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ANAIS | Volume 3

Mapeamento Geotécnico e Gestão de Risco

PROMOÇÃO REALIZAÇÃO ORGANIZAÇÃO


PATROCINADORES OURO

PATROCINADORES PRATA

PATROCINADORES BRONZE

2
APOIO EMPRESARIAL

APOIO INSTITUCIONAL

3
PROMOÇÃO REALIZAÇÃO ORGANIZAÇÃO

SECRETARIA TECNOLOGIA

4
PREFÁCIO

Prezados colegas

É com muita satisfação que saudamos os participantes da VIII Conferência


Brasileira sobre Estabilidades de Encostas - COBRAE.

Celebramos este tradicional evento onde reuniremos expoentes palestrantes e um


conteúdo científico alinhado às inovações, com destaque aos acontecimentos recentes
em nosso país, ressaltando assim, a importância do tema geral: “Estabilidade de
Encostas na Sociedade e na Infraestrutura”.

Há três anos preparamos este evento com muito afinco, embora ainda com tantas
inseguranças do novo normal. Contudo, seguimos confiantes, arregimentando colegas e
parceiros que acreditaram ser possível este desafio, e assim, juntos, montamos o evento.

O objetivo foi trazer contribuições na forma de minicursos, palestras, artigos


científicos e discussões. Foram quatro dias de intensidade científica, troca de
experiências e convívio social, além da oportunidade de desfrutar Pernambuco com seus
aromas, sabores e cores.

A VIII COBRAE recebeu 450 resumos, destes foram recebidos 235 artigos
completos que estão disponibilizados em livros digitais, separados em sete volumes:
Volume 1: Movimentos de Massa em Encostas
Volume 2: Investigações Geológico-geotécnicas
Volume 3: Mapeamento Geotécnico e Gestão de Riscos
Volume 4: Comportamento de Taludes e Aterros
Volume 5: Soluções de Engenharia
Volume 6: Instrumentação e Monitoramento
Volume 7: Taludes Submarinos e de Mineração

Roberto Quental Coutinho


Presidente VIII COBRAE

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COMISSÃO ORGANIZADORA

Roberto Quental Coutinho


UFPE - Presidente da Comissão

Olavo Francisco dos Santos Júnior


UFRN - Comitê Técnico

Joaquim Teodoro Romão de Oliveira


UNICAP/UFPE - Comitê Técnico

Kalinny Patrícia Vaz Lafayette


UPE - Comitê Técnico

Igor Fernandes Gomes


UFPE - Secretaria

Robson Ribeiro Lima


UFPE - Secretaria

Danisete Pereira de Souza Neto


UFPE - Tesouraria

Ricardo Nascimento Flores Severo


IFRN - Tesouraria

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Cód. Título do Artigo Pág.
C027 Espacialização de perigo de desastres da geotécnica para as Regiões Administrativas de Registro e 9
de Santos
C049 Diagnóstico das áreas de risco de deslizamentos do município de Crato-CE: Uma aplicação da 17
metodologia do Projeto GIDES
C052 O mapeamento geotécnico como instrumento de gestão do território: uma análise bibliométrica da 24
produção científica nacional e internacional
C053 Mapeamento geotécnico preliminar do município de Brusque (SC): um subsídio ao planejamento 33
territorial
C058 Diagnóstico de risco à erosão costeira: o caso da praia do seixas, litoral sul de João Pessoa/PB 39
C080 Procedimento de inspeção e manutenção de cortinas atirantadas: estudo de caso em uma malha 47
ferroviária
C095 Contribuição da Universidade Federal do Cariri nas ações de gerenciamento de áreas de riscos na 54
Região Metropolitana do Cariri cearense
C096 Utilização de fotogrametria digital para extração semi-automática de descontinuidades geológicas 62
da ponte natural de Pedra de Alegrete - Brasil
C103 Compilação das diferentes metodologias de mapeamento de áreas de risco de deslizamentos 70
aplicadas no Brasil
C131 Integração de dados censitários em mapeamento de risco associados a movimentos de massa – O 76
Caso de Angra dos Reis, RJ, Brasil
C147 Cartografia geotécnica digital para o planejamento urbano do município de Natal - RN 85
C173 Estudo de parâmetros geotécnicos na proposição de limiares críticos ambientais a escorregamentos 93
deflagrados por chuva: revisão da literatura
C250 Geotechnical security of a mine waste dump in Carajas mining complex 101
C255 Uso de aprendizado de máquina para o mapeamento de suscetibilidade a deslizamento em áreas 108
de risco - Projeto REMADEN/REDEGEO
C297 Mapeamento de risco aplicado a ferrovia - Estudo de caso 116
C306 Oficinas educativas sobre desastres associados a deslizamentos de terra em escolas municipais do 126
Rio de Janeiro
C312 Simulação numérica para análise de reativação de falha geológica associada a sensibilidade de 134
pressão de injeção
C324 Modelo para predição do modo de falha credível de barragens de rejeito de mineração 142
C333 Riscos geológicos - Uso de vegetação de cultivo para proteção de áreas sujeitas a ocupação 151
antrópica
C334 Aplicação de questionário de percepção de risco em áreas de risco geológico no município de 158
Guarujá (SP)
C336 Encostas sob risco geológico - Uso de drones como ferramenta de investigação 166
C342 Análise comparativa de mapeamento geotécnico tradicional e por meio de VANTs em maciços 175
rochosos
C349 Uso de Vant no levantamento cadastral de uma encosta rochosa em Belo Horizonte 183
C361 Desastres de natureza geológica nas regiões administrativas de Araçatuba, Marília e Presidente 191
Prudente, Estado de São Paulo

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Cód. Título do Artigo Pág.
C412 Metodologia de base geo-hidrecológica para classificação da suscetibilidade de terreno à 199
deflagração de escorregamentos translacionais rasos: aplicação na Bacia do Córrego D`Antas,
Nova Friburgo (RJ)
C426 Estudo preliminar da pluviometria crítica de deslizamentos dos morros da zona norte do Recife 207
C432 Mapeamento de risco e perigo em encosta com ocupação desordenada no alto nova olinda, olinda - 215
PE
C452 Gerenciamento de encostas ocupadas no Recife: a experiência da EMLURB 223
C456 Uso de drones na criação de modelos digitais de encostas: aplicação na avaliação de um costão 228
rochoso contaminado por óleo
C460 Mapeamento de risco e educação ambiental no bairro do Roger na cidade de João Pessoa 237
C470 Uso de fotogrametria aplicada à modelagem tridimensional de taludes 245
C471 Caracterização geomorfométrica do município de Areia-PB a partir de dados de Sensoriamento 253
Remoto
C480 Desenvolvimento de mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos através do TRIGRS em uma 261
bacia hidrográfica considerada homogênea na formação barreiras, localizada na Região
Metropolitana do Recife (RMR)
C482 Análise da degradação ambiental em uma encosta na cidade de Recife/PE 269
C528 Aprovação de projetos de estabilidade de taludes: uma análise sobre a implementação dos cursos 276
de capacitação para técnicos municipais promovidos pelo governo federal
C533 Gestão para emergências: análise da resiliência institucional no município do Jaboatão dos 284
Guararapes - PE.

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Espacialização de Perigo de Desastres de Geotécnica para as
Regiões Administrativas de Registro e de Santos
Júlia Rodrigues
Graduanda, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru, Brasil, julia.rodrigues1@unesp.br

Tamara Vieira Pascoto


Doutoranda, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru, Brasil, tamara.pascoto@unesp.br

Anna Silvia Palcheco Peixoto


Docente, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru, Brasil, anna.peixoto@unesp.br

RESUMO: Todos os anos, desastres relacionados à dinâmica externa da Terra provocam prejuízos em
diversas cidades brasileiras. Movimentos de massa e inundações, exemplos desse tipo de desastre, possuem
a chuva como principal agente deflagrador, e têm se tornado cada vez mais frequentes e intensos nas últimas
décadas. Diante deste cenário, tem aumentado o número de pesquisas na área da ciência do desastre. O
presente trabalho visa espacializar e avaliar os desastres de origem geotécnica ocorridos nas regiões
administrativas de Registro e de Santos durante o período de 1998 a 2019 e, a partir destes dados históricos,
elaborar uma Carta de Perigo de ocorrência de desastres para ambas as regiões. Na primeira fase do estudo,
as coordenadas geográficas das ocorrências foram coletadas e espacializadas, e o levantamento dos dados
de chuva foi realizado. Na etapa seguinte, dados ambientais e sociais foram coletados para a determinação
de critérios, posteriormente dispostos em uma matriz de perigo, obtendo-se como resultado os critérios de
suscetibilidade. Os dados de chuva e os critérios de suscetibilidade foram cruzados novamente em uma
matriz, e os mapas de perigo foram obtidos a partir da espacialização destes resultados.

PALAVRAS-CHAVE: desastres; movimentos de massa; carta de perigo.

ABSTRACT: Every year, disasters related to the Earth's external dynamics cause damage in several
Brazilian cities. Disasters as mass movements and floods have rain as the main triggering agent and have
become increasingly frequent and intense in recent decades. Consequently, the number of research in the
disaster science field has increased. The present work aims to spatialize and evaluate the disasters of
geotechnical origin that occurred in the administrative regions of Registro and Santos during the period from
1998 to 2019 and, based on these historical data, to prepare a Hazard Map for both areas. First, the
geographic coordinates of the occurrences were collected and spatialized, and a survey of rain data was
carried out. Second, data were collected to determine environmental and social criteria, and later arranged
in a hazard matrix, resulting in a susceptibility criteria. Rainfall data and susceptibility criteria were crossed
again in a matrix, and hazard maps were obtained from the spatialization of these results.

KEYWORDS: disasters; mass movements; hazard map.

1 Introdução

Deslizamentos de terra, inundações, tempestades e furacões constituem exemplos de eventos físicos


perigosos que podem ocorrer naturalmente em qualquer lugar do mundo. Quando a intensidade de
ocorrências deste tipo atinge níveis considerados anormais para a comunidade envolvida, provocando
prejuízos materiais e mortes, o evento perigoso se torna um desastre (ZUQUETTE, 2018)
O processo de urbanização acelerado e sem planejamento, comum a diversas cidades brasileiras, tem
contribuído para o aumento da frequência e da magnitude de desastres dessa natureza. Remoção da cobertura
vegetal, regularização e impermeabilização do solo estão entre as ações que provocam significativas
modificações no ciclo hidrológico natural dos ambientes e, por consequência, desencadeiam a ocorrência
de eventos perigosos. (MIGUEZ et al., 2017)
O relatório The Human Cost of Weather Related Disasters (2015) aponta que em todo o mundo
ocorreram, em média, 335 desastres relacionados ao clima por ano entre 2005 e 2014. Esse número
representa um aumento de 14% se comparado ao período entre 1995 e 2004. Neste cenário, o Brasil está

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inserido em uma colocação negativa no ranking de países com maior risco de ocorrência de desastres de
origem geotécnica, visto que o país se encontra na 14ª posição no que se refere a deslizamentos de terra.
No Brasil, eventos pluviométricos intensos e prolongados atuam como os principais agentes
deflagradores de desastres e, dessa forma, são mais recorrentes nos períodos chuvosos que correspondem
ao verão nas regiões sul e sudeste e ao inverno na região nordeste. No caso específico do Estado de São
Paulo, os desastres estão associados principalmente aos escorregamentos de encostas,
inundações/alagamentos, erosão acelerada e tempestades (ventanias, raios e granizos). Em particular, os
eventos ocorridos na extensão do litoral sul do estado atingem um grande número de pessoas, entre vítimas
e desabrigados, pois esta região recebe maior quantidade de chuvas do tipo frontal, que podem ser muito
intensas e de longa duração, produzindo grandes volumes de escoamento superficial. (TOMINAGA, 2009)
Assim, o presente trabalho tem como objetivo analisar os desastres de origem geotécnica ocorridos
nas regiões administrativas de Registro e de Santos, considerando o período de 1998 a 2019 (21 anos) e, a
partir destes dados históricos, elaborar uma Carta de Perigo para este tipo de ocorrência. O trabalho também
propõe a avaliação de viabilidade de um modelo para a determinação de áreas de perigo a partir da utilização
de dados abertos, visando facilitar o acesso aos municípios com menor infraestrutura. Para a realização deste
estudo, foram considerados os desastres classificados da seguinte forma pelo IPMet: queda de barreira,
deslizamento de terra, erosão/buraco, escorregamento de encosta e danificação em pavimentação. Durante
o período em análise, ocorreram 156 desastres na região administrativa de Registro, e 256 na região
administrativa de Santos, totalizando 412 ocorrências. A Figura 1 apresenta os municípios que integram as
regiões do estudo.

Figura 1. Regiões Administrativas de Registro e de Santos.

A Região Administrativa de Santos é composta por 9 cidades. O clima da região é predominantemente


úmido (com exceção de um período mais seco durante o inverno), e o relevo conta com escarpas da Serra
do Mar e planícies litorâneas, com desníveis que variam de 800 a 1200m. A Região Administrativa de
Registro, composta por 14 cidades, está inserida na bacia hidrográfica do rio Ribeira do Iguape. Trata-se de
uma área com cobertura vegetal bem preservada, sendo a maior faixa contínua de mata atlântica do estado
de São Paulo, e uma rica diversidade em formas de revelo, que variam de serras alongadas, vales encaixados
até planícies costeiras. A região também apresenta comportamento hidrometeorológico úmido. Localizada
no Vale do Ribeira, trata-se da região mais pobre do estado, com comunidades marcadas pela precariedade.
(SANTOS, 2017; DICKEL, 2016)

2 Metodologia

2.1 Espacialização dos desastres e levantamento de dados pluviométricos

O presente trabalho se baseia na utilização de dados abertos. Sendo assim, as coordenadas geográficas
dos desastres de origem geotécnica ocorridos entre o período de 1998 e 2019 nas regiões administrativas
em estudo foram obtidas a partir do banco de dados concebido por Pellegrina (2011), disponível no site do
IPMet (Instituto de Pesquisas Meteorológicas, FC/Unesp), e espacializadas através do software QGIS,
Figura 2.

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Figura 2. Desastres naturais de origem geotécnica nas regiões administrativas de Registro e de Santos.

Os bancos de dados do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) e do CEMADEN (Centro


Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais) proporcionaram a coleta de informações
referentes a chuva diária correspondente ao dia de cada desastre registrado, além do cálculo das chuvas
acumuladas de três dias (dia da ocorrência e dois dias antes) e de sete dias (dia da ocorrência e seis dias
antes). Os dados acerca das chuvas acumuladas se mostraram relevantes pois as chuvas de longa duração
podem deflagrar escorregamentos, em função da saturação do talude pela infiltração do solo.
Posteriormente, foi realizado um estudo da série de precipitações do período inteiro (1998-2019),
com o objetivo de identificar a frequência de chuvas e avaliar quantas vezes as mesmas desencadearam
desastres. Os intervalos entre o volume pluviométrico máximo e mínimo ocorrido em cada cidade foram
determinados pela Fórmula de Sturges, que foi aplicada apenas para as localidades onde haviam um número
considerável de casos. Em cidades onde o número de registros foi relativamente baixo, foi adotado o
intervalo calculado para a cidade vizinha que apresentava as características mais próximas, considerando o
volume de chuvas, a geomorfologia da região e a ocupação urbana.
A partir da definição dos intervalos, foram calculadas a probabilidade de ocorrência de chuvas dentro
de cada intervalo (Eq. 1), e a probabilidade de a mesma desencadear um desastre (Eq. 2). Na Tabela 1, é
mostrada a análise para a cidade do Guarujá, considerando as chuvas registradas no dia da ocorrência. Como
citado anteriormente, foram calculadas a quantidade de chuvas no dia da ocorrência, chuva acumulada de 3
dias e chuva acumulada de 7 dias. Dessa forma, para cada cidade, foram obtidas 3 tabelas como a
exemplificada abaixo.
Nc
Po = Tc
∗ 100 (1)
Na qual: Po=Probabilidade de ocorrência de chuva; Nc=Número de chuvas; Tc=Total de dias com chuva.

ND
PD = Nc
∗ 100 (2)
Na qual: PD=Probabilidade da chuva desencadear desastres; ND=Número de desastres.

Tabela 1. Análise da frequência de chuvas para a cidade de Guarujá, considerando o volume de


precipitação no dia da ocorrência.
Intervalo Sturges NC PO (%) ND PD (%)
0 32,5 7656 95,28 15 0,196
32,5 65 276 3,43 0 0,000
65 97,2 71 0,88 5 7,042
97,2 130 18 0,22 10 55,556
130 162,5 10 0,12 6 60,000
162,5 195 2 0,02 0 0,000
195 2 0,02 8 100,000
Total de dias com chuva 8035

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2.2 Critério ambiental

Através do georeferenciamento dos desastres, foi realizada uma análise das características ambientais
das regiões administrativas de Registro e de Santos. A Carta Geotécnica (IPT, 1994) foi utilizada para
determinar a unidade geotécnica de cada uma das ocorrências registradas. A Figura 3 apresenta o mapa obtido,
e as cores de cada ponto indicam a classificação geotécnica do local.

Figura 3. Unidades geotécnicas.

Posteriormente, foram determinados pesos em função do número de desastres ocorridos em cada


unidade de classificação da área em estudo, conforme a Eq. 3
Nuc
P= (3)
Nt
Na qual: P=Peso atribuído ao desastre; Nuc=Número de desastres ocorridos na unidade de classificação;
Nt=Número total de desastres.

A título de exemplo, houve 105 desastres na unidade “Alta Suscetibilidade a Erosão nos Solos
Subsuperficiais”, o que corresponde a 25,5% do total de 412. Assim, foi atribuído um peso de 0,255
(105/412) a todos os desastres que ocorreram nesta unidade. Posteriormente, os pesos referentes às 12
unidades de classficação foram normalizados em valores de 0 a 1, segundo a Eq. 4. Importante ressaltar que
os valores dos pesos e os pesos normalizados são aplicados a região de estudo. Para outra região, deve ser
avaliada a frequência com que os mesmos ocorrem em determinado atributo.

(P− Pmin )
Pn = (P (4)
max −Pmin )
Na qual: Pn=Peso normalizado; P=Peso da unidade de classificação; Pmín= Peso mínimo obtido entre as
unidades de classificação; Pmáx=Peso máximo obtido entre as unidades de classificação.

A mesma metodologia foi aplicada para a determinação das unidades geológicas e geomorfológicas,
e seus respectivos pesos. Para os critérios geológicos, foram avaliados os pesos das características elencadas
no Mapa Geológico (IPT, 1981a). Os critérios geomorfológicos consideraram as litologias existentes na
região segundo o Mapa Geomorfológico (IPT, 1981b) para a obtenção das unidades geomorfológicas e,
posteriormente, dos pesos.
A partir das análises geotécnica, geológica e geomorfológica, foram obtidos os critérios ambientais.
Tal processo se deu pela ponderação dos três fatores citados, como apresentado pela Eq. 5. Posteriormente,
foi determinado um critério ambiental secundário, considerando apenas os fatores geológico e
geomorfológico, conforme mostrado na Eq. 6. Esta segunda análise teve como objetivo avaliar a influência
que o fator geotécnico possui sobre o critério ambiental..

Camb = Ggeol + Ggeom + Ggeot (5)


Camb = Ggeol + Ggeom (6)
Na qual: Ggeol=Geologia do local normalizada; Ggeom=Geomorfologia do local normalizada; Ggeot=Geotecnia
do local normalizada.

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Desta forma, para cada desastre foram obtidos dois critérios ambientais, que foram normalizados
novamente em valores de 0 a 1 (Eq. 4). Posteriormente, os critérios foram divididos em cinco classes, de
acordo com o valor ponderado obtido: nenhum (entre 0 e 0,2), baixo (entre 0,2 e 0,4), médio (entre 0,4 e
0,6), alto (entre 0,6 e 0,8) e muito alto (entre 0,8 e 1,0). A Figura 4 apresenta a espacialização dos critérios
ambientais, realizada através do software QGIS.

Figura 4. Mapa de pontos representando o critério ambiental: (A) considerando os três fatores; (B) sem
considerar o fator geotécnico.

2.3 Critério social

Para caracterizar o critério social da população, foram coletados dados referentes à densidade
demográfica, população idosa e índice de pobreza das regiões em estudo. As informações utilizadas neste
levantamento foram obtidas no site do IBGE, e são relativas ao censo demográfico de 2010. Ademais, os
dados foram colhidos por setores censitários, visando uma maior precisão em relação à coordenada
geográfica em que ocorreu o desastre analisado.
Para este trabalho, o índice de pobreza foi considerado como o número de pessoas com rendimento
nominal mensal de até ¼ de salário mínimo. Este dado foi obtido a partir das informações sobre o número
de domicílios com rendimento nominal mensal domiciliar per capita de até ¼ de salário mínimo e a
população total do setor, conforme a Eq. 7, Palmeira et al. (2019).

DSC
IP = PSC
(7)
Na qual: IP=Índice de Pobreza; DSC=Número de domicílios do setor censitário com rendimento nominal
mensal domiciliar per capita de até ¼ de salário mínimo; PSC=População total do setor censitário.

Os fatores sociais considerados (densidade demográfica, população idosa e índice de pobreza) possuem
unidades diferentes, portanto, foi necessário normalizar os pesos conforme a Eq. 4. Porém, os valores
máximos e mínimos utilizados nos cálculos foram obtidos considerando todo o estado de São Paulo (exceto a
capital paulista). Este procedimento foi adotado para fornecer uma perspectiva melhor do resultado no
contexto do estado inteiro, visto que uma análise considerando apenas as duas regiões administrativas em
estudo poderia falsear os resultados. Com pesos normalizados em valores de 0 a 1, o critério social foi
calculado conforme a Eq. 8.

Csoc = DD + PI + IP (8)
Na qual: DD = Densidade demográfica; EP = População idosa; PI = Índice de pobreza.

2.4 Carta de perigo

Foi elaborada uma matriz de perigo seguindo o conceito proposto por Segoni et al. (2018), e
modificado por Hader et al. (2021), que sugere a determinação de uma relação entre as taxas de precipitação
e as classes de vulnerabilidade na região estudada. Os critérios ambientais foram classificados de A1
(nenhum) até A5 (muito alta), e os critérios sociais foram classificados de S1 (nenhum) até S5 (muito alta).
Os dados foram relacionados em uma matriz, como mostrada na Figura 5, com o objetivo de obter os

13
chamados critérios socioambientais, que foram classificados de SA0 até SA8.
Desta forma, para cada desastre, foi obtido um critério socioambiental. Posteriormente, foi elaborada
uma segunda matriz para correlacionar os critérios socioambientais com os dados de precipitação
(probabilidade da chuva desencadear desastres), representado pelas siglas R0 a R8. Os resultados obtidos
foram as classes de perigo, como apresentado na Figura 6.

Figura 5. Classificação Socioambiental a partir da combinação dos critérios ambientais e sociais.

Figura 6. Classificação do Perigo a partir da combinação de vulnerabilidade socioambiental e chuva.

3 Resultados e Discussão

A espacialização dos dados obtidos a partir da matriz de perigo (Figura 6) resultou nos mapas de
perigo para ocorrência de desastres de origem geotécnica. Como descrito no item 2.1, as chuvas foram
separadas em três tipos: dia da ocorrência, acumulado de três dias e sete dias antecedentes. Cada chuva
gerou dois mapas, em razão dos dois critérios ambientais adotados.
Ao se comparar os mapas A e B das Figuras 7 a 9, é possível observar que os mapas de perigo que
levam em consideração os três fatores (geológico, geomorfológico e geotécnico) apresentam um quadro de
perigo maior do que os mapas produtos do critério ambiental calculado sem o fator geotécnico. Portanto,
pode-se concluir que o acréscimo de critérios ambientais gera um aumento de perigo e, dessa forma,
demonstra a importância de se contabilizar todos os fatores ambientais.
Em toda a faixa litorânea, há considerável perigo de ocorrência de desastres, em especial nas áreas
serranas da Baixada Santista, que também corresponde a região mais populosa do perímetro em estudo.
Além disso, corrobora com Tominaga (2009) ao relatar que os eventos ocorridos na extensão do litoral sul
do estado de São Paulo atingem um grande número de pessoas, visto que chuvas do tipo frontal, que podem
ser muito intensas e de longa duração, são comuns na região.

Figura 7. Perigo de ocorrência de desastres, para a chuva diária. (A) Geologia, Geomorfologia e Geotecnia
como critério ambiental; (B) Geologia e Geomorfologia como critério ambiental.

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Ao se comparar as Figuras 7 e 8, é possível observar a diminuição do perigo no que tange aos desastres
desencadeados por chuvas acumuladas de três dias. O mesmo ocorre ao se avaliar a chuva acumulada de 7
dias, como apresentado na Figura 9. Portanto, se conclui que as chuvas diárias são as que levam ao maior
perigo de ocorrência de desastres de origem geotécnica. Ainda sim, as chuvas acumuladas de três dias
também levam a um nível médio de perigo na região da Baixada Santista e nas cidades de Ilha Comprida e
Iguape, localidades que apresentam relevos marcados pela declividade. As chuvas acumuladas de 7 dias não
se mostraram significativas deflagradoras de desastres, com o quadro de perigo baixo, e pontos médios em
algumas áreas da faixa litorânea.

Figura 8. Perigo de ocorrência de desastres, para a chuva 3 dias: (A) Geologia, Geomorfologia e Geotecnia
como critério ambiental; (B) Geologia e Geomorfologia como critério ambiental.

Figura 9. Perigo de ocorrência de desastres, para a chuva de 7 dias. (A) Geologia, Geomorfologia e
Geotecnia como critério ambiental; (B) Geologia e Geomorfologia como critério ambiental.

4 Comentários finais

A região da Baixada Santista, em especial as cidades de Santos, Guarujá, São Vicente, Cubatão, foram
as áreas que apresentaram maior perigo de ocorrência de desastres de origem geotécnica. Essas cidades
estão entre as mais populosas dentre as 23 analisadas, evidenciando como a interferência humana gera
alterações significativas e deixam a população mais vulnerável aos desastres.
Os critérios sociais também desempenham uma importante função na definição do perigo, em especial
para as cidades da Região Administrativa de Registro, que é a mais pobre do estado, visto que critérios
sociais maiores indicam uma vulnerabilidade maior da população. Ou seja, estes locais se tornam mais
suscetíveis a sofrerem elevados prejuízos no caso de ocorrência de desastres

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio financeiro ao processo nº 2019/26273-0 Fundação de Amparo à Pesquisa do


Estado de São Paulo (FAPESP) pela bolsa de iniciação científica da primeira autora. Também, agradecem
a CAPES pela bolsa de doutorado concedida ao segundo autor

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REFERÊNCIAS

CEMADEN. Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais. Disponível em:


http://www.cemaden.gov.br/. Acesso em: Julho de 2020.
DAEE. Departamento de Águas e Energia Elétrica. Disponível em: http://www.daee.sp.gov.br/. Acesso em:
Julho de 2020.
Dickel , M.E.G. (2016) Eventos Climáticos Extremos na Sub-bacia Hidrográfica do Rio Ribeira do Iguape
e Litoral Sul, SP: Defesa Civil e capacidade operacional para a gestão de riscos. Tese de Doutorado,
Programa de Pós-Graduação em Geografia, Unesp, Rio Claro.
Hader, P.R.P.; Reis, F. A. G. V.; Peixoto, A. S. P. (2021) Landslide risk assessment considering socionatural
factors: methodology and application to Cubatãomunicipality, São Paulo, Brazil. Natural Hazards, 1:1-
32 , v.1, p.1 – 32. doi: 10.1007/s11069-021-04991-4.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:
https://censo2010.ibge.gov.br/sinopseporsetores/?nivel=st . Acesso em: Novembro de 2020.
IPMET. Banco de Dados de Desastres Naturais. Disponível em:
https://www.ipmet.unesp.br/2desastres.php. Acesso em Julho de 2020.
IPT. (1981a) Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas
do Estado de São Paulo.
IPT. (1981b) Mapa Geológico do Estado de São Paulo. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas do
Estado de São Paulo.
IPT. (1994) Carta Geotécnica do Estado de São Paulo. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas do
Estado de São Paulo.
Miguez, M.; Di Gregorio, L.; Veról, A. (2017) Gestão de Riscos e Desastres Hidrológicos, 1. Ed., Elsevier,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 405p.
Nações Unidas para a Redução de Desastres (UNISDR); Centro de Pesquisas de Epidemiologia em
Desastres (Cred). The Human Cost of Weather Related Disasters. Disponível em:
https://reliefweb.int/sites/reliefweb.int/files/resources/COP21_WeatherDisastersReport_2015_FINAL.
pdf. Acesso em Outubro de 2019.
Palmeira, O. F.; Peixoto, A. S. P.; Kaiser, I. M. (2019) Map of Mass Movement in a Region of the State of
São Paulo, Brazil In: XVI Pan-American Conference onSoil Mechanics and Geotechnical Engineering
(XVI PCSMGE), Cancun. Geotechnical Engineering in the XXI Century: Lessons learned and future
challenges. IOS Press. p.1733 – 1740
Pellegrina, G. J. (2011) Proposta de um procedimento metodológico para o estudo de problemas
geoambientais com base em banco de dados de eventos atmosféricos severos. Tese de Mestrado,
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental, Unesp, Bauru.
Santos, B.B.O. (2017) Pluviosidade e Limiares de Estabilidade: Uma Revisão para a Região Metropolitana
da Baixada Santista. Tese de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Unesp, Rio Claro.
Segoni, S.; Tofani, V.; Rosi, A.; Catani, F.; Casagli, N. (2018) Combination of Rainfall Thresholds and
Susceptibility Maps For Dynamic Landslide Hazard Assessment at Regional Scale. Frontiers in Earth
Science, 6:85. doi: 10.3389/feart.2018.00085.
Tominaga, L. K. (2009). Desastres Naturais: Por que ocorrem? In: Desastres Naturais – Conhecer para
prevenir, 1. Ed, Instituto Geológico, São Paulo, SP, Brasil, p. 13 – 23.
Zuquette, L. (2018) Riscos, Desastres e Eventos Naturais Perigosos: Aspectos conceituais na Análise e
Estimativa de riscos, 1. Ed, Elsevier, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

16
Diagnóstico das áreas de risco de deslizamentos do município de
Crato-CE: Uma aplicação da metodologia do Projeto GIDES
João Victor Martins da Paz
Universitário, Universidade Federal do Cariri, Crato – CE, Brasil, joao.martins@aluno.ufca.edu.br

Lucas Silva Mesquita


Universitário, Universidade Federal do Cariri, Crato – CE, Brasil, lucas.mesquita@aluno.ufca.edu.br

Luiz Otávio Ferreira Souza


Universitário, Universidade Federal do Cariri, Crato – CE, Brasil, otavio.ferreira@aluno.ufca.edu.br

Antônio Marcos Cruz da Paz


Universitário, Universidade Federal do Cariri, Crato – CE, Brasil, antonio.marcos@aluno.ufca.edu.br

Pedro Henrique Andrade de Brito


Universitário, Universidade Federal do Cariri, Crato – CE, Brasil, pedro.henrique@aluno.ufca.edu.br

Ana Patrícia Nunes Bandeira


Docente, Universidade Federal do Cariri, Crato – CE, Brasil, ana.bandeira@ufca.edu.br

RESUMO: O município do Crato, localizado no interior do Ceará, na região do Cariri, vem sofrendo diversos
transtornos no ambiente urbano devido ao crescimento populacional acentuado e a ocupação inadequada do
solo. Entre os problemas mais frequentes destacam-se as inundações, os deslizamentos e as erosões, que são
agravados pela deficiência do gerenciamento das áreas de risco. A existência de áreas de risco foi confirmada
por meio de atividades realizadas pela UFC-Cariri, entre os anos de 2012 e 2013; e em 2014, pelo Serviço
Geológico do Brasil (CPRM), quando realizou um mapeamento das áreas de risco do município. O objetivo
deste trabalho é apresentar resultados de um levantamento realizado em 2021, de algumas áreas de risco de
deslizamentos de encostas do município, consideradas mais críticas em levantamentos anteriores. O trabalho
foi desenvolvido por meio de atividades de campo, para coleta de informações das áreas em estudo, e
atividades de escritório. Pelas atividades realizadas, observou-se a necessidade do melhoramento da gestão
das áreas de risco para redução dos desastres naturais e construção de cidades resilientes.

PALAVRAS-CHAVE: Deslizamentos, Mapeamento, Áreas de riscos.

ABSTRACT: The municipality of Crato, located in the interior of Ceará, in the Cariri region, has been
suffering from several disturbances in the urban environment due to the accentuated population growth and
inadequate land use. Among the most frequent problems, floods, landslides and erosions stand out, which are
aggravated by poor management of risk areas. The existence of risk areas was confirmed through activities
carried out by UFC-Cariri between 2012 and 2013; and in 2014, by the Geological Survey of Brazil (CPRM),
when it carried out a mapping of the municipality's risk areas. The objective of this work is to present results
of a survey carried out in 2021, of some areas at risk of landslides in the city, considered more critical in
previous surveys. The work was developed through field activities, to collect information from the areas under
study, and office activities. The activities carried out, showed the need to improve the management of risk
areas to reduce natural disasters and build resilient cities was observed.

KEYWORDS: Landslides, Mapping, Risk areas.

17
1 Introdução

O ambiente urbano sofre diversas alterações, sendo muitas delas inadequadas, causadoras de desastres
naturais, como os deslizamentos e erosões que, por consequência, trazem prejuízos materiais e perdas de vidas,
agravadas pela ausência de gestão dos riscos. No município do Crato (Figura 1), interior do Ceará, algumas
localidades apresentam áreas de risco, podendo ser constatado pelos trabalhos divulgados por Bandeira et al.
(2013) e pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM, 2014). Nas áreas consideradas críticas tinham sido
sugeridas ações estruturais e não estruturais para redução do grau de risco, como implantação de sistemas de
alerta, realizações de obras de engenharia para estabilização dos taludes e recuperação dessas localidades,
assim como a relocação de famílias para locais seguros. Com objetivo de avaliar a situação das áreas de risco
de deslizamentos de encostas do município do Crato, a Liga Acadêmica de Geotecnia da Universidade Federal
do Cariri (UFCA), composta por estudantes do curso de graduação em engenharia civil e coordenada pela
profa. Ana Patrícia N. Bandeira fez, recentemente em 2021, um levantamento das áreas consideradas mais
críticas em mapeamentos anteriores, a fim de avaliar o grau de risco atual das áreas e analisar as ações de
gestão de risco municipal.

Figura 1. Ilustração da localização do município do Crato

2 Metodologia

A área objeto deste presente trabalho, propriamente dito, compreende duas localidades (Figura 2),
consideradas as mais críticas de risco, pelas quais foram identificadas pelos mapeamentos realizados em datas
pretéritas, conforme os trabalhos de Bandeira et al. (2013) e CPRM (2014). As localidades são: Encosta do
Seminário (Setor 1) e a Escadaria do Pequizeiro (Setor 2).
A fim de avaliar o grau de risco atual das áreas, foi aplicada a metodologia proposta pelo Manual de
Mapeamento de Perigo e Risco a Movimentos Gravitacionais de Massa (CPRM/SGB, 2018), elaborado por
meio do Projeto de Fortalecimento da Estratégia Nacional de Gestão Integrada de Desastres Naturais (Projeto
GIDES, 2018), por meio do acordo de Cooperação Internacional Brasil – Japão.
Esta metodologia se baseia na análise da suscetibilidade (perigo) do meio e da vulnerabilidade exposta
ao perigo (consequências). Para análise da suscetibilidade, a metodologia propõe o levantamento de dados, a
delimitação das áreas a serem estudadas e a análise dos processos geológicos atuantes, levando-se em
consideração o histórico de ocorrências de movimentos. Para a delimitação das áreas de estudos, a metodologia
considera os dados topográficos, que permitem identificar o local de interesse, e o local da abrangência do
processo, envolvendo duas áreas (áreas críticas e as áreas de dispersão). No entanto, para o presente trabalho,

18
considerou-se a área de estudo como sendo a mesma delimitada nos mapeamentos anteriores, a fim de analisar
se houve alteração do grau de risco.
A análise de perigo foi realizada por uma da inspeção de campo, onde foram observados os indícios
de instabilidade. O grau do perigo pode se enquadrar em uma das quatro classes: baixo (P1), médio (P2), alto
(P3) ou muito alto (P4). Para análise da vulnerabilidade foram levados em consideração dois fatores: o tipo de
material das moradias e os danos estruturais presentes.
O grau da vulnerabilidade pode ser classificado como baixo (V1), médio (V2), alto (V3) ou muito alto
(V4). A vulnerabilidade é atribuída como baixa quando a moradia não apresenta nenhum indício de danos e
quando há laudo técnico específico atestando a resistência da moradia ao processo, ou seja, como é muito
improvável a existência desse tipo de laudo, o menor grau de vulnerabilidade a ser atribuído será o grau médio
(V2).
Por fim, com a qualificação do grau de suscetibilidade e da vulnerabilidade da área, o grau de risco é
atribuído por meio de uma matriz de correlação entre esses dois fatores, podendo a área ser classificada como
de risco baixo (R1), médio (R2), alto (R3) ou muito alto (R4), conforme apresentada na Figura 3.

Figura 2. Zoneamento das localidades mais críticas do município do Crato-CE. Fonte: CPRM (2014)

Figura 3. Matriz de correlação para o grau de risco. Fonte: CPRM (2018)

19
3 Resultados e Discussões

3.1 Encosta Seminário


Na localidade da Encosta Seminário, classificada anteriormente como de grau de risco muito alto
(CPRM, 2014), devido ao processo de erosão intensa (voçoroca), que colocava em risco 760 moradores, foi
observado que houve ações de gerenciamento para redução do risco. Em 2015 a área foi contemplada com
obras de engenharia, por meio da construção de muro de solo reforçado com geogrelha, além de sistema de
esgotamento sanitário, sistemas de drenagens de águas pluviais e instalação de equipamentos públicos com a
urbanização. Nesta ação, cerca de 20 famílias foram relocadas para outras localidades consideradas seguras ao
deslizamento.
De acordo com a metodologia aplicada neste trabalho, as ações estruturais realizadas na Encosta
Seminário possibilitaram reduzir o grau de suscetibilidade ao deslizamento para baixo (P1). No entanto, pelo
fato das moradias que se encontram próximas aos taludes não possuírem laudo técnico de resistência aos
deslizamentos, o grau de vulnerabilidade atual da área é médio (V2). Aplicando a matriz de correlação, o grau
de risco da área foi atribuído como médio (R2). As Figuras 4a e 4b apresentam as condições da área, antes e
depois das ações na localidade, respectivamente.

(Fonte: Os autores, 2011) (Fonte: os autores, 2021)


Figura 4. Encosta Seminário, Crato-CE

Apesar das ações estruturais e obras de urbanização na Encosta Seminário, algumas falhas foram
constatadas na vistoria de campo, com destaque à falta de manutenção da obra e ações inadequadas por parte
da população, tais como: canaletas de drenagem obstruídas por lixo, trechos da encosta sem tratamento algum
(tratamento incompleto), águas servidas lançadas diretamente no solo, ausência proteção superficial em alguns
trechos da encosta, desvio da drenagem das águas pluviais, acúmulo de massa de solo deslizado. Esses fatores
contribuem para ocorrências de futuros deslizamentos na área, como o que ocorreu em 2019, após fortes chuvas
no município, passando atualmente por uma reestruturação de estabilização da encosta. As imagens da Figura
5 apresentam essas situações.
Ressalta-se que a falta de manutenção da obra e a falta de educação ambiental da população poderão
agravar a suscetibilidade da área para grau médio (P2), alterando, após aplicação da matriz de correlação com
a vulnerabilidade, o grau de risco para alto (R3) na medida que a situação vai se agravando. Os moradores da
localidade relataram que, durante as chuvas, o solo, que é predominantemente arenoso, desliza um pouco mais;
e que surgem rachaduras nas casas após os eventos chuvosos. A ausência de uma vistoria periódica na
localidade é um dos fatores que agravam as situações de risco. Ainda segundo relato dos moradores, a
aproximação do poder público com a população local é deficiente.
Para redução do grau de risco nessa área recomenda-se vistoria periódica, assim como execução de
programas de conscientização no que diz respeito à manutenção dos espaços públicos da encosta e ao correto
destino dos resíduos sólidos e líquidos.

20
a) Interrupção da drenagem. b) Falta de manutençao nas canaletas de
drenagem.

c) Lançamento de águas servidas no solo. d) Calha de drenagem obstruída.

e) Lançamento de água na escadaria por ausência f) Falta de manutençao nas canaletas de


de complemento do sistema de drenagem drenagem.

g) Trecho deslizado em 2019 h) Trecho recuperado em 2021

Figura 5. Situações observadas na Encosta Seminário. (Fonte: Os autores)

21
3.2 Localidade do Pequizeiro

Na Localidade do Pequizeiro, a área tinha sido classificada, em 2014, como de risco muito alto
(CPRM, 2014), devido ao processo evidente de movimentação (cicatrizes de deslizamentos) que colocava em
risco a vida de cerca de 224 moradores da área. Em 2017 essa área recebeu ações de redução de risco, porém
não duraram por muito tempo.
Durante a vistoria de campo, foi observado que a área ainda apresenta vários problemas, como
cicatrizes de escorregamentos, taludes sem proteção superficial expostos às ações das chuvas e lançamentos
de águas servidas diretamente no solo com predominância de textura arenosa, agravando a suscetibilidade. Foi
observado também a alta vulnerabilidade das moradias, através das trincas nas paredes e nos pisos. Moradores
da localidade relataram que durantes as chuvas, as casas são invadidas com a lama formada pela água e solo
que descem da escadaria existente no local, visto que não há canaleta de drenagem. As imagens da Figura 6
apresentam as situações encontradas na localidade.
De acordo com o que foi observado no campo, o grau de suscetibilidade é alto (P3) e o grau de
vulnerabilidade das moradias é muito alto (V4), refletindo em uma área com grau de risco muito alto (R4), ao
aplicar a matriz de correlação do método empregado. Apesar das medidas implantadas em 2017, as evidências
de movimentação ainda são presentes e a população que ali vive se encontra em situação de risco de perderem
suas moradias e suas vidas, caso a gestão de risco não seja eficaz.
Para redução do grau de risco nessa área recomenda-se implementar obras de contenção dos taludes
no entorno da escadaria e das casas, sistemas de drenagem eficiente, realizar manutenção periódica das obras,
fazer monitoramento constante na área, implantar sistema de alerta, além de realizar campanhas educativas
que visem a conscientização da população para preservação das obras e do espaço urbano.

(a) Vista geral dos taludes na área (b) Lançamento de águas servidas no solo.

(c) Talude sem proteção e escaderia sem d) Residência com vulnerabilidade alta
drenagem.
Figura 6. Problemas na localidade do Pequizeiro.

22
4 Conclusões

Por meio desse trabalho verificou-se que, mesmo após as melhorias realizadas nas localidades, a falta
do tratamento global e de manutenção das obras tornam as áreas com grau de risco acima do baixo. Na Encosta
do Seminário, que teve seu grau de risco reduzido de muito alto (R4), em 2014, para médio (R2), em 2021,
observou-se que são necessários constantes cuidados de manutenção e conscientização da população, para que
o grau de risco não venha se agravar, ou seja, as ações não estruturais devem fazer parte da gestão de risco
municipal além das ações estruturais.
Os moradores das localidades estudadas têm a percepção dos riscos, no entanto a falta de educação
ambiental da população ofusca a responsabilidade conjunta (poder público e moradores). Os fatores
observados permitem concluir que é imprescindível o constante gerenciamento das áreas, independente dos
graus de risco, a fim de evitar o agravamento das situações e os registros de desastres. Sendo assim, a
manutenção periódica das obras é uma ação importante, assim como as ações de educação ambiental, visando
proporcionar ainda mais a percepção dos riscos pelos moradores e apresentar as responsabilidades de cada um,
contribuindo com uma eficiente gestão dos problemas ambientais urbanos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradem à Universidade Federal do Cariri, por tornar possível a realização desse trabalho, a
seu corpo docente e a Liga Acadêmica de Geotecnia – UFCA, pelo apoio e incentivo à produção acadêmica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BANDEIRA, A. P. N.; MARIANO; FEITOSA, J. R. L. (2013). Análise de Risco de Erosão na Localidade do


Pequizeiro. Crato/CE. In: Congresso Brasileiro de Estabilidade de Encostas, 2013, Angra dos Reis.
COBRAE 2013.
CPRM - Coordenação: Jorge Pimentel e Thiago Dutra dos Santos (2018). Manual de Mapeamento de Perigo
e Risco a Movimentos Gravitacionais de Massa – Projeto de Fortalecimento da Estratégia Nacional de
Gestão Integrada de Desastres Naturais – Projeto GIDES. Rio de Janeiro: CPRM/SGB – Serviço
Geológico do Brasil.
CPRM - Unidade Residência de Fortaleza (2014). Ação Emergencial para delimitação de Áreas em Alto e
Muito Alto Risco a Enchentes e Movimentos de Massa. Crato.
SANTOS, T. D. D.; PEIXOTO, D. D.; SILVA, D. R. A. D.; LOPES, N. D.; RIBEIRO, R. S.; SILVA, L. F.
M.; PIMENTEL, J. (2018) Manual de Mapeamento de Perigo e Risco a Movimentos Gravitacionais de
Massa (Projeto Gides).

23
O Mapeamento Geotécnico como Instrumento de Gestão do
Território: Uma Análise Bibliométrica da Produção Científica
Nacional e Internacional
André Felipe Bozio
Mestrando em Gestão Territorial, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
andrefbozio@gmail.com

Vivian da Silva Celestino Reginato


Doutora em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
vivian.celestino@ufsc.br

Helen Aline Jacinto


Mestranda em Gestão Territorial, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
helenalinesenai@gmail.com

RESUMO: Os documentos provenientes dos mapeamentos geotécnicos são importantes norteadores para
planejadores e gestores territoriais, tornando-os fortes instrumentos. Haja vista a necessidade da elaboração de
cartas relativas ao mapeamento geotécnico, é notório que os conhecimentos acerca do estado da arte seja um
fator relevante para a contribuição do campo teórico da temática. Neste sentido o objetivo deste artigo é
apresentar um panorama da produção científica acerca do mapeamento geotécnico de forma a contemplá-lo
como instrumento de gestão do território. Como método para se chegar aos resultados foi utilizada a pesquisa
bibliográfica exploratória e bibliométrica, que permitiu realizar uma revisão sistemática da literatura da área a
partir das produções brasileiras e internacionais produzidas entre os anos de 2000 e 2019. Foram analisados
41 trabalhos, categorizados de acordo com a área de estudo mapeada. Os produtos analisados também foram
classificados por suas abordagens metodológicas, temporais, autorais e temáticas. Os resultados advindos da
pesquisa providenciaram uma perspectiva panorâmica científica acerca do conceito de mapeamento
geotécnico, revelando-o como um influente instrumento de subsídio ao planejamento e gestão territorial das
cidades.

PALAVRAS-CHAVE: Mapeamento Geotécnico; Gestão Territorial; Planejamento Territorial; Instrumento


de Gestão Territorial; Bibliometria.

ABSTRACT: Documents from geotechnical mapping are important guides for territorial planners and
managers, making them strong instruments. Given the need to prepare maps related to geotechnical mapping,
it is clear that knowledge about the state of the art is a relevant factor for the contribution of the theoretical
field of the subject. In this sense, the objective of this article is to present an overview of the scientific
production on geotechnical mapping in order to contemplate it as a territorial management tool. As a method
to arrive at the results, exploratory and bibliometric bibliographic research was used, which allowed a
systematic review of the literature in the area from the Brazilian and international productions produced
between the years 2000 and 2019. 41 works were analyzed, categorized according to with the mapped study
area. The analyzed products were also classified by their methodological, temporal, authorial and thematic
approaches. The results from the research provided a panoramic scientific perspective on the concept of
geotechnical mapping, revealing it as an influential instrument to support the planning and territorial
management of cities.

KEYWORDS: Geotechnical Mapping; Territorial Management; Territorial Planning; Territorial


Management Instrument; Bibliometrics.

1. Introdução

O acelerado e desordenado crescimento populacional no território impacta diretamente os sistemas


ambientais e físicos das cidades, desde as primeiras décadas do século XX (XAVIER E BRESSANI, 2019).
Esta situação resulta em alterações e impactos como desmatamentos, disposição inadequada de resíduos

24
sólidos, inundações, ausência de tratamento de efluentes e movimentos de massa (RUIZ JUNIOR e
OLIVEIRA, 2013).
A partir desta problemática, surge a necessidade de investigar e cartografar o meio físico no contexto
geológico-geotécnico (XAVIER e BRESSANI, 2019). Para fins de uso e ocupação do solo as investigações
prévias garantem ao planejador territorial um maior grau de confiabilidade em seus projetos (MASOUD,
2016), e aos gestores territoriais, um maior domínio e reconhecimento do território (EL AAL e MASOUD,
2018).
Na conjuntura das aplicações práticas deste tipo de cartografia, Andrade e Quinta-Ferreira (2017)
afirmam que o mapeamento geotécnico se aplica em projetos de ordenamento e planejamento territorial, obras
de grande e pequeno porte, sendo elas lineares ou pontuais, aplicações em análises de estabilidade de taludes,
acerca dos desastres naturais e áreas de risco.
A partir da contextualização por hora desenhada, é proposto o seguinte questionamento: Como estão
sendo desenvolvidos os estudos em âmbito nacional e internacional, relativos aos trabalhos de mapeamento
geotécnico como instrumento de gestão territorial, de forma a compor o estado da arte para esta temática?
A análise bibliométrica, área conexa à Ciência da Informação, proporciona um relevante diagnóstico da
produção científica acerca de um determinado tema, já que retrata o comportamento e o desenvolvimento,
apontando lacunas teóricas e empíricas de certo campo de conhecimento (ARAÚJO e ALVARENGA, 2011),
quantificando as características presente em uma determinada amostra de trabalhos (PRITCHARD, 1969;
TAGUE-SUTCLIFFE, 1992).
Destarte, o objetivo deste artigo é apresentar um panorama da produção científica acerca do mapeamento
geotécnico de forma a contemplá-lo como instrumento de gestão do território. Especificamente o objetivo é
apresentar um panorama da produção científica engendrada em âmbito brasileiro e mundial ocorrida nos
primeiros anos do século XXI.
Este estudo contribui ao apresentar a produção científica dos trabalhos relativos ao mapeamento
geotécnico, o que viabiliza, a partir das lacunas identificadas, delinear uma agenda de pesquisa futura.

2. Materiais e Método

Tendo em vista o objetivo proposto, realizou-se um levantamento bibliográfico em relação ao


mapeamento geotécnico de forma a reunir sua produção científica, no lapso temporal entre 2000 a 2019,
contemplando as publicações em periódicos indexadas nas seguintes bases de dados: Scielo, Web of Science,
Scopus, Science Direct, juntamente com uma pesquisa dos artigos na base Google Scholar.
Cabe salientar que a triagem da amostra inicial se deu pelas seguintes palavras chaves: Geotechnical
Mapping, Geotechnical Cartography, e no idioma português: Mapeamento Geotécnico e Cartografia
Geotécnica. A escolha pelas palavras chaves em inglês se justifica pelo objetivo do artigo, visto que pretende-
se analisar o contexto internacional das pesquisas em mapeamento geotécnico, ademais, as portuguesas se
esteiam na ideia da análise da produção em nível nacional. O período de acesso nas bases de dados ocorreu no
mês de maio de 2020.
Como estratégia metodológico para realização da bibliometria, foi utilizado o método de Systematic
Review, elaborada por Dybå e Dingsøyr (2008), os quais definem uma estrutura de triagem de artigos
relevantes de um determinado campo de conhecimento. O método consiste em uma triagem por etapas dos
estudos encontrados nas bases de dados, analisando em cada uma destas algum tópico específico do texto,
finalizados com a leitura integral do trabalho. Para elucidar as etapas deste método e o processo de filtragem
dos trabalhos que constituem a amostra final, a Figura 1 determina um resumo das etapas.

Figura 1. Processo de seleção dos trabalhos

O primeiro estágio consistiu na triagem de todos os artigos encontrados nas bases de dados, por meio
das palavras chaves supracitadas. Foram encontrados 794 trabalhos, contendo apenas artigos de periódicos.
Nesta primeira triagem, a amostra integral compôs-se de artigos duplicados e/ou que não necessariamente
fossem relacionados à temática.

25
Na segunda etapa, foram observados e selecionados trabalhos nos quais continham em seu título e/ou
palavras-chave, os termos utilizados para buscá-los (Geotechnical Mapping, Geotechnical Cartography,
Mapeamento Geotécnico e Cartografia Geotécnica). Dybå e Dingsøyr (2008) informam que os trabalhos
duplicados sejam descartados nesta fase, bem como artigos que não condizem com a temática em questão.
Neste sentido, foi descartado o total de 722 artigos, resultando em uma amostra de 72 textos.
No terceiro estágio, a amostra de 72 artigos foi submetida a uma análise criteriosa dos resumos e
palavras-chave. Esta etapa consistiu em verificar o objetivo principal do artigo, no qual o mesmo deveria
abordar a elaboração de um mapeamento geotécnico, independente da sua finalidade, ou ensaios teóricos
relacionados ao tema, reduzindo a amostra em 50 artigos. De modo final, o quarto estágio abarcou a leitura
integral e crítica dos textos em seu alto teor, considerando aqueles que realmente tratam a temática como ponto
central do trabalho, não apenas o citam. Portanto, a amostra final analisada foi de 41 artigos.
Os trabalhos selecionados foram analisados e categorizados por meio de um fichamento, reunindo as
principais informações contidas em cada artigo. Após isto, os textos foram categorizados e planilhados
eletronicamente. Nesta etapa de organização, os textos foram divididos em duas planilhas, delimitadas pela
área de estudo. Estruturou-se uma planilha contendo pesquisas fora do Brasil e outra, delimitando-se na escala
nacional, com a aplicação do mapeamento geotécnico no território brasileiro.
A partir desta divisão, cada planilha contendo os trabalhos foi dividida de acordo com os seguintes
atributos: (1) autor(es), (2) nome da revista, (3) área de estudo, (4) ano de publicação, (5) instituição de origem
dos autores, (6) palavras-chave, (7) objetivos do mapeamento, (8) método de cartografia geotécnica e (9)
softwares utilizados.

3. Resultados e Discussões

A partir dos 41 artigos obtidos no Estágio IV, 27 deles foram classificados como estudos realizados
em âmbito nacional. Já os 14 artigos restantes foram classificados como estudos realizados em âmbito
internacional.

3.1 Panorama da Produção Científica Internacional

Os primeiros resultados dizem respeito à quantidade de artigos encontrados em áreas de estudos fora do
Brasil, conforme Figura 2. Com uma amostra final de 14 artigos, 12 artigos possuem teor teórico-empírico,
com áreas de estudos delimitadas, apresentando dados relevantes ao contexto estudado, e dois artigos abarcam
ensaios teóricos.

Figura 2. Mapa de localização das áreas de estudo internacionais.

A partir da triagem dos dados foi possível destacar três autores que publicaram mais de uma vez com o
tema sobre mapeamento geotécnico, sendo eles BELLAKHDAR, K., HOUMADI, Y. H. e MASOUD, A. A.
A partir das análises realizadas pelo planilhamento dos artigos identificou-se que as instituições que
mais publicaram entre os períodos de 2000 a 2019 foram a University of Kufa, localizada no Iraque e a Tanta
University, localizada no Egito.
Estes estudos trouxeram o mapeamento como subsídio a explicação para os fenômenos de argilas

26
expansivas em zonas de risco (HOUMADI et al., 2009; MOHAMMED et al., 2010; EL AAL e MASOUD,
2018), justificado pelo fato destas áreas estarem contidas em zonas em que o solo sofre longos períodos de
cheias e grandes períodos de seca, ocasionando desta forma uma expansão e contração deste (CAMERON,
2006; CLAYTON et al., 2010).
Quanto ao ano de publicação dos artigos em área de estudo internacional, observa-se na Figura 3 que os
anos de 2016, 2017 e 2018 obtiveram maior número de pesquisas relacionados, apresentando três publicações
para cada ano.
Considerando que foram analisados os últimos 20 anos, é razoável afirmar que a quantidade de estudos
realizados é baixa, por ora, uma temática já bem explorada, retratando a incipiência das pesquisas em âmbito
internacional. Na primeira década analisada, apenas quatro publicações foram encontradas. A partir de 2011
conclui-se que houve um esforço eminente na produção científica internacional nesta área do conhecimento,
totalizando dez trabalhos. Ainda que seja perceptível a lacuna no tocante ao mapeamento geotécnico neste
período, houve um leve aumento a partir da segunda década.

Figura 3. Publicações internacionais por ano.

As temáticas centrais destes trabalhos são lideradas pela construção de banco de dados geotécnicos com
26,67% da amostra, buscando contribuir nas investigações geotécnicas locais para emprego de uso e ocupação
do solo, geoespacializando por meio de softwares SIG os parâmetros geotécnicos para cada área. Logo após,
são classificados artigos que objetivaram a construção do mapeamento geotécnico como subsídio ao
planejamento territorial (20,00%) trazendo contribuições acerca da otimização da gestão dos planejadores,
fazendo com que estes nas etapas de projeto e planejamento observem áreas de risco ou que gerem custos
excessivos às obras de engenharia civil (GURE et al., 2013; MASOUD, 2016), podendo servir como
mitigadores e para análises de desastres naturais (MARTÍNEZ-GRAÑA et al., 2013), apesar destes mapas não
substituírem análises pontuais para as diferentes obras civis (GURE et al., 2013).
A fim de utilizar estes mapeamentos para análises das fundações (13,33%), os autores buscaram
geoespacializar os parâmetros geotécnicos de forma a retirarem aspectos acerca das fundações e contribuir
com a adoção de medidas preventivas e de controle nos projetos e obras (LILLOUCH et al., 2018; EL AAL e
MASOUD, 2018). As áreas de risco (13,33%) também foram foco destes trabalhos, retratando as primeiras
estimativas em áreas de deslizamento de terra (HOUMADI et al., 2009) e expansão dos solos (MOHAMMED
et al., 2010). Por fim, foram levantados trabalhos relacionados a movimento de massa, riscos sísmicos,
suscetibilidade de solos, ambos com apenas um artigo (6,67%).
No âmbito de natureza do artigo, o único ensaio teórico traz as principais contribuições da cartografia
geotécnica com fins ao planejamento urbano, à ocupação racional dos terrenos e para as construções civis
(pontuais ou lineares), igualmente, realiza um apanhado histórico da cartografia geotécnica em Portugal
(ANDRADE e FERREIRA, 2017).
É razoável afirmar que há uma incipiência na produção de artigos teóricos os quais buscam uma
discussão conceitual das práticas de mapeamento geotécnico, trazendo à luz a necessidade de desenvolver os
conceitos acerca desta prática no contexto internacional. Contudo, os artigos empíricos, aqueles que aplicaram
as técnicas de mapeamento geotécnico em uma determinada área de estudo, trazem nas descrições de suas
metodologias um enredo não padronizado e uma metodologia de mapeamento não justificada para as
determinadas áreas de estudo, visto que isso assume grande responsabilidade na qualidade do produto final.
Em uma amostra de 14 artigos empíricos, apenas quatros determinaram de forma explícita a escolha de
um método previamente definido acerca do mapeamento, sendo que dez destes, ou seja, 71% da quantidade
de artigos empíricos internacionais não delimitam de forma clara e explícita o método e a escolha deste para
sua aplicação.
Realizou-se juntamente uma análise dos subsídios digitais e softwares para a organização, compilação
e representação das propriedades e produtos finais do mapeamento. A maioria dos autores descreveu como

27
"um software da plataforma GIS" (40%), ou não especificaram (27%). Dentre os softwares descritos destacam-
se o ArcGIS (13%), ArcView (6%), Surfer (7%) e MapInfo (7%).

3.2 Panorama da produção Científica Brasileira

Na triagem dos artigos obteve-se 27 trabalhos nacionais. Da amostra total para nível nacional, 25 artigos
são considerados empíricos, apresentando informações e resultados acerca das áreas de estudos determinadas.
E dois artigos enfatizam a teoria. As localizações das áreas estudadas em território brasileiro estão identificadas
por meio da Figura 4.

Figura 4. Mapa de localização das áreas de estudo nacionais.

A partir da geoespacialização dos pontos estudados, nota-se uma prevalência em áreas da região Sul (11
trabalhos) e Sudeste do Brasil (sete trabalhos).
Relacionado aos autores brasileiros que mais publicaram (publicaram mais de um trabalho no lapso
temporal), somam-se o total de seis pesquisadores, retratados pela Tabela 1.

Tabela 1. Autores nacionais que mais publicaram.


Nº de
Autor Instituição Área de estudo
publicações
Collares, E. UEMG Delfinópolis (MG) e Passos (MG) 2
De Melo, N. A. UEMG Delfinópolis (MG) e Passos (MG) 2
Gomes, R. L UESC Ilhéus (BA) 2
Higashi, R. A. R UFSC São José (SC) e Ilhota (SC) 2
Jacó, A. P. UEMG Delfinópolis (MG) e Passos (MG) 2
Porto Ferreira (SP) e Rio Clarinho
Lorandi, R. UFSCar 2
(SP)

Diante do exposto foram realizadas pesquisas acerca dos perfis destes pesquisadores, trazendo suas áreas
de conhecimento e formação, por meio da Plataforma Lattes do CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Diante desta busca, pode-se concluir que a formação dos
pesquisadores caminha entre as áreas de geologia, engenharia civil e ambiental, permeando-se nas áreas de
conhecimento acerca da pedologia, geotecnia, engenharia urbana, cartografia temática, geoprocessamento e
para todos os pesquisadores, o planejamento territorial, como área igualmente estudada por todos.
Dentre as universidades que mais realizam estudos sobre mapeamento geotécnico é possível destacar a
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tendo quatro publicações entre os anos de 2000 a 2019,
seguidas da UNESP e UFRGS, com total de três publicações, e da UFSCar, UEMG e UnB com duas
publicações cada.
Em relação ao ano de publicação, ressalta-se uma maior quantidade nos últimos cinco anos, conforme
o Figura 5. Já nos anos de 2001 a 2004, 2013 e 2015 não houve publicações sobre o tema abordado.

28
Figura 5. Publicações nacionais por ano

Quanto às temáticas abordadas nestes 27 artigos, a maioria deles apresenta como finalidade o
planejamento territorial, totalizando dez artigos, de acordo com a Tabela 02.

Tabela 2. Temáticas abordadas no mapeamento geotécnico em nível nacional


Temática %
Planejamento Territorial 33,33
Movimentos de Massa 14,81
Estradas 11,11
Fundações 11,11
Teórico 7,41
Uso e Ocupação do Solo 7,41
Avaliação Ambiental 3,70
Banco de Dados 3,70
Erosão 3,70
Resíduos Sólidos 3,70

A respeito destas temáticas, o planejamento territorial lidera o ranking. Estes estudos trazem
contribuições de forma a subsidiar futuras expansões territoriais (XAVIER e BRESSANI, 2019) de forma a
verificar as variações de possíveis ocupações e utilizações do meio físico, bem como às limitações para
atividades humanas (SILVA et al., 2000). A partir da coleta de dados, especializando-os em softwares de SIG
podem-se analisar informações e pontuar áreas de riscos para mineração, áreas ribeirinhas, drenagem da
cidade, entre outras (PONS e PEJON, 2008).
No que tange aos artigos relacionados aos movimentos de massa, a aplicação do mapeamento geotécnico
como subsídio à modelos matemáticos de suscetibilidade foram demonstrados por meio dos estudos de
Sbroglia et al. (2016) e Rosolem et al. (2017), contribuindo de forma direta em análises pontuais de
deslizamentos de terra, fluxo de deslizamento, haja vista que estes estudos morfodinâmicos podem se associar
à caracterização geológica-geotécnica (AMORIM et al., 2017). No contexto do uso e ocupação do solo,
seguindo os objetivos do mapeamento geotécnico, Pereira e Zaine (2007) definiram unidades geotécnicas com
aptidão para urbanização e para outras classes de ocupação, e, Costa e Alves (2006) especificaram frentes de
expansão para a cidade.
Nas análises acerca das fundações dos edifícios, as pesquisas nacionais buscaram caracterizar as áreas
de estudos por meio de ensaios geotécnicos definidos. Utilizaram-se parâmetros oriundos de ensaios SPT,
CPTu, ensaios de palheta, retirada de amostras indeformadas, ensaios oedométricos e DPL (FOLLE et al.,
2008; MARQUES et al., 2016; LUPATINI et al., 2018). São apresentados trabalhos que contribuem de forma
direta nos projetos viários, e que justifiquem a relevância do mapeamento geotécnico para a área de transportes,
subsidiando o traçado de rodovias (MASSOCO et al., 2019) e em questões ambientais e de suscetibilidade ao
longo das estradas (FERNANDES e CERRI, 2011), ainda, apresentaram-se metodologias que contemplassem
parâmetros relevantes para estes tipos de projetos (RIBEIRO et al., 2018). Ainda sobre avaliação ambiental, o
trabalho de Gomes e Teixeira (2011) analisou por meio de mapas geotécnicos áreas possíveis para instalação
de postos de combustíveis.
Foram aplicadas técnicas de mapeamento geotécnico para análises da erosão do solo (HEIDEMANN,
2014) e para disposição de resíduos sólidos (SILVA et al., 2005).

29
Dentre os softwares mais utilizados para a realização do mapeamento geotécnico em nível nacional,
destaca-se o ArcGIS, totalizando 32%. Vale ressaltar que 29% dos artigos não especificam quais softwares
utilizam.
Entre os periódicos com maiores índices de publicações (acima de duas) de artigos oriundos de áreas
brasileiras, estão a Revista Brasileira de Cartografia (n = 4), seguindo com a Caminhos de Geografia (n = 2),
Ciência et Praxis (n = 2), Geociência/Geosciences (n = 2), Revista Brasileira de Geociências (n = 2) e a Soils
and Rocks (n = 2). Partindo-se de uma análise de seus escopos, percebe-se uma aproximação às temáticas de
ciências humanas, tecnológicas e ambientais, cartografia, Sistema de Informação Geográfica, cadastro
territorial, geodésia, fotogrametria, hidrografia, sensoriamento remoto, engenharia geotécnica, geológica e do
desenvolvimento territorial. Portanto, áreas correlatas às geociências.

4. Conclusões

Conclui-se que o presente estudo contribuiu com o desenvolvimento teórico a respeito do mapeamento
geotécnico por meio de uma revisão sistemática e bibiométrica e da proposta de reflexões e direcionamentos
sobre o tema.
A partir das análises desenvolvidas pela pesquisa apresentada, puderam-se delimitar diversas lacunas
pelas quais impulsionarão futuras pesquisas na temática. A falta de padronização acerca das apresentações das
coletas de dados e qualidade destes ficou evidente. São incipientes os trabalhos que delimitam um método de
mapeamento geotécnico, de forma a delinear um fluxo claro das etapas de trabalho. A apresentação dos
produtos cartográficos gerados não segue um modelo previamente estabelecido. É razoável apontar a
necessidade de uma estruturação de banco de dados, haja vista que os trabalhos de cartografia geotécnica
dependem diretamente deles.
Alguns autores trazem a necessidade de investigação dos parâmetros geotécnicos por meio de outros
métodos investigativos, como a geofísica.
Também se verificou que, quando apresentados de forma tridimensional os resultados poderiam
otimizar os projetos de engenharia.
Foi possível concluir que devem ser desenvolvidos métodos específicos para diferentes tipos de solo,
em diferentes contextos de análise e que muitas vezes são somente replicados alguns métodos.
Foi considerado importante o levantamento histórico acerca de deslizamentos de terra ocorridos em anos
anteriores às publicações das pesquisas, assim como é importante verificar as coberturas vegetais, as
classificações do uso e ocupação do solo, bem como as áreas de expansão urbana existentes na área mapeada.
É fátua a necessidade de incorporarem-se novas variáveis para criações de modelos de abstração do solo
(umidade, índice de radiação solar, iluminação), variáveis que podem ser obtidas através de modelos digitais
ou imagens de satélite.
Pode ser verificada, também, a carência de trabalhos que contemplem análises mais pontuais acerca das
unidades geotécnicas delimitadas, como estudos de caso em taludes, áreas de disposição de resíduos, obras
viárias, entre outros.
Quanto as limitações desta pesquisa, é importante salientar que este estudo não visou esgotar a literatura
nacional ou internacional sobre o tema, visto que o limite estabelecido se propôs somente a investigar as
publicações ocorridas em determinada época e que a mesma se restringiu aos periódicos científicos.
Os poucos trabalhos encontrados no Brasil e no mundo assinalam a predominância de estudos empíricos,
mas evocam o desenvolvimento teórico na área. Alguns adotam a abordagem multimétodo, privilegiam o
aprofundamento dos temas com as técnicas qualitativas, bem como preservam a objetividade e precisão da
pesquisa quantitativa.
Por fim, conclui-se que, apesar das limitações apresentadas, o principal objetivo deste estudo foi
alcançado, desvelando o quadro conceitual a respeito da cartografia geotécnica por meio da apresentação do
estado da arte, do panorama da produção nacional e internacional, e, principalmente, do direcionamento para
pesquisas futuras.
Considerando a relevância do conceito acerca do mapeamento geotécnico, foi proposto aqui um ponto
de partida para a realização de futuras investigações que abracem uma melhor compreensão da área.

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32
Mapeamento Geotécnico Preliminar do Município de Brusque
(SC): Um Subsídio ao Planejamento Territorial
André Felipe Bozio
Mestre em Gestão Territorial, Universidade Federal de Santa Catarina e Instituto Brusquense de
Planejamento, Florianópolis, Brasil, andrefbozio@gmail.com

Vivian da Silva Celestino Reginato


Doutora em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
vivian.celestino@ufsc.br

RESUMO: Como instrumento de gestão territorial, o mapeamento geotécnico auxilia gestores municipais,
técnicos e agentes públicos na gestão das áreas de risco de municípios afetados por estas problemáticas. O
município de Brusque está contido nas cidades que mais são atingidas por desastres naturais em Santa Catarina.
Com uma geomorfologia atípica, circundada de relevo ondulado e fortemente ondulado, a cidade é palco de
um rápido crescimento urbano e enfrenta problemas na necessidade de sua expansão territorial, principalmente
em seu contexto geológico-geotécnico. Diante disso, o mapeamento dos atributos físicos ligados à geotecnia
suprirá de forma inicial o reconhecimento da realidade territorial. O objetivo deste trabalho foi realizar o
mapeamento geotécnico preliminar do Município seguindo a metodologia mais utilizada para o sul do Brasil
e para os solos tropicais. Como resultado da sobreposição de mapas temáticos, pedológicos e geológicos, as
unidades geotécnicas foram definidas, e suas características quantificadas, gerando uma visão global da
realidade municipal neste contexto. Por fim, destaca-se que o trabalho desenvolvido contribui para
fundamentar as ações de planejamento, frentes de expansão, e gestão do uso do solo de Brusque (SC), à medida
que o mesmo contempla a espacialização dos variados tipos de substratos presentes no local.

PALAVRAS-CHAVE: Mapeamento Geotécnico, Unidades Geotécnicas, Áreas de Risco, Solos Tropicais.

ABSTRACT: As a territorial management tool, geotechnical mapping helps municipal managers, technicians
and public agents in the management of risk areas in municipalities affected by these problems. The
municipality of Brusque is one of the cities that are most affected by natural disasters in Santa Catarina. With
an atypical geomorphology, surrounded by undulating relief and strongly undulating, the city is the stage of
rapid urban growth and faces problems in the need for its territorial expansion, especially in its geological-
geotechnical context. Therefore, the mapping of physical attributes linked to geotechnics will initially provide
the recognition of the territorial reality. The objective of this work was to carry out the preliminary geotechnical
mapping of the Municipality following the most used methodology for southern Brazil and for tropical soils.
As a result of the overlapping of thematic, pedological and geological maps, the geotechnical units were
defined and their characteristics quantified, generating a global vision of the municipal reality in this context.
Finally, it is noteworthy that the work developed contributes to support the planning actions, expansion fronts,
and land use management in Brusque (SC), as it contemplates the spatialization of the various types of
substrates present in the site.

KEYWORDS: Geotechnical Mapping, Geotechnical Units, Risk Areas, Tropical Soils.

1 Introdução

O rápido crescimento das cidades e meios urbanos impacta diretamente os meios físicos e ambientais,
desde o começo do século passado (XAVIER; BRESSANI, 2019). Estas complicações originam problemas
no contexto de desmatamentos, movimentos de massa, áreas incorretas para disposição de resíduos sólidos,
inundações, e ocupações de risco (RUIZ JUNIOR; OLIVEIRA, 2013).
Diante destas problemáticas, as investigações do solo, um dos objetos principais a serem analisados para
fins de planejamento de uma cidade, surge com a finalidade de geoespacializar por meio de mapas, divididos
em polígonos homogêneos, as tipologias de cada um (XAVIER; BRESSANI, 2019). Desta forma, a cartografia
geotécnica garante aos projetistas de obras pontuais e lineares uma maior confiabilidade e otimização nas
etapas de projeto (MASOUD, 2016) e aos planejadores e gestores territoriais uma visão geral e diagnóstica
das cidades e regiões (EL AAL; MASOUD, 2018).

33
Nas aplicações práticas do mapeamento geotécnico, este documento subsidia o traçado das frentes de
expansão das cidades e área urbanas, em obras de grande e pequeno porte, pontuais (prédios,
empreendimentos, casa etc.), lineares (estradas, ferrovias etc.), otimização para estudos de estabilidade de
taludes, desastres naturais e áreas de risco (ANDRADE; QUINTA-FERREIRA, 2017). Tem o objetivo de
coletar informações do meio físico e geoespacializar na forma de mapas (XAVIER; BRESSANI, 2019).
A partir da contextualização por hora desenhada, é incipiente a realização de estudos que abarcassem as
características do meio físico em âmbito geotécnico na área de estudo, relativos ao trabalho de cartografar
geotécnicamente o perímetro municipal, por meio de um método embasado na literatura.
Tendo em vista a escassez de dados próprios para a utilização em análises em ambiente de Sistemas de
Informações Geográficas (SIG) na cidade de Brusque (SC) associado a importância dos mesmos anteriormente
justificada, área crítica em relação aos desastres naturais, precisamente aos deslizamentos de massa e
inundações, o presente estudo objetiva a elaboração do mapeamento geotécnico preliminar do município, por
meio da metodologia mais utilizada no Sul do Brasil (DIAS, 1995), com a finalidade de quantificar e qualificar
os principais solos e suas tipologias.

2 Materiais e Método

Com vistas à execução do objetivo proposto, a primeira etapa contemplou o levantamento dos dados
necessários para a elaboração do mapa geotécnico, este, seguindo os preceitos do método desenvolvido por
Dias (1995) que o contextualiza para solos tropicais, e está sendo utilizado em maior escala na região Sul do
Brasil (VALENTE et al., 2001; VALENTE et al., 2004; HIGASHI; BIM, 2010; CARAMEZ; HIGASHI, 2011;
SBROGLIA; HIGASHI, 2013; HEIDEMANN, 2014; SBROGLIA et al., 2016; BETIATTO et al., 2018;
MASSOCO, 2019).
Dias (1995) afirma que por meio da sobreposição do mapa pedológico e do geológico (interpretada em
unidades litológicas), possibilita a delimitação do solo em unidades geotécnicas, conforme demonstrado pela
Figura 1.

Figura 1. Método de nomeação dos solos e rochas (HIGASHI, 2002)

As letras maiúsculas “ABC” correspondem à classificação pedológica dos horizontes superficiais


(horizonte A e B) e as minúsculas “abc” são identificadores da geologia caracterizando os horizontes C, RA
(Rocha Alterada) e R (Rocha sã). Na classificação geológica é utilizada a rocha dominante. No caso de haver
mais de uma litologia dominante no material do substrato, adotam-se siglas destas litologias em letras
minúsculas separadas por vírgulas (HIGASHI, 2002).
A Figura 2 apresenta o fluxograma das etapas desde o levantamento dos dados até a conclusão do mapa
geotécnico preliminar.

Figura 2. Fluxograma do método de trabalho

O levantamento dos dados preliminares ou pré-existentes é etapa essencial para o adequado

34
desenvolvimento do trabalho, haja vista que a acurácia e detalhamento desejado estão diretamente relacionados
à qualidade dos dados de entrada (input). Portanto, para a área de estudo, os mapas de pedologia, geologia e
limites físicos foram extraídos do Sistema de Gerenciamento Costeiro, desenvolvido pela Secretaria do Estado
de Desenvolvimento e Integração ao Mercosul (SDE/SC), Diretoria de Geografia, Cartografia e Estatística
(DEGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em relação às escalas, o pedológico (1:100.000), o geológico (1:100.000) e o limite municipal
(1:500.000).
Após o levantamento e coleta dos dados pré-existentes, partiu-se para as etapas de avaliação e tratamento
dos mesmos. Estes dados, em formato digital (.shp) vetorizados, foram inseridos no software ArcGIS 10.8
(ArcMap), e, a partir da análise das tabelas de atributos contidos em cada um deles, foi possível triar apenas
as tabelas que continham o nome do solo e rocha (pedologia e geologia), nomeando os mesmos segundo os
padrões definidos em Dias (2001), com as letras seguindo a Figura 1 (maiúscula e minúsculas).
Por meio da ferramenta (tool) de intersecção (intersect), estas duas camadas foram sobrepostas a fim
de delimitar as unidades geotécnicas. O limite municipal serviu para delimitar a perímetro da cidade. Vale
ressaltar que estes foram utilizados no sistema de referência geodésico horizontal (Sistema Universal
Transverso de Mercator – UTM), na zona 22S, utilizando-se o Sistema de Referência Geocêntrico para as
Américas datado em 2000, SIRGAS 2000.

3 Resultados e Discussões

O mapa pedológico (Figura 3) e geológico (Figura 4) foram tratados por meio do software ArcGIS 10.8 e
estão apresentados a seguir.

Figura 3. Mapa pedológico de Brusque (SC)

Pode-se notar três grandes classes pedológicas em toda a extensão do município. A classe PV (Podzólico

35
Vermelho-Amarelo) lidera o ranking em extensão com 205,04 km², seguindo com o C (Cambissolo) em uma
área de 51,29 km² e por fim, ao nordeste do município o G (Glei Solo) com 7, 04 km².

Figura 4. Mapa geológico de Brusque (SC)

É visto que a litologia predominante no município se dá por PSgv (granito porifirítico) com 132,57 km²
e por Psb (filitos e xistos) com 99,98 km². Seguindo a ordem, encontram-se no subleito rochoso na região
sudeste, PSgc (granulitos) em 1,72 km², na parte mais baixa da cidade, onde percorre o rio principal, o QHa
(sedimentos quartenários) com 33,27 km².
A partir da intersecção destes dois mapas, seguindo a metodologia elencada, pode-se delimitar o mapa
geotécnico preliminar, de acordo com a Figura 5.

36
Figura 5. Mapa geotécnico preliminar de Brusque (SC)

Diante disto, pode-se verificar a predominância de duas grandes unidades geotécnicas, PVx (Podzólico
Vermelho-Amarela substrato Filitos e Xistos) concentrada na região urbanizada da cidade, com uma área total
de 77,52 km², seguindo pelo PVg (Podzólico Vermelho-Amarelo substrato Granito) com a maior área em
129,52 km2. Após tem-se o Cx (Cambissolo substrato xistos e filitos) com 18,74 km², Csq (Cambissolo
substrato sedimentos quarternários) em 44,11 km² circulando uma das ramificações do rio principal, o Gsq
(Glei substrato sedimentos quarternários) 23,44 km² e o Cg (Cambissolo substrato Granito) com 3,12 km².

4 Conclusões

O meio físico é uma base que deve ser estrategicamente analisada no âmbito do planejamento urbano e
regional. Para isto, as cartas geotécnicas servem como instrumentos de planejamento e gestão territorial,
norteadores para análises pontuais e catalizadoras nas tomadas de decisão.
O presente trabalho, por meio do desenvolvimento de um mapa geotécnico segundo preceitos de Dias
(1995) afirma-se como uma ferramenta preliminar, que poderá servir como base nos futuros estudos
geológicos-geotécnicos da região, haja vista a importância da inserção de ensaios, de forma a criar um banco
de dados, e consequentemente enriquecer os resultados deste tipo de cartografia.
Cabe salientar que os objetivos propostos foram atingidos, tendo em vista que os mesmos abarcariam a
geoespacialização dos tipos de solos e suas dimensões dentro do perímetro municipal.
Sugere-se como aprofundamento do estudo, a estruturação de um banco de dados geotécnicos,
provenientes de laudos técnicos (sondagens SPT, Cisalhamento Direto, Granulometria, MCT, BHST, entre

37
outros.), como análises do solo in loco, de forma a validar o modelo proposto e qualificar os diversos tipos de
solo para as demandas que a cidade necessita (frentes de expansão, ocupação em áreas de risco, etc.). Analisar
as áreas de risco mapeadas pela CPRM e especializa-las dentro do mapeamento geotécnico poderá servir de
análise para a quantificação dos tipos de solos mais suscetíveis aos deslizamentos de terra.
Por fim, destaca-se que o trabalho desenvolvido contribui para fundamentar as ações de planejamento,
frentes de expansão, e gestão do uso do solo de Brusque (SC), à medida que o mesmo contempla a
espacialização dos variados tipos de substratos presentes no local.

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38
Diagnóstico de Risco à Erosão Costeira: o caso da Praia do
Seixas, Litoral Sul de João Pessoa/PB
Carlos Rolim Neto 1
Professor, Centro Universitário UNIESP, João Pessoa-PB, Brasil, carlosrolim2704@gmail.com

Williams da Silva Guimarães de Lima 2


Professor/Escritor, ONG - Grupo Amigos da Barreia GAB, João Pessoa-PB, Brasil,
williams_guimaraes@hotmail.com

Roberto Quental Coutinho 4


Professor, Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE, Brasil, robertoqcoutinho@gmail.com

Luiz Florival Cipriano 3


Professor, Centro Universitário UNIESP, João Pessoa-PB, Brasil, ciprianoprofessor10@gmail.com

RESUMO: A Zona Costeira, considerada área de interconexão entre o ar, terra e mar, desperta, por décadas,
pesquisas científicas em escala global, sendo submetida ao forte adensamento urbano de uso e ocupação do
solo de maneira não sustentável. O interesse pelo tema, em todo o mundo, considera diversos fatores, o
principal, modificações climáticas, pois compromete a Zona Costeira de todos os países. A zona costeira
brasileira apresenta um rápido processo de erosão das praias, devido aos seus conflitos no uso e à ocupação do
solo. Não obstante, o litoral paraibano exprime um forte crescimento populacional nestes ambientes, por
especulação imobiliária, turismo, abertura de novas estradas, dentre outros aspectos. O presente trabalho
objetiva diagnosticar as fragilidades físicas da Praia do Seixas litoral sul de João Pessoa, por ser uma área com
a erosão acentuada, colocando em risco a integridade física dos usuários. A metodologia adotada na pesquisa
se deu a partir de dados fotográficos, imagens de satélites do Google Earth, visita técnica de campo
monitorando o trecho da área, destacando os processos erosivos. Identificou-se que na abertura entre os recifes
naturais ocorre o processo de difração, originando aporte lateral de energia oscilatória com a mesma frequência
da onda incidente. Por fim, conclui-se que a situação da área de estudo se agrava devido à posição da falésia,
recuada em relação ao nível do mar atual, associada aos aspectos antrópicos, destacando as edificações
indevidamente construídas na zona de berma e de estirâncio superior, sugerindo sua relocação.

PALAVRAS-CHAVE: geologia marinha, zona costeira, engenharia costeira.

ABSTRACT: The Coastal Zone, considered as an area of interconnection between air, research and sea, has
awakened for decades, scientific on a global scale, being an inclusion of a strong use and densification of
the soil in a non-sustainable way. The interest in the world, all over the world, considers the different factors,
the main climatic theme, as it compromises the Coastal Zone of all the different factors. The Brazilian
coastal zone presents a rapid process of resolution, due to its conflicts in land use and occupation.
Nevertheless, the coast of Paraíba presents strong population growth in these environments, due to real
estate speculation, tourism, opening of new roads, among other aspects. They present the physical work of
Praia, designed to be an area with physical work of Seixa at risk of the physical work of Praia, at risk of the
project. The methodology developed in the research was based on photographic data, satellite images from
Google Earth, technical field visit monitoring the stretch of the area, highlighting the erosive processes. It
was identified that the opening between the natural reefs occurs through the diffraction process, giving rise
to the side gate of oscillatory energy with the same frequency as the incident wave. Finally, it is concluded
that the situation of the study area worsens, due to the position of the cliff, recovered in relation to the
current sea level, associated with anthropic aspects, standing out as buildings not built in the berm and
superior slat, suggesting its relocation.

KEYWORDS: marine geology, coastal zone, coastal engineering

39
1 Introdução

As vidências atuais da elevação do nível do mar e sua possível aceleração no século XXI, devido ao
aquecimento global, torna-se uma preocupação em escala mundial. Vale ressaltar que é importante mensurar
o papel da elevação do nível relativo do mar, no tocante ao recuo da linha de costa, avaliando esse
deslocamento em termos de suas futuras flutuações (LIMA, 2002). Entre os problemas motivados pela
influência dos agentes dinâmicos com a zona costeira, destaca-se a erosão das praias em função da ação dos
escoamentos superficial, eólica, ondas e correntes marinhas, bem como, os atos antrópicos, colocando em
riscos vários ecossistemas litorâneos e os patrimônios situados à retaguarda (MANSO et. al. 2015). Estudos
desenvolvidos por pesquisadores do mundo todo, que investigam a zona costeira, destacam forte erosão neste
ambiente, configurando-se num grave problema que afeta, em média, 50% das linhas de praia de praticamente
todo o mundo e se tornando quase impossível prever uma proteção para cada praia (OLIVEIRA et. al., 2014).
Por esta razão, a reação mais comum consiste em não interferir neste processo natural, procurando aprender a
conviver com este fenômeno de erosão. Precedendo a qualquer tipo de intervenção na zona costeira, é
necessário, antes de tudo, conhecer o comportamento, em médio prazo, da linha de costa (décadas),
normalmente realizado pela comparação de fotografias aéreas ou imagens de satélites multitemporais, para
definir quais as zonas em recuo real ou que apresentem um quadro crítico de erosão nos últimos anos.
Todos estes fenômenos anteriormente citados ocorreram, principalmente, devido a dois aspectos mais
importantes: o primeiro diz respeito à situação morfológica correspondente ao ambiente marinho raso atual,
que é bastante atípico quando comparada com o passado geológico, destacando que, durante o Devoniano1,
houve um grande predomínio de mares epicontinentais2 (áreas correspondentes às atuais bacias Platina e
Amazônica), rasos no território brasileiro fato que não ocorre na geografia atual. O segundo aspecto refere-se
ao fato de as plataformas continentais atuais se encontrarem submersas em decorrência da última transgressão
marinha pós-glacial, iniciada, aproximadamente, há 18.000 anos. Esta transgressão foi muito rápida (em escala
geológica) e deslocou a linha de costa desde a borda da plataforma até quase sua posição atual, correspondendo
a uma elevação do nível do mar superior a 100 metros (NEVES et. al., 2014). A rapidez desta transgressão fez
com que boa parte dos sedimentos que estão acomodados nas plataformas atuais não esteja em equilíbrio com
as condições ambientais que agora se encontram, pois foram depositadas em ambientes diferentes quando a
plataforma se encontrava ainda exposta, ou seja, os cascalhos e areias fluviais encontradas em locais
correspondentes ao que hoje é a borda da plataforma continental (PONZI, 2004).
O avanço da linha de costa em direção ao continente desencadeou severos processos de erosão, através
do solapamento hidrodinâmico do perfil praial e do substrato arenoso pré-holoceno3 de plataforma interna.
Partindo desse pressuposto, sugere-se que a linha de costa da região Nordeste brasileiro apresenta uma forte
tendência ao processo erosivo, o que implica a presença de longos trechos de falésias ativas, particularmente
nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará (COUTINHO, 1976). Tais feições
constituem um elemento paisagístico dominante e característico do litoral do Nordeste do Brasil, sendo o litoral
paraibano parte integrante desta tendência anteriormente aludida, identificando na sua linha de costa vários
pontos críticos de erosão. Por fim, sugere-se que a Praia do Seixas, localizada no litoral sul de João Pessoa,
Capital da Paraíba, é considerada uma área de marina que vem sofrendo acentuada erosão, por décadas,
destruindo patrimônios públicos e privados, além de colocar em risco a integridade física dos usuários, ao
longo desse trecho e áreas adjacentes.

2. Caracterização do Meio Físico da Área de Estudo

O crescente desenvolvimento de atividades humanas, uso e ocupação do solo em zonas costeiras tem
aumentado o debate sobre riscos da erosão neste ambiente. Algumas mudanças na evolução de ambientes
costeiros são a longo prazo, outras de curto prazo ou cíclicas. A identificação das áreas onde a erosão atual é
crítica se torna importante, uma vez que a sua causa nem sempre é óbvia e os processos costeiros atuantes são
muito complexos de entender, devido a sua rápida dinâmica. A análise e interpretação dos vários parâmetros
ambientais da área que sofre este processo de erosão são capitais para a seleção da alternativa mais adequada
buscando reduzir e/ou conter este fenômeno erosivo. A Praia do Seixas, localizada no litoral sul do município
de João Pessoa, Capital do Estado da Paraíba, tem uma população de 774 habitantes (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010), correspondendo ao um arco de praia de,
aproximadamente, 900 metros de extensão, resultante da difração provocada na passagem das ondas pela

1 Diz-se de ou tempo durante o qual as rochas desse sistema foram formadas (o período devoniano), equivalente ao intervalo de tempo
geológico compreendido entre 400 e 360 milhões de anos. Terreno da segunda camada geológica, posterior ao Siluriano e anterior ao
Carbonífero.
2 Encontrado ou assentado sobre um continente ou uma plataforma continental.
3 Subdivisão do Período Quaternário mais recente. Esta época estende-se de 10.000 anos A. P. (Antes do Presente) até a atualidade. É
também conhecido como Período Recente.
40
abertura dos recifes representando na Figura 1, algo similar ao problema enfrentado na Praça de Iemanjá e
Praia do Cabo Branco, localizado na porção norte da área de estudo do município de João Pessoa, Capital
paraibana. A Praia do Seixas apresenta uma abertura entre os recifes que controla todas as alterações das ondas
se propagando em direção à praia, sendo responsável pela concavidade do arco de praia característico deste
setor da área de estudo, anteriormente mencionado como difração das ondas (FUNDAÇÃO APOLÔNIO
SALES, 2009).

