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ANAIS | Volume 6

Instrumentação e Monitoramento

PROMOÇÃO REALIZAÇÃO ORGANIZAÇÃO


PATROCINADORES OURO

PATROCINADORES PRATA

PATROCINADORES BRONZE

2
APOIO EMPRESARIAL

APOIO INSTITUCIONAL

3
PROMOÇÃO REALIZAÇÃO ORGANIZAÇÃO

SECRETARIA TECNOLOGIA

4
PREFÁCIO

Prezados colegas

É com muita satisfação que saudamos os participantes da VIII Conferência


Brasileira sobre Estabilidades de Encostas - COBRAE.

Celebramos este tradicional evento onde reuniremos expoentes palestrantes e um


conteúdo científico alinhado às inovações, com destaque aos acontecimentos recentes
em nosso país, ressaltando assim, a importância do tema geral: “Estabilidade de
Encostas na Sociedade e na Infraestrutura”.

Há três anos preparamos este evento com muito afinco, embora ainda com tantas
inseguranças do novo normal. Contudo, seguimos confiantes, arregimentando colegas e
parceiros que acreditaram ser possível este desafio, e assim, juntos, montamos o evento.

O objetivo foi trazer contribuições na forma de minicursos, palestras, artigos


científicos e discussões. Foram quatro dias de intensidade científica, troca de
experiências e convívio social, além da oportunidade de desfrutar Pernambuco com seus
aromas, sabores e cores.

A VIII COBRAE recebeu 450 resumos, destes foram recebidos 235 artigos
completos que estão disponibilizados em livros digitais, separados em sete volumes:
Volume 1: Movimentos de Massa em Encostas
Volume 2: Investigações Geológico-geotécnicas
Volume 3: Mapeamento Geotécnico e Gestão de Riscos
Volume 4: Comportamento de Taludes e Aterros
Volume 5: Soluções de Engenharia
Volume 6: Instrumentação e Monitoramento
Volume 7: Taludes Submarinos e de Mineração

Roberto Quental Coutinho


Presidente VIII COBRAE

5
COMISSÃO ORGANIZADORA

Roberto Quental Coutinho


UFPE - Presidente da Comissão

Olavo Francisco dos Santos Júnior


UFRN - Comitê Técnico

Joaquim Teodoro Romão de Oliveira


UNICAP/UFPE - Comitê Técnico

Kalinny Patrícia Vaz Lafayette


UPE - Comitê Técnico

Igor Fernandes Gomes


UFPE - Secretaria

Robson Ribeiro Lima


UFPE - Secretaria

Danisete Pereira de Souza Neto


UFPE - Tesouraria

Ricardo Nascimento Flores Severo


IFRN - Tesouraria

6
Cód. Título do Artigo Pág.
F024 Avaliação dos deslocamentos horizontais em uma encosta rodoviária estabilizada 8

F092 Patologias em contenções: estudo de caso na orla do Perpétuo Socorro na cidade de 16


Macapá - AP
F098 Identificação de zonas de risco de deslizamentos de taludes por meio de 25
interferometria: estudo de caso numa ferrovia brasileira
F176 Análise estatística de ensaios de recebimento em tirantes com vistas a projetos 31
otimizados de cortinas atirantadas
F197 Métodos de alteamento de barragens de terra - Estudo de estabilidade e drenagem 39
interna
F200 Análise do monitoramento da instrumentação de uma barragem de terra - Estudo de 46
caso 2021
F208 Caracterização da rede de fluxo desenvolvida em um maciço terroso 53
F242 Ensaios dinâmicos não destrutivos de impedância mecânica em estruturas de 60
contenção de uma encosta localizada no Rio de Janeiro/RJ
F284 Análise comparativa do monitoramento InSAR utilizando Banda-C e Banda-L 68
F288 Monitoramento de chuva/umidade do solo e cenários para alertas de deslizamentos na 75
Região Metropolitana de Recife-PE
F310 Aplicação da Interferometria por Radar de Abertura Sintética (SAR) Sentinel-1 no 84
monitoramento de taludes de uma barragem
F316 A low-cost inclinometer with data acquisition library developed in phyton, for in-situ 91
displacement measurements
F357 Instrumentação de conduto forçado em uma encosta 99
F389 Condições geotécnicas de uma encosta em faixa de dutos no paraná com base no 107
histórico de 20 anos de monitoramento
F391 A transformação digital no contexto do monitoramento de encostas: uma visão geral 115
sobre o tema a partir de uma revisão
F400 Instrumentação geotécnica para o monitoramento dos processos de liquefação em 125
barragens de mineração
F427 Datalogger Satelital aplicado ao monitoramento geotécnico da Estrada de Ferro Vitória 133
a Minas
F431 Aplicabilidade do posicionamento pelo GNSS para monitoramento de taludes 141
F435 Aplicabilidade da técnica InSAR para monitoramento de taludes 149
F443 Amplitude de variação dos dados da Estação Total Robótica para criação de alarmes 157

F444 Monitoramento de barragem de rejeito a montante em obras de descaracterização 165

F448 Detecção de movimentação do marco da Estação Total Robótica influenciando dados 173
de monitoramento
F463 Predição de deslizamentos de terra baseada em inteligência artificial e o impacto de 180
diferentes períodos de chuva acumulada
F531 Instrumentação de talude rochoso na Serra do Rio do Rastro 188

7
Avaliação dos deslocamentos horizontais em uma encosta
rodoviária estabilizada
Giancarlo Domingues
Gerente da Unidade Sul, Maccaferri do Brasil , Florianópolis, Brasil, g.domingues@maccaferri.com

Vitor Pereira Faro


Professor, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, vitorpereirafaro@gmail.com

RESUMO: O monitoramento de deslocamentos sub horizontais fornece informações relevantes para a análise
do comportamento de encostas, estruturas de contenção e taludes. Através de leituras de inclinômetros é
possível verificar a existência de movimentos, sua velocidade e direções. Neste trabalho são avaliados dados
de 2 inclinômetros instalados em uma encosta rodoviária monitorada por mais de 7 anos. São analisadas as
leituras dos dois inclinômetros comparando-as com a margem de erro sugerida na literatura para identificar
movimentos ou padrões de expansão e retração. São analisadas possíveis indicações de superfícies de
escorregamentos e tendências de movimentos. Os movimentos são classificados de acordo com a classificação
de Cruden e Varnes (1996). É feita uma estimativa dos possíveis parâmetros de resistência ao cisalhamento na
superfície de escorregamento, com base no método do talude infinito e na observação dos inclinômetros.
Observado que a maioria dos deslocamentos registrados ficam dentro da margem de erro sugerida na
bibliografia e que há um movimento no sentido do pé do talude. Observa-se movimentos de retração da ordem
de 38 a 43%, Além de velocidades de deslocamentos baixas e deslocamentos de baixa magnitude. Identifica-
se uma possível superfície de escorregamento a 5m de profundidade e estima-se que os parâmetros de
resistência na superfície sejam de 0 kPa a 2 kPa de intercepto coesivo e de 29° a 32° de ângulo de atrito interno.
Tendo em vista a magnitude baixa dos deslocamentos, conclui-se que a estrutura de contenção está cumprindo
seu papel, entretanto, registra-se um deslocamento progressivo com velocidade média de 1,42 mm/ano, ou
seja, extremamente lentos.

PALAVRAS-CHAVE: Inclinômetro, Talude, Encostas, Deslocamento Subhorizontal, Instrumentação.

ABSTRACT: The monitoring of sub horizontal displacements provides relevant information for the analysis
of the behavior of natural slopes, retaining structures and slopes. Through inclinometer readings it is possible
to verify the existence of movements, their speed and directions. In this work, data from 2 inclinometers
installed on a road slope monitored for more than 7 years are evaluated. The readings of the two inclinometers
are analyzed and compared with the margin of error suggested in the literature to identify movements or
patterns of expansion and retraction. Possible indications of landslide surfaces and movement trends are
analyzed. The movements are classified according to the classification of Cruden and Varnes (1996). An
estimate is made of possible shear strength parameters on the slip surface, based on the infinite slope method
and observation of inclinometers. It was observed that most displacements registered are within the margin of
error suggested by Mikkelsen (2003) and that there is a movement towards the foot of the slope. Retraction
movements of the order of 38 to 43% are observed, in addition to low displacement speeds and low magnitude
displacements. A possible landslide surface is identified at a depth of 5m and the surface resistance parameters
are estimated to be 0 kPa to 2 kPa cohesive intercept and 29° to 32° internal friction angle. Considering the
low magnitude of the displacements, it is concluded that the containment structure is fulfilling its role, however
there is a progressive displacement with an average speed of 1.42 mm/year, that is, extremely slow, according
to Cruden and Varnes (1996)

KEYWORDS: Inclinometers, Slope, Natural Slopes, Sub Horizontal Displacement, Instrumantation

8
1 Introdução

As encostas da Serra do Mar no litoral brasileiro são caracterizadas por serem formadas por um leito
rochoso recoberto por camadas de pequena espessura de solos residuais ou coluvionares. Muitas dessas
encostas possuem uma cobertura rasa de material transportado e que encontra-se em condição de estabilidade
limite. Portanto, qualquer alteração em seu arranjo ou nas condições de saturação ou umidade podem resultar
em movimentos de massa (MASSAD, 2010).
Muitas rodovias brasileiras atravessam, foram implantadas ou são cortadas por formações pertencentes
a Serra do Mar. Em especial e o trecho norte da rodovia BR-101 em Santa Catarina se desenvole junto ao
parcela sul da Serra do Mar. Essa rodovia é a principal via da região sul do Brasil, pois liga os estados do
sudeste aos sul do país e à países do Mercosul (DOMINGUES, 2020).
Nesse contexto, um importante projeto de pesquisa, conduzido pela Universidade Federal do Paraná em
conjunto com a concessionária da rodovia BR-101, implantou e estuda um sistema de monitoramento na
encosta localizada no km 140+700, na localidade conhecida como Morro do Boi na cidade de Balneário
Caboríu em Santa Catarina, conforme ilustrado na figura 1.

Km 140+700

FPOLIS
CTBA

BR-101 SC/SUL

Figura 1.Localização da área de estudo. Fonte: Domingues (2020)

Durante as ocorrencias climáticas de 2008 em Santa Catarina, houve um grande escorregamento nesse
local, o que motivou a concessionaria a implantar obras de estabilização e iniciar o projeto de pesquisa para o
monitoramento da referida encosta. (PRETTO, 2014; DOMINGUES, 2020)
O projeto de pesquisa iniciou em 2011 e consistiu na implantação de um conjunto de instrumentos para
o monitoramento da pluviometria, das poro-pressões esforços e deslocamentos na contenção e deslocamentos
sub-horizontais da encostra. Foram instalados 6 piezômetros de corda vibrante, 8 tensiômetros do tipo jet-fill,
dois inclinômetros e um pluviógrafo, além dos instrumentos na contenção. Os instrumentos foram agrupados
em 3 lihas de instrumentação.
Esse projeto de pesquisa já foi objeto de várias publicações iniciadas conforme cita Domingues (2020)
em sua síntese das pesquisas anteriores. O autor também analisa qualitativamente mais de 7 anos de dados de
monitoramento.
Neste trabalho serão apresentadas as análises e conclusões acerca dos deslocamentos sub-horizontais,
comparando com a incidência pluviométrica medida na região.
Serão apresentadas avaliações quanto a magnitude dos deslocamentos, tendências e velocidades
realacionadas a pluviometria registrada, além da indicação de possível superfície de ruptura e uma estimativa
dos parâmetros de resistencia ao cisalhamento nesta superfície.

2 Revisão da literatura.

2.1 Medidas de deslocamentos sub-horizontais.

Medir deslocamentos de uma obra geotécnica significa medir seu desempenho, ou nocaso de encostas
medir seu comportamento e confirmar ou refutar a existência de movimentos de massa.

9
Os deslocamentos podem ser verticais, no caso de fundações ou aterros sobre solos moles, como
resultado do adensamento ou recalque e podem ser horizontais no caso de taludes ou estruturas de contenção,
ou inclinados, que seria consequencia dos dois movimentos (HUNT, 2007).
Para as medidas de deslocamentos sub-horizontais, os inclinômetros são os instrumentos mais
utilizados. São instalados em furos verticais, que através da variação da sua inclinação fornecem medidas de
deslocamentos, usualmente, a cada 50cm.
Para taludes e encostas, os inclinômetros são capazes de indicar também a posição de possíveis
superfícies de ruptura. Para isso, seu comprimento e posicionamento devem ser estudados de forma que o furo
atravesse as possíveis superfícies de ruptura (DUNNICLIFF, 1988).
Segundo Green e Mikkelsen (1988 apud STARK e CHOI, 2008), os instrumentos mais utilizados são
baseados no prototipo desenvolvido em 1952 e posteriormente comercializado pela Slope Indicator Company.
Esses inclinômetros são compostos por um tubo guia e um torpedo. O tubo guia, normalmente feito de
material plástico, possui dois pares de ranhuras em lados opostos da parede interna do tubo, formando um
conjunto de quatro ranhuras que formam dois eixos ortogonais entre si. Dessa forma é possível medir os
deselocamentos em dois sentidos.
O torpedo é um instrumento a prova d’água que possui roldanas que se encaixam das ranhuras do tubo
guia e um acelerômetro interno, cuja voltagem de saída é função da sua inclinação.

2.1.1 Margem de erro dos inclinômetros

As leituras dos inclinômetros possuem erros associados e estes podem ser divididos em erros radômicos
e erros sistemáticos. Os erros randômicos são constantes e inerentes ao instrumento, podem ser minimizados
com a realização de várias leituras e o uso das médias das leituras. Os erros sistemáticos são acumulativos e
podem ter várias origens, como a inversão de polaridade, desvio de sensibilidade, rotação dos eixos e
profundidade do tubo guia (DUNNICLIFF, 1988; MIKKELSEN, 2003; CORNFORTH, 2005).
Mikkelsen (2003), baseando numa vasta coleção de dados, sugere que o erro total de um inclinômetro
seja de 7,8 mm para 30 m de profundidade. 1,2 mm seriam referentes aos erros randômicos e 6,6 mm aos erros
sistemáticos. Os erros randômicos são associados a leitura “não zero” do instrumento, que seria um registro
de uma leitura de deslocamento, mesmo sem a inclinação do acelerômetro. Esse tipo de erro é suprimido pela
adoção de duas medidas inversas na mesma direção e o uso da média dessas medidas. Esse procedimento é
chamado de Checksum.

2.1.2 Interpretação das leituras dos inclinômetros

Jeng et al. (2017) analizam dados de cerca de 40 inclinômetros. Identificam e descrevem as várias
formas dos gráficos das leituras destes instrumentos. A Figura 2 apresenta uma síntese dos tipos de gráficos e
o texto a seguir descreve suas interpretações.

1- Compressão no tubo – Crista do


movimento.
2- Deslocamento visível. – Posição correta
interceptando 1 superfície de ruptura.
3- Mais de um deslocamento – Posição
correta interceptando 2 superfícies de
ruptura.
4- Forma de balanço – Junto a estrutura ou
com profundidade insuficiente
5- Grande deslocamento na base –
Inclinômetro curto, superfície de ruptura
logo abaixo.
6- Deslocamento negativo em balanço –
Inclinômetro curto, com indicação de
deslocamento pode sugerir outra superfície
de Ruptura abaixo.

Figura 2. Principais formas de gráficos de leituras de inclinômetros. Fonte: Domingues(2020)

10
Os perfis de 1 a 6 representam as principais formas de gráficos de leituras de inclinômetros. O quadro
da figura descreve suas interpretações.

2.2 Talude Infinito.

Em encostas naturais, em especial as com depósitos coluvionares sobrejacente à leitos rochosos ou a


camadas residuais mais resistentes, adota-se o conceito de talude infinito. Devido às grandes extensões e
pequenas profundidades dos solos, considera-se o talude como infinito com movimento translacional paralelo
ao talude e despreza-se a contribuição das extremidades (GERSCOVICH, 2016).
Gerscovich (2016) apresenta a equação 1 como a solução para obtenção do fator de segurança em função
dos parâmetros de resistencia do solo e da geometria do talude e camada instável.

[( . . ² )– ]. ∅
𝐹𝑆 = (1)
. . .

Considerando o efeito da sucção nos solos não saturados a equação 1 fica da seguinte forma:

. . . ∅ ∙ ∅
𝐹𝑆 = (2)
∙ ∙ .

2.3 Classificação dos movimentos de massa.

Dentre as várias classificações apresentadas por Cruden e Varnes (1996) a classificação em função da
velocidade de movimento é uma das mais importantes e inclusive citada por vários autores (SIMEONE e
MONGIOVI, 2007; GONZALÉZ et al.,2017) Essa classificação dá indicativos do potencial destrutivo dos
movimentos em função da sua velocidade conforme tabela 1:

Tabela 1. Classificação de Cruden e Varnes (1996).


Velocidade Até 16 16 mm/ano 1,6 m/ano a 13 m/mes a 1,8 m/h a 3 m/min a
mm/ano a 1,6 m/ano 13 m/mes 1,8 m/h 3 m/min 5 m/s
Classificação Extr. Lento Muito Lento Moderado Rápido Extr.
Lento Rápido

3 Descrição da área de estudo e da instalação dos instrumentos.

O maciço do Morro do Boi, pertencente a Serra do Mar é composto por dois tipos de rocha, o migmatito
Morro do Boi e o granito da suite intrusiva Nova Trento. O maciço rochoso possui um sistema de fraturas que
são comuns aos dois tipos de rocha, sugerindo que os esforços que os geraram ocorreram após a intrusão.
(SESTREM, 2012)
Essa formação rochosa é coberta por uma camada rasa de solo coluvionar que foi caracterizado por
Lazarin (2012) como uma areia siltosa. As sondagens ainda caracterizam duas camadas como rocha alterada
e rocha muito alterada. A tabela 2 apresenta os principais parâmetros da caracterização geotécnica da camada
de solo.

Tabela 2. Parâmetros geotécnicos (DOMINGUES, 2020)


Descrição Classificação Peso Específico Indice de Coesão (c) Angulo de
(SUC) Natural (γ) Plasticidade (IP) Atrito (Φ)
Valor Areia Siltosa 15,3 a 17,7 5% 1,1 a 2 kPa 26° a 34°
(kN/m³)

Sestrem (2012) relata que foram instalados dois inclinômetros próximos da elevação 100, porém em
ilhas de instrumentação distintas. Sendo que o inclinômetro 1 (INCL-01) ficou localizado na área estabilizada
e o inclinômetro 2 (INCL-02) ficou localizado fora da área estabilizada. Ambos os instrumentos têm 13 m de

11
profundidade de forma que ao menos 3 m sejam engastados na rocha sã. O eixo A dos inclinômetros foi
instalado perpendicular as curvas de nível, em direção a rodovia, ou seja, no sentido mais provável de um
movimento de massa.
A figura 3 apresenta um esquema da localização dos instrumentos e um perfil geológico-geotécnico.
Nela também podem ser vistos as posições das sondagens mistas usadas para a construção do perfil geológico,
a posição do pluviógrafo e da casa de leituras.


Figura 3. Localização dos instrumentos e perfil geológico – geotécnico.

4 Resultados.

4.1 Precipitação

Domingues (2020) analisou os dados dos registros de chuvas de 07/05/2012 a 27/02/2019, preenchendo
dados faltantes através de regeressão linear simples com estações vizinhas. Concluíu que a região não apresenta
uma estação ou período específico mais chuvoso, tendo em vista que as precipitações de até 100 mm diários
ocorrem em todas as estações do ano.
Durante esse período 7 ocorrências registraram mais de 100 mm de acumulado diário, 36 ocorrências
com acumuludos entre 50 e 100 mm. Segundo a classificação da CIRAM – Centro de Informações de Recursos
Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina, 42% dos dias são classificados, como dias secos, com
menos de 0,2 mm/dia de acumulado, 45% são classificados entre chuvisco e chuva moderada e 13% dos
eventos entre chuva pesada e chuva violenta, ou seja com precipitações acima de 13 mm/dia. Apenas 2 % das
ocorrencias são classificadas como chuva violenta, com precipitação superior a 45,6 mm.

4.2 Deslocamentos

Foram analizadas 84 leituras com intervalo médio de 30 dias entre fevereiro de 2012 e julho de 2019.
A tabela 3 apresenta as medidas de deslocamentos positivos e negativos para os dois inclinômetros.

Tabela 3 – Medidas máximas positivas e negativias dos inclinômetros.


Deslocamento Positivo (mm) Deslocamento Negativo (mm)
Instrumento
Valor (mm) Profundidade (m) Valor (mm) Profundidade (m)
Eixo A 10,33 1,0 -1,62 5,5
INCL-01
Eixo B 4,27 2,5 -3,16 2,0
Eixo A 4,99 2,0 -4,50 2,0
INCL-02
Eixo B 7,38 1,0 -4,60 3,5

A figura 4 apresenta os gráficos das principais leituras do INCL-01 nos eixos A e B.

12
DESLOCAMENTOS INCL-01 EIXO A (mm)
-2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 DESLOCAMENTOS INCL-01 EIXO B (mm)
1 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5
1
2
2
3
3
4
4
5
PROFUNDIDADE (m)

5
6

PROFUNDIDADE (m)
6
7
7
8
8
9
9
10
10
11
11
12
12
13
13
29/02/2012 18/04/2012
30/01/2013 02/12/2013 29/02/2012 18/04/2012
15/10/2014 04/12/2015 30/01/2013 02/12/2013
04/10/2016 05/09/2017 15/10/2014 04/12/2015
05/07/2018 08/01/2019 04/10/2016 05/09/2017
01/04/2019 02/07/2019 07/06/2018 05/07/2018
08/01/2019 01/04/2019
ERRO + ERRO -
02/07/2019 ERRO +
ERRO -
Figura 4. Gráficos dos deslocamentos do INCL-01

O “cone” formado pelas linhas tracejadas prestas representa a margem de erros sistemáticos sugeridos
por Mikkelsen (2003). Os erros radômicos foram desconsiderados, pois é feito o procedimento de checksum.
No eixo A observa-se claramente movimentos progressivos, além do cone da margem de erro acima do 5º
metro de profundidade, indicando que possa haver uma superfície de deslizamento neste ponto. No eixo B, a
maioria dos movimentos enconstra-se dentro do cone da margem de erro e mesmo após registros superiores,
há o registro de retração.
A Figura 5 apresenta os mesmos gráficos para o INCL-02. Observa-se que os deslocamentos nos de dois
eixos do INCL-02 ocorrem na sua grande maioria dentro da margem de erro sugerida por Milkkelsen (2003).
Nos dois eixos há registros que superam essa margem, porém são suscedidos por outros registros que retornam
para a margem de erro, sugerindo não haver movimento significativo registrado por este instrumento.
Considera-se portanto como único registro de deslocamentos as leituras do INCL-01 no Eixo A. Esse
instrumento está dentro de uma área rompida, estabilizada por uma contenção em solo grampeado, portanto,
faz sentido que haja algum deslocamento.
O período de análise é de 7 anos e considerando um deslocamento máximo de 10,33 mm tem-se uma
velocidade média de 1,41 mm/ano. Entretanto essa velocidade não é constante e varia de 0,29 mm/ano a 5,88
mm/ano. Existem também registros de retração de 3,34 mm (43%) entre outubro de 2016 e setembro de 2017
e de 1,49 mm (17%) entre maio de 2018 e janeiro de 2019.
A figura 6 apresenta os deslocamentos registrados a 1 m de profundidade no eixo A do INCL-01 ao
longo do período analisado, plotados juntamente com as medias mensais de precipitação. Nesta figura é
possível observar a tendencia de deslocamentos progressivos registrados pelo instrumento, bem como a sua
variação de velocidade nos movimentos. É possível também observar a relação das velocidades dos
deslocamentos e dos próprios deslocamentos com a precipitação, onde fica evidente que em períodos com
maiores precipitação a velocidade dos deslocamentos aumenta e em períodos de menor precipitação, diminui.
Mesmo a maior velocidade observada ainda fica abaixo dos 16 mm/ano, portanto classificada como
extremamente lenta, segundo Cruden e Varnes (1996).
Observa-se também os registros das retrações que chegou a 43%. Leung e Ng (2016) relatam também
retrações de 25% e atribuíram esse fenômeno a uma redução no índice de vazios que variaria com a sucção.

13
DESLOCAMENTOS INCL-02 EIXO A (mm) DESLOCAMENTOS INCL-02 EIXO B (mm)
-4 -2 0 2 4 6 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8
1 1

2 2

3 3

4 4

5 5

PROFUNDIDADE (m)
PROFUNDIDADE (m)

6 6

7 7

8 8

9 9

10 10

11 11

12 12

13 13
29/02/2012 18/04/2012 29/02/2012 18/04/2012
30/01/2013 23/01/2014 30/01/2013 23/01/2014
20/11/2014 05/01/2016 20/11/2014 05/01/2016
11/11/2016 16/01/2017 11/11/2016 16/01/2017
05/09/2017 05/07/2018 05/09/2017 05/07/2018
08/01/2019 01/04/2019
08/01/2019 01/04/2019
02/07/2019 ERRO +
ERRO - 02/07/2019 ERRO +
ERRO -

Figura 5. Gráficos dos deslocamentos do INCL-02

450 10
Chuva: 167 Chuva: 188
400 mm/mes mm/mes Chuva: 165 mm/mes
V: 1,42 8
V: 0,29 V: 0,44 mm/ano
350 mm/ano
mm/ano

Deslocamentos (mm)
Precipitação mensal (mm)

300 6

250 Chuva: 88
Chuva: 161 mm/mes 4
200 mm/mes
Chuva: 212 Chuva: V: -1,72
V: -1,82… mm/ano
150 mm/mes 126 2
V: 3,47 mm/ano mm/mes
100 V: 5,58
mm/ano 0
50

0 -2
07/05/12 07/05/13 07/05/14 07/05/15 07/05/16 07/05/17 07/05/18

Precipitação mensal (mm) Intervalos Velocidades INCL-01

Figura 6. Gráficos dos deslocamentos do INCL-02

4.3 Estimativa dos parâmetros de resistência ao cisalhamento

Considerando a possível superfície de ruptura a 5 m de profundidade, de acordo com a observação da


Figura 4, usando os parâmetros conforme descrito por Domingues (2020) e adotando a equação 1 quando a
poropressão medida era positiva e a equação 2, quando negativa, obteve-se um intervalo de valores de
intercepto coesivo e de angulo de atrito possíveis.
Considerando que, para que tais deslocamentos acontençam, os fatores de segurança deveriam estar
imediatamente inferior ou imediatamente superior a unidade, obteve-se os valores apresentados na tabela 4.

14
Tabela 4 – Valores possíveis obtidos para coesão e angulo de atrito.
Coesão (kPa) Ângulo de atrito (°)
0 30 a 32
1 29 a 31
2 29 a 30

5 Conclusões

Há um único movimento resgistrado pelos intrumentos, que é no INCL-01, dentro da área estabilizada
e este movimento é no sentido do pé do talude, ou seja no eixo A do instrumento. O deslocamento total
acumulado é de 10,33 mm com velocidade média de 1,41 mm/ano e máxima de 5,58 mm/ano. Esse movimento
de massa pode ser clasifficado como extramamente lento, segundo Cruden e Varnes (1996). As velocidades
dos deslocamentos estão relacionadas com a precipitação e em períodos secos observa-se recuperações de até
43% nos deslocamentos.
Por fim, baseado numa análise paramétrica, pode-se assumir que os parâmetros de resistência ao
cisalhamento são entre 0 e 2 kPa para a coesão e entre 29° e 32° para o angulo de atrito.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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15
Patologias em Contenções: Estudo de Caso na Orla do Perpétuo
Socorro na Cidade de Macapá-AP

Daianne de Almeida
Universidade Federal do Amapá, Macapá-AP, Brasil, daianne.dai@gmail.com

Luís Henrique Rambo


Universidade Federal do Amapá, Macapá-AP, Brasil, rambogeotecnia@gmail.com

Adenilson Costa de Oliveira


Universidade Federal do Amapá, Macapá-AP, Brasil, dcivil@gmail.com

RESUMO: Este trabalho tem como objeto de estudo o muro de contenção edificado na orla do bairro
Perpétuo Socorro na cidade de Macapá, estado do Amapá, que apresenta anomalias desde 2012, e com a
propagação do dano, em 2019 apresenta colapso progressivo ao longo de sua extensão. Propôs-se a
investigar os fatores de não-conformidades e patológicos, que corroboraram para a ruína parcial do muro de
flexão, com fundações em estacas e paramento em placas pré-moldadas, edificado às margens do rio
Amazonas. Utilizou-se como metodologia a inspeção visual com registos fotográficos e exame diferenciado
dos elementos, listando as anomalias existentes em Check-List de inspeção recomendado pela Agência
Nacional de Águas complementando-o com parte da Ficha de Vistoria indicada na ABNT NBR 11682:2009.
Para priorização das anomalias, adotou-se o Método GUT, recomendado pelo Instituto Brasileiro de
Avaliações e Perícias de Engenharia. Registos históricos indicam que a contenção iniciou sua vida útil de
forma insatisfatória. Os resultados da priorização, mostram que as medidas de controle de riscos são urgentes
e necessárias. Com score máximo (GUT=1000) a prioridade das ações é a restrição ao acesso à área de risco
(medidas administrativas) e estabilização dos desplacamentos para evitar colapso total da estrutura (medidas
de engenharia).

PALAVRAS-CHAVE: Patologias, Contenções, Muro de arrimo, Check-List, Método GUT, Macapá.

ABSTRACT: This work has as its object of study the retaining wall built at the shore of the Perpétuo
Socorro neighborhood in the city of Macapá, state of Amapá, which has presented anomalies since 2012, and
with damage propagation, in 2019, it presents a progressive collapse along its extension. It was proposed to
investigate the non-conformities and pathological factors that corroborated to the partial ruin of the cantilever
wall, with foundations in piles and precast slabs, built at the banks of the Amazon River. Visual inspection
with photographic records and differentiated examination of the elements were used as a methodology,
listing the existing anomalies in the Inspection Check-List recommended by the National Water Agency,
complementing it with part of the Inspection Form indicated in ABNT NBR 11682:2009. To prioritize the
anomalies, the GUT Matrix was adopted, recommended by the Brazilian Institute of Engineering Evaluations
and Expertise. Historical records indicate that the wall began its service life unsatisfactorily. The
prioritization results show that risk control measures are urgent and necessary. With a maximum score
(GUT=100), the priority of actions is to restrict the access to the risk area (administrative measures) and
stabilize the displacements to avoid total collapse of the structure (engineering measures).

KEYWORDS: Pathologies, Retaining structures, Retaining wall, GUT Matrix, Macapá.

1 Introdução

Inúmeros são os casos em que as estruturas deixam de atender às finalidades esperadas, perdendo sua
capacidade de uso, funcionalidade e durabilidade. O colapso no conjunto da estrutura, ou de suas partes,
pode ter como causa diversos fatores, tais como causas naturais (próprias do material usado na estrutura),
ações externas, falhas humanas e circunstâncias excepcionais. Estes fatores causais podem se associar, em
conjunto ou em sequência, para iniciar ou potencializar manifestações patológicas na construção.
Esta complexidade de causas e consequências, que corroboram para um desempenho insatisfatório da
estrutura, gera a necessidade de se estabelecer uma análise sistemática das anomalias, de modo a reconhecer
suas causas patológicas para então proceder com alternativas de recuperação da obra.
Diagnosticar uma estrutura com evidências patológicas, torna-se necessário para a determinação de
16
suas reais condições de conformidade, segurança, conforto, durabilidade e desempenho; avaliando as
anomalias existentes, suas causas, providências a serem tomadas para resguardar pessoas e propriedades de
acidentes, assim como a definição de métodos a serem adotados para sua recuperação.
Uma análise das patologias consiste em classificar a agressividade ambiental na qual obra está exposta
e por meio de inspeção visual, coletar medições, estimar possíveis consequências dos danos, não
conformidades e averiguar a necessidade de medidas emergenciais. Estes estudos são essenciais para uma
correta recuperação da estrutura, os quais devem anteceder a instrumentação e ensaios laboratoriais ou
qualquer intervenção construtiva.
Como se vê, apesar da modernização do ato de construir e das normatizações regulamentadoras, deve-
se ter compreensão de que os materiais não são perenes, sofrem ações desgastantes com o tempo, do
ambiente ao qual está exposto, precisam de manutenção preventiva, tratamento e podem ser reabilitados.
Torna-se, portanto, fundamental o diagnóstico dos mecanismos patológicos dos elementos que compõe uma
estrutura de Engenharia, o qual requer associação entre o trinômio observação-leitura-reflexão sobre este
complexo conjunto de fatores que geram a deterioração de uma estrutura.
Além dos inconvenientes provocados pela presença de patologias, os custos econômicos para
recuperação de estruturas relativamente novas (8 a 10 anos), para atingirem um certo nível de durabilidade e
proteção, crescem exponencialmente quanto mais tarde for essa intervenção. (HELENE, 1997)
Neste contexto, a reflexão técnica, sobre os condicionantes que interferem negativamente na estrutura
implicando em durabilidade e desempenhos insatisfatórios, é indispensável para decidir quais intervenções
são necessárias, e emergenciais, para estender a vida útil da estrutura evitando altos custos de reparação.
Portanto, espera-se que este estudo sirva como suporte técnico para o entendimento das causas que
afetam a contenção em concreto armado na Orla do Perpétuo Socorro e assim proceder com a escolha da
melhor recuperação da estrutura.

2 Caracterização da área em estudo

2.1 O bairro Perpétuo Socorro

A cidade de Macapá, capital do estado do Amapá, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE), possui uma população em 2010 de 398.204 habitantes, que corresponde a 59,5% dos
habitantes neste estado, os quais estão dispersos sob uma área de 6407 km2, em 28 bairros oficiais, dentre
eles o Perpétuo Socorro.
Segundo sinopse do censo de 2010, apresentada pelo IBGE, o bairro Perpétuo Socorro, possuía uma
população de 13.08713, o que representa 3,29% da população de Macapá. Conhecido historicamente como
Igarapé das Mulheres, este bairro se expandiu a partir da Rua Cândido Mendes em direção às margens do rio
Amazonas constituindo-se, mais tarde, como o bairro Perpétuo Socorro. De acordo com as pesquisas
realizadas por Costa (2015), os primeiros moradores deste bairro construíram casas de madeiras sob áreas
úmidas (localmente conhecidas como ressacas) estabelecendo assim o uso e ocupação desordenada destes
espaços. Estas palafitas edificadas, em área de várzea, iniciaram o processo de descaracterização parcial e/ou
total da encosta macapaense.
A intensificação do uso e ocupações do solo na área central de Macapá levou à execução de obras de
aterro e pavimentação em sua zona costeira, que possui solos formados a partir dos sedimentos recentes do
período Quartenário.

2.2 Condições hidrológicas e climáticas

Pela localização geográfica, Macapá tem clima tropical quente e úmido, com uma intensidade
pluviosidade significativa na maior parte do ano. Dados pluviométricos acumulados de 2018,
disponibilizados no site do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET 1) para Macapá em comparação com
a Normal Climatológica 61-90, mostram uma intensidade pluviométrica nos meses de janeiro a junho nos
últimos anos, com decaimento da precipitação até dezembro, quando retorna a chover. Pelos padrões
climatológicos normais (1981 a 2010), o mês mais seco é setembro com 28 mm/mês e o mais chuvoso,
março com 394,2 mm/mês.
Quanto à temperatura, a média observada pelo INMET na Normal Climatológica do Brasil 1981-2010,
para o estado do Amapá, indica uma variação entre 26°C a 28°C. Na capital, o mês com temperatura mais
amena é fevereiro com 26 ºC acumulado na Normal (1981-2010) e o mês mais quente é outubro com média
de 28,5°C.
Levantamentos realizados pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá
– IEPA (2002), identificaram áreas sujeitas à inundação, baixa drenagem e suscetíveis à seca na Zona
17
1 Disponível em http://www.inmet.gov.br/portal/.
Costeira do Amapá. Neste estudo a encosta do bairro Perpétuo Socorro foi classificada como uma área
exposta a inundação por marés e, devido sua área estar acomodada em terrenos quaternários, com limitação à
drenagem.
2.3 Vulnerabilidade natural à erosão

Quanto à avaliação da vulnerabilidade natural à erosão, a Zona Costeira do Amapá apresenta níveis de
“vulnerabilidade natural altamente limitante”, em estudos realizados pelo IEPA (2002). Neste levantamento,
constituiu-se um indicador sobre o grau de resistência dos solos, os quais foram agrupados em cinco níveis, a
partir de análise integrada de estudos geológicos, geomorfológicos, do solo e da vegetação. Após a
mensuração dos dados, foi definido três maiores níveis dessa matriz de vulnerabilidade: estável,
moderadamente limitante e altamente limitante. A vulnerabilidade natural altamente limitante, inclui os dois
intervalos de classe entre os valores 2,3 a 3, os quais correspondem aos limites máximos de vulnerabilidade
natural desta região. As áreas desta região são ambientes muito frágeis submetidos a inundações periódicas e
permanentes.

2.4 Influência das marés

A exposição por regime de marés representa outra condição de risco das planícies litorâneas desta
região, que acontece com intervalos de 12 a 13 horas. Acrescida as particularidades hidrodinâmicas, a orla
litorânea, e consequentemente a do Perpétuo Socorro, se torna vulnerável a fases de intenso processo erosivo
e de acresção lamosa. (IEPA, 2002)
Além da erosão na encosta, o regime de marés aliados aos eventos hidrológicos de alta amplitude
influenciam também na dinâmica de inundação nas áreas de ressacas, ocupadas inadequadamente desde os
anos 50 em Macapá.
Considerando que a contenção em estudo foi construída no intuito de evitar o avanço da erosão na área
costeira, a identificação das amplitudes das marés no rio Amazonas é um fator primordial para a concepção e
monitoramento do muro. A previsão de marés do rio Amazonas, disponíveis nos boletins hidrológicos do
IEPA (IEPA, 2018), indicam que as marés mais altas (preia-mar) atingiram 4,5 metros de altura no ano de
2018 no local de medição.

3 Características da contenção na orla do Perpétuo Socorro

O muro de arrimo na orla do perpétuo Socorro é notícia recorrente nos meios de comunicação locais
como uma obra em colapso contínuo. Imagens obtidas de 2012 pelo Google Earth (Figura 1), já indicava
anomalias ao longo da orla. Reportagens de 2014, já exibiam um cenário crítico da estrutura e ao longo dos
anos sem intervenções eficazes, os problemas tomaram maiores proporções.

Figura 1. Patologia no muro de contenção em 2012 –


bairro do Perpétuo Socorro.

3.1 Dados gerais da estrutura e seu entorno

A estabilização da encosta do Perpétuo Socorro foi realizada com dois tipos construtivos de muro de
contenção: um trecho com muro de gravidade, em concreto, e outro trecho com muro de flexão.
O muro de flexão, com fundações em estacas e paramento em placas pré-moldadas, é o objeto de
estudo deste Trabalho.
Para compreender as causas que levaram à deterioração do muro, delimitou-se um trecho para a
investigação das anomalias e não conformidades. Optou-se pelo trecho mais crítico da obra de contenção,
que fica nas proximidades do cruzamento entre a Avenida Beira Rio e Rua Rio Xingu, no bairro do Perpétuo
18
Socorro.
A caracterização exata do muro ficou limitada devido à ausência das documentações e projetos da
contenção. Para não incorrer em erros, apenas será utilizado os termos “muro com placas pré-moldadas”,
“contenção com placas pré-moldadas”, “muro de contenção” ou simplesmente “muro de arrimo” e
“contenção”. De entrevistas com engenheiros da Secretaria de Estado da Infraestrutura (SEINF) e da
Secretaria Municipal de Obras (SEMOB) constatou-se uso de estacas na fundação e de blocos de coroamento
como elementos intermediários entre a estacas e os pilares.
Pela ausência de projetos e outras documentações da obra, não foi possível obter dados referentes às
propriedades dos materiais, traço do cimento para seus elementos, tecnologia de construção utilizada na obra,
e nem seu histórico de anomalias e ensaios realizados na estrutura.
Entre os vãos, de um pilar a outro, foram fixadas placas pré-moldadas de concreto armado (Figura 2).
Na inspeção notou-se a presença de argamassa na colagem do pré-moldado nos pilares. Essas placas de
contenção, são as responsáveis por receber as ações de empuxo do reaterro. Estes esforços são transmitidos
aos pilares, bloco de coroamento, estacas e por fim ao solo. Sobre os pilares foram executadas vigas para
garantir a distribuição de esforços ao longo da contenção.

Figura 2. Croqui referente ao trecho do muro de


contenção na orla do Perpétuo.

O muro com placas pré-moldadas foi edificado em área urbana estruturada, com adensamento alto de
construções e populações residentes. A orla do bairro possui relevo suavemente ondulado e vegetação
arbórea espaçada predominante ao longo da encosta, drenagem pluvial construída, porém insuficiente e
frequentemente obstruída.

3.2 Caracterização dos elementos da estrutura

O trecho crítico do muro de arrimo é composto por 17 (dezessete) pilares de concreto com seções
retangulares distintas. Os pilares estão dispostos em duas fileiras com distâncias diferentes, ou seja não
apresentam um padrão de vão (Figura 3). As armaduras principais, já em exposição, indicam uso de barras
de ferro com diâmetro de 10 mm.

19
Figura 3. Vista do trecho do muro de contenção - 2019.

Sobre os pilares foi executada uma viga com as seguintes dimensões, em centímetros, 25x87x260.
Algumas armaduras expostas indicam uso do diâmetro de 10 mm.
As espessuras das placas variam entre 10 cm e 12 cm, assim como seus comprimentos entre 2,80 a
3,00 e largura de aproximadamente 50 cm. As barras de ferro utilizadas para a armadura principal divergem
entre uma placa e outra, assim como os diâmetros dos estribos e seus espaçamentos.
A calçada foi executada com uma camada de concreto com 7 cm de espessura e dimensões 1,4x1,5
(cm) aproximadamente. Para as juntas de dilatação usou-se em duas faces fitas de PVC e nas outras bloco
cerâmico.
Para os barbacãs, foram utilizados tubos de P.V.C. com 5 centímetros de diâmetros.
Não foram identificadas as canaletas no muro de arrimo.
As sondagens realizadas na orla do Perpétuo Socorro para o projeto da contenção não foram obtidas.

4 Inspeção no muro de arrimo na orla do Perpétuo Socorro

4.1 Metodologia de inspeção

Estruturou-se Check-List para esse estudo de caso tendo como base, a metodologia utilizada no
programa de inspeção das estruturas de barragens de concreto recomendado pela Agência Nacional de Águas
– ANA (2010). Nesta ficha de inspeção, elenca-se as anomalias mais comuns, previstas para cada
elemento/estrutura, e avalia-se, sua magnitude e nível de perigo.
Na metodologia adotada, estão elencadas as anomalias/não conformidades mais comuns para cada
elemento do muro de arrimo: pilares, viga, placas pré-moldadas, guarda-corpo, pilares e drenos. Também
consta no Check-List, ações de responsabilidade da Administração Pública, anomalias possíveis na área
urbana (próxima da contenção), para a calçada e nas margens do rio Amazonas. Desta forma tem-se um
cenário patológico da obra e no meio onde está arrimada.
Para uma inspeção visual preliminar mais precisa, ainda se contemplou parte da Ficha de vistoria
recomendada na ABNT NBR 11682:2009 e a “Ficha de descrição e antecedentes da estrutura” disponível
em Granato (2002).
A ficha de inspeção visual proposta para este trabalho engloba todas as estruturas da contenção, a
indicação de anomalias possíveis para cada elemento e a situação destas ao longo das inspeções. Para a
determinação do nível de gravidade de uma dada patologia ou não conformidade, para efeito de priorização,
foi adotado o método GUT, com os pesos recomendados por Gomide et al., (2009) apud Feitosa (2018), com
alteração apenas no nome da estrutura conforme Tabela 1 e considerando a legenda apresentada na Tabela 2.

Tabela 1. Níveis de gravidade – Adaptada para muros de arrimo.

Grau Gravidade Peso

Total Perda de vidas humanas, do meio ambiente ou do próprio 10


muro
Alto Ferimentos em pessoas, danos ao meio ambiente ou ao muro. 8

Média Desconfortos, deterioração do meio ambiente ou do muro. 6 20


Baixa Pequenos incômodos ou pequenos prejuízos financeiros. 3
Nenhuma - 1

Tabela 2. Legenda para ficha de inspeção.

Situação

NE – Anomalia Não Existente


EX – Anomalia Existente
PC – Anomalia Permaneceu Constante
AU – Anomalia Aumentou
NI – Este item Não foi Inspecionado
(Justificar)

4.2 Análises e discussões

Para evitar a fadiga visual, foram realizadas várias inspeções na orla do Perpétuo Socorro, tanto em
períodos de maré cheia, quanto em baixa-mar ao longo do ano.
Os levantamentos das anomalias e seus riscos foi realizada tanto na parte frontal, posterior e nos
próprios elementos do muro de arrimo. As anomalias e não conformidades são apresentadas abaixo, seguidas
de análises e discussões.

4.2.1 Administração

O trecho crítico da contenção é uma área propensa a risco e acidentes. Apesar do agravamento da
situação deste 2014, não há indícios de qualquer medida paliativa para proteção e isolamento da área,
tampouco há a existência de placas para alertar possíveis riscos.
Pela análise GUT (Tabela 3), a falta de acompanhamento municipal e a ausência de cercas de proteção
apresentam o mesmo grau de prioridade, seguida da ausência de placas de aviso. Essas são primeiras não-
conformidades a serem solucionadas para resguardar vidas e o patrimônio público.

Tabela 3. Administração - Anomalias e Priorização dos riscos.

LOCALIZAÇÃO/ANOMALIA
ADMINISTRAÇÃO SITUAÇÃO G U T GU PRIORIZAÇÃ
T O
Falta de documentação sobre a contenção N E P A N 3 1 1 3 5ª
E X C U I
Precariedade de acesso a veículos N E P A N 1 3 6 18 4ª
E X C U I
Precariedade de acesso às pessoas N E P A N 8 1 8 640 3ª
E X C U I 0
Falta ou deficiência e cerca de proteção N E P A N 1 1 1 100 1ª
E X C U I 0 0 0 0
Falta ou deficiência de placas de aviso N E P A N 8 1 1 800 2ª
E X C U I 0 0
Falta de acompanhamento da administração N E P A N 1 1 1 100 1ª
E X C U I 0 0 0 0

4.2.2 Área entorno da contenção

A análise GUT (Tabela 4), demostra que as tubulações de águas pluviais quebradas é a principal
anomalia geradora de riscos para a população, meio ambiente e estrutura, seguida da poluição por lixo e
lançamento de águas servidas. Portanto para a resolução destas desconformidades, é necessário plano de
limpeza e manutenção, reparos e coleta eficiente de lixo doméstico e resíduos comerciais, além de ênfase na
conscientização da população sobre as consequências do descarte inadequado de lixo.

Tabela 4. Área urbana - Anomalias e Priorização dos riscos.

LOCALIZAÇÃO/ANOMALIA 21
ÁREA POSTERIOR
SITUAÇÃO G U T GU PRIORIZAÇÃ
T O
Construções irregulares N E P A N 1 1 1 1 5ª
E X C U I
Tubulação de água pluvial quebrada N E P A N 8 1 8 640 1ª
E X C U I 0
Presença de árvores e arbustos N E P A N 8 1 3 240 3ª
E X C U I 0
Poluição por lixo e pesticidas N E P A N 6 1 8 480 2ª
E X C U I 0
Presença de desmatamento N E P A N 6 1 3 18 4ª
E X C U I
Lançamento e concentração de águas N E P A N 8 1 3 240 3ª
servidas E X C U I 0

4.2.3 Calçadas

As patologias observadas nas calçadas foram: rachaduras, afundamentos, buracos, presença de árvores
agressivas à estrutura, entulhos, indícios de deterioração por raízes, ausência de acessibilidade, tubulações
quebradas. Durante as inspeções, também foram constatados a presença de ratos e sinais de movimentos
devido a fuga de finos do reaterro durante as ações das chuvas e marés.
A constatação do agravamento destas anomalias pode ser vista comparando as Figuras 1 e 3, que
mostram que o desabamento da calçada já se encontra próximo ao meio-fio da rua Beira Rio. Quanto à
priorização dos riscos (GUT), as rachaduras, afundamentos ou buracos e a ausência de acessibilidade são as
anomalias que mais interferem na segurança de pessoas, ambiente e estrutura e os que requerem medidas
imediatas. Em segundo posição, aparece os sinais de movimento das placas devido a erosão, que é um
agravante à segurança, principalmente, dos pedestres que por lá transitam.

4.2.4 Viga

Pelo Método GUT, as anomalias consideradas agravantes, para a estrutura de contenção, são as
fissuras, corrosão da armadura, ferragem exposta e desgaste do concreto, e deterioração. É importante frisar
que a manutenção do elemento é primordial, visto que a viga está exposta a ações alternadas de molhagem e
secagem, fato que aumenta as possibilidades de corrosão da armadura. Outro ponto a ser retomado, é a não-
conformidade do cobrimento executado na viga. Sabe-se que estas patologias são desencadeadas uma após a
outra e o não cumprimento dos cobrimentos mínimos corrobora para indicar baixa qualidade nos processos
construtivos do muro de contenção. As armaduras expostas na viga estão em sua face inferior, e ao longo de
seu comprimento, que indica não-conformidade com técnicas construtivas durante a execução deste
elemento. Ainda foi contatado sob este elemento, madeira, provavelmente das fôrmas.

4.2.5 Placas pré-moldadas

Sobre as placas pré-moldadas incidem todas as ações do reaterro, ações decorrentes das marés e dos
impactos de troncos trazidos pela maré. Na execução do muro, as placas foram fixadas nos pilares com a
utilização de argamassa. A carbonatação não foi objeto de investigação, por ausência de materiais para o
ensaio. Mas diante do meio agressivo, presença do rio Amazonas e águas servidas e da exposição das
armaduras, há um indicativo de que esta patologia esteja presente nas placas.
O desgaste por erosão é a patologia mais comum a todas as placas. O atrito decorrente das ações das
marés, arrasta partículas sólidas fazendo-as se chocarem com o muro. Desta colisão, ocorre o desgaste
superficial do concreto. Patologia frequente em estruturas submetidas a contato com água.
Dentre todas as patologias observadas, a que gera maior risco para a estrutura, às pessoas e o meio, é o
desplacamento dos painéis, obtendo a maior pontuação GUT=1000 entre todos as patologias verificadas nos
elementos, seguida das patologias: ferragens expostas, desgaste superficial por erosão, desagregação do
concreto, amassamento devido a choque, corrosão da armadura, fissuras, rachaduras ou trincas. Dada a
função delas (resistir os esforços do aterro e das ações das marés), sua ausência na estrutura descaracteriza a
contenção permitindo o avanço do rio Amazonas para a área urbana.

22
Figura 4. Patologias em uma das placas pré-moldadas.

4.2.6 Guarda-corpo

Para o guarda-corpo, as ocorrências mais agravantes são: a deterioração dos materiais, da superfície do
concreto, ferragem exposta e corrosão da armadura. Devido à ausência de manutenção e reparos, estas
anomalias tendem à uma agressão mais severa na estrutura. Ainda foram observadas exposição da armadura
nos blocos de concreto e trincas, provavelmente devido à retração hidráulica.

4.2.7 Drenos

A obstrução e a deterioração dos drenos são as anomalias que requerem maior atenção para a saúde da
estrutura de contenção. Sua limpeza e a desobstrução devem permitir o fluir preferencial da água,
preservando o dispositivo da presença de vegetação ou elementos nocivos.
Devido ausência dos documentos e projetos, não se pode afirmar se houve instalação errada ou se o
material utilizado para os drenos (P.V.C.) é incompatível para a solução de contenção edificada na orla do
Perpétuo Socorro.
Como não se constatou a construção de canaletas, responsáveis por conduzir as águas que incidem
diretamente na superfície do talude, esta análise se resume à verificação dos barbacãs.

4.2.8 Pilares

Dado o ambiente úmido a qual esses elementos estão submetidos e a exposição das armaduras, na
maioria dos pilares analisados, há indicativos de carbonatação. Para melhor análise e conclusão, é
recomendado ensaios laboratoriais para avaliação da existência e profundidade de carbonatação do concreto.
Realizou-se uma inspeção visual em cada um dos 17 pilares do trecho e se contatou que possuem
seções diferentes. Outra anomalia comum aos pilares é a exposição e corrosão das armaduras, trincas e
fissuras horizontais e verticais, além de deterioração da superfície do concreto por erosão, que obtiveram o
mesmo índice de risco (GUT=640).

4.2.9 Anomalias às margens do rio Amazonas

Diante do colapso das placas pré-moldadas e pela ação da água (do rio, servidas e chuvas), o maciço
usado no aterro fluiu para o Amazonas provocando seu assoreamento. Partículas do solo usado no reaterro
estão presentes na parte frontal da estrutura de contenção, que se agrava na incidência dos períodos de chuva
associados ao regime de marés. Pela análise GUT as anomalias que incorrem maior risco é a erosão da
encosta (GUT=800). E como segunda priorização tem-se a presença de lixo (GUT=640), seguida do
assoreamento do rio Amazonas e despejo de águas servidas (GUT=480).

5 Considerações finais

Os resultados da priorização, mostram que as medidas de controle de riscos são urgentes e necessárias.
O score máximo (GUT=1000) indicam que a prioridade das ações é a restrição ao acesso de pessoas à área
de risco (medidas administrativas) e estabilização dos desplacamentos para evitar ampliação de áreas
perigosas (medidas de engenharia).
As investigações das causas de cada anomalia, mensuração de suas evoluções, não são objeto de
estudo desta pesquisa. Para um perfeito entendimento do comportamento da contenção e de seus elementos,
é necessário a instrumentalização com a realização de ensaios especiais e laboratoriais para poder entender
como surgiram e se desenvolveram os sintomas patológicos. 23
Analisando o perfil de elevação da orla do Perpétuo Socorro, obtido através das ferramentas do
Google Earth Pro, que inicia na rua Beira Rio esquina com a Rua Japurá e se estende até a o cruzamento com
a Avenida Gertrudes Saturnino Loureiro, totalizando uma distância de 438 metros, se nota que o trecho mais
instável está localizado na área de maior depressão deste caminho.
Destas análises formulou-se algumas hipóteses para possíveis causas do colapso do trecho da
contenção: A contenção sofreu forte influência pelo escoamento superficial das chuvas, dada a ausência das
canaletas; as águas provenientes do escoamento superficial se infiltraram no reaterro aumentando as
solicitações internas do maciço sobre as placas pré-fabricadas e subdimensionadas; o sistema de drenagem
do muro foi insuficiente; como há uma tubulação de drenagem pluvial no reaterro, danificada, pode ter
ocorrido vazamento do fluído, desencadeando ou acelerando a erosão do aterro compactado.
Espera-se que este trabalho sirva de parâmetros iniciais para uma inspeção mais criteriosa
contemplando plano de coleta de amostras, planejamento para técnicas de ensaios, medição e análises
adequadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Agência Nacional de águas. Manual de Preenchimento da Ficha de Inspeção de Barragens. Brasília: ANA.
2010. Disponível em: https://www.ana.gov.br/regulacao/outorga-e-fiscalizacao/barragens/inspecao-de-
barragens-1. Acesso em: 5 out. 2019.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2009). NBR 11682. Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro.
HELENE, P. Vida útil das estruturas de concreto. Artigo publicado no IV Congresso Iberoamericano de
Patologias das Construções, 1997. Disponível em:
https://www.phd.eng.br/wp-content/uploads/1997/06/Vida-util-do-concreto1997.pdf. Acesso em: 11 nov.
2019.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Brasileiro de 2010. Disponível em
https://censo2010.ibge.gov.br/ Acesso em: 10 mar. 2019.
COSTA, A.C.S. Igarapé das Mulheres: uma proposta de reabilitação urbana. Disponível em
https://www.academia.edu/17017477/IGARAP%C3%89_DAS_MULHERES_uma_proposta_de_reabilita
%C3%A7%C3%A3o_urbana. Acesso em 01 mai. 2019.
IEPA. Macrodiagnóstico do Estado do Amapá: primeira aproximação do ZEE. Macapá: IEPA-ZEE. 2002.
IEPA, I. d. Boletins Hidrológicos 2018. Macapá: IEPA. 2018. Disponível em:
http://www.iepa.ap.gov.br/meteorologia/boletim2018/boletim_hidro2018.php. Acesso em: 08 nov. 2019.
GRANATO, J. E. Patologia das construções. Notas de aula. 2002. Disponível em:
http://irapuama.dominiotemporario.com/resources/PATOLOGIA%20DAS%20CONSTRU
%C3%87%C3%95ES%202002.pdf. Acesso em: 02 nov. 2019.
FEITOSA, A. A. Inspeção Predial: estudo de caso na cidade de Fortaleza/CE. Fortaleza: Trabalho de
Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará. 2018. Disponível em:
http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/35717/1/2018_tcc_aafeitosa.pdf. Acesso em: 15 nov. 2019.

24
Identificação de Zonas de Risco de Deslizamentos de Taludes por
meio de Interferometria: Estudo de Caso numa Ferrovia Brasileira
Camilly Tostes Pinto da Silva
Especialista de Infraestrutura, MRS Logística, Juiz de Fora, Brasil, camilly.tostes@mrs.com.br

André Luis Martins da Silva


Especialista de Infraestrutura, MRS Logística, Juiz de Fora, Brasil, andre.martins@mrs.com.br

Diego Leonardo Rosa


Especialista de Infraestrutura, MRS Logística, Juiz de Fora, Brasil, diego.rosa@mrs.com.br

Maria Esther Soares Marques


Professora, Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, esther@ime.eb.br

RESUMO: O Brasil, historicamente, apresenta vários problemas relacionados ao deslizamento de terras,


gerando prejuízos ambientais, econômicos e até perda de vidas humanas. O presente trabalho tem como
objetivo principal a identificação de zonas de risco de deslizamentos de taludes por meio de interferometria.
Foi desenvolvido um projeto piloto em um ramal ferroviário localizado em Minas Gerais, onde foi utilizado a
interferometria por sensoriamento remoto com satélite do tipo InSAR. O estudo se baseia em 3 principais
pilares: revisão bibliográfica relacionada a aplicação da tecnologia em monitoramento de taludes; análise das
séries temporais de desclocamento da superfície nos pontos onde ocorreram fuga de aterro ou queda de barreira
nos últimos 5 anos e, por fim, inspeção visual nos pontos onde o deslocamento que foram destacados pelo
levantamento, conforme os parâmetros limites. Vários pontos onde ocorreram deslizamentos de magnitude
considerável não poderiam ser detectados, já que o satélite não conseguiu capturar nenhuma imagem. Concluí-
se que a tecnologia tem ganhado espaço ao redor do mundo no que tange ao monitoramento de taludes mas
ainda sem muitos estudos conclusivos. Ao mesmo tempo, a tecnologia se mostra como mais um importante
instrumento para o monitoramento de taludes, e que pode também ser aplicada a outros ativos de infraestrutura,
como cortinas atirantadas e outras contenções, obras de arte especial, dentre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Monitoramento, Taludes, Interferometria, Satélite, Ferrovia.

ABSTRACT: The main objective of this work is to identify areas of risk of landslides by interferometry. We
developed a pilot project in a railway extension located in Minas Gerais, where we used remote sensing
interferometry with InSAR type satellite. Our study is based on 3 main pillars: bibliographic review related to
the application of technology in slopes monitoring; analysis of the time series of surface at the points where
landfill leakage or barrier fall occurred in the last 5 years and, finally, visual inspection at points where the
accumulated displacement was greater than 50mm in the period of 5 years or had a speed greater than
25mm/year. It was concluded that the technology has gained space around the world with regard to the slope
monitoring but still without many conclusive studies. Several points where landslides of considerable
magnitude occurred could not be detected, as the satellite was unable to capture any images. At the same time,
the technology is another important tool for slope monitoring, and can also be applied to other infrastructure
assets, such as bolted curtains and other containments, special works of art, among others.

