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COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS

XXXII - SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS - SNGB


SALVADOR - BA, 20 A 23 DE MAIO DE 2019
RESERVADO AO CBDB

MEDIÇÃO DE DEFORMAÇÕES COM INCLINÔMETROS NA


(RE)INSTRUMENTAÇÃO DE BARRAGENS

Adelaide Linhares de Carvalho CARIM


Engenheira Civil, M.Sc – UNESCA Construtora Ltda.

Débora Pimentel de Carvalho COSTA


Técnica em Edificações – ENEMAX Engenharia e Consultoria Ltda.

Natália Pereira de SOUZA


Engenheira Civil – NPS Engenharia

Teresa Cristina FUSARO


Engenheira Civil, M.Sc – FUSARO Engenharia e Consultoria Ltda.

RESUMO

Inclinômetros têm sido largamente utilizados no monitoramento de deslizamento de


taludes, para determinar a magnitude, taxa, direção e profundidade de
deslocamentos. A leitura destes instrumentos tem se tornado cada vez mais simples,
com o avanço da tecnologia das unidades de leitura. No entanto, a obtenção de
dados com qualidade e a análise das informações ainda constitui um desafio. O
presente artigo discute os principais pontos referentes à instalação e leitura destes
instrumentos, visando aumentar a qualidade dos dados obtidos. Discute ainda os
principais tipos de erros embutidos nas leituras e como podem ser tratados, de
forma que os inclinômetros sejam capazes de fornecer informações úteis ao
monitoramento de barragens e às tomadas de decisão de engenharia.

ABSTRACT

Inclinometers have been widely used in monitoring landslide movement, to determine


the magnitude, rate, direction, and depth of displacements. Reading these
instruments has become increasingly simple, with the improvement of the reading
units’ technology. However, obtaining data of quality and its analysis is still a
challenge. This article discusses the main points regarding the installation and
reading of the instrument, in order to increase the quality of the data obtained. It also
discusses the main types of errors embedded in the readings and how they can be
handled, so that the inclinometers can be able to provide useful information for dam
monitoring and engineering decision making.

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1. INTRODUÇÃO

O inclinômetro é um instrumento empregado no monitoramento da magnitude, taxa,


direção e profundidade de deslocamentos de taludes, que tem sido bastante
utilizado no monitoramento de barragens. O inclinômetro atualmente empregado foi
desenvolvido a partir de um aparelho idealizado em 1952 por S. D. Wilson, na
Universidade de Harvard, e sua comercialização teve início no final da década de
1950 pela Slope Indicator Company [1].

O monitoramento com inclinômetros é uma atividade que consome bastante esforço,


pois gera um grande volume de dados que necessitam de registro, processamento,
correção de erros e análise. Apesar disso, a experiência mostra que muitas vezes o
monitoramento com inclinômetros falha nos objetivos de apoiar nas decisões de
engenharia referentes à estabilidade de taludes, com gráficos de deslocamentos
indicando grandes movimentos onde estes na realidade são reduzidos ou mesmo
nulos.

Isto ocorre por falta de avaliação, seja por desconhecimento ou pela dificuldade em
tratar as leituras dos inclinômetros, de vários fatores humanos e do próprio
instrumento que geram diversos tipos de erros nos dados coletados. A precisão das
medidas depende de fatores como o projeto e fabricação do sensor, do cabo e da
unidade de leitura, da técnica de instalação, da qualidade e orientação do tubo, da
atenção e cuidado nas leituras e da manutenção do instrumento [1].

O presente artigo tem como objetivo destacar pontos sobre a instalação e coleta de
dados de inclinômetros, visando melhorar a qualidade das leituras. Apresenta os
procedimentos básicos de processamento dos dados (cálculo das medidas de
deslocamento) e principais gráficos utilizados na apresentação das informações.
Discute ainda os principais tipos de erro embutidos nas leituras e como podem ser
tratados.

