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NEWTON C. BRAGA

Índice
Apresentação da Série 5
Internet via rede de energia 9
Vantagens e desvantagens da PLCC 11
Os padrões 12
As maiores interferências 14
Padrões 16
Conclusão 18
Radiodifusão digital (DAB) 19
O rádio do século 21 está chegando 19
O que é o rádio digital 20
Como funciona 22
Os sistemas 23
Eureka 147 25
Sistema DRM 31
Conclusão 33
MHz x Mbits/s 35
BAUD x BPS 39
O BAUD e o BPS 41
Quando BAUD e BPS são diferentes 42
Cálculos de modulação em amplitude 45
Índice de modulação em amplitude 49
Circuitos ressonantes 53
Seletividade – fator Q 64
Conclusão 66
DSL - Digital Subscriber Line e variações xDSL 67
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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

O que é a tecnologia DSL 68


Como funciona a tecnologia da Banda Larga 71
Assimetria - otimizando o sistema 74
O sistema na prática 74
Outras variações 76
Carregadores de celulares sem fio 77
Outros sistemas 83
Como funciona 83
Os padrões 85
Padrão Qi 86
Os carregadores 88
Ferramentas de desenvolvimento 88
Perigos para a saúde 91
FM estéreo 93
Conheça os tipos de linhas de transmissão 99
O Dip Meter 107
Conceitos de ethernet industrial 113
As camadas físicas 115
A camada de dados 116
Ethernet Frame 118
Hubs e Switches 119
Funções de alto nível 120
Na indústria 121
EtherCAT (Eternet for Control Automation Technology) 122
Ethernet Powerlink 123
Modbus – TCP 125
Profinet 125

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NEWTON C. BRAGA

Conclusão 126
Sincronismo em redes de telecomunicações 127
A finalidade da sincronização 128
O que fazer? 131
A escolha do método 136
Conclusão 138
Harmônicas e filtros 139
Soluções 144
Conclusão 151
Sinais telegráficos e código morse 153
O gamma match 163
O que é uma rede de sensores sem fio? 167
Arquitetura de um sistema WSN 169
Padrões de Potência e Rede 170
Tendências do processador 172
Topologias de rede 173
Cofasamento de Antenas 177
O que são antenas cofasadas? 183
Os testes 186
Os resultados 188
Na prática 189

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

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NEWTON C. BRAGA

Apresentação da Série
Este é o quadragésimo segundo volume desta grande série de
livros que levamos aos nossos leitores sob patrocínio da Mouser
Electronics (www.mouser.com). Conforme os leitores que já baixaram
os volumes anteriores sabem, esta série é baseada na enorme quantidade
de artigos que escrevemos ao longo de nossa carreira como escritor
técnico e que publicamos em diversas revistas, folhetos, livros, cursos e
no nosso próprio site tanto em português, como em espanhol e em
inglês. São artigos que representam mais de 50 anos de evolução das
tecnologias eletrônicas e, portanto, têm diversos graus de atualidade. Os
mais antigos foram analisados sendo feitas alterações e atualizações que
julgamos necessárias. Outros pela sua finalidade didática, tratando de
tecnologias antigas e mesmo de ciência (matemática, física, química e
astronomia) não foram muito alterados a não ser pela linguagem, que
sofreu modificações se bem que em alguns casos mantivemos os termos
originais da época em que foram escritos. Não estranhem se alguns
deles tiverem ainda a ortografia antiga que foi mantida por motivos
históricos. Os livros da série consistirão numa excelente fonte de
informações para nossos leitores.
Os artigos têm diversos níveis de abordagem, indo dos mais
simples que são indicados para os que gostam de tecnologia, mas que

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

não possuem uma fundamentação teórica forte ou ainda não são do


ramo. Neles abordamos o funcionamento de aparelhos de uso comum
como eletroeletrônicos, não nos aprofundando em detalhes técnicos que
exijam conhecimento de teorias que são dadas nos cursos técnicos ou de
engenharia.
Outros tratam de componentes e circuitos, ideais para os que
gostam de eletrônica e já possuem uma fundamentação quer seja
estudando ou praticando com as montagens que descrevemos em nossos
artigos. Estes já exigem um pequeno conhecimento básico da eletrônica
que também podem ser obtidos em artigos de nosso site, livros e nossos
cursos EAD. Estes artigos também vão ser uma excelente fonte de
consulta para professores que desejam preparar suas aulas e alunos que
desejam enriquecer seus trabalhos
Temos ainda os artigos teóricos que tratam de circuitos e
tecnologias de uma forma mais profunda com a abordagem de
instrumentação e exigindo uma fundamentação técnica mais alta. São
indicados aos técnicos com maior experiência, engenheiros e
professores.
Também lembramos que no formato virtual o livro conta com
links importantes, vídeos e até mesmo pode passar por atualizações
on-line que faremos sempre que julgarmos necessário.

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NEWTON C. BRAGA

Neste volume ainda trataremos do funcionamento de


equipamentos antigos em especial televisores, monitores antigos de
computadores, gravadores de vídeo e games que utilizavam o padrão da
TV analógica., sendo especialmente indicado aos que desejam recuperar
este tipo de equipamento e já possuam um conhecimento técnico, que
estejam estudando ou que precisam de material de consulta para suas
aulas ou trabalhos práticos.
Trata-se de mais um livro que certamente será importante na sua
biblioteca de consulta, devendo ser carregado no seu tablet, laptop ou
celular para consulta imediata. Os livros podem ser baixados
gratuitamente no nosso site e um link será dado para os que desejarem
ter a versão impressa pagando apenas pela impressão e frete.
Newton C. Braga
Nota sobre a ortografia: os artigos que coletamos para fazer
parte das edições da série Como Funcionam foram escritos a partir de
1965. Desde aquela época, a língua portuguesa passou por muitas
transformações, como a perda do trema em frequência, do acento em
polo, termos que foram substituídos por equivalentes modernos, tanto
em inglês como em português. O próprio uso da vírgula mudou. Assim,
em muitos casos, ao recuperar os artigos dependendo da época,
mantivemos a forma original (pelo valor histórico) como também foram
feitas alterações para o português moderno. Assim, eventuais “erros”

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

que o leitor encontre, não são erros, mas a manutenção da forma


original. Para usar estes artigos em eventuais trabalhos, o leitor estará
livre para manter a forma original, indicando isso, ou de fazer
alterações para o português moderno, onde se fizer necessário, com a
devida observação.

Conheça o Instituto Newton


C. Braga
https://www.newtoncbraga.com.br

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NEWTON C. BRAGA

Internet via rede de energia


Apesar do elevado nível de ruído, já está disponível em algumas
partes do mundo o acesso à Internet utilizando a rede de energia
elétrica. Com a vantagem de que as redes energia estão disponíveis em
toda parte, esse novo sistema promete baratear o acesso, tornando-o
acessível a usuários que estão em locais em que os sistemas tradicionais
não estão disponíveis. Veja nesse artigo como funciona a Internet via
rede, quais são suas vantagens e desvantagens.
Nota: este artigo é de 2005 quando os primeiros estudos de
viabilidade do sistema estavam em andamento. O artigo tem valor
histórico e didático.
A ideia de se utilizar a rede de energia elétrica para a
transmissão de dados não é nova. Já há algumas décadas foi testado nos
Estados Unidos um sistema bastante interessante que aproveitava essa
ideia. Modems eram ligados à rede de energia na casa de usuários de
determinadas regiões, com a finalidade de acionar sistemas de alarme.
Em caso de catástrofes naturais eminentes como furacões,
tsunamis, tornados, etc., bastava sobrepor à energia da rede um sinal, e
os alarmes tocariam nas casas das pessoas em perigo, conforme mostra
a figura 1.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

A frequência de cada modem poderia ser “sintonizada” de modo


que os usuários de apenas determinadas regiões ameaçadas fossem
alertados. Se um sistema como esse tivesse sido implantado na
Indonésia e outras regiões ameaçadas por terremotos e tsunamis,
certamente muito menos vítimas ocorreriam.
Mas, além dessa, já temos outras aplicações em menor escala,
que já usam a rede de energia como meio de transmissão de sinais. Os
intercomunicadores via rede, babás eletrônicas e links de computadores
de curta distância são exemplos de aplicações em que a rede de energia
pode ser usada para transportar sinais, conforme mostra a figura 2.

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Vantagens e desvantagens da PLCC


PLCC significa Power Line Carrier Communication ou
Comunicação tendo por Portadora a Linha de Energia. As principais
desvantagens estão no fato de que a linha de transmissão de energia
elétrica é um meio extremamente hostil para a transmissão de dados.
Diferentemente da linha telefônica que mantém uma impedância
relativamente constante e baixo nível de ruído, o nível de ruído da linha
de energia é extremamente alto e imprevisível. Além disso, numa
mesma linha de distribuição de energia, num prédio, por exemplo, as
espessuras dos cabos e, portanto, suas impedâncias são diferentes, o que
dificulta enormemente o projeto dos filtros que devem separar os sinais
contendo dados, dos sinais que transportam energia.
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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Os padrões
Mesmo encontrando muitas dificuldades, foram criados padrões
de transmissão de dados através da rede de energia. Analisemos alguns.

X-10
Esse é um dos padrões mais antigos, utilizando uma forma de
modulação em amplitude denominada ASK ou Amplitude Shift Keying.
Nesse protocolo a amplitude do sinal é chaveada de acordo com o bit
que deve ser transmitido.
Apesar de ser um sistema originalmente unidirecional, algumas
aplicações bidirecionais foram implementadas. A aplicação mais
comum é no acionamento remoto de sistemas de iluminação. Nesse
protocolo os sinais são enviados numa portadora de 120 kHz modulada
em amplitude, com uma potência de 0,5 W.
A presença de uma salva de 120 kHz na passagem por zero da
tensão da rede indica bit 1, e a ausência, bit 1. Numa transmissão típica
desse tipo temos um código de início da mensagem, um endereço de
residência, um endereço de dispositivo e a função a ser realizada (ligar,
desligar, etc.)

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NEWTON C. BRAGA

CEBus
O protocolo CEBus utiliza um modelo “peer-to-peer” de modo a
evitar conflitos de portadoras. Esse protocolo utiliza uma variação da
modulação por espectro espalhado (spread spectrum modulation) tendo
sido patenteado pela Intellon Corporation.
Nele, a frequência da portadora aplicada à linha de energia salta
entre 100 kHz e 400 kHz, evitando assim problemas de colisões de
mensagens. Os saltos de frequências são denominados “chirps”
(trinados), os quais são utilizados para a sincronização. com essa
tecnologia é possível enviar dados numa velocidade de até 100 kHz. Os
dígitos são definidos pelo tempo de duração da salva (burst) de
frequências aplicada à linha.
Assim, um “burst” de 100 microssegundos representa o binário
1, enquanto que um “burst” de 200 microssegundos, representa o
binário zero.

LONWorks
Esse protocolo foi desenvolvido pela Echelon Corporation e tem
características que permitem seu uso numa rede sem necessidade de se
conhecer a topologia dessa rede ou ainda o nome, endereço e funções
dos dispositivos que são acessados. A comunicação é feita por um ou
mais pacotes que contém um número variável de bytes que contém uma

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

representação compacta de uma das 7 camadas do modelo OSI. Os


algoritmos de endereçamento desse protocolo definem como os pacotes
de bits são roteados de uma fonte até um ou mais destinatários. Cada
pacote de dados também contém o endereço do dispositivo transmissor
(fonte de dados) e o endereço do dispositivo que deve recebê-lo,
possibilitando assim que duas ou mais LONWorks operem na mesma
rede física, desde que cada um tenha seu próprio domínio ID.
Podem existir até 256 grupos num domínio, e cada grupo pode
ter qualquer número de dispositivos conectados.

As maiores interferências
Mas, para afetar a transmissão, deve ser considerada a existência
de uma boa quantidade de ruídos que precisam estar muito definidos.

a) Ruído de 60 ou 50 Hz
Geram esses ruídos os tiristores que controlam dispositivos de
potência conectados à rede. São ruídos sincronizados, capazes de
produzir picos que se propagam pela rede, conforme mostra a figura 3.

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b) Pulsos únicos
Os pulsos isolados são gerados de diversas formas. Raios que
atingem a linha de energia, comutação de cargas potentes, bancos de
capacitores comutados são algumas fontes desse tipo de ruído.

c) Impulsos periódicos
Triacs em dimmers são os principais responsáveis por este tipo
de ruído. Comutando no semiciclo positivo e no negativo produzem
picos de tensão numa frequência que é o dobro da frequência da rede de
energia.

d) Ruídos contínuos
Neste caso temos os produzidos pelos motores AC, barbeadores,
e muitos equipamentos de uso doméstico que usam motores. Os pulsos
produzidos por tais equipamentos podem chegar a faixa de vários
quilohertz.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

e) Ruídos não sincronizados


Podemos citar os televisores que geram ruídos de 15 kHz da
frequência horizontal e que podem aparecer na rede de energia. Além
do ruído deve ser considerada atenuação que vai depender da
impedância (bastante variável) e do comprimento da linha. De um
modo geral é bastante baixa, dando-se como referência a de um par de
fios trançados 22 que é da ordem de 120 ohms.

Padrões
O FCC (Federal Communications Commision) e o European
Committe for Electro Technical Strandardization (CENELEC)
estabeleceram alguns padrões para o uso da rede de energia como meio
para a transmissão de dados. Esses padrões estabelecem o uso da banda
de 3 kHz a 148 kHz na Europa enquanto nos Estados Unidos, a
alocação vai de 0 a 500 kHz. Pelos padrões o espectro é dividido em 5
bandas, conforme mostra a figura 4.

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3 – 9 kHz
Essa faixa tem seu uso limitado para os fornecedores de energia.

9 – 95 kHz
Esta faixa também tem seu uso limitado aos fornecedores de
energia e concessionárias. Essa faixa também é designada por “Banda
A”.

95 – 125 kHz
Essa faixa é destinada aos clientes das concessionárias, não
havendo protocolo de acesso definido. Essa banda de frequências
também é chamada de “Banda B”.

125 – 140 kHz


O uso desta faixa também é restrito aos fornecedores de energia.
Para tornar o acesso possível para diversos clientes, um protocolo de
acesso múltiplo usando a frequência central de 132,5 MHz foi definido.
Essa faixa de frequências também é conhecida como “Banda C”.

140 – 148,5 kHz


O uso dessa faixa de frequência é limitado aos clientes das
fornecedoras de energia, não havendo protocolo de acesso definido.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Também é conhecida como “Banda D”. Observamos que a largura de


faixa é proporcional à velocidade de transmissão dos bits. De modo a
aumentar essa taxa de transmissão de bits, pesquisas recentes sugerem o
uso de frequências mais altas, no intervalo entre 1 e 20 MHz.
O grande problema no uso dessa frequência mais alta está na
dificuldade de impedir que sua transmissão não cause interferências, já
que não sendo blindadas, a rede de energia funciona como uma
verdadeira antena.

Conclusão
Da mesma forma que as linhas telefônicas, quando foram
criadas, nunca tiveram outra finalidade que não a de transmitir a voz
humana, o mesmo ocorre com a rede de distribuição de energia elétrica.
Com o tempo, mesmo não tendo sido criada para isso, a linha telefônica
passou também a dar acesso à Internet. Agora é a vez das linhas de
distribuição de energia e os problemas estão sendo contornados um a
um. Métodos especiais de modulação, uso de frequências mais altas,
permitem colocar junto a uma senoide de 60 Hz, informações em taxas
cada vez mais altas. O uso prático da rede de energia para acessar a
Internet está cada vez mais próximo, como já se observa em alguns
países, podendo consistir numa solução muito importante,
principalmente para os locais que não têm acesso a telefone.

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NEWTON C. BRAGA

Radiodifusão digital (DAB)

O rádio do século 21 está chegando


Já estamos aguardando ansiosamente há algum tempo as
definições que vão levar o Brasil a adotar um sistema de TV digital. No
entanto, ao mesmo tempo, também se trabalha na transformação
paralela que deve levar o tradicional rádio AM e FM a uma nova forma
de transmissão muito mais fiel, imune às interferências e ruídos e com
maior capacidade de transmissão de informações. O rádio digital ou
Digital Audio Broadcasting (DAB) já é adotado em alguns países e
pode ser recebido via satélite. Veja neste artigo como ele funciona para
estar preparado para sua adoção em nosso país.
Da mesma forma que a TV tradicional em que os sinais são
transmitidos na forma analógica, o rádio também está sujeito aos
mesmos tipos de problemas.
Interferências, deterioração do sinal com a distância e reflexões,
ruídos e muito mais fazem com que rádio e TV analógicas necessitem
de potências elevadas, antenas eficientes para dar cobertura a uma área
relativamente pequena.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Isso sem se falar na limitação para a acomodação de muitos


canais de informações, já que cada estação ocupa uma banda larga, com
um aproveitamento sofrível do já limitado espectro eletromagnético.
Da mesma forma que a TV digital muda tudo isso, o rádio
digital também. Com novos processos de modulação e transmissão, o
rádio digital também vai exigir receptores especiais, mas quando isso
ocorrer, o investimento no equipamento vai compensar plenamente as
vantagens que poderemos ter nesta nova forma de radiodifusão.
Em vários países a radiodifusão já opera, inclusive via satélite
com uma velocidade crescente para a adoção de seus equipamentos que,
como tendência normal, à medida que sua procura aumentar, deverão se
tornar cada vez mais baratos.

O que é o rádio digital


DAB ou Digital Radio Broadcasting é o nome dado para a nova
modalidade de transmissão de sinais de áudio emitindo por estações
terrestres para recepção em equipamentos de mesa, embarcados
(automotivos, etc.) e portáteis. Como o nome sugere, os sinais são
transmitidos no formato digital, com a finalidade de se obter uma
qualidade de som semelhante à obtida com os CDs comuns.
Segundo pessoas que ouviram o rádio digital pela primeira vez,
podendo com isso fazer uma comparação com o rádio comum, o que se

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NEWTON C. BRAGA

destaca no seu som a sensação de “presença”, com uma qualidade muito


melhor de som. O sistema de modulação tem ainda a vantagem de não
ser afetado por reflexões de sinais múltiplos, como nas emissões de
rádio comum (AM e FM), conforme mostra a figura 1.

