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Vitória
2018
KAROLINA ALVES DE ALBUQUERQUE
Vitória
2018
Ficha catalográfica disponibilizada pelo Sistema Integrado de
Bibliotecas - SIBI/UFES e elaborada pelo autor
É preciso mais que um doutorando para se fazer um Doutorado. Esse trabalho só foi
possível graças ao apoio, ensinamento e acolhimento de pessoas que estiveram presentes ao
longo dessa jornada. Gostaria de nomear algumas.
Agradeço em primeiro lugar a Deus, por se fazer presença constante em minha vida e
à minha madrinha, Nossa Senhora Aparecida, por sua inquestionável intercessão nos meus
momentos mais difíceis.
A minha querida orientadora, Profa. Dra. Ana Cristina Barros da Cunha, por sua
disponibilidade, presteza e assertividade na orientação desse trabalho, mas principalmente por
seu respeito e acolhimento. Suas contribuições ultrapassam as páginas dessa Tese e me
alcançam enquanto professora, pesquisadora, mulher e mãe. Obrigada!
Ao meu amado esposo Paulo Henrique, meu Anjo, por estar ao meu lado em todos os
momentos, por entender meus tropeços, meus tempos difíceis e me deixar ser no seu abraço.
Te amo!
Aos meus pais, Sérgio e Shirley, por acreditarem no meu potencial e nunca terem
medido esforços pela minha educação. Vocês são a base de cada conquista obtida!
A minha família e meus amigos, por entenderem minha ausência e partilharem sempre
da minha alegria.
A minha terapeuta, que me ajudou a ver que o período do doutorado poderia ser vivido
com prazer e serenidade.
Aos meus colegas de trabalho, professores e funcionários do Departamento de Terapia
Ocupacional da UFES pela paciência e compreensão.
A minha rede de apoio do doutorado, com destaque à Amanda Leopoldino, Carol
Maffazioli, Carol Garcez, Fabrícia Rembiski, Kênnea Almeida, Meyrielle Belotti, Nádia
Coutinho, Pedro Neto. Contar com a ajuda de vocês foi fundamental!
As ex-alunas do Curso de Terapia Ocupacional da UFES, Alinne Pinto, Kellen
Valadão, Naylla Cruz e Sara Moreira, e do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (IP-UFRJ), Elora Sales e Patrícia Pinheiro, pelo imenso apoio nas coletas.
Vocês foram demais!
As especialistas, Profa Dra Ana Emília Vita Carvalho (Centro Universitário do Pará,
PA), Dra Andreza Bacellar (Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes, HUCAM-
UFES), Profa Dra Michelle D. Berkovits (University of Miami, USA) e Profa Dra Tatiane
Lebre Dias (Universidade Federal do Mato Grosso, MT), pelo trabalho atento e generoso na
avaliação da versão brasileira do Battelle Developmental Invenory, 2nd Edition.
Ao Prof. Dr. Pedro Paulo Pires do Departamento de Psicometria do IP-UFRJ, pela sua
valiosa contribuição com as análises estatísticas, mesmo no momento em que cheguei ao limite na
relação entre tempo e aprendizado.
Aos funcionários do Programa de Pós-Graduação da UFES (PPGP-UFES), Antônio,
Arin e Carmen, pela dedicação e receptividade com que me atenderam ao longo desse
percurso.
A Profa. Dra Sônia Regina Fiorim Enumo (PUC-Camp, SP), pelo conhecimento
compartilhado e por todas as contribuições ao projeto no exame de qualificação e ao Prof. Dr.
Bruno Figueiredo Damásio do Departamento de Psicometria do IP-UFRJ, por ter contribuído na
qualificação do projeto, bem como no andamento do trabalho.
As professoras doutoras Leila Regina d´Oliveira de Paula Nunes, Kely Maria Pereira
de Paula, Valeschka Martins Guerra e Alessandra Brunoro Motta Loss, pela gentileza de
aceitarem o convite para integrarem a banca de avaliação do meu trabalho.
A todos os professores do PPGP-UFES, em especial aos doutores Alex Luiz de Andrade,
Luiz Gustavo Silva Souza, Luziane Zacché Avellar, Paulo Rogério Meira Menandro e Teresinha
Cid Constantinidis, por todo o aprendizado compartilhado.
A todos os que me auxiliaram a recrutar os participantes do estudo dessa Tese,
colegas, alunos, pediatras e pesquisadores, especialmente a Dra. Ana Daniela Izoton de
Sadovsky (Departamento de Pediatria da UFES) e a terapeuta ocupacional Luciana Ferreira
(Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Cariacica), meu sincero obrigada.
De forma especial, a todas as crianças que participaram do estudo e suas famílias, pela
disponibilidade e por confiarem em meu trabalho. Gratidão imensa!
RESUMO
Estudos confirmam o impacto positivo da intervenção precoce para minimizar os efeitos dos
fatores de risco ao desenvolvimento infantil. O uso de instrumentos padronizados de avaliação
do desenvolvimento pode identificar crianças em risco para atrasos que necessitam ser
encaminhadas para intervenção. Contudo, a carência de instrumentos padronizados, válidos e
fidedignos, para avaliar o desenvolvimento infantil é um desafio para profissionais e
pesquisadores no Brasil. O Battelle Developmental Inventory, 2nd Edition (BDI-2) é uma
ferramenta de avaliação do desenvolvimento infantil amplamente usada no exterior, que pode
oferecer uma solução com boas propriedades psicométricas para enfrentar esse desafio.
Baseado nisso, o objetivo dessa Tese foi conduzir um estudo de adaptação transcultural do
BDI-2 e analisar evidências psicométricas de uma versão brasileira do teste de triagem desse
instrumento para uso com crianças até dois anos de idade. Esta Tese está organizada em três
estudos. O Estudo 1 apresenta os resultados de uma revisão sistemática da literatura sobre o
uso de instrumentos padronizados de triagem do desenvolvimento infantil adotados em
pesquisas com crianças brasileiras. Com base na análise de 22 artigos foram identificados
quatro instrumentos de triagem usados para avaliação do desenvolvimento infantil, incluindo
o BDI-2. A revisão mostrou que os pesquisadores brasileiros reconhecem a necessidade de
adaptação desses instrumentos e têm trabalhado para buscar evidências psicométricas dessas
ferramentas para uso com a população infantil brasileira, embora ainda não tenham obtidos
resultados psicométricos consistentes. O Estudo 2 apresenta o processo de adaptação
transcultural do BDI-2 para o Português-Brasil conduzido com base em um processo
metodológico seguindo as diretrizes da International Test Commission. Equivalências
semântica, idiomática, experiencial, conceitual e operacional foram avaliadas, assim como a
validade de conteúdo do BDI-2. Foram feitos ajustes na formulação de alguns itens e nos
estímulos para aplicação do instrumento. Comparada com a versão original, a versão
brasileira apresentou bons resultados em todos os tipos de equivalências e ótimos índices de
validade de conteúdo. Por fim, no Estudo 3, as características psicométricas da versão do teste
de triagem do BDI-2 adaptada para a população brasileira, o BDIS-BR, foram investigadas
em uma amostra de 240 crianças típicas entre 0 e 24 meses de idade. Análises da validade
baseada na estrutura interna, convergente e concorrente, além de medidas de confiabilidade
foram testadas. Baseado na análise pelo Modelo de Escala Mokken, o BDIS-BR se mostrou
como uma medida unidimensional e o ordenamento empírico dos itens por domínio de
desenvolvimento se mantiveram como nas escalas originais. Os resultados deste Estudo ainda
indicam que o BDIS-BR apresenta evidências de validade convergente com a idade (ρ= 0,81 a
0,92) e altos índices de concordância com o Teste Denver II (86%-96%). Além disso, o BDIS-
BR também apresentou bons coeficientes de confiabilidade para todos os domínios, incluindo
Alpha de Cronbach (α=0,76-0,85), confiabilidade teste-reteste (ICC=0,96-0,99) e entre
examinadores (ICC=0,85-0,95). Em resumo, essa Tese demonstra que a versão adaptada para
o Português-Brasil do BDI-2 pode ser uma nova ferramenta útil para profissionais de saúde e
educação no nosso país. Do mesmo modo, a versão brasileira de triagem do BDI-2, o BDIS-
BR, apresenta fortes propriedades psicométricas e pode contribuir para triagem do
desenvolvimento de crianças brasileiras menores de dois anos.
Studies confirm the positive impact of early intervention to minimize the effects of risk
factors on child development. The use of standardized developmental assessment instruments
can identify children at risk for delays who are needing to be referred to intervention.
However, the lack of valid and reliable standardized instruments to evaluateinfant
development is a challenge for professionals and researchers in Brazil. The Battelle
Developmental Inventory, 2nd Edition (BDI-2) is a widely used child development
assessment tool that can offer a solution with good psychometric properties to meet this
challenge. Based on this, the objective of this Thesis was to conduct a cross-cultural
adaptation study of the BDI-2 and analyze psychometric evidences of a Brazilian version of
the screening test of this instrument to use with children up to two years of age. This thesis is
organized in three studies. The Study 1 presents the results of a systematic review of the
literature on the use of standardized child development screening instruments adopted in
research with Brazilian children. Based on the analysis of 22 articles, four screening
instruments used to assess child development, including BDI-2, were identified. The review
showed that Brazilian researchers recognize the need for adaptation of these instruments and
have worked to obtain psychometric evidences of these evaluation tools to use with Brazilian
child population, although they have not yet obtained consistent psychometric results. The
Study 2 presents the process of cross-cultural adaptation of BDI-2 to Portuguese-Brazil,
conducted based on a methodological process following the guidelines of the International
Test Commission. Semantic, idiomatic, experiential, conceptual, and operational
equivalences were evaluated, as well as the validity of BDI-2 content was analyzed.
Adjustments were made in the formulation of some items and in the stimuli for instrument
application. Compared to the original version, the Brazilian version showed good results for
all types of equivalences and excellent content validity indexes. Finally, in the Study 3, the
psychometric properties of the version of the BDI-2 screening test adapted for the Brazilian
population, BDIS-BR, were investigated in a sample of 240 typical children between 0 and
24 months of age. Validity analysis based on the internal structure, convergent and
concurrent structure, as well as reliability measures were tested. Based on the analysis by the
Mokken Scale Model, the BDIS-BR was shown as a one-dimensional measure and the
empirical ordering of items by development domain remained as in the original scales. The
results of this study still indicate that BDIS-BR presents evidence of convergent validity with
age (ρ= 0,81 a 0,92) and high agreement indices with the Denver II Test (86%-96%). In
addition, BDIS-BR also presented good reliability coefficients for all domains, including
Cronbach's Alpha (α = 0.76-0.85), test-retest reliability (ICC = 0.96-0.99) and between
examiners (ICC = 0.85-0.95). In summary, this Thesis demonstrates that the adapted version
for the Brazilian Portuguese of the BDI-2 can be a new useful tool for health and education
professionals in our country. Likewise, the Brazilian version of BDI-2 screening, BDIS-BR,
has strong psychometric properties and may contribute to screening the development of
Brazilian children under two years of age.
Estudo 1
Tabela 1 – Características gerais dos instrumentos de triagem do
desenvolvimento infantil utilizados nos estudos com crianças brasileiras............. 66
Tabela 2 – Finalidade do uso dos instrumentos de triagem do desenvolvimento
nos estudos com crianças brasileiras...................................................................... 66
Estudo 2
Tabela 1 – Número e tipo de estratégias de ajuste por domínio do BDI-2 para a
versão adaptada para o Brasil................................................................................. 84
Tabela 2 – Exemplos de adaptações gráficas realizadas na versão adaptada do
BDI-2 para o Brasil............................................................................................... 86
Estudo 3
Tabela 1 – Dados clínicos e sociodemográficos das crianças e suas famílias e
desempenho das crianças no BDIS-BR................................................................. 104
Tabela 2 – Coeficientes H de Loevinger para cada item das escalas do BDIS-
BR nas faixas etárias estudadas............................................................................. 106
Tabela 3 – Porcentagem de concordância entre as classificações do
desempenho infantil no BDIS-BR e no Teste Denver II ..................................... 107
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Estudo 1
Estudo 2
Estudo 3
RN Recém-Nascido
APRESENTAÇÃO................................................................................................ 18
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 21
1.1 Vigilância e avaliação do desenvolvimento infantil........................................... 21
1.2 O Battelle Developmental Inventory, 2nd Edition: apresentação e
considerações gerais................................................................................................. 31
1.3 Adaptação e validação transcultural de instrumentos de avaliação................... 43
1.4 Justificativa e relevância científica e social....................................................... 52
1.5 Aspectos éticos................................................................................................... 54
2. ESTUDOS........................................................................................................... 56
2.1 Contextualização dos Estudos da Tese............................................................... 56
Estudo 1................................................................................................................... 59
Estudo 2................................................................................................................... 74
Estudo 3................................................................................................................... 95
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 117
4. REFERÊNCIAS................................................................................................ 121
APÊNDICES.......................................................................................................... 132
ANEXOS................................................................................................................. 138
18
APRESENTAÇÃO
incluídos três estudos no formato de artigos, produzidos a partir dos resultados alcançados no
cumprimento de cada um dos objetivos desta Tese de Doutorado. No Estudo 1 é apresentada
uma revisão sistemática sobre o uso de instrumentos padronizados de triagem do
desenvolvimento infantil adotados em estudos com crianças brasileiras. No Estudo 2 é
apresentado o processo de adaptação transcultural do BDI-2 para o português-Brasil,
realizado com base nas diretrizes do International Teste Comission (ITC), e que resultou na
versão do Battelle Develomental Inventory Screening para o Brasil: o BDIS-BR. Por fim, no
Estudo 3 é apresentada a pesquisa que investigou as evidências psicométricas do BDIS-BR,
com resultados das medidas de validade e de confiabilidade do instrumento adaptado para
uso com a população infantil brasileira até dois anos de idade.