2. DESCRIÇÃO DO INSTRUMENTO

O inclinômetro consiste de um torpedo (sonda) cilíndrico a prova d’água provido de 2


pares de rodas laterais (rodas guias), e aloja em seu interior um “sensor de
inclinação”. Para aquisição das leituras o torpedo é introduzido por meio de um cabo
elétrico (cabo de controle) em furo revestido com tubos de alumínio ou plástico, com
4 ranhuras perpendiculares para orientar as direções dos deslocamentos (Figura 1).

O torpedo ou sonda é preferencialmente fabricado em aço inoxidável e possui um


conector de cabo em uma das extremidades e dois conjuntos de rodas articuladas,
sendo que uma delas em cada conjunto é mais alta do que a outra e é denominada
“roda superior”. O torpedo carrega um “sensor de inclinação”, que pode ser um
potenciômetro rotativo, strain gages, nível eletrolítico ou servo-acelerômetros, sendo
os últimos os mais utilizados atualmente. Nestes, uma massa pendular balanceada
muito pequena, tem sua inclinação eletricamente anulada, sendo a voltagem
proporcional ao ângulo. Os servo-acelerômetros são razoavelmente robustos,
compactos e um par deles pode ser instalado em uma sonda biaxial delgada para o
emprego em furos verticais [1].

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O tubo do inclinômetro é usado para guiar o torpedo dentro do furo e possui quatro
ranhuras longitudinais dispostas perpendicularmente, denominadas conforme
mostrado na Figura 1. A instalação do tubo no local é feita de forma que um dos
eixos do conjunto de ranhuras seja posicionado na direção esperada do movimento.
Dessas ranhuras, a que está imediatamente à frente do movimento é denominada
“ranhura de descida” [2].

FIGURA 1: Partes do torpedo (imagem à esquerda), seção do tubo-guia com as


ranhuras e posição das leituras (ao centro) e fixador de cabo (a direita), adaptadas
de [2].

O tubo do inclinômetro está disponível em vários diâmetros e tipos de conexão. A


escolha do diâmetro do tubo depende do deslocamento previsto e de
particularidades na instalação [3]. Diâmetros maiores são preferidos quando os
movimentos esperados são grandes e são apropriados para zonas cisalhantes
delgadas ou múltiplas e para monitoramento a longo prazo. Os tubos de diâmetros
menores são utilizados para zonas cisalhantes com deslocamentos moderados e
previstos.

O cabo de controle do inclinômetro faz a conexão entre o torpedo e o dispositivo de


leitura e atua como uma fita métrica. Suas funções são transmitir sinais elétricos das
medições e controlar a profundidade do torpedo dentro do tubo do inclinômetro, para
posição correta das leituras. Faz parte dos acessórios do conjunto do inclinômetro
uma bobina para facilitar o manuseio, armazenamento e proteção do cabo de
controle.

Para garantir a precisão e a repetitividade das leituras em campo, o cabo é


graduado em intervalos de 0,5m e 1,0m, usualmente diferenciados por cor. Para
esta mesma finalidade, também pode ser empregado um suporte de cabo no tubo-
guia para regular a posição do cabo de leituras e/ou centralizar o torpedo, evitando
que o cabo possa ser danificado no contato com a parede do tubo no movimentos
de descida e subida do conjunto de leituras. Este suporte pode ser composto por
uma polia para reduzir a flexão do cabo e por uma braçadeira ou presilha para
manter o cabo firme em cada profundidade de medição ou uma peça única que
encaixa no topo do tubo.

Os primeiros consoles de leituras não permitiam que os dados coletados fossem


armazenados na caixa de leitura. Atualmente estão disponíveis unidades de
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aquisição de dados que registram as leituras a cada intervalo de profundidade e, nos
modelos mais atuais, permitem o cálculo das medidas (deflexão) e a plotagem de
gráficos do perfil do tubo e de deslocamentos. Estão disponíveis softwares para
correção de erros sistemáticos e que permitem a combinação de leituras de torção e
inclinação, alguns deles já embarcados na unidade de leitura (como o Slope
Indicator Digitilt RPP) [1].

