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Tema: Qualidade e padrões microbiológicas das águas balneares costeiras e do interior.

 Microorganismos e indicadores recomendados para águas recriacionais e saúde pública;


 Vectores e doenças das águas recriacionais;
 Gestão,monitorização e classificação da qualidade microbiológica das águas costeiras do
interior;
 Qualidade das praias e águas do interior, legislação sugerida de indicadores de
contaminação fecal das praias ou esgotos.
Águas balneares

Os espaços balneares podem ser definidos como um sistema multidimensional onde a relação
entre subsistemas humanos e biofísicos é contínua, dinâmica e complexa, compostos pelo
sistema costeiro, sistema sociocultural e sistema administrativo (Roca e Villares, 2008; James,
2000). Os espaços balneares oferecem um alargado leque de bens e serviços às comunidades e
economias costeiras. Um desses serviços é a oportunidade de lazer, que providencia benefícios
aos utilizadores (Blackwell, 2007). As descargas de águas residuais domésticas e industriais, em
águas balneares tanto costeiras como interiores, determinaram a necessidade de uma
monitorização de indicadores microbiológicos de contaminação fecal de forma a controlar a
qualidade dessas mesmas águas de uso recreativo.

Parâmetros de avaliação de qualidade das águas balneares


A qualidade das águas balneares é um tema de grande relevância por ser considerado um bom
indicador da qualidade ambiental e de potencial de desenvolvimento turístico, para além de
determinante em termos de saúde pública (REA, 2018). As águas balneares estão sujeitas a
vários tipos de poluição devido a várias causas, tanto naturais como antropogénicas, cujas fontes
podem ser difusas ou pontuais.
1.indicadores microbiológicos
são normalmente utilizados para demonstrar a presença ou ausência de agentes patogénicos
(Cordeiro, 2014).A presença de bactérias de origem fecal, incluindo os coliformes fecais
tаmbém conhecidos como Escherichia coli e Enterococcos intestinis têm sido utilizados como
ferramenta de acompanhamento para a deterioração microbiológica e para a previsão da presença
de microrganismos patogénicos. Estes microrganismos são originários de mamíferos superiores e
aves, e a sua presença em águas pode indicar contaminação fecal e possível associação com
agentes patogénicos.
1.1.Escherischi coli
A Escherichia coli, originalmente denominada por Bacterium Coli, foi identificada em 1885 pelo
pediatra Alemão Theodor Escherich. A Escherichia coli encontra-se presente no intestino
humano e de animais de sangue quente. É o indicador mais restrito do grupo dos Coliformes que
se encontra quase exclusivamente associado a microrganismos de origem fecal. Esta bactéria,
pertencente à família Enterobacteriaceae, é caracterizada pela presença das enzimas β-
galactosidase e β-glucuronidase que se desenvolvem em meios complexos a 44 - 45ºC
(Monteiro, 2000). Estes microrganismos quando detectados em uma amostra de água fornecem
evidência direta de contaminação fecal recente, e por sua vez podem indicar a presença de
patógenos entéricos (POPE et al., 2003).
1.2.Enterococos intestinis
O parâmetro Enterococos intestinais corresponde a um subgrupo dos Estreptococos Fecais e é
caracterizado pela alta tolerância às condições adversas de crescimento, tais como: capacidade de
crescer na presença de 6,5% de cloreto de sódio, pH 9,6 e a temperaturas compreendidas entre 10
e 45 ºC. É considerado o indicador mais adequado para avaliar a contaminação fecal de águas
mcosteiras (Monteiro, 2000).
2.Indicadores fisico-quimicos
2.1.Ph: indica o grau de acidez ou alcalinidade da agua. Valores fora do intervalo podem
indicr poluicao ou contaminacao.
2.2.Turbidez: mede а clаridаde dа аguа e pode indicаr а presencа de sedimentos, mаteri
orgаnicа ou poluentes.
2.3.Temperаturа: pode аfetаr а vidа аquаticа e indicаr аlterаcoes sаzonаis dа аguа.
3.Indicаdores esteticos: a presenca ecessiva de resaiduosa ou detritos na superficie dа
аgu pode fetr negtivаmente а аperenciа esteticа dа prаiа. Emborа estes pаrametros
esteticos possam não ser indicadores diretos da qualidade sanitaria da agua balnear, eles
desempenham um papel importante na percepcao e na experiencia dos banhistas, pois,
praias, limpas, claras e livres de odores desagradaveis tendem a ser mais frequentadas.

