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EXMO. SR.

JUIZ DE DIREITO DO 3º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA


COMARCA DE DUQUE DE CAXIAS – RJ.

PROCESSO Nº: 0858774-19.2023.8.19.0021


GERPRO Nº: 170558714

LIGHT SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S/A (“LIGHT”), empresa concessionária de


serviços públicos de energia elétrica, inscrita no CNPJ do MF sob nº 60.444.437/0001-46,
com sede na Avenida Marechal Floriano nº 168, Centro, Rio de Janeiro, RJ, CEP 20.080-
002, nos autos da ação em referência, ajuizada por MARCELO OLIVEIRA DA SILVA,
vem, por seus advogados, na forma da legislação processual civil, apresentar sua
CONTESTAÇÃO aos termos da petição inicial, pelas razões de fato e de direito a seguir
expostas.

PRELIMINARMENTE

DO PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DO JULGAMENTO DO MÉRITO DA AÇÃO


(CPC, ART. 488): DESNECESSIDADE DA EXTINÇÃO PARA PERÍCIA NO CASO
DOS AUTOS

O princípio da primazia do mérito, elencado no artigo 488 do CPC, visa o aumento da


efetividade do Poder Judiciário, possibilitando ao julgador decidir pela resolução da questão
em debate, mesmo quando presente algum impeditivo, desde que comprovada a ausência de
quaisquer prejuízos às partes.

Nesta esteira, constatada a irregularidade no sistema de fornecimento de energia elétrica, que


esteja visivelmente atingindo o medidor de energia e, sendo detectada tais irregularidades de
medição, entende-se desnecessário o encaminhamento do equipamento para perícia.

Portanto, se tratando de casos incontroversos, pois a irregularidade na unidade consumidora


já se encontra perfeitamente comprovada por meio de prova documental e, em especial, as
fotografias e a variação de consumo demonstrada e documentada no processo, e, tendo em
vista que um eventual julgamento não resultará em qualquer dano às partes litigantes, é
prudente a adoção do princípio da primazia do julgamento do mérito, descartando, assim, a
necessidade de produção de prova pericial técnica e a consequente extinção dos autos sem a
resolução do mérito.

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DEMANDA REGULADA PELA RESOLUÇÃO NORMATIVA ANEEL Nº 1000/21

A LIGHT, na qualidade de concessionária de serviços públicos de energia elétrica (CF/88,


art. 21, XII, b), exercendo as prerrogativas conferidas pelo Poder Concedente através da
Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) (Lei nº 8.987/95, arts. 29 e 30 e Lei nº
9.427/96, art. 3º, XIX), realiza ações de combate ao uso irregular da energia elétrica de forma
permanente, de modo a evitar que tais ações ensejem em danos à consumidores de boa-fé ou
provoquem lesão à comunidade em geral.

DA REALIDADE DOS FATOS

A parte autora alega que é a titularidade da instalação, porém, não concorda com a vistoria
do TOI, bem como não houve a alteração de consumo, portanto, a lavratura do TOI é
indevida.

Ocorre que o débito já foi cancelado.

Por conseguinte, as alegações da parte autora não devem prosperar por ter suas alegações
infundadas, bem como será demonstrado nos autos que é devido a cobrança.

DAS PROVAS CONTUNDENTES DA CARACTERIZAÇÃO DA


IRREGULARIDADE: ADERÊNCIA DOS PROCEDIMENTOS DA LIGHT À
SÚMULA 256 DO TJRJ

Superadas as preliminares arguidas, certo é que a LIGHT, na qualidade de concessionária de


serviços públicos de energia elétrica (CF/88, art. 21, XII, b), exercendo as prerrogativas
conferidas pelo Poder Concedente através da Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL) (Lei nº 8.987/95, arts. 29 e 30 e Lei nº 9.427/96, art. 3º, XIX), em sede inspeção
de rotina (Res. ANEEL nº 1.000/2021) realizada em 21/12/2021, a LIGHT constatou uma

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irregularidade conhecida como “DESVIO DE ENEGIA NO RAMAL DE LIGAÇÃO”,
representada pelo modelo abaixo:
A constatação da referida irregularidade foi registrada através da emissão do Termo de
Ocorrência e Inspeção (TOI) nº 9676277, (Res. ANEEL nº 1.000/2021) com a caracterização
e descrição da ocorrência, bem como através de fotografias do local evidenciado a situação
irregular:

Vídeos da inspeção:
https://drive.google.com/file/d/1XLlk3Jg5pkxHTj1co3UP4VuE4EtFtk0-
/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1XNyf7RPHwsFFDeOb8LLcwzmisO9O4N8E/view?usp=s
haring
https://drive.google.com/file/d/1XLSz1N1ii9zlEcHtmTpEe9TQuTnNvae3/view?usp=shari
ng

A irregularidade em questão indubitavelmente importou em faturamento a menor do


consumo de energia, em prejuízo à LIGHT e beneficiando exclusivamente o usuário,
verdadeiro enriquecimento imotivado (CC, art. 884) que pode ser facilmente comprovado
quando comparado o consumo referente ao período anterior à constatação da irregularidade

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e o consumo posterior à normalização do sistema de medição, conforme demonstrativo
abaixo:

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Acrescente-se, como mais uma evidência, que o consumo apresentado quando da
constatação da irregularidade é totalmente incoerente com o consumo de uma residência
guarnecida com um mínimo de aparelhos eletrodomésticos, sendo válido destacar que
apenas dois pontos de luz e uma geladeira contabilizam uma carga de aproximadamente 63
kwh/mês, como pode se verificar no simulador de consumo disponibilizado pela LIGHT
(http://www.light.com.br/para-residencias/Simuladores/consumo.aspx) a seguir
demonstrado:

Conforme determinação das normas que regem o setor elétrico e de forma a evitar o
enriquecimento imotivado do usuário que se beneficiou da irregularidade, a LIGHT realizou
o cálculo de recuperação da energia não faturada (Res. ANEEL nº 1.000/2021), equivalente
a 567 kWh, referente ao período de 08/2017 a 12/2021, no valor de R$ 702,80 (setecentos
e dois reais e oitenta centavos):

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➢ DO REQUISITO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA DO
PROCEDIMENTO:

- ATENDIMENTO À Res. ANEEL nº 1.000/2021 - FOI OPORTUNIZADO À


PARTE AUTORA IMPUGNAR ADMINISTRATIVAMENTE O TOI, OS
CÁLCULOS E VALORES – INÉRCIA DA PARTE AUTORA

Registra-se que após a lavratura do TOI, a LIGHT encaminhou ao usuário a


notificação sobre a constatação realizada, oportunizando ao usuário, prazo para
impugnação administrativa, conforme consta no Comunicado de Cobrança de
Irregularidade e no Comunicado de Faturamento de Irregularidade, demonstrando, de
forma transparente: (i) a caracterização e descrição da ocorrência; (ii) os critérios e a

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memória descritiva dos cálculos dos valores cobrados a título de recuperação do consumo;
e (iii) o prazo para a interposição de eventual impugnação administrativa da cobrança,

como se depreende do trecho do documento:

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Assim, a parte autora apresentou a impugnação administrativa, porém, a cobrança foi
mantida, a LIGHT realizou a cobrança do consumo recuperado, que foi devidamente
parcelado para fim de facilitar o respectivo pagamento, em respeito aos princípios da
cooperação e probidade, pilares da boa-fé objetiva prevista no artigo 422 do Código Civil,
não havendo, portanto, qualquer irregularidade na conduta da ré.

Das Diferenças Apuradas


Art. 133. Nos casos em que houver diferença a cobrar ou a devolver,
a distribuidora deve informar ao consumidor, por escrito, a respeito
dos seguintes elementos:
I – ocorrência constatada;
II – memória descritiva dos cálculos do valor apurado referente às
diferenças de consumos de energia elétrica e de demandas de
potências ativas e reativas excedentes, consoante os critérios fixados
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nesta Resolução;
III – elementos de apuração da ocorrência, incluindo as
informações da medição fiscalizadora, quando for o caso;
IV – critérios adotados na compensação do faturamento;
V – direito de reclamação previsto nos §§ 1º e 3º
deste artigo; e VI – tarifa(s) utilizada(s).
§ 1º - Caso haja discordância em relação à cobrança ou devolução dos
respectivos valores, o consumidor pode apresentar reclamação, por
escrito à distribuidora, a ser realizada em até 30 (trinta) dias da
notificação.
§ 2º Na hipótese do § 1º, a distribuidora deve comunicar, por
escrito, no prazo de 15 (quinze) dias, o resultado da reclamação
ao consumidor, incluindo, em caso de indeferimento, informação
sobre o direito do consumidor em formular reclamação à ouvidoria
da distribuidora com o respectivo telefone, endereço para contato e
demais canais de atendimento disponibilizados,observado o disposto
no §1º do art. 200.
§ 3º Nos casos de diferenças a pagar, o vencimento da fatura com as
diferenças,
independente da data de sua apresentação, deve ocorrer após o
término do prazo previsto no § 1º nos casos onde o consumidor não
apresente sua reclamação, ou somente após a efetiva comunicação da
distribuidora, nos casos do § 2º, considerados adicionalmente os
prazos mínimos estabelecidos no art. 124. (Redação dada pela REN
ANEEL 574 de 20.08.2013)

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§ 1º - Caso haja discordância em relação à cobrança ou devolução dos
respectivos valores, o consumidor pode apresentar reclamação, por
escrito à distribuidora, a ser realizada em até 30 (trinta) dias da
notificação.