KEYWORDS: Monitoring, Slopes, Interferometry, Satellite, Railroad.

1 Introdução

O Brasil, historicamente, apresenta vários problemas relacionados ao deslizamento de terras, gerando


prejuízos ambientais, econômicos e até perda de vidas humanas. As instrumentações geotécnicas são
importantes meios de identificar zonas de risco, como é o caso da interferometria, que consiste na técnica de
sobreposição de duas ou mais ondas que pode ser usada para explorar a diferença entre as ondas de entrada.

25
No caso em questão, será mostrado um projeto piloto de monitoramento por interferometria, por meio
de satélite do tipo InSAR, no Ramal Paraopeba da MRS Logística S/A, concessionária ferroviária que atua na
região sudeste do Brasil.
O trabalho do corpo técnico se baseou inicialmente em 3 pilares principais: pesquisa bibliográfica
relacionada a aplicação da tecnologia em monitoramento de taludes; inpeção visual nos pontos onde o
deslocamento acumulado foi maior que 50mm no período de 5 anos ou velocidade superior a 25mm/ano e
analise das séries temporais de desclocamento da superfície nos pontos onde ocorreram fuga de aterro ou queda
de barreira nos últimos 5 anos.

2 Princípios Base do Estudo

2.1 Região de estudo


O Ramal Paraopeba está localizado no estado de Minas Gerais próximo a Belo Horizonte. Sua
construção datada entre os anos de 1914 e 1917, possui aproximadamente 140 m de extensão e necessitou de
diversos cortes e aterros, fazendo com que a região sofra constantemente com deslizamentos de terra.
Por ser um trecho de grande extensão, o monitoramento geotécnico pontual é inviável e por isso buscou-
se tecnologias de monitoramento em larga escala, e o monitoramento por sensoriamento remoto através de
interferometria se mostrou mais viável.

2.2 Tecnologia InSAR (Synthetic Aperture Radar)


A tecnologia InSAR permite leituras tanto de dia quanto a noite, já que possui sensores ativos que são
caracterizados por receber e emitir sua própria radiação. O comprimento de onda centimétrico da radiação
emitida permite ultrapassar as interferências atmosféricas e por isso as nuvens não interferem na aquisição das
imagens. A vegetação densa é uma das grandes limitações da leitura e dificilmente a onda emitida consegue
ultrapassá-la.
O satélite possui órbitas ascendente e descendente, no caso em questão, as imagens são obtidas na órbita
descendente, e tal informação é importante para o processo de tratamento das imagens, que é feito por equipe
técnica especializada. É importante ressaltar que a precisão das leituras é da ordem milimétrica, como
exemplificado na Figura1.
A cada trajetória, obtem-se um par de imagens: a fase (retardo da onda eletromagnética) e a amplitude
(intensidade da reflexão), que após uma série de processamento possibilita obter a distância entre o sensor e o
terreno. No projeto em questão, será utilizado o satélite Sentinel que completa sua trajetória a cada 12 dias, ou
seja, a cada 12 dias é realizada uma nova medida e a diferença entre elas é o deslocamento daquela superfície.

Figura 1. Exemplo da Medição dos Deslocamentos, Treinamento TRE Altamira (2020)

2.3 Deslocamentos superficiais gradativos

De acordo com Broadbent e Zavodini (1982) e Glastonburry e Fell (2010), deslocamentos superficiais
gradativos que antecedem rupturas no talude, podem aparecer desde algumas horas ou até mesmo anos antes
do evento, assim, parte-se do pressuposto que a tecnologia utilizada é eficiente para detectar os casos de
deslizamento onde o deslocamento é classificado de extremamente lento à lento, conforme a Tabela 1.

26
Tabela 1. Classes de Velocidade de Escorregamento, International Union of Geological Sciences Working
Group on Landslides (1995)
Classes Velocidade Limites
7 Extremamente rápido >5m/s
6 Muito Rápido 3m/min-5m/s
5 Rápido 1,8m/h-3m/min
4 Moderado 13m/mês-1,8m/h
3 Lento 1,6m/ano-13m/mês
2 Muito lento 16mm/ano-1,6m/ano
1 Extremamente lento <16mm/ano

Ryan e Call (1992), ao observarem uma série de rupturas em taludes de mineração conseguiram concluir
apenas que a partir do momento em que a velocidade alcança o valor de 5cm/dia, a ruptura ocorre em no
máximo 48 horas.
Glastonbury e Fell (2010) destacam que é importante observar se além dos deslocamentos há
instabilidades locais, que podem ocorrer até mesmo anos antes da ruptura do talude e, por isso, no estudo em
questão, foram realizadas inspeções visuais em todos os pontos apontados nos relatórios, de acordo com as
premissas de deslocamento acumulado e velocidade mencionadas anteriormente.
Na China, um estudo de Hansen, R.F. et al (2019) que combinou sensores LiDAR (Laser Scanner) com
satélites InSAR mostrou resultados satisfatório para monitoramento de grandes estruturas, como pontes, já que
foi comprovada a precisão milimétrica da tecnologia, embora este não seja um assunto abordado no presente
trabalho.
Em uma ferrovia que liga Amsterdã à Antuérpia, foram instaladas placas de concreto em regiões com
maior tendência de deslocamento devido à compactação do solo e também variação do nível d’água. As
velocidades de deslocamento observada foram em torno de 2mm/ano, o que não indica nenhum indício de
escorregamento. A instalação de placas de concreto aumenta a chance de captura de imagens com leituras mais
precisas, sendo uma ferramenta importante quando se deseja obter resultados melhores em regiões de interesse.

3.2 Metodologia

O estudo foi iniciado por meio da busca de referências que indicassem algum método de identificar
regiões com risco de desabamento utilizando interferometria por satélite. Não foi enontrada nenhuma fonte
que indicasse de forma objetiva uma metodologia, entretanto há alguns trabalhos que nortearam os estudos.
Para efetuar o processamento de todas as imagens contratou-se uma empresa especializada que forneceu
dados dos últimos 5 anos, por meio de uma plataforma online, onde foi possível acessar a série temporal de
todos os pontos confiáveis capturados pelo satélite, conforme Figura 2.

Figura 2. Mapa de Movimentação do Ramal do Paraopeba, TRE Maps (2020)

A empresa contratada atualiza os dados na plataforma a cada 3 meses, ou seja, processa todas as imagens
obtidas nesse intervalo de tempo e os carrega na plataforma, o que possibilita a obtenção das séries temporais
de forma intuitiva.
Além disso, a empresa entrega também um relatório que destaca os pontos que tiveram deslocamento
acumulado superior a 50 mm nos últimos 5 anos ou velocidade maior que 25 mm/ano. Tais parâmetros podem

27
ser modificados utilizando os filtros da plataforma, o que facilita os estudos. São realizadas inspeções visuais
em todos esses pontos destacados no relatório para verificar a pertinência e identificar algum outro indício de
instabilidade na região.
Até o momento, 40% dos pontos destacados não são pertinentes ao estudo, pois tratam -se de regiões
afastadas da linha ou ainda sem a possibilidade de deslizamentos. Os outros 60% foram considerados
pertinentes e por isso são monitorados com inspeções visuais periódicas ou até mesmo plano de investigações
geotécnicas adicionais.
Outra informação importante é que dos 60% dos pontos pertinentes, 30% apresentavam estruturas de
contenção com paramento em concreto, como por exemplo cortinas atirantadas. Tal resultado pode ser
utilizado como importante ferramenta no programa de manutenção desses ativos. Na Figura 3 observa-se um
dos ativos destacados.

Figura 3. Foto de Cortina com Velocidade de Deslocamento Superior a 25mm/ano, Acervo pessoal (2020)
4. Resultados
4.1 Análise das Séries Temporais de Desclocamento nos Pontos com Histórico de Deslizamentos

Foi analisado a série temporal de diversos pontos onde ocorreram grandes deslizamentos registrado pela
empresa anteriormente à realização do estudo, com o objetivo de encontrar padrões de deslocamento nas
movimentações antececdentes ao evento.
Dos eventos analisados, em 50% não foi possível obter séries temporais pelo sistema em estudo, já que
não foi feita nenhuma medição pelo satélite no local. Isso se deve possivelmente à densa vegetação da região
ou ainda devido à capacidade do satélite utilizado, como mostra a Figura 4.

Figura 4. Foto de Ponto com Deslizamento sem Leitura, Acervo pessoal (2016)

Para os demais casos, não se chegou a um resultado conclusivo já que não foi observado movimentações
aceleradas prévias e, portanto, inconclusivas, como pode ser visto nas Figuras 5, 6 e 7.

28
Figura 5. Imagem da Plataforma com Região de Análise Destacada, Plataforma TRE Maps (2020)

Figura 6. Foto do Evento, Acervo pessoal (2019)

Figura 7. Imagem da Série Temporal do Evento, Relatório IDS (2020)

5 Conclusão

A tecnologia de monitoramento por satélite InSAR, utilizando interferometria, se mostrou como uma
ferramenta de auxílio na escolha dos pontos que necessitam de intervenções adicionais, quando considerado
apenas dados de deslocamento, já que 60% dos pontos destacados como movimento acelerado relevante, se
tratava de taludes com potencial de risco. No período chuvoso, regiões com deslocamentos acelerados podem
ser classificados como pontos vulneráveis e medidas de segurança podem ser tomadas.
Não é possível estabelecer um parâmetro que funcione como “gatilho” de um grande deslizamento,
quando são considerados os dados analisados atualmente de forma isolada, pois em nenhum evento de
deslizamento registrado observou-se movimentações aceleradas nos deslocamentos que antecederam o
escorregamento. Entretanto, acredita-se que seja possível melhorar os resultados aliando os dados de
movimentação com outros, como por exemplo, dados pluviométricos e mapeamento geológico-geotécnico.
Com esses dados adicionais espera-se construir um mapa de suscetibilidade de risco a deslizamentos.

29
A falta de leitura em pontos importantes pode ser mitigada utilizando satélites com melhores resoluções,
mesmo assim não pode ser eliminada, já que algumas situações impedem completamente a leitura, como por
exemplo a densa vegetação.
A aplicação da tecnologia dentro de uma instituição pode ser compartilhada para o monitoramento de
outros ativos como pontes, viadutos, obras de arte corrente, controle de faixa de domínio, entre outros. Isso
aumenta a viabilidade para implantação.

AGRADECIMENTO

À MRS Logística pelos dados fornecidos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Hartwig, M. (2014) Monitoramento de taludes de mineração por interferometria diferencial com dados
TerraSar-X na Amazônia: mina de N4W, Serra de Carajás, Pará, Brasil. Tese de doutorado, Sensoriamento
Remoto, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, São Paulo.
Hansen, R.F. et al (2019), Monitoring Deformation along Railway Systems Combining Multi-Temporal
InSAR and LiDAR Data. College of Surveying and Geo-Informatics, Tongji University, Shanghai, China
Ling Chang, R P. B. J. Dollevoet, and Hanssen, R. F. (2018). Monitoring Line-Infrastructure With Multisensor
SAR Interferometry: Products and Performance Assessment Metrics. IEEE Journal, v.1, n.5.
Lynn M. Highland, Peter Bobrowsky (2008), O Manual de Deslizamento – Um Guia para a Compreensão de
Deslizamentos, U. S. Geological Survey, Virginia.
Variante do Paraopeba (Estrada de Ferro Central do Brasil). Wikipédia, 2021. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Variante_do_Paraopeba_(Estrada_de_Ferro_Central_do_Brasil). Acesso em:
21, abril 2021.
Brandão, Waldiza. Treinamento TRE Altamira. 10, Setembro 2020.

30
Análise Estatística de Ensaios de Recebimento em Tirantes com
Vistas a Projetos Otimizados de Cortinas Atirantadas
Matheus Belbuche Paraguassu
Estudante de Graduação, Escola Politécnica da UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, mateusbelbuche@poli.ufrj.br

Wagner Nahas Ribeiro


Professor Adjunto, Escola Politécnica da UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, wagnernahas@poli.ufrj.br

José Luiz Couto de Souza


Professor Adjunto, Escola Politécnica da UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, jlcouto@poli.ufrj.br

RESUMO: A NBR 5629/2018 estabelece os diversos ensaios aplicáveis a tirantes: ensaios de qualificação,
recebimento e fluência, destes, o ensaio de recebimento é realizado em todos os tirantes executados, com
potencial de fornecer informações de toda a obra. A adequada avaliação da carga última pelos ensaios de
campo torna-se ferramenta essencial na análise de projetos de cortinas ancoradas. Na avaliação estatística da
carga última de projeto é esperado evidenciar a margem de segurança e consequentemente a possibilidade de
projetos mais econômicos, bem como o controle tecnológico adequado da obra. Este trabalho procura avaliar
estatisticamente a margem de segurança observada em um caso de obra com extensa quantidade de ensaios
realizados e consequentemente a condição de economicidade, podendo conduzir a uma otimização do projeto.
Neste trabalho um conjunto de ensaio de recebimentos, cerca de 2200, incluindo ensaios tipo A e B, realizados
em uma obra linear na região serrana do Rio de Janeiro, é analisado. A análise será feita empregando-se os
procedimentos clássicos de extrapolação e empíricos, o método de Van der Veen (modificado por Aoki) e o
método de Massad. Para análise dessa grande quantidade de ensaios um procedimento computacional, em
linguagem Python, foi elaborado e os dados analisados estatisticamente.

PALAVRAS-CHAVE: Tirantes ancorados em solos, Ensaios de Recebimento, Método de Van der Veen,
Método de Massad, Carga Última.

ABSTRACT: The NBR 5629/2018 establishes the various tests applicable to anchorage: qualification,
acceptance, and creep tests, of which, the acceptance test is performed on all anchorage executed, with the
potential to provide information on the entire engineering work. The proper evaluation of the ultimate load by
field tests becomes an essential tool in the analysis of anchored walls designs. In the statistical evaluation of
the final project load, it is expected to evidence the safety margin and consequently the possibility of more
economical projects, as well as the adequate technological control of the work. This work seeks to statistically
evaluate the safety margin observed in a case of work with an extensive amount of tests performed and,
consequently, the economic condition, which may lead to an optimization of the project. In this work, a set of
acceptance tests, about 2200, including tests type A and B, performed in a linear work in the mountainous
region of Rio de Janeiro, is analyzed. The analysis will be done using the classic extrapolation and empirical
procedures, Van der Veen (modified by Aoki) and Massad. To analyze this large amount of tests, a
computational procedure, in Python language, was elaborated and the data were analyzed statistically.

KEYWORDS: Acceptance Tests; Anchorage; Anchored Walls; Van der Veen Method; Statistics; Python

1 Introdução

Dentro do procedimento de projeto, execução e controle tecnológico de cortinas ancoradas uma das
etapas importantes é a adequada avaliação da capacidade última de tirantes em que tradicionalmente os
procedimentos empíricos, semi-impiricos e extrapolação matemática são de grande aplicação na prática
corrente.
A adequada avaliação da carga última pelos ensaios de campo torna-se ferramenta essencial na
elaboração/análise de projetos de cortinas ancoradas, este trabalho procura avaliar estaticamente a margem de
segurança observada em um caso de obra com extensa quantidade de ensaios realizados e consequentemente
a condição de economicidade, podendo conduzir a uma otimização do projeto.

31
A NBR 6529 (ABNT, 2018) estabelece os diversos ensaios atualmente aplicáveis a tirantes: ensaios de
recebimento, qualificação, qualificação com fluência, destes, o ensaio de recebimento é realizado em todos os
tirantes da obra, com potencial de fornecer informações de toda a obra. Basicamente os ensaios de qualificação
buscam avaliar o comportamento do tirante, enquanto o de recebimento busca uma avaliação do tirante quanto
ao desempenho avaliando principalmente a carga última de ensaio e ao deslocamento da cabeça do tirante.
Pelo o estabelecido na NBR 5629, a execução do ensaio de recebimento deve ser feita da seguinte
maneira: os ensaios devem partir de uma carga inicial F0 (10% da carga máxima prevista de ensaio), ir até a
carga máxima prevista de ensaio, retornar a F0 e carregar até incorporação; medidas de deslocamento devem
ser feitas tanto na carga quanto na descarga, um novo carregamento só deve ser feito após a estabilização do
anterior em resolução de 1mm; na carga máxima, após 5 min os deslocamentos devem ser menores que 1 mm
Além disso, são previstos dois tipos de ensaio para tirantes permanentes. Os ensaios podem ser do tipo
A ou do tipo B, sendo que os ensaios do tipo A só tem obrigatoriedade de serem feitos em ao menos 10% dos
tirantes e os do tipo B é obrigatório nos restantes. Portanto, todo tirante terá pelo menos um ensaio de
recebimento do tipo B. Considerando a carga de trabalho prevista como Ft, os ensaios do tipo A são
caracterizados pela seguinte sequência de estágios de carga: F0, 0,3Ft, 0,6Ft, 0,8Ft, 1,0Ft, 1,2Ft, 1,4Ft, 1,6Ft,
1,75Ft. Já os ensaios do tipo B são caracterizados pela seguinte sequência de estágios de carga: F0, 0,3Ft, 0,6Ft,
0,8Ft, 1,0Ft, 1,2Ft, 1,4Ft.
Para análise de carga última, Gomes et al (2016) colocam que os principais métodos matemáticos
existentes para extrapolação de carga última são de Van der Veen (1953), Van der Veen modificado por Aoki
(1976, apud Dias (2019)) e Massad (1986).

2 Metodologia

Neste trabalho um conjunto de ensaio de recebimentos, cerca de 2284 ensaios, incluindo ensaios tipo A
e B, realizados em uma obra linear na região serrana do Rio de Janeiro, é analisado, empregando-se os
procedimentos clássicos de extrapolação e empíricos, Van der Veen (modificado por Aoki) e Massad, na
avaliação estatística da carga máxima de projeto com a carga última estimada por esses procedimentos
evidenciando a margem de segurança e consequentemente a possibilidade de projetos mais econômicos.
A metodologia empregada é a mesma de Gomes et al (2016), os ensaios são analisados e as cargas
comparadas, excetuando a quantidade de ensaios e a comparação entre carga última e carga de trabalho.
A obra em questão trata-se da construção da canalização de rio, no trecho com aproximadamente 2 km
de extensão, através de cortinas atirantadas de concreto armado, moldadas no local, apoiadas em estacas e
ancoradas com tirantes de aço ST85/105 - Φ 32 mm da Dywidag , reinjetáveis com tubos e válvulas manchetes.

2.1 Método de Aoki Modificado

Antes de se falar sobre a extrapolação de Van der Veen modificada por Aoki (1976, apud Dias (2019)),
deve-se primeiro falar sobre o método consagrado de extrapolação de Van der Veen (1953). A extrapolação
de Van der Veen (1953) consistia da premissa que a curva carga-deslocamento é representada pela função
exponencial na forma:

Q = Q ult . (1 − e−ad ) (1)

Em que: Q = carga aplicada em um estágio; d = deslocamento medido para o estágio de carga Q; a = coeficiente
angular obtido a partir de regressão linear; e Qult = carga última.
A função pode ser rearranjada e reescrita da seguinte forma:

Q
ad = −ln (1 − Q ) (2)
ult

Portanto, é possível de forma iterativa determinar a carga última Qult. Segundo Melo (2009), o
procedimento antigo adotado para a obtenção do correto valor de carga última consistia em experimentar
diferentes valores de Qult na Eq. 2 até se obter uma reta no gráfico.
A modificação de Aoki (1976, apud Dias (2019)) trata-se, segundo Dias (2019), da observação que na
metodologia original não era necessário passar pela origem do gráfico. Além disso, Dias (2019) afirma que a
modificação de Aoki teve como objetivo a determinação de um r² mais próximo de 1, tal fato contribui para

32
um melhor ajuste da curva carga-deslocamento e também permite melhor adequação do trecho extrapolado
com o experimental. Dessa forma, com adição de um coeficiente linear b temos a nova equação escrita da
seguinte forma:

Q = Q ult . (1 − e−ad+b ) (3)

Em que: Q = carga aplicada em um estágio; d = eslocamento medido para o estágio de carga Q; a = coeficiente
angular obtido a partir de regressão linear; b = coeficiente linear obtido a partir de regressão linear; e Qult =
carga última.
E de forma similar à equação 2, a equação 3 pode ser reescrita da seguinte forma:

Q
ad + b = −ln (1 − Q ) (4)
ult

Porém, como o objetivo citado anteriormente é obter um parâmetro de regressão linear r² mais próximo
possível de 1 não é mais necessário utilizar um método gráfico para obtenção do melhor ajuste. Portanto, será
feito o método dos mínimos quadrados para obter um ajuste para cada Qult iterado utilizando a 4, a iteração
com maior r² será a válida.
Sendo assim, o método tem como produto final uma curva extrapolada semelhante a da figura 1.

Figura 1. Exemplo de curva carga-deslocamento extrapolada.

Porém, como o objetivo é obter um r² mais próximo possível de 1 não é mais necessário utilizar um
método gráfico para obtenção do melhor ajuste. Portanto, será feito o método dos mínimos quadrados para
obter um ajuste para cada Qult iterado, a iteração com maior r² será a válida.
Em relação à confiabilidade da extrapolação Aoki et al. (2013) sugerem níveis de confiabilidade a serem
analisados, relacionando a carga máxima do ensaio com o valor da carga extrapolada (Qult), quais sejam:
Confiável, Aceitável, Tolerável e Intorelável, conforme tabela a seguir:
Tabela 1. Níveis de confiabilidade de acordo com Aoki et al (2013).
[Qult/Qmáx-1].100% Extrapolação
≤ 25% Confiável
25% - 50% Aceitável
50% - 75% Tolerável
≥75% Intolerável
2.2 Método de Massad

De acordo com Melo (2009) o método proposto por Massad (1986) surge por meio da análise dos
métodos propostos por Van der Veen (1953) e por Mazurkiewicz (1972, apud Felleniu (1980)), mirando em
combinar o procedimento livre de inconvenientes de um e a precisão do outro, respectivamente.
Segundo Melo (2009) deve-se primeiro arbitrar uma constante qualquer d para os deslocamentos e
depois encontrar os valores de carga Qi correspondentes como mostra a figura 2.

33
Figura 2. a) recalques igualmente espaçados d e suas cargas correspondentes e b) ajuste de cargas
de acordo com a equação 8.

Portanto a sequência de cálculo conforme Melo (2009) para o método de Massad (1986) será:

Q i = Q ult (1 − eα′di ) (5)

Em que: Qi = carga correspondente a um múltiplo da constante d; Qult = carga última; di = deslocamento
múltiplo da constante d; e a’ é a constante dada por:

lnβ
α′ = ∆d
(6)

e b = inclinação da reta dada por:


𝑄 −𝑄𝑖
𝛽 = 𝑄𝑖+1
−𝑄
= 𝑒 𝛼′𝑑𝑖 (7)
𝑖 𝑖−1

Em seguida os valores de Qi e Qi+1 devem ser ajustados em uma reta de equação, como mostrando
tambem na figura 2:

𝑄𝑖+1 = 𝛽𝑄𝑖 + 𝛼′ (8)

Considerando Qult como os valores de Qi e Qi+1 para o limite de i indo para o infinito na Eq. 8 teremos a
Eq. 9:

𝛼′
𝑄𝑢𝑙𝑡 =1−𝛽 (9)

Para análise dessa grande quantidade de ensaios um procedimento computacional, em linguagem


Python, foi elaborado e os resultados analisados estatisticamente em que se observa a margem existente para
se buscar projetos mais econômicos e avaliar hipóteses de projeto empregadas. Ainda segundo Aoki et al
(2013) é importante analisar e fornecer o R² e o gráfico, em conjunto, para verificar o adequado ajuste aos
dados e se a interpretação. Como mostra a figura 3, adaptada de Magalhães (2005) e Dias (2019), caso o ensaio
seja interrompido em diferentes fases, o ensaio pode apresentar três regiões em que o deslocamento atinja
somente um trecho inicial de fase elástica, fig 3a, o trecho inicial com um trecho com deformação viscoelastica,
fig 3b e um trecho com deformações excessivas de onde se obtem a carga última do trecho ancorado, fig 3c.

34
Figura 3. Possiveis resultados de ensaio cargaxdeslocamento, a) trecho inicial elastico, b) trecho
inicial com deformação viscoelastica e c) trecho com deformações excessivas (adap. de Magalhaes (2005) e
Dias (2016)).

3 Resultados e Discussões

Os resultados do procedimento computacional elaborado, analisados 2284 ensaios, calibração e


interpretação pelo método de Van der Veen (modificado por Aoki) mostram se eficaz quanto ao ajuste de
dados, com ajuste acima de 0,99, e tempo de processamento de dados satisfatório considerando a grande
quantidade ensaios. Entre os resultados observa-se diferença entre 1 a 3 vezes a carga máxima de ensaio.
Importante observar que o método até agora empregado pode ser entendido apenas como uma extrapolação
matemática, sem o viés físico do problema, o que deve ser analisado com critério.

3.1 Comparacão entre métodos e confiabilidade

Com a finalidade de comparar os métodos de Van der Veen e Massad foi feito um ajuste pelo método
dos mínimos quadrados. A fig. 4a demonstra esse ajuste entre os métodos, onde caso os métodos fossem
perfeitamente compatíveis o valor de R² e do coeficiente angular seriam 1. O resultado obtido foi de 0,992
para o primeiro e 1,0231 para o segundo indicando uma boa compatibilidade entre os métodos. A média do
erro e o desvio padrão do erro entre os métodos foi de, respectivamente, 4% e 8%. Tal fato significa que a
partir de uma distribuição normal pode ser calculado que a probabilidade da carga última entre os métodos ser
diferente por mais de 20% seja considerada nula.
300 1000
943

900

250
800

691
700
Carga Última Van der Veen (tf)

200

600

150 500
442
y = 1.0231x
R² = 0.992
400
100
300
Massad x Van der Veen
208
50 1:1 200
Linear (Massad x Van der Veen)
100

0
0 50 100 150 200 250 300 0
Carga Última Massad(tf) Quantidade Intoleravel Quantidade Toleravel Quantidade Aceitavel Quantidade Confiavel

(a) (b)
Figura 4. a) Relação entre carga extrapolada de Van der Veen e Massad, b) confiabilidade das
extrapolações de acordo com a tabela 1.
No conjunto de todos os ensaios, aplicando o conceito de confiabilidade proposto na tabela 1, e mostrado
na figura 5b, tem-se uma grande maioria de 71% de ensaios confiáveis e ensaios aceitáveis e o restante de
ensaios tolerável e intolerável.
Os procedimentos implementados em código computacional se mostraram adequados no ajuste dos
parâmetros, tanto para a alternativa usando o método de Van der Veen quanto o método de Massad, e também
em relação a adequada determinação das cargas últimas de ensaio sendo o tempo de processamento de todos
os ensaios em cerca de 15 min (Paraguassú, 2021).

35
3.2 Relações carga última em relação carga de trabalho/carga máxima de ensaio

Além disso, e seguindo também a proposta de Dias (2019), é possível separar os ensaios em dois grupos:
ensaios confiáveis/aceitáveis e ensaios toleráveis/intoleráveis. Analisando esses grupos tem-se uma clara visão
da praticidade e utilidade dessa classificação, que indica os ensaios que podem ter sido interrompidos no trecho
elástico e portanto estão com sua estimativa de carga última comprometida.
Também, ao analisar a distribuição percebe-se que os ensaios confiáveis e aceitáveis não apresentam
nenhum resultado possivelmente interrompido no trecho elástico, conforme indicado na figura 5a e 5b. Por
consequência, seus resultados mostram-se muito mais compatíveis com o esperado. Já o segundo grupo
(ensaios toleráveis e intoleráveis, figuras 5c e 5d ), indicam um possível interrompimento no trecho elástico e
portanto uma determinação de carga última maior e inadequada. Pode-se observar um efeito de deslocamento
da distribuição para esquerda demonstrando esse efeito de perda de qualidade da determinação da carga última
conforme indicado por sua classificação.
900
828
800
747

700

600
Quantidade

500
441
Van der Veen
400 367 Massad

287 285
300

200
119
102
100
42
0 0 0 0 9 8 11 14 2 4 0 0 0
0
<1 1.25 - 1.50 1.50 - 1.75 1.75 - 2.00 2.00 - 2.25 2.25 - 2.50 2.50 - 2.75 2.75 - 3.00 3.00 - 3.25 3.25 - 3.50 >3.5
Carga Última / Carga de Trabalho

(a)
600

499
500
454
440

400
Quantidade

300 Van der Veen


261
Massad

200

116
100
53
23 14
1 7 11 2 4
0 0 0 0 0 0 0 0 0
0
<1 1.25 - 1.50 1.50 - 1.75 1.75 - 2.00 2.00 - 2.25 2.25 - 2.50 2.50 - 2.75 2.75 - 3.00 3.00 - 3.25 3.25 - 3.50 >3.5
Carga última / Carga de Trabalho

(b)
400

352
350

300

250
Quantidade

200 186 Van der Veen


Massad
145
150

100 84

56
49
50

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 6 3 0 0 0
0
<1 1.25 - 1.50 1.50 - 1.75 1.75 - 2.00 2.00 - 2.25 2.25 - 2.50 2.50 - 2.75 2.75 - 3.00 3.00 - 3.25 3.25 - 3.50 >3.5
Carga última / Carga de Trabalho

(c)

36
70
66

60
56
54
52
50

41
40
Quantidade Van der Veen

30 Massad
26
24
21 20
20
15

10

3
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1
0
<1 1.25 - 1.50 1.50 - 1.75 1.75 - 2.00 2.00 - 2.25 2.25 - 2.50 2.50 - 2.75 2.75 - 3.00 3.00 - 3.25 3.25 - 3.50 >3.5
Carga Última / Carga de Trabalho

(d)
Figura 5. Relação Cargas última / Carga de Trabalho de Van der Veen e Massad para ensaios
a)Confiáveis, b)Aceitáveis, c) Toleráveis e d) Intoleráveis. Fonte: o autor

Separando os ensaios em tipo A e tipo B também possível perceber uma diferença da qualidade dos
dados produzidos entre eles. Conforme as figuras 6 e 7 mostram, é notável que os ensaios do tipo A produzem
muito mais resultados aceitáveis e confiáveis. Tal resultado é esperado dado que os ensaios do tipo A possuem
uma sequencia de carregamentos de maior quantidade que a do tipo B e por consequência maiores as chances
que se passe do trecho elástico.
800

715.0
700
644.0

600

500
Título do Eixo

400 Van der Veen


333.0 345.0
320.0 Massad
300 270.0
252.0 250.0

200

83.0 90.0
100 68.0
44.0 31.0
7.0 16.0 8.0 13.0 15.0
0 0 0.0 0.0
0
<1 1.25 - 1.50 1.50 - 1.75 1.75 - 2.00 2.00 - 2.25 2.25 - 2.50 2.50 - 2.75 2.75 - 3.00 3.00 - 3.25 3.25 - 3.50 >3.5
Carga Última / Carga de Trabalho

(a)
70

61.0
60

50

40 38.0 38.0
Quantidade

34.0
Van der Veen
29.0 Massad
30 27.0

21.0
20

11.0
10 8.0 8.0 8.0 8.0
5.0

0 0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 1.0


0
<1 1.25 - 1.50 1.50 - 1.75 1.75 - 2.00 2.00 - 2.25 2.25 - 2.50 2.50 - 2.75 2.75 - 3.00 3.00 - 3.25 3.25 - 3.50 >3.5
Carga Última / Carga de Trabalho

(b)
Figura 6. Relação Cargas última / Carga de Trabalho para ensaios (a) tipo A e (b) tipo B. Fonte: o autor
800 60
57
730

700 52

50
589
600

40
500

400 30
325 25
22
300
20

200

118 10
100

0 0
Quantidade Intoleravel Quantidade Toleravel Quantidade Aceitavel Quantidade Confiavel Quantidade Intoleravel Quantidade Toleravel Quantidade Aceitavel Quantidade Confiavel

(a) (b)
Figura 7. Distribuição dos ensaios (a) tipo A e (b) tipo B segundo a classificação de Aoki (2013). Fonte: o
autor

37
Tomando por base os resultados da relação carga última e carga de trabalho para os resultados de ensaio
das classes confiável, aceitável, tolerável e intolerável, cerca de 302 ensaios apresentam relação acima de 2,5,
sendo 13% do total de ensaios realizados. Ainda da figura 5 tem-se 1337 dos 1633 ensaios com classificação
confiável ou aceitável (método de van der Veen), ou seja, 81,8%, com margem superior a 2, observando que
para tirantes permanentes o fator de segurança prescrito por norma deve ser maior que 1,75.

4 Conclusões

Como também recomendado em Gomes et al (2016) a margem encontrada nos ensaios superior a 2,
acima de 80% dos ensaios no presente trabalho, sendo que Gomes et al comparam com a carga máxima de
ensaio, permite que adequadamente as cargas de trabalho possam ser ajustadas e menores comprimentos
podem ser reanalisados quando a sua ruptura e levar a projeto mais econômicos.
Os resultados encontrados colaboram para a otimização de projeto, considerando a carga última superior
à prevista e consequentemente a diminuição do comprimento do tirante e impactando a economicidade e a
otimização em projeto, destacando-se que tomar-se em conta que a carga última obtida pela extrapolação seja
carga de ruptura deve ser avaliado cuidadosamente, além de que deve se ter os cuidados com a execução dos
ensaios de forma a não prejudicar a análise a ser realizada.
Deve-se considerar nessa análise que a otimização ajustando o comprimento de ancoragem para
comprimento mais adequado quanto a economicidade deve ser criteriosamente avaliada em conjunto com os
demais fatores intervenientes na obra, como por exemplo, a padronização de comprimentos, gestão de
execução, que podem contribuir para a maior economicidade da obra em questão. Ademais, para uma análise
mais ampla da metodologia, verificando sua extrapolação para outras obras, seria importante também analisar
obras que contemplassem outros fatores como tipos de tirantes (fios e cordoalhas), executores.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Empresa Tecnosolo Engenharia SA pelos resultados de ensaios fornecidos e


analisados no presente trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2018). NBR 5692. Tirantes ancorados no terreno - Projeto e
execução. Rio de Janeiro.
Aoki, N.; Cintra J.; Tsuha C.; Giacheti H. (2013). Fundações, ensaios estáticos e dinâmicos. Oficina de Textos,
São Paulo, Brasil.
Dias, Marcus. (2019). Proposta de Dimensionamento Geotécnico de Tirantes por Meio de Ensaios de
Recebimento. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto.
Fellenius, B. H. (1980). The analysis of results from routine pile load tests. Ground Engineering, London, Vol.
13, No. 6, pp. 19 - 31
Gomes, R.; Porto, T; e Anjos, T. (2016). Utilização do método de extrapolação de cargas proposto por Massad
(1987) para controle de ancoragens utilizando aplicativo web. XVIII Congresso Brasileiro de Mecânica
dos Solos e Engenharia Geotécnica, Belo Horizonte.
Magalhães, P. H. L. (2005). Avaliação dos métodos de capacidade de carga e recalque de estacas hélice
contínua via provas de carga. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, Brasília.
Massad, F. (1986). Notes on the interpretation of failure load from routine pile load tests. Soils and Rocks,
v.9, n.1, p. 33-38, Brasil.
Melo, B. (2009). Análise de Provas de Carga à Compressão à Luz do Conceito de Rigidez. Dissertação de
Mestrado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
Paraguassú, M. B. (2021). Análise estatística de ensaios de recebimento em tirantes aplicando-se métodos de
extrapolação clássicos de van der Veen (modificado por Aoki) e método de Massad com vistas a projetos
em cortinas atirantadas. Monografia Conclusão de Curso. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Van der Veen, C. (1953). The bearing capacity of a pile. International conference on soil mechanics and
foundation engineering. Proceedings…vol. 2, p. 84-90, Zurich.

38
MÉTODOS DE ALTEAMENTO DE BARRAGENS DE
TERRA - ESTUDO DE ESTABILIDADE E DRENAGEM
INTERNA

Djalma Rabelo Leite Neto, Engenheiro Geotécnico, BVP Geotecnia e Hidrotecnia, Belo Horizonte,
Brasil,djalmarabelo.eng@gmail.com.

Fernanda Yamaguchi Matarazo, Engenheira Geotécnica, BVP Geotecnia e Hidrotecnia, Belo Horizonte, Brasil,
fernandaymatarazo@gmail.com.

RESUMO: O presente artigo teve como objetivo apresentar os métodos de alteamento convencionais de
barragens de mineração e sintetizar a importância de sistemas de drenagem interna, bem como sua
funcionalidade e seu impacto na estabilidade e segurança da estrutura. Foram realizadas análises de
estabilidade utilizando o software Slide, considerando o critério ruptura Mohr-Coulomb e os métodos de
equilíbrio limite de Morgenstern-Price e Spencer. As análises foram divididas em duas hipóteses, sendo:
hipótese um, calibração do modelo com percolação pelo sistema de drenagem interno e hipótese dois, com
calibração do modelo com sistema de drenagem interna colmatado. Para a definição do modelo, foi
considerado uma estrutura alteada por jusante desenvolvida pelos autores, os parâmetros de resistência dos
materiais foram definidos por ensaios laboratoriais. Os fatores de segurança obtidos foram comparados com
os fatores de segurança mínimos preconizados pela norma NBR 13.028/2017 da ABNT. Os resultados
apresentam a interferência da drenagem interna nos fatores de segurança, uma vez que a falta de
funcionalidade, impacta na elevação da percolação e diminuição das tensões efetivas nos materiais que
compõem o barramento.

PALAVRAS-CHAVE: Métodos de alteamento, Drenagem Interna, Percolação, Estabilidade de Taludes

ABSTRACT: The present article aimed to present the conventional raising methods of tailing dams and to
summarize the importance of internal drainage systems, as well as their functionality and their impact on the
stability and safety of the structure. Stability analyzes were performed using the Slide software, considering
the Mohr-Coulomb rupture method and the Morgenstern-Price and Spencer limit equilibrium methods. The
analyzes were divided into two hypotheses: hypothesis one, model calibration with percolation by the internal
drainage system and hypothesis two, with model calibration with clogged internal drainage system. For the
definition of the model, it was considered a structure raised by downstream developed by the authors, the
parameters of resistance of the materials were defined based on data found in the literature. The safety factors
obtained were compared with the minimum safety factors recommended by ABNT's NBR 13.028/2017
standard. The results show the interference of internal drainage on safety factors, since the lack of functionality
impacts on the increase of percolation and reduction of effective tensions in the materials that make up the
dam.

KEYWORDS: Raising methods, Internal Drainage, Percolation, Slope Stability

1 Introdução

A mineração é um dos setores básicos da economia do país, contribuindo de forma decisiva para o bem-estar
e a melhoria da qualidade de vida dos presentes e futuras gerações, sendo fundamental para o desenvolvimento
de uma sociedade equânime, desde que seja operada com responsabilidade social, estando sempre presentes os
preceitos do desenvolvimento sustentável (FARIAS, 2002).
Massad (2003) afirma que grande parte dos acidentes, envolvendo barragens de terra, foram ocasionados
devido à falta de um sistema eficiente de controle de fluxo. Os impactos ambientais da mineração são diversos.
Desde problemas locais específicos até alterações biológicas, geomorfológicas, hídricas e atmosféricas de
grandes proporções. Conhecer esses problemas e a forma de minimizar os seus efeitos é essencial para garantir a
preservação dos ambientes naturais.
Por muitos anos utilizou-se preferencialmente os métodos convencionais de construção de barragens no setor
minerário, sendo eles: método de alteamento a montante, método de alteamento linha de centro e método de
alteamento a jusante.
39
2 Métodos de alteamento, drenagem interna e monitoramento

O método montante consiste na construção e alteamento do barramento sempre à montante sobre o rejeito já
consolidado, tendo assim aproveitamento dos rejeitos depositados como parte da estrutura de contenção. Os
rejeitos são lançados a montante desde a crista do dique inicial, formando uma praia, que servirá como fundação
para a construção do novo alteamento (TRONCOSO,1997; ARAÚJO, 2006; SOARES,2010; CARDOZO,
PIMENTA, ZINGANO, 2016). Os autores ainda afirmam que esse método de construção de barragens é o mais
antigo, simples e econômico e embora seja o mais utilizado pelas mineradoras, apresenta um baixo controle
construtivo tornando-se crítico principalmente em relação à segurança.
O método de jusante é a construção e alteamento do barramento sempre a jusante. (CARDOZO, PIMENTA,
ZINGANO, 2016). Neste método se faz necessária a construção de um dique inicial, impermeável, empregando-
se normalmente material argiloso compactado. Este dique inicial deve ser dotado de drenagem interna (filtro
vertical e tapete drenante). (SOARES, 2010; GALVÃO SOBRINHO, 2014). Ainda de acordo com Soares, (2010)
barragens alteadas pelo método de jusante necessitam de volumes maiores de material para construção. Além
disso, a área ocupada pelo sistema de contenção de rejeitos é muito maior, devido ao progresso da estrutura para
jusante em função do acréscimo da altura.
O método linha de centro consiste em construção e alteamento do barramento tanto à montante quanto à jusante,
acompanhando um eixo vertical, chamado de linha de centro, sobre o rejeito depositado a montante e sobre o
próprio barramento à jusante. Esse método é intermediário que tenta minimizar as desvantagens entre o método
de montante e o de jusante (PASSOS, 2009; SOARES, 2010; GALVÃO SOBRINHO, 2014; CARDOZO,
PIMENTA, ZINGANO 2016; GALO, 2017).
A drenagem ou drenos em estruturas são comuns a todos os métodos construtivos, são responsáveis por
conduzir a água percolada para fora do maciço e prevenir excessos de poropressão devido ao fluxo de água da
barragem. As forças de poropressão são forças favoráveis ao movimento. Caso não haja eficiência no sistema de
drenagem em direcionar o fluxo na barragem, pode desenvolver o piping, definido como a erosão interna que
provoca a remoção de partículas do interior do solo, formando “tubos” vazios que provocam colapsos e
escorregamentos laterais do terreno. Este fenômeno é descrito por Marques Filho e Geraldo (1998), ocorrendo
em solos pouco coesos onde o gradiente hidráulico é maior que a coesão do solo.
Um sistema de drenagem interna de uma barragem pode ser composto por: Dreno vertical ou inclinado, dreno
horizontal, dreno de saída ou de pé (receptor dos drenos verticais, inclinados e horizontais) e trincheira drenante
na fundação.
Para o controle da linha freática no aterro da barragem e abatimento das poropressões é indispensável um
sistema de drenagem eficiente, sua ausência ou colmatação implicará na segurança da estrutura. A Figura 1
apresenta um modelo esquemático de uma seção sem sistema de drenagem interna, onde é possível observar a
elevação da linha freática interceptando a face jusante da barragem e a saturação do pé da estrutura.

Figura 1: Barragem de terra sem sistema interno de drenagem (Lambe e Whitman, 1969).

Os sistemas de drenagem interna deverão atingir a recepção do fluido e permitir a máxima vazão percolada
no barramento. Esses dispositivos possuem materiais mais permeáveis que os materiais que compõe o maciço
da estrutura e devem ter camadas de transição para evitar que as partículas do aterro adentrem o sistema de
drenagem, já que o carreamento de grãos finos pode ocasionar a colmatação deste sistema e consequentemente a
elevação da percolação interna, dessa forma as tensões efetivas e a resistência dos materiais ao cisalhamento são
impactadas e podem levar a estrutura a colapso.
Para acompanhar o comportamento de uma barragem e sua fundação, comumente utiliza-se instrumentos de
medição como indicadores de nível d’água (INA), régua linimétrica, piezômetro (PZ), medidor de vazão (MV),
inclinômetro (INC), dentre outros equipamentos. De acordo com Machado (2007), o sistema de monitoramento
tem o objetivo de preservar as funções operacionais e estruturais da barragem.

40
3 Princípio das Tensões Efetivas

O solo é um sistema trifásico, formado por partículas sólidas, água e ar. Dessa forma, em solos saturados, uma
parcela das tensões impostas ao maciço (𝜎) é transmitida aos grãos (𝜎′), enquanto outra parte é transmitida à água
(𝑢). No entanto, apenas as partículas sólidas possuem resistência ao cisalhamento. Esse princípio, é citado como
Princípio das Tensões Efetivas, apresentado por Terzaghi (1943), conforme Equação 1.

𝜎′ = 𝜎 − 𝑢
Equação 1

Onde:
𝜎′ é a tensão efetiva atuante sobre as partículas do solo;
𝜎 é a tensão total atuante;
u é a poropressão ou tensão neutra.

4 Resistencia ao cisalhamento e Fator de Segurança

De acordo com Pinto (2006) A resistência ao cisalhamento do solo pode ser definida como a máxima tensão de
cisalhamento que o solo pode suportar, sem que sofra ruptura e um dos critérios mais utilizados para representar
este fenômeno são os de Coulomb e Mohr, conforme apresenta a Equação 2.
𝜏 = 𝑐 ′ + 𝜎 ′ 𝑥 𝑇𝑔 𝜑′
Equação 2

Onde
 é a resistência ao cisalhamento do solo;
c’ é a coesão efetiva;
𝜎′ é a tensão efetiva atuante;
’ é o ângulo de atrito efetivo do solo.

Para avaliar o comportamento das estruturas, durante o dimensionamento e operação dos barramentos faz-se a
verificação da condição de estabilidade, já que carregamentos devido às forças gravitacionais, poropressão e
sobrecargas acidentais tendem a causar instabilização dos taludes. Na prática, os métodos de análises
determinísticos, baseados em equilíbrio limite, são os mais utilizados. Nesta análise, a resistência ao
cisalhamento requerida para se manter o equilíbrio é comparada com a resistência ao cisalhamento disponível
no maciço, como resultado, obtêm-se um indicador de desempenho denominado Fator de Segurança (FS) médio
ao longo da superfície de ruptura. A Equação 3 apresenta esta razão e a Figura 2 apresenta um desenho
esquemático das tensões cisalhantes.
τ
FS =
τ mob
Equação 3

Onde:
 é a resistencia ao cisalhamento do solo;
 mob é a resistência mobilizada.

Figura 2: Tensões cisalhantes mobilizada e resistente em uma massa de solo (GERSCOVICH, 2012)

A Norma Técnica Brasileira (NBR) 13.028/2017 apresenta os requisitos mínimos para barragens de mineração,
incluindo as barragens para disposição de rejeitos, contenção de sedimentos e preservação de água em mineração,
visando atender às condições de segurança, operacionalidade, economicidade e desativação. Os fatores de
41
segurança mínimos devem ser determinados através de análises determinísticas de estabilidade, considerando as
condições de carregamento drenado e não drenado dos diversos materiais do barramento, quando aplicável. A
Tabela 1 apresenta os cenários a serem considerados na verificação da condição da estabilidade e os fatores de
segurança mínimos preconizados pela norma NBR 13.028/2017 da ABNT.

Tabela 1: Fatores de Segurança


Cenário Descrição FS Mínimo
l Operação com rede de fluxo em condição normal de operação,nível máximo do reservatório 1,5
ll Operação com rede de fluxo em condição extrema, nível máximo do reservatório 1,3
Ill Solicitação sísmica, com nível máximo do reservatório 1,1
Fonte: NBR 13028, 2017.

5 Causas de Ruptura

Caracterizam os eventos de ruptura o aumento dos esforços atuantes ou a diminuição da resistência do material
que compõe o a estrutura de barramento. Cita-se algumas causas do aumento das forças atuantes ou diminuição
das forças resistentes, as causas internas geralmente são desencadeadas por variação no nível freático no interior
do maciço e pode ocasionar:

• Aumento do peso específico do material, aumento da poropressão e consequentemente diminuição


da pressão efetiva;
• Rebaixamento rápido do NA, forças de percolação, ocasionando a diminuição da resistência do solo
(ou rocha), ou do maciço;
• Galgamento do NA do reservatório, ocasionando a saturação da crista e fase a jusante da estrutura;
• Carreamento dos grãos finos, devidos a drenagem insatisfatória que pode levar a surgências de
erosões a jusante da estrutura.

Como causas externas pode-se citar:

• Mudança da geometria do talude (inclinação e/ou altura), devido a cortes ou aterros no talude ou em
terrenos próximos ao barramento;
• Aumento da carga atuante (por sobrecargas na superfície, como obras de reforço: retaludamento,
enrocamento, dentre outros);
• Drenagem superficial não eficiente ou inexistente, ocasionando trincas, rachaduras e saturação no
maciço da estrutura.

6 Análises de Estabilidade

Foram realizadas análises de estabilidade para determinação dos fatores de segurança em uma seção hipotética
de barragem, alteada pelo método de jusante, através do software Slide, desenvolvido pela Rocscience. Os
parâmetros de resistência dos solos foram adotados de acordo com resultados de ensaios laboratoriais. Para a
análise foram considerados, o método de ruptura de Mohr-Coulomb e os métodos de equilíbrio limite de
Morgenstern-Price e Spencer. Os fatores de segurança obtidos foram comparados com o fator de segurança
mínimo, do cenário l preconizado pela norma NBR 13.028/2017 da ABNT.
As análises de cálculo foram divididas em duas hipóteses, considerando os mesmos parâmetros de resistência e
geometria do modelo em ambas, sendo:

• Hipótese 1: com drenagem interna e calibração da linha freática com a condição de funcionamento
do dreno;
• Hipótese 2: com drenagem colmatada, sem eficácia.

Para obter a posição da freática no interior do maciço também foi utilizado o software Slide que, por elementos
finitos, calcula o fluxo, pressões e gradientes de acordo com as definições do usuário e condições de contorno
hidráulicas adotadas. Para representar o sistema de drenagem interna colmatado reduziu-se em 100 vezes a
permeabilidade do material adotado nos drenos.
A Figura 3 e a Figura 4 apresentam as cunhas de ruptura, fatores de segurança e parâmetros utilizados nos
materiais.

42
Figura 3: Resultados da análise de estabilidade - Hipótese 1.

Figura 4: Resultados da análise de estabilidade - Hipótese 2.

A partir das análises desenvolvidas, destaca-se a importância do sistema de drenagem interna neste tipo de
estrutura. Percebe-se que, para o mesmo nível de reservatório e geometria, o cenário com o sistema de drenagem
operando dentro da normalidade apresenta uma freática controlada e FS=1,75 (Figura 3) enquanto o cenário onde
o filtro e dreno de fundo perderam sua capacidade drenante (Figura 4) apresenta freática elevada no interior do
maciço da estrutura e FS abaixo de 1,5, ou seja, abaixo do valor determinado como mínimo pela norma ABNT
NBR 13.028/2017.

43
7 Conclusão

O presente trabalho teve como objetivo apresentar alguns métodos de alteamento convencionais em barragens de
terra e enfatizar a importância de sistemas de drenagem interna para abatimento de poropressões gerados na
estrutura e sua estabilidade. As premissas adotadas para as calibrações dos modelos consideraram uma seção
hipotética e materiais com parâmetros definidos por meio de ensaios laboratoriais. Conforme observado, a
calibração teve êxito, uma vez que é possível observar a variação da posição do nível freático e seu impacto nos
fatores de segurança obtidos.
No cenário que considera o sistema de drenagem operando dentro de sua normalidade, apresenta um nível freático
controlado e FS maior que o recomendado na norma brasileira de barragens de rejeito, enquanto o cenário onde
a permeabilidade do material drenante foi reduzida em 100x para representar sua colmatação, apresentou uma
freática mais elevada e FS menor quando comparado ao cenário anterior.
Ressalta-se que para a condição de controle e entendimento da percolação é imprescindível a instalação de
instrumentos de monitoramento. Nesse sentindo, conclui-se que o controle de percolação interno, assim como
demais aspectos em um barramento devem ser sempre monitorados a fim de evitar colapsos que prejudicam os
fatores ambientais, humanos, socioeconômicos dentre outros.

8 Referências

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR-13028: Mineração -


Elaboração e apresentação de projeto de barragens para disposição de rejeitos, contenção de sedimentos e
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45
Análise do Monitoramento da Instrumentação de uma Barragem
de Terra - Estudo de Caso
2021
Ana Carolina Jeronimo de Oliveira
Analista Ambiental, HIDROBR Consultoria, Belo Horizonte, Brasil, ana.oliveira@hidrobr.com

Talita Caroline Miranda


Professora, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, talita@etg.ufmg.br

RESUMO: O presente artigo apresenta o estudo de caso de uma barragem de terra, em que é analisado o
histórico da instrumentação da barragem para a definição dos níveis de controle. Para tal, foi definida a carta
de risco a partir de simulações variando-se manualmente o nível da linha freática no maciço, com o intuito de
se obter os níveis: normal, atenção/alerta e emergência, atribuídos respectivamente aos Fatores de Segurança
(FS) maior ou igual a 1,50; entre 1,50 e 1,30; entre 1,30 e 1,10; e menor do que 1,10. De forma
complementar é utilizada a metodologia adaptada de Fusaro (2007), que se baseia-se na série histórica de
leituras dos instrumentos, para a determinação de valores consistentes e não consistentes para as leituras. A
utilização de ambas metodologias não se mostraram satisfatória para a barragem em estudo devido ao
pequeno histórico de
monitoramento analisado.

PALAVRAS-CHAVE: Barragem de rejeito, análise de estabilidade, instrumentação.

ABSTRACT: This article presents the stability analysis and the analysis applied to the monitoring data of an
earth dam to define control levels. For this purpose, the risk letter was defined, where simulations are carried
out by varying the level of the water table in the massif, in order to obtain the normal level of operation, level
of attention, level of alert and level of emergency, attributed respectively to the Security Factors (SF) greater
than or equal to 1.50; between 1.50 and 1.30; between 1.30 and 1.10; and less than 1.10. In a complementary
way, the adapted methodology of Fusaro (2007) is used, which is based on the historical series of readings of
the instruments, for the determination of consistent and non-consistent values for the readings. The use of
both
methodologies did not prove to be satisfactory for the dam under study due to the small monitoring history
analyzed.

KEYWORDS: tailings dams; Slope stability; monitoring data

1 Introdução

A constante avaliação da segurança das barragens é essencial para garantir seu funcionamento e evitar
acidentes, ocasionando danos ambientais, econômicos, sociais e perdas de vida. Nesse contexto, o
monitoramento da instrumentação da barragem auxilia na identificação de falhas na estrutura e sinaliza
situações de instabilidade.
Para garantir a eficiência do monitoramento, é necessário que estes dados sejam corretamente
interpretados, e tenham valores de referência. Nesse sentido, a definição dos níveis de segurança para a
instrumentação serve de sinalização para diferentes níveis de operação da barragem, indicando possíveis
anomalias, ou indícios instabilidade e possível falha da barragem.
Estes níveis de segurança normalmente são estabelecidos através das Cartas de Risco, realizado
através de análises determinísticas de estabilidade. No entanto, em algumas barragens, devido a geometria,
tipos de materiais componentes e outros fatores, este tipo de análise deixa de ser representativo, surgindo a
necessidade de estabelecer um novo critério para carta de segurança. Fusaro (2007) estabelece metodologia
alternativas para a determinação destes níveis de referência, baseados no histórico do instrumento.

46
2 Metodologia

O presente trabalho apresenta um estudo de caso de uma barragem utilizada para a contenção de
rejeitos de cassiterita. A seção em estudo, apresentada na Figura 1 possui 4 instrumentos, sendo eles: INA-
01, INA-02, PZ-02 e PZ-04.

Figura 1. Seção Instrumentada

Na Figura 2 mostra-se o histórico das leituras para estes intrumentos e o nível do reservatório.

Figura 2. Histórico das leituras da barragem

Observa-se que as leituras se encontram com poucas oscilações, acompanhando o nível do


reservatório. A apresenta as médias das leituras para cada instrumento, considerando o ano de 2020.

Tabela 1. Valores Médios- Instrumentação


Instrumento Leitura Média (m)

47
INA-01 3,49
INA-02 3,50
PZ-02 2,95
PZ-04 1,76

Através destas médias, foi traçada a linha freática da barragem. Além da adoção das medias, optou-se
por adaptar a linha freática através das observações da estrutura em campo, que indou a presença de
surgências no pé do barramento.

2.1 Carta de Risco- Análise Determinística

Inicialmente, adotou-se a Carta de Risco pela metodologia largamente utilizada no meio prático da
engenharia, que consiste no aumento manual da linha freática até que se alcancem os fatores de segurança
correspondentes aos níveis de atenção (1,5), alerta (1,3) e emergência (1,1). Para cada análise foram medidas
as leituras dos instrumentos através da diferença de cotas entre a “boca” do tubo e a linha freática obtida na
simulação.

2.2 Carta de Risco - Análise Estatística Descritiva

Como análise complementar, será realizada uma análise de forma adaptada, de metodologia proposta
por Fusaro (2007) para barragens com pequenas oscilações no nível do reservatório. A autora pressupõe que
os instrumentos variem sazonalmente devido a ocorrência de chuvas, e para cada mês são estipulados valores
consistentes e inconsistentes para cada instrumento. Salienta-se que esta metodologia é utilizada para a fase
de operação da barragem, não indicado para a fase de enchimento, ou para barragens com elevadas
alterações do N.A. A Figura 3 reproduz os resultados obtidos por Fusaro (2007).

Figura 3. Resultados apresentados no trabalho de Fusaro


(Fonte: Fusaro 2007)

No presente artigo, devido ao pequeno histórico da instrumentação e pela baixa frequência de leituras,
não é possível realizar a correlação das leituras com os meses do ano, desta forma, adotaremos a metodologia
adaptada, considerando zonas de consistência e inconsistências constantes ao longo de todo o ano.

A metodologia consiste na análise estatística descritiva dos dados através de diagramas Boxplot.
Seguindo a metodologia de Fusaro (2007), os valores previstos para as medidas serão aqueles considerados
incluídos na faixa dada pelos percentis 5 e 95. Estes percentis são adotados com o objetivo de excluir as
leituras mais discrepantes, para as quais seria interessante alertar as equipes de análise dos dados. Desta
forma, são consideradas ‘normais’ as medidas inseridas numa faixa de valores que abrange 90% dos dados
históricos registrados dentro do período de leituras selecionado para cada instrumento e considerado
representativo de um comportamento satisfatório da barragem.

48
3 Resultados

3.1 Análise Determinística- Níveis de Segurança

Primeiramente foi simulada a situação do nível de atenção, correspondente ao F.S. 1,50, apresentado
na Figura 4.

Figura 4. Carta de Risco, Nível de atenção


(Fonte: Autor)
Para a segunda análise, elevou-se a linha freática até a condição mais crítica possível, supondo a
colmatação da região do dreno invertido e elevação da linha d’água nessa região. O limite do aumento da
linha freática se deu no material do enrocamento, que devido a sua alta permeabilidade, não permite a
elevação da linha d´agua nesta região. Nesta simulação, a linha freática encontra a face do maciço em dois
pontos: na berma, no encontro do enrocamento com o aterro, e no pé do talude. Isto indica a possibilidade de
ocorrência de erosão interna (pipping) e falha da barragem por esta causa. Por ser o menor F.S. encontrado
para a seção, este foi considerado o F.S. crítico, conforme apresentado na Figura 5.

Figura 5. Carta de Risco, F.S. mínimo obtido 1,347


Fonte (Autora)
Os resultados obtidos para cada instrumento e análise são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Resultados obtidos- Análise determinística- Níveis de Segurança


Leitura Média Normal Nível de Atenção (F.S ≤ Nível Mínimo (F.S. ≤
Instrumento
(m) 1,5) 1,374)
PZ-01 2,44 - -

49
PZ-02 2,95 - 2,361
PZ-03 2,73 - -
PZ-04 1,76 1,7 0,68
INA-01 3,49 - 3,047
INA-02 3,5 - 2,361

3.2 Análise Estatística Descritiva – Zonas Consistentes

Os resultados da metodologia de Fusaro (2007) aplicada são apresentados na Figura 6 e Tabela 3. Os


valores resultantes para o Percentil 5 e Percentil 95 foram os limites estabelecidos para as leituras na zona
consistente.