Vetores e doenҫаs dаs águаs recreаcionаis


Águа, sаnemento e higiene estаo entre аs necessidаdes humаnаs mаis básicаs, e são pré-
requisitos pаrа sаúde humаnа e desenvolvimento,suа má gestão gerа fаtores de risco. Águаs
contаminаdаs аpresentаm problemа não somente аo consumo direto, mаs tаmbem por
potenciаlmnte contаminаr аlimentos аtrаvés de irrigаҫão, аlém de oferecer riscos á sаúde em
diversаs аctividаdes. No que diz respeito аs águаs usаdаs pаrа recreаҫão , а contаminаҫão pode
ocorrer por efluentes domésticos, processos industriаis, аctividаdes аgricolаs, dejectos de
аnimаis domesticos e fаunа silvestre.A presença de indicadores de contaminação fecal, como
E.coli e Enterococos, em águas costeiras, deve-se essencialmente a descargas de águas residuais
urbanas não tratadas e descargas de resíduos de produções animais e/ou industriais. O impacto
dos raios solares aparenta ser, segundo Lester Sinton, um dos factores com maior importância,
pois condicionam a sobrevivência das bactérias. O nível de susceptibilidade destas, vai depender
das características intrínsecas de cada indicador, dos comprimentos de onda dos raios solares,
bem como da penetração destes na água do mar. A presença de indicadores fecais, E.coli e
Enterococos é detectada não só nas águas marinhas, como também nas areias e areais, quer em
praias costeiras, como praias fluviais (Bonilla 2007).

Se as águas marinhas forem poluídas por esgotos, sua utilizaçãopara recreação de contato
primárioou seja, aquela na qual o indivíduo tem contato direto com a água, pode levar o banhista
a contrair uma variedade de moléstias infecciosas causadas por bactérias, vírus,fungos e
protozoários. As doenças de maior incidência, associadas à natação, são aquelas do trato
gastrintestinal. Podem ocorrer, desde infecções mais graves como: gastrenterites; hepatite A;
cólera e febre tifóide, até outras, causadas por patógenos oportunistas e não relacionadas ao trato
gastrintestinal,como: dermatoses; conjuntivite;otite; e as da região da nasofaringe.

Monitorizacao da qualidade das aguas balneares

A monitorização da qualidade da água pode ser considerada como um dos pré-requisitos para o
sucesso de qualquer sistema de gestão das águas, já que a monitorização possibilita a obtenção
de informações necessárias, a actualização dos bancos de dados e o acompanhamento do
processo de uso dos corpos hídricos, apresentando os efeitos sobre as características qualitativas
das águas e visando subsidiar as acções de controlo ambiental (Carvalho etal., 2015).As
descargas de águas residuais domésticas e de indústrias animais em águas balneares tanto
costeiras como interiores determinou a necessidade de uma monitorização de indicadores
microbiológicos de contaminação fecal de forma a controlar a qualidade dessas mesmas águas de
uso recreativo. Actualmente é pesquisada e quantificada a presença de enterococos intestinais e
E.coli, segundo o Decreto-Lei 135/2009 de 3 de Junho. A avaliação da qualidade das águas
balneares é feita com base nos programas de monitorização, que são realizados anualmente.

Segundo o artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 135/2009, de 3 de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º
113/2012, de 23 de maio, correspondente à monitorização de águas balneares, antes do início da
época balnear, a APA(Agencia portuguesa do ambiente), I.P. define um calendário de
amostragem para cada água balnear. Este calendário deve ser cumprido no prazo máximo de
quatro dias a contar da data indicada no calendário.O ponto de amostragem é estabelecido pela
APA, I.P., com a colaboração do Delegado de Saúde Regional, devendo esse ponto ser o local
onde:

 Exista maior afluência de banhistas;


 De acordo com o perfil da água balnear, exista maior risco de poluição que afete a qualidade
da água e que represente um risco para a saúde pública. A frequência de amostragem é
determinada tendo em conta a categoria da água, o seu historial e as pressões a que pode estar
sujeita. De acordo com o Anexo II do Decreto-Lei n.º 135/2009, de 3 de junho, alterado pelo
Decreto-Lei n.º 113/2012, de 23 de maio, até 15 dias antes do início de cada época 10 balnear
é recolhida uma amostra. Já a contar com esta amostra, as amostras recolhidas e analisadas
não podem ser inferiores a quatro. No caso de águas balneares cuja época não ultrapasse as
oito semanas ou estejam situadas numa região sujeita a condicionantes geográficas especiais,
são necessárias apenas três amostras. As datas de recolha têm que ser distribuídas com
regularidade ao longo da época balnear, não devendo o intervalo entre elas ultrapassar um
mês.

