do aluno e nivelamento, pôde-se perceber algumas das
necessidades iniciais. Frederico já conhecia cursos de outras áreas de conhecimento,
quando participou pela modalidade online, o que, em primeiro momento, foi um
facilitador para que ele acessasse com destreza as ferramentas de conexão e
65

manipulação tecnológicas, assim eliminando as preocupações iniciais e inerentes a


primeira aula num ambiente virtual.

Inicialmente vê-se como estes meios de ensino são fáceis de manipular e


também a comunicação pela maior parte do tempo instantânea, mas, a partir daí nota-
se também que em volta das facilidades pairam problemas, que geram consequências
e algumas delas irreversíveis.

4.1. Experiências e desafios das aulas com o aluno Júnior.

O aluno Júnior, quando me procurou para fazer as aulas de guitarra,


demonstrou uma necessidade de aprimoramento técnico devido a já exercer a música
na igreja de que faz parte e também pelo fato de já fazer música em grupo e isso ser
uma exigência, a melhora na performance, e para influenciar também os demais
amigos de banda para buscar o mesmo. Primeiramente, conversou e falou sobre sua
já iniciação na guitarra, sua busca por materiais de sites em internet e que, através
deles, detinha o conhecimento de leitura por cifras, noções de afinação do instrumento
por meio de afinadores eletrônicos e/ou via aplicativo de celular próprio para afinar.
Relatou, também, que conhecia os acordes através dos diagramas disponibilizados
pelos sites de música e falou de sua prática no contrabaixo e suas poucas aulas com
um professor.

Devido ao contexto pandêmico expliquei que não seria possível o encontro e


propus que as aulas fossem de forma remota. A aula foi realizada por via de ligação
em vídeo no Whatsapp pelo celular.

Percebi inúmeros vícios de postura e de posicionamento no instrumento (num


formato para violão popular que vem a ser o mesmo modelo na guitarra), tanto na
maneira de sentar e acomodar o instrumento na perna quanto na disposição das mãos
e braços ao instrumento. A correção para estes problemas iniciais seriam
primeiramente a acomodação do corpo que recomendaria que fosse numa cadeira
indo de contraponto à maneira como ele estava naquele momento: sentado na cama
do seu quarto sem possuir nenhum apoio a sua coluna. Um notório desafio
apresentado, de ajuste de postura, dentro desse ambiente virtual e até mesmo, num
ambiente do lar não preparado para ensino.
66

A seguir a ilustração demonstra a maneira adequada de se posicionar e


empunhar o instrumento que aponta o jeito que cada membro se comporta na maneira
popular de se tocar no estudo rotineiro do instrumento. Em resumo, coluna ereta num
banco com encosto nas costas, braço paralelo em relação ao chão, pernas
descruzadas e articulações dos joelhos formando 90º, antebraço apoiado no corpo do
instrumento. Estas são recomendações para melhor postura ao instrumento e assim
evitando danos físicos ao executante.

Figura 27: Demonstração de Posicionamento e Postura na Guitarra

Fonte: Site Academia Musical

Outro ponto desafiador foi em relação ao panorama de visão que a câmera


oferecia neste primeiro momento de diagnóstico do aluno. Mesmo tendo esta
percepção, foi-se necessário que houvesse um zoom na imagem de sua mão
esquerda, pois sua digitação apresentava problemas técnicos recorrentes de alunos
iniciantes ao instrumento e que a não utilização da “cabeça dos dedos” que Mello
(2013) traz por definição em seu caderno de estudos sobre postura. Ele explica que a
digitação com o centro da ponta do dedo (digitação com a “palma dos dedos” ou polpa
do dedo) provoca a dobra daquela primeira articulação do dedo, e assim contribui para
67

o abafamento de cordas na parte de baixo e de cima, assim prejudicando execução


de notas da formação de um acorde.

Mello (2013) diz que é vital adotar uma postura forte da mão esquerda e colocar
os dedos em uma posição que permita o máximo alcance e flexibilidade. Ele traz uma
ilustração que traz a indicação correta dos dedos da mão esquerda. Demonstra que
não são todos que encostam a ponta central do dedo no braço. Pelo contrário, a
posição mais vantajosa da mão esquerda é a seguinte:

1. Indicador (1): toca com o lado esquerdo da ponta;


2. Médio (2): toca com o centro da ponta;
3. Anular (3): toca com o centro da ponta;
4. Mínimo (4): toca com a parte direita da ponta.

Figura 28: Demonstração de Posicionamento da mão esquerda na escala da Guitarra

Fonte: Caderno de Postura, Mello (2013)

Pela postura do braço esquerdo foi verificada a não realização de uma posição
perpendicular deste braço do aluno em relação ao braço do instrumento, gerando um
ângulo de 90º que, feita corretamente, alivia as tensões musculares e facilita a sua
execução. Uma outra consequência também deste efeito é a posição errada do
68

polegar na parte de trás do braço do instrumento e, assim, sem dar o devido o apoio
à execução de inúmeros movimentos. A maneira correta de execução deve ser
utilizando o polegar o mais centralizado possível no meio do braço acompanhando até
mesmo a marcação quando existente. Deixar o polegar fixo atrás do braço do
instrumento permite ao guitarrista uma maior abertura nas mãos e velocidade para
tocar certos trechos, principalmente solos. O jeito observado como ele acomodava a
palma da mão esquerda no braço contribuía para que sua postura no geral ficasse
incorreta.

Na imagem a seguir, segue um bom exemplo de um padrão comum a grande


parte dos guitarristas no mundo, sendo assim uma forma tida como a ideal para esta
norma acadêmica.

Figura 29: Demonstração de Posicionamento da mão esquerda atrás do braço da Guitarra

Fonte: Site Cordas e Música

Mello (2013) diz que outro fator relacionado aos dedos da mão esquerda é a
pressão, isto é, a força que eles devem fazer contra as cordas. Esta força não deve
ser muito forte nem muito fraca, sendo ideal que se ajuste num equilíbrio que imponha
apenas a pressão necessária para que o som saia limpo. Para descobrir o quanto de
força a ser utilizado, deve-se colocar os dedos levemente sobre as cordas e então ir
pressionando pouco a pouco, enquanto toca a corda com a mão direita. À medida em
que vão sendo pressionadas as cordas, chegará um ponto em que já não será mais
69

necessário impor mais força, pois o som obtido já é satisfatório. Qualquer força além
disso é totalmente desnecessária e só vai atrapalhar o desenvolvimento da agilidade
e flexibilidade dos dedos.

