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Curso de Políticas sobre Drogas e Segurança Pública

em Perspectiva Comparada

O SURGIMENTO DAS
O SURGIMENTO
“DROGAS” DAS
E AS “DROGAS”
PREMISSAS
E AS PREMISSAS PARA
PARA SEU
SEUS CONTROLES
CONTROLE

MÓDULO

11
MÓDULO
MÓDULO 1

O SURGIMENTO DAS “DROGAS”


E AS PREMISSAS PARA
SEU CONTROLE
Fernanda Novaes Cruz

Frederico Policarpo de Mendonça Filho

Marcos Alexandre Veríssimo da Silva

Roberto Kant de Lima

MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA E
SEGURANÇA PÚBLICA
EXPEDIENTE
GOVERNO FEDERAL

PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL


Luís Inácio Lula da Silva

MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA


Ricardo Lewandowski

SECRETÁRIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS E GESTÃO


DE ATIVOS
Marta Rodriguez de Assis Machado

DIRETOR DE PESQUISA, AVALIAÇÃO E GESTÃO DE INFORMAÇÕES


Mauricio Fiore

COORDENADORA-GERAL DE ENSINO E PESQUISA


Natália Neris da Silva Santos

COORDENADORA DE ARTICULAÇÃO DO OBSERVATÓRIO


BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS
Geórgia Belisário Mota

CONTEUDISTAS
Fernanda Novaes Cruz
Frederico Policarpo de Mendonça Filho
Marcos Alexandre Veríssimo da Silva
Mauricio Fiore
Roberto Kant de Lima

REVISÃO DE CONTEÚDO
Jessica Santos Figueiredo
Grazielle Teles de Araújo

APOIO
Brenda Juliana Silva
Laudilina Quintanilha Mendes Pedretti de Andrade
Luana Rodrigues Meneses de Sá
Maria Aparecida Alves Dias

BY NC ND

Todo o conteúdo do COMPASSO – Curso sobre Políticas de Drogas e Sociedade:


perspectivas e discussões atuais, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas
e Gestão de Ativos (SENAD), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do
Governo Federal - 2024, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons
Atribuição - Não Comercial- Sem Derivações 4.0 Internacional.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

COORDENAÇÃO GERAL
Luciano Patrício Souza de Castro

FINANCEIRO
Fernando Machado Wolf

SUPERVISÃO TÉCNICA EAD


Giovana Schuelter

SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAL


Francielli Schuelter

SUPERVISÃO DE MOODLE
Andreia Mara Fiala

SECRETARIA ADMINISTRATIVA
Elson Rodrigues Natario Junior

DESIGN INSTRUCIONAL
Supervisão: Milene Silva de Castro
Larissa Usanovich de Menezes
Sofia Santos Stahelin

DESIGN GRÁFICO
Supervisão: Sonia Trois
Eduardo Celestino
Giovana Aparecida dos Santos
Luana Pillmann de Barros
Vanessa de Oliveira Vieira

REVISÃO TEXTUAL
Cleusa Iracema Pereira Raimundo

PROGRAMAÇÃO
Supervisão: Alexandre Dal Fabbro
Luan Rodrigo Silva Costa
Luiz Eduardo Pizzinato

AUDIOVISUAL
Supervisão: Rafael Poletto Dutra
Andrei Krepsky de Melo
Julia Britos
Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira
Robner Domenici Esprocati

SUPERVISÃO TUTORIA
João Batista de Oliveira Júnior
Thaynara Gilli Tonolli

TÉCNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Alexandre Gava Menezes
André Fabiano Dyck
GUIA DE AMBIENTAÇÃO
COMO LER O E-BOOK

Curso de Políticas sobre Drogas e Segurança Pública


em Perspectiva Comparada

O SURGIMENTO DAS
O SURGIMENTO
“DROGAS” DAS
E AS “DROGAS”
PREMISSAS
E AS PREMISSAS PARA
PARA SEU
SEUS CONTROLES
CONTROLE

MÓDULO

11
MÓDULO

MÓDULOS

Este curso está dividido


em módulos. O módulo
correspondente e o conteúdo
principal estão localizados na
capa do e-book, logo abaixo do
nome do curso.
GUIA DE AMBIENTAÇÃO
COMO LER O E-BOOK

PÁGINAS INTERNAS

As páginas internas do e-book


estão estruturadas em
duas colunas.

A coluna mais estreita


e externa (à esquerda)
é utilizada para enquadrar
ícones criados com a finalidade
de destacar os recursos e
elementos instrucionais,
como o “VÍDEO”.

VÍDEO

Os vídeos contemplam
conteúdos complementares para
enriquecimento do aprendizado
e seus links estão representados
pelo recurso QR Code.
ÍCONES
GUIA DE AMBIENTAÇÃO
Ajudam a localizar, focalizar
e ressaltar respectivos textos
COMO LER O E-BOOK
informativos. Cada ícone apresenta
uma função:

SAIBA MAIS

Ao clicar no link, você é direcionado


para documentos disponibilizados na
internet, como leis e normas técnicas.
É preciso estar conectado à internet
para acessar o conteúdo.

PARA PENSAR

Frase ou parágrafo que incentiva


o cursista à reflexão, trazendo
perguntas retóricas, reflexões ou
questões que são respondidas logo
depois do recurso.

PODCAST

Este recurso apresenta de maneira


transcrita o trecho do conteúdo que
foi narrado e apresentado em formato
áudio na versão on-line do curso.

CITAÇÃO

Transcrições exatas de partes dos


conteúdos dos autores utilizados nos
materiais didáticos.

OUTRA PERSP CTIVA

Trecho de conteúdo que traz outras


perspectivas em relação às questões
enraizadas no senso comum.

SÍNTESE DO MÓDULO VERBETE

Trecho de conteúdo que contempla Recurso utilizado para


uma síntese dos pontos mais explicar termos que
importantes vistos no módulo. podem ser desconhecidos
ao cursista.