Esses percursos múltiplos dos sinais e reflexões fazem com que


ocorram variações de fase e ecos que acabam por afetar os sinais
reproduzidos. Isso não ocorre com um sinal digital pois, os algoritmos
usados, reconhecem o sinal principal separando-o dos ecos. Outra
característica importante do rádio digital está na capacidade de se
misturar sons com informação na forma de texto.
Assim, ao mesmo tempo em que você ouve o programa que
sintoniza, pode também ver num painel informações projetadas ao
mesmo tempo como hora certa, trânsito, cotações da bolsa, o nome da
estação sintonizada, etc., tudo isso de forma dinâmica. Até mesmo uma
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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

foto do locutor que está falando ou do cantor que está sendo ouvido
pode ser visualizada, ou mesmo a cena do último gol da equipe que
acaba de ser narrado.

Como funciona
Diversos são os obstáculos que um sistema digital de
radiodifusão encontra. Devemos levar em conta a necessidade de uma
cobertura grande, imunidade aos obstáculos e o próprio tipo de
equipamento usado que pode ser fixo ou móvel. Um problema grave
que deve ser levado em conta em primeiro lugar
É que a maioria dos receptores usa antenas não direcionais o que
significa que eles podem captar com facilidade sinais refletidos,
conforme mostra a figura 2.

Se houver um retardo suficientemente grande no sinal refletido,


ele pode chegar com uma fase capaz de cancelar os dados principais,
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NEWTON C. BRAGA

havendo assim uma corrupção da informação que chega ao receptor.


Além disso, existe a limitação do espaço ocupado no espectro que deve
acomodar sinais estéreo e ao mesmo tempo o fluxo de informações na
forma de texto.

Os sistemas
Da mesma forma como ocorre com a TV digital existe uma
disputa sobre qual sistema deve ser adotado de forma universal, para
que todos os equipamentos se tornem compatíveis independentemente
do local onde sejam usados.
Assim, temos o sistema americano desenvolvido pela Ibiquity e
o sistema europeu desenvolvido pelo consórcio DRM (Digital Radio
Mundiale). Existe ainda o padrão Eureka 147 adotado na Europa e o
japonês NTSDB-T. No Brasil, quando escrevemos este artigo pela
segunda vez em 2013, ainda não estava definido o padrão a ser adotado
no Brasil. No mapa abaixo temos os padrões já definidos no mundo.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Padrões de rádio digital segundo a Wikipedia

Temos ainda o sistema IBQC que transmite tanto sinais digitais


como analógicos, o que facilitaria a transição das estações que já
operam no sistema analógico, passando com poucas alterações para o
sistema digital. Também é importante ressaltar que o sistema Eureka
147 é usado em bandas diferentes do DRM que pode ser empregado nas
estações já existentes de ondas médias e curtas com frequências abaixo
de 30 MHz.
Para que o leitor tenha uma ideia de como funcionam esses
sistemas, analisemos em primeiro lugar o sistema europeu Eureka 147
ou Eureka Project.

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NEWTON C. BRAGA

Eureka 147
O sistema adotado na Europa segue as indicações do European
Eureka Project 147, um consórcio de fabricantes, estações de rádio e
operadores de redes. O foco principal desse consórcio ao se analisar um
sistema digital de transmissão para radiodifusão levam em conta o
sistema de codificação e o sistema de compressão dos sinais.
O sistema adotado transmite dados a uma taxa de 128 quilobits
por segundo. Trata-se de uma velocidade 6 vezes menor do que a usada
para um sistema que tenha qualidade de sinal semelhante. Isso é
conseguido pela utilização de um recurso que leva em conta o limiar de
audição das pessoas. O que ocorre é que abaixo de uma certa
intensidade os sinais não são percebidos por nossos ouvidos e por isso
não precisam ser transmitidos.
Além disso, se houver uma componente mais forte de certa
frequência, as componentes mais fracas de frequências próximas não
serão também ouvidas e por isso não precisam ser reproduzidas. Na
figura 3 mostramos a curva típica de reposta do ouvido humano quando
nenhum som está presente.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 3 – Sensibilidade do ouvido humano

Observe que nas extremidades da faixa a sensibilidade do


ouvido humano é menor. Isso significa que levando em conta essas
características do ouvido humano, pode-se fazer uma análise do sinal a
ser transmitido eliminando-se as componentes desnecessárias, ou seja,
aquelas que não serão percebidas. Na figura 4 mostramos um gráfico
em que se observa que, quando existe uma componente de grande
intensidade numa certa frequência, a sensibilidade para as frequências
adjacentes diminui consideravelmente.

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NEWTON C. BRAGA

Figura 4 – Característica importante do ouvido

Assim, se existirem componentes de pequena intensidade nessas


frequências num sinal a ser transmitido, esses componentes podem ser
eliminados com um bom ganho na quantidade de informações a ser
digitalizada. Isso é importante porque pode-se reduzir a largura de faixa
sem, entretanto, que o som transmitido perca qualidade.
A modulação usada para as transmissões digitais é a COFDM ou
Coded Orthogonal Frequency Division Multiplex. Trata-se de uma
forma de modulação em espectro espalhado capaz de proporcionar uma
enorme rigidez ao sistema, evitando problemas que ocorrem com
reflexões e outras formas de interferências. No sistema adotado
atualmente pelas estações existentes, são geradas 1 500 portadoras

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

individuais que se espalham num faixa de 1,5 MHz, conforme mostra a


figura 5.

Figura 5 – A modulação digital

A interferência entre cada portadora é evitada fazendo-se com


que cada sinal individual seja ortogonal em relação ao outro adjacente.
Isso faz com que o espaçamento entre cada canal seja igual à taxa de
dados que está sendo transportada. Isso significa que os pontos de nulo
de cada faixa lateral que é gerada na modulação caia justamente no
ponto exato em que a portadora adjacente está.
Veja então que a informação digitalizada do áudio se espalha
pelas portadoras de tal forma que cada uma delas transporta apenas uma
pequena parcela dessa informação. Esse fato é importante porque, se
num local de muita interferência, parte desses “pacotes” de informação
se perderem, os que chegam são suficientes para reconstituir o sinal
com excelente qualidade.
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NEWTON C. BRAGA

São ainda previstas bandas de guarda no começo e no final de


cada pacote transmitido, de tal forma que o sistema se torna
praticamente imune aos retardos que podem ocorrer na propagação. Na
prática os sinais podem ser recebidos sem problemas a uma distância de
até 60 km.
Uma característica importante desse sistema, que não ocorre
com os sistemas analógicos, é que numa mesma região é possível ter
diversos transmissores operando na mesma frequência. Pode-se então,
da mesma forma que na telefonia celular, ter não apenas um transmissor
para cobrir uma região, mas diversos transmissores, conforme mostra a
figura 6.

Figura 6 – Estrutura de transmissão semelhante a usada em


telefonia celular

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Assim, em lugar de um transmissor único, que muitas vezes


encontram problemas para ter uma localização ideal pode-se ter
diversos transmissores que dão cobertura a áreas que de outra forma
seriam problemáticas, conforme mostra a figura 7.

Figura 7 – Chegando a regiões de recepção problemática

Nesse ponto deve-se levar em conta o problema da potência. Um


transmissor único para ter uma cobertura ideal num grande centro,
precisa de uma potência muito alta. Transmissores de 100 kW são os
mais usados para se ter uma cobertura razoável, não se eliminando as
regiões de sombra.
No entanto, com poucos transmissores de muito menor potência,
pode-se ter uma cobertura muito mais eficiente, com um gasto menor de
energia (o que é importante para as operadoras). Mais do que isso, a
localização desses transmissores pode ser estudada de modo a garantir
que o transmissor alcance exatamente o ouvinte desejado.

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NEWTON C. BRAGA

Na Inglaterra o espectro alocado para as estações digitais está


entre 217, 5 e 230 MHz o que resulta em 7 blocos de 155 MHz, cada
qual capaz de fornecer o serviço multiplexado. Para a recepção via
satélite as frequências usadas estão entre 1467 e 1492 MHz.

Sistema DRM
Este sistema é indicado para a utilização nas faixas de AM já
existentes abaixo de 30 MHz, ou seja, faixas de ondas médias e curtas,
conforme mostra o gráfico da figura 8.

Figura 8 – As faixas do rádio digital

O sistema DRM proporciona uma qualidade de som próxima do


FM e a sua grande vantagem é que os transmissores que hoje operam
com sinais analógicos podem ser facilmente adaptados para fazer a
transmissão de seus sinais.
A faixa ocupada é exatamente a mesma das estações de AM já
existentes, entre 9 kHz e 10 kHz de largura, mas existem modos de
operação que necessitam apenas de 4,5 ou 5 kHz de largura de faixa,
além de modos que operam com faixas de 18 kHz ou 20 kHz. O sistema

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

também usa a modulação COFDM (Coded Orthogonal Frequency


Division Multiplex).
Conforme mostra a figura 9 o sinal é dividido em “pacotes” que
são transmitidos em uma grande quantidade de portadoras próximas,
dentro da faixa ocupada pela estação.

Figura 9 – Faixa ocupada

No sistema DRM, o número de portadores é variável. Ele vai


depender das condições locais de transmissão, como a robustez
desejada para o sinal, além da largura do canal alocado. Três tipos de
codificação são empregados para o sinal de áudio, dependendo apenas
das preferências dos responsáveis pelas estações.

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NEWTON C. BRAGA

O primeiro deles é o MPEG4 AAC que é aumentado por uma


extensão de faixa SBR. Esse sistema de codificação é de uso geral,
proporcionando a melhor qualidade de áudio.
O outro sistema é o MPEG4 DELP, codificador de palavra,
usado nos casos em que se deseja alta qualidade de codificação da
palavra falada, não servindo para música.
Finalmente, o terceiro é o HVXC que pode ser usado nas
transmissões em que uma velocidade muito baixa de transmissão deve
ser usada para transmissão da palavra.

Conclusão
Evidentemente, a adoção de qualquer sistema de rádio digital em
nosso país vai implicar na necessidade.de se disponibilizar no mercado
receptores especiais. Diferentemente do caso da transição da TV
monocromática para TV em cores, não será possível transmitir ao
mesmo tempo num mesmo canal os dois sinais, o que possibilita a
sintonia de uma estação em qualquer dos sistemas.
No entanto, a possibilidade de se ocupar as mesmas faixas
atuais, faz a adaptação fácil dos transmissores já existentes para a
transmissão digital, já um primeiro passo que nos leva a acreditar que o
sistema DRM seja o adotado em nosso país. De qualquer forma, os
profissionais da eletrônica, principalmente os projetistas de receptores,

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

técnicos de manutenção e instalação das emissoras e os profissionais de


service devem estar preparados para encontrar pela frente equipamentos
que usam uma nova tecnologia.
Salienta-se nesse ponto a importância da eletrônica digital em
nossos dias. Se bem que nossos ouvidos ainda sejam analógicos, assim
como nossos outros sentidos, cada vez mais, a integridade no
processamento desses sinais na forma digital se mostra importante
quando devemos transmiti-los, gravá-los ou seja lá o que desejemos
fazer com eles.
Obs.: escrevemos a primeira versão deste artigo originalmente
em 2005, mas a situação da escolha do padrão a ser usado em nosso
país pouco mudou desde então, até esta segunda versão em 2013, ainda
havendo uma indefinição sobre como vai funcionar tudo isso. O artigo
serve para dar uma ideia de como tudo vai funcionar (esperamos).

34
NEWTON C. BRAGA

MHz x Mbits/s
As comunicações de dados, usando meios físicos ou sem fios
(wireless) se tornam cada vez mais rápidas, exigindo dispositivos cujas
especificações tornam-se críticas para o desempenho. Os dispositivos
normalmente têm sua velocidade especificada em MHz (Megahertz) ou
Mbits/s (Megabits por segundo), o que faz com que muitos leitores
fiquem confusos na hora de interpretar o seu significado. Veja neste
artigo as diferenças entre MHz e Mbits/s.
A quantidade de informação que conseguimos transmitir através
de um determinado meio é medida em bits por segundo. Milhões de bits
por segundo nos levam aos megabits, não temos maiores dificuldades
em entender esta especificação. No entanto, para transmitir os milhões
de bits por segundo de uma informação através de determinados meios
devem ser usados circuitos de alta frequência, ou seja, circuitos cuja
especificação é feita em megahertz ou mesmo gigahertz (bilhões de
ciclos por segundo).
Assim, se considerássemos que um ciclo do sinal que transporta
a informação correspondesse a um bit tudo estaria resolvido:
numericamente uma especificação em bits por segundo seria a mesma
que em hertz.

35
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

No entanto, não é isso que ocorre.


Os sinais, normalmente senoidais que transportar as
informações, podem transportar mais de um bit por ciclo. Processos de
codificação ou modulação especiais que são usados nas comunicações
rápidas podem fazer com que um ciclo de um sinal transporte mais de
um bit, na verdade até 512 em alguns casos. Na figura 1 mostramos um
exemplo em que num ciclo de sinal, alterando-se sua intensidade e sua
fase podemos transportar até 3 bits por ciclo.

Isso significa que, na prática, usando este tipo de modulação, um


sinal de 10 MHz poderia transportar 30 Mbits/s. Para as redes Ethernet
e Token Ring a relação entre a frequência ou banda passante e os
megabits por segundo é de um para um.
Assim, para uma rede Ethernet 10Base-T a faixa passante deve
ser de pelo menos 10 MHz, valor que é especificado no padrão IEEE

36
NEWTON C. BRAGA

802.3. Faixa passante é a faixa de frequências que deve passar pela rede
sem problemas, se bem que na prática sempre seja desejável que ela
esteja acima do valor mínimo requerido para um bom funcionamento.
Para a rede Token Ring 16Mbits/s a faixa passante deve ser de
16 MHz, se bem que na prática seja recomendada para maior
performance uma faixa de pelo menos 25 MHz. No entanto para outros
tipos de rede como do padrão Ethernet 100BASE-TX, o tipo de
codificação sinal, denominada MLT-3 permite que sejam transmitidos
100 Mbits por segundo num canal de apenas 80 MHz de largura,
conforme mostra a figura 2.

37
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

O interessante é que neste padrão definido pelo IEEE como


803.3u, uma grande parte da energia transmitida está numa faixa de
frequências abaixo de 32 MHz. Enfim, os bits por segundo indicam
quanto de informação você pode transmitir pela rede, enquanto os MHz
indicam qual deve ser a capacidade de transportar sinais de alta
frequência do meio físico usado. Em alguns casos os dois valores
podem coincidir, mas isso não é uma regra, o que significa que o
profissional deve estar atento quando for projetar suas redes.

38
NEWTON C. BRAGA

BAUD x BPS
A transmissão de dados por linhas telefônicas é fundamental em
nossos dias. A maioria das pessoas possui computadores com modems
que enviam e recebem dados através da linha telefônica. A principal
especificação destes modems é a velocidade com que eles podem
receber ou transmitir os dados e isso pode ser feito de duas maneiras, o
que causa uma grande confusão em muitos leitores, mesmos os que
possuem conhecimentos técnicos avançados. Baud ou BPS, qual é a
diferença? Neste artigo mostramos aos leitores o que cada uma destas
especificações significa, procurando tirar as dúvidas dos leitores que
ainda as possuem.
Antigamente, o principal meio de se enviar dados através de fios
elétricos era o telégrafo. Um operador manipulava uma chave
produzindo pulsos elétricos que atuavam sobre uma campainha ou
receptor do outro lado da linha produzindo estalidos ou toques. Um
toque curto era interpretado como um ponto e um toque longo como um
traço. Traços e pontos (que poderiam ser associados aos zeros e uns da
comunicação digital) formavam então as letras, números, e outros
símbolos, conforme mostra a figura 1.

39
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 1 – O Código Morse

A recepção da mensagem dependia principalmente do bom


ouvido de quem deveria anotar os cliques curtos e longos
correspondentes aos pontos e traços. O operador, por outro lado, deveria
ter a capacidade de enviar estes impulsos com grande velocidade.
Um francês denominado J. M. Emile Baudot foi o primeiro que
criou uma maneira de medir a velocidade das transmissões telegráficas
dando origem a unidade denominada Baud e que inventou o teletipo.

40
NEWTON C. BRAGA

Jean Maurice Émile Baudot – 1845 - 1903

O BAUD e o BPS
Quando o telegrafista toca no manipulador ele produz uma
transição de sinal na linha em que a tensão passa de 0 a 12 Volts, por
exemplo tantas vezes quantas ele atue sobre o manipulador.
Cada vez que ele aciona o manipulador dizemos que um baud é
transmitido. Indo além, e passando para a era digital em que não
transmitimos pontos e traços, mas zeros e uns para formar os bytes,
podemos associar uma tensão de -12 V ao bit 0 e uma tensão de +12 V
a um bit 1.

Assim, se quisermos transmitir uma sequência de dados na


forma digital como 11001101 a tensão no fio vai sofrer o mesmo
41
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

número de transições quantos sejam os bits transmitidos. Dizemos


então que a quantidade de bits por segundo ou bps que transmitimos
neste caso é igual a velocidade de transmissão em bauds.