Uma vez materializada a prova da irregularidade, a cobrança da recuperação do consumo


não faturado é medida legítima, de exercício regular do direito (CC, art. 188, I),
independentemente da comprovação da autoria do fato, até mesmo como forma de evitar o
enriquecimento imotivado (CC, art. 884) do usuário do serviço (único a se beneficiar dos
efeitos da irregularidade, ainda que involuntariamente, pagando menos do que o devido pelo
seu consumo de energia).

➢ O REQUISITO DA EMISSÃO DA COBRANÇA DO TOI EM FATURA


APARTADA

➢ DO REQUISITO DO ENVIO DO AVISO PRÉVIO AO CORTE

Das alegações autorais, certo é que inobstante a LIGHT ter prestado regularmente os seus
serviços, a parte autora não realiza os pagamentos de seus débitos com regularidade,
estandopor conseguinte, sujeita às consequencias de sua inadimplência.

Sendo assim, em razão da falta de pagamento de faturas vencidas de natureza decobrança


de irregularidade, que por sua vez não consta na conta de consumo, mas sim em conta
apartada, desta feita, a light promoveu o corte no fornecimento.

Destaca-se que, conforme à Res. ANEEL nº 1.000/2021, a vedação da suspensão se dá


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após o decurso do prazo de 90 dias da fatura vencida e não paga.

Ressalta-se, ainda, que foi encaminhado à parte autora, aviso prévio acerca da
possibilidade de suspensão do serviço, oportunizando o pagamento dos débitos antes da
suspensão do serviço, porém, a parte autora se manteve inerte.

Resta, pois, demonstrado que a suspensão dos serviços elétricos se deu unicamente em
razão da manifesta inadimplência da parte autora, que assumiu, pois, o risco e os efeitos
da sua mora (CC, art. 395 e Lei 8.078/90, art. 14, §3º, II), sujeitando-se às sanções legais
e contratuais cabíveis, como na hipótese dos autos.

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Inobstante a clareza solar dos argumentos já expostos, requer ainda a parte ré, poramor ao
debate, sejam analisadas as seguintes questões ainda pertinentes ao mérito da demanda.

SEGUEM JULGADOS QUE CORROBORAM À TESE DEFENSIVA:

Processo nº. 0002883-56.2021.8.19.0008


“SENTENÇA: ... Cuida-se de demanda por meio da qual a parte autora
questiona a cobrança levada a efeito pela parte ré a partir da lavratura de TOI
número 9641009, alegadamente ilegal. Com efeito, após o exame detido dos
elementos de prova reunidos nos autos, tenho que razão não assiste à parte
autora. O procedimento necessário à lavratura do termo de ocorrência de
irregularidade, documento necessário ao registro da existência de
irregularidade na medição e posterior cobrança do consumo não faturado,
encontra previsão expressa nos artigos 129 a 133 da Resolução 414/2010 da
ANEEL. A parte autora, nesse norte, não apontou objetivamente o
descumprimento de quaisquer dos comandos legais aplicáveis, sendo certo
que é inviável o controle abstrato. Note-se que o documento de cobrança
juntado aos autos (fls. 166/167) preenche os requisitos do art. 133 da
Resolução 414/2010 da ANEEL, porque há indicação da ocorrência (desvio
de energia no ramal de ligação), memória de cálculo referente à diferença
apurada, consignação do direito à contestação em 30 dias e menção à tarifa
utilizada. Demais disso, infere-se, conforme os cálculos produzidos pela
concessionária ré (fls. 166) e os históricos de consumo do período da suposta
irregularidade indicada no citado documento, que o consumo na unidade da
parte autora foi igual a ZERO ou apresentou apenas cobrança do custo de
disponibilidade, o que não foi negado na inicial. Dessa forma, ao menos em
tal período, há indícios do procedimento irregular imputado, importando em
registro de consumo e cobrança inferior ao que seria devido, verificando-se,
por conseguinte, enriquecimento indevido do autor. É de se ressaltar que ao
autor cabe a produção de prova mínima dos fatos constitutivos do seu direito.
Nesse exato sentido é a Súmula n.º 330 do TJ/RJ. Logo, o demandante se
absteve de requerer a necessária prova pericial, ônus seu. Por óbvio, não se
pode obrigar a empresa ré a fornecer o serviço de energia elétrica sem a
respectiva contraprestação, sob pena de restar inviabilizada a prestação desse
serviço público. Observe-se que a prevalência do interesse público da
coletividade sobre o interesse individual do consumidor permite a suspensão
do fornecimento de energia elétrica por falta de pagamento ou até mesmo
fraude. Tal fato não caracteriza descontinuidade de prestação de serviço
público essencial, pois o art. 22 da Lei 8.078/90 deve ser combinado com a
exegese do art. 6º, § 3º, II da Lei 8.987/95. Vale dizer, ainda, que nos termos

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do art. 172, I e V, da Resolução n.º 414/2010 da ANEEL, do art. 3º, parágrafo
único, da Lei Estadual n.º 7.990/2018 (incluído pela Lei Estadual n.º
9.082/2020) e da tese firmada pelo STJ no julgamento do Tema 699 de
Recursos Repetitivos, é plenamente possível o corte do serviço de
fornecimento de energia elétrica em razão do não pagamento dos débitos
relativos à recuperação de consumo. Pelo exposto, a pretensão atinente à
desconstituição do TOI, bem como da multa por recuperação de consumo, é
improcedente.
Posto isso, REVOGO A DECISÃO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
e JULGO IMPROCEDENTE O PEDIDO, resolvendo-se o mérito na
forma dos artigos 487, I, c/c 490 do CPC. Condeno a parte autora ao
pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios de 10%
do valor corrigido da causa, observando-se, contudo, o disposto no
artigo 98, §3º, do CPC.

ACÓRDÃO PROFERIDO PELA 2ª TURMA RECURSAL CÍVEL DO ESTADO DO


RIO DE JANEIRO, NOS AUTOS DO PROCESSO Nº. 0800421-30.2020.8.19.0008,
REFERENTE AO PRESENTE TEMA:

“.... No entanto, o caso em julgamento possui duas situações peculiares que


apontam para a necessidade de alteração do julgado, quais sejam: a)
Diversamente do alegado na inicial a autora acompanhou a inspeção levada
a efeito em sua residência e foi notificada formalmente para acompanhar a
pericia administrativa no relógio medidor, como se vê de fls. 3 da
contestação; b) após a lavratura do TOI e correção da irregularidade
consistente em ligação direta sem, assim, passar pelo leitor de consumo, a
tarifação se elevou drasticamente como se vê de fls. 5 da contestação visto
que no período em que houve a cobrança de recuperação o consumo tarifado
se aproximava de zero e em outros ZERO, demonstrando, assim, que a parte
autora vinha consumindo energia elétrica sem a correspondente
contraprestação.
Dessa forma, a despeito de eventuais irregularidades formais na lavratura do
TOI o que se vê é que a autora teve oportunidade de acompanhar a inspeção
em sua residência e, ademais, a correção das irregularidades constatadas
elevou o consumo a patamares condizentes com os equipamentos elétricos
utilizados e, em consequência, inexistem dúvidas que vinha, até então,
consumindo energia sem a correspondente e proporcional contraprestação.

O Poder Judiciário não pode fechar os olhos para a realidade e fixar-se em


pormenores técnicos sem se aperceber da enormidade de energia elétrica que
é consumida diuturnamente mediante fraudes e desvios o que acaba por

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provocar a necessidade de redistribuir os prejuízos da ré aos demais
consumidores que pagam normalmente pelos serviços utilizados o que não
pode ser considerado normal em parte alguma do mundo.

Muito menos a legislação estadual se destina a garantir que em casos de


fraude no consumo de energia a concessionária, ainda assim, continue a
fornecer seus serviços sem contraprestação, como se ato de benemerência
fosse privilegiando e premiando a conduta absolutamente censurável do
consumidor.

Por todo o exposto, VOTO pelo conhecimento do recurso da ré e no


mérito lhe DAR PROVIMENTO para reformar a sentença e julgar
improcedentes os pedidos.

Sem ônus sucumbenciais nos termos do artigo 55 da lei 9.099/95.”

DO ENTENDIMENTO DO STJ NO RECURSO REPETITIVO RESP 1.412.433-RS –


TEMA 699

Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho


medidor atribuída ao consumidor, desde que apurado em observância aos princípios do
contraditório e da ampla defesa, é possível o corte administrativo do fornecimento do
serviço de energia elétrica, mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento
do consumo recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias anterior à
constatação da fraude, contanto que executado o corte em até 90 (noventa) dias após o
vencimento do débito, sem prejuízo do direito de a concessionária utilizar os meios
judiciais ordinários de cobrança da dívida, inclusive antecedente aos mencionados 90
(noventa) dias de retroação.