DESTAQUE

Trechos de conteúdos importantes


para contribuir no aprendizado
do cursista.
SIGLAS
CDESC - Centro de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento
Social Comunitário
EUA - Estados Unidos da América
LSD - Dietilamida do Ácido Lisérgico
MDMA - Metilenodioximetanfetamina/Ecstasy
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
SENAD - Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos
SIMCI - Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos
SNC - Sistema Nervoso Central
UNODC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 12

UNIDADE 1 | AS “DROGAS” NO MUNDO OCIDENTAL  14

UNIDADE 2 | POR QUE E COMO SÃO ESTUDADAS AS


DROGAS NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS?  17

2.1 O senso comum e o método científico 17

2.2 Os “sensos comuns” em torno das drogas 21

UNIDADE 3 | CRIMINALIZAR, DESCRIMINALIZAR,


LEGALIZAR: O QUE SIGNIFICA CADA UMA
DESSAS PALAVRAS?  24

UNIDADE 4 | O TEMA DAS DROGAS NA HISTÓRIA  28

4.1 Primeiras regulações e proibições das drogas 33

REFERÊNCIAS 40
CONTEUDISTAS DO MÓDULO

Fernanda Novaes Cruz


Pesquisadora no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São
Paulo - NEV/USP. Fez estágio de pós-doutorado no NEV/USP (2019-
2024). Doutora em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos
(IESP-UERJ). Mestre em Ciências Sociais pelo PPCIS- UERJ. Graduada
em Ciências Sociais (UERJ) e Comunicação Social (UFRJ). Pesquisa-
dora Associada do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Sui-
cídio (IPPES) e do Núcleo de Pesquisas em Direito e Ciências Sociais
(DECISO-IESP-UERJ). Realizou Doutorado Sanduíche pela CAPES no
Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Oxford e Bolsa
de Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE-FAPESP) na Universidade de
Bradford. Tem experiência com pesquisas quantitativas e qualitativas,
especialmente com ênfase em violência e segurança pública, atuando
principalmente nos seguintes temas: qualidade de vida do trabalho
policial, suicídio policial, política de drogas e funcionamento das ins-
tituições policiais e judiciais.

Frederico Policarpo de Mendonça Filho


Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (IFCS/UFRJ-2003), mestrado em Antropologia pela Universidade
Federal Fluminense (PPGA/UFF-2007), doutorado em Antropologia pela
mesma universidade (PPGA/UFF-2013), com bolsa-sanduíche na Univer-
sity of California, Hastings College of the Law/EUA (CAPES/2011-2012).
É professor adjunto de Antropologia no Departamento de Segurança
Pública do Programa de Pós-Graduação em Justiça e Segurança e do
Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito, na Universidade
Federal Fluminense. É pesquisador vinculado ao Instituto Nacional de
Ciência e Tecnologia – Instituto de Estudos Comparados em Admi-
nistração de Conflitos (INCT-InEAC/UFF). Tem experiência na área de
Antropologia, atuando principalmente nos seguintes temas: consumo
de drogas e sistema de justiça criminal.

Marcos Alexandre Veríssimo da Silva


Possui graduação em Ciências Sociais (bacharelado e licenciatura)
pela Universidade Federal Fluminense, mestrado em Antropologia
pelo mesmo programa, especialização em Políticas Públicas de Justiça
Criminal e Segurança Pública pela Universidade Federal Fluminense
e doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da
Universidade Federal Fluminense. Pesquisador associado ao Instituto
de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos
(INCT-InEAC), onde coordena o subprojeto Laboratório de Iniciação
Acadêmica em Administração de Conflitos (LABIAC). Áreas de in-
teresse: conflitos relacionados às “drogas” (lícitas e ilícitas) e seus
usos, mercados, produção e repressão; antropologia visual; e estudos
de manifestações artísticas e culturais construídas por grupos sociais
mais ou menos definidos.

10 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Roberto Kant de Lima
Possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (1968), mestrado em Antropologia Social
pelo Museu Nacional UFRJ (1978), doutorado em Antropologia pela Har-
vard University (1986), pós-doutorado na University of Alabama at Bir-
mingham (1990). É coordenador do Instituto de Estudos Comparados em
Administração de Conflitos, professor emérito da Universidade Federal
Fluminense (INCT-InEAC/ UFF), professor permanente do Programa
de Pós-Graduação em Direito da Universidade Veiga de Almeida (UVA),
professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia
e professor colaborador do Mestrado em Justiça e Segurança da Universi-
dade Federal Fluminense (UFF). Membro titular da Academia Brasileira
de Ciências e comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico do
Governo do Brasil. Tem experiência na área de Teoria Antropológica, com
ênfase em Método Comparativo, Antropologia do Direito e da Política,
Processos de Administração de Conflitos e Produção de Verdades.

Curso COMPASSO 11
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
MÓDULO 1
APRESENTAÇÃO
Olá, cursista!

Bem-vindo(a) ao nosso primeiro módulo do curso COMPASSO - Curso


sobre Políticas de Drogas e Sociedade: perspectivas e discussões atuais.

O termo “drogas” não tem uma definição clara e objetiva. O seu sig-
nificado depende do contexto social em que é utilizado, bem como da
área de conhecimento que o mobiliza. Neste módulo, apresentaremos
uma abordagem para o tema das drogas a partir da perspectiva das
ciências sociais. Introduziremos alguns dos modelos de regulamen-
tação que têm sido adotados para lidar com o tema; e começaremos
a discutir os processos sócio-históricos que contribuíram para a
proibição do uso, da produção e da comercialização de uma série de
substâncias em diversos países do mundo.

Para aprofundar sua compreensão sobre a temática do curso, conforme


apresentado no vídeo de ambientação e funcionamento do curso,
utilize o “Glossário de termos sobre drogas”, que foi desenvolvido e
publicado por meio de uma cooperação internacional entre o Centro
de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário
(CDESC) e o Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos
(SIMCI – Colômbia) com o objetivo de padronizar termos e promover
um melhor entendimento de conceitos relacionados às drogas.

O CDESC é uma parceria entre a Secretaria Nacional de Políticas


Aponte a
VÍDEO câmera do seu sobre Drogas e Gestão de Ativos (SENAD) do Ministério da Justiça
dispositivo móvel e Segurança Pública do Brasil, o Programa das Nações Unidas para
(smartphone ou
tablet) para o QR o Desenvolvimento (PNUD) e o Escritório das Nações Unidas sobr
Code ao lado e Drogas e Crime (UNODC).
assista ao vídeo
de apresentação
do módulo! Esse glossário está disponível em formato PDF no Ambiente Virtual
de Aprendizagem, no menu lateral de todos os módulos do curso,
denominado GLOSSÁRIO GERAL.

OBJETIVOS DO MÓDULO
z Permitir aos cursistas a compreensão crítica do conceito de
“drogas” na contemporaneidade e suas implicações.

z Abordar a diferenciação entre formulações obtidas


a partir do senso comum e aquelas construídas a partir
de método científico.

z Explicar a diferenciação entre a enunciação de problemas


sociais e a formulação de perspectivas analíticas.

z Apresentar os aspectos históricos mais relevantes sobre o


tema das drogas e das políticas sobre drogas.

