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BOTUCATU - SP
2023
CAÍQUE MANENTTI CACCIA
BOTUCATU - SP
2023
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉC. AQUIS. TRATAMENTO DA INFORM.
DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CÂMPUS DE BOTUCATU - UNESP
BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: ROSEMEIRE APARECIDA VICENTE-CRB 8/5651
Caccia, Caíque Manentti.
Toxicologia forense e os efeitos fisiológicos e sociais
do uso do crack / Caíque Manentti Caccia. - Botucatu, 2023
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 7
2. METODOLOGIA .......................................................................................................................... 9
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................................ 9
3.1 Cadeia de Custódia ................................................................................................................ 9
3.2 Os protocolos de cadeia de custódia aplicados aos entorpecentes ......................................10
3.3 Exames toxicológicos colorimétricos de constatação inicial .................................................11
3.3.1 Maconha ...........................................................................................................................12
3.3.2 Cocaína .............................................................................................................................14
3.4 Exame toxicológico de constatação definitiva ......................................................................16
3.4.1 Maconha ...........................................................................................................................17
3.4.2 Cocaína .............................................................................................................................18
3.5 Crack: efeitos fisiológicos no indivíduo e seus reflexos na sociedade ...................................19
4. CONCLUSÃO .............................................................................................................................27
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................27
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1. INTRODUÇÃO
O uso abusivo e a dependência de entorpecentes são uns dos males da atualidade em todo
o mundo, pois além dos problemas inerentes ao uso em decorrência dos efeitos fisiológicos nos
indivíduos, a dependência de drogas traz consigo uma série de problemas sociais (SILVA et al.
2000).
Atualmente, a visão que as pessoas têm sobre o que são drogas é muito relativo à cultura
a que ela está inserida, pois o uso de determinadas substâncias acabou se misturando com os
valores de determinados povos. A relação entre o homem e o uso das drogas está estabelecida
há milhares de anos, sendo inicialmente consumidas em rituais religiosos, depois usadas na
farmacologia e ainda pelo simples efeito recreativo (CROCQ, 2007).
Atualmente, o uso abusivo de determinadas substâncias é considerado pela Organização
Mundial de Saúde como um causador de problemas tanto para o indivíduo como para a
sociedade (MEDEIROS et al, 2013).
A cocaína, princípio ativo do crack, se insere nesse contexto como uma das drogas mais
lesivas aos usuários. Um estudo envolvendo 332 usuários de cocaína relata que 50% deles
apresentavam alguma complicação em decorrência do uso (DUAILIBI et al, 2008),
constatando-se o alto poder destrutivo dessa droga.
Dessa forma, o uso do crack se torna um problema de saúde pública, seja pela procura
dos serviços públicos de emergência para o tratamento de complicações dos usuários, quanto
pela busca por centros de reabilitação contra a dependência. Além disso, os usuários de crack
acabam tendo um comportamento mais violento que as demais pessoas (RIBEIRO et al, 2010),
o que agrava os efeitos sociais relacionados ao uso dessa substância, que repercute na segurança
e saúde pública.
O tratamento da dependência desse entorpecente é algo multidisciplinar, que demanda
tempo e empenho do usuário e dos profissionais e ainda requer a reestruturação do indivíduo,
do ambiente em que vive e a relação com as substâncias entorpecentes (PULCHERIO et al,
2010).
Atualmente, a legislação dispõe penas mais brandas para o porte de drogas para consumo
pessoal, se comparadas com as leis anteriores que tratavam sobre esse assunto. De acordo com
a lei n° 11.343/2006 (lei que rege os crimes de substâncias proibidas atualmente), o indivíduo
que guardar, transportar ou levar consigo entorpecentes para uso pessoal deve ser submetido a
advertência, prestação de serviço comunitário e medidas educativas.
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A lei 6.368/1976 (lei de drogas anterior obsoleta), objetivava a repressão contra o tráfico
e o uso, não tendo distinção entre traficante e usuário e punia dependentes com detenção de 6
meses a 2 anos, mesmo que o porte da droga fosse para consumo pessoal. Já a lei de drogas de
2006, que substitui a anterior, traz uma abordagem de reinserção social do usuário, atenuando
as sanções impostas a portadores de droga para consumo pessoal.
Com isso, entre 1976 e 2006, o usuário era tratado de forma totalmente repressiva,
diferente da abordagem em saúde pública que o dependente recebe hoje, mas esse tratamento
repressivo ainda repercute no estigma sofrido pelos usuários.
