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ANAIS | Volume 4

Comportamento de Taludes e Aterros


PARTE 2

PROMOÇÃO REALIZAÇÃO ORGANIZAÇÃO


PATROCINADORES OURO

PATROCINADORES PRATA

PATROCINADORES BRONZE

2
APOIO EMPRESARIAL

APOIO INSTITUCIONAL

3
PROMOÇÃO REALIZAÇÃO ORGANIZAÇÃO

SECRETARIA TECNOLOGIA

4
PREFÁCIO

Prezados colegas

É com muita satisfação que saudamos os participantes da VIII Conferência


Brasileira sobre Estabilidades de Encostas - COBRAE.

Celebramos este tradicional evento onde reuniremos expoentes palestrantes e um


conteúdo científico alinhado às inovações, com destaque aos acontecimentos recentes
em nosso país, ressaltando assim, a importância do tema geral: “Estabilidade de
Encostas na Sociedade e na Infraestrutura”.

Há três anos preparamos este evento com muito afinco, embora ainda com tantas
inseguranças do novo normal. Contudo, seguimos confiantes, arregimentando colegas e
parceiros que acreditaram ser possível este desafio, e assim, juntos, montamos o evento.

O objetivo foi trazer contribuições na forma de minicursos, palestras, artigos


científicos e discussões. Foram quatro dias de intensidade científica, troca de
experiências e convívio social, além da oportunidade de desfrutar Pernambuco com seus
aromas, sabores e cores.

A VIII COBRAE recebeu 450 resumos, destes foram recebidos 235 artigos
completos que estão disponibilizados em livros digitais, separados em sete volumes:
Volume 1: Movimentos de Massa em Encostas
Volume 2: Investigações Geológico-geotécnicas
Volume 3: Mapeamento Geotécnico e Gestão de Riscos
Volume 4: Comportamento de Taludes e Aterros
Volume 5: Soluções de Engenharia
Volume 6: Instrumentação e Monitoramento
Volume 7: Taludes Submarinos e de Mineração

Roberto Quental Coutinho


Presidente VIII COBRAE

5
COMISSÃO ORGANIZADORA

Roberto Quental Coutinho


UFPE - Presidente da Comissão

Olavo Francisco dos Santos Júnior


UFRN - Comitê Técnico

Joaquim Teodoro Romão de Oliveira


UNICAP/UFPE - Comitê Técnico

Kalinny Patrícia Vaz Lafayette


UPE - Comitê Técnico

Igor Fernandes Gomes


UFPE - Secretaria

Robson Ribeiro Lima


UFPE - Secretaria

Danisete Pereira de Souza Neto


UFPE - Tesouraria

Ricardo Nascimento Flores Severo


IFRN - Tesouraria

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Cód. Título do Artigo Pág.
D232 Análise da aplicação de técnicas de bioengenharia no controle de carreamento de finos em um solo 9
do município de Guanambi - Bahia
D261 Análise do efeito da sucção na estabilidade de taludes por software de equilíbrio limite 17
D262 Influência da função de falha no método probabilístico das estimativas pontuais aplicado a 24
estabilidade
D272 Análise numérica da ruptura do quebra-mar do Terminal Portuário de Sergipe 31
D304 Influência da fundação de uma barragem de terra utilizada para deposição de rejeito e água na 39
análise tensão-deformação
D326 Análise de estabilidade de encosta situada em região urbana no município da Serra / ES utilizando 47
o método de solo grampeado.
D338 Desempenho de escavação de grande porte, estabilizada com solo grampeado e tirantes, em área 55
urbana (RS)
D344 Influência da inclinação de face nas verificações de estabilidade em muro em solos reforçados com 63
geogrelhas
D347 Análise de estabilidade de um talude rochoso na Pedreira do Taquaruçu, Região de Ponta Grossa – 71
PR
D352 Uso do fator de redução de resistência ao cisalhamento quando utilizado em modelos de estado 79
crítico com endurecimento
D354 Análise tridimensional de um aterro sobre argila mole levado à ruptura 87
D358 Avaliação de trincamentos em revestimento de taludes de canais de irrigação 94
D362 Cálculo do fator de segurança de um talude por análise determinística utilizando operações com 100
números Fuzzy
D364 Análise comparativa entre métodos bi e tridimensionais de estabilidade de taludes 108
D367 Modelo de predição da condição de estabilidade de taludes com uso de ferramenta de estatística 115
multivariada
D368 Estudo comparativo de resistência ao cisalhamento de interface entre os elementos de reforço 123
usados na técnica de terra armada e solos
D369 Elemento Finito Bidimensional para o fluxo de água em solos não saturados 131
D373 Influência do rebaixamento rápido e redução de praia de rejeitos na segurança de barragens 139
D395 Análise e proposta de estabilização do talude na BR 267 146
D402 Probabilidade de ruptura de talude de corte pelo método probabilístico das estimativas pontuais 154
D404 Comparação entre análises de estabilidade de uma barragem de rejeitos por elementos finitos e 160
equilíbrio limite
D423 Análise de estabilidade de taludes pelo método de redução de resistência e equilíbrio limite 168
D442 Simulação em elementos finitos de ensaios triaxiais e análise de estabilidade de um talude de areia 174
aluvionar
D451 Avaliação de parâmetros geotécnicos de materiais aflorantes da formação cercadinho por meio de 182
retroanálise de talude de ombreira de barragem

7
Cód. Título do Artigo Pág.
D492 Análise comparativa do fator de segurança de um talude pelos Métodos de Fellenius e Bishop 190
Simplificado para superfície circular, e por Culmann e Jambu Simplificado para uma superfície plana
de ruptura
D534 Estabilidade de taludes tridimensionais com formulação mista da análise limite usando programação 198
cônica de segunda ordem

8
Análise da Aplicação de Técnicas de Bioengenharia no Controle
de Carreamento de Finos em um Solo do Município de Guanambi,
Bahia
Ana Caroline Leite Castro
Discente de Engenharia Civil, Centro Universitário FG - UniFG, Guanambi, Brasil, aclc1809@gmail.com

Débora dos Santos Batista


Discente de Engenharia Civil, Centro Universitário FG - UniFG, Guanambi, Brasil,
dbsantos150@gmail.com

Mateus Ribeiro Caetano


Discente de Engenharia Civil, Centro Universitário FG - UniFG, Guanambi, Brasil,
caetano.mr@outlook.com

Humberto Laranjeira de Souza Filho


Docente de Engenharia Civil, Centro Universitário FG - UniFG, Guanambi, Brasil, humbertolar@gmail.com

Tarcísio Ribeiro Santana


Discente de Engenharia Civil, Centro Universitário FG - UniFG, Guanambi, Brasil,
tata_gbi@hotmail.com.br

Anna Clara Brandão Lima Nascimento


Discente de Engenharia Civil, Centro Universitário FG - UniFG, Guanambi, Brasil,
claralima.gbi@gmail.com

RESUMO: O presente trabalho trata de técnicas de bioengenharia aplicadas a estabilização de solos contra
processos erosivos em um trecho às margens da rodovia estadual BA-573, no município de Guanambi. O
objetivo foi analisar a contribuição das espécies vegetais Cajanus Cajan e Zoysia Japonica em relação ao
carreamento de partículas do solo, considerando fatores naturais da área de estudo. A metodologia consistiu
em coletar amostras de solo no local estudado, seguido da escolha das espécies vegetais, desenvolvimento de
protótipos representativos das condições locais, separação destes em grupos, plantio das espécies e
simulação hídrica. Através deste procedimento, foi verificado que o protótipo sem cobertura vegetal
apresentou elevada quantidade de material carreado, em contrapartida, o protótipo com cobertura vegetal
morta apresentou o melhor desempenho na inteceptação da água durante a simulação hídrica. Também a
implantação das espécies vegetais apresentou resultados satisfatórios. A utilização da espécie Cajanus Cajan
reduziu em 75% o carreamento de material, enquanto a utilização da Zoysia Japonica apresentou redução de
92,8% do transporte de partículas, ambas em relação ao protótipo sem cobertura. O estudo indica também
que, apesar do resultado satisfatório, ainda ocorreu transporte de material, o que pode provocar problemas de
erosão em taludes.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização de solos, Cajanus Cajan, Zoysia Japonica, Erosão pluvial.

ABSTRACT: The present work deals with bioengineering techniques applied to the stabilization of soils
against erosive processes in a stretch along the BA-573 state highway, in the municipality of Guanambi. The
objective was to analyze the contribution of plant species Cajanus Cajan and Zoysia Japonica in relation to
soil particle carrying, considering natural factors in the study area. The methodology consisted of collecting
soil samples in the studied location, followed by the choice of plant species, development of prototypes
representative of local conditions, separation of these into groups, planting of species and water simulation.
Through this procedure, it was verified that the prototype without vegetation cover showed a high amount of
material carried, in contrast, the prototype with dead vegetation cover showed the best performance in the

9
interception of water during the water simulation. The implantation of plant species also presented
satisfactory results. The use of the species Cajanus Cajan reduced material carrying by 75%, while the use of
Zoysia Japonica presented a reduction of 92.8% in the transport of particles, both in relation to the prototype
without covering. The study also indicates that, despite the satisfactory result, material was still transported,
which can cause erosion problems on slopes.

KEYWORDS: Soil stabilization, Cajanus Cajan, Zoysia Japonica, Rain erosion.

1 Introdução

Os taludes ou encostas são superfícies inclinadas em relação ao plano horizontal, constituídos de


material natural, solo, rocha ou ambos, originados de processos geológicos e geomorfológicos, passíveis de
interferência antrópica como cortes, retirada de vegetação natural e sobrecarga (DAS, 2019). A erosão destas
superfícies é frequente, principalmente em áreas montanhosas (SILVA, 2012).
Os processos erosivos ocorrem principalmente pela ação da água das chuvas, que ao cair, desagregam
e fragmentam as partículas de solo, selando a camada superficial do solo, que reduz a capacidade de
infiltração de água e facilita o carreamento de partículas e sedimentos com o escoamento superficial e
subsuperfícial (GUERRA; JORGE, 2012).
Neste sentido, o município de Guanambi, inserido no contexto do clima semiárido, foi classificado por
Costa, Caetano e Clemente (2020), como medianamente estável/vulnerável aos processos de perda natural do
solo. Estes autores verificaram que apesar do processo pedogenético ser predominante na área estudada, a
microbacia hidrográfica do Rio Carnaíba de Dentro, que o município de Guanambi integra, apresenta regiões
susceptíveis a degradação pela ação antrópica, o que justifica a realização deste estudo.
Nesta perspectiva, é necessário adotar métodos de estabilização de taludes de modo a evitar a ação de
agentes intempéries e consequentemente, a ocorrência de processos erosivos. Dentre estes, a bioengenharia
do solo constitui uma técnica natural que combina a utilização de materiais vegetais vivos ou inertes,
combinados ou não com materiais usuais na engenharia (ARAÚJO FILHO; HOLANDA; ANDRADE, 2013;
SOUZA FILHO; SANTOS; CARNEIRO, 2014). A implantação destas técnicas apresenta, em geral, baixo
custo, facilidade de instalação e manutenção, além de boa adequação a paisagem (ARAÚJO FILHO;
HOLANDA; ANDRADE, 2013).
Uma das técnicas de bioengenharia consiste na utilização de vegetação para a estabilização de taludes,
sendo indispensável a análise e escolha adequada das espécies vegetais a serem implantadas, levando em
consideração a adaptação destas ao ambiente local e da área a ser coberta. Assim, haverá uma proteção
efetiva da superfície contra processos erosivos e carreamento de partículas (MORETTO, 2012).
Neste sentido, a presente pesquisa almeja analisar a contribuição da utilização das espécies vegetais
Cajanus Cajan e Zoysia Japonica, popularmente conhecidas como guandu e grama esmeralda, no que diz
respeito ao carreamento de partículas do solo, relacionado a fatores como o escoamento superficial, uso do
solo, parcela de cobertura vegetal, inclinação do terreno e intensidade da precipitação pluviométrica na área
de estudo.

2 Materiais e Método

2.1 Local de Estudo

O local de estudo situa-se no município de Guanambi-BA, caracterizado pelo clima semiárido


predominante e pluviosidade anual média de 500 mm (média calculada entre os anos de 2012 a 2018, com
dados da estação meteorológica de Guanambi) (INMET, 2021). A área de coleta das amostras de solo está
localizada entre as coordenadas geográficas 42°48'11.88"O, 14°10'19.10"S e 42°48'6.68"O, 14°10'29.26"S,
às margens da rodovia estadual BA-573, distante 2,7 km do perímetro urbano da cidade de Guanambi-BA
(Figura 01).

10
Figura 1. Localização da área de estudo.

A coleta de solo foi realizada em um talude com altura de até 4,5 metros (Figura 2) e inclinação média
de 67 graus, em sua extensão de aproximadamente 350 metros, cerca de 70% de sua área encontra-se
descoberta, sem qualquer proteção seja vegetal ou artificial, estando exposto as intempéries e com sinais
físicos de processos erosivos (Figuras 2 e 3).

Figura 2. Talude analisado

Figura 3. Talude com pouca cobertura vegetal e indicações de processo erosivo.

11
A região de estudo possui em seu entorno áreas predominantemente antrópicas pela pecuária, a
vegetação é caracterizada pelo contato entre Savana-Estépica e Floresta Estacional, quando presente. A
pedologia do local é composta por Planossolo Háplico Eutrófico (1°, 2° e 3° nível, respectivamente), com
horizonte de camada fraco a moderado de textura arenosa/média e média/argilosa, estando inserido na região
geomorfológica do Alto-Médio Rio São Francisco, sendo o local pontual a Depressão de Guanambi (IBGE,
2021).
A área de estudo encontra-se em uma região classificada por Costa, Caetano e Clemente (2020) como
sendo Medianamente Estável/Vulnerável em relação aos aspectos envolvidos na perda natural de solo,
prevalecendo o processo de pedogênese na região da bacia hidrográfica em que se insere.
As amostras de solo coletadas foram dispostas em sacos plásticos, de modo a evitar ao máximo a
perda de umidade natural, em seguida, procedeu-se com a pesagem das amostras, onde sucedeu-se a
separação do solo para a confecção dos protótipos.

2.2 Vegetação Aplicada

É fundamental conhecer as condições locais quando se trata da implantação de uma espécie vegetal
que não é natural de uma determinada região. Nesse sentido, a escolha da cobertura vegetal para proteção de
áreas recuperadas ou mesmo degradadas, deve considerar prioritariamente a escolha de espécies naturais do
entorno, caso não seja possível, faz-se necessário o uso de espécies que possuam um elevado fator de
resistência às condições locais (PEREIRA, 2010).
Em acordo com as considerações acerca dos tipos de vegetações, foram empregadas no presente
trabalho as espécies de nome comum “guandu” e a “grama esmeralda”, cujas características estão expressas
na tabela 1.

Tabela 1. Descrição das espécies vegetais empregadas na confecção do protótipo.


Características Quanto ao Uso em Áreas
Classe Nome Comum Nome Científico
Degradadas

Precipitação 500 a 1500 mm/ano; temperatura


entre 20 e 40 °C; fertilidade do solo baixa;
Leguminosa Guandu Cajanus Cajan
tolerância à seca; raízes rasas; propagação por
sementes, formação rápida (EMBRAPA, 2007).

Planta herbácea muito resistente; crescimento


entre 10 e 15 cm de altura; textura bastante
áspera, se comparada às outras gramíneas; se
Gramínea Grama Esmeralda Zoysia Japonica
adapta facilmente em situações de seca
prolongada desenvolvendo raízes mais
profundas (SANTOS, 2019).

Além das espécies anteriormente descritas, foram empregados outros tipos diferentes de cobertura,
sendo estes, matéria vegetal morta, ou seja, folhas e galhos secos, além do solo propriamente exposto para
avaliação do carreamento de finos em diferentes situações.

2.3 Desenvolvimento dos Protótipos

Para a confecção dos protótipos, foram utilizados galões de Polietileno Tereftalato utilizado na
armazenagem de água mineral, cada recipiente possui capacidade de 20 litros. Inicialmente, os galões foram
alocados na posição horizontal, sendo cortados transversalmente acima da abertura do recipiente, foi
empregada altura de corte de 22 centímetros a partir da base do recipiente, conforme a figura 4.

12
Figura 4. Recipiente com corte transversal a 22 cm da sua base.

Também foram confeccionados recipientes de plástico transparente, com capacidade para 1 litro, com
objetivo de armazenar o líquido com o material carreado dos protótipos (Figura 5).

Figura 5. Recipiente para armazenagem de material carreado dos protótipos executados.

Após a realização desse processo, foram dispostos em cada protótipo, três camadas do solo coletado,
compactado com altura de 4,6 cm para cada camada, alocado de modo que ao final do preenchimento das
camadas o nível do solo ficasse abaixo no nível do orifício dos protótipos, sendo que as camadas totalizaram
altura de 14 cm.
Após esse procedimento, os protótipos foram separados em grupos, sendo divididas as unidades para
plantio e cobertura de matéria orgânica morta, e as unidades sem cobertura. O plantio das espécies
escolhidas, procedeu-se pela disseminação da Cajanus Cajan e pela implantação direta no solo das placas de
Zoysia Japonica.
Após realizado esse procedimento, foram cobertos os orifícios dos protótipos, a grama foi exposta à
luz solar, sendo regada duas vezes ao dia, todos os dias, para ocorrência de um enraizamento adequado,
conforme a recomendação do fornecedor comercial das sementes. Já o Guandu ficou exposto ao ar livre e
regado com mais constância do que as gramas (três vezes ao dia) por ser uma leguminosa que se adapta
melhor se plantada durante os períodos de chuva, em que se tem uma maior propagação de água nas
sementes germinadas, conforme preconiza a EMBRAPA (2007).
Os demais protótipos foram dispostos, um com matéria vegetal morta, e o outro apenas com o solo
compactado, como mostra a figura 6. Estes foram necessários para proceder com a comparação entre os
demais protótipos com cobertura de vegetação viva e assim avaliar sua efetividade no controle de
carreamento de finos.

13
Figura 6. Protótipos sem cobertura (a esquerda) e com cobertura de matéria vegetal morta (a direita).

Os protótipos foram posicionados em uma angulação de aproximadamente 20 graus. Os recipientes


foram alocados na região de abertura do protótipo de modo a recolher, durante todo o processo experimental,
o excesso de água proveniente da simulação hídrica.

2.4 Simulação Hídrica

Após o desenvolvimento das espécies pós-plantio, foram realizadas continuamente simulações de


chuva sobre os protótipos através do uso de um regador com capacidade de 2 litros. Os experimentos
receberam a mesma quantidade de água, com cerca de 2 litros em cada, uma vez ao dia, durante três dias de
processo, onde foram observados o escoamento da água incidente nos recipientes de plásticos colocados em
cada protótipo. Ao fim do processo, a cobertura gerada está ilustrada na figura 7.

Figura 7. Protótipos sem cobertura, com cobertura de matéria vegetal morta, com cobertura vegetal Cajanus
Cajan e com cobertura vegetal Zoysia Japonica, respectivamente.

Após a simulação, procedeu-se com as medidas da quantidade de material carreado para cada situação,
de modo que, após o depósito do material no fundo do recipiente, o mesmo foi separado, seco em estufa e
pesado em balança de precisão.

3 Resultados e Discussão

Os resultados obtidos ao final da execução das análises efetuadas com as amostras do solo coletado no
talude estudado e com o material carreado, proveniente das simulações hídricas, feitas em cada protótipo
estão dispostos e descritos a seguir.
A tabela 2 aponta os valores correspondentes as pesagens do solo carreado pela simulação hídrica de
cada protótipo e os pesos dos recipientes de armazenagem.

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Tabela 2. Pesos dos recipientes e do solo carreado, para os diferentes protótipos analisados
Classes Sem cobertura Com Cobertura Morta Esmeralda Gandu
Solo – Recipiente (g) 701,9 - 80,9 79,8 – 70,1 123,5 – 79,1 238,2 – 82,9
Peso Do Solo (g) 621 9,7 44,4 155,3

Os resultados indicam que, os protótipos ausentes de cobertura e o com cobertura de galhos e folhas
secos foram os que apresentaram os valores de maior e menor índice de carreamento do solo durante os três
dias de simulação. O que reforça as afirmações de Figueirôa (2018), que aponta que a erosão do solo ocorre
através do impacto das gotículas de chuva e do escoamento superficial da água.
Através dos resultados encontrados, constatou-se também que as duas técnicas de bioengenharia
(Cajanus Cajan e Zoysia Japonica) aplicadas nos protótipos de representação do talude, obtiveram efeitos
consideravelmente satisfatórios com relação aos protótipos usados como referência (com cobertura de galhos
e folhas secas e sem cobertura).
A figura 8 ilustra a significativa diferença na quantidade do material carreado entre os diferentes
modelos estudados em laboratório, o que evidenciou que a Zoysia Japonica, dentre as técnicas da
bioengenharia foi que mais agiu eficazmente quanto ao processo erosivo, tendo uma notável variação de
92,8%, com relação ao protótipo de pior situação, ou seja, cerca de 14 vezes menos solo carreado. O que não
descarta a possibilidade da utilização do Cajanus Cajan, pois o mesmo também obteve valor
consideravelmente variado no tocante a amostra sem cobertura, sendo essa variação de 75% menos
partículas de finos carreados.

Relação Entre Material Carreado e Cobertura


700
600
500
Peso (g)

400
300
200
100
0
Sem cobertura Com cobertura Esmeralda Gandu
Figura 8. Relação entre peso do material carreado e cobertura vegetal.

Essas soluções se assemelham aos princípios do estudo realizado por Souza Filho, Santos e Carneiro
(2014), em que se destacam os efeitos positivos do uso da vegetação para a estabilização de maciços
terrosos, vistos com base em análises executadas pelo autor, sendo que, a inclusão de raízes tem grande
influência em função de suas dimensões na relação solo-raiz, atuando na coesão de partículas e
consequentemente na resistência ao cisalhamento do solo.

4 Considerações Finais

As diferentes técnicas de engenharia geotécnica para estabilização de taludes apresentadas


neste artigo indicam, através dos resultados encontrados pela análise dos ensaios, que a bioengenharia é uma
ferramenta eficaz na prevenção e no controle do processo erosivo do talude estudado, isso devido à obtenção
de comportamentos próximos ao realista acerca da encosta da rodovia.
Conforme as condições climáticas da região de estudo e a aplicação das espécies Cajanus Cajan e
Zoysia Japonica que melhor apresentaram características de adaptação ao local, evidenciou-se a diferença de
carreamento de finos do solo em questão, indicando que a aplicação da cobertura vegetal constitui uma

15
ferramenta viável, tanto no aspecto técnico quanto na sustentabilidade, em relação a outras técnicas de
contenção de taludes.
Apesar dos bons resultados na técnica de bioengenharia utilizada ao comparar com superfícies sem
cobertura, os testes indicaram pequenos carreamentos de finos, que futuramente poderiam causar uma
vulnerabilidade a erosão no local analisado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Araújo Filho, R. N.; Holanda, F. S. R.; Andrade, K. R (2013). Implantação de técnicas de bioengenharia de
solos no controle da erosão no baixo São Francisco, estado de Sergipe. Scientia plena, v. 9, n. 7 (a).
Disponível em: < https://scientiaplena.org.br/sp/article/view/1029>.
Costa, J. G. S.; Caetano, M. R.; Clemente, C. M. S (2020). Vulnerabilidade natural à perda de solo da
microbacia hidrográfica do Rio Carnaíba de Dentro, semiárido baiano. Revista Verde Grande: Geografia
e Interdisciplinaridade, v. 2, n. 02, p. 28-55. Disponível em: <
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/verdegrande/article/view/2864>.
DAS, B. M (2019). Fundamentos de Engenharia Geotécnica. Cengage, São Paulo.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaria – EMBRAPA (2007). Recomendações práticas para o cultivo
do Guandu. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Brasília, Distrito Federal. Disponível
em: < https://old.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/ct/ct13/02guandu>.
Figueirôa, A. J. T (2018). Bioengenharia na estabilização de taludes: Avaliação experimental da aplicação
de tapetes de grama e pó de coco. Dissertação de mestrado, Programa de Pós Graduação em Engenharia
Agrícola, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife. Disponível em: <
http://www.tede2.ufrpe.br:8080/tede2/bitstream/tede2/7635/2/Antonio%20Jose%20Tadeu%20Figueiroa.
pdf>. Acesso em:
Guerra, A. J. T.; Jorge, M. do C. O (2012). Geomorfologia do Cotidiano – A degradação dos solos. Revista
Geonorte, v. 3, n. 7, p. 116-135. Disponível em: < https://www.periodicos.ufam.edu.br/index.php/revista-
geonorte/issue/view/132>.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Banco de Informações ambientais – BDIA. 2021.
Disponível em: < https://bdiaweb.ibge.gov.br/#/home >.
Instituto Nacional de Meteorologia – INMET. Banco de dados meteorológicos. 2021. Disponível em: <
https://bdmep.inmet.gov.br/>.
Moretto, R. L (2012). Análise dos efeitos da vegetação na proteção de taludes rodoviários e proposição de
alternativas de revegetação na BR-386. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação de
Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre – RS.
Pereira, A. F. S. (2010). Florística, fitossociologia e relação solo vegetação em campo rupestre ferruginoso
do Quadrilátero Ferrífero. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Botânica,
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais.
Santos, E. (2019). Grama esmeralda. Itapetininga, São Paulo. Disponível em: <
http://www.portaldasgramas.com.br/grama-esmeralda>.
Silva, R. A. F. da (2012). Aplicação da engenharia natural na estabilização de taludes. Tese de mestrado.
Centro de Ciências Exatas e da Engenharia, Universidade da Madeira. Funchal, Portugal. Disponível em:
< https://digituma.uma.pt/bitstream/10400.13/535/1/MestradoRubenSilva.pdf>.
Souza Filho, H. L. de, Santos, R. R. A., Carneiro, W. J. de O (2014). A bioengenharia na estabilização de
taludes e encostas naturais da cidade de Salvador – BA. Seminário Estudantil de Produção Acadêmica.
XIII Seminário Estudantil de Produção Acadêmica, Universidade Salvador. Disponível em: <
https://revistas.unifacs.br/index.php/sepa/issue/view/203/showToc>.

16
Análise do Efeito da Sucção na Estabilidade de Taludes por
Software de Equilíbrio Limite
Rodrigo Marques do Nascimento
Professor, Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, Januária, Brasil, rodrigo.nascimento@ifnmg.edu.br

Victor Ferreira Mateus


Engenheiro Civil, Viena Consultoria e Projetos Ltda, Montes Claros, Brasil,
engenheirovictormateus@gmail.com

RESUMO: Os solos não saturados apresentam características e parâmetros geotécnicos distintos quando
comparados com os solos saturados, influenciando no cálculo e dimensionamento de obras que utilizem o
solo como material, sobretudo, devido ao efeito da sucção, presente na situação dos solos não saturados. Os
taludes, tanto os naturais quanto os construídos, se incluem nesse cenário, pois apresentam comportamento
característico, quando sob efeito da sucção. A partir disso, é modelado um talude e busca-se demonstrar seu
comportamento quanto a estabilidade e permeabilidade tanto na condição do solo saturado como para a
condição do solo não saturado com auxílio do software GeoStudio®, o qual utiliza o método de equilíbrio-
limite para cálculo do fator de segurança da estrutura. Por meio da análise, visualiza-se o aumento da
resistência do maciço do talude devido ao efeito da sucção nos solos não saturados, quando comparado a
condição do talude em solo saturado e a diminuição da permeabilidade do solo acima do nível freático,
também ocasionada pelo aumento da pressão negativa da água, em comparação situação do solo saturado.
Conclui-se que a sucção é fator de grande importância na análise da estabilidade de um talude.

PALAVRAS-CHAVE: Sucção, Taludes, Estabilidade, Equilíbrio Limite.

ABSTRACT: Unsaturated soils have different geotechnical characteristics and parameters when compared to
saturated soils, influencing the calculation and design of works that use the soil as material, mainly due to the
effect of suction, present in the situation of unsaturated soils. The slopes, both natural and built, are included
in this scenario, as they present a characteristic behavior when under the effect of suction. From this, a slope
is modeled and seeks to demonstrate its behavior in terms of stability and permeability both in the condition
of saturated soil and in the condition of unsaturated soil with the aid of GeoStudio® software, which uses the
limit-equilibrium method for calculating the safety factor of the structure. Through the analysis, the increase
in the resistance of the slope mass is visualized due to the effect of suction on unsaturated soils, when
compared to the condition of the slope in saturated soil and the decrease in the permeability of the soil above
the water table, also caused by negative water pressure increase compared to saturated soil situation. It is
concluded that suction is a very important factor in the analysis of slope stability.

KEYWORDS: Suction, Slopes, Stability, Limit Equilibrium.

1 Introdução

As condições de contorno que os solos não saturados estão circunscritos diferem das condições dos
solos saturados, implicando distintos parâmetros de resistência, permeabilidade e deformação. A resistência e
permeabilidade, em especial, nos solos não saturados, são afetadas pelo efeito da sucção matricial, que pode
ser entendida, de acordo com Camapun et al. (2015, p.13), como a “pressão isotrópica negativa da água
intersticial do solo devida às forças de capilaridade e de adsorção e que depende da matriz do solo”.
Sabe-se que esse fator influencia diretamente na estabilidade de obras geotécnicas, como, por
exemplo, fundações, obras de contenções, a exemplo dos muros de arrimo, cortinas atirantadas e, em
especial, os taludes, que é objeto de análise nesse estudo.
Vale destacar que talude pode ser considerado como qualquer superfície inclinada de um maciço,
podendo ser de solo ou rocha natural ou construído pelo homem. Quando natural, são também chamados de
encostas e caso produzidos por ação antrópica, são conhecidos como aterros e cortes (GERSCOVICH,
2016).

17
Esse contexto de análise de estabilidade de taludes nas diversas condições que o solo está inserido é
ainda mais importante haja vista que entre 1991 a 2012 registrou-se 699 eventos de movimento de massa no
Brasil (CEPED, 2013).
Em geral, os principais aspectos deflagradores desses movimentos são devido ao aumento da
solicitação por: remoção de massa (erosão, escorregamento, cortes, etc), sobrecarga (peso da água da chuva,
neve, granizo, etc), solicitações dinâmicas (terremotos, ondas, vulcões), pressões laterais (água em trinca,
congelamento, material expansivo) e por ação da redução da resistência devido à característica inerente ao
material (características geomecânica do material, tensões) ou por mudanças ou fatores variáveis
(intemperismo, elevação do nível d’água) (VARNES, 1978).
Diante do exposto, nota-se a direta influência entre as causas das movimentações de massa com o
elemento água, que é a principal variável no que diz respeito ao contexto de solos não saturados. Logo,
caracterizar a estabilidade de talude, passa por entender o comportamento da água, de modo a evitar
problemas de ruptura dessas estruturas de contenção.
Nesse sentido, o objetivo do estudo é demonstrar a influência da condição não saturada na estabilidade
e permeabilidade de um talude, através de um estudo comparativo, onde é realizada a modelagem de um
talude hipotético com solo homogêneo e dimensões predefinidas utilizando o software GeoStudio®,
considerando as condições saturada e não-saturada do solo.

2 Revisão Bibliográfica

No intuito de potencializar o entendimento dos assuntos tratados no estudo, é realizado a seguir uma
revisão bibliográfica com base em livros e normas publicados para descrever os parâmetros de resistência e
permeabilidade solos saturados e, de igual modo, dos solo não saturados, sobretudo, os efeitos da sucção.

2.1 Resistência em Solos Saturados e Não Saturados

A resistência dos solos pode ser entendida como a capacidade de os grãos resistirem, tanto em
situações de compressão quanto de descompressão, a solicitações de cisalhamento, que ocorrerem quando,
por exemplo, há o escorregamento de um talude. Logo, a resistência do solo é equivalente à máxima tensão
de cisalhamento que o solo pode absorver, sem haver ruptura (GERSCOVICH, 2016; PINTO, 2006).
Para aferir numericamente esse valor de resisência, considera-se a parcela de atrito entre as partículas
e a parcela de resistência devido a atração química entre as partículas, que independe da força nomal atuante,
as quais são denominadas de atrito e coesão, respectivamente (PINTO, 2006).
Na geotecnia, para solos saturados, levando em consideração o atrito e coesão, o modelo matemático
frequentimente utilizado para explicar as condições em que acontecem a ruptura dos solos de acordo com
Pinto (2006); Otigão (2007) é a expressão de Mohr-Coulomb, como representada na equação (1):

 = c + tg() (1)

Onde a resistência ao cisalhamento (é equivalente à coesão (c) acrescido da tensão normal (),
multiplicada pela tangente do ângulo de atrito (). Grosso modo, a equação, dada por uma reta, representa a
envoltória de resistência, em que (c) é o intercepto e (), a inclinação da reta. Nesse aspecto, valores de
tensões que estiverem lugar geométrico abaixo da envoltória, se inserem em situações de estabilidade,
estados de tensões coincidentes com a reta representam situações de ruptura, enquanto pontos acima da
envoltória correspondem a estados de tensões impossíveis de ocorrer.
Nos solos não saturados, devido a condição de a água se ascender por capilaridade nos vazios do solo,
haverá a formação de pressão negativa, ou sucção, acima do nível d’água, que será maior tanto quanto menor
o índice de vazios e maior a avidez por água dos minerais do solo, conferindo maior resistência ao solo.
Salienta-se que cada solo, devido a suas características próprias e devido ao balanço hídrico solo-atmosfera
local, apresentará capacidades instrínsecas de reter água em função da profundidade. Para tanto, faz-se
necessário estimar essa relação entre a água retida e a sucção, a qual é feita por meio da curva de retenção,
também denominada de curva característica do material poroso. A curva de retenção é utilizada para estimar
a envoltória de resistência dos solos (LOPES, 2006).
Dado o efeito da sucção, Fredlund e Morgenstern (1977) propõem um modelo para determinar a
resistência dos solos não saturados, equação (2):

 = c +(ua - uw). tg(b ua). tg() (2)

18
Onde  é a tensão normal total; u a, a pressão no ar; u w, a pressão na água; c’ e , os parâmetros
efetivos de resistência de solo saturado; e (b , o parâmetro que representa o ganho de resistência em virtude
do aumento da sucção.
Além disso, o intercepto coesivo c, pode ser descrito pela equação (3):

c = c +(ua - uw). tg(b (3)

No que se refere à permeabilidade, sabe-se que nos solos não saturados, diferente dos solos saturados,
que possuem fluxo constante devido a não alteração do coeficiente de permeabilidade, o fluxo de água é
variável, em função da alteração do grau de saturação do solo, a medida que o fenômeno capilar diminui.
Dado isso, para entender o fluxo de água nos solos, é criada a função de permeabilidade, a qual relaciona a
velocidade de percolação da água nos solos em função da sucção.

2.2 Análise de Estabilidade e Método de Equilíbrio Limite

De acordo com Gerscovich (2016), a análise de estabilidade de taludes consiste em verificar a


possibilidade de ocorrer eventos de movimentação de massa de solos. Na prática, essa teoria se resume em
comparar as tensões cisalhantes atuantes no talude com a resistência ao cisalhamento dessa mesma estrutura.
Essa relação é denominda de fator de segurança, o qual possui valores admissíveis estipulados pela NBR
11682/2009 atrelados ao nível de segurança desejado contra perdas humanas e nível de segurança desejado
contra danos materiais e ambientais. Ambos critérios são subdivididos em nível de segurança alto, médio e
baixo, conforme tabela 1:

Tabela 1. Fatores de segurança mínimos para escorregamentos


Nível de segurança contra
Nível de segurança contra danos a vidas humanas
danos materiais e ambientais Alto Médio Baixo
Alto 1,5 1,5 1,4
Médio 1,5 1,4 1,3
Baixo 1,4 1,3 1,2
Fonte: NBR 11682/2009

De acordo com Massad (2010), para determinar o valor de fator de segurança, os métodos atuais
aplicados na geotecnia partem do princípio de equilíbrio numa massa de solo, tida como corpo rígido-
plástico, na iminência de entrar no processo de escorregamento, os quais são nomeados de “método de
equilíbrio-limite”. Ainda segundo Massad (2010), conhecidas as forças atuantes, resistência ao cisalhamento
do solo (𝝉) e a tensão cisalhante ou resistência mobilizada ( s), o fator de segurança (F) é dado através da
equação de equilíbrio, equação (4):

τ
F = 
s
(4)

O quadro 1 apresenta as variações existentes para se calcular o fator de segurança utilizadno o método
de equilíbrio limite.

Quadro 1. Variantes de métodos de equilíbrio-limite


Método do círculo de atrito
Método de Fellenius
Métodos de
Método Sueco Método de Bishop Simplificado
equilíbrio-limite
Método de Morgenstern-Price
Método das cunhas
Fonte: Massad, 2010.

3 Metodologia

19
O trabalho se inicia através de revisão bibliográfica com base em livros, teses, dissertações e artigos
publicados para descrever as características dos solos não saturados, sobretudo, os efeitos da sucção. Além
disso, com esse levantamento, foram retirados os dados e parâmetros típicos de resistência de um solo silto-
argiloso descrito no trabalho de Bruch (1993, apud SANTOS, 2004), apresentado na Tabela 2:

Tabela 2. Parâmetro do solo analisado.


Tipo de solo θs γ c  (o) b (o) a m n ks
(m³/m³) (kN/m³) (kPa) (m/s)
Silte argiloso 0,534 17 5,0 35 20 31,5 0,297 4,37 1E-8

Onde,
θs : umidade de saturação;
γ : peso específico;
c : coesão;
 : ângulo de atrito;
b : ângulo de atrito associado com a sucção;
a, m e n : parâmetros de ajuste da curva de retenção do modelo de Fredlund e xing (1994);
ks : coeficiente de permeabilidade não saturada.
Salienta-se que, sobre os dados da condição não saturada, a curva de retenção é formada conforme o
modelo de Fredlund e Xing (1994) e a curva de condutividade hidráulica é obtida a partir da curva de
retenção, utilizando também o modelo de Fredlund e Xing (1994).
De posse desses dados, é modelado um talude hipotético com solo homogêneo de 10 metros de largura
do topo do talude, 10 metros de altura do talude, 6 metros de espessura abaixo da cava, inclinação do talude
(V:H) na proporção 1:1,25 e 6 metros de largura na base do talude. Acrescenta-se que a altura de água a
montante é de 10 metros e altura de água a jusante, 4 metros. A Figura 1 representa o talude em questão, com
dimensões em centímetros:

Figura 1. Talude hipotético (Os autores)

A partir disso, é executada a análise da estabilidade, utilizando o método de Bishop, e a análise de


surgência em regime permanente do talude, considerando a condição do solo saturado/não saturado e
saturado, com auxílio do software GeoStudio®.

4 Resultados e Discussões

O primeiro estudo realizado é em relação a permeabilidade do talude na condição saturada em regime


permanente. Para representar os resultados é mostrado o perfil do talude com a indicação dos vetores,
simbolizando a velocidade de percolação da água e as isolinhas das poropressões a cada 20 kPa, estratificada
em cores distintas.
Nesse sentido, percebe-se que a permeabilidade do solo não é alterada no maciço do talude, figura 2.

20
Figura 2. Percolação em Regime Permanente na Condição Solo Saturado (Os autores)

Ao analisar os vetores que representam a velocidade com que a água percola, observa-se que não há
diferenciação quanto ao módulo, para os vetores abaixo ou acima da linha freática, demonstrando que o
coeficiente de permeabilidade não sofre variação quando o solo é considerado saturado.
Na condição não saturada, figura 3, observa-se que acima da poropressão nula, os vetores que
representam a velocidade de percolação da água são diferentes, se comparados com os vetores abaixo da
linha freática.

Figura 3. Percolação em Regime Permanente na Condição Solo Não Saturado (Os autores)

Pode-se visualizar que, a medida que se aumenta a sucção ocorre redução da permeabilidade do
material, ou seja, quanto mais distante do nível freático, menor a permeabilidade. Fato evidenciado pelas
flechas de fluxo.
No que tange as características de resistência, no estudo da estabilidade do talude, utilizando o método
de Bishop, na condição solo saturado, figura 4, o coeficiente de segurança obtido é igual a 1,352.

21
Figura 4. Estabilidade do Talude na Condição Solo Saturado (Os autores)

Ainda no estudo da estabilidade do talude, constatou-se que houve ganho de resistência na situação
não saturada pelo aumento da tensão de sucção do solo acima do nível freático, obtendo, portanto, fator de
segurança superior ao obtido na condição saturada. Nessa situação, o fator de segurança calculado é de
1,580. Conforme apresentado na Figura 5:

Figura 5. Estabilidade do Talude na Condição Solo Não-Saturado (Os autores)

Nessa perspectiva, com base no fator de segurança calculado na condição saturada, de acordo com a
NBR 11682/2009, o talude apresenta nível de segurança médio contra danos materiais e ambientais e nível
baixo contra danos a vidas humanas. Já na condição não saturada, o fator de segurança calculado sugere que
o nível de segurança contra danos materiais e ambientais é considerado alto e o nível de segurança contra
vidas humanas também é considerado alto.

5 Conclusões

Mediante as análises de permeabilidade e estabilidade realizadas em talude hipotético com auxílio do


software GeoStudio® e dados de características e parâmetros de um solo silto-argiloso em literatura
consagrada demonstrou-se, através de modelagem, a influência da sucção nos solos. Analisou-se o
comportamento dos taludes na condição solo saturado e solo não saturado.

22
Nesse sentido, visualizou-se que o aumento da sucção acontece acompanhado da diminuição da
permeabilidade e aumento da resistência. Salienta-se que o fator de segurança calculado na condição
saturada foi igual a 1,352, enquanto na situação do solo não-saturado o fator de segurança obtido foi
equivalente a 1,580. Implica dizer então que a sucção contribuiu para aumento da estabilidade do talude.
Diante do exposto, o estudo contribui na difusão para a comunidade geotécnica dos efeitos da sucção
existentes nos solos não saturados e, sobretudo, quais as diferenças dessa condição quando se compara aos
solos saturados, os quais não sofrem efeito da sucção.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2009) NBR 11682. Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro.
Camapun, J.; Gitirana Jr, G.F.N.; Machado, S.L.; Mascarenha, M.M.A.; Silva Filho, F.C. (2015) Solos não
saturados no contexto geotécnico. São Paulo: ABMS.
Ceped. (2013) Atlas Brasileira de Desastres Naturais: 1991 a 2012. Centro Universitário de Estudos e
Pesquisas sobre Desastres. 2. ed. rev. ampl. Florianópolis: CEPED UFSC.
Fredlund, D. G.; Morgenstern, N.R. (1977) Stress state variables for unsaturated soils. Journal Geotechnical
Div., ASCE, n. 103.
Fredlund, D. G.; Xing, A. (1994) Equations for the soil water characteristic curve. Canadian Geotechnical
Journal, n. 31, v.4, p. 521-532.
Gerscovich, D. M. S. (2016) Estabilidade de taludes. 2. Ed. São Paulo: Oficina de Textos.
Massad, F. (2010) Obras de Terra: Curso Básico de Geotecnia. São Paulo: Oficina de Textos.
Lopes, M. B.L. (2006) Influência da sucção na resistência ao cisalhamento de um solo residual de filito de
Belo Horizonte, MG. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil.
PUC-RJ. Rio de Janeiro.
Ortigão, J. A. R. (2007) Introdução à Mecânica dos Solos dos Estados Críticos. Livros Técnicos e
Científicos Editora, São Paulo – SP.
Pinto, C. S. (2006) Curso básico de mecânica dos solos em 16 aulas. 3ª. Ed. São Paulo: Oficina de Textos,
Santos, C.R. (2004) Análise Paramétrica da Infiltração e sua Influência na Estabilidade de Taludes em Solo
Não Saturado. Dissertação de Mestrado – Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São
Paulo, São Carlos, SP. 104 p.
Varnes, D. J. (1978) Slope moviment types and processes. In: SCHUSTER; KRIZEK (Ed.). Landslides:
analysis and control. Transportation Research Board Special Report, Washington, n. 176, p. 11-33.

23
Influência da Função de Falha no Método Probabilístico das
Estimativas Pontuais Aplicada à Estabilidade
Carina Silvani
Professor, Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, carinasilvani@gmail.com

Amanda de Cantalice Mendes


Graduanda em Engenharia Civil, Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil,
amandadecantalice@gmail.com

João Pedro Camelo Guedes


Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil,
joaopguedes99@gmail.com

Josenildo Medeiros de Oliveira Júnior


Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil,
jnrmdrs1001@gmail.com

Eduardo Antonio Guimarães Tenório


Professor , Centro Universitário Mauricio de Nassau, Maceió, Brasil,
eduardo_agt123@hotmail.com

RESUMO: Visando mensurar a estabilidade das encostas a engenharia geotécnica dispõem de métodos
determinísticos e probabilísticos. O Método das estimativas Pontuais (MEP) é um método probabilístico, que
faz uso de métodos determinísticos como função de falha. Logo esse trabalho objetiva variar as funções de
falha do MEP com intuito de apontar a significância ou não desta variação nos resultados obtidos pelo método.
Para o desenvolvimento deste trabalho utilizou-se dados reais de dois talude situado no município de Maceió
– AL. Os parâmetros geotécnicos dos taludes bem como a sua topografia foram obtidos por meio de pesquisa
na literatura. Para a execução da análise probabilística de estabilidade por meio do MEP utilizou-se os
softwares Excel e GeoSlope. Para função de falha selecionou-se os seguintes métodos determinísticos: Bishop,
Fellenius, Janbu, Morgenstern-Price e Spencer. Independente da função de falha usada as probabilidades de
ruptura foram proximas para ambos os taludes estudados. A análise de variância para um fator indicou que
não há diferença significativa, para um nível de significância de 0,05, entre as probabilidades de ruptura obtidas
com cada uma das 5 distintas funções de falha.

PALAVRAS-CHAVE: Métodos Probabilísticos; Função de Falha; Probabilidade de Falha.

ABSTRACT: To measure slopes stability geotechnical engineering use deterministic and probabilistic
methodologies. Point estimation method (PEM) is a probabilistic technical that uses deterministic slope
stability methods as failure function. This works aims to analyses different failure functions performance to
verify if there is or not a significant variation among them. Data from two slopes located in the city of Maceió,
state of Alagoas, Brazil. Were used. Geotechnical parameters and topography of slopes were got from specific
literatures. GeoSlope and Excel software have been used to performs calculations. Bishop, Fellenius, Janbu,
Morgenstern-Price and Spencer deterministic slope stability methods have been used as failure functions.
Regardless of failure function, failure probabilities were close for both studied slopes. One-way analysis of
variance indicated that there is no significant difference, at a significance level of 0.05, between the failure
probabilities obtained with each of the 5 different failure functions.

KEYWORDS: Probabilistic Methods; Failure Function; Failure Probability.

1 Introdução

24
Países em desenvolvimento, como o Brasil, passam por um processo de urbanização intenso e
desordenado (STEINKE et al., 2007). Esse processo gera ocupações irregulares com áreas de risco, levando a
inúmeras mortes devido aos movimentos de massa (FILHO; CORTEZ, 2010; ALHEIROS, 2011). Acidentes
como este são causados por fatores condicionantes naturais, precipitação, geomorfologia e geologia das
encostas, atividade humana, mudança nos sistemas de drenagem, acúmulo de lixo e terraplenagem
(FERNANDES et al., 2001; SAMPAIO, et al., 2013).
Com o alto índice de mortes por escorregamento na cidade de Maceió, capital do estado de Alagoas, o
governo federal destinou R$11.325.399,96 para implementar obras de contenção de encostas (PORTAL G1,
2019). Rodrigues et al. (2013) realizaram um estudo de análise das áreas de risco de deslizamento na cidade
de Maceió, e encontraram que 16,04% do município é classificado como área de alto risco de movimento de
massa, 37,09% de médio risco, 30,76% de baixo risco e 16,08% de baixíssimo risco.
Os movimentos de massa podem ser classificados em três grandes grupos: escoamento, subsidência e
escorregamento, diferenciando-se pela velocidade da movimentação e pela forma de como a ruptura ocorre. O
escorregamento, tipo de movimento conjunto de solo a ser analisado nesse trabalho, dá-se quando as tensões
cisalhantes são iguais ou superiores a resistência ao cisalhamento, devido ao peso próprio, precipitações e/ou
inclinação da encosta (GERSCOVICH, 2016).
Segundo Aoki (2008), obras de engenharia civil estão sujeitas a aleatoriedade de fatores independentes.
Para avaliação dos riscos de uma obra, faz-se necessária uma abordagem probabilística das variáveis aleatórias
vinculadas ao empreendimento. Em relação à estabilidade de encostas, a aleatoriedade deve-se a natureza do
material, do solo, e aos modelos de cálculo para mensurar a estabilidade.
A análise probabilística permite prever o funcionamento de um determinado experimento, que pode ser
compreendido como um processo aleatório, regido total ou parcialmente pela casualidade (RIBEIRO, 2008).
O resultado de um experimento é a variável aleatória, podendo ser contínua ou discreta. Para esse artigo, o
experimento será a análise de estabilidade de um talude e as variáveis aleatórias serão os parâmetros
geotécnicos e o fator de segurança do talude.
A análise de estabilidade visa mensurar o risco de ocorrer movimentos de massa em um talude, levando
em consideração as características geológicas e físicas do maciço e influências externas. Essa análise pode ser
de forma determinística, assumindo valores únicos e constantes para os parâmetros de resistência do solo, ou
pode ser de forma probabilística, no qual se considera a variabilidade do solo e as incertezas e erros presentes
nos parâmetros (GERSCOVICH, 2016).
Varnes (1978) expõe as principais características que influenciam na estabilidade de um talude: ângulo
de atrito, coesão, pressões neutras, inclinação do maciço e peso próprio. Visando mensurar os erros presentes
nos parâmetros geotécnicos que alimentam os modelos determinísticos, a análise probabilística foi usada na
análise do talude (MORALES, 2013). Para o desenvolvimento de uma análise probabilística, é fundamental
estabelecer uma função de falha g(x) que se trata de uma função de estado limite. Essa função possui
indicadores de confiabilidade () e probabilidade de falha (Pr), a qual seria a probabilidade do equilíbrio do
talude não ser atingido. Como resultado da análise probabilística, tem-se as chances de um talude deslizar
(SANDOVAL, 2012; MORALES, 2013). Dentre os métodos de análise probabilística, destaca-se o método
das estimativas pontuais (MEP).
Portanto, o objetivo desse trabalho é variar as funções de falha do MEP com o intuito de apontar a
significância ou não desta variação nos resultados obtidos pelo método.

2 Metodologia

Para o desenvolvimento deste trabalho foi realizada uma aplicação prática onde comparou-se os
resultados do método das Estimativas Pontuais para diferentes funções de falha Bishop, Fellenius, Janbu,
Morgenstern-price e Spencer, apresentados em ordem de complexidade.

2.1 Aplicação

O talude estudado situa-se na Avenida Pierre Chalita, na cidade de Maceió-AL. Essa região é citada
pela imprensa local (PORTAL G1, 2019) devido a movimentos de massa ocorridos em 2013, 2014, 2015,
2017. A Figura 1 apresenta a localização da avenida e do respectivo talude. Esse talude foi selecionado após
revisão de literatura, onde constatou-se haver dados topográficos e geotécnicos disponíveis e bom acesso ao
talude.

25
Figura 1. Avenida Pierre Chalita e talude estudado

Os parâmetros do talude em estudo foram obtidos por Ramos (2014). O autor desenvolveu ensaios de
cisalhamento direto com diferentes tensões normais de consolidação (23,82 kPa, 47,64 kPa, 95,28 kPa, 190,57
kPa e 381,13 kPa) para determinar a envoltória de resistência. Os parâmetros de resistência do solo estão
dispostos na Tabela 1 e foram obtidos de acordo com o método de Campos e Carrilo (1995). O peso específico
saturado foi obtido pela média dos corpos de prova cisalhados usados no ensaio de cisalhamento direto.

Tabela 1. Parâmetros de resistência mecânica e peso específico do talude estudado

Peso específico c‘  (o)


saturado (kN/m³) (kPa)
20,71 4,15 35,05

Foram analisadas duas seções transversais do talude e suas geometrias juntamente com a delimitação da
região de pesquisa das superfícies de ruptura, isto é, as regiões da seção transversal em que as possíveis
superfícies de ruptura serão traçadas e posteriormente investigadas estão apresentadas na Figura 2. A região
foi delimitada de acordo com seções transversais já rompidas próximo as seções de estudo (RAMOS, 2014).

Figura 2. Região de pesquisa das superfícies de ruptura

2.2 Análise probabilística

26
As análises probabilísticas foram realizadas com o software SLOPE/W GEOSTUDIO 2016 em
computador com CPU CORE 2 QUAD 2.6 GHz e 4GB de memória RAM DDR2.
Para análise pelo métods das Estimativas Pontuais, demanda-se a média e o desvio padrão de todas as
variáveis aleatórias consideradas. As variáveis aleatórias dessa pesquisa foram o ângulo de atrito, a coesão e o
peso específico saturado do solo, sendo essas três variáveis de grande importância na determinação da
probabilidade de falha (MORALES, 2013). Os valores das médias e dos desvio padrões das variáveis foram
extraídos da literatura (FABRÍCIO, 2006; RIBEIRO, 2008; SANDOVAL, 2012; RAMOS, 2014) e estão
dispostos na Tabela 2. Os valores do coeficiente de variação também foram escolhidos com base na literatura
(RIBEIRO, 2008).

Tabela 2. Variáveis aleatórias com médias e desvio padrão

Variáveis c‘ Peso específico


 (o)
aleatórias (kPa) saturado (kN/m³)
Média 35,05 4,15 20,71
Coeficiente de
10% 14% 2%
variação
Desvio padrão 3,505 0,581 0,4142
Fonte: Adaptado de Ramos (2014), Fabrício (2006), Sandoval (2012), Ribeiro (2008)

2.2.1 Análise pelo método das Estimativas Pontuais

O método das Estimativas Pontuais baseia-se na realização de N análises determinísticas com N


conjuntos distintos de argumentos que são montados através da combinação da média dos argumentos mais
ou menos o seu desvio padrão.
Para análise da estabilidade de taludes por esse métodos, tomou-se três variáveis aleatórias (argumentos)
e utilizando da equação (1), têm-se 8 análises (2³).

N = 2n (1)

Portanto, foram realizadas oito análises determinísticas, cada qual com uma combinação de argumentos
distinta. A Tabela 3 mostra todas as combinações.

Tabela 3. Combinações dos argumentos para o método das Estimativas Pontuais

c‘ Peso específico
Combinação  (o)
(kPa) saturado (kN/m³)
1 38,56 4,73 21,12
2 38,56 4,73 20,30
3 38,56 4,73 21,12
4 38,56 4,73 20,30
5 31,55 3,57 20,30
6 31,55 3,57 21,12
7 31,55 3,57 20,30
8 31,55 3,57 21,12

Foi realizada uma análise pelo MEP da seção 1 e uma análise da seção 2 para cada função de falha,
resultando em um total de 80 análises determinísticas.
Cada análise do MEP teve 8 análises determinísticas e resultou em 8 fatores de segurança dos quais
foram calculados a média, o desvio padrão, o índice de confiabilidade (𝛽) e a probabilidade de falha (Pr)
através das equações (2), (3), (4) e (5), respectivamente.

∑𝑁
𝑖=1 𝐹𝑆𝑖
𝐸(𝐹𝑆) = (2)
𝑁

27
𝑁
√∑𝑖=1⋅ 𝐹𝑆𝑖2
𝑠= − |𝐸(𝐹𝑆)|2 (3)
𝑁

𝐸(𝐹𝑆) − 1
𝛽=
𝑠𝐹𝑆 (4)

𝛽
1 𝑧 2⁄
𝑃𝑟 = 1 − ∫ ⅇ− 2 ⅆ𝑧
(5)
−∞ √2𝜋

2.3 Comparação das funções de falha

Por fim, os resultados foram analisados, observando a probabilidade de ruptura do talude por cada
função de falha.

3 Resultados e discussões

3.1 Análise probabilística

3.1.1 Método das Estimativas Pontuais (MEP)

O método das Estimativas Pontuais forneceu os fatores de segurança para a seção transversal 1 e 2
dispostos na Tabela 4 e na Tabela 5, respectivamente.

Tabela 4. FS para a seção tranversal 1 pelo método das Estimativas Pontuais

Morgenstern- Spencer
Combinação Bishop Fellenius Janbu
Price
1 1,001 0,969 0,967 0,997 0,998
2 1,015 0,981 0,979 1,011 1,012
3 0,917 0,855 0,882 0,913 0,914
4 0,928 0,898 0,895 0,924 0,924
5 0,777 0,751 0,749 0,773 0,774
6 0,766 0,742 0,740 0,763 0,764
7 0,857 0,827 0,826 0,854 0,855
8 0,845 0,815 0,814 0,842 0,844

Tabela 5. FS para a seção transversal 2 pelo método das Estimativas Pontuais

Morgenstern- Spencer
Combinação Bishop Fellenius Janbu
Price
1 1,156 1,097 1,093 1,15 1,152
2 1,172 1,113 1,109 1,166 1,168
3 1,060 1,001 0,996 1,056 1,057
4 1,072 1,013 1,008 1,068 1,069
5 0,897 0,851 0,848 0,892 0,893
6 0,885 0,839 0,836 0,880 0,881
7 0,989 0,942 0,939 0,984 0,986
8 0,976 0,929 0,926 0,972 0,973

A análise probabilística dos dados das Tabela 4 Tabela 5 estão apresentados na Tabela 6 e na Tabela 7,
respectivamente.

28
Tabela 6. Análise probabilística pelo método das Estimativas Pontuais da seção transversal 1

Morgenstern-
Função de falha Bishop Fellenius Janbu Spencer
Price
Média do FS 0,8883 0,8585 0,8565 0,8846 0,8856
Desvio padrão 0,0876 0,0848 0,0846 0,0873 0,0872
Coeficiente de
9,86% 9,87% 9,87% 9,87% 9,84%
variação
Índice de
-1,2761 -1,6692 -1,6969 -1,3217 -1,3120
confiabilidade
Probabilidade de
89,90% 95,25% 95,51% 90,69% 90,52%
ruptura

Tabela 7. Análise probabilística pelo método das Estimativas Pontuais da seção transversal 2

Morgenstern-
Função de falha Bishop Fellenius Janbu Spencer
Price
Média do FS 1,0259 0,9731 0,9694 1,0210 1,0224
Desvio padrão 0,1012 0,0956 0,0951 0,1009 0,1012
Coeficiente de
9,86% 9,82% 9,81% 9,88% 9,89%
variação
Índice de
0,2558 -0,2812 -0,3221 0,2082 0,2212
confiabilidade
Probabilidade de
39,91% 61,07% 62,63% 41,75% 41,25%
ruptura

Para a seção transversal 1, a Tabela 6 apresenta resultados estatísticos muito próximo entre os métodos,
com valores extremos de probabilidade de ruptura de 89,90% pelo método do Bishop e de 95,51% por Janbu.
O mesmo ocorre para a seção 2 (Tabela 7), apresentando valores de desvio padrão, média do FS, coeficiente
de variação e índice de confiabilidade bastante próximos, porém as probabilidades de ruptura são bastante
destoantes da seção 1, sendo valores extremos de 39,91% pelo método de Bishop e de 62,63% por Janbu. É
importante ressaltar que as probabilidades de ruptura extremas para as duas seções foram evidenciadas pelos
mesmos métodos (Bishop e Janbu).

3.2 Comparação das funções de falha


Quando comparados os resultados, percebe-se que independente da função de falha usada, as
probabilidades de ruptura indicam o colapso eminente do talude. As funções de falha que forneceram valores
extremos de Bishop e Janbu apresentaram uma amplitude de 5,61%.
Ainda analisando as Tabela 6 e Tabela 7 , pode-se observar que na seção transversal 2, a probabilidade
de ruptura se concentra em 2 grupos: o primeiro formado pelas funções de falha Fellenius e Janbu (próximo
dos 60%) e o segundo grupo formado por Bishop, Morgenstern-Price e Spencer, com probabilidades na ordem
de 40%. Os resultados da seção 1 foram na ordem de 90%, contudo ainda é possível observar o mesmo
comportamento de grupos da seção 2: Fellenius e Janbu próximos a 95% e os demais próximos a 90%.

4 Conclusões

Para as configurações adotadas nesse trabalho, os resultados do método das Estimativas Pontuais foram
bastante semelhantes para as respectivas seções transversais. Conforme demonstrado, a variação da função de
falha não implica em variação significativa da probabilidade de ruptura. Esse fato indica que, para o problema
analisado, pode-se optar por quaisquer funções de falha e ter-se-á um resultado estatisticamente igual ao se
empregar o MEP, porém a generalização desta conclusão pode não ser verdade. Além disso, é válido ressaltar

29
que a representatividade dos resultados das análises é para os valores de coeficiente de variação e de desvio
padrão dos parâmetros dispostos na literatura.
Os métodos determinísticos possuem hipóteses que se adequam melhor às situações para os quais foram
desenvolvidos, sendo, portanto, razoável usar a função de falha cujas hipóteses se adequem ou aproximam-se
da situação em análise.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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30
Análise Numérica da Ruptura do Quebra-Mar do Terminal
Portuário de Sergipe
Pedro Oliveira Bogossian Roque
M.Sc., PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, pedro_roque_93@yahoo.com.br

Celso Romanel
Professor associado, PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, romanel@puc-rio.br

Celso Antero Ivan Salvador Villalobos


PhD Candidate, PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, celsosalvador0513@gmail.com

Jackeline R. Castañeda Huertas


Researcher, PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, jackeline.castaneda@gmail.com

RESUMO: A ruptura do quebra-mar do Terminal Portuário de Sergipe é um evento conhecido entre a


comunidade geotécnica brasileira, tendo proporcionado grande conhecimento acerca do comportamento de
aterros sobre solos moles, embora algumas dúvidas tenham permanecido, uma vez que as retroanálises
divergiram do observado em campo. Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo proceder uma análise
numérica da construção do quebra-mar pelo método dos elementos finitos para compreender os mecanismos
da ruptura. Foi realizada uma análise totalmente acoplada de fluxo e deformação no software PLAXIS 2D,
utilizando os modelos constitutivos Soft Soil Creep e Mohr-Coulomb. A interpretação dos resultados permitiu
verificar que a análise simulou comportamentos que haviam sido levantados como responsáveis pela ruptura.
Foram observados excessos de poropressão gerados na fase de ruptura, além de um comportamento de
amolecimento (strain softening) que, aliado à ruptura progressiva, poderia justificar o motivo das retroanálises
com ganho de resistência não-drenada, calculado pela variação de tensão vertical efetiva terem apresentado
resultados com fatores de segurança elevados. Apesar de terem sido verificadas deformações cisalhantes e
deslocamentos horizontais em ambos os lados do quebra-mar, a hipótese de ruptura compartilhada não pôde
ser verificada, uma vez que a resistência ao cisalhamento foi mobilizada no corpo do enrocamento.

PALAVRAS-CHAVE: Análise numérica, aterro sobre solos moles, construção incremental, quebra-mar,
ruptura de talude.

ABSTRACT: The breakwater failure at the Sergipe Harbor is a well-known event among the Brazilian
geotechnical community, which provided great knowledge about the behavior of embankments on soft soils,
although some questions remain, since the back analysis diverged from the field outcome. In this context, this
work aims to carry out a numerical analysis of the construction of the breakwater using the finite element
method to understand the mechanisms of failure. A fully coupled flow-deformation analysis was performed in
PLAXIS 2D software, using the Soft Soil Creep and Mohr-Coulomb constitutive soil models. The
interpretation of the results allowed to verify that the analysis simulated behaviors that had been raised as
responsible for the failure. Excesses of poropressure were generated in the phase at which failure occurred, in
addition to a strain softening behavior, which, alongside the progressive failure, could justify why the back
analysis considering a gain in undrained strength, calculated by the variation of the vertical effective stresses,
had high values of safety factors as a result. Although shear deformations and horizontal displacements were
verified for both sides of the breakwater, the “shared failure” assumption could not be verified, since the shear
stress was mobilized in the rockfill.

