Você está na página 1de 8

0.

INTRODUÇÃO

A literatura de Portugal é uma das mais antigas e ricas da Europa, com mais de oito séculos de
produção. Ela se originou no século XII, com as primeiras manifestações poéticas em galego-português, que
expressavam sentimentos de amor e sátira. A literatura de Portugal acompanhou as grandes transformações
históricas, sociais e culturais do país e do mundo, reflectindo diferentes estilos, temas e vozes.

A literatura de Portugal pode ser dividida em três grandes eras: Medieval, Clássica e Moderna. Cada era
compreende vários períodos ou escolas literárias, que se caracterizam por suas particularidades estéticas e
ideológicas. A Era Moderna abrange os séculos XIX a XXI e se divide em Romantismo, Realismo-
Naturalismo, Simbolismo, Modernismo e Literatura Contemporânea. É sobre esse último que iremos
abordar.

0.1. Problema

A Literatura, em determinados lugares e contextos, pode tornar-se numa “arma” poderosa, trazendo e
expondo ideologias próprias do seu contexto. Por isso, levantamos a seguinte questão:

Como a Literatura Contemporânea reflecte as transformações históricas, sócias e culturais do país e do


mundo no contexto da pós-modernidade?

0.2. Objectivos

Geral:

 Compreender as características, os temas e as formas da Literatura Portuguesa no contexto


pós-modernista.

Específicos:

 Analisar a obra de José Saramago: Ensaio sobre a Cegueira.

 Desenvolver competências de leitura interpretativa e crítica dos textos literários portugueses


contemporâneos.

0.3. Metodologias

A metodologia é a via que permite alcançar um determinado objectivo. Para o nosso trabalho,
utilizamos os seguintes métodos:

- Comparativo: que consistiu na comparação de teorias;

- Interpretativo: que visou interpretar as obras com alinha de abordagem do presente trabalho.

0.4. Estrutura do trabalho

O presente trabalho está estruturado em 3 capítulos.

1
1. LITERATURA CONTEMPORÂNEA PORTUGUESA
Foi com a queda do império ditatorial de Salazar que começou a surgir em Portugal mais liberdade
nas composições literárias e deixando aquela ideia de uma escritura consensual que existia nos tempos
passados. Essas literaturas tão desiguais que não têm a mesma característica para serem enquadradas num
determinado período é sem sombras de dúvida a literatura contemporânea portuguesa.
A literatura contemporânea portuguesa faz uma adopção a marcas pós-modernas e pós-coloniais,
essas marcas tornaram-se predominantes na literatura contemporânea, mas com uma forte ligação ao que se
escrevia anteriormente fazendo o que chamamos de intertextualidade como podemos verificar nas palavras
do autor Célio Sardagna.

“Como a modernidade se assenta sobre a ideia de


revelação, de progresso, de continuidade do processo
histórico, inicia o contemporâneo na literatura, que lê,
reavalia, relê, reescreve, remonta, reinventa e actualiza
os temas, colocando-os em diálogo com a história, com
diferentes temas do passado e do presente,
caracterizando principalmente a presença da
intertextualidade” (CÉLIO SARDAGNA, 2010, p.217)

A literatura contemporânea é bastante contraditória no sentido de não existir um consenso entre as


obras, não existe aqui algo característico dos escritores deste tempo, assim há uma divergência de temática,
não existindo uma narrativa baseada em modelos para criação de obras parecidas.
A partir disto, podemos afirmar que, na literatura contemporânea portuguesa, passa-se à revisão do
passado, à reelaboração das ideias de história, adopta-se uma maior fluidez na narrativa, o texto é marcado
pela intertextualidade, ocorre a quebra de géneros textuais e a quebra também das fronteiras gramaticais, há
a falência das narrativas totalizadoras. Estas são características básicas para compreender a ficção
historiográfica, principal estilo da literatura contemporânea portuguesa. E entre os principais expoentes deste
período, podemos citar José Saramago.
Entre os escritores da literatura portuguesa contemporânea podemos citar em primeiro José
Saramago, o escritor mais popular e mais premiado desta geração, mas além dele ainda podemos encontrar
António Lobo Antunes (Os Cus de Judas), Margarida rebelo Pinto (Sei Lá), Afonso Cruz (Flores), Lídia
Jorge (a Costa dos Murmúrios), Inês Pedrosa (Nas Tuas Mãos), Virgílio Ferreira (Até ao Fim), João Tordo
(O livro dos Homens sem Luz), Nuno Carneiro (Debaixo de Algum Céu), Afonso Reis Cabral (O Meu
Irmão), Filipa Fonseca Silva ( Os 30 Nada É Como Sonhamos), José Rodrigues dos Santos ( A Filha do
Capitão) e tantos outros que brindam os leitores portugueses e mundial com boas escritas.

