Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Compasso SENAD Modulo 1
Compasso SENAD Modulo 1
em Perspectiva Comparada
O SURGIMENTO DAS
O SURGIMENTO
“DROGAS” DAS
E AS “DROGAS”
PREMISSAS
E AS PREMISSAS PARA
PARA SEU
SEUS CONTROLES
CONTROLE
MÓDULO
11
MÓDULO
MÓDULO 1
MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA E
SEGURANÇA PÚBLICA
EXPEDIENTE
GOVERNO FEDERAL
CONTEUDISTAS
Fernanda Novaes Cruz
Frederico Policarpo de Mendonça Filho
Marcos Alexandre Veríssimo da Silva
Mauricio Fiore
Roberto Kant de Lima
REVISÃO DE CONTEÚDO
Jessica Santos Figueiredo
Grazielle Teles de Araújo
APOIO
Brenda Juliana Silva
Laudilina Quintanilha Mendes Pedretti de Andrade
Luana Rodrigues Meneses de Sá
Maria Aparecida Alves Dias
BY NC ND
COORDENAÇÃO GERAL
Luciano Patrício Souza de Castro
FINANCEIRO
Fernando Machado Wolf
SUPERVISÃO DE MOODLE
Andreia Mara Fiala
SECRETARIA ADMINISTRATIVA
Elson Rodrigues Natario Junior
DESIGN INSTRUCIONAL
Supervisão: Milene Silva de Castro
Larissa Usanovich de Menezes
Sofia Santos Stahelin
DESIGN GRÁFICO
Supervisão: Sonia Trois
Eduardo Celestino
Giovana Aparecida dos Santos
Luana Pillmann de Barros
Vanessa de Oliveira Vieira
REVISÃO TEXTUAL
Cleusa Iracema Pereira Raimundo
PROGRAMAÇÃO
Supervisão: Alexandre Dal Fabbro
Luan Rodrigo Silva Costa
Luiz Eduardo Pizzinato
AUDIOVISUAL
Supervisão: Rafael Poletto Dutra
Andrei Krepsky de Melo
Julia Britos
Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira
Robner Domenici Esprocati
SUPERVISÃO TUTORIA
João Batista de Oliveira Júnior
Thaynara Gilli Tonolli
TÉCNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Alexandre Gava Menezes
André Fabiano Dyck
GUIA DE AMBIENTAÇÃO
COMO LER O E-BOOK
O SURGIMENTO DAS
O SURGIMENTO
“DROGAS” DAS
E AS “DROGAS”
PREMISSAS
E AS PREMISSAS PARA
PARA SEU
SEUS CONTROLES
CONTROLE
MÓDULO
11
MÓDULO
MÓDULOS
PÁGINAS INTERNAS
VÍDEO
Os vídeos contemplam
conteúdos complementares para
enriquecimento do aprendizado
e seus links estão representados
pelo recurso QR Code.
ÍCONES
GUIA DE AMBIENTAÇÃO
Ajudam a localizar, focalizar
e ressaltar respectivos textos
COMO LER O E-BOOK
informativos. Cada ícone apresenta
uma função:
SAIBA MAIS
PARA PENSAR
PODCAST
CITAÇÃO
DESTAQUE
REFERÊNCIAS 40
CONTEUDISTAS DO MÓDULO
10 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Roberto Kant de Lima
Possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (1968), mestrado em Antropologia Social
pelo Museu Nacional UFRJ (1978), doutorado em Antropologia pela Har-
vard University (1986), pós-doutorado na University of Alabama at Bir-
mingham (1990). É coordenador do Instituto de Estudos Comparados em
Administração de Conflitos, professor emérito da Universidade Federal
Fluminense (INCT-InEAC/ UFF), professor permanente do Programa
de Pós-Graduação em Direito da Universidade Veiga de Almeida (UVA),
professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia
e professor colaborador do Mestrado em Justiça e Segurança da Universi-
dade Federal Fluminense (UFF). Membro titular da Academia Brasileira
de Ciências e comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico do
Governo do Brasil. Tem experiência na área de Teoria Antropológica, com
ênfase em Método Comparativo, Antropologia do Direito e da Política,
Processos de Administração de Conflitos e Produção de Verdades.