As Considerações finais, apresentadas na seção 3, se propõem a explicitar as
principais contribuições dos três estudos que compõem essa Tese, de maneira a integrar os
conhecimentos e resultados obtidos. Na quarta seção, Referências, estão listadas toda a
literatura utilizada nas seções de Apresentação, Introdução e Considerações finais. Vale
ressaltar que, devido à decisão de se estruturar este trabalho no formato de artigos, o Método
e as Referências de cada estudo estão disponibilizados na versão dos manuscritos
apresentados, os quais foram elaborados de acordo com as normas aos autores dos periódicos
científicos escolhidos para submissão.
21
1. INTRODUÇÃO
1
Para fins deste trabalho, área, dimensão e domínio do desenvolvimento serão tratados como sinônimos.
24
2
Neste trabalho, o termo atraso será usado em conformidade com o Dictionary of Developmental Disabilities
Terminology (Accardo & Whtiman, 2011), no qual o atraso do desenvolvimento é definido como uma condição
em que a criança não se desenvolve e/ou não alcança habilidades de acordo com uma sequência de estágios pré-
determinados.
26
Para melhor compreender essa teoria será apresentado brevemente cada um dos
modelos que a compõem. O modelo pessoal inclui as mudanças biológicas e psicológicas
subjacentes ao crescimento e desenvolvimento, necessárias para se compreender o
desenvolvimento como um processo contínuo e cumulativo de aquisição de competências e
habilidades desde os primeiros meses de vida. O modelo contextual considera que o
desenvolvimento ocorre no envolvimento da criança com os diferentes contextos e as
experiências que estes contextos proporcionam a ela. Esse modelo se faz imprescindível ao
apresentar as variadas fontes de experiências que auxiliam ou restringem o desenvolvimento,
incluindo nele a Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano, formulada a partir das
proposições de Bronfenbrenner (1996; 2005). No modelo contextual, Sameroff dá ênfase ao
envolvimento progressivo da criança em diferentes contextos e sistemas, desde os mais
primários (microssistemas) aos mais complexos (macrossistema) e ressalta o papel das
experiências vividas pela criança nestes contextos, as quais tem impacto direto e indireto no
seu desenvolvimento em função das transações que ela estabelece com o ambiente. O modelo
de regulação acrescenta uma perspectiva de sistemas dinâmicos à relação pessoa-contexto, já
que considera que o desenvolvimento ocorre com base em sistemas de regulação. Estes
sistemas variam, evolutivamente, desde uma regulação inicial dos fatores biológicos, como a
fome e o sono, até uma regulação psicológica e social, com a aquisição de habilidades de
atenção e de autorregulação emocional e comportamental. Por último, o modelo
representacional inclui a noção de que o desenvolvimento é influenciado por representações
sociais, cognitivas e culturais, ou seja, é mediado pela forma como as experiências são
codificadas em níveis abstratos e representadas mentalmente. Nesse modelo, as
representações fornecem uma estrutura interpretativa da realidade, com base em signos e
símbolos derivados, inicialmente, dos códigos representacionais dos pais e posteriormente da
própria pessoa.
Segundo Sameroff (2010, p.12), “a combinação desses quatro modelos oferece uma
visão abrangente das múltiplas partes e das totalidades e seus processos de conexão que
compõem o desenvolvimento humano”. Derivado dessa abordagem teórica-conceitual, adota-
se um modelo transacional para compreender o desenvolvimento infantil, no qual esse
desenvolvimento emerge em consequência da transação de uma série de fatores provenientes
dos vários níveis do sistema indivíduo-ambiente (Sameroff, 2009).
Ainda com base nessa perspectiva, os estudos sobre Psicopatologia Desenvolvimental
inaugurados por Rutter e Sroufe consideram que o desenvolvimento e os problemas
desenvolvimentais surgem a partir de inter-relações dimensionais e complexas entre fatores
27
revisão do BDI para propor uma versão revisada do instrumento: o Battelle Developmental
Inventory, 2nd Edition (BDI-2).
O processo de desenvolvimento do BDI-2 durou cinco anos de preparação e envolveu
planejamento, pesquisas de campo de novos itens, edição piloto, padronização e a edição
final publicada em 2005. No estudo de padronização participaram 2.500 crianças norte-
americanas, com idades entre zero e sete anos e 11 meses, controlando-se as variáveis sexo,
etnia, nível de educação dos pais e religião para compor a amostra. A região geográfica foi
utilizada para estratificação da amostra (Newborg, 2005a). Logo, o BDI-2 é uma versão
revisada do instrumento original, que combina importantes aspectos da primeira versão com
melhorias significativas na concepção psicométrica do instrumento, no reconhecimento das
mudanças nas experiências de vida das crianças, e na disponibilidade de materiais e
tecnologias novas e amigáveis para avaliação infantil (Newborg, 2005a). O BDI-2 está
disponível em inglês e espanhol, em versões completa e de triagem, e em formato físico e
digital por meio de um software licenciado. Todas as versões são comercializadas pela
empresa Houghton Mifflin Harcourt (antiga Riverside Publishing) e podem ser adquiridas em
compra online (www.hmhco.com).
Trata-se de um inventário de avaliação que deve ser administrado individualmente e
se propõe a mensurar o desenvolvimento da criança com base na referência conceitual de
marcos de desenvolvimento, já apresentada anteriormente. Nesse sentido, o BDI-2 baseia-se
no conceito de que as crianças se desenvolvem de acordo com um conjunto padrão de marcos
desenvolvimentais e que estes emergem na mesma sequência e, aproximadamente, nas
mesmas idades para crianças com desenvolvimento normal. Além disso, a aquisição de cada
habilidade é geralmente dependente da consolidação de habilidades precedentes ao longo de
um continum de desenvolvimento (Papalia & Feldman, 2013).
O BDI-2 é organizado em cinco escalas separadas, chamados "domínios": Adaptativo,
Pessoal-Social, Comunicativo, Motor e Cognitivo. Esses cinco domínios correspondem às
cinco áreas em que uma criança pode ser identificada como tendo um atraso no
desenvolvimento. Em cada domínio, os itens são divididos em escalas menores, denominadas
“subdomínios”. Cada um dos subdomínios é um construto unidimensional hipotético, que
mede um conjunto específico de habilidades de desenvolvimento e pode ser mensurado
separadamente. O Quadro 2 descreve os domínios e subdomínios propostos, os tipos de
habilidades avaliadas e o número de itens em cada domínio e subdomínio do BDI-2
(Newborg, 2005a).
33
Número de
Domínio Subdomínio Habilidades avaliadas
itens
Adaptativo Autocuidado Comer, ir ao banheiro; vestir e despir; 35
preparação para dormir.
Responsabilidade pessoal Realiza tarefas domésticas; evita perigos 25
comuns.
Pessoal-Social Interação com adultos Responde fisicamente quando segurada; percebe 30
a presença de outras pessoas; cumprimenta
adultos.
Interação com pares Compartilha brinquedos; brinca 25
cooperativamente com outras crianças.
Autoconceito e papel Expressa emoções; lida de maneira eficaz com 45
social agressividade; críticas ou provocações.
Comunicativo Comunicação Receptiva Responde a diferentes tons de voz: responde a 40
perguntas como quem? Ou qual?; Identifica
sons iniciais ou finais em palavras.
Comunicação Expressiva Produz sons de vogais: fala em frases; 45
pronuncia palavras de forma articulada e clara.
Motor Motor grosso Anda sem apoio; sobe e desce escadas; joga 45
bola e acerta o alvo; pula em um pé só.
Motor fino Pega objetos, faz desenhos, amarra um simples 30
nó; corta papel com uma tesoura.
Motor perceptivo Coloca objetos em uma garrafa; empilha cubos; 25
copia letras: números e palavras.
Cognitivo Atenção e Memória Segue estímulos auditivos e visuais: recita 30
poemas ou músicas: localiza objetos escondidos
em uma imagem.
Raciocínio e habilidades Nomeia e combina cores; demonstra habilidades 35
acadêmicas matemáticas básicas; usa lógica simples para
responder a perguntas.
Percepção e conceitos Compara objetos; Sequencia eventos no tempo; 40
monta um quebra-cabeça; agrupa e classifica
objetos.
Número total de itens 450
Quadro2. Domínios e subdomínios do BDI-2, com seus respectivos números de itens, e
exemplos de habilidades avaliadas
Fonte: Adaptado de Newborg, 2005a.
Cada domínio do BDI-2 pode ser usado e avaliado separadamente. Em relação aos
materiais, o inventário é composto por cinco livros de itens, sendo um para cada domínio,
34
Developmental Inventory Screening (BDIS). Ele é composto por dois a quatro itens por faixa
etária para cada domínio de desenvolvimento avaliado pelo BDI-2 completo, sendo 100 itens
no total. Os itens selecionados para compor o BDIS são aqueles que tiveram as mais altas
cargas fatoriais (≥0,70) para a pontuação total do teste e as mais altas classificações de
dificuldade (≥0,75) durante a validação do BDI-2 (Newborg, 2005a). O BDIS deve ser
administrado do mesmo modo que a versão completa do BDI-2. Uma tabela do manual
apresenta os pontos de corte em função do número desejado de desvios padrão (por exemplo,
1.0, 1.5, ou 2.0) abaixo da média. Ao administrar o teste de triagem, o examinador deve
primeiro determinar o ponto de corte. Para pontuar, somam-se as pontuações de cada item do
domínio e compara-se ao ponto de corte estabelecido. No formulário de registro, é indicado
se a criança passou em todos os domínios ou se uma avaliação adicional deve ser realizada
em algum domínio específico. Crianças que pontuam abaixo do ponto de corte devem ser
encaminhadas para uma avaliação mais ampla com outros testes de diagnóstico ou a versão
completa do BDI-2 (Newborg, 2005a). Em recente revisão sistemática sobre instrumentos de
triagem, concluiu-se que o BDIS é o instrumento de triagem de melhor sensibilidade e
validade de critério para crianças menores de cinco anos de idade nos EUA e na América
Latina (Romo-Pardo, Liendo-Vallejos, Vargas-López, Rizzoli-Córdoba, & Buenrostro-
Márquez, 2012), com amplo uso clinico e em pesquisas.
O BDI-2 foi desenvolvido para ser usado em contextos clínicos para diferentes fins.
Adota-se este instrumento para identificação de atrasos no desenvolvimento, para avaliação e
monitoramento da criança em desenvolvimento típico e para o planejamento de intervenção e
avaliação de programas que atendem crianças pequenas (Newborg, 2005a). Segundo a atual
legislação norte-americana, o Individuals with Disabilities Education Act (IDEA), EUA, cada
Estado norte-americano deve fornecer serviços de intervenção precoce às crianças pequenas
em risco para atraso nas áreas de desenvolvimento cognitivo, físico, comunicativo, social ou
emocional e adaptativo (IDEA, 2004). Como o BDI-2 atende a avaliação dessas cinco áreas
do desenvolvimento, ele é frequentemente usado para identificar atrasos e determinar a
elegibilidade para tratamento de crianças em contextos clínicos norte-americanos. Dessa
forma, o BDI-2 tem sido utilizado por programas qualificados que atendem a primeira
infância nos EUA, como o Early Steps Program, presente em vários estados norte-
americanos. O Early Steps Program é um programa de avaliação e intervenção precoces que
atende crianças com atrasos significativos no desenvolvimento ou em condições de
37
vulnerabilidade à saúde, e suas famílias. Neste Programa, o BDI-2 é uma das ferramentas
recomendadas para avaliar o desenvolvimento de crianças para fins de elegibilidade para
intervenção e acompanhamento do desenvolvimento (Children's Medical Services, 2011;
Cunha, Berkovitis, & Albuquerque, 2018). Além disto, o BDI-2 é compatível com diferentes
programas de acompanhamento e intervenção, dentro e fora dos EUA (Newborg, 2005a).
Revisão crítica realizada por Macy, Bagnato, Macy e Salaway (2015) identificou 44
estudos com testes convencionais de avaliação do desenvolvimento, sendo que 18 estudos
usaram o BDI para avaliação de mais de 3.300 crianças de 0 a 95 meses de idade. Por “testes
convencionais” esses autores definem as medidas padronizadas e normatizadas de
desenvolvimento inicial e de funcionamento psicoeducacional, que são comercialmente
disponíveis e amplamente utilizados para determinar a elegibilidade da criança para
intervenção. A referida revisão analisou os atributos apropriados para as medidas de
avaliação do desenvolvimento, considerando como pontos críticos a validade social e a
avaliação eficaz de crianças pequenas. Para aqueles autores, medidas de avaliação
apropriadas e funcionais devem prever atributos como: adequação para uso em amostras de
crianças com incapacidades, flexibilidade processual, obtenção de informações de diferentes
fontes, cobertura abrangente, densidade dos itens, pontuação graduada e conteúdo funcional.
O BDI foi o teste convencional que mais se alinhou a esses atributos (Macy et al., 2015).
Ressalta-se que a validade social de um teste refere-se à aceitabilidade e a satisfação
com seu procedimento de avaliação, que é obtido através do julgamento de consumidores,
participantes e implementadores destes procedimentos, como por exemplo, pais, crianças e
profissionais (Bagnato, Goins, Pretti-Frontczak, & Neisworth, 2014). Ela é fundamental para
que um instrumento seja de fato utilizado. Em um recente estudo sobre validade social com
969 participantes em 22 estados dos EUA, o BDI-2 foi o teste convencional mais utilizado
por todas as categorias profissionais, incluindo profissionais de saúde especialistas em
desenvolvimento infantil (56,9%) e profissionais da educação infantil (50%). O estudo ainda
apontou que 76,4% dos profissionais consideraram o BDI-2 como o instrumento mais útil
para determinar a elegibilidade de crianças para serviços de intervenção precoce e de
educação especial (Lee, Bagnato, & Pretti-Frontczak, 2016).