3. PRINCIPAIS CUIDADOS DURANTE A INSTALAÇÃO

Em taludes de barragens de terra e enrocamento, o inclinômetro, quando


corretamente instalado, deve estender-se de 3 a 6 metros em fundação rochosa ou
em material considerado indeslocável em relação ao maciço. As leituras dos tubos
neste trecho considerado estável, poderão ser utilizadas como “dados de calibração”
para as medições e, também, para detectar e quantificar alguns tipos de erros.

Alguns procedimentos devem ser seguidos na instalação:

− Fixar, com rebites, na base do primeiro tubo a ser instalado, uma luva e um
tampão, para evitar que a calda de fixação ou material de preenchimento do
furo penetre para o interior do tubo. Descer os primeiros segmentos de tubos
no furo com a orientação perpendicular e paralela ao eixo da barragem;
− Para os primeiros tubos (parte fixa), preencher o espaço entre o revestimento
e o furo preferencialmente com calda de cimento e deixar secar. Pode
também ser usada areia com granulometria uniforme bem compactada. Usar
vibradores internos ao tubo para promover o adensamento da areia;
− Determinar com precisão a locação do centro do revestimento na elevação da
superfície do aterro (elevação e coordenadas horizontais) antes de adicionar
cada segmento de tubo;
− Instalar os tubos subsequentes com as luvas telescópicas e rebites
respeitando o espaço apropriado entre os tubos. Lançar e compactar o
material de aterro ao redor do tubo sempre acima do aterro já compactado da
barragem;
− Quando o tubo do inclinômetro for instalado em cascalho grosso e
enrocamentos é necessário que este seja protegido usando material mais fino
como areia junto ao tubo e material mais grosso entre a areia e o
enrocamento para fazer uma transição adequada;
− Instalar flange de recalque ao redor dos tubos para garantir a transferência
dos esforços do aterro ao instrumento.
− As emendas dos tubos-guia com as luvas telescópicas devem ser seladas
com cola apropriada e envolta por manta para evitar que material do aterro
penetre pelas emendas;
− Durante a instalação manter o topo do tubo sempre protegido com tampão.

Detalhes adicionais sobre instalação podem ser obtidos nos manuais dos
fabricantes.

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FIGURA 2: Preenchimento do furo com areia na passagem do tubo pelo
enrocamento e proteção da luva (a esquerda). Aterro do furo quando em material
argiloso (foto à direita). Fonte: Cemig GT – UHE Irapé

FIGURA 3: Verificação da verticalidade do tubo, coordenadas horizontais e cota de


topo. Fonte: Cemig GT – UHE Irapé

O desvio de alinhamento do tubo-guia é um problema sério e que exige correção


das leituras para ajustá-las aos eixos definidos como 0 e 90. Para tal, existem
equipamentos que permitem medir os desalinhamentos entre os tubos-guia
consecutivos, como o Spiral Sensor da Slope Indicator e o da Geokon. De posse dos
ângulos medidos, o cálculo de desvios e deslocamentos pode ser facilmente
corrigido.

4. COLETA DE DADOS DE INCLINÔMETROS

Para obtenção das leituras no inclinômetro, o torpedo é introduzido no tubo duas


vezes. Na primeira descida, as rodas superiores do torpedo são posicionadas na
ranhura A0 e, na segunda, o torpedo é girado 180° na horizontal, de forma que as
rodas superiores fiquem posicionadas na posição A180. Destaca-se que o eixo A
deve ser paralelo à direção do movimento principal esperado. No caso de barragens
espera-se maior movimento na direção montante/jusante, então, primeiro as rodas
superiores são inseridas na ranhura de jusante (A0) e depois na direção oposta
(A180).

