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OBJETIVOS:

Apresentar o e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis como produção inspirada e orientada


intelectualmente pelo Programa Etnomatemática;

Discutir as múltiplas concepções e olhares que compõem o e-Almanaque EtnoMatemaTi-


cas Brasis.

2.1 O e-Almanaque e o Programa Etnomatemática


Você sabe o que é um almanaque?

Veja um trecho da canção “Almanaque”, de Chico Buarque, lançada em 1981 como parte de um
álbum de estúdio de mesmo nome.

Introdução à Etnomatemática 26
Almanaque Um almanaque é uma publicação milenar que con-
Chico Buarque templa temas diversos, como curiosidades, poesias, recei-
tas, atualidades, dentre outros. É frequentemente associa-
Ó menina vai ver nesse almanaque do ao calendário. Veja alguns exemplos de almanaque.
como é que isso tudo começou
Diz quem é que marcava o tic-tac
Figura 4 – Exemplo de Almanaque
e a ampulheta do tempo disparou
Se mamava se sabe lá em que teta
o primeiro bezerro que berrou
Me diz, me diz, me responde por favor
Pra onde vai o meu amor
Quando o amor acaba [...]

Diz quem foi que fez o primeiro teto


Que o projeto não desmoronou
Quem foi esse pedreiro esse arquiteto
E o valente primeiro morador
Me diz, me diz, um morador
Diz quem foi que inventou o analfabeto
E ensinou o alfabeto ao professor
Fonte: Maurício de Sousa (2021).
Me diz, me diz
Me responde por favor
Pra onde vai o meu amor Por que e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis?
Quando o amor acaba
O e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis é uma pro-
dução intelectual rica e diversa, inspirada e orientada inte-
Quer ouvir a canção na íntegra? Acesse o link
lectualmente pelo Programa Etnomatemática. Apresenta-
disponível em:
-se como um hiperdocumento, de acesso livre e disponível
https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45105/
em vários espaços e repositórios. Por ser uma publicação

Introdução à Etnomatemática 27
ilustrada que expressa uma multiplicidade de temáticas, contextos, curiosidades etc., sua leitura pode ser agra-
dável a qualquer pessoa, de qualquer área e de qualquer idade. Essa diversidade busca também ressaltar-se
como característica muito marcante no mundo transdisciplinar da Etnomatemática.

O e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis teve como proponente a comunidade EtnoMatemaTicas Brasis,


uma comunidade virtual ligada à coordenação da Red Internacional de Etnomatemática no Brasil (RedINET-
-Brasil), e a editoração e publicação foi da responsabilidade do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tec-
nologia do Piauí (IFPI). A obra teve Ubiratan D’Ambrosio como consultor editorial e contou com a participação
de 100 (cem) coautores de todos os níveis de escolaridade, de uma larga faixa etária, dos 17 aos 88 anos, de
vários estados brasileiros e internacionais das Américas do Sul, Central e Norte, da África, Ásia e Europa.

A seguir você poderá acompanhar na íntegra o prefácio do e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis escrito
por Ubiratan D’Ambrosio, disponível nas páginas 14 e 15.

Figura 5 - Prefácio do e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis.

PREFÁCIO
Ubiratan D’Ambrosio

O conceito de almanaque é elusivo. Tem fascinado historiadores da cultura. O mais antigo foi encon-
trado no Egito Antigo, cerca do século 13 a.C. Na Europa, tornou-se conhecido graças aos astrólogos
árabes. Os historiadores da navegação dão grande relevância ao judeu Abraão Zacuto (1450-1510), que
trabalhou em Portugal na corte do rei Dom João II. Em 1476, publicou uma tábua astronômica deno-
minada Almanach Perpetuum. A origem da palavra é ambígua. O termo almanaque deriva, segundo
alguns autores, de al-manakh, referindo-se ao local onde os árabes nômades se reuniam para orar e
relatar as experiências de viagens ou notícias de outras terras.