A lei n° 11.343/2006, que proíbe o porte de determinadas substâncias para venda ou para
consumo, requer métodos que determinem se uma substância apreendida é entorpecente. De
acordo com o resultado, o indivíduo que porta a substância, receberá a punição da lei ou não.
2. METODOLOGIA
Este trabalho descreve como os procedimentos de cadeia de custódia e os exames
toxicológicos de entorpecentes se encaixam no dia a dia da Equipe de Perícias Criminalísticas
de Botucatu, além de discutir como são as legislações sobre a cadeia de custódia e sobre os
exames toxicológicos impõe obrigações sobre o trabalho dos peritos na teoria e como esses
profissionais realizam ou tentam realizar esses processos na prática.
Esse paralelo entre a teoria e a prática se construiu pelo acompanhamento das atividades
da Equipe de Perícias Criminalísticas de Botucatu realizadas no Instituto de Criminalística da
cidade de Botucatu (interior de São Paulo), durante um estágio obrigatório para o curso de
Ciências Biomédicas da UNESP de Botucatu entre o mês de setembro de 2022 e o mês de
janeiro de 2023. Esse acompanhamento foi aliado a uma revisão narrativa sobre o tema de
cadeia de custódia e exames toxicológicos. Para isso, foi utilizada a busca de artigos científicos,
livros e legislações vigentes que tem como tratativa a temática, usando como meio de pesquisa
a base de dados da plataforma Scielo e busca sobre os assuntos em diplomas legais estaduais e
federais.
Além disso, foram descritos os efeitos toxicológicos e sociais do uso do Crack com o
objetivo de discutir de que forma o tratamento da dependência fisiológica dessa droga pode
atenuar problemas sociais, embasado em uma revisão narrativa de artigos científicos e livros,
priorizando materiais que abordem grande parte da problemática envolvida nessa discussão.
Dessa forma, foi utilizada a base de dados das plataformas Scielo e PubMed para busca de parte
do material, além de livros e revistas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os vestígios periciais são elementos que podem ter ligação com o crime ou criminoso,
que consequentemente apresentam um lastro probatório e auxiliam na investigação sobre o ato
criminoso e sobre os autores, além de servir de sustentação para a decisão do juiz no processo
judicial (MACHADO, 2017).
O conceito de vestígio pericial é previsto em lei, como visto no Código de Processo Penal
(BRASIL, 1941):
A cadeia de custódia tem início a partir do que está exposto no inciso I, art. 6° do Código
de Processo Penal e reforçado pelo que está exposto no art. 158-A, §1°. Já no artigo 158-B do
Código de Processo Penal, estão expostas instruções que direcionam os trabalhos da autoridade
policial e as suas obrigações, que ao se dirigir à um local onde houve uma infração penal, deve
manter a conservação da cena e dos vestígios até a chegada dos peritos (BRASIL, 1941).
O material, após o exame inicial e definitivo, e após guardada a contraprova, deve ser
devolvido a Delegacia de origem e posteriormente incinerado.
A falta de estrutura pode levar ao profissional perigos para sua saúde, principalmente em
trabalhos que envolvam reagentes químicos. Por falta de aparato técnico como capela, máscaras
especiais, equipamentos de proteção e outros, os peritos ficam suscetíveis aos danos que os
agentes químicos podem causar.
Para que a realização de um teste inicial não sofra interferência de contaminantes e tenha
a máxima eficiência possível, o ambiente onde são realizados os testes devem ser
constantemente higienizados e preservados, assim como os materiais de vidraria e utensílios
utilizados no procedimento. Além disso, a integridade dos reagentes envolvidos nos testes deve
ser verificada com objetivo de preservar as reações necessárias para o teste. A técnica de
limpeza varia para cada objeto, podendo ser feita com detergente neutro e enxágue com água
corrente e destilada no caso dos utensílios de vidro e vidraria em geral ou por meio do uso do
etanol como no caso da desinfecção das bancadas e superfícies.
3.3.1 Maconha
A Cannabis sativa, mais conhecida como maconha é uma planta utilizada para fins
recreacionais e medicinais ao redor de todo o mundo há séculos, sendo atualmente a terceira
droga mais utilizada no planeta e perdendo apenas para o consumo de álcool e tabaco (CRIPPA
et al., 2005), sendo que, ocupa o posto de droga ilícita mais utilizada mundialmente (RIBEIRO
et al, 2005).
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Descrito primeiramente pelo botânico Carl Von Linné (PASSAGLI, 2007), esse
entorpecente apresenta em sua composição mais de 400 componentes, onde cerca de 60 desses
são canabinóides (RIBEIRO et al, 2005). Dentre essas substâncias estão componentes
responsáveis por efeitos de euforia, sedação, alteração de funções sensoriais e cognitivas, além
de que muitos desses componentes são utilizados para o tratamento de doenças.