Um dos acelerômetros do torpedo mede a inclinação no plano do conjunto de rodas,


que corresponde ao eixo “A”, e o outro mede a inclinação no plano oposto, eixo “B”.

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Desta forma, o primeiro conjunto de leituras corresponde a A0 e B0 e o segundo aos
valores de A180 e B180. A leitura será positiva quando o tubo estiver inclinado na
direção “0” (Figura 4).

FIGURA 4: Orientação para a execução das leituras, adaptado de [2].

O torpedo é introduzido lentamente até a profundidade máxima da composição de


tubos, tendo como referência as marcas no cabo de controle, para evitar solavanco
no sensor ao chegar no fundo do furo. É necessário aguardar 10 minutos para
equilíbrio térmico entre o sensor e o interior do tubo. Após este período, deve-se
posicioná-lo na profundidade definida de início das leituras e aguardar o sensor
indicar o sinal de estabilidade para registrar as leituras A0 e B0. Em seguida, puxar o
cabo para a posição da próxima leitura e proceder da mesma forma registrando as
leituras em cada intervalo, até que todos os tubos sejam lidos. Ao final do primeiro
levantamento, deve-se girar o torpedo de 180º e repetir o processo.

Após as leituras, enxugar bem o sensor com uma estopa ou flanela antes de
desacoplá-lo do cabo de controle para evitar a entrada de umidade. Após este
processo, acoplar o cap de proteção do sensor.

Quando as leituras forem realizadas em revestimentos com juntas telescópicas é


essencial que sejam realizadas sempre na mesma posição, tendo como referência a
base de cada tubo que compõe o instrumento. Para que isso ocorra é necessário
determinar a profundidade da base de cada segmento de tubo por meio da sonda de
recalque. Geralmente as leituras são realizadas na metade de cada tubo. Portanto,
para tubos com comprimento de 1,50 m a leitura deve ser tomada a 0,75m da base,
para evitar que o sensor seja posicionado com as rodas nas luvas telescópicas.

5. VERIFICAÇÃO PRELIMINAR DAS LEITURAS (CHECKSUMS)

A primeira avaliação dos dados é uma revisão das Checksums (somas de


verificação), que consiste na adição dos dois valores obtidos na mesma direção e
sentido oposto numa mesma profundidade [3]. Teoricamente estas somas deveriam
ser zero, pois as leituras possuem sinais opostos. Na prática, o resultado gera um
valor constante e um pequeno desvio padrão das somas indica a qualidade dos
dados. Assim, as Checksums fornecem uma maneira rápida de avaliar a qualidade
das leituras. Uma soma de verificação anormalmente grande pode indicar uma
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leitura incorreta. O desvio padrão das somas é uma medida do erro aleatório na
pesquisa.

Pequenas variações na soma são impossíveis de eliminar e são causadas pelas


condições da ranhura, zero-offset da sonda, precisão no posicionamento da sonda e
fatores humanos. Se forem encontradas diferenças grandes em uma determinada
profundidade, os dados podem ser corrigidos com base na média das demais
somas. Entretanto, se grandes valores de soma e variações ocorrem em todo o
conjunto de leituras, estas devem ser repetidas [3].

Segundo Mikkelsen [4], o desvio padrão usual para o eixo A é usualmente inferior a
8 (0,08mm) para o eixo A e inferior a 16 (0,16mm) para o eixo B, podendo até dobrar
para algumas instalações. O desvio padrão é maior para o eixo B devido à tolerância
na largura das ranhuras, que é de 0,76mm. Alguns autores [3] consideram que as
variações se tornam importantes quando o desvio padrão excede 5 a 10 unidades
da média das somas para o eixo A. Em geral, o desvio padrão das somas de
verificação não deve exceder 10 para o eixo A e 20 para o eixo B.

