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Economia Solidária: conceitos,

características e especificidades
Professora: Érica Guimaraes
Solidariedade X competição na economia

◦ O capitalismo se tornou dominante há tanto tempo que tendemos a tomá-lo como normal ou
natural.
◦ A economia de mercado deve ser competitiva em todos os sentidos: cada produto deve ser
vendido em numerosos locais, cada emprego deve ser disputado por numerosos
pretendentes, cada vaga na universidade deve ser disputada por numerosos vestibulandos, e
assim por diante.
◦ A competição é boa de dois pontos de vista: ela permite a
todos nós consumidores escolher o que mais nos satisfaz pelo
menor preço; e ela faz com que o melhor vença, uma vez que
as empresas que mais vendem são as que mais lucram e mais
crescem, ao passo que as que menos vendem dão prejuízo e se
não conseguirem mais clientes acabarão por fechar.
◦ Os que melhor atendem os consumidores são os ganhadores,
os que não o conseguem são os perdedores

A competição na economia tem sido criticada por causa de seus efeitos


sociais.

- O que acontece com os empresários e empregados das empresas que quebram?


- E com os pretendentes que não conseguem emprego?
- Ou com os vestibulandos que não entram na universidade?

Na economia capitalista, os ganhadores acumulam vantagens e os perdedores acumulam


desvantagens nas competições futuras.
O capitalismo produz desigualdade crescente, verdadeira polarização entre ganhadores
e perdedores.
Enquanto os primeiros acumulam capital, galgam posições e avançam nas carreiras, os
últimos acumulam dívidas pelas quais devem pagar juros cada vez maiores, são
despedidos ou ficam desempregados até que se tornam inempregáveis, o que significa
que as derrotas os marcaram tanto que ninguém mais quer empregá-los
Para que tivéssemos uma sociedade em que predominasse a igualdade entre todos os
seus membros, seria preciso que a economia fosse solidária em vez de competitiva.
Isso significa que os participantes na atividade econômica deveriam cooperar entre si
em vez de competir.
O que está de acordo com a divisão do trabalho entre empresas e dentro das empresas.
Cada um desempenha uma atividade especializada da qual resulta um produto que só
tem utilidade quando complementado pelos produtos de outras atividades.
Economia Solidária

◦ Organizações econômicas alternativas


ao mercado e ao Estado, ou às lógicas
respectivamente das empresas de fins
lucrativos e da administração pública.

◦ Iniciativas econômicas notabilizadas


por suas práticas de autogestão e de
mutualismo na esfera econômica.
◦ Abarcam variadas modalidades de
organização, como unidades informais de
geração de renda, associações de
produtores e consumidores, comunidades
autóctones e cooperativas populares,
dedicadas à produção de bens, à prestação
de serviços, à comercialização e ao crédito.
◦ Até o momento, apenas as associações e as
cooperativas dispõem de um marco
jurídico próprio no Brasil.
◦ De par com a economia solidária, surgiu
então um conceito de ampla aceitação:
empreendimento econômico solidário
(EES).
Empreendimento Econômico Solidário
◦ O termo foi adotado na década de 1990 no ◦ São organizações coletivas,
Brasil suprafamiliares, cujos participantes
◦ Fórum Brasileiro de Economia Solidária – são trabalhadores urbanos ou rurais,
2003 consenso em relação ao termo que exercem coletivamente a gestão
das atividades assim como a
◦ Criação de uma estrutura governamental
distribuição dos resultados, incluindo
voltada a consolidação da economia
empreendimentos que estão em
solidária no país.
processo de implantação e com
◦ Conferências Nacionais de Economia diversos graus de formalização.
Solidária em 2006 e 2010
Características
dos EES
A Economia Solidária é, pois, um modo de organizar a produção, distribuição e
consumo, que tem por base a igualdade de direitos e responsabilidades de
todos os participantes dos empreendimentos econômicos solidários. Os meios de
produção de cada empreendimento e os bens e/ou serviços neles produzidos são de
controle, gestão e propriedade coletiva dos participantes do empreendimento.
Igualmente, há associações, cooperativas e grupos informais de consumidores,
pequenos produtores ou prestadores de serviços, individuais ou familiares, que
trabalham em separado (cada qual em seu estabelecimento), mas realizam em comum
a compra de seus insumos, a comercialização de seus produtos ou o processamento dos
mesmos (...). 5. As iniciativas de Economia Solidária têm em comum a igualdade de
direitos, de responsabilidades e oportunidades de todos os participantes dos
empreendimentos econômicos solidários, o que implica autogestão, ou seja,
participação democrática com exercício de poder igual para todos, nas decisões,
apontando para a superação da contradição entre capital e trabalho (p. 2).
Documento Final da 1a Conferência
Atividade Econômica
◦ Principalmente a produção de bens, a comercialização e a
prestação de serviços pelos sócios, além de formas de
apoio à sua produção individual ou familiar, como o
fornecimento de insumos e equipamentos ou a oferta de
crédito.
◦ Inclui também a aquisição de bens de consumo e a
disponibilização de serviços relacionados à moradia,
saúde, educação etc.
◦ Alguns EES destinam-se ao provimento de serviços Entende-se que a atividade
públicos, como o abastecimento de água e vias de econômica deve ser uma finalidade
primordial para o EES, não sendo,
transporte, ou ainda ao fortalecimento institucional de
portanto, esporádica ou casual
entidades comunitárias e associativas.
Compromisso social
◦ Implica que o EES desenvolva atividades com sentido e
utilidade pública, não se restringindo a gerar benefícios para
seus integrantes e não agindo contra os interesses da
coletividade.
◦ No caso dos EES, diríamos, prevalece uma articulação entre
a dimensão social e econômica, não a predominância de uma
sobre a outra.