A eficácia e a validade social de um instrumento são melhoradas a partir da inclusão
de crianças com deficiência na amostra dos estudos de normatização (Macy et al., 2015). Ao
incluir crianças com deficiência na amostra normativa, o BDI-2 abordou questões de
sensibilidade e de especificidade do instrumento para determinar atraso no desenvolvimento
de crianças pequenas elegíveis para serviços de intervenção precoce. Além deste cuidado
38
que permite oferecer oportunidades para diferentes níveis de aquisição de habilidades, que
podem ser mais bem representados. Igualmente, essa pontuação permite oferecer
oportunidade e condições sob as quais uma criança poderá demonstrar uma habilidade
emergente através de diferentes formas de solicitação. Macy et al. (2015) ressaltam que a
forma como um item é pontuado é de suma importância, pois afeta a capacidade do teste
fornecer informações úteis, para além da simples pergunta “tem ou não tem atraso?”. A
presença de uma pontuação graduada tem um impacto positivo nos estudos com uso do BDI-
2, uma vez que eles conseguem identificar efetivamente crianças muito jovens elegíveis para
intervenção precoce e, ainda, prever as próximas etapas do desempenho (Moura et al., 2010;
Snider, Majnemer, Mazer, Campbell, & Bos, 2009; Turygin, Matson, Konst, & Williams,
2013).
Bons instrumentos de avaliação devem abranger vários domínios de desenvolvimento,
incluindo dimensões como cognitiva, linguística, motora, adaptativa e socioemocional
(Sabanathan et al., 2015). Embora uma cobertura abrangente do teste possibilite decisões
mais precisas sobre a triagem e o diagnóstico de atraso, desde que o teste contenha múltiplos
e variados conteúdos (Macy et al., 2015), a maioria dos instrumentos de avaliação do
desenvolvimento não inclui uma ampla gama de domínios. O BDI-2 é um instrumento que
abrange cinco domínios e 13 subdomínios representativos do desenvolvimento infantil.
Conforme já mencionado, os itens em cada domínio são descritos em livros de itens
separados, o que, por sua vez, permite a administração dos diferentes domínios do BDI-2 por
profissionais especialistas em áreas específicas do desenvolvimento. Por exemplo, para um
fisioterapeuta o domínio Motor pode ser mais importante e ser avaliado usando a escala do
BDI-2 que avalia este domínio; enquanto o mesmo pode ocorrer para um fonoaudiólogo para
quem pode interessar avaliar o domínio Comunicativo (Bliss, 2007). A avaliação de
cobertura abrangente no BDI-2 foi confirmada por estudos de validade concorrente, com
índices de concordância de classificação moderada a forte entre os domínios do BDI-2 e
diferentes medidas que avaliam um ou dois domínios, como a Preschool Language Scale
(Zimmerman, Steiner, & Pond, 2002), que identifica crianças com distúrbios de linguagem, e
o Wechler Preschool and Primary Scale of Intelligence (Wechsler, 2002), que avalia
inteligência em crianças de três a sete anos de idade (Newborg, 2005a). Ainda, o BDI-2 é um
dos poucos testes convencionais que apresenta um conteúdo de perspectiva funcional da
criança, não apenas, mas principalmente, relativo ao Domínio Adaptativo.
A maioria dos testes convencionais não são capazes de ultrapassar informações do
tipo “possui ou não atraso” e isso faz com que eles não consigam identificar metas e
40
objetivos de intervenção para a criança, já que seus itens não representam habilidades
autênticas que a criança necessitará em experiências cotidianas da vida real. Quando os testes
são baseados em um conteúdo funcional, os itens (ou seja, seu conteúdo) podem ser usados
para fins programáticos (Macy et al., 2015). Por conteúdo funcional entende-se aquele que
representa as habilidades significativas e necessárias para que a criança seja independente em
sua rotina habitual e que forneça informações para a definição de metas e para o
planejamento do tratamento (Rodger & Ziviani, 2006). Tais habilidades são a base conceitual
para definição, mensuração e desenvolvimento das atuais políticas de saúde amparadas pela
Organização Mundial da Saúde (OMS, 2004).
Conforme os atributos mencionados por Macy et al (2015), o BDI-2 pode ser indicado
como um instrumento de avaliação útil e bastante aceitável. No geral, ele apresenta vantagens
substanciais em relação a outros instrumentos de avaliação do desenvolvimento infantil
(Alfonso et al., 2010; Lee et al., 2016; Macy et al., 2015). Dentre seus pontos fortes destaca-
se seu método flexível de administração, que prevê uma avaliação funcional com abrangência
de diferentes faixas etárias e uma ampla cobertura de habilidades de desenvolvimento que
podem ser verificadas na avaliação de crianças pequenas (Bliss, 2007). Assim, acredita-se
que o BDI-2 seja um instrumento exemplar na avaliação infantil, sendo, segundo Athanasiou
(2007), "uma medida abrangente, relativamente amigável e tecnicamente adequada ao
desenvolvimento na primeira infância" (Athanasiou, 2007, p. 65).
Considerando o interesse no BDI, uma revisão sistemática da literatura feita por
Cunha, Berkovits e Albuquerque (2018) identificou, por meio de pesquisa em sete bases de
dados (MEDLINE/Pubmed, MEDLINE/BVS; LILACS/BVS; IBECS/BVS; Cochrane/BVS,
Scopus, e PsycINFO), que a produção nacional e internacional sobre o BDI, em suas duas
versões, não é muito ampla nos últimos 10 anos. Aquelas autoras encontraram 34 artigos
publicados no período, sendo apenas três de estudos realizados por pesquisadores brasileiros
(Barros, Matijasevich, Santos, & Halpern, 2010; Moura et al., 2010a, 2010b). Estudos têm
usado as diferentes versões do BDI como ferramenta para identificar e descrever fatores de
risco associados aos desfechos do desenvolvimento de populações infantis específicas, com
destaque para a população de crianças com Transtorno do Espectro Autista (Goldin, Matson,
Beighley, & Jang, 2013; Matson, Hess, Sipes, & Horovitz, 2010; Medeiros, Kozlowski,
Beighley, Rojahn, & Matson, 2012; Sipes, Matson, & Turygin, 2011; Turygin et al., 2013).
Nesta população, Sipes e colaboradores (2011) afirmam que o BDI-2 mostra alta
sensibilidade para identificar crianças que necessitam de uma avaliação mais aprofundada e
para determinar metas de tratamento.
41
variaram de 0,98 a 0,99, o que é excelente e os coeficientes dos domínios são igualmente
bons. Para o BDIS, todos os domínios obtiveram coeficientes que variaram de 0,80 a 0,98.
A confiabilidade teste-reteste também foi determinada para o BDI-2 em estudo com
252 crianças com idades entre dois e quatro anos avaliadas pelo mesmo examinador em duas
ocasiões. Os índices de confiabilidade teste-reteste foram acima de 0,87 para escore total e
todos os domínios do BDI-2 (Newborg, 2005a). A confiabilidade entre examinadores
também foi avaliada a partir de 120 avaliações realizadas por três examinadores diferentes. A
porcentagem de concordância entre as três pontuações foi de 94% a 99% (Newborg, 2005a).
Embora estes dados apontem para um instrumento com ótimas propriedades psicométricas,
há de se ressaltar que não foram encontrados estudos que estimassem evidências de validade
e confiabilidade realizadas por pesquisadores externos ao desenvolvimento e à padronização
do instrumento.
desde 1992, a International Test Commission (ITC) apresenta, periodicamente, diretrizes para
tradução e adaptação de testes e instrumentos psicológicos entre os grupos linguísticos e / ou
culturais (ITC, 2005).
As diretrizes da ITC para tradução e adaptação de testes representam um referencial
para muitos psicólogos e pesquisadores que trabalham nessa área. A sua versão mais atual de
2016 apresenta 18 diretrizes, organizadas em seis categorias: 1- Pré-condição; 2-
Desenvolvimento do teste; 3- Confirmação; 4- Administração; 5-Pontuação e interpretação e
6- Documentação. Cada categoria inclui explicações e sugestões práticas para condução do
processo de adaptação transcultural de um instrumento de medida (ITC, 2016). As duas
primeiras categorias, denominadas 1-Pré-condição e 2-Desenvolvimento do teste, estão
voltadas para o processo de tradução/adaptação propriamente ditas e para os procedimentos
gerais para condução desse processo. A terceira categoria, 3- Confirmação, inclui as
diretrizes para compilação de evidências empíricas sobre os parâmetros psicométricos desse
tipo de estudo, e as três categorias finais, 4- Administração; 5- Pontuação e interpretação e 6-
Documentação, estão relacionadas às etapas de administração, de construção das escalas de
pontuação e da interpretação e documentação do processo de adaptação transcultural do teste
(ITC, 2016).
Na primeira etapa, 1-Pré-condição, a ITC destaca que decisões sobre um processo de
adaptação precisam ser tomadas antes do seu início. Estas decisões incluem uma avaliação
prévia da correspondência conceitual do constructo de interesse e dos domínios constituintes
para avaliação da população na nova cultura, além da obtenção da permissão do titular dos
direitos de propriedade intelectual do instrumento para início do processo (ITC, 2016), o que
também é destacado em outras literaturas sobre adaptação transcultural (Coster & Mancini,
2015; Reichenheim & Moraes, 2007). Essa avaliação prévia exige que o constructo avaliado
seja compreendido de forma semelhante pelo novo grupo linguístico e cultural para o qual o
instrumento será adaptado. Essa etapa pode envolver discussões com especialistas e revisões
bibliográficas, que priorizem o entendimento do constructo para a população-alvo, além dos
processos envolvidos na construção e uso do instrumento (ITC, 2016;Reichenheim &
Moraes, 2007). Quanto à permissão para a adaptação, se o instrumento for comercialmente
publicado, por exemplo, por uma editora, deve ser feito contato com o responsável pelos
direitos autorais do instrumento para elaboração de um protocolo final de autorização do
processo de tradução, que deve ser documentado (Coster & Mancini, 2015).
Na segunda etapa das diretrizes da ITC, 2-Desenvolvimento do teste, deve-se avaliar
e garantir equivalências entre a versão traduzida e a versão original, o que também é proposto
45
por ampla literatura na área (Beaton, Bombardier, Guillemin, & Ferraz, 2000; Borsa et al.,
2012; Reichenheim & Moraes, 2007). Destacam-se cinco tipos de equivalências, a saber: 1)
Equivalência semântica, que envolve a avaliação da transferência do significado das palavras
contidas no instrumento original para a versão adaptada; 2) Equivalência idiomática, que
envolve a avaliação dos itens de difícil tradução do instrumento original, que podem ser
adaptados por uma expressão equivalente, mas sem mudança do sentido cultural do item; 3)
Equivalência experiencial, que envolve a avaliação da aplicabilidade de um determinado item
do instrumento para o cotidiano da cultura para a qual está sendo adaptado, com a
substituição por item equivalente se for necessário; 4) Equivalência conceitual, que envolve
avaliar se a definição dos conceitos de interesse abarcados pelo instrumento original é
relevante e avalia o mesmo aspecto no novo contexto; 5) Equivalência operacional, que
envolve uma comparação dos aspectos de utilização do instrumento nas populações-alvo com
a original, de modo que se garanta a semelhança no formato das questões/instruções, no
cenário de administração e no modo de aplicação (Beaton et al., 2000; Borsa et al., 2012;
Reichenheim & Moraes, 2007). O processo de adaptação inclui procedimentos adequados de
tradução, avaliação de especialistas e da população-alvo (ITC, 2016).
É importante ressaltar que a tradução é apenas um dos passos do processo de
adaptação de um teste, que é bem mais amplo (Borsa et al., 2012; ITC, 2016). Um
procedimento adequado de adaptação transcultural deve considerar, a priori, o perfil dos
tradutores, que devem ter conhecimento do idioma e da cultura para a qual o instrumento está
sendo adaptado e, se possível, ter experiência no conteúdo do teste e conhecimento dos
princípios de avaliação (ITC, 2016). A escolha de tradutores com experiência evitará uma
tradução literal dos itens; ao contrário, a tradução para adaptação transcultural de um
instrumento deve considerar as variações do idioma a fim de possibilitar uma maior
adequação cultural (Borsa et al., 2012). A literatura sugere que no mínimo duas versões de
tradução sejam obtidas de forma independente, para que, oportunamente, se tenha mais
opções para ser definir os termos a serem utilizados na versão adaptada (Beaton et al., 2000;
Cassepp-Borges, Balbinotti, & Teodoro, 2010; ITC, 2005; Reichenheim & Moraes, 2007).
Após estas traduções do instrumento para o idioma-alvo, deve ser feita uma síntese das
traduções para cada item em particular, buscando-se escolher os melhores termos e
expressões a serem usadas. Esta versão-síntese deve ser avaliada por um Comitê de
Especialistas, com conhecimento amplo sobre o construto avaliado pelo teste. A avaliação
dos especialistas deve considerar, por exemplo, a clareza dos itens e sua pertinência aos
46
diferentes autores (Beaton et al., 2000; Borsa et al., 2012; Cassepp-Borges et al., 2010;
Coster & Mancini, 2015; Herdman et al., 1998; Reichenheim & Moraes, 2007). Ainda que
possa haver mudanças na ordem ou nas etapas aqui apresentadas, o planejamento de um
processo de adaptação transcultural adequado é fundamental para produzir uma versão
adaptada sensível à nova cultura(ITC, 2016). Esse processo visa assegurar a equivalência
entre o novo instrumento e o original, embora não forneça qualquer informação sobre as
propriedades psicométricas do novo instrumento (Borsa et al., 2012; Herdman et al., 1998).
sustentam a interpretação dos escores fornecidos pelo instrumento (Ambiel & Carvalho,
2017). Tais evidências podem se pautar em diferentes indicadores, baseados, por exemplo, no
conteúdo dos itens, na estrutura interna da medida e nas relações com outras variáveis.
A validade de conteúdo descreve o julgamento do quanto um teste avalia
adequadamente o comportamento representativo do universo ao qual foi projetado para
avaliar (AERA et al., 2014; Cohen et al., 2014), ou seja, se ele abrange todas as partes do
universo de conteúdos do constructo e reflete a importância de cada parte. A validade de
conteúdo é uma característica especialmente importante nos inventários que avaliam
informações através de itens (Streiner et al., 2015). A determinação desse tipo de validade é,
essencialmente, um processo subjetivo, porque inclui o julgamento interpretativo de juízes ou
experts. Um método de medir a validade de conteúdo de instrumentos adaptados é
calculando-se a concordância entre juízes quanto à clareza, pertinência cultural e relevância
teórica dos itens do instrumento (Cassepp-Borges et al., 2010; Hernández-Nieto, 2002).