Curso COMPASSO 11
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
MÓDULO 1
APRESENTAÇÃO
Olá, cursista!
O termo “drogas” não tem uma definição clara e objetiva. O seu sig-
nificado depende do contexto social em que é utilizado, bem como da
área de conhecimento que o mobiliza. Neste módulo, apresentaremos
uma abordagem para o tema das drogas a partir da perspectiva das
ciências sociais. Introduziremos alguns dos modelos de regulamen-
tação que têm sido adotados para lidar com o tema; e começaremos
a discutir os processos sócio-históricos que contribuíram para a
proibição do uso, da produção e da comercialização de uma série de
substâncias em diversos países do mundo.
OBJETIVOS DO MÓDULO
z Permitir aos cursistas a compreensão crítica do conceito de
“drogas” na contemporaneidade e suas implicações.
12 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
MÓDULO 1
UNIDADE 1
AS “DROGAS” NO MUNDO OCIDENTAL
UNIDADE 1
AS “DROGAS” NO MUNDO OCIDENTAL
Antes de tudo, vamos começar este curso com uma pergunta simples:
você sabe o que são drogas? Apesar de ser simples, a resposta a essa
pergunta é complexa, porque a definição de drogas depende de uma
série de fatores. Por exemplo, podemos, em uma primeira abor-
dagem, pensar as drogas do ponto de vista farmacológico e, portanto,
defini-las como substâncias que podem afetar o funcionamento de
um organismo. As drogas especificamente psicoativas podem ser
classificadas em grupos a partir dos efeitos que elas podem gerar
no funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC), conforme
apresentado a seguir.
Depressoras/sedativas
Diminuem a velocidade das mensagens que viajam
entre o cérebro e o corpo. Eles podem reduzir
a excitação e a estimulação, fazendo com que a pessoa
se sinta relaxada ou sonolenta.
Estimulantes
Aceleram as mensagens que viajam entre o cérebro e o
corpo. Elas podem fazer com que a pessoa se sinta mais
desperta, alerta, confiante ou enérgica.
Psicodélicas
Afetam todos os sentidos, alterando o pensamento,
a percepção do tempo e as emoções de uma pessoa.
Também podem fazer com que a pessoa tenha
alucinações, veja ou ouça coisas que não existem
ou que estejam distorcidas.
14 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Por outro lado, a pergunta daqueles que querem saber o que são
drogas poderia ter como base o ponto de vista do estatuto jurídico,
que classifica as substâncias entre lícitas e ilícitas.
Lícitas Ilícitas
Álcool Cocaína
Tabaco Maconha
Cafeína LSD
Fonte: Adaptado de Alarcon
(2012, p. 105).
Solventes MDMA (Ecstasy)
Heroína
Para pensar
Curso COMPASSO 15
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
MÓDULO 1
UNIDADE 2
POR QUE E COMO SÃO ESTUDADAS AS DROGAS
NA PERSPECTIVA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS?
UNIDADE 2
POR QUE E COMO SÃO ESTUDADAS
AS DROGAS NA PERSPECTIVA DAS
CIÊNCIAS SOCIAIS?
Conforme vimos na Unidade 1, existem muitas abordagens possíveis
para estudarmos o tema das drogas. Poderíamos estudar a compo-
sição ou as suas peculiaridades químicas, os diferentes efeitos que
o consumo de uma determinada substância gera nos indivíduos,
ou ainda os elementos que contribuíram para que uma determinada
droga seja considerada lícita ou ilícita.