Quando BAUD e BPS são diferentes


Tudo seria muito simples e haveria uma equivalência entre o
baud e o bps se as linhas telefônicas não tivessem uma série limitação
de velocidade. A frequência máxima que uma linha telefônica pode
transmitir é da ordem de 3000 Hz, o que significa que fica muito difícil
tentarmos "empurrar" da forma indicada por uma linha bits numa
velocidade maior que isso. Na prática, esta velocidade está limitada a
2400 bauds.
Para poder comprimir mais dados pela linha a solução usada é
muito engenhosa. Por que não usar a transição de -12 a +12 V para
transmitir não apenas os bits 0 ou 1, mas, para transmitir mais bits.
Podemos, por exemplo, associar ao valor -12 V o grupo de bits
00, ao valor -6 V o grupo 01, ao valor +6 V o grupo 10 e ao valor +12 o
grupo 11, conforme mostra a tabela abaixo.
Tensão Dado
- 12 V 00
-6V 01
+6V 10
+ 12 V 11
42
NEWTON C. BRAGA

Veja então que, com 2 bauds na verdade podemos transmitir 4


bits diferentes, dobrando assim a velocidade. Assim, uma velocidade de
2 400 bauds pode perfeitamente, usando esta técnica transmitir 4 800
bps.
Na prática é justamente isso que os modems fazem. Mantendo a
velocidade em bauds eles utilizam diversos tipos de modulação do sinal
de modo a poder "enfiar" mais bits por transição. Eles podem utilizar
mais de 4 amplitudes do sinal para multiplicar o número de bits, utilizar
alterações de fase do sinal, etc. Assim, um modem de 2 400 bauds que
aproveite 6 estados da transição do sinal, ou seja, pode enviar 6 bits por
baud pode ter uma velocidade de 14 400 bps.

43
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Uma velocidade de 28 800 bps pode ser obtida com um modem


de 3 200 bauds que utilize 9 bits por baud.
Com exceção dos modems de 56k os modems comuns operam
em velocidades de 2 400, 3 000 ou 3 200 bauds quando conectados às
linhas telefônicas. Os modems de 56 k podem usar velocidades maiores
em bauds quando a linha admite, mas em geral eles "ajustam" sua
velocidade para valores menores dependendo das condições locais da
linha de modo a conseguir uma operação segura, sem perdas de dados.
Existem ainda os modems para a porta serial que operam em
velocidades maiores como 19,2, 28,8, 33,6 , 57,6 e 115,2 k bps e em
alguns casos valores de 230,5 k bps são possíveis.

44
NEWTON C. BRAGA

Cálculos de modulação em
amplitude
Você sabe calcular o índice de modulação de um sinal modulado
em amplitude? Este tipo de cálculo é exigido nos cursos de Telecom e
mesmo na prática, devendo o profissional saber exatamente como
proceder. O texto que damos a seguir é parte de nosso Curso de
Eletrônica – Radiocomunicações – Volume 5.
Existem parâmetros importantes que devem ser considerados na
modulação em amplitude e eles seguem procedimentos de cálculos bem
definidos. Se o leitor tem dificuldades em entender esses cálculos,
sugerimos que deixe para ler este item quando estiver mais
familiarizado com a matemática.
Quando modulamos um sinal de alta frequência com um sinal de
baixa frequência, por exemplo, um som de frequência fixa de uma nota
musical, não apenas a amplitude da portadora varia como também, pelo
fenômeno do batimento, são obtidas duas frequências adicionais ou
duas raias. Assim, o sinal final obtido além das variações da amplitude
passa a ocupar três raias no espectro, conforme mostra a figura 1.

45
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 1 – Faixas laterais geradas na modulação em amplitude

Agora o leitor pode perceber melhor porque é preciso deixar


uma certa faixa de frequências no espectro para cada estação. Na
modulação, o sinal “espalha”, precisando, portanto, de espaço no
espectro para fazer isso sem causar problemas de interferências nas
estações adjacentes.
A raia central é a portadora. A raia inferior é denominada
frequência lateral inferior ou faixa lateral inferior, abreviada por LSB
(lower Side Band), do termo correspondente em inglês. A faixa superior

46
NEWTON C. BRAGA

ou faixa lateral superior é abreviada por USB de Upper Sideband que é


o termo correspondente em inglês.
Se o sinal modulador for a voz ou a música, composta de muitas
frequências, o que obtemos não é apenas uma banda estreita superior e
uma inferior, como na figura 1, mas sim, faixas mais largas como
mostra a figura 2.

Figura 2 - Sinal modulado por um som complexo, como a voz


humana.

As intensidades das duas raias dependem da intensidade ou


profundidade com que a modulação é feita. Quando somamos as
intensidades dos sinais das duas bandas, para uma modulação feita com
47
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

um sinal senoidal de frequência única, obtemos um sinal conforme


mostra a figura 3. Em torno deste sinal podemos traçar uma curva
denominada envolvente ou envoltória.

Figura 3 - Bandas combinadas com a envolvente em (c)

Observe que os sinais contidos nas duas bandas são os mesmos,


apenas são invertidos em relação ao tempo, ou seja, no espectro. A
envolvente ou envoltório representa o sinal modulador presente no

48
NEWTON C. BRAGA

sinal. Nesse exemplo, o sinal modulador é um sinal senoidal de


frequência fixa.

Índice de modulação em amplitude


Para que haja correto funcionamento de um transmissor de AM
de modo que seja obtido maior alcance e para que ele não cause
interferências a modulação deve ser feita de forma bem determinada.
Uma modulação pobre, em que a amplitude da portadora varie pouco de
intensidade faz com que o rendimento da estação seja pequeno. Por
outro lado, uma modulação excessiva que ultrapasse a variação da
amplitude do sinal de alta frequência faz com que ocorram distorções e,
mais do que isso, sejam geradas interferências.
Na prática a modulação é medida na forma de uma
porcentagem. Assim, uma modulação de 100% é aquela em que a
amplitude do sinal varia entre zero e o valor máximo. Uma modulação
pobre, menor que 100% não faz com que o sinal varie em toda sua
amplitude. Pode ocorrer ainda que a modulação supere os 100%, caso
em que teremos instantes em que o sinal se anula.
Um sinal não deve ser modulado em mais do que 100%, pois
além de ocorrerem distorções dos sinais, são geradas bandas laterais
fora das faixas designadas causando interferências. Neste caso, dizemos
que ocorre uma sobremodulação. Na figura 4 mostramos os três casos.
49
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 4 – As porcentagens de modulação

Calculamos o índice de modulação de um sinal modulado em


amplitude usando a fórmula abaixo:
(𝐵−𝐴)
𝑚= (𝐵+𝐴)
x 100

Onde:
m = índice de modulação (%)
A = amplitude máxima do sinal
B = amplitude mínima do sinal
Na figura 5 temos um sinal modulado, mostrando os valores de
A e B.

50
NEWTON C. BRAGA

Figura 5 – Medindo o índice de modulação

51
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

52
NEWTON C. BRAGA

Circuitos ressonantes
Os circuitos ressonantes são encontrados em praticamente todos
os equipamentos de telecomunicações. Eles são responsáveis pela
frequência do sinal que deve ser transmitido ou recebido, pela
separação de sinais em filtros, pela rejeição de interferências e ruídos e
muito mais. Neste artigo, explicamos como este tipo de circuito
funciona. Ele faz parte de nosso livro Curso de Eletrônica –
Telecomunicações – Vol 5 – Radiocomunicações em que ensinamos o
fundamental para este importante ramo da eletrônica.
Todos os objetos possuem uma frequência própria de vibração.
Percebemos isto quando batemos numa taça, num pedaço de metal ou
num diapasão. O material de que é feito o objeto, suas dimensões e seu
formato determinam esta frequência. Denominamos esta frequência de
“frequência de ressonância”. Um fato interessante pode ser observado
quando dois objetos próximos têm a mesma frequência de ressonância e
fazemos um deles vibrar. Dois diapasões afinados para a mesma
frequência, por exemplo, podem servir de exemplo para um
experimento interessante que envolve este fato. Quando batemos em um
emitindo um som, este som faz com que o outro diapasão entre em
vibração. Podemos perceber isto aproximando o ouvido do segundo
diapasão, conforme mostra a figura 1.

53
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 1– Tocando uma corda de um violão a correspondente


do outro também vibra.

Este fenômeno também ocorre com os circuitos eletrônicos.


Determinados circuitos eletrônicos também possuem frequências
próprias de vibração, emitindo sinais numa única frequência quando são
excitados. E, circuitos semelhantes que recebam estas frequências
tendem a vibrar de forma mais intensa, recebendo os sinais destas
frequências. No caso, o circuito que faz isso é o circuito ressonante LC
mostrado na figura 2.

54
NEWTON C. BRAGA

Figura 2 – O circuito ressonante LC.

Este circuito apresenta algumas propriedades de extrema


importância para as radiocomunicações. A primeira delas é a de oscilar
numa frequência única. Assim, tomando o circuito básico da figura 3,
vamos supor que o capacitor esteja completamente carregado.

Figura 3 – O capacitor inicialmente se encontra carregado


55
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Nestas condições iniciais, existe um campo elétrico uniforme


entre as armaduras do capacitor e nele está armazenada a energia do
circuito. Fechando o interruptor, uma corrente de descarga do capacitor
flui através do indutor. Com a descarga do capacitor a corrente criada
cria um campo magnético que se expande para o qual é transferida a
energia, conforme mostra a figura 4.

Figura 4 - A energia do campo elétrico no capacitor se transfere


para o campo magnético do indutor.

Quando a corrente de descarga cessa, toda a energia está no


campo magnético do indutor. Neste momento, o campo magnético

56
NEWTON C. BRAGA

começa a contrair-se induzindo no indutor uma tensão que carrega o


capacitor, mas com polaridade oposta, conforme mostra a figura 5.

Figura 5 – O campo magnético em contração gera uma tensão


que carrega o capacitor novamente, mas com a polaridade invertida.

Terminada a contração do campo, com o seu desaparecimento, o


capacitor começa agora a descarregar-se novamente, mas com uma
corrente oposta à inicial. Esta corrente gera um novo campo magnético
invertido que se expande no indutor, conforme mostra a figura 6.

57
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 6 – Campo em expansão pela nova descarga do


capacitor.

Novamente, com a descarga completa do capacitor e o campo


magnético no máximo, inicia-se uma nova contração com uma nova
carga do capacitor com a polaridade original. Um novo ciclo como o
descrito tem então início. Se a carga e descarga do capacitor não
ocorresse com perdas o ciclo ocorreria por tempo infinito gerando assim
um sinal senoidal cuja frequência dependeria dos valores do capacitor e
do indutor. Na prática, entretanto, os condutores do indutor e do circuito
representam uma resistência que absorve energia. Assim, a oscilação
que ocorre é amortecida até desaparecer, conforme mostra a figura 7.

58
NEWTON C. BRAGA

.
Figura 7– oscilação amortecida

Se em cada ciclo produzido a energia perdida for reposta,


teremos um sinal de amplitude constante. Isso pode ser conseguido
através de circuitos amplificadores, como ocorre nos denominados
osciladores. Num oscilador temos um componente (válvula ou
transistor) que constantemente repõe a energia perdida em cada
oscilação mantendo assim sua intensidade constante. Na verdade, ele
até repõe energia a mais de modo que parte dela possa ser aproveitada
num circuito externo, conforme mostra a figura 8.

59
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 8 – Sinal de amplitude constante

Quando um circuito LC é excitado ele oscila numa frequência


que depende do indutor e do capacitor. No entanto, se a excitação for
um outro sinal ocorre um fenômeno importante dado pela ressonância.
Se a frequência do sinal excitante for diferente da frequência natural de
oscilação, ou seja, da frequência de ressonância, ele terá dificuldade em
acompanhar as variações deste sinal, e com isso sua impedância será
reduzida. Nestas condições, o circuito se comporta como um condutor
para o sinal que passará através dele, conforme mostra a figura 9.

60
NEWTON C. BRAGA

Figura 9 – Circuito LC fora da ressonância.

No entanto, se a frequência do sinal coincidir com a frequência


de ressonância do circuito LC, ele se comportará como um circuito de
alta impedância, aparecendo então o sinal em suas extremidades com
grande amplitude, conforme mostra a figura 10.

Figura 10 – O circuito LC paralelo na frequência de


ressonância.
61
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Esta característica é aproveitada nos circuitos de sintonia dos


receptores. Ligados na entrada de um receptor de rádio, os circuitos
ressonantes LC paralelos permitem que apenas sinais de uma
determinada frequência apareçam nas suas extremidades e sejam
enviados aos circuitos de processamento, enquanto que os demais são
curto-circuitados para a terra, conforme mostra a figura 11.

Figura 11 – Circuito de sintonia de um rádio receptor

Na prática é comum que o capacitor seja variável de modo que


uma certa faixa de frequências seja varrida e assim selecionadas as
estações desejadas. Isso ocorre com os receptores simples. Uma
possibilidade explorada nos circuitos de sintonia LC consiste em se

62
NEWTON C. BRAGA

utilizar um capacitor de estado solido cuja capacitância pode ser


controlada pela tensão, ou seja, um diodo de capacitância variável ou
varicap, num circuito como o da figura 12.

Figura 12– Sintonia feita por varicap

Neste circuito, a tensão aplicada ao diodo de capacitância


variável determina sua capacitância e assim a frequência sintonizada
pelo circuito. Esta configuração permite que microcontroladores e
outros dispositivos de estado sólido sejam utilizados para realizar a
sintonia automática de estações de um circuito.
Obs:Você poderá saber mais sobre os diodos de capacitância
variável ou varicaps no Curso de Eletrônica Analógica do mesmo autor
deste livro ou no seu site WWW.newtoncbraga.com.br

63
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Mas, os circuitos ressonantes também podem ser formados por


um capacitor e um indutor ligados em série, conforme mostra a figura
13.

Figura 13– Circuito LC série.

Nestes circuitos na frequência de ressonância a impedância


apresentada é baixa, enquanto nas demais, a impedância é alta.

Seletividade – fator Q
Se analisarmos os circuitos ressonantes, na condição ideal, eles
deveriam responder apenas a uma determinada frequência, rejeitando as
demais. Na prática, entretanto, a presença de resistências parasitas no
circuito faz com que ele tenda a ter curvas de respostas menos agudas, o
que determina o fator de qualidade ou fator Q, que mede sua
seletividade. Assim, conforme mostra a figura 14, um circuito com um

64
NEWTON C. BRAGA

fator de qualidade mais elevado, tem uma seletividade maior, responde


melhor a uma determinada frequência e rejeitando as demais.
Veja, entretanto que, na prática, não devemos ter um circuito de
sintonia cuja seletividade seja máxima, pois isso também significa que,
na modulação do sinal recebido, quando ele se desloca da sua
frequência, teremos sua perda.

Figura 14– Resposta de um circuito de sintonia LC

O fator Q é dado pela fórmula:

65
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Onde:
Q é o fator Q
R é a resistência associada ao circuito em ohms
C é a capacitância em farads
L é a indutância em henry
Na figura 15 temos o circuito equivalente com a resistência
associada:

Figura 15 – Circuito RLC

Conclusão
O que vimos é apenas um pouco sobre o funcionamento dos
circuitos ressonantes. Podemos aprender muito mais, analisando o
modo como eles são usados em osciladores e receptores..

66
NEWTON C. BRAGA

DSL - Digital Subscriber Line


e variações xDSL
As tecnologias de telecomunicações, como a que envolve
transmissão de dados e voz em banda larga, já são comuns em muitos
lares e os equipamentos já são vistos na maioria dos computadores. Para
os leitores da área técnica, como os nossos leitores, as dificuldades de
sair em busca de informações sobre seu princípio de funcionamento,
tecnologia empregada e aplicações não são poucas. Nem sempre estas
informações são acessíveis e o leitor que precisa estar em dia com o que
há de novo se vê em dificuldades. A tecnologia ADSL e suas variações
ADSLx são um desses casos e neste artigo procuramos explicar aos
nossos leitores exatamente o seu significado.
A tecnologia comum usada para as comunicações telefônicas
que faz uso de sinais analógicos não é a mais apropriada para as
necessidades crescentes de transportar um volume enorme de
informações. Cada vez mais pessoas estão ligadas à Internet e cada vez
maior velocidade na transmissão dos dados é exigida.
Para que o leitor tenha uma ideia de como são lentas as linhas
telefônicas comuns, basta dizer que usando um modem de 56 kbps
precisamos de 25 minutos para transmitir um arquivo de 20 megabytes.

67
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

As linhas telefônicas tradicionais foram feitas para transmitir apenas


voz numa banda muito estreita de frequências que vai tipicamente entre
300 Hz e 3 000 Hz.
Para transmitir dados por estas linhas usando um modem
comum diversos artifícios conseguem uma velocidade máxima de 56
kbps, mas isso não é suficiente, conforme vimos acima. Além disso,
existe o problema para a ocupação das linhas telefônicas por longos
intervalos não está apenas na conta que precisamos pagar.
As linhas telefônicas são projetadas para manusear "pacotes" de
chamadas de 3 minutos e nos horários de pico os pacotes máximos são
de 9 minutos. A ocupação da linha por mais de 10 minutos seguidos é
algo que traz problemas inclusive para as empresas de telefonia.
Com a finalidade de adequar as linhas telefônicas tradicionais de
modo que elas possam manusear informações transmitindo-as com
muito maior velocidade foi criada a tecnologia DSL (Digital Subscriber
Line) ou Linha de Assinante
Assimétrica Digital e suas variações ADSL, HDSL e RADSL.
Analisemos como funciona.

O que é a tecnologia DSL


DSL é uma tecnologia de processamento de sinais digitais para
comutação e roteamento através de linhas telefônicas com alta

68
NEWTON C. BRAGA

velocidade. O ponto principal da tecnologia ADSL é proporcionar uma


faixa passante mais larga para os sinais que possam atender as
exigências de demanda da Internet. Em outras palavras trata-se de uma
tecnologia de banda larga ou "broad band".
Com ela é possível transmitir dados numa velocidade de até 6,1
Mbits por segundo, com um valor teórico máximo de 8,448 Mbits por
segundo numa linha telefônica comum. Tipicamente, os valores
alcançados na prática estão entre 512 kbps e 1,544 Mbps para
downstream e 128 kbps para upstream.
Originalmente a tecnologia ADSL foi criada em 1994 para
proporcionar a possibilidade de se usar as linhas telefônicas para jogos
interativos, multimídia e teleconferência. Em 1997 um estudo feito pelo
NOP Research Group mostrou que mais de 250 000 ingleses
compravam alguma coisa pelo sistema on-line a cada mês. Este mesmo
estudo mostrou que 10% das mais de 4,5 milhões de pessoas na
Inglaterra que estariam plugadas na Internet eram mulheres e estariam
fazendo compras por este sistema.
Tudo isso exigia a criação de um sistema mais rápido de
transferir dados pelas linhas telefônicas. Assim, a Compaq, Intel e
Microsoft trabalhando com empresas telefônicas desenvolveram uma
variação da tecnologia DSL mais fácil de instalar do tipo ADSL.