Figura 1. Fenômeno de difração de onda, ocasionado pela abertura dos recifes localizada em frente ao
Seixas, moldando a praia numa configuração de arco com extensão aproximada de 900 metros.
Fonte: Google Earth 2016

As ondas, antes de alcançarem a abertura encontrada pelos recifes, apresentam um padrão de


aproximação linear e, a partir desta abertura, em direção à praia, apresenta um padrão curvilíneo formando
semicírculos no centro do ponto médio da abertura. Com efeito, aparece a distribuição dos raios das ondas na
forma de um leque, gerando um fluxo bidirecional a partir do ponto central da abertura (dos recifes), que
originam uma circulação e o transporte de sedimentos na direção das extremidades do arco de praia. Nas
condições de direção de aproximação NE, E ou SE, as ondas convergem sempre para a Praia do Seixas,
concentrando sua energia, formando ponto crítico da erosão, ocasionado pela ação dos agentes dinâmicos
costeiros e amplificados pelas ações antrópicas. Na Praia do Seixas, ocorre a ocupação de quiosques, bares e
restaurantes, localizados sobre a zona de berma4, estendendo-se para a zona de estirâncio5 superior (Planície
de maré alta), ocasionado por instalação de mesas e cadeiras no período da maré baixa. Alguns proprietários
destes empreendimentos acima mencionados, ao tentar limpar a faixa de praia coberta por “sargaços”
(provavelmente trazidos por ondas tipo swell6), acabam remobilizando mais sedimentos da praia, modificando
a morfologia do perfil praial, aumentado sua degradação em termos erosivos, representados na Figuras 2.

4 Terraço formado na região de praia ou pós-praia que se localiza fora do alcance das ondas e marés normais, e somente é alcançado pela
água quando da ocorrência de marés muito altas ou tempestades. É o mesmo que terraço de maré.
5 Faixa do litoral ligeiramente inclinada para o mar e situada entre os níveis médios das marés baixa e alta.
6 Nome dado para as ondas que já saíram da Zona de Geração e que estão simplesmente se propagando pelo oceano. Ao se afastarem do
seu local de origem, tornam-se muito uniformes, com grandes comprimentos e pequenas amplitudes.
41
Zona de Berma

Zona de Estirâncio Superior

Figura 2 – Quiosques instalados na zona de berma e se estendendo para a zona de estirâncio superior,
ocasionados por mesas e cadeiras no período de maré baixa.
Fonte: Acervo DIVA/SEMAM 2011

Diante dos fenômenos naturais, além das ações antrópicas promovidas pelos proprietários de quiosques,
bares, restaurantes eaa população local, constatou-se que a área não tem fontes de sedimentos suficientes para
manter suas praias protegidas da erosão existentes no local. Portanto, a dinâmica costeira da área de estudo
proporciona a retrogradação7 das praias para dentro do continente, ocupando este setor. Quando uma praia
com perfil de verão é submetida a um aumento da altura da onda e, com a diminuição do período das ondas
de ressacas, a praia responde com erosão e transporte de areia costa afora. Ocorre, inicialmente, com o material
da praia sendo colocado em suspensão pelo forte movimento da arrebentação das ondas de ressacas, seguido
pelo aumento de altura das ondas de tempestades intensificando a erosão das praias, orientando o seu perfil
para um cenário ainda mais crítico, típico de inverno e com barras se movendo em direção ao mar, separada
da praia por um amplo canal, promovendo a detruição de equipamentos públicos, a exemplo do
estacionamento instalado na zona de pós-praia da área de estudo, apresentado na Figura 3.

7 Linha de praia que está recuando constantemente, em direção ao continente, em virtude da ação da erosão ocasionada pelo
42
ataque das ondas.
Figura 3 – Destruição do estacionamento localizado na Praia do Seixas, ocasionada pela erosão costeira,
pode-se observar (seta de cor vermalha) parte do asfalto depositado na zona de estirâncio.
Fonte: acervo DIVA/SEMAM 2011

A praia sofre, ao longo dos anos, intensa erosão marinha, afetando estruturas, tais como, moradias,
escadaria, estacionamento, bares, quiosques e restaurantes, procurados como área de lazer e veraneio pelos
dos moradores de João Pessoa-PB e turistas, por ser considerada o Extremo Oriental das Américas. Outro
ambiente também muito visitado são os recifes do Seixas, distantes, aproximadamente, 1 km da costa mar
adentro. Alguns moradores relatam que os quiosques e bares ficavam mais próximos ao mar, em frente às
residências. No entanto, diante da erosão que sofre a área, estes equipamentos foram realocada mais pra dentro
do continente, além das residências. Atualmente, estes equipamentos foram destruído pelo processo erosivo,
encontrando-se em ruínas e parcialmente não atendendo mais a utilidade para os quais foram construídos,
ficando restrita sua utilização à deposição de embarcações dos pescadores e apresentando presença da
vegetação de restinga representada na Figura 4.

Figura 4 – Estacionamento em ruínas devido à erosão, ocasionada pelo batimento de ação das ondas, na
Praia do Seixas litoral sul do município de João Pessoa-PB, extremo oriental das Américas.
Fonte: Williams Guimarães/2018
43
Os tipos de materiais utilizados para a construção do estacionamento são de estruturas impermeáveis e
estão sujeitos à remoção de sedimentos junto a sua base, por ação das ondas em períodos de preamar 8. Este
fenômeno é determinante no solapamento da base dessa estrutura, culminando com sua queda. Vale ressaltar
que, neste caso, a ocupação ocorreu justamente na zona de pós-praia, onde estão localizadas as residências,
edificações comerciais e a infraestrutura pública, todos sob riscos da erosão costeira.

3. Discursão do Diagnóstico Ambiental da Área de Estudo

Conforme observado, a área de estudo apresenta fortes processos erosivos em decorrência da abertura
entre os recifes (notado pela passagem das ondas definido como difração), que controla todas as alterações
das ondas que se propaga em direção à praia e responsável pela concavidade do arco da Praia do Seixas. Esta
aparece quando um conjunto de ondas intercepta algum tipo de obstáculo, submerso ou não, criando uma
agitação no movimento ondulatório e gerando um aporte lateral de energia oscilatória com a mesma frequência
da onda incidente. Além deste fenômeno natural, a área de estudo sofre também com as ações antrópicas,
estas, promovidas pelo homem que remobiliza os “sargaços” e, consequentemente, retira os sedimentos
depositados na praia provocando um impacto ambiental, de cunho negativo numa área que, historicamente,
apresenta um déficit sedimentar. O local está destinado a sofrer com todos estes processos erosivos em
decorrência da ativa dinâmica costeira típica deste local. O diagnóstico ambiental discutido pelos estudos
aponta a seguinte situação: da zona de berma (onde, atualmente, encontra-se o estacionamento, quiosques,
bares e restaurantes), até a Rua dos Pescadores, obedece a uma distância aproximada de 26 metros, espaço
este, considerado insuficiente para a construção destas edificações instaladas neste setor representado na
Figura 5. Vale salientar que a taxa de recuo deste ponto crítico de erosão na Praia do Seixas ocasionou
deslocamento de blocos oriundos, do estacionamento que foram depositados na zona de estirâncio (maré de
sizígia9), devido às oscilações das marés que tem uma variação normalmente entre -0,1 metros a 2,7 metros,
fenômeno típico que ocorre em praticamente todo litoral paraibano.

Figura 5 – Observam-se os bares, restaurantes e quiosques instalados na linha de costa da Praia do Seixas,
entre a Rua dos Pescadores, com espaçamento de 26 metros, colocando estas edificações instaladas
praticamente dentro da praia.
Fonte: acervo Williams Guimarães/2018

É oportuno destacar que a Praia do Seixas está sofrendo, ao longo dos anos, intensa erosão marinha,
que tem afetado as estruturas existentes na área, tais como, moradias, escadaria, estacionamento, bares e
restaurantes, situação similar à Praça de Iemanjá, localizada na Praia do Cabo Branco, sentido norte da área
de estudo apresentado na Figura 6 e convive, diariamente, com a ação das ondas que atingem o muro frontal,
destruindo o patrimônio situado à retaguarda. Não obstante, a morfologia dos recifes a sua frente apresenta
uma situação semelhante àquela encontrada na Praia do Seixas, onde uma interrupção na linha de recife natural
permite a livre passagem de ação das ondas, amplificando o processo erosivo na praia. Os exemplos descritos
mostram que o padrão de circulação na área é muito complexo e fortemente condicionado à morfologia dos

8
Nível máximo de uma maré cheia. O mesmo que maré alta.
9
Maré com grande amplitude. Possui as maiores e menores alturas em relação ao nível médio do mar local, que são produzidas, 44
respectivamente, durante a Lua cheia e a Lua nova.
recifes e ao clima de onda. Portanto, a decisão mais racional, mediante esta situação, seria realocar os bares,
restaurantes e quiosques localizados na zona de estirâncio. Sugere-se que seja aplicada uma ação, promovendo
o afastamento destas edificações, liberando área de marina, buscando mitigar os impactos ambientais
encontrados nesta área, pois este setor da praia é considerado, de acordo com o diagnóstico realizado pelos
estudos, um ponto crítico de erosão apresentado na Figura 7.

Figura 6 – Praça de Iemanjá (praia do Cabo Branco) parcialmente destruída pela erosão costeira.
Fonte: acervo Williams Guimarães 2010

Figura 7 – Evolução da erosão no estacionamento da Praia do Seixas, em ruínas, situação similar à Praça de
Iemanjá, localizada no sentido norte da área de estudo.
Fonte: acervo Williams Guimarães/2018

Na praia do Seixas, a situação é agravada, porém, ainda restam sedimentos de praia, visto que a posição
da falésia está recuada em relação ao nível do mar atual, e neste caso, a ocupação se deu exatamente na zona
de praia, onde estão localizadas residências, setor comercial e a infraestrutura pública, todos em constantes
riscos de destruição em secorrencia da ação da erosão marinha. Sendo assim, devem ser priorizadas as ações
de mitigação, buscando o melhor tipo de intervenção de obras de engenharia costeira visando mitigar a
amplificação da erosão consteira bastante acetuada que a área sofre por décadas. Além dessa ação, faz-se
importante a conscientização para a importância ecológica e paisagística da área, valorizando-a do ponto de
vista ambiental e não apenas do aspecto socioeconômico.
45
4. Considerações Finais

O presente trabalho apontou a necessidade de intervenção através de obras de engenharia costeira na


área de estudo, de modo a resguardar importantes componentes do meio físico e socioeconômico, garantindo
a permanência de monumentos naturais da Ponta do Seixas, extremo oriental das Américas. As soluções de
alternativas aventadas para o local não trazem as probabilidades positivas do controle de erosão que incidiram
em graves impactos negativos, alterando a dinâmica e paisagem costeira, degradando os habitats naturais,
afetando usos da área, nos quesitos de; balneabilidade, pesca e navegação. Há que se considerar também a
necessidade de ações complementares, no sentido de ampliar o combate à erosão e de recuperar a paisagem
local. Neste sentido, medidas de recuperação da vegetação nativa, retificação do sistema de drenagem na Praia
do Seixas (Extremo Oriental das Américas), deverão ser tomadas. Há de se considerar também a necessidade
de ações complementares, no sentido de ampliar o combate à erosão e de recuperar a paisagem local, além de
buscar medidas de recuperação da retificação do sistema de drenagem e relocação dos quiosques assentados
na zona de marina deverão ser implementadas.
Partido desse pressuposto, todas estas edificações citadas nos estudos, diante da dinâmica costeira local,
devem sofrer adequações (realocações), buscando afastamento da zona de berma e zona de estirâncio superior
(ponto crítico de erosão), objetivando mitigar estes impactos ambientais, de cunho negativo, encontrado neste
setor da praia. Estava prevista uma intervenção na Praça de Iemanjá, localizada ao norte da área de estudo,
Falésia do Cabo Branco e Praia do Seixas, buscando reduzir/conter os processos erosivos existente neste setor
do litoral sul de João Pessoa-PB que deveria contribuir no equilíbrio da linha de costa e a intervenção e
participação do poder público se faz necessário. Seja qual for a proposta contemplada para intervenção
erosional da área em questão, estudos devem levar em consideração que quanto mais afastada a estrutura for
implantada da zona de berma, melhores resultados serão obtidos. As sugestões e recomendações oriundas do
presente diagnóstico deverão ser consideradas quando da implantação das obras relativo a uma proposta de
intervenção na área. Devem ser priorizadas as ações de educação ambiental, visando à conscientização para a
importância ecológica e paisagística da área e priorizando a sua valoração ambiental.

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2011.

46
Procedimento de inspeção e manutenção de cortinas atirantadas:
estudo de caso em uma malha ferroviária
Diego Leonardo Rosa
Mestrando, Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, diego.rosa@mrs.com.br

Maria Esther Soares Marques


Professora, Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, esther@ime.eb.br

RESUMO: A malha ferroviária da região Sudeste administrada pela MRS possui aproximadamente 1643 km
de extensão e está distribuída nos estados brasileiros de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Devido a
fatores diversos, como o clima, aspectos construtivos e características geotécnicas dos taludes que compõem
a ferrovia, foram necessárias a construção de muitas cortinas ancoradas como medida de estabilização dos
maciços de terra. Nos dias atuais, existe em média, uma cortina atirantada a cada 4 km de ferrovia, sendo que
algumas destas possuem mais de 40 anos de existência. Diante do exposto, é imprescindível estabelecer um
procedimento de inspeção e manutenção das estruturas construídas, visando garantir o desempenho em
serviço, durabilidade e um fator de segurança adequado.

PALAVRAS-CHAVE: Cortina atirantada, Tirante, Manutenção de contenções, Reabilitação de estruturas,


Infraestrutura ferroviária.

ABSTRACT: The railway network in the Southeast region managed by MRS is approximately 1643 km long
and it crosses the Brazilian states of Minas Gerais, Rio de Janeiro and São Paulo. Due to several factors, such
as climate, construction aspects and geotechnical characteristics of the slopes of the railroad, it was necessary
to build many retaining walls for slope stabilization. Nowadays, on average, there is a retaining wall built at
every 4 km of railroad tracks, some of which are more than 40 years old. This context, it is essential to establish
an inspection and maintenance procedure for the built structures, in order to guarantee in-service performance,
durability and an adequate safety factor.

KEYWORDS: Retaining wall with anchors, Anchors, Retaining walls maintenance, Rehabilitation of
structures, Railway infrastructure.

1 Introdução

As cortinas atirantadas constituem uma das mais importantes e eficientes soluções para estabilização de
taludes instáveis, sendo o seu emprego amplo ao longo das estradas de ferro brasileiras. Embora os processos
de cálculo para elaboração de um projeto e os aspectos construtivos sejam consolidados, nos dias atuais ainda
é precária na literatura recomendações sobre a manutenção de tais estruturas.
Ao longo da vida útil de uma cortina atirantada, muitas são as manifestações patológicas que podem
ocorrer, dentre elas, abertura de fissuras no painel de concreto armado, ruptura da proteção da cabeça do tirante
e entupimento de drenos. Algumas das principais patologias de uma cortina atirantada são facilmente
observáveis em simples inspeções visuais, já outras, como a perda de carga e o surgimento de corrosão nas
ancoragens, necessitam de ensaios para permitir um diagnóstico adequado. Todas as manifestações patológicas
são críticas e suas respectivas correções devem ser tratadas com urgência.
Na malha ferroviária administrada pela MRS existem atualmente cerca de uma cortina atirantada a cada
4 km de extensão, em média. Várias destas cortinas foram construídas há mais de 4 décadas e possuem
manifestações patológicas. O presente trabalho objetiva analisar as principais patologias encontradas nas
cortinas atirantadas da Linha do Centro, assim como descrever e discutir o procedimento de inspeção e
priorização de manutenção adotado pela operadora ferroviária.

47
2 Revisão de literatura

2.1 Prescrições normativas para manutenção

Não existe uma norma brasileira específica para manutenção de cortinas atirantadas, o que dificulta
realizar um plano de inspeção e manutenção de tais estruturas. No entanto, é possível identificar ao longo do
item 10 da NBR 11682 (ABNT, 2010), recomendações de caráter básico, que devem conter no “Manual do
Usuário”. Este documento, segundo a norma, deve ser elaborado pelo executor da obra e entregue ao
proprietário.
Dentre as recomendações normativas da NBR 11682/2010, apenas o tópico “d)” do item “10 –
Manutenção” é específico para obras com empregos de tirantes. No caso, devem ser executados ensaios de
verificação de cargas e inspeção da integridade das cabeças, a cada cinco anos, em um número representativo
de tirantes, conforme critérios específicos que dependem da quantidade de tirantes na estrutura de contenção
em exame.
Na NBR 5629 (ABNT, 2018), ao longo do “Anexo F”, são citadas recomendações quanto à
obrigatoriedade do proprietário da obra realizar inspeções anuais em estruturas de contenção que utilizam
tirantes, em busca de patologias como trincas no paramento ou deslocamentos. A norma permite, ainda, que
a depender das patologias constatadas e procedimentos de controle e instrumentação aplicados à estrutura, a
periodicidade de inspeção poderá ser revisada.

2.2 Causas das principais manifestações patológicas

Para Souza e Ripper (1998), o surgimeto de problema patológico em dada estrutura indica, em última
instância e de maneira geral, a existência de uma ou mais falhas durante a execução de uma das etapas da
construção, além de apontar para falhas também no sistema de controle próprio a uma ou mais atividades. A
Tabela 1, adaptada do trabalho de Sousa e Ripper (1998), elucida as causas das patologias em estruturas de
concreto apontadas por diferentes autores. Cabe destacar que os percentuais superiores a 100 contidos na
Tabela 1 ocorrem em virtude dos autores terem utilizados critérios cumulativos em que a falha existente na
concepção e projeto causa mais falhas nas etapas posteriores.

Tabela 1. Resumo das patologias nas cortinas atirantadas, adaptada de Souza e Ripper (1998).
Causas das patologias (%)

Concepção e Utilização
Local e ou Fonte de Pesquisa Materiais Execução Total
projeto e outras
Edward Grunau
44 18 28 10 100
Paulo Helene (1992)
Allen (Canadá) (1979) 55 49 104
C.S.T.C (Bélgica) 46 15 22 17 100
C.E.B Boletim 157 (1982) 50 40 10 100
Verçoza (1991) 18 6 52 24 100
B.R.E.A.S. (1972) - Reino Unido 58 12 35 11 116
Bureau Securitas (1972) 88 12 100
E.N.R. (1968 - 1978) - EUA 9 6 75 10 100
S.I.A. (1979) - Suíça 46 0 44 16 106
Kaminetzky (1991) 51 40 16 107
Blévot (1974) - França 35 0 65 0 100
L.E.M.I.T (1965 - 1975) - Venezuela 19 5 57 19 100

48
Guimarães (2015) propõe que os processos de deterioração são variados e são devidos a diversas causas,
sendo elas geradas na fase de projeto ou na fase de execução e, até mesmo em ambas as fases. O autor afirma
ainda que o somatório de erros de projeto aliados à incoerências construtivas podem ocasionar a diminuição
de resistência da estrutura, facilitando a atuação de agentes deteriorantes.

3 Procedimento de inspeção adotado pela operadora ferroviária

A operadora ferroviária realizou o cadastro das cortinas atirantadas no segmento ferroviários da Linha
do Centro e da Serra do Mar por meio de topografia convencional, gerando planta baixa e uma vista frontal.
Na vista frontal é possível identificar todas as patologias observadas pelo técnico, assim como sua respectiva
localização no paramento de concreto, conforme exemplifica a Figura 1.

Figura 1. Vista frontal de uma cortina atirantada da Linha do Centro.

De acordo com o manual de inspeção e manutenção da operadora ferroviária, os critérios para


priorização de manutenção das cortinas atirantadas se baseiam numa avaliação da suscetibilidade de falha da
em virtude da ponderação das manifestações patologias encontradas em cada estrutura e número de alertas.
A suscetibilidade ou probabilidade de falha da estrutura é traduzida em um número que varia de 0 até 1
e é obtida por meio das Equações 1 e 2, onde: “Pij” representa a parcela de contribuição da patologia “j” na
cortina “i”, “Nij” é o número de patologias do tipo “j” na cortina “i”, “Fj” equivale ao fator de ponderação da
patologia “j”, “Nit” é o número total de elementos possíveis de ocorrer a patologia “j” na cortina “i” e “Ri” é o
resultado associado a cortina em avaliação, isto é, a suscetibilidade ou probabilidade de falha da estrutura.
𝑁𝑖𝑗 (1)
𝑃𝑖𝑗 = × 𝐹𝑗
𝑁𝑖𝑡

𝑅𝑖 = ∑71 𝑃𝑖𝑗 (2)

49
A Tabela 2 indica as patologias “j” e o respectivo fator de ponderação“Fj” adotado.

Itens j Fj Aj, mín


Tirante inoperante 1 0,30 0,05
Estaca aparente 2 0,20 0,01
Proteção da cabeça do tirante rompida e descolada 3 0,20 0,15
Tirante sem proteção da cabeça 4 0,12 0,15
Junta de dilatação danificada 5 0,08 0,25
Proteção da cabeça do tirante descolada do paramento 6 0,06 0,25
Proteção da cabeça do tirante danificada 7 0,04 0,25

Para cada patologia “j” foi criado um limite para a razão entre “Nij” e “Nit” denominado Mínimo para
Alerta, indicado por “Aj, mín”. Sempre que este limite for extrapolado, a respectiva cortina atirantada recebe um
alerta “Aj” = 1. O número total de alertas da cortina atirantada “i” é dado pela Equação 3.

𝐴𝑖 = ∑71 𝐴𝑗 (3)

Calculados os “Alertas” e a “Suscetibilidade ou probabilidade de falha” de cada cortina atirantada, a


priorização é realizada do seguinte modo:

a) Normaliza-se o indicador Ri de todas as cortinas em referência a de maior valor calculado, ou seja, a cortina
atirantada de maior suscetibilidade ou probabilidade de falha passa a ter Ri = 1 e as demais são recalculadas
proporcionalmente;
b) Listam-se todas as cortinas atirantadas em ordem descrescente de suscetibilidade ou probabilidade de
falha, indicando o respectivo custo de manutenção;
c) São levadas para manutenção aquelas estruturas com maiores valores de Ri (normalizados) e que tenham
pelo menos 1 alerta, sempre de acordo com as restrições orçamentárias da operadora ferroviária.

4 Resultados

A amostra para o estudo constitui de 74 cortinas atirantandas distribuídas ao longo de 178 km de malha
ferroviária dispostas na Linha do Centro e na Serra do Mar. A Tabela 3, fornecida pela operadora ferroviária,
contém um resumo das manifestações patológicas mapeadas por meio das inspeções visuais.

Tabela 3. Resumo dos quadros patológicos das cortinas atirantadas.

Proteção Proteção
Tirante
da cabeça da cabeça Proteção Pontos
sem Junta de Total de
do tirante do tirante da cabeça Tirante Estaca com
proteção dilatação tirantes
descolada rompida do tirante inoperante aparente ferragem
da danificada inspecionados
do e danificada exposta
cabeça
paramento descolada

932 152 274 46 3 205 5 15 4391

Nota-se da Tabela 3 que em um total de 4391 tirantes inspecionados, 1407 tirantes possui alguma
manifestação patológica, seja diretamente em seu corpo ou algum componente integrante do sistema. Isso
representa 32% do total de tirantes inspecionados.

50
Essas manifestações patológicas acarretam na exposição da cabeça do tirante em função da perda total
ou parcial do capacete de proteção de concreto, o que pode ocasionar corrosão do tirante devido ao contato
com o ar e percolação de água. A Figura 2 ilustra essa situação.

Figura 2. Corrosão do tirante.

Aplicando o procedimento de inspeção e priorização adotado pela concessionária ferroviária, a estrutura


que apresentou a maior suscetibilidade ou probabilidade de falha pode ser vista na Figura 3.

Figura 3. Vista da cortina ancorada indicando parte do cadastro de suas manifestações patológicas.

O quadro patológico da estrutura mostrada na Figura 3 é resumido na Tabela 4. Neste caso pode-se
inferir que dos 299 tirantes existentes, 132 unidades ou 41% apresentam alguma manifestação patológica, além
de praticamente todas as juntas danificadas.

51
Tabela 4. Cenário patológico mais severo encontrado dentre as cortinas da Linha do Centro

Proteção da
Proteção
cabeça Proteção Tirante
da cabeça Junta de
do tirante da cabeça sem Tirante Estaca
do tirante dilatação
descolada do tirante proteção inoperante aparente
rompida e danificada
do danificada da cabeça
descolada
paramento

81 42 9 0 0 13 0
Nº total de tirantes: 299 | Nº total de juntas: 14 | Nº total de estacas: 100
Suscetibilidade ou probabilidade de falha: 0,12 | Nº de alertas: 2

5 Análise

O procedimento de inspeção e cadastro empregado pela operadora ferroviária, embora realizado com
precisão visual, permitiu a identificação de diversas manifestações patológicas no paramento de concreto
armado da cortina ancorada. Este fato corrobora com o mostrado por Solotrat (2015), ou seja, muitos
problemas em cortinas ancoradas podem ser facilmente notados.
Para um diagnóstico mais completo, é necessário ampliar as investigações. A abertura de fissuras, por
exemplo, é recorrente em estruturas de concreto e a partir de certos valores pode ocasionar em redução de vida
útil da estrutura, haja vista que nessas condições agentes agressivos do ambiente poderá entrar em contato com
a armadura passiva e facilitar os efeitos da corrosão.
É importante ressaltar que não faz parte do procedimento de priorização os aspectos relacionados aos
dispositivos de drenagem. Diversos autores têm demonstrado a importância de tais elementos no desempenho
das estruturas de contenção. Gerscovich et al (2005) sugere que a existência de uma linha freática no maciço
é altamente desfavorável, aumentando substancialmente o empuxo total; e Silva (2016) demonstra que o mau
desempenho da drenagem pode aumentar em cerca de 87% o empuxo total sobre uma estrutura de contenção.
Sendo assim, no que se refere as atividades de inspeção e cadastro empregado pela concessionária
ferroviária, o procedimento deve ser encarado como preliminar. Em casos específicos, uma inspeção detalhada
poderá ser necessária para caracterizar o quadro patológico da estrutura de forma mais rigorosa, analisando
por exemplo, mecanismos de deterioração ligados a lixiviação, expansão por sulfatos, reação álcali-agregado,
despassivação por carbonatação, entre outros.
Os critérios estabelecidos para priorização da manutenção são simples e requerem calibração manual
dos pesos atribuídos aos parâmetros de análise. É considerada praticamente apenas as manifestações
patológicas evidentes no paramento de concreto, portanto, aquelas atreladas ao tirante não fazem parte do
procedimento; exceto pelo cadastro das ancoragens que estão inativas (tirante inoperante).
A falta de uma investigação mais detalhada dos tirantes pode ser considerada um ponto negativo do
processo, pois, a ancoragem pode apresentar problemas de corrosão sob determinadas circunstâncias, sendo
bastante frequente a ocorrência no primeiro metro do trecho livre Littlejohn (1990).

6 Conclusões

São muitas as manifestações patológicas que ocorrem ao longo da vida útil em uma estrutura de cortina
atirantada. Observa-se que, 32% dos tirantes ou algum componente destes apresentaram algum tipo de dano,
reforçando que é imprescindível ações de inspeção e manutenção em estruturas desta natureza.
Embora haja na literatura algumas recomendações sobre a periodicidade de se realizar inspeção em
cortinas atirantadas, o assunto ainda tem muitas questões a serem abordadas até que se tenha com clareza e
tecnicamente fundamentada mecanismos para subsidiar os proprietários das estruturas aqui estudadas em como
proceder com a inspeção, priorização a manutenção de tais dispositivos. Estabelecer um check-list de inspeção,
critérios claros para uma priorização menos subjetiva e abordar ações específicas de manutenção para cada
tipo de patologia encontrada, certamente auxiliaria para que a vida útil das cortinas atirantadas fosse
aumentada, trazendo segurança para as dependências de tais estruturas, além de reduzir custos futuros com
uma eventual necessidade de se reconstruir por inteiro um novo dispositivo de contenção.
Não há indicadores palpáveis para verificar se a metodologia de inspeção e manutenção de cortinas
atirantadas adotada pela operadora ferroviária tem sido eficaz. No entanto, é certo que o fato de estarem

52
realizando campanhas de inspeção e manutenção de maneira independente, haja vista a precariedade de normas
técnicas e abordagem literária insuficente sobre o tema, já trazem maior segurança a sua operação ferroviária,
principalmente pela alta densidade de estruturas sob sua responsabilidade.
Diante do exposto, é importante ressaltar que para uma área tão extensa, com muitas estruturas que
requerem manutenções periódicas e que tem grande importância do ponto de vista da segurança da operação
ferroviária, é absolutamente necessário haver um método para auxiliar a tomada de decisões quanto às
intervenções. O método, além de considerar os aspectos geotécnicos e estruturais da cortina atirantada, poderá
incorporar várias particularidades, tais como: condições de acesso para realizar manutenção, impacto
operacional ferroviário no caso de falha total ou parcial do dispositivo de contenção e possíveis danos à
comunidade lindeira à ferrovia.

AGRADECIMENTOS

À MRS pelos dados fornecidos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2018). NBR 5629. Tirantes Ancorados no Terreno – Projeto e
Execução. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2010). NBR 11682. Estabilidade de Encostas. Rio de Janeiro.
Gerscovish, D. M. S. Siera., A. C. C. F. Lima, A. P. Sayão, A. S. F. J. (2005). Técnicas de modelagem numérica
de escavações de taludes em solo grampeado. IV Conferencia Brasileira sobre Estabilidade de Encostas –
IV COBRAE. Salvador. v.2. p.671 – 680.
Guimarães, P. K. (2015). Cortinas atirantadas: estudo de patologias e suas causas. Trabalho de conclusão de
curso, Programa de Graduação em Engenharia Civil, Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
MRS Logística (2018). Manual de inspeção de estruturas de contenção. v.1.
Littejohn, S. – Ground Anchorage Practice. Design and Performance of Earth Retaining Structures. New
York, ASCE Geotechnical special publication No.25, 1990.
SILVA, L. A (2016). A influência da eficiência drenagem na estabilidade do muro de arrimo. Mostra de
Extensao, Inovação e Pesquisa da Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco. Recife
Solotrat Engenharia Geotécnica (2015) Manual Tirantes. Disponível em:
http://www.solotrat.com.br/assets/pdf/tirantes.pdf. Acesso em 30 jun. 2021.
Souza, V. C., Ripper, T. (1998) Patologia, recuperação e reforço de estruturas de concreto. 1. Ed. São Paulo,
Pini, p. 22-80.

53
Contribuição da Universidade Federal do Cariri nas Ações de
Gerenciamento de Áreas de Riscos na Região Metropolitana
do Cariri Cearense
Ana Patrícia Nunes Bandeira
Professora, UFCA, Juazeiro do Norte, Brasil, ana.bandeira@ufca.edu.br

Francisca Denise Pereira Almeida


Graduada em Engenharia Civil, UFCA, Juazeiro do Norte, Brasil, denise.almeida@aluno.ufca.edu.br

Mateus Florencio Sousa


Graduada em Engenharia Civil, UFCA, Juazeiro do Norte, Brasil, mateus.florencio@aluno.ufca.edu.br

Vinicius Alves Pereira da Luz


Graduada em Engenharia Civil, UFCA, Juazeiro do Norte, Brasil, vinicius.alves@aluno.ufca.edu.br

João Victor Martins da Paz


Estudante, UFCA, Juazeiro do Norte, Brasil, joao.martins@aluno.ufca.edu.br

Rayanne Sales Alcantara Primo


Graduada em Engenharia Civil, UFCA, Juazeiro do Norte, Brasil, Rayanne.sales@aluno.ufca.edu.br

RESUMO: No Brasil, os desastres naturais têm gerado danos materiais, perdas humanas e gastos públicos.
Todavia, em algumas regiões observa-se que poucas ações têm sido realizadas no gerenciamento do uso e
ocupação do solo, como na região do Cariri cearense, sul do Ceará. Com o objetivo de contribuir com o
desenvolvimento sustentável da região metropolitana do Cariri cearense, foram desenvolvidas ações no âmbito
da Universidade Federal do Cariri (UFCA), relacionadas ao gerenciamento das áreas de risco, ampliando a
relação entre a universidade e a sociedade. Neste contexto, o presente trabalho descreve as principais ações
desenvolvidas pela UFCA e seus resultados obtidos. As ações foram: 02 Cursos de capacitação em
gerenciamento de áreas de risco de erosão, deslizamentos e de inundações, destinado aos técnicos municipais;
02 Cursos de capacitação em NUPDEC-Jovem (Núcleo Comunitário de Proteção e Defesa Civil); 04 atividades
de mapeamentos de áreas de riscos; Elaboração de cartilha sobre Áreas de Risco. Dentre os resultados das
ações detacam-se: capacitação de 77 técnicos municipais em atividades de gerenciamento das áreas de risco;
capacitação de 55 jovens, estudantes de escolas públicas, para atuarem em Núcleos Comunitário de Proteção
e Defesa Civil; Levantamento das áreas críticas de instabilidade de encostas do município de Barbalha, por
meio do mapeamento das áreas de riscos. Através deste trabalho conclui-se que a UFCA tem contribuído para
preservação do meio ambiente, para a gestão ambiental, para formação de técnicos municipais, para formação
acadêmica dos discentes envolvidos nas ações e para a população em geral, ampliando a relação entre a
universidade e a sociedade, com vista na construção de cidades ambientalmente sustentáveis.

PALAVRAS-CHAVE: Áreas de risco, Capacitações, Universidade, Sociedade, Ações de Extensão.

ABSTRACT: In Brazil, natural disasters have generated material damage, human losses and public
expenditure. However, in some regions it is observed that few actions have been carried out in the management
of land use and occupation, as in the Cariri region of Ceará, southern Ceará. With the objective of contributing
to the sustainable development of the metropolitan region of Cariri in Ceará, actions were developed within
the scope of the Federal University of Cariri (UFCA), related to the management of risk areas, expanding the
relationship between the university and society. In this context, this work describes the actions developed by
UFCA and the results obtained. The actions were: 02 training courses in managing areas at risk of erosion,
landslides and floods, aimed at municipal technicians; 02 training courses in NUPDEC-Jovem (Community
Center for Civil Defense and Protection); 04 activities of mapping risk areas; Preparation of a booklet on Risk
Areas. Among the results of the actions, the following stand out: 77 municipal technicians trained for
management activities in risk areas; 55 young people, students from public schools, trained to work in
Community Centers for Civil Defense and Protection; Survey of critical areas of slope instability in the

54
municipality of Barbalha, through the mapping of risk areas. Through this work, it is concluded that the UFCA
has contributed to the preservation of the environment, to environmental management, to the training of
municipal technicians, to the academic training of students involved in the actions and to the population in
general, expanding the relationship between the university. and society, with a view to building
environmentally sustainable cities.

KEYWORDS: Risk areas, Capabilities, University, Society, Extension Actions.

1 Introdução

O histórico de desastres naturais no Brasil revela que a maioria ocorre após eventos atmosféricos
extremos, associados às ocupações desordenadas, devido à falta de planejamento urbano ou a falta da sua
devida aplicação. Dessa forma, a ausência de ações de planejamento do uso e ocupação do solo urbano atrelado
ao crescimento populacional e ao desenvolvimento econômico das cidades, levam a população mais vulnerável
a ocupar áreas suscetíveis à ocorrência de desastres naturais. De acordo com Nunes (2015), o Brasil é o país
mais afetado por desastres na América do Sul, com eventos predominantemente hidrometeorológicos, como
inundações e enchentes.
Nesse cenário, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu 17 Objetivos para o
Desenvolvimento Sustentável (ODS). Dentre estes objetivos, destaca-se o ODS-11, referentes às cidades e
comunidades sustentáveis. No Brasil, o ODS-11 apresenta a finalidade de reduzir significativamente, até 2030,
o número de mortes e o número de pessoas afetadas por desastres naturais, além de diminuir a quantidade de
residentes em áreas de risco e as perdas econômicas diretas causadas por estes desastres (ONU, 2015).
Nos últimos 15 anos, a Região Metropolitana do Cariri (RMC), sul do Ceará, tem apresentado um
elevado crescimento econômico e social, o que provoca a preocupação de planejadores urbanos com suas
consequências (BANDEIRA, NUNES e LIMA, 2016). Nessa região, a população dos nove municípios que o
compõe sofre anualmente com as inundações, alagamentos, erosões, deslizamentos de encostas, após chuvas
concentradas e intensas; e com as secas no período de estiagem.
Assim, esses desastres naturais provocam diferentes consequências, tais como: danos materiais, perdas
humanas e gastos públicos devido à falta do devido uso e ocupação do solo. Muitos dos municípios que compõe
a região metropolina do Cariri não tem o Plano Diretor atualizado. O município de Juazeiro do Norte, o mais
importante economicamente e de maior densidade populacional, tem seu Plano Diretor datado no ano de 2000,
necessitando de atualização urgente para orientar melhores ocupações urbanas e contribuir com
desenvolvimento sustentável do município e da região.
Diante deste contexto, o presente trabalho possui a finalidade de apresentar as ações desenvolvidas no
âmbito da Universidade Federal do Cariri (UFCA) como contribuição ao gerenciamento das áreas de risco e
ao desenvolvimento sustentável da Região Metropolitana do Cariri cearense, além da ampliação da relação
entre a universidade e a sociedade.

2 Metodologia

O modelo de gerenciamento do UNDRO (United Nations Coordinating Agency for Disaster Relief –
Agência de Coordenação das Nações Unidas para o Socorro em Desastres, 1991) recomenda 4 principais
atividades que os municípios devem realizar para redução dos desastres, sendo elas: a) Identificação e análise
de riscos; b) Adoção de medidas estruturais para a prevenção de acidentes e a redução dos riscos; c) Adoção
de medidas não estruturais com implantação de planos preventivos de defesa civil para os períodos das chuvas
mais intensas, monitoramento e atendimento das situações de emergência; d) Informação pública e capacitação
para prevenção e autodefesa.
Dessa forma, tomando como base este modelo, esse trabalho foi elaborado por meio da descrição das
ações desenvolvidas pela UFCA, desde 2012. Dentre as quatro atividades recomendadas pelo UNDRO (1991),
a UFCA tem desenvolvido, na região metropolitana do Cariri, três delas (atividades a, c e d), sendo a atividade
de adoção de medidas estruturais (b) de responsabilidade diretas dos municípios, por se tratar de implantação
de obras de estabilização.
A identificação e análise de riscos (atividade a) foi realizada em 03 localidades do município do Crato
(bairros: Seminário, Pinto Madeira e Alto da Penha, no ano de 2011; e em todo o município de Barbalha, em
2017). Os trabalhos de Bandeira, Nunes e Lima (2016) apresentam resultados dos mapeamentos realizados.

55
Nas atividades de Adoção de medidas não estruturais (atividade c) e Informação pública e capacitação
para prevenção e autodefesa (atividade d) foram realizadas as seguintes ações:
i) Elaboração de cartilhas sobre Áreas de Risco e sobre Saneamento Ambiental e distribuição nas
bibliotecas das escolas públicas da região e nas comunidades situadas em áreas de risco (realizados
em 2015);
ii) Palestras no município do Crato, para comunidades situadas em áreas de riscos (realizadas em 2015);
iii) Palestras para técnicos municipais e estadual, realizadas em 2016 no município de Barbalha, e em
2017 no município do Crato;
iv) Cursos de capacitação em gerenciamento de áreas de risco de inundação, erosão e deslizamentos de
encostas, destinados aos técnicos municipais, sendo um realizado em 2015, de forma presencial, com
carga horária de 16h e outro realizado em 2020, por meio do plataforma do Google Meet, devido à
Pandemia do COVID-19, com carga horária de 14h.
v) Cursos de capacitação em NUPDEC-Jovem (Núcleo Comunitário de Proteção e Defesa Civil), sendo
um realizado em 2015, de forma presencial, com carga horária de 9h e outro realizado em 2020, por
meio do plataforma do Google Meet, com carga horária de 12h.

3 Resultados e Discussões

3.1 Identificação e análise de riscos

Esta atividade foi realizada em 03 localidades do município do Crato e em toda zona urbana do
município de Barbalha. No Crato participaram das atividades, docentes experientes no tema e discentes do
curso de graduação em engenharia civil, e em Barbalha o trabalho foi desenvolvimento por meio de pesquisa
de mestrado (Silva, 2017).
No município de Barbalha, dos 15 bairros que o compõem, 5 foram identificados possuírem áreas de
risco, além de 1 distrito, do total de 3 existentes. Nessas localidades foram mapeados 15 setores de risco, dos
quais 6 foram classificados como de risco médio e 6 como de risco alto (Silva et al, 2017). Os resultados
obtidos permitiram que os gestores tivessem conhecimentos da situação das áreas de riscos existentes no
município. A Figura 1 apresenta exemplo de um setor de risco mapeado, especificamente do bairro Tupinambá,
apresentando também imagem da situação agravante.

Figura 1. Setores de Risco de Deslizamento do Bairro Tupinambá em Barbalha – CE (Silva et al., 2017)

56
3.2 Elaboração de Cartilhas sobre Áreas de Risco e sobre Saneamento Ambiental

A fim de contribuir com a educação ambiental e promover a dissiminação da informação sobre os


conceitos básicos dos problemas ambientais, as cartilhas Riscos em Encostas e Saneamento Ambiental foram
elaboradas. Após a elaboração, um total de 500 exemplares foram impressos e distribuídos entre as bibliotecas
das escolas públicas dos três principais municípios da RM-Cariri: Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha.
Também foram realizadas distribuição das cartilhas nas comunidades e realizadas entrevistas com os
moradores sobre percepção de áreas de riscos. Essas cartilhas foram elaboradas utilizando linguagem de fácil
compreensão, com ilustrações locais, direcionados ao público-alvo (adolescentes, jovens e adultos moradores
de áreas de risco). A Figura 2 apresenta exemplo de ilustração do conteúdo das cartilhas e a Figura 3 apresenta
um momento de distribuição da cartilha e entrevista na comunidade.

Figura 2: Exemplo de Ilustração do Conteúdo das Cartilhas

Figura 3: Entrevista e Distribuição da Cartilha na Comunidade de Barbalha

57
3.3 Palestras para comunidades e equipes técnicas

No ano de 2015 foram realizadas 02 palestras no município do Crato, para comunidades situadas em
áreas de riscos, buscando informar a população sobre os problemas ambientais e sensibilizar os moradores a
cuidar do espaço em que vivem.
Também foram realizadas Palestras técnicas, destinadas a um público de técnicos que realizam
atividades relacionadas com o tema meio ambiente, no âmbito municipal e estadual. Uma palestra foi realizada
em 2016, no município de Barbalha, no tema Gerenciamento de Áreas de Risco para Redução de Desastres; e
outra palestra foi realizada em 2017, na Prefeitura do município do Crato, no tema de Plano de Contingência.

3.4 Capacitação em gerenciamento de áreas de risco de inundação, erosão e deslizamento de encostas

Foram realizados 02 cursos de capacitação em gerenciamento de áreas de risco de inundação, erosão e


deslizamentos de encostas, destinados aos técnicos municipais. Os instrutores dos cursos foram professores da
UFCA, especialistas no tema de inundações e deslizamentos, envolvendo um total de 04 professores doutores.
No primeiro curso, realizado em 2015, participaram 20 técnicos municipais atuantes na região
metropolitana do Cariri.
No curso, realizado em 2020, participaram 57 pessoas, envolvendo técnicos municipais e profissionais
de diversas formações acadêminas envolvidos com o tema. O curso realizado através do Google Meet
possibilitou a participação de profissionais dos mais diversos municípios pertencente à Região Metropolitana
do Cariri. A Figura 4 apresenta um gráfico de barras com a distribuição dos participantes por município.
Ressalta-se a participação de dois profissionais do estado de Pernambuco. Os cursos atenderam os objetivos
previstos de disseminar o conhecimento no tema de gerenciamento de áreas de risco.

Municípios dos Participantes


30

25

20

15

10

0
Barbalha Crato Caririaçu Farias Brito Jardim Juazeiro do Missão Nova Santana do Recife-PE Oricuri-PE
Norte Velha Olinda Cariri

Figura 4. Distribuição dos Participantes por Municipio no Curso de Gerenciamento de 2020

Na capacitação mais recente, ocorrida em 2020, foram abordados, além dos assuntos encontrados nas
referências mais consagradas sobre o tema, os tópicos apresentados nos manuais produzidos através do Projeto
GIDES (CPRM, 2018), da parceria firmada entre o Brasil e o Japão, com destaque ao conteúdo dos Volume 1
(Manual de Mapeamento de Perigo e Risco a Movimentos Gravitacionais de Massa) e Volume 6 Manual
Técnico para Redução de Riscos de Desastres Aplicado ao Planejamento Urbano).
O curso, realizado através da plataforma do Google Meet, possibilitou a participação de um número
maior de profissionais atuantes na região do Cariri. Foi uma experiência enriquecedora, com oportunidade de
diversos debates e compartilhamentos de experiências municipais. No final do curso os participantes avaliaram
os quesitos de conteúdo, qualidade do material e nível de conhecimento dos instrutores, como muito satisfeito
(mínimo de 80% dos participantes) e satisfeito (até 20% dos participantes); nenhum dos participantes
avaliaram os requisitos como insatisfeito ou muito insatisfeito.

58
3.5 Cursos de capacitação em NUPDEC-Jovem (Núcleo Comunitário de Proteção e Defesa Civil)

Os cursos de Capacitação em Núcleo Comunitário de Proteção e Defesa Civil para Jovens tiveram
como objetivo promover a capacidade do jovem em participar de ações de defesa civil, além de contribuir com
a formação acadêmica dos discentes do curso de graduação em engenharia civil envolvidos nas atividades,
auxiliando na formação cidadã e profissional de todos os participantes. Neste sentido, um curso de capacitação
em NUPDEC-Jovem foi realizado em 2015, de forma presencial, com carga horária de 9 horas, em uma escola
pública do município do Crato. Nesta ação participaram 20 jovens, alunos da Escola de Ensino Fundamental
Dom Quintino. A Figura 5 apresenta imagem de atividades realizadas em 2015.

a) Palestras temáticas b) Interação Semafórica sobre os Temas

Figura 5: Atividades Desenvolvidas durante NUPDEC-Jovem de 2015.

No ano de 2020, outro curso de capacitação em NUPDEC-Jovem foi realizado, porém por meio do
plataforma do Google Meet, com carga horária de 12 horas. Neste, participaram 35 estudantes do ensino
fundamental e médio do 2° Colégio da Polícia Militar Coronel Hervano Macêdo Júnior, localizado no
município de Juazeiro do Norte – CE, sendo esses alunos pertencentes aos Pelotões Ambiental e Brigadista da
escola. Durante o curso, mesmo à distância, os jovens participaram de dinâmicas de grupo e realizaram
atividades em equipes, sendo bem participativos, tornando o curso bem mais prazeroso. Os jovens elaboraram
poemas temáticos, folders de incentivo para participação em NUPDEC, estudos de caso de problemas locais
da RMC e entrevistas aos componentes de um NUPDEC do município de Maranguape – CE. No final da
capacitação, todos os trabalhos foram pontuados e a equipe que recebeu a melhor pontuação recebeu um
prêmio remunerado. As Figuras 6a e 6b apresentam exemplos de um folder elaborado e trecho de um poema
realizados em 2020.
Os alunos do curso de NUPDEC-Jovem, 2020 também foram incentivados a participarem do 5°
Concurso #AprenderParaPrevenir; um concurso promovido pelo CEMADEM (Centro Nacional de
Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), onde apresentaram as atividades desenvolvidas por meio de
um vídeo de 3 minutos de duração, com depoimentos dos participantes.

59
a) Folder elaborado b) Trecho de um Poema

Figura 6: Atividades Desenvolvidas durante NUPDEC-Jovem de 2020.

As informações transferidas aos participantes, por meio dos cursos, possibilitaram enriquecer a
formação dos estudantes, no tema de meio ambiente e mostrar a importância dos cuidados com o espaço urbano
e com o uso e a ocupação do solo, para a redução dos desastres. Além do mais, também contribuiu com a
formação acadêmica dos estudantes do curso de graduação em engenharia civil envolvidos, promovendo uma
experiência direta em contato com a realidade que os cerca. Em fim, revelou a importância da atuação dos
jovens nas ações do NUPDEC para o desenvolvimento sustentável da região.

4 CONCLUSÕES

As ações realizadas através da Universidade Federal do Cariri têm proporcionado importantes


contribuições para o gerenciamento de áreas de risco nos municípios do Cariri Cearense. No que se refere à
identificação e análise dos riscos, as atividades auxiliaram as ações das defesas civis municipais em Crato e
em Barbalha. A elaboração e distribuição de cartilhas nas bibliotecas das escolas públicas da RMC e nas
comunidades, assim como as palestras, possibilitaram a dissiminação das informações e a importância dos
cuidados com o meio ambiente. Tanto os profissionais participantes dos cursos de capacitação em
gerenciamento de áreas de riscos quanto os jovens participantes da capacitação em NUPDEC tiveram a
oportunidade de ampliar seus conhecimentos sobre os desastres naturais.
Além das contribuições direta com a gestão das áreas de riscos nos municípios envolvidos nas ações, as
atividades desenvolvidas pela UFCA proporcionaram aos acadêmicos do curso de engenharia civil uma
formação acadêmica diferenciada no tema, possibilitando ao aluno aprofundar o conhecimento dos conteúdos
abordados em algumas disciplinas do curso de graduação. Por fim conclui-se que todas as ações buscaram
contribuir com o desenvolvimento sustentável da região, expandindo a relação transformadora
entre universidade e sociedade.

60
AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a todos os participantes das ações, à Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) pela
concessão de bolsas de extensão e à Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI) pelo incentivo às atividades
de pesquisas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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mitigation. UNDRO News, jan-febr. 1991. Geneva: Office of the United Nations Disasters Relief Co-
ordiantor. 20p.

61
Utilização de fotogrametria digital para extração semi-automática
de descontinuidades geológicas da ponte natural de pedra de
Alegrete - Brasil
Andressa Marques Minich
Acadêmica, Universidade Federal do Pampa, Alegrete, Brasil, andressaminich@gmail.com

Carolina Escarrone de Lima


Acadêmica, Universidade Federal do Pampa, Alegrete, Brasil, cescarrone@gmail.com

Diego Arthur Hartmann


Docente, Universidade Federal do Pampa, Alegrete - RS, Brasil, diegohartmann@unipampa.edu.br

Raquel Mariano Linhares


Docente, Universidade Federal de Lavras, Lavras - MG, Brasil, raquel.linhares@ufla.br

RESUMO: Em casos de maciços rochosos de geometria complexa e de difícil acesso, a obtenção da orientação
de suas descontinuidades se torna um processo dispendioso. O presente trabalho tem como objetivo realizar o
mapeamento das descontinuidades geológicas da ponte natural de pedra, que se situava em Alegrete/RS. Para
tanto, foram utilizados os softwares 3DF Zephyr e CloudCompare a fim de obter, respectivamente, a geometria
do maciço rochoso e a orientação das descontinuidades nas faces norte e sul. Com isso, observou-se que as
direções dominantes dos mergulhos estavam orientadas no sentido norte/sul, indicando que a principal
descontinuidade do maciço tinha direção paralela ao eixo longitudinal da ponte. A metodologia utilizada se
mostrou eficaz, caracterizando-se como uma alternativa viável e acessível para o mapeamento de
descontinuidades geológicas em comparação com metodologias tradicionais. O estudo possibilitou uma
melhor compreensão sobre a formação geológica da ponte natural de pedra.

PALAVRAS-CHAVE: Fotogrametria Digital, Structure from motion, Mapeamento de Descontinuidades.

ABSTRACT: The geological investigation of rock masses in hard to reach places can be a difficult task, as
geologists and geotechnicians may need special training and equipment to run the needed measurements. This
work aims to evaluate a novel geological discontinuity mapping technique to investigate the “natural stone
bridge” rock formation thats was sited in Alegrete - Brazil. To generate a 3D point cloud model and map the
discontinuities, two softwares were used: 3DF Zephyr and CloudCompare. The 3D model was split in two
parts, one for each side of the rock mass. The model was put to scale and properly oriented with a reference to
the magnetic north. From the results it was possible to observe that the dominant dip directions were to the
north and south, and the dip was nearly vertical. Through visual inspection it was not clearly if other sets of
discontinuities existed, but bedding was a very probable on this specific rock mass formation. The study
provided a better understanding of the geological formation of the natural stone bridge.

KEYWORDS: Digital photogrammetry, Structure from Motion, Discontinuity Mapping.

1 Introdução

No contexto da engenharia geotécnica, a caracterização de maciços rochosos apresenta-se como uma


etapa de suma importância. Tal deve-se à heterogeneidade e ao comportamento geomecânico anisotrópico do
maciço, regido tanto pelas propriedades da rocha intacta quanto de suas descontinuidades (FERRER, 2002).
Estas, por serem definidas como planos de fraqueza na estrutura da matriz rochosa, condicionam a
deformabilidade, a resistência ao cisalhamento, a permeabilidade e a estabilidade do conjunto (HUDSON;
HARRISON, 2000). Desta forma, é justificado um estudo geológico extensivo para representação e
quantificação da influência das descontinuidades no comportamento do maciço rochoso (PRIEST, 1993).
As propriedades das descontinuidades, tais como espaçamento, persistência e orientação, são geralmente
obtidas em campo por meio de técnicas manuais, como o uso de bússola de geólogo e fitas métricas. Podem

62
ser necessárias muitas horas de trabalho para a obtenção de uma quantia suficiente de aferições a partir destas
metodologias, a depender da magnitude do maciço em estudo. Ainda, são condicionadas pela acessibilidade
física à face do maciço rochoso em estudo (RIQUELME; ABELLÁN; TOMÁS; 2015).
Neste sentido, o avanço tecnológico em técnicas de sensoriamento remoto, como a fotogrametria digital
e o sistema de varredura a laser LiDAR (Light Detection and Ranging), permitem uma abordagem automatizada
e precisa para a obtenção de informações tridimensionais do maciço rochoso de interesse. O presente trabalho
teve como objetivo realizar o mapeamento e caracterização das descontinuidades da ponte natural de pedra
localizada no município de Alegrete, a partir da utilização da fotogrametria digital aliada a um programa
computacional de análise de nuvens de pontos.

2 Fundamentação teórica

2.1 Descontinuidades em maciços rochosos

Maciços rochosos são uma massa de rocha que pode conter descontinuidades (FIORI; CAMIGNANI,
2009). Tais descontinuidades são planos de fraqueza com menor resistência ao cisalhamento que interrompem
as propriedades geomecânicas e hidráulicas dos blocos de rocha intacta (PRIEST, 1993; FERRER, 2002;
FIORI; CARMIGNANI, 2009). Assim, justifica-se a necessidade da compreensão de sua presença como
condicionante do comportamento global do maciço rochoso (PRIEST, 1993; HUDSON; HARRISSON, 2000).
Segundo Priest (1993), as principais características das descontinuidades, como orientação, dimensões,
frequência e geometria da superfície (rugosidade e alteração) são essencialmente propriedades geométricas
mensuráveis. Dentre estas, a orientação das descontinuidades é um dos principais parâmetros a serem
analisados, pois a partir dela são estabelecidas diferentes classificações por meio de famílias de fraturas
(FERNANDES, 2010). Os principais elementos para se obter a orientação das descontinuidades estão
representados na Figura 1.

Figura 1. Representação da orientação de descontinuidades


Adaptado de Wyllie (2017)

O mergulho, representado por 𝜓, é definido como a máxima inclinação da descontinuidade em relação


ao plano horizontal. Já a direção de mergulho (ângulo 𝛼) é o azimute da linha horizontal de mergulho
(WYLLIE, 2017).
O conhecimento das propriedades das descontinuidades, conforme descrito por Priest (1993), é utilizado
para diferentes propósitos, como a investigação de estruturas geológicas, classificação de maciços rochosos e
geração de dados de entrada para criação de modelos analíticos, numéricos ou empíricos para problemas
envolvendo a análise de estabilidade e deformação dos maciços. Conforme o objetivo de utilização destas
informações, são necessárias diferentes abordagens para a extração de amostras e o mapeamento das
descontinuidades. De modo alternativo à caracterização manual das descontinuidades, é possível utilizar
técnicas mais modernas de sensoriamento remoto para reconstituição tridimensional que permitem a obtenção
e a análise destes parâmetros de forma mais rápida e precisa, como o sistema de varredura a laser LiDAR e a
fotogrametria digital (RIQUELME; ABELLÁN; TOMÁS, 2015).

63
2.1 Modelagem tridimensional

2.1.1 Fotogrametria digital

A fotogrametria pode ser definida como a ciência e a tecnologia que utilizam imagens adquiridas por
sensores com a finalidade de obter informações geométricas do objeto ou da área em estudo. Seu objetivo, de
acordo com Coelho e Brito (2007), é definido como a reconstrução de um espaço tridimensional, chamado de
espaço-objeto, a partir de um conjunto de imagens bidimensionais, chamado de espaço-imagem. Já a
fotogrametria digital tem como princípio a adoção de operações da fotogrametria tradicional, porém com a
utilização de imagens digitais adquiridas por meio de câmeras fotográficas, e tendo seu processamento
executado em ambiente computacional.
A reconstituição do espaço tridimensional deve-se ao fenômeno da estereoscopia e ao processo de
fototriangulação. A estereoscopia é o fenômeno decorrente da sobreposição de duas imagens com uma faixa
de recobrimento, denominado par estereoscópico, com cerca de 60% lateral e 30% longitudinalmente (VIANA,
2015). Já a fototriangulação é definida por Coelho e Brito (2007) como “o processo de determinação de
coordenadas do terreno dos pontos fotogramétricos selecionados sobre imagens fotográficas”, cuja função é
estabelecer uma relação entre as imagens obtidas, a câmera fotográfica e a posição do objeto (FERNANDES,
2016).

2.1.2 Structure from Motion


Oriundo dos avanços da visão computacional e fotogrametria digital, o Structure from Motion (SfM),
traduzido livremente como “estruturas a partir do movimento”, é um método fotogramétrico que utiliza a
sobreposição de imagens bidimensionais obtidas a partir de câmera fotográfica em diferentes posicionamentos
para a reconstrução tridimensional da geometria de um objeto ou área de interesse (CARRIVICK; SMITH;
QUINCEY, 2016). A utilização de sensores em movimento para a reconstrução da posição do objeto de estudo
justifica seu nome: estruturas obtidas a partir do movimento (MICHELETTI; CHANDLER; LANE, 2015).
Carrivick, Smith e Quincey (2016) salientam que as imagens devem ser obtidas em torno do objeto de estudo,
garantindo-se a cobertura total de sua superfície com captura de toda a estrutura em diferentes posições, como
mostra a Figura 2.

Figura 2. Reconstrução a partir de Structure from Motion


Adaptado de Westoby et al. (2012)

A técnica de SfM diferencia-se da fotogrametria tradicional por não necessitar da inserção de pontos de
coordenadas conhecidas para a restituição dos parâmetros da câmera utilizada, como distância focal, distorção
e posição. Ao utilizar algoritmos sofisticados para a correspondência de imagens, a técnica de SfM torna a
reconstrução tridimensional um processo com elevado nível de automação e agilidade quando comparado à
clássica fotogrametria digital (FONSTAD et al., 2013).
A popularização do método se deve, principalmente, ao baixo custo de seu equipamento para obtenção
de dados em campo e a maior facilidade de acesso a softwares específicos de reconstrução tridimensional. A
aquisição de imagens pode ser realizada por meio de câmeras digitais, enquanto o processamento das imagens
e a reconstrução do ambiente tridimensional são realizados através de softwares comerciais ou gratuitos
(WESTOBY et al., 2002). A utilização da modelagem fotogramétrica a partir de SfM para as geociências vem
apresentando significativo avanço nos últimos anos, tendo aplicações na verificação da estabilidade de taludes
em maciços rochosos (SANTOS, 2017); estudo do tectonismo (JOHNSON et al., 2014); mapeamento de
descontinuidades em maciços rochosos (STURZENEGGER; STEAD, 2009; FERNANDES, 2010; VIANA,
2015) e análise geológica e de geomorfologia (BEMIS et al., 2014).

64
3 Materiais e métodos

3.1 Contexto geológico

A área de estudo estava localizada no município de Alegrete, região oeste do estado do Rio Grande do
Sul. O acesso ao Cerro do Negro, onde situava-se a ponte natural de pedra, era realizado por meio de estrada
vicinal a 50 km de Alegrete, até a base do cerro. Após, eram necessários cerca de 10 minutos de trilha sem
demarcação. O local é caracterizado geologicamente como pertencente às unidades litoestratigráficas Grupo
São Bento e Formação Botucatu, formadas na era Jurássica. A formação Botucatu é constituída por arenito
fino a médio, quartzosos e localmente feldspáticos, com cores em tons avermelhados e amarelados (CPRM,
2008). Na Figura 3 é apresentada uma foto aérea da ponte natural de pedra de Alegrete/RS, com
aproximadamente 30 metros de comprimento.

Figura 3. Ponte Natural de Pedra de Alegrete/RS

3.2 Metodologia

A metodologia utilizada foi dividida em duas etapas principais: aquisição das imagens em campo, e o
processamento das imagens em ambiente computacional em dois softwares distintos.
A aquisição das imagens utilizadas para a reconstrução fotogramétrica e posterior mapeamento de
descontinuidades foi realizada através do VANT (veículo aéreo não tripulado) DJI Spark, com resolução de
imagem de 12 megapixels. O VANT utilizado conta com sistema de posicionamento por satélite
GPS/GLONASS para o georreferenciamento. O plano de voo foi definido manualmente, de modo a recobrir
completamente a parte superior e as laterais da ponte natural de pedra, visando obtenção de maior número de
pontos em comum entre as imagens e, por consequência, a maior qualidade do modelo tridimensional. A fim
de orientar o modelo, definiu-se um alinhamento coincidindo com o eixo central da ponte, no qual foi medido
seu ângulo em relação ao norte magnético com auxílio de uma bússola de geólogo.
Após, foi realizada uma pré-seleção nas imagens de forma a descartar as que contivessem distorções e/ou
estivessem desfocadas, com o propósito de garantir maior fidedignidade à geometria do maciço rochoso. Em
seguida, para a realização do alinhamento das imagens e posterior obtenção da nuvem de pontos, foi utilizado
o software 3DF Zephyr Aerial na modalidade de uso estudantil. O primeiro produto fotogramétrico resultante
do alinhamento e reconhecimento de pontos em comum no conjunto de imagens é denominado de nuvem de
pontos esparsa. Em seguida, obteve-se a nuvem de pontos densa, cujo resultado decorre do processo de
densificação da nuvem esparsa, obtendo-se um modelo com maior detalhamento. O modelo foi colocado em
escala utilizando marcadores, posicionados no nível do solo e com distância entre si conhecida.
Posteriormente, importou-se a nuvem de pontos densa para o software CloudCompare, onde
verificaram-se a escala e a orientação do modelo e então extraíram-se as superfícies planares do maciço através
do plugin de geologia estrutural FACETS. A metodologia empregada neste trabalho para a extração dessas
superfícies foi a sugerida por Dewez et al. (2016), cujo funcionamento consiste na divisão da nuvem de pontos
em um conjunto de pontos que compartilhem um nível predeterminado de coplanaridade definido pelo usuário,
criando para cada conjunto uma superfície representativa. A segmentação foi realizada por meio de dois
algoritmos específicos pertencentes ao plugin FACETS: Kd-Tree (KD) e Fast March (FM). O resultado de
ambos foi um conjunto de polígonos que definem as faces expostas do maciço e, posteriormente, podem ser
agrupados de acordo com a sua orientação para determinação dos ângulos de mergulho e suas direções. Para
a realização da segmentação, foi selecionada uma região retangular com 0,7 m de altura abrangendo toda
lateral da ponte; os valores padrão dos algoritmos foram mantidos.

65
4 Resultados e discussões

Nas Figuras 4 e 5 estão apresentadas as nuvens de pontos das laterais norte e sul da ponte,
respectivamente, onde é possível observar a faixa central, cuja escala de cores representa a direção do mergulho
de cada ponto da nuvem de pontos. É possível observar a quantidade de pontos que se enquadram na direção
de mergulho referente a coloração indicada no gráfico de colunas acima da legenda. Pode-se observar que as
direções dominantes dos mergulhos são orientadas no sentido Norte e Sul (0° e 180º).

Figura 4. Lateral norte com indicação de direção de mergulho

Figura 5. Lateral sul com indicação de direção de mergulho

Na Figura 6 estão ilustrados dois estereogramas: (a) lateral norte e (b) lateral sul. Indicados pela
densidade de pólos nos estereogramas, para a face norte e sul, observa-se que as principais direções de
mergulho são no sentido norte e sul. Porém, para a lateral sul, nota-se um pequeno grupo isolado de faces com
direções de mergulho de 225°. Ainda, é possível verificar que ambas faces apresentam dispersão de direções
de mergulho, com variação de até 50°. Ademais, os mergulhos são predominantemente de 80 a 90° para ambas
faces, indicando constante verticalidade das faces planares.

66
Figura 6. Estereograma das lateral norte (a) e sul (b)

Em se tratando das segmentações pelos algoritmos Kd e Fm, pode-se observar na Tabela 1 que os mergulhos
médios obtidos se mostraram muito semelhantes, aproximadamente 90° para as faces norte e sul. As direções
médias de mergulho para as faces norte e sul são de 170º a 190º, para as segmentações Kd e Fm.

Tabela 1. Valores médios de mergulho e direção de mergulho obtidos pela segmentação pelos algoritmos Kd e Fm.
Kd Fm
Face
Mergulho Dir. de mergulho Mergulho Dir. de mergulho

Norte 89° 188° 89° 188°

Sul 89° 175° 88° 176°

A predominância de mergulho verificada com ambas as metodologias, observada na Tabela 1, se verifica


não apenas na ponte em si, como também em seus arredores, como pode ser observado na Figura 3. Tal pode
corroborar a teoria de que, antigamente, o local era totalmente coberto e que, com a evolução do processo
erosivo e solapamento, sucessivas pontes foram se formando e ruindo.
As faces geradas a partir das segmentações pelos algoritmos Kd e Fm para as faces norte e sul podem
ser observadas, respectivamente, nas Figuras 7 e 8, nas quais estão apresentados os resultados obtidos para o
agrupamento das famílias de faces coplanares, para ambos algoritmos de segmentação: Kd e Fm. Os valores
dos parâmetros para agrupamento, como ângulo e distância máxima, foram de 30º e 1 metro, respectivamente.

Figura 7. Lateral norte após segmentação pelos algoritmos Kd (a), e Fm (b).

67
Figura 8. Lateral sul após segmentação pelos algoritmos Kd (a), e Fm (b).

Nota-se que, para ambas faces, o agrupamento em famílias para segmentação Kd obteve maior número
de famílias de faces planares quando comparada à segmentação com algoritmo Fm. Apesar disso, os valores
médios de mergulho e orientação de mergulho obtidos para as duas segmentações foram semelhantes. Devido
ao alto grau de alteração da rocha nas faces expostas, não foi possível constatar estratificação do maciço, feição
usualmente observada em rochas sedimentares de textura clástica.

5 Considerações finais

No presente trabalho foi apresentada a aplicação de uma metodologia para determinação de


descontinuidades geológicas de forma semi-automática, a partir da integração de dois programas distintos para
a reconstrução tridimensional e a classificação das descontinuidades em função de suas orientações. Esta
metodologia foi aplicada em um então ponto turístico da região oeste do estado do Rio Grande do Sul, chamada
de ponte natural de pedra, cuja impossibilidade de acesso físico às laterais restringia a utilização de
metodologias tradicionais de levantamento e caracterização de suas descontinuidades. Nesse sentido, a
utilização da técnica fotogramétrica Structure from Motion se mostrou efetiva para o levantamento de dados
fotogramétricos de forma ágil, precisa e com custo acessível. O processo de extração da orientação das
descontinuidades pôde ser realizado de forma ágil e segura, devido à utilização do software CloudCompare
com a nuvem de pontos do modelo tridimensional do maciço. Este trabalho faz parte de um estudo em
andamento, que tem como objetivo final o aprimoramento do processo de avaliação da estabilidade de maciços
rochosos por meio da união de fotogrametria digital com simulações numéricas computacionais.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Programa de Desenvolvimento Acadêmico da Universidade Federal do Pampa e a


licença cedida pela empresa 3Dflow para uso do software 3DF Zephyr Aerial.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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69
Compilação das diferentes Metodologias de Mapeamento de áreas
de Risco de Deslizamentos aplicadas no Brasil

Rayanne Sales Alcantara Primo


Universitária, Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do Norte - CE, Brasil,
rayanne.sales@aluno.ufca.edu.br

Ana Patrícia Nunes Bandeira


Docente, Universidade Federal do Cariri, Crato - CE, Brasil, ana.bandeira@ufca.edu.br

Francisca Denise Pereira Almeida


Universitária, Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do Norte - CE, Brasil,
denise.almeida@aluno.ufca.edu.br

João Victor Martins da Paz


Universitário, Universidade Federal do Cariri, Crato - CE, Brasil, joao.martins@aluno.ufca.edu.br

Mateus Florencio Sousa


Universitário, Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do Norte - CE, Brasil,
mateus.florencio@aluno.ufca.edu.br

Vinicius Alves Pereira da Luz


Universitário, Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do Norte - CE, Brasil,
vinicius.alves@aluno.ufca.edu.br

RESUMO: O mapeamento das áreas de risco de deslizamentos é um importante instrumento de


planejamento das cidades, permitindo apresentar a espacialização dos problemas e suas classes de gravidade,
auxiliando aos gestores na tomada de decisões. O presente trabalho tem como objetivo analisar as diferentes
metodologias de mapeamento de áreas de risco no Brasil, apontando suas principais características, além das
atividades envolvidas. Para essa finalidade, foi realizada uma revisão de literatura sobre as metodologias de
mapeamento de áreas de risco de deslizamentos de encostas, em que as informações coletadas foram
organizados em forma de uma tabela, contendo a identificação do método, as atividades necessárias, os
métodos de avaliação da suscetibilidade e da vulnerabilidade e as classes dos graus de risco. Por meio desse
trabalho concluiu-se que existem diversos métodos de mapeamento, porém não há um método considerado
ideal para qualquer situação. A adoção do método estará relacionada às condições de cada localidade, em
função de dados disponíveis e da capacidade da equipe técnica que realizará o mapeamento, além da
disponibilidade financeira do município, ou seja, o critério técnico e econômico são os principais fatores para
definir a metodologia mais adequada para a aplicação em cada localidade.

PALAVRAS-CHAVE: Mapeamento, Áreas de Risco, Estabilidade de taludes.

ABSTRACT: The mapping of landslide risk areas is an important instrument for planning cities, allowing
the presentation of the spatialization of problems and their severity classes, helping managers in decision-
making. This paper aims to analyze the different methodologies for mapping risk areas in Brazil, pointing
out their main characteristics, in addition to the activities involved. For this purpose, a literature review was
carried out on methodologies for mapping areas at risk of slope landslides, in which the information
collected was organized in the form of a table, containing the identification of the method, the necessary
activities, the methods of susceptibility and vulnerability assessment and risk grade classes. Through this
work it was concluded that there are several mapping methods, but there is not a method considered ideal for
any situation. The adoption of the method will be related to the conditions of each location, depending on
available data and the capacity of the technical team that will carry out the mapping, in addition to the

70
municipality's financial availability, that is, the technical and economic criteria are the main factors to define
the most suitable methodology for application in each location.

KEYWORDS: Mapping, Risk areas, Slope stability.

1 Introdução

Nas grandes cidades brasileiras, os terrenos com maior aptidão à ocupação são dominados pela classe
social de maior poder econômico, devido ao elevado preço dos terrenos; enquanto os terrenos inadequados à
ocupação, que necessitam de grande investimento financeiro para melhoria da aptidão, ficam disponíveis à
população de baixa renda (BANDEIRA et al, 2016). Essa forma de ocupação contribui para o surgimento de
diversas áreas de riscos nas zonas urbanas, contribuindo para as ocorrências de desastres naturais, como os
deslizamentos de encostas e as inundações.
Segundo Tominaga (2012), risco trata-se da relação entre a possibilidade de ocorrência de um dado
processo e a magnitude de danos ou consequências sociais e/ou econômicas sobre um dado elemento, grupo
ou comunidade. Sendo assim, para a elaboração do mapa de áreas de risco são necessárias duas principais
atividades: a identificação das áreas e a análise do grau de risco, levando em consideração a suscetibilidade
do meio (perigo) e as possíveis consequências (vulnerabilidade). Essas atividades devem ser realizadas por
profissionais capacitados, devido à complexidade dos inúmeros fatores que interferem nos processos do meio
físico, tais como os fatores geomorfológicos, geotécnicos, climáticos, uso e ocupação do solo, além de
aspectos sociais.
O mapeamento das áreas de risco é um importante instrumento de planejamento das cidades,
permitindo apresentar a espacialização dos problemas e suas classes de gravidade, auxiliando aos gestores na
tomada de decisões para redução dos problemas. Quando há um gerenciamento eficaz, o nível de gravidade
do risco pode ser reduzido. Neste contexto, este trabalho tem como objetivo apresentar as diferentes
metodologias de mapeamento de áreas de risco de deslizamentos de encostas mais utilizadas no Brasil nos
últimos anos, apontando suas principais características e atividades envolvidas.

2 Metodologia

Neste trabalho foi realizada uma revisão de literatura sobre as metodologias de mapeamento de áreas
de riscos de deslizamentos de encostas mais utilizadas nos municípios brasileiros, nos últimos anos,
publicados em artigos de eventos científicos nacionais (COBRAE e COBRAMSEG), teses e dissertações,
livros e manuais técnicos. As metodologias apresentadas foram utilizadas por diversas instituições e órgãos
especializados, como o IPT, CPRM e Instituto Geo-Rio. Também apresenta-se aqui a metodologia utilizada
na Região Metropolitana do Recife, recomendada em Brasil (2007) e a recentemente publicada no Manual de
Mapeamento de Perigo e Risco a Movimentos Gravitacionais de Massa (CPRM/SGB, 2018), produzido
através do Projeto de Fortalecimento da Estratégia Nacional de Gestão Integrada de Desastres Naturais
(Projeto GIDES), elaborado através do acordo de Cooperação Internacional Brasil – Japão. As informações
foram organizadas em forma de uma tabela, contendo a identificação do método, as atividades necessárias,
os métodos de avaliação da suscetibilidade e da vulnerabilidade e as classes dos graus de risco

3 Resultados e Discussão

A revisão bibliográfica mostrou as metodologias adotam atividades de escritório e de campo, sendo


esta última realizada por meio de uma ficha tabulada, contendo os fatores naturais e antrópicos que
interferem nos processos de instabilidade das encostas, como a metodologia do IPT, aplicada em vários
municípios, conforme podem ser observados nos trabalhos de Silva (2017), que fez o mapeamento do
município de Barbalha-CE e de Freitas (2017), que mapeou o município de Alegre-ES. A metodologia de
Gusmão Filho (1992) também envolve estas atividades, como pode ser observado no trabalho de Bezerra
(2019), aplicada no município de Natal-RN e de Passos (2017), aplicada em Camboriú-SC. Essas
metodologias têm como principal vantagem o baixo custo de execução, visto que a atribuição do grau de
risco é feita a partir de observações realizadas em campo. Sendo assim, sua aplicação permite diagnosticar as
situações de risco, fornecendo subsídios para o planejamento de ações públicas nas localidades mapeadas.

71
Outras poucas metodologias consideram os parâmetros de resistência do solo (coesão e ângulo de
atrito), como a denominada SHALSTAB, utilizada por Gerente (2014) no estado de Santa Catarina e IMAI
et al. (2013) aplicado na Bacia Hidrográfica do Rio Ratones; e outras consideram a sobreposição de mapas,
como as adotadas por Souza et al. (2017) e Fernandes (2017). Coutinho et al. (2015) enfatiza a importância
dos fatores socioeconômicos e culturais para avaliação do grau de risco.
O modelo SHALSTAB que considera os parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo, mostrou
bons resultados quando foi aplicado na Bacia Hidrográfica do Rio Ratones (IMAI et al., 2013), confirmando
que, em condições do solo com elevado grau de saturação, o número de áreas suscetíveis a deslizamentos
aumenta. A consideração dos parâmetros de resistência do solo no método traz um diferencial e possibilita
uma avaliação quantitativa do risco; no entanto, o método pode não ser o mais adequado quando se pretende
mapear extensas áreas, como toda zona urbano de um município, pois a quantidade de amostras de solos e de
ensaios necessários para obtenção dos parâmetros de resistência a ser utilizado no método podem torná-lo
oneroso, além do tempo necessário para obtenção dos dados.
O manual do Projeto Gides (CPRM/SGB, 2018) apresenta metodologias que diferem com os tipos
específicos de processos de instabilidade (deslizamentos planares, rotacionais e quedas/rolamentos de blocos
rochosos), para delimitar as áreas de ocorrência dos processos e classificar o grau de suscetibilidade, mas
todas utilizam critérios topográficos. Esta etapa envolve a delimitação de áreas críticas e de áreas de
dispersão, com a identificação do local de interesse e do local da abrangência do processo. O grau de
suscetibilidade é atribuído por meio de dados obtidos em campo, onde são observados a energia potencial do
movimento na área delimitada; os indícios de instabilização; e a possibilidade de movimentos de massa, em
uma estação chuvosa normal. Nesta metodologia recomenda-se que, em nenhuma área crítica seja atribuída o
grau de perigo baixo, mesmo que não forem evidenciados indícios de instabilidade no terreno, sendo esta
classe mínima permitida apenas para as áreas de atingimento à jusante. Na análise da vulnerabilidade são
considerados o tipo de material das moradias e os danos estruturais presentes.
Apesar das particularidades das diversas metodologias, todas consideram os aspectos da
suscetibilidade (perigo) aos deslizamentos e os aspectos da vulnerabilidade para a classificação do grau de
risco. No que se refere às classes, as metodologias estudadas propõem de três a sete classes de grau de risco,
diferenciando também na denominação, tais como: a) 04 classes: baixo, médio, alto ou muito alto; b) 05
classes: muito pequena, pequena, moderada, elevada e muito elevada.; c) 07 classes: incondicionalmente
estável à incondicionalmente instável, envolvendo classes intermediárias que são usadas em comparação
entre outras áreas.
Com relação ao método de atribuição do grau de risco, as referências apresentam diferentes
características. Algumas utilizam ponderações de valores numéricos, a exemplo de Gusmão Filho (1992);
outras utilizam um quadro com características que identificam o potencial do grau de risco, como a do IPT
(Brasil, 2007); outras utilizam uma matriz de correlação entre os graus de suscetibilidade e de
vulnerabilidade, como a recomendada pelo Projeto Gides (CPRM/SGB, 2018), xxxxxxxx, xxxxxx. A Tabela
1 apresenta uma sintese das principais características dos métodos estudados.

Tabela 1: Características das Metodologias de Mapeamento de Áreas de Risco


Avaliação da Avaliação da
Metodologia Atividades Classes
suscetibilidade vulnerabilidade
JTC1 (Joint Inventário de
05 classes:
Technical Deslizamentos, Mapas de Avaliação
Análise de Muito pequena;
Committee Suscetibilidade, Perigo e visual da
aspectos Pequena;
on Landslide Risco. Usando modelos paisagem e
geomorfológicos Moderada;
and geomecânicos, frequência avaliação do
Elevada e Muito
Engineered e probabilidade dos terreno.
Elevada.
Slopes). eventos.
Modelo matemático que 07 classes: as
SHALSTAB utiliza a equação de classes extremas
(Shallow estabilidade para taludes representam áreas
Características
Landsliding infinitos. Calcula para cada Quantidade de incondicionalmen
geotécnicas do
Stability pixel de um grid o grau de chuva. te estáveis e
local.
Model). suscetibilidade a incondicionalmen
ocorrência de te instáveis; e as
deslizamentos classes

72
translacionais por meio da intermediárias
razão entre a quantidade de podem ser usadas
chuva (q) e a como comparação
transmissividade do solo entre áreas.
(T). Usando Angulo de
atrito e coesão do solo

Metodologia Análise do Suscetibilidade


aplicada por e Vulnerabilidade,
Fatores
COUTINHO calculados pela média
geológicos-
et al, (2015), aritmética dos valores Fatores físico-
geotécnicos, 04 classes:
incluindo atribuídos a cada indicador. ambiental, sócio,
geomorfológico Baixo, Médio,
fatores O grau de risco é econômico e
s e uso e Alto Muito alto
socioeconôm determinado pela cultural.
ocupação do
icos e correlação entre o Grau da
solo.
culturais Suscetibilidade e a
Vulnerabilidade.

Utiliza os parâmetros de
resistência ao cisalhamento
dos solos para o cálculo do
03 classes:
Software Fator de Segurança (FS). Calculado a
Alta instabilidade;
MacSCTAR Constrói-se um gráfico partir da
- Média
S. declividade x FS. Levando geometria do
instabilidade e
em conta a Coesão, ângulo talude.
Estáveis.
de atrito, peso específico
saturado e geometria do
talude.

Relevo,
Diretrizes do Modo de 03 classes:
Identificação em campo vegetação,
Instituto de ocupação e Risco baixo (R1);
dos condicionantes litologia e
Pesquisas padrão das Risco médio (R2)
geológico-geotécnicos e da evidências de
Tecnológicas edificações. Risco Alto (R3).
vulnerabilidade. movimentação.
(IPT).

Pluviometria,
Análise de probabilidade
hidrografia, 05 classes:
de ruptura de talude e das
benfeitorias, Risco muito baixo
possíveis consequências. O
(FERNAND acessos e faixas Risco baixo
cruzamento das
ES, 2017) de domínio. Risco moderado
informações é realizado
Litologia e Risco alto
por meio do ArcGis para
altura global Risco muito alto
classificação do risco.
dos taludes.

73
1) Definição dos Por meio de
processos; uma tabela em
2) Delimitação da área de que são Por meio de uma
estudo a partir da avaliados a tabela de
tipografia, envolvendo energia parâmetros (tipo
local de interesse e o local potencial do de material; os 04 classes:
da abrangência do movimento na danos estruturais; Muito alto
GIDES. processo; área delimitada; e se existe laudo Alto
3) Identificação em campo os indícios de técnico Médio
dos condicionantes e das instabilização; e específico de Baixo
evidências de instabilidade; a possibilidade resistência ao
3) Atribuição do grau de de movimentos processo)
risco; de massa, em
4) Registro das moradias uma estação
ameaçadas e para remoção. chuvosa normal

4 Conclusões

Os resultados obtidos mostraram que diversas metodologias são utilizadas no Brasil, desde qualitativas
às quantitativas; sendo realizadas atividades de campo. Na metodologia do Projeto Gides destaca-se uma
característica importante referente ao grau da vulnerabilidade das moradias: quando a moradia não apresenta
nenhum indício de danos e há laudo técnico específico, atestando a resistência da moradia ao processo, a
vulnerabilidade pode ser considerada baixa; ou seja, como esses fatores são improváveis de ocorrer,
recomenda-se que o menor grau de vulnerabilidade a ser atribuído seja o grau médio.
Através deste trabalho pode-se concluir que existem diversos métodos de mapeamento, porém não há
um método considerado ideal para qualquer situação. A adoção do método estará relacionada às condições
de cada localidade, em função de dados disponíveis e da capacidade da equipe técnica que realizará o
mapeamento, além da disponibilidade financeira do município, ou seja, o critério técnico e econômico são os
principais fatores para definir a metodologia mais adequada para a aplicação em cada localidade.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Universidade Federal do Cariri que, por meio do icentivo às atividades de
pesquisas e extensão, torna possível a realização desse trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BANDEIRA, A. P. N.; NUNES, P. H. S.; LIMA, M. G. S. Gerenciamento de riscos ambientais em


municípios da Região Metropolitana do Cariri (Ceará). Ambiente & Sociedade, v. 19, n. 04, p. 65-84,
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BEZERRA, Laddyla Thuanny Vital. Mapeamento de risco e análise de estabilidade de movimentos de massa
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74
FREITAS, M. H. G., et al (2017) Mapeamento De Risco Geotécnico Nos Bairros Guararema E Centro Do
Município De Alegre, Espírito Santo, Brasil – COBRAE, Florianópolis, Santa Catarina. Anais, ABMS,
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GERENTE, Jéssica; LUIZ, Edna Lindaura; DAL SANTO, Mariane Alves. Utilização do SHALSTAB como
ferramenta para o diagnóstico preliminar da suscetibilidade a deslizamentos rasos no baixo vale do rio
Luís Alves-SC Use the SHALSTAB as a tool for preliminary diagnosis of susceptibility to shallow
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IMAI, Hugo Namba et al (2013) Mapeamento geotécnico e análise de áreas suscetíveis a deslizamentos
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PASSOS, Tatiani Pires et al. Mapeamento e gestão de risco de deslizamentos em áreas urbanas no município
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SANTOS, T. D. et al (2018) Metodologia de mapeamento de perigo e risco (Projeto Gides).

75
Integração de Dados Censitários em Mapeamento de Risco
Associados a Movimentos de Massa – O Caso de Angra dos Reis,
RJ, Brasil
Dennis Rodrigues da Silva
Rio de Janeiro, Brasil, silvarodriguesdennis@gmail.com

Marcos Barreto de Mendonça


Professor adjunto, Escola Politécnica da UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, mbm@poli.ufrj.br

RESUMO: O presente artigo aborda a análise de riscos associados a movimentos de massa, apresentando um
método que utiliza como insumos dados de mapeamentos de suscetibilidade e censitários, tendo como área
de estudo a região central do município de Angra dos Reis, Estado do Rio de Janeiro. O conceito de risco
aqui adotado considera-o como produto entre suscetibilidade do ambiente a eventos de movimentos de
massa, os elementos expostos e suas dimensões de vulnerabilidade. Por haver uma dificuldade de associação
entre dados do mapeamento censitário e de suscetibilidade, por serem mapeamentos que retratam fenômenos
de naturezas diferentes, foi aplicado um método para viabilizar a combinação entre esses dados para a
estimativa de risco. Os resultados mostraram os efeitos da consideração da vulnerabilidades da população
exposta ã ameaça dos movimentos de massa, quando 73 setores dos 111 setores de riscos analisados
sofreram alguma mudança no seu grau de risco, envolvendo uma região com cerca de 58% da população da
área de estudo. Destaca-se, com isso, a relevância da considração da vulnerabilidade, possibilitando ações
em gestão de riscos mais adequadas.

PALAVRAS-CHAVE: risco, vulnerabilidade, mapeamento, movimentos de massa, dados censitários

ABSTRACT: This paper addresses the analysis of risks associated with mass movements, presenting a
method that uses as inputs susceptibility and census mapping data, having as study area the central region of
the municipality of Angra dos Reis, State of Rio de Janeiro. The concept of risk adopted here considers it as
a product between environmental susceptibility to mass movement events, the exposed elements and their
vulnerability dimensions. As there is a difficulty of association between census and susceptibility mapping
data, for being mappings that portray phenomena of different natures, a method was applied to enable the
combination between these data for risk estimation. The results showed the effects of considering the
vulnerability of the population exposed to the threat of mass movement, when 73 sectors of the 111 risk
sectors analyzed suffered some change in their degree of risk, involving a region with about 58% of the
population of the study area. This highlights the relevance of the consideration of vulnerability, enabling
actions in risk management more appropriate

KEYWORDS: risk, vulnerability, mapping, mass movement, census data

1 Introdução

Nos últimos anos há uma maior convivência com os riscos com os quais as populações têm que lidar.
Com o aumento de áreas urbanas e maior número de população urbana ao redor do mundo, as ameaças que
trazem riscos aumentaram. As razões para que o ambiente urbano apresente mais ameaças são: menor
percepção dos riscos, quando esses são associados a eventos naturais (Veyret, 2007); maior concentração de
pessoas expostas; exposição de população mais vulneravel socioeconomicamente em locais mais suscetíveis
a ameaças (Da Silva Rosa et al. 2015); maior intervenção humana na paisagem.
O Brasil, que nas últimas décadas do Século XX protagonizou uma expansão urbana que tornou sua
economia mais complexa e desenvolvida, não proporcionou uma urbanização planejada (Jacobi, 2006).
Desta forma, a população urbana passou a conviver com diversos problemas urbanos (transportes
ineficientes, moradias precárias, ausência de espaços para lazer), inclusive com diversos tipos de ameaças,
das quais se destacam inundações e movimentos de massas (S2ID, 2017). Diante deste cenário é importante
entender os perigos, exposições e as vulnerabilidades em que as populações das cidades brasileiras são

76
submetidas para entender os graus de riscos as quais estão submetidas e orientar as ações de redução de
riscos.
É sabido que risco deve ser entendido como produto de três componentes: perigo, exposição e
vulnerabilidade (UNDRR 2022). Sendo a vulnerabilidade as condições, de diferentes aspectos, em que o
indivíduo ou comunidade se encontram e que aumentam sua suscetibilidade aos impactos dos perigos, este .
é o componente que permite melhor entender como o risco pode evoluir, diminuindo ou aumentando (Gamba
e Ribeiro 2012). No entanto este entendimento é recente, seja pela consideração desta categoria na gestão de
riscos a desastres (Fekete 2012), seja no mapeamento de riscos (Almeida et al. 2016).
No Brasil o mapeamento de riscos associados a movimentos de massa passou a ter destaque a partir de
Cerri et al (2017). Antes disto era comum chamar mapeamentos de riscos aqueles que ilustravam apenas os
perigos ou as suscetibilidades dos terrenos. De acordo com a JTC-1 – Joint Technical Committee on
Landslides and Engineered Slopes, mapas de perigo a deslizamentos apresentam, baseados em análises
quantitativas e qualitativas, a distribuição especial de movimentos de massa em dada área de estudo, que
podem ser separados por tipologia e volumes envolvidos (Fell et al. 2008). Este mesmo artigo diz que mapas
de risco associados a movimentos de massa apresentam resultados associando o perigo com potenciais
impactos nas áreas analisadas. No entanto há dificuldades metodológicas para combinar e trabalhar dados
que expressem as diferentes dimensões de vulnerabilidade (física, econômica, social, cultural etc), perigos e
exposições.
Analises ,mapeamentos e, consequentemente, gestão de riscos que considerem as vulnerabilidades das
populações expostas já são contemplados em marcos institucionais, como o Marco de Sendai, (UNIDSR,
2015), em nível internacional, Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil (BRASIL, 2016), em nível
nacional. Criando indicadores e mapeamentos que representem os diferentes componentes de risco é possível
realizar uma gestão de riscos melhor direcionada às necessidades de criar resiliência às comunidades.
O objetivo deste trabalho é realizar análise de risco através do mapeamento de risco, tendo como área
de estudo a região central do município de Angra dos Reis (Rio de Janeiro- Brasil), utilizando uma
metodologia que compatibilize a utilização de dados de suscetibilidade e censitários, para, então, construir os
indicadores das componentes perigo, exposição e vulnerabilidade e, consequentemente, de risco, na tentativa
de se conseguir uma análise mais representativa da realidade.