As evidências de validade com base na estrutura interna de um instrumento refletem o
modo como os itens do teste se relacionam empiricamente e refletem o constructo teórico
avaliado (Ambiel & Carvalho, 2017). Na prática, a validação de uma escala (conjunto de
itens) que compõem um instrumento de medida pode ser feita através da Teoria Clássica de
Testes (TCT) e por métodos matemáticos como a Teoria de Resposta ao Item (TRI). De um
modo geral, a TCT, representada pelos modelos de análise fatorial nas versões exploratória e
confirmatória, busca compreender a dimensionalidade do teste com foco na soma dos itens;
enquanto a TRI volta-se para compreender o funcionamento destes itens (Pasquali, 2009b). A
TRI aplica-se principalmente em testes de habilidade ou desempenho, como é o BDI-2.
A TRI postula que a probabilidade de resposta a um item é determinada por dois
parâmetros: 1) o valor do traço latente no indivíduo, por exemplo, o desempenho de uma
criança na tarefa pode ser predito a partir de sua aptidão (traço latente) identificado em TRI
pela letra grega teta - Ɵ); e 2) o valor das características do item, quando a relação entre o
desempenho e os traços latentes pode ser descrita por uma equação matemática monotônica
crescente, chamada de Curva Característica do Item – CCI. Assim, conforme apresentado na
Figura 2, à medida que aumenta o teta, aumenta-se também a probabilidade de acertar o item
(relação monotônica crescente entre aptidão e probabilidade de acerto) (Pasquali & Primi,
2003).
49
proposição de medidas sócio governamentais, tal como é feito em outros países. Igualmente,
entende-se que o BDIS-BR pode fomentar avanços na prática clínica baseada em evidências
cientificas e técnicas pelo uso desse instrumento por profissionais, como psicólogos,
terapeutas ocupacionais, médicos, entre outros.
Por fim, ressalta-se como relevância científica desta Tese sua contribuição para o
desenvolvimento de futuros estudos e pesquisas no país sobre o desenvolvimento de crianças
e sobre adaptação transcultural e validação de instrumentos padronizados de avaliação, em
especial medidas de avaliação infantil consolidadas no exterior e que representem para o
Brasil avanços para o campo da avaliação de novos constructos relacionados ao
desenvolvimento da criança. Com efeito, esta Tese apresenta apontamentos importantes que
poderão motivar futuros estudos voltados para a população infantil brasileira, quer sejam
nacionais e/ou transculturais. Conclui-se que, trata-se de um trabalho com mérito científico e
relevância social em consonância com a literatura que aponta para a importância de estudos
psicométricos sobre instrumentos de avaliação do desenvolvimento infantil, como o BDI-2 e
o BDIS, cuja validades cientifica, social e clínica são aplicáveis aos campos da pesquisa e da
assistência à saúde, desenvolvimento e educação infantil.
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal
do Espírito Santo (CAAE: 62650416.4.0000.5060, ANEXO 2) e fez parte do projeto
“Trajetórias desenvolvimentais da gravidez à infância: práticas clínicas em contextos de
vulnerabilidade ao desenvolvimento e saúde”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ME-UFRJ) (CAAE n.
54895216.3.0000.5275)(ANEXO 3). Os responsáveis de todas as crianças participantes
foram informados sobre os procedimentos da pesquisa e o sigilo dos dados obtidos, tiveram
suas dúvidas esclarecidas e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) (APÊNDICE A). Durante as avaliações, atenção especial foi dispensada às dúvidas
de cuidado e desenvolvimento, como também possíveis mobilizações emocionais decorrentes
do processo. Após a avaliação da criança, os cuidadores receberam informações claras a
respeito do desenvolvimento de seu(sua) filho(a) e ganharam um folheto com orientações de
estimulação precoce (APÊNDICE B), além de um certificado de sua participação na pesquisa
(APÊNDICE C). Todas as filmagens das avaliações serão destruídas após o fim do estudo.
Para aquelas crianças que obtiveram pontuação inferior ao ponto de corte estabelecido pelo
55
2. ESTUDOS
Esta Tese teve como objetivo geral realizar a adaptação transcultural do instrumento
Battelle Developmental Inventory, 2nd Edition (BDI-2) e investigar evidências psicométricas
de uma versão brasileira de triagem do BDI-2 para avaliação do desenvolvimento infantil de
crianças brasileiras até dois anos de idade. Para tal, a Tese foi sistematizada em três estudos,
apresentados em formato de artigos científicos, para posterior submissão em periódicos
nacionais e internacionais. A organização do trabalho está pautada nas “Orientações para
elaboração de dissertação e tese em formato de artigo”, Anexo 3, do Regimento Interno do
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo
(2014). Todos os artigos obedecem à formatação de referências exigida por cada periódico
selecionado.
O primeiro estudo, denominado “Novas tendências em instrumentos de triagem do
desenvolvimento infantil no Brasil: uma revisão sistemática” tem como objetivo analisar o
uso de instrumentos padronizados de triagem do desenvolvimento infantil adotados em
estudos com crianças brasileiras. Para tal, serão apresentados os resultados de uma revisão
sistemática da literatura realizada em cinco bases de dados e descrita conforme as diretrizes
do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses – PRISMA. Será
discutido o uso dos instrumentos de triagem do desenvolvimento em termos de população,
delineamento e propósitos, além das novas tendências para estudos de adaptação e validação
destes instrumentos para o Brasil. Destaca-se que este estudo foi submetido a um periódico
Qualis A2.
No segundo estudo, denominado “Adaptação transcultural do Battelle Developmental
Inventory, 2nd Edition para o Brasil” será apresentado o processo de adaptação transcultural
do BDI-2 para o português-Brasil, com a descrição do processo metodológico conduzido de
acordo com as diretrizes do International Test Commission (ITC). Nessa descrição estão
detalhadas as principais adaptações realizadas para obtenção de uma versão brasileira
adaptada do BDI-2, com base na avaliação das equivalências semântica, idiomática,
experiencial, conceitual e operacional. O roteiro de avaliação utilizado pelos especialistas
(APÊNDICE D) e a permissão para tradução e adaptação do BDI-2 (ANEXO 4) estão ao
final da Tese.
57
Revisar o uso de
instrumentos Investigar evidências
Descrever o processo Investigar a validade Investigar evidências Investigar evidências
padronizados de psicométricas de validade
Objetivos de adaptação de conteúdo da psicométricas de validade psicométricas de
triagem do do BDIS-BR baseado na
específicos transcultural do BDI- versão brasileira do do BDIS-BR baseado em confiabilidade do BDIS-
desenvolvimento relação com outras
2. BDI-2. sua estrutura interna. BR.
infantil com crianças variáveis.
brasileiras.
Quadro 3. Objetivos específicos, Procedimentos metodológicos e Análise dos dados dos Estudos que compõe a Tese
59
Estudo 1
Título em Inglês: New trends in instruments for child development screening in Brazil: a
systematic review
3
Artigo submetido a periódico científico, qualis capes A2, de acordo com os Requisitos Uniformes de
Vancouver; resumo em português e inglês, com até 250 palavras, até 6 descritores, máximo de 10 páginas,
exceto figuras, tabelas e referências.
60
Resumo
Abstract
Introduction: Screening instruments are used for child development surveillance, which
should be a routine on the practice of health professionals for the early detection of child
problems. Objective: The objective of this systematic review was to analyze the use of
standardized tools for child development screening used in studies with Brazilian children.
Methods: Five databases were used by two independent researchers to search and select
papers in English and Portuguese about studies with Brazilian children that used development
screening tools. All papers were read to analyze the main objective, design, target population,
screening tool used and their using with Brazilian children. Results: A total of 22 papers
were analyzed. Most was observational studies conducted with children up to six years of
age, with the main objective to screen development delays and to analyze associations
between risk factors and child development. Four instruments have been identified: Denver
Developmental Screening Test II, Ages and Stages Questionnaire, Bayley Scales of Infant
and Toddler Development, Screening Test, and Battelle Developmental Inventory Screening;
three of them were used in validation studies for the Brazilian population. Conclusion: This
review suggests that the screening tools have been used in Brazilian studies for many
purposes, sometimes consistent with this type of instrumentation, sometimes different from
its original purpose. Furthermore, the researchers recognize the necessity of adaptation of
these instruments, and they have worked hard to search psychometric evidences of these tools
for the evaluation of Brazilian child population.
Introdução
Métodos
Resultados
Na busca inicial identificou-se um total de 1825 artigos e após aplicação dos filtros e
remoção das produções duplicadas foram examinados 701 artigos a partir dos títulos. Após
leitura dos resumos, 27 artigos foram identificados como de acordo com o objetivo proposto
para essa revisão. Todos foram então lidos na íntegra e, por fim, cinco artigos foram
excluídos, porque usaram instrumentos de avaliação infantil que não eram de triagem ou
padronizados, ou usaram o instrumento para verificar a compreensão de adultos a respeito do
mesmo, sem administrá-lo na criança.
Em geral, os estudos eram observacionais do tipo transversal (n=15) e metodológicos
(n=5), estes últimos com objetivo de avaliar propriedades psicométricas dos instrumentos. Os
estudos observacionais tinham como objetivo principal verificar desfechos do
desenvolvimento, bem como associá-los a fatores biopsicossociais (n=12). Considerando os
22 artigos retidos para revisão, 75.532 crianças brasileiras menores de seis anos de idade
foram avaliadas. Ressalta-se que seis estudos incluíram apenas crianças menores de dois anos
(11-16). Em sua maioria, a população-alvo dos estudos era de crianças com desenvolvimento
normal (11, 12, 15, 17-25) ou crianças em risco para atrasos (14, 16, 26-31). Dois estudos
incluíram crianças com diagnóstico confirmado de deficiência, no caso paralisia cerebral (32)
e microcefalia (13).
65
Tabela 1.
Características gerais dos instrumentos de triagem do desenvolvimento infantil
utilizados nos estudos com crianças brasileiras.
Tempo de
Faixa etária Modo de
Instrumentos aplicação Sensibilidade Especificidade
(meses) Aplicação
(min.)
Observação
Denver II 0 a 72 direta e 20 – 30 0.56 0.80
entrevista
Observação
Bayley-ST 1 a 42 15 - 25 0.75 – 0.86 0.75 – 0.86
direta
Observação
livre e
BDIS 0 a 95 10 – 30 0.75 – 0.93 0.83 – 0.91
estruturada e
entrevista
Legenda: Denver II: Teste de Triagem de Denver II; ASQ: Ages and Stages Questionnaires; Bayley ST: Bayley Scales of
Infant and Toddler Development, Screening Test; BDIS: Battelle Development Inventory Screening Test.
Tabela 2.
Finalidades do uso dos instrumentos de triagem do desenvolvimento nos estudos com
crianças brasileiras.
Principal finalidade do instrumento Instrumentos e Referências dos estudos
Rastrear atrasos no desenvolvimento infantil Denver II (18,20,25,27); ASQ (13); BDIS (31).
Discussão
atestem a validade deste instrumento para uso com a população brasileira, duas pesquisas
usaram-no como padrão-ouro na avaliação de um segundo instrumento (21,26). Compreende-
se que a escolha se faz pela popularidade do Teste Denver II e pela escassez, até o momento,
de outros instrumentos de triagem validados para uso com crianças brasileiras na faixa etária
que este teste avalia. Igualmente, o Denver II é um instrumento indicado pela Sociedade
Brasileira de Pediatria, além de ser barato e de fácil aplicação (22). Todavia, ao escolher este
teste de triagem, seria importante cautela na interpretação e generalização dos resultados,
ressaltando as limitações da escolha desta medida, o que não foi observado nos estudos
analisados. Testes de triagem, como o Teste Denver II, identificam crianças que podem estar
em risco para atrasos no desenvolvimento (1,6), não sendo, portanto, instrumentos
apropriados para a avaliação de crianças com diagnóstico confirmado de atrasos ou
deficiências, como foi visto em alguns dos estudos analisados (13,32). Lamônica e
colaboradores (32) usaram o Teste Denver para avaliar crianças com diagnóstico de paralisia
cerebral, condição de saúde que, por definição, cursa o desenvolvimento com atraso motor
(37). O Teste Denver II também foi usado para fins de verificar eficácia de intervenção por
tratamento nutricional no desempenho cognitivo de crianças (28), o que também representa
inconformidade do uso deste instrumento, uma vez que instrumentos de triagem não de
adéquam aos propósitos de um estudo de intervenção e a cognição não é um dos domínios
avaliados por este teste, o que pode, inclusive, conferir viés nos resultados desta pesquisa.
Ressalta-se que a escolha correta do instrumento de medida é imprescindível, pois
cada um foi planejado desde a sua construção para alcançar propósitos específicos e tem
finalidades próprias, que se destinam a avaliar uma determinada população em domínios
previamente definidos (6,9). Revisões anteriores sobre ferramentas de avaliação do
desenvolvimento argumentam sobre a falta de instrumentos validados para o Brasil (8-10).
Além dos estudos metodológicos incluídos nessa revisão, o levantamento de informações
sobre os quatro instrumentos identificados nos artigos indiciou que três deles estão em
processo de validação para uso com a população infantil brasileira, mas sua disponibilidade
para uso no Brasil ainda é restrita. O Teste Denver II, por exemplo, possui uma versão
traduzida para o português que é comercializada no Brasil (38), mas não possui estudos de
adaptação/validação para população brasileira. Por sua vez, o ASQ possui uma versão em
português para o Brasil, o ASQ-BR, que foi adaptada para uso em creches brasileiras.
