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2023 - Acessando o Embaçado - Práticas de Autoconhecimento Com Atores e Atrizes
2023 - Acessando o Embaçado - Práticas de Autoconhecimento Com Atores e Atrizes
Institucional
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas
Coordenadora: Profa. Dra. Maria Lúcia de Souza Barros Pupo
Vice-Coordenadora: Profa. Dra. Maria Helena Franco de Araújo Bastos
Representante Discente: Ms. Conrado de Sousa Santos
Departamento de Artes Cênicas
Chefe: Profa. Dra. Alice Kiyomi Yagyu
Vice-Chefe: Prof. Dr. Sérgio Ricardo de Carvalho Santos
Escola de Comunicação e Artes
Diretor: Profa. Dra. Brasilina Passarelli
Vice-Diretor: Prof. Dr. Eduardo Monteiro
Universidade de São Paulo
Reitor: Prof. Dr. Carlos Gilberto Carlotti Júnior
Vice-Reitor: Profa. Dra. Maria Arminda do Nascimento Arruda
Comissão Científica do SPA 2023
Profa. Dra. Maria Lúcia de Souza Barros Pupo Kil Abreu
Ademir de Almeida Leandro Fazolla
Alexandre Américo Luís Bruno De Godoy
Amanda Gonsales Luísa Jacques de Moraes
Amilton de Azevedo Luiz Paulo Pimentel De Souza
Ana Clara Oliveira Maíra Gerstner
Branca Temer Marcial Macome
Bruna Félix Maria Fernanda Vomero
Bruno Pinheiro Mariana Conde
Carina Nagib Mariana Rosa
Carolina Camargo De Nadai Maurício Maas
Daiana Felix Pereira Mileni Vanalli Roéfero
Edilene do Socorro Silva da Rosa Morgana Olívia Manfrin
Fabricio Goulart Moser Murilo Moraes Gaulês
Felipe Fagundes Paula Martins
Filipe Brancalião Rafael de Barros
Francisco Turbiani Raquel Pires
Guilherme Yazbek Roberta Ninin
Gyl Giffony Rohan Baruck
Heloísa Helena Pacheco de Sousa Sara Neiva
Howardinne Queiroz Simone do Prado Romeo
Ian Calvet Tânia Villarroel
Ísis Arrais Padilha Valmir Jesus dos Santos
Isis Beatriz Anunciato Vanessa Biffon
Ítalo Rui Vitoria Cortez Cohn
Jaoa de Mello Viviane da Soledade
ISSN 2318-8928
CDD: 792
ACESSANDO O EMBAÇADO:
PRÁTICAS DE AUTOCONHECIMENTO COM ATORES E ATRIZES168
Dyogo Ramon169
Palavras-chave: Autoconhecimento, Atuação, Formação, Ator/Atriz
Este trabalho trata de experiências preliminares desenvolvidas nos primeiros semestres de uma
pesquisa de doutoramento – focada no campo da formação de atores e atrizes. Em registro estão análises
crítico-reflexivas de experiências que vivenciei enquanto ministrante do curso Autoconhecimento e atua-
ção: Encontrando caminhos criativos para atores e atrizes (2023), ofertado durante o I Congresso Inter-
nacional de Teatro do Amazonas (CITA), bem como as experiências compartilhadas pelos participantes
de forma discursiva ou poética. Este texto também possui influências e provocações da práxis vivenciada
no estudo de materiais diversos (FABIÃO, 2009 e 2008) do componente acadêmico Processos de ence-
nação (2023/1), ofertado pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal
da Bahia (PPGAC/UFBA), ministrado pela professora doutora e orientadora desta pesquisa, Hebe Alves,
no curso de doutorado.
Foi desenvolvido, nos primeiros semestres desta pesquisa em andamento, experimentos focados em
perceber os processos de conexão entre o conceito de autoconhecimento e o campo da atuação cênica, em
especial, o que está sob a perspectiva da pedagogia de ator e de atriz. Para tanto, me amparo sob os prin-
cípios do sistema Stanislavski, no que se refere ao ofício artístico cênico, o processo criativo e a própria
perspectiva de arte e vida (STANISLAVSKI, 1983).
No conhecimento, pensando no aspecto epistemológico das coisas, e no autoconhecimento, focando
nos processos que envolvem o conhecimento de si e as possibilidades de encontro consigo mesmo, sempre
é perceptível a presença do embaçado. Essa presença da nuvem, da fumaça, do embaçado, por vezes é per-
cebida como signo para compor a passagem, travessia ou atravessamento de um mundo para outro; de uma
realidade para uma imaginação, memória ou pensamento (que também, tendem a ser realidades); de algo
explicitamente entendível para algo implicitamente alcançável ou não logicamente compreensível. Acredi-
to que o processo de pesquisa, em sua própria natureza, especificamente aqueles pós-positivistas, tendem
ou podem vir a ser representados por essa mesma nuvem, fumaça, ou embaçamento, haja vista a busca
por algo que se encontra em contínua formulação e organização, o que entendo como o próprio processo
da passagem, travessia e atravessamento.