A mão direita é responsável pela produção de som e também responsável pela


qualidade do som. Intensidade e timbre são parâmetros do som que são exclusivos
da mão direita e que vem a ser determinantes no controle e na saída de ambos juntos.
Apesar de Mello (2013) trazer um método de postura baseado num estudo para o
violão erudito, ele enumera 6 elementos que resultam nestes parâmetros do som e
também vêm a ser necessário e úteis ao estudo inicial na guitarra:

1. Comprimento de unhas e polimento;


2. Tipo de toque: com apoio, ou sem apoio;
3. Posição da mão e o ângulo de ataque dos dedos na corda;
4. Como a ponta do dedo e a unha tocam a corda;
5. A pressão do dedo contra a corda;
6. A retirada do dedo depois de tocar a corda.

Dentre inúmeras recomendações em sua publicação, ele salienta que para


obter um som cheio e forte, deve-se ter uma atenção especial com o ângulo que a
ponta dos dedos atinge as cordas. Outro ponto são os tipos de toque (derivados do
estudo de violão clássico). Toque com apoio tem uma divisão do dedo por três
articulações como demonstrado a seguir:
70

Figura 30: Demonstração de Posicionamento da mão direita no Toque com Apoio

Fonte: Caderno de Postura, Mello (2013)

Já o movimento tem sua divisão em três partes: Preparar, Pressionar e Soltar, é


demonstrado abaixo pelas ilustrações:

Figura: 31 (a) - 32 (b) – 33 (c): Demonstração de Movimentos da mão direita no Toque com Apoio

a) Preparar b) Pressionar c) Soltar

Fonte: Caderno de Postura, Mello (2013)

Em contrapartida tem o Toque sem Apoio que segue o mesmo posicionamento,


a diferença está que neste tipo de toque não apoiamos o dedo na corda superior.
71

Poderíamos dizer que o toque com apoio é o mesmo que um toque sem apoio
interrompido pela corda em que apoiamos o dedo. No toque sem apoio continuamos
usando a articulação superior do dedo para fazer o movimento, porém prestamos
atenção porque o pulso deve estar um pouco mais levantado, e o movimento do dedo
deve ser em direção à palma da mão.

Figura 34: Demonstração de Posicionamento e Movimento da mão direita no Toque sem Apoio

Fonte: Caderno de Postura, Mello (2013)

Último ponto abordado por Mello (2013) em seu caderno de postura é o polegar,
que também tem esses dois toques básicos, com e sem apoio. No toque com apoio,
o polegar passa pela corda até encostar na corda inferior, e no toque sem apoio a
direção é para baixo, sem apoiar em nenhuma corda. É bom salientar que existem
outras maneiras de tocar com o polegar, isto dependo do timbre que desejamos obter.
Com o polegar é possível produzir vários timbres, por exemplo: só com a unha, só
com a polpa, ou com a unha e a polpa ao mesmo tempo, entre outros efeitos. O toque
do polegar deve partir da articulação superior, da mesma maneira que os demais
dedos. Meu método de ensino de guitarra traz abordagens do violão clássico como as
descritas por Mello (2013) nas aulas iniciais, pois acredito que são de extrema
importância seus fundamentos e exercícios nesta etapa, e sugiro que o uso delas e o
condicionamento adquirido é necessário em diversas técnicas intermediarias e
avançadas de guitarra.
72

Figura: 35: Demonstração de Posicionamento e Movimento do polegar da mão direita no violão

Fonte: Caderno de Postura, Mello (2013)

Se estas técnicas importadas do violão não forem aplicadas neste momento


inicial das aulas, num tempo futuro estes alunos poderão ter dificuldades para
aprender determinados movimentos que são utilizados em diversos trechos musicais
mais avançados.

Por exemplo, existe o estilo Fingerstyle13, este mergulhado por dedilhados, em


que o executante faz encadeamentos harmônicos junto à melodia e levadas rítmicas
diversas, tudo isto simultaneamente, típico dos repertórios de música erudita. Para
executar este estilo utilizando palhetada (forma mais tradicional de se tocar guitarra)
fica completamente inviável tecnicamente.

De fato os dois estilos, tanto o violão clássico quanto o fingerstyle, parecem ser
irmãos, mas são opostos, não são iguais pelo fator repertório, o fingerstyle se utiliza
de músicas populares e o clássico de peças eruditas escritas para violão.

13 Fingerstyle consiste em fazer a base e o solo ao mesmo tempo no violão, explorando, além das
cordas, os recursos percussivos que o instrumento oferece. Esta técnica de dedilhar as cordas veio do
alaúde e da vihuela, primos distantes do violão.
Fonte: Site Universo do Violão
73

Outro fator é pelo violão clássico se utilizar do toque com apoio e o fingerstyle
não se utilizar obrigatoriamente, o som do violão clássico é o mais limpo possível em
contrapartida ao fingerstyle, em que o som é sem dinâmicas. Já no fator arranjo, o
violão clássico toca notas em legato e a melodia original é preservada e no fingerstyle
não é permitido fazer mudanças rítmicas para uma nova releitura, o violão clássico
leva em consideração a condução das vozes para harmonizar a melodia, já no
fingerstyle a melodia é harmonizada preferencialmente por blocos de acordes.

Outro trabalho feito foi com relação à palhetada na guitarra. Algumas literaturas
trazem um padrão de posicionamento, outras não trazem, deixando de forma mais
livre e confortável a opção de escolher o jeito de se tocar, mas basicamente a forma
diverge de instrumento para instrumento. Um pouco diferente de outros instrumentos
de cordas trasteadas, a guitarra tem seu jeito peculiar de se tocar com palheta pois
leva-se em consideração a distância entre as cordas.

