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(Graduate) Abstinência a drogas em membros de Narcóticos Anônimos e as


Estratégias de Enfrentamento

Thesis · June 2011


DOI: 10.13140/RG.2.2.30729.24162

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1 author:

Jose Lamartine de Andrade Lima-Neto


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA)
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Psicologia

ABSTINÊNCIA A DROGAS EM MEMBROS DE NARCÓTICOS


ANÔNIMOS E AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO

Salvador - BA
Maio/2011
1

JOSÉ LAMARTINE DE ANDRADE LIMA NETO

ABSTINÊNCIA A DROGAS EM MEMBROS DE NARCÓTICOS


ANÔNIMOS E AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO

Monografia apresentada como Trabalho


de Conclusão de Curso para obtenção do
grau de Psicólogo na Faculdade de
Tecnologia e Ciências, curso de
Psicologia, campus Salvador.

Orientador: Prof. Esp. Rafael Leite Fernandes

Salvador - BA
Maio/2011
2
3
4

À
Narcóticos Anônimos, que no dizer de seus membros,
“Pode não ser as portas do céu, mas certamente a saída do inferno”.
5

AGRADECIMENTO

Ao prof. Rafael Fernandes pelo entusiasmo em acolher a idéia, pela


orientação que ajudou a dar forma através das sugestões valiosas e correções de
rota.
Ao prof. Dr. Paulo Araújo pelos ensinamentos de que rigor e cuidado nunca
são de mais.
A meus colegas de curso pela saudade que passei a sentir.
Aos amigos Claudio Reynaldo, Marlene Vilas Boas, Cristina Reis, Valdice
Muniz pelo carinho e incentivo constantes.
A meu padrinho espiritual Jorge Filipe.
A Núbia M. Ribeiro, amada companheira e incentivadora, revisora e
confidente, por todos os momentos que passamos juntos nesses anos.
A minha mãe Amélia, tia Augusta, irmãos Luiz Rogério e José Roberto e filhos
Lucas e Caroline pelo exemplo de luta e amor incondicional.
Especialmente, ao pessoal do NA que no exemplo de superação em suas
lutas diárias me ensinaram muito sobre como levar a vida, um dia de cada vez.
6

RESUMO

Neste trabalho foram descritas as estratégias de enfrentamento ou coping usadas


para manutenção da abstinência às drogas, nas situações que causam estresse e
que esteja relacionada ao desejo de usar drogas em membros de Narcóticos
Anônimos na cidade de Salvador, Bahia. Usou-se como procedimentos
metodológicos o estudo transversal exploratório focado nos usuários de drogas em
processo de recuperação, que foram entrevistados a partir de escolhas aleatórias
nos próprios locais de suas reuniões. Foram utilizados dois instrumentos de coleta
de dados, um questionário com dados sócio-demográficos e o Inventário de
Estratégias de Coping de Folkman e Lazarus. As respostas, com escala original de 0
a 3, foram quantificadas para cada um dos oito fatores descritos por Folkman e
Lazarus e foram representadas numa escala de 0 a 100. Conclui-se, após análise
dos dados, que a manutenção da abstinência às drogas como resultado do processo
de recuperação em Narcóticos Anônimos, aliado a mudanças nos ambientes de
convivência, a inserção em redes saudáveis de relações interpessoais, é de suma
importância para garantir um período considerável de abstinência. Pode-se
caracterizar como uma espécie de portal de entrada para um convívio em sociedade
encarando os desafios com um olhar diferenciado, munidos de repertório adequado
de enfrentamento.

Palavras-chave: Estratégias de enfrentamento, abstinência a drogas, Narcóticos


Anônimos
7

ABSTRACT

In this paper, we described the coping strategies used for abstinence of drugs, in
situations that cause stress and are related to the desire to use drugs in Narcotics
Anonymous members in Salvador, Bahia. It's used as instruments the exploratory
cross-sectional study focused on drug users in recovery, who were interviewed from
random choices in the places of their meetings. Two instruments were used for data
collection, a questionnaire with sociodemographic data and the Inventory of Coping
Strategies of Folkman and Lazarus. The answers, with the original scale of 0 to 3,
were quantified for each of the eight factors described by Folkman and Lazarus, were
represented on a scale of 0 to 100. It is concluded, after analyzing the data, that the
maintenance of abstinence to drugs as a result of the process of recovery in
Narcotics Anonymous, coupled with changes in the environment of coexistence,
integration into networks of healthy interpersonal relationships is of paramount
importance to ensure a considerable period of abstinence. Can be characterized as a
sort of gateway to a life in society facing the challenges with a different look and
bearing of appropriate repertoire of coping.