12 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
MÓDULO 1
UNIDADE 1
AS “DROGAS” NO MUNDO OCIDENTAL
UNIDADE 1
AS “DROGAS” NO MUNDO OCIDENTAL
Antes de tudo, vamos começar este curso com uma pergunta simples:
você sabe o que são drogas? Apesar de ser simples, a resposta a essa
pergunta é complexa, porque a definição de drogas depende de uma
série de fatores. Por exemplo, podemos, em uma primeira abor-
dagem, pensar as drogas do ponto de vista farmacológico e, portanto,
defini-las como substâncias que podem afetar o funcionamento de
um organismo. As drogas especificamente psicoativas podem ser
classificadas em grupos a partir dos efeitos que elas podem gerar
no funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC), conforme
apresentado a seguir.

Depressoras/sedativas
Diminuem a velocidade das mensagens que viajam
entre o cérebro e o corpo. Eles podem reduzir
a excitação e a estimulação, fazendo com que a pessoa
se sinta relaxada ou sonolenta.

Estimulantes
Aceleram as mensagens que viajam entre o cérebro e o
corpo. Elas podem fazer com que a pessoa se sinta mais
desperta, alerta, confiante ou enérgica.

Psicodélicas
Afetam todos os sentidos, alterando o pensamento,
a percepção do tempo e as emoções de uma pessoa.
Também podem fazer com que a pessoa tenha
alucinações, veja ou ouça coisas que não existem
ou que estejam distorcidas.

Há controvérsias a respeito de uma quarta classificação, a dos pertur-


badores, que se refere notadamente aos canabinoides e que, embora
próximas dos psicodélicos, têm efeitos associados às outras três
classificações. Resumidamente, elas podem fazer com que a pessoa
se sinta feliz, relaxada, ansiosa ou paranoica.

Também podemos responder à referida pergunta traçando relação


com a natureza da substância: e desse ponto de vista as drogas são
classificadas como sintéticas, como a anfetamina e os ansiolíticos,
ou como de origem “natural”, como a maconha e a cocaína.

14 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Por outro lado, a pergunta daqueles que querem saber o que são
drogas poderia ter como base o ponto de vista do estatuto jurídico,
que classifica as substâncias entre lícitas e ilícitas.

Lícitas Ilícitas
Álcool Cocaína
Tabaco Maconha
Cafeína LSD
Fonte: Adaptado de Alarcon
(2012, p. 105).
Solventes MDMA (Ecstasy)
Heroína

Não é preciso ficar confuso com essas listas, ou ficar preocupado em


tentar decorá-las para ter a resposta na ponta da língua.

Para pensar

O mais importante para responder à pergunta disparadora


do nosso debate é entender que a resposta será sempre
contextual. Ou seja, é preciso entender que a própria palavra
“droga” é utilizada de formas variadas, para classificar uma
série de substâncias.

Além disso, essas classificações são dinâmicas, o que corresponde


a dizer que podem ser reformuladas. Por exemplo, atualmente, a
planta Cannabis Sativa L., mais conhecida no Brasil como maconha,
está deixando de ser uma droga ilícita e, aos poucos, sendo consi-
derada – e não sem muita controvérsia – como uma droga lícita.
Em alguns países, a mudança na classificação legal da planta Can-
nabis para lícita já é uma realidade, inclusive com a permissão do
seu livre consumo por adultos, como no Uruguai e no Canadá, para
citar apenas dois casos.

Curso COMPASSO 15
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
MÓDULO 1
UNIDADE 2
POR QUE E COMO SÃO ESTUDADAS AS DROGAS
NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS?
UNIDADE 2
POR QUE E COMO SÃO ESTUDADAS
AS DROGAS NA PERSPECTIVA DAS
CIÊNCIAS SOCIAIS?
Conforme vimos na Unidade 1, existem muitas abordagens possíveis
para estudarmos o tema das drogas. Poderíamos estudar a compo-
sição ou as suas peculiaridades químicas, os diferentes efeitos que
o consumo de uma determinada substância gera nos indivíduos,
ou ainda os elementos que contribuíram para que uma determinada
droga seja considerada lícita ou ilícita.

Todas essas abordagens podem nos oferecer conhecimentos impor-


tantes sobre o assunto. E, apesar das diferenças, todas elas possuem
algo em comum: um método científico. O método científico é o que
nos ajuda a analisar cientificamente uma hipótese, fazer um expe-
rimento, comprovar e/ou rejeitar uma hipótese, e talvez o elemento
mais central: possibilita ser analisado, criticado e ou validado por
outros pesquisadores da área.

Neste curso, vamos explorar o tema das drogas a partir do paradigma


das ciências sociais. Com essa abordagem, esperamos que você, cur-
sista, seja capaz de analisar os fatores históricos, sociais e culturais
que contribuíram para a formação das percepções e opiniões das
pessoas sobre o tema das drogas.

2.1 O senso comum e o método científico


O sociólogo Anthony Giddens (2012) nos ensina que a maior parte
das pessoas interpreta o mundo a partir do que é familiar a elas.
Essas interpretações, que promovem uma espécie de sabedoria de
navegação social, são identificadas na literatura sociológica pela
expressão senso comum.

O chamado senso comum é tudo aquilo que um


determinado sujeito, inserido em uma dada realidade
social, compartilha de sua cultura, de seus hábitos e de
suas práticas sociais. Forma também o conteúdo das
conversas e, por extensão, informa as redes interpretativas
através das quais amplos consensos sociais vão sendo
formados, reformados e eventualmente contestados.

Curso COMPASSO 17
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
O senso comum é marcado por:

Aplicabilidade Acessibilidade Praticidade


Se aplica às Seus vocabulários Resolvem ou
rotinas e desafios e lógicas são administram
da vida social. acessíveis a problemas
praticamente práticos
toda a população. da vida
cotidiana.

Sendo assim, o senso comum tende a operar na lógica da simplificação


e da naturalização. Essa forma de ler o mundo, apesar de ser simples
e acessível a todos, por vezes pode estar impregnada de preconceitos,
especialmente quando diz respeito ao desconhecido.

Podemos encontrar autores e professores que afirmam, para exem-


plificar, que o senso comum é como o ato de dirigir um veículo au-
tomotor nas ruas e estradas de nossas cidades. Ou seja, o condutor
de veículo atento ao que faz, que dirige como se imagina que se deve
dirigir, fará uma série de movimentos, com os membros superiores,
os inferiores e o pescoço, automaticamente, enquanto conduz o veí-
culo. Imagine se o motorista se vê diante de um caminhão aparen-
temente desgovernado, deslocando-se rápida e perigosamente em
sua direção. A sequência de movimentos muito bem coordenados que
terá que fazer para escapar dessa situação de extremo perigo soará
como automática, inconsciente. De fato, se tivesse que reproduzir
uma equação matemática para calcular a velocidade e a angulação
da rota de colisão do caminhão em direção a seu carro, certamente
não sobreviveria para contar a história.