Introdução à Etnomatemática 28
Os almanaques vieram preencher uma lacuna na literatura, pois obras relacionadas com a cultura po-
pular, como livros de adivinhação e livro de sonhos, foram largamente negligenciadas. Mas almanaques
não eram apenas manuais de conteúdo astrológico e prognóstico, mas também um elenco de datas e
efemérides, de calendários agrícolas e orientação para cultivo e colheita, de sugestões para o dia a dia,
medicina caseira e assim foram ampliando os temas de utilidade popular. Começaram a incluir peque-
nas historietas, humor, comentários sociais e temas da atualidade.

A razão do sucesso dos almanaques está no conteúdo prático e na linguagem acessível ao homem
comum, enquanto a literatura tinha um caráter mais intelectualizado, com preocupações de uma lin-
guagem elaborada e muitas vezes inacessível ao povo. Com o tempo, o almanaque foi se tornando
também atrativo para disseminação de opiniões políticas e morais.

Particularmente importante foi o famoso Poor Richard Almanack (Almanaque do Pobre Ricardo), pu-
blicado por Benjamin Franklin em 1732 e continuado nos anos seguintes. Provérbios deste almanaque,
tais como "Um tostão poupado é um tostão ganho", ou "Tempo é dinheiro" foram popularizados em
todo o mundo. Essa obra de Benjamin Franklin teve muita influência no processo de independência
dos Estados Unidos da América. Igualmente importante na luta contra a escravidão nos Estados Unidos
foi o Almanaque de Benjamin Banneker, que será discutido mais adiante nesta coletânea. Tem havido
muita pesquisa sobre a evolução dos almanaques e sobre sua importância na literatura popular. Os
primeiros almanaques modernos já foram objetos de várias excelentes discussões.

Estamos levando agora mais adiante a ideia de almanaque, tendo como foco a etnomatemática. É uma
contribuição pioneira à teoria do conhecimento, tornando acessível ao povo em geral ideias básicas da
matemática. No espírito da prática dos almanaques, desde a Antiguidade, procuramos desmistificar o
conhecimento matemático, fugindo da linguagem hermética, assustadora, da matemática acadêmica

Introdução à Etnomatemática 29
e ao mesmo tempo mostrando quão ampla é a matemática, presente em todas as atividade humanas.
Este almanaque mostrará claramente o sentido de falarmos em uma Matemática Humanista.

Foi um grande desafio para Olenêva Sanches Sousa, idealizadora deste projeto do e-almanaque, orga-
nizar todo o material na forma de um e-book com riquíssimo conteúdo e ilustrações. No espírito dos
primeiros almanaques, Olenêva buscou uma variedade de temas, reunindo reflexões sobre o Programa
Etnomatemática, desde conceituação teórica a exemplos, comentando eventos, coisas que acontece-
ram e coisas que estão programadas e acontecerão. Vai além de um calendário, que é um agrupamen-
to de dias, meses e anos, que visa a atender fatos marcantes das religiões e também necessidades civis,
como pagamentos de taxas e serviços. Há calendários diferentes para cada cultura. Os almanaques ge-
ralmente destacam efemérides, um fato relevante para ser lembrado ou comemorado em um certo dia.

Temos um calendário de fatos relevantes para a etnomatemática, algumas efemérides, todas expli-
cadas com um caráter conceitual. Daí o neologismo Calêndricas Etnomatemáticas, criado por Milton
Rosa e Daniel Orey. Efemérides e conceitos são descritos na forma de calendários. Assim, temos um Al-
manaque no sentido pleno do mais antigo que se conhece, do tempo de Ramsés II no Egito Antigo, no
qual havia uma lista de festas religiosas, incidentes mitológicos, dias favoráveis ou adversos, previsões
e avisos. Os egípcios faziam seus almanaques baseados em sua matemática e astronomia, nós faremos
nossas Calêndricas baseadas em Etnomatemática.

Fonte: D’Ambrosio (2020, p. 14-15).

Introdução à Etnomatemática 30
Saiba mais no e-Almanaque

Por que um e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis? Para saber mais sobre o conceito de Almanaque e por
que e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis, acesse as páginas 16 a 18.

2.2 Estrutura e concepções do e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis.


O e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis é um documento que surge como produto do Virtual Etnoma-
temática Brasil (VEm Brasil) e é subdividido em algumas seções que serão abordadas ao longo desta unidade.

