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Relatório Condensador

A. Ferreira (67893), A. Patrı́cio (67898), M. Prata (67933), T. Coutinho(67957)


LCET, Engenharia Fı́sica Tecnológica 2o ano,
IST, Av. Rovisco Pais 1049-001 Lisboa, Portugal
(Dated: 28 de Abril de 2011)
Estudámos o processo de carga e descarga de um condensador num circuito RC série, com
Cvoltmetro = 1.07µ F . Alguns dos cálculos foram o da sua capacidade e o balanço energético, consi-
derando e não a resistência interna do sistema de aquisição de dados e de perdas do condensador.
Com esta correcção, obtivémos Cdescarga = 1.03 ± 0.01 µF e Ccarga = 1.024 ± 0.003 µF .
Estudámos a resposta em frequência de um condensador plano de dieléctrico LHI(polı́mero Mylar
de espessura 100µm): a variação da resistência de perdas, permitividade e capacidade complexas.
Vimos ser um erro conceptual considerar todo o espaço entre placas preenchido por dieléctrico,
existindo uma posı́vel camada de ar com espessura dar = 65 ± 4 µm, 39% do espaço entre placas.

1. INTRODUÇÃO TEÓRICA É formalmente idêntico ao anterior, com Rv → Req ,C → Ceq e


Consideramos um sistema de dois condutores com cargas +Q e -Q, vG → v2 . Temos para as amplitudes complexas:
V¯1 − V¯2 1 < V12 > + < V22 > −2 < V1 · V2 >
um condensador, para o qual podemos definir a diferença de potencial I¯ = = V¯2 (Ceq jω+ 2
), Ief =
R Req R2
V+ − V− . Os teoremas de unicidade para V garantem que V ∝ Q pelo (8)
que se introduz a capacidade C do condensador, C ≡ Q/V , medida Assim, a potência dissipada no conjunto Req + Ceq é
em farads(F=C.V −1 ) nas unidades SI. < V2 · V1 > − < V22 > < V22 > < V22 >
P = = ⇒ Req = (9)
Em contraste com os condutores, nos dieléctricos cada carga está R Req P
e obtemos também s
associada com um átomo especı́fico ou molécula - move-se ligeiramente 1 2
< V1 >

R
2
na região do átomo ou molécula, cujo efeito global é, quando o material Ceq = − 1+ (10)
ωR < V22 > Req
é sujeito a um campo E,~ a criação de dipolos eléctricos que, em geral, Para o condensador plano em regime sinusoidal, este pode modelar-
se faz por: deformação dos átomos do material, sendo p ~ com α
~ ≈ αE, se por uma capacidade/permitividade complexa:
1 1 1
a polarizabilidade atómica; rotação de dipolos permanentes existentes = RC ||( ) ⇒ C̄ = CRe − jCIm = C − j (11)
~ =momento dipolar por C̄jω Cjω RC ω
no material. Em termos da polarização P q
2 + C 2 e−jφ
(d − 2x)0 CRe
unidade de volume, a lei de Gauss reescreve-se como C̄(d − 2x) Im
~ = ρf , ~ ≡ 0 E
~ +P
~ ¯ = = Re − jIm = p (12)
∇·D D (1) A−  2xC̄ (A0 − 2xCRe )2 + (2xCIm )2
Num dieléctrico LHI, P~ = 0 χe E
~ ⇒ D~ = 0 r E
~ = E,
~ onde χe 0
com
" #
A0 CIm
é a susceptibilidade e r = 1 + χe a permitividade relativa do meio. φ = arctan (13)
2 + C2 )
A0 CRe − 2x(CRe
Em meios LHI densos, átomos ou moléculas não polares, podemos Im
relacionar α com , pela eq. de Clausius-Mossotti: 2. DESCRIÇÃO EXPERIMENTAL