Figura 6. Resultados -Boxplots

Tabela 3. Resultados, zonas de consistência


Zona de consistencia dos valores
Percentis
INST. N Média Desvio Padrão Máx. Mín.
5 25 75 95
INA-01 61 3,51 0,11 3,67 3,01 3,33 3,46 3,57 3,66
INA-02 45 3,55 0,11 3,8 3,29 3,41 3,49 3,63 3,74
PZ-02 18 2,95 0,21 3,32 2,6 2,61 2,91 3,07 3,3
PZ-04 8 1,98 0,06 2,09 1,91 1,92 1,94 2,02 2,08

Para os instrumentos INA-01 e INA-02, observou-se uma mudança de comportamento nas leituras do
período de 06/06/2017 a 10/04/2018, o que indica a elevação da linha freática no maciço e posterior
estabilização (constatada através das leituras seguintes). Não há registros que expliquem a razão deste
comportamento para estes instrumentos, por isso, estes dados foram desconsiderados na aplicação da
metodologia adaptada proposta por Fusaro (2007).

A Figura 7 apresenta os resultados para o instrumento INA-01 em forma de gráfico, para a possível
comparação dos valores obtidos com o histórico de leituras. Também foram inseridos os níveis de segurança
obtidos na análise determinística para comparação.

50
Figura 7. INA-01 – Série Histórica versus valores limitantes
3 Conclusões

A primeira limitação da análise determinística dos níveis de segurança é que apenas os instrumentos
presentes nas seções geotécnicas investigadas podem ser analisados. Além disso, nesta metodologia, não
existe diferenciação entre os instrumentos do tipo piezômetro e do tipo indicador de nível d’água, podendo
resultar em níveis de referência inadequados. Observando-se o nível normal dos instrumentos e sabendo-se
que o PZ-02 e o INA-01 estão instalados na mesma linha e próximos, infere-se que a diferença entre os
valores médios para cada um deles (PZ-02=2,95 e INA-01=3,49) seja explicada pelo valor da poropressão
positiva medida pelo piezômetro, que não equivale ao nível d’água medido pelo INA. No entanto, ao se
analisar todos os instrumentos com a mesma linha freática, obtem-se níveis de referência igual para os dois.
Para a correta aferição dos níveis de segurança em piezômetros, deve ser analisada as poropressões geradas
no maciço, e para isso, se torma mais adequado a realização de análise da rede de fluxo. Para esta barragem
de estudo, que apresenta seção com pouca instrumentação, se torna difícil inferir a linha freática ao longo de
todo o maciço, podendo levar a interpretações equivocadas sobre o comportamento da linha freática. O nível
de atenção da barragem em estudo foi obtido apenas alterando-se a linha freática próximo ao PZ-04, desta
forma, apenas alterações de leituras neste instrumento já podem indicar condições que possam vir a
comprometer a estabilidade da barragem. Entretanto, como os valores de referência obtidos não
consideraram a poropressão, não se pode afirmar que este valor realmente implica nesta situação para a
barragem.

Devido a geometria da barragem não foram obtidos fatores de segurança correspondentes aos níveis de
Alerta (1,3) e emergência (1,1). Isto não significa que a barragem está segura, pois pode apresentar outros
problemas, surgências que possam acarretar piping (erosões internas) como mostrado na análise obtida com
o fator de segurança 1,374. Para fins de estudo, os valores da instrumentação obtidos para o cenário com
fator 1,374 foi assumido como nível de Alerta.

Outro ponto importante a ser considerado é que no nível normal de operação da barragem, os
instrumentos localizados na crista se apresentam com cotas próximas a do nível do reservatório, indicando
uma baixa perda de carga entre o talude de montante e o talude de jusante. Isto pode indicar uma baixa
permeabilidade do maciço, ou a criação de linhas preferencias de passagem de água, devido a problemas de
compactação. Além disso, as investigações geotécnicas indicam que abaixo do maciço, existe uma camada
de aluvião, que devido as suas características, tem alta permeabilidade, o que pode acarretar fluxo de água
considerável nesta região. Para consideração desses pontos, deve-se realizar uma análise de percolação da
barragem. Para o melhor monitoramento deveriam ser instalados novos instrumentos, próximo ao pé da
barragem para identificação da poropressão nesta região, e um piezômetro para monitorar o fluxo na região
do aluvião.

51
Para esta metodologia, concluiu-se que a definição de níveis de referência apenas pela análise
determinística com o traçado manual da linha freática não trouxe resultados satisfatórios. Caso esta barragem
tivesse drenagem interna, a carta de risco seria um bom identificador de bom funcionamento deste sistema.
Como não existe drenagem interna, e não foram obtidos níveis abaixo de 1,1 (nível de emergência), este tipo
de análise pode trazer a “falsa sensação” que a barragem não oferece riscos. Salienta-se que o rompimento de
barragens não se dá apenas por ruptura por escorregamento, podendo se iniciar por erosões internas, etc.

Em relação a metodologia de Fusaro (2007), conclui-se que a definição de “zonas consistentes”


permite uma maior previsão do comportamento do instrumento, pois podem identificar problemas no
equipamento ou na barragem mesmo sem atingir os níveis de segurança obtidos através da análise
determinística.

De qualquer forma, como os dados fornecidos da instrumentação são de períodos curtos (de 3 anos
para os INAs, e 1 ano para os PZs) e o monitoramento é realizado em baixa frequência, as zonas de
consistência obtidas foram baseadas em amostras pequenas, podendo não representar todo o comportamento
da barragem.

Deve-se esclarecer também que, valores consistentes não significam ausência de anomalias na
barragem, e nem o contrário para os valores inconsistentes. Estes valores servem apenas de referência para o
comportamento da leitura dos instrumentos, e não deve ser substituída por outros procedimentos do
monitoramento que consistem em inspeções de campo e averiguações do funcionamento dos equipamentos.
Uma análise baseada em um histórico pequeno pode resultar em valores precisos, mas não acurados. Desta
forma, para que a análise estatística ofereça resultados verossímeis, é necessário o aumento da frequência do
monitoramento e o acesso a um maior período de dados.

Por fim, salienta-se leituras anômalas de apenas um instrumento não significam necessariamente
problemas na barragem. Os procedimentos a serem tomados de acordo com o nível obtido para cada
instrumento devem ser definidos pelo geotécnico responsável pela estrutura.

Devido a todas as variáveis apresentadas, destaca-se a importância das inspeções de campo para
acompanhamento do estado real da barragem e identificação de anomalias, que podem não ser identificadas
nas análises de estabilidade de carta de risco.

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Enrrocamento.1. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006.

52
Caracterização da Rede de Fluxo Desenvolvida em Um Maciço
Terroso
Guilherme Henrique da Silva Pinto
Engenheiro Civil, Pimenta de Ávila Consultoria, Belo Horizonte - MG, Brasil,
guilherme.henrique@pimentadeavila.com.br

Gabriel Augusto de Faria Reis


Acadêmico em Engenharia Civil, Pimenta de Ávila Consultoria, Belo Horizonte - MG Brasil,
gabriel.reis@pimentadeavila.com.br

Fabiana Aparecida Blanco


Acadêmica em Engenharia Civil, Pimenta de Ávila Consultoria, Belo Horizonte - MG Brasil,
fabiana.blanco@pimentadeavila.com.br

Sabrina de Paula Ferreira


Engenheira Civil, Pimenta de Ávila Consultoria, Belo Horizonte - MG Brasil,
sabrina.ferreira@pimentadeavila.com.br

RESUMO: O monitoramento do perfil de poropressões em maciços de terra é de suma importância na


avaliação da segurança de uma estrutura geotécnica, uma vez que a resistência ao cisalhamento do solo
depende das tensões efetivas às quais ele está submetido. Comumente, nas barragens de mineração, o
entendimento do fluxo é avaliado de duas formas: (i) instrumentação, podendo ser por piezômetros ou
medidores de nível d’água; e (ii) por meio de ensaios de campo, como o ensaio de piezocone (CPTu). Dessa
forma, o presente trabalho tem por objetivo caracterizar o modelo de fluxo desenvolvido em uma seção de
uma estrutura de contenção de rejeitos utilizando ensaios de CPTu com dissipação de poropressão e
instrumentação do tipo piezométrica. O modelo de fluxo elaborado se mostrou complexo, sendo possível
observar um sistema de dupla drenagem nos rejeitos, sem a condição de fluxo saturado na fundação. Já os
instrumentos, denotaram a influência do lençol regional nas poropressões, sendo possível denotar um período
de chuvas e outro de estiagem de forma nítida.

PALAVRAS-CHAVE: Modelagem Numérica, CPTu, Instrumentação.

ABSTRACT: The monitoring of the porepressure profile in land masses is of paramount importance in
assessing the safety of a geotechnical structure since the soil shear strength depends on the effective stresses
to which it is subjected. Commonly, in mining dams, seepage understanding is evaluated in two ways: (i)
instrumentation, which can be by piezometers or water level indicator; and (ii) through field test, such as the
piezocone test (CPTu). Thus, the present work aims to characterize the seepage model developed in a
cross-section of a tailings’ containment structure using CPTu tests with porepressure dissipation and
piezometric instrumentation. The seepage model developed proved to be complex and it was possible to
observe a dual drainage system in the tailings, without the condition of saturated seepage in the foundation.
The instruments, on the other hand, denoted the influence of the regional sheet in the pore pressures, being
possible to denote a rainy season and a dry season clearly.

KEYWORDS: Numerical Modeling, CPTu, Instrumentation.

1 Introdução

A avaliação das poropressões em estruturas de contenção é de suma importância para determinação da


condição de estabilidade, visto que a resistência ao cisalhamento dos solos é função direta da tensão efetiva ao
qual o material é submetido (Terzaghi & Peck, 1987). Tais poropressões podem ser influenciadas por vários
fatores, sendo destacado principalmente a freática regional e o regime pluviométrico. Para a avaliação do
regime de poropressões, usualmente são utilizados instrumentos de medição de poropressões, como os
piezômetros, e ensaios de campo, como o ensaio de piezocone com dissipação de poropressões.

53
Para o fluxo ocorra, devem ser satisfeitas duas condições básicas: (i) diferença de energia; e (ii)
continuidade da fase líquida (Das, 2007). No que tange a primeira condição, tendo em vista que a velocidade
da percolação em estruturas de terra é irrisória, usualmente descarta-se a contribuição da energia cinética.
Dessa forma a energia que dita a percolação é a soma da carga de elevação (posição) e a carga da pressão
(poropressão), sendo comumente chamada carga total. Já para a segunda condição, cabe destacar que a
continuidade da fase líquida ocorre também em meios não saturados (Das, 2007).
Como detalhado por Silveira (2006), com base na avaliação da piezometria é possível aferir com certa
precisão a evolução das redes de fluxo e percolação que se estabelecem nos maciços compactados e fundações
das barragens. Para tal, são utilizados instrumentos medição de poropressões positivas, os chamados
piezômetros, os quais podem ser elétricos ou de tubo aberto (Casagrande). A aferição da pressão de água por
tal tipo de instrumento ocorre apenas na célula de medição de pressão, de forma pontual, porém contínua, com
várias leituras ao longo do tempo. Dessa forma, para a completa caracterização de uma rede de fluxo, é
necessária a instalação de múltiplos instrumentos em diversas profundidades e em várias regiões do maciço.
Outra forma de determinar as poropressões em estruturas de contenção, é a utilização dos ensaios de
piezocone (Cone Penetration Test with porepressure measurement - CPTu) com dissipação de poropressão. O
ensaio de CPTu caracteriza-se internacionalmente como uma das mais importantes ferramentas de prospecção
geotécnica (Schnaid e Odebrecht, 2012). O ensaio tem princípio de realização simples: consiste na cravação
de uma ponteira cônica (que possui 60º no ápice) e área transversal de 10cm² (podendo variar a depender do
equipamento). A cravação é realizada usualmente com velocidade de 20±5mm/s, sendo registradas leituras a
cada 2cm ou 5cm, em média. O ensaio CPTu retorna três parâmetros principais: a resistência de ponta (q c),
que caracteriza a resistência do solo à cravação do cone, o atrito lateral (fs), que representa a aderência do solo
à luva de atrito e a poropressão gerada durante a cravação do cone, comumente medido atrás do cone (u2).
Em conjunto com o ensaio CPTu também é comum a realização de ensaios de dissipação de poropressão,
que têm por objetivo determinar a poropressão de equilíbrio do meio (u0). A execução do ensaio consiste na
parada completa da cravação do piezocone, seguida da medição da poropressão com o tempo. Dessa forma,
avalia-se a dissipação do excesso de poropressão gerado pela cravação do cone. Cabe destacar que os
resultados obtidos pelo CPTu com dissipação se referem a um “retrato” daquela condição ensaiada no
momento da execução do ensaio.
Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo apresentar a caracterização da rede de percolação de
uma estrutura utilizando dados de instrumentação e ensaios de CPTu com dissipação de poropressão. Os dados
do ensaio de CPTu foram utilizados para a avaliação do fluxo do maciço, bem como determinação da
estratigrafia da seção geológica, utilizando a metodologia proposta por Robertson (2016).

2 Metodologia

2.1 Seção Geológica-Geotécnica

A seção geológica da estrutura de contenção de rejeitos analisada é apresentada na Figura 1. A seção é


composta por cinco materiais diferentes, sendo: (i) aterro compactado; (ii) argila amarela; (iii) argila de
fundação; (iv) rejeitos; e (v) areia argilosa. Abaixo da camada da argila de fundação, foi observado a presença
de um solo arenoso, típico da geologia regional, como demonstrado pelo ensaio de CPTu. Para tal material,
não existem até o momento ensaios de para a determinação da permeabilidade em laboratório. A Tabela 1
apresenta os resultados da permeabilidade saturada obtida por meio de ensaios de laboratório.

Figura 1. Seção Geológica com as informações existentes (instrumentação e ensaios de CPTu).

54
Tabela 1. Intervalo de permeabilidades obtidas por ensaios de laboratório.
Material Legenda Intervalo de permeabilidades (m/s)
Aterro compactado 4 x 10-7 a 1 x 10-8
Argila Amarela 8 x 10-7 a 1 x 10-8
Argila de Fundação 2 x 10-7 a 1 x 10-8
Areia Argilosa -
Rejeito 5 x 10 a 4 x 10-9
-8

2.2 Ensaios de CPTu com dissipação de poropressão

Os ensaios de CPTu com dissipação de poropressão foram realizados durante o período de chuvas da
região e utilizados para realizar a caracterização geológica-geotécnica, sendo um ensaio executado no interior
do reservatório (CPTu-01) e outro à jusante da seção (CPTu-02). Utilizando tais ensaios é possível
identificar/separar os materiais que compõe a seção analisada com base no comportamento dos materiais,
sendo adotada neste trabalho a metodologia proposta por Robertson (2016) para tal classificação. Para a
aplicação da proposta de classificação comportamental proposta, o primeiro passo é determinar a resistência
de ponta total corrigida (qt) pela poropressão, conforme a Equação 1.

qt = qc + u2 (1 - a) (1)

Onde:
a – Razão entre a área transversal da célula de carga e área de projeção do cone (sendo utilizado o valor de
0,75 neste trabalho, como fornecido pela empresa que realizou ambos os ensaios).

A proposta de Robertson (2016) faz a classificação dos materiais com base no comportamento dos solos,
dividindo em três classes: (i) clay-like material, sendo os solos com comportamento argiloso; (ii) transitional,
sendo os materiais de comportamento de solos siltosos; e (iii) sand-like material sendo os solos com
comportamento arenoso. Para tal classificação o autor utiliza o Índice de Classificação Comportamental (IB):

• IB > 32: solos de comportamento arenoso;


• IB < 22: materiais de comportamento argiloso;
• 22 < IB < 32: solos transicionais (comportamento siltoso).

Sequencialmente, são calculados os valores do atrito normalizado (Fr), a resistência de ponta


normalizada (Qtn) e por fim o índice de classificação comportamental (IB). Tais variáveis podem ser calculadas
com as Equações 2 a 4.

fs
Fr = q −σ x100% (2)
t v0

qt −σv0 Pa n
Q tn = ( Pa
) (σ′v0
) (3)

100(Qtn +10)
IB = (4)
(Qtn Fr +70)

Em que:
fs – atrito lateral;
Pa – Pressão atmosférica;
v0 – tensão vertical total;
'v0 – tensão vertical efetiva, obtida pela diferença da tensão vertical total e a poropressão de equilíbrio.

Além disso, a proposta de Robertson (2016) apresenta o coeficiente CD (Contractive/Dilative) para a


avaliação do comportamento do material ao cisalhamento. Para valores de CD superiores a 70, têm-se um
comportamento dilatante e valores inferiores a 70 um material contrátil. O valor de CD pode ser calculado
conforme a Equação 5.

55
CD = (Q tn − 11)(1 + 0,06Fr )17 (5)

Outro parâmetro importante utilizado na avaliação dos ensaios de CPTus é o parâmetro de


poropressão, que pode ser calculado segundo a Equação 6.
u −u
Bq = q 2−σ 0 (6)
t v0

Em conjunto com o ensaio de CPTu, foram realizados ensaios de dissipação de poropressão para a
determinação da poropressão de equilíbrio (u0) e avaliar as tensões in situ. Sendo assim, serão apresentados os
resultados para a dissipação de 100% do excesso de poropressão (u100%), que indicará o valor de u0 no ponto
analisado. Além disso, com o objetivo de avaliar a qualidade do ensaio de dissipação também será apresentado
a poropressão do início do ensaio de dissipação (u0%), a qual deverá estar próximo de u2 medido pelo CPTu.

2.3 Instrumentação existente

A Figura 2 apresenta o histórico da instrumentação existente na seção analisada. Como pode ser
observado, durante o período de chuvas (janeiro a julho) o nível dos instrumentos de fundação se eleva em
resposta ao nível freático regional. Já no restante do ano, tendo em vista a redução do índice pluviométrico, a
instrumentação deixa mensurar poropressões, visto a redução da contribuição do lençol regional. Utilizando
tais dados, será elaborado um modelo de fluxo correspondente ao período de chuvas. Em destaque o período
utilizado na calibração do modelo de fluxo.

Figura 2. Instrumentação existente: a) Carga total; b) Poropressões em m.c.a.

3 Resultados

A Figura 4 apresenta a interpretação do ensaio de CPTu-01 realizado nos rejeitos (Figura 1), sendo
possível identificar de forma nítida a separação material “argila amarela” dos rejeitos. Dentre as principais
características dos rejeitos, destacam-se as elevadas poropressões de cravação e baixa resistência de ponta
(inferior a 1000kPa). Além disso, tal material apresenta duas regiões com poropressões de equilíbrio nulas,
sendo uma na parte superior e outra no contato rejeito/argila amarela. Tal condição sugere que a drenagem dos
rejeitos ocorre com dupla fronteira drenante, sendo uma na parte superior, onde a água seria retirada por
processos de evaporação e inciência de ventos, e outra no fundo do reservatório, no contato entre o rejeito e a
com a “argila amarela”. Cabe destacar, que no contato rejeito/argila amarela, a drenagem ocorre em meio não
saturado, visto que a argila amarela apresenta poropressões (u2) irrisórias.

56
Figura 4. Interpretação do ensaio de CPTu-01 realizado nos rejeitos.

O material argila amarela apresenta heterogeneidade da resistência de ponta medida, sendo observado
valores entre 1000 a 8.000 kPa. Além disso, tal material se mostra contrátil ao cisalhamento (CD < 70) e
comportamento de solo argiloso (IB < 22). No que tange ao perfil de poropressões, nota-se pela Figura 4 que
o material apresenta baixos valores de u2 indicando a baixa saturação. Cabe destacar que durante a realização
do ensaio de CPTu, não foram obtidos valores consistentes de u2 para que fossem realizados ensaios de
dissipação de poropressão, corroborando com a baixa saturação observada.
Já a Figura 5 apresenta a interpretação do ensaio de CPTu realizado à jusante da seção. Com base na
intepretação deste ensaio, foi possível identificar a presença da argila amarela, da argila de fundação e da areia
argilosa na vertical de execução do ensaio. A argila amarela apresenta valores irrisórios de poropressão, tal
qual o ensaio anterior, sugerindo que o material se encontra com baixo grau de saturação. Além disso, observa-
se também a existência de uma lente pedregulhosa no meio da camada de argila amarela, destacado pelos
elevados valores de qt, assim como valores de IB correspondentes a material de comportamento arenoso (IB >
32). A argila de fundação é identificada pelas altas gerações de poropressão, encontrando-se abaixo da argila
amarela. Além disso, tal material apresenta um perfil de poropressões de equilíbrio similar ao dos rejeitos. Nas
elevações inferiores do ensaio, é observado um trecho de material de comportamento diferente da argila da
fundação, com valores nulos de poropressão e um aumento crescente da resistência de ponta. Tal material,
denominado “areia argilosa”, é responsável pelo efeito de drenagem observado ao final da argila de fundação,
imediatamente superior, provocando a redução das poropressões de equilíbrio em profundidade.

Figura 5. Interpretação do ensaio de CPTu-02 realizado no maciço.

No que tange ao comportamento ao cisalhamento, a argila amarela apresenta comportamento de material


dilatante (CD > 70) às baixas tensões de confinamento (mais superficial). A partir da cota aproximada de

57
185,0 m, o material se torna majoritariamente contrátil (CD < 70). A argila de fundação apresenta a porção
superior com comportamento dilatante, acima da cota 179,0 m. Para o restante da vertical, tal material se
mostra contrátil, sendo observado também um aumento dos valores do parâmetro de poropressão (B q),
chegando a valores próximos a 0,80. Por fim, o material denominado areia argilosa, o qual se localiza ao fim
do ensaio CPTu-02, apresenta comportamento dilatante ao cisalhamento, sendo observado valores de Bq
próximos a nulidade.
Utilizando os dados das Figuras 4 e 5 foi elaborado o mapa de carga total dos ensaios de CPTus,
conforme apresentado na Figura 6. Como pode ser observado, o perfil de poropressões nos rejeitos (CPTu-01)
apresenta duas direções de drenagem, corroborando com a interpretação descrita anteriormente. Já para o
ensaio CPTu-02 (realizado na fundação), foi observado comportamento similar, com duas direções de fluxo,
como indicado na Figura 6.

Figura 6. Análise do fluxo nos rejeitos com base no CPTu: a) ensaio nos rejeitos; e b) ensaio na fundação.

A Figura 7 apresenta o modelo de fluxo elaborado com base nas leituras piezométrica dos instrumentos,
considerando o período de chuvas apresentado na Figura 2, tendo em vista que no período de estiagem, não
são mensuradas leituras positivas de poropressão. As eventuais leituras negativas mensuradas pelos
instrumentos, devem ser desconsiderada, visto que, como destacado por Silveira (2006), os instrumentos do
tipo PZE aferem unicamente pressões positivas. Para a medição de poropressões negativas, devem ser
utilizados instrumentos do tipo tensiômetros.
Como pode ser observado, o modelo elaborado é assertivo em relação às leituras mensurada pelos
instrumentos, sendo a diferença do modelagem para as leituras registradas em campo, próxima a nulidade. As
indicações na Figura 7 representam os locais no modelo em que as poropressões são nulas, em consonância ao
observado nos ensaios de CPTus apresentados na Figuras 4 e 5.

Figura 7. Modelo de fluxo do período de chuvas com base na instrumentação e direção do fluxo.

58
4 Conclusão

A utilização de ensaios de campo do tipo CPTu com dissipação de poropressão e instrumentos de


monitoramento das poropressões em conjunto podem fornecer informações valiosas para a
modelagem numérica de fluxo. Como apresentado neste trabalho, foi elaborado um modelo hipotético
de fluxo considerando as informações existentes dos ensaios de CPTu com dissipação de poropressão
e instrumentação. O modelo de fluxo se mostrou complexo, sendo a fundação e os rejeitos com dupla
fronteira drenante e duas direções de fluxo (ascendente e descendente). Além disso, pelo gráfico das
poropressões dos instrumentos elétricos, foi possível notar a variação sazonal do nível freático
regional em consonância com a pluviometria.
Utilizando a metodologia para interpretação comportamental de ensaios de CPTu proposta por
Robertson (2016), foi possível distinguir com clareza os materiais constituintes da seção geológica
analisada. Além disso, foi identificado um trecho de material denominado “areia argilosa” ao final
do ensaio de CPTu-02 que, possivelmente, explica os efeitos de drenagem de fundo observado no
modelo de fluxo. Por fim, destaca-se que o material argila amarela se encontra potencialmente seco,
devido aos baixos valores de u2, indicando que tal material está sob regime de fluxo não saturado.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio e o incentivo da Pimenta de Ávila Consultoria na realização desta


publicação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Braja, M. Das. (2007). Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 6º ed. Thomson, São Paulo.
Schnaid, F.; Odebrecht, E. (2012) Ensaios de campo e suas aplicações à engenharia de fundações. 2º ed,
Oficina de Textos, São Paulo.
Silveira, J. F. A. (2006) Instrumentação e segurança de barragens de terra e enrocamento. Oficina de Textos..
Roberston., P. K. (2016) Cone penetration test (CPT)-based soil behavior type (SBT) classification system –
an update. Canadian Geotechnical Journal. vol 53, pp 1910-1927.
Terzaghi, K., Peck, R.B. (1987) Soil Mechanics in Engineering Practice, 2nd ed., McGraw Hill, New York,
NY, USA, 685 p.

59
Ensaios Dinâmicos Não Destrutivos de Impedância Mecânica em
Estruturas de Contenção de uma Encosta localizada no Rio de
Janeiro/RJ
Philippe Jean Nicolas Beno
Eng° Civil - Diretor, Rincent BTP Brasil, Recife, Brasil, diretor@rincent.com.br

André Perez Guedes Pereira


Eng° Civil, Rincent BTP Brasil, Recife, Brasil, rincent@rincent.com.br

RESUMO: O presente artigo visa demonstrar a aplicação dos ensaios de impedância mecânica com análise
frequencial em cortinas atirantadas através da medição de comprimentos livres e ancorados e verificação da
integridade e tensão, de 102 tirantes, no momento do ensaio, localizados em uma encosta a qual contém 3
estruturas de contenções atirantadas, superficialmente protegida por uma camada de concreto projetado,
localizada em condomínio residencial no Rio de Janeiro. Os ensaios foram realizados a pedido do orgão
fiscalizador para avaliação de rotina, visto que a ultima vez em que as estruturas teriam sido monitoradas foi
no ano de 2003, e teriam sido identificadas ocorrências devido a exposição das estruturas às intempéries e
desgastes. Nesse contexto, foram adotadas técnicas de inspeção e verificação do estado do tirante por meio de
ensaios não-destrutivos do tipo impedância mecânica, o que permitiu uma resposta ágil sobre as condições dos
elementos. O método utilizado é baseado na avaliação da resposta vibratória do elemento testado em seu
próprio ambiente. Os ensaios dinâmicos proporcionaram a eliminação do risco de ruptura ou da fragilização
do elemento, a obtenção dos comprimentos do tirante e da carga atuante no momento do ensaio e o
mapeamento geral das tensões.

PALAVRAS-CHAVE: Tirantes, Estrutura de contenção, Cortina atirantada, Estabilidade de encosta,


Impedância mecânica, Capacidade de carga.

ABSTRACT: This paper aims to demonstrate the application of mechanical impedance testing with frequency
analysis in wall anchors system through the measurement of free and anchored lengths and also the verification
of integrity and tension, of 102 anchors, at the time of testing, located on a slope which contains three curtain
walls structures, superficially protected by a layer of concrete, situated in a residential condominium in Rio de
Janeiro. The tests were performed at the request of the inspection agency for routine evaluation, since the last
time the structures had been monitored was in 2003, and issues had been identified due to exposure of the
structures to weathering and wear. In that context, techniques of inspection and verification of the condition
of the tension tie were adopted through non-destructive tests of the mechanical impedance type, which allowed
a quick answer to identify tied elements troubles. The method used is based on the evaluation of the vibratory
response of the tested component in its environment. The dynamic tests mitigated risk of rupture or weakening
of the element, and determined the anchor lengths and the load acting at the moment of the test and the general
mapping of stresses.

KEYWORDS: Anchors, Containment Structures, Wall anchors system, Slope stability, Mechanical
impedance, Load capacity.

1 Introdução

A proteção de encostas contra deslizamento é fundamental a fim de evitar acidentes que trazem impactos
sérios à vida, saúde e ao direito à moradia das comunidades que vivem no entorno. A cortina atirantada,
demonstra-se como um recurso construtivo designado para conter esforços de empuxos do solo em taludes e
paredes de escavações, impedindo a movimentação e/ou desabamento de encostas. O principal componente da
cortina, o tirante, é um dos componentes do sistema responsável pelo acréscimo de estabilidade ao talude.
A técnica utilizada que é retratada no presente artigo mostra-se inovadora para inspeção e verificação
do estado do tirante uma vez que se trata da execução de ensaios não-destrutivos do tipo impedância mecânica,
o qual se baseia na análise da resposta vibratória do elemento testado em seu próprio ambiente e na posterior
análise do comportamento mecânico e integridade deste elemento. O referido método visa obter respostas
confiáveis a respeito dos comprimentos (livres e totais), bem como verificar a tensão atual em cortinas
atirantadas, seja em cortinas recentemente construídas ou em sistemas antigos, desde que possível ter acesso à
cabeça de ancoragem, em locais de difícil acesso ou até mesmo em áreas submersas. A técnica aqui apresentada
60
demanda pouco tempo para ser aplicada e com um baixo custo, sendo, portanto, uma boa alternativa para se
alcançar resultados com a melhor relação custo-benefício.
Quando em comparação com o ensaio de tração, o ensaio aqui apresentado demonstra larga
superioridade, devido a mitigação do risco de ruptura e por sua viabilidade para tirantes fixados em locais altos
ou embaixo d’água, ou seja, em locais de difícil acesso. Ademais, a superioridade se dá pelo fato de que o teste
de tração pode ser oneroso pelo tempo gasto e pelos materiais utilizados, não permitindo a obtenção dos
comprimentos dos elementos testados. O equipamento utilizado nos ensaios não-destrutivos aqui relatados
foram patenteados e são utilizados há quase 20 anos na França pela Rincent Laboratoires. Ensaios estes que
também vêm sendo aplicados por gestores portuários, fornecedores de energia e empresas de construção.
Nesse contexto, os ensaios vão demonstrar que houve a eliminação do risco de ruptura ou ainda a
fragilização do elemento, situações estas que podem ocorrer em testes de arrancamento, bem como o prazo
reduzido para a realização destes testes e obtenção dos comprimentos do tirante e da carga atuante no momento
do ensaio, e ainda o mapeamento geral das tensões, permitindo o acompanhamento das cargas ao longo do
tempo e identificação da perda de carga em relação a vida útil da cortina.

2 Estudo de caso

A pedido da GeoRio (Fundação Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro) foi realizada
uma avaliação das obras de contenção em 2003 nas 3 estruturas de contenção de um condomínio residêncial
localizado na cidade do Rio de Janeiro, tendo sido observadas algumas ocorrências devido a exposição das
estruturas às intempéries e desgastes. Entre os defeitos vistos, foram verificadas ocorrências de musgo nas
superfícies de concreto das cortinas, exposição das armaduras em algumas regiões da estrutura e todas as juntas
de dilatação se mostraram danificadas e sem vedação elástica. Com relação ao sistema de drenagem da encosta
foi constatada que o mesmo está implantado de forma bastante adequada, compondo um eficiente mecanismo
de disciplinamento e escoamento das águas sob chuvas intensas.
Este monitoramento estabeleceu a necessidade de verificações periódicas, especialmente da medição de
cargas nos tirantes. Sendo assim, três tipos de estruturas foram submetidos a testes: grelha atirantada; muro
com vigas atirantadas e cortina atiranda conforme podem ser observadas abaixo:

Figura 1. Parte superior da encosta, revestida com concreto projetado e estruturada com Grelha Atirantada 1.

61
1 Fonte: Acervo particular dos autores
Figura 2. Muro com Vigas Atirantadas 2.

Figura 3. Parede Estruturada com Tirantes 3.

Os tirantes localizados na parede estruturada com tirantes são do tipo monobarra com diâmetro de 22
mm, já os localizados no muro com vigas e grelha são do tipo monobarra com diâmetro de 28 mm. Todos os
tirantes foram travados com duas chapas de 80x80 cm e 150x150 cm. A seguir é possível visualizar um layout
com as dimensões:

150 150

80 80

38 44
150
150

80

80

22 28

Figura 4. Layout dos Tirantes 4.

2 Fonte: Acervo particular dos autores


3 Fonte: Acervo particular dos autores 62
4 Fonte: Acervo particular dos autores
3 Metodologia

3.1 Impedância Mecânica

3.1.1 Aquisição

Os ensaios efetuados são não-destrutivos do tipo impedância mecânica. Ela é baseada na análise vibratória do
tirante e consiste em:

• Colocar em vibração o tirante com um impacto provocado na placa de apoio e na monobarra, na direção
de seu eixo. O impacto é obtido com um martelo equipado de um sensor de força;
• Registrar esse impacto F;
• Registrar também a vibração V do tirante sob efeito do impacto, com um sensor de velocidade posicionado
na placa de apoio;
• Tratar matematicamente os sinais adquiridos, registrados em um computador portátil, e analisar a curva
V/F resultado do ensaio em função da frequência.

Para cada tirante foram efetuadas 6 aquisições, no mínimo. A fim de atenuar os barulhos parasitos
aleatórios e amplificar a resposta vibratória do tirante, cada aquisição cumula dois impactos. O posicionamento
do sensor de velocidade e do impacto do golpe necessitam de duas áreas planas de aproximadamente 5 cm x 5
cm na placa de apoio. O sensor é colado na placa de apoio, na qual deve ter a superfície lisa e limpa. As figuras
3 e 4 ilustram a execução do teste.

Cabeça de ancoragem Impacto: registro da força F

Aquisição: registro
da vibração V sob efeito
Do impacto

Aquisição na placa de apoio da ancoragem

Figura 5. Esquema de realização do ensaio dinâmico não destrutivo 5.

3.1.2 Curva V/F em Função da Frequência

A análise da curva é efetuada com os parâmetros de resposta em frequência e rigidez dinâmica.

Resposta em frequência:

O(s) regime(s) vibratório(s) dominante(s) conduz à determinação do comprimento total do tirante e do


comprimento livre. Os diferentes picos ou cavidades sucessivas da curva são posicionados em frequência de
acordo com as frequências próprias das vibrações. O comprimento correspondente será:

L = V/2∆f
(1)

Onde, “Δf” é a diferença de frequência entre dois picos ou cavidades sucessivas, “L” é o comprimento e
63
5 Fonte: Acervo particular dos autores
“V” é a velocidade de propagação das ondas no tirante.

Figura 6. Execução do ensaio (aquisição de dados) 6.

Assim, a vibração da parte livre do tirante é obtida na curva picos ou cavidades sucessivas distantes de
Δfl, ou seja o comprimento Ll = V / 2 Δfl. A vibração da totalidade do tirante é obtida na curva picos ou cavidades
sucessivas distantes de Δft, ou seja o comprimento Lt = V / 2 Δft (figura 7).
O comprimento calculado deve ser comparado com o comprimento teórico do tirante. No caso de um
tirante contínuo sem corte, os comprimentos calculados correspondem aos do tirante. No caso de um tirante
seccionado, o comprimento calculado corresponde ao comprimento até o corte.

Rigidez Dinâmica:

A rigidez dinâmica (R), que é proporcional ao inverso da inclinação na origem da curva (figura 7),
depende da inércia do sistema auscultado e do meio ao redor. No caso de um tirante, ela depende do tipo do
tirante e de suas características, sua ancoragem, dos esforços aplicados e da estrutura geral. Esse parâmetro é
ligado à rigidez estática, ou seja, à inclinação num ponto da curva esforço/deformação proveniente de um ensaio
de tração direta. Portanto, a rigidez dinâmica é ligada ao esforço no tirante.

Figura 7. Análise da curva7.

3.2 Ensaio de Calibração

Para o ensaio de Calibração, é feito simultaneamente ensaio da tração e ensaios dinâmicos em vários
estágios de carga aplicada. a aplicação da carga no tirante é feita por intermédio de um conjunto de bomba e
macaco hidráulico do tipo vazado com capacidade para 60 toneladas, este conjunto atua contra a parede da
cortina. As leituras das cargas aplicadas são obtidas por meio de célula de carga e a medição dos deslocamentos
do tirante é feita por 02 (dois) relógios comparadores com curso de 50,00 mm e precisão de 0,01 mm. O resultado
final é a curva carga x deslocamento (figura 8).
Pelo menos um ensaio de calibração foi realizado por cortina, a fim de determinar a relação entre a rigidez
dinâmica e os esforços nos tirantes. A cada estágio de carregamento, um ensaio dinâmico não-destrutivo é

6 Fonte: Acervo particular dos autores 64


7 Fonte: Acervo particular dos autores
efetuado ao mesmo tempo do ensaio de tração (figura 9), a fim de ligar a rigidez dinâmica ao esforço aplicado.
Os esforços de tensão existentes nos demais tirantes são obtidos graças a essa correlação.

Carga x Deslocamento
4,50

4,08 4,13
4,00

3,50

Deslocamento (mm)
3,00

2,50

2,20
2,00 1,96 2,00

1,50

1,00
0,82 0,85

0,50
0 0,18 0,20
0,00
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Carga (tf)

Figura 8. Resultado do ensaio de Calibração8.

Figura 9. Realização do ensaio de calibração e dinâmico (impedância mecânica9) simultaneamente.

4 Processamento de Dados e Análise de Resultados

O processamento das informações tem início in loco, mediante avaliação de cada aquisição, a fim de
checar se os sinais de força e de velocidade estão adequados e sem interferências (figura 7). A próxima etapa
consiste na análise dos parâmetros de comprimentos e rígidez (figura 8), conforme explicado no item 3.1.2, das
6 curvas registradas para cada tirante ensaiado.

Figura 10. Gráfico padrão dos sinais dos sensores de força e velocidade, extraído durante o ensaio10.

8 Fonte: Acervo particular dos autores


9 Fonte: Acervo particular dos autores 65
10 Fonte: Acervo particular dos autores
Comprimentos

Rígidez

Figura 11. Curva resultado do ensaio, após análise11.

Deste modo foi possivel determinar, em média, os comprimentos livres/totais e a rígidez dos 102
elementos. De posse dos valores de rigidez e com os resultados dos esforços, obtidos pelos ensaios de calibração,
defini-se a equação padrão de cada cortina a partir da formúla geral:

R = a×T+b
(2)

Onde, “R” é a rígidez média, “T” a tensão atual do tirante, “a” e “b” são coeficientes estabelecidos a
partir dos valores conhecidos de R e T. Para facilitar a definição dessa formulação é importante executar pelo
menos 2 ensaios de calibração por cortina. Com a os coeficientes (a e b) fixados, a equação viabiliza a estimativa
da tensão atual de cada tirante.
De acordo com Beno (2013), a improbabilidade nos resultados quanto ao comprimento do tirante está
principalmente relacionada à velocidade de propagação das ondas no tirante, que pode variar cerca de 10% em
relação ao valor da velocidade e, consequentemente, para os valores estimados de comprimento. Sobre o esforço
de tensão do tirante, quando for proveniente do cálculo da rígidez dinâmica e do uso de ábacos, a incerteza
incidente é de 15%. Esse valor pode ser reduzido para 10%, mediante a realização de ensaios de calibração. A
deteccção de um tirante rompido é 100% precisa.
Os resultados apresentados para as 3 cortinas atirantadas indicaram que os tirantes estavam integros e sem
cortes, a análise da rígidez e cálculos de esforço de tensão resultaram em um mapeamento de cargas, como
exemplo da parede estruturada com tirantes a seguir:

66
11 Fonte: Acervo particular dos autores
CLASSIFICAÇÃO: OCORRÊNCIAS:

X SEM ANÁLISE DE TENSÃO 6 TF < TENSÃO < 9 TF 15 TF < TENSÃO < 18 TF A - PLACA SOLTA OU INEXISTENTE D - SEM ACESSO À CABEÇA DO TIRANTE

TENSÃO < 3 TF 9 TF < TENSÃO < 12 TF TENSÃO > 18 TF B - PLACA PARCIALMENTE APOIADA E - PEÇAS SUPERFICIAS DANIFICADAS

3 TF < TENSÃO < 6 TF 12 TF < TENSÃO < 15 TF C - TIRANTE NÃO EXISTENTE

Figura 12. Mapeamento das cargas na cortina12.

Após análise, notou-se que todos os tirantes das estruturas possuem comprimentos semelhantes. O
funcionamento dos elementos apresentaram comportamento normal para as contenções do Muro com vigas
atirantadas e da Parede frontal, com exceção de alguns tirantes, dos quais foi recomendado a reprotensão dos
mesmos pois obtiveram valores de tensões muito baixas ou nulas.
Já para os elementos da Grelha, na parte superior da encosta, estes não funcionaram normalmente e
apresentaram resultados heterogêneos, devido a isto, foi recomendado um reforço da parte superior da encosta e
o acompanhamento das tensões em um período de 5 anos.

5 Conclusão

As cortinas analisadas apresentaram problemas similares entre si após inspeção realizada a pedido da
GeoRio. Patologias foram detectadas, entre elas, exposição de armadura e desgastes nas juntas de dilatação, a
partir de inspeção visual, resultando em uma avaliação, sobretudo, qualitativa do sistema de estabilização das
encostas. O ensaio de impedância mecânica complementou este primeiro processo e forneceu informações
quantificadas a respeito de cada tirante, traduzido nos comprimentos livres/totais e tensão atual.
Além do evidente beneficio de se obter informação técnica para cada elemento testado, os ensaios de
impedância mecânica demonstraram outras vantagens neste estudo de caso:

• Eliminação do risco de ruptura na hora de aplicar a tensão e ausência de fragilização dos materiais, que
podem ocorrer em testes de arrancamento;
• Possibilidade de controlar todos os 102 tirantes, alguns localizados em áreas de dificil acesso devido a
altura da encosta, em vez de apenas uma pequena amostragem;
• Prazo bem menor para conclusão do serviço, que foi de apenas 5 dias;
• Consequentemente, um menor preço e melhor relação benefício-custo;
• Obtenção dos comprimentos livres e totais de cada tirante;
• Cálculo da carga atuante nos tirantes no momento do ensaio e elaboração de um mapa de cargas para cada
cortina;
• O mapeamento geral das cargas dos tirantes permite o acompanhamento das tensões ao longo do tempo e
identificação da perda de carga com relação a vida útil da cortina;

Este mapeamento associado com a inpeção visual torna-se um instrumento facilitador para a investigação
estrutural das cortinas, com o objetivo de realizar intervenções em uma determinada região de pior situação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2006). NBR 5629. Execução de tirantes ancorados no terreno. Rio
de Janeiro.

Beno, P. J. N.; Wolney, D. (2013) Método não-destrutivo de verificação dos tirantes. Fundações e Obras
Geotécnicas, Rudder, ed. 33 (3), p. 86-89.

Horb, C. (2005) Détermination des efforts® et des longueurs de tirants au moyen d’essais non destructifs.
Travaux, Federation Nationale des Travaux Publics, ed. Nº 821. Paginação irregular.

67
12 Fonte: Acervo particular dos autores
Análise Comparativa do Monitoramento InSAR Utilizando
Banda-C e Banda-L
Felipe Neiva dos Santos
Especialista Geotécnico, NTS Brasil, Rio de Janeiro, Brasil, felipe.neiva@ntsbrasil.com

Matheus Braz de Souza Viana


Estagiário Geotécnico, NTS Brasil, Rio de Janeiro, Brasil, matheus.viana@ntsbrasil.com

Pedro Géa
Coordenador de Integridade, NTS Brasil, Rio de Janeiro, Brasil, pedro.gea@ntsbrasil.com

Mirka Paluchova
Analista InSAR, 3vGeomatics, Vancouver, Canada, mpaluchova@3vgeomatics.com

Michele Ouchana
Gerente de Desenvolvimento de Negócios, 3vGeomatics, Minas Gerais, Brasil, mouchana@3vgeomatics.com

RESUMO: O monitoramento geotécnico através de imagens de Radares de Abertura Sintética (InSAR)


permite analisar deslocamentos milimétricos a centimétricos no terreno, com alta precisão e com capacidade
de abranger áreas de grande extensão. Esta tecnologia funciona através da comparação da fase de ondas
eletromagnéticas, obtidas para um mesmo ponto em consecutivas aquisições, as quais são posteriormente
empilhadas e processadas, gerando os parâmetros correspondentes ao movimento instaurado na superfície do
terreno. Diversos satélites estão disponíveis com a tecnologia InSAR. Para a presente análise foram
selecionados o Satélite Sentinel-1 (Banda-C), cujas imagens permitem uma melhor análise em regiões urbanas
ou pouco vegetadas, e os Satélites ALOS-1 e 2 (Banda-L), os quais são recomendados para áreas com maior
presença de vegetação ou florestas. Para a região estudada, por se tratar de uma área pouco urbanizada, o
satélite Sentinel-1 obteve pouca densidade de pontos monitorados. Já os Satélites ALOS, por se tratar de área
inclusive com trechos remanescentes da Mata Atlântica, apresentaram uma quantidade de pontos monitorados
bem superior. Pois, o comprimento das ondas emitidas pelos sensores Banda-L, é capaz de penetrar as copas
das árvores e atigir o solo, possibilitando a detecção de deslocamentos bem sutis na superficie do terreno e
consequentemente, o êxito do monitoramento geotécnico pretendido.

PALAVRAS-CHAVE: Satélite InSAR, Comprimento de Onda, Monitoramento Remoto, Banda-C, Banda-L.

ABSTRACT: The geotechnical monitoring using Interferometric images obtained by Synthetic Aperture
Radars (InSAR), allows the analysis of millimeter to centimeter displacements in the terrain, with a high
precision, and capacity to cover extensive areas. This technology works by comparing the measured
electromagnetic phase obtained in the same point in consecutive acquisitions, which are later stacked and
compared, in order to be able to analyze the parameters of that displacement. Several types of satellites are
available with the InSAR technology, and for this case study, the Sentinel-1 Satellite was selected, with a C-
band regarding to its wavelength, which allows a better analysis in urban or sparsely vegetated regions, and
the L-band ALOS-1 and 2 satellites, which are better used for vegetated or forested areas, since they can
penetrate this vegetation layer and analyze the movement of the substrate itself. For the studied region, the
Sentinel-1 satellite obtained a low density of monitored points, as it is a poorly urbanized area, and the ALOS
Satellites, therefore, could be better used in the detection of displacement in an extensive and more complete
analysis of the Atlantic Forest region, to which it was applied.

KEYWORDS: InSAR Satellite, Wavelength, Remote Monitoring, C-Band, L-Band.

68
1 Introdução

As imagens obitdas por meio dos Radares de Abertura Sintética (InSAR) cumprem com o objetivo de
identificar deslocamentos na superfície do terreno através da comparação do tempo demandado pelas ondas
eletromagnéticas emitidas atingir um mesmo ponto, em sucessivas passagens do satélite.
Esta tecnologia é um tipo de sensoriamento remoto ativo (Figura 1), capaz de detectar deformações
milimétricas no terreno, configurando uma importante ferramenta na gestão de riscos geotécnicos,
principalmente de obras lineares extensas.

Figura 1. Diferenças entre Sensoriamento Passivo e Ativo (Fonte: 3V Geomatics).

As variações do comprimento das ondas eletromagnéticas emitidas pelo diversos satélites InSAR irão
influenciar nas características dos resultados obtidos. Neste estudo, foram utilizados satélites com sensores
Banda-C, que têm comprimentos de onda de aproximadamente 5,6 cm e satélites Banda-L, que, por sua vez,
têm comprimentos de onda de aproximadamente 24 cm. Importate mencionar que, uma onda de menor
comprimento permite uma análise mais precisa dos mecanismos de instabilidade do terreno, podendo conferir
precisões variando entre 3 e 5 mm. Em contrapartida, estes satélites não têm capacidade de penetrar áreas com
vegetações densas. Sendo que, os satélites com maiores comprimentos de ondas, poderão apresentar precisão
de até 4 cm, porém conseguirão penetrar áreas mais vegetadas, e detectar os deslocamentos ocorridos na
superfície do terreno.

2 Caracterização da Tecnologia

2.1 InSAR

A tecnologia InSAR é obtida pela produto de interferogramas contruídos com base em uma sequência
de imagens obtidas por Radares de Aberturas Sintéticas (SAR), que por sua vez, têm como princípio sintetizar
uma larga antena virtual somando os ecos de uma antena curta (Hanssen, 2001).
A partir da aquisição de uma sequência de imagens em diferentes períodos, é criado o interferograma,
que representa a variação bidimensional entre os valores da fase das ondas eletromagnéticas medidas em um
mesmo ponto (Figura 2). O processamento deste produto intermediário é realizado, a fim de extrair possíveis
ruídos que ainda estejam presentes no cálculo desta diferença.
Com o processamento realizado, obtem-se enfim, os resultados de deslocamento do terreno para cada
ponto mapeado pelo satélite.

69
Figura 2. Princípio de funcionamento da tecnologia InSAR (Fonte: 3V Geomatics).

2.2 Processamento das Imagens

Após a coleta mínima de 6 imagens SAR, estas imagens são empilhadas e inicia-se o tratamento das
mesmas. Inicialmente tem-se apenas o interferograma originado deste empilhamento, sem nenhuma
informação visível. Então, incia-se o processamento, aplicando a modelagem de curvatura da Terra e a
modelagem topográfica da área, extraída de um MDT convertido de metros para ângulo de fase. Com isso,
ruídos topográficos tendem a ser subtraidos e o mapa de deslocamento começa a tomar sua coloração.
No segundo momento de processamento, aplica-se modelagens hidrostáricas e atmosféricas, baseadas
nas mudanças de pressão, temperatura e umidade, nas diferentes passagens do satélite. Neste momento, os
ruídos relacionados à deslocamentos no terreno já predominam, porém ainda exitem resíduos de ruídos de
vegetação, de áreas com baixa coerência (planícies de inundação e área com cobertura de neve), entre outros.
Então, é realizada a decomposição das fases para ressaltar os valores irrestritos para cada pixel,
realçando áreas coerentes. Ruídos residuais de topografia são tratados neste fase, para então serem geradas as
séries temporais não-lineares e a modelagem temporal de covariância.

Figura 3. Fluxograma de Processamento das imagens ao produto final (Fonte: 3V Geomatics).

3 Satélites e seus Comprimentos de Onda

Os satélites espaciais SAR existem desde os anos 1990. Muitos satélites tiveram uma boa coleta de
dados padrão em todo o mundo, as quais permitem a análise histórica de uma determinada área, por um custo
muito baixo, pois os dados mais antigos geralmente são gratuitos. A Figura 4 mostra todos os satélites SAR
atualmente viáveis disponíveis para a realização de um monitoramento operacional.

70
Figura 4. Satélites InSAR disponíveis, e suas bandas. (Fonte: 3V Geomatics).

A vida planejada de um satélite SAR é geralmente de 7 anos e a vida útil real varia em torno desse número.
Os dados de um determinado satélite são independentes, devido às variações no comprimento de onda e na
direção de visão entre os satélites, assim como os resultados de diferentes sensores que até podem ser
combinados, mas podem gerar problemas se as resoluções apresentarem diferenças significativas.

3.1 Vantagens e Desvantagens

Dentre as vantagens que o Sistema InSAR oferece, cita-se o potencial de fornecer medições de
deslocamento com precisão na ordem de milímetros ao longo do tempo, além de ser uma opção considerada
economicamente viável que auxilia no monitoramento desses riscos geotécnicos em grandes extensões de
terreno. Ou seja, os dados interferométricos de satélite podem ser amplamente explorados para monitoramento
de movimento no solo, graças à ampla cobertura, precisão milimétrica, alta resolução de dados
espaciais/temporais e boa relação custo-benefício em relação a outros técnicas topográficas.
Porém, cabe destacar que o sistema em questão apresenta limitações de sua aplicação no Gerenciamento
de Riscos Geológicos (Geohazards). Por exemplo, antes mesmo de se fazer o uso deste tipo de Monitoramento
é importante saber que o Sistema InSAR apresenta sensibilidade à vegetação, topografia e efeitos atmosféricos.
Isto é, dependendo do InSAR adotado, é possível que algum deles apresentem dificuldade de encontrar alvos
repetidos em várias imagens, penetrar determinados tipo de vegetação, gerenciar ângulos de inclinação da
visada e processar interferências. Pois, cada comprimento de onda oferece um nível de detalhe diferente.
Por exemplo, classificam-se os satélites da Banda-L como o de menor precisão, porém em função do
seu comprimento de onda, se apresenta como única opção para áreas vegetadas. Já os Satélites de alta precisão
em Banda-C e Banda-X podem alcançar bons resultados em áreas abertas e urbanas (Figura 5).
Alguns especialistas inclusive afirmam que o InSAR tem um lugar na caixa de ferramentas
“Geohazards”, desde que os usuários estejam cientes de sua aplicação e limites, pois, o InSAR não mostra a
morfologia e não substitui a interpretação profissional.

71
Figura 5. Diferença de penetração em regiões vegetadas, das Bandas X, C e L (Fonte: 3V Geomatics).

4 Estudo de Caso

Para este estudo, foram analisadas imagens SAR banda-C, advindas do sensor Sentinel-1 SAR em
interferometria Modo Wide Swath (WI), adquiridas entre os anos 2015 e 2020, e imagens SAR banda-L,
utilizando os satélites ALOS-1, cujas imagens foram adquiridas entre 2007 e 2011, e o satélite ALOS-2, com
imagens adquiridas entre 2015 e 2020.
As imagens foram adquiridas para uma área pré-determinada, com ativos lineares da Nova
Transportadora do Sudeste (NTS), no centro-noroeste do Estado do Rio de Janeiro, contemplando regiões
urbanizadas, regiões agrícolas e regiões florestadas, com diferentes padrões de vegetações, isto é, diversos
alvos para diferentes testes com os satélites.
O satélite Sentinel-1 é operado pela Agência do Espaço Europeuque gera imagens com resolução
espacial de 20 metros, determinando assim a densidade de pontos (pixels) monitorados pelo satélite. O período
médio de revisitação deste satélite ao mesmo ponto, gira em torno de 12 dias, como todas as tecnologias
InSAR. Portanto, é apropriado para detecção de movimentos lentos, que apresentam evolução ao longo do
tempo. O seu comprimento de onda relativamente curto, permite que o satélite detecte movimentações
milimétricas com um elevado grau de precisão, por outro lado, este mesmo comprimento de onda faz com que
o satélite não penetre regiões vegetadas. Isto fica claro na Figura 6-A, que realça a baixa densidade de pontos
coerentes do Sentinel em relação aos demais, e sua concetração nas áreas mais urbanas na região de estudo.
Já os Satélites ALOS, são satélites de Banda-L que emitem ondas com 24 cm de comprimento. A
companhia japonesa JAXAR é responsável pela operação destes satélites. Duas diferentes expedições foram
realizadas pela companhia, sendo a primeira, utilizando o satélite ALOS-1, iniciada em 2007 e finalizada em
2011, o qual apresentava uma resolução espacial dos pixels monitorados de 15 m e um ciclo de repetição de
aquisição dos dados de 46 dias.
Por ser um satélite Banda-L, a maior parte da área monitorada foi coberta, porém algumas áreas
específicas ainda se mantiveram descobertas, muito devido ao grande intervalo entre as aquisições e a
resolução espacial destas aquisições (Figura 6-B).
Já entre 2015 e 2020 compreendeu a expedição que utilizou o Satélite ALOS-2, que por sua vez
apresenta 3 metros de resolução espacial e 14 dias de intervalo entre as coletas das imagens. Tais fatores fazem
com que os dados apresentem uma maior coerência e consequentemente uma maior densidade de pontos
monitorados (Figura 6-C). Ambos os satélites apresentam precisão máxima de detecção de movimentos em
torno de 4 cm, valor este que está diretamente atrelado ao seu comprimento de onda.
Os dados InSAR, como explicado, são resultados do empilhamento de diferentes imagens, adquiridas
em diferentes momentos, com isso, a coerência e a densidade dos dados, têm relação não só com o intervalo

72
entre passagens e com a resolução espacial, mas também com a quantidade de imagens adquiridas ao longo do
tempo.

Figura 6. Densidade de Pontos utilizando Satélites Banda-C Sentinel-1 [A] e Banda L (ALOS-1 [B] e
ALOS-2 [C]) (Fonte: NTS).

5 Conclusão

Os diferentes satélites com seus diversos comprimentos de onda permitem diferentes abordagens na
utilização dos produtos InSAR. Para monitoramentos das áreas urbanas ou com vegetações rasteiras, os
satélites com sensores Banda-C apresentaram resultados com maior acurácia e precisão na detecção das
movimentações constatadas nas áreas testadas.
Para regiões agrícolas e florestais, com vegetações razoavelmente mais densas, os satélites de banda-L
apresentaram resultados mais coerentes, embora com menor precisão, contemplaram uma maior densidade
pontos coerentes para as mesmas áreas monitoradas com sensores Banda-C.
De forma geral, a utilização da tecnologia InSAR se mostrou bastante efetiva para o trecho piloto
monitorado de grande extensão, para o qual seria inviável a intrumentação in-situ de toda a região estudada.
Além disso, os resultados provenientes das análises de deslocamentos do monitoramento via InSAR
confirmaram o potencial que esta solução apresenta na Gestão dos Riscos Geotécnicos, pois possibilita a
identificação das áreas com maior susceptibilidade de ocorrências de instabilizações, as quais sempre requerem
análises com maior grau de detalhamento, realizadas a partir de informações extraídas dos mapeamentos e de
diversas atividades que demandam muito empenho no campo.

73
Figura 7. Aplicação da Tecnologia InSAR em obras lineares extensas (Fonte: 3V Geomatics).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bohane, A. M., de Oliveira, W. J., Pedroso, E. C., Bentz, C. M., de Oliveira Santos, F. V., de Souza, A. L. N.,
& Cabral, A. P. A utilização da tecnologia InSAR na caracterização da deformação superficial do terreno
no campo petrolífero de Canto do Amaro-RN.
Ferretti, A., Fumagalli, A., Novali, F., Prati, C., Rocca, F., Rucci, A. 2011. A New Algorithm for Processing
Interferometric Data- Stacks: SqueeSAR™. IEEE Transactions on Geoscience and Remote Sensing, 49 (9):
3460-3470.
Gama, F.F.; Paradella W. R.; Mura, José Claudio Técnicas de interferometria radar na detecção de deformação
superficial utilizando dados orbitais. In: XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 2013, Foz do
Iguaçu. Anais do XVI SBSR. São José dos Campos: INPE, 2013. v. 1. p. 8505-8412
Guidelines for Slope Performance Monitoring. Editors: Robert Sharon And Erik Eberhardt. CRC
Press/Balkema. 2020.
Guthrie, R.; Reid, E.; Richmond, J.; Ghuman, P.; Cormier, Y. InSAR and the Pipeline Geohazards Toolbox:
Instructions for Use As of 2018. In Proceedings of the Operations, Monitoring, and Maintenance; Materials
and Joining, Calgary, AB, Canada, 24–28 September 2018
Hanssen R.F. (2001) Radar interferometry: data interpretation and error analysis. Kluwer Academic,
Dordrecht, Boston
Relatórios Internos (Nova Transportadora Sudeste/ 3V Geomatics). Dezembro de 2020.

74
MONITORAMENTO DE CHUVA/UMIDADE DO SOLO E CENÁRIOS PARA ALERTAS DE
DESLIZAMENTOS NA REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE-PE

Roberto Quental Coutinho


Professor, Departamento de Engenharia Civil - Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE, Brasil,
robertoqcoutinho@gmail.com.