KEYWORDS: Numerical analysis, embankment on soft soils, incremental construction, breakwater, slope
failure.

1 Introdução

A ruptura do quebra-mar do Terminal Portuário de Sergipe (TPS) é um dos eventos mais conhecidos
entre a comunidade geotécnica brasileira. Ocorrido no final da década de 1980, o caso foi tema de diversos
trabalhos publicados na literatura nacional e internacional. A estrutura de enrocamento, composto por uma
berma geotécnica de 5,0 m de espessura e uma berma hidráulica, tinha como finalidade proteger o cais do

31
porto, localizado a mais de 2,0 km da orla em virtude do grande volume de sedimentos carreados ao longo da
praia, e estava assente sobre um perfil de solo com uma camada superficial de areia sobre um depósito de
7,0 m de solo mole (Figura 1).

Figura 1. Localização e seção transversal típica do projeto do quebra-mar do TPS.

A construção da berma geotécnica foi executada com balsas de descarregamento lateral a partir do porto
de embarque provisório. Após um intervalo de cerca de 6 meses questões climáticas, em agosto de 1989, foi
iniciada a construção da berma hidráulica a partir da ponte de acesso ao quebra-mar e, em 12 de outubro do
mesmo ano, ocorreu a ruptura. O estudo do acidente proporcionou grande aprendizado acerca da construção
de aterros sobre solos moles. No entanto, apesar dos avanços, algumas dúvidas sobre a ruptura do projeto
original do quebra-mar permaneceram, uma vez que as retroanálises realizadas tanto em termos de tensões
totais quanto em termos de tensões efetivas, resultaram em fatores de segurança maiores que a unidade.
As hipóteses levantadas para justificar este fato foram (a) a possibilidade de ter ocorrido ruptura
progressiva na argila mole, com perda de resistência pós-pico e redistribuição de tensões cisalhantes; (b) a
possibilidade de terem se desenvolvido excessos de poropressão ao longo da superfície de ruptura, reduzindo
as tensões efetivas atuantes; (c) a possibilidade de ter ocorrido o fenômeno de ruptura compartilhada, ou seja,
a resistência ao cisalhamento não ter se desenvolvido completamente no corpo do enrocamento em virtude do
mecanismo de ruptura.
Neste sentido, o objetivo do presente trabalho é realizar uma retroanálise numérica pelo método dos
elementos finitos (FEM) com o intuito de compreender os mecanismos que levaram o quebra-mar do TPS à
ruptura, utilizando programas e modelos não disponíveis à época do acidente.

2 Características Geotécnicas da Argila Mole de Sergipe

O quebra-mar foi construído sobre uma camada superficial de areia de 4 metros, com NSPT de 6 a 15
golpes sobre uma camada de argila muito mole de 7 metros. Abaixo da camada de argila, existiam depósitos
de areia argilosa e argila arenosa, com NSPT crescente com a profundidade (Figura 2). Esse perfil tinha grande
homogeneidade lateral ao longo de toda a área da obra. A fim de realizar uma caracterização dos materiais,
notadamente da camada de argila mole, foram realizadas várias campanhas de ensaios por diversas instituições,
cujos resultados foram publicados na literatura (Ladd e Lee, 1993; Sandroni et al., 1997; Brugger, 1996).
De acordo com a caracterização realizada, as camadas de areia tinham teor de umidade entre 20 e 30%
e a argila mole tinha teor de umidade médio entre 60 e 70%, com IP de 35% e, em vários pontos, o limite de
liquidez foi superior à 1,0, o que poderia justificar um comportamento metaestável (Sandroni et al., 1997).
As investigações geotécnicas de campo, bem como piezômetros instalados na argila, indicaram um
provável artesianismo da ordem de 28 kPa em virtude de um aquífero de água doce na camada inferior de
areia, confinado pela camada de argila pouco permeável. Esta condição estaria provocando um fluxo de água
doce ascendente na argila, causando a lixiviação dos sais em seus poros, além de reduzir as tensões efetivas e
aumentar a sensibilidade do material.

32
Figura 2. Estratigrafia típica e resultados de caracterização dos materiais da fundação do quebra-mar do TPS.

Ensaios de adensamento permitiram verificar que a argila de Sergipe é levemente pré-adensada


(1 < OCR < 2), com maior OCR no topo, menor entre as elevações -16 m e -17 m e depois crescendo com a
profundidade, indicando que o artesianismo data de uma idade geológica posterior à deposição do material.
A fim de determinar a resistência da argila, foram realizados tanto ensaios de campo (palheta e
piezocone) quanto ensaios especiais em laboratório (triaxiais CIU e CK0U e de cisalhamento simples, DSS).
Para os ensaios em laboratório com trajetória de compressão axial, os valores de resistência não-drenada em
função da tensão confinante do ensaio foi igual a 0,30 para o ensaio CIU, 0,24 para o ensaio CK0U e 0,22 para
o ensaio DSS. Nas trajetórias de tensões dos ensaios triaxiais, o parâmetro de poropressão A de Skempton foi
superior a 1,0, verificando a sensibilidade do material.
Os resultados dos ensaios de palheta indicaram perfil de SuVT crescente com a profundidade, com
valores próximos a 15 kPa no topo da argila e chegando a cerca de 25 kPa na base da camada. Estes valores
não consideram o fator de correção de Bjerrum (μ), igual a 0,8 para a argila de Sergipe (Sandroni, 2012 apud
Schnaid e Odebrecht, 2012). Os resultados dos ensaios CPTU permitiram construit um perfil de NKT
decrescente com a profundidade, variando de 16 no topo até 12 na base, resultado coerente com valores de
outras argilas levemente pré-adensadas da costa brasileira.
A partir dos resultados de ensaios de adensamento edométrico foi possível ainda definir perfis de índices
de vazios iniciais e de índices de compressão e expansão em função da profundidade. Os resultados são
apresentados na Figura 3 em conjunto com interpretações anteriores.

Figura 3. Perfis de e0, Cc e Cs.


3 Simulação Numérica da Construção do Quebra-Mar

A solução numérica da ruptura do quebra-mar do TPS foi realizada utilizando o programa PLAXIS 2D

33
v. 2020. O problema foi simulado no estado plano de deformação e discretizado em elementos finitos
triangulares de 15 nós, gerados de forma automática pelo programa com otimização do refinamento da malha.
A sequência construtiva foi adotada de acordo com o cronograma da obra apresentado por Sandroni
(2016). O carregamento e o adensamento da berma geotécnica totalizaram 175 dias. O carregamento da berma
hidráulica demorou 55 dias e foi dividido em 8 fases na simulação. As fases de carregamento foram do tipo
totalmente acoplada de fluxo e deformação, empregada quando há a necessidade de se avaliar simultaneamente
a evolução de deformações e das poropressões em solos saturados ou parcialmente saturados.
A argila da fundação do quebra-mar foi dividida em 7 subcamadas de 1,0 m de espessura cada e
representada utilizando tanto o modelo Mohr-Coulomb, quanto o modelo Soft Soil Creep. Esta distinção foi
necessária já que, neste último modelo, a análise não drenada é disponibilizada apenas em termos de tensões
efetivas.
Nas análises em termos de tensões totais, foram adotados os valores de Su de palheta com e sem a
correção de Bjerrum, e considerando ou não um ganho de resistência em virtude do carregamento da berma
geotécnica. O ganho foi calculado em função da variação das tensões verticais efetivas calculadas a partir do
processamento e evolução das etapas do modelo numérico.
O modelo Soft Soil Creep é aplicado a solos moles de alta compressibilidade, adequado a trajetórias de
tensões de compressão, como é o caso de construção de aterros. O modelo é uma variação do modelo Soft Soil,
que por sua vez é baseado no modelo Cam-Clay Modificado considerando uma relação logarítmica entre a
tensão efetiva média p’ e a deformação volumétrica ao invés do índice de vazios.
A Tabela 1 apresenta os parâmetros geotécnicos adotados para as subcamadas de argila com base nos
resultados de ensaios de campo e de laboratório. O valor de φcv foi determinado por meio de análise das curvas
tensão versus deformação determinadas em ensaios de laboratórios da COPPE e da PUC-Rio. Buscou-se obter
uma concordância das curvas experimentais com as curvas teóricas do modelo mediante a calibração das
curvas usando a ferramenta SoilTest do PLAXIS 2D, obtendo-se finalmente o valor φcv = 18º.

Tabela 1. Parâmetros geotécnicos adotados para as subcamadas de argila.


Modelo Mohr-Coulomb Modelo Soft Soil Creep
𝜸𝒔𝒂𝒕 𝒌𝒗𝟎 E’ 𝑺𝒖,𝑽𝑻 𝝁𝑺𝒖
Subcamada 𝒆𝟎 𝒄𝒌 𝝂′ 𝝀∗ 𝜿∗ 𝝁∗ 𝑲𝑵𝑨
𝒐 𝑶𝑪𝑹
(kN/m³) (m/s) (kPa) (kPa) (kPa)
Argila 1 1,7 0,85 5800 15,5 12,4 0,16 0,032 0,69 1,70
Argila 2 1,8 0,90 6000 15,5 12,4 0,16 0,032 0,69 1,55
Argila 3 1,9 0,95 6400 16,8 13,4 0,15 0,030 0,69 1,50
Argila 4 16,0 1,5 x10-9 1,9 0,95 6700 0,25 19,3 15,4 0,15 0,030 0,006 0,65 1,50
Argila 5 1,8 0,90 7000 21,8 17,4 0,15 0,030 0,65 1,55
Argila 6 1,7 0,85 7200 23,0 18,4 0,15 0,030 0,65 1,55
Argila 7 1,6 0,80 7500 23,0 18,4 0,15 0,030 0,69 1,60

As camadas de areia e o enrocamento foram simuladas utilizando o modelo elasto-perfeitamente


plástico de Mohr-Coulomb. A Tabela 2 apresenta os parâmetros adotados nas análises para estes materiais.

Tabela 2. Parâmetros geotécnicos adotados para as camadas de areia e enrocamento


𝜸𝒔𝒂𝒕 𝑬′ 𝒄′ 𝝋′ 𝝍 𝒌
Material 𝝂 𝑲𝟎
(kN/m³) (MPa) (kPa) (º) (º) (m/s)
Areia superior 20,0 20,0 0,3 0,47 0 32 2 1,0 x 10-6
Areia inferior 20,0 50,0 0,3 0,43 0 35 5 1,0 x 10-6
Enrocamento 18,0 20,0 10,0 0,3 0,2 51 15 1,0 x 10-1

4 Análise dos Resultados

4.1 Deslocamentos horizontais

Os deslocamentos horizontais calculados no modelo foram comparados com os resultados do


inclinômetro instalado na estação instrumentada STA1, localizado no lado da terra do quebra-mar. Foram
percebidos movimentos crescentes até a ruptura. A concordância entre a análise numérica com os resultados
da instrumentação não foi satisfatória, fato justificado por incertezas a respeito da localização exata do
instrumento, das datas nas quais as leituras foram efetuadas, além da verificação após a ruptura de estar

34
espiralado. A Figura 4 apresenta os perfis de deslocamentos horizontais medidos pelo inclinômetro da STA1
(cuja posição é indicada em vermelho no primeiro gráfico) e calculados numericamente em diferentes
momentos da construção do quebra-mar.

Figura 4. Perfis de deslocamentos horizontais medidos pelo inclinômetro da STA1 e calculado


numericamente em diferentes tempos para o quebra-mar do TPS.

4.2 Poropressões

As poropressões calculadas na simulação numérica foram coerentes com os resultados esperados,


demonstrando aumento de poropressões nas fases de carregamento e dissipações na fase de adensamento da
berma geotécnica. Esta dissipação foi maior junto às fronteiras drenantes e menor nas camadas centrais da
argila. Foi possível observar ainda que foram gerados excessos de poropressão ao longo da superfície de
ruptura, diminuindo as tensões efetivas atuantes. A Figura 5 apresenta os excessos de poropressão em função
do tempo.

Figura 5. Excessos de poropressão em diferentes profundidades da camada de argila em função do tempo.

4.3 Deformações Cisalhantes Incrementais

A análise das deformações cisalhantes incrementais, em conjunto aos resultados de deslocamentos


horizontais, permitiu verificar que estavam sendo formadas duas superfícies de ruptura simultaneamente, uma
para o lado do mar e uma para o lado da terra. A Figura 6 apresenta o campo das deformações cisalhantes
incrementais em diferentes fases da simulação numérica, mostrando as duas potenciais superfícies de ruptura
e, na última fase da simulação, a superfície totalmente desenvolvida para o lado do mar, conforme ocorrera
em campo.

35
Figura 6. Campo das deformações cisalhantes incrementais em diferentes fases da simulação numérica.

Entretanto, isto não implica que a resistência ao cisalhamento não foi mobilizada no enrocamento. A
análise da trajetória de tensões efetivas calculada para um ponto neste material indica que as tensões de desvio
máximas foram mobilizadas (Figura 7.a). A Figura 7.b apresenta o campo das tensões cisalhantes relativas,
τrel, dada pela razão entre as tensões mobilizadas, τmob, e máximas admissíveis, τmáx, na penúltima fase da
simulação numérica. É possível observar que, antes mesmo da ruptura, as tensões relativas foram iguais a 1,0
em quase todo o corpo do quebra-mar.

Figura 7. (a) Trajetória de tensão efetiva no enrocamento do quebra-mar; (b) Campo das tensões cisalhantes
relativas na Fase 09 na simulação numérica. A região em vermelho indica τrel = 1,0.

4.4 Trajetórias de Tensões Efetivas

As trajetórias de tensões efetivas calculadas pelo modelo numérico para pontos localizados na argila
foram coerentes com as esperadas no caso de aterros sobre solos moles. A partir de sua interpretação, foi
possível verificar que as subcamadas de argila próximas às fronteiras drenantes já se encontravam na condição
adensada quando a execução da berma hidráulica foi iniciada, levando a deformações plásticas desde o início
de sua construção.
O comportamento após a ruptura observado permitiu identificar a ocorrência de um amolecimento
(strain softening). Esta perda de resistência pós-pico, aliada à redistribuição de tensões cisalhantes após a
ruptura, está ligada ao fenômeno de ruptura progressiva (Leroueil et al., 2012).
A Figura 8 apresenta trajetórias de tensões efetivas no diagrama p’ versus q em três pontos da camada
de argila localizados na superfície de ruptura. Em cada gráfico são apresentadas ainda a envoltória de ruptura

36
de Mohr-Coulomb (em preto), a linha do estado crítico (em vermelho) e a elipse que define a superfície de
escoamento inicial (em cinza) de cada ponto.

Figura 8. Trajetórias de tensões efetivas em pontos da camada de argila localizados na superfície de ruptura.

4.5 Fatores de Segurança

Os resultados de fatores de segurança calculados nas análises numéricas de estabilidade mostram


diminuição dos valores à medida que a altura do quebra-mar aumenta (Figura 9). Quando a argila foi
representada pelo modelo Mohr Coulomb, com parâmetros de resistência em termos de tensões totais, os
fatores de segurança foram próximos aos resultados das análises por equilíbrio limite com parâmetros não-
drenados (Sandroni, 2016). Sempre que um ganho de resistência (ΔSu) foi aplicado, os fatores de segurança
foram superestimados. Isto permite conjecturar que (a) não houve ganho de resistência e o fator de correção
de Bjerrum deveria ser um pouco maior que o adotado; (b) o ganho de resistência foi muito inferior ao
calculado com base na variação de tensão vertical efetiva; ou (c) apesar do ganho de resistência, o
comportamento sensível da argila fez com que a resistência de fato mobilizada no momento da ruptura fosse
inferior à de pico.

Figura 9. Fatores de segurança obtidos em função da altura da berma hidráulica para cada análise.

O fator de segurança obtido na análise utilizando o modelo Soft Soil Creep (resistência em termos de
tensões efetivas) resultou em valor igual a 0,986 na última fase de carregamento da berma hidráulica. O
resultado divergiu consideravelmente das retroanálises realizadas por equilíbrio limite. Esta diferença pode ser
explicada pela geração de excessos de poropressão maiores durante o cisalhamento e a simulação de um
comportamento strain softening do material. A interpretação das trajetórias de tensões efetivas em pontos
selecionados ao longo da superfície de ruptura permitiu verificar que a tensão de desvio final foi inferior à
máxima registrada durante a simulação numérica.

37
5 Conclusões

As análises numéricas da construção do projeto original do quebra-mar do TPS tiveram por objetivo
compreender melhor os mecanismos que levaram à ruptura da estrutura, à luz de modelos constitutivos e
ferramentas de análise por elementos finitos não disponíveis à época do acidente e capazes de simular
comportamentos de solos com impacto significativo no resultado de análises geotécnicas de estabilidade e de
deformações. Desta forma, os resultados obtidos neste trabalho foram satisfatórios, uma vez que os principais
aspectos do caso foram contemplados nas análises, em termos de deslocamentos, deformações, poropressões
e da própria estabilidade da estrutura.
A interpretação das análises apontou para a hipótese de que as poropressões atuantes na camada de
argila no momento da ruptura foram superiores àquelas adotadas nas retroanálises por equilíbrio limite com
base nas leituras dos piezômetros.
Além disso, a utilização do modelo Soft Soil Creep permitiu simular um comportamento de
amolecimento (strain softening), com perda de resistência após o pico. Esta propriedade de materiais
geotécnicos geralmente é condicionante para a estabilidade da obra, uma vez que, quando associada à
redistribuição de tensões cisalhantes ao longo da superfície de ruptura, pode provocar uma ruptura progressiva.
As análises utilizando o modelo de Mohr-Coulomb, com diferentes valores de Su, resultaram em fatores
de segurança similares àqueles obtidos em análises por equilíbrio limite. A interpretação mais plausível destes
resultados indica que, apesar do ganho de resistência em virtude do adensamento da camada de argila, o
comportamento sensível desta levou a uma resistência ao cisalhamento amolgada muito inferior à de pico.
Apesar de terem sido observados deformações cisalhantes e deslocamentos horizontais de magnitude
significativa para ambos os lados do quebra-mar, a hipótese de ruptura compartilhada não pôde ser
devidamente verificada. A análise das trajetórias de tensões e as tensões cisalhantes relativas no enrocamento
indicam que a resistência ao cisalhamento foi mobilizada no corpo do enrocamento.

AGRADECIMENTOS

À PUC-Rio e aos professores Sandro Sandroni e Willy Lacerda. O presente trabalho foi realizado com
apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de
Financiamento 001.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brugger, P. J. (1996) Análise de deformações em aterros sobre solos moles. Tese de Doutorado, Universidade
Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), Rio de Janeiro, Brasil.
Brugger, P. J.; Almeida, M. S. S., Sandroni, S. S.; Lacerda, W. A. (1998) Numerical analysis of the breakwater
construction of Sergipe Harbor, Brazil, Canadian Geotechnical Journal, 35, 1018-1031.
Ladd, C. C.; Lee, S. M. (1993) Engineering properties of Sergipe Clay: TPS Progress Rept. No. 4. Research
Rept R93-07, Dept. of Civil and Environmental Eng., MIT, 200 p.
Leroueil, S.; Locat, A.; Eberhardt, E.; Kovacevic, N. (2012) Progressive failure in natural and engineered
slopes. In: Eberhardt EB et al. (eds) Landslides and engineered slopes: protecting society through improved
understanding. CRC Press, p. 31–46. Leiden.
Sandroni, S. S. (2016) Novo Projeto do quebra-mar de Sergipe depois da ruptura durante a construção, in Willy
Lacerda: doutor no saber e na arte de viver, Ed. Geobrugg, Rio de Janeiro, p. 326-336.
Sandroni, S. S.; Brugger, P. J.; Almeida, M. S. S.; Lacerda, W. A. (1997) Geotechnical properties of Sergipe
clay. Proceedings of the Int. Symp. Recent Develop. Soil Pav. Mech., Rio de Janeiro, p. 271-277.
Sandroni, S. S.; Lacerda, W. Tassi, M. (2018) Landslide during construction of a rockfill breakwater in the
coast of Sergipe, Brazil. International Symposium on Field Measurements in Geomechanics. Rio de
Janeiro.
Schnaid, F.; Odebrecht, E. (2012) Ensaios de Campo e suas aplicações à Engenharia de Fundações. 2ª edição.
Oficina de Textos. São Paulo.

38
Influência da fundação de uma barragem de terra utilizada para
deposição de rejeito e água na análise tensão-deformação

Isabela Grossi da Silva


Engenheira Civil Geotécnica, G5 Engenharia, Curitiba, Brasil, isa.grossisilva@gmail.com

Marcio F. Leão
Geólogo-Geotécnico, Tractebel, Belo Horizonte, Brasil, marcio.leao@tractebel.engie.com

Andressa Samistraro Nogueira


Graduanda de Engenharia Civil, G5 Engenharia, Curitiba, Brasil, asn@g5engenharia.com.br

RESUMO: O comportamento das barragens de rejeito ainda é um assunto relativamente novo no meio
geotécnico com diversos assuntos a serem estudados. O objetivo do artigo foi analisar o comportamento
tensão-deformação de uma barragem de contenção de rejeitos e água com cerca de 50 m de altura na seção
crítica de maior altura, considerando diferentes cenários em relação à presença ou não de descontinuidade na
fundação, bem como a direção e mergulho dessa. Foram analisados 4 cenários, sendo um deles de referência,
isto é, fundação sem descontinuidade, o segundo com descontinuidade horizontalizada e os demais com
presença de descontinuidade com mergulho para montante e para jusante em relação ao eixo da barragem.
Verificou-se que a presença de descontinuidade na fundação interfere no comportamento tensão-deformação
da barragem, sendo o perfil de deslocamento amplamente modificado e há concentração de tensão e
deformação cisalhante pela presença deste elemento na fundação.

PALAVRAS-CHAVE: Barragem, Rejeito, Tensão-deformação, Fundação, Descontinuidade.

ABSTRACT: The behavior of tailings dams is still a relatively new subject in the geotechnical environment
with several subjects to be studied. The article analyzed the stress-strain behavior of a tailings and water
containment dam with a height of about 50 m in the highest critical section, considering different scenarios
in relation to the presence or not of discontinuity in the foundation, as well as the direction and dive of this
one. Four scenarios were analyzed, one of them being a reference, that is, foundation without discontinuity,
the second with horizontal discontinuity and the others with the presence of discontinuity with dip upstream
and downstream in relation to the dam axis. It was found that the presence of discontinuity in the foundation
interferes with the stress-strain behavior of the dam, with the displacement profile being widely modified
and there is a concentration of stress and shear strain due to the presence of this element in the foundation.

KEYWORDS: Dam, Tailing, Stress-Strain, Foundation, Discontinuity

1 Introdução

A Lei 14.066 de 2020 sobre a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) estabelece a
definição de barragem como “qualquer estrutura construída dentro ou fora de um curso permanente ou
temporário de água, em talvegue ou em cava exaurida com dique, para fins de contenção ou acumulação de
substâncias líquidas ou de misturas de líquidos e sólidos, compreendendo o barramento e as estruturas
associadas” (Brasil, 2020).
Dentre os diferentes tipos de barragens, estão as barragens de aterro que podem ser de seção homogênea
ou zoneada. As barragens de seção homogênea são as barragens de terra que podem ter ou não elementos
filtrantes em seu interior a depender do estudo de percolação. As barragens zoneadas são, normalmente, as de
enrocamento que possuem um núcleo considerado impermeável (argila, material asfáltico ou face de concreto)
e os taludes de material permeável.
As barragens de terra homogêneas com elementos drenantes possuem um filtro, que pode ser vertical
ou inclinado, ligado a um filtro horizontal ou tapete drenante abaixo do seu talude de jusante com o objetivo
de guiar a água percolada pela barragem para fora da estrutura de forma segura. Além disso, em parte de sua
face de montante apresenta-se o rip-rap que é composto por material granular que impede a erosão da região
do talude sujeita a onda do reservatório.
Magalhães (2017) comenta que características da fundação, como deformabilidade e permeabilidade,
influenciam na seleção do tipo de barragem. Por exemplo, barragens de terra podem ser assentadas em
39
fundações menos resistentes e mais deformáveis quando comparado com barragens de enrocamento e de
concreto. Além disso, as características de resistência da fundação podem condicionar a declividade dos
taludes da barragem, fator importante para definição da seção da barragem. Quando barragens de aterro são
assentadas sobre fundações rochosas, dificilmente se tem problemas relacionados à resistência deste material.
Neste caso, torna-se importante avaliar a percolação de água através de fissuras e porosidade da rocha. A
determinação da permeabilidade dos terrenos rochosos é feita por ensaios de perda d´água, sob pressão,
realizados em furos de sondagens rotativas (Soares, 2010).
As fundações das barragens devem ser identificadas quanto a sua geologia e propriedades, como
resistência, deformabilidade e permeabilidade. É importante mapear seu fraturamento e evidências de
movimentações precedentes (Soares, 2010), quando a fundação é composta por maciços rochosos.
Soares (2010) afirma que as fundações são consideradas uma das principais condicionantes ao
desenvolvimento de acidentes em barragens, sejam estas construídas com rejeitos ou por meio das técnicas
convencionais. O autor ainda afirma que a fundação da barragem deve proporcionar um suporte estável das
estruturas sob condições de carregamento e saturação, sem sofrer deformações excessivas, uma vez que essas
deformações tenderiam a resultar no desenvolvimento de fraturas no corpo das barragens resultantes do
recalque diferencial.
Neste intuito, o mapeamento geológico da fundação da barragem e da área alagada pelo reservatório
tem extrema relevância quanto ao adequado comportamento da estrutura. Caso não seja realizado a
caracterização desta região, descontinuidades presentes na fundação podem comprometer seu desempenho.
Isto é, mesmo que a rocha predominante na fundação tenha parâmetros geotécnicos considerados adequados
ao empreendimento implantado, as descontinuidades presentes nesses locais podem condicionar o
comportamento da estrutura. Quando o mapeamento geológico é realizado e são identificadas fraturas ou
descontinuidades na fundação, são previstos tratamentos locais com o objetivo de aumentar a resistência do
maciço e/ou diminuir a permeabilidade do material ou mesmo controlar o fluxo de água que percola pela
fundação.
Este trabalho tem o intuito de apresentar a influência da presença de descontinuidade na fundação de
uma barragem de terra utilizada para deposição de água e rejeito em relação à análise de tensão-deformação.

2 Metodologia

Inicialmente foi definida a seção da estrutura, bem como os parâmetros geológico-geotécnicos para as análises.
A barragem de terra é de seção homogênea com elementos drenantes em seu interior e proteção em
determinada parte da sua face de montante (Figura 1). A estrutura é assentada sobre filito com marcantes
descontinuidades. Foi também realizada verificação da influência do mergulho da descontinuidade para o
comportamento tensão-deformação da estrutura.

Rip-rap

Aterro da
barragem

Filtro/tapete drenante Dreno de pé

Fundação

Figura 1. Seção transversal da barragem e seus elementos constituintes.

2.1 Propriedades geotécnicas

Os materiais do aterro da barragem, os sistemas drenantes e a fundação da barragem foram considerados


com comportamento constitutivo regido por Mohr-Coulomb no regime elástico. Para a descontinuidade se
utilizou o modelo de Barton-Bandis.
Mohr-Coulomb define que a tensão cisalhante (𝜏) é composta por uma parcela de coesão (c) somada ao
produto da tensão normal atuante (𝜎) pela tangente do ângulo de atrito (∅), conforme Equação 1.
40
𝜏 = 𝑐 + 𝜎. 𝑡𝑔∅ (1)

O critério de Barton-Bandis (1982) foi criado de forma empírica a partir de ensaios de cisalhamento em
juntas artificiais, para determinação da resistência ao cisalhamento de descontinuidades que apresentam
rugosidade (Equação 2), onde τ é a resistência ao cisalhamento, σn é a tensão normal, φ é o ângulo de atrito
básico da rocha intacta, JRC é o coeficiente de rugosidade da junta e JCS é a resistência à compressão uniaxial
das paredes das descontinuidades. O valor de JCR é obtido por comparação visual entre a rugosidade padrão
e existente. O JCS é determinado através de medição em campo.

𝐽𝐶𝑆
𝜏 = 𝜎𝑛 𝑡𝑔 [𝐽𝐶𝑅. 𝑙𝑜𝑔10 ( 𝜎 ) + 𝜑] (2)
𝑛

Os parâmetros foram obtidos de ensaios de laboratório. No entanto, como o foco do trabalho é a análise
de tensão-deformação em função da presença de descontinuidades, são exibidos apenas os valores na Tabela
1. O aterro da barragem foi classificado como um solo argilo-siltoso; o rejeito é proveniente de minério de
ferro; a fundação é de filito; a descontinuidade presente na fundação de filito teve parâmetros obtidos através
das observações em campo do mapeamento geológico realizado; e, os parâmetros dos materiais do sistema
drenante e de proteção (areia e enrocamento) são os usualmente empregados para tais finalidades.

Tabela 1 – Parâmetros do aterro da barragem.


Estrutura
Parâmetro Unidade
Aterro da barragem Rejeito
Peso específico 19 26 kN/m³
Coesão 20 0 kPa
Ângulo de atrito 25 35 Graus
Módulo de elasticidade 20 10 MPa
Coeficiente de Poisson 0,33 0,30 -
Coeficiente de permeabilidade 3,60E-08 2,25E-06 m/s
Parâmetro Enrocamento Areia Unidade
Peso específico 23 21 kN/m³
Coesão 0 0 kPa
Ângulo de atrito 40 30 Graus
Módulo de elasticidade 110 100 MPa
Coeficiente de Poisson 0,30 0,30 -
Coeficiente de permeabilidade 1,00E+00 1,00E-04 m/s
Parâmetro Fundação de filito Unidade
Peso específico 22 kN/m³
Coesão 48 kPa
Ângulo de atrito 27 Graus
Módulo de elasticidade 70 MPa
Coeficiente de Poisson 0,20 -
Coeficiente de permeabilidade 5,0E-06 m/s
Parâmetro Descontinuidade Unidade
JCS 10 MPa
JRC 4 -
Ângulo de atrito 0 Graus
Módulo de elasticidade 3 MPa
Coeficiente de Poisson 0,20 -
2.2 Análise numérica
Para a análise tensão-deformação foi utilizado o software RS2 da Rocscience®. Os cenários analisados,
considerando a presença ou não de descontinuidade, bem como a influência do mergulho são apresentados na
Figura 2. O cenário 1 é referencial para os demais, por não apresentar descontinuidade (Figura 2A). No cenário
2, há presença da descontinuidade horizontal a 10 m de profundidade (Figura 2B). O cenário 3 possui a
descontinuidade com mergulho a jusante com 30° (Figura 2C). Por fim, no cenário 4 a descontinuidade possui
mergulho a montante de 30° (Figura 2D). A cota máxima de disposição do rejeito foi 371,50 m, 2 m abaixo
da cota da crista da barragem.
41
No programa de análise numérica utilizado, ao inserir uma descontinuidade no modelo é necessário
definir a condição de extremidade desse material, sendo que extremidade fechada significa que não há
movimento relativo (deslizamento ou abertura) nos pontos extremos da junta e a condição aberta permite
movimento relativo (RS2 ROCSCIENCE, 2022). No presente estudo não foi considerado movimento relativo
na descontinuidade, pois a seção foi modelada grande o suficiente para simular essa condição.
A) Cenário 1 – referência – sem descontinuidade B) Cenário 2 – descontinuidade horizontal a 10 m de
profundidade

C) Cenário 3 – descontinuidade com mergulho a jusante D) Cenário 4 – descontinuidade com mergulho a


de 30° montante de 30°

Figura 2. Cenários analisados.

Em relação à malha de elementos finitos utilizada, optou-se por uma graduada com elementos
triangulares de 6 nós (Figura 3A). As condições de contorno utilizadas para a percolação foram livre no talude
de montante da barragem e carga de água na EL. 372 m sobre o rejeito (Figura 3B) para o estágio final. As
restrições aplicadas foram de livre movimentação na superfície e restrições em XY na lateral e base do modelo
(Figura 3C).

A) Relacionada à malha

B) Relacionada à percolação

C) Relacionada aos deslocamentos

Figura 3. Característica do modelo.


3 Resultados

Os resultados obtidos são apresentados de maneira comparativa em relação: aos deslocamentos verticais
e horizontais, tensão efetiva média e deformação máxima cisalhante para os 4 cenários simulados.
A Figura 4 apresenta os deslocamentos verticais obtidos com o modelo numérico. O cenário 1 resultou
em recalque máximo de 1,39 m (Figura 4A), o cenário 2 de 1,68 m (Figura 4B), o cenário 3 de 1,88 m (Figura
4C) e o cenário 4 de 1,80 m (Figura 4D). A região que resultou o maior recalque variou em relação aos cenários
executados. Para o cenário 1 e 2, a região com maior deslocamento vertical foi central do rejeito e no espaldar
de montante da barragem. Para o cenário 3 e 4, o perfil de deslocamento modifica drasticamente e a região
42
central do aterro da barragem, na qual a descontinuidade está localizada, obteve os maiores recalques,
indicando que o mergulho da descontinuidade interfere em tal resultado. Além disso, observa-se que em todos
os cenários o terreno apresentou sobre-elevação do terreno a montante do rejeito e na fundação a jusante da
barragem.

A) Cenário 1

B) Cenário 2

C) Cenário 3

D) Cenário 4

Figura 4. Deslocamento vertical.

A Figura 5 apresenta a distribuição dos deslocamentos horizontais na seção analisada, sendo estes
distintos para cada cenário. Em todos os cenários o maior deslocamento foi no sentido de jusante da barragem
(valor positivo) e o deslocamento horizontal resultante do cenário 2 foi consideravelmente maior quando
comparado com os demais, indicando que para este caso a presença de descontinuidade horizontalizada seria
a pior situação. O cenário 1 resultou em deslocamento máximo de 0,37 m na região central do espaldar de
jusante da barragem (Figura 5A). O cenário 2 apresentou deslocamento de 1,53 m na região da descontinuidade
localizada abaixo do espaldar de jusante da barragem (Figura 5B). Já para o cenário 3 o deslocamento foi de
0,78 m na região central da descontinuidade (Figura 5C). Por fim, o cenário 4 mostrou deslocamento de 0,46 m
na região central e inferior a descontinuidade (Figura 5D).

43
A) Cenário 1

B) Cenário 2

C) Cenário 3

D) Cenário 4

Figura 5. Deslocamento horizontal.

A Figura 6 exibe disposição da tensão efetiva média para os cenários analisados. Pela Figura 6A se
observa que no cenário de referência não há concentração de tensão na barragem. A presença de
descontinuidade com mergulho horizontal (Figura 6B) altera pouco o perfil de tensão e a presença de
descontinuidade com diferentes mergulhos (Figura 6C e D) gera concentração de tensão na região desse
elemento no limite do contorno do modelo.

A) Cenário 1

44
B) Cenário 2

C) Cenário 3

D) Cenário 4

Figura 6. Tensão efetiva média.

Ao analisar a máxima deformação cisalhante (Figura 7) se observa sua concentração no fundo do


reservatório em todos os cenários, bem como no contato entre fundação-descontinuidade e aterro da barragem
para ambos os cenários (3 e 4) em que a descontinuidade possui mergulho (Figura 7C e D). De acordo com os
resultados expostos, a presença de descontinuidade gera uma região de atenção nos espaldares da barragem.
No entanto, ressalta-se que os resultados obtidos possuem valores baixos de máxima deformação cisalhante.

A) Cenário 1

B) Cenário 2

45
C) Cenário 3

D) Cenário 4

Figura 7. Máxima deformação cisalhante.


4 Conclusão

A partir do estudo apresentado, nota-se que a presença de descontinuidade, além de sua orientação e
mergulho, influencia no comportamento tensão-deformação da barragem. O recalque aumentou com a
presença da descontinuidade sendo máximo para o cenário 3 (descontinuidade com mergulho a jusante). O
perfil de deslocamento horizontal apresentou grande variação para os cenários analisados, sendo que a
presença de descontinuidade gerou concentração do deslocamento horizontal neste elemento, tendendo a
ocorrer em sua região central ou a jusante do eixo da barragem e sendo máxima para quando a descontinuidade
foi simulada horizontalizada. Em relação à tensão efetiva média, em geral, houve nenhuma ou pouca
concentração, ocorrendo maiores valores no contorno final do modelo na presença da descontinuidade com
mergulho a montante ou jusante. A máxima tensão cisalhante apresentou concentração em todos os cenários
no fundo do reservatório e no contato barragem-fundação nos cenários que a descontinuidade apresentava
mergulho a jusante ou montante em relação ao eixo da barragem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARTON, N.; BANDIS, S. (1982). Effects of Block Size on the Shear Behaviour of Jointed Rock. Issues in
Rock Mechanics. In Proceedings of 23 rd US Symposium of Rock Mechanics (eds RE Goodman & F.E.
Heuze), Berkeley, California, pp 739-760.
BRASIL. Constituição (2020). Lei nº 14.066, de 30 de setembro de 2020. Política Nacional de Segurança de
Barragens (Pnsb). Edição 189. Seção 1.
MAGALHÃES, Ricardo Aguiar. Curso sobre Utilização do Guia de Revisão Periódica de Segurança de
Barragem e de Diretrizes para Elaboração de Projetos de Barragens: Manual Do Empreendedor Sobre De
Segurança De Barragens - volumes III e V. Rio de Janeiro, 2017. 90 slides, color. Disponível em:
https://www.snisb.gov.br/Entenda_Mais/capacitacao/Arquivos_Cursos/curso-guia-de-diretrizes-para-
elaboracao-de-projeto-de-barragens-e-revisao-periodica-modulo-2-barragens-de-aterro.pdf. Acesso em: 02
nov. 2021.
RS2 ROCSCIENCE – User Guide: Add Joint. Disponível em:
https://www.rocscience.com/help/rs2/documentation/rs2-model/boundaries/adding-boundaries/add-joint.
Acesso em: 23/02/2022.
SOARES, Lindolfo. Barragem de rejeitos. Comunicação Técnica elaborada para o Livro Tratamento de Minérios,
5ª Edição – Capítulo 19 – pág. 831–896. Editores: Adão B. da Luz, João Alves Sampaio e Silvia Cristina A.
França, 2010.

46
Análise de Estabilidade de Encosta Situada em Região Urbana no
Município da Serra / ES Utilizando o Método de Solo Grampeado

Karla Maria Wingler Rebelo


Professor Adjunto, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, karla.rebelo@ufes.br

Andre Marcal Silveira


Estudante, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, andremarcals@gmail.com

Luiz Henrique De Souza Andrade


Estudante, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, pampanelli@hotmail.com

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo apresentar uma comparação dos métodos de cálculo
disponíveis e mais usuais para análise de estabilidade de talude por meio de um estudo de caso. O estudo
de caso visa analisar e propor uma solução de estabilidade, a uma encosta instável no município da Serra,
no Espírito Santo. Por meio da utilização dos resultados de sondagens SPT do local, métodos de análise de
estabilidade dos taludes, e com o auxílio do software GeoSlope/W da GeoStudio, foi verificada e
implantada uma solução de retaludamento e grampeamento do solo. Foi também realizada a comparação
da análise de estabilidade entre os principais métodos, concluindo que o método de Morgenstern-Price é o
mais indicado. Por fim, uma análise referente à mobilização da coesão em casos de saturação do solo,
mostrou que caso esse parâmetro seja considerado como zero, há uma grande influência no
dimensionamento final da estrutura de contenção.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Grampeado, Taludes, Análise de Estabilidade.

ABSTRACT: The present work purpose, is to study the available and most common calculation methods to
analyze slope stability, as well as, with the aid of a case study, the effect on the safety factor due to
presented solutions. The case study aims to analyze and propose a stability solution to an unstable slope in
the municipality of Serra, Espírito Santo. Through the use of site survey results, slope stability analysis
methods, and with the help of GeoStudio's SLOPE/W software, a soil re-slope and soil clamping solution
was verified and implemented. A comparison between the main stability analysis methods was also carried
out, concluding that the Morgenstern-Price method is the most suitable. Finally, an analysis due to the
mobilization of cohesion in cases of soil saturation showed that if this parameter is considered as zero, there
is great influence on the final sizing of the retaining structure.

KEYWORDS: Nailed Soil, Slopes, Stability Analysis.

1 Introdução

Com a ocupação cada vez maior de áreas para a ampliação das cidades, verificou-se a necessidade
de se adequar o ambiente natural ao avanço da ocupação civil. Apesar deste crescente interesse da
sociedade em ampliar seus limites, muitas vezes isto é feito de forma desordenada, causando grandes
catástrofes.
Dentro desse contexto, a engenharia geotécnica é essencial para garantir a segurança de edificações
residenciais e afins, por sua aplicação nas estruturas de fundação e também de contenção de encostas nas
áreas próximas a estas obras.
O deslizamento de encostas é um fenômeno comum em áreas de relevo acidentado, principalmente

47
em regiões onde a cobertura vegetal natural foi removida. Tal acontecimento, em conjunto com grandes
índices pluviométricos em curtos períodos, tendem a ocasionar um aumento do grau de saturação do solo
por água, trazendo como consequência uma redução da resistência e aumento da carga, fatores estes que
afetam a estabilidade.
Com base nas possíveis movimentações de terra em encostas, torna-se essencial um estudo
pormenorizado do comportamento do solo, dos métodos de contenção e da análise de estabilidade de
taludes. Segundo Gerscovich (2016), a análise de estabilidade tem como objetivo avaliar a possibilidade
de ocorrência de escorregamento de massa de solo presente em talude natural ou construído. Por sua vez, a
análise de estabilidade é realizada por meio de métodos probabilísticos, associados à uma probabilidade ou
risco de ruptura, e de métodos determinísticos, expressos sob a forma de um fator de segurança.
Além disso, a análise de estabilidade de taludes envolve vários fatores como topografia, parâmetros
mecânicos do solo, condições hidrológicas e os efeitos da ação antrópica alterando o estado natural do
talude (VARNES, 1978).
Neste trabalho será apresentado a proposta de contenção e análise de estabilidade de uma encosta
localizada no município da Serra, Espírito Santo, por meio de uma ferramenta computacional, o
GeoSlope/W da GeoStudio. Para tal, serão utilizadas as informações relevantes e exigidas pelas Norma
Brasileira NBR 11.682:2009 – Estabilidade de Taludes, tais como resultados de investigações geotécnicas,
e informações obtidas com visita de inspeção à região de estudo.

2 Materiais e Métodos

2.1 Área de Estudo

A encosta analisada está localizada no Bairro Vista da Serra I, que se situa na região central do
Município da Serra, fazendo divisa com os bairros Vista da Serra II e Campinho da Serra II.
Trata-se de um talude de corte com altura de 22 metros e comprimento de 250 metros, onde já
foram identificados indícios de condições críticas de estabilidade como, por exemplo, sulcos erosivos,
cicatrizes de escorregamentos, árvores inclinadas (Figura 1), e caracterizado por intensa ocupação urbana
(Figura 2).
Em uma análise macro da região, segundo o Plano Municipal de Redução de Risco - PMRR (2016),
a área em estudo é caracterizada por uma área suscetível a erosão, deslizamento e inundação, classificada
como risco de escorregamento muito alto, sendo indicada uma ação alerta de intervenção. Diante da
necessidade de intervenção nesse local, o presente artigo apresenta uma proposta de contenção para essa
encosta, com base na análise de estabilidade global e nos parâmetros do solo da região.

Figura 1. Desenvolvimento da encosta (Google Earth).

2.2 Caracterização do Solo Local

Para o estudo geotécnico da encosta, foram realizados dezesseis furos de sondagem à percussão

48
SPT (Standart Penetration Test). Com os dados do relatório de sondagem fornecidos pela empresa que
realizou o serviço, construiu-se o perfil longitudinal da encosta, apresentado na Figura 2.

Figura 2. Perfil geotécnico longitudinal obtido por meio de


ensaios SPT.

Em seguida, definiu-se as seções críticas a serem analisadas, definidas como as de maiores alturas,
mais intemperizadas e com ocorrência de delizamentos, totalizando três seções críticas. Assim, construiu-
se o perfil geotécnico do solo de cada seção de talude, sendo na sequencia definidos os parâmetros
geotécnicos dos materiais identificados. A localização das seções críticas é apresentada na Figura 3.

Figura 3. Seções de análise do talude.

Os parâmetros geotécnicos adotados para o local de estudo foram obtidos por meio de correlações
existentes na literatura com os resultados dos ensaios de SPT. Essas correlações são baseadas nos
trabalhos de Godoy (1972), Godoy (1983), Teixeira (1996) e Teixeira e Godoy (1996). Para os solos
arenosos, os valores de coesão foram adotados como nulos. A Tabela 1 apresenta os parâmetros de
resistência e os pesos específicos adotados para cada seção crítica analisada.

49
Tabela 1. Parâmetros geotécnicos adotados.
Seção AA’ Seção BB’ Seção CC’
Camada (kN/m )3 c (kPa)
 ( ) (kN/m )
o 3 c (kPa)
 ( ) (kN/m3) c (kPa)
o
 (o)
o
1 19 25 30 18 25 28 20 25 43
2 20 25 41o 21 25 37 20 0 42
3 20 25 40o 20 0 41 20 25 41
4 21 25 34o 20 25 41 21 25 35
o
5 21 25 32 20 25 39 21 25 35
6 20 0 40o 19 0 32 20 0 41
7 - - - 19 25 31 - - -
8 - - - 20 0 38 - - -

2.3 Concepção do Projeto de Estabilidade

Após a definição das seções críticas e dos parâmetros geotécnicos, definiu-se o fator de segurança
mínimo para o caso analisado. A Norma Brasileira NBR 11682:2009 determina o nível de segurança das
estruturas projetadas com base nos riscos envolvidos, os quais são classificados considerando a
possibilidade de perdas de vidas humanas e de danos materiais e ambientais.
Desta forma, definiu-se o nível de segurança como alto para perda de vidas humanas, já que se trata
de uma área urbana com intensa movimentação e permanência de pessoas, e nível de segurança também
alto para danos materiais e ambientais. Sendo assim, pode-se definir para o talude em estudo um fator de
segurança mínimo de 1,5.
As análises de estabilidade foram conduzidas utilizando-se o software GeoSlope/W da GeoStudio.
Foram modeladas as três seções críticas AA’, BB’ e CC’. A Figura 4 ilustra a modelagem das seções no
programa. Foram utilizados diferentes métodos de análise de estabilidade considerando três situações: a
encosta natural; a técnica de retaludamento, e a técnica de solo grampeado com retaludamento.
Adicionalmente, realizou-se outra análise considerando os valores de coesão nulos.

Figura 4. Modelagem da seções: exemplo da seção CC’ .

50
2.4 Pré - Dimensionamento dos Grampos

O pré-dimensionamento dos grampos foi realizado utilizando como base as correlações empíricas
propostas pelos autores Bruce e Jewell (1986). Nessas correlações dois diferentes parâmetros são
definidos: a razão entre o comprimento dos grampos e a altura do talude (L/H), e a área disponível para
mobilização do atrito (C.L/Sh.Sv), onde L é o comprimento dos grampos, H a altura de contenção, C a
circunferência do furo no qual o grampo é injetado (π.d) e Sh e Sv os espaçamentos horizontais e verticais
entre os grampos, respectivamente.
A resistência à tração máxima da barra foi calculada conforme recomendações da norma ABNT
NBR 5629/2018: Tirantes Ancorados no Terreno – Projeto e Execução. E para a determinação da
resistência ao arrancamento (qs) do contato solo-grampo, utilizou-se correlações empíricas com o índice
de resistência à penetração médio NSPT do solo, propostas por Ortigão (1997), Ortigão e Sayão (2004),
Springer (2006), adotando-se o menor valor encontrado.
A Tabela 2 apresenta o resultado do pré-dimensionamento dos grampos.

Tabela 2. Índices característicos em obras internacionais propostos por Bruce e Jewell (1986).
Diâmetro do bulbo de perfuração 10 cm
Fator de segurança da aderência solo – bulbo 1,5
Espaçamento horizontal e vertical 2,0m
Comprimento dos grampos do talude 8m
Espessura da barra de aço CA-50 12,5mm
Quantidade de grampor por fileira 9
Ângulo de inclinação do grampo com a horizontal 15o

3 Apresentação e Discussão dos Resultados

3.1 Análise de Estabilidade Global da Encosta Natural e com Retaludamento.

As Figuras 5 e 6 apresentam os resultados da análise de estabilidade global realizada para a seção


mais crítica (CC’) utilizando-se do Método de Morgenstern-Price, e considerando-se a sobrecarga de
20kPa prevista na norma NBR 6122:2009. Definiu-se como seções críticas, àquelas cujos fatores de
segurança estavam abaixo do valor mínimo desejado e que, conforme visitas locais e fotografias aéreas,
indicavam movimentação de solo.

Figura 5. Análise de estabilidade: talude original – seção CC’ (FS=1,25).

51
Figura 6. Análise de estabilidade: retaludamento – seção CC’ (FS=1,32).

Os resultados mostram que os valores dos fatores de segurança estão abaixo do valor mínimo
recomendado (1,5) tanto para o talude original quanto com a técnica de retaludamento, havendo a
necessidade de adotar outro tipo de estabilização.

3.2 Análise de Estabilidade Global com a Solução de Retaludamento e Solo Grampeado.

A Figura 7 apresenta o resultado da análise de estabilidade global realizada considerando as técnicas


de contenção propostas.

Figura 7. Análise de estabilidade: retaludamento – seção CC’ (FS=1,50).

Com a utilização da técnica de solo grampeado, o valor do fator de segurança atinge as


especificações mínimas adotadas. Cabe ressaltar que essa análise foi realizada diversas vezes com base no
pré-dimensionamento do grampo, isto é, buscou-se otimizar a solução final de forma a considerar os
custos da técnica e a segurança, até se chegar no fator de segurança 1,5.

3.3 Comparação dos Métodos de Análise de Estabilidade

52
A análise de estabilidade apresentada foi realizada utilizando-se o método de Morgenstern-Price,
mas foram também obtidos os fatores de segurança para os demais métodos de análise, tanto para o talude
em sua condição natural, quanto para a solução final de grampos e retaludamento. A Tabela 3, apresenta
um resumo dos resultados obtidos, de forma a comparar os métodos de análise de estabilidade, para a
seção crítica CC’.

Tabela 3. Parâmetros geotécnicos adotados.


Fator de Segurança (FS)
Método de Análise
Talude Natural Com Grampeamento
Morgenstern-Price 1,25 1,50
Spencer 1,25 1,50
Fellenius 1,15 1,39
Bishop 1,27 1,52
Janbu 1,14 1,39

Os resultados indicam que os métodos de Janbu e Fellenius são os mais conservadores, com
menores valores de FS. Com relação ao método de Fellenius, os resultados corroboram com o
comportamento esperado devido à natureza simplificadora do método, que o distancia da realidade. Para o
método de Janbu, verificou-se que o Slope/W não aplica o fator de correção pela consideração de não
haver forças cisalhantes entre as fatias, fazendo com que o fator de segurança apresentado pelo software
seja menor que o esperado.
Já os métodos de Spencer e Morgenstern-Price apresentaram os mesmos resultados, como já
esperado, sendo os métodos mais rigorosos em sua formulação e que mais se aproximam da realidade. O
método de Bishop, apesar de ser menos preciso e ser um método iterativo, apresentou resultados muito
próximo dos de Spencer e Morgenstern-Price.

3.4 Influencia da coesão no fator de segurança

Adicionalmente foi conduzida uma nova análise considerando valores de coesão nulos para todas as
camadas de solo, ou seja, desconsiderando-se a mobilização da parcela coesiva na resistencia do solo. O
resultado desta análise é apresentado na Tabela 4.

Tabela 4. Influencia da coesão na análise de estabilidade.


Fator de Segurança (FS)
Método de Análise
Talude Natural Com Grampeamento
Su= 25kPa 1,25 1,50
Su=0 kPa 0,53 1,01

Os resultados mostram uma redução significativa nos valores dos fatores de segurança ao se
desconsiderar a coesão do solo, tanto para o talude natural quanto para o talude com solo grampeado.
Acrescenta-se que o dimensionamento inicial dos grampos não atinge as especificações mínimas quando
desconsidera-se a coesão do solo, sendo necessário redimensionar os grampos para esta condição.

4 Conclusão

Os resultados corroboram com os riscos e evidências já verificados pelas vistorias e imagens de


campo, indicando a necessidade de intervenção na região estudada. A análise de estabilidade do talude
natural indicou fatores de segurança menores do que o recomendado por norma.

53
Como solução para este estudo de caso, empregou-se a técnica de retaludamento e solo grampeado,
adotando-se diferentes métodos de análise de estabilidade. Em relação aos métodos de análise, Bishop,
Spencer e Morgenstern-Price apresentam grande semelhança de resultados, sendo os mais comumente
utilizados. No entanto, os dois últimos apresentam maior rigor de análise, sendo optado neste trabalho,
portanto, pela utilização do método de Morgenstern-Price. Já o método de Janbu, por necessitar de um
fator de correção, não comtemplado pelo software, e o método de Fellenius, por ser um método muito
simplificado, apresentam resultados mais distantes da realidade.
Observou-se também que as maiores variações do fator de segurança se dão por alterações nos
parâmetros geotécnicos do solo, principalmente na desconsideração da fração coesiva na resistência ao
cisalhamento de solos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2009). NBR 11682. Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2018). ABNT NBR 5629/2018: Tirantes Ancorados no
Terreno – Projeto e Execução.
BRUCE, D. A. & JEWELL, R. A.(1986). Soil Nailing: Application and Practice. Parte 1, Ground
Engineering,19 (8): Novembro.
GERSCOVICH, D. M. S. (2016). Estabilidade de taludes. 2a ed. Oficina de Textos, São Paulo.
GODOY, N. S. (1972). Fundações: Notas de Aula, Curso de Graduação. São Carlos (SP): Escola de
Engenharia de São Carlos, USP.
GODOY, N. S. (1983). Estimativa da capacidade de carga de estacas a partir de resultados de
penetrômetro estático. Palestra. São Carlos (SP): Escola de Engenharia de São Carlos, USP.
ORTIGÃO, J. A. R. (1997) Ensaios de arrancamento para projetos de solo grampeado, Nota técnica.
Solos e Rochas, ABMS, V. 20:1, pp. 39-43
ORTIGÃO, J. A. R.; SAYAO, A. S. (2004). Handbook of Slope Stabilisation. Nova York: Springer-
Verlag Berlin Heidelberg GmbH.
Plano Municipal de Redução de Risco - PMRR (2016). disponível em
http://serra.es.gov.br/site/pagina/p.-m.-reducao-de-riscos.
SPRINGER, F. O. (2006). Ensaios de arrancamento de grampos em solo residual de gnaisse. Tese
(Doutorado em Engenharia Civil) - Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
TEIXEIRA, A. T. (1996). Projeto e Execução de Fundações. 3o Seminário de Engenharia de Fundações
Especiais e Geotecnia., São Paulo, n.1, p 30-50.
TEIXEIRA, A. T.; GODOY, N. S.(1996). Análise, Projeto e Execução de Fundações Rasas. Fundação:
Teoria e Prática, Hachich et al (eds.), Ed Pini Ltda., São Paulo, Cap 7, p 227-264.
VARNES, D.J. (1978). Slope movement types and processes. Landslides: Analysis and Control. Special
Report 176, Transportation Research Board, Washington, pp. 11-33.

54
Desempenho de escavação de grande porte, estabilizada com Solo
Grampeado e Tirantes, em área urbana (RS).
André Pereira Lima
Engenheiro Geotécnico, TPF Engenharia/PUC-MG, Belo Horizonte, Brasil, andre.lima@tpfe.com.br

Tiago Proto Silva


Engenheiro Geotécnico, FGEO Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, tiagoproto@fgeo.com.br

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo apresentar o comportamento de uma escavação provisória,
em solo residual e rocha basáltica (H=30m), executada para a implantação de edificação comercial em Bento
Gonçalves (RS) e estabilizada por meio das técnicas de Solo Grampeado e Tirantes. O monitoramento
geotécnico dos deslocamentos foi realizado a partir das leituras de inclinômetros, tell-tales e marcos
superficiais, instalados nas faces dos taludes das escavações. No total, foram instalados 4 inclinômetros, 2
Tell-tales e 30 marcos superficiais distribuídos pelas 4 faces de escavação. Em análise aos resultados da
instrumentação, pode-se concluir que houve semelhança no comportamento previsto e na velocidade de
deformação em todas as faces de escavação monitoradas, com o expectável em obras desta natureza. Os
deslocamentos horizontais máximos da estrutura grampeada foram de cerca de 0,16%H e aconteceram no
terço superior, próximo ao topo do talude. O método executivo para a implantação da escavação de grande
porte demonstrou eficiência, atendo às expectativas técnicas e econômicas do projetista, do executor e do
empreendedor. A fase executiva das contenções foi finalizada em 105 dias corridos, com contribuição
significativa do monitoramento contínuo da obra (acompanhamento dos deslocamentos), nas decisões sobre
o avanço das escavações.
PALAVRAS-CHAVE: Solo Grampeado, Monitoramento Geotécnico, Escavação.

ABSTRACT: The passive soil nailing technique has gained popularity for temporary and permanent slope
strengthening works at in-situ cut slopes in Brazil. However, there are still many concerns in the design and
construction of soil nails, particularly regarding the displacements due to the excavation process. Various
design and construction practices have been adopted in the local industry of soil nailing works. This paper
presents the behaviour of a temporary excavation stabilized using the soil nailing technique to put a
commercial building in Bento Gonçalves (RS) in place. The slope behaviour was influenced by several
factors, such as the construction technique and the geometry of the excavation. The geotechnical monitoring
using inclinometers indicated a significant increase in horizontal displacements during the progress of the
excavation. The magnitude of the maximum horizontal displacements was observed to be 0,16%H and
typically located at the upper portion of the slope. The temporary stabilization works were concluded in 105
days with a significant contribution of the geotechnical monitoring in relation to the construction sequence of
nailed slopes.

KEYWORDS: Soil Nailing, Geotechnical Monitoring, Excavation.

1 Introdução

Nas últimas décadas a técnica de solo grampeado tem se consolidado com uma alternativa bastante
interessante para estabilização de escavações provisórias para a implantação de subsolos, em
empreendimentos residencias e comerciais. Vantagens inerentes à técnica de grampeamento do maciço, tais
como: a rápida execução, adaptabilidade a locais de difícil acesso, possibilidade de ajuste do projeto (durante
a execução da obra) e custo competitivo têm acarretado em um número cada vez maior de aplicações deste
tipo de reforço em escavações temporárias para implantanção de subsolos. Em muitos casos, o
grampeamento do solo apresenta custo inferior aproximado de 20 a 50% em relação as cortinas atirantadas,
por exemplo.
Apesar das inúmeras vantagens citadas anteriormente, existem algumas limitações para o emprego da
técnica de solo grampeado (Clouterre, 1991). Atenção especial deve ser dada para os deslocamentos do
talude, durante a execução dos grampos. Nesse contexto, o reforço do solo in situ pode combinar a técnica de
solo grampeado com outros métodos de contenção (cortina atirantada, muros de peso, sistemas de
contraventamento, por exemplo).
No caso de escavações de grande altura em meio urbano, o controle dos deslocamentos é
indispensável. Em taludes de escavação, devido às sucessivas etapas construtivas, devem ser monitorados os
deslocamentos em diversos pontos da massa reforçada. Em escavações verticalizadas, por exemplo, estas
55
medidas permitem um controle e previsão do comportamento dos taludes durante o período de construção,
com atenção às construções adjacentes ao trecho escavado.
Este artigo apresenta o comportamento de uma escavação provisória, em solo residual e rocha
basáltica (H=30m), executada para a implantação de edificação comercial em Bento Gonçalves (RS). Tendo
em vista a proximidade com vizinhos, a localização da obra (área urbana) e as características geológico-
geotécnicas do local, a escavação foi estabilizada por meio das técnicas de solo grampeado e tirantes
localizados.
Serão descritas algumas particularidades do projeto e da execução da obra. Também serão explicitados
os resultados do monitoramento geotécnico, com algumas interpretações e conclusões.
2 Considerações Gerais

2.1 Descrição do Empreendimento

A obra em referência é para implantação de empreendimento comercial (Centro Médico), localizado


na rua General Osório 477 na cidade de Bento Gonçalves (RS). O projeto executivo foi realizado pelos
autores deste artigo. A execução da obra foi de responsabilidade da FGEO Engenharia, sendo o período de
escavações dos taludes entre Fevereiro e Junho de 2019. A Figura 1 ilustra a localização do terreno.

Figura 1. Localização da obra (Google Earth, 2019).

Para caracterização do subsolo local, foram consultados os Boletins de Sondagem à Percussão e


fotografias do local. De um modo geral o terreno apresenta um perfil típico de alteração de rocha basáltica.
A camada superficial constitui-se de argila areno-siltosa, com N(SPT) variando entre 5 e 15 golpes e
espessura variável entre 2,0 a 4,0m. Subjacente a esta camada, encontra-se a alteração de basalto silto-areno-
argilosa, com N(SPT) variando entre 4 e 15 golpes e espessura variável entre 6,0 e 11,0m. Abaixo desta
camada, verifica-se a ocorrência de Basalto extremamente alterado a muito alterado, com espessura entre 2,0
a 4,0m.
O horizonte de Basalto São está entre 7,0 a 13,0m de profundidade e apresenta-se muito fraturado,
com Recuperação entre 40% a 80%.
A posição do nível d’água não foi apresentada nas sondagens executadas no local.

2.2 Concepção do Projeto de Estabilização

O projeto executivo de contenção e melhoria das condições de estabilidade dos cortes subverticais foi
definido a partir da interpretação de resultados de sondagens, observações de campo e consulta aos
documentos fornecidos pelo cliente.
O projeto previu obras de estabilização provisória dos cortes laterais da cava de fundação (faces Norte,
Sul, Leste e Oeste) com aplicação da técnica de solo grampeado, garantindo as condições mínimas de
estabilidade durante as escavações para implantação de futuro empreendimento comercial.
A concepção dos projetos de estabilização foi definida a partir de análises baseadas na Teoria do
Equilíbrio Limite, onde fatores de segurança (FS) foram calculados com o auxílio do programa “Slide 6.0”
(Rocsciense). O modelo constitutivo selecionado para representar os materiais do maciço foi o modelo
elasto-plástico, delimitado pelo critério de ruptura de Mohr-Coulomb.
Os parâmetros geotécnicos adotados nas análises de estabilidade foram estimados com base nas
sondagens realizadas e interpretação de ensaios de laboratório (cisalhamento direto) executados em corpos
56
de prova moldados na umidade natural e inundados (Proto Silva et al., 2019).
O valor de resistência ao cisalhamento solo-grampo (qs), importante parâmetro no dimensionamento
de taludes grampeados, foi obtido preliminarmente com base em alguns ensaios de arrancamento realizados
em obras nacionais (Azambuja et al., 2001; Moraes e Arduino, 2003; Lozano e Castro, 2003; Pitta et al.,
2003; Proto Silva, 2005). Posterioremente, os ensaios de arrancamento realizados na obra possibilitaram
novas análises de estabilidade, com eventuais reajustes no projeto (Proto Silva et al., 2019).
A concepção do projeto de estabilização em Solo Grampeado contemplou a inclusão de reforços de
4,0 a 12,0m de comprimento (barras de aço CA50 – diâmetros  = 20mm), instaladas em pré-furos de 75mm
de diâmetro (NX), em malha de 2 x 2m de espaçamento. Para o revestimento da face foi adotada malha
metálica tipo Telcon Q196 com concreto projetado de 10cm de espessura. A concepção do projeto pretendeu
reforçar o horizonte de solo residual maduro e solo residual jovem/rocha alterada adotando-se, nas análises,
parâmetros de resistência compatíveis com os materiais da encosta. Neste tipo de solução, foram previstos
eficientes sistemas de drenagens superficial (barbacãs) e profunda (drenos sub-horizontais profundos –
DHPs) em todo o maciço reforçado.
Na face Leste foi previsto ainda o reforço de muro de concreto armado existente, com a execução de 2
linhas de tirantes tipo DYWIDAG ST85/105 (diâmetro  = 32mm; carga de trabalho = 350kN), com
comprimento total de 20m (trecho ancorado de 8m) e vigas metálicas de reação. A estrutura de contenção
existente tem cerca de 30m de comprimento com início na parte central da face leste e término no canto
Leste x Sul (junto à via).
O projeto englobou cerca de 1500 m² de contenção, com 4060 m de grampos distribuídos nas faces de
escavação e 30 tirantes de reforço.
A Figura 2 ilustra uma visão geral da obra em seu estágio final de implantação do trecho de escavação
em solo residual e a Figura 3 a seção típica da face Leste.