Esse hipotético viajante das ruas aqui retratado, que utiliza sua des-
treza adquirida na prática da condução de veículos, está em uma
posição análoga à dos sujeitos, pessoas, indivíduos que utilizam o
Aponte a senso comum para navegar socialmente, para ganhar a vida, namorar,
VÍDEO câmera do seu cumprir obrigações sociais, profissionais e de parentesco, interpretar
dispositivo móvel
(smartphone ou os fatos que lhes são apresentados ao longo da vida etc.
tablet) para o QR
Code ao lado e
assista ao vídeo A ciência, em contrapartida, utiliza métodos sistemáticos de inves-
de animação tigação empírica, análise de dados, pensamento teórico e a avaliação
sobre os aspectos
lógica de argumentos para desenvolver um corpus de conhecimento
do senso comum!
sobre um determinado assunto (Giddens, 2012).

Para ser aceita como válida, uma pesquisa científica precisa seguir
uma série de etapas, tal como demonstra o esquema a seguir.

18 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Etapas da pesquisa científica

Definição do problema: o pesquisador


1 seleciona o problema que ele deseja investigar.

Revisão de literatura: o pesquisador deve Seus resultados são registrados e discutidos


familiarizar-se com as pesquisas realizadas na comunidade acadêmica mais ampla –
2 anteriormente no tema a ser investigado levando talvez ao início de novas pesquisas.
ou em temas correlatos.

Apresentação dos resultados


da pesquisa: o pesquisador apresenta
Formulação da hipótese: usualmente, os seus resultados, analisando-os em
relação aos estudos anteriores realizados
3
nesta etapa, o pesquisador formula uma
pergunta de pesquisa que pode ou não ser
7 sobre o tema. A apresentação pode se dar
confirmada pela pesquisa. por meio de artigos científicos, em reuniões
ou congressos científicos, bancas
de avaliação, entre outros.

Delineamento da pesquisa: o pesquisador


escolhe as técnicas e métodos que serão Interpretação dos resultados: análise
4 utilizados e que poderão contribuir
6
dos dados coletados anteriormente;
o pesquisador analisa se a hipótese
para responder à(s) sua(s) pergunta(s)
de pesquisa. da pesquisa se confirma ou não.

Execução da pesquisa: etapa de coleta


Fonte: Adaptado de Giddens (2012). 5 dos dados.

As ciências sociais se dedicam a compreender, de forma mais ampla do


que as explicações do senso comum, por que agimos e como agimos.
Por meio de métodos científicos, as pesquisas nessa área do conhe-
cimento buscam demonstrar como muitas coisas que interpretamos
como naturais são profundamente influenciadas por fatos históricos
e processos sociais.

Diferentemente daquilo que acontece com físicos, químicos e boa


parte dos biólogos, cujas pesquisas se dão em laboratórios guardados
em condições controladas de temperatura e pressão, os cientistas
sociais têm a vida social, na qual circulam como seres viventes, como
seu “laboratório”. Enquanto sujeito que não apenas estuda, mas vive
imerso nesse meio social, as inquietações que dão origem a seus
projetos de pesquisa, não raro, surgem em articulação com seus
desejos ou sistemas corporativos de crenças.

Curso COMPASSO 19
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Embora esse fenômeno afete todos os campos de produção do conhe-
cimento, os pesquisadores das ciências sociais estão especialmente
intricados com os problemas sociais que estudam, e isso pode ser um
grande complicador para seu trabalho. Como observou o sociólogo
francês Remi Lenoir (1998), é para isso que devemos cuidadosamente
atentar no momento de construir nossas análises sociológicas a partir
do terreno minado dos problemas sociais.

O papel do pesquisador é compreender os “problemas sociais”, é,


portanto, fornecer subsídios confiáveis na forma de conhecimento
para avançarmos no entendimento dos processos sociais. O primeiro
passo para se compreender um “problema social” é considerá-lo
como resultado de um trabalho social permanente, da atividade
coletiva de várias pessoas, com interesses e motivações diversos.
Isto é, transformar o “problema social” em um objeto sociológico.

O que é construído como ‘problemas sociais’ varia segundo as


épocas e as regiões e pode desaparecer como tal, precisamente
no momento em que subsistem os fenômenos designados por
eles. É o caso, por exemplo, da pobreza que, nos Estados Unidos,
foi um grave ‘problema social’ durante os anos 30, desapareceu
na década de 1940-1950 e voltou a aparecer nos anos 80;
ou ainda o caso do racismo que só se transformou em um
‘problema social’ nos anos 60.

Lenoir, 1998, p. 64

Considerando que o “problema social” não é algo dado, mas cons-


truído socialmente, o passo seguinte para compreendê-lo é analisar
o contexto em que surge.

20 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
PODCAST TRANSCRITO
Para que alguma prática ou condição social se torne um
“problema social”, é preciso que um grupo de pessoas consiga
chamar a atenção de todo mundo, que seja capaz de mobilizar a
opinião pública em seu favor, fazendo com que a sua definição
seja aceita. Se esse primeiro esforço for bem-sucedido,
o “problema social” começa a ser “resolvido”, isto é, serão
criados meios e ferramentas para, dependendo do “tipo de
problema”, avaliar a sua “dimensão”, por meio de estatísticas
de empresas e institutos, para “combatê-lo” com novos
departamentos policiais; para “estudá-lo”, com novas
especialidades de formação, e assim por diante. Quanto mais
bem-sucedido for o trabalho de definição, mais investimentos e
atenção o “problema social” vai receber.

A análise sociológica de todos esses elementos, dos grupos envolvidos,


passando pelos meios de veiculação mobilizados, até a institucionali-
zação das ações para “resolver” o “problema social”, é o que produz
evidências científicas. Ao contrário do senso comum, as evidências
científicas são testadas e discutidas.

2.2 Os “sensos comuns” em torno


das drogas
A formulação “as ‘drogas’ matam e fazem mal” é uma afirmação
amplamente compartilhada por porções da população brasileira e
mundial atualmente. A cientista política canadense Line Beauchesne,
com vasta experiência de pesquisa nesse campo, demonstra que certo
terror criado sobre as “drogas”, muito longe de poupar os indivíduos
e as coletividades dos males que tais substâncias eventualmente
podem trazer, acaba se tornando parte do problema.