 = 0 + (2)
O circuito em estudo na primeira etapa representa-se na fig. 1.
1 − N α/30
Começamos por estudar o processo de carga/descarga de um con- Consiste essencialmente no mesmo circuito apresentado na introdu-
densador no seguinte circuito: ção, sendo que Rv corresponde agora à resistência interna da placa
de aquisição digital que adquire os valores de vc (t), C corresponde ao
paralelo da capacidade do condensador com a do sistema de aquisição
de dados e se despreza a resistência interna Ri do voltı́metro. Como
o voltı́metro foi desligado do circuito após medição da força electro-
Sendo para o condensador ic = dq/dt = Cdvc /dt, a lei de Kirchoff motriz ε do gerador(considera-se nula ri do gerador face a R e Rv ),
para as correntes dá-nos a equação caracterı́stica: não existe qualquer problema.
Cdvc /dt = (VT H − vc )/RT H ⇔ Cdvc /dt + vc /RT H = VT H /RT H (3)
cuja solução geral vemos ser, para uma tensão constante VG :
vc (t) = VT H + (V0 − VT H )e−(t−t0 )/τ , V0 = vc (t = t0 ) (4)
onde τ = RT H C é o tempo de relaxação do circuito, medida de Figura 1: Esquema da primeira parte da experiência.
quão rápida é a deriva de cargas num meio óhmico. Num perı́odo de Começámos por analisar a descarga, sendo o posicionamento do
carga do condensador V0 < VT H e no perı́odo de descarga V0 > VT H . interruptor em b) efectuado automaticamente pelo sistema. Para cada
Num processo de carga/descarga de t = t0 a t∗ = t0 + ∆t ,a energia R entre 10kΩ e 60kΩ, efectuámos a representação gráfica de ln(v (t)).
c
posta em jogo em cada componente é: De um ajuste linear( eq. 4 com VT H = 0), obtivémos o declive m =
∗ 2 2 Z t∗ 2
Cvc (t ) − Cvc (t0 ) (VG − vC )
WC = , WR = dt (5) −1/τ e a ordenada na origem b = ln(V0 ), que permitiram obter uma
2 t0
R estimativa para a capacidade do condensador C = τ /R. A tensão