Marcio Roberto M. de Andrade


CEMADEN
marcio.andrade@cemaden.gov.br

Rodolfo M. Mendes
CEMADEN
rodolfo.mendes@cemaden.gov.br

Bruno Diego de Morais


GEGEP-UFPE
bruno.diegom@ufpe.br

Manoely Souza de Oliveira


GEGEP-UFPE
manoely.oliveira@hotmail.com

Daniel Metodiev
CEMADEN
daniel.metodiev@cemaden.gov.br

INTRODUÇÃO

Os deslizamentos são movimentos de massa que compõem um grande conjunto de tipologias com causas e
mecanismos específicos. Segundo a classificação proposta por Hungr et al (2014) para a classificação de
deslizamentos empregando uma terminologia geológico-geotécnica de solos e rochas, são reconhecidas 32
tipologias de movimentos de massa no meio físico. Destas tipologias, algumas predominam nas áreas de risco
presentes nas cidades brasileiras (Augusto Filho, 1992).
Encostas íngremes no Brasil possuem características especiais que promovem a ruptura planar em perfis de solo
residual saprolítico e laterítico que no geral são substancialmente menos resistentes do que o material parental
(Lacerda 2007). A coesão resultante da sucção tem seu efeito reduzido a medida que aumenta a umidade do solo
pela infiltração de águas pluviais, sendo esta a causa mais comum dos deslizamentos rasos de solo.
Estudos efetuados com base em modelos numéricos de simulação de chuva, infiltração e distribuição da
poropressão em perfil de solo apontam claramente para o efeito do aumento da umidade na variação do fator de
segurança nas encostas demonstrando a importância da aplicação dos dados das Plataformas de Coleta de Dados
Geotécnicos (PCD Geotécnica) no cálculo de estabilidade de encostas (Mendes et al, 2018).
A observação da variação de umidade no solo nas PCDs Geotécnicas pode se constituir em um importante
instrumento de avaliação de cenários de risco de deslizamentos voltados a sistemas de alertas antecipados. O
comportamento da infiltração e elevação da umidade do solo em profundidade observado em tempo real permite
identificar eventos de pré-saturação do solo gerando uma informação significativa no auxílio da previsão de
deslizamentos. O projeto Redegeo/Remaden desenvolvido pelo CEMADEN com parceria do GEGEP/UFPE
instalou uma rede de PCDs Geotécnicas na Região Metropolitana de Recife que monitora chuva e umidade do
solo de forma integrada para desenvolvimento do sistema de alertas antecipados de deslizamentos de terra. O
presente trabalho visa apresentar o projeto e alguns resultados iniciais obtidos com o monitoramento em efetuado
em pouco mais de um ano na região.

METODOLOGIA

O efeito da infiltração da água das chuvas e aumento da umidade do solo leva a alteração dos parâmetros de
resistência devido a diminuição da coesão aparente (diminuição da sucção) e, consequentemente, alteração do
grau de instabilização das encostas/taludes. Desta forma, os objetivos do projeto Redegeo em desenvolvimento
na Região Metropolitana de Recife são:
1 - Instalar uma rede de Plataformas de Coleta de Dados Geotécnicos e monitorar a ação das chuvas na variação
da umidade do solo por meio de equipamentos automáticos fixos que transmitem dados em tempo real;
75
2 - Realizar estudos geotécnicos das áreas de risco monitoradas pelas PCDs visando a caracterização física e
hidráulica dos solos para entendimento dos mecanismos dos processos de ruptura das encostas/taludes;
3 - Efetuar o estudo de correlação entre as chuvas, a umidade do solo e os deslizamentos visando identificar
limiares operacionais para o sistema de alertas;
4 - Efetuar análises de fluxo transiente e estabilidade de determinadas encostas e microbacias por meio de
modelagem numérica visando identificar cenários críticos de deslizamentos.
Os estudos estão em andamento e compõem uma série de pesquisas realizadas no Grupo de Engenharia
Geotécnica de Encostas e Planícies - GEGEP da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE em parceria com
pesquisadores do Cemaden.

PLATAFORMA DE COLETA DE DADOS GEOTÉCNICOS DA REDEGEO

Considerando a necessidade de acrescentar parâmetros ambientais no sistema de monitoramento e alertas de


desastres naturais do Cemaden, a rede de Plataformas de Coleta de Dados (PCDs) Geotécnicas foi criada visando
aumentar o entendimento da dinâmica das águas da chuva no solo e identificar condições a partir das quais seja
possível acionar protocolos de ação preventiva de deslizamentos. A partir de eventos de chuva a PCD permite
reconhecer o comportamento da infiltração pela observação da variação da umidade volumétrica em 6 sensores
distribuídos em até 3metros de profundidade. Procura-se identificar em quais condições são atingidos os valores
máximos de umidade (saturação).
As PCDs Geotécnicas ou Estações Geotécnicas (Figura 1) são utilizadas para o monitoramento da zona não
saturada do solo em encostas suscetíveis a deslizamentos. Correspondem a equipamentos automáticos que
geram dados de medição pluviométrica (mm) e umidade volumétrica do solo (%) transmitidos a cada 10 minutos
para a sala de operação do Cemaden. As estações são compostas por 4 conjuntos de equipamentos:
a. Subsistema de energia fotovoltaica
b. Unidade de aquisição/processamento e transmissão de dados
c. Sensores de umidade do solo
d. Pluviômetro

Figura 1. Imagem da PCD Geotécnica Alto Vento (Jaboatão dos Guararapes-PE)

Os sensores de umidade do solo utilizados nas PCDs Geotécnicas foram desenvolvidos a partir de tecnologia
agrícola e adaptados para uso no monitoramento de fatores desencadeadores de deslizamentos. Correspondem a
sondas de capacitância modelo EnviroScan da empresa Sentek que medem o conteúdo volumétrico de água
presente no meio poroso intergranular.
76
As sondas de umidade EnviroScan (Figura 2) possuem uma equação padrão de calibração que foi desenvolvida
em pela CSIRO com base em dados para amostras de areias, siltes e argilas siltosas, resultando numa equação
padrão que fornece um valor R2 de 0,9737 para tipos combinados de solo (SENTEK, 2011).

Figura 2. Imagem da Sonda EnviroScan da empresa Sentek .

A equação padrão de calibração é:

y = AxB + C

y = frequência escalar
x = conteúdo volumétrico de água no solo
A, B, C = coeficientes de calibração

Os coeficientes padrão são:

A = 0.19570
B = 0.40400
C = 0.02852

Embora a calibração padrão não produza valores absolutos de umidade do solo, pela experiência os valores obtidos
podem ser usados para obter uma imagem muito clara da dinâmica solo-água para a maioria dos tipos de solo em
todo o mundo, particularmente com monitoramento contínuo (SENTEK, 2011).
A realização de calibrações específicas, no contexto de estudo em áreas de risco geológico do projeto Redegeo
que envolve o monitoramento em rede extensas, em áreas de difícil acesso para coleta, métodos complexos de
obtenção de amostras e ensaios, torna-se ineficiente, pois leva muito tempo e é muito custosa. Nas condições
encontradas os solos são muito heterogêneos e bastante influenciados por raízes e formigueiros, entre outros
fatores. Desta forma, justifica-se a utilização de uma calibração padrão para a Redegeo com finalidade
operacional.
Assim como na aplicação agrícola, onde a dinâmica das flutuações da água ao longo do tempo mostram
claramente informações relevantes que permitem aos irrigadores gerenciar seu cronograma de irrigação, procura-
se demonstrar que este método de aquisição de dados é aplicável no monitoramento de fatores de desencadeadores
deslizamentos usando o conceito de "mudança relativa" na dinâmica da água do solo. Mesmo mudanças
relativamente pequenas na umidade do solo podem ser distinguidas e indicadores-chave como a saturação e a
drenagem podem ser facilmente detectados.

ÁREA DE ESTUDO

77
A Região Metropolitana de Recife (Figura 3) apresenta histórico considerável de ocorrência de deslizamentos
graves tendo por isso forte atuação das Defesas Civis Municipais, Estadual e Federal nesta problemática.

Figura 3. Localização da Região Metropolitana de Recife. Em destaque os municípios monitorados com PCDs
Geotécnicas 1 – OLINDA, 2 – RECIFE, 3 – JABOATÃO DOS GUARARAPES, 4 – CABO DE SANTO
AGOSTINHO, 5 – IPOJUCA e 6 CAMARAGIBE.

O relevo do território é formado por elevações e encostas íngremes relacionadas a uma cobertura sedimentar
clásticas de origem fluvio-marinha conhecida como Formação barreiras (Argilitos arenosos e arenitos
conglomeráticos) sobreposta a um embasamento cristalino formado por gnaisses graníticos com feições
migmatíticas (Complexo Belém do São Francisco) que configuram um território formado por dois domínios
geológicos distintos (Figura 4).

78
Figura 4. Domínios cristalino e sedimentar com base em CPRM, com destaque as PCDs Geotécnicas
localizadas em Olinda, Recife, Jaboatão dos Guararapes e Camaragibe (PE).

As feições morfológicas na topografia do relevo são marcantes sendo observados anfiteatros circulares e encostas
erosivas com uma rede densa de vales fechados onde predominam drenagens de primeira e segunda ordem. Nas
áreas sedimentares os topos planos com dimensões variadas formam um relevo de tabuleiros, enquanto nos
terrenos cristalinos as elevações são agudas com topos arredondados.

A urbanização intensa da região confere um elevado grau de interferência antrópica nas encostas da região, sendo
especialmente problemáticos, sob o ponto de vista geotécnico, os terrenos sedimentares do Formação barreiras
onde são observados solos granulares de baixa coesão com elevada erodibilidade e instabilidade em talude de
corte.

Os resultados da caracterização geotécnica dos perfis de solos do Formação barreiras nas PCDs Lagoa Encantada,
UR2 COHAB, UR3 IBURA e UR12COHAB, na região entre o Ibura (Recife) e Zumbi do Pacheco (Jaboatão do
Guararapes), demonstraram a presença marcante de solos franco argiloso-arenosos com baixa plasticidade.

A caracterização geotécnica dos perfis de solo das PCDs CAIXA D’ÁGUA e BARREIRA, na região entre Recife
e Olinda, Recife e Camaragibe, demonstraram a presença marcante de solos argilosos com alta plasticidade
revelando que o Formação barreiras apresenta significativas variações faciológicas relacionadas à sua
sedimentação que podem determinar domínios geotécnicos específicos (Figura 5).

79
Figura 5. Diagrama de classificação textural de solos com destaque para a composição das amostras relativas as
PCDs Geotécnicas CAIXA D’ÁGUA, BARREIRA e UR2/UR12.

O fato do Formação barreiras não poder ser tratado como um modelo geológico homogêneo, devido às variações
mineralógicas e estratigráficas regionais, poderia ser um dos fatores que determinam a diferença de valores dos
limiares críticos de chuvas na ocorrência de deslizamentos entre as sub-regiões da Metrópole de Recife apontadas
por Bandeira & Coutinho (2015).

MONITORAMENTO DAS PCDS GEOTÉCNICAS

O comportamento das flutuações da água no perfil do solo no período de medição das PCDs Geotécnicas permitiu
identificar a ocorrência de períodos hidrológico-geotécnicos bem distintos. Os dados da PCD LAGOA
ENCANTADA, que possui uma sonda instalada em solo do Formação barreiras podem ser observados na Figura
6.

Figura 6. Gráfico de variação da chuva e umidade do solo nos sensores em profundidade em diferentes
períodos hidrológico-geotécnicos observados na PCD LAGOA ENCANTADA.

1 - PERÍODO MUITO ÚMIDO OBSERVADO NO MÊS DE JULHO DE 2019. O registro de apenas um mês de
observação (343mm) não abrangeu o período chuvoso. Assim, não há uma visão clara dos volumes totais de
chuva e do comportamento da umidade do solo na estação chuvosa de 2019. No entanto, destacam-se índices
de umidade superiores aos demais observados durante todo o período de medição.

80
2 - PERÍODO SECO OBSERVADO ENTRE AGOSTO DE 2019 E FEVEREIRO DE 2020. Acumulou 396mm de chuvas.
Embora as chuvas registradas no período tenham causado picos de umidade observados nos sensores S1, S2 e
S3 posicionados entre 0,5 e 1,5 metro de profundidade, o índice volumétrico de água no solo entre 2 e 3 metros
de profundidade apresentou declínio nos sensores S4, S5 e S6 para os valores mais baixos observados. Nota-se
que a drenagem gradual no perfil do solo foi mais lenta com a profundidade, especialmente a partir de 2 metros.
3 - PERÍODO ÚMIDO OBSERVADO DE MARÇO A JULHO DE 2020. Acumulou 1121,2mm de chuvas. O período
foi marcado pela retomada na ascensão da umidade do solo observada nos sensores S4, S5 e S6. Nota-se nos
sensores a tendência de formação de patamares de umidade bem marcado no perfil de solo em determinada
faixa de umidade.
4 - PERÍODO SECO OBSERVADO ENTRE AGOSTO DE 2020 E JANEIRO DE 2021. Acumulou 272,2mm de chuvas.
Embora as chuvas registradas tenha causado alguns reflexos observados nos sensores S1, S2 e S3 em até 1,5
metro de profundidade, o índice volumétrico de água no solo entre 2 e 3 metros de profundidade apresentou
declínio contínuo nos sensores S4, S5 e S6.
O volume de chuvas a partir do mês de março começou a produzir condições para infiltração mais profunda
que foi se manifestar a partir de 2 metros de profundidade no solo, especialmente evidente a partir do mês de
abril de 2020. Pode-se considerar que os valores de umidade observados condizem com o esperado para as areias
argilosas verificadas no perfil da sonda da PCD LAGOA ENCANTADA. Os resultados observados nas outras
PCDs Geotécnicas tem demonstrado correspondência com as informações demonstradas na PCD LAGOA
ENCANTADA.
Mesmo considerando o pequeno período de análise, observou-se que eventos de chuvas com volumes similares
aqueles dos deslizamentos de junho de 2019 ocorreram no período úmido de 2020, no entanto sem relação
com novos deslizamentos. A hipótese levantada seria o fato da umidade dos solos estar mais baixa no período
úmido de 2020 comparado com o período úmido de 2019, o que esclareceria a ausência de deslizamentos em
2020.
É evidente a associação dos meses de abril a julho com os índices de umidade elevados em profundidade devido
à estação chuvosa e muito úmida.

CORRELAÇÃO COM OCORRÊNCIAS DE DESLIZAMENTOS

Os dados de ocorrência de deslizamentos foram cedidos pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil da
Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes-PE. Correspondem a registros efetuados em junho e julho de 2019 na
Regional Cavaleiro. Estes se deram nos Bairros Dois Carneiros, Sucupira e Zumbi do Pacheco, nas localidades
de Monte Verde, Loteamento Grande Recife, Sucupira e UR6 (Figura 7). Os deslizamentos rasos relatados
ocorreram em sua maioria em solos do Formação barreiras.

Figura 7. Mapa das ocorrências de deslizamentos registradas pela Defesa Civil de Jaboatão dos Guararapes-PE
em junho e julho de 2019 e PCDs Geotécnicas da Região Metropolitana de Recife.
81
A análise da variação na umidade do solo observada nos sensores da PCD UR3 IBURA (Figura 8), mais próxima
dos deslizamentos que se deram em Jaboatão dos Guararapes nos dias 22 e 24 de julho de 2019, permitiu notar
que essas ocorrências se deram em condições específicas. Os sensores mais profundos S4, S5 e S6 após
apresentarem rápida elevação ocasionada pelas chuvas formaram patamares onde a umidade se estabilizou com
valores persistentes mesmo com o avanço das chuvas evidenciando a saturação daqueles níveis do solo.
50%
22 24
JUL JUL

45%

S1

40% S2
S3
S4
35% S5
S6

30%

25%
Figura 8. Correlação entre a variação da umidade do solo observada nos sensores da PCD Geotécnica UR3
IBURA com as ocorrências de deslizamentos dos dias 22 e 24 de julho de 2019 registrados na Defesa Civil de
Jaboatão dos Guararapes-PE.

O comportamento observado nos sensores da variação de umidade condiz com o esperado para os tipos de solos
encontrados, sendo a permeabilidade e capacidade de retenção de água aspectos que estão sendo analisados nas
pesquisas no GEGEP e permitirão comparar os dados de campo com os de laboratório.
Os resultados estão revelando o comportamento dos domínios geotécnicos do território monitorado pelas PCDs
Geotécnicas com informações que podem esclarecer os valores de limiares de chuva e de umidade do solo
diferenciados para as sub-regiões da metrópole.
Os valores observados podem apontam para parâmetros e limiares a serem adotados em protocolos
operacionais e avisos que podem ser programados para envio automático à sala de operação do Cemaden e
aos agentes das Defesas Civis Municipais

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As PCDs Geotécnicas são instrumentos inovadores que aplicam tecnologia de engenharia de solos como
ferramenta para o gerenciamento de desastres de deslizamentos de terra. Desta maneira, os dados gerados nas
PCDs Geotécnicas são inéditos e tem demonstrando um potencial promissor de aplicação, tanto no entendimento
dos fenômenos ligados a dinâmica dos deslizamentos, quanto no uso em sistemas de alertas antecipados.
A produção do histórico de dados de observação permitirá gradualmente ampliar a compreensão da dinâmica das
águas das chuvas nos solos da Região Metropolitana de Recife e aumentar a precisão dos parâmetros operacionais
para serem aplicados nos alertas e planos preventivos de Defesa Civil.
A próxima etapa do Projeto Redegeo conforme os objetivos propostos prevê o aprofundamento das pesquisas e
geração de análises de fluxo transiente e de estabilidade de encostas por modelagem numérica.
Agradecimentos especiais à Defesa Civil de Jaboatão dos Guararapes e Defesa Civil de Recife, à FINEP e
FUNCATE.

BIBLIOGRAFIA

AUGUSTO-FILHO, O. Caracterização Geológico-Geotécnica voltada a estabilização de encostas: Uma proposta


metodológica. COBRAE. Rio de Janeiro. 1992. p721-733.
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83
Aplicação da interferometria por Radar de Abertura Sintética
(SAR) Sentinel-1 no monitoramento de taludes de uma
barragem
Deivid Reis Viana
Engenheiro Civil e Agrimensor, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil,
deivid.rviana@gmail.com

Marcos Barreto de Mendonça


Professor associado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, mbm@poli.ufrj.br

Wagner Barreto da Silva


Engenheiro Cartógrafo, Exército Brasileiro, Brasília, Brasil, wbarreto.w3@gmail.com

Carlos Henrique Oliveira da Rocha


Engenheiro Cartógrafo, Furnas Centrais Elétricas, Brasil, carlosho@furnas.com.br

RESUMO: Estruturas de barragens necessitam de constante monitoramento para garantia da sua


segurança. Os riscos associados à ruptura de tais estruturas, embora baixos, têm impactos de grandes
proporções, envolvendo, entre consequências potenciais, danos à vida humana, materiais, ambientais e
sociais. Faz-se necessário o emprego de técnicas que possibilitem a tomada de decisões de maneira
precisa e eficiente, fazendo ressaltar a importância do monitoramento do comportamento mecânico destas
estruturas. A técnica de interferometria por meio de radares de abertura sintética (InSAR) vem sendo cada
vez mais empregada para detecção de movimentos da superfície do terreno ou de estruturas nele
instaladas. Neste sentido, o presente trabalho aborda o estudo experimental, ainda em andamento, de
aplicação da técnica no monitoramento de taludes de uma barragem de terra e enrocamento, localizada em
Minas Gerais, utilizando-se um conjunto de imagens e dados do sensor radar Sentinel-1 para avaliar
possíveis deslocamentos na superfície da barragem. Após o processamento das imagens, chegou-se a
valores médios de deslocamentos assentados na ordem milimétrica e a partir destes resultados, verificou-
se a aplicabilidade da técnica, bem como suas possíveis limitações.

PALAVRAS-CHAVE: Sensoriamento Remoto, Interferometria, radar de abertura sintética, movimentos


de massa.

ABSTRACT: Dam structures need constant monitoring to ensure their safety. The risks associated with
the rupture of such structures, although low, have impacts of great proportions, involving, among
potential consequences, damage to human, material, environmental and social life. It is necessary to
employ techniques that enable decision-making in a precise and efficient way, highlighting the
importance of monitoring the mechanical behavior of these structures. The technique of interferometry
using synthetic aperture radars (InSAR) has been increasingly used to detect movements on the surface
of the land or structures installed on it. In this sense, the present work approaches the experimental study,
still in progress, of application of the technique in the monitoring of slopes of an earth and rockfill dam,
located in Minas Gerais, using a set of images and data from the Sentinel- 1 to assess possible
displacements on the dam surface. After processing the images, the average values of displacements
based on millimeter order were arrived at and from these results, the applicability of the technique was
verified, as well as its possible limitations.

KEYWORDS: Remote Sensing, Interferometry, synthetic aperture radar, mass movements.

1 Introdução

No Brasil, apesar da dificuldade do registro de acidentes em barragens, foram contabilizados


140 casos de deterioração de barragens e reservatórios pelo Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) a
partir de 1960 (CBDB, 2022). Tais ocorrências envolvem prejuízos econômicos e danos à vida humana,

84
materiais e ao meio ambiente. Para se ter uma noção aproximada das consequências, o Ministério da
Integração Nacional (BRASIL, 2019), apresentou 69 registros de ruptura de barragens somente no período
de 2013 e 2019 com mais de 415.000 pessoas afetadas e prejuízos acima de R$255.000.000,00.
A implementação de medidas de controle monitoramento e segurança torna-se, portanto, de grande
importância, de modo que permitam minimizar tais danos. Menescal (2004) considera que a segurança em
barragens é a condição em que a ocorrência de ameaças impostas por uma barragem à vida, à saúde, à
propriedade ou ao meio ambiente se mantém em níveis de risco aceitáveis. De forma geral, a
instrumentação de barragens é composta por medições de grandezas relativas aos deslocamentos
superficiais e internos, tensões totais, vazões, piezometria, sismologia. (FONTENELLE, 2007).
Nesta seara, o mapeamento de deslocamentos da superfície terrestre avançou, traduzindo-se no
desenvolvimento de novas metodologias de monitoramento de perigo de movimentos de massa através de
medições realizadas por instrumentos instalados diretamente no terreno ou de forma remota (NADIM E
LACASSE, 2008; ZAKI et al, 2014). O sensoriamento remoto, definido pelo conjunto de técnicas que
possibilita a obtenção de informações sobre alvos na superfície terrestre (objetos, áreas, fenômenos) por
meio de sensores embarcados remotamente, vem sendo utilizado para monitorar deslocamentos da
superfície em grandes áreas (LILLESAND e KIEFER 1994).
Entre as técnicas de sensoriamento remoto tem se destacado a interferometria por radar de abertura
sintética, denominada InSAR, IfSAR ou ISAR que permite a aquisição de dados de deslocamentos, por
meio de análises temporais, comparando alterações no comportamento de uma superfície de interesse. A
técnica vem sendo utilizada para o monitoramento de deslocamento de superfícies em obras de engenharia,
óleo e gás, mineração, avaliação de riscos de desastres, transporte, desenvolvimento urbano etc. Vale citar
a aplicação da técnica para definição do modelo digital de superfície, a missão SRTM em 2000, e
posteriormente a missão TanDEM-X em 2010 (EMBRAPA, 2022), bem como trabalhos desenvolvidos
sobre monitoramento da superfície em Mariana-MG (MURA, 2001) e análises de recalques na região do
delta do rio São Francisco (TANAJURA, 2017).
O objetivo do presente trabalho é apresentar a aplicação da técnica InSAR para a estimativa dos
deslocamentos da superfície de uma barragem, de forma a contribuir para a avaliação de seu uso como
ferramenta complementar para o monitoramento de barragens.

2 Revisão bibliográfica

O termo SAR (Synthethic Aperture Radar), ou Radar de Abertura sintética, refere-se a um sistema
ativo de imageamento por sensor radar que permite a aplicação da técnica da interferometria para
monitoramento de fenômenos da superfície imageada (SKOLNIK, 1990). O radar usado para o
imageamento é instalado em uma plataforma, aérea ou orbital, que tem uma trajetória acima de uma
superfície de referência da Terra, para a qual, normalmente, é adotado um elipsóide ou o geóide.
O sistema radar utiliza faixa do espectro eletromagnético denominada como Microondas,
compreendida entre 225 MHz e 36 GHz, que permite a detecção de elementos distintos na superfície. A
Figura 1 exemplifica uma imagem gerada pelo sensor radar Sentinel-1.

Figura 1. Imagem SAR gerada sobre a região de interesse.

A informação de coerência obtida no processamento permite medir o nível de correlação de dois


sinais correspondentes, que é uma medida da variância da fase interferométrica, referente a um mesmo
pixel das imagens formadoras do par interferométrico ou interferograma (ZEBKER ET AL., 1992).

85
A qualidade da informação relativa ao posicionamento dos pixels entre as imagens pode ser
degradada por ruídos existentes (decorrelação temporal, decorrelação geométrica, erro no registro das
imagens, ruído térmico, ruído Speckle), que são interferências externas à medição causadas por vibrações,
efeitos eletromagnéticos, oscilação da voltagem de excitação, a variação de temperatura, comprometendo,
portanto, sua aplicação e a correta localização do fenômeno a ser avaliado (GENS, 1998).
São realizadas combinações entre imagens com datas de aquisições diferentes para geração destes
interferogramas, consistindo no registro de múltiplas imagens sobre a mesma área de estudo, sendo a
estimativa de coerência a medida classificadora da qualidade do interferograma (SANDWELL e PRICE,
1998).
Segundo o Centro de Sensoriamento Remoto do Canadá (Canada Center for Remote Sensing -
CCRS), a coerência interferométrica indica, no par interferométrico, se uma superfície-alvo tem
comportamento coerente ou incoerente face à iluminação por radiação, ou seja, se o sinal captado
corresponde posicionalmente às duas imagens do par avaliado. O valor da coerência varia de zero, quando
não há correlação, a 1, quando a correlação é perfeita. Aplicações com propósito de mapeamentos de
estruturas como barragens, devem ter módulo de coerência (γ) superior a 0,7. A Tabela 2 demonstra as
faixas de coerência e suas respectivas classificações de qualidade (CCRS, 1999).

Tabela 2. Limiares de coerência interferométrica para aplicação cartográfica


Coerência
Qualidade
interferometrica
0,0 - 0,3 Baixa
0,3 - 0,5 Moderada
0,5 - 0,7 Boa
0,7 - 1,0 Excelente
Fonte: CCRS (1999)

O cálculo dos deslocamentos superficiais considera a órbita do satélite (S1e S2) e a variação do
tempo de aquisição (T1 e T2), que é o instante T no momento da tomada da cena da superfície, além das
coordenadas tridimensionais dos pontos na superfície avaliada, a geometria formada para a aquisição do
ponto P na superfície imageada é demonstrada na Figura 2. Obtém-se, então o deslocamento dos pontos
alvos, conhecendo-se a distância (r1 e r2) entre sensor e o ponto alvo no terreno (P), considerando ainda, o
Modelo Digital de Elevação (MDE) utilizado como referência.

Figura 2. Representação geométrica do posicionamento de um ponto P na superfície imageada

Tão importante quanto a coerência e o próprio deslocamento, as características das imagens, como as
resoluções espacial e temporal dos sensores radares, devem ser analisadas e compatibilizadas com os
objetivos das pesquisas, sob o risco de não demonstrarem a escala adequada do fenômeno ou sua frequência
e velocidade de ocorrência. Além destes fatores, também é importante a verificação das características da
área em estudo, pois a depender do ângulo de elevação e da topografia do terreno, algumas partes do
imageamento, regiões montanhosas, por exemplo, podem não ser visíveis pelo radar, caracterizando a
presença de distorções geométricas na imagem SAR.

86
3 Metodologia e materiais empregados

O objeto de estudo é uma barragem de terra e enrocamento que compõe um complexo de barragens
hídricas para geração de energia elétrica, seu perfil é demonstrado na Figura 3, apresentando 75 metros de
altura e 358 metros de comprimento

Figura 3. Perfil da barragem no eixo longitudinal com a localização dos marcos superficiais

A área de interesse (AI) foi identificada através da extração de coordenadas espaciais em imagens
óticas georreferenciadas, sendo apurados pontos de monitoramento sobre a crista e as bermas da barragem,
através de inspeção em campo. Tais pontos estão demonstrados na Figura 4.

Figura 4. a) Região de localização da barragem com indicação da área ampliada; (b) barragem com a
localização dos marcos superficiais existentes.

O material utilizado foi composto por imagens SAR, da missão SENTINEL-1 com resolução
espacial 5x20m no modo de faixas interferométricas (IW), o tempo de revisita deste sensor radar é de 12
dias, imageando uma superfície em faixas de 250 km. O processamento das imagens foi executado no
software SNAP 6.0 fornecido pela Agência Espacial Européia (European Space Agency - ESA), tratando da
extração de informações sobre os possíveis deslocamentos da superfície a partir da comparação entre pares
de imagens tomadas pelo radar.
A análise interferométrica foi realizada por meio de um conjunto de imagens do sensor radar Sentinel
1, do ano de 2019, que recobrem a área da barragem, .Foram obtidas 13 imagens referentes a 2019 do
período compreendido entre 17 de janeiro e 19 de dezembro, sendo uma imagem de referência, a do mês de
janeiro, e doze representativas de cada mês do ano, possibilitando a combinação entre elas.
O software utilizado para o processamento de imagens permite a automatização do processo de
forma a analisar várias imagens simultaneamente, comparando a imagem de referência às demais, tendo
como resultado duas grandezas necessárias para a avaliação dos deslocamentos superficiais na direção
vertical, a estimativa de coerência e os deslocamentos propriamente ditos.
Os pixels do interferograma, definidos como pontos de interesse (PI) contém a localização dos
marcos superficiais instalados na crista e na superfície das bermas da barragem

87
Na determinação do deslocamento dos alvos, as observações foram realizadas em instantes t2 > t1,
sendo t1 o tempo da primeira imagem (19/01/2019) e t2 o tempo de cada imagem subsequente, o vetor de
deslocamento D corresponde à variação na cota destes pixels ocorrida no período t2–t1.

4 Resultados e discussões

Foram avaliadas as imagens de coerência dos pares interferométricos geradas no processamento e


encontraram-se índices variando entre 0,09 e 0,87, nos pontos de interesse, como demonstrado na Figura 5.

Figura 5. Índices de coerência por ponto monitorado da barragem para cada par interferométrico.

A análise dos resultados de coerência obtidos confirma o comportamento esperado na aplicação da


interferometria SAR sob determinados aspectos como proximidade com a lâmina d´água e com a
vegetação, incidindo principalmente nos pontos localizados na crista da barragem, que apresentaram
valores de coerência menores, enquanto os pontos localizados nas bermas obtiveram valores maiores. Posto
que a resolução espacial do Sentinel 1 é 5m x 20m, pontos na crista da barragem poderiam estar em pixels
que englobariam parcialmente a lâmina d’água. A irregularidade da superfície do terreno em enrocamento,
denominada no SR como textura, pode também fazer diminuir os índices de coerência. Além destes fatores,
condições meteorológicas podem também influenciar na coerência, o que justificaria sua variação com o
tempo.
Quanto aos deslocamentos (Figura 6), nos pontos de interesse foram encontrados valores com
amplitude entre -0,1563m a 0,0430m. Os valores negativos representam grandezas relativas à subsidência
dos pontos, já os valores positivos representam as grandezas de soerguimento.

Figura 6. Deslocamentos superficiais nos pontos de interesse (2019)

88
Como demonstrado na Figura 5, os pares interferométricos processados apresentaram, em sua
maioria, valores baixos de coerência nos pontos de interesse, sendo então, aplicado um filtro com objetivo
de eliminá-los. Tal filtro foi parametrizado pelo valor mínimo de coerência igual ou superior a 0,70 para
aceitação do dado de deslocamento conforme definido pelo CCRS (1999), onde 26 pontos de interesse
apresentaram coerências admissíveis, classificadas como excelente.
Para determinação das variações de deslocamentos dos pontos de interesse na superfície da crista e
das bermas, considerou-se a cota média das referências de nível existentes na crista, RN-DES-01 E RN-
DES-02, formando-se então um plano superficial, para determinar a diferença entre este plano e as cotas
dos pontos de interesse determinadas pelo processamento INSAR. A Tabela 3 apresenta os valores de
deslocamentos de cada ponto monitorado após o descarte dos valores com coerência inferiores a 0,7 e os
deslocamentos dos pontos de interesse em relação ao plano de referência.

Tabela 3. Valores da coerência e seus respectivos deslocamentos superficiais em milímetros.


2019
17Jan2019 17Jan2019 17Jan2019 17Jan2019 17Jan2019 17Jan2019 17Jan2019 17Jan2019
PAR
29/jan/19 22/fev/19 11/abr/19 10/jun/19 16Jul2019 21Ago2019 14Set2019 20Out2019
PONTO COE DESL COE DESL COE DESL COE DESL COE DESL COE DESL COE DESL COE DESL

MS-DE2-
0,86 2,9 0,75 2 0,73 4,9 0,81 0,2 0,7 3,4
10
MS-DE2-
0,70 0,6
04
MS-DE2-
0,73 1,6 0,75 0,2 0,71 0,1
08
MS-DE2-
0,89 0,9 0,70 4,6 0,79 1,2 0,84 0 0,73 4,4 0,84 0,1
11
MS-DE2-
0,77 -1,2 0,7 0 0,72 0,6
05
MS-DE2-
0,89 -0,4 0,74 0,4 0,84 0,1 0,75 1,2
09
MS-DE2-
0,91 -1,3 0,77 0,9 0,87 0,6 0,75 2,8
12

5 Conclusões

A técnica de InSAR tem um grande potencial de aplicação para detecção de deslocamentos da


superfície do terreno com relação custo/benefício relativamente baixa, principalmente quando se usa
imagens gratuitas provindas pelo satélite Sentinel 1, com capacidade para geração célere da informação,
além de permitir o monitoramento de grandes áreas em complexos de barragens devido ao tamanho das
faixas de imageamento e aos valores de deslocamentos verificados. Constitui-se, portanto, em uma
importante técnica de monitoramento de taludes para a tomada de decisões quanto à redução de riscos de
desastres. Entretanto, pode-se observar, através da aplicação no caso estudado, limitações devido à
decorrelação temporal das imagens, que pode ser observada através dos níveis de coerência dos
interferogramas. Outra limitação em sua aplicação deve-se aos efeitos atmosféricos, que podem criar ruídos
nos mapas de elevação ou deformação, levando a detecção errônea de deslocamentos. Portanto, os estudos
apontam para uma grande viabilidade da técnica, exigindo, porém, análises criteriosas para a consideração
de seus resultados e dos possíveis fatores que afetam sua qualidade.
Os resultados apresentados no presente trabalho referem-se a uma parte de uma pesquisa sobre a
aplicação da técnica InSAR para monitoramento de taludes de barragens, envolvendo o período
compreendido entre 2017 a 2019. Diante dessa potencialidade, a técnica INSAR para monitoramento de
taludes de encostas naturais ou construídos (ex: barragens, estradas, aterros) pode continuar sendo objeto de
investigação visando o seu melhor aproveitamento. As contribuições dos pesquisadores para o uso rotineiro
e generalizado de InSAR no futuro poderiam acontecer nos aspectos de (i) isolamento e redução dos fatores
limitantes, (ii) automatização dos parâmetros durante o processamento e (iii) divulgação e ensino da
técnica.

89
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90
A Low-Cost Inclinometer with Data Acquisition Library
Developed in Phyton, for In-Situ Displacement Measurements.
Franz Pablo Antezana Lopez
Researcher, Universidad Privada del Valle, Cochabamba, Bolivia, fantezanal@univalle.edu

Israel Antezana Lopez


Researcher, Universidad Privada del Valle, Cochabamba, Bolivia, iantezanal@univalle.edu

Giovana Silvia Cachaca Tapia


Research assistant, Universidad Privada del Valle, Cochabamba, Bolivia, g.cachacatapia@gmail.com

ABSTRACT: This work describes the assembly of a low-cost accelerometer MPU6050 with a small single-
board computer raspberry pi 4 model B to use it as an inclinometer with its respective data acquisition library
developed in python and compare the results with a commercial inclinometer. The goal of this project is to
establish an accessible method to measure displacements and determine the height of ground sliding that
generates risks, the development of this device would help many research projects to have access to an
inclinometer with low resources. In addition, GitHub is the world's largest developer community for
discovering, sharing, and building software, therefore, uploading the code and its respective installation
manual to this platform will help to enhance research in the geotechnical community.

KEYWORDS: Raspberry Pi, DAS, MPU-6050, Accelerometer, Inclinometer.

1 Introduction

Geotechnical instrumentation is an essential component of any construction project since it offers


crucial information about the ground's in-situ behavior. The substratum and groundwater conditions have a
significant impact on instrumentation procedures. The instruments used are also influenced by the design
approaches and project compatibility. Slope inclinometers are instruments used to monitor and detect
subsurface deformation. Since the 1950s, they've been routinely utilized to assess the performance of natural
slopes, embankments, and retaining walls, providing valuable information on in-situ ground movements that
could indicate prospective failures.

Due to the high cost of the instrumentation to obtain in situ measurements, in some cases, it is not
feasible to obtain field data, so it is necessary to look for alternatives to this problem. In this research project
it is proposed to use a low-cost accelerometer MPU6050 to determine the tilt angles and use it as an industrial
inclinometer to detect the depth of the landslide. The MPU6050 is a small, slim, low-power 3-axis
accelerometer and gyroscope with signal-conditioned voltage outputs connected to an I2C port. The product
measures acceleration with a minimum full-scale range of ±1g. The instrument can measure static
acceleration from gravity in tilt sensing applications, as well as dynamic acceleration resulting from motion,
shock, or vibration. In addition, the measurements obtained with the inclinometer and the low-cost
accelerometer are compared, the variation of the results is analyzed using the chi-square test and evaluated.
Finally, we compare the prices of 4 different brands of inclinometers with the purchase and installation of the
MPU6050.

2 Methodology

The project consists of programming in python a code that can allow measure and record values of
inclination in three axis using low-cost accelerometer and gyroscope MPU6050 and install it in situ, in
addition to register the values we use a Raspberry pi 4B as an data adquisition system (DAS). The electronic
design consists of connecting a Raspberry pi and the sensor in the field, through an I2C communication port,
which allows sending the information of the voltage variation of the sensor, this procedure is necessary to
obtain the measurements provided, the same is written to establish a connection with the software and
hardware. Figure 1 shows the installation of the accelerometer and gyroscope sensor MPU6050 to an

91
inclinometer.

Figure 1. Installation of MPU6050 accelerometer to an inclinometer.

The electronic design must contemplate the ability to use the raspberry pi and the MPU6050 in remote
areas, so the power supply voltage must be portable and rechargeable. As for the code, it can be found on the
GitHub website (10.5281/zenodo.4041732.). The installation of the sensor should waterproof the whole
circuit, to avoid contact with moisture, water and contact with the inclinometer housing tube, in case of areas
of increased deformation.

2.1. Measurements

An inclinometer test consists in the periodic measurement of the inclination of the inclinometer tube
to determine ground movements, 5 measurements are performed in a 15 [m] borehole on different dates. The
low cost accelerometer measurements are measured by installing the sensor to an iron bar with wheels, and
CAT5 cable is used to communicate the accelerometer to the raspberry pi, such procedure is necessary to
obtain the measurements provided by the program developed in python code.

2.1.1 Accelerometer calibration

The instrument calibration process requires the sensor voltage readings, so the program extracts the
values from address 0x68 of the communication port I2C and uses these variables to calculate the analog
readings and the respective angles with the x, y, and z axes with the help of equations 1, 2, 3, and 4. The
MPU6050 MEMS (microelectromechanical system) accelerometer and gyroscope data sheet indicates a
recommended value of 0.33 for the sensitive scale factor.

Figure 2. MEMS accelerometer tilt readings. a) in static position, b) sensor tilt rotating
in the y-axis, c) sensor tilt rotating in the x-axis, d) sensor tilt rotating in three axes.

92
𝐴𝐷𝐶𝑣𝑎𝑙𝑢𝑒∙𝑉𝑟𝑒𝑓
−𝑉𝑜𝑙𝑡𝑎𝑔𝑒𝑙𝑒𝑣𝑒𝑙𝑎𝑡0𝑔
1024
𝐴𝑜𝑢𝑡 = (1)
𝑆𝑒𝑛𝑠𝑖𝑡𝑖𝑣𝑖𝑡𝑦𝑠𝑐𝑎𝑙𝑒𝑓𝑎𝑐𝑡𝑜𝑟

The angle of inclination can be calculated as:

𝐴𝑥𝑜𝑢𝑡
𝜃(𝑡ℎ𝑒𝑡𝑎) = 𝑎𝑡𝑎𝑛 ( ) (2)
√𝐴𝑦𝑜𝑢𝑡 2 +𝐴𝑧𝑜𝑢𝑡 2

𝐴𝑦𝑜𝑢𝑡
𝛹(𝑝𝑠𝑖) = 𝑎𝑡𝑎𝑛 ( ) (3)
√𝐴𝑥𝑜𝑢𝑡 2 +𝐴𝑧𝑜𝑢𝑡 2

√𝐴𝑥𝑜𝑢𝑡 2 +𝐴𝑦𝑜𝑢𝑡 2
𝛷(𝑝ℎ𝑖) = 𝑎𝑡𝑎𝑛 ( ) (4)
𝐴𝑧𝑜𝑢𝑡

We obtain these angles in radians. Then, we multiply these values by (180/π) to obtain the angle in
degrees within the range of -90° to +90° for each axis.

2.2 Electric circuit design

The design must be developed to use the raspberry pi and the sensor in the field, for this, it is necessary
to use a power bank with 5V 2.5A as minimum. Then, the communication between the sensor and the small
computer is established by the communication I2C port, which allows to send the information of the sensor
voltage variation, the only problem to communicate these devices is the speed of the information sent, to solve
the problem it is important to use CAT5 cables and respect the colors as shown in Figure 3 and specified in
subheading 2.2.2.

2.2.1 Low-cost devices

Devices such as a Raspberry include more than enough computing power thanks to the arm processors,
these are capable of compiling, running and debugging Python with graphical interface programs such as
Emacs. With an interface it is possible to read all types of sensors, this requires libraries and define the input
ports, and a simple interface can be added for users to use it easily and quickly. The competitive price and
dimensions in smartphones generate the need to develop motion sensors to compete with the prices, the
significant difference of these helps to obtain cheap accelerometers and gyroscopes, including the advantage
of the dimensions.

2.2.2 Wiring

The connection of the inclinometer by means of the MPU6050 accelerometer is graphically


described as follows.

Figure 3. Schematic connection of a remote data acquisition system for an MPU6050 accelerometer.

93
In Figure 3, you can see the wiring diagram and the interface to visualize the results with a cell phone,
however, it is important to clarify some points, the first is the connection between the Raspberry pi and the
MPU6050, it is important to use the wires of a CAT5 ethernet cable, since the frequency of this bus is 400 kHz
and it is complicated to transmit the information using a long cable, however the ethernet cable has a speed of
100 Mbps and a frequency of 100 MHz that allow to transmit the information if you use the same color of the
wires as shown in the images above (blue, brown, orange, with and brown). The application to be used in the
cell phone is called VNC server and works as a touch screen to manage the application and appreciate the
results in real time, to establish a connection it is necessary to assign a static IP to the Raspberry. Additionally,
Figure 4 shows the interface of the code programmed in Python code and visualized using the “tkinter” library.

Figure 4. Low-cost inclinometer GUI interface for reading and plotting data from the MPU6050,
DOI: 10.5281/zenodo.4041732.

Figure 4 shows the functionality diagram of the developed program, it starts with the reading of three
sensors inside the MPU6050, accelerometer, gyroscope and temperature, all of them are connected to the I2C
port and have different addresses, this information is visible in the sensor datasheet. The program records all
these readings over a range of time and prints the average value of these readings, if more measurements are
recorded at a given point, the accuracy of the measurement will increase. Finally, the program stores all the
information, the individual values and the average values of the measured values and stores them in a .csv file,
which is easily accessible for reading.

3 Results

All data obtained in the field are analyzed for accuracy and precision of the instrumentation to verify
the feasibility of being used to measure inclinometer tube displacements and inclination.

3.1 Data Acquisition Comparison

Figure 5 shows the comparison of the results obtained with an industrial inclinometer, post-processed
with the software provided by the vendor, and the results obtained in .csv format with the MPU6050 library
suitable for use as an inclinometer.

94
a) b)

Figure 5. Comparison of readings obtained with the MPU6050 and the industrial inclinometer, a)
side A, b) side B.
3.2 Accuracy and precision

The values obtained from the program and the inclinometer should be compared, the error given by
the MPU6050 data sheet is less than 1%, the displacements have a Gaussian distribution and the error is three
times the variance. The displacements shown in the graphs show high accuracy, giving errors averaging
18.2% of all tests and 11.3% excluding the first test, both at 95% of the accuracy given by the Gaussian
variance. At a glance, the difference between the displacements measured by both the MPU6050 and the
industrial inclinometer are 1x10-5 to 4.3 [mm] with an average value of 0.66 [mm]. Measuring the
distribution function comparing the MPU6050, as observed value, and the industrial inclinometer, expected
value. Applying Pearson's chi-square test to obtain the value of the cumulative distribution function, with the
condition that the values have to be greater than 0. 95 to show that both inclinometers are calibrated and
measure the same displacements, dividing the height range from 0 to 11, from 0 to 13 and from 0 to 15 [m]
to obtain the cumulative distribution function in the ranges far from 0 [mm] expected value (0 to 11 [m]), far
and near 0 [mm] expected value (0 to 13 [m]) and all remaining measured displacements (0 to 15 [m]).

a) b)

95
c) d)

e)

Figure 6. Use of the chi-square statistic in data analysis, a) Test 1, b) Test 2, c) Test 3, d) Test 4, e)
Test 5.

Side A is in red color and side B is in blue color, the dotted lines with dots are those measured with the
MPU6050, and the solid lines are measured with the industrial inclinometer. The function P(X2,n) shown in
Figure 6 represents: The measurements on the MPU6050 collapse when the industrial inclinometer tends to
give a value close to zero plus the measurements on the MPU6050 tend to diverge in test 1.

3.3 Price comparison

This analysis is developed by comparing the price of four brands of engineering instrumentation that
have inclinometer in their catalog with the price of the MPU6050 (accelerometer and gyroscope) and some
installation materials, the total price of the low-cost inclinometer is approximately $64. Figure 7 shows a
significant price difference, the low-cost inclinometer costs approximately 100 to 200 times less than the
industrial inclinometers.

96
Figure 7. Price comparison between a low-cost inclinometer and 4 commercial brands.

4 Conclusions

 Low-cost MEMS accelerometers allow readings in three axes, while most industrial inclinometers
only obtain readings in two axes. Based on the chi-square test we can conclude that the fault location
is the same with both instruments, nonetheless it is important remark that the chi-square analysis shows
a reliability of 95% but the error can be accumulative, so it is important use signal analysis in order to
reduce the error.
 The cumulative displacement measured by the MPU6050 reduces the accuracy and precision when
the cumulative displacement of the industrial inclinometer tends to 0 [mm].
 The next step to proceed with the study of this inclinometer would be to test an operational amplifier
with integrated circuit to increase the sensitivity of the accelerometer and the accuracy of the
measurements.
 Test 1 gives an idea to improve the data collection, the magnitude of the standard deviation could have
an upper limit to collapse the mean function to zero, but that needs further testing and cannot be the
only condition to evaluate and give a post progress analysis of the values measured by the MPU6050.
 The I2C port allows connecting two or more devices, which would be ideal to create a continuous and
unattended monitoring system, so as to obtain real-time readings.

ACKNOWLEDGMENTS

This research was partially supported by the GTUMSS Geotechnical Laboratory. We thank our
colleagues who provided instruments, expertise and experience that greatly aided the research.

REFERENCES

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low-cost gyro measurements. Systems & control letters, 49(2), 151-159.
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Santander, UIS, 340, 341pp.
Upton, E., y Halfacree, G. (2014). Guía del usuario de Raspberry Pi. John Wiley & Sons.

98
Instrumentação de Conduto Forçado em uma Encosta
Paola Dutra
Engenheira Civil, G5 Engenharia, Curitiba-PR, Brasil, pd@g5engenharia.com.br

Andressa Rizzi Kuzjman


Graduanda de Geologia, G5 Engenharia, Curitiba-PR, Brasil, ark@g5engenharia.com.br

Andressa Samistraro Nogueira


Graduanda de Engenharia Civil, G5 Engenharia, Curitiba-PR, Brasil, asn@g5engenharia.com.br

Gabriel Proença Ferreira


Engenheiro Civil, G5 Engenharia, Curitiba-PR, Brasil, gpf@g5engenharia.com.br

Isaac da Silva Bettega


Engenheiro Civil, G5 Engenharia, Curitiba-PR, Brasil, isb@g5engenharia.com.br

Cícero José Alberton


Engenheiro Eletricista, G5 Engenharia, Curitiba-PR, Brasil, cja@g5engenharia.com.br

RESUMO: O empreendimento hidroelétrico em questão possui atualmente uma potência instalada de 8 MW.
Em 2020, foram iniciadas as obras de repotencialização do sistema gerador, ampliando a geração de 8 MW
para 24 MW. O arranjo do sistema conta com barragem, canal de adução, tomada de baixa e alta pressão,
conduto forçado e casa de força. A repotencialização trata da duplicação do conduto forçado e construção de
uma nova casa de força. O estudo deste trabalho é direcionado à região do Bloco de Ancoragem 02 do novo
conduto forçado, onde foi observado surgência de água, proveniente do nível freático elevado, no talude de
solo residual a montante do Bloco 02. Essa condição foi caracterizada como crítica, por conta de a vazão ser
considerável. As medidas corretivas foram imediatas com a instalação de drenos para o rebaixamento da
freática. As soluções propostas foram determinadas através de análises de percolação e estabilidade, com a
freática e geometria definidas considerando levantamento topográfico do projeto. Além do sistema de
drenagem foi identificado a necessidade de monitoramento do impacto das obras civis sobre as estruturas
existentes e encosta natural, através de instrumentos de auscultação. Foram instalados oito piezômetros de
corda vibrante próximo aos blocos de ancoragem do novo conduto. Os piezômetros instalados próximo ao
Bloco 02 permitiram o acompanhamento das poropressões atuantes no talude e, consequentemente, dos níveis
segurança em função das variações do nível piezométrico.

PALAVRAS-CHAVE: Talude, Estabilidade de Encosta, Monitoramento, Instrumentação.

This hydroelectric building currently has 8 MW of installed capacity. In 2020, the construction of a new generation
system has started in order to increase the installed capacity to 24 MW. The arrangement of the system has a dam,
adduction channel, low pressure outlet, penstock and powerhouse. The increase is about duplicating the penstock
and building a new powerhouse. This study focuses on the support block 02 of the new penstock, where there is a
resurgence of water in the slope of residual soil upstream of the support block. This is the critical region as the flow
rate is substantial. The installation of drains to lower the level of the groundwater was used as a corrective action.
The proposed solutions were determined through leakage and stability analysis with groundwater level and
geometry defined as designed. Also, the monitoring of possible impacts on other buildings or the natural slope was
carried out using monitoring equipment. Eight piezometers were installed near the support blocks. The piezometers
installed near support block 02 measured the pore pressure in the slope and were used to monitor the security level
by the variation of the piezometric level.

KEYWORDS: Slope, Slope Stability, Monitoring, Instruments.

99
1. Introdução

A ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) classifica uma usina hidrelétrica quanto à capacidade
instalada, sendo uma PCH (Pequena Central Hidrelétrica) uma hidrelétrica com capacidade instalada acima de
5 MW até 30 MW, e com reservatório de até 13 km². As PCHs são atualmente responsáveis por cerca de 3,5 %
de toda a capacidade instalada do sistema interligado nacional (ABRAPCH, 2022)
Durante e após a construção de uma PCH, o monitoramento das condições em campo é muito
importante. A instrumentação é um dos recursos que podem ser utilizados para avaliar a segurança das
estruturas e confirmar se os critérios preconizados em fase de projeto estão sendo atendidos. Essa ferramenta
permite a redução de riscos durante a etapa de construção e durante a operação do empreendimento. Esses
riscos podem ser hidrológicos, sismológicos, operacionais, geológicos, estruturais, entre outros.
O estudo de caso analisado corresponde a um processo de repotencialização da usina, que resultará no
triplo da energia gerada atualmente pela PCH. Este projeto de ampliação corresponde a um arranjo amplo,
com barragem, canal de adução de 2,8 km de comprimento, tomada de baixa e de alta pressão, conduto forçado
e casa de força. O conduto forçado foi duplicado, ou seja, o conduto existente foi mantido e foi construído um
novo conduto na margem esquerda do existente, sendo a vazão do novo conduto direcionada para uma nova
casa de força (Figura 1-1).

Figura 1-1. Arranjo geral do sistema gerador

A queda bruta deste empreendimento é diretamente relacionada com a diferença de desnível (210,0 m),
entre a tomada de alta pressão e a casa de força, por meio de condutos forçados. O local onde estão localizados
os trechos sub-horizontais e o trecho mais inclinado dos condutos é a área de domínio dos basaltos, que
recobrem as formações sedimentares. Em seguida há a área de domínio dos arenitos das Formações Piramboia
e Botucatu. Abaixo destes, ocorrem os arenitos e siltitos da Formação Rio do Rastro e no sopé da encosta há
o depósito de materiais, como blocos de basalto e arenito (Milani et al., 2007).
Em função da complexidade geológica da região de implantação do novo conduto, proximidade com o
conduto existente (pressurizado durante a construção) e topografia acentuada, foram instalados equipamentos
de monitoramento, sendo 8 piezômetros de corda vibrante e 8 medidores de deslocamento angular, de forma
proporcionar o monitoramento da poropressão na encosta e a possibilidade de movimentação dos blocos de

100
ancoragem, em função das atividades executadas na proximidade.
Este trabalho apresenta uma das situações observadas durante a construção do novo conduto na encosta,
em função da necessidade de escavação para acesso e construção de um dos blocos de ancoragem, em uma
região de contato entre o solo residual e a rocha, onde foram instalados piezômetros de corda vibrante.

2. Cronologia dos eventos

Durante a execução das escavações, para acesso e construção do Bloco de Ancoragem 02 do conduto
forçado (Figura 2-1 e Figura 2-3), foi identificada surgência de água no talude em solo residual, havendo a
necessidade da instalação de DHPs (Drenos Horizontais Profundos) para alívio da poropressão,
direcionamento controlado da vazão e, consequentemente, aumento do fator de segurança deste talude (Figura
2-2).

Figura 2-1. Planta de acesso ao Bloco de Ancoragem 02. Escavação em destaque.

Figura 2-2. Surgência de água no talude de solo residual / Instalação de DHPs

A análise de percolação e estabilidade foi executada através de uma seção realizada no levantamento
topográfico desta região. Este levantamento foi executado após a identificação desta situação em campo. A
análise permitiu a avaliação do comprimento dos drenos, assim como o número de dispositivos necessários
para atendimento do fator de segurança mínimo.

101
A solução executada em campo foi drenos horizontais profundos, em malha 3,0 m por 3,0 m, com
aproximadamente 10 metros de comprimento. Após a execução dos drenos, foi implantado um sistema de
monitoramento da poropressão deste talude, de forma proporcionar a avaliação da condição de estabilidade
utilizando dados reais obtidos em campo.
A instrumentação, instalada e operacional, permite o monitoramento da poropressão e a avaliação dos
riscos de instabilidade envolvidos nesta região da encosta. As análises de estabilidade, com estes dados de
campo, são mais precisas e permitem avaliar os critérios adotados durante a definição deste tratamento.

Bloco 02

Área de acesso

Conduto existente

Figura 2-3 – Acesso ao Bloco de Ancoragem 02

3. Objetivo

Avaliar a condição de estabilidade de um trecho da encosta, em uma região de contato entre o solo
residual e rocha basáltica, considerando a poropressão obtida através de piezômetros de corda vibrante.

4. Metodologia

O perfil geológico da encosta foi definido através da realização de sondagens mistas, percussivas e
rotativas, e inspeções técnicas em campo. Os resultados das investigações também permitiram a definição dos
parâmetros de resistência da litologia observada. A Figura 4-1 apresenta o perfil geológico da encosta e
identificação do Bloco de Ancoragem 02.

Figura 4-1. Perfil geológico da encosta.

102
Para a realização da análise de percolação, foram utilizadas as leituras realizadas nos piezômetros PZ-
03, PZ-04 e PZ-05, os quais possuem leituras ao longo de 9 meses. Utilizou-se o Software Slide 2.0 da
Rocscience Inc. Toronto – Canadá, onde foram gerados 3 cenários para avaliação da estabilidade do talude,
sendo:

− Cenário 01: avaliação da condição do talude no início das escavações na região. Informações obtidas
através de levantamento topográfico, sondagens e inspeções de campo;

− Cenário 02: avaliação do talude, com os critérios definidos no Cenário 01, com a proposição de solução
com drenos horizontais profundos (10,0 m) em malha 3,0 x 3,0 m;

− Cenário 03: avaliação do talude, com os critérios do Cenário 01, com a proposição de solução com drenos
curtos em malha 3,0 x 3,0 m.

Por fim é realizada uma análise comparativa dos resultados das análises dos cenários iniciais de projeto
com a situação atual de campo, através da utilização dos dados dos instrumentos implantados na região de
interesse.

5. Análise de Percolação e Estabilidade

A análise de estabilidade foi realizada na camada de solo residual, na região de acesso para a construção
do Bloco de Ancoragem 02. Esta escavação gerou um alerta em campo, devido a surgência de água elevada e
aumento de poropressão neste talude, com inclinação média de 1V:1,8H.
A poropressão elevada, nesta região, era em função do nível de água no canal de adução não revestido
a montante. Após a execução da escavação, essa poropressão elevada gerou surgência de água nesta área.
A seção de análise, obtida através de investigações e inspeções, foi simplificada em duas camadas, sendo
a camada superficial composta por solo residual e a camada inferior por rocha basáltica (Figura 5-1).

Figura 5-1. Seção de análise

Os parâmetros de resistência do solo residual foram definidos por retroanálise, sendo os parâmetros do
basalto obtidos através de bibliografia técnica (Vallejo et. al, 2002). Para a retroanálise, foi imposta uma
condição em que o talude estaria próximo da instabilidade, ou seja, com um fator de segurança próximo de
1,0. Essa é uma condição conservadora, tendo em vista que o talude se encontrava estável, sem indícios de
escorregamentos no entorno. Os parâmetros estabelecidos para essa condição crítica são apresentados na
Tabela 5-1, alcançando um fator de segurança de 1,1.

Tabela 5-1. Parâmetros Geotécnicos


MATERIAL ɣ (kN/m³) c’ (kPa) ϕ' (°) k (m/s)
Solo Residual 18 10 37 1.10-6
Basalto 23 400 43 1.10-7

103
Para as análises foi utilizado o método analítico baseado na teoria do equilíbrio limite através da
metodologia de Spencer (E. Spencer, 1967), adotando-se o critério de Mohr-Coulomb para ruptura,
apresentado a seguir em termos de tensões efetivas (Rocscience, 2002):

𝜏 = 𝑐 ′ + 𝜎 ′ x tan 𝜑′

Sendo:
• 𝜏: tensão cisalhante;
• c’: intercepto de coesão efetivo;
• 𝜎’: tensão normal efetiva;
• 𝜑’: ângulo de atrito efetivo.

Os resultados dos 3 cenários de projeto realizados estão resumidos na Tabela 3-2.

Tabela 3-2. Fatores de segurança obtidos nas análises de projeto


CASO DE ANÁLISE FATOR DE SEGURANÇA
Cenário 01 1,11
Cenário 02 1,67
Cenário 03 1,21

Para garantir o fator de segurança de um talude com risco médio de perda de vidas humanas (área com
movimentação e permanência restrita de pessoas) e risco alto de danos materiais e ambientais, é necessário se
estabelecer um fator de segurança mínimo de 1,5 (ABNT, 2009). Portanto, através destas análises foi
determinada a necessidade de um sistema de drenagem com DHPs para atingir o fator de segurança mínimo
necessário. Além disso, foi indicado, em uma nota do projeto, a necessidade de instalação de drenos adicionais,
caso não fosse observada a eficiência dos drenos prevista e surgências de água na face do talude.
Após a implantação dos piezômetros, a determinação da linha piezométrica do maciço foi definida
através das leituras dos instrumentos instalados no local. A instrumentação é composta por piezômetros
elétricos de corda vibrante com leituras manuais. Os instrumentos foram instalados em duas seções (Figura
5-2). O PZ-03 foi instalado na cota 810,20 m, a 8,70 m da superfície. Já o PZ-04 e o PZ-05 foram instalados
no mesmo furo em profundidades diferentes, sendo o primeiro na cota 811,90 m e o segundo 805,90 m, a
6,00 m e 12,00 m de profundidade em relação à superfície, respectivamente.