2 Área de Estudo, Materiais e Métodos

2.1 Área de Estudo

A área de estudo é o município de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro (Figura 1), que
convive frequentemente com ameaças de movimentos de massa. A área de estudo foi delimitada
considerando o estudo realizado por COPPETEC (2012), abrangendo a região central do município de Angra
dos Reis e tendo como limites a cota de 10 metros à jusante e a linha de cumeada à montante. A extensão da
área de estudo é de 646,2 hectares. A área povoada da área de estudo se extende por 196,53 hectares, com
população de 29.899 pessoas.
Angra dos Reis tem aspectos físicos que contribuem para a suscetibilidade do terreno a movimentos de
massa. Com clima tropical úmido, que registra médias pluviométricas anuais de 1886 m³, sendo o verão
(dezembro a março) a época com maior pluviosidade e maior frequência de chuvas.
A geomorfologia local reserva poucas áreas de planície no município, com escarpas que já começam
muito próximas do mar, e com predominância de áreas de média encosta com declividade entre 20 a 35
graus. Algumas áreas de planícies são brejos, mangues e pântanos. Com condições geológico-geotécnicas
que envolvem dobras e falhamentos, solos jovens de pouca espessura, colúvios e blocos de rocha, os
movimentos de massa mais recorrentes e provaveis de acontecerem são: deslizamentos, rolamento/queda de
blocos de rocha, corrida de detritos e rastejos (Coelho Netto et al. 2014).
O município de Angra dos Reis guarda na sua evolução socioespacial um histórico de conflitos entre
diferentes grupos coexistentes (grandes empreendimentos industriais e de turismo, moradores de diferentes
classes sociais). Aliado a um desenvolvimento desigual, Angra dos Reis apresenta problemas relativos a
condições ambientais (suscetibilidade dos terrenos, poluição), questão fundiária e infraestrutura urbana.

77
Esses fatores e a pouca disponibilidade de áreas planas resultam em expansão para áreas mais suscetíveis a
movimentos de massa.

Figura 1: localização da área de estudo no município de Angra dos Reis e localidades

2.2 – Materiais e Métodos


Os materiais e métodos empregados para este estudo se dividem em três grandes procedimentos:
compatibilização entre setores de perigo e feições censitárias; cálculo e mapeamento de indicadores de
vulnerabilidade e exposição e fatiamento dos componentes de riscos; formulação das matrizes de riscos
(Figura 2).

2.2.1 Compatibilização entre setores de perigo e feições censitárias


Os insumos iniciais para este procedimento foram os dados do mapeamento de suscetibilidade
produzidos pela UFRJ (LACERDA et al, 2013) e Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro (SEA-
RJ) e o mapeamento censitário do IBGE. Os dados censitários do IBGE utilizados neste estudo foram os
setores censitários e as faces de quadra. Os setores censitários são os menores polígonos para divulgação de
dados censitários do Censo. Já as faces de quadra são as menores unidades de coleta de informações, mas
que não podem ter as informações divulgadas para não infringir o sigilo estatístico dos dados do IBGE
(IBGE, 2014). As faces de quadra são lados de uma quadra, que são contidas em um setor censitário. No
presente estudo permitiram uma associação mais detalhada entre os setores de suscetibilidade e os dados
censitários.
No mapa da figura 3-a, o setor censitário A contém os setores de perigo 1, 2 e 3. Caso os dados fossem
associados aos setores censitários esses três setores de suscetibilidade teriam os mesmos dados censitários.
Com as faces de quadra disponíveis para cada um dos setores de suscetibilidade, é possível detalhar os dados
censitários para os diferentes setores. Essa associação é possível através da criação de um novo mapeamento
com feições que contenham tanto as feições censitárias (setores e face de quadra) e setores de perigo: a Base
Territorial Estatística de Risco (BATER). Para o presente estudo a BATER foi construída seguindo o método
proposto em Assis et al (2018).

78
Figura 2: fluxograma do método do trabalho

Figura 3: Exemplo de criação de BATER na área de estudo: a- feições censitárias e setores de perigo; b-
polígonos de BATER para o caso apresentado na figura a.

Com a existência da BATER há a possibilidade de associação de dados censitários e setores de perigo


em uma única geometria, criando assim os setores de perigo dissolvidos (SPDs). Inicialmente assume-se a
classificação dos dados de suscetibilidade, que antes fora atribuído através do método heurístico, conforme
apresentado em Lacerda et al (2013), transformando-os em setores de perigo (SP). Em seguida para buscar
os novos valores dos setores de perigo dissolvidos, e, por consequência, os valores do componente de perigo,
foi aplicada para cada setor de perigo a Equação 1.
i=n
Áreado SPi
Perigo=∑ ❑ ∗Grau de Perigo do SPi ( Eq 1 )
i=1 Soma das áreas de SPi em SP únicos

Os tratamentos com os mapeamentos foram feitos com o software ArcGIS 10.3, com apoio de imagens
de satélite disponibilizadas pelo banco de imagens disponibilizados pelo software.

2.2.2 Cálculo de vulnerabilidade e exposição e graduação dos componentes de risco

79
Esses cálculos foram feitos com a tabela de variáveis disponibilizadas pela Diretoria de informática do
IBGE, através de uma tabulação dos dados que relaciona as feições censitárias no SPD. Esse procedimento
foi realizado no software Excel 2013.
As variáveis utilizadas do Censo 2010 foram reunidas em grupos de variáveis (total de 10 grupos) que
em seguida foram reunidas em tipos de vulnerabilidade. A organização do grupo de variáveis e os tipos de
vulnerabilidade pode ser vista na Tabela 1.

Tabela 1: Grupos e Tipos de Vulnerabilidade


Grupo de variáveis
de vulnerabilidade Tipo de vulnerabilidade
Eletricidade Física
Água Física
Esgotamento
Sanitário Física
Coleta de Lixo Física
Analfabetismo Social
Razão de
Dependência Social
Tipo de Moradia Social
Tipo de Posse da
Moradia Econômica
Renda Econômica

Cada variável dentro de um grupo de variável recebe um peso que varia de 0 a 1. Quanto mais a variável
colabora para uma maior vulnerabilidade, maior será o seu peso.
Neste procedimento foram usadas três equações para medir a vulnerabilidade nos setores de
suscetibilidade. A Equação 2 serviu para calcular o valor de cada grupo de variável de vulnerabilidade. Já
para totalizar o valor do tipo de vulnerabilidade foi utilizada a Equação 3. Por fim, para achar o valor da
vulnerabilidade de cada SPD, foi utilizada a Equação 4, que é expressa abaixo.
i=n
Valor da variáveli do Censo 2010
Valor Grupo de Variável=∑ ❑ ∗peso( Eq 2)
i=1 Soma dos domicílios ou moradores existentes
i=n

∑ ❑Valor do grupo de variáveis de vulnerabilidade


Tipo de Vulnerabilidade= i=1 ( Eq 3)
grupo de variáveis de vulnerabilidade
i=n

∑ ❑Valor do tipo de vulnerabilidade


i=1
Vulnerabilidade do SPD= (Eq 4 )
número de grupo detipos de vulnerabilidade

Para o cálculo de exposição, que foi feito através de densidade demográfica, para cada SPD foi feita a
divisão entre a população em cada SPD pela área do SPD. Os cálculos foram realizados no software Excel
2013.
Com todos os componentes calculados realizou-se a graduação de cada um dos componentes de
riscos através dos fatiamentos dos seus valores. Os fatiamentos servirão para formulação de matrizes de
risco. Atribuiu-se valores qualitativos (níveis) a faixas de valores quantitativos para cada componente. Esses
valores podem ser observados nas tabelas 2 (perigo), 3 (exposição) e 4 (vulnerabilidade).

80
Tabela 2: Níveis de Perigo Tabela 3: Níveis de Exposição Tabela 4: Graduação de
Nível Valor Valor Valor Vulnerabilidade
Nível
Baixo 0 – 0,25 (hab/ha) normalizado Nível Valor
Médio 0,251 – 0,5 Baixo 0 – 0,4
Alto 0,51 – 0,75 Baixo 0–138,3 0 – 0,4 Médio 0,41 – 0,7
Muito alto 0,751 a 1 Médi 138,31– Alto 0,71 – 1
0,41 – 0,7
o 238,4
238,41 –
Alto 0,71 – 1.
485,6
2.2.3 Procedimentos de Matriz de Risco

As matrizes de riscos foram feitas seguindo o modelo proposto pela ISO 31.000 (2009), e
recomendações de autores (Cascini 2014). Dessas matrizes resultam os mapeamentos de riscos, expostos nos
quadros 1, 2 e 3.
Vulnerabilidade Matriz Risco Perigo (causas) Perigo
Matriz Risco
Matriz V x E (P x E) Baixo Médio Alto Muito alto
(P x V x E) Baixo Médio Alto muito alto
Baixo Médio Alto
Baixo Baixo Baixo Médio Médio
Baixo Baixo Médio Alto Muito alto
Baixo Baixo Médio Médio

Matriz V x E
Exposição

Médio Baixo Médio Alto Alto


Exposição

Médio Baixo Médio Alto Muito alto


Médio Baixo Alto Muito alto Alto Médio Alto Muito alto Muito alto
Alto Médio Alto Muito alto Muito alto
Alto Médio Alto Muito alto Muito alto Médio Alto Muito alto Muito alto

Quadro 2: Matriz de Riscos Quadro 3: Matriz de Riscos


Quadro 1: Matriz de
(Perigo x Exposição) (Perigo x Exposição x
consequências (vulnerabilidade
X exposição) Vulnerabilidade)

3 Resultados e Discussão
Os resultados estão apresentados nos mapa de riscos que considera somente a combinação entre perigo
e exposição, ou seja, sem vulnerabilidade (Figura 4a) e no mapa que considera a vulnerabilidade (4b), e nas
tabelas relacionadas aos referidos mapas. Observa-se uma significativa diferença da distribuição espacial dos
graus de risco quando se considera a componente de vulnerabilidade na estimativa do risco.
Observando as tabelas 5 e 6 há um aumento de população em setores de baixo risco ao considerar a
vulnerabilidade (2.397 habitantes), mas há também aumento de população em setores com graduação de
risco muito alta (7.326 habitantes).
Para analisar melhor os dados descritos nas tabelas 5 e 6 foi montado um diagrama que faz um
comparativo entre as duas análises de riscos (Figura 4). Com auxílio do diagrama observa-se que 73 SDPs
alteraram seus graus de risco, sendo que desses 3 diminuiram em dois graus; 43 diminuiram em 1 grau; e 27
aumentaram em um grau. Desta forma, 16.654 habitantes moram em SPDs que tiveram seus graus alterados,
onde 172 habitantes moram em setores que diminuiram em dois graus de risco; 6.101 habitantes que
diminuiram em um grau; e 10.381 habitantes que vivem em SPDs onde aumentou o grau de risco em um
grau após ser considerada a vulnerabilidade.
196,5
Total 111 100 28.899 100
Tabela 5: Distribuição do número de SPDs por 3
nível de risco no mapa da figura 4a (sem a
consideração da vulnerabilidade)
Nível No %
Area % Populaçã
de SP Popula
(ha) Area o
risco D ção
Baixo 5 2,99 1,5% 430 1,5%
Médi 19,9
32 39,09 5.546 19,2%
o %
119,0 60,6
Alto 51 15.837 54,8%
5 %
Muito
23 35,39 18% 7.086 24,5%
alto

81
Médi
28 43,5 22% 4.142 14,3%
Tabela 6: Distribuição do número de SPDs por o
nível de risco no mapa da figura 4b (com a Alto 30 63,29 32% 7.518 26,0%
consideração da vulnerabilidade) Muito 14.41
Nível % % 31 67,28 34% 49,9%
No Area Popul alto 2
de Are Popul 196,5 28.89
SPD (ha) ação Total 111 100 100
risco a ação 3 9
Baixo 22 22,44 11% 2.827 9,8%

Figura 4 – Mapas de risco: Perigo x Exposição (4-A) e Perigo x Exposição e Vulnerabilidade (4-B)
Níveis de risco com vulnerabilidade (P x E x V)
Baixo Médio Alto Muito alto
Qtde Qtde Qtde Qtde
Area (Ha) População Area (Ha) População Area (Ha) População Area (Ha) População
SDP SDP SDP SDP
Baixo 3 1,99 224 2 1 206 0 0 0 0 0 0
vulnerabilida
risco sem

de (H x E)
Níveis de

Médio 19 20,45 2.603 5 8,84 966 8 9,80 1.977 0 0 0


Alto 0 0 0 18 29,81 2.798 16 46,65 4.841 17 42,59 8.198
Muito alto 0 0 0 3 3,85 172 6 6,85 700 14 24,70 6.214
Total 22 22,44 2.827 28 43,51 4.142 30 63,30 7.518 31 67,28 14.412

Diminuiu 2 níveis Diminuiu 1 nível Manteve nível Aumentou 1 nível


Total por
Qtde Qtde Qtde Qtde
quantidades de Area (Ha) População Area (Ha) População Area (Ha) População Area (Ha) População
SDP SDP SDP SDP
níveis alterados
3 3,85 172 43 57,11 6.101 38 82,17 12.245 27 53,38 10.381
Quantidade de SDP alteradas = 73 (66%)
Área de SDP alterada = 114,35 Ha (58%)
População de SDP alterada = 16.654 (58%)

Quadro 4: Comparativo entre os mapas das figuras 4-A e 4-B com o setores com nível de risco alterado
devido à inclusão do componente de vulnerabilidade

4 Conclusões
Considerando que riscos são desiguais devido a vulnerabilidade da população exposta, se faz
necessário considerar este componente na gestão de riscos associados a movimentos de massa. O trabalho
apresentou um método viável para esta consideração no mapeamento de risco a partir do uso de dados
censitários, adotando um procedimento que pode ser uniformemente empregado em diferentes regiões.
Os resultados mostraram que ao acrescentar a vulnerabilidade ao mapa de risco que considera perigo e
exposição, a distribuição espacial dos graus de riscos com os SPDs e os totais de áreas e populações por grau
de risco alteraram significativamente. Observações de características locais indicaram que, de uma forma
geral, houve uma diminuição do risco em áreas com melhor infraestrutura urbana, e aumento em áreas com
infraestrutura urbana precária.

82
Essa é uma abordagem de incorporação da vulnerabilidade no mapa de risco ainda incipiente,
merecendo uma avaliação mais aprofundada dos indicadores de vulnerabilidade, contendo desafios, como
contemplar aspectos de vulnerabilidade que ainda não são representados por dados censitários e validar os
resultados.

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83
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84
Cartografia Geotécnica Digital para o Planejamento Urbano do
Município de Natal – RN
Melquisedec Medeiros Moreira 1
Pesquisador do INPE/Coordenação Espacial do Nordeste, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações –
MCTI, Natal-RN, Brasil, melquisedec.moreira@inpe.br

Newton Moreira de Souza 2


Professor Associado 3, Universidade de Brasília - Faculdade de Tecnologia - Departamento de Engenharia
Civil e Ambiental, Brasília-DF, Brasil, nmsouza@unb.br

Kátia Alves Arraes 3


Tecnologista Sênior III, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE COENE, Natal-RN, Brasil,
katia.arraes@inpe.br

RESUMO: A execução deste estudo consistiu de uma caracterização geológico-geotécnica e de um


reconhecimento da drenagem de uma área costeira de aproximadamente 62 km 2, compreendendo parte do
Município de Natal-RN. O mesmo foi desenvolvido a partir dos procedimentos e premissas do Manual para
o Zoneamento de Susceptibilidade de Perigo e Risco do Comitê Técnico Internacional para Deslizamentos
(JTC-1) inseridos no programa “Construindo Nosso Mapa Municipal Visto do Espaço” do
MCTI/INPE/COENE. Foram apontadas diretrizes para maximizar o aproveitamento integrado dos recursos
hídricos da região: o aquífero Dunas-Potengi é tipicamente livre, com alta taxa de infiltração e boas
condições de armazenamento e circulação de água; o aquífero Barreiras apresenta um comportamento, na
grande maioria, sob condições de semi-confinamento. Os resultados apresentados na Carta Geotécnica de
Suscetibilidade e Risco Potencial sintetiza um suporte técnico para o planejamento das ações governamentais
de controle e proteção da população e infraestruturas urbanas e dos recursos naturais.

PALAVRAS-CHAVE: Cartografia Geotécnica, Água Subterrânea, JTC-1, Gestão Urbana, Deslizamentos,


Cidades Sustentáveis.

ABSTRACT: This paper present an geotechnical characterization of geological units, on a scale of 1:25.000,
of a coastal area of approximately 62 km2. It was carried out following the methods proposed by the “Guide
to Zoning Susceptibility of Hazard and Risk in the International Technical Committee for Landslides (JTC-
1)”. The research is being developed from the procedures and assumptions in the program "Building Our
City Map Seen from Space", performed by the group of GIS INPE / COENE (Northeast Spatial
Coordination). Directives are also suggested to improve the integrated utilization of the water resources of
the area and the sensible use of subterranean and surface water. The aquifer Dunas-Potengi, by its very
nature lithologic and stratigraphic position, is typically free, with high infiltration rate and good storage
conditions and water circulation. The results presented in the Geotechnical Map evidence regions where
occupation should be preceded by studies more detailed.

KEYWORDS: Engineering Geological Mapping, Groundwater, JTC-1, Urban Management, Landslides,


Sustainable Cities.

1 Introdução

A urbanização do Brasil é marcada pela exclusão sócio espacial, levando a população de baixa renda a
construir moradias em áreas que oferecem risco a vida humana, como encostas íngremes e margens de rios.
Devido aos desastres provocados pela ocupação desordenada das cidades, como o aumento dos movimentos
de massa gerados pela ação antrópica, declividade e elevados índices pluviométricos, em especial nas
capitais, tem-se verificado a necessidade de associar o planejamento urbano com políticas integradas que
garantam o bem-estar da população.
Nesse sentido o mapeamento geológico-geotécnico analisa de forma conjunta o comportamento e as
propriedades das rochas e dos solos (características geotécnicas) e sua gênese (características geológicas),

85
isto é, reúne um determinado número de informações e análises extensivas para toda a área estudada e
orientadas pela base geológica. Desta forma, pode reunir os subsídios do meio físico geológico, tanto para o
planejamento da ocupação futura, quanto para a correção dos problemas de natureza geológico-geotécnica
instalados nos núcleos urbanos (Zaine, 2000).

2 Objetivos

A carta geotécnica de aptidão à urbanização é um instrumento de planejamento e gestão territorial


municipal, necessária para a definição de diretrizes para a aprovação de novos parcelamentos do solo e para
a elaboração de planos de expansão urbana, de maneira a definir padrões de ocupação adequados face às
situações de perigo relacionadas aos desastres.
Sobreira e Souza (2012, apud Bitar, 2014), destacam que a carta geotécnica de suscetibilidade é aquela
que reflete, em forma e grau, a variação da capacidade dos terrenos em desenvolver determinado fenômeno.
Sobre isso, cabe reiterar a importância da utilização das cartas de suscetibilidade como base à elaboração das
cartas geotécnicas de aptidão à urbanização e de risco, igualmente previstas na Política Nacional de Proteção
e Defesa Civil (PNPDEC) e a produzir em escalas de detalhe (1:10.000 ou maior e 1:2.000 ou maior,
respectivamente), conforme recomendação apresentada em Fell et al. (2008) para o caso específico de
deslizamentos.
O presente artigo tem como finalidade contribuir neste sentido, para o caso do Município em questão,
consistindo de uma caracterização geológico-geotécnica e de um reconhecimento da drenagem de uma área
costeira de aproximadamente 62 km2, compreendendo parte da Cidade de Natal-RN, cujo objetivo principal
será a elaboração de mapas e cartas visando um melhor entendimento e o fornecimento de subsídios para a
gestão ambiental. Será realizado também um levantamento amostral das detenções e retenções existentes na
cidade, avaliação do funcionamento dos dispositivos e recomendações para servirem de base para futuros
projetos dentro da realidade brasileira. O mesmo está sendo desenvolvido a partir dos procedimentos e
premissas do “Manual para o Zoneamento de Susceptibilidade de Perigo e Risco de deslizamento para o
planejamento de uso do solo” (Fell et al., 2008) do Comitê Técnico Internacional para Deslizamentos (JTC-
1), inseridos no programa “Construindo Nosso Mapa Municipal Visto do Espaço”, realizado pelo grupo de
Geoprocessamento do INPE/COENE, podendo ser consultado no link: http://geopro.crn.inpe.br/resumo3.htm
(Projeto Mapas Municipais Geoambientais). Nesta linha de pesquisa, procura-se integrar estudos
relacionados às alterações geomorfológicas, provocadas pelas diferentes formas de ocupação do relevo,
configurando-se na formação de depósitos tecnogênicos.
Consistiu de trabalhos de escritório, de campo e de laboratório e recursos computacionais para o
armazenamento e tratamento dos dados de investigação que compreendem recursos de geoprocessamento.

3 Caracterização da Área Estudada

A execução deste estudo consistiu de uma caracterização geológico-geotécnica e de um


reconhecimento das águas subterrâneas, em escala de semi-detalhe 1:25.000, de uma área costeira de
aproximadamente 62 km2, compreendendo parte do Município de Natal-RN, cujo objetivo principal foi a
elaboração de mapas e cartas visando um melhor entendimento e o fornecimento de subsídios para a gestão
ambiental.
A execução do trabalho compreendeu cinco etapas descritas a seguir:
A) Levantamento e aquisição de informações pré-existentes e produtos de sensoriamento remoto -
Consistiu no levantamento de informações disponíveis da área a ser estudada, abrangendo as folhas
planialtimétricas na escala 1:10.000 que foram utilizadas como bases cartográficas, aquisição das fotografias
aéreas em escala 1:8.000, perfis de sondagens SPT, perfis litológicos de poços de captação de água
subterrânea (cedidos por uma empresa pública e por uma privada), além de inúmeros trabalhos e artigos que
englobam a geologia, geografia, geotecnia e recursos hídricos da região.
B) Fotointerpretação e estudo de perfis de poços e de sondagens geotécnicas - Consistiu na
interpretação de 88 fotografias aéreas datadas de 1978 em escala 1:8.000, com a confecção dos mapas
seguintes: drenagem, lineamentos de relevo e zonas homólogas; e no estudo de 111 relatórios referentes a
serviços geotécnicos para obras de construção civil, que perfaz um total de 433 perfis de sondagens SPT
cedidos pela empresa privada, onde foram delimitados diferentes horizontes geológicos e suas espessuras.
Interpretou-se, da mesma forma, 89 perfis de poços de captação de águas subterrâneas, sendo 69 perfis
cedidos pela empresa pública e 20 cedidos pela empresa privada, assim como 74 sondagens geotécnicas
(compreendendo 25 relatórios referentes a serviços geotécnicos para obras de construção civil) que atingiram

86
o nível d´água, executados junto a empresa privada, onde foram delimitados os diferentes horizontes
geológicos, suas espessuras e nível d’água, para um melhor conhecimento do comportamento das unidades
geológicas e hidrogeológicas em sub-superfície.
A localização dos poços tubulares e sondagens geotécnicas, que atingiram o nível d´água, com
latitudes/longitudes e altitudes efetivou-se a partir de bases planialtimétricas na escala 1:2.000. Essa
localização teve como finalidade obter informações sobre a distribuição espacial desses dados na área
estudada, bem como ter subsídios para definir a cota da boca do poço ou sondagem, que serviu para obtenção
da cota do nível d’água.
C) Trabalhos de Campo - Compreendeu a descrição detalhada de diversos locais ao longo da área,
objetivando as definições das unidades litológicas, suas relações de contato e atributos estratigráficos/
geomorfológicos/ estruturais, como também aspectos do uso e cobertura do solo, cadastro de fontes
potenciais de poluição dos recursos hídricos, lagoas de águas pluviais e pontos de inundação; envolvendo
ainda medição de juntas, falhas, determinação das espessuras dos materiais, registro fotográfico, coleta de
amostras, perfis e croquis esquemáticos, e, por último, a definição de pontos de ensaios de campo.
Acompanhou-se a execução de sondagens geotécnicas e perfuração de poços tubulares construídos
pela empresa privada, que serviram para coleta “in loco” de importantes informações pertinentes ao tipo
litológico, projeto técnico-construtivo de poço e parâmetros hidrogeológicos.
D) Ensaios de laboratório e campo - Compreendeu os ensaios de caracterização, realizados em
amostras coletadas na área de estudo, consistindo de granulometria por peneiramento e sedimentação, limite
de liquidez, limite de plasticidade e densidade real dos grãos; e ensaios de campo (infiltração/permeabilidade
em solos).
E) Confecção de mapas e cartas e elaboração do texto final - Nesta etapa utilizou-se o SPRING
(Sistema de Processamento de Informações Georeferenciadas), desenvolvido pelo INPE (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais), com funções de processamento de imagens, análise espacial e modelagem numérica
de terreno, e consulta a bancos de dados espaciais, Câmara et al. (1996); com a edição em seguida, para a
elaboração do layout final em Arcview, que permite a criação de cartas de alta qualidade gráfica.
A espacialização dos dados de cota do nível d’água (poços tubulares e sondagens geotécnicas) por
ocasião de sua análise, foi realizada em ambiente de geoprocessamento com técnicas de redes de triângulos
irregulares (TIN) e, quando possível, por geoestatística.

3.1 Área do Estudo Proposto

A área objeto da presente pesquisa consiste de aproximadamente 62 km 2, constituindo um polígono


(Figura 1), cujos extremos são limitados pelo retângulo envolvente com latitudes 9.350.071km N e
9.360.429km N e longitudes 250.821km E e 259.214km E. Os acessos aos principais afloramentos são
principalmente pela rodovia denominada “Via Costeira”.

3.2 Geologia Regional

A área de mapeamento está inserida na faixa sedimentar costeira oriental do Estado do Rio Grande
do Norte, no contexto da sub-bacia Natal, pertencente à Bacia Pernambuco-Paraíba e Potiguar (Barbosa,
2004) (Figura 2).
Na região adjacente à área de estudo, o embasamento cristalino é constituído por três terrenos distintos
denominados, de norte para sul, de Terreno São José do Campestre, Terreno Alto Pajeú e Terreno Alto
Moxotó (Santos, 1996). Esses terrenos são delimitados por grandes lineamentos e zonas de cisalhamento
com direção predominantemente leste-oeste. Provavelmente, essas estruturas estendem-se sob a Formação
Barreiras e sob os sedimentos cretáceos e paleogênicos das Bacias Pernambuco-Paraíba e Potiguar,
adentrando pela margem continental adjace nte.

3.3 Geologia Local

No que diz respeito aos aspectos geológicos, a área objeto de estudo constitui-se de nove unidades,
sendo oito aflorantes e uma de idade mesozoica, detectada apenas em perfis de poços de captação de águas
subterrâneas, representada por arenitos calcíferos e calcáreos, correlatos à Formação Guamaré da Bacia
Potiguar. A unidade aflorante mais antiga consiste dos sedimentos da Formação Barreiras, seguido dos

87
sedimentos da Formação Potengi e “Beachrocks”. Completando a estratigrafia da área (Figura 3), têm-se os
sedimentos de mangues e aluvionares, as areias de dunas descaracterizadas, dunas fixas e móveis, e os
sedimentos praiais; este último juntamente com os “beach-rocks” não são mapeáveis na escala do presente
estudo (Figura 4).

Figura 1. Mapa de Localização do Município de Natal-RN.

Figura 2. Localização das Bacias Sedimentares Costeiras Pernambuco-Paraíba e Potiguar e sua divisão em
subbacias. Modificado de Barbosa (2004).

Figura 3. Coluna estratigráfica proposta para a área mapeada. Modificada (Duarte, 1995).

88
Figura 4. Mapa de Materiais Inconsolidados.

A Formação Potengi, na região de Natal, caracteriza-se por uma fácies arenítica, de granulometria mal
selecionada, de cor avermelhada, e caracteriza-se por apresentar materiais residuais com pouca argila devido
à lixiviação intensa (Moreira, 1996).
Os sedimentos de mangues são encontrados ao longo da planície de inundação do rio Potengi e
consistem de areias finas argilosas e localmente argilas de cor cinza clara; observa-se ainda a presença de
grande quantidade de bioclastos recentes. Sob esses sedimentos verificou-se a ocorrência de sedimentos
aluvionares de coloração acinzentado a esbranquiçado, de granulometria areia fina a média.
As dunas descaracterizadas compreendem áreas testemunhos de antigas dunas, que foram
parcialmente destruídas por atividades de terraplanagem com fins de ocupação urbana. São caracterizadas
por areias finas a médias amareladas, cremes, avermelhadas, localmente acinzentadas a marrom, quartzosas,
com minerais máficos.
As dunas fixas são depósitos eólicos com cobertura vegetal, distribuindo-se numa faixa paralela ao
litoral, apresentando direção predominante SE-NW; consistem de areias quartzosas de coloração amarelada e
branca com boa seleção granulométrica entre areia média e fina.
As dunas móveis, compreendem os depósitos provenientes da ação eólica nos sedimentos praiais,
caracterizados por areias quartzosas bem selecionadas, brancas, amareladas a cremes, localmente
acinzentada a marrom (devido à matéria orgânica), granulometria média a fina, sendo evidenciado que
localmente e superficialmente ocorrem grãos de tamanho de areia grossa e grânulos.

4 Disponibilidade e Potencialidade das Águas

O Aquífero Barreiras constitui o principal reservatório de água subterrânea do litoral leste do Estado
do Rio Grande do Norte. Em Natal, maior consumidor, 70% do abastecimento público procedem hoje de
suas águas captadas através de poços tubulares da empresa pública e particulares.
Os teores de nitrato nos pontos identificados em Natal são superiores ao limite estabelecido pela
Organização Mundial de Saúde – OMS, que é de 45 mg/l (Ministério da Saúde, 2000), fazendo com que a
empresa pública desative os poços contaminados e execute outros para a manutenção do nível de
abastecimento.
No Município de Natal existem três (03) sistemas aquíferos (Moreira, 2002), assim distribuídos, da
base para o topo: o primeiro formado por arenitos com cimento carbonático (“arenitos calcíferos”),
geralmente compactos, que constituem o Aquífero Infra-Barreiras; o segundo, constituído por clásticos
continentais, com granulometria e cores variáveis pertencentes à Formação Barreiras, caracterizando o
Aquífero Barreiras e, por fim, uma sequência arenosa pertencente à Formação Potengi sendo capeada por
areias quartzosas, de granulometria fina e de origem eólica (Dunas) que formam o Aquífero Dunas-Potengi.
O Aquífero Infra-Barreiras, não foi objeto de estudos mais significativos, em virtude de apresentar
uma baixa capacidade de produção e da grande potencialidade hídrica que possui o Aquífero Barreiras. No
caso do sistema Dunas-Potengi/Barreiras, os dados do único teste de aquífero disponível na área de Lagoa
Nova (ACQUA-PLAN 1988), apontam para comportamento de aquífero semi-confinado, em função da

89
rápida estabilização dos níveis dinâmicos de bombeamento, como reflexo de elevada taxa de recarga por
filtração vertical (drenança) através de nível semi-confinante de alta condutividade hidráulica. Por outro
lado, a evidente estabilização dos níveis potenciométricos dos poços públicos ao longo de toda a área de
explotação em Natal, apesar das crescentes descargas produzidas entre os anos de 1975 a 1998 (Hidroservice
1998), reflete seguramente uma condição de regime quase permanente em função das transferências verticais
de infiltrações pluviométricas estimadas em 500 mm/ano ou o equivalente a 0,500hm 3/ano/km2 (Hidroservice
1998). Essa última afirmação, porém, é corroborada com a má construção dos poços públicos, que favorecem
essa condição de regime quase permanente. Na fase de construção é quando ocorre um dos problemas mais
frequentes em Natal. Como não existe o dimensionamento correto dos filtros e da proteção sanitária da obra,
o “poço” passa a funcionar como condutor direto e eficiente das águas mais superficiais, quase sempre
poluídas, para os níveis freáticos mais profundos. A Figura 5 apresenta a representação esquemática de um
poço com cimentação insuficiente e de um poço cuja cimentação seria o desejável.

Figura 5 – Representação esquemática de poços no aquífero livre Dunas Potengi e semi-confinado Barreiras.
Por sua vez, a condição de aquífero totalmente confinado para o sistema Barreiras em Natal, parece
totalmente descartada, não apenas pelo condicionamento litológico da sequência sedimentar, evidenciado
pelos dados de dezenas de poços perfurados na área, como também pela resposta potenciométrica acima
referida, com relação à elevada taxa histórica de exploração do manancial, indicando um regime quase
permanente.
Na hipótese de que o sistema Dunas-Potengi/Barreiras funcione como um aquífero do tipo livre, com
condutividades hidráulicas, horizontal e vertical similares, a Hidroservice (1998) fez uma estimativa da
posição inicial e do avanço da interface Salina e o resultado obtido sugere que o sistema não funciona
hidrodinamicamente como aquífero do tipo livre, uma vez que a penetração da cunha salina no continente
seria da ordem de 500 metros, em consequência dos bombeamentos ocorridos a partir de 1975. Nessas
condições, os poços existentes próximos da linha de costa já teriam sido contaminados, aspecto este ainda
não observado, seja de forma restrita ou extensiva na região de Natal.
A condição admitida como mais provável, segundo o relatório da Hidroservice (1998) é a de um
aquífero semi-confinado com elevada capacidade de filtração vertical (drenança) de importantes volumes
anuais de água, infiltrados nos níveis mais superiores da sequência sedimentar, formados pelas dunas e
sedimentos arenosos, posicionados acima do horizonte semi-confinante. Este condicionamento poderia, em
princípio, explicar um maior afastamento da cunha com relação à linha de costa, em função do fluxo natural
de um aquífero com mergulho para o mar e dos fluxos descendentes procedentes de recarga por filtração
vertical.

5 Carta Geotécnica de Suscetibilidade e Risco Potencial de Deslizamentos, Inundações e


Alagamentos

Note-se que para a elaboração de carta de risco (Figura 6) é necessária à análise integrada dos
processos do meio físico com aspectos de uso e ocupação do solo. E o risco só existe onde há ocupação do
solo, o termo potencial foi associado ao termo risco pelo fato da avaliação de risco ter sido qualitativa e não
quantitativa como estabelecido pelo JTC-1. Desta forma avaliaram-se: tipo de material inconsolidado,

90
características do substrato geológico, características geomorfológicas, profundidade do nível d´água do
aquífero Dunas-Potengi e Barreiras, existência de habitações precárias, presença de esgotos domésticos,
estrutura de drenagem de águas pluviais e Carta de Declividade, onde se constata que boa parte da área de
Natal apresenta Risco Potencial a Alagamentos médio e alto.
Destacam-se com menor Risco Potencial a Movimentos de Massa o setor leste (depósitos de dunas
fixas – “Baixo Risco Potencial”) (Figura 6), correspondendo aos depósitos de dunas fixas que se encontram
recobertos naturalmente por vegetação, chegando a atingirem cerca de 120m de altitude.
Os materiais residuais da Formação Potengi, com valores de Coeficiente de Permeabilidade da ordem
-4
de 10 cm/s; e da Formação Barreiras/fácies arenosa (RB1), fácies areno-conglomerática (RB2) e fácies
areno-argilosa (RB3), esta última com valores do Coeficiente de Permeabilidade variando de 10 -5 a 10-6 cm/s;
com declividades maiores que 8%, onde são encontrados com elevado grau de coesão e consolidação e alta
porcentagem de finos, são classificados como “Médio Risco Potencial a Movimentos de Massa”.
Na área “Alto Risco Potencial a Movimentos de Massa”, correspondente às dunas descaracterizadas
ocupadas por Habitações Precárias, que distribuem-se numa faixa paralela ao litoral na Região de Mãe Luiza,
apresentam declividades em termos percentuais variando de 3 a 8% e maior que 20% (Figuras 7a e 7b).
Destacam-se com menor Risco Potencial a Alagamentos, o Setor Sudoeste (San Vale – “Médio a
Baixo Risco Potencial”).
No geral o Risco Potencial a Alagamentos nas áreas de tabuleiros (“Médio Risco Potencial”), com
espessuras da zona não saturada da ordem de 8 a 15 metros (Figura 6), aumenta no sentido das Dunas
Descaracterizadas (“Médio a Alto Risco Potencial”). Nas depressões, cujas cotas são inferiores a 30 metros,
as espessuras da zona não saturada são da ordem de 3 a 8 metros. Quanto mais próxima da superfície do
terreno está à superfície freática, tanto maior é o Risco Potencial a Alagamentos.

Figura 6. Carta Geotécnica de Suscetibilidade e Risco Potencial a Deslizamentos, Inundações e


Alagamentos. Notar Área 1, que corresponde à localização das Figuras 7a/7b, área 2, que corresponde à
localização da Figura 7c e área 3, que corresponde à localização da Figura 7d.

a b c d
Figura 7. Precipitação anômala de chuvas (13/06/2014). (a) Estragos provocados pela chuva em Mãe Luiza.
(b) Fluxo de lama e detritos bloqueando a Av. Via Costeira. Classe Alto Risco Potencial a Movimentos

91
Gravitacionais de Massa. (c) Alagamentos no entorno do Arena das Dunas, (estádio multiuso que recebeu
quatro partidas da Copa do Mundo FIFA de 2014). Classe Médio a Alto Risco Potencial a Alagamentos. (d)
Avenida Hermes da Fonseca, esquina com a Rua Açu. Classe Médio Risco Potencial a Alagamentos.

6 Conclusões

Os resultados manifestos na Carta Geotécnica de Suscetibilidade e Risco Potencial sintetiza um


suporte técnico para o planejamento das ações governamentais de controle e proteção dos aquíferos, na
medida em que identifica e representa o zoneamento cartográfico de áreas mais susceptíveis de um evento
antrópico que possa causar um deslizamento, alagamento ou inundação, considerando assim a potencialidade
dos processos geodinâmicos relevantes e presentes, no intuito de prevenir o surgimento de novas áreas de
risco e a deflagração de desastres.

AGRADECIMENTOS

Ao INPE /COENE pelo suporte logístico oferecido, ao CNPq pelo fomento à pesquisa na forma do
Programa de Capacitação Institucional 2018-2023, Bolsa PCI-DD (Projeto 444327/2018-5 PESQUISA E
DESENVOLVIMENTO EM CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS ESPACIAIS E SUAS APLICAÇÕES:
Construindo Nosso Mapa Municipal Visto do Espaço) e PIBIC (Projeto: Geotecnologias e SIG Aplicado à
Cartografia Geoambiental no Nordeste do Brasil), e também pela dedicação dos diversos profissionais da
iniciativa pública e privada, que direta ou indiretamente auxiliaram na materialização dos resultados ora
alcançados. Dedicamos este trabalho ao Pesquisador Miguel Dragomir Zanic Cuellar (In Memorian), pelas suas
valiosas contribuições e parceria no âmbito do convívio profissional e desenvolvimento pessoal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Dunas na área de Natal-RN. Estudos, Projetos e Consultoria, Recife-PE. 121p.
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Gramame e Maria Farinha, NE do Brasil. Dissertação Mestrado, CT e Geociências, UFPE, Recife.
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1:25.000 (livro eletrônico): nota técnica explicativa /coordenação Omar Yazbek Bitar. -- São Paulo: IPT –
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo; Brasília, DF: CPRM –, Serviço Geológico
do Brasil. – (Publicação IPT; 3016) 5 Mb ; PDF.
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Estado do Rio Grande do Norte /SERHID-RN, Plano Estadual de Recursos Hídricos. Natal/RN. 23 p.
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Geociências e Ciências Exatas, UNESP – Campus de Rio Claro / SP, 149 f.

92
Estudo de parâmetros geotécnicos na proposição de limiares
críticos ambientais a escorregamentos deflgrados por chuva:
Revisão da literatura
João Maurício Homsi Goulart
Engenheiro civil geotécnico, TRANSPETRO, São Sebastião/SP, Brasil, j.goulart@unesp.br

Rodolfo Moreda Mendes


Pesquisador, CEMADEN, São José dos Campos, Brasil, rodolfo.mendes@cemaden.br

RESUMO: Infraestruturas lineares (rodovias, dutovias, linhas de transmissão, ferrovias, etc.) são,
periodicamente e intensamente, atingidas por diversos eventos de origem geológico-geotécnica e hidrológica,
denominados desastres naturais. Em regiões serranas, estes eventos são ainda mais frequentes e impactantes.
Nesse contexto, o dano por um escorregamento deflagrado por chuva pode ser enorme, e ainda maior caso não
antecipado. Portanto, o conhecimento, entendimento, monitoramento e sistemas antecipados de alertas aos
potenciais riscos apresenta-se como ator fundamental na segurança das atividades operacionais das
infraestruturas ali presentes. Ante o exposto, este trabalho teve por objetivo apresentar aspectos de limiares
críticos ambientais que servem para elaboração de sistemas de alerta e monitoramento de risco operacional
nessas infraestruturas lineares. Foi realizado revisão bibliográfica na literatura, analisando quais parâmetros
além da chuva se deve monitorar para aplicabilidade de sistemas de monitoramento e alerta a desastres
naturais. Verificou-se forte tendência para mapeamento de áreas susceptiveis (por diversos metódos) e previsão
da chuva, gerando um alerta relacionando susceptibilidade da área com a previsão de chuva. Ainda, analisou-
se a utilização de modelos numéricas, no estudo de parâmetros geológicos-geotécnicos em situações críticas
de equilibrio limite.

PALAVRAS-CHAVE: Escorregamentos rasos deflagrados por chuva, Infraestrutura linear, Limiares críticos
ambientais, Modelagem numérica, Sistemas de monitoramento e alerta.

ABSTRACT: Linear infrastructure (roads, pipelines, transmission lines, railways, etc.) are periodically and
intensely affected by various geological, geotechnical and hydrological origin events, called natural disasters.
In mountainous regions, these events are even more frequent and impactful. In this context, the damage from
a landslide triggered by rain can be enormous, and even greater if not early warned. Therefore, knowledge,
monitoring and early warning systems for potential risks become a fundamental actor in the safety of the
operational activities of the infrastructures present there. Thereby, this work aimed to present the threshold
limits related to the environment that serve to prevent warning systems and operational risk monitoring in
these linear infrastructures. A literature review was carried out in the literature, analyzing: which parameters,
in addition to rain, should be monitored for the applicability of monitoring and early warning systems to natural
disasters. There was a strong tendency to map susceptible areas (by different methods) and rain forecast,
generating an alert relating the area's susceptibility to the rain forecast. Furthermore, the use of numerical
models was analyzed in the study of geological-geotechnical parameters in critical simulations of limit
equilibrium.

KEYWORDS: Rainfall triggered landslide, Linear infrastructure, Critical thresholds, Numerical modelling,
Early Warning System.

1 Introdução e objetivos

Pode-se citar diversos processos naturais que acarretam perda humana e onerosos prejuízos, ambientais
e financeiros, em que, até hoje, atingem o Brasil nos chamados desastres. Cita-se, no Brasil, as recorrentes
enxurradas em São Paulo e os danosos deslizamentos da Baixada Santista, Santa Catarina e Rio de Janeiro. A
consciência do risco como um resultado da combinação dos processos físicos e da exposição da sociedade a
ele, ditam o tom da dimensão do mesmo (MENDONÇA et al., 2017).
Nesse sentido, obras de infraestrutura lineares, tais quais: linhas férreas, rodovias, torres de transmissão,
faixas de dutos para transporte de hidrocarbonetos e derivados, etc., atravessam diversas áreas susceptíveis a

93
INTERNA \ Força de Trabalho
estes riscos e, assim, se faz necessário o conhecimento e gestão dos mesmos. No contexto da geotecnia destas
obras, devido aos processos da dinâmica superficial da massa do solo - característica do movimento, material
e geometria -, ao longo de sua faixa de domínio enfrentam terrenos instáveis, susceptíveis aos denominados
movimentos gravitacionais de massa (terminologia recente), que são diversas ocorrências de cunho geológico-
geotécnico, entre elas: escorregamentos (planares, circulares e em cunha), rastejos, quedas/ desplacamento /
escorregamento de blocos; erosões; entre outras. Sendo, conforme salientado, a água, muitas das vezes, o
principal agente deflagrador.
Outro risco, de diferente tipologia ao dos escorregamentos, não necessariamente associado a um solo
saturado, mas com pluviometria intensa de curto período, pode, pelo escoamento superficial, ocasionar
diversos danos nos desastres denominados corridas detríticas e/ou de lama. Essas, formam-se geralmente nas
cabeceiras de drenagens de primeira e/ou segunda ordem, associadas à concentração de sedimentos e água,
numa quantidade crítica para o seu desenvolvimento no canal. Por vezes, são formadas a partir da
instabilização dos materiais depositados no leito dos rios, com a passagem de uma certa quantidade de água,
provindas de grandes precipitações pluviométricas (GRAMANI, 2004; ROBERSON, 2014; KOBIYAMA et
al., 2019).
Já sobre os escorregamentos, Wolle e Carvalho (1994) postulam que o mecanismo de instabilização,
associado à sua ocorrência, relaciona-se ao aparecimento de pressões neutras originadas pelo fluxo d’água
através do maciço, confinado inferiormente por um embasamento rochoso impermeável. Já os movimentos
originados por variações sazonais de umidade, os movimentos de massa de tálus, ocorrem ao longo de uma
superfície ou zona bastante nítida, em geral a própria superfície de contato entre o tálus e o terreno in situ
subjacente. Na sua grande maioria, apresentam-se muito sensíveis às variações piezométricas da água
intersticial, o que os tornam estáveis em épocas secas, e instáveis durante os períodos de pluviometria intensas.
Essa fonte de instabilização: a água, na sua ação progressiva da infiltração, esta prepara o terreno através
do aumento do teor de umidade e redução de resistência ao cisalhamento. Desta forma, o aumento do teor de
umidade do solo provoca uma sensível redução no intercepto de coesão, pois elimina a componente principal
originada pela tensão de sucção.
Portanto, alguns autores buscaram correlacionar intensidade de eventos pluviométricos a eventos
geotécnicos de escorregamentos. Por exemplo, as características pluviométricas do evento de 1999 de um
escorregamento de grande monta (Figura 1) que atingiu o complexo rodoviário Anchieta-Imigrantes, foi de
128 mm em 24 horas, e um acumulado de 274 mm em 72 horas, conforme os dados do posto pluviométrico
mais próximo do local do acidente, situado cerca de 400 metros sob o local do evento (WOLLE, 2001).

Figura 1. Escorregamento na Rodovia Anchieta-Imigrantes (WOLLE,2001).

Vale ressaltar que a gestão do risco (monitoramento de variáveis, previsão do tempo, emissão de alertas
e comunicados) acontece em diferentes esferas, público e/ou privados, nacionais-internacionais, regionais ou
locais, dos órgãos públicos ou do munícipe, ressalta-se que o Marco de Ação de Sendai versa sobre diversas,
sempre buscando melhorar a resiliência frente a vulnerabilidade ao desastre de toda parcela de população e

94
INTERNA \ Força de Trabalho
infraestrutura envolvida com o desastre (TOMINAGA, 2015; KOBIYAMA et al., 2019). Kobiyama et al.
(2019) sugeriram, para o Brasil, ações urgentes de uniformização das termologias das tipologias de eventos
geotécnicos e de uma sistematização do monitoramento hidrometereológico.
No âmbito do monitoramento, o Centro Nacional de Controle Monitoramento e Alertas de Desastres
Naturais (CEMADEN), por exemplo, utiliza dos dados gerados pela sua rede de pluviômetros automáticos
instalados no Brasil, juntamente com outras informações, no auxílio de cenários de riscos de desastres naturais.
As formas de atuações no risco de origem hidro-geológico-geotécnica podem ser diversas, tendo em
vista a ampla gama de variáveis de parâmetros e instrumentos/meios de monitoramento dispostos na geotecnia
(BORTOLOZO et. al. 2019). O maior conhecimento destes leva a aplicação de um e não de outro meio de
atuação, mas, o entendimento de mais de uma variável e a suas correlações frente a situações de risco é o
caminho, pois a redução de desastres passa por educação, que envolve muito o entendimento do fenômeno e
contribuição, no que for aplicável, para redução dos danos, e não só a resiliência da infraestrutura em si.
Diante disso, especificamente, através de uma revisão bibliográfica sobre o tema, este trabalho busca
entender qual estrutura de monitoramento se deve ter (quais variáveis, quais os instrumentos mais aplicados,
e etc.) e assim a metodologia de criação de limiar de alerta, para melhor prevenir os danosos desastres
tecnológicos, ambientais, humanos, sociais e etc.
Assim, é importante entender a contribuição de pesquisas, para conhecer os limiares que deflagram os
escorregamentos e, desse modo, estabelecer relações mais realistas entre os valores de precipitação e os
movimentos de massas, e permitir que as tomadas de decisões possam ser elaboradas e aplicadas com maior
eficácia, gerando otimização nos processos do gerenciamento de risco das partes interessadas.

2 Aspectos sobre tipologia do mecânismo de escorregamentos deflagrados por chuva e mapeamento


de áreas de risco

As clássicas avaliações de taludes, no Brasil, começaram com os trabalhos do professor Willie Lacerda
no Rio de Janeiro, e atribuem aos processos de instabilização, a ação da chuva no solo intemperizado sobre a
rocha mãe (LACERDA, 1997; TATIZANA et al.,1987; SAKO et al. 2006). A nomenclatura de tais
mecanismos de instabilização à época classificados como escorregamentos, posteriormente foi englobado pela
perspectiva mais abrangente e atual, classificando-os nos movimentos de massa do tipo escorregamento.
Os escorregamentos translacionais estão associados a mais de um mecanismo de instabilização,
dependendo das condições geológicas e geotécnicas locais, a saber: fluxo de água paralelo à encosta / pressões
neutras de percolação; encontro de frente de saturação com N.A. pré-existente; e fluxo vertical / redução da
resistência pelo aumento da umidade do solo. Ressalta-se a importância dos últimos, uma vez que este é o
mecanismo responsável pela maioria dos escorregamentos translacionais verificados na Serra do Mar, segundo
Wolle & Carvalho (1994), as superfícies de ruptura desse tipo de escorregamento apresentam espessuras
reduzidas de massa rompida variando de 0,5 m até 2,0 m. A variação dessas espessuras depende do litotipo e
do mecanismo de instabilização.
Outra estratificação, corriqueiramente presente nas análises de riscos, são de solos coluvionares,
característicos de áreas instáveis atravessadas por obras lineares, onde os macroporos da estrutura do solo que
definem sua característica geomecânica. Nestes solos, sua elevada porosidade confere-lhes alta permeabilidade
e, em seu estado natural, os ângulos de atrito são elevados, e a coesão é ditada quase que exclusivamente pela
sucção intersticial (tensões de sucção). Haneberg & Gokce (1994) postularam que quatro fatores contribuem
para flutuação do lençol freático em taludes de solos coluvionares: (i) intensidade da chuva, (ii) duração da
chuva, (iii) condutividade hidráulica do solo e (iv) condições anteriores de umidade do solo.
Devido à complexidade de variáveis, como as informações do ambiente físico e do uso e ocupação, a
obtenção dos dados, as formas de mensuração: por exemplo, adicionando para suscetibilidade física da região
um parâmetro que reflete o uso e cobertura do solo, o trabalho de Ávila et. al. (2015), demonstrou que taludes
em cortes (intervenção antrópica), sem as intervenções estruturantes (muros de contenção, ancoramentos,
drenos subsuperficiais), impactam o FS das encostas e que esse impacto é consideravelmente maior do que
apenas a exposição da superfície do solo devido a remoção das árvores, por isso, as avaliações de risco
geralmente envolvem muita incerteza e, assim, necessitam de associações das demais variáveis envolvidas no
fenômeno para melhor proposição de limiares críticos. Segundo Balaji et al. (2015), os principais dados
requeridos numa avaliação de risco para qualquer local de estudo são: (i) perigo: tipo, data, local de ocorrência,

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INTERNA \ Força de Trabalho
magnitude etc.; (ii) ambiente: geologia, geomorfologia, hidrologia, climatologia, uso da terra etc.; e (iii)
exposição local: infraestrutura urbana, edificações, população, dados socioeconômicos, agropecuários, etc.

3 Discussão sobre parâmetros geotécnicos para definição de limiares críticos ambientais em


sistemas de monitoramento e alerta a escorregamentos deflagados por chuva

Os trabalhos técnicos na literatura trazem uma vasta proposição de limiares críticos ambientais de
deflagração de chuvas, podendo ser subdivido como segue: i) Com relações de Intensidade e Duração (LUCA
& VERSACE, 2016) e ii) Levando em consideração o acumulado precipitado antecedente ao esquema.
Trabalhos que trazem relações de intensidade (I) com duração (D), para diferentes durações, provem valores
críticos de chuva que, ao serem excedidos, levam a ruptura da encosta (PETRUCCI & PASQUA, 2009).
Enquanto os limiares deflagradores de evento do segundo caso são definidos por valores do evento chuvoso
de curta duração agregado a uma predisposição de chuva acumulada anteriormente (podendo varias de horas,
a dias, a depender do trabalho e das premissas do solo estudado). Sendo que, na maioria dos casos, a curva
final é resultado de uma função de I em função de D, com parâmetros matemáticos de ajuste de curva para
interpolação da curva do limiar crítico. Assim, além dos parâmetros de chuva, existem os parâmetros
matemáticos que são os ajustes que satisfazem a linha crítica de chuvas que estão abaixo (ou acima) do limiar,
O recente trabalho de Rosi et. al. (2019), para definição de limiares críticos de chuva para região serrada
do Rio de Janeiro, nota-se que a metodologia de limiar de chuvas, que considera limites pluviométricos de
modo puramente estatístico, e não descreve os mecanismos de ruptura. Por outro lado, estes limiares costumam
ser precisos e fornecem uma pelo menos alguma solução para gestão de risco em todas as escalas. O
refinamento do método consiste em registrar fielmente novos eventos e retroalimentar os dados de ajuste,
sempre refinando a curva limiar crítica. Já o trabalho de Naidu et. al. (2018) utilizou um modelo de estabilidade
para analisar áreas susceptíveis ao perigo dos escorregamentos. O sistema de alarme, então, deve associar a
área instável a este limiar de chuva obtido, para este limiar utilizou-se de séries de chuva, analisados tanto 2,
3 e 5 dias antecedentes. Notou-se que o coeficiente, neste trabalho, que leva em conta o acumulado antecedente,
quando maior (devido a maior acumulo de chuva antecedente), leva a menores valores de chuvas para
deflagração de eventos de escorregamento, assim como o inverso, quando há pouca chuva acumulado dos dias
antecedentes, é maior o volume de chuva necessário para deflagração de eventos, segundo o autor, a
contribuição de chuva anterior é de aproximadamente 20% do valor do limiar crítico

(a)

96
INTERNA \ Força de Trabalho
(b)
Figura 2. Curvas de limiares críticos de chuva: (a) Naidu et al. (2018) e (b) Rosi et al. (2019).

No cenário da engenharia geotécnica clássica, permanecendo inalterados os demais fatores de


influência, a água, de uma maneira geral, é, sem dúvida nenhuma, principal agente deflagrador dos
movimentos da encosta. Em função desse fato, procura-se então, de forma geral, estabelecer os limites de
alarme com base na variação da poropressão da água do solo, a depender da tipologia do processo ou do
mecanismo predominante de ruptura, que, por sua vez, está intimamente ligado ao volume da precipitação
pluviométrica ocorrente na área, a qual irá influenciar também o padrão dos valores de parâmetros possíveis
que podem ser monitorados ali presentes, por exemplo: com sensores de umidade (MENDES, 2020), na
proposição de limiares críticos ambientais para uso em sistemas de alertas de deslizamentos; utilizando de
modelagens acopladas a modelos de infiltração em que se consideram a frente de saturação e o fluxo na
condição não saturada do solo, utilizando equações de ruptura de solo propostas por Fredlund et. al. (1978), e
que, no caso, consideram ao modelo medidas de sucção mátrica de campo como representativo das condições
iniciais de poro pressão do solo (ACHARYA et. al., 2016; TOFANI et. al. 2006) e, em solos com características
bimodais (a depender do teor de umidade do solo apresenta um valor de sução mátrica), pode-se aplicar a
modelo constituitivo para mecanismo de deformação do solo, e a partir da solução analítica da equação
modificada de fluxo de Cavalcante & Zornberg (2017), o trabalho de Dantas & Cavalcante (2021) apresentou
um modelo transiente de análise do fator de segurança, calibrado com valor de chuva relatado no evento e nos
4 meses anteriores (sendo que o valor unitário foi atingido no 118° dia, dia relatado pelo noticiário e conforme
modelagem do fato) – também discretizou-se a profundidade de 3 m, com análise probabilística, sendo a maior
a profundidade com incidência de ocorrências de fatores de segurança próximos da unidade, e conclui-se que
a ocorrência de taludes rompidos pode ser utilizada pra prever o acontecimento de próximos e ajudar na
determinação de limiares principalmente para aquela mesma região; pode-se também assumir ao modelo
considerações possíveis como a da difícil assumpção ao mecanismo de ruptura da parcela antrópica de
contribuição de água para deflagração do evento, como proposto por Mendes et. al. (2017).
A partir disso, percebe-se que há possibilidade de utilização da observação dos fenômenos e os
resultados em dados além de chuva (mm acumulados num período), nível de água do lençol freático (cota
piezométrica em um ponto de interesse), assim, o entendimento do escoamento de água sub e superficial é
explorado na diferença entre uma chuva que pode (ou não) ter maior possibilidade de ocasionar danos, através
dos resultados do fenômeno nos dados que ali são monitorados.
A análise de fatores que consideram o tempo, feito intensidade de chuva, leva, então, a análise
transientes no tempo. Algums gráficos possíveis de serem realizados, atentando sempre as limitações do
modelo, são os da Figura 2. Onde a Figura 2a, mostra o fator transiente da análise do variando o parâmetro
chuva, logo, teor de saturação, logo, sucção mátrica. Semelhantemente, Arairo et. al. (2012) simulou os valores
de Fator de Segurança – FS através de um aparato reduzido construído em solo arenoso, onde uma vez validada
a modelagem, foi estudado como a saturação do solo afetou o FS.

97
INTERNA \ Força de Trabalho
(a)

(b)

Figura 3. Análises de estabilidade transientes: (a) Solo Tropical de Nova Friburgo (DANTAS &
CAVALCANTE, 2021) e (b) Protótipo com solo arenoso (SAKO, 2006).

4 Conclusões

O conhecimento e experiência do fenômeno geotécnico em si, auxilia na discretização de uma área de


risco. Quanto maior o conhecimento geotécnico de uma região, melhor é os valores registrados nos sensores
de monitoramento, para entendimento dos parâmetros geotécnicos, no evento de extremo pluviométrico. Logo,
quanto maior o conhecimento da área, mais adequado é seu alerta, sendo primordial uma boa base de dados
para montagem do alerta e um estudo robusto sobre a área implantada a infraestrutura linear.
Ainda, o conceito do estado de tensões de cisalhamento em solo, para resoluções analíticas ou numéricas
dentro modelo de resistência de Mohr-Coulomb, de onde estendem-se os princípios das tensões efetivas do
solo não saturado, amplamente explorada a partir de resoluções de equações matemáticas de fluxo, podem
trazer parâmetros mais realistas de análise em casos de taludes com solos tropicais. Explorar variáveis
geotécnicas que solucionam condições pré-estabelecidas em modelos numéricos calibrados, associando
condições mais realistas as proposições de limiares críticos de operação destas infraestruturas, incipientemente
instrumentadas para o devido monitoramento destes parâmetros, em sistemas de alerta para antecipação de
cenários de segurança abaixo do mínimo satisfatório desejado, no caso localizado. E para a antecipação de
rupturas generalizadas, englobando todas caracteristicas de cada escorregamento, a utilização de valores
empíricos de equação de chuva, calibrada com um bom registro dos eventos, sendo a variável chuva muito
prática seu monitoramento através das tecnologias de automação recente.

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Encostas, 3 - COBRAE, 3, 2001. Anais. Rio de Janeiro.

100
INTERNA \ Força de Trabalho
Geotechnical Security of a Mine Waste Dump in Carajas Mining
Complex
Michael José Batista dos Santos
Prof. Efetivo do magistério Superior, Ufopa, Juruti, Brasil, michael.santos@ufopa.edu.br

Glayce Wivyanne Oliveira Costa


Engenheira Civil, Vale, Parauapebas, Brasil, glayce.costa@vale.com

Denilson Andrade Torres


Técnico em Mineração, Vale, Parauapebas, Brasil, torres.denilson@gmail.com

Irineu Antônio Schadach de Brum


Prof. Efetivo do magistério Superior, Ufrgs, Porto Alegre, Brasil, irineu.brum@ufrgs.br

RESUMO: No Brasil, avaliação de segurança and classificação das estruturas da mina e seus riscos de
ruptura tem recebido atenção especial devido aos desastres socioambiental relacionados com as barragens de
rejeito. O engenheiro geotécnico aplica medidas com o melhor custo-benefício para manter a estabilidade
física das estruturas geotécnicas. O termo “pilha de disposição de estéril” e “aterros” se referem ao
empilhamento de material mineral estéril ou solo que contem pouco ou nenhum valor econômico no
momento em que empilhado, observa-se que o conceito de minério e estéril é dinâmico. Planejamento,
localização adequada e monitoramento de uma pilha de disposição de estéril são ferramentas que minimizam
o custo e previne o colapso de estruturas geotécnicas. A metodologia adotada neste estudo considera os
aspectos mais importantes como método construtivo, caracteristicas do material disposto, geometria da pilha
de estéril e força sismica. As informações coletadas facilita a avaliação de estabilidade aplicando o critério
de ruptura de Mohr-Coulomb que é baseado na coesão e ângulo de atrito do material estéril, isto é calculado
através da análise do equilíbrio limite para a avaliação da estabilidade do talude da pilha de estéril. Os
principais fatores da pilha de estéril Oeste (objeto do estudo) inclue as características do material disposto,
condições climáticas, altura evolume significante das estruturas geotécnicas. A inclinação mínima do terreno
natural abaixo da pilha Oeste, baixa taxa de disposição e nível de sismicidadesão os fatores positivos que
contribuíram para a redução do risco de ruptura.

PALAVRAS-CHAVE: Pilha de Disposição de Estéril, Fator de Segurança, Risco de Ruptura, Classificação.

ABSTRACT: In Brazil, security assessment and classification of the mine structures and its failure
risks have been receiving special attention due to social-environmental disasters regarding tailing
dams. Geotechnical engineering applies best cost-benefit measures to maintain physical stability of
geotechnical structures. The terms “mine waste piles” and “dumps” refer to piles of waste rock or
soil that carry little or no economic value at the time place waste and ore are not fixed concepts, can
change over time. Planning, adequate location and monitoring of a waste dump are tools to
minimize mining costs and prevent the geotechnical structures from collapse. The adopted
methodology considers the most important aspects such as building method, disposed material
characteristics, dump geometry, and seismic forces. The collected information facilitates stability
evaluation applying Mohr–Coulomb failure criteria based on the cohesion and friction angle of the
material and applies limit equilibrium analysis to evaluate the slope stability of the waste dump. The
main factors of dump West include characteristics of the disposal material, weather condition,
significant height and volume of this geotechnical structure. The minimum declination of the
natural terrain bellow the West, low disposal rate and seismicity level are positive factors
contributing to the failure hazard decrease.
.

KEYWORDS: Mine Waste Dump, Factor of Safety, Failure Hazard, Classification.

101
1 Introduction

Proceedings of the First Southern African Geotechnical Conference Mining Engineering


Handbook (2011) describes the terms “mine waste piles” and “dumps” as piles of waste rock or
soil that carry little or no economic value at the time. Waste and ore are not fixed concepts, they
change over time. Planning adequate location and monitoring of a mine waste dump to minimize
mining costs and prevent geotechnical risks. Thus, many aspects such as mine stripping ratio,
natural stability of the terrain and waste haulage distance influences on geotechnical stability of
these structures.
Measures such as berm drainage minimize erosion, preventing material Mine waste disposal
should occur as layers. Water presence, water table, seepage and percolation are frequently
monitored. The waste dump access is restricted to the developed operations at the waste dumpsite.
Surface drainage consists of peripheral channel constructions in order to create new course for
rainwater. Vegetation mitigate the fluviometric effects, improving surface protection. Construction
dike prevent silt at the downstream toe of a mine waste dump, which is environmentally Friendly, it
protects rivers, lakes, other watercourses. According to Mining Engineering Handbook (2011)
geotechnical structures of mine site must be evaluated by considering other indispensable parameter
such as dump geometry, rate of stacking and lift thickness, geotechnical properties, construction
method, equipment load, phreatic surface, and seismic force.
Mine waste dump has to maintain a security factor of 1.5. However, a specific area of most
probable instability of this geotechnical structure involves cross-sectional critical conditions toward
the water table and pressure, in this case, the security factor mustn’t be less than 1.3. The Security
assessment is suitable the investment reliability and socioenvironmental responsibility of mining
ventures. By using methods, to determine the classification of West dump, according to failure
hazard (BCMWRPRC–Investigation and Design Manual, 1991).
Mine waste disposal starts in the mid-80s, turn it into waste dump West, its volume is about
1.43 million cubic meters, covering 62.3 million square meters. The waste disposal stoped in 2015
and increase about 1 million tons of mine waste in the same year. The deactivation process began in
2016, continuing the final civil work of surface drainage and geometry reconformation of the waste
pile. The civil work interventions where concluded in 2020. The proportion between ore and waste,
also called overall stripping ratio, guides the mine waste disposal, which directly affect geometric
shape, volume and mass capacity of the waste dump West.
The imaginary inclined line from the of the waste dump to its crest, crossing most of its
benches, which is known as global angle measure, West has 23 degrees of overall slope angle,
among berms it varies from 18 to 27 inclination degree.
The geometric design of West presents a minimum of 10 meters berm width, 20 meters slope
height, a global angle between 19 and 23 inclination degrees. Therefore, this geological structure is
adequate to its own requirements. However, the slope face angle and slope height, present small
problems in comparison to its premises. The surface drainage system channels rainwater to the dike
contention or to a dam that prevents erosion, showing inadequate berms at convergence points at the
east part, which indicates erosion on its surface.
Waste dump stopped since 2016 (Figure 1), monitoring regarding material densification and
pore pressure indicates no problems during its deactivation processes.

102
Figure 1 – Waste dump West. Source: Vale S.A.

2 Material and Methods

West uses main aspects in order to classification: dump stability rating and class, along with
application to the design process.

2.1 Stability

The limit equilibrium calculates slope stability along the slide surfaces. The number of slices varies
depending on the mass bounded by the rupture failure according to slide mass geometry and its material
type. The numeric interactive process satisfies all equilibrium conditions. The theory of limit equilibrium, in
this study, uses Spencer’s method to determine the Factor of Safety of the waste dump in the present study
because it considers the limit equilibrium related to moment (physics relation) in addition to the stress among
the slices (Jacobs 2016).
Ru coefficient evaluate the saturation (amount of water in the rochmass). Pore pressure as vertical
pressure factor of the earth for each slice of the limit balance;
each slice contains 10% of mass that shows pore pressure phenomenon 10% Ru coefficient. On the
saturation of its foundation considers Hu coefficient 1. Equation 1 governs this consider the foundation. Pore
pressure calculate Hu coefficient, which varies from 0 to 1. Hu=0 means dry soil, while Hu=1 represents
hydrostatic conditions. Slide® automatically estimate the pore pressure using Eq. 1.
u=yᵚhHᵤ (1)
A represents the inclination of the water surface relative to the horizon. The stability analysis utilize
Mohr–Coulomb criteria to determine the behavior of the rock mass and soil present in Waste Dump West.
The generalized equation is presented as Equation. 3:
 f  c   tan  (2)
This equation demonstrates that the Mohr–Coulomb rupture criteria depend simultaneously on
attrition and cohesion. Civil3D-Autocad® software was used to define the exact locations of the critical
sections based on topography (Fig. 2).

Figure 2 – Critical section selection (Civil3D-Autocad®).

103
As shown in Fig. 3, Slide® was used to define the FoS of a section of Waste Dump West by
employing the limit equilibrium theory based on Spencer’s method.

Figure 3 – Equilibrium limit, Spencer method.

2.2 Classification of West

Chart 1 – West Classification

These four categories or four stability classes is based on dump stability rating. The classification
method helps to define the effort level by a convenient manner for assessing the appropriate level of effort
reflected by dump stability rating or class. Therefore, the likely level of operational restriction and the dump
stability rating or class reflects the monitoring requirements. The classification method is based on a sum up
of scores, in which an increase in the failure hazard value increases the point rating. Waste dumps are
classified into four different categories of the failure hazard: negligible, low, moderate, or high. Waste dump
pile reflect a score lower than the minimum value of 300, which represents a negligible failure hazard.
Conversely, that showing the maximum value of 1800 is ranked as class IV, which represents a high failure
hazard. In such cases, a thorough investigation is necessary with a high level of design effort.
The height of a waste dump is divided into four intervals: less than 50 m, 50–100 m, 100–200 m, and,
the last one, greater than 200 m. In terms of volume, the waste dump can be small, less than 1 million bank
cubic meters; medium 1–50 million bank cubic meters; and large, more than 50 bank cubic meters. The
inclination of slope dump can be classified as flat, less than 26 degrees, moderate, 35-36 degrees and called
steep when it is more than 35 degrees. The inclination intervals of the foundation are classified as smooth to
extremely inclined, at less than 10° to greater than 32°, or flat, moderate, steep, and extreme corresponding
to 0–200 points, respectively.
Geometric configuration the method classify the confinement level, which can varies among confined,
moderately confined and unconfined, following physical characteristics.
Foundation slope also influences the classification as confined, intermediate or unconfined, considering
observation factors of its shape. In terms of dump material, it can be high, moderate, or poor. While the
construction method is considered to be favourable, mixed, or unfavourable, respectively. The piezometric
and climatic conditions are combined to indicate favourable, intermediate, or unfavourable values, and the
dump rate is classified as slow, moderate, or high. In addition, the seismicity is classified as low, moderate,
or high according to the results of risk zone studies.

104
3 Results

The data necessary for classification of waste dump West in the Carajas iron complex is listed in Table
1. The presented method, which describes and scores each feature that govern the stability of pile classifies
West. The classification guide was used to suggest the particular level of effort needed for the structure.
waste dump West reached 550 points, which falls between 600 and 1200 points in the rating system, defined
as stability class II. Therefore, the score indicates a low potential failure hazard.
A list all data corresponding to the classification stages of the piles presented in the methodology is
presented in Table 2. It indicates the score for each stage of evaluation. The total score given at the bottom of
the table refers to the sum up of the successive classification stages of the disposal stack of Waste Dump
West. Final score for this pile is the classification obtained, which facilitates discussion of the activities
recommended for the geotechnical structure. The factor of security (FoS) of the cross-section shows
favourable results.
The global FoS of the section, including part of the eastern side of Waste Dump West, presented the
worst results. Its normal FoS value is 1.76, which decreases to 1.48 when considering only the critical water
table. The lowest FoS was 1.35, reflecting only a few slopes rather than the global FoS, when the analysis
considered pore pressure, critical water table, and seismicity at the same time (Fig. 4).

Figure 4 – Result of the lowest factor of safety (FoS).

Waste Dump West is class II according to stability class. the recommended measures include thorough
site investigation, pit testing, sampling, testing of several lab indices, basic stability analysis, restrictions on
construction, and routine observation and instrument monitoring.

Tabela 1 – West Score

Waste dump West


Key factors affecting
Description Conditions intervals Scores
stability
Between 100 e
Height Regular 155.34 meters 100
200 meters
Waste dump geometry

Between 1 a
7800 cubic
Volume Medium 50,000 cubic 50
meters/benches
meter/bench
Global Less than 26
Flat 23 degrees 0
Inclination degrees
Inclination of
Less than 10%
the Flat 3 degrees 0
degrees
foundation

105
Foundatio confinement Concave slope in plan or section -
Degree confined
Concave Slope in Valley or Cross-Valley fill, toe
0
plan and section buttressed against Confined
opposite valley wall-Incised gullies.
n type

Foundation materials as strong or stronger than dump


Competent 0
materials Competent, no adverse geologic structure
material
quality
Dump

Predominantly weak rocks of low durability -Greater than


Poor 200
about 25% fines, overburden.
construction
Method of

Moderately thick lifts (from 25 to 50meters), mixed


Mixed 100
construction methods
Piezometric and

High piezometric pressures, springs


conditions

in foundation, high precipitation,


climate

Intermediate Unfavourable Significant potential for 100


development of phreatic surface or
perched water tables in dump.

There is no
Dump

Less than 25 bank cubic meters per


rate

Slow dumping for the 0


lineal metre of crest per day
last three years.

Seismic Risk Zones


Seismicity

0, according to
Low Seismic Risk Zones 0 and 1. 0
seismicity security
study
Dump Stability Rating 550
Dump Stablity Class II

4 Discussion

The factors to the destabilization of the geotechnical structure were addressed in this work. Height,
quality of the predominant material in low-competence stacked rocks, the mixed construction method of
bank elevation, piezometric level, and moderate climatic conditions. The height of waste dump West is
155.34 meters. The second-highest scoring range in this category: 100. It is important to note that a higher
sum of category scores relate to lower stability. It important to note that a higher sum of category scores
relate to lower stability.
The quality of the predominant material is formed of very low competence. This excavated material
has no economic use; its removal is essential for exploitation of the ore located in the underlying layers.
Therefore, replacement of the material was not considered because the function of a waste dump is properly
dispos of this material. The construction method is considered to be mixed because it presents both forms, in
ascending and descending sequence depends on the decade. 80's was descending and less stable, and it
stopped. Receiving waste material only recently. The combined factors governing the construction method
include minimization of the average transport distance capacity and stability of the geotechnical structure.
Benches moderately thick, height 20 meters.
The influence of seismic loading was also investigated in this study, the FoS was reduced to minimum,
considering to seismicity. This added seismic load considering the critical groundwater conditions, it resulted

106
in a global FoS greater than 1.3 for West. This factor is an excellent indicator of safety in the structure; it
meets the normative requirements even if the seismic activity of the region is taking into accounting.

5 Conclusion

The classification system of waste dumps presented is useful in the assessment of waste pile, reaching
a reasonable level between applicability and ease in studying the evaluated case. The classification system
consists of a form of first assessment, which should indicate the level of effort that must be applied and
research and design recommended for each situation. The safety assessment score of the studied waste dump
is 550 points, which corresponds to stability class II, indicating a low potential for rupture. The lowest FoS
was 1.35, measured in a few slopes rather than globally when the analysis seismicity and critical water table
at the same time.
The waste pile classification guide recommends local inspection including frequent good monitoring;
mandatory sampling; basic mandatory stability analysis, which already carries out on the studied heap;
constraints on the completion of construction; and routine instrumentation. Therefore, this classification
system serves as the basis for initial decision-making with regard to geotechnical research and the level of
investment necessary to implement stability of waste dump West.
The undesirable factors of the waste dump West include the low-grade quality of the material, mixed
construction method, and slightly climatic conditions. Considerable height and volume of this dump make it.
The largest of mining complex in Carajas, Para state, Brazil.
The factors to maintain the geotechnical stability of waste dump West is the slope remain 23 degrees,
flat pile foundation, formed by very competent material and the disposal rate is equals to 0 in the last years.
It is expected because the pile is the deactivation stage. Seismicity has minimum influence on the
geotechnical structure.

ACKNOWLEDGMENTS

We would like to thank the entire Vale Carajás geotechnical team for the contributions and permission for
the work to be successful carried out.

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107
Uso de aprendizado de máquina para o mapeamento de
suscetibilidade a deslizamento em áreas de risco - projeto
REMADEN/REDEGEO.
Tatiana Sussel Gonçalves Mendes
Departamento de Engenharia Ambiental, Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT/UNESP) e Programa de Pós-
Graduação em Desastres Naturais (UNESP/Cemaden), São José dos Campos, Brasil.
tatiana.mendes@unesp.br

Jennifer Fortes Cavalcante Renk


Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), São José dos Campos, Brasil.
jennifer.renk@cemaden.gov.br

Felicia França Pereira


Programa de Pós-Graduação em Desastres Naturais (UNESP/Cemaden), São José dos Campos, Brasil.
felicia.franca@unesp.br

Tatiany Correia da Silva Santos


Programa de Pós-Graduação em Desastres Naturais (UNESP/Cemaden), São José dos Campos, Brasil.
tatiany.correia@unesp.br

Silvio Jorge Coelho Simões


Programa de Pós-Graduação em Desastres Naturais (UNESP/Cemaden), São José dos Campos, Brasil.
silvio.simoes@unesp.br

Márcio Roberto Magalhães de Andrade


Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e Programa de Pós-Graduação
em Desastres Naturais (UNESP/Cemaden), São José dos Campos, Brasil. marcio.andrade@cemaden.gov.br

RESUMO: Considerando o destaque que os métodos baseados em aprendizado de máquina têm recebido nos
últimos anos para os modelos de suscetibilidade, este trabalho tem como objetivo usar o método Random
Forest para o mapeamento da suscetibilidade a deslizamento no projeto REMADEN/REDEGEO em áreas de
risco de três municípios. Como variáveis no modelo de predição foram utilizados onze fatores condicionantes
topográficos e hidrológicos derivados de dados topográficos de diferentes fontes e um inventário de cicatrizes
para cada área de estudo. A partir do inventário, um conjunto de amostras de treino e validação foi gerado e
usado nos modelos de predição. Os resultados revelaram que a declividade foi o fator condicionante de maior
relevância para todas as áreas. O mapa resultante foi classificado em cinco graus de suscetibilidade e a acurácia
do modelo de predição foi analisada considerando o número de árvores no modelo, a área sob a curva ROC
(AUC) e métricas de validação. Para as áreas de Rolante-RS, Campos do Jordão-SP e Santos-SP, o valor para
a AUC foram, respectivamente, iguais a 0,867, 0,964 e 0,747. Os resultados mostraram que método Random
Forest tem potencial para o mapeamento de suscetibilidade a deslizamento, mesmo usando somente os fatores
condicionantes topográficos e hidrológicos.

PALAVRAS-CHAVE: Mapa de suscetibilidade, Deslizamento, Aprendizado de Máquina, Random Forest.

ABSTRACT: Considering the highlight that machine learning-based methods have received in recent years
for susceptibility models, this work aims to use the Random Forest method for landslide susceptibility mapping
in the REMADEN/REDEGEO project in risk areas in three municipalities. As variables in the prediction
model, eleven topographic and hydrological conditioning factors derived from topographic data obtained by
different sources and a scar inventory for each study area were used. A set of training and validation samples
was generated from de inventory and used in the prediction models. The results revealed that the Slope was
the most relevant conditioning factor for all areas. The resulting map was classified into five degrees of
susceptibility and the accuracy of the prediction model was analyzed considering the number of trees in the
model, the area under the ROC curve (AUC), and validation metrics. For the areas of Rolante-RS, Campos do

108
Jordão-SP, and Santos-SP, the AUC values were equal to 0.867, 0.964, and 0.747, respectively. The results
showed that the Random Forest method can use to map susceptibility to landslides, even using only
topographic and hydrological conditioning factors.

KEYWORDS: Susceptibility mapping, Landslide, Machine Learning, Random Forest.

1 Introdução

O mapeamento da suscetibilidade a deslizamento é essencial para o planejamento urbano e para


subsidiar tomadas de decisão em eventos climatológicos extremos que colocam em risco vidas humanas e
causam danos na infraestrutura. Na tarefa de prever locais de eventos futuros de deslizamentos para mitigar os
desastres (Dou et al., 2020), a classificação de uma determinada região em diferentes graus de suscetibilidade
permite indicar as áreas propensas ao desenvolvimento de processos de deslizamentos em face dos fatores
condicionantes, os quais devem ser selecionados de acordo com os mecanismos desencadeadores, as
características da região e os dados disponíveis (Tien Bui et al., 2016; Dou et al., 2020). Os fatores
condicionantes derivados da superfície topográfica são indispensáveis e a qualidade dos Modelos Digitais de
Elevação (MDE) que a representam pode afetar a capacidade de preditiva dos modelos de suscetibilidade.
Devido à natureza complexa dos eventos de deslizamento de terra, a tarefa de predição ainda é um
desafio, tanto quanto à disponibilidade de dados confiáveis, como pela complexidade técnica que este tipo de
modelagem exige. Apesar disso, os métodos baseados em aprendizado de máquina têm-se mostrado
promissores e eficazes em resolver problemas não-lineares do mundo real com alta precisão, devido às suas
capacidades de desempenho superior e a habilidade de lidar com dados complexos e variados (Arabameri et
al., 2020). Métodos como Regressão Logística (Raja et al., 2016), Máquina de Vetores de Suporte (Dou et al.,
2020), Redes Neurais Artificiais (Tien Bui et al., 2016), Redes Neurais Recorrentes (Wang et al., 2020) e
Random Forest (Youssef et al., 2016) têm sido usados para o mapeamento de suscetibilidade a deslizamento.
Dentre os diversos métodos de aprendizado de máquina, o Random Forest tem se mostrado eficiente em
relação à acurácia nos modelos de predição de deslizamento (Catani et al., 2013; Park e Kim, 2019; Chen et
al., 2020; Dang et al., 2020; Sahin et al., 2020; e Zhou et al., 2021), se destacando por ser um método não
paramétrico que permite lidar com um grande conjunto de dados categóricos e numéricos e não requer muitos
ajustes de parâmetros, quando comparados com os métodos de Redes Neurais Artificais e Máquinas de Vetores
de Suporte, por exemplo (Taalab et al., 2018).
Os algoritmos de aprendizado de máquina tem sido utilizados no projeto REMADEN/REDEGEO em
áreas de risco de municípios prioritários para a definição de áreas suscetíveis a deslizamentos de terra. Neste
sentido, este trabalho tem como objetivo usar o método Random Forest para o mapeamento da suscetibilidade
a deslizamentos nas áreas-piloto de três municípios usando fatores condicionantes topográficos e hidrológicos
derivados de dados de diferentes fontes e resolução espacial. A análise da capacidade preditiva dos modelos
de predição e da importância dos fatores condicionantes para cada uma das áreas de estudo são tratados como
objetivos específicos.

2 Área de Estudo

As áreas de estudo (Figura 1) estão localizadas nos municípios de Rolante, Rio Grande do Sul (Bacia
do rio Mascarada), Campos do Jordão, São Paulo (Bacia do rio Piracuama) e Santos, São Paulo (Morros de
Santos) que apresentam histórico de deslizamento e são áreas-piloto do projeto REMADEN/REDEGEO.
Os municípios de Campos do Jordão e Santos estão situados, respectivamente, nos sistemas de serras
da Mantiqueira e do Mar, os quais são formados por rochas ígneas e metamórficas de idade Pré-cambriana.
Nestas regiões, os movimentos rasos são predominantemente translacionais, ainda que ocorram movimentos
rotacionais e corridas de lama.
Em situação bem distinta, o município de Rolante situa-se no contexto da bacia do Paraná constituído
por sucessivos derrames com predomínio de rochas basálticas. Em 2017, um grande evento de precipitação,
que alcançou um volume acumulado de chuva, em 8 horas, em torno de 180 mm, ocasionou centenas de
cicatrizes com característica de movimentos translacionais rasos.

109
Figura 1. Áreas de estudo: (a) Rolante-RS; (b) Campos do Jordão-SP; e (c) Santos-SP.

3 Materiais e Método

Os dados topográficos foram derivados de base cartográfica vetorial (curvas de nível), Modelo Digital
de Terreno (MDT) a partir de levantamento aerofotogramétrico e LiDAR (do inglês, Light Detection and
Ranging). Os detalhes de cada um deles para cada área de estudo são apresentados no Quadro 1.

Quadro 1. Fonte dos dados para cada uma das áreas de estudo.
Área de estudo Dado Fonte Ano Resolução
Base cartográfica vetorial contínua
Rolante Curvas de nível do Rio Grande do Sul – Esc. 2010 10 m
1:50.000 (Hasenack e Weber, 2010)
Campos do Jordão MDT CPRM 2015 5m
Nuvem de pontos
Santos Prefeitura Municipal de Santos 2013 2m
LiDAR

As curvas de nível e a nuvem de pontos LiDAR que representam o Modelo Digital de Terreno (MDT)
foram transformadas em formato raster, respectivamente, nas resoluções de 10 e 2 m (Quadro 1).
O método proposto foi desenvolvido usando o software Orange e a linguagem Python para a análise da
importância dos fatores condicionantes, o modelo de predição Random Forest e a obtenção das métricas de
validação. O ambiente de Sistema de Informação Geográfica (SIG) usando o ArcGIS Pro foi usado para a
geração dos MDT e dos mapas que representam cada uma dos fatores condicionantes.

3.1 Preparação dos Dados

O mapeamento de suscetibilidade a deslizamento é considerado uma classificação binária cujo resultado


é dividido em duas classes, deslizamento e não deslizamento. Os dados de deslizamento são obtidos a partir
de inventários de cicatrizes preexistentes ou coletadas a partir de imagens de alta resolução (Quadro 2).

Quadro 2. Dados de cicatrizes de deslizamento para cada uma das áreas de estudo.
Amostras de Amostras de não
Área de estudo Fonte Quantidade de cicatrizes
deslizamento deslizamento
Vetorização a partir de
Rolante 306 polígonos 3060 3060
imagens Planet
Campos do Mendes et al. (2018) e 4 polígonos (Cemaden)
100 100
Jordão Instituto Geológico (IG) e 1 polígono (IG)
Santos Cemaden 84 pontos* 587 587
*Para cada ponto foi gerado um buffer de raio igual a 3 m, onde as amostras de deslizamento e não
deslizamento foram obtidas de forma aleatória.

110
A partir dos inventários, um conjunto de amostras aleatórias de deslizamento e não deslizamento na
proporção 70:30 para treino e teste, respectivamente, foi gerado e usado no modelo de predição, onde pixels
de deslizamento receberam o valor “1” e pixels de não deslizamento receberam o valor “0”.
Para cada uma das áreas de estudo foram selecionados 11 fatores condicionantes (Quadro 3) a serem
usados no modelo de predição, representando variáveis topográficas e hidrológicas. Os fatores condicionantes
foram selecionados considerando a sua importância para a predisposição a eventos de deslizamento e com base
nos estudos que aplicam aprendizado de máquina para o mapeamento de suscetibilidade a deslizamento (Catani
et al., 2013; Tien Bui et al., 2016; Park e Kim, 2019; Dang et al., 2020; Zhou et al., 2021).

Quadro 3. Dados de cicatrizes de deslizamento para cada uma das áreas de estudo.
Fatores condicionantes Significado
Orientação da célula da grade que representa a superfície
Aspecto topográfica. Cada célula possui influência na quantidade e
intensidade de radiação solar.
Expressa uma abordagem tridimensional dos sistemas de encosta
Curvatura combinada para subsidiar a interpretação das relações entre a evolução
pedogenética do relevo
Reflete a taxa de mudança na inclinação máxima ao longo de uma
Curvatura em perfil linha de fluxo, sendo utilizada para caracterizar o grau de
aceleração ou desaceleração descendente na paisagem.
É a superfície perpendicular à direção máxima do declive, que
Curvatura em planta caracteriza o grau de convergência ou divergência do fluxo na
paisagem.
Representa a distribuição cumulativa de elevações em uma
Hipsometria
determinada área.
Gradiente de inclinação (0 a 90°) para cada célula da grade de um
Declividade MDE que influencia o fluxo terrestre e subterrâneo, a velocidade e
a taxa de escoamento superficial.
Índice de potência de fluxo (Stream Descreve a capacidade de transferir sedimentos em córregos e
Power Index - SPI) canais e estimar os riscos de inundação (Abdou et al., 2017).
É caracterizado pelo processo de erosão e deposição de sedimento
Índice de transporte de sedimentos
que reflete os efeitos topográficos de perda de solo (Burrough e
(Sediment Transport Index - STI)
MCDonnell, 1998).
Índice de posição topográfica Permite comparar a elevação de cada célula em um MDE com a
(Topographic Position Index - TPI) elevação média de uma vizinhança específica da célula.
Índice de rugosidade do terreno Desenvolvido por Riley et al. (1999), representa a variabilidade na
(Terrain Ruggedness Index – TRI) elevação dentro de uma unidade espacial de terreno amostrada.
Desenvolvido por Beven e Kirkby (1979), quantifica a variação
Índice topográfico de umidade
espacial da umidade do solo, descrevendo a tendência de
(Topographic Wetness Index - TWI)
saturação de um local devido às suas características topográficas.

Após a definição dos fatores condicionantes a serem utilizados foi necessário quantificar a razão de
frequência para cada classe do fator condicionante a partir de sua relação com os eventos de deslizamento
(Pradhan, 2010). Em seguida, a razão de frequência foi normalizada e reescalonada de 0 a 100.