A primeira seção do e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis intitula-se Calêndricas EtnoMatemaTicas. Ela


foi criada pensando nas alterações que ocorreram nos calendários decorrentes do momento pandêmico que
vivemos desde 2020, devido à COVID - 191. Assim, surgiu a ideia de criar um calendário para a Etnomatemática,
no qual fossem destacados alguns marcos históricos e pessoas marcantes da Etnomatemática. Mas por que
o nome Calêndricas?
É um neologismo, não registrado em dicionários da língua portuguesa, mas presente na língua inglesa.
Assim, Calêndricas EtnoMatemaTicas, como um sistema diferenciado de calendarização das informações,
busca caracterizar dinâmica e criativamente este calendário de tempos e espaços diversos da etnomate-
mática (E-ALMANAQUE, 2020, p. 10-11).

Calêndricas não é um documento pronto e acabado. Você pode acrescentar eventos e pessoas
marcantes e atuantes na área, enviando contribuições para etnomatematicas.brasis@gmail.com. Para
visualizar o documento, veja o link disponível: https://docs.google.com/document/d/1gjDYUCtaNtncvuAe
bZOJcNktwLIDrZSZTF4KpqE3kSc/edit.

______________
1
De acordo com o Ministério da Saúde, a covid-19 é uma doença causada pelo coronavírus, denominado SARS-CoV-2, que provoca quadros clínicos que variam de
infecções assintomáticas a quadros graves. O primeiro caso de covid - 19, no Brasil, data de 26 de fevereiro de 2020.

Introdução à Etnomatemática 31
A seção seguinte versa sobre a Biblioteca Digital EtnoMatemaTicas (BDEm). Em razão da ex-
Atenção! pansão das pesquisas e ações em Etnomatemática, representadas por publicações que surgem de
diversos lugares do mundo, cria-se a BDEm para condensar e facilitar o acesso aos diferentes tipos de
Se você tem também inte-
resse em etnomatemática e documentos já disponibilizados na internet, sejam eles gratuitos para acesso e download, ou privados
gostaria de contribuir para o com indicação de endereço de venda.
acervo da BDEm, acesse o link
da biblioteca e encontre ins- Nesse sentido, a Biblioteca Digital EtnoMatemaTicas surge com a intenção de reunir a maior
truções de como enviar o seu
quantidade de publicações sobre Etnomatemática, disponibilizando um acesso rápido a artigos,
material.
livros, monografias, dissertações, teses e vídeos que foram publicadas em anais de eventos, revis-
tas, livrarias ou em sites e que têm grande importância para a Etnomatemática (E-ALMANAQUE,
2020, p. 12).

A BDEm não é um repositório. Ela funciona como uma ponte entre pesquisadores/educadores
que buscam referências no Programa Etnomatemática e os locais onde estas se encontram. Para
acompanhamento de todo esse material que foi reunido envolvendo Etnomatemática, basta acessar
o link disponível em: https://sites.google.com/view/etnomatematicas/

Dando sequência à estrutura do e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis, a seção seguinte é a


Saiba mais Parte I - EtnoMatemaTicas Brasis, que aborda as Histórias e Investigações EtnoMatemaTicas. Des-
tacamos que o tópico Investigações EtnoMatemaTicas se subdivide para contemplar o Programa
Acesse o vídeo que exibe o
trabalho “BDEm: um convi- Etnomatemática por Ubiratan D’Ambrosio e vozes de diferentes autores no Mosaico sem padrões.
te à reflexão epistemológi-
ca e à busca de referenciais” No tópico Histórias, são apresentados caminhos importantes da Etnomatemática no Brasil e no
apresentado para um grande
público de educadores, no
mundo. Fala-se brevemente sobre o histórico e os desafios da Red Internacional de Etnomatemática
Congresso Internacional Mo- no Brasil (RedINET-Brasil), exibindo todos os números já publicados de seus boletins bimestrais, até o
vimentos Docentes, em 2021,
disponível em: https://youtu.
lançamento do e-Almanaque, e um Sumário Geral, que continua em atualização constante. A RedI-
be/fZsRsupaakM. NET também é abordada no âmbito da América do Sul e internacional. Além disso, é contemplado o
International Study Group on Ethnomahematics (ISGEm).