O Cifra Club Tv trouxe uma definição interessante e exclusiva em um caderno


publicado acerca deste estudo técnico, diz que a palheta é um objeto que na maioria
das vezes se apresenta num formato triangular em que uma ponta é mais longa que
as outras duas. Geralmente são confeccionadas em plástico, são divididas por tipos
em thin, médium e heavy, mas também podem ser definidas por medidas que
começam em 1.0, 1.5, 2.0, etc.

Existem outros modelos como palhetas mais circulares e até mesmo


triangulares porém com pontas de ângulos iguais, mas, em geral, são pouco usadas.
Segue uma lista de diferentes exemplos de palheta e seus padrões de espessura.

1- Joe Satriani .50mm, .70mm e 1.0mm

2- Surepicks .76mm, .91mm e 1.17mm

3- Woodstock .50mm, .70mm e 1.00mm

4- Clássicas de Celulóide .50mm, .70mm, 1.00mm e 1.10mm


74

Figura 36: Exemplos de tipos de palhetas e algumas de suas medidas

1- 2- 3- 4-

Fonte: Site oficial do Cifra Club

O caderno do Cifra Club Tv sugere que palhetas menores favorecem na hora


de tocar rápido pois a necessidade de movimento para palhetar é menor, essas
palhetas geralmente são utilizadas por músicos que tocam um som mais pesado com
frases rápidas constantemente. Já o uso de palhetas maiores é mais comum entre os
guitarristas com a pegada mais firme, sobretudo nos estilos musicais Blues e Rock N'
Roll.

Mesmo com tal dica, na hora de escolher a palheta, o fator mais relevante deve
ser o conforto com a palheta durante a execução. Em palavras mais claras, o melhor
é tocar e experimentar todos os modelos possíveis pra encontrar aquele que mais se
adapta ao seu estilo pessoal e ao som que deseja fazer.

O jeito geral de se segurar a palheta é polegar em cima e indicador em baixo,


apesar de não existir um padrão preestabelecido e este fator ser de livre escolha, é a
forma mais recomendada e que mais funcionou no decorrer da história. Uma outra
questão que deve ser bem observada é sobre a posição da mão enquanto
palhetamos.

Alguns guitarristas utilizam a mão apoiada em cima da ponte da guitarra, outros


apoiam os dedos sob o corpo do instrumentos e alguns simplesmente não apoiam a
mão em nada.

A escolha da posição da mão deve ser feita a partir da necessidade de se tocar


mais ou menos rápido, com um timbre mais grave ou mais agudo, ao utilizar outras
técnicas como o tapping e até mesmo se o trecho possui variações rítmicas.
75

A seguir alguns exemplos de posicionamentos diferentes de mão segurando a


palheta.

Figura: 37/38/39: Exemplos 1,2 e 3 de posição de mão e segurando a palheta

1 2 3

Fonte: Site oficial do Cifra Club

Constatei naquela primeira impressão e experiência não vivida no ensino


remoto que o vídeo não me deu a oportunidade que geralmente tenho nas aulas
presenciais de poder me levantar do lugar, ir em direção ao aluno e apontar os erros,
corrigindo até com um contato físico de encaixar o posicionamento dos dedos e mãos
em seus devidos lugares na guitarra e também a observação de todas as angulações
do instrumento. Não foi possível ter uma percepção satisfatória da intensidade
empregada pelo aluno nas mandadas de ambas as mãos.

Em alguns momentos pensei em pedir ao aluno que aproximasse a câmera, ou


mudasse o posicionamento da câmera simulando estes panoramas de observação
meus, porém pensei também que demanda trabalhos que atrapalham o andamento
da aula e atrasam momentos de fluidez da aprendizagem recorrente. Logo, o primeiro
trabalho no início foi de posicionamento e postura do aluno Júnior.

Outro procedimento que sempre aplico nas aulas, principalmente na de


reconhecimento, é conhecer o repertório que o aluno sabe e que lhe agrada. Perguntei
para o aluno Júnior o que ele gosta de escutar em casa, no trabalho, na igreja e até
mesmo o que ele gosta de tirar nos seus estudos ao instrumento. Ele começa então
a revelar seus gostos, e diz que seu estilo preferido é o rock, de preferência religioso.
Começou citar bandas de que tira músicas na igreja então analisei e constatei que
são gêneros carregados de influências musicais de estilos estrangeiros.
76

Em contrapartida, perguntei se conhecia os gêneros brasileiros regionais como


samba, forró, entre outros. Disse então conhecer muito pouco estilos nacionais, diz já
ter escutado porém nunca ter se interessado pelos mesmos. Perguntei se ele
conhecia música instrumental e também disse que conhecia bem pouco e que se
interessava mais por tirar canções com letras e pessoas cantando.

O método de ensino apresentado incentiva muito a diversidade de


conhecimento estilístico. São apresentados universos desconhecidos ao aluno, para
que, no decorrer do processo, ele absorva a riqueza técnica nos diferentes gêneros.
A cultura e a diversidade são elementos que impulsionam o processo de
aprendizagem.

Rodrigues (2018) discorre em sua obra sobre a experiência que teve de


diversidade cultural em sala de aula, lá ele trata de reflexões resultantes da sua
investigação da relação entre educação musical e cultura, a partir dos resultados do
seu estudo etnográfico em dois ambientes distintos visto na obra de Arroyo: o ritual
de Congado e o Conservatório de Música. Propõe lançar um olhar antropológico sobre
práticas de ensino e aprendizagem musical em contextos social e culturalmente
diversos.

A autora Arroyo salienta segundo Rodrigues (2018) que a partir do


entendimento da cultura como uma rede de significados, as práticas de educação
musical nos diversos ambientes podem ser consideradas espaços de criação e
recriação destes significados.

“Nesta direção, educação musical não deve somente ser direcionada para a
aquisição de competência técnica; ela deve contemplar a prática cultural que cria e
recria significados que conferem sentido à realidade” (Arroyo, 2000, p.19 apud
Rodrigues, 2018).