Ao ser utilizada, tem efeito imediato de euforia, agitação e o relaxamento, efeitos esses
desejáveis pelos usuários que buscam prazer, mas como efeitos indesejados, podem ocorrer o
comprometimento do equilíbrio, da atenção e da coordenação. Se utilizada
indiscriminadamente em altas doses, a maconha pode trazer perigos para o usuário, podendo
ocasionar estados de paranoia, alucinação, ansiedade e outros (CRIPPA et al, 2005).
da Polícia Técnico Científica, onde diz que para a elaboração do reativo de Duquenois são
utilizados 4 g de Vanilina, 0,1 mL de acetaldeído e 200 mL de álcool etílico.
Para a análise, é necessário colocar a amostra a ser examinada em um tubo de ensaio junto
com 2 mL de Duquenois, agitando para um maior contato da amostra com o reagente. O
Duquenois age para a extração do THC da amostra. Depois, deve ser acrescido 2 mL de HCl
no tubo de ensaio escorrendo lentamente pela sua parede e assim, se formarão duas fases que
ficarão separadas pelas diferentes densidades. Entre os compostos, em caso de a amostra ser
positiva para THC, será possível observar um halo azul-violáceo como demonstrado na Figura
1, pois o HCl reage com o THC, mudando sua estrutura e mudando sua cor.
3.3.2 Cocaína
A Cocaína é uma substância natural encontrada nas folhas da planta Erythroxylon coca,
conhecida popularmente como folhas de coca. Existem indícios do uso dessa planta há mais de
4500 anos pelas grandes civilizações pré-colombianas dos Andes, pois muitas dessas
civilizações eram localizadas nas regiões de origem da planta, que cresce em forma de arbusto
ao leste dos Andes, acima da Bacia Amazônica (FERREIRA & MARTINI, 2001).
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Há relatos sobre o uso dessa planta pelas civilizações nativas dos Andes em cultos
envolvendo fertilidade, sobrevivência e morte. Pelos nativos, do passado e os atuais, a folha é
mascada, buscando os efeitos entorpecentes fornecidos pelas substâncias presentes no vegetal,
além de auxiliar essas populações a amenizar os efeitos gerados pelas altas altitudes das regiões
dos Andes (FERREIRA & MARTINI, 2001).
colorimétricos, atendendo as exigências para um laudo final com maior qualidade (BORDIN et
al, 2012), mas ainda assim é um método simples e barato.
Para a realização do procedimento, é necessário ter uma fase estacionária e uma fase
móvel, onde a estacionária tem por padrão uma placa de vidro recoberta por uma camada de
sílica gel G 60, com espessura de 250 µm e a fase móvel difere de acordo com a substância de
interesse. Além disso é utilizado um extrator específico para cada substância.
3.4.1 Maconha
A cromatografia de camada delgada para o entorpecente maconha inicia pela aplicação
de 1,0 mL de éter de petróleo em um recipiente adequado para cada 0,2 g de amostra. Esse
composto atua como um solvente orgânico de THC, extraindo o composto do padrão e das
amostras se o THC estiver presente. Após a extração, o padrão e as amostras resultantes devem
ser aplicados na placa de sílica com um capilar de vidro na mesma altura, próximo a
extremidade inferior da placa.
Após a aplicação das amostras na placa, esta deve ser inserida em uma cuba com a fase
móvel, que é uma solução de tolueno e clorofórmio de proporção 7:3. Dessa forma, inicia-se a
corrida cromatográfica, que perdura até a fase móvel atingir a altura de interesse.
3.4.2 Cocaína
No teste de Cromatografia de Camada Delgada para Cocaína, é utilizado como extrator
solvente do alcaloide uma solução de clorofórmio e éter etílico de proporção 2:1. Após a
extração deve-se aplicar a amostra nas placas de vidro na mesma altura.
Após a aplicação das amostras na placa de sílica, a placa é inserida na cuba com a fase
móvel, que no caso da cocaína é uma solução de clorofórmio e metanol, proporção 1:1. Com
isso, inicia-se a corrida cromatográfica que deve acontecer até o ponto que atinja a altura
desejada.
Esse processo pode ser usado para a constatação definitiva de cocaína em pó e da forma
sólida de cocaína (crack).