Cada conjunto de tubos tende a ter uma assinatura em termos de Checksum. Picos
no gráfico podem indicar inconsistências nas leituras ou podem ser uma
característica do tubo [5]. Por isso é interessante plotar esta soma e avaliar
mudanças no gráfico com o tempo, como mostrado na Figura 5. Salienta-se que
este gráfico não deve ser inclinado e sim o mais vertical possível.

FIGURA 5: Checksums para os eixos A e B em duas datas distintas, extraído de [4].

Pode ainda ser traçado um gráfico comparando as somas de verificação para


conjuntos de dados subsequentes com as somas iniciais (valores incrementais), com
o objetivo de eliminar a assinatura do tubo e revelar apenas as alterações nas
somas de verificação [5].

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6. CÁLCULO DAS MEDIDAS

O inclinômetro tem por objetivo medir a inclinação dos tubos de revestimento do furo
em intervalos definidos de profundidade. No entanto, o dispositivo de leitura exibe
“unidades de leitura”, que deverão ser transformadas no seno do ângulo por meio da
Equação 1. A constante do instrumento varia conforme a unidade de medida
empregada (sistema métrico ou unidade inglesa) e fabricante do equipamento.

Leitura = sen θ .Constante do Instrumento (1)

Após o cálculo do sen 𝜃, pode ser calculado o desvio lateral di em cada intervalo de
leitura, como mostrado na Figura 6 e Equação 2, onde L é o intervalo entre leituras.

Desvio di = L. sen θ (2)

Para traçar o perfil do tubo, os desvios são acumulados, como também apresentado
na Figura 6.

FIGURA 6: Cálculo dos desvios e desvios acumulados, extraído de [1].

Cabe aqui destacar a importância da execução das leituras nas direções 0 e 180º,
para eliminar zero-shift errors, erros relacionados a uma pequena alteração na
polarização da sonda do inclinômetro. Se o erro for sistemático, a tendência é um
valor constante adicionado a cada leitura. Neste caso, este erro pode ser eliminado
fazendo a combinação das leituras nas direções A0 e A180, e B0 e B180 (Equação
3) e calculando o desvio lateral conforme a Equação 4. Para o traçado do perfil do
tubo, os desvios devem ser acumulados de baixo para cima conforme a Equação 5.

Leitura "0" - Leitura "180"


Média das leituras ( Diff/2) = 2
(3)

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(Leitura 0- Leitura 180) L
Desvio corrigido(di ) = 2
x Constante do instrumento
(4)

Desvio acumulado (Defl) = ∑ di (5)

Deve ser observado que a constante do instrumento M, da Geokon, corresponde a


1
(Constante do instrumento) , devendo ser multiplicada diretamente para se obter o valor do
desvio.

TABELA 1: Cálculo do desvio lateral (Defl) para o eixo A, adaptado de Geokon [6].

Os deslocamentos, variações no desvio que indicam o quanto o tubo se moveu em


relação à sua posição original, são obtidos comparando a posição atual do tubo com
a sua posição inicial, conforme a Equação 6 e apresentado na Tabela 2.

Combinação das leituras (atual-inicial)


Deslocamento = 𝑥𝐿 (6)
2 x Constante do instrumento

TABELA 2: Cálculo do deslocamento para o eixo A, adaptado de Geokon [6].

Muito importante destacar que os fabricantes de inclinômetros empregam


terminologias diferentes para definir as movimentações. Tanto os desvios quanto os
deslocamentos são por vezes denominados de deflexão, exigindo atenção nos

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cálculos e análise de dados. Atenção também deve ser dada às constantes e
fórmulas de cálculo, que também variam de acordo com o fabricante.

No caso de instrumentos mais atuais, os cálculos apresentados são feitos


automaticamente por um software fornecido pelo fabricante do inclinômetro ou
mesmo estão embutidos na unidade de leitura. Em ambos os casos, os resultados
também são apresentados na forma de gráficos.