Foi neste momento que tive esta constatação de que a guitarra organicamente
remete o músico que a possui a privilegiar o ambiente estilístico no qual ela foi criada,
ou seja, restringe o aluno àquela finalidade cultural somente. Neste caso especifico,
cabe ao educador mostrar outras possibilidades de se tocar guitarra e de se ter uma
escuta sensível a outros caminhos musicais.
77

O aluno Júnior desde o início demonstrou que seu intuito com as aulas era
adquirir uma capacidade tal que lhe proporcionasse a autonomia no instrumento para
que pudesse caminhar sozinho, pois devido seu autodidatismo pude perceber uma
disposição para tal. Podemos constatar que um dos estímulos para tal condição seja
conhecer diferentes estilos musicais. O comportamento autônomo, no caso da
música, seria ter vontade de beber de diversas fontes, mesmo que não utilizando-as
em muitas situações, porém possuir estas ferramentas técnicas para quando precise
utilizá-las.

Como estava num jeito novo de ensinar devido à situação da pandemia, que
fez com que ficasse distante do aluno, pensei logo neste primeiro momento que o
autodidatismo do Júnior seria bom para que disseminasse conteúdos digitais nas
aulas e passasse este caminho para ele, assim encurtando os objetivos.

Westermann (2014) coloca baseado em Litwin (2001) que autodidata é aquele


aluno que decide por si só aquilo que irá aprender. Faz a seleção dos conteúdos e os
estuda de forma autocorrigida.

Ao contrário, o conceito de autonomia tem a ver com a ideia de que o aluno


pode organizar seu estudo, em termos de espaço e tempo, mas ele está inserido em
um plano pedagógico pré-determinado, em uma sequência didática. “O conceito de
autonomia, neste caso, está mais ligado à motivação que o aluno tem de seguir
estudando, compreendendo que aquilo é importante para o seu aprendizado”
(HENDERSON FILHO, 2007, p. 68).

Os exercícios eram passados para o Júnior no decorrer do tempo, as aulas


aconteciam mas pude perceber que com passar do tempo o Júnior não se organizava
da maneira solicitada. Quando chegava o momento da checagem dos exercícios não
reconhecia um estudo periódico que lhe foi confiado a ser feito.

Em uma das aulas estávamos trabalhando 5 desenhos da Escala Diatônica


Maior, esta estava na tonalidade de Dó Maior. Disponibilizei os diagramas de estudo
via PDF e pedi que digitasse os desenhos e trouxesse para aula todos dentro de
padrões rítmicos preestabelecidos (as notas deveriam ser tocadas em colcheias numa
fórmula de compasso 4/4).
78

Constatei que ele não havia estudado mais uma vez (pois houve trabalhos
anteriores de digitação via exercícios em aulas anteriores e estes por sua vez
necessários aquela condição de estudo).

Note que estes exercícios demandam muitos conhecimentos anteriores como


localização das notas no braço do instrumento, intervalos e notação musical.

Figura 40: Diagrama demonstrando os 5 desenhos da escala diatônica de Dó Maior no braço da


guitarra

Fonte: Caderno Tocando Guitarra com Maestria

Foi neste momento que identifiquei um problema de não organização dos


estudos pois frequentemente ele pedia dicas em cima de músicas que ele gostaria de
tocar. Neste trabalho estamos falando acerca das influências do ensino digital, este
demanda habilidades inerentes a um estudante autônomo. Se o aluno não possuir
habilidades (nativas do ensino formal) ele não consegue executar o ensino a distância
ou remoto com eficácia.

Para levarmos em consideração este estudo de caso foi necessário um


aprofundamento na questão da autonomia e do comportamento, bem como
motivações e interesses que fazem com que o aluno tenha uma disciplina inerente ao
processo educativo. Para isso, a reflexão acerca da aprendizagem formal e não-formal
é necessária para que entendamos o fenômeno apresentado na situação do aluno
Júnior.
79

Para um melhor entendimento, Green e Walmsley (2006) apresentam um


quadro comparativo salientando as características de ambas as abordagens de
aprendizagem.

Tabela 1: Comparativa das características das aprendizagens formal e informal de música

As práticas informais geralmente Educação musical formal geralmente


implicam em: implica em:
Aprender músicas que são familiares e Ser apresentado à música que é
escolhidas pessoalmente, e que os frequentemente nova e desconhecida,
alunos gostam e se identificam escolhida normalmente por um
vigorosamente com ela. professor.
Aprender através da escuta e da cópia Aprender através da notação e outras
de gravações “de ouvido”. instruções escritas ou verbais.
Aprender ao lado de amigos, Aprender através de instrução
conversando sobre música, através da especializada, sendo supervisionado por
avaliação por pares, ouvindo, assistindo um adulto.
e imitando uns aos outros, geralmente
sem supervisão de um adulto.
Assimilar habilidades e conhecimentos Seguir uma progressão do simples ao
de forma pessoal, casual, de acordo com complexo, muitas vezes envolvendo
suas preferências musicais, começando música especialmente composta, um
com o "todo", a partir de trechos de currículo ou um programa de estudos
músicas do "mundo real". graduado.
Manter uma estreita integração das Gradualmente se especializar e
atividades de ouvir, executar, improvisar aprender a diferenciar as habilidades de
e compor durante todo o processo de escuta, execução, improvisação e
aprendizagem composição; Muitas vezes enfatiza-se
mais a reprodução do que as habilidades
criativas.

Fonte: (GREEN; WALMSLEY, 2006, p.3).

Notou-se desde o primeiro contato que o Júnior é um aluno ambientalizado


numa forma de aprendizagem informal.

Uma instituição de ensino geralmente é regada por processos estruturados de


ensino aprendizagem em que seus currículos são preestabelecidos e sequenciados
por etapas estas contínuas e assistidas assiduamente pelos agentes educadores.
Diferentemente de um ambiente sem supervisão e socialização, percebemos que o
aluno, por estar acostumado a tal meio de aprendizagem por “conta própria”, resiste
a um regimento e um calendário de atividades sequenciadas.
80

Macedo (2018) em seu trabalho sobre práticas informais e aprendizagem não


formal destaca um trecho da opinião de Folkestad (2006) que ressalta que a
aprendizagem e a situação em que ela acontece podem ser tanto formais como
informais, mas em relação ao ensino, o autor esclarece que esta aprendizagem nunca
pode ser realizada utilizando “métodos de ensino informais” (Ibidem, p.143).