As drogas podem corresponder a necessidades de descontração,


bem-estar e servir de suporte de maneira adequada a certas
atividades e certos estilos de vida. Todavia, se o consumo
de drogas pode fornecer benefícios tanto físicos quanto
psicológicos, estes podem se transformar em malefícios para a
saúde do consumidor e, mesmo, para sua organização de vida,
se o consumo não puder mais ser controlado adequadamente
segundo as necessidades e capacidades do consumidor,
ou os valores e limites de seu meio social. Os benefícios podem
também se transformar em malefícios caso os indivíduos
tenham associado um medo muito forte a estes produtos e a

Curso COMPASSO 21
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
uma forte convicção de seu teor nocivo. No Quebec,
por exemplo, como em outros lugares, no passado, quando
médicos e pacientes curados convenceram uma parte da
população de que a masturbação podia causar cegueira, loucura
e, mesmo, provocar a morte, diversas pessoas, após a prática da
masturbação, ficaram cegas, loucas, e mesmo morreram.
A crença no efeito de uma ação ou efeito placebo de um produto
não pode ser negligenciada no que diz respeito ao discurso-
pânico sobre a questão das drogas. O estresse da desobediência,
a culpa e a crença, na realidade dos efeitos anunciados, podem
ser suficientes para levar pessoas a confirmar em seus corpos e
comportamentos os malefícios dos produtos.

Beauchesne, 2014, p. 28

Aponte a
VÍDEO câmera do seu
dispositivo móvel
(smartphone ou Portanto, mais do que negar as ideias do senso comum, neste curso
tablet) para o QR exploraremos as origens delas e demonstraremos que muitas das
Code ao lado e
assista ao vídeo que parecem inatas ou imutáveis estão sujeitas às mutações sociais.
que trata sobre Além disso, apresentaremos como as evidências vindas do mundo
a distinção entre
científico têm contribuído para desmistificarmos algumas das visões
senso comum
e perspectiva vigentes nos sensos comuns sobre o tema das drogas.
analítica.

22 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
MÓDULO 1
UNIDADE 3
CRIMINALIZAR, DESCRIMINALIZAR, LEGALIZAR:
O QUE SIGNIFICA CADA UMA DESSAS PALAVRAS?
UNIDADE 3
CRIMINALIZAR, DESCRIMINALIZAR,
LEGALIZAR: O QUE SIGNIFICA CADA
UMA DESSAS PALAVRAS?
Uma vez que propomos estudar o tema das drogas a partir da pers-
pectiva da sociedade, precisamos compreender o estado atual do
tema em uma determinada sociedade, assim como os processos que
nos guiaram até o momento que estamos hoje.

Émile Durkheim, considerado um dos pais fundadores da sociologia,


contribuiu significativamente para que as questões que antes eram
atribuídas a um comportamento individual passassem a ser concebidas
como forças e relações sociais (Giddens, 2011). Durkheim analisou
temas como o crime, o desvio e o direito. Para ele, o direito é um in-
dicador da evolução das sociedades (Lallement, 2008). A partir dele
podemos identificar os valores e crenças vigentes em uma determi-
nada sociedade. Ele afirma que no mundo social o direito teria duas
funções: atingir aqueles que cometem as transgressões e restituir a
sociedade, um determinado indivíduo ou um grupo de pessoas do
direito que foi lesado. Em uma sociedade em movimento, as normas
e leis que a regem também estão em movimento. Em razão disso,
determinadas condutas, que em dado momento são consideradas
Émile Durkheim. criminosas, podem deixar de ser, ou pode ocorrer o processo inverso,
Fonte: Wikipédia. uma conduta que não era considerada criminosa em um determinado
momento histórico tornar-se criminosa.

Outra contribuição importante para o tema é a do sociólogo estadu-


nidense Howard Becker (2005). Ele é um dos principais autores do
que chamamos de “sociologia do desvio”. A partir de uma pesquisa
de campo com musicistas de jazz e usuários de maconha na cidade
de Chicago (EUA), ele defende que o desvio é uma criação social,
ou seja, a sociedade define o que é o comportamento normal e, con-
sequentemente, o comportamento anormal (desviante). Em geral,
as regras que definem um desvio seriam criadas por pessoas em
posição de maior poder em uma sociedade e se direcionariam às que
estão em posição de menor poder.

Howard Becker.
Fonte: © [Sophie Bassouls/Sygma]
|The New York Times.

24 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Portanto, para Becker, o quanto um determinado ato será
tratado ou não como desvio depende de quem o comete
e de quem se sente prejudicado por ele, assim como as
regras tendem a ser aplicadas mais a algumas pessoas
do que a outras.

Portanto, se Durkheim nos ensina que compreender as regras formais


– definidas pelo direito – nos ajuda a compreender os valores de
uma determinada sociedade, Becker nos ensina como a construção
dessas regras usualmente reproduz estruturas de poder vigentes
na sociedade. Além das contribuições de Durkheim e de Becker,
uma série de autores, no Brasil e no mundo, tem se dedicado a
compreender diversos aspectos sobre o tema das drogas a partir
das ciências sociais. Alguns deles serão apresentados ao longo deste
curso. Mas, em resumo, uma abordagem para o tema das drogas a
partir das ciências sociais busca demonstrar que:

[...] não há uma substância e nem um indivíduo como elementos


universais e objetivos, mas há contextos sociais e culturais
diferentes, de substâncias diferentes e realizados por indivíduos
diferentes e, sem a devida atenção a essa diversidade, não é
possível uma compreensão razoável do fenômeno.

Fiore, 2020, p. 26-27

Se consideramos que a forma de gestão do tema das drogas é social,


precisamos conhecer algumas das formas como as sociedades vêm
lidando com essa questão, seja no sentido de proibir, controlar ou até
mesmo de não opinar sobre o seu uso. No esquema a seguir, apresen-
tamos algumas dessas possibilidades. No Módulo 5, discutiremos um
pouco mais o que alguns desses termos significam nos atuais debates
a respeito da política sobre drogas.

Curso COMPASSO 25
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Criminalizar

Tornar uma conduta/prática um crime previsto pelo Código Penal.

Despenalizar o uso

O consumo da substância continua sendo crime de acordo com o


Código Penal, mas é retirada a pena de prisão para o usuário.

Descriminalizar

Retira a conduta/prática do Código Penal, portanto, deixa de ser


crime. No entanto, podem ser estabelecidas ou medidas
administrativas, tais como multa, para determinadas condutas
consideradas inadequadas.