Curso COMPASSO 17
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
O senso comum é marcado por:
Esse hipotético viajante das ruas aqui retratado, que utiliza sua des-
treza adquirida na prática da condução de veículos, está em uma
posição análoga à dos sujeitos, pessoas, indivíduos que utilizam o
Aponte a senso comum para navegar socialmente, para ganhar a vida, namorar,
VÍDEO câmera do seu cumprir obrigações sociais, profissionais e de parentesco, interpretar
dispositivo móvel
(smartphone ou os fatos que lhes são apresentados ao longo da vida etc.
tablet) para o QR
Code ao lado e
assista ao vídeo A ciência, em contrapartida, utiliza métodos sistemáticos de inves-
de animação tigação empírica, análise de dados, pensamento teórico e a avaliação
sobre os aspectos
lógica de argumentos para desenvolver um corpus de conhecimento
do senso comum!
sobre um determinado assunto (Giddens, 2012).
Para ser aceita como válida, uma pesquisa científica precisa seguir
uma série de etapas, tal como demonstra o esquema a seguir.
18 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Etapas da pesquisa científica
Curso COMPASSO 19
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Embora esse fenômeno afete todos os campos de produção do conhe-
cimento, os pesquisadores das ciências sociais estão especialmente
intricados com os problemas sociais que estudam, e isso pode ser um
grande complicador para seu trabalho. Como observou o sociólogo
francês Remi Lenoir (1998), é para isso que devemos cuidadosamente
atentar no momento de construir nossas análises sociológicas a partir
do terreno minado dos problemas sociais.
Lenoir, 1998, p. 64
20 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
PODCAST TRANSCRITO
Para que alguma prática ou condição social se torne um
“problema social”, é preciso que um grupo de pessoas consiga
chamar a atenção de todo mundo, que seja capaz de mobilizar a
opinião pública em seu favor, fazendo com que a sua definição
seja aceita. Se esse primeiro esforço for bem-sucedido,
o “problema social” começa a ser “resolvido”, isto é, serão
criados meios e ferramentas para, dependendo do “tipo de
problema”, avaliar a sua “dimensão”, por meio de estatísticas
de empresas e institutos, para “combatê-lo” com novos
departamentos policiais; para “estudá-lo”, com novas
especialidades de formação, e assim por diante. Quanto mais
bem-sucedido for o trabalho de definição, mais investimentos e
atenção o “problema social” vai receber.
Curso COMPASSO 21
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
uma forte convicção de seu teor nocivo. No Quebec,
por exemplo, como em outros lugares, no passado, quando
médicos e pacientes curados convenceram uma parte da
população de que a masturbação podia causar cegueira, loucura
e, mesmo, provocar a morte, diversas pessoas, após a prática da
masturbação, ficaram cegas, loucas, e mesmo morreram.
A crença no efeito de uma ação ou efeito placebo de um produto
não pode ser negligenciada no que diz respeito ao discurso-
pânico sobre a questão das drogas. O estresse da desobediência,
a culpa e a crença, na realidade dos efeitos anunciados, podem
ser suficientes para levar pessoas a confirmar em seus corpos e
comportamentos os malefícios dos produtos.
Beauchesne, 2014, p. 28
Aponte a
VÍDEO câmera do seu
dispositivo móvel
(smartphone ou Portanto, mais do que negar as ideias do senso comum, neste curso
tablet) para o QR exploraremos as origens delas e demonstraremos que muitas das
Code ao lado e
assista ao vídeo que parecem inatas ou imutáveis estão sujeitas às mutações sociais.
que trata sobre Além disso, apresentaremos como as evidências vindas do mundo
a distinção entre
científico têm contribuído para desmistificarmos algumas das visões
senso comum
e perspectiva vigentes nos sensos comuns sobre o tema das drogas.
analítica.
22 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
MÓDULO 1
UNIDADE 3
CRIMINALIZAR, DESCRIMINALIZAR, LEGALIZAR:
O QUE SIGNIFICA CADA UMA DESSAS PALAVRAS?