Figura 5-2. Localização dos piezômetros PZ-03, PZ-04 e PZ-05

As leituras são realizadas periodicamente pela equipe técnica da obra, desde a instalação dos
instrumentos, a Figura 5-3 apresenta o histórico de medições.

104
Figura 5-3 Histórico de leituras – PZ-03, PZ-04 e PZ-05

Desde o início das leituras, em setembro de 2021, percebe-se uma redução constante das poropressões
atuantes nos piezômetros instalados. As leituras indicam que ainda não houve a estabilização das poropressões
no local. Sabe-se que em meados de junho de 2022 houve chuvas intensas no local de implantação do
empreendimento, mas não houve alterações nas leituras dos instrumentos que identificassem alguma influência
dessas chuvas sobre as pressões efetivas no maciço, um forte indício de que o sistema de drenagem instalado
(DHPs) no local está funcionando como deveria, evitando o aumento da freática.
A análise de percolação e estabilidade realizada com a condição atual do talude, considerando as leituras
mais recentes dos instrumentos, obteve-se um fator de segurança acima do preconizado em projeto, após a
execução da solução com DHPs (Figura 5-4).

a) Cenário 01 b) Cenário 02

Figura 5 4 - Análises de estabilidade/fluxo

105
c) Cenário 03 d) Condição atual

Figura 5-4 - Análises de estabilidade/fluxo (continuação)

6. Conclusão

Com as análises realizadas, concluiu-se a necessidade de utilização de drenos horizontais profundos


com malha 3,0 x 3,0 m e comprimento aproximado de 10,0 m, para a obtenção de um fator de segurança de
1,67. Após o esvaziamento do canal de adução, para execução do projeto de ampliação, com revestimento em
manta PEAD do canal, houve uma redução importante da poropressão nesta área. Essa redução de poropressão
foi identificada através dos piezômetros de corda vibrante, instalados no local, e da realização de uma análise
de estabilidade para a condição atual, obtendo um fator de segurança de 1,78.
O monitoramento das condições em campo, como a poropressão atuante no maciço, é muito importante
para a avaliação da segurança de taludes. Nesta região da encosta, os instrumentos instalados foram
fundamentais para a obtenção da linha piezométrica e reavaliação da segurança deste talude.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à G5 Engenharia e G5 Instrumentos pela disponibilização dos dados e apoio na


realização deste artigo.

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Geociências da Petrobras, 15(2):265-287

106
Condições Geotécnicas da Encosta em Faixa de Dutos no Paraná
com Base no Histórico de 20 Anos de Monitoramento
Célio Roberto Campos Piedade Jr
Eng. Msc – PETROBRAS TRANSPORTE SA. Guaramirim/SC, Brasil. celio.piedade@transpetro.com.br

Marcelo Luvison Rigo


Eng. Dsc – PETROBRAS TRANSPORTE SA. Itajaí/SC, Brasil. mlrigo@transpetro.com.br

Marcelo Julio Langone


Eng. Msc – PETROBRAS TRANSPORTE SA. São Francisco do Sul/SC, Brasil.
marcelo.langone@transpetro.com.br

Hudson Regis Oliveira


Eng. Msc – PETROBRAS TRANSPORTE SA. Biguaçu/SC, Brasil. hudson.regis@transpetro.com.br

Angelo José Paula de Sousa


Eng. Consultor – PETROBRAS TRANSPORTE SA. Rio de Janeiro/RJ, Brasil.
angelosousa@transpetro.com.br

RESUMO: O artigo refere-se a uma encosta localizada na faixa de dutos do OLAPA, o qual transporta
derivados entre a cidade de Araucária, na região metropolitana de Curitiba, e a cidade de Paranaguá, no
Litoral Paranaense, passando pela Serra do Mar. No ano de 2001 ocorreu um deslizamento seguido pela
ruptura do duto na encosta do km 57+200, ocasionando impactos logisticos temporários na epóca. Desde
então, foram ampliadas as medidas de estabilização, inspeções e de monitoramento no local. Esse trabalho
tem por objetivo a apresentação dos processos de instabilização e das condições geotécnicas da encosta após
20 anos de monitoramento. As observações dos processos de instabilização foram permitidas por uma série
de inspeções na encosta ao longo dos anos, e pela análise do monitoramento da instrumentação geotécnica.
A partir das informações produzidas, foi possível distinguir dois processos de instabilização diferentes. O
primeiro é o de deslizamento, seguido de rastejo do material depositado, na parte superior da encosta. E, na
porção inferior da encosta, um processo de rastejo com movimentos extremamente lentos e persistentes. A
porção inferior da encosta difere da porção superior por ser menos inclinada e pela presença de blocos
decimétricos superfíciais e imersos na massa de solo, caracterizando um colúvio mais antigo. A massa
rompida na porção superior apresenta deslocamentos inferiores a 5 mm/ano desde os marcantes eventos
chuvosos de 2011. O processo de rastejo do colúvio mais antigo, na porção inferior da encosta, apresenta
velocidades de deslocamento de cerca de 10 mm/ano, sobre uma superfície de ruptura bem definida. Estes
movimentos não provocaram aumentos significativos nas deformações e tensões do duto, conforme
mostram as leituras dos extensômetros, devido as medidas de estabilização implantadas no local.

PALAVRAS-CHAVE: Poliduto, Faixa de Dutos, Instrumentação Geotécnica.

ABSTRACT: This paper refers to a slope located at OLAPA right-of-way, wichs pipeline transports
hydrocarbons between Araucária, in the metropolitan region of Curitiba, and Paranaguá, at the coast of the
state of Paraná, passing through the Serra do Mar hills. In the year of 2001, following a landslide, the
pipeline has failed at the 57+200 km slope, causing temporary logistics impacts. Since the event, the slope
has gone through a series of stabilization works, inspections, monitoring and maintenance. The aim of this
paper is to present the instability processes and the geotechnical conditions of the site after 20 years of
monitoring. The observation of the instability processes has been carried out through a series of slope
inspections along the years and the analysis of geotechnical instrumentation monitoring. From the produced
information, it has been possible to distinguish two different instability processes. First, the slide followed
by creep of the deposited material in the upper segment of the slope. And, in the lower segment of the slope,
an extremely slow and persistent creep process. The lower segment of the slope differs from the upper
segment by being less inclined and by the occurrence of boulders in the surface and embedded in the soil
mass, characterizing an older colluvium mass. The upper-deposited mass shows displacements of the order

107
of less than 5 mm/year since the remarkable heavy rains occurred in 2011. The lower segment older
colluvium creep process shows displacement velocities of the order of 10 mm/ year over a well-defined
failure surface. These movements have not yet caused significant increase in pipe deformation and stress,
as shown by extensometers readings, due stabilizations measures implemented at the site.

KEYWORDS: pipeline, right-of-way, geotechnical instrumentation.

1 Introdução

O oleoduto OLAPA é um duto instalado em uma servidão de passagem com 20m de largura
denominada Faixa de Dutos. Em seu percurso entre as cidades de Araucária e Paranaguá, o duto atravessa a
Serra do Mar Paranaense em aproximadamente 20km nas cidades de São José dos Pinhais e Morretes.
O desnível atravessado pela Faixa de Dutos é de cerca de 850 m. O perfil da descida é composto por
fortes aclives e declives dados pelas vertentes por onde passa o traçado do duto. Conforme Nunes (2002) a
pluviosidade local é elevada nos meses entre dezembro e março (média mensal de cerca de 600 mm) e baixa
entre abril e novembro (média mensal de cerca de 150 mm).
O gerenciamento da manutenção da Faixa de Dutos é normatizado por diretrizes internas e contemplam
a inspeção, manutenção, partes interessadas e comunicação com partes interessadas. Em função das inspeções
normatizadas, das chuvas intensas e de ocorrências geotécnicas, as encostas são reforçadas e/ou estabilizadas
e monitoradas. A estabilização ocorre por obras geotécnicas e/ou de drenagem profunda e superficial.
Desde a instalação do duto OLAPA nos anos 70, a medida em que ocorreram movimentações nas
encostas, foram sendo implementadas medidas de estabilização e monitoramento. Os instrumentos utilizados
são: drenos subhorizontais profundos (DHP), pluviômetros, piezômetros, inclinômetros, extensômetros no
duto e medidores de nível de água. Vale ressaltar que o DHP, nesses casos, se previu funcionar como um meio
de estabilização e como uma forma de monitoramento pelo controle das vazões. Algumas encostas possuem
um único tipo de instrumento e outras encostas possuem todos os outros tipos. No ano de 2001 ocorreu um
deslizamento seguido pela ruptura do duto na encosta objeto deste artigo. A Figura 1, obtida de Suzuki (2004),
mostra o local da ocorrência.

Oleoduto

Limites da língua
coluvionar

Figura 1. Vista geral da encosta (Suzuki, 2004).

Como resposta a ocorrência geotécnica, foi elaborado um projeto de estabilização por empresa
contratada e executada uma de série de baterias de DHPs, drenos superficiais, piezômetros, inclinômetros e
extensômetros. Este trabalho tem por objetivo a apresentação dos processos de instabilização e das condições
geotécnicas observadas durante esses 20 anos de acompanhamento.

108
2 Geologia local

O local aproximado da encosta é descrito em mapeamento na Folha de Curitiba escala 1:250000


Edição de 2005 como API-mgm, sendo tais rochas do Complexo Gnaissico Migmatítico. De modo geral, são
derivados de migmatitos e gnaisses com biotitas e hornblendas. Também ocorrem diques de diabásio e diorito
relacionados ao arco de Ponta Grossa formados no Compartimento da Bacia do Paraná. Tais enxames de diques
muito comuns no Segundo Planalto Paranaense, têm um prolongamento no Planalto Curitibano e na Serra do
Mar.
A Figura 2, obtida e adaptada de NUNES (2002) mostra a geologia local. O quadrado indicado como
sendo o local da encosta está em região de migmatitos, seus solos residuais e colúvios associados.

Figura 2. Geologia do local (Adaptado de NUNES, 2002).

A Figura 3 mostra um modelo 3D do terreno com base em levantamento aerofotogramétrico. Um breve


exercício de fotointerpretação encontra facilmente nas cercanias da faixa de dutos algumas rupturas de
encostas. A flexa preta indica a ruptura de 2001. As cicatrizes verificadas indicam que a região realmente
possui depósitos coluvionares e é susceptível a seus problemas de rastejo decorrentes.

Figura 3. Modelo 3D a partir de levantamento LIDAR.

109
3 Caracterização e condições da encosta

A encosta apresenta trechos bastante inclinados próximo a crista e declividades menores nas
proximidades do pé. Independente das definições a serem adotadas, observa-se que a ruptura ocorre em
material residual das rochas locais devido a maior declividade e um possível processo de artesianismo
condicionado por estrutura geológica como descrito em Lacerda (2002). Uma vez que este material se desloca,
ele se deposita sobre a superfície de ruptura não distante da posição original.
Assim, pode-se admitir a definição de colúvio de Sandroni e Lacerda (1985), obtida literalmente em
Lacerda (2002). Conforme esses autores, entende-se que o termo se aplica a massas rompidas de granulometria
variada, transportadas por gravidade a uma pequena distância da área fonte e depositadas nas porções mais
baixas da encosta. Os autores também diferenciam o tálus como um caso particular de colúvio, onde
predominam a fração de blocos de maior diâmetro indicando uma menor distância de transporte ou
desagregação da massa rompida. De modo geral, na encosta em questão da faixa Olapa os solos são
predominantemente finos com matacões mais esparsos nas porções inferiores.
A Figura 4 mostra a localização dos instrumentos analisados. Vale ressaltar que cada instrumento foi
instalado em um furo de sondagem. A Figura 5 mostra a seção geológica e geotécnica na direção do movimento
da massa rompida. Também se mostra a linha freática em azul e a superfície de ruptura obtida das leituras dos
inclinômetros da Figura 7a. Observa-se que a superfície de ruptura guarda um paralelismo aproximado com a
superfície do terreno.

Figura 4. Localização dos instrumentos.

Figura 5. Seção geológica e geotécnica.

110
Um estudo consistente sobre os parâmetros geomecânicos da encosta pode ser consultado em Suzuki
(2004). Foram retiradas 6 amostras indeformadas das camadas residuais e coluvionares e efetuados ensaios de
cisalhamento direto, triaxial e cisalhamento torcional. A profundidade dos blocos variou de 60 cm a 6 m.
A partir dos dados analisados, foi feita uma interpretação conjunta dos resultados onde as tensões no
plano de ruptura, foram lançadas e ajustadas no mesmo gráfico. Assim, os ensaios de cisalhamento direto
retornaram valores efetivos médios de 15 kPa de coesão e 30° de ângulo de atrito em ensaios inundados.
Os ensaios de ring shear apresentaram de 27 a 30° de ângulo de atrito residual nos solos coluvionares
e de 22° para os solos residuais. O autor credita o resultado à presença maior de mica no material residual.
A análise dos resultados dos ensaios triaxiais mostrou baixa dispersão dos pontos de ruptura. A
interpretação conjunta das amostras foi elaborada em termos de trajetórias de tensões. Os valores interpretados
foram de 11 kPa de coesão e de 30,8° de ângulo de atrito.

4 Resultados e discussões

Nesta seção será apresentada uma seleção sucinta dos principais resultados obtidos ao longo de cerca
de 20 anos de monitoramento da instrumentação geotécnica, desde a ruptura do oleoduto em 2001. Os dados
foram obtidos do sistema GEORISCO da TRANSPETRO. Este sistema foi desenvolvido para o gerenciamento
dos dados de toda a instrumentação geotécnica da empresa.
A Figura 6 mostra o comportamento da leitura de piezometros característicos da porção superior da
encosta, onde ocorreu o deslizamento e a massa rompida permanece em rastejo, e da porção inferior onde se
verifica um movimento de rastejo.
O monitoramento dos instrumentos ao longo dos 20 anos mostra sazonalidade condizente com os
períodos de chuvas e de estiagens. A amplitude média do nível piezométrico é de cerca de 4 m com variação
de 2 m para mais ou para menos em relação ao valor médio dos instrumentos.

Figura 6. Histórico das leituras dos piezômetros.

Observa-se que existem 2 grupos distintos e o PZM-016, localizado junto a crista da ruptura, com o
NA mais profundo. Este piezômetro, normalmente é dado como “seco” e apresenta aparente água de infiltração
ou um NA mais profundo.
O primeiro grupo, apresenta níveis mais próximos da superfície, com leituras entre 2 e 4 m. Tais
instrumentos estão em porções próximas das cicatrizes de ruptura. Influenciaram o deslizamento da encosta e
influenciam atualmente o rastejo da massa rompida. O PZM-006, mostrava leitura na boca do instrumento ou
mesmo artesianismo entre 2007 e 2011. Após 2012 foram instaladas várias baterias de drenos e as leituras
estão a cerca de 1,5 m abaixo da superfície.
O segundo grupo, que apresenta leituras entre 8 e 12 m, em elevações intermediárias, influenciam os
movimentos de rastejo da porção inferior da encosta.
A Figura 7 mostra os deslocamentos máximos e as velocidadades de deslocamento medidos nos
inclinômetros até janeiro de 2022.

111
a)

b)
Figura 7. a) Histórico dos deslocamentos máximos dos inclinômetros. b) Velocidades de deslocamentos.

Conforme a Figura 7a, a superfície de ruptura varia em profundidades entre 8m a 15 m. Os


deslocamentos variam entre 60 e 200 mm para os instrumentos de maior deslocamento.
A Figura 7b mostra a variação anual da velocidade dos deslocamentos. Pode-se perceber que, à
exceção do INC-013, todos os instrumentos apresentaram deslocamentos anuais inferiores a 16 mm até o ano
de 2011. O valor de 16 mm em destaque é o limite superior para um rastejo extremamente lento, de acordo
com a classificação de Crudden e Varnes (1996). Em março de 2011 ocorreu uma chuva histórica de 190
mm/24 h, antecedida por 10 dias de chuvas variadas e 60 mm de véspera. Na ocasião, foi verificado incremento
pontual de deslocamento de cerca de 35 mm na região do INC-013, sendo necessária a substituição do mesmo
pelo INC-013A.
Após o ano de 2011, com a instalação de novos DHPs, a velocidade dos deslocamentos dos
inclinômetros INC-09A, INC-011, INC-012 e INC-013A apresentaram uma sensível diminuição, embora
apresentem picos de até 10 mm/ano em resposta a ocorrência de temporadas de chuvas volumosas.
Uma outra forma de vizualizar os deslocamentos da encosta seria pelos isodeslocamentos. A Figura 8
mostra as linhas de mesmo deslocamento acumulado total na superfície da massa rompida. Na parte
intermediária observa-se 5 cm de deslocamento e na região da parte inferior da encosta um deslocamento de
20 cm.

Figura 8. Linhas de isodeslocamento.

Outro tipo de instrumento analisado é o extensômetro de corda vibrante. São instalados 3 sensores por
seção, separados por uma angulação de 120°. O sensor de 0° é referente ao da geratriz superior do duto. Em
cada sensor são medidas a frequência e temperatura e retornam a deformação em micro-strains. A partir da

112
curva tensão x deformação do aço são obtidas tensões.
A Figura 9 mostra os dados entre 2003 e 2022. De modo geral, as curvas apresentam uma forma
oscilatória de aspecto grosseiro. Porém, se trata de uma seleção mensal de dados para fins de simplificação da
quantidade de valores. Os dados diários mostram essa variação mais refinada com aspecto senoidal. A
oscilação reflete a dilatação térmica devido a temperatura do produto e a sazonalidade entre verão e inverno
na Serra do Mar.
A Figura 9a e 9b mostram, respectivamente, as máximas e mínimas tensões nas seções transversais
dos extensômetros. Os valores positivos indicam tensões de tração e os valores negativos, tensões de
compressão.

a) b)
Figura 9. a) Tensões de máxima tração. b) Tensões de máxima compressão.

As curvas podem ser divididas em 2 classes principais. As curvas em preto (correspondentes às seções
extensométricas SE-014, SE-015 e SE-016, localizadas na porção inferior da encosta), com valores negativos
de tensão, indicam que toda a seção tranversal do duto está comprimida no trecho onde essas seções estão
instaladas. Neste caso, as tensões mínimas (Figura 9b) correspondem às máximas compressões. Por sua vez,
as tensões máximas (Figura 9a) correspodem aos mínimos esforços de compressão.
As curvas coloridas (correspondentes as demais seções extensométricas localizadas na porção
intermediária da encosta), com valores positivos de tensão, indicam que toda a seção transversal do duto está
tracionada no trecho onde essas seções estão instaladas. Assim, as tensões máximas (Figura 9a) correspondem
às máximas trações e as tensões mínimas (Figura 9b) correspondem aos mínimos esforços de tração.
Embora não representadas no gráfico, as tensões máximas e mínimas das seções extensométricas
localizadas fora da área de rastejo não indicam influência da movimentação em seus valores (da SE-001 a SE-
005). Acredita-se que o duto esteja ancorado na região acima da seção SE-005. Entre a seção SE-006 e SE-
009 as tensões são crescentes chegando aos máximos valores de tração. Por outro lado, observa-se uma
estabilização dos valores com a caracterização de um patamar.
A interpretação desses dados não deveria ser feita, de modo simplista, em termos de valores absolutos,
mas sim como a variação em relação ao valor inicial. Entende-se que os instrumentos são instalados em dutos
em operação e que por isso guardam tensões residuais devido a confecção do tubo, de instalação e de operação.
Além disso, os dados de extensometria devem ser comparados com os resultados de outros instrumentos, como
por exemplos os inclinômetros. A Figura 10 mostra as linhas de isodeslocamentos obtidas dos inclinômetros
e os valores de máxima variação de tensões nos instrumentos.

Figura 10. Linhas de isodeslocamento associadas aos valores de tensão.

113
Observa-se que na região do pé da encosta, nas proximidades do extensômetro SE-016 e do
inclinômetro INC-011 as tensões são máximas compressivas. Por outro lado, nas proximidades da estrada,
junto ao extensômetro SE-08, onde os deslocamentos são menores, as tensões são as máximas de tração.
Uma interpretação possível é a de que o rastejo comprime o duto na parte inferior da encosta e traciona
na região intermediária. Uma outra interpretação vai no sentido de que a variação das tensões é crescente entre
2003 e 2011 e a partir deste ano ela se mantém estável na variação sazonal.

5 Conclusões

Passados 21 anos desde os primeiros indicios de movimentação de massa, a encosta recebeu uma série
de investimentos de estabilização como instalação de drenagens profundas e superficiais. Também são feitas
inspeções e rotina, leitura sazonais dos instrumentos e a manutenção da encosta. Esta manutenção engloba a
roçada, reparo e desobstrução de canaletas e limpeza profunda de DHPs.
As partes superior e intermediária da massa rompida apresentam um rastejo com deslocamentos
inferiores a 5 mm/ano e na porção inferior parece ocorrer um processo de rastejo mais bem definido. Ambos
são classificados como extremamente lento. A velocidade de deslocamento pode chegar a cerca de 10 mm/ano
no caso de verões com grandes picos de chuvas intensas. Os dados dos extensômetros mostram um aumento
da amplitude de tensões até o ano de 2011. A partir desse ano, as tensões já não apresentam variações
significativas. Tais constatações permitem supor que nos últimos 10 anos os deslocamentos devido ao rastejo
não tiveram o potencial para deixar a variação das tensões em trajetória ascendente, evidenciando que as
medidas de estabilização do local estão garantindo a segurança operacional do oleoduto.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a TRANSPETRO pela cessão dos dados e pelo incentivo para elaboração do
trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Crudden, D. M. & Varnes, D. J. (1996), Landslides Types and Process. In: Landslides Investigation and
Mitigation. Transportation Research Board Special Report 247. National Research Council, Washington
DC, pp. 36-75.
Folha de Curitiba (2005), Carta geológica da folha de Curitiba. Escala 1:125000, Execução Geosistemas.
https://www.iat.pr.gov.br/Pagina/Mapeamento-Geologico
Lacerda, W.A., (2002), Comportamento Geotécnico de Massas Coluviais, In: III Simpósio de Prática de
Engenharia Geotécnica da Região Sul. Geosul, Joinvile, pp. 219-231.
Lacerda, W. A.; Sandroni, S. S. (1985), Movimentos de Massas Coluviais, In: Mesa Redonda Sobre
Aspectos Geotécnicos de Encostas, pp. 1-19, Rio de Janeiro.
N-2775 (2021) Inspeção e Manutenção de Faixas de Dutos Terrestres e Relações com Terceiros. Comissão
de Normalização Técnica, SC-13, Gasodutos e Oleodutos. PETROBRAS, Rio de Janeiro.
Nunes, F. G. (2002) Levantamento de áreas de riscos a partir da dinâmica geoambiental das encostas da
Serra do Mar no Paraná. Dissertação de Mestrado, Curso de Pós-Graduação em Geologia, Universidade
Federal do Paraná, Curitiba.
Suzuki, S. (2004) Propriedades geomecânicas de alguns solos residuais e coluviais ao longo do Oleoduto
Curitiba Paranaguá. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia-COPPE,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

114
A Transformação Digital no Contexto do Monitoramento de
Encostas: Uma Visão Geral Sobre o Tema a Partir de uma
Revisão

Gabriel Raykson Matos Brasil de Araújo


Mestrando, Escola Politécnica da USP, São Paulo, Brasil, gabrielraykson@hotmail.com
Pesquisador Visitante, Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, São Paulo, Brasil, grmbaraujo@ipt.br

Alessandra Cristina Corsi


Pesquisadora, Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, São Paulo, Brasil, accorsi@ipt.br

Eduardo Soares de Macedo


Pesquisador, Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, São Paulo, Brasil, esmacedo@ipt.br

Marcos Massao Futai


Professor, Escola Politécnica da USP, São Paulo, Brasil, futai@usp.br

RESUMO: Na escala do tempo geológico, é certo que ocorrerão movimentos de massa em encostas, dentre os
quais chamados escorregamentos ou deslizamentos de terra. Estima-se que estes movimentos de massa sejam
responsáveis por 5,2% dos desastres naturais mundialmente. Como alternativa para mitigação dos danos
provocados por estes eventos, medidas para o acompanhamento, predição ou monitoramento podem ser
empregadas em diversas frentes de atuação. Impulsionados pela Transformação Digital, os sistemas de
monitoramento foram otimizados incorporando instrumentos digitais, transmissão remota, BigData e
Inteligência Artificial para realização de monitoramento remoto, seja ele contínuo ou não. Este trabalho vem
apresentar uma revisão sobre a utilização de novas tecnologias para o monitoramento de encostas. Foi
construído um banco com dados de 1.054 artigos obtidos na base Scopus. Observou-se que o tema vem
apresentando uma acentuada tendência de crescimento e que as fontes que mais têm publicado sobre o tema
estão ligadas à Geologia ou tecnologia aplicada, com indicações da preferência de escolha para as ferramentas e
métodos através das palavras-chave utilizadas. A China e Itália lideram as pesquisas dentro desta temática. A
Transformação Digital em encostas já é realidade em partes do mundo e se apresenta como uma forte tendência
futura, devendo ser estimulada para uso em larga escala.

PALAVRAS-CHAVE: Escorregamentos em Encostas, Transformação Digital na Geotecnia de Encostas,


Monitoramento de Encostas, Internet das Coisas – IOT, Inteligência Artificial – IA, Revisão de Escopo.

ABSTRACT: On the geological time scale, it is certain that mass movements will occur on slopes, also called
landslides. It is estimated that these mass movements are responsible for 5.2% of natural disasters worldwide.
As an alternative to mitigating the damage caused by these events, measures for monitoring, prediction or
monitoring can be used on several fronts. Driven by Digital Transformation, monitoring systems were
optimized incorporating digital instruments, remote transmission, BigData and Artificial Intelligence to carry
out remote monitoring, whether continuous or not. This work presents a review on the use of new technologies
for monitoring slopes. A database was built with data from 1,054 articles obtained from the Scopus database. It
was observed that the topic has been showing a marked growth trend and that the sources that have published
the most on the topic are linked to Geology or applied technology, with indications of preference for choosing
tools and methods through the keywords used. China and Italy lead research in this area. Digital
Transformation on slopes is already a reality in parts of the world and presents itself as a strong future trend,
and should be stimulated for use on a large scale.

KEYWORDS: Landslides, Digital Transformation in Slope Geotechnics, Slope monitoring, Internet of Things
– IOT, Artificial Intelligence – AI, Systematic Review.

115
1 INTRODUÇÃO
Por definição, movimentos de massa em encostas, dentre os quais escorregamentos ou deslizamentos de
terra, são movimentos de blocos de rocha, solo ou detritos que descem uma encosta por influências naturais,
antrópicas ou uma combinação entre estes dois fatores. Em uma escala de tempo geológico, é certo que
ocorrerão movimentos de massa em encostas e estes já estão consolidados como objeto de estudo constante
no meio técnico e são também objetos de interesse político e institucional internacional (UNISDR, 2015;
UNDRR, 2019), já que são responsáveis por um grande impacto socioeconômico a nível global todos os
anos.

Otero (2020), embasada nos dados do Centre for Research on the Epidemiology of Disasters (CRED)
ano-base 2019, verificou que 5,2% dos desastres naturais reportados entre 1998 e 2017 foram de
escorregamentos em encostas, atingindo 4,8 milhões de pessoas, com 18.414 mortes e impacto econômico da
ordem de US$ 8bi. No Brasil, os escorregamentos de terra, em conjunto com as inundações e tempestades,
configura entre os principais fenômenos relacionados a desastres naturais (IG, 2009). O estudo apresentado
pelo UFSC-CEPED (2013) mapeou 11 tipos de desastres naturais que ocorreram no Brasil entre 1991 e
2012, que incluiu os movimentos de massa. Verificou-se que de todos os movimentos reportados no
território nacional no período citado, cerca de 79,8% foram registrados na região sudeste do país, com maior
destaque para o estado de Minas Gerais, com 208 registros, seguido por São Paulo com 165, Rio de Janeiro
com 153 e Espírito Santo com 32 casos reportados.

O estudo revelou, ainda, que os movimentos de massa são responsáveis por apenas 1,8% dos afetados por
desastres naturais, atrás de eventos como estiagem, seca, enxurrada e inundação, por exemplo. No entanto, os
movimentos de massa são responsáveis por 15,6% das vítimas fatais, ficando atrás apenas das enxurradas,
que atingiram fatalmente 58,15% dos afetados por desastres no Brasil. Cabe aqui destacar que o estudo
considerou o fluxo de lama e de detritos como atributo das enxurradas, característica esta que divergem de
outros autores e até mesmo da Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE), que atribui
estas características aos movimentos de massa. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo – IPT –
mantém um registro de mortos por escorregamentos no Brasil desde 1988, incluindo os fluxos de lama e de
detritos. A Figura 1 apresenta o gráfico com os dados atualizados até 2021.

Mortes por escorregamentos no Brasil


969
1000
Número de mortos

800

600

400 295 242


238
180 183
200 90 54 99 71 90 104
95 70 57 51 57 99 84 103
28 28 23 48 58 41 37 23 29 35 2422 51 25
0
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021

Ano
Figura 1. Número de mortos por escorregamentos no Brasil. Fonte: IPT, 2022

Em termos de medidas para a mitigação dos efeitos provocados por escorregamentos, existem soluções
que podem ser agrupadas em duas categorias: i) medidas estruturais e ii) medidas não-estruturais
(MINISTÉRIO DAS CIDADES/IPT, 2007; IG, 2009). As medidas estruturais fazem uso de soluções de
engenharia, e podem ser exemplificadas pelas contenções, drenagem, obras de infraestrutura urbana, dentre
outras. Enquanto isso as medidas não-estruturais estão relacionadas às políticas públicas, ao planejamento
urbano e planos de defesa civil, que englobam soluções como os Sistemas para Monitoramento – SM, os
Sistemas de Alerta Antecipado – SAA, e os Mapas de suscetibilidade, perigo e risco (MINISTÉRIO DAS
CIDADES/IPT, 2007). As medidas não-estruturais atuam indiretamente na mitigação dos efeitos dos
escorregamentos, apresentam menores custos e causam menor impacto ao ambiente, se comparadas às
medidas estruturais, e são capazes de apresentar resultados tão satisfatórios quanto na prevenção e mitigação
dos efeitos de escorregamentos, sobretudo em áreas de risco ocupadas irregularmente em centros urbanos.

Nos ultimos anos, têm-se observado importantes mudanças, tanto na sociedade, como nas atividades
econômicas, impulsionadas pelo uso crescente de tecnologias digitais, em um processo chamado de
116
Transformação Digital (TD), onde o resultado é identificado e nomeado como a 4ª revolução industrial ou
Industria 4.0 (FRANK et al, 2019; VIAL, 2019; TORTORELLA et al, 2020). Vial (2019) definiu a
Transformação Digital como um processo voltado à melhoria institucional/social, que desencadeia mudanças
significativas por meio da combinação de tecnologias de informação, computação, comunicação e
conectividade. Esta definição é resultado de um estudo de revisão que incluiu 282 trabalhos envolvendo a
TD como tema central.

Tradicionalmente observada no meio industrial e da tecnologia e sistemas da informação, principalmente


por conta da digitalização dos seus processos, produtos e estratégias organizacionais (FRANK et al, 2019;
NAMBISAN et al, 2019; TORTORELLA et al, 2020; VIAL, 2019), a Transformação Digital não se limita
apenas a estes campos de aplicação, pelo contrário, pode ser observada, também, no cotidiano social e de
algumas cidades.

O conceito de Cidades Inteligentes está completamente associado à Transformação Digital. De acordo


com Sharif e Pokharel (2022), apud Bibri e Krogstie (2017), o conceito de Cidade Inteligente foi introduzido
na década de 1990 no sentido de incorporar soluções baseadas em tecnologias avançadas de informação e
comunicação no planejamento urbano para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, fomentar economia,
otimizar o gerenciamento de transporte e trânsito urbano, tudo integrado e acessível às autoridades
governamentais interessadas. Bellini et al (2022) destacam em sua pesquisa que a Internet das Coisas (IoT)
representa um dos principais impulsionadores e facilitadores da inovação ‘inteligente’ e do desenvolvimento
sustentável ligados à evolução das Cidades Inteligentes, pois é parte fundamental da digitalização dos
dispositivos, além da incorporação de ferramentas de Inteligência Artificial, que tornam todo o
processamento dos dados mais exequível diante das altas taxas de aquisição que colocam as Cidades
Inteligentes na escala de Big Data.

É de senso comum que o Meio Ambiente está qualificado como um dos domínios de interesse das
Cidades Inteligentes. Dentre os objetos de estudo na área de “Meio Ambiente Inteligente”, costumam ser
listados a aquisição, análise e monitoramento de dados de poluição do ar, da qualidade e reservas de água,
dados do clima e gerenciamento de eventos climáticos extremos, gerenciamento de recursos energéticos e
proteção humana e urbana contra perigos naturais (SHARIF; POKHAREL, 2022; BELLINI et al, 2022).

O monitoramento e o mapeamento de suscetibilidade, perigo ou risco de eventos danosos de origem


hidro-geológica se enquadra no contexto de interesse das Cidades Inteligentes e têm sofrido efeitos da
Transformação Digital nos últimos anos (SANTOS et al, 2020). Diversos estudos têm buscado aprimorar os
instrumentos e métodos para o monitoramento e gerenciamento do risco de movimentações em encostas. Do
ponto de vista do mapeamento e predição de movimentos em encostas, ferramentas de Inteligência Artificial
têm sido o carro chefe que lidera o avanço das principais pesquisas e aplicações (WANG et al, 2019,
BRAGAGNOLO et al, 2020; HUANG et al, 2020; CATANI, 2021; RODRIGUES et al, 2021), enquanto os
instrumentos originalmente digitais ou a digitalização de instrumentos tradicionais estão sendo as principais
ferramentas para o aprimoramento dos métodos de monitoramento de encostas (GIOGETTI et al, 2016;
MOULAT et al, 2018; KONG et al, 2020; MEI et al, 2020; RUZZA et al, 2020; GIRI et al, 2022).

Este trabalho busca apresentar uma revisão de escopo sobre os efeitos da Transformação Digital no
monitoramento de encostas, caracterizando o processo através das publicações realizadas sobre o tema entre
2002 e 2021, identificando características como o número de publicações ao longo dos anos, recorrência das
palavras-chave utilizadas, distribuição geográfica das publicações considerando o país de origem da
publicação e os periódicos mais utilizados para explorar o tema utilizando a base da Scopus(Elsevier) como
fonte de estudo. Na seção 2 está apresentado o protocolo da metodologia aplicada na revisão. A seção 3
apresenta os resultados obtidos e as discussões acerca do que foi observado e a seção 4 conclui este trabalho.

2 METODOLOGIA

Para este trabalho, realizou-se uma revisão de escopo em duas etapas: 1) utilização da ferramenta online
Parsifal (https://parsif.al), que é destinada a revisões sistemáticas estruturadas, para documentar todo o
processo de organização, protocolo, classificações e avaliações de qualidade; e 2) exportação dos dados de
cada publicação para uma planilha CSV, onde os arquivos foram classificados em aceito ou rejeitado de
acordo com os critérios apresentados no Protocolo de revisão, disposto a seguir.

117
2.1 Protocolo de revisão

Figura 2. Critério para a elaboração da String de busca.

Objetivos da revisão:
▪ Caracterizar o processo da Transformação Digital voltado ao monitoramento de movimentos em
encostas;
▪ Apresentar o aumento gradual do tema ao longo dos últimos 20 anos, considerando o intervalo
entre 2002 e 2021;
▪ Identificar as principais características provocadas pela Transformação Digital no mapeamento,
predição e monitoramento de encostas.

PICOC:
A ferramenta Parsifal adota a estratégia PICOC para delimitar os elementos de interesse do estudo e
estruturar as perguntas da pesquisa de evidências. Abaixo estão apresentados cada elemento da estratégia
adotados para esta pesquisa:

▪ P (População): Artigos escritos no idioma Inglês, publicados em periódicos científicos dentro das
bases da Scopus (Elsevier).
▪ I (Intervenção): A transformação digital no monitoramento de encostas, instrumentação
geotécnica em encostas, o uso de IoT, IA e Big Data como ferramentas para o monitoramento e
alerta de escorregamentos em encostas.
▪ C (Comparação): Conceitos, limitações de aplicação das novas tecnologias e a distribuição
espacial dos pesquisadores.
▪ O (Resultado): Evolução do tema ao longo das últimas duas décadas, a regionalização das
publicações, ferramentas de IA e instrumentos utilizados.
▪ C (Contexto): Desastres geológicos, movimentações em encosta e avaliações de riscos.

Questões da pesquisa:
1. Como se desenvolveu o processo da Transformação Digital no meio geotécnico com foco em
monitoramento de encostas?
2. Quais ferramentas digitais têm sido utilizadas?
3. Quais ferramentas de Inteligência Artificial têm sido utilizadas?
4. Quais são os países de origem das pesquisas?

String de busca:
A busca ficou restrita aos artigos que respeitaram as seguintes condições: Artigos ou Revisões publicados
entre 2002 e 2021, escritos no idioma Inglês, em estágio final (publicado) que continham no título, resumo
ou palavras-chave o conjunto de palavras contida nos grupos ‘Fenômeno’, ‘Atividade’ e ‘Ferramentas’
apresentados na Figura 2.

118
A string de busca resultado destas condições, utilizando os operadores boolenos AND e OR, é:

▪ TITLE-ABS-KEY (("LANDSLIDE" OR "DEBRIS FLOW") AND ("MONITORING" OR


"EARLY WARNING SYSTEM" OR "EWS" OR "FORECASTING" OR "PREDICT" ) AND
("REMOTE SENSING" OR "SENSOR" OR "WIRELESS" OR "INTERNET OF THINGS"
OR "IOT" OR "ARTIFICIAL INTELLIGENCE" OR "AI" OR "BIG DATA" OR "MEMS"
OR "FIBRE OPTIC" OR "SATELLITE" OR "RADAR" OR "INSAR" OR "LIDAR" OR
"UAV" OR "LASER" OR "SCAN" OR "SCANNER" OR "ACCELEROMETER" OR
"GYROSCOPE" OR "MAGNETOMETER" OR "GEOPHONES" OR "GPS" OR
"ARTIFICIAL NEURAL NETWORK" OR "ANN" OR "SUPPORT VECTOR MACHINE"
OR "SVM" OR "RANDOM FOREST" OR "RF" OR "MACHINE LEARNING" OR "ML"
OR "DEEP LEARNING" OR "DL") AND NOT ("FLOOD")) AND (PUBYEAR > 2001 AND
PUBYEAR < 2021) AND (LIMIT-TO (DOCTYPE , "ar") OR LIMIT-TO (DOCTYPE, "re"))
AND (LIMIT-TO (LANGUAGE, "English"))

Base consultada:
▪ Scopus (Elsevier)

Critérios para inclusão/aceitação do documento na revisão:


▪ Aplicação em caso real utilizando IoT, IA, MEMs, IMU, Fibra Ótica ou similares
▪ Simulação em laboratório utilizando IoT, IA, MEMs, IMU, Fibra Ótica ou similares
▪ Monitoramento e inspeção com UAVs, radares, satélites ou similares
▪ Revisões de estado da arte

Critério para exclusão/rejeição do documento na revisão:


▪ Documento duplicado
▪ Fora do escopo da revisão

De acordo com os critérios de Inclusão e Exclusão, os artigos foram classificados em aceito ou rejeitado
de acordo com o conteúdo do título ou do seu resumo, em análise mais profunda quando necessário.

2.2 Resultado – Banco de dados

Seguindo a metodologia indicada na Figura 2 e descrita nos tópicos do item 2.1, foram obtidos 2.093
documentos, dos quais 1.364 foram classificados como aceito. Entretanto, destes, 311 documentos
apresentavam ausência de alguma informação, fosse ela o país de origem da publicação, fonte e/ou palavras-
chave.

Para manter uma análise regular dos dados, foram admitidos apenas os documentos com informações
completas, resultando, portanto, em um banco com dados de 1.054 artigos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O produto do processamento dos dados está sintetizado nas Figuras 3 a 7, que auxiliarão na discussão dos
resultados.

Ao observar a Figura 3, fica nítido que o uso de novas tecnologias como instrumento para predição,
acompanhamento ou monitoramento contínuo da estabilidade de encostas apresenta uma forte tendência de
crescimento no número de publicações a cada ano. Ao analisar os valores individualmente, percebe-se que há
um primeiro forte aumento no número de publicações entre 2008 e 2010, onde o número de publicações
sobre o tema chegou próximo de quadruplicar em 2 anos, com oscilações nos anos seguintes, mas mantendo
uma certa estabilidade, voltando a apresentar tendência de crescimento acentuado a partir de 2015 com
destaques para o período entre 2019 e 2021, contemplando o período pandêmico da Covid19, que
ultrapassou a primeira centena de publicações ao ano e duplicou o número em 2 anos.

119
Número de publicações de 2002 a 2021
225

157

112
88 96
67
53
31 24 40 48 43
4 12 9 6 9 8 8 14

Figura 3. Número de publicações por ano.

A Figura 4 apresenta os periódicos que mais publicaram a respeito da utilização de novas tecnologias. É
de fácil percepção que os periódicos listados estão dentro do contexto da Geologia ou dos sensores e
tecnologia aplicada, não aparecendo revistas tradicionais do meio geotécnico. Com o estudo, observou-se
que essas revistas tradicionais da Geotecnia têm focado suas publicações ou na aplicação de métodos e
ferramentas para análise da estabilidade dos taludes ou em propostas de soluções aplicadas à estabilização ou
contenções dos movimentos, com apenas uma pequena parte das publicações voltada para os métodos de
investigação dos movimentos.

Publicações por fonte entre 2002 e 2021


Landslides 113
Remote Sensing 105
Engineering Geology 62
Sensors (MDPI) 43
Natural Hazards 40
Geomorphology 34
Environmental Earth Sciences 33
Bulletin of Engineering Geology and the… 26
Applied Sciences (MDPI) 22
Geomatics, Natural Hazards and Risk 18

Figura 4. 10 primeiras fontes que mais publicaram sobre o tema entre 2002 e 2021.

As palavras-chave sintetizadas nas Figura 5 possibilitam uma visão global sobre os interesses dos
pesquisadores e grupos de pesquisa. A Figura 5, que contém as palavras-chave globais, como já esperado,
apresenta o termo Landslide como fenômeno mais frequente e os termos Monitoring e Susceptibility como
atividades de maior interesse para aplicação dos métodos. Quanto às ferramentas, o Remote sensing, InSAR,
Machine Learning e UAV foram as ferramentas de maior aplicação identificadas entre as palavras-chave das
publicações.

Na nuvem de palavras contendo apenas as ferramentas (Figura 5), é possível verificar que as ferramentas
que trabalham com aquisição de imagens como Remote Sensing, InSAR, LiDAR, UAV, Sentinel-1, dentre
outras, são as ferramentas de utilização mais comuns. Associado a este fato, as ferramentas de Inteligência
Artificial, lideradas pelo Machine Learning - ML, acompanhada pelo Support Vector Machine (SVM),
Artificial Neural Network (ANN), Deep Learning e Random Forest (RF) configuram-se entre as principais
adotadas. Este segundo fato pode ser explicado pela gama de aplicação da Inteligência Artificial. Estas
ferramentas podem ser utilizadas tanto para otimizar o processamento de imagem, para gerar mapas de
suscetibilidade, perigo ou risco, para identificar padrões de movimentação nas encostas ou ainda identificar
alterações temporais. Além disso, as ferramentas de IA são fundamentais para o processamento de dados
coletados com altas taxas de aquisição e armazenados em escala Big Data.

120
(A) (B)
Figura 5. Nuvem de palavras com (A) - 50 Palavras-chave mais frequentes e (B) - 30 palavras-chave mais frequentes sobre as
ferramentas utilizaddas.

Estas altas taxas de aquisição podem ser exemplificadas pelos Wireless Sensors Network, também
presentes na Figura 5. A depender da duração do monitoramento e da taxa de aquisição, o sistema de
monitoramento pode entrar na escala de armazenamento em BigData, elevando o nível do processamento,
onde se faz necessário o uso de ferramentas de IA que realizam processos de filtragem, identificação de
padrões e utilizam uma parte dos resultados como conjunto de validação, desempenhando a função de
‘ensinar’ a máquina aquilo que é e o que não é de interesse do usuário, podendo ser aplicados para predição
de movimentos em sistemas de monitoramento e alerta ou, ainda, para a avaliação de alterações na
estabilidade dos elementos monitorados.

Por fim, a Figura 6 apresenta um mapa coroplético com os países que publicaram sobre o tema durante o
período de 2002 a 2021, revelando um total de 58 países, destacando a importância que a China e Itália têm
no cenário de avanço das pesquisas com 328 e 186 artigos publicados, respectivamente, seguidos por EUA,
Índia e Taiwan com 58, 45 e 37 artigos publicados. O Brasil está em 16º, com 15 publicações sobre o tema.

Figura 6. Distribuição geográfica do número de publicações por país entre 2002 e 2021.

Complementar à Figura 6, a Figura 7 apresenta a contribuição individual dos 4 primeiros colocados e a


participação do Brasil. Pelo gráfico, fica evidente que a China e Itália acompanharam o primeiro crescimento
entre 2008 e 2010, seguiram próximas até 2018, quando a China assumiu a liderança absoluta das
publicações individuais anuais.

121
Número de publicação por ano
90
80
70
China
60 Itália
50 Estados Unidos
Índia
40 Taiwan
30 Brasil
20
10
0

Figura 7. Número de publicações individual por ano entre 2002 e 2021.


Respondendo as questões da pesquisa
1. Como se desenvolveu o processo da Transformação Digital no meio geotécnico com foco em
monitoramento de encostas?
O uso de novas tecnologias impulsionadas pela Transformação Digital iniciou seu processo lentamente
entre 2002 e 2008, com um aumento expressivo no número de publicações entre 2008 e 2010. Nesta primeira
etapa, predominou a utilização de ferramentas SIG para processamento de dados obtidos por satélites,
radares ou GPS, com fortes etapas de processamentos de imagens. Estudos iniciais sobre sensores inerciais
com transmissão wireless e aplicações de fibra ótica começaram a ser realizados. A partir de 2010, além da
continuidade das ferramentas SIG, satélite e radar, os estudos sobre sistemas de alerta antecipado foram
intensificados, acompanhados das redes de sensores sem fio, fibra ótica, sensoriamento remoto e
monitoramento em tempo real, também foram observadas maiores aplicações de IA para predição de
movimentos. A partir de 2016, ferramentas como UAV, IoT e IA ganharam maiores destaques, ainda
acompanhado das ferramentas SIG, satélite e radar, com aplicações de IA para a predição de movimentos,
elaboração de mapas de suscetibilidade e processamento de dados adquiridos remotamente a altas taxas de
aquisição, viabilizando monitoramentos em tempo real.

2. Quais ferramentas digitais têm sido utilizadas?


Observou-se uma predominância de ferramentas para aquisição e interpretação de imagens obtidas por
satélite ou radar, com maior destaque para o sensoriamento remoto, InSAR e, mais recentemente, veículos
não tripulados (UAV) para mapeamento de superfície e fotogrametria, este último com maior expressão a
partir de 2016. No entanto, há a presença de ferramentas para aquisição e transmissão por redes sem fio (ex.
Wireless Sensor Network), scaners de superfície e tecnologias embarcadas (ex. LiDAR), sensores inerciais
com acelerômetro, giroscópio, magnetômetro ou barômetro (ex. IMU e MEMs), fibra ótica e GPS.
3. Quais ferramentas de Inteligência Artificial têm sido utilizadas?
As cinco ferramentas que mais se destacaram, por ordem de recorrência foram: 1 – Machine Learning, 2
– Support Vector Machine, 3 – Artificial Neural Network, 4 – Deep Learning e 5 – Random Forest.

4. Quais são os países de origem das pesquisas?


Foram identificados um total de 58 países que já publicaram sobre o tema. As 5 primeiras posições são
ocupadas por: 1 – China, 2 – Itália, 3 – Estados Unidos, 4 – Índia e 5 – Taiwan, com o Brasil ocupando a 16ª
posição.

4 CONCLUSÕES

Este trabalho realizou uma revisão de escopo apresentando um estudo sobre os efeitos da Transformação
Digital no monitoramento de encostas, por meio da caracterização do processo a partir das publicações
realizadas entre 2002 e 2021 sobre o tema.

As conclusões podem ser assim sintetizadas:


▪ É nítido que o uso de novas tecnologias aplicadas para o acompanhamento, predição ou
monitoramento de encostas apresenta uma forte tendência de crescimento a cada ano.
▪ O tema cresceu lentamente entre 2002 e 2008, com um aumento expressivo entre 2008 e 2010,
onde se aproximou de quadruplicar o número de publicações. A partir de 2015, o tema voltou a

122
apresentar uma tendência de crescimento acentuado, com destaque para o período entre 2019 e
2021, contemplando o período da pandemia da Covid19, em que as publicações ultrapassaram
uma centena.
▪ Os periódicos que mais têm publicado sobre o tema são ligados à Geologia ou aos Sensores e
Tecnologias Aplicadas.
▪ Verificou-se que os instrumentos de uso mais recorrentes são os de imagem de satélite ou radar e
tecnologias embarcadas, associados às ferramentas SIG. Os instrumentos de uso localizado,
como os sensores inerciais e fibra ótica, tiveram suas aplicações intensificadas a partir de 2010,
principalmente para uso em sistemas de monitoramento e alerta.
▪ As principais ferramentas de Inteligência Artificial que estão sendo utilizadas, por ordem, são:
Machine Learning, Support Vector Machine, Artificial Neural Network, Deep Learning e
Random Forest.
▪ China e Itália lideram o número de publicações sobre o tema. Até 2018, os dois países
caminharam próximos no número de publicações. A partir daí, a China assumiu a liderança
absoluta das publicações individuais anuais. Estados Unidos, Índia e Taiwan vem na sequência
dos países que mais publicaram sobre o tema. O Brasil ocupa a 16ª posição.
Diante das novas tecnologias mapeadas neste trabalho, é possível listar como vantagens em relação aos
métodos tradicionais:
▪ A diminuição das visitas aos sítios de monitoramento em campo;
▪ O curto tempo de resposta dos instrumentos digitalizados;
▪ A possibilidade de acompanhamento das leituras em tempo real e à distância;
▪ A possibilidade de investigar um maior número de variáveis em um mesmo ponto de
instrumentação ou, ainda, diferentes tipos de medições em diferentes profundidades; e
▪ A combinação de mais de uma solução tecnológica em um mesmo programa de monitoramento.
Projetando o futuro a partir das observações do passado e do presente, pode-se esperar:
▪ A continuidade do uso de satélites, radares e tecnologias embarcadas, além da intensificação do
uso de drones (UAV), para o acompanhamento, mapeamento e monitoramento de superfície;
▪ A digitalização dos instrumentos tradicionais ou, ainda, a adaptação de novas tecnologias para
desempenhar os papéis destes instrumentos;
▪ Maior abrangência e profundidade de aplicação das ferramentas de Inteligência Artificial, indo
além da predição ou simples processamentos de sinais; e
▪ A integração dos sistemas de alerta geridos por órgãos governamentais, alimentados em tempo
real pelos instrumentos instalados em campo.

Não há dúvidas de que as novas tecnologias impulsionadas pela Transformação Digital já são uma
realidade na Geotecnia de encostas, se apresentando como uma solução do presente e confirmando forte
tendência de consolidação futura. Os estudos envolvendo estas e novas ferramentas devem ser estimulados
em nossos centros de pesquisa e o uso já conhecido deve ser aprimorado para possíveis aplicações em larga
escala, favorecendo a manutenção da vida dos moradores das áreas de risco, apoiando a defesa civil, as
empresas públicas e privadas, a segurança e o desenvolvimento econômico regional e nacional.
AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

Este trabalho também é parte integrante do Plano de Desenvolvimento Institucional na área de


Transformação Digital: Manufatura Avançada e Cidades Inteligentes e Sustentáveis (PDIp), linha: Desastres
Ambientais, sub-linha: Predição de desastres ambientais e resposta a emergências baseada em tecnologias
associadas à Internet das Coisas, financiado pela FAPESP, proc. 2017/50343-2.
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124
Instrumentação Geotécnica Para o Monitoramento dos Processos
de Liquefação em Barragens de Mineração
MSc. Rayane Conceição Ribeiro da Silveira Mattos
Engenheira Civil, TPF Engenharia, Recife, Brasil, rayane.mattos@tpfe.com.br

Lara Lis Souza Silva


Engenheira Civil, TPF Engenharia, Recife, Brasil, lara.silva@tpfe.com.br

Dr. Samuel França Amorim


Professor, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, samuel.famorim@ufpe.br

Dr. Igor Fernandes Gomes


Professor, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, gomes@ufpe.br

RESUMO: O processo de liquefação é entendido como a perda de resistência do material com a deformação,
durante o cisalhamento não drenado em solos saturados. Assim, com a finalidade de detectar os gatilhos dos
processos de liquefação, corroborando para segurança das barragens de mineração, indica-se monitorar a
estrutura por meio da instrumentação geotécnica, na qual os instrumentos selecionados para esta função serão
definidos pelo projetista devidamente familiarizado com as condições da estrutura. Para este artigo, foi simulada
uma seção hipotética de uma barragem de rejeito, construída pelo método a montante, considerando um cenário
crítico, no qual todo rejeito saturado é susceptível ao processo de liquefação. Foram realizadas análises de
estabilidade variando o nível d’água da estrutura, através do programa GeoSlope, com o uso da teoria do
Equilíbrio Limite. Por meio das análises desenvolvidas foram definidos os níveis de controle dos instrumentos
existentes e da instrumentação complementar sugerida. Além disso, foi possível avaliar a sensibilidade do FS às
flutuações do nível fréatico no interior da estrutura. Em suma, foi proposta a localização ótima de novos
instrumentos para o monitoramento efetivo dos gatilhos do processo de liquefação.

PALAVRAS-CHAVE: Instrumentação, Liquefação, Barragens.

ABSTRACT: The process of liquefaction is understood as a material loss of strenght with strain during undrained
shear in satured soils. Therefore, in order to detect triggers of liquefaction processes, corroborating to tailing
dams security, it is indicated to monitor the structure through geotechnical instrumentation which the arrengement
will be defined by a designer familiarized with the conditon of the structure. For this paper, was simulated an
hypothetical section of a tailing dam built by the upstream method, considering a critical scenario in which all
the sacturated tailing is suceptible to liquefaction processes. Stability analyzes were performed fluctuating the
water level in the structure by software GeoSlope using limited balance methods. Throught the analyzes, control
limits was determined for the existent and new instruments suggested to complement the monitoring system,
evaluating the sensibility of Factor of Security to the fluctuation of water table inside the structure. In summary,
was propposed the great location for new instruments to the effective monitoring of liquefaction processes
triggers.

KEYWORDS: Instrumentation, Liquefaction, Dams.


1 Introdução
O processo de liquefação é um importante objeto de estudo no que diz respeito à segurança de barragens
de rejeito. Esse processo ocorre quando a poropressão do solo cresce durante o carregamento não drenado,
aumentando até um valor igual à tensão de confinamento inicial. Nesses casos a tensão efetiva ou inter-granular
existente no esqueleto do material é reduzida a zero e, em função disso, o material perde praticamente toda sua
resistência cisalhante, comportando-se como um líquido viscoso (CASAGRANDE, 1975; CASTRO, 1969;
POULOS, 1981; TERZAGHI; PECK; MESRI, 1996).
Nos últimos 10 anos, no Brasil, ocorreram grandes acidentes envolvendo barragens de rejeitos, foram
eles a barragem B1 (MG) da Herculano Mineração em 2014, a barragem de Fundão (MG) em 2015 e a barragem
no corrego do Feijão Brumadinho (MG) em 2019. Nesse contexto, existe uma atenção na engenharia em analisar
os modos de falha relacionados à ruptura de barragens de rejeito, principalmente a ruptura por liquefação.
Assim sendo, com a finalidade de detectar os gatilhos dos processos de liquefação, corroborando para
segurança das barragens de mineração, indica-se monitorar a estrutura por meio da instrumentação geotécnica,
na qual os instrumentos selecionados para esta função serão definidos pelo projetista, devidamente familiarizado
125
com as condições da estrutura. Entende-se que nesse processo é imprescindível a análise dos resultados dos
ensaios geotécnicos e a definição dos níveis de controle dos instrumentos para o estabelecimento de sistemas de
alerta.
Para o desenvolvimento do programa de instrumentação de uma barragem deve-se ter em mente a
similaridade com as etapas dos projetos de engenharia. Entende-se que os típicos projetos de Engenharia iniciam
com a definição do objetivo e em seguinda se desenvolvem as demais atividades. Durante o desenvolvimento do
projeto, devem ser determinados os parâmetros a serem medidos e a forma como serão implantados os
instrumentos.
De acordo com o Manual de Segurança e Inspeção de Barragens (BRASIL, 2002), os propósitos da
instrumentação são: fornecer dados para avaliar os critérios de projeto, dispor informações sobre o desempenho
vigente da Barragem e suas fundações e observar o desempenho de áreas críticas. Assim sendo, a decisão de
incluir qualquer instrumento no programa de monitoramento da barragem deve ser fundamentada com base em
uma pergunta específica em relação à estrutura no qual será implantado (DUNNICLIFF, 1993). Portanto, a
necessidade de qualquer modificação no programa de monitoramento geotécnico, deve ser justificada e
documentada com base em alguns fatores como: a geologia da fundação, o tamanho e o tipo de Barragem e seu
reservatório, a classificação por consequência de ruptura, a localização do empreendimento e seu desempenho
anterior (BRASIL, 2002).
Silveira (2006) discute que existe uma tendência entre engenheiros e geólogos em seguir o projeto de
monitoramento de maneira ilógica, realizando primeiramente a etapa de seleção dos instrumentos e aferição das
medições para, somente então, analisar o que fazer com as informações obtidas.
Um instrumento não deve ser incluído no programa de monitoramneto de uma estrutura sem uma razão
válida para sua instalação. Peck et al. (1984) informa que os usos legítimos de instrumentações são tantos, e as
questões que esses instrumentos e observações podem responder são tão vitais, que não se deve arriscar
desacreditar seu valor usando-os indevidamente ou desnecessariamente.
Uma etapa importante no projeto de instrumentação é a definição do local onde será implantada a
instrumentação. Dunnicliff (1993) estabelece que os instrumentos devem ser instalados em zonas estruturalmente
fracas, zonas fortemente carregadas, ou onde as poropressões são elevadas. A definição da localização dos
instrumentos deve espelhar o comportamento da Barragem e sua fundação.
Em face do exposto, realizou-se uma modelagem de estabilidade de uma seção hipotética de uma
barragem de rejeito, visando a compreensão e a otimização da instrumentação, buscando avaliar a localização e
o modelo de piezômetros a serem instalados em maciços com suscetibilidade à liquefação.
2 Metodologia

Considerando a importância do monitoramento para avaliação da segurança da estrutura e no estudo dos


gatilhos que podem levar à liquefação do material, apresenta-se a simulação de uma barragem de rejeito alteada
a montante, com altura entre a fundação e a crista de 80 m e um dique de partida constituído de um material
argilo-siltoso. Foi admitido um cenário crítico no qual todo o rejeito saturado é susceptível ao processo de
liquefação. Além disso, considerou-se que a seção crítica especificada da barragem é instrumentada com dois
piezômetros Casagrande e dois medidores de nível d’água. Os instrumentos encontram-se locados conforme
apresentado na Figura 1.

Figura 1. Seção crítica do maciço principal.

