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APRESENTAÇÃO

O aumento do consumo de produtos ao redor do mundo aliado


ao desenvolvimento crescente da urbanização e índices populacionais
resulta em um crescimento relevante da utilização de recursos naturais.
Nesse sentido, o esgotamento dos recursos naturais do planeta e o
aumento das questões de aquecimento global são as preocupações
centrais dos governos e das agências ambientais.
Durante muitas décadas, a poluição foi vista como índice positivo
da economia; em outros termos, não se vislumbrava a possibilidade de
desenvolvimento industrial e econômico sem um consequente aumento
das emissões de poluentes. De alguns anos para cá, as organizações
perceberam que é possível um crescimento econômico minimizando os
impactos ambientais e que, além disso, o fator ambiental pode ser utilizado
como um potencializador econômico para se obter vantagem competitiva.
Nesse ensejo, muitas empresas já iniciaram a utilização de práticas
voltadas ao desenvolvimento sustentável como uma ferramenta estratégica
para ganhos competitivos, atendimento a exigências do mercado
consumidor, compatibilização com novas leis e como potencial de redução
em custos. Duas principais iniciativas são essenciais nesse contexto de
sustentabilidade empresarial: a Economia Circular e a Logística Reversa.
Com isso, espera-se que o executivo atento às questões ambientais
atuais desenvolva uma percepção holística da cadeia de suprimentos, que
envolva o fechamento dos ciclos de produtos e materiais, e entenda os
seus entraves, drivers e principais ferramentas da área. Dessa maneira, os
gestores atuais devem estar capacitados em atividades como as
supracitadas a fim de gerenciar a mudança necessária e iminente no
contexto brasileiro e internacional.
Nesse sentido, o objetivo deste material é oferecer conceitos,
ferramentas e possibilidades de aplicação de iniciativas ambientais na
cadeia de suprimentos, com foco em ações da Economia Circular e
Logística Reversa. Para tal, iremos:
 elencar os conceitos fundamentais da área de Ecologia
Industrial, Economia Circular e Logística Reversa;
 fornecer ferramentas para gestão da destinação dos produtos em
fim de vida útil e
 apresentar e discutir métricas e exemplos de aplicação das
ferramentas.
SUMÁRIO
MÓDULO I – ECONOMIA CIRCULAR ..................................................................................................... 7

MEIO AMBIENTE E EMPRESA ............................................................................................................ 7


ECOLOGIA INDUSTRIAL ..................................................................................................................... 9
Ecodesign ................................................................................................................................... 13
Produção mais limpa ............................................................................................................... 13
Análise energética de sistemas .............................................................................................. 14
Simbiose Industrial .................................................................................................................. 15
ECONOMIA CIRCULAR – CICLO TÉCNICO E CICLO BIOLÓGICO ................................................. 17
Conceito e origens da economia circular ................................................................................ 17
Ciclos técnico e biológico ........................................................................................................ 19
Funcionamento da EC ............................................................................................................. 21
Conceitos-chave da EC ............................................................................................................ 22
Economia circular pelo mundo e no Brasil .......................................................................... 24
Mensuração da economia circular ........................................................................................ 26

MÓDULO II – PROCESSOS DE FIM DE VIDA DE PRODUTOS ............................................................. 29

AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA (ACV)............................................................................................. 29


Definições de escopo ou delimitação da ACV ...................................................................... 31
Estágios da ACV ........................................................................................................................ 34
Vantagens do uso da ACV ....................................................................................................... 36
Dificuldades na aplicação da ACV .......................................................................................... 36
Streamlined Life Cycle Assessment (SLCA) ........................................................................... 37
RECICLAGEM, REMANUFATURA E RECONDICIONAMENTO DE PRODUTOS ................................... 38
Reuso versus reciclagem ............................................................................................................ 39
RECICLAGEM: UPCYCLING E DOWNCYCLING .................................................................................. 43
Upcycling .................................................................................................................................... 43
Downcycling ............................................................................................................................... 44

MÓDULO III – GESTÃO SUSTENTÁVEL DA CADEIA DE SUPRIMENTOS............................................ 45

RESPONSABILIDADE SOCIAL .......................................................................................................... 46


Áreas da RSC na cadeia de suprimentos .............................................................................. 47
CADEIA DE SUPRIMENTOS DE CICLO FECHADO .......................................................................... 49
CADEIA DE SUPRIMENTOS VERDE ................................................................................................. 51
LOGÍSTICA VERDE............................................................................................................................. 54
ECOEFICIÊNCIA EM TRANSPORTES ................................................................................................ 57
Indicadores de ecoeficiência .................................................................................................. 58
MÓDULO IV – LOGÍSTICA REVERSA .................................................................................................... 59

CONCEITOS E TIPOLOGIAS: RETORNO PÓS-VENDA E PÓS-CONSUMO .................................... 60


Pós-venda versus pós-consumo ............................................................................................. 61
Indicadores da logística reversa ............................................................................................ 63
FATORES MOTIVADORES (DRIVERS) E BARREIRAS PARA IMPLANTAÇÃO .................................. 65
Fatores motivadores (drivers) ................................................................................................. 65
Barreiras da LR ......................................................................................................................... 69
POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS .............................................................................. 74
Definições e funcionamento da PNRS .................................................................................. 75
Ações tomadas desde a outorga da PNRS ........................................................................... 76
Dificuldades para a efetivação da PNRS ............................................................................... 77
CASE DE SUCESSO DA LOGÍSTICA REVERSA NO BRASIL .............................................................. 78

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 82

SUGESTÃO DE LEITURA ................................................................................................................... 87

PROFESSORA-AUTORA ........................................................................................................................ 89
MÓDULO I – ECONOMIA CIRCULAR

O uso eficiente dos recursos naturais ocupa uma posição de destaque nas discussões sobre
sustentabilidade, sendo considerado um meio a promover o crescimento econômico e a
competitividade tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento. Dessa forma,
a transição para um modelo operacional mais eficiente em relação à utilização de recursos naturais
poderia gerar crescimento econômico e aumento da competitividade.
Conscientes dos impactos ambientais negativos gerados pelas suas indústrias, da má repercussão
dessas atividades frente a stakeholders como consumidores ou acionistas e, principalmente, da
necessidade de recuperação de valor e aumento dos lucros, gestores passaram a repensar o
funcionamento do atual modelo de produção, propondo mudanças completas das técnicas de
fornecimento e produção, bem como do design dos próprios produtos.
Tendo em vista esse panorama, entender a relação das empresas com o meio ambiente e se
aprofundar em estratégias, como a Ecologia Industrial e a Economia Circular, torna-se
indispensável. Nesse sentido, este módulo tem como objetivos: a) compreender a relação das
empresas com o ambiente no qual estão inseridas; b) entender os conceitos de Ecologia Industrial
e Simbiose Industrial, por meio de exemplos práticos, e c) discutir a Economia Circular em termos
dos seus ciclos biológico e técnico.

Meio ambiente e empresa


Qualquer operação que produza bens ou serviços, ou uma combinação de ambos, faz isso por
meio de um processo de transformação, que utiliza de recursos para mudar a condição ou o estado
de algo, a fim de produzir determinada saída ou output. Em suma, a produção envolve um conjunto
de recursos de input utilizado para transformar algo ou ser transformado em outputs de bens e
serviços (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2018).
Nesse sentido, uma organização pode ser entendida como um sistema aberto, uma vez que
possui uma variedade de entradas e de saídas em relação ao seu ambiente externo. Alguns exemplos
de sistemas abertos, além das empresas, são os sistemas vivos e, logicamente, o homem. Algumas
vezes, nas empresas, não há uma separação clara entre o sistema e o seu ambiente, ou seja, as
fronteiras ou delimitação do sistema podem ser abertas e permeáveis. Dessa maneira, pode-se
afirmar que um sistema aberto apresenta uma interdependência grande com o ambiente em que
está inserido. Por isso, as empresas podem ser classificadas como sistemas abertos, uma vez que
interagem com o meio no qual estão inseridas, conforme pode ser visto na Figura 1.

Figura 1 – Relação entre o ambiente e organizações

Fonte: adaptado de Slack et al. (2018).

Conforme podemos observar na Figura 1, o ambiente proporciona a entrada dos recursos


necessários para o funcionamento das empresas como matéria-prima, recursos tecnológicos e humanos,
o que possibilita às organizações a transformarem esses recursos por meio de processos em produtos ou
serviços com um maior valor agregado que, por sua vez, retorna ao ambiente para ser consumido.
Desse modo, pode-se afirmar que a estrutura de um sistema aberto é composta pelo
intercâmbio e interação da organização com o ambiente. Ao passo que o ambiente externo sofre
mudanças, a empresa precisa se adaptar para sobreviver, mudando os seus produtos, serviços, as
suas técnicas e estruturas. Por isso, segundo a teoria dos sistemas, as organizações são entendidas
não só como sistemas abertos mas também dinâmicos, uma vez que o sistema é um conjunto de
elementos dependentes entre si que interatuam com objetivos determinados e são propostos a
realizar determinadas funções (CHIAVENATO, 2014).

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A dependência das organizações do seu ambiente externo pode ocorrer de duas maneiras. No
lado do fornecimento, as empresas necessitam do ambiente externo para obter os materiais e recursos
humanos que vão garantir o seu suprimento e a sua capacidade de transformação. Na extremidade
oposta, a empresa precisa do seu ambiente externo para vender os seus produtos e serviços. Dessa
forma, nota-se a forte relação entre organizações e o ambiente, que exige um relacionamento
sustentável, permitindo um ciclo de entrada de recursos, transformação e consumo com uma proposta
de que esses recursos devam-se manter sempre preparados para retornar a esse ciclo produtivo.
Nesse ensejo, surgem as preocupações com o impacto das empresas no meio ambiente em
que estão inseridas, assim como o impacto do meio nas organizações. Essa relação empresa-meio é
tão relevante que se desenvolve em duas frentes atualmente. A primeira diz respeito ao fato de a
organização provocar impactos danosos, direta e indiretamente, ao meio ambiente. A segunda diz
respeito ao efeito oposto desses impactos provocado pelas organizações no meio ambiente: os
recursos são utilizados de maneira não planejada, como se fossem inesgotáveis, ou são deteriorados
por meio da poluição – o que provoca a escassez de recursos utilizáveis como input para as empresas.
A escassez de recursos gera o aumento dos preços dos mesmos no mercado, dificultando a
competitividade de uma empresa ou mesmo o desempenho de todo um setor.
Por esse motivo, o entendimento da relação da empresa e seu meio ambiente vai além do
olhar dicotômico entre os processos de transformação e as suas entradas e saídas, e os anseios
puramente ambientalistas. A reflexão sobre as organizações como sistemas abertos é, por natureza,
uma reflexão sobre o caráter econômico e ambiental das empresas, que implica, invariavelmente, a
sobrevivência das mesmas especialmente em longo prazo. Nesse sentido, a Ecologia Industrial pode
trazer mecanismos que dirijam a sociedade industrial para buscar um novo modelo organizacional
e operacional galgado no desenvolvimento sustentável.

Ecologia industrial
Ainda que o aumento do uso de recursos naturais por meio da produção industrial de
produtos e serviços promova o desenvolvimento econômico das sociedades, a exploração de forma
inadequada, por sua vez, gera externalidades negativas e indica o esgotamento dos recursos naturais,
dando mais relevância ao problema de utilização insustentável dos recursos. Nesse cenário, o
conceito de sustentabilidade ganhou reconhecimento a partir de 1987, após a publicação do
relatório de Brundtland “Our common future”. Brundtland, que era a Primeira Ministra da Noruega
na época, compartilhou as suas percepções sobre questões do meio ambiente e as metas da
comunidade global para o ano de 2000 em diante no referido relatório que, popularmente, levou o
seu nome. O relatório de Brundtland, elaborado a partir da World Comission on Environment and
Development (WCED), enuncia que:

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Os atuais padrões de desenvolvimento não podem continuar. Enquanto o
crescimento social e econômico sofre os impactos do desequilíbrio global,
ameaças ao meio ambiente estão-se tornando mundiais em escopo e escala
devastadora. A sobrevivência deste planeta requer que ajamos
imediatamente (WCED, 1987, p. 27).

Dessa maneira, a atual necessidade de criar mecanismos que orientem a comunidade


industrial para buscar um novo modelo organizacional e também operacional, alinhado às questões
de desenvolvimento sustentável, deu forças a uma área que é definida como Ecologia Industrial
(TREVISAN et al., 2016).
O conceito de Ecologia Industrial se vincula à metáfora entre os ecossistemas industriais e
naturais, nos quais as empresas trabalham em cooperação para a redução dos impactos ambientais
e, ao mesmo tempo, para o aumento dos resultados econômicos e pela busca da participação
conjunta da sociedade em torno (COSTA, 2002).
Em linhas gerais, a Ecologia Industrial tem como objetivo compreender o funcionamento do
sistema industrial para, a partir daí, traçar um plano para reestruturar esse sistema industrial para mais
se assemelhar a um sistema natural (VEIGA; MAGRINI, 2009). Nesse sentido, a ideia norteadora da
Ecologia Industrial visa transformar, em uma proposta única, o que antes focava em dois conceitos
separados: a biosfera, responsável por prover os insumos demandados e absorver os resíduos gerados,
e a tecnosfera, agente que produz os bens e serviços. Dessa maneira, busca-se um equilíbrio entre a
demanda para a produção de bens e serviços e a disponibilidade de recursos naturais.
O termo Ecologia Industrial (EI) foi cunhado por Frosch e Gallopoulos (1989), que trazia o
conceito com uma sugestão para a mudança da visão individual das indústrias para uma visão
baseada em ecossistema, na qual o consumo de materiais e energia deveria ser otimizado, o efluente
de determinado processo tornar-se-ia a matéria-prima de outro processo, e a geração de resíduos
seria, com isso, minimizada. Dessa forma, a EI passa a representar um funcionamento de um
sistema biológico, no qual cada elo provê a fonte de matéria-prima do elo seguinte, em que se
estabelece um equilíbrio dinâmico.
Com o passar dos anos, o conceito de EI evoluiu, sendo, hoje em dia, a descrição mais
referenciada sobre o tema a proposta pela ISIE (International Society for Industrial Ecology) ou
SIEI (Sociedade Internacional de Ecologia Industrial), em português:

O estudo dos fluxos de materiais e energia em atividades industriais e de


consumo, dos efeitos desses fluxos ao meio ambiente, e das influências de
fatores econômicos, políticos, regulatórios e sociais no fluxo, utilização e
transformação desses recursos (ALLENBY; RICHARDS, 1994, p. 5).

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Desde essa definição, o conceito ainda evoluiu, incluindo o sistema produtivo como um
subsistema da biosfera, isto é, uma organização particular de fluxos de energia, matéria e
informação. Para além disso, a EI é um estudo da química, física e das interações biológicas e inter-
relações entre sistemas biológicos e industriais (PEREIRA, 2017).
Desse modo, podemos perceber a evolução do conceito de EI ao longo dos últimos anos, em
que atributos da área socioeconômica e novas responsabilidades aos fornecedores foram
acrescentados como pontos chave no conceito de EI.
A Figura 2 oferece uma ilustração das principais relações que existem na área de EI. Pode-se
perceber a grande quantidade de interações entre fornecedores, indústrias e consumidores, que
visam gerar o mínimo de resíduos e aproveitar ao máximo os recursos que estão disponíveis.

Figura 2 – Relações da Ecologia Industrial

Fonte: adaptado de SUMMA (2019).

A fim de analisar os impactos ambientais associados à produção industrial, a EI engloba


diversos métodos e ferramentas para redução e prevenção de efluentes e resíduos gerados, assim
como estimula o reaproveitamento dos subprodutos que não puderam ser evitados dos processos
produtivos. Para um melhor entendimento, essas ferramentas e os conceitos da EI podem ser
classificados em diferentes níveis de integração: empresarial, interempresarial, e regional ou global.

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O primeiro trata de como uma organização pode trabalhar dentro do âmbito porta a porta
para desenvolver processos e produtos com o menor impacto possível, ou seja, mais sustentáveis.
Boa parte das ferramentas e técnicas dessa classificação (empresarial) estão contidas também em
sistemas de gestão ambiental existentes que são amplamente conhecidos.
Já o segundo nível (interempresarial) trata dos métodos e ferramentas mais avançados e, conforme
a denominação dessa classificação, abrangem a relação entre empresas. Dessa forma, empresas que
atuam com a EI nesse nível são, em geral, mais maduras em relação às questões de sustentabilidade.
Por último, temos o nível regional ou global, que apresenta uma integração mais estruturada
e maior que atinge agentes privados e públicos, o que, consequentemente, implica uma abrangência
com raio muito maior. Essas três esferas de atuação da EI estão dispostas na Figura 3, acompanhadas
das suas principais ferramentas de atuação.

Figura 3 – Áreas da ecologia industrial

Fonte: adaptado de CLIFT e DRUCKMAN (2016).

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Ao focar no âmbito nacional, a EI é um tema ainda pouco conhecido no meio acadêmico e
ainda mais inexplorado no ambiente empresarial (TREVISAN et al., 2016). Uma prova disso reside
no fato de que o Brasil não possui nenhum modelo de práticas da EI, como existe no caso de
Parques Ecoindustriais (PEI). Nos anos 2000, até houve uma iniciativa de implementar quatro
parques eco-industriais no Rio de Janeiro, mas o projeto não teve continuidade (MARIUZZO,
2019). Um dos obstáculos citados para dificultar as iniciativas de EI no Brasil foram: a falta de
cooperação e comunicação entre as indústrias, os aspectos do ambiente institucional, a falta de
presença ativa do governo e a infraestrutura deficiente (PINHEIRO et al., 2020).
Os próximos tópicos têm o objetivo de aprofundar o estudo sobre as principais ferramentas
utilizadas no conceito de EI, conforme apresentadas na Figura 3.

Ecodesign
O principal intuito do projeto verde ou ecodesign é achar um ponto de equilíbrio entre a
demanda humana e os impactos ambientais. Muitas ferramentas da área de projeto são utilizadas
para inserir questões relacionadas à sustentabilidade no projeto de produtos, de modo a projetar
um produto ou serviço que se integre de maneira harmoniosa com o meio ambiente. No entanto,
o ecodesign vai além disso, pois também visa criar vantagens competitivas por meio do
reaproveitamento de materiais de produtos em fim de vida.
Desse modo, ecodesign significa que o meio ambiente é levado em consideração para a tomada
de decisões durante o processo de desenvolvimento do produto como um fator adicional (SINGH;
SARKAR, 2019). Dessa forma, por meio do ecodesign, é possível planejar desde as fases iniciais de
desenvolvimento de um produto a melhor maneira de reaproveitá-lo ao final da sua vida útil. Para
tal, algumas das principais ferramentas utilizadas são: checklists e diretrizes, frameworks (ferramentas
que orientam as estratégias relacionadas aos negócios para determinar as características de produtos
mais ecológicos), ferramentas de classificação e priorização, softwares especializados e ferramentas
analíticas (por exemplo, ferramenta com indicador de design ecológico).

Produção mais limpa


A produção mais limpa (Cleaner Production), chamada também de P+L, tem o intuito de
trazer a consciência para as indústrias sobre o mau gerenciamento relacionado às questões
ambientais nos últimos anos. Nas últimas décadas, a falta de políticas de segurança e do meio
ambiente culminaram em acidentes ambientais, como o desastre causado por pesticidas em Bhodal,
em 1984, na Índia, que resultou em cerca de 16.000 mortes, e a emissão excessiva de dioxinas em
Sevese, na Itália, em 1976 (HENS; DYKE; HENS, 2016).
Por esse e outros motivos, o Programa Ambiental das Nações Unidas (United Nations
Environment Program) e a Divisão de Tecnologia, Indústria e Meio Ambiente (Division of
Technology, Industry and Environment) apresentaram o termo P+L, em 1989, que foi conceituada

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como a aplicação contínua de uma estratégia preventiva ambiental que seja integrada aos processos,
produtos e serviços, com o intuito de reduzir os riscos para os humanos ao passo que também
aumenta a eficiência da produção.
A definição de P+L tem abrangência empresarial e em escala microeconômica, uma vez que as
suas estratégias têm foco, basicamente, nas operações, na redução da geração de resíduos, na
sustentabilidade ambiental e na maximização do reuso e da reciclagem de materiais. Comisso, a P+L
objetiva um uso de materiais e de energia mais eficiente, como também a substituição de produtos
maléficos ao meio ambiente por outros produtos com menor impacto (HENS et al., 2018;
CHAUHAN et al., 2021).