Z t∗ 2 R t
vC t (VG − vC )VG dt inicial em regime estacionário ε0 (indicada pelo sistema de aquisição)
W Rv = dt, −WG = 0 = WC + WR (6)
t 0 Rv R permitiu obter uma estimativa corrigida para C, considerando Rv na
Estudamos também um condensador de pratos paralelos preenchido análise: ε0 = εRv /(Rv + R) ⇒ (ε/ε0 − 1) = R/Rv (14)
com material dieléctrico de permitividade r e, possivelmente, com Uma regressão linear aos pontos (R, ε/ε0 −1) permitiu, assim, obter
uma camada de ar com espessura total 2x: uma estimativa para Rv , usada no cálculo de C 0
corr. :
Ccorr. = τ /(R||Rv ) = τ /R (15)
Note-se que Ccorr é o paralelo de C com a capacidade do sistema
de aquisição Cv , Ccorr = C + Cv . Efectuámos ainda o balanço ener-
gético do processo, usando as eq.6, com Rv igual ao obtido no ajuste
R t∗
para o qual vemos facilmente ser a sua capacidade dada por: e t0 vc (t)2 dt efectuado pelo software.
A A0  A − Cd
C= = ⇒ 2x = (7) Para o estudo da carga, é feita a ligação a a) no interruptor pelo
d + 2χe x d0 + 2x( − 0 ) C(r − 1) sistema de aquisição. A análise é idêntica à efectuada para a descarga,
Geralmente, o dieléctrico é mau condutor, o que pode modelar-se
sendo que agora registámos os valores aproximados ε∞ = VC (t = ∞),
pelo paralelo de um resistor RC com um condensador de dieléctrico R t∗ R t∗
perfeito. Consideremos, então, o circuito com tensão v2 sinusoidal: t0
(ε∞ − vc (t))2 dt, t0 (ε∞ − vc (t))dt, úteis nas eq. 6, e representá-
mos a dependência temporal ε∞ − vC (t).
Na segunda etapa, usámos um gerador de funções para produzir
uma tensão alternada sinusoidal com frequência f e amplitude V1 , em
série com uma resistência R e com um condensador de pratos paralelos
com resistência de perdas RC e capacidade C:
A capacidade calculada parece diminuir com o aumento de R, o
que indica claramente que devemos considerar não R mas um valor
R0 < R no cálculo de C a partir da constante de tempo τ .
A correcção a efectuar consiste na inclusão nos cálculos da resis-
tência interna do sistema de aquisição de dados e da resistência de
perdas do condensador, como discutido no procedimento.
Figura 2: Esquema da segunda parte da experiência. Para determinar Rv , realizámos então a regressão linear da equação
O circuito para a direita do porto bb’ é exactamente o analisado na
14 aos dados (R, ε/ε0 − 1) presente na fig. 4.
introdução, com Ceq = C + 120pF e Req = (RC ||1M Ω).
O sistema digital de aquisição permitiu obter < v12 >, < v22 > e
< v1 · v2 > para f entre 200Hz e 0.5MHz. A cada medição, ajustámos
R por forma a que V2ef ≈ V1ef /2. Testámos ainda a possı́vel existên-
cia de uma camada de ar no condensador obtida pela eq.7), sendo o
dieléctrico o polı́mero Mylar, com r ≈ 3.2.
3. DADOS EXPERIMENTAIS
Medimos com o multı́metro a capacidade C do condensador, tendo
obtido C = (1.07 ± 0.01) × 10−6 F , valor tomado como exacto, com
um desvio à precisão de 0.9%. Também medimos a força electromotriz
do gerador, conseguindo ε = 5.017 ± 0.001 V , com desvio à precisão Figura 4: Ajuste linear para obtenção de Rv na descarga.
de 0.1%. Os valores de R foram medidos com o multı́metro digital e
possuem o erro de medida eR = 10 Ω. O declive obtido por ajuste 1/Rv = (2.32 ± 0.06) × 10−6 Ω−1 revela
Nas tabelas I e II relativas à descarga/carga do condensador, as es- uma resistência Rv = 432 ± 11 kΩ, com desvio à precisão de 2.6%.
timativas para os erros no declive, na ordenada na origem e no integral A ordenada na origem obtida foi b = (−2.8 ± 2.2) × 10−3 , com des-
foram obtidas considerando duas medições. Na tabela III mostram- vio à precisão de 79 %, o que parece confirmar a boa qualidade do
se os dados relativos à resposta em frequência de um condensador, ajuste. Com este valor de Rv , determinámos R0 e novos valores para
sendo os valores de tensão apresentados a média de dois calculados C resumidos na tabela VII.
R(Ω) R0 (Ω) eR0 (Ω) C(µF ) eC (µF )
pelo programa e o respectivo erro a diferença entre medições. 9980 9755 15 1.015 0.007