Regulamentar

Estabelecer uma ou mais normas ou leis para a produção, venda


ou consumo de substâncias psicoativas.
VÍDEO Aponte a câmera
do seu dispositivo
móvel (smartphone
ou tablet) para o
QRCode ao lado
Legalizar
e assista ao vídeo
sobre as diferentes Torna lícita todas as atividades ligadas a produção, comércio
categorias de
controle das drogas.
e consumo das drogas.

26 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
MÓDULO 1
UNIDADE 4
O TEMA DAS DROGAS NA HISTÓRIA
UNIDADE 4
Verbete O TEMA DAS DROGAS NA HISTÓRIA

Conhecer os processos históricos em que se desenvolveram as nossas


Etimologia: concepções nos ajuda a desnaturalizar ideias que pareciam naturais e
compreender como foram construídas as visões que possuímos hoje
1. Parte da gramática que trata da
sobre um determinado assunto. Isso se aplica ao tema das drogas.
origem e formação das palavras.
O historiador Henrique Carneiro (2005), um dos principais especia-
listas sobre o tema no Brasil, nos indica uma possível etimologia da
2. Origem de uma palavra.
palavra drogas.

A palavra ‘droga’ provavelmente deriva do termo holandês


droog, que significava produtos secos e servia para designar,
dos séculos XVI ao XVIII, um conjunto de substâncias naturais
utilizadas, sobretudo, na alimentação e na medicina. Mas o
termo também foi usado na tinturaria ou como uma substância
que poderia ser consumida por mero prazer.

Carneiro, 2005, p. 11

Sendo assim, a análise da provável origem da palavra “droga” já nos


mostra que o termo foi usado com diferentes significados ao longo dos
séculos: na alimentação, na medicina, na tinturaria ou para definir
as práticas sociais mais diversas.

Fonte: © [master1305] / Freepik.

Se observarmos a grafia da palavra utilizada em diversos idiomas


contemporâneos, veremos que a vinculação etimológica, tese de
Carneiro, é consistente.

28 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
“Droga” → português, espanhol, italiano

“Drug” → inglês

“Drogue” → francês

“Drosch” → alemão

Esses exemplos são para citar algumas línguas faladas ao redor do


mundo e de alguma forma vinculadas ao que se convencionou chamar
de cultura ocidental. Temos, inequivocamente, na etimologia dessa
palavra, um radical compartilhado.

Aprofundando mais o assunto, o antropólogo Eduardo Viana Vargas nos


fornece mais algumas informações importantes sobre o contexto do
surgimento da palavra “droga” e seus usos. Ele diz que essa etimologia:

[...] também nos permite situar a emergência do vocábulo


[droga] diretamente no contexto dos contatos entre os povos
europeus e seus outros (encarnados, na época, sobretudo pelos
árabes e demais povos do Oriente), tais como esses contatos se
deram nos últimos séculos da Idade Média.

Vargas, 2008, p. 42

Portanto, além de diferentes significados, a palavra “droga” parece


ter surgido para dar conta de sentidos que apareceram com força no
contexto do contato dos povos europeus com outros povos, como os
árabes e os africanos, e posteriormente os ameríndios, após o fim da
Idade Média. Ou seja, a palavra “droga” começou a ser usada para
designar substâncias exóticas, estranhas ao mundo europeu da época,
coincidindo com o período de inovações nas ciências náuticas, que
permitiram, por sua vez, uma exploração do mundo em níveis antes
praticamente impensáveis.

É importante ressaltar que esse é o período da “expansão europeia”,


inicialmente para o Oriente, e adiante para a África e América, com as
“grandes navegações”, que impulsionaram a criação de rotas comerciais
e, consequentemente, o contato entre os povos. Em suma, ensejaram
a experiência da diferença cultural em níveis até então inéditos.

Curso COMPASSO 29
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
SAIBA MAIS

O comércio europeu na época da “expansão” se baseava em


diversos produtos, entre eles, especiarias, açúcar, temperos
como cravo, canela, pimenta, gengibre e noz-moscada.
Também, tecidos, corantes e alimentos típicos de cada região.
Para saber mais sobre esse período, acesse o link, disponível
em: https://atlas.fgv.br/marcos/grandes-navegacoes/mapas/
grandes-navegacoes.

Através desse contato, uma série de substâncias amplamente classifi-


cadas como drogas se tornaram conhecidas e muito apreciadas pelos
europeus. E que drogas eram essas tão valiosas? Muito provavelmente
você tem na despensa de sua casa, mas nunca pensou nessas substân-
cias dessa forma: essas “drogas” são as especiarias, tão comuns na
culinária brasileira. Além delas, outras substâncias que hoje consi-
deramos alimentos também já foram mais comumente classificadas
como “drogas”. Veja em seguida alguns exemplos.

30 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Na mesma direção, as substâncias que atraíram o interesse europeu
por seus efeitos psicofarmacológicos, ou, dito de outra maneira,
por sua capacidade de alterar os estados de consciência, como o tabaco,
a maconha e a coca, também foram nomeadas de “drogas”.

O ponto a ser destacado aqui é que há inúmeras substâncias diferentes


entre si, além das citadas. Ainda poderíamos incluir o pau-brasil,
a quina, a copaíba. Como já mencionado, não adianta tentar separar
essas substâncias em listas ou decorar seus nomes.

A solução, como também já destacamos, é entender que o


uso da palavra “droga” se modificou ao longo da história.
Portanto, não há uma qualidade intrínseca em qualquer
substância que a conduza a ser classificada, ou não, como
droga. O foco não deve ser na substância, qualquer que seja
ela, mas na escolha que é feita, em determinado momento,
sobre o que é ou não droga.

Curso COMPASSO 31
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Em seguida, uma vez que se entende como uma substância é defi-
nida, deve-se focar em como sua produção, circulação, mercados
e consumo são regulados pela sociedade, por meio de instituições,
leis e costumes. Assim, há um ponto em comum entre todas essas
substâncias que, ao longo da história, foram classificadas dessa forma:

[...] todas essas substâncias vieram de longe, de fora da Europa:


o açúcar e o café da Arábia, o chá da China, o chocolate e o tabaco
da América, e mesmo as bebidas destiladas, que aparentemente
foram inicialmente elaboradas na Europa, só o foram em virtude
da introdução, naquele continente, do alambique, aparelho que,
ao que tudo indica, é de origem árabe.

Vargas, 2008, p. 48

Esse é um ponto muito importante que a análise etimológica e histórica


nos indica e que merece ser destacado. A palavra “droga” surgiu no
contexto de complexos encontros culturais e começou a ser usada para
classificar substâncias exóticas, desconhecidas do mundo europeu.