Os parâmetros de resistência dos materiais, apresentados na Tabela 1, foram definidos com base em
dados da bibliografia. Para o filito foi considerada a classificação RMR (Rock Mass Rating) do Quadrilátero
Ferrífero apresentada por Campos et al. (2018) e a partir disso foram adotados os valores de resistência com
126
base nos intervalos definidos por Bieniawski (1989). O saprolito (SRJF) e o solo residual (SRMF) tem como
valores de referência os encontrados por Gomes (2021) através de ensaios de cisalhamento direto realizados em
material de gênese semelhante. Já o aterro foi considerado como uma argila siltosa com compacidade média,
na qual, os parâmetros deste material foram admitidos de acordo com a classificação dos solos e a norma NBR
6484:2020. Por fim, os rejeitos Overflow e Underflow, drenados e não drenados, foram estabelecidos a partir
dos intervalos de resistência determinados por Olson e Matson (2008) apud Mendes (2019) em ensaios de
cisalhamento direto, considerando o valor mínimo do intervalo para a parcela mais fina do rejeito (Overflow) e
o valor médio do intervalo para a parcela granular (Underflow).

Tabela 1. Resumo dos parâmetros de resistência dos materiais utilizados nas análises.

γ c
Material  (o) Su / ’v,0
(kN/m3) (kPa)
Rejeito Overflow 22 0 32 -
Rejeito Overflow – Não Drenado 22 - - 0,13
Rejeito Underflow 21 0 35 -
Rejeito Underflow–Não Drenado 21 - - 0,21
Aterro 18 6 28 -
Residual de Filito- SRMF 18 28 27 -
Saprolito de Filito - SRJF 21 34 26 -
Filito 24 200 25 -

A partir das definições citadas, com o objetivo de determinar a sensibilidade do fator de segurança da
estrutura às flutuações do nível fréatico, a seção crítica foi submetida à análise de estabilidade. Logo, utilizando
o software Slide, da Rocscience, que utiliza o Método do Equilíbrio Limite, aplicaram-se os métodos de Bishop
simplificado, Spencer e Morgenstern-Price para uma comparação das avaliações de estabilidade. Para tal, o nível
piezométrico foi variado no interior da barragem, sendo analisados quatro cenários.
Como citado anteriormente, os cenários foram especificados variando a elevação do nível freático no
interior da estrutura. No primeiro, considerou-se que o nível d’água encontrava-se na fundação do rejeito
Underflow, para o segundo em diante foi analisada a elevação do nível freático na base do maciço visando avaliar
o impacto desta variação no FS. Os níveis d’água considerados em cada cenário avaliado são apresentados na
Figura 2 a seguir.

Figura 2. Flutuações dos níveis d’água considerados em cada cenário avaliado.

Após a definição do FS em cada cenário, foi analisado o comportamento da estrutura a partir da definição
dos níveis de segurança da instrumentação, como apresentado comumente em cartas de risco, sendo os níveis de
alerta, atenção e emergência apresentados por meio de gráficos delimitando os FS encontrados na análise. A
127
partir deste estudo, foi determinada a condição da barragem quanto aos processos de mitigação da estabilidade,
segurança e a funcionalidade do sistema de monitoramento existente sendo, então, proposta uma instrumentação
complementar identificando a correta localização dos instrumentos para o monitoramento efetivo dos gatilhos do
processo de liquefação.

3 Análises e Resultados

Os cenários avaliadas na análise de estabilidade realizada resultaram nos fatores de segurança (FS)
apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Resumo dos valores de fator de segurança obtidos para cada uma das
configurações iniciais avaliadas, seção crítica.

Cenários
Métodos
1 2 3 4
Bishop Simp. 1,99 1,24 1,13 0,98
Spencer 2,03 1,27 1,14 0,99
Morgenstern-Price 2,02 1,23 1,12 0,97

Para maiores detalhes, as visualizações dos resultados das análises de estabilidade, bem como das
configurações avaliadas, são apresentados nas Figura 3, Figura 4, Figura 5 e Figura 6.

Figura 3. Análise de estabilidade – Cenário 1.

128
Figura 4. Análise de estabilidade – Cenário 2.
Figura 5. Análise de estabilidade – Cenário 3.

Figura 6. Análise de estabilidade – Cenário 4.

Dispondo desses resultados e assumindo os valores de FS iguais a 1,3, 1,2, e 1,1, para a delimitação entre
os níveis de alerta “Normal-Atenção”, “Atenção-Alerta” e “Alerta-Emergência”, respectivamente, foram gerados
os gráficos apresentados na Figura 7 como forma de posicionar esses níveis de segurança entre as configurações
avaliadas.

2,10
2,00
1,90
Fator de Segurança (FS)

1,80
1,70
1,60
1,50
1,40
1,30
1,20
1,10
1,00
0,90
0,80
0,70
0,60
1 2 3 4
Cenários

Atenção Alerta Emergência Cenários

Figura 7. Gráfico de comportamento do fator de segurança (FS) de acordo com os


cenários analisadas na seção crítica, considerando as flutuações dos níveis d' água no 129
interior do maciço.
A partir dos resultados apresentados, nota-se um comportamento de variação abrupta do FS com a
variação do nível piezométrico. Ou seja, o valor de FS na seção crítica analisada apresenta uma elevada
sensibilidade entre os cenários 1 e 2, em que uma variação relativamente pequena do nível piezométrico acarreta
uma variação demasiadamente significativa quanto à percepção de estabilidade dessas estruturas.
Na Figura 8, nota-se que a variação da linha piezométrica, entre essas configurações, resulta em um
aumento bastante significativo da extensão (área) do material underflow sob condição liquefeita, ao longo da
base da estrutura de barramento. Esse aumento é ocasionado também em função da horizontalidade, neste trecho
relativamente extenso, observável no contato entre o corpo da Barragem e a sua estrutura de fundação. Tal
condição ocasiona o aparecimento e acentuação de uma região de fraqueza da estrutura quanto à sua estabilidade.
Essa característica deve ser levada em consideração no momento da proposição e otimização do uso de
instrumentos.

Figura 8. Comparativo da variação do nível d’água entre os cenários 1 e 2, na seção crítica


avaliada.

Como apresentado, pequenas flutuações do nível de água na base do maciço constituído de rejeito
influenciam significativamente nos valores do fator de segurança da estrutura. Dessa forma, percebe-se que a
manutenção da linha freática em estruturas constituídas de rejeitos susceptíveis à liquefação, é um exercício
fundamental para segurança geotécnica. É importante destacar que uma vez que um material é classificado como
susceptível não significa que a liquefação acontecerá.
Levando em consideração os apontamentos destacados anteriormente, observou-se a necessidade de
novos instrumentos na base do maciço de rejeito, com a finalidade de monitorar as variações do nível
piezométrico nessa região, na qual foi identificada a sensibilidade no valor do FS. Indica-se a inclusão de dois
piezômetros elétricos de corda vibrante, pois são instrumentos com respostas de leituras mais rápidas em relação
aos piezômetros do tipo Casagrande (ver Figura 9), visando acompanhar o comportamento da poropressão na
fundação do maciço, monitorando os gatilhos do processo de liquefação que podem levar à uma queda brusca no
FS e o rompimento da estrutura.
Por fim, foi possível propor o posicionamento efetivo para a instrumentação complementar, bem como,
apresentar a proposição dos níveis de controle das instrumentações antigas e novas (Tabela 3).

130
Figura 9. Configuração final da seção crítica da barragem.

Tabela 3. Níveis de controle para instrumentação existente e complementar para


seção crítica avaliada.

Cotas Níveis de controle


Instrumentos
Topo (m) Base (m) Atenção Alerta Emergência
INA-01 1306,90 1259,35 seco* seco* seco*
INA-02 1261,50 1240,00 seco* seco* seco*
PZ-01 1289,50 1239,80 seco* 1243,21 1245,15
PZ-02 1280,00 1216,30 1231,40 1237,47 1240,23
PZE-01 1267,87 1219,00 1229,30 1233,36 1237,25
PZE-02 1246,26 1220,00 1225,80 1227,05 1230,00
4 Considerações Finais

Foi possível perceber por meio das análises de estabilidade desenvolvidas a necessidade de uma
instrumentação complementar, visto que uma pequena variação do nível freático na base do maciço constituído
de rejeito causou uma redução significativa no valor do fator de segurança da estrutura, podendo acarretar na
ruptura da barragem por um processo de liquefação.
Notou-se que a estabilidade geomecânica da seção está condicionada à manutenção do nível freático no
interior do maciço. Assim sendo, visando monitorar a poropressão e o comportamento saturado do rejeito,
indicou-se que na base do maciço fossem acrescentados dois piezômetros elétricos de corda vibrante, pois são
instrumentos que possuem resposta rápida para acompanhar o excesso de poropressão, sendo importantes para
monitorar estruturas com suscetibilidade à liquefação.
Adicionalmente, foram definidos os níveis de controle dos instrumentos existentes e complementares,
bem como, foram sugeridas as devidas locações dos novos instrumentos no cenário analisado, instalando-os até
a base do talude de rejeito underflow. Em face do exposto, viu-se que o monitoramento com instrumentação em
barragens de rejeito é extremamente necessário, desde que os instrumentos sejam adequados e corretamente
instalados em locais que realmente precisam ser monitorados, cooperando efetivamente para a avaliação da
segurança da estrutura.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Deus, pais e mestres. Agradecemos a empresa TPF Engenharia pelo fornecimento das
ferramentas necessárias para o desenvolvimento do presente estudo e pelo incentivo a pesquisa. Agradecimentos
também ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. Por fim, agradecemos à
instituição Universidade Federal de Pernambuco pelos vínculos gerados e pela formação acadêmica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2020). NBR 6484.Solo — Sondagem de simples reconhecimento
com SPT — Método de ensaio. Rio de Janeiro.
Bieniawski, Z.T. (1989) - Engineering Rock Mass Classification: A Complete Manual for Engineers and
131
Geologists in Mining, Civil and Petroleum Engineering, New York, USA. 251 p.

Brasil. Ministério da Integração Nacional (2002). Manual de segurança e inspeção de barragens. Brasília.
Campos, L. A.; Marques, E.A.G.; Costa, T. A. V.; Ferreira, F. A.; Marchi; O. A.; Alves, H. O. (2018)
Reavaliação Da RMR para as Minas de Ferro do Quadrilátero Ferrífico em Minas Gerais, Brasil. In: 16º
Congresso Nacional de Geotecnia, Ponta Delgada, Portugal. 5p.
Casagrande, A. (1975) Liquefaction and cyclic deformation of sands - a critical review. Argentina: 5th Pan-
American Conference. p. 81-133.
Castro, G. (1969). Liquefaction of sands. Thesis (Ph.D), Harvard University, Cambridge Massachusetts, USA.
Dunnicliff, J.(1993) Geotechnical Instrumentation for Monitoring Field Performance. New York: Wiley.
Gomes, T. B. G. (2021) Comportamento de um Maciço em Solo Residual de Filito no Quadrilátero Ferrífero.
Dissertação de mestrado, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília,
Brasília.
Mendes, L. O. (2019) Análise Probabilística do Potencial de Falha por Liquefação Estática e Dinâmica de
Barragens. Dissertação de mestrado, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
Brasília, Brasília.
Peck, R.B.; Dunnicliff, J.; Deere, D.U. (1984) Judgment in geotechnical engineering: The professional legacy
of Ralph B. Peck. New York: Wiley.
Poulos, S. J. (1981) The steady state of deformation. Journal of the Geotechnical Engineering Division, ASCE,
v. 107, n. GT 5, p 553-562.
Silveira, J. F. A. (2006) Instrumentação e Segurança de Barragens de terra e Enrocamento. São Paulo: Oficina
de Textos.
Terzaghi, K.:Peck, R. B.: Mesri, G. (1996) Soil Mechanics in Engineering Practice. 3. ed. New York, USA:
John Wiley e Sons.

132
Datalogger Satelital Aplicado ao Monitoramento Geotécnico da
Estrada de Ferro Vitória a Minas
Matheus Nery Ferreira Silva
Engenheiro Geotécnico Sênior, Vale SA, Sabará, Brasil, matheus.nery@vale.com

Guilherme Landim Almeida


Engenheiro, Progen, Itabira, Brasil, landimgla@gmail.com

Alexandre Assunção Gontijo


Sócio diretor, MecRoc, Belo Horizonte, Brasil, alexandre.gontijo@mecroc.com.br

Leandro Roque da Fonseca


Engenheiro, MecRoc, Belo Horizonte, Brasil, leandro.fonseca@mecroc.com.br

RESUMO: Devido à extensão linear da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) existem diversos pontos
descobertos em relação à telemetria. O que muitas vezes inviabiliza a automação de instrumentos geotécnicos
visto a infra estrutura a ser instalada para transmissão dos dados e problemas com vandalismo. Para possibilitar
a automação de instrumentos neste cenário, com frequência de leituras e disponibilidade de dados de forma
adequada, foi instalado um datalogger com transmissão de dados via satélite em um sensor de corda vibrante.
Este conjunto automatizou um medidor de nível d’água em um ativo crítico da EFVM. A metodologia
empregada seguiu os padrões da empresa Vale, com a instalação do sensor de corda vibrante na base do
medidor de nível d’água, conectado a um datalogger convencional para as leituras iniciais. Em seguida trocou-
se o datalogger convencional pelo satelital, que permite realizar configurações de forma remota, adequando a
frequência de leituras a sazonalidade da performance do ativo monitorado. Os dados gerados foram
acompanhados através de uma plataforma web (Orion) por 90 dias, apresentando um bom desempenho. Foi
realizada também uma comparação entre os valores obtidos com o datalogger satelital e convencional, que
apresentaram valores estatisticamente similares. O resultado final do trabalho mostrou-se muito positivo, já
que os valores obtidos são tecnicamente válidos e viabilizou financeiramente a automação do instrumento já
que o custo do datalogger satelital é próximo do convencional, porém sem a necessidade de se instalar uma
infraestrutura para transmissão dos dados. Houve também ganhos operacionais com a possibilidade de
configurar a frequência de coleta de leituras de acordo com o necessidade geotécnica do ativo, neste caso de 4
em 4 horas. Frequência esta que seria inviável de se realizar manualmente em função da rotina operacional dos
técnicos responsáveis, que realizam leituras a cada 15 dias.

PALAVRAS-CHAVE: Datalogger satelital, instrumentação e monitoramento geotécnico, telemetria.

ABSTRACT: The large linear extension of the Vitória-Minas Railroad (EFVM) makes difficult the monitoring
by telemetry, resulting in several discovered points. The automation of geotechnical instruments may prove to
be unfeasible due to the infrastructure necessary for data transmission. To enable instrument automation in this
scenario, with adequate reading frequency and data availability, a datalogger with satellite data transmission
was installed on a vibrating string sensor. This set has automated a water level meter on a critical asset of the
EFVM. The methodology used followed the standards of the company Vale, with the installation of the
vibrating string sensor at the base of the water level meter, connected to a conventional datalogger for the
initial readings. Then the conventional datalogger was replaced by the satellite type. With that, it is possible to
perform settings remotely, adapting the frequency of readings to the seasonality of the performance of the
monitored asset. The generated data were monitored through a web platform (Orion) for 90 days, showing a
good performance. A comparison was also made between the values obtained with the satellite and
conventional datalogger, which presented statistically similar values. The final result of the work was very
positive, since the values obtained are technically valid and made the automation of the instrument financially
viable, since the cost of the satellite datalogger is close to the conventional one, but without the need to install
an infrastructure to transmit the data. There were also operational gains with the possibility of configuring the
frequency of collection of readings according to the geotechnical need of the asset, in this case every 4 hours.
This frequency would be unfeasible to perform manually due to the operational routine of the responsible
technicians, who perform readings every 15 days.
KEYWORDS: satellite datalogger, geotechnical instrumentation and monitoring, telemetry.
133
1 Introdução

Em obras lineares, as análises de risco assumem o protagonismo técnico em função da natureza dos
empreendimentos, definidos por traçados de grandes extensões e que atravessam diversas formações
geológicas. Em geral, o risco é mensurado através da associação de três parâmetros básicos: cenário,
probabilidade de ocorrência do evento e consequências associadas. O objetivo das análises de risco consiste,
assim, na avaliação das condições de segurança das estruturas envolvidas e da ordem de grandeza das
consequências, determinando, portanto, a intensidade das mesmas e a probabilidade da ocorrência dos eventos
indesejados (Petronilho, 2010).
Para ativos classificados como risco alto ou muito alto, é fundamental um monitoramento adequado da
performance da estrutura a fim de premir a ocorrência de anomalias. E quando inevitável, ter planos de
mitigação associados ao monitoramento.
O monitoramento é um processo no qual busca-se uma observação de fatores para determinar o
comportamento de obras de engenharia. Esse monitoramento pode ser adquirido pelo método de inspeções
visuais periódicas em campo, com o objetivo de identificar anomalias que possa comprometer estabilidade de
estruturas, denominado auscultação qualitativa, ou então pela auscultação da instrumentação, onde será
analisado e interpretado dados de leituras de instrumentos geotécnicos instalados em aterros, terreno natural e
fundações (ALESSANDRA, 2003).
A instrumentação é uma das alternativas mais confiáveis, permitindo uma resposta rápida para o
diagnóstico de estruturas com base nos dados levantados, fornecendo aos responsáveis pela auscultação
parâmetros de comparação com as hipóteses consideradas no projeto.
Ao longo da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), existem milhares de ativos geotécnicos, muitos
deles presentes em locais remotos sem comunicação de dados, o que dificulta e muitas vezes inviabiliza o
monitoramento geotécnico. Assim, o objetivo deste trabalho foi viabilizar o monitoramento de um ativo piloto,
através da automação de um medidor de nível d’água da EFVM, com transmissão de dados via satélite.
Para automatizar o INA-01 foi instalado um sensor de corda vibrante VW da marca RST, na porção
inferior do instrumento, que foi conectado ao datalogger satelital EWS. As leituras foram coletadas tanto para
o datalogger satelital como para o datalogger DT2011B da RST, a fim de se obter informações para
comparação.
Os resultados até então se mostraram positivos, com leituras abaixo da faixa de erro dos equipamentos
utilizados e consistentes por retornarem todos os dados do intervalo previsto para as leituras, além de apresentar
uma disponibilidade de sinal de 100%.
A partir das informações obtidas até o momento, 90 dias de monitoramento com leituras a cada hora,
foi possível observar que a transmissão de dados via datalogger satelital tem se mantido consistente e regular.
A confiabilidade técnica das informações foi assegurada através da comparação com outros dois métodos de
coleta distintos, com o datalogger convencional e com a leitura manual através do PIO. Notou-se ainda
pequenas sazonalidades na série temporal das leituras, antes desconhecidas pela limitação na frequência das
coletas. Assim, podemos afirmar que em virtude do datalogger satelital o monitoramento do ativo ferroviário
está mais robusto e confiável, assegurando aos tomadores de decisão informações adequadas quanto a
frequência, qualidade e disponibilidade das informações.

2 Metodologia

2.1 Sensor de corda vibrante

Para este trabalho, utilizou-se um piezômetro de corda vibrante do fabricante RST Instruments modelo
VW2100 de 700 kPa, para automatizar as medições do medidor de nível d’Água (INA) instalado no ativo
geotécnico da EFVM. Na Figura 1 é apresentado um modelo de transdutor VW2100.

Figura 1. Piezômetro de Corda Vibrante VW2100.

Conforme especificado no manual de instruções do fabricante RST Instruments (VW2100 Vibrating


Wire Piezometer, 2020), este tipo de piezômetro é capaz de converter a pressão da água em um sinal de
frequência através de um diafragma sensível a pressão conectado a um fio vibratório de aço que é excitado por
134
duas bobinas magnéticas. Qualquer alteração da pressão externa causara uma pequena movimentação no
diafragma e consequentemente alteração na tensão do fio vibratório, resultando em uma mudança na
frequência, que é proporcional a mudança de pressão no diafragma. O registro dos dados de frequência do
transdutor é realizado utilizando unidade de leitura específica para a finalidade, sendo possível converter estes
dados em valores de engenharia, facilitando o processo de análise e interpretação.

2.2 Instalação e datalogger convencional

O módulo de leitura utilizado para aquisição, registro dos dados iniciais e aferição do piezômetro de
corda vibrante, foi o datalogger modelo DT2011B também do fabricante RST Instruments como mostra a
Figura 2.

Figura 2. Datalogger RST modelo DT2011B.

Anterior ao processo de automação do INA-01, foi realizado a saturação do transdutor deixando-o


completamente imerso a água 24 horas antes da instalação em campo e só foi retirado no momento exato da
instalação, garantindo o total preenchimento de água entre a pedra porosa e o diafragma, para melhor
performance do sensor como por exemplo, redução do tempo de resposta e maior sensibilidade em mudanças
de pressão (VW2100 Vibrating Wire Piezometer, 2020).
Com o auxilio de uma sonda elétrica graduada em metros (PIO), foi realizado a leitura manual do nível
da água no interior do INA, antes de realizar a decida do piezômetro de corda vibrante. Este processo ocorre
para verificar a compatibilidade da leitura automática (ou seja, após instalação do sensor) em comparação a
leitura manual (realizada antes da instalação do sensor). Também foi coletado o comprimento total do
instrumento para instalação do sensor na cota correta.
Para instalar o piezômetro de corda vibrante no INA, primeiro foi necessário coletar a leitura zero após
a saturação. Portanto, o sensor foi posicionado na profundidade de 2m abaixo da cota de topo do INA na porção
seca do tubo, evitando ruídos durante a estabilização da frequência e equilíbrio térmico. A ponta do cabo do
sensor foi conectada ao datalogger convencional da RST modelo DT2011B e com o auxilio de um laptop e
cabo USB, foi possível registrado a leitura zero através do software DT Logger Host do próprio fabricante.
Todas estas informações foram anotadas na ficha de instalação do corda vibrante para tratamento e aferição
da instalação.
Como o intervalo de tempo entre a leitura zero e a leitura após a instalação do sensor é curto, para este
processo, foram desprezadas as leituras da pressão barométrica (S0 e S1) conforme especificado na ficha de
calibração do fabricante do sensor para cálculo da pressão hidrostática. Porém, vale ressaltar que, para
monitoramento a longo prazo estas informações são de extrema importância para melhor interpretação do
comportamento do instrumento.
Após coleta da leitura zero, foi realizado a descida do sensor até a profundidade definida para instalação
e aguardado entre 20 e 30 minutos para estabilização do nível da água no interior do tubo do INA. Depois de
estabilizado as leituras foram registradas e anotadas na ficha de instalação.
A validação da instalação se teve através do tratamento dos dados obtidos de forma automática pelo
sensor em comparação a leitura manual coletada pela trena PIO antes da instalação. Conforme procedimento

135
interno da empresa, esta diferença não pode ser superior a 10cm. Portanto, podemos concluir que a
automatização do INA-01 ocorreu conforme esperado.

2.3 Instalação datalogger satelital

Cumprido todo o procedimento de instalação e aferição de piezômetros de corda vibrante da empresa


(Vale 2019) para a correta automação do medidor de nível d’água com sensor de corda vibrante e datalogger
convencional, o cabo do sensor VW2100 foi desconectado do datalogger DT2011B e conectado ao datalogger
satelital EWS que passou a operar o sensor e a gerir seus dados.
O datalogger satelital Figura 3, desenvolvido pela empresa australiana EWS, é um transmissor de dados
multicomunicações compacto, de baixa potência e que funciona como telemetria de equipamentos de corda
vibrante. Faz a leitura de equipamentos de corda vibrante e sensores de temperatura; e transmite medições
através de dados de frequência (Hz) e temperaturas (ºC) através de rede sem fio, via satélite Iridium ou celular
LTE para o portal Orion (software compatível), que faz o armazenamento, processamento e exibição dos
dados.
Para facilitar a instalação, o datalogger é pré-programado para plug e play simples no local. O
instrumento de corda vibrante é conectado ao datalogger por meio de um conector M12 ou diretamente pelos
fios do instrumento em modelo de datalogger com soquete de terminais. Utilizando um smartphone com
sistema operacional android e com o aplicativo SwitchComm, o usuário então se conecta via Bluetooth à
unidade para obter leituras iniciais do instrumento e para fazer configurações no datalogger.

Figura 3. Datalogger satelital EWS.


2.4 Software Orion para visualização dos dados

A visualização dos dados é realizada a partir do software Orion Figura 4, um portal de dados intuitivo e
seguro para visualizar e gerenciar dados geotécnicos através do computador. Ele faz uso da tecnologia
Microsoft Azure, uma plataforma confiável e utilizada em todo o mundo.
A plataforma obtém dados de uma ampla gama de fontes, incluindo sensores hidrológicos,
meteorológicos, geotécnicos, ambientais e estruturais, onde deverão ser exibidos de forma interativa e
intuitiva.
O acesso ao portal é feito através de qualquer navegador web (Google Chrome, Microsoft Edge etc)
pelo link: <https://oriondata.io/>. Cada usuário conta tem um nome de login e senha exclusivos que serão
solicitados ao acessar o site do portal.

Figura 4. Imagem ilustrativa da área de login de acesso ao portal Orion.


Após acesso ao sistema, o usuário visualiza a interface do portal, que é de fácil navegação. Através do
136
menu, é possível obter a visualização do mapa de monitoramento, mostrando dados de todos os instrumentos
que estão instalados, Figura 5. Dentro do portal, também são fornecidos os gráficos e tabelas instantâneos para
visualização de dados de qualquer instrumento instalado. Por exemplo, em um ativo, onde são instalados
diversos instrumentos como piezômetros e inclinômetros, é possível acessar dados de qualquer um destes
instrumentos na mesma tela do Portal Orion.
O Orion também poderá ser usado para exportar dados para bancos de dados de clientes via FTP, SFTP,
XML, CSV ou e-mail.

Figura 5. Imagem ilustrativa da área de instrumentos do portal Orion.

2.5 Instalações de campo

A estrutura necessária para as instalações em campo é extremamente simples. Neste trabalho optou-se
por cortar o tubo do instrumento rente ao terreno, de forma a encaixar o conjunto do datalogger satelital no
topo do instrumento. Este arranjo teve como objetivo tornar o instrumento camuflado ao ambiente, de forma
a evitar vandalismo ou furto.
Na Figura 6 é apresentado um esboço esquemático e registros fotográficos do conjunto medidor de nível
d’água, sensor de corda vibrante, cabo, datalogger satelital, antena e caixa de armazenamento. Nas imagens é
possível observar como o instrumento é extremamente discreto e simples de ser instalado.

Figura 6. Esboço esquemático e registros fotográficos do instrumento automatizado.

3 Resultados
Os resultados obtidos com o datalogger satelital se mostraram aderentes aos dados gerados pelo
datalogger convencional, utilizado em grande parte dos ativos geotécnicos da empresa. Na Figura 7 é possível
observar graficamente a comparação entre a coleta das leituras feitas pelos diferentes dataloggers.
137
Comparação das Leituras - 26/04/22
21

20,8

20,6

20,4

20,2

20

Datalogger Satelital Datalogger Convencional

Figura 7 – Gráfico com as leituras coletadas pelos datalogger Satelital EWS e Convencional (RST).

A fim de mensurar a comparação entre os dados gerados pelos dois dataloggers, foi realizado a avaliação
segundo o Teste t de student. Que tem seus resultados apresentado na Tabela 1.

138
Tabela 1 – Resultados do teste T (t de student) para as leituras dos dois dataloggers

De acordo com o resultado do teste t é possível afirmar que não existe diferença significativa entre as
leituras transmitidas pelo datalogger satelital em comparação com o datalogger convencional, já que o t
calculado = -2,24 é menor que o t crítico = 2,26 e o p-valor = 0,052 (5,2%) é maior que o alfa (0,05 ou 5%).
Assim, pode-se afirmar que o datalogger satelital EWS apresenta resultados satisfatórios para
automação do instrumento em questão. Além disso, segundo o fabricante, o datalogger permite automatizar
instrumentos de corda vibrante e digitais, como: piezômetros, crackmeters, extensômetros, inclinômetros,
tiltímetros etc.

4 Conclusão

A partir do estudo apresentado é possível concluir que o datalogger satelital aplicado ao monitoramento
geotécnico traz inúmeros benefícios técnicos, operacionais e financeiros sendo os principais:
• Técnico - Maior autonomia na frequência e disponibilidade das leituras. Com a automação do
instrumento via sensor de corda vibrante e datalogger satelital foi possível programar
remotamente a frequência de coleta das leituras. Como também acessar os dados de forma
remota em tempo praticamente real. Esta funcionalidade permite ajustar o monitoramento a
sazonalidade da performance da estrutura.
• Técnico - Redundância a outros métodos de aquisição, mesmo em ativos onde existe uma
infraestrutura para telecomunicação, quando se trata de controles de riscos críticos é necessário
ter uma redundância no monitoramento caso um método falhe. Neste sentido o datalogger
satelital apresentou-se como uma alternativa ao monitoramento crítico, visto seu desempenho
na transmissão e qualidade dos dados.
• Operacional - Menor exposição de colaboradores ao risco. Com a automação e transmissão dos
dados via satélite, foi reduzido consideravelmente a exposição de colaboradores aos riscos
inerentes as atividades de campo, como por exemplo o deslocamento em rodovias municipais,
estaduais e federais, exposição a animais peçonhentos, atropelamento, torções e quedas;
• Operacional - Redução do vandalismo, a EFVM apresenta elevados índices de vandalismo em
seus equipamentos de campo, devido à dificuldade de vigilância de todo seu patrimônio. A
solução adotada, por ser discreta e camuflada ao ambiente, não chamou a atenção de curiosos
impedindo o vandalismo;
• Financeiro (operacionais e de infraestrutura) – os custos envolvidos na automação do
instrumento através do datalogger satelital se mostraram baixos ao se comparar com a criação
de uma infraestrutura de rede. Além disso, é possível afirmar que houve uma redução
considerável nos custos operacionais e hora homem para coleta das leituras no local.

Considerando que os valores obtidos pelo datalogger satelital foram validados por dois métodos
distintos (datalogger convencional e coleta manual com PIO), pode-se afirmar que a aplicação do datalogger
satelital para automação de instrumentos geotécnicos de corda vibrante é confiável e eficaz. Sendo uma
excelente solução de engenharia para monitoramento de ativos remotos. Assim, recomenda-se que a solução
seja incluída em estudos de alternativas para automação de instrumentos geotécnicos de corda vibrante.
139
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Dias, Marcus Vinicius Lima. Avaliação da Segurança de Barragens por Meio da Análise de Instrumentação
Geotécnica. 2017.
Fonseca, Alessandra da Rocha. Auscultação por Instrumentação de Barragens de Terra e Enrocamento para
Geração de Energia Elétrica – Estudo de Caso das Barragens da UHE São Simão. 2003.293 f. Dissertação
(Programa de Pós-Graduação do Departamento de Engenharia Civil) - Escola de Minas da Universidade
Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2003.
PETRONILHO, M. R. (2010). Avaliação do comportamento geotécnico de pilhas de estéril por meio de análise
de risco. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Ouro Preto, Escola de Minas, NUGEO, Ouro
Preto, 137 p.
RST Instruments. VW2100 Vibrating Wire Piezometer Instruction Manual. Canada, 2020. 36 p.
Vale S/A. Procedimento de Instalação e Aferição de Piezômetros de Corda Vibrante. Itabira, MG, 2019. 16 p.
Procedimento técnico.

140
Aplicabilidade do Posicionamento pelo GNSS para
Monitoramento de Taludes
Roberto Quental Coutinho
Prof. Titular, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, robertoqcoutinho@gmail.com

Hanna Barreto de Araújo Falcão


Mestranda, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, hannabfalcao@gmail.com

Jailson Silva Alves


Mestrando, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, jailsonalves.eng@gmail.com

Wilson Ramos Aragão Júnior


Doutorando, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, wilsonramosaragao@hotmail.com

Júlia Isabel Pontes


Mestranda, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, juliaisap@gmail.com

RESUMO: O método de posicionamento com GNSS se mostra como uma alternativa viável de
acompanhamento dos deslocamentos na superfície da Terra. Sendo assim, o objetivo do trabalho foi apresentar
o funcionamento e a operação desta técnica de monitoramento, bem como a sua aplicabilidade no programa
de monitoramento de taludes. A pesquisa foi desenvolvida por meio da análise de publicações técnicas
associada a experiência dos autores em projetos técnicos / pesquisa, de forma a destacar o funcionamento e a
operação do método de posicionamento com GNSS, como também artigos científicos a respeito da sua
aplicabilidade para o monitoramento de taludes. Inicialmente, pode-se destacar que o método de
posicionamento com GNSS permite realizar o processo de medição de deslocamentos em superfície de forma
remota, automatizada e em tempo real, fornecendo leituras para as três direções em curtos intervalos de tempo
e com elevada precisão. Sendo assim, garante-se a aplicabilidade desta técnica no emprego de sistemas de
monitoramento de taludes, de modo a acompanhar o comportamento em superfície do maciço, mensurando os
seus deslocamentos. Em função da possibilidade de monitoramento do talude, tem-se que este método pode
ser utilizado como uma alternativa para compor um sistema de controle e alerta.

PALAVRAS-CHAVE: Talude, GNSS, Monitoramento.

ABSTRACT: T The GNSS positioning method proves to be a viable alternative for monitoring
displacements on the Earth's surface. Therefore, the objective of this work was to present the functioning
and operation of this monitoring technique, as well as its applicability in the slope monitoring program. The
research was developed through the analysis of technical publications associated with the authors'
experience in technical / research projects, in order to highlight the functioning and operation of the GNSS
positioning method, as well as scientific articles regarding its applicability for monitoring of slopes. Initially,
it can be highlighted that the GNSS positioning method allows the remote, automated and real-time
measurement of surface displacements to be measured, providing readings for the three directions in short
time intervals and with high precision. Thus, the applicability of this technique in the use of slope monitoring
systems is guaranteed, in order to monitor the behavior on the surface of the massif, measuring its
displacements. Due to the possibility of monitoring the slope, this method can be used as an alternative to
compose a control and early warning system.

KEYWORDS: Slope, GNSS, Monitoring.

1 Introdução

A avaliação do comportamento de um talude, podendo ser uma encosta natural, ou talude de


barragem, rodovia, minas a céu aberto, ou até mesmo uma área ocupada, geralmente é realizada por meio
de monitoramento. Os dados de deslocamentos coletados por vários instrumentos são informações
importantes para acompanhar o comportamento do talude, podendo ser utilizadas nas análises de previsões

141
de ruptura em taludes (LIU et al., 2014). Dentre os instrumentos aplicados para aquisição de dados incluem,
por exemplo, teodolitos, estações totais, níveis eletrônicos, receptores GNSS (Global Navigation Satelite
System), fotogrametria aérea ou terrestre, sistemas de sensoriamento remoto, inclinômetros, extensômetros
de cabo (GILI et al, 2000; CHANDARANA et al., 2016). Esses métodos não devem ser considerados como
alternativas excludentes. Na prática, dois ou mais instrumentos devem ser usados em uma abordagem
complementar.
Ao longo dos anos o GNSS teve seu funcionamento aprimorado, se tornando completamente
operacional, havendo diferentes constelações de satélites capazes de realizar medições ao longo de todo do
dia, independente das condições ambientais. Com o processo de evolução, os equipamentos se tornaram
mais confiáveis, mais leves, mais baratos e mais fáceis de usar (GILI et al., 2000). Assim também foram
sendo desenvolvidos procedimentos, métodos e softwares para obtenção e pós-processamento das
informações de campo.
Em função das vantagens que esse tipo de monitoramento apresenta, tem-se a sua utilização como
componente do sistema de instrumentação em diferentes aplicações da engenharia, como é o caso de taludes
de mineração, barragens, rodovias, entre outros. Podendo servir também como pontos de controle para
fotogrametria e imagens do sensoriamento remoto (SILVA, COUTINHO e ROSA, 2021). Esses
instrumentos podem registrar o deslocamento na superfície do talude com alta resolução espacial e temporal,
o que permite ao sistema de monitoramento rastrear movimentos da ordem de alguns milímetros por ano
(SHARIFI et al, 2022).
Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi contribuir para a compreensão do posicionamento com
GNSS, bem como reunir casos de aplicação desta técnica no monitoramento de taludes, apontando as suas
vantagens frente as necessidades geotécnicas. O artigo apresentado é parte de um projeto / linha de pesquisa
e resultado parcial de uma dissertação de mestrado em andamento, desenvolvida pelo GEGEP / UFPE, sob
orientação do primeiro autor. Também estão sendo desenvolvidos trabalhos na temática de novas
tecnologias de monitoramento de subsidência em encostas e planícies na Região Metropolitana de Recife.

2 Metodologia

Com o intuito de verificar os artigos científicos que apresentam aplicação do posicionamento com
GNSS para o monitoramento de taludes foi realizada uma revisão sistemática organizada por meio da
metodologia PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses). Esta
metodologia é dividida em quatro etapas: Identificação, Seleção, Elegibilidade e Inclusão (Moher et al.,
2010).
A composição dos resultados desta pesquisa teve como base o acesso e pesquisa em plataformas
digitais de artigos científicos utilizando as palavras chaves “Landslide” e “GNSS” aplicando o operador
boleano “and”. Na etapa de seleção, foram aplicados filtros fazendo a triagem dos artigos mais recentes com
a versão final publicada em periódicos. A elegibilidade promoveu a verificação das publicações que de fato
apresentam pertinência na temática proposta, excluindo assim, aquelas que não condizem especificamente
com o tema a ser abordado. A última etapa consistiu na inclusão dos artigos na análise sistemática,
selecionado os mais representativos para demonstrar as características do GNSS e sua aplicabilidade para o
monitoramento de taludes.
A pesquisa das aplicações do método GNSS em taludes sucedeu a formação do embasamento teórico
a respeito do método, buscando o conhecimento da técnica para elucidação do funcionamento, das
características, dos tipos e dos procedimentos. Destaca-se que a experiência prática dos autores, obtida por
meio de projetos técnicos / pesquisa desenvolvidos, permitiu a análise crítica do método de monitoramento
apresentado, permitindo contribuições na discussão dos resultados obtidos.

3 Princípios básicos do GNSS

3.1 Sistemas Globais de Navegação por Satélite

A geodésia compreende um conjunto de técnicas espaciais de observações, que permitem diferentes


aplicações: desde navegação aérea, marítima e terrestre, até estudos ambientais, gestão de recursos naturais,
captura de dados geoespacias, levantamentos e medições geodésicas globais (GILI et al., 2000). As técnicas
mais usadas na geodésia são os sistemas de navegação GNSS.
Os sistemas de navegação foram concebidos para fornecer informações de tempo e de posição
tridimensional em qualquer lugar da superfície terrestre da Terra, ou próximo à esta, continuamente,

142
independente de condições atmosféricas, em um referencial global, homogêneo e com base em medidas de
distâncias (MONICO, 2008).
O sistema GPS foi desenvolvido inicialmente com fins militares, porém foi disponibilizado para
usuários civis, apresentando uma precisão no posicionamento até então sem precedentes, 24 horas por dia,
em qualquer lugar do globo terrestre ou próximo a este (KRUEGER, 1996).
Concomitante ao GPS, desenvolveu-se pelo governo russo, também com fins militares, o sistema de
posicionamento por satélites artificiais GLONASS, que devido a problemas, principalmente de
investimentos, tornou-se efetivamente operacional somente no ano de 2011, quando foi possível a
substituição sistemática dos satélites desativados (MONICO, 2008).
O GALILEO é considerado a contribuição europeia para o GNSS, sendo considerado um sistema
aberto e global, com controle civil, que é completamente compatível com o GPS e GLONASS (MONICO,
2008). A China desenvolveu um sistema de navegação chamado BeiDou, desenvolvido de forma
independente com a meta de ser um sistema aberto, estável e de tecnologia confiável (BURITY, 2016).
A integração bem-sucedida dos GNSS oferece melhorias para o posicionamento quanto à
disponibilidade de satélites, à geometria entre o receptor e o satélite, e ao desempenho deste quando
comparado ao uso isolado dos sistemas, além de possibilitar um entendimento melhor de possíveis erros
sistemáticos que podem não ser detectados em soluções individuais (KOUBA et al., 2017).
Seeber (2003) afirma que a terminologia GNSS foi designada ao conjunto desses sistemas de
posicionamento e navegação a partir do ano de 1991. De um modo geral os sistemas de navegação se
distinguem por suas características particulares constantes aos segmentos espacial, de controle e de usuários.
Contudo, aqui será apresentado os aspectos em comum para os diferentes sistemas.
Coutinho (2021) apresenta algumas características do método de posicionado com GNSS, as quais
visam a sua integração no programa de monitoramento de superfícies, cuja síntese está apresentada na
Tabela 1.
Tabela 1 - Características do método de posicionamento com GNSS. Fonte: Coutinho (2021).
Aplicações Vantagens Limitações Tendências
Monitoramento pontual Maior quantidade de
Alta frequência de (necessário número informações (“Big Data”)
Taludes
leituras representativo de oriunda de novos sistemas
equipamentos) de satélites
Obras Geotécnicas
Informações Necessidade manutenção Aumento da precisão e
(Barragem, Pontes,
tridimensionais das estações acurácia
Rodovias, Aterros)
Subsidência (áreas não Maior precisão Necessidade de formas de
ocupadas ou urbanas) (milimétrica) correção de erros

3.2 Geometria de aquisição dos dados

Os satélites compõem o segmento espacial dos sistemas de navegação, sendo os responsáveis por
promover as leituras em função de órbitas ao redor da superfície da Terra, transmitindo continuamente sinais
de rádios aos usuários (MONICO, 2008). A disposição dos satélites ao redor do globo se faz de tal maneira
que haja sempre, no mínimo, 4 satélites visíveis em qualquer ponto do planeta (Figura 1).
Os satélites têm suas mensagens de navegação e correções nos relógios realizados pelo segmento de
controle. De acordo com Monico (2008), este segmento consiste em uma rede global de instalações terrestres
que rastreiam os satélites, monitoram suas transmissões, realizam análises e enviam comandos e dados para
a constelação.

Figura 1 – Configuração mínima necessária para o posicionamento GNSS. Fonte: Adaptado de IBGE (2008).

143
O segmento de usuários corresponde as aplicações que os usuários, civis e militares, dos GNSS,
realizam e que, por conseguinte, determinam o tipo de receptor que será utilizado e o método de
posicionamento. Segundo Seeber (2003), os receptores de sinais de satélites, usados em navegação ou no
posicionamento geodésico, possuem requisitos próprios.
Os sinais dos sistemas GNSS podem ser identificados através de quatro observáveis, sendo a
pseudodistância e a fase da onda portadora, ou diferença de fase da portadora, as mais relevantes no
posicionamento e permitem determinar a posição, a velocidade e o tempo (SEEBER, 2003).
Segundo Monico (2008), a pseudodistância consiste na medida da distância entre a antena do satélite,
no instante de transmissão do sinal, e a antena do receptor, no instante de recepção. No caso da fase de onda
portadora, esta é considerada mais precisa do que a pseudodistância, cuja medida é realizada a partir da
diferença entre a fase do sinal recebido no satélite e a fase do sinal gerado no receptor, no instante de
recepção do sinal (BURITY, 2016).

3.3 Métodos de posicionamento

Com relação a determinação da posição de um objeto de interesse, por meio do GNSS, Burity (2016)
afirma que esta pode ser realizado por diversos métodos e observáveis, as quais definem a precisão do
resultado. Para um posicionamento que se almeje melhor precisão das coordenadas, é indispensável a
utilização da fase da medida da portadora.
Monico (2008), esclarece que, quanto ao referencial, o posicionamento pode ser classificado em
absoluto quando as coordenadas estão associadas ao geocentro, e relativo quando as coordenadas são
determinadas com relação a um referencial materializado por um ou mais vértices, com coordenadas
conhecidas. Complementar à classificação e com relação ao referencial adotado, o objeto a ser posicionado
pode estar em repouso ou em movimento. Se estiver em repouso o posicionamento é estático, se em
movimento é denominado cinemático. Ainda no contexto do posicionamento GNSS, pode-se utilizar o
posicionamento denominado Diferencial GNSS (DGNSS), através da pseudodistância.
No posicionamento pelo GNSS, são comuns os termos posicionamento em tempo real e pós-
processado, que são conceitos referidos ao modo de obtenção da coordenada do objeto que se está medindo.
Quando há referência a um posicionamento em tempo real, implica que a obtenção da coordenada se dá
praticamente no mesmo instante em que as observações são coletadas, por exemplo no posicionamento RTK
(Real Time Kinematic). No posicionamento pós-processado, a posição dos pontos objeto ou feições, são
determinados após o processamento das observações coletadas, em software específico, com técnicas mais
rigorosas e controle de qualidade da precisão (MONICO, 2008).

4 Aplicações

O desenvolvimento das tecnologias de posicionamento espacial, por exemplo, os receptores GNSS,


causaram uma grande revolução na área de levantamentos. Assim, neste artigo serão apresentados três casos
que ilustram a aplicação do GNSS no monitoramento de taludes em áreas ocupadas e em barragem.

4.1 Carlà et al. (2019)

Carlà et al. (2019) apresentam o monitoramento de um talude alpino em Bosmatto, região dos alpes
no noroeste da Itália que sofreu uma reativação repentina no movimento em 15 de outubro de 2000, após
um evento de chuva intensa e prolongada. O monitoramento contou leituras em duas estações GNSS de
monitoramento contínuo, cinco estações GNSS para medições de campanha (operado manualmente),
aquisições de InSAR (Interferometric Synthetic Aperture Radar) da constelação de satélites Sentinel-1
(tanto em órbita ascendente como descendente) e medições de um GBInSAR (Ground-Based
Interferometric Synthetic Aperture Radar Baseada em Terra).
A Figura 2A apresenta os deslocamentos Leste-Oeste, Norte-Sul e Vertical das estações GNSS de
monitoramento contínuo (A-05 e A-06), a linha na cor preta indicam o resultado da média móvel de 50
pontos, correspondendo a um intervalo de aquisição de 12 dias. A Figura 2B exibe os resultados dos
deslocamentos Horizontal e Vertical das estações GNSS de monitoramento por campanha (M-04, M-05, M-
06, M-07, M-08). Os resultados indicam uma taxa de deslocamento geralmente constante, variando de 8,6
mm / ano (estação A-05) a 74,8 mm / ano (estação M-08).
Na Figura 3A tem a representação dos vetores resultantes dos deslocamentos medidos pelas estações
GNSS de monitoramento contínuo (seta verde) e por campanha (seta azul), também estão representadas as

144
escarpas antiga (linhas vermelhas) e nova (linhas verdes) e a seção transversal proposta (linha azul). Na
Figura 3B foi traçada uma seção ao longo do talude, e apresentada o vetor da velocidade 3D para os pontos
contidos nesta seção, de modo que para o InSAR a componente Leste-Oeste foi considerada como a
componente horizontal total. Como esperado, devido à subestimação da componente horizontal dos dados
de satélite InSAR, estes apresentaram vetores menores em relação aos seus homólogos GNSS. Observa-se
pelas Figura 33A e 3B um movimento predominantemente na direção Sudoeste e Noroeste, com ângulo de
mergulho gradualmente decrescente no sentido do topo ao pé da encosta, estando em congruência com o
sentido de deslizamento do talude.
Os autores concluíram que os conjuntos de dados do GNSS e InSAR têm características e modos de
aquisição diferentes, constatando que nenhum deles sozinho é capaz de fornecer informações conclusivas
sobre o mecanismo e o comportamento do talude estudado. Mesmo que as campanhas de monitoramento
tenham sido realizadas em prazos diferentes, os resultados encontrados foram semelhantes. Como esperado,
há discrepâncias entre as velocidades na direção Leste-Oeste da InSAR e as velocidades horizontais das
estações GNSS, em razão da ausência da componente Norte-Sul no InSAR.
Ainda assim, Carlà et al (2019) afirmaram que técnicas convencionais como topografia e
levantamento GNSS representam ferramentas essenciais de monitoramento durante os meses de inverno
(quando as imagens interferométricas podem apresentar perda de coerência em razão da presença de neve)
e, para verificação do deslocamento real em razão da componente norte significativa.

(A) (B)
Figura 2 – (A) Deslocamento medido das estações GNSS de monitoramento contínuo; (B) Deslocamento
medido nas estações GNSS com medições em campanha. Fonte: Adaptado de Carlà et al. (2019).

(A) (B)
Figura 3 – (A) Localização das estações GNSS, com azimute de movimento; (B) Corte transversal do
talude com os vetores resultantes do InSAR e GNSS. Fonte: Adaptado de Carlà et al. (2019).
Carlà et al. (2019) concluiram que o monitoramento por meio de estações GNSS de monitoramento
contínuo, com resolução temporal de várias aquisições por dia, pode ser mais adequado para detectar o
início de tendências de aceleração rápida. Os autores constatam que a quantidade de estações GNSS

145
instaladas foram insuficientes para entender os mecanismos de movimento do talude estudado, além disso,
relataram que as estações podem apresentar valores incongruentes da realidade se posicionados sobre uma
rocha ou locais particularmente instáveis.

4.2 Segina et al. (2020)

No trabalho de Segina et al (2020) foi apresentado os resultados do monitoramento através do GNSS


de baixo custo aplicado a um talude instável em uma região ocupada que afeta a cadeia montanhosa
Karavanke, no noroeste da Eslovênia. Nesta área consta uma rede de monitoramento incluindo piezômetros,
inclinômetros, medições geodésicas e pluviômetros. Sete unidades GNSS de baixo custo foram instaladas
para complementar a instrumentação existente com o monitoramento de movimentos de superfície.
Os resultados de 9 meses de monitoramento de uma estação GNSS situada na parte mais baixa do
talude foram comparados com os dados de precipitação do local, tendo sido relatado quatro grandes eventos
de chuva na região. Na Figura 4 é possível observar as mudanças de tendência no deslocamento horizontal
frente aos eventos de chuva, de modo que Segina et al. (2020) constataram que a maior taxa de deslocamento
horizontal observada no local (17,69 mm/dia) ocorreu entre 16 e 26 de novembro de 2019 (10 dias), que
corresponde a um evento chuvoso com mais de 300mm de precipitação. A taxa de movimentação
desacelerou ao longo da semana seguinte ao período de chuvas. Nem todos os pontos monitorados
apresentaram uma correlação direta com os intervalos de precipitação, o que os autores justificaram ser em
decorrência dos mecanismos de movimentação do talude.
Os autores afirmaram que os dados contínuos e quase em tempo real de deslocamentos de superfície
adquiridos pelo sistema GNSS de baixo custo representaram uma extensa fonte de informações para análise
posterior, a servir de preparação para elaboração de modelos locais de previsão de deslizamento e de um
sistema confiável de controle e alerta. No entanto, a técnica de monitoramento testada só é capaz de fornecer
informações sobre os movimentos da superfície. Para uma descrição completa da dinâmica de deslizamentos
profundos, os autores relatam a necessidade de integrar a análise da superfície com a investigação do
subsolo.
Segina et al. (2020) concluíram que a disponibilidade remota de dados e fácil instalação tornam o
GNSS, equipado com uma conexão 3G, adequado para monitoramento de locais menos acessíveis com
probabilidade de deslizamentos. Foi constatado também que o sistema proposto de baixo custo (cerca de
um quinto em relação ao custo dos equipamentos GNSS convencionais), aumenta a acessibilidade e permite
a criação de uma rede mais ampla de pontos de monitoramento em toda a área, ajudando assim a entender
os mecanismos de deslocamento do talude.

Figura 4 – Relação entre a precipitação e o deslocamento horizontal medido com GNSS. Fonte: Adaptado
de Segina et al. (2020).

4.3 Wu et al. (2021)

Wu et al. (2021) estudaram o monitoramento de um talude as margens do rio Yalong na China, sendo
constituinte de uma área de reservatório de uma barragem. O represamento do reservatório nesta área afetou
a condição hidrogeológica das encostas. O plano de monitoramento inclui três locais de monitoramento de
subsuperfície (inclinômetro) e seis pontos de monitoramento de superfície (GNSS).

146
As informações dos GNSS estão compreendidas entre janeiro de 2016 e setembro de 2020, cujos
resultados apresentaram deslocamentos majoritariamente na direção Leste-Oeste. Os autores analisaram a
relação entre o nível de água do reservatório e os deslocamentos medidos nos GNSS. Estes resultados estão
apresentados na Figura 5, é possível observar o incremento no deslocamento na fase de nível de água mais
baixo em todos os pontos analisados, os quais estão marcados com um retângulo cinza.
Com base nessa estrutura conceitual, podem ser feitas previsões sobre o deslocamento do talude sob
as próximas flutuações periódicas do nível da água em longo prazo. Os autores estabeleceram limiares para
composição de um sistema de alerta baseado nos dados de velocidade dos GNSS e no nível do reservatório.
Estes limares foram definidos por meio de análises estatísticas, com a aplicação de médias móveis sobre os
valores de velocidade dos GNSS.
Wu et al. (2021) concluíram que a análise de séries temporais de velocidade dos GNSS com base no
método da média móvel foi adequada para determinar alertas para as fases periódicas de aceleração com o
estabelecimento de um limite de velocidade. Enquanto isso, um limite de nível de água também foi atribuído
para reduzir avisos falsos para as estações GNSS. Outro fator que limita o presente sistema de alerta é que
a complementação e a instalação de novas unidades GNSS não são muito econômicas. O custo de
monitoramento atrasa o reconhecimento geral e detalhado da cinemática do deslizamento e, enquanto isso,
reduz a área de cobertura do sistema de alerta para todo o talude. Além disso, os autores concluíram que
técnicas combinadas entre GNSS, satélite InSAR, GBInSAR e fotogrametria aérea podem melhorar a
compreensão de grandes deslizamentos ativos na escala de encostas e o desempenho de sistema de alerta.

Figura 5 – O deslocamento horizontal das estações GNSS e o nível da água do reservatório. Fonte:
Adaptado de Wu et al. (2021).

5 Conclusões

Este trabalho evidenciou os conceitos teóricos sobre o posicionamento com GNSS, com a
apresentação das suas características e atributos de funcionamento. Além disso, destacou-se o emprego da
técnica para o monitoramento de taludes, através de artigos científicos com aplicações efetivas do método
de monitoramento apresentado, destacando suas vantagens e limitações.
A partir dos seus conceitos fundamentais e exemplos de aplicação prática, o monitoramento com
GNSS apresenta como vantagem a disponibilidade de informações em tempo real, monitoramento contínuo
de forma automatiza, com informações tridimensionais, boa precisão e a realização de medições sob
diversas condições climáticas. Com isso, demonstra-se a sua aplicabilidade através da identificação de
regiões com possíveis tendências a movimentação acompanhada da sua respectiva direção, favorecendo o
conhecimento dos mecanismos de ação do movimento. Além disso, os dados do posicionamento por GNSS
podem ser utilizados na composição de um sistema de controle e alerta. Em especial, o monitoramento
contínuo, seja em RTK ou pós-processados, proporciona o acompanhamento dos deslocamentos para
identificação de variação anômalas ou mudanças bruscas no comportamento, as quais podem culminar em
ruptura do talude.
Ainda assim, existem limitações a respeito da técnica como por exemplo, a análise pontual do
instrumento, o que prejudica o conhecimento dos mecanismos de movimentação em grandes áreas, visto a
área reduzida de cobertura destes equipamentos. Para minimizar este efeito, as direções e as taxas de
movimentação podem ser obtidas por uma rede de equipamentos GNSS instalados na área de estudo, bem

147
como os seus resultados associados a outros instrumentos, a exemplo do InSAR, permitindo o conhecimento
da dinâmica de movimentação do talude.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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148
Aplicabilidade da Técnica InSAR para Monitoramento de Taludes
Roberto Quental Coutinho
Prof. Titular, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, robertoqcoutinho@gmail.com

Jailson Silva Alves


Mestrando, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, jailsonalves.eng@gmail.com

Hanna Barreto de Araújo Falcão


Mestranda, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, hannabfalcao@gmail.com

Julia Isabel Pontes


Mestranda, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, juliaisap@gmail.com

Wilson Ramos Aragão Júnior


Doutorando, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, wilsonramosaragao@hotmail.com

RESUMO: A interferometria é uma técnica que pode ser aplicada a imagens de radar do tipo SAR (Synthetic
Aperture Radar) que permitem obter Modelos Digitais de Elevação, medidas de deslocamento e auxílio para
acompanhamento de grandes áreas e/ou obras de engenharia. O objetivo deste trabalho é apresentar aspectos
relacionados às técnicas Interferométricas SAR (InSAR) aplicadas ao monitoramento de taludes. Para isso,
realizou-se uma revisão bibliográfica sistemática, por meio de plataformas de pesquisa em acervos científicos,
a fim de destacar o funcionamento e o método de operação da InSAR. Além disso a experiência prática dos
autores, contribui para uma análise crítica da técnica de instrumentação abordada. Os resultados evidenciam
aspectos teóricos relacionados ao funcionamento de radares de abertura sintética (SAR) embarcados em
satélites, destacando suas características, sistemas orbitais, tipos de geometria de imageamento, bem como os
princípios de processamento das imagens obtidas, empregando a interferometria. As aplicações práticas
demostram as potencialidades da InSAR com ênfase no monitoramento de taludes, destacando sua capacidade
de aquisição de informações topográficas em escala milimétrica, acompanhamento da evolução temporal de
longo prazo de deslocamentos, possibilidade de compor sistema de monitoramento permitindo direcionar a
implantação de outros instrumentos para avaliação das condições in situ e algumas limitações quanto ao
intervalo temporal (tempo de revisita do satélite) de aquisição dos dados de deslocamento.

PALAVRAS-CHAVE: InSAR, Taludes, Monitoramento.

ABSTRACT: Interferometry is a technique that can be applied to SAR (Synthetic Aperture Radar) type radar
images that allow Digital Elevation Models, displacement measurements and help for tracking large areas to
obtain and/or engineering works. The objective of this work is to present aspects related to Interferometric
SAR (InSAR) techniques applied to slope monitoring. For this, a systematic literature review was carried out,
through research platforms in scientific collections, in order to know how the InSAR method of operation
works. In addition, the authors' practical experience contributes to a critical analysis of the instrumentation
technique addressed. Theoretical aspects related to the operation of satellite operation operating systems,
satellite aperture, highlighting their image geometry characteristics, as well as the principles of image
processing, orbit systems, operation of radar interferometry results. Practical applications demonstrate the
potential of InSAR with emphasis on slope monitoring, highlighting its ability to acquire topographic
information on a millimeter scale, monitoring the long-term temporal evolution of displacements, the
possibility of composing a monitoring system allowing directing the implementation of other instruments to
evaluate the in situ conditions and some limitations regarding the time interval (satellite revisit time) for the
acquisition of displacement data.

KEYWORDS: InSAR, Slopes, Monitoring.

1 Introdução

Os eventos que ocorrem na dinâmica da superfície da terra são há muito tempo estudados pela ciência

149
e tem sido constante a necessidade de melhorias das técnicas e equipamentos para melhorar as condições de
acompanhamento e monitoramento. O sensoriamento remoto tem sido empregado como ferramenta de especial
relevância para monitorar e acompanhar as mudanças espaciais, tendo em vista sua capacidade de observação
sem a necessidade de contato direto com o alvo a ser estudado (NOVO, 2010).
A tecnologia InSAR (Synthetic Aperture Radar Interferometry) como destaca Osmanoğlu et al. (2016)
permite a observação da superfície da terra de maneira remota, destacando a capacidade de aquisição de
imagens dos radares de abertura sintética, e que as imagens sejam sintetizadas e se obtenha uma abertura maior
do que a real. Aliado a aquisição das imagens, é possível, por meio da interferometria, verificar as diferenças
de fase existentes entre duas ou mais imagens A informação de altitude associada às medidas feitas diretamente
na imagem para cada ponto, nas direções de alcance e azimute, permite a reconstrução tridimensional do
terreno e, com isso, obter Modelos Digitais de Elevação (MDE), possibilitando a geração de mapas de
deslocamento, com capacidade de medição para grandes áreas em escala milimétrica em intervalos de dias a
anos (HU et al., 2021).
Diante desse contexto, o uso da interferometria como auxílio ao monitoramento de taludes (naturais,
artificiais, de mineração, barragens) tem se difundido nos últimos anos, possibilitando vantagens para análise
do comportamento e controle de áreas de risco. Segundo Henderson et al. (1998) a interferometria é uma
alternativa às técnicas convencionais fotogramétricas para geração de mapas topográficos com alta resolução,
tendo como vantagem o fato de utilizar dados obtidos por radar de abertura sintética, que possuem a capacidade
de operação durante dia e noite, e também sobre qualquer condição climática.
O objetivo do presente trabalho é contribuir com a literatura técnica reunindo casos de aplicações
geotécnicas do estudo de taludes, destacando as contribuições da interferometria para coleta de informações
que possam ser empregadas nas análises deslocamento e possibilidade de risco a deslizamentos. O artigo
apresentado é parte de um projeto/linha de pesquisa e resultado parcial de uma dissertação de mestrado em
andamento, desenvolvida pelo GEGEP/UFPE, sob orientação do primeiro autor. Também estão sendo
desenvolvidos trabalhos na temática de novas tecnologias de monitoramento de subsidência em encostas e
planícies na Região Metropolitana de Recife.

