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TRABALHO CAP.

8 - TIAGO SANTIAGO
Introdução

A governança climática trazida no capítulo 8 se refere ao conjunto de processos e instituições


que visam a formular e implementar políticas para lidar com as mudanças climáticas. Essa
temática complexa exige uma abordagem abrangente que reconheça a natureza multinível e
multiatores do problema.

Governança Multinível

As mudanças climáticas transcendem fronteiras nacionais, exigindo uma governança que abranja
diferentes níveis, desde o local até o global. A governança multinível reconhece que os desafios
climáticos podem ser melhor enfrentados por meio da colaboração e coordenação entre
diferentes níveis de governo, cada um com suas próprias responsabilidades e capacidades.

Governança Multi-Atores

A governança climática eficaz exige a participação de diversos atores, além dos governos. Isso
inclui o setor privado, a sociedade civil, comunidades indígenas, academia e organizações
internacionais. É fundamental que todos os atores relevantes tenham voz e participação na
formulação e implementação de políticas climáticas.

Princípios da Governança Climática Multinível e Multi-Atores

A governança climática eficaz deve ser baseada em alguns princípios fundamentais:

● Participação: Todos os atores relevantes devem ter a oportunidade de participar da tomada de


decisões sobre o clima.
● Transparência: As informações sobre as mudanças climáticas e as políticas climáticas devem
ser acessíveis a todos.
● Responsabilidade: Os governos e outros atores devem ser responsabilizados por suas ações e
decisões relacionadas ao clima.
● Equidade: As políticas climáticas devem ser justas e equitativas, levando em consideração as
necessidades e vulnerabilidades dos diferentes grupos sociais.
● Eficácia: As políticas climáticas devem ser eficazes na redução das emissões de gases de
efeito estufa e na promoção da adaptação às mudanças climáticas.

Desafios da Governança Climática Multinível e Multi-Atores

A implementação da governança climática multinível e multiatores enfrenta diversos desafios,


incluindo:

● Falta de coordenação: A coordenação entre diferentes níveis de governo e atores pode ser
complexa e desafiadora.
● Falta de recursos: A implementação de políticas climáticas eficazes exige recursos
financeiros e humanos significativos.
● Interesses divergentes: Os diferentes atores podem ter interesses divergentes em relação à
forma de lidar com as mudanças climáticas.
● Falta de capacidade: Nem todos os países e atores têm a capacidade necessária para
implementar políticas climáticas eficazes.

Hard Law e Soft Law na Governança Climática

● Hard Law: Refere-se a instrumentos jurídicos internacionais e nacionais vinculantes,


como tratados, convenções e leis. Esses instrumentos estabelecem obrigações jurídicas
específicas para os Estados e outros atores, com consequências legais para o não
cumprimento.
● Soft Law: Abrange instrumentos jurídicos não vinculantes, como declarações, princípios
e diretrizes. Apesar de não serem diretamente vinculantes, os instrumentos de soft law
podem ter grande influência na prática, servindo como referência para a elaboração de
legislação e políticas climáticas.

Mecanismos de Compliance e Enforcement

● Compliance: Refere-se ao processo de cumprimento das obrigações jurídicas assumidas


pelos Estados e outros atores.
● Enforcement: Refere-se às medidas tomadas para garantir o cumprimento das
obrigações jurídicas, incluindo sanções e medidas coercitivas.

Exemplos de Mecanismos de Compliance e Enforcement na Governança Climática:

● Mecanismos de Relato: Os Estados são obrigados a apresentar relatórios periódicos


sobre suas emissões de gases de efeito estufa e suas ações para combater as mudanças
climáticas.
● Revisão por Pares: Os relatórios dos Estados são revisados por outros países e
especialistas, o que permite identificar problemas de compliance e recomendar medidas
corretivas.
● Medidas Sancionatórias: Em casos de não cumprimento grave, os Estados podem ser
submetidos a medidas sancionatórias, como multas ou suspensão de direitos.