R(Ω)a -m(s−1 ) b ε0 (V) Integral(V 2 .s) 19980 19096 31 1.03 0.01
9980 101.0 ± 0.5 1.60 ± 0.01 4.91 ± 0.01 0.123 ± 0.001 29970 28025 56 1.02 0.02
39950 36567 89 1.03 0.02
19980 51.0 ± 0.5 1.57 ± 0.01 4.82 ± 0.01 0.228 ± 0.001 49696 44567 129 1.03 0.03
29970 34.9 ± 0.5 1.53 ± 0.01 4.70 ± 0.01 0.317 ± 0.006 59970 52656 176 1.03 0.03
39950 26.6 ± 0.5 1.51 ± 0.01 4.61 ± 0.01 0.399 ± 0.001
49696 21.7 ± 0.5 1.50 ± 0.01 4.50 ± 0.01 0.463 ± 0.001 Tabela V: Resultados com correcção para a descarga.
59970 18.4 ± 0.5 1.48 ± 0.01 4.42 ± 0.01 0.528 ± 0.001
Tabela I: Dados relativos à descarga do condensador. Para obter o valor corrigido Ccorr , aplicámos uma regressão linear
R(Ω) -m(s−1 ) b ε∞ (V) Integral(V 2 .s) Integral(V.s) aos pontos experimentais (R0 , τ ), presente na fig. 5.
9980 102.5 ± 0.5 1.59 ± 0.01 4.91 ± 0.01 0.122 ± 0.002 0.0488 ± 0.0001
19980 51.0 ± 0.1 1.57 ± 0.01 4.815 ± 0.005 0.226 ± 0.001 0.0928 ± 0.0005
29970 35.3 ± 0.2 1.54 ± 0.01 4.72 ± 0.01 0.306 ± 0.001 0.1310 ± 0.0004
39950 26.6 ± 0.1 1.51 ± 0.01 4.635 ± 0.005 0.390 ± 0.001 0.1696 ± 0.0004
49696 21.75 ± 0.05 1.49 ± 0.01 4.55 ± 0.01 0.43 ± 0.01 0.203 ± 0.002
59970 18.4 ± 0.1 1.42 ± 0.06 4.47 ± 0.01 0.52 ± 0.01 0.234 ± 0.001
Tabela II: Dados relativos à carga do condensador.
f(Hz) R(Ω) V1 (V) V2 (V) < V1 · V2 > (V 2 )
ef ef
200 ± 1 (2.51 ± 0.01) × 105 6.344 ± 0.001 3.169± 0.001 12.595 ± 0.005
500 ± 1 (1.065 ± 0.001) × 105 6.357 ± 0.001 3.177± 0.001 11.223 ± 0.005
1000 ± 1 (5.400 ± 0.005) × 104 6.355 ± 0.001 3.176± 0.001 10.223 ± 0.005
2000 ± 10 (2.739 ± 0.002) × 104 6.353 ± 0.001 3.178± 0.001 10.458 ± 0.005
5000 ± 10 (1.096 ± 0.002) × 104 6.345 ± 0.001 3.170± 0.001 10.36 ± 0.02
10000 ± 100 (5.516 ± 0.005) × 103 6.329 ± 0.001 3.166± 0.003 10.261 ± 0.005
20000 ± 100 (2.699 ± 0.005) × 103 6.28 ± 0.010 3.207± 0.001 10.61 ± 0.01
50000 ± 100 (1.059 ± 0.002) × 103 6.15 ± 0.010 3.18± 0.010 10.416 ± 0.001 Figura 5: Ajuste linear para obter C corrigido na descarga.
100000 ± 1000 (5.36 ± 0.01) × 102 5.944 ± 0.001 3.041± 0.001 9.708 ± 0.002
200000 ± 1000 (2.755 ± 0.001) × 102 5.583 ± 0.001 2.79 Conseguimos a capacidade corrigida Ccorr. = 1.03 ± 0.01µF , com
± 0.010 8.441 ± 0.003
500000 ± 1000 (1.071 ± 0.001) × 102 4.661 ± 0.001 2.290± 0.001 6.035 ± 0.003
um desvio à precisão de 1.1% e à exactidão de 3.3%. A ordenada da
Tabela III: Dados relativos à resposta em frequência do condensador.
origem b = (−1.9 ± 1.4) × 10−4 s apresenta um desvio à precisão de
4. ANÁLISE DE RESULTADOS
72%, suficiente para considerar o ajuste razoável, idêntico ao obtido
4.1. Descarga do Condensador
no gráfico anterior como seria expectável.
Baseados nos valores da tab.I, calculámos a constante de tempo τ ,
Veja-se que a recta obtida se ajusta muito bem aos dados experi-
a capacidade C não corrigida e o valor inicial de tensão V0 obtido por
mentais, estando todos os desvios cobertos pelas barras de erro. Este
ajuste. Estes mostram-se na tabela IV.
R(Ω) RC(s) C(F) V0 (V) bom ajuste em conjunto com a pequena ordenada na origem(cerca de
9980 (9.90 ± 0.05) × 10−3 (9.92 ± 0.06) × 10−7 4.95 ± 0.05 50 vezes inferior ao menor valor experimental) garante que o modelo
19980 (1.96 ± 0.02) × 10−2 (9.8 ± 0.1) × 10−7 4.81 ± 0.05 teórico usado não é de todo despropositado. Note-se também que a
−2 −7
29970 (2.87 ± 0.04) × 10 (9.6 ± 0.1) × 10 4.62 ± 0.05
39950 (3.76 ± 0.07) × 10−2 (9.4 ± 0.2) × 10−7 4.53 ± 0.05 aproximação à recta ‘teórica’ é melhor que no gráfico sem correcção.
49696 (4.6 ± 0.1) × 10−2 (9.3 ± 0.2) × 10−7 4.48 ± 0.04 Finalmente, os resultados do balanço energético corrigido
59970 (5.4 ± 0.1) × 10−2 (9.1 ± 0.2) × 10−7 4.39 ± 0.04
apresentam-se graficamente na figura 6.
Tabela IV: τ , C não corrigida e V0 obtida por ajuste para a descarga.
Aplicámos uma regressão linear aos resultados, tendo obtido a fig.3.
Conseguimos uma capacidade C = (9.3±0.1)×10−7 F e uma ordenada
na origem b = (6.0 ± 1.3) × 10−4 s. Este valor apresenta um desvio à
precisão de 1.1% e de 12.7% à exactidão.