Acerca do tema, é prudente mencionar o seguinte acórdão, proferido nos autos do


processo nº. 0801386-04.2022.8.19.0213:

“... O entendimento consubstanciado na Súmula 256 deste Tribunal de


Justiça é no sentido de que o TOI não ostenta o atributo da presunção de
legitimidade, in verbis: "O termo de ocorrência de irregularidade,
emanado de concessionária, não ostenta o atributo da presunção de
legitimidade, ainda que subscrito pelo usuário."
Entretanto, compulsando os autos, constato que as alegações autorais,
no sentido de que os Termos de Ocorrência de Irregularidade lavrados
pela parte ré, em 29/09/2021, se encontram eivados de nulidade, não se
afiguram verossímeis. Isso, porque, em que pese a alegação de que o

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relatório juntado aos autos está em nome de terceira pessoa, o fato é que
o próprio autor confirma na inicial que, em outubro/2021, recebeu uma
carta da Ré, informando sobre a recuperação de consumo (TOI nº
9448580), sendo efetuada a cobrança da quantia de R$6.965,97 (Seis
mil novecentos e sessenta e cinco reais e noventa e sete centavos), em
60 parcelas de R$116,10 (Cento e dezesseis reais e dez centavos) pela
diferença entre o valor fatura e o consumido no período indicado.
Observe-se que os citados documentos estão em nome do autor, com
identificação regular da sua unidade residencial (id. 15147824).
Ressaltese, ainda, que o próprio autor confirma que fez a contestação
administrativa da inspeção, no dia 18/11/2021, quando compareceu à
sede da Ré, questionando mais uma vez sobre o parcelamento que vinha
sendo cobrado.
E mais, ao contrário do afirmado pelo autor, verifica-se que nas faturas
de janeiro e fevereiro/2022, a ré envia notificação de débito das faturas
de consumo, em função do atraso no pagamento. Observe-se que a
fatura, vencida em 02/02/2022, foi quitada em 26/02/2022 (id.
15147831) e a vencida em 04/03/2022 (id. 15147834) foi paga em
25/03/2022 (id. 15844538), ou seja, após a data do corte em 15/03/2022,
não sendo possível, portanto, precisar que o corte se deu em função do
não pagamento da parcela do TOI.
Deve ser ressaltado, ainda, que não há verossimilhança na alegação
autoral de que não recebeu as faturas do parcelamento, visto que
regularmente emitidas pela ré (id. 15147848, 15147849).
Analisando o histórico de consumo mensal do autor (id. 15147850), bem
como dos documentos que instruem a defesa (id. 17847375), é possível
verificar que no período de 12/2019 a 09/2021 o autor possuía consumo
ínfimo ou zerado, havendo considerável aumento de consumo após a
lavratura do TOI.
Nesse passo, verificada pela concessionária a irregularidade na medição,
em cumprimento à resolução 414/10 da Aneel, foi lavrado o Termo de
Ocorrência e Inspeção em busca da recuperação da contraprestação pelo
serviço efetivamente utilizado pelo consumidor. Assim, os elementos
constantes dos autos autorizam a conclusão pela regularidade da
lavratura do TOI e da cobrança dele decorrente e, consequentemente,
pela inexistência de falha no serviço prestado a amparar os pedidos
contidos na ação.
Conquanto a parte autora impute nulidade ao termo de irregularidade
formulado pela recorrente, não é isso que se extrai dos autos, pois, em
análise aprofundada ao teor da contestação, é possível constatar a
existência de memória de cálculo elaborada pela ré contendo o período

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de consumo ínfimo ou zerado no medidor de energia instalado na
residência da parte autora.
Ressalte-se que a parte ré comprova que franqueou ao autor a
oportunidade de impugnar administrativamente o Termo de Ocorrência
de Irregularidade, em respeito ao direito de ampla defesa e ao
contraditório.
Sobre tal questão, o Egr. Superior Tribunal de Justiça, quando do
julgamento em sistema de Recurso Repetitivo, do Recurso Especial
nº 1.412.433, fixou a seguinte tese: “Na hipótese de débito estrito de
recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho medidor
atribuída ao consumidor, desde que apurado em observância aos
princípios do contraditório e da ampla defesa, é possível o corte
administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica,
mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do
consumo recuperado correspondente ao período de 90 (noventa)
dias anterior à constatação da fraude, contanto que executado o
corte em até 90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem
prejuízo do direito de a concessionária utilizar os meios judiciais
ordinários de cobrança da dívida, inclusive antecedente aos
mencionados 90 (noventa) dias de retroação”. Assim, considerando
o entendimento firmado pela Corte Superior, não há que se falar na
aplicação do art. 3º, da Lei Estadual 7990/2018.
Logo, verifico que o comportamento da ré foi pautado pela excludente
de ilicitude de exercício regular de um direito, consistente na lavratura
do TOI, a ensejar aplicação da norma inserta no art. 14, parágrafo
terceiro, Inciso II, da Lei 8.078/90, razão pela qual merece acolhimento
o recurso interposto pela concessionária do serviço público.
Pelo Exposto, conheço do recurso e lhe dou provimento para
reformar a r. sentença e julgar improcedentes todos os pedidos
formulados na inicial. Revogo a tutela de urgência deferida. Sem
ônus sucumbenciais, porque não verificada a hipótese prevista no
art. 55 da Lei 9.099/95.”

Em igual sentido, menciona-se, também, outras sentenças proferidas acerca do tema:


Processo nº. 0800935-25.2022.8.19.0036:

“A parte autora reclama de cobranças derivadas de TOI (Termo de


Ocorrência de Irregularidade). Pleiteia a não interrupção do
fornecimento de energia; o cancelamento do TOI e dos débitos; e
compensação por danos morais. Cinge-se a demanda quanto à
regularidade das cobranças relativas ao TOI em questão. Sobre tal

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questão, o Egr. Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamento
em sistema de Recurso Repetitivo, do Recurso Especial nº 1.412.433,
fixou a seguinte tese: “Na hipótese de débito estrito de recuperação
de consumo efetivo por fraude no aparelho medidor atribuída ao
consumidor, desde que apurado em observância aos princípios do
contraditório e da ampla defesa, é possível o corte administrativo do
fornecimento do serviço de energia elétrica, mediante prévio aviso
ao consumidor, pelo inadimplemento do consumo recuperado
correspondente ao período de 90 (noventa) dias anterior à
constatação da fraude, contanto que executado o corte em até 90
(noventa) dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito
de a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de
cobrança da dívida, inclusive antecedente aos mencionados 90
(noventa) dias de retroação”. No caso em tela, a ré apurou os débitos
decorrentes de recuperação de consumo por meio de laudos técnicos
(conforme documentos do “Index n° 14841190”) e oportunizou o
contraditório em seara administrativa. Verifica-se nos Autos que a
cobrança de parcelas do TOI não está sendo cumulada com o consumo
mensal. Destaca-se que eventual corte ou negativação que venham a
ocorrer se mostram lícitos, eis que foram observadas as exigências da
decisão acima transcrita. Conclui-se pela licitude do procedimento
adotado pela ré. Não há como se acolher o pleito da parte autora. Isto
posto, JULGO IMPROCEDENTE O PEDIDO. Revoga-se a decisão de
antecipação de tutela. Sem custas e honorários, na forma do art. 55 da
Lei nº 9.099/95. Submeto o projeto de sentença à homologação da MM
JUÍZA TOGADA, na forma do que dispõe o art. 40 da Lei n. 9.099/95.

Processo nº. 0813732-27.2022.8.19.0038 – 4º Juizado Especial Cível da Comarca de


Nova Iguaçu:
“Das provas produzidas nos autos, restou demonstrado que há
registro de consumo zerado durante todo o período considerado na
lavratura do TOI, o que em muito compromete a veracidade das
alegações autorais. Nesse aspecto cabe, ainda, destacar que foi
respeitado o entendimento esposado pelo egrégio Superior Tribunal
de Justiça, quando do julgamento em sistema de Recurso Repetitivo,
do Recurso Especial nº 1.412.433, quando fixou a seguinte tese: “Na
hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no
aparelho medidor atribuída ao consumidor, desde que apurado em
observância aos princípios do contraditório e da ampla defesa, é possível o
corte administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica,
mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do consumo

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recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias anterior à
constatação da fraude, contanto que executado o corte em até 90 (noventa)
dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito de a
concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da dívida,
inclusive antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias de retroação”.
Dessa forma, a verificação da legitimidade do TOI passa, necessariamente,
pela reunião dos seguintes requisitos: 1) aviso prévio ao usuário seguido
de possibilidade de exercício dos princípios do contraditório e da ampla
defesa; 2) cobrança avulsa e não cumulada com o consumo mensal; e 3)
suspensão do fornecimento de energia com base exclusiva nos últimos 3
meses de consumo. Com efeito, no caso em tela, a ré apurou o débito
decorrente de recuperação de consumo por meio de laudo técnico
elaborado e oportunizou o contraditório em seara administrativa,
conforme documento anexados junto a defesa. Inexiste indicação de
que a cobrança de recuperação de consumo tenha sido cumulada com
o consumo mensal. Em relação ao alegado corte, ressalto que a parte
autora não anexou as faturas de consumo anteriores a suposta
suspensão, bem como deixou de juntar nos autos as contas relativas ao
TOI, e, assim, inviabiliza a análise quanto ao fato narrado. Assim,
conclui-se pela licitude do procedimento adotado pela ré, ressaltando,
ainda, que as telas dos sistemas jurídicos internos das pessoas jurídicas
devem ser compreendidas como prova documental hábil a demonstrar
a situação dos serviços prestados. Como qualquer documento
particular, poderão ser objeto de argumentação específica de
falsidade, conforme previsão do art. 436, III, do CPC, o que não
ocorreu no caso em tela. III – Dispositivo Pelo exposto, JULGO
IMPROCEDENTES os pedidos, com base no art. 487, I, do CPC. Por fim,
revogo a tutela deferida. Sem condenação em despesas processuais e
honorários advocatícios. A parte ré fica intimada de que deverá depositar
a quantia acima fixada, referente à condenação em pagar quantia certa, no
prazo de 15 dias após o trânsito em julgado, independentemente de nova
intimação, sob pena de multa de 10% prevista no artigo 523, §1º do CPC,
sendo certo que a comprovação do depósito deverá vir aos autos no prazo
de até 05 dias após o término do prazo. Fica desde já cientificada a parte
autora de que não incidirão honorários na fase de execução, nos termos do
art. 55 da Lei 9099/95 e do enunciado nº 97 do FONAJE. Submeto o
projeto de sentença à homologação pelo MM. Juiz de Direito, nos termos
do artigo 40 da Lei nº 9.099/95.”.