69
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Na versão ADSL ou Asymmetric Digital Subscriber Line, a


velocidade de transmissão de dados baixados (downstream) é maior do
que a velocidade dos dados enviados (upstream).
A tecnologia ADSL pode transferir dados pela linha telefônica
numa velocidade cerca de 200 vezes maior do que as linhas comuns e
mais de 90 vezes mais rápido que as linhas ISDN. Isso corresponde ao
recebimento de dados numa velocidade de até 6,1 Mbps e enviar a
velocidades de 640 kbps.
Basicamente a tecnologia ADSL oferece as seguintes vantagens:
● É mais rápida. Um arquivo de 10 Mbps pode ser transferido em
apenas 10 segundos usando um modem ADSL.
● É fácil de instalar. As linhas de pares trançados podem ser
usadas para transmissão dos dados ADSL não havendo
necessidade de novas instalações.
● É barata
No Brasil, o exemplo dessa tecnologia é o sistema Speed da
telefônica.(*)
(*) Este artigo é de 2003

70
NEWTON C. BRAGA

Como funciona a tecnologia da Banda


Larga
O ponto crítico das instalações telefônicas é a chamada "last
mile" ou última milha que corresponde ao pedaço de fio que vai da casa
do assinante até o cabo mais próximo de sinais. Esta "ultima milha" na
verdade pode chegar até a 5,5 km ou 18 000 pés. O par trançado que é
usado neste caso ou fios comuns apresenta indutâncias e capacitâncias
reduzem a banda passante e que oferecem uma séria dificuldade para a
transmissão de dados de alta velocidade, conforme sugere a figura 1.

Assim, à medida que nos aproximamos desse limite a velocidade


máxima de envio de dados diminui, em valores múltiplos de 9600
estabelecidos por padrões Americanos e Europeus, como no caso dos
modems comuns. Quanto mais perto da estação telefônica estiver o
assinante, maior é a velocidade que seu sistema pode alcançar. O
71
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

próprio fio usado é importante. Fios 24 podem transmitir os mesmos


dados a uma velocidade muito maior do que fios 26.
Conforme mostra a figura 1 a faixa passante da maioria das
linhas telefônicas não vai além de 4 kHz o que permite o uso (e
sofrível) apenas da voz para as comunicações. Na verdade, quando o
telefone foi inventado ninguém poderia imaginar que ele poderia ser
usado para transmitir algo mais que não fosse a voz!
Os modems modernos fazem milagres conseguindo transmitir
dados em velocidades de até 56 kbps em linhas comuns manuseando a
fase, amplitude e outras características do sinal, mas esta velocidade é
limite teórico e na prática somente em poucas linhas é alcançada.
A ideia básica do ADSL é usar uma técnica sofisticada de
processamento de sinais através de modems especiais que possibilitem
a utilização dos fios comuns telefônicos sem precisar de uma faixa
passante mais larga que a existente. Com a tecnologia ADSL é possível
estender a faixa passante para 1 MHz em linhas comuns. Nesta faixa, a
informação é dividida em três canais, conforme mostra a figura 2. Com
essa faixa passante dados numa velocidade de até 8 Mbps podem ser
transmitidos.

72
NEWTON C. BRAGA

Figura 2 - Como as informações são distribuídas no sinal


ADSL. As frequências mais altas são usadas para um canal de alta
velocidade (8 Mbps) e as mais baixas para a voz.

Um canal para baixar informações (downstream) de alta


velocidade, um canal de alta velocidade bidirecional
(downstream/upstream) e um canal convencional de voz.
Disponibilizando os três canais pode-se ao mesmo tempo, por exemplo,
utilizar o canal de alta velocidade para se fazer o download de um
filme, um arquivo muito grande; o canal de velocidade média para ler
ou enviar um E-mail e o canal de voz para manter uma conversação
comum.
Veja que a grande vantagem deste sistema é preservar o sistema
convencional das comunicações de voz, simplesmente acrescentando
novas possibilidades à mesma linha. Com a utilização da capacidade
completa do canal pode-se ir além, trabalhando-se com quatro canais
MPEG de vídeo comprimido sem interrupção nos serviços normais de
telefonia.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Assimetria - otimizando o sistema


A assimetria vem do fato de que usando a Internet as pessoas
tendem a movimentar dados em maior quantidade numa direção do que
em outra. De fato, temos muito mais dados movimentando de algum
lugar para a casa do assinante do que ao contrário. Levando em conta
isso, a tecnologia ADSL disponibiliza uma velocidade maior para o
downstream do que para o upstream.
Assim, para movimentar dados para a casa do assinante temos
uma velocidade máxima é de 8 Mbps enquanto da casa do assinante
para a rede a velocidade é de apenas 640 Mbps.

O sistema na prática
Na figura 3 temos o modo como funciona um sistema usando
modems ADSL.

74
NEWTON C. BRAGA

Figura 3 - os elementos do sistema ADSL.

Os modems ADSL são ligados ao computador, vídeo e também


ao telefone comum conectando com roteadores para Internet e também
para sistemas que transferem a voz para os telefones chamados. Na casa
do assinante fica um dos modems enquanto na empresa telefônica ficam
os conjuntos de modems em racks. Os modems da empresa telefônica
separam o que é voz do que é dado enviando-os aos circuitos
apropriados.
As chamadas de voz são enviadas à rede telefônica comum
enquanto os dados são enviados via uma Ethernet e roteador,
eventualmente uma linha de alta velocidade OC-3 de 155 Mbps ao
provedor local de acesso à Internet.

75
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Outras variações
a) IDSL
IDSL (ISDN DSL) é um sistema que está mais próximo do
ISDN com velocidades de dados de 128 kbps.

b) SDSL
SDSL ou Symmetric DSL usa um par simples trançado com
uma velocidade de transmissão de dados de 1,544 Mbps (Estados
Unidos e Canadá) e 2,048 Mbps (Europa) em ambas as direções numa
linha duplex. É chamada "simétrica" porque a velocidade dos dados é a
mesma nos dois sentidos (upstream e downstream).

Características dos Sistemas DSL


Tipo DSL Significado da Velocidade Distância Limite Uso
Sigla
IDSL ISDN 128 kbps 5 500 metros com fio 24 Semelhante ao ISDN
Digital Subscriber DSL, mas para dados
Line apenas - sem voz na
mesma linha

SDSL Symmetric DSL 1,544 Mbps duplex 3,8 km com fio 24 O mesmo que HDSL,
(US e canadá); 2048 mas exigindo apenas
Mbps (Europa) em um par trançado
linha simples duplex
- downstream e
upstream
ADSL Asymmetric 1,544 s 6,1 Mbps 1,544 Mbps até 5500 metros; Usado para Internet
Digital Subscriber downstream e 16 a 2048 Mbps até 4200 metros;
Line 640 kbps upstream 6312 Mbps até 3800 metros;
8448 Mbps até 2800 metros.

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NEWTON C. BRAGA

Carregadores de celulares sem fio


Uma nova geração de carregadores para baterias de celulares
está substituindo os velhos carregadores ligados a uma tomada de
energia ou a um adaptador no carro: a geração dos carregadores sem fio.
Grandes empresas fabricantes de chips estão disponibilizando seus
produtos que tornam o desenvolvimento de carregadores muito mais
simples, e um padrão universal permitirá que uma base carregadora
opere com qualquer tipo de celular.
Em breve, será comum que ao chegar a um quatro de hotel, a um
restaurante ou outro lugar público, você encontrará uma pequena base
onde seu telefone será colocado para uma carga, sem a necessidade de
conectores, fios e outras coisas que tornam incômodo o uso deste tipo
de equipamento.
Diversas marcas de celulares já disponibilizam este recurso,
assim como os carregadores apropriados sem fio. Neste artigo
explicaremos como funciona o carregador sem fio e veremos como as
tecnologias modernas podem tornar a carga inteligente, indo além da
simples transferência da energia, mas também o gerenciamento da carga
e muito mais.
Nicola Tesla previu que no futuro a energia poderia ser
transportada sem a necessidade de fios.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 1 – Estação transmissora de energia sem fio idealizada


por Nicola Tesla em 1905

Se bem que a ideia de Tesla até hoje não tenha sido aplicada à
transmissão de grandes quantidades de energia a longas distâncias, para
pequenas distâncias as limitações são menores. O que ocorre é que se
emitirmos energia, por exemplo, através de ondas de rádio, elas se
espalham no espaço de modo que na estação receptora chega apenas
uma pequena parcela da energia emitida.
É por esse motivo que os receptores de rádio precisam de
circuitos amplificadores. O sinal que é captado pela antena corresponde
78
NEWTON C. BRAGA

a uma parcela muito pequena da energia total transmitida. Mesmo se


pudermos concentrar a energia, o espalhamento ainda existe e a energia
que pode ser captado numa estação distante é muito pequena.
Com o LASER isso é possível, pois a dispersão da energia é
pequena. Já se pensou em utilizar sistemas de LASER em satélites que
captariam a energia de painéis solares e convertendo-a em luz,
transmitiriam para a terra. No entanto, este sistema tem um sério
inconveniente. Seria muito perigo atravessar o feixe transmitido, pois
ele seria tanto mais letal quanto maior a quantidade de energia enviada.

Figura 2 – Satélite captador de solar Suntower da NASA

Para as pequenas distâncias as possibilidades são maiores.

79
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Assim, para o caso dos carregadores de telefones sem fio,


utiliza-se o mesmo princípio do transformador. Temos então o que se
denomina de “carregador indutivo” ou, usando o termo inglês comum
“inductive charging”.
Veja que o mesmo princípio pode ser usado para se carregar a
bateria de outros aplicativos domésticos tais como barbeadores
elétricos, escovas de dentes elétricas, cortadores de cabelo, tablets e
muito mais. Assim, se tivermos uma bobina primária onde aplicamos
energia na forma de uma corrente alternada, podemos transferir essa
energia para uma bobina próxima por indução, utilizando-se o campo
magnético criado.
Basta que as linhas de forma do campo criado pela primeira
bobina cortem as espiras da segunda bobina ocorra, para que possamos
ter a transferência da energia, conforme mostra a figura 3.

Figura 3 – O princípio de funcionamento do transformador


Veja então que, quanto mais próximas estiverem as bobinas
maior será a quantidade de linhas de força da primeira bobina que corta
80
NEWTON C. BRAGA

a segunda e, portanto, maior o rendimento na transferência de energia.


Os transformadores fazem com que a maior quantidade de linhas de
força da primeira bobina corte a segunda utilizando um núcleo comum
que concentra estas linhas.
No entanto, podemos ter um rendimento aceitável no processo,
se as bobinas ficarem suficientemente próximas e se a frequência do
sinal utilizado for apropriada. Este é justamente o princípio de
funcionamento dos carregadores sem fio: a base contém uma bobina
emissora (primário de um transformador) e no telefone celular temos
uma bobina receptora de energia (secundário do transformador).

Figura 4 – Bobinas chatas são usadas na base do carregador e


na tampa do celular
Um rendimento maior pode também ser obtido se a bobina
receptora for ressonante na frequência do sinal emitido pela bobina
transmissora como no caso dos dispositivos RFID. Na figura 5 temos
um carregador com a bobina transmissora em destaque.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 4 – Placa e bobina de um carregador comum

Na figura 5 temos um carregador e o telefone celular.

Figura 5 – Carregador e telefone

82
NEWTON C. BRAGA

Outros sistemas
Além dos carregadores utilizando campos magnéticos ou
indução conforme o indicado, também existem carregadores que fazem
o uso de micro-ondas ou RF. Neste caso, temos um transmissor na base
e um receptor no telefone, que converte a energia recebida numa
corrente de carga para a bateria, conforme mostra a figura 5.

Figura 5 – Sistema de carga usando microondas

No entanto, na prática estes sistemas têm limitações não sendo


usados a não ser em casos muito especiais.

Como funciona
Seria muito simples ter uma bobina emissora e uma bobina
receptora com um diodo retificador e capacitor de filtro para termos um
sistema carregador simples, conforme mostra a figura 6.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 6 – Um sistema elementar de carga

No entanto, com a possibilidade de desenvolvermos sistemas


inteligentes, com muito mais recursos, podemos ir além. Assim,
conforme mostra a figura 7, num sistema inteligente, além da bobina
emissora, temos um circuito que gerencia a carga, o que pode ser feito
monitorando-se a própria impedância que o circuito receptor apresenta
ou ainda recebendo sinais do celular.

Figura 6 – Diagrama de blocos do sistema receptor no celular

84
NEWTON C. BRAGA

Com isso, além do acompanhamento do processo de carga, ele


pode ser elaborado de forma inteligente, com uma carga mais intensa
quando a carga é pequena, para diminuir a velocidade quando ela se
aproxima do máximo.

Os padrões
Se este processo de cargas de telefones celulares e outros
aplicativos deve se tornar muito comum no futuro, é importante que se
adote um padrão universal para seu uso. De fato, se você encontrar num
hotel em seu quarto uma base de carga de celular é de vital importância
que, independentemente da marca ou modelo se seu celular (desde que
tenha o recurso da carga sem fio), você pode apoiá-lo e ele se carregará
sem problema.
Existem três padrões em discussão atualmente> Qi, PMA
(Power Matter Alliance) , Powermat e A4WP (Alliance for Wireless
Power). O padrão Qi, por exemplo, foi um dos primeiros que apareceu.
Ele opera numa frequência entre 110 e 205 kHz para a carga em baixa
potência e entre 80 e 300 kHz para a carga em média potência.
Já, o padrão A4WP opera com uma técnica de ressonância,
semelhante a usada nos RFID, com uma frequência de 6,78 MHz para o
sinal de potência e 2,4 GHz para os sinais de controle. Esse padrão
possibilita a carga de diversos dispositivos simultaneamente.
85
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Padrão Qi
A pronúncia é (chi) tendo sido adotado pelo Wireless Power
Consortium em 2008 já existindo mais de 100 empresas que o adotam.
A distância máxima de transferência de energia deste padrão é de 40
mm (4 cm) o que exige que o telefone em carga ou outro dispositivo
seja apoiado numa base própria.
A faixa de potências coberta vai de 0 a 5 W para os dispositivos
de baixa potência e até 120 W para os dispositivos de média potência.
Num sistema convencional existe uma estação-base onde está o
transmissor indutivo de energia. Nestes dispositivos existe uma
superfície plana onde deve ser apoiado o dispositivo em carga. Os
dispositivos móveis, que terão as baterias carregadas, devem ter
recursos para receber a energia.
Para que a carga tenha um rendimento apropriado, é preciso que
o maior número das linhas do campo criado seja interceptado pelo
receptor. Para isso existem duas opções de posicionamento para os
dispositivos. Posicionamento guiado, onde existe uma guia na base que
faz com que o dispositivo carregado seja encaixado na posição correta e
com isso o rendimento seja sempre o mesmo.
Posicionamento aleatório, onde não há necessidade de uma
posição correta do dispositivo carregado na base, havendo uma área
mais ampla para sua colocação. Um ponto importante a ser considerado
86
NEWTON C. BRAGA

é que a estação-base troca informações a uma taxa de 2 bps (no Qi) com
o dispositivo carregado. Isso permite monitorara carga, de modo que a
estação de carga seja informada quando o dispositivo está carregado.
Na tabela abaixo o formato padrão dos dados.
Qi Formato Padrão de Dados
Capacidade Detalhes
Velocidade 2 kbps
Codificação de bit Bi-phase
Codificação de byte Start bit; 8 bit data; parity bit; stop bit
• Preamble (>=11 bit)
• Header (1 Byte)
• Message ( 1 to 27 Byte)

Estrutura do pacote One complete message per packet


Payload for control
• Checksum (1 Byte)

Um fato importante que deve ser considerado neste tipo de


carregador é a possibilidade de correntes induzidas serem geradas num
objeto metálico próximo (veja no nosso almanaque “correntes de
eddy”). Essas correntes poderiam aquecer indevidamente o objeto com
um potencial de perigo evidente. Assim, os carregadores podem
detectar objetos metálicos próximos avisando que devem ser
removidos, antes de liberar a carga.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Os carregadores
Assim, atualmente como existem diversos padrões, ao comprar
um carregador deste tipo (que já existe à venda) você deve assegurar-se
de que o dispositivo que vai ser carregado (seu celular, por exemplo, é
compatível com ele.
Na figura 7 temos um exemplo de carregador para Galaxy S4
que exige que você troque a tampa traseira por uma tampa especial que
tem o sistema de captação (bobina).

Figura 7 – Carregador para o Galaxy (deve ser de tipo que


tenha o recurso receptor)

Ferramentas de desenvolvimento
A Mouser Electronics disponibiliza diversos dispositivos de
transmissão e recepção de energia para o desenvolvimento de

88
NEWTON C. BRAGA

carregadores sem fio. Podemos citar como exemplo os da Texas


Instruments cujas informações podem ser acessadas a partir do
endereço
http://br.mouser.com/new/Texas-Instruments/tiqiwirelesspower/?utm_m
edium=email&utm_source=november2013&utm_campaign=cm-wirele
sscharging&utm_content=part1lm no site a Mouser.
A série da Texas TI BQ500110/BQ00210, por exemplo, é
formada por controladores digitais que integram as funções lógicas para
o controle da transferência de energia num único canal de uma
estação-base. Na figura 8 temos o diagrama de blocos do sistema da
Texas.

Figura 8 – blocos do receptor e transmissor da Texas

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Para a recepção é usado o BQS1013, cujas informações também


podem ser acessadas no mesmo site. No gráfico da figura 9, mostramos
a eficiência do sistema de carga que utiliza este par de componentes.

Figura 9 – Eficiência do sistema

No datasheet é possível encontrar um diagrama completo de


carregador usando este componente. O link é
http://www.ti.com/lit/ds/symlink/bq500110.pdf.