Embora os estudos psicométricos com o ASQ-BR tenham encontrado bons índices de
validade de constructo e ótimas correlações item-to-test para este instrumento (19,39), ele
não é comercializado. Dos quatro estudos que usou o ASQ, três adotaram o ASQ-BR e vêm
69
Conclusões
Os achados deste estudo indicam que há certa incoerência no uso dos instrumentos de
triagem do desenvolvimento infantil nos estudos com crianças brasileiras, sobretudo quando
os instrumentos foram usados para fins que extrapolam seus propósitos, ou seja, para fins de
diagnóstico ou acompanhamento da evolução e progressão do desenvolvimento. Além disso,
estes instrumentos não possuem ainda medidas de validades consistentes para uso no Brasil,
o que constitui elemento importante para a escolha de uma ferramenta de avaliação. Conclui-
se ainda que, embora sejam escassos os instrumentos validados para a população brasileira, é
possível perceber um considerável empenho dos pesquisadores em desenvolvimento no
sentido de adaptar e buscar evidências psicométricas para uso destes instrumentos no Brasil.
Esse empenho é válido e merece o reconhecimento da comunidade acadêmico-científica, mas
de nada adiantará sem o incentivo financeiro e o devido cuidado dos profissionais no uso de
instrumentos adaptados e validados. Nesse sentido, esse estudo contribui para a prática da
vigilância e triagem do desenvolvimento infantil, pois analisa criticamente os principais
instrumentos de triagem para atrasos do desenvolvimento e discute as novas tendências do
uso destas ferramentas, conferindo, assim, uma visão crítica que pode ajudar na escolha de
medidas de avaliação infantil para uso em clínica e em pesquisas.
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74
Estudo 2
4
Artigo a ser submetido a periódico científico Qualis capes A1, em idioma inglês, de acordo com o estilo APA
(6ª edição); resumo em português e inglês, com até 150 palavras, 3 a 5 descritores;15 a 25 páginas; 50% das
referências dos últimos 5 anos .
75
Resumo
Cross-cultural adaptation of the Battelle Development Inventory, 2nd Edition for Brazil
Abstract
The Battelle Developmental Inventory, 2nd Edition (BDI-2) is a standardized inventory for
child development assessment to measure the abilities of children from zero to seven years
and 11 months old. The objective of this article is to describe the process of cross-cultural
adaptation of BDI-2 to Portuguese-Brazil. The methodological study was performed in three
stages: 1) Pre-condition; 2) Test development; and 3) Evaluation of content validity.
Adjustments were made in the formulation of the items, as well as modifications in the
stimuli for structured application of the instrument. Compared to the original version, the
Brazilian version showed good semantic, idiomatic, experiential, conceptual and operational
equivalence, as well as excellent content validity indexes. The adapted version for Brazilian-
Portuguese of the BDI-2 can be considered an original instrument for the using of health and
education professionals of the country.
Introdução
recentemente na sua versão revisada (BDI-2), ele tem sido considerado um dos instrumentos
de medida referência para avaliação do desenvolvimento na primeira infância, principalmente
nos Estados Unidos da América (EUA) e em países de língua espanhola (Alfonso et al.,
2010).
O BDI-2 foi desenvolvido com base nos conceitos de marcos do desenvolvimento,
que pressupõem que o desenvolvimento segue um processo de aquisição de habilidades ou
comportamentos críticos em uma sequência específica, na qual cada habilidade adquirida
dependerá da aquisição de competências anteriores (Newborg, 2005; Papalia & Feldman,
2013). Esse instrumento possibilita o acompanhamento a longo prazo da população infantil,
além do planejamento de intervenções e a avaliação da eficácia dessas intervenções
(Mancías-Guerra et al., 2014). Ele possui uma versão completa composta por 450 itens,
agrupados em cinco domínios do desenvolvimento (Adaptativo, Pessoal-Social,
Comunicação, Motor e Cognitivo) e uma versão de triagem com 100 itens. Ambas as versões
estão disponíveis em inglês e espanhol, embora os estudos psicométricos se restrinjam a
versão em inglês (Newborg, 2005).
O estudo de padronização da versão original do BDI foi conduzido com 2500
crianças, estratificadas por região geográfica dos EUA e controladas por sexo, idade e nível
socioeconômico (Newborg, 2005). Revisão de literatura sobre os estudos com o BDI-2 no
período de 2005 a 2015 concluiu que os pesquisadores destacam as ótimas propriedades
psicométricas desse instrumento (Cunha, Berkovits, & Albuquerque, 2018). Validades de
conteúdo e de critério mostraram bons resultados. Para a validade de conteúdo foi adotado o
julgamento por especialistas; enquanto que correlações entre o BDI-2 e outras medidas de
avaliação infantil padrão-ouro foram analisadas para testar a validade de critério, incluindo a
primeira versão (BDI). Os coeficientes de consistência interna do BDI-2 são excelentes (0,85
a 0,99), tais quais os coeficientes de confiabilidade teste-reteste, com índices acima de 0,87
para o escore total e para todos os domínios do BDI-2 (Newborg, 2005).
Diante da escassez de ferramentas disponíveis em português para avaliação do
desenvolvimento infantil, estudos de adaptação transcultural e validação de instrumentos
robustos e bem estabelecidos, como o BDI-2, são muito importantes para o Brasil,
especialmente pela sua utilidade nos serviços de saúde e de vigilância do desenvolvimento
infantil. Baseado nisso, o objetivo deste artigo foi descrever o processo de adaptação
transcultural do Battelle Developmental Inventory, 2nd Edition, que incluiu a avaliação das
equivalências semântica, idiomática, experiencial, conceitual e operacional e de validade de
79
conteúdo de uma versão em português-Brasil do BDI-2 a ser proposta para uso na população
infantil brasileira.
Método
Etapa 1 – Pré-condição
isso, a permissão para realizar o estudo de adaptação transcultural foi solicitada a empresa
Houghton Mifflin Harcourt, que é titular dos direitos de propriedade intelectual do BDI-2.
4 - Coletar dados piloto sobre o teste adaptado para permitir a análise de itens e quaisquer revisões
necessárias ao teste adaptado.
Etapa 2.1
Para garantir as diferenças linguísticas e culturais das populações pretendidas no
processo de adaptação cultural por meio de especialistas com experiência relevante, foram
feitas duas traduções para o português-Brasil do instrumento original em inglês. Estas
traduções foram realizadas de forma independente por profissionais fluentes no idioma inglês
e com formação e experiência na área de desenvolvimento infantil (Traduação1-T1 e
Tradução 2-T2). Em um segundo momento, T1 e T2 foram comparadas para propor uma
primeira versão-síntese, que incluiu itens das duas versões, com modificações na formulação
de alguns itens para melhorar as equivalências a serem avaliadas. A versão-síntese foi
81
Etapa 2.2
Considerando o uso de procedimentos de julgamento apropriado da versão adaptada a
fim de maximizar a adequação do teste para as populações pretendidas, a versão sintetizada e
revisada foi retraduzida para o idioma inglês por um terceiro tradutor nativo norte-americano.
Posteriormente, essa versão retraduzida foi avaliada por uma doutora (Phd) em psicologia
pediátrica norte-americana, com larga experiência no uso do BDI-2. Nessa etapa, duas
questões diferentes foram apreciadas: a) a equivalência literal, ou denotativa, entre os
termos/palavras dos itens do BDI-2 original e da tradução reversa; e b) o sentido geral, ou
conotativo, de cada item do BDI-2, considerando a formulação do item na versão traduzida
para o português-Brasil com o original em inglês (Herdman et al., 1998; Reichenheim &
Moraes, 2007).
Etapa 2.3
Para se obter evidências de que as instruções do teste e o conteúdo do item tinham
significados semelhantes para todas as populações pretendidas, uma versão pré-final foi
apreciada pelo público-alvo. Os itens do teste administrados por entrevista aos cuidadores
foram então apresentados aos pais de crianças na faixa-etária das idades que o instrumento
avalia, os quais foram solicitados a avaliar a clareza dos itens e a sugerir alterações para a
formulação do item ou da pergunta. Também profissionais de saúde infantil, como psicólogos
e terapeutas ocupacionais, foram solicitados a aplicar a versão adaptada do instrumento e
avaliarem se os itens, as instruções e a escala de resposta estavam compreensíveis.
Etapa 2.4
Por fim, foi conduzido um estudo-piloto para coletar dados de aplicação da versão
adaptada do teste para análise dos itens e a revisão dos mesmos, se necessário. Nesse estudo-
82
padronizados para cada domínio são referidos como Developmental Quotient (pontuação
DQ), com uma média de 100 e desvio-padrão de 15.
Um examinador treinado no uso do instrumento e especialista em avaliação do
desenvolvimento infantil aplicou os itens adaptados na criança com o Kit Battelle* no
formato sugerido pelo teste (observação, estruturado ou entrevista). Todo o processo foi
realizado no LAPEPP-PPGP-UFES, Laboratório de Pesquisa em Psicologia Pediátrica do
Programa de Pós-graduação (PPGP) da UFES, em horário de conveniência para os
participantes.
Os dados para avaliação das equivalências semântica, idiomática, experiencial,
conceitual e operacional foram analisados de forma qualitativa, integrando diferentes
informações obtidas ao longo da Etapa 2.
Resultados
Etapa 1 – Pré-condição
Nessa primeira etapa foram obtidos dados de análise das políticas nacionais de saúde
e vigilância do desenvolvimento infantil (Figueiras et al., 2005; Ministério da Saúde, 2012,
2016, 2018) e da opinião dos especialistas em desenvolvimento infantil sobre os domínios e
subdomínios do BDI-2. Estes dados foram então analisados juntamente com os resultados da
revisão sistemática sobre os estudos com o BDI-2 (Cunha et al., 2018) e sugeriram que os
pressupostos conceituais e metodológicos utilizados para a elaboração e uso do instrumento
original são aplicáveis ao contexto cultural da população infantil brasileira. Com base nisso,
foi solicitada autorização da empresa titular dos direitos de propriedade intelectual do BDI-2
e após autorização, deu-se início ao processo de adaptação transcultural.
84
Tabela 1.
Número e tipo de estratégias de ajuste por domínio do BDI-2 para a versão adaptada
para o Brasil
Domínio Itens Estratégias usadas na adaptaçãob
a
BDI-2 BDI-2 EX AD OM SUB TOTAL
ADP 60 1 3 2 3 9
P-S 100 1 3 1 3 8
COM 85 0 1 2 5 8
MOT 100 1 1 1 8 11
COG 105 0 2 0 3 5
TOTAL 450 3 10 6 22 41
a
Domínios: ADP: Adaptativo; P-S: Pessoal-Social; COM: Comunicação; MOT: Motor; COG:
Cognitivo. bEstratégias: EX: exemplo; AD: adição, OM: omissão; SUB: substituição; APL: aplicação.
formulação do item não estava clara, as palavras “materiais nas brincadeiras” foram
adicionadas para aumentar a clareza do item. A omissão de palavras e de termos foi adotada,
principalmente, nos casos em que dois termos em inglês tinham o mesmo significado
semântico em português. Por exemplo, o item PM25 - “The child writes in script (cursive)
rather than printing” foi traduzido como “A criança escreve com letra cursiva em vez de
letra de fôrma”, com omissão do termo “in script”.
As sugestões dos especialistas também foram consideradas para melhorar a redação,
aumentando a clareza na formulação de itens. A inclusão de exemplos nos itens AC29 - “The
child takes care of his or her own toileting needs”- “Cuida das suas necessidades no uso do
banheiro, incluindo despir, limpar-se e vestir novamente”, AP25 - “The child recognizes the
facial expressions of primary emotions” –“Reconhece expressões faciais de emoções primárias
(feliz, triste e zangado)” e MG24 - “The child maintains or corrects his or her balance when
moving from a standing position toother, non vertical positions” –“Mantém ou corrige seu
equilíbrio quando passa de uma posição de pé para outras posições não-verticais (ex:
abaixando-se ou andando sobre uma superfície irregular)” foram sugeridas pelos especialistas
e elaboradas com base na descrição de aplicação dos itens.
A versão em português sintetizada e revisada pelos especialistas foi então retraduzida
para apreciação formal da equivalência semântica entre os itens da versão reversa ou
retraduzida e da versão original da BDI-2. Essa avaliação foi realizada pela especialista
norte-americana com larga experiência no uso da versão original em inglês do BDI-2. Os
achados sugerem boa equivalência entre as duas versões, já que dos 450 itens apenas 39 da
versão reversa apresentaram grau de equivalência de significado denotativo menor que 80%.
Observou-se ainda que o significado conotativo se manteve inalterado ou pouco alterado em
mais de 86% dos itens. A partir da avaliação semântica pela especialista americana, o item
CR20 – “The child responds to the adverbs softly and loudly”– “Responde ao advérbio alto e
baixo”, foi modificado considerando que o comando dado à criança na forma estruturada de
aplicação é para que ela bata palmas sonoramente alto ou baixo.
A análise da equivalência idiomática, experiencial e conceitual pela avaliação do
público-alvo sugere boa qualidade da versão adaptada do BDI-2. Pela análise dos pais
participantes, os itens aplicados por entrevista estavam claros, porque as perguntas da versão
pré-final foram bem compreendidas e facilmente respondidas. Da mesma forma, pela
avaliação dos profissionais que aplicaram a versão adaptada do BDI-2, a instrução dos itens
era compreensível e coerente, bem como a escala de respostas era inteligível e adequada à
avaliação de crianças brasileiras.
86
Tabeela 2.
Exemmplos de ad
daptações gráficas
g reaalizadas na
a versão adaptada do BDI-2para
a o Brasil
Item Descrição Estímulo original Esstímulo adap
ptado
u plural forms
The child uses
ending witth the /s/ or /z// sound spoon
s / spoonns garfo / garfos
g
EC277
/Usa formaas plurais, termminadas
em vogal, com acréscim mo de /s/
sound in words” – “A criança identifica o som inicial das palavras”, os fonemas /s/, /f/ e /p/,
foram substituídos por fonemas equivalentes de palavras em português. As seguintes
alterações foram feitas: a)“santa/anta” ao invés de “sold/old”; b)“foca/oca” ao invés de
“fall/all”; e c) “pilha/ilha” ao invés de “pill/ill”.