3.2 Análise da Importância dos Fatores Condicionantes

A análise de importância dos fatores condicionantes foi realizada usando o método Ganho de
Informação(Quinlan, 1993), o qual determina o peso dos fatores que influenciam o modelo de predição e
identifica efetivamente a importância dos fatores para a ocorrência de deslizamentos (Wang et al., 2020).

3.3 Mapeamento da Sucetibilidade a Deslizamento usando o Random Forest

O método de aprendizagem de máquina Random Forest, desenvolvido por Breiman (2001), gera
milhares de árvores binárias aleatórias para formar uma floresta e cada uma dessas é cultivada com uma
amostra de bootstrap, formando um conjunto de árvores de classificação e regressão (Park e Kim, 2019). Uma

111
seleção aleatória de variáveis preditoras é usada para dividir cada nó das árvores (Catani et al., 2013). As
árvores geradas são combinadas em uma floresta aleatória, a qual é usada para classificar novos dados e os
resultados dessa classificação são determinados pela maioria dos votos entre as árvores (Zhou et al., 2021).
O modelo necessita da definição dos parâmetros: número de árvores (ntree), o número de variáveis ou
fatores condicionantes testados em cada nó da árvore (mtry) e número de nós que controla a estrutura em cada
árvore (nodesize) para minimizar o erro e obter bom desempenho do modelo (Park e Kim, 2019, Taalab et al.,
2018). Um valor grande para ntree pode fazer com que o tempo de modelagem aumente, enquanto um pequeno
valor poderá levar a erros (Chen et al., 2020).
Para a etapa de treinamento, o método de validação cruzada k-fold foi utilizado, considerando 10
subconjuntos de dados e repetições. Para a construção do modelo de Random Forest, um teste heurístico para
encontrar o melhor valor para o parâmetro ntree foi realizado com os valores de ntree iguais a 50, 100, 250 e
500. A suscetibilidade resultante é expressa quanto ao índice de deslizamento em termos de probabilidade de
ocorrência e varia entre 0 e 1 (0–100%) (Tien Bui et al., 2016).

3.4 Análise do Desempenho do Modelo de Predição

Os modelos de predição de deslizamento gerados foram analisados segundo diferentes métricas de


validação a partir da matriz de confusão. Desta forma, a área sob a curva ROC (AUC) e as métricas Recall,
Precisão e F1-Score para os dados de treino e validação foram geradas e comparadas.
A curva ROC tem sido amplamente utilizada para validar o desempenho dos métodos de suscetibilidade
a deslizamentos (Dou et al., 2020; Sahin et al., 2020), uma vez que a AUC representa o resumo estatístico da
qualidade geral dos desempenhos do método. Os valores de AUC normalmente variam de 0,5 a 1, sendo que
quanto mais próximos de 1, melhor é o desempenho do modelo de predição (Dou et al., 2020).
A curva ROC representa a sensibilidade, também chamada de Recall (porcentagem de pixels de
deslizamento corretamente previstos pelo modelo), contra 1-especificidade (a porcentagem de pixels de
deslizamento previstos sobre a área total de estudo) (Youssef et al., 2016; Dou et al., 2020). A Precisão mede
a proporção de número de pixels que são corretamente classificados como deslizamento (Tien Bui et al., 2012)
e o F1-Score representa a média harmônica da Precisão (Prado et al., 2020).

4 Resultados e Discussões

A partir da análise de importância dos fatores condicionantes pelo método de Ganho de Informação
(Figura 3), verificou-se que o TRI foi o que obteve maior importância nos modelos de predição nas areas de
Rolante e Campos de Jordão. É importante destacar a alta taxa de Ganho de Informação para o fator declividade
para as áreas dos três municípios, evidenciando a importância dessa variável nos modelos de predição. Outro
fator condicionante importante para a áreas de Campos do Jordão e Santos é o aspecto, relacionado à exposição
solar e à presença de ventos que controlam a umidade do solo e parecem menos favoráveis ao deslizamento
(Magliulo et al., 2008). O STI também possui importância significativa nas área dos municípios de Rolante e
Campos do Jordão, por se tratar de áreas que compreendem bacias hidrográficas.

Figura 3. Gráficos com a importância dos fatores condicionantes para cada área de estudo segundo a taxa de
Ganho da Informação.

Conforme os resultados apresentados na Tabela 1, as métricas de validação obtidas para cada modelo
de predição, considerando o números de árvore testadas, não apresentaram diferença estatítica significativa a
um nível de significância de 0,05. Logo, os modelos foram escolhidos a partir dos valores mais alto da AUC,

112
que corresponde o valor ntree igual a 500. Um teste semelhante foi verificado nos estudos de Huang et al.
(2021) e Tien Bui et al. (2020), variando o parâmetro ntree e resultando em valores de acurácia que não
possuem diferença estatística significativa.
Na Tabela 1, observa-se que a AUC dos modelos de predição atingiram valores superiores a 70%
indicando uma boa capacidade de discriminação, em comparação com outros estudos que usam métodos de
aprendizado de máquina para o mapeamento de suscetibilidade e que apresentam valores de AUC,
normalmente, entre 0,7 e 0,9 (Kavzoglu et al., 2014).

Tabela 1. Parâmetro ntree do Random Forest ajustado e métricas de validação para cada áreas de estudo.
Área de N. de árvores
AUC F1-Score Precisão Recall 1-especificidade
estudo (ntree)
50 0,866 0,782 0,784 0,782 0,782
Rolante 100 0,863 0,780 0,781 0,780 0,780
250 0,865 0,780 0,782 0,781 0,781
500 0,867 0,783 0,785 0,783 0,783
50 0,960 0,893 0,893 0,893 0,893
Campos 100 0,961 0,900 0,900 0,900 0,900
de Jordão 250 0,962 0,914 0,914 0,914 0,914
500 0,964 0,929 0,929 0,929 0,929
50 0,745 0,673 0,673 0,673 0,673
Santos 100 0,733 0,670 0,670 0,670 0,670
250 0,747 0,686 0,686 0,687 0,686
500 0,747 0,670 0,670 0,670 0,670

Quando se comparada às diferentes áreas de estudo, a resolução dos dados de entrada não são
diretamente proporcionais às métricas de validação obtidas nos modelos de predição. A área no município de
Campos do jordão foi a que aparesentou melhor acurácia, com valores de AUC e das metricas de validação
acima de 0,9, indicando um modelo de predição altamente acurado. Catani et al. (2013), ao analisar o impacto
de diferentes resoluções espaciais dos dados de entrada no método Random Forest, identificou que as
resoluções intermediárias apresentam os melhores resultados. Tal fato pode ser observado nos resultados, com
o caso da área de Campos do Jordão, cujos MDT possui resolução de 5 metros.
O modelo que apresentou melhor desempenho, com base na AUC (Tabela 1) foi, então, usado para gerar
o mapa de suscetibilidade de deslizamento para cada área de estudo, conforme a Figura 4. O mapa representa
a suscetibilidade em cinco classes (baixa, muito baixa, moderada, alta e muito alta), obtidas usando o método
de quebras naturais.

(a) (b) (c)


Figura 4. Mapas de suscetibilidade de deslizamento para cada uma das áreas de estudo. (a) Rolante-RS; (b)
Campos do Jordão-SP; e (c) Santos-SP.

5 Conclusões

No presente trabalho, mapas de suscetibilidade a deslizamento usando o método Random Forest foram
gerados para três áreas de estudo a partir de dados que representam a superfície topográfica obtidos de

113
diferentes fontes e resolução espacial. Os experimentos mostraram que o método Random Forest é util para
produzir mapas de suscetibilidade acurados para regiões inseridas em contextos geológicos e geormorfológicos
distintos. Os modelos de predição alcançaram valores para a AUC iguais a 0,867, 0,964 e 0,747,
respectivamente, para as áreas de Rolante-RS, Campos do Jordão-SP e Santos-SP.
Para cada uma dessas áreas de estudo, verificou-se a importância dos fatores condicionantes para os
modelos de predição, com valor elevado para a declividade para os três municípios. O TRI também apresentou-
se com importância elevada para Rolante e Campos do Jordão. Da mesma forma ocorreu com o aspecto para
os municípios de Campos do Jordão e Santos. Destaca-se também a importância do STI para os municípios
cujas áreas são tratadas a nível de bacia hidrográfica, Rolante e Campos do Jordão.
Os modelos de predição foram testados com diferentes valores para o parâmetro ntree e a partir das
métricas de validação usando as amostras de teste, observou-se que os resultados não apresentaram diferença
significativa a um nível de significância de 0,05. Dessa forma, para o método Random Forest, o valor do
parâmetro ntree não influenciou os resultados. Os parâmetros nodesize e mtry permaneceram fixos nos
experimentos, entretanto, a verificação do desempenho do método variando esses parâmetros deverá ser
realizada como continuidade do trabalho, de modo a verificar se há um aumento nos valores de acurácia, além
de uma validação em campo dos resultados obtidos.
Ainda como perspectivas futuras, o projeto REMADEN/REDEGEO, desenvolvido pelo Cemaden em
parceria com diferentes instituições, pretende incluir outros fatores condicionantes derivados de dados
geológicos, geotécnicos, de uso e cobertura da terra e dados meteorológicos para gerar diferentes cenários de
suscetibilidade a deslizamento e auxiliar o sistema de alerta e previsão. Outros algoritmos de aprendizado de
máquina também serão testados e comparados quanto a sua acurácia.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradece à FINEP (Projeto REMADEN/REDEGEO - Carta Convite MCTI/FINEP/FNDCT


01/2016) pelo apoio financeiro e à FUNCATE pelo apoio administrativo dos recursos.

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115
Mapeamento de risco aplicado à ferrovia – Estudo de caso
Felipe Gobbi Silveira, D.Sc.
Diretor Técnico, FGS Geotecnia, Porto Alegre, Brasil, felipe@fgs.eng.br

Alvaro Pereira, D.Sc.


Gerente de Engenharia, FGS Geotecnia, Porto Alegre, Brasil, alvaro@fgs.eng.br

Bruno Denardin, M.Sc.


Coordenador de Engenharia, FGS Geotecnia, Porto Alegre, Brasil, bruno@fgs.eng.br

Fabiano Madrid, M.Sc.


Geólogo, FGS Geotecnia, Porto Alegre, Brasil, madrid@fgs.eng.br

Karine Liboreiro, M.Sc.


Engenheira, VALE, Belo Horizonte, Brasil, karine.liboreiro@vale.com

Adoniran Coelho, D.Sc.


Engenheiro, VALE, Belo Horizonte, Brasil, adoniran.coelho@vale.com

RESUMO: O Ramal Trem Turístico, trecho de 17 km entre Ouro Preto e Mariana, é uma linha férrea centenária
que corta uma região extremamente acidentada, onde se observam centenas de taludes. Atualmente utilizada
para trânsito de passageiros, é atração turística do estado de Minas Gerais. Eventualmente instabilidades afetam
estes terraplenos prejudicando o fluxo de trens. Em obras lineares, o gerenciamento de risco geotécnico é uma
ferramenta muito útil para gestão e mitigação do risco. A etapa inicial do gerenciamento de risco é a elaboração
de um mapa de risco da área. No início de 2021 foi realizado o mapeamento de risco desta ferrovia, depois das
instabilidades do período chuvoso do final de 2019. O risco é o produto da probabilidade de ocorrência de um
evento pela consequência gerada por este evento. Determinar quantitativamente a probabilidade de ruptura de
um talude demanda investigações geotécnicas que, para obras lineares, não são justificáveis em uma primeira
fase do estudo. Neste trabalho foi adotada uma metodologia semi-empírica, com base no Rockfall Hazard
Rating System (RHRS), desenvolvida para taludes rochosos, e adaptada para o cadastro de taludes em solo. O
objetivo do método é cadastrar uma série de características do talude a atribuir uma pontuação específica,
enquadrando o talude dentro de classes de risco pré-defindas. Esta metodologia foi aplicada neste trecho
ferroviário, sendo cadastrados e classificados 286 taludes. Em janeiro de 2022, fortes chuvas assolaram a
região, e alguns taludes foram mobilizados. Uma análise crítica demonstrou um resultado satisfatório para a
metodologia empregada. O mapeamento de risco é uma ferramenta eficaz para o gerenciamento do risco e
ordenamento de investimentos em medidas de mitigação.
PALAVRAS-CHAVE: Mapa de Risco, Método semiempírico, RHRS, cadastro geotécnico.

ABSTRACT: The Ramal Trem Turístico, a 17 km long railway between Ouro Preto and Mariana, is a centenary
line, currently in operation as a tourist tour with great historical importance. The railroad was built along an
extremely steep region, with hundreds of slopes. Eventually slope instabilities compromise the train services.
In a linear infrastructure projects like railways, a risk assessment is an important tool for hazard management.
The risk mapping is the first step in this process. After some slope instabilities in 2019, a risk map was elaborated
early 2021 for this railway. Risk is obtained multiplying the probability of certain event to occur by its
consequences. Define it´s value in a quantitative way require detailed geotechnical investigation, for precise
failure probability determination. Regardless of its importance, its determination needs high resources (time and
money), specially for linear infrastructure like a railway in a region with heterogeneous geology and pedology.
In this way, for the risk mapping of the RTT, a semi-empirical methodology was adopted, based on the Rockfall
Hazard Rating System (RHRS), originally developed for rocky slopes, and adapted for the registration of slopes
in soil and in landfill. The objective of the method is to register a series of slope characteristics to be assigned
a specific score, framing the slopes within pre-defined risk classes. This methodology was applied to this 17 km
railway and identified 286 slopes. In January 2022 extreme rainfall triggered slopes instabilities along the
railway. A critical analysis of this event shows a satisfactory result for the applied methodology. Risk mapping
is an important tool for hazard management, helping to priories investments in mitigation measures.
KEYWORDS: Risk Mapping, Semi-empirical method, RHRS, railway hazard.

116
1 Introdução

As cidades de Marina e Ouro Preto, localizadas em Minas Gerais, são interligadas por uma linha
ferroviária centenária, que no passado servia como principal rota comercial e de passageiros entre os dois
municípios. A construção da linha férrea em sua época foi um desafio de engenharia, pois a geomorfologia da
região é extremamente acidentada, passando por diferentes formações geológicas ao longo de seus 17 km de
extensão. Com a evolução do transporte rodoviário, a ferrovia acabou perdendo relevância na região, e após
um significativo período de ostracismo, foi convertida, pela iniciativa privada, em uma atração turística,
promovendo às pessoas um passeio através da história secular destes dois municípios.
Apesar da extensão não significativa, esta obra ferroviária demandou a execução de cortes, aterros e
túneis, a fim de manter as declividades da via restritas principalmente em função das limitações das
locomotivas da época, sendo assim são observados longo do trecho centenas de taludes, constituídos por
diferentes materiais geotécnicos e com diferentes geometrias.
O período chuvoso de 2019/2020 no estado de Minas Gerais foi extremamente intenso, tendo registros
de centenas de milímetros de precipitação em intervalos curtíssimos (horas e dias), representando tempos de
retornos elevados. Estes eventos extremos foram responsáveis por milhares de instabilidades em todo o estado,
inclusive nos taludes que constituem o trecho da antiga ferrovia entre Ouro Preto e Mariana, resultando na
interrupção da circulação da atração turística.
Com a avaliação da magnitude das rupturas, foi verificado que além dos eventos deflagrados, muitos
taludes apresentavam uma condição crítica de estabilidade, de modo que os gestores da operação do trem
turístico optaram pela interdição da atração com o objetivo de garantir a segurança operacional e dos seus
usuários.
Para a retomada das atividades foi definido que a região não deveria estar sujeita a um alto nível de
risco geotécnico, ou seja, deveria realizar-se a mitigação dos riscos aos usuários. Contudo, mesmo em uma
curta extensão, há centenas de taludes que potencialmente podem ser mobilizados no trecho, sendo necessário
direcionar os recursos de forma ordenada para os taludes, seguindo seu grau de criticidade, a fim de permitir
a retomada da operação no menor tempo possível, já com o risco mitigado. Para definir a ordem prioritária de
tratamento no trecho e racionalizar os recursos, optou-se pelo desenvolvimento de um mapa de risco
geotécnico dos taludes presentes em toda a linha férrea do Ramal Trem Turístico, o RTT. O mapa de risco
geotécnico tem como objetivo avaliar, definir e identificar as classes de risco geotécnico de cada um dos
taludes, enquadrando os mesmos como risco muito alto, alto, médio e baixo, possibilitando uma gestão mais
assertiva dos riscos.
O risco geotécnico é definido como o produto entre a probabilidade de ocorrência de determinado
evento pela consequência deste evento, sendo que o produto define um valor numérico para o risco. Calcular
o risco em termos quantitativos demanda um grande volume de recursos e tempo, pois exige investigação
geotécnica detalhada para subsidiar as análises de estabilidade dos taludes. Desta forma, buscou-se uma
abordagem distinta, utilizando uma metodologia semiempírica para a classificação de risco, sendo que uma
das características de maior relevância da metodologia a ser empregada consiste na redução da subjetividade
da avalição, permitindo a produção de resultados consistentes em diferentes cenários.
Neste trabalho o desenvolvimento do mapeamento de risco geotécnico foi baseado principalmente na
metodologia, já consagrada e amplamente difundida, Rockfall Hazard Rating System (RHRS). Este método
foi desenvolvido pela divisão de estradas do estado do Oregon, EUA (Pierson et al, 1990, apud Hoek, 2006),
sendo um sistema de classificação de risco proveniente de instabilidades de maciços rochosos aplicado à
ferrovias. Seus parâmetros básicos foram ajustados para permitir a utilização tanto em taludes de aterro quanto
em taludes de solo (corte e naturais). Este ajuste já foi empregado pelos autores em obras lineares rodoviárias
e a versão apresentada neste trabalho foi adaptada e aplicada a este trecho de ferrovia.
O presente artigo visa apresentação detalhada da região de estudo, as adaptações implementadas na
RHRS e os principais resultados do mapeamento. Em complemento foi desenvolvido um cruzamento entre os
resultados do mapa de risco com diferentes características do terreno (declividade, materiais, orientações),
informações de fontes abertas e gratuitas, a fim de estabelecer uma correlação entre resultados aqui obtidos
pela análise detalhada com estes dados mais abrangentes.

117
2 Localização e caracterização geológica

2.1 Localização

O trecho ferroviário, ao longo de aproximadamente 17 quilômetros, está situado entre os municípios


de Ouro Preto e Mariana, no estado de Minas Gerais. Conhecido como Trem Turístico, esse trecho pode ser
caracterizado como uma importante rota turística, principalmente pelo seu valor histórico para o estado de
Minas Gerais e do país, o passeio proporciona um rico conhecimento histórico e cultural, além de belas
paisagens, da antiga rota do ouro. A Figura 1 apresenta uma imagem de satélite com a posição aproximada do
trecho ferroviário.

Figura 1. Eixo da Ferrovia do trem turístico entre Ouro Preto e Mariana (Imagem Google Earth).

2.2 Caracterização geológica

A ferrovia Ouro Preto – Mariana se localiza no contexto do Quadrilátero Ferrífero, que é constituído
por um embasamento arqueano e unidades metassedimentares arqueanas e paleoproterozoicas, com alguma
contribuição vulcânica. A Figura 2 apresenta um recorte do mapeamento geológico mais recente do
Quadrilátero Ferrífero, onde de acordo com Endo et al. 2019, em que nos grupos e formações apresentados,
são esperadas intercalações de rochas metassedimentares, sendo quartzitos, xistos, itabiritos e filitos
comumente descritos ao longo deste trecho ferroviário.

Figura 2. Mapa geológico local (Modificado de Endo et al. 2019)

Quanto à pedologia, de acordo com Embrapa (2004), toda a região de estudo se localiza em áreas de
cambissolo háplico – solo caracterizado pela presença de um horizonte B incipiente (portanto o solo como um
todo não costuma ser muito profundo) – e, por ser um solo pouco desenvolvido, suas características variam de
acordo com o material de origem.
Em posse da caracterização geológica e pedológica básica foi possível prever quais materiais estão

118
presentes no trecho, sendo assim, construídos modelos geotécnicos básicos dos taludes da ferrovia, para
posterior refino com as informações do levantamento de campo a ser realizado.
Ao longo deste trecho foi possível avaliar a presença de taludes de corte, aterro e mistos, executados
conforme a variação topográfica e geométrica da ferrovia, os quais foram classificados de acordo com o
material principal como: taludes de aterro, cortes em maciços rochosos e cortes em maciços de solos e encostas
naturais. Classificação fundamental para a aplicação da metodologia de classificação de risco definida no
projeto.
Inicialmente foi realizada uma visita à região, com o objetivo de reconhecimento geral da área bem
como delinear as características gerais dos materiais, a fim de subsidiar as fases seguintes do estudo.
Não haviam informações disponíveis, tais como sondagens ou mapas de classificação dos materiais,
sendo que para o desenvolvimento foi necessário considerar que todos os materiais dentro do mesmo grupo
são semelhantes, atribuindo uma classificação específica conforme as observações de campo. Além do tipo de
material, esta inspeção prévia teve como objetivo avaliar preliminarmente os possíveis mecanismos de
instabilidade que podem acometer os taludes locais.

3 Metodologia de classificação de risco

O risco geotécnico é função do produto entre a probabilidade de um evento de instabilidade e a


consequência deste evento, R= H x C, sendo que determinar estas parcelas demanda definir as propriedades e
características de cada talude avaliado, um nível de detalhamento que inviabiliza (principalmente em termos
de prazos e custos) a aplicação em trechos lineares. Para contornar esta situação foi necessário adotar uma
metodologia de classificação semiempírica, utilizando uma abordagem para quantificar o risco em cada talude
mapeado.
Foi definido que risco numérico é obtido pela soma de pontuações individuais para uma série de
critérios pré-estabelecidos, procedimento estabelecido pelo método Rockfall Hazard Rating System (RHRS),
por conta do amplo número de casos históricos de aplicação bem sucedidas. Como o próprio nome já diz, o
RHRS foi desenvolvido para avaliar o risco frente a queda de blocos de rocha, logo foi necessário adaptar a
metodologia para o cenário onde diferentes materiais e mecanismos de ruptura estão presentes, bem como as
especificidades da ferrovia. Note que nesta metodologia, tanto a parcela de probabilidade de ocorrência de
determinado evento, como a consequência gerada pelo mesmo, é avaliada em termos de parâmetros específicos
e pontuações atribuídas às condições locais, como será apresentado a seguir, ou seja, a pontuação final já
considera o produto HxC apresentado acima.

3.1 Parâmetros de classificação de risco

Da metodologia original foi utilizado o conceito que define que o risco é composto pelo somatório dos
parâmetros de classificação, que representa indiretamente o produto das parcelas de probabilidade de
ocorrência e consequência do evento, ou seja, uma metodologia de classificação semiempírica. Foi
estabelecida uma tabela de classificação para taludes em solo/aterro/rocha, e em cada um foram definidos 11
parâmetros de classificação, com pontuações com crescimento exponenciais de 3, 9, 27 e 81. A pontuação
geral de cada talude é obtida pelo somatório dos parâmetros, soma que varia entre 33 e 891, sendo que o risco
atribuído é função do somatório geral. A Tabela 1 indica os principais conceitos adotados para a definição dos
parâmetros de classificação.

Tabela 1. Parâmetros a serem cadastrados pela metodologia.


Consequência Definição Probabilidade Definição
Define os mecanismos, energia do
Elemento e número de Edificações, estações, drenagem, trem, Tipo de material e
evento e altura, inclinação do
pessoas expostas pessoas geometria do talude
talude
Definida em função da dimensão do
Avalia recuo, curvas, tempo de
Vulnerabilidade evento e energia esperada, potencial de Geometria da ferrovia
resposta do maquinista
danos
Probabilidade temporal de que o Estrutura do maciço Avalia características estruturais
Tempo de exposição elemento esteja no local no momento da Indícios de da rocha, sinais de erosão, trincas,
ruptura instabilidade etc..
Verifica condição da drenagem e
Drenagem
influência na estabilidade
Define recorrência de
Histórico de eventos
instabilidades e cicatrizes antigas

119
3.2 Tabelas e classificação de risco

Acima foram apresentadas e definidas todas as informações que constituem os critérios de parâmetros
cadastrais em campo. Com base nos critérios supracitados foi desenvolvida uma tabela para cada um dos
materiais geotécnicos, que determinam as nomenclaturas dos parâmetros, descrição em campo, bem como a
pontuação atribuída a cada item, sendo abaixo reproduzidas as tabelas na Figura 3 e Figura 4. Com base nestas
tabelas foi realizado o mapeamento de campo o qual consistiu de uma inspeção a pé ao longo de toda a extensão
da ferrovia, com uma equipe formada por um geólogo e um engenheiro geotécnico, onde além das informações
indicadas nas tabelas foram realizados registros complementares, principalmente relacionados ao sistema de
drenagem e estruturas de contenção existente. As inspeções de campo foram restringidas a faixa de domínio
da ferrovia.

Figura 3. Tabelas de classificação de risco para taludes rochosos (esq.) e aterros (dir.).

Figura 4. Tabelas de classificação de risco para taludes em solos.

Para facilitar as atividades de campo estas tabelas foram carregadas em um ambiente SIG, permitindo
que durante a inspeção de campo fossem registradas todas as informações e definido o polígono de abrangência
do talude, gerando uma tabela eletrônica de classificação. Os dados de campo são exportados automaticamente,
simplificando e auxiliando o tratamento dos dados. A Figura 5 apresenta a sequência de coleta de informações
adotada em campo, desde o tipo de talude a ser cadastrado, o registro da localização geográfica, e a definição
dos parâmetros de risco.

120
Figura 5. Metodologia cadastro em campo dos critérios de risco adotada em campo

3.3 Abordagem SIG

Em complemento a análise de risco de cada ponto, os polígonos cadastrados no mapeamento ao longo


da ferrovia, foram analisadas em ambiente SIG, a fim de determinar uma possível relação entre a classe do
risco definida e: (i) a litologia local; (ii) declividade do terreno. Esta análise permitiria a avaliação prévia e
direcionamento de mapeamento através do geoprocessamento para novas áreas. Para a abordagem dos dados
ao longo do eixo da ferrovia, foi considerada a classificação de risco e o limite dos polígonos de influência de
cada ponto de acordo com o cadastro de campo e análise do mapa de risco, o mapa geológico regional e o
modelo digital de elevações (MDE) a partir dos dados do satélite ALOS PALSAR, informação que apresenta
uma resolução espacial de 12,5m.

4 Resultados obtidos

Com base na metodologia empregada e os resultados obtidos através do cadastro de campo foi possível
então determinar as classes de risco, consideradas conforme as recomendações indicadas no manual da AGS
2007 e no manual do Ministério das Cidades IPT (2007), definindo 4 classes de risco, R1-R4, conforme a
pontuação apresentada na Tabela 2.

Tabela 2. Classes de risco apresentadas pelo A.G.S (2007) e IPT (2007).

Risco Risco Pontuação


Baixo R1 0-300
Médio R2 300 - 500
Alto R3 500-700
Muito Alto R4 >700

O mapeamento ao longo da extensão da ferrovia resultou no cadastramento de 286 taludes (polígonos


da Figura 6), os quais foram agrupados de acordo com as classes de risco. A distribuição dos níveis de risco
(Tabela 2) de todos os elementos cadastrados está, sucintamente, apresentado na Figura 6, de forma gráfica,
pela distribuição dos taludes em função da classe de risco atribuída a cada um deles e um mapa.

121
Figura 6. Classificação de risco dos taludes cadastrados (números e porcentagem) e mapa de risco com a
localização dos polígonos ao longo da extensão da ferrovia.

4.1 Resultados Abordagem SIG

De acordo com a posição dos pontos e o mapa geológico regional, os pontos dentro de cada classe de
risco foram agrupados em função das ocorrências litológicas, indicando a porcentagem (%) de pontos
cadastrados em cada unidade, sendo estes apresentados na Tabela 3.

Tabela 3. Ponderação da ocorrência de classes de risco por litologia.

Nome/Risco Muito Alto Alto Médio Baixo


Grupo Nova Lima 3,2% 16,0% 53,6% 27,2%
Grupo Caraça (Fm. Moeda
5,3% 21,1% 52,6% 21,1%
e Batatal)
Fm. Cauê 2,8% 5,6% 33,3% 58,3%
Fm. Gandarela 0,0% 11,1% 29,6% 59,3%
Fm. Barreiro 22,2% 11,1% 33,3% 33,3%
Fm. Cercadinho 0,0% 5,9% 52,9% 41,2%
Fm. Fecho do Funil 11,8% 29,4% 29,4% 29,4%
Grupo Sabará 0,0% 17,1% 65,7% 17,1%

Observando a distribuição porcentual da Tabela 3, nota-se que a maior parte dos polígonos de risco
muito alto encontram-se na Formação Barreiro e Fecho do Funil, já as de risco alto encontram-se na Fecho do
Funil e Grupo Caraça. Esta unidades, são caracterizadas pela ocorrência rochas metassedimentares como por
exemplo quartzitos, xistos e filitos, sendo as duas últimas litologias, as principais encontradas nos locais de
maior risco.

A partir do MDE de satélite, foi gerado o mapa de declividades em porcentagem com as classificações
seguindo a recomendação da EMBRAPA (1979) e baseado nos valores do geoprocessamento, foram extraídas
as declividades máximas, mínimas, médias e o intervalo para cada uma das classes de risco, sendo o MDE,
com a distribuição das porcentagens por classe de risco apresentado na Figura 7.

122
Figura 7. Mapa de declividades em porcentagem, com posicionamento dos polígonos cadastrados.

Ao observar a o resumo estatístico das médias de declividades, nota-se que os valores máximos
crescem e os mínimos decrescem na medida que o risco diminui, causando um aumento significativo na
amplitude das declividades, ou seja, aumentando a variação de declividades possíveis de acordo com alteração
de risco, esse fator pode estar diretamente relacionado devido a maior ocorrência das classes de menor risco.
A média das declividades se mostra relativamente constante, em torno de 37%. Essas estimativas não
apresentaram um resultado assertivo, muito possivelmente devido ao caráter local das áreas e a resolução do
dado disponível não ter o detalhamento suficiente para o nível de detalhe do estudo.

4.2 Avaliação do mapeamento de risco em decorrência de novas movimentações.

Durante o período chuvoso de 2021/2022, mais precisamente no período de 7 a 10 de janeiro de 2022,


ocorreu um período de precipitação eleva (TR~50/100 anos), resultando em algumas rupturas ao longo da
extensão da ferrovia.
Para avaliação da assertividades do mapeamento de risco uma das primeiras ações foi a avaliação das
precipitações ocorridas. Os dados observacionais mostram que no período de apenas a primeira quinzena do
mês de janeiro, as 3 estações registraram precipitações acumuladas que superam a média mensal histórica
para o mês, que fica na faixa de 300-350mm. Os dados consultados foram das estações denominadas pelo
CEMADEN como i) Santo Antônio iacm=445 mm; ii) Subdistrito de Soares iacm=469 mm; iii) Bauxita iacm=446
mm e iv) Rodovia Melo Frando iacm=469,31 mm. Os dados de chuva mostram uma consistência na
distribuição espacial da chuva local, condição que permite extrapolar esta chuva para a região da ferrovia.
Como pode ser observado entre os dias 07-10, período quando foram deflagradas as rupturas no local, ocorreu
um forte acúmulo de precipitação, com precipitações diárias da ordem de 180 mm em 24 horas
Uma nova inspeção ao longo de todo o trecho da ferrovia foi realizada, por dois engenheiros
geotécnicos, para identificação e localização de pontos de instabilidade. Depois de mapeados os pontos, estes
foram verificados junto ao mapeamento de risco realizado, e reclassificados. Para todos os pontos foram
realizados registros fotográficos, os quais foram comparados com os registros anteriores, sendo resgatada a
descrição do ponto no mapeamento de risco e a descrição atual da instabilidade, para estes ainda foram
indicadas ações que poderiam ser implementadas. A Tabela 4 apresenta o resultado da inspeção realizada
após o período chuvoso de 2021/2022 com a classificação inicial dos polígonos, a reclassificação de cada
ponto de instabilidade realizada e a justificativa para alteração de cada um dos pontos.

Tabela 4. Ponderação da ocorrência de classes de risco por litologia.

Ponto Classificação Classificação Justificativa para alteração do risco


Inicial Pós Evento
04 Baixo Médio Sem indícios de campo para evento desta magnitude, possivelmente
causada por extravasamento de sistema de drenagem da rua de
montante.
06 Médio Alto Mobilização de evento já ocorrido, com contribuição da falha de
drenagem a montante.
09 Alto Alto Sem alteração

123
10 Médio Médio Sem alteração
11 Médio Médio Sem alteração
12 Médio Médio Sem alteração
33 Médio Alto Mudança das condicionantes locais, após as chuvas e ocorrência da
ruptura (que não atingiu a linha) uma trinca foi deflagrada e um
segundo evento agora pode atingir a linha, alterando assim o risco
do local.
40 Baixo Baixo Sem alteração
- Não Alto Sem classificação de risco prévia, pois já havia estrutura de
Classificado contenção.
42 Alto Muito Alto Foi previsto um evento crítico, contudo a magnitude do evento
registrado é maior do que a prevista incialmente.
45 Alto Alto Sem alteração
46 Alto Alto Sem alteração
150 Médio Médio Sem alteração
151 Médio Alto Obstrução do sistema de drenagem da crista do talude
160 Médio Alto Em decorrência da identificação de uma trinca
183 Alto Alto Sem alteração
192 Médio Médio Sem alteração
193 Baixo Baixo Sem alteração
198 Alto Alto Sem alteração
213 Médio Médio Sem alteração
214 Médio Médio Sem alteração
215 Médio Médio Sem alteração
218/219 Alto Alto Sem alteração
220 Médio Médio Sem alteração
221 Médio Médio Sem alteração
226 Alto Alto Sem alteração
227 Médio Médio Sem alteração
236 Baixo Baixo Sem alteração
239 Médio Médio Sem alteração
248 Alto Alto Sem alteração
250 Médio Médio Sem alteração
256 Médio Médio Sem alteração
- Não Alto O ponto não havia sido classificado pois já havia estrutura de
Classificado contenção.

Com base na avaliação dos pontos registrados a apresentados na Tabela 4, foram registrados 32 pontos
de instabilidade, sendo possível notar que existe uma convergência entre a classificação atribuída aos pontos
de instabilidade e as características dos eventos registrados de fato no local. De maneira geral a grande
alteração foi devida ao agravamento dos pontos de risco médio, que passaram a ser de risco alto, enquanto
apenas um ponto de risco baixo passa para a classe de risco alto e um ponto de risco alto para muito alto.
Cabe destacar que os 2 pontos referentes a estruturas de contenção não foram classificadas no mapa de risco,
dada a premissa (durante o desenvolvimento do mapeamento de risco) que as contenções executadas foram
projetadas e executadas para suportar os eventos previstos ao longo da vida útil da estrutura.
Cabe ressaltar a diferença conceitual entre risco e suscetibilidade. A suscetibilidade é a probabilidade
de ocorrência de determinado evento (no caso instabilidades) e o risco é o produto desta suscetibilidade pela
consequência gerada (no caso atingimento da ferrovia). Ou seja, pontos com registro de ocorrências, mas que
não atingiram a linha, não denotam pontos de risco alto, mas sim de suscetibilidade alta. Esta diferença é
fundamental ser compreendida para não levar a uma má interpretação da relação dos eventos registrados com
o mapeamento de risco existente. Ou seja, pequenos eventos que não atingiram a linha, não representaram
risco à sua operação.

5 Conclusões

Foi apresentado o mapeamento de risco de um trecho de 17km de ferrovia, entre as cidades de Ouro
Preto e Mariana. Este trabalhou cadastrou 286 áreas de risco, classificadas em baixo, médio, alto e muito alto.
Este mapeamento foi utilizado para a gestão de risco da ferrovia, que inclui a realização e projetos, obras de
estabilização e monitoramento.

124
Menos de um ano após a conclusão do mapeamento, um evento de chuvas intensas assolou o estado
de Minas Gerais e promoveu uma série de instabilidades neste trecho de ferrovia. As instabilidades ocorreram
em áreas de risco alto, médio e baixo: 9 alto 17 médio 3 baixo e 2 não classificados porque os taludes já
possuíam estruturas de contenção. Locais com elevada probabilidade de ocorrência de um evento, mas que
não resultará em consequências significativas resulta em baixo risco. Esta situação foi identificada na maior
parte das instabilidades registradas em áreas de risco médio e baixo.
Além disso, um mapa de risco é uma ferramenta de gestão, utilizada para direcionar recursos e apontar
áreas a serem estudadas em maiores detalhes em etapas subsequentes, e deve ser constantemente atualizado a
medida que novas informações são disponibilizadas.
O trabalho de análise das correlações evidencia que fatores locais específicos de cada talude (e.g como
geometria, materiais, condições de drenagem) e ações antrópicas no terreno por vezes são mascaradas devido
a escala da informação disponível. Quanto maior o detalhe da informação disponibilizada, maior a
assertividade do mapeamento de risco.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à VALE pela condução deste trabalho que resultou nesta publicação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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N°1, 2007.

A.G.S, Landslide risk management concepts and guidelines. Journal and news of the Australian
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PARIZZI, Maria Giovana et al. Processos de movimentos de massa em Belo Horizonte, MG. 2011.

STRECK, E. V.; KAMPF, N.; DALMOLIN, R.S.D.; KLAMT, E.; NASCIMENTO, P. C.; SCHNEIDER, P.;
GIASSON, E.; PINTO, L.F.S. (2008). Solos do Rio Grande do Sul. 2 ed. – Porto Alegre: EMATER/RS-
ASCAR, 2008. 222p.

125
Oficina Educativa sobre Desastres Associados a Deslizamentos
de Terra em Escolas Municipais do Rio de Janeiro
Marcos Barreto de Mendonça
Professor Associado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, mbm@poli.ufrj.br

Maria de Fátima Pereira Abrantes


Doutoranda, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil; Professora, Secretaria
Municipal de Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, Brasil,
professorafatimaabrantes@gmail.com

RESUMO: Considerando-se a gestão de riscos e desastres associados a deslizamentos, destacam-se as


ações que fomentam o engajamento da população nesse sentido. Faz-se necessário, portanto, a criação de
uma cultura de redução de riscos de desastres através de ações educativas específicas. O presente trabalho
visa apresentar e discutir o processo de concepção, construção e realização de oficinas educativas sobre
essa temática em duas escolas municipais do Rio de Janeiro. Este artigo discute os princípios
metodológicos adotados para a realização das oficinas e faz uma avaliação preliminar das mesmas. O
objetivo deste estudo é descritivo, realizado através do método de pesquisa-ação. Como resultado,
observou-se na oficina educativa uma abordagem diversa sobre a temática dos desastres associados a
deslizamentos, atendendo aos preceitos da adoção de atividades práticas e interativas, e ainda, de forma
viável para serem integradas no ensino fundamental. Estas ações fazem parte de um projeto de pesquisa
inserido no Programa “Ciência na Escola” do CNPq.

PALAVRAS-CHAVE: Deslizamentos, Movimentos de Massa, Desastres, Redução de Riscos, Educação,


Escolas.

ABSTRACT: Among specific actions to reduce disasters associated with landslides, those to promote the
engagement of the population in practices that include risk management stand out. Therefore, it is
necessary to create a culture of disaster risk reduction through specific educational actions. The present
work aims to present and discuss the process of designing, building, and carrying out educational
workshops on this theme in two municipal schools in Rio de Janeiro. This paper also examines the
methodological principles selected for the workshops as well as their preliminary evaluation, and it has a
descriptive objective based on the action research methodology. As a result, different aspects of the theme
of disasters associated with landslides were approached in the educational workshop, taking into
consideration the precepts of feasible practical and interactive activities that could be integrated into
elementary education. These actions are part of a research project included in the CNPq's “Science at
School” Program.

KEYWORDS: Landslides, Mass Movements, Disasters, Risk Reduction, Education, Schools.

1 Introdução

No Brasil e no mundo, nas últimas décadas, tem-se observado uma disseminação dos desastres
associados a deslizamentos, constatado pelo aumento de sua quantidade e magnitude e da extensão
territorial afetada pelos mesmos (CEPED/UFSC, 2013; Hernández-Moreno e Alcántara-Ayala, 2017;
CRED-UNISDR, 2019). Segundo o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais (CEPED/UFSC, 2013) foram
registrados oficialmente 699 desastres associados a deslizamentos no país entre 1991 a 2012. Parte desse
aumento se deve a um processo desenfreado de urbanização no mundo, principalmente nos países em
desenvolvimento como o Brasil (Da-Silva-Rosa et al, 2015). Sem um planejamento urbano adequado e
devido à grande desigualdade social existente nestes países, o crescimento dos municípios obriga a
população menos favorecida socioeconomicamente a ocupar áreas menos próprias para habitação,
aumentando as situações de risco de desastres associados a eventos como inundações, deslizamentos,
estiagens, entre outros (Tominaga et al, 2009; Valencio, 2009). Parte desse aumento de desastres
associados a deslizamentos deve-se também a mudanças climáticas, mais especificamente a eventos

126
extremos pluviométricos (IPCC, 2012).
O Marco de Sendai (UNISDR, 2015), principal instrumento internacional norteador das estratégias
de ação de redução de risco de desastres, destaca a necessidade de uma abordagem mais ampla,
intersetorial e interdisciplinar e mais centrada nas pessoas para a redução do risco de desastres (RRD) e a
promoção do engajamento e cooperação de toda a sociedade na implementação de políticas, planos,
normas e ações, incluindo, principalmente, a população mais vulneráveis diante de tais ameaças.
Diante deste quadro, faz-se necessário avançar em ações não estruturais, entre as quais se destacam
aquelas que visam atingir o comportamento individual dos cidadãos, de forma a fazê-lo participar das
ações de RRD. Com essa finalidade, a educação para redução de risco de desastres (ERRD) se coloca com
uma das principais ações de RRD. A promoção do reconhecimento de vulnerabilidades e a
disponibilização de informações sobre as ameaças às quais as populações estão expostas e ações de RRD
são cada vez mais necessárias. Uma comunidade participante dessa troca de saberes tem condições de
contribuir com medidas preventivas ou mitigadoras dos impactos do desastre (Kobiyama et al., 2004).
Entretanto, apesar destas iniciativas serem positivas, observam-se muitas deficiências em ações de
ERRD (Selby e Kagawa, 2012) relacionadas aos métodos adotados. A inexistência de um método
consagrado de ERRD deve-se a fatores como a abordagem de RRD em educação ser relativamente
recente, a necessidade de um enfoque interdisciplinar e intersetorial, a dificuldade de se avaliar as
metodologias adotadas, a necessidade de consideração das especificidades dos aspectos físicos e culturais
locais. Esse quadro, portanto, exige avanços em experiências de ERRD associados a trabalhos de
pesquisas, questionando sobre o método, no qual se inclui o conteúdo e os instrumentos pedagógicos
adotados para atingir os objetivos citados.
Nessa linha, o objetivo do presente trabalho é contribuir com a descrição e análise de uma oficina
educativa sobre a temática de desastres associados a deslizamentos realizada de forma experimental com
alunos do ensino fundamental de duas escolas municipais da Prefeitura do Rio de Janeiro no ano de 2021.
As atividades abordadas no presente trabalho fazem parte do projeto de extensão e pesquisa “Encosta Viva
- Ações socioeducativas para redução de riscos de desastres associados a deslizamentos de terra”, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (Projeto Encosta Viva, 2022), tendo apoio do CNPq através do
Programa “Ciência na Escola”. O projeto “Encosta Viva” envolve diferentes tipos de ações em instituições
de ensino (Mendonça et al, 2016, Mendonça e Valois, 2014 e 2017, Mendonça et al, 2019), museu de
ciências (Motta, 2019) e comunidades (Reginensi et al, 2022).

2 Concepção da oficina educativa

2.1 Histórico

A oficina educativa sobre o tema de desastres associados a deslizamentos de terra começou a ser
concebida no primeiro semestre de 2015, contando com uma maquete voltada para a simulação do fenômeno
de deslizamentos, sendo mediada por um aluno do curso de engenharia civil da UFRJ. A partir do segundo
semestre de 2017 novos instrumentos pedagógicos foram agregados à oficina que passou a contar com, pelos
menos, dois mediadores (alunos dos cursos de engenharia civil e de engenharia ambiental), previamente
capacitados por um professor de Engenharia Geotécnica da UFRJ. Até o ano de 2019, as oficinas foram
realizadas exclusivamente no Espaço Ciência Viva (ECV - Saito e De Bastos, 2018), instituição que tem por
objetivo a divulgação científica, estando localizada no bairro da Tijuca do município do Rio de Janeiro e
aberta ao atendimento escolar (sob demanda) e para o público geral nos Sábado da Ciência (SdC - Paula et
al., 2015). O ECV é administrado por uma comunidade de cientistas, pesquisadores e educadores de
diferentes instituições de ensino superior e mantém um cardápio de oficinas interativas que abordam diversas
áreas das ciências.
Desde seu início, a oficina vem sendo otimizada a partir de saberes adquiridos na área de
divulgação científica proporcionada pelo ambiente do ECV e experiências realizadas dentro da linha de
extensão e pesquisa em ERRD, relacionadas a deslizamentos de t’erra, em espaços de educação formal
(Mendonça et al, 2016; Mendonça e Valois, 2014 e 2017).e não formal (Mendonça e Lucena, 2014; Vale e
Mendonça, 2016).

2.2 Princípios norteadores

Para a construção da oficina, procurou-se definir premissas a partir de alguns estudos encontrados
na literatura, as quais são expostas a seguir. Segundo Shaw et al (2009), a educação para a redução de

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desastres deve ser tratada como um tema transversal e deve ser incorporada em diferentes estruturas
educacionais. Lidstone (1996) afirma que o processo e a abordagem educativa do tema de desastres
precisam ser inovadores, devendo-se basear não só em exposições teóricas, mas também em observações e
experimentos, fazendo uma conexão com a realidade da comunidade local que, no caso presente, é a do
Rio de Janeiro, principalmente, a de suas favelas. As atividades socioeducativas devem, mais do que
transmitir conceitos ou orientações técnicas à população, promover a comunicação entre os diferentes
atores envolvidos, e reduzindo a distância relacional entre os mesmos e, assim, fomentar uma gestão
participativa para a RRD. Faz parte desta estratégia, conforme preconizado por Shaw et al. (2009) e Selby
e Kagawa (2012), conferir à oficina características de interatividade e participação com o público.
Buscou-se abordar o tema dos desastres associados a deslizamentos de forma interdisciplinar ao
considerar a interseção entre as duas grandes áreas do conhecimento envolvida pela temática, as ciências
exatas e da terra que tratam dos processos físicos dos deslizamentos e as ciências sociais e humanas que
tratam do sistema social exposto ao perigo. Malamud e Petley (2009) ressaltam a necessidade dessa
interconexão entre essas duas grandes áreas das ciências na abordagem da temática de riscos de desastres.

2.3 Descrição da oficina

Discorre-se neste item sobre a oficina em sua versão atual, com os conteúdos trabalhados, os
instrumentos pedagógicos, o processo de mediação e a dinâmica utilizada. A oficina foi concebida para um
público-alvo de todas as idades e classes sociais, abordando os seguintes temas; conceitos de deslizamentos e
de desastres; os condicionantes naturais e antropogênicos dos deslizamentos; a construção social dos riscos;
possíveis impactos; formas com que os moradores podem contribuir para a redução dos riscos; e o sistema de
alarme para a evacuação emergencial (Figura 1). O papel principal dos mediadores, além de discorrer sobre o
tema, é estimular o público a discutir e refletir sobre o mesmo e interagir através dos instrumentos
pedagógicos. Essa dinâmica possibilita ainda que ocorra uma troca de experiências entre os participantes
quanto a vivência com tais riscos.

Figura 1 – Visão geral dos recursos pedagógicos (maquetes, posteres, amostras de solo e pluviômetro
artesanal) utilizados durante a oficina na Escola Municipal Reverendo Martin Luther King.

A dinâmica da oficina inicia-se quando os visitantes são questionados sobre o conceito de


deslizamentos, suscitando a discussão sobre sua origem ser natural ou antropogênica. Para complementar,
nesta etapa é utilizado um poster explicativo de apoio que contém diferentes tipos de deslizamentos e
cenários de desastres.
A etapa seguinte, a mais longa, aborda os condicionantes naturais e antropogênicos da estabilidade
das encostas. Inicialmente, os visitantes são apresentados a três diferentes amostras de solo e são convidados
a despejar cada tipo de solo numa bandeja de forma a perceber, na prática, a diferença do ângulo de repouso
de cada um, e indiretamente, de sua resistência ao cisalhamento, visando evidenciar que a estabilidade da
encosta em uma determinada inclinação depende significativamente do tipo de solo do local (Figura 2).
Em seguida, é utilizada uma maquete interativa para abordar os condicionantes naturais e
antropogênicos dos deslizamentos e seus impactos (Figura 3a). A maquete, dentro de uma caixa de vidro,

128
representa uma encosta, composta de uma camada de material granular sobre um material de alta resistência,
representado por placa de isopor, com uma determinada inclinação. O visitante, é convidado a aumentar o
ângulo de inclinação da encosta, através de uma haste que provoca a rotação da caixa, até chegar a situação
em que a encosta desliza (Figura 3b).
Aborda-se, com isso, a influência da declividade da encosta na sua suscetibilidade aos
deslizamentos, fazendo uma ligação com o conceito anterior sobre a resistência do solo. Diante da simulação
do deslizamento, o visitante é questionado sobre as consequências destes eventos ao se observar que prédios
e a infraestrutura urbana representados na maquete são afetados. O visitante também é questionado por que
uma parte da encosta onde estão presentes elementos que simulam a vegetação (material plástico que reforça
o material granular) não sofre deslizamento, visando que seja notada sua influência positiva.

Figura 2 – Alunos da Escola Municipal Thomas Mann experimentando diferentes tipos de solos para
posteriormente avaliarem diferenças na resistência, granulometria e cor dos mesmos.

(a) (b)

Figura 3 – Maquete interativa. (a) Vista frontal; (b) interação de um aluno com a maquete, aumentando o
ângulo de inclinação da encosta.

Em seguida, visa-se que o visitante perceba o efeito do principal agente deflagrador dos
deslizamentos: o aumento da poropressão provocado pela infiltração da água da chuva. Com o uso de um
regador, pede-se ao visitante para verter a água sobre a encosta, o que, depois de um certo tempo de
infiltração de água, ocorre o deslizamento. O visitante é questionado sobre como a água contribui para a
encosta deslizar, esperando que ele perceba que a infiltração intensa provoca a formação de uma lâmina
d’água na camada de solo o que ocasiona a geração de uma pressão de água que faz o solo perder resistência.
Novamente, o visitante é questionado, porque o deslizamento não ocorre na parte da maquete onde se tem o
material que representa a vegetação, visando reforçar a importância de se preservar a vegetação da encosta.
Com o visitante já tendo experienciado duas ações antropogênicas (escavação - efeito do aumento da
inclinação da encosta - e o desmatamento), o mesmo é questionado se existem outras ações do homem que
favoreçam o deslizamento. Essas ações, indicadas na maquete, são: o lançamento de lixo diretamente na
encosta que aumenta o peso sobre a camada de solo e o lançamento de esgoto das casas diretamente no
terreno que aumenta a infiltração de fluidos no solo, tendo, portanto, um papel similar a uma chuva de menor
intensidade, porém contínua, contribuindo para aumentar a pressão nos vazios do solo (Figura 4).

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Figura 4 – Simulação de fortes chuvas potencializando a ocorrência de deslizamentos de terra.

Antes da etapa seguinte, são discutidas, com o público, razões que fazem com que a principal parcela
da sociedade exposta às ameaças dos deslizamentos, que consiste na população socioeconomicamente
vulnerável, ocupe, e de forma tecnicamente inadequada, áreas naturalmente suscetíveis a tais eventos.
Em seguida, questiona-se o público, a partir do que foi visto na maquete, o que poderia ser feito para
conviver com a ameaça dos deslizamentos, caso se morasse numa área de risco e não houvesse tempo para
reduzir a propensão do terreno aos deslizamentos. O intuito é fazer com que se pense na possibilidade de
evacuação emergencial das residências quando estiver chovendo numa intensidade tal que poderia provocar
a ocorrência de deslizamentos. Aborda-se, então, o sistema de alarme antecipado de ocorrência de
deslizamentos existente em diferentes localidades do município, discorrendo sobre limiares pluviométricos a
partir dos quais as pessoas devem sair de suas casas. Nesse momento mostra-se ao visitante como construir
um pluviômetro artesanal simples de garrafa PET reutilizada.

3 A realização da oficina nas escolas

Após a formalização de um acordo entre a Prefeitura do Rio de Janeiro e o Projeto Encosta Viva,
foram programadas realizações da oficina em duas escolas municipais, a Thomas Mann (EMTM), localizada
no bairro do Cachambi, e a Reverendo Martin Luther King (EMRMLK), no bairro do Rio Comprido.
O trabalho foi dividido nas seguintes etapas:
a) Planejamento e programação das atividades educativas junto à direção das escolas;
b) Levantamento da percepção de risco dos alunos das escolas participantes através de questionários;
c) Treinamento dos mediadores das oficinas - alunos extensionistas da UFRJ;
d) Construção dos instrumentos educativos, exclusivos para as escolas;
e) Execução das atividades educativas nas escolas – As atividades foram realizadas em duas semanas
em outubro de 2021, sendo uma semana em cada escola. As turmas que foram contempladas com as oficinas
foram da Educação Infantil ao 9º. ano na EMRMLK, envolvendo 205 alunos, e do 4º ao 9º ano na EMTM,
com 329 alunos. Sete mediadores participaram da realização da oficina, sendo cinco alunos extensionistas da
UFRJ, um professor da área de Geotecnia e uma professora de Geografia, sendo estes dois últimos os autores
deste artigo. Cada oficina contou com, pelo menos, dois mediadores, e teve uma duração de uma hora-aula
(50 min).
f) Avaliação das atividades pela equipe de mediadores, professores das escolas que acompanharam a
oficina e uma representante do ECV, através de questionário, e pelos autores deste trabalho.
g) Doação do conjunto de materiais utilizados nas oficinas para as escolas.

4 Avaliação das oficinas

O momento de organização e planejamento da oficina foi de grande aprendizado para os alunos


extensionistas, uma vez que foi necessário ajustar os conteúdos propostos de forma a serem compreendidos
por alunos de diversas faixas etárias e com capacidades cognitivas diferentes. Investiu-se na proposição de
formas variadas de apresentação do conteúdo, provocando momentos de reflexão sobre os objetivos a serem
alcançados por cada etapa da oficina e sua eficiência na construção do conhecimento. O conteúdo científico
foi apresentado de forma viável para ser assimilado, tornando-o válido e capaz de ser aplicado em situações
futuras da vida de cada um.

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Cada etapa da oficina foi desenvolvida levando em consideração canais processuais diferentes,
estimulando a parte visual (com a apresentação de muitas ilustrações sobre o tema em questão), auditiva (a
partir da execução de jingles, toques de sirenes, sons da dinâmica da apresentação da maquete), e a
cinestésica (estimulada pelo uso de maquete interativa e trabalho sensorial com diferentes tipos de solos)
(Assubel, 1963).
As escolas EMRMLT e EMTM foram escolhidas para a realização das oficinas por atenderem alunos
que são em maioria moradores de favelas localizadas em encostas densamente ocupadas no Rio de Janeiro.
São residentes, respectivamente, do morro de São Carlos, no bairro do Estácio e do morro do Jacarezinho, no
bairro de mesmo nome, que apresentam áreas com elevado risco de deslizamento de terra, e que contam com
aparatos da prefeitura como sirenes para alertas de chuvas fortes.
Admitindo-se que a chuva é o principal fator deflagrador de deslizamentos de terra no Rio de Janeiro,
e entendendo que o risco de desastres é elevado nos lugares próximos às moradias dos alunos, questionários
foram aplicados nas turmas antes da realização das oficinas com o objetivo de verificar a percepção dos
alunos em relação às chuvas.
365 questionários foram respondidos, e neste levantamento constatou-se que a maioria dos alunos
(duzentos e quatro) revelou uma percepção romântica e positiva sobre seus sentimentos em relação à
ocorrência de chuvas. Os 161 restantes manifestaram descontentamento com a ocorrência das mesmas, no
entanto, a maioria, 149, não registrou episódios negativos associados às mesmas, ficando restrito ao registro
de desconforto com as temperaturas mais baixas e outros motivos aleatórios. Apenas 12 questionários
apresentaram registros associados a transtornos causados pela ocorrência de chuvas: nove mencionaram os
alagamentos da cidade, três a destruição de casas e três a ocorrência de deslizamentos de terra. Observou-se,
portanto, que apesar dos deslizamentos serem um problema importante na cidade, principalmente, em áreas
como as que os alunos moram, pouca atenção é dada a eles.
Diante dessa avaliação, buscou-se ativar memórias sobre episódios de transtornos ocorridos no
passado, visando à compreensão de conceitos como: desastres e deslizamentos de terra no início da oficina.
Partindo sempre de um diálogo provocado pelos extensionistas, os alunos foram motivados a participarem
contribuindo com relatos das suas experiências com o meio ambiente e com o lugar onde vivem. Estabelecer
este vínculo entre a realidade dos alunos com a temática abordada foi muito importante para tornar a
aprendizagem significativa (Moreira, 2019).
A diversidade de atividades e a utilização de estímulos diferenciados para aprendizagem, agregou à
oficina condições para a ocorrência de um aprendizado colaborativo, abrindo espaço para intensa
participação dos alunos das escolas como protagonistas da construção dos conhecimentos sobre o tema,
oportunizando que o processo ensino-aprendizagem fosse cumprido.
O material de aprendizagem mostrou-se significativo pois foi capaz de dialogar com as diferentes
realidades dos estudantes, de maneira apropriada e relevante, interligando-se facilmente às colocações feitas
por eles. Além disso, a mediação realizada pelos extensionistas foi fundamental para conduzir a aplicação da
oficina e estimular a participação dos alunos adequando as colocações feitas pelas crianças e adolescentes ao
conteúdo que pretendia-se alcançar.
Sabe-se que a predisposição em aprender está diretamente ligada à significância que o indivíduo
consegue estabelecer entre o conteúdo e a sua experiência de vida atual ou futura (Ausubel, 2003). E,
partindo desta premissa, a oficina desafiou os alunos extensionistas a serem capazes de aproveitar as
colocações iniciais dos escolares, ainda que frágeis e até mesmo um pouco fora de contexto, para que a partir
delas fosse possível estabelecer correlações com a temática promovendo significados aos temas a serem
tratados.
Esta abordagem descrita acima foi um dos tópicos do curso de capacitação sobre o tema
Deslizamentos de Terra realizado com os professores das escolas parceiras. Tanto quanto a abordagem mais
específica de conceitos, o curso ressaltou a importância dos momentos de interação dos alunos com o tema, a
partir dos relatos das suas experiências e conhecimento prévio sobre o assunto.
Cada escola recebeu o material pedagógico das oficinas para que o mesmo seja utilizado pelos seus
professores em anos letivos seguintes. A importância deste legado foi confirmada pela avaliação realizada
por meio de formulário eletrônico, respondido por professores e funcionários das escolas, em que
classificaram como “alto” o grau de relevância da oficina (todos pontuaram com notas superiores a 8 numa
escala de 0 a 10). Este mesmo instrumento avaliativo recolheu a opinião sobre a relevância de cada um dos
temas apresentados pela oficina, tendo sido todos classificados unanimemente como de “alto grau de
relevância”. Quanto ao grau de interação e apreensão dos conteúdos por parte dos alunos as respostas mais
recorrentes avaliaram como médio (dentre as opções: baixo, médio e elevado). Vale ressaltar que, uma vez
que foram realizadas durante o período pandêmico, os alunos ainda se readaptavam à rotina escolar e ao

131
cumprimento dos protocolos de segurança adotados pela escola. Ainda sobre a interatividade da oficina, a
maioria dos professores entrevistados destacou a atividade com a maquete e com os tipos de solo como
sendo as de maior relevância.

5 Considerações finais

O tema acerca dos desastres associados a deslizamentos de terra, embora seja muito discutido em
ambientes acadêmicos, ressoa ainda de forma incipiente na sociedade, principalmente nas áreas em que a
população se encontra em situação de risco, como nas comunidades que ocupam as áreas de encosta da
cidade do Rio de Janeiro. A realização de projetos de extensão aumenta o diálogo entre os espaços
acadêmicos e os de saberes comuns, viabilizando as trocas e informações necessárias para a ampliação do
debate sobre o tema e fomentar a gestão participativa, cuja necessidade é destacada pelo Marco de Sendai.
Embora os alunos das escolas sejam moradores de áreas de risco de deslizamento de terra, esta
preocupação não foi percebida na avaliação dos questionários aplicados antes da realização da oficina.
Acredita-se que a falta de discussão sobre o tema na mídia, na escola e em outros espaços e momentos de
aprendizagem contribuam para que o risco destes eventos seja relativizado frente a outras questões mais
discutidas no dia-a-dia das comunidades da cidade.
A metodologia aplicada, durante as apresentações das oficinas, para a discussão do tema proposto
mostrou-se eficiente sob a avaliação dos que participaram das atividades acompanhando os alunos das
escolas. Tanto os alunos como os professores das duas escolas tiveram a oportunidade de conhecer melhor os
fatores físicos e antropogênicos para ocorrência de deslizamentos de terra, compreendendo também o papel
do indivíduo-cidadão que pode atuar em seus espaços contribuindo para minimizar os impactos de suas
intervenções no ambiente e cobrar das instituições públicas ações de prevenção. Espera-se que a capacitação
dos profissionais da educação, bem como o fomento realizado através da doação dos recursos pedagógicos
(necessários para a realização de experimentos e ensaios sobre o tema) para escolas atendidas, sejam
relevantes para dar continuidade à abordagem do tema nestas comunidades escolares.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)


pelo apoio financeiro ao projeto através do Programa Ciência na Escola (processo: 440971/2019-5) e à
Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro pelo apoio a realização das
atividades em suas escolas.

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133
Simulação Numérica Para Análise de Reativação de Falha
Geológica Associada a Sensibilidade de Pressão de Injeção
Anny Virgínia Souza de Lima
Estudante, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, annyvirginias@gmail.com

Leonardo José do Nascimento Guimarães


Professor, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, leonardo.guimaraes@ufpe.br

Leila Brunet de Sá Beserra


Professora, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, leila.brunet@ufpe.br

Maria Camilla Farias Cabral de Miranda


Estudante, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, camilla.farias7@gmail.com

Oscar Simón Melgar Cisneros


Estudante, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, oscar.melgar@ufpe.br

RESUMO: As falhas geológicas são estruturas comuns em reservatórios de petróleo, podendo atuar como
canais que facilitam o escoamento ou como barreiras (falhas selantes). Durante a explotação de
hidrocarbonetos a pressão no interior do reservatório varia, o que provoca uma resposta mecânica de todo o
meio, caracterizando o fenômeno de reativação de falhas, onde as deformações da rocha induzem a
reabertura da falha, aumentando sua permeabilidade e permitindo o fluxo de fluidos. No presente trabalho,
foi feita a análise da influência de diversos cenários de injeção, através de análise de sensibilidade, de forma
a associar os diversos cenários de injeção às deformações, pressões de líquidos e fluxos de fluidos do meio.
Para tal, foi utilizado o Software CODE_BRIGHT, um simulador baseado no método dos elementos finitos,
onde o acoplamento hidromecânico é feito de maneira implícita e o modelo elastoplástico utilizado para
modelar a falha foi o de Drucker Prager. A partir dos resultados obtidos nas simulações, observa-se que os
incrementos na pressão de injeção são responsáveis pela reativação da falha, associada a deformações
plásticas crescentes, bem como consecutivo surgimento de pressões e fluxos de fluidos na extensão da falha.
Obteve-se um valor limite para essa pressão de injeção, a qual não reativaria a falha. Pressões de injeção
superiores tornou a falha um conduto que poderia levar a perda de fluidos e despressurização do reservatório,
dentre outros prejuízos relacionados com a reativação da falha.

PALAVRAS-CHAVE: Reativação de falha, Pressão de injeção, Análise de sensibilidade, Análise


Geomecânica.

ABSTRACT: Geological faults are common structures in oil reservoirs, which can act as channels that
facilitate the flow or as barriers (sealing faults). During the exploitation of hydrocarbons, the pressure inside
the reservoir varies, which causes a mechanical response of the entire porous medium, characterizing the
phenomenon of fault reactivation, where the rock deformation induces the reopening of the fault, increasing
its permeability and allowing the flow of fluids. In the present work, the influence of different injection
scenarios were analyzed, through sensitivity analysis, in order to associate the different injection scenarios
with deformations, liquid pressures and fluid flows in the medium. For this, the CODE_BRIGHT Software
was used, a simulator based on the finite element method, with implicit hydromechanical coupling. The
elastoplastic model used to model the failure was that of Drucker Prager. From the results obtained in the
simulations, it is was observed that the increments in the injection pressure are responsible for the
reactivation of the fault, associated with increasing plastic deformations, as well as the consecutive fluid
flow through the fault. A threshold value was obtained for this injection pressure, which would not reactivate
the fault. Higher injection pressures made the fault a conduit that could lead to fluid loss and reservoir
depletion, among other damages related to fault reactivation.

KEYWORDS: Fault reactivation, Injection pressure, Sensitivity analysis, Geomechanical analysis.

134
1 Introdução

Pode-se definir um reservatório de petróleo como um meio poroso deformável multifásico, de


maneira que apresenta-se saturado por hidrocarbonetos e água. Conforme estudado por Zoback (2007), esse
meio encontra-se submetido a um determinado estado de tensões iniciais e à medida que esse estado de
tensão é alterado desenvolvem-se deformações, sendo as falhas e fraturas resultados dessas deformações.
As falhas geológicas são estruturas comuns em reservatórios de petróleo, podendo atuar como canais
que facilitam o escoamento ou como barreiras (falhas selantes). Essas estruturas são imprescindíveis para o
correto entendimento do comportamento geomecânico de um reservatório, uma vez que quando ocorre sua
reativação tornam-se caminhos preferencias ao fluxo, alterando a dinâmica da produção e podendo gerar
graves acidentes (WIPRUT & ZOBACK, 2000, 2002).
Deve-se atentar que, durante a explotação de hidrocarbonetos, a pressão no interior do reservatório
varia, caracterizando uma resposta mecânica em todo o meio, seja na própria rocha reservatório, bem como
em suas rochas vizinhas (overburden, siderburden). Como resposta comum da rocha reservatório, durante
o processo de recuperação secundária, tem-se o fenômeno de reativação de falhas selantes, de maneira que
as deformações da rocha induzem a reabertura da falha, associado ao aumento de sua permeabilidade e o
fluxo de fluidos através dela. Essa reativação está associada ao cisalhamento, e a inerente dilatância.
Portando, compreender o problema de reativação de falhas, tornou-se ponto chave para o correto
entendimento da geomecânica de reservatórios, onde diversos autores tentam entender esse processo e
prevê-lo. Como exemplos, podem ser citados: o estudo de quantificação de incertezas dos parâmetros da
reativação analisado por Pereira et al.(2014) e Pereira (2015), análises numéricas sobre a reativação de
falhas considerando sua fragmentação (núcleo e zonas de danos) conforme Gomes et al.(2012), Rodrigues
(2019), análises numéricas considerando a reativação durante a produção conforme De Luca &
Oliveira(2014) e Lesueur ,Poulet e Veveakis (2020), análise de sensibilidade do vazamento de gás através
de uma zona de falha(diferentes parametizações) durante o armazenamento de gás subterrâneo
(GASANZADE; BAUER; PFEIFFER, 2019).
Diante disso, atenta-se a necessidade do entendimento correto sobre o processo de reativação e a
enorme gama de parâmetros envolvidos. Sobretudo, a simulação numérica desses eventos a qual permite a
previsão da resposta do reservatório as condições de operação ao longo do tempo. Isso auxilia na
determinação de parâmetros operacionais como, por exemplo, a pressão de fundo de poço, de modo a
prevenir a reativação indesejável de falhas.
Assim, o presente artigo busca analisar o problema de reativação de falhas através de uma análise
numérica de sensibilidade associada a pressão de injeção de fundo de poço, considerando a análise da
reativação sobre a deformação elastoplástica, pressões e fluxos de fluidos do meio, que permitem quantificar
a influência dos valores de pressurização no processo de reativação.

2 Metodologia

No presente trabalho , foi feita análise de influência de diversos cenários de injeção, através de análise
de sensibilidade. Uma análise de sensibilidade consiste em uma avaliação que objetiva estimar o resultado
gerado por mudanças nos parâmetros, desse modo mede-se o grau de sensibilidade do processo perante uma
alteração. Assim, diversos cenários de injeção foram associados as deformações, pressões e fluxos de fluidos
do meio. Para atingir este objetivo, utilizou-se o software CODE_BRIGHT, que consiste em um simulador
baseado no método dos elementos finitos, com acoplamento feito de maneira implicita e o modelo
constitutivo elastoplástico de Drucker Prager foi utilizado para modelar o comportamento tensão-
deformação dos materiais que compõem a falha.

2.1 Formulação Matemática

O problema mecânico é definido pela equação de equilíbrio (Equação 1):

 σ  b  0 (1)

Onde σ é o tensor de tensões totais e b o vetor de forças de corpo.


Considerando o meio poroso saturado apenas com um único fluido, neste trabalho corresponde ao

135
fluxo monofásico de água, o balanço de massa de líquidos é dado por (Equação 2):

 ( ρl ) .
   ( ρl q l   ρl u)  0 (2)
t

Onde é a porosidade  e ρl é a densidade do líquido. O líquido é considerado compressível e sua densidade


.
depende da pressão do líquido ( Pl ). O fluxo de Darcy é definido por q l e u é a velocidade da fase sólida.
Partindo da conservação de massa de sólidos e aplicando o conceito de derivada material, conforme
Olivella, et al.,(1996), a variação na porosidade é expressa como (Equação 3):

D (1   ) Ds
  (1   )v (3)
Dt s Dt

Onde  s é a densidade da fase sólida, que depende da compressibilidade dos grãos dos sólidos que compõe
a rocha, e  v é a deformação volumétrica total.
O tensor de tensões efetivas ( σ ' ) é responsável pelo comportamento mecânico, determinado pelo
princípio de tensão efetiva de Terzaghi segundo a Equação 4:

σ'  σ   IPl (4)

Onde σ é o do tensor de tensões totais e I o tensor identidade, no qual os componentes normais são 1 e as
componentes de cisalhamento são 0,  a constante de Biot, que leva em conta a compressibilidade da fase
sólida, e Pl corresponde a pressão de fluido.
A relação entre as variações do tensor de tensões efetivas e o tensor de deformações são calculados
conforme a equação 5:

dσ '  Dep dε (5)

Onde d σ ' corresponde ao incremento do tensor de tensões efetivas, Dep ao tensor constitutivo
elastoplástico e dε o incremento do tensor de deformações.
O modelo constitutivo adotado no trabalho é baseado no critério de Drucker-Prager, onde o conjunto
de equações (Equações 6 e 7) para a função de fluência são apresentadas a seguir:

c'
F (, k )  J  (  p ')G ( )  0 (6)
tan  '

sen '
G ( ) 
sen  sen '
cos  
3 (7)

Tem-se que F (, k ) corresponde a função de fluência para o critério de ruptura de Drucker-Prager,
J é a tensão desviadora, p ' a tensão efetiva media, c ' a coesão efetiva,  ' é o ângulo de atrito efetivo e 
é o ângulo de Lode.
Para o problema hidráulico, este trabalho assume que a permeabilidade intrínseca depende da
deformação plástica cisalhante através da lei exponencial como segue (Equação 8):

136
p
ed
p
ed / máx
k  k ie c
(8)
p p
Onde e
d
corresponde a deformação plástica cisalhante, e
d / máx
a deformação plástica cisalhante máxima
(0,00005), k i o tensor de permeabilidade intrínseca inicial. O parâmetro c controla o efeito da deformação
plástica cisalhante sobre a permeabilidade.

2.2 Exemplo Numérico

Para análise da reativação de falha, foi proposto um modelo numérico para simulações computacionais
no software CODE_BRIGHT. O reservatório consiste em uma camada central, a rocha superior ao
reservatório denomina-se overburden e a rocha inferior como underburden. Introduziu-se dois poços ao
sistema, um poço injetor na porção esquerda do reservatório e um poço produtor na direita.O topo da camada
overburden, está a 130 metros de profundidade do nível da água. O bloco possui dimensões de 1560 metros
de largura por 620 metros de altura. A rochas de topo e a base possuem, respectivamente, 270 metros e 300
metros de espessura e o reservatório 50 metros. A falha encontra-se dividida em seus componentes, que
consiste em núcleo com 5 metros de espessura, zona de dano interna com 15 metros de espessura, zona de
dano externa com 25 metros de espessura, que totalizam 85 metros de extensão para seguinte zona de falha
(Figura 1). O modelo geológico, compilado de Pereira et al.(2014), trata-se de dados reais da Bacia de
Campos, Rio de Janeiro, caracterizando o reservatório um arenito consolidado de 50 m de espessura, coberto
por um depósito de argila de 270 m de espessura.

Figura 1. Esquematização da Geometria do Modelo.

Para análise da sensibilidade, uma rotina foi desenvolvida utilizando o software MATLAB para a
alteração do parâmetro de sensibilidade estudado, correspondente a pressão de injeção.Os valores de pressão
de injeção de fundo de poço variam entre 19,0 MPa-22,0 MPa, com incremento de 0,1 MPa atribuído ao
intervalo. Dessa maneira, com o parâmetro, pressão de injeção, associa-se a sensibilidade as alterações dadas
a deformação plástica, assim como a pressão e fluxo de fluidos do meio.
Seguindo a descrição do modelo, a malha feita para análise acoplada hidro-mecânica consiste em 7077
nós e 13992 elementos. Na malha, encontra-se identificado o elemento A, com localização na zona de dano
externa da falha, para análise da deformação plástica, associados ao parâmetro pressão de injeção, conforme
mostrado na Figura 2.

137
Figura 2.Geometria do Modelo e Malha de Elementos Finitos.

Como referência para os valores das propriedades dos materiais (Tabela1), utilizou-se o trabalho de
Pereira et al.(2014). As propriedades utilizadas para cada material são o módulo de elasticidade E, coesão c’
e ângulo de atrito φ' efetivos, permeabilidade k e porosidade Φ . Denomina-se Zona de Dano Externa (ZDE)
e Zona de Dano Interna (ZDI).

Tabela 1. Propriedades Para os Materiais do Modelo


Camada  c’ φ' k Φ
(MPa) (MPa) (°) (m²)
Overburden 42000 1000 35 9,87e-21 0,01
Underburden 26000 1000 35 9,87e-21 0,01
Reservatório 30000 1000 35 4,93e-14 0,20
Falha(Núcleo) 8000 1 27 9,87e-21 0,10
Falha(ZDI) 6000 0,8 27 9,87e-21 0,30
Falha(ZDE) 8000 0,8 27 9,87e-21 0,20

3 Resultados e Discussões

Na figura 3 são apresentados os resultados da evolução da deformação plástica para os diferentes


cenários de pressões de injeção:

Figura 3. Gráfico de evoluação da deformação plástica para os diferentes cenários de pressões de injeção
(Elemento A).

138
Através da figura 3 observa-se um comportamento crescente da deformação quando tem-se um
incremento no valor de pressão de injeção. O indicador do processo de reativação da falha consiste na
deformação plástica de cisalhamento (modelo elastoplástico). Portando, para os cenários correspondentes as
pressões de 19,0 MPa-19,7 MPa, a falha encontra-se selante. Contudo, a partir do valor de 19,8 MPa, ocorre
a reativação da falha. Com isso é possível determinar que a pressão mínima para que haja a reativação da
falha situa-se entre os valores de 19,7 MPa e 19,8 MPa. Além disso, é possível observar uma relação entre o
aumento da pressão de injeção e o aumento da deformação plástica do local (Elemento A) em um mesmo
intervalo de tempo. Com isso é possível concluir que quanto maior a vazão de injeção, mais rápida e mais
severa é a plastificação do local. Por exemplo, com 19,8 MPa são necessários 658 dias para ocorrer a
reativação da falha, enquanto que a 20,4 MPa são necessários apenas 12 dias.

Figura 4. Distribuição das pressões de líquidos para as pressões de injeção de 19,7 MPa, 19,8 MPa, 21,0
MPa e 22,0 MPa no tempo final de simulação.

Figura 5. Distribuição dos vetores de fluxo para as pressões de injeção de 19,7 MPa,19,8 MPa,21,0 MPa e
22,0 MPa no tempo final de simulação.

A pressões e os fluxos de líquidos para o tempo final de simulação, correspondentes as pressões de


injeção de 19,7 MPa, 19,8 MPa, 21,0 MPa e 22, 0 MPa, são apresentadas respectivamente nas Figuras 4 e 5.

139
Para a pressão de injeção de 19,7 MPa, não ocorre plastificação da falha, portando percebe-se a
compartimentalização do reservatório, de forma que os lados não se conectam. A dilatância inerente ao
processo de cisalhamento leva a plastificação da falha e promove aumento da permeabilidade. Esse aumento
de permeabilidade faz com que ocorra o surgimento de um gradiente de pressão e fluxo de fluidos ao longo
da zona de falha.
Assim, partindo da pressão de injeção de 19,8 MPa a falha plastifica, e pressões e fluxos de líquidos
se tornam presentes na região da falha. A medida que o parâmetro, pressão de injeção, tem valores maiores
as pressões e os fluxos de líquidos correspondentes se estendem ao longo do comprimento da zona da falha.
A falha torna-se um elemento cada vez mais pressurizado e vem a funcionar como conduto para o fluxo dos
fluidos (evidente pelos vetores do fluxo). Com a falha pressurizada, o reservatório sofre consequente
despressurização e atenta-se a possibilidade de perda de fluido, dentre outros prejuízos decorrentes da
reativação da falha.
Observa-se que a pressão de injeção de 19,7 MPa corresponde a máxima pressão de injeção para que
não se promova reativação, 19,8 MPa a pressão mínima de reativação. Já as pressões de injeção de 21,0 MPa
e 22,0 MPa representam a progressão da reativação com a variável pressão de injeção, comprovada pelos
resultados mencionados de deformação plástica, pressão de líquidos e fluxo de fluidos. Mostrando assim a
importância da variável pressão de injeção no processo de reativação de falhas geológicas.

4 Conclusões

O parâmetro pressão de injeção corresponde a uma importante variável para o processo de reativação
de falhas geológicas. Para o modelo em questão a pressão de injeção de 19,8 MPa é responsável pela
reativação do elemento geológico, para pressões abaixo desse valor a falha encontra-se selante, já para
pressões acima a falha continua a reativar. A falha é reativada em função da plastificação oriunda do
cisalhamento com dilatância, ao passo que desenvolve-se deformações plásticas e o aumento da
permeabilidade. Ainda assim, quanto maior o valor da variável de sensibilidade (pressão de injeção), um
menor tempo é necessário para ocorrer a plastificação, maiores as deformações e surgimento de pressões e
fluxos de fluidos no comprimento da falha. Com a pressurização da falha o reservatório sofre consequente
despressurização, afetando a produção do petróleo e podendo ocasionar inúmeros prejuízos que necessitam
de controle.

AGRADECIMENTOS

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- CAPES.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Unconsolidated Sandstones Reservoirs. In: SPE Annual Technical Conference and Exhibition,
OnePetro, Amsterdam, Holanda.
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during subsurface gas storage in porous formations. Advances in Geosciences, v.49, p. 155-164.
Gomes,I.F.; Fernandes, J.D.; Teixeira, J.D.; Barbosa, J.A.; Guimarães, L.J.N. (2016) Coupled Hydro-
Mechanical Modeling of Fault Reactivation Problem in Petroleum Reservoir Considering the Fault
Divided into Core and Damage Zones. In: AAPG/SEG International Conference & Exhibition, Cancun,
Mexico.
Lesueur, M.;Poult, T; Veveakis, M. (2020) Fault Reactivation during fluid production, modelled as a multi-
physics multi-scale instability. In: E3S Web of Conferences. v. 205. EDP Sciences.
Olivella, S. ; Carrera, J. ; Gens, A. ;Alonso, E.E. (1996) Numerical formulation for a Simulator
(CODE_BRIGHT) for the coupled analysis of saline media. Engineering Computations, vol. 7, p. 87-
112.
Pereira, L. C.; Guimarães, L.J.; Horowitz, B.; Sánchez, M. (2014) Coupled hydro-mechanical fault
reactivation analysis incorporating evidence theory for uncertainty quantification. Computers and

140
Geotechnics, v. 56, p. 202-215.
Pereira, L. C. (2015) Quantificação de incertezas aplicada à geomecânica de reservatórios. Tese de
doutorado, Programa de Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
Rodrigues, T. (2019) Análise Numérica de reativação de zonas de falhas geológicas devido à produção de
petróleo. Dissertação de Mestrado, Programa de Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco,
Recife.
Wiprut, D; Zoback, M.D. (2000) Fault reactivation and fluid flow along a previously dormant normal fault
in the northern North Sea. Geology, v.28, n.7, p.595-598.
Wiprut, D; Zoback, M.D. (2002) Fault reactivation, leakage potential, and hydrocarbon column heights in
the northern Sea. Norwegian Petroleum Socity Special Publications, Elsevier, v. 11, p.203-219.
Zoback, M.D. (2007) Reservoir Geomechanics. Cambridge University Press, Cambridge, UK.

141
Modelo para predição do modo de falha credível de barragens
de rejeito de mineração
Danielle Aparecida de Menezes
Doutoranda, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, danielle.menezes@aluno.ufop.edu.br

Hugo Assis Brandão


Coordenador do Comitê Técnico e Núcleo de Inovação, Pimenta de Ávila, Belo Horizonte, Brasil
hugo.brandao@aluno.ufop.edu.br

Tatiana Barreto dos Santos


Professora adjunta, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, tatiana.santos@ufop.edu.br

RESUMO: O modo de falha credível para barragens de mineração pode estar relacionado às suas
características típicas, que podem influenciar na estabilidade da estrutura. Com base nesse conceito, os
stakeholders conseguem estabelecer os controles críticos para garantir a segurança da barragem, além de
direcionar os esforços e recursos para reduzir a probabilidade de falha e evitar possíveis consequências. foram
selecionados 66 casos em um banco de dados de barragens que se romperam no mundo entre 1915 e 2020 com
os seguintes parâmetros, considerados relevantes para a análise: o país de localização, a altura da estrutura, o
volume e o tipo de rejeito armazenado, condição operacional, metodologia construtiva e modo de falha. O
banco foi dividido em amostra de treinamento e amostra de teste. O algoritmo k-nearest neighbors foi aplicado
à amostra de treinamento para geração do modelo e a amostra de teste foi utilizada para validação e cálculo da
acurácia do modelo. Ele é um algoritmo de aprendizagem de máquina supervisionada que consiste em um
classificador onde o aprendizado baseia-se na similaridade (distância estatística) entre os elementos amostrais.
Foi obtido um modelo com 57% de acurácia para predição do modo credível de barragens de rejeito,
considerando os dois modos de falha mais prováveis. O modelo preditivo obtido pode ser aplicado para avaliar
o modo de falha credível de uma nova barragem existente, baseado nas similaridades de suas características
com as barragens do banco de dados utilizado para gerar o modelo.

PALAVRAS-CHAVE: Barragem, rejeito de minério, modo de falha, aprendizado de máquina.

ABSTRACT: Credible failure mode for mining dams may be related to their typical characteristics, which
can influence the structure stability. Based on this concept, stakeholders are able to establish the critical
controls to ensure the dam safety and direct efforts and financial resources to reduce the failure probability
and avoid possible consequences in the event of their materialization. For this paper, a dataset was used with
data of dams that have broken in the world between 1961 and 2020 and 66 cases were selected, with complete
and reliable information on the following parameters considered relevant for the analysis: Height of the
structure, stored type and volume of tailings, operation condition, constructive methodology and failure mode
are known. The dataset was divided into training sample and test sample. K-nearest neighbors algorithm was
applied to the training sample to generate the model and the test sample was used to validate and calculate
the model accuracy. It is a supervised machine learning algorithm that consists of a classifier, whose learning
is based on similarity (statistical distance) between sample elements. A model with 57% of accuracy was
obtained to predict the credible mode of tailings dams, considering the two most probable failure modes. The
predictive model obtained can be applied to assess the credible failure mode of a new dam, based on the
similarities of its characteristics with the dams in the dataset used to generate the model.

KEYWORDS: Dam, mining tailings, failure mode, machine learning.

1 Introdução

As barragens de rejeito são estruturas de engenharia construídas para se dispor o rejeito gerado no
beneficiamento de minérios. O risco de ruptura de barragem de mineração é considerado um dos maiores riscos
da indústria da mineração e o mapeamento de suas fragilidades é fundamental para avaliar como a estrutura
pode falhar e os impactos possíveis, de maneira a suportar a definição dos controles críticos e a obtenção do
nível de risco. Os desastres associados à ruptura de barragens são uma preocupação em todo o mundo e essas
preocupações aumentaram desde que incidentes recentes ocorreram (RICO et al., 2008). Algumas das rupturas
de barragens mais recentes que causaram sérias consequências ocorreram em Brumadinho (Brasil)
142
(THOMPSON et al., 2020), Fundão (Brasil) (MARTINHO et al., 2016), Mount Polley (Canadá)
(PETTICREW et al., 2015), Kayakiri (Japan) (ISHIHARA et al., 2015), Itabirito (Brazil) (CETEM 2016),
Ajka (Hungary) (RUYTERS et al., 2011), Karamken tailing plant (Russia) (GLOTOV et al., 2018).
Segundo o International Committee of Large Dams - ICOLD (2014), os principais tipos de ruptura
associados às barragens de rejeito são o galgamento que é compreendido como a extrapolação do rejeito
e/ou água acima do barramento, percolação seguida por piping, instabilidade de taludes, liquefação, falhas na
fundação e falhas estruturais. O modo de falha registrado para os casos históricos das barragens rompidas é
uma informação representativa que pode mostrar um padrão de ruptura por tipo de barragem. Esta análise pode
indicar uma tendência de similaridade, que pode ser identificada por meio de técnicas de aprendizado de
máquina.
Santos & Oliveira (2021) e Paulo et al. (2020) utilizaram técnicas de aprendizado de máquina para
identificar padrões em barragens de rejeito brasileira. Os autores conseguiram estabelecer o padrão das
barragens brasileiras que apresentam nível de emergência II e III, bem como identificar que as duas barragens
que se romperam nos últimos anos no Brasil apresentaram o mesmo padrão no instante da ruptura.
Este artigo apresenta um modelo de predição do modo de falha credível para barragens de rejeito com
uso da técnica dos k vizinhos mais próximos. Para essa proposta, foi utilizado um banco de dados composto
por 66 barragens que se romperam entre os anos de 1915 e 2020.

2 Materiais e métodos

Este trabalho foi desenvolvido em três etapas: levantamento e tratamento do banco de dados; Análise
descritiva das variáveis e aplicação de técnica de aprendizado de máquina; análise dos modelos preditores obtidos
por meio de métricas de validação e seleção do modelo preditor mais adequado.

2.1 Levantamento e tratamento do banco de dados

O banco de dados utilizado para proposição do modelo de predição do modo de falha credível é
proveniente de um banco inicial contendo 351 casos de barragens que se romperam entre os anos de 1915 até
2020 (https://worldminetailingsfailures.org). Deste banco de dados, 66 casos registrados foram selecionados
por apresentarem dados completos e consistentes para aplicação das técnicas propostas para este trabalho. Ele
apresenta os registros históricos compilados de diversas fontes consultadas e referenciadas no documento. Além
disso, apresenta uma interessante análise estatística, onde considera as referências propostas pelo ICOLD (2001)
para realizar a classificação dos acidentes de rupturas das barragens.
Para determinação do modelo preditivo foram filtradas as variáveis mais relevantes e comumente
identificadas nos casos históricos, tais como: o país de localização, a altura da estrutura (m), o volume de rejeito
armazenado (m³), tipo do rejeito armazenado, a metodologia construtiva, além do modo de falha. No caso das
variáveis qualitativas, as mesmas foram codificadas e no caso das variáveis quantitativas, o valor absoluto
atribuído foi utilizado. As cinco primeiras barragens do banco de dados são apresentadas na Tabela 1 e as
variáveis qualitativas foram codificadas conforme apresentado na Tabela 2.
O conhecimento da localização da barragem é importante, uma vez que é um parâmetro que está
correlacionado com a sismicidade de cada país, e aumenta a probabilidade de ocorrência do modo de falha
instabilidade sísmica, ou seja, o potencial de ativação de um processo de liquefação, se o país possui uma
atividade sísmica elevada. Outra questão relevante em relação a localização da estrutura, é a sazonalidade de
períodos chuvosos, característicos de cada região, que influencia no modo de falha galgamento, uma vez que as
condições climáticas, são fundamentais para o dimensionamento e manejo da drenagem e escoamento
superficial da estrutura. As características físicas da barragem, como a altura, o volume e o tipo de rejeito
armazenado, incluindo a metodologia construtiva e a condição operacional ativa ou inativa da barragem, são
fundamentais para estimar a probabilidade de ocorrência do modo de falha instabilidade de talude e ruptura
estática, uma vez que são condicionantes para avaliação da estabilidade da estrutura porque influenciam na
condição de contorno hidráulico e no carregamento da estrutura da estrutura.

Tabela 1. Cinco primeiras barragens do banco de dados.