90
NEWTON C. BRAGA

Perigos para a saúde


Campos magnéticos de baixa frequência representam um perigo
potencial para a saúde, conforme já relatamos em diversos artigos de
nossa autoria.
Se bem que a frequência usada não seja tão baixa quanto à da
corrente das linhas de transmissão de energia, e também sua
intensidade, os campos dos carregadores são intensos nas suas
proximidades. Assim, mesmo que a certa distância eles não representem
perigo, deve ser evitado seu uso muito próximo das pessoas. Por
exemplo, na cabeceira de sua cama, ligado durante à noite quando ele
vai emitir o campo por horas seguidas, ou ainda na sua mesa de
trabalho, muito próximo de você. Os efeitos desses campos ainda não
foram pesquisados, mas certamente em pouco tempo deve sair alguma
documentação sobre o assunto.
De qualquer forma, sempre é bom prevenir.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

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NEWTON C. BRAGA

FM estéreo
As emissoras que transmitem sinais estereofônicos utilizam uma
técnica denominada multiplexação. Através da multiplexação, os
receptores que contenha decodificadores apropriados (decodificadores
multiplex estéreo) podem separar os dois sinais para os dois canais e
assim ser obtida uma reprodução estéreo.
Para que o leitor entenda como funciona o circuito que
propomos neste artigo será conveniente analisarmos o princípio de
funcionamento do sistema todo. Assim, vamos partir do fato de que as
estações de FM têm uma largura de faixa ou canal de 200 kHz.
Supomos então que desejamos transmitir dois sinais de áudio de
frequências diferentes, conforme mostra a figura 1.

Figura 1 – Sinais de áudio correspondentes aos canais direito


(R) e esquerdo (L)

Os sinais correspondem aos dois canais de som de um sistema


estéreo convencional. Vamos supor tons puros para tornar mais simples

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

as explicações. Para multiplexar este sinal, no codificador estéreo existe


um oscilador que gera um sinal de 38 kHz, conforme mostra a figura 2.

Figura 2 – Sinal de amostragem de 38 kHz

Se usarmos este sinal para chavear os dois sinais de áudio que


devem ser transmitidos, obteremos um sinal que contém na envoltória a
forma de onda de cada canal (Direito e Esquerdo - R e L), conforme
mostra a figura 3.

Figura 3 – Sinal resultante em que os pulsos têm sua


intensidade variada de tal forma que contêm tanto a informação do
canal direito como esquerdo.

Como temos um único sinal, ele pode ser usado para modular a
portadora da estação de modo a transmitir a informação correspondente

94
NEWTON C. BRAGA

aos sons dos dois canais de áudio. Na figura 4 temos então o diagrama
de blocos de um codificador estéreo típico.

Figura 4 – Diagrama de blocos de um codificador estéreo

No transmissor temos um oscilador de 38 kHz que aplica seu


sinal a um flip-flop que, ao mesmo tempo divide a frequência por 2, e
produz um clock complementar, ou seja, quando uma saída está no
nível alto a outra vai ao nível baixo. Estes dois sinais complementares
controlam duas chaves eletrônicas que deixam passar alternadamente
partes do sinal de áudio dos dois canais, gerando o sinal amostrado o
qual vimos na figura 149.
Assim, o que estas chaves fazem é uma amostragem muito
rápida dos sinais, numa velocidade maior do que a maior frequência que
podemos ouvir de modo que isso não seja percebido no receptor. Isso
significa que o sinal obtido neste circuito, na verdade, não é uma
95
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

mistura dos sinais de áudio dos dois canais de som, mas sim formado
por trechos de um e de outro canal, muito bem separados, conforme
vimos. O sinal obtido tem um espectro complexo que contém as
informações dos dois canais e também o sinal piloto, conforme mostra a
figura 5.

Figura 5- Espectro do sinal modulador FM estéreo

Este sinal é, portanto, resultado de uma multiplexação dos sinais


de entrada e como ele não é a mistura dos sons ele pode ser separado no
receptor. Num receptor comum, esta multiplexação não é reconhecida e
os sinais são misturados de modo a serem reproduzidos num
alto-falante único. No entanto, num receptor que tenha um circuito que
decodifique este sinal, as informações podem ser separadas para os dois
alto-falantes.

96
NEWTON C. BRAGA

Para que o circuito receptor possa separar os dois sinais além do


decodificador é preciso contar com um sinal capaz de sincronizar esta
separação. Este sinal de 19 kHz é transmitido juntamente com o sinal
codificado e obtido a partir do próprio oscilador que controla o flip-flop
do codificador.
Este sinal é denominado "piloto" e na sua presença a luz
indicadora do receptor (LED) acende. Quando o LED acende é porque
o circuito decodificador do receptor reconheceu que o sinal é estéreo e
está funcionando no sentido de fazer sua separação. Os decodificadores
estéreo dos receptores contém então chaves que são acionadas pelo
sinal piloto de modo que elas abrem e fecham deixando passar para um
canal as partes do sinal que correspondem a ele, e para o outro as partes
do segundo canal.
Um filtro retira a componente de alta frequência do sinal piloto
de modo que ela não afete a qualidade de áudio. Nas saídas obtemos
então os sinais de áudio que correspondem aos dois canais. Na figura 6
temos um circuito típico de decodificador FM estéreo.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 6 – Decodificador FM Estéreo com o LM1310

Neste circuito o ajuste da captura do sinal é feito no trimpot e os


filtros de saída são formados por dois resistores de 4k7 e dois
capacitores de 15 nF. Uma chave (mono) permite desativar a função de
decodificação, caso o sinal não tenha intensidade suficiente para
decodificação. O LED indica quando o PLL “amarra” o sinal piloto e a
decodificação está sendo feita. Este circuito comercial é utilizado numa
grande quantidade de receptores comerciais.

98
NEWTON C. BRAGA

Conheça os tipos de linhas de


transmissão
As linhas de transmissão são formadas por conjuntos de
condutores metálicos com diversas disposições. Conforme a disposição
destes condutores e o meio que exista isolando-os a linha apresentará
comportamentos elétricos específicos. Assim, na prática encontramos
diversos tipos de linhas de transmissão cujas características vão
determinar o modo como elas são utilizadas na prática. Veja neste artigo
as características de algumas linhas de transmissão comuns.
Para descrever uma linha de transmissão em termos de suas
características usamos termos como:
Impedância de entrada (Zin), sendo definida como a relação
entre a tensão de entrada e a corrente de entrada (Ein/Iin).
Impedância de saída (Zout), sendo definida como a relação entre
a tensão de saída e a corrente de saída (Ein/Eou).
Para uma linha de transmissão de comprimento infinito é
utilizado o termo “impedância característica”. Lembramos que a
unidade de impedância é o ohm. Mais informações sobre impedância, o
leitor encontrará no livro Eletrônica Básica de Newton C. Braga.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Notação
É comum usar a notação V ou E para tensões. No nosso caso,
como é comum em Telecom, usaremos E para tensões, I para correntes
e Zpara impedâncias.

1 – Linha Paralela
Um dos tipos de linha de transmissão mais conhecidos é o
formado por dois condutores que correm paralelos, mantidos a uma
distância constante através de espaçadores feitos de material isolante,
conforme mostra a figura 1.

Figura 1 – Linha paralela de dois condutores

A separação entre os condutores varia, dependendo do tipo de


aplicação e também do tipo de sinal que deve ser conduzido. As
aplicações mais comuns em telecomunicações são em linhas telefônicas

100
NEWTON C. BRAGA

e telegráficas rurais e eventualmente usadas para conectar um


transmissor a um sistema de antenas.
A principal desvantagem no uso deste tipo de linha de
transmissão está na sua perda por irradiação, além da possibilidade de
captação de ruídos, já que não existe blindagem. Uma variação desta
linha de transmissão é a fita paralela, muito comum na conexão de
antenas a televisores, conforme mostra a figura 2.

Figura 2 - Fita Paralela

Neste tipo de linha paralela temos dois condutores separados por


um material isolante (dielétrico) de baixa perda.

2 – Par Trançado
Outro tipo de linha de transmissão formada por dois fios de
mesmas características é a formada por um par de condutores trançados,
conforme mostra a figura 3.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 3 – Par Trançado

Bastante usada em telefonia, este tipo de linha de transmissão


não é indicada para a transmissão de sinais de frequências elevadas,
dadas suas perdas. Além disso, suas características mudam quando a
linha está molhada.

3 – Par Blindado
Nesta linha de transmissão temos dois fios condutores paralelos,
isolados por um material dielétrico e em torno deles existe uma
blindagem metálica, formada por uma tela de condutores finos. Em
torno desta tela pode ou não existir um isolante externo, conforme
mostra a figura 4.

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NEWTON C. BRAGA

Figura 4 – Par blindado

A grande vantagem deste tipo de linha de transmissão está no


fato de que os condutores podem ser mantidos balanceados em relação
ao terra de modo que a capacitância se mantém constante ao longo de
seu comprimento. Outra vantagem está no fato de haver uma imunidade
a captação de ruídos devido à blindagem que também evita as perdas
por irradiação. Os leitores não devem confundir este tipo de linha de
transmissão com os cabos ou linhas coaxiais que veremos a seguir.

4 – Cabo Coaxial
Existem dois tipos de cabos coaxiais. Os cabos coaxiais rígidos
que possuem como dielétrico o ar e os cabos coaxiais flexíveis que
usam uma substância sólida como dielétrico. Na figura 5 temos o cabo
coaxial rígido.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 5 – O cabo coaxial rígido

Conforme podemos ver pela figura, o condutor interno é


mantido a uma distância constante do condutor externo (que funciona
como blindagem) através de arruelas isolantes. As arruelas são
espalhadas ao longo do cabo, mantendo uma separação constante entre
elas. A grande vantagem deste tipo de linha está no fato de que o campo
magnético do condutor interno não consegue sair de seu interior devido
à presença da blindagem. Este fato também impede que o condutor
interno capte interferências.
Um problema prático que este tipo de linha encontra está na
dificuldade em se manter a separação entre os condutores quando se
necessita de uma trajetória curva. Além disso, ela é sensível à umidade,
pois em seu interior existe ar, o que pode mudar suas características
causando perdas e são caras. Limitando suas aplicações a percursos
pequenos.
104
NEWTON C. BRAGA

Nos casos em que existe a sensibilidade a umidade pela entrada


de ar, os espaços internos são preenchidos por um gás inerte como o
hélio ou mesmo o argônio sob pressão.
Um tipo muito mais usado e melhor é o cabo coaxial flexível em
que, em lugar do ar como dielétrico é usada um material sólido como
plásticos escolhidos de acordo com suas propriedades, de modo a
causar um mínimo de perdas. Na figura 6 temos um cabo coaxial deste
tipo.

Figura 6 – O cabo coaxial flexível

Neste tipo de cabo, o isolador interno é normalmente feito de


diversos tipos de polietileno.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

5 – Guias de onda
Nos cabos que vimos, os sinais se propagam como corrente de
altas frequências através de condutores metálicos. No entanto, existe
um tipo de linha de transmissão que opera segundo um princípio
diferente. Sinais de rádio de frequências muito altas, ou seja,
microondas, podem ser conduzidos por meios físicos que se comportam
como “encanamentos” dirigindo os sinais para os pontos desejados.
Os sinais que se propagam através destas linhas são, portanto,
ondas eletromagnéticas, de uma forma semelhante àquela que ocorre no
caso das fibras ópticas, o que poderia nos levar a classificá-los num
grupo intermediário entre os que usam o espaço livre (no caso no
interior do cabo) e os meios condutores. Conforme o nome sugere, as
guias de onda são tubos que podem ter o contorno cilíndrico ou
retangular e que são capazes de conduzir os sinais de altas frequências.
Na figura 9 temos dois tipos comuns de guias de ondas.

Figura 9 – Guias de onda

106
NEWTON C. BRAGA

O Dip Meter
Um instrumento simples, mas de grande utilidade para quem
trabalha com circuitos de RF é o Dip Meter ou Grid Dip Meter, como
também era conhecido nos tempos das válvulas. Veja neste artigo o que
ele é e como usá-lo.
O dip-meter teve sua origem em 1947 (quando se publicou pela
primeira vez um circuito oscilador utilizando a válvula triodo) e que
podia ser usado para verificar a ressonância de circuitos, conforme
configuração mostrada na figura 1.

Figura 1 – O grid-dip meter

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Este circuito oscilador possuía um instrumento medidor de


corrente ligado a grade (grid) da válvula para monitorar a corrente neste
elemento. Quando o circuito oscilador era colocado nas proximidades
de um circuito que ressonava na sua frequência, ou então de um
oscilador que operava na sua frequência, ocorria uma absorção de
energia que afetava a corrente de grade, o que imediatamente era
indicado pelo medidor.
Desta forma, bastava aproximar o aparelho dos circuitos
analisados e verificar o que ocorria com a corrente de grade. Como
eram utilizadas válvulas e as válvulas possuem grades de controle
(grid), o circuito foi chamado de “grid-dip meter” ou medidor de
mergulho de grade, já que a corrente neste elemento, “mergulhava”
diminuindo acentuadamente de valor.
Atualmente, os mesmos circuitos podem ser elaborados
utilizando componentes modernos comuns como os transistores
bipolares e os transistores de efeito de campo. É claro que já não
teremos os “grid-dip meters” mas sim, dip-meters, porque podemos
continuar medir a corrente que cai na ressonância, se bem que não seja
na grade, mas sim em outro elemento do circuito.
Para um transistor NPN podemos ter um circuito como na figura
2.

108
NEWTON C. BRAGA

Figura 2 – Dip meter transistorizado

Com um BF494 ou BF495 ou ainda 2N2222 podemos trabalhar


com frequências na faixa de uns 10 MHz até mais de 200 MHz. A
frequência de operação é determinada pela bobina e pelo ajuste do
capacitor variável.
Na figura 3 temos o aspecto de um dip-meter, observando que
ele possui um conjunto de bobinas para diversas faixas de frequências,
as quais são encaixadas quando precisamos delas.

109
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 3 – Um dip-meter montado

Para uma construção caseira deste aparelho, a calibração pode


ser feita com base nas escalas de um rádio de ondas curtas comuns ou
de um receptor de FM. A utilização deste aparelho é muito simples:
colocamos a bobina que deve cobrir a faixa desejada e a aproximamos
do circuito em que desejamos verificara ressonância ou oscilação.
Giramos vagarosamente o capacitor variável CV até que a
agulha do instrumento indicador mostre uma queda da intensidade da
corrente. Neste momento, basta ler na escala calibrada a frequência de
oscilação ou ressonância do circuito. Na figura 4 temos uma versão com
transistor de efeito de campo.
110
NEWTON C. BRAGA

Figura 4 – Circuito com JFET

O choque de 1 mH pode ser enrolado com 120 a 150 espiras de


fio esmaltado bem fino (32 ou 34) num resistor de 100 k x ½ W ou
mesmo num palito de fósforo. O transistor usado é o BF245, mas
equivalentes como o MPF102 podem ser utilizados.
Neste caso também temos a possibilidade de trocar as bobinas
que devem formar um jogo que vai de 100 kHz a 100 MHz. Para 100
kHz enrole 200 espiras de fio 25 num tubo de 1,5 cm de diâmetro sem
núcleo. A tomada será feita em todas as bobinas a 1/4 das espiras a
partir do lado de terra.
Podemos dizer que o grid-dip meter substitui em muitas
aplicações um frequencímetro comum, principalmente quando
analisamos circuitos nas faixas de VHF e UHF. A principal vantagem
em relação ao frequencímetro está no fato de podermos determinar a

111
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

frequência de ressonância de um circuito desligado (bobina em paralelo


com capacitor).
Outra vantagem está na sensibilidade que é maior do que a dos
frequencímetros comuns. Que tal montar seu grid-dip meter agora?

112
NEWTON C. BRAGA

Conceitos de ethernet industrial


Aplicações que envolvem a conexão física entre computadores,
no lar, escritório ou na indústria normalmente são do tipo Ethernet. No
entanto, existem diferenças quanto ao ambiente de trabalho que
diferenciam a Ethernet de uso industrial da Ethernet usada em outros
campos. O ambiente industrial é ruidoso e isso faz com que ocorram
certos problemas que precisam saber evitados. Para que o leitor tenha
uma ideia de como tudo funciona faremos uma breve revisão da
Ethernet Industrial neste artigo. (2006)
Para que o leitor tenha uma ideia do que é a Ethernet hoje será
interessante tratarmos antes de suas origens. O conceito original de
Ethernet foi criado por Bob Melcalfe, da Xerox que em 1973
desenvolveu uma rede sem fio denominada ALOHAnet, cuja finalidade
era interconectar computadores dos diversos campus das universidades
do Havaí.
O problema básico naquele local é que esses campi ficavam em
ilhas diferentes, dificultando assim uma conexão convencional. O
desafio era fazer com que diferentes sinais de rádio fossem usados em
nodos para se comunicar entre estações-base sem interferir uns nos
outros. A solução foi o conceito de CSMA/CD (Carrier Sense Multiple
Access com Collision Detection – acesso múltiplo com sensoriamento

113
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

de portadora com detecção de portadora). O processo foi então


aperfeiçoado e usado em redes físicas que deram origem a Ethernet. Os
aperfeiçoamentos que vieram tornaram a base para o padrão de redes
IEEE802, que especifica as camadas físicas e de dados de uma rede.
A camada física especifica os tipos de sinais elétricos,
velocidades de sinalização, tipos de mídia e conectores além das
topologias da própria rede.
A camada de dados especifica como as comunicações ocorrem
através da mídia usada, usando a técnica CSMA/CD que já explicamos
acima, assim como a estrutura das mensagens que são transmitidas e
recebidas. Na figura 1 temos a estrutura típica de uma rede Ethernet.

114
NEWTON C. BRAGA

As camadas físicas
No início, as opções para a Ethernet eram muito mais limitadas
do que hoje. Havia então as opções 10Base2 e 10Base5, operando
ambas em 10 Mbps, usando cabo coaxial com nodos conectados aos via
conectores “T”, conforme mostra a figura 2.