Em suma, podemos afirmar que a P+L se enquadra em três esferas: como ferramenta
ambiental, pois visa minimizar a geração de resíduos produtivos; como ferramenta econômica, uma
vez que os resíduos gerados são tidos como produtos com valor econômico negativo, e, por fim,
como ferramenta de gestão, já que demanda uma reorganização das atividades da empresa, que, por
sua vez, precisa do apoio transversal de todos os níveis hierárquicos.

Análise energética de sistemas


A ideia norteadora por trás da Análise Energética de Sistemas (AES) é realizar um
mapeamento da utilização de energia em processos produtivos para aumentar a eficiência energética
e identificar, também, as fontes de energia usadas para a geração da mesma no intuito de reduzir os
impactos ambientais. Por estar diretamente associada ao estudo dos fluxos de materiais, a AES
também contribui para a tomada de decisão por parte dos gestores, por meio de informações geradas
de cunho estratégico, utilizando-se de modelos matemáticos para tal.
Os fluxos energéticos das atividades produtivas podem ser caracterizados em quatro vertentes
principais (ÁGUAS, 2004):
 energia primária – fonte primordial de energia (renovável ou fóssil);
 energia final – energia que chega aos consumidores;
 energia útil – razão entre a energia recebida e a energia que é consumida para a execução
de um processo, e
 energia produtiva – considera a energia útil usada, ou seja, a sua efetividade, levando em
conta tempo de equipamento ligado sem estar produzindo produtos.

Dessa maneira, uma melhor compreensão dos fluxos energéticos dentro de uma empresa
viabiliza o entendimento das demandas e dos pontos fortes de uma empresa que podem ser
melhorados por meio do compartilhamento de fontes de energia com outras empresas locais.

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Simbiose Industrial
Originalmente, o termo simbiose se refere à relação de harmonia que se encontra na natureza
entre duas ou mais espécies que fazer trocas como de limpeza, alimento ou proteção. No âmbito
industrial, a simbiose é uma prática considerada interempresarial. Dessa forma, aplicando o
conceito de simbiose à EI, podemos usar a definição de Chertow (2008), que traz:

A simbiose industrial aproxima indústrias, originalmente separadas, em uma


abordagem coletiva visando ampliar as vantagens competitivas de cada uma.
Envolve troca física de materiais, energia, água ou subprodutos. As chaves
para a simbiose industrial são a colaboração e as possibilidades de sinergia
oferecidas pela proximidade geográfica (CHERTOW, 2008, p. 12).
Nesse sentido, a Simbiose Industrial (SI) foca na relação entre os subprodutos gerados em
dado processo (entradas e saídas) que possam ser utilizados por outras empresas, com objetivo de
usar os resíduos produtivos de maneira eficiente. Por agir em ciclo fechado, minimiza-se o descarte
de resíduos em aterros, por exemplo, o que favorece o desenvolvimento sustentável.
Em resumo, a simbiose nas indústrias visa à colaboração entre empresas para gerenciamento
dos seus recursos, especialmente os subprodutos, para que o resíduo de um se torne matéria-prima
de outro. No entanto, vale ressaltar que o conceito tem evoluído recentemente, incluindo também
a questão de troca de informações, conhecimento e oportunidades de inovação entre as empresas.
As práticas de SI podem ser classificadas em três tipos de operações simbióticas
(SARACENI, 2014):
 troca de subprodutos, como energia, água e materiais;
 compartilhamento de equipamentos ou serviços, como estação de tratamento de efluente
e uso conjunto de operações logísticas, e
 colaboração na gestão para o desenvolvimento de uma rede de interação, como
compartilhamento de informações e gestão conjunta de plantas industriais.

A lógica da SI de fechar os ciclos por meio da troca de materiais entre empresas está
diretamente alinhada com o conceito de Economia Circular (MULROW et al., 2017).
A fim de sintetizar as informações deste tópico, o Quadro 1 sumariza as principais ferramentas
da EI, o seu nível de integração e uma breve descrição da mesma.

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Quadro 1 – Sumário das principais ações da Ecologia industrial

nível de
ferramenta descrição ou objetivo
integração

Produção Viabilizar o aumento da eficiência no uso de insumos e


mais limpa matérias-primas, energia e água e a não geração,
empresarial
(P+L) redução ou reciclagem de subprodutos e resíduos no
setor produtivo.

Ecodesign Viabilizar o projeto ou design de novos produtos com a


incorporação de objetivos ambientais e, ao mesmo
empresarial
tempo, não perder em desempenho, funcionalidade ou
vida útil dos produtos.

análise Reduzir os impactos ambientais por meio do


energética de mapeamento do uso de energia em atividades
sistemas (AES) regional ou global produtivas, a fim de aumentar a sua eficiência, assim
como identificar quais tecnologias são usadas para a
geração de energia.

simbiose Reutilizar subprodutos gerados em um processo


industrial (entradas e saídas) de uma empresa por outra
interempresarial
empresa, com objetivo de usar os resíduos
produtivos de maneira eficiente.

Fonte: autoral.

Desse modo, conforme resumido no Quadro 1, a EI é relevante na transição em busca da


Economia Circular (EC), pois cria diferentes alternativas para os materiais e os seus resíduos por
meio do reuso, remanufatura e reciclagem. Dessa maneira, utilizando-se de tais alternativas, torna-
se possível aumentar o reaproveitamento de materiais e, algumas vezes, estender o seu ciclo de vida.
Em consonância com essas informações, pode-se afirmar que as ferramentas aplicadas na EI dão
suporte a muitas práticas da EC, além de ajudarem no desenvolvimento de novos regimentos e leis
que também promovem a Economia Circular (SAAVEDRA et al., 2018).

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Economia Circular – ciclo técnico e ciclo biológico
A economia circular (EC) se refere a um modelo de produção e consumo de bens que é
fundamentalmente diferente do modelo de economia linear, que predominou na sociedade moderna
nas últimas décadas (WEETMAN, 2019). A economia linear é baseada em um processo simples: extrair,
produzir, consumir e lixo, com atenção precária à poluição gerada (BRUEL et al., 2018;
HOFSTETTER et al., 2021). Graças à regulamentação e tecnologia, alguns loops foram
implementados, mas são insuficientes e representam um caminho ineficaz para a sustentabilidade. Com
isso, esse modelo econômico não leva em conta a maioria dos impactos ambientais que vêm com o
consumo de recursos e o descarte de resíduos, e resulta em extração excessiva de recursos virgens,
poluição e desperdício. Além disso, ignora o fato de que nosso planeta tem limites, e há um risco de
mudanças ambientais irreversíveis e abruptas que poderiam tornar a Terra menos habitável.
Dessa maneira, olhando além do modelo industrial atual extrativista “take-make-waste” ou
“extrair-produzir-consumir e lixo”, a economia circular (EC) visa redefinir o crescimento econômico,
por meio de um foco em benefícios positivos para toda a sociedade. Para isso, a EC visa, de forma
gradativa, dissociar a atividade econômica do consumo de recursos que são finitos e, ao mesmo tempo,
projeta sistemas que minimizem os resíduos gerados. Assim, a circularidade dos sistemas naturais é
empregada como modelo para gerar um padrão econômico mais sustentável (KERBER et al., 2021).
Apoiado em uma transição para fontes de energia renováveis, o modelo circular desenvolve capital
econômico, social e natural, baseando-se em três princípios (ELLEN MACARTHUR
FOUNDATION, 2021):
 reduzir resíduos e poluição;
 manter produtos e materiais em uso, e
 regenerar os sistemas naturais.

Conceito e origens da economia circular


Embora o conceito de Economia Circular ainda não fosse conhecido como é atualmente, a
circularidade como princípio lógico da economia já é abordada por pensadores desde o início do século
XX. Em 1928, o economista Leontief publicou o artigo chamado “The economy as a circular flow”
que, embora não tivesse a intenção de trazer à luz questionamentos de escassez de recursos e preservação
das reservas naturais, já identificava o comportamento naturalmente circular das transações econômicas.
Em 1965, Boulding levantou com pioneirismo as oportunidades financeiras da valoração de resíduos
no seu livro chamado “Earth as a spaceship”. Como consequência, durante as décadas seguintes,
pesquisas nesse sentido culminaram no desenvolvimento de diversos conceitos como Cleaner
Production, Ecologia Industrial e cradle-to-cradle. Segundo Bruel et al. (2018), estudos mais
aprofundados sobre EC revelaram que o termo “economia circular” foi utilizado na literatura, pela
primeira vez, pelos economistas ambientais Pearce e Turner, em 1989, ao explicarem a mudança de um
sistema econômico tradicional para um circular como consequência das leis da termodinâmica.

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Desse modo, a noção de circularidade tem profundas origens filosóficas e históricas. A ideia
de feedback ou retroalimentação, de ciclos em sistemas do mundo real, é antiga e ecoa em várias
escolas de filosofia (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2021). Essa noção circular
experimentou um ressurgimento nos países industrializados após a Segunda Guerra Mundial,
quando o advento de estudos não lineares baseados em computador mostrou, inequivocamente, a
natureza complexa, inter-relacionada e imprevisível do mundo em que vivemos. Essa realidade
revelou que essa natureza complexa mais se assemelha a um metabolismo do que a uma máquina,
configurando um sistema aberto e dinâmico. Com os avanços atuais, a tecnologia digital tem o
poder de apoiar a transição para uma EC, aumentando drasticamente a virtualização, a
desmaterialização, a transparência e a inteligência baseada em retroalimentação (ELLEN
MACARTHUR FOUNDATION, 2021).
Dessa maneira, por se tratar de um tema abrangente, multidisciplinar e que envolve diferentes
conceitos e objetivos, traçar uma definição de EC parece ser um desafio. Uma definição que resume
as definições mais aceitas é o que traz que a EC é um sistema econômico que substitui o conceito
de "fim de vida" por reduzir, alternativamente reutilizar, reciclar e recuperar materiais em processos
de produção ou distribuição e consumo, com o objetivo de realizar um desenvolvimento
sustentável. Tal processo cria, simultaneamente, qualidade ambiental, economia prosperidade e
equidade social, em benefício das gerações atuais e futuras, sendo possibilitado por meio de novos
modelos de negócios e consumidores responsáveis (KIRCHHERR; REIKE; HEKKERT, 2017).
Com isso, em uma economia circular, a atividade econômica visa construir e reconstruir a
saúde geral do sistema. O conceito de EC também reconhece a relevância de a economia precisar
trabalhar, efetivamente, em todos os âmbitos (grandes e pequenas empresas, para organizações e
indivíduos, agindo global e localmente). Por esse motivo, a transição para uma EC não significa
apenas adaptações destinadas a amortizar os impactos negativos da economia linear, pelo contrário,
representa uma mudança em caráter sistêmico que cria resiliência de longo prazo, gerando
oportunidades econômicas e comerciais, proporcionando benefícios ambientais e sociais.
Dessa maneira, a EC leva em consideração muitos dos impactos no meio ambiente do
consumo de recursos e resíduos, visando dissociar a pressão ambiental e o crescimento econômico.
Para esse fim, a EC promove a adoção de modelos de produção em loops fechados para otimizar o
uso de recursos virgens, reduzindo assim a poluição e o desperdício, garantindo o funcionamento
adequado dos ecossistemas e do bem-estar humano (MURRAY; SKENE; HAYNES, 2017).
Com relação às escolas de pensamento da EC, o modelo de EC resume diversas grandes
escolas de pensamento, que inclui: functional service economy ou a economia de serviço funcional de
Walter Stahel; a filosofia de projeto berço ao berço ou cradle to cradle de McDonough e Michael
Braungart; biomimética proposta por Janine Benyus; a ecologia industrial de Thomas Graedel e
Reid Lifset; capitalismo natural (natural capitalismo) de Amory, Hunter Lovins e Paul Hawken, e
a abordagem dos sistemas da economia azul (blue economy systems approach) articulada por Gunter
Pauli (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2021).

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O modelo de EC pode ser dividido entre dois ciclos: técnico e biológico, que são melhor
elaborados na sequência.

Ciclos técnico e biológico


O modelo se distingue entre os ciclos técnico e biológico. O consumo acontece apenas em
ciclos biológicos, em que os alimentos e os materiais de base biológica (como a madeira ou o
algodão) são pensados para retornar ao sistema por meio de processos como compostagem e
digestão anaeróbica. Esses ciclos regeneram os sistemas vivos, como o solo, que fornecem recursos
renováveis para a economia. Por sua vez, os ciclos técnicos recuperam e restauram produtos,
componentes e materiais por meio de estratégias como reutilização, reparo, remanufatura ou
reciclagem. A figura 4 traz um comparativo entre os modelos linear e circular, em que ocorrem de
forma cíclica os fluxos de nutrientes técnicos e biológicos. Primeiramente, falaremos sobre o ciclo
técnico mais detalhadamente.

Figura 4 – Economia linear versus economia circular

Fonte: Autoria própria

a) Ciclo técnico
O ciclo técnico envolve o gerenciamento do estoque de materiais finitos. As ações devem
buscar inovar os processos produtivos e o design de produtos, que é o início de um sistema
verdadeiramente circular. As empresas precisam se comprometer em investir em novos modelos de
negócios e sistemas produtivos por meio de investimentos em pesquisas e inovação. É necessário
que o design dos produtos seja feito para que eles possam ser reciclados, e os processos logísticos
dessas empresas devem reduzir o consumo de recursos e os encargos ambientais.
Uma das ideias norteadoras é que o “uso” substitua o “consumo”, de modo que materiais ou
nutrientes técnicos são recuperados e, principalmente, restaurados no ciclo técnico. Nesse sentido,
alguns gestores propõem novos modelos de negócios e sistemas produtivos que implicam novos
modelos de consumo, em que os clientes irão adquirir serviços em vez de produtos, os chamados
produtos-serviço. Dessa forma, as empresas seriam as proprietárias de todos os materiais utilizados,

19
garantindo que seriam circulados no sistema corretamente. Seguindo o pensamento “berço ao
berço” ou “cradle to cradle”, no ciclo técnico, os produtos são chamados de produto-serviço, já que
não se configuram produtos de consumo. E como isso funciona?
Quando os consumidores compram produtos, é provável que sejam descartados e destruídos,
sendo muito caros, algumas vezes, para serem recuperados. Dessa forma, uma abordagem melhor
sucedida seria centrar a empresa como "guardiã das coisas", e não mais os usuários. Esse sistema de
produto-serviço pode ser chamado de aluguel, contrato, leasing, entre outros, podendo ser formal
ou informal, ou mesmo de uso colaborativo. Nesse sentido, torna-se um elemento-chave o papel
das tecnologias de informação e comunicação para rastrear estoques, monitorar desempenho e
confiabilidade, e facilitar o acesso. O esquema de compartilhamento de bicicletas Velib, em Paris,
ou mesmo das Yellow Bikes, no Brasil, são exemplos de produto-serviço.

b) Ciclo biológico
O ciclo biológico engloba os fluxos de materiais renováveis (biológicos). O consumo ocorre
apenas no ciclo biológico, e os nutrientes são regenerados, principalmente, no ciclo biológico.
Considere o processo de vida uma árvore frutífera – uma macieira, por exemplo. A macieira
usa a energia do sol para fixar CO2 inorgânico do ar e da água proveniente do solo para produzir
glicose no processo de fotossíntese. Esse açúcar é transformado em todos os outros materiais que a
macieira precisa para crescer, como celulose, proteínas, lipídios, etc. Todos esses elementos são
necessários para construir uma árvore forte e saudável que possa se reproduzir. As abelhas, por sua
vez, polinizam as flores que se transformam nas frutas que contêm as sementes, que vão-se tornar,
possivelmente, árvores adultas no futuro. No entanto, o que ocorre em relação a todo excedente de
materiais, como pétalas, pólen e néctar, ano após ano?
A macieira coevoluiu com um sistema que inclui outras plantas, animais, fungos e micróbios,
que são outros organismos que consomem cada pedaço do excedente da macieira e garantem que
os nutrientes biológicos continuem a circular. Uma vez processados por essas cadeias alimentares,
o dióxido de carbono e a água retornam à atmosfera, e os minerais retornam ao solo de onde vieram.
Esse é um exemplo de um sistema biológico. Ao longo dos milênios, a coevolução ajustou esses
sistemas finamente, garantindo que nenhum resíduo se acumule durante longos períodos de tempo.
Com isso, podemos dizer que os sistemas biológicos são caracterizados pelos seguintes fatores: são
alimentados pelo sol; ocorrem em um excedente no qual o "desperdício" se torna alimento;
constroem ou restauram o capital natural.
Como os seres humanos são organismos, também são incluídos no ciclo biológico. No
entanto, nossa relação com o ciclo biológico se tornou deficiente, especialmente após a primeira
revolução industrial. Atualmente, produtos feitos de plásticos, metais e ligas se acumulam como
resíduos, pois não podem ser processados como nutrientes biológicos. O ciclo biológico também é
incapaz de remover os metais tóxicos, tão favorecidos pelos processos industriais atuais, que podem
acumular e danificar os sistemas naturais.

20
Funcionamento da EC
Dessa maneira, juntando os dois conceitos, os nutrientes biológicos são materiais orgânicos
que, ao final do seu uso, podem ser devolvidos com segurança à biosfera como “alimento” para
outras formas de vida e sem gerar resíduos. Já os nutrientes técnicos são materiais inorgânicos ou
sintéticos que podem ser reciclados pelo sistema de produção indefinidamente, possivelmente
degradados, mas sem serem transformados em resíduos (MESTRE; COOPER, 2017). Na EC, os
ciclos biológico e técnico devem ocorrer em consonância, conforme traz a Figura5.

Figura 5 – Infográfico da EC

Fonte: adaptado de Ellen MacArthur Foundation (2021).

A Figura 5 mostra como a EC reconstrói o capital – seja ele financeiro, manufaturado, social,
humano ou natural –, o que garante fluxos aprimorados de bens e serviços. O infográfico ilustra o
fluxo contínuo de materiais técnicos e biológicos por meio do "círculo de valor". Essa conquista do
círculo do valor deve ocorrer por meio de três princípios:
I. Preservar e melhorar o capital natural por meio do controle de estoques finitos e
balanceando os fluxos de energia renovável, por meio das alavancas: regeneração,
virtualização e troca.

21
II. Otimizar os rendimentos dos recursos fazendo circular os produtos, materiais e
componentes a uma alta taxa de uso tanto no ciclo biológico como no técnico, por meio
das alavancas: rendimento, regenerar, compartilhar, otimizar, fechamento de ciclo.
III. Promover efetividade do sistema pela minimização das externalidades negativas, por meio
das alavancas: regeneração, virtualização, troca, rendimento, compartilhar, otimizar e
fechamento de ciclo.

Nesse contexto, vale ressaltar que a economia circular não é uma economia com foco em
reciclagem de materiais, pois traz uma abordagem inteligente de valor, a fim de manter ou até
aprimorar materiais utilizados. Os principais conceitos da EC são discutidos na sequência.

Conceitos-chave da EC
A EC lida com sete conceitos-chave para o seu desenvolvimento: economia de performance,
ecologia industrial, capitalismo natural, economia azul, biomimética, berço ao berço e projeto
regenerativo (BRUEL et al., 2018), conforme ilustra a Figura 6.

Figura 6 – Princípios da EC.

Fonte: adaptado de (BRUEL et al., 2018; ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2021).