Introdução à Etnomatemática 32
Saiba mais no e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis

Em abril de 2017, foi publicado o primeiro Boletim, ainda com a denominação antiga, no âmbito da América
Latina, Boletim RELAET-Brasil, que, coerentemente à nova abrangência desta rede e nova sigla, passou a chamar-
se Boletim RedINET-Brasil. Vale salientar que os boletins visam contribuir para a promoção de diálogos entre
pessoas nas mais diversas regiões geográficas e culturais do Brasil e do mundo” (E-ALMANAQUE, 2021, p. 26).
Caso queira mais informações sobre esse material, acesse o link do sumário geral disponível em: https://docs.
google.com/document/d/1Zj4GkrmlqCPkcb6FXaEkq8LCJt44z5GDf45Pr0iasnw/edit

Sobre as Investigações EtnoMatemaTicas, como o próprio título mostra, objetivam enfatizar as inves-
tigações e ações em etnomatemática, sejam essas práticas educativas formais, não formais ou informais, a
seção subdivide-se em duas subseções:
Programa Etnomatemática por Ubiratan D’Ambrosio, na qual se busca destacar alguns marcos da história
do desenvolvimento deste programa. Ela é, prioritariamente, constituída de produções de D’Ambrosio;
mosaico sem Padrões, uma mesclagem de materiais diversos em conteúdos e formas que compõem o
produto da colaboração de atores da etnomatemática (E-ALMANAQUE, 2020, p. 39).

Uma parte muito importante dessa seção é a apresentação da concepção de Ubiratan D'Ambrosio que é o ide-
alizador do Programa Etnomatemática. É possível compreender mais sobre “gaiolas epistemológicas” à luz do pró-
prio D’Ambrosio. Lembramos que a metáfora da gaiola epistemológica foi aprofundada no Módulo I deste e-book.

Existem diferentes concepções sobre matemática. Generalizando, podemos dizer que há duas vertentes,
a escolar/acadêmica e a do cotidiano. Ambas são etnomatemáticas, uma no contexto acadêmico e a outra
nos mais distintos contextos existentes, e se influenciam. Lembre-se de que nenhuma é mais importante do
que a outra, conforme já vimos no Módulo I.

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Em relação à seção Investigações EtnoMatemaTicas - Mosaico sem padrões, são destacados conteú-
dos variados sem um padrão definido. São cartazes, fotografias, mandala, cordel, artigos, dentre outros, sob o
olhar de pessoas que aceitaram o convite para produzir algo inspirado em Etnomatemática.

O cartaz “A dimensão pedagógica da Etnomatemática como possibilidade de implementação da Lei


10639/03”, produzido por Cristiane Coppe e Ana Carolina Coppe, e a Mandala Etnomatemática, produzida
por Polô Czermak, são exemplos de artes plásticas, inspiradas em princípios do Programa Etnomatemática.
Podem ser acessadas nas páginas 87 e 88 do e-Almanaque.

Ainda nesta seção, o mosaico se expressa em variados elementos socioculturais, em múltiplas temáticas
do Programa Etnomatemática, como cercas, sombrinhas de frevo, produção de farinha, manifestações das
comunidades indígenas e quilombolas, dentre outras. Veremos mais a este respeito no Módulo III. Veja nas
imagens abaixo exemplos dos elementos socioculturais citados.

Figura 6 - Exemplos dos elementos socioculturais.

Fonte: e-Almanaque (2020).

Introdução à Etnomatemática 34
Saiba mais no e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis

Confira a multiplicidade de temáticas do Mosaico das Investigações EtnoMatemaTicas, lendo os conteúdos


da página 81 a 158.

Após a Parte I do e-Almanaque, você confere a homenagem póstuma em memória de Emanoel Amaral nas
páginas 159-161. Emanoel Amaral, jornalista e artista, criou artes plásticas da cultura nordestina representativas
do Programa Etnomatemática e do próprio Ubiratan D’Ambrosio.