As redes Ethernet 10Base2 permitiam o comprimento máximo


de segmentos de aproximadamente 60 metros usando cabos coaxiais
RG58 também denominado “Thin Ethernet”. A Ethernet 10Base5
possibilita a comunicação em maiores distâncias.
Posteriormente foi desenvolvida a Ethernet 10Base-FL para
fibras ópticas, alcançando até uns 600 metros (2000 pés). Uma outra
solução para a camada física de 10 Mbps que surgiu foi a 10BaseT, que
rapidamente se tornou popular porque era muito fácil de instalar e usar,
além de econômica pois permitia o uso de pares trançados (UTP
Categoria 3) em lugar dos cabos coaxiais.
115
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Normalmente os computadores eram conectados numa topologia


em estrela a um hub, que por sua vez poderia ser conectado a outros
segmentos da rede. Os computadores poderiam ficar até 100 pés (33
metros) de distância e a conexão feita por conectores RJ-45. No final de
1990, equipamentos Ethernet operando em 100 Mbps se tornaram
disponíveis. Com a possibilidade de se ajustar automaticamente a
velocidade das redes, o upgrade se tornou muito simples.
Agora já temos a opção da Ethernet Gigabit (1000 Mbps) que
estão disponíveis usando pares trançados e fibra óptica. Com velocidade
muito maior pode-se transferir dados em maior quantidade, uma
exigência de muitas aplicações industriais.

A camada de dados
Essa camada define o método de acesso à mídia usada. São
usados links de “half-duplex”, como os conectados num barramento de
tipologias em estrela (10/100Base T, 10Base2, 10Base5, etc.). A
modulação ainda é a CSMA/CD que permite que diversos nodos
tenham acessos iguais à rede, operando da mesma forma que os
sistemas de telefonia celular. Nesse sistema todos os nodos da rede
monitoram continuamente o fluxo de sinais. Se um nodo tem de
transmitir informações, ele encaixa sua transmissão nos momentos em
que ela está livre. Se, por acaso, dois nodos tentam colocar informações

116
NEWTON C. BRAGA

no mesmo instante livre, ocorre o que se denomina “colisão” com a


corrupção dos dados. No entanto, como os nodos monitoram a
transmissão, eles percebem isso, parando imediatamente e esperando
um tempo programado para tentar novamente. Como os tempos
programados para os nodos são diferentes não há perigo de colisão
ocorrer novamente. A figura 3 ilustra o problema da colisão.

117
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Esse método de conexão e acesso ao meio torna muito simples o


acréscimo ou remoção de nodos em uma rede. Ele simplesmente vai
receber e transmitir seus sinais quando isso for possível.
Evidentemente, com o aumento do número de dispositivos conectados a
uma rede, aumenta a chance de colisão e com isso há uma redução
sensível de sua velocidade.
Esse fato nos permite dizer que a rede Ethernet é do tipo
probabilístico, diferentemente de outras redes que são determinísticas,
onde a confiabilidade pode ser prevista. Na rede Ethernet Full-Duplex
(10Base-FL, 100Base-FX, etc.), as colisões não são importantes, já que
apenas dois nodos estão presentes e os canais tanto de recepção como
de transmissão estão disponíveis. Como a transmissão ocorre nos dois
sentidos, a taxa de transferência de dados dobra.

Ethernet Frame
Trata-se da camada de dados onde é definido o formato dos
dados que devem ser enviadas através de uma rede. O formato dos
dados o “frame” contém diversos campos de informação além dos
dados propriamente ditos, conforme mostra a figura 4.

118
NEWTON C. BRAGA

O coração do sinal enviado é formado pelos dados que devem


ser enviados. Trata-se da unidade de dados ou “data unit”, podendo
conter de 46 a 1500 bytes de 8 bits. O tamanho do pacote de dados é
informado ao receptor, de modo que ele saiba quantos bytes deve
esperar.

Hubs e Switches
A finalidade dos hubs numa rede Ethernet é operar como
dispositivos da camada física para repetir e espalhar os sinais. Os nodos
são conectados às portas de um hub formando “galhos” ou “ramos”
criando-se assim a topologia da rede. Os hubs recebem os sinais dos
nodos conectados e os regenera, mandando-os para outras portas. Pelo
processo de regeneração dos dados, a distância alcançada pelos sinais
pode ser aumentada.

119
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Uma das vantagens desse processo de regeneração é que eles


podem detectar os “pacotes” ou “frames” que apresentem problemas, ou
seja, que estejam corrompidos, eliminando-os e solicitando uma nova
transmissão. Os nodos respondem aos sinais baseados nos endereços
que eles contêm no frame.
As chaves ou “switches” são similares aos hubs exceto pelo fato
de que elas possibilitam a divisão da rede em segmentos. Na figura 5
mostramos o uso das chaves e dos hubs numa rede Ethernet.

Funções de alto nível


Existem casos em que redes Ethernet precisam se comunicar
com outras redes, com características diferentes. Para essa finalidade
existem protocolos de alto nível. O mais comum para esse caso é o
120
NEWTON C. BRAGA

TCP/IP que permite acesso à Internet. Esse protocolo faz com que os
pacotes de informações se movam através da rede baseados no seu
endereço IP (Internet Protocol).

Na indústria
Como solução eficiente para aplicações de uso geral a Ethernet é
a mais popular, atendendo as exigências mínimas que garantem uma
comunicação entre computadores. A possibilidade de se agregar e tirar
nodos, usar pares trançados e, além disso, operar numa topologia
simples, fazem da Ethernet ideal para uma enorme gama de aplicações,
incluindo as industriais.
No entanto, quando pensamos nas aplicações industriais existem
ainda algumas características que tornam crítico o uso da Ethernet. Uma
delas é o funcionamento probabilístico, de que falamos anteriormente.
As aplicações industriais exigem uma confiabilidade maior, com níveis
que só são alcançados por uma rede que tenha um funcionamento
determinístico.
É claro que diante da relação custo/benefício que esse tipo de
rede apresenta, os usuários logo encontraram meios de melhorar esse
ponto crítico como, por exemplo, a segmentação usando switches e
roteadores de modo a minimizar o tráfego não desejado de sinais,
reduzindo assim sua utilização.

121
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Um outro meio consiste em se utilizar protocolos novos de alto


nível que incorporem recursos de priorização, sincronização e outras
técnicas que asseguram o envio de sinais que sejam sensíveis. O
resultado disso foi a possibilidade de se adotar a Ethernet também no
controle industrial e automação. Não só ela pode ser aplicada nas redes
internas como em aplicações de campo.
A maior parte dos fabricantes de sistemas de controle
incorporam versões para Ethernet em seus produtos, além de serem
desenvolvidos protocolos específicos para essas aplicações, como os
descrevemos a seguir:

EtherCAT (Eternet for Control


Automation Technology)
É uma rede aberta em tempo real desenvolvida pela Beckhoff.
Sua finalidade é proporcionar uma performance de controle e
monitoramento de processos em tempo real usando pares trançados e
fibras ópticas. Esse protocolo rede também suporta diversas topologias
sendo suportada pelo EtherCAT Technology Group, que é formado por
168 empresas. Na figura 6 um exemplo de Topologia EtherCAT
oferecida pela empresa Steinhoff.

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NEWTON C. BRAGA

Ethernet Powerlink
Trata-se de um protocolo Ethernet que combina o conceito
CANopen com Ethernet. O grupo de padronização EPSG (Ethernet
Powerlink Standardization Group) é uma associação aberta de
fornecedores e usuários finais que precisam de uma Ethernet
determinística em tempo real. Na figura 7 temos a topologia típica de
uma rede Ethernet Powerlink para aplicações industriais.

123
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

A vantagem desse protocolo é que ele usa chips comuns de


comunicações no meio física, trabalhando com um protocolo
denominado Ethernet/IP (IP = Industrial protocol). Esse protocolo é
suportado pela IEA (Industrial Ethernet Association), CI (ControlNet
International) e ODVA (Open DeviceNet Vendor Association).

124
NEWTON C. BRAGA

Modbus – TCP
Esse protocolo é suportado pela Schneider Automation. Na
figura 8 a topologia típica usada numa rede Modbus.

Observe que os dispositivos remotos são conectados a Gateways


via RS-232 e depois desses à Ethernet que os conecta a um Host
Modbus/TCP.

Profinet
É a versão Profibus de um sistema de comunicações para
Ethernet, sendo desenvolvida pela Siemens e a PNO (Profibus User
Organization). Na figura 9 há uma rede típica Profinet.

125
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Conclusão
Partindo do conceito básico de Ethernet, diversos padrões
adicionais foram desenvolvidas visando a aplicação específica em
ambientes industriais. Esses padrões levam em conta as exigências
básicas que essa aplicação apresenta como o aspecto da confiabilidade
que um sistema determinístico oferece, além da velocidade. O que
vimos neste artigo dá ao leitor uma ideia das possibilidades existentes
de se implementar esse tipo de rede numa indústria.

126
NEWTON C. BRAGA

Sincronismo em redes de
telecomunicações
Quase tudo hoje em dia é sem fio. As redes de telecomunicações
se expandem e com elas aumenta o número de tecnologias utilizadas. O
resultado dessa expansão e diversificação é inevitável: uma dificuldade
maior em se fazer seu sincronismo para garantir a integridade dos
dados, fundamental para se atingir as metas de Qualidade de Serviço
(QoS) tão almejadas por todos. (2006)
A necessidade de se sincronizar as redes na transmissão de
diversos tipos de dados é fundamental em vista da sua diversidade. De
fato, as redes telefônicas podem usar diversas tecnologias como,
Plesiochronous Digital Hierarchy (PHD), Synchronous Optical
Netowrk (SONET), Synchronous Digital Hierarchy (SDH) e
Asynchronous Transfer Mode (ATM). Um ponto fundamental para os
implementadores é saber como sincronizar os diversos tipos de redes de
modo a atender as exigências internacionais para a manutenção da
qualidade do sinal.
Para que o leitor entenda como isso pode ser feito, partimos da
estrutura básica de uma rede. Normalmente elas são estruturadas na
forma mostrada na figura 1 em que existem diversos nodos.

127
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Cada nodo pode ser um ou mais sistemas conectados em


conjunto. Por exemplo, uma estação rádio base (ERB) ou uma estação
de comutação telefônica ou centro de transmissão de dados consistem
em nodos. A operação de cada nodo é controlada por um clock que
consiste no seu coração.
Esse clock pode estar dentro do próprio sistema de
telecomunicações como no caso do sistema Digital Cross Connect
(DCC) ou Stand ALine Synchronization Equipment (SASE). O clock
do nodo também é chamado Building Integrated Timing Supply (BITS)
ou Sinchronization Supply Unit (SSU).

A finalidade da sincronização
Se considerarmos que cada nodo de um sistema de
telecomunicações possui seu próprio clock, durante o processo de
128
NEWTON C. BRAGA

transmissão pode perfeitamente ocorrer pequenas diferenças de


velocidade de funcionamento, afetando assim o sincronismo na
transmissão.
Essa diferença de frequências faz com que os buffers de entrada
do sistema de telecomunicações sejam constantemente levados a
estados de overflow e underflow (transbordamento ou falta), causando
erros de transmissão de dados. Esses pequenos erros são denominados
“slips”, na terminologia técnica de telecomunicações.
Esses slips, conforme veremos mais adiante se traduzem em
“cliques” audíveis num sistema de voz sem compressão, mas em outros
sistemas eles podem ter sérias consequências, conforme mostra a tabela
abaixo.

Tipo de Serviço Efeito dos Slips


Voz (sem compressão) 5% dos slips serão ouvidos na forma de cliques na
transmissão
Voz (comprimida) Um slip produz um clique audível
Facsimile (fax) Um slip pode fazer com que sejam saltadas várias
linhas
Modem Um slip causa uma interrupção de funcionamento
de vários segundos
Vídeo Comprimido Um slip faz com que sejam perdidas várias linhas
da imagem. Vários slips podem congelar os frames
por vários segundos.
Protocolo da dados encriptados A capacidade de transmissão ficará reduzida por
um slip.

Por esse motivo, é preciso cuidar da sincronização de modo a


minimizar os “slips” havendo para isso diversas técnicas a serem
empregadas. Existem meios de se calcular com precisão o número de
129
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

slips que ocorrem em função da variação da frequência do clock, ou da


diferença de sincronização.
A tabela dada a seguir, obtida a partir desses cálculos nos mostra
o número de slips esperados em função da diferença de frequências
entre os sistemas.

Diferença de freqü6encia entre os Taxa de slips para sinais de 8k frames por segundo
sistemas
0 0
10-11 1 slip a cada 4,8 meses
10-10 1 slip a cada 14,5 dias
10-9 1 slip a cada 1,45 dias
10-8 6,9 slips por dia
10-7 2,9 slips por hora
10-6 28,8 slips por hora
10-5 4,8 slips por minuto

Lembramos também que não apenas as diferenças de frequência


causam slips, mas também as tolerâncias de entrada dos sistemas de
comunicação.
Variações de tempo de propagação dos sinais podem incluir
neste caso como, por exemplo, a contração e dilatação de cabos do
sistema, devido às variações de temperatura. Os próprios clocks dos
nodos podem gerar variações imprevisíveis como, por exemplo, as
variações de frequência devido ao envelhecimento dos cristais.

130
NEWTON C. BRAGA

O que fazer?
A ITU (International Telecommunications Union) possui
diversas normas em que recomendações são feitas no sentido de se
melhorar a sincronização das redes e com isso atender as exigências de
melhor qualidade de serviço. Basicamente, essas normas podem ser
atendidas com alguns cuidados que vamos analisar a seguir. Centralizar
a sincronização através de um clock mestre, conforme mostra a figura
2.

O clock mestre ficará localizado no centro da rede de modo que


todos os sinais cheguem ao mesmo tempo nos dispositivos
sincronizados. Como os dispositivos são sincronizados pelo mesmo
clock não existem problemas na troca de sinais entre eles. Deve-se
131
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

apenas cuidar para que os links não estejam sujeitos a problemas que
possam afetar a sincronização.
Nesse caso incluímos os cabos longos que podem sofrer
variações de características com a temperatura. Da mesma forma,
conexões SONET e SDH não devem ser usadas como links de
sincronização. Se a diferença de tempos de sincronização em algum
elemento da rede for maior que 18 us, esse elemento deve ser
sincronizado de outra forma, ou fazer parte de uma outra partição
(controlada por outro clock).
Uma outra forma de se fazer a sincronização é através de clocks
mestres distribuídos, conforme mostra a figura 3.

Nesse caso, o que se faz é dotar a rede de um certo número de


pseudo clocks mestres, conforme mostrou a figura anterior. Existem,
132
NEWTON C. BRAGA

portanto, ilhas de sincronização na rede. A grande vantagem em se


adotar esse sistema é que além de mais fácil de implantar, como os
dispositivos sincronizados podem ficar mais perto dos clocks existem
menos problemas de slips.
O melhor desempenho de um sistema que tenha esse tipo de
sincronização é obtido com o uso de clocks de césio. No entanto, esses
dispositivos são muito caros, sendo necessários em número elevado,
conforme sugere a própria estrutura do sistema. Um método econômico
de se gerar um sinal mestre de clock é através de um receptor GPS
(Global Positioning System).
Os receptores GPS são pequenos e relativamente baratos, mas
para gerar a performance PRC necessária, eles devem ser conectados a
um SASE. Para se obter uma operação segura podem ser usados dois
receptores GPS em conjunto em cada nodo.
O uso do GPS tem, entretanto, uma desvantagem, pois trata-se
de dispositivo sensível sujeito tanto à interferência como à problemas
de dano com descargas elétricas. Uma outra forma de se obter uma
sincronização com pouco gasto é a mostrada na figura 4.

133
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Nesse caso, existem clocks separados, controlados por


dispositivos centralizados de sincronização ou clocks mestres de
sincronização. Cada clock mestre controla um certo número de clocks
secundários ou regionais. Também é possível obter sinais de clock a
partir de redes cooperadoras, conforme mostra a figura 5.

134
NEWTON C. BRAGA

Se uma rede próxima possui sinais de clock disponíveis, eles


podem ser “emprestados” para fazer a sincronização dos dispositivos de
uma outra rede. Nesse caso, é preciso que as redes sejam capazes de
operar na mesma frequência. A vantagem está no fato de que, as duas
redes sendo sincronizadas pelo mesmo clock, não apresentam
problemas de slips. A desvantagem do sistema está no fato de que um
distúrbio no clock mestre afeta as duas redes. Conforme mostra a figura
6, os sinais de clocks podem ser retirados de diversos pontos da rede
cooperadora.

É preciso levar em conta que a rede cooperadora pode cobrar


pelo uso do sinal de clock. Esse custo deve ser analisado, pois pode ser
maior do que o envolvido na implantação de um clock próprio. Assim,
esse sistema é interessante quando se pretende sincronizar um pequeno
135
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

número de sub redes a partir de um sinal de uma rede cooperadora. A


figura 7 mostra esse caso.

A escolha do método
Na tabela dada a seguir temos as principais características dos
métodos de sincronização que podem ser utilizados. Analisando o seu
caso, o leitor pode fazer a escolha certa obtendo o melhor desempenho
ao menor custo.
É claro que existe a solução híbrida, em que diversos métodos
são usados ao mesmo tempo, cada qual para um setor, conforme suas
características, conforme mostra a figura 8.

136
NEWTON C. BRAGA

Método de Planejamento Probabilidade Links de Tamanho máximo


sincronização de falhas sincronização da rede para
necessários melhor custo
Clock mestre Relativamente Grande para SONET ou SDH >40 nodos
centralizado difícil redes que
cubram
grandes áreas
Clocks mestres Muito fácil Muito baixa Nenhum <40 nodos
totalmente
distribuídos
Clocks mestres Fácil Baixa para SONET ou SDH <40 nodos
parcialmente subredes
distribuídos pequenas
Sinais de Clock Muito fácil Depende da Nenhum Depende do custo
totalmente rede dos sinais usados
distribuídos de cooperadora
rede
cooperadora
Sinais de clock Fácil Depende da SONET ou SDH Depende do custo
parcialmente rede dos sinais usados
distribuídos de cooperadora
uma rede
cooperadora

137
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Conclusão
Cada método de sincronização tem suas vantagens e
desvantagens, o que significa que não se pode indicar uma solução
genérica para o problema da sincronização. Algumas recomendações
podem ser dadas em função de alguns casos especiais:
● Se a rede possui seu próprio link PDH, SONET ou SDH então
qualquer método pode ser usado, dependendo apenas da relação
custo/benefício.
● Se são usados tributários SONET ou SDH para sincronização os
sinais de clocks podem ser distribuídos por uma rede
cooperadora.
● Se um clock mestre centralizado é usado para sincronização, é
preciso analisar os níveis de falhas para se verificar qual a
melhor estratégia a ser usada.
Boa parte da informação contida neste artigo está em
documentação da Oscilloquartz, empresa Suíça especializada em
fabricar osciladores de precisão para sistemas de telecomunicações.