Key-words: Coping strategies, drug abstinence, Narcotics Anonymous


8

LISTA DE FIGURAS

15
Figura 01 – Fluxo dos principais crimes organizados transnacionais.
20
Figura 02 – Comparação por faixa etária de uso de drogas
21
Figura 03 – Comparação segundo a classe sócio-econômica
25
Figura 04 – Modelo Cognitivo
26
Figura 05 – Modelo Cognitivo detalhado
27
Figura 06 – Relação entre crenças
34
Figura 07 – Tempo livre de drogas (em anos) em Narcóticos Anônimos
9

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Evolução do consumo de cocaína no Brasil 17


Tabela 02 – Padrões de uso de álcool e outras drogas. 18
Tabela 03 – Comportamentos de Risco. 19
Tabela 04 – Risco de Dependência. 19
Tabela 05 – Apreensões de drogas no período de Janeiro a Junho de 2010 21
na Bahia
Tabela 06 – Informações Demográficas de frequentadores dos grupos de 33
Narcóticos Anônimos
Tabela 07 – NA no mundo. 35
Tabela 08 – Itens do Inventário de Coping de Folkmam e Lazarus 40
correspondente aos fatores avaliados.
Tabela 09 – Significado de cada “carinha” 41
Tabela 10 - Distribuição do tempo de abstinência 43
Tabela 11 – Uso das estratégias de Enfrentamento 47
Tabela 12 – Correlações entre Estratégias de Enfrentamento e tempo de 48
Abstinência
10

LISTA DE GRÁFICOS

16
Gráfico 01 – Comparação entre os levantamentos de 2001 e 2005,
segundo o uso na vida de drogas no Brasil
17
Gráfico 02 – Comparação entre os levantamentos de 2001 e 2005,
segundo o uso na vida de drogas na Região Nordeste
34
Gráfico 03 – Áreas da vida com melhoria em Narcóticos Anônimos
42
Gráfico 04 – Distribuição da idade Cronológica dos pesquisados
43
Gráfico 05 – Prática religiosa dos pesquisados
44
Gráfico 06 – Distribuição do tempo de abstinência
44
Gráfico 07 – Correlação entre tempo de abstinência e idade cronológica
45
Gráfico 08 – Quantidade de sujeitos que usaram as estratégias de
enfrentamento
46
Gráfico 09 – Uso das estratégias de enfrentamento nas diferentes faixas de
abstinência
Gráfico 10 – Autocontrole vs. Abstinência 52
Gráfico 11 – Aceitação de responsabilidade vs. Abstinência 53
Gráfico 12 – Reavaliação positiva vs. Abstinência 54
11

ABREVIATURAS E SIGLAS

APA Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric


Association)

DSM-IV Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – quarta


revisão (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders)

NA Narcóticos Anônimos.

NIAAA Instituto Nacional sobre Abuso de Álcool e Alcoolismo (National


Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism)

SPA Substâncias psicoativas

UNIDOC Escritório das Nações Unidas Sobre Drogas e Crime (United


Nations Office on Drugs and Crime)

UNODCCP Escritório das Nações Unidas para controle de Drogas e preveção


ao Crime (United Nations Office for Drug Control and Crime
Prevention
12

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12
2 CENÁRIO MUNDIAL 15
3 CENÁRIO NACIONAL 16
4 DEPENDÊNCIA QUÍMICA 22
5 MODELO COGNITIVO 25
6 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO (COPING) 29
7 NARCÓTICOS ANÔNIMOS 32
8 METODOLOGIA 38
8.1 delineamento 38
8.2 participantes 38
8.3 o instrumento 38
8.4 procedimentos 39
8.5 plano de Análise 39

9 RESULTADOS 42
9.1 Características da amostra 42
9.2 Análise e discussão de resultados 44
9.2.1 Confronto X Abstinência 48
9.2.2 Afastamento x Abstinência 49
9.2.3 Suporte Social x Abstinência 49
9.2.4 Fuga-esquiva x Abstinência 50
9.2.5 Resolução de problemas x Abstinência 50

9.3 Análises dos resultados mais significativos 51


9.3.1 Autocontrole x Abstinência 51
9.3.2 Aceitação de responsabilidade x Abstinência 52
9.3.3 Reavaliação positiva x Abstinência 53