7. DIAGNÓSTICO DE ERROS SISTEMÁTICOS

A precisão das medições do inclinômetro depende de vários fatores, como o modelo


do sensor e a qualidade do sistema de revestimento, sonda, cabo e leitura, como
apresentado na Tabela 3.

Devido a estes fatores, segundo a Slope Indicator [5], a precisão do campo do


sistema é empiricamente de ± 7,6mm / 30m. Esse erro total é a combinação de erros
aleatórios (± 1,27mm / 30m) e erros sistemáticos (6,35mm / 30m). O reconhecimento
destes erros é importante na avaliação de pequenas movimentações, que podem
estar dentro da precisão do campo do sistema (erro esperado da sonda). Portanto,
entender os erros típicos que existem nos inclinômetros é importante para a análise
dos dados.

Torpedo e Unidade de
Acelerômetro Cabo Tubo-guia
rodas (sonda) leitura
• Polarização • Conectores • Marcação • Calibração • Inclinação na
(bias-shift) • Alinhamento • Mudança no • Variações instalação
• Alinhamentos mecânico comprimento devido à • Ranhuras não
mecânicos • Controle do temperatura paralelas
ponto de • Curvatura
leitura • Preenchimento do
espaço entre o furo
e o tubo (backfill)
• Juntas
• Detritos
• Largura da ranhura
• Referência do topo

TABELA 3: Fontes de erros nas medidas com inclinômetros, segundo a Slope


Indicator [5].

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FIGURA 7: Acurácia de inclinômetros, mostrando os erros aleatórios (linha azul) e os
erros sistemáticos (área verde), extraído de [8].

Segundo Mikkelsen [4], os erros sistemáticos mais comuns são o bias-shift error
(erro de polarização), erro de rotação, erro de profundidade e erro de sensibilidade.
Estes erros geralmente são identificados empregando os seguintes tipos de gráficos:

− Gráfico de desvio acumulado (diagnóstico e correção de erros de rotação);


− Gráfico de desvio por intervalo (detecção de erros de profundidade);
− Checksums (somas de verificação) e Difference Checksum (avaliação da
qualidade dos dados).

Estes gráficos permitem a identificação visual de possíveis erros sistemáticos e


ajudam no cálculo das correções, como descrito a seguir:

− Erro de polarização (Bias-Shift Error) - está relacionado a uma pequena


alteração na polarização da sonda do inclinômetro e, mesmo se ela for
colocada numa posição absolutamente vertical, não será obtida a leitura
“zero”. Este erro geralmente é eliminado somando as leituras nas direções A0
e A180. No entanto, pode estar presente se houver uma alteração na
polarização entre as passagens opostas pelo tubo (A0 e A180) ou se a
passagem oposta não for executada.

Se o erro for sistemático, a tendência é um valor constante adicionado a cada


leitura e aparece como um componente linear na plotagem, como mostrado
nas Figuras 8 e 9. Os checksums seguem o mesmo padrão do gráfico de
deslocamento incremental. Exemplos de correção do bias-shift error podem
ser obtidos em [5].

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FIGURA 8: Alterações nos gráficos de deslocamento devido ao bias-shift error,
adaptado de [5].

FIGURA 9: Exemplo de correção do bias-shift error, adaptado de [5].

− Erro de rotação - é devido a uma pequena alteração no alinhamento do eixo


de medição da sonda, de forma que o acelerômetro do eixo A fique sensível à
inclinação do eixo B. É o desalinhamento do acelerômetro relativo às rodas
da sonda, sendo que a componente B na leitura do eixo A é um erro de
rotação. Este erro é importante quando se tem a combinação do tubo
instalado com uma inclinação significativa (superior a 3%) a partir da vertical e
a mudança no alinhamento do sensor ocorre após a leitura inicial.
Os erros de rotação aparecem como uma curva semelhante nos gráficos de
deslocamento acumulado e de desvio acumulado.