O curso que ministrei na programação formativa do I CITA, evento desenvolvido pela Universidade
do Estado do Amazonas (UEA), em Manaus, no Amazonas – Brasil, aconteceu durante uma manhã inteira,
no espaço da companhia teatral manauara Ateliê 23. Estiveram reunidos no encontro, um grupo de 12 parti-
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Este material integra o grupo de registros de desenvolvimento da pesquisa de doutorado em andamento, no Programa de Pós-
-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, sob orientação da professora doutora Hebe Alves.
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Ator e professor de Teatro. Doutorando em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestre em Artes da
Cena pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e graduado em Teatro pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
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cipantes, formado por artistas que já atuam profissionalmente na área da cena, e outros que estão iniciando
os estudos em cursos livres, ou estão no curso superior.
Para o desenvolvimento do curso, levou-se em conta duas perspectivas/dimensões: o autoconhe-
cimento como colaborador cênico, e a cena como colaboradora e provocadora dos processos de auto-
conhecimento. Para tanto, foram desenvolvidos diálogos, exercícios e jogos que dialogavam com estas
perspectivas/dimensões, de modo que, os participantes pudessem acessar estes dois campos (atuação
e autoconhecimento). O encontro iniciou com diálogos desenvolvidos em rodas, focando na busca por uma
síntese de como cada participante se via, se entendia, e partindo daí, chegava à busca ou ao encontro com
a cena. Nesse primeiro momento foi dada a oportunidade aos participantes de falarem sobre seus sentimen-
tos, sonhos e idealizações, sem medo ou preocupação de serem rechaçados ou julgados. Neste sentido foi
criada uma atmosfera semelhante aos dos encontros desenvolvidos em grupos de apoio, em que cada par-
ticipante diz seu nome, é acolhido pelos demais, e daí, sente-se à vontade para contar o que deseja contar.
Desenvolvi uma breve apresentação pessoal, buscando possibilitar um espaço de abertura para que os par-
ticipantes ficassem mais livres para falarem sobre eles próprios, e no intuito de quebrar a própria hierarquia
entre ministrante e participante.
Os integrantes do curso, depois dos diálogos iniciais, participaram do exercício do Retorno ao Úte-
ro, e falaram um pouco sobre suas sensações no decorrer da experimentação. Eles registraram em folhas de
papel, suas experiências no exercício, de modo que escreveram, desenharam ou rascunharam suas próprias
sensações, com informações implícitas e explícitas acerca do ocorrido, experimentado, performado.
Estes desenhos desenvolvidos, explicitam a presença do embaçado, pois são reflexos da própria
experimentação desenvolvida. As percepções dos participantes, referentes aos experimentos, revelam um
diálogo direto com a contemporaneidade. Pensando na dinâmica do processual, acredito que isto esteja
no caminho do conceito acerca do corpo em Espinosa (FABIÃO, 2008, p. 238) que o entende como algo
“permanentemente informado pelo mundo, ou, parte de mundo que é”, ou seja, “Inacabado, ou ainda, ina-
cabável, provisório, parcial, participante – está, incessantemente, não apenas se transformando, mas sendo
gerado”. Esta perspectiva dialoga diretamente com a ideia processual do acesso aos embaçamentos.
Considero que o processo de prática com o autoconhecimento, revela como tal processo colabora
diretamente nos trabalhos de individualidade, criatividade, autonomia e liberdade para os participantes. Tal
reflexão desenvolvida, aponta que o trabalho com o autoconhecido não se finda em processos específicos de
trabalho com estéticas ou poéticas fundadas nas autobiografias dos integrantes, mas está presente enquanto
indicador formativo no processo de profissionalização do ofício de atores e atrizes. Concluo que, partindo
da percepção e do entendimento dessas sombras, nuvens, fumaças e embaçamentos, podemos traçar cami-
nhos estratégicos de criação práxica para o desenvolvimento da pesquisa. É pelo entendimento da existên-
cia dos embaçamentos que podemos tentar acesso ao que está em nós, mas não tão explícito.
Referências:
FABIÃO, Eleonora. Performance e teatro: poéticas e políticas da cena contemporânea. Sala Preta, 8, 235-
246, 2008.
______. Minha vida na Arte. Tradução do original russo de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1989.
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