Governança Multinível de Governança Climática no Brasil

Nível Internacional:

● Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC): O


Brasil ratifica a Convenção em 1994 e assume compromissos de inventário de emissões,
comunicação de ações e medidas de mitigação e adaptação.
● Protocolo de Kyoto: O Brasil não ratifica o Protocolo, mas se compromete com metas de
redução de emissões no âmbito do Acordo de Paris.
● Acordo de Paris: O Brasil ratifica o Acordo em 2016 e apresenta sua Contribuição
Nacionalmente Determinada (NDC), com metas ambiciosas de redução de emissões e
aumento da participação de fontes renováveis na matriz energética.
● Banco Mundial: Oferece financiamento para projetos de mitigação e adaptação às
mudanças climáticas, além de assistência técnica para países em desenvolvimento.
● Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID): Apoia projetos de desenvolvimento
sustentável na América Latina e no Caribe, incluindo projetos relacionados à mudança do
clima.
● Fundo Verde do Clima: Fornece recursos financeiros para projetos de mitigação e
adaptação às mudanças climáticas em países em desenvolvimento.

Nível Nacional:

● Constituição Federal: Reconhece o direito ao meio ambiente equilibrado e estabelece


princípios para a proteção ambiental, como a precaução, a prevenção e a reparação
integral do dano.
● Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC): Define os objetivos e estratégias
nacionais para lidar com as mudanças climáticas, incluindo metas de redução de
emissões, adaptação aos impactos das mudanças climáticas e desenvolvimento de
tecnologias limpas.

Nível Subnacional:

● Estados: Possuem competência para legislar sobre questões ambientais, inclusive sobre
mudança do clima.
● Municípios: Podem elaborar e implementar políticas públicas locais para lidar com as
mudanças climáticas, como planos de mobilidade urbana sustentável e programas de
eficiência energética.

Governança Multiatores da Governança Climática no Brasil

Setor Público:

● Ministério do Meio Ambiente: Órgão federal responsável pela formulação e


implementação da política nacional sobre mudança do clima.
● Outras instituições federais: Institutos de pesquisa, empresas estatais e órgãos de
licenciamento ambiental também possuem um papel importante na governança climática.
● Governos estaduais e municipais: Responsáveis pela implementação de políticas
climáticas em seus respectivos níveis de governo.
● Banco Central do Brasil: Regulamenta e supervisiona o mercado financeiro brasileiro,
incluindo as atividades relacionadas a finanças sustentáveis.
● Bolsa de Valores de São Paulo (B3): Oferece produtos financeiros relacionados a
finanças sustentáveis, como títulos verdes e sociais.
Sociedade Civil:

● Organizações Não Governamentais (ONGs): Atuam na defesa do meio ambiente, na


promoção do desenvolvimento sustentável e na cobrança de ações governamentais para
lidar com as mudanças climáticas.
● Movimentos sociais: Mobilizam a sociedade civil para a ação climática e defendem os
direitos das comunidades mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas.
● Povos indígenas e comunidades tradicionais: Possuem um papel fundamental na
preservação das florestas e na gestão dos recursos naturais, contribuindo para a mitigação
das mudanças climáticas e para a adaptação aos seus impactos.

Setor Privado:

● Empresas: Podem contribuir para a governança climática investindo em tecnologias


limpas, adotando práticas sustentáveis e reduzindo suas emissões de gases de efeito
estufa.
● Instituições financeiras: Podem direcionar investimentos para projetos sustentáveis e
apoiar empresas que estão comprometidas com a mitigação e a adaptação às mudanças
climáticas.
● Academia: Realiza pesquisas sobre as mudanças climáticas e seus impactos, desenvolve
soluções tecnológicas para lidar com o problema e contribui para a formação de recursos
humanos qualificados.

Desafios e Oportunidades para o Brasil

O Brasil enfrenta diversos desafios para implementar a governança climática eficaz em


diferentes níveis e entre diversos atores. Entre esses desafios, podemos destacar:

● Desafios políticos: Dificuldades em aprovar e implementar leis e políticas climáticas


ambiciosas, devido à influência de grupos de interesse com interesses divergentes.
● Desafios econômicos: Necessidade de investimentos em infraestrutura verde, pesquisa e
desenvolvimento de tecnologias limpas e transferência de tecnologia para países em
desenvolvimento.
● Desafios sociais: Necessidade de garantir a inclusão social e a justiça climática,
protegendo os direitos das comunidades mais vulneráveis aos impactos das mudanças
climáticas.
● Desafios institucionais: Necessidade de fortalecer as instituições responsáveis pela
governança climática e pelas finanças sustentáveis, tanto no nível nacional quanto
internacional.
● Desafios de financiamento: Necessidade de mobilizar mais recursos financeiros para
ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, tanto de fontes públicas quanto
privadas.
● Desafios de governança: Necessidade de aprimorar os mecanismos de governança para
garantir a transparência, a accountability e a efetividade das ações climáticas e das
finanças sustentáveis.
Apesar dos desafios, o Brasil também possui diversas oportunidades para fortalecer a governança
climática multinível e multiatores. Entre essas oportunidades, podemos destacar:

● Riqueza natural: O Brasil possui uma grande riqueza natural, incluindo florestas
tropicais, biodiversidade rica e recursos hídricos abundantes. Essa riqueza natural pode
ser utilizada para promover o desenvolvimento sustentável e contribuir para a mitigação
das mudanças climáticas.
● Potencial energético renovável: O Brasil possui um grande potencial para geração de
energia renovável, como energia solar, eólica e hidrelétrica. Essa potencialidade pode ser
aproveitada para reduzir a dependência do país de combustíveis fósseis e contribuir para
a descarbonização da economia.
● Liderança regional: O Brasil pode exercer um papel de liderança na América Latina e
no Caribe, promovendo a cooperação regional para lidar com as mudanças climáticas.
● Mercado de carbono: O Brasil possui um mercado de carbono em desenvolvimento, que
pode ser utilizado para canalizar recursos para ações de mitigação das mudanças
climáticas.

Jurisdição e Litigância Climática

Finalizando o cap. 8, é importante trazer à baila o tema de litigância climática, já que as


mudanças climáticas transcendem fronteiras nacionais, exigindo uma abordagem jurídica que
abranja diferentes níveis, desde o local até o global. Seguindo o modelo mltinível, é possivel
observar a litigância do seguinte modo:

● Nível Internacional: Acordos internacionais, como a Convenção-Quadro das Nações


Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e o Acordo de Paris, estabelecem princípios
e obrigações para os Estados em relação ao clima. Tribunais internacionais, como a Corte
Internacional de Justiça, podem ser acionados para resolver disputas entre Estados sobre
questões climáticas.
● Nível Nacional: Constituições nacionais e leis ambientais podem estabelecer obrigações
para o governo e para o setor privado em relação à mitigação e à adaptação às mudanças
climáticas. Tribunais nacionais podem ser acionados para interpretar e aplicar essas leis
em casos específicos.
● Nível Local: Governos locais podem ter competência para regular emissões de gases de
efeito estufa e implementar medidas de adaptação às mudanças climáticas. Tribunais
locais podem ser acionados para resolver disputas relacionadas a essas medidas.

Multiatores da Litigância Climática

A litigância climática envolve diversos atores, além dos governos, como:

● Cidadãos e comunidades: Indivíduos e comunidades podem mover ações contra


governos e empresas por danos causados pelas mudanças climáticas ou por violação de
seus direitos à saúde e ao meio ambiente.
● Organizações Não Governamentais (ONGs): ONGs podem atuar como partes em
ações judiciais ou como amicus curiae, fornecendo informações e argumentos ao tribunal.
● Empresas: Empresas podem ser acionadas por danos causados pelas suas atividades
poluentes ou por violação de leis ambientais.

Doutrinadores Nacionais e Internacionais sobre Jurisdição e Litigância Climática

Diversos doutrinadores nacionais e internacionais contribuem para o desenvolvimento da


jurisdição e da litigância climática:

● Nacionais:
○ Paulo de Bessa Antunes: Doutor em Direito pela Universidade de São Paulo
(USP), autor de diversos livros e artigos sobre direito ambiental e mudanças
climáticas.
○ Leonardo Furtado: Professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), autor de obras sobre direito ambiental e justiça
climática.
○ Sheila Rabinovich: Professora da Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo (USP), especialista em direito ambiental e direitos humanos.
● Internacionais:
○ James Gustave Speth: Professor da Faculdade de Direito de Yale, autor de obras
sobre direito ambiental e desenvolvimento sustentável.
○ Philippe Sands: Professor da University College London (UCL), autor de obras
sobre direito internacional e mudanças climáticas.
○ Dinah Shelton: Professora da George Washington University Law School,
especialista em direito ambiental internacional e mudanças climáticas.

Desafios da Jurisdição e Litigância Climática

A jurisdição e a litigância climática enfrentam diversos desafios:

● Falta de clareza jurídica: A legislação sobre mudanças climáticas ainda está em


desenvolvimento em muitos países, o que pode gerar incertezas jurídicas para os
litigantes.
● Dificuldade em provar a causalidade: É difícil provar que um dano específico foi
causado pelas mudanças climáticas, o que pode dificultar o sucesso de ações judiciais.
● Acesso à justiça: O alto custo de litígios pode impedir que pessoas e comunidades
vulneráveis ​busquem justiça por danos causados pelas mudanças climáticas.

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