Ensinar é sempre ensinar, e nesse sentido sempre formal. Assim que


alguém ensina, logo que alguém assume o papel de ser um professor,
então é uma situação formal de aprendizagem. Mesmo que não tenha
uma estrutura - essa é a estrutura. No entanto, os professores poderão
criar situações de aprendizagem nas quais possam utilizar processos
de aprendizagem informal. (FOLKESTAD, 2006, p.143).
O processo informal de aprendizagem é sim um facilitador, não algo para
atrapalhar o aluno, porém se ele se dispõe a um processo de aprendizagem, um tutor
é necessário, mesmo que tenha uma capacidade de rápida compreensão para seguir
protocolos naturais ao processo educativo.

Como define Libâneo (2007), a educação formal é estruturada, organizada,


planejada intencionalmente e sistemática. Podemos citar como exemplo típico a
educação escolar convencional (LIBÂNEO, 2007, p.88). O autor chama a atenção
para o fato de que este tipo de educação não ocorre somente nos limites das escolas,
mas também nos ambientes onde haja ensino caracterizado pela intencionalidade,
sistematização, condições previamente preparadas, ou seja, todos os atributos
identificados de um trabalho pedagógico-didático realizado, mesmo que desenvolvido
fora de um ambiente escolar típico (Ibidem, p.89).

Logo, deve-se levar em consideração que existe a ligação entre as


aprendizagem formal e não-formal também com a definição de educação formal e
não-formal de Libâneo (2007), que também explica as características de um aluno
exposto ao ensino presencial (este estruturado por uma aprendizagem formal) e o
aluno que vem carregado do autodidatismo, que por sua vez tem uma ligação tanto
com a aprendizagem formal quanto não-formal, e a natureza comportamental do
indivíduo mais “livre” dos regimentos e estruturações curriculares vem especialmente
de uma aprendizagem não-formal. Ambos os meios proporcionam a aquisição do
conhecimento, porém devido ao fator de como descreve Libâneo (2007), a educação
não formal, que por definição dele são aquelas atividades com caráter de
intencionalidade, porém com baixo grau de estruturação e sistematização e que
81

apresentam relações pedagógicas não formalizadas, a aprendizagem em um meio


informal traz consigo uma independência maior do aluno com relação aos regimentos
bem como etapas curriculares necessárias a determinada evolução na aprendizagem.

“(...)uma forte tradição de caráter autodidata no aprendiz musical, que


persiste mesmo quando a figura do professor está presente. A natureza do
aluno deixa-o em estado de alerta permanente, vasculhando e garimpando
todos os espaços em busca de algum conteúdo que o interesse.” (Gohn, D.,
[s.d.] apud Garcia, 2011)

Então, Garcia (2011) explica que autoaprendizagem como sendo a interação


do indivíduo com múltiplos ambientes de aprendizagem, permitindo-lhe o
envolvimento ativo no processo de aquisição de conhecimentos e habilidades. “Nesse
sentido, a autoaprendizagem tem como características a não legitimação ou validação
de seus processos pelos órgãos vigentes da educação formalizada, uma
sistematização e organização própria, a flexibilidade de conteúdos e, principalmente,
a intencionalidade do aprendiz em aprender” (Almeida, 2005; Gohn, D., 2003; Gohn,
M., 1997, 2006; Wille, 2005 apud Garcia, 2011).

No caso da guitarra, há exercícios anteriores à prática de diversas músicas,


assim há a necessidade de que se trabalhe bastante esses fundamentos e
condicionamentos físicos necessários a preparação para a condição de executar
estas obras.

A eficácia do ensino “real” neste sentido é mais difícil de ser questionada, porém
no meio digital de ensino as possibilidades de questionamento são bem maiores,
talvez por não haver uma instrução assistida presencialmente, logo a informação está
contida lá porém de forma desfragmentada e solta, incentiva que o aluno busque
informações desnecessárias a sua real condição de aprendizagem.

Acredito que pelo fato do aluno Júnior trazer muitas questões relacionadas a
tirar músicas que senti serem demasiadas em contrapartida aos estudos sugeridos,
verifiquei que o mesmo se dispersou do objetivo e foco de estudo presente naquele
momento.

Macedo (2018) traz em sua dissertação mais um gráfico (este colocado aqui
em forma de tabela) que ilustra características próprias dos ensinos das instituições
formal e informal:
82

Tabela 2: Comparativa das características das instituições formal e informal de música.

SITUAÇÃO
Instituição Formal Informal (Fora da Instituição)
Estilo de Aprendizagem
Baseado em uma notação formal Informal= oral/auditiva
Propriedade
O professor conduz O estudante conduz
Intencionalidade
Aprender Tocar
Fonte: Macedo (2018).

Talvez a intencionalidade seja o fator preponderante ao aluno se perder no


calendário de estudos. No caso do Júnior, pedi que estudasse a escala diatônica de
Dó Maior todos os dias (de preferência) sabendo que o mesmo seguindo aquela
recomendação alcançaria a condição necessária ao avanço dos conteúdos, porém
pelo fato de não ter exercitado da maneira correta demonstrou deficiência no estudo
daquela matéria, não conseguiu memorizar os desenhos da escala e a digitação não
acompanhava o rítmico mesmo que feito lentamente. Pelo fato dele mirar num objetivo
seu que é de aumento técnico para executar determinadas músicas de seu gosto e
necessidade próprias, este seja provavelmente um dos fatores que levam o Júnior a
esta condição.

Associo também uma possibilidade deste comportamento ao fato de minha não


presença no local de estudo (dificultando o não apontamento dos defeitos presentes
no estudo) e bem como a condição de estudos totalmente digitalizada, ou seja, sem
uma notação formal, sem material físico necessário àquele convencimento estudantil.
Acredito que se estivesse frente a frente com ele sua visão reflexiva estaria mais
sensível a mudanças necessárias ao processo de ensino-aprendizagem.