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A descrição de cada princípio é a seguinte (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2021):
 Economia de performance – Walter Stahel, arquiteto e analista industrial, trouxe, em
1976, a visão de uma economia em ciclos e o seu impacto na criação de empregos,
competitividade econômica, economia de recursos e prevenção de resíduos. Stahel
trabalhou no desenvolvimento de uma abordagem de “circuito fechado” para os processos
de produção, que persegue quatro objetivos: extensão da vida útil do produto, bens de
longa vida, atividades de recondicionamento e prevenção de resíduos. Ele também insiste
na importância de vender serviços em vez de produtos – uma ideia chamada de "economia
de serviços funcionais".
 Ecologia Industrial – A EI é o estudo de fluxos de materiais e energia através de sistemas
industriais. Concentra-se nas conexões entre os operadores dentro do "ecossistema
industrial", visando à criação de processos em circuito fechado nos quais os resíduos
servem como insumo, eliminando a noção de um subproduto indesejável.
 Capitalismo natural – "Capital natural" se refere aos estoques mundiais de ativos naturais,
que incluem solo, ar, água e todos os seres vivos. No seu livro "Capitalismo natural:
criando a próxima revolução industrial", Paul Hawken e outros descrevem uma economia
global na qual os interesses empresariais e ambientais se sobrepõem, reconhecendo as
interdependências que existem entre a produção e o uso de capital humano e os fluxos de
capital natural. Nesse sentido, os seguintes quatro princípios sustentam o capitalismo
natural: (i) aumento radical da produtividade dos recursos naturais; (ii) mudança para
modelos e materiais de produção inspirados na biologia; (iii) mudança para um modelo
de negócios de “serviço e fluxo”, e (iv) reinvestimento no capital natural.
 Economia azul – Iniciado pelo ex-CEO da Ecover e empresário belga Gunter Pauli, a
Economia Azul é um movimento open-source que reúne estudos de casos concretos,
inicialmente compilados em um relatório de mesmo nome. Conforme afirma o manifesto
oficial, "usando os recursos disponíveis em sistemas em cascata, (...) o resíduo de um
produto torna-se a entrada para criar um novo fluxo de caixa". Baseado em 21 princípios
fundadores, a economia azul insiste em soluções que são determinadas pelo seu ambiente
local e de acordo com as características físicas/ecológicas, colocando ênfase no uso da
gravidade como a principal fonte de energia.
 Biomimética – Janine Benyus, autora de “Biomimicry: innovation inspired by nature”,
define a biomimética como "uma nova disciplina que estuda as melhores ideias da natureza
e depois imita esses projetos e processos para resolver problemas humanos". Um exemplo
disso é o estudo da folha de uma planta para inventar uma célula solar melhor, ou seja, é
a inovação inspirada pela natureza.
 Berço ao berço – O químico alemão Michael Braungart desenvolveu, junto com o
arquiteto americano Bill McDonough, o conceito e o processo de certificação Cradle to
Cradle®. Essa filosofia de projeto considera todos os materiais envolvidos nos processos

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industriais e comerciais como nutrientes, dos quais existem duas categorias principais:
técnica e biológica. O design Cradle to Cradle percebe os processos seguros e produtivos do
"metabolismo biológico" da natureza como um modelo para o desenvolvimento de um
fluxo de materiais industriais do "metabolismo técnico". Os componentes do produto
podem ser projetados para recuperação e reutilização contínuas como nutrientes biológicos
e técnicos dentro desses metabolismos. A ideia é que resíduo seja visto como alimento e que
se utilize energia renovável, respeitando os sistemas humanos e naturais.
 Projeto regenerativo – John T. Lyle, nos Estados Unidos, iniciou o desenvolvimento de
ideias sobre projetos regenerativos que poderiam ser aplicados a todos os sistemas, ou seja,
além da agricultura, em que o conceito de regeneração já havia sido formulado
anteriormente. Lyle lançou as bases da estrutura da economia circular, que se desenvolveu e
ganhou notoriedade graças a McDonough, Braungart e Stahel.

Economia circular pelo mundo e no Brasil


A implementação das estratégias da EC segue caminhos diversos em diferentes países. Por
exemplo, alguns países fomentam o desenvolvimento da EC em nível micro (empresa ou
consumidor), outros em nível meso (parques ecoindustriais) e outros em nível macro (cidades, estados
e país). Quando se trata de estratégias específicas de implementação de EC, governos, empresas e
organizações internacionais parecem confiar em conceitos que já existem em outros campos, em vez
de inventar novos conceitos (BRUEL et al., 2018).
A China tem sido um dos primeiros países a incluir a EC na sua política para um sistema
econômico mais sustentável, embora iniciativas semelhantes também tenham sido realizadas na Suécia
e na Alemanha (MURRAY et al., 2017). A política chinesa inclui muitos instrumentos econômicos e
de gestão, como taxas de poluição, impostos ambientais e rotulagem ecológica, produção mais limpa,
cascata de energia e água, análise de ciclo de vida (ACV) e também sistemas de gestão ambiental (ISO
14001). Além disso, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (United Nations
Environment Program – UNEP) lançou um programa na China com foco na implementação do EC.
Na Europa, a EC começou recentemente a se espalhar nas comunidades empresariais e nos
governos. Recentemente, a EC foi promovida pelo Pacote de Economia Circular da Comissão
Europeia (European Commission's Circular Economy Package) com o seu próprio plano de ação e vários
documentos relacionados (EUROPEAN COMMISSION, 2015). Uma pesquisa da Ellen
MacArthur Foundation junto ao McKinsey Centre for Business and the Environment trouxe que,
adotando princípios da EC, a Europa pode viabilizar a iminente revolução da tecnologia digital em
um cenário de EC a fim de aumentar o PIB em € 1,8 trilhão até 2030 (CE100 BRASIL, 2017). Um
estudo semelhante realizado pela Ellen MacArthur Foundation apontou que uma trajetória de
desenvolvimento fundamentada na EC pode gerar, à Índia, benefícios anuais no valor de US$ 624
bilhões até 2050.

24
No Brasil, muitas empresas já começaram a entender a grande oportunidade da EC e,
portanto, estão repensando os seus processos de projeto, operações e ofertas de produtos e serviços.
Uma pesquisa feita pela CNI, em 2019, aponta que 76,5% das indústrias brasileiras desenvolvem
alguma iniciativa de EC, sendo que dentre as principais práticas estão a otimização de processos
(56,5%), o uso de insumos circulares (37,1%) e a recuperação de recursos (24,1%) (AGÊNCIA
BRASIL, 2021).
Alguns casos podem ser citados. Por exemplo, a CBPAK uniu inovação e ciência material
em modelo de negócio para criar valor a partir da mandioca. A empresa produz embalagens
descartáveis a partir da mandioca brava (espécie não comestível), substituindo os problemáticos
plásticos. Outro caso é o da ArcelorMittal, que captou o potencial admirável de regeneração do
Brasil. A empresa, que é a maior produtora mundial de aço, começou a plantar florestas de eucalipto
com certificação para suprir a sua produção de carvão vegetal (menos poluente). Além disso, a
empresa também tem criado uma simbiose industrial ao criar novas fontes de proventos por meio
da venda de coprodutos provenientes dos altos fornos de fundição.
Em um contexto mais amplo, existem três eixos mais promissores para o desenvolvimento da
EC no País: agricultura e ativos da biodiversidade, setor da construção e equipamentos
eletroeletrônicos (CE100 BRASIL, 2017). No âmbito da agricultura brasileira, as frentes devem
focar em ampliar os esforços existentes para modelos de negócio regenerativos, a fim de reparar a
expressiva reserva de capital natural do País. Quanto ao setor de edifícios e construção, o intuito
reside na utilização das lentes da EC para investir em edifícios que minimizem os entraves da
economia linear, aplicando conceitos de flexibilidade e modularidade construtiva, por exemplo. Por
fim, no setor de eletroeletrônicos (EEE), a aplicabilidade reside em criar mecanismos para fomentar
design de produtos inovadores, integrar a economia informal existente do setor de EEE buscando
uma cooperação mútua que gere vantagem, e fomentar modelos de negócio da EC que estimulem
o compartilhamento, modelos produto-serviço e uso de produtos recondicionados, por exemplo.
Como vimos, é indiscutível que nosso país possui um cenário fascinante para a exploração de
oportunidades que a EC poderia trazer para o desenvolvimento do capital social, econômico e
natural. Os princípios base da EC não são totalmente novos no País, de forma que as organizações
entendem esses princípios como fatores direcionadores para a inovação com potencial de criação de
valor e diferenciação no mercado, mesmo em períodos de instabilidade econômica e limitações
orçamentárias. Dessa maneira, conclusões iniciais apontam que a transição para a EC no Brasil
poderia criar caminhos de mais inovação e geração de valor para o País.

25
Mensuração da economia circular
Os indicadores de desempenho constituem uma parte importante das informações necessárias
para avaliar o avanço de uma empresa em direção aos seus objetivos e para análise do desempenho das
suas operações. Quando a gestão de uma empresa está alinhada com uma visão ambiental, o uso de
indicadores pode contribuir para implantação e análise do desempenho de práticas ambientais. Além
disso, esses indicadores também podem ser aplicados como critérios comparativos entre empresas na
aquisição de certificações como as da série ISO e relatórios de desempenho sustentável, como o GRI
e o Dow Jones. Da mesma forma, os indicadores quantitativos são essenciais para avaliar o
desempenho de uma organização ou sistema de produto em relação aos princípios da EC, bem
como aos objetivos de sustentabilidade nacionais e internacionais mais amplos.
A EC pode ser implementada em três níveis diferentes: micro, meso e macro (KIRCHHERR
et al., 2017). Diferentes níveis de implementação da EC e diferentes características das empresas,
como porte, maturidade e tipo de serviços prestados, requerem diferentes indicadores de avaliação.
A Agência Europeia do Ambiente (EEA, do inglês European Environmental Agency) listou
perguntas de uma perspectiva material da EC, para avaliar o progresso que está sendo feito na
comunidade europeia em direção a uma economia mais circular. De maneira geral, indicadores
relacionados ao uso de material e reciclagem abrangem todas as etapas do ciclo listadas no Quadro 2.

Quadro 2 – Conjunto de questionamentos para mensurar a transição para uma economia mais
circular com enfoque nos materiais

tema pergunta

O uso de materiais primários na Europa está decaindo?

entrada de A perda de material na Europa está decaindo?

material O compartilhamento de materiais reciclados está aumentando?

Os materiais utilizados na Europa são de fontes sustentáveis?

Os produtos são projetados para durarem por mais tempo?

Os produtos são projetados para serem desmontados?

ecodesign Materiais reciclados são incluídos no projeto de produtos?

Os materiais são projetados para serem reciclados, evitando poluição


por loops de reciclagem?

A Europa está usando menos materiais nos processos produtivos?

produção A Europa está usando menor volume e quantidade de substâncias


ambientalmente danosas na produção?

26
tema pergunta

A Europa está gerando menos resíduos nos seus processos produtivos?

Os europeus estão trocando os seus padrões de consumo para


serviços e bens menos ambientalmente intensos?
consumo
Os europeus estão usando os produtos por mais tempo?

O consumo europeu está gerando menos resíduo?

A reciclagem de resíduos está aumentando?

Quanto os materiais mantêm os seus valores nos processos de


reciclagem de
reciclagem, evitando o down-cycling?
resíduos
Quanto o sistema de reciclagem está otimizado para sustentabilidade
econômica e ambiental?

Fonte: adaptado de EUROPEAN ENVIRONMENTAL AGENCY (2016).

Desse modo, o conjunto de questionamentos apresentado no Quadro 2 levantam


informações que podem ser utilizadas para mensurar o progresso na transição para uma economia
mais circular. Essas perguntas foram originalmente desenvolvidas para serem aplicadas em um nível
mais macro, mas também podem ser adaptadas para o nível micro e, dessa maneira, servir de guia
para desenvolvimento de indicadores.

27
MÓDULO II – PROCESSOS DE FIM DE VIDA
DE PRODUTOS

A sociedade contemporânea, no seu modelo social, cultural e econômico atual, baseia-se no


consumo de bens e serviços, com encurtamento gradativo do tempo de vida dos produtos nas mãos
dos consumidores. A obsolescência programada de produtos é uma realidade a ser enfrentada pelos
governos, que, em alguns países, como na França, já criaram leis específicas para barrar o
lançamento de produtos com essa característica premeditada.
Nesse sentido, esforços para o estudo do impacto ambiental, não apenas no descarte mas de
todo o ciclo de vida útil de um produto, tem sido feito para reduzir os efeitos degradantes no
planeta, como o aquecimento global e o esgotamento de recursos não renováveis. Com isso, já na
sua concepção, os produtos podem (e devem) ser avaliados desde a extração da matéria-prima,
fabricação, montagem, distribuição, uso e cenários de fim de vida mais adequados.
Considerando tais questões, a fim de entender o ciclo de vida dos produtos, os seus impactos
e cenários para o fim de vida, este módulo tem como objetivos: a) entender e discutir sobre as
diversas fases de ciclo de vida útil de um produto; b) estruturar as diversas formas de destinação
final dos produtos em fim de vida útil, e c) diferenciar os conceitos de upcycling e downcycling.

Avaliação de Ciclo de Vida (ACV)


Um produto permeia, durante sua vida útil, diversas fases de existência em uma cadeia
produtiva, desde a extração das suas matérias-primas, também chamada de pré-produção, depois as
fases de fabricação e manufatura, distribuição, uso e, eventualmente, processos de recuperação para
estender sua vida útil, conforme ilustra Figura 7.
Figura 7 – Fases do ciclo de vida útil de um produto

Fonte: Autoria própria

Dessa forma, podemos falar de cinco principais fases da vida útil de um produto:
 fase 1 – pré-fabricação, realizada por fornecedores, por meio do uso de recursos naturais,
materiais e componentes de produção;
 fase 2 – fabricação do produto;
 fase 3 – entrega do produto, normalmente, sob controle corporativo assim como a fase 2;
 fase 4 – estágio de uso do cliente, que não é controlado diretamente pelo fabricante, mas
é fortemente influenciada pelo projeto dos produtos e pelo grau de interação contínua
com o fabricante;
 fase 5 – um produto que não é mais satisfatório em razão de obsolescência, componentes
degradados ou circunstâncias pessoais é reaproveitado ou descartado.

O conceito de realizar uma investigação detalhada do ciclo de vida de um produto ou


processo é relativamente recente e surgiu em resposta ao aumento da consciência ambiental por
parte do público em geral, da indústria e dos governos. Vários termos diferentes foram criados para
descrever esse processo. A Avaliação do Ciclo de Vida ou ACV – do inglês Life Cycle Assessment,
LCA, também conhecida como análise do ciclo de vida, ecobalança e análise do berço ao túmulo –

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é uma técnica para avaliar os impactos ambientais associados a todas as etapas da vida de um
produto, do berço ao túmulo, permeando a extração, o processamento, a fabricação, a distribuição
e o uso de produtos e materiais.
Desse modo, a Avaliação do Ciclo de Vida é uma ferramenta para avaliar os impactos e
recursos ambientais potenciais utilizados ao longo do ciclo de vida de um produto, ou seja, desde a
aquisição da matéria-prima, passando pelas fases de produção e uso, até a gestão de resíduos (ISO
14040, 2006). A fase de gerenciamento de resíduos inclui o descarte e a reciclagem, e o termo
"produto" inclui bens e serviços. Dessa maneira, a ACV é uma avaliação abrangente e considera
todos os atributos ou aspectos do ambiente natural, a saúde humana e os recursos. O escopo
abrangente da ACV é útil para evitar a transferência de problemas, por exemplo, de uma fase do
ciclo de vida para outra, de uma região para outra ou de um problema ambiental para outro. Desse
modo, a ACV é uma relevante ferramenta dentro do pensamento sistêmico pois auxilia na tomada
de decisão por meio da geração de informações, avaliação dos impactos em uma visão holística e
pela comparação do desempenho ambiental dos produtos.

Definições de escopo ou delimitação da ACV


A ACV pode tomar diferentes abrangências de estudo. Essas abrangências determinam o elo do
ciclo de vida sobre o qual o estudo será realizado. Delimitações comuns utilizadas são as seguintes:
 Do berço ao túmulo (cradle to grave) – essa análise é a mais completa, pois considera a
avaliação desde a extração dos materiais (berço) até a disposição final do produto após uso
(túmulo). Dessa maneira, todas as entradas e saídas são consideradas para todas as fases do
ciclo de vida do produto.
 Do berço à porta (cradle to gate) – nessa análise, o produto é avaliado parcialmente no seu
ciclo de vida, desde a extração até a porta de saída da manufatura, não considerando as etapas
de fim de vida. Dessa maneira, as fases de uso, transporte e descarte são desconsideradas.
 Do berço ao berço (cradle to cradle) – semelhante ao berço ao túmulo, no entanto, a fase
de disposição final do produto fecha o ciclo para que o material do produto seja
reaproveitado por meio de reciclagem, por exemplo.
 Análise de Energia do Ciclo de Vida (Life Cycle Energy Analysis, LCEA) – essa análise é
uma abordagem na qual todos os insumos energéticos de um produto são contabilizados,
não apenas entradas diretas de energia durante a fabricação mas também todos os insumos
energéticos necessários para produzir componentes, materiais e serviços necessários ao
processo de fabricação. Com o LCEA, a entrada de energia do ciclo de vida total é
determinada. Além disso, é muito importante conhecer a fonte de energia, seja de
combustíveis fósseis ou de energias renováveis.

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O grau de significância relativa dos impactos ambientais específicos pode ser estabelecido pela
consideração dessas delimitações e com as seguintes características:
 a escala espacial do impacto (local, nacional ou internacional);
 a gravidade do risco, isto é, o resultado do potencial de dano de um material, a quantidade
de material envolvido e a população exposta ao risco (substâncias altamente perigosas são
mais preocupantes do que substâncias menos perigosas), e
 o grau de exposição.

Dessa maneira, pode-se elaborar sobre as questões ambientais mais significativas no contexto
da ACV, bem como os seus respectivos recursos foco e problemas, conforme compila o Quadro 3.

Quadro 3 – Questões ambientais, criticidade e atividades relacionadas

Atividades foco para cada questão ambiental


uso de combustíveis fósseis (emissão de CO2)
fabricação de cimento (emissão de CO2)
cultivo de arroz (emissão de CH4)
mineração de carvão (emissão de CH4)
mudança do clima global
pecuária (emissão de CH4)
tratamento de resíduos (emissão de CH4)
queima de biomassa (CO2, emissão de CH4)
emissão de CFCs, HFCs, N2O
perda de hábitat
questões ambientais cruciais

fragmentação do hábitat
uso de herbicida e de pesticidas
descarga de produtos químicos perigosos nas águas
perda de biodiversidade superficiais
redução de oxigênio dissolvido em águas superficiais
derramamentos de óleo
esgotamento dos recursos hídricos
desenvolvimento industrial em ecossistemas frágeis
emissão de CFCs
perda de ozônio emissão de HCFCs
estratosférico emissão de halons
emissão de óxido nitroso
emissão de materiais perigosos para o ar
emissão de materiais perigosos para a água
dano ao organismo
disposição de materiais perigosos em aterros sanitários
humano
esgotamento dos recursos hídricos
dano ao organismo físico

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Atividades foco para cada questão ambiental
uso consuntivo de águas superficiais
questões ambientais cruciais

uso de herbicidas e pesticidas

qualidade e uso de fertilizantes agrícolas


disponibilidade descarga de materiais perigosos na superfície ou em
de água águas subterrâneas
sedimentação e salinização da superfície ou solo
esgotamento dos recursos hídricos

depleção de recursos uso de combustíveis fósseis para a energia


combustíveis fósseis uso de combustíveis fósseis como matérias-primas
erosão do solo
depleção de solo descarte ou depósito de metais no solo
perda de terra arável para desenvolvimento
perda de terra arável para desenvolvimento
uso inadequado da terra destruição de hábitat
abandono de terras desenvolvidas
uso de combustíveis fósseis
questões ambientais muito importantes

deposição ácida emissão de óxidos de enxofre no ar


emissão de óxidos de nitrogênio no ar
uso de combustíveis fósseis
poluição atmosférica emissão de compostos orgânicos voláteis no ar
emissão de óxidos de nitrogênio no ar
emissão de partículas no ar
emissão de óxidos de enxofre no ar
combustão incompleta de combustíveis fósseis
queima de biomassa
degradação estética
perda de hábitat
derramamentos de óleo
descarte de resíduos sólidos
descarte de resíduos líquidos
uso de metais em oferta limitada
destruição de habitat
depleção de recursos
uso de biomateriais
além de combustíveis
descarte de resíduos sólidos
fósseis e solos
descarte de resíduos líquidos
descarte de resíduos gasosos

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Atividades foco para cada questão ambiental
transporte de petróleo
vazamento
refino de petróleo
de óleo
questões ambientais menos

distribuição de produtos petrolíferos


produção de energia nuclear
radionuclídeos
fabricação de produtos contendo radioisótopos
importantes

emissões industriais odoríferas


odor
resíduos odoríferos não tratados
descarga de água aquecida para águas superficiais
poluição térmica descarga de água aquecida para o lençol freático
descarga de ar aquecido
esgotamento de aterro disposição de resíduos sólidos em aterros sanitários
sanitário disposição de resíduos líquidos em aterros sanitários

Dessa maneira, a ACV abrange os impactos ambientais e de recursos de processos alternativos de


descarte, bem como os outros processos que são afetados por estratégias de descarte, como diferentes
tipos de organização para coleta para recicláveis, padrões de transporte alternativos, e assim por diante.
O método de avaliação do ciclo de vida (ACV) possui uma estrutura fixa e é praticado de
acordo com as normas internacionais ISO 14040. Essa estrutura é melhor detalhada a seguir.