Processo nº. 0812454-78.2022.8.19.0203 – 16º Juizado Especial Cível do Fórum


Regional da Freguesia:

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“O Egr. Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamento em sistema de
Recurso Repetitivo, do Recurso Especial nº 1.412.433, fixou a seguinte
tese: "Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo
por fraude no aparelho medidor atribuída ao consumidor, desde que
apurado em observância aos princípios do contraditório e da ampla
defesa, é possível o corte administrativo do fornecimento do serviço de
energia elétrica, mediante prévio aviso ao consumidor, pelo
inadimplemento do consumo recuperado correspondente ao período
de 90 (noventa) dias anterior à constatação da fraude, contanto que
executado o corte em até 90 (noventa) dias após o vencimento do
débito, sem prejuízo do direito de a concessionária utilizar os meios
judiciais ordinários de cobrança da dívida, inclusive antecedente aos
mencionados 90 (noventa) dias de retroação". Portanto, a concessionária
de energia elétrica, ao constatar a existência de fraude ou irregularidade no
aparelho medidor por parte do consumidor, deve: Instaurar procedimento
administrativo, garantindo o exercício da ampla defesa e do contraditório,
para confirmação da fraude e definição do valor a recuperar; concluído o
procedimento, deve emitir a cobrança específica do valor do consumo
recuperado relativo ao período de 90 dias anterior à data da constatação da
fraude; poderá promover a suspensão do serviço de energia elétrica no caso
de inadimplemento do valor representado pela fatura de recuperação de
consumo, desde que limitado aos 90 dias anteriores à fraude; poderá se
socorrer das vias judiciais ordinárias para recuperação do valor de
consumo superior aos 90 dias da fraude, sendo vedado o corte pela dívida
em cobrança. A aplicação de soluções adotadas pelos Tribunais Superiores
no regime dos repetitivos é obrigatória aos órgãos inferiores, a teor do art.
1040 e incisos do CPC. No caso, a parte ré apresentou fotos e imagens
do procedimento para demonstrar a análise do medidor, bem como,
comprovou que houve a comunicação e oportunidade para
requerimento de reanálise e contestação administrativa, com a
finalidade de cumprir com o contraditório e a ampla defesa. Além
disso, houve alteração de registro de consumo após a lavratura e
demonstração de consumo zerado antes desta. Assim sendo, entendo
que não há que se falar em ilegalidade na constatação da
irregularidade, nem existem elementos suficientes a desconstituir o ato
praticado pela ré. Ante o exposto, julgo improcedente o pedido, na forma
do art. 487, I do CPC. Revogo a tutela antecipada deferida. Sem ônus
sucumbenciais.”.

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Processo nº. 0036261-64.2018.8.19.0054 – 4ª Vara Cível da Comarca de São João de
Meriti:
“FLÁVIA ILZANIR ALENCAR SALES ajuizou AÇÃO
DECLARATÓRIA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C REPARAÇÃO
DE DANOS MORAIS COM PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA em
face de LIGHT SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S.A. (...) É O
RELATÓRIO. PASSO A DECIDIR. Cabível o julgamento dos pedidos,
no estado em que o processo se encontra, nos termos do art. 355, I, do CPC,
ante a preclusão da decisão de fls. 231/232 e o desinteresse das partes pela
produção de novas provas. À luz da teoria da asserção, não há questões
preliminares a serem apreciadas, pelo que passo diretamente ao mérito.
Trata-se de inegável relação de consumo, pelo que incidentes as normas da
Lei 8.078/90 - Código de Defesa do Consumidor. Inicialmente, ressalte-se
que a inversão do ônus da prova não foi deferida por este Juízo. E, de fato,
não é o caso de inversão do ônus da prova, na medida em que não se
vislumbra hipossuficiência técnica da parte autora a justificá-la, nem muito
menos verossimilhança nas suas alegações, diante dos termos do TOI e
demais documentos que instruem os autos. Mesmo que ocorresse a
inversão do ônus da prova, teria aplicação ao caso dos autos a inteligência
da Súmula 330 do E. TJRJ, in verbis: "Os princípios facilitadores da defesa
do consumidor em juízo, notadamente o da inversão do ônus da prova, não
exoneram o autor do ônus de fazer, a seu encargo, prova mínima do fato
constitutivo do alegado direito." Referência: Processo Administrativo nº.
0053831-70.2014.8.19.0000 - Julgamento em 04/05/2015 - Relator:
Desembargador Jesse Torres. Votação por maioria. O ponto controvertido
nestes autos consiste na existência de irregularidade na medição do
consumo de energia elétrica no imóvel da parte autora. A esse respeito, não
há nada nos autos que aponte para alguma irregularidade do TOI lavrado
pela ré. Tratando-se de concessionária de serviço público, sujeita às
normas e fiscalização do Poder Público, tem-se como absolutamente
legítima a conduta da ré em, verificando a ocorrência de uma
irregularidade, lavrar o respectivo auto e proceder à cobrança do valor
devido. Não há necessidade de que a concessionária se valha do Judiciário
para a cobrança de tal débito, sendo certo que a legislação que rege a sua
atividade lhe permite a cobrança pela via administrativa. Ressalte-se que
nem todo o TOI reflete um ilícito penal ou significa a imputação de conduta
dolosa ao usuário. Em muitas ocasiões, trata-se da simples constatação de
que não houve a medição adequada da energia elétrica consumida,
impondo-se, portanto, a sua recuperação, sob pena de enriquecimento
indevido do consumidor em detrimento da ré. Cabe ao usuário que entenda
como indevida a lavratura do auto, mover ação para anulá-lo, como no caso

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dos autos. Entretanto, não pode se eximir do ônus de provar a ilegitimidade
do auto de infração lavrado pela concessionária. A esse respeito, merece
ser ressaltado que não é controverso que tenha o TOI sido lavrado em
conformidade com as normas técnicas postas pela ANEEL, de modo que a
atuação da ré foi absolutamente legítima e amparada na lei. Merece
destaque, ainda, o fato de que a irregularidade apontada no TOI era
tecnicamente possível de ocorrer e provocar a medição a menor do
consumo de energia. O registro de consumo na unidade da parte autora
permaneceu zerado durante vários meses, evidenciado o não registro do
consumo de energia efetivamente ocorrido. Neste sentido são firmes os
documentos que instruem a contestação. Dentro desse contexto, não
vislumbro elementos de prova capazes de infirmar as informações
lançadas no TOI pela concessionária do serviço público, bem como de
capazes de justificar a sua anulação. O E. STJ pacificou sua
jurisprudência no sentido da legitimidade da suspensão do
fornecimento de energia elétrica por dívida pretérita, a título de
recuperação de consumo, pela edição da Tese firmada no Tema
Repetitivo 699, nos seguintes termos, in verbis: Na hipótese de débito
estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho
medidor atribuída ao consumidor, desde que apurado em observância
aos princípios do contraditório e da ampla defesa, é possível o corte
administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica,
mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do
consumo recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias
anterior à constatação da fraude, contanto que executado o corte em
até 90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do
direito de a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de
cobrança da dívida, inclusive antecedente aos mencionados 90
(noventa) dias de retroação. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL
CIVIL. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART.
543-C DO CPC/1973 (ATUAL 1.036 DO CPC/2015) E RESOLUÇÃO
STJ 8/2008. SERVIÇOS PÚBLICOS. FORNECIMENTO DE ENERGIA
ELÉTRICA. FRAUDE NO MEDIDOR DE CONSUMO. CORTE
ADMINISTRATIVO DO SERVIÇO. DÉBITOS DO CONSUMIDOR.
CRITÉRIOS. ANÁLISE DA CONTROVÉRSIA SUBMETIDA AO RITO
DO ART. 543-C DO CPC/1973 (ATUAL 1.036 DO CPC/2015) 1. A
concessionária sustenta que qualquer débito, atual ou antigo, dá ensejo ao
corte administrativo do fornecimento de energia elétrica, o que inclui, além
das hipóteses de mora do consumidor, débitos pretéritos relativos à
recuperação de consumo por fraude do medidor. In casu, pretende cobrar
débito oriundo de fraude em medidor, fazendo-o retroagir aos cinco anos