A última seção, intitulada Parte II - VEm Brasil 2020, compreende duas subseções: O que traz o VEm Brasil
2020 de novo?, que contempla resumos expandidos das apresentações; e A voz do espectador-interativo
que inicia com o texto Os éthnos da pandemia e segue com produções dos espectadores deste evento, os
minirrelatos, nos quais:
a diversidade de contextos, estudos e ações da Etnomatemática, enquanto programa de pesquisa e teoria
geral do conhecimento, e suas manifestações pedagógicas, artísticas, políticas e socioculturais, que vêm
atraindo grande número de pesquisadores das EtnoMatemaTicas, igualmente têm despertado o interesse
de educadores, curiosos e simpatizantes de diversas áreas, que se vão assumindo etnomatemáticos
(E-ALMANAQUE, 2020, p. 165-166).

No que se refere aos minirrelatos, foi oportunizada a participação do espectador - interativo, sendo que
cada participante pôde expressar sentimentos, conhecimentos e gratidão a partir de vivências e perspectivas.
Essas produções seguem entre as páginas 382 até 430.

Muitos estados brasileiros participaram do evento, juntamente com os diversos países do mundo, e
os trabalhos foram dialogados entre os autores e os espectadores, reconhecendo as vozes, os saberes e
os fazeres.

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Vejamos alguns títulos, extraídos do e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis, especificamente da Parte
II - VEm Brasil 2020 localizada entre as páginas 162 a 375, que expressam uma variedade de temáticas,
apresentados no VEm Brasil 2020:

Alfabetização matemática de Jovens, Adultos e Idosos na perspectiva da Etnomatemática;


Etnomatemática na interculturalidade do Chile;
Etnomatemática dos jogos africanos e artefatos indígenas no contexto educacional;
Situación de la Etnomatemática en el Ecuador;
Saberes matemáticos en los tejidos andinos;

Confluence: The Flowing Together of Ideas;

Etnomatemática como método de pesquisa e de ensino: Algumas possibilidades para sua operacio-
nalização em sala de aula;

Ensino da matemática na educação infantil: Uma análise das percepções de professores e dos jogos
de linguagem presentes em sua prática docente;

Saberes etnomatemáticos e adolescentes privados de liberdade: origamis e o bem estar mental;

A construção do conhecimento matemático “tijolo por tijolo”;

O campo de pesquisa em etnomodelagem: As abordagens êmica, ética e dialógica;

Conhecimentos e saberes etnomatemáticos produzidos por mulheres negras trançadeiras;

Discutindo a Etnomatemática no contexto da diversidade e da valoração de culturas e saberes.

Dentre as páginas destacadas no parágrafo anterior, percebemos que diversas perspectivas e concep-
ções da Etnomatemática foram sinalizadas. Falaremos no próximo tópico a este respeito.

Introdução à Etnomatemática 36
2.3 As múltiplas concepções e olhares de Etnomatemática que compõem o
Saiba mais documento
Confira o título “Etnomate- Algumas concepções de Etnomatemática aparecem ao longo do documento, como a
mática e suas dimensões”,
da dissertação de Mestrado
epistemológica, a filosófica, a histórica, a metodológica e a pedagógica. No que se refere à dimensão
Profissional de Érika Dagnoni pedagógica, por exemplo, possibilita o diálogo contínuo com outras áreas de conhecimento e contextos
Ruggiero Dutra, de 2020, que
tem fundamentação nas suas
extraescolares, com o estudante ocupando o centro do processo. Nesse sentido, a Etnomatemática
seis dimensões: Cognitiva, provoca no pesquisador e no educador uma visão holística de educação, em especial da educação
Educacional, Conceitual, His-
tórica, Política e Epistemoló-
matemática, aproximando ciências, filosofia, artes e conhecimentos desenvolvidos nos contextos
gica. Confira este título, aces- culturais.
sando o link disponível em:
https://1library.org/article/et- Entendendo que essa visão holística que o Programa Etnomatemática assume está
nomatem%C3%A1tica-e-su-
as-dimens%C3%B5es-progra- relacionada às raízes culturais do conhecimento matemático, este se relaciona a seis dimensões:
ma-etnomatem%C3%A1tica. epistemológica, política, educacional, histórica, conceitual e cognitiva. Segundo explicitado
qm3n8e5y.
por D’Ambrosio (2019, p. 22),
O cotidiano está impregnado dos saberes e fazeres próprios da cultura. A todo instante, os
indivíduos estão comparando, classificando, quantificando, medindo, [...] e, de algum modo,
avaliando, usando os instrumentos materiais e intelectuais que são próprios à sua cultura.