O uso do crack tem início datado no começo dos anos 80, nos bairros pobres dos Estados
Unidos (INCIARDI, 1991). No Brasil, o começo do uso é datado de 1986, ano que foi registrada
a primeira apreensão dessa droga nos documentos da polícia de São Paulo (ALVES &
PEREIRA, 2021).
O Brasil é o maior mercado dessa droga no mundo, sendo o segundo para a cocaína
(FAGUNDES, 2013), o que demonstra que o país tem fácil acesso a esse entorpecente.
Nos dias de hoje, a visão que o senso comum dos brasileiros apresenta sobre o usuário de
crack é de um indivíduo sem controle de si e associado fortemente a criminalidade, sendo em
contexto geral hostilizado e marginalizado (NETO & SANTOS, 2015; BARD et al, 2016).
Contudo, o perfil do usuário de crack vai muito além dessa visão, pois é possível encontrar
usuários controlados, que ainda prezam pela conservação de sua saúde, além do fato de que são
encontrados usuários em diversas classes socioeconômicas (NETO & SANTOS, 2014),
diferente da ideia de que estes estão sempre envolvidos em contexto de pobreza, constantemente
associado ao uso desse entorpecente.
A construção dessa imagem sobre o usuário também está relacionada a mídia, que coloca
sempre o usuário sem distinção de gênero, de baixo nível sociocultural, com péssimas
condições de alimentação e higiene e ainda colocam essas condições como escolha dos
indivíduos em situação de dependência. Pode-se afirmar que o estigma desenvolvido sobre
usuários de crack é bastante difundido e não há esforço por parte da mídia para desconstruir
este tipo de imagem (ZANOTTO & ASSIS, 2017).
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O fato que mais contradiz o senso comum é que os usuários em situação de rua seriam a
maioria, no entanto, a estatística mostra que aproximadamente 40% estão nessa situação
(BRASIL, 2013). Um dos principais fatores relacionados a essa visão que a sociedade tem sobre
o usuário pode ser a existência das “Cracolândias” que existem nas cidades brasileiras.
Contudo, o desenvolvimento desses espaços vai muito além do uso do crack, pois tem relação
com diversos fatores socioculturais (ARRUDA et al, 2017).
A maioria das pessoas entende que os indivíduos acabam ficando em situação de rua e
frequentando locais como as “Cracolândias” em decorrência do uso de crack, porém o que
ocorre na realidade é o contrário, sendo que, a maioria dos frequentadores desses locais acaba
indo para lá por outros problemas como a exclusão do mercado de trabalho, a falta de
oportunidades, violência doméstica, abuso infantil ou outros motivos; e posteriormente, acabam
se tornando usuários quando já estão em situação de rua (ARRUDA et al, 2017).
No Brasil, os usuários de crack têm idade média de 30 anos, porém a taxa de usuários de
18 a 24 anos chega a aproximadamente 30% do total de dependentes. O predomínio dos
usuários é do sexo masculino (aproximadamente 78,7%). Quanto a raça, há uma porcentagem
mais acentuada de “não-brancos”, sendo que os brancos só atingem 20%, o que não reflete a
população geral brasileira, onde os brancos atingem 48%, evidenciando a maior vulnerabilidade
das raças diferentes da branca (BRASIL, 2013).
De forma geral, os efeitos a curto-prazo do crack são de extrema felicidade e energia, uma
maior sensibilidade dos sentidos de visão, audição e do toque, estado de maior alerta e pode
também chegar ao estado de paranoia e irritabilidade, sendo esse último associado a quadros de
imprevisível e repentino comportamento violento (RIBEIRO et al, 2010).
No uso do crack, também podem ser percebidos efeitos de constrição dos vasos
sanguíneos, aceleração da pressão e dos batimentos cardíacos, aumento de temperatura
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corporal, dilatação das pupilas, tremores, depleção dos sentimentos de sono e fome, entre outros
(LARANJEIRA et al, 2003).
Por fim, no sistema serotoninérgico, os efeitos do crack são semelhantes aos que ocorrem
nos sistemas dopaminérgico e adrenérgico. Nesse sistema ocorre o impedimento da recaptação
do neurotransmissor serotonina e de seu precursor triptofano, resultando na maior concentração
do neurotransmissor na fenda sináptica. A hiperativação desse sistema está relacionada com os
efeitos de alucinação e psicose causados pelo uso do crack (CASTRO et al, 2015).
O crack, por ser uma droga de fácil dependência devido aos seus fatores fisiológicos,
torna gradativos os problemas na vida dos usuários. Os prejuízos no indivíduo iniciam
rapidamente, levando de 3 a 4 anos para aparecer, e a partir disso, a progressão é rápida devido
as características fisiopatológicas da droga.