Altura da Volume de Tipo do rejeito Método Modo de
Barragem País
estrutura (m) rejeito (m3) armazenado construtivo falha
1 0 87 12000000 0 0 0
2 1 45 2000000 1 0 0
3 0 110 56400000 0 0 0
4 2 40 74000000 2 1 0
5 3 22 30000000 1 2 1

143
Tabela 2. Codificação das variáveis do banco de dados.
Código País Código Tipo do rejeito Código Metodologia construtiva
0 Brasil 0 Fe 0 Montante
1 China 1 Al 1 Linha de centro
2 Canadá 2 Au Cu 2 Jusante
3 Hungria 3 Cu 3 Armazenamento de água
4 Chile 4 Au
5 USA 5 Pb Zn
6 Peru 6 Sand Código Modo de falha
7 Romania 7 Ag Pb 0 Instabilidade de Talude - Ruptura Estática
8 Espanha 8 Mo 1 Piping - Erosão Interna
9 Bulgaria 9 Limestone 2 Instabilidade sísmica - Terremoto
10 Tasmania 10 Coal 3 Galgamento
11 África 11 Tin
12 Rússia 12 F
13 Itália 13 P
14 Reino Unido 14 U
15 México 15 Pt
16 Zimbabwe 16 Mica
17 Japão 17 Ag
18 Yugoslavia 18 Cu Pb Zn
19 México 19 Gypsum
20 Ag Au

Certamente, há outras características relevantes que influenciam na verificação dos modos de falha,
como as condições geológico-geotécnicas, geometria do talude, sistema de drenagem interna, critérios
construtivos, operacionais, monitoramento e governança, porém não foram fornecidos dados como estes no
banco de dados analisado, tratando este um trabalho de aplicação e análise de técnicas de machine learning para
criação de modelo de predição de modo de falha credível.

2.2 K nearest neighbors (KNN)

O método dos k vizinhos mais próximos, ou K-Nearest Neighbors em inglês, pode ser definido como
um método de aprendizado supervisionado de classificação, que utiliza a distância estatística entre uma
amostra (classe desconhecida) e os K vizinhos mais próximos (classes conhecidas) para se predizer a sua
classe mais provável (MARIZ, 2017; PHAM et al., 2021). Existem diversas distâncias estatísticas que
podem ser utilizadas, entre elas a euclidiana, cosseno, mandaram, entre outras. As Equações 1 e 2 apresentam
as expressões matemáticas para cálculo destas distâncias.

𝑇
d (x, y)euclidiana = √(𝑋 − 𝑌) (𝑋 − 𝑌) (1)
𝑇 −1
d (x, y)mahalanobis = √(𝑋 − 𝑌) 𝑆 (𝑋 − 𝑌) (2)

Onde d (x,y) é a distância entre os pontos x e y; 𝑋 é o vetor de variáveis para a observação x, 𝑌 é o


vetor de variáveis para a observação y, 𝑆 é a matriz de covariância dos dados.
A Figura 1 ilustra o método KNN considerando duas variáveis independentes (Eixo X e Eixo Y) e a
variável dependente classificatória com duas classes (Classe A e Classe B). Inicialmente é calculada a distância
estatística entre a amostra que não se conhece a classe e as demais amostras de classes conhecidas. A partir
disso, é predefinido pelo usuário o valor de K, que vai determinar o número de vizinhos a serem considerados
para a classificação da nova observação. No exemplo dado, o número de K vizinhos mais próximo escolhido
é igual a três. Portanto, a nova observação tem probabilidade igual 66,67% de pertencer à Classe B e 33,33%
de pertencer à Classe A e, portanto, é classificada em B.

144
Figura 1. Método dos k vizinhos mais próximos.

2.3 Validação de modelos classificatórios

A validação de modelo classificatório foi feita por meio da comparação da classe obtida pelo modelo de
classificação e a classe real, utilizando a matriz de confusão (Tabela 3). A probabilidade global de acerto e a taxa
de erro aparente do modelo de predição do modo de falha das amostras de treino e/ou teste são dadas pelas
Equações 3 e 4.

Tabela 3. Matriz de confusão.


Classe predita pelo modelo

0 1 2 3 Total

0 n11 n12 n13 n14 n1 0: Instabilidade de Talude - Ruptura


Estática
Classe 1: Piping - Erosão Interna
1 n21 n22 n23 n24 n2 2: Instabilidade sísmica - Terremoto
real
3: Galgamento
2 n31 n23 n33 n34 n3

3 n41 n42 n43 n44 n4

𝑃𝐺𝐴 = 1 − 𝑇𝐸𝐴 (3)


𝑛12 +𝑛13 +𝑛14 +𝑛21 +𝑛23 +𝑛24 +𝑛31 +𝑛32 +𝑛34 +𝑛41 +𝑛42 +𝑛43
𝑇𝐸𝐴 = (4)
𝑛1 +𝑛2 +𝑛3 +𝑛4

Em que nij é o número de barragens da amostra de treino ou teste que foram classificadas no modo de falha i,
dado que ela apresenta o modo de falha j.

2.4 Metodologia

Inicialmente, foi realizada análise descritiva dos dados, para compreensão de frequências, médias e
medidas de dispersão de cada variável. Esse conhecimento é importante para definição das limitações do modelo
de predição do modo de falha credível para barragens de rejeito e para avaliação da possibilidade de
generalização do mesmo. Após essa análise, para obtenção do modelo de predição, as variáveis independentes
foram padronizadas e o banco de dados subdividido em amostra de treinamento ou treino (80% das barragens)
e amostra de teste (20% das barragens). A amostra de treinamento foi utilizada para que o modelo fosse criado.
A amostra de teste foi utilizada para validação do modelo, em que as variáveis independentes da amostra foram
colocadas no modelo de predição e as probabilidades dos modos de falha credíveis das barragens foram obtidas.
Elas foram comparadas com os modos de falha reais da amostra de teste por meio de uma matriz de confusão
e, a probabilidade global do modelo, por meio dessa amostra, foi obtida. O fluxograma da Figura 2 apresenta a
metodologia de obtenção do modelo. Para obtenção do modelo, foi utilizada a linguagem Python e suas
bibliotecas gratuitas Pandas, Numpy e Sklearn. 145
Figura 2. Metodologia.

3 Resultados e discussões

3.1 Análise descritiva do banco de dados

A Figura 3 apresenta a análise descritiva das variáveis que compõem o banco de dados. As variáveis
independentes são o do rejeito armazenado, metodologia construtiva, altura da barragem e volume de rejeito
armazenado. As três primeiras são qualitativas e as duas últimas são qualitativas. A variável país é bastante
diversificada e compreende 19 países do mundo. A variável tipo de rejeito armazenado também é bastante
diversificada e compreende 20 conjuntos de tipos de rejeito diferentes. Entre as metodologias construtivas, o
método montante se destaca entre as barragens que se romperam no mundo entre os anos de 1961 e 2020,
segundo pelo método jusante. A variável altura aprenderam grande variabilidade, com média igual a 32,8
metros, desvio padrão igual a 28,39 metros valor máximo igual a 132 metros e valor mínimo igual a 4 metros.
A variável volume de rejeito armazenado também apresenta grande variabilidade, com média igual a 7,66 x
106 metros cúbicos, desvio padrão igual a 28,39 1,65 x 107 metros cúbicos, valor máximo igual 8x 107 metros
cúbicos, e valor mínimo igual a 25000 metros cúbicos.
A variável resposta, também conhecida como dependente ou target, é a variável modo de falha. A
mesma apresenta diversificação, em que o modo de falha que se destaca é a instabilidade do talude (ruptura
estática), seguida pela instabilidade sísmica, galgamento e, por fim, erosão interna. Observa-se que o banco de
dados foi construído com base em uma base de dados diversificada, permitindo a proposição de modelos que
sejam generalizáveis é que possam ser utilizados para novas barragens, de modo a prever o modo de falha
credível para as mesmas, desde que elas apresentem dados dentro das faixas encontradas no banco de dados
utilizado para proposição do modelo.

146
Figura 3. Análise descritiva dos dados.

3.2 Aplicação da técnica dos K vizinhos mais próximos e proposição do modelo de predição do modo
de falha credível de barragens de rejeito

A Figura 4 apresenta o resultado da calibração do modelo KNN de classificação considerando as


distâncias de Mahalanobis e Euclidiana. A calibração foi realizada variando o número de vizinhos entre 1 e
26. O modelo melhor calibrado foi obtido por meio da distância de Mahalanobis com 11 vizinhos, onde foram
obtidos valores de acurácia média iguais a 0.55 e 0.57 para os bancos de treino e teste respectivamente.

Figura 4. Calibração do modelo KNN considerando distância de Mahalanobis e Euclidiana.

Uma vez calibrado, os resultados do modelo de melhor desempenho foram analisados. Dos 6 (seis)
casos do modo de falha “Instabilidade de Talude - Ruptura Estática” presentes no banco de teste, 5 (cinco)
foram classificados de forma correta. O caso classificado de forma incorreta foi associado ao modo de falha
“Galgamento” com uma probabilidade de 45%. O segundo modo de falha com maior probabilidade para esse
caso foi o modo “Instabilidade de Talude - Ruptura Estática” com 36%. Três casos associados ao modo de
147
falha "Terremoto - Carregamento dinâmico” foram avaliados de forma correta. Foram avaliados 5 (cinco)
casos associados aos modos de falha “Erosão interna” e “Galgamento”, sendo que todos foram incorretamente
classificados. Apenas um caso de galgamento seria classificado de forma correta quando considerado o
segundo modo de falha com maior probabilidade. Essa classificação pode ser um reflexo da correlação das
variáveis avaliadas com a associação aos modos de falha. Os resultados comentados acima, são mostrados na
Tabela 4, onde são apresentados os dados do banco de dados de test. São apresentadas as classes reais (real),
preditas pelo modelo mais acurado (pred), bem como as probabilidades de pertencimento de cada uma das
amostras (ID) a cada uma das classes. Quando predito corretamente, a probabilidade foi apresentada em verde.
Quando a classe predita foi a segunda mais provável, a mesma foi sinalizada em vermelho. No caso da predição
ter selecionado a classe com segunda maior probabilidade, a mesma foi destacada em amarelo.

Tabela 3. Resultados obtidos para amostra de teste.

3.3 Discussão sobre as variáveis utilizadas e que podem ser incluídas no modelo

Para futuras análises seria importante considerar algumas variáveis características das barragem que
podem influenciar na estabilidade da estrutura e, consequentemente, no modo de falha. Portanto, para melhorar
melhor calibração do modelo e sua maior acurácia, as variáveis relacionadas na Tabela 5 são propostas como
oportunidade de melhoria do banco de dados dos casos registrados e das respostas apresentadas pela
metodologia aplicada neste estudo.

Tabela 5. Variáveis propostas para serem incorporadas ao banco de dados


Modo de falha Variáveis propostas

Largura e comprimento da Crista


Instabilidade de Talude - Nível de conhecimento da geologia da fundação e ombreiras
Ruptura Estática Existência da caracterização (física /mineralógica/ química) do rejeito
Nível freático

Nível de conhecimento da geologia da fundação e ombreiras


Tipo da drenagem interna
Piping - Erosão Interna Conhecimento do modelo hidrogeológico
Monitoramento da drenagem interna
Nível freático

Classificação sísmica da região


Instabilidade sísmica - Monitoramento sísmico da barragem
Terremoto Materiais susceptíveis à liquefação
Nível freático

Chuva de projeto dimensionada


Galgamento
Borda livre existente

148
4 Conclusões
Uma das conclusões obtida com este trabalho é a necessidade de melhorar os registros em banco de
de barragem e as atualizações destes dados, para suportar as análises de tendência de falha destas estruturas,
que sempre implicam em rupturas, geralmente, catastróficas e podem representar o maior risco para a
sustentabilidade da indústria da mineração.
Técnicas de aprendizado de máquina vêm sendo aplicadas com sucesso em diversas áreas geotécnicas,
inclusive para gestão e análise de riscos em barragens de rejeito de mineração. Verifica-se trabalhos como de
Santos & Oliveira (2021) e Paulo et al. (2020) que analisaram barragens brasileiras com uso desses tipos de
técnicas.
O modelo para predição do modo de falha credível de barragens de rejeito foi obtido com sucesso. Ele
apresenta 57%. Ele pode ser utilizado para novos casos, uma vez que o mesmo pode ser generalizado, dado a
variabilidade das amostras que compõem o banco de dados utilizado.
Os autores deste trabalho propõem a aplicação de outras técnicas de aprendizado de máquina
supervisionado, como máquina de vetor suporte, redes neurais artificiais, florestas aleatórias, etc, com objetivo
de se obter modelo mais acurado, bem como a alimentação deste banco de dados com novas variáveis (como
exposto no item 3.3). Trabalhos deste sentido estão em processo de desenvolvimento.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Universidade Federal de Ouro Preto e a Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas
Gerais (FAPEMIG- EDITAL APQ-00501-21) pelo apoio ao desenvolvimento deste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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150
Riscos Geológicos – Uso de Vegetação de Cultivo para
Proteção de Áreas Sujeitas a Ocupação Antrópica
Liliane Frosini Armelin
Docente, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, liliane.armelin@mackenzie.br

Henrique Dinis
Docente, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, henrique.dinis@mackenzie.br

Sérgio Vicente Denser Pamboukian


Docente, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, sergio.pamboukian@mackenzie.br

Maria de Fátima Souza Curi


Docente, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, fatima.curi@gmail.com

Orlando Monezi Jr
Docente, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, orlando.monezi@mackenzie.br

Alberto Alonso Lazaro


Docente, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, alberto.alonso@mackenzie.br

RESUMO:
Francisco Morato é um município de topografia acidentada que apresenta grandes problemas de erosão
agravados pela urbanização inadequada realizada através de loteamentos clandestinos ou ocupação do tipo
subnormal. Erosões depois de algum tempo, podem dar origem à deslocamentos de massa em época de chuvas
e obras de contenção são dispendiosas e demoradas dependendo de financiamentos que nem sempre estão
disponíveis no momento em que se fazem necessários. O objetivo deste estudo foi apresentar alternativas não
convencionais e pouco dispendiosas de contenção além de procedimentos para evitar a continuidade da
urbanização ilegal utilizando tecnologias sociais. A metodologia utilizada foi a de análise de uma área piloto
disponibilizada pela Prefeitura de Francisco Morato onde foi realizado um diagnóstico preliminar de questões
erosivas e ocupação antrópica e avaliadas possíveis ações a serem implantadas. A alternativa considerada foi
a realização de plantio do bambu e de outras espécies destinadas à alimentação de pessoas, ambas com a
possibilidade de exploração econômica e possível melhoria da vida da população envolvida na solução tecnica
estudada.

PALAVRAS-CHAVE: Bambu, Proteção de encostas, Áreas de risco.

ABSTRACT:
Francisco Morato is a municipality with a rugged topography that presents major erosion problems, aggravated
by inadequate urbanization carried out through clandestine subdivisions or subnormal occupation. Erosion
after some time can give rise to mass displacements in the rainy season and containment works are expensive
and time consuming depending on financing that is not always available at the time they are needed. The
objective of this study was to present unconventional and inexpensive alternatives to containment and
procedures to avoid the continuation of illegal urbanization using social technologies. The methodology used
was the analysis of a pilot area made available by the Municipality of Francisco Morato where a preliminary
diagnosis of erosive issues and anthropic occupation was carried out and possible actions to be implemented
were evaluated. The alternative considered was the planting of bamboo and other species intended to feed
people, both with the possibility of economic exploitation and possible improvement of the life of the
population involved in the technical solution studied.

KEYWORDS: Bamboo, Slope protection, Risk areas.

151
1 Introdução

Encostas estão normalmente submetidas a fenômenos que causam sua instabilidade e não deveriam
receber urbanização, no entanto, isto ocorre em muitas cidades brasileiras de forma irregular por população
carente, consolidando as chamadas áreas de risco. Visando minimizar esse tipo de ocupação, uma alternativa
seria explorar essas áreas através da agricultura ou plantio de bambu para utilização na construção civil. A
Escola de Engenharia Mackenzie, em parceria com a Prefeitura de Francisco Morato, realizou em uma área
piloto, estudos para estabelecer uma metodologia de possível cultivo comunitário evitando desta forma, a
ocupação antrópica e estabelecendo a oportunidade de desenvolvimento econômico e social para a população
da região.

2 Metodologia

O Município de Francisco Morato tem sua altitude referenciada na cota 812 metros acima do nível do
mar, alcançando cotas da ordem de 970 metros, nas áreas urbanizadas. Considerando uma variação em torno
de 200 metros, em uma área superficial de 49,2 km2, o relevo acidentado pode ser considerado ondulado, com
declividades bem acentuadas em determinadas regiões especificas, aproximando-se a montanhoso. A
densidade demográfica de 3.625 hab/km² é considerada relativamente alta. Considerando-se, ainda, a ocupação
desordenada, na maior parte de seu território, faz com que a incidência de risco geológico seja grande. Na
Figura 1 é apresentada a ocupação de algumas áreas com declividade acentuada.

Figura 1. Imagens do Município de Francisco Morato (Google) – Conformação do relevo.

Neste contexto, a incidência de acidentes com deslizamento de encostas é grande, havendo inúmeros
casos a cada período de fortes chuvas torrenciais, causando não somente prejuízos materiais, como também,
vítimas fatais. Os recursos municipais para fazer frente a estes problemas são insuficientes, dependendo muitas
vezes de ajudas financeiras de outras esferas para a realização de obras.
Diante do cenário, o município, por meio da Defesa Civil, alerta a população para os riscos de
deslizamentos de terra ou rolamentos de blocos rochosos como consequência do solo encharcado pelas fortes
chuvas. A Figura 2 exemplifica alguns escorregamentos.

Figura 2. Imagens do Município de Francisco Morato (Google) – Situações de escorregamentos de solo.


Os problemas de risco geológico se estendem, também, à questão de alagamentos (Figura 3), como
decorrência do transbordamento dos dois rios da região. Esta situação é consequência de uma série de fatores,
como o aumento de áreas impermeabilizadas, devido à ocupação irregular intensiva, como também a

152
eliminação da faixa mínima de matas ciliares, que retardam o escoamento das águas superficiais para os
córregos.

Figura 3. Imagens do Município de Francisco Morato (Google) – Áreas inundadas.

Dentro desse contexto, especificou-se uma área pública denominada Lions, em Francisco Morato para
a realização de pesquisas experimentais de alternativas de contenção de erosões utilizando soluções não
convencionais e não dispendiosas. Ademais, pretendeu-se também, estabelecer um uso para esta área com a
principal finalidade de evitar a sua ocupação irregular. Após a implantação das propostas, as alternativas que
se mostrarem eficazes, serão replicadas para outros locais no município com as mesmas características.
Foram realizadas preliminarmente investigações do relevo do terreno, tipo do solo, drenagem natural
utilizando os recursos de vistorias locais, mapeamento superficial e mapeamento com drones (Figura 4).

Figura 4. Delimitação e relevo da área de estudo.

A partir da Carta de Suscetibilidade a Movimentos Gravitacionais de Massa e Inundações – Município


de Francisco Morato – SP, foi realizada a identificação dos processos e graus de risco na área de estudo,
apresentados na Figura 5, na qual pode ser observado que essa área apresenta suscetibilidade baixa (amarelo)
e média (marrom claro) para processo de movimento gravitacional de massa e baixa (azul claro) a média (azul
médio) para inundações.

153
Figura 5. Risco geológico na área Lions em Francisco Morato (Fonte: IPT-CPRM, 2013)

Em vistoria realizada, foi observada uma situação de estabilidade, sem indícios de processos de
escorregamentos e inundações, mas com algumas ocorrências de erosões (Figura 6) causadas por ocupação
antrópica. Observou-se também tentativas de construção de moradias sendo algumas abortadas pela Defesa
Civil, através de demolições ou reintegração de posse para construções prontas com moradores. As áreas mais
baixas contem construções já consolidadas.
O presente estudo traz propostas para minimizar tais ocorrências. Não propõe obras de contenção de
encostas ou de canalização de córregos, por serem objeto de projetos específicos, mas são apresentadas
possíveis alternativas de obras preventivas, visando minimizar a evolução dos riscos geológicos e eliminar as
tentativas de ocupação.
Avaliou-se para esta área a eficácia e desempenho do uso de cultivo de determinadas espécies vegetais
e também de algumas espécies de bambu. Existe um grande potencial na utilização do bambu para controle da
erosão em encostas (FRANCA, 2011; BARBOSA, 2011), sendo neste estudo, o arranjo idealizado em forma
de barreiras que fossem capazes de desviar as águas superficiais diminuindo a sua força e velocidade.
As espécies propostas além do bambu serão aquelas que tem potencial para estabelecer uma atividade
econômica que gere renda com benefícios sociais, como por exemplo árvores frutíferas ou legumes. O modelo
a ser implantado envolve a própria população do entorno trabalhando em conjunto com a Prefeitura e a
Academia no contexto das tecnologias sociais que são práticas que proporcionam transformações sociais em
uma comunidade a partir da ação da própria comunidade proporcionando crescimento.

Figura 6. Erosões identificadas em vistoria local.

As espécies destinadas à produção de alimentos foram previstas nas partes mais planas da área
consistindo junto ao bambu uma possível atividade produtiva para o beneficiamento da comunidade local além
da proteção da erosão causada pelo escoamento das águas pluviais. Estando a totalidade da área destinada ao
plantio, não haverá mais espaços para construção de moradias e dificilmente ocorrerá a formação de uma nova
área de risco, como tantas existentes no município.

3 Resultados

A característica topográfica da área estudada favoreceu a intenção do plantio misto por apresentar
áreas planas e encostas íngremes, algumas destas, desmatadas e sem proteção. Na concepção adotada, o bambu
foi previsto ao redor do terreno, junto ao córrego e nos trechos de grande declividade, configurando-se como

154
um elemento de fechamento e proteção além da função de estabilização do processo erosivo disciplinando o
escoamento das águas através da redução da energia cinética (Figura 7) .
O bambu é conhecido como a madeira do futuro, pois se tornou uma alternativa sustentável por
apresentar inúmeras vantagens em relação a outros materiais e a sua extração não causa danos ao meio
ambiente. É um recurso mais leve que outros tipos de madeira e esta característica é vantajosa no manuseio e
no transporte. Na construção civil, o uso do bambu vem ganhando espaço e, por apresentar boa resistência
tanto à tração quanto à compressão, pode ser utilizado como elemento estrutural. Outras alternativas de uso
são como elemento de vedação e cobertura. Apresenta ótima durabilidade se for submetido a um bom processo
prévio de tratamento contra fungos e umidade. É alternativa de baixo custo, resultante do seu rápido
crescimento, renovável e biodegradável.
O cultivo do bambu permite colheitas periódicas que não afetam o desenvolvimento da planta e esta
característica favorece o seu uso comercial, sendo este um outro objetivo deste estudo. Outras espécies vegetais
devem preencher os espaços vazios da área, conformando uma segunda atividade econômica.
A produção de alimentos é uma das propostas para áreas desocupadas do município, aquelas sem
construções e sem árvores pois, além do objetivo principal que é o de trazer benefícios para a população, pode
também inibir as tentativas de ocupações irregulares, que são bastante corriqueiras na região. Trata-se de uma
atividade não dispendiosa, uma vez que o município conta com viveiro de mudas no próprio local e poço para
a retirada da água destinada à rega em época de estiagem. Quanto aos recursos humanos, a proposta é trabalhar
com pessoas da comunidade local, utilizando as técnicas de tecnologia social de envolvimento promovendo a
melhora das condições locais, não apenas ambientais mas também sociais e econômicas

Figura 7. Locais previstos para o plantio de bambu.

Foram cinco os locais escolhidos como os mais adequados para o cultivo que estão indicados na área
de projeto, na Figura 8. Esses locais foram escolhidos em vistoria de campo que levou em consideração áreas
de menor declividade a fim de facilitar o manejo das culturas.

Figura 8. Locais previstos para o plantio de culturas diversas.

155
Algumas espécies foram estudadas para o plantio com a finalidade de geração de renda. As escolhas
foram baseadas na ocorrência do solo predominantemente argiloso e na facilidade do manejo da cultura.
Abaixo, alguns exemplos:
- Manga: Devem receber a rega continua quando jovens porém atingindo a maturidade, podem ser regadas no
intervalo entre 10 e 15 dias. Prevista na área 2.
- Milho: Colheita após 4 a 6 meses de plantio. Mais exigente em relação à umidade. Necessita sol. Prevista na
área 3
- Abóbora: Colheita de 3 a 4 meses após o plantio. Necessita sol e umidade. Prevista na área 5.
- Pitanga: Muito resistente e adaptável. Resiste bem a secas e geadas. Prevista na área 1
- Abacate: Frutos presentes durante todo o ano, apesar da sua demora em aparecerem. Temperatura ideal entre
18 e 250C.
- Carambola: Apesar da frutificação demorada, apresenta rápido crescimento. Temperatura ideal em torno de
250C. Prevista na área 4

4 Considerações finais

As propostas sugeridas para a minimização das questões de erosão e de urbanização irregular de


Francisco Morato podem ser classificadas como não convencionais e exigem poucos recursos para a sua
implantação. Além disso, incluem a participação das pessoas que vivem nos locais afetados objetivando a
melhoria nas suas condições de vida, o que implica em benefícios sociais.
O poder público deve criar mecanismos de acompanhamento não apenas da implantação mas também
do prosseguimento ao longo dos anos, disponibilizando-se a atender as dificuldades que surgirem e auxiliar
na resolução de conflitos.
A área piloto é de forma preliminar o local destinado a recebe- para que possa ser analisada a sua
viabilidade no âmbito local, além do envolvimento da população. Após esta experiência, dependendo dos
resultados, a solução pode ser replicada para outras áreas do município que apresentam os mesmos
problemas.

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Repositório Institucional de Geociências – RIGEO. Setorização de áreas em alto e muito alto risco a
movimentos de massa, enchentes e inundações de Francisco Morato, São Paulo.
https://rigeo.cprm.gov.br/jspui/handle/doc/20478. Acesso em out. 2021.
Serviço Geológico do Brasil – SGB – CPRM. Carta de suscetibilidade a movimentos gravitacionais de
massa e inundações – município de Francisco Morato – SP.

156
https://rigeo.cprm.gov.br/jspui/handle/doc/15174. Acesso em out. 2021.
Topographic-map. Mapas topográficos do Brasil, Francisco Morato. https://pt-br.topographic-
map.com/maps/gi4q/Francisco-Morato. Acesso em out. 2021.
Universidade Presbiteriana Mackenzie – Escola de Engenharia (2021). Infraestrutura e Logística
Humanitária – Uso, ocupação e estabilização de áreas de risco. Projeto Cidades Inteligentes. Não
publicado.

157
APLICAÇÃO DE QUESTIONÁRIO DE PERCEPÇÃO DE
RISCO EM ÁREAS DE RISCO GEOLÓGICO NO MUNICÍPIO
DE GUARUJÁ (SP)

Jozzefer Vincov de Abreu


Geólogo, Programa de Pós Graduação em Geociências, Instituto de Geociências da Universidade de São
Paulo, São Paulo, Brasil, jvincov@usp.br

Gabriel Galvanese Kuhlmann


Geólogo, Proteção e Defesa Civil de Guarujá, Guarujá, Brasil, gabriel.kuhlmann2@gmail.com

Marcos Vinicius Bastos Gamberini


Geólogo, Proteção e Defesa Civil de Guarujá, Guarujá, Brasil, marcosviniciusgamberini@gmail.com

Carlos Adolfo Silva Fernandez


Geólogo, Proteção e Defesa Civil de Guarujá, Guarujá, Brasil, carlosadolfoss64@gmail.com

RESUMO: A ocorrência de um desastre socionatural nos dias 02 e 03 de março de 2020, na região


metropolitana da Baixada Santista, atingiu fortemente o município de Guarujá, deflagrando um total de 150
deslizamentos catalogados em relatórios técnicos da Defesa Civil. Chuvas intensas incidiram sobre a região,
sendo registrados acumulados superiores a 200mm/24h. Diante do ocorrido, a Defesa Civil de Guarujá vêm
aperfeiçoando programas de prevenção, gestão e política de Redução de Risco de Desastres (RRD), junto às
comunidades locais. Foi elaborado e aplicado o Questionário de Percepção de Risco para moradores de
encostas. Essa pesquisa foi aplicada em 06 áreas de risco geológico, por técnicos e agentes de Defesa Civil,
totalizando 255 questionários individuais. As comunidades selecionadas foram: morro do Macaco Molhado,
morro do Engenho, Vila Baiana, Barreira do João Guarda, Sitio Cachoeirinha e Prainha Branca. O presente
trabalho tem como objetivo apresentar os resultados e desenvolver uma melhor compreensão da percepção
do risco pela população. Construir um canal de comunicação entre a população e o poder público, contribuí
para as tomadas de decisão e formulação das estratégias para implementação de ações de resposta em
ocorrências da mesma natureza.

PALAVRAS-CHAVE: Desastre, Defesa Civil de Guarujá, Redução de Risco de Desastre, Questionário de


Percepção de Risco.

ABSTRACT: The occurrence of a socionatural disaster on March 2 and 3, 2020, in the metropolitan
region of Baixada Santista, it hit the municipality of Guaruja strongly, deflating a total of 150 landslides
catalogued in technical reports of the Civil Defense. Heavy rains affected the region, with accumulated
more than 200mm/24h. In view of this, the Civil Defense of Guaruja have been improving programs for
prevention, management and policy of Disaster Risk Reduction (DRR), with local communities. The Risk
Perception Questionnaire was elaborated and applied to hill-slope dwellers. This research was applied in
06 areas of geological risk, by technicians and civil defense agents, totaling 255 individual questionnaires.
The selected communities were: Morro do Macaco Molhado, Morro do Engenho, Vila Baiana, Barreira do
João Guarda, Sitio Cachoeirinha and Prainha Branca. The present work aims to present the results and
develop a better understanding of the perception of risk by the population. Building a channel of
communication between the population and the public authorities, contributed to decision-making and
formulation of strategies for implementing response actions in occurrences of the same nature.

KEYWORDS: Disaster, Civil Defense of Guarujá, Disaster Risk Reduction, Risk Perception
Questionnaire.

158
1 Introdução
Um evento de chuvas anômalas, nos dias 02 e 03 de março de 2020, deflagrou deslizamentos de grande
porte no município de Guarujá. Em 12 horas foi registrado um acumulado pluviométrico de 282 mm,
atingindo 385,8 mm em 72 horas (pluviômetro E3-043). O evento gerou um total de 34 óbitos, 37 pessoas
feridas, 169 desabrigados, 954 pessoas desalojadas, além de 100 mil afetados, 954 unidades habitacionais
danificadas e 169 casas destruídas, de acordo com o Formulário de Informação de Desastre – FIDE, protocolo
n° SP-F-3518701-13214-20200303. Os impactos decorrentes das chuvas intensas e escorregamentos
generalizados ensejaram a decretação de Estado de Calamidade Pública/ECP por meio do Decreto Municipal
n° 13.529/2020 (GUARUJÁ, 2020) e consequente homologação através da Portaria Federal n° 448/2020
(BRASIL, 2020).
A Defesa Civil de Guarujá vem, cada vez mais, estabelecendo programas de prevenção e gestão de
riscos, junto às comunidades vulneráveis. Este trabalho têm se mostrado eficiente e os moradores locais vem
compreendendo a exposição ao risco. Visando à política de Redução de Risco de Desastre (RRD), a Defesa
Civil elaborou e aplicou o Questionário de Percepção de Risco para moradores de encostas, a fim de gerar
instrumentos para a gestão de risco durante o Plano Preventivo de Defesa Civil 2022-2023 (PPDC). O PPDC
é regido pelo Decreto Estadual n°40.151 de 16/06/1995, posteriormente redefinido pela Resolução
CMIL/CEPDEC 20-610. É constituído pela intensificação de ações preventivas especificas para
escorregamento nas vertentes da Serra do Mar e regiões adjacentes, sendo considerado uma medida não
estrutural, ou seja, um instrumento de convivência com os riscos (Macedo et al., 2004). Este plano se inicia
em 01 de dezembro estendendo-se até 31 de março, podendo ser prorrogado. Conta com a participação dos
órgãos técnicos, Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT e Instituto de Pesquisas Ambientais – IPA.
A pesquisa foi aplicada em 07 áreas de risco geológico, todas contempladas no Plano Municipal de
Redução de Riscos/PMRR (IPT, 2016). A execução foi realizada por técnicos e agentes da Defesa Civil,
totalizando 255 questionários individuais. Este projeto teve como objetivo, proporcionar uma melhor
compreensão da percepção do risco na população e tornar a comunidade local preparada para reconhecer e
prevenir os possíveis riscos de acidentes e Desastres, além de fortalecer um canal de comunicação entre a
comunidade e o poder público. Assim, é possível adquirir importantes informações que contribuem para
elaboração das ações de resposta a serem adotadas no caso de futuras ocorrências.

2 Localização

O município de Guarujá (Figura 1) está localizado na região Metropolitana da Baixada Santista, litoral
do estado de São Paulo, com extensão territorial de 143 km². Possui 17 áreas de risco geológico mapeadas no
PMRR executado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (Guimarães et al., 2018).

Figura 1. Localização do município de Guarujá.

2.1 Áreas de risco geológico selecionadas

As localidades que concentram maior número de deslizamentos, de acordo com o banco de dados da
Defesa Civil, são: morro do Engenho, morro do Macaco Molhado e Vila Baiana. Desta forma, estas áreas
são consideradas prioritárias ao desenvolvimento de políticas de RRD, e foram selecionadas para a aplicação
do questionário de percepção de risco, além da Barreira do João Guarda, devido ao deslizamento de grande
porte que resultou em 23 óbitos. Também foram incluídos o sítio Cachoeirinha e a Prainha Branca,
comunidades tradicionais e afastadas do centro da cidade, mas que possuem ocupação em encostas,
159
constituindo áreas de risco mapeadas no PMRR. Na Prainha Branca, atualmente se desenvolve um projeto
para implementação de um Núcleo Comunitário de Proteção e Defesa Civil/NUPDEC, em parceria com a
Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMAM).

Figura 2. Localização das áreas de risco geológico.

3 Metodologia

Diante do cenário exposto, a Defesa Civil de Guarujá, como órgão responsável pela coordenação e
gestão do risco local, têm organizado ações de geração de conhecimento para prevenção e preparação, junto
às comunidades. O gerenciamento do risco geológico tem base na análise de dados objetivos e quantitativos
(O que? Onde? Quantos?), mas também de dados subjetivos e qualitativos (Quem? Por quê? Como?). Em
complementação aos estudos técnicos do PMRR, identificou-se a necessidade da geração de dados
qualitativos sobre o comportamento da população frente às problemáticas do tema, formulando então o
Questionário de Percepção de Risco para moradores de encostas. Optou-se pela elaboração de um
questionário de múltipla escolha, focado na população que habita as áreas de risco em encostas, de acordo
com as dinâmicas existentes nas áreas e visando promover o debate social (Tabela 01). Agentes e técnicos da
Defesa Civil, ao logo de 03 meses, aplicaram presencialmente um total de 255 questionários, com duração de
aproximadamente 5 minutos em cada entrevista. O objetivo central foi verificar a percepção do individuo ao
risco e a importância da implantação de possíveis NUPDECs.
Este trabalho foi aplicado em 06 áreas. Estes locais, após o evento de março de 2020, tiveram uma
mudança na configuração do risco local e, diante disso, a Defesa Civil de Guarujá optou pela criação de
novas ferramentas para uma melhor interlocução entre morador e poder público. A primeira etapa deste
trabalho, ao longo de 2020 e 2021, foi à criação do questionário de percepção de risco, suscitando
questionamentos quanto à avaliação do morador sobre os perigos presentes na área e o conhecimento do
mesmo sobre quais os órgãos públicos que são acionados em uma ocorrência. O questionário abarca um total
de 15 questões de múltipla escolha onde o morador tem o livre arbítrio de resposta. Posteriormente à
confecção do questionário, as equipes da Defesa Civil realizaram o trabalho de campo em 2021 e 2022,
entrevistando os moradores. Em um terceiro momento, a equipe técnica realizou a compilação dos dados de
campo em planilhas, gerando informações para interpretação dos dados.

Tabela 01. Questionário de percepção de risco elaborado pela Defesa Civil de Guarujá.
QUESTIONÁRIO
Tempo de moradia no bairro
Pode ocorrer algum Desastre no seu bairro?
Se sim, qual?
Você já viu um Desastre ocorrer no seu bairro?
A sua casa já foi atingida por um Desastre?
Se você recebesse um aviso de que há risco de Desastre onde você mora, qual seria sua atitude?
Você sabe em qual época do ano ocorrem os deslizamentos?
Se ocorrer um deslizamento próximo a sua casa e você percebe ou que as paredes estão com rachaduras.
O que você faz?
Quando você fica sabendo que houve uma ocorrência de deslizamento no seu bairro, onde você busca as
informações? 160
Você confia nas informações dadas pela Defesa Civil e Corpo de Bombeiros?
Alguma vez você já recebeu ou solicitou informações da Defesa Civil, sobre o risco na sua comunidade?
Se houver uma chuva forte com deslizamento, sem vítimas, para qual equipe de emergência você pensaria
em ligar?
Qual o telefone de emergência destes órgãos?
Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, SAMU e Defesa Civil.
Você acha importante a instalação de um tipo de aviso via internet no bairro, para os moradores "antes da
possibilidade" da ocorrência de um desastre?
Você abandonaria sua moradia se fosse avisado da possibilidade de ocorrer um deslizamento, mesmo
sabendo que poderia não ocorrer, pois é um aviso preventivo?

4 Resultados

Durante os trabalhos de campo, foi possível constatar a adesão e o envolvimento dos moradores de
algumas áreas de risco geológico. Mais de 75% da população das áreas de risco moram há mais de dez anos
nestes locais (Figura 3A) e 88% compreendem que pode ocorrer algum desastre em seu bairro (Figura 3B),
sendo escorregamento o evento mais citado (Figura 3C). Em razão de grande parte dos entrevistados
apresentarem um tempo considerável de moradia nas áreas de risco, cerca de 89% das pessoas já viram a
ocorrência de um Desastre em seu bairro (Figura 3D) e 24% da população já tiveram sua residência atingida
por um Desastre (Figura 4A).

A Tempo de moradia no B Pode ocorrer algum Desastre


250 bairro em seu bairro?
Menos de 1
ano 300
200
191 Entre 1 e 4
150 200
anos 224 Sim
100 Entre 5 e 100 Não
50 anos
10 31
12 17 35 Mais de 10 0
0 Sim Não
anos

C Qual D
Você já viu algum
250 ? Desastre ocorrer no seu
250 bairro?
200 Escorregamento
201 200
150 227
Alagamento
150 Sim
100 Inundação
100 Não
50 Incêndio
50
27 18 13
0 28
0

Figura 3. A: Tempo de moradia no bairro. B: Pode ocorrer algum desastre em seu bairro. C: Qual. D: Você já
viu algum Desastre ocorrer no seu bairro?

Mediante a recorrência de eventos de deslizamentos na região, após questionamentos sobre a


necessidade de avisos preventivos da Defesa Civil, sobre a iminência da ocorrência e orientando a
evacuação, cerca de 80% afirmaram que confiam nas informações e buscariam um local seguro (Figura 4B).
Por outro lado, mesmo confiando nos avisos, apenas 68% da população possui o conhecimento sobre qual a
época em que os deslizamentos ocorrem com maior frequência (Figura 4C). Caso viesse a ocorrer um
deslizamento nas imediações da residência, e o mesmo percebesse que há indícios de movimentação, como
trincas e rachaduras, cerca de 74% (Figura 5) abandonariam a moradia em caráter preventivo. Dentre esses,
53% notificariam os órgãos de emergências.
Após compreender as ações dos moradores locais frente a eventos adversos, foi possível observar que
90% da população entrevistada confiam nas informações públicas (Figura 6A) e, para buscar essas
informações, os entrevistados utilizam principalmente a televisão e internet como veículos de comunicação
161
(Figura 4D).

A A sua casa já foi atingida por B Se você recebesse um aviso de


algum desastre? que há risco de desastre onde
250 você mora, qual seria sua
atitude?
200 Acredita e
250
abandona a
150 200 moradia para um
Sim
lugar seguro
100 192 Não 150
100 204 Permanece na
50
62 moradia
0 50
51
Sim Não 0

C Você sabe em que época do ano D


Quando você fica sabendo que
ocorrem deslizamentos? houve uma ocorrência de
180 deslizamento no seu bairro, onde
160 você busca informações?
140 Setembro a 100
Dezembro
120 TV
Dezembro a 80
100 Março
60 Rádio
80 159 Março a Junho
95
60 40 80 85 Internet
Junho a
40
Setembro 20
20 46 Mídias da Defesa
21 29 6 Civil ou Prefeitura
0 0

Figura 4. A: Tempo de moradia no bairro. B: Pode ocorrer algum desastre em seu bairro. C: Época de
ocorrência de movimentos de massa D: Busca de informações.

Se ocorrer um deslizamento próximo a sua casa e


você percebeu que as paredes estão com rachaduras.
O que você faz?
160
Chama o pedreiro e
140
continua morando na
120 moradia
Abandona a moradia até
100 ser resolvido o problema
80
136 Não faz nada, pois a
60 obrigação é da prefeitura
em resolver o problema
40
Vai para um lugar seguro
61 54
20 e avisa os órgãos de
4 emergência
0
Figura 5. Medidas adotadas caso ocorra um deslizamento nas imediações.

Apesar da grande confiabilidade das informações repassadas pela Defesa Civil, 63% dos entrevistados
nunca recebeu ou solicitou informações em relação ao risco na sua comunidade (Figura 6B), entretanto caso
162
ocorra a deflagração de chuvas fortes e consequentemente ocorrência de deslizamentos nas comunidades,
cerca de 55% munícipes entendem que deverão ligar para a Defesa Civil (Figura 6C), outros 41% entendem
que deverão ligar para o Corpo de Bombeiros e cerca de 4% entendem que deverão ligar para a Policia
Militar e o Serviço de Atendimento Móvel Urgente – SAMU. Neste caso, há de se ressaltar que os
entrevistados poderiam marcar mais do que uma opção.
Embora os munícipes entendam a importância de notificar a Defesa Civil após a ocorrência de eventos
geodinâmicos externos, apenas 11% conhecem o número do telefone de emergência da Defesa Civil,
enquanto 26% conhecem o número do Corpo de Bombeiros (Figura 6D), e 69% citam o número da Polícia
Militar. Nota-se que alguns entrevistados conhecem todos os números dos órgãos de emergências, e outros
apenas da Polícia Militar. Nesta questão, os entrevistados poderiam assinalar mais do que uma opção.
Quanto às questões sobre gerenciamento de Desastre, cerca de 96% entendem a importância da
instalação de um aviso via internet sobre a possibilidade de ocorrência de eventos geodinâmicos (Figura 6E).
Por outro lado, 28% dos entrevistados (Figura 6F) não abandonariam suas residências se fossem avisados da
possibilidade da ocorrência de deslizamentos, mesmo sabendo que seria um aviso preventivo.

A B
Você confia nas informações dadas Alguma vez você já recebeu ou
pela Defesa Civil e Corpo de solicitou informações da Defesa
Bombeiros? Civil, sobre o risco na sua
250 comunidade?
200 200

150 150
Sim
233 Sim
100 Não 100
162 Não
50 50 94
22
0 0

C D
Se houver uma chuva forte com Qual o telefone de emergência
deslizamento, sem vítimas, para destes órgãos?
qual equipe de emergência você 200
pensaria em ligar? Corpo de
200 150 Bombeiros
Corpo de
Polícia Militar
Bombeiros
150
Polícia Militar 100
177 Defesa Civil
100
144 Defesa Civil 50 108
50 107 80 Samu
7 4 43
Samu
0 0

163
E Você acha importante a instalação F Você abandonaria sua moradia se
de um tipo de aviso via internet no fosse avisado da possibilidade de
bairro, para os moradores "antes da ocorrer um deslizamento, mesmo
possibilidade" da ocorrência de um sabendo que poderia não ocorrer,
Desastre pois é um aviso preventivo.
300 200
250
150
200
Sim Sim
150 100
Não 183 Não
245
100
50
50 72
10
0 0

Figura 6. A: Confiabilidade nas informações da Defesa Civil. B: Recebimento ou solicitação de informações da


Defesa Civil. C: Órgãos de emergência caso ocorram chuvas fortes. D: Telefone dos órgãos de emergências. E:
Importância da instalação de um aviso via internet. F: Abandono da moradia caso ocorra um aviso preventivo.

5 Conclusões

Essa pesquisa de campo permitiu uma integração entre os moradores locais das áreas de risco geológico
e o poder público municipal, fortalecendo a política de RRD. As informações permitiram a elaboração de
diagnósticos específicos para cada uma das áreas, possibilitando análises preditivas sobre o comportamento
de suas populações. Verificou-se que determinadas comunidades conhecem e tem mais acesso à comunicação
com a Defesa Civil. Pontos em comum foram identificados, como a demanda por informações rápidas no
meio digital.
A aproximação da Defesa Civil com as comunidades vem sendo um ponto de destaque, reflexo das
ações preventivas como a realização de vistorias rotineiras e constantes. A receptividade dos moradores de
áreas de risco demonstra disposição da população em contribuir localmente para uma sociedade mais
consciente dos riscos à que estão expostas, e consequentemente para o desenvolvimento de uma comunidade
resiliente.
Foi possível estabelecer em alguns casos, uma relação entre os tipos de suscetibilidade em que os
moradores locais estão expostos e sua percepção ou falta de percepção, revelando as necessidades locais para
estabelecer programas e instrumentos de prevenção, que resultam em maior eficiência da gestão do risco.
Aspectos notáveis, demonstrados pelos entrevistados, revelam o desconhecimento do número do telefone da
Defesa Civil, indicando a necessidade de reforçar essa informação nas vistorias preventivas de rotina às áreas
de risco geológico, e sobre a época do ano mais propícia a eventos climáticos adversos. Em compensação,
mais de 90% da população entrevistada confia nas informações da Defesa Civil.
Levando-se em conta o que se foi observado em campo, e posteriormente os resultados conquistados
por meio da aplicação do Questionário de Percepção de Risco, as informações adquiridas, mesmo que em
escala municipal, poderão contribuir para estudos futuros, e principalmente, nortear a melhor
operacionalização do PPDC, em razão do melhor conhecimento da população local, conhecendo assim suas
especificidades.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil do Guarujá pelo apoio e
disponibilização dos dados publicados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brasil, Ministério do Desenvolvimento Regional/Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. Portaria


n°448, de 04 de março de 2020. “Reconhecer, por procedimento sumário o Estado de Calamidade Pública
no Município de Guarujá/SP, COBRADE – 1.3.2.1.4, Chuvas intensas, conforme Decreto Municipal
n°13.529, de 03 de março de 2020”, Diário Oficial da União, Brasília, DF, 04 de março de 2020. Edição 44,
Seção 1, p.10.
Guarujá, Decreto Municipal n°13.529, de 03 de março de 2020. “Declara Estado de Calamidade Púb lica
164
nas áreas do Município de Guarujá afetados pela situação anormal, caracterizada pelo volume
imprevisível de chuvas intensas e seus efeitos no território do Município do Guarujá ocorridas nas datas
de 02 e 03 de Março de 2020 – COBRADE 1.3.2.1.4/ chuvas - e dá outras providências”, Diário Oficial
de Guarujá, Guarujá, SP, 03 março de 2020. Edição 4.386, p.3.
Guimarães, M. P. P.; Macedo, E. S.; Mirandola, F. A.; Corsi, A.C. (2018) Intervenções estruturais adaptadas
a assentamentos precários urbanos. Caso PMRR do Guarujá. In: Congresso Brasileiro de Geologia de
Engenharia e Ambiental, São Paulo. Anais, ABGE, p. 1-5.
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. (2016) “Atualização do Plano Municipal de
Redução de Risco de Deslizamento para o Município do Guarujá”, São Paulo, Relatório Técnico nº
148222 – 205.
Macedo, E. S.; Santoro, J.; Araújo, R. S. (2004) Plano Preventivo de Defesa Civil (PPDC) para
deslizamentos, Estado de São Paulo, Brasil. In: Simpósio Brasileiro de Desastres Naturais, 1,
Florianópolis. Anais, Florianópolis: GEDN/UFSC, p. 908-919.

165
Encostas sob Risco Geológico - Uso de Drones como
Ferramenta de Investigação

Henrique Dinis
Docente, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, henrique.dinis@mackenzie.br

Sérgio Vicente Denser Pamboukian


Docente, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, sergio.pamboukian@mackenzie.br

Kamila Rodrigues Cassares Seko


Docente, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, kamila.seko@mackenzie.br

Alberto Alonso Lazaro


Docente, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, alberto.alonso@mackenzie.br

Paulo Afonso de Cerqueira Luz


Docente, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, paulo.luz@mackenzie.br

Ricardo Concilio
Docente, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, ricardo.concilio@mackenzie.br

RESUMO:
As encostas estão normalmente submetidas a fenômenos que causam sua instabilidade, podendo especialmente
ocorrer desplacamentos por erosões ou deslizamentos, especialmente em decorrência da ação das águas. Para
a municipalidade, havendo ocupação antrópica, o monitoramento destas áreas é normalmente complexo, pelas
dificuldades de acessibilidade. Com a finalidade de comprovação da eficácia de mapeamento topográfico e
geotécnico por drones, a Escola de Engenharia Mackenzie realizou em uma área piloto denominada Lions, em
Francisco Morato, em parceria com o Município, um mapeamento topográfico com drone. Obteve-se registros
da configuração do relevo e ocupação do solo, por imagens interpretadas em 3D, com registro planimétrico,
altimétrico e cadastral. Verifica-se que o mapeamento aéreo por drones torna possível analisar o relevo da
região, identificar áreas de risco e definir estratégias para a proteção de encostas, especialmente havendo
ocupações irregulares, seja para mero monitoramento, mas também, para obter um registro de situações de
ocorrência de deslizamentos e erosões, auxiliando na tomada de decisões que exijam agilidade e rapidez.

PALAVRAS-CHAVE: Drones, Mapeamento topográfico, Áreas de risco.

ABSTRACT:
The slopes are usually subjected to phenomena that cause their instability, and displacaments by erosions or
landslides, especially due to the action of the waters. For the municipality, with anthropic occupation, the
monitoring of these areas is usually complex due to accessibility difficulties. In order to prove the effectiveness
of topographic and geotechnical mapping by drones, the Mackenzie Engineering School carried out a
topographic mapping with drone in a pilot area called Lions, in Francisco Morato, in partnership with this
municipality. Records of relief configuration and soil occupation were obtained by 3D-interpreted images,
with planimetric, altimetric and cadastral records. It is verified that aerial mapping by drones may analyze the
relief of the region, identify risk areas and define strategies for the protection of slopes, especially if irregular
occupations, either for mere monitoring, but also to obtain a record of situations of occurrence of landslides,
assisting in decision making that require agility and speed.

KEYWORDS: Drones, Topographic mapping, Risk areas.

166
1 Introdução

Normalmente, os fenômenos de risco geológico, havendo ocupação antrópica, são objeto de gestão
pública continuada, especialmente em áreas com ocupação irregular. Em caso de riscos de nível alto, cuja
forma mais comum pode ser por deslizamentos e escorregamentos de massas de solo, por vezes, têm-se
dificuldades de acesso ao local para se realizar investigações mais precisas. Nestes casos, o monitoramento
destas áreas por drones pode se mostrar viável. Por meio de pesquisas experimentais com a utilização de
drones, efetuadas com o objetivo de observação, investigação geotécnica e registro topográfico por
fotointerpretação, pode-se estudar o mapeamento de áreas com dificuldades de acessibilidade, para avaliar a
eficácia e desempenho desta ferramenta e das técnicas envolvidas para seu resultado, que é o objetivo deste
trabalho. Para se estudar e verificar o desempenho da ferramenta Drone, valeu-se de uma parceria entre a
Escola de Engenharia Mackenzie e o Município de Francisco Morato, cidade localizada a Oeste da Região da
Grande São Paulo.
O Município de Francisco Morato tem sua altitude referenciada na cota 812 metros acima do nível do
mar, alcançando cotas da ordem de 970 metros, nas áreas urbanizadas. Considerando uma variação em torno
de 200 metros, em uma área superficial de 49,2 km2, o relevo acidentado pode ser considerado ondulado, com
declividades bem acentuadas em determinadas regiões especificas, aproximando-se a montanhoso. A
densidade demográfica de 3.625 hab/km² é considerada relativamente alta. Considerando-se, ainda, a ocupação
desordenada, na maior parte do território, faz com que a incidência de risco geológico seja grande. Figura 1.

Figura 1. Perímetro dos limites do município de Francisco Morato (adaptado de Google e IBGE)

Neste contexto, a incidência de acidentes com deslizamento de encostas é grande, havendo inúmeros
casos a cada período de fortes chuvas torrenciais, causando não somente prejuízos materiais, como também,
vítimas fatais. Os recursos municipais para fazer frente a estes problemas são insuficientes, dependendo muitas
vezes de ajudas financeiras de outras esferas para a realização de obras.
Diante do cenário, o município, por meio da Defesa Civil, alerta a população para os riscos de
deslizamentos de terra ou rolamentos de blocos rochosos como consequência do solo encharcado pelas fortes
chuvas. A Figura 2 exemplifica alguns escorregamentos.

167
Figura 2. Imagens do Município de Francisco Morato (Google) – Situações de escorregamentos de solo.

Dentro desse contexto, foi escolhida uma área pública denominada Lions, em Francisco Morato para
a realização de pesquisas experimentais de possibilidades e alternativas para o uso de Drone para vistoriar,
fotografar e mapear áreas de risco com difícil acesso. (Figura 3).

Figura 3. Delimitação e relevo da área de estudo (Google).

2 Mapeamento da Região do Lions

Para reconhecimento da área de interesse foram realizados 2 mapeamentos: mapeamento inicial


(superficial) e mapeamento com drones (detalhado).

2.1 Mapeamento Inicial

O mapeamento inicial foi feito de forma remota através de informações disponibilizadas na internet
(links disponíveis no final deste documento) e de serviços World Map Services (WMS) que fornecem imagens
de satélites e mapas. Essas informações não são detalhadas e as imagens são de baixa resolução. Uma visão
geral da área foi conseguida utilizando-se o serviço WMS OpenStreetMap (Figura 4).

168
Figura 4. Área de interesse (adaptado de OpenStreetMap)

Utilizando imagens da Missão Topográfica Radar Shuttle (Shuttle Radar Topography Mission -
SRTM) da National Aeronautics and Space Administration (NASA), foi possível construir um mapa
hipsométrico do município de Francisco Morato (Figura 5) utilizando o software QGIS.
Nota-se que o município possui uma variação de altitude bastante grande, cerca de 300m, indo de
737m a 1037m. Este é um valor aproximado, pois a SRTM possui originalmente uma resolução de 90m/pixel
e, através de interpolação feita pelo projeto TOPODATA/INPE, chega a 30m/pixel. Figura 5

Figura 5. Mapa Hipsométrico do município de Francisco Morato (gerado a partir de dados da NASA/SRTM)

Como a resolução das imagens SRTM é baixa, foi necessária a interpolação dos dados no QGIS para
gerar o mapa hipsométrico da área de interesse (Figura 6).

Figura 6. Mapa Hipsométrico da área do Lions (gerado a partir de dados da NASA/SRTM)

169
Através da segmentação do Modelo 3D fornecido pelo mapa hipsométrico foi possível traçar as curvas
de nível aproximadas da região de interesse. Podemos notar também um grande desnível de cerca de 70m
(Figura 7).

Figura 7. Curvas de nível da área do Lions (gerado a partir de dados da NASA/SRTM)

Outros mapas como o de Risco Geológico (Figura 8), Declividade, Relevo, Relevo Sombreado,
Geologia e Precipitações médias anuais e mensais, puderam ser obtidos através do RIGEO/CPRM.

Figura 8. Risco Geológico do município de Francisco Morato (RIGEO/CPRM)

O mapa hipsométrico obtido pelas imagens SRTM permitiu a visualização de um Modelo 3D da área
de interesse como mostra a Figura 9.

Figura 9. Modelo 3D gerado pelo software QGIS

170
2.2 Mapeamento com drones

Após a análise inicial, mostrou-se necessária uma visita ao local e um mapeamento mais detalhado da
região. Em uma visita técnica realizada em 02/10/2021, os professores do Mackenzie fizeram o
reconhecimento da área e registraram as informações com fotos e vídeos. Para completar, foi realizado um
levantamento aéreo com drones do Laboratório de Geotecnologias do curso de Engenharia Civil do Mackenzie.
O levantamento aéreo foi realizado por um drone DJI modelo Phantom 4 Pro a uma altitude de 80m.
O voo teve duração de cerca de 17min, capturou 375 imagens de alta resolução (pouco mais de 2cm/pixel) e
cobriu uma área de quase 30ha. A Figura 9 mostra o plano de voo utilizado. As linhas brancas indicam o
caminho percorrido pelo drone (mais de 6km), Figura 10.

Figura 10. Plano de voo

As imagens coletadas foram processadas pelo software Agisoft Metashape e geraram diversos
produtos: nuvem de pontos, modelo 3D (mesh), ortomosaico de fotos, Modelo Digital de Superfície (MDS),
Modelo Digital do Terreno (MDT), curvas de nível, entre outros. Posteriormente esses produtos foram
importados para software QGIS para preparação do layout final dos mapas.
A Figura 11 mostra o ortomosaico de fotos em alta resolução e a Figura 12 mostra uma ampliação de
uma parte do ortomosaico onde pode-se perceber a alta resolução do produto.

Figura 11. Ortomosaico de fotos

171
Figura 12. Detalhe do ortomosaico de fotos

A Figura 13 mostra o mapa hipsométrico e as curvas de nível geradas a partir das imagens obtidas
pelo drone. A figura 14 mostra nuvem de pontos gerada pelas imagens.

Figura 13. Mapa hipsométrico e curvas de nível (drones)

Figura 14 – Nuvem de pontos (drone)

172
Na Figura 15 pode-se ver o Modelo Digital de Superfície (MDS) e na Figura 16 o Modelo Digital do
Terreno (MDT). O MDT é utilizado para gerar os mapas hipsométricos e curvas de nível, uma vez que
apresenta a superfície real do terreno. Neste modelo, árvores e construções são removidas digitalmente da cena
durante o processamento das imagens.

Figura 15. MDS - Modelo Digital de Superfície (drone)

Figura 16. MDT - Modelo Digital do Terreno (drone)

O usuário pode navegar dentro do modelo 3D (mesh) da área do Lions e, se quiser, gerar vídeos da
região, definindo as posições e movimentos de câmera. O mesh também pode ser utilizado para a geração de
um modelo físico através da tecnologia de impressão 3D.

3 Considerações Finais

Por meio da pesquisa realizada, constatou-se o desempenho da utilização de drones para vistorias em
locais de difícil acesso e como uma ferramenta eficaz e de suficiente precisão fotográfica e topográfica para
o mapeamento de áreas específicas, típicas de áreas de risco, em especial as que sofreram deslizamentos,
mas também aquelas em situação de ocupação irregular sob risco geológico.
O poder público pode criar mecanismos de acompanhamento da ocupação do município, atualizando
rotineiramente os dados cadastrados e mapeados ao longo dos anos, disponibilizando-se a atender as
dificuldades que surgirem e auxiliar na resolução de riscos ininentes. Também, avaliar por meio de vistorias
rotineiras, o avanço da ocupação do solo no município. Verifica-se assim a versatilidade da ferramenta e
suas possibilidades de ser utilizada e manuzeada pelo próprio poder público.

173
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Mapa topográfico de Francisco Morato com as altitudes. https://pt-br.topographic-


map.com/maps/gi4q/Francisco-Morato/
Municípios e Setores – IBGE. https://www.ibge.gov.br/geociencias/downloads-geociencias.html
Instituto Brasileiro de Geografia e estatística. Municípios e Setores.
https://www.ibge.gov.br/geociencias/downloads-geociencias.html . Acesso em out. 2021.
Prefeitura do Município de Francisco Morato – SP (2021). Plano de Contingência Verão 2020/2021.
http://www.franciscomorato.sp.gov.br/arquivos/texto/anexo_5fd2766514f60.pdf .Acesso em out. 2021.
Repositório Institucional de Geociências – RIGEO. Setorização de áreas em alto e muito alto risco a
movimentos de massa, enchentes e inundações de Francisco Morato, São Paulo.
https://rigeo.cprm.gov.br/jspui/handle/doc/20478. Acesso em out. 2021.
Serviço Geológico do Brasil – SGB – CPRM. Carta de suscetibilidade a movimentos gravitacionais de massa
e inundações – município de Francisco Morato – SP. https://rigeo.cprm.gov.br/jspui/handle/doc/15174.
Acesso em out. 2021.
Topographic-map. Mapas topográficos do Brasil, Francisco Morato. https://pt-br.topographic-
map.com/maps/gi4q/Francisco-Morato. Acesso em out. 2021.
Universidade Presbiteriana Mackenzie – Escola de Engenharia (2021). Infraestrutura e Logística Humanitária
– Uso, ocupação e estabilização de áreas de risco. Projeto Cidades Inteligentes. Não publicado.

174
Analise Comparativa de Mapeamento Geotécnico Tradicional e
por meio de VANTs em Maciços Rochosos
Emerson de Senna Diogo
Estudante, UFRGS, Canoas, Brasil, emersonsenna20@yahoo.com.br

André Cezar Zingano


Professor, UFRGS, Porto Alegre, Brasil, andrezin@ufrgs.br

RESUMO: O A estabilidade de taludes em rochas está principalmente condicionada as características e


quantidade de descontinuidades presente no maciço rochoso e por isso um bom mapeamento geotécnico é
muito importante para uma operação segura. Tradicionalmente, esse mapeamento é feito por meio da
técnica de scanline, onde é demorada, limitada, perigosa e tendenciosa; porém, trazendo muitas
informações importantes para o talude. O crescente desenvolvimento de novas tecnologias na geração de
modelos tridimensionais permite que a fotogrametria possa criar superfícies digitais rigorosas que possam
fornecer detalhes das estruturas geológicas. Este artigo apresenta uma comparação entre a técnica
tradicional (Scanline) e a fotogrametria aérea aplicado a um estudo de caso de uma mina a céu aberto de
ouro. Os Resultados mostram-se um avanço grande em relação a técnica de aerofotogrametria em
comparação a técnica de scanline.

PALAVRAS-CHAVE: Mapeamento Geotecnico, VANTs, Scanline, Estabilidade de Taludes.

ABSTRACT: The rock slope stability is mainly conditioned for the characterize e amount of discontinuity’s
present in rock mass and for that a good geotechnic mapping is very important for rock slope stability
ensuring a good safety operation. Traditionally, this mapping is made by scanline technic, where is delay,
dangerous, limited and biased, but bring a lot of important information’s for slope. The growing
development of new technologies in the generation of three-dimensional models enable that the
photogrammetry can create a strict digital surface that can provide a detail of geological structures. This
paper shows a comparative between the scanline technique and aerial photogrammetry applied a study case
of a gold open pit mine. The results show a big progress about aerial photogrammetry.

KEYWORDS: Geotechnic mapping, VANTs,Scanline, Slope Stability

1 Introdução

Segundo Caputo et al (2015), o nome talude compreende qualquer superfície inclinada que limita
um maciço de terra, de rocha ou de terra e rocha podendo ser natural, caso das encostas, ou artificiais
como o caso de escavações tanto civis quanto mineração. Advém a isso um cuidado com a estabilidade de
taludes.
A caracterização de um maciço rochoso tanto para a construção civil quanto para mineração é de
vital importância. Uma boa caracterização garante uma maior segurança para a estrutura e para operação.
Além de garantir uma melhor extração de recursos no caso da mineração.
Diferente do que ocorre em solos, a estabilidade de taludes em rochas está condicionada
principalmente as descontinuidades geológicas. A caracterização das descontinuidades é fator fundamental
na análise de estabilidade em escavações subterrâneas e a céu aberto (Hoek & Brown,1980; Hoek &
Bray,1981).
De acordo com Fossen (1978) o estudo das descontinuidades das rochas é vital tanto para os
geólogos estruturais devido ao estudo da terra e da geologia econômica, quanto para os engenheiros de
rocha, visto que a estabilidade está condicionada por esses fatores. Falhas, fraturas, dobramentos, zonas de
cisalhamento são algumas das estruturas geológicas que utilizamos como descontinuidades.
Essa caracterização do maciço é responsável por nos fornece importantes parâmetros para avaliar o
talude. Parâmetros tais como frequência, preenchimento, abertura, rugosidade e orientação são fatores
primordiais em muitas classificações geomecanicas de maciços tais como o RQD (Rock Quality
Designation (Deere,1964), o RMR (Rock Mass Rating (Beniawski,2014) e Q-Slope (Barton,2015).

175
O mapeamento geotécnico de uma escavação a céu aberto compreende ir ao campo e obter os
parâmetros supracitados e nas técnicas mais tradicionais o operador fica exposto a riscos e a viés de
medições (brown,2004). A técnica clássica mais utilizada é a Scanline no qual é traçado uma linha em
frente ao talude e a cada descontinuidade que corta a linha é marcada no mapeamento.
Com o avanço das tecnologias, e cada vez mais o uso de Veículos aéreos não tripulados (VANTs)
para mais diversas aplicações (Melo,2008). Relativamente caro no passo, hoje nem tanto ele tem se
tornado uma alternativa viável para o mapeamento das descontinuidades.
Além disso, com a técnica Structure from Motion (SfM) que permite a reconstituição automática de
uma cena tridimensional por meio de um conjunto de fotos tiradas de diferentes posições sem a
necessidade de determinação de parâmetros externos da câmera. (Viana,2015).
O menor risco e a facilidade de acesso aos locais de difícil acesso são algumas possibilidades que o
mapeamento com drone traz.
Esse artigo tem como objetivo comparar a técnica clássica (Scanline) com o mapeamento de
descontinuidade utilizando a técnica Structure From motion.

2 LOCAL DE ESTUDO

A pesquisa foi feita em uma cava desativada de uma mineradora de ouro com prospecção de
reativação no interior do Estado da Bahia

3 METODOLOGIA

A metodologia deste trabalho consistiu em fazer o levantamento pela técnica clássica Scanline.De
acordo com a ISRM nessa técnica é necessários alguns equipamentos que irão ajudar a obtenção dos
parâmetros. O primeiro é a trena que irá funcionar como a linha a ser traçada na frente do talude. O segundo
equipamento é a bussola de geólogo que será responsável por obter as atitudes das descontinuidades, um
pente de Barton (rugosimetro )(figura 1) , uma trena eletrônica para persistência e uma martelo schimidt para
medir a resistência da rocha.

Figura 1 Pente de Barton (Rugosimetro)

O mapeamento foi feito em 2 janelas (Figura 2) em uma mina do estado da Bahia. O primeiro passo
foi a escolha dos locais em que seriam mapeados nessa mina a bancada era de 5m e os acessos ficaram em
boa parte seguros então foi possível realizar o mapeamento em grande extensão.

176
Figura 2 Tecnica de Scanline (mapeamento por varredura)

A cada mapeamento a fim de facilitar a obtenção de dados se a descontinuidade estivesse em


conjunto com uma diferença de dip/dip Direction menor que 10° eram contabilizadas com a mesma
família e por isso catalogadas como 1 só e feita a medida a partir da média.
A cada medida era registrado numa tabela (Tabela 1) a sua posição, o número de descontinuidades
(se for família), a espessura, Atitude e o tipo, persistência, rugosidade, o tipo de preenchimento e a sua
resistência, abertura e a resistência da rocha em sim. Além disso, se havia ou não presença de água.

Tabela 1 Registro da medição de Scanline

A medição da descontinuidade se faz por meio inserir a bussola na descontinuidade e medir o


dip/Direction. Aqui se faz uma ressalva, devido a termos dois tipos de bussola de geólogo o do tipo clar e
o do tipo bruton. São feitas medidas diferentes, aqui iremos falar somente do tipo clar, nessa existe a
tampa da bussola que representa o dip, nela iremos colocar a tampa na direção da descontinuidade e medir
o dip ao lado (figura 3), e dependedo da orientação do risco então olharemos na bussola o lado preto (sul),
ou lado vermelho (norte). A persistência foi feita por meio de utilização da trena eletrônica imputando da
base até onde seria o fim da descontinuidade.

177
Figura 3 Bussola geológica do tipo Clar

O mapeamento com Vants foi feito de maneira diferente. O primeiro passo foi a escolha da
aeronave e o sensor fotográfico que foi utilizado o Phantom 4 DJII(Figura 4) . As configurações atingiram
uma sobreposição de 75% em voo livre. O equipamento utilizado pode ser observado abaixo.

Figura 4 Equipamento de voo ( Phantom 4)

O segundo passo é a estratégia de voo. No cenário de mina, as bancadas estão em constante


mudança e uma topografia irregular com constante mudança impede que a aeronave faça um plano de voo
planejado. Logo, a forma mais eficiente encontrada foi a utilização do voo livre.
A estratégia para o levantamento das fotos acompanha a face da escavação mantendo a distância
mínima da face com a obliquidade da câmera aproximadamente ortogonal à face e acompanhando ao
longo do talude ou da cava (Figura 5). A fim de garantir a fidelidade cartográfica nos modelos, pontos de
controle foram devidamente dispostos, georreferenciados na área e incluídos nas capturas de imagens.

Figura 5 Exemplo de voo livre em Bancadas

O passo seguinte é a geração do modelo para a medição das descontinuidades. Após a obtenção das

178
imagens é por meio da técnica de Structure From Motion essa técnica de imageamento de intervalo estudada
nos campos da visão de máquina e percepção visual (Figura 6) . Ela obtém uma cena tridimensional por meio
de uma série de duas dimensões. Na SfM a geometria da cena, a posição das câmeras e suas orientações são
resolvidas automaticamente sem a necessidade de especificar uma série de dados com coordenadas 3D
conhecidas.

Figura 6 Structure from motion

O processamento das imagens e os modelos tridimensionais além da nuvem de pontos foram


criados pôr no Software Metashape Professional na versão 1.6.2, da Agisoft que se baseia na técnica de SfM
gerando modelos tridimensionais georreferenciados. Para que seja utilizado o SfM deve-se ter muitas fotos
para que haja sobreposição redundante. A fim de gerar uma nuvem de pontos de qualidade foram geradas de
100 a 150 fotos por janela a ser mapeada.
As fotos foram importadas para o software e foram feitos o tratamento delas. Esse tratamento
consistiu em escolher quais fotos iriam, como já mencionado e bom que haja uma sobreposição redundante
de imagens afim de melhorar a precisão do modelo, todavia, isso acaba por aumentar o tempo de
processamento exigindo muito da máquina. Logo, foram escolhidas fotos que não eram muito relevantes
para o projeto. Após esse tratamento é feito o alinhamento das fotos que consiste em colocar no espaço elas
para que posteriormente faça uma nuvem densa de pontos. O alinhamento existe a opção do baixo até o nível
mais alto o que irá dizer se levaram mais ou menos tempo para o processamento. Após isso é feito a nuvem
densa de pontos, ou seja, uma quantidade enorme de referências que serão a base para a geração do modelo
tridimensional.

Figura 7 Area de trabalho do Metashape Agisoft (nuvem densa)

Após o processamento da nuvem densa é feito o mapeamento das descontinuidades, esse


mapeamento hoje pode ser feito por softwares como 3DM analicty,Sirovision e Gem4d. Nesse projeto,
utilizamos o software Sirovisions para o mapeamento das descontinuidades.
A interface do sirovision oferece duas ferramentas de amostragem de pontos: (1) plano (Plane) ou
Traço (Trace). Em Plane, quando a estrutura se expõe aflorante na nuvem de pontos apontado a presença
de uma estrutura, é amostrado pelo menos 3 pontos, o qual gera um plano que representará a
descontinuidade. Em Trace, a ferramenta é empregada quando a geometria não é saliente, mas tem uma
continuidade visível ao longo da nuvem de pontos que permita seu tracejo e produz uma superfície
equiplanar nos pontos amostrados

179
Figura 8 utilização da Ferramenta Trace no Sirovision

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

A projeção estereográfica é a maneira mais apropriada de apresentação de dados após o


levantamento de um mapeamento geomecânico, em que por meio de tabelas com as médias das atitudes
por família são descritas e são uma boa forma de explorar esses dados com maior facilidade.
A análise do mapeamento foi organizada de duas formas: a primeira por meio da plotagem. A
inserção de dados foi utilizada o software da rocscience Dips versão 8.017 (Figuras 11 e 12). Os locais
mapeados (Figura 9 e 10)

Figura 9 Área mapeada janela 1

Figura 10 área mapeada janela 2

A seguir foi feito uma validação com o agrupamento das descontinuidades que representariam as
famílias. Foram identificadas 4 famílias para a primeira janela. 10 famílias para segunda janela. Essas
famílias estão representadas abaixo (Tabela 2) .

180
Tabela 2 Atitude das famílias de descontinuidades medidas por Scanline
Janela Família Dip Dip Direction
1 Fr1 33 341
1 Fr2 42 175
1 Fr3 69 113
1 Fr4 64 168
2 Fr1 70 37
2 Fr2 71 175
2 Fr3 71 155
2 Fr4 42 154
2 Fr5 79 166
2 Fr6 46 17
2 Fr7 83 27
2 Fr8 65 42
2 Fol 32 41
2 ZC 61 187

Figuras 11 e 11 Atitudes da janela 1 e 2

Uma pendência ou fraqueza da técnica da técnica de scanline na questão de medir a descontinuidade


é o fator de altura do operador, visto que estruturas maiores não podem ser medidas o que realmente
dificulta uma maior quantidade de amostras.
Na técnica de mapeamento por Vants, por meio do Sirovision foi importado a nuvem densa e
posteriormente feita o mapeamento pela ferramenta trace (Figura 13). Após isso foi exportado a tabela
com os dados de dip/Direction para o software dips da rocsciense (Figura 14). O mesmo procedimento do
scanline para família foi construído gerando uma tabela.

Figura 12 Mapeamento por meio do Sironvision na Janela 1

181
Figura 13 Atitude do mapeamento dos locais feito por Vants.

5 CONCLUSÕES

É possível perceber que a técnica tradicional ela se restringe em muitos aspectos na obtenção de
dados sendo responsável entre 10 a 20% das estruturas mapeadas nesse trabalho. Enquanto o uso do VANTs
vem cada vez mais aumentando e comprovando a eficácia da tecnologia aplicada ao processamento de
imagem.
Algumas diferenças são visíveis entres as técnicas tais como uma pequena variação na medida do
dips para análise cinemática é importante que quanto mais informações das descontinuidades tivermos
melhor confiança teremos no resultado dela.
A aplicabilidade em locais que não conseguimos acesso, além da segurança são imprescindíveis para
o mapeamento geomecanico. Todavia, as técnicas de mapeamento por drone não fornecem informações
como Rugosidade da rocha, tipo de preenchimento (análise de campo), resistência do preenchimento e da
rocha que são fatores importantes para o cálculo do fator de segurança do talude.
Importante frisar que este artigo não desmerece uma técnica ou outra, e sim a combinação delas para
o melhor estudo da caracterização geomecanica e estabilidade de taludes.

6 REFERÊNCIAS

BRADY, B.; BROWN, E. (2004). Rock mechanics for underground mining. Springer Science, New
York
BIENIAWSKI, R. Z. T. (1973). Engineering Classification of Jointed Rock Masses. Civil Engineer
in South Africa, 15(12), 335–343.
CAPUTO, Homero Pinto (2015). Mecânica dos Solos: e suas Aplicações..
FOSSEN, H. (2010). Structural Geology. Cambridge University Press, New York.
LUCIEER, A., S.M. de Jong and D. Turner, (2014). Mapping landslide displacements using
Structure from Motion (SfM) and image correlation of multi-temporal UAV photography.
MARTIN, C.D., D.D. Tannant and H. Lan, (2007). Comparison of terrestrial-based, high resolution,
LiDAR and digital photogrammetry surveys of a rock slope. Proc. 1st Canada-US Rock Mechanics Symp.,
P. 1 - 8.
READ, Jhon et al. Guidelines for open pit slope design. 1. ed. Australia: CSIRO, 2010. 622 p. v.
único.
STURZENEGGER, M. and D. Stead, (2009). Closerange terrestrial digital photogrammetry and
terrestrial laser scanning for discontinuity characterization on rock cuts. Engineering Geology, 106(3-4): p.
163 - 182.
WICKENS, E. H.; Barton N. R. (1971). The application of photogrammetry to the stability of
excavated rock slopes, The Photogrammetric Record 7(37): p. 46 – 54

182
Uso de Vant No Levantamento Cadastral De Uma Encosta
Rochosa Em Belo Horizonte

Murillo Henrique Ferreira


Discente, Cefet-MG, Belo Horizonte/MG, Brasil, murillo.h1@gmail.com

Júlia Amâncio Fonseca


Discente, Cefet-MG, Curvelo/MG, Brasil, juliafonsecan@gmail.com

Thiago Bomjardim Porto


Docente, Cefet-MG, Curvelo/MG, Brasil, thiagoportoeng@gmail.com

Armando Belato Pereira


Docente, Cefet-MG, Varginha/MG, Brasil, armandobelato@cefetmg.br

André Henrique C. Teixeira


Docente, Cefet-MG, Belo Horizonte/MG, Brasil, andrehenrique@cefetmg.br

Tatiana Barreto dos Santos


Docente, UFOP, Ouro Preto/MG, Brasil, tatiana.santos@ufop.edu.br

RESUMO: Sendo os estudos geotécnicos de grande relevância para a análise de áreas de risco, o presente
trabalho apresenta uma nova metodologia para elaboração de mapas e modelos tridimensionais por meio da
utilização da técnica de aerofotogrametria, avaliando se essa atende as normativas cartográficas brasileiras,
em comparação com modelos gerados por métodos da topografia clássica para validação perante precisão e
exatidão. O estudo de caso foi realizado na Pedreira Prado Lopes, um maciço rochoso de aproximadamente
190 metros de comprimento e 20 metros de altura, localizado na região Noroeste de Belo Horizonte, Minas
Gerais, Brasil, sendo uma região que se mostra propícia a movimentos de massa como tombamento, queda e
rolamento de rocha, classificada como região de alto risco geotécnico conforme a Defesa Civil de Belo
Horizonte. A metodologia da pesquisa foi dividida nas seguintes etapas: vistoria e planejamento de voo,
implantação de pontos de apoio, execução de voo, processamento dos dados através do programa Agisoft
Metashape v1.6, exportação dos modelos tridimensionais e do ortomosaico, vetorização e geração da planta
topográfica em escala 1:1000, comparação dos produtos gerados com o aerolevantamento com a topografia
convencional. Para análise técnica dos produtos gerados foram comparadas as coordenadas planialtimétricas
de pontos chaves existentes nos dois levantamentos, os quais resultaram em erro padrão de 0,007 m na
planimetria e 0,080 m na altimetria, o que confere uma classificação PEC classe A aos produtos gerados.

PALAVRAS-CHAVE: Aerofotogrametria, Modelo tridimensional, Mecânica das Rochas, Encostas


Rochosas, Mapeamento.

ABSTRACT: Since geotechnical studies are of great relevance for the analysis of risk areas, the present
work presents a new methodology for the elaboration of three-dimensional models through the use of the
aerial photogrammetry technique, evaluating whether it meets the Brazilian cartographic regulations, in
comparison with models generated by methods of classical topography for validation in terms of precision
and accuracy. The case study was carried out in Pedreira Prado Lopes, a rocky massif approximately 190
meters long and 20 meters high, located in the northwest region of Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil,
being a region that is prone to mass movements, as tipping, falling and rock rolling, classified as a region
of high geotechnical risk according to the Civil Defense of Belo Horizonte. The research methodology was
divided into the following steps: inspection and flight planning, implementation of control points, flight
execution, data processing through the Agisoft Metashape v1.6 program, export of three-dimensional
models and orthomosaic, vectorization and generation of the topographic plant in scale 1:1000, comparison
of the products generated with the aerial survey with the conventional topography. For technical analysis of
the generated products, the planialtimetric coordinates of key points existing in the two surveys were
compared, which resulted in a standard error of 0.01 m in planimetry and 0.08 m in altimetry, which gives
a CAS class A classification to the products generated. 183
KEYWORDS: Aerophotogrammetry, Three-dimensional Model, Rock Mechanics, Rocky Slopes,
Mapping.

1 Introdução
A Aerofotogrametria é uma ciência consolidada, que faz uso de fotos obtidas por meio de câmeras
embarcadas em aeronaves para geração de modelos tridimensionais e mapas ortogonais, que retratem fielmente
uma superfície e apresentem medidas fidedignas à realidade. Atualmente, com a inserção dos VANT’s
(Veículos Aéreos Não Tripulados) e com a criação de softwares de estereoscopia e modelagem, tornou-se
possível vencer dificuldades de alto custo e o levantamento aerofotogramétrico se tornou um processo com
possibilidades de aplicação em diversas áreas, como planejamento e construção de infraestruturas, estudos
hidrológicos, avaliações e perícias técnicas, construção de maquetes e modelos, monitoramentos e estudos
geológicos, etc. (KARAKAS, KOCAMAN e GOKCEOGLU, 2021).
Conforme previsto pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), o aerolevantamento pode ser
definido como um conjunto de operações aéreas e/ou espaciais de medição, computação e registro de dados de
uma área a partir do emprego de sensores remotos embarcados e bem como o processamento e interpretação dos
dados gerados.
A garantia de qualidade de um levantamento, seja ele topográfico ou aerofotogramétrico, está
diretamente ligada a presença de pontos de apoio georreferenciados em solo, os quais são obtidos por meio da
utilização de receptores GNSS geodésicos, aparelhos capazes de captar sinais de satélite e determinar com
precisão milimétrica a coordenada de cada ponto de apoio, para que sirvam como base para estabelecer as
coordenadas de todo o plano topográfico a ser gerado.
Sendo descritos como uma representação estatística da distribuição espacial vinculada a uma superfície
por meio de uma grade de pontos com coordenadas, a geração de modelos digitais da área de estudo se mostra
como um dos principais produtos da aerofotogrametria, possuindo vastas aplicações, inclusive no âmbito dos
estudos geológicos e geotécnicos. Por meio da técnica de aerotriangulação, que é uma técnica fotogramétrica
utilizada para determinar pontos chaves no terreno e referenciar imagens, torna-se possível gerar modelos digitais
acurados e consequentemente, planos topográficos ortorretificados, os quais podem ser chamados de
ortomosaicos e contém dados planialtimétricos com exatidão para atendimento às normas cartográficas
brasileiras (GAMBA e SANO,2021).
Os principais tipos de modelos digitais gerados através da técnica de aerofotogrametria podem ser
divididos em três classes: Modelos Digital de Elevação (MDE), representando a superfície com ênfase nas
elevações através de um gradiente de cores, Modelo Digital de Superfície (MDS), representando a superfície com
grande detalhamento planimétrico, mas levando em consideração a altimetria do topo dos objetos observados e
não a do terreno propriamente dito e o Modelo Digital de Terreno (MDT), o qual representa todas as dimensões
reais ao nível do terreno, sem incluir topos de edificações, vegetação e demais objetos. O MDT é o modelo mais
utilizado para geração das curvas de níveis e estudos técnicos de todos os tipos (FENG, BRENNER e SESTER,
2018).
Conforme a NBR 13133 (ABNT, 2021), uma representação topográfica de uma área é,
independentemente do método de coleta de dados, uma caracterização gráfica dos detalhes físicos, naturais e
artificiais de uma superfície terrestre, contendo símbolos ou convenções de orientação que permitem avaliação
de distâncias e localização de pontos, além de áreas e objetos e devem atender aos requisitos de qualidade das
normas de cartografias brasileiras. O Padrão Brasileiro de Exatidão Cartográfica (PEC), por sua vez, apresenta
as tolerâncias e erros padrões admissíveis aos dados espaciais, classificando estes em classes de exatidão de A
(com maior exatidão) até C (com menor exatidão). A Tabela 01 ilustra os critérios de exatidão a serem atendidos
conforme cada classe, considerando uma escala 1:1000 (BRASIL, 1984).
Tabela 01. Classificação das Classes conforme PEC Brasileiro em Escala 1:1000
Planimétrico
Altimétrico (Curvas de Nível de m em m)
CLASSES Escala 1:1000
PEC (m) EP (m) PEC (m) EP (m)
A 0,500 0,300 0,500 0,333
B 0,800 0,500 0,600 0,400
C 1,000 0,600 0,750 0,500
PEC: Padrão de Exatidão Cartográfica
EP: Erro Padrão

Desse modo, diante do exposto, este trabalho objetiva a validação de Modelos Tridimensionais e
ortomosaicos gerados por meio de dados obtidos por geotecnologia VANT para estudos geológicos e geotécnicos.
184
2 Métodos

A área de estudo da pesquisa está representada na Figura 01 e esta possui, aproximadamente dois
hectares, compreendendo o perímetro da Pedreira Prado Lopes, que inclui um maciço rochoso de dimensões
aproximadas de 190 metros de comprimento e 20 metros de altura, localizada na região Noroeste de Belo
Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Essa área é classificada pela Defesa Civil de Belo Horizonte como uma região
propícia a movimentos de massa como tombamento, queda e rolamento de rochas, definindo uma zona de alto
risco geotécnico.

Figura 01. Mapa de Localização

A abordagem metodológica da pesquisa foi composta por seis etapas, sendo, respectivamente: vistoria
inicial e planejamento do levantamento com o uso de VANT, implantação de pontos de apoio, execução do voo,
processamento e exportação de modelos e mapas, vetorização e formatação de mapas e avaliação dos dados
gerados pela aerofotogrametria em comparação com a topografia clássica.
A primeira etapa envolveu uma vistoria inicial na área para reconhecimento do local, visando observar:
pontos de decolagem e pouso, possíveis interferências, presença de vegetação, altura do maciço, entre outros.
Posteriormente, foram definidas a localização dos possíveis pontos de apoio e elaborado o plano de voo, que
compõe a etapa de planejamento. O plano de voo foi desenvolvido com auxílio do software livre de planejamento
Drone Deploy, definindo os parâmetros da técnica de voo cruzado com câmera oblíqua em um ângulo de 65º,
altura de 50m, taxa de sobreposição frontal de 80% e lateral de 70%, totalizando um tempo estimado de 19
minutos e 23 segundos para cobrir toda a área. A Figura 02 demonstra a região planejada anteriormente ao
levantamento.

Figura 02. Planejamento de voo no software Drone Deploy


185
Posteriormente ao planejamento do voo, foi definida a data do dia 24 de setembro de 2021 para execução
da implantação dos pontos de apoio e execução de voo. Finalizando a primeira etapa, realizou-se a solicitação de
voo através do sistema Sarpas do Exército Brasileiro informando local, data e horário, para correta liberação do
voo, o qual foi aprovado sem ressalvas.
As etapas de implantação de pontos de apoio e execução de voo foram realizadas no dia 24 de setembro
de 2021. Sendo implantados onze pontos de apoio materializados em campo com auxílio de tinta branca a base
de água e rastreados com uso de receptor GNSS (Global Navigation Satelite System) geodésico, anteriormente
à execução do voo, conforme demonstrado um dos pontos de apoio na Figura 03. O receptor GNSS utilizado
foi o modelo Hiper da Topcon com tecnologia RTK (Real Time Kinematic), pertencente ao departamento de
transportes do CEFET-MG.

Figura 03. Implantação e Rastreio de Ponto de Controle

Para a execução do voo foi utilizado um VANT modelo Phantom 4 Pro da marca DJI, também
pertencente ao departamento de transportes do CEFET-MG, a Figura 04 apresenta o equipamento utilizado.

Figura 04. Drone DJI modelo Phantom 4 Pro

A Figura 05 demonstra a equipe dos pesquisadores no dia do aerolevantamento, na Pedreira Prado


Lopes, Minas Gerais, Brasil.

186
Figura 05. Registro com uso da tecnologia VANT da equipe, durante o aerolevantamento.

Na etapa de processamento de dados, primeiramente foram obtidas as coordenadas planialtimétricas


dos pontos de apoio no sistema de projeção cartográfica Universal Transversa de Mercator (UTM), datum
planimétrico SIRGAS2000 e altimétrico marégrafo de Imbituba - Santa Catarina, com auxílio do software
Trimble Business Center, por meio da técnica de posicionamento absoluto para a base, e relativo estático rápido
para os demais pontos. Para esta etapa foi utilizado um computador de alta performance contendo processador
i9, placa de vídeo Nvidia modelo RTX 2060 e 32Gb de memória RAM, pertencente a Exitus Engenharia.
Após a obtenção das coordenadas, o passo seguinte foi o do processamento das imagens. Nesta fase foi
necessário criar e configurar o projeto no software Agisoft Metashape v1.6, importando as fotos e inserindo os
detalhes e coordenadas das mesmas. Posteriormente, fez-se necessário realizar a etapa de aerotriangulação,
orientando as imagens através de pontos chave e, definindo a posição e altitude para cada imagem, em relação
aos pontos de apoio referenciais no terreno. Após a aerotriangulação, foi gerado o Modelo Digital de Superfície
e a Nuvem de Pontos Densa, o que possibilitou realizar a filtragem na nuvem de pontos e fazer a avaliação dos
pontos gerados para a separação dos marcos de terreno, de edificações, vegetação, entre outros. Ressalta-se que
a fase de filtragem da nuvem de pontos exige experiência do executante, pois é possível realizar classificações
automáticas com o auxílio do software, mas estas não asseguram muita precisão, portanto, é necessário a
realização de conferência e ajustes manuais.
O passo seguinte da metodologia foi a geração do Modelo Digital de Terreno, do Modelo Digital de
Elevação e as Curvas de Nível, os quais usufruíram da nuvem de pontos filtrada. Quanto maior a qualidade da
nuvem de pontos, maior a qualidade dos modelos obtidos. Foi gerado, então, o ortomosaico por meio da técnica
de ortorretificação, com mais alto grau de detalhamento, obtido com imagens de alta resolução. Por fim, os
modelos digitais e o ortomosaico foram exportados nos formatos DXF, TIFF e JPEG, para realização de análises
técnicas. A vetorização e formatação, foi a etapa na qual realizou-se o tratamento dos dados e a geração da
planta topográfica, utilizando o software de computação gráfica AutoCAD, onde tornou-se possível transformar
os dados rasters (imagens) em dados vetoriais (linhas e polígonos). Durante essa etapa foi também estabelecido
uma linha base contendo um estaqueamento de 20 em 20 metros para melhor avaliação dos modelos e do
ortomosaico.
A última etapa consistiu em avaliar o modelo tridimensional e o ortomosaico, segundo sua acurácia por
meio da análise de pontos amostrais, em comparação com os dados do levantamento topográfico clássico cedido
pela empresa Consmara Engenharia e os pontos de apoio coletados em campo com receptor GNSS. Os dados
obtidos foram avaliados segundo a norma brasileira NBR 13.133 (ABNT, 2021) e o Padrão de Exatidão
Cartográfica Brasileiro, com vistas a garantir a exatidão posicional das amostras.