2 Metodologia

Neste trabalho foi realizada uma revisão bibliográfica sistemática com a finalidade de verificar
produções científicas sobre aspectos da tecnologia InSAR aplicados ao monitoramento de taludes. Para definir
as publicações técnicas a serem analisadas nos resultados desta pesquisa foi realizada uma busca em
plataformas de pesquisa considerando a metodologia conhecida como Principais Itens para Relatar Revisões
Sistemáticas e Meta-Análises (PRISMA), que consiste em quatro etapas: Identificação, Seleção, Elegibilidade
e Inclusão.
Inicialmente foram definidas as palavras-chave para compor os mecanismos de busca, utilizando-se
“InSAR” e “Landslide”. Na sequência foram filtradas as publicações mais recentes e em versão final de
publicação. A terceira etapa consistiu da elegibilidade, para qual foram checados aqueles artigos que tivessem
pertinência direta ao tema de estudo. A última etapa por sua vez, consistiu na leitura e escolha dos artigos mais
representativos para o objetivo do trabalho, considerando aplicações e discussões que pudessem ilustrar as
caraterísticas fundamentais da InSAR, além de ilustrar os benefícios para o monitoramento de taludes.
Durante a pesquisa bibliográfica buscou-se embasamento teórico a fim de conhecer bem a técnica, os
equipamentos, procedimentos e características do estudo da tecnologia InSAR. As referências de suporte
permitiram a concepção de aspectos teóricos sobre a abordagem de estudo, destacando os conhecimentos
básicos ao entendimento do tema. As aplicações foram abordadas em contextos distintos, explorando o
potencial da InSAR para acompanhamento de taludes. Cabe a experiência prática dos autores, obtida por meio
de projetos técnicos-pesquisa desenvolvidos, permitindo uma análise crítica do método de instrumentação
apresentado, bem como contribuições à discussão proposta.

3 Aspectos Teóricos

3.1 Sensoriamento Remoto com Radar (SAR)

Um radar de tecnologia SAR (Synthetic Aperture Radar) opera na faixa do espectro eletromagnético
das micro-ondas ( = 1-100 cm) sob praticamente qualquer condição meteorológica e de iluminação
(HARTWIG, 2014). Segundo Paradella et al. (2015) muitos são os atributos dessa tecnologia de imageamento,
destacando-se a independência da fonte solar (sensor ativo) podendo operar de forma diurna/noturna, pequena

150
interferência atmosférica (as micro-ondas penetram nas nuvens e até chuva) e possui enorme capacidade em
prover medidas quantitativas de propriedades dos alvos.
O imageamento SAR por sua vez consiste em um radar instalado em uma plataforma, que pode estar
embarcada em aeronaves ou meios orbitais, embora também é possível aplicações a partir de plataformas
móveis terrestres (NADER, 2013). Em uma imagem SAR, o brilho (ou intensidade) de cada pixel é
proporcional à potência do sinal de retorno recebido pela antena, que varia em função da interação entre os
parâmetros do sistema, dos alvos e do sinal de retorno (HARTWIG, 2014).
De acordo com Nader (2013) a sequência de funcionamento de um radar imageador consiste em (1) a
antena transmite um pulso de radiação em direção do solo; (2) quando o pulso atinge o solo ele se espalha em
todas as direções; (3) parte do espalhamento retorna na direção do radar (retro espalhamento); (4) a antena
capta o sinal de retro espalhamento registra sua amplitude, fase, polarização e tempo de retorno; (5) os sinais
captados são posteriormente processados, de forma conjunta, para formar uma imagem da superfície imageada.
A geometria de um SAR é de visada lateral LOS (Line of Sight), com o feixe de iluminação sendo
irradiado em ângulo ortogonal à direção de trajetória do objeto imageador (Figura 1). Uma imagem
bidimensional (alcance x azimute) do terreno imageado é obtida com a detecção do sinal retro espalhado,
através da combinação da movimentação do sensor e da transmissão periódica de pulsos ortogonalmente à
direção de trajetória do satélite (GAMA et al., 2015)
Conforme apresenta a Figura 1a com os aspectos fundamentais do sistema de imageamento, o azimute
de visada (ângulo formado entre a direção de voo e o apontamento da antena, no plano horizontal) a direção
em alcance, a direção em azimute, o alcance no terreno que é a distância do sensor-alvo medida no terreno, o
alcance inclinado que é a distância real sensor-alvo, a altura da plataforma (H); e a faixa de imageamento
(largura total do terreno imageado).
Os sistemas orbitais (satélites) segundo Paradella et al. (2021) seguem órbitas síncronas e usam ondas
eletromagnéticas de em diferentes bandas (Figura 1b), sendo as mais usuais a X ( ~ 3 cm), a C ( ~ 6 cm) e
a L ( ~ 23 cm). Além da resolução espacial (tipo de banda), existem no mundo vários sistemas orbitais que
permitem aquisições temporais distintas, conhecido como tempos de revisita, que é uma característica
importante, pois indica o tempo necessário para que o satélite possa passar sob uma mesma área a fim de
realizar o imageamento. Na Figura 1b são apresentados de forma síntese os sistemas orbitais mais empregados,
com seus respectivos tempos de revisita e resolução espacial (PARADELLA et al., 2015).

(a) (b)
Figura 1 – (a) Geometria de imageamento do sistema radar de visada lateral; (b) Sistemas orbitais com SAR,
com informações de banda, tempo de revisita e aumento na resolução espacial.
Fonte: Hartwig (2014), Paradella et al. (2015).

3.2 Geometria de Imageamento Orbital

Os satélites orbitam a Terra seguindo a sincronização solar, caminhos quase polares, com uma altitude
variando entre 500 e 800 km acima da superfície. Segundo Intrieri (2019) a combinação do movimento de
rotação da Terra com suas órbitas, faz com que os satélites sejam capazes de coletar informações sobre o
mesmo alvo com duas geometrias de aquisição em sentidos opostos: ascendente (do Polo Sul ao Polo Norte)
e descendo (do Polo Norte em direção ao Polo Sul).
O sensor ilumina a superfície terrestre ao longo da linha de visada do sensor (LOS – line-of-sight), que

151
pode variar bastante em relação a vertical. Outro aspecto importante relacionado às órbitas de aquisição de
imagens de radar, relaciona-se à determinação do deslocamento obtida por interferometria. Como o radar é
sensível apenas a deslocamentos ao longo de sua visada, as componentes de deslocamento perpendiculares a
esta direção não são detectadas. De forma alternativa, a fim de melhorar a determinação dos deslocamentos é
possível combinar medidas obtidas a partir de ambas as órbitas (ascendente e descendente) (CARLÀ et al.,
2016; PARADELLA et al., 2015).

3.3 Interferometria

A interferometria de radar de abertura sintética (InSAR) consiste uma técnica de sensoriamento remoto
que permite combinar a informação de fase de duas ou mais imagens SAR obtidas sobre a mesma área,
simultaneamente ou em instantes diferentes. O interferograma resultante deste processo permite determinar
diferenças sutis na distância em alcance, com precisão na escala de frações do comprimento de onda (da ordem
de milímetros), para pixels correspondentes de um par de imagens adquiridas sob condições de geometria
similares (PATRÍCIO, 2018).
Um interferograma é uma representação 2D da diferença entre valores de fase. Variações de fase em um
interferograma são identificadas por franjas, bandas coloridas que indicam onde e quanto movimento está
ocorrendo em uma área. A precisão com que o movimento pode ser medido fica geralmente na faixa dos
centímetros e pode atingir precisões milimétricas, uma vez que a alteração de fase também é afetada por
distorções topográficas, efeitos atmosféricos e outras fontes de ruído. Cabe destacar que o número total de
Interferogramas N, que é possível formar, depende do número de imagens adquiridas, sendo necessário ao
menos duas imagens para se conceber um interferograma (BOHANE et al., 2015).
O deslocamento entre as duas ou mais imagens do interferograma é calculado pelo ajuste da segunda
imagem adquirida na fase de imageamento, visando transformá-la na geometria da primeira utilizando o
método de correlações de imagens através da definição de matrizes de busca, definindo um conjunto de
“janelas” uniformemente distribuídas. A estimativa do deslocamento é deduzida quando se usa amostras
sobrepostas, procurando pixels que ampliem as correlações existentes entre as aquisições da primeira imagem
do imageamento com a segunda ou demais (PATRÍCIO, 2018).
Coutinho (2021) apresenta algumas características da técnica InSAR as quais visam sua integração no
programa de monitoramento de superfícies, cuja síntese está apresentada na Tabela 1.

Tabela 1 – Características da InSAR. Fonte: Coutinho, 2021.


Aplicações Vantagens Limitações Tendências
Mapeamento em larga Tempo de revisita do Redução no tempo de
Subsidências
escala (até km²) satélite revisita do satélite
Não possui boa precisão
Maior confiabilidade das para medir deslocamentos Monitoramento em tempo
Taludes
medições em regiões com cobertura quase real
vegetal e corpos hídricos
Obras (Pontes, Maior Precisão Sombreamento devido a Novas tecnologias de
Rodovias, Barragens) (milimétrica) geometria do relevo processamento de imagens

4 Aplicações

A interferometria permite explorar os aspectos ligados à geometria do relevo, como Modelos Digitais
de Elevação (MDE), medidas de deslocamento e acompanhamento de grandes áreas e/ou obras de engenharia.
Dentre as aplicações destacam-se o monitoramento de taludes (encostas naturais, taludes de mineração, taludes
rodoviários), subsidências do terreno, obras como barragens, pontes e rodovias. Neste artigo, foram abordados
três casos de aplicações da InSAR com ênfase ao monitoramento de taludes, Carlà et al. (2016) encosta natural,
Intrieri et al. (2019) talude de mina a céu aberto e Ciampalini et al. (2021) encosta natural ocupada. A revisão
destes exemplos permite uma abordagem das características da interferometria SAR contribuindo para a
discussão do tema em questão.

4.1 Carlà et al. (2016)

Após um grande deslizamento de uma encosta ocorrido em 3 de dezembro de 2013 (polígono vermelho
da Figura 2a), no sudoeste da cidade de Montescaglioso (sul da Itália), que causou várias perdas econômicas

152
diretas e indiretas, como destruição de estradas e danos em edifícios comerciais e residências, foi realizado um
estudo para compreender e caracterizar possíveis instabilidades das encostas que circundam a cidade. Para
isso, um conjunto de 30 imagens em geometria ascendente da constelação de satélites CSK (Cosmo-SkyMed).
Os dados vão de 30 de janeiro de 2012 a 2 de dezembro de 2013 (um dia antes do deslizamento) com tempo
de revisita de 16 dias e, em alguns casos, 32 dias (CARLÀ et al., 2016).
Na Figura 2a tem-se a representação da velocidade média de deslocamento ao longo do LOS ascendente,
que estão compreendidos entre -13,24 mm / ano e 12,06 mm / ano, sendo os valores negativos movimentos de
aproximação do sensor e os valores positivos movimentos de afastamento. Nota-se que boa parte das medições
apresentam velocidade média de deslocamento estão entre 1,5 e -1,49 mm / ano (cor verde), não apresentando
movimentos significativos. Ainda é possível identificar três zonas principais (A, B e C) com deslocamentos
mais elevados, consistentes com fenômenos de instabilidade ativa. Além disso, mesmo dentro do perímetro do
deslizamento de 3 de dezembro de 2013 (polígono vermelho da Figura 2a), as velocidades eram geralmente
de poucos mm / ano ou às vezes basicamente estável (setor A).
Carlà et al. (2016) fizeram o cruzamento entre deslocamento e precipitação (Figura 2b), buscando
compreende os efeitos da chuva como agente deflagrador de deslizamentos. Percebeu-se que as chuvas
geralmente não são distribuídas uniformemente ao longo do tempo, mas concentram-se em períodos curtos e
isolados de alguns dias ou semanas, correspondendo à passagem de sistemas de baixa pressão ou tempestades.
Por esta razão, tais eventos dão lugar a “picos” de chuva. Em particular, o evento de dezembro de 2013 foi de
intensidade excepcional (com um pico de 125 mm em 1º de dezembro). Os alvos de radar dentro da área de
deslizamento (polígono vermelho) parecem ser caracterizados por tendências de deslocamentos cumulativos
que aumentam principalmente com as chuvas de julho, outubro e dezembro (destacados na Figura 2b).
Os autores salientaram que a aplicação da técnica InSAR não deve diminuir a importância dos
levantamentos geomorfológicos de campo, sendo uma ferramenta que pode melhorar a atualização de mapas
de suscetibilidade a deslizamentos e dando suporte aos órgãos administrativos para os processos de avaliação
e gestão de riscos, por meio da indicação de setores com maior necessidade de aprofundamento in loco.

(a) (b)
Figura 2 – (a) Velocidades médias em mm / ano medidas após o processamento das imagens CSK no
município de Montescaglioso, sul da Itália; (b) Precipitação diária comparada com a série temporal de
deslocamento cumulativo de um ponto representativo da região do deslizamento de terra antes do evento de
03/12/2013. Fonte: Adaptado de Carlà et al. (2016).

4.2 Intrieri et al. (2019)

Trata-se de um talude de mina a céu aberto (identidade não revelada devido a confidencialidade), onde
foi realizada uma análise por meio da interferometria com imagens SAR da banda C (comprimento de onda
de 5,5 cm) adquiridas pela constelação de satélite Sentinel (tempo de revisita de 6 dias) para o período de 2 de
março de 2016 a 21 de novembro de 2016, considerando a aquisição de imagens de geometria ascendentes (47
imagens) e descendente (49 imagens) (INTRIERI et al., 2019).
O resultado do interferograma obtido a partir da aquisição das imagens de órbita ascendente é visto na
Figura 3a, na qual é possível destacar o resultado de velocidade anual obtida para a área de estudo. Na Figura
3b, observa-se a divisão do campo de estudo em 12 áreas, chamando atenção para a área 12 em destaque no
polígono de cor roxa. Observando os resultados de ambas as imagens percebe-se valores de velocidades anuais
compreendidos na faixa entre -365 a -100 mm/ano, indicativo de zona de deslocamentos mais elevados.
Os resultados das leituras de deslocamento obtidos ao longo do tempo (Figura 4a) mostram uma

153
tendência linear leve com valores próximos de 34,5 mm de deslocamento de 19/02/2016 a 10/10/2016. Em
seguida, os dados exibem um comportamento acelerado que atinge um deslocamento total de 110,2 mm em
15/11/2016, a hora da última aquisição antes da falha registrada em 17/11/2016. Analisando o gráfico (Figura
4b) da velocidade suavizada (mm/dia) é possível perceber de forma clara a alteração no padrão do
comportamento dos dados de deslocamento a partir de 10 de outubro, embora o intervalo de leituras não tenha
permitido acompanhar de forma sistemática a evolução dos deslocamentos na iminência da ruptura.
Os autores Intrieri et al. (2019) concluíram que a InSAR é eficaz para o acompanhamento de áreas
instáveis, o direcionamento de áreas onde devem ser instalados equipamentos para monitoramento in loco e a
reconstrução da geometria de superfícies de deslizamento. No entanto, destaca-se que o tempo de revisita do
satélite, pode não ser suficiente para observar o início da aceleração do deslocamento, comprometendo a
necessidade de respostas rápidas no quadro de um sistema de alerta precoce.

(a) (b)
Figura 3 – (a) Velocidade média em mm / ano pelo LOS ascendente; (b) Delimitação das áreas primárias
com maiores deslocamentos. Fonte: Adaptado de Intrieri et al. (2019).

(a) (b)
Figura 4 – (a) Série temporal de deslocamento de 19/02/2016 a 21/11/2016 do alvo do radar exibindo os
maiores registros na área 12; (b) Série temporal da velocidade média do ponto com maior deslocamento
dentro da instabilidade. A linha tracejada vermelha indica a falha (17/11/2016). Fonte: Adaptado de Intrieri
et al. (2019).

4.3 Ciampalini et al. (2021)

Neste caso, foram usados dados MT-InSAR (dados InSAR multi-temporais) para avaliar os
deslocamentos ocorridos em uma área de relevo acidentado (encosta natural ocupada) localizada na parte
norte-ocidental da região da Toscana (Itália central) entre 1992 até 2020. Foram usados dados dos satélites
ERS 1/2 (1992 a 2000) da banda C, do Envisat (2003 a 2010) e do COSMO-SkyMed (CSK) da banda X de
2010 a 2014, para análise das condições do deslocamento a longo prazo, visando identificar a melhor
localização para a instalação de sensores geotécnica (extensômetros e inclinômetros) (CIAMPALINI, 2021).
Os resultados das imagens do satélite COSMO-SkyMed (2010-2014) são apresentados na figura, onde
são marcados polígonos vermelhos que indicam as áreas de inventário de deslizamentos ocorridos ao longo do
tempo. A análise temporal revelou que entre 2010 e 2014 (Satélite COSMO-SkyMed) houve aumento da taxa
máxima de deslocamento com valores da ordem 20,3 mm/ano e uma taxa média de 6,4 mm/ano. As maiores
taxas de deslocamento foram medidas na parte sudoeste da vila, onde foram instalados em abril de 2016, sete
extensômetros e um inclinômetro (posição dos círculos em verde e vermelho na Figura 5b).

154
A partir das medições deslocamento ao longo do tempo, pela InSAR (Figura 6), foram escolhidos os
extensômetros E3 e E4, para uma análise comparativa entre os deslocamentos dos dois equipamentos a fim de
verificar possíveis semelhanças. Os resultados apontam para certa estabilidade no E3, com um efeito sazonal
evidente. Já os dados do E4 comparados com os deslocamentos pela InSAR obtidos por meio do satélite
Sentinel-1, em órbita descendente, são caracterizados por uma tendência linear evidente.
Os autores Ciampalini et al. (2021) concluíram que os dados InSAR podem ser usados para selecionar
a localização ideal para instalação de sensores in situ, especialmente ao considerar a distribuição espacial das
deformações passadas de um talude, durante longos períodos de tempo. Os dados InSAR podem ser usados
para confirmar medições e os dados de monitoramento geotécnico e podem ser usados para validar os dados
da InSAR. Nos casos em que a validação seja possível, e não haja necessidade de instalação de sistemas de
alertas, é possível monitorizar a evolução das deformações, mesmo na ausência de sensores in situ. Esta
abordagem pode ser facilmente adotada para a maioria das áreas urbanas ou semi-urbanas afetadas por
deformações lentas do solo.

(a) (b)
Figura 5 – (a) Velocidade média em mm / ano pelo LOS descendente CSK (2010–2014). Os polígonos
vermelhos indicam os deslizamentos mapeados; (b) Sensores in situ incluídos no sistema de monitoramento.
Fonte: Adaptado de Ciampalini et al. (2021).

Figura 6 – Comparação entre deformações medidas pela InSAR e por extensômetros de barra.
Fonte: Adaptado de Ciampalini et al. (2021).

5 Considerações Finais

Este trabalho apresentou características, conceitos, princípios, algumas vantagens, limitações e


tendências sobre a técnica InSAR, com ênfase nas potencialidades para aplicações no monitoramento de
taludes (naturais e artificiais), podendo ser aplicado a subsidências de terreno, barragens, pontes e rodovias. A
técnica, tem permitindo boa contribuição na detecção de informações sobre a superfície terrestre, como
obtenção dos Modelos Digitais de Elevação (MDE), medição de deslocamentos e a possibilidade de
acompanhamento de grandes áreas. A partir dos artigos científicos foram mostradas aplicações efetivas do
método de monitoramento apresentado, destacando algumas vantagens e limitações.
Como apresentado a partir das aplicações, as séries temporais obtidas pela InSAR são capazes de
fornecer informações de deslocamento com boa precisão, além de poder direcionar de forma estratégica a
implantação de equipamentos tradicionais de acompanhamento dentro da área de interesse, possibilitando
obter uma rede integrada de monitoramento. Além disso, os dados da InSAR podem ser checados e validados
por meio de outros equipamentos, garantindo melhor assertividade no diagnóstico de áreas com presença de
movimentações.

155
Entretanto, também foram destacadas algumas limitações quanto a aquisições de informações pela
InSAR, especialmente, para acompanhamento em curtos períodos de tempo. Os radares embarcados em
plataformas de satélites, tem um tempo de revisita longo, o que não permite a observação em tempo real dos
deslocamentos. Essa condição por sua vez, dificulta a tomada de decisões somente a partir das informações da
InSAR, necessitando de dados de outros equipamentos (Inclinômetros, Tiltímetros, Extensômetros). Apesar
disso, destaca-se, que a tecnologia tem avançado buscando reduzir o tempo de revisita e aumentar a precisão
e confiabilidade do método.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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156
Amplitude de Variação dos Dados da Estação Total Robótica na
Criação de Alarmes
Diego Lage Gonçalves
Engenheiro Pleno, Vale S.A, Belo Horizonte, Brasil, diego.lage.goncalves@vale.com

Beatriz Mapa Clemente


Engenheira Plena, Vale S.A., Belo Horizonte, Brasil, beatriz.clemente@vale.com

Pamela Lisboa Ferreira


Engenheira Sênior, Vale S.A., Belo Horizonte, Brasil, pamela.lisboa.ferreira@vale.com

RESUMO: A análise de deslocamento superficial das estruturas geotécnicas é de extrema importância


na análise de performance das estruturas. Com o aumento da utilização da Estação Total Robótica em
monitoramento de deslocamento superficiais de estruturas na mineração, se fortalece a necessidade da
definição de níveis de referência para identificação de condições anômalas ou fora do esperado. Nesse
contexto, faz-se necessário o estudo da amplitude de variação padrão dos dados dos prismas da ETR,
considerados ruídos de leitura ocasionados por diversos fatores como as variações atmosféricas e distâncias de
instalação, a fim de setar valores de referência acima do ruído observado, evitando excessivos falsos alarmes
ou a construção de níveis menos conservadores. O artigo apresenta uma metodologia estatística para o estudo
de níveis de ruído, uma interpretação do comportamento esperado do prisma lido pelo equipamento, além da
correlação com fatores que podem influenciar na amplitude de variação padrão dos dados.

PALAVRAS-CHAVE: Estação Total Robotizada, Criação de Alarmes, Monitoramento, Barragem de


Mineração, Deslocamento Superficial.

ABSTRACT: The analysis of surface displacement of geotechnical structures is extremely important in the
performance analysis of structures. With the increase in the use of the Robotic Total Station in monitoring
surface displacement of mining structures, the need to define reference levels for the identification of
anomalous or unusual conditions is strengthened. In this context, it is necessary to study the standard
variation amplitude of the RTS prisms data, considered reading noise caused by several factors such as
atmospheric variations and installation distances, to set reference values above the observed noise, avoiding
excessive false alarms or defining less conservative threshold. The article presents a statistical methodology
for the study of noise levels, an interpretation of the expected behavior of the prism read by the equipment,
in addition to the correlation with factors that can influence the amplitude of the standard variation of the
data.

KEYWORDS: Robotic Total Station, Alarm Creation, Monitoring, Mining Dam, Surface Displacement.

1 Introdução

A Estação Total Robótica é um equipamento de monitoramento de deslocamento superficial muito


utilizado em estruturas geotécnicas. É um meio de medir a magnitude e a velocidade dos movimentos terrestre,
horizontais e verticais, com métodos bem estabelecidos e acessíveis, tendo como principal objetivo o
monitoramento a longo prazo de tendências de deslocamento lento e acompanhamento de trincas. Graças ao
baixo custo dos prismas, normalmente, é o primeiro sistema de monitoramento de deslocamento instalado em
uma estrutura.
Com o aumento da utilização desse equipamento no monitoramento remoto 24/7, viu-se uma maior
necessidade da existência de alarmes relacionados a essa tecnologia. Nesse sentido, o estudo da amplitude de
variação dos dados da ETR se tornou importante para o entendimento do comportamento padrão dos dados
dos prismas, permitindo determinar alarmes mais confiáveis, acima do nível de ruído observado nesses
instrumentos.

157
2 Objetivo

O presente trabalho tem como objetivo apresentar o estudo da amplitude de variação dos dados da
Estação Total Robótica instalada em barragens de mineração, a fim de encontrar o comportamento padrão dos
dados dos prismas e possíveis correlações entre esses, mostrando a importância do conhecimento da amplitude
de variação dos dados na criação de alarmes de monitoramento. Serão feitas análises da variação dos dados de
Height, Northing e Easting de diferentes prismas, correlacionando-os aos períodos chuvosos e de estiagem e a
distância de instalação. O software utilizado para o estudo da amplitude, com a aplicação de métodos
determinísticos e probabilísticos, foi o Excel.

3 Revisão Bibliografica

3.1 Estação Total Robótica

A Estação Total Robótica utilizada no monitoramento de muitas barragens de mineração e objeto de


estudo desse artigo é do modelo TM_50 da Leica (Hexagon), Figura 1, com precisão angular de 0,5’’ (meio
segundo), do tipo centragem forçada, instalada em terreno “in situ”, de onde é possível visada direta a todos
os prismas. Esse equipamento possui alta precisão e realiza as leituras das coordenadas reais X, Y e Z (leste,
norte e elevação), ângulos e distâncias com intervalo entre cada aquisição da ordem de dez minutos, de acordo
com a malha de prismas instalados na estrutura monitorada. Posteriormente, esses dados são carregados em
um sistema de processamento de dados e, a partir da interpretação desses, é possível verificar se a estrutura
está apresentando movimentação superficial, mensurar sua magnitude e calibrar níveis de segurança.

Figura 1. Estação Total Robótica modelo TM50 (Leica Geosystem, 2021).

O funcionamento da ETR se baseia na leitura dos prismas por meio da emissão de ondas ópticas tipo
laser (feixe de luz), consequentemente, seus resultados podem apresentar alterações em condições de variações
atmosféricas. Esse equipamento realiza leituras em valores reais e deslocamentos contínuos, com leituras
pontuais, e necessita de orientação em outros prismas, conhecido na topografia como pris-mas referenciais
(ré).
Vários são os motivos que podem gerar ruídos nas leituras ou perda dessas leituras durante o
monitoramento da Estação Total Robótica, pode-se citar: erro devido a precisão do aparelho, condições
atmosféricas que amplificam a refração (temperatura, pressão e umidade), precisão de refletância dos prismas
de alvo e referenciais, erros de operação, reinicialização de equipamentos, manutenção, trânsito de máquinas
e equipamentos no entorno, instabilidade do prisma de monitoramento ou do prisma de referência, prismas
sujos ou com obstruções, vegetação alta em frente à estação e aos prismas de monitoramento ou de referência.
De modo geral, os maiores erros estão relacionados à distância de operação e variações atmosféricas.

3.2 Alarmes de Monitoramento

Os software de análise de dados e monitoramento da Estação Total Robótica disponibiliza alguns tipos
de alarmes para configuração no sistema. Um dos tipos de alarmes disponibilizados é calculado a partir da
diferença entre o deslocamento real medido e um deslocamento em um momento anterior, definido por um
intervalo de tempo. O deslocamento interpolado fica entre pelo menos duas medições reais. A Figura 2
exemplifica como o software realiza calculo de deslocamento para acionamento do alarme.

158
Figura 2. Deslocamento calculado para alarme de monitoramento.

Esse tipo de alarme é capaz de identificar mudanças de tendências de deslocamento, seja em estruturas
com dados estáveis, seja em estruturas que já apresentem alguma tendência clara de deslocamento superficial.
No software de monitoramento, é possível criar alarmes para cada variável (Leste, Norte, Vertical, Slope
Distance, Longitudinal, Transversal) de forma individual para cada prisma ou para um conjunto de prismas,
de acordo com a análise da amplitude de variação normal dos dados dos prismas da ETR e da análise geotécnica
da estrutura..

3.3 Amplitude de Variação dos Dados

A amplitude de variação de dados da ETR, causados por ruídos nas leituras, principalmente relacionados
à distância de operação e variações atmosféricas, fornece uma interpretação do comportamento esperado do
prisma lido pelo equipamento, dentro do intervalo de tempo definido, para que, a partir deste comportamento
padrão, seja possível determinar quais são as variações anômalas ao sistema, ou seja, potenciais deslocamentos
e mudanças de tendências reais. A partir do valor de amplitude de variação considerado normal para uma
variável de um prisma, pode-se então determinar os alarmes evitando números excessivos de alarmes falsos e
possibilitando a utilização de alarmes menos conservadores.
A amplitude de variação dos dados é calculada considerando a diferença entre a leitura atual e a do
intervalo de tempo definido para o alarme. Para a análise da amplitude de dados, é necessário coletar uma
amostra de dados com tamanho suficiente e representativo para se obter uma interpretação consolidada. Esta
amostragem pode variar em função do nível de consistência ou conformidade que o banco de dados apresenta.
Ademais, faz-se importante analisar a amplitude dos dados em diferentes períodos do ano, dado que a
amplitude em períodos chuvosos e de estiagem podem ser diferentes, devido a mudanças atmosféricas
causadas pela chuva, temperatura e pressão atmosférica de cada época do ano, além de analisar a amplitude de
variação em cada prisma da estrutura dado que a distância de instalação desses instrumentos da ETR pode
influenciar na variabilidade dos dados. A Figura 3 apresenta um exemplo dos dados de ETR em que é possível
observar a variabilidade dos dados de leste ao longo de dois meses, por exemplo.

Figura 3. Dados Leste Oeste de um prisma de monitoramento no período de dois meses (junho e julho
2021).

159
3.4 Distribuição de Probabilidades

Durante a realização de uma análise é impossível avaliar todos os elementos de uma população de
interesse, por isso, utiliza-se um levantamento amostral a fim de selecionar as características a serem
pesquisadas e definir uma população pertencente. Nesse sentido, os histogramas são gráficos de barras
verticais, em que todos os dados de uma amostra são apresentados distribuídos em classes, em que as barras
retangulares são construídas nos limites de cada classe, e contendo a frequência de observações em cada uma
dessas. A variável aleatória ou o fenômeno de interesse é apresentado no eixo horizontal, enquanto no eixo
vertical é disposto o número, ou percentual de observações por intervalo de classe. A Figura 4 ilustra um
histograma.

Figura 4. Exemplo de histograma (Assis, A. P. et al, 2012).

Um importante parâmetro a se estudar em uma amostra é a média aritmética, que corresponde ao tipo
de tendência central mais utilizado. É calculada somando todas as observações de um conjunto de dados e
dividindo o total pelo número de elementos da amostra.

𝑋1 + 𝑋2 + 𝑋3 +. ⋯ . +𝑋𝑛
𝑋̄ =
𝑛
Outro importante parâmetro em uma amostra é seu desvio padrão amostral s, que corresponde a raiz
quadrada da soma das diferenças ao quadrado em torno da média aritmética dividida pelo tamanho da amostra
menos 1, ou seja, é a raiz quadrada da variância amostral.

∑𝑛𝑖=1(𝑋𝑖 − 𝑋̄)2
𝑠 =√
𝑛−1

Após a construção de um histograma, pode-se definir qual seria a função de distribuição de


probabilidade mais adequada para descrever certa variável aleatória. Essa decisão está atrelada a diferentes
fatores como a existência de dados amostrais, suas confiabilidades, as possíveis distribuições e os métodos
estatísticos de ajustes disponíveis. As funções de distribuição de probabilidade são funções contínuas, com
valores sempre positivos e que quando integradas dentro de seus limites de ocorrência, a área total é igual a 1.
A mais utilizada distribuição de probabilidade é a representada pela função de distribuição normal, ilustrada
pela Figura 5, também conhecida como a distribuição de Gauss. A função de probabilidade é dada por:

𝑥−𝜇 2
1 [−1( ) ]
𝑓(𝑥) = 𝑒 2 𝜎
𝜎√2𝜋
onde:
 – Desvio padrão;
x – Variável aleatória associada: −  x   ;
 – Média da distribuição

160
Figura 5. Função de probabilidade normal (Assis, A. P. et al, 2012).
Por meio da normalização de variáveis, transforma-se a distribuição normal em distribuição normal
padro-nizada. Enquanto os dados originais para a variável aleatória x possuem média aritmética () e desvio
padrão (), a variável normal padronizada Z terá sempre média igual a zero e desvio padrão igual a 1. Desse
modo, pode-se sempre converter qualquer conjunto de dados distribuídos de maneira normal para sua forma
padronizada, determinando quaisquer probabilidades desejadas a partir da tabela de distribuição normal
padronizada. Para uma área delimitada por um, dois e três desvios padrões em torno da média, tem-se,
respectivamente, 68,3%, 95,4% e 99,7% dos dados envolvidos. A Figura 6 representa as porcentagens citadas
no gráfico da distribuição normal.

Figura 6. Dados compreendidos a ± 1 (a), ± 2 (b) e ± 3 (c) da média (Ang & Tang, 1975).

4 Metodologia

Foram analisadas 6 amostras para cada um dos dados de deslocamento leste-oeste, norte-sul e vertical,
totalizando 18 amostras. De cada conjunto dentro das 6 amostras, 3 amostras são referentes a diferentes
populações nos meses do período chuvoso (dezembro e janeiro) e 2 amostras referentes a diferentes populações
nos meses do período de estiagem (junho e junho).
Calculou-se a amplitude de variação dos dados no intervalo de 7 dias de três prismas localizados em
uma barragem de mineração, dois deles, nomeados com a letra A, estão instalados a uma distância próxima
um do outro, cerca de 499 m (Prisma 01A) e 507 m (Prisma 02A) da ETR, um terceiro prisma foi analisado a
uma distância de 310 m da ETR, nomeado com a letra B (Prisma 03B). Criou-se, então, histogramas para cada
uma das amostras, calculado a média aritmética, desvio padrão e a curva de distri-buição que melhor se adequa
aos dados, no caso, a distribuição normal.
Com os dados estatísticos calculados para cada amostra, encontrou-se os valores de nível de ruído dos
dados de cada variável relacionada a cada prisma, em diferentes épocas do ano, com intervalos de confiança
de 95% e 99% dos dados. Obtendo-se, en-tão, a amplitude do nível de ruido, que corresponde a variação
normal dos dados coletados e permite definir alarmes a partir desse valor através de estudos geotécnicos e o
conhecimento de engenharia. Ademais, foi realizado uma comparação de dados de amplitude de variação em
diferentes períodos do ano, a fim de identificar a necessidade de se utilizar diferentes alarmes em diferentes
épocas, e a comparação de dados da amplitude em diferentes posições de instalação, a fim de se verificar a
influência dessa variável no comportamento dos dados.

5 Resultados e Discussão

A partir de uma análise estatística para todos os casos foi realizado a construção de histogramas com
ajustes dos dados na curva de distribuição normal. É possível observar que cada variável (Leste, Norte e
Vertical) possui uma amplitude de variação normal dos dados diferente para um mesmo prisma e entre
diferentes prismas de uma mesma estrutura geotécnica. A Figura 7 apresentam a análise probabilística,
contendo o histograma e a curva de distribuição normal, para cada variável em cada prisma (Prisma 01A e
Prisma 02A) para o mesmo período (junho e julho de 2021), e a Tabela 1 apresenta os dados de média, desvio

161
padrão e intervalo de confiança para 95% e 99% dos dados de amplitude de variação.

Figura 7. Análise Probabilística para os dados de Leste, Norte e Vertical dos Prisma 01A e 02 A
(junho a julho 2021).

Tabela 1. Análise Probabilística para os dados de Leste, Norte e Vertical do Prisma 01A e 02A (junho a julho
2021).

Utilizando o intervalo de confiança encontrado, pode-se definir o nível de ruído para cada prisma. É
possível notar que os valores de amplitude de variação dos dados são diferentes para cada situação, apesar da
média aritmética da amostra de todos os prismas se manter próxima a zero, o desvio padrão dos dados apresenta
uma leve variabilidade, afirmando a necessidade de se estudar o nível de ruído de cada prisma separadamente
e em cada variável que se deseja setar um alarme. Após esse estudo, pode-se definir valores acima do
comportamento padrão do prisma, tornando possível a identificação de deslocamentos reais ou alteração de
tendências de deslocamento, evitando falsos alarmes ou alarmes conservadores. Nesse sentido, cabe ao
geotécnico escolher o quão conservador deseja setar os alarmes e quantos falsos positivos esta disposto a
analisar, escolhendo assim, o nível de ruído dos prismas com 95% ou 99% de confiabilidade. No caso dos
Prismas 01A e 02A, cabe ao geotécnico decidir se deseja utilizar o mesmo alarme para ambos os prismas, dado
que a variabilidade encontrada entre o nível de ruído desses instrumentos é pequena.
Dentre os diferentes motivos que podem gerar ruídos nas leituras da ETR, pode-se citar as condições
atmosféricas que amplificam a refração (temperatura, pressão e umidade), nesse sentido, torna-se importante
analisar o nível de ruído para diferentes épocas do ano, em que se pode observar condições atmosfé-ricas
diferentes. Foi realizada a análise probabilística de amplitude de variação de dados para os mesmos prismas
para um período diferente do período de estiagem analisado previamente, o período chuvoso (dezembro 2020
e janeiro 2021). A Figura 8 apresenta a comparação entre as distribuições normais calculadas com as amostras
do Prisma 01A no período chuvoso e no período seco, e a Tabela 2 apresenta a média, desvio padrão e intervalo
de confiança dos dados do prisma no período chuvoso.
162
Figura 8. Análise Probabilística para os dados de Leste, Norte e Vertical do Prisma 01A no período
seco (Junho a Julho 2021) e chuvo-so (Dezembro 2020 e Janeiro 2021).

Tabela 2. Análise Probabilística para os dados de Leste, Norte e Vertical do Prisma 01A no período
chuvoso (Dezembro 2020 e Janeiro 2021).

É possível observar diferentes variações de amplitude para os dados do período chuvoso, principalmente
nos dados de Norte e Vertical, possuindo dados mais suscetíveis a variações atmosféricas. Observa-se a
importância de se estudar os níveis de ruido em diferentes épocas do ano e, no caso de alta variação entre os
dados, percebe-se a necessidade de criação de alarmes diferentes para o período chuvoso e de estiagem. Isso
porque uma análise errônea do nível de ruído pode levar a uma superestimação ou subestimação do
comportamento normal dos dados da estrutura, podendo, respectivamente, encobrir movimentos reais ou
alarmar em muitos casos falsos.
Outro principal motivo causador de ruídos nas leitu-ras dos prismas é a distância de instalação desses
instrumentos da posição de instalação da ETR. A Tabela3 e Figura 9 apresentam a comparação entre um prisma
instalados a uma distância cerca de 499 m (Prisma 01A) da ETR e outro a uma distância de 310 m da ETR
(Prisma 03B). É possível perceber grandes diferenças no desvio padrão e consequentemente na curva de
distribuição normal dos dados referentes a Norte e Sul. Com isso, obtêm-se valores discrepantes de intervalo
de confiança da variabilidade dos dados, sendo necessário por exemplo, nesse caso, setar alarmes diferentes
para cada prisma.

Tabela 3. Análise Probabilística para os dados dos Prismas 01A e 03B para o mesmo período (Junho a
Julho 2021).

163
Figura 9. Análise Probabilística para os dados de Norte dos Prismas 01A e 03B para o mesmo período
(Junho a Julho 2021).

6 Conclusão

A análise da amplitude de variação esperada dos da-dos da ETR se faz necessário a fim de interpretar o
comportamento normal de cada amostra, dentro do intervalo de tempo observado. Obtendo o compor-tamento
padrão do dado analisado, pode-se então setar alarmes mais confiáveis e evitar uma grande quantidade de
falsos negativos.
É importante analisar a amplitude de variação para cada variável em cada prisma individualmente, antes
de se definir grupos de prismas que podem apresen-tar a mesma variabilidade em uma variável, permi-tindo a
criação de alarmes similares, ou mostrando a necessidade da criação de alarmes individuais para cada variável
de cada prisma.
Outro ponto a se considerar é a necessidade de atualização dos níveis de alarmes nos período chuvosos
e de estiagem, dado que a amplitude de variação pa-drão dos dados se apresenta diferente nas diferentes épocas
do ano.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer a VALE S.A e ao Centro de Monitoramento Geotécnico do Corredor Sul
– VALE pelo apoio para a publicação deste artigo.

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Geosystem, part of Hexagon.

164
Monitoramento de Barragem de Rejeito a Montante em Obras
de Descaracterização
Pamela Lisboa Ferreira
Engenheira Sênior, Vale S.A., Belo Horizonte, Brasil, pamela.lisboa.ferreira@vale.com

Beatriz Mapa Clemente


Engenheira Plena, Vale S.A., Belo Horizonte, Brasil, beatriz.clemente@vale.com

Tadeu Marçal Miranda


Especialista Técnico Master, Vale S.A., Belo Horizonte, Brasil, tadeu.miranda@vale.com

Victoria Basileu de Oliveira Lima


Geóloga Plena, Vale S.A., Belo Horizonte, Brasil, victoria.basileu@vale.com

Diego Lage Gonçalves


Engenheiro Pleno, Vale S.A, Belo Horizonte, Brasil, diego.lage.goncalves@vale.com

RESUMO: As tecnologias de monitoramento de barragem vêm se tornando cada vez mais diversificadas e
modernas. Para o monitoramento de uma estrutura em fase de descaracterização, a integração e a correlação
de análises de resultados é fundamental para avaliação da performance durante as obras, um monitoramento
de risco necessita de dados contínuos e confiáveis. A barragem em estudo é alteada a montante e possui
uma vasta rede de instrumentação, composta por piezômetros, régua de reservatório, prismas topográficos,
microssísmica, geofones de superfície, radar terrestre, radar satelital, radar doppler e câmeras de
videomonitoramento. A proposta deste trabalho é apresentar as vantagens de cada sistema e de um programa
de monitoramento integrado.

PALAVRAS-CHAVE: Monitoramento de Barragem, Descaracterização, Tecnologias de


Monitoramento, Instrumentação.

ABSTRACT: Monitoring technologies seek to become increasingly diversified and modern. For the
monitoring of works in the characterization phase and performance evaluation structure of continuous
results, and a monitoring of performance evaluation of continuous data and a fundamental evaluation for
a risk assessment. The dam in assembly is raised to assembly and has a vast instrumentation network,
composed of piezometers, reservoir ruler, topographical prisms, microseismic, surface geophones,
terrestrial radar, satellite radar, doppler radar and video monitoring. The purpose of this work is presented
as advantages of each system and an integrated monitoring program.

KEYWORDS: Dam Monitoring, Decharacterization, Monitoring Technologies, Instrumentation.

1 Introdução

Para o monitoramento de uma barragem alteada a montante e em obras de descaracterização, é


necessário uma vasta instrumentação automatizada, principalmente para casos de dificuldades de acesso a
estrutura. Um projeto de descaracterização de barragem compreende a descaracterização completa do
barramento, sendo que ao final restará apenas a área primitiva recuperada. Quando a condição de
estabilidade geotécnica da estrutura é definida como crítica (FS próximo a 1,0 para condições não drenadas
de pico), de acordo com a Resolução 95/2022, deve-se evacuar a zona de autossalvamento (ZAS). Portanto,
antes do início de qualquer descaracterização em barragens em nível de emergência, fez-se necessário elevar
a condição de segurança da estrutura a um nível de fator de segurança recomendado (mín 1,5). Para a
realização das obras de descaracterização podem ser utilizados equipamentos não tripulados que operam
dentro da barragem (ZAS) e equipamentos convencionais tripulados para retirar o material da região da
barragem (área segura), destinando-os a pilhas e cavas.
A seguir são apresentados os tipos de monitoramentos utilizados durante o processo de
descaracterização da barragem de mineração em estudo, de maneira a permitir uma operação segura durante

165
esse período.
O Radar Terrestre SAR-X (SAR – Sinthetic Aperture Radar) mapeia a evolução de deslocamentos,
para obter um melhor conhecimento do comportamento do maciço monitorado, é utilizado para o
monitoramento de deslocamento superficial do maciço da barragem. É um equipamento que interage com
um alvo, com registro de potência, variação temporal e o tempo de retorno. Funciona pela emissão e
captação de ondas eletromagnéticas, utilizando a técnica de interferometria, onde variações milimétricas na
superfície monitorada entre duas aquisições consecutivas são apresentadas como deslocamento. A Figura 1
a seguir, apresenta o radar terrestre SAR-X, e o container de proteção do radar.

Figura 1. Radar Terrestre. (Vale S.A., 2021).

O Radar Doppler é um equipamento utilizado para o acionamento automático das sirenes em caso de
movimentação rápida do maciço durante rompimento de barragem (considerado monitoramento de
emergência). O monitoramento é realizado de forma continua e em tempo real, com intervalo entre cada
aquisição de aproximadamente 250 milissegundos. Possui abertura de visada com 90° em azimute e 60° em
elevação, abrangendo boa área de monitoramento. É um equipamento com tecnologia de direção de feixe
eletrônico para examinar instantaneamente todas as posições do azimute a cada 250 milissegundos. (Manual
- RGR-Velox-Flyer-GroundProbe-Portuguese). A Figura 2 a seguir, apresenta o radar doppler, as placas
solares de alimentação e o container de proteção do radar.

Figura 2. Radar Doppler. (Vale S.A., 2021).

O Radar Satelital (InSAR) utiliza técnica baseada no processamento de séries temporais de dados
SAR coletados em modo interferométrico, que permite medir a velocidade das deformações da superfície
com precisão de até milímetros por ano. O radar orbital é capaz de calcular deslocamentos superficiais com
acurácia milimétrica baseado na técnica de interferometria. Seu funcionamento consiste na emissão de ondas
eletromagnéticas, as quais são refletidas após encontrar algum anteparo na superfície da Terra. Pode-se citar
como vantagens de sua utilização a possibilidade da cobertura de áreas extensas e áreas com dificuldades
de acesso, o potencial para a detecção prévia de deslocamentos lentos e de análises históricas de imagens
de satélites, o que permite a análise de deformações superficiais durante longos períodos ou mesmo após a
ocorrência de uma ruptura. (Farina, 2021). A Figura 3 a seguir, apresenta esquematicamente as orientações
de leituras das órbitas ascendente e descendente do radar satelital.

166
Figura 3. Órbitas Ascendente e Descendente do Radar Orbital (Modificado Leighton, J., (2020).

Na estrutura em estudo, a microssísmica instalada no maciço da barragem e os sismógrafos de


engenharia instalados no reservatório e nas proximidades das obras, servem para monitoramento de eventos
sísmicos naturais, controlados e interferometria sísmica. A microssísmica é um equipamento utilizado para
monitoramento de sismos naturais e os sismógrafos de engenharia são equipamentos utilizados para
monitoramento de sismos induzidos, por exemplo, desmontes por explosivo ou tráfego de equipamentos.
Esse monitoramento é realizado em três eixos: vertical (cota), transversal (Coordenada Norte) e longitudinal
(Coordenada Leste), obtendo-se as seguintes variáveis: Aceleração, Velocidade, Deformação. A Figura 4 a
seguir, apresenta os componentes dos aparelhos de monitoramento da microssísmica e do geofone de
engenharia.

Figura 4. Aparelhos de Microssísmica e Geofones de Engenharia. (Vale S.A., 2021).

A Estação Total Robótica (ETR) é utilizada para monitorar os deslocamentos superficiais da estrutura,
com capacidade de mapear a evolução de deslocamentos a curto e longo prazo. É um equipamento de alta
precisão para realização do monitoramento de deslocamentos horizontal e vertical a partir de uma base
georreferenciada e de pontos fixos instalados na estrutura, como marcos superficiais e prismas. Com esta
metodologia, obtém-se a movimentação real nos três eixos de coordenadas (x, y e z), e o deslocamento do
ponto nas variáveis: direção, grandeza e velocidade do movimento. Com essa tecnologia, é possível verificar
se a estrutura está tendo movimentação e calibrar níveis de segurança. A Figura 5 a seguir, apresenta a
estação total rabótica e a cabine de proteção da estação.

Figura 5. Estação Total Robótica. (Leica Geosystem, 2021).

167
A piezometria é utilizada para monitoramento das pressões de água no maciço e fundação da
barragem. São instrumentos que medem o nível de água e a carga piezométrica no solo, ou a poropressão
em diferentes profundidades, utilizado para a medida in situ de pressões neutras e subpressões. A barragem
em estudo possue instrumentos instalados do tipo de tubo aberto (Casagrande). Os instrumentos Casagrande
possuem uma câmara drenante instalada em uma posição conhecida, onde é possível medir o nível de água
desde a sua base, determinando assim a poropressão no subsolo.
A régua de reservatório é utilizada para o monitoramento do nível do reservatório, possibilitando
correlações com a pluviomentria e com a resposta dos instrumentos da barragem com aumentos e
rebaixamentos do reservatório.
As câmeras de Vídeo-monitoramento são utilizadas para o monitoramento de segurança e
acompanhamento de obras com imagens de alta resolução, visualizadas em tempo real ou, caso necessário,
recuperadas para visualização posterior. Com este monitoramento acompanha-se o andamento das obras,
eventos de chuvas, anomalias nas estruturas e condições de segurança.

2 Estudo de Caso

Este item apresenta a metodologia utilizada, para a escolha das instalações das instrumentações para
o monitoramento crítico e emergencial, de uma barragem de disposição de rejeitos de mineração à montante
e em obras de descaracterização, com ZAS evacuada.

2.1 Metodologia

A metodologia do estudo se baseia no entendimento de cada tecnologia instalada para monitoramento


crítico e emergencial, correlacionando com seus diversos objetivos, seja monitoramento de poropressão,
nível de água, deslocamentos superficiais lentos e rápidos, respostas a ondas sísmicas e imageamento. Em
um cenário de descaracterização, a correta utilização de cada tecnologia é fundamental para obter análises
de maior confiabilidade, com instalação da tecnologia de acordo com o escopo desejado e visando respostas
rápidas. As tecnologias de monitoramento instaladas na estrutura em estudo são piezômetros, régua do nível
do reservatório, prismas, radar terrestre, radar satelital, radar doppler, geofones superficiais, microssísmica,
câmera de vídeo monitoramento e sirenes.

2.1.1 Resultados e Discussão

A barragem em estudo é uma estrutura de mineração alteada a montante em obra de descaracterização,


tendo o monitoramento como elemento indispensável para o andamento seguro das obras.
Correlações de monitoramento de deslocamento superficial, sendo esses radar terrestre, estação total
robótica e radar satelital, confirmam a qualidade e confiabilidade do dado existente, aumentando a confiança
na real situação da estrutura e podendo desencadear ações de resposta com segurança e confiabilidade. As
figuras a seguir apresentam os dados de monitoramento superficial da região superior da barragem. É
possível observar alta correlação entre os dados de pluviometria e a mudança de tendência de deslocamento
dos dados do radar terrestre (Figura 6). O aumento da velocidade de deslocamento pode também ser
comparado aos dados de prismas, visando identificar movimentação real ou não da área em estudo. A Figura
7 apresenta dados estáveis dos prismas para a mesma região, o que reforça a importancia de equipamentos
com redundancia de função, visando evitar falsos positivos ou falsos negativos. Apesar dos dados do INSAR
não serem dados em tempo real, através de uma analise retroativa pode-se também confirmar a não
ocorrência de mudança de tendencia real dos dados (Figura 8). Esse processo de correlação é realizado
frequentemente no monitoramento de barragens. A Figura 6 a seguir, apresenta a imagem com as
delimitações das áreas de monitoramento do radar terrestre e gráficos com os dados de deslocamento,
velocidade e pluviometria das áreas monitoradas.

168
Figura 6. Dados de monitoramento do radar terrestre da região superior da barragem.

A Figura 7 a seguir, apresenta os prismas de monitoramento da região superior da barragem em planta


e os gráficos de monitoramento nas direções norte, leste e cota.

Figura 7. Dados de monitoramento da Estação Total Robótica (ETR) da região superior da barragem.

A Figura 8 a seguir, apresenta os pontos de monitoramento do InSAR da região superior da barragem


e o gráfico de deslocamento dos pontos selecionados.

169
Figura 8. Dados de monitoramento do radar satelital (InSAR) da região superior da barragem.

Outra possibilidade de correlação, ocorre com o objetivo de aumentar a confiabilidade dos


instrumentos instalados, por meio de comparação de dados de prismas e pontos do INSAR selecionados
próximo a esses instrumentos, Figura 9. Quando é possível observar similaridade em termos de tendência e
magnitude dos dados em diversos prismas analisados, tanto para dados vertical, Figura 9, quanto dados
leste-oeste, pode-se confirmar a confiabilidade dos dados dos prismas, um monitoramento em tempo real.
A Figura 9 a seguir, apresenta a correlação dos dados de monitoramento de deslocamento vertical de ETR
e InSAR.

Figura 9. Correlação dos dados de monitoramento de deslocamento vertical de ETR e InSAR.

A medição dos piezômetros e correlações com os dados de nível de reservatório, microssísmica,


pluviômetro e deslocamentos superficiais, permitem observar alterações visíveis em mais de uma
tecnologia. A Figura 10 a seguir, apresenta o gráfico do monitoramento piezométrico e seção transversal.

Figura 10. Gráfico do monitoramento piezométrico e seção transversal com dados piezométricos.

170
Os geofones superficiais permitem acompanhar as vibrações que chegam ao maciço através da
sísmica convencional, também é possível acompanhar o grau de adensamento da estrutura no tempo através
da microssismica passiva (ou do ruído ambiente), e com as câmeras de videomonitoramento, é possível
correlacionar com possíveis movimentações externas a estrutura, como equipamentos das obras. A Figura
11 apresenta o gráfico gerado pelos dados da microssímica e dos geofones de engenharia.

Figura 11. Gráfico do monitoramento microssísmico e de geofone de engenharia.

A Figura 12 apresenta gráficos correlacionando a microssímica com a piezometria, o nível do


reservatório e a retirada de rejeito durante as obras, onde conseguimos obter algumas conclusões.
No, geral observa-se correlação inversa entre a diminuição do nível piezométrico com o aumento de
velocidade de ondas cisalhantes, o que é o esperado em termos de ganho de rigidez do material, mas
posteriormente ocorre uma inversão no comportamento das velocidades, indicando a perda de velocidade
de ondas cisalhantes juntamente com a diminuição do nível piezométrico (gráfico 1).
É possível observar pelo gráfico 3, que o nível do reservatório diminuiu consideravelmente com o
avanço das obras, e quando o rebaixamento se estabiliza a variação de velocidade também e quando há
queda na cota do NA, a microssísmica responde a esse rebaixamento com comportamento parecido.
No período de maior queda da variação de velocidade das ondas S, é um momento posterior a maior
quantidade de movimentação de rejeito. Provavelmente essa movimentação de rejeito tenha relação com a
queda da Vs. Quando o volume de rejeito retirado a passar a ser menor, a curva de Vs volta a se estabilizar
(gráfico 2).

Figura 12. Correlação dos dados de monitoramento microssísmico, piezometria, régua do reservatório e
retirada de rejeito.

171
Além de diversos instrumentos relacionados a monitoramento crítico, o radar doppler é utilizado
como monitoramento de emergência na estrutura, estando diretamente conectado as sirenes, compondo a
tecnologia de acionamento automático da estrutura.

3 Conclusões

Este artigo apresentou a comparação de dados de monitoramento obtidos pelos equipamentos de


monitoramento, para uma barragem de disposição de rejeitos de mineração. A análise comparativa de dados
entre diferentes tecnologias é uma prática necessária a fim de identificar o grau de confiabilidade dos dados.
O monitoramento instalado na estrutura se mostra eficaz em sua maior parte, e de grande importância para
o andamento e conclusão das obras de descaracterização. O cruzamento dos dados obtidos pelas diferentes
tecnologias de monitoramento, nos permite avaliar grandezas e confrontar tendências encontradas
aumentando a confiabilidade da informação e segurança das obras. Grande parte da instrumentação é
aplicada para o monitoramento de emergência, utilizando os limites de cada instrumento de monitoramento
para o andamento das obras, todos descritos em um manual de operação.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer a VALE S.A e ao Centro de Monitoramento Geotécnico do


Corredor Sul – VALE pelo apoio para a publicação deste artigo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Carlà, T.; Farina, P.; Intrieri, E.; Botsialas, K.; Casagli, N. (2017). On the monitoring and early-warning of
brittle slope failures in hard rock masses: examples from an open-pit mine. Engineering Geology 228, 71-
81.
Carneiro, S.R., Costa, F.F., Castilho, B.M., Farina, P. (2017). Programa Integrado de Monitoramento de
Deformações para Barragens de Rejeitos: O Caso do Complexo de Germano. XXXI - Seminário Nacional
de Grandes Barragens – SNGB, 13p.
Farina, P. (2021). Satellite InSAR for Mine Deformation Monitoring. In: Training Course in Company - Vale
S.A.
Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM). (2019). Guia de Boas Práticas – Gestão de Barragens e Estruturas
de Dispo-sição de Rejeitos, 1ed. Brasília, 144 p.
Rutschmann, M (2016). Leica GeoMoS Monitoring Solution From any data to final information; Leica
Geosystem, part of Hexagon.
SILVEIRA, J. F. A. Instrumentação e segurança de barragens de terra e enrocamento. São Paulo: Oficina
de Textos. 2006.

172
Detecção de Movimentação do Marco da Estação Total Robótica
Influenciando Dados de Monitoramento
Beatriz Mapa Clemente
Engenheira Plena, Vale S.A., Belo Horizonte, Brasil, beatrizmapa@hotmail.com

Pamela Lisboa Ferreira


Engenheira Sênior, Vale S.A., Belo Horizonte, Brasil, pamelalisboa19@yahoo.com.br

Diego Lage Gonçalves


Engenheiro Pleno, Vale S.A, Belo Horizonte, Brasil, diego.lage.goncalves@vale.com

RESUMO: A Estação Total Robótica é um equipamento de monitoramento de deslocamento superficial,


utilizado para medir a magnitude e velocidade dos movimentos a médio e longo prazo, com o objetivo de
avaliar tendências de deslocamentos. É importante ter sistemas confiáveis que permitam analisar a
movimentação real da estrutura e distinguir de uma possível movimentação do próprio sistema de
monitoramento. A instalação bem-feita da tecnologia de acordo com padrões definidos fortalece uma
confiabilidade no monitoramento, porém, podem ocorrer movimentações no sistema e sua identificação através
da análise de dados dos prismas e da ETR é de suma importância. O artigo apresenta dois estudos de caso de
análises da variação dos dados de monitoramento de prismas, correlacionando-os aos prismas de referência e
da Estação Total Robótica, utilizando dados de orientação e tilt, além dos gráficos de vetores e dispersão dos
dados. Foi possível confirmar a tendência de movimentação do local onde o marco da Estação Total foi
instalado e assim, distinguir movimentações ou alterações de tendências reais dos taludes estudados de
movimentações do sistema.

PALAVRAS-CHAVE: Monitoramento de Barragem, Estação Total Robótica, Sistema de Monitoramento.

ABSTRACT: The Robotic Total Station is a superficial displacement monitoring equipment, used to
measure the magnitude and speed of medium and long-term movements, with the objective of evaluating
displacement trends. It is important to have reliable systems that allow analyzing the structure real
movement, distinguishing it from a possible movement from the monitoring system itself. The correct
installation of the technology according to defined standards strengthens a reliability in the monitoring,
however, movements due to the system can occur and their identification through the analysis of prisms and
ETR data is very important. The article presents two study cases prism monitoring data variation analysis,
correlating them to the reference prisms and the Robotic Total Station, using orientation and tilt data, in
addition to vector graphics and data scattering. It was possible to confirm the movement trend of the place
where the Total Station frame was installed and thus distinguish movements or trend changes of the slopes
studied from movements of the system.

KEYWORDS: Dam Monitoring, Robotic Total Station, Monitoring System.