Por serem desconhecidas, as “drogas” foram consideradas muito


valiosas e desejadas, de tal forma que despertaram muito interesse
e grande aceitação, por suas potencialidades mercadológicas, espa-
lhando-se assim pelo mundo todo. É interessante observar que essa
dupla característica das “drogas”, de algo exótico e desconhecido,
mas que desperta desejo e aceitação, continua ainda presente na
maneira como os Estados modernos lidam com essas substâncias.

Por um lado, classificamos como


“drogas” as substâncias que não
deveriam fazer parte do mundo
atual, que devem ser criminalizadas
e proibidas, taxadas como venenos.

Por outro lado, também são


denominadas como “drogas”
substâncias que nos salvam a vida,
amplamente desejadas e aceitas,
Foto: © [itakdalee] / iStock. que se tornam medicamentos e são
Foto: © [Pixabay] / Pexels.
produzidas em escala industrial.

32 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Aponte a câmera Entre as concepções de veneno e remédio, abre-se ainda um arco de
VÍDEO do seu dispositivo
móvel (smartphone outros usos possíveis, hedonísticos, ritualísticos etc.
ou tablet) para o
QR Code ao lado
e assista ao vídeo Um dos termos mais utilizados como sinônimo de drogas é o de
sobre a diversidade fármaco – daí a farmácia e a farmacopeia –, e sua origem é a língua
na caracterização,
mercados e consumo
grega. Pharmakon era um termo polissêmico (de muitos sentidos)
de “drogas” e poderia ser remédio, veneno ou até inócuo, a depender da dose,
em diferentes do contexto e do objetivo de quem usa ou ministra para uso a outra
sociedades!
pessoa (Serson, 2007).

4.1 Primeiras regulações e proibições


das drogas
É difícil assegurar qual foi a primeira regulação estatual ou mesmo
a primeira proibição de alguma droga no mundo. Isso porque nem
sempre temos os registros históricos acessíveis das normas e regras
que regeram determinadas sociedades. No entanto, a partir da histo-
riografia, somos capazes de encontrar alguns momentos históricos
que são considerados marcos no mundo Ocidental. Nesta unidade,
falaremos sobre o caso do álcool e da maconha.

Atualmente o consumo de álcool é amplamente disseminado; portanto,


ele é considerado uma droga lícita em diversos países. Entretanto,
ao longo da história, o consumo e a venda de álcool foram objetos
de uma série de disputas que culminaram em diferentes iniciativas
de proibição e/ou controle.

Curso COMPASSO 33
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
1690
Sérgio Shecaira (2014) analisa a
gênese da proibição do álcool e
demonstra como, por volta de
1690, sua produção e consumo
foram amplamente incentivados
na Inglaterra.

1730
Em poucas décadas, seu consumo
proliferou e, por volta de 1730,
o consumo massivo, especialmente
entre as pessoas mais pobres,
se tornou um problema social.
Naquele contexto, o álcool aparecia
para os mais pobres como uma saída
para lidar com as condições de
miserabilidade enfrentadas pelo país.

1736
Em resposta a esse uso, os setores
mais privilegiados da sociedade
passaram a defender políticas que
restringissem o acesso das classes
mais pobres ao álcool.
Em 1736, foi aprovada uma forte
taxação à bebida, o que acabou por
restringir a possibilidade de
consumo pelos setores mais pobres.
Em paralelo a isso, desenvolveu-se
uma série de práticas para alterar a
percepção social acerca do álcool,
e o seu consumo, que antes era
incentivado, passa a ser considerado
algo a ser combatido.

34 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Um processo semelhante também foi experienciado nos Estados
Unidos anos depois. Durante o final do século XIX, o chamado “mo-
vimento de temperança”, sustentado por setores tradicionais e com
tendências religiosas, intensificou o incentivo pela proibição do uso
de bebidas alcóolicas no país. Diversas políticas de controle do ál-
cool foram implementadas nos Estados Unidos ao longo de décadas,
chegando ao auge com a promulgação de sua proibição através da Lei
Seca, que vigorou entre 1919 e 1933 (Shecaira, 2014).

Mesmo com a revogação da Lei Seca, o espírito de proibição


que pairava sobre as drogas permaneceu, e novos hábitos
de consumo foram sendo impostos estatalmente. Nos anos
seguintes, outras proibições mais severas e abrangentes
estariam por vir. O próximo passo seria a proibição da maconha.

Shecaira, 2014, p. 337-338

Já o tema da proibição da maconha nos remete quase que imedia-


tamente à história da proibição que ocorreu nos Estados Unidos a
partir do século XIX, tema que exploraremos no próximo módulo do
curso. Mas você sabia que a primeira proibição da maconha do mundo
ocorreu aqui no Brasil? No romance “Um defeito de cor”, Ana Maria
Gonçalves narra a história de uma menina escravizada, desde a vinda
da África até a rotina da escravidão no Brasil. A história narrada mis-
tura elementos ficcionais com relatos de uma série de documentos
encontrados pela autora durante uma viagem para a Bahia. Em uma
passagem do livro, há o registro acerca do uso da “liamba de Angola”,
outro nome utilizado para maconha:

Quando chegamos a um riacho, encontramos por lá pelo menos


umas dez pessoas, rapazes e moças de uma fazenda vizinha que
já eram conhecidos do Belchior e nos receberam muito bem.
Eles tinham liamba, e me ofereceram. Eu já tinha sentido o
cheiro na senzala e percebido que as pessoas ficavam muito
felizes de fumar, e foi essa sensação que eu tive, de alegria.
Primeiro achei que não tinha acontecido nada, mas logo comecei
a sentir uma moleza pelo corpo, os movimentos ficando cada vez
mais preguiçosos, assim como também tive a impressão de que a
água do riacho corria mais devagar.

Gonçalves, 2021, p. 120

Embora não possamos aferir com certeza que essa passagem advém
dos materiais de pesquisa coletada pela autora, registros trazidos por
outros historiadores também demonstram como o uso de maconha
era disseminado entre os escravizados no Brasil. O historiador Edison
Carneiro (1958), ao estudar o Quilombo dos Palmares, afirma também
que a “liamba” era utilizada pelos escravizados em momentos de
tristeza e/ou de saudade da África.

Curso COMPASSO 35
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Anos antes do final do período da escravidão – que ocorreu no país
apenas em 1888 – foi editada no Brasil a primeira norma legal que
proibiu o uso e a venda de maconha, na época chamada de “pito do
pango” ou “diamba”.