3 Resultados

Por meio da técnica de aerotriangulação foi gerada uma nuvem densa contendo aproximadamente 171
milhões de pontos, a qual foi possível devido às imagens de alta resolução obtidas pelo VANT. Posteriormente
utilizando a nuvem de pontos foi então gerado um modelo digital de elevação e um modelo digital de superfície
em alta qualidade. A Figura 06 ilustra o modelo de superfície focando no maciço rochoso e as estacas
estabelecidas através de uma linha base de análise.

187
Figura 06. Visão Geral do modelo de Superfície.

Após a geração do modelo digital de superfície foi então gerado também um modelo digital de elevação
(MDE) para auxílio na classificação e filtragem da nuvem de pontos e posteriormente a geração do modelo
digital de terreno (MDT) e do ortomosaico ilustrados na Figura 07.
Observou-se que nos trechos localizados entre as estacas E0 a E2 e de E3 a E5 da linha base a superfície
do maciço esteve mais visível no modelo de superfície gerado, visto que as demais áreas apresentaram presença
de vegetação, o que levou a uma atenção especial com a nuvem de pontos para geração do modelo digital de
terreno.

Figura 07. MDE, MDT e Ortomosaico.

Os modelos digitais e ortomosaico foram exportados para a vetorização e análise técnica. A Figura 08
ilustra a vetorização do ortomosaico e a linha base do estaqueamento.

Figura 08. Vetorização e Linha base.


188
Na Figura 09 é mostrado ortomosaico resultado do levantamento aerofotogramétrico realizado pelo
VANT Phantom 4Pro e a localização de alguns dos pontos amostrais em amarelo.

Figura 09. Ortomosaico.

Foram selecionados 20 pontos amostrais para a análise planimétrica (representados na Figura 09 por meio
de círculos amarelos), sendo que 10 deles tiveram também sua altimetria avaliada.
Na Tabela 02 são apresentadas as coordenadas x, y dos pontos obtidas por meio de aerolevantamento e
por meio de topografia convencional, a diferença entre elas, a média das diferenças, o desvio padrão amostral e
o erro padrão obtido.

Tabela 02. Resultados das análises planimétricas.


ANÁLISE PLANIMÉTRICA
AEROLEVANTAMENTO TOPOGRAFIA CONVENCIONAL
Diferença
PONTO NORTE (m) ESTE (m) NORTE (m) ESTE (m)
(m)
P1 7.798.766,47 609.860,92 7.798.766,52 609.860,94 0,048
P2 7.798.825,62 609.859,26 7.798.825,64 609.859,26 0,021
P3 7.798.890,91 609.881,85 7.798.890,93 609.881,83 0,031
P4 7.798.812,87 609.823,92 7.798.812,89 609.823,96 0,041
P5 7.798.867,72 609.823,94 7.798.867,72 609.823,93 0,019
P6 7.798.837,89 609.801,65 7.798.837,90 609.801,75 0,092
P7 7.798.914,91 609.842,56 7.798.914,92 609.842,56 0,011
P8 7.798.876,97 609.858,86 7.798.876,98 609.858,88 0,026
P9 7.798.940,06 609.867,74 7.798.940,07 609.867,75 0,017
P10 7.798.792,44 609.810,41 7.798.792,47 609.810,39 0,032
P11 7.798.775,90 609.834,45 7.798.775,90 609.834,45 0,000
P12 7.798.819,62 609.835,76 7.798.819,62 609.835,76 0,000
P13 7.798.832,99 609.816,95 7.798.832,99 609.816,87 0,085
P14 7.798.853,65 609.833,00 7.798.853,65 609.833,00 0,000
P15 7.798.879,55 609.874,32 7.798.879,59 609.874,26 0,076
P16 7.798.910,11 609.866,57 7.798.910,19 609.866,61 0,084
P17 7.798.855,09 609.851,00 7.798.855,12 609.851,08 0,082
P18 7.798.908,37 609.872,08 7.798.908,34 609.872,08 0,030
P19 7.798.784,74 609.830,64 7.798.784,71 609.830,72 0,079
P20 7.798.796,52 609.818,60 7.798.796,52 609.818,60 0,000
Média (m) 0,039
Desvio Padrão (m) 0,032
Erro Padrão (m) 0,007
Em relação aos resultados planimétricos podemos observar uma amplitude amostral (diferença entre
valores máximos e mínimos) das diferenças obtidas de 0,092 m e uma média de 0,039 m, em relação ao erro
padrão foi obtido o valor de 0,007 m.
Na Tabela 03 por sua vez, são apresentadas as cotas dos pontos obtidas por meio de aerolevantamento e
por meio de topografia convencional, a diferença entre elas, a média das diferenças, o desvio padrão amostral e
o erro padrão obtido. Destaca-se que as cotas dos pontos foram geradas a partir do modelo digital de terreno.
189
Tabela 03. Resultados das análises altimétricas
ANÁLISE ALTIMÉTRICA
AEROLEVANTAMENTO TOP. CONVENCIONAL
PONTO Diferença (m)
COTA (m) COTA (m)
P1 891,915 892,004 -0,089
P2 891,824 891,830 -0,006
P3 889,867 889,931 -0,064
P4 892,096 892,047 0,049
P5 910,993 910,865 0,128
P6 908,107 908,241 -0,134
P7 918,109 918,074 0,035
P8 889,997 889,969 0,028
P9 914,747 914,750 -0,003
P10 909,858 909,742 0,116
Média (m) 0,006
Desvio Padrão (m) 0,253
Erro Padrão (m) 0,080
Observando os resultados altimétricos percebemos uma amplitude amostral das diferenças obtidas de
0,262 m e uma média de 0,006 m e um erro padrão de 0,080 m.
Desta forma, conforme demonstrado na Tabela 04, verificamos que as comparações amostrais resultam
em um produto cartográfico que atende a PEC classe A.

Tabela 04. Comparação entre valores previstos e obtidos


ANÁLISE PEC - CLASSE A - Escala 1:1000
Valores Planimétrico Altimétrico
PEC (m) EP (m) PEC (m) EP (m)
Previstos 0,500 0,300 0,500 0,333
Obtidos 0,039 0,007 0,060 0,080

4 Conclusão

Conclui-se então que a geotecnologia VANT possui condições de ser aplicada para aerolevantamentos
com vistas a estudos geológicos geotécnicos, otimizando a geração de modelos digitais e mapas que atendem a
especificações da classe A do Padrão de Exatidão Cartográfica Brasileiro. Ao longo do tempo espera-se que a
técnica de aerolevantamento seja cada vez mais empregada para estudos nessa área.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos especialmente pelo apoio financeiro à Agência de Fomento (CNPq) - Brasil e ao Cefet-
MG, pela oportunidade de pesquisa e pelo apoio e suporte tecnológico ao Cefet-MG e à Exitus Engenharia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Decreto-lei nº 89.817, de 20 de junho de 1984. Estabelece as Instruções Reguladoras das Normas
Técnicas da Cartografia Nacional. Brasília, 1984.
FENG, Yu; BRENNER, Claus; SESTER, Monika. Enhancing the resolution of urban digital terrain models
using mobile mapping systems. ISPRS Annals of the Photogrammetry, Remote Sensing and Spatial
Information Sciences IV-4/W6 (2018), v. 4, p. 11-18, 2018.
GAMBA, Sérgio Roberto Horst; SANO, Edson Eyji. Avaliação o padrão de exatidão cartográfica em
ortomosaicos obtidos por meio de RPA. Anais do XIX Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto,
2021.
KARAKAS, G.; KOCAMAN, S.; GOKCEOGLU, C. Aerial photogrammetry and machine learning based
regional landslide susceptibility assessment for an earthquake prone area in Turkey. International Archives
of the Photogrammetry, Remote Sensing & Spatial Information Sciences, 2021.
NBR, ABNT. 13.133 – Normas Técnicas para a Execução de Levantamentos topográficos. Rio de Janeiro,
2021. 190
Desastres de Natureza Geológica nas Regiões Administrativas de
Araçatuba, Marília e Presidente Prudente, Estado de São Paulo
Maria Julia Pedroso
Graduanda, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru, Brasil, mj.pedroso@unesp.br

Anna Silvia Palcheco Peixoto


Docente, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru, Brasil, anna.peixoto@unesp.br

RESUMO: Os desastres no estado de São Paulo são causados por ocupações irregulares e fatores climáticos.
O objetivo foi determinar uma metologia capaz de identificar áreas de ocorrência de desastres de origem
geotécnica para elaborar cartas de perigo aos municípios pertencentes às regiões administrativas de
Araçatuba, Marília e Presidente Prudente. Para tal, com os dados do IPMet, Centro de Meteorologia de
Bauru - FC/Unesp, foram analisados dados históricos de precipitação, diária e acumulada de 3 e 7 dias, entre
2000 e 2020, além de dados censitários como, renda nominal, idade e densidade demográfica das regiões,
obtidos através do IBGE (Censo, 2010). Adicionalmente, foram analisadas as características geológicas,
geomorfológicas e geotécnicas das regiões utilizando cartas fornecidas pelo IPT. Concluídas as análises,
uma matriz socioambiental foi elaborada relacionando dados censitários de vulnerabiliade com dados
ambientais. Posteriormente, uma matriz de perigo cruzou os dados da matriz socioambiental com índices
pluviométricos, distribuídos estatísticamente através da Fórmula de Sturges, resultando em níveis de perigo
entre nenhum a muito alto. Por fim, foram elaborados os mapas de cada região indicando a espacialização
dos resultados da matriz de perigo. Dessa forma, se conclui que a chuva acumulada de 7 dias apresenta
maior perigo de ocorrência de desastres.

PALAVRAS-CHAVE: Desastres Naturais, Eventos Climáticos Severos, Mapeamento de riscos

ABSTRACT: The disasters in the state of São Paulo are caused by irregular occupations and climatic factors.
The objective was to determine a methodology capable of identifying disaster occurrence areas of
geotechnical origin to elaborate hazard maps for the municipalities belonging to the administrative regions
of Araçatuba, Marília and Presidente Prudente. To this end, with data from IPMet, Bauru Meteorology
Center - FC/Unesp, historical data of precipitation, daily and accumulated for 3 and 7 days, between 2000
and 2020, were analyzed, in addition to census data such as, nominal income, age and population density of
the regions, obtained through IBGE (Census, 2010). Additionally, the geological, geomorphological and
geotechnical characteristics of the regions were analyzed using charts provided by IPT. Once the analyses
were concluded, a socio-environmental matrix was elaborated relating census data of vulnerability with
environmental data. Subsequently, a hazard matrix crossed the data from the socio-environmental matrix
with rainfall indices, statistically distributed through Sturges' Formula, resulting in hazard levels between
none and very high. Finally, maps were drawn up for each region indicating the spatialization of the results
of the hazard matrix. Thus, it is concluded that the accumulated rainfall of 7 days presents greater danger of
disaster occurrence.

KEYWORDS: Natural hazards, Extreme Climatic Events, Risk mapping

1 Introdução

Desastres são definidos como graves pertubações no funcionamento de uma comunidade, envolvendo
perdas humanas, econômicas, materiaos ou ambientais, cujos impactos excedem a capacidade da
comunidade afetada de arcar com os próprios recursos. (TOMINAGA, 2009).
Em 2015, a ONU (Organização da Nações Unidas) propôs aos seus países membros uma nova agenda
de desenvolvimento sustentável para os próximos 15 anos, a Agenda 2030, composta por 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS). Um desses objetivos, ODS 13, trata-se da “Ação Contra A Mudança
Global Do Clima” e tem como meta o reforço da resiliência e a capacidade de adaptação a riscos provindos
do clima e aos desastres naturais em todos os países. Esse objetivo reforça a importância do monitoramento,
espacialização e prevenção dos desastres naturais, como apresentado nesse estudo. (ONU, 2015)
No Brasil, os desastres são causados, em sua maioria por fenômenos externos da Terra, sendo eles,

191
tempestades, enchentes e deslizamentos. (PALMEIRA et al. 2019) Esses são os pricipais causadores de
inúmeras perdas humanas, materiais e ambientais e são relacionados à degradação de ambientes frágeis
através do desmatamento e ocupações irregulares. (MMA, 2007)
Em São Paulo, assim como no Brasil, os desastres são relacionados a fenômenos hidrológicos como
enchentes, alagamentos, tempestades e suas consequências geotécnicas: escorregamentos de encosta e
erosão. Os principais desencadeadores desses desastres no estado são a má gestão de recursos, uso e
ocupação irregular dos solos e urbanização desordenada dos municípios. (BROLLO e FERREIRA, 2009)
Durante o período entre 2000 e 2020, foram quantificadas nas regiões administrativas de Araçatuba,
Marília e Presidente Prudente, o total de 101 ocorrências, sendo 10 na região de Araçatuba, 36 na região de
Marília e enfim, 55 na região de Presidente Prudente (IPMet).
Sendo assim, o objetivo do projeto é a criação de uma metologia capaz de identificar e mapear áreas
de perigo de ocorrência de desastres naturais e a partir de análises pluviométrica, socioeconomica e
ambiental, elaborar cartas de perigo para os municípios das regiões administrativas de Araçatuba, Marília e
Presidente Prudente a fim de tornar suas gestões mais eficientes.

2 Metodologia

2.1 Espacialização dos desastres e levantamento dos dados pluviométricos

As ocorrências de desastres naturais foram quantificadas e espacializadas com o auxílio do sofware


QGIS (versão 3.16.5) a partir dos dados, quantidade e coordenadas geográficas obtidos através da plataforma
online do IPMet (Instituto de Pesquisas Meteorológicas) e Pellegrina (2011).
Com os dados fornecidos pelo DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), foram coletados a
localização dos pluviômetros presentes nas regiões administrativas de Araçatuba, Marília e Presidente
Prudente. As localizações foram espacializadas através do software QGIS (versão 3.16) e com isso foi possível
a análise e escolha de pluviômetros para cada desastre com o auxílio de polígonos de Thiessen para a
determinação de área de influência de cada pluviômetro. Em seguida, foram coletados para cada desastre, a
chuva diária da data de ocorrência e também a chuva acumulada de três dias (dia da ocorrência e 2 dias antes)
e sete dias (dia da ocorrência e 6 dias antes).
Consecutivamente, a série de dados de chuva, entre 2000 e 2020, foi analisada a fim de obter a
frequência de ocorrência de cada chuva e quantas delas desencadearam desastres. O intervalo de chuvas foi
definido através da Fórmula de Sturges, considerando a máxima chuva de cada região que desencadeou um
desastre. Com a definição dos intervalos, foi calculada a probalidade de ocorrência da chuva e a probabilidade
da chuva desencadear um desastre, como apresentado pelas Eq. 1 e Eq. 2. O mesmo cálculo foi realizado para
as chuvas acumuladas de três e sete dias.
𝑁𝑐
𝑃𝑜 = 𝑇𝑐
∗ 100 (1)
𝑁
𝑃𝐷 = 𝑁𝑑 ∗ 100 (2)
𝑐

Em que: Po= Probabilidade de ocorrência da chuva (%); Nc= Número de chuvas no intervalo; Tc= Total de
chuvas entre 2000 e 2020; PD= Probablidade da chuva desencadear um desastre (%); Nd= Número de desastres;
Nc= Número de chuvas no intervalo.

2.2 Critério ambiental


Para a análise do critério ambiental, a partir do Mapa Geológico (IPT, 1981a), Mapa Geomorfológico
(IPT, 1981b), Carta Geotécnica (IPT,1994) e através das coordenadas geográficas, foram quantificados os
desastres para cada unidade geológica, geomorfológica e geotécnica presentes nas regiões estudadas. Para
maior precisão estatística, a análise foi feita na região como um todo. Obtidas as quantidades, foram
atribuídos pesos para cada unidade ambiental, com o cálculo apresentado pela Eq. 3.
𝑁𝑢𝑐
𝑃= 𝑁𝑡
(3)

Em que: P= Peso atribuído à unidade; Nuc= Número de desastres ocorridos na unidade; Nt= Número total
de desastres

192
Posteriormente, foi realizada a normalização dos pesos obtidos para geologia, geomorfologia e
geotecnia como mostra a Eq. 4.
𝑃
𝑃𝑛 = 𝑃 (4)
𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑜

Obtidos os três pesos normalizados, geológico, geomorfológico e geotécnico, foi calculado o critério
ambiental a partir da ponderação desses três fatores, como apresentado na Eq. 5

𝐶𝑎𝑚𝑏 = 𝐺𝑔𝑒𝑜𝑙 + 𝐺𝑔𝑒𝑜𝑚 + 𝐺𝑔𝑒𝑜𝑡 (5)

Em que: Camb= Critério ambiental; Ggeol= Geologia do local normalizada ;Ggeom= Geomorfologia do local
normalizada; Ggeot= Geotecnia do local normalizada.

O critério ambiental foi mais uma vez normalizado a fim de obter valores entre 0 e 1 e assim realizar
a classificação de perigo de ocorrência de desastres de acordo com a unidade ambiental.

2.3 Critério Social

Para a determinação do critério social, foram utilizados dados do Censo IBGE 2010. Para a análise de
vulnerabilidade, os dados foram coletados para cada ocorrência, nos setores censitários correspondentes, o
número total de habitantes, a quantidade de crianças com idade inferior a 5 anos, quantidade de idosos com
idade superior a 60 anos e quantidade de domicílios com rendimento nominal mensal inferior a ¼ de salário
mínimo (salário referente a 2010). Em seguida foram calculadas as densidades para cada fator agravante de
vulnerabilidade, como apresentado nas Equações de 6 a 9.
𝑁ℎ
𝐷𝐷 = 𝐴
(6)

𝑁𝑝
𝐷𝑅 = (7)
𝐴

𝑁𝑐
𝐷𝐶 = 𝐴
(8)

𝑁𝑖
𝐷𝐼 = 𝐴
(9)

Na qual: DD= Densidade demográfica do setor censitário; DR= Densidade de pobreza do setor censitário;
DC= Densidade de crianças do setor censitário; DI= Densidade de idosos do setor censitário; Nh= Número de
habitantes; Np= Numero de habitantes com renda nominal mensal inferior a ¼ de salário mínimo; Nc= Número
de crianças com idade igual ou inferior a 5 anos; Ni= Número de idosos com idade igual ou superior a 60 anos;
A= área total do setor censitário

Por fim, foi calculado o índice de vulnerabilidade de cada setor censitário, através da ponderação das
densidades supracitadas como apresenta a Eq.10, e esse índice foi normalizado entre 0 e 1 conforme a Eq.11.

𝐼𝑉 = 𝐷𝐷 + 𝐷𝑅 + 𝐷𝐶 + 𝐷𝐼 (10)

Em que: IV= Índice de vulnerabilidade

(𝐼𝑉𝑛 )
𝑁 = 𝐼𝑉 (11)
𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑜

193
2.4 Carta de Perigo

Para a elaboração da carta de perigo, foi realizada uma matriz de perigo de acordo com os conceitos
propostos por Segoni el al. (2018) e modificada por Hader et al. (2021), na qual sugerem a elaboração de uma
relação entre a precipitação e classes de vulnerabilidade da região de estudo. Os critérios sociais foram
classificados de S1 (nenhum) até S5 (muito alto), igualmente para os critérios ambientais classificados de A1
(nenhum) até A5 (muito alto). Esses critérios foram relacionados a fim de obter uma matriz socioambiental,
apresentada na Figura 1, com critérios classificados de SA0 (nenhum) até SA8 (muito alto).
Posteriormente, com os critérios socioambientais obtidos, esses foram relacionados com os intervalos
de precipitação obtidos através da Fórmula de Sturges como apresentado no item 3.1, sendo de R0 até R4 para
a região administrativa de Araçatuba e R0 até R7 para as regiões administrativas de Marília e Presidente
Prudente. Assim, foram obtidas as classes de perigo apresentadas nas Figuras de 1 a 3.
Cor Classificação
S1 S2 S3 S4 S5 Nenhum
A1 SA0 SA1 SA2 SA3 SA4 Muito baixo
Baixo
A2 SA1 SA2 SA3 SA4 SA5 Baixo/Médio
Médio
A3 SA2 SA3 SA4 SA5 SA6 Médio/Alto
A4 SA3 SA4 SA5 SA6 SA7 Pouco Alto
Alto
A5 SA4 SA5 SA6 SA7 SA8 Muito Alto

Figura 1. Matriz socioambiental para as regiões administrativas de Araçatuba, Marília e Presidente Prudente.

SA0 SA1 SA2 SA3 SA4 SA5 SA6 SA7 SA8 Cor Classificação
R0 H0 H1 H2 H3 H4 H5 H6 H7 H8
R1 H1 H2 H3 H4 H5 H6 H7 H8 H9
Nenhum
R2 H2 H3 H4 H5 H6 H7 H8 H9 H10 Baixo
R3 H3 H4 H5 H6 H7 H8 H9 H10 H11 Médio
R4 H4 H5 H6 H7 H8 H9 H10 H11 H12
R5 H5 H6 H7 H8 H9 H10 H11 H12 H13
Alto
R6 H6 H7 H8 H9 H10 H11 H12 H13 H14 Muito Alto
Figura 2. Matriz de perigo para as regiões administrativas de Marília e Presidente Prudente.

SA0 SA1 SA2 SA3 SA4 SA5 SA6 SA7 SA8 Cor Classificação
R0 H0 H1 H2 H3 H4 H5 H6 H7 H8 Nenhum
R1 H1 H2 H3 H4 H5 H6 H7 H8 H9 Baixo
R2 H2 H3 H4 H5 H6 H7 H8 H9 H10 Médio
R3 H3 H4 H5 H6 H7 H8 H9 H10 H11 Alto
R4 H4 H5 H6 H7 H8 H9 H10 H11 H12 Muito Alto
Figura 3. Matriz de perigo para a região administrativa de Araçatuba.

3 Resultados e Discussões

3.1 Espacialização dos desastres e levantamento dos dados pluviométricos

A espacialização dos desastres ocorridos entre 2000 e 2020 realizada através do software QGIS (versão
3.16.5) é apresentada na Figura 4. Os resultados estatísticos de análise de frequência de chuvas, elaborada
através da Fórmula de Sturges explicita que as chuvas de maior intensidade, presentes no último intervalo
estatístico, apresentam maior probabilidade de desencadear desastres. Como exemplo, é apresentada pela
Tabela 1, a análise para região administrativa de Marília.

Tabela 1. Análise de frequência de chuvas na região administrativa de Marília, considerando o volume de


precipitação no dia da ocorrência do desastre.
Intervalo Sturges NC PO ND PD
0,0 38,2 6929 94,710 17 0,245
38,2 76,4 513 7,012 6 1,170
76,4 114,6 113 1,545 7 6,195
114,6 152,7 39 0,533 2 5,1285
152,7 190,9 5 0,068 2 40,000
190,9 229,1 8 0,109 1 12,500
229,1 < 4 0,055 2 50,000
Total de dias com chuva 7316

194
Figura 4. Espacialização dos desastres naturais de natureza geotécnica e pluviômetros nas regiões
adiministrativas de Araçatuba, Marília e Presidente Prudente.

3.2 Critério Ambiental

Dentre as ocorrências totais quantificadas, 60 ocorreram na formação geológica Adamantina, que se


mostrou o grupo geológico mais suscetível a desastres. Em relação a geomorfologia, a característica que se
mostrou mais suscetível a desastres foi “Colinas Médias” com o total de 37 ocorrências. A cerca da análise
geotécnica, percebe-se que o processo predominante entre as regiões onde ocorrem desastres é “Muita Alta
Suscetibilidade À Erosão Por Sulcos, Ravinas e Boçorocas”, totalizando 74 desastres dos 101 registrados.
Em relação à atribuição de pesos, a nível de exemplo, para a unidade geológica Formação Marília, foi
obtido o peso 0,218, uma vez que 21,8% (22/101) dos desastres ocorreram nessa unidade. Da mesma maneira,
foram atribuídos os pesos para as demais unidades geológicas, geomorfológicas e geotécnicas. Após a
normalização dos pesos obtidos e cálculo do critério ambiental (Equação 5), o critério foi normalizado entre 0
e 1 possibilitando a classificação da suscetibilidade ambiental, Figura 5.

Figura 5. Espacialização da suscetibilidade ambiental

3.3 Critério Social

A Tabela 2 representa os resultados obtidos para as densidades de fatores agravantes (renda nominal
inferior a ¼ de salário mínimo, crianças e idosos), além do cálculo do índice de vulnerabilidade e sua
normalização. Como exemplo, são apresentados os resultados de critério social para a região de Araçatuba,
que, assim como Presidente Prudente, obteve um índice de vulnerabilidade baixo, com normalização média de
0,2. A região administrativa de Marília obteve índice de vulnerabilidade normalizado médio de 0,34. A Figura
6 representa a espacialização da suscetibilidade social de cada região administrativa.

195
Tabela 2. Exemplo dos Resultados de Índice de Vulnerabilidade e Normalização para Região de Araçatuba.
A DD DR DC DI
Desastre Np Nc Ni Nh IV N
(km²) (hab./km²) (hab./km²) (hab./km²) (hab./km²)
1 0 30 32 245 121,1 2,0 0,0 0,2 0,3 3 0,0
2 72 75 53 520 0,3 1498,4 207,5 216,1 152,7 2.075 0,3
3 4 67 130 937 2,4 396,9 1,7 28,4 55,1 482 0,1
4 31 61 104 850 0,2 4976,6 181,5 357,1 608,9 6.124 1,0
5 0 33 46 294 61,3 4,8 0,0 0,5 0,8 6 0,0
6 0 26 41 210 0,1 1666,4 0,0 206,3 325,3 2.198 0,4
7 0 74 87 576 227,4 2,5 0,0 0,3 0,4 3 0,0
8 0 8 30 147 69,3 2,1 0,0 0,1 0,4 3 0,0
9 0 8 23 99 6,4 15,4 0,0 1,2 3,6 20 0,0
10 0 15 23 125 65,4 1,9 0,0 0,2 0,4 2 0,0
Média 0,2

Figura 6. Espacialização da suscetibilidade social

3.4 Carta de Perigo

Os resultados obtidos na matriz socioambiental foram espacializados e apresentados pela Figura 7, a partir
na análise desses, é possível perceber que as regiões apresentam, majoritariamente, baixa a média
suscetiblidade socioambiental, sendo a região de Araçatuba a única a apresentar suscetibilidade “Muito Alta”.
Os dados obtidos através da matriz de perigo, após cada desastre ter o risco classificado entre
“nenhum” e “muito alto”, foram espacializados através do software QGIS (versão 3.16) e assim foram gerados
os mapas de perigo de ocorrência de desastres de origem geotécnica. Foram obtidos os mapas para as 3 chuvas
levantadas nesses estudo: chuva diária (Figura 7), chuva acumulada de 3 dias (Figura 8) e chuva acumulada
de 7 dias (Figura 9). É possível observar que as regiões admistrativas de Araçatuba, Marília e Presidente
Prudente apresentam poucas áreas com risco de perigo muito alto.
Ao analisar a chuva ocorrida em um dia, se percebe que as regiões apresentam risco entre nenhum e
médio, com exceção de um dos riscos analisados na região de Araçatuba. Nota-se ainda, que apesar do alto
risco relacionado ao critério ambiental na região de Presidente Prudente (Figura 5Erro! Fonte de referência
não encontrada.), a região não apresenta riscos muito altos quando relacionada a matriz socioambiental com
índices pluviómetricos.
Quando analisada a chuva acumulada de três dias, Figura 8, se percebe sutil aumento de perigo na
região de Araçatuba, enquanto as regiões de Presidente Prudente e Marília permanecem semelhantes ao
analisado para chuva desencadeadora diária. Com a análise do mapa de perigo relacionado com a chuva
acumulada de sete dias, é perceptível maior quantidade de risco alto na região de Presidente Prudente, região
que apresentou maior risco relacionado ao critério ambiental. As demais regiões permaneceram com riscos
semelhantes ao análisado para chuva desencadeadora diária.

196
Figura 7. Espacialização da suscetibilidade sociambiental

Figura 8. Matrizes de perigo espacializadas para as regiões administrativas de Araçatuba, Marília e


Presidente Prudente para chuva diária e acumulada de 3 e 7 dias.

4 Comentários finais

Através da espacialização das ocorrências levantadas, nota-se que a região de Presidente Prudente foi
a região mais afetada, quantitativamente, no período analisado, nota-se ainda, através do levantamento de
dados pluviométricos que, para as três regiões administrativas, a chuva com maior probabilidade de
desencadear um desastre se encontra no último intervalo estatístico definido através da Fórmula de Sturges,
ou seja, chuvas com maiores intensidades.
Ao analisar o critério ambiental, percebeu-se que a região de Presidente Prudente é a região mais
suscetível com pesos majoritariamente “Muito Altos” na região. Para o critério social, as regiões apresentaram
suscetibilidade semelhantes, sendo Marília a região sutilmente mais suscetível com índice médio de
vulnerabilidade social de 0,34.
Por fim, a partir das cartas de perigo, concluiu-se que a chuva acumulada de 7 dias apresenta maior
risco de desencadear desastres quando comparada a chuva diária e a chuva acumulada de 3 dias. A região de
Presidente Prudente foi a região que apresentou maiores riscos de ocorrência de desastres, o que pode ser

197
justificado com a alta suscetibilidade da região. A região de Marília foi a região que sofreu menos influência
da duração da chuva desencadeadora de desastres, uma vez que os mapas de perigo para chuva diária, chuva
acumulada de 3 e 7 dias são semelhantes. A regão administrativas de Araçatuba apresentou riscos
predominantemente baixos para todas as chuvas analisadas, entretanto, é importante ressaltar que a quantidade
de dados de desastres registrados para a região é baixa, o que dificulta a precisão em estudos estatísticos.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Prope (Pró-Reitoria de Pesquisa – UNESP) pelo desenvolvimento da
Iniciação Científica Sem Bolsa (SB) e posteriormente à PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica – UNESP) pela bolsa de iniciação científica da primeira autora.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DAEE. Departamento de Águas e Energia Elétrica. Disponível em: http://www.daee.sp.gov.br/. Acesso em:
agosto de 2021.
Hader, P.R.P.; Reis, F. A. G. V.; Peixoto, A. S. P. (2021) Landslide risk assessment considering socionatural
factors: methodology and application to Cubatão municipality, São Paulo, Brazil. Natural Hazards, 1:1-
32, v.1, p.1 – 32. doi: 10.1007/s11069-021-04991-4.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:
https://censo2010.ibge.gov.br/sinopseporsetores/?nivel=st . Acesso em: abril de 2022.
IPMet. Banco de Dados de Desastres Naturais. Disponível em:
https://www.ipmet.unesp.br/2desastres.php.Acesso em novembro de 2020.
IPT. (1981a) Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas
do Estado de São Paulo.
IPT. (1981b) Mapa Geológico do Estado de São Paulo. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas do
Estado de São Paulo.
IPT. (1994) Carta Geotécnica do Estado de São Paulo. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas do
Estado de São Paulo.
MMA – Ministério do Meio Ambiente. (2007) Vulnerabilidade Ambiental: Desastres Naturais ou
Fenômenos Induzidos? Brasília: 2007. 192 p. ISBN 978-85-7738-080-0.
ONU. Organização das Nações Unidas. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Disponível em
https://brasil.un.org/ Acesso em julho de 2022.
Palmeira, O. F.; Peixoto, A. S. P.; Kaiser, I. M. (2019) Map of Mass Movement in a Region of the State of
São Paulo, Brazil In: XVI Pan-American Conference on Soil Mechanics and Geotechnical Engineering
(XVI PCSMGE), Cancun. Geotechnical Engineering in the XXI Century: Lessons learned and future
challenges. IOS Press. p.1733 – 1740
Pellegrina, G. J. (2011). Proposta de um procedimento metodológico para o estudo de problemas
geoambientais. Dissertação de Mestrado, Programa de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade
Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, Bauru.
Segoni, S.; Tofani, V.; Rosi, A.; Catani, F.; Casagli, N. (2018) Combination of Rainfall Thresholds and
Susceptibility Maps For Dynamic Landslide Hazard Assessment at Regional Scale. Frontiers in Earth
Science, 6:85. doi: 10.3389/feart.2018.00085.
Tominaga, L. K.; Santoro, J.; Amaral, R. (2009). Desastres Naturais: conhecer para prevenir. 1 ed. São
Paulo: Instituto Geológico.

198
Metodologia de Base Geo-hidrecológica para Classificação da
Suscetibilidade de Terreno a Deflagração de Escorregamentos
Translacionais Rasos: Aplicação na Bacia do Córrego d`Antas,
Nova Friburgo (RJ).
Roberta Pereira da Silva
Doutoranda, Programa de de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PEC-COPPE/UFRJ), Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, pereira.roberta00@gmail.com

Ana Luiza Coleho Netto


Professora Titular, Departamento de Geografia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de
Geociências, IGEO-UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, ananetto@acd.ufrj.br

Willy Alvarenga Lacerda


Professor Emérito, Programa de Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE-UFRJ,
Rio de Janeiro, Brasil, willy.lacerda@gmail.com

Flavio Souza Brasil Nunes


Doutorando, Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG-UFRJ), Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Pesquisador colaborador do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde
(Cepedes) da Fundação Oswaldo-Cruz (Fiocruz), Rio de Janeiro, Brasil, flaviosbn@gmail.com

RESUMO: O presente trabalho constitui-se como parte da revisão dos procedimentos metodológicos para
avaliação da suscetibilidade de terreno aos escorregamentos translacionais rasos, seguindo a abordagem geo-
hidroecológica. A área de estudo situa-se no município de Nova Friburgo (RJ), mais especificamente a bacia
hidrográfica de Córrego d’Antas (53 km²). Nesta etapa do trabalho foram avaliados os parâmetros e índices
geomorfológicos, incluindo a declividade, curvatura horizontal da encosta, índice de eficiência de drenagem e
índice de posicionamento topográfico, vistos como relevantes na regulação do comportamento hidráulico e
mecânico dos solos. Os resultados obtidos foram cruzados com um inventário de cicatrizes de escorregamentos
translacionais rasos (N=382) referentes ao evento extremo de chuva de janeiro de 2011 ocorrido na Região
Serrana do Estado do Rio de Janeiro, permitindo uma avaliação entre esses parâmetros e a ruptura das encostas.
Uma readequação das classes de declividade foi proposta, assim como a inclusão da curvatura horizontal na
construção do mapa de Condicionantes Hidrogeomorfológicos. Os resultados se mostraram promissores, com a
concentração de 87% (0,84 km²) das áreas deslizadas na classe de alto potencial hidroerosivo. Limitações
decorrentes de procedimentos automáticos voltados a determinação da curvatura das encostas foram
identificados, sugerindo a necessidade de ajustes destes procedimentos à realidade local.

PALAVRAS-CHAVE: Escorregamentos translacionais rasos, Suscetibilidade de terreno, Parâmetros


geomorfológicos, Abordagem Geo-hidroecológica

ABSTRACT: The present research is part of the review of methodological procedures for assessing the terrain
susceptibility to shallow translational landslides, following the geo-hydroecological approach. The study area
is located in the municipality of Nova Friburgo (RJ), more specifically the Córrego d’Antas watershed (53 km²).
In this stage of the work, the parameters and geomorphological indices were evaluated, including slope angle,
horizontal curvature, drainage efficiency index (IED) and topographic positioning index (TPI), seen as relevant
in the regulation of the hydraulic and mechanical behavior of soils. The results obtained were crossed with an
inventory of shallow translational landslide scars (N=382) referring to the extreme rainfall event of January
2011, allowing an assessment between these parameters and the slope failure. A readjustment of the slope angle
classes was proposed, as well as the inclusion of the horizontal curvature in the construction of Hydro-
geomorphological map. The results were promising, with a concentration of 87% (0.84 km²) of the landslides
in the high hydroerosive potential class. Limitations resulting from automatic procedures aimed at determining
slope curvature were identified, suggesting the need to adjust these procedures to the local reality.

KEYWORDS: Shallow landslides, Terrain susceptibility, Geomorphological parameters, Geo-


hydroecological approach
199
1 Introdução
A avaliação da suscetibilidade de terreno frente aos escorregamentos vem assumindo grande
importância na literatura geológica, geomorfológica e geotécnica, diante de demandas crescentes por
diagnósticos do potencial de ameaças e perigos que podem resultar em perdas e danos de natureza social,
ecológica e econômica, ou seja, na crescente exposição da sociedade aos desastres. Nesse sentido, os avanços
no conhecimento dos fatores condicionantes dos mecanismos de rutura da estabilidade do terreno possibilitam
o contínuo aprimoramento metodológico voltado ao diagnóstico de terreno.
Diferentes enfoques do problema e formas de investigação vem sendo propostas, algumas focam na
análise probabilística baseada em longos inventários de escorregamentos pretéritos (FELL et al., 2008;
MARTHA et al., 2015), outras pautam-se em cruzamentos de cartas temáticas afins à determinação da
suscetibilidade de terreno (COELHO NETTO et al., 2007; MEIRELLES et al., 2018). Este último ainda
prevalece no Brasil, cujas informações temáticas têm enfatizado, sobretudo, o papel das informações ou
categorias geológicas e/ou geológico-geotécnicas. A inclusão de parâmetros geomorfológicos, geralmente, é
limitada a adoção da declividade como principal, e por vezes, único parâmetro geomorfológico nas avaliações da
suscetibilidade de terreno, através de uma visão linear de sua interferência na detonação dos escorregamentos.
Desde 2012 o Laboratório de Geo-Hidroecologia e Gestão de Riscos/IGEO-UFRJ (Geoheco-UFRJ) vem
desenvolvendo diversas pesquisas sobre a natureza e magnitude dos processos hidrológicos e erosivos (lato
sensu) atuantes em encostas íngremes, com sua aplicação no aprimoramento metodológico de análise de detalhe
para a classificação de graus de ameaça/perigo (suscetibilidade de terreno) relacionada aos movimentos
gravitacionais de massa e riscos socioambientais decorrentes desses fenômenos naturais, tomando a bacias de
drenagem como unidade geomorfológica fundamental de análise (COELHO NETTO, 1994).
Entendendo que os procedimentos metodológicos de avaliação da suscetibilidade de terreno aos
escorregamentos, devem ser abertos às atualizações em intervalos de tempo compatíveis com o ritmo e
variabilidade das transformações da paisagem, a abordagem geo-hidroecológica vem sendo adotada na
estruturação das bases temáticas, assim como na análise integrada de suscetibilidade do terreno. Esta abordagem
é orientada por conhecimentos de natureza empírico-analítica (levantamentos, monitoramentos e experimentos
de campo) e integrativa de parâmetros, indicadores ou categorias afins a natureza do fenômeno em foco, numa
visão sistêmica do espaço geográfico e em múltiplas escalas (espaciais e temporais) de análise, como sintetizado
em Coelho Netto et al. (2020). A análise integrada voltada para classificação da suscetibilidade de terreno
envolve indicadores geológico-geotécnicos, geomorfológicos, de cobertura vegetal e dos usos e modos de
ocupação das terras, relevantes na regulação dos processos geomorfológicos que regulam a evolução das encostas
em regiões montanhosas e colinosas.
No processo em curso de atualização e aprimoramento metodológico para classificação e mapeamento
da suscetibilidade de terreno aos escorregamentos translacionais rasos, o estudo recente de Silva et al. (2022)
voltou a atenção para o reconhecimento dos parâmetros geotécnicos relevantes na definição de unidades
geológico-geotécnicas na bacia do Córrego d’Antas (53 km²), situada no município de Nova Friburgo (RJ).. O
método proposto pelos autores baseou-se na integração de diversos parâmetros, incluindo: granulometria, limites
de Atterberg (LL, PL, PI, A), estabilidade dos agregados, índice de vazios, condutividade hidráulica saturada, c'-
coesão efetiva e φ'- ângulo de atrito efetivo interno para a categorização das unidades de terreno de acordo com
o comportamento mecânico e hidráulico dos materiais. Este estudo possibilitou a redução de seis unidades
litológicas, definidas por Avelar et al. (2016) em escala 1:10.000, para três unidades geológico-geotécnicas: i)
Unidade I (Gabro), ii) Unidade II (Granito Equigranular), Unidade III (Diorito, Granito Granodiorito, Ortognaisse
Granítico), na bacia-piloto do Córrego D’Antas (Figura 1).
Estudos recentes também conduziram à revisão e categorização funcional de indicadores
geomorfológicos afins ao potencial de detonação dos escorregamentos em encostas íngremes, tomando como
área-piloto a mesma bacia hidrográfica (Córrego D’Antas). Diante deste cenário, o presente trabalho constitui
mais uma etapa de revisão da metodologia desenvolvida pela equipe do Geoheco-UFRJ (COPPETEC/SMAC-
RJ, 2000; COELHO NETTO et al., 2007; COPPETEC/SEA-RJ, 2010 e COUTINHO, 2015) para avaliação,
classificação e mapeamento dos condicionantes hidro-geomorfológicos, constituindo uma das bases temáticas
afins a análise da suscetibilidade de terreno aos movimentos gravitacionais de massa. Uma atenção especial tem
sido direcionada aos escorregamentos do tipo translacional raso (ou planar) por sua predominância nos eventos
extremos de chuvas ocorridos em domínio montanhoso, como observado em janeiro de 2011 na Região Serrana
do Estado do Rio de Janeiro (AVELAR et al., 2013).
2 Materiais e Métodos
Buscando uma atualização dos procedimentos metodológico para a elaboração do mapa dos Condicionantes
Hidro-geomorfológicos, as classes de declividade passaram por revisão. Os valores de declividade foram
extraídos automaticamente a partir do Modelos Digital do Terreno (MDT), compatível com a escala 1:5.000,
gerado para a bacia do Córrego d’Antas, a partir da ferramenta Slope disponibilizada pelo software ArcGis 10.7.
Para a definição das classes de declividade foram utilizadas as características morfométricas e topográficas das
cicatrizes mapeadas, aliadas aos dados disponíveis na literatura sobre classes de declividade críticas para a
200
deflagração de movimentos translacionais rasos em domínio montanhoso (D'AMATO AVANZI et al., 2004;
AVELAR et al., 2013; CEVASCO et al., 2013). Foram realizados três testes com diferentes intervalos de
declividade, foram eles: i) 0° – 10°; 10° - 20°; 20° - 35°; 35° - 45°, >45°; ii) 0° – 10°; 10° - 20°; 20° - 30°; 30° -
40°, >40°; iii) 0° – 10°; 10° - 20°; 20° - 30°; 30° - 45°, >45°.

Figura 1. Mapa de localização da bacia hidrográfica do Córrego D’Antas, com a indicação das unidades
geológico-geotécnicas predominantes na área de estudo. Fonte: Silva et al. (2022).

O parâmetro curvatura também foi incluído na análise da classificação do potencial erosivo do terreno, e
foi obtido a partir do Modelos Digital do Terreno (MDT), através da ferramenta Curvature disponível no ArcGis
10.7. Optou-se por trabalhar com a curvatura horizontal do terreno, por expressar o caráter divergente ou
convergente das linhas de fluxo. No SIG (Sistema de Informação Geográfica), seu cálculo é baseado na
comparação entre as orientações de vertente na vizinhança do ponto medido (pixel), através de janelas móveis.
Utilizou-se os intervalos propostos por Valeriano (2008) que assume valores entre –0,038°/m e +0,051°/m a
terrenos planares, valores inferiores a –0,038°/m a curvaturas convergentes e valor superior a +0,051°/m como
terrenos divergentes.
Os dados referentes ao Índice de Posicionamento Topográfico (TPI) e ao Índice de Eficiência de
Drenagem (IED) utilizados para o cruzamento dos Condicionantes Hidrogeomorfológicos foram adquiridos, na
íntegra, de Coutinho (2015). O Índice de Posicionamento Topográfico, desenvolvido por Jennes (2006), apresenta
uma estreita relação com as condições de escoamento e dinâmica superficial dos fluxos, sendo importante para a
análise de estabilidade das encostas por auxiliar na identificação de zonas preferenciais para ocorrência de
escorregamentos. Para o cálculo do TPI o algoritmo aplicado corresponde a diferença entre o valor de elevação
do pixel e a média de pixels vizinhos. Valores positivos significam que este pixel está em altitude mais alta e
valores negativos que este pixel está em altitude mais baixa. O quanto este pixel é mais alto ou mais baixo que
seu entorno, somado ao seu valor de declividade permite a classificação de seu posicionamento nas encostas. Os
resultados obtidos foram classificados pelo método “natural breaks” em 5 classes: Divisores, Alta encosta,
Média encosta, Baixa encosta e Fundo de vale (COUTINHO, 2015). Este método procura reduzir a variação nas
classes e maximizar a variação entre as classes.
O cálculo do IED, como proposto por Coelho Netto et al. (2007), foi elaborado a partir da integração de
parâmetros como densidade de drenagem (em escala superior a 1:5.000, incluindo os eixos de concavidades não-
canalizados) e gradiente topográfico da bacia de drenagem, os quais se articulam e interagem na regulação da
rede de fluxos. Os resultados numéricos do cálculo do IED foram classificados por “natural breaks” em 4 classes:
Muito Alto, Alto, Médio e Baixo. Áreas não classificadas, como bacias de primeira e zero ordem, além de
encostas diretamente conectadas em drenagens principais foram classificadas de acordo com o padrão de
adjacência com os vizinhos mais próximos classificados (COUTINHO, 2015). Este índice constitui um indicador
da permanência da água no sistema hidrográfico e da energia potencial dos fluxos erosivos atuantes na bacia. Sua
aplicação destina-se a bacias de drenagem de primeira e segunda ordem, por refletirem diretamente o
comportamento hidrológico atuante nas encostas.
Para integração dos mapas foram atribuídos valores numéricos (pesos) às classes de cada um deles em função
do seu potencial erosivo. Em seguida estes valores foram multiplicados pelos pesos dos mapas e posteriormente
somados para a obtenção de valores de síntese dos Condicionantes Hidrogeomorfológicos. Neste sentido, a
equação aplicada para obtenção dos valores de Condicionantes Hidrogeomorfológicos foi a seguinte: Valor
Condicionante = (peso da Classe de Declividade X peso do Mapa de Declividade) + (peso da Classe de Posição
Topografica X peso deste Mapa) + (peso da Classe IED X peso deste Mapa) + (peso da Classe de Curvatura x

201
peso deste Mapa). O agrupamento das classes dos Condicionantes Hidrogeomorfológicos se deu a partir do
método “natural breaks” em três classes de potencial hidroerosivo: Alta, Média, Baixa.
Nesta etapa, o Processo Analítico Hierárquico (AHP) foi integrado a abordagem geohidroecológica para
auxiliar na determinação dos critérios e pesos de cada variável abordada para os cruzamentos. Por meio dos
critérios selecionados, uma matriz de comparação pareada foi elaborada para representar a importância relativa
de cada critério a partir da atribuição de pesos e o estabelecimento de prioridades. Estes pesos foram determinados
a partir da Escala Fundamental de Saaty, a qual varia de 1 a 9, onde o valor 1 equivale a igual importância entre
os fatores e o valor 9, a importância extrema de um fator sobre o outro (SAATY, 1990).
Para ponderação e validação dos pesos de todas as etapas realizadas, o inventário de cicatrizes de movimentos
gravitacionais de massa do evento extremo de chuva de janeiro de 2011 proposto por Silva et al. (2016) para a
bacia do Córrego d’Antas foi revisado com o foco nos escorregamentos translacionais rasos, totalizando 382
cicatrizes de escorregamentos. Estes registros foram cruzados com os mapas intermediários (Declividade,
Curvatura, TPI e IED) e com o mapa síntese (Condicionantes Hidrogeomorfológicos) de modo a calibrar o
modelo. Os pesos foram atribuídos em função da relevância das classes e dos mapas como condicionantes do
terreno à ocorrência de escorregamentos translacionais rasos.

3 Resultados e discussões
3.1 Declividade
Dentre os testes realizados, as classes de declividade que melhor se ajustaram às condições da bacia
hidrográfica estudada foram: i) 0° a 10°: considerada como área potencial a deposição); ii) 10° a 20°: considerada
área de uso permitido por legislação e de encostas com predomínio de processos hidroerosivos lentos; iii) 20° a
30°: área com restrições legais para uso e de encostas menos estáveis do que as anteriores; iv) 30º a 45°: área de
encostas instáveis e ângulos críticos de ruptura; v) acima de 45º: a depender do material de origem e índices
pluviométricos, apresenta solos pouco espessos e limitado desenvolvimento de vegetação. Ao cruzar as
informações de declividade com o inventário de escorregamentos, observou-se que 73,04% (279) das cicatrizes
apresentam valor médio de declividade entre 30° e 45°, destacando a relevância desta classe nos processos
hidroerosivos. As demais cicatrizes apresentaram declive médio entre 20° e 30° (21,27%; n= 82), já as classes
de 0° a 10°, de 10° a 20° e > 45º foram pouco expressivas na análise dos declives médios – quando somadas as
três classes representaram menos 6% (21) do total de cicatrizes (Figura 2 – I). Essas análises subsidiaram o
estabelecimento de pesos para cada uma das classes, conforme a tabela 1.

Tabela 1. Matriz AHP de comparação pareada entre as classes de declividade.


Peso da
Classes 30 -45 20 -30 > 45 10 - 20 0 -10
classe
30 - 45 1 3 7 5 9 0,51
20 - 30 1/3 1 3 3 9 0,25
> 45 1/7 1/3 1 2 3 0,10
10 - 20 1/5 1/3 1/2 1 7 0,11
0 - 10 1/9 1/9 1/3 1/7 1 0,03
Razão de consistência = 0,087 (< 0,10 consistente)
Embora seja difícil estabelecer limites críticos de declividade para encostas ditas instáveis, declives
superiores a 30º apresentam-se como altamente suscetíveis à ocorrência de escorregamentos, principalmente do
tipo translacional raso (D'AMATO AVANZI et al., 2004; AVELAR et al., 2013; CEVASCO et al., 2013).
Cevasco et al. (2013), a partir de uma revisão na literatura, observaram que os escorregamentos do tipo
translacional raso deflagrados por episódios de chuva intensa em domínio montanhoso, tendem a ocorrer
predominantemente em encostas com declividade entre 30° e 45°. Resultados semelhantes foram obtidos por
Fernandes et al. (2004) a partir da análise do evento extremo de chuva ocorrido na cidade do Rio de Janeiro em
1996 nas encostas do maciço da Tijuca, onde observaram uma concentração de escorregamentos rasos na classe
entre 30º e 55º. Nas bacias hidrográficas estudadas pelos referidos autores (Quitite e Papagaio), os locais mais
íngremes estavam associados a solos rasos, que poderiam ter sido rompidos anteriormente, e em escarpas
rochosas, sugerindo a existência de ângulos de inclinação limiar para deflagração de escorregamentos.

3.2 Curvatura da encosta


Quanto à curvatura das encostas, os resultados obtidos a partir de classificação automática indicaram que
52,82% (0,51 km²) da área deslizada encontra-se em zonas de convergência de fluxos, demostrando a importância
da forma côncava do relevo na deflagração dos escorregamentos translacionais rasos. Este dado encontra-se em
consonância com os estudos geomorfológicos que ressaltam o papel desempenhado pelas porções côncavas do
relevo (hollows) na convergência dos fluxos (HACK e GOODLETT, 1960; DIETRICH e DUNNE, 1993). Por
este motivo, nos mapeamentos de suscetibilidade à escorregamentos rasos as curvaturas horizontais têm assumido
maiores pesos relativos (BORTOLOTTI et al., 2015; MEIRELLES et al., 2018). 202
Neste mesmo cruzamento, observou-se que 41,54% (0,40 km²) de toda a área deslizada concentraram-se na
classe divergente e, os 5,64% (0,05 km²) restantes, na classe planar (Figura 2 – IIa). Entretanto, estes dados não
concordam com a dinâmica evolutiva predominante em encostas de regiões de domínio montanhoso. Encostas
onde predominam as curvaturas divergentes tendem a apresentar fluxos de água dispersos e poro-pressões
tipicamente mais baixas do que em zonas de convergência de fluxos, configurando um peso relativo menor aos
processos de instabilidade (SIDLE e OCHIAI, 2006). Fernandes et al. (2004), em estudo desenvolvido no Maciço
da Tijuca (RJ), observaram que a forma côncava de encosta apresentou um potencial para escorregamento quase
que três vezes maior do que os obtidos as feições convexas e retilíneas. Isto ocorre porque durante eventos
extremos de chuva, a convergências de fluxo tende a favorecer aumento de poro-pressão e promover alterações
nas propriedades mecânicas do solo, potencializando a instabilidade do material devido a redução da resistência
ao cisalhamento (LACERDA, 2007).
Como objetivo de ajustar o modelo de definição dos pesos das classes de curvatura, foi realizado um
mapeamento visual das cicatrizes com auxílio de imagem de satélite Geoeye de alta resolução espacial (0,5 m) e
de curvas de nível em escala 1:5.000. Como resultado, a classe convergente passou a abranger o maior número
de cicatrizes de escorregamentos (252 cicatrizes), representando 65,97% desse total, seguida das classes planar
com 22,25% (85) das cicatrizes e da classe divergente, que contabilizou 11,78% (45) das cicatrizes (Figura 2 –
IIb). Estes dados se mostraram mais coerentes às características da paisagem estudada e, portanto, foram
utilizados como balizadores para a definição dos pesos relativos das classes de curvaturas de encosta (Tabela 2).

Tabela 2. Matriz AHP de comparação pareada entre as classes de curvatura horizontal


Peso da
Classes Convergente Planar Divergente
classe
Convergente 1 3 7 0,67
Planar 1/3 1 3 0,24
Divergente 1/7 1/3 1 0,09
Razão de consistência = 0,006 (< 0,10 consistente)
Apesar recorrentemente serem utilizados no domínio montanhoso do sudeste brasileiro, os intervalos
sugeridos por Valeriano (2008) não se mostraram adequados para a definição da curvatura horizontal da bacia
hidrográfica estudada. Especialmente por conta da superestimação da classe divergente, que resultou na
discrepante concentração de cicatrizes de escorregamentos nessa classe. Ainda que a importância da forma da
encosta (tanto em planta quanto em perfil) seja reconhecida e gradativamente venha sendo inserida nos modelos
de zoneamento de suscetibilidade, este parâmetro geomorfológico permanece subestimado (CATANI et al.,
2005; CARDENAS e MERAS, 2016; MEIRELLES et al., 2018). Entretanto, a relação entre as formas e
processos que as originam constituem-se como fundamentos importantes ao entendimento da evolução
geomorfológica da paisagem, como preconizado na obra clássica de Gilbert (1877). Uma maior discussão sobre
os métodos de obtenção da curvatura de encosta de maneira automática e a proposição de novos limiares
(adequados a realidade local) mostram-se como essenciais para que esta variável assuma um grau de importância
(peso) mais condizente com o papel dessas formas de relevo na deflagraram dos escorregamentos e na avaliação
da suscetibilidade de terreno em regiões de domínio montanhoso.

3.3 Índice de Eficiência de Drenagem (IED)


Em relação ao IED, observou-se que 78,62% (0,75 km²) das áreas deslizadas concentraram-se nas classes
muito alto (41,16%) e alto (37,46) (Figura 2 – III), as quais normalmente estão associados às bacias com elevados
gradientes topográficos e alta densidade de eixos de drenagem e/ou concavidade, retratando condições favoráveis
ao escoamento superficial e redução da estocagem de água. Os valores obtidos com o cruzamento do inventário
de cicatrizes de escorregamentos e as informações de eficiência de drenagem se mostraram condizentes com os
pesos anteriormente definidos por Coutinho (2015), por esse motivo utilizou-se os dados gerados por este autor
(Tabela 3).

Tabela 3. Matriz AHP de comparação pareada entre as classes do Índice de Eficiência de Drenagem.
Peso da
Classes Muito alto Alto Médio Baixo
classe
Muito alto 1 2 7 9 0,53
Alto 1/2 1 6 8 0,35
Médio 1/7 1/6 1 2 0,08
Baixo 1/9 1/8 1/2 1 0,05
Razão de consistência = 0,02 (< 0,10 consistente). Fonte: Coutinho (2015).
A associação deste índice com a ocorrência de movimentos gravitacionais de massa se dá pela relação entre
esses processos erosivos e a dinâmica evolutiva da rede de canais de drenagem, visto que os escorregamentos
203
são importantes fatores de expansão da rede de drenagem por meio do mecanismo de incisão do canal e
crescimento à remontante ao longo das cabeçeiras de drenagem, o qual pode desencadear escorregamentos por
mecanismos de retroalimentação positiva (COELHO NETTO, 2003).

3.4 Índice de Posicionamento Topográfico (TPI)


Os resultados obtidos a partir do TPI indicaram que as classes de média (59,14%) e baixa (20,09%)
encosta concentraram cerca de 79% das cicatrizes de escorregamento. Isso se dá pelo fato destas áreas tenderem
a apresentar ruptura de declive à jusante dos divisores e suavização abrupta nas áreas de fundos de vales
(COUTINHO, 2015). Logo, o método utilizado para a geração deste mapa (Figura 2 – IV) apresentou alta
relevância para compor as análises espaciais integradas e sintetizadas no mapa dos Condicionantes
Hidrogeomorfológicos, pois possibilitaram a identificação das formas topográficas com foco na suscetibilidade
de terreno aos escorregamentos translacionais rasos. Os valores obtidos com o cruzamento do inventário de
escorregamentos e o TPI se mostraram condizentes com os pesos definidos por Coutinho (2015), por esse motivo
manteve-se os valores definidos por este autor (Tabela 4).

Tabela 4. Matriz AHP de comparação pareada entre as classes do Índice de Posicionamento Topográfico.
Média Baixa Fundo de
Classes Alta encosta Divisores Peso da classe
encosta encosta vale
Média encosta 1 3 5 7 9 0,50
Baixa encosta 1/3 1 3 5 7 0,26
Alta encosta 1/5 1/3 1 3 5 0,13
Divisores 1/7 1/5 1/3 1 3 0,07
Fundo de vale 1/9 1/7 1/5 1/3 1 0,04
Razão de consistência = 0,05 (< 0,10 consistente). Fonte: Coutinho (2015).
3.5 Condicionantes Hidro-geomorfológicos
Os pesos atribuídos aos Condicionantes Hidro-geomorfológicos pautaram-se nos resultados obtidos nas
etapas anteriores. Em decorrência da limitação encontrada no mapeamento da curvatura da encosta por meio
automatizado, foram realizados dois cruzamentos de condicionantes, o primeiro incluiu os dados de Declividade,
IED, TPI e o segundo as informações derivadas da Declividade, IED, TPI e Curvatura das encostas. As limitações
metodológicas foram repassadas para os pesos dados a cada condicionante, visando minimizar as incertas
associadas ao processo de julgamentos (Tabela 5).

Tabela 5. Matriz AHP de comparação pareada entre os Condicionantes Hidro-geomorfológicos.


Classes Declividade IED Curvatura TPI Peso da classe
Declividade 1 2 3 5 0,49
IED 1/2 1 2 3 0,27
Curvatura 1/3 1/2 1 2 0,16
TPI 1/5 1/3 1/2 1 0,09
Razão de consistência = 0,005 (< 0,10 consistente).
Os dados obtidos com a inclusão da curvatura horizontal na definição do potencial hidroerosivo da área de
estudo demonstrou-se promissor, visto que 87,43% (0,84 km²) da área deslizada concentraram-se na classe de
alto potencial erosivo (Figura 2 – V), contra 80,23% (0,77 km²) de área deslizada nesta classe no cruzamento
entre declividade, IED e TPI. Estes resultados indicam a importância do mapa de Condicionantes Hidro-
geomorfológicos para a análise e classificação da suscetibilidade de terreno, pois oferece uma integração e síntese
dos parâmetros morfológicos que podem afetar o potencial de iniciação e progressão dos escorregamentos em
diferentes níveis (alto, médio e baixo).
A leitura integrada dos condicionantes geomorfológicos tem apresentado um rebatimento mais significativo
com as classes de suscetibilidade do que a leitura dos parâmetros de forma isolada. No entanto, outros elementos
funcionais e/ou variáveis controles devem ser considerados nas avaliações de suscetibilidade de terreno à
ocorrências de escorregamento translacionais rasos.

4 Considerações finais
O estudo dos parâmetros geomorfológicos tem se se apresentado como elementar às análises integradas
da suscetibilidade de tereno a deflagração de escorregamentos do tipo translacional raso. Avanços foram obtidos
na definição do declive médio dos polígonos das cicatrizes, permitindo a definição de classes mais ajustadas as
condições da área de estudo. A inclusão da curvatura da encosta como mais um condicionante para a definição
do potencial hidroerosivo apresentou resultado satisfatório, com a concentração 87% das áreas deslizadas na
classe de alto potencial hidroerosivo, demostrando como promissora a adição deste parâmetro na definição da
204
suscetibilidade de terreno. Entretanto, permanece o desafio do aprimoramento dos intervalos para a definição da
curvatura da encosta (por meio automatizado) a fim de refletir a realidade local.
A metodologia adotada, funcional e integradora dos condicionantes de terreno, evidencia avanços na
classificação da suscetibilidade de terreno frente aos escorregamentos translacionais rasos. Sua fundamentação
sistêmica e organização da base de dados em ambiente SIG permanece em aberto para atualizações, na medida
em que novos parâmetros funcionais sejam identificados como relevantes, favorecendo diagnósticos atualizados
para orientar o (re)ordenamento territorial voltado para prevenção, mitigação e/ou adaptação da ocupação
humana. A leitura integrada dos condicionantes geomorfológicos tem apresentado uma resposta mais
significativa na avaliação das classes de suscetibilidade de terreno do que a avaliação dos parâmetros de maneira
isolada. A abordagem geo-hidroecológica reafirma a ideia de que a avaliação da suscetibilidade de terreno é um
processo contínuo que deve ser constantemente atualizado, de acordo com a dinâmica de transformação da
paisagem.

SIRGAS 2000 – UTM 23S


Figura 2. Condicionantes Hidro-geomorfológicos. Mapas intermediários (Declividade, Curvatura, IED e TPI) e
mapa síntese com indicação da área de cada classe na bacia e concentração de cicatrizes (área deslizada) por
classe. No mapa de curvatura plana (II) a concentração de cicatriz é apresentada a partir do método automático
(A) e a partir da leitura direta (B).

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao INCT-REAGEO/Instituto Geotécnico para Reabilitação do Sistema Encosta-
Planície e financiamentos advindos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e à Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), que
viabilizaram este estudo.

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206
Estudo preliminar da pluviometria crítica de deslizamentos dos
Morros da Zona Norte do Recife
Roberto Quental Coutinho
Professor Doutor, UFPE, Recife, Brasil, robertoqcoutinho@gmail.com

Rosane Kelen Rodrigues Delfino


Mestranda em Engenharia Civil, UFPE, Recife, Brasil, rosanekrd@gmail.com

RESUMO: Este trabalho objetiva determinar os limiares críticos de pluviometria para os morros da Zona
Norte do Recife, usando os eventos chuvosos e os respectivos movimentos de massa. A priori foi realizado
levantamentos em bancos de dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais
(CEMADEN) e da Defesa Civil do Recife, para informações acerca da pluviometria e dos movimentos de
massa, respectivamente. Esses dados coletados foram tratados, analisados e armazenados em banco de dados
do Grupo de Engenharia Geotécnica de Encostas, Planícies e Desastres (GEGEP). O período de análise
adotado foi de 3 anos, 2019, 2020 e 2021. A partir dos resultados encontrados, podemos destacar que a
análise desses dados é importante para a prevenção e o monitoramento dos movimentos de massa. A partir
da correlação da precipitação diária pela a precipitação acumulada de dez dias foram encontradas três
equações que se diferenciam pela quantidade de deslizamentos ocorridos por dia.

PALAVRAS-CHAVE: Precipitação; Deslizamentos; Correlação; Monitoramento.

ABSTRACT: This work aims to determine the critical rainfall thresholds for the hills of the Zona Norte de
Recife, using the rainfall events and the respective mass movements. A priori, surveys were carried out in
databases of the Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) and the
Defesa Civil do Recife, for information about rainfall and mass movements, respectively. These collected
data are processed, analyzed and stored in the Slopes, Plains and Disasters Geotechnical Engineering Group
(GEGEP) database. The period of analysis adopted was 3 years, 2019, 2020 and 2021. From the results
found, we can highlight that the analysis of these data is important for the prevention and monitoring of
mass movements. From the correlation of the daily precipitation with the accumulated precipitation of ten
days, three equations were found that differ by the amount of landslides that occurred in the day.

KEYWORDS: Precipitation; Landslide; Correlation; Monitoring.

1 Introdução

Os movimentos de massa são fenômenos que fazem parte da dinâmica natural da paisagem, são
processos geomorfológicos importantes para a transformação do relevo. Trata-se de deslocamentos
gravitacionais de solos ou rochas, dotados de grande poder destruidor, que podem ser potencializados pela
ação antrópica. São os fenômenos naturais que mais afetam as cidades brasileiras, provocando danos sociais
e econômicos.
No Brasil, a intensa pluviosidade seguida de deslizamentos de encostas é frequente. Todos os anos
novos episódios se somam ao já volumoso registro histórico, que deixam como consequência vítimas fatais,
pessoas desabrigadas e danos materiais. A ocorrência de movimentos de massa durante ou após períodos de
precipitação induziu o desenvolvimento de correlações entre chuvas e escorregamentos.
Segundo Ide (2005), a preocupação com os movimentos de massa é necessária devido ao grande
número de cidades nas quais existem esses problemas. O monitoramento e a prevenção eficazes destes
processos têm sido um desafio para as comunidades internacionais, visando à proteção à vida e à
propriedade. O sucesso dessa empreitada, no entanto, está intimamente ligado ao conhecimento de seus
agentes condicionantes e como se relacionam até a deflagração. Este trabalho teve o objetivo de determinar
os limiares críticos de pluviometria para os morros da Zona Norte do Recife e faz parte de uma pesquisa
que se encontra em andamento.

2 Correlações entre chuvas e movimentos de massa

A correlação entre os eventos pluviométricos e os deslizamentos tem levado alguns pesquisadores a

207
analisar e tentar estabelecer correlações empíricas e probabilísticas entre a chuva e os movimentos de massa.
Um dos primeiros trabalhos de maior relevância foi o realizado por Endo (1970), pois determinou que
chuvas com intensidade de 200mm/dia desencadearam as avalanches nas montanhas da Ilha de Hokkaido
no Japão. Diversos outros pesquisadores também estabeleceram correlações entre os eventos pluviométricos
e os movimentos de massa, como por exemplo, Campbell, (1975), Brand et al., (1984), Kay e Chen, (1995),
Zêzere et al., (2002) entre tantos outros. No Brasil, foram desenvolvidas diversas correlações entre os
episódios de chuva e os movimentos de massa, resultantes de diferentes locais, conforme exemplifica o
Quadro 1.

Quadro 1 - Exemplos de estudos nacionais sobre a correlação entre chuvas e movimentos de massa
Características associadas aos movimentos escorregamento Local Referência
Limite de 8 a 17% de pluviosidade anual. Com 20% da pluviosidade Região Sudeste do Guidicini e
anual, desenvolvem-se fenômenos catastróficos. Brasil e Ceará, Iwasa, 1976
Desenvolveram a equação para a região paulista:
I (Ac) = 𝐾𝐴𝑐 −0,933 Tatizana et
I(Ac) = Intensidade diária de chuva; Serra do Mar, SP al. (1987a e
Ac = Acumulado de chuva durante 4 dias antes do evento;
1987b)
K= Constante dependente das condições geotécnicas das encostas e da
intensidade de escorregamentos.
Considera chuvas diárias a partir de 20mm e acumuladas de 4 dias com Elbachá et al.
Salvador, BA
valores maiores que 120 mm há predominância de escorregamentos. (1992)
Foi avaliado que, com relação ao período de chuva acumulada o melhor
Almeida et
período foi o de 4 dias, o único a não apresentar incoerência. Estabelecem Petrópolis, RJ
al. (1993)
a relação entre pluviosidade acumulada e eventos de escorregamentos.
Belo Horizonte,
Limite de 30 mm/24 horas e 50 mm em 48 horas Xavier, 1996
MG
Introdução do parâmetro R (valor representativo do movimento iminente,
igual a 600 mm²). Pac I = R Gusmão
Olinda, PE
Pac = chuva acumulada até o episódio; Filho (1997)
I = intensidade mínima de chuva para que ocorra o episódio.
GEO-RIO,
Boa relação com chuva acumulada de 4 dias. Rio de Janeiro, RJ
2000
Para nível de Atenção = 36,00 mm. Salaroli,
Vitória, ES
Para o nível de Alerta = 87,5 mm. 2003
Boa relação com chuva acumulada de 3 a 4 dias, somando em torno de
Blumenau, SC Vieira, 2004
50 mm.
Possuem maior susceptibilidade a escorregamentos a partir de
78mm/7dias. Para as áreas sedimentares as relações não foram Campinas, SP Ide, (2005)
satisfatórias.
Chuvas acumuladas de 5 dias são as que mais influenciam na
instabilização de encostas. Precipitações de 22mm/5 dias podem Castro,
Ouro Preto, MG
desencadear eventos. Acima de 128mm/5dias há maior probabilidade de (2006)
escorregamentos severos.
A equação encontrada pelo autor para possibilidade de escorregamentos
Pedrosa
baseado na precipitação acumulada de 6 dias foi PA = 128569 x PD- Mariana, MG
(2006)
2,1433, onde PD é a precipitação diária e PA a precipitação acumulada.
Proposto valores críticos de precipitação acumulada em 72 h (𝐼72ℎ ), ao Recife,
Coutinho e
longo do tempo (𝑃𝑎𝑐) e o parâmetro (𝑅𝑐𝑟𝑖𝑡), resultante do produto entre Camaragibe e
Bandeira
𝐼72ℎ e 𝑃𝑎𝑐 R crit = 𝐼72ℎ . 𝑃𝑎𝑐 Jaboatão dos
(2015)
Guararapes, PE
As análises consideraram o produto da intensidade horária e o acumulado
de chuvas, 𝐼𝐴 𝑛 , e verificaram sua correlação com o número de
ocorrências de escorregamentos por km² de área de suscetibilidade. Ehrlich et al.
Não evento =0 Rio de Janeiro -RJ
𝑁º 𝑑𝑒 𝑜𝑐𝑜𝑟𝑟ê𝑛𝑐𝑖𝑎𝑠 (2021)
0< Categoria I ≤0,2
Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑒 𝑠𝑢𝑠𝑐𝑒𝑡𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (𝑘𝑚2 ) 0,2 < Categoria II ≤0,4
0,4 < Categoria III

208
3 Área de estudo

O estudo se desenvolve nos morros da Zona Norte da cidade do Recife, que está localizada na região
metropolitana do Recife, estado de Pernambuco, situado na região nordeste do Brasil. Os morros da região são
representados pelas rochas sedimentares da Formação Barreiras, caracterizada por uma deposição em
ambientes de canais fluviais. A idade da referida unidade geológica tem sido admitida entre o Mioceno -
Plioceno a Pleistoceno (BRITO et al., 1996).
Seus perfis de exposição se caracterizam por uma intercalação de camadas arenosas, areno-argilosas
e argilosas que indicam o ambiente deposicional de canais fluviais. A constituição de camadas arenosas típicas
dessa formação pode apresentar grande quantidade de feldspatos, o que permite classificar tais horizontes
como arcoseanos. Os processos de intemperismo levam a formação de argilominerais, via de regra a caulinita.
A existência de camadas de diferentes granulometrias e distintas composições minerais favorece a ocorrência
de escorregamentos e de processos erosivos (ALHEIROS et al., 2003).
A Figura 1 apresenta a localização da área de estudo, enquanto a Figura 2 detalha os valores históricos
mensais da precipitação referentes às duas normais climatológicas calculadas pelo Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET) para a cidade do Recife. Nota-se que nos últimos 30 anos houve uma antecipação no
pico de chuva, que no período entre os anos de 1961 a 1990 era no mês de julho e entre 1991 a 2020 passou
para o mês de junho.

Figura 1 - Localização da área de estudo – Morros da Zona Norte do Recife

209
Figura 2 - Mapa das médias climatológicas mensais da precipitação pluviométrica em Recife, para os
períodos entre os anos de 1961 a 1990 e de 1991 a 2020 (INMET, 2022)

4 Metodologia

A metodologia adotada neste trabalho se assemelha a pesquisa desenvolvidos por Tatizana (1987) e
Bandeira e Coutinho (2015), porém devido a algumas peculiaridades da área de estudo, algumas adaptações
do método adotado foram necessárias. Inicialmente foi realizada a coleta das informações, fazendo um
levantamento dos dados pluviométricos e dos movimentos de massa, criando assim um banco de dados. Para
a correlação entre os eventos pluviométricos e os deslizamentos verificou-se a quantidade de dias de chuva
acumulada na deflagração dos deslizamentos e, por fim, determinação da relação entre as chuvas e os
deslizamentos.

4.1 Coleta de dados

Os levantamentos de dados dos deslizamentos e da pluviosidade ocorrem de forma a coincidir as datas


e locais, devido à interdependência entre estes dados. O período de estudo do trabalho compreendeu desde
2019 até 2021, portanto foi importante a coleta dos dados tanto de precipitação quanto de movimentos de
massa dentro desse período.

4.1.1 Movimentos de massa

O levantamento dos dados foi realizado com ajuda da Defesa Civil do município do Recife, que
apresentam as informações do monitoramento das áreas de riscos, os arquivos contêm os dados dos registros
dos chamados, com a localização, a data, o tipo de ocorrência, o grau de risco e a solicitação realizada. Além
disso são registrados as vistorias e o tipo de ação realizada pela SEDEC no local.
Para a construção do banco de dados foi realizado um levantamento das ocorrências atendidas pela
Defesa Civil do Recife na área de estudo, selecionando apenas aquelas relacionadas a deslizamentos. O
cadastro final foi criado em um banco de dados em planilha Excel, armazenando e ordenando os dados. No
cadastro consta a data da ocorrência e endereço (logradouro e bairro). Para o desenvolvimento das análises
foram selecionados apenas os deslizamentos provocados por um evento pluviométrico significativo, que de
acordo com a classificação da GEO-RIO a chuva deve ser superior a 10mm/h, e em pelo menos 3 estações
pluviométricas. Os eventos de deslizamentos foram subdivididos em três categorias:
• Eventos Localizados – Ocorrência de um a três deslizamento por dia;
• Eventos Esparsos – Entre quatro e nove ocorrências;
• Eventos Generalizados – Acima de nove deslizamentos no dia.

4.1.2 Chuva

Os dados de chuva dos morros da Zona Norte do Recife são obtidos através dos pluviômetros
automáticos do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN). Os dados
coletados passaram por uma análise de consistência antes de serem utilizados, visando a caracterização do
regime de chuva e a preparação dos dados para desenvolvimento da análise. Os dados de precipitação
analisados nesta pesquisa são referentes ao posto pluviométrico Dois Unidos (Cód. 261160606A). A Figura 3
apresenta a precipitação acumulada anual para os anos de 2019, 2020 e 2021. O ano de 2021 se destaca como
o mais chuvoso do período estudado.

210
Figura 3 - Precipitação acumulada mensal para os anos de 2019, 2020 e 2021
4.2 Correlação entre chuva e deslizamentos
Esta correlação tem por objetivo estabelecer uma relação numérica entre os dois, sendo de grande
utilidade para a previsão dos movimentos de massa. Segundo Castro (2006), o estudo de correlação consiste
na comparação, através de diversos gráficos, entre os valores de precipitação que causaram escorregamentos
e aqueles valores que não causaram nenhum tipo de movimento.
Primeiramente, foram estudados os dias de chuva acumulada que influenciam nos movimentos de
massa, sendo esta análise importante para verificar qual a quantidade de dias antecedentes que tem maior
influência nos movimentos, ou seja, a importância do grau de saturação do solo no desencadeamento dos
escorregamentos. Para isso, foram plotados os pontos com e sem deslizamentos pela data de sua ocorrência,
construindo diagramas de dispersão para a chuva diária e outro para a chuva acumulada de 1 a 10 dias, a fim
de verificar a quantidade de dias de chuvas acumuladas que influenciam na deflagração dos deslizamentos.
Posteriormente, traçou-se uma curva para através desta fornecer uma relação numérica entre a chuva
acumulada na quantidade de dias antecedentes aos escorregamentos e a chuva horária. Para a construção do
gráfico foram utilizados todos os dados de deslizamentos para os anos de 2019, 2020 e 2021. O objetivo da
construção deste gráfico foi estudar os pontos em situações adversas, ou seja, aqueles dias em que ocorreu um
baixo volume de chuva, mas houve movimentos e aqueles que com alto valor de chuva diária não causaram
deslizamentos. Foram lançados todos os pontos com e sem escorregamentos no gráfico da intensidade horária
pela chuva acumulada, definindo uma curva que mostra a melhor separação desses pontos. A equação que
melhor se ajustar a esta curva será a relação numérica entre essas duas variáveis.

5 Apresentação e discussão dos resultados


5.1 Correlação entre deslizamentos e chuva
O número de ocorrências registrados pela Defesa Civil do Recife para o período estudado (2019 a
2021) resultam em um total de 220 ocorrências de deslizamentos na área estudada, conforme especificado na
Figura 4. Vale destacar, que existem deslizamentos que não foram causados diretamente pela chuva, com
evidência de baixos índices pluviométricos. Esses deslizamentos podem ter sido agravados pela ação antrópica
e não foram considerados na análise de correlação entre a precipitação acumulada e movimentos de massa.
Foram lançados todos os dados de chuva dos anos de 2019, 2020 e 2021 em um gráfico de dispersão
de precipitação diária e outro de chuva acumulada em 10 dias e conforme apresenta a Figura 5 e 6,
respectivamente. Os casos de deslizamentos e os casos de não ocorrência estão destacados nos gráficos como
indica a legenda.
No gráfico da Figura 5, observa-se que existe uma predominância dos eventos localizados ocorrerem
até de um limiar inferior a 200 mm para acumulada de 10 dias. Enquanto os eventos esparsos e generalizados
ocorrem principalmente a partir um limiar superior a 200 mm. Vale destacar que o ano de 2020 foi o que
apresentou uma menor precipitação pluviométrica anual, resultando em uma menor ocorrência de eventos de
deslizamentos, como pode ser observado nas Figuras 5 e 6, onde o maior evento apresentou apenas 4
deslizamentos, apesar de uma chuva significativa no período.

211
Figura 4 – Ocorrências registradas pela Defesa Civil nos morros da zona norte do Recife para precipitação
acumulada de 10 dias

Figura 5 - Gráficos de dispersão de precipitação diária

Figura 6 - Gráficos de dispersão de precipitação acumulada de 10 dias

5.2 Relação numérica entre precipitações e escorregamentos

As curvas que correlacionam a precipitação acumulada e a intensidade horária foram definidas para obter uma
relação numérica entre estes dois parâmetros. Foram obtidas através de um gráfico com os pontos de eventos
de deslizamentos (localizados, esparsos e generalizados) e os pontos de chuva que não provocaram
deslizamentos, conforme apresenta a Figura 7.

212
Figura 7 - Curvas de correlação entre a intensidade horária pela precipitação acumulada para 10 dias.

A partir das informações de chuva acumulada dos dias antecedentes e com as equações encontradas
torna-se possível calcular a intensidade de chuva horária capaz de ocasionar os deslizamentos. Tais equações
possibilitam analisar o comportamento das ocorrências de deslizamentos frente aos fenômenos de precipitação,
mostrando-se como um recurso capaz de atuar na prevenção desses acidentes. Observa-se no gráfico da Figura
7 pontos acima da curva não associados aos deslizamentos, no entanto, a maior parte do universo dos dados
de precipitação se localiza na área inferior do gráfico, que significa menor suscetibilidade de ocorrer
deslizamentos na região dos morros da zona norte do Recife. Vale salientar que por se tratar de um resultado
empírico, a qualidade da aplicação da equação depende do tamanho da amostra dos dados utilizados. Portanto,
frequentemente faz-se necessário realizar atualizações, inserindo novos casos de deslizamentos, ampliando
assim o banco de dados.

6 Conclusão

A investigação das relações numéricas por meio da análise dos deslizamentos ocorridos trata-se de
uma técnica amplamente utilizada na problemática de previsão deste tipo de acidente. No entanto, é preciso
observar a variabilidade climática e a complexidade de fatores físicos que atuam no processo, como a
geomorfologia, geologia, vegetação, ações antrópicas, infiltração de águas servidas e vazamento de tubulações
de abastecimento de água existente de cada região.
Os eventos de deslizamentos foram divididos em três grupos, localizados (1 a 3 deslizamentos),
esparsos (4 a 9) e generalizados (acima de 9), para cada um foi encontrado uma equação que possibilita
conhecer a precipitação responsável por desencadear cada grupo de evento, conforme apresenta a Figura 7. A
curva de eventos localizados, com intervalo de 1 a 3 deslizamentos no dia, se mostra interessante, uma vez
que, a partir desse limiar se espera uma maior probabilidade de ocorrer deslizamentos. As expressões
preliminares apresentadas nesse estudo se mostram satisfatórios, no entanto, cabe ressaltar que este trabalho
faz parte de uma pesquisa que se encontra em desenvolvimento. As equações encontradas podem ser
aprimoradas após a incorporação de novos dados e conclusão das análises.

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214
Mapeamento de Risco e Perigo em Encosta com Ocupação
Desordenada no Alto Nova Olinda, Olinda-PE

Luiz Fillipe da Silva Oliveira


Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil, luizfillipesilva.eng@gmail.com

Pedro Eugênio Silva de Oliveira


Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil, pedrocivil@hotmail.com

Eduardo Antonio Maia Lins


Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil, eduardomaialins@gmail.com

RESUMO:
Os acidentes com movimentos de terra são acidentes naturais recorrentes em encostas de todo o
mundo, o que incluindo as áreas de morros. No município de Olinda esses tipos de acidentes
ocorrem onde está alojada uma grande parte da população com maior vulnerabilidade social e
econômica: nos morros. No ano de 2019 cerca de 30 mortes foram causadas por escorregamentos
de barreiras em todo estado, mostrando a importância do estudo dessas áreas. Para os
mapeamentos de risco e perigo foram utilizados os métodos de Gusmão Filho et. al. (1992),
devidamente adaptada a área, e o de Faria (2011) que comtempla o Processo de Análise
Hierárquica (AHP) numa abordagem semi-quantitativa, realizando uma possível comparação dos
resultados de ambos e criando um mapa interativo abrangendo toda a encosta. Os resultados das
análises dos métodos mostraram que em 25% dos pontos o grau de risco, pelo método de Gusmão,
foi classificado como “Alto”, e em 75% como “Muito Alto”, enquanto que pelo método de Faria
em 34,38% dos pontos apresentaram grau de perigo classificado como “Baixo”, 18,75% como
“Médio”, 9,38% como “Alto” e 37,5% como “Muito Alto”. O Método de Gusmão Filho foi o
mais rigoroso, considerando o pior cenário, enquanto que o Método AHP adotado em Faria (2011)
apresenta resultados mais fiéis à realidade da encosta.

PALAVRAS-CHAVE: Movimentos de Massa, Deslizamentos, Estabilidade, Talude.

ABSTRACT:

Earthmoving accidents are recurring natural accidents on slopes around the world, and also in hill
areas. In the municipality of Olinda, these types of accidents occur where a population of greater
social and economic vulnerability is housed: on the hills. In 2019, about 30 deaths were caused
by landslides across the state, showing the importance of studying these areas. For the mapping,
the methodologies of Gusmão Filho et. al. (1992), duly adapted to the area, and that of Faria
(2011), which contemplates the Hierarchical Analysis Process (AHP) in a quantitative approach,
making it possible to compare the results of both and creating an interactive map with the entire
slope. The results of the analysis of the methods showed that in 25% of the points the degree of
risk, by the method of Gusmão’s method, was classified as “High”, and in 75% as “Very High”,
while by the method of Faria in 34.38 % of the points had a degree of danger classified as "Low",
18.75% as "Medium", 9.38% as "High" and 37.5% as "Very High". Gusmão Filho's method is
the most cautious, considering the worst hypothesis, while Faria's is the one that presents results
more faithful to the reality of the slope.

215
KEYWORDS: Mass Movements, Landslide, Stability, Slop

1. Introdução

Nas últimas décadas temos presenciado uma intensa urbanização da população brasileira.
As concentrações em grandes centros urbanos se acentuaram sem um acompanhamento de
políticas de uso e ocupação de solo, levando, principalmente, a população de baixa renda
ocuparem espaços, muitos deles à um baixo custo, mas que apresentam condições geológicas e
geomorfológicas desfavoráveis à moradia humana.
Os métodos para avaliação e classificação do grau de risco a deslizamentos são os mais
diversos. Esses métodos, em sua maioria, apresentam visões qualitativas, por causa do tipo de
análise utilizado. Neste trabalho será utilizado os métodos propostos por GUSMÃO FILHO et.
al. (1992) e o Método AHP Adotado por FARIA (2011). O de Gusmão Filho sendo um método
qualitativo que leva em consideração para o cálculo do grau de riscos os fatores: topográfico;
geológico e ambiental, enquanto que o Método AHP adotado em Faria (2011).

2. Movimentos Gravitacionais de Massa

Hutchinson (1968) define os movimentos gravitacionais de massa como sendo


movimentos induzidos pela ação da gravidade, como por exemplo, os deslizamentos de encostas
e as quedas e tombamentos de blocos rochosos. Os movimentos regidos por um agente de
transporte como água, gelo, neve ou ar, são denominados processos de transporte de massa.
Entre os principais fatores naturais que contribuem para a geração de movimentos de
massas nas encostas destacam-se a geometria e geomorfologia (morfologia do talude, zonas de
convergência e divergência de fluxo de água, a duração e intensidade das precipitações
pluviométricas, a geologia do material, geomecânicas, cobertura vegetal, ocupação do solo,
sismos ou outras situações incomuns tais como rompimento de barragens (NUNES, 2008).
Neste trabalho o movimento de massa mapeado será o de Deslizamentos (slides).
2.1 Deslizamentos (Slides)

Os deslizamentos são uma consequência da deformação cisalhante que pode ocorrer ao


longo de uma ou mais superfícies, podendo abranger materiais rochosos ou solo. As superfícies
de deslizamento podem ser visíveis ou não, pois podem estar razoavelmente inferidas ou ainda
estar em zonas relativamente limitadas (AHRENDT, 2005). Esses são divididos classicamente:
os rotacionais, os translacionais e os em cunha.
Segundo AHRENDT (2005) escorregamentos rotacionais são escorregamentos onde o
material em movimento sofre pouca deformação e em geral envolve apenas uma ou poucas
unidades litológicas ocorrendo preferencialmente ao longo de superfícies de deslizamento
internas. Apresentam uma característica muito comum que é a geração de uma superfície de
ruptura em formato curvo, com a concavidade voltada para cima.
Os escorregamentos translacionais ou planares ocorrem quando a camada de massa
instável se encontra sobre uma camada com maior resistência, e esta camada subjacente encontra-
se relativamente paralela à superfície do talude como também há uma profundidade pequena.

2.2 Métodos de Análise de Risco e Perigo


2.2.1 Metodologiade Gusmão Filho et Al. (1992)

É um método índice, por utilizar um índice numérico associado a cada fator; e de análise
relativa, em que se compara as situações de riscos sem cálculo probabilístico, ainda gerando
resultados de caráter qualitativo (BANDEIRA, 2013). Valor numérico mostrado na Tabela 1.

216
Tabela 1 – Grau de Risco

TERMO GRAU DE
LINGUÍSTICO RISCO

Muito Baixo 1
Baixo 2
Médio 3
Alto 4
Muito Alto 5

Fonte: Gusmão Filho et. al. (1992), apud Bandeira (2003)

Esta metodologia é aplicada a setores individualizados de encostas. Em campo a divisão


dos setores da encosta deve ser homogênea levando em conta as suas características de
infraestrutura e ocupação. Nela organiza-se os dados coletados em campo, levando em
consideração os principais atributos que afetam a estabilidade da encosta, também os fatores
geológico, topográfico e ambiental (BANDEIRA, 2013).
Os fatores topográfico e geológico e ambiental têm como atributos os elementos da
suscetibilidade; o ambiental ainda acrescido à vulnerabilidade da área. Considera-se o fator
meteorológico uniforme em toda área de estudo, ou seja, considera-se os mesmos índices
pluviométricos para toda região, são considerados sob condições de chuvas intensas
(BANDEIRA, 2013). A Figura 2 mostra-se o detalhamento dos atributos dos fatores de grau de
risco.