Figura 2. Vista aérea da obra.

57
Figura 3. Seção transversal – face Leste.

3 Desempenho da Escavação de Grande Porte


3.1 Considerações preliminares

O monitoramento geotécnico da obra foi realizado com a implantação de um programa de


instrumentação da escavação. A instrumentação empregada tem por objetivo a observação do
comportamento do maciço durante a fase de construção e posteriormente, durante as escavações, bem como
após o término da obra. Para alcançar este objetivo os instrumentos geotécnicos previstos em projeto foram 4
(quatro) Inclinômetros, 5 (cinco) Tell-Tales e 30 (trinta) Marcos Superficiais, instalados nas quatro faces
escavadas.
Os tubos dos inclinômetros foram instalados no interior de perfurações previamente abertas, com
diâmetro de aproximadamente 6” (150mm), executadas pela Empresa FGEO. Concluída a perfuração e a
pré-montagem dos tubos (fixação de luvas e alinhamento das ranhuras), estes foram inseridos
cuidadosamente no furo, garantindo a continuidade das ranhuras, a verticalidade do tubo e, principalmente, o
alinhamento de uma das ranhuras com a maior declividade da encosta, ou a direção de maior movimento
esperado. Esta direção é designada de Direção “A”. A direção defasada de 90° com a direção “A” é dita
direção “B”.
Após a inserção do tubo do inclinômetro até a base da perfuração, a região anelar entre o furo e o tubo
foi preenchida com a mistura, em adequadas proporções, de água-cimento-bentonita, garantindo
comportamento semelhante ao material existente na região do furo.
As instalações dos inclinômetros INC-01, INC-02, INC-03 e INC-04 foram realizadas no período
Janeiro e Fevereiro de 2019.
Os marcos superficiais foram instalados nos locais indicados no projeto de instrumentação, com a
finalidade de medir eventuais deslocamentos na face da escavação, por meio de levantamentos topográficos
de precisão.
Os marcos superficiais são constituídos de pinos de recalque semi-esféricos, sobre os quais apóia-se a
mira topográfica no instante do levantamento.
Cada marco é composto pelo pino semi-esférico, acoplado a um tubo de ferro galvanizado  = 25mm.
Para as medições, foi necessária a implantação de uma referência de nível, instalada no terreno natural,
em local afastado da influência da implantação das estruturas, ou alternativamente considerando-se uma
referência de nível (“indeslocável”) já existente no local do monitoramento geotécnico.
Os Tell-Tales (TT) foram instalados em 2 (duas) seções de instrumentação na face Leste.
O objetivo do monitoramento geotécnico com marcos superficiais, Tell-Tales e inclinômetros foi de
acompanhar os valores dos deslocamentos verticais e horizontais, de regiões localizadas no maciço. A partir
da interpretação destes resultados, objetivou-se garantir a execução da obra com segurança e, posteriormente,
comprovar a eficiente das intervenções geotécnicas realizadas (obras de contenção e estabilização) durante a
etapa de “pós-obra”.
58
Neste artigo serão apresentados os resultados do monitoramento geotécnico com os inclinômetros,
cujas locações encontram-se indicadas na Figura 4.

Figura 4. Localização dos Inclinômetros.

3.2 Deslocamentos Horizontais nos Taludes fornecidos pelos Inclinômetros

Foram realizadas leituras de deslocamentos horizontais em 4 (quatro) tubos de inclinômetros,


denominados INC-01, INC-02, INC-03 e INC-04, cujas localizações estão apresentadas na Figura 4.
As leituras foram efetuadas em duas direções denominadas direção principal “A” e direção secundária
“B”, ortogonais entre si, sendo a primeira, a direção associada àquela de maior movimentação da escavação.
O monitoramento iniciou-se durante o período construtivo (início de fevereiro de 2019) sendo a última
leitura realizada em 30/09/2019.
O plano de monitoramento por inclinometria previu leituras a cada 2 dias por todo o período das obras
de escavação, tanto na parte em solo como também na escavação em rocha.
De um modo geral, os resultados apresentados pelos inclinômetros indicaram um bom funcionamento
da instrumentação e ilustraram que há um aumento dos deslocamentos horizontais, conforme o avanço da
escavação, com valores maiores de deslocamentos nos inclinômetros Incl-02 e Incl-03 (nos “setores leste e
sul” das escavações, respectivamente).
As movimentações apontadas pelo Incl-03, representativo da face Sul, podem ser vistas na Figura 5.
Os deslocamentos horizontais (h) no maciço mostraram-se máximos próximo no topo da escavação
(“terço superior”), como é de se esperar em geral para escavações verticais/subverticais em solo grampeado
(Lima, 2007). Este padrão de comportamento das leituras repitiu-se nas movimentações fornecidas pelos 4
inclinômetros instalados.

59
A interpretação dos resultados de deslocamentos fornecidos pelos inclinômetros indicou também uma
movimentação do talude menos expressiva na face Oeste (INCL-04), corroborando com os dados dos
Marcos Superficiais.

Figura 5. Deslocamento Horizontal do Incl-03.

A evolução dos deslocamentos (Hescav/H) para as 4 faces da escavação monitorada está apresentada na
Figura 6.
Os resultados indicaram que houve um aumento dos deslocamentos, conforme o avanço das
escavações (Hescav/H), com aumento mais significativo dos valores de h na face Leste, o que gerou maior
atenção com relação ao controle do processo executivo naquele setor da escavação.
Ainda com relação a evolução dos deslocamentos horizontais, com o avanço das escavações, nota-se
uma diferença no padrão de comportamento dos inclinômetros, a qual está associada ao processo executivo,
à geometria do talude e as características geotécnicas do maciço reforçado.

60
Figura 6. Histórico de deslocamentos horizontais na
direção principal para todos os inclinômetros.

Os deslocamentos horizontais calculados a partir das leituras dos inclinômetros estão de acordo com a
faixa de valores apresentada na literatura, a partir de resultados de monitoramento com inclinômetros e
marcos superficiais. Usualmente, os valores de h máximos variam entre 0,1%H a 0,5%H, para escavações
verticais em solos homogêneos. Esta faixa de valores foi verificada também em solos residuais gnáissicos
(Lima, 2007). Na Figura 7, encontram-se os resultados das leituras dos inclinômetros instalados nas 4 faces
instrumentadas. Observa-se que os resultados obtidos para h situam-se na faixa de valores proposta, sendo
inferiores a 0,5%H.
61
Figura 7. Deslocamentos horizontais máximos observados em taludes grampeados.

4 Conclusões
Os resultados fornecidos pelo monitoramento das 4 faces de escavação indicaram desempenho
satisfatório do sistema de estabilização em solo grampeado, permitindo a execução da obra em segurança.
Os inclinômetros instalados, no início das escavações, possibilitaram o controle eficaz dos
deslocamentos, durante as diversas etapas de escavação para a implantação do subsolo.
O monitoramento geotécnico indicou um aumento dos deslocamentos, conforme o avanço da
escavação, com maior atenção para a face Leste. Os deslocamentos apresentaram tendência de estabilização
após a conclusão do grampeamento. Porém, esta informação não descartou a continuidade do monitoramento
geotécnico após o término da obra.
Os valores de deslocamentos horizontais encontraram-se no intervalo proposto na literatura, que situa-
se entre 0,1%H a 0,5%H, para solos residuais e sedimentares (Clouterre, 1991; Lima, 2007).
Ainda com relação aos resultados do monitoramento geotécnico, concluiu-se que os maiores valores
de deslocamentos foram fornecidos pelo INCL-02, sendo máximos próximos ao topo da escavação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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62
Influência da Inclinação de Face nas Verificações de Estabilidade
em Muro em Solos Reforçados com Geogrelhas
Cleitton Raian Batista Pereira
Estudante, Departamento de Engenharia Civil – FEG/UNESP, Guaratinguetá, Brasil.
cleitton.pereira@unesp.br

Mariana Ferreira Benessiuti Motta


Professora Doutora, Departamento de Engenharia Civil – FEG/UNESP, Guaratinguetá, Brasil.
mariana.motta@unesp.br

RESUMO: A técnica de solos reforçados teve início no Brasil na década de 80, sendo vista hoje como um
procedimento de grande importância em obras de infraestrutura civil. A utilização de geogrelhas em
estruturas de contenção de muros de solos reforçados conferem no melhoramento dos parâmetros de
resistência dos solos, sobretudo à tração. Devido à sua versatilidade construtiva, tais sistemas podem
apresentar diversas configurações espaciais. Em vista disso, foi explorado o comportamento desses muros a
partir das diferentes inclinações de sua face, quanto as verificações de estabilidade. Foi apresentado um
muro com altura de 17,0 m, dimensionado com o uso de gabiões e geogrelhas como elemento de reforço
para diferentes inclinações: Vertical (90º), 93º, 96º e 99º, em relação ao nível do terreno e a face. No
desenvolvimento do estudo foi empregada a análise de um mesmo perfil geológico-geotécnico com uma
sobrecarga na crista do aterro de 20 kPa. Para cada uma dessas inclinações foram então verificados os
valores do fator de segurança para as análises de estabilidade externas: global e as verificações de
tombamento, deslizamento e de pressão na fundação, e as análises de estabilidade interna, intrínseca aos
muros reforçados com geogrelhas, a partir do software MacStar® W4. Os resultados dessas análises
mostraram tendências notórias pela variação da inclinação de face dos muros em solos reforçados com
geogrelhas, com expressiva mudança nas verificações da capacidade de fundação e tombamento.

PALAVRAS-CHAVE: solos reforçados, geogrelhas, muros reforçados, gabião, geossintéticos,


estabilidade de muros.

ABSTRACT: The technique of reinforced soils began in Brazil in the 80s, and it has great importance in
civil infrastructure works. The use of geogrid in retaining walls affect the soil parameters, especially tensile
strength. Due to their diversity, such systems can be used in different layouts. In this context, this work
presents the different behavior of these walls from the slopes of their face, in terms of stability checks. A
wall with a height of 17.0 m was verified, dimensioned using gabions and geogrids as a reinforcement
element for the slopes: Vertical (90º), 93º, 96º and 99º. In the development of the study, the same
geological-geotechnical profile was used with an overload at the crest of the landfill of 20 kPa. For each of
these slopes, it was verified the values of external and internal stability intrinsic to the walls reinforced with
geogrids, by using MacStar® W4 software. The results showed some tendency in terms of the slope face
variation. The overturning and soil bearing pressure checks were the two analyzes with the most significant
change.

KEYWORDS: reinforced soils, geogrids, reinforced walls, gabion, geosynthetics, wall stability.

1 Introdução

Segundo Mitchell e Villet (1987) apud Ehrlich e Becker (2009) o emprego de estruturas de
contenção com a aplicação de fibras vegetais datam muito antes do surgimento do concreto armado,
contudo, somente em 1970, com o desenvolvimento da indústria petrolífera, surgiram as primeiras
aplicações de muros reforçados com fibras poliméricas, solução essa que já corresponde a maior parte de
projetos de contenções executadas na América do Norte, Europa e Japão. Já no Brasil, a técnica de solos
reforçados com geotêxtil teve início na década 80, com o primeiro projeto racional de muro de solo
reforçado datado em 1986 (Carvalho et al., 1986). Os geossintéticos assumiram um importante papel na
engenharia geotécnica, tendo grande aceitação como elemento de reforço, com crescimento acentuado nos
últimos anos por apresentar vantagens técnicas e econômicas (Sayão et al., 2009). De acordo com Mota

63
(2011), o desenvolvimento da indústria introduziu o geossintético na direção horizontal, por meio de
grelhas, ao invés de tiras, reforçando o solo de contenção em ambas as direções.
Os solos, a depender do grau de compactação, em geral apresenta boa resistência à compressão e ao
cisalhamento, porém a resistência à tração é baixa ou então nula. Dessa forma as geogrelhas em estruturas de
contenção de muros em solos reforçados, ou seja, a associação do solo com os reforços, conferem a ele
melhores propriedades mecânicas, atuando como “armaduras” nos solos, ampliando significativamente a
resistência do maciço, capazes de mobilizar grande resistência aos esforços de tração no solo. Para
Gerscovich et al. (2016) as geogrelhas são caracterizadas, principalmente pelos parâmetros de resistência a
tração e o módulo de rigidez à tração, a abertura da malha e a capacidade de ancoragem.
Os projetos de muros em solos reforçados apresentam condições de alta permissividade quanto a
geometria, que pode facilmente se adaptar à superfície e topografia do terreno, às inclinações e curvaturas,
permitindo se adaptar aos ambientes. De modo especial, a inclinação de face do muro em solo reforçado
com geogrelhas, apresentam grandes variações quanto ao ajuste das caixas de gabião, Ehrlich e Becker
(2009) apresenta modelos de dimensionamento e valores típicos de inclinação de face. Que variam desde
inclinação nula, ou seja, sem deslocamentos relativos entre as caixas, até muros bastantes abatidos com
valores que passam do 110º. Usualmente é empregado a inclinação de 96º (10V:1H) em projeto envolvendo
muros com adição de geogrelhas como elemento de reforço. Em vista dessa inclinação, o procedimento de
verificação comum aos muros sofre alterações.
De acordo com Avesani Neto e Geroto (2016) em muros de grandes alturas, a magnitude dos
esforços atuantes faz com que sejam necessárias as verificações de capacidade de carga da fundação e a
análise de estabilidade global do maciço, sendo empregado para essas verificações os métodos analíticos e
análises pelo equilíbrio limite, com o uso de modelos computacionais. Portanto, esse trabalho busca
explorar o comportamento desses muros por meio da modelagem computacional sob a relação da inclinação
de sua face, quanto a estabilidade global e interna, as verificações de deslizamento e tombamento do muro,
e verificação das tensões na fundação.
As estruturas de muro com o uso de solos reforçado devem atender as condições de estabilidade
adicionais, atendendo não somente aos critérios de estabilidade externa, como também aos de estabilidade
interna. Segundo Ehrlich e Becker (2009) as verificações de estabilidade externa podem ser conduzidas
considerando a massa de solo reforçado como a de um muro comum de gravidade (comportando-se como
um maciço monolítico), devendo garantir a estabilidade global do maciço, e a estabilidade quanto ao
tombamento da estrutura, deslizamento do muro e da capacidade de carga na fundação. Em muros de solo
reforçado com geogrelhas deve-se garantir ainda que não ocorram rupturas no material de reforço, sendo
analisado a relação entre a tração solicitante no ponto da superfície de ruptura e da resistência nominal à
tração das geogrelhas, gerando instabilidade tanto no reforço quanto movimentos relativos na face do muro,
a Figura 1 apresenta os mecanismos de instabilidade nesse tipo de estrutura.

A B E F

C D
G H

Figura 1. Mecanismos de estabilidade externa: (A) deslizamento, (B) tombamento, (C) capacidade da
fundação, (D) instabilidade global; Mecanismo de estabilidade interna: (E) rupturas dos reforços, (F)
arrancamento dos reforços, (G) desprendimento da face, e (H) instabilidade local (Fonte: adaptado de
Ehrlich e Becker (2009)).

64
2 Materiais e Métodos

As verificações propostas devem ser feitas analisando as propriedades do maciço, ou seja, da análise
do perfil geológico-geotécnico, e da geogrelha, caracterizada principalmente pela resistência a tração. A
interpretação da influência da inclinação de face na estabilidade de muro em solos reforçados com
geogrelhas será feita a partir do perfil geológico-geotécnico apresentado na Figura 2, onde é proposto um
muro com altura de 17,0 metros.
Foram determinados para as análises dois materiais no perfil geológico-geotécnico, o solo
compactado (convencionalmente recomenda-se o uso de material, de acordo com Teixeira (2003) tal
material permite melhor aderência na interface solo-geogrelha na ordem de 50%, em relação aos solos mal
graduados ou solos finos), usado no muro de solo reforçado, e o denominado solo natural que será disposto
como material de fundação e de embutimento na base do muro, os parâmetros de resistência de Mohr-
Coulomb e peso específico natural são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Propriedades físicas e mecânica dos materiais estudados.


Peso Específico Natural Coesão Ângulo de
Material
(kN/m3) (kPa) Atrito (º)
Solo Natural 19,0 20,0 32,0
Aterro Compactado 19,0 0,0 30,0

No dimensionamento da estrutura foram utilizadas três geogrelhas com diferentes resistências à


tração, sendo a camada superior dimensionada para uma tração máxima de 40 kN/m (geogrelha laranja), a
camada intermediária com resistência de 90 kN/m (geogrelha azul) e a camada inferior com resistência de
200 kN/m (geogrelha vermelha). Essa variação é feita a partir do aumento do empuxo de terra em função da
profundidade, quanto mais alto for a estrutura, mais resistente deve ser a geogrelha.
Todas as geogrelhas foram projetadas com um comprimento de 12,0 metros, e espaçamento vertical
entre elas de 1,0 metro. Essas condicionantes foram pré-definidas a fim de garantir os valores de fator de
segurança mínimo em todas as análises realizada de acordo com a ABNT 16920-1 (2021). Segundo Sayão
et al. (2009), a fim de melhorar as condições de estabilidade na base do muro, ao menos um 1/3 da altura
total do muro deve ser dimensionada com gabiões de menor altura, nesse caso com 50 cm, e oferecer um
engastes mínimo (embutimento) na base do muro de 10% da altura total do muro.

Geogrelha - Resistência à Tração de 200 kN/m Geogrelha - Resistência à Tração de 90 kN/m Geogrelha - Resistência à Tração de 40 kN/m

Figura 2. Perfil geológico-geotécnico estudado nas análises de estabilidade.

O estudo foi desenvolvido a partir de quatro inclinações pré-definidas. Como citado anteriormente os
projetos de muro em solos reforçados com geogrelhas são bastante permissíveis quanto a geometria a ao

65
ajuste de suas caixas de gabião, porém, usualmente são empregadas inclinações médias de 96º, ou seja, a
cada caixa de um metro, a superior é relativamente posicionada 10 cm para a direção contrária a face.
Portanto foram estudados 4 cenários: Vertical (90º), 93º (10V:0,5H); 96º (10V:1H) e 99º (10V:1,5H) –
ângulo entre o nível do terreno e a face do muro reforçado.
As verificações e análises foram interpretadas pelo software MacStar® W4, com distribuição livre e
gratuita para interpretações, configurado a partir das solicitações e verificações de uso prescritas na Norma
Brasileira de Muros e Taludes em Solos Reforçados (ABNT NBR 16920-1:2021).
Foram imputados em todas análises e verificações uma sobrecarga de 20 kPa na crista do muro, o que
equivale a um caminhão de 70 toneladas. Em grandes empreendimentos e em estruturas de contenções de
grandes alturas, a inclinação, ou ajuste relativo entre as caixas, podem gerar economias significativas de
área útil, podendo viabilizar o empreendimento.

2.1 Análises de Estabilidade Interna

O método empregado para as análises de estabilidade interna no muro de solo reforçado foi o de
ancoragem. Nesse modelo a estrutura é dividida entre trecho ativo, com tendência a mobilização de
deslocamento, e um trecho resistente, em que as camadas de reforço são ancoradas. No software MacStar®
W4 o cálculo de resistência a tração necessária ao reforço, ou seja, o empuxo em cada ponto, é determinado
pelo método de Coulomb (1776). Já a verificação do comprimento das geogrelhas são dimensionadas em
função da resistência ao arrancamento da zona resistente. O processo descrito é ilustrado na Figura 3.

Figura 3. Análise do equilíbrio de estabilidade interna da massa de solo reforçado (Fonte: Ehrlich e
Becker (2009)).

Portanto, a resistência a tração necessária para o reforço é dada em função da tensão horizontal,
determinada pelo cálculo de empuxo, e o espaçamento vertical das geogrelhas entre as camadas. O cálculo
é dado pela equação (1).

Td = Sv ∙ σh (1)

Em estruturas com grandes alturas, e que se utiliza geogrelhas com resistência à tração diferentes,
recomenda-se a verificação em mais de um ponto. Dessa forma o estudo fez a verificação em três alturas
diferentes.

2.2 Análises de Estabilidade Externa

As análises de estabilidade externa são divididas entre a análise de ruptura global, e das verificações
comum a muros. Para a análise de estabilidade global foi empregado o método analítico de equilíbrio limite
de Bishop (1955), onde o fator de segurança é calculado pela razão entre forças resistentes e as forças
mobilizadas, a pesquisa das superfícies de ruptura é circular, conforme equação 2.
τResistentes
FS = (2)
τSolicitantes

As verificações de muro são: (a) ao tombamento, no qual é verificado a estabilidade dos momentos
em torno da base na extremidade externa, em que o momento resistente deve ser maior do que o momento
solicitante (equação 3); (b) ao deslizamento, no qual é verificado o equilíbrio das componentes horizontais

66
das forças atuantes (equação 4); e (c) a capacidade de carga na fundação, no qual é verificado a capacidade
de carga no solo de fundação e as tensões geradas pelo muro, o cálculo executado pelo software MacStar®
W4 é feito pelo método clássico de Terzaghi-Prandtl (Terzaghi; Peck, 1967) (equação 5).

Mestabilizante
FSTOMBAMENTO = ≥ 1,2 a 1,5 (3)
Msolicitante

Fh Estabilizantes
FSDESLIZAMENTO = ≥ 1,2 a 1,5 (4)
Fh solicitante

qmáx
FSFUNDAÇÃO = ≥ 2,0 a 2,5 (5)
σv Base

A seção do perfil geológico-geotécnico foi disposta para as análises no software MacStar® W4,
conforme apresentado na Figura 4, as análises internas foram posicionadas em três alturas diferentes do
muro, TMS, TMS2 e TMS3. Na mesma imagem é possível identificar a inclinação do muro, onde a linha
tracejada em verde representa a face do muro e a linha vermelha o terreno na horizontal.

Interna 03

Interna 02

Inclinação Aterro
Compactado

Interna 01

Solo Natural

Figura 4. Exemplificação da seção de Muro reforçado com Geogrelhas.

3 Resultado e Discussões

3.1 Análises de Estabilidade Externa

As análises externas contemplam não somente as verificações de estabilidade global, como também
as verificações inerentes ao dimensionamento de muros. Ao longo do estudo, viu-se significativa variação
desses fatores de segurança, de tal forma que, ao se considerar uma estrutura monolítica para as
verificações de muro, a resultante das forças, pelo equilíbrio entre elas, sofre alteração tão intensa quanto a
inclinação da face. Na tabela 2 são apresentados os valores dos fatores de segurança das verificações de
muro.

67
Tabela 2. Resumo dos fatores de segurança para as verificações de muro.
Verificação Vertical (90º) 93º 96º 99º
Deslizamento 2,33 2,51 2,76 3,03
Tombamento 4,07 4,38 4,87 5,49
Pressão na Fundação 3,56 4,19 5,06 6,00

A verificação que teve maior sensibilidade sob a variação da inclinação é a pressão na fundação, que
mostrou valor de 3,56 no muro vertical (90º), e para a seção de 99º (10V:1,5H) obteve um FS = 6,00,
variação de cerca de 68%. Na Figura 5 são apresentadas as análises da seção mais inclinada (muro vertical
– 90º) e da mais abatida (99º), a Figura 5a) mostra os resultados do software para as verificações de muro
vertical, e a Figura 5b) o resultado para a inclinação de 99º.

b
a )
)

Figura 5. Resultados das verificações de muro na seção: a) muro na vertical (90º), b) com inclinação de 99º.

3.2 Análises de Estabilidade Interna

As análises de estabilidade interna correspondem a avaliação tanto da resistência à tração das


geogrelhas aos esforços solicitantes, como ao desprendimento de face, arrancamento do reforço e a
possíveis instabilidades locais. Conforme apresentando na tabela 3, os valores obtidos nos fatores de
segurança para as condições estudadas apresentaram baixa variação, algumas delas com diferença apenas
da ordem de 10-2, o que a rigor não dá para se observar um comportamento relacionado.
Na verificação de estabilidade interna do bloco TMS3, foram observadas as maiores mudanças,
apresentando um crescimento linear com o aumento da inclinação até o ângulo de 96º, e voltando aos
patamares anteriores no ângulo de 99º. Essa maior variação pode ser explicada pela proximidade do ponto
de análise com a sobrecarga de 20 kPa na crista do talude, gerando tensões horizontais induzidas de maior
intensidade na região próxima a crista. Na figura 6 é apresenta as análises de estabilidade interna dos
blocos TMS, TMS2 e TMS3 para o muro com ângulo de 96º.

Tabela 2. Resumo dos fatores de segurança para as verificações internas.


Verificação Vertical (90º) 93º 96º 99º
TMS 1,56 1,56 1,54 1,59
TMS2 1,50 1,54 1,59 1,64
TMS3 2,30 2,34 2,81 2,39

É apresentado na Figura 7 o gráfico comparativo do fator de segurança versus a inclinação do muro de


todas as avaliações e análises realizadas para o estudo foco desse trabalho (análises internas e externas).
Destacam-se nesse gráfico duas curvas, a curva de Verificação de Deslizamento e de Pressão na Fundação.
Conforme apresentado anteriormente a influência do fator de segurança dessas verificações é mais
expressiva e acentuada, apresentando comportamento linear, de tal forma que a verificação da pressão na
fundação tem maior inclinação entre todas as demais. É observado também o fator de segurança para a
análise de estabilidade global, no qual não se verificou grande influência pela metodologia proposta, com
uma reta praticamente horizontal

68
a b
) )

c
)
Figura 6. Resultados das verificações interna muro de 96º: a) TMS, b) TMS2, c) TMS3.

8,0
Estabilidade Global Estabilidade Interna 1
7,0 Verificação de Deslizamento Estabilidade Interna 2
Verificação de Tombamento Estabilidade Interna 3
Fator de Segurança (FS)

Pressão na Fundação
6,0

5,0

4,0

3,0

2,0

1,0

0,0
90
Vertical (90º) 93 96 99
Inclinação de face do Muro (graus)
Figura 7. Gráfico comparativo da variação do Fator de Segurança.

4 Conclusões

Durante os estudos foram verificadas importantes contribuições da inclinação de face dos muros em
solos reforçados com geogrelhas no que tange o fator de segurança. Conforme mencionado, usualmente os
projetos de engenharia solicitam uma inclinação na ordem dos 96º (10V:1H), seja por sua facilidade
executiva assim como pelas análises de estabilidade.
Os resultados dessa pesquisa mostram que, os maiores benefícios com o aumento da inclinação
estão diretamente ligados as verificações de muro, onde foram observadas variação de até 68% no fator de
segurança, quando visto a análise da capacidade de carga na fundação, que de acordo com Avesani Neto e
Geroto (2016) em muro com grandes alturas, tal verificação se torna crucial, devido à magnitude dessas
forças. Além disso, as demais verificações de muro tiveram variações médias de 32% (tombamento e
deslizamento), devido à mudança significativa na resultante das forças pela inclinação. As verificações

69
internas, por outro lado, apresentaram pouca sensibilidade à variação da inclinação do muro, tal fato era de
se esperar já que tal magnitude tem grande influência nos cálculos devido à resistência à tração das
geogrelhas, e não a geometria do muro, quando estudada baixas inclinações de face.
Associado a essa metodologia do estudo de inclinação do muro, no qual o foco se dá pela
observação do fator de segurança observando os conceitos do equilíbrio pelo estado limite nas
verificações propostas (internas e externas), ou seja, fazendo apenas as verificações do estado limite de
utilização (ELU), deve-se adicionalmente entender o comportamento de deformação e conforto do usuário
nas estruturas de face desse muro, estudando os parâmetros de rigidez das telas do gabião, ou até mesmo
de faces mais rígidas, devido ao ajuste da inclinação, pelo estado limite de serviço (ELS).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Geotécnica – COBRAMSEG, Belo Horizonte. Anais, ABMS.
Azambuja, E., (1999) Determinação da Resistência Admissível dos Geossintéticos Empregados como
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Terzaghi, K.; Peck, R. B. (1967) Soil mechanics in engineering practice. Wiley, New York, 592 p.

70
Análise de Estabilidade de um Talude Rochoso na Pedreira do
Taquaruçu, Região de Ponta Grossa – PR

Valéria de Almeida
Acadêmica de Engenharia Civil, Departamento de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Ponta
Grossa (UEPG), Ponta Grossa, Brasil, vall_almeida_@hotmail.com

Beatriz Engels
Engenheira Civil, Departamento de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG),
Ponta Grossa, Brasil, beatrizengels10@gmail.com

Luana de Fátima Cardoso


Engenheira Civil, Departamento de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG),
Ponta Grossa, Brasil, cardosoluhana@gmail.com

Carlos Emmanuel Ribeiro Lautenschläger


Professor, Departamento de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ponta
Grossa, Brasil, cerlautenschlager@uepg.br

Bianca Penteado de Almeida Tonus


Professora, Departamento de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ponta
Grossa, Brasil, biancapenteado@gmail.com

RESUMO: Este artigo apresenta a avaliação de descontinuidades e elementos estruturais presentes em um


maciço rochoso localizado na Pedreira do Taquaruçu em Ponta Grossa – PR, por meio da análise cinemática
da estabilidade de um talude rochoso, com base em métodos da mecânica de rochas e a partir do uso de
softwares. Foi realizada a análise in situ de um talude rochoso, com aplicação do método scanline de
avaliação, bem como pesquisas sobre a geologia local, análises cinemáticas e informações fornecidas pela
empresa responsável da pedreira. As análises cinemáticas empegaram o uso de softwares, considerando
modos clássicos de representação em mecânica das rochas, como os estereogramas. A classificação do
maciço rochoso se deu pelo método Rock Mass Rating (RMR) e o tratamento de dados somado a análise
cinemática do talude através dos softwares FieldMove Clino, para Diagramas de Rede de Schmidt-Lambert
e GEO5, para rupturas planares e em cunha. Conclui-se que o maciço rochoso analisado tem boa
estabilidade, o que reafirma-se por não haver a probabilidade de ocorrer tombamento de blocos, mesmo
sendo uma pedreira em atividade. A análise cinemática também apresentou boa estabilidade devido aos
coeficientes de segurança obtidos para as rupturas em questão estarem acima do grau recomendado.

PALAVRAS-CHAVE: Descontinuidades, Estabilidade, Estereograma e Análise Cinemática.

ABSTRACT: This article presents the evaluation of discontinuities and structural elements present in a
rocky massif located in Taquaruçu Quarry, in Ponta Grossa - PR, through kinematic analysis of a rocky
slope stability, based on rock mechanics methods and use of software. An in situ analysis of a rocky slope
was carried out, using the scanline evaluation method, as well as research on the local geology, kinematic
analysis and information provided by the company responsible for the quarry. The kinematic analyzes
employed the use of software, considering rock mechanics classical models of representation, such as
stereograms. The rock mass classification was performed using the Rock Mass Rating (RMR) method, and
the data-processing, as well as the kinematic analysis of the slope, through the FieldMove Clino software,
for Schmidt-Lambert net diagrams and GEO5, for planar and wedge failures. It is concluded that the rock
mass analyzed has good stability, which is confirmed by the fact that there is no probability of blocks
overturning, even though it is an active quarry. The kinematic analysis also showed good stability due to
the safety coefficients obtained for the ruptures in question being above the recommended degree.

KEYWORDS: Discontinuities, Stability, Stereogram and Kinematic Analysis.

71
1 Introdução

As pedreiras de mineração são áreas de exploração de matérias primas rochosas destinadas a inúmeros
ramos da construção civil. As empresas dos setores de pavimentação e concretagem possuem altos índices
de utilização de insumos de rochas, sob padrões de qualidade rigorosos. A Pedreira do Taquaruçu, área onde
foi desenvolvida a presente pesquisa, localiza-se em Ponta Grossa, pertencente a empresa Antônio Moro,
sendo uma mineradora de diabásio que direciona seus insumos diretamente para a pavimentação.
Conforme as rochas são retiradas do subsolo, são formados taludes para a manutenção da estabilidade
da escavação, evitando desmoronamentos. Nesse contexto, para avaliar a estabilidade dos taludes a serem
escavados, é imprescindível o mapeamento e caracterização de descontinuidades e suas respectivas
orientações, uma vez que formam camadas com resistências diferentes da rocha que as circundam, gerando
potencial de escorregamento ou queda de blocos, comprometendo a segurança local.
O estudo da estabilidade de taludes rochosos permite obter registros sobre a qualidade de estruturas
existentes, monitorar taludes, aperfeiçoar processos de análise estrutural e evitar que ações equivocadas
sobrevenham. O presente estudo tem por objetivo a avaliação de descontinuidades e elementos estruturais
presentes no maciço, por meio da análise cinemática da estabilidade de um talude rochoso, com base em
métodos da mecânica de rochas e a partir do uso de softwares.

2 Aspectos Geológicos

O talude perscrutado se encontra na unidade morfoestrutural referente à Bacia Sedimentar do Paraná,


sendo parte da unidade morfoescultural do Segundo Planalto Paranaense e inserido na subunidade do
Planalto de Ponta Grossa. A direção geral da morfologia é NW-SE (noroeste-sudeste), modelada em rochas
do Grupo Itararé (ITCG, 2006). O Grupo Itararé é um conjunto de camadas rochosas formadas no período
neopaleozóico presentes na Bacia do Paraná, associado à presença de uma diversidade de bens minerais,
como águas subterrâneas e petróleo. É marcado pela complexidade com relação ao processo de formação e
as características de seus componentes.
O talude em questão está inserido na Bacia Sedimentar do Paraná, que se inicia na serra de São Luís
do Purunã e chega à divisa no oeste do estado, abrangendo o segundo e terceiro planalto. Assim, é possível
encontrar rochas com origem de formação marinha, lacustre, fluvial, glacial e magmática. Além dessas, são
notáveis os inúmeros aluviões presentes que tem origem dos rios que cortam o território paranaense.
Analisando a mesorregião que o talude se encontra, foi inferido que ele está na mesorregião centro
oriental, englobando cidades como Ponta Grossa, Arapoti, Carambeí, Telêmaco Borba e Tibagi. Esse
território apresenta grandes números de sills e diques de rochas básicas, como o diabásio, que cruzam suas
delimitações no sentido noroeste.
Os tipos de rochas encontrados em Ponta Grossa surgiram a partir de atividades tectono-magmáticas
que ocorreram durante o período mesozoico, quando houve a reativação do arco de Ponta Grossa. Devido a
isso, tem-se a feição em arco da formação, onde existem vários diques de diabásio, diorito, diorito pórfiro e
quartzo diorito. Esse arqueamento da estrutura acarretou no aparecimento de fraturas paralelas que foram
preenchidas por corpos intrusivos formando diques básicos (MINEROPAR, 2001).

3 Metodologia de Pesquisa

O maçico analisado encontra-se na Pedreira do Taquaruçu em Ponta Grossa – PR, próxima à rodovia
BR–376 (Rodovia do Café), conforme a Figura 1 (a), sendo fonte de diabásio para o uso como agregado
para pavimentação. Para identificação das descontinuidades, essenciais na análise da estabilidade do maciço,
foi realizada a análise in situ de um talude rochoso, e levantamento de informações pertinentes, com
aplicação do método scanline de avaliação, com uma extensão de 30 metros em um único lance de 15 metros
de altura, conforme a Figura 1 (b), bem como pesquisas sobre a geologia local, análises cinemáticas e
informações fornecidas pela empresa responsável da pedreira.
As análises cinemáticas foram realizadas empregando o uso de softwares, considerando modos
clássicos de representação em mecânica das rochas, como os estereogramas, assegurando resultados
baseados na real configuração presente no local de análise. A classificação do maciço rochoso se deu pelo
método Rock Mass Rating (RMR) e o tratamento de dados somado a análise cinemática do talude através
dos softwares FieldMove Clino, para Diagramas de Rede de Schmidt-Lamber e GEO5, para rupturas
planares e em cunha.

72
(a) (b)

Figura 1. Pedreira do Taquaruçu em Ponta Grossa – PR: (a) Localização (GOOGLE MAPS, 2022,
GOOGLE EARTH, 2022); (b) Scanline de avaliação de 30 metros (ENGELS & CARDOSO, 2021).

4 Resultados

4.1 Caracterização das famílias de descontinuidades

No total foram mapeadas e descritas 32 descontinuidades que cruzaram a scanline de 30 metros de


comprimento, em um único lance de 15 metros de altura. Através do estereograma do talude com todos os
polos dos planos mapeados, foram identificadas cinco famílias de descontinuidades principais, como consta
na Figura 2.

Figura 2. Estereograma geral do talude indicando os polos das descontinuidades levantadas a partir da
scanline (ENGELS & CARDOSO, 2021).

Para a determinação da atitude média das descontinuidades de todas as famílias utilizou-se o resultado
da medição pelo aplicativo FieldMove Clino. A família número 01, representada no estereograma da Figura
3 (a), é composta por cinco descontinuidades, elas interceptam a scanline na faixa de 9 a 21,60 metros. Para
essa família a atitude média foi de N334/30. As descontinuidades da família 01 possuem feições fechadas e
abertas, a média das aberturas é considerada extremamente fechadas, sendo que nenhuma das aberturas
possui preenchimento. O espaçamento médio entre as descontinuidades é de 3,46 metros e são classificadas
como muito afastadas. A persistência é média e a rugosidade pelo JRC representa a faixa de dois a oito.
A família número 02 é constituída por sete descontinuidades e sua atitude média é N162/81, conforme
seu estereograma na Figura 3 (b). Caracterizando as descontinuidades, observou-se que quatro delas
interceptam a scanline entre 3,5 e 9 metros, consideradas próximas entre si. O restante estava na faixa 24,7
e 29,55 metros, em que duas são consideradas próximas e a outra é considerada muito afastada. A
continuidade classifica quatro consideradas pequenas, uma média e duas com índice elevado. A rugosidade

73
pelo JRC representa a faixa de dois a oito. A família apresenta somente duas descontinuidades com feições
abertas, uma possuindo preenchimento com quartzito. Uma dentre as sete descontinuidades presentes nessa
família possui presença de água, a única em todo o trecho do talude mapeado.
São três descontinuidades que formam a família 03, como consta na Figura 3 (c), com atitude média
de N212/79. Uma das descontinuidades se encontra no primeiro terço do trecho e as outras duas na parte
final. A persistência das descontinuidades é média e suas aberturas são consideradas largas e todas sem
preenchimento. Duas são moderadamente afastadas entre si e a outra é extremamente afastada. A rugosidade
dessa família está na faixa de seis a oito, conforme classificação JRC.
A atitude média da família 04 é de N247/82, conforme Figura 3 (d). É constituída por oito
descontinuidades distribuídas uniformemente na scanline entre 7 e 28 metros. As descontinuidades são
consideradas muito afastadas entre si e a persistência de metade delas é média, enquanto a outra metade é
de elevada continuidade. A predominância dessa família é de descontinuidades com aberturas largas e muito
largas com preenchimento de quartzito.
A família 05 é integrada por somente duas descontinuidades extremamente afastadas. A primeira está
situada no início da scanline considerada pequena e a outra com continuidade elevada na faixa central. As
duas possuem aberturas muito largas e uma delas possui preenchimento com quartzito, a qual apresentou
rugosidade representativa na faixa de dez a doze. O estereograma apresenta atitude média de N278/84 em
concordância com a Figura 3 (e).

(a) (b) (c)

(d) (e)

Figura 3. Estereogramas das famílias de descontinuidades: (a) família 01, (b) família 02, (c) família 03, (d)
família 04, (e) família 05 (ENGELS & CARDOSO, 2021).

4.2 Classificação do maciço rochoso

A classificação do maciço rochoso foi feita a partir do método RMR. O maciço apresentou-se
homogêneo na extensão analisada e, para fins de classificação, considerando as diferentes características no
mapeamento das descontinuidades, adotaram-se as condições médias observadas de cada família.
O valor de resistência foi definido a partir de ensaios com o martelo de geólogo e um canivete. Após
analisar a ocorrência de poucas lascas de amostras de diabásio com vários golpes com o martelo
petrográfico, atribuiu-se ao material uma resistência superior a 250 MPa, sendo assim, uma rocha
extremamente resistente (R6). O valor atribuído à classificação RMR é de peso 15. Não foi possível
identificar um valor para o RQD, devido a limitações de recursos, equipamentos e a indisponibilidade de

74
testemunhos provenientes de sondagens rotativas. Dessa forma, foi atribuído um valor intermediário da
classificação, peso igual a 13, para que o talude ainda possa ser analisado.
Quanto ao espaçamento, visto que o valor médio observado entre todas as famílias avaliadas neste
estudo é superior a dois metros, o peso adotado no processo classificatório é de 20. Classificou-se o padrão
de descontinuidades como sendo superfície estriada. Planos classificados assim possuem espessura de
preenchimento menor a cinco milímetros ou abertura persistente entre um a cinco milímetros. Conforme
constatado em campo, somente umas das descontinuidades tinha presença de água, todo o restante foi
considerado com vazão nula e completamente seca. Conforme a classificação, o peso atribuído foi de 15.
Após todas as classificações e correções realizadas, determinou-se a classe do maciço rochoso. O
somatório total foi de 77, logo, o talude rochoso é de classe II descrito como uma boa estabilidade, segundo
o método RMR de Bieniawski, como consta na Tabela 1.

Tabela 1 – Classificação do maciço rochoso (FABRÍCIO et al., 2015).


Peso Total 100-81 80-61 60-41 40-21 <21
Número da Classe I II III IV V
Descrição Excelente Bom Regular Ruim Péssimo

4.3 Análise cinemática

Como o talude está presente em um maciço que faz parte de uma pedreira de diabásio, considerou-se
a composição do maciço uniforme ao longo do trecho. Os dados necessários à entrada de informações do
software utilizado para análise de ruptura planar são os seguintes: peso específico da rocha (𝛾) de 28,90
kN/m³ (NETO, 2019), resistência da rocha a compressão (σi) de 250 Mpa, índice geológico de tensão (GSI)
de 65, Fator de dano (D) de 1 e parâmetros materiais da rocha (mi) de 15 (LINS; FILHO; SANTANA, 2015).
Para a realização da simulação da ruptura em cunha, por sua vez, tem-se os seguintes valores: direção do
talude de rocha (𝜑1) de 152 º, inclinação da face da rocha (α1) de 82º, direção da face superior (𝜑2) de 152º,
inclinação da face superior (α1) de 0º, altura da superfície (H) de 15 metros, peso específico da rocha (𝛾) de
28,90 kN/m³ (NETO, 2019), ângulo de atrito efetivo (𝜑) de 36° (OLIVEIRA, 2017) e coesão efetiva (c) de
31 KPa (JUNIOR, 2016).
A orientação da face do talude e a atitude do mergulho são de N152/82, respectivamente, dados
obtidos em campo e apresentados pela Figura 4. A partir das informações coletadas em campo, analisou no
software GEO5 a possibilidade de ruptura planar e em cunha das cinco famílias de descontinuidades.

(a) (b)

Figura 4 – (a) Estereograma e (b) representação 3D da face do talude (ENGELS & CARDOSO, 2021).

Para a análise de ruptura planar foram avaliadas as atitudes médias das famílias em comparação ao
estereograma representativo da face do talude. As famílias 01, 04 e 05 possuem mergulhos não coincidentes
ao do plano do talude, não havendo probabilidade de ocorrer o deslizamento planar, o que dispensa a análise
das mesmas. A altura da scanline considerada é 1,50 metro para todas as análises.
Inclinação da superfície de deslizamento da família 02 é de 82°. A análise realizada pelo software

75
para a ruptura planar é de que o talude não apresenta risco, conforme a Figura 5.

Figura 5 – Análise de ruptura planar da família 02 (ENGELS & CARDOSO, 2021).

O mesmo procedimento foi realizado para a família 03, que com inclinação de deslizamento de 79°,
é a que apresenta maior probabilidade de ruptura planar, porém, ainda possui baixas chances para tal, pois
seu fator de segurança é maior que o exigido por norma.
Nenhuma das combinações entre famílias de descontinuidades se encaixa no perfil requerido para a
ruptura em cunha. Como demonstrativo de uma possível ruptura em cunha entre duas das descontinuidades
isoladas mapeadas na pedreira, foi realizada a análise entre a descontinuidade 01 e 13, como consta na figura
7. Para a análise, inseriu-se no software a geometria do talude, presente na Figura 6. Os dados de entrada
foram os seguintes: direção da superfície de deslizamento 01 e 13 (φ1) de 93° e 219°, repectivamente, e
inclinação da superfície de deslizamento 01 e 02 (α1) de 80° e 83°, respectivamente.
Mesmo com o ponto de interseção dos planos estando posterior a face do talude e na sua mesma
direção (condições estas para ruptura em cunha), a análise cinemática não acusou necessidade de contenção
para evitar o desmoronamento, visto que, o fator de segurança está dentro do estipulado, como consta na
figura 8. Para considerar uma possível situação desfavorável, tomou-se a pior combinação entre
descontinuidades individuais (não considerando as famílias) para avaliar o fator de segurança. Porém, essa
circunstância não é representativa de suas respectivas famílias e tão pouco do maciço rochoso. Sendo assim,
a ruptura em cunha não é eminente no talude rochoso da pedreira do Taquaruçu, devido à orientação de cada
família e como elas interagem entre si, considerando como parâmetro a atitude da face do talude.

Figura 6 – Representação 3D da face do talude (ENGELS & CARDOSO, 2021).

76
Figura 7 – Estereograma da combinação entre família 01 e 13 (ENGELS & CARDOSO, 2021).

Figura 8 – Resultados da ruptura em cunha (ENGELS & CARDOSO, 2021).

A análise de tombamento de blocos foi feita por estereogramas das famílias e sua interação. A Figura
9 demonstra o estereograma com a área gráfica que se houver famílias, tanto em um hemisfério como no
outro, haveria a possibilidade de tombamento de blocos, que não foi o caso do talude em questão.

Figura 9 – Estereograma tombamento de blocos (ENGELS & CARDOSO, 2021).

77
5 Conclusão

A partir da classificação Rock Mass Rating (RMR) é possível afirmar que a condição das
descontinuidades do maciço rochoso é estável, validando os resultados sobre a rocha diabásio presentes na
literatura. De modo geral, a análise cinemática realizada pelo software GEO5 e o estudo dos estereogramas
não apresentaram riscos de ruptura planar, em cunha e tombamento de blocos na região observada da
pedreira. Dessa forma, é possível afirmar que a detonação para exploração da matéria prima ocorreu de
forma controlada e segura, visto que o talude não possui riscos de escorregamentos. As análises cinemáticas
foram conclusivas, devido aos coeficientes de segurança obtidos para as rupturas em questão estarem acima
do grau recomendado, atestando que o talude analisado é estável, mesmo sendo uma pedreira em atividade.
Indica-se como intervenção apenas a limpeza do talude, para retirar blocos soltos da escavação. As estruturas
de contenção ou contenções pontuais não se fazem necessárias na linha de varredura.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a empresa Antônio Moro por permitir a condução deste estudo sobre o talude
rochoso localizado na Pedreira do Taquaruçu em Ponta Grossa – PR.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Engels, B.; Cardoso, L. B. (2021). Análise de estabilidade de um talude rochoso na Pedreira do Taquaruçu,
região de Ponta Grossa – PR. . Tese de conclusão de curso, Departamento de Engenharia Civil,
Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná.
FABRÍCIO, J. F. et al. Análise e interpretação de parâmetros de qualidade de maciço para proposição de
modelo geomecânico (2015). REMOA/UFSM Monografias Ambientais: Revista do Centro de Ciências
Naturais e Exatas – UFSM, Santa Maria, n.14, p. 62-79, 2015. Disponível em:
<https://periodicos.ufsm.br/remoa/article/view/18712>. Acesso em: 18 maio 2020.
GOOGLE EARTH. MAPAS. Disponível em: <https://earth.google.com/>. Acessado: 19 mar. 2022.
GOOGLE MAPS. MAPAS. Disponível em: <https://www.google.com.br/maps>. Acessado: 19 mar. 2022.
ITCG – INSTITUTO DE TERRAS, CARTOGRAFIA E GEOLOGIA DO PARANÁ. Atlas geomorfológico
do estado do Paraná. Governo do estado do Paraná, Curitiba (2006). Disponível em:
<http://www.itcg.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=55>. Acessado: 15 set 2020.
JUNIOR, P. R. B. C. Estudos Geológicos-Geotécnicos para análise de estabilidade das frentes de extração
de uma pedreira de diabásio localizada no interior do estado de São Paulo. Dissertação (Mestrado em
Geologia de Minas) – Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará. Belém, 2016.
LINS, P. G. C; FILHO, R. S. V; SANTANA, D. S. Aplicação do critério de ruptura de Hoek-Brown na
análise de estabilidade de taludes. Revista Fundações e Obras Geotécnicas, p. 46, 2015.
MINEROPAR. Atlas Geológico do Paraná. Secretaria da Indústria, do Comércio e do Turismo. Curitiba
(2001). Disponível em: <http://www.geografia.seed.pr.gov.br/arquivos/File/2012/atlas_geologico_par
ana.pdf>. Acessado: 18 jul 2020.
NETO, J. A. C. Estudos tecnológicos de rochas da intrusão de Limeira, visando aplicação como agregados
em obras de engenharia. Dissertação (Mestrado em Ciências em Geotecnia) – Escola de Engenharia de
São Carlos, Universidade de São Paulo (USP). São Carlos, 2019.
OLIVEIRA, J. R. Classificação e resistência de juntas rochosas sãs e alteradas. Dissertação (Mestrado em
Ciências em Engenharia Civil) – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós Graduação e Pesquisa de
Engenharia – COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2017.

78
Uso do fator de redução de resistência ao cisalhamento quando
utilizado em modelos de estado crítico com endurecimento
Isabella Maria Martins de Souza
Engenheria Civil, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, isabella2ms@gmail.com

Daniela Toro Rojas


Engenheria Civil, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, dtr1593@gmail.com

Ana Carolina Gonzaga Pires


Engenheria Civil, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, anacarolina.g.p@hotmail.com

Márcio Muniz de Farias


Profesor, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, muniz@unb.br

Manoel Porfírio Cordão Neto


Profesor, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, porfirio@unb.br

RESUMO: O estudo voltado para análise de estabilidade de taludes é importante para evitar graves impactos
ambientais, financeiros e de vidas humanas. O Método do Equilíbrio Limite (LEM) é comumente utilizado
para estimar o Fator de Segurança (FS) de um talude. Entretanto, o Método dos Elementos Finitos (FEM) é
cada vez mais aplicado à análise de estabilidade de taludes, em que a técnica de redução de resistência ao
cisalhamento (SSR) é comumente utilizada em modelos elásticos perfeitamente plásticos. Esse estudo
apresenta uma discussão sobre essas duas metodologias, em que serão utilizados modelos de estado crítico
com ou sem endurecimento.

PALAVRAS-CHAVE: Redução de Resistência ao Cisalhamento, Modelos de Estado Crítico, Fator de


Segurança.

ABSTRACT: The slope stability analysis is important to avoid serious environmental, financial and human
life impacts. The Limit Equilibrium Method (LEM) is commonly used to estimate the Safety Factor (SF) of
a slope. However, the Finite Element Method (FEM) is increasingly applied to the slope stability analysis, in
which the technique of shear strength reduction (SSR) is commonly used in perfectly plastic elastic models.
This study presents a discussion about these two methodologies, in which critical state models with or without
hardening will be used.

KEYWORDS: Shear Strength Reduction, Critical State Models, Safety Factor.

1 Introdução

Esse texto versa sobre o uso de modelos de estado crítico com endurecimento quando da aplicação do
método do fator de redução da resistência ao cisalhamento (SSR). Os argumentos apresentados dizem respeito
apenas ao uso do método SRF com alternativa ao cálculo do fator de segurança usando o método do equilíbrio
limite (MEL). Nenhuma discussão sobre o uso desse método como ferramenta de avaliação de processos de
liquefação, fraturamento hidráulico ou outras formas de ruptura serão abordados.
Além disso, o termo “endurecimento” será usado como sinônimo de endurecimento isotrópico e pode
se referir tanto ao aumento da superfície de plastificação, como a contração dessa superfície (amolecimento).

79
2 Efeitos numéricos do método do fator de redução da resistência ao cisalhamento

Numericamente o que o SRF faz é alterar os parâmetros de resistência ao cisalhamento. Essa alteração
leva a mudanças na matriz constitutiva tensão-deformação, sendo a relação apresentada como:

{dσ} = [D]{dε} (1)

sendo que {dσ} é o vetor de incremento de tensões efetivas; {dε} é o vetor incremento de deformações e [D] é
a matriz constitutiva.
A matriz constitutiva tensão-deformação entra na formulação da matriz de rigidez de uma formulação por
elementos finitos como:

{F} = [K]{δ} (2)


[K] = ∫[B T ][D][B]dV (3)

sendo {F} o vetor de forças externas, [K] é a matriz de rigidez do sistema, {δ} é o vetor de deslocamento e [B]
é a matriz que relaciona deslocamento e deformações.
Qualquer mudança na matriz constitutiva reflete em mudanças na matriz de rigidez, como pode ser
facilmente visualizado na equação (3).
A Equação (2) representa na verdade um equilíbrio estático entre as forças externas {F} e internas
[K]{δ}. É claro que se a matriz [K] sofre mudanças devido a aplicação do fator de redução, haverá um
desequilíbrio que será sanado com acréscimos de deslocamento, conforme

{F} = [K ∗ ]{δ∗ } (4)

Onde

{δ∗ } = {δ} + ∆{δ} (5)

sendo [K ∗ ] a matriz de rigidez definida após a aplicação do fator de redução, {δ∗ } é o novo vetor deslocamento
após a mudança na matriz de rigidez e ∆{δ} é o acréscimo de deslocamento que surgiu devido mudança na
matriz de rigidez.
Na Figura 1 o ponto A representa um estado de tensão que antes da aplicação do fator de redução
estava dentro da zona elástica e após, encontra-se fora da superfície de plastificação.

Figura 1. Superfície de plastificação antes de depois da aplicação do SRF.

No caso dos modelos elásticos perfeitamente plásticos sem endurecimento, a mudança na matriz de
rigidez ocorre porque o ponto A agora viola a lei de consistência apresentada como

∂F (6)
d{σ} =0
∂{σ}

onde F é a função de plastificação.

80
A violação da lei de consistência é compensada pelo aparecimento de deformações plásticas, sendo
que a relação tensão-deformação agora é expressa como

∂F (7)
{dσ} = [De ]{dε} − ω
∂{σ}

onde [De ] é a matriz constitutiva elástica e ω é o multiplicador plástico. O incremento de deformações plásticas
pode ser calculado como

∂F (8)
{dεp } = ω
∂{σ}

se fluxo for associado ou como

∂G (9)
{dεp } = ω
∂{σ}

se o fluxo for não associado. Neste caso G é uma função similar a função F e é denominada Função potencial
plástico.

A manipulação da Equação (7) permite definir uma nova matriz constitutiva tensão-deformação como

([De ]∙{b})⨂([De ]⋅{a}) (10)


[Dep ] = [De ] −
{a}T ⋅[De ]∙{b}

sendo [De ] a matriz constitutiva elástica, {a} a normal à função de plastificação e {b} a normal à função
potencial plástica. Para pontos dentro da superfície de plastificação a matriz constitutiva é a matriz elástica
[De ]. Por outro lado, sempre que pontos tocam ou ultrapassam a superfície de plastificação, o segundo termo
é “ligado” e temos uma matriz constitutiva diferente, [Dep ]. No caso desses modelos a matriz [Dep ]
corresponde sempre a uma condição “menos rígida” do que quando é utilizada a matriz [De ].
Para o caso do método em que são aplicados fatores de redução (SRF) aos parâmetros de resistência
ao cisalhamento, a matriz [Dep ] será ativada porque pontos que estavam dentro da região elástica agora estão
fora, como já exemplificado na Figura 1.
A mudança na matriz constitutiva [D] afeta a matriz de rigidez apresentada na Equação (2). Isso
implicará em deslocamento extras, conforme apresentado na Equação (5), sem que as condições de contorno
e forças externas tenham sido alteradas. Uma ilustração do que acontece pode ser visto na Figura 2, onde são
apresentadas duas curvas “cargas-recalques” com diferentes rigidezes. Deve-se atentar que a rigidez ilustrada
na figura é a do sistema, e não de um único ponto.

Figura 2. Efeito da mudança de Rigidez devido a aplicação do Fator de Redução.

Até esse ponto não fica evidente o problema em se usar modelos constitutivos que consideram
endurecimento. Para ilustrar o problema será utilizada a Figura 3. O ponto A se encontrava dentro da região
elástica e após a aplicação do fator de redução acontece algo semelhante ao descrito anteriormente, porém,
como este modelo possui endurecimento, a formulação da matriz é diferente sendo definida como

81
([De ]∙{b})⨂([De ]⋅{a}) (11)
[Dep ] = [De ] −
{a}T ⋅[De ]∙{b}+A

Onde

∂F ∂p0 ∂F (12)
A= p
∂p0 ∂εv ∂p

p
sendo p0 a tensão de plastificação no eixo isotrópico, εv é a deformação volumétrica e A pode ser denominado
de módulo de endurecimento. A Equação (12) é um exemplo que corresponde ao modelo Cam-clay
modificado.

Figura 3. Efeito do fator de redução em modelos tipo Cam-Clay.

Da mesma forma que foi explicado para os modelos elástico perfeitamente plásticos, para os modelos
com endurecimento a matriz constitutiva será igual a [De ] se o ponto se encontra dentro da superfície de
plastificação e igual a [Dep ] se está sobre ou mesmo fora da superfície. Como explicado no problema descrito
na Figura 2, aqui deslocamentos adicionais serão gerados quando aplicado o fator de redução. Esses
deslocamentos estarão associados a deformações elásticas e plásticas, porém, as deformações plásticas geram
o aumento da superfície de plastificação, ou seja, o endurecimento. Isso pode ser visualizado na Figura 4.

Figura 4. Evolução da superfície de plastificação após a aplicação do fator de redução.

Desta forma, a aplicação do fator de redução gera ao mesmo tempo uma redução do parâmetro M e o
aumento do parâmetro de estado relacionado ao tamanho da superfície, p0 . Para que o processo seja
considerado semelhante ao descrito para os modelos elásticos perfeitamente plásticos é necessário que o
parâmetro p0 seja constante ou pelo menos tenha uma variação baixa.
Porém, a análise da Equação (12) pode ajudar na compreensão do que ocorre quando utilizamos o SRF
em modelos elastoplásticos com endurecimento. O módulo de endurecimento A (Equação (12)) tende a zero
q
quando η = tende a M. Isso ocorre porque o último termo da Equação (12) tende a zero enquanto os outros
p′
não dependem de η. Isso pode ser visualizado na Figura 5. O termo é expresso como

∂F (13)
∂p
= M 2 (2p − p0 )

onde M é a inclinação da linha de estado crítico no plano pxq e p0 é a tensão de plastificação no plano

82
p′. Isso vale para qualquer modelo de estado crítico, uma vez que isso está relacionado ao próprio conceito
de estado crítico.

Figura 5. Vetores normais a superfície para diferentes estados de tensões.

Para outros modelos como por exemplo para o Norsand (Jeferries, 1993; Jefferies and Shuttle, 2002;
Cheng & Jefferies, 2020), o módulo de endurecimento também tenderá a zero, mesmo que a formulação
matemática seja diferente. Na Figura 6 é apresentada a influência do parâmetro M na superfície de
plastificação do modelo Norsand e é fácil ver que as afirmações propostas para o Cam-clay modificado valem
também para o Norsand.

Figura 6. Efeito do Parâmetro MTC na função de plastificação do modelo Norsand.

Assim, considerando que o efeito da aplicação do fator de redução é achatar a superfície, podemos
imaginar que os pontos mais afetados pelo fator de redução são exatamente os que possuem valor de η
próximo de M. A região formada por esses pontos será a provável região da formação de uma superfície de
ruptura. Pontos que estariam sujeitos a endurecimento mais elevados seriam pontos mais distantes da “zona
de ruptura”.

3 Estudo de caso

O estudo de caso deste trabalho trata-se de um talude natural hipotético representando a encosta de
uma rodovia (Figura 7). A análise de estabilidade do talude será realizada por duas metodologias diferentes
utilizando os softwares Slide e RS2 da Rocscience. Inicialmente, o Método do Equilíbrio Limite (LEM) será
aplicado utilizando o critério de Morgenstern-Price para estimar o Fator de Segurança (FS) da estrutura. Em
seguida, o Método dos Elementos Finitos (FEM) será empregado utilizando a técnica de redução de
resistência ao cisalhamento (SSR), que consiste no uso sistemático da análise de elementos finitos para
determinar um fator de redução de tensão (SRF) que leva o talude a ruptura.

Além disso, dois modelos constitutivos serão utilizados para estimar o SRF: o modelo elástico
perfeitamente plástico com critério de ruptura de Mohr Coulomb (MC) e o Cam Clay Modificado (MCC). O
primeiro é um modelo convencional sem endurecimento. O segundo é um modelo de estado crítico que
considera endurecimento/amolecimento da superfície de escoamento.

83
Figura 7. Geometria.

Os dados de entrada utilizados são indicados na Tabela 1. Destaca-se que os valores utilizados no
modelo Cam Clay Modificado foram calibrados para apresentar uma resposta similar observada utilizando o
critério de ruptura de Mohr Coulomb.

Tabela 1. Dados de Entrada


Mohr - Coulomb Cam-Clay Modificado
Peso específico (kN/m³) 19 Peso específico (kN/m³) 19
Coeficiente de Poisson 0,35 Coeficiente de Poisson 0,35
Modulo de Young (MPa) 10 N(1) 2
Coesão efetiva (kPa) 5 κ (2) 0,001
Ângulo de atrito efetivo (º) 30 λ (3) 0,1
M (valor inicial) 1,2
OCR(4) 1 ou 2
(1) Volume específico no estado normalmente adensado quando p' é 1.0
(2) Inclinação da linha isotrópica de sobre adensamento
(3) Inclinação da linha isotrópica normalmente adensada
(4) Razão de pré-adensamento

Utilizando o critério de ruptura de Mohr Coulomb, o valor de fator de segurança de 1,15 obtido pelo
LEM foi sensivelmente similar ao SRF, visto que próximo a esse valor há um aumento considerável no
deslocamento horizontal, o que é um indicativo de ínicio da ruptura (Figura 8). Além disso, observa-se que a
superfície de ruptura é semelhante nas duas metodologias.

Figura 8. Resultados obtidos considerando o critério de ruptura de MC (a) Resultado do MEL, (b) Superfície
de ruptura para SRF de 1,15, (c) Relação entre o SRF e o deslocamento horizontal máximo.

84
A metodologia do SSR com o modelo Cam-Clay modificado foi aplicada de maneira simplificada, em
que o valor de M foi reduzido em intervalos de 0,02. Os dados de entrada para aplicar a metodologia foram
selecionados buscando resultados similares de tensão-deformação obtidos utilizando o critério de ruptura de
Mohr Coulomb. Além disso, uma análise de sensibilidade foi realizada, em que foram utilizados valores de
OCR (razão de pre-adensamento) de 1 e 2.