Figura 6: Comparação gráfica entre a energia inicial no condensador


e a dissipada nas resistências no processo de descarga.
Com excepção de R ≈ 10 k Ω, todos os valores de WR são inferiores
a WC0 , como prevı́sivel por desconsideração de outras perdas energé-
Figura 3: Ajuste linear para determinação de C sem correcção. ticas e devido à baixa resolução no integral numérico no sistema de
aquisição. Para todos os valores de R, logo R0 , os erros no cálculo das
2
energias cobrem a diferença entre os valores obtidos. De facto, para Conseguimos um valor corrigido Ccorr por aplicação da regressão
todos os valores de R, os desvios à precisão no cálculo de WR − WC0 linear aos pontos (R0 , τ ) patente na fig. 9.
são todos superiores a 200%. Note-se também a diminuição da energia
posta em jogo no processo com o aumento de τ , como seria previsı́vel.
O cálculo da energia em jogo no condensador foi feito usando ε∞
Poderı́amos tentar explicar o primeiro valor por algum efeito capaci-
tivo inicial do sistema de aquisição p.e.; porém, vemos de imediato
que os valores V0 obtido por ajuste e ε∞ dado pelo sistema de aquisi-
ção indicam ser estes pequenos erros resultantes da precisão mı́nima
com que o sistema permite trabalhar.
4.2. Carga do Condensador
Com base nos valores da tab. II, calculámos τ , C não corrigida e V0
obtido por ajuste(V0 = ε∞ − eb ). Com base em V0 e em ε∞ , calculá- Figura 9: Ajuste linear para obter C corrigido na carga.
Obtivémos a capacidade Ccorr = 1.024 ± 0.003µF , com um desvio
mos uma estimativa para o tempo de descarga tD (tD ≈ ln(ε∞ /V0 )τ )
à precisão de 0.3% e à exactidão de 4.3%. A ordenada da origem
efectuada pelo sistema de aquisição. Estes mostram-se na tabela VI.
b = (−1.1 ± 0.7) × 10−4 s apresenta um desvio à precisão de 61%,
R(Ω) RC(s) C(F) V0 (V) ≈ tD (s)
9980 (9.76 ± 0.05) × 10−3 (9.78 ± 0.06) × 10−7 0.01 ± 0.06 -
suficiente para considerar o ajuste razoável.
19980 (1.961 ± 0.004) × 10−2 (9.81 ± 0.02) × 10−7 0.03 ± 0.03 0.10 ± 0.02 Devo notar que os valores obtidos para Ccorr. nos processos de
29970 (2.833 ± 0.02) × 10−2 (9.45 ± 0.06) × 10−7 0.06 ± 0.03 0.13 ± 0.02 carga e descarga, apesar de diferentes, são consistentes devido ao erro
39950 (3.76 ± 0.01) × 10−2 (9.41 ± 0.04) × 10−7 0.11 ± 0.03 0.14 ± 0.01
49696 (4.60 ± 0.02) × 10−2 (9.25 ± 0.04) × 10−7 0.11 ± 0.05 0.17 ± 0.02 na determinação deste valor no processo de descarga.
59970 (5.43 ± 0.03) × 10−2 (9.06 ± 0.05) × 10−7 0.35 ± 0.28 0.14 ± 0.04 A não ser que tenhamos ligeiramente alterado o valor da capacidade
Tabela VI: τ , C não corrigida e V0 obtida por ajuste para a carga. do condensador com um toque no manı́pulo, a diferença de ambos
Note-se que a tensão inicial no condensador é inicialmente nula os valores ao medido pelo voltı́metro não é explicável em termos de
dentro do erro experimental, mas que, à medida que realizamos mais uma capacitância em paralelo com a que pretendemos medir, bem
ciclos de carga, este valor vai aumentando, o que indica ser o tempo de pelo contrário. Assim, parece mais razoável razoável supor que a
descarga automaticamente efectuada pelo sistema de aquisição de da- capacidade experimental para o condensador é Cave. = 1.03±0.01 µF .
dos insuficiente para descarregar completamente o condensador. Isto Os resultados do balanço energético apresentam-se na fig.10.
acentua-se com o aumento de R porque o tempo de relaxação também
aumenta. Obtivémos uma estimativa média para o tempo de descarga
t¯D ≈ 0.13 ± 0.04 s, que não considera o valor para R ≈ 10 kΩ por este
ser demasiado sensı́vel a pequenas variações de b.
Aplicámos aos resultados a regressão linear presente na fig.7. Con-
seguimos a capacidade C = 0.919 ± 0.003 µF e uma ordenada na
origem b = (9.4 ± 1.1) × 10−4 s. Este valor de C apresenta um desvio
à precisão de 0.3% e de 14.1% à exactidão.