Modificações gráficas e de estímulo foram feitas antes, mas também durante o
estudo-piloto devido à dificuldade das crianças na compreensão de alguns itens. Por exemplo,
no item CR35 – “The child selects the Word with the same beginning sound from a picture
set” – “A criança seleciona a palavra com o mesmo som inicial de um conjunto de figuras” foi
preciso substituir o desenho de um “chapéu”, confundido pelas crianças como sendo uma
“cartola”, o que modifica o som inicial da palavra. Ressalta-se que a aplicação do
instrumento completo durou entre 60 a 100 minutos. Essa duração foi exaustiva para algumas
crianças, principalmente para aquelas cuja idade exigia maior número de itens administrados
de forma estruturada. Devido a isso, o procedimento de testagem foi dividido em dois dias
para alguns participantes.
Na última etapa desse estudo (Etapa 3) foram obtidos dados para avaliação da
validade de conteúdo da versão brasileira do BDI-2. Os resultados sugerem que a versão
adaptada do BDI-2 para o Brasil apresentou bons índices de Coeficientes de Validade de
Conteúdo (CVC) e Coeficientes de Validade de Conteúdo Total (CVCt), segundo ponto de
corte estabelecido por Hernández-Nieto (2002). Os índices de validade de conteúdo Total
para clareza de linguagem (CVCt= 0,89), pertinência cultural (CVCt= 0,90) e relevância
teórica (CVCt= 0,92) foram todos acima de 0,80. A Figura 1 apresenta os resultados na
análise de validade de conteúdo dos itens. Ressalta-se que apenas seis itens obtiveram
CVC<0,80 em todas as análises realizadas (clareza, pertinência cultural e relevância teórica).
Relevância 439
11
Pertinência 435
15
CVC > 0,80
408 CVC < 0,80
Clareza
42
Discussão:
corresponde à situação medida pelo item original. A mesma estratégia foi utilizada por
Mancini e colaboradores (2016) na adaptação de um instrumento de desempenho funcional
infanto-juvenil, o que confirma que a estratégia adotada é corroborada por estudos
semelhantes.
Conduzir um estudo de adaptação transcultural de um instrumento que resulte em
uma versão válida para um idioma e cultura diferente da qual ele foi originalmente proposto é
um processo difícil e desafiador, especialmente pelas diferenças de experiências entre as
culturas (Coster & Mancini, 2015; ITC, 2016). O desenho metodológico do estudo, com o
planejamento minucioso de procedimentos baseados em diretrizes internacionais específicas
para este tipo de estudo (ITC, 2016), foi uma das estratégias para tentar vencer esses desafios.
Além da cultura, outro aspecto relevante para o desenvolvimento infantil são as
mudanças relativas ao tempo já que a criança se desenvolve pela aquisição de habilidades e
competências construídas em transações entre ela e seus diferentes contextos
(Bronfenbrenner, 2005; Sameroff, 2009). Eventos histórico-culturais e as mudanças nas
expectativas da sociedade sobre o desenvolvimento infantil interferem na avaliação da
criança e as medidas de avaliação do desenvolvimento infantil precisam ser periodicamente
revisadas (Richardson, 2010; Streiner et al., 2015). Durante o processo de adaptação, por
exemplo, o item AC22 - “The child asks for food at the table” – “A criança solicita
verbalmente comida durante as refeições” foi revisto e o termo “at the table (à mesa)” foi
omitido considerando que grande parte das famílias brasileiras já não possui o hábito de
comer à mesa. Com base na descrição desse item no livro de teste e orientação dos
especialistas, a palavra “verbalmente” foi incluída para garantir a clareza e pertinência deste,
sem prejuízo da avaliação. Outro exemplo foi o item RP19 - “The child uses the telephone to
place a call” – “A criança usa o telefone/celular para fazer uma chamada”, no qual na versão
em português foi incluída a palavra “celular”. Tal inclusão foi realizada para atender não
somente ao aspecto cultural do item, mas também às transformações históricas do contexto
de desenvolvimento infantil com as mudanças tecnológicas da sociedade mundial desde a
última revisão do BDI original em 2005.
Importante destacar que as validades de conteúdo da versão adaptada do instrumento,
analisadas para a clareza da linguagem, a pertinência e a relevância teórica atendem aos
parâmetros aceitos pela literatura (Cassepp-Borges et al., 2010; Hernández-Nieto, 2002).
Portanto, o conteúdo da versão adaptada proposta é adequado para avaliação do
desenvolvimento infantil da população brasileira. Os itens com CVC inferiores a 0,80 e que
eram administrados por entrevista ou observação foram ajustados, conforme sugestão dos
91
Borsa, 2017; Reichenheim & Moraes, 2007; Richardson, 2010; Streiner et al., 2015). A
descrição do processo de adaptação transcultural do BDI-2 busca reforçar essa ideia,
principalmente em um contexto como o brasileiro, no qual é comum o uso de instrumentos
construídos em outras culturas e sem uma criteriosa adaptação (Moreira & Figueiredo, 2013;
Rocha, Dornelas, & Magalhães, 2013). A disponibilidade de instrumentos de avaliação do
desenvolvimento infantil, teoricamente consistentes e culturalmente apropriados, pode
contribuir para melhorar os processos de diagnóstico e de monitoramento dos resultados de
intervenções clínicas, assim como de estudos transversais e longitudinais voltados para
atender aos pressupostos da vigilância da saúde e do desenvolvimento da criança. Em
consonância com as recentes políticas públicas para a primeira infância, principalmente ao
que tange a atenção integral à saúde e desenvolvimento da criança, deve-se incentivar estudos
que tenham como objetivo promover avanços na clínica e na pesquisa com crianças,
sobretudo estudos psicométricos de instrumentos robustos e bem estabelecidos como é o caso
do Battelle Developmental Inventory, 2nd Edition.
Agradecimentos
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93
Estudo 3
5
Artigo a ser submetido a periódico científico internacional, Qualis Capes A1, em idioma inglês, de acordo com
os Requisitos Uniformes de Vancouver; resumo com até 250, máximo 6 descritores; até 25 páginas.
96
Resumo:
Abstract
Assessment tools for child development screening with good psychometric properties are very
important for screening of developmental delays in eligible children for early intervention
programs. The Battellle Developmental Inventory Screening (BDIS) is a widely used
instrument to screen problems in the child development. The BDIS was translated and
adapted to Brazil (BDIS-BR), but its psychometric properties have not yet been tested. The
objective of this study was to investigate the psychometric evidences of BDIS-BR in a sample
of 240 children between zero and 24 months of age. The validity based on the internal
structure was verified adopting the Mokken Models, and the convergent and concurrent
validity was tested by age trends means and comparing with the Denver Test II, respectively.
Furthermore, the BDIS-BR reliability was tested for internal consistency, test-retest and inter-
raters reliabilities. According to the Mokken models, the BDIS-BR items showed as a one-
dimensional scale for all domains, and the empirical ordering of items have remained similar
to the original version. Data of convergent and concurrent validity confirmed that the results
on the BDIS-BR show a strong positive association with children age (ρ= -0,92; p = 0,001),
and high agreement rates with the Denver Test II (86% to 96%). The BDIS-BR also showed
good reliability indexes in all domains. In summary, the BDIS-BR is a screening tool for
infant development with good psychometric properties that can contribute to the evaluation of
Brazilian children under two years of age.
Introdução
Pesquisas recentes demonstram que as experiências nos dois primeiros anos de vida
são primordiais para o desenvolvimento cognitivo, emocional, comportamental e social (1,2),
devido à maior neuroplasticidade cerebral, que facilita ao cérebro em desenvolvimento
acomodar-se, estrutural e funcionalmente, e se beneficiar da multiplicidade de ambientes e
experiências (3,4). Fatores de risco próprios de contextos de interação caóticos ou com
estresse tóxico tem impacto sobre o desenvolvimento da criança (5–7), o que exige o
acompanhamento infantil com medidas de avaliação e intervenção. A vigilância do
desenvolvimento, com testes de triagem para identificação precoce de atrasos, tem função
preventiva importante e deve fazer parte das políticas públicas e programas de atenção ao
desenvolvimento da primeira infância (2,8).
Testes de triagem são recursos para uma avaliação breve que identificam crianças em
risco para atrasos no desenvolvimento, global ou em domínios específicos, as quais devem ser
encaminhadas para avaliação diagnóstica mais ampla (9,10). O uso de ferramentas sensíveis e
com boas propriedades psicométricas para avaliação da criança é um grande desafio para
profissionais e pesquisadores brasileiros (11). O teste de triagem mais utilizado no Brasil é o
Teste de Triagem do Desenvolvimento de Denver, que está em sua segunda edição (Teste
Denver II). Embora recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria para
acompanhamento de crianças em risco, ele não é adaptado ou validado para a população
brasileira (12).
O Battelle Developmental Inventory, 2nd Edition (BDI-2) é um instrumento
padronizado de avaliação do desenvolvimento de crianças entre zero e sete anos e 11 meses
(13). O BDI-2 contém 450 itens e é organizado em cinco escalas chamadas "domínios":
Adaptativo, Pessoal-Social, Comunicativo, Motor e Cognitivo. Ele tem uma versão curta para
triagem, o Battelle Developmental Inventory Screening (BDIS), com 100 itens, sendo dois
itens por faixa etária para cada domínio. Trata-se de um instrumento amigável, que avalia
crianças em uma ampla faixa etária em cinco domínios do desenvolvimento e que inclui uma
avaliação funcional para o domínio Adaptativo (14). Pesquisadores em estudos com o BDIS
destacam suas elevadas propriedades psicométricas em contextos clínicos, com validade e
confiabilidade, sensibilidade e especificidade excelentes (15–18). O BDIS foi considerado o
instrumento de triagem com melhor sensibilidade e validade de critério para crianças menores
de cinco anos de idade nos EUA e América Latina (17). Também tem sido usado como
medida padrão em programas de atenção precoce de alguns estados dos Estados Unidos da
99
América (EUA), como o Early Steps Program na avaliação de crianças para fins de triagem
de atraso no desenvolvimento (19).
Uma versão traduzida e adaptada do BDI-2, e consequentemente do BDIS, para o
Português-Brasil foi obtida em um estudo de adaptação transcultural que envolveu a avaliação
de uma versão brasileira do instrumento conduzida em rigoroso processo metodológico, em
que foram avaliadas as equivalências semântica, idiomática, conceitual, experiencial e
operacional, além da validação de conteúdo dos itens do instrumento para uso com a
população infantil brasileira (artigo em submissão). Ressalta-se que a versão do instrumento
foi avaliada por especialistas em desenvolvimento brasileiros e uma expert norte-americana
com experiência no uso do BDI-2 original, além de possíveis usuários, como profissionais,
pais e crianças. Ajustes foram feitos na formulação de alguns itens, além de modificações nos
estímulos para aplicação estruturada.
A versão adaptada para o português-Brasil do BDI-2, assim como sua versão de
triagem denominada aqui como BDIS-BR, pode ser considerada um instrumento novo para
profissionais das áreas de saúde e da educação do país. Todavia, são necessários estudos para
a investigação das evidências de validade e de confiabilidade destas versões. Baseado na
necessidade de se propor instrumentos válidos para programas de saúde e educação infantil e
para a identificação precoce de crianças brasileiras com possíveis atrasos no desenvolvimento,
o objetivo principal deste estudo foi investigar as propriedades psicométricas do BDIS-BR
para confirmar sua validade para uso com a população infantil brasileira.
2. Método
2.1. Participantes
Uma amostra não-clínica de 240 crianças com idade entre zero a 24 meses participou
nesse estudo de investigação das propriedades psicométricas da versão do Battelle
Developmental Inventory Screening para o Brasil: o BDIS-BR. Considerando que naquela
faixa etária o BDIS tem 30 itens, oito crianças por item foram recrutadas para o estudo, de
acordo com a seguinte classificação por cotas: sexo da criança, classe socioeconômica
(crianças atendidas pelo SUS ou por planos privados) e idade em meses (0 a 5 meses, 6 a 11
meses, 12 a 17 meses, 18 a 24 meses). A amostra foi selecionada de acordo com os seguintes
critérios de inclusão: bebês nascidos a termo (>37 semanas), com peso ao nascimento ≥ 2500
gr. e com desenvolvimento típico. Foram excluídas crianças com malformações congênitas,
problemas genéticos ou ortopédicos, problemas auditivos e\ou visuais e com intercorrências
100
nos períodos pré, peri e pós-natal. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Espírito Santo, Brasil (CAAE:
62650416.4.0000.5060) e fez parte do projeto “Trajetórias desenvolvimentais da gravidez à
infância: práticas clínicas em contextos de vulnerabilidade ao desenvolvimento e saúde”,
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Maternidade Escola da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (ME-UFRJ) (CAAE n. 54895216.3.0000.5275).
2.2. Instrumentos
2.3. Procedimentos
A coleta de dados, que ocorreu entre maio de 2017 e junho de 2018, foi feita por três
examinadores, profissionais graduados em Psicologia ou Terapia Ocupacional, após rigoroso
treinamento com base no estudo do manual, uso de vídeos e aulas teóricas e práticas sobre o
BDI-2. As crianças foram avaliadas pelo BDIS-BR em diferentes locais, de acordo com o
lugar de recrutamento dos participantes, como por exemplo o Ambulatório de Pediatria do
Hospital das Clínicas da UFES, o Laboratório de Pesquisa em Psicologia Pediátrica
(LAPEPP) do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFES, o Laboratório de
Estudos, Pesquisa e Intervenção em Desenvolvimento e Saúde (LEPIDS) da Maternidade-
escola da UFRJ, Centros de educação infantil, ou ainda nas residências das famílias. A coleta
de dados com as famílias durou cerca de dez minutos, enquanto as avaliações das crianças
com o BDIS-BR tiveram duração média de 20 minutos. Informações sobre o desempenho da
criança no BDIS-BR foram oferecidas aos pais, assim como orientações gerais, verbais e
escritas, sobre estimulação do desenvolvimento infantil.