Dentro de um marco substantivo e plural da economia, o social e o econômico se integram em


diferentes dosagens e modos, sendo essa aliás uma singularidade relevante da economia
solidária.

O compromisso social dos EES se estende a seus vínculos com outras organizações.
Gestão democrática
O caráter alternativo dos EES supõe inovações diante da estrutura
hierárquica e das relações de poder que preponderam em organizações
econômicas convencionais.
Tomada de decisão:
◦ A direção é eleita pelos associados, cada um tendo um voto.
◦ Todas as decisões estratégicas são submetidas à assembleia.
◦ Busca por consenso.
Remuneração
◦ Um outro aspecto em que a solidariedade
diferencia a cooperativa da empresa
capitalista é a escala de remunerações.
◦ Pode ser decidida pelo voto individual de
cada associado. Como só uma minoria cabe
no topo da pirâmide salarial, é natural que
a distância entre a maior e a menor
remuneração seja muito menor na
cooperativa do que na empresa capitalista.
Esta diferença menor nas cooperativas é
produzida principalmente pelo fato de que
seus executivos se satisfazem com
remunerações muito menores do que os
das congêneres capitalistas.
◦ As suas sobras (‘lucros’) são em geral
O lucro reinvestidos integralmente tendo em
vista gerar novas fontes de trabalho e
renda dentro da própria organização
ou sob a forma de novas cooperativas.
◦ Fundo indivisível: a empresa solidária
não está a serviço de seus sócios
atuais apenas, mas de tosa a
sociedade, no presente e no futuro.
Ela precisa persistir no tempo e não
deixar de ser solidária
◦ O desafio que o mercado em geral
lança à empresa capitalista – ou
cresce ou perece – vale também para
as cooperativas e demais organizações
solidárias.
◦ Sua maior debilidade não é a falta de capital mas o seu
tamanho reduzido, que não permite uma divisão técnica
Impasses do trabalho, ponto de partida para ganhos de
produtividade e geração de sobras que possam ser
reinvestidas.

◦ As exigências da produção em escala se impõem a elas


tanto quanto às empresas capitalistas.

◦ A primeira dessas exigências é que a empresa empregue


um número suficiente de pessoas para que seja possível
dividir o trabalho em tarefas distintas e especializar
algumas no gerenciamento da produção, de vendas,
financeiro etc.
Expansão
◦ As empresas solidárias não se fundem mas se
associam formando empresas ou cooperativas de
segundo grau; as de segundo grau se associam
formando empresas ou cooperativas de terceiro
grau e assim por diante.

◦ A Expansão de empresas no capitalismo gera os


conglomerados.

◦ Para a economia solidária, em que a competição


não é regra preferencial, a conglomeração é
comparativamente mais fácil, porque a
solidariedade torna a associação e a colaboração
entre empresas natural.
EES e EAA
◦ Empreendimentos
Autogestionários
Alternativos (EAA).

◦ Empreendimentos mais
avançados do ponto de
vista dos traços típicos
da economia solidária.
◦ Empreendimentos de economia popular, de caráter familiar ou semifamiliar, nas quais
o trabalho é coletivo, mas não aberto à livre adesão, nem exercido em igualdade de condições.
◦ Inobservam em geral os critérios de gestão democrática e nem sempre contraem compromissos
sociais, ficando limitados à busca dos resultados necessários à sua própria sobrevivência.

◦ Cooperativas empresariais, cujos sócios via de regra são detentores de negócios privados,
nos quais predomina a contratação de trabalhadores.
◦ Dão prioridade à sua finalidade econômica e se alinham à lógica do mercado. Observam os critérios
cooperativistas de gestão democrática, mas sua dimensão social restringe-se normalmente à defesa do
cooperativismo, sem implicar outras ações que não tenham um caráter instrumental para seus
interesses econômicos.

◦ Entidades do terceiro setor ou Organizações da Sociedade Civil. Compreendem


obras de atuação social, como associações filantrópicas, fundações e ONGs. Destacam-se pelo
cumprimento de uma missão social de interesse público, mas nem sempre desenvolvem
alguma atividade econômica ou se governam democraticamente.
No Brasil
◦ O cooperativismo chega no século XX
trazido pelos emigrantes europeus
◦ Cooperativas de consumo (proteger os
trabalhadores da carestia) nas cidades e
agrícolas no campo.
◦ Com a desindustrialização dos anos 80 e 90
perderam-se milhões de postos de trabalho,
desemprego em massa e acentuada
exclusão social
◦ A economia solidária surge na forma de
cooperativa ou associação produtiva com
diferentes modalidades autogestionárias.
Especificidades da Economia Solidária:
Referências
◦ SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. São Paulo: Editora Perseu Abramo, 2002. Disponível em:
https://fpabramo.org.br/wp-content/uploads/2018/04/Introducao-economia-solidaria-WEB-1.pdf

◦ GAIGER, Luiz Inácio; FERRARINI, Adriane; VERONESE, Marília. O conceito de empreendimento econômico solidário: por
uma abordagem gradualista. Dados, v. 61, p. 137-169, 2018. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/dados/a/FWzKTpw4px5zHBD6GbCtkvF/?format=pdf&lang=pt

◦ Economia solidária: caderno pedagógico educandas e educandos / Coordenação: Armênio Bello Schmidt, Sara de Oliveira
Silva Lima, Wanessa Zavarese Sechim. – Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade, 2010. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=6013-caderno4-educando-economia-
solidaria&Itemid=30192

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