Estágios da ACV
A avaliação do ciclo de vida é uma técnica para avaliar os aspectos ambientais associados a
um produto ao longo do seu ciclo de vida. As aplicações mais importantes da ACV são duas: a
análise da contribuição das etapas do ciclo de vida para a carga ambiental global do produto –
geralmente, com o objetivo de priorizar melhorias em produtos ou processos – e a comparação entre
produtos para uso interno.
A Figura 8 apresenta estas quatro etapas provindas das diretrizes da ISO 14040.

Figura 8 – Framework para a ACV

Fonte: Adaptado de ISO 14040 (2006).

34
As quatro principais etapas são descritas em detalhes a seguir (KRISHNA et al., 2017):
a) Etapa 1 – Definição do objetivo e escopo
O objetivo e escopo da ACV têm como propósito definir a delimitação do estudo, isto é, qual
parte do produto será avaliada e com qual objetivo de avaliação. Os critérios que servem para
comparação do sistema e dos momentos de análise específicos são descritos aqui.

b) Etapa 2 – Análise de inventário


Nesta etapa, a análise de inventário fornece uma descrição dos fluxos de materiais e energia dentro
do sistema do produto e especialmente sua interação com o meio ambiente, matérias-primas
consumidas e emissões para o meio ambiente. Dessa forma, as entradas e saídas incluem insumos de
materiais, energia, produtos químicos e outros, e saídas na forma de emissões atmosféricas, emissões de
água ou resíduos sólidos. Outros tipos de trocas ou intervenções, como radiação ou uso da terra, também
devem ser incluídos, se aplicável. Os dados devem estar relacionados à unidade funcional (ou fase da
vida útil do produto) determinada na definição do objetivo e do escopo. Todos os processos importantes
e fluxos subsidiários de energia e material são descritos mais adiante.
Essa etapa pode demandar mais tempo e recursos, pois se trata de uma infinidade de informações
a serem coletadas. Existem dois tipos de dados a serem coletados: dados de primeiro plano e dados de
antecedentes. Dados em primeiro plano são dados muito específicos necessários para modelar o sistema
– normalmente, dados que descrevem um sistema de produto específico e um sistema de produção
especializado. Os dados de antecedentes são dados para sistemas genéricos de materiais, energia,
transporte e gerenciamento de resíduos, tipicamente encontrados em bancos de dados e literatura. Uma
vez que os dados coletados e analisados, os orçamentos e os estudos de balanço de massa precisam ser
realizados.

c) Etapa 3 – Análise de impacto


Detalhes da análise de inventário servem de input para a avaliação de impacto. Os resultados do
indicador de todas as categorias de impacto são detalhados nessa etapa, como potencial de aquecimento
global, acidificação, eutrofização, toxidade humana, uso total de água, etc. A importância de cada
categoria de impacto é avaliada por normalização e, eventualmente, também com uso de ponderação
(opcional). Essa análise é feita por meio de três passos: classificação (quais os efeitos ambientais dos
outputs), localização (comparação do impacto ambiental em diferentes regiões e diferentes
características) e valoração (processo de atribuição de fatores de ponderação às diferentes categorias de
impacto com base na sua importância relativa).

d) Etapa 4 – Interpretação
A etapa de interpretação é a mais importante, pois envolve uma revisão crítica da análise,
determinação da sensibilidade dos dados e apresentação do resultado final. Essa análise das principais

35
contribuições e análise de incerteza levam à conclusão sobre o atendimento do objetivo e escopo,
inicialmente delineados para o ACV. Todas as conclusões são elaboradas durante essa fase.

Dessa maneira, ao realizar um estudo de avaliação do ciclo de vida, as seguintes questões


precisam ser abordadas. As cargas impostas ao meio ambiente pelas atividades humanas podem ser
determinadas pela contabilização dos recursos e da energia (inputs) consumidos em cada etapa do
ciclo de vida de um produto, e os poluentes e resíduos resultantes (output) emitidos. As entradas e
saídas são avaliadas pelos impactos adversos na sustentabilidade de longo prazo de recursos
renováveis e não renováveis, na saúde humana, biodiversidade, entre outros. Uma vez conhecidos
os impactos, podem ser tomadas medidas para mitigar o impacto destes outputs (ou inventários)
sobre o meio ambiente.

Vantagens do uso da ACV


Por isso, a utilização do método ACV pode auxiliar em: (i) pesquisar os ciclos de vida menos
danosos, por exemplo, aqueles com impacto negativo mínimo no ambiente; (ii) tomar as decisões na
indústria, organizações públicas ou ONGs, que determinam a direção e as prioridades no planejamento
estratégico, projeto ou design de produto, ou mudança de processo; (iii) escolher indicadores
importantes sobre o desempenho ambiental da organização, incluindo técnicas de medição e avaliação,
principalmente em conexão com a avaliação do estado do seu ambiente; (iv) realizar marketing com
base na formulação de declaração ambiental ou mesmo rotulagem ecológica de produtos.

Dificuldades na aplicação da ACV


Normalmente, a ACV usa dados quantitativos para estabelecer os níveis e tipos de energia e
entrada de materiais para um sistema industrial, e a saída do produto e as liberações ambientais
resultantes. A principal técnica utilizada na ACV é a modelagem. Na fase de inventário, é feito um
modelo do sistema técnico complexo usado para produzir, transportar, usar e descartar um produto.
Isso resulta em uma folha de fluxo ou árvore de processo com todos os processos relevantes. Para
cada processo, todas as entradas e as saídas relevantes são coletadas. Geralmente, o resultado é uma
lista muito longa de entradas e saídas que é, muitas vezes, difícil de interpretar.
Além disso, na etapa de coleta dados, é relevante mencionar que a coleta de informações de
fornecedores e clientes é dependente da relação da empresa com os seus parceiros e, também, o interesse
destes em participar de estudos ambientais. Muitas vezes, lida-se com informações confidenciais que
não são facilmente compartilhadas. Ademais, existem terminologias diferentes usadas nas empresas,
assim como métricas distintas, o que dificulta ainda mais o compartilhamento de informações.
Entendendo essas dificuldades causadas principalmente pelo alto nível de complexidade de
um ACV, um modelo simplificado da sua aplicação é sugerido, o Streamlined Life Cycle Assessment.

36
Streamlined Life Cycle Assessment (SLCA)
Existem técnicas que adotam um tipo de abordagem simplificada para a ACV, ou seja, realizam
a avaliação com o grau de detalhamento e custos geralmente reduzidos em relação ao modelo ACV
original, como é o caso do Streamlined Life Cycle Assessment (SLCA). Desse modo, o SLCA busca o
ponto de equilíbrio em trazer uma avaliação completa e rigorosa o suficiente para ser um guia
definitivo para a empresa, mas não tão detalhada a ponto de ser difícil ou impossível de realizar.
O SCLA se apresenta como uma ferramenta eficaz para avaliar o impacto de um produto ou
atividade para o meio ambiente. Em geral, os métodos usados englobam o uso de matrizes, que
representam matematicamente os estressores ambientais (por exemplo, uso de energia, escolha de
material, resíduos líquidos, etc.) e as fases da vida útil do produto.
Para demonstrar o seu uso, apresentamos a matriz da Tabela 1 como exemplo. Observe que,
em cada célula, os números representam os índices dos elementos da matriz (i,j).

Tabela 1 – Matriz SLCA (matriz Fm,n)

questões ambientais, de saúde e segurança

fase da vida biodiversidade uso de resíduos resíduos resíduos segurança do


ou materiais energia sólidos líquidos gasosos trabalhador

pré-manufatura 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6

manufatura 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6

distribuição 3,1 3,2 3,3 3,4 3,5 3,6

uso do produto 4,1 4,2 4,3 4,4 4,5 4,6

serviço 5,1 5,2 5,3 5,4 5,5 5,6

fim de vida 6,1 6,2 6,3 6,4 6,5 6,6

Fonte: adaptado de Graedel et al. (2005).

A matriz representada na Tabela 1 contém 36 elementos, que podem ter os seus valores
variando de 0 a 4, que seria a escala de impacto de uma dada fase de vida m em uma questão
ambiental n, sendo 0 o pior impacto possível e 4 um impacto praticamente irrelevante.
Se os elementos da matriz Fm,n forem preenchidos com dados de análise de inventário, o
resultado será uma matriz de análise de inventário que pode ser denominada F. Desse modo, tem-se:

37
a) O impacto total para um quesito ambiental, saúde ou segurança n seria:

𝑛𝑛

𝑄𝑄𝑛𝑛 = � 𝑓𝑓𝑚𝑚,𝑛𝑛
1

b) O impacto de uma fase do ciclo de vida m, considerando todos os impactos seria:

𝑚𝑚

𝑃𝑃𝑚𝑚 = � 𝑓𝑓𝑚𝑚,𝑛𝑛
1

c) O impacto de todas as fases do ciclo de vida em todos os estressores, ou seja, a análise


geral seria calculada por meio de:

𝑚𝑚 𝑛𝑛

𝑅𝑅 = � � 𝑓𝑓𝑚𝑚,𝑛𝑛
1 1

Com isso, a classificação geral do processo ou produto em avaliação (R) é computada por meio da
soma dos valores dos elementos da matriz. Como com qualquer matriz, alguns dos elementos da matriz F
podem conter zeros. Um exemplo seria um valor de inventário nulo atribuído para o fator “resíduo sólido”
para a fase de distribuição de um produto. Usando a escala sugerida de 0 a 4 para os elementos da matriz
F, tem-se que o valor máximo do impacto geral (Rn) poderá ser 144, o que representaria, idealmente, um
produto sem impacto em todos os quesitos avaliados.

Reciclagem, remanufatura e recondicionamento de produtos


Durante a sua vida, um produto executará alguma função e, no caso de sistemas reparáveis, pode
ocorrer algum tipo de manutenção ou mesmo alguns produtos podem passar por alguma forma de
atualização. Um produto atinge o fim da sua vida útil quando não apresenta mais serventia ao seu usuário.
Esse fim pode ser caracterizado por diversos motivos, e os dois principais são: obsolescência técnica do
produto (ou seja, as suas funcionalidades estão reduzidas) ou obsolescência estética (o produto perde o
apelo devido a novos produtos que aparecem no mercado com recursos diferentes ou adicionais).
Nesse sentido, no modelo produtivo linear – em que o foco lucrativo das empresas reside na
transferência de posse dos produtos (venda), e não em serviços (lucratividade via conceito de produto-
serviço) –, a obsolescência programada ganha espaço, a fim de encurtar a vida útil dos produtos e,
consequentemente, impulsionar a venda de produtos novos. Esse consumismo demasiado é o paradigma
social dominante interpretado como a causa fundamental dos problemas de sustentabilidade atuais.

38
Dessa forma, quando (por algum motivo) o produto deixar de ter qualquer outra utilidade
para o usuário na sua condição atual, o produto é abandonado ou rejeitado. Com isso, os produtos
chegam, cada vez mais rápido, ao seu fim de uso ou mesmo fim de vida, e encontram diversas
possibilidades de cenários para essa nova fase de seu ciclo. A Figura 9 traz uma hierarquia proposta
para os vários cenários de final de vida do produto.

Figura 9 – Cenários para fim de vida

Fonte: adaptado de Parkinson e Thompson (2003).

Os produtos podem ser aterrados ou armazenados, por exemplo. Essas ações, efetivamente,
desperdiçam a energia, o material e o valor agregado no processo de fabricação. De forma alternativa, o
produto também pode ser revalorizado. A revalorização inclui qualquer processo que busque recuperar o
valor incorporado em um produto ou material descartado.
Dentro das possibilidades de revalorização (recuperar o valor de alguma coisa), existem diversas
possibilidades de cenários para o fim de vida. As atividades de incineração de produtos e compostagem
(no caso de resíduos orgânicos) são consideradas revalorização, pois a primeira pode recapturar energia no
processo de queima, e a segunda fecha o ciclo biológico dos componentes.
As demais definições propostas para os cenários de revalorização do produto da Figura 9 são
discutidas a seguir.

Reuso versus reciclagem


O termo “reuso” pode ser confundido com reciclagem algumas vezes, mas não são sinônimos. É
importante evitar essa confusão na terminologia, uma vez que o impacto ambiental do reuso é, geralmente,
muito menor do que o da reciclagem. Reutilizar significa continuar a usar um produto, em vez de destruí-
lo (como é o caso da reciclagem). Por exemplo, quando um carro é desmanchado, o chassi e a carroceria
são reciclados, isto é, fundidos em aço bruto. No entanto, o motor pode ser recuperado e reutilizados em
outro carro.

39
Dessa maneira, o reuso permite que a integridade do item seja mantida para uso posterior, ou
seja, é a reutilização "como está" ou incluindo reprocessamento para recapturar o valor adicionado
durante a fabricação. Já no processo de reciclagem, a energia e o valor agregado durante a fabricação
são perdidos. Com isso, dentro do conceito de revalorização, a reciclagem indica que os itens são
destruídos, e os materiais de que são feitos são novamente utilizados para produtos similares ou outros
fins. Isso é preferível ao aterro do produto, porque a energia e os recursos gastos na produção das
matérias-primas são recapturados. No entanto, o potencial de remanufatura não é realizado.
Dentro das possibilidades de reprocessamento, tem-se a remanufatura e o recondicionamento,
descritos a seguir.

a) Remanufatura
A remanufatura é o processo de devolver um produto usado a uma condição nova, com uma
garantia compatível a de um produto novo (KERKER et al., 2021). Geralmente, o processo inclui
triagem, inspeção, desmontagem, limpeza, reprocessamento e remontagem, e peças que não podem
ser devolvidas à qualidade original são substituídas, o que significa que o produto remanufaturado
final será uma combinação de peças novas e reutilizadas (HATCHER; IJOMAH; WINDMILL,
2011).
Dessa forma, é importante salientar que um produto remanufaturado deve apresentar uma
condição de funcionamento igual ao produto novo ou melhor. Para isso, por vezes, um produto
pode exigir alguma atualização para compensar qualquer obsolescência que tenha ocorrido desde
que o produto entrou pela primeira vez no mercado.

b) Recondicionamento
Recondicionamento é o processo para restaurar um componente ou submontagem de um
produto. Nesse sentido, de forma geral, é considerado parte do processo de remanufatura, pois se refere
apenas aos processos que realmente restauram itens específicos, e não ao processo total de remanufatura
(que se refere à operação total de recebimento dos núcleos, identificação, limpeza e desmontagem). Os
processos de recondicionamento podem incluir usinagem, tratamento térmico, soldagem, etc.

c) Reparo
Já o reparo se refere a ações executadas para retornar um produto ou componente puramente
a uma condição funcional após uma falha ter sido detectada. Nesse sentido, um reparo pode ocorrer
em serviço ou após o descarte final do produto. Por isso, o reparo é uma ação tomada no nível do
componente dentro do processo de recondicionamento ou uma ação tomada durante o uso de um
produto como uma ação de manutenção, com foco puramente em trazer a funcionalidade daquela
parte do produto de volta.

40
Essas e outras definições estão dispostas no Quadro 4, com exemplos para ilustrar melhor
tais termos.

Quadro 4 – Termos, definições e exemplos dos diversos tipos de revalorização

termo definição exemplo

reparo Ações desempenhadas para Substituir a correia quebrada de


retornar um produto a uma um motor.
condição de funcionamento
durante o seu serviço ou no fim
de vida de um produto para
retornar um componente ao
estado de funcionamento.

recondicionamento Processo dentro da remanufatura Substituir microcomponentes de


para restaurar os componentes uma placa mãe de um
de um produto para um estado computador sendo
de tão bom quanto o novo. remanufaturado, trazendo a placa
ao estado de “igual a uma nova”.

remanufatura Reprocessamento de produtos Computador remanufaturado


usados de tal maneira que a igual, em qualidade, a um
qualidade do produto seja tão computador novo e com a mesma
boa ou melhor do que o novo em garantia de um novo.
termos de aparência,
confiabilidade e desempenho.

restaurar ou Reprocessamento de um produto Restaurar um motor com uma


reformar usado ao mínimo custo, no garantia mínima.
intuito de trazer o produto ao
funcionamento mínimo
necessário.

reciclagem Processo de recuperar o material Picotar o plástico da carcaça de


do produto depois que ele foi um computador, derretê-lo e usá-
descartado. lo em um processo de moldagem
por injeção de plástico.

reuso “como está” Refere-se ao reuso do produto de Comprar um carro usado


segunda mão, com o mínimo (segunda mão).
reprocessamento (por exemplo,
apenas limpeza).

41
termo definição exemplo

upgrade Refere-se a qualquer processo Expandir a memória RAM de um


que dê, ao produto, uma computador.
melhoria nas suas
funcionalidades.

Fonte: Autoria própria

Esses cenários para o fim de vida útil de um produto podem ser organizados hierarquicamente
também com relação ao que é mais desejável do ponto de vista de impacto ambiental, e o que é
menos desejável. A Figura 10 traz essa reflexão em uma escala de menor impacto ao maior impacto,
incluindo os melhores cenários ao meio ambiente, que seriam a redução do uso de matérias-primas
(Reduzir) ou mesmo, em um extremo utópico, a não utilização de recursos (Evitar).

Figura 10 – Hierarquia da redução de resíduos

Fonte: Autoria própria

Tendo em vista essas definições e os níveis de valor que são reagregados aos produtos, o reuso
“como está”, restaurar ou remanufaturar um produto deveriam ser os mais comuns (já que podem
ser mais lucrativos) do que a reciclagem. Além disso, muitas vezes, a carga ambiental é reduzida na
remanufatura ao comparar com a reciclagem. No entanto, a realidade é diferente: a reciclagem é
muito mais comum que o reparo ou a remanufatura. A razão para essa realidade tem sido a falta de
responsabilidade vitalícia pelo produto, ou seja, políticas de responsabilidade do fabricante sobre o
produto por toda a sua vida útil.

42
Desse modo, como a reciclagem é essencialmente desconectada dos fabricantes (o material é,
muitas vezes, misturado com outro material e processado em outra empresa), esse tem sido o loop
de retorno mais dominante. Além disso, muitas empresas ainda entendem que a reciclagem é uma
boa prática ambiental, vendendo uma “imagem verde” que, na realidade, está associada com o
encurtamento da vida dos produtos e a obsolescência programada.