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antecedentes. TESE CONTROVERTIDA ADMITIDA 2. Sob o rito do art.
543-C do CPC/1973 (atualmente 1036 e seguintes do CPC/2015), admitiu-
se a seguinte tese controvertida: "a possibilidade de o prestador de serviços
públicos suspender o fornecimento de energia elétrica em razão de débito
pretérito do destinatário final do serviço". PANORAMA GERAL DA
JURISPRUDÊNCIA DO STJ SOBRE CORTE DE ENERGIA POR
FALTA DE PAGAMENTO 3. São três os principais cenários de corte
administrativo do serviço em decorrência de débitos de consumo de
energia elétrica por inadimplemento: a) consumo regular (simples mora do
consumidor); b) recuperação de consumo por responsabilidade atribuível à
concessionária; e c) recuperação de consumo por responsabilidade
atribuível ao consumidor (normalmente, fraude do medidor). 4. O caso
tratado no presente recurso representativo da controvérsia é o do item "c"
acima, já que a apuração de débitos pretéritos decorreu de fato atribuível
ao consumidor: fraude no medidor de consumo. 5. Não obstante a
delimitação supra, é indispensável à resolução da controvérsia fazer um
apanhado da jurisprudência do STJ sobre a possibilidade de corte
administrativo do serviço de energia elétrica. 6. Com relação a débitos de
consumo regular de energia elétrica, em que ocorre simples mora do
consumidor, a jurisprudência do STJ está sedimentada no sentido de que é
lícito o corte administrativo do serviço, se houver aviso prévio da
suspensão. A propósito: REsp 363.943/MG, Rel. Ministro Humberto
Gomes de Barros, Primeira Seção, DJ 1º.3.2004, p. 119; EREsp
302.620/SP, Rel. Ministro José Delgado, Rel. p/ Acórdão Ministro
Franciulli Netto, Primeira Seção, DJ 3.4.2006, p. 207; REsp 772.486/RS,
Rel. Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJ 6.3.2006, p. 225;
AgRg no Ag 1.320.867/RJ, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Primeira
Turma, DJe 19.6.2017; e AgRg no AREsp 817.879/SP, Rel. Ministro
Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 12.2.2016. 7. Quanto a débitos
pretéritos, sem discussão específica ou vinculação exclusiva à
responsabilidade atribuível ao consumidor pela recuperação de consumo
(fraude no medidor), há diversos precedentes no STJ que estipulam a tese
genérica de impossibilidade de corte do serviço (...) CORTE
ADMINISTRATIVO POR FRAUDE NO MEDIDOR 8. Relativamente
aos casos de fraude do medidor pelo consumidor, a jurisprudência do STJ
veda o corte quando o ilícito for aferido unilateralmente pela
concessionária. A contrario sensu, é possível a suspensão do serviço se o
débito pretérito por fraude do medidor cometida pelo consumid or for
apurado de forma a proporcionar o contraditório e a ampla defesa. (...)
RESOLUÇÃO DA CONTROVÉRSIA 9. Como demonstrado acima, em
relação a débitos pretéritos mensurados por fraude do medidor de consumo

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causada pelo consumidor, a jurisprudência do STJ orienta-se no sentido do
seu cabimento, desde que verificada com observância dos princípios do
contraditório e da ampla defesa. 10. O não pagamento dos débitos por
recuperação de efetivo consumo por fraude ao medidor enseja o corte do
serviço, assim como acontece para o consumidor regular que deixa de
pagar a conta mensal (mora), sem deixar de ser observada a natureza
pessoal (não propter rem) da obrigação, conforme pacífica jurisprudência
do STJ. 11. Todavia, incumbe à concessionária do serviço público observar
rigorosamente os direitos ao contraditório e à ampla defesa do consumidor
na apuração do débito, já que o entendimento do STJ repele a averiguação
unilateral da dívida. 12. Além disso, o reconhecimento da possibilidade de
corte de energia elétrica deve ter limite temporal de apuração retroativa,
pois incumbe às concessionárias o dever não só de fornecer o serviço, mas
também de fiscalizar adequada e periodicamente o sistema de controle de
consumo. 13. Por conseguinte e à luz do princípio da razoabilidade, a
suspensão administrativa do fornecimento do serviço - como instrumento
de coação extrajudicial ao pagamento de parcelas pretéritas relativas à
recuperação de consumo por fraude do medidor atribuível ao consumidor
- deve ser possibilitada quando não forem pagos débitos relativos aos
últimos 90 (noventa) dias da apuração da fraude, sem prejuízo do uso das
vias judiciais ordinárias de cobrança. 14. Da mesma forma, deve ser fixado
prazo razoável de, no máximo, 90 (noventa) dias, após o vencimento da
fatura de recuperação de consumo, para que a concessionária possa
suspender o serviço. TESE REPETITIVA 15. Para fins dos arts. 1.036 e
seguintes do CPC/2015, fica assim resolvida a controvérsia repetitiva: Na
hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no
aparelho medidor atribuída ao consumidor, desde que apurado em
observância aos princípios do contraditório e da ampla defesa, é possível o
corte administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica,
mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do consumo
recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias anterior à
constatação da fraude, contanto que executado o corte em até 90 (noventa)
dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito de a
concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da dívida,
inclusive antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias de retroação.
RESOLUÇÃO DO CASO CONCRETO 16. Na hipótese dos autos, o
Tribunal Estadual declarou a ilegalidade do corte de energia por se lastrear
em débitos não relacionados ao último mês de consumo. 17. Os débitos em
litígio são concernentes à recuperação de consumo do valor de R$ 9.418,94
(nove mil, quatrocentos e dezoito reais e noventa e quatro centavos) por
fraude constatada no aparelho medidor no período de cinco anos

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(15.12.2000 a 15.12.2005) anteriores à constatação, não sendo lícita a
imposição de corte administrativo do serviço pela inadimplência de todo
esse período, conforme os parâmetros estipulados no presente julgamento.
18. O pleito recursal relativo ao cálculo da recuperação de consumo não
merece conhecimento por aplicação do óbice da Súmula 7/STJ. 19.
Recurso Especial não provido. Acórdão submetido ao regime dos arts.
1.036 e seguintes do CPC/2015. (REsp n. 1.412.433/RS, relator Ministro
Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 25/4/2018, DJe de
28/9/2018.) No caso dos autos, a parte autora foi previamente notificada
da constatação da irregularidade e prontamente cobrada, tendo efetuado,
inclusive, o parcelamento da dívida. ISTO POSTO, julgo improcedentes
os pedidos. Revogo a decisão de fls. 42/43. Condeno a parte autora ao
pagamento das custas do processo e de honorários advocatícios ao
patrono da parte adversária, fixados em 10% sobre o valor da causa,
respeitada a gratuidade de justiça. Após o trânsito em julgado, dê-se
baixa e arquivem-se.”.

Processo nº. 0287875-84.2021.8.19.0001– 17ª Vara Cível da Comarca da Capital – Rio


de Janeiro:
“Estado do Rio de Janeiro Poder Judiciário Tribunal de Justiça Comarca
da Capital 17ª Vara Cível Processo n° 0287875-84.2021.8.19.0001
SENTENÇA CARLOS ALBERTO TOMAZ BRAGA ajuíza ação em face
de LIGHT SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S.A., (...) Passo a decidir.
Inicialmente, esclarece-se que o valor atribuído à causa (fl. 35) se mostra
coerente, vez que corresponde à soma dos valores pretendidos, à luz do
artigo?292, VI, do CPC. No mais, a parte autora se insurge contra a
recuperação de consumo decorrente do TOI nº 9808219, relativa ao
período de novembro de 2018 a outubro de 2021 (fl. 25). A interpretação
do STJ em relação aos artigos 22 do CDC e 6º, § 3º, II, da Lei n° 8987/1995
é no sentido de ser lícito à concessionária interromper o fornecimento de
energia elétrica, se, após aviso prévio, o consumidor de energia elétrica
permanecer inadimplente no pagamento da respectiva conta (REsp
363943/MG, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS,
Primeira Seção, Julgamento em 10/12/2003, DJ 01/03/2004, p. 119).
Especificamente em relação à interrupção do fornecimento em razão
do inadimplemento de valores provenientes de recuperação de
consumo, a matéria foi objeto de tese exarada em regime de recurso
repetitivo, atrelada ao Tema n° 699 do repertório do Superior
Tribunal de Justiça (REsp 1412433/RS, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/04/2018, DJe
28/09/2018), nos seguintes termos: Na hipótese de débito estrito de

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recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho medidor
atribuída ao consumidor, desde que apurado em observância aos
princípios do contraditório e da ampla defesa, é possível o corte
administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica,
mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do
consumo recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias
anterior à constatação da fraude, contanto que executado o corte em
até 90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do
direito de a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de
cobrança da dívida, inclusive antecedente aos mencionados 90
(noventa) dias de retroação. Como se vê, a tese condiciona o corte no
fornecimento de energia elétrica pela inadimplência decorrente de
fraude no aparelho medidor a (a) observância dos princípios do
contraditório e da ampla defesa no procedimento do TOI e
correspondente recuperação de consumo; (b) existência de aviso
prévio e (c) observância de parâmetros temporais (até noventa dias do
vencimento do débito relativo a 90 dias anterior à constatação da
fraude). No caso concreto, a recuperação de consumo que ensejou o
débito inadimplido se deu por período superior a 90 dias, de maneira
que seria vedada a interrupção do serviço em razão do seu
inadimplemento. Na espécie, contudo, não há notícia de tal
interrupção nos autos. É bem verdade que a tese oriunda do Tema n°
699 do STJ, embora vede a interrupção do fornecimento de energia
quando inobservadas aquelas condições, não impede que a
concessionária do serviço utilize meios ordinários para cobrar o
consumo não registrado. Nestes casos, deve-se perquirir se a estimativa
se deu regularmente. Conforme se verifica do cotejo dos históricos
constantes das faturas de fls. 42 e 47, relativas aos meses de setembro de
2018, antes do período recuperado, e outubro de 2021, último mês do
período de recuperação, houve queda substancial no consumo da
residência, inclusive durante o período em que o autor informou que o
imóvel estava ocupado, ou seja, antes de junho de 2021. Tal constatação
dá contornos de legitimidade ao Termo de Ocorrência e Inspeção (TOI) nº
9808219, presunção esta que impede a inversão do ônus da prova em favor
da parte autora, dada a ausência da verossimilhança de suas alegações. No
que tange à estimativa feita pela ré quanto à recuperação de consumo,
tampouco se desincumbiu a parte autora do ônus da prova quanto aos fatos
constitutivos do direito alegado (CPC, artigo 373, I). Também não é
possível reconhecer sua hipossuficiência técnica a justificar a inversão do
ônus da prova, na medida em que a controvérsia seria tranquilamente
dirimida a partir da prova pericial, que sempre esteve à sua disposição, mas