2
2. BIOGRAFIA DE JOSÉ SARAMAGO

José Saramago (1922-2010) foi um importante escritor português. Destacou-se como romancista,
teatrólogo, poeta e contista. Recebeu o Prémio Nobel de Literatura e o Prémio Camões.
José Saramago nasceu em Azinhaga de Ribatejo, no concelho de Golegã, distrito de Santarém,
Portugal, no dia 16 de Novembro de 1922. Filho de camponeses com dois anos de idade mudou-se com a
família para Lisboa.
José Saramago estreou na literatura com o romance “Terra do Pecado” (1947). Foi director literário
de uma editora, jornalista e tradutor. Colaborou com vários jornais e revistas, entre eles, o Diário de Lisboa,
A Capital e a Seara Nova, onde exerceu a função de cronista. Sua trajectória literária passou por várias fases:
A primeira, foi marcada pela poesia, com Os Poemas Possíveis (1966) e Provavelmente Alegria
(1970), e pela crónica Deste Mundo e do Outro (1971).
A partir do final dos anos 70 dedicou-se ao teatro, escreveu:
A Noite (1979), peça que tem como cenário uma redacção de um jornal na noite de 24 para 25 de
Abril de 1974. A peça recebeu o prémio da Associação de Críticos Portugueses.
A ficção de Saramago começou com o romance Manual de Pintura e Caligrafia (1976). Publicou
dois volumes de contos Objecto Quase (1978) e Poética dos Cinco Sentidos (1979).
Como romancista o autor se consagrou ao receber o “Prémio Cidade de Lisboa” com Levantando do
Chão (1980), que se tornou Best-Seller internacional.
José Saramago desenvolveu uma espécie de historicismo fantástico onde sua imaginação, aliada a
um ilimitado amor à vida, em cada minúcia da verdade humana ao longo do tempo, reelabora fatos da
história de sua terra, como nas obras:
Memorial do Convento (1982), O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), que venceram o prémio do
Pen Clube Português, Prémio da Crítica, Prémio Dom Diniz e Prémio do Jornal The Independente). A
Jangada de Pedra (1988), História do Cerco de Lisboa (1989.
José Saramago pertenceu à primeira Direcção da Associação Portuguesa de Escritores. Foi presidente
da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores, entre 1985 e 1994. O escritor publicou um título
no campo da literatura infanto-juvenil, “A Maior Flor do Mundo” (2001), livro escrito em parceria com o
ilustrador João Caetano, que recebeu o prémio Nacional de Ilustração.
José Saramago faleceu em Tias, Espanha, no dia 18 de Junho de 2010. A crítica afiada e a descrição
minuciosa estão entre as características da obra de Saramago. A pontuação não é convencional, os pontos
finais aparecem ao fim dos parágrafos, que podem ser longos, os travessões foram excluídos e a
interpretação da fala dos personagens é, muitas vezes, confundida com a auto-reflexão, mescla personagens
reais com fictícios. Entre os exemplos estão Memorial do Convento (1982) e a Viagem do Elefante (2008).
Saramago era comunista declarado e o pensamento é evidenciado em sua obra. Também fazia duras e
ácidas críticas à igreja católica e seus dogmas.

3
Evangelho segundo Jesus Cristo. O romance, lançado em 1991, foi censurado pelo governo de
Portugal que o considerou ofensivo aos católicos. Como resultado da manobra política, Saramago e a mulher
transferiram a residência para o arquipélago de Canárias, permanecendo na ilha de Lanzarote.
Entre as passagens de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" está o envolvimento sexual de Jesus com
Maria Madalena.
Caim. O romance Caim, lançado em 2009, também foi considerado ofensivo à fé católica. Na obra,
Caim questiona os critérios de Deus para suas escolhas. Deus é apontado como um ser vaidoso, vingativo e
contraditório.
Ensaio sobre a cegueira. A obra aponta o comportamento de uma sociedade diante de uma epidemia
sem explicação ou cura em que a pessoa atingida perdia a visão. Diferente da escuridão, a cegueira era
branca e apavorante. Aos poucos, o escritor vai revelando o carácter das personagens e suas instituições.
O romance, lançado em 1995, foi reproduzido no cinema em 2008, e venceu o festival de Cannes
daquele ano. O filme foi dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles e contou com a participação dos atores
Julianne Moore e Mark Ruffalo.
As Intermitências da morte. Mais uma vez, um dogma religioso é questionado, a morte. No romance,
lançado em 2005, Saramago imagina uma greve decretada pela própria morte, cansada das contradições e da
ingratidão da humanidade. Enquanto a morte questiona seu papel, a humanidade vive um colapso religioso,
social, político e estrutural. Os traços comunistas, a exaltação à liberdade, à luta e à fraternidade também
estão presentes na poesia de Saramago.
Após um hiato de 19 anos na literatura, o autor publicou, em 1966, Os Poemas Possíveis. Eis um
exemplo de um poema:
“Deus não existe ainda,
Nem sei quando,
Sequer o esboço, a cor se afirmará
No desenho confuso da passagem
De gerações inúmeras nesta esfera.
Nenhum gesto se perde, nenhum traço
Que o sentido da vida é este só: fazer da Terra um Deus que nos mereça,
E dar ao Universo o Deus que espera.”