138
NEWTON C. BRAGA

Harmônicas e filtros
Você montou um pequeno transmissor e não está satisfeito com
seu rendimento? Veja neste artigo o que são harmônicas e como
influenciam no rendimento de um transmissor e também como utilizar
filtros para ter maior transferência de energia para a antena.
O matemático francês Fourier demonstrou que qualquer sinal,
independentemente de sua forma de onda pode ser decomposto num
sinal senoidal de mesma frequência e uma quantidade infinita de sinais
senoidais de frequências múltiplas, ou seja, harmônicas, conforme
mostra a figura 1.

Figura 1- Decompondo um sinal em fundamental e harmônicas

139
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Foi somente com o avanço da eletrônica que a profundidade


deste fato se tornou patente, com a sua ampla utilização na eletrônica,
das telecomunicações, aos DSPs, da síntese de sons aos computadores.
De fato, se um transmissor de FM produzir um sinal na frequência de
100 MHz, e que não seja perfeitamente senoidal, ou seja uma oscilação
considerada pura, ele também irradiará sinais mais fracos nas
frequências de 200, 300, 400 MHz, etc.
As intensidades vão caindo, de modo que para as oscilações
harmônicas mais altas, as possibilidades de que causem interferências
são uito baixas, como sugere a figura 2.

Figura 2- Composição harmônica de um sinal

É por este motivo que os transmissores para a faixa do cidadão


que operam em torno dos 27 MHz, interferem nos televisores

140
NEWTON C. BRAGA

analógicos dos canais baixos, que operam em torno de 54 MHz. Essa


frequência corresponde justamente à do canal 2.
Muitos leitores que tentam ajustar seus pequenos transmissores
de FM podem, inadvertidamente, gerar harmônicas que vão cair nos
canais mais altos da faixa de TV em VHF. Não bastando a interferência
que causam, estas oscilações indesejáveis ”roubam” a potência do
transmissor, já que ela deve ser distribuída entre sinais de diversas
frequências.
Em outros casos, podem ainda ocorrer oscilações denominadas
“espúrias” que vão cair sobre a faixa de TV e mesmo de FM, além
daquelas em que desejamos transmitir, causando sérios problemas para
quem tenta ajustar um transmissor: mais de um sinal é captado ao longo
da faixa e não sabemos qual devemos considerar.
Ajustando o transmissor em pontos indevidos a potência cai e o
alcance também. Mesmo com potentes transmissores valvulados não
será possível ir além de algumas centenas de metros nestas condições.
Este problema é mais acentuado em transmissores que possuem
diversas etapas sintonizadas de amplificação, como o mostrado na
figura 3.

141
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 3 – Transmissor com duas etapas

Pequenas diferenças de ajustes de duas bobinas, polarização


invertida de transistores que deformam o sinal e ajudam na produção de
harmônicas são alguns problemas que podem ocorrer. É muito comum
que, para se obter maior rendimento de um transistor numa etapa de
amplificação de sinais, ele seja polarizado em classe C, conforme
mostra a figura 4.

142
NEWTON C. BRAGA

Figura 4 – Etapa em classe C

Nestas condições, ele permanece sem conduzir (no corte) até


que um dos semiciclos do sinal atinja pelo menos 0,6 V e polarize a
junção base-emissor para conduzir. O resultado da operação nesta
configuração é uma forte deformação do sinal, responsável pela
produção de grande quantidade de harmônicas que roubam potência e
causam muitas interferências, conforme sugere a figura 5.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 5 – Sinal (a), deformação (b) e sinais produzidos (c)

Evidentemente, além das proibições existentes que impedem a


operação de tais aparelhos, a não ser em local despovoado ou com
potência muito baixa, podemos ter problemas dos mais diversos.

Soluções
Não basta montar o transmissor e simples ligar de qualquer
modo uma antena, mesmo que seja um simples pedaço de fio, para se
ter um sinal puro e maior alcance. O acoplamento à antena é um
primeiro ponto importante a ser considerado.
Com um bom acoplamento ajustável, poderemos transferir para
a antena a maior potência de sinal na frequência desejada reduzindo a
quantidade de harmônicas e obtendo maior alcance. Na figura 6 temos
uma sugestão de circuito de acoplamento de antena que ajuda a fazer
uma transferência melhor dos sinais.
144
NEWTON C. BRAGA

Figura 6 – Circuito de acoplamento de antena

Para a faixa de FM, a bobina é formada por 3 espiras de fio 22


enroladas sobre a bobina da última etapa amplificadora do transmissor.
O trimmer é de 3 – 30 pF podendo ser do tipo antigo de porcelana ou
moderno de plástico.
O circuito deve ser ajustado para se obter máxima potência de
antena. Um medidor de intensidade de campo, como o da figura 7, deve
ser usado para esta finalidade.

145
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 7 – Um medidor de intensidade de campo

Para a faixa de AM, onde os problemas são menores, a bobina é


formada por 12 a 15 espiras de fio 28 sobre a bobina da última etapa do
transmissor e CV é um variável de 120 pF. A faixa de frequências
coberta por este circuito vai de 500 kHz a 2 MHz. Veja que este circuito
deve ser instalado em caixa metálica que sirva de blindagem. Na figura
8 temos uma placa de circuito impresso para a montagem.

146
NEWTON C. BRAGA

Figura 8 – Placa de circuito impresso para a montagem

Um outro problema que pode ocorrer nas saídas dos


transmissores é que sendo o circuito de baixa impedância, o fator Q é
baixo. Com isso, temos uma baixa seletividade e a passagem de sinas
que não correspondam à frequência que desejamos transmitir. Esse
problema pode ser resolvido com a utilização de filtros. Para a faixa de
FM, por exemplo, temos o filtro mostrado na figura 9, que consiste num
filtro em T do tipo passa-baixas.

147
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 9 – Filtro T passa-baixas

Sintonizado na frequência que desejamos transmitir, ele


apresenta baixa resistência ao sinal, bloqueando os sinais das
harmônicas. L1 e L2 consistem e 4 ou 5 espiras de fio 20 ou 22 em
forma de 1 cm sem núcleo. Outro tipo importante de filtro é o da
configuração PI (da letra grega) e tem sua configuração mostrada na
figura 10.

Figura 10 – Filtro PI
148
NEWTON C. BRAGA

Neste circuito, poderemos ter a sintonia dos trimmer como da


própria bobina. Encontramos este circuito em transmissores valvulados
com configurações de saída como a mostrada na figura 11.

Figura 11 – Etapa em Pi de transmissor valvulado

Para a faixa de FM a bobina L1 é formada por 5 espiras de fio


20 ou 22 em forma de 1 cm de diâmetro sem núcleo e podemos ter uma
tomada por espira para ajustes. O trimmer são de 3-30 pF com uma boa
tensão de isolamento no caso dos circuitos valvulados. O mesmo
circuito pode ser modificado para uma configuração PI-L como a
mostrada na figura 12.

149
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 12 – Configuração de filtro PI-L

Muitos acoplam seus transmissores a antenas dipolo, utilizando


linhas paralelas (300 ohms), caso em que o circuito da figura 13 pode
ser utilizado.

Figura 13 – Acoplamento a linha de 300 ohms


150
NEWTON C. BRAGA

Outras opções de acoplamentos à linhas balanceadas são


mostradas na figura 14.

Figura 14 – Outras opções de acoplamentos

Para a faixa de FM, a bobina L2 tem 6 a 7 espiras de fio 22 ou


24 sobre L1.

Conclusão
Conforme vimos neste artigo, um dos pontos importantes para se
obter o bom desempenho de um transmissor está no acoplamento entre

151
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

etapas e entre o transmissor e a antena. O uso de filtros também é


importante para se evitar a irradiação de sinais indesejáveis.

152
NEWTON C. BRAGA

Sinais telegráficos e código morse


Os diversos tipos de modulação usados em comunicações da
palavra falada apresentam alguns inconvenientes que limitam suas
aplicações, principalmente em condições desfavoráveis. Assim, no caso
da modulação em amplitude (AM), as interferências elétricas causadas
por aparelhos diversos, tempestades etc., facilmente se sobrepõem ao
sinal transmitido se ele for fraco, causando ruídos desagradáveis no
alto-falante do receptor.

Obs. Este artigo é de 1989, mas é atual pelo fato de que


trata de um tipo histórico de modulação que ainda usado por
radioamadores.

O próprio sinal de AM tende a um certo espalhamento que


depende da frequência de modulação. Assim, se modularmos um sinal
de RF de 10 MHz com um sinal de áudio de l0kHz, o sinal de RF se
desloca rapidamente na faixa, passando a ocupar uma faixa que vai de
10 MHz + 10 kHz e 10 MHz – 10 kHz, conforme mostra a figura l.
153
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 1 – Faixas adicionais criadas pela modulação

Dizemos então que o sinal ocupa uma “faixa" de 20 kHz e nesta


faixa de frequências não pode haver outra estação, senão ocorre uma
interferência entre elas. É esta ocupação de uma faixa, e não de uma
frequência, que faz com que caibam no espectro eletromagnético, ou
seja, o conjunto de frequências disponíveis, um número limitado de
estações. Cada estação de AM, portanto, só pode modular seus sinais
com 5kHz no máximo, limitando sua largura de faixa de l0 kHz. Isso
faz com que a separação destes sinais seja de 10 kHz por estação, tanto
em OM como OC (ondas médias e curtas) - figura 2.

154
NEWTON C. BRAGA

Figura 2 – Faixa ocupada por um sinal modulado

O problema desta modulação é que a potência do transmissor se


espalha pelos 10 kHz e o alcance com isso fica reduzido. Podemos dizer
que o transmissor não emite seu sinal numa única frequência, mas tem
de distribuir sua energia numa infinidade de frequências que ocupam a
faixa, onde ocorre a modulação. Para a frequência modulada (FM)
também ocorre o mesmo fato. O sinal não varia sua intensidade, mas
desloca-se entre dois valores de frequência de acordo com a modulação
(figura 3).

Figura 3 – Sinal de FM
155
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Como a faixa disponível para 25 estações de FM é mais larga


(de 88 MHz a 108 MHz que tem 20 MHz de largura, contra os 1,1MHz
apenas da faixa de AM que vai de 500 a 1 600 kHz) as estações podem
ser “mais largas” e isso faz com que possam transmitir sons numa faixa
mais ampla. Deste modo, não só podemos transmitir sinais de
frequências mais altas (agudos perfeitos), como também podemos até
transmitir num único sinal dois programas, obtendo assim o sistema em
estéreo (figura 4).

Figura 4 – O FM estéreo

Mas neste caso também, o sinal tem que ocupar uma faixa mais
larga, exigindo-se enormes potências para cobrir toda a gama de
potências e se obter um serviço perfeito, livre de interferências.
E os sinais telegráficos?
Caso exista apenas o sinal do transmissor, de frequência única,
um valor bem estreito no espectro, toda a potência do transmissor estará
concentrada neste local (figura 5).
156
NEWTON C. BRAGA

Figura 5 – Sinais telegráficos sem modulação

Isso equivale a uma potência real transmitida muito maior e,


consequentemente, a um alcance possível também maior. A modulação
no caso consiste simplesmente em se interromper e estabelecer a
transmissão em intervalos codificados. O resultado deste sistema em
que temos uma onda contínua (CW = continuous wave), são alcances
enormes com pequenas potências.
Existe um clube nos Estados Unidos de radioamadores que só
transmite com aparelhos, cujas potências sejam inferiores a 1 mW (1
milésimo de watts) e que conseguem resultados extraordinários no que
se refere a alcances. Diversos deles já conseguiram com estes
microtransmissores comunicações a milhares de quilômetros de
distância, sendo o “recordista" um que conseguiu estabelecer

157
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

comunicação com radioamador da Rússia, a mais de 10 000


quilômetros de distância!
Esta possibilidade de as comunicações telegráficas chegarem
muito mais longe, quando os outros sistemas falham, é que a torna
obrigatória como conhecimento para todos os que fazem exames de
radioamadores (figura 6).

Figura 6 – Comunicações a longas distâncias graças à reflexões


na ionosfera

Os sinais telegráficos de CW podem chegar a pontos em que


outros sinais não chegam, quando houver problemas de interferências,
alcance ou mesmo quando for necessário improvisar um equipamento
para uma comunicação de emergência.
Como funciona a telegrafia?
A ideia básica é de estabelecer os sinais do transmissor de forma
codificada, apertando-se uma chave denominada manipulador. Quando
158
NEWTON C. BRAGA

apertamos o manipulador por um período de tempo (um toque, por


exemplo) ele produz um sinal curto que codificamos como um ponto
(.). Quando apertamos o manipulador por um período mais longo (um
toque de duração três vezes maior que o ponto), ele produz um sinal
longo que codificamos com um traço Combinando pontos e traços, que
podem ser distinguidos por um ouvido treinado, que recebe a
mensagem no receptor, podemos transmitir mensagens.
Para isso existe um código universal (Código Morse) que
combina os pontos e traços em letras, números e sinais gráficos,
conforme se segue.

159
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Porém, para usar o Código Morse não basta conhecê-lo, é


preciso um bom treinamento. Inicialmente você deve memorizar os
sinais correspondentes a cada letra, número e sinal gráfico. Você pode
fazer isso procurando transmitir, imaginariamente, com um simples
oscilador de áudio cada letra, número ou sinal. Na figura 7 damos um
oscilador simples que pode ser usado para esta finalidade.

Figura 7 – Oscilador para prática de telegrafia

Obs. No site você encontrará diversos circuitos de transmissores


experimentais CW (para telegrafia) que podem servir para treinamento
e comunicações a curtas distâncias.

160
NEWTON C. BRAGA

Lembre-se que você deve transmitir cada sinal vagarosamente


para distinguir muito bem pontos e traços. Combine com algum amigo
para que um transmita e outro anote os sinais e depois inverta o
procedimento, até que os dois tenham memorizado todo o código.
Somente depois passe a treinar com palavras e frases curtas. À medida
que os dois forem pegando pratica a transmissão irá aumentando de
velocidade.
Estenda o fio do alto-falante até a outra sala, por exemplo, para
que se possa simular a transmissão à distância com mais realismo. Se
quiser, faça a transmissão sem fio, montando um dos muitos
transmissores que descrevemos neste site. Quando se julgar
suficientemente rápido para receber sinais telegráficos, Sintonize seu
receptor na faixa de ondas curtas (entre 3 e 10 MHz) e procure captar
sinais, identificando o que significam e, se possível, identificando as
estações que os emitem. Se você conseguir isso, então estará realmente
bom!
Mesmo que você não use tais tipos de emissão, o importante é
saber que elas existem e que podem ajudar na transmissão de
comunicados de emergência, quando sistemas mais modernos falham
ou não podem ser usados por qualquer motivo. O conhecimento do
Código Morse é importante para todo praticante de eletrônica e
profissional das telecomunicações.

161
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

162
NEWTON C. BRAGA

O gamma match
Para que todo o sinal gerado por um transmissor seja irradiado, é
preciso haver um correto casamento de impedância entre a linha de
transmissão e a antena. As características físicas da antena, mesmo que
bem calculadas, diferem sempre ligeiramente das ideais, o: que provoca
um pequeno descasamento responsável por ondas estacionárias e,
consequentemente, por perdas. Para ”casar" a antena com a linha de
maneira ideal, aumentando o rendimento do sistema, a maneira mais
simples consiste no “gamma-match”.
A finalidade do “gamma- match" é fazer o casamento das
características do cabo de transmissão com a antena, de modo a reduzir
ao mínimo a relação de ondas estacionárias (ROE). Pela sua
simplicidade, o gamma-match é o mais usado, tanto por radioamadores
das faixas de 7, 14 ou 28 MHz, como também pelos operadores da faixa
dos 11 metros (27 MHz).
Em termos técnicos, a finalidade do "'gamma-match” é permitir
a passagem dos sinais que vêm de forma dissimétrica pelo cabo coaxial
para um sistema irradiante simétrico, como a antena. Na figura 1 temos
o circuito equivalente à transmissão de sinal para a antena, em que
observamos um capacitor em série com o condutor central do cabo
coaxial.

163
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 1 – Circuito equivalente

O casamento de características se resume na prática em adequar


o valor deste capacitor a um ponto em que a impedância apresentada
pela antena se case com a apresentada pelo cabo. O uso de um
componente real, um capacitor variável, por exemplo, nesta função não
é interessante, podendo ser substituído por um componente fictício,
conforme mostra a figura 2.

Figura 2 – Componente virtual ou fictício


164
NEWTON C. BRAGA

O comprimento do cabo determinará então a capacitância


apresentada, podendo ser encontrado com facilidade um valor que
“case" a impedância da antena com o cabo. Para orientação geral, a
maioria dos cabos apresenta uma capacitância por metro em torno
de100 pF. O comprimento (a) e a separação (b) da figura dependerão da
faixa de operação do transmissor e, consequentemente, das dimensões
da antena. A regulagem para máximo rendimento da antena é feita
modificando-se a distância b do elemento irradiante da antena. (figura
3).