Diferentes concepções ajudam a contemplar os caminhos trilhados na área e a consolidar o


Programa Etnomatemática. Os pressupostos filosóficos percebidos no e-Almanaque apontam para
uma compreensão humanista da matemática, no sentido de perceber e valorizar os saberes e fazeres de
diferentes culturas. Desse modo, dialogamos com a transdisciplinaridade na perspectiva de D’Ambrosio
(2009) no entendimento de que esta leva o indivíduo a tomar consciência da essencialidade de si
mesmo e do outro, da natureza, do planeta, da sua inserção na realidade.

As relações sociais devem ocorrer mediadas pelo respeito, solidariedade e cooperação. Esse
despertar deve acontecer também no processo de construção do conhecimento. Para tanto é preciso

Introdução à Etnomatemática 37
que ocorra um encontro entre o conhecimento e a consciência. É nessa concepção de transdisciplinaridade
que se embasa a Etnomatemática.

Apesar de terem sido citadas aqui algumas concepções de Etnomatemática, estas não devem ser
vistas separadamente e, obviamente, todas elas devem conceber a essencialidade das raízes culturais do
conhecimento. D’Ambrosio (2019, p. 42) afirma que: “reconhecer e respeitar as raízes de um indivíduo não
significa ignorar e rejeitar as raízes do outro, mas, num processo de síntese, reforçar suas próprias raízes.
Essa é, no meu pensar, a vertente mais importante da Etnomatemática”.

Em relação aos olhares apresentados no e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis, entendemos que eles
expressam a concepção de Etnomatemática de quem olha. Nesse sentido, consideremos que muitos olhares
partem de pesquisadores e de educadores que concebem a Etnomatemática como orientação para a
teoria e a prática do ensino e aprendizagem da matemática ou Etnomatemática como orientação e
inspiração para a vivência individual e social do ciclo de conhecimento.

No primeiro caso, a Etnomatemática como orientação para a teoria e a prática do ensino e


aprendizagem da matemática, ela é uma tendência contemporânea da Educação Matemática, o que
pode decorrer de vários fatores: concebê-la restritamente a esta área, que, dito de outro modo, significa
não a conceber como Programa Etnomatemática. Neste caso, ela não transcende a Educação Matemática,
não se abre, mantendo-se confortavelmente nesta “gaiola epistemológica’’. Assim sendo, os olhares dos
pesquisadores e dos educadores buscam soluções para os problemas que envolvem o ensino da matemática.

Em 2005, Ubiratan D’Ambrosio ganhou a Medalha Felix Klein do ICMI/International Commission of


Mathematics Instruction. O autor esclarece que: “é uma premiação dada [...] a educadores matemáticos
em reconhecimento a suas contribuições, ao longo de uma vida profissional, à pesquisa em educação
matemática”. (E-ALMANAQUE, 2020, p. 66).

Este fato e outros validam a importância da Etnomatemática dentro da educação matemática, que sempre
parte de olhares para o sociocultural, para a realidade. Vejamos alguns olhares que selecionamos para exemplificar

Introdução à Etnomatemática 38
etnomatemáticas como conhecimen- Figura 7 - Exemplo de artefato de madeira.
tos matemáticos presentes em artefa-
tos e mentefatos, a saber: construção
de cercas, construção civil, de sombri-
nha de frevo e do cofo etc.

Veja ao lado um exemplo de ar-


tefato de madeira, denominado prato,
que é uma unidade de medida utiliza-
da por alguns agricultores para projetar
Fonte: e-Almanaque (2020, p. 144-145).
a quantidade de sementes que serão
plantadas em determinada área. Ao lado do prato, encontra-se um agricultor que explica como calcular a área de
uma determinada plantação com a utilização de unidades de medida não convencionais como a tarefa, braça e linha.

No segundo caso, Etnomatemática como orientação e inspiração para a vivência individual e social
do ciclo de conhecimento, percebemos essa concepção como teoria geral do conhecimento e programa de
pesquisa, as quais podem decorrer de vários fatores: conceber que o Programa Etnomatemática transcende a
educação matemática, abrindo as portas desta área para deixarem-se voar livremente entre as “gaiolas episte-
mológicas”, considerando a relação entre cultura e criatividade.

