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Memorial do

convento» de José
Saramago

A
A) José Saramago, autor português, nasceu em 16 de novembro
de 1922, na província do Ribatejo. Ele tinha um ano de
idade quando sua família se mudou para Lisboa. Filho de
trabalhadores rurais, não pôde fazer faculdade, mas fez curso
técnico em serralheria mecânica, que concluiu em 1940, ano
em que conseguiu seu primeiro emprego na área. Trabalhava
durante o dia e, à noite, dirigia-se a uma biblioteca municipal
para ler.

Seu primeiro livro publicado foi o romance Terra do pecado, de


1947. Em 1955, começou a trabalhar como tradutor. Em 1969,
filiou-se ao Partido Comunista Português. Além de tradutor,
Saramago foi crítico literário na revista Seara Nova e, nos anos de
1972 e 1973, trabalhou no jornal Diário de Lisboa. Em 1974,
depois da Revolução de 25 de Abril (Revolução dos Cravos),
organizou uma equipe do Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis
(FAOJ), do Ministério da Educação.

Em 1975, atuou no Movimento Unitário de Trabalhadores


Intelectuais para a Defesa da Revolução (MUTI). Nesse mesmo
ano, foi diretor-adjunto do jornal Diário de Notícias. Além de todas
essas atividades, fez parte da direção da Associação Portuguesa de
Escritores e, de 1985 a 1994, foi presidente da Assembleia Geral
da Sociedade Portuguesa de Autores.

Em 1992, o governo português impediu a candidatura de O


evangelho segundo Jesus Cristo ao Prêmio Literário Europeu. Esse
romance, publicado pela primeira vez em 1991, causou bastante
polêmica, pois mostra Jesus como um personagem mais humano e
menos divino, com defeitos inclusive, além de manter um
relacionamento amoroso com Maria de Magdala.

José Saramago filiou-se ao Parlamento Internacional de Escritores


em 1993. No ano seguinte, foi nomeado como presidente honorário
da Sociedade Portuguesa de Autores. Em 1998, ganhou o Prêmio
Nobel de Literatura. Em 2007, o autor, consagrado mundialmente,
criou a Fundação José Saramago. Morreu três anos depois, em 18
de junho de 2010.
b) Obras de José Saramago
Os livros em prosa de José Saramago são:

 Terra do pecado (1947): romance;


 Deste mundo e do outro (1971): crônicas;
 A bagagem do viajante (1973): crônicas;
 Os apontamentos (1976): crônicas;
 Manual de pintura e caligrafia (1977): romance;
 Objeto quase (1978): contos;
 Poética dos cinco sentidos — o ouvido (1979): crônicas;
 Levantado do chão (1980): romance;
 Viagem a Portugal (1981): literatura de viagem;
 Memorial do convento (1982): romance;
 O ano da morte de Ricardo Reis (1984): romance;
 A jangada de pedra (1986): romance;
 História do cerco de Lisboa (1989): romance;
 O evangelho segundo Jesus Cristo (1991): romance;
 Cadernos de Lanzarote I (1994): diário;
 Cadernos de Lanzarote II (1995): diário;
 Ensaio sobre a cegueira (1995): romance.
 Cadernos de Lanzarote III (1996): diário;
 Moby Dick em Lisboa (1996): crônicas;
 Todos os nomes (1997): romance;
 O conto da ilha desconhecida (1997): contos;
 Cadernos de Lanzarote IV (1998): diário;
 Cadernos de Lanzarote V (1998): diário;
 Folhas políticas (1976-1998): crônicas;
 A caverna (2000): romance;
 A maior flor do mundo (2001): infantojuvenil;
 O homem duplicado (2002): romance;
 Ensaio sobre a lucidez (2004): romance;
 As intermitências da morte (2005): romance;
 As pequenas memórias (2006): memórias;
 A viagem do elefante (2008): romance;
 O caderno (2009): diário;
 O caderno 2 (2009): diário;
 Caim (2009): romance;
 Claraboia (2011): romance;
 O silêncio da água (2011): infantojuvenil;
 Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas (2014):
romance;
 O lagarto (2016): infantojuvenil;
 Último caderno de Lanzarote (2018): diário.