Figura 3 – A regulagem

A fixação com isoladores plásticos deve ser bem feita para evitar
problemas com o vento e a chuva. Damos a seguinte tabela para
elaboração do “gamma-match”:
165
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

166
NEWTON C. BRAGA

O que é uma rede de sensores


sem fio?
Neste artigo de julho de 2012 veremos o que é uma plataforma
WS/\/, e quais são as suas características e topologias.Também veremos
uma Rede de sensores sem fio baseados em documentação da National
Instruments.
Uma rede de sensores sem fio (Wireless Sensor Network) é uma
rede sem fio que consiste de dispositivos autônomos distribuídos
espacialmente, os quais utilizam sensores para monitorar condições
físicas ou ambientais. Estes dispositivos autônomos, ou nós, são
utilizados com roteadores e um gateway para criar um típico sistema
WSN. Os nós de medição distribuídos comunicam-se (sem fio) com um
gateway central o qual fornece uma conexão ao mundo cabeado onde
você pode medir, processar, analisar e apresentar seus dados coletados.
Para aumentar a distância e a confiabilidade de uma rede de
sensores sem fio, você pode utilizar roteadores para um link adicional
de comunicação entre os nós finais e o gateway. As redes de sensores
sem fio da National Instruments oferecem confiabilidade, com nós de
medição de baixa potência que operam por até três anos com 4 pilhas
AA e podem ser utilizados por um longo prazo, operando remotamente.

167
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

O protocolo NI WSN, baseado nas tecnologias IEEE 802.15.4 e


ZigBee, fornece um padrão de comunicação de baixa potência que
possui capacidades de roteamento de malha para aumentar a distância e
a confiabilidade da rede O protocolo sem fio que você seleciona para
sua rede depende dos requisitos de sua aplicação. Para aprender mais
sobre outras tecnologias sem fio para sua aplicação,
Aplicações WSN A monitoração integrada abrange várias áreas
de aplicação, incluindo aquelas em que limitações de potência ou
infraestrutura fazem uma solução cabeada apresentar um custo alto,
desafiador, ou quase impossível. Você pode posicionar redes de
sensores sem fio junto com sistemas cabeados para criar um sistema de
medição e controle completo, cabeado e sem fio.
Um sistema WSN é ideal para uma aplicação como monitoração
ambiental, cujos requisitos exigem aquisição de dados por longos
prazos para realizar medições de características da água, do solo ou do
clima. Para utilidades como rede elétrica, iluminação pública e
distribuição de água, sensores sem fio oferecem um método de baixo
custo para coletar dados sobre a saúde do sistema, reduzir o consumo de
energia e melhorar o gerenciamento de recursos.
No monitoramento de saúde de estruturas, você pode utilizar
sensores sem fio para monitorar efetivamente rodovias, pontes e túneis.
Você também pode implantar esses sistemas para monitorar

168
NEWTON C. BRAGA

continuamente edifícios comerciais, hospitais, aeroportos, fábricas,


usinas de energia e instalações de produção. Veja a figura 1.

Figura 1 - Aplicações

Arquitetura de um sistema WSN


Em uma arquitetura WSN comum, os nós de medição são
implantados para adquirir medidas como as de temperatura, tensão ou
mesmo de oxigênio dissolvido. Os nós são parte de uma rede sem fios
administrada pelo gateway, que governa aspectos da rede como
autenticação de cliente e segurança de dados.
O gateway coleta os dados medidos em cada nó e os envia
através de uma conexão cabeada, tipicamente Ethernet, para uma
controladora host. Nesta controladora, um software como a plataforma

169
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

de programação gráfica NI LabVIEW pode fornecer processamentos e


análises avançadas e apresentar seus dados em um estilo que atenda
suas necessidades. Observe um exemplo de arquitetura de rede na
figura 2.

Figura 2 – Exemplo de arquitetura

Padrões de Potência e Rede


Um nó de medição WSN contém vários componentes incluindo
o rádio, a bateria, o microcontrolador, o Circuito analógico, e a interface
com o sensor. Em sistemas energizados por baterias, você deve checar
constantemente a condição das mesmas e substituí-las quando

170
NEWTON C. BRAGA

necessário, pois maiores taxas de dados e uma utilização mais frequente


do rádio consomem mais energia.
Atualmente, baterias e tecnologias de gestão de energia evoluem
continuamente devido à extensa pesquisa. Em aplicações WSN é
comum a necessidade de três anos de vida das baterias, portanto, muitos
destes sistemas hoje são baseados em protocolos ZigBee ou IEEE
802.15.4 devido ao seu baixo consumo de energia. O protocolo IEEE
802.15.4 define as camadas de controle de acesso médio e físico no
modelo de rede, fornecendo Comunicação nas bandas 868 a 915 MHz e
2,4 GHz ISM, além de taxa de dados de até 250 kb/s.
O ZigBee é projetado para atuar sobre as Camadas do 802.15.4
para fornecer segurança, confiabilidade através de topologias de rede
em malha, e interoperabilidade com outros dispositivos e padrões. O
ZigBee também permite aplicação de objetos definidos pelo usuário, ou
perfis, que oferecem personalização e flexibilidade. Além dos requisitos
de vida longa, você deve considerar o tamanho, o peso, e a
disponibilidade das baterias, bem como as normas internacionais para
seu embarque. O baixo custo e grande disponibilidade das baterias
alcalinas e de zinco- carbono fazem delas uma escolha comum.
Técnicas de coleta de energia também estão se tornando mais
comuns em redes de sensores sem fio. Com dispositivos que utilizam
células solares ou coletam calor de seu ambiente, você pode reduzir ou

171
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

mesmo eliminar a necessidade de fornecimento de energia através de


baterias.

Tendências do processador
Para prolongar a vida das baterias, um nó WSN acorda
periodicamente para adquirir e transmitir dados, ligando o rádio e
depois desligando para conservar energia. O rádio WSN deve transmitir
de maneira eficiente um sinal e permitir que o sistema volte a dormir,
realizando isso com um mínimo consumo de potência. Do mesmo
modo, o processador também deve ser capaz de acordar, energizar-se e
voltar a dormir de modo eficiente. As tendências de tecnologias de
microprocessadores para WSNS incluem redução do consumo de
energia enquanto mantém 4 ou aumentam a velocidade do processador.
Tal qual a escolha do rádio, trade of de consumo de energia e
velocidade de processamento é uma preocupação fundamental na
seleção de um processador para WSN Isto faz com que arquiteturas
PowerPC e baseadas em ARM sejam uma opção não indicada para
dispositivos alimentados por baterias. Uma opção mais comum de
arquitetura inclui o TI MSP430 MCU, que foi projetado para operação
de baixa potência. Dependendo do processador específico, o consumo
de energia no sleep mode pode variar de 1 a 50 uW, enquanto em
operação o consumo pode variar de 8 a 500 mW.
172
NEWTON C. BRAGA

Topologias de rede
Você pode utilizar várias topologias de rede para coordenar o
gateway WSN, os nós finais e os nós roteadores. Estes últimos são
similares aos nós finais, já que podem adquirir dados de medição, mas
você também pode utilizá-los para transmitir dados medidos ao longo
de outros nós. A primeira e mais básica topologia é a estrela (star), na
qual cada nó mantém uma única via de comunicação direta com o
gateway. Esta topologia é simples, mas restringe a distância total que
sua rede pode alcançar.
Para aumentar a distância que uma rede pode alcançar, você
pode implementar uma topologia cluster ou árvore. Nesta arquitetura
mais complexa, cada nó mantém um único caminho para o gateway,
mas pode utilizar outros nós para rotear os dados ao longo desse
caminho. Entretanto, esta topologia apresenta uma desvantagem: se um
nó roteador perder a comunicação, todos os nós que dependem desse nó
roteador perderão sua via de comunicação com o gateway.
A topologia "rede de malha” remedia este problema utilizando
vias de comunicação redundantes para aumentar a confiabilidade do
sistema. Em uma rede de malha, os nós mantêm múltiplas vias de
comunicação com o gateway, de modo que, se um nó roteador perder a
comunicação, a rede automaticamente redireciona os dados por um
caminho diferente. A topologia de malha, embora muito confiável sofre
173
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

de um aumento na latência da rede, pois os dados devem fazer


múltiplos saltos antes de Chegarem ao gateway.
Veja as três topologias de redes na figura 3.

Figura 3 – as topologias

Vantagem da rede de sensores sem fios da Nl.


Com a plataforma WSN da National Instruments, você pode
personalizar e melhorar uma típica arquitetura WSN para criar um
completo sistema de medição, cabeado e sem fios, para sua aplicação. A
integração dos softwares da NI fornece a flexibilidade para escolher um
controlador host baseado em Windows para seu sistema WSN ou um
controlador host de tempo real como o NI CompactRIO, dando-lhe a
possibilidade de integrar E/S reconfiguráveis com suas medições sem
fios.

174
NEWTON C. BRAGA

Com ambos os controladores host, você pode utilizar o


LabVIEW e o software NI-WSN com integração ao projeto no
LabVIEW e programação ”clique e arraste” para Configurar facilmente
seu sistema WSN, de modo a extrair dados de alta qualidade de suas
medições, fornecer análises e apresentar seus dados.
Além disso, a integração com LabVIEW oferece a possibilidade
de ampliar a conectividade de sua aplicação WSN e o nível de dados
por todo o Caminho através da internet para o Cliente final como um
iPhone ou um laptop. Você pode utilizar esta arquitetura de sistema
completa para adquirir dados de praticamente qualquer lugar com uma
rede de sensores sem fio da NI, processá-los e armazená-los em um
servidor, e depois acessar os dados convenientemente e remotamente a
partir de um dispositivo inteligente sem fio.
Para aprender mais sobre as opções em sistemas de medição
WSN, Veja o artigo NI WSN Measurement Systems.

175
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

176
NEWTON C. BRAGA

Cofasamento de Antenas
Dois é sempre melhor do que um? A utilização de duas antenas
no carro para transmissões na faixa do cidadão nem sempre pode levar
aos resultados esperados. Veja neste artigo porque o uso de antenas
cofasadas nos carros exige muito cuidado e nem sempre traz resultados
satisfatórios.
Obs. Este artigo foi escrito em 1981 visando as antenas para a
faixa do cidadão (11 metros), mas os conceitos básicos são válidos para
outras faixas.
Toda antena tem um padrão de irradiação. Este padrão é uma
indicação de como os sinais são irradiados por esta antena em todas as
direções possíveis. Assim, dizemos que uma antena é unidirecional
quando ela irradia do mesmo modo seus sinais em todas as direções.
Representando este comportamento num gráfico, temos algo como
mostra a figura 1.

177
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 1 – Padrão unidirecional de irradiação

Veja que todos os pontos da figura são equidistantes do centro


tomado como referência indicando, portanto, que a intensidade com que
os sinais são irradiados em qualquer direção é a mesma. Se uma antena
apresenta uma certa diretividade, por exemplo, o que teremos num
gráfico semelhante será a figura 2, em que há um lobo maior que
representa a direção segundo a qual a intensidade de sinal é maior.

178
NEWTON C. BRAGA

Figura 2 – Padrão direcional de irradiação

Este tipo de padrão é obtido, por exemplo, numa antena dipolo


com um refletor na parte traseira. Para uma antena dipolo simples o
padrão obtido será o da figura 3.

179
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 3 – Padrão de irradiação de um dipolo

As antenas verticais ou pIano-terra usadas pelos PX são


projetadas para apresentar um padrão de irradiação semelhante ao
mostrado na figura 1 pois deseja-se a facilidade de comunicação em
qualquer direção sem a necessidade de se mexer na sua posição.

180
NEWTON C. BRAGA

Entretanto, o comportamento indicado para este tipo de antena depende


não só do desenho da própria antena como também da sua instalação.
Verifica-se que a presença de objetos nas proximidades da
antena ou mesmo sua localização num telhado irregular ou num local
em que o pIano-terra seja alterado (pois o formado pelas varetas da
própria antena não é perfeito) podem afetar sensivelmente o padrão de
irradiação da antena levando-a a apresentar pontos de menor
rendimento, conforme mostra a figura 4.

Figura 4 – Padrão real de irradiação de uma antena


plano-terra

181
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Nas comunicações fixas este problema não é grave, mas nas


comunicações móveis quando o veículo muda constantemente de
posição em relação à estação contatada é muito importante que o
rendimento da antena seja o mesmo em qualquer direção.
Muitos PX têm usado duas antenas em lugar de uma no seu
veículo, numa configuração denominada “cofasada" visando com isso
obter não só maior rendimento na irradiação, mas também maior
uniformidade no padrão de irradiação. Entretanto, o uso de antenas
cofasadas é um assunto ainda muito controvertido pois nem sempre
pode levar aos resultados esperados. (figura 5)

Figura 5 – Antenas cofasadas

182
NEWTON C. BRAGA

O que são antenas cofasadas?


Se colocarmos duas antenas verticais de 1/4 de comprimento de
onda em posição paralela, conforme mostra a figura 6 e as ligarmos a
um transmissor por meio de cabos de igual comprimento, os sinais do
transmissor chegarão a estas antenas no mesmo instante.

Figura 6 – Conexão de antenas para cofasamento

Dizemos então que estes sinais estão em fase (6 : 0°) e que as


antenas estão cofasadas. Veja que neste caso não é importante o
comprimento exato que os cabos de ligação devem ter, mas apenas o
fato deles terem o mesmo comprimento. Mas não é só o comprimento
do cabo que é importante. A separação das antenas é que determinará o
padrão de irradiação. Se as antenas estiverem separadas por uma

183
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

distância equivalente a 1/8 do comprimento da onda, o padrão obtido


será o da figura 7 que sem dúvida não é desejado no caso de uma
estação móvel.

Figura 7 – Padrão obtido com 1/8 do comprimento de onda

Se a separação for de 1/4 do comprimento da onda, o padrão


obtido já será o da figura 8 que é muito melhor para a nossa finalidade.

184
NEWTON C. BRAGA

Figura 8 – Padrão com ¼ do comprimento de onda

Mas, se levarmos em conta que, na faixa de PX, uma separação


de 1/4 de comprimento de onda significa algo como 2,7 metros, o leitor
já percebe que as dimensões de seu carro começam a ficar algo críticas
para a colocação das antenas. Para a utilização de separação de 1/8 de
comprimento de onda é preciso que o comprimento da antena seja
equivalente à 1/4 de onda, conforme mostra a figura 9.

185
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

Figura 9 – Como fazer a separação

Entretanto, é preciso levar em conta que o plano terra


perfeitamente condutor e infinito que nos leva a estes resultados de
modo algum têm semelhança com o representado pelo carro.
Naturalmente nenhum fabricante de automóveis leva em conta ao
projetar seu veículo o fato dele eventualmente ter de servir como
pIano-terra para uma antena daí os resultados obtidos ficarem muito a
desejar quando colocamos uma antena qualquer em suas capotas ou em
qualquer parte.

Os testes
Levando em conta que os veículos apresentam uma geometria
toda especial e que testes feitos com antenas cofasadas ou de outros
186
NEWTON C. BRAGA

tipos são muito difíceis em escala real pois os objetos próximos sempre
podem distorcer os resultados, a NASA realizou provas de um modo
muito interessante com veículos em escala reduzida. O que se faz então
é usar um modelo de carro 10 vezes menor que o real, quando então,
ficando reduzida à 1/10 o comprimento da antena e, portanto, o
comprimento de onda, para se obter um comportamento análogo basta
elevar 10 vezes a frequência do transmissor.
Veículos miniatura podem então ser montados em plataformas
giratórias numa câmara com paredes totalmente não refletivas de RF, e
com antenas miniatura ligados à pequenos transmissores. (figura 10)

Figura 10 – Fazendo testes com antenas miniatura

Para o caso da faixa do cidadão basta então operar estes veículos


miniatura com transmissores de 270 MHz, o que corresponde a uma
187
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

redução de 1:10 das suas dimensões. É o mesmo processo de análise


que se faz nos túneis de vento para o projeto de aeronaves, pois se sabe
que o comportamento manifestado por uma miniatura de mesmo
formato será igual o apresentado pelo avião definitivo. (figura 11)

Figura 11 – Túnel de vento

Os gráficos de padrões de irradiação revelados por estes testes


mostram muita coisa importante e com muita facilidade, levando em
conta principalmente a estrutura do veículo.

Os resultados
Os resultados dos testes feitos com antenas cofasadas revelam
que realmente, em princípio, seu funcionamento é válido com bons

188
NEWTON C. BRAGA

padrões de irradiação, mas isso somente se o plano terra representado


pelo veículo preencher certas exigências. Conforme sabemos, nenhum
carro é projetado para servir de plano-terra para antenas de PX ou de
qualquer outra faixa, de modo que, se analisarmos os modelos
existentes no mercado observamos a existência de uma variedade de
curvas muito grande, que podem influir sensivelmente no padrão de
irradiação de um par de antenas.
Se o carro tiver uma estética desfavorável, ou mesmo dimensões
reduzidas, isso pode influir bastante no rendimento de antenas
cofasadas que não terão o padrão desejado de irradiação. Se desejarmos
um padrão direcional, ele pode não ser uniforme na direção desejada, e
se desejarmos um padrão unidirecional, isso sem dúvida não será
conseguido com a presença de muitas irregularidades, conforme a
figura 4 mostra. Podemos dizer que as antenas serão mais eficientes nos
veículos que apresentarem grandes superfícies planas como plano-terra
o que nos leva a concluir que seu desempenho será muito melhor na
capota de um ônibus ou de um carro grande do que na capota de um
carro pequeno.

Na prática
Na prática, a instalação de antenas cofasadas exige muito
cuidado do amador. Além da disposição conveniente das antenas que
189
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 44

deve ser estudada com a ajuda de um medidor de intensidade de campo


e um medidor de ROE, é preciso dimensionar muito bem os
comprimentos dos cabos e fazer corretamente as ligações. Para a
ligação das antenas, por exemplo, são utilizados conectores triplos,
conforme mostrado na figura 12.

Figura 12 – Conectores triplos

Outro ponto importante que deve ser observado é o referente ao


casamento de impedâncias das antenas com o transmissor. A ligação de
duas antenas ao mesmo transmissor modifica o seu comportamento
elétrico que deve ser compensado com a ajuda de circuitos especiais.
Estes circuitos casadores de impedância são então colocados entre o
sistema de antena e o transmissor de modo a se obter o rendimento
desejado na transferência de energia.

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