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que foi dispensada. Assim, não há nada que indique a ilegitimidade da
cobrança realizada. Ainda que se entendesse de forma diversa, a mera
cobrança indevida, sem maiores consequências, não implica danos
morais. Pelo que, rejeito a impugnação ao valor da causa e JULGO
IMPROCEDENTE o pedido. Condeno a parte autora nas custas e em
honorários de 10% sobre o valor da causa, monetariamente corrigido desde
o ajuizamento pelo índice adotado pela Corregedoria Geral da Justiça,
observada a gratuidade de justiça, na f orma do artigo 98, § 3º, do CPC.
Transitada em julgado, dê-se baixa e arquivem-se. Rio de Janeiro, 26 de
outubro de 2022. PRISCILA FERNANDES MIRANDA BOTELHO DA
PONTE Juíza de Direito”.

DA NECESSIDADE DE RELATIVIZAÇÃO DA APLICAÇÃO DA SÚMULA 256


DO TJ/RJ: RECONHECIMENTO DA VALIDADE DA COBRANÇA DA
RECUPERAÇÃO DO CONSUMO NÃO FATURADO NAS HIPÓTESES DE
IRREGULARIDADE E DA LEGALIDADE DE SUSPENSÃO DO SERVIÇO EM
RAZÃO DO NÃO PAGAMENTO DO RESPECTIVO DÉBITO.

Primeiramente, cumpre ressaltar que o procedimento para aplicação do Termo de Ocorrência


e Inspeção (TOI) encontra-se previsto nos Art.590 e seguintes da Resolução n.º 1000/2021
da ANEEL, cabendo à concessionária de energia elétrica atuar conforme estabelece a
referida Resolução do Órgão Regulador.

A Súmula 256 do TJRJ estabelece que “o termo de ocorrência de irregularidade, emanado


de concessionária, não ostenta o atributo da presunção de legitimidade, ainda que subscrito
pelo usuário”. Esta súmula se originou com base no processo administrativo nº. 0032040-
50.2011.8.19.0000, cujo julgamento ocorreu no dia 16/01/2012. Ou seja, a edição da Súmula
levou em consideração a tese jurídica adotada pelo tribunal, correspondente à sua
jurisprudência dominante, com base no modus operandi da época.

Fato é que, desde então, passados mais de 9 (nove) anos, esta concessionária se modernizou
e aprimorou seus procedimentos internos e externos, sendo que com relação à aplicação do
Termo de Ocorrência e Inspeção (TOI), tem anexado aos autos provas robustas das
irregularidades encontradas nos medidores, tais como vídeos, laudos de empresa certificada,
fotos, comprovante de envio do TOI ao consumidor, histórico de consumo que demonstra a
variação do consumo antes e depois da aplicação do TOI, dentre outras provas.

Esta concessionária tem se empenhado, a cada dia, em trazer ao judiciário provas robustas e
de qualidade para análise do mérito das demandas sem a necessidade de realização de perícia
técnica e que sejam suficientemente claras ao convencimento do juízo para julgar a ação
judicial.

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A melhoria na qualidade das provas juntada por esta concessionária já está sendo notada por
diversos julgadores, de modo a se relativizar a aplicação da Súmula 256 quando houver
outras provas apresentadas nos autos que, juntas, demonstram a legalidade do procedimento
de lavratura do TOI do caso concreto. E foi exatamente este o entendimento proferido no
julgamento do Recurso Inominado, referente ao Processo n.º 0002299-83.2021.8.19.0203,
julgado pela 2ª Turma Recursal da Comarca da Capital, cujo trecho do voto segue abaixo
transcrito:

“O Termo de Ocorrência de Inspeção é procedimento para cobrança da


recuperação de consumo, com a finalidade de ressarcir a concessionária pelo
fornecimento de serviço prestado e não pago pelo consumidor em razão de
irregularidade provocadas pelos usuários ou por defeitos técnicos e encontra
amparo na Resolução nº 414 da ANEEL.
In casu, consoante os termos do TOI emitido e da contestação, a
concessionária afirma a existência de perda de energia e a necessidade de
recuperação do serviço consumido e não pago no período de abril de 2019 a
agosto de 2020. Da análise das provas produzidas, em especial as faturas
acostadas pelo próprio autor e a bem instruída contestação, verifica-se que
no período abrangido, o consumo apurado se mostrou irregular, registrando
de 3 kwh a 94 kwh, e, após a lavratura do TOI, houve aumento de consumo,
com registro atingindo até 251 kwh, o que corrobora a alegação da ré de que
existia irregularidade na medição. Muito embora o TOI tenha apenas
presunção relativa de veracidade, posto que produzido unilateralmente, nos
termos da Sumula 256 deste TJRJ (O Termo de Ocorrência de
Irregularidade, emanado de concessionária, não ostenta o atributo da
presunção de legitimidade, ainda que subscrito pelo usuário ) fato é que,
diante das provas constantes dos autos, persiste a presunção de legalidade
do documento, e, consequentemente, a exigibilidade do débito imputado a
título de recuperação de consumo irregular. Dessa forma, considerando que
existem evidências de consumo irregular, a dívida cobrada pela ré se afigura
legítima e exigível, sendo decorrente do exercício regular do direito de a
concessionária demandada exigir a contraprestação pelos serviços
fornecidos, não havendo que se falar em ato ilícito por ela praticado a ensejar
a nulidade do TOI e da cobrança dele decorrente, tampouco indenização por
dano moral. Pelo exposto, considerando que a concessionária se desincumbiu
do ônus de demonstrar a existência de causa legítima para a cobrança da
dívida, nos termos do artigo 373, II do CPC, deve a sentença ser reformada
para julgar improcedentes os pedidos contidos na ação.”

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Portanto, conforme acima demonstrado, a qualidade das provas juntadas aos autos e a
atuação desta concessionária na aplicação do Termo de Ocorrência e Inspeção (TOI), em
observância ao que estabelece a Resolução 1000/2021 da ANEEL, são suficientes para
afastar a aplicação da Súmula 256/TJRJ.

DA INEXISTÊNCIA DE DANOS MORAIS

A conduta adotada pelos agentes da LIGHT, ou seja, de fiscalizar e cobrar a prestação de


serviços na forma regulada pela ANEEL, não configura ato ilícito indenizável, mas, ao revés,
exercício regular do direito (CC, art. 188, I), o que afasta cabalmente a suposta ocorrência
de danos morais, passíveis de indenização, diante da ausência do nexo causal.

Ademais, a exemplo do que ocorre com a pretensão de devolução em dobro, a Súmula 230
do TJERJ é taxativa no sentido de que a mera cobrança feita através de missivas não tem o
condão de configurar dano moral, como na hipótese dos autos.

Inclusive, quanto à alegação de ocorrência de suspensão dos serviços de energia elétrica da


residência da parte autora, é prudente mencionar a acertada Súmula nº. 285 do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro:

Súmula nº. 285 do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de


Janeiro:

“QUALQUER INTERRUPÇÃO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO


ESSENCIAL DECORRENTE DE LIGAÇÃO CLANDESTINA NÃO
CONFIGURA DANO MORAL.”

Assim, tendo em vista que a LIGHT somente agiu em exercício regular de seu direito (CC,
art. 188, I), merece ser julgado improcedente o pedido de indenização por danos morais.

EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO (CC, ART. 188, I) - DA VEDAÇÃO AO


ENRIQUECIMENTO IMOTIVADO (CC, ART. 884)

As inspeções de rotina, lavratura do TOI e a cobrança referente à recuperação do consumo


de energia elétrica não faturado em razão da irregularidade no sistema de medição da unidade
usuária são atividades de caráter público, legalmente permitidas e reguladas pelo ordenamento
jurídico.

A LIGHT é uma concessionária de serviços públicos (CF/88, art. 21, XII, b) e como tal,tem
atividades regidas pela Lei nº 8.987/95, pelo seu contrato de concessão e pelas demais

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normas regulamentares editadas pelo Poder Concedente, no caso, através da Agência
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), nos termos da Lei nº 9.427/96, que a institui e
disciplina o regime das concessões de serviços públicos de energia elétrica (art. 3º, XIX).