Reciclagem: upcycling e downcycling


A reciclagem é o processo de reaproveitamento do material de um produto em fim de vida,
ou seja, a reciclagem converte resíduos em matéria-prima reutilizável. Entre os materiais e produtos
passíveis de reciclagem, ou seja, recicláveis, os mais comuns são: vidro, papel, papelão, metal,
plástico, pneus, baterias, têxteis e eletrônicos. Existem algumas normas ISO relacionadas à
reciclagem, como a ISO 15270:2008 para resíduos de plástico e ISO 14001:2015 para o controle
da gestão ambiental da prática de reciclagem.
Os processos de reciclagem ainda podem ser classificados em reciclagem mecânica (ou física) e
reciclagem química. A reciclagem mecânica não altera a composição química do produto. Um
exemplo seria a fundição de plásticos para formar novos objetos de plástico, como as garrafas PET
que são convertidas em poliéster destinado a roupas. Já a reciclagem química altera a estrutura
molecular de um material. Por exemplo, é possível converter alguns polímeros em monômeros de
novo. Os monômeros resultantes podem ser usados para novas polimerizações para reproduzir o
original ou um produto polimérico diferente. Esse método é capaz de transformar o material plástico
em moléculas menores, adequadas para uso como matéria-prima, começando com monômeros,
oligômeros ou misturas de outros compostos de hidrocarbonetos (GRIGORE, 2017). Dependendo
do processo escolhido, a reciclagem pode ser classificada em duas vertentes em relação à agregação de
valor: upcycling e downcycling. No entanto, qual é a diferença entre upcycling e downcycling?
Existem distinções claras entre as várias maneiras pelas quais podemos reutilizar resíduos e
outros materiais descartados. Quando convertemos materiais descartados em algo de valor igual ou
maior, é o que se chama de upcycling. Quando um material é downcycled, significa que é
transformado em algo de menor valor. Esses conceitos são melhor desenvolvidos a seguir.

Upcycling
Ao fazer um upcycle em um item, os materiais não são transformados, mas são reaproveitados.
Desse modo, upcycling é o processo de conversão de materiais antigos ou descartados em algo útil
e, muitas vezes, bonito e de maior valor agregado. Por essa razão, upcycling provê um novo propósito
a um item, reduzindo o consumo de novas matérias-primas. Além disso, o conceito de upcycling
tem um foco oposto à cultura do consumismo, pois incentiva as pessoas a pensar em maneiras novas
e inovadoras de usar os produtos, em vez de, simplesmente, comprar novos bens de consumo.

43
Um exemplo claro de upcyling seria o uso de rebarbas de um processo produtivos de roupas
em couro e poliéster para fazer uma bolsa. Além de prolongar a vida de um material que poderia
ser descartado como resíduo produtivo, criou-se um produto de maior valor. Recentemente, a
construção civil tem experimentado também o uso de materiais que poderiam ser descartados nas
suas estruturas, também aumentando o valor agregado do material final.

Downcycling
Por contraste, o downcycling ocorre quando um material descartado é convertido em algo de
menor valor. Por exemplo, em vez de converter o poliéster resíduo produtivo em uma bolsa, ele
será derretido e virará novamente fio, que possui menor valor que um tecido. Nesse sentido, os
materiais reciclados são considerados materiais com propriedades físicas e estéticas inferiores aos
materiais virgens. De fato, para muitos materiais, esse senso comum coincide com a realidade,
especialmente quando esses materiais são plásticos. A reciclagem de plásticos, normalmente, é do
tipo downcycling, pois o material reciclado costuma ser um plástico de qualidade inferior. Por
exemplo, fibras PET provenientes de garrafas recicladas apresentam propriedades mecânicas piores
do que as do material virgem.
Embora o downcycling ainda ajude o meio ambiente, já que mantém os resíduos fora dos
aterros pelo menos por um tempo, muitas vezes, o material acabará chegando lá. Isso porque os
ciclos de reciclagem por downcycling são finitos, já que o material tende a ir perdendo as suas
propriedades, e, consequentemente, o seu valor a cada reciclagem, tornando o descarte final.

44
MÓDULO III – GESTÃO SUSTENTÁVEL DA
CADEIA DE SUPRIMENTOS

Recentemente, nota-se um aumento do número de clientes preocupados com a compreensão


das condições sob as quais os produtos são produzidos e o seu desejo de que os produtos sejam
produzidos de maneira sustentável. Nesse contexto, os gerentes da cadeia de suprimentos se
preocupam não apenas com critérios básicos para avaliar componentes e materiais (custo, qualidade
e entrega), mas também com uma série de fatores que incluem a cadeia de fluxo a montante e a
jusante. Um dos fatores destacados está relacionado ao desenvolvimento sustentável, com foco não
apenas em uma empresa mas também em parceiros da cadeia de suprimentos.
Nesse sentido, o foco da sociedade e das empresas é direcionado para soluções que reduzam
os impactos ambientais e sociais, e que sejam, ao mesmo tempo, economicamente sustentáveis, ou
seja, que atuem no triple bottom line (social-ambiental-econômico) da sustentabilidade no âmbito
da cadeia de suprimentos. Nesse amplo espectro de atuação, entram questões como a
responsabilidade social das empresas, aspectos ambientais ao longo da cadeia de suprimentos e
fechamento do ciclo de produtos, e atuação das atividades logísticas com foco em ecoeficiência.
Nesse sentido, este módulo, tem como objetivos: a) entender o papel da responsabilidade
social dentro do contexto da logística e da cadeia de suprimentos; b) compreender a definição e
ações dentro de uma cadeia de suprimentos de ciclo fechado (Closed-loop Supply Chain); c)
compreender a definição e as ações dentro de uma cadeia de suprimentos verde (Green Supply
Chain); d) entender as ações ambientais dentro das atividades logísticas e (v) discutir sobre métricas
em ecoeficiência na atividade de transportes.
Responsabilidade social
A gestão da cadeia de suprimentos sustentável (do inglês Sustainable Supply Chain
Management, SSCM) é definida como a gestão do fluxo de material, informação e capital, bem
como a cooperação entre empresas ao longo da cadeia, levando em conta os objetivos das três
dimensões do desenvolvimento sustentável, derivadas das necessidades de clientes e partes
interessadas (SAUER; SEURING, 2018). A relação entre o tripé da sustentabilidade é ilustrada pela
Figura 11. Neste tópico, focaremos no pilar social, ou seja, no viés para o desempenho social.

Figura 11 – Sustentabilidade e a relação entre os elementos do triple bottom line

Fonte: adaptado de Elkington (1998)

O pilar social – também chamado de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) ou


cidadania corporativa – pode ser entendido como um tipo de autorregulação das empresas com
relação ao seu desempenho social. Com isso, podemos descrever a RSC como uma política
organizacional interna no sentido de uma estratégia ética corporativa e, desse modo, deve-se alinhar
e ser integrada em um modelo de negócio para ser bem-sucedida. A RSC é conceito de quatro
vertentes, compreendendo as responsabilidades legais, econômicas, éticas e discricionárias (ou
filantrópicas) das corporações (QUARSHIE; SALMI; LEUSCHNER, 2016).
A implementação da RSC em uma empresa deve ir além do cumprimento dos requisitos
regulatórios e envolver-se em "ações que parecem promover algum bem social, além dos interesses
da empresa e daquilo que é exigido por lei" (MCWILLIAMS; SIEGEL, 2001). Em geral, as
empresas podem-se envolver em responsabilidade social corporativa para fins estratégicos ou éticos.
Pelo ponto de vista estratégico, o objetivo é aumentar os lucros no longo prazo e a confiança dos

46
acionistas por meio de relações públicas positivas, reduzindo os riscos corporativos e legais,
assumindo a responsabilidade pelas ações corporativas. Pela perspectiva ética, algumas empresas
adotam políticas e práticas de RSC por conta das crenças éticas da alta administração.
No entanto, dentro do contexto da cadeia de suprimentos e no âmbito de rede de empresas, à
medida em que várias leis internacionais foram desenvolvidas, várias organizações começaram a usar
a sua autoridade na cadeia de suprimentos para estender a sua atuação social para além das suas portas.

Áreas da RSC na cadeia de suprimentos


A gestão da cadeia de suprimentos é um processo composto por várias funções e atividades
distintas e interconectadas, como gestão de transportes internos e externos, armazenagem,
gerenciamento de estoque, gerenciamento de aquisições, gerenciamento de provedores de serviços
logísticos, gerenciamento de recursos, atendimento ao cliente, dentre outros. Levando em
consideração esses processos, as principais áreas de responsabilidade social nas cadeias de
suprimentos são as descritas no Quadro 5, com seus exemplos de práticas.

Quadro 5 – Exemplos de aplicação de RSC na cadeia de suprimentos

áreas da CSR práticas

práticas  determinar metas de RSC para a função de compras;


organizacionais  determinar e definir os papéis e as responsabilidades dos recursos
humanos relacionados à RSC na logística;
 fornecer treinamento relevante em RSC para os fornecedores;
 compartilhar atividades e práticas de RSC com todas as partes
interessadas relevantes, e
 implementar um mecanismo para receber feedback das partes
interessadas sobre as práticas de RSC.

práticas éticas  não aceitar presentes, serviços gratuitos, etc. de fornecedores (em
especial, durante o processo de seleção de fornecedores);
 não criar pressões ilegítimas em fornecedores;
 não compartilhar informações de preços e serviços sobre fornecedores
com outras partes interessadas irrelevantes;
 não favorecer nenhum fornecedor apenas por conta das preferências
dos gerentes e assegurar um processo de seleção justo;
 assegurar que todos os departamentos atendam aos padrões éticos no
processo de compra;
 não criar vantagem ilegítima na competição usando itens do contrato;
 não divulgar informações erradas de propósito e
 não usar itens específicos apontando fornecedores específicos em
contratos.

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áreas da CSR práticas

práticas de  não manter alguns fornecedores fora do ciclo, apenas porque eles têm
direitos humanos gerentes de diferentes origens étnicas ou culturais;
e condições de  ter procedimentos e mecanismos para monitorar o fornecimento de
trabalho oportunidades iguais para cada funcionário que trabalha em todas as
empresas fornecedoras;
 ter procedimentos adequados para garantir que todos os funcionários
possam se beneficiar de todos os seus direitos legais, estejam
trabalhando de acordo com as regras, regulamentos e normas nacionais
e internacionais, e
 assegurar que as condições físicas e psicológicas de trabalho cumpram
todas as regras e regulamentos em vigor.

práticas de saúde  ter procedimentos adequados para garantir que as condições de


e segurança trabalho não comprometam a saúde e segurança humana;
 assegurar que todas as medidas de segurança e proteção estejam em
vigor para todas as atividades, e
 ter procedimentos para assegurar que produtos sensíveis e delicados
sejam armazenados sob condições apropriadas.

práticas em  desenvolver e executar programas de treinamento e desenvolvimento


relação a de fornecedores locais;
sociedade  participar ativamente e organizar atividades sociais sem fins lucrativos,
como trabalho voluntário, instituições de caridade, leilões públicos, etc., e
 apoiar atividades esportivas e educação pública.

Fonte: adaptado de TEKIN; ERTÜRK; TOZAN (2015).

Considerando as práticas mencionadas no Quadro 5, garantir que todas as atividades e


funções cumpram as normas e os regulamentos, nacionais e internacionais, assim como trabalhar
com fornecedores que atendam aos mesmos requisitos, constituem os fatores mais importantes para
a RSC nas cadeias de suprimento. Vale destacar que, recentemente, essa questão se tornou
importante para uma organização se manter competitiva no mercado e ter um crescimento
sustentável em termos de perspectiva estratégica.
Em um cenário ainda mais atual, as pessoas em todo o mundo vivem uma época inesperada
com a rápida propagação do vírus e consequente pandemia do Covid-19, que traz incertezas aos
seres humanos e às cadeias de suprimentos. A pandemia do Covid-19 apresenta desafios para
empresas no que diz respeito à RSC. Algumas empresas/varejistas, por exemplo, tentaram lucrar
com a crise. Na Inglaterra, a Autoridade da Concorrência e dos Mercados (CMA) criou uma força-
tarefa especial para reprimir empresas que tentaram lucrar com a pandemia inflando os preços ou
fazendo alegações enganosas sobre produtos (HE; HARRIS, 2020). Inevitavelmente, esta crise
colocou as empresas em teste pelo seu compromisso com a conduta ética nos negócios e a RSC.

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Neste momento, as empresas devem buscar não apenas o desempenho financeiro mas também o
benefício da sociedade e o bem-estar das suas partes interessadas, como parceiros, famílias,
funcionários, clientes e comunidades (MAHMUD et al., 2021).

Cadeia de suprimentos de ciclo fechado


Uma cadeia de suprimentos de ciclo fechado, ou do inglês Closed-loop Supply Chain (CLSC),
essencialmente combina a cadeia de suprimentos de fluxo direto com a logística reversa,
considerando o produto depois de ter servido à sua finalidade original. Dessa forma, depois que o
item é fabricado, enviado e distribuído por um revendedor, o fabricante incentiva o retorno do
produto quando ele não estiver mais funcional. A logística reversa é acionada, e os itens podem ser
reparados e revendidos, ou podem ser decompostos para reutilização em produtos futuros. O termo
“ciclo fechado” ou “circuito fechado” (closed-loop) refere-se ao fato de que a cadeia se destina a
manter e recuperar valor de produtos não utilizados, ajudando a criar o mínimo de desperdício
possível. Por isso, o gerenciamento de cadeia de suprimentos de ciclo fechado (CLSC management)
pode ser definido como o projeto, controle e operação de um sistema para maximizar a criação de
valor durante todo o ciclo de vida de um produto com recuperação dinâmica de valor de diferentes
tipos e volumes de retorno ao longo do tempo (GOVINDAN; SOLEIMANI; KANNAN, 2015).
Nesse sentido, independentemente do cenário de fim de vida escolhido para o produto – seja
reparo, recondicionamento, remanufatura ou reciclagem – se o produto retorna para a cadeia para
ter o seu valor recuperado, fecha-se o ciclo, configurando uma CLSC, conforme ilustra a Figura 12.

Figura 12 – Cenários de fim de vida e o fechamento do ciclo (CLSC)

Fonte: Autoria própria

49
Retornos do produto podem ocorrer por uma variedade de razões ao longo do ciclo de vida do
produto. Os retornos comerciais são produtos devolvidos ao revendedor pelos consumidores dentro
de prazos estipulados por lei – por exemplo, no Brasil, 7 dias; nos Estados Unidos, 30 dias após a
compra. Como exemplo, vamos considerar os smartphones. Nos Estados Unidos, os consumidores
podem devolver um telefone celular ao provedor de serviços por qualquer razão durante um período
de 30 dias após a compra, o que caracteriza um retorno comercial. Já os retornos de fim de uso
ocorrem quando um produto funcional é substituído por uma atualização tecnológica.
Além disso, recentemente, tem-se tornado uma prática comum entre revendedoras de
smartphones receber os aparelhos usados em funcionamento perfeito no ato de venda de um produto
novo, promovendo um desconto no valor da mercadoria nova (retorno de fim de uso). No entanto,
alguns usuários de smartphones abandonam os seus telefones somente quando não são mais
suportados pelo provedor, por exemplo, a tecnologia tornou-se obsoleta (retorno de fim de vida).
Também podemos considerar os reparos e as devoluções de garantia que ocorrem durante todo o
ciclo de vida do produto e, até mesmo, além dele. Deve ficar claro que, somente para os eletrônicos
de consumo, há milhões de produtos devolvidos anualmente no Brasil e, desse modo, um enorme
potencial para recuperação de valor.
Com isso, as atividades de recuperação de produtos incluem aquisição de produtos usados,
logística reversa, disposição de produtos – triagem, teste e classificação –, remanufatura ou reparo,
e remarketing. Voltando ao exemplo dos smartphones, para recuperá-los, o primeiro passo é ter acesso
a quantidades suficientes dos telefones de qualidade certa pelo preço certo (aquisição de produto).
Os telefones adquiridos devem ser transportados para uma fábrica ou indústria de recuperação
(logística reversa) onde são testados e classificados (triagem do produto) antes de selecionar a melhor
opção de recuperação de produto – remanufatura, reparo, recuperação de peças, reciclagem ou
descarte. Supondo que a opção de recuperação ideal para um determinado telefone é a
remanufatura, esse telefone precisa ser vendido em um mercado secundário (remarketing).
Para cada tipo de retorno de produto, existe uma opção de recuperação mais atraente. No
caso de retornos comerciais, os produtos mal foram usados e podem ser melhor reintroduzidos no
mercado o mais rápido possível. A maioria desses retornos exige apenas operações de reparo leves
(limpeza e estética, se for o caso). Os retornos de fim de uso podem ter sido usados intensivamente
durante um período de tempo, de forma que podem exigir atividades de remanufatura mais
detalhadas. A alta variabilidade no uso desses produtos também pode resultar em requisitos muito
diferentes de remanufatura do produto. Já os produtos em fim de vida são, de forma predominante,
obsoletos tecnologicamente e, muitas vezes, degradados. Isso faz com que a recuperação e a
reciclagem das peças sejam as únicas alternativas práticas de recuperação. Em resumo, há
combinações naturais de tipo de retorno e tipo de recuperação, a saber: a) retornos do consumidor
(comercial) → reparo; b) retornos de fim de uso → remanufatura, e c) devolução de fim de vida →
reciclagem. Logicamente, existem muitas exceções, mas a experiência industrial mostra que esses
são os pares de tipo de retorno e tipo de recuperação dominantes.

50
A fim de dar foco na perspectiva de fluxo de processo da cadeia reversa, podemos distinguir
três subprocessos: gerenciamento de devoluções de produto, questões operacionais de remanufatura
e desenvolvimento de mercado de produtos de segunda mão. Como qualquer um desses três
subprocessos pode ser um gargalo, as perguntas, a seguir, devem ser feitas:
 Existe mercado para os produtos remanufaturados (desenvolvimento de mercado de
produtos remanufaturados)?
 O valor pode ser recuperado a um custo razoável (questões operacionais)?
 Existe acesso suficiente a produtos usados (gerenciamento de devoluções de produtos)?

Muitas vezes, não são as restrições técnicas que dificultam o fluxo reverso nas CLSC, mas a
falta de um mercado para produtos de segunda mão ou a falta de produtos usados de qualidade
suficiente, pelo preço certo e no momento certo. Dessa forma, em uma perspectiva ampla do
negócio, esses três subprocessos precisam ser gerenciados e coordenados de tal maneira que
garantam a captura ótima do valor nesses sistemas.

Cadeia de suprimentos verde


Existe um interesse crescente em integrar escolhas ambientais na gestão da cadeia de
suprimentos na prática. O gerenciamento da cadeia de suprimentos verde, do inglês Green Supply
Chain Management (GSCM), tem as suas raízes na gestão ambiental e no gerenciamento da cadeia
de suprimentos. Desse modo, a GSCM envolve adicionar o componente "verde" ou ambiental no
gerenciamento da cadeia de suprimentos, abordando a influência e as relações dentro de uma cadeia
de empresas com o ambiente natural. Por definição, podemos afirmar que GSCM visa à “integração
do pensamento ambiental na gestão da cadeia de suprimentos, incluindo design de produto, seleção
e fornecimento de materiais, processos de fabricação, entrega do produto final aos consumidores,
bem como gerenciamento do final da vida útil do produto” (SRIVASTAVA, 2007). Dessa maneira,
vale ressaltar que o GSCM não é sinônimo de Gerenciamento Cadeia de Suprimentos Sustentável
(SSCM), já que o seu conceito não leva em consideração os três pilares da sustentabilidade, uma
vez que o pilar social não é considerado no GSCM. Em outros termos, a GSCM é parte de um
conceito mais vasto, a SSCM.
Nesse sentido, sob o chapéu da GSCM, os diversos problemas podem ser segmentados em dois
principais domínios: projeto de produtos verdes e operações verdes, conforme ilustra a Figura 13.