Por regra, nas aulas presenciais utilizo elementos físicos no suporte das aulas:

a) os exercícios geralmente são impressos (isso faz com que o aluno possa manipular
melhor aquele elemento educativo, mudar de lugar e canse menos seus olhos pois a
visão é de elementos sem emissão de brilho e luz, fenômeno das telas dos aparelhos
eletrônicos).
83

b) é utilizada uma estante musical que dá suporte no posicionamento dos livros, folhas
e materiais inerentes a atividade executada naquele momento assim facilitando o
acesso e troca de assuntos pois os mesmo podem ser pegos com mais agilidade.

c) utilizo a lousa, pois a mesma ajuda na explanação de uma ideia intuitiva que surge
num lapso rápido do cérebro e do inconsciente, e assim colocamos a ideia no quadro
de forma escrita e muitas vezes ilustrando uma situação específica do momento.

d) na sala que utilizo há mais de um instrumento e amplificadores, assim dá


possibilidade do aluno também experimentar os equipamentos e agregando
conhecimentos técnicos acerca dos mesmos.

e) a sala de estudos possui tratamento acústico que possibilita uma sensação de


conforto auditivo que melhora a experiência do aluno.

f) a utilização do metrônomo analógico ou digital como acompanhamento na prática


dos exercícios.

4.2. Experiências e desafios das aulas com o aluno Frederico.

O Frederico foi submetido ao mesmos procedimentos do aluno Júnior com


relação ao acesso às aulas. Combinamos um encontro semanal de 1h de duração,
semelhante ao Júnior. Tivemos então nossa aula de reconhecimento, quando
conheço o aluno, feita pelo Whatsapp. No caso do Frederico, diferentemente do aluno
Júnior, ele não tinha experiência alguma no aprendizado de música, então disse
conhecer pouco ou quase nada sobre o assunto. Disse gostar de guitarra e sua
referência do instrumento era o Slash, foi guitarrista da banda americana
Guns’nRoses e também ter o interesse de aprender a tocar devido à experiência em
um jogo de videogame, o nome do jogo é Guitar Hero, que tem como plataforma uma
guitarra executada pelo jogador na forma de acertar as notas tocadas com os botões,
uma simulação de estar tocando o instrumento. Eu, na condição de professor, já
conhecia o jogo e o repertório do mesmo é do gênero Rock, ritmo que foi criado e
difundido no mundo a partir do país Estados Unidos. Logo, percebe-se que o aluno
gostava e estava influenciado pelo repertório do jogo. Perguntei sobre seus gostos e
conhecimentos musicais além daqueles, disse gostar de Rap Internacional também e
que escutava bastante enquanto trabalhava. Perguntei se teve alguma experiência
84

musical na escola, afirmou ter tido nenhuma mas que onde estudava se formavam
grupos musicais para apresentações de datas comemorativas, mas nunca se
interessou pelos mesmos.

Em primeiro momento percebe-se que havia a necessidade de apresentá-lo


aos elementos da música e começo então a discorrer sobre os elementos construtivos
da música. Como afirma Med (1996), a matéria prima da música é o som e a
combinação de vários sons culmina nesta arte, de fazer música. Então, começou-se
neste momento a descrever como Med (1996) as disciplinas inerentes à música, em
forma de apresentação. Estas, por sua vez, necessárias para o desenvolvimento da
vida musical do Frederico, para isso convencê-lo da importância nos estudo destas.
Acredita-se que a Teoria Geral da Música (definição do autor citado) neste momento
para um aluno em processo de iniciação seja extremamente necessária, para que o
mesmo perceba a ciência desenvolvida em torno do estudo musical. A teoria vem a
explicar a ciência em torna das práticas musicais das mais diversas formas, ciência
tal composta por disciplinas necessárias ao estudo seja qual for, estruturada como
afirma Med (1996) nas disciplinas de solfejo, ritmo, percepção melódica, rítmica,
tímbrica e dinâmica, harmonia, contraponto, formas musicais, instrumentos musicais,
instrumentação, orquestração, arranjo, fisiologia da voz e fonética, psicologia da
música, composição, regência e técnica de um ou mais instrumentos musicais
específicos.

Buscando em síntese aguçar a curiosidade do aluno neste primeiro momento


acerca do entorno da prática musical como o caminho para o incentivo e combustível
para o estudo de um aluno iniciante e trazendo algumas importâncias além de um
simples “tocar o instrumento”. Logo, explanei acerca das características da música e
do som (estas disponibilizei para o Frederico via pdf previamente). Trouxe os
conceitos de melodia, harmonia, ritmo, contraponto, som e todos seus parâmetros.

Neste momento, acreditei ser necessário trazer uma metodologia de


musicalização básica e de forma mais lúdica. Tentei exemplificar de forma discursiva,
porém tive percepção naquele momento de que a transmissão digital gerou um
atrapalho na parte intuitiva. Naquele momento surgiram ideias de mostrar elementos
físicos do local, imaginei fazer com que batêssemos em objetos do local onde
estávamos gerando assim sons diferentes para discorrer acerca de duração,
intensidade, timbre, contextualizar com a guitarra, dali já puxar o conteúdo de
85

apresentação do instrumento (este na mesma programática de aula daquele dia) e


percebi que a qualidade do áudio não estava boa para tal procedimento.

A guitarra possui controles que mudam o parâmetro de timbragem do


instrumento e de intensidade também, que são os knobs de frequência e volume. A
transmissão digital não permitia que pudesse demonstrar estes elementos com
facilidade, pois o volume não possuía qualidade necessária para que a sensibilidade
empregada nos ajustes pudesse proporcionar ao aluno uma experiência eficaz e
contundente de entendimento.

Na aula seguinte o plano de aula trazia uma parte de conteúdo mais prática,
em que iriamos discorrer sobre o parâmetro do som de alturas musicais. Apresentei
para ele o conceito de notas musicais, juntamente com a parte de afinação do
instrumento. Como o ocorrido com o aluno Júnior, percebi que o panorama de
observação no celular do aluno apresentaria dificuldades de mostra, posicionamento
não eficaz para que apontasse alguns erros de postura ao instrumento bem como
pensei, como pedir que o aluno tocasse as cordas sem que estivesse próximo a ele
para levar seu dedo a corda pedida?