Figura 2 – Detalhamento dos Atributos por Graus de Risco Aplicado em Recife

Calculado os valores de graus de risco de cada atributo, calculam-se os graus de risco dos
fatores (topográfico, geológico e ambiental) através de uma média aritmética dos valores dos seus
atributos. Em seguida calcula-se a nota de cada setor da encosta através de uma média aritmética
ou ponderada, dependendo dos pesos atribuídos, entre os fatores topográfico, geológico e
ambiental, segundo a fórmula (equação 1):
( ∗ ) ( ∗ ) ( ∗ )
𝐺𝑅𝐹 = ( )
(1)

217
Onde:
GRFENC = Grau de risco de cada setor de encosta;
GRT = grau de risco topográfico (média aritmética dos atributos topográficos);
GRG = grau de risco geológico (média aritmética dos atributos geológicos);
GRA = grau de risco ambiental (média aritmética dos atributos ambientais);
P1, P2 e P3 são os respectivamente os pesos do fator topográfico, geológico e ambiental.
Na Tabela 2 encontra-se os graus de risco finais para o Município de Recife
(BANDEIRA, 2003).
Tabela 2 – Classificação dos Graus de Risco Finais para o Município de Recife

GRAU DE RISCO
TERMO LINGUÍSTICO
RISO OBTIDO
Muito Baixo 1 < 1,74
Baixo 2 1,74 – 2,24
Médio 3 2,24 – 2,74
Alto 4 2,74 – 3,24
Muito Alto 5 < 3,24
Fonte: Alheiros (1998), apud Bandeira (2003)

O presente trabalho por se tratar de uma encosta no município de Olinda e com a escassez
de dados de prospecção na área, resolveu-se que, o grau de risco final, não levaria em conta estes
pesos aplicados por Gusmão nas encostas do Recife, logo, o grau de risco foi calculado através
de uma média aritmética.
2.2.2 Aplicação do Método AHP adotado por Faria (2011)

Usa-se no Brasil métodos de mapeamento de perigo que apresentam uma subjetividade


elevada, pois a produção passa por uma avaliação de técnicos e moradores da área mapeada,
assumindo assim uma proximidade entre a área avaliada e que está avaliando. A aplicação da
técnica semiquantitativa afim de diminuir a subjetividade das análises qualitativas, através do
Processo de Análise Hierárquica (AHP). O AHP pertimite a validação da atribuição relativa dos
pesos, minimizando a subjetividade pois o mesmo aumenta o nível de confiança da tomada de
decisão. (FARIA, 2011).
Segundo Faria e Augusto Filho (2013) a tabela Índice de Perigo contém os dados de entrada
de uma área mapeada definidas na chave de ponderação. É feito o cálculo com do índice de perigo
(IP) com os valores numéricos dos pesos, conforme a seguinte fórmula de ponderação (equação
2):
𝐼𝑃 = ∑ 𝑝 𝑥 ⁄100 (2)
Onde:
p = peso do condicionante do processo (indicador de perigo)
x = peso da classe do respectivo indicador de perigo
O IP é calculado para cada natureza de encosta e tipo de processos de escorregamentos,
identificados nos setores analisados, assim, cada área terá sua tabela de IP. Essa tabela tem como
função classificar o perigo em baixo, médio, alto e muito alto. Classificação essa feita através de
média aritmética dos índices de perigo calculados. Segundo FARIA (2011) os critérios adotados
para a classificação do índice de perigo (IP) foram dois:

218
a) A média aritmética (𝑋) dos valores calculados do IP é somada ou diminuída da metade do
desvio padrão (∆), estabelecendo-se graus de perigo. Esse é representado pela equação (3),
a seguir:
𝟏
IP = 𝑿 ± 𝟐 ∆ (3)

b) A identificação pontos que mostram um hitórico recente de instabilidade classifica,


desconsiderando o cálculo do IP, o perigo como “muito alto”.
A Tabela 3 apresenta os critérios para classificação do IP. Importante pontuar que que
essa etapa foge dos métodos usados pelo AHP, pois trata-se de uma associação de métodos
visando complementa-los (FARIA, 2011).
Tabela 3 – Critérios para classificação do Índice de Perigo (IP)
GRAU DE
ÍNDICE DE PERIGO (IP)
PERIGO
IP < 𝑿 - ½ ∆ Baixo
𝑿 - ½ ∆ < IP < 𝑿 + ½ ∆ Médio
IP > 𝑿 + ½ ∆ Alto
Presença de feições de
Muito Alto
instabilidade
Fonte: Faria (2011)
Com base na metodologia do Ministério das Cidades o grau de perigo classificado como
“muito alto”, ou seja, baseado na presença de feições de instabilidade num histórico recente, sejam
elas presentes em número ou maagnitude. (FARIA, 2011).

3 Materiais e Métodos
3.1 Materiais

Por se tratar de metodologias, é extremamente necessário a visita em campo, ou seja, nas


encostas a serem estudadas, além de um suporte remoto que pode ser feito através do Google
Earth. Essa visita foi feita em 06/10/2019, e dela pode-se contrastar os dados obtidos remotamente
com a realidade, a intervenção antrópica nas encostas, antes naturais, hoje modificadas. Observa-
se também evidências de movimentos de massa e intervenções das autoridades competentes
(Defesa Civil do Município de Olinda).

3.2 Área de Estudo

A área selecionada para o estudo é localizada no bairro de Águas Compridas no município


de Olinda – Pernambuco, este que está localizado na Região Metropolitana do Recife, no
meridiano e paralelo, respectivamente, 08°01’48’’ e 34°51’42’’. A Figura 3 mostra a área de
estudo delimitada por pontos, gerando as regiões juntamente com as seções de estudo, pontos
esses obtidos através dos softwares Google Earth e posteriormente introduzidos no QGIS.
A encosta escolhida está relacionada com um recente de histórico de incidentes nesses
bairros, como também no município de Olinda. Só no ano de 2019, 30 (trinta) mortes foram
causadas pelos deslizamentos em todo o estado de Pernambuco. Segundo levantamento da
Coordenadoria de Defesa Civil de Pernambuco (CODECIPE) desde 2017 não havia registro de
mortes causadas pela chuva no estado.

219
Figura 3 – Área de Estudo na localidade do Alto Nova Olinda no Bairro de Águas Compridas

3.3 Métodos
3.3.1 Metodologia Gusmão Filho et Al. (1992)

Para os Fatores Topográficos as alturas e extensões dos pontos na encosta foram obtidos
através do softwares Google Earth, e tratamento das curvas de nível no AutoCAD,
respectivamente, que coincidia com a percepção durante a visita em campo. A abordagem da
morfologia das encostas pode ser abordada em dois sentidos, seja ela em planta ou em perfil.
Estas características foram definidas através de análise das curvas de nível e também com as
visitas em campo. Para os Fatores Geológicos, com o uso do Mapa Geológico do Município de
Olinda, elaborado através do QGIS através de dados da CPRM, pode-se caracterizar a litologia.
Através da atividade em campo, com uso de imagens das encostas, foi possível caracterizar as
encostas estudadas. Levou-se em consideração desde as evidências de movimentos, a tonalidade
da superfície das encostas. Os Fatores Ambientais através da visita em campo pode-se caracterizar
a presença de vegetação e drenagem nas seções das encostas estudadas. A densidade populacional
foi extraída através de dados do censo de 2010 do IBGE. Tomando a população dos bairros onde
se encontram as encostas estudadas e a população das mesmas. Estes Fatores acima citados
encontram-se no trabalho de conclusão de curso de Oliveira (2019).

3.3.2Aplicação do Método AHP adotado por Faria (2011)

Neste método alguns dos índices de perigo são coincidentes com o método de Gusmão,
sendo assim, preenchido semelhantemente. Os indicadores de nível d’água de água superficial
foram obtidos através da visita em campo. Os índices de material e de Estrutura, foram
preenchidos segundo o Mapa Geológico do Município de Olinda (OLIVEIRA 2019).

4. Resultados e Discussões
4.1 Grau de Risco encontrado através do Método de Gusmão Filho et Al. (1992)

Nos 32 pontos da Encosta no Alto Nova Olinda, os Graus de Risco (GR) variaram entre
R3 e R4, caracterizando GRs Alto e Muito Alto, respectivamente. Dos 32 pontos da encosta, estes

220
apresentaram os seguintes GR: 8 (oito) apresentaram R3 e 24 (vinte e quatro) apresentaram R4
(OLIVEIRA 2019).

4.2 Grau de Perigo encontrado através do Método AHP adotado por Faria (2001)

Na Tabela 4 encontra-se os critérios de Classificação dos Graus de Perigo obtidos para a


encosta estudada.
Tabela 4 – Critérios de Classificação dos índices de Perigo da Encosta no Alto Nova Olinda -
Olinda
ÍNDICE DE PERIGO GRAU DE PERIGO
IP < 31,143 Baixo
31,143 < IP < 33,939 Médio
IP > 33,939 Alto
Presença de feição de
Muito Alto
Instabilização
Fonte: OLIVEIRA (2019)
Nos 32 pontos da Encosta no Alto Nova Olinda, os Graus de Perigo Final (GPF) variaram
entra R1, R2, R3 e R4, caracterizando GPF Baixo, Médio, Alto e Muito Alto, respectivamente.
Dos 32 pontos da encosta, estes apresentaram os seguintes GPF: 11 (onze) apresentaram R1, 6
(seis) apresentaram R2, 3 (três) apresentaram R3 e 12 (doze) apresentaram R4.
Salienta-se que, no método AHP adotado por Faria, a presença de feições de
instabilização já classifica a encosta, ou algum trecho dela, com grau de perigo “Muito Alto”.
Essa abordagem do método mostra a importância do conhecimento do histórico de eventos de
deslizamentos na encosta, mostrando que o diálogo das entidades com os moradores dessas áreas,
que são os diretamente afetados, deve sempre ser levado em conta (OLIVEIRA 2019).
4.3 Mapas Interativos de Risco e Perigo Georreferenciados através do Software Microsoft
Power BI
Com os graus de Risco e Perigo obtidos, juntamente com os dados de Georreferencia dos
pontos da Encosta no Alto Nova Olinda foi possível obter um mapa temático e interativo dos
pontos da Encosta. Os mapas está disponível através deste link, ou se preferir, através do QR Code
abaixo (Figura 4).

Figura 4 - QR Code de acesso ao Mapa Interativo dos Graus de Risco e Perigo da


Encosta no Alto Nova Olinda – Olinda.
5. Conclusão

221
Através do Método de Gusmão Filho et. al. (1992) obteve-se resultados mais incisivos na
questão dos graus de risco dos pontos da encosta, resultados esses que apontaram que 25% dos
pontos apresentavam grau de risco classificado como “Alto” e 75% classificados como “Muito
Alto”.
O Método AHP Adotado por Faria (2011) trouxe resultados melhor distribuído na
classificação do risco, pois o da autora tem R1, R2 R3 e R4 e o de Gusmão et al, tem R3 e R4,
pois observou-se que 34,38% dos pontos verificados na encosta apontam um grau de perigo
classificado como “Baixo”; cerca de 18,75% apresentou grau de perigo “Médio”; outros 9,37%
apresentou grau de perigo “Alto”; e 37,5% apresentou grau de perigo “Muito Alto”.
Os resultados do Método de Gusmão Filho et al. (1992) se mostraram mais cautelosos,
com uma precaução considerando a encosta submetida aos fatores mais desfavoráveis, ou seja,
considerando a pior hipótese. O método AHP adotado de Faria mostrou ser uma metodologia
mais próxima da realidade dos pontos nas encostas, devido a observação da classificação de
perigo “Baixa” e “Média” ser em pontos da encosta onde nota-se uma organização mais antiga,
uma linearidade das ocupações, sem tanto desordenamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Previsão: Aplicação na Área Urbana de Campos do Jordão – SP. Tese de Doutorado. São
Calos – SP
FARIA, D. G. M. (2011), Mapeamento de perigo de escorregamentos em áreas urbanas
precárias brasileiras com a incorporação do Processo de Análise Hierárquica (AHP). Tese
de Doutorado. Programa de Pós-Graduação e Áreas de Concentração em Geotecnia – Escola de
Engenharia. São Carlos – SP.
AUGUSTO FILHO, O. (1992), Caracterização Geológica-geotécnica voltada à Estabilização
de Encostas, Rio de Janeiro. ABMS-ABGE-ISSMGE.
BANDEIRA, A. P. (2003), Mapa de Risco de erosão e escorregamento das encostas com
ocupações desordenadas no Município de Camaragibe-PE. Dissertação (Mestrado em
Engenharia) – Universidade Federal de Pernambuco. CTG, Engenharia Civil, 2003.
BRASIL, IBGE. Censo Demográfico, 2010. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em:
22 mai. 2019.
FARIA, D. G. M. e AUGUSTO FILHO, O. APLICAÇÃO DO PROCESSO DE ANÁLISE
HIERÁRQUICA (AHP) NO MAPEAMENTO DE PERIGO DE ESCORREGAMENTOS
EM ÁREAS URBANAS. Revista do Instituto Geológico. São Paulo, v. 34, 2013.
GUSMÃO FILHO, J. A., MELO, L. V., ALHEIROS, M. M. (1992), Estudo das Encostas de
Jaboatão dos Guararapes, PE. In: Conferência Brasileira sobre Estabilidade de Encostas, 1,
1992ª, Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: ABMS/ABGE/PCRJ, v.1, p. 191-209.
HUTCHINSON, J. N. (1968), Mass Moviment. In: Encyclopedia of Geomorphology. New York:
Ed. R. W. Fairbridge. Reinhold Book.
NUNES, A. S. C. (2008). Barreiras a Capacidade Inovadora Empresarial: Estudo nas
Empresas Portuguesas. Dissertação de Mestrado. Departamento Gestão Econômica.
Universidade da Beira Interior. Covilhã, Portugal.
OLIVEIRA, L. F. d. S. (2019). Mapeamento de Risco e Perigo de Escorregamento em Encosta
com Ocupação Desordenada no Município de Olinda-PE. Trabalho de Conclusão de Curso.
Universidade Católica de Pernambuco. Recife-PE.

222
Gerenciamento de Encostas Ocupadas no Recife: A Experiência
da EMLURB
Mateus Gusmão Brindeiro
Gerente Geral de Fiscalização e Obras, EMLURB, Recife, Brasil, mateus_gusmao@hotmail.com

Joaquim Oliveira
Professor do curso de Engenharia Civil, UNICAP, Recife, Brasil, joaquim.oliveira@unicap.br

RESUMO: Este artigo tem como objetivo apresentar a experiência de gerenciamento de serviços manutenção
de obras de contenção e drenagem em encostas ocupadas da cidade do Recife as quais são executadas pela
EMLURB (Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana) que faz parte da Prefeitura Municipal. Basicamente
trata-se de manutenção e algumas implantações de obras de escadarias, canaletas e contenções. Como
metodologia adotada, serão utilizados alguns dados oriundos do monitoramento feito no ano de 2021 dos
contratos com as empresas que estão executoras destes serviços. Além disso, serão feitas algumas entrevistas
com funcionários que fazem parte da EMLURB, tanto os que estão na gestão, quanto alguns engenheiros
fiscais que atuam nesse tipo de trabalho há cerca de 40 anos. Este artigo serve para conhecimento geral e
elaboração de planos de segurança em áreas de encostas ocupadas. Será possível ter uma noção geral do
papel da Prefeitura do Recife nesses locais que possuem riscos típicos de drenagem e estabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Encosta, Talude, Estabilidade, Drenagem, Manutenção, Gerenciamento.

ABSTRACT: This paper aims to present the experience of managing maintenance services for
containment and drainage works on occupied slopes in the city of Recife, which are carried out by
EMLURB (Urban Maintenance and Cleaning Company) which is part of the municipal council. Basically,
it is about maintenance and some implementation of staircases, channels and retaining works. As the
methodology adopted, some data from the monitoring carried out in the year 2021 of the contracts with
the companies that are performing these services will be used. In addition, some interviews will be carried
out with employees who are part of EMLURB, both those who are in management and some tax engineers
who have been working in this type of work for about 40 years. This article is intended for general
knowledge and the elaboration of safety plans in occupied slope areas. It will be possible to have a general
idea of the role of the City Hall of Recife in these places that have typical risks of drainage and stability.

KEYWORDS: Slope, Hills, Stability, Drainage, Maintenance, Management.

1 Introdução

A cidade do Recife, capital do estado de Pernambuco localizado no Nordeste brasileiro, possui uma
região metropolitana que abrange alguns vizinhos e é formada por 14 municípios, são eles: Jaboatão dos
Guararapes, Olinda, Paulista, Igarassu, Abreu e Lima, Camaragibe, Cabo de Santo Agostinho, São Lourenço
da Mata, Araçoiaba, Ilha de Itamaracá, Ipojuca, Moreno, Itapissuma e Recife (IPEA, 2021).
Constextualizando uma estimativa populacional da Região Metropolitana, ela é constituída por
aproximadamente 4,0 milhões de habitantes, sendo 44% habitando em áreas de encostas. Apenas a cidade de
Recife são 1,6 milhões de pessoas, sendo 33% em áreas de encostas (IBGE, 2021).

Região Metropolitana - 4 milhões Recife - 1,6 milhões

Planície 56% Planície 67%


Encosta 44% Encosta 33%

Figura 1. Habitantes em áreas de encosta no Recife e


Região Metropolitana (IBGE, 2021).
223
A densidade populacional da região metropolitana do Recife é de 1.483 habitantes por km². A
densidade populacional do estado de Pernambuco é de 98 habitantes por km². A partir dessa diferença nota-
se que se trata de uma área relativamente pequena onde se concentra aproximadamento 40% da população do
estado de Pernambuco é possível prever a existência de conflitos entre o meio físico e meio antrópico, como
por exemplo, a coupação de áreas de risco de estabilidade (encostas) e risco de drenagem (leitos de rios).
Este artigo serve para conhecimento geral e elaboração de planos de segurança em áreas de encostas
ocupadas. Será possível ter uma noção geral do papel dos municípios nesses locais que possuem riscos
típicos de drenagem e estabilidade e tem como objetivo apresentar a experiência de gerenciamento de
serviços manutenção de obras de contenção e drenagem em encostas ocupadas da cidade do Recife as quais
são executadas pela EMLURB (Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana) que faz parte da Prefeitura
Municipal.

2 Mudanças Climáticas

As mudanças climáticas cientificamente comprovadas, a exemplo do efeito estufa, têm gerado


impactos globais, regionais e locais. Torna-se então necessária a análise de riscos, vulnerabilidades
climáticas e estratégias de adaptação dos municípios, para possibilitar melhores tomadas de decisão em
relação a essas mudanças.

2.1 Mapa de risco de deslizamento

Em se tratando de estabilidade de encosta é primordial a elaboração do mapa de risco de deslizamento


das encostas municipais. A Figura 2 apresenta o mapa de risco de deslizamento na cidade.

224
Figura 2. Mapa de Risco de Deslizamento de Recife.
Nota-se ao norte do mapa a cidade de Olinda, ao sul Jaboatão, oeste Camaragibe. As manchas
vermelhas, laranjas e amarelas estão concentradas nas áreas de encostas. Na zona norte nos bairros Vasco da
Gama, Casa Amarela, etre outros. Uma pequena parte na zona oeste, bairro da Várzea. Zona sul, bairros
Ibura, Jordão, Dois Carneiros (RECIFE, 2019).

2.2 Impactos Ambientais

As mudanças climáticas trazem consigo os impactos ambientais e vários estudos sobre o tema. A questão
ambiental é antiga, porém atualmente está na pauta do dia, pois o mundo está sofrendo consequências, impactos
e a população mundial tem se supreendido com os eventos ligados a essas mudanças. Estudo do Instituto
Nacional de Meteorologia realizou o inventário do clima nos ultimos 20 anos, e indica aumento de temperatura
e da intensidade das chuvas no Brasil (Folha de São Paulo, 2022).
Uma estação meteorologica em Olinda mostra uma chuva intensa no Recife, no dia 9 de maio de 2016,
de 240 mm em 24 horas, onde 130 mm destes em apenas 7 horas. Mais adiante, no dia 30 de maio de 2016,
houve outro episódio de 240 mm em 24 horas, dos quais 130 mm foram em 2 horas (CABRAL, 2016). É
possível encontrar várias manchetes de jornais ao longo dos anos que mostram o caos na cidade com
problemas de drenagem e deslizamento.

3 Unidades Geológicas

As áreas de encostas do Recife se caracterizam por uma formação geologica chamada Barreiras que
em principio tem condições adequadas de estabilidade, ou seja, não ocorrem deslizamentos espotâneos em
áreas que não tenham pessoas habitando. As ocupações dessas áreas ocorrem de maneira informal, sem apoio
técnico, criando uma condição desfavorável do ponto de vista de drenagem e estabilidade (ALHEIROS et al.,
1990). Combinando o fator da ocupação desordenada com os indices pluviométricos que estão mudando de
padrão criam-se situações propícias para acontecimento de tragédias, como a ocorrida recentemente na
região metropolitana em 28 de maio de 2022, com 200 mm de chuva em seis horas, e cerca de 130 mortes.

3.1 Encostas

As encostas urbanas (alterada pelo homem) e naturais (virgem) podem estar sujeitas a movimentos de
massa (deslizamentos). A ocupação dessas áreas naturalmente pontecializa o risco.

Tabela 1. Situação de Risco no Recife. (Gusmão, 2002)

Risco Área (ha) % População


Baixo 1415 48 160.000
Mediano 1182 40 140.000
Alto 351 12 50.000
TOTAL 2948 100 360.000

A Tabela 1 resume um estudo feito em 2002 e mostra que naquela época há 20 anos havia cerca de 50
mil pessoas apenas em Recife em área de risco muito alto, que seriam áreas onde se tem a probabilidade
altíssima de ter um acidente por ano.
Em encostas intensamente povoada e densa como é a realidade local e latino americana é difícil
imagina um movimento de massa que não tenha vítimas fatais. Esses problemas estão diretamente
relacionados as chuvas e ação antrópica, ou seja, a maneira que é realizado o uso e ocupação do solo.
A susceptibilidadde ao deslizamento nas enconstas do Recife está relacionada não apenas a chuva
pontual (mais intensa em um determinado dia) mas também a chuva acumulada (Gusmão Filho, et al, 1987).
O período chuvoso acumula cerca de 80% da chuva anual e está concentrado entre abril até julho.
Antes disso, no inicio do período chuvoso os maciços tem pouca água e possui uma resistência razoável. A
medida que se começa a ter o período de chuvas durante muitos dias cria-se uma situação de tendo uma
chuva pontual elevada, acima de 50 mm, por exemplo, possa certamente ocorrer os deslizamentos.
Estudos recentes do INEP (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que nos ultimos 40
anos Recife tem em média oito dias de chuvas pontuais acima de 50 mm entre março e julho. Uma chuva de
50 mm em qualquer lugar do mundo trás uma série de problemas, em Recife pelas características locais tem-
se muito mais problemas. Essa relevante questão deve fazer parte do planejamento da cidade. Não é
novidade que teremos chuvas intensas e problemas de deslizamentos e erosão intensa nos períodos chuvosos.
225
4 A experiência da EMLURB

A EMLURB foi criada em 26 de abril de 1979, pela Lei Municipal n° 13.535, com o nome EOCR
(Empresa de Obras da Cidade do Recife). Só no início da década de 90, ela passou a se chamar Empresa de
Manutenção e Limpeza Urbana, como hoje é conhecida. Vinculada à Secretaria de Serviços Públicos, a
EMLURB é responsável pela limpeza e manutenção dos equipamentos públicos da cidade.
Atualmente, a empresa é dividida em três diretorias (Administrativo-Financeira, Manutenção Urbana e
Limpeza Urbana). Além disso, reúne mais de dois mil servidores, sem contar os funcionários terceirizados
que cuidam da arborização, iluminação, conservação de ruas, praças, pontes, monumentos e escadarias, além
da varrição, coleta e destinação final do lixo, administração dos cemitérios, educação ambiental, limpeza de
canais e galerias.
Nos últimos anos, a EMLURB foi responsável por grandes obras executadas na capital pernambucana,
como a recuperação de mais de 200 praças, requalificação da orla de Boa Viagem, implantação do Corredor
Leste-Oeste e revitalização das pontes Velha, Paulo Guerra e Duarte Coelho.

4.1 Manutenção de equipamentos de drenagem e estabilidade em encostas ocupadas

A água é o combustível crucial dos movimentos gravitacionais de massa (rastejos, deslizamentos e


corridas) e de transporte de massa (erosão), fazendo com que a maioria das movimentações de encostas
ocorra no período chuvoso. Isso é potencializado pela concentração de águas provenientes do esgoto
doméstico (banheiro, cozinha e lavanderia), ou de vazamentos de tubulações do sistema de abastecimento
d’água sobre os taludes de corte ou mesmo encostas naturais. Esse fato torna-se mais crítico quando a rede é
improvisada pelos moradores, através de canos e mangueiras sujeitos a desconexões frequentes.
Um sistema de drenagem eficiente para estabilidade das encostas ocupadas deve ser planejado
atendendo todas as casas de bordo e pé de talude as quais devem chegar as canaletas principais ou de
escadarias d’água e finalmente aos canais. As escadas são canaletas geralmente abertas, com fundo
construído em forma de degraus visando a velocidade das águas superficiais em encostas com inclinações
elevadas.
A ação de intempéries naturais, intervenções irregulares pelos moradores por meio de escavação e/ou
demolição causando danos nas estruturas de muros e escadarias e a utilização por parte da população, como
forma de descarte ou passagem de resíduos provenientes de esgoto ou orgânicos, gera diversos danos sobre
as escadarias, canaletas e muros, tornando necessária a recuperação e manutenção, visto que, a não
realização poderá levar ao isolamento do local e interrupção do uso, causando transtorno aos usuários e
moradores. Quanto a recuperação e instalação de corrimão, este é o meio de gerar maior conforto aos que
transitam no local, proporcionando segurança e acessibilidade. Sendo assim a EMLURB trabalha na
recuperação de escadarias, muros e corrimões localizados das diversas áreas de encostas da cidade do Recife.

5 Conclusões

Para evitar as tragédias não existe uma solução de se revolva rapidamente. É preciso um engajamento
do poder público e da população. Assim como a mobilizarização de engenheiros, arquitetos e urbanistas para
garantir políticas públicas permanentes.
Imediantamente é preciso a criação da gestão de risco, pois não é possível retirar toda população
desses locais e colocar em condições adequadas e seguras. Os deslizamentos sendo um fenômeno natural
irão acontecer sempre nos períodos de chuvas, o que não pode se tornar aceitável são as mortes.
A gestão do risco deve contemplar medidas estruturais, obras de engenharia como drenagem e
contenção. Mas também medidas não estuturais como o fortalecimento dos orgão de planejamento e controle
urbano de médio e longo prazo, e política habitacional para que possão ter ações de preventivas durante todo
o ano e não apenas nos momentos de situação trágica.
É interessante destacar a importância da investigação geotecnica de campo e laboratorial. A constante
atualização do mapeamento de risco como uma ferramenta para auxiliar no planejamento e gestão de
encostas ocupadas. Assim como a interação de universidades e empresas com os órgãos públicos é relevante
na gestão de segurança de áreas de morros. Destaca-se também o uso tecnologico de redes neurais na
previsão de deslizamentos e mapeamento de suscetibilidade.

226
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Professor Joaquim Oliveira pela colaboração e orientação neste artigo, e a coordenação
da primeira turma da Especialização em Geotecnia da Universidade Católica de Pernambuco. Agradeço
também aos meus femiliares que fazem parte da construção da história da engenheria recifence, em especial
ao meu avô Jaime Gusmão (in memoriam), e aos meus tios Alexandre e Roberto Gusmão. Agradeço aos
servidores da EMLURB com quem tenho convivido intensamentos nos ultimos 8 meses de trabalho na
Gerência Geral de Fiscalização e Obras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2021). Região Metropolitana do Recife. Pernambuco. Brasil.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2021). Cidades e Estados: Recife - Pernambuco. Brasil
Prefeitura Municipal do Recife (2019. Análise e Vulnerabilidades Climáticas e Estratégias de Adaptação do
Município. Recife.
Folha de São Paulo (2022). Estudo Indica Aumento de Temperatura e da Intensidade das Chuvas no
Brasil.Brasil.
Cabral, J. (2016). Eventos Extremos – Jardim Fragoso. Olinda. Brasil
Alheiros (1990). Unidades geológicas do Recife. Pernambuco. Brasil
Gusmão, J. A. (2002). Da Formação Geologica ao Uso na Engenharia. Recife. UFPE. Brasil. Único, 198p.
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2018).
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2009). NBR 11682. Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro.

227
Uso de drones na criação de modelos digitais de encostas:
Aplicação na avaliação de um costão rochoso contaminado por
óleo
Cauê Stocchi Somensi
Doutorando, Departamento de Geotecnia - Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de
São Paulo (USP), São Carlos-SP, Brasil, somensi@usp.br.

Eduardo Barcelos Bontempo Filho


Doutorando, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil/PPGEC - Universidade Federal de Pernambuco,
Recife-PE, Brasil, eduardo.bontempofo@ufpe.br.

José Antonio Barbosa


Professor, GEOQUANTT - Pesquisa em Geociências, Departamento de Geologia - Universidade Federal de
Pernambuco, Recife-PE, Brasil, jose.antoniob@ufpe.br.

Osvaldo José Correia Filho


Pós-doutorando, GEOQUANTT - Pesquisa em Geociências, Departamento de Geologia - Universidade Federal
de Pernambuco, Recife-PE, Brasil, osvaldo.jose@ufpe.br.

Roberto Quental Coutinho


Professor, Departamento de Engenharia Civil - Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE, Brasil,
robertoqcoutinho@gmail.com.

Heraldo Luiz Giacheti


Professor, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental - Faculdade de Engenharia de Bauru - Universidade
Estadual Paulista, Bauru-SP, Brasil, h.giacheti@unesp.br.

RESUMO: A avaliação de superfícies, encostas, escarpas e terrenos, com base em levantamentos de campo
pode reduzir riscos ou auxiliar na mitigação de desastres. As encostas e outros tipos de terrenos representam em
muitos casos ambientes de difícil acesso e permanência para equipes e equipamentos. O acesso remoto de
feições estruturais como falhas, juntas e fraturas é importante para a avaliação dos estados de deformação, e
aplicações geotécnicas. A quantificação de parâmetros estruturais em encostas, bancadas e pavimentos pode ser
alcançada de forma remota com o auxílio de plataformas de aquisição de imagens e modelagem estatística.
Aqui é apresentado um estudo de padrões de fraturas e aspectos morfológicos de um costão rochoso
contaminado por resíduos de óleo proveniente do derramamento ocorrido em 2019 no litoral brasileiro. Neste
caso a contaminação persiste devido a relação com estruturas de deformação e erosão marinha (fraturas, falhas
e vugs). A aquisição remota dos dados permitiu a avaliação do efeito de contaminação e quantificação de
resíduo em relação aos aspectos de declividade e fraturamento dos substratos. Os modelos digitais elaborados
permitiram avaliar a área contaminada e a susceptibilidade das encostas e substrato a permanência do
contaminante. Esta abordagem permite considerar aspectos geológico-geotécnicos e de risco ambiental. Outro
aspecto crítico é o monitoramento temporal do problema, e das eventuais medidas de mitigação. Os modelos
digitais permitem também o trabalho colaborativo integrado entre os diferentes profissionais envolvidos,
facilitando o acesso aos dados por meio de soluções de software em nuvem, o que pode ser caracterizado como
prática de tele-engenharia.

PALAVRAS-CHAVE: encostas, modelos digitais, drones e tele-engenharia.

ABSTRACT: Evaluation of surfaces, slopes, escarpments and terrains, based on field surveys, can reduce risks
or assist in disaster mitigation. Slopes and other types of terrain represent in many cases environments of
difficult access and permanence for teams and equipment. Remote access of structural features such as faults,
joints and fractures is important for the evaluation of deformation states, and geotechnical applications. The
quantification of structural parameters on slopes, ramps, and benches can be achieved remotely with the help of
image acquisition and statistical modeling platforms. Here, a study of fracture patterns and morphological
aspects of a rocky shore contaminated by oil residues from the spill that occurred in 2019 on the Brazilian coast
is presented. In this case the contamination persists due to the relationship with deformation structures and
228
marine erosion (fractures, faults and vugs). The remote acquisition of the data allowed the evaluation of the
effect of contamination and quantification of residue in relation to the aspects of slope and fracturing of the
substrates. The elaborated digital models allowed to evaluate the contaminated area and the susceptibility of the
slopes and substrate to the permanence of the contaminant. This approach makes it possible to consider
geological-geotechnical and environmental risk aspects. Another critical aspect is the temporal monitoring of
the problem, and of possible mitigation measures. Digital models also allow integrated collaborative work
between the different professionals involved, facilitating access to data through cloud software solutions, which
can be characterized as a tele-engineering practice.

KEYWORDS: slopes, digital models, drones and tele-engineering.

1. Introdução

Os drones estão se tornando cada dia mais populares e acessíveis para aplicações civis e comerciais.
Na área técnica, já desempenham um papel importante na agricultura, inspeção industrial, construção civil,
mineração, vigilância, logística (com destaque para entrega de bens de consumo), transporte e defesa civil
(como missões de busca e salvamento). O termo drone, ou UAV (Unmanned Aerial Vehicle) designa
aeronaves não tripuladas, mas controladas remotamente por seres humanos ou software. Em português, os
drones recebem o termo de VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado) ou VARP (Veículo Aéreo Remotamente
Pilotado), siglas que foram criadas a partir do inglês Unmanned Aerial Vehicle (UAV). Plataformas que
possuem asa-fixa também podem ser chamados de drones. Originalmente produzidos para fins militares, os
primeiros VANTs foram desenvolvidos na Primeira Guerra Mundial na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos.
Atualmente, as plataformas mais sofisticadas representam equipamentos multirotores (Fig. 1). Estes
permitem a aquisição de variado conjunto de dados: imagens multiespectrais, lidar e magnetometria, que
podem alcançar resolução milimétrica. O uso de plataformas sofisticadas permite o acesso de profissionais a
áreas de difícil acesso ou de elevado risco, em regiões urbanas ou remotas densamente vegetadas.
Na Engenharia Civil os drones destacam-se na documentação aérea de grandes obras e ainda, são
utilizados para levantamentos topográficos detalhados. Na Engenharia Geotécnica, o estudo de encostas é
uma das principais áreas de pesquisa e aplicação. Conforme Silveira (2016), a instabilidade de encostas faz
parte da dinâmica natural de transformação da crosta terrestre e está diretamente relacionada a fenômenos
naturais, devido à pluviosidade, atividade geológica, topografia, assim como ligada a fenômenos antrópicos,
como aqueles gerados pela ação do homem como o desmatamento, as escavações e ocupações. Muitos
escorregamentos ou rupturas potenciais podem ser previamente detectados se investigações apropriadas
forem realizadas no terreno de maneira preventiva. A instabilidade das encostas reflete as condições da
forma superficial, dos horizontes internos, tipos de solos e rochas, e o efeito da água subterrânea. A
investigação de superfície pode fornecer informações geológicas e geotécnicas importantes, e é a etapa
inicial de um processo rigoroso de investigações, o qual pode ser aprofundado com investigações de
subsuperfície. A análise de superfícies de forma geral afetadas por desastres como derramamento de
contaminantes é crucial para se entender o efeito de infiltração, remobilização e de sua permanência no
substrato. Almeida (2016) recomenda que a investigação seja iniciada pela avaliação topográfica da região,
com a análise de cartas topográficas disponíveis, em geral, de pequena escala. Elas deverão ser utilizadas
para a inserção do local estudado na dinâmica regional da área, onde devem ser destacados os seguintes
aspectos: Bacia de contribuição; Continuidade da encosta; Litologias principais; Depósitos etc. Após a
avaliação preliminar da área instabilizada, deverão ser programados levantamentos planialtimétricos
adicionais em escala apropriadas (1:500 e 1:200), cobrindo as circunvizinhanças da região considerada
crítica. Os levantamentos deverão ser orientados para cadastro dos aspectos de interesse, levantados nas
vistorias de campo, como por exemplo, afloramento de rochas, feições de instabilidade, surgências d’água,
interferências antrópicas, entre outros.
Neste trabalho foi realizado um levantamento de imagens do costão rochoso da Praia de Itapuama, e a
posterior modelagem de feições que permitiram a infiltração e preservação do contaminante nesta área.
Feições como densidade de fraturamento e declividade permitiram definir áreas mais susceptíveis ao cúmulo
e manutenção do contaminante com baixo custo e elevado nível de precisão. Desta forma demonstra-se uma
aplicação do uso de VANT’S para o acesso de risco a contaminação e do impacto prolongado do desastre.

2. Materiais e Métodos

No presente estudo aplicou-se a caracterização do terreno, em uma encosta rochosa localizada na Praia
de Itapuama, litoral sul do estado de Pernambuco que pertence ao Município do Cabo de Santo Agostinho
229
(Bontempo Filho et al., 2022). Esta foi uma das áreas mais afetadas pelo derramamento de óleo que afetou a
faixa costeira de treze estados das regiões nordeste e sudeste do Brasil, em 2019 (Lourenço et al., 2020;
Bontempo et al., 2022; Soares et al., 2020; Reddy et al., 2022). Conforme Oliveira et al. (2020 apud
Bontempo Filho et al., 2022), algumas análises realizadas sobre o óleo sugerem que ele apresenta
características compatíveis com o petróleo bruto pesado produzido em campos petrolíferos venezuelanos.
Um total de 5.380 toneladas de óleo foram mecanicamente removidos por voluntários civis e agentes
governamentais das superfícies litorâneas contaminadas: praias arenosas e rochosas, beachrocks, mangues,
lagunas e recifes (Soares et al., 2020). No estado de Pernambuco, em um dos pontos mais afetados, foram
recolhidas 1.680 toneladas de óleo. Especificamente no litoral do Cabo de Santo Agostinho, mais de 1.000
toneladas foram removidas entre agosto e dezembro de 2019. Nesta região, um estudo temporal realizado em
praias arenosas que foram afetadas (Paiva, Itapuama e Enseada dos Corais), demonstrou que mais de um ano
após o desastre a quase totalidade do contaminante foi removido mecanicamente na operação de limpeza e
pela degradação produzida pela intensa dinâmica do meio ambiente costeiro (Bontempo Filho et al., 2022).
Entretanto, a persistência de quantidade importante de contaminante foi observada na área de costão rochoso
localizado na Praia de Itapuama, que é composto por afloramentos de traquito (rocha vulcânica),
intensamente fraturados (Fig. 1). Neste local, o contaminante se infiltrou em fraturas, falhas e vugs formados
pela deformação mecânica das rochas e a erosão marinha.

Figura 1. Área de estudo que foi contaminada pelo derramamento em 2019. A) Chegada do óleo nas praias e
o processo de coleta/remoção realizado nas praias arenosas e no costão rochoso em Itapuama (2019). B e C)
Resíduos do contaminante que ficou aderido à superfície das rochas, em vugs produzidos pela erosão e em
fraturas (Bontempo Filho et al., 2022). Detalhe de resíduos de óleo alterado (tar) que percolaram nas fraturas
das rochas e foi protegido da erosão marinha.

Para este trabalho foram realizados dois levantamentos de imagens em julho de 2021 (Fig. 2),
realizados com uma plataforma DJI, modelo Phantom 4 Pro, com uma câmera tipo CMOS com 20
megapixels de resolução (4K - 4096×2160), abertura focal de f/2.8. Foram capturadas dois conjuntos de
imagens: um deles em altitude de 7 m com um total de 55 imagens, e outro em uma altitude de 10 m,
contendo 105 imagens (Figs. 2 e 3). O levantamento utilizado para a modelagem apresentada foi realizado a
uma altitude de 7 m. Os levantamentos cobriram uma parte do pavimento rochoso e sua encosta
compreendendo uma área de 95 x 20 m (Figs. 2 e 3).
As imagens obtidas com o VANT foram processadas com base na técnica Structure from Motion
(SFM) para obtenção das nuvens esparsas e densas de pontos (Westoby et al., 2012). A partir da nuvem
densa, e após aplicação dos algoritmos de triangulação de malha e de textura, foi extraído o ortomosaico com
resolução de 2mm, aproximadamente. A qualidade do ortomosaico é fundamental para a vetorização manual
da complexa rede de fratura que afeta o pavimento e a encosta rochosa. Ao todo foram traçadas 3090 linhas
que correspondem aos planos de fraturas e falhas identificados no afloramento rochoso. Com auxílio de
softwares de geoprocessamento, foi possível quantificar e avaliar a distribuição da densidade de fraturas (nº
de fraturas/m2) (componente P20) a partir de uma malha quadriculada de amostragem com 50cm de lado.
Com base na malha de fraturas obtida é possível utilizar algoritmos que definem a densidade de fratura
por metro linear (P10) ou por área (P20), o efeito de agrupamento de estruturas (clusterização) e o efeito de
compartimentação do maciço (Zeeb et al., 2013). Além disso, foi possível elaborar um mapa de declividade

230
que corresponde à intensidade de mergulho (0-90°) das superfícies que compõem o afloramento rochoso ao
longo do ortomosaico. Desta forma, foi possível estabelecer uma relação entre a densidade do fraturamento e
a declividade estimada da grande quantidade de superfícies do afloramento contaminado pelos resíduos de
óleo.
Estas técnicas são hoje amplamente utilizadas para o estudo de sistemas de fraturas em rochas
aflorantes análogas a reservatórios geológicos em subsuperfície (Zeeb et al., 2013; Sanderson e Nixon, 2015;
Gutierrez e Youn, 2015). Aqui esse tipo de caracterização foi aplicado para se verificar as regiões do
pavimento rochoso mais susceptíveis a acumulação e preservação do contaminante, em relação a declividade
e densidade de fraturas.
O modelo obtido foi compartilhado por equipes de pesquisadores nos estados de Pernambuco e São
Paulo, que puderam avaliar as informações. Este aspecto revela a vantagem da modelagem digital que pode
ser divulgada/distribuída para vários atores que precisam planejar/decidir ações e avaliar processos temporais
de forma remota, o que caracteriza um processo de tele-engenharia.

Figura 2. Ortofoto criada a partir da junção de 105 imagens capturadas a 10 m de altitude; a) ortofoto completa
apresentando 84,5 m por 41,5 m do local; b) Ampliação de 10 vezes da ortofoto apresentando região de 2,5 m;
c) Ampliação de 20 vezes da ortofoto apresentando região de 1,25 m e d) Ampliação de 40 vezes da ortofoto
apresentando região de 0,62 m e GSD de 0,5 cm/pixel.

Figura 3. Perspectiva de um trecho do costão rochoso da praia de Itapuama reconstruído como modelo digital a
partir da aquisição de imagens. As esferas coloridas demonstram a localização da plataforma da fotogrametria
gerada e projeção de imagens, conforme local de captura aérea.

231
3. Resultados e Discussões

A análise dos dados permitiu definir que o fraturamento do maciço rochoso apresenta dois principais
trends de estruturas, um dominante NW-SE, e um secundário NE-SW (Fig. 4A). As fraturas apresentam
variada gama de aberturas na rocha preservada de submilimétrica até fraturas de 20 mm de abertura.
Entretanto, as fraturas expostas na superfície rochosa passam por erosão intensa e sua abertura aparente pode
chegar a apresentar de alguns centímetros a dezenas de centímetros. Como demonstrado na Figura 1, o
contaminante percolou nestas fraturas e ficou preservado da erosão marinha e ação do intemperismo. O
resíduo também aderiu à superfície das rochas e preencheu cavidades formadas pela erosão (vugs) marinha.
Na Figura 4 é possível observar o padrão de fraturamento (linhas pretas), e a análise da densidade de fraturas
por área. Também pode ser possível verificar a existência de áreas com maior densidade, formando
corredores alinhados na direção NW-SE.

Figura 4. A) Mapeamento digital dos planos de fraturas e falhas (linhas pretas), e cálculo da densidade de
fratura por área (P20). B) Mapa das regiões com maior densidade de fraturamento no pavimento rochoso
exposto na praia.

Na Figura 5 tem-se representada a estimativa de declividade das superfícies que compõem o

232
pavimento rochoso e parte da encosta rochosa. As cores iniciando em azul forte (0-10) a verde claro (40-50)
indicam locais onde a superfície apresenta baixo ângulo de inclinação, circundadas por áreas de coloração
vermelho a marrom que indicam as escarpas do afloramento e as fácies dos planos de fraturas erodidos (Fig.
5). Para melhor representação das inclinações da Figura 5 o critério de cores segue o padrão crescente de
comprimentos de onda do espectro eletromagnético.

Figura 5. Mapas onde se tem A) a sobreposição dos traços de falhas e fraturas sobre o mapa de declividade
das superfícies modeladas. B) declividade onde se observa intensa compartimentação do pavimento rochoso
e a formação de blocos com superfícies de baixo ângulo (cores azul a verde-claro). As setas em preto
indicam os locais onde ocorre maior concentração de superfícies de blocos com baixo ângulo de inclinação
horizontal e maior densidade de fraturas.

No trabalho de campo foi possível constatar que a região de maior densidade de fraturas apresenta
maior concentração de contaminante. Além disso, os locais com os blocos compartimentados pelas fraturas
apresentam superfície (topo) com baixo ângulo (Fig. 6), como também apresentam maior tendência de
manutenção do contaminante do que as fácies de alto ângulo das escarpas expostas do afloramento, e do que
as superfícies inclinadas das fraturas erodidas com aberturas alargadas (Figs. 1 e 6). Este fato está
relacionado com a textura irregular das superfícies das rochas e a presença de vugs (Bontempo Filho et al.,
2022).
Desta forma, a elaboração do modelo digital permitiu definir a razão entre a área mais susceptível de
manutenção do contaminante em toda a área do afloramento estudado (Fig. 1). Uma vez que padrão de
reconhecimento de feições lineares pode ser reconhecido e calibrado para um processo de reconhecimento
automático, esta metodologia, para a verificação de áreas que potencialmente vão permanecer com o

233
contaminante por período mais longo, poderia ser aplicada a áreas maiores, afloramentos em ilhas e em
encostas litorâneas em que não se permite o acesso. Esta também pode ser aplicada a superfícies de
afloramentos contaminados que constituem encostas verticais rochosas, e suas componentes subverticais e
horizontais.

Figura 6. Detalhe de uma parte do modelo apresentando zonas de maior risco de manutenção do
contaminante, criada a partir da integração de mapas de declividade com os traços de fraturas e falhas
(inferior), e mapa de densidade de fraturas em uma malha que pode ser redimensionada para um grid de
maior espaçamento.

A utilização de modelos digitais de encostas gerados a partir do uso de drones pode ser aplicado na
inspeção de encostas rochosas, na avaliação de queda de rochas, no colapso de encostas e de paredões
rochosos. Neste trabalho foi utilizada como principal método para providenciar recursos para avaliação do
impacto de longo prazo da contaminação por resíduos de hidrocarbonetos em uma encosta rochosa. A
calibração do modelo criado pode permitir a ampliação de sua aplicação para áreas de grande extensão, nas
quais não é possível o acesso de técnicos e equipamentos.

4. Conclusão

A utilização de drones viabiliza a criação de modelos digitais detalhados do terreno, e é uma


alternativa relevante para avaliação ambiental e de riscos geológico-geotécnicos. Estes modelos agilizam o
processo de análise técnica, fornecendo uma rica gama de recursos para suporte à decisão dos profissionais e
para confecção de documentação técnica, como laudos de vistoria. Os modelos digitais podem incluir além
da representação de estado, informações de eventos históricos e metadados com informações sobre as
características do substrato provenientes de levantamentos de campo.
No caso estudado, a modelagem do afloramento composto pelo pavimento e encosta rochosos
integrada a inspeções de campo permitiram definir um critério que possibilita avaliar o risco de
contaminação e de retenção do contaminante por longo período. Foi possível identificar áreas que
apresentam maior densidade de estruturas (falhas e fraturas), e que apresentam também menor inclinação das
superfícies dos compartimentos fraturados. Estas tendem a acumular e proteger o contaminante do processo
de degradação natural pela erosão marinha e o intemperismo.
Com este trabalho e as discussões apresentadas pode se ver potencial do uso de drones em problemas
ambientais, como o de contaminação apresentado, assim como problemas de cunho geológico-geotécnico. A
tecnologia de modelos digitais de encostas também tem como vantagem sua aplicação para fins
colaborativos de análise e tomada de decisão, a partir do modelo compartilhado por equipes em diferentes
locais, a baixo custo e com qualidade adequada, o que pode ser caracterizado como um trabalho de tele-
engenharia.
234
AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Processo
2020/03847-8) pelo apoio financeiro para a realização deste trabalho. Também agradecem o Departamento
de Geotecnia da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP) e ao
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil/PPGEC, da Universidade Federal de Pernambuco.

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236
Mapeamento de Risco e Educação Ambiental no bairro do
Roger na cidade de João Pessoa
Arthur Vinícius Freire Silva Ramos
Discente do curso de Engenharia Civil, UFPB, João Pessoa, Brasil, arthur_vinicios_@hotmail.com

Geovanna Karla da Silva Simões


Discente do curso de Engenharia Civil , UFPB, João Pessoa, Brasil, geovannakarlass@gmail.com

Fabio Lopes Soares


Docente do curso de Engenharia Civil, UFPB, João Pessoa, Brasil, flseng@uol.com.br

RESUMO: O crescimento desordenado das grandes cidades é um problema que vem se acentuando nas últimas
décadas. De acordo com a Coordenação Municipal de Proteção à Defesa Civil da cidade de João Pessoa-PB,
muitas comunidades da capital paraibana estão situadas em zonas de risco associadas a deslizamentos. O
objetivo do estudo é levantar o risco geotécnico por meio do mapeamento de risco realizado na comunidade
do Roger, localizada na região periférica do município, considerando o grau de risco por meio de análise
quantitativa e qualitativa, comparando as situações de ameaça de deslizamentos identificadas com as
consequências desencadeadas, ou seja, baseada nas publicações do Ministério das Cidades, em experiências
de Universidades brasileiras que têm sido modelo na aplicação de mapeamento de risco e em trabalhos sobre
Mapeamento Geotécnico na cidade de João Pessoa-PB. Além disso, a adoção de medidas preventivas, por
meio de palestras nas áreas de estudo, da distribuição de cartilhas e de jogos educativos sobre o tema abordado,
agregou aos residentes orientações sobre a autoproteção, a como identificar riscos e agir em situações de
iminência de acidentes, promovendo conscientização ambiental. Por fim, documentou-se à Defesa Civil as
regiões de taludes com alta vulnerabilidade e suscetibilidade de movimento de massas.

PALAVRAS-CHAVE: Mapeamento de risco, Movimento de massa, Taludes, Vulnerabilidade, Educação


Ambiental.

ABSTRACT: The disorderly growth of large cities is a problem that has been increasing in recent decades.
According to the Municipal Civil Defense Protection Coordination of the city of João Pessoa-PB, many
communities in the capital of Paraiba are located in risk zones associated with landslides. The objective of the
study is to survey the geotechnical risk through risk mapping carried out in the Roger community, located in
the peripheral region of the municipality, considering the degree of risk through quantitative and qualitative
analysis, comparing the situations of threat of landslides identified with the unleashed consequences, that is,
based on the publications of the Ministry of Cities, on experiences of Brazilian Universities that have been a
model in the application of risk mapping and in works on Geotechnical Mapping in the city of João Pessoa-
PB. In addition, the adoption of preventive measures, through lectures in the study areas, the distribution of
booklets and educational games on the topic addressed, provided residents with guidance on self-protection,
on how to identify risks and act in situations of imminent danger of accidents, promoting environmental
awareness. Finally, the slope regions with high vulnerability and susceptibility to mass movement were
documented to the Civil Defense.

KEYWORDS: Risk Mapping, Mass Movement, Slopes, Vulnerability, Environmental Education.

1 Introdução

A expansão desordenada da mancha urbana nas grandes cidades, principalmente em áreas de barreiras,
é um problema que vem sendo impulsionado nas últimas décadas. A busca pelos grandes centros, à procura
por moradia, por aqueles que vivem em problema de vulnerabilidade social modificam a paisagem urbana. A
ação do homem vem transformando drasticamente os elementos topográficos, substituindo as vegetações por
moradias precárias. Como resultado dessas ações, na cidade de João Pessoa, capital do estado da Paraíba, os
deslizamentos de solo vêm sendo intensificados nos últimos anos, o que traz vulnerabilidade para a população
local, principalmente em períodos chuvosos, uma vez que a água é um dos principais agentes deflagradores de
deslizamentos. Dessa forma, tais riscos resultam em consequências e perdas materiais e humanas.
Segundo dados da Coordenadoria Municipal de Proteção da Defesa Civil de João Pessoa (COMPDEC-
JP), atualmente 27 comunidades estão situadas em zonas de risco associadas a escorregamento de encostas,
dentre elas o bairro do Roger. Sendo assim, o presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de reordenar as
237
áreas afetadas e aquelas que se apresentam como potenciais áreas de risco, tendo em vista a importância de
identificar e mapear áreas de risco geotécnico, auxiliando no processo de fiscalização destas regiões pela
Defesa Civil de João Pessoa, além de realizar a educação ambiental com a população residente no bairro do
Roger, aconselhando-a de forma a evitar a propagação dos riscos existentes e a geração de novos.

2 Revisão Bibliográfica

2.1 Dados do Roger

O bairro do Roger está localizado próximo ao centro da cidade de João Pessoa, capital do estado da
Paraíba. Além disso, o bairro é subdividido em Alto e Baixo Roger, que, segundo o Atlas
Filipeia/SEPLAN/PMJP (2021) divisão essa que apresenta disparidades. Esses dois núcleos não se diferenciam
apenas por sua posição geográfica, mas, principalmente, pela acentuada diferença sócio-cultural presente entre
eles. O Baixo Roger foi composto por uma ocupação desordenada de uma população de baixa renda, ao
contrário do Alto Roger, que se caracteriza por uma população de classe média baixa.
Conforme dados do último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), em 2010 o bairro do Roger possuía uma população residente de 10.381 habitantes, entre eles 4.979
homens e 5.402 mulheres, com 2.874 domicílios particularmente ocupados, com média de 3,5 habitantes por
domicílio.

2.1.1 Relevo do Roger

De acordo com o Atlas Filipeia/SEPLAN/PMJP (2021), o Alto Roger apresenta um relevo praticamente
plano, com inclinações nos trechos de transição entre a zona do Baixo e do alto Roger, já na outra parte do
bairro do baixo Roger apresenta relevo irregular e de inclinação bem acentuada em alguns trechos, evoluindo
para uma sequência de morros com encostas, que elevam o risco das pessoas que moram em situação de
vulnerabilidade.

2.1.2 Solo

A Partir da análise do Mapa de Reconhecimento de Solos do Município de João Pessoa (EMBRAPA),


verificou-se os aspectos pedológicos, em que a superfície da cidade de estudo é composta principalmente pelos
solos arenosos, solos derivados de sedimentos aluviais, solos argilosos e solos derivados de sedimentos de
mangues, sendo estes encontrados com maior ocorrência ao decorrer de barreiras e margens dos rios que os
rodeiam.

2.1.3 Chuvas

A cidade de João Pessoa é classificada pelo clima tropical chuvoso, apresentando chuvas mais intensas
entre os meses de abril e julho. O clima é caracterizado, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia -
INMET (2022), com temperatura média anual em João Pessoa de 25.8 °C e com pluviosidade média anual de
1019 mm, como se pode observar no gráfico da Normal Climatológica para o período de 1991 a 2020, em João
Pessoa- PB, representado na Figura 1.

NORMAL CLIMATOLÓGICA JOÃO PESSOA 1991 - 2020


400 28,5
TEMPERATURA MÉDIA °C

350 28
PRECIPITAÇÃO mm

27,5
300
27
250 26,5
200 26
150 25,5
25
100
24,5
50 24
0 23,5

Precipitação Média Mensal mm Temperatura Média °C 238


Figura 1. Normal Climatológica João Pessoa 1991-2020.
Dessa forma, segundo Lynn e Peter (2008), as ocorrências de movimento de massa ocorrem nos períodos
do ano de grande intensidade pluviométrica, no qual a população de áreas de risco fica em maior
vulnerabilidade. Nesse sentido, para a região do bairro do Roger, esse período ocorre entre os meses de Abril
e Julho. Como indicado em Lima (2002), existe correlação entre a precipitação acumulada e os casos de
deslizamentos, sendo a chuva classificada como um dos principais agentes deflagradores, ocasionando a
elevação da saturação do solo e as erosões na base dos taludes, o que acarreta em uma drástica diminuição da
resistência do solo. Além disso, a depender do perfil geológico e do topográfico, poderá desencadear
deslizamento do solo e, de acordo com o grau de risco do talude, colocar os próprios moradores em situação
de vulnerabilidade.

2.2 Tipos de Deslizamento

Nesse tópico, serão abordados os principais tipos de deslizamentos, baseado no método de classificação
do movimento de massa em que, segundo Bandeira (2003), dá-se devido ao tipo de material, a cinemática do
movimento, a qual correlaciona a velocidade e a direção.
Quedas - Acontecem com o desprendimento de solos, que se encontram instáveis em encostas com
elevada declividade, ocorrendo em um movimento de queda livre, ou plano inclinado, estes fenômenos são
caracterizados por apresentarem velocidades muito altas e podendo atingir grandes distâncias;
Tombamento - Ocorre por meio da rotação de blocos de solo ou rochas, com perfil do terreno sub-
verticais, em torno de um ponto que se encontra abaixo do centro de gravidade. Um dos principais agentes
desencadeadores para esse movimento é a ação da água por infiltração ou degelo, agindo nos planos de
fraqueza do solo, causando instabilidade. Tem como características que a velocidade pode variar de muito
lento a muito rápido;
Escorregamentos - Ocorrem, com o deslizamento de um volume muito bem definido de solo, dado pela
superfície de ruptura do talude, esse fenômeno ocorre geralmente dando os primeiros sinais de presença de
fissuras. Esse movimento é muito comum nas zonas povoadas, pois tem como seu principal deflagrador as
ações antrópicas, onde se tem a retirada da vegetação de cobertura do talude, escavações no pé do talude e
acréscimo de sobrecarga no seu topo. Os processos de deslizamentos são classificados de três formas: planar,
rotacional e de cunha. As velocidades de deslizamento dele vão de média a rápida;
Rotacional - O escorregamento rotacional tem como sua característica a superfície de ruptura em
formato circular, está relacionada a aterros, materiais e solos homogêneos em que apresentam considerável
espessura, seu grau de alcance é geralmente menor que os planares;
Planar - O escorregamento planar tem como sua característica a superfície de ruptura de forma plana,
relacionadas com as zonas de fraquezas do solo, que podem ocorrer em taludes com inclinações menores e, a
depender do comprimento do perfil do talude, esses escorregamentos podem atingir grandes distâncias;
Cunha - O escorregamento de cunha tem como sua principal característica o formato da sua superfície
de ruptura, que se dá ao longo de um eixo originado pela intersecção de duas estruturas planares, em quem
desloca o material em forma de prisma;
Rastejo - O escoamento de Rastejo tem sua principal característica de ser um movimento lento, sem
apresentar superfície de ruptura bem definida. Na parte onde esse movimento acontece, ele pode carregar solos,
rochas ou qualquer objeto que esteja dentro da sua zona de ruptura. Ele pode ser observado em zonas rurais e
nas zonas urbanas pelas inclinações em cercas, postes, árvores, fraturas em pavimentos e outros aspectos
visuais. No entanto, devido à baixa velocidade de escoamento, ele é pouco perceptível em zonas rurais;
Corridas - O escoamento de corrida tem como principal particularidade apresentar um movimento muito
rápido e com alto potencial destrutivo. O solo apresenta características hidrodinâmicas, provenientes do
excesso de água e da acentuada diminuição do coeficiente de atrito do solo, apresenta extenso raio de extensão.

3 Metodologia

3.1 Metodologia do Ministério das Cidades

A metodologia adotada para esse estudo foi baseada no Ministério das Cidades, a qual sugere a divisão
das áreas de risco em setores classificados de acordo com o grau de risco encontrado, sendo este baixo, médio,
alto ou muito alto, conforme ficha de avaliação exposta na Tabela 1.
O grau de risco do setor é definido a partir da observação de alguns fatores agrupados nas categorias
“Caracterização Geral da Localidade” e “Características Geológico-Geotécnicas”, sendo estes referentes a
localidade em que se encontra a comunidade, além de “Fatores de Suscetibilidade” e “Fatores de
Vulnerabilidade”, estes últimos referentes a cada setor.
239
Tabela 1. Hierarquização dos riscos.

Risco Muito Alto


Risco Alto (R3) Risco Médio (R2) Risco Baixo (R1)
(R4)

Os condicionantes Os condicionantes Os condicionantes Os condicionantes


predisponentes e a predisponentes e a predisponentes e a predisponentes e a
falta de intervenção falta de intervenção falta de intervenção falta de intervenção
são de muito alta são de alta são de média são de baixa
potencialidade para a potencialidade para potencialidade para potencialidade para
ocorrência dos a ocorrência dos o desenvolvimento o desenvolvimento
processos. As processos. Observa- de processos. dos processos. Não
evidências de se a presença de Observa-se a se observa(m)
instabilidade são significativas presença de evidência(s) de
expressivas em grande evidências de algumas evidências processos de
número ou magnitude. instabilidades. de instabilidade. instabilização de
Processo de Processo de Processo de encostas. É a
instabilização em instabilização em instabilização em condição menos
avançado estágio de pleno estágio inicial de crítica. Mantidas as
desenvolvimento. É a desenvolvimento. É desenvolvimento. É condições
condição mais crítica. possível a reduzida a existentes, não se
É muito provável a ocorrência de possibilidade de espera a ocorrência
ocorrência de eventos eventos destrutivos. ocorrência de de eventos
destrutivos. eventos destrutivos. destrutivos.

3.1.1 Caracterização Geral da Localidade

Na categoria “Caracterização Geral da Localidade”, foram observados o modo e estágio de ocupação, o


padrão das edificações, o relevo, a hidrografia e a vegetação nos taludes dos bairros estudados.

3.1.2 Características Geológico-Geotécnicas

Na categoria “Características Geológico-Geotécnicas”, foram observados o tipo, texturas e estruturas


dos solos e a estabilidade dos maciços.

3.1.3 Fatores de Suscetibilidade

Na categoria “Fatores de Suscetibilidade”, foram observados o tipo e a caracterização dos processos


atuantes e a causa e agravantes da instabilidade.

3.1.4 Fatores de Vulnerabilidade

Na categoria “Fatores de Vulnerabilidade”, foram observados o número de edificações no setor, o


número de edificações ameaçadas e a existência de equipamentos públicos ameaçados.
Dessa forma, a partir da classificação proposta pelo Ministério das Cidades e pelos dados do pré-
zoneamento, em campo, foi realizado o zoneamento, classificando as zonas através de parâmetros e pesos,
com base na atribuição elaborada por Campos (2011), com adaptação de Soares e Pereira (2017), descrita na
Tabela 2, onde se fez a soma dos pesos, classificados da seguinte forma; 10 - 8 (Risco muito alto), 7 (Risco
Alto), 6 (Risco Médio) e 5 - 1 (Risco baixo).

240
Tabela 2. Parâmetros e pesos para classificação.

Parâmetro Condição Peso


Agentes potencializadores Sem AG 1 ponto
(AG) Com AG 2 pontos
Sinais de instabilização Sem SI 1 ponto
(SI) Com SI 2 pontos
Vulnerabilidade da V baixa 1 ponto
edificação (V) V alta 2 pontos
1/1 1 ponto
Relação altura/afastamento 2/1 2 pontos
3/1 ou mais 3 pontos
Obra sem
-1 ponto
qualidade atestada
Fatores atenuantes Obra que
-2 pontos
minimizou o risco
Talude estável -3 pontos
Vulnerabilidade
Fator agravante 1 ponto
social é relevante

3.2 Visitas de Reconhecimento

As visitas de reconhecimento foram realizadas de acordo com as zonas de estudos, criadas através de
imagens de satélites (Google Earth), com o intuito de verificar a realidade do local, como pode ser visto na
Figura 2, e facilitar o diálogo com os moradores dessas zonas. Através disso, procurou-se históricos de
deslizamentos, possíveis zonas de rupturas, além de sinais de movimentos de massa, como tricas em casas,
postes inclinados, fissuras nas ruas, com a finalidade de identificar os tipos de ocupação e os padrões de
processos de movimentos de massa nas encostas, propiciando a elaboração do mapeamento de risco,
setorizando as regiões de acordo com grau de risco de deslizamento no bairro do Roger.

Figura 2. Casa em Risco na Proximidade do Talude, Bairro do Roger.

4 Resultados e Análises

Através dos dados obtidos em campo, pode-se elaborar os mapas de cada região, nos quais foram
descritos de acordo a metodologia de mapeamento de risco do ministério das cidades, onde foi possível
classificar em três categorias — muito alto (roxo), alto (vermelho), médio (amarelo). Além disso, através do
software Arcgis e de informações da prefeitura de João Pessoa, pode-se quantificar o número de residências
de cada zona e obter as curvas de níveis do bairro do Roger.

Por fim, os resultados foram apresentados aos moradores e à Defesa Civil. Dessa forma, por meio do
241
mapeamento de risco dessas regiões, exposto na Figura 3, foi possível conhecer as vulnerabilidades ao seu
redor, classificá-las e, assim, cobrar do poder público medidas mitigadoras.

Figura 3. Mapa de Risco do Baixo Roger.

Foram elaboradas e distribuídas cartilhas educativas com o objetivo de orientar os moradores que se
encontram em áreas de risco, Figuras 4 e 5, e um jogo educativo da memória, Figura 6, que foi distribuído para
as crianças que participaram da ação nos centros comunitários. Ademais, foi através de ações voltadas para a
Educação Ambiental que os habitantes das regiões de vulnerabilidade receberam orientações de autoproteção
e de como identificar os riscos e agir em situações de iminência de um acidente.

Figura 4. Cartilha Educativa Distribuída para a


População do Bairro do Roger.

242
Figura 5. Cartilha Educativa Distribuída para a
População do Bairro do Roger (continuação).

Figura 6. Jogo da Memória Distribuído para as Crianças


do Bairro do Roger.

5 Considerações Finais

Diante do que foi apresentado, é possível perceber as melhorias que a inserção do mapeamento de risco
e a educação ambiental apresentaram para os moradores da comunidade do Roger, João Pessoa/PB,
principalmente por essas ações incentivarem a autoproteção, o que evita, de certo modo, que vidas sejam
perdidas devido aos fatores de risco.
Dessa forma, os resultados foram apresentados aos habitantes da região estudada e à Coordenadoria
Municipal de Proteção da Defesa Civil de João Pessoa (COMPDEC-JP), com o intuito de atenuar os riscos na
comunidade atendida. Além disso, para que sejam feitas soluções de contenção e planejamentos de
reestruturação da região de risco de movimento de massa, dessa forma percebe-se a necessidade de dados
prévios com relação à evolução urbana dessas áreas, além do mapeamento em regiões de vulnerabilidade.
Logo, é notório a importância de mais pesquisas sobre essa linha de pesquisa, com o intuito de melhorar as
situações de moradia das pessoas desassistidas e, consequentemente, sua qualidade de vida.
Percebe-se, portanto, a relevância da execução contínua de projetos e planos de contingência
relacionados ao mapeamento de risco e educação ambiental de comunidades, uma vez que, além de incentivar
a formação acadêmica e cidadã de todos os envolvidos, auxilia a população através de ações e orientações,

243
realizadas através de palestras nas escolas e da distribuição de cartilhas e jogos educativos. Dessa forma, no
caso deste estudo, pode-se alcançar não só o público infanto-juvenil, mas também seus familiares,
corroborando para que os residentes locais pudessem não só reconhecer, mas também evitar acidentes nessas
regiões.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos moradores do bairro por terem os acolhido para o desenvolvimento do
trabalho, aos educadores que abriram as portas das escolas para realização da educação ambiental, à UFPB
(Universidade Federal da Paraíba) por ter disponibilizado equipamentos que auxiliaram neste estudo e, em
especial, à Maria Clara F.S. Ramos, que ajudou com empenho no decorrer do mapeamento de risco do bairro do
Roger.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Disponível em: < http://www.uep.cnps.embrapa.br/solos/index.php?lin k=pb >. Acesso em: 27 de junho de
2022.
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Disponível em:
<http://www.defesacivil.mg.gov.br/images/documentos/Defesa%20Civil/manuais/mapeamento/mapeame
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http://planodiretor.mprs.mp.br/arquivos/mapeamento.pdf >. Acesso em: 02 de março de 2022.
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Geotécnico de Escorregamentos em João Pessoa -PB, XII Conferência Brasileira sobre Estabilidade de
Encostas, COBRAE, ABMS, Rio de Janeiro, v.1.

244
Uso de Fotogrametria Aplicada a Modelagem Tridimensional de
Taludes
Danylo de Andrade Lima
Mestrando, PPGECA - UFCG, Campina Grande/PB, Brasil, danylo.andrade@estudante.ufcg.edu.br

Bruna Silveira Lira


Doutoranda, PPGECA - UFCG, Campina Grande/PB, Brasil, brunaslira@gmail.com

Olavo Francisco dos Santos Júnior


Professor Titular, UFRN, Natal/RN, Brasil, olavo.santos@ufrn.br

Bruna Hélen Brito de Araújo


Mestranda, PPGECA - UFCG, Campina Grande/PB, Brasil, bruna.helen@estudante.ufcg.edu.br

Dayane de Andrade Lima


Prof. Dra, IFCE, Fortaleza/CE, Brasil, dayane.lima@ifce.edu.br

RESUMO: A análise da estabilidade de taludes é um assunto muito estudado na geotecnia., Os trabalhos


procuram uma melhor compreensão do assunto, de forma a permitir a tomada de ações preventivas ou
corretivas, uma vez que a ocorrência de movimentos de massas em encosta, pode causar perdas de bens
materiais, e também até vidas humanas. O presente projeto apresenta uma configuração prática, desenvolvida
para usar drones populares e econômicos, gerando imagens de alta resolução e modelos 3D para uso no
monitoramento de encostas e maciços de terra. A área de estudo escolhida foi o talude da Rua João Lourenço
no município de Areia-PB que foi identificada como uma área de risco em pesquisa realizada pela CPRM
(2015). Para o mapeamento foi necessário um aplicativo (Drone Harmony) para realizar o voou com maior
Acurácia, e auxiliar o usuário na aquisição das imagens. Este gera uma série de pontos de referência a uma
distância constante e curta acima do solo, obtendo imagens de alta resolução. As imagens foram processadas
por software de fotogrametria para gerar modelos tridimensionais (3D) como Autodesk Recap. A partir dos
modelos gerados é possível realizar as análises das declividades, volumes e dados da cobertura e morfologia
das áreas em estudo. Com base nos resultados obtidos foi possível concluir que o levantamento aéreo feito por
fotogrametria e modelagem tridimensional são ferramentas que têm grande importância nos levantamentos e
podem ser atualizadas na interpretação dos dados e na tomada de decisões rápidas e efetivas.

PALAVRAS-CHAVE: Fotogrametria; Modelagem tridimensional; Taludes; Drone.

ABSTRACT: The stabilization of the soil mass is a subject much debated in the geotechnical area, scholars
collaborate with their work for a better understanding of the subject, allowing the taking of preventive or
corrective actions in urban areas, where the occurrence of movement and landslides, can cause loss of
material goods, and even human lives. The present project presents a practical configuration, which will be
developed to use popular and economical drones, generating high resolution images and 3D models for use
in monitoring large slopes and land massifs. The study area chosen was the slope of Rua João Lourenço in
the municipality of Areia-PB, which was identified as a risk area carried out by CPRM (2015). For the
mapping, an application (Drone Harmony) was needed to perform the flight with greater precision, and to
assist the user in acquiring the images, this generates a series of reference points at a constant and short
distance above the ground, obtaining high-quality images. resolution. The images were processed by
photogrammetry software to generate three-dimensional (3D) models such as Autodesk Recap, from the
generated models it is possible to carry out analyzes of slopes, volumes and data on the coverage and
morphology of the areas under study. By analyzing the three-dimensional model, the digital elevation
model, the orthophoto and the point cloud, it is possible to conclude that the aerial survey made by
photogrammetry and three-dimensional modeling is a tool that is of great importance in surveys and can be
updated in the interpretation of data. and quick and effective decision-making.

KEYWORDS: Photogrammetry; Three-dimensional modeling; Slopes; Drone.

245
1 Introdução

A estabilidade de maciços de solo é um assunto muito debatido na geotecnia. Os estudos buscam uma
melhor compreensão do assunto, permitindo a tomada de ações preventivas ou corretivas, principalmente em
áreas urbanas onde a ocorrência de movimentação e deslizamentos de terra pode causar perdas de bens
materiais e até vidas humanas.
A segurança em uma obra geotécnica como um talude deve ser abordada de forma compatível com as
consequências de uma possível destruição. Dessa forma, o conhecimento dos impactos econômicos,
ambientais e possíveis perdas de vidas é de extrema importância. Assim, esses aspectos devem ser
considerados nas análises de estabilidade e no monitoramento de taludes.
A evolução natural dos processos de aquisição de dados, atualmente, tende a uma maior informatização,
visando a segurança dos geotécnicos que executam o mapeamento, por conta da agilidade do trabalho e pela
economia gerada (ALAMEDA-HERNÁNDEZ et al. 2017). É notório a aplicabilidade desses processos nos
setores de mineração, na análise de riscos urbanos e na engenharia de barragens.
A aplicação de ferramentas e coleta de dados de imagens aéreas pode resultar em benefícios significativos
em termos de tempo e utilização de recursos. Por exemplo, a detecção de trincas de tensão e o monitoramento de
sua evolução continuam sendo um problema crítico para engenheiros geotécnicos, apesar de todos os avanços
nas técnicas de monitoramento de taludes e obras em terra.
Dentre os processos de aquisição de dados por meio de imagens aéreas é observada uma crescente
evolução no campo de Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) na última década, os VANTs foram
incorporados com sucesso nas modernas operações de fotogrametria em todo o mundo. A acessibilidade dos
drones e o custo-benefício quando se tem pessoal qualificado permite múltiplas aplicações. A tecnologia VANTs
é uma ferramenta relevante na construção de Modelos Digitais de Elevação (MDE) em grandes áreas e de difícil
acesso. Como resultado, muitas empresas estão usando drones para levantamentos, análises volumétricas e
inspeção visual de locais inacessíveis (LEE, S. & CHOI, Y, 2015).
As práticas atuais de monitoramento de taludes dependem principalmente de instrumentação, como
inclinômetros, prismas, extensômetros de fissuras, ou tecnologias de sensoriamento remoto como LiDAR e Slope
Stability Radar (SSR) - Radar de Estabilidade de Taludes. No entanto a instrumentação é um procedimento
apresenta riscos nas áreas que são muito íngremes, trabalhoso e sensores remotos como o SSR não são capazes
de visualizar rachaduras diretamente, independentemente de ser uma tecnologia de monitoramento de movimento
de taludes de última geração.
A fotogrametria com drone é definida como a ciência que captura informações de objetos do solo sem o
contato direto. Ou seja, o profissional que utiliza esse recurso não precisa percorrer o terreno para registrar
informações sobre ele. Essa característica promove mais praticidade e acurácia durante o trabalho. Por essa razão,
o uso de drones na engenharia é cada vez mais comum.
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma aplicação prática da fotogrametria usando drones
simples e econômicos para a geração de imagens de alta resolução e modelos 3D para uso no monitoramento de
encostas e maciços de terra. O trabalho poderá contribuir para a avaliação de taludes por meio da fotogrametria
e modelagem tridimensional para identificar áreas suscetíveis a movimentos de massa.

2 Área de estudo

O estudo foi conduzido no município de Areia-PB, onde a morfologia da cidade foi expressivamente
transformada no século XX com a instalação de uma usina. A instalação da usina provocou a migração de
moradores rurais para a cidade e a ocupação desordenada dos centros urbanos, que tem como a ocupação das
encostas, vales e margens de rios. A Figura 1 mostra a localização do município de Areia.

246
Figura 1. Localização do Município de Areia – Paraíba.
Fonte: LIRA, 2022.

De acordo com Sousa (2020) a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), identificou quatro
áreas de risco de movimentos de massa na área urbana do município de Areia/PB. O presente estudo teve como
foco uma destas quatro áreas, que se trata do talude localizado na Rua João Lourenço. Na área indicada, constata-
se a presença 41 de residências ao longo da base talude, o que representa risco para as famílias que residem no
local, em caso de um eventual movimento de massa.

3 Materiais e Métodos

Na Figura 2 apresenta-se o fluxograma das etapas para o desenvolvimento do presente estudo. O trabalho
foi dividido nas seguintes etapas: (1) delimitação da área de estudo; (2) Voo autônomo e aquisição das imagens
(3) moldagem tridimensional dos taludes em estudo.

Figura 2. Fluxograma da metodologia.

247
Neste estudo, foi usada a técnica Structure From Montion (SFM) aplicada para imagear as formas
tridimensionais dos taludes para a construção de modelos digitais do terreno. Uma câmera de 12 MP com um
gimbal motorizado de 3 eixos acoplada ao drone Mavic Mini 2 (DJI). Na Figura 3 apresenta-se a imagem de um
exemplar que será usado no estudo.

Figura 3. Drone DJI Mavic Mini 2.

A precisão de um levantamento fotogramétrico está diretamente atrelada ao conhecimento da posição da


câmera, no instante da captação das fotos. Uma maior exatidão dessa posição resulta em produtos mais confiáveis
e com dados muito mais próximos da realidade.
Os pontos de controle são coordenados conhecidas que auxiliam o software a calcular uma posição com
precisão e assim gerar modelos confiáveis para fins de medição e análise do terreno, como mostra na Figura 4.

Figura 4. Demarcação dos pontos de controle.

Ao delimitar a área de estudo foi necessário fazer uso de uma plataforma de voou autônomo que consiste
em um aplicativo, onde se cria um caminho por onde o drone deve seguir (Figura 5) com velocidade e altitude
pré-definidas. É preciso estabelecer o número de fotos que serão tiradas no levantamento, pois estas influenciam
diretamente na qualidade e no tempo de execução.

248
Figura 5. Plano de voo no App Drone Harmony.

Após a aquisição, as imagens foram carregadas em software de modelagem tridimensional Autodesk


ReCap para extrair informação 3D de fotografias. O processo envolve tirar fotografias sobrepostas de um objeto,
estrutura ou espaço e convertê-las em modelos digitais 3D. a Figura 6 ilustra como se dá o processo de criação
do Modelo 3D a partir de fotogrametrias.

Figura 6. ReCap Photo - Criação da Modelo 3D a partir de fotogrametrias.

Para alcançar maior acurácia é indicado o uso de 20 a 30 pontos de controle para cada km² da área de
estudo. Assim, deve-se calcular o número de pontos de controle para atingir a acurácia. Esses pontos de controle
foram ser feitos com um GPS RTK, no presente estudo forma utilizado cerca de 5 pontos de controle para uma
área de 0,52 km².

4 Resultados e Discussão

Com os resultados das imagens é possível realizar análises mais acurácia das áreas com maiores
inclinações e baixa cobertura vegetal que apresentam maior suscetibilidade a movimentos de massas. A partir do
levantamento de campo foi possível gerar o modelo digital de elevação e a ortofoto retificada da área de estudo
com o uso do software de fotogrametria ReCap Photo como mostrado nas Figura 7 e 8.

249
Figura 7. ReCap Photo - Criação Modelo Digital de Elevação (MDE).

Figura 8. ReCap Photo – Criação da Ortofoto retificada.

A Figura 9 apresenta o modelo tridimensional texturizado gerado a partir das imagens. Pode-se identificar
áreas com erosão acentuada e os tipos de vegetação que recobrem a encosta; além da inclinação, volumetria e
distâncias com elevada acurácia.

250
Figura 9. ReCap Photo - Criação Modelo texturizado.

Após a definição dos pontos de controle e a geração do modelo tridimensional é possível se calcular o
erro com base nos pontos conhecidos. A Figura 10 apresenta o relatório de reporte do erro gerado pela plataforma
da Autodesk.

Figura 10. Relatório de processamento.

Posteriormente foi obtida a partir da triangulação entre as imagens coletadas em campo e dos pontos de
controle que foram demarcados na área de estudo. Ressalta-se que ao fazer a medição relativa entre os pontos de
controle 1 e 2 é possível observar a semelhança com o levantamento feito com por meio de GPS variando dentro
da margem de erro do levantamento feito pela Autodesk (Figura 11).

Figura 11. ReCap Photo - Criação Modelo.

5 Conclusões

O uso drones tem uma grande aplicação no mapeamento de taludes, pois são ferramentas que apresentam
rapidez e praticidade, facilitando o levantamento de dados. O processo de fotogrametria apresenta grande
acurácia e riqueza nos detalhes, possibilitando ainda a realização de estudos e mapeamentos em áreas grandes e
de difícil acesso. Os levantamentos com drones podem ser utilizados no monitoramento periódico devido a sua
facilidade de execução. Os produtos dos levantamentos têm grande potencial, seja na aferição de dados
quantitativos ou na exportação para outras ferramentas de análise de estabilidade e geoprocessamento. Além
disso o produto final tem qualidade equivalente ao se comparar com outras técnicas de topografia.
251
Fazendo uma análise do modelo tridimensional, do modelo digital de elevação, da ortofoto e da nuvem
de pontos é possível concluir que o levantamento aéreo feito por fotogrametria e modelagem tridimensional é
uma ferramenta que tem grande importância na agilidade dos levantamentos. Além disso, este método pode servir
como base para o uso em levantamentos topográficos, atuando na interpretação de dados e no auxílio de tomadas
de decisões rápidas e efetivas.
Dessa forma, pose-se concluir que a utilização de VANT torna-se uma alternativa viável quando a
topografia do terreno não permite a aquisição de fotografias de modo convencional, o que implicaria em modelos
deficientes em detalhes. Da nuvem de pontos obtida é possível gerar um modelo digital de terreno e compará-lo
com o levantamento topográfico, permitindo uma futura avaliação da estabilidade do maciço no local.

AGRADECIMENTOS

Á Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES pelo fomento, e a Métrica


Gestão Ambiental pelo apoio logístico.

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252
Caracterização geomorfométrica do município de Areia-PB a
partir de dados de Sensoriamento Remoto
Bruna Hélen Brito de Araújo
Mestranda, PPGECA-UFCG, Campina Grande-PB, Brasil, bruna.helen@estudante.ufcg.edu.br

Bruna Silveira Lira


Doutoranda, PPGECA-UFCG, Campina Grande-PB, Brasil, brunaslira@gmail.com

Danylo de Andrade Lima


Mestrando, PPGECA-UFCG, Campina Grande-PB, Brasil, danylo.andrade123@gmail.com

Olavo Francisco dos Santos Júnior


Professor Titular, UFRN, Natal-RN, Brasil, olavo.santos@ufrn.br

RESUMO: Desastres em encostas urbanas brasileiras são consequências de um conjunto de fragilidades


geomorfométricas, potencializados pela ação humana. A identificação de áreas cuja dinâmica natural
favorece a instabilização do maciço é um subsídio para o planejamento urbano nos municípios. Incluída
pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) como zona de perigo de alagamentos,
deslizamentos de encostas e transbordamento de rios devido à ação das chuvas em 2017, o município de
Areia-PB apresenta deslizamentos que ocorrem, em geral, na estação chuvosa. Dessa forma, os estudos
propostos neste trabalho visam a caracterização geomorfométrica de Areia-PB através de mapas elaborados
com dados de Sensoriamento Remoto para auxílio na identificação de áreas com natureza favorável a
movimentos de massa. O município de Areia-PB apresentou predomínio de relevo fortemente ondulado,
formado por outeiros e morros com declives em torno de 45%. As encostas apresentaram predominância
de formas côncavo-divergentes no topo e na base formas retilíneo-convergentes, caracterizando uma área
de maior dispersão do escoamento superficial e maior capacidade de concentração e acúmulo de partículas
de solo. Por fim, o município apresentou cerca de 31% de sua área ocupada por atividades agropecuárias.
Como efeito dos processos adotados e a falta de planejamento sustentável, o município apresenta áreas
degradadas com tendência ao surgimento de riscos ambientais.

PALAVRAS-CHAVE: Ocupações urbanas, Geomorfologia, Movimentos de massa, Geoprocessamento.

ABSTRACT: Disasters on Brazilian urban slopes are consequences of a set of geomorphometric


weaknesses, potentiated by human action. The identification of areas whose natural dynamics favor the
destabilization of the massif is a subsidy for urban planning in the municipalities. Included by the Mineral
Resources Research Company (CPRM) as a danger zone for flooding, landslides and river overflows due to
the action of rains in 2017, the municipality of Areia-PB has landslides that usually occur in the rainy season.
Thus, the studies proposed in this work aim at the geomorphometric characterization of Areia-PB through
maps prepared with Remote Sensing data to aid in the identification of areas with a favorable nature to mass
movements. The municipality of Areia-PB showed a predominance of strongly undulating relief, formed by
hills and hills with slopes around 45%. The slopes showed a predominance of concave-divergent forms at
the top and rectilinear-convergent forms at the bottom, characterizing an area of greater dispersion of surface
runoff and greater capacity for concentration and accumulation of soil particles. Finally, the municipality
presented more than half of its area occupied by agricultural activities. As an effect of the processes adopted
and the lack of sustainable planning, the municipality presents degraded areas with a tendency to the
emergence of environmental risks.

KEYWORDS: Urban Occupations, Geomorphology, Mass movements, Geoprocessing.

1 Introdução

O meio ambiente passa por diversos processos físicos de diferentes intensidades, os quais fazem parte
da dinâmica da natureza (SAUSEN; LACRUZ, 2015). Os movimentos de massa são parte desses processos
e são definidos por Cruden (1991) como “movimentos de descida de material de composição diversa, seja

253
solo, rocha e/ou vegetação, devido à ação da gravidade”.
A presença de grandes maciços montanhosos associados a condições climáticas favoráveis torna
determinados locais suscetíveis a ocorrências de movimentos de massa. A associação de condicionantes
naturais, tais como chuvas intensas e concentradas, bem como o uso inadequado do solo, principalmente em
encostas íngremes desprovidas de cobertura vegetal e ocupação desordenada em locais de alto declive,
podem agravar os processos de degradação ambiental, acelerando o processo erosivo e,
consequentemente, elevar a suscetibilidade aos movimentos de massa (MEIRELLES, 2015).
Dessa forma, uma área cujo terreno apresenta indicadores que tendem a favorecer a ocorrência de
movimentos de massa pode ser dada como uma área suscetível (IPT, 2014). O município de Areia, no estado
da Paraíba, é um exemplo de área que apresenta indicadores e está sujeita a eventos extremos.
Identificar e avaliar a suscetibilidade a desastres é um dos objetivos da Política Nacional de Proteção
e Defesa Civil instituída pela Lei 12608/2012. Para a identificação e avaliação das ameaças, suscetibilidades
e vulnerabilidades, de maneira que seja evitado e/ ou mitigado a ocorrência dos movimentos de massa,
torna-se imprescindível o mapeamento de áreas que apresentam tendência a esse tipo de ocorrência como
uma ferramenta para prevenção de desastres. Neste sentido, um estudo sobre o município de Areia que
permita uma análise das principais condicionantes são de suma importância para a sociedade em geral,
principalmente para a defesa civil e outros órgãos responsáveis. Com isso, se cria mais uma alternativa de
suporte para o planejamento de uso e ocupação do solo e gerenciamento de risco, minimizando e/ou, se
possível, evitando a geração de novos impactos.
Embora existam diversas metodologias sendo utilizadas na identificação de áreas suscetíveis a
desastres naturais, as técnicas de geoprocessamento têm sido usadas com sucesso em diversas aplicações
como ferramenta capaz de subsidiar a tomada de decisão durante o processo de gerenciamento para
planejamento do uso e ocupação do solo, controle de expansão urbana e avaliação de cenários potenciais de
risco (VARANDA, 2006).
Assim, o objetivo desse trabalho é a caracterização geomorfométrica do município de Areia-PB
através de mapas elaborados a partir de dados de Sensoriamento Remoto para auxílio na identificação de
áreas com natureza favorável a movimentos de massa.

2 Caracterização da área de estudo

O município de Areia se localiza na microrregião do Brejo Paraibano, a 122,5km da capital João


Pessoa. Possui 269,2 km² de área de unidade territorial. A área estudada apresenta histórico de movimentos
de massa, especialmente em períodos de chuva, porém não possui um banco de dados sobre os ocorridos.
Na Figura 1 tem-se a localização da área em estudo.

Figura 1. Mapa de Localização do Município de Areia-PB.

254
3 Metodologia

Para determinação das áreas suscetíveis a serem analisadas foram elaborados e analisados mapas
temáticos com as variáveis geomorfométricas (declividade, curvatura vertical e horizontal, forma do terreno
e altitude) e de uso e cobertura do solo do município.

3.1 Elaboração dos mapas temáticos

Os mapas foram criados com as variáveis geomorfométricas a partir de dados de Sensoriamento


Remoto. A extração dos parâmetros foi feita por meio dos Modelos Digitais de Elevação (MDEs) produzidos
pela missão SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) do projeto TOPODATA (Banco de Dados
Geomorfométricos do Brasil), projeto MapBiomas e missão ALOS (Advanced Land Observing Satellite).

3.1.1 Declividade

A declividade distingue áreas planas de relevos mais movimentados por meio da tangente, expressa
em porcentagem, do ângulo de inclinação da superfície do terreno em relação ao plano horizontal. A
elaboração do mapa de declividade da área de estudo foi feita por meio da ferramenta “Slope” do programa
ArcGIS. A ferramenta é acessada por meio do Spatial Analyst Tools no ArcToolbox.

3.1.2 Altitude (hipsometria)

O mapa hipsométrico utiliza os valores de altura em toda a extensão que definem as superfícies de
elevação de um mapa para representar o relevo do local. O mapa foi extraído do Modelo Digital de Elevação
obtido do satélite ALOS, adotando cinco intervalos de classes.

3.1.3 Curvatura Vertical

A curvatura vertical refere-se a forma côncava ou convexa do terreno quando analisada em perfil e é
determinada por meio da taxa de variação da declividade.
A elaboração do mapa de curvatura vertical da área de estudo foi feita por meio da ferramenta
“Curvature” do programa ArcGIS. A ferramenta é acessada por meio do Spatial Analyst Tools no
ArcToolbox.
O programa ArcGIS fornece a legenda do mapa em números (positivos e negativos), onde os valores
positivos da legenda referem-se as áreas côncavas, os valores negativos às áreas convexas e os valores
próximos de zero referem-se às áreas planas.

3.1.4 Curvatura Horizontal

A curvatura horizontal refere-se ao caráter divergente ou convergente das linhas de fluxo superficial.
O programa ArcGIS fornece a legenda do mapa em números (positivos e negativos), onde os valores
positivos da legenda referem-se as áreas divergentes, os valores negativos às áreas convergentes e os valores
próximos de zero referem-se às áreas planas.
A elaboração do mapa de curvatura horizontal da área de estudo foi feita através da ferramenta
“Curvature” do programa ArcGIS. A ferramenta é acessada por meio do Spatial Analyst Tools no
ArcToolbox.

3.1.5 Forma do Terreno (Curvatura)

A forma do terreno combina as curvaturas vertical e horizontal, de forma que a curvatura vertical
permite analisar como a forma côncava/convexa afeta a aceleração e desaceleração do fluxo superficial e a
curvatura horizontal influência na convergência e a divergência desse fluxo.
A elaboração do mapa de curvatura (forma do terreno) da área de estudo foi feita através da ferramenta
“Curvature” do programa ArcGIS. A ferramenta é acessada por meio do Spatial Analyst Tools no
ArcToolbox.