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS 55

REFERÊNCIAS 57

APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 64


APÊNDICE B – Questionário Sócio Demográfico 66
ANEXO A – Inventário de Coping de Folkman e Lazarus 67
ANEXO B – Aprovação do Comitê de Ética na Pesquisa 69
ANEXO C – Os 12 Passos de Narcóticos Anônimos 70
ANEXO D – As 12 Tradições de Narcóticos Anônimos 71
12

1 INTRODUÇÃO

Os usos de substâncias psicoativas tiveram suas origens quando homem, já


em sociedade, se aproveitava de recursos naturais para se adaptar às dificuldades
do meio em que vivia.
Segundo Carlini (2006, p. 1), citando documento oficial do Ministério das
Relações Exteriores publicado em 1959, o uso de maconha é antigo no Brasil:
"A planta teria sido introduzida em nosso país, a partir de 1549, pelos
negros escravos [...] e as sementes de cânhamo (maconha) eram
trazidas em bonecas de pano, amarradas nas pontas das tangas"

Machado e Miranda (2007, p. 1) afirmam que as primeiras intervenções do


governo brasileiro na área ocorreram no início do século XX,
...com a criação de um aparato jurídico-institucional destinado a
estabelecer o controle do uso e do comércio de drogas e a preservar
a segurança e a saúde pública no país. [...]Nessa época, o consumo
de drogas ainda era incipiente e certamente não constituía uma
ameaça à saúde pública. Já o consumo de bebidas alcoólicas era
freqüente, mas, por ter sido mais tolerado pelos governantes e pela
sociedade brasileira, não era objeto de preocupação governamental.

As convenções internacionais, muito influenciaram a postura dos órgãos


governamentais do Brasil desde o início de século XX. Segundo Machado e Miranda
(2007, p. 1), em 1911:
O Brasil aderiu à Convenção de Haia, que estabeleceu o primeiro
tratado internacional a propor o controle sobre a venda de ópio,
morfina, heroína e cocaína. O país compareceu também às reuniões
da Organização das Nações Unidas (ONU), realizadas em 1961,
1971 e 1988, as quais deram origem a convenções internacionais
que reafirmaram a necessidade de adoção de medidas de repressão
à oferta e ao consumo de drogas. [...] Em 1924, o Código Penal
Brasileiro, por meio do decreto 4.294, propôs pena de prisão para
aqueles que vendessem ópio, seus derivados e cocaína. A
embriaguez que acarretasse "atos nocivos a si próprio, a outrem ou à
ordem pública" passou a ser punida com a internação compulsória
em "estabelecimento correcional adequado". O decreto 14.969 criou
o "sanatório para toxicômanos"

Na atualidade, visto os impactos relacionados à saúde pública e a


criminalidade, as questões envolvendo drogas se colocam como assuntos urgentes
na pauta de diversos governos e instituições (LOECK, 2009).
13

Segundo Planeta e DeLucia (2009), os primeiros estudos relacionados a


drogas que resultaram em classificação datam do início do século XIX. Em 1804
passou-se a encarar a embriaguez como “transtorno mental”, e sua forma mais
crônica, o alcoolismo, foi denominado de “dipsomania” por von Bruhl-Cramer em
1819. Em 1845, Jean Jacques Moreau publicou estudo dos efeitos do haxixe sobre o
comportamento e psiquismo humano, resultando no livro Du hashish et de
l´alienation mentale considerado um marco no estudo dos efeitos das drogas no ser
humano.
Sobre a interação social, a pesquisa de Doutorado de Velho (1998), trouxe
uma questão interessante sobre grupos da classe média do Rio de Janeiro, no início
dos anos 1970. Esses faziam uso de maconha e cocaína, de forma recreativa, como
parte de seu estilo de vida. Este trabalho resultou no livro “Nobres e Anjos. Um
Estudo de Tóxicos e Hierarquia”
Assiste-se a partir da década de 1990 a chegada de novos valores e olhares
mais atentos às diferenças individuais, autonomia, diálogo e não-hierarquização nas
relações. Dentro deste cenário, a questão das drogas assume uma complexidade tal
que se torna muito difícil avaliar com precisão as múltiplas interações que mantém
em diversos setores da sociedade, tais como no individual, familiar, escolar, grupo
de pares, mídia e comunidade de convivência (SCHENKER e MINAYO, 2005).
Também através de atividades grupais pessoas estão lutando para se livrar
do uso de drogas como ocorre entre os membros de Narcóticos Anônimos. A
identificação destes elementos de enfrentamento às drogas, poderá constituir em
uma ferramenta de trabalho a mais para a psicologia, no reconhecimento do papel
dos grupos de ajuda-mútua, seus membros e seus métodos de trabalho.
Este trabalho descreve as estratégias de enfrentamento ou coping, usadas
para manutenção da abstinência às drogas, nas situações que causam estresse e
que estejam relacionadas ao desejo de usar drogas, em membros de Narcóticos
Anônimos na cidade de Salvador, na Bahia.
Um próximo passo seria justamente um estudo a partir das perspectivas das
redes sociais, explorando as conexões entre os vários tipos de relações, nos quais
ocorre partilha de valores e objetivos comuns.
Redes não são, portanto, apenas uma outra forma de estrutura, mas
quase uma não estrutura, no sentido de que parte de sua força está
na habilidade de se fazer e desfazer rapidamente (DUARTE e FREI,
2008, p. 156).
14