Nesta parte do conteúdo peço que o aluno toque corda por corda solta e
apresento o nome das notas afinadas de forma padrão: E- Mi, B- Si, G- Sol, D- Ré, A-
Lá e E- Mi. E concomitantemente vou apresentando o restante das notas não
existentes ali na afinação padrão (C- Dó e F- Fá) juntamente com o mapeamento do
braço na localização de notas, assim ele já começa a prática do toque no instrumento
e também uma parte inconsciente de intervalos.

Figura 41: Quadro mostrando as notas naturais contadas por intervalos

Fonte: Caderno Tocando Guitarra com Maestria

Após este trabalho vem a parte teórica, tratando conceitualmente e de forma


prática as notas naturais e ascendentes como mostram os diagramas a seguir,
apresentados ao aluno.
86

Figura 42: Diagrama demonstrando as notas naturais nas 12 primeiras casas do braço da guitarra

Fonte: Caderno Tocando Guitarra com Maestria

Depois do entendimento das notas naturais vem o entendimento acerca das


notas acidentes.

Figura 43: Diagrama demonstrando as notas naturais e acidentes nas 12 primeiras casas do braço
da guitarra

Fonte: Caderno Tocando Guitarra com Maestria

Note-se que estas são ilustrações de um elemento físico, que é o braço da


guitarra. Logo, torna-se necessário que haja um apontamento dos locais em que se
encontre as notas pedidas em determinados exercícios. Sem que tenha um contato
próximo fica inviável a execução destes exercícios que demandam do professor um
contato físico na mão do aluno, dificuldade esta que, para um aluno iniciante, gera
uma confusão no entendimento e dificulta a execução das atividades. O elemento de
notação musical também foi inicialmente difícil de ser apresentado, pelo fato da não
existência da ferramenta física (o quadro) foi difícil apresentar naquele momento uma
87

notação convencionada, as notas na partitura. Os diagramas apresentados nada mais


são que demonstrações simplificadas da localização das notas no braço da guitarra,
porém, torna-se necessária a apresentação das notações musicais tradicionais, pois
estas também se transformaram no decorrer da história e abrem caminhos para
inovações.

Gohn (2007) afirma que, com o desenvolvimento de complexidades rítmicas


que deveriam ser retratadas pela escrita musical, tiveram origem novas fórmulas de
compasso, ligaduras, pontos e várias outras formas de grafia criadas para a
representação de ritmos. Os sistemas de notação precisavam ser mais completos
para atender às necessidades da evolução da música, e consequentemente a música
evoluía à medida em que a notação tornava-se mais complexa. Tal processo é
confirmado por Gohn (2007, apud Biocca, 1988), quando este diz que “o artista
expressa mudanças culturais e perceptuais enquanto, ao mesmo tempo, atua como
catalisador destas mudanças” (p. 64).

Gohn (2007) ainda ressalta que com esta nova situação, um aprendiz da
música, que anteriormente iria concentrar seus estudos na produção de sons, deveria
também aprender a interpretar os sinais gráficos que representavam aqueles sons.
Toda uma nova gama de exercícios deveria ser posta em prática, envolvendo não
somente os ouvidos e os instrumentos musicais, mas também os olhos. Há músicos
que preferem aprender uma nova peça escutando-a, enquanto outros têm mais
facilidade lendo a partitura. De qualquer maneira, mais uma habilidade passou a ser
frequentemente exigida e foi integrada à rotina de estudos dos aprendizes.

Tem-se a apreciação musical como elemento de despertamento do aluno à


aprendizagem, que incentiva o aluno, ainda mais o iniciante que busque o saber e que
se disponha a seguir as etapas necessárias a conquista técnica para determinada
finalidade. Percebi também que Frederico, no decorrer das aulas, apresentava certa
distração relacionada a alguns estudos pedidos, dentre eles uma escuta de repertório
para comentarmos acerca de parâmetros sonoros notados por ele nestas músicas por
mim compartilhadas. Acredita-se que o fator mais preponderante na distração dos
alunos seja a própria apresentação das telas da transmissão digitalizada em si.

Gohn (2007) diz que no entanto, desde o surgimento da gravação sonora, a


maior modificação que esta promoveu no universo da música, potencializada mais
88

tarde pelos meios de comunicação de massa, foi a divulgação de compositores,


estilos, ritmos, melodias e harmonias que antes seriam desconhecidas de um grande
público. Enquanto muitos autores consideram esta a verdadeira democratização da
música, outros veem tal facilidade de acesso como uma banalização (para exemplos
de ambos vide Gohn, 2003). O rádio, por exemplo, disponibilizou a música como pano
de fundo para atividades domésticas, não exigindo a total concentração do ouvinte e
acostumando-o a deixá-la em segundo plano.

Note-se novamente que um fator artificial é além de a ferramenta


desenvolvedora, para muitos casos pode ser também um atrapalhador da
aprendizagem. Como outrora outras tecnologias, citadas por Gohn (2007), vê-se na
transmissão digitalizada um obstáculo frente à autonomia do aluno, ela por sua vez
necessitada de uma responsabilidade e diretriz humana acadêmica. A escuta musical
naquele momento para o aluno Frederico era essencial, assim recomendei que fizesse
em casa através da recomendações, não foi eficaz, logo pensei em fazê-las durante
a aula, constatei as deficiências físicas dos meios utilizados. A não qualidade gerou
também essa desconexão entre uma escuta atenta e uma execução por minha parte
como professor com uma devida qualidade e que atraísse a atenção do Frederico.
89

5. CONCLUSÃO.

As análises feitas no decorrer do período de pandemia, em especial nos


estudos de caso dos dois alunos do curso livre de guitarra, Júnior e Frederico,
puderam trazer reflexões voltadas à exposição do ensino digital para alunos na
condição de iniciante de guitarra. Com o acontecimento da pandemia de 2020 vieram
muitas possibilidades de trabalho dentro do ambiente digital.

Porém, com elas surgem problemas novos, em que os professores inseridos


neste meio de ensino digital ficam frente a desafios antes não vividos e precisam
buscar e desenvolver meios de resolver tais demandas. Para os alunos também
surgem novos desafios que são postos forçadamente em suas rotinas de estudos e
novas exigências no seu comportamento como aprendizes, pois alguns novos
comportamentos ocasionados pela aprendizagem digital podem conflitar com o perfil
de aprendizagem exigido pelo modelo de ensino na forma presencial.