3.1.6 Uso e Cobertura da Terra

Para este indicador foi usado a Coleção 7 da Série Anual de Mapas de Cobertura e Uso da Terra do
Brasil, do Projeto MapBiomas. Foram adotadas quatro classes, conforme proposta do projeto, são elas:

255
Floresta (abrange formações florestais, savânicas, mangues e restinga arborizada); formação natural não
florestal (abrange campos alagados e área pantanosas, formações campestres, afloramento rochoso, apicum
e outros), agropecuária (abrange pastagens, agricultura, silvicultura e mosaico de agricultura e pastagem) e,
por fim, áreas não vegetadas (praia, duna e areal, áreas urbanizadas, mineração e outras).

4 Resultados e Discussões

4.1 Mapa de Declividade

A Figura 2 apresenta o mapa de declividade do município de Areia-PB, cujos níveis estão classificados
conforme tabela da Embrapa (1979). Verifica-se a existência de um relevo de fortemente ondulado a
escarpado, com vales profundos e estreitos dissecados. O município apresenta relevo suave ondulado a forte
ondulado (8-45%) em quase toda a sua extensão com algumas áreas apresentando relevo montanhoso
(>45%).

Figura 2. Declividade do Município de Areia – PB

Aproximadamente 54% do município corresponde a relevo ondulado, constituído por um conjunto de


colinas e outeiros, apresentando relevante ocorrência de áreas com declive entre 8 e 20%. O relevo fortemente
ondulado corresponde a aproximadamente 14% do município, sendo formado por outeiros e morros, com
predominância de declives de 20 a 45%. Por fim, aproximadamente 1% do município corresponde ao relevo
montanhoso com desnivelamentos expressivos e formas acidentadas como morros e maciços montanhosos
na ordem de 45 a 75% de declive. As maiores declividades localizam-se no centro urbano onde encontram-
se as encostas do balneário “O Quebra” com vertentes atingindo próximo a 70% de inclinação.
Silva Neto (2013) relaciona a declividade do terreno com os processos de pedogênese e morfogênese,
onde encostas que possuem maior inclinação apresentam o predomínio de escoamento superficial e dos
processos morfogênicos e encostas que apresentam inclinação quase plana tem o predomínio da infiltração
no solo e do processo de pedogênese.
No mesmo sentido, Meirelles (2015) afirma que a declividade pode afetar diretamente na deflagração
dos movimentos de massa, principalmente nas encostas mais íngremes, onde o fator gravidade atua de forma
mais significativa.

4.2 Mapa de Altitude

A Figura 3 apresenta o mapa de altitude do município de Areia-PB. O mapa apresenta valores que
variam entre 350 m, no extremo leste do município, e 620 m no centro urbano. Areia encontra-se no início
do Planalto da Borborema, região serrana que se distribui no nordeste do Brasil, se estendendo de Alagoas
ao Rio Grande do Norte, com superfícies elevadas de altitude que podem alcançar, em alguns pontos,
altitudes superiores a 1000 m (BARROS et al., 2018).

256
Figura 3. Altimetria do Município de Areia – PB

4.3 Mapa de Curvatura Vertical

A Figura 4 apresenta a curvatura vertical da área de estudo. O mapa evidencia o relevo movimentado
da área urbana do município. As áreas de maior altitude dentro do município apresentam curvatura muito
convexa a convexa, enquanto as áreas de menor altitude predominam as curvaturas de muito côncava e
côncava.

Figura 4. Curvatura Vertical do Município de Areia – PB

Na porção convexa do perfil da vertente verifica-se predominantemente o rastejamento, e nos trechos


inferiores, côncavos, predomina o transporte pela água, caracterizado pelo escoamento por filetes (SILVA
NETO, 2013). O perfil convexo é caracterizado pelo fluxo difuso com velocidade crescente, enquanto
tendências à concentração do escoamento superficial são observadas nas porções côncavas das vertentes,
considerando que os fluxos de água aumentam e se concentram encosta abaixo, o aumento do fluxo de água
potencializa o transporte de material dendrítico favorecendo o cisalhamento do solo, resultando na remoção
e deslocamento das partículas superficiais (GUERRA, 1994).

4.4 Mapa de Curvatura Horizontal

A Figura 5 apresenta o mapa de curvatura horizontal do município de Areia-PB. A maior densidade de


áreas divergentes se observa nas encostas dos planaltos, locais onde o fluxo diverge e a dissecação é mais
acelerada. Já as áreas convergentes, onde foram observadas as áreas que podem apresentar potencial de risco,

257
são visíveis nas áreas deprimidas. Nesses locais o fluxo tende a convergir e acumular sedimentos.

Figura 5. Curvatura Horizontal do Município de Areia – PB

Bloom (1970) definiu as encostas, com relação à curvatura horizontal em coletoras de água (vertentes
convergentes) e distribuidoras de água (vertentes divergentes). Dessa forma, tem-se que as vertentes de
fluxos concentrados (convergente) tende ao transporte de partículas maiores, do que aquela movida pelo
escoamento laminar difuso (divergente), favorecendo o movimento de massa (MANFRÉ, 2015).

4.5 Mapa de Curvatura (Forma do Terreno)

As formas do terreno resultam da combinação entre as curvaturas vertical e horizontal. Valeriano


(2008) estabelece nove classes distintas para as formas do terreno, produtos da associação da curvatura
vertical (côncavo, retilíneo e convexo) e curvatura horizontal (convergente, planar e divergente).
A Figura 6 apresenta o mapa da forma do terreno do município de Areia-PB. De maneira geral, as
encostas apresentam predominância de formas côncavo-divergentes no topo e na base formas retilíneo-
convergente, com algumas poucas áreas apresentando topo convexo-divergentes e base côncavo-
convergentes. Ao longo das inclinações das encostas observa-se o predomínio da forma convexo-planar, que
ao se aproximar da base passa a tomar a forma retilínea-planar.

Figura 6. Forma do Terreno do Município de Areia – PB

As formas do terreno côncavo-divergentes caracterizam-se como uma classe de maior dispersão do


escoamento superficial e maior capacidade de concentração e acúmulo de partículas de solo. Formas do

258
terreno onde o escoamento superficial apresenta maior dispersão, possuem baixa capacidade de transporte e
de remoção das partículas do solo, sendo considerados de baixa suscetibilidade (MANFRÉ, 2015).
Silva Neto (2013) define a forma do terreno côncava-convergente como a classe de maior concentração
e acúmulo de escoamento superficial, que corresponde a classe com maior suscetibilidade aos movimentos
de massa devido as zonas de convergência de fluxo e maior quantidade de material depositado.

4.6 Mapa de Uso e Cobertura da Terra

A Figura 7 apresenta o mapa de uso e cobertura da terra do município de Areia-PB. O município possui
mais de metade de sua área ocupada por floresta. As formações florestais da Caatinga são caracterizadas pela
presença de arbustos espinhosos e florestas sazonalmente secas que podem apresentar vegetações verdes nos
períodos de chuva. A atividade Agropecuária é a classe mais representativa, depois das Florestas.
Correspondente a 31% do município, sendo coberta por herbáceas e arbustos de baixo porte. Como
consequência dos processos adotados e a falta de planejamento de forma sustentável, observa-se que essas
áreas se encontram degradadas favorecendo o surgimento de riscos ambientais (IBGE, 2012).

Figura 7. Uso e Cobertura da Terra do Município de Areia – PB

A intensidade e suscetibilidade dos movimentos de massa podem ser influenciadas em função do uso
e tipo de cobertura do solo. Locais de maiores declividades com presença de áreas não vegetadas, concentrada
nos fundos de vale e encostas, podem potencializar de forma significativa o risco de movimentos de massa,
sobretudo pela retirada total ou parcial da sustentação do solo ao longo da elevação (MEIRELLES, 2015).

5 Conclusões

O município de Areia-PB apresentou predomínio de relevo fortemente ondulado, sendo


formado por outeiros e morros com declives em torno de 45%. Nas áreas de maior altitude
do município predominam a curvatura convexa, já as áreas de menor altitude apresentam curvatura côncava.
O perfil convexo é caracterizado pelo fluxo difuso com velocidade crescente, enquanto tendências à
concentração do escoamento superficial são observadas nas porções côncavas das vertentes. Considerando
que os fluxos de água aumentam e se concentram encosta abaixo, o aumento do fluxo de água potencializa
o transporte de material dendrítico.
A maior densidade de áreas divergentes é observada nas encostas dos planaltos, locais onde o fluxo
diverge e a dissecação é mais acelerada. Já as áreas convergentes, onde foram observadas as áreas que podem
apresentar potencial de risco, são visíveis nas áreas deprimidas. Nesses locais, o fluxo tende a convergir e
acumular sedimentos.
Em geral, as encostas apresentaram predominância de formas côncavo-divergentes no topo e na base
formas retilíneo-convergentes. Ao longo das inclinações das encostas observa-se o predomínio da forma
convexo-planar, que ao se aproximar da base passa a tomar a forma retilínea-planar. As formas do terreno
côncavo-divergentes caracterizam-se como uma classe de maior dispersão do escoamento superficial e maior
capacidade de concentração e acúmulo de partículas de solo. Formas do terreno onde o escoamento
superficial apresenta maior dispersão, possuem baixa capacidade de transporte e de remoção das partículas

259
do solo. Determinadas áreas que apresentaram perfis côncavo-convergentes possuem maior concentração e
acúmulo de escoamento superficial, que corresponde a classe com maior suscetibilidade aos movimentos de
massa devido as zonas de convergência de fluxo e maior quantidade de material depositado.
Por fim, embora tenha apresentado mais da metade de sua área ocupada por florestas, cerca de 31% do
município são áreas agropecuaristas, onde grande parte se encontra nas áreas com declives de 8 a 45%. Como
consequência dos processos adotados e a falta de planejamento de forma sustentável, essas áreas se
encontram degradadas favorecendo o surgimento de riscos ambientais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, J. D.; CESTARO, L. A.; MONTEIRO, T. R. R. (2018). A região natural planalto da Borborema
no semiárido do Rio Grande do Norte. Anais CONADIS. Campina Grande: Realize Editora.

BLOOM, A. L. (1970) Superfície da terra. São Paulo: Edgard Blücher.

BRASIL. Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil -
PNPDEC. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12608.htm.
Acesso em: 20 jul. 2022.

CRUDEN, D. M.. A simple definition of a landslide. Bulletin of the International Association of Engineering
Geology, [s.l.], v. 43, n. 1, p.27-29, abr. 1991. Springer Science and Business Media LLC.
http://dx.doi.org/10.1007/bf02590167.

GUERRA, A. J. T. (1994) Processos erosivos nas encostas. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Org.).
Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p.149-209.

IBGE. Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Disponível em:
<https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv63011.pdf> Acesso em: 25 jul. 2022.

SAUSEN, Tania Maria. LACRUZ, María Silvia Pardi (org.). Sensoriamento remoto para desastres. São
Paulo: Oficina de Textos, 2015.

MANFRÉ, L. A. (2015) Identificação e mapeamento de áreas de deslizamentos associadas a rodovias


utilizando imagens de sensoriamento remoto. Tese (Doutor em Ciências) – Universidade de São Paulo.

MEIRELLES, Evelyn de Oliveira. Mapeamento da Suscetibilidade a Movimentos de Massa utilizando


Análise Estatística e Ferramentas de Geoprocessamento na Bacia do Rio Paquequer - Teresópolis (RJ).
2015. Dissertação (Mestre de Análises de Bacias e Faixas Móveis) - Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, [S. l.], 2015.

IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Cartas de suscetibilidade a movimentos
gravitacionais de massa e inundações: 1:25.000 (livro eletrônico): nota técnica explicativa. Brasília, DF:
CPRM – Serviço Geológico do Brasil, 2014.

SILVA NETO, J. C. A. (2013) Avaliação da vulnerabilidade à perda de solos na bacia do rio Salobra, MS,
com base nas formas do terreno. Geografia, 22(1):5-25.

VALERIANO, M. M. Topodata: guia para utilização de dados geomorfológicos locais. São José dos Campos:
INPE, 2008a.

VARANDA, Érica. Mapeamento Quantitativo de Risco de Escorregamentos para o 1º Distrito de


Petrópolis/RJ utilizando análise em Sistema de Informações Geográficas. Rio de Janeiro, 2006. XVI,
137p 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.Sc., Engenharia Civil. 2006). Dissertação– Universidade Federal do Rio
de Janeiro, COPPE.

260
Desenvolvimento de Mapa de Suscetibilidade a Deslizamentos
Rasos através do TRIGRS em uma Bacia Hidrográfica
considerada Homogênea na Formação Barreiras, localizada na
Região Metropolitana do Recife (RMR)
Roberto Quental Coutinho 1
Professor Titular, UFPE, Recife, Brasil, robertoqcoutinho@gmail.com

Bruno Diego de Morais 2


Mestre em Engenharia Civil, UFPE, Recife, Brasil, brunodiegodemorais@hotmail.com

RESUMO: A Região Metropolitana do Recife é conhecida devido à frequente ocorrência de movimentos de


massa em meses chuvosos. Diante disso, o objetivo desse artigo é desenvolver mapas de suscetibilidade a
deslizamentos utilizando o modelo TRIGRS e analisar a precisão dos resultados por meio do método LRclass.
A área de aplicação do modelo trata-se de uma bacia hidrográfica, com 6,16 km², situada no limite entre as
cidades do Recife e Jaboatão dos Guararapes. A elaboração dos mapas de suscetibilidade utilizou o modelo
de infiltração inicial não saturada (NSAT) para o cálculo da poropressão. Os parâmetros geotécnicos foram
determinados por meio da média dos resultados de pesquisas realizadas dentro da área de estudo, sendo estes
considerados constantes para toda área. Além disso, foram assumidas três profundidades distintas do solo
(zmax), para o cálculo do fator de segurança. As análises foram denominadas: NSAT1, NSAT2, NSAT3,
sendo feitas, respectivamente com zmax igual a 1, 2 e 3m. As análises NSAT1, NSAT2 e NSAT3
apresentaram uma porcentagem de área instável de 11,93%, 18,30% e 11,92%, respectivamente. Devido à
melhor ponderação entre a porcentagem de área instável e o número de acertos dos pontos de deslizamento, a
análise NSAT3 é a mais precisa, apresentando %LRFS≤1,00 = 81,23%. Os resultados corroboram com os locais
de deslizamentos previamente mapeados, gerando resultados satisfatórios e coerentes. Desse modo, o
TRIGRS demonstrou ser uma ferramenta útil para a identificação de áreas suscetíveis a deslizamentos.

PALAVRAS-CHAVE: Caracterização Geotécnica, Movimentos de Massa, Análise de Suscetibilidade,


Modelo TRIGRS.

ABSTRACT: The Metropolitan Region of Recife is well known due to the frequent occurrence of mass
movements in rainy months. Therefore, the objective of this article is to develop landslide susceptibility
maps using the TRIGRS model and analyze the accuracy of the results using the LRclass method. The area of
application of the model is a watershed, with 6.16 km², located on the border between the cities of Recife and
Jaboatão dos Guararapes. The elaboration of the susceptibility maps used the model of unsaturated initial
infiltration (NSAT) to calculate the pore pressure. The geotechnical parameters were determined through the
average of the results of surveys carried out within the study area, which were considered constant for the
entire area. In addition, three different soil depths (zmax) were assumed to calculate the safety factor. The
analyzes were named: NSAT1, NSAT2, NSAT3, being performed, respectively, with zmax equal to 1, 2, and
3m. The NSAT1, NSAT2 and NSAT3 analyzes showed a percentage of the unstable area of 11.93%, 18.30%
and 11.92%, respectively. Due to the better weighting between the percentage of the unstable area and the
number of hits of the slip points, the NSAT3 analysis is the most accurate, presenting %LRFS≤1.00 = 81.23%.
The results corroborate the previously mapped landslide sites, generating satisfactory and coherent results.
Thus, TRIGRS proved to be a valuable tool for identifying areas susceptible to landslides.

KEYWORDS: Geotechnical Characterization, Mass Movements, Susceptibility Analysis, TRIGRS Model.

1 Introdução

Nacionalmente, os deslizamentos de terra são um dos perigos mais frequentes, resultando em perdas
econômicas e sociais significativas, como por exemplo, mortes, pessoas feridas e a destruição de
propriedades (DIAS; HÖLBLING; GROHMANN, 2021). No Brasil, eles ocorrem sob a influência de
condicionantes naturais, antrópicos ou ambos. A chuva atua como o principal agente não-antrópico na
deflagração desse fenômeno, pois está relacionada com a dinâmica das águas de superfície e subsuperfície,
causando erosão, aumento das solicitações ou reduzindo a resistência do solo (AUGUSTO FILHO;
VIRGILI; DILÁSCIO, 2018).
A Região Metropolitana do Recife (RMR), apresenta um vasto histórico com inúmeros casos de
261
movimentos de massa ao longo dos anos. Segundo Bandeira e Coutinho (2015), na RMR entre 1984 e 2012
os deslizamentos de terra causaram um total de 214 mortes. Estes autores acrescentam que o crescimento
urbano desordenado nessa região, em conjunto com ações antrópicas, devido a ocupações precárias,
associadas a precipitações intensas, aceleram a ocorrência de movimentos de massa, agravando a situação de
risco dessa região.
Nesse contexto, surge a importância de estudos mais aprofundados a respeito da análise de
suscetibilidade a deslizamentos das áreas afetadas. A suscetibilidade indica a potencialidade de
desenvolvimento de um fenômeno ou um processo do meio físico, sejam eles naturais ou induzidos pela ação
antrópica, em uma determinada área (BITAR, 2014). Desse modo, o objetivo desse artigo é realizar análises
de suscetibilidade a deslizamentos rasos translacionais em uma bacia hidrografica que abrange áreas dos
munícios de Recife-PE e Jaboatão dos Guararapes-PE. Para isso, será utilizado o método determinístico,
especificadamente o TRIGRS. Espera-se que esse estudo estimule o uso dessa ferramenta no monitoramento
e gerenciamento dos setores suscetíveis a deslizamentos da área de estudo.

2 Movimentos Gravitacionais de Massa

Os movimentos gravitacionais de massa são definidos como o deslocamento descendente de massas de


rochas, detritos, solo, material orgânico entre outros tipos de materiais induzidos pela ação da gravidade.
Dessa maneira, o termo movimento gravitacional de massa abrange uma ampla gama de movimentos, tais
como os deslizamentos de terra, quedas, tombamentos e etc. Esses movimentos ocorrem quando as forças
atuantes, como a ação da gravidade em conjunto com outros fatores como poropressão, terremotos e etc.,
agindo sobre os taludes superam a resistência ao cisalhamento de seus materiais (COUTINHO E SILVA,
2005).
Os deslizamentos de terra, tipo específico de movimento gravitacional de massa, são movimentos
rápidos que ocorrem em solos e rochas, apresentando uma superfície de ruptura bem definida. Os
deslizamentos são classificados de acordo com a forma da superfície de ruptura em três tipos distintos,
planares ou rasos, circulares ou em cunha. Na Região Metropolitana do Recife (RMR), o tipo de movimento
gravitacional mais recorrente são os deslizamentos planares ou rasos. Geralmente, esse movimento ocorre no
contato entre materiais com diferentes características de resistência e permeabilidade. A Figura 1 apresenta a
ocorrência de deslizamentos do tipo planar dentro da área de estudo.

3 Determinação da Suscetibilidade a Deslizamentos através de Modelos Matemáticos

A carta de suscetibilidade é um tipo de carta geotécnica que, a partir da análise interpretativa de dados
geológico-geotécnicos, destina-se, geralmente, para os trabalhos de uso e ocupação do solo. Essencialmente,
devem apresentar a localização dos processos e zonas afetadas, a representação dos fatores condicionantes e
a representação das zonas susceptíveis, classificadas geralmente como baixa, média e alta susceptibilidade a
um determinado processo (PIZZATO; GRAMANI, 2017).
As metodologias mais empregadas para elaboração das cartas de suscetibilidade a deslizamentos são:
avaliação direta; superposição de fatores condicionantes; compartimentação baseada em unidades de relevo;
combinação de fatores; métodos probabilísticos e métodos determinísticos. Os Métodos Determinísticos,
foco desse artigo, são sustentados em leis físicas e integram modelos de estabilidade de encostas e modelos
hidrológicos e busca diminuir a subjetividade da classificação dos graus de suscetibilidade por meio do
cálculo do Fator de Segurança (LISTO, 2015).

Figura 1. Cicatriz de deslizamento planar na rua Dr. Paulo de Bíase, Recife-PE (SANTOS, 2018); b)
Deslizamento na avenida Chapada do Araripe1.
262
1
Imagem disponível em: https://bityli.com/UTCQvQ. Acesso em: 19 jan. 2022.
4 O Modelo TRIGRS

O Modelo “Transient Rainfall Infiltration and Grid-Based Regional Slope-Stability”, TRIGRS, é um


software desenvolvido pela United States Geological Survey (USGS), programado em linguagem Fortran
(BAUM; GODT; SAVAGE, 2010). O TRIGRS é aplicável em áreas propensas a deslizamentos rasos
translacionais induzidos pela chuva. O programa trabalha com base no Modelo Digital do Terreno (MDT) e
nos produtos que podem ser extraídos dele (mapa de inclinação, mapa de direção de fluxo e etc.). Desse
modo, o principal produto do TRIGRS é o cálculo do Fator de Segurança (FS) para cada uma das células do
MDT. Essa ferramenta integra um método de análise de estabilidade para calcular o fator de segurança, o
método do talude infinito, e um modelo hidrológico para estimar a variação transiente da poropressão devido
à infiltração das águas das chuvas. Este último é baseado na solução linearizada de Iverson (2000) para a
equação de Richards, permitindo considerar a condição inicial de infiltração como saturada ou não saturada.

5 Caracterização da Área de Estudo

A área de estudo desta pesquisa trata-se de uma bacia hidrográfica, com área aproximada de 6,16 km²,
localizada no estado de Pernambuco na região Metropolitana do Recife (RMR), abrangendo áreas de Recife
e Jaboatão dos Guararapes, conforme o apresentado no mapa da Figura 2. A bacia delimitada está situada em
território urbano, densamente ocupado, constituído por várias comunidades compostas por famílias que
residem em encostas submetidas a frequentes deslizamentos, gerando assim, um grave problema
socioambiental (COUTINHO et al., 2017). Em campo são identificados ocupações irregulares, declividades
acentuadas, cortes, acúmulo de lixo e entulho, encanamentos expostos e outros fatores que favorecem a
ocorrência de deslizamentos.
A Figura 3 apresenta as precipitações mensais e anuais ocorridas na área de estudo no período de 2016
a 2021 registradas pelo pluviômetro Ibura. Os dados mostram que o período chuvoso está concentrado nos
meses de março a agosto, com médias mensais geralmente maiores que 150 mm. Sendo que a maior média
de precipitação ocorre no mês de junho e o período mais seco se estende de setembro a fevereiro.
Do ponto de vista geológico, a área de estudo apresenta duas unidades distintas: A Formação Barreiras
que aflora em posições mais elevadas e a presença de Sedimentos Aluvionares em áreas planas localizadas
no fundo dos vales. A Formação Barreiras, quando relacionada a processos fluviais, apresenta três sistemas
deposicionais distintos, denominados fácies, elas são: leque aluvial proximal, leque distal/planície aluvial e
canal fluvial (ALHEIROS et al., 1988). Na área de estudo foi identificado predominância da fáceis do tipo
canal fluvial.
A fácies do tipo canal fluvial foi formada sob regimes de fluxo de alta energia com transporte de areias
e cascalhos por tração, e de finos por suspensão. Apresenta coloração creme com zonas esbranquiçadas
devido o mosqueamento do perfil com manchas avermelhadas em decorrência do intemperismo do óxido de
ferro. É caracterizada por ser de granulometria predominantemente arenosa e bem susceptível a processos
erosivos.

Figura 2. Mapa de localização da área de interesse e pontos de estudo.


263
Figura 3. Precipitações: (a) mensais e (b) anuais registradas no período de 2016 a 2021 e a média do período
(pluviômetro Ibura).
Segundo Coutinho et al. (2017), o relevo da área é predominantemente classificado como vales largos
do tipo anfiteatro, apresentando também em menor escala vales estreitos do tipo ravina. As cabeceiras de
drenagem na forma de anfiteatro representam zonas côncavas responsáveis por concentrar água em um
determinado ponto, o que potencializa o poder destrutivo da água, propiciando a ocorrênca de erosões e
deslizamentos.

6 Metodologia das Análises de Suscetibilidade

O Modelo TRIGRS necessita em suas análises de parâmetros topográficos, pluviométricos,


geotécnicos e hidrológicos. Os parâmetros topográficos, são representados pelo MDT concedidos pelo
projeto PE3D2. Os dados pluviométricos utilizados foram disponibilizados pelo CEMADEN3. Os parâmetros
geotécnicos e hidrológicos requeridos pelo modelo são: ’ (coesão efetiva – kPa), (ângulo de atrito efetivo
- º), (peso específico saturado - kN/m³), (difusividade hidráulica – m²/s), (coeficiente de
permeabilidade saturada – m/s), Ө (umidade volumétrica saturada - %), Ө (umidade volumétrica residual -
%), e (parâmetro de ajuste de Gardner – 1/m).
A Tabela 1 apresenta as referências, a classificação SUCS e os parâmetros geotécnicos e hidrológicos
que serão utilizados nas análises de suscetibilidade. Estes foram considerados constantes para toda área
investigada, definidos por meio da média dos mesmos. Maiores informações sobre a Formação Barreiras
podem ser encontradas em Coutinho e Severo (2009).
Alguns dos parâmetros hidráulicos como a difusividade hidraúlica (D0) e a taxa de infiltração inicial
(IZLT) foram determinadas a partir de referências empíricas. Desse modo foi assumido que a difusividade
hidráulica é igual a D0 = 100 x Ksat, conforme proposto por Marin, Velásquez e Sánchez (2021). O IZLT é
definido como taxa de infiltração inicial foi considerado único para todas as análises realizadas. Esse
parâmetro foi estimado utilizando a precipitação acumulada dos 30 dias anteriores ao evento modelado
seguindo a sugestão de Marin, Velasquez e Sánchez (2021). O cálculo utilizado para estimar IZLT, está
exposto na Equação (1).
Tabela 1. Tabela de integração dos parâmetros geotécnicos e hidrológicos utilizados.
Classificação Parâmetros Permeabilidade
Ref. Ponto Prof. (m) γsat
SUCS c' φ' Ksat
Santana Areia argilosa
P-01 0,00 - 3,30 18,92 0,00 36,10 2,12E-05
(2006) (SC)
Areia argilosa 0,15 -0,45 18,93 0,40 23,20 1,08E-05
P-02
Meira (SC) 0,70 - 1,00 18,69 1,80 25,96 1,18E-05
(2008) Areia argilosa 0,15 - 0,45 18,83 3,50 23,70 1,05E-05
P-03
(SC) 0,70 - 1,00 18,59 2,55 28,70 2,30E-05
Areia argilosa
Santos
P-05 siltosa (SM- 0,00 - 0,96 18,94 2,67 33,83 6,36E-06
(2018)
SC)
Areia argilosa
Atual
P-11 siltosa (SM- 0,70 - 1,00 18,45 6,42 25,79 5,22E-07
estudo
SC)
Média 18,76 2,48 28,18 1,20E-05

2
Programa Pernambuco Tridimensional (PE3D). Maiores informações disponíveis em: http://www.pe3d.pe.gov.br.
3
Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN). Maiores informações disponíveis em: https:// 264
www.gov.br/cemaden/pt-br.
158,11 0,15842
6,11 " 10#$ / (1 )
30 2592000

A curva característica do solo foi ajustada por meio do modelo proposto por Gardner (1958), conforme
as instruções de uso do modelo TRIGRS. Devido ao formato bimodal das curvas características utilizadas,
optou-se por ajustar o primeiro trecho da mesma, conforme o apresentado na Figura 4-a, pois o modelo de
Gardner (1958) é indicado exclusivamente para curvas de formato unimodal. Desse modo, os parâmetros do
ajuste foram: ϴs = 42,00%, ϴr = 29,00% e α = 1,96.
As análises foram realizadas utilizando o modelo de infiltração inicial não saturada (NSAT).
Fisicamente, essas análises visam simular um período de chuvas intensas antecedido por uma temporada
mais seca. Ao todo foram realizadas tres análises denominadas: NSAT1, NSAT2, NSAT3, sendo feitas,
respectivamente com a profundidades máxima do solo (zmax) igual a 1, 2 e 3m. Essa variação visa analisar a
influência da profundidade do solo no cálculo do FS. Esses valores foram determinados com base na
profundidade da coleta de amostras e o resultado de sondagens do tipo SPT. Ademais, segundo Gusmão et
al. (1997), a maioria dos deslizamentos que ocorrem nas encostas da RMR são translacionais rasos com até
3m de profundidade.
As sondagens realizadas na área de estudo também não identificaram a presença de um nível de água
em nenhuma das profundidades inspecionadas, desse modo, foi assumido que o nível de água inicial se
encontra na mesma profundidade do zmax. Desse modo, o solo está inicialmente seco, porém a infiltração da
água da chuva pode gerar um nível de água suspenso. Após a etapa de modelagem, cada uma das análises
foram validadas por meio do método LRclass. A metodologia &' Class foi proposta por Park, Nikhil e Lee
(2013) e representa a relação entre a porcentagem de deslizamentos dentro de uma classe específica do FS
em comparação com o registro de ocorrência de deslizamentos (MARIN; VELASQUEZ; SÁNCHEZ, 2021).
Nesse estudo, será validado o primeiro dia mais crítico de cada análise. É considerado crítico o
primeiro dia que apresentar a maior porcentagem de área com FS ≤ 1,00. Devido às análises realizadas
considerarem um evento pluviométrico intenso, superior à média mensal, o processo de validação incluiu a
localização das ocorrências registradas entre 2016, ano de elaboração do MDT, e 2019, ano do evento
pluviométrico modelado. A localização das ocorrências foram disponibilizados pela Defesa Civil local.
O evento pluviométrico usado na modelagem, ocorreu no período entre 11 e 20 de junho de 2019 e
acumulou nesse intervalo 361,07 mm. A chuva acumulada nesse intervalo representa 82,21% da chuva
mensal, sendo em porcentagem 27,73% superior à média do mês. A Figura 4-b, mostra que entre os 10 dias
considerados, os dias 13/06 e 17/06 apresentam as maiores precipitações diárias. O dia 13/06, acumulou
161,53mm e registrou a ocorrência de 27 deslizamentos. O dia 17/06, acumulou 75,53mm e registrou a
ocorrência de 23 deslizamentos. Nesse mesmo período (13/06-20/06), foi registrada a ocorrência de 80
deslizamentos dentro da área de estudo.

7 Resultados das Análises de Suscetibilidade

O gráfico da Figura 5 apresenta a relação entre a porcentagem de área instável e a precipitação. A


porcentagem de área instável da análise NSAT1 aumentou atingindo 11,93%, quando a precipitação
correspondeu a 161,53 mm no dia 13/06/19. Na análise NSAT2, o gráfico mostra que a porcentagem de área
instável aumenta com a precipitação, alcançando um resultado igual a 18,30%, quando a precipitação
correspondeu a 75,53mm no dia 17/06/19. Por último, na análise NSAT3, o gráfico mostra que a
porcentagem de área instável foi sensível a precipitação chegando a um resultado igual a 11,92% no dia
18/06/19.

Figura 4. Curva caracteristica ajustada através do modelo de Gardner (1958); b) Distribuição das ocorrências de
deslizamentos e pluviométria diária de junho de 2019. 265
Figura 5. Relação entre a porcentagem de área instável e a precipitação: a) NSAT1; b) NSAT2; c) NSAT3.
Esses resultados apontam para o efeito da profundidade do solo (zmax) sobre o cálculo do fator de
segurança e poropressão. Dada a influência da poropressão sobre a porcentagem de área instável, Baum,
Godt e Savage (2010) esclarecem que a variação espacial da poropressão causada pela infiltração da água da
chuva ocorre em função da topografia, profundidade do solo (zmax) e das propriedades hidráulicas. No caso
do modelo de infiltração não saturada, o modelo TRIGRS divide a espessura do solo em duas camadas, isto
é, uma camada saturada sobrejacente a outra camada não saturada. A camada não saturada atua como um
filtro que atenua e atrasa a resposta da poropressão induzida pela chuva. Consequentemente, quanto maior a
profundidade do solo (zmax) considerada, mais tempo será necessario para alcançar a condição mais critica.
Os mapas de suscetibilidade das análises NSAT1, NSAT2 e NSAT3 estão apresentados na Figura 6.
As análises NSAT1, NSAT2 e NSAT3 apresentaram uma porcentagem de área instável do dia mais crítico
igual a 11,93%, 18,30% e 11,92%, respectivamente. A observação desses mapas mostram que, no geral, os
mapas de suscetibilidade mostraram que existe concordância entre os locais de ocorrência e a classe referente
ao FS ≤ 1,00. Consequentemente, o processo de validação apresentou para a análise NSAT1, NSAT2,
NSAT3 uma %LRFS≤1,00 iguais a 80,52%, 73,78% e 81,23%, respectivamente.
De acordo com o estabelecido por Park, Nikhil e Lee (2013) todos os resultados são classificados
como bom, dado que %LRFS≤1,00 ≥ 70%. Dentre as os resultados obtidos, a análise NSAT3 foi a mais precisa,
apresentando %LRFS≤1,00 = 81,23%, devido a melhor ponderação entre a % de área instável e o número de
acertos dos pontos de deslizamento. Esse resultado indica que os deslizamentos que ocorrem na área de
estudo podem apresentar espessura de até três metros, confirmando as observações realizadas por Gusmão et
al. (1997) para os deslizamentos que ocorrem na RMR.
A validação também mostrou que a %LRFS≤1,00 apresentou resultados dentro do intervalo dos valores
encontrados em outras pesquisas realizas com o modelo TRIGRS. Park, Nikhil e Lee (2013) também
obteviram %LRFS≤1,00 = 70,30% nas análises realizadas na Montanha Woomyeon em Seoul na Coreia do Sul,
considerando uma precipitação de 470 mm que ocorreu entre 26-27 de julho de 2011. Tran et al. (2017),
obteviram %LRFS ≤ 1,00 = 75,87% após refinar as análises realizadas por Park, Nikhil e Lee (2013), utilizando
o modelo de infiltração inicial não saturada e os parâmetros especializados por meio de zonas. Marin,
Velasquez e Sánchez (2021), alcançaram %LRFS≤1,00 = 97,47% na retroanálise realizadas na bacia La
Liboriana localizada nos Andes colombianos, considerando os eventos ocorridos em 18 de maio de 2015.
A Figura 7 apresenta o mapa com a distribuição espacial da poropressão do dia mais crítico da análise
NSAT3, devido a maior precisão. Esse mapa mostra que houve a geração de poropressão positiva, sendo os
maiores valores alcançados nas áreas planas. Nas áreas de encostas também é observado a geração de
poropressão positiva, porém de forma menos acentuada do que o observado nas áreas planas. Esse resultado
indica que na área de estudo o solo não precisa estár completamente saturado para que ocorra o
desencadeamento de deslizamentos.

266
Figura 6. Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos translacionais: a) NSAT1; b) NSAT2; c) NSAT3.
8 Conclusões
O modelo TRIGRS gerou resultados satisfatórios e coerentes, permitindo identificar as áreas mais
susceptíveis a deslizamentos rasos translacionais em decorrência dos acréscimos de poropressão causados
pela chuva.
Os resultados mostraram que quanto maior a profundidade do solo (zmax), maior foi o efeito da camada
não saturada, atenuando e atrasando a resposta da poropressão causada pela infiltração da chuva, exigindo
mais tempo para gerar a condição mais crítica, como visto na análise NSAT3.
A análise NSAT3 é a mais precisa, apresentando %LRFS≤1,00 = 81,23%, demostrando concordância
com as observações reais e a área instável prevista pelo modelo TRIGRS.
A validação encontrada mostrou que a %LRFS≤1,00 apresentou resultados dentro do intervalo dos
valores encontrados em outras pesquisas realizas com o modelo TRIGRS.

Figura 7. Mapa com a distribuição espacial da poropressão do dia mais crítico na análise NSAT3.
267
9 Referências
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268
Análise da Degradação Ambiental em uma Encosta na
Cidade de Recife/PE
Igor Silva Santos
Aluno, Mestrando em Engenharia Civil, Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil, iss4@poli.br.

Kalinny Patrícia Vaz Lafayette


Professora, Associada, Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil, klafayette@poli.br.

Ana Patrícia Nunes Bandeira


Professora, Doutora em Engenharia Civil, Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do Norte-CE, Brasil,
ana.bandeira@ufca.edu.br.

Flaviana Gomes Alves da Silva


Aluna, Mestranda em Engenharia Civil, Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil, fgas@poli.br.

Luciana Cassia Lima da Silva


Aluna, Mestranda em Engenharia Civil, Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil, lcls@poli.br.

RESUMO: A contínua expansão do espaço urbano, sem um planejamento adequado, ocasiona mudanças em
um ambiente que pode provocar danos irreversíveis. Estas alterações do espaço são acarretadas,
principalmente, pela ação do homem na natureza. Este trabalho tem como objetivo apresentar os impactos
ambientais causados pelo crescimento urbano, nos últimos 47 anos (1974 a 2021), relacionados com as ações
antrópicas que contribuem para a instabilidade de uma encosta localizada no bairro da Macaxeira em
Recife/PE. Por meio do software ArcGis 10.7.1, foi realizada uma análise temporal do uso e ocupação do
solo, com base em ortofotocarta de 1974 e imagem de satélite de 2021. Também foi verificada as ações
antrópicas causadas pela expansão urbana que fragilizaram esta encosta. Verificou-se que houve
significativas variações nas manchas de áreas urbana (aumento de 29,11%) e de cobertura vegetal (redução
de 20,96%), mostrando que o crescimento urbano e as falhas na atuação dos órgãos competentes, ocasionam
graves problemas socioambientais que potencializam a instabilidade da encosta. Este crescimento
populacional, associado à falta de uma política habitacional para população de baixa renda, contribuiu para
ocupação densa e desordenada da encosta, impactando toda a área.

PALAVRAS-CHAVE: Expansão Urbana, Supressão Vegetal, Análise Temporal, Impacto Socioambientais.

ABSTRACT: The continuous expansion of urban space, without proper planning, causes changes in an
environment that can cause irreversible damage. These changes in space are mainly caused by the action of
man in nature. This work aims to present the environmental impacts caused by urban growth, in the last 47
years (1974 to 2021), related to human actions that contribute to the instability of a hillside located in the
Macaxeira neighborhood in Recife/PE. Using ArcGis 10.7.1 software, a temporal analysis of land use and
occupation was carried out, based on an orthophoto chart from 1974 and a satellite image from 2021. Human
actions caused by urban expansion that weakened this slope were also verified. It was found that there were
significant variations in the patches of urban areas (increase of 29.11%) and vegetation cover (reduction of
20.96%), showing that urban growth and failures in the performance of competent bodies, cause serious
problems socio-environmental factors that potentiate slope instability. This population growth, associated
with the lack of a housing policy for the low-income population, contributed to the dense and disorderly
occupation of the slope, impacting the entire area.

KEYWORDS: Urban Expansion, Plant Suppression, Temporal Analysis, Socio-environmental


Impact.

269
1 INTRODUÇÃO

O avanço populacional acarreta uma série de mudanças no ambiente que causam transformações no
espaço e no ambiente natural provocados pelas ações antrópicas que resultam em problemas a serem
resolvidos (SANTOS; SILVA; VITAL, 2022; NASCIMENTO et al., 2020). A Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA (2017) afirma que 0,63% da área do Brasil são consideradas ambientes
urbanos, contudo abriga 84,3% dos brasileiros, aproximadamente 160 milhões de habitantes (FARIAS et. al.,
2017).
Para Pereira, Nunes e Araújo (2021), o aumento populacional leva à perda de vegetação nativa,
degradação do solo e alteração da topografia, com isso o monitoramento das consequências dessas ocupações
é fundamental (GONÇALVES; SILVA; LAFAYETTE, 2021). Vale ressaltar que dependendo do tipo de
cobertura vegetal favorece positivamente para a estabilidade do solo ao reduzir a infiltração de água
(ROCCATI et al., 2021).
Escavações, aterros, construção e resíduos disposto em locais irregulares e falta do sistema de
drenagem contribuem para a fragilidade desses taludes. Essas ações interferem diretamente na resistência do
solo, pois os impactos resultantes podem causar alterações significativas em áreas sensíveis e vulneráveis
(GOMES et al., 2021).
Devido a esses fatores, os acidentes causados por deslizamentos de encostas ocupadas têm se
intensificado ao longo dos anos (BISPO; MELO; TOUJAGUEZ, 2019). Casos recentes de desastres naturais
em 2022 foram registrados em: Franco da Rocha/SP, Salvador/BA, Petrópolis/RJ, Recife Metropolitano/PE,
resultando em aproximadamente 400 óbitos.
Uma ferramenta que ajuda a monitorar é a chamada geografia ambiental que contribui para a
compreensão do espaço, uso e ocupação do solo e as consequentes mudanças nas paisagens resultantes da
relação homem-natureza (FRANCH-PARDO et al., 2017). A análise espaço-temporal é viável para orientar a
tomada de decisões na esfera pública, e se destacou por priorizar soluções eficazes para reverter a
degradação ambiental encontrada em áreas propensas a deslizamentos (SANTOS et al., 2021).
Nesta condição, este trabalho tem como objetivo apresentar os impactos ambientais causados pelo
crescimento urbano, nos últimos 47 anos (1974 a 2021), relacionados com as ações antrópicas que
contribuem para a instabilidade de uma encosta localizada no bairro da Macaxeira em Recife/PE.

2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO

Recife é a capital do estado de Pernambuco, localizada no litoral do nordeste brasileiro, com um


território de 218.843 km² e uma população estimada de 1.661.017 pessoas (IBGE, 2021). O marco zero da
cidade tem coordenadas de 8°03'47,4" S e 34°52'16,1" W. O município do Recife tem como limites a cidade
de Paulista ao Norte, a cidade de Jaboatão dos Guararapes ao Sul, os municípios de Camaragibe e São
Lourenço da Mata ao Oeste, e Abreu e Lima ao Nordeste, a cidade de Olinda a Norte Nordeste e o Oceano
Atlântico a Leste.
A RMR (Região Metropolitana do Recife), influenciada pelas massas tropicais marítimas, possui um
clima costeiro úmido, com temperaturas estáveis durante todo o ano, com variação de até 5°C. As chuvas
concentram-se entre abril e julho, tornando este período o mais crítico para os problemas causados pela
deterioração natural da RMR.
A área de estudo localiza-se na Rua Alto do Olho d'água no bairro Macaxeira, divisa com o bairro
Nova Descoberta, nas coordenada: 8º 00' 58,0'' latitude N e 34º 55' 36,9'' ' longitude W, Zona Norte do
Recife, com uma área de cerca de 30 hectares (Figura 01).

270
Figura 01. Visão geral da área em estudo. Rua Alto do Olho d'água no bairro Macaxeira-Recife-PE.

Quanto geologia, a parte norte da comunidade é caracterizada pela presença de sedimentos da


Formação Barreiras, apresentando na parte inferior camadas mais arenosas e na parte superior camadas
intercaladas de areia e argila, provenientes de depósitos fluviais (SANTANA, 2019). No sul encontram-se
sedimentos fluviais lagunares - sedimentos quaternários - ricos em areia, silte e argila orgânicas (CPRM,
2013).

3 METODOLOGIA

Foram coletadas as coordenadas geográficas e realizados registros fotográficos para verificar


possíveis fatores que contribuam para a instabilidade do talude, causadas pelas ações antrópicas.
Com as coordenadas geográficas do local e utilizando o software Google Earth Pro Versão 7.3.2
(2021), foi delimitada a área de estudo, e ajustou-se a localização precisa para gerar as imagens de satélite do
ano de 2021. Para o ano de 1974, foi solicitada a imagem (ortofotocarta) à Agência Estadual de Pesquisa e
Planejamento de Pernambuco (CONDEPE/FIDEM).
O polígono da área estudada possui uma cobertura de aproximadamente 29 hectares, que foi
determinado por análise das imagens. Com o auxílio do software ArcGIS 10.7.1, gerou-se mapas
georreferenciados com escala de 1:10.000, e posteriormente foram vetorizados para analisar
quantitativamente o processo de uso e ocupação do solo, em 47 anos, de acordo com as seguintes tipologias:
- Manchas Urbanas: Áreas impermeabilizadas por intervenção humana: área de construção;
- Vegetação: áreas florestais, gramados e arbustos;
- Solos Exposto: áreas sem cobertura vegetal, resultante de processos de fogo e/ou erosão;
- Sistema viário: Área de tráfego de veículos.
Com isto foi possível quantificar a taxa de ocupação e a taxa de variação de cada tipologia, conforme
as Equações 1 e 2, respectivamente.

(1)

Onde: TAc (%): Percentual da área de ocupação das tipologias; Ac: Área e ocupação da tipologia (ha);
At: Área total da região estudada (ha).

(2)

Onde: TV (%): Diferença entre as taxas de ocupação da tipologia; TAc1 (%): Taxa de ocupação da tipologia de maior
ano; TAc2 (%): Taxa de ocupação da tipologia de menor ano.

271
4 RESULTADOS

Foram encontrados vários fatores socioambientais que contribuem para a instabilidade dos taludes,
tais como: falta de saneamento básico e construções irregulares (Figura 02 a e b), deposição irregular de
resíduos sólidos (Figura 02 b e c), concentração de água pluviais diretamente nos taludes, além de presença
de vegetação de grande porte (Figura 02 d), que conservam água nas raízes, elevando o risco de movimento
de massas.

a) c)

b) d)

Figura 02. a) construções irregulares e destinação de água pluviais e residuais no talude; b) disposição de
resíduos sólidos; c) entupimento das valas de drenagem d) vegetação inadequada. (registros em 24/09/2021).

Estudos realizados na cidade do Recife e outras áreas de sua Região Metropolitana (GONÇALVES;
SILVA; LAFAYETTE, 2021; NASCIMENTO et al., 2020; SANTOS et al., 2021) apontam para estes fatores
que contribuem para a instabilidade de taludes. Com isto é necessário intervenções públicas, quanto a
utilização de ações estruturais e não estruturas.
A Figura 03.A apresenta o uso e ocupação do solo para o ano de 1974. Observa-se que na parte
superior da encosta, há predominância urbana, enquanto na parte inferior da encosta tem maior presença de
vegetação. Outro fator verificado é que o curso da água escoa naturalmente onde apresenta vegetação,
diferentemente da parte mais urbanizada, onde a água é guiada por calhas de drenagem.
É possível perceber que no ano 1974, a área urbana representava a maior parte da área de estudo,
equivalendo a 53,47%; já a área de vegetação correspondia a 28,62%. As áreas com maior exposição do solo
possuem maiores declividades, e devido à falta de equipamentos de drenagem e vegetação, aumentam a
possibilidade de ocorrências de processos erosivos e de deslizamentos.

272
Figura 03. Mapas de Uso e Ocupação - 1974 (A) e 2021 (B).

No mapa de 2021 (Figura 03.B), pode-se observar um salto no crescimento urbano, atingindo
82,57% da área total, com uma redução de vegetação, correspondente a apenas 7,66%. Roccati et al. (2021)
afirmam que alguns tipos de vegetação, aumenta a resistência e protegem o solo, conservando e
combatendo, assim, o processo de erosão.
A Tabela 01 apresenta a taxa de ocupação (%) e a taxa de variação (%) das tipologias. Nas
comparações dos anos em estudo, o resultado de variação positiva (+) indica um aumento, enquanto a
variação negativa (-) indica uma diminuição no campo das tipologias.

Tabela 01. Quantificação da Taxas de Ocupação e Variação das Tipologias.


Taxa de Ocupação Taxa de Variação
1974 2021
TIPOLOGIA
Área Ocup. Área Ocup. 1974 – 2021
(ha) (%) (ha) (%)
Solo Exposto 1,37 4,71 0,25 0,87 (-)3,85
Vegetação 8,30 28,62 2,22 7,66 (-)20,96
Mancha Urbana 15,51 53,47 23,95 82,57 (+)29,11
Sistema Viário 3,82 13,20 2,58 8,91 (-)4,30

A cobertura vegetal e a mancha urbana, em 1974, equivaliam a 28,62% e 53,47% da área de estudo,
entretanto em 2021 foi verificado 7,66% e 82,57%, respectivamente. Observa-se que a vegetação (-20,96%)
foi fortemente suprimida ao longo dos anos e a população (+29,11%) aumentou rapidamente. Esse
crescimento desordenado na encosta tem impacto relevante no meio ambiente, bem como na resistência do
talude (SANTOS; FALCÃO; LIMA, 2020).

273
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer destes anos, verificou-se um aumento da taxa do crescimento urbano que antes equivalia
de 53,47% da área de estudo e atualmente totaliza 82,57%. Este crescimento ocasionou uma ocupação densa
e desordenada da área, saindo do controle dos gestores municipais, gerando áreas de riscos.
Nos últimos 47 anos, houve expressivas taxas de variação nas tipologias de mancha urbana e
vegetação de (+) 29,11% e (-) 20,96%, respectivamente. Esse avanço desordenado, causando a supressão
vegetal por influência das ações antrópicas, tem provocado sérios problemas socioambientais na região,
afetando a instabilidade das encostas e aumentando a probabilidade de deslizamentos.

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274
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Sciences (ASRJETS) American Scientific Research Journal for Engineering, vol. 77, no. 1, p. 63–75.

275
Aprovação de projetos de estabilidade de taludes: uma análise
sobre a implementação dos cursos de capacitação para técnicos
municipais promovidos pelo governo federal
Wolnei Wolff Barreiros (Coordenador Geral de Prevenção e Programas Estratégicos) do Ministério do
Desenvolvimento Regional, Brasília-DF, Brasil, wolnei.wolff@mdr.gov.br)

Thiago Galvão (Diretor de Prevenção de Riscos do Ministério das Cidades – 2014/15, Rio de Janeiro-RJ,
Brasil, galvao_thiago@yahoo.com.br)

Roberto Quental Coutinho (Professor Titular do Departamento de Engenharia Civil da UFPE, Recife-PE,
roberto.coutinho@ufpe.br)

RESUMO: Um dos principais problemas observados na implementação do Programa de Aceleração do


Crescimento - PAC consistiu na apresentação de projetos de engenharia com qualidade limitada em todas as
modalidades oferecidas no PAC, como urbanização de assentamentos precários, macrodrenagem urbana e
contenção de encostas. Essa deficiência possui forte relação com a baixa capacidade institucional de nossas
prefeituras, em razão da ausência de corpo técnico permanente ou devidamente capacitado. Como resultante,
tem-se a aprovação de projetos inconsistentes que, por sua vez, não evoluem dentro do processo licitatório ou em
fases subsequentes junto a órgãos ou entidades intervenientes. Para o caso da modalidade Contenção de Encostas,
foi implementada uma série de cursos de capacitação voltada para técnicos governamentais na análise e
aprovação de projetos de estabilidade de taludes ou encostas em regiões representativas no Brasil. O objetivo do
presente artigo consiste em apresentar a metodologia desenvolvida e os resultados alcançados e indicar
necessidade de aprimoramentos e apontar perspectivas futuras. Sob a responsabilidade do GEGEP/UFPE em
parceria junto ao Ministério das Cidades (atualmente Ministério do Desenvolvimento Regional – MDR), o projeto
contou com a participação de diversas instituições de ensino e pesquisa, consultores independentes, além de
representantes de entes federados e da CAIXA. Diversos técnicos governamentais foram capacitados e puderam
dar a sua contribuição, ao término dos respectivos cursos. Com base na avaliação geral do projeto, foi possível
reconhecer a importância estratégica dessa iniciativa para a melhor elaboração de projetos de estabilidade de
taludes e da execução e manutenção de obras de contenção de encostas.

PALAVRAS-CHAVE: aprovação de projetos; capacitação; estabilidade de taludes ou encostas; contenção de


encostas.

276
1 Introdução

Os deslizamentos de encostas correspondem aos fenômenos naturais responsáveis pelo maior número
de mortes entre a população das nossas cidades e ocorrem por ocasião de episódios de chuvas intensas e
prolongadas em áreas de alta declividade. Por outro lado, as formas inadequadas de ocupação urbana
contribuem de maneira decisiva tanto para a frequência das ocorrências, como para a magnitude dos acidentes
(CARVALHO; GALVÃO, 2006).
O art. 30 da Constituição Federal estabelece que é de competência dos municípios promover o controle
do uso, parcelamento e ocupação do solo urbano adequado mediante a utilização dos instrumentos de
planejamento urbano (BRASIL, 1988). No entanto, a baixa capacidade institucional dos municípios
brasileiros, caracterizada muitas das vezes por ausência de corpo técnico permanente ou devidamente
capacitado, somada às descontinuidades administrativas, concorrem para os insucessos na gestão do território
pelo poder público municipal.
O expressivo número de obras atrasadas ou paralisadas em programas de investimentos, como o PAC –
Programa de Aceleração do Crescimento, serve como parâmetro de como a baixa capacidade institucional
pode afetar o desempenho de iniciativas, como o apoio a obras de urbanização, saneamento ou de prevenção
em áreas de risco. BARREIROS (2022) reconhece, dentre outros aspectos, que a baixa capacidade das
prefeituras vem influenciando fortemente na contratação, elaboração e apresentação de projetos de engenharia
de qualidade duvidosa e que esses não evoluem dentro do processo licitatório ou em fases subsequentes.
Em 2008, numa iniciativa celebrada entre o MCidades e a Universidade Federal de Pernambuco, através
do Grupo Gegep – Grupo de Engenharia Geotécnica de Encostas, Planícies e Desastres, foi desenvolvido um
curso de capacitação voltado para profissionais e em especial técnicos das defesas civis em nível Federal,
Estadual e Municipal. O curso Gestão e Mapeamento de Riscos Socioambientais proporcionou a capacitação
de mais de 1000 técnicos em todo o Brasil, com uma carga horaria de 88 horas, divididos em 14 módulos na
modalidade EAD. Esse curso contou com a confecção e distribuição de apostila (formato de livro) e CD-ROM
(BRASIL, 2008) e abordou, ainda que de forma introdutória, intervenções estruturais para a estabilização de
encostas.
No ano de 2015, foi firmada uma parceria entre o MCidades e o Grupo Gegep, com a participação de
membros de outras instituições de ensino e pesquisa, assim como, consultores independentes. Essa parceria
teve como objetivo a capacitação de técnicos governamentais e da CAIXA na análise e aprovação de projetos
de estabilidade de taludes ou encostas. A iniciativa proposta teve por meta a melhoria dos processos de análise,
aprovação, contratação de projetos de estabilidade de taludes, acompanhamento e manutenção de obras
associadas a deslizamentos, no âmbito do PAC Contenção de Encostas.
Foi desenvolvida uma metodologia voltada para o contexto das prefeituras brasileiras, ou seja, conteúdo
aplicável, público-alvo específico, horários adaptados para a redução de custos e despesas com deslocamentos.
Os cursos foram desenvolvidos em áreas representativas do país, contando com o apoio de prefeituras,
governos dos estados e da CAIXA.
O presente artigo apresenta a metodologia desenvolvida para os cursos de capacitação e os resultados
alcançados. O artigo buscou ainda demonstrar a importância estratégica desse Projeto para as prefeituras
brasileiras e indicar a necessidade de aprimoramentos e apontar perspectivas futuras.

2 Municípios ou Regiões Prioritárias

Um levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo – IPT (2022), que
registra mortes por escorregamentos, indica que apenas algumas centenas de municípios concentrados em
regiões bem delimitadas do território brasileiro apresentam histórico de acidentes. Essa configuração se dá
pelo fato de as áreas de risco de deslizamentos terem como requisitos relevo acidentado, regime de chuvas
intensas ou prolongadas e um contexto de busca por moradia, principalmente oriunda de população de baixa
renda (BARREIROS, 2022). A Figura 1 apresenta a distribuição dos municípios com registro de acidentes do
IPT com base na série histórica entre os anos 1988 e 2022.

277
Figura 1 - Municípios com registros de mortes por escorregamentos no Brasil (fonte: IPT, 2022, elaborado
pelos autores).

Por essa Figura, também é possível observar que há concentração de mortes em alguns municípios ou
regiões, como nos casos da Região Serrana do Rio de Janeiro, Vale do Itajaí, regiões metropolitanas de São
Paulo e do Recife, assim como nas cidades do Rio de Janeiro, Angra dos Reis, Niterói, Maceió e Salvador.
A partir do PAC Contenção de Encostas no ano de 2010, foram destinados recursos para os municípios
mais críticos a deslizamentos com vistas à elaboração de projetos de engenharia e execução de obras. A Tabela
1 apresenta valores e número de municípios contemplados por modalidade de atendimento, desconsiderando
os contratos cancelados até julho de 2022.

Tabela 1 – Valores e número de municípios contemplados por modalidade de atendimento (fonte: MDR,
2022, elaborado pelos autores).

Municípios
Modalidade Recursos (R$)
apoiados
Elaboração de projetos de estabilidade de 36.708.105 62
taludes
Execução de obras de contenção de encostas 2.147.017.650 56

3 Descrição dos cursos e metodologia

Os cursos foram concebidos visando à transferência de conhecimento técnico-científico de profissionais


especializados aos servidores efetivos, com formação em engenharia civil ou afim, que atuam em órgãos públicos
da esfera municipal, estadual ou federal, para a melhoria dos processos de contratação, análise e aprovação de
Projetos de Estabilização de Encostas ou Taludes, e manutenção de obras realizados com recursos públicos.
O Projeto foi uma iniciativa do Ministério das Cidades em parceria com a Universidade Federal de
Pernambuco, através do Gegep/UFPE, que realizou a coordenação geral das atividades junto a instituições de
ensino e pesquisa, de acordo com a região contemplada. A ideia foi concentrar os cursos em cidades-polo, a fim
de atrair mais representantes dos municípios da região, evitando grandes deslocamentos. O público-alvo
corresponde a servidores públicos efetivos, quando possível, com formação em engenharia civil ou afim e que
atuam em órgãos públicos da esfera municipal, estadual ou federal na prevenção de risco de deslizamentos de
encostas.

Quadro 1 apresenta as seguintes cidades para abrigar os cursos de capacitação e respectivas áreas de
abrangência.
278
Quadro 1 – Cidades-sede e área de abrangência dos cursos (fonte: os autores).
Uf Cidade Abrangência
RJ Rio de Janeiro Região Metropolitana
PE Recife Região Metropolitana
SC Florianópolis Região Metropolitana e Vale do Itajaí
RJ Petrópolis Região Serrana do RJ
SP São Paulo Região Metropolitana e Baixada Santista
BA Salvador Região Metropolitana
MG Belo Horizonte Região Metropolitana e Ouro Preto

Com carga horária total de 60 horas, cada curso é composto por módulos semanais de 20 horas, a ser
implementado no período de três meses: um módulo por mês, sem custos referentes à inscrição e material
didático, cabendo ao convidado as despesas quanto ao deslocamento, alimentação e hospedagem. As aulas são
ministradas em um turno por dia com vistas a não sobrecarregar os técnicos municipais, e dessa forma, prevenir
evasões e permitir melhor aprendizado.
Os cursos incorporaram em seu corpo docente, sempre que possível, profissionais da região ou de outros
locais de maior proximidade, considerando formação acadêmica e ampla experiência compatíveis com o
conteúdo programático. O conteúdo foi compartimentado em três módulos, conforme indica o Quadro 2. Todo o
conteúdo foi desenvolvido através da parceria MCidades - Gegep/UFPE, sendo devidamente seguido em todos
os cursos e correspondentes corpo docente, sob supervisão e acompanhamento do Gegep/UFPE e MCidades.

Quadro 2 – Conteúdo programático resumido dos cursos (fonte: os autores).


Módulo I Módulo II Módulo III
 Processos Geodinâmicos
 Conceitos e etapas de  Elaboração de Termos de
 Conceitos básicos de Geologia
elaboração de Projetos Referência
 Conceitos básicos de Geotecnia
 Método Básico de  Análise de Projeto
 Investigação Geológica – Empuxo / Tipos de  Fiscalização /
Geotécnica soluções Acompanhamento
 Análise de Estabilidade /  Projeto e orçamento  Sistema de Gestão de Risco
Conceitos de Risco
 Manutenção Pós-obra

4 Resultados

O Projeto foi implementado em sua íntegra, compreendendo a execução de sete cursos, divididos em três
módulos presenciais. O Quadro 3 apresenta as cidades que abrigaram os cursos, as datas de realização dos
módulos, o corpo docente e a respectiva instituição de origem, bem como o número de municípios representados.
Participaram ao todo desse Projeto, oito universidades, quatro institutos de pesquisas ou fundações, quatro
consultorias, além das participações do DNIT, e prefeituras. Os cursos contabilizaram 79 municípios
representados.

Quadro 3 – Cidades, datas dos módulos, corpo docentes e municípios representados (fonte: os autores).
Municípios
Município Módulo I Módulo II Módulo III Corpo docente
representados

Rio de Janeiro 26 a 30/09/16 24 a 28/10/16 21 a 25/11/16 UFRJ, GEO RIO e UERJ 14

Petrópolis 08 a 12/05/17 05 a 09/06/17 03 a 07/07/17 UFRJ, GEORIO e UERJ 8


USP, IPT e consultor
São Paulo 02 a 06/10/17 06 a 10/11/17 04 a 08/12/17 14
independente
27/11 a
Recife 25 a 29/09/17 23 a 27/10/17 UFPE, IFRN, DNIT e UERJ 10
01/12/17
Florianópolis 10 a 14/09/18 22 a 26/10/18 19 a 23/11/18 UFSC, IFSC, UFPE e UERJ 16

Belo Horizonte 16 a 20/09/19 21 a 25/10/19 25 a 29/11/19 UFMG e consultor independente 13

279
Municípios
Município Módulo I Módulo II Módulo III Corpo docente
representados

UFBA, UFPE, UESC-BA, UERJ


Salvador 23 a 27/09/19 21 a 25/10/19 18 a 22/11/19 4
e consultor independente

Foram realizadas 253 inscrições, tendo aproximadamente 36 participantes por curso, dos quais 211 alunos
foram aprovados. O curso de capacitação desenvolvido teve como meta a assiduidade dos profissionais que foram
selecionados e inscritos no curso, sendo reprovados aqueles que não deram continuação no aprendizado e no
acompanhamento das aulas presenciais. A Figura 2 apresenta o resultado gráfico entre aprovados e não
aprovados, bem como um exemplo de certificado do curso. Como forma de capacitação e acompanhamento
direto, todos os cursos realizados contaram com a presença de um representante técnico do MCidades.

Figura 2 – Resultados em relação aos alunos inscritos e modelo de certificado (fonte: os autores).

Desde a concepção original do Projeto, foi cogitada a possibilidade de se elaborar um Termo de


Referência balizador, a fim de facilitar a contratação de projetos de estabilidade de taludes, sobretudo pelas
prefeituras municipais. Esse Termo encontra-se em desenvolvimento e deve incorporar as contribuições feitas ao
longo da implementação dos cursos pelos instrutores e alunos.
Outro documento que está sendo desenvolvido é a Cartilha de Manutenção Pós-Obra, que tem por
objetivo o acompanhamento dos procedimentos adotados na execução do projeto, assim como os principais
fatores de importância em sua manutenção visando a prevenção de acidentes.

5 Avaliação do curso de capacitação

Ao término da etapa de realização dos cursos de capacitação, foi realizado um levantamento das
avaliações realizadas em todos os cursos de capacitação, considerando a organização e aspectos gerais, avaliação
dos cursos e do corpo docente. Essas informações foram sistematizadas em forma de gráficos (Figura 4). Os
gráficos representam aproximadamente 200 avaliações de técnicos e profissionais que participaram dos cursos
realizados nas sete cidades-polo, conforme a Figura 4.
O primeiro curso de capacitação realizado no Rio de Janeiro – RJ, como experiência piloto, também
obteve resultados significativos, como apresentado na Figura 5.

280
Figura 4: Avaliação geral dos participantes referente aos cursos de capacitação

Figura 5: Avaliação - Curso Análise e Aprovação de Projetos de Estabilidade - Módulo I


26 a 30 de setembro de 2016 - Rio de Janeiro-RJ

281
Conforme demonstrado na Figura 5, o curso de capacitação atingiu altos índices de qualidade,
considerando a didática, abordagem e corpo docente altamente qualificado, o que foi possível através da parceria
do Gegep/UFPE com diversos centros de estudo e pesquisa de renome no Brasil. A Figura 6, a título de exemplo,
apresenta um conjunto de sugestões elaborado por um dos participantes dos cursos. A avaliação dos técnicos que
participaram do curso de capacitação foi dividida em três etapas, correspondente aos módulos ministrados. Essas
atividades deram suporte à coordenação técnica e administrativa do projeto dos cursos para avaliar a assimilação
dos conhecimentos por parte dos alunos. Na Figura 7, tem-se um dos exemplos das atividades aplicadas.

Figura 6: Sugestões e críticas quanto ao curso de capacitação realizado no Rio de Janeiro.

Figura 7: teste de avaliação dos técnicos no curso de capacitação realizado em Florianópolis-SC.


282
6 Conclusões e considerações finais

O presente artigo procurou apresentar a experiência inédita de desenvolver um programa de capacitação


de técnicos governamentais, sobretudo das prefeituras municipais, na aprovação e contratação de projetos de
estabilidade de taludes. A metodologia construída e aplicada se mostrou exitosa em adaptar-se a conteúdos
voltados para as realidades e necessidades das prefeituras brasileiras; na seleção de uma cidade mais central e
representativa para atrair representantes de outros municípios, e na elaboração de uma programação horária que
permitiu o deslocamento diário dos alunos na maior parte dos casos, reduzindo custos e despesas com reservas
de hotéis e alimentação.
O principal ponto para a realização de um curso de capacitação com nível elevado de absorção de
conteúdo, se deu pelo fato de que todos os cursos desenvolvidos mantiveram o mesmo conteúdo programático,
para que desta forma os profissionais técnicos e também o corpo docente pudesse manter a estrutura do curso de
capacitação padronizada, com alto nível de desenvolvimento e atingindo ótimos resultados.
Trata-se de uma iniciativa de caráter estratégico que pode ser expandida e adaptada para outros conteúdos
com vistas ao alinhamento do conhecimento teórico com a prática de elaboração de projetos, considerando ainda
a realidade de nossas prefeituras. Assim, entende-se como oportuno e desejável a continuidade, ampliação do
atendimento e o aprimoramento do presente Projeto.
Em acréscimo, é importante registrar que há atualmente diversas plataformas virtuais desenvolvidas e
conectadas com universidades em todo o globo que operam conteúdos permanentes na Internet, sem o risco de
descontinuidades ou interrupções por razões orçamentárias. Considerando a demanda represada para cursos de
capacitação com tal especificidade de conteúdo e a escassez de recursos inerente ao setor público, a adaptação
dos cursos para a modalidade à distância pode servir como uma oportunidade de ampliar a capacitação do
público-alvo e dar continuidade a essas atividades.

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Institucional no Município do Jaboatão dos Guararapes -
PE.
Lucena, Rejane¹
Doutoranda do Centro de Tecnologia e Geociências – CTG. Integrante do Grupo de Engenharia
Geotécnica de Encostas, Planícies e Desastres – GEGEP/UFPE. Recife - PE lucenarejane@hotmail.com

Coutinho, Roberto Quental²


Professor Doutor do Centro de Tecnologia e Geociências – CTG. Coordenador do Grupo de Engenharia
Geotécnica de Encostas, Planícies e Desastres – GEGEP/UFPE. Recife, PE.
robertoqcoutinho@gmail.com

Tema do trabalho

3) Mapeamento Geotécnico e Gestão de Risco

RESUMO:

Com o aumento das emergências climáticas no contexto urbano, se faz necessário analisar em que
medida às cidades estão organizando instrumentos a fim de fortalecer a sua atuação institucional e
monitorar as ações para mitigação, preparação e reposta às emergências, envolvendo comunidades e
estimulando mudança de atitudes para construção da resiliência aos desastres. Este estudo é parte
integrante de pesquisas desenvolvidas pela UFPE através do Grupo de Engenharia Geotécnica de
Encostas, Planícies e Desastres (GEGEP) e faz parte da tese de doutorado na temática de governança de
riscos de desastres no município do Jaboatão dos Guararapes – PE (Lucena, 2019). Neste artigo, será
apresentado um exemplo de indicadores elaborados com a finalidade de auxiliar na avaliação das
capacidades para gestão integrada nas emergências. Para isso, foi realizada uma avaliação do grau de
resiliência institucional da gestão municipal do Jaboatão dos Guararapes e sua efetividade no
desenvolvimento de ações durante o desastre ocorrido no período de maio e junho de 2022. Conclui-se
que a gestão municipal, foi caracterizada com grau de resiliência médio, avaliando-se a necessidade da
implantação de sistema de alerta e alarme junto às comunidades. Além, da necessidade de ferramentas
necessárias para o avanço no nível de resposta aos desastres.

Palavras-chave: Gestão em situação de emergência, resiliência institucional, deslizamentos.

ABSTRACT

With the increase in climate emergencies in the urban context, it is necessary to analyze the extent to
which cities are organizing instruments in order to strengthen their institutional performance and
monitor actions to mitigate, prepare and respond to emergencies, involving communities and stimulating
change in attitudes. for building disaster resilience. This study is an integral part of research developed
by UFPE through the Geotechnical Engineering Group of Slopes, Plains and Disasters (GEGEP) and is
part of the doctoral thesis on the theme of disaster risk governance in the municipality of Jaboatão dos
Guararapes - PE (Lucena, 2019). In this article, an example of indicators developed with the purpose of
assisting in the assessment of capacities for integrated management of emergencies will be presented.
For this, an evaluation of the degree of institutional resilience of the municipal management of Jaboatão
dos Guararapes and its effectiveness in the development of actions during the disaster that occurred in

284
the period of May and June 2022 was carried out. medium degree of resilience, evaluating the need to
implement an alert and alarm system in the communities. In addition, the need for tools necessary to
advance the level of disaster response.

Keywords: Management in emergency situations, institutional resilience, landslides.

1.INTRODUÇÃO

O agravamento dos riscos de desastres tem contribuído, sobremaneira, para às emergências climáticas.
Essa realidade tenderá a evoluir, considerando-se que até 2050, 70% da população possivelmente viverá
nas cidades (UN-HABITAT, 2016). Aliado a isso, às ocupações desordenadas, que tem sido uma marca
de degradação nas cidades, bem como, a ocupação sem prévio planejamento e orientação técnica na
construção favorecem a formulação de risco e desastres, traduzindo-se em graves problemas
socioambientais.
Refletindo-se sobre a complexidade das emergências climáticas, a tentativa da construção de cidades
mais resilientes e preparadas para o enfrentamento dos riscos e desastres representa um grande desafio
para os governos locais e especialistas, na convergência de ações intersetoriais que envolvam partes
interessadas e a população no processo de definição de estratégias e tomada de decisões com soluções
efetivas para redução de riscos de desastres e minimização dos impactos negativos que os desastres
provocam no cotidiano das pessoas. Esta realidade, revela que se tornou cada vez mais premente a
prevenção e preparação no nível local, com comunidades envolvidas na preparação para desastres e
equipes tecnicamente fortalecidas na resposta, com estratégias predefinidas para atuação na gestão dos
riscos e na atuação frente aos desastres. Conjugado a isso, governança de riscos de desastres representa
o fortalecimento dos processos decisórios por meio da participação e integração dos atores sociais,
promove a colaboração e parceria entre mecanismos e instituições para a implementação de
instrumentos relevantes para a redução do risco de desastres e para o desenvolvimento sustentável
UNDRR, 2019).
Envolver a população, que sofre com as consequências das emergências climáticas, amplia
possibilidades na efetivação de mudanças de atitudes em relação a representação do risco e a construção
da resiliência. Este artigo, nesse contexto, traz uma discussão teórico conceitual sobre a resiliência
institucional e comunitária para gestão de riscos e desastres em áreas que sofrem deslizamentos no
município do Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco – Brasil. Utilizou-se indicadores de resiliência a
riscos e desastres que foram criados a partir da análise de instrumentais e aspectos documentais, bem
como, observações no âmbito institucional e comunitário.
A resiliência para este estudo significa a construção de capacidades, que são significativas para que a
comunidade possa suplantar e se reerguer mediante situações abruptas, ou riscos socioambientais
vivenciados no cotidiano. Consiste, essencialmente, em assegurar que o Estado, a comunidade e as
instituições globais se empenhem em capacitar e proteger os indivíduos. (PNUD, 2014).
Converge com os princípios do Marco de Sendai (2015-2030) e com o artigo 7 do acordo de Paris que
reforça a importância de aumentar a capacidade de adaptação, fortalecer a resiliência e reduzir as
vulnerabilidades à mudança do clima, no qual, compreende-se que deve haver um estímulo à construção
da aprendizagem para compreensão de que os processos são globalizados e que as atitudes possuem
repercussões planetária e sendo assim, se faz necessário ações socioeducativas para o desenvolvimento
das percepções de risco e junto a estas, a capacidade de resistir aos danos, e ao mesmo tempo, de
construir instrumentos que fortaleçam a resiliência das pessoas e do ambiente urbano.

2.CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO
O município do Jaboatão dos Guararapes está localizado na Região Metropolitana do Recife (RMR).
Limita-se ao norte com o município de Recife, Camaragibe e São Lourenço da Mata, ao Sul com Cabo
de Santo Agostinho, a leste com o Oceano Atlântico e a oeste com o município de Moreno (FIGURA
01).

285
Figura 01: Mapa de localização do município

O município apresenta uma altimetria que varia de 0 a 248m, e declividade entre 0° a >45° que
corresponde as classes muito baixa a extremamente alta. No entanto, os processos de deslizamentos
acontecem frequentemente na região de altimetria acima de 58m e declividades a partir de 17°, que estão
inseridas nas classes alta e extremamente alta.
Coutinho (2018) destaca que a geologia, nas áreas de recorrência de deslizamentos, é constituída pela
Formação Barreiras (Leste e Nordeste) e embasamento cristalino. Este com presença de rochas
fraturadas devido à proximidade com o Lineamento Pernambuco. Adicionalmente, nas áreas planas em
contato com o Oceano Atlântico aparecem os sedimentos no contexto dos terraços marinhos
pleistocênicos. Essas rochas, de origem e idades diversas, quando expostas na superfície são submetidas
ao intenso intemperismo químico causado pelas fortes precipitações e temperaturas elevadas. A ação
desses agentes externos (chuva e temperatura) sobre o material de origem (rochas) tem como
consequência solos residuais relativamente espessos, conjugados as interferências antrópicas,
contribuem significativamente para suscetibilidade a escorregamentos e deslizamentos nos
assentamentos humanos.
Jaboatão dos Guararapes apresenta clima tropical, segundo a classificação de Köppen. A média de
temperatura é de 25.3 °C e a pluviosidade média anual de 1.660mm, sendo os meses de abril a julho
com precipitação média acima de 200mm, consequentemente é o período que ocorre o maior número
de deslizamentos anuais. Segundo Coutinho e Silva (2006) a água proveniente das chuvas tem
contribuição importante na dinâmica das águas de superfície, sendo por isto, na maioria dos casos, o
principal agente deflagrador dos processos de instabilização de taludes e encostas. Essa análise é
verificada no município do Jaboatão dos Guararapes, onde a partir de 30mm de chuva em 24h é
deflagrado o estado de observação e a Defesa Civil amplia o nível de monitoramento e as ocorrências
passam a ser registradas com maior intensidade quando se verifica índices de 50mm em 24h.

Na figura 02 é demonstrado deslizamento na comunidade de Monte Verde, bairro de Dois Carneiros,


uma das áreas mais atingidas no desastre caracterizado como chuvas intensas convectivas, de acordo
com a codificação brasileira de desastres – COBRADE. Na área de Monte Verde, foram registradas 439
ocorrências relacionadas a deslizamentos e desabamentos de edificações. Além disso, em todo território
do Jaboatão dos Guararapes, registrou-se 64 óbitos e de acordo com o Formulário de Identificação de
Desastres - FIDE do Município.

286
Figura 02: Área de deslizamento com vítima fatal.
Fonte: Defesa Civil, 2022.

Evidencia-se que no dia 28 de maio de 2022, o acumulado em 24h foi de 217,60 mm (e durante o referido
mês ultrapassou a média histórica dos últimos 30 anos. Esses deslizamentos são recorrentes nas áreas
de maior altitude e maior declividade, com substrato de Formação Barreiras e Complexo Gnáissico.

3. MATERIAL E MÉTODOS

Para este artigo, foi realizado um recorte em relação as ações de gestão para emergências que impactam
na resiliência institucional, demonstrando o grau de preparação para a atuação da gestão pública na
resposta aos desastres e os aspectos que contribuem no fortalecimento ou fragilidade da resiliência
comunitária em relação aos danos provocados pelos riscos e desastres.
Considera-se nessa análise, os princípios do Marco de Sendai (2015-2030) e a Lei 12.608/2012,
destacando-se as atribuições legais em relação a institucionalização de ações focadas na gestão integrada
dos riscos e na atuação em situação de emergência.
Serão apresentados os resultados do indicador de gestão para Emergências composto por 03
subindicadores, destacando que foi aplicado um questionário junto às áreas de defesa civil, saúde,
assistência, infraestrutura, meio ambiente e serviços urbanos. Além disso, também foi utilizado os dados
do formulário de identificação de desastres – FIDE e a base de dados do S2ID que tem como objetivo
qualificar e dar transparência à gestão de riscos e desastres, por meio da informatização de processos e
disponibilização de informações sistematizadas dessa gestão (Brasil, 2022).
O intuito de investigar as diretrizes e ações planejadas para resposta às emergências e como se
desenvolve os procedimentos intersetoriais na perspectiva das ações emergenciais, teve como
pressuposto o entendimento que uma boa atuação antes das emergências, fortalece o desencadeamento
e resultados mais eficazes durante a gestão do desastre.
Entende-se que as ações de mitigação contribuem, consideravelmente, para uma efetivação na redução
de riscos de desastres, e as intervenções estruturais e não estruturais são necessárias no território para
minimizar as vulnerabilidades locais e mitigar os riscos constituídos no âmbito do território.
Nesse caso, foram analisados os instrumentos utilizados para preparação das ações em desastres,
fazendo referência ao período de maio a junho de 2022 no município.
Na tabela 01, destaca-se o indicador de gestão para emergências e seus subindicadores, considerando
que o objetivo foi verificar a efetividade das ações para atuação em situação de emergência,
mensurando-se a capacidade de resiliência institucional da gestão municipal.
O grau de resiliência de cada indicador e subindicador, definiu-se a partir da efetividade das respostas.
Considerou-se a verificação das questões aplicadas no questionário, tendo sido atribuído uma
classificação, que a partir da média aritmética dos subindicadores resultou no grau de resiliência do
indicador.

287
No subindicador preparação para redução de riscos de desastres, avalia-se em que medida a
gestão municipal tem investido no monitoramento dos riscos e aplicado instrumentos para uma
melhor preparação tanto institucional, como comunitária.
No subindicador mitigação para redução de riscos de desastres, avaliou-se como tem sido
trabalhada a organização comunitária para atuar no enfrentamento de riscos e na ocorrência de
desastres, e no subindicador resposta às emergências, analisou-se os investimentos na
capacidade de gestão de crises e como tem sido a construção da resiliência diante dos problemas
enfrentados, pelo governo local e comunidade afetada.

Na tabela 01 - Indicador avaliado e objetivo

Indicador de Gestão para Emergências


Identificar a capacidade da gestão pública na atuação para
Preparação para RRD
Subindicador

emergências, ressaltando o nível de intersetorialidade e


descentralização para tratar com a operacionalidade do
atendimento à população, as parcerias estabelecidas para
Mitigação para RRD mitigação dos desastres, além, da capacidade de integração na
atuação da resposta à população em curto prazo em função da
magnitude do desastre. E por fim, medir a capacidade da
Resposta às Emergências infraestrutura em suportar os desastres e como a comunidade foi
impactada pela emergência climática.

Na tabela a 02, é possivel observar a faixa numérica do indicador gestão para emergências, que
foi utilizada para aferição do grau de resiliência institucional do indicador e subindicadores avaliados.
Os níveis de desempenho obtidos em relação a cada indicador podem resultar na classificação do grau
de resiliência em muito alto, alto, médio e baixo.

Na tabela 02 - Faixa numérica e grau de resiliência

FAIXA NUMÉRICA GRAU DE RESILIÊNCIA


3,25 < x ≤ 4,0 MUITO ALTO
2,5 < x ≤ 3,25 ALTO
1,75 < x ≤ 2,5 MÉDIO
1,0 < x ≤ 1,75 BAIXO

4.RESULTADOS E DISCUSSÃO DO INDICADOR DE GESTÃO PARA EMERGÊNCIAS

Nesta seção, apresenta-se o resultado do indicador de gestão para emergências, verificando-se como se
deu a atuação na gestão na mitigação e resposta aos desastres, com atenção a integração de processos
institucionais e procedimentos quanto aos aspectos que impactam na atenuação dos danos causados pelo
desastre, entendendo-se que a ocorrência de um fenômeno sobre determinada região deixa
consequências materiais e simbólicas à população atingida, altera a relação homem-natureza e é a partir
do impacto sofrido que se dará a ação e o trato da questão (Burton et al., 1993).
Na tabela 03 abaixo, demonstra-se o indicador de gestão para as emergências, com os resultados de 03
subindicadores que incluem resposta às emergências, preparação para redução e riscos de desastres,
mitigação para redução de riscos de desastres e a capacidade de preparação no tocante às ações
estruturais e sua resiliência aos desastres.

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Tabela 03 – Indicador de Gestão para Emergências

Grau de Resiliência
Gestão para Emergências
GR
Subindicador

Resposta às Emergências 1,8

Preparação para RRD 2,1


Mitigação para RRD 2,1
Grau de Resiliência do Indicador 2,0

Neste indicador, o grau de resiliência mensurado foi obtido considerando a média aritmética dos 03
subindicadores. Nesse sentido, verifica-se uma série de melhorias seja no que se refere aos aspectos
logísticos e humanos, seja em relação a organização institucional para atuação direta com a comunidade.
Entendendo que mesmo havendo instrumentos documentais que comprovam que há um trabalho
comunitário e investimentos na infraestrutura urbana, pela dimensão territorial do município, é
importante garantir uma maior abrangência nos investimentos para que haja uma amplitude na
capacidade de recuperação à crise provocada pelo desastre.
Observa-se que na atuação para emergências no desastre ocorrido no período entre maio e junho de
2022, a infraestrutura urbana do município do Jaboatão dos Guararapes sofreu danos à partir dos
impactos provocados pelas intensas precipitações pluviométricas e pela escassez de infraestrutura
urbana, e nesse sentido, se faz necessário avaliar as soluções aplicadas em relação a infraestrutura
analisando-se em que medida contempla o setor de risco e reduz as ameaças. Observou-se também a
importância de se realizar um plano de manutenção preventiva periódica das obras com o olhar em
intervenções de drenagem que favoreça o caminho das águas, contribuindo para a redução dos níveis de
impactos causados pelos desastres.
É necessário avaliar-se os investimentos nas ações estruturais e não estruturais, de modo que estes
contribuam para mitigação dos riscos que se apresentam antes que o desastre ocorra, e na sua ocorrência,
o nível de preparação seja maior e os impactos sejam reduzidos. É preciso avaliar-se também a forma
de ocupação das dessas áreas, o crescimento desordenado, o déficit habitacional sofrido historicamente
e a escassez de investimentos de décadas anteriores. Nesse cenário, os riscos são produzidos no
território, pela apropriação desigual de recursos por uma minoria e de limitações de acesso a eles
(Marchezini, 2020).
Essa configuração fez o município do Jaboatão dos Guararapes ocupar o 6º lugar no Brasil, em relação
a população exposta a risco de desastres (IBGE, 2018). Nota-se nessa avaliação uma fragilização na
resposta às emergências e na capacidade do poder público municipal responder com maior celeridade
aos problemas. Além disso, a falta de organização comunitária em algumas áreas, limita a construção
da resiliência comunitária aos desastres. Isso impõe a compreensão das complexidades da sociedade a
partir da distribuição dos riscos (Beck 2010) e dificulta a construção da resiliência na perspectiva da
recuperação de uma comunidade se mobilizar e se organizar.
Analisando-se essa realidade, verifica-se que é preciso tomar decisões estratégicas mais assertivas e
permanentes em relação a mitigação de riscos e a atuação nos desastres, entendendo-se que a população
deva ser integrada na formulação de processos decisórios com fins a garantir perspectivas inclusivas na
construção da resiliência institucional e comunitária.
De acordo com o FIDE do município, os desastres impactaram a população em larga escala, somando
385.557 pessoas afetadas. Observando-se as estimativas dos prejuízos econômicos públicos, com um
custo total estimado em R$ 34 milhões A infraestrutura urbana também sofreu danos na ordem de R$
201 milhões. No tocante aos serviços essenciais públicos prejudicados ou interrompidos, o Sistema de
limpeza urbana e de recolhimento e destinação do lixo somou um prejuízo na ordem de R$ 12 milhões.
Nesse desastre, de acordo com os dados da Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes, no período foram
realizadas ações integradas, onde se contabilizou mais de 5.850 vistorias, observando-se um passivo de
mais de 48% de atendimentos ainda a serem realizados. Em relação a assistência humanitária, foram
realizados 20.894 atendimentos médicos e vacinação, distribuídas mais de 11 mil cestas básicas;
distribuição de 2.489 colchões às famílias acolhidas em abrigos e pessoas desalojados.

289
Do ponto de vista da limpeza das vias urbanas e rurais, mais de 37 mil toneladas de entulhos foram
removidas para garantir o restabelecimento dos cenários afetados. Estima-se um total de prejuízos
econômicos no setor público na ordem de R$ 34 milhões e as aplicações na ordem de 126 milhões em
ações de infraestrutura e assistência humanitária. O que não é suficiente para resolver os problemas
gerados pelo desastre e as causas dos riscos e vulnerabilidades socioambientais constituídos no meio
local.
Neste processo, sabe-se que gestores enfrentam dificuldades no tocante a definição de estratégias que
possibilitem uma melhor atuação em relação ao uso e ocupação do solo, considerando a importância
salvaguardar a vida da população. Portanto, de acordo com Suassuna (2014) se faz necessário o
desenvolvimento de “ações de adaptação voltadas para a promoção de informações, que representa uma
boa ferramenta de auxílio à gestão na implementação de políticas públicas preventivas para a preparação
das cidades para o enfrentamento de situações de perigo, de modo a torná-las mais resilientes. Isso
favorece, tanto a contribuição das instituições que atuam no enfrentamento de riscos de desastres, como
o envolvimento da população, que ao mesmo tempo, sofre com as consequências dos riscos e desastres
e pode colaborar no efetivo processo de construção da resiliência.
Vê-se que a gestão municipal do Jaboatão dos Guararapes, possui uma estrutura organizacional e técnica
para o desenvolvimento de ações de Gestão de Riscos e Desastres como é preconizado no Marco de
Sendai (2015-2030). A GRD é conceituada pela EIRD/ONU (UNISDR, 2016) como sendo [...] o
conjunto de decisões administrativas, de organização e de conhecimentos operacionais desenvolvidos
por sociedades e comunidades para implementar políticas, estratégia e fortalecer suas capacidades a fim
de reduzir os impactos de ameaças naturais e de desastres ambientais e tecnológicos consequentes.
Nesse universo, entende-se que as medidas estruturais e não estruturais estão previstas no plano de
gestão de riscos de desastres do município e os riscos são mapeados e monitorados, o plano de
contingência prevê ações e procedimentos previamente pactuados e tecnicamente sistematizados e há
ações relacionadas a formação de núcleos comunitários de proteção e defesa civil – NUPDEC. Contudo,
verifica-se ainda, que estas ações ainda não são suficientes para garantir uma infraestrutura urbana
resiliente e uma proteção comunitária apropriada para resposta imediata à população.

CONCLUSÕES
Os resultados deste artigo, com fins na análise do indicador de gestão para emergências, demonstram
que o grau de resiliência institucional em relação ao indicador e aos subindicadores é média. Isso está
relacionado a capacidade da gestão municipal no enfrentamento dos riscos, na preparação e mitigação
no que se refere aos desastres, no socorro e na assistência à população, envolvendo diversos aspectos
que são fundamentais na gestão integrada do risco e atuação nos desastres.
Nessa avaliação deve ser analisado que o percentual de população exposta a riscos de desastres no
município é relevante e que a população residente em assentamentos precários de modo geral, possui
menor condição econômica e não dispõem de meios para custear moradias e outras infraestruturas
capazes de suportar desastres (LEAL FILHO et al., 2019).
No tocante a aplicação desta metodologia no Município do Jaboatão dos Guararapes, os entraves podem
ser percebidos a partir do entendimento sobre a importância da implementação de políticas públicas
voltadas à governança do risco e desastres, refletindo-se sobre a produção social do risco e atuando de
forma efetiva e continuada na mitigação dos riscos e vulnerabilidades.
Assim, a partir dos resultados, observou-se que a resiliência institucional depende de um maior preparo
relacionado a gestão integrada de riscos e uma melhor atuação nos desastres.
Os resultados apontam aspectos que sinalizam a importância da gestão municipal fortalecer a estrutura
do órgão de defesa civil e ampliar a gestão intersetorial para a governança de riscos e desastres. Por
outro lado, precisa investir em tecnologia de informação para gestão de resultados e mapeamento dos
riscos, investir na infraestrutura resiliente aos desastres de modo a reduzir os riscos e as vulnerabilidades,
bem como, desenvolver plano de comunicação com a comunidade esclarecendo a importância do tema
de autoproteção em situação de emergência, reduzindo a exposição ao perigo, reforçando a formação de
Núcleos de Proteção e Civil – NUPDECs para o conhecimento e compreensão do riscos (Marco de
Sendai 2015-2030) e assim, fortalecer o diálogo permanente com a população sobre os riscos e desastres.
Além disso, é fundamental e urgente se investir no plano integrado de gestão de riscos e desastres a
médio e longo prazo, focando na instrumentalização de processos decisórios, com definição de

290
estratégias e responsabilidades voltadas à implementação de políticas públicas para governança de riscos
de desastres, com captação de recursos e parcerias, avaliando-se a capacidade administrativa de suportar
os prejuízos gerados pelos desastres.

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