A edição de norma regulamentar é um dos encargos do Poder Concedente (arts. 29 e 30 da


Lei nº 8.987/95). É o que faz a ANEEL ao editar a Resolução Normativa nº 1000/2021, que
estabelece as Condições Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica de forma atualizada
e consolidada, dispondo, em especial, sobre a obrigatoriedade da lavratura do TOI:

“Art. 590. Na ocorrência de indício de procedimento irregular, a


distribuidora deve adotar as providências necessárias para sua fiel
caracterização, compondo um conjunto de evidências por meio dos
seguintes procedimentos:
I - emitir o Termo de Ocorrência e Inspeção - TOI, em formulário
próprio, elaborado conforme instruções da ANEEL;”

Destaca-se, neste particular, que o TOI, como ato praticado pelo particular titular de serviço
público delegado, no tocante ao objeto da concessão, presume-se legítimo e legal, para todos
os efeitos, já que inerentes ao serviço público cominado, cabendo ao suposto prejudicado a
prova em contrário (o que não correu nos presentes autos).
Frise-se, também, que a Resolução Normativa ANEEL nº 1000/2021 determina e regula
expressamente o procedimento de cobrança referente à recuperação do consumo de energia
elétrica não faturado em razão de irregularidade no sistema de medição da unidade usuária:

“Art. 595. Comprovado o procedimento irregular, a distribuidora deve


apurar a receita a ser recuperada calculando a diferença entre os valores
faturados e aqueles apurados, por meio de um dos critérios a seguir,
aplicáveis de forma sucessiva:
I - utilização do consumo apurado por medição fiscalizadora,
proporcionalizado em 30 (trinta) dias, desde que utilizada para
caracterização da irregularidade, conforme art. 590;
II - aplicação do fator de correção obtido por meio de inspeção do medidor
e apuração do erro de medição causado pelo emprego de procedimentos
irregulares, desde que os selos, os lacres, a tampa e a base do medidor
estejam intactos;
III - utilização da média dos três maiores valores disponíveis de consumo
de energia elétrica, proporcionalizados em 30 (trinta) dias, e de demanda
de potências ativas e reativas excedentes, ocorridos em até 12 (doze) ciclos
completos de medição regular imediatamente anteriores ao início da
irregularidade;

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IV - determinação dos consumos de energia elétrica e das demandas de
potências ativas e reativas excedentes por meio da carga desviada, quando
identificada, ou por meio da carga instalada, verificada na constatação da
irregularidade; ou
V - utilização dos valores máximos de consumo de energia elétrica,
proporcionalizado em 30 (trinta) dias, e das demandas de potência ativa e
reativa excedente, dentre os ocorridos nos 3 (três) ciclos imediatamente
posteriores à regularização da medição.
§ 1º Caso a distribuidora verifique, nos 36 (trinta e seis) ciclos completos
de faturamento anteriores à data do início da irregularidade, valor menor
ou igual a 40% (quarenta por cento) para a relação entre a soma dos 4
(quatro) menores e a soma dos 4 (quatro) maiores valores de consumo ou
de demanda de energia elétrica ativa, deve considerar essa condição para a
recuperação da receita.
§ 2º Deve ser considerada como carga desviada a soma das potências
nominais dos equipamentos elétricos conectados na rede elétrica, no ramal
de conexão ou no ramal de entrada da unidade consumidora, nos quais a
energia elétrica consumida não é medida.
§ 3º No caso do inciso IV, aplica-se para a classe residencial o tempo médio
e a frequência de utilização de cada carga, e, para as demais classes, os
fatores de carga e de demanda obtidos a partir de outras unidades
consumidoras com atividades similares.”

Nunca é demais salientar, por oportuno, que o próprio art. 7º da Lei 8.078/90 (CDC) dispõe
que a legislação consumerista não exclui do ordenamento jurídico os direitos decorrentes de
legislação interna ordinária e regulamentos administrativos competentes, como, no caso, a
Resolução Normativa ANEEL nº 1000/2021.

Assim, uma vez materializada a prova da irregularidade, a cobrança da recuperação do


consumo não faturado é medida legítima, de exercício regular do direito (CC, art. 188, I),
independentemente da comprovação da autoria do fato, até mesmo como forma de evitar o
enriquecimento imotivado (CC, art. 884) do usuário do serviço (único a se beneficiar dos
efeitos da irregularidade, ainda que involuntariamente, pagando menos do que o devido pelo
seu consumo de energia).

Nesta conseguinte, em caso de inadimplência, o autor da irregularidade está sujeito às


consequências que podem levar inclusive à uma negativação e corte.

AUSÊNCIA DE COMPROVADO DANO MATERIAL

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No que tange ao dano material, é mais que sabido que para a sua constatação se faz necessária
prova cabal que demonstre o prejuízo, correspondente ao valor que causou o abalo ao
patrimônio da vítima (dano emergente). Para a reparação, portanto, é necessária a
demonstração da efetiva existência do dano e sua extensão.

No caso em tela, não há que se falar em pedido de ressarcimento do valor integral dos
aparelhos, haja vista a falta de prova quanto à ocorrência do evento danoso, bem como de
que tenha realmente este lhe causado os supostos danos materiais. Dessa forma, resta claro
que qualquer condenação nesse sentido configuraria enriquecimento imotivado à parte, o que
não se pode admitir.

Neste sentido é a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro:

“APELAÇÃO CÍVEL. CONSUMIDOR. ENERGIA ELÉTRICA. ALEGAÇÃO DE


SOBRECARGA DE ENERGIA QUE RESULTOU EM QUEIMA DE APARELHO DE
TV. SENTENÇA QUE JULGA IMPROCEDENTES OS PEDIDOS DEDUZIDOS NA
INICIAL. IRRESIGNAÇÃO DO AUTOR. ALEGAÇÃO DE QUE OS FATOS FORAM
DEVIDAMENTE COMPROVADOS POR MEIO DAS PROVAS CARREADAS AOS
AUTOS, SALIENTANDO, AINDA, O DEFERIMENTO DA INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA. ORDEM DE SERVIÇO DA ASSISTÊNCIA TÉCNICA QUE, A DESPEITO
DE DEMONSTRAR A SOLICITAÇÃO DE REPARO DO APARELHO, NÃO
COMPROVA O NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE A SOBRECARGA E
A QUEIMA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA QUE NÃO TEM O CONDÃO DE
AFASTAR INTEGRALMENTE A COMPROVAÇÃO MÍNIMA DO DIREITO
MATERIAL ALEGADO. PARTE AUTORA QUE NÃO LOGROU FAZER PROVA
MÍNIMA DE SEU ALEGADO DIREITO. SÚMULA Nº 330 DO TJRJ. SENTENÇA QUE
SE MANTÉM. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. MAJORAÇÃO DE
HONORÁRIOS PARA 12%, OBSERVANDO-SE A GRATUIDADE DA JUSTIÇA
DEFERIDA PELO JUÍZO A QUO.” (1ª Ementa - Des(a). LUIZ ROBERTO AYOUB -
Julgamento: 28/06/2018 - VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL – Apelação 0095311-
89.2016.8.19.0054) (Grifado)

O Superior Tribunal de Justiça é categórico acerca da necessidade do demandante se


desincumbir de fazer a prova do fato constitutivo do seu direito, a embasar o recebimento de
verba indenizatória a título de dano material:

“PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA VISANDO O RESSARCIMENTO DE


PREJUÍZOS. INEXISTÊNCIA DA COMPROVAÇÃO EFETIVA DO DANO.
IMPROCEDÊNCIA.
Para viabilizar a procedência da ação de ressarcimento de prejuízos, a prova da
existência do dano efetivamente configurado é pressuposto essencial e indispensável.
Ainda mesmo que se comprove a violação de um dever jurídico, e que tenha existido
culpa ou dolo por parte do infrator, nenhuma indenização será devida, desde que,
dela, não tenha decorrido prejuízo.
A satisfação, pela via judicial, de prejuízo inexistente, implicaria, em relação à parte
adversa, em enriquecimento sem causa. O pressuposto da reparação civil está, não só na
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configuração de conduta "contra jus", mas, também, na prova efetiva dos ônus, já que se
não repõe dano hipotético. Recurso improvido. Decisão por maioria de votos”. (Recurso
Especial nº 20.386/RJ, 1a Turma do STJ, relator Ministro DEMÓCRITO REINALDO,
RSTJ 63:251 – destaques nossos).

Cite-se, ainda, a lição do mestre Aguiar Dias: “O prejuízo deve ser certo, é regra essencial
da reparação. Com isto se estabelece que o dano hipotético não justifica a reparação.” (in
“Da Responsabilidade Civil”, Editora Forense, Vol. II, 10 a Edição).

Portanto, uma vez totalmente ausente qualquer comprovação dos prejuízos patrimoniais
alegadamente suportados pela parte autora, não há como ser acolhido o pleito de
ressarcimento pelos danos aventados na inicial.

DO DESCABIMENTO DO PEDIDO DE DEVOLUÇÃO EM DOBRO


(INEXISTÊNCIA DE MÁ-FÉ)

Para que o consumidor faça jus à devolução de eventuais valores é necessário que se
comprove que a cobrança se deu de maneira indevida e de má-fé, bem como o efetivo
pagamento indevido (art. 42, § único, do CDC), o que não ocorreu no caos dos presentes
autos, conforme já provado.

Ademais, a dívida imputada à parte autora, refere-se ao valor da energia consumida e não
paga, em razão de irregularidade constatada. Trata-se, pois, de cobrança regular, prevista no
art. 130 e seguintes da Resolução Normativa ANEEL nº 1000/2021, o que afasta,
peremptoriamente, a alegação de pagamento indevido que justificaria a devolução de
eventual valor que tenha sido pago.

Por outro lado, o TJERJ já consolidou seu entendimento no sentido de que a mera cobrança
feita através de missivas não enseja a devolução em dobro (Súmula 2301 do TJERJ), caso do
débito de recuperação do consumo.