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Cabe destacar que o termo rotação aqui empregado se refere à mudança no
eixo de medição da sonda e não à ocorrência de espiralação do tubo ou falha
na orientação das ranhuras.
Exemplos de correção do erro de rotação também podem ser obtidos em [5].

FIGURA 10: Exemplo de correção do erro de rotação, extraído de [5].

− Erro de profundidade - trata-se da combinação da curvatura do tubo e


alterações no posicionamento vertical da sonda. É causado por alterações no
comprimento ou nas marcações do cabo, por alterações no comprimento do
tubo devido a recalques ou pela curvatura do tubo. Correções, ainda que
parciais, podem ser feitas se os erros de deslocamento vertical são
conhecidos com precisão.

Este erro pode ser identificado graficamente quando os deslocamentos são


exagerados, “espelhados”, compensados verticalmente, e os gráficos de
desvio incremental e deslocamento acumulado são semelhantes.

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FIGURA 11: Exemplo de gráficos indicando erro de profundidade, extraído de [5].

− Desvio de sensibilidade - segundo Mikkelsen [4] é o erro menos comum e


geralmente apenas a calibração na fábrica consegue identificá-lo.
Esse erro é diretamente proporcional à magnitude das leituras. A experiência
mostra que em vários casos o erro é de 1 a 2%, variando entre as campanhas
de leituras, mas permanecendo relativamente constante em uma mesma
campanha.

8. GRÁFICOS UTILIZADOS NA ANÁLISE DOS DADOS

Os dados obtidos e plotados em gráficos devem ser analisados criteriosamente, de


forma a validar a precisão das informações obtidas.

Os gráficos usualmente empregados para analisar o comportamento são:

− Gráfico de Deslocamento Acumulado - exibe a deformação lateral acumulada


ao longo da profundidade, iniciando na parte inferior do tubo e somando
incrementos de deslocamento para cada intervalo medido até a superfície do
solo;
− Gráfico de Deslocamento Incremental - mostra a magnitude da mudança em
cada profundidade de leitura;
− Gráfico de Deslocamento x Tempo.

O Gráfico de Deslocamento Acumulado permite identificar facilmente os


deslocamentos de cisalhamento, que aparecem abruptos uma vez que a escala
horizontal não é proporcional à escala vertical. No entanto, se não houver um plano
de cisalhamento e o gráfico mostrar uma inclinação geral, o erro sistemático também
acumulado pode ser responsável pela inclinação.

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Já o Gráfico de Deslocamento Incremental exibe o movimento em cada intervalo
de leitura. Um pico indica um movimento significativo e o crescimento no pico indica
movimento contínuo. O gráfico de deslocamento incremental minimiza qualquer erro
sistemático, porque cada ponto plotado contém apenas uma instância do erro.

FIGURA 12: Gráfico de Deslocamento Acumulado e de Deslocamento Incremental,


adaptado de Slope Indicator [5].

O Gráfico de Deslocamento x Tempo explicita a taxa de movimentação. Uma


inclinação acentuada mostra movimento de aceleração. Assim que for identificada
uma zona de deslocamento, este tipo de gráfico deve começar a ser traçado para
definição da taxa de deslocamento. Assim como o gráfico de deslocamento
incremental, o gráfico de deslocamento x tempo também não acumula erros
sistemáticos.

FIGURA 13: Gráfico de Deslocamento x Tempo, adaptado de [5].

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Como descrito anteriormente, as bases para a correção dos erros são dadas por [5]:

− Cada leitura deverá conter duas descidas da sonda, nas direções A0 e A180;
− Os tubos-guia deverão estender-se 3 a 6m dentro de material considerado
estável, para permitir, pelo menos, 5 a 10 leituras estáveis no fundo para
ajudar a identificar e quantificar erros sistemáticos;
− Na representação gráfica, qualquer pequeno deslocamento que se assemelhe
a alguma das formas (assinatura) de erros sistemáticos deve ser investigado
como erro.