Nesta perspectiva, este trabalho permitiu visualizar o resultado, os efeitos do


“que, e como faz” Narcóticos Anônimos.
Os limites das redes não são limites de separação, mas limites de
identidade. [...] Não é um limite físico, mas um limite de expectativas,
de confiança e lealdade, o qual é permanentemente mantido e
renegociado pela rede [...] (CAPRA, 2008, p. 21-23).

Entender o processo, a organização, como se relacionam os membros e os


grupos, ou seja, “como funciona” de fato, só será possível ampliando e
aprofundando as discussões.
15

2 CENÁRIO MUNDIAL

O relatório “A Globalização do Crime – Avaliação da ameaça da criminalidade


organizada transnacional”, publicado em Viena no ano de 2010 é resultado da
pesquisa do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime. Este documento
expõe o roteiro do tráfico de drogas (heroína e cocaína), armas de fogo, migrantes,
mulheres, dentre outros, desde a origem até os destinos finais (UNODC, 2010b).

Figura 01 - Fluxo dos principais crimes organizados transnacionais. (UNODC, 2010b, p. 02).

O citado documento apontou que cerca de 90% da oferta mundial de heroína


vem do cultivo de papoula no Afeganistão, sendo consumida em grande quantidade
na Europa, Federação Russa e países na rota destes destinos. Já sobre o tráfico de
cocaína, o documento informou que o “grosso das receitas da região andina” provém
da América do Norte, Europa e uma parte crescente do Cone Sul da América Latina.
Quando se trata do consumo de drogas, foi relatado que o consumo de
cocaína nos Estados Unidos entrou em declínio desde 1980 e esta queda tem se
acentuado desde 2006. Na Europa a demanda “parece estar se estabilizando”, após
um rápido crescimento na última década (UNODC, 2010b).
Porém, contrastando com o resto do mundo, é possível verificar que, países
como a República Bolivariana da Venezuela, Equador, Brasil, Argentina e Uruguai,
16

assim como países da América Central e do Caribe, registraram aumentos do


consumo de cocaína nos últimos anos, todos localizados nas proximidades
geográficas dos grandes produtores mundiais da droga, segundo este mesmo
relatório.

3 CENÁRIO NACIONAL

O cenário nacional brasileiro contrasta com o declínio do consumo de cocaína


na América do Norte e a estabilização na Europa, evidenciando números absolutos
que o coloca como o maior mercado da droga na América Latina (UNODC, 2009).
No gráfico 01 constam os dados de consumo total nos anos 2001 e 2005 para
15 drogas. Segundo Galduróz e cols. (2006, p 315),
[...] houve um aumento de prevalência sobre 2001 para 2005 em
nove drogas (Maconha, Solventes, Cocaína, Estimulantes,
Benzodiazepínicos, Alucinógenos, Crack, Anabolizantes e
Barbitúricos); diminuição para quatro (Orexígenos, Opiáceos,
Xaropes com cocaína e anticolinérgicos) e o mesmo consumo para
duas (Heroína e Merla).

Gráfico 01. Comparação entre os levantamentos de 2001 e 2005, segundo o uso na vida de
drogas, exceto álcool e tabaco, dos entrevistados das 108 cidades com mais de 200 mil
habitantes do Brasil (GALDURÓZ e cols., 2006, p. 315).