102
coeficiente ainda é calculado para cada item individual (Hj) e para toda a escala (H). A
qualidade do ajuste do modelo dependerá do quanto os dados correspondem aos pressupostos
de unidimensionalidade, independência local, monotonicidade e não-interseção dos itens do
modelo testado. No caso de adequação e validade desses pressupostos, a Escala de Mokken
pode ser classificada como fraca (0,30 ≤ H < 0,40), razoável (0,40 ≤ H < 0,50) ou forte (H≥
0,50) (23). Também foi empregado o algoritmo Automated Item Selection Procedure (aisp),
que considera dois parâmetros para seleção de itens a serem mantidos ou não no modelo
testado: (1) o limite inferior da covariância inter-item precisa ser superior a zero e positiva e
(2) significativa. O algoritmo foi empregado para fins de confirmação das interpretações
realizadas.
O escore bruto do instrumento foi adotado para testar correlações entre os resultados
do BDIS-BR e a idade em meses das 240 crianças para se investigar evidências de validade
convergente. Adotou-se o Teste de Correlação de Spearman face à distribuição não normal
dos dados verificada pelo Teste de Kolmogorov-Smirnov. Correlações de 0,3 a 0,5 são
consideradas fracas, entre 0,5 e 0,7 moderadas e acima de 0,7 são consideradas fortes (24).
Além disso, foram plotadas curvas de tendência de idade em meses e escores em cada
domínio do BDIS-BR. Também, o escore bruto do BDIS-BR foi adotado para classificar as
crianças com suspeita de atraso e testar a concordância entre a classificação do desempenho
infantil no BDIS-BR e no Teste Denver II a fim de investigar a validade concorrente.
Porcentagens foram calculadas para analisar a concordância entre esses resultados assumidos
como variáveis categóricas: com e sem risco de atraso de desenvolvimento.
A confiabilidade foi testada calculando-se índices de consistência interna,
confiabilidade teste-reteste e entre examinadores. Para investigar a consistência interna, 30
itens, que correspondiam aos seis primeiros itens de cada domínio por faixa etária das
crianças avaliadas, foram usados para testar a homogeneidade do BDIS-BR através do cálculo
do Alpha de Cronbach, adotando-se como limiar o valor de 0,65 (25). Para investigar a
confiabilidade teste-reteste e entre examinadores foram calculados índices de consistência e
concordância, respectivamente, através do Intraclass Correlation Coefficient (ICC),
adotando-se valores iguais ou maiores que 0,85 como índices confiáveis (26).
As análises descritivas, de validade convergente e concorrente, bem como de
confiabilidades foram feitas no programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS),
versão 23.0, adotando-se um nível de significância α= 0,05. O gráfico de curvas de tendência
polinominal foi plotado no programa Excel for Windows. A análise das Escalas de Mokken
104
foi realizada pelo Programa R., interface R Studio, versão 3.5.1., utilizando o pacote Mokken
proposto por van der Ark (2007).
3. Resultados
Um total de 240 crianças brasileiras, 122 meninos e 118 meninas, participaram deste
estudo. A idade média da amostra foi de 13,42 meses (DP=6,29), sendo 13,37 (DP=6,23) a
média de idade dos meninos e 13,47 (DP=6,38) das meninas. Não houve diferença entre
meninos e meninas em relação ao desempenho no BDIS-BR (p= 0,93). Na Tabela 1 estão os
dados clínicos e sociodemográficos das crianças e suas famílias, assim como as médias de
escore e desvios-padrão do desempenho da criança nos domínios do BDIS-BR por faixa
etária.
Tabela 1
Dados clínicos e sociodemográficos das crianças e suas famílias e desempenho das
crianças no BDIS-BR
Variáveis 0 – 5 meses 6 – 11 meses 12 – 17 meses 18 – 23 meses Total
(n= 40) (n=41) (n=80) (n=79) (N=240)
Idadea 3,35 (1,49) 8,24 (1,68) 14,53 (1,82) 20,09 (1,70) 13,42 (6,29)
Sexob
Masculino 20 (50%) 21 (51,2%) 42 (52,5%) 39 (49,4%) 122 (50,8%)
Feminino 20 (50%) 20 (48,8%) 38 (47,5%) 40 (50,6%) 118 (49,2%)
Idade gestacional
39,1 (1,26) 38,78 (1,25) 39,01 (1,07) 39,29 (1,33) 39,08 (1,23)
(semanas)a
Peso ao nascer 3333,15 3307,01
3264,34 (461) 3265,14 (444) 3358,32 (430)
(gramas)a (504) (452)
Crecheb
Sim 1 (2,5%) 6 (14,6%) 23 (28,75%) 51 (64,6%) 81 (33,75%)
Não 39 (97,5%) 35 (85,4%) 57 (71,25%) 28 (35,4%) 159 (66,25%)
NSEb
A 7 (17,5%) 5 (12,2%) 19 (23,75%) 16 (20,2%) 47 (19,6%)
B 15 (37,5%) 23 (56,1%) 37 (46,25%) 35 (44,3%) 110 (45,8%)
C 13 (32,5%) 12 (29,3%) 16 (20%) 21 (26,6%) 62 (25,8%)
D/E 5 (12,5%) 1 (2,4%) 8 (10%) 7 (8,9%) 21 (8,8%)
Idade materna
31,30 (5,81) 31,15 (6,06) 32,26 (5,98) 31,27 (5,57) 31,58 (5,82)
(anos)a
Escolaridade
materna (anos)b
<8 3 (7,5%) 3 (7,32%) 5 (6,25%) 9 (11,39%) 20 (8,33%)
8 – 12 15 (37,5%) 11 (26,83%) 26 (32,5%) 25 (31,64%) 77 (32,08%)
>12 22 (55%) 26 (65,85%) 48 (61,25%) 47 (56,97%) 143 (59,58%)
Doença
psiquiátrica
maternab
Sim 8 (20%) 8 (19,51%) 18 (22,5%) 9 (11,39%) 43 (17,9%)
Não 32 (80%) 33 (80,49%) 62 (77,5%) 70 (88,61%) 197 (82,1%)
105
BDIS-BR – ADPa 3,77 (1,33) 8,36 (1,62) 13,25 (3,18) 17,37 (2,81) 12,19 (5,50)
a
BDIS-BR - P-S 6,47 (2,12) 11,24 (1,97) 17,00 (3,19) 20,53 (3,05) 15,42 (5,80)
a
BDIS-BR – COM 4,72 (1,41) 9,58 (2,40) 13,62 (2,60) 17,32 (2,92) 12,67 (5,10)
a
BDIS-BR – MOT 4,02 (1,44) 9,41 (1,93) 14,78 (2,72) 18,30 (1,98) 13,23 (5,54)
a
BDIS-BR – COG 6,60 (1,92) 12,17 (2,14) 14,87 (2,47) 17,16 (2,48) 13,79 (4,32)
a
BDIS-BR – Total 25,60 (6,83) 50,78 (8,05) 73,5 (10,79) 90,71 (10,12) 67,31 (24,95)
a b
Média (desvio padrão); Frequência (porcentagem); BDIS-BR: Battelle Developmental Inventory Screening,
versão brasileira; ADP: Domínio adaptativo; P-S: Domínio pessoal-social; COM: Domínio comunicativo; MOT:
domínio motor; COG: Domínio cognitivo.
Tabeela 2
Coefficientes H de Loevin
nger para cada item das escalaas do BDIS
S-BR na fa
aixa etáriaa
estud
dada
Adapttativo Peessoal-Social Comuniccativo Motor Cognittivo
Hi Se H
Hi Se Hi Se Hi
H Se Hi Se
Item 1 0.67 0.06 0.96 0.04 0.74 0.06 0.998 0.02 0.77 0.00
Item 2 0.89 0.06 0.90 0.05 0.78 0.04 0.995 0.03 0.91 0.05
Item 3 0.96 0.01 0.76 0.05 0.88 0.03 0.997 0.01 0.90 0.04
Item 6 0.96 0.01 0.90 0.02 0.89 0.03 0.996 0.01 0.95 0.02
Item 5 0.92 0.02 0.86 0.03 0.88 0.02 0.992 0.02 0.84 0.03
Item 6 0.93 0.02 0.92 0.02 0.92 0.02 0.991 0.02 0.85 0.03
Nota: Hi de Loevinnger demanda ajuste local suuperior a 0,30
0.
3.3. Validade
V coonvergente – tendênciaas de idade
25
20
15
Escore
10
0
0 5 10 15 2
20 25
Idaade
Adapttativo Pessoal-Sociial Co
omunicativo Motorr Cognição
Fig. 1. Curvas de
d tendência de idadee para os do
omínios do BDIS-BR..
107
4. Discussão
maioria das crianças terem pontuado dois (2 = habilidade consolidada), enquanto poucas
crianças pontuaram zero (0 = incapaz) ou um (1 = habilidade emergente) nos itens iniciais,
que são os mais fáceis. Como o BDIS-BR é um teste de triagem, esse dado já era esperado,
pois, trata-se de um tipo de teste que serve para o rastreio do desenvolvimento infantil
avaliado em poucos itens, porém suficientes para identificar parcialmente o traço latente
correspondente ao constructo avaliado (9–11). Adicionalmente, o BDIS é um instrumento
amigável e com flexibilidade processual, o que facilita à criança estar confortável na situação
de testagem e ao examinador obter informações de diferentes fontes, o que pode resultar em
um desempenho mais competente da criança, tal como afirmam Macy, Bagnato, Macy e
Salaway. (29). Atributos como esse, junto com a densidade dos itens, sua pontuação graduada
e seu conteúdo funcional, conferem ao BDIS-BR o carater de uma medida de avaliação
apropriada e funcional, mesmo para crianças muito jovens. Estudos recentes mostram que
essas características aumentam a validade social do BDI-2 (29,30) e, consequentemente, pode
sugerir que as versões adaptadas com boas propriedades psicométricas, como é o caso do
BDIS-BR, também apresentam alta aceitabilidade e utilidade.
Para confirmar a estrutura do BDIS-BR foi adotado um modelo de Teoria de Resposta
ao Item (TRI) não paramétrico: a Escala de Mokken. Pressupostos de monotonicidade, item-
resto, não-interseção e IIO não apresentaram violações de acordo com essa análise. O
conjunto de itens dos domínios do BDIS-BR mostrou-se como uma medida unidimensional
em uma escala ascendente (23), tal como no instrumento original. Adicionalmente, o
ordenamento empírico dos itens correspondeu à ordem esperada, sustentando a validade das
sequências das habilidades de desenvolvimento avaliadas pela escala de cada domínio do
BDIS-BR. Ressalta-se a relevância desse dado, já que o instrumento original se sustenta nos
pressupostos dos marcos de desenvolvimento (19,21), para o qual o desenvolvimento infantil
resulta da aquisição de habilidades e capacidades de desenvolvimento que aumentam desde o
nascimento.
A ordem dos itens para todos os domínios do BDIS-BR ficou idêntica a ordem
prescrita de apresentação dos itens no instrumento original e em acordo com as análises
originais conduzidas no estudo de Newborg (21). De acordo com essa autora, extensas
análises estatísticas de ajuste usando a TRI também foram conduzidas como parte do processo
de validação do instrumento (21). Ademais, em estudo de Elbaum, Gattamorta e Penfield
(18), os itens do teste de triagem do BDI-2 (BDIS) também foram submetidos à TRI usando o
modelo de Rasch, quando ótimos ajustes dos itens ao modelo foram encontrados, semelhante
ao encontrado nas evidências de validade do BDIS-BR.
110
A análise pela Escala Mokken para os pares de itens identificou apenas um problema
de ajuste entre os itens 1 e 2 do domínio Adaptativo, com recomendação para exclusão do
item 2 do BDIS-BR pelo algoritmo aisp. No entanto, todos os demais coeficientes H de
Loevinger foram satisfatórios (83% acima de 0,80) e isso reafirma a validade da estrutura
interna e da equivalência da versão brasileira do BDIS com o instrumento original.
Coeficientes dessa magnitude suportam a conclusão de que os itens estão relacionados ao
construto medido pelas escalas (domínios) do BDIS-BR, que, portanto, representa uma
medida útil para avaliar o desenvolvimento infantil também de crianças brasileiras. Sobre a
indicação de exclusão do item 2 do domínio Adaptativo (AC2 - “Posiciona as duas mãos na
mamadeira ou uma delas no seio durante a alimentação”), acredita-se que um problema no
processo de adaptação transcultural relacionado à descrição do item pode ter resultado na
formulação ambígua do mesmo. Entretanto, optou-se por manter o item porque ele apresenta
relevância teórica para o constructo avaliado, pois representa uma habilidade infantil
importante para o primeiro ano de vida, pertinente ao contexto brasileiro. Além disso, dados
de equivalências semântica, idiomática, experiencial, conceitual e operacional desse item no
processo de adaptação transcultural do BDI-2 não justificaram seu desempenho nos resultados
da análise de Mokken, o que sugere uma revisão do item para considerar adaptações
alternativas ou avaliação da linguagem.
Considerando que o BDIS-BR adota o pressuposto dos marcos do desenvolvimento,
para o qual as competências desenvolvimentais são adquiridas em etapas evolutivas nas
experiências vividas entre a criança e seus contextos (5,6), o BDIS-BR se propõe a avaliar
habilidades de desenvolvimento em uma ordem crescente de complexidade e espera-se que as
pontuações das escalas aumentem de acordo com a idade da criança. Assim, as fortes
correlações positivas (entre 0,81 e 0,92) entre os escores, total e por domínios, do BDIS-BR e
a idade da criança representam sólidas evidências de validade desse instrumento para medir o
constructo, tal como pressuposto teoricamente no instrumento original. Similar ao estudo de
padronização do BDI-2 (21), as curvas de tendência da idade, observadas na Figura 2,
reafirmam as evidencias psicométricas esperadas, ou seja, do aumento dos escores de
desempenho das crianças ao longo do seu crescimento nas faixas etárias do nascimento até 24
meses de idade. Esses dados mostram que, durante os dois primeiros anos de vida, há um
crescimento notável nas pontuações do BDIS-BR e uma alternância nas curvas de tendência
de idade, com cruzamento das mesmas. De fato, nesse período da infância, espera-se um
desenvolvimento exponencial e não linear em todos os domínios de desenvolvimento e por
isso as atuais políticas públicas no Brasil têm preocupação em garantir a atenção integral à
111
infância com leis como o Marco Legal da Primeira Infância (31). Isto confere ainda mais
relevância a estudos sobre instrumentos de triagem do desenvolvimento para o rastreio de
crianças em risco para uma avaliação diagnóstica mais ampla e encaminhamento para
intervenção precoce (8,10,32)
Para análise da validade concorrente do BDIS-BR foi adotado o Teste Denver II, que,
apesar de não ter padronização brasileira, é o instrumento de triagem mais utilizado no Brasil
e é recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (11). De todo modo, os índices de
concordância da análise dos resultados do desempenho no BDIS-BR e no Teste Denver II
para a população estudada foram altos: 86% a 96%. Considerando esses índices de
concordância encontrados, pode-se afirmar que o BDIS-BR apresentou boa validade
concorrente. No estudo original de padronização do BDI-2 (19), a validade concorrente
também foi verificada pela concordância entre os resultados do BDI-2 e do Teste Denver II
em uma amostra de 72 crianças e variou entre 83% e 90%, resultado até inferior ao
encontrado neste estudo.