UNIDADE 3
CRIMINALIZAR, DESCRIMINALIZAR,
LEGALIZAR: O QUE SIGNIFICA CADA
UMA DESSAS PALAVRAS?
Uma vez que propomos estudar o tema das drogas a partir da pers-
pectiva da sociedade, precisamos compreender o estado atual do
tema em uma determinada sociedade, assim como os processos que
nos guiaram até o momento que estamos hoje.
Howard Becker.
Fonte: © [Sophie Bassouls/Sygma]
|The New York Times.
24 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Portanto, para Becker, o quanto um determinado ato será
tratado ou não como desvio depende de quem o comete
e de quem se sente prejudicado por ele, assim como as
regras tendem a ser aplicadas mais a algumas pessoas
do que a outras.
Curso COMPASSO 25
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Criminalizar
Despenalizar o uso
Descriminalizar
Regulamentar
26 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
MÓDULO 1
UNIDADE 4
O TEMA DAS DROGAS NA HISTÓRIA
UNIDADE 4
Verbete O TEMA DAS DROGAS NA HISTÓRIA
Carneiro, 2005, p. 11
28 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
“Droga” → português, espanhol, italiano
“Drug” → inglês
“Drogue” → francês
“Drosch” → alemão
Vargas, 2008, p. 42
Curso COMPASSO 29
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
SAIBA MAIS
30 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Na mesma direção, as substâncias que atraíram o interesse europeu
por seus efeitos psicofarmacológicos, ou, dito de outra maneira,
por sua capacidade de alterar os estados de consciência, como o tabaco,
a maconha e a coca, também foram nomeadas de “drogas”.
Curso COMPASSO 31
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Em seguida, uma vez que se entende como uma substância é defi-
nida, deve-se focar em como sua produção, circulação, mercados
e consumo são regulados pela sociedade, por meio de instituições,
leis e costumes. Assim, há um ponto em comum entre todas essas
substâncias que, ao longo da história, foram classificadas dessa forma:
Vargas, 2008, p. 48
32 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Aponte a câmera Entre as concepções de veneno e remédio, abre-se ainda um arco de
VÍDEO do seu dispositivo
móvel (smartphone outros usos possíveis, hedonísticos, ritualísticos etc.
ou tablet) para o
QR Code ao lado
e assista ao vídeo Um dos termos mais utilizados como sinônimo de drogas é o de
sobre a diversidade fármaco – daí a farmácia e a farmacopeia –, e sua origem é a língua
na caracterização,
mercados e consumo
grega. Pharmakon era um termo polissêmico (de muitos sentidos)
de “drogas” e poderia ser remédio, veneno ou até inócuo, a depender da dose,
em diferentes do contexto e do objetivo de quem usa ou ministra para uso a outra
sociedades!
pessoa (Serson, 2007).
Curso COMPASSO 33
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
1690
Sérgio Shecaira (2014) analisa a
gênese da proibição do álcool e
demonstra como, por volta de
1690, sua produção e consumo
foram amplamente incentivados
na Inglaterra.
1730
Em poucas décadas, seu consumo
proliferou e, por volta de 1730,
o consumo massivo, especialmente
entre as pessoas mais pobres,
se tornou um problema social.
Naquele contexto, o álcool aparecia
para os mais pobres como uma saída
para lidar com as condições de
miserabilidade enfrentadas pelo país.
1736
Em resposta a esse uso, os setores
mais privilegiados da sociedade
passaram a defender políticas que
restringissem o acesso das classes
mais pobres ao álcool.
Em 1736, foi aprovada uma forte
taxação à bebida, o que acabou por
restringir a possibilidade de
consumo pelos setores mais pobres.
Em paralelo a isso, desenvolveu-se
uma série de práticas para alterar a
percepção social acerca do álcool,
e o seu consumo, que antes era
incentivado, passa a ser considerado
algo a ser combatido.