Constatou-se que o meio digital de ensino demanda habilidades que já são


provavelmente inerentes a alunos que já estão num nível intermediário ou avançado
na aprendizagem de guitarra. Ou seja, os alunos nestes níveis possivelmente
estruturam melhores informações dos conteúdos, obtidas no decorrer do processo,
pois já apresentam um perfil voltado para a autoaprendizagem, perfil este que pode
não funcionar com o aluno iniciante, de maneira geral, talvez também pelo fato do
mesmo não conseguir adquirir técnicas suficientes nesta condição. Os alunos
intermediários e avançados possivelmente autoavaliam melhor sua prática
instrumental, superando e elaborando melhor as etapas a serem alcançadas.

Comprovou-se também que a educação formal bem como a aprendizagem que


a acompanha, seria possivelmente o ambiente ideal para alunos no nível iniciante
devido à melhor estruturação das etapas de aprendizagem e acompanhando o
desenvolvimento do aluno de forma atenta às necessidades de intervenção dos erros
e deficiências educacionais aparentes no momento.

Provavelmente por isso, alunos de nível intermediário e avançado possuem


uma maior possibilidade de aprendizagem sem interferências em ambos os meios de
ensino, tanto digital quanto presencial, pois já sendo iniciados, estão melhor nivelados
tecnicamente e já alcançaram um nível de maturidade na prática instrumental que lhes
proporciona esta autonomia e compreensão melhor dos conteúdos, seguem melhor
90

os regimentos e calendários de estudos, apesar daquelas condições apresentadas na


pandemia de só ter como opção cursar por vias digitais, mesmo nessas condições
adversas.

Quando foi feito o reconhecimento e nivelamento do aluno Júnior, avaliou-se


ser ele um aluno de nível iniciante pelas condições técnicas demonstradas, e, assim
sendo, constata-se que a maturidade técnica e de compreensão, bem como as
condições de interação seriam ineficazes em alguns pontos do processo de
aprendizagem. Sua intencionalidade era de um aluno intermediário, logo constatou-
se que ele pulava etapas de estudo pois queria já tirar um repertório sem que
alcançasse uma técnica necessária para a execução, ou seja, seu objetivo e foco era
somente tocar. Esta comportamento do aluno trouxe uma resistência para a evolução
do seu próprio desenvolvimento de aprendizagem. Houve também uma escuta não
atenta, ocasionada principalmente pela falta de recursos de equipamentos e
transmissão.

O fato de o aluno Frederico não ser iniciado em música anteriormente e também


não ter tido experiência de musicalização foi um desafio ainda maior que o do aluno
Júnior. O principal atrapalhador do desenvolvimento do aluno Frederico foram as
deficiências que o meio de transmissão apresenta, como velocidade de conexão,
interferências, visão limitada de todas formas. A falta de meios materiais para elucidar
situações de aulas, bem como cerceamento de material musical devido ao aluno não
poder estar presente no ambiente de aula, este que disponibilizaria amplificador,
instrumentos, tratamento acústico, quadro para estudos, estante musical para suporte
de material, cópias de exercícios e livros para as anotações no decorrer da aula. As
aulas para alunos iniciantes necessitam que o professor esteja bem próximo ao aluno
e que interfira na postura e posicionamento corporal ao instrumento, logo a aula digital
atrapalha este procedimento que o professor precisa nas aulas iniciais de guitarra.

Reflexões foram aprofundadas também acerca da parte metodológica de


apreciação musical. Devido haver falta de qualidade tanto de equipamentos quanto
de transmissão, esta parte tão importante no convencimento do aluno e no incentivo
para sua prática foram prejudicados. Em casos muito específicos de ambos professor
e aluno terem uma estrutura de transmissão melhorada, mediação de software de
transmissão de áudio e vídeo ancoradas por equipamentos de qualidade, pode ser
possível esta forma de ensino ser eficaz, mas por via de regra não pode ser levada
91

como padrão. Pela falta também de condições de melhores equipamentos, as aulas


foram prejudicadas em sua qualidade, esta necessária na apreciação musical.
Acredito também que o repertório de escuta colocado no ambiente presencial traria
um convencimento aos alunos Júnior e Frederico em relação à escuta de outros
gêneros musicais como sugerido nas aulas. Algumas habilidades têm necessidade de
serem estudadas em outros movimentos estilísticos, estes que o aluno desconhecia
e quanto perguntado posteriormente avaliou-se uma não escuta atenta ou nada
escutado, ou seja, um desinteresse com a matéria posta.

Os conteúdos de postura e posicionamento são os mais prejudicados pela


transmissão digital. O fato de não haver a possibilidade de estar no local do aluno faz
com que limitem-se as intervenções necessárias na correção dos fundamentos
passados ao aluno. Com relação à palhetada também, é necessário aproximação de
câmera, dentre outros artifícios, para que se consiga fazer uma avaliação eficaz da
prática do aluno. Todos estes procedimentos na transmissão digital ficam lentos e por
algumas vezes atrapalhados, assim atrasando o rendimento das aulas.

Tanto o ensino a distância quanto o remoto, já tão difundidos no universo


acadêmico de longa data, acredita-se que serão o futuro e dados já apontam para isto,
uma imigração dos estudantes para estes meios de ensino no geral. Na música não
será diferente, ainda mais pelo fato de a pandemia trazer somente estes meios como
opção. Devido às facilidades e às rotinas nossas já inseridas em meios de
comunicação cada vez mais velozes, constata-se que conviveremos sempre com
estas ferramentas nos nossos hábitos gerais.

As referências de guitarra de outrora vem carregadas de tendências culturais


estrangeiras, que não são descartáveis, são necessárias, porém um trabalho de
incentivo à pluralidade cultural e valorização da cultura nacional, independente da
instituição que estejamos inseridos, deve ser feito de diferentes formas metodológicas.

A provável sugestão que se faz para o guitarrista iniciante, independente de


que tipo de curso esteja (seja escola ou curso livre, por exemplo), é a necessidade de
um tutor e um regime planejado com atividades pedagógicas segmentadas e
acompanhadas presencialmente.
92

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