José Saramago aderiu ao Partido Comunista Português em 1969, pertencendo à Organização dos
Intelectuais de Lisboa do PCP, e tornando-se após a Revolução dos Cravos membro da então criada Célula
dos Escritores do Sector Intelectual de Lisboa.
Nas eleições autárquicas portuguesas de 1989 é candidato pelo Partido Comunista na lista da
coligação por Lisboa, sendo eleito Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa. Em todas as eleições

4
europeias desde 1987, quando Portugal integrou a União Europeia, até 2009, última eleição antes do seu
falecimento, José Saramago foi candidato a deputado no Parlamento Europeu pela Coligação Democrática
Unitária, ocupando, porém, posições que tornavam virtualmente impossível a sua eleição.

5
3. PRÉMIO NOBEL DE JOSÉ SARAMAGO

José Saramago em 1995 lançou a sua obra o "Ensaio sobre Cegueira" esta que lhe concedeu o prémio
Nobel da literatura. Neste livro o autor faz uma analogia do quanto as pessoas vão se tornando cegas no
mundo contemporâneo, e por não enxergarem o outro, vão criando uma sociedade de indivíduos atomizados,
autocentrados, que só sabem correr atrás de interesses próprios, sendo vitimizados por um colapso moral.
O escritor apresenta-nos como corpo da história a cegueira, esta que não é escura mas sim branca
com base na sua criatividade e imaginação, ele faz da cegueira branca uma analogia sobre a falta de visão
social e política diante da realidade que nos circunda. Os indivíduos, alienados, encontram-se apartados do
mundo, imersos na ideologia individualista e consumista. Eles vivem fora da realidade, ainda que tenham
olhos não a reparam. Tudo lhes parece natural.
A cegueira branca que acomete os personagens da narrativa, serve como estopim para que o horror
tome conta da cidade fictícia. Tal situação é agravada pela desintegração da vida humana articulada e
consequentemente pelo estabelecimento da alienação entre os indivíduos. Tal como Saramago denuncia em
sua trama, através dos cegos, o homem moderno também vivenciam o sofrimento de não ser aprovado pela
família, colegas, mercado de trabalho ou até mesmo pela sociedade em geral. O autor nos convida a uma
autocrítica e a uma reflexão sobre até que ponto estamos cegos ou somos maldosos.
Sobre a premiação fizemos uma análise partindo da justificativa que o corpo de jurados deu para
atribuir o prémio ao escritor José Saramago, um dos júri foi claro ao dizer que "com parábolas portadoras de
imaginação, compaixão e ironia, torna constantemente compreensível uma realidade fugidia". Na obra o
"Ensaio sobre a Cegueira" José Saramago cria a parábola da Cegueira, nela veremos que o elemento
fantástico é colocado como uma grande metáfora política, uma vez que se faça críticas a sociedade, ao
governo, ao capitalismo, ao próprio humanismo, a igreja, etc. Como uma infecção, uma praga ou um vírus, a
cegueira branca espalha-se rapidamente de forma inexplicável e sem cura, por uma cidade inteira.
Fica-se cego na parábola de José Saramago e o mundo abre-se num abismo, a mostrar fragilidade e
vulnerabilidade humanas, sociais e políticas. O cenário é apocalíptico. O escritor cria todo um roteiro irónico
para expressar seu ponto de vista sobre o caminho que a sociedade moderna está percorrendo, essa ideia de
ignorar e destruir tudo que está em sua volta, de não dar atenção aos sentimentos, de ter uma visão externa e
não interna. Ele transmite aqui uma série de ideias para que nós tenhamos uma visão mais ampla do mundo.

6
4. CONCLUSÃO
A literatura portuguesa contemporânea é uma expressão artística rica e diversificada, que reflete as
transformações históricas, sociais e culturais do país e do mundo no contexto da pós-modernidade, da
globalização e da diversidade cultural. Influenciada por diferentes correntes estéticas e ideológicas, a
literatura portuguesa contemporânea apresenta uma variedade de estilos, temas e vozes, que exploram desde
as questões identitárias, políticas e existenciais até as possibilidades formais e experimentais da linguagem.

Algumas características da Literatura Contemporânea de Portugal são: a quebra do limite entre a arte
erudita e a popular, misturando diferentes tendências estéticas e contemplando gostos diversificados; a
intertextualidade; e engajamento social, ou seja, a preocupação com o presente e com as questões históricas,
sociais e culturais que afectam o país e o mundo; o experimentalismo, ou seja, a busca por técnicas novas de
arte e escrita, explorando as possibilidades formais e expressivas da linguagem; etc.

Entre os autores mais importantes e reconhecidos desse período, destacam-se José Saramago e
António Lobo Antunes, ambos romancistas que abordam aspectos da história, da sociedade e da cultura
portuguesas, com uma linguagem inovadora e crítica. Além deles, há muitos outros escritores que
contribuem para a riqueza e a diversidade da literatura portuguesa contemporânea.

7
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SARDAGNA, Célio António. Literatura Portuguesa. Centro Universitário Leonardo da Vinci –


Indaial, Grupo UNIASSELVI, 2010.x ; 266 p.: i L
Colecção Resumos. José Saramago. 2017; i L.

https://www.lusofoniapoetica.com/historia-poesia-de-portugal/literatura-contemporanea

De: Kennedy Paulo

Você também pode gostar