Figura 10: Ajuste linear para obter C corrigido na carga.


Ao analisarmos este balanço para o processo de carga do conden-
sador, verificamos que a energia fornecida pela bateria é semelhante à
soma da energia posta em jogo no condensador com a energia dissipi-
ada na resistência e os erros associados cobrem os desvios observados.
Assim, poderemos assumir que modelar o condensador real por um
condensador ideal em paralelo com uma resistência se apresenta como
Figura 7: Ajuste linear para determinar C sem correcção na carga. uma maneira correcta de modelar este componente.
Novamente se vê um padrão de decréscimo de C com R e um ra- 4.3. Resposta em Frequência
zoável afastamento entre a curva teórica e a de ajuste. Assim, deter-
minámos Rv realizando o ajuste presente na fig.8. Apresentamos na tab. VIII os valores da resistência de perdas
O declive conseguido 1/Rv = (2.01 ± 0.06) × 10−6 Ω−1 revela Rv = RC , de Ceq (condensador+ponta de prova), da parte real e imaginária
497 ± 15 kΩ, com desvio à precisão de 3.0%. Já a ordenada na origem CRe = Ceq − 120pF , CIm da capacidade do condensador, parâmetros
obtida foi b = (2.03 ± 1.99) × 10−3 , com desvio à precisão de 98%, o independentes do modelo(sem/com camada de ar).
que parece legitimar o ajuste. f(Hz) RC (Ω) Ceq (nF ) CRe (nF ) CIm (pF.m−1 )
0 200 (6.3 ± 3.7) × 107 4.96 ± 0.06 4.84 ± 0.06 13 ± 7
Com o valor de Rv , determinámos R e novos valores para C: 500 (2.0 ± 0.5) × 107 4.97 ± 0.02 4.85 ± 0.02 16 ± 4
R(Ω) R0 (Ω) C(µF ) 1000 (6.1 ± 0.9) × 106 5.00 ± 0.02 4.88 ± 0.02 26 ± 4
9980 9783 ± 15 0.997 ± 0.006 2000 (3.4 ± 0.5) × 106 4.97 ± 0.01 4.85 ± 0.01 23 ± 4
19980 19207 ± 31 1.021 ± 0.004 5000 (5.4 ± 1.1) × 105 4.98 ± 0.02 4.86 ± 0.02 59 ± 12
29970 28264 ± 57 1.002 ± 0.008 10000 3.0 ± 0.2) × 105 4.95 ± 0.01 4.83 ± 0.01 52 ± 4
39950 36975 ± 90 1.017 ± 0.006
49696 45174 ± 131 1.018 ± 0.008 20000 (9.4 ± 0.5) × 104 4.91 ± 0.02 4.79 ± 0.02 84 ± 5
59970 53507 ± 180 1.016 ± 0.009 50000 (3.7 ± 0.8) × 104 4.90 ± 0.05 4.78 ± 0.05 86 ± 20
100000 (1.09 ± 0.02) × 104 4.87 ± 0.03 4.75 ± 0.03 145 ± 4
Tabela VII: Resultados com correcção para a carga. 200000 (3.4 ± 0.3) × 103 4.86 ± 0.04 4.74 ± 0.04 230 ± 20
500000 (7.12 ± 0.06) × 102 4.97 ± 0.01 4.85 ± 0.01 446 ± 5