Já os livros de poesia de Saramago são:


 Os poemas possíveis (1966);
 Provavelmente alegria (1970);
 O ano de 1993

c) Prémios
 Prémio da Associação de Críticos Portugueses (1979);
 Prémio Cidade de Lisboa (1981);
 Prémio Pen Clube (1982 e 1985);
 Prémio Literário do Município de Lisboa (1982);
 Prémio da Crítica do Centro Português da Associação
Internacional de Críticos Literários (1984);
 Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos
Literários (1985);
 Prémio Dom Dinis (1986);
 Prémio Grinzane-Cavour (1987) — Itália;
 Grande Prémio de Romance e Novela da Associação
Portuguesa de Escritores (1991);
 Prémio Internacional Ennio Flaiano (1992) — Itália;
 Prémio Brancatti (1992) — Itália;
 Prémio Literário Internacional Mondello (1992) — Itália;
 Prémio The Independent Foreign Fiction (1993) — Reino
Unido;
 Grande Prémio de Teatro da Associação Portuguesa de
Escritores (1993);
 Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores
(1993);
 Prémio Camões (1995);
 Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa
de Autores (1995);
 Prémio Rosalía de Castro (1996) — Espanha;
 Prémio Nobel de Literatura (1998) — Suécia;
 Prémio Arcebispo Juan de San Clemente (1998) — Espanha;
 Prémio Europeu de Comunicação Jordi Xifra Heras (1998) —
Espanha;
 Prémio Nacional de Narrativa Città di Pienne (1998) — Itália;
 Prémio Scanno da Universidade Gabriele d’Annunzio (1998)
— Itália;
 Prémio Internacional de Narrativa Città di Penne-Mosca
(1998) — Itália;
 Prémio Canárias Internacional (2001) — Espanha;
 Prémio Dolores Ibárruri (2006) — Espanha.

D) O livros de José Seramago foram traduzidos e editados


na Alemanha, Argentina, Colômbia, Espanha, Estados Unidos,
França, Itália e México
e) José Saramago foi conhecido por utilizar um estilo oral, coevo dos
contos de tradição oral populares em que a vivacidade da
comunicação é mais importante do que a correcção ortográfica de
uma linguagem escrita. Todas as características de uma linguagem
oral, predominantemente usada na oratória, na dialéctica, na retórica e
que servem sobremaneira o seu estilo interventivo e persuasivo estão
presentes. Assim, utiliza e compridos, usando a pontuação de uma
maneira não convencional; os das personagens são inseridos nos
próprios que os antecedem, de forma que não existem travessões nos
seus . Este tipo de marcação das falas propicia uma forte sensação de ,
a ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo diálogo foi real ou
apenas um pensamento. Muitas das suas frases ocupam mais de uma ,
usando vírgulas onde a maioria dos escritores usaria pontos finais. Da
mesma forma, muitos dos seus parágrafos ocupariam capítulos
inteiros de outros autores.

Estas características tornam o estilo de Saramago único na literatura


contemporânea, sendo considerado por muitos críticos um mestre no
tratamento da escrita.  
f) No caso de José Saramago, ao analisar a sua biografia, fica claro
que o escritor esteve sempre envolvido com questões políticas de
sua época, além do trabalho com a palavra, seja como romancista e
poeta, seja como tradutor. Portanto, inevitavelmente, elementos
sociais e políticos estão em suas obras.

De maneira geral, os estudos que vêm sendo feitos sobre a obra de


Saramago apontam as seguintes características literárias:

 Perspectiva realista;
 Construção de alegorias;
 Humanismo, antropocentrismo;
 Temática social e crítica política;
 Críticas religiosas, anticlericalismo;
 Valorização das características da oralidade;
 Questionamento, análise do passado histórico;
 Presença de elementos mágicos ou fantásticos;
 Diálogo com a tradição da literatura portuguesa, representada
por figuras como Luís Vaz de Camões (1524-1580), Pe.
António Vieira (1608-1697) e Almeida Garrett (1799-1854),
por exemplo;
 Trabalho incomum com a linguagem, como o uso de vírgulas
em lugar de outros sinais de pontuação. Isso pode ser visto
neste trecho de O evangelho segundo Jesus Cristo:
B
1. O rei fez promessa de construir o convento de Mafra por estar
preocupado com a falta de descendentes. Apesar de existirem
bastardos, o objetivo era que a rainha lhe desse um filho que
pudesse assegurar a sucessão.
2. Blimunda é vidente

6. Memorial do Convento assume-se um romance dotado de grandes


simbologias, desde logo, pelo centro da construção do Convento de
Mafra, símbolo por excelência da megalomania de D. João V e, ao
mesmo tempo, da injustiça e escravidão que caracterizam os seus
verdadeiros construtores, os membros do povo.

Por outro lado, quase todos os membros do clero aqui presentes


simbolizam a devassidão moral e aproveitamento do fervor religioso
do povo ao ponto de estabelecer e assegurar a atuação da Inquisição,
que condena e assassina milhares de inocentes, sempre suspeitos de
heresia ou feitiçaria, quando simplesmente seriam “incómodos” à
igreja católica.

Todavia, há um outro grande símbolo no romance, o dos


números 3 e 7. Três são os elementos (em jeito de triângulo perfeito
como o da Santíssima Trindade) que compões o centro da construção
da passarola – o Padre Bartolomeu, Baltasar e Blimunda. Sete é o
número incluído nas alcunhas de Sete-Sóis e Sete Luas, como que a
pressagiar no futuro trágico, que vai acontecer de facto com a morte
de Baltasar e a viuvez de Blimunda.

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