Mas, ainda que se entenda pela devolução de valores, o que se admite apenas a título
argumentativo, a restituição deveria se dar de forma simples, nos termos do verbete nº 85 da
Súmula de jurisprudência predominante do TJERJ2 .

1
"Cobrança feita através de missivas, desacompanhada de inscrição em cadastro restritivo de crédito, não configura dano
moral, nem rende ensejo à devolução em dobro.” (Referência: Processo Administrativo nº. 0013649 47.2011.8.19.0000
Julgamento em 22/11//2010 Relator: Desembargadora Leila Mariano. Votação unânime.)
2
“Incabível a devolução em dobro pelo fornecedor e pela concessionária, se a cobrança por eles realizada estiver prevista
em regulamento, havendo repetição simples do indébito." (Referência: Súmula da Jurisprudência Predominante de n.º
2005.146.00005 - Julgamento em 12/09/2005 - Votação: unânime - Relator: Des. Roberto Wider - Registro de Acórdão em -
11/10/2005 - fls. 009686/009688)

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DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA E A AUSÊNCIA DE PROVA MÍNIMA
PRODUZIDA PELA PARTE AUTORA – SÚMULA 330 DO TJ/RJ

A inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, CDC) é admitida somente quando presentes os
seus pressupostos. A norma insculpida no art. 373, I do CPC, prevê expressamente que cabe
ao autor o ônus de provar o fato constitutivo de seu direito. No mesmo sentido a Súmula nº
330 da jurisprudência predominante do TJERJ3 .

No caso dos autos, a parte autora pretende a inversão do ônus probatório sem apresentar
qualquer documento hábil a comprovar as alegações deduzidas na petição inicial, ou seja,
sem desincumbir-se do ônus de fazer prova mínima dos fatos que embasam o direito alegado,
razão pelo qual o pleito é manifestamente descabido.

Os princípios facilitadores da defesa do consumidor em juízo, notadamente o da inversão do


ônus da prova, não exoneram o autor do ônus de fazer, a seu encargo, prova mínima do fato
constitutivo do alegado direito.

Neste sentido, cumpre-nos colacionar trecho da brilhante sentença proferida pelo I.


Magistrado, Dr. Antonio Aurelio Abi Ramia Duarte da 2ª Vara Cível Regional de
Bangu, nos autos do processo nº 0006529-39.2019.8.19, senão vejamos:

“... O fato de a hipótese presente tratar de relação consumerista não desonera


o Consumidor, do ônus processual de comprovar minimamente os fatos
constitutivos de seu direito (o que deveria acompanhar a peça inicial de plano),
nos termos insculpidos no art. 373, inc. I, do CPC/15. Nesse entendimento, a
Súmula nº 330 do E. TJRJ: Os princípios facilitadores da defesa do
consumidor em juízo, notadamente o da inversão do ônus da prova, não
exoneram o autor do ônus de fazer, a seu encargo, prova mínima do fato
constitutivo do alegado direito. Na forma do artigo 6º., §3, II, da lei 8.979,
artigo 172, da Resolução 414/10, da ANEEL, em combinação com os
artigos 398 e 476, do CC, se realmente não houver o pagamento, o corte
será lícito, salvo na hipótese de erro de medição ou faturamento. Portanto,
devemos partir do princípio de que, com a inicial, deveria o autor
comprovar seu pagamento pretérito pontual Somando-se a isso, outro
dado que nos parece relevante nas demandas ajuizadas que tratam de
TOI é a absoluta falta de compromisso probatório quando do seu
ajuizamento, ou seja, as iniciais são ofertadas desprovidas de mínima
prova indiciária do que alega a parte autora. Verdadeiros corpos sem
alma. O que temos visto na prática, são iniciais nas quais se transfere para

3
"Os princípios facilitadores da defesa do consumidor em juízo, notadamente o da inversão do ônus da prova, não exoneram
o autor do ônus de fazer, a seu encargo, prova mínima do fato constitutivo do alegado direito."(Referência: Processo
Administrativo nº. 0053831 70.2014.8.19.0000 Julgamento em 04/05/2015 - Relator: Desembargador Jesse Torres. Votação
por maioria).

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o Judiciário e para a parte ré o ônus probatório basilar que deveria ter
acompanhado a inicial, consequentemente, na maioria dos casos, temos
iniciais com procuração, comprovante de endereço e identidade tão
somente! Nada além disso! Aqui falo de provas indiciárias indispensáveis
e de facílima comprovação pela parte autora, já que as possui. Por
exemplo, dificilmente vemos iniciais com a simples e corriqueira
apresentação do histórico de consumo do período anterior à lavratura do
TOI ou mesmo sequer informada qualquer reclamação administrativa,
com o fito de impugná-lo. Tais elementos reforçam a falta de compromisso
com a prova e a transferência de encargo probatório mínimo que caberia
ao autor. Temos iniciais com alegações vagas, sem o menor enfrentamento
do caso concreto e arrimada na prova do que se descreve. Reitero, aqui
me refiro a dados e elementos de prova simples. Não custa lembrar que,
mesmo se tratando de relação de consumo, não está a parte autora
desobrigada de apresentar provas mínimas de suas alegações. Em outras
palavras, mesmo nas ações subsumidas ao Código de Defesa do Consumidor,
não está o consumidor isento de provar minimamente a verossimilhança de
suas alegações, demonstrando a existência dos fatos constitutivos do seu
direito, nos termos do art. 373, I, CPC. Outrossim, ainda tenha sido proferida
decisão de inversão do ônus probatório em favor da parte autora, e, muito
embora se trate de demanda consumerista - como já dito, é preciso salientar
que o instituto da inversão do ônus da prova não exime a parte autora de carrear
aos autos comprovação mínima dos fatos constitutivos, nos termos do art. 373,
I do CPC. É nesse sentido o Verbete da Súmula nº 330 de nosso E.
Tribunal: ´Os princípios facilitadores da defesa do consumidor em juízo,
notadamente o da inversão do ônus da prova, não exoneram o autor do
ônus de fazer, a seu encargo, prova mínima do fato constitutivo do alegado
direito.´ E pior, nos casos que prosseguiram para a produção de prova
pericial técnica, na esmagadora, repito, esmagadora maioria, temos a
improcedência como resultado. Isso após todo custo para a ré se defender
no processo (esta custeando sua defesa), com enorme encargo para a
máquina judiciária e custo para todos os envolvidos, menos, é claro, para
o autor (quase sempre beneficiário de JG). Conforme tenho decidido em
algumas demandas similares, a eventual prática de furto de energia constituiria
atitude ilícita, contrária ao direito, sendo que o acolhimento de pedido de
indenização por quem praticaria tal conduta é premiar o postulante por sua
própria desídia e por sua própria atitude ilícita. Algo impensável e distante do
propósito do sistema de justiça. A Cidade do Rio de Janeiro desponta todos os
dias nos noticiários como a campeã nacional em furto de energia, importando
em enorme prejuízo para a totalidade dos que pagam suas contas em dia e
regularmente. O eventual furto de energia na nossa cidade é uma realidade
evidente para a qual não podemos fingir que não existe - ocupamos o primeiro
lugar no Brasil. Pessoas perdem seus empregos em consequência destes
comportamentos. Impostos não são recolhidos, ou seja, a coletividade paga a

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conta mais elevada em decorrência deste comportamento e, por fim, o
Judiciário se vê abarrotado de processos nos quais ainda se pretende
indenização por supostos danos em decorrência de tal comportamento... Ante
o exposto, OS PEDIDOS SÃO JULGADOS IMPROCEDENTES, na
forma do artigo 487, I, do CPC. Revoga-se a antecipação da tutela
concedida...” (grifos nossos)

DO JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE


AUSÊNCIA DE PROPOSTA DE ACORDO

Informa a parte Ré que não tem interesse em apresentar proposta de acordo, pois, após a
realização de análise da presente demanda e tratando-se do caso em apreço, certifica-se que,
por ora, não comporta composição.

Oportunamente, cabe esclarecer que a parte ré não se opõe ao julgamento antecipado da lide
e esclarece que não tem mais provas para produzir.

CONCLUSÃO E PEDIDOS

Por todos os motivos expostos, a LIGHT confia na decretação da improcedência de todos os


pedidos, com a condenação da parte autora ao pagamento dos honorários advocatícios, em
seu grau máximo, além dos demais encargos advindos da sucumbência.

Protesta pelos meios de prova em direito admitidos, em especial, oral e documental


superveniente.

Por fim, requer, para fins do disposto no § 2º do artigo 272 do Código de Processo Civil, que
de todas as publicações supervenientes conste, única e exclusivamente, o nome do seu
procurador Dr. DÉCIO FREIRE, devidamente inscrito na Ordem dos Advogados do
Brasil, Seccional do Rio de Janeiro, sob o nº 2.255-A, sob pena de nulidade na forma do
§1º do artigo 236 do Código de Processo Civil, e do artigo 272 § 1º , 2º e 5º do Novo Código
de Processo Civil com endereço profissional situado à Rua São José nº. 90 - 17° andar;
Centro, Rio de Janeiro, RJ, CEP: 20.010- 020 e endereço eletrônico
acordolight@dfa30anos.com.br.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 2024.

Décio Freire Rodrigo Freire


OAB/RJ 2.255-A OAB/MG 129.725

Ana Paula Aparecida Ramos Justo


OAB/MG 214.512

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