51
Figura 13 – Áreas da GCSM

Fonte: adaptado de Srivastava (2007).

O projeto verde pode ser visto do ponto de vista do design consciente do ambiente, levando
em consideração a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). De maneira similar, as operações verdes
incluem todos aspectos operacionais relacionados com a logística reversa e projeto de redes (coleta,
inspeção ou triagem, pré-processamento, projeto de redes), manufatura verde e remanufatura
(reduzir, reciclar, programação e planejamento da produção, gestão de estoques, remanufatura,
reuso, recuperação de produtos e materiais), e gestão de resíduos (redução na fonte, prevenção de
poluição e disposição final).
No intuito de viabilizar uma cadeia de suprimentos verde, um conjunto de práticas é
sugerido, conforme traz o Quadro 6 com as suas definições.

52
Quadro 6 – Práticas da GSCM

prática definição

gestão ambiental interna A gestão ambiental interna é a prática de desenvolver a


gestão da cadeia de suprimentos verde como uma
estratégia imperativa organizacional, por meio do empenho
e apoio dos níveis de gestão alto e médio.

sistemas de informação verdes Sistemas de informação verdes são sistemas de informação


que foram modificados e usados para monitorar práticas e
resultados ambientais.

compras verdes A compra ecológica se concentra na cooperação com


fornecedores para o desenvolvimento de produtos que são
ambientalmente sustentáveis.

cooperação com os clientes A cooperação com os clientes requer trabalhar com os


clientes para projetar processos de produção mais limpos
que produzam bens ambientalmente sustentáveis com
embalagens verdes.

ecodesign O design ecológico exige que os fabricantes criem produtos


que minimizem o consumo de materiais e energia, que
facilite a reutilização, reciclagem e recuperação de materiais
e componentes, e que evitem ou reduzam o uso de
produtos perigosos no processo de fabricação.

recuperação de investimento A recuperação de investimento requer a venda de


estoques excedentes, sucata, materiais usados e excesso
de equipamentos.

Fonte: adaptado de Green et al. (2012).

Por meio da aplicação dessas práticas, espera-se um aumento no desempenho ambiental da


cadeia de suprimentos, isto é, a redução das emissões atmosféricas, resíduos de efluentes, e resíduos
sólidos e diminuição do consumo de materiais perigosos e tóxicos. Além disso, vale ressaltar que essas
práticas podem ter impactos também no desempenho econômico, como em custos associados à
compra de materiais, consumo de energia, tratamento de resíduos, descarga de resíduos e multas por
acidentes ambientais. Além da esfera econômica, as práticas têm influência sobre o desempenho
operacional também, que estão relacionadas aos recursos da fábrica para produzir e entregar com mais
eficiência produtos aos clientes. Por fim, esses desempenhos influenciam o desempenho
organizacional como um todo, que engloba o desempenho financeiro e de marketing da organização.

53
No entanto, tanto no contexto internacional, como no âmbito brasileiro, existem barreiras
que podem dificultar a implementação dessas práticas ambientais na cadeia de suprimentos.
Vejamos alguns exemplos:
 Características do mercado, especialmente o brasileiro – apesar de se afirmar que,
gradualmente, os consumidores estão valorizando aspectos ambientais nos produtos, ainda
se percebe que poucos consumidores estão, de fato, dispostos a pagar um pouco mais para
um produto mais ambientalmente adequado.
 Necessidade de cooperação entre elos da cadeia – a baixa colaboração entre os players de
uma cadeia de suprimentos também é negativa para o desenvolvimento e engajamento
em práticas ambientais.
 Falta de leis – as normas e legislações ainda são incipientes com relação às práticas
ambientais, especialmente quando extrapoladas para o contexto de responsabilidade
compartilhada em cadeias de suprimentos.
 Foco no core business – empresários ainda tem o foco maior em aspectos internos, e as
práticas ambientais são vistas como ações supérfluas.
 Falta de pressão externa – a pressão exercida por stakeholders, especialmente consumidores,
é pequena para a inserção de práticas ambientais.

Dessa maneira, apesar dos recentes desenvolvimentos na área ambiental nas cadeias de
suprimentos, existe uma realidade complexa, especialmente no Brasil, onde ainda precisa haver
maiores pressões legislativas e pressões oriundas do mercado consumidor a fim de impulsionar tais
práticas ambientas na cadeia de suprimentos. Para além disso, vale reforçar que adicionar essa
variável ambiental na cadeia de suprimentos pode proporcionar, às empresas, uma alternativa sobre
o modo de produção atual que contribua com um desenvolvimento mais sustentável e, até mesmo,
a sobrevivência da cadeia de suprimentos em longo prazo.

Logística Verde
A Logística Verde (LV) é um dos principais elementos do GSCM, sendo um conceito que
surgiu com o intuito de buscar a redução dos impactos ambientais causados pelas atividades logísticas,
envolvendo, portanto, uma abordagem de preservação ambiental (MCKINNON, 2010). Dessa
maneira, a LV vai além da logística direta tradicional, pois tem como foco o fornecimento de bens ou
serviços verdes aos clientes, envolvendo a atividade de Logística Reversa também (ZHANG, 2015).
Nesse sentido, a LV atua para uma busca constante por atividades logísticas que prezem pela
redução da emissão de carbono e pela diminuição do consumo de energia, ao mesmo tempo, pela
redução do custo operacional e da melhora do valor para o cliente. As atividades da LV englobam
medir os impactos causados pelos diferentes modais de transportes, assim como inclui as
certificações, como a ISO 14001, e a redução do consumo de energia e de materiais.

54
Algumas formas de viabilizar a prática da LV são por meio da solução dos problemas de
transporte com uso de combustíveis menos poluentes de fontes de energia renováveis, uso de
veículos elétricos, transportes verdes, sistemas de transporte inteligentes, embalagens verdes ou
redução no uso de embalagens, e outras ações ambientalmente corretas.
O Quadro 7 traz uma compilação das principais categorias de atuação da LV, e sugestões
de indicadores e métricas a serem usadas para aferir a performance das atividades logísticas no
quesito ambiental.

Quadro 7 – Categorias e indicadores da LV

categoria indicador métrica (forma de medição)

compras compras de materiais de quantidade de materiais reciclados / quantidade


verdes segundo uso total de materiais

quantidade de materiais comprados de


compras compras de fornecedores
fornecedores verdes / quantidade comprada
verdes verdes
total

compras compras de matérias- quantidade de materiais comprados que


verdes primas verdes facilitam reúso/quantidade de materiais total

transporte utilização de
litros de combustíveis não fosseis / litros totais
verde combustíveis verdes

utilização de modais de
transporte km rodados com modais menos poluentes / km
transporte menos
verde totais
poluentes

transporte utilização de modais


emissão de CO2 equivalente / km-ton
verde menos poluentes

transporte
viagens sem carga km rodados sem carga / km totais
verde

transporte uso da capacidade de


taxa média de ocupação de carga útil
verde carga do veículo

práticas de
reutilização de produtos produtos reutilizados / produtos totais
fim de vida

práticas de produtos destinados a reciclagem / produtos


reciclagem de materiais
fim de vida totais

55
categoria indicador métrica (forma de medição)

práticas de recolhimento de quantidade de embalagens retornadas / total de


fim de vida embalagens embalagens

armazenagem consumo de energia na energia consumida ou quantidade de produtos


verde armazenagem estocados

armazenagem uso de energia de fontes quantidade de energia proveniente de fontes


verde renováveis no armazém renováveis / quantidade de energia total

uso de embalagens
embalagens quantidade de embalagens provenientes dos 3
retornáveis, reutilizadas
verdes R's / quantidade total
ou recicláveis (3 R’s)

descarte correto de quantidade de embalagens logísticas com


embalagens
resíduos do processo de descarte adequado / total de embalagens
verdes
distribuição descartadas

uso de energia de fontes


embalagens energia utilizada de fontes renováveis /
renováveis no processo
verdes quantidade de energia total
de embalagem

embalagens consumo de energia no


energia gasta por embalagem
verdes processo de embalagem

Fonte: Souza (2019).

Dessa maneira, para atuar na logística verde de forma abrangente, uma empresa ou um
operador logístico deve atuar nas frentes expostas no Quadro 7, como a logística reversa, a logística
de baixo carbono, bem como nas atividades de armazenagem, compras, transporte e embalagens
com foco na redução dos impactos ambientais. Dessas áreas, a área de transporte verde tem recebido
grande atenção devido à sua representatividade nos impactos ambientais provenientes das atividades
logísticas, o que fez emergir, mais recentemente, o interesse em levantamentos da ecoeficiência dos
transportes nas empresas.

56
Ecoeficiência em transportes
O setor de transportes apresenta complexos desafios, se considerarmos a crescente
preocupação ambiental com relação aos modais de transportes e o cenário atual amplamente
baseado na dependência dos combustíveis fósseis, bem como as suas consequentes emissões de gases
causadores de efeito estufa e poluentes atmosféricos. No entanto, esse setor é considerado um dos
mais essenciais às atividades humanas e, muitas vezes, o de maior impacto entre as atividades
logísticas, estabelecendo-se como um dos principais agentes causadores de impactos por conta da
sua alta demanda energética e pelas emissões de gases ambientalmente prejudiciais.
Segundo a European Commission (2016), o setor de transportes é responsável por quase de
25% da emissão de gases do efeito estufa na Europa. No Brasil, a emissão de CO2 no território
nacional, proveniente da queima de combustíveis na atividade de transporte, corresponde a cerca de
45% da emissão total relacionada à combustão (IEMA, 2017). Além disso, o transporte é também o
principal elemento dos custos logísticos, representando em torno de 12% do PIB brasileiro (ILOS,
2016). Nesse contexto, entra o conceito e a prática da ecoeficiência em transportes, uma vez que atua
na equalização dos aspectos econômicos e ecológicos do transporte de cargas.
Os distintos modais de transporte – rodoviário, ferroviário, aquaviário, aéreo e dutoviário –
diferem em muitas características, como capacidade de embarque, velocidade, preço ou custo,
resposta ao serviço, custo de inventário, custos fixos e variáveis. Além desses aspectos, os modais
também diferem em relação ao seu impacto no meio ambiente. No Brasil, cerca de 60% da matriz
de transporte é baseada no modal rodoviário. Os principais impactos ambientais do transporte
rodoviário são: produção do veículo; o uso do veículo e a combustão do combustível; a produção
do combustível; manutenção de veículo; produção, uso e destinação final de pneus; destinação do
veículo após o uso, e atividades dos terminais de transporte. Desses impactos, o que representa
maior consequência ecológica é a queima do combustível.
Os transportes usam tanto fontes de energia renováveis – como biocombustíveis – quanto
não renováveis – como combustíveis fósseis –, sendo esses últimos usados de maneira mais intensa.
O Brasil tem o seu consumo de combustíveis concentrado no uso do óleo diesel (41,9%), depois
gasolina (25,3%), etanol (20,6%), querosene de aviação (3,9%), biodiesel (4,5%), gás natural
(2,4%) e outros (1,4%) (EPE, 2020). Mesmo considerando o aumento da eficiência energética dos
motores nas últimas décadas, viabilizado por pesquisas na área e consequentes avanços tecnológicos,
a emissão de gases do efeito estufa continua crescendo.
Desse modo, aplicar o conceito de ecoeficiência no transporte de cargas viabiliza a redução
do dano ambiental por meio da mitigação de emissões de CO2 equivalente (gases do efeito estufa),
com o objetivo de melhorar o desempenho dos veículos, minimizar o consumo de combustível,
tendo como consequência a redução de custos também. A aferição da eficiência da aplicação de
medidas ecoeficientes pode ser revelada por meio de indicadores que tragam dados que possam ser
objeto de comparação.

57
Indicadores de ecoeficiência
No intuito de alcançar os objetivos da ecoeficiência – redução do consumo de recursos,
redução do impacto na natureza e aumento no valor do produto e serviço –, a equação básica
proposta pelo World Business Council for Sustainable Development é:

𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑏𝑏𝑏𝑏𝑏𝑏 𝑜𝑜𝑜𝑜 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠ç𝑜𝑜


𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒ê𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛 =
𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖ê𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛 𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎

Trazendo essa análise para o transporte de cargas, podemos elencar as seguintes opções de
parâmetros para o numerador e denominador da equação acima:
 Valor – receita líquida, receita bruta do frete, valor do produto transportado, distância
percorrida, volume ou massa transportada.
 Influências ambientais – consumo de energia total ou renovável, emissão de CO2 equivalente,
emissão de CO, emissão de hidrocarbonetos, descarte de óleos, consumo de água, etc.

Com base nesses possíveis parâmetros para elaboração de indicadores de ecoeficiência em


transportes, sugere-se o uso de quatro indicadores:

𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣 𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚á𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑏𝑏𝑏𝑏𝑏𝑏 𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡


𝐼𝐼1 =
𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒ã𝑜𝑜 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝐶𝐶𝐶𝐶2 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒

𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣 𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚á𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑏𝑏𝑏𝑏𝑏𝑏 𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡


𝐼𝐼2 =
𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡

𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣 𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡
𝐼𝐼3 =
𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒ã𝑜𝑜 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝐶𝐶𝐶𝐶2 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒

𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣 𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡
𝐼𝐼4 =
𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡

A direção de interesse dos indicadores sugeridos é “quanto maior melhor”, ou seja, quanto mais
alta a razão entre os fatores mais ecoeficiente é o veículo em análise. A utilização da ecoeficiência na
avaliação do desempenho do transporte de cargas pode ser vantajosa para transportadoras, usuários e
sociedade, tendo influências positivas em prol do desenvolvimento sustentável.

58
MÓDULO IV – LOGÍSTICA REVERSA

Um dos objetivos operacionais da logística na atualidade, estendendo o seu conceito, é a ideia


de suporte a todo ciclo de vida do produto, isto é, além de atuar no fluxo direto de materiais, deve
incluir atividades relacionadas ao fluxo reverso dos produtos. Nesse contexto, emerge a Logística
Reversa (LR), que faz parte da rede de revalorização de produtos, atuando como fornecedora de
produtos originados dos consumidores para as fábricas de recuperação e reciclagem, no sentido
contrário ao da cadeia de valor.
Nesse sentido, recentemente, a implantação de leis ambientais (como a Política Nacional de
Resíduos Sólidos, PNRS), as questões de responsabilidade social e imagem corporativa, a
preocupação ambiental, os benefícios econômicos e a consciência dos clientes estão forçando os
fabricantes a recolher os produtos usados em fim de vida, ou seja, impulsionando a prática da LR.
No entanto, o fluxo reverso de produtos difere em uma gama de características do fluxo direto
e, por isso, a LR enfrenta algumas barreiras. Pode-se afirmar que o processo de LR está se tornando
complexo. Muitas empresas são incapazes de lidar com a complexa rede necessária para obter um
processo de LR eficiente. Por isso, pode-se mencionar que a área de logística reversa representa uma
grande oportunidade para melhorias.
A fim de aprofundar esse tema tão atual e promissor, este módulo tem como objetivos de
aprendizagem: a) entender o conceito de logística reversa e os tipos de retorno de produto, b)
estruturar e discutir os fatores que facilitam e dificultam a implementação da LR, c) entender o
papel, a influência e o histórico da Política Nacional de Resíduos Sólidos, e d) assimilar as iniciativas
relacionadas à LR por meio de um case de sucesso da área.
Conceitos e tipologias: retorno pós-venda e pós-consumo
A crescente preocupação sobre a conservação do meio ambiente está levando empresas a
repensar as suas posições no mercado, reformulando estratégias e reestruturando o seu processo de
negócio. Um dos objetivos operacionais da logística moderna, em um conceito mais amplo, é a
ideia de “apoio ao ciclo de vida” do produto, no que diz respeito ao prolongamento do conceito
além do fluxo direto de materiais e à necessidade de considerar os fluxos reversos dos produtos em
geral (BOWERSOX; CLOSS, 2001).
Dessa forma, a logística reversa (LR) se torna uma boa estratégia para as empresas atenderem
a essas novas demandas, uma vez que assegura que o produto consumido retorne do consumidor
ao produtor para ser reciclado, reutilizado ou recondicionado (PENA-MONTOYA et al., 2020).
A LR não é uma nova prática, mas tem recebido atenção crescente à medida que mais empresas
estão usando essa iniciativa como ferramenta estratégica para aumentar os lucros, evitar desperdícios
e, ainda, obter benefícios na relação com o consumidor.
Por definição, a logística reversa é o processo de planejar, implementar e controlar, de forma
eficiente, o fluxo de materiais e informações do ponto de consumo ao ponto de origem, a fim de se
recuperar valor ou dar uma disposição adequada ao resíduo (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1998).
Por meio dela, é possível que produtos que perdem o seu valor após uso possam ser reintegrados à
cadeia produtiva como matéria-prima, ou mesmo serem remanufaturados e estender a sua vida útil.
Na Figura 14, são ilustradas as formas de atuação da LR, em que se pode perceber que a LR
envolve uma mudança de paradigma em termos de produto, isto é, de “berço ao túmulo” (cradle-
to-grave) para “berço ao berço” (cradle-to-cradle).

Figura 14 – Logística reversa como suprimentos de reparo, remanufatura e reciclagem

Fonte: Autoria própria

60
Pós-venda versus pós-consumo
Os produtos podem retornar por dois canais de distribuição reversos: pós-consumo e pós-
venda (LEITE, 2009). O canal reverso de pós-consumo se caracteriza por produtos oriundos de
descarte após uso. O canal reverso de pós-consumo se caracteriza por produtos oriundos de descarte
após uso, sejam bens descartáveis, semiduráveis ou duráveis. Esses produtos podem ser: reutilizados
como estão em mercado de segunda mão; reprocessados para aumentar a sua qualidade e serem
revendidos a preços inferiores em mercados secundários; desmanchados para uso ou reciclagem das
suas partes, ou encaminhados para uma destinação final.
Já o canal reverso de pós-venda se caracteriza pelo retorno de produtos com pouco ou
nenhum uso que apresentaram problemas de responsabilidade do fabricante ou distribuidor e,
ainda, por insatisfação do consumidor (LEITE, 2009). Dessa maneira, os produtos de pós-venda
podem ser retornados por três principais motivos:
 Retornos comerciais – tais como mercadorias que retornam por erro de expedição, excesso
de estoque no canal de distribuição, em consignação, entre outros.
 Retorno por garantia ou qualidade – ocorrem por defeitos de fabricação ou de
funcionamento dos produtos, avarias nos produtos ou embalagens, etc.
 Devolução para substituição de componentes – são as manutenções e consertos ao longo
da vida útil do produto.

Figura 15 – Atuação da logística reversa: pós-consumo e pós-venda

Fonte: adaptado de Leite (2009).

61
A fim de ilustrar a atuação da LR no final de vida dos produtos e o fluxo reverso pelos
diversos elos da cadeia, a Figura 16 traz um modelo didático da LR de pós-consumo em uma rede
de revalorização.

Figura 16 – Papel da logística reversa na rede de revalorização de produtos

Fonte: Autoria própria

A Figura 16 ilustra, de forma esquemática, dois tipos de ciclo: o ciclo fechado de produtos,
por meio da recuperação, e o ciclo fechado de materiais, por meio da reciclagem. Essa figura pode
ter suprimido algumas etapas do ciclo completo para obter caráter didático. Após o descarte pelo
usuário do mercado do produto X, por exemplo, esse produto pode ser coletado e consolidado, por
meio de operações da LR, e servir de suprimento para indústrias de reciclagem, em que os seus
materiais são reciclados. Esse material pode ser vendido com suprimento (matéria-prima) para
outras indústrias ou, até mesmo, para a mesma indústria que fabrica o produto X. Nesse caso, em
geral, a matéria-prima gerada se incorpora em outro produto (Y, Z, etc.), que é vendido para um
mercado de uso.

62
Outra possibilidade é o reuso do produto X, que é coletado e fornecido para a indústria de
recuperação, que realiza processos de reparo ou remanufatura no produto, o qual é vendido para
um mercado de reuso, em geral, por preços inferiores ao de um produto X novo. Desse modo, as
principais atividades de uma rede de recuperação são: coleta, inspeção e separação,
reprocessamento e redistribuição.

