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CORREIA TRANSPORTADORA - ACOMPANHAMENTO DO DESGASTE DAS COBERTURAS

Willian Castro
29 artigos 
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Engenheiro Mecânico | Manutenção |
Confiabilidade | Gestão de Ativos
16 de outubro de 2021

INTRODUÇÃO

Um dos grandes desafios na manutenção de correia transportadora é ser assertivo no momento exato
de sua troca, ou seja, saber com precisão o final de vida útil da correia. Fazer esta estimativa de vida útil
é complexo devido às variáveis operacionais que podem afetar o desempenho da correia, mas é de
grande importância para as empresas ter esta informação para obter melhor planejamento e
confiabilidade nas operações, a fim de fazer as substituições no momento certo, além de manter níveis
de estoques adequados.

Frequentemente correias perdem vida útil e consequentemente sua função durante operação da planta
provocando paradas inesperadas e perdas produtivas. Situações em que correias são trocadas antes do
final de vida útil também acontecem e pode fazer parte da estratégia de manutenção da organização,
como por exemplo, aproveitar a oportunidade de parada por manutenção preventiva, visto que a correia
em questão não terá condições de operar até a próxima parada. 

Atualmente, os métodos mais utilizados nas organizações são estimativas de fornecedores, históricos de
vida útil, experiência da equipe técnica, ou algum tipo de monitoramento, como exemplo, a técnica
preditiva de ultrassom.
A técnica de monitoramento por ultrassom vem sendo muito utilizada no acompanhamento do
desgaste das coberturas da correia, principalmente na cobertura superior, onde normalmente o desgaste
acontece. Em condições normais de operação, a cobertura superior sofre o maior desgaste devido à
ação abrasiva causada pelo carregamento do minério através do chute de alimentação sobre a cobertura
da correia quando em movimento. Um perfil de desgaste normal é mostrado na figura 01.

Ressalta-se que este tipo de acompanhamento não é comum ser feito na cobertura inferior, visto que é
uma região onde o desgaste é menos intenso, e caso esteja acontecendo, é sinal de alguma anomalia no
transportador que precisa ser investigado.

Em resumo, a técnica de ultrassom utiliza como princípio a emissão e recebimento de ondas


ultrassônicas para fazer a leitura no interior das peças que estão sendo medidas. Em correia
transportadora as medições são feitas pela seção transversal (largura da correia) para medir a sua
espessura conforme figura 02.

Recursos necessários

Inicialmente, para conseguir fazer as leituras de desgaste da cobertura da correia é preciso ter os
seguintes recursos, sendo:

Medidor de espessura por ultrassom e transdutor convencional com frequência para uso em
borracha;

Acoplante de glicerina ou gel acoplante de ultrassom;


Amostra de correia nova com espessura conhecida e mesma especificação para uso na
calibração do medidor de espessura;

Materiais para limpeza de superfície tais como escova de pelos e pano úmido;

Profissionais devidamente capacitados para fazer as medições por ultrassom;

EPIs de segurança tais como capacete, óculos de proteção, máscaras e cinto de segurança onde
for aplicável;

Rádios de comunicação para posicionamento da correia;

Materiais para bloqueio tais como cartão e cadeados para fazer o bloqueio da correia;

Pranchetas, papéis e caneta para registrar as informações coletadas caso não seja feito os
registros no próprio aparelho medidor de espessura.

PASSO 01 - CALIBRAÇÃO DO APARELHO

Antes de ir a campo para medir o desgaste da correia, é importante o aparelho estar devidamente
calibrado. A figura 03 mostra um exemplo de aparelho para medir espessura de correia modelo 45MG-
X-MT-E-PT marca OLYMPUS. 

Esta é uma etapa que não pode ser negligenciada, pois pode direcionar para medições com valores
incorretos. A calibração deve ser realizada em ambiente fechado e livre de particulado em suspensão
com uso da amostra de correia com espessura conhecida e mesma especificação conforme mostra
a figura 04. A equipe deve dispor de um procedimento detalhado para calibração do aparelho e este
deve ser seguido para garantir a confiabilidade das medições.  
PASSO 02 - POSICIONAR A CORREIA

É importante definir um ponto fixo para fazer as medições para garantir que as próximas medições
sejam feitas na mesma região em busca de confiabilidade no processo. Usualmente é definido a emenda
como sendo este ponto. Adota-se medir 1 ou 2 metros antes ou após a emenda conforme mostra
a figura 05. 

PASSO 03 - BLOQUEAR A CORREIA

Deve-se bloquear todas as formas de energia da correia e analisar as condições e riscos do ambiente,
além do executante portar todos os EPI's necessários para executar a atividade.