Tabela VIII: Resultados para a resposta em frequência.

Figura 8: Ajuste linear para obtenção de Rv no processo de carga.


No entanto, note-se que, se considerarmos um tempo finito de carga,
pareceria mais razoável admitir como valores mais verosı́meis para Rv
aqueles obtidos com tempos de relaxação menores(logo R menores).
Caso unı́ssemos os dois primeiros pontos por uma recta, obterı́amos
Figura 11: Resistência de perdas, função da frequência.
Rv = 500 kΩ, valor coberto pelo erro atrás apontado, pelo que usare-
mos o valor Rv = 497 ± 15 kΩ.
3
média. Como pretendemos obter uma estimativa C para a capacidade
do condensador com ω = 0 de forma a determinar a espessura de uma
possı́vel camada de ar, ajustámos uma recta CRe = C aos 6 primeiros
pontos experimentais, tendo obtido C = (4.85 ± 0.01) × 10−9 F .
Baseados neste valor , estimámos a espessura 2x de uma possı́vel
camada de ar. Sendo d − 2x = 100 ± 1 µm a espessura do dieléctrico
e A = (5.25 ± 0.04) × 10−2 m2 , estimámos 2x ≈ 65 ± 3 µm. Assim,
para justificar a existência de uma camada de ar, esta terá que ocupar
cerca de 39% do espaço d entre placas, valor razoável.
A representação de Re 0 (f ) permite admitir como razoável a exis-
Figura 12: Parte real da capacidade do condensador.
tência da camada de ar com espessura atrás estimada, pois as permiti-
vidades relativas Re /0 não corrigidas têm valores próximos de 1.04,
bastante inferior à do polı́mero r ≈ 3.2. Corrigindo estes valores pela
existência da camada de ar, obtêm-se valores de permitividade Re /0
mais próximos do previsto r ≈ 3.2. Os valores corrigidos parecem
indicar que Re é ligeiramente decrescente com f , mas não é possı́vel
garanti-lo dado o pequeno intervalo de frequências estudado.
A parte imaginária da permitividade corrigida confirma o compor-
tamento de CIm : para valores baixos de f Im é muito menor que 0
e para f ≈ 500kHz temos já Im /0 ≈ 0.3. Novamente, os ajustes
Figura 13: Parte real da permitividade relativa do polı́mero. Ajuste apenas permitem atribuir regularidade aos dados na região em estudo.
de Re /0 = Re ¯ = 1.038 ± 0.007.
¯ forneceu Re O factor de perdas exibe um comportamento qualitativo muito se-
melhante a Im , pois Re é aproximadamente constante. Indica que
para baixas frequências Im é desprezável face a Re , mas que para
altas frequências as suas magnitudes se aproximam.
O diagrama de Cole-Cole corrigido, com barras de erro verticais
apenas para maior legibilidade, mostra-se na fig.16. Este resume os
aspectos anteriores, nomeadamente para os 6 primeiros pontos(f ≤
10kHz) Re /0 ≈ 3.2 e Im aumenta com a frequência. A partir de
10kHz, os pontos parecem percorrer uma semi-circunferência.

Figura 14: Parte imaginária da permitividade relativa do polı́mero.


Ajuste de Im /0 = a + bxc forneceu a = (3.3 ± 0.7) × 10−3 , b =
(1.8 ± 0.9) × 10−5 e c = 0.65 ± 0.04 para os valores sem correcção e
a = 0.012 ± 0.003, b = (1.1 ± 0.6) × 10−3 e c = 0.48 ± 0.04 para os
valores com correcção.