34 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Um processo semelhante também foi experienciado nos Estados
Unidos anos depois. Durante o final do século XIX, o chamado “mo-
vimento de temperança”, sustentado por setores tradicionais e com
tendências religiosas, intensificou o incentivo pela proibição do uso
de bebidas alcóolicas no país. Diversas políticas de controle do ál-
cool foram implementadas nos Estados Unidos ao longo de décadas,
chegando ao auge com a promulgação de sua proibição através da Lei
Seca, que vigorou entre 1919 e 1933 (Shecaira, 2014).
Embora não possamos aferir com certeza que essa passagem advém
dos materiais de pesquisa coletada pela autora, registros trazidos por
outros historiadores também demonstram como o uso de maconha
era disseminado entre os escravizados no Brasil. O historiador Edison
Carneiro (1958), ao estudar o Quilombo dos Palmares, afirma também
que a “liamba” era utilizada pelos escravizados em momentos de
tristeza e/ou de saudade da África.
Curso COMPASSO 35
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Anos antes do final do período da escravidão – que ocorreu no país
apenas em 1888 – foi editada no Brasil a primeira norma legal que
proibiu o uso e a venda de maconha, na época chamada de “pito do
pango” ou “diamba”.
36 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Suas descrições da planta, dos plantios às margens do Rio São Fran-
cisco, no Nordeste brasileiro, e de espaços de sociabilidade são de-
talhadas. A sua tese era a de que a planta era perigosa e representava
um castigo à civilização branca que colonizou o Brasil por meio da
escravidão de povos de origem africana. Ele denunciava o que afirmava
ser o efeito “degenerante” do consumo da maconha na população
brasileira e que sua cultura teria entrado no Brasil pelas mãos dos
“povos oriundos da África”. O efeito de alguém se tornar adepto dessa
substância seria, com o tempo, segundo suas conclusões, converter-se
em um pervertido, um imbecil, em suma, um degenerado.
SAIBA MAIS
É notável que grande parte dos dados utilizados por Dória foram ob-
tidos em segunda mão, por via de médicos colaboradores, que traba-
lhavam em sanatórios, quartéis e prisões. Sendo assim, a associação
(melhor dizendo, as relações de causalidade), que o autor alega, entre
o hábito de fumar maconha com a criminalidade e as doenças men-
tais, toma como base dados claramente enviesados, uma vez que são
produzidos em interação com populações já compostas, em grande
parte, por pessoas em tratamento de doenças mentais, sob regime de
internato, ou cumprindo penas por crimes anteriormente cometidos.
Por volta da década de 1930, seu trabalho era tido como uma refe-
rência de estudo sobre a maconha, em um tempo em que a planta
havia caído na ilicitude, interditando assim a existência de novas
pesquisas. Contudo, com o passar do tempo, tais “verdades” sobre a
maconha e os adeptos de seu uso passaram a ser contestadas quando
postas à prova. Um exemplo disso é que alguns dos aspectos que Dória
apontava como fazendo parte dos “males do vício”, como os efeitos
Curso COMPASSO 37
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
afrodisíacos e antidepressivos da maconha, fartamente descritos
no trabalho, seriam considerados, no contexto da medicina atual,
promotores de bem-estar.
Para pensar
38 Curso COMPASSO
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
Esses pontos, embora não sejam os únicos, são fundamentais para
entendermos como o tema das drogas vem sendo tratado pela so-
ciedade atualmente.
Vargas, 2010, p. 55
SÍNTESE DO MÓDULO
Curso COMPASSO 39
Módulo 1- O surgimento das “drogas” e as premissas para seu controle
REFERÊNCIAS
ACSELRAD, G. Drogas, a educação para a autonomia como garantia de
direitos. Revista da EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63, p. 96-104, out./
dez. 2013. Edição especial.
40
RODRIGUES, T. Tráfico, guerra, proibição. In: LABATE, B. et al. (org.).
Drogas e cultura: novas perspectivas. Salvador: EDUFBA, 2008.
41
REALIZAÇÃO
MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA E
SEGURANÇA PÚBLICA