As escalas empregadas nos gráficos são relevantes na análise dos dados. O uso de
escalas horizontais exageradas deve ser evitado, porque os erros são ampliados e
podem levar a interpretações errôneas [2]. Os programas gráficos aplicam
automaticamente escalas para corresponder aos valores mínimo e máximo em uma
série de dados. Isto pode resultar em gráficos representativos apenas de ruídos
quando os dados são muito bons e dentro da faixa de erro [7].

Escalas exageradas podem ser úteis para trabalho analítico e correção de erros,
mas para apresentação final, é mais apropriado usar uma escala que minimize a
faixa de erro. Para furos de 30m, uma escala de ± 25 ou 50 mm é sugerida por [5].

Também deve-se ter cuidado com gráficos de deslocamento plotados sobre a seção
de uma barragem. Uma vez que a ordem de grandeza da altura da barragem
(metros) é diferente da dos deslocamentos (geralmente milímetros ou centímetros),
as escalas usadas na representação são diferentes.

FIGURA 14: Gráfico de Deslocamento Acumulado traçado sobre a seção de uma


barragem. Notar a diferença de escala entre a barragem e os deslocamentos.

A análise dos deslocamentos geralmente é feita utilizando os gráficos de


deslocamento incremental, pois o gráfico de deslocamentos acumulados também
acumula os erros.

9. CONCLUSÃO

A precisão das medidas com inclinômetros é altamente dependente do equipamento


empregado, da instalação e procedimentos de coleta de dados e do correto

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processamento e análise dos dados. Nas análises dos resultados, qualquer pequeno
deslocamento na representação gráfica que se assemelhe a alguma das formas de
erros sistemáticos deve ser investigado como erro.

Os inclinômetros podem ser úteis na identificação e interpretação da movimentação


de taludes, desde que instalados, lidos e analisados adequadamente. A análise dos
dados pode ser bastante complexa e, apesar dos avanços no entendimento dos
tipos de erros e suas correções, há necessidade de continuidade de estudos nesta
área.

10. PALAVRAS-CHAVE

Inclinômetro, instrumentação, deflexão, deslocamento, erros sistemáticos.

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] GREEN, G.E., MIKKELSEN, P. E. (1988) - “Deformation Measurements with


Inclinometers”. Transportation Research Record. 1169, TRB, National
Research Council, Washington D.C.

[2] Slope Indicator (2011) – “Digitilt Inclinometer Probe Manual, 11/2011”.

[3] Transportation Research Board of The National Academies (2008) – “Use of


Inclinometers for Geotechnical Instrumentation on Transportation Projects.
State of the Practice”. Number E-C129.

[4] MIKKELSEN, P. E. (2003) – “Advances in Inclinometer Data Analysis”.


Symposium on Field Measurements in Geomechanics, FMGM 2003, Oslo,
Norway.

[5] Slope Indicator (2001) - “Inclinometer Course Booklet”. Disponível em


<https://durhamgeo.com/services/inclinometer-course-syllabus/coursebooklet/>.
Acesso em 24/02/2019.

[6] Geokon (2018) – “Instruction Manual. Model GK-604D. Inclinometer Readout


Application. 2016-2018”. Doc Rev V, 11/13/18. Disponível em:
<https://www.geokon.com/content/manuals/GK604D_Digital_Inclinometer_Syst
em.pdf>

[7] JENG, C.J., YO, Y.Y., ZHONG, K. (2017) - “Interpretation of slope displacement
obtained from inclinometers and simulation of calibration tests”. Natural
Hazards, June 2017. Disponível em
<https://link.springer.com/article/10.1007/s11069-017-2786-6>

[8] MIKKELSEN, P.E (2007) – “Inclinometer Data & Recognition of System Errors”.
Short Course, University of Florida, USA.

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