Reportagem do jornal “O Globo”, década de 30.


Fonte: smokebuddies.

O código de postura municipal do Rio de Janeiro de 1830 previa multa


para os vendedores e três dias de cadeia para os consumidores,
destacando, entre estes, os escravizados.

É proibida a venda e o uso do pito do pango, bem como a


conservação dele em casas públicas. Os contraventores serão
multados, a saber: o vendedor em 20$000, e os escravos e mais
pessoas, que dele usarem, em três dias de cadeia.

Mott, 1986, p. 131

A lei é considerada uma forma de controle social da população negra,


assim como outras leis que foram promulgadas antes e depois da
abolição da escravidão no país que proibiam ou controlavam uma
série de condutas e práticas realizadas majoritariamente por essa
parcela da população.

Além de precursor na proibição da planta, o Brasil, por meio da atuação


de José Rodrigues Dória, também contribuiu para a proibição da
planta internacionalmente. Em dezembro de 1915, durante o II Con-
gresso Científico Pan-Americano, o médico e professor das faculdades
de Direito e Medicina da Bahia apresentou um trabalho intitulado
“Os fumadores de maconha: efeitos e males do vício”.

36 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Suas descrições da planta, dos plantios às margens do Rio São Fran-
cisco, no Nordeste brasileiro, e de espaços de sociabilidade são de-
talhadas. A sua tese era a de que a planta era perigosa e representava
um castigo à civilização branca que colonizou o Brasil por meio da
escravidão de povos de origem africana. Ele denunciava o que afirmava
ser o efeito “degenerante” do consumo da maconha na população
brasileira e que sua cultura teria entrado no Brasil pelas mãos dos
“povos oriundos da África”. O efeito de alguém se tornar adepto dessa
substância seria, com o tempo, segundo suas conclusões, converter-se
em um pervertido, um imbecil, em suma, um degenerado.

Suas bases teóricas eram o evolucionismo social do


século XIX e as teorias racistas da degenerescência,
as quais tinham à época o status de legitimidade
científica, que posteriormente deixariam de ter.

Rodrigues Dória se esforçou para incluir a maconha entre as “drogas”


que deveriam ser proibidas de existir no mundo, e esse esforço teve
resultado positivo.

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre o evolucionismo social dessa época,


assista ao vídeo “A entrada das teorias raciais no Brasil”,
com Lilia Schwarcz, disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=93f7nkbD7tY.

É notável que grande parte dos dados utilizados por Dória foram ob-
tidos em segunda mão, por via de médicos colaboradores, que traba-
lhavam em sanatórios, quartéis e prisões. Sendo assim, a associação
(melhor dizendo, as relações de causalidade), que o autor alega, entre
o hábito de fumar maconha com a criminalidade e as doenças men-
tais, toma como base dados claramente enviesados, uma vez que são
produzidos em interação com populações já compostas, em grande
parte, por pessoas em tratamento de doenças mentais, sob regime de
internato, ou cumprindo penas por crimes anteriormente cometidos.

Por volta da década de 1930, seu trabalho era tido como uma refe-
rência de estudo sobre a maconha, em um tempo em que a planta
havia caído na ilicitude, interditando assim a existência de novas
pesquisas. Contudo, com o passar do tempo, tais “verdades” sobre a
maconha e os adeptos de seu uso passaram a ser contestadas quando
postas à prova. Um exemplo disso é que alguns dos aspectos que Dória
apontava como fazendo parte dos “males do vício”, como os efeitos

Curso COMPASSO 37
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
afrodisíacos e antidepressivos da maconha, fartamente descritos
no trabalho, seriam considerados, no contexto da medicina atual,
promotores de bem-estar.

Para pensar

Dória mobiliza um sistema de crenças aceito à época


como conhecimento científico, que seria posteriormente
ultrapassado e destituído da condição acadêmico-científica,
mas que vez por outra volta na condição de mais nova
mitologia do senso comum. O estudo de Dória nos alerta
como tanto para o pesquisador, ou para o professor, ou para
o estudioso, o importante é estar atento para que nossos
desejos não embotem nosso senso crítico em relação ao que
nos é dado como dados da pretensa realidade.

O exemplo da proibição do álcool no contexto inglês e estadunidense


e o da proibição da maconha no Brasil reforçam questões que a so-
ciologia vem apontando desde sua gênese sobre o tema do desvio e
das regras. Entre elas:

Usualmente, a definição dos Assim como a sociedade é


atos desviantes reproduz as dinâmica, as regras e leis
estruturas de poder vigentes que a regem também são
A criação e a imposição em uma sociedade; portanto, e, portanto, alterações nos
de regras é um processo a compreensão dos atos contextos sociais e culturais
construído socialmente. desviantes nos ensina também podem implicar também
sobre os poderes e valores alterações nas normas e
vigentes em uma sociedade. valores vigentes.

38 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Esses pontos, embora não sejam os únicos, são fundamentais para
entendermos como o tema das drogas vem sendo tratado pela so-
ciedade atualmente.

[...] mais do que se apropriar da experiência do consumo de


drogas, o que as sociedades contemporâneas parecem ter
feito foi criar literalmente o próprio fenômeno das drogas:
mais remotamente, com a loucura das especiarias e, mais
recentemente, com o duplo processo da invasão farmacêutica e
da criminalização das drogas assim tornadas ilícitas.

Vargas, 2010, p. 55

Veja a seguir os pontos mais importantes demonstrados neste módulo.

SÍNTESE DO MÓDULO

Neste módulo, procuramos introduzir o tema do curso


por meio da problematização de sua categoria central,
que é a de “droga” (intencionalmente deixada entre
aspas). Em seguida, a partir de uma leitura do tema
sob a perspectiva das ciências sociais, buscamos
problematizar os sensos comuns vigentes sobre o
tema e ultrapassar formas naturalizadas de interpretar
a realidade. Por isso, nos atentamos para as distinções
entre a perspectiva científica e a do senso comum
na busca pelo conhecimento. Demonstramos ainda
como uma série de questões culturais, econômicas
e sociais são fundamentais para entendermos como
as sociedades têm lidado com o tema das drogas,
sobretudo a partir do caso do álcool e da maconha.
Nos próximos módulos, continuaremos a explorar esse
tema no mundo contemporâneo.

Você finalizou o Módulo 1!

No próximo módulo abordaremos a construção daquilo que cha-


mamos de paradigma médico-jurídico e seus consequentes efeitos
nas políticas de segurança pública.

Curso COMPASSO 39
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
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JUSTIÇA E
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