Indicadores da logística reversa


A avaliação de qualquer sistema depende da definição correta dos seus itens de controle e
indicadores de desempenho. Um indicador pode ser entendido como um parâmetro que fornece
informações sobre um evento, possui um significado que extrapola as propriedades diretamente
relacionadas ao valor do parâmetro e possui o objetivo de sintetizar, com uma finalidade específica.
A fim de aferir o desempenho das atividades relativas à LR, alguns indicadores de desempenho são
propostos e categorizados por etapas do processo, conforme traz o Quadro 8.

Quadro 8 – Indicadores de desempenho da logística reversa por processo

etapa do processo de logística reversa indicador de desempenho

custos de coleta

custos de processos

valor agregado de recuperação

uso energético

coleta – locação e alocação geração de resíduos

recuperação de produtos

nível de aceitação social

satisfação do cliente

informação de propriedade intelectual

investimento inicial

volume retornado

custos de operação

coleta – métodos controle da cadeia de suprimentos

satisfação do cliente

impacto ambiental

problemas de saúde e segurança

63
etapa do processo de logística reversa indicador de desempenho

custo de teste

requerimento de confiabilidade do produto

viabilidade de trabalho especializado


inspeção e separação – localização localização dos locais de descarte de resíduos

custo de trabalho

custos de manipulação, armazenamento e


transporte

valor de recuperação

custo de desmontagem

custo de processamento

inspeção e separação – nível de custo de aterro


desmontagem custo de incineração

impacto ambiental do processamento

impacto ambiental do aterro

impacto ambiental de incineração

custos de operação

impacto ambiental

demanda de mercado

viabilidade técnica

recuperação de produto reputação verde

valor de recuperação

problemas de saúde e segurança

geração de oportunidades empregatícias

nível de importância nacional

Fonte: adaptado de Sangwan (2017).

64
Fatores motivadores (drivers) e barreiras para implantação
A logística reversa sofre a influência de fatores que impulsionam a sua implementação assim
como sofre com barreiras que impedem ser desenvolvimento. Este tópico trata desses elementos
positivos e negativos, assim como os seus impactos.

Fatores motivadores (drivers)


Os produtos retornam por canais reversos motivados por uma gama de fatores motivadores
ou drivers. As forças que influenciam a LR são provenientes de, basicamente, quatro entidades
organizacionais ou stakeholders: fornecedores, compradores, governo e competidores. Desse modo,
os programas de LR resultam da combinação de pressões externas (consumidores, governo,
fornecedores, ONGs, etc.), fatores organizacionais (disponibilidade de recursos) e fator individual
(a postura estratégica do decisor, por exemplo).
Com relação aos drivers, inicialmente, podemos elencar três categorias principais: econômico
(refere-se ao reuso de materiais, recuperação do valor do produto, redução de custos de disposição
final e criação de benefícios indiretos, como a "imagem verde", competitividade e outras questões
estratégicas); legislação (refere-se a jurisdições em relação à recuperação de produtos ou retorno de
produtos), e responsabilidade social (inclui uma gama de valores e princípios que estimulam uma
organização a se tornar engajada com a LR). Ainda podemos expandir para cinco fatores que
exercem pressão para retornar os produtos após uso: leis (governo), responsabilidade social,
preocupação ambiental, benefícios econômicos e consciência do cliente.
Estendendo essa lista, também podemos citar outros elementos que, certamente, influenciam
a implementação da LR, como: número de trabalhadores na empresa, existência de suporte
financeiro da empresa, suporte de recursos humanos da empresa, parceiros de negócios na cadeia
de suprimentos e percepção de benefícios da LR.
Para melhor organizar os elementos de influência positiva sobre a LR, podemos classificá-los
nas seguintes categorias:
 Questões relacionadas a políticas (P) – esse cluster inclui questões sobre regulamentos e leis
relativas à devolução de produtos e LR.
 Questões relacionadas à governança e ao processo da cadeia de suprimentos (G & SC) –
esse cluster se refere a drivers da cadeia de suprimentos reversa, questões de cooperação e
parceiros de negócios.
 Questões relacionadas à gestão (G) – este cluster inclui questões como satisfação dos
funcionários, suporte a recursos humanos e integração de departamento para a prática da LR.
 Questões relacionadas ao mercado e aos concorrentes (M & C) – esse cluster inclui a
satisfação do cliente, o potencial de vantagem competitiva, as questões do mercado verde
e as pressões competitivas.

65
 Problemas relacionados à tecnologia e infraestrutura (T & I) – esse cluster inclui drivers de
tecnologia da informação, disponibilidade de ecodesign e tecnologias de recuperação.
 Questões relacionadas à economia (E) – esse cluster inclui drivers financeiros e econômicos
relacionados à LR.
 Questões relacionadas com o conhecimento (C) – esse cluster se refere aos fluxos de
informação e à percepção de LR nas empresas.
 Questões sociais relacionadas (S) – esse cluster se refere aos drivers de LR relacionados a
pressões sociais, tais como maior conscientização pública sobre conservação ambiental e
pressão da responsabilidade social.

A seguir, o Quadro 9 traz uma lista completa, mas não exaustiva, dos principais drivers,
divididos nas categorias supracitadas.

Quadro 9 – Drivers da LR

cluster driver descrição ou explicação

P D1 pressão regulatória Muitos países introduziram legislação ou diretrizes para


para retorno ou garantir o descarte efetivo de produtos manufaturados ou
recuperação de podem obrigar as empresas a recuperar produtos usados.
produtos

D2 leis motivadoras As taxas de recolhimento dos fabricantes levam as indústrias


a retomar os seus produtos. Por exemplo, isenção fiscal
especial para empresas com certificação ISO 14001 ou
redução de impostos para uso de materiais reciclados.

G & SC D3 qualificação e Parceiros da cadeia de suprimentos bem-treinados podem


suporte de parceiros auxiliar na implementação e no gerenciamento da LR.
de negócios

D4 cooperação e A cooperação e a relação com parceiros de negócios na cadeia


integração com de suprimentos podem ajudar na implementação da LR.
parceiros na cadeia
de suprimentos

G D5 satisfação do Fatores de bem-estar, moral dos funcionários, satisfação


funcionário individual obtida pelas práticas ambientais da empresa.

D6 número de O número de funcionários está positivamente relacionado à


funcionários implementação da LR de uma empresa.

66
cluster driver descrição ou explicação

D7 apoio dos recursos O apoio de recursos humanos da empresa impulsiona as


humanos o atividades de LR.

D8 conscientização e A implementação da RL é facilitada quando os gerentes de alto


comprometimento da nível estão conscientes da sua relevância e comprometidos com
alta gerência a implementação da RL.

D9 integração de Uma estrutura organizacional, física e não física, bem-


departamentos integrada tem um impacto positivo na decisão de realizar a
LR.

M&C D10 satisfação do Os melhores serviços de pós-venda aumentam a satisfação e


cliente a confiança do cliente, o que pode criar a fidelidade do
mesmo.

D11 vantagem A LR pode ser um diferencial por meio do ganho de vantagem


competitiva competitiva e de mercado como arma estratégica.

D12 consumo verde A pressão do cliente é uma preocupação crescente para a


ou consciência proteção ambiental.
ambiental
do consumidor

D13 marketing verde Objetivos de marketing, como ter uma imagem verde, são
uma preocupação crescente entre as indústrias.

D14 sustentabilidade As empresas estão preocupadas com a sua sobrevivência no


de longo prazo longo prazo no mercado, considerando, por exemplo, a
crescente escassez
de matérias-primas e o consumo verde.

D15 pressões dos Muitas organizações trabalham em um ambiente que inclui


concorrentes para pressões dos seus concorrentes que induzem as
adotar iniciativas organizações a adotar iniciativas para combater a
verdes concorrência.

T&I D16 sistema de A disponibilidade de TI específica para LR é um fator de


informações para a LR sucesso para o desenvolvimento da mesma.

D17 sistema de A disponibilidade de um bom sistema de gerenciamento de


gerenciamento de reciclagem e serviço de reciclagem impulsiona a prática de LR.
reciclagem

67
cluster driver descrição ou explicação

D18 ecodesign O design para remanufatura, reciclagem ou desmontagem


ecológico são técnicas que podem aumentar a chance de obter um
produto em fim de vida de volta, pois os custos de LR são
reduzidos.

D19 tecnologias de Muitas estratégias de reciclagem e remanufatura estão


reciclagem e evoluindo, reduzindo os custos de fim de vida e aumentando
remanufatura a viabilidade da LR.

E D20 benefícios da Benefícios econômicos da reciclagem colocam mais pressão


reciclagem sobre as empresas para criar uma melhor estratégia de LR.

D21 redução do Diminuição do uso de matérias-primas, substituindo-as por


consumo de recuperadas, assim como a redução dos custos de destinação
matérias-primas e final dos produtos.
custo de descarte de
resíduos

D22 recuperação de Obtenção de peças de reposição valiosas, recuperação de


valor valor e recuperação de ativos.

D23 redução de riscos As empresas implementam LR para evitar multas e


de custos penalidades, diminuindo os riscos.

D24 viabilidade A LR pode melhorar a eficiência econômica e a


econômica disponibilidade de capital inicial para operações de LR são
fatores positivos para a implementação dos canais reversos.

C D25 conhecimento Conscientização do gestor e indústrias em geral sobre


sobre questões questões ambientais, desenvolvimento sustentável, cidadania
sustentáveis e corporativa.
percepção dos
benefícios da LR

D26 conhecimento de Ter uma visão detalhada do custo e desempenho das


custo da LR operações de RL ajuda no seu desenvolvimento.

D27 propriedade A necessidade de proteção da propriedade intelectual


intelectual influencia a decisão de recolher os produtos usados.

68
cluster driver descrição ou explicação

S D28 maior A maior preocupação do meio ambiente pela população


conscientização do impulsiona as operações de LR e reivindica o comportamento
público ambiental das ONGs.

D29 pressão de As empresas estão sob pressão para se comportarem de


responsabilidade maneira socialmente responsável, cumprindo as
social das empresas responsabilidades legais, éticas e econômicas que lhes são
impostas.

D30 escassez de Os lixões se tornaram uma grande ameaça, e a LR é uma


aterros solução para dar uma destinação adequada aos produtos.
Além disso, soma-se o fato de que os aterros sanitários
estão alcançando os seus limites de capacidade.

Fonte: adaptado de Govindan e Bouzon (2018).

Dessa maneira, identificar e compreender os fatores motivacionais, ou seja, os drivers, para a


implementação de LR de uma cadeia de suprimentos específica é um passo importante para ganhar
competitividade, e se antever às mudanças legislativas e de mercado. Cada empresa deve avaliar a
presença desse e outros fatores que podem ajudar a implementar os fluxos reversos, levando em
conta que esses drivers podem variar em grau de importância para diferentes setores do mercado.

Barreiras da LR
O fluxo reverso de produtos difere em uma gama de características do fluxo direto e, por isso,
a LR enfrenta algumas barreiras. Algumas características das redes de LR são: incerteza de
suprimento, decisões de disposição de retorno, postergação, especulação e necessidade de coordenar
dois mercados (SRIVASTAVA, 2007).
Em relação à coordenação de dois mercados, a demanda de produtos e materiais recuperados
parece ter difícil previsão em muitos casos, principalmente devido ao fato de que os mercados de
reuso estão em evolução e ainda não estão estabelecidos. No entanto, ainda mais relevante é a
condição de fornecimento dos processos de revalorização. A questão-chave sobre os sistemas de
produção reversa é que o fluxo de retorno de produtos em fim de vida dos consumidores é um fluxo
orientado pelo suprimento, em vez de orientado pela demanda, como é observado nos fluxos
diretos. Esse fluxo orientado pelo suprimento cria um alto nível de incertezas com respeito a
quantidade, qualidade e tempo de retorno dos itens (ASSAVAPOKEE;
WONGTHATSANEKORN, 2012). Por isso, podemos afirmar que o alto nível de incerteza é uma
característica do gerenciamento da recuperação de produtos. As principais diferenças do fluxo direto
e reverso em um quadro comparativo estão compiladas no Quadro 10.

69
Quadro 10 – Diferenças entre a LR e a logística direta

logística direta logística reversa

previsão relativamente alinhada previsão mais difícil

de um para muitos transportes de muitos para um transporte

qualidade do produto uniforme qualidade do produto não uniforme

embalagem do produto uniforme embalagem do produto geralmente danificada

destinação ou rota clara destinação ou rota não clara

canal padronizado orientado pela exceção

opções de local de disposição claras opções de local de disposição não claras

preço relativamente uniforme preço depende de muitos fatores

importância da velocidade reconhecida geralmente, velocidade não é uma prioridade

custos de distribuição monitorados custos reversos menos visíveis


cuidadosamente por sistemas de
contabilidade

gerenciamento de estoques consistente gerenciamento de estoque não consistente

ciclo de vida do produto gerenciável questões de ciclo de vida do produto são


mais complexas

negociação entre os membros do canal negociação complicada por causa de


são alinhadas considerações adicionais

métodos de marketing são bem marketing complicado por vários fatores


conhecidos (especialmente canibalização)

informação em tempo real disponível visibilidade do processo menos transparente


para rastrear o produto

Fonte: adaptado de (ASSAVAPOKEE; WONGTHATSANEKORN, 2012).

70
As diversas diferenças encontradas entre a logística direta e reversa ressaltam a falta de
estrutura para operação do canal reverso, além do fato que essa área é relativamente nova e menos
consolidada, se comparada à logística direta. Essas diferenças fazem emergir diversas barreiras para
a implementação, que são discutidas a seguir.
As barreiras podem ser de origem interna à organização ou externa. Inicialmente, pode-se
considerar cinco barreiras externas (relutância por parte do governo, relutância dos clientes,
relutância por parte dos players sociais, relutância por parte dos competidores, percepção de um
produto com qualidade inferior) e quatro barreiras internas (falta de conhecimento, falta de
comprometimento de alta gerência, falta de sistemas de informação e tecnológicos, alto custo em
recursos financeiros e humanos) que podem impedir ou dificultar a implementação de práticas de
LR orientadas para o meio-ambiente. No entanto, os impedimentos para implantar a LR são muitos
e são apresentados, com uma breve explicação, no Quadro 11. As categorias para a sua classificação
foram as mesmas trazidas para a classificação dos fatores motivadores.

Quadro 11 – Barreiras para a LR

cluster barreira descrição ou explicação

T&I B1 falta de Há falta de mão de obra qualificada e falta de capacidade para


habilidades realizar atividades de LR.
técnicas

B2 falta de Há falta de informações e sistemas de TI para LR, ou


padrões de incompatibilidade de sistemas de TI e suporte inadequado à
sistemas de TI tecnologia da informação para canais reversos.

B3 falta de Falta de tecnologias mais avançadas para realizar a reciclagem de


tecnologias produtos ou materiais.
novas/recentes

B4 infraestrutura Falta de infraestrutura, como armazenamento, equipamentos de


industrial manuseio e veículos para o movimento de produtos de fim de
deficiente. vida.

G & SC B5 dificuldades Fraca coordenação e suporte na cadeia de suprimentos para a


com os membros implementação e gestão da LR, como a falta de
da cadeia de comprometimento do fornecedor; falta de disposição dos
suprimentos varejistas de compartilhar informações sobre custos; relutância
dos revendedores, distribuidores e varejistas às atividades de LR.

71
cluster barreira descrição ou explicação

B6 previsão e Muitas empresas enfrentam dificuldades na previsão e no


planejamento planejamento da cadeia reversa devido ao grau de diversidade de
limitados mercadorias e fluxos, que gera imprevisibilidade de oferta ou
demanda e mix de produtos que retornam.

B7 qualidade A qualidade do produto que retorna é incerta.


inconsistente

B8 falta de um Falta de métricas de desempenho apropriadas e um sistema de


sistema de gerenciamento de desempenho para LR.
gerenciamento de
desempenho
adequado

B9 cooperação Falta de cooperação interdepartamental, causando restrições no


organizacional fluxo de informações.
inadequada

E B10 falta de As empresas não possuem capital para implementar a LR, pois
capital inicial existe um alto custo do processo de adaptação ambiental (novas
máquinas e certificação).

B11 fundos para Falta de financiamento para treinamento de recursos humanos


treinamento para operações de LR.

B12 complexidade Fluxos complexos de bens criam um alto grau de complexidade


em impostos tributária e levam a custos fiscais inesperados.

B13 falta de Em comparação aos os fluxos diretos, a LR pode ser incerta em


economia de relação ao volume de produtos devolvidos, criando uma
escala dificuldade em atingir economia de escala.

K B14 falta de Dificuldade em obter informações sobre as melhores práticas em


conhecimento RL.
sobre práticas de
LR

B15 falta de Não há disseminação adequada de informações sobre os canais


informações sobre de devolução disponíveis para os clientes devolverem seus
os canais de produtos.
retorno

72
cluster barreira descrição ou explicação

B16 falta de Falta de publicidade e conhecimento sobre LR. Falta de


consciência sobre consciência sobre os benefícios do retorno do produto.
a LR e os seus
benefícios

B17 falta de Falta de consciência da legislação ambiental e os benefícios da


consciência sobre adoção da LR.
leis ambientais

P B18 falta de leis Falta de políticas de apoio – a falta de legislação ou leis


específicas apropriadas é vista como uma grande barreira para as empresas
se envolverem nos retornos.

B19 falta de leis Falta de regulamentos ou leis para motivar os fabricantes a


motivadoras realizar a LR e manter um ambiente verde e também motivar os
clientes a comprar produtos ecológicos.

B20 uso indevido Algumas leis ambientais não estão bem implementadas, com
de leis ambientais lacunas, o que dá abertura para não implementação.

B21 políticas da As empresas não querem ver o seu “lixo” canibalizando as vendas
empresa contra a do seu canal de primeira qualidade ou “A”. Por isso, muitas vezes,
LR desenvolvem políticas que tornam muito difícil lidar com os
retornos de maneira eficiente.

M&C B22 percepção de Os clientes podem pensar que os produtos recuperados ou o uso
um produto de de material reciclado são um padrão de qualidade inferior.
qualidade inferior

B23 mercados de Dificuldade em estabelecer mercados de materiais reciclados e


recuperação mercados de produtos remanufaturados.
pouco
desenvolvidos

B24 pouco Pouco reconhecimento da LR como fator na criação de vantagem


reconhecimento competitiva.
da vantagem
competitiva

M B25 baixa As atividades de recuperação de produtos são consideradas


importância da LR inconsistentes com as principais operações da empresa
em relação a (prioridade extremamente baixa em comparação com outras
outras questões atividades).

73
cluster barreira descrição ou explicação

B26 baixo Resistência da alta administração com relação à LR devido à


envolvimento da cultura organizacional. Resistência à mudança, e falta de
alta administração planejamento estratégico e estrutura para LR.
e planejamento
estratégico

Fonte: adaptado de Govindan e Bouzon (2018).

Dessa forma, para o desenvolvimento efetivo da LR, os governos e autoridades devem


estabelecer incentivos econômicos e regulatórios para a gestão apropriada dos resíduos. Apesar da
tendência crescente do consumo verde, ou seja, a demanda por ecoprodutos, a efetivação da LR
demanda esforços dos diversos players envolvidos no canal de retorno de produtos.