1 Introdução

A Estação Total Robótica é um equipamento de monitoramento de deslocamento superficial, utilizado


para medir a magnitude e velocidade dos movimentos com o objetivo de avaliar tendências de deslocamentos
em diversas estruturas, como barragens, pilhas e cavas de mineração e taludes de rodovias. Nesse sentido, é
importante ter sistemas confiáveis que permitam analisar a movimentação real d e uma estrutura geotécnica e
distinguir de uma possível movimentação do próprio sistema de monitoramento.
A instalação bem-feita da tecnologia de acordo com padrões definidos fortalece uma confiabilidade no
monitoramento, porém, podem ocorrer movimentações no sistema e sua identificação através da análise de
dados é crucial.

2 Objetivo

O presente trabalho tem como objetivo apresentar o estudo de detecção de movimentação do sistema,
Estação Total Robótica e/ou prismas de referência, externa a estrutura geotécnica através da análise de estudo

173
de caso ocorrido em duas barragens de mineração. Serão apresentadas análises da variação dos dados de
monitoramento de diferentes prismas, correlacionando-os aos prismas de referência e a possível movimentação
da Estação Total Robótica.
3 Revisão Bibliográfica
Para qualquer tecnologia de monitoramento, antes da realização de uma análise de dado ou tomada de
decisão desencadeada por essa análise, um dos itens primordiais é a garantia da qualidade e confiabilidade da
informação. Com isso, é fundamental que se tenha entendimento dos parâmetros relacionados a condições de
normalidade e anormalidade nos dados, evitando-se assim conclusões subjetivas ou equivocadas. Dois dos
itens mais importantes que trazem grande influência ao monitoramento são a estabilidade dos prismas de
referência e da base da estação, dado que qualquer movimentação pode gerar variação nas leituras de distância
inclinada e de ângulos entre a estação e os referenciais, carregando erros às medições.
A Estação Total Robótica é um instrumento de monitoramento de deslocamento superficial, horizontais
e verticais, com métodos bem estabelecidos, tendo como principal objetivo o monitoramento a médio e longo
prazo. Para o monitoramento das estruturas geotécnicas estudadas nesse artigo, utiliza-se o modelo TM_50 da
Leica (Hexagon), apresentada na Figura 1, com precisão angular de 0,5’’ (meio segundo), do tipo centragem
forçada, instalada em terreno “in situ”, de onde é possível visada direta a todos os prismas. Com alta precisão,
esse equipamento realiza as leituras das coordenadas reais X, Y e Z (leste, norte e elevação), ângulos e
distâncias com intervalo entre cada aquisição da ordem de minutos, de acordo com a malha de prismas
instalados. Posteriormente, esses dados são carregados em um sistema de processamento de dados e, a partir
da interpretação desses, é possível verificar se a estrutura está apresentando movimentação superficial e
mensurar sua magnitude, ou se o próprio sistema (ETR + Prismas de referência) estão influenciando nos dados.

Figura 1 - Estação Total Robótica modelo TM50 (Leica Geosystem, 2021)


A tecnologia em estudo realiza a leitura dos prismas por meio da emissão de ondas ópticas tipo laser
(feixe de luz), podendo sofrer alterações em condições de variações atmosféricas. Esse equipamento realiza
leituras em valores reais e deslocamentos contínuos, e necessita de orientação e m prismas referenciais (ré).
Dentro os diversos motivos que podem gerar ruídos nas leituras ou perda dessas leituras durante o
monitoramento da Estação Total Robótica, pode-se citar, por exemplo, o erro devido a precisão do aparelho,
condições atmosféricas (temperatura, pressão e umidade), precisão de refletância dos prismas de alvo e
referenciais e, o objeto do presente estudo, a instabilidade do prisma de monitoramento ou do prisma de
referência.
A definição do modo de operação da ETR é um fator de indispensável conhecimento por parte do
operador da tecnologia e interprete do dado. Os prismas de referência são utilizados para correções angulares,
implicando em ajustes nos valores lidos de deslocamentos horizontais mensurados pela ETR . O modo de
definição Orientation Only, por exemplo, considera as coordenadas da ETR e dos devidos referenciais como
fixos, e a orientação se baseia no ângulo medido a partir do Norte, no sentido horário e varia de 0º a 360º. Pelo
fato de considerar os referenciais e a base da ETR como fixos, qualquer movimentação ocorrida nesses marcos,
serão repassadas aos prismas de monitoramento como possível movimentação da estrutura.
Outro método utilizado é o Free Station, em que a base da ETR não é considerada como fixa, e as leituras
dos prismas de referência podem ser aplicadas para ajustes de coordenadas. De toda forma, movimentações nos
prismas de referência implicam na distribuição de ruídos para todos os prismas de monitoramento. Esse último
método permite identificação de movimentação do marco da ETR ou do terreno em que esse se encontra. Nesse
sentido, é de extrema importância a correta utilização da distância de instalação e ângulos dos prismas de
referência e posicionamento da ETR, a estação não deve ficar nem próximos demais, nem distantes demais dos
prismas de monitoramento e a angulação sugerida entre os prismas de referência fica entre aproximadamente
60º a 70º e equidistantes.
A instabilidade de um marco ou prisma de referencia pode estar correlacionado com a movimentação
do 174
próprio marco da ETR, do terreno natural em que esse esta instalado, ou de problemas de instalação/fixação da
ETR com o marco. O IBGE define padrões ideais para a correta instalação do marco geodésico, como um pilar
de concreto com dispositivo de centragem forçada incrustado no seu topo , apresentado na Figura 2. (IBGE,
2008)

Figura 2 - a) ferragens das estacas e do pilar devidamente engastadas na ferragem da base. b) Exemplo
do marco pronto (Adaptada IBGE, 2008)

4 Metodologia

Foram observadas mudanças de comportamentos dos dados de todos os prismas monitorados em duas
localidades estudadas, que poderiam estar indicando movimentações do talude de instalação da Estação Total
Robótica. Ao levantar a hipótese de possibilidade de dados não confiáveis, prosseguiu-se para a análise dos
prismas de referência e/ou sentinela, que também apresentaram comportamento anômalo. Com o objetivo de
diferenciar uma movimentação real dos taludes e movimentação do sistema, foram correlacionados nos
estudos de caso apresentados no presente artigo dados de monitoramento dos prismas de referência e da ETR
aos dados dos prismas de monitoramento e, também, dados de orientação e tilt da ETR.

5 Resultados e Discussão

Em um dos casos estudados, a ETR instalada na estrutura geotécnica monitorada utilizava o método
Free Station, ou seja, referenciais fixos e correção de coordenada da Estação Total Robótica. A partir do estudo
das análises gráficas dos dados históricos dos prismas de monitoramento do talude de jusante de uma barragem
de mineração, foi identificado uma modificação no comportamento de todos os prismas para uma mesma
direção a partir de determinado período, podendo indicar movimentação global do talude ou possível
movimentação dos referenciais ou da própria estação. A partir da análise do histórico de monitoramento e
correlação com os dados de prisma de referência, Figura 3 e 4, foi observada uma tendência em direção similar
aos prismas de monitoramento iniciando no mesmo período, o que poderia indicar um deslocamento nos
prismas de referencia ou no próprio marco da estação.

Figura 3 - Modificação no comportamento Leste Oeste de todos os prismas para uma mesma direção a
a partir de outubro/21. 175
Figura 4 - Modificação no comportamento Norte Sul de todos os prismas para uma mesma direção a a
partir de outubro/21.

Similar ao apresentado anteriormente, os prismas sentinelas, prismas instalados em terreno natural


externo a estrutura com o objetivo de aumentar a confiabilidade do monitoramento, também apresentaram
movimentações no mesmo sentido, como é possível observar na Figura 5.

Figura 5 - Modificação no comportamento horizontal dos prismas sentinela, instalados externamente a


estrutura geotécnica, a partir de outubro/21.

Foi observado também variações na distância inclinada para os prismas MR01, PIC13 e SENTI 03, o
que indica uma possível movimentação no plano horizontal do marco da estação total. A Figura 6 e 7
apresentam movimento de aproximação do MR01 e do PIC13 e afastamento do SENTI03 da ETR (Slope
Distance), em época similar em que houve mudança de tendência de deslocamento horizontal nos prismas de
monitoramento.

Figura 6 - Gráfico de dispersão de Distância Inclinada dos prismas de referência, com mudança de
comportamento a partir de outubro/21. (08/2021-11/2021)

176
Figura 7 - Representação das setas indicando a direção da movimentação do dado de distância
inclinada dos prismas de referência (08/2021-11/2021)

Com a possibilidade da análise do comportamento da ETR e cruzamento de dados com os prismas de


monitoramento e referencial, foi possível identificar comportamento oposto aos prismas de referência e aos
prismas de monitoramento analisados. De modo geral, isso indicou uma possibilidade de deformação da ETR
por ruído improvável, adicionado a possíveis movimentações dos referenciais, sazonalidade atmosférica e
comportamento da estrutura. Com base no comportamento observado, pode-se inferir que ao contrário dos
dados dos prismas de monitoramento e sentinelas, que apresentaram tend ências de deslocamento
majoritamente para noroeste, o marco da estação apresentou um vetor de deslocamento no sentido sudeste,
conforme é possível observar no gráfico de dispersão da Figura 8.

Figura 8 - Gráfico de dispersão da ETR, indicando movimentações para sudeste (09/2021-11/2021)

O segundo estudo de caso analisado também corresponde a detecção de movimentação da ETR em outra
estrutura geotécnica. Utilizando os dados dos prismas de monitoramento e referência, em conjunto com os
dados de tilt da ETR, foi possível confirmar a tendência de movimentação do marco da Estação Total, durante
o período chuvoso.
Os gráficos a seguir apresentam diminunição da distância inclinada (Slope Distance) dos prismas de
monitoramento e referência, indicando aproximação desses prismas à ETR em janeiro de 2022, Figura 9.
Observando o gráfico da Figura 10, correspondente aos dados de Tilt da ETR, também é possível observar
mudança de comportamento do dado em janeiro de 2022, indicado possíveis movimentações da ETR.
177
Figura 9 - Gráfico de todos os prismas de monitoramento e de referência apresentando valores negativos,
indicando aproximação da ETR a partir de janeiro/21.

Figura 10 - Gráfico de longitudinal e Transversal tilt da ETR.

6 Conclusões

A confiabilidade em um sistema de monitoramento é imprescindível para um bom acompanhamento e


controle de deslocamentos. Dados contaminados pelo sistema podem levar a ações premeditadas podendo
influenciar planos de ação e custos relacionados a estrutura de modo desnecessário. Nesse sentido, a
identificação de movimentação real e irreal em um talude é indispensável, confirmando a necessidade de
entendimento da análise de dados relacionadas a detecção de possível movimentação da ETR, com apoio de
dados de histórico de monitoramento e prismas de referência.
Utilizando os dados dos prismas de monitomento e referenciais, em conjunto com a orientação e tilt da
ETR, além dos gráficos de vetores e dispersão dos dados, é possível confirmar a tendência de movimentação
do local onde o marco da estação total foi instalado, com determinada magnitude e direção e assim, distinguir
movimentações ou alterações de tendências reais dos taludes estudados de movimentações do sistema, além
de identificar pontos de melhoria nas instalações.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer a VALE S.A e ao Centro de Monitoramento Geotécnico do


Corredor Sul – VALE pelo apoio para a publicação deste artigo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Carneiro, S.R., Costa, F.F., Castilho, B.M., Farina, P. (2017). Programa Integrado de Monitoramento de
Deformações para Barragens de Rejeitos: O Caso do Complexo de Germano. XXXI - Seminário Nacional
de Grandes Barragens – SNGB, 13p.
IBGE (2008). Padronização de Marcos Geodésicos. Disponível em:
<https://geoftp.ibge.gov.br/metodos_e_outros_documentos_de_referencia/normas/padronizacao_marcos_geo

178
desicos.pdf>, último acesso: 20/07/2022.
Leica Geosystems. Especificações Técnicas da Leica Nova TM50. Disponível em: https://leica-
geosystems.com/pt-br/products/total-stations/robotic-total-stations/leica-nova-tm50, Acesso: 20 de julho de
2022.
Leica Geosystem. Structural Monitoring, Equipment List. Disponível em: https://leica-geosystems.com/pt-
br/products/total-stations/robotic-total-stations/leica-nova-tm50. Acesso: 07 de novembro de 2021.
Rutschmann, M (2016). Leica GeoMoS Monitoring Solution From any data to final information; Leica
Geosystem, part of Hexagon.

179
Predição de Deslizamentos de Terra baseada em Inteligência
Artificial e o Impacto de Diferentes Períodos de Chuva
Acumulada
Laedson Silva Pedreira
Estudante, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Brasil, laedsonsilva@hotmail.com

Maria do Socorro Costa São Mateus


Profª Adjunta, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Brasil, socorro@uefs.br

Rodrigo Tripodi Calumby


Prof. Adjunto, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, Brasil, rtcalumby@uefs.br

RESUMO: Os deslizamentos de terra consistem em um dos fenômenos naturais que mais causam desastres,
acarretando prejuízos econômicos, sociais, ambientais e inúmeras vítimas fatais. A previsão desses fenômenos
é complexa, envolvendo fatores relacionados, e.g., à geotecnia, topografia e pluviometria. Além disso, há uma
escassez de dados integrados e em larga escala e de estudos específicos de modelos preditivos individualizados
e com relação temporal, para monitoramento e indicação de riscos. Apesar disso, a aplicação de modelos
preditivos baseados em Aprendizado de Máquina (AM) apresenta grande potencial em contribuir com
ferramentas eficazes e eficientes, capazes de auxiliar no monitoramento e prevenção de danos oriundos de tais
eventos. Este trabalho realizou a integração e construção de uma base de dados a partir de múltiplas instituições
e propôs e avaliou abordagens de Inteligência Artificial na predição de deslizamentos induzidos por chuvas,
de forma individualizada, no tempo e no espaço. Com a aplicação da metodologia aqui proposta foi possível
realizar predição de deslizamentos de modo promissor, sendo corretamente preditos mais de 90% dos
deslizamentos registrados.

PALAVRAS-CHAVE: Random Forest, Aprendizado de máquina, Mineração de dados, Predição,


LightGBM, Deslizamento de Terra.

ABSTRACT: Landslides are one of the natural phenomena that most cause disasters, causing economic, social,
environmental damage and countless fatalities. The prediction of these phenomena is complex, involving
factors related, e.g., to geotechnics, topography and rainfall. In addition, there is a lack of large-scale,
integrated data and specific studies of individualized and temporally related predictive models for monitoring
and risk indication. Despite this, the application of predictive models based on Machine Learning (ML) has
great potential to contribute with effective and efficient tools, capable of assisting in the monitoring and
prevention of damages arising from such events. This work carried out the integration and construction of a
database from multiple institutions and proposed and evaluated Artificial Intelligence approaches to predicting
rainfall-induced landslides, individually, in time and space. With the application of the methodology proposed
here, it was possible to predict landslides in a promising way, being correctly predicted more than 90% of the
landslides recorded.

KEYWORDS: Random Forest, Machine Learning, Data Mining, Prediction, LightGBM, Landslides.

1 Introdução

Os deslizamentos de terra ocorrem por toda superfície terrestre e provocam, todos os anos, vários
problemas para a sociedade, tais como a destruição de edificações e equipamentos urbanos, prejuízos
econômicos e sociais, impactos ambientais e inúmeras fatalidades (IBGE, 2019). Eles podem ser
desencadeados por fatores naturais, como precipitação pluviométrica e terremotos, ou por razões
antropogênicas, como corte e sobrecarga de encostas. No caso do Brasil, os deslizamentos de terra são
potencializados, principalmente, pela ação das águas das chuvas, que infiltram no solo das encostas,
provocando a redução da sua estabilidade e, consequentemente, induzindo os deslizamentos (Farah, 2003).
Impedir que os deslizamentos de terra ocorram, segundo Kobiyama et al. (2006), foge da capacidade
humana, sendo necessária a adoção de medidas de prevenção que minimizem os impactos causados por eles.

180
Contudo, medidas estruturais de prevenção envolvem obras de engenharia que, em geral, são complexas e
de alto custo. Outras medidas podem ser implementadas e geralmente envolvem ações de planejamento e
gerenciamento, como zoneamento ambiental e sistemas de alerta. O primeiro é difícil de ser implementado
na prática, em virtude da dificuldade do poder público em fiscalizar e controlar o crescimento desordenado
de ocupações em áreas de risco. No caso da existência de atividades humanas já implantadas em áreas
suscetíveis aos deslizamentos de terra, a criação de um sistema de alerta nestes espaços pode auxiliar na
redução dos danos materiais e na preservação de vidas.
Neste sentido, prever os deslizamentos pode ser extremamente útil para minimizar as fatalidades e
reduzir os danos materiais, dando suporte ao poder público na de tomada de decisão e no gerenciamento
situacional. Contudo, o desenvolvimento de uma abordagem para previsão de deslizamentos de terra é muito
desafiador. Primeiramente, devido à baixa disponibilidade de dados integrados e em larga escala, além de
que uma estimativa precisa envolve um número considerável de variáveis inter-relacionadas, o que torna a
previsão de deslizamentos de terra um problema não trivial e não-linear.
A previsão de deslizamentos de terra induzidos por chuva é normalmente realizada usando
abordagens baseadas em hidrologia, na busca em estabelecer uma relação numérica entre a precipitação e a
ocorrência dos deslizamentos e, com isso, determinar limiares de chuvas que desencadeiam esses eventos.
Estes estudos são a base de muitos sistemas de alerta precoce de deslizamentos em áreas propensas à
ocorrência desses fenômenos. Contudo, esses modelos não consideram as propriedades geológicas e
geomorfométricas das encostas e não têm a intenção de prever o deslizamento de forma específica no tempo
e no espaço, mas estabelecer limites de chuvas que desencadeiam esses eventos.
Além disso, métodos de engenharia geotécnica também têm sido utilizados para avaliar a relação
entre a resistência ao cisalhamento do solo e as tensões cisalhantes mobilizadoras que determinam a
estabilidade, ou não, de uma encosta. No entanto, esses métodos têm uma grande limitação, pois dependem
da qualidade da investigação em um local específico, o que pode ser muito caro. Ademais, a escassez de
medições consideravelmente detalhadas e em tempo real das condições do solo, do maciço rochoso e das
águas subterrâneas, impede a previsão precisa dos deslizamentos de terra. Com isso, os pesquisadores estão
explorando cada vez mais técnicas relacionadas à utilização de Mineração de Dados (MD) e Aprendizado
de Máquina (AM) na tentativa de aproximar a ocorrência de deslizamentos futuros a padrões de distribuição
anteriores, em função do grande potencial dessas técnicas em descobrir relações complexas entre os dados
com múltiplos componentes associados (Korup and Stolle, 2014).
Entretanto, a maior parte desses trabalhos compreende a confecção de mapas de susceptibilidade, mas
não a previsão futura desses eventos. São escassos os estudos que buscam prever escorregamentos de
encostas de modo individualizado e com relação temporal, (Souza and Ebecken, 2012; Farahmand and
Aghakouchak, 2013; Tehrani et al., 2019), devido à baixa disponibilidade de dados precisos de
deslizamentos (geolocalização e data), fatores desencadeantes (precipitação pluviométricas) e fatores de
controle (geomorfologia, geologia, solo etc.) (Tehrani et al., 2019). Com isso, é notório que essa área de
aplicação ainda se encontra em desenvolvimento, com vários desafios e limitações a serem superadas.
Nesse contexto, devido à complexidade do contexto exposto e dos desafios computacionais a serem
vencidos, o desenvolvimento de um modelo de predição de deslizamento de terra passa pela aquisição de
dados, garantia e melhoria de qualidade dos dados, integração dos dados, escolha de algoritmos, construção,
otimização e validação de modelos eficazes e avaliação de cenários de aplicação. Com isso, este artigo
propõe a construção de uma base de dados a partir de dados geomorfométricos, geológicos, geotécnicos e
pluviométricos e apresenta os resultados de algoritmos de classificação para identificar eventos de
deslizamentos de terra induzidos por chuvas.

2 Mineração de dados e Aprendizado de Máquina

Analisar dados é uma necessidade importante e, para isso, ferramentas poderosas e versáteis que
possam, através de técnicas e modelos computacionais, analisar grande quantidade de dados, são
extremamente fundamentais para descobrir informações valiosas e transformar esses dados em
conhecimento organizado. Essa necessidade levou ao surgimento da MD (Han et al., 2011), processo através
do qual é possível descobrir padrões de conhecimento de interesse em grandes volumes de dados.
Este processo envolve a transformação de dados brutos em informações úteis, sendo constituído de
várias etapas. Não é trivial e deve ser interativo, com o objetivo de identificar padrões compreensíveis,
válidos, novos e potencialmente úteis a partir de grandes bases de dados (Tan et al., 2014).
O AM está diretamente ligado à MD e a Estatística, mas foca nas propriedades dos métodos
estatísticos, assim como sua complexidade computacional. O AM é uma subárea da Inteligência Artificial

181
que busca, por meio da construção de modelos matemáticos, mediante um conjunto de dados que descrevem
um fenômeno (conjunto de treinamento), realizar predições acerca de um assunto de interesse (Bishop,
2006). Uma das grandes vantagens do aprendizado de máquina sobre os métodos clássicos de previsão é
sua capacidade em lidar com bases de dados complexas que incluem dados quantitativos e qualitativos.
Nesta pesquisa, abordaremos os métodos de aprendizado supervisionado para classificação de ocorrências
de deslizamento e não deslizamento de terra (classificação binária).

2.1 Árvore de Decisão (AD)

As AD’s constituem métodos que se utilizam de uma representação com base em árvores. Para a
construção da árvore é feita uma sequência de divisões no conjunto de dados baseadas na seleção de
melhores pontos de separação de valores dos atributos e, assim, determina-se a ramificação da árvore até
que um determinado critério de parada seja satisfeito. Uma AD geralmente inicia com apenas um nó, que
se divide em possíveis resultados. Cada um desses resultados leva a nós adicionais, que se ramificam em
outras possibilidades. Assim, cria-se uma forma de árvore. Existem três tipos de nós: o nó raiz, em que inicia
a árvore; os nós de decisão, que estabelecem o caminho da árvore; e os nós terminais/folha, que representam
uma classe ou valor contínuo (Breiman et al., 1984).

2.2 Random Forest (RF)

A RF é um algoritmo que combina inúmeras árvores de decisão, de forma aleatória, criando uma
floresta, no qual cada árvore de decisão será utilizada para realizar a predição. A combinação de diversas
árvores torna esse algoritmo mais robustos e complexo, levando a um maior custo computacional que
costuma ser acompanhando de melhores resultados. A RF utiliza a ideia de que a decisão por voto para
previsão final é melhor que a previsão individual de cada árvore (Breiman, 2001).

2.3 Redes Neurais Artificiais (RNA)

As Redes Neurais Artificiais (RNAs) utilizadas são do tipo Multilayer Perceptron (MLP), também
conhecida como Rede Neural de Retropropagação por alguns autores. A MLP possui múltiplas camadas de
neurônios que são interligadas por sinapses contento, pesos. Consiste em uma camada de entrada e uma
saída com uma ou mais camadas intermediárias (ocultas). O treinamento desse tipo de RNA é realizado,
geralmente, pelo método de back-propagation. Essas redes podem ser aplicadas em dados que não são
linearmente separáveis, ou separáveis por um hiperplano (Haykin, 2009).

2.4 Light Gradient Boosting Machine (LGBM)

O LGBM também é baseado em árvores de decisão. Diferente dos outros modelos baseados em
árvores, no LGBM, as árvores crescem na vertical, ou seja, utiliza a estratégia de crescimento de árvore em
folha, enquanto os outros algoritmos crescem a árvore horizontalmente, isto é, crescem a profundidade da
árvore em nível. O LGBM seleciona a folha de árvore com o melhor ajuste para crescer e assim pode
diminuir mais perdas do que um algoritmo com base no crescimento horizontal (Ke et al., 2017).

2.3 Validação Cruzada (Cross-Validation)

A técnica de validação cruzada é utilizada para avaliar a capacidade de generalização de um modelo,


a partir de uma base de dados. De acordo com Kohavi (1995), o método de K-fold Cross-Validation consiste
em dividir aleatoriamente um conjunto de dados D em k subconjuntos mutuamente exclusivos de tamanho
aproximadamente igual. Han et al. (2011), estabelece os seguintes passos para execução do K-fold Cross-
Validation:
1. Os dados iniciais são divididos aleatoriamente em k subconjuntos mutuamente exclusivos ou “folds”,
f1, f2..., fk, cada um de tamanho aproximadamente igual;
2. Na primeira iteração, os subconjuntos f2, ..., fk consistem no conjunto de treinamento para obter um
primeiro modelo, sendo testado em f1;
3. A segunda iteração é treinada nos subconjuntos f1, f3, ..., fk e testado em f2;
4. O processo é repetido até que o número de iterações ser igual a k.

182
2.3 Medidas de Avaliação

Neste estudo, cinco medidas de avaliação de eficácia são usadas para avaliar quantitativamente o
desempenho dos modelos propostos. Para calcular essas cinco medidas, conceitos de quatro tipos de
amostras previstas para aprendizado de classificação precisam ser compreendidos:
• Verdadeiros positivos (TP): são as amostras positivas que foram corretamente rotuladas;
• Verdadeiros negativos (TN): são as amostras negativas que foram corretamente rotuladas;
• Falsos positivos (FP): são as amostras negativas que foram incorretamente rotuladas como amostras
positivas pelo classificador;
• Falsos negativos (FN): são as amostras positivas que foram incorretamente rotuladas como amostras
negativas pelo classificador.

Os cincos índices de desempenho, ou seja, acurácia (ACC), precision, recall, medida F1 e Área sob
a curva Roc (AUC) são definidos da seguinte forma:

𝑇𝑃+𝑇𝑁
𝐴𝐶𝐶 = 𝑇𝑃+𝐹𝑁+𝑇𝑁+𝐹𝑁 (1)

𝑇𝑃
𝑃𝑟𝑒𝑐𝑖𝑠𝑖𝑜𝑛 = 𝑇𝑃+𝐹𝑃 (2)

𝑇𝑃
𝑅𝑒𝑐𝑎𝑙𝑙 = 𝑇𝑃+𝐹𝑃 (3)

𝑃𝑟𝑒𝑐𝑖𝑠𝑜𝑛 𝑥 𝑅𝑒𝑐𝑎𝑙𝑙
𝐹1 = 2𝑥 𝑃𝑟𝑒𝑐𝑖𝑠𝑖𝑜𝑛 + 𝑅𝑒𝑐𝑎𝑙𝑙 (4)

A ACC é o percentual de casos classificados corretamente, sem levar em consideração o que é


positivo e negativo, ou seja, é a taxa de acerto global. A precision trata da proporção de amostras
classificadas corretamente como positivas. Uma precision alta significa que o modelo tem alta probabilidade
classificar corretamente a amostra positiva. O recall quantifica a fração de amostras positivas verdadeiras
entre todas as amostras positivas reais, em outras palavras, o recall quantifica a probabilidade de detectar
amostras positivas reais. Como a precision e o recall avaliam diferentes aspectos do modelo, também é
utilizado uma medida que combina ambos. O F1-score é a média harmônica da precision e do recall, no
qual o F1-score atinge seu melhor valor em 1 e o pior em 0 (Faceli et al., 2011).
A medida AUC é derivada da curva ROC - Receiver Operating Characteristic. A curva ROC denota
o quão bom um modelo pode distinguir entre a classe positiva e a negativa. O gráfico ROC é bidimensional
plotado em um espaço designado espaço ROC, com eixos X e Y representando as medidas de taxa de falsos
positivos (TFP) e taxa de verdadeiros positivos (TVP). A fim de comparar o desempenho dos algoritmos
em termos de uma medida única por meio de um valor escalar, é extraída a área abaixo da curva ROC
(AUC). A medida AUC produz valores entre 0 e 1. Os valores mais próximos de 1 são considerados
melhores. Portanto, ao se comparar dois ou mais algoritmos segundo essa medida, aquele que possuir AUC
mais próximo de 1 é considerado superior (Faceli et al., 2011).

3 Metodologia

A Figura 1 apresenta de maneira simplificada as etapas metodológicas desenvolvidas neste estudo. A


primeira etapa consiste na aquisição dos dados necessários para realizar o estudo. Tendo obtido os dados,
realizou-se a identificação e o estudo das informações disponíveis, com o objetivo de promover a integração
dos dados. Na etapa de pré-processamento foi realizado a preparação, organização e adequação dos dados.
Após o pré-processamento dos dados, os modelos de classificação foram construídos a partir da
implementação dos algoritmos de AM. Por fim, os resultados da predição foram comparados e analisados.

183
Figura 1 - Etapas metodológicas da pesquisa
3.1 Aquisição de Dados

O banco de dados construído é baseado no inventário de deslizamentos da Defesa Civil de Salvador


(CODESAL) e nos fatores desencadeantes e de controle associados. Os conjuntos de dados são descritos a
seguir:
i. O Inventário de deslizamentos de terra foi obtido da CODESAL. Esse conjunto de dados
corresponde a 4.892 eventos ocorridos entre janeiro de 2004 a junho de 2021. Cada registro é
constituído por: número do processo, código da vistoria, data e hora da abertura do processo, data
e hora da vistoria, tipo de ocorrência, bairro, causa, descrição e coordenadas UTM.
ii. Os dados geotécnicos foram obtidos do Laboratório de Geotecnia da Universidade Federal da
Bahia (UFBA). As propriedades disponíveis foram: coesão, ângulo de atrito e peso específico,
para as condições de umidade natural e saturada.
iii. Os dados geológicos foram obtidos da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM).
Os dados disponíveis foram: domínio geológico, relevo e textura do solo.
iv. Os dados geomorfométricos foram obtidos do banco de dados TOPODATA (BRASIL, 2008),
que oferece informações das variáveis geomorfométricas locais básicas em cobertura nacional.
Foram utilizados o Modelo Digital de Elevação (MDE) e sua derivação de declividade.
v. Os dados de precipitação pluviométrica foram coletados de quatro fontes distintas. Dados de
20 pluviômetros foram coletados através sistema do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta
de Desastres Naturais (CEMADEN)1, correspondendo ao período desde setembro de 2013. Dados
de 31 estações pluviométricas foram coletados da CODESAL, abrangendo o período entre outubro
de 2016 a outubro de 2021. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) foi utilizado para
coleta de dados de 3 pluviômetros convencionais com registros diários de precipitações. Estão
disponíveis registros obtidos entre agosto de 1963 e outubro de 2021. Dados de outras 5 estações
foram obtidos do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA), compreendendo o
período entre 1998 e 2016. Todos estes dados foram integrados devido à grande influência da
precipitação no processo de deslizamento de terra, buscando-se maximizar a quantidade e
cobertura espacial dos dados de precipitação.

3.3 Integração dos dados

Como resultado da integração, objetivou-se a criação de uma base de dados preparada para aplicação
das técnicas de MD e AM. Os dados adquiridos são geoespaciais e com isso foram processados com apoio
do software QGIS versão 3.22.32. Desta forma, os dados de deslizamentos foram integrados com os dados
geomorfométricos e geológicos, considerando-se a localização geoespacial. Os dados de precipitação
pluviométrica foram integrados através da latitude e longitude de cada pluviômetro, visto que foi possível
determinar a distância de cada deslizamento para cada estação. Deste modo, a precipitação diária foi obtida
por meio da estação mais próxima que possui dados disponíveis para a data do deslizamento e para período
anterior.

3.3 Pré-processamento dos dados

A remoção de registros duplicados foi o primeiro processo realizado nesta etapa. Foram também
excluídos os registros de deslizamentos que não foram induzidos por chuva ou que foram classificados
equivocadamente como deslizamentos. Por fim, foram excluídos os registros que possuíam valores ausentes

http:\\www2.cemaden.gov.br/mapainterativo/
1
2
https://www.qgis.org/pt\textunderscore BR/site/forusers/download.html

184
nos atributos de coesão, ângulo de atrito e peso específico. Esses valores ausentes têm origem nos
deslizamentos de terra que ocorreram em áreas para quais não se tinha as propriedades disponíveis nos dados
coletados. Este processo resultou em 1.864 registros descartados, restando 3.028 registros de deslizamentos
aptos e consistentes.
No processo de transformação de dados brutos em atributos úteis, para cada deslizamento de terra,
foram selecionados os índices pluviométricos diários e criados seus respectivos acumulados. Levando em
consideração a data da ocorrência do evento de deslizamento, foram criados 33 índices pluviométricos
(dados obtidos da estação pluviométrica mais próxima), incluindo a precipitação do dia do evento, a
precipitação diária de 1 a 16 dias antes do deslizamento e os respectivos acumulados.
Os dados referentes ao domínio geológico, relevo e composição do solo foram transformados por
meio da técnica de One-Hot Enconding, através da qual uma variável categórica é convertida em múltiplas
variáveis binárias correspondentes aos possíveis valores das variáveis originais.
Para a validação experimental dos modelos preditivos, registros correspondentes à não ocorrência de
deslizamentos foram criados e adicionados ao conjunto de amostras. Para isso, foi gerado para cada registro
de deslizamento, um outro registro correspondente a uma não ocorrência de deslizamento. Cada amostra de
não escorregamento foi coletada um dia antes da ocorrência do evento de deslizamento. Com isso, tem-se
as duas classes possíveis: positiva (deslizamento) e negativa (não deslizamento).

3.4 Treinamento e validação

Inicialmente, foram separados 20% do conjunto de dados para testes independentes adicionais e, para
isso, realizou-se uma amostragem aleatória estratificada. Por sua vez, os 80% restantes dos dados foram
utilizados nos experimentos usando o protocolo de validação cruzada com 10 folds. A otimização dos
hiperparâmetros foi feita através da técnica grid search. Com base em uma grade de parâmetros, o grid
search cria n combinações, com o objetivo de encontrar a que otimize o desempenho de cada classificador.
Para cada combinação criada, ou seja, para cada modelo construído é executado o método de validação
cruzada com 10 folds, a fim de avaliar o grau e a capacidade de generalização de cada modelo. Para cada
iteração da validação cruzada são computadas as medidas de avaliação. Ao término do processo, as
performances estimadas de cada modelo são utilizadas para calcular a performance média. Foi utilizada a
medida F1-score (F1) para a escolha do melhor modelo, contudo também foram computados os valores das
seguintes medidas de avaliação: acurácia (ACC), precision, recall e área sob a curva ROC (AUC).
Ao final da execução do grid search foi escolhido o modelo que apresentou o melhor desempenho
médio. Por fim, esse modelo foi aplicado sobre o conjunto dados reservado para testes adicionais, com o
objetivo de verificar a capacidade preditiva desses modelos em dados inéditos adicionais, não utilizados em
qualquer etapa anterior de otimização dos modelos.
Este processo foi repetido dez vezes e, em cada iteração foi atribuída uma semente de aleatoriedade,
com o objetivo de embaralhar os dados de maneira distinta da iteração anterior. Desta forma, os conjuntos
de dados de treino e teste variaram a cada iteração e em cada rodada da validação cruzada.

4 Resultados e Discussões

Levando em consideração as melhores configurações de parâmetros encontradas, foram obtidos os


melhores modelos de AM. Foram comparados estatisticamente os dois modelos com maior valor na medida
de avaliação AUC, com o objetivo de verificar se existe diferenças significativas entre os resultados e, para
isso, foi utilizado o teste não paramétrico de Wilcoxon’s signed-rank test com confiança de 95%. A Figura
3 apresenta os resultados da validação cruzada e dos testes adicionais.
Aplicando a metodologia foi possível realizar predição de deslizamentos de modo promissor, sendo
corretamente preditos mais de 90% dos deslizamentos registrados. Verificou-se que a capacidade preditiva
dos algoritmos aumentou com o acréscimo do número de dias de chuva acumulada, o que sugere uma relação
entre o número de ocorrências de deslizamentos e diferentes períodos de chuva acumulada. Para 16 dias, os
algoritmos apresentaram os melhores desempenhos, sendo mais eficazes na predição. Os cenários de 4 e 8
dias demonstraram que as informações de precipitação desse período são bastantes relevantes, visto que já
permitiram obter modelos com performances razoáveis.
Com isso, nota-se que os modelos preditivos foram capazes de identificar os eventos de
deslizamentos de terra desencadeados por chuvas intensas em um curto período, bem como deslizamentos
de terra ativados por chuvas de intensidade pequena a moderada, mas constante por um longo período.

185
Figura 2. Resultados dos experimentos.

Os algoritmos LGBM e RF apresentaram os melhores resultados em todos os cenários de análise,


obtendo valores médios de F1 superiores a 0,734 ± 0,013 e AUC superiores a 0,743 ± 0,012. O LGBM
obteve, para o cenário de 16 dias de chuva acumulada, significativamente (Wilcoxon signed-rank, α < 0,05)
os melhores resultados para todas as medidas, com exceção da precision. Por apresentar um melhor recall,
o LGBM é o algoritmo com maior capacidade de identificar de forma correta a maioria dos casos de
deslizamentos, e ainda apresenta uma boa capacidade de identificar os não deslizamentos. Observou-se,
também, que o algoritmo apresentou um bom equilíbrio entre o recall e a precision e um baixo desvio padrão
em todas as medidas, o que dá consistência e denota uma boa confiabilidade.
De maneira geral, pela comparação de valores obtidos com as médias na validação cruzada e nos
testes adicionais, os modelos demonstraram estabilidade e foram capazes de repetir seus desempenhos nos,
demonstrando boa capacidade de generalização. Novamente, o LGBM se destacou obtendo as melhores
medidas de desempenho e sendo significativamente melhor para 16 dias de chuva acumulada.

5 Considerações Finais e Trabalhos Futuros

Este artigo apresentou os resultados de um estudo de pesquisa prática sobre o desenvolvimento de


modelos baseado em dados para prever deslizamentos de terra induzidos pela precipitação pluviométrica.
A partir da integração de múltiplos conjuntos de dados com significado importante para o problema
de deslizamentos de terra e de todo processo de ciências de dados, foi possível aplicar quatro algoritmos de
AM e realizar a sua análise e comparação quanto a capacidade de prever os deslizamentos. Os resultados
apresentados mostraram que os modelos propostos foram capazes de encontrar padrões na base de dados
construída e com isso podem, com expressivo desempenho preditivo, realizar a previsão de deslizamentos
de terra induzidos por chuva. Com isso, pode-se concluir que a aplicação de AM poder de ser uma solução

186
promissora para auxiliar o processo de tomada de decisões pelos órgãos competentes, conferindo melhorias
no processo de monitoramento e redução de danos causados pelos deslizamentos de terra. Com isso, podem
ser utilizados em sistemas de alerta precoce de deslizamento de terra e na identificação das áreas mais
críticas à ocorrência desses fenômenos.
Para trabalhos posteriores, pode-se destacar a necessidade de avaliar diferentes metodologias de
criação de amostras negativas, bem como a combinação de um ou mais tipos de métodos. Além disso,
espera-se verificar a eficácia com diferentes períodos de antecedência preditiva e o impacto da imprecisão
da precipitação na capacidade preditiva dos algoritmos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Tehrani, F. S., Santinelli, G., and Herrera, M. (2019). A framework for predicting rainfallinduced landslides
using machine learning methods. 17th ECSMGE 2019 - Proceedings.

187
Instrumentação de talude rochoso na Serra do Rio do Rastro
Mariana Fernandes Poubel
Engenheira, Geobrugg/IME, Rio de Janeiro, Brasil, mariana.poubel@geobrugg.com

Felipe Gobbi Silveira, D.Sc.


Diretor Técnico, FGS Geotecnia, Porto Alegre, Brasil, felipe@fgs.eng.br

Junior Matté
Engenheiro, FGS Geotecnia, Porto Alegre, Brasil, junior@fgs.eng.br

Willian Nunes
Acadêmico de Engenharia, FGS Geotecnia, Porto Alegre, Brasil, nunes@fgs.eng.br

RESUMO: A rodovia SC-390 que cruza a Serra do Rio do Rastro é um cartão postal do estado de Santa
Catarina, percorrendo a famosa coluna White atravessa diversos litotipos, desde o escudo cristalino no pé da
serra até os basaltos que coroam os campos de cima da serra. No início de 2020 a Secretaria de Infraestrutura
do Estado de Santa Catarina contratou o projeto e execução de obras de contenção e proteção de encostas em
22 pontos ao longo desta rodovia. Foram empregadas soluções de rocha e solo grampeado com faceamento
em tela metálica de alta resistência, barreiras dinâmicas, rocha grampeada com faceamento em concreto
projetado, contrafortes atirantados, além de sistemas de drenagem. No ponto realizado no km 405+000
colunas de rocha suscetíveis a tombamento foram estabilizadas com a utilização de grampos e malha de aço
de alta resistência. Em função do risco de instabilidades durante os processos de perfuração, em algumas
colunas não foi possível a aplicação de grampos diretamente sobre a área instável, sendo dimensionado pela
projetista um sistema de envelopamento dos blocos. Em duas dessas colunas os grampos do perímetro foram
instrumentados com células de carga para verificação das cargas transmitidas pela tela para estes elementos.
As cargas não sofreram variações significativas até o momento, e encontra-se em produção um sistema de
aquisição automática e transmissão dos dados para acompanhamento de eventuais variações sazonais de
carga em função de variação de saturação, temperatura, etc.

PALAVRAS-CHAVE: Rocha grampeada, taludes rochosos, análise cinemática.

ABSTRACT: The SC-390 highway that crosses the Serra do Rio do Rastro is a postcard of the state of
Santa Catarina, covering the famous White column, it crosses several lithotypes, from the crystalline
shield at the foot of the mountain to the basalts that crown the fields above the mountain range. In early
2020, the Santa Catarina State Department of Infrastructure contracted the design and execution of slope
containment and protection works at 22 points along this highway. Solutions of rock and soil nailed with
high resistance metal mesh facings, dynamic barriers, rock nailed with shotcrete facing, tieback walls and
drainage systems were used. At the point made at km 405+000, rock columns susceptible to toppling were
stabilized using clamps and high-strength steel mesh. Due to the risk of instabilities during the drilling
processes, in some columns it was not possible to apply clamps directly on the unstable area, and a system
for enveloping the blocks was dimensioned by the designer. In two of these columns, the perimeter
clamps were instrumented with load cells to verify the loads transmitted by the mesh to these elements.
Loads have not suffered significant variations so far, and an automatic data acquisition and transmission
system is in production to monitor any seasonal load variations due to saturation, temperature, etc.

KEYWORDS: Rock nailing, rock slope, kinematic analysis.

1 Introdução

A Serra do Rio do Rastro é um cartão postal do estado de Santa Catarina. Percorrendo a famosa coluna
White atravessa diversos litotipos, desde o escudo cristalino no pé da serra até os basaltos que coroam os
campos de cima da serra. No início de 2020 a Secretaria de Infraestrutura do Estado de Santa Catarina
contratou o projeto e execução de obras de contenção e proteção de encostas em 22 pontos ao longo desta
rodovia. O presente trabalho apresenta instrumentação executada em um destes pontos, chamado de Ponto 5
(Km 405+000).
Os pontos críticos para execução de projetos e obras de engenharia foram definidos pelos trabalhos
188
pregressos realizados pela Defesa Civil do Estado de Santa Catarina. Após a caracterização
geológica/geotécnica dos pontos de interesse, foram realizados estudos de viabilidade técnica para definição
das soluções de engenharia para estabilização ou proteção de encostas neste trecho de serra. Os projetos
envolvem técnicas de estabilização de taludes rochosos, taludes em solo e também obras de proteção de
encostas. Os desafios executivos consistem em viabilizar o acesso de obra em taludes verticalizados, em uma
pista estreita, com produtividade para atendimento dos prazos previstos, o que remete a mecanização de boa
parte dos processos.
Foram utilizadas diferentes técnicas de estabilização de taludes, contendo malhas grampeadas,
concreto projetado, contra fortes atirantados, barreiras dinâmicas e soluções de drenagem. As soluções
empregadas mostraram-se de rápida instalação e efetividade para estabilização dos taludes rochosos. Pontos
com taludes de grande altura, representaram maiores dificuldades para viabilização de acesso. Os trechos
estabilizados representam significativo ganho de segurança para os usuários da via, entretanto existem
inúmeros outros pontos notáveis ao longo da serra, que merecem uma abordagem contínua de gerenciamento
de risco geotécnico.
No km 405+000 o mecanismo predominante era o tombamento de basalto colunar. Este mecanismo
foi combatido com solução de malha de alta resistência e grampos. Em função do elevado grau de
instabilidade de algumas colunas, não foi possível o grampeamento direto, sendo adotado o envelopamento
das colunas e grampeamento perimetral.
Este artigo apresenta especificamente o ponto do km 405+000 onde duas colunas foram
instrumentadas em seu perímetro para a avaliação das cargas descarregadas nos grampos perimetrais.

2 Localização e caracterização geológica

2.1 Localização

O ponto de estabilização geotécnica envolvido no presente trabalho fica locado no trecho de interesse
inserido na Rodovia SC-390, mais especificamente no km 405+000, com coordenadas médias UTM
642.137E; 6.857.776S, o ponto 5 é representado por um talude rochoso com características geométricas
médias de: 55 metros de extensão, 20 metros de altura e 75º de inclinação.

Figura 1. Localização do ponto estudado (Google Earth).

2.2 Caracterização geológica

Além de representar um dos cartões-postais mais emblemáticos do estado de Santa Catarina, a Serra
do Rio do Rastro também representa um patrimônio mundial em âmbito geológico. O talude objeto de
análise, está inserido no contexto lito-estratigráfico da Bacia do Paraná que representa uma espessa
sequência de rochas sedimentares e vulcânicas, com idades desde 66 a 443 milhões de anos (Ma). Mais de
50% da bacia do Paraná está coberta por rochas magmáticas efusivas (vulcânicas), resultantes de atividades
tectono-magmáticas que ocorreram durante a era Mesozoica. A maior parte dessa cobertura é representada
pela formação Serra Geral. Os tipos litológicos predominantes são compostos por rochas básicas,
principalmente basaltos e basalto-andesitos, de idade Jurássico-Cretácea (143 a 100 Ma), cuja variação
composicional dos derrames ao longo do tempo geológico levou a distinção de 8 fácies. Esta formação está
presente na porção oeste da área de estudo próxima ao limite dos municípios Lauro Müller e Bom Jardim da
Serra, Figura 2.
189
Figura 2. Mapa geológico em escala 1:1.000.000, da área analisada (relatório do projeto FGS 2020,
modificado de http://geosgb.cprm.gov.br/geosgb/downloads.html).

Além de representar um dos cartões-postais mais emblemáticos do estado de Santa Catarina, a Serra
do Rio do Rastro também representa um patrimônio mundial em âmbito geológico. O talude objeto de
análise, está inserido no contexto lito-estratigráfico da Bacia do Paraná que representa uma espessa
sequência de rochas sedimentares e vulcânicas, com idades desde 66 a 443 milhões de anos (Ma). Mais de
50% da bacia do Paraná está coberta por rochas magmáticas efusivas (vulcânicas), resultantes de atividades
tectono-magmáticas que ocorreram durante a era Mesozoica. A maior parte dessa cobertura é representada
pela formação Serra Geral.
Os tipos litológicos predominantes são compostos por rochas básicas, principalmente basaltos e
basalto-andesitos, de idade Jurássico-Cretácea (143 a 100 Ma), cuja variação composicional dos derrames ao
longo do tempo geológico levou a distinção de 8 fácies. Esta formação está presente na porção oeste da área
de estudo próxima ao limite dos municípios Lauro Müller e Bom Jardim da Serra. O ponto em estudo neste
trabalho está localizado no município de Lauro Müller no domínio lito-estratigráfico da fácies Gramado.
Este domínio que também se refere a um conjunto de extrusões básicas, tem espessura máxima em torno de
300 metros e representa uma das primeiras manifestações vulcânicas sobre os sedimentos arenosos do então
deserto Botucatu, que atualmente corresponde à formação de mesmo nome.
A fácies Gramado tem sua área tipo ao longo da escarpa sul da Serra Geral, cujos derrames possuem
pequena expressão lateral, por estarem confinados a paleovales e a espaços interdúnios existentes. Após o
encerramento da deposição de sedimentos arenosos que resultaram na formação do Botucatu, iniciou-se na
história geológica um período francamente vulcânico, onde o relevo está condicionado ao arranjo formado
pela junção entre derrames, que encerraram o preenchimento da bacia. As rochas que compõem esta fácies
são derrames de basaltos maciços com espessuras entre 15 a 35 metros, frequentes texturas de fluxo, zonas
vesiculares bem desenvolvidas no topo e incipientes na base, preenchidas principalmente por zeólitas,
carbonatos e apofilitas e uma porção central formada por rocha granular homogênea, com disjunção colunar
bem desenvolvida e que configura numa importante descontinuidade deste maciço, com potencial de
desprendimento de blocos rochosos. Tem textura micro fanerítica, compacta e de coloração cinza-escuro a
cinza-esverdeado. Os derrames basálticos em geral têm uma seção como a apresentada na figura abaixo.

Figura 3. Seção esquemática de um derrame basáltico da bacia do Paraná.


Na área do ponto estudado, verifica-se um trecho de menos de 1,5 km, em planta, onde ocorrem as
formações Botucatu e Rio do Rastro. A formação Botucatu está sotoposta à fácies Gramado. A unidade
190
Arenito Botucatu, descrita no final do séc. XIX (Campos, 1889, apud Schobbenhaus et al., 1984) como um
pacote de arenitos vermelhos aflorantes na Serra do Botucatu, entre a cidade de São Paulo e a cidade de
Botucatu, atualmente é designada de formação Botucatu. Litologicamente, é constituída por arenitos
bimodais, médios a finos, localmente grossos e conglomeráticos, com grãos arredondados ou
subarredondados, bem selecionados. Apresentam cor cinza-avermelhado e é frequente a presença de cimento
silicoso ou ferruginoso. Constituem expressivo pacote arenoso, com camadas de geometria tabular ou
lenticular, espessas, que podem ser acompanhadas por grandes distâncias.

3 Projeto do Ponto 5

O Ponto 05 é composto essencialmente por cortes em rocha. Nesse ponto, a rodovia apresenta uma
curva, o que muda a direção das descontinuidades, relativamente as faces dos taludes. Talude rochoso se
caracteriza por possuir considerável fraturamento, com pontos em que há surgência da água. Existem
segmentos em inclinação negativa e uma região em que há a deposição de blocos mobilizados. A drenagem
existente no pé do talude é funcional. Os problemas de instabilidade verificados neste ponto são tipificados
como tombamento de blocos. Para uma apresentação mais geral do panorama do ponto em estudo, na Figura
4 são apresentas algumas fotos feitas nas visitas de campo realizadas para o projeto.

Figura 4. Panorama geral do ponto em estudo.

Como solução de engenharia para contenção dos taludes, foi empregado grampeamento de rocha
associando chumbadores monobarra e faceamento em tela metálica de alta resistência. Quanto ao sistema de
drenagem superficial, o ponto aqui em questão encontra-se posicionado na porção montanhosa e muito
escarpada da rodovia, o que dificulta a execução de dispositivos de drenagem desse tipo.

3.1 Dimensionamento

Ocorrem no Ponto 5 diferentes tipos de movimentos, estando predominantemente presente o


tombamento de blocos. Além disso, existem diferentes tamanhos de blocos e alturas de talude ao longo do
trecho. Dessa forma, o ponto em estudo foi subdividido em zonas, para permitir o correto dimensionamento
das soluções e a otimização das mesmas. O zoneamento realizado é apresentado na Figura 5, que apresenta
as duas regiões homogêneas definidas para o talude. A instrumentação instalada neste ponto foi executada na
área 1.

Figura 5. Zoneamento dos taludes e encostas para o ponto em estudo. 191


Tabela 1. Tipos de movimentos e magnitudes associados a cada zona.
Bloco ou Talude/Encosta
Altura Largura Profund.
Área Tipo de Movimento
(m) (m) (m)
01 Tombamento/Deslizamento 7,0 - 2,0
02 Tombamento/Cunhas 12,0 - 1,0

Neste ponto foram realizadas análises referentes ao possível tombamento de blocos no talude bem
como rupturas planares de lascas no local, sendo que a solução deve atender ao critério mais crítico de
ruptura. Abaixo são apontados os dados de cálculo considerados. Após a limpeza, as áreas acabaram por
serem unificadas e o tratamento previsto sofreu revisão em função do novo mapeamento executado.

Tabela 2. Dados de cálculo


Dados de entrada para dimensionamento – Ruptura Planar
Incl. da
Fs Global Incl. Plano (º) H JRC JCS (MPa) Hu (%) Φr (º)
face (º)
1,50 90º 40º 3,00 6 15 50 32
Resultados do dimensionamento
T Cisalhante EH=EV T Cisalhante L adotado Pressão Atuante no contato tela
placa
65 kN 3,00 34 kN 6,00 m 7,70 kPa

Dados de entrada para dimensionamento – Ruptura por Tombamento


Fs Global Eh=Ev Espessura instável (t) γ (kN/m³) Φ (º) Pd Hu (%)
1,50 2,60 m 0,20 27 33 45 kN 50
Resultados do dimensionamento
Momento Momento Estabilizante Tela Momento Atuante
Estabilizante bloco
4,87 kN.m 351,00 kN.m 228,48 kN.m

Frente a estes mecanismos foi verificado que a situação mais crítica corresponde ao mecanismo de
tombamento, limitando o máximo espaçamento para 2,60 x 2,60 metros para os grampos. Com estes
resultados foram definidos todos os materiais a serem aplicados nas áreas do talude, sendo o resumo das
soluções apresentados abaixo. Cabe apontar que a carga de trabalho da barra de aço foi uniformizada para
simplificação da execução da obra.

Tabela 3. Resultados dos dimensionamentos de cada zona (contenções a serem aplicadas).


Especificações Tela CT Espaçamento Diâm Diâm Incl Comprimentos
metálica Chumb. chumbador
chumb. furo chumb.
Área VERT. HORIZ.
Tr (kN/m) Pr (kN) (KN) (mm) (mm) (°) Chumb. Furo
(m) (m) (m) (m)
A01 110 65 126 2,60 2,60 25 75 15 6,0 5,7
A02 110 65 126 2,60 2,60 25 75 15 4,0 3,7
Em determinadas áreas do talude, as colunas não apresentaram estabilidade suficiente para resistirem a
vibração da perfuração, representando riscos para os colaboradores. Para estes pontos o projeto foi alterado e
a estabilização passou a ser de responsabilidade da tela que envolve os blocos, ancorada no perímetro.
4 Instrumentação

Com a finalidade de verificar as cargas transmitidas, e suas variações, da malha para os grampos do
sistema de estabilização do talude, foram inseridas células de carga nos grampos perimetrais ao sistema,
Figura 6. Este capítulo apresenta a instrumentação aplicada.
As células de carga aplicadas ao sistema foram construídas se utilizando de barras de aço de mesmo
tipo que os grampos empregados à solução, de forma que suas instalações pudessem consistir em uma
espécie de prolongamento deles. Essa abordagem garante a integridade dos sensores em fase de obra e
preparação do local por permitir que suas instalações sejam realizadas posteriormente, além de facilitar
futuras possíveis manutenções.
Em cada uma das barras instrumentadas, foram realizados dois facetados diametralmente opostos,
192
perfeitamente paralelos e idênticos, além de um facetado único deslocado, também diametralmente, em 90°
dos anteriores. Nos facetados idênticos foram fixados extensômetros do tipo roseta dupla em 90° (grelhas
perpendiculares entre si), com resistência de 350 Ω.

Figura 6. Distribuição dos grampos instrumentados instalados.

O facetado único é utilizado para alocar circuito de ligação dos extensômetros, estes ligados de modo
a formarem uma ponte completa de Wheatstone. Nessa mesma região ocorrem as conexões com os fios de
alimentação e resposta dos sensores. Após a fixação dos extensômetros, ligação da ponte completa e dos
fios, é utilizada uma cera hidrofugante sobre suas grelhas e, por fim, a região é encapsulada em um corpo
cilíndrico com resina epóxi, garantindo proteção mecânica e isolamento elétrico aos sensores. A Figura 7
apresenta um dos sensores descritos.

Figura 7. Célula de carga.

Para alimentação e obtenção das respostas dos sensores, se utiliza um circuito condicionador de sinal
específico para células de carga externo às barras, de modelo HX711. Trata-se de um conversor analógico-
digital com precisão de 24 bits e amplificador de ganho programável. A configuração desse componente é
realizada por software, e o controle do sistema é realizado através de um microcontrolador modelo ESP32,
escolhido devido a facilidade de sua integração a outros circuitos periféricos e a Internet das Coisas.
A resposta proveniente do HX711 é um valor em bits de acordo com seu range (24 bits), ou seja, um
valor entre - 8.388.608 e 8.388.608, de forma a ser capaz de representar esforços de tração ou de compressão
sofridos pelas células de carga. A calibração dos sensores é realizada logo após ao tempo de cura total para a
resina epóxi estabelecido pelo fabricante e é feita em relação a uma célula de carga que já possua sua curva
de calibração consolidada. Dessa forma, para cada uma das barras instrumentadas é gerada uma curva bits x
carga, e através do método de regressão linear obtém-se uma equação de reta relacionando as duas
grandezas.
Para a obtenção dos dados do monitoramento foi desenvolvido um sistema de aquisição e envio dos
mesmos. Uma caixa de comando com grau de proteção IP68 foi utilizada para conter toda a eletrônica
necessária para o condicionamento e processamento dos sinais provenientes dos sensores, além de uma

193
bateria estacionária, esta responsável pela alimentação do sistema, sendo mantida por uma placa de energia
solar. A conexão dos sensores é realizada através de conectores tipo Mike de 5 vias, previamente instalados
aos sensores. Em seu funcionamento, o sistema primeiramente armazena localmente os dados e, em seguida,
se for possível estabelecer uma conexão com a internet 3G proveniente de um modem também contido na
caixa, os envia à nuvem. Esse processo está programado para ocorrer em intervalos de 20 minutos. A
Figura 8 apresenta o sistema construído.

Figura 8. Sistema de monitoramento.

5 Dados iniciais

Até a conclusão do presente artigo as células de carga demandam leituras manuais, desta forma os
dados são referentes ao período entre agosto e outubro de 2021. Entretanto será instalado ainda em 2022 um
sistema de aquisição e transmissão automática dos dados.
Os resultados preliminares indicam cargas entre 0 e 5 toneladas, nos grampos no perímetro dos blocos
estabilizados. A aquisição automática dos dados permitirá uma melhor avaliação das cargas atuantes e suas
variações ao longo do tempo.
6

4
P5_00
CARGA (TON)

P5_01
3 P5_02
P5_03
P5_04
2 P5_05
P5_06
P5_07
1 P5_09

0
DATA
-113-ago 23-ago 2-set 12-set 22-set 2-out 12-out 22-out 1-nov

Figura 9. Gráfico das cargas observadas ao longo do tempo em cada grampo instrumentado.

6 Dados iniciais
Foi apresentada uma contextualização dos trabalhos de contenção de encostas realizados na Serra do
Rio do Rastro nos anos de 2020 e 2021. O ponto 5 era caracterizado principalmente pelo risco de
tombamentos de blocos e para tal foram projetados grampos e faceamento em malha de alta resistência.
Em blocos específicos não havia segurança para a perfuração direta dos blocos, e as malhas regulares
de grampos foram substituídas pelo envelopamento dos blocos e grampeamento perimetral. Duas destas
194
colunas foram instrumentadas com células de carga nos grampos do perímetro. Esta instrumentação teve
objetivo avaliação do desempenho do projeto, mas principalmente o trabalho de pesquisa da dissertação de
mestrado da autora.
Até o momento foram registradas as cargas pós instalação e a variação nos primeiros meses, nota-se
uma variação de cargas nos grampos do perímetro, sendo o grampo mais carregado o grampo de topo da
coluna localizada a direita. Está em processo de finalização um sistema de gravação e transmissão
automática dos dados, que permitirá a verificação da eventual variação de cargas em função das variações de
saturação das descontinuidades e outros agentes que alterem os estados de tensão desta contenção
especificamente.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade do Estado de Santa Catarina (SIE) e


às empresas FGS Geotecnia, Teixeira Duarte e Geobrugg pelas contribuições para elaboração deste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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