Além dos prejuízos de dependência e da degradação física, o uso do crack faz com que
os indivíduos abandonem aspectos importantes da sua vida como a família, amigos e trabalho,
além de abdicar de fatores relacionados a sua própria saúde, tudo isso paralelamente ao avanço
do uso da droga (CARVALHO & SEIBEL, 2009). Além disso, o usuário acaba pendendo
muitas vezes para atividades ilícitas como forma de sustento, fenômeno ocasionado
provavelmente pelo estigma criado sobre o usuário e consequente exclusão do mercado de
trabalho, limitando as oportunidades e agravando o efeito de marginalização já sofrido
inicialmente pelo fato de ser usuário (CONTE et al, 2007).
A sociedade sofre diretamente os efeitos do uso e dependência não só do crack, mas das
drogas em geral. De acordo com o levantamento realizado pelo Conselho Nacional de Justiça
(2012), aproximadamente 75% dos jovens em cumprimento de medida de internação e menores
infratores faziam uso de drogas ilícitas, fato que expõe a ligação entre droga e criminalidade. É
visto que diversos usuários acabam sendo encarcerados por crimes que cometeram sob a
influência do uso das drogas ou para adquirir dinheiro para compra dos entorpecentes (SILVA
& BANDEIRA, 2007).
O crack é uma das drogas que mais causa impactos para aqueles que não o utilizam.
Segundo Silva (2000): “a dependência química que esta substância causa é responsável por
diversos problemas sociais, tais como tráfico de drogas, assaltos, prostituição, superlotação de
cadeias e de hospitais”. Dessa forma, acredita-se que qualquer cidadão comum vai sofrer as
consequências de ter uma parte da população dependente do crack, mesmo que essa seja
pequena.
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Tanto esse, como outros fatores que levam a vulnerabilidade, deveriam inexistir se a Carta
Magna do Brasil fosse integralmente cumprida, de forma que se o Estado cumprisse sua
obrigação, muitos fatores que levam o indivíduo a droga seriam solucionados ou pelo menos
atenuados.
Dessa forma, pode-se afirmar que tratar a problemática do crack (e das drogas em geral)
apenas de forma repressiva não é eficaz, pois a repressão não permite que os verdadeiros
problemas do indivíduo na sociedade recebam atenção, ou seja, que o indivíduo usuário de
droga não seja tratado como criminoso e sim como doente.
Acredita-se que tratar o usuário da maneira correta é mais do que ajudar as pessoas
vulneráveis, pois é também solucionar diversos problemas sociais relacionados a saúde e a
segurança.
Um agravante dos problemas sociais que envolvem o indivíduo que inicia o uso de crack
no Brasil é em decorrência da legislação que, por políticas que datam de meados da década de
1960, tratou por muito tempo o usuário da mesma forma que encara o traficante e tinha um
caráter totalmente repressivo no território brasileiro, negligenciando medidas de cuidado ou
assistência aos usuários (NETO & SANTOS, 2015).
Pelo avanço rápido da dependência química, o tratamento acaba sendo realizado apenas
quando o estado do indivíduo já está em situação grave, pois o usuário ignora efeitos negativos
devido a necessidade progressiva do uso da droga.
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Um fator importante que denota que o tratamento é continuo durante a vida do ex-usuário
de drogas é que, apesar de todo estigma criado pela sociedade em torno do usuário de crack e
da consequente e perceptível exclusão do mercado de trabalho desses indivíduos, o tratamento
deve conter meios de reinseri-lo em atividades profissionais pelo desenvolvimento e
qualificação profissional, além de possibilitar a essas pessoas um emprego para terem seu
próprio sustento e para principalmente continuarem a manter a mente ocupada, tornando o
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tratamento uma coisa contínua, que não acaba após o indivíduo ser liberado da clínica de
tratamento (ALMEIDA et al, 2018).
4. CONCLUSÃO
O trabalho realizado pelo Instituto de Criminalística de Botucatu atende a legislação na
atual política de drogas, que obriga o exame toxicológico das substâncias entorpecentes
apreendidas. Apesar da escassez estrutural e de equipamentos para as técnicas de toxicologia
forense no IC de Botucatu, o resultado dos trabalhos nos exames iniciais e definitivos é
satisfatório atendem as necessidades do Poder Judiciário.
O crack é uma das drogas de maior incidência na sociedade atual e uma das mais
destrutivas. Com isso, ela traz danos ao usuário pelas suas características e por consequência
para a sociedade, principalmente nas áreas de saúde e segurança.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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