A Figura 9 apresenta a superfície de ruptura resultante para os dois valores de OCR. Destaca-se que o
cenário de ruptura foi considerado quando houve alteração na ordem de grandeza dos deslocamentos
horizontais, mesma condição utilizada na definição do SRF com o modelo Mohr-Coulomb. São indicados
também os quatro pontos em que o deslocamento horizontal foi monitorado durante a redução do valor de
M.

Figura 9. SRF com o Cam Clay Modificado (a) OCR = 1, (b) OCR =2.
A Figura 10 ilustra a evolução dos deslocamentos horizontais para os quatro pontos, considerando os
valores de OCR de 1 e 2, nas cores preto e cinza, respectivamente.

Figura 10. SRF com o Cam Clay Modificado.


Observa-se que, para OCR igual a 1, o valor de deslocamento horizontal é consideravelmente superior
ao valor inicial indicado no critério de ruptura de Mohr Coulomb. Entretanto, para OCR igual a 2, o
deslocamento horizontal é similar para os dois modelos.

Destaca-se que o SRF pode ser considerado entre 1,05 e 1,10 para OCR igual a 2. Neste intervalo, o
deslocamento horizontal passa de 10-2 m para 10-1 m e, após este ponto, continua no mesmo patamar. No caso
de OCR igual a 1, o SRF pode ser considerado entre 1,15 e 1,25, visto que neste intervalo há uma alteração

85
na ordem de grandeza dos deslocamentos de 10-1 m para valores superiores a 1 m.

4 Conclusões

Pode-se concluir que apesar das limitações discutidas neste texto, o procedimento pode ser útil na
avaliação do valor do Fator de Redução Máximo (SRF). Este valor levará em consideração todas as vantagens
do modelo constitutivo utilizado. Se o usuário tiver consciência das limitações de tal técnica, isso pode ser
uma boa ferramenta para se avaliar o comportamento de obras que sofrem fenômenos que não podem ser
descritos por modelos simples como os elásticos perfeitamente plásticos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Programa de Posgraduação em Geotecnia da Universidade de Brasília, ao


Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio académico e financeiro no
desenvolvimento da pesquisa.

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(Cam clay). Cambridge University Press; 112 – 136.

86
Análise tridimensional de um aterro sobre argila mole levado à
ruptura
Lennon de Souza Marcos da Silva
Engenheiro Civil, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, lennon.engciv@gmail.com

Jhonatan de Brito Tabajara


Engenheiro Civil, Tabajara Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, jhonatan.tabajara@icloud.com

Denise Maria Soares Gerscovich


Professora Titular, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, deniseg@uerj.br

Marcus Peigas Pacheco


Professor Titular, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil,
marcus_pacheco@terra.com.br

RESUMO: O Aterro Experimental I, construído no depósito de solo mole às margens do Rio Sarapui, Rio
de Janeiro, produziu um extenso banco de dados. As diversas retroanálises realizadas por diferentes
pesquisadores permitiram uma melhor compreensão do comportamento dos solos moles em uma visão
regional. Um dos aspectos de grande relevância que requer atenção é a definição do fator de redução a ser
aplicado à resistência não drenada. O fator mundialmente aceito foi proposto por Bjerrum (1973), sendo
uma função do índice de plasticidade do solo. Este artigo mostra retroanálises 3D da ruptura do aterro e as
compara com estudos 2D. As análises de estabilidade 3D mais uma vez revelaram a necessidade de se
utilizar fatores de redução para atingir FS=1, mas os valores foram superiores aos propostos na literatura.
Os resultados confirmaram que as análises 2D são mais conservadoras.

PALAVRAS-CHAVE: Solos moles, Equilíbrio Limite, Estabilidade de aterros, Análise de estabilidade


tridimensional.

ABSTRACT: The Experimental Embankment I, constructed on the soft soil deposit beside to Sarapui
River, Rio de Janeiro, produced an extensive databank. The several retro-analyses carried out by different
researchers allowed a better understanding of the behaviour of soft soils in a regional view. One of the
aspects of significant relevance that requires attention is the definition of reduction factor to be applied
to the undrained strength. The worldwide accepted factor was proposed by Bjerrum's (1973), being a
function of the soil plasticity index. This paper shows 3D retro-analyses of the embankment failure and
compares them with 2D studies. The 3D stability analyses once more revealed the need of using reduction
factors to achieve FS=1, but the values were higher than literature proposals. The results confirmed that
2D analyses are more conservative.

KEYWORDS: Soft soils, Limit equilibrium, Embankment stability, Three-dimensional stability


analysis.

1 Introdução

Durante processos de carregamento e descarregamento no solo são geradas alterações nas tensões que
se propagam para os grãos e para a água em seus vazios. Tratando-se de solos moles, a alteração do estado
de tensões produz um desequilíbrio hidráulico, que resulta no desenvolvimento de excessos de poropressão.
A maneira ideal de realizar análises de estabilidade consiste em observar a variação das tensões no
arcabouço sólido, ou seja, nas tensões efetivas. Contudo, tal abordagem requer o conhecimento dos valores
de poropressão desenvolvidos no campo, cuja estimativa é questionável.
Obras usuais que envolvem solos de baixa permeabilidade requerem a definição previa do momento
mais crítico (i) ao final da construção e (ii) a longo prazo. No caso de final da construção (condição não
drenada), considera-se que a geração integral do excesso de poropressão após a aplicação do carregamento
ocorre sem fluxo e sem variação volumétrica. A longo prazo (condição drenada), há o retorno ao equilíbrio

87
hidráulico com a dissipação do excesso de poropressão, alterando substancialmente a estabilidade global.
Em solos moles, a condição não drenada é normalmente a mais crítica e a prática atual considera que a
análise de estabilidade seja feita em termos de tensões totais, comparando-se as tensões cisalhantes com a
resistência não-drenada Su. O ensaio de palheta de campo é o mais adequado para definição dos perfis de
resistência não drenada face às incertezas associadas ao amolgamento de amostras quando extraídas do
campo.
Na década de 80, apoiado pelo Instituto de Pesquisas Rodoviárias (IPR), foi realizado um amplo
projeto de pesquisa que resultou na construção do Aterro Experimental I, levado à ruptura. O projeto foi
implantado na Baixada fluminense, Rio de Janeiro, às margens do Rio Sarapuí, onde encontrava-se uma
espessa camada de solo mole. O deposito foi amplamente estudado por vários autores (Collet, 1978; Ortigão,
1980; Sayão, 1980; Gerscovich, 1983; Almeida, 1985; Ortigão e Collet, 1986; Danziger, 1990; Jannuzzi,
2009), tornando possível a construção de um extenso banco dados experimentais.
De maneira geral, a argila de Sarapuí possui um teor de umidade variando entre 106% e 172%, com
25% ≤ LP ≤ 75% e 74% ≤ LL ≤ 161%. O peso específico para a crosta pré-adensada é aproximadamente
constante, e para profundidades superiores a 3 m esse valor varia nessa camada levemente pré-adensada,
com OCR médio de 1,6. Tabajara (2021) apresenta em detalhes todo o histórico de estudos realizados, bem
como os parâmetros de resistência do material.
Este trabalho tem como objetivos (i) validar o modelo tridimensional criado a partir do projeto
apresentado por Ortigão (1980), comparando as superfícies de ruptura tridimensionais obtidas com as de
trabalhos anteriores e (ii) verificar a variação do fator de correção da resistência não-drenada Su proposto
por Bjerrum (1973) considerando o efeito tridimensional.

2 Aterro Experimental I

O Aterro Experimental I, construído em dezembro de 1977, foi executado em 7 etapas de alteamento.


A ruptura ocorreu 30 dias após o início da construção quando a crista atingiu uma altura de,
aproximadamente, 3,10m. Ortigão (1980), ao retroanalisar a ruptura, considerou que esta se deu para uma
altura de aterro de 2,8m. Almeida (1985), após estudar os parâmetros de resistência, concluiu que a ruptura
ocorreu para uma altura de 2,5m.
O depósito de solo mole foi formado a partir de processos de cheia e vazante de rios e mares e data
do período quaternário. A caulinita é o argilomineral predominante e se observa a presença da ordem 5%
de matéria orgânica. O perfil geotécnico indica, aproximadamente, 11m de espessura de solo mole,
sobrejacente a material arenoso.
Campanhas de ensaios geotécnicos de campo e laboratório foram realizadas no aterro e na fundação
antes, durante e após a construção. Ensaios de cisalhamento direto no material do aterro indicaram para o
intercepto coesivo o valor de 20kPa e para o ângulo de atrito o valor de 35º. Ao avaliar esses resultados,
Ortigão (1980) recomendou, para retroanálises, a redução no intercepto coesivo (𝑐 ′ = 10 kPa), tendo-se em
vista o fissuramento do aterro nas etapas finais de construção.
No deposito de argila existem resultados experimentais de laboratório envolvendo ensaios de
caracterização, resistência, compressibilidade e adensamento (Ortigão, 1980; Sayão, 1980; Gerscovich,
1983). No campo, foram realizadas campanhas de ensaios de palheta (Collet, 1978), sendo os perfis
posteriormente corrigidos por Ortigão e Collet (1986) e de piezocone (Danziger ,1990). Mais recentemente,
Jannuzzi (2009) realizou ensaios de palheta com um equipamento mais eficiente, em que a medição do
torque é feita junto à palheta, reduzindo erros de execução.
A partir das campanhas de campo e laboratório e das correlações apresentadas por diferentes autores,
Tabajara (2021) evidenciou a variabilidade dos perfis de resistência não-drenada Su na região de Sarapuí,
conforme apresentado na Figura 1. Os menores valores de Su estão associados a resultados de laboratório,
sugerindo a ocorrência de amolgamento das amostras durante o processo de extração e preparação dos
corpos de prova.
Para fins de retroanálise 2D da ruptura do aterro experimental I, Tabajara (2021) optou por adotar o
perfil de resistência não drenada obtida nos ensaios de palheta de campo apresentados por Ortigão e Collet
(1986). Adicionalmente, com base no trabalho de Gerscovich (1983), incorporou a ocorrência de dissipação
dos excessos de poropressão, na região da crosta, durante a construção. Com isso, a crosta ressecada foi
subdivida em 3 regiões (A, B e C). Na região A, admitiu-se um ganho de resistência de 60%, na região B o
ganho foi de 30% e na região fora do aterro (região C) não houve ganho. A Figura 2 apresenta o modelo
geológico-geotécnico, além dos perfis de resistência não drenada considerados para as regiões da crosta e
para o restante da camada de argila. As análises consideram 2,5m como sendo a altura crítica do aterro.

88
Os resultados (Figura 3) indicaram, para superfície potencial de ruptura, um fator de segurança crítico
elevado (FS = 1,20) e um valor de FS = 1,45 para superfície de ruptura observada no campo. Com base no
método de Bishop Simplificado, Tabajara (2021) realizou o processo inverso e concluiu que, caso fosse
adotado um fator de redução da resistência não drenada (𝜇∗ ) de 0,83, a retroanálise conseguiria reproduzir
a condição de ruptura do aterro (FS=1,0).
De fato, a falha na previsão da ruptura de alguns aterros a partir do uso do ensaio de palheta levou
Bjerrum (1973) a sugerir a adoção de um fator de correção 𝜇 que varia em função do índice de plasticidade
do solo. Tal erro foi atribuído à combinação de fatores tais como: velocidade de ensaio x velocidade da
obra, anisotropia e fluência. No caso do deposito de Sarapuí, o IP médio é da ordem de 80%, sendo 𝜇 =
0,87.

Figura 1. Comparativo de campanha de ensaios para a determinação de perfis de resistência (Tabajara,


2021).

Figura 2. Modelo geológico-geotécnico simplificado e perfis de resistência não drenada (Pereira Pinto,
2017).

89
Figura 3. Resultado da análise de estabilidade pelo método de Bishop Simplificado - 𝑠𝑢 sem correção de
Bjerrum (Fonte: Tabajara, 2021).

3 Análises de estabilidade tridimensionais

Os métodos de equilíbrio limite foram originalmente concebidos para geometrias bidimensionais.


Para convertê-los em análises 3D, as fatias são transformadas em colunas, inserindo-se então a terceira
dimensão. As hipóteses adotadas dos métodos 2D são estendidas e surgem algumas novas considerações
quanto à forma tridimensional da superfície de ruptura, a condição de simetria ou assimetria do talude, a
direção do escorregamento e as forças interativas entre as colunas. Assim como os métodos convencionais
2D, os métodos 3D se diferenciam a partir da adoção de certas simplificações (Kalatehjari e Ali, 2013, apud
Silva, 2021). Pelo fato de contar com uma maior superfície para mobilização da resistência, os valores
obtidos em análises tridimensionais são maiores em relação aos valores das análises bidimensionais (Chen
e Lau, 2014; Chowdhury et al., 2010; Abramson et al., 2002, Cornforth, 2005).
As análises de estabilidade do Aterro experimental I, foram realizadas com auxílio do software Slide3.
Apesar do programa utilizar o método de Bishop Simplificado, o fator de segurança é calculado com base
na proposta de Cheng e Yip (2007), que altera o método clássico de Bishop Simplificado incorporando uma
análise de estabilidade assimétrica. Com isso, a superfície potencial de ruptura deixa de ser necessariamente
esférica para ser uma superfície qualquer, conforme será discutido adiante.
Condições assimétricas podem ser induzidas pela estratigrafia variável dos solos e por carregamentos
externos, entre outros fatores. Casos em que tais condições prevalecem, o uso de uma metodologia de
análises 3D baseada no equilíbrio simétrico de forças e/ou momentos pode levar a avaliações contra a
segurança (Huang e Tsai, 2000).
A Figura 4 apresenta o modelo geométrico adotado, em vistas isométrica e lateral. Duas bermas
laterais foram incluídas assim como ocorreu no campo, na construção do aterro.

(a) vista isométrica (b) vista lateral


Figura 4. Modelo físico tridimensional do Aterro de Sarapuí: (a) vista isométrica e (b) vista lateral.

90
Para fins de comparação, foram adotadas as mesmas premissas de Tabajara (2021) em suas análises
bidimensionais.
Para a pesquisa da potencial superfície de ruptura, optou-se pela busca automática da superfície
referente ao menor fator de segurança, através do método cuckoo search. O método cuckoo search calcula
o FS em um número inicial de superfícies de ruptura, agrupando-as. Em seguida, para cada grupo, são
geradas novas superfícies de ruptura, que são comparadas com as anteriores. O número de iterações é finito,
e permanecem sempre as superfícies de ruptura associadas ao menor de segurança. Quando as iterações
acabam, a superfície potencial de ruptura é definida pela superfície de ruptura que permaneceu durante todo
o processo iterativo de substituição e rejeição (Wu, 2012)
Assim como Tabajara (2021), as análises de estabilidade foram feitas em termos de tensão total,
impondo-se um fator de redução na resistência não drenada de forma a se atingir FS=1,0. A Tabela 1
apresenta os fatores de segurança obtidos no estudo paramétrico. Para o fator de redução (𝜇∗ = 0,83), o
resultado indicava certa estabilidade. Tal resultado é coerente com o fato da análise que considera efeitos
3D indicar FS mais elevado do que a bidimensional.
A Figura mostra a superfície de ruptura, em planta, para análise com o perfil original de Su e àquela
que reproduziu a condição de ruptura no campo (𝜇∗ = 0,78). As bermas de equilíbrio impuseram um limite
lateral. Em superfície, observa-se uma redução na extensão da superfície no eixo transversal.

Tabela 1. Fatores de segurança obtidos nas análises paramétricas.


Resistencia não drenada Fator de redução (𝜇) FS
Sem correção 1,0 1,241
Definido na análise 2D 0,83 1,074
Obtido na análise 3D 0,78 0,994

(a) parâmetros sem correção - FS = 1.241 (b) parâmetros corrigidos por 𝜇 = 0,78 - FS =
0.994
Figura 5. Superfícies de ruptura.

A Figura 6 compara as superfícies de ruptura determinadas nas análises 2D, (𝜇∗ = 0,83) e 3D, para
condição de ruptura (com fator de redução 𝜇∗ = 0,78). Observa-se que na análise 3D há uma distorção da
superfície de ruptura, resultando numa forma cônica. Entretanto, pode-se inferir uma certa concordância com
relação à análise 2D. Os autores acreditam que a geometria da superfície de ruptura seja resultado da
metodologia de Cheng e Yip (2007), que considera uma superfície qualquer e os efeitos da assimetria.

91
FS = 1,0 (2D, Tabajara, 2021)

Figura 5. Comparação entre as superfícies de ruptura 2D e 3D.

4 Comentários Finais

As análises de estabilidade de aterros sobre solos moles são usualmente realizadas com parâmetros
corrigidos de resistência não drenada, o que confere uma estimativa aderente entre o modelo de análise e a
situação de campo. Se essa correção não for levada a efeito, os resultados obtidos podem não ser realistas,
além de indicar uma condição contra a segurança.
Em termos do fator de redução, as análises realizadas no presente estudo, quando comparadas com
os resultados obtidos por Tabajara (2021), apontam que análises bidimensionais são mais conservadoras
que análises tridimensionais. Nas análises bidimensionais é necessário aplicar fatores de redução
ligeiramente maiores que nas tridimensionais para alcançar a condição de ruptura.
De acordo com Azzouz et al. (1983), apud Schnaid e Odebrecth (2012), considerando o efeito
tridimensional, o fator de redução em função do índice de plasticidade seria da ordem de 0,62 para a região
do Aterro experimental II. Assim sendo, para o caso de solos brasileiros os fatores de redução devem ser
estudados caso a caso, e a proposta de Bjerrum (1973) deve ser avaliada com cautela.
Por fim, as análises de estabilidade tridimensionais devem ser utilizadas com cautela, visto que, apesar
da nomenclatura estar relacionada aos métodos clássicos, algumas variações nas formulações podem ser
encontradas. Os resultados de análises tridimensionais devem sempre ser comparados com resultados de
análises bidimensionais, e, se possível, análises numéricas. Em casos de rupturas já deflagradas, a
comparação e adequação dos resultados das análises com a ruptura de campo constitui importante
ferramenta para entendimento e calibração dos modelos.

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93
Avaliação de Trincamentos em Revestimento de Taludes de
Canais de Irrigação

Suellen Batista Santos


Engenheira Civil, Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, Brasil, suellen.battistaa@gmail.com

Erinaldo Hilário Cavalcante


Professor, Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, Brasil, erinaldo@ufs.br

Guilherme Bravo de O. Almeida


Professor, Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, Brasil, gbravo1982@gmail.com

RESUMO: Os solos expansivos são materiais metaestáveis, os quais quando submetidos a variações de
umidade sofrem expansão e contração alternadamente. A investigação geotécnica sobre os solos não
saturados torna-se ainda mais necessária e peculiar visando-se evitar danos às estruturas construídas sobre
esses materiais, o que pode resultar em gastos com medidas corretivas. O presente artigo objetivou avaliar e
propor uma solução para o solo que fica sob os canais de irrigação da região de estudo 02 do sistema
Cotinguiba/Pindoba, localizada no município de Propriá/SE, tendo em vista as patologias encontradas nos
canais, que demandam constante recuperação dessas obras hídricas pela empresa gestora. No trecho
escolhido para a pesquisa foram coletadas quatro amostras indeformadas para ensaios de caracterização
geotécnica e expansão. O diagnóstico feito com base nos resultados disponibilizados dos ensaios à luz dos
critérios da literatura técnica indicaram solos com expansão livre na faixa de 27% a 50%, tensão de expansão
na ordem de 270 kPa e 500 kPa, o que indica solo com potencial de expansão variando de alto a muito alto,
com risco de demolição de estruturas de concreto apoiadas sobre ele. As análises realizadas culminaram com
a indicação de três possíveis soluções de combate às patologias observadas.

PALAVRAS-CHAVE: solo expansivo, diagnóstico, estabilização.

ABSTRACT: Expansive soils are metastable materials, which, when subjected to changes in humidity,
undergo expansion and contraction alternately. The geotechnical investigation on unsaturated soils becomes
even more necessary and peculiar in order to avoid damage to structures built on these materials, which can
result in expenses with corrective measures. The present article aimed to evaluate and propose a solution for
the soil that is under the irrigation channels of the study region 02 of the Cotinguiba/Pindoba system, located
in Propriá/SE, in view of the pathologies found in the channels, which demand constant recovery of these
hydric works by the management company. In the section chosen for the research, four undisturbed samples
were collected for geotechnical characterization and expansion tests. The diagnosis made based on the
available test results in light of the criteria of the technical literature indicated soils with free expansion in the
range of 27% to 50%, expansion pressure in the order of 270 kPa and 500 kPa, which indicates soil with
potential for expansion ranging from high to very high, with risk of demolition of concrete structures
supported on it. The analyzes carried out culminated in the indication of three possible solutions to combat
the observed pathologies.

KEYWORDS: expansive soil, diagnosis, stabilization.

1 Introdução

Os solos não saturados são aqueles que sofrem variações volumétricas quando se altera o teor de
umidade, ainda que se mantenham os estados de tensões (Vilar e Ferreira, 2019). Os problemas ou patologias
decorrentes desta peculiaridade variam desde empolamento por expansão de argilas, ruptura de taludes a
redução da capacidade de carga do solo (Chagas et al., 2020). Dessa forma, os solos expansivos são solos
não saturados que apresentam comportamento cíclico, com redução ou expansão de seu volume (Silva,
2018). Geralmente são encontrados em regiões semiáridas de clima tropical e até temperado, apresentando
altas resistências na época de estiagem, podendo exibir elevados valores de expansão em períodos chuvosos
ou em situações diversas que causem alteração na umidade (Vilar e Ferreira, 2019; Silva, Bello e Ferreira,
2020).

O mecanismo da expansão associado aos solos expansivos provém inicialmente do fato de sua
94
composição ser de argilominerais de estrutura tipo 2:1, somado a fatores tais como arranjo dos grãos,
condição de tensões, teor de água inicial, variação climática, vegetação, dentre outros (Ferreira et al., 2017;
Silva, 2018; Vilar e Ferreira, 2019). O diagnóstico de tais solos perpassa principalmente pelos métodos
indiretos, com análise dos índices físicos e pelos métodos diretos, com base em ensaios de avaliação da
expansão (Vilar e Ferreira, 2019). Os estudos direcionados a soluções na literatura técnico-científica
envolvem, em sua maioria, as estabilizações químicas, físicas ou mecânicas.
A instabilidade dos solos expansivos afeta as estruturas construídas sobre eles e as patologias são
capazes de gerar sérios danos econômicos, sociais e ambientais (Barbosa, 2019). Em Sergipe, os canais de
irrigação do sistema Cotinguiba/Pindoba localizados no município Propriá apresentam trincamentos em sua
estrutura, apesar das recorrentes reabilitações. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi realizar um
diagnóstico, com base em ensaios de laboratório com amostras do solo do local, indicando a mais provável
causa dos trincamentos, e, a partir disso, propor soluções que possam contornar o problema. Dados de
ensaios geotécnicos da região foram viabilizados pela Edificarse Arquitetura e Engenharia, empresa júnior
do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Sergipe (DEC/UFS), em parceria com a
gestora da obra.
Os solos expansivos estão em todos os continentes. No Brasil, tem sido detectado em diversos
Estados, a exemplo do Paraná, em São Paulo, Santa Catarina, Bahia, Pernambuco, Ceará, entre outros
(Morais, 2017; Santos, 2017). As perdas financeiras causadas por solos expansivos nos EUA superam os 15
milhões de dólares por ano (Paiva et al., 2016); os danos físicos se resumem em rachaduras, fissuras,
rompimento de tubulações, instabilidade de taludes (Morais, 2017). Este trabalho é uma continuidade às
caracterizações de solos expansivos de Sergipe já existentes e um avanço na investigação e busca de
soluções para suas patologias. Espera-se que por meio dele seja incentivada a pesquisa no sentido da
aplicação das soluções propostas.

2 Metodologia

O presente estudo foi desenvolvido a partir de uma ação de extensão envolvendo a Edificarse e a
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), para o qual foi
realizada uma campanha de ensaios geotécnicos no Laboratório de Geotecnia e Pavimentação (GeoPav) da
UFS. A área de estudo, denominada região de estudo 02 (CP-02), refere-se a um trecho de 200 metros de
extensão, o segmento situado entre as Estacas 189 a 199, parte da área total de reabilitação dos canais de
irrigação do perímetro irrigado em questão, localizado no município de Propriá, Estado de Sergipe. Da
região de estudo, foram coletadas 4 amostras denominadas ponto 1, de coordenada 10°16’37,8”S
36°44’23,7”W, ponto 2, de coordenada 10°16’34,5”S 36°44’22,6”W, ponto 3, de coordenada 10°16’31,5”S
36°44’21,9”W e ponto 4, que embora as coordenadas não tenham sido informadas, o ponto está na mesma
sequência de coleta no trecho.
Os ensaios realizados foram de: granulometria completa, limite de liquidez (LL), limite de plasticidade
(LP), compactação com energia do proctor normal, tensão de expansão (TE) e expansão livre (EL). Além
destes, foram disponibilizados também dados de ensaios de sondagem de simples reconhecimento de solos
com SPT até profundidades entre 1,5 m a 3 m, aproximadamente, abaixo do fundo do canal.
A metodologia deste trabalho consistiu na análise dos dados dos ensaios; na classificação das amostras
de acordo com o Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS) e a “American Association of State
Highway and Transportation Officials” (AASHTO); no diagnóstico do potencial de expansão do solo,
empregando-se os critérios de Skempton (1953), Williams & Donaldson (1980), Seed (1962), Chen (1965),
Daksanamurthy & Raman (1973), Jimenez (1980) e Vijayvergiya & Ghazzaly (1973); e, por fim, na
discussão sobre a viabilidade das possíveis soluções geotécnicas ao problema dos trincamentos nos canais de
irrigação em estudo.

3 Resultados e Discussão

3.1 Registros Documental e Fotográfico

A pesquisa documental, obtida a partir da visita técnica realizada pela equipe envolvida com a
atividade de extensão que gerou este trabalho, permitiu traçar um perfil da estrutura dos canais de irrigação,
verificar as patologias que os acometem e a natureza do solo sobre o qual estes são apoiados. Os canais de
irrigação em análise são construídos e reabilitados com placas de concreto simples, de 6,5 cm de espessura,
com profundidades variáveis, mas geralmente em torno de 1,5 m a 2 m de profundidade. Uma seção
transversal dos canais pode ser visualizada na Figura 1. Na Figura 2 é possível visuzalizar as trincas e o
estado do solo que serve de apoio do canal, conforme constatado durante uma visita à obra.
95
Figura 1. Seção transversal em projeto do canal de irrigação do sistema Cotinguiba/Pindoba (Adaptado de
Jefferson e Lenilton, 2018).

Figura 2. Trincas e estado do solo referente aos canais de irrigação do sistema Cotinguiba/Pindoba (Cavalcante, 2019).

As placas dos canais de irrigação apresentam trincamentos longitudinais e transversais em


determinados trechos do sistema, o que exige da empresa gerenciadora da obra reparos recorrentes para
evitar a infiltração de água. Conforme se pode ver na Figura 2, o solo após escavado, sofre trincamentos por
causa da contração, em razão do ressecamento provocado pela aeração e exposição ao sol. A análise visual
corrobora com o que afirmam Vilar e Ferreira (2019), ou seja, que são características dos solos expansivos:
contrações e expansões com surgimento de superfícies de fricção. Além disso, constatou-se a presença de
trincas fora de padrão no solo e na estrutura conforme explica a Comission on Swelling Rocks (1994, apud
Santos, 2017).
3.2 Caracterização do Solo

A Tabela 1 mostra os dados dos ensaios de caracterização do solo oriundo dos canais em estudo,
juntamente com os dados dos ensaios edométricos que determinaram a expansão livre e a tensão de expansão
das quatro amostras.

Tabela 1. Caracterização das amostras oriundas dos canais de irrigação do sistema Cotinguiba/Pindoba
(Adaptado de Edificarse Arquitetura e Engenharia, 2021).

Amostras Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4


Pedregulho 0,00 0,03 0,02 0,04
Areia 8,95 23,25 17,42 28,78
Granulometria (%)
Silte 24,29 20,63 24,57 25,88
Argila 66,76 56,09 57,99 45,30
Peso específico real (kN/m3) 26,62 26,85 26,81 26,72
LL 86,00 70,00 80,00 59,00
Limites de Atterberg (%) LP 28,00 25,00 29,00 23,00
IP 58,00 45,00 51,00 36,00
SUCS Argila de alta compressibilidade (CH)
Classificação do solo A7-6 A7-6 A7-6 A7-6
AASHTO
(20) (20) (20) (18)
Umidade ótima (%) 22,50 19,50 21,00 18,00
Compactação Peso específico aparente
15,35 16,60 15,81 17,15
seco máximo (kN/m3)
Expansão livre (%) - EL 50,29 27,09 46,03 32,73
Tensão de expansão (kPa) - TE 503,02 276,80 528,17 276,66

Com base nos dados da granulometria, verifica-se um padrão nas amostras: solos finos caracterizados
por grandes quantidades de argila; as elevadas frações de argila são um alerta de solo expansivo, tendo-se em
vista que eles são geralmente solos argilosos ou argilo-siltosos, conforme Vilar e Ferreira (2019). O peso
96
específico real das amostras se mostrou dentro do intervalo de 26,50 kN/m3 a 28,50 kN/m3. No que se refere
aos limites de Atterberg, as amostras apresentaram valores altos para LL e médios para LP, de forma que as
amostras analisadas podem ser consideradas muito plásticas, em virtude do IP estar em patamares acima de
15% (Machado e Machado, 2012). Altos valores de índices de plasticidade indicam o caráter
predominantemente argiloso e maior potencial de expansão do solo, conforme apontado por Nelson e Miller
(1992).
A classificação do solo oriundo dos canais, de CH pelo SUCS e de A7-6 pela AASHTO, corroborou
com o que afirmam as instituições quanto às terminologias dos solos expansivos serem CH e CL ou A6 e A7
(Pereira, 2004). Os dados de EL e PE se mostraram bastante elevados para as amostras indeformadas, para as
quais os valores de EL situaram-se na faixa de 27% a 50%, enquanto que os valore de TE ficaram entre 270
kPa a 500 kPa.
Um outro ensaio que permitiu analisar o comportamento do solo foram as sondagens SPT. Das 3
sondagens realizadas (SP-01, SP-02 e SP-03), no dia 27 de janeiro de 2020, foi possível constatar uma
tendência crescente nos valores de NSPT para a época do ano, na qual o solo na região do fundo do canal se
encontrava bastante duro, por causa da baixa umidade, de forma que se atingiu rapidamente o impenetrável e
em pequena profundidade (aproximadamente 4,5 metros). Este fato caracteriza muito bem locais de solos
expansivos sob baixo teor de umidade, conforme mencionado por Pereira (2004). O perfil das sondagens
revelou camadas em sua maioria argilosas ou silto-argilosas, corroborando com a análise granulométrica.
Para o SP-01 o valor de NSPT para a última camada foi de 24 golpes a uma profundidade de 4,45 metros; no
furo SP-02 o impenetrável foi atingido a 1,57 metros com Nspt de 10; e no terceiro furo o N SPT foi de 17 na
última camada.
3.3 Diagnóstico do Solo
Com base nos dados disponíveis, desde imagens do solo in situ, das sondagens, mas especialmente
doas ensaios de laboratório, foi procedido uma análise de diagnóstico dos trincamentos à luz da
expansividade do solo. Utilizando os índices físicos, foi possível obter o índice de atividade (A) das
amostras, por meio da relação do IP com a porcentagem de argila, cujos resultados foram de 0,87, 0,80, 0,85
e 0,79 para os pontos 1, 2, 3 e 4, respectivamente, demonstrando que os solos são normalmente ativos pelo
critério de Skempton (1953), tendo em vista seus valores estarem entre 0,75 e 1,25. Um outro critério
utilizado foi o critério de Jimenez (1980), a partir do qual são avaliados os danos numa obra com base nos
valores de TE do solo; a aplicação do critério no presente estudo indicou que o dano provável é de demolição
da estrutura de concreto em razão dos valores de TE ultrapassarem os 200 kPa. Na Tabela 2 estão
apresentadas outras classificações relacionadas ao potencial de expansão do solo com base nos critérios de
vários pesquisadores envolvidos com o tema.

Tabela 2. Classificação do potencial de expansão do solo oriundo dos canais do sistema Cotinguiba/Pindoba
(Os autores, 2021).
Critérios/Amostras Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4
Williams & Donaldson (1980) Muito alto Muito alto Muito alto Muito alto
Seed (1962) Muito alto Alto Alto Alto
Chen (1965) Muito alto Muito alto Muito alto Alto
Daksanamurthy & Raman (1973) Muito alto Alto Muito alto Alto
Vijayvergiya & Ghazzaly (1973) Muito alto Alto Muito alto Alto
A classificação proposta por Williams & Donaldson (1980) utiliza-se dos valores de IP e da
porcentagem de argila dos solos; a proposta de Seed (1962) utiliza-se, em semelhança, dos valores de
atividade e de porcentagem de argila; todos os critérios indicaram potenciais de expansão variando de alto a
muito alto. Os autores Chen (1965) e Daksanamurthy & Raman (1973) classificaram os solos de acordo com
o seu LL: para o primeiro autor, os pontos 1, 2 e 3 têm potenciais de expansão muito altos em razão de seus
limites de liquidez ultrapassarem 60%; para o segundo autor, tem essa classificação os pontos 1 e 3 por
terem LL maiores que 70%. O critério de Vijayvergiya & Ghazzaly (1973) catalogou os pontos ímpares com
potencial de expansão muito alto devido aos seus valores de PE, que foram maiores que 300 kPa, e os pontos
pares com potencial de expansão alto, sendo estes valores entre 120 e 300 kPa.

3.4 Possíveis Soluções

Por meio da pesquisa documental, dos registros, dos índices físicos e do diagnóstico foi possível
perceber que o solo da região dos canais de irrigação do sistema Cotinguiba/Pindoba é altamente expansivo.
97
Dada a investigação e as patologias observadas, surgiu, portanto, a necessidade de se estudar alternativas de
execução destas obras, no intuito de se evitar ou amenizar os danos. Com base na literatura técnica, as
alternativas analisadas foram: compactação, remoção e substituição, estabilização química, emprego de uma
camada de pedregulho e utilização do colchão reno.
A compactação do solo é uma forma de estabilização mecânica que consiste no uso de um
compactador para diminuir seus vazios, aumentar o contato entre os grãos e, portanto, sua densidade (Pinto,
2006). A execução da compactação é fácil e barata, tem mão de obra qualificada, é bastante utilizada nas
obras de pavimentação e foi considerada una alternativa eficiente para o solo expansivo analisado por Paiva
et al. (2016). Para o caso dos canais de irrigação em estudo, a viabilidade é questionável, em vista dos custos
com demolição dos canais reabilitados e reconstrução destes, pelo custo com o compactador, tendo em vista
o comprimento do trecho e os riscos de perda da compactação por causa das chuvas sazonais. Uma segunda
opção seria a remoção e substituição do solo por um solo compatível à obra, uma vez que resolveria por
completo a origem do problema e sanaria as preocupações quanto à umidade ou vegetação ao redor. Por
outro lado, toda a técnica demanda variados e onerosos processos de demolição, carga, transporte, descarga,
compactação, dentre outros.
Analisou-se também a estabilização química do solo com cal, solução com variados estudos e casos de
sucesso (Paiva et al., 2016; Ferreira et al., 2017; SILVA, 2018). Os fatores limitadores desta solução seriam
os custos associados e a necessidade de se realizar estudos geotécnicos com a mistura. Para a dosagem da cal
na mistura podem ser utilizados os métodos de Eades e Grim (1966) ou o de Thompson (1970), não sendo
interessante ultrapassar a porcentagem de 15% por limitação da homogeneidade da mistura, levando em
consideração o comportamento do solo expansivo (Medeiros, 2017).
Ribeiro Júnior, Futai e Conciani (2006) utilizaram, em seu trabalho, uma camada de pedregulho entre
o solo expansivo e a estrutrura. Os resultados foram satisfatórios, dado que a camada permitiu ao solo se
expandir livremente sem afetar a estrutura. Apesar do baixo custo envolvendo a alternativa em si,
recomenda-se que sejam realizados ensaios geotécnicos, ensaios práticos e testes em campo com
monitoramento, e que se combine ao processo um reforço na estrutura de forma a atenuar os efeitos do solo.
O emprego do colchão é uma possibilidade dentre as soluções analisadas. A estrutura possui o objetivo
de formar revestimentos monolíticos, duráveis e flexíveis, tem bom custo-benefício, alta durabilidade, e
possibilita o uso do revestimento de concreto para os canais. Os pontos a serem avaliados são os custos em
termos locais e o crescimento da vegetação nesse tipo de revestimento.
Diante do exposto indicou-se três possibilidades no combate aos trincamentos: a estabilização química
com cal, dado seu sucesso com solos expansivos; a aplicação de uma camada de pedregulho entre o solo e a
estrutura, dado seu baixo custo; e a aplicação do colchão reno, pelo fato de ser uma alternativa inovadora e
prática que pode funcionar para esse e outros casos. Independente da escolha é necessário o monitoramento
da proposta escolhida e o acompanhamento da execução. É recomendável se executar um primeiro trecho, de
natureza experimental, para em seguida, ampliar-se a aplicação da solução nos demais segmentos do canal.
No sentido de evitar o contato do solo com a umidade, pode-se investir em estruturas de drenagem da água
da chuva, evitar árvores próximas aos canais, realizar a impermeabilização da estrutra e a constante
manutenção dos canais de forma a evitar vazamentos de água para o solo.

4 Conclusões

O exame visual detectou trincas características de contração do solo; a caracterização física das
amostras demonstrou que os solos do sistema Cotinguiba-Pindoba possui altos teores de argila e silte; os
altos índices de plasticidade classificou o solo como muito plástico, do tipo CH ou solo silto-argiloso A7-6.
Dos ensaios edométricos obteve-se resultados de expansão livre de até 50% e de tensão de expansão na
ordem de 0,5 MPa. O diagnóstico indicou que os solos analisados são normalmente ativos, com tensão de
expansão que pode levar à demolição de estrutura de concreto e potenciais de expansão que variam entre alto
e muito alto.
No que se refere às soluções que podem amenizar ou evitar trincamentos nos canais de irrigação,
foram indicadas a estabilização química com cal; a aplicação de uma camada de pedregulho entre o solo e a
estrutura, com reforço desta ea execução do colchão reno. Ressalta-se, porém, a necessidade de ensaios com
amostras em laboratório e de avaliação de desempenho in situ das das soluções propostas. De forma a
complementar o estudo sugere-se que sejam feitas a caracterização mineralógica, microestrutural e química
das amostras estudadas nesta pesquisa, que sejam avaliadas as viabilidades de aplicação das soluções
propostas e que se aplique a solução mais viável em um trecho experimental da região em estudo.

AGRADECIMENTOS
À EDIFICAR-SE pela disponibilidade dos dados para o desenvolvimento desta pesquisa;
À CODEVASF pela parceria celebrada que viabilizou este trabalho;
98
Ao GeoPav/DEC pela realização dos ensaios geotécnicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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expansivo. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade
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saturados no contexto geotécnico, (cap. 15, p. 415-440). Recife: Universidade Federal de Pernambuco.
99
Cálculo do Fator de Segurança de um Talude por Análise
Determinística Utilizando Operações com Números Fuzzy.
Eliana Dantas Ribeiro
Estudante, UFC, Fortaleza, Brasil, elianadr@alu.ufc.br

Airlis Mendes de Freitas Júnior


Estudante, UFC, Fortaleza, Brasil, airlismendes@alu.ufc.br

Anderson Borghetti Soares


Professor, UFC, Fortaleza, Brasil, borghetti@ufc.br

RESUMO: A análise de estabilidade de talude é um processo complexo porque envolve massas de terra com
propriedades heterogêneas e diferentes históricos de tensões, que influenciam e condicionam seu
comportamento mecânico. Para determinar a estabilidade de taludes, é mais comum recorrer aos métodos
baseados na teoria de equilíbrio limite, porque são mais simples de serem aplicados e têm sido amplamente
utilizados ao longo dos anos. Dessa forma, fazer o estudo considerando incertezas nos parâmetros de entrada
geotécnicos são essenciais dentro da análise de estabilidade de taludes, e a teoria dos números fuzzy permite
definir e quantificar incertezas em Engenharia. Diante disso, este trabalho visa determinar o fator de
segurança de um talude de 6 metros, utilizando o método de Culmann, com a técnica de fuzzificação. Uma
planilha em Microsoft Excel para o cálculo do fator de segurança foi desenvolvida, contendo informações
sobre os parâmetros físicos e de resistência ao cisalhamento do solo e da geometria do talude, adotando a
lógica dos números fuzzy. Os resultados indicaram que é possível fazer uma análise de estabilidade de um
talude a partir do cálculo do fator de segurança , utilizando operações com a técnica fuzzy.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de Taludes, Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento, Lógica


Fuzzy.

ABSTRACT: Slope stability analysis is a complex process because it involves earth masses with
heterogeneous properties and different stress histories, which influence and condition their mechanical
behavior. To determine slope stability, it is more common to resort to methods based on limit equilibrium
theory, because they are simpler to apply and have been widely used over the years. Thus, making the study
considering uncertainties in the geotechnical input parameters are essential within the slope stability analysis,
and the fuzzy number theory allows to define and quantify uncertainties in Engineering. Given this, this work
aims to determine the factor of safety of a slope of 6 meters, using the Culmann method, with the fuzzification
technique. A Microsoft Excel spreadsheet to calculate the safety factor was developed, containing information
about physical parameters and soil shear strength and slope geometry, adopting the fuzzy numbers logic. The
results indicated that it is possible to perform a slope stability analysis from the calculation of the factor of
safety, using operations with the fuzzy technique.

KEYWORDS: Slope stability, Shear Strength Parameters, Fuzzy Logic.

1 Introdução

A técnica fuzzy é realizada a partir da compreensão de conjuntos, onde os mesmos são constituídos
por variáveis que representam algum tipo de informação. Zadeh (1965) explica que um conjunto fuzzy é uma
classe de objetos que possuem graus de pertinência, variando de 0 a 1. Nesses conjuntos é possível fazer uma
avaliação da incerteza e imprecisão para uma determinada informação.
Silva (2015) ressaltou que a técnica Fuzzy é uma ferramenta útil em fazer uma representação de uma
ideia vaga sobre um valor de uma grandeza qualquer, onde é possível atribuir um conjunto de valores que
podem representar essa grandeza. No que se refere às análises de estabilidade de taludes, como a adoção de
métodos determinísticos resultam em um fator de segurança único, isso pode não configurar a realidade devido
à heterogeneidade dos parâmetros de entrada. Na prática da engenharia, é comum surgirem situações com um
índice considerável de incertezas, principalmente , quando se referem às informações de parâmetros
geotécnicos de um solo de talude, como coesão, ângulo de atrito e peso específico(DANTAS NETO; SILVA;
SOUSA FILHO, 2016; MONTOYA , 2013).

100
O presente trabalho teve como objetivo obter fator de segurança de um talude hipotético, utilizando o
método de Culman, com o uso da lógica fuzzy. A partir dos resultados obtidos para cada variável fuzzy
(coesão, ângulo de atrito e peso específico do solo), foi possível determinar a função de pertinência para cada
valor de fator de segurança, com emprego das operações matématicas da técnica fuzzy implementanda no
software Excel, que fornece uma série de valores de fatores de segurança, o que não seria possível com uma
análise determinística.

2 Lógica Fuzzy

A introdução e definição de conjuntos fuzzy foi inicialmente realizada Zadeh (1965) que identificou a
impossibilidade de modelar sistemas com fronteiras mal definidas por perspectiva da matemática e por
métodos clássicos, como, por exemplo, a teoria da probabilidade. Segundo o autor um conjunto fuzzy é
definido por uma função de pertinência, sendo assim, cada função de pertinência define um conjunto fuzzy
(A), do conjunto universo (U) mediante a atribuição de um grau de pertinência μA (x), entre 0 e 1 para cada
elemento x de U.

µA: U [0,1] (1)

Boaventura (2010) demonstrou as operações entre números fuzzy, que são conhecidas como operações
aritméticas intervalares, como a adição, a subtração, a multiplicação e a divisão. A adição dos conjuntos,
considerando dois números fuzzy A e B, pertencentes a um mesmo universo, com um grau de pertinência,
µA(x) e µB(x) é dada por:

α α
A + B = [𝑎1, 𝑎2 ] + [𝑏1,α 𝑏2α ] (2)
A + B = [𝑎1 + 𝑎2α , 𝑏1α + 𝑏2α ] = 𝐶 α
α
(3)

• Em operações de subtração, tem-se a seguinte operação:


α α
A − B = [𝑎1, 𝑎2 ] − [𝑏1,α 𝑏2α ] (4)
A − B = [𝑎1 − 𝑎2α , 𝑏1α − 𝑏2α ] = 𝐶 α
α
(5)
• Na multiplicação, a operação é realizada a seguinte forma:
α α
Ax B = [𝑎1, 𝑎2 ] 𝑥 [𝑏1,α 𝑏2α ] (6)
Ax B = [𝑎1α x 𝑎2α , 𝑏1α x 𝑏2α ] para α ∈ [0,1] (7)
• No que se refere à divisão, a operação é realizada da seguinte forma:
α α
A ÷ B = [𝑎1, 𝑎2 ] ÷ [𝑏1,α 𝑏2α ] (8)
α
𝑎1, 𝑎2α
A ÷ B = [𝑏α , α
𝑏1,
] para α ∈ [0,1] (9)
2

Segundo Mathworks (2022) uma função de pertinência é uma curva que demonstra como cada ponto
é relacionado a um valor de pertiência, também denominada de “membership function”. A curva mapeia cada
elemento de X para um grau de pertinência que pode variar de 0 a 1 (SILVA, 2008) e pode ser expressa por
vários formatos: trapezoidal, triangular, gaussiana, sigmodal, como pode ser visto nas Figura 1.

Figura 1 - Funções de pertinência. Fonte: Silva (2015).

3 Metodologia

Nessa seção será discutido o método de equilíbrio limite de Culmann utilizado para analisar a
estabilidade de taludes. Foi utilizado um talude de solo homogêneo com geometria e parâmetros de resistência

101
hipotéticos, não considerando a existência de um nível d´água. Para atingir os objetivos, foi elaborada uma
planilha no software Microsoft Excel para a determinação do fator de segurança e também uma planilha de
cálculo com a utilização da teoria dos números fuzzy aplicado na determinação do fator de segurança.

3.1 Geometria do talude


Na Figura 2 é apresentada a geometria do talude utilizada no presente trabalho, que possui inclinação
de 45° , altura de 6 metros e superfície crítica de ruptura plana com um ângulo de inclinação de 40º.

Figura 2 – Aterro com o talude esquerdo em estudo. Fonte: Autores (2022).

O talude da Figura 01 acima é formado por um solo homogêneo, sem presença do nível de água, que
apresenta uma coesão efetiva igual a 5 kPa, ângulo de atrito interno igual a 35° e peso específico natural
aparente igual a 19 kN/m³, como apresentado na Tabela 1 abaixo.

Tabela 1 - Parâmetros geotécnicos do solo.


Aterro
ɣ = 19 kN/m³
c' = 5 kPa
φ' = 35°
Fonte: Autores (2022).
3.2 Método de Culmann

O método de Culmann considera o escorregamento ao longo de uma superfície plana e realiza a análise
da estabilidade da cunha de solo situada acima da superfície de escorregamento, considerando um corpo rígido.
Existem infinitos planos de escorregamento e a superfície crítica é o que apresenta menor fator de segurança
(DAS, 2014).
O fator de segurança do método de Culmann pode ser calculado através da equação a seguir:
H
c´+[ɣ (cotan θ−cotani)senθ.cosθ]tanφ′
2
FS = H (10)
ɣ (cotan θ−cotani)sen²θ
2

Onde:
C´= Coesão;
ɣ = Peso específico;
θ = Ângulo de atrito.

Para o cálculo do fator de segurança foi desenvolvido uma planilha no Excel, utilizando a equação (9).
Nessa planilha foram indicadas as variáveis Fuzzy, como A para a coesão, E para as demais variáveis contidas
no numerador da equação (9) e F para a parcela do denominador.

3.2 Fuzzificação

No estudo foi utilizado a lógica fuzzy triangular pelo fato da variação existente nessa função apresentar
um único pico que corresponde ao grau de pertinência um. Os conjuntos fuzzy foram determinados para a

102
coesão, o ângulo de atrito e o peso específico natural, e aplicados na fórmula do fator de segurança pelo método
de Culmann, empregando as operações de intervalos da lógica fuzzy. Os conjuntos fuzzy para a variáveis
utilizados foram os seguintes:

• Para a coesão c´:


C̃ = {(0,0); (5,1), (8,0)} (11)
• Para o ângulo de atrito φ':
̃ = {(30,0); (35,1), (38,0)}
φ′ (12)
• Para o peso específico ɣ :
ɣ̃ = {(16,0); (19,1), (22,0)} (13)

Os gráficos da Figura 3 a seguir foram obtidos com o auxílio do Microsoft Excel, que mostram o
comportamento das funções de pertinência, ao serem utilzadas as variáveis coesão, peso específico e ângulo
de atrito, utilizando-se dos intervalos demonstrados nas Expressões 10, 11 e 12.

(a) Coesão (b) Peso específico

(c)Ângulo de atrito
Figura 3 - Funções de pertinência para coesão, ângulo de atrito e peso específico. Fonte: Autores (2022).

A partir da Equação (10) uma nova expressão para o cálculo do fator de segurança foi determinada,
conforme pode ser visto na Equação (14) abaixo. As variáveis fuzzy para coesão, peso específico e ângulo de
atrito foram definidas como ( Ã, 𝐸̃ e 𝐹̃ ) respectivamente. Os demais parâmetros utilizados na fórmula do FS
pela lógica Fuzzy foram:
̃ +E
A ̃
FS = (14)

Onde:
à = c´ (15)
B̃ = ɣ (16)
C̃ = φ′ (17)
H
Ẽ = [ɣ 2
(cotan θ − cotani)senθ. cosθ] tanφ′ (18)
𝐻
F̃ = 𝛾 2 [(cot 𝜃) − (cot 𝑖)]. 𝑠𝑖𝑛2 𝜃 (19)

3.3 Operações com os números Fuzzy.

Para determinação do fator de segurança utilizando a Equação (10) do método de Culmann, foram
realizadas operações matemáticas com números fuzzy na Equação (14), demonstrada no Subitem 3.2. Nesse
caso, foram realizadas operações atimtéticas intervalares com as variáveis ( Ã, 𝐸̃ e 𝐹̃ ). Conforme os gráficos

103
das Figuras 3a, 3b e 3c plotados no Excel , para as funções de pertinência, foram encontrados os graus de
pertinência entre o intervalo de 0 a 1, para cada variável Fuzzy, como está demonstrado nas Tabelas 2, 3 e 4.

3.3.1 ̃ para coesão:


Determinação do conjunto 𝑨

A determinação da coesão(c´) para cada grau de pertinência (u) foi realizada conforme a resolução das
equações das retas apresentadas no gráfico da Figura 3.a.

Tabela 2 – Variável Fuzzy (coesão).


Reta ascendente Reta descendente
y= 0,2x y= -0,3333x+2,6667
u c´(KPa) u c´(KPa)
0,00 0,00 0,00 8,00
0,10 0,50 0,10 7,70
0,20 1,00 0,20 7,40
0,30 1,50 0,30 7,10
0,40 2,00 0,40 6,80
0,50 2,50 0,50 6,50
0,60 3,00 0,60 6,20
0,70 3,50 0,70 5,90
0,80 4,00 0,80 5,60
0,90 4,50 0,90 5,30
1,00 5,00 1,00 5,00
Fonte: Autores (2022).

3.3.2 ̃ para peso específico:


Determinação do conjunto 𝑩

Análogo às operações realizadas no Item 3.3.1, neste tópico foi determinado a partir dos cálculo das
equações da reta da Figura 3b, o valor do peso específico referente à cada grau de pertinência entre o intervalo
de 0,1 a 1.
Tabela 3 – Variável Fuzzy (peso específico).
Reta ascendente (y=0,3333x-5,3333) Reta descendente ( y=0,3333x+7,3333)
u ɣ(Kn/m³) u ɣ(Kn/m³)
0,00 16,00 0,00 22,00
0,10 16,30 0,10 21,70
0,20 16,60 0,20 21,40
0,30 16,90 0,30 21,10
0,40 17,20 0,40 20,80
0,50 17,50 0,50 20,50
0,60 17,80 0,60 20,20
0,70 18,10 0,70 19,90
0,80 18,40 0,80 19,60
0,90 18,70 0,90 19,30
1,00 19,00 1,00 19,00
Fonte: Autores (2022).

3.3.3 ̃ para ângulo de atrito:


Determinação do conjunto 𝑪

Assim como nos itens anteriores para a determinação do ângulo de atrito correspondente a cada grau
de pertinência é realizada as operações seguindo a resolução da equação das retas da Figura 3.c.

104
Tabela 4 – Variável Fuzzy (ângulo de atrito).
Reta ascendente y=0,2x-6 Reta descendente y=-0,3333x+12,667
u φ’(°) tanφ’ u φ’(°) tanφ’
0,00 30,00 0,58 0,00 38,00 0,78
0,10 30,50 0,59 0,10 37,70 0,77
0,20 31,00 0,60 0,20 37,40 0,76
0,30 31,50 0,61 0,30 37,10 0,76
0,40 32,00 0,62 0,40 36,80 0,75
0,50 32,50 0,64 0,50 36,50 0,74
0,60 33,00 0,65 0,60 36,20 0,73
0,70 33,50 0,66 0,70 35,90 0,72
0,80 34,00 0,67 0,80 35,60 0,72
0,90 34,50 0,69 0,90 35,30 0,71
1,00 35,00 0,70 1,00 35,00 0,70
Fonte: Autores (2022).

3.3.4 ̃+𝑬
Determinaçaõ do numerador 𝑨 ̃ e o denominador 𝑭
̃ da expressão do fator de segurança:

Para a determinação do numerador 𝐴̃ + 𝐸̃ e do denominador 𝐹̃ , serão feitas operações com essas


variáveis para os seus correspondentes graus de pertinência, e a divisão entre numerador (A+E) e
ondenominador (F) será o valor da expressão do fator de segurança do método de Culmann pela lógica fuzzy,
conforme a Equação 13.
Tabela 5 – Variáveis A, E e F.
Reta ascendente Reta descendente
A+E F A+E F
2,62 3,80 12,87 5,23
3,22 3,87 12,45 5,16
3,83 3,95 12,04 5,09
4,43 4,02 11,62 5,02
5,04 4,09 11,21 4,94
5,66 4,16 10,80 4,87
6,27 4,23 10,39 4,80
6,89 4,30 9,98 4,73
7,52 4,37 9,58 4,66
8,14 4,45 9,17 4,59
8,77 4,52 8,77 4,52
Fonte: Autores (2022).
4 Resultados

4.1 Resultado do fator de segurança utilizando a lógica fuzzy e o cálculo determinístico do método

De acordo com resultado do cálculo da Expressão 10 para o método de Culmann, demonstrado na


Tabela 6, tem-se um valor de FS encontrado, onde o cálculo convencional permite apenas a inserção de uma
informação referente aos parâmetros geotécnicos. Já na análise com a metodologia fuzzy, tem-se vários valores
de FS calculados, levando-se em consideração a existência de mais de um parâmetro geotécnico para a mesma
massa de solo.
Tabela 6 – Método de Culmann – Cálculo determinístico.
c´(Kpa) H(m) ɣ(KN/m³) 𝜃𝑐(°) I (°) φ´(°) Cotan 𝜃𝑐 Cotan I Sen² 𝜃𝑐 FS
5 6 19 40 45 35 1,19 1 0,41 1,94
Fonte: Autores (2022).

Conforme foi demonstrado na Figura 3, foram encontradas as equações das duas retas que compõem

105
esses gráficos, e a partir de então os valores de μ correspondentes a cada valor da variável em questão. A
divisão entre os numeradores (A+E) e os denominadores (F) explanados na Tabela 7 exprime o resultado de
vários fatores de segurança, pelo método de Culmann, utilizando a resolução das operações com números
fuzzy.

Tabela 7 – Resultado dos valores de fatores de segurança.


Grau de Reta Reta
pertinência ascendente descendente
u A+E F FS A+E F FS
0,00 2,62 3,80 0,69 12,87 5,23 2,46
0,10 3,22 3,87 0,83 12,45 5,16 2,41
0,20 3,83 3,95 0,97 12,04 5,09 2,37
0,30 4,43 4,02 1,10 11,62 5,02 2,32
0,40 5,04 4,09 1,23 11,21 4,94 2,27
0,50 5,66 4,16 1,36 10,80 4,87 2,22
0,60 6,27 4,23 1,48 10,39 4,80 2,16
0,70 6,89 4,30 1,60 9,98 4,73 2,11
0,80 7,52 4,37 1,72 9,58 4,66 2,06
0,90 8,14 4,45 1,83 9,17 4,59 2,00
1,00 8,77 4,52 1,94 8,77 4,52 1,94
Fonte: Autores (2022).

Conforme Mathworks (2022) , para esta técnica o valor do grau de pertinência referente a 1 é dado
como verdadeiro e 0 é dado como falso. Isso demonstra que as operações foram realizadas de forma correta,
haja vista que o cálculo convencional pelo método de culman, resultado destacado na Tabela 6 apresentou o
mesmo valor de FS 1.94, também encontrado pela técnica fuzzy, observado na Tabela 7. Para Ganoulis (2009)
, a condição de ruptura pode ocorrer quando o valor de FS for igual ou menor que 1.00. Para verificar a
probabibilidade ou risco de ruptura, pode-se fazer a divisão da área referente a dois valores de fatores de
segurança, como 0,69 e 1,94 , demonstrado na Figura 4, pela área total da função de pertinência , que é a
extensão dos valores de fatores de segurança de 0,69 a 2,42.

Figura 4 - Fator de segurança lógica fuzzy. Fonte:Autores (2022).

Figura 5 – Risco de ruptura. Fonte: Autores (2022).

106
Pode-se observar que mesmo o fator de segurança , sendo de 1,94 existe uma probabilidade de
aproximadamente 44% de risco de ruptura (RR%), como está demonstrado na Figura 5. Silva (2008) ressalta
que existem algumas desvantagens dessa técnica, tais como a necessidade de muita simulação para o ajuste
adequado destas funções, além disso deve-se ter cautela quanto ao emprego de regras consistentes, fazendo-se
necessária a avaliação prévia de um especialista da área geotécnica.

5 Conclusão

Diante da determinação do fator de segurança do talude, utilizando o método de Culmann com a


aplicação da lógica fuzzy, foi possível mostrar a utilidade dessa técnica na análise de estabilidade, pois com a
lógica fuzzy é possível introduzir uma série de parâmetros que podem existir na massa de solo. Uma das
vantagens dessa técnica é a facilidade de sua utilização, adicionado a isso o uso da ferramenta Excel otimizou
o tempo para realização das operações com números fuzzy. Foi observado que é possível haver o risco de
ruptura do talude , mesmo se o resultado do fator de segurança se apresentar maior que 1,00. O fator de
segurança obtido pela técnica fuzzy, para um grau de pertinência igual a 1.00, não se diferenciou do valor de
FS pelo cálculo determinístico do método de Culmann. Isso demonstrou que se deve ter cautela com os dados
inseridos na planilha , a fim de se prezar pela qualidade das informações utilizadas, que no caso são os
parâmetros de resistência ao cisalhamento, tais como a coesão e ângulo de atrito, bem como parâmetros físicos,
tais como o peso específico, se não forem dados plausíveis, os resultados obtidos não demonstrarão
confiabilidade.

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal do Ceará , ao Pós-Deha e à Funcap pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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de bordas. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, Universidade de São
Paulo, São Carlos.

DAS, B.M.; SOBHAN, K. (2014) Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 8ª ed. São Paulo: Cengage
Learning, 632 p.

GANOULIS, J. (2009) Risk Analysis of Water Pollution, 2nd ed., WILEY-VCH Verlag GmbH & Co, KGaAp,
Weinheim, 329 p.

MATHWORKS, INC. (2022) MATLAB – Fuzzy Logic Toolbox – Membership Functions. Seção Help do
Software MATLAB, R2022a.

MONTOYA, C. A. H. (2013) Incertezas, vulnerabilidade e avaliação de risco devido a deslizamento em


estradas.Tese de Doutorado, Programa de Engenharia Civil, Universidade de Brasília, Brasília.

SILVA, A.V. (2008) Aplicação de Lógica Nebulosa para Previsão do Risco de Escorregamentos de Taludes
em Solo Residual. Dissertação de Mestrado, Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Estadual
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

SILVA, A.V.(2015) Avaliação do risco de ruptura em análises de estabilidade de taludes de barragens de


terra utilizando números fuzzy. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Civil, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.

SILVA, A.V.; DANTAS NETO, S.A; SOUSA FILHO, F. DE A. (2016) A Simplified Method for Risk
Assessment in Slope Stability Analysis of Earth Dams Using Fuzzy Numbers. Electronic Journal of
Geotechnical Engineering, v.21, n.10, p. 3607-3624.

ZADEH, L. A. (1965) Fuzzy Sets. Information and Control, Vol.8, p. 338-353.

107
Análise Comparativa entre Métodos Bi e Tridimensionais de
Estabilidade de Taludes
Lucas Pereira Alberton
Engenheiro Civil, Azimute Engenharia, Joinville, Brasil, lucasalberton2@gmail.com

Jonatas Sosnoski
Doutorando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
jonatas.sosnoski@gmail.com

André Luis Meier


Doutorando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
de.luis.meier@gmail.com

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi comparar os métodos de análise de estabilidade de taludes bi e
tridimensionais através de um talude localizado em Jaraguá do Sul - SC, com variadas seções ao longo de sua
extensão (1V:0,53H a 1V:1,25H). A estabilidade do talude foi estimada através dos métodos Janbu e Spencer,
bi e tridimensionais, para uma análise global e seis seções. Os resultados convergiram na superfície de ruptura
crítica, com fator de segurança de 1,13 no método bidimensional e 1,18 no tridimensional. Nas análises das
seções, porém, ocorreram maiores divergências, com os resultados dos métodos tridimensionais variando de
cerca de -9% até +38% em relação aos bidimensionais. A diferença para a seção mais crítica foi inferior a 5%,
o que demonstra a representatividade dessa seção para aplicação da análise bidimensional. Contudo, nas seções
as diferenças foram superiores, indicando a influência da geometria tridimensional, que não conseguiu ser
transcrita para as análises bidimensionais. Dessa forma, para o talude em estudo, a boa escolha da seção crítica
teria sido suficiente para calcular a estabilidade global do maciço pelos métodos bidimensionais.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de Taludes, Análise Tridimensional, Fator de Segurança.

ABSTRACT: The aim of this paper was to compare the two- and three-dimensional slope stability analysis
methods using a slope located in Jaraguá do Sul - SC, with several sections along its extension (1V:0.53H to
1V:1.25H). The slope stability was estimated using the Janbu and Spencer two- and three-dimensional methods
for a global analysis and six sections. The results converged on the critical rupture surface, with a safety factor
of 1.13 in the two-dimensional method and 1.18 in the three-dimensional method. In the section analyses,
however, greater divergence occurred, with the results of the three-dimensional methods varying from about -
9% to +38% in relation to the two-dimensional ones. The difference for the most critical section was less than
5%, which demonstrates the representativeness of this section for applying the two-dimensional analysis.
However, in the sections the differences were greater, indicating the influence of the three-dimensional
geometry, which could not be transcribed to the two-dimensional analyses. Thus, for the slope under study, a
good choice of the critical section would have been sufficient to calculate the global stability of the slope by
two-dimensional methods.

KEYWORDS: Slope Stability, Three-Dimensional Analysis, Safety Factor.