Figura 16: Diagrama de Cole-Cole experimental com correcção.


5. ANÁLISE SUMÁRIA E CONCLUSÕES
No processo de carga e descarga, as primeiras estimativas para C
apresentaram desvios à precisão de 12.7% e 14.1%, relativamente ele-
vados. A correcção a estes valores por consideração da resistência
interna do sistema de aquisição de dados/condensador, permitiu ob-
Figura 15: Factor de perdas tan(φ) = Im /Re , função da frequência. ter valores mais exactos para C, com desvios de 3.3% e 4.3%.
Ajuste de tan(φ) = a + bxc forneceu a = (3.4 ± 0.6) × 10−3 , b = No que diz respeito à análise do balanço energético, verificámos que
(1.5 ± 0.5) × 10−5 e c = 0.66 ± 0.02 para os valores sem correcção e no caso da descarga a energia fornecida pelo condensador foi pratica-
a = (5.0 ± 1.3) × 10−3 , b = (1.9 ± 0.8) × 10−4 e c = 0.54 ± 0.04 para mente, toda dissipada. A imagem 6 mostra que a energia dissipada
os valores com correcção. na resistência é menor que a energia inicial do condensador para a
Detectamos um decréscimo da resistência de perdasRC com o au- maioria dos valores de R, mas verifica-se que os erros experimentais
mento de f . A forma da curva sugeriu um ajuste de uma lei potencial cobrem as diferenças. Já no caso da carga, verificamos que a energia
RC = a + bf c , tendo-se obtido os parâmetros a = −520 ± 54 Ω, fornecida pela bateria é semelhante à soma da energia do condensador
b = (9.1 ± 1.7) × 1010 Ω e c = −1.38 ± 0.02. O valor obtido para o com a energia dissipiada na resistência e os erros associados cobrem os
parâmetro a, negativo, indica apenas que RC diminui para um valor desvios observados. Assim, poderemos assumir que modelar o conden-
próximo de nulo quando f → ∞. Porém, deve-se notar que este ajuste sador real por um condensador ideal em paralelo com uma resistência
se revela válido apenas no domı́nio dos pontos experimentais, sendo se apresenta como uma maneira correcta de modelar este componente.
ilegitimo efectuar extrapolações. O ajuste, que atribui uma natureza No estudo da resposta em frequência, vimos que a resistência de
potencial para RC , não é mutito útil no que toca a previsões, mas per- perdas do condensador diminui com a frequência, que a parte real
mite atribuir uma certa regularidade aos dados experimentais. Para da capacidade se mantém aproximadamente constante e que a parte
baixos valores de f, o condensador comporta-se praticamente como um imaginária aumenta com f . Os valores da parte real da permeabi-
condensador ideal, sendo as perdas pequenas. Para grandes valores lidade(com média 1.04) levaram-nos a indagar sobre a existência de
de f , o comportamento não perfeito do condensador acentua-se. Este uma camada de ar, com espessura estimada 2x ≈ 65 ± 3 µm, 39% do
comportamento de RC transmite-se a CIm , que aumenta com f . espaço entre as placas do condensador. A correcção dos resultados
Relativamente a CRe , confirma-se o esperado: a parte real da ca- com esta hipóetese levou a resultados mais credı́veis para o acetato
pacidade mantém-se aproximadamente constante. Porém, verifica-se usado, que se resumem parcialmente no diagrama de Cole-Cole.
que a partir dos 10kHz o valor da capacidade diminui ligeiramente em Uma melhoria possı́vel à última etapa seria realizar um estudo es-
tatı́stico, distinguindo-se melhor causas de erro normais de especiais,
apesar de tal não ser possı́vel dno tempo de laboratório disponı́vel.

[1] D.J.Griffiths,Introduction to Electrodynamics, 3rd ed [5] http://en.wikipedia.org/wiki/Capacitance#Frequency_


[2] J.L.Figueirinhas, Aula de apresentação sobre o Condensador. dependent_capacitors
[3] J.L.Figueirinhas, http://www.ciul.ul.pt/~figuei/conden.pdf
[4] http://en.wikipedia.org/wiki/Dielectric_spectroscopy 4

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