Política Nacional de Resíduos Sólidos


O total de resíduos sólidos públicos ou domiciliares coletados em 2008, no Brasil, foi de
183,5 toneladas por dia – dados coletados pela Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB)
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em comparação com o estudo anterior,
de 2000, houve um incremento de 30% na coleta diária de resíduos sólidos no País.
Ainda segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 99,9% dos
municípios do País têm serviços de gestão dos resíduos sólidos, no entanto, cerca de 50% desses
municípios acumulam os seus resíduos em vazadouros, e os outros restantes se dividem entre aterros
controlados e aterros sanitários. A ocorrência do descarte incorreto dos resíduos sólidos provoca
consequências sérias, não somente ao meio ambiente mas também à saúde pública.
Desse modo, por causa de pressões cada vez maiores da população e das regulamentações
ambientais, muitas empresas têm sido confrontadas com o desafio de desenvolver redes de Logística
Reversa (LR). No contexto nacional, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (BRASIL, 2010)
trouxe o conceito de LR para a legislação brasileira, tornando a LR obrigatória para alguns tipos de
materiais, e responsabilizando todos os agentes da cadeia de produção e consumo pela sua execução.
Embora existissem normas que abordavam o problema dos resíduos sólidos no País –
particularmente, as Resoluções do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) – ainda não
existia, no Brasil, até 2010, um instrumento legal que estabelecesse diretrizes aplicáveis aos resíduos
sólidos para prover orientação aos Estados e aos Municípios sobre a adequada gestão dos resíduos
sólidos. Dessa forma, em agosto de 2010, após 20 anos de tramitação de seu projeto, foi aprovada
a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), regulamentada pela Lei 12.305/2010, com
inúmeras inovações que exigem alterações na conduta empresarial quanto ao retorno de produtos,

74
pois responsabiliza as empresas pelo recolhimento destes, incentivando o reuso e a reciclagem. Essa
política estimula a busca por soluções socioambientais, não mais relacionadas somente à criação da
imagem “verde” mas também às medidas de sustentabilidade do próprio negócio, gerenciando a
conformidade legal ambiental sob a ótica econômica.
Dessa maneira, o propósito expresso dessa política regulatória é internalizar custos e
obrigações para fabricantes e consumidores, ao mesmo tempo em que estabelece e promove a RL.
Para atingir esse objetivo, as cadeias de suprimentos devem desenvolver sistemas de processamento
para uma ampla variedade de materiais de consumo, tais como: pneus, embalagens de pesticidas,
baterias, lubrificantes e as suas respectivas embalagens, lâmpadas e equipamentos eletroeletrônicos
rejeitados pelos consumidores. Esse esforço requer o desenvolvimento de sistemas de RL que devem
incluir capacidades de retorno desses resíduos sólidos de volta às cadeias de suprimentos,
obedecendo a ordem de preferência trazida pela PNRS, conforme explicita a Figura 17.

Figura 17 – Objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos

Fonte: Autoria própria

Como funciona a PNRS? Como evoluiu a LR desde a outorga da PNRS em 2010?

Definições e funcionamento da PNRS


A PNRS também traz a diferenciação de conceitos como rejeitos e resíduos, sendo o último
entendido como um bem econômico, com valor social, que pode gerar trabalho e renda; já o
primeiro são os resíduos que já esgotaram todas as vias de tratamento ou recuperação, e a sua única
possibilidade é o descarte ambientalmente adequado.
Para a execução da LR, a PNRS prevê o estabelecimento de acordos setoriais. O que se
entende por esses acordos são atos de natureza contratual que seriam firmados entre o poder público
e as empresas fabricantes, distribuidores, comerciantes ou importadores, tendo por objetivo a

75
implementação da responsabilidade compartilhada por todo ciclo de vida útil do bem. Essa
responsabilidade compartilhada se configura como um “conjunto de atribuições dos fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos
de limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos pela minimização do volume de resíduos sólidos
e rejeitos gerados” (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2019).
A proposta da PNRS é criar um plano nacional de resíduos sólidos, a ser elaborado pela
União e submetido à consulta pública a cada quatro anos. Além do plano nacional, a política
prevê o desenvolvimento de planos estaduais que devem abranger todo território da respectiva
unidade da federação, garantindo a participação de todos municípios. Também devem ser criados
os Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, que deverão apontar medidas
saneadoras para os passivos ambientais e empreendimentos que devem elaborar os seus planos de
gerenciamento de resíduos sólidos.
Com relação às empresas geradoras que são inclusas na PNRS, no Artigo 33, a política inclui
os fabricantes e outros elos da cadeia de suprimentos de seis produtos: pilhas e baterias, agrotóxicos,
óleos lubrificantes, pneus, lâmpadas (de vapor de sódio e mercúrio, fluorescentes e de luz mista) e
produtos eletroeletrônicos. Apesar de possuir foco nessas cadeias produtivas, existe possibilidade e
expansão para outros segmentos, por meio dos acordos setoriais.
Desse modo, um acordo setorial é aprovado quando uma proposta para execução da LR é
pactuada com representantes da cadeia produtiva e com o presidente do comitê orientador (grupos
técnicos temáticos com participação de representantes da sociedade a fim de favorecer discussões
técnicas e alcançar convergências e soluções). A proposta de acordo deve ser apresentada,
formalmente, ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e, se aprovada, é regulamentada por
decreto presidencial, que firma um termo de compromisso entre as partes – fabricante, importador,
distribuidor, comerciante e poder público.

Ações tomadas desde a outorga da PNRS


A PNRS criou metas relevantes como a extinção dos lixões e a proposição de planejamento
do manejo de resíduos em diversos níveis do território – nacional, estadual, microrregional,
metropolitano e municipal – com o estabelecimento também de diretrizes para o desenvolvimento
de planos de gerenciamento de resíduos sólidos aos particulares. No entanto, poucas adequações
ocorreram desde a sua outorga, ainda existem muitos lixões e os problemas perduram.
Corroborando para essa informação, de acordo com o relatório da ABRELPE (Associação
Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), os avanços da PNRS ainda não
foram satisfatórios. O relatório intitulado “Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil”, de 2020,
traz a informação que em 2019, 40,5% dos resíduos sólidos urbanos (RSU) teve destinação
inadequada (em lixões por exemplo), o que representa cerca de 29,5 milhões de toneladas de
resíduos (ABRELPE, 2020). Esse mesmo documento comenta que ocorreram importantes

76
mudanças no setor de resíduos entre 2010 e 2019, principalmente em decorrência da
implementação da PNRS. No entanto, nesse período, a geração de RSU aumentou em torno de
19% no país, com um crescimento de 9% no índice de geração per capita.
Enfim, após oito anos da outorga da PNRS, a temática ainda é negligenciada no País. Até o
momento, não existe um plano com métricas e metas claras a serem usadas pelos estados e
municípios. Além disso, em 2014, venceu o prazo para pôr fim aos lixões e garantir o descarte dos
resíduos em destinos adequados ambientalmente. O que existe, até o momento, é um plano
nacional “preliminar” – documento aprovado pelo governo federal em 2012.

Dificuldades para a efetivação da PNRS


Em relatório publicado em 2018, a Controladoria Geral da União avaliou a atuação do
governo federal como executor político da PNRS, uma vez que já havia ultrapassado, em 4 anos, o
prazo para eliminar os lixões (descartes ilegais e sem controle) no País. O relatório aponta diversas
ineficiências da implementação da lei 12.305/2010, vejamos:
 falha da institucionalização do Plano Nacional de Resíduos Sólidos;
 falta de recursos financeiros do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para os estados,
municípios e consórcios para preparação dos planos de resíduos sólidos;
 o não provimento de informações suficientes, na atual versão do SINIR (Sistema Nacional
de Informações para a Gestão de Resíduos dos Sólidos), para ajudar a formulação dos
planos de manejo;
 falta de incentivos para a criação dos consórcios para o manejo de resíduos, muitas vezes,
por conta de desarmonias políticas entre gestores da cidade, especialmente no que tange o
acerto do rateio das despesas;
 baixa formação de pessoas em capacitações ofertadas pelo MMA;
 incentivo financeiro escasso para obras, com foco inicial apenas na construção de galpões
para segregação e armazenamento de material para a reciclagem, deixando de lado muitas
outras obras importantes para eliminar os lixões;
 esquecimento, por parte das autoridades públicas, com relação aos objetivos iniciais da
PNRS de reduzir, reutilizar e reciclar os resíduos sólidos. Infelizmente, o foco ainda está
na destinação correta final dos resíduos, não no incentivo a não geração dos resíduos.

Outro ponto relevante a ser ressaltado na efetivação da PNRS, além dos possíveis instrumentos
de punições aos infratores, é a capacitação e educação da população. O consumidor final, além de ser
ponto chave na não geração de resíduo, também é o elo inicial da cadeia reversa de produtos. Por isso,
sem uma educação ambiental adequada, o objetivo da PNRS dificilmente será alcançado.

77
Case de sucesso da logística reversa no Brasil
Aqui, traremos um caso real de logística reversa de produtos de pós-consumo de uma empresa
do Sul do Brasil. Essa empresa é do setor metal-mecânico, de origem e sede brasileira, mas atuante
mundialmente, que não terá o seu nome revelado por questões de confidencialidade.
A empresa será chamada de Empresa X. A Empresa X iniciou os processos de LR no Brasil,
no final da década de 1980, muito antes da legislação ambiental sobre o retorno de produtos. A
prática da LR começou pela coleta de produtos usados do mercado brasileiro para extrair o valor
residual do material desses produtos em fim de vida. Esse processo reverso foi estabelecido como
um programa formal de LR da Empresa X em 2000. Desde 2003, o programa coletou mais de
2.800.000 produtos usados, sendo que a vida útil esperada do produto da Empresa X é de 10 a 12
anos. Embora esse número de retorno possa parecer significativo, ele representa apenas cerca de
15% da produção anual da empresa.
Os produtos retornados são desmontados, e os materiais são usados em processos de
reciclagem. Alguns materiais são vendidos como sucata (como cobre, aço e alumínio) e outros (por
exemplo, metais ferrosos) são reciclados internamente no processo de fundição. Além disso, alguns
materiais são reutilizados por outras indústrias sem passar por um processo químico de reciclagem,
como o óleo lubrificante, que é reutilizado pela indústria petroquímica como óleo de alta qualidade.
Considerando todos os componentes do produto, 99,9% do peso do produto em fim de vida
pode ser reciclado ou reutilizado. Essa taxa elevada de recuperação de material resulta da sua
constituição massivamente metálica (isto é, os produtos contêm materiais de alto valor de mercado).
Desse modo, o valor residual do material incentiva o processo de recuperação.
A Empresa X opera o programa LR em parceria com 20 revendedores e terceiriza o transporte
dos produtos em fim de vida de volta para a planta industrial. A capacidade de devolução de
produtos é de 50.000 unidades por mês, o que equivale a 500 toneladas de material em um modo
de operação de três turnos na fábrica.
A empresa paga pelo transporte de produtos devolvidos dos revendedores. Muitos dos
materiais extraídos do produto usado, como o aço, são vendidos e devolvidos aos próprios
fornecedores da Empresa X, que enviam a sucata por frete retorno. Para incentivar o retorno dos
produtos com as revendedoras, a empresa oferece uma taxa de conversão: cada ‘n’ produtos
devolvidos em fim de vida são equivalentes a um novo produto enviado para um revendedor. A
taxa de conversão atual depende das três principais famílias de produtos da seguinte forma:
 família de produtos 1 (produtos de grande porte) – 8 usados para 1 novo;
 família de produtos 2 (produtos de médio porte) – 12 usados para 1 novo e
 família de produtos 3 (produtos de pequeno porte) – 16 usados para 1 novo.

As etapas do fluxo reverso estão resumidas na Figura 18: 1) o revendedor liga para a Empresa
X e oferece um mix de produtos em fim de vida; 2) a empresa autoriza o envio; 3) os produtos

78
chegam à Empresa X; 4) os produtos são armazenados por aproximadamente 40 dias; 5) os produtos
são enviados para a linha de tratamento (operações de desmontagem e triagem); 6) os materiais são
enviados para o processo de reciclagem. O processo de seis etapas resulta em um lead time total de,
aproximadamente, dois meses e meio.

Figura 18 – Etapas da LR para a Empresa X

Fonte: Autoria própria

Embora o lead time total de um retorno de produto seja de 2,5 meses, é importante mencionar o
produto retornado permanece em processamento por 12 horas, considerando o tempo ocioso na linha
de recuperação, ou seja, o trabalho em andamento entre as operações. Se apenas o tempo de ciclo das
atividades fosse considerado, o tempo de processamento seria de, aproximadamente, 3,3 min.
Sobre o sucesso desse caso, alguns pontos podem ser levantados e relacionados com os
respectivos stakeholders da cadeia reversa:
 Acionistas – por parte dos investidores, a demanda é por retorno financeiro. Nesse sentido,
a empresa atende aos requisitos do acionista de lucro (metas financeiras), já que o material
extraído dos produtos tem valor de mercado e o programa de retorno é economicamente
autossustentável. Desse modo, a principal reivindicação dos acionistas é o lucro, e a resposta
da empresa é a receita das vendas de sucata e a imagem verde associada ao programa LR.

79
 Sociedade – a responsabilidade social engloba uma gama de valores ou princípios que
estimulam uma indústria ou organização a praticar a LR, e a sustentabilidade é um dos
valores da empresa. Uma das políticas da empresa é a conformidade com a ISO 14001,
apesar das limitações impostas por esse padrão internacional.
 Fornecedores – o relacionamento da Empresa X com os fornecedores parece ser baseado
no compromisso de compartilhar a responsabilidade pelo ciclo de vida do produto e, em
alguns casos, pela venda de sucata, conforme mencionado anteriormente.
 Clientes – a empresa está liderando uma iniciativa com os seus principais clientes
industriais para compartilhar a responsabilidade pelos resíduos. Além disso, ao coletar
produtos usados, a Empresa reduz a quantidade de produtos recondicionados
informalmente pelo mercado, que apresentam risco para o usuário final. Além disso, o
programa de LR ajuda a criar uma "imagem verde", que é valorizada, especialmente, pelos
clientes europeus.
 Recondicionadores – existe o mercado informal de recondicionadores dos produtos em
fim de vida, que reparam os produtos sem cumprir os requisitos de qualidade e segurança,
canibalizando as vendas de novos produtos e prejudicando a imagem da empresa. Esse
fato estabelece uma pressão para a Empresa X recolher os seus próprios produtos a fim de
minimizar essas ações informais.
 Meio ambiente – preocupações ambientais são mencionadas pela empresa, no entanto,
vale ressaltar que essa preocupação está relacionada às políticas sustentáveis e à imagem
verde fornecida pelo programa de LR.

Essas informações sobre a atuação dos stakeholders, a reivindicação de cada um e a resposta da


Empresa X para cada um deles está resumida na Figura 19.

80
Figura 19 – Stakeholders, reivindicação e respostas

Fonte: Autoria própria

Desse modo, a logística reversa, impulsionada por questões ambientais, sociais e legislativas,
está crescendo em importância e aplicação. A LR é influenciada pelos stakeholders, e os programas
de retorno encontram fatores que podem possibilitar ou impedir o seu desenvolvimento.
Internacionalmente, as leis ambientais são os principais fatores que motivam a implantação
da LR. No entanto, no contexto brasileiro, como visto na Empresa X, o governo e a legislação não
foram uma influência primária, uma vez que o programa de retorno precede o surgimento de leis.
Desse modo, podemos concluir que os principais impulsionadores para a Empresa X são o fator
econômico e as ações dos recondicionadores no mercado de reposição.
Dessa maneira, no contexto da indústria de manufatura, um fator relacionado à recuperação
de valor de materiais impulsiona o fluxo reverso. Essa revalorização faz com que os programas de
LR sejam duplamente importantes para os acionistas: uma "imagem verde" é criada ou reforçada e
o ganho relacionado à participação de mercado, quando esses programas são economicamente
autossustentáveis ou mesmo lucrativos.

81
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TREVISAN, M. et al. Ecologia industrial, simbiose industrial e ecoparque industrial: conhecer para
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WEETMAN, C. Economia Circular: conceitos e estratégias para fazer negócios de forma mais
inteligente, sustentável e lucrativa. Belo Horizonte: Autêntica Business, 2019.

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Aplicações de Engenharia de Inteligência Artificial, v. 37, p. 154-169, 2015.

Sugestão de leitura
TREVISAN, M. et al. Ecologia industrial, simbiose industrial e ecoparque industrial: conhecer para
aplicar. Sistemas & Gestão, v. 11, n. 2, p. 204-216, 2016.
Esse artigo evidencia a definição, as características e as escalas de atuação da Ecologia industrial,
além de outros aspectos, bem como o seu vínculo natural com o desenvolvimento sustentável.

WEETMAN, C. Economia Circular: conceitos e estratégias para fazer negócios de forma mais
inteligente, sustentável e lucrativa. Belo Horizonte: Autêntica Business, 2019.
Nessa obra, a autora estabelece as bases do conceito de Economia Circular, oferecendo uma
perspectiva estratégica para que empresas e organizações se ajustem a fim de enfrentar a nova
realidade. Desse modo, essa é uma leitura indispensável para todos os profissionais e
estudiosos do universo corporativo.

87
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. Gestão ambiental: avaliação
do ciclo de vida: princípios e estrutura. ABNT, 2009.
Essa norma ABNT ISO/TS – Gestão ambiental – Avaliação do Ciclo de Vida traz as
especificações referentes à ISO 14040, com requisitos e diretrizes para a realização de uma
Avaliação de Ciclo de Vida.

PARKINSON, H. J.; THOMPSON, G. Analysis and taxonomy of remanufacturing industry


practice. Proceedings of the Institution of Mechanical Engineers, Part E: Journal of Process
Mechanical Engineering, v. 2017, n. 3, p. 243-256, 2003.
Essa obra traz toda definição de terminologias ligadas ao final de vida útil dos produtos
assim como os possíveis caminhos para o produto usado de acordo com o seu estado de uso
ou conservação.

McKINNON, A. Green Logistics – Improving the environmental sustainability of logistics.


Londres: Kogan Page Limited, 2010.
Apesar de ter o seu conteúdo na língua inglesa, é recomendável a leitura dessa obra, uma
vez que traz formas de medição dos efeitos ambientais da logística, assim como perspectivas
estratégicas e operacionais para mitigar os impactos.

SRIVASTAVA, S. K. Green supply-chain management: a state-of-the-art literature review.


International Journal of Management Reviews, v. 9, n. 1, p. 53-80, 2007.
Essa relevante obra consagrou o termo “gerenciamento da cadeia de suprimentos verde” ou
Green Supply Chain Management, elencando as áreas de atuação nesse tópico assim como
áreas que ainda precisam ser melhor desenvolvidas.

BOUZON, M.; RODRIGUEZ, C.M.T.; GOVINDAN, K. Uma análise multicaso das barreiras
para implementação da logística reversa de produtos. In: Encontro Nacional de Engenharia de
Produção (ENEGEP), XXXIV, 2014, Curitiba.
Essa obra traz uma análise atual de barreiras para implementar a logística reversa no contexto
brasileiro, com aplicação em três casos distintos em indústrias.

LEITE; P. R. Logística Reversa – Meio ambiente e competitividade. São Paulo: Pearson, 2009.
Essa obra é uma das mais tradicionais na área de Logística Reversa, visto que a sua primeira
edição é de 2003, de forma que se configura como um trabalho primordial no contexto
brasileiro. Além disso, o seu autor, Paulo Roberto Leite, é o presidente do Conselho de
Logística Reversa do Brasil, consagrando-se como um dos principais autores na área. O livro
traz, em detalhe, os tipos de fluxos reversos e os tipos de logística reversa empregadas.

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PROFESSORA-AUTORA
MARINA BOUZON
FORMAÇÃO ACADÊMICA
 Doutora em Logística pelo Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
 Mestre em Manufatura Enxuta pelo Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Mecânica da UFSC.
 Graduada em Engenheira de Produção Civil pela
UFSC.

EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS
 Atuou em empresas como Embraco, Intelbras e
AcelorMittal e trabalhou como consultora empresarial.

PUBLICAÇÕES E PRÊMIOS
 Residiu durante um ano na Dinamarca, onde realizou o seu doutorado sanduíche
na University of Southern Denmark com o renomado professor Kannan Govindan, maior
pesquisador da área de Logística Reversa do mundo.
 Possui publicações em relevantes periódicos internacionais, como: Production Planning
and Control, Resources Conservation and Recycling, Resources Policy e Journal of Cleaner
Production.

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