1 INTRODUÇÃO

O projeto de contenções e taludes é uma parte essencial da engenharia geotécnica devido aos
recorrentes acidentes com instabilidade de encostas envolvendo fatalidades e perda de patrimônio. Todos as
falhas de taludes são tridimensionais na natureza, porém as análises bidimensionais são adotadas por
simplificar a investigação (CHENG; YIP, 2007), contudo, a massa de lateral de solo não é considerada no
cálculo do fator de segurança (OLIVEIRA, 2006).
Os taludes, tanto naturais quanto construídos, têm uma configuração complexa e tridimensional, onde
raramente a suposição de ruptura planar é encontrada, por isso uma análise tridimensional é requerida para
obter soluções mais razoáveis (ZHANG et al., 2003). Todavia, análises tridimensionais de estabilidade de
taludes não são comumente utilizadas devido ao fato de que as bidimensionais, se realizadas corretamente,
estão mais inclinadas a segurança. Para verificar a segurança de um talude em duas dimensões, deve-se

108
escolher para o estudo a seção mais crítica (GRIFFITHS; MARQUEZ, 2007), porém nem sempre esta é uma
tarefa intuitiva, especialmente em taludes de geometria e perfil geológico complexos. Portanto, é conveniente
estudar as situações nas quais o uso de análises tridimensionais é oportuno.
Dessa forma, o objetivo geral deste trabalho foi comparar os valores de fator de segurança obtidos
através dos métodos de análise de estabilidade de taludes de Janbu e Spencer, tanto bi quanto tridimensionais,
aplicados a um talude localizado em uma cidade do estado de Santa Catarina.

2 MÉTODOS DE ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES

A análise de estabilidade de taludes é um problema estaticamente indeterminado e existem diferentes


métodos de análise disponíveis para os engenheiros: equilíbrio limite, análise limite, elementos finitos ou
diferenças finitas. Os métodos de equilíbrio limite pode ser classificados em métodos simplificados e
rigorosos: os métodos simplificados podem satisfazer o equilíbrio de forças ou o de momentos, porém não
ambos ao mesmo tempo, enquanto que as equações dos métodos rigorosos satisfazem o equilíbrio de ambos
(CHENG; LAU, 2014).
Pode-se calcular o equilíbrio limite dividindo a massa do talude em enésimas fatias, de forma que
todas sejam afetadas pelo sistema geral de forças. O método de fatias é o mais utilizado nos programas
computacionais, pois pode acomodar geometrias complexas, condições variáveis de solo e a influência de
carregamentos externos (ABRAMSON et al., 2022).

2.1 Método de Janbu Simplificado

O método de Janbu simplificado foi desenvolvido com o objetivo de reduzir o esforço computacional
exigido pelo método rigoroso, possibilitando a obtenção do fator de segurança (FS) por meio de cálculos mais
simples. O FS é dado pela Equação 1, na qual os efeitos das forças cisalhantes interlamelares são incorporados
a um fator de correção (f0), que é função da geometria da superfície de ruptura e dos parâmetros de resistência
do solo. Os outros componentes do FS são o nα, determinado pela Equação 2, e o peso médio por unidade de
largura (p), dado pela Equação 3. O método é resolvido interativamente: assume-se um valor de FS e se calcula
nα, então encontra-se graficamente f0 e se calcula o FS. Repete-se o processo até a convergência dos valores
de FS (GERSCOVICH, 2012).

0 f b
FS = ∑[W∙tg(α)]+E ∙ ∑[c + (p − u) ∙ tg(φ)] ∙ (1)
t nα

tg(φ)∙tg(α)
nα = cos²(α) ∙ [1 + ] (2)
FS

dW γ∙hm ∙dx
p= dx
= dx
(3)

nas quais FS é o fator de segurança; f0 o fator de correção; W o peso próprio do solo; α o ângulo entre a base
da fatia e a horizontal; Et o empuxo de água na trinca; c a coesão; p o peso médio por unidade de largura; u a
poropressão; b a largura da lamela; φ o ângulo de atrito; γ o peso específico do solo; hm a altura média da fatia.

2.2 Método de Spencer

O método de Spencer é considerado rigoroso, pois busca satisfazer todas as equações de equilíbrio sem
desprezar as forças interlamelares. É assumido que essas forças possuem uma inclinação constante (θ),
apresentado na Equação 4, e que sua resultante (Q), indicada na Equação 5, passe pelo ponto de interseção das
outras forças atuantes (GERSCOVICH, 2012).

𝑋
tg(θ) = 𝐸 (4)

c∙b tg(φ)
∙sec(α)+ ∙[W∙cos(α)−u∙b∙sec(α)]−W∙sen(α)
FS FS
Q= tg(φ)
(5)
cos(α−θ)∙[1+ ∙tg(α−θ)]
FS

109
nas quais θ é a inclinação da resultante das forças interlamelares; X a força interlamelar vertical; E a força
interlamelar horizontal; Q a resultantes das forças interlamelares.
A metodologia para obtenção do fator de segurança se dá através do cálculo de FS por meio do equilíbrio
de forças (FSf) e de momentos (FSm), apresentados na Equação 6, para vários valores de θ. Após esse processo,
traçam-se as curvas de FSf, FSm e θ, no qual o ponto de interseção das curvas corresponde ao valor de FS e θ
que satisfazem ambas as condições (FERREIRA, 2012).

∑ Q = ∑ Q ∙ cos⁡(α − θ) = 0 (6)

2.3 Método Generalizado Tridimensional

Para um problema tridimensional, a possível massa de ruptura de um talude é dividida em um número


de colunas, na qual o peso do solo e as cargas horizontais são posicionadas no centro. Também é considerado
que a direção de escorregamento é a mesma para todas as colunas. As forças intercolunares são assumidas
arbitrariamente na formulação generalizada, variando com as considerações de cada método de estabilidade.
Através do equilíbrio de forças e momentos são obtidos os valores de FS nas direções x (Equação 7) e y
(Equação 8), nas quais {𝑓1, 𝑓2, 𝑓3} e {𝑔1, 𝑔2, 𝑔3} são os vetores unitários para as forças cisalhantes (S) e
normais (N), respectivamente. No método de Janbu, no ponto de equilíbrio de forças, os fatores de segurança
são iguais nas duas direções (CHENG; YIP, 2007).

∑[c+(N−U)∙tg(φ)]∙f1
FSx = ∑ N1 ∙g1 −∑ Hx
(7)

∑[c+(N−U)∙tg(φ)]∙f2
FSy = ∑ N1 ∙g2 −∑ Hy
(8)

nas quais N é a força normal; U a força da poropressão; f o vetor unitário cisalhante; g o vetor unitário normal;
H a força cisalhante intercolunar.

3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

O talude em estudo localiza-se no município de Jaraguá do Sul - SC (Figura 1). Trata-se de um talude
de corte, realizado para a utilização da área como loteamento. A forma tridimensional do talude é ilustrada
pela Figura 2, que mostra a junção de dois taludes, um à esquerda, cujo topo é um platô, e um talude ao fundo,
com o topo correspondente à uma área de mata. Pode-se observar também a presença de gramíneas em toda a
superfície do maciço. Os taludes possuem inclinações que variam de 1V:0,53H a 1V:1,25H, sendo maiores
nas regiões escavadas para a construção de um muro. Vale ressaltar que, como não há informações sobre a
estrutura do muro, este foi desconsiderado nas análises. No talude de fundo existem banquetas de cerca de 1
metro de largura com alturas de talude que chegam a 6 metros.
A área está localizada no Complexo Luís Alves (Ala), que é composto por gnaisses granulíticos
ortoderivados, de composição cálcioalcalina predominantemente básica, com porções restritas de formações
ferríferas e paragnaisses indiferenciados.
Os parâmetros de resistência do solo local foram obtidos através de um ensaio de cisalhamento direto
de uma amostra retirada do corpo do talude, cujos resultados foram de peso específico de 17 kN/m2, coesão de
10,36 kPa e ângulo de atrito de 30,17º.

110
Figura 1. Localização do talude em estudo (Adaptado de BING, 2020).

Figura 2. Vista do talude em estudo (ALBERTON, 2021).

4 ANÁLISES DE ESTABILIDADE

Os dados topográficos e o resultado de ensaio de cisalhamento simples de uma obra em Jaraguá do Sul
- SC foram utilizados para criar um modelo nos programas Slide e Slide3, através da versão educacional. Os
programas calcularam o fator de segurança através dos métodos de equilíbrio limite de Janbu Simplificado e
Spencer.
O talude foi analisado globalmente para encontrar as superfícies de ruptura com menor fator de
segurança. Após essa etapa, o talude foi dividido em seis seções, nas quais foram realizadas pesquisas para o
mínimo local tanto para os métodos bidimensionais quanto tridimensionais. A Figura 3 apresenta a localização
das seções e um exemplo de delimitação da região para obtenção do FS através dos métodos tridimensionais.
Através da análise global do talude, foram obtidas as regiões com valores de FS considerados críticos
(inferiores a 1,5). Na Figura 4 são apresentados os resultados para o método de Janbu (esquerda) e Spencer
(direita). Os resultados para ambos os métodos são semelhantes, com a superfície crítica próxima à seção 2,
com valores de FS de 1,18 para o método de Janbu e 1,24 para o de Spencer. Além disso, é observada uma
região com FS inferior a 1,5 entre as seções 3 e 4.

111
Figura 3. Seções de análise (ALBERTON, 2021).

Figura 4. Seções críticas globais pelos métodos de Janbu (a) e Spencer (b) (ALBERTON, 2021).

As análises de estabilidade de cada seção permitiram determinar o menor valor de fator de segurança
para cada método, tanto bi quanto tridimensionalmente, apresentados na Tabela 1.

Janbu Spencer
Seção
2D 3D 2D 3D
Global - 1,18 - 1,24
1 1,59 2,37 1,59 2,56
2 1,14 1,19 1,14 1,26
3 1,24 1,14 1,32 1,21
4 1,13 1,34 1,20 1,42
5 1,25 1,43 1,31 1,51
6 1,50 1,56 1,60 2,04
Tabela 1. Fatores de segurança.

112
Com base nas análises bidimensionais foi observada uma baixa variação dos resultados para a seção 1,
inclusive na localização da superfície mais crítica, desenvolvida do pé do talude até a crista anterior a banqueta.
Já a seção 2, que possui a maior inclinação, apresentou fatores de segurança que indicaram uma maior
instabilidade local, tendo também pouca variação entre os métodos. Nessa mesma seção, foram localizadas
várias superfícies de ruptura com FS menor que 1,5, tanto em rupturas superficiais quanto profundas.
A seção 3, por sua vez, apresentou uma maior variação nos FS entre as análises e, conforme esperado,
o método de Janbu se mostrou o mais conservativo. As superfícies de ruptura nessa seção estavam presentes
tanto abaixo quanto acima da banqueta.
Contudo, foram observadas maiores instabilidades na seção 4, em virtude da ausência de banquetas, que
é mínima neste ponto, o que fez com que a altura do talude fosse a principal causa de instabilidade.
De forma semelhante, na seção 5 as banquetas são muito pequenas para a inclinação do talude, que
adicionado ao fato de a inclinação ter sido acentuada pela escavação para a construção de um muro, geraram
fatores de segurança mais baixos.
Por fim, na seção 6 obteve-se resultados de FS satisfatórios, pois a inclinação do pé do talude não foi
aumentada para a construção do muro. Além disso, existem 3 banquetas que dividem o talude em alturas
menores, de até 5 metros, com inclinações também inferiores as outras seções.
Também é possível realizar uma comparação entre os resultados das análises bi e tridimensionais,
visualizada na Figura 5, cujo gráfico a esquerda se refere ao método de Janbu Simplificado, enquanto a direita
ao de Spencer.

Figura 5. Fatores de segurança pelos métodos de Janbu (a) e Spencer (b).

A seção 1 é uma porção do talude na qual os métodos bidimensionais já evidenciaram uma boa
estabilidade, mas que é confirmada com um aumento de 36% no valor do FS nas análises tridimensionais. Isto
ocorre especialmente em virtude da menor inclinação e altura do talude, que na análise tridimensional conta
com uma maior área de contato das superfícies de ruptura analisadas, tendo menores carregamentos.
A seção 2 resultou no menor fator de segurança geral do talude, porém, sua contraparte tridimensional
teve resultados em média 6% maiores. No caso específico da seção 2, uma análise bidimensional conseguiria
avaliar de forma mais rápida e menos custosa a estabilidade do talude, em virtude de a geometria na seção não
ser complexa e o baixo valor de FS ser governado pela inclinação acentuada para o solo do maciço.
Na comparação dos resultados para a seção 3, observa-se que os métodos tridimensionais geraram
fatores de segurança cerca de 10% menos favoráveis que os bidimensionais. Isso demonstra que a geometria
da região não pode ser representada acuradamente por um modelo bidimensional, em virtude de a porção
superior do talude ser difusora, com ângulo de inclinação elevado, o que diminui o suporte lateral do maciço.
Por fim, ressalta-se que mesmo após as análises bidimensionais na área da seção 5 acusarem um fator
de segurança de cerca de 1,30 e na busca tridimensional resultarem em valores de 1,45, nenhuma superfície
crítica global foi encontrada nessa região. Como afirmaram Pang et al. (2020), existe uma relação importante
entre a altura e a largura da seção analisada, quanto mais larga, mais semelhante aos resultados bidimensionais.
Contudo, a mudança no comprimento da análise faria com que o tamanho da superfície de ruptura mudasse,
alterando também o valor do fator de segurança.

113
5 CONCLUSÕES

Neste estudo foram realizadas análises de estabilidade bi e tridimensionais em um talude localizado no


munícipio de Jaraguá do Sul - SC. Os valores de fator de segurança mais críticos obtidos foram de 1,13 nas
análises bidimensionais e 1,14 nas tridimensionais, demonstrando que a boa escolha da seção crítica teria sido
suficiente para calcular a estabilidade do talude de forma bidimensional, ainda que mais conservadora.
Ademais, foi possível observar nas análises tridimensionais que a seção 3 gerou fatores de segurança
mais críticos que os encontrados com a análise de estabilidade global para ambos os métodos. Sendo assim,
recomenda-se uma análise mais aprofundada nessa região.
Todavia, uma análise bidimensional para a região da seção 3 não teria sido suficiente para aferir com
acurácia a estabilidade do talude, em virtude dos resultados de FS tridimensionais obtidos serem inferiores.
Dessa forma, conclui-se que para taludes com geometrias complexas, é recomendável uma análise de
estabilidade tridimensional para não utilizar resultados contrários à segurança.

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado
de Santa Catarina (FAPESC). Os autores também agradecem o Departamento de Engenharia Civil da
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e o Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil
(PPGEC) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) pelo auxílio na elaboração deste estudo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Estado de Santa Catarina, Joinville.
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Bishop’s, Janbu’s, and Morgenstern - Price’s Techniques. Journal of Geotechnical and Geoenvironmental
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Mestrado, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto, Porto, Portugal.
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Griffiths, D.V.; Marquez, R.M. (2007) Three-dimensional slope stability analysis by elasto plastic finite
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Dissertação de Mestrado, Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa
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stability. Canadian Geotechnical Journal, v. 50, n. 3, p. 233-249.

114
Modelo de predição da condição de estabilidade de taludes com
uso de ferramenta estatística multivariada
Ladir Antônio da Silva Júnior
Professor, Universidade do Estado de Minas Gerais, João Monlevade, Brasil, ladir.juniorr@uemg.br

Rudinei Martins de Oliveira


Professor, Universidade do Estado de Minas Gerais, João Monlevade, Brasil, rudinei.oliveira@uemg.br

Tatiana Barreto dos Santos


Professor, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, tatiana.santos@ufop.edu.br

RESUMO: A estabilidade de taludes consiste em um tema de grande preocupação dos órgãos competentes,
sendo que movimentos de massa podem gerar consequências desastrosas. Diante disso, a proposta de modelos
de predição da condição de estabilidade de taludes pode constituir ferramentas primordiais para se evitar
acidentes. Este artigo tem por objetivo apresentar um modelo capaz de predizer a condição de estabilidade de
taludes com uso da técnica estatística multivariada de análise discriminante linear. O banco de dados utilizado
para a proposta do modelo preditor é composto por 221 taludes. Para cada um dos taludes é conhecida a sua
altura, inclinação, peso específico, coesão, ângulo de atrito, poropressão e condição de estabilidade (estável
ou ruptura circular). A técnica de análise discriminante foi aplicada à amostra de treinamento, que corresponde
a 75% dos dados para geração do modelo. O melhor modelo preditor gerado apresentou probabilidade global
de acerto (PGA) igual a 88,58%. A análise forneceu um modelo preditor com um bom valor de probabilidade
global, uma vez que é verificado na literatura modelos com PGA variando entre 65% e 90%. O modelo
proposto é de fácil uso e uma vez que a PGA é conhecida, fornece condições e reduz a subjetividade na tomada
decisão de engenheiros geotécnicos.

PALAVRAS-CHAVE: Condição de Estabilidade, Geotecnia, Taludes, Análise Discriminante Linear.

ABSTRACT: Slope stability is a topic of great concern and mass movements can have disastrous
consequences. Proposal of prediction models for slope stability condition can be an essential tool to avoid
accidents. This article presents a model capable of predicting slope stability condition using a multivariate
statistical technique, named linear discriminant analysis. The dataset used to propose the predictor model is
composed of 221 slopes. Height, dip, specific weight, cohesion, friction angle, pore pressure and stability
condition (stable or circular failure) are known for each slope. Linear discriminant analysis technique was
applied to training sample, which corresponds to 75% of the data. The best predictor model presented an
overall probability of success (OPS) equal to 88.58%. The analysis provided a predictor model with a great
overall probability of success, since models with OPS ranging between 65% and 90% are found in literature.
The proposed model is easy to use and once the OPS is known, it provides conditions to decision making of
geotechnical engineers and reduces subjectivity of the analysis

KEYWORDS: Stability Condition, Geotechnics, Slopes, Linear Discriminant Analysis.

1 Introdução

A existência de perigo e risco é inerente à maior parte das atividades humanas. Eles estão sempre
presentes nos empreendimentos de engenharia e na vida moderna. De maneira geral, os eles podem estar
associados a vários tipos de acidentes, como por exemplo: acidentes domésticos, industriais e de circulação de
veículos, perigos naturais (terremotos, deslizamentos de terra e furacões), falhas de estruturas e falha de
sistemas de engenharia. À nível pessoal, os riscos podem resultar em perda de propriedade, perdas financeiras
ou, em última análise, perda de vidas (BROWN & BOTH, 2010).
O controle de perigo e do risco de rupturas em taludes é uma preocupação em taludes urbanos,
rodoviários e de mina. O perigo é definido como uma fonte de perigos potenciais; uma potencial ocorrência

115
ou condição que pode levar a lesões a seres humanos e animais, danos ao meio ambiente, atraso ou perda
econômica (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 2002).
Fell et al. (2008) definiram, de forma concisa e generalizada, que o risco geotécnico está associado à
medida da probabilidade da ocorrência da ruptura no talude (suscetibilidade) e à gravidade das consequências
adversas dessa ruptura para a saúde, propriedade e meio ambiente. Além disso, sabe-se que a avaliação do
perigo é uma etapa interna da gestão de riscos assim como a análise de risco. A susceptibilidade pode ser
conceituada como a probabilidade ou frequência de ocorrência de um determinado evento e pode ser descrita
em termos qualitativos ou quantitativos. Em taludes, a mesma se relaciona essencialmente às características
geométricas, propriedade mecânicas e condições de poropressão.
O uso de aprendizado de máquina e estatística multivariada para desenvolvimento de ferramentas
quantitativas para predição da condição de estabilidade de taludes (susceptibilidade à ruptura) vêm sendo
utilizada por diversos pesquisa dores do mundo. Pode-se citar Naghadehi et al. (2013), Gao (2015),
Cañón et al. (2016), Shi et al. (2016), Zhou, et al. (2019) e Santos (2019). Os modelos gerados baseiam-
se em técnicas supervisionadas de classificação, em que as mais comuns são a análise discriminante, k vizinhos
mais próximos, redes neurais artificiais, árvores de classificação, entre outras.
Este artigo tem como objetivo apresentar um modelo capaz de prever a condição de estabilidade e
susceptibilidade à ruptura de taludes, construído por meio da técnica de análise discriminante linear. Para isso
foi utilizado 221 taludes, em que, para cada um dos taludes é conhecida a sua altura, inclinação, peso
específico, coesão, ângulo de atrito, poropressão e condição de estabilidade (estável ou ruptura circular).

2 Materiais e métodos

2.1 O banco de dados

Os dados utilizados estão publicados em Zhou et al. (2019). Foram considerados 221 dados de taludes,
num total de 115 taludes estáveis e 106 taludes instáveis. Possuem seis atributos que são: Altura (H), ângulo
de inclinação geral (β), peso específico (𝛾), coesão (c), ângulo de atrito (𝜑), poropressão (ru) e condição de
estabilidade (estável ou instável). Esses atributos representam as características geométricas e geotécnicas.
A Tabela 1 apresenta um exemplo dos dados dos dez primeiros taludes utilizado com os seus respectivos
atributos. A Figura 1 mostra os boxplots dos atributos das variáveis antes da padronização. Como é possível
observar há uma amplitude considerável dos valores mínimos para os máximos dos atributos da tabela.

Tabela 1. Banco de dados – exemplo dos 10 primeiros taludes analisado


ID Localização H β 𝛾 c 𝜑 ru estabilidade
Congress street, open cut
1 8,23 35 18,68 26,34 15 0 Instável
slope, Chicago, USA
2 Brightlingsea slide, UK 3,66 30 16,5 11,49 0 0 Instável
3 Unknown 30,5 20 18,84 14,36 25 0 Estável
4 Unknown 30,5 20 18,84 57,46 20 0 Estável
Case 1: open pit iron ore
5 100 35 28,44 29,42 35 0 Estável
mine, India
Case 2: open pit iron ore
6 100 35 28,44 39,23 38 0 Estável
mine, India
Open pit chromite mine,
7 40 30 20,6 16,28 26.5 0 Instável
Orissa, India
8 Sarukuygi landslide, Japan 50 20 14,8 0 17 0 Instável
Case 1: open pit iron ore
9 88 30 14 11,97 26 0 Instável
mine, Goa, India
Mercoirol open pit coal
10 120 53 25 120 45 0 Estável
mine, France

116
Figura 1. Boxplots dos atributos das variáveis antes da padronização.

2.2 Análise discriminante linear

Dentre as técnicas de estatística multivariada disponíveis para a classificação de indivíduos, pode-se


destacar a análise discriminante. Para a sua utilização é necessária a predefinição dos grupos em que cada
elemento amostral pode ser classificado, ou seja, os grupos são definidos inicialmente a partir de suas
características gerais (MINGOTI, 2013). A partir destas características é possível elaborar uma função
matemática definida como regra de classificação ou regra de discriminação, que é aplicada para classificar os
novos elementos amostrais, para os grupos já existentes.
No caso deste artigo, a condição de estabilidade de taludes constitui a variável classificatória ou target.
As funções discriminantes elaboradas podem apresentar boa ou má discriminação. Quando os grupos a serem
discriminados (neste caso, taludes estáveis ou instáveis) apresentam centroides distantes, a função tende a
apresentar boa discriminação. A Figura 2 apresenta uma representação univariada de scores discriminantes de
duas populações A e B. Na Figura 2(a) é possível observar que os centroides estão mais distantes e, portanto,
a função discriminante foi mais eficaz e gerou uma área de confusão menor (destacada em cinza) do que na
Figura 2(b) onde os centroides estão mais próximos.

(a) (b)
Figura 2. Representação univariada de escores Z discriminantes (Hair et al., 2009).

A construção do modelo preditor da condição de estabilidade de taludes foi obtida por meio da função
discriminante linear de Fisher para duas populações (estável ou instável). Fisher (1936) introduziu a ideia de
se construir funções discriminantes a partir de combinações lineares das variáveis originais. A função
discriminante linear de Fisher se baseia na distância de Mahalanobis. A distância de Mahalanobis é uma
métrica de distância entre dois vetores no espaço multivariado que leva em consideração a correlação entre os
dados, ver Equação 1.

𝑑2 (𝑥, 𝜇𝑖 ) = (𝑥, 𝜇𝑖 )𝑡 𝛴−1 (𝑥, 𝜇𝑖 ) (1)

Em que:
𝑑2 (𝑥, 𝜇𝑖 ) é a distância de Mahalanobis do ponto x ao vetor média da população i;
𝑥 é o ponto de observação;
𝜇𝑖 é a média da população i;
𝛴 é a matriz de variâncias e covariâncias populacional dos dados.

Ao considerar uma nova observação xo, sabe-se que essa observação deverá ser alocada no grupo cuja

117
distância de Mahalanobis for menor. Portanto, se 𝑑2 (𝑥0 , 𝜇1 ) < 𝑑2 (𝑥0 , 𝜇2 ), a observação deve ser alocada na
população 1. Caso contrário, a observação seria alocada na população 2.
A regra apresentada acima pode ser expressa como uma função discriminante, onde a distância de
Mahalanobis do ponto de observação até à população 1 é subtraída da distância de Mahalanobis da observação
até à população 2, ver Equação 2.

𝑑2 (𝑥0 , 𝜇2 ) − 𝑑2 (𝑥0 , 𝜇1 ) = [(𝑥, 𝜇2 )𝑡 𝛴−1 (𝑥, 𝜇2 )] − [(𝑥, 𝜇1 )𝑡 𝛴 −1 (𝑥, 𝜇1 )] =


1
= (𝜇1 − 𝜇2 )𝑡 𝛴 −1 𝑥 − 2 (𝜇1 − 𝜇2 )𝑡 𝛴−1 (𝜇1 + 𝜇2 ) (2)

D(x) m
Em que:
D(x) representa a regra discriminante e m é uma constante. Se 𝐷(𝑥) > 𝑚, x0 é classificada na população 1,
caso contrário na população 2.

2.3 Validação de modelos classificatórios

A validação de modelos classificatório foi realizada por meio da comparação da classe obtida pelo
modelo de classificação e a classe real, utilizando a matriz de confusão (Tabela 2). A probabilidade global de
acerto (PGA) e a taxa de erro aparente (TEA) do modelo de predição da condição de estabilidade de taludes
apresentados neste artigo são dadas pelas Equações 3 e 4, respectivamente.

Tabela 2. Matriz de confusão.


Classe predita pelo modelo
Estável Instável
Classe real Estável n11 n12
Instável n21 n22

𝑃𝐺𝐴 = 1 − 𝑇𝐸𝐴 (3)


𝑛12 +𝑛21
𝑇𝐸𝐴 = 𝑛 +𝑛
(4)
11 12 +𝑛21 +𝑛22

Em que:
nij é o número de taludes da amostra de teste que foram classificados na população i dado que ela é da
população j.

2.4 Metodologia de obtenção do modelo preditor de condição de estabilidade de taludes

Para obtenção do modelo de predição da condição de estabilidade de taludes, o banco de dados foi
subdividido em amostra de treinamento ou treino (75% dos taludes) e amostra de teste (25% dos taludes). A
amostra de treinamento foi utilizada para que o modelo fosse criado, em que a probabilidade global do modelo
foi obtida por meio dos acertos do modelo, comparados às condições de estabilidade reais dos taludes que
compõe essa amostra (matriz de confusão). A amostra de teste foi utilizada para validação do modelo. Em que,
as variáveis independentes da amostra foram colocadas no modelo de predição e as condições de estabilidade
foram obtidas. Elas foram comparadas com as condições de estabilidade reais da amostra de teste por meio de
uma matriz de confusão e, a probabilidade global do modelo, por meio dessa amostra, foi obtida. O fluxograma
da Figura 3 apresenta a metodologia de obtenção do modelo. Para obtenção do modelo, foi utilizado o software
R (R Core Team, 2022).

118
Figura 3. Fluxograma da metodologia proposta.

3 Resultados e discussão

Uma vez que as escalas das variáveis independentes (altura, inclinação, peso específico, coesão, ângulo
de atrito, poropressão) são diferentes, para criação da regra discriminante, houve necessidade de padronização
das mesmas. A Figura 4 mostra os boxplots das variáveis padronizadas.

Figura 4. Boxplots das variáveis padronizadas.

A correlação linear entre as variáveis independentes também foi verificada. A Figura 5 apresenta a
matriz de dispersão de dados com a informação de correlação entre as mesmas. As variáveis peso específico e
altura; coesão e altura; inclinação e ângulo de atrito; peso específico e coesão; peso específico e ângulo de
atrito; coesão e poropressão apresentaram correlações minimamente significativas (maiores que 0,30).

119
Figura 5. Matriz de dispersão de dados com a informação de correlação entre as variáveis.

Após a padronização e avaliação das correlações entre as variáveis independentes, a análise linear
discriminante de Fisher foi aplicada à amostra de treinamento (75% dos dados) para diferentes configurações
de amostra (diferentes sementes). Após criação do modelo discriminante, a amostra de teste foi utilizada para
validação. A Tabela 3 apresenta as taxas de erro aparente para as amostras de treinamento e teste para oito
diferentes composições de treino e teste.

Tabela 3. Taxas de erro aparente.


Semente Erro - Amostra treino Erro - Amostra teste
(%) (%)
111 22,00 11,42
333 24,04 20,58
444 21,15 26,47
222 23,08 25,71
555 20,19 23,53
666 22,12 28,57
777 22,12 25,71
888 19,23 31,43

Observando os dados da Tabela 3, pode-se notar que entre os resultados obtidos, a configuração de
treino e teste fornecida pela semente 111 representa o modelo com a menor taxa de erro aparente. O erro obtido
foi igual a 11,42%, logo a probabilidade global de acerto foi igual a 88,58%. No entanto, é prudente e
conservador, considerar a semente que forneceu taxas de erro para o treino e o teste próximas, de modo a evitar
efeitos de overfitting e underfitting. Logo, o modelo discriminante escolhido e proposto para ser utilizado para
predição da condição de estabilidade de novos taludes é o modelo fornecido pela semente 555. Para o modelo
de semente 555, o erro obtido foi igual a 23,53%, ou seja, obtendo uma probabilidade global de acerto igual a
76,47%.
Analisando a probabilidade global de acerto, tanto do modelo de semente 111, como do modelo de
semente 555, pode-se dizer que o modelo preditor obteve um bom valor de probabilidade global. Uma vez que
é verificado na literatura modelos com PGA variando entre 65% a 90% (Naghadehi et al., 2013; Gao, 2015;
Cañón et al., 2016; Shi et al., 2016; Zhou, et al., 2019; Santos, 2019).
A Figura 6 apresenta a distribuição dos dados fornecida pela semente 555, onde se pode observar as
zonas de probabilidade de acerto igual a 100% e a zona de confusão entre as classes de estabilidade estável e
instável. A zona de confusão é relativamente grande, mas se considerar uma probabilidade de acerto igual a
95% e confiança na determinação desses intervalos, a zona de confusão tem uma grande redução, fazendo com
que o modelo possa ser utilizado na predição da condição de estabilidade de novos taludes.

120
Figura 6. Distribuição dos dados fornecida pela semente 555.

3.1 Modelo de predição proposto

A partir da aplicação do método de análise discriminante linear, para a semente 555, foi possível
determinar a Equação 5, para a determinação do LD, considerando as variáveis altura do talude (H), inclinação
(β), peso específico (𝛾), coesão (c), ângulo de atrito (𝜑) e poropressão (ru). Considerando uma probabilidade
de confiança igual a 95% para os resultados obtidos pela análise discriminante linear, para a semente 555, foi
possível propor o modelo de predição da condição de estabilidade, como pode ser visto na Figura 7.

𝐿𝐷 = −0,029𝐻 − 0,07𝛽 + 0,07𝛾 + 0,03𝑐 + 0,08𝜑 + 0,92𝑟𝑢 (5)

Figura 7. Distribuição dos dados fornecida pela semente 555.

Analisando a Equação 5 e a Figura 7, percebe-se que o modelo de predição proposto é de fácil


aplicação. Onde, o engenheiro geotécnico, com posse das variáveis características do talude, irá calcular o
valor de LD (Equação 5) e comparar o seu resultado com os valores limites (Figura 7), classificando assim o
talude como instável, estável ou de comportamento incerto. Os autores deste artigo recomendam que, para
modelos com LD entre 0,45 e 0,65 (comportamento incerto), sejam realizados estudos geotécnicos mais
complexos, como sua avaliação de ruptura pelos métodos clássicos de equilíbrio-limite e tensão-deformação.

4 Conclusão

A análise de risco de rupturas em taludes é uma grande preocupação e objeto de estudos de diversas
pesquisas nos últimos anos. A utilização de modelos de predição baseados em Análise Estatística Multivariada
pode servir como um facilitador para o processo de tomada de decisão na análise de estabilidade destes taludes.
Diante disso o objetivo deste trabalho foi aplicar as técnicas de análise discriminante linear com intuito de
criar um modelo de predição de estabilidade de taludes de de fácil aplicação.
A partir dos resultados obtidos neste artigo, pode-se observar que os objetivos desta pesquisa foram
cumpridos, com a criação de um modelo de predição com probabilidade global de acerto (PGA) de 88,58%.
Entretanto, os autores deste artigo recomendam a utilização de um modelo de predição com PGA de 76,47%.
Pois para este modelo (semente 555) se obteve menor diferença entre os erros da amostra treino e amostras
teste, de modo a evitar efeitos de overfitting e underfitting. A partir deste modelo foi definida a equação de
predição (Equação 5), onde considerando uma probabilidade de confiança igual a 95%, os taludes foram
classificados em estáveis, instáveis e comportamento incerto, que necessitam de uma análise geotécnica mais
complexa.

121
Vale ressaltar que o modelo de predição proposto está limitado para taludes com características
semelhantes ao banco de dados analisados e que uma análise crítica dos resultados deverá ser realizada pelo
engenheiro geotécnico no momento de definição da classificação do risco do talude.
Diante dos resultados obtidos, pode-se concluir que o modelo de predição proposto pode servir como
facilitador na tomada de decisão da classificação do risco de taludes, se mostrando uma técnica de fácil
aplicação e boa probabilidade global de acerto.

AGRADECIMENTOS

Os autores desejam agradecer a Universidade do Estado de Minas Gerais e a Universidade Federal de


Ouro Preto, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Minas Gerais e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico por apoiar e
financiar essa pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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122
Estudo comparativo da resistência ao cisalhamento de interface
entre os elementos de reforço usados na técnica de terra armada
e solos
Bruna Sell
Graduanda em Eng. Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, bruna.sell@gmail.com

Marcelo Heidemann
Professor Adjunto, Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, marcelo.heidemann@ufsc.br

Helena Paula Nierwinski


Professora Adjunta Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, helena.paula@ufsc.br

Daniel Hastenpflug
Professor Adjunto, Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, daniel.h@ufsc.br

Eduardo Guerreiro Kuzer


Graduando em Eng. Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, eduardosmek@gmail.com

RESUMO: O projeto de aterros estruturados tem como ponto chave a determinação da resistência de interface
entre os sistemas de reforço e o material do aterro. No entanto, são reduzidos os dados desta natureza para
solos residuais e materiais reciclados. Nesse sentido, este trabalho apresenta resultados de resistência ao
cisalhamento de interface entre os elementos de reforço usados em aterros estruturados (metálico e polimérico)
e três solos: areia natural, solo residual de gnaisse-migmatito (utilizado com frequência em obras ao longo do
litoral de SC) e a Areia Descartada de Fundição, um passivo da indústria de fundição de grande relevância
para o norte de SC. Os parâmetros de resistência de interface foram medidos em ensaios de cisalhamento direto
sob tensões normais na faixa de 25 a 200 kPa. Os resultados demonstram que em todos os solos investigados
as fitas metálicas são capazes de mobilizar ângulo de atrito de interface equivalente ao ângulo de atrito interno
do solo. Com fitas poliméricas resultado similar foi obtido para a areia natural. Para a ADF e solo residual há
uma redução de cerca de 1/3 do ângulo de atrito de interface associado ao uso de fitas poliméricas se comparado
ao ângulo de atrito interno do solo. A redução no atrito mobilizado entre a ADF e o reforço polimérico é
levemente maior que o observado no solo residual testado, que é frequentemente usado em obras desta natureza
no norte de Santa Catarina. Isto indica a viabilidade, sob este aspecto, do uso da areia descartada de fundição
como material de construção para aterros estruturados.

PALAVRAS-CHAVE: Aterros estruturados, resistência de interface, solo residual, areia descartada de


fundição, cisalhamento em interface

ABSTRACT: The key point of the structured embankment project is the correct determination of interface
shear strength between the reinforcement systems and the soil. However, data of this nature are limited for
residual soils and recycled materials. In this sense, this work presents results of interface shear strength
between the reinforcement elements used in structured embankments (metallic and polymeric) and three
soils: natural sand, residual gneiss-migmatite soil (often used in works along the Santa Catarina Coast) and
a Waste Foundry Sand (WFS), a by-product of the foundry industry which has great relevance to the north
region of Santa Catarina. The interface strength was measured using direct shear tests under normal stresses
in the range of 25 to 200 kPa. The results demonstrate that in all investigated soils in contact with metallic
reinforcements mobilizes interface angle equivalent to the internal friction angle of the soil. With polymeric
reinforcement, similar result was obtained for natural sand. There is a reduction of about 30% in the interface
friction angle associated with the use of polymeric reinforcement compared to the internal friction angle of
the WFS. The reduction in friction mobilized between the WFS and the polymeric reinforcement is slightly
greater than that observed in the residual soil tested, which is frequently used in works of this nature in the
north of Santa Catarina. It indicates the feasibility, in this aspect, of using waste foundry sands as a building
material for structured embankments.

KEYWORDS: Structured embankments, interface shear strength, residual soil, waste foundry sand,
interface shearing.
123
1 Introdução
A indústria de fundição é responsável pela fabricação de peças fundidas que podem ser acabadas ou
utilizadas como matéria prima em outros setores, como o automotivo, ferroviário e de máquinas e equipamentos.
De acordo com a Associação Brasileira de Fundição (ABIFA, 2020), no Brasil, a produção totalizou cerca de 2,3
milhões de toneladas em 2019, dos quais 25% são oriundas da região de Joinville – SC.
A areia descartada de fundição (ADF) é o principal passivo da indústria da fundição. No processo de
fundição as areias são utilizadas como moldes que dão formato às peças fundidas. Segundo Casotti et al. (2011),
a geração de areia varia entre 0,8 e 1 tonelada para cada tonelada de fundido.
Atualmente, grande parte da areia descartada de fundição gerada ainda é destinada para aterros industriais.
Alves (2012) comenta que a disposição das ADF em aterros industriais é uma alternativa de elevado custo em
função das questões ambientais, além de representar um desperdício de matéria prima que poderia ser reutilizada
em outros processos, cooperando na redução em emissões de gases de efeito estufa.
Em virtude dos impactos ambientais gerados, uma alternativa para o reaproveitamento da areia descartada
de fundição é sua aplicação geotécnica, já que em geral são situações que envolvem a utilização de grandes
volumes desse material. De acordo com Yin et al. (2016), a aplicação em situações que envolvem elevados
volumes estruturais de preenchimento, como aterros estruturados, seria viável para o uso da maioria das areias
de fundição produzidas. Do ponto de vista ambiental, a Lei estadual n° 17.479/2018 prevê a aplicação da ADF
nesse tipo de obras, desde que classificada como resíduo não perigoso.
Nesse sentido, é interesse dos setores público e privado da região de Joinville viabilizar tecnicamente o
uso do material em obras rodoviárias, contexto no qual se inserem os aterros estruturados. Atualmente estes
aterros são executados utilizando solos residuais de gnaisse-migmatito, abundantes na região.
O princípio de funcionamento de aterros estruturados como o sistema terra armada, consiste na interação
entre o material de aterro e os elementos de reforços de alta aderência, que resistem aos esforços internos de
tração. Essa interação forma um maciço integrado que se comporta como um corpo coesivo monolítico, passando
a suportar seu peso próprio e as cargas externas para as quais foi projetado (MARAPAGEM, 2017).
Em estruturas do tipo terra-armada, ou similar, os elementos de reforço utilizados são as tiras metálicas
e geotiras. A tira metálica consiste em um reforço linear na forma de barras planas de aço, de seção retangular,
com espessura mínima de 4 mm e larguras variáveis entre 40 mm e 100 mm, lisas, corrugadas ou com nervuras
transversais em ambas as faces. As geotiras são um produto polimérico em forma de tiras flexíveis, com função
de reforço, produzidas geralmente a partir de feixes de filamentos sintéticos, e recobertos por um revestimento
protetor (ABNT NBR 16920-1, 2021).
Dentre as verificações feitas no projeto de um aterro estruturado estão a estabilidade global, estabilidade
de fundações, resistência do solo de fundação, compactação do material utilizado, arrancamento do elemento
de reforço, interação entre o solo e o elemento de reforço e resistência a tração do elemento de reforço. Para
parte destas verificações, como o arrancamento do reforço do solo e escorregamento do solo sobre o reforço,
parâmetros que representem os mecanismos de interação entre o solo e os reforços são necessários. A ABNT
NBR 16920-1 (2021) denomina fator de interação a relação entre a resistência ao cisalhamento da interface
entre o solo e o reforço e a resistência ao cisalhamento do solo.
A interação solo-reforço é dada quando da mobilização de forças de atrito de interface e a resistência
passiva do elemento transversal (ABNT NBR 16920-1, 2021). Em um aterro estruturado os mecanismos de
interação são, basicamente, o escorregamento do solo sobre o reforço (que pode ser simulado por meio de
ensaios de cisalhamento direto) e o arrancamento do reforço do solo (que é simulado em ensaios de
arrancamento). A Figura 1 demonstra estas condições, bem como outros modos de solicitação identificados
em aterros estruturados.

Figura 1. Mecanismos de interação solo-reforço em uma estrutura de solo reforçado (PALMEIRA, 2009)
124
De forma a contribuir com o desenvolvimento de projetos baseados em parâmetros que refletem as
práticas de engenharia regionais, bem como com a incorporação das ADF na execução de aterros estruturados,
este trabalho apresenta valores de referência para resistência de interface entre reforços metálico e polimérico e
um solo residual de gnaisse-migmatito e uma areia descarta de fundição, além de uma areia natural, que servirá
como referência para análise do desempenho dos demais materiais.

2 Materiais e Métodos

2.1 Materiais

A areia descartada de fundição (ADF) utilizada nos ensaios é proveniente de uma indústria de fundição
de ferro para autopeças, localizada no município de Joinville-SC. O material apresenta coloração escura e
textura arenosa, com finos aderidos às partículas de areia. Segundo o relatório interno da empresa geradora do
resíduo, os sólidos desta ADF são compostos em massa por: areia natural (90%), bentonita sódica (7%) e pó
de carvão mineral (3%).
A areia natural é uma areia grossa, de coloração clara, oriunda de extração em rios da região de Joinville.
O material costuma ser utilizado na produção de artefatos de concreto de cimento Portland.
O solo residual é oriundo do intemperismo de rochas do tipo gnaisse-migmatito que correspondem ao
Complexo Granulítico de Santa Catarina, unidade geológica mais representativa do nordeste de Santa Catarina,
região onde localiza-se o limite sul da Serra do Mar. Trata-se de um solo abundante na região e por isso é
frequentemente empregado como material de empréstimo para obras de infraestrutura.
O aspecto destes três materiais pode ser observado na Figura 1. As curvas granulométricas constam na
Figura 2 e os índices físicos e classificação são apresentados na Tabela 1.

(a) ADF (b) Solo residual (c) Areia natural

Figura 2. Aspecto dos solos investigados.


DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA COM DEFLOCULANTE

argila silte areia fina areia média areia grossa pedregulho

100%

90%
Percentual passante (em massa)

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%
ADF
10% Solo Residual
Areia Natural
0%
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro equivalente das partículas (mm)

Figura 3. Curvas granulométricas dos materiais investigados.


125
Tabela 1. Índices físicos e classificação dos solos estudados.

Material ADF Solo residual Areia natural


G 2,61 2,65 2,63
LL - 40,0 -
IP NP NP NP
γd (gf/cm³) 1,83* 1,70* 1,31**
wot (%) 11,75* 15,9* -
SUCS SP SM SP
* refere-se ao solo compactado sob energia normal; ** refere-se ao solo densificado sob e=1,0

As fitas metálicas utilizados são formadas por aço A572 nervurados e galvanizadas à fogo. As fitas têm
40mm largura e 6 mm de espessura. A distância entre cada par de nervuras é de 17 cm, e entre as nervuras que
compõe o par, 4 cm. A tensão de escoamento do aço é da ordem de 350 Mpa e a resistência à tração da fita é
de 45,5 kN.
As geotiras são compostas por multifilamentos de poliéster de alta tenacidade e um revestimento de
poliestireno. A espessura da tira é de 2,2 mm e a largura igual a 47 mm. A resistência à tração no curto prazo
é da ordem de 27,14 kN/m e no longo prazo de 15,27 kN/m a 15,42 kN/m.

2.2 Métodos

A campanha experimental conduzida neste estudo consistiu na execução da caracterização física básica
dos solos, por meio de ensaios de granulometria (NBR 7181/2016), densidade real dos grãos (DNER-
ME093/1994) e limites de consistência (NBR 6459/2017 e NBR 7180/2016). Para definição da densidade de
moldagem dos corpos de prova foram executados ensaios de compactação Proctor (NBR 7182/2016) sob
energia normal. No caso do solo arenoso adotou-se densidade tal que conduzisse a um índice de vazios da
ordem de 1. Os parâmetros de compactação obtidos foram previamente apresentados na Tabela 1. A
classificação SUCS segue a norma ASTM D2487 (2017).
O ensaio de cisalhamento é, geralmente, realizado para determinar a resistência ao cisalhamento de
corpos de prova compostos por solo, apenas. Dessa forma foi necessário adaptar a célula de cisalhamento para
que, durante o ensaio, o plano cisalhado correspondesse ao contato entre o solo e elemento de reforço.
Para esta adaptação foi utilizado um corpo rígido de madeira com dimensões de 100 mm por 100 mm,
no qual foram fixados os reforços com auxílio de cola. No caso da fita metálica, foi necessário retirar as
nervuras da parte inferior a fim de garantir melhor fixação entre o bloco rígido e a fita.
As fitas foram posicionadas da maneira que pudessem ocupar toda a área do bloco de madeira e garantir
que o solo utilizado no ensaio tivesse contato exclusivamente com a superfície do reforço, impedindo atrito do
solo com a base rígida. A altura das bases rígidas é tal que o conjunto base e reforço tem exatamente 10mm de
altura (Figura 4).

Figura 4. Reforços fixados às bases rígidas.

Os corpos de prova de solo residual de ADF foram extraídos de amostras compactadas em cilindros para
ensaios de CBR com uso de anéis metálicos quadrados de dimensão 100x100x20 mm. Após extraídos, o corpo
de prova era regularizado e apoiado sobre a base rígida contendo o reforço. Em seguida era comprimido contra
esta, fazendo com que o excedente de solo fosse expulso do anel, garantido que a altura inicial da porção do
corpo de prova ocupada por solo fosse de 10 mm.
No caso da areia natural, a moldagem do corpo de prova se deu diretamente na caixa de cisalhamento,
controlando-se a altura corpo de prova e peso de areia seca utilizado.
Foram executados também ensaios em corpos de prova compostos integralmente por solo, de forma a
126
estabelecer os ângulos de atrito interno dos solos, referências para as determinações de fator de interação. Com
exceção da inclusão dos elementos de reforço, o restante da preparação dos corpos de prova foi similar ao já
descrito.
Os ensaios foram executados em um equipamento de cisalhamento direto dotado de um sistema de
avanço composto por um motor de passo servo-controlado que permite controle preciso de velocidade de
cisalhamento. A tensão normal é aplicada por meio de pesos posicionados em um pendural associado a um
braço de alavanca. A tensão cisalhante é obtida de medidas de força feitas por uma célula de carga digital
IWM, e as medidas de deslocamento horizontal e deformação vertical por sensores do tipo LVDT Gefran. As
medições são obtidas de forma automatizada e processadas eletronicamente. Salvo a adaptação do
equipamento, os demais procedimentos seguiram o estabelecido na norma ASTM 3080 (2011).
De forma a reduzir os eventuais efeitos de sucção sobre os resultados os corpos de prova foram ensaiados
em condição inundada, com exceção da areia natural, na qual executou-se os ensaios em condição seca. Os
corpos de prova foram submetidos a tensões normais de 25 kPa, 50 kPa, 100 kPa e 200 kPa. O término da
etapa de consolidação foi determinado a partir do fim da variação nas deformações verticais medidas pelo
equipamento.
Para cada solo, foi estipulado uma velocidade de cisalhamento diferente em função do comportamento
durante a consolidação: para a areia grossa a taxa de cisalhamento foi de 0,5 mm/min, para a areia de fundição
0,2 mm/min e para o solo residual 0,1 mm/min. O deslocamento mínimo para os ensaios foi definido como
sendo de 6 mm.

3 Resultados

Os resultados obtidos nos ensaios são descritos pelas curvas de deslocamento horizontal versus tensão
cisalhante e deslocamentos verticais. Posteriormente são apresentados os valores de ângulo de atrito oriundos
das envoltórias de Mohr-Coulomb obtidas das curvas tensão x deslocamento.
A Figura 5 apresenta as curvas obtidas nos ensaios em ADF (apenas), com reforço metálico e reforço
polimérico. Observa-se que não ocorrem picos de resistência significativos em nenhum dos casos estudados.
Quando em estado puro a ADF tem comportamento dilatante sob cisalhante. Em contato com os reforços o
material passa a apresentar contração durante o cisalhamento. As tensões cisalhantes mobilizadas nos ensaios
envolvendo as fitas metálicas são levemente inferiores aos observados no solo puro. Quando interagindo com
a fita polimérica há redução das tensões cisalhantes mobilizadas de forma mais expressiva.
160 160 160
140 140 140
Tensão de cisalhamento (kPa)

Tensão de cisalhamento (kPa)

25 kPa 50 kPa 25 kPa 50 kPa


Tensão cisalhante (kPa)

120 120 120


100 kPa 200 kPa 25 kPa 50 kPa 100 kPa 200 kPa
100 100 100
80 80 100 kPa 200 kPa 80
60 60 60
40 40 40
20 20 20
0 0 0
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0
Deslocamento horizontal (mm) Deslocamento horizontal (mm) Deslocamento horizontal (mm)

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0
0,4 0,1 0,1
Descocamento vertical (mm)

Deslocamento vertical (mm)


Deslocamento vertical (mm)

0,3 0
0
0,2 -0,1

0,1 -0,2 -0,1

0 -0,3
-0,2
-0,1 -0,4

-0,2 -0,5 -0,3

ADF Fita metálica Fita polimérica

Figura 5. Resultados dos ensaios em ADF.

A Figura 6 mostra as curvas obtidas nos ensaios em solo residual (apenas), com reforço metálico e
reforço polimérico. No solo residual os picos também são praticamente ausentes no material ensaiado
isoladamente e em interação com a fita metálica. As tensões cisalhantes mobilizadas mais elevadas foram
medidas na interação entre solo e fita metálica, superando os valores medidos no solo, apenas. Em contato com
o reforço polimérico observa-se um pico de resistência um pouco mais claro, sobretudo sob tensão normal de
200 kPa. Em todas as situações o comportamento é francamente contrativo durante o cisalhamento.
127
140 140 140
25 kPa 50 kPa

Tensão de cisalhamento (kPa)


120

Tensão de cisalhamento (kPa)


Tensão de cisalhamento (kPa)

120 120
100 kPa 200 kPa
25 kPa 50 kPa
100 25 kPa 50 kPa 100 100

100 kPa 200 kPa 80 100 kPa 200 kPa 80


80

60 60 60

40 40 40

20 20 20

0 0 0
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0
Deslocamento horizontal (mm) Deslocamento horizontal (mm) Deslocamento horizontal (mm)

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0
0,1 0,1 0,1
0 0
Deslocamento vertical (mm)

Deslocamento vertical (mm)

Deslocamento vertical (mm)


0
-0,1
-0,1
-0,2 -0,1
-0,2
-0,3
-0,3 -0,2
-0,4
-0,4
-0,5
-0,3
-0,6 -0,5

-0,7 -0,6 -0,4

Solo residual Fita metálica Fita polimérica

Figura 6. Resultados dos ensaios em solo residual.

Os resultados relativos à areia natural são mostrados na Figura 7. Sob índice de vazios da ordem de 1 o
material não exibe picos claros de resistência, embora o comportamento seja tipicamente dilatante. O
fenômeno de dilatação é precedido de uma fase inicial contrativa. Essa etapa contrativa é praticamente ausente
nos ensaios sob 25 kPa envolvendo os reforços. As tensões cisalhantes mobilizadas nos ensaios são
praticamente iguais, seja no corpo de prova de areia, apenas, seja nos corpos de prova com elementos de
reforço.
160 160 160
140 140 140
Tensão de cisalhamento (kPa)

Tensão de cisalhamento (kPa)


Tensão de cisalhamento (kPa)

120 120 25 kPa 50 kPa 120 25 kPa 50 kPa


25 kPa 50 kPa
100 100 100 kPa 200 kPa 100 100 kPa 200 kPa
100 kPa 200 kPa
80 80 80
60 60 60
40 40 40
20 20 20
0 0 0
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0
Deslocamento horizontal (mm) Deslocamento horizontal (mm) Deslocamento horizontal (mm)

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0
0,3 0,2 0,1
Deslocamento vertical (mm)
Deslocamento vertical (mm)

Deslocamento vertical (mm)

0,2
0,1
0
0,1
0
0 -0,1
-0,1
-0,1
-0,2
-0,2
-0,2

-0,3 -0,3 -0,3

Areia natural Fita metálica Fita polimérica

Figura 7. Resultados dos ensaios em areia natural.

Das curvas tensão-deslocamento conclui-se que para o solo arenoso a interação com o reforço mobiliza
tensões cisalhantes similares às associadas ao solo apenas. Por outro lado, no caso da ADF e solo residual, o
reforço polimérico está associado a tensões cisalhantes mobilizadas claramente inferiores ao que fora medido
no solo e no solo interagindo com reforço metálico.
Os valores de ângulo de atrito interno, de interface são mostrados na Tabela 2. Os valores de pico foram
determinados através da maior tensão cisalhante medida no ensaio. Já a resistência pós-pico foi definida por
meio da média das tensões de cisalhamento mobilizadas sob deslocamento horizontais entre 5 e 6 mm.
Em todos os ensaios assumiu-se os materiais como puramente friccionais, desconsiderando-se eventuais
interceptos coesivos/aderências decorrentes dos ajustes das envoltórias.
Podem ser observados valores significativos de queda de resistência de interface entre as fitas
poliméricas e a ADF e solo residual. Em contato com as fitas metálicas a ADF mostra uma queda da resistência
de interface enquanto há suave incremento no caso do solo residual.
128
Tabela 2. Ângulos de atrito interno (φ’) e de interface (δ) obtidos nos ensaios de cisalhamento direto

Material Estado φ' Material puro δ Fita metálica δ Fita polimérica


ADF Pico 38,1° 33,8° 23,8°
Pós Pico 37,5° 31,9° 23,8°
Solo residual Pico 30,9° 33,5° 25,9°
Pós Pico 30,8° 33,4° 22,6°
Areia natural Pico 35,6° 37,3° 35,5°
Pós Pico 35,4° 37,1° 35,2°

Os valores elevados de ângulo de atrito para a ADF decorrem em parte do ajuste para c’=0 dos dados
experimentais. Tipicamente este material apresenta um intercepto coesivo mesmo em ensaios submersos.
Na areia natural a resistência do solo, apenas, é muito similar ao medido na interface com a fita
polimérica. Em contato com a fita metálica há suave aumento do ângulo de atrito. Os fatores de interação são
sumarizados na Tabela 3, e foram calculados como a razão entre o ângulo de atrito de interface e o ângulo de
atrito interno.
Os valores dos fatores de interação superiores a 1 foram enfatizados na Tabela 3. Sugere-se que, ainda
que as medidas tenham indicado valores superiores ao ângulo de atrito interno, estes sejam tomados como iguais
φ’, no máximo.

Tabela 3. Fatores de interação para fitas metálicas e poliméricas.

Material Estado FI Fita metálica FI Fita polimérica


ADF Pico 0,89 0,62
Pós Pico 0,85 0,63
Solo residual Pico 1,08 0,84
Pós Pico 1,08 0,73
Areia natural Pico 1,05 1,00
Pós Pico 1,05 1,00

4 Conclusões

Os ensaios demonstraram que, de forma geral, os mecanismos de interação entre os solos estudados e
as fitas não envolvem a mobilização de claros picos de resistência. Por outro lado, fenômenos dilatantes foram
observados em parte dos ensaios.
As fitas metálicas em interação com os solos estudados tendem a apresentar ângulo de atrito de interface
similares aos valores relativos ao ângulo de atrito interno dos solos. Há uma redução de cerca de 10% no
contato com as a ADF, e valores até superiores a 1 para os FI envolvendo as fitas metálicas.
Já as fitas poliméricas apresentam FI mais variáveis, da ordem de 0,6 em contato com a ADF, 0,8 em
contato com o solo residual e igual 1 em contato com a areia natural.
Sob a perspectiva da resistência ao cisalhamento de interface os resultados demonstram que as ADF
podem ser empregadas como material de “empréstimo” em aterros estruturados. Ao serem associadas a fitas
metálicas o desempenho é muito similar ao do solo puro, e das próprias areias naturais. Em contato com as
fitas poliméricas a ADF tem desempenho marcadamente inferior ao da areia pura.
O solo residual estudado tem desempenho interessante, sendo comparável ao da areia natural no contato
com fitas metálicas e levemente melhor que o exibido pela ADF em contato com fitas poliméricas.
Especificamente quanto a ADF, é etapa fundamental para o uso do material a avaliação da
compatibilidade química com as fitas poliméricas e metálicas, ponto não discutido e avaliado neste trabalho.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq pela concessão de bolsas de Iniciação Científica e ao Centro


Tecnológico de Joinville da Universidade Federal de Santa Catarina pelo apoio na estruturação e manutenção
das estruturas laboratoriais necessárias à pesquisa.

129
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Alves, BSQ. (2012) Estudo da viabilidade ambiental da reutilização das areias descartadas de fundição. 2012.
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conditions. 9 p. West Conshohocken: ASTM, 2011.
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Proceedings of Geotechnical and Structural Congress, Phoenix. Eds. CHANDRAN, C. Y.; HOIT, M. I, p.
1392-1403.

130
Elemento Finito Bidimensional para o Fluxo de Água em Solos
não Saturados

Talita Scussiato
Estudante de Doutorado, Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), São José dos Campos, São Paulo,
Brasil, talita.scussiato@gmail.com

William Hideki Ito


Professor, Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Toledo, Paraná, Brasil,
wito.utfpr@gmail.com

Paulo Ivo Braga de Queiroz


Professor, Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), São José dos Campos, São Paulo, Brasil, pi@ita.br

RESUMO: É desnecessário mencionar a importância do fluxo em solos não saturados na geotecnia, uma vez
que ele pode estar presente na avaliação de estabilidade de taludes (naturais ou não) devido à variação do
lençol freático, ao movimento de contaminantes no solo ou outros fenômenos. A fim de abordar o tema este
artigo apresenta um elemento finito bidimensional elaborado para modelar fluxos em meios porosos não
saturados através da equação de Richards. Através de um processo iterativo, facilmente implementado em
qualquer linguagem de programação, o elemento finito proposto neste trabalho permite a solução de problemas
de fluxo obedecendo a equação de Richards.

PALAVRAS-CHAVE: Equação de Richards, Fluxo de Água, Elementos Finitos, Solos não Saturados.

ABSTRACT: It is needless to mention the importance of flow in unsaturated soils in geotechnics since it might
be related to the stability of natural or man-made slopes due to the seasonal variation of the water table, and
the movement of some contaminants through the ground, or many others phenomena. To approach the problem
is proposed a bi-dimension finite element to model the flux in unsaturated porous media through the Richards
equation. By an iterative procedure, easily implemented in any programming language, the finite element
herein proposed allows the solution of the Richards equation in 2D.

KEYWORDS: Richards’ Equation, Water Flow, Finite Elements, Unsaturated Soils.

1 Introdução

O fluxo de água em meio poroso não saturado motiva inúmeras pesquisas relacionadas ao tema, devido
a sua importância na engenharia geotécnica e na geologia. Os escorregamentos de terra, por exemplo, podem
estar relacionados ao fluxo de água (infiltração) na encosta devido a precipitação, o que faz com que a sucção
do solo seja reduzida ou eliminada, reduzindo-se deste modo a resistência do solo.
Diversos autores, tais como: De Jesus (2010), Wei e Cheng (2010), Bora (2015), Cho (2016) e
Condorelli et al. (2018) mostraram em seus estudos que a elevação do nível d’água é uma das causas da
instabilidade de taludes/encostas naturais. Já que a variação da água no solo influência diretamente na sucção
dos solos e nos parâmetros de resistências dos solos não saturados. Sendo que solos arenosos são mais
influenciados pelo lençol freático que solos argilosos.
Segundo Fredlund et. al. (2012) os solos superficiais possuem pressão neutra negativa (sucção) o que
influência significativamente na estabilidade de encostas. Um volume relevante e contínuo de precipitação
pode ocasionar o aumento da pressão neutra até profundidades expressivas isso pode causar um
escorregamento no talude.
O objetivo deste trabalho é apresentar um elemento bidimensional para modelar o fluxo em solos não
saturados através da equação de Richards. Para a modelagem do elemento foi utilizado o Método dos
Elementos Finitos, sendo que este modelo pode ser facilmente implementado em qualquer linguagem de
programação. A formulação apresentada a seguir considera uma interpolação bilinear da sucção e discretização
temporal implícita (ponderação no tempo por um parâmetro linear θ). O elemento desenvolvido foi formulado
através do Método dos Resíduos Ponderados.