Alguns dos fatos históricos, apresentados no e-Almanaque (2020, p. 69), corroboram este entendimento:
em 1995, D’Ambrosio era membro da organização “Conferências Pugwash sobre Ciência e Assuntos Mundiais”,
reconhecida por seus esforços em prol da Paz Mundial, quando ganhou o Prêmio Nobel da Paz; em 2001, o
reconhecimento da importância das contribuições de D’Ambrosio para a História da Matemática, quando recebeu
o Prêmio Kenneth O. May do International Committee of History of Mathematics (E-ALMANAQUE, 2020, p. 42).

Quanto aos olhares relacionados a esta concepção, no e-Almanaque, podemos exemplificar


Etnomatemática como bandeira para um mundo melhor, para o desenvolvimento sustentável, na

Introdução à Etnomatemática 39
construção de hortas domésticas envolvendo a família, em metodologia motivadora na educação
financeira, na promoção de diálogos com as comunidades, no reconhecimento da cosmovisão de
indígenas e quilombolas, na minimização da evasão escolar e na decolonialidade.

Nessa perspectiva, o e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis visibiliza pesquisas desenvolvidas ou


em desenvolvimento sobre Etnomatemática, bem como manifestações culturais, sociais, políticas e
ações contempladas em seus objetos de estudo, além de abordagens teóricas, filosóficas, históricas
referentes ao Programa Etnomatemática. A sua leitura e difusão poderão contribuir para o engajamento
de atores nessa metodologia em espaços acadêmicos e educacionais.

Saiba mais no e-Almanaque

Você sabia que um índice detalhado com todos os títulos pertinentes ao e-Almanaque EtnoMatemaTicas
Brasis pode levá-lo diretamente ao conteúdo de seu interesse? No fim da publicação, no Índice Remissivo, você
verá uma lista desses títulos - todos linkados aos seus respectivos conteúdos - e poderá escolher e acessar o que
deseja ler no momento, nas páginas 446 a 454.

Atividade
Pensando nos múltiplos olhares apresentados no e-almanaque, é possível compreender que os pesquisadores
concebem a ____________ como ___________ para a teoria e a ___________ do ensino e ____________ da
_________ ou etnomatemática como orientação e____________ para a vivência individual e ____________ no
ciclo do _____________.

Respostas: etnomatemática; orientação; prática; aprendizagem; matemática; inspiração; social; conhecimento.

Introdução à Etnomatemática 40
Neste módulo, discutimos o que é um almanaque e vimos alguns exemplos. Compreendemos como
foi pensado e estruturado o e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis, um tipo de almanaque, que tem como
um de seus diferenciais o caráter de hiperdocumento. Inspirado e orientado pelo Programa Etnomatemá-
tica, o e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis apresenta múltiplas concepções e olhares a respeito da Etno-
matemática.

Introdução à Etnomatemática 41
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia Orientador para o enfrentamento da pandemia covid-19 na Rede de Atenção
à Saúde. 4. ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: https://www.conasems.org.br/publicada-4a-
edicao-do-guia-orientador-para-o-enfrentamento-da-pandemia/. Acesso em: 4 abr. 2022.

BUARQUE, Chico. Almanaque. Letras, 2022. Disponível em: https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45105/. Acesso


em: 23 fev. 2022.

D’AMBROSIO, Ubiratan. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

D’AMBROSIO, Ubiratan. Transdisciplinaridade. São Paulo: Editora Palas Athena, 2009.

DUTRA, Érika Dagnoni Ruggiero. Etnomodelagem e café: propondo uma ação pedagógica para a sala de aula. 2020,
319 f. Dissertação (Mestrado em Matemática) - Universidade Federal de Ouro Preto. Ouro Preto, 2020. Disponível em:
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SOUSA, Mauricio de. Almanaque da Mônica - 81. Disponível em: https://loja.panini.com.br/panini/solucoes/Busca.aspx?


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SOUSA, Olenêva Sanches (Org.). e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis. Teresina: IFPI, 2020. 456p. Disponível em:
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Introdução à Etnomatemática 42

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