Medidas de confiabilidade do BDIS-BR também foram avaliadas. Bons índices de
confiabilidade foram encontrados para todos os domínios da versão brasileira, incluindo
consistência interna, confiabilidade teste-reteste e entre examinadores. Os resultados dessas
medidas foram consistentes com outros estudos realizados com a versão original em inglês do
BDIS (21,33). No estudo original de padronização do BDI-2, por exemplo, a consistência
interna, determinada pelo método de split-half e corrigido pela fórmula de Spearman-Brown,
apresentou índices que variaram de 0,79 para o domínio Adaptativo a 0,96 para os domínios
Motor e Pessoal-Social na faixa etária de 0 a 24 meses (21). Em outro estudo com a versão em
espanhol do BDIS em crianças colombianas (33), também foram obtidos índices de
consistência satisfatórios, desde 0,79 para o domínio Cognitivo a 0,89 para o domínio
Comunicativo, semelhante aos nossos resultados. Pode-se dizer que os índices de
confiabilidade do BDIS-BR se assemelham aos resultados encontrados naqueles estudos e
isso se relaciona as boas propriedades psicométricas da versão original do instrumento.
Instrumentos de medida com bons índices de confiabilidade são importantes, mas essa
importância aumenta à medida que as consequências das decisões e interpretações crescem
em mérito e interesse (AERA et al., 2014), tal qual o caso de instrumentos de avaliação do
desenvolvimento infantil.
A confiabilidade teste-reteste confirma a estabilidade de um instrumento em diferentes
aplicações ao longo do tempo, enquanto que a confiabilidade entre examinadores atesta que a
aplicação e interpretação do instrumento não são direcionadas pela mudança do examinador
112
devem ser consideradas. Embora a amostra tenha sido composta com um número adequado de
sujeitos, considerando o parâmetro de oito participantes por item avaliado em uma escala,
com distribuição equivalente entre sexo e idades, não foi possível garantir a heterogeneidade
em relação ao NSE. O critério “crianças atendidas pelo SUS ou por planos privados” não foi
suficiente para garantir essa heterogeneidade, porque mais de 65% da amostra pertenciam aos
níveis A e B. Isso significa que as participantes eram majoritariamente de classes sociais de
média e alta renda, o que corresponderia a pouco mais de 25% da população brasileira
segundo dados de 2014 do IBGE (20). Esse dado, relacionado aos dados familiares como
idade (M=31,58 anos) e nível de escolaridade materna (59,58% ≥12 anos), sugerem que o
perfil das crianças participantes representava uma parcela específica da população, o que
dificulta a generalização dos dados. Tampouco foi possível incluir crianças de diferentes
regiões do país, devido à dificuldade de estabelecer parcerias para uma coleta multicêntrica, o
que é uma questão importante para estudos futuros. De todo modo, houve um esforço em
conduzir coletas de dados em contextos socioeconômicos diferentes, desde hospitais públicos
e creches de regiões que atendem população com baixo NSE. Também, a validade
concorrente do BDIS-BR foi investigada utilizando-se outro instrumento de rastreamento, o
Teste Denver II, que, embora seja o instrumento padronizado de triagem mais utilizado no
país, não é validado para a população brasileira. Outros instrumentos, ainda em processo de
validação, como o ASQ-3 (34) e as Escalas Bayley (35), podem ser usados em pesquisas
futuras para testar validade concorrente do BDIS-BR. Finalmente, a sensibilidade e
especificidade do BDIS-BR poderiam ser avaliadas a partir de instrumentos com propriedades
psicométricas comprovadas ou em estudo de validade com uma amostra clínica de crianças
com desenvolvimento atípico, o que se sugere como estudo futuro para ampliar a análise de
evidencias psicométricas do BDIS-BR.
Reconhecendo essas limitações, podemos concluir que o BDIS-BR se mostrou um
instrumento adequado para rastrear indicadores de risco ao desenvolvimento de crianças
brasileiras. As evidências psicométricas encontradas indicam que ele é um instrumento válido
e confiável para identificar precocemente riscos de atrasos no desenvolvimento da população
infantil menor de dois anos de idade. Testes de triagem como o BDIS-BR são alternativas
viáveis e confiáveis para auxiliar no desafio de mensurar resultados do desenvolvimento
infantil para crianças muito pequenas. Os resultados de uma ferramenta como o BDIS-BR
podem ajudar no processo de triagem infantil e no encaminhamento de crianças em risco para
serviços de saúde onde existam profissionais treinados para uma avaliação diagnóstica
adicional completa. Esse é o caminho para que a prevenção de problemas de desenvolvimento
114
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115
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Até onde sabemos, essa é a primeira pesquisa que realizou a adaptação transcultural
do instrumento Battelle Developmental Inventory, 2nd Edition (BDI-2) para o português-
Brasil e investigou evidências psicométricas de uma versão brasileira de triagem do BDI-2
para avaliação do desenvolvimento de crianças menores de dois anos. Não se sabe até que
ponto esses resultados são de fato generalizáveis para outras regiões do país ou se as
evidências psicométricas encontradas se manterão para outras faixas etárias. Todavia,
acreditamos que esse estudo oferece avanços significativos para a assistência e pesquisa
científica, mediante a apresentação de uma ferramenta útil, válida e confiável, que pode ser
uma alternativa à escassez de instrumentos padronizados para avaliação do desenvolvimento
de crianças brasileiras. Para isso, o estudo envolveu uma recente revisão sistemática da
literatura a respeito da utilização de instrumentos padronizados de avaliação do
desenvolvimento com a população infantil brasileira, um procedimento de adaptação
transcultural do BDI-2 para o português-Brasil e um estudo psicométrico que investigou
evidências de validade e confiabilidade da versão de triagem do BDI-2 adaptada para a
população brasileira.
Os métodos envolvidos nesse estudo são atuais e robustos, além de terem sido
realizados de maneira minuciosa e com extremo rigor metodológico baseado nas diretrizes
mais atuais e universais adotadas para os tipos de estudo desta Tese. Optamos por iniciar o
trabalho a partir de uma revisão sistemática da literatura, apresentada no Estudo 1, por
acreditar que este tipo de pesquisa, com ou sem metanálise, é um dos métodos mais
adequados e atuais para resumir e sintetizar evidências científicas (Linde & Willich, 2003).
As recomendações PRISMA foram usadas para relatar a revisão, ampliando a transparência e
o entendimento da mesma. No Estudo 2, todo o procedimento de adaptação foi guiado pelas
diretrizes da International Test Commission (ITC). Tais diretrizes descrevem orientações
sistemáticas e com primor metodológico para a adaptação de testes psicológicos e
educacionais em diferentes contextos linguísticos e culturais, sendo usada como guia por
pesquisadores do mundo todo (ITC, 2005; 2016). Por sua vez, o Estudo 3 utilizou modelos
de análise estatística não paramétrica inovadora no campo dos estudos psicométricos: a
Escala de Mokken. Essa análise, baseada na Teoria de Resposta ao Item, tem se expandido no
contexto internacional por sua eficiência na mensuração de constructos (Ark, 2007). Além
disso, este estudo reuniu diferentes análises de validade e confiabilidade para buscar
118
disso, acreditamos que o BDIS-BR possa ser usado como ferramenta adotada como um
padrão-ouro de avaliação infantil que forneça informações para direcionar e propor medidas
sócio governamentais, tal como é feito em outros países. Por fim, acredita-se que esta Tese
apresenta apontamentos importantes que motivarão futuros estudos voltados para a população
infantil brasileira, quer sejam nacionais e/ou transculturais. As boas propriedades
psicométricas de uma medida de avaliação infantil consolidada no exterior e adaptada para o
Brasil representam para o nosso país avanços no campo da avaliação do desenvolvimento
infantil, contribuindo, assim, para a análise de outros constructos relacionados ao
desenvolvimento da criança.
121
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132
APÊNDICES
JUSTIFICATIVA
As escalas de avaliação do desenvolvimento fornecem indicadores úteis para identificação de fatores
de risco, para avaliação da eficácia de programas de intervenção e para compreensão do
desenvolvimento de crianças com ou sem deficiências. A escassez de escalas validadas para a
população brasileira justifica este estudo.
OBJETIVO
Este Projeto de Pesquisa pretende realizar a adaptação cultural e validação de uma versão brasileira do
instrumento de triagem Battelle Developmental InventoryScreening (BDIS-2) para avaliação do
desenvolvimento infantil.
PROCEDIMENTOS
Você responderá a um questionário com dados de seu filho e de sua família. O desenvolvimento de
seu(ua) filho(a) será avaliado seguindo as instruções do BDI-2 por profissionais previamente
treinados. Estas aplicações serão filmadas para posterior correção dos dados e, todas as filmagens
serão destruídas ao final da pesquisa. Caso participe do Estudo piloto você será entrevistado com o
BDIS-2 e convidado a dizer se os itens são claros ou não na sua compreensão. Caso você entenda que
não são claros, poderá fazer sugestões de modificação. No período aproximado de uma semana,
poderá ser solicitado que a aplicação do teste BDIS-2 em seu(sua) filho(a) seja repetida em condições
equivalentes à primeira aplicação pelo mesmo examinador. Seu filho ainda poderá ser avaliado pelo
teste de Triagem Denver II para comparação dos resultados em um dia diferente ao desta aplicação.
RISCOS E DESCONFORTOS
Essa pesquisa apresenta riscos considerados mínimos. É possível que você se sinta desconfortável ou
constrangido com as perguntas a respeito do desempenho de seu filho. Para evitar que isso ocorra,
você será avaliado por um examinador treinado e terá garantido o direito de sigilo das informações.
BENEFÍCIOS
Ao participar do projeto, você terá informações claras a respeito do desenvolvimento de seu(sua)
filho(a) e receberá orientações de estimulação precoce.
Esse projeto poderá servir como subsídio e guia de ações de profissionais envolvidos no
acompanhamento da criança de risco e intervenção precoce. Além disso, propomos produzir uma
versão brasileira de um instrumento de avaliação que poderá ser usado em avaliação de crianças com e
sem deficiência no País.
ACOMPANHAMENTO E ASSITÊNCIA
Você receberá o resultado do BDIS-2 com informações claras a respeito da avaliação do
desenvolvimento de seu(sua) filho(a). Caso seja constatado atraso no desenvolvimento, a criança será
encaminhada ao serviço de acompanhamento da criança de risco. Além disso, a assistência imediata e
integral gratuita por possíveis danos decorrentes da pesquisa é garantida.
133
GARANTIA DE INDENIZAÇÃO
É garantido ao participante indenização diante de eventuais danos comprovadamente decorrentes da
pesquisa.
ESCLARECIMENTO DE DÚVIDAS
Em caso de dúvidas sobre a pesquisa ou para relatar algum problema, o(a) Sr.(a) pode contatar o(a)
pesquisador(a) Karolina Alves de Albuquerque no telefone (27) 9.9638-9490 ou e-mail
karol.arcos@gmail.com, ou endereço Av. Marechal Campos, 1468 – Maruípe CEP 29.040-090,
Vitória - ES, Brasil O(A) Sr.(a) também pode contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal do Espírito Santo / Campus Goiabeiras através do telefone (27) 3145-9820 ou e-mail
cep.goiabeiras@gmail.com. O CEP/UFES tem a função de analisar projetos de pesquisa visando à
proteção dos participantes dentro de padrões éticos nacionais e internacionais. Seu horário de
funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 14h.
Declaro que fui verbalmente informado e esclarecido sobre o presente documento, entendendo todos
os termos acima expostos, e que voluntariamente aceito participar deste estudo. Também declaro ter
recebido uma via deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de igual teor, assinada pelo(a)
pesquisador(a) principal ou seu representante, rubricada em todas as páginas.
___________________, _______________
Local Data
___________________________________
Participante da pesquisa/Responsável legal
___________________________________
Karolina Albuquerque
Responsável pelo Projeto
134
Quaisquer dúvidas podem ser esclarecidas com a responsável do estudo (Karolina), por e-
mail (karol.arcos@gmail.com); ou pelo telefone (27)9.9638-9490.
Muito obrigada por sua participação! Bom trabalho!
1 - Item em
Em que nível a Em que nível o item
português / Item linguagem do item é Em que nível o item representa uma
em inglês clara e é pertinente para a habilidade do
compreensível para a cultura brasileira? desenvolvimento
cultura brasileira? infantil?
1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
Obs: __________________________________________________________________
______________________________________________________________________
137
Assistência à saúde: ( )SUS ( )A família tem plano ( )Só a criança tem plano
Sobre a família
Idade da mãe: _______ Escolaridade da mãe (anos):_________________________
A mãe trabalha? ( )Sim ( )Não Profissão: ____________________ Hrs/sem: _________
ANEXO
OS
AN
NEXO 1 – Exemplo do formulárrio do Batteelle Developpmental Invventoty, 2nd
d Edition
139
ANE
EXO 3 – Paarecer Con
nsubstanciaado do Commitê de Éticca em Pesqu
uisa da Ma
aternidade
Escola da UFRJ
1455
1466
147