2 Fluxo de água em solos não saturados

131
Este trabalhou se embasou e seguiu a mesma linha do trabalho de Scussiato et. al. (2021) para a situação
unidimensional o qual foi validado por Scussiato e de Queiroz (2021).
A equação da conservação da massa para o fluxo de água em meio poroso não saturado bidimensional,
pode ser representada por:

𝜕𝑞𝑥 𝜕𝑞𝑦 𝜕𝜓
𝜕𝑥
+ 𝜕𝑦
+ mw
2 𝜕𝑡
=0 (1)

Aplicando o método dos resíduos ponderados na equação (1), tem-se:

𝜕𝑞 𝜕𝑞𝑦 𝜕𝜓
∫𝑉 𝑢∗ [ 𝜕𝑥𝑥 + 𝜕𝑦
+ 𝑚2𝑤 𝜕𝑡 ] 𝑑𝑥 𝑑𝑦 = 0 (2)

Usando o teorema de Green-Zienkiewicz na equação (2), tem-se:


𝜕𝑢∗ 𝜕𝑢∗ 𝜕𝜓
∫𝑉 (− 𝑞𝑥 𝜕𝑥
− 𝑞𝑦 𝜕𝑦
+ 𝑢∗ 𝑚2𝑤 𝜕𝑡
) 𝑑𝑥 𝑑𝑦 + ∫𝐴(𝑢∗ 𝑞𝑥 )𝑑𝑥 + ∫𝐴(𝑢∗ 𝑞𝑦 ) 𝑑𝑦 = 0 (3)

O fluxo de água bidiemensional pode ser definido como:

𝜕𝜓 1
𝑞𝑥 𝑘𝑥𝑥 𝑘𝑥𝑦 𝜕𝑥 𝛾
{𝑞 } = − [ ] {𝜕𝜓 1 𝑤 } (4)
𝑦 𝑘𝑦𝑥 𝑘𝑦𝑦 −1
𝜕𝑦 𝛾𝑤

Substituindo a equação (3) na (2) e isolando a sucção no lado esquerdo da equação:

1 𝜕𝜓 1 𝜕𝜓 𝜕𝑢∗ 1 𝜕𝜓 1 𝜕𝜓 𝜕𝑢∗ 𝜕𝜓
∫𝑉 [(𝑘𝑥𝑥 𝛾 + 𝑘𝑥𝑦 ) + (𝑘𝑦𝑥 + 𝑘𝑦𝑦 ) − 𝑢∗ 𝑚2𝑤 ] 𝑑𝑥 𝑑𝑦 = ∫𝐴(𝑢∗ 𝑞𝑥 ) 𝑑𝑦 +
𝑤 𝜕𝑥 𝛾𝑤 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝛾𝑤 𝜕𝑥 𝛾𝑤 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑡
𝜕𝑢 ∗ 𝜕𝑢 ∗
∫𝐴(𝑢∗ 𝑞𝑦 ) 𝑑𝑥 + ∫𝑉 (𝑘𝑥𝑦 𝜕𝑥 + 𝑘𝑦𝑦 𝜕𝑦 ) 𝑑𝑥 𝑑𝑦 (5)

1.1 Discretização no tempo

Para a discretização no tempo foi utilizado o esquema de integração implícita:

𝑡+Δ𝑡
∫𝑡 𝑏 𝑑𝑡 ≈ {(1 − 𝜃)𝑏𝑡 + 𝜃 ∙ 𝑏 𝑡+Δ 𝑡 }Δ𝑡 (6)
𝜕𝜓 𝜓𝑡+Δ 𝑡 −𝜓𝑡
𝜕𝑡
≈ Δ𝑡
(7)

onde: 𝑡 é o instante inicial, 𝑡 + Δ𝑡 é o instante final do intervalo de tempo e 𝜃 define a variação de 𝑏 no


intervalo de tempo.
Integrando a equação (5) no tempo (de 𝑡 a 𝑡 + Δ𝑡), tem-se:

𝑡 𝜕𝜓𝑡 𝑡+Δ 𝑡 𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡 𝑡 𝑡+Δ𝑡


𝑘𝑥𝑥 𝑘𝑥𝑥 𝑘𝑥𝑦 𝜕𝜓𝑡 𝑘𝑥𝑦 𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡 𝜕𝑢∗
∫𝑣 [((1 − 𝜃)Δ𝑡 𝛾𝑤 𝜕𝑥
+ 𝜃Δ𝑡 𝛾𝑤 𝜕𝑥
+ (1 − 𝜃)Δ𝑡 𝛾𝑤 𝜕𝑦
+ 𝜃Δ𝑡 𝛾𝑤 𝜕𝑦
) 𝜕𝑥
𝑡 𝑡+Δ 𝑡 𝑡+Δ𝑡 𝑡
𝑘𝑦𝑥 𝜕𝜓𝑡 𝑘𝑦𝑥 𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡 𝑘𝑦𝑦 𝑘𝑦𝑦 𝜕𝜓𝑡
𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡 𝜕𝑢∗
+ ((1 − 𝜃)Δ𝑡 𝛾𝑤 𝜕𝑥 𝛾𝑤
+ 𝜃Δ𝑡
𝜕𝑥 𝛾𝑤 𝜕𝑦
+ (1 − 𝜃)Δ𝑡
𝛾𝑤 𝜕𝑦
𝜃Δ𝑡
) 𝜕𝑦 ] 𝑑𝑥 𝑑𝑦 −
𝑤,𝑡 𝑤,𝑡 𝑤,𝑡 𝑤,𝑡
∫𝑉(𝑢∗ 𝜓 𝑡+Δ 𝑡 [(1 − 𝜃)𝑚2 + 𝜃𝑚2 + Δ𝑡])𝑑𝑥 𝑑𝑦 − ∫𝑉(𝑢∗ 𝜓 𝑡 [(1 − 𝜃)𝑚2 + 𝜃𝑚2 + Δ𝑡])𝑑𝑥 𝑑𝑦
∗ ∗
𝑡 𝑡+Δ𝑡 𝑡 𝜕𝑢 𝑡+Δ𝑡 𝜕𝑢
= Δ𝑡[(1 − 𝜃)𝑄𝑛𝑜𝑑 + 𝜃𝑄𝑛𝑜𝑑 }] + ∫𝑉 ((1 − 𝜃)Δ𝑡 𝑘𝑥𝑦 𝜕𝑥
+ 𝜃Δ𝑡 𝑘𝑥𝑦 𝜕𝑥
+

𝑡 𝜕𝑢∗ 𝑡+Δ𝑡 𝜕𝑢∗


(1 − 𝜃)Δ𝑡 𝑘𝑦𝑦 + 𝜃Δ𝑡 𝑘𝑦𝑦 ) 𝑑𝑥 𝑑𝑦 (8)
𝜕𝑦 𝜕𝑦

Com essa formulação pode-se escolher o valor de 𝜃 conforme a conveniência do problema a ser
modelado.
De acordo com Britto e Gun (1987) tem-se:
132
• 𝜃 = 0 totalmente explícito, não precisamos resolver nenhum sistema de equação o problema é
o intervalo de tempo máximo na qual a formulação é estável numericamente;
• 𝜃 > 1,5 a formulação é incondisionalmente estável;
• 𝜃 = 1 existem vários termos que se anulam e diminuem o tempo de processamento
ligeiramnete;
• 𝜃 = 0,5 tem-se a formulação de Crank-Nicolson que possui convergência de segunda ordem
no tempo.

1.2 Discretização no espaço

Agora a equação (8) será discretizada no espaço. Como a sucção (𝜓) varia linearmente no espaço, estas
equações podem ser resolvidas através da Quadratura de Gauss para três pontos (n=3), onde:

𝐴 1 1 2 1 1 2
∫𝐴 𝑓(𝜉, 𝜂) 𝑑𝜉𝑑𝜂 = 3
[𝑓 (6 , 6) + 𝑓 ( , ) + 𝑓 ( , )]
3 6 6 3
(9)

Segundo Cowper (1973) a integração exata de qualquer polinômio de segundo grau pode ser resolvida
por esta quadratura.
A Figura 1 representa a Quadratura de Gauss para três pontos.

Figura 1 – Sucção nos pontos nodais (𝜓1 , 𝜓2 𝑒 𝜓3 ) e nos pontos de integração (𝜓𝑝1 , 𝜓𝑝2 𝑒 𝜓𝑝3 ).

Sendo 𝜓p1 , 𝜓p2 e 𝜓p3 definidos como:

2 1 1
𝜓𝑝1 = 3 𝜓1 + 6 𝜓2 + 6 𝜓3 (10)
1 2 1
𝜓𝑝2 = 6 𝜓1 + 3 𝜓2 + 6 𝜓3 (11)
1 1 2
𝜓𝑝3 = 6 𝜓1 + 6 𝜓2 + 3 𝜓3 (12)

𝑥𝑦3 + 𝑥1 𝑦 + 𝑥3 𝑦1 − 𝑥𝑦1 −𝑥3 𝑦−𝑥1 𝑦3


𝜉=𝑥 (13)
2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3

𝑥2 𝑦+𝑥1 𝑦2 +𝑥𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥𝑦2 −𝑥1 𝑦


𝜂= (14)
𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3

Onde 𝑥 e 𝑦 são definidos como:


𝑥 = 𝑥1 (1 − 𝜉 − 𝜂) + 𝑥2 𝜉 + 𝑥3 𝜂 (15)
𝑦 = 𝑦1 (1 − 𝜉 − 𝜂) + 𝑦2 𝜉 + 𝑦3 𝜂 (16)

Resolvendo as matrizes abaixo, tem-se:


𝜕(𝜉,𝜂) (𝑥2 −𝑥1 )(𝑦3 −𝑦1 )−(𝑥1 −𝑥3 )(𝑦1 −𝑦2 )
|𝜕(𝑥,𝑦)| = 𝑥 (17)
2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
𝜕(𝑥,𝑦)
|𝜕(𝜉,𝜂)| = (𝑥2 − 𝑥1 )(𝑦3 − 𝑦1 ) − (𝑥3 − 𝑥1 )(𝑦2 − 𝑦1 ) (18)

As funções de interpolação locais lineares associadas ao nós 1 e 2, são:


133
𝑢1∗ = 𝜉, 𝑢2∗ = 𝜂, 𝑢3∗ = 1 − 𝜉 − 𝜂 (19)

Derivando as funções de peso (𝑢1∗ , 𝑢2∗ , 𝑢3∗ ) em relação a (𝑥, 𝑦), tem-se:

𝜕𝑢1∗ 𝑦3 −𝑦1
𝜕𝑥
=𝑥 (20)
2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
𝜕𝑢1∗ 𝑦1 −𝑦2
𝜕𝑥
=𝑥 𝑦 +𝑥 𝑦 +𝑥
(21)
2 3 1 2 3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
𝜕𝑢2∗ 𝑥2 −𝑥1
𝜕𝑦
=𝑥 (22)
2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
𝜕𝑢3∗ 𝑦2 −𝑦3
= (23)
𝜕𝑥 𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
𝜕𝑢3∗ 𝑥3 −𝑥2
𝜕𝑦
=𝑥 𝑦 +𝑥 𝑦 +𝑥
(24)
2 3 1 2 3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3

Discretizando 𝜓 no espaço para os nós 1 e 2, tem-se que:


𝜓 𝑡 (𝜉, 𝜂) = 𝜓1𝑡 𝜉 + 𝜓2𝑡 𝜂 + 𝜓3𝑡 (1 − 𝜉 − 𝜂) (25)
𝜓 𝑡+Δ𝑡 (𝜉, 𝜂) = 𝜓1𝑡+Δ𝑡 𝜉 + 𝜓2𝑡+Δ𝑡 𝜂 + 𝜓2𝑡+Δt (1 − 𝜉 − 𝜂) (26)

Derivando as equações (25) e (26) para o tempo 𝑡 e 𝑡 + Δ𝑡, tem-se:

𝜕𝜓𝑡 (𝑦3 −𝑦1 )𝜓1𝑡 +(𝑦1 −𝑦2 )𝜓2𝑡 +(𝑦2 −𝑦3 )𝜓3𝑡
(𝜉, 𝜂) =𝑥 (27)
𝜕𝑥 2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3

𝜕𝜓𝑡 (𝑥1 −𝑥3 )𝜓1𝑡 +(𝑥2 −𝑥1 )𝜓2𝑡 +(𝑥3 −𝑥2 )𝜓3𝑡
𝜕𝑦
(𝜉, 𝜂) =𝑥 (28)
2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3

𝜕𝜓{𝑡+ Δ𝑡} (𝑦3 −𝑦1 )𝜓1𝑡+Δ𝑡 +(𝑦1 −𝑦2 )𝜓2𝑡+Δ𝑡 +(𝑦2 −𝑦3 )𝜓𝑡 +Δ𝑡3
(𝜉, 𝜂) = (29)
𝜕𝑥 𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡 (𝑥1 −𝑥3 )𝜓1𝑡+Δ𝑡 +(𝑥2 −𝑥1 )𝜓2𝑡+Δ𝑡 +(𝑥3 −𝑥2 )𝜓3𝑡+Δ𝑡
(𝜉, 𝜂) = (30)
𝜕𝑦 𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3

Resolvendo as integrais de 𝑘 no tempo 𝑡 e 𝑡 + Δ𝑡, tem-se:

𝑡 𝐴
∫𝑉 𝑘𝑖𝑗 𝑑𝑉 = 3
[𝑘𝑖𝑗 (𝜓𝑝𝑡 1 ) + 𝑘𝑖𝑗 (𝜓𝑝𝑡 2 ) + 𝑘𝑖𝑗 (𝜓𝑝𝑡 3 )] 𝑖, 𝑗 = 𝑥, 𝑦 (31)
𝑡+Δ𝑡 𝐴
∫𝑉 𝑘𝑖𝑗 𝑑𝑉 = 3 [𝑘𝑖𝑗 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
1
) + 𝑘𝑖𝑗 (𝜓𝑝𝑡 2 ) + 𝑘𝑖𝑗 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡3
)] 𝑖, 𝑗 = 𝑥, 𝑦 (32)

Resolvendo as integrais de volume da equação (8), tem-se:

𝑡
𝑘 𝑡 𝜕𝜓𝑡 𝑘𝑥𝑦 𝜕𝜓𝑡 𝜕𝑢𝑖∗
∫𝑉 [( 𝛾𝑥𝑥 + ) Δ𝑡(1 − 𝜃) ] 𝑑𝑥 𝑑𝑦
𝑤 𝜕𝑥 𝛾𝑤 𝜕𝑦 𝜕𝑥
Δ𝑡 (1−𝜃)𝐴 𝜕𝑢𝑖∗ 𝜕𝜓𝑡
=
𝛾𝑤 3 𝜕𝑥
{ 𝜕𝑥 [𝑘𝑥𝑥 (𝜓𝑝𝑡 1 ) + 𝑘𝑥𝑥 (𝜓𝑝𝑡 2 ) + 𝑘𝑥𝑥 (𝜓𝑝𝑡 3 )]
𝜕𝜓𝑡
+ 𝜕𝑦
[𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝𝑡 1 ) + 𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝𝑡 2 ) + 𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝𝑡 3 ) ]} 𝑖 = 1,2,3 (33)

𝑡 𝑘 𝑡 𝜕𝜓𝑡
𝑘𝑦𝑥 𝜕𝜓𝑡 𝜕𝑢∗
∫𝑉 [( 𝛾 + 𝑦𝑦 ) Δ𝑡(1 − 𝜃) 𝑖 ] 𝑑𝑥 𝑑𝑦
𝑤 𝜕𝑥 𝛾 𝑤 𝜕𝑦 𝜕𝑦
Δ𝑡 (1−𝜃)𝐴 𝜕𝑢𝑖∗ 𝜕𝜓𝑡
= 𝛾𝑤 3
{
𝜕𝑦 𝜕𝑥
[𝑘𝑦𝑥 (𝜓𝑝𝑡 1 ) + 𝑘𝑦𝑥 (𝜓𝑝𝑡 2 ) + 𝑘𝑦𝑥 (𝜓𝑝𝑡 3 )]
𝜕𝜓𝑡
+ 𝜕𝑦
[𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝𝑡 1 ) + 𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝𝑡 2 ) + 𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝𝑡 3 ) ]} 𝑖 = 1,2,3 (34)

𝑡+Δ𝑡
𝑡+Δ𝑡 𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡
𝑘𝑥𝑥 𝑘𝑥𝑦 𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗
∫𝑉 [( 𝛾𝑤 𝜕𝑥
+ 𝛾𝑤 𝜕𝑦
) Δ𝑡𝜃 𝜕𝑥
] 𝑑𝑥 𝑑𝑦
Δ𝑡 𝜃𝐴 𝜕𝑢𝑖∗ 𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡
=𝛾 3 𝜕𝑥
{ 𝜕𝑥
[𝑘𝑥𝑥 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
1
) + 𝑘𝑥𝑥 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
2
) + 𝑘𝑥𝑥 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
3
)]
𝑤
134
𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡
+
𝜕𝑦
[𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
1
) + 𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
2
) + 𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
3
) ]} 𝑖 = 1,2,3 (35)

𝑡+Δ𝑡 𝑡+Δ𝑡
𝑘𝑦𝑥 𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡 𝑘𝑦𝑦 𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗
∫𝑉 [( 𝛾𝑤 𝜕𝑥
+ 𝛾𝑤 𝜕𝑦
) Δ𝑡𝜃 𝜕𝑦
] 𝑑𝑥 𝑑𝑦
∗ 𝑡+Δ𝑡
Δ𝑡 𝜃𝐴 𝜕𝑢𝑖 𝜕𝜓
= 𝛾𝑤 3 𝜕𝑦
{ 𝜕𝑥 [𝑘𝑦𝑥 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡 1
) + 𝑘𝑦𝑥 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
2
) + 𝑘𝑦𝑥 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
3
)]
𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡
+ 𝜕𝑦
[𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
1
) + 𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
2
) + 𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
3
) ]} 𝑖 = 1,2,3 (36)

Considerando que a sucção (𝜓) varia linearmente no espaço as integrais podem ser resolvidas através
da Quadratura de Gauss para três pontos (n=3).
Podemos escrever o armazenamento de água 𝑚2𝑤 em função da sucção (𝜓) no tempo 𝑡 e 𝑡 + Δ𝑡:

𝑤,𝑡 𝑤,𝑡 𝑤,𝑡


𝑚2,𝑝1
= 𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 1 ), 𝑚2,𝑝2
= 𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 2 ), 𝑚3,𝑝3
= 𝑚3𝑤 (𝜓𝑝𝑡 3 ) (37)
𝑤,𝑡+Δ𝑡 𝑤,𝑡+Δ𝑡 𝑤,𝑡+Δ𝑡
𝑚2,𝑝1
= 𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
1
), 𝑚2,𝑝2
= 𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
2
), 𝑚3,𝑝3
= 𝑚3𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
3
) (38)

Continuando a resolução das integrais de volumes, tem-se:

𝑤,𝑡 𝑤,𝑡+Δ𝑡
∫𝑉(𝑢𝑖∗ 𝜓 𝑡+Δ𝑡 [(1 − 𝜃) 𝑚2 + 𝜃𝑚2 ] 𝑑𝑉 =
𝐴 2 ∗ 1 ∗
𝜓1𝑡+Δ𝑡 { 𝑢𝑖,𝑝1 [(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 1 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡 )] + 𝑢𝑖,𝑝 [(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 2 ) + 𝜃 𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡 )]
3 3 1
6 2 2

1 ∗ 𝐴 1 ∗
𝑢𝑖,𝑝3 [(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 3 ) + 𝜃 𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡 )]} + 𝜓2𝑡+Δ𝑡 { 𝑢𝑖,𝑝 [(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 1 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡 )] +
6 3
3 6 1 1

2 ∗ ∗ 1
𝑢 [(1 −
3 𝑖,𝑝2
𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 2 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
2
)] + 6 𝑢𝑖,𝑝3
[(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 3 ) + 𝜃 𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
3
)]} +
𝐴 1 ∗ 1 ∗
𝜓3𝑡+Δ𝑡 { 𝑢𝑖,𝑝1 [(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 1 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡 )] + 𝑢𝑖,𝑝 [(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 2 ) + 𝜃 𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡 )]
3 6 1
6 2 2

2 ∗
𝑢 [(1 −
3 𝑖,𝑝3
𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 3 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
3
)]} (39)

𝑤,𝑡 𝑤,𝑡+Δ𝑡
∫𝑉(𝑢∗ 𝜓 𝑡 [(1 − 𝜃) 𝑚2 + 𝜃𝑚2 ]) 𝑑𝑉 =
𝐴
3
{𝑢𝑝∗ 1 𝜓𝑝𝑡 1 [(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 1 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝1
𝑡+Δ𝑡
)] + 𝑢𝑝∗ 2 𝜓𝑝𝑡 2 [(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝2
𝑡
) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝2
𝑡+Δ𝑡
)] +

𝑢𝑝∗ 3 𝜓𝑝𝑡 3 [(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝3


𝑡
) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝3
𝑡+Δ𝑡
)]} (40)

𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝑡 𝜕𝑢𝑖∗
∫𝑣(1 − 𝜃)Δ𝑡( 𝑘𝑥𝑦 𝜕𝑥
+ 𝑘𝑦𝑦 𝜕𝑦
) 𝑑𝑉 =
𝐴 𝜕𝑢∗ 𝑡 𝑡 𝑡
(1 − 𝜃)Δ𝑡
3
{ 𝜕𝑥𝑖 [ 𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝1 ) + 𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝2 ) + 𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝3 )] +
𝜕 𝑢𝑖∗ 𝑡 𝑡
𝜕𝑦
[𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝1 ) + 𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝2 ) + 𝑘{𝑦𝑦}(𝜓𝑝3
𝑡 ]} 𝑖 = 1,2,3
)
(41)

𝑡+Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝑡+Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗


∫𝑣 𝜃Δ𝑡 (𝑘𝑥𝑦 𝜕𝑥
+ 𝑘𝑦𝑦 𝜕𝑦
) 𝑑𝑉 =
𝐴 𝜕𝑢𝑖∗ 𝑡+Δ𝑡 𝑡+Δ𝑡 𝑡+Δ𝑡
𝜃Δ𝑡 { [𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝1 )+ 𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝2 ) + 𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝3 )] +
3 𝜕𝑥
𝜕𝑢𝑖∗ 𝑡+Δ𝑡 𝑡+Δ𝑡 𝑡+Δ𝑡
𝜕𝑦
[ 𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝1 ) + 𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝2 ) + 𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝3 )]} 𝑖 = 1,2,3 (42)

Fazendo a separação da resolução da equação (8) em LHS (Left Hand Side) e RHS (Right Hand Side),
tem-se:
𝑡+Δ𝑡 𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡 𝜕𝑢∗ 𝑡+Δ𝑡 𝑡+Δ𝑡
𝑘𝑥𝑥 𝑖 𝑘𝑥𝑦 𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝑘𝑦𝑥 𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗
𝐿𝐻𝑆 = ∫𝑉 𝜃Δ𝑡 𝑑𝑥𝑑𝑦 + ∫𝑉 𝜃Δ𝑡 𝑑𝑥𝑑𝑦 + ∫𝑉 𝜃Δ𝑡 𝑑𝑥𝑑𝑦 +
𝛾𝑤 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝛾𝑤 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝛾𝑤 𝜕𝑥 𝜕𝑦

135
𝑡+Δ𝑡
𝑘𝑦𝑦 𝜕𝜓𝑡+Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗
∫𝑉 𝜃Δ𝑡 𝛾𝑤 𝜕𝑦 𝜕𝑦
𝑑𝑥𝑑𝑦 − ∫𝑉 𝑢∗ 𝜓 𝑡+Δ𝑡 [(1 − 𝜃) 𝑚2𝑤,𝑡 + 𝜃𝑚2𝑤,𝑡+Δ𝑡 ] 𝑑𝑥𝑑𝑦 =
𝑡 𝜕𝜓𝑡 𝜕𝑢∗ 𝑡 𝑡
𝑘𝑥𝑥 𝑖 𝑘𝑥𝑦 𝜕𝜓𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝑘𝑦𝑥 𝜕𝜓𝑡 𝜕𝑢𝑖∗
− ∫𝑉(1 − 𝜃)Δ𝑡 𝛾𝑤 𝜕𝑥 𝜕𝑥
𝑑𝑥𝑑𝑦 − ∫𝑉(1 − 𝜃)Δ𝑡 𝛾𝑤 𝜕𝑦 𝜕𝑥
𝑑𝑥𝑑𝑦 − ∫𝑉(1 − 𝜃)Δ𝑡 𝛾𝑤 𝜕𝑥 𝜕𝑦
𝑑𝑥𝑑𝑦

𝑡
𝑘𝑦𝑦 𝜕𝜓𝑡 𝜕𝑢𝑖∗
− ∫𝑉(1 − 𝜃)Δ𝑡 𝑑𝑥𝑑𝑦 + ∫𝑉 𝑢∗ 𝜓 𝑡 [(1 − 𝜃) 𝑚2𝑤,𝑡 + 𝜃𝑚2𝑤,𝑡+Δ𝑡 ]𝑑𝑥𝑑𝑦 +
𝛾𝑤 𝜕𝑦 𝜕𝑦
𝑡
𝜕𝑢∗ 𝑡+Δ𝑡
𝜕𝑢∗ 𝑡
𝜕𝑢∗ 𝑡+Δ𝑡
𝜕𝑢∗
∫ (1 − 𝜃)Δ𝑡𝑘𝑥𝑦 + 𝜃Δ𝑡𝑘𝑥𝑦 + (1 − 𝜃)Δ𝑡𝑘𝑦𝑦 + 𝜃Δ𝑡𝑘𝑦𝑦 𝑑𝑥𝑑𝑦
𝑉 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑦
𝑡 𝑡+Δ𝑡
+Δ𝑡[(1 − 𝜃)𝑄𝑛𝑜𝑑 + 𝜃𝑄𝑛𝑜𝑑 ] (43)

Sendo que 𝑘̅𝑥𝑥


𝑡 ̅ 𝑡 ̅ 𝑡 ̅ 𝑡 ̅ 𝑡+Δ𝑡 ̅ 𝑡+Δ𝑡 ̅ 𝑡+Δ𝑡 ̅ 𝑡+Δ𝑡
, 𝑘𝑥𝑦 , 𝑘𝑦𝑥 , 𝑘𝑦𝑦 , 𝑘𝑥𝑥 , 𝑘𝑥𝑦 , 𝑘𝑦𝑥 e 𝑘𝑦𝑦 são definidos abaixo:
𝑡
𝑘𝑥𝑥 (𝜓𝑝1 )+𝑘𝑥𝑥 (𝜓𝑝2 )+𝑘𝑥𝑥 (𝜓𝑝3 )𝑡 𝑡
𝑘̅𝑥𝑥
𝑡
= 3
(44)

𝑡
𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝1 )+𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝2 )+𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝3 )𝑡 𝑡
𝑘̅𝑥𝑦
𝑡
= 3
(45)

𝑡
𝑘𝑦𝑥 (𝜓𝑝1 )+𝑘𝑦𝑥 (𝜓𝑝2 )+𝑘𝑦𝑥 (𝜓𝑝3 )𝑡 𝑡
𝑘̅𝑦𝑥
𝑡
= (46)
3

𝑡
𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝1 )+𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝2 )+𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝3 )𝑡 𝑡
𝑘̅𝑦𝑦
𝑡
= 3
(47)

𝑘𝑥𝑥 (𝜓𝑝1 𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )


𝑘̅𝑥𝑥
𝑡+Δ𝑡 𝑥𝑥 𝑝2 𝑥𝑥 𝑝3
= (48)
3

𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝1 𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )


𝑘̅𝑥𝑦
𝑡+Δ𝑡 𝑥𝑦 𝑝2 𝑥𝑦 𝑝3
= 3
(49)

𝑘𝑦𝑥 (𝜓𝑝1 𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )


𝑘̅𝑦𝑥
𝑡+Δ𝑡 𝑦𝑥 𝑝2 𝑦𝑥 𝑝3
= (50)
3

𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝1 𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )


𝑘̅𝑦𝑦
𝑡+Δ𝑡 𝑦𝑦 𝑝2 𝑦𝑦 𝑝3
= 3
(51)

O lado direito da equação RHS (B) fica:

Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝑡
̅ 𝑥𝑥
𝑘
𝑅𝐻𝑆 = − 𝛾 (1 − 𝜃) [(𝑦3 − 𝑦1 )𝜓1𝑡 + (𝑦1 − 𝑦2 )𝜓2𝑡 + (𝑦2 − 𝑦3 )𝜓3𝑡 ]
𝑤 𝜕𝑥 2
𝑡
Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ ̅ 𝑥𝑦
𝑘
− (1 − 𝜃) [(𝑥1 − 𝑥3 )𝜓1𝑡 + (𝑥2 − 𝑥1 )𝜓2𝑡 + (𝑥3 − 𝑥2 )𝜓3𝑡 ]
𝛾𝑤 𝜕𝑥 2
𝑡
Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ ̅ 𝑦𝑥
𝑘
−𝛾 (1 − 𝜃) [(𝑦3 − 𝑦1 )𝜓1𝑡 + (𝑦1 − 𝑦2 )𝜓2𝑡 + (𝑦2 − 𝑦3 )𝜓3𝑡 ]
𝑤 𝜕𝑦 2
𝑡
Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ ̅ 𝑦𝑦
𝑘
− (1 − 𝜃) [(𝑥1 − 𝑥3 )𝜓1𝑡 + (𝑥2 − 𝑥1 )𝜓2𝑡 + (𝑥3 − 𝑥2 )𝜓3𝑡 ]
𝛾𝑤 𝜕𝑦 2
𝐴 ∗ 𝑡
{𝑢 𝜓 𝑡 [(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 1 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡 )] + 𝑢𝑝∗ 2 𝜓𝑖,𝑝 [(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 2 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡 )] +
3 𝑖,𝑝1 𝑝1 1 2 2

𝑡 𝑡 𝑡+Δ𝑡
𝑢𝑝∗ 3 𝜓𝑖,𝑝3
[(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 3 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
3
)] + Δ𝑡[(1 − 𝜃)𝑄𝑛𝑜𝑑 + 𝜃𝑄𝑛𝑜𝑑 ]+
𝜕𝑢𝑖∗ 𝜕𝑢𝑖∗ 𝑡 ∗
𝜕𝑢 𝑡+Δ𝑡 ∗
𝜕𝑢 𝑡+Δ𝑡
(1 − 𝜃)Δ𝑡𝐴 {
𝜕𝑥
𝑘̅𝑥𝑦
𝑡
+ 𝑘̅ } +
𝜕𝑦 𝑦𝑦
𝜃Δ𝑡𝐴 { 𝜕𝑥𝑖 𝑘̅𝑥𝑦 + 𝜕𝑦𝑖 𝑘̅𝑦𝑦 } \; 𝑖 = 1,2,3 (52)

A equação referente ao 𝐾1,𝑖 com 𝑖 variando de 1 a 3, é:

136
𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )
Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝐴 𝑘𝑥𝑥 (𝜓𝑝 𝑥𝑥 𝑝2 𝑥𝑥 𝑝3
∙ {𝜃 1
} (𝑦3 − 𝑦1 )𝜓1𝑡+Δ𝑡 +
𝛾𝑤 𝜕𝑥 3 𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )
Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝐴 𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝 𝑥𝑦 𝑝2 𝑥𝑦 𝑝3
𝛾𝑤 𝜕𝑥
∙ {𝜃 3 1
𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
} (𝑥1 − 𝑥3 )𝜓1𝑡+Δ𝑡 +
𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )
Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝐴 𝑘𝑦𝑥 (𝜓𝑝 𝑦𝑥 𝑝2 𝑦𝑥 𝑝3
𝛾𝑤 𝜕𝑦
∙ {𝜃 3 1
𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
} (𝑦3 − 𝑦1 )𝜓1𝑡+Δ𝑡 +
𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )
Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝐴 𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝 𝑦𝑦 𝑝2 𝑦𝑦 𝑝3
𝛾𝑤 𝜕𝑦
∙ {𝜃 3 1
𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
} (𝑥1 − 𝑥3 )𝜓1𝑡+Δ𝑡 −
𝐴 2∗
𝜓1𝑡+Δ𝑡 3 {3 𝑢𝑖,𝑝1
[(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 1 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
1
)] +
1 ∗ ∗ 1
𝑢 [(1 −
6 𝑖,𝑝2
𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 2 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
2
)] + 6 𝑢𝑖,𝑝3
[(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 3 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
3
)]} = 𝑅𝐻𝑆 (53)

A equação referente ao 𝐾2,𝑖 com 𝑖 variando de 1 a 3, é:


𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )
Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝐴 𝑘𝑥𝑥 (𝜓𝑝 𝑥𝑥 𝑝2 𝑥𝑥 𝑝3
𝛾𝑤 𝜕𝑥
∙ {𝜃 3 1
𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
} (𝑦1 − 𝑦2 )𝜓2𝑡+Δ𝑡 +
𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )
Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝐴 𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝 𝑥𝑦 𝑝2 𝑥𝑦 𝑝3
𝛾𝑤 𝜕𝑥
∙ {𝜃 3 1
𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
} (𝑥2 − 𝑥1 )𝜓2𝑡+Δ𝑡 +
𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )
Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝐴 𝑘𝑦𝑥 (𝜓𝑝 𝑦𝑥 𝑝2 𝑦𝑥 𝑝3
𝛾𝑤 𝜕𝑦
∙ {𝜃 1
} (𝑦1 − 𝑦2 )𝜓2𝑡+Δ𝑡 +
3 𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )
Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝐴 𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝 𝑦𝑦 𝑝2 𝑦𝑦 𝑝3
𝛾𝑤 𝜕𝑦
∙ {𝜃 3 1
𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
} (𝑥2 − 𝑥1 )𝜓2𝑡+Δ𝑡 −
𝐴 1

𝜓2𝑡+Δ𝑡 { 𝑢𝑖,𝑝 [(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 1 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
1
)] +
3 6 1

2 ∗ ∗ 1
𝑢 [(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 2 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡 )] + 6 𝑢𝑖,𝑝 [(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 3 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡 )]} = 𝑅𝐻𝑆
3 𝑖,𝑝2 2 3 3
(54)
A equação referente ao 𝐾3,𝑖 com 𝑖 variando de 1 a 3, é:
𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )
Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝐴 𝑘𝑥𝑥 (𝜓𝑝 𝑥𝑥 𝑝2 𝑥𝑥 𝑝3
∙ {𝜃 3 1
} (𝑦2 − 𝑦3 )𝜓3𝑡+Δ𝑡 +
𝛾𝑤 𝜕𝑥 𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )
Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝐴 𝑘𝑥𝑦 (𝜓𝑝 𝑥𝑦 𝑝2 𝑥𝑦 𝑝3
𝛾𝑤 𝜕𝑥
∙ {𝜃 3 1
𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
} (𝑥3 − 𝑥2 )𝜓3𝑡+Δ𝑡 +
𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )
Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝐴 𝑘𝑦𝑥 (𝜓𝑝 𝑦𝑥 𝑝2 𝑦𝑥 𝑝3
𝛾𝑤 𝜕𝑦
∙ {𝜃 3 1
𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
} (𝑦2 − 𝑦3 )𝜓3𝑡+Δ𝑡 +
𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )+𝑘 (𝜓𝑡+Δ𝑡 )
Δ𝑡 𝜕𝑢𝑖∗ 𝐴 𝑘𝑦𝑦 (𝜓𝑝 𝑦𝑦 𝑝2 𝑦𝑦 𝑝3
𝛾𝑤 𝜕𝑦
∙ {𝜃 3 1
𝑥2 𝑦3 +𝑥1 𝑦2 +𝑥3 𝑦1 −𝑥2 𝑦1 −𝑥3 𝑦2 −𝑥1 𝑦3
} (𝑥3 − 𝑥2 )𝜓3𝑡+Δ𝑡 −
𝐴 1∗
𝜓3𝑡+Δ𝑡 3 {6 𝑢𝑖,𝑝1
[(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 1 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
1
)] +
1 ∗ ∗ 2
𝑢
6 𝑖,𝑝2
[(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 2 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
2
)] + 3 𝑢𝑖,𝑝3
[(1 − 𝜃)𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡 3 ) + 𝜃𝑚2𝑤 (𝜓𝑝𝑡+Δ𝑡
3
)]} = 𝑅𝐻𝑆
(55)
A equação (54) e a (55) podem ser rearrajandas na foram de matriz:

𝑡+Δ𝑡
𝐾11 𝐾12 𝐾13 𝜓1 𝐵1
[𝐾21 𝐾22 𝑡+Δ𝑡
𝐾23 ] {𝜓2 } = {𝐵2 } (56)
𝐾31 𝐾32 𝐾33 𝜓 𝑡+Δ𝑡 𝐵3
3

3 Conclusões

Devido a influência do fluxo de água em solos não saturados na estabilidade de encostas naturais este
artigo apresentou um modelo no qual vários problemas bidimensionais envolvendo fluxo de água em encostas
poderão ser estudados através da metodologia apresentada. Este trabalho apresentou uma formulação em
Elementos Fintos para a resolução da equação não linear para o fluxo de água em solos não saturados (equação
137
de Richards). O elemento finito proposto neste artigo consiste em um método iterativo para resolver a equação
de Richards, ou seja, é preciso simplesmente calcular o armazenamento de água (m2w) com base na curva de
renteção do solo e a condutividade hidráulica (kw) no tempo t+Δt (formulação implícita), seguido da resolução
do sistema linear até se atingir o critério de convergência desejado.
O elemento apresentado é facilmente acoplado a tensão-deformação com sucção através do “Linear
Strength Triangular”, segundo Britto e Gun (1987).
A formulação apresentada neste artigo é facilmente estendida para uma formulação tridimensional. Sem
contar que o elemento aqui apresentado é muito robusto, pode-se usar malhas poucos refinadas que o resultado
obtido ainda será muito preciso isso faz com que o tempo de processamento seja reduzido. Elementos
triangulares ( 3 e 6 nós) se adaptam melhor a malhas não estruturadas do que elementos quadrilateriais (4 e 8
nós).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Scussiato, T., de Queiroz, de P. I. B. (2021)
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Soils and Foundations, Japanese Geotechnical Society. Vol. 50, No. 1, 83–92.

138
INFLUÊNCIA DE REBAIXAMENTO RÁPIDO E REDUÇÃO
DE PRAIA DE REJEITOS NA SEGURANÇA DE BARRAGENS

Thiago Luiz Coelho Morandini


Professor do Departamento de Engenharia Civil, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais –
CEFET, Belo Horizonte, Brasil, thiagomorandini@cefetmg.br

Darym Júnior Ferrari de Campos


Engenheiro Civil, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, darymjunior@gmail.com

Stéphanie Yumi Yokozawa Ferreira


Engenheira Civil, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, yumi.yokozawa@gmail.com

RESUMO: Os métodos de avaliação de segurança de barragens estão em constante evolução e


aperfeiçoamento. Casos recentes de rupturas de barragens de rejeito reforçam a necessidade da utilização de
métodos alternativos para as análises. Neste contexto, o presente artigo apresenta um método de avaliação de
segurança para o impacto do rebaixamento rápido e da redução de praias de rejeitos em função do fator de
segurança de barragens de rejeito. Para o rebaixamento rápido avaliaram-se barragens alteadas à jusante,
enquanto a redução de praia foi avaliada em barragens alteadas à montante. Nas análises foram empregadas
simulações numéricas em modelos teóricos de três barragens alteadas à jusante e duas barragens alteadas à
montante, com variação de parâmetros de resistência do aterro e do rejeito para três diferentes magnitudes de
anomalias (pequena, média e grande), totalizando um espaço amostral de 270 análises. Os resultados
evidenciam que houveram reduções médias na margem de segurança entre 8 a 24%, a depender da magnitude
avaliada e do tipo de barragem. Percebeu-se que as magnitudes das anomalias avaliadas foram diretamente
proporcionais à redução da margem de segurança, porém sempre se tratando de redução de segurança não
desprezível. Da mesma forma, foi concluído que as anomalias de rebaixamento rápido e redução de praias de
rejeito são importantes variáveis na segurança de barragens e devem ser consideradas nas inspeções e
auditorias de segurança.

PALAVRAS-CHAVE: Segurança de Barragens, Análise em Portfólio, Anomalias, Rebaixamento rápido,


Praia de Rejeito.

ABSTRACT: Dam safety assessment methods are constantly evolving and improving. Recent cases of dams
failures reinforce the need for alternative methods for analysis. In this context, this paper presents a safety
assessment method for the impact of rapid drawdown and reduction of tailings beaches as a function of the
tailings dam safety factor. Rapid drawdown was evaluated for dams raised downstream while beach reduction
was evaluated for dams raised upstream. The analyses employed numerical simulations in theoretical models
of three dams raised downstream and two raised dams upstream, with varying landfill and tailings strength
parameters for three different magnitudes of anomalies (small, medium and large), totaling a sample space of
270 analyses. The results show that there were average reductions in the safety margin between 8 and 24%
depending on the magnitude evaluated and the type of dam. It was noticed that the magnitudes of the anomalies
evaluated were directly proportional to the reduction in the safety margin, but always with non-negligible
safety reductions. Similarly, it was concluded that the anomalies of rapid drawdown and reduction of tailings
beaches are important variables in dam safety and should be considered in safety inspections and audits.

KEYWORDS: Dam safety, Portfolio Analysis, Anomalies, Rapid Drawdown, Tailings Beach.

139
1 Introdução

As barragens de rejeito são fundamentais para o armazenamento de resíduos provenientes da lavra de


mineração, evitando contaminação do ambiente e controlando a qualidade de efluentes à jusante. Entretanto,
os riscos associados à construção e operação de barragens não podem ser mais negligenciados. As rupturas
dessas estruturas são raras, contudo podem ser catastróficas, sendo assim fundamental avanços na avaliação
de segurança que mitiguem possíveis riscos (Zhang et al., 2016).
De acordo com o relatório de segurança de barragens (ANA, 2017), o Brasil possui 4.159 barragens
cadastradas em sua base, sendo 49% destas barragens classificadas como de alto dano potencial associado à
ruptura, ou seja, 2.053 barragens podem causar perdas de vidas humanas em caso de ruptura.
Estudos recentes têm proposto diferentes métodos de avaliação de segurança em barragens de rejeito,
assim como proposto evoluções nestes métodos, tais como Bowles et al. (1999), Bowles (2000), Fell et al.
(2000), Hartford and Baecher (2004), ICOLD (2009), Jeon et al. (2009), Schultz et al (2010), Curt et al. (2011),
Zhang et al. (2016), Morgenstern (2018) e Lumbroso et al. (2021). Pode-se citar como métodos de avaliação
de segurança em barragens: métodos determinísticos, onde é calculado um fator de segurança para o cenário
avaliado; métodos de análise de risco, onde são estabelecidas probabilidades de ruptura versus consequências
para um dado modo de ruptura avaliado; e os métodos de análise em portfólio, onde a condição atual da
barragem é comparada à situação ideal de projeto por meio de inspeção e auditoria.
Cada um dos métodos supracitados possuem vantagens e desvantagens: análises de risco apontam de
forma eficaz possíveis gatilhos de ruptura, assim como pontos vulneráreis de uma estrutura, mas não retorna
um número de segurança global; análises determinísticas retornam um fator de segurança para cada modo de
falha possível (talude jusante, talude montante, fundação, liquefação, piping), porém analisa uma condição de
projeto, ou seja, só retorna um fator de segurança real se todos os parâmetros de entrada forem levantados com
precisão; já as análises em portfólio mensuram anomalias identificadas em campo, porém os pesos atribuídos
dependem do método adotado, assim como depende da interpretação/expertise do avaliador.
Neste contexto, o presente artigo apresenta os resultados de simulações de rebaixamento rápido e
redução de praias de rejeito em barragens tipo com propósito de estabelecer a influência dessas anomalias
sobre o fator de segurança do talude a montante de barragens de forma determinística. As simulações de
rebaixamento rápido foram realizadas para modelos de barragens alteadas à jusante, enquanto a redução de
praia de rejeito foram simuladas em barragens alteadas à montante.
Ao fim, o estudo se propôs em determinar um valor médio de redução de segurança devido à anomalias
citadas, de modo a estabelecer uma forma de análise em portfólio ou de fonte de calibração dos métodos de
análises em potfólio existentes para que possa auxiliar gestores de barragens na garantia e confiabilidade da
estabilidade dessas estruturas.

2 Metodologia

2.1 Modelos Analisados

Esse trabalho se propôs a avaliar como a surgência afeta quantitativamente a segurança de barragens
através de simulações em modelos de barragens tipo. A magnitude da anomalia foi realizada por meio da
comparação entre os FS de uma mesma seção e dos mesmos parâmetros geotécnicos, minimizando, assim, a
interferência do perfil analisado (altura e inclinação dos taludes).
Para avaliação da surgência sobre a segurança de barragens foram propostos modelos de barragens de
forma a abranger barragens de pequeno, médio e grande porte, assim como barragens alteadas à jusante e à
montante. A Figura 1 (a) mostra a seção tipo das barragens utilizadas para as simulações, sendo denominadas
B1, B2 e B3 as barragens alteadas à jusante de pequeno, médio e grande porte, respectivamente, e B4 e B5 as
barragens alteadas à montante de médio e grande porte, respectivamente.
Já a Figura 1 (b) mostra o resultado da simulação de média magnitude para as seções das barragem B2
e B4, a título de exemplo. Ressalta-se que para a barragem B2, assim como B1 e B3, foi simulada a anomalia
de rebaixamento rápido, enquanto para a barragem B2, assim como B5, foi simulada a anomalia de ausência
de praia de rejeitos. Ambas foram simuladas nas condições mais críticas, sendo na fase final de contrução e
anterior ao enchimento do reservatório.
As características geométricas das referidas barragens são apresentadas na Tabela 1, enquanto a Tabela
2 apresenta os parâmetros geotécnicos dos materiais empregados nas simulações. Os parâmetros geotécnicos
foram selecionados visando representar características de resistência tipicamente encontrados nas barragens
brasileiras. Ressalta-se que para as barragens alteadas à jusante foi escolhido um rejeito tipicamente não
drenado (resistência não-drenada), enquanto para as barragens alteadas à montante foi escolhido um rejeito
com granulometria de areia fina (baixo atrito e sem coesão).
140
(a) (b)
(

Figura 1. Seção tipo das barragens empregadas (a) e resultado da simulação de rebaixamento rápido e redução
de praias de rejeito (b).

Foram considerados os mesmos valores para o ângulo de atrito do aterro e da resistência do rejeito (atrito
ou resistência não-drenada) para todos os modelos analisados. De modo a se obter uma variabilidade de
modelos analisados, os parâmetros de ângulo de atrito do aterro e resistência do rejeito (atrito ou resistência
não-drenada), foram alterados em 4 valores inferiores e superiores de modo que cada modelo analisado (B1 a
B5) representassem 18 barragens, totalizando um universo de 90 barragens. A Tabela 1 apresenta as
características geométricas dos modelos analisados, enquanto a Tabela 2 apresenta os parâmetros geotécnicos
empregados nas análises.

Tabela 1. Características geométricas dos modelos empregados nas análises.


Inclinação do Largura das Método de
Barragem Altura (m)
talude (V:H) bermas (m) alteamento
B1 15 1:1,5 5 Jusante
B2 30 1:2,0 5 Jusante
B3 45 1:2,5 5 Jusante
B4 30 1:2,0 5 Montante
B5 45 1:2,5 5 Montante
Tabela 2. Parâmetros geotécnicos empregados nos modelos analisados.
Peso específico Coesão Ângulo de Resistência não-
Material
(kN/m³) (kPa) atrito drenada (kPa)
Fundação 20 10 32º -
Aterro 18 10 26º ± 8º -
Rejeito 1 16 - 0º (20±8) kPa + 4 kPa/m
Rejeito 2 16 0 20º ± 4º -
Lastro 16 10 20º -
Filtro 18 0 30º -
1Rejeito empregado nas barragens alteadas a jusante com resistência não drenada crescente com a profundidade. 2Rejeito empregado nas
barragens alteadas a montante.
2.2 Métodos de Análise

As análises de estabilidade dos modelos propostos foram realizadas através do cálculo do FS do talude
de montante empregando-se o software Slide 6.0®. Foram consideradas análises na condição ideal de projeto
(sem presença de anomalias), assim como análises simulando rebaixamento rápido ou redução de praia de
141
rejeitos (Figura 1 (b)) de pequeno, médio e grande porte, denominadas respectivamente magnitudes 1, 2 e 3:
• Rebaixamento rápido de pequeno porte (magnitude 1): considera a nível de rejeito a 50% da
altura útil do reservatório e rebaixamento rápido de 1/3 entre a cota máxima permitida de nível
d’água e a cota do rejeito;
• Rebaixamento rápido de médio porte (magnitude 2): considera a nível de rejeito a 50% da altura
útil do reservatório e rebaixamento rápido de 2/3 entre a cota máxima permitida de nível d’água
e a cota do rejeito;
• Rebaixamento rápido de grande porte (magnitude 3): considera a nível de rejeito a 50% da altura
útil do reservatório e rebaixamento rápido de total entre a cota máxima permitida de nível d’água
e a cota do rejeito;
• Redução de praia de pequeno porte (magnitude 1): praia reduzida em 1/3 em relação à praia
preconizada no modelo de referência;
• Redução de praia de médio porte (magnitude 2): praia reduzida em 2/3 em relação à praia
preconizada no modelo de referência;
• Redução de praia de grande porte (magnitude 3): praia reduzida na totalidade em relação à praia
preconizada no modelo de referência.
Na implementação do método procedeu-se a análise prévia para definição das seções e parâmetros
geotécnicos da condição ideal de projeto (simulando variações dos parâmetros de aterro e rejeitos), assim como
o cálculo do FS para as condições de anomalia.
Adotaram-se as seguintes premissas nas análises de estabilidade:
• Critério de ruptura de Mohr-Coulomb;
• Superfícies circulares de ruptura;
• Método de análise de Morgenstern-Price que satisfaz, simultaneamente, o equilíbrio de forças
e momentos entre fatias.
Para o cálculo da perda de segurança nos modelos analisados devido à presença das anomalias,
empregou-se da definição de margem de segurança (MS) presente em Schultz et al. (2010), dado pela diferença
entre as forças de resistência (R) e as forças de carregamento (C), conforme a Equação 1. Sabendo que o FS é
definido pela razão entre essas entre R e C (Equação 2), define-se MS em função de FS segundo a Equação 3.

MS = R − C (1)
R MS+C
FS = = (2)
C C
MS = FS − 1 (3)
A magnitude relativa ao efeito das anomalias foi determinada calculando-se a perda relativa de margem
de segurança (ΔMS), conforme Equação 4, dado pela diferença entre o FS inicial do projeto (FS0 ) e o FS
contendo alguma anomalia (FSA ).
FS0 − FS A
MS = (4)
MS

Considerando que o FSA é a própria condição real de segurança de uma barragem (CRS), define-se CRS
calculado por FS0 , MS e ΔMS, conforme as Equações 5 e 6.
CRS = FS0 − MS  MS (5)
CRS = FS0 − MS MS (6)
É importante salientar que a Equação 6 somente será válida se o efeito da superposição dos efeitos de
anomalias sobre a MS for verificado. Neste caso, o efeito de todas anomalias poderá ser representado pelo
somatório simples de ΔMS. Nesse artigo, não será avaliado esse efeito.

3 Resultados e Discussões

Os resultados das simulações para avaliação da influência das anomalias sobre a segurança de barragens
em termos de ΔMS são mostrados na Figura 2, sendo o efeito do rebaixamento rápido e da redução de praia de
rejeito de pequena magnitude (a-b), média magnitude (c-d) e grande magnitude (e-f). Vale ressaltar que os
resultados mostrados na Figura 2 (a-c-e) referem-se as simulações considerando variações no ângulo de atrito

142
do aterro da barragem. Já os resultados mostrados na Figura 2 (b-d-f) referem-se as simulações considerando
variações no ângulo de atrito ou resistência drenada do rejeito. Além disso, a Figura 2 mostra também o ΔMS
médio para todas as simulações (linha horizontal contínua) e o desvio padrão dos resultados para todas as
simulações (linha horizontal tracejada).

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)
Figura 2. Influência de rebaixamento rápido e da redução de praia de rejeito de magnitude 1 (a-b), 2 (c-d) e 3
(e-f) na segurança de barragens (ΔMS) em função do atrito do aterro (a-c-e) e da resistência do rejeito (b-d-f).

Como esperado, observa-se que a redução da segurança é proporcional a magnitude das anomalias
simuladas, sendo em média de 8% e 9% para rebaixamento rápido e redução de praia de rejeito de pequena
magnitude, 15% e 16% para rebaixamento rápido e redução de praia de rejeito de média magnitude, e 27% e 24%
para rebaixamento rápido e redução de praia de rejeito de alta magnitude, respectivamente analisados com a
variação do ângulo de atrito do aterro e resistência não drenada ou ângulo de atrito do rejeito.
Observa-se uma maior dispersão de resultados para as barragens B3 e B4 em relação às demais barragens,
extrapolando em algumas simulações ao desvio padrão da média. Além disso, observa-se que para a barragem
B3 houve uma redução de ΔMS inferior ao limite de desvio padrão, enquanto para a barragem B4 houve uma
redução de de ΔMS superior ao limite de desvio padrão. Esse comportamento possivelmente se deve a geometria
das barragem B3 e B4, onde a barragem B3 possui um aterro proporcionamente maior à coluna de rejeito, logo
menos suscetível às anomalias simuladas, enquanto a B4 possui um menor aterro proporcionamente maior à
coluna de rejeito dentre os modelos de alteamento à montante.
Também é possível verificar uma tendência de diminuição do ΔMS com o aumento dos parâmetros de
resistência do aterro e do rejeito (Figura 2-a-b-c-d-e). Essa tedência possivelmente se deve ao aumento geral do
FS com o aumento dos parâmetros de resitência, o que leva a uma aproximação entre os modelos com anomalias
e o modelo de referência (sem anomalia), diminuindo o impacto da anomalia sobre o FS. Essa tendência porém
não foi observada para a barragem B3 (Figura 2-e), possivelmente devido a uma alteração da superfície crítica
de ruptura em cada análise. Além disso, na Figura 2 (f) verificou-se uma tendência de baixa interferência dos

143
parâmteros de resistência sobre o ΔMS, demonstrando uma redução de segurança uniforme para as simulações
de anomalias de grande magnitude em função da variação dos parâmetros do rejeito.
Por fim, verifica-se que a redução de praia de rejeito em barragens alteadas à montante tem maior ΔMS em
relação ao rebaixamento rápido em barragens alteadas à jusante. Essa resultado pode ser observado nas barragens
B4 e B5 em pontos bem acima do desvio padrão (Figura 2-a-b-c-d).
A Figura 3 mostra a variação média do ΔMS em função da magnitude do rebaixamento rápido ou redução
de praia de rejeito, além do desvio padrão médio geral englobando todas as análises. Em termos médios, verifica-
se uma variação linear de ΔMS com o aumento da anomalia testada.

Figura 3. Variação de ΔMS em função da magnitude do rebaixamento rápido ou redução de praia de rejeito.

O ajuste linear da Figura 3 aponta um coeficiente de determinação que 99% dos dados se ajustariam ao
modelo dentro do desvio padrão médio, sendo o rebaixamento rápido ou redução de praia de rejeito de ΔMS =
8±5%, 3±5% e 25±6%.
Desta forma, pode-se concluir que o rebaixamento rápido ou redução de praia de rejeito se trata de anomalia
que pode diminuir significativamente o fator de segurança de uma barragem. Ainda, a redução da margem da
segurança é diretamente proporcional a diferença de nível de rebaixamento rápido, assim como diretamente
proporcional à redução da praia de rejeito.

4 Conclusões

A partir dos resultados da pesquisa foi possível extrair as seguintes conclusões em relação aos efeitos de
rebaixamento rápido ou redução de praia de rejeito sobre a segurança de barragens:
1. Foi demonstrado que é possível avaliar o efeito de redução de fator de segurança em barragens devido ao
rebaixamento rápido ou redução de praia de rejeito através de simulações em softwares computacionais em
modelos de barragens tipo;
2. Verificou-se uma tendência de redução de segurança com o aumento da magnitude da anomalia testada,
sendo aproximadamente 8%, 13% e 25% respectivamente para rebaixamento rápido ou redução de praia de
rejeito de pequena, média e grandes magnitudes, respectivamente. Ainda, foi verificado uma distribuição
dentro dos limites do desvio padrão médio de aproximadamente ±5%;
3. Demonstrou-se dentro de desvios aceitáveis que o efeito de rebaixamento rápido ou redução de praia de
rejeito sobre a margem de segurança é relativamente linear, ou seja, quanto maior o grau da anomalia, maior
a redução da margem da segurança;
4. De maneira indireta, foi possível concluir que redução de praia de rejeito induz uma maior redução de fator
de segurança em barragens alteadas à montante em relação ao rebaixamento rápido em barragens alteadas à
jusante;
5. Os resultados demostram que o rebaixamento rápido ou redução de praia de rejeito são importantes itens a
serem avaliados durante as inspeções ou auditorias de segurança de barragens, indicando uma possível
sugestão ao Quadro 3 – Estado de Conservação de Barragens (ANM, 2022).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG –


pelo apoio financeiro destinado ao projeto (processo APQ 00835-16). Ainda, os autores agradecem às
empresas Vale S/A e Progen S/A pelo apoio técnico e oportunidade ao desenvolvimento científico.
144
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANA – Agência Nacional de Águas (2017). Relatório de segurança de barragens. ANA, Brasília, 225 p.
ANM – Agência Nacional de Mineração (2022). Resolução Nº 95, de 7 de Fevereiro de 2022: Consolida os
atos normativos que dispõem sobre segurança de barragens de mineração. ANM, Brasília, 49 p.
Bowles, D.S.; Anderson, L.R.; Glover, T.F.; Chauhan, S.S. (1999). Understanding and managing the risk of
aging dams: principals and case studies. In: 19th USCOLD Annual Meeting and Lecture, Atlanta, USA.
Anais, 19th USCOLD.
Bowles, D.S. (2000). Advances in the practice and use of portfolio risk assessment. In: Proceedings of the
2000 Australian Committee on Large Dams – ANCOLD, pp. 1-12, Queensland, Australia.
Curt, C.; Talon, A.; Mauris, G. (2011). A dam assessment support system based on physical measurements,
sensory evaluations and expert judgements. Measurement, 44 (1): 192-201. Anais, ANCOLD.
Fell, R.; Bowles, D.S.; Anderson L.R.; Bel, G. (2000). The status of methods for estimation of the probability
of failure of dams for use in quantitative risk assessment. In: Proceedings of 20th International Congress
on Large Dams, Beijing, China. Anais, 20th International Congress on Large Dams.
Hartford, D.N.D.; Baecher, G.B. (2004). Risk and uncertainty in dam safety. Thomas Telford Ltd, London.
391 p.
ICOLD – International Commission on Large Dams (2009). Dam safety management. In: Proceedings of 23rd
International Congress on Large Dams, Brasília, Brazil. Anais, 23rd International Congress on Large Dams.
Jeon, J.; Lee, J.; Shin, D.; Park, H. (2009). Development of dam safety management system. Advances in
Engineering Software, 40 (1): 554-563.
Lumbroso, D.; Davison, M.; Body, R.; Petkovšek, G. (2021) Modelling the Brumadinho tailings dam failure,
the subsequent loss of life and how it could have been reduced, Nat. Hazards Earth Syst. Sci., 21, 21–37.
Morgenstern, N.R. (2018). Geotechnical Risk, Regulation, and Public Policy. Soils and Rocks, 41(2): 107-129.
Schultz, M.T. Gouldby, B.P.; Simm,J.D.; Wibowo, J.L. (2010). Beyond the factor of safety: Developing
fragility curves to characterize system reliability. Techical Report: ERDC SR 10-1. U.S. Army Corps of
Engineers, Washington.
Zhang, L.; Peng, M.; Chang D.; Xu Y. (2016). Dam failure mechanisms and risk assessment. John Wiley &
Sons, Singapore, 476 p.

145
Análise e Proposta de Estabilização do Talude na BR 267

Alan Gonçalves Fonseca


Engenheiro Civil, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas de Gerais, Brasil,
alan.fonseca@engenharia.ufjf.br.

Jordan Henrique de Souza


Engenheiro Civil, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas de Gerais, Brasil,
jordan.souza@engenharia.ufjf.br.

Sabrina Medeiros Penasso


Engenheiro Civil, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas de Gerais, Brasil,
sabrina.penasso@engenharia.ufjf.br.

Tatiana Tavares Rodriguez


Engenheiro Civil, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas de Gerais, Brasil,
tatiana.rodriguez@ufjf.edu.br.

RESUMO: Acidentes causados por movimentação de solo estão presentes na maior parte das cidades
brasileiras, principalmente nos períodos chuvosos. A análise de estabilidade é imprescindível para garantir
a segurança de taludes, resguardando a vida humana e danos materiais. Após a constatação da instabilidade,
utiliza-se um meio de intervenção para reestabelecer a estabilidade do local. O presente trabalho tem por
objetivo analisar a estabilidade do talude da BR 267 através do método determinístico e desenvolver uma
proposta de intervenção por retaludamento. A análise foi realizada com os dados obtidos no ensaio de
resistência ao cisalhamento direto. Foi traçada a reta de envoltória de resistência e a obtenção dos fatores de
segurança foram feitas através do GEOSLOPE. Para tanto, os resultados indicaram que os fatores de
segurança das seções do talude estão abaixo do limite permitido por norma. Logo, foi desenvolvida uma
nova geometria do talude, priorizando aterro e respeitando os aspectos físicos para a construção. No aterro
foi utilizado um solo com os parâmetros de resistência conhecidos, e com auxílio do software Slope/W do
Pacote GeoStudio, foram realizadas análises de estabilidade do retaludamento e obtidos os fatores de
segurança. As análises indicaram que os fatores de segurança encontrados estão acima de 1,5, o mínimo
exigido por norma. Assim, concluiu-se que o talude da BR 267 está instável e o retaludamento é uma
possível proposta de estabilização.

PALAVRAS-CHAVE: Talude da BR 267, Análise de estabilidade, Retaludamento, Fator de segurança,


Método Determinístico, Estabilização de talude.

ABSTRACT: Accidents caused by soil movement are present in most Brazilian cities, especially during
rainy periods. Stability analysis is essential to ensure the safety of slopes, safeguarding human life and
material damage. After the instability is verified, a means of intervention is used to reestablish the stability
of the site. This paper aims to analyze the stability of the slope of BR 267 through the deterministic method
and to develop a proposal for intervention by re-pointing. The analysis was performed using data obtained
from the direct shear strength test. The resistance envelope line was drawn and the safety factors were
obtained through GEOSLOPE. The results indicated that the safety factors of the slope sections are below
the limit allowed by the standard. Therefore, a new slope geometry was developed, prioritizing embankment
and respecting the physical aspects for construction. A soil with known strength parameters was used in the
embankment, with a specific weight value of 19.13 kN/m³, cohesive intercept of 41 kPa and friction angle
of 35º. With the aid of the Slope/W software from the GeoStudio Package, the slope stability analyses were
performed and the safety factors were obtained. The analyses indicated that the safety factors found were
above 1.5, the minimum required by the standard. Concluding that the slope of BR 267 is unstable and the
re-pointing is a possible stabilization proposal.

KEYWORDS: BR 267 slope, Stability analysis, Re-profiling, Safety factor, Deterministic method, Slope
Stabilization.

146
1 Introdução

A estabilidade de taludes naturais e artificiais é um problema que afeta os brasileiros há anos,


ocorrendo muitos desastres por movimentos de massa em regiões periféricas, causados principalmente pela
ocupação indevida e sem conhecimento do solo. Para saber se a encosta está estável geralmente são feitas
análises de estabilidade pelo método determinístico, através da determinação do fator de segurança (FS).
Conforme descrito na NBR 11682 da ABNT (2009, p.2), considera-se fator de segurança o “valor da
razão entre a resistência (tensão de cisalhamento máxima disponível) e a resistência mobilizada (tensão
cisalhamento atuante ao longo da superfície de ruptura”. Assim, espera-se que um maior valor de fator de
segurança corresponda a uma segurança maior contra ruptura.
O movimento de massa do tipo escorregamento é comum na cidade de Juiz de Fora, devido às
construções feitas em áreas de risco, sem análise da estabilidade do talude. De acordo com a Defesa Civil de
Juiz de Fora, a cidade possui muitas áreas consideradas de risco de escorregamento alto, sendo que em uma
delas situa-se o talude da BR267, entre os km 112 e 113 da BR 267, que apresentava sinais de possível
movimentação.
Nesse contexto, faz-se necessário avaliar e dimensionar a obra de estabilização do talude na BR 267
por meio de análises de estabilidade, resultando em fator de segurança aceitável e em baixa probabilidade de
ruptura, resguardando todos que utilizam a região. Logo, o objetivo do presente trabalho é realizar a análise de
estabilidade, pelo método determinístico, do talude da BR 267 e apresentar uma proposta de retaludamento,
visando uma nova geometria e garantindo a segurança no local.