Perfil da agua balnear


O objectivo principal da elaboração dos perfis das águas identificadas como balneares em
cada ano é dotar as entidades responsáveis pela gestão das mesmas de informação à cerca das
suas características e dos factores que podem afectar a sua qualidade, para que possam ser
tomadas atempadamente as medidas e acções que previnam, prevejam e solucionem
ocorrências de poluição susceptíveis de provocar efeitos negativos na saúde dos banhistas
(APA, 2018).
Os perfis das águas balneares incluem os seguintes elementos: identificação e localização da
água balnear, descrição da água balnear e envolvente, enumeração, listagem, caracterização e
quantificação das fontes de poluição e avaliação do potencial de proliferação de
cianobactérias; avaliação do potencial de proliferação de macroalgas e/ou fitoplâncton,
histórico da qualidade das águas balneares e, por fim, medidas de gestão e intervenções.
Classificação da Qualidade das Águas Balneares
De acordo com o artigo n.º 8 do Decreto-Lei n.º 135/2009, de 3 de junho, alterado pelo
DecretoLei n.º 113/2012, de 23 de maio, que define a classificação da qualidade das
águasbalneares, compete à APA, I.P. classificar as águas balneares. Ao abrigo do Anexo III
do
Decreto-Lei n.º 135/2009, de 3 de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 113/2012, de 23 de
maio, as águas podem ter a seguinte classificação:
 Tendo em conta o artigo n.º 8 do Decreto-Lei n.º 135/2009, de 3 de junho, alterado
pelo DecretoLei n.º 113/2012, de 23 de maio, uma água balnear é classificada com
“Qualidade má” quando no conjunto de dados recolhidos noperíodo de tempo
referido anteriormente (últimas três ou quatro épocasbalneares), os valores de
percentil para os parâmetros microbiológicos foremsuperiores;
 Segundo o Anexo III do Decreto-Lei n.º 135/2009, de 3 de junho, alterado pela
Decreto-Lei n.º 113/2012, de 23 de maio, para ser classificada com “Qualidade
aceitável”, “Qualidade boa” e “Qualidade excelente”, a água balnear tem
queapresentar nas últimas quatro ou três épocas balneares, 14 valores de percentilpara
os parâmetros microbiológicos iguais ou inferiores aos valores indicados na coluna
“Qualidade aceitável”.

Avaliacao microbiologica das aguas costeiras e do interior

De acordo com o Decreto-Lei nº 135/2009 de 3 de Junho, alterado pelo Decreto-Lei nº 113/2012


de 23 de Maio procede-se à pesquisa e quantificação de Escherichiacoli e Enterococos
intestinais. A identificação e a avaliação da qualidade das águas balneares são feitas com base
nos programas de monitorização que são realizados anualmente. Os valores da Norma de
Qualidade referentes às águas balneares estão descritos no Decreto-Lei nº 135/2009 de 3 de
Junho, alterado pelo Decreto-Lei nº 113/2012 de 23 de Maio, na Tabela 1 para as águas
interiores, e na Tabela 2 para as águas costeiras e de transição.

Tabela 1. Norma de qualidade das águas interiores (Decreto – Lei n⁰ 113/2012)

parametros Qualidade Qualidade Qualidade Metodos de


excelente Boa Aceitável referências
Enterococos (*) 200 (*) 400 (**) 330 ISO 7899-
intestinais ( ufc / 1(1998) ou ISO
100 ml) 7899-2 (2000)
Escherichia coli (*) 500 (*) 1000 (**) 900 ISO 9308 – 3
em (ufc/100) ( 1998) ou ISO
9308 – 1 (2000)

Tabela 2. Norma de qualidade das aguas costeiras e de transicao(Decreto – Lei n⁰ 113/2012)

parametros Qualidade Qualidade Qualidade Metodos de


excelente Boa Aceitável referências
Enterococos (*) 100 (*) 200 (**) 185 ISO 7899-
intestinais ( ufc / 1(1998) ou ISO
100 ml) 7899-2 (2000)
Escherichia coli (*) 250 (*) 500 (**) 500 ISO 9308 – 3
em (ufc/100) ( 1998) ou ISO
9308 – 1 (2000)
nn

Referencias

Bolton, N. F. C., N. J.; Hallsworth, P.; Fallowfield, H. J. (2010). "A review of the factors
affecting sunlight inactivation of micro-organisms in waste stabilisation ponds: preliminary
results for enterococci." Water Science and Technology 61(4): 885-890.

Bonilla, T. D. N., K.; Cuvelier, M.; Hartz, A.; Green, M.; Esiobu, N.; McCorquodale, D. S.;
Fleisher, J. M.; Rogerson, A. (2007). "Prevalence and distribution of fecal indicator organisms in
South Florida beach sand and preliminary assessment of health effects associated with beach
sand exposure." Marine Pollution Bulletin 54(9): 1472-1482.

Fernandes, A. J. R. d. F., P. T.; Pinto, A. B. (2010). "Antimicrobial resistance of heterotrophic


marine bacteria isolated from seawater and sands of recreational beaches with different organic
pollution levels in southeastern Brazil: evidences of resistance dissemination." Environmental
Monitoring and Assessment 169(1-4): 375-384.

Sinton, L. W. H., C. H.; Lynch, P. A.; Davies-Colley, R. J. (2002). "Sunlight inactivation of fecal
indicator bacteria and bacteriophages from waste stabilization pond effluent in fresh and saline
waters."AppliedandEnvironmentalMicrobiology68(3): 1122-1131

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