PASSO 04 - MEDIÇÕES

Com a correia devidamente bloqueada, deve-se fazer a limpeza na região onde serão coletadas as
medidas de espessura da cobertura superior. Esta região deve estar completamente limpa e seca e a
uma temperatura compatível com a especificação do transdutor e do acoplante.

As medições podem ser feitas a cada 50 mm da borda e a cada 60 mm no sentido transversal (largura da
correia) conforme mostra a figura 06, porém esta definição fica a critério da organização, considerando
que quanto mais pontos forem coletados menor será a variação das medidas. A quantidade de pontos a
serem medidos na região transversal vai variar conforme a largura da correia, quanto maior a largura,
maior será o número de pontos a serem medidos. 

Para efeito de padronização, é importante definir uma forma de coletar, por exemplo, sempre coletar da
borda esquerda para a direita no sentido fluxo de operação da correia.

Para facilitar o posicionamento do transdutor bem como ganhar tempo na tarefa, recomenda-se o uso
de um gabarito com furações existentes conforme espaçamento definido no procedimento em função
da largura da correia como mostrado na figura 07. 

Formulários podem ser usados para registrar as informações quando estas não forem registradas no
próprio aparelho para posterior descarga no sistema. Uma boa prática é registrar os resultados das
manutenções nas ordens de serviço para possibilitar futuras consultas.

PASSO 05 - QUANTIDADE DE COLETA POR CORREIA

Para correias que possuem apenas 01 emenda, pode ser feito apenas 01 coleta ao longo do
comprimento da correia, isto considerando que teoricamente a correia apresenta desgaste uniforme.

Em caso de correias com mais de uma emenda, as emendas podem ser identificadas em baixo relevo
conforme mostra a figura 08 e é recomendável coletar medidas por bobina de correia ou a cada
intervalo de emenda.
PASSO 06 - FREQUÊNCIA DAS MEDIÇÕES

A frequência das medições vai depender da estratégia de manutenção da empresa, visto que para fazer
a coleta é necessário ter o equipamento parado e devidamente bloqueado. A definição da frequência
considera também a taxa de desgaste da correia, ou seja, correia com desgaste mais acelerado requer
frequências menores. Portanto é uma definição que vai depender destes fatores, porém é preciso ter
estes intervalos definidos e cadastrados em formas de planos de manutenção no sistema informatizado
para manter uma rotina de medição e acompanhamento do desgaste das correias.

PASSO 07 - ANÁLISE DOS RESULTADOS

Deve-se analisar e tratar os resultados das medições, e uma maneira é gerar os gráficos de degradação
para avaliar o perfil de desgaste da correia e o gráfico de tendência para projetar o final de vida útil da
correia conforme os resultados das medições. A figura 09 mostra um exemplo de gráfico de
degradação. 

A figura 10 mostra um exemplo de gráfico de tendência, onde através da extrapolação dos dados das
medições determina-se os tempos até o limite mínimo definido. Neste caso, é importante definir um
limite mínimo de espessura da cobertura superior para servir de gatilho para trocar a correia, como por
exemplo, 2 mm ou 4 mm. Não existe um valor padronizado, vai depender da estratégia de estoque,
apetite de risco da companhia e etc.
Mostro como fazer a projeção de vida útil da correia utilizando o gráfico de tendência nos artigos
disponíveis em:

Como estimar o final de vida útil de uma correia transportadora por regressão linear

https://www.linkedin.com/pulse/como-estimar-o-final-de-vida-%C3%BAtil-uma-correia-por-
regress%C3%A3o-castro/

Como estimar a vida útil de uma correia transportadora por regressão linear e determinar sua curva de
confiabilidade e risco

https://www.linkedin.com/pulse/como-estimar-vida-%C3%BAtil-de-uma-correia-transportadora-por-
castro/

PASSO 08 - BANCO DE DADOS

Por fim, é interessante criar fichas onde possa armazenar as informações do processo de
acompanhamento de degradação das correias conforme exemplo da figura 11. 
CONCLUSÃO

Foi mostrado neste artigo um processo macro de acompanhamento da degradação de correia


transportadora em 08 passos. Alinha-se a este processo, a inspeção sensitiva para auxiliar na gestão das
correias, principalmente no planejamento de substituição, etapa que provoca perdas nas empresas em
virtude de paradas operacionais por manutenção corretiva por falta de previsibilidade.

Ressalta-se que o conteúdo mostrado são requisitos mínimos recomendados, e pode ser aprofundado,
para isto, a ABNT em 07/2021 lançou a norma ABNT NBR 16977:2021 -

Transportadores contínuos e transportadores de correia - Procedimento para medição de espessura de


cobertura de borracha, disponível para aquisição no site da entidade. 

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