2 Revisão Bibliográfica

Taludes são superfícies de um maciço de solo ou rocha inclinados, podendo ser naturais, denominados
de encostas, ou formados pela ação humana, denominados de taludes artificiais (GERSCOVICH, 2012).
Os taludes artificiais devem ser executados com altura e inclinação adequadas a fim de garantir a
estabilidade da obra, adaptando-se o projeto às propriedades geomecânicas dos materiais e às condições de
fluxo (GERSCOVICH, 2012).
A movimentação de taludes são considerados movimento de massa, e podem ser classificados em
queda/rolamento, tombamento, escorregamento e escoamento (NBR 11682 da ABNT, 2009). As causas dos
movimentos de massa estão relacionadas a fatores que provoquem redução da resistência do material
geológico e/ou aumento da solicitação externa (RODRIGUEZ, 2020).
Quanto às característica do material, é importante conhecer os parâmetros de resistência e a massa
específica do solo. Os parâmetros de resistência, que são o ângulo de atrito (φ) e o intercepto coesivo (c),
podem ser obtidos, por exemplo, a partir de ensaios laboratoriais como cisalhamento direto e definidos pelo
critério de Mohr-Coulomb.
De posse das características do material, da estratigrafia, geometria, nível de água, sobrecarga e outros
é possível aplicar um método de análise para avaliar a condição de estabilidade de um talude.
Os métodos para análise de estabilidade de taludes fundamentam-se na hipótese de encontrar equilíbrio
em uma massa de solo com a possibilidade de entrar em processo de escorregamento. Conhecendo-se as forças
atuantes, são determinadas as tensões de cisalhamento induzidas por meio das equações de equilíbrio. A análise
termina com a comparação dessas tensões com a resistência ao cisalhamento do solo em questão (MASSAD,
2010).
As análises de estabilidade de taludes são tradicionalmente feitas mediante métodos determinísticos,
que são baseados na obtenção do fator de segurança. Como o valor de segurança depende de valores estimados
para os parâmetros do solo, conclui-se que ele é uma variável que depende de outras variáveis (FLORES,
2008).
De acordo com a norma NBR11682 da ABNT (2009), o fator de segurança é a relação entre as tensões
de cisalhamento mobilizadas (𝑟𝑚𝑜𝑏) com a resistência ao cisalhamento (𝑟𝑓), como dado pela Equação 1.
𝑐𝑓
𝐹𝑆 = (1)
𝑐𝑚𝑜𝑏

No caso de FS maior que 1, considera-se obra estável, FS igual a 1 ocorre a ruptura e FS menor que 1
não tem significado físico (GERSCOVICH, 2012).

147
Os fatores de segurança têm a finalidade de cobrir as incertezas naturais e artificiais de diversas etapas
do projeto. O valor mínimo do FS está relacionado ao grau de periculosidade, enquadrando o projeto em
classificações de nível de segurança em relação a perda de vidas humanas e em relação a danos materiais, e
danos materiais e ambientais (ABNT, 2009).
Quando a condição de estabilidade não satisfaz o critério de FS mínimo, é necessário realizar alguma
obra de estabilização do talude. De acordo com Massad (2010), os tipos de obras de estabilização e contenção
são drenagem, proteção superficial, solo reforçado, muro de arrimo, cortina atirantada, retaludamento.
O retaludamento consiste na alteração da geometria do talude, fazendo um balanceamento dos pesos,
aliviando a região da crista e acrescentando na região do pé do talude, ou realizando um reaterro. Em alguns
casos, é mais econômico fazer a alteração da geometria retirando a massa instável, porém, deve haver cuidado
para não acontecer nenhuma movimentação de massa indesejada durante o processo de modificação
(MASSAD, 2010).

3 Local de Estudo

O talude da BR267, entre os km 112 e 113, é um talude de aterro executado para passagem da rodovia
e que sofreu alterações da geometria em função da ocupação desordenada ao longo da saia do aterro. Esse
trecho da BR 267 encontra-se no bairro Nova Era, cidade de Juiz de Fora – MG. A Figura 1 apresenta uma
vista ampla e frontal do talude suscetível a deslizamento no local em que foi constatado degrau de
abatimento. É visível a erosão na parte superior, marcada em azul, e o escorregamento se perpetua na parte
inferior, marcada em vermelho.

Figura 1 – Vista fontal do escorregamento


De acordo com Souza et al. (2019), a Defesa Civil municipal emitiu 4 relatórios entre os anos de 2007
e 2014, indicando que as margens da BR 267 são área de risco grau 4 (Figura 2), o mais alto grau da escala de
risco. Esse grau de risco é definido baseando-se na classificação do IPT.

Figura 2 – Classificação de risco do talude BR267


Souza et al. (2019) realizaram levantamento topográfico do local por aerofotografia com drone e
definiram 68 seções, dentre elas 4 foram selecionadas para estudo desse trabalho (Figura 3).

148
Foi realizado o ensaio de sondagem a percussão de acordo com a NBR 6484 “Solo – Sondagens de
simples reconhecimento com SPT – Método de ensaio” em 6 pontos como mostra o croqui da Figura 4, e os
perfis das seções na Figura 5 e Figura 6.

Figura 3 – Localização das seções Figura 4 Localização de furos da sondagem

Figura 5 - Perfil geológico geotécnico da seção A e B

Figura 6 – Perfil geológico geotécnico da seção C e D

4 Metodologia

4.1 Caracterização física e cisalhamento direto

No presente trabalho realizaram-se ensaios de caracterização física a fim de obter a granulometria, a


massa específica dos sólidos, o teor de umidade e os limites de consistência do solo estudado.
As amostras indeformadas foram encaminhadas para o laboratório de Mecânica dos Solos da UFJF
para a realização da moldagem do anel para o ensaio de cisalhamento direto.
O critério de ruptura adotado foi definido pelo primeiro valor máximo da razão entre a tensão
cisalhante e a tensão normal. Através desse valor, determinam-se a tensão normal de ruptura e a tensão
cisalhante de ruptura para cada corpo de prova.
Através dos pontos de ruptura, gera-se o gráfico de tensão cisalhante versus tensão normal, definindo-
se a envoltória linear de ruptura. A envoltória foi obtida pela média de ruptura a partir de 12 ensaios.

4.2 Análise de estabilidade do local

Para esse estudo foi assumido que todo o material acima do impenetrável representa o aterro no perfil
geológico geotécnico, sendo uma alteração a favor da segurança.
As análises de estabilidade do local foram feitas com o software Slope/W, do pacote GeoStudio 2019.
O programa forneceu o fator de segurança para as diversas condições analisadas, bem como o local da linha
de ruptura formada pelo escorregamento.

149
Inicialmente, foram feitas as configurações do programa, adotando o método de Morgenstern-Price e
a superfície de pesquisa com direção de movimento da esquerda para a direita, com técnica de pesquisa de
entrada e saída.
Foi adicionado um valor referente à sobrecarga da rodovia, equivalente a 10 kPa.
No presente trabalho, não foi adotado valor de poropressão, uma vez que não foi encontrado nível de
água pelo ensaio de sondagem.
Os quatro perfis foram traçados no próprio programa, inserindo-se as informações dos materiais, de
acordo com os ensaios de sondagem, caracterização física e cisalhamento direto.
Em seguida, determinaram-se os dados de entrada e saída da superfície de pesquisa a fim de limitar a
análise. Por fim, o talude foi analisado.

4.3 Retaludamento

O solo escolhido para o aterro de retaludamento foi o estudado por Santos (2014). O solo possui valor
de peso específico de 19,13 kN/m³, intercepto coesivo de 41 kPa e ângulo de atrito de 35º. Com essas
informações, foi criado um novo material denominado “retaludamento” no programa Slope/W.
Posteriormente, foi criada a nova geometria do talude, e estabelecida a definição do intervalo de
entrada e saída da superfície de pesquisa.
Por fim, é analisada a nova geometria buscando um fator de segurança superior a 1,5 por ser de alto
nível de segurança contra danos a vidas humanas e danos materiais e ambientais, de acordo com a NBR 11682
da ABNT (2009).

5 Resultados e Análises

Realizou-se ensaios de caracterização física do solo, obtendo-se a granulometria areia silto-argilosa, e


ensaio de cisalhamento direto na condição saturada com tensões normais 25 a 200 kPa. Os valores médios de
intercepto coesivo e ângulo de atrito, como também, a variância, o desvio padrão e o coeficiente de variação
estão mostrados no Tabela 1.

Tabela 1- Análise estatística

Parâmetro Valor médio Variância Desvio Padrão Coeficiente de


Variação
c 7,6 kPa 19,47 kPa² 4,41 57,73%
φ 34,7 ° - 1,239 3,57%
tag φ 0,6918 rad 0,001 0,032 4,62%

Com essas informações e auxílio do programa Slope/W, realizou-se as análises determinística, onde
obteve-se os fatores de segurança nas quatro seções com os valores dos parâmetros médios. Os fatores de
segurança obtidos estão entre 1,234 e 1,432, sendo o menor para a Seção C e o maior para a seção D. Esses
resultados indicariam que as seções não estariam na iminência de ruptura (FS=1), mas, considerando os
critérios da norma, todas as seções deveriam ter FS maior que 1,5 (Figuras 7 a Figura 10).

Figura 7- Análise Determinística - Seção A – FS:1,306

150
Figura 8- Análise Determinística - Seção B – FS:1,353

Figura 9- Análise Determinística - Seção C – FS:1,234

Figura 10- Análise Determinística - Seção D – FS:1,432

Já a análise de estabilidade do retaludamento foram feitas considerando o fator de segurança mínimo


1,5, utilizando a menor quantidade de solo e respeitando espaços entre eixo das máquinas utilizadas na
construção do retaludamento. Os valores do fator de segurança das 4 seções ficaram entre 1,513 e 1,650,
atendendo o mínimo exigido na NBR 11682 da ABNT (2009) (Figura 11 a Figura 14).

Figura 11 – Análise Determinística do Retaludamento Seção A – FS:1,639

151
Figura 12 - Análise Determinística do Retaludamento Seção B – FS:1,513

Figura 13- Análise Determinística do Retaludamento Seção C – FS:1,650

Figura 14- Análise Determinística do Retaludamento Seção D – FS:1,571

6 Conclusão

As análises granulométricas indicaram que o material tem classificação de areia silto-argilosa, tendo
sido, provavelmente, retirados da encosta do próprio local, que apresenta solos erodíveis.
Os parâmetros médios de resistência obtidos através do ensaio de cisalhamento direto em condição
saturada foram: 7,6 kPa de intercepto coesivo e 34,7° de ângulo de atrito. Para esses parâmetros, a análise de
estabilidade determinística indicou fator de segurança de 1,23 a 1,43 para as seções analisadas, que estão
abaixo do mínimo de 1,5 estabelecido em norma para as condições de nível alto de segurança contra danos
materiais e ambientais e danos a vida humana.
Por meio desta pesquisa, foi possível realizar a proposta de intervenção de retaludamento, com
finalidade de assegurar a estabilidade do talude, gerando-se fator de segurança acima de 1,5, mínimo exigido
pela NBR 11682 da ABNT para locais de alto nível de segurança contra danos a vidas humanas e alto nível de
segurança contra danos materiais e ambientais.

152
A geometria analisada para a seção A possui um fator de segurança de 1,639, da seção B um valor
igual a 1,513, da seção C um valor de 1,634 e da seção D um valor igual a 1,571.
Desse modo, conclui-se que talude do local não se encontra dentro das condições de segurança mínimo
e que o retaludamento poderia ser opção para buscar a estabilidade do mesmo. Ressalta-se que esta conclusão,
válida para o trabalho de cunho acadêmico, foi feita a partir de simplificações no perfil geológico geotécnico
das análises, apenas, de 4 seções transversais, considerando um solo que não está disponível no local,
desconsiderando a sobrecarga da via e água no solo.

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT NBR 6484: Solo – Sondagens de


simples reconhecimento com SPT – Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2001, 17. ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT NBR 11682: Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro,
2009, 33p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT NBR 11682: Estabilidade de encostas.
Rio de Janeiro, 2009, 33p.
DEFESA CIVIL, Relatórios do Plano Municipal de Redução de Riscos, Juiz de Fora, 2018.
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MASSAD, F. Obras de terra: curso básico de geotecnia. 2ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2010. 216p.
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SOUZA, J. H. et al. Projeto de Extensão de “Regularização Fundiária” da Vila São Sebastião em Juiz
de Fora – MG. Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2019, 481 p.

153
Probabilidade de Ruptura de Talude de Corte pelo Método
Probabilístico das Estimativas Pontuais

Laís Granzinolli Mattos


Engenheira Civil, UFJF, Juiz de Fora, Brasil, laisgranzinolli@hotmail.com

Gustavo Castro de Oliveira


Engenheiro Civil, UFJF, Juiz de Fora, Brasil, oliveira.gustavo@engenharia.ufjf.br

Sabrina Medeiros Penasso


Engenheira Civil, UFJF, Juiz de Fora, Brasil, sabrina.penasso@engenharia.ufjf.br

Tatiana Tavares Rodriguez


Professora Associada, UFJF, Juiz de Fora, Brasil, tatiana.rodriguez.ttr@gmail.com

RESUMO: Análises de estabilidade de taludes são indispensáveis para evitar acidentes. Essas podem ser
feitas por método determinístico, que é o método mais utilizado pelos profissionais da área, ou por
método probabilístico que, por considerar as incertezas do solo, permite determinar a probabilidade de
ruptura. Nesse contexto, objetiva-se determinar a probabilidade de ruptura de talude de corte composto
por dois horizontes de solo através do método probabilístico das Estimativas Pontuais, considerando os
parâmetros de resistência médios determinados em ensaios de cisalhamento direto e o coeficiente de
variação de 10% para o ângulo de atrito e de 50% para o intercepto coesivo. Na aplicação do método
probabilístico, a partir das 16 análises necessárias, obteve-se índice de confiabilidade de 1,56 e
probabilidade de ruptura de aproximadamente 0,05. Conclui-se que o método das estimativas pontuais,
ao contrário da análise a partir de valores médios dos parâmetros de resistência, indicou estabilidade
precária do talude por considerar a variabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Análise Probabilística, Método das Estimativas Pontuais, Parâmetros de


Resistência.

ABSTRACT: Slope stability analyzes are essential to avoid accidents. These analyzes can be done using
a deterministic method, which is the method most used by professionals in the area, or a probabilistic
method that, by considering the uncertainties of the soil, allows determining the probability of rupture.
In this context, the objective of this work is to determine the probability of failure of a cut slope
composed of two soil horizons through the probabilistic method of Point Estimates, considering the
average strength parameters determined in direct shear tests and the coefficient of variation of 10% for
the friction angle is 50% for the cohesive intercept. In applying the probabilistic method, from the 16
necessary analyses, a reliability index of 1.56 and a rupture probability of approximately 0.05 were
obtained. It is concluded that the method of point estimates, contrary to the analysis based on mean
values of the resistance parameters, indicated precarious stability of the slope, considering the
variability.

KEYWORDS: Probabilistic Analysis, Point Estimates Method, Resistance Parameters.

1 Introdução

A ocupação do meio físico pelo ser humano acarreta a necessidade de intervenções de engenharia
como, por exemplo, a execução de talude de corte que deve ser projetado de forma segura para evitar a
ocorrência de movimentos de massa. Para tanto, podem ser aplicados os métodos de análise de
estabilidade.
Existem dois métodos para verificar a estabilidade de um talude: o determinístico e o probabilístico.
A vantagem do método probabilístico é a possibilidade de considerar as incertezas sobre as variáveis e a
obtenção da probabilidade de ruína através do índice de confiabilidade.
Nesse contexto, objetiva-se determinar a probabilidade de ruptura de talude de corte composto por

154
dois horizontes de solo através do método probabilístico das Estimativas Pontuais, considerando os
parâmetros de resistência médios determinados em ensaios de cisalhamento direto e o coeficiente de
variação de 10% para o ângulo de atrito e de 50% para o intercepto coesivo.

2 Local de Estudo

A cidade possui área total de 1.433,87 km², sendo a área urbana com 440,74km², a área rural com
681,96 km² e a área de urbanização com 311,17 km² (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2022). A
cidade tem sido marcada na área urbana por casos de movimentos de massa do tipo escorregamentos,
segundo a classificação de Augusto Filho (1995).
Martins (2022) realizou um estudo sobre volumes pluviométricos ocorridos nos períodos chuvosos
(outubro a março) de 2017 a 2022 e identificou registro de 1714 ocorrências de escorregamento de solo
catalogados pela Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil de Juiz de Fora, sendo mais de 90% destas
ocorrências em áreas mapeadas como risco geológico.
Os escorregamentos de taludes de corte ocorrem principalmente nas áreas de ocupação
desosrdenada, mas também tem aparecido com certa frequência em obras de engenharia civil. Segundo a
reportagem do Tribuna de Minas (2017), no bairro São Mateus, um talude de corte para execução de muro
de arrimo deslizou sobre os funcionários levando dois deles a óbitos e quatro feridos. Esses problemas de
escorregamentos em taludes provisórios podem estar relacionados a ausência de análises de estabilidade, a
falta de conhecimento das propriedades dos solos e também ao uso de análises determinísticas que não
consideram a variabilidade dos parâmetros.
Neste trabalho, apresenta-se o estudo de um talude de corte realizado em uma obra no bairro
Jardim Laranjeiras. O talude vertical de 3 m de altura apresenta dois horizontes de solo, sendo o solo
superior com 2 m e o solo inferior com 1 m.

3 Metodologia

Inicialmente foi feita a coleta de amostra (deformadas e indeformadas). As amostras deformadas


foram retiradas da face do talude de corte após limpeza superficial por raspagem. Em função do
cronograma da obra, as amostras indeformadas do solo inferior formam retiradas na forma de bloco
indeformado, seguindo as orientações da norma NBR9604 da ABNT (2016) para solo não friável, e as do
solo inferior foram coletadas por moldagem de cilindro de parede fina com 10 cm de diâmetro e 15 cm de
comprimento.
Com as amostras deformadas, foram realizados ensaios de granulometria completa através da norma
NBR7181 da ABNT (2016) e ensaios de massa específica dos sólidos pela ME093 do DNER (1994) a fim
de caracterizar os solos.
Com as amostras indeformadas foram moldados corpos de prova com auxílio de anel metálico para
a realização de ensaios de resistência ao cisalhamento direto em condição embebida, nas tensões normais
de 13,15; 26,3 e 52,6 kPa, seguindo a norma americana D3080 da ASTM (1990). Os parâmetros de
resistência médios foram obtidos por regressão linear.
Por fim, com uso do software Slope/W do pacote GeoStudio, foram feitas a análise determinística
com os parâmetros de resistência médios e a análise probabilística pelo método das estimativas pontuais
considerando o desvio padrão obtido a partir da adoção de coeficiente de variação de 10% para o ângulo
de atrito e 50% para o intercepto coesivo. Sendo o coeficiente de variação a relação entre o desvio padrão
e a média da variável analisada.
Por serem dois solos com ângulo de atrito e intercepto coesivo, foram consideradas 4 variáveis
(n=4) que resultaram em 16 análises combinadas (Tabela 1).

155
Tabela 1: Análises combinadas

Com os valores de fatores de segurança (FSi) das análises é possível calcular o valor médio (FS)
pela Equação 1 e o desvio do fator de segurança ( σ FS)pelas equações 2, 3 e 4. Com o valor médio e o
desvio, detemina-se o índice de confiabilidade pela Equação 5 e o valor da probabilidade de ruptura pela
Figura 1.

2n
1
E ( FS )=FS= ∑ FSi
2n i=1
(1)

2n
1
E ( FS )= n ∑ FSi
2 2
(2)
2 i=1

σ 2FS=V ( FS )=E ( FS 2) −[ E ( FS ) ] ² (3)


σ FS= √ V ( FS) (4)
FS−1
β= (5)
σ FS

Figura 1: Gráfico para determinação da probabilidade de ruptura

156
4 Resultados e Análises

A Tabela 2 mostra os resultados de caracterização física, no qual se observa que o solo superir é um
silte argiloso com areia fina e o solo inferior é uma argila siltosa com areia fina.

Tabela 2: Caracterização física dos solos

Características Solo Superior Solo Inferior


Massa específica dos sólidos (g/cm3) 2,597 2,720
Pedregulho (%) 0 0
Areia (%) 22 26
Silte (%) 40 28
Argila (%) 38 46
Classificação Silte argiloso com Argila siltosa
areia fina com areia fina

A Tabela 3 mostra os valores dos parâmetros médios obtidos dos resultados dos ensaios de
cisalhamento direto (Análise Base) e os valores dos parâmetros para as 16 análises de estabilidade
necessárias para a aplicaçao do método probabilístico, sendo os desvios indicados na Tabela 4.

Tabela 3: Valores dos desvios padrão

Tabela 4: Análise Base e Análises Combinadas

157
A Figura 2 mostra o resultado da Análise Base, feita com os valores dos parâmetros médios.
Observa-se que o FS encontrado é superior aos valores dos fatores de segurança mínimos indicados na
NBR 11682 da ABNT (2009), mesmo com a sugestão de majoração em 10% para consideração da grande
variabilidade dos parâmetros de resistência.
Elevação

1,946
7
6
5
4 Nome Peso Coesão' Phi' (°)
Específico (kPa)
3 (kN/m³)
2 Solo Inferior 16,6 16,1 27,4
1
Solo Superior 16,6 20,2 27,4
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Distância
Figura 2: Análise Base com os valores dos parâmetros médios para os dois solos

A Tabela 5 apresenta os valor de fator de segurança encontrados nas análises combinadas (Análises
1 a 16) e a Tabela 6 mostra os valores da média do fator de segurança, do desvio do fator de segurança, do
índice de confiabilidade e da probabilidade de ruptura.

Tabela 5: Fatores de segurança das análises combinadas

158
Tabela 6: Índice de Confiabilidade

Com o índice de confiabilidade da Tabela 6 e a Figura 1, obteve-se o valor de probabilidade de


ruptura de aproximadamente 0,05, que é um valor entre “não satisfatório” e “pobre”, logo o talude
analisado não estaria estável.

5 Conclusões

Com os valores encontrados pelo método probabilístico das estimativas pontuais para o coeficiente
de variação de 10% para o ângulo de atrito e 50% para o intercepto coesivo, concluise que o talude em
questão está instável. Isso se deve ao fato da probabilidade de ruptura encontrada de 0,05, apresentar um
valor considerado entre “Não satisfatório” e “Pobre”, segundo US Army Corps of Engineers (1995). O
valor encontrado de 0,05 para a probabilidade de ruptura é superior aos níveis aceitáveis de projeto, que
segundo o Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA (USACE, 1995), Sandroni e Sayão (1992) e Wolff
(1996) é de 3x10−5, 2,3 x 10-2 e 10-3 respectivamente, logo o talude precisará de uma contenção.
Pelo método determinístico com os valores médios dos parâmetros de resistência, o talude de solo
apresenta um FS de 1,946, logo de acordo com a ABNT (2009), ele seria considerado um talude estável.
Em posse desses resultados, conclui-se que o método probabilístico das estimativas pontuais apresenta
uma análise mais precisa, já que considera a variabilidade dos parâmetros que o método determinístico
não considera.
O método das Estimativas Pontuais apresenta um bom resultado e é um método simples para ser
utilizado. Porém ele pode ficar mais trabalhoso de acordo com a quantidade de camadas de solo a ser
analisado, uma vez que o número de análises é determinado por 2 𝑛 .

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao técnico Lázaro Lopes Jeronymo pelo apoio nos ensaios realizados nos
laboratórios do Galpão I da Faculdade de Engenharia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2009). NBR 11682. Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro.
Bandeira, A.P.N. (2010) Parâmetros Técnicos para Gerenciamento de Área de Riscos de
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Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
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Encostas. In: V Conferência Brasileira sobre Estabilidade de Encostas – COBRAE, São Paulo. Anais,
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Feuerharmel, C.; Gehling, W. Y. Y.; Bica, A. V. D. (2006) The use of filter-paper and suction-plate
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Terzaghi, K., Peck, R.B. (1987) Soil Mechanics in Engineering Practice, 2nd ed., McGraw Hill, New
York, NY, USA, 685 p.

159
Comparação entre análises de Estabilidade de uma Barragem de
Rejeitos por Elementos Finitos e Equilíbrio Limite

Ryan Oliveira da Cunha


Discente, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, cunharyan@poli.ufrj.br

Leonardo De Bona Becker


Docente, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, leonardobecker@poli.ufrj.br

Ana Paula Fonseca


Docente, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, Rio de Janeiro, Brasil,
ana.fonseca@cefet-rj.br

RESUMO: As barragens de rejeito são estruturas comumente utilizadas para o represamento do material
resultante do processo de mineração, estando sujeitas à instabilidade em decorrência de diversos fenômenos.
Na análise de estabilidade dos taludes é comum utilizar métodos com base no equilíbrio limite, todavia, é
preciso cuidado em situações em que há mecanismos de falha complexos ou ruptura progressiva. O presente
trabalho tem como objetivo comparar análises tensão-deformação por elementos finitos com análises por
equilíbrio limite. Para isso, foi analisada uma barragem de rejeito de minério hipotética alteada à montante
com inclinação 1V:3H e praia de rejeitos com 150m de largura. O fator de segurança e a superfície crítica
determinados por equilíbrio limite foram comparados com os resultados da redução dos parâmetros de
resistência no método dos elementos finitos (Griffiths e Lane, 1999). O fator de segurança e a geometria da
superfície crítica do método do equilíbrio limite apresentaram boa concordância com os resultados do
método dos elementos finitos.

PALAVRAS-CHAVE: Barragem de rejeitos, estabilidade de taludes, equilíbrio limite, redução da


resistência ao cisalhamento.

ABSTRACT: Tailings dams are structures commonly used for storing the tailings resulting from the mining
process and may be subject to instability due to various phenomena. In a slope stability analysis, it is
common to use methods based on limit equilibrium, however, it is necessary to take care in situations in
which complex failure mechanisms or progressive rupture may take place. This article compares finite
element stress-strain analysis with limit equilibrium analysis. A hypothetical upstream tailings dam with a
1V:3H slope and a 150m wide tailings beach was analyzed. The factor of safety and the critical slip surface
determined by the limit equilibrium method were compared with the results of strength reduction in the
finite element method (Griffiths and Lane, 1999). The factor of safety and the shape of the critical slip
surface of the limit equilibrium method are in good agreement with the results of the finite element method.

KEYWORDS: Tailings dam, slope stability, limit equilibrium, shear strength reduction.

1 Introdução

Segundo a NBR 13028 (ABNT, 2017), as barragens para disposição de rejeito são estruturas que têm
por finalidade reter, de forma planejada e controlada, volumes de rejeitos advindos do processo de
beneficiamento de minério.
Na última década, o Brasil presenciou dois desastres envolvendo a ruptura dessas estruturas em
Mariana (2015) e Brumadinho (2019). Nos dois casos, o talude da barragem rompeu desencadeando um
processo de liquefação que resultou na liberação da maior parte dos rejeitos retidos, acarretando danos
ambientais, econômicos e sociais de grandes proporções.

160
Esses eventos ressaltam a importância das análises de estabilidade de barragens de rejeitos, em geral,
usualmente feitas com base no método do equilíbrio limite (MEL). Recentemente, o uso do método dos
elementos finitos (MEF) tem se tornado mais comum devido às suas vantagens e à disponibilidade de
diversos programas comerciais. Na prática da engenharia geotécnica, a utilização de métodos com a
abordagem de elementos finitos pode ser desnecessária se o problema analisado possuir baixa
complexibilidade. Em alguns casos, a quantidade e qualidade de dados geotécnicos de propriedades do solo
é tão baixa na região estudada que não faz sentido a utilização de um método com tamanha complexidade.
Em contrapartida, em situações nas quais a estrutura analisada possui geometria complexa e variedades de
materiais, como no caso das barragens de rejeito, a utilização desse método pode ser importante oferecendo
benefícios reais na sua utilização. O desafio para um engenheiro experiente é saber que tipo de problema se
beneficiaria de um tratamento a partir do método dos elementos finitos e quais não se beneficiariam (Griffith
e Lane, 1999).
Neste trabalho foram realizadas análises de tensão-deformação pelo MEF de uma barragem de rejeito
de minério alteada à montante. Os resultados de redução de parâmetros de resistência (shear strength
reduction, ou SSR, Griffith e Lane, 1999) foram comparados com fator de segurança e superfície crítica de
análises obtidos pelo MEL (Morgenstern e Price, 1965).

2 Metodologia

O trabalho foi desenvolvido a partir de três principais etapas: revisão da literatura sobre parâmetros
geotécnicos de rejeitos de minério de ferro brasileiro, métodos de alteamento de barragem de rejeito e, por
fim, concepção e análise de estabilidade pelo MEF e por MEL de seção típica de barragem de rejeito. A
partir destas etapas, foi definida uma geometria de barragem que foi analisada no software de elementos
finitos RS2 e no de equilíbrio limite Slide2.

2.1 Definição de parâmetros geotécnicos

O rejeito é um material composto por parte sólida e líquida sendo gerado a partir do processo de
beneficiamento do minério. Esse procedimento, por sua vez, tem como objetivo retirar do minério elementos
de valor econômico agregado. Vale dizer que o rejeito apresenta características que dependem do minério
bruto e do processo industrial utilizado no beneficiamento. Por conta disso, os rejeitos podem variar de
grossos a finos. De acordo com Araújo (2006), o primeiro é em geral classificado como rejeito granular
(rejeito arenoso) sendo constituído de partículas de granulometria típica de areias finas a médias, não
plásticas, de alta permeabilidade e resistência ao cisalhamento e de baixa compressibilidade, enquanto o
segundo, definido como rejeito plástico, constitui-se de partículas com granulometria de silte e argila, possui
baixo coeficiente de adensamento, baixa permeabilidade e geralmente baixa plasticidade (por exemplo, no
caso de rejeitos de minério de ferro, Morgenstern et al., 2016 e Robertson et al. 2019 reportaram IP = 5% a
20%).
Os parâmetros geotécnicos de resistência e rigidez foram definidos a partir de valores encontrados na
literatura nacional e internacional, com base em resultados de ensaios de campo e laboratório dos tipos
drenado e não drenado. Para o rejeito plástico admitiu-se uma resistência não drenada su = 0,22·σ’v0. Cabe
ressaltar que este valor se destina a análises comparativas e não deve ser entendido com uma recomendação
de projeto. Os valores de módulo de elasticidade adotados para o rejeito arenoso foram estimados a partir
de ajuste logarítmico de dados obtidos de ensaios triaxiais de um rejeito de minério de ferro com
granulometria arenosa para o qual relacionou-se as tensões efetivas de adensamento com o valor de E50 para
diversas tensões. O valor do módulo de elasticidade drenado para o rejeito plástico foi estimado como sendo
metade do valor do módulo de elasticidade para o rejeito arenoso. Na Tabela 1 é possível visualizar um
resumo destes dados.
Foi utilizado o modelo constitutivo linear elástico-perfeitamente plástico para representar o
comportamento dos materiais. De forma a representar a variação do módulo de rigidez e da resistência não
drenada com o nível de tensões, foram criados vários materiais com diferentes valores de E’, Eu e su para
cada tipo de rejeito. Cada material foi atribuído a uma camada específica, representativa de um certo nível
de tensões. No total, a malha foi dividida em sete camadas, na vertical. Na base do reservatório foi
introduzida uma camada de rejeito plástico de 2 m de espessura que foi dividida em seis partes, para
considerar a variação de tensões devido ao talude.

161
Tabela 1. Parâmetros geotécnicos para os rejeitos
Tipo de solo c' ou su (kPa) ' ou u (°) E’ ou Eu (MPa) ν' ou νu Condição
Rejeito arenoso 0 35 E50= 45·ln(σ’v)-190 0,25 Drenado
0 30 0,5·E50, rej.arenoso 0,25 Drenado
Rejeito plástico
0,22·'v 0 25·su 0,49 Não drenado

2.2 Metodologia de alteamento de barragens de rejeito

Segundo Araújo (2006), a metodologia de construção de barragens por alteamento a montante é a


mais antiga, simples e econômica existente. A etapa inicial de execução desse tipo de estrutura consiste na
construção de um dique de partida. Finalizada essa etapa, o rejeito é lançado a partir do dique, formando
assim a praia de deposição, que se tornará a fundação e eventualmente fornecerá material de construção para
o próximo alteamento. Como pode ser visto na Figura 1, o processo é repetido até que a cota final prevista
em projeto seja atingida.

Figura 1. Método de alteamento à montante (IBRAM, 2016)

Apesar de suas vantagens, essa metodologia apresenta controle construtivo mais difícil, podendo afetar
a estabilidade, pois os alteamentos são executados sobre materiais previamente depositados. Em situações
em que o material contido na estrutura se apresenta em estado de compacidade fofo e sob condições saturadas,
o rejeito tende a apresentar baixa resistência ao cisalhamento e susceptibilidade à liquefação por
carregamentos dinâmicos e estáticos (Araújo, 2006). Cabe ressaltar que este método de alteamento foi
proibido em 2019 por resolução da Agência Nacional de Mineração, mas ainda existem muitas barragens
brasileiras que foram construídas desta forma.

2.3 Seção transversal e condições de carregamento

Foi escolhida uma geometria hipotética, com 7 alteamentos de 10 m cada e inclinação do talude de
1V:3H. Foi adotada uma praia de rejeitos com largura constante de 150 m e inclinação de 2%. Entre a praia
e os alteamentos considerou-se a existência de rejeitos arenosos não plásticos. Para distâncias maiores que
150 m do talude, admitiu-se a existência de rejeitos finos plásticos. Os diques de alteamentos são feitos com
o rejeito arenoso compactado.
Na parte inferior da seção utilizada foi incluída uma camada de rejeito plástico com pequena espessura
(2 m), para avaliar as consequências da presença deste material na base do reservatório. Por simplicidade, e
para evitar introduzir novas variáveis no problema, foi assumido que a fundação seria muito rígida e não
participaria de forma importante nas deformações da barragem. Para tanto, foram introduzidos vínculos no
fundo do reservatório. Em casos nos quais a fundação seja muito deformável ou participe dos movimentos
de forma significativa, esta condição de contorno teria que ser revista. A Figura 2 apresenta a malha de
elementos finitos com os vínculos.
Para as seções típicas analisadas nesse trabalho foram utilizados aproximadamente 2600 elementos
triangulares de três nós para compor a malha. A base da malha teve os deslocamentos restringidos nas
direções horizontal e vertical, enquanto a região lateral direita (parte vertical) teve o deslocamento restringido
apenas na horizontal.
Na análise de estabilidade de taludes pelo MEF utilizando a técnica de redução da resistência ao
cisalhamento (SSR), obtém-se um número equivalente ao FS do MEL, definido como a razão entre a
resistência ao cisalhamento disponível pela resistência ao cisalhamento mínima para qual ainda se obtém
convergência (Strength Reduction Factor, SRF).

162
As poropressões estacionárias foram estimadas a partir de linhas piezométricas. Para cada alteamento
utilizou-se uma linha piezométrica diferente. A Figura 2, com medidas em metros (m), apresenta a linha
piezométrica correspondente ao último alteamento.

Figura 2. Malha de análise por elementos finitos - última etapa de alteamento.

A simulação dos alteamentos foi dividida em 9 fases. A Tabela 2 apresenta as fases de simulação
utilizadas no MEF. Para as análises do MEL foi utilizada a configuração da última fase do MEF. Todos os
materiais foram simulados em condição drenada, exceto na fase de redução de parâmetros, na qual são feitas
duas análises, em uma das quais o comportamento do rejeito plástico é drenado e, na outra, não drenado. Estas
considerações simulam o que ocorreria nos casos em que o último alteamento fosse realizado de forma lenta
ou rápida, respectivamente. Os resultados obtidos foram comparados com análises pelo MEL utilizando um
método de fatias (Morgenstern e Price, 1965).

Tabela 2. Resumo das fases de simulação no MEF


Rejeito Modelo
Fase Ativação/ação Rejeito plástico
arenoso Constitutivo
1 DP, RP - Drenado
2 RA, RP Drenado Drenado
3 1° alteamento, RA, RP Drenado Drenado
4 2° alteamento, RA, RP Drenado Drenado linear elástico
5 3° alteamento, RA, RP Drenado Drenado perfeitamente
6 4° alteamento, RA, RP Drenado Drenado plástico
7 5° alteamento, RA, RP Drenado Drenado
8 6° alteamento, RA, RP Drenado Drenado
9 Redução de parâmetros Drenado Drenado e não drenado
DP: dique de partida; RP: rejeito plástico; RA: rejeito arenoso

3 Resultados e Análises

A Figura 3 apresenta o campo de tensões verticais efetivas da última fase de alteamento considerando
comportamento drenado para todos os rejeitos, até aquela fase. Os valores obtidos são próximos dos valores
adotados inicialmente para a estimativa dos módulos de ambos os rejeitos e da resistência não drenada do
rejeito plástico.

163
Figura 3. Tensões verticais efetivas ao final do último alteamento considerando comportamento drenado.

A Figura 4a apresenta a malha deformada após a redução de parâmetros (SSR) em condição


inteiramente drenada, simulando a condição de estabilidade da barragem em caso de carregamentos lentos.
Na Figura 4b simula-se uma condição na qual o último carregamento tenha sido realizado de forma
suficientemente rápida a ponto de provocar uma resposta não drenada do rejeito plástico, mas lento demais
para gerar excesso de poropressão no rejeito arenoso, pelo menos em um primeiro momento, pois
posteriormente o material arenoso poderia ser levado a uma condição não drenada, em caso de liquefação.
A Figura 5 apresenta uma comparação entre o MEF e o MEL. A superfície crítica obtida no MEL
(poligonal preta) foi sobreposta ao campo de deslocamentos da fase de SSR do MEF. Nota-se que há uma
boa concordância entre a superfície crítica do MEL e a região de maiores deslocamentos da análise pelo
MEF, tanto para o caso no qual se assume que os dois tipos de rejeito têm comportamento drenado (Figura
5a), quanto para o caso no qual se admite comportamento não drenado para o rejeito plástico (Figura 5b).
Também se obteve excelente concordância entre o fator de segurança do MEL (FS) e o fator de redução da
resistência do MEF (SRF). No caso drenado, os valores são FS= 2.18 e SRF = 2.16. No caso do rejeito
plástico em comportamento não drenado, foram obtidos FS= 1.06 e SRF= 1.11.

a)

b)
Figura 4. Malha deformada: a) após a SSR em condição drenada e b) após SSR em condição não drenada
(para o rejeito plástico).

164
a)

b)
Figura 5. Superfície crítica do MEL sobreposta ao campo de deslocamentos totais da SSR pelo MEF: a)
para o caso de carregamento drenado e b) para o caso de carregamento não drenado (para o rejeito
plástico).

A Figura 6 apresenta as tensões normais efetivas e cisalhantes que atuam na superfície crítica do MEL
para a situação de carregamento drenado. A linha preta representa a própria geometria da superfície crítica.
Para fins de comparação, um caminho com a mesma geometria da superfície crítica do MEL foi traçado na
malha de elementos finitos. As tensões normais efetivas e cisalhantes atuantes neste caminho apresentam
boa concordância com os valores obtidos pelo MEL.
A Figura 7 é análoga à anterior, mas apresenta os valores de tensões para a condição de carregamento
não drenado no rejeito plástico. Ressalta-se que, no trecho em que a superfície crítica passa pelo rejeito
plástico (71 m < x < 262 m), as tensões normais efetivas apresentadas na Figura 7 correspondem à fase
imediatamente anterior à redução de parâmetros, pois a resistência não drenada do rejeito plástico é
determinada com base nas tensões (verticais) efetivas dessa fase. Nos demais trechos, são apresentadas as
tensões normais efetivas da fase SSR.
Nos dois casos, percebe-se boa concordância entre o MEL e o MEF, tanto para as tensões normais
quanto para as tensões cisalhantes.

165
Figura 6. Tensões normais efetivas e cisalhantes que atuam ao longo da superfície crítica do MEL,
pelo próprio MEL e pelo MEF – carregamento drenado.

Figura 7. Tensões normais efetivas e cisalhantes que atuam ao longo da superfície crítica do MEL,
pelo próprio MEL e pelo MEF – carregamento não drenado no rejeito plástico.

166
4 Conclusões

Foram realizadas análises de uma barragem de rejeitos com geometria hipotética, pelo MEL e pelo
MEF. A comparação indicou que o fator de segurança pelo MEL foi muito similar ao seu análogo pelo MEF
(fator de redução de resistência), tanto no caso drenado quanto no caso não drenado.
A geometria da superfície crítica do MEL apresentou boa concordância com o campo de
deslocamentos da fase de redução de parâmetros do MEF.
As tensões atuantes na superfície crítica do MEL foram bastante similares às tensões obtidas pelo
MEF, para a mesma região.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Araújo, C.B. (2006). Contribuição ao estudo do comportamento de barragens de rejeito de mineração de


ferro. Dissertação de M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2017) NBR 13028 Mineração – Elaboração e


apresentação de projetos de barragens para disposição de rejeitos, contenção de sedimentos e
reservação de água – Requisitos. Rio de Janeiro.

Griffiths, D. V.; Lane, P. A. (1999). Slope stability analysis by finite elements. Geotechnique, v. 49, n. 3,
p. 387-403.

INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO – IBRAM (2016). Gestão e Manejo de Rejeitos da


Mineração. Brasília: IBRAM, 128 p

Morgenstern, N. R., Price, V. (1965). The analysis of the stability of general slip surfaces. Geotechnique,
v. 15, n. 1, p. 79-93.

Morgenstern N. R., Vick S., Viotti C. e Watts D, (2016). Relatório sobre as causas imediatas da ruptura da
Barragem do Fundão, Comitê de Especialistas para Análise da Ruptura da Barragem de Rejeitos de
Fundão.

167
Análise de estabilidade de taludes pelo Método de Redução de
Resistência e Equilíbrio Limite
Celso Francisco de Faria Júnior
Estudante de Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil,
celsofrancisco@discente.ufg.br

Carlos Alberto Lauro Vargas,


Professor associado, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, carloslauro@ufg.br

Larissa Fé Alves
Estudante de Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, larissafe@discente.ufg.br

RESUMO: Em obras geotécnicas é fundamental verificar a estabilidade das estruturas como: escavações,
taludes, fundações, contenções, barragens, túneis, etc. A estabilidade pode estar relacionada com tensões,
resistência ou deformações limites permitidas, entre outros parâmetros de interesse. A falta de estabilidade
pode ser causada por diversos motivos, como sobrecargas, escavações, processos erosivos, etc. Neste
trabalho é verificada a estabilidade de uma barragem com relação à resistência e deformação máximas
permitidas, aplicando o Método da Redução da Resistência (MRR) e o Método do Equilíbrio Limite (MEL)
tendo como resultado o Fator de Segurança e superfície de ruptura provável para cada método. Os resultados
apresentam valores relativamente próximos para o Fator de Segurança entre os métodos, contudo, o MRR é
mais influenciado com a heterogeneidade do solo o que pode representar um diferencial em estudos com
solos com maior heterogeneidade.

PALAVRAS-CHAVE: Método de Redução de Resistência, Análise Tensão Deformação, Método de


Equilíbrio Limite, Superfície de Ruptura, Talude, Barragem.

ABSTRACT: In geotechnical works, it is essential to verify the stability of structures, foundations,


containments, dams, tunnels, etc. The need for processes can be applied for several reasons, such as
overloads, in this work the stability of a bar is verified in relation to the resistance and formation of
maximum formation allowed, applying either the Reduction (MRR) and the excavation of the Reduction
(MRR) and o Reduction excavation Limit Equilibrium Method (MEL) resulting in Factor of Safety and
Probable Failure Surface for each method. The results show relatively close values for the Safety Factor
between the methods, however, the MRR is more influenced by soil heterogeneity, which may represent a
differential in studies with soils with greater heterogeneity.

KEYWORDS: Resistance Reduction Method, Stress-Strain Analysis, Limit Equilibrium Method,


Rupture Surface, Slope, Dam.

1 Introdução

Para verificar a estabilidade de uma obra geotécnica é muito comum o uso Método do Equilíbrio
Limite (MEL), onde é determinado o fator de segurança (FS) a partir da relação entre as forças resistentes
com as forças atuantes por meio do equilíbrio estático de um corpo rígido, limitado por uma superfície de
ruptura provável dividida em lamelas. Geralmente a superfície de ruptura é aquela associada ao menor
coeficiente de segurança, definida por sucessivas tentativas, podendo ser utilizado o método de Bishop
(MASAD, 2010).

∑ 𝐹𝑜𝑟ç𝑎𝑠 𝑎𝑡𝑢𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠
𝐹𝑠 = ∑ 𝐹𝑜𝑟ç𝑎𝑠 𝑟𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠
(1)

1 𝑐×∆𝑙𝑛×cos 𝛼𝑛+(𝑃𝑛 +𝑄𝑛 −𝑢𝑛 ×∆𝑙𝑛×cos 𝛼𝑛)×tan ∅


𝐹𝑠 = ∑(𝑃 ×∑ sin 𝛼𝑛×tan ∅ (2)
𝑛 +𝑄𝑛 )×sin 𝛼𝑛 cos 𝛼𝑛+
𝐹𝑠

Onde 𝑃𝑛 é o peso, 𝑄𝑛 é a sobrecarga, 𝛼𝑛 é o angulo de inclinação da superfície de ruptura, u é a

168
poropressão, ∆𝑙𝑛 é o comprimento da superfície de ruptura, n é o índice de cada lamela, e c e ∅ são a coesão
e o ângulo de atrito do solo, respectivamente.
Em análises tensão deformação, com uso de métodos numéricos, é possível considerar meios
descontínuos, meios heterogêneos, meios anisotrópicos e modelos elásticos não lineares e elastoplasticos.
Como resultado da análise tensão deformação tem-se uma distribuição de deslocamentos e tensões (regiões
elásticas, plásticas e ruptura) e em alguns métodos numéricos também a distribuição de velocidades. O
Método de Redução de Resistência (MRR), utiliza sucessivas análises tensão deformação, onde aplica um
Fator de Redução (ou aumento) aos parâmetros de resistência originais dos materiais, até encontrar o estado
limite de ruptura (ou a formação da superfície de ruptura crítica) rígido, (PAIM; VARGAS, 2020).
𝑐
𝑐 𝑡𝑟𝑖𝑎𝑙 = 𝐹𝑡𝑟𝑖𝑎𝑙 (3)


∅𝑡𝑟𝑖𝑎𝑙 = 𝑎𝑟𝑐𝑡𝑎𝑛𝑔 (tan ) (4)
𝐹 𝑡𝑟𝑖𝑎𝑙

Onde ‘c’ e ‘∅’ são a coesão e o ângulo de atrito do solo, e ‘ctrial’, ‘∅ trial’ e ‘Ftrial’ são a coesão e
ângulo de atrito reduzidos e o Fator de Redução, respectivamente
Segundo Paim e Vargas (2020), como se trata de uma análise tensão deformação, nem sempre é
obtida uma região de ruptura bem definida, como no caso do MEL, e sim uma ruptura progressiva do meio
(geometria irregular). O Fator de Redução dos parâmetros de resistência, do MRR, é equivalente ao Fator
de Segurança do MEL, porém de um meio com ruptura progressiva e não de um corpo rígido. O MRR pode
ser executado por analise numérica em softwares de análise tensão deformação com critério de ruptura
(ITASCA, 2011).
O objetivo do presente trabalho foi aplicar o MEL e MRR para a análise de estabilidade de um talude
em uma barragem em final de construção publicado pelo Department of The Army U.S. Army Corps Of
Engineers (2003), e assim comparar os resultados entre os métodos.

2 Metodologia

O exemplo encontrado na literatura, mais especificamente um talude de uma barragem em final de


construção é mostrado na Figura1:

Figura 1. Talude de uma Barragem em Final de Construção.

Foram adotados valores para o modulo de elasticidade (E) e para o coeficiente de poisson (ν)
definidos na literatura (DAS, 2007), considerando que o aterro se trata de um solo fino compactado e a
fundação se trata de um solo fino natural. Para os parâmetros de resistência como o intercepto de coesão (c)

169
e o angulo de atrito (ф), foram consideradas as condições de final de construção do aterro próximo da
umidade ótima e com a resistência não drenada dos dois materiais. O talude da barragem analisado é
simétrico e formado pelo aterro e pela fundação, que são compostos por solos distintos conforme mostra a
Tabela 1:
Tabela 1. Parâmetros do Solo da Barragem.
ρ E c ф
ν
(kg/m³) (MPa) (KPa) (°)
Aterro 2163,10 30,00 0,35 85,20 5,00
Fundação 2002,04 25,00 0,35 76,61 2,00

Para analise do talude simétrico da barragem, utilizando o método de equilíbrio limite, foi
considerado o modelo de Bishop, com a superfície de ruptura circular, dividida em trinta fatias e uma malha
suficientemente grande de modo que contemplasse o menor fator de segurança, podendo ser verificado que
realmente é o menor fator de segurança pelas isolinhas, conforme mostrado na Figura 2:

Figura 2. Análise de Estabilidade, com FS e Superfície de Deslizamento da Barragem com Talude


Simétrico Obtido Através do MEL.

Para a analise utilizando o MRR, foi definida a malha conforme mostrada na Figura 3:

Figura 3. Malha do Talude Simétrico para o MRR.

Como resultado do MRR, foi determinado o fator de redução (equivalente ao fator de segurança) e
as curvas de máxima, podendo ainda ser observada a região de ruptura provável, conforme mostra a Figura
4:

170
Figura 4. Análise de Estabilidade, com FS e Região de Deformação Cisalhante Máxima da Barragem com
Talude Simétrico Obtido Através do MRR.

Analisando graficamente os resultados apresentados na Figura 2 e Figura 4, percebe-se que o MEL


se limita somente ao estudo do talude a montante, e que o MRR analisa a barragem como um todo. Sendo
assim, para efeito de melhor comparação representativa entre os métodos, foi realizada a analise da
barragem com os mesmos parâmetros físicos do solo, porem, com a geométrica do talude a montante
horizontal, conforme geometria apresentadas na Figura 5 e Figura 6.

Figura 5. Análise de Estabilidade, com FS e Superfície de Deslizamento da Barragem com Talude a


Montante Obtido Através do MEL.

171
Figura 6. Análise de Estabilidade, com FS e Região de Deformação Cisalhante Máxima da
Barragem com Talude a Montante Obtido Através do MRR.

3 Resultados e Discussões

Os resultados referentes ao fator de segurança do talude da barragem são apresentados na tabela 2:

Tabela 2. Resultados do Fator de Segurança na Análise de Estabilidade de Talude.


MEL MRR
Barragem com talude simétrico 1,091 1,08
Barragem com talude a montante 1,057 1,03

Verifica-se que para uma mesma análise, utilizando tanto o MEL quanto o MRR, que o valor do fator
de segurança são relativamente próximo, entretanto, o MRR apresenta resultados menores, sendo, portanto,
mais conservador no ponto de vista de segurança, visto que valores menores do fator de segurança indicam
que pode haver menor estabilidade. O MEL indica somente uma superfície de ruptura, tanto na análise da
barragem considerando um talude simétrico quanto com talude somente a montante, por conta da limitação
do próprio método, já o MRR analisa a barragem como um todo e melhor representa o comportamento do
solo no que diz respeito as tensões e a provável superfície de ruptura, não necessariamente vai representar
uma superfície perfeitamente circular e continua, podendo apresentar pequenas superfícies de plastificação
não circulares com deslocamentos plásticos, antes da ruptura global.

4 Conclusão

Em relação ao fator de segurança, os métodos apresentam resultados semelhantes com pequena


diferenciação, sendo o resultado obtido através do MRR o mais conservador. Se tratando da superfície de
ruptura, o MRR apresenta melhores resultados, principalmente quando a barragem possui taludes a montante
e a jusante, quando há somente talude a montante, ambos os métodos apresentam resultados semelhantes.

172
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Das, Braja. M. (2007) Fundamentos de Engenharia Geotécnica, 6ª ed. Thomson, São Paulo, 562 p.
Department of The Army U.S. Army Corps Of Engineers. (2003) Manual No. 1110-2-1902. Washington,
DC
Itasca. (2011) Fast Lagrangian Analysis of Continua FLAC: User’s Guide, On line Manual FLAC version
7. Itasca Consulting Group Inc.
Masad, Faiçal. (2010) Obras de Terra – curso básico de geotecnia. 2ª ed. Editora Oficina de Textos, São
Paulo, Brasil, 216 p.
Paim, H. G. R., Vargas, C A. (2020) Influência do método de redução de resistência na análise de
estabilidade de taludes e definição da superfície de ruptura crítica. In: XX Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, COBRAMSEG, Campinas, São Paulo, Brasil.

173
Simulação em Elementos Finitos de Ensaios Triaxiais e Análise
de Estabilidade de um Talude de Areia Aluvionar
Michelle Dias Santos
Estudante de mestrado, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, michelle.dias17@hotmail.com

Alex Alves Bandeira


Docente, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, alexbandeira@ufba.br

Paulo Gustavo Cavalcante Lins


Docente, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, plins@ufba.br

RESUMO: Os rápidos avanços nos métodos numéricos e a atual disponibilidade dos recursos computacionais
fizeram com que a simulação computacional se tornasse uma ferramenta favorável para estudos na área da
geotecnia. Este trabalho utiliza o método dos elementos finitos com o modelo constitutivo elastoplástico para
simulação de ensaios triaxiais e análise de estabilidade de um talude de areia aluvionar. Inicialmente foram
obtidos dados da literatura de ensaios triaxiais consolidados drenados de uma areia aluvionar. O modelo
constitutivo elastoplástico foi calibrado para reproduzir esses ensaios de laboratório. O uso do modelo
elastoplástico com módulo de elasticidade inicial variando com a tensão confinante se mostrou mais adequado.
Com os parâmetros calibrados para o ensaio de laboratório foram realizadas análises para um talude composto
pela areia aluvionar. Para análise de estabilidade foi utilizado o método de equilíbrio limite aperfeiçoado, onde
o campo de tensões das análises de elementos finitos é utilizado para determinar um fator de segurança ao
longo da superfície potencial de ruptura. Os resultados mostraram que o modelo elastoplástico representa
adequadamente a curva tensão-deformação do solo estudado. Os resultados dos fatores de segurança obtidos
pelo método de equilíbrio limite aperfeiçoado foram coerentes com o resultado do método das fatias
tradicional. As comparações também foram feitas em termos da resistência ao cisalhamento e tensões
cisalhantes mobilizadas ao longo da superfície potencial de ruptura.
PALAVRAS-CHAVE: Modelo Elastoplástico, Areia Aluvionar, Elementos Finitos.

ABSTRACT: The rapid advances in numerical methods and the current availability of computer resources
have made computer simulation a favorable tool for studies in the field of geotechnics. This work uses the
finite element method with the elastoplastic constitutive model to simulate triaxial tests and stability analysis
of an alluvial sand slope. Initially, data were obtained from the literature of consolidated triaxial tests drained
from an alluvial sand. The elastoplastic constitutive model was calibrated to reproduce these laboratory tests.
The use of the elastoplastic model with initial modulus of elasticity varying with the confining stress proved
to be more suitable. With the parameters calibrated for the laboratory test, analyzes were performed for a slope
composed of alluvial sand. For stability analysis the enhanced limit equilibrium method was used, where the
stress field of finite element analysis is used to determine a factor of safety along the potential rupture surface.
For stability analysis the enhanced limit equilibrium method was used, where the stress field of finite element
analysis is used to determine a factor of safety along the potential rupture surface. The results showed that the
elastoplastic model adequately represents the stress-strain curve of the studied soil. The results of safety factors
obtained by the enhanced limit equilibrium method were consistent with the result of the traditional slice
method. Comparisons were also made in terms of the shear strength and shear stresses mobilized along the
potential failure surface.

KEYWORDS: Elastoplastic Model, Alluvial Sand, Finite Elements.

1 Introdução

Responsável por dar suporte para as construções, o solo é um dos elementos mais importantes de uma obra
de engenharia. Com o objetivo de estudar o comportamento dos solos quando sujeito a diferentes carregamentos,
são realizados ensaios experimentais e utilizadas equações constitutivas, que permitem modelar o comportamento
tensão-deformação do solo e através do uso das técnicas de integração e de sua interação com as estruturas das
diversas obras geotécnicas.
Com a finalidade de solucionar essas equações constitutivas, de forma geral, são utilizados os fundamentos
da mecânica dos meios contínuos, através dos diferentes modelos constitutivos por meio dos métodos numéricos.
A utilização de métodos numéricos, como o método dos elementos finitos, para análise de problemas geotécnicos

174
tem sido uma alternativa aos métodos clássicos de análise (são limitados a casos especiais e simplificados),
sobretudo para condições de deformação plana e axissimétricas, onde os dados obtidos numericamente são
validados através de resultados experimentais.
Duncan et al. (1980) ressaltam que uma das principais dificuldades para previsão do comportamento
tensão-deformação é a representação das propriedades dos solos de forma adequada nas análises. De acordo com
os autores, as propriedades que descrevem o comportamento tensão-deformação dos solos são complexas, uma
vez que a maioria dos solos possui um comportamento não linear, inelástico, além disso, altamente dependente
do estado de tensões a que está submetido. Dessa forma, objetivando descrever de forma mais realista o
comportamento dos solos quando submetidos a variações no seu estado de tensões, são utilizados os denominados
Modelos Constitutivos, Equações Constitutivas ou Lei Constitutivas. Existem diversos modelos constitutivos na
literatura, variando desde os elásticos até os elastoplásticos.
O modelo constitutivo elastoplástico se caracteriza por apresentar uma relação elástica e perfeitamente
plástica, sendo as tensões diretamente proporcionais às deformações até o escoamento. Após este ponto, a curva
tensão-deformação é perfeitamente horizontal. A plasticidade do solo é formulada utilizando a teoria da
plasticidade incremental, consequentemente, quando o solo inicia o escoamento, a deformação incremental
divide-se em componente elástico e um plástico como descrito na Equação (1), em que apenas incrementos de
deformações elásticas provocarão aumento de tensão.
𝜀 = 𝜀𝑒 + 𝜀𝑝 (1)

Sendo 𝜀 𝑒 a deformação elástica e 𝜀 𝑝 a deformação plástica.


Este modelo utiliza o critério de Mohr-Coulomb como função de escoamento, a qual se encontra descrita
matematicamente na Equação (2), em termos das tensões principais (GeoSlope, 2013).

1 𝜋
𝐹 = √ [(𝜎1 − 𝜎2 )2 + (𝜎2 − 𝜎3 )2 + (𝜎3 − 𝜎1 )2 ] + 𝜏23 𝑠𝑖𝑛 (𝜃 )
6 3
1
√ [(𝜎1 −𝜎2 )2 +(𝜎2 −𝜎3 )2 +(𝜎3 −𝜎1 )2 ]+𝜏23 𝜋 𝜎1 +𝜎2 +𝜎3
6
− 𝑐𝑜𝑠 (𝜃 + 3 ) 𝑠𝑖𝑛(𝜙) − 𝑠𝑖𝑛𝜙 − 𝑐𝑐𝑜𝑠𝜙 (2)
3 3

Onde θ é definido como o ângulo de Lode dado pela Equação (3).

1 √3 𝐽3
𝜃 = 3 𝑐𝑜𝑠 −1 (3 2 𝐽3⁄2
) (3)
2

Possui Lei de fluxo associada, dessa forma, a superfície de plastificação é obtida substituindo o 𝜙 por 𝜓
(ângulo de dilatância do solo) na Equação (2). O ângulo de dilatância do modelo varia entre 0 ⩽ 𝜓 ⩽ 𝜙, quando
nenhum valor é especificado, adota-se 𝜓 = 0.
Os parâmetros de entrada do modelo são: 𝐸: Módulo de elasticidade inicial, 𝜈: Coeficiente de Poisson, 𝑐:
Coesão do solo, 𝜙: ângulo de atrito e 𝜓: Ângulo de dilatância do solo.
Os métodos das fatias continuam sendo a forma mais usual de realização de análises quantitativas de
estabilidade de taludes em solos. Nestes métodos a massa potencial de ruptura é dividida em fatias. Para o
conjunto das fatias se quantifica um fator de segurança que estabelece uma relação entre a resistência e a
solicitação ao longo da superfície potencial de ruptura. As fatias são consideradas como corpos rígidos, para os
quais se verifica as condições de equilíbrio de forças e de momentos. Hipóteses simplificadoras diversas são
adotadas para solução destas equações de equilíbrio. Usualmente o fator de segurança é assumido constante ao
longo da superfície de ruptura. A deformabilidade não é tomada em conta explicitamente, sendo considerados
apenas parâmetros de resistência para o solo. No popular método de Bishop simplificado a condição de equilíbrio
de momentos é garantida e são desprezados os esforços cisalhantes entre fatias. O fato é que a comunidade
geotécnica possui larga experiência na utilização dos métodos das fatias, bem como na seleção de parâmetros de
projeto para estes métodos.
O método dos elementos finitos permite considerar uma melhor representação do comportamento
constitutivo do solo. Por exemplo, em um modelo elastoplástico tanto a deformabilidade quanto a resistência do
solo são representadas. O campo de tensões resultante de uma análise de elementos finitos é representativo das
condições de equilíbrio em um meio contínuo. Nos chamados métodos de equilíbrio limite aperfeiçoado campo
de tensões oriundo de uma análise de elementos finitos é utilizado para a quantificação de um fator de segurança
ao longo de uma superfície potencial de ruptura. O método de equilíbrio limite aperfeiçoado é discutido em
Naylor (1982), Lins (1996), Farias e Naylor (1998), Fredlund e Scoular (1999), Pham et al. (2001), Pham e
Fredlund (2003), Brito et al. (2004), Tan e Sarma (2008), Stianson et al. (2011) e Liu et al. (2015).
Como as tensões em elementos finitos são conhecidas usualmente nos pontos de integração de Gauss, dois
175
procedimentos são necessários para conhecer as tensões em um ponto na superfície potencial de ruptura. O
primeiro procedimento envolve determinar o elemento onde o ponto está situado, por exemplo, utilizando um
algoritmo de ponto no polígono. Um segundo procedimento envolve a interpolação das tensões no interior do
elemento. Estes procedimentos são discutidos em detalhe em Lins (1996) e Farias e Naylor (1998).

2 Objetivos

O objetivo geral deste trabalho é verificar a aplicabilidade da modelagem de solos, em laboratório e em


campo, por elementos finitos elastoplásticos. Os objetivos específicos são: (a) obter os parâmetros do modelo
constitutivo elastoplástico por meio de ajuste a dados obtidos experimentalmente em ensaios triaxiais de uma
areia aluvionar mal graduada; (b) simular os mesmos ensaios triaxiais no SIGMA/W e obter os parâmetros de
resistência simulado; (c) com os parâmetros calibrados do modelo constitutivo realizar a análise de estabilidade
de um talude de areia aluvionar.

3 Metodologia

Esta pesquisa utilizou os dados experimentais de Pinto (2021), que realizou ensaios triaxiais consolidados
drenados em uma areia aluvionar extraída na cidade de Maragojipe/BA. A areia apresenta granulometria média,
sendo classificada pelo Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS) como uma areia mal graduada
(SP). Os ensaios experimentais foram realizados no Laboratório de Geotecnia Ambiental da UFBA (Geoamb),
para tensões confinantes de 50, 100, 200 e 300 kPa a uma densidade relativa de 60%.
Os parâmetros de resistência (c’) e (ɸ’) experimentais foram obtidos através dos círculos de Mohr, onde o
ângulo de atrito (ɸ’) corresponde à inclinação da reta tangente aos círculos referentes a ruptura e a coesão (c’) é
a interseção da reta tangente com o eixo das tensões cisalhantes, obtendo os valores que seguem na Figura 1. Os
demais parâmetros do modelo 𝐸,𝜈 e 𝜓, foram obtidos através dos ajustes aos dados experimentais.

Figura 1. Determinação dos parâmetros de resistência


dos dados obtidos experimentalmente.

3.1 Simulação dos Ensaios triaxiais no SIGMA/W

A simulação numérica dos ensaios triaxiais foi realizada utilizando a versão 2018 do programa
computacional de análises geotécnicas GeoStudio, com a geometria axissimétrica, utilizando o modelo
constitutivo elastoplástico, onde os parâmetros do modelo foram obtidos anteriormente. Na Figura 2, encontra-
se a configuração utilizada acompanhado das condições de contorno para o ensaio drenado. A primeira etapa para
a realização das simulações no SIGMA/W é a consolidação, definida como condição inicial para as demais
simulações envolvendo cisalhamento.
Na fase de consolidação é aplicada uma tensão normal no topo e no lado direito da amostra igual ao valor
da tensão confinante. Em seguida, é realizada a fase de cisalhamento, como um teste de deformação controlada,
a qual a taxa é definida através do número de etapas de tempo da análise e o deslocamento que ocorre ao longo
de cada etapa. Vale ressaltar que, o tempo absoluto não tem significado no contexto destas análises, mas sim o
número de incrementos de tempo, o qual determinará a deformação axial final da amostra.
Em relação a malha de elementos finitos, o software subdivide a geometria em elementos
automaticamente, porém o usuário pode optar em definir um tamanho e utilizar uma malha mais grosseira ou
mais refinada. Nesta pesquisa, a utilização de uma malha com o tamanho de 0,002 m, a qual gerou um total de
2500 elementos e 2626 nós, resultou em dados satisfatórios. 176
Figura 2. Etapas do Ensaio triaxial no SIGMA/W.

3.2 Análise da estabilidade do talude


As análises de estabilidade de talude foram realizadas com a versão 2007 do GeoStudio. Para esta etapa
um talude homogêneo de 10 metros de altura e inclinação da face de 25º foi considerado. As análises de equilíbrio
limite com o método de Bishop foram realizadas com o SLOPE/W.
Para as análises por equilíbrio limite aperfeiçoado foram realizadas simulações com o SIGMA/W cujos
resultados foram interpretados ao longo de superfícies potenciais de ruptura no SLOPE/W.
Para fins de comparação, foi realizada uma análise elástica linear e uma análise elastoplástica. A malha
das análises foi composta de 2008 elementos e 6321 pontos nodais. Os elementos finitos foram quadriláteros e
triangulares, com pontos nodais intermediários nas arestas. Nas laterais do modelo os deslocamentos horizontais
foram impedidos e na base do modelo os deslocamentos horizontais e verticais foram impedidos. Apenas a carga
de peso próprio foi considerada. Os parâmetros utilizados foram os mesmos das simulações dos ensaios triaxiais.

4 Resultados e discussões

As análises foram realizadas utilizando os parâmetros da Tabela 1. Observando a Figura 3, nota-se que o
modelo elastoplástico implementado no SIGMA/W conseguiu representar adequadamente, de uma forma geral,
o comportamento tensão-deformação dentro das suas limitações. Deve ser lembrado que se trata de um modelo
elastoplástico perfeito, o qual descreve uma relação elástica e perfeitamente plástica. Ou seja, as tensões são
diretamente proporcionais às deformações até o ponto de plastificação, após esse ponto, a curva tensão -
deformação do modelo é perfeitamente horizontal. Dessa forma, como já esperado, com o aumento da
deformação axial as discrepâncias aumentaram e o modelo não conseguiu representar o amolecimento pós pico
típico de areias compactas.
Tabela 1. Parâmetros do modelo elastoplástico.
Parâmetros do Tensão confinante (kPa)
modelo 50 100 200 300
E (kPa) 18.661 19.505 26.651 55.064
 0,15
c’(kPa) 0
 (°) 36, 5
ψ (°) 18
 (kN/m3°) 15

Uma referência teórica para o fator de segurança de um talude com resistência somente por atrito é dada
pela razão entre o ângulo de atrito e a inclinação da face do talude (Gaioto, 1977). Para o talude em estudo, FS =
tan(36,5º)/tan(25º) = 1,587. Para a análise pelo método de Bishop o fator de segurança crítico obtido foi de 1,606
(Figura 4). Para o método de equilíbrio limite aperfeiçoado, com modelo elástico linear, o fator de segurança
crítico obtido foi de 1,609 (Figura 5). Para o método de equilíbrio limite aperfeiçoado, com modelo elastoplástico,
o fator de segurança crítico obtido foi de 1,659 (Figura 6). Com relação ao valor de referência, as diferenças entre
177
os resultados dos três métodos são inferiores a 5%.

Figura 3. Comparação entre a curva experimental e a


simulada no GeoStudio para o ensaio triaxial drenado.
Comparando as Figuras 4, 5 e 6, pode ser observado que existe uma pequena variação na posição do círculo
crítico das análises, entretanto o mecanismo de ruptura é semelhante. O método de equilíbrio limite aperfeiçoado
apresentou resultados semelhante ao método do equilíbrio limite tradicional, o que corrobora com a possibilidade
que essa abordagem mais atual pode ter uma relevância quanto às análises de estabilidade de taludes, atuando
como uma alternativa aos métodos tradicionais. Pode-se observar também, que a forma da superfície de ruptura
crítica é superficial, como é esperado para um material que possui coesão nula.
Deve ser destacado que a busca da superfície de ruptura crítica em um material com resistência de atrito e
coesão nula apresenta algumas dificuldades. A tendência para uma superfície de ruptura superficial e as grandes
variações nos resultados com a variação da posição do centro devem ser observadas.
Com relação à avaliação da condição de estabilidade, todas as análises indicam a mesma conclusão, que o
talude é estável, se for observado o que é preconizado na NBR 11682 da ABNT (2009).
Com objetivo de verificar a interferência do modelo constitutivo na análise de estabilidade do talude, foi
realizado uma análise complementar utilizando um modelo constitutivo mais simples, o elástico linear, onde o
resultado encontra-se na Figura 5. Nota-se que, a análise resultou em fator de segurança semelhante.
Importante destacar que, a análise de estabilidade de taludes pelo método de elementos finitos com
resultados satisfatórios está interligada com a utilização de uma malha de elementos finitos com algum grau de
refinamento. A definição de parâmetros do modelo constitutivo que representem adequadamente o
comportamento tensão-deformação do solo estudado é importante. Disto deve ser dado destaque para a calibração
dos parâmetros do modelo previamente utilizando ensaios geotécnicos ou simulações mais simples.
Para comparações complementares, o círculo crítico da busca com o método de Bishop simplificado foi
tomado como referência. Para este círculo, o resultado da resistência ao cisalhamento e da tensão cisalhante
mobilizada ao longo da superfície potencial de ruptura do método de Bishop está representado na Figura 7(a). A
razão entre estes dois valores define um fator de estabilidade (ou fator de segurança local), apresentado em função
da posição ao longo da superfície potencial de ruptura na Figura 7(b). Para o caso do método de Bishop o fator
de estabilidade é constante, como esperado.
Para o círculo crítico da busca com o método de Bishop, o resultado da resistência ao cisalhamento e da
tensão cisalhante mobilizada ao longo da superfície potencial de ruptura do método de equilíbrio limite
aperfeiçoado, com modelo elástico linear, está representado na Figura 8(a). O fator de estabilidade ao longo da
superfície potencial de ruptura é apresentado na Figura 8(b). O fator de estabilidade é inferior a unidade em parte
da superfície potencial de ruptura. No modelo elástico linear o critério de ruptura pode ser violado.
Para o círculo crítico da busca com o método de Bishop, o resultado da resistência ao cisalhamento e da
tensão cisalhante mobilizada ao longo da superfície potencial de ruptura do método de equilíbrio limite
aperfeiçoado, com modelo elastoplástico, está representado na Figura 9(a). O fator de estabilidade ao longo da
superfície potencial de ruptura é apresentado na Figura 9(b). O fator de estabilidade não é inferior a unidade ao
longo da superfície potencial de ruptura. No modelo elastoplástico o critério de ruptura não é violado.
No SLOPE/W, versão 2007, o fator de estabilidade assume um valor nominal de cinco para tensões
cisalhantes mobilizadas negativas ou valores superiores a cinco.
178
1.606

30
Elevação (m)

20

10

0
-40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Distância (m)
Figura 4. Busca do fator de segurança mínimo pelo
método de Bishop, FS = 1,606.

1.609

30
Elevação (m)

20

10

0
-40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Distância (m)

Figura 5. Fator de segurança crítico obtido através do


método de equilíbrio limite aperfeiçoado, com modelo
elástico linear, para o, FS = 1,609.

1.659

30
Elevação (m)

20

10

0
-40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Distância (m)

Figura 6. Fator de segurança crítico obtido através do


método de equilíbrio limite aperfeiçoado, com modelo
elastoplástico, para o, FS = 1,659.

179
(a) Tensão cisalhante resistente e mobilizada (b) Fator de segurança local
Figura 7. Resultados da análise do método de Bishop ao
longo da superfície crítica de Bishop.

(a) Tensão cisalhante resistente e mobilizada (b) Fator de segurança local


Figura 8. Resultados da análise do método de equilíbrio
limite aperfeiçoado, com modelo elástico linear ao
longo da superfície crítica de Bishop (círculo de
referência).

(a) Tensão cisalhante resistente e mobilizada (b) Fator de segurança local


Figura 9. Resultados da análise do método de equilíbrio
limite aperfeiçoado, com modelo elastoplástico, ao
longo da superfície crítica de Bishop (círculo de
referência).

5 Conclusões

Portanto, o modelo elastoplástico, não consegue modelar o comportamento elástico não linear com
encruamento negativo do solo, representando de forma adequada somente o trecho inicial da curva tensão-
deformação. Modelos mais elaborados são necessários para representar este comportamento.
O método de equilíbrio limite aperfeiçoado apresentou resultado coerente com o método de equilíbrio limite
convencional, tanto para o modelo elástico linear quanto para o modelo elastoplástico. O fator de segurança
local é constante ao longo da superfície potencial de ruptura para o método de Bishop simplificado. No método

180
de equilíbrio limite aperfeiçoado o fator de segurança local varia ao longo da superfície potencial de ruptura.
No modelo elástico linear o fator de segurança local pode ser inferior a unidade, ou seja, o critério de ruptura
pode ser violado. No modelo elastoplástico o fator de segurança local pode no limite se igualar a um valor
unitário, mas o algoritmo elastoplástico garante que o critério de ruptura seja respeitado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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181
Avaliação de parâmetros geotécnicos de materiais aflorantes da
Formação Cercadinho por meio de retroanálise de talude de
ombreira de barragem
Victor Oliveira Dias da Rocha
Engenheiro Geotécnico e Aluno de Mestrado, Vale S.A. e UFBA, Itabirito, Brasil,
victorodias@gmail.com

Lucio Schiavon Yamamoto


Engenheiro Geotécnico e Aluno de Doutorado, Vale S.A. e EPUSP, Itabirito, Brasil,
lucio.yamamoto@estudante.ufscar.br

Beatriz Mapa Clemente


Engenheira Geotécnica e Aluna de Mestrado, Vale S.A. e UnB, Belo Horizonte, Brasil,
beatrizmapa@hotmail.com

Alexandre Cristino Correa dos Santos


Engenheiro Doutor em Geotecnia, Vale S.A., Itabirito, Brasil,
alexandre.santos@outlook.com

RESUMO: O beneficiamento do minério de ferro tem como consequência a geração de rejeitos e a


necessidade de construção de barragens de terra com o propósito de armazenar tal material. O projeto de
barramentos de rejeito deve se atentar não apenas ao aterro e sua fundação, mas também aos taludes das
ombreiras do barramento, evitando patologias que possam comprometer a segurança do projeto como um
todo. O trabalho tem como objetivo estudar os parâmetros geotécnicos dos materiais da Formação
Cercadinho, formação essa que compõe a ombreira direita da barragem aqui estudada, por meio de uma
retroanálise comparando com os resultados provenientes de ensaios de campo e da literatura, gerando dados
calibrados para estudos e projetos futuros que utilizem esse mesmo material. Foram realizadas análises em
três seções da ombreira direita da barragem que é objeto de estudo, parametrizando os valores mecânicos
dos materiais a fim de encontrar o fator de segurança próximo a 1,00. Os resultados apontam que os valores
verificados na retroanálise são condizentes com os buscados na literatura, mas contribuem em grande parte
para a construção de arsenal técnico de parâmetros de resistência dos materiais.

PALAVRAS-CHAVE: Retroanálise, Barragens, Ombreiras, Parâmetros Geotécnicos, Formação


Cercadinho.

ABSTRACT: Iron ore processing results in the generation of tailings and the need to build earth dams with
the purpose of storing such material. The design of tailings dams must pay attention not only to the landfill
and its foundation, but also to the slopes of the dam abutments, avoiding pathologies that could compromise
the safety of the facility. The objective of this work is to study the geotechnical parameters of the phyllite of
the Cercadinho Formation, that is located in the right abutment of the dam studied, through a sensitivity
analysis comparing with the results from field and laboratory tests and literature, generating calibrated data
for studies and future projects that use this same material. Analyzes were carried out in three sections of the
right abutment of the dam that is the object of study, parameterizing the mechanical values of the materials to
find the safety factor close to 1.00. The results indicate that the values verified in the sensitivity analysis are
consistent with those sought in the literature, but they largely contribute to the construction of a technical
arsenal of parameters of resistance of the materials.

KEYWORDS: Sensitivity Analysis, Dams, Abutments, Geotechnical Parameters, Cercadinho Formation.

1 Introdução

As barragens de rejeito de mineração sempre receberam grande atenção por parte da população civil e
acadêmica. No entanto, com os trágicos acontecimentos de Mariana e Brumadinho, focou-se ainda mais nos
processos relacionados com a gestão de tais ativos (LEDESMA; SFRISO; MANZANAL, 2022).
Ainda que outros métodos de disposição de rejeitos estejam sendo estudados e desenvolvidos, como a

182
compactação do material residual do processo de beneficiamento dos minérios em pilhas controladas
tecnicamente, o uso de barragens ainda é inerente à cadeia produtiva de mineradoras. Desse modo, as
construções de novos barramentos necessitam percorrer os mais rígidos métodos de controle de qualidade de
projeto e construção.
Deve-se, portanto, aproveitar todas as possibilidades para acrescentar no amplo entendimento
mecânico dos materiais presentes nos locais de grande incidência de estruturas geotécnicas como é a
Formação Cercadinho, visto que ensaios de laboratório e de campo possuem incertezas atreladas que
possivelmente mascaram ou penalizam os parâmetros reais dos materiais. Após as intensas chuvas no estado
de Minas Gerais no início do ano de 2022, mais especificamente em janeiro, ocorreram pontuais rupturas na
ombreira direita à jusante de uma barragem situada no mesmo estado supracitado, cuja localidade e nome
serão suprimidos por questões legais. A estrutura geotécnica está em sua primeira etapa de construção, sendo
que já alcança 56 metros de altura e 529 metros de comprimento de crista. Dessa maneira, foi possível
conduzir retroanálises a partir dos dados geométricos da ruptura e com norteamento inicial dos parâmetros
geotécnicos dos materiais.
O objetivo do estudo apresentado é verificar se os dados elencados no modelo geotécnico se
aproximam dos valores encontrados em ensaios de laboratório e de campo. Com esses valores em mãos,
pode-se discutir e avançar na composição dos dados correspondentes aos materiais aflorantes presentes na
Formação Cercadinho, possibilitando maior segurança no projeto de novas estruturas, além de reavaliações
de análises de estruturas já implementadas. Assim, os empreendedores e projetistas poderão ter mais
segurança nas análises de engenharia conduzidas para a formação geológica destacada.
Na sequência, discorre-se brevemente sobre os três principais temas presentes no artigo, a fim de
embasar os estudos conduzidos e resultados alcançados.
1.1 Segurança de ombreiras de barragens
Ainda que o controle tecnológico do aterro do barramento seja o foco dos projetos de barragens, é de
extrema importância que a fundação da barragem e suas ombreiras sejam amplamente estudadas ao longo do
projeto (MARQUES, 2015), a fim garantir a segurança geotécnica de todo o sistema de contenção (CAO;
GU; ZHAO, 2017), sendo esse de rejeito ou água.
As ombreiras podem apresentar patologias de diversas origens e causas, porém duas são tratadas com
mais recorrência na literatura, sendo a primeira relacionada com surgências e erosões regressivas,
apresentadas por autores como Ghobadi, Khanlari e Djalaly (2005); Kalkani (1997); Martínez-Moreno et al.,
(2018); Malkawi e Al-Sheriadeh (2000), mas não se limitando apenas a esses. Apesar desse modo de falha
ser de grande importância e recorrência nos estudos de engenharia, não será objeto de estudo do caso aqui
apresentado.
A segunda causa/origem está relacionada com processos de instabilização das ombreiras seja por conta
de geometrias e soluções de estabilização inadequadas, materiais de baixa resistência e/ou aplicação de
cargas sísmicas. Autores como Cao, Gu e Zhao (2017); Broojerdi, Behnia e Aghchai (2018); Yu et al. (2014)
destacam a importância das análises de estabilidade dos elementos de ombreira visando garantir a operação
adequada da estrutura ao longo de sua vida útil. Esse segundo modo de falha destacado que será objeto da
retroanálise conduzida.

1.2 Retroanálises geotécnicas

A retroanálise é um recurso utilizado para avaliar os parâmetros dos materiais que compõe a
construção de um talude ou a escavação de uma área, além das condições de carregamento e características
geométricas que colaboraram com a ruptura (MAIA; SAYÃO; SALLES, 2010). Isso é possível, visto que o
aterro rompido indica um fator de segurança próximo a 1,00, condicionando as análises para encontrar uma
superfície de ruptura que se aproxime do F.S. explicitado (WICHAN et al., 2017).
Com o avanço dos sistemas computacionais, foi possível transitar de análises numéricas simplificadas
que não refletiam as reais superfícies de ruptura para análises computadorizadas, as quais permitem maior
qualidade do parâmetro que deseja ser estudado (CHEN et al., 2016).

2 Caracterização do estudo de caso

Os materiais geológicos aflorantes na ombreira direta da barragem fazem parte da Formação


Cercadinho, Grupo Piracicaba, que estabelece um contato basal gradacional com o saprólito de filito
brechado presente da região do talvegue e contato discordante erosivo/tectônico com os sedimentos
cenozoicos que recobrem esta unidade e que pode estar sobreposta a um horizonte de solo coluvionar
(alóctone). A Formação Cercadinho na área da estrutura é marcada pela interdigitação de camadas de filito e
de quartzito. Diante da representatividade espacial dos principais pacotes de filito e quartzito, ambos foram
183
individualizados em filito Cercadinho – maciço rochoso e saprólito de filito e quartzito Cercadinho – maciço
rochoso e saprólito.
O filito Cercadinho apresenta coloração cinza prateada, siltoso, eventualmente intercalado com lentes
submétricas a métricas de quartzito. Mostra-se foliado, com mergulho para “dentro” da ombreira em atitudes
médias preferencialmente para SE em ângulos de 30°. Já o quartzito Cercadinho exibe coloração em tons de
branco, amarelo e cinza (ferruginoso). É essencialmente composto por areia média a fina, com intercalação
de níveis mais siltosos.
O saprólito de filito caracteriza-se por textura siltosa, cor prata e por intercalações de lentes
concordantes de quartzito, submétricas a decamétricas. Apresenta resistência R1-R2 e grau de alteração W5.
Esse litotipo distribui-se ao longo da ombreira direita estendendo-se a jusante e a montante do maciço do
barramento e prolongando-se ao longo da região do reservatório. Já o saprólito de quartzito ocorre como
contínuos corpos arenosos tabulares restritos a ombreira direita. Apresenta grau intempérico e resistência
predominantemente W5/R1, granulometria média a fina, intercalando eventuais níveis siltosos. Por vezes,
possui textura sacaroidal e presença de óxi-hidróxidos de ferro, que lhe confere coloração acinzentada. A
principal lente do saprólito de quartzito ocorre encaixada ao filito cercadinho e se estende por toda ombreira
direita e conecta as porções montante e jusante do maciço da 1° etapa da Barragem.
O depósito cenozóico na ombreira direita é constituído pela fácies argilo-silto-arenosa e pela fácies
paraconglomerado/brecha. A fácies argilo-silto-arenosa exibe textura argilo-silto-arenosa (areia subordinada)
e por pintalgados de tons vermelho, laranja e amarelo. Possui parâmetros de resistência semelhante à de um
maciço rochoso alterado, com parâmetros de resistência R2 e R1. Já a fácies brechada, que ocorre ao longo
da ombreira direita segundo o trend local NNE-SSW, apresenta blocos e matacões rochosos de quartzitos e
filitos da formação Cercadinho, em diversos graus de alteração imersos em matriz arenosa e pelítica,
classificada geomecanicamente como W5/R1-R2. O horizonte coluvionar depositado na ombreira direita
ocorre capeando o depósito cenozóico nas porções superiores da ombreira. Sua composição é variável,
podendo ser argiloso, silto-argiloso e/ou areno-siltoso. Apresenta coloração vermelho e marrom com a
presença de seixos de concreções ferruginosas e consistência variando de muito mole a rija, a depender do
material predominante.
Será apresentada na sessão da metodologia a representação geológica-geotécnica da ombreira direita
assim como as seções de análise de estabilidade determinística.

3 Metodologia

O processo de desenvolvimento do estudo foi divido em três etapas principais, as quais estão descritas
a seguir:

3.1 Etapa 1 – Análise de campo da ruptura

Após as chuvas que ocorreram no mês de janeiro de 2022, foram verificados alguns pontos de ruptura
nos taludes escavados da ombreira direita da barragem. A Figura 1 ilustra a os locais onde as superfícies
foram formadas e o deslocamento do material no pé de tais taludes, comprovando a continuidade de todas a
ruptura analisada.

Figura 1. Rupturas no talude da ombreira direita da


barragem: a) indicações da porção superior das superfícies
de ruptura; b) deslocamento de material no pé do talude

As superfícies de ruptura apresentam formato circular e em geral englobam mais de um banco da

184
ombreira. Os pontos de instabilidade se concentram nos taludes escavados em trechos de depósito cenozoico,
nesse caso, da fácies paraconglomerado/brecha.
Com a verificação dos locais de ocorrência das superfícies, foi possível avançar para a segunda etapa
da retroanálise, visto que com a geometria fixada da ruptura, basta variar os parâmetros de resistência dos
solos alcançados pela superfície.

3.2 Etapa 2 – Modelagem computacional do problema e parametrização dos dados dos solos

Como indicado, o objetivo principal do estudo é verificar os parâmetros mais próximos da realidade
dos materiais que afloram na Formação Cercadinho. Desse modo, apenas as retroanálises da ombreira direita
foram conduzidas. A Figura 2 ilustra o local de onde foram retiradas as seções geológicas-geotécnicas para as
análises de estabilidade.

Figura 2. Seções escolhidas para a condução da


retroanálise

Diversos ensaios triaxiais do material em questão já haviam sido conduzidos, permitindo que a
retroanálise partisse de valores iniciais elencados em laboratório. A Tabela 1 apresenta os valores iniciais
adotados para o início da retroanálise.

Tabela 1. Parâmetros geotécnicos de resistência


adotados como ponto de partida nas retroanálises
Tipo de solo γ (kN/m³) c (kPa)  (o)
Aterro Argiloso 18,5 10 28
Depósito Cenozóico 19,5 15 32
Saprolito de Filito
18,5 0 35
(Formação Cercadinho)
Solo Residual de Filito
19,0 5 28
Brechado
Saprolito de Quartzito
20 0 34
(Formação Cercadinho)
Inicialmente, realizou-se a análise de estabilidade determinística da ombreira direita com os dados
apresentados na Tabela 1 com o intuito de comparar os resultados da análise de sensibilidade futura,
suportando como elemento de “controle” os dados da retroanálise subsequentes.
A retroanálise ocorreu por meio da parametrização dos modelos construídos, com variações
controladas dos parâmetros de resistência de cada solo. A parametrização visou isolar cada solo como uma
variável única a ser estudada em cada cenário de análise determinística de estabilidade e dentro dessa variável
(material), alterou-se individualmente os valores dos parâmetros em aproximadamente mais ou menos 0,5 em
cada cenário, sendo que os parâmetros escolhidos para serem alterados seguiram a experiência dos autores e
indicações da literatura. Por exemplo, Cruz (2004) indica que aterros argilosos possuem valores de coesão

185
maiores que 10 kPa. Sendo assim, decidiu-se variar inicialmente os valores de coesão do aterro.
Também deve ser destacado que a retroanálise é possível devido a clara identificação da geometria de
ruptura, visto que dessa maneira fica evidente quais os prováveis materiais que a superfície de ruptura
interceptou, reduzindo o número de cenários a serem avaliados.
Para avaliação das condições de estabilidade foram realizadas análises determinísticas, segundo
Método de Equilíbrio Limite. Essas análises foram realizadas a partir do critério de ruptura de Mohr-Coulomb
aplicado em todos os materiais. Para determinação do fator de segurança (FS) mínimo dos taludes, foi adotado
o método Morgenstern & Price, por se tratar de um método rigoroso, que avalia a estabilidade com base no
equilíbrio de forças e, também, equilíbrio de momentos.

3.3 Etapa 3 – Verificação dos dados e comparação com ensaios de laboratório e literatura

A última etapa metodológica da pesquisa tem carácter comparativo, buscando incrementar os dados
técnicos sobre os materiais aflorantes da Formação Cercadinho e contribuindo com valores geotécnicos mais
próximos da realidade para ativos instalados e futuros.
À visto disso, comparou-se os parâmetros obtidos nas análises computacionais com os valores
anteriormente elencados em ensaios de laboratórios, ensaios de campo e literatura técnica com o objetivo de
verificar a taxa de variação desses dados.

4 Resultados e discussões
Como pode ser visto na Figura 2, a ombreira direita foi dividida em três seções de análise (Seção 1, Seção 2 e
Seção 3). Foi considerado o nível d’água na superfície do terreno com uma franja de saturação de 10 m de
profundidade, simulando as fortes chuvas de janeiro e a falha da drenagem superficial do talude nota na
inspeção. Como resultado da visita de campo, foi possível pesquisar as superfícies de ruptura que melhor
representavam os escorregamentos ocorridos em janeiro de 2022. As três seções apresentam feições
geológicas muito parecidas, o que é justificável pela proximidade em que se encontram. Por isso, optou-se por
iniciar a análise na seção que apresentava a menor quantidade de materiais no círculo de ruptura, ou seja, a
seção mais distante do barramento, que foi chamada de Seção 1 (Figura 3).
Em campo, foi possível observar que esta ruptura abrangeu duas bermas do talude natural da ombreira
direita. A partir desta informação, foram realizadas análises variando primeiramente o ângulo de atrito (de 15º
a 20º) e a coesão de (32 a 36 kPa) do Depósito Cenozóico, que é o material com característica mais variada.
Por fim, modificou-se o ângulo de atrito do filito brechado (de 28º a 30º), alcançando o resultado abaixo.

Figura 3. Seção 1 (mais a jusante)

Com o resultado alcançado na Seção 1, pode-se atribuir os parâmetros de dois materiais da seção 2
(Figura 4), sobrando apenas o saprólito de filito da formação cercadinho a ser modificado para encontrar fatores
de segurança próximos a 1. Com isto, variou-se a coesão (de 0 kPa para 8 kPa), ângulo de atrito (de 35º a 32º) e
peso específico (de 18,5 kN/m³ para 19kN/m³), o que resultou nos fatores de segurança mostrados na figura
186
abaixo.

Figura 4. Seção 2 (intermediária)


Na Seção 3 (Figura 5), pode-se observar que a ruptura alcançou o segundo patamar acima do pé da
barragem, assim, pode-se assumir que o círculo de ruptura começou pelo depósito cenozóico, passou pelo
saprólito de filito da Formação Cercadinho, finalizando no saprólito de filito brechado. Para este material não
houve variação dos parâmetros de resistência, pois foram utilizados os mesmos das análises das outras seções,
o que mostrou uma boa calibração dos parâmetros de resistência.

Figura 5. Seção 3 (mais próxima do pé da barragem)

Enfim, a Tabela 2 exibida abaixo consolida todos os parâmetros de resistência resultantes da


187
retroanálise do talude a jusante da ombreira direita da barragem de mineração. Desta forma, é possível notar
que houve pequenas variações nos valores de cada material e que o aterro argiloso e o saprólito de quartzito não
sofreram alterações. Estes resultados mostram que as retroanálises são condizentes com os parâmetros da
literatura e ensaios de laboratório, ademais podem ser utilizados para enriquecer o entendimento das
características dos materiais presentes no contexto da formação cercadinho.

Tabela 2. Parâmetros geotécnicos de resistência após


retroanálises (valores anteriores entre parêntesis)
Tipo de solo γ (kN/m³) c (kPa) φ (o)
Aterro Argiloso Depósito 18,5 10 28
Cenozóico Saprolito de 19,5 20 (15) 36 (32)
Filito
(Formação Cercadinho) 19 (18,5) 8 (0) 32 (36)
Solo Residual de Filito
Brechado 19,0 5 30 (28)
Saprolito de Quartzito
(Formação Cercadinho) 20 0 34

5 Conclusões

Foi realizada uma retro-análise em um talude de barragem de mineração utilizando o método de variação
controlada de parâmetros de resistência de cada solo. Conforme pode ser visto, nas análises de
sensibilidade, com a variação dos parâmetros dos solos, encontraram-se Fatores de Segurança próximos a
de 1, o que indica a proximidade do modelo com a situação de carregamento e resistência do talude no
momento de sua ruptura. Os parâmetros de resistência foram variados em mais ou menos 0,5 para cada
cenário, contudo, mantiveram-se aderentes aos valores característicos dos materias.

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos a Vale e DF+ Engenharia por ter disponibilizado a geometria das seções.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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method: A case study at the right abutment of the Upper Gotvand Dam, Iran. Journal of African Earth
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Yu, Y. et al. Stability analysis of abutment slopes based on long-term monitoring and numerical simulation.
Engineering Geology, v. 183, p. 159–169, 2014.

189
Análise Comparativa do Fator de Segurança de um Talude
pelos Métodos de Fellenius e Bishop Simplificado para
Superfície Circular, e por Culmann e Jambu Simplificado para
uma Superfície Plana de Ruptura.
Eliana Dantas Ribeiro
Estudante, UFC, Fortaleza, Brasil, elianadr@alu.ufc.br

Airlis Mendes de Freitas Júnior


Estudante, UFC, Fortaleza, Brasil, airlismendes@alu.ufc.br

RESUMO: O presente trabalho tem o objetivo de comparar o fator de segurança (FS) de dois taludes
hipotéticos de aterros sem sobrecarga, não considerando a existência de um nível d´água, pelos métodos
baseados na teoria de equilíbrio limite. Na primeira situação, foi calculado FS pelos métodos de Fellenius e
Bishop Simplificado , para um talude de 27° de inclinação, ângulo de atrito do solo de 30°, coesão 15 Kpa e
peso específico de 20 KN/m³. Para esta análise foi considerada a hipótese de uma ruptura circular.
Posteriormente foi calculado o FS do segundo talude de inclinação 45° , ângulo de atrito do solo de 30°,
coesão 2 Kpa e peso específico de 20 KN/m³, considerando a hipótese de ruptura com superfície plana. Foi
possível observar que os fatores de segurança não apresentaram diferenças consideráveis, já que na
comparação entre cada método para o mesmo talude e parâmetros geotécnicos, a diferença entre os dois
valores de FS foi apenas na segunda casa decimal. Outra observação importante foi que o método de Fellenius
apresentou-se como o mais conservador dentre os outros utilizados, haja vista que resultou em um menor
valor de FS , quando comparado ao método de Bishop.

PALAVRAS-CHAVE: Métodos de Equilíbrio Limite, Estabilidade, Ruptura Circular, Rptura Palana,


Taludes.

ABSTRACT: The present work aims to compare the safety factor (FS) of two hypothetical embankment
slopes without overburden, not considering the existence of a water level, by methods based on the limit
equilibrium theory. In the first situation, FS was calculated by the methods of Fellenius and Bishop Simplified
, for a slope of 27° slope, soil friction angle of 30°, cohesion 15 KPa, specific weight of 20 KN/m³, in this
analysis was considered if there was a circular rupture . Then the FS of the second slope of 45° inclination ,
soil friction angle of 30°, cohesion 2 KPa, specific weight of 20 KN/m³ was calculated for a flat rupture
surface. Thus, it can be stated that the safety factors did not present considerable differences and are within
the desired level of accuracy for the analysis, because in the comparison between each method considering
the same slope and geotechnical parameters, the largest difference was only in the second decimal place. It
was also possible to verify that the Fellenius method was the most conservative among the others used, since
it showed a lower Factor of Safety.

KEYWORDS: Methods of Boundary Equilibrium, Stability, Circular Rupture, Pallan Rupture, Slopes.

1 Introdução

Existem estruturas de solo como os taludes, que podem ser tanto naturais, quanto artificiais, como
aqueles construídos em aterros de barragens. Essas estruturas são delimitadas por uma superfície inclinada
em relação ao nível plano de um terreno. Conforme NBR 11.682/1991, existem as encostas definidas como
trechos inclinados de uma elevação natural, além disso a norma cita os taludes artificiais, que são aqueles
formados pela ação do homem; e os taludes estáveis que não apresentam nenhum sinal de instabilidade, sem
a aparência de trincas ou erosões.
Para que essas estruturas de solo permaneçam estáveis, existem os fatores de segurança, em que para
cada valor são considerados alguns pontos, como a relação com a localidade onde está inserido o maciço de
solo, também é levado em consideração se a região apresenta ou não uma grande movimentação de pessoas.
Na edição mais recente da NBR 11.682, ano de 2009, os autores ainda consideram valores pré-determinados

190
de Fator de Segurança (FS) para critérios específicos, levando-se em consideração riscos para perdas, com
danos materiais e ambientais.
O presente trabalho foi dividido em duas partes: primeiramente foi realizado o cálculo do FS do talude
do aterro pelos métodos de Fellenius e Bishop simplificado no Software SLIDE, também foram realizados
cálculos em uma planilha no Excel, a fim de se fazer uma comparação entre os valores encontrados na
planilha e no software. Na segunda parte , também foi utilizado SLIDE para se determinar o FS do talude de
outro aterro, com ângulo de inclinação crítica de 34°, onde o método utilizado foi o de Janbu- Simplificado
para uma superfície plana de ruptura. Posteriormente, foi calculado o valor do FS para o método de Culman
através de cálculos realizados em uma planilha de Excel.

2 Métodos de Equilíbrio Limite

Na literatura, existem métodos de equilíbrio limite para a realização do cálculo do fator de segurança.
Em superfícies circulares, podem ser citados os mais conhecidos: Fellenius ou ordinário; Bishop
Simplificado; Janbu Simplificado; dentre outros. Já em superfícies planas, pode ser citado o método de
Culmann. Nos subtópicos abaixo serão discutidos a funcionalidade desses métodos.

2.1 Método de Fellenius

Esse método faz o equilíbrio de forças em cada fatia, na direção normal à superfície de ruptura. É
considerada uma forma conservadora de calcular o fator de segurança, pois pode fornecer valores de FS
baixos. Não é indicado o uso desse método em situações com a existência de poropressão muito alta e solos
que apresentem superfícies de ruptura muito profundas, poi existem grandes chances dos cálculos fornecerem
valores não muito precisos (GERSCOVICH, 2009). Além disso , ele desconsidera as forças interfatias e leva
em consideração a existência de uma superfície circular de ruptura, como pode ser observado na Figura 1 ,
mas isso é uma hipótese não necessária.

Figura 1. Superfície de ruptura circular. Fonte Guidicini (1983) apud Wichan et al. (2016).

Para o cálculo do fator de segurança, tem-se:

Σ[C´LR + (N − uL). R Tanϕ´]


FS= (1)
ΣW. x

N = W. cos α (2)

Onde W é o peso da fatia; L é a largura da fatia; α é o ângulo que a força normal atuante na base da
fatia faz com o eixo vertical; c’ é a coesão efetiva do solo; u é a poropressão média na base da fatia e φ’ é o
ângulo de atrito efetivo do solo.

2.2 Método de Bishop- Simplificado

O método de Bishop simplificado considera em sua hipótese que a resultante das forças entre as fatias
é horizontal, ou seja, as forças de interação das fatias são horizontais. Dessa forma, no cálculo do fator de
segurança é acrescentada à equação já conhecida do método anterior (Fellenius) a parcela que impõe o
equilíbrio das forças verticais (FREITAS, 2011). A Figura 2 mostra as forças que são aplicadas em uma fatia
de solo.

191
Figura 2. Forças aplicadas a uma fatia de solo no método de Bishop. Fonte: Freitas (2011)

Para o cálculo do fator de segurança, deve-se realizar o somatório das forças verticais:

W = N sen α + T cos α (3)

[C´Lsen α-uLsenαTanϕ´]
[ W+ FS +Dsenω]
N= (4)
senαTanϕ´
cos α + FS

[C´Lsen α-uLsenαTanϕ´]
[ W+ FS +Dsenω]
Σ [C´LR + ( − uL) . R Tanϕ´]
senαTanϕ´
cos α +
FS
FS = (5)
[C´Lsen α-uLsenαTanϕ´]
[ W+ FS
+Dsenα]
ΣW. x − Σ + 𝑓 + 𝐾𝑊𝑒 ± Dd ± A𝑎
senαTanϕ´
cos α +
FS

Onde W é o peso da fatia; L é a largura da fatia; α é o ângulo que a força normal atuante na base da
fatia faz com o eixo vertical; c’ é a coesão efetiva do solo; u é a poropressão média na base da fatia φ’ é o
ângulo de atrito efetivo do solo, K é o fator sísmico, D para adição de sobrecargas e A para forças de empuxo.

2.3 Método de Janbu Simplificado

Esse método satisfaz apenas a condição de equilíbrio de forças ao longo da massa deslizante, ele
desconsidera as forças normais interfatias (Er e El) e desconsidera as forças cisalhantes interfatias (Xr e Xl).
A superfície de deslizamento, mesmo sendo circular, não é uma hipótese necessária. Na Figura 3 está
demonstrada a aplicação das forças em uma fatia do solo. O cálculo do fator de segurança está demonstrado
na Equação 6.

Figura 3. Forças aplicadas em uma fatia de solo . Fonte: Ferreira (2012).

Σ[C´Lcosα + (N − uL). osα Tanϕ´]


FS= (6)
ΣNsenα+KW + Σ𝐾𝑊𝑒 ± ( Dcosω) ± A𝑎

192
Onde W é o peso da fatia; L é a largura da fatia; α é o ângulo que a força normal atuante na base da
fatia faz com o eixo vertical; c’ é a coesão efetiva do solo; u é a poropressão média na base da fatia φ’ é o
ângulo de atrito efetivo do solo, K é o fator sísmico, D para adição de sobrecargas e A para forças de empuxo.

2.4 Método de Culman

Das e Sobhan (2014) explicam que no método de Culman, a superfície de ruptura acontece ao longo
de um plano , como mostrado na Figura 4, essa forma de ruptura é devido às tensões de cisalhamento atuantes
serem maiores que a resistência ao cislhamento do solo. Os autores afirmam que o plano mais crítico será o
que tem uma relação mínima entre a tensão de cislhamento atuante e a resistência ao cisalhamento do solo.
A fórmula de cálculo do FS através deste método pode ser observada na Equação 7.

Figura 4. Superfície de ruptura plana. Fonte: Adaptado de Das e Sobhan (2014).

H
c´+ [ɣ 2 (cotan θ-cotani)senθ.cosθ] tanφ'
FS= (7)
H
ɣ (cotan θ-cotani)sen²θ
2

Onde:
C´= Coesão;
ɣ = Peso específico;
θ = Ângulo de atrito.

3 Metodologia

Nesta seção será apresentada a geometria e os parâmetros geotécnicos do talude do aterro. Além disso
será discutido como foram utilizados os métodos de equilíbrio limite para a análise da estabilidade dos taludes
por (Fellenius, Bishop simplificado, Culmann e Janbu simplificado). Para atingir os objetivos, foram
elaboradas planilhas no Excel que auxiliaram na execução dos cálculos utilizando a expressão do FS de cada
método , depois foram feitas modelagens com software SLIDE , a fim de serem determinados os fatores de
segurança pelo programa.

3.1 Geometria do talude e parâmetros geotécnicos de resistência

O primeiro talude faz parte de um aterro que possui forma trapezoidal com a base menor de 13 metros
e base maior de 73 metros de comprimento; com 15 m de altura e 27º de inclinação. O aterro está sobre uma
fundação de 3 metros de profundidade, como pode ser oservado na Figura 5.

Figura 5. Primeiro talude hipotético. Fonte: Autores (2022).

193
Na Tabela 1 estão descritos os parâmetros geotécnicos do aterro e da fundação.

Tabela 1. Parâmetros geotécnicos. Fonte: Autores (2022).


Aterro Fundação
c´ = 15KPa c´ = 0KPa
ɣat = 20KN/m³ ɣf = 18KN/m³
φ´= 30° φ´= 25°

O segundo talude faz parte de um aterro que possui a base menor de 5 metros e base maior de 10 m de
comprimento, com 5 metros de altura e 45º de inclinação. A Figura 6 mostra a forma do talude hipotético e
a Tabela 2 mostra os seus parâmetros geotécnicos.

Figura 6. Segundo talude hipotético. Fonte: Autores (2022)

Tabela 2. Parâmetros geotécnicos. Fonte: Autores (2022).


Aterro
c´ = 2 KPa
ɣat = 20KN/m³
φ´= 30°

3.2 Aplicação dos métodos de equilíbrio limite

3.2.1 Superfície de ruptura para os métodos de Fellenius e Bishop Simplificado

Para os métodos de Fellenius e Bishop Simplificado foi pré-definida uma superfície de ruptura circular
de raio aproximado de 22 metros. Para esta superfície, o solo foi dividido em 25 fatias como está demonstrado
na Figura 7. Com as informações da geometria do talude informados nas Figuras 5 e os dados da Tabela 1,
foram realizados os cálculos dos fatores de segurança em planilhas do Excel e foi realizada a modelagem do
talude através do software SLIDE.

Figura 7. Superfície de ruptura circular. Fonte: Autores (2022).

3.2.2 Superfície de ruptura para os métodos de Culman e Janbu simplificado

Para os métodos de Culman e Janbu-Simplificado foi pré-definida uma superfície de ruptura plana
crítica com ângulo de 34° , nesta superfície o solo foi dividido em 25 fatias também, como está demonstrado
na Figura 8. Com as informações da geometria do talude informados na Figuras 6 e os dados da Tabela 2,

194
foram realizados os cálculos dos fatores de segurança em planilhas do Excel , e assim como no subtópico
anterior , também foi realizada a modelagem do talude através do software SLIDE.

Figura 8. Superfície de ruptura plana. Fonte: Autores (2022).

4 Resultados e Discussões

4.1 Simulação para uma superfície de ruptura circular

4.1.1 Método de Fellenius

Para os cálculo do fator de segurança foram consideradas 25 fatias. Com o software SLIDE , foi obtido
um valor de FS igual a 2,06 , que pode ser verificado na Figura 9. Já com o auxilio do Excel o FS foi de
2,02, o que pode ser verificado na Tabela 3, onde a diferença entre os dois valores foi de aproximadamente
0,04.

Figura 9. Resultado do fator de segurança por Fellenius.Fonte: Autores (2022)

Tabela 3. Cálculo do Fator de Segurança pelo Excel- Fellenius. Fonte: Autores (2022).
Fatias L (m) c'LR+(N-uL). R Tanφ´ Wx(Kn.m)
1 1,32 17,73 -67,52
2 1,28 58,72 -173,97
3 1,25 102,16 -240,30
4 1,22 147,07 -258,32
5 1,20 186,80 -258,12
6 1,19 221,44 -234,34
. . . .
. . . .
. . . .
24 1,74 831,46 497,58
25 1,93 719,83 195,00
Total 10935,90329 5401,250736
FS 2,02

4.1.2 Método de Bishop simplificado

Por esse Método, observamos que pela modelagem com o SLIDE o FS foi de 2,20, como se observa
na Figura 10, já por meio dos cálculos com Excel, o FS foi igual a 2,21; como mostrado na Tabela 4. A
diferença neste caso foi de 0,01. O método de Fellenius demonstrou uma diferença um pouco maior entres os
valores de FS da modelagem e da planilha do Excel, quando é comparada a difrença entre os valores de FS

195
encontrados por Bishop. Isso pode acontecer devido às diferenças nas metodologias de cada método,
contribuindo para influenciar na precisão dos cálculos.

FS = 2,20

Figura 10. Resultado do fator de segurança por Bishop .Fonte: Autores (2022)

Tabela 4. Cálculo do Fator de Segurança pelo Excel- Bishop. Fonte: Autores (2022).
Fatias L (m) c'LR+(N-uL). R Tanφ´ Wx(Kn.m)
1 1,32 38,82 -67,52
2 1,28 107,06 -173,97
3 1,25 161,13 -240,30
4 1,22 199,88 -258,32
5 1,20 232,14 -258,12
6 1,19 256,12 -234,34
22 1,51 1161,96 783,82
23 1,61 1055,77 685,48
24 1,74 892,32 497,58
25 1,93 645,92 195,00
Total 11970,04 5401,25
FS 2,21

4.2 Simulação para uma superfície de ruptura plana

O Talude da Superfície plana de Culmann, quando analisado pelo método de Janbu Simplificado,
forneceu um FS = 1,12 calculado pelo Excel, Tabela 5, este valor coincidiu tanto com o valor calculado pelo
SLIDE, Figura 11 , quanto com o FS calculado pela fórmula de Culmann . Foi observado que não houve
diferença de valores para FS, quando se utilizou o software SLIDE e a ferramenta Excel. Algo importante de
ser mencionado é que o método de Janbu pode calcular fatores de segurança , quando a possibilidade da
superfície de ruptura for plana, algo que foi realizado neste tópico do trabalho. Por se tratar de uma superfície
plana , o ângulo α da base da fatia será o mesmo ao longo de todas as fatias que compõem a superfície de
ruptura, já o cálculo para superfícies circulares, caso dos métodos anteriores, para cada cada base de uma
fatia o ângulo α era diferenciado.

Figura 11. Resultado do fator de segurança por Janbu .Fonte: Autores (2022)

196
Tabela 5. Método de Culman Excel – Cálculo determinístico. Fonte: Autores (2022).
c'+[ɣat.(h/2).(cotg𝜃 ɣat.(h/2).(cotg 𝜃𝑐-
c´(Kpa) H(m) ɣ(KN/m³) 𝜃𝑐(°) I (°) φ´(°) FS
cotgi).sen𝜃𝑐.cos𝜃𝑐]tanφ´ cotgi).sen²𝜃𝑐
2 5 20 34 45 30 8,46 7,55 1,12

5 Conclusões

Foi verificado que pelos cálculos realizados em planilhas de Excel o fator de segurança é muito
influenciado pelo tipo de problema, por exemplo, se o equilíbrio das forças é calculado considerando a
direção normal à base da fatia, caso de Fellenius; ou se é considerada a direção vertical em relação à base
das fatias. O método de Fellenius forneceu um valor de FS menor de 2,02, comparado ao FS de Bishop com
2,21, o que demonstrou uma concordância com as afirmações da literatura, onde o método de Fellenius se
apresenta como o mais conservador, com a tendência de serem encontrados valores de FS mais baixos.
No Método de Janbu Simplicado, foi possível encontrar o valor do FS pelo software SLIDE tomando
como hipótese um superfície de ruptura plana. Diante disso foi mostrado que o valor de FS pelo método de
Janbu, para uma superfície plana de ruptura foi o mesmo encontrado nos cálculos para o Método de Culmann,
utilizado na planilha do Excel. Para este último caso, todos os fatores de segurança convergiram para o valor
de 1,12, mesmo utilizando ferramentas diferenciadas.
Quando se faz uma análise de estabilidade de taludes, a utilização de mais de uma metodologia de
cálculo é de suma importância para que seja validado o valor do fator de segurança encontrado. Os Métodos
de cálculo para o FS têm inúmeras particularidades, o que mostra mais ainda que é importante a realização e
observação dos cálculos, quando se utiliza diferentes metodologias , para que sejam verificadas possíveis
discrepâncias dos valores.

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal do Ceará , ao Pós-Deha e à Funcap pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FREITAS, M.A.C.(2011) Análise de estabilidade de taludes pelos métodos de Morgenstern-Price e
Correia. Dissertação de Mestrado, Curso de Mestrado Integrado em Engenharia Civil, Departamento de
Engenharia Civil, Universidade do Porto, Porto.
FERREIRA, J.L.F.(2012) Análise de estabilidade de taludes pelos métodos de Janbu e Spencer. Dissertação
de Mestrado, Curso de Mestrado Integrado em Engenharia Civil, Departamento de Engenharia Civil,
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GERSCOVICH, D.M.S. (2009) Estabilidade de Taludes. Faculdade de Engenharia, Universidade Estadual
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WICHAN, V.H.S. et al. (2016) Processo de automação de retronanálise dos parâmetros do solo pelo método
de fellenius para fins de estabilidade de talude. Revista Projectus, Rio de Janeiro, v.1, n.3, p.94-105.

197
Estabilidade de Taludes tridimensionais com formulação mista
da análise limite usando programação cônica de segunda ordem
Victor Ernesto Alejo Juscamayta
Doutorando, Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco, Recife,
Brasil, victor.alejo@ufpe.br

Igor Fernandes Gomes


Professor Associado, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Programa de Pós Graduação em
Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, E-mail

RESUMO: Em geomecânica, a análise de limite fornece um método útil para avaliar a capacidade das
estruturas quanto à ruptura por cisalhamento como em problemas de estabilidade de taludes naturais, em
aterros e escavações. Neste trabalho apresenta-se uma metodologia para analisar a estabilidade de taludes
considerando a combinação da formulação mista da análise limite com a otimização cônica de segunda
ordem. Emprega-se elementos tetraédricos quadráticos (10-nós) para as velocidades e para as tensões (4-nós)
para o problema tridimensional, adotando-se o modelo elastoplástico de Drucker-Prager. A formulação
implementada foi validada e aplicada ao estudo tensão deformação com determinação de fator de segurança
de dois cenários de estabilidade de taludes tridimensionais onde foi possível caracterizar a zona potencial de
colapso através de variáveis como campo de velocidades, dissipação plástica e vetores de deslocamento.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de taludes, análise limite, Formulação misita.

ABSTRACT: In geomechanics, limit analysis providing a useful method for analyzing the capacity of
structures and also slope stability, excavations. In this work it is presented a methodology to analyze the
stability slope mixing a mixed formulation of limit analysis with second order conic optimization using up
10-node quadratic tetrahedral element for velocity and four stress nodes taking account Drucker-Prager
materials. The implemented formulation was validated and applied to two 3D slope stability problems where
the potential collapse zone through to variables as field velocity, plastic dissipation, and displacement
vectors.

KEYWORDS: limit analysis, slope stability, socp.

1 Introdução

O objetivo da Análise Limite é determinar o carregamento que irá causar o fenômeno do colapso
plástico incipiente em um corpo constituído por material elástico idealmente plástico. Este fenômeno é
caracterizado pelo desenvolvimento de deformações crescentes continuadamente sob carregamento
constante.
Inicialmente a análise limite foi formulada como um problema de programação linear, resolvido
através do método simplex. Para conseguir transformar a análise limite em um problema de programação
linear é necessário linearizar a função de plastificação. A aplicação de programas altamente especializados
com o recente método de ponto interior permitiram velocidades muito melhores que o do simplex.
Paralelamente, os algoritmos de ponto interior foram utilizados em programação não linear, o que evita a
linearização da função de escoamento e do método simplex, uma vez que resultados de aplicação da
formulação não linear mostraram um desempenho computacional mais rápido e robusto. Recentes
desenvolvimentos de formulações e algoritmos de ponto interior, auto-dual, para restrições de matrizes
semidefinidas e restrições cônicas, tornando desnecessário o cálculo de gradientes e dos hessianos da função
de escoamento, evitando problemas de singularidades na função de escoamento (Makrodimopoulos et al.,
2007).
Trabalhos como o de Makrodimopoulos et al. (2006), estudaram o limite inferior da análise limite
representando na sua formulação cônica, o limite superior usando o método dos elementos finitos e
otimização cônica.
A aplicação da análise limite à simulação numérica da estabilidade de taludes tridimensional é o
objetivo neste trabalho, tendo como referência trabalhos como Chen et al. (2001), Chen et al. (2003), Gharti
et al. (2012) e Camargo et al. (2016). Neste trabalho apresenta-se a formulação variacional da análise limite

198
para o teorema misto em conjunto com otimização cônica, sendo discretizada através da técnica dos
elementos finitos, que resultará na formulação mista discreta. Finalmente a formulação mista discreta da
análise limite é desenvolvida como um problema de programação cônica de segunda ordem (SOCP) que será
resolvido através do algoritmo do ponto interior com o software comercial Mosek ApS et al. (2014). Como
validação e aplicação a formulação foi empregada na simulação de dois problemas de estabilidades de
taludes tridimensionais para determinação do fator de segurança FS.

2 Otimização cônica de segunda ordem

Na última década, progressos substanciais na otimização matemática foram alcançados, especialmente


na área de programação convexa, o que leva ao desenvolvimento do método dos pontos interiores e com isto
o nascimento de uma grande família de programas convexos. Quando se analisa as funções de escoamento é
possível a representação na forma cônica quadrática, onde todo elementos do cone é convexo e auto dual.
Logo, considerando as condições do ótimo da formulação discreta do teorema misto da análise limite,
matricialmente todas essas equações e restrições formam um problema de otimização cônica de segunda
ordem que pode ser resolvido usando métodos como o dos pontos interiores.
O espaço cônico de segunda ordem (SOC) que pertence a é um conjunto não vazio com a norma
euclidiana, um elemento de se diz que pertence ao espaço cônico quando satisfaz:

(1)

, representa a norma euclidiana, uma representação matricial mais simples em formulação que é adotada
pela maioria dos programas open source ou comerciais.
No problema de otimização cônica de segunda ordem pode-se assumir dois problemas:

- Problema primal (P)

(2)

- Problema dual (D

(3)

Ao representar o problema de análise limite na forma cônica, reduz-se o sistema de matrizes


identificando as variáveis livres, reescrevendo-se os problemas (2) e (3) desta maneira:

- Problema primal:

(4)

- Problema dual:

(5)

2.1 Critério de Drucker-Prager na sua forma cônica

A escolha deste modelo se deve ao fato de que a superfície de escoamento de Drucker-Pager é cônica
dada pela função de fluência na equação 6, não apresentando descontinuidades saindo em frente de outros
modelos elastoplásticos como Mohr-Coulomb ou Tresca na análise de problemas bidimensionais, para a
análise de problemas tridimensionais.

(6)

(7)
199
(8)
Onde é o limite de escoamento em cisalhamento puro, é a coesão, α está associado ao ângulo de atrito
, a desigualdade na equação 6. Os parâmetros do material e tomam valores diferentes na equação 7 para
caso de compressão onde a superfície de escoamento de Drucker-Prager encontra circunscrita à de Mohr-
Coulomb. Já na Equação 8 a tração é atingida quando a superfície de escoamento de Drucker-Prager está
circunscrita em Mohr-Coulomb.
A função de fluência pode ser transformada numa restrição de igualdade-linear acoplada
com outra cônica quadrática:

(9)
Da equação 9 pode-se deduzir que o vetor pertence ao espaço cônico, e encontra-se
uma relação para facilitar a implementação numérica, onde os tensores são reduzidos a
vetores tal como:

(10)

Onde é o tensor de tensões, é o tensor de dissipação plástica , é o tensor das tensões desviadoras, é
uma variável cônica e é o vetor das variáveis cônicas do espaço cônico
dual.

2.2 Formulação Mista da análise limite na forma cônica

A análise limite se concentra nos teoremas fundamentais da plasticidade o do limite inferior e limite
superior. Neste trabalho usa-se a formulação mista apresentada por Zouain, et al. (2014), a qual soluciona o
conjunto da formulação inferior com a formulação superior, onde as condições de equilíbrio e escoamento
são satisfeitas. Considerando um meio discretizado, o fator de colapso é representado na forma de problema
de programação cônica nas equações 12 e 13, relacionado diretamente com a dissipação plástica.

(11)
(12)

Sendo:

(13)

As condições do otimo são definidas por:

(14)

(15)

A equação 15 contempla os problemas primal e dual, respetivamente, onde as componentes das


variáveis e constantes são:
200
(16)

3 Resultados

A estabilidade de taludes é um problema da geotecnia que visa a caracterização de uma potencial


superfície de falha e o cálculo de um fator de segurança para uma geometria dada com condições de carga e
contorno impostas. O estudo de estabilidade de taludes é importante para evitar escorregamentos, que ocorre
pelo deslizamento de massa de solo em relação a uma parte fixa, de tal forma que as tensões na superfície
sejam maiores que a resistência ao cisalhamento. Este é um caso da aplicação de análise limite na sua
formulação mista e cinemática, onde o peso próprio é um carregamento a ser amplificado por eventos como
saturação do solo e outros fatores e, por meio do fator de colapso para um talude homogêneo coesivo-
friccional, pode-se calcular a altura máxima que este pode alcançar de modo que estrutura seja estável.
O estudo da estabilidade de taludes é visto pela maioria dos autores como um modelo atrativo para
validar seus métodos, sendo comumente usado o método do equilíbrio limite ou análise tensão deformação
elastoplástica com o método dos elementos finitos. Este tipo de análise é inspirador para desafiar novos
métodos com os convencionalmente empregados, onde diversos autores vêm apresentando estudos nesta
linha de pesquisa como Camargo (2016), Griffiths e Marquez (2007); Gharti, 2012) que apresentaram
soluções de estabilidade em duas e três dimensões.
Neste trabalho empregou-se uma formulação mista de análise limite para programação cônica de
segunda ordem, onde o problema de otimização será solucionado mediante o método dos pontos interiores.
Para isto utilizou-se o software comercial Mosek (Mosek et al, 2014). Foi feita uma implementação numérica
desta metodologia na linguagem Matlab, usando-se durante a simulação um notebook Dell inspiron 1554
com processador i7 da sétima geração funcionado no sistema operacional Linux.
Para as análises, o Fator de Segurnaça é calculado a partir da análise do colapso plástico com a adoção
do fator de redução aplicado à coesão e o ângulo de atrito do material ao longo do processi de análise,
promovendo-se a redução destes parâmetros até que o fator de colapso seja igual à unidade.

4.1. Talude com camada de baixa resistência

Para a análise utilizou-se uma geometria proveniente dos estudos de Camargo (2016) e Gharti (2012),
descrita na Figura 1, onde pode-se observar uma camada de baixa resistência em cor azul. Empregou-se uma
malha contendo 1041 elementos tridimensionais do tipo tetraédrico quadrático de 10 nós (Figura 2). As
condições de contorno são definidas da seguinte forma: restrição de deslocamento nas três direções em um
dos nós de vértice de base, de coordenadas (0,0,0), restrição de deslocamentos nas direções horizontais na
direção normal a cada plano de contorno lateral do domínio.
As propriedades empregadas para o material de talude e base foram de coesão (c = 29kPa) e ângulo de
atrito (𝜙 = 20° ) e o peso específico (𝛾 = 18,8 kN∕ 𝑚3 ). Já para a camada de baixa resistência assumiu-se
coesão (c = 0kPa), ângulo de atrito ( 𝜙 = 10° ) e peso específico ( = 18.8 kN / 𝑚3 ).
Dada a simulação, obteve-se um fator de segurança FS=1,557, resultado quase similar ao obtido por
Camargo (2016) e Gharti (2012).

Figura 1. Geometria do problema.


201
Figura 2. Malha com 1041 elementos tetraédricos quadráticos (10 nos).

Na Tabela1 esta descrito os diferentes fatores de redução que foram calculados via aproximação linear
para assim encontrar o valor de FS=1.557. O detalhamento da análise acontece quando a cada vez que
aplicado o fator de redução a coesão e o ângulo de atrito são reduzidos tanto para o solo quanto para a
camada de baixa resistência, sendo o critério de parada definido para o momento em que o fator de colapso é
aproximadamente igual a 1.

Tabela 1. Solução analise limite formulação mista para talude 3D com camada de baixa resistência.

Fator de Peso Fator de Tempo


redução (kPa) (kPa) (kPa) (kPa) Específico colapso (seg)
(kN∕ 𝑚3 )
3,0 9,67 3,33 6,67 0,0 18,8 0,466 6
2,0 14,5 5,00 10,0 0,0 18,8 0,743 7
1,8 16,1 5,55 11,1 0,0 18,8 0,841 7
1,7 17,1 5,88 11,8 0,0 18,8 0,90 6
1,557 18,6 6,42 12,85 0,0 18,8 1,002 7
1,0 29,0 10,0 20,0 0,0 18,8 1,728 6

As velocidades do mecanismo de colapso plástico foram idênticas às obtidas por Gharti (2012), onde
estas indicam a susceptibilidade do talude ao deslizamento, sendo indicadores de deslocamentos, conforme
ilustrado na Figura 3.
A Tabela 2 mostra os valores de Fator de Segurança obtidos por diferentes autores, para o cenário
analisado, empregando-se diferentes abordagens de análise. Já na Figura 4, pode-se verificar os vetores de
deslocamento indicando a cinemática do movimento do talude em processo de instabilização. Verifica-se que
a camada de baixa resistência gera uma zona de cisalhamento preferencial, impedindo que o processo de
ruptura e deslizamente estenda-se em maior profundidade.

Tabela 2. Diversos FS, incluindo o obtido neste estudo.

GLE, (Lam Xing Chen et Chen et Griffiths Bishop Gharti et Presente


e Fredlund (1988) al. al. e Marquez modificad al., (2012) estudo
(1993) (2001) (2003) (2007) o (Lam e
Fredlund)
(1993)
1.603 1.553 1.717 1.603 1.58 1.607 1.57 1.557

202
Figura 3. Mecanismo de movimentação de talude 3D com camada de baixa resistência: campo de
velocidade.

Figura 4. Mecanismo de colapso para o talude com camada fraca.

4.2 Talude 3D com geometria complexa

Como segundo cenário estudado, apresenta-se a análise de um talude tridimensional de geometria


complexa, com uma malha de 4046 elementos tetraédricos mistos de dez nós para as velocidades e 4 nós para
as tensões (Figura 5).
As propriedades dos materiais (talude e solo de fundação) são dadas pela coesão (𝒄 =40kPa), ângulo
de atrito 𝝓 = 𝟐𝟎° e o peso específico (𝜸 = 𝟐𝟎𝒌𝑵⁄𝒎𝟑 ). As condições de contorno são similares às do cenário
anterior. Também empregou-se o critério de plastificação de Drucker-Prager.

Figura 5. Malha de elementos finitos.

Na tabela 3 apresenta-se os dados obtidos ao aplicar a técnica do fator de redução, que varia de 1 até
2,8, para assim encontrar o fator de segurança que faz o colapso plástico 𝜆 ≅ 1. Como já visto, quando isto
ocorre esse último fator de redução se converte no fator de segurança. Na figura 6, percebe-se a formação de
uma zona de colapso bem definida, muito similar a mostra por Gharti, et al. (2012) enquanto que a figura 7
apresenta a dissipação plástica.

203
Tabela 3. Solução analise limite formulação mista.

Fator de 𝑐𝑟𝑒𝑑 𝜙𝑟𝑒𝑑 Peso Fator de Tempo


redução Específico colapso (S)
1.0 40.0 20.0 20.0 5.1527 180

2.0 20.0 10.0 20.0 1.472 177


2.5 10.0 8.0 20.0 1.066 183
2.58 15.5 7.75 20.0 1.020 176
2.8 14.3 7.14 20.0 0.9114 175

Figura 6. Mecanismo de colapso para talude 3D.

Figura 7. Dissipação plástica do colapso do talude 3D.

5 Conclusões

A estabilidade de taludes é um problema da geotecnia que visa a caracterização de uma potencial zona de
ruptura. No presente trabalho, foi apresentada uma formulação de otimização cônica com a análise limite
para encontrar o número do fator de estabilidade nos casos estudados. Nas simulações apresentou-se
resultados que puderam validar a formulação e código empregado frente a estudos na literatura científicia.
Apesar de ter-se optado pela adoção de malhas grossas (as malhas usadas possuiam apenas 10% e 20%,
respectivamente, da quantidade de elementos das malhas empregadas nos trabalhos de referência na
bibliografia) as superfícies de dissipação plástica apresentaram-se bem definidas. Foi utilizada a formulação
mista e os resultados obtidos indicam um bom desempenho numérico do programa de elementos finitos com
otimização cônica, sendo necessário apenas 7 seg (para o primeiro cenário) e 176 seg (para o segundo). Os
resultados trazem indicativo de superfície potencial de ruptura e massa a ser colapsada.

AGRADECIMENTOS

O trabalho foi desenvolvido com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e


Tecnológico – CNPq e Petrobras.

204
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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