No gráfico 02 são apresentados os dados referentes ao uso na vida de


drogas, exceto Tabaco e Álcool entre os entrevistados da região Nordeste.
17

Em 2001, 5,5% das pessoas já fizeram uso experimental de


Maconha; em 2005, essa porcentagem aumentou para 6,1%. O uso
de Orexígenos diminuiu em 2005 (9,3%) em comparação a 2001
(11,2%). Pode-se verificar um aumento do uso de Esteróides
anabolizantes no levantamento de 2005 (1,5%) em relação ao ano de
2001 (0,1%) (GALDURÓZ e cols., 2006, p 344).

Gráfico 02. Comparação entre os levantamentos de 2001 e 2005, segundo o uso na vida de
drogas, exceto álcool e tabaco, dos entrevistados das cidades com mais de 200 mil
habitantes da Região Nordeste (GALDURÓZ e cols., 2006, p 344).

No Brasil a evolução do consumo de cocaína apresenta uma acréscimo de


milhares de usuários por ano (tabela 01) e estima-se que a maior parte dos usuários
de cocaína e o crack – cerca de 70% – concentra-se nas Américas (GALDURÓZ e
cols., 2006).

Tabela 01 - Evolução do consumo de cocaína no Brasil


Ano No. de pessoas
2005 870 mil
2007 890 mil
2009 900 mil
Fonte: Adaptado de UNODC (2009) e UNS (2010a)

O Relatório Mundial sobre Drogas apontou que a maior população de


usuários de opiáceos (ópio, heroína, morfina, etc.) na América do Sul está no Brasil,
com aproximadamente 640.000 usuários (0,5% da população entre 15-65 anos). A
maioria destes usa opiáceos sintéticos na forma de analgésicos e só uma pequena
parte, menos de 0,05%, usa heroína (UNODC, 2010a).
18

Um aumento do uso de maconha foi reportado no Brasil, também pelo


relatório da UNODC (2009), em que a taxa anual de prevalência mais do que dobrou
em 4 anos, passando de 1% em 2001 para 2.6% em 2005 e, “de acordo com as
autoridades brasileiras, esse número parece continuar subindo nos anos
subsequentes” (UNODC, 2009, p. 03).
A respeito do uso de anfetaminas e estimulantes, entre 2001 e 2005 a
Argentina e Brasil tiveram, “respectivamente, o segundo e o terceiro maiores índices
estimados de uso de estimulantes tipo anfetamina no mundo” (UNODC, 2009, p. 04).
Entre as maiores cidades do Brasil, o uso na vida de cocaína atinge 2.9% da
população geral e o de crack, 0,7%, constituindo-se na terceira substância ilícita
mais utilizada, atrás dos solventes (6,1%) e da maconha (8,8%) (UNODCCP, 2001).
Segundo Duailibi, Ribeiro, Laranjeira (2011), deve-se salientar que esses
dados referem-se a uso na vida e não a um uso regular ou dependência. O maior
uso de crack ocorre entre jovens, predominantemente do sexo masculino e de baixa
renda.
O “I Levantamento nacional sobre uso de álcool, tabaco e outras drogas entre
universitários das 27 capitais brasileiras” foi sintetizado em alguns dados nas
Tabelas 02 a 04. O grau de abrangência dos padrões de uso das diversas
substâncias está ilustrado na Tabela 02 (ANDRADE, DUARTE e OLIVEIRA, 2010).

Tabela 02 - Padrões de uso de álcool e outras drogas.


Universitários PADRÕES DE USO
pesquisados
49% Experimentaram alguma droga ilícita pelo menos
uma vez na vida
80% Menores de 18 anos consumiram algum tipo de
bebida alcoólica
86% Fizeram uso de álcool na vida
47% Uso de tabaco
36% Beberam em binge1 nos últimos 12 meses
25% Beberam em binge nos últimos 30 dias
40% Usaram duas ou mais drogas nos últimos 12 meses
43% Uso múltiplo e simultâneo de drogas na vida
21% Uso de produtos do tabaco
Fonte: Andrade, Duarte e Oliveira (2010, p. 01)

1 Padrão binge drinking é definido pelo National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism – NIAAA, como o
consumo de cinco ou mais doses alcoólicas por homens ou de quatro ou mais doses por mulheres dentro do
período de duas horas (ANDRADE, DUARTE, OLIVEIRA, 2010, p. 01).
19

Esta mesma pesquisa revelou que 43% dos universitários tinham como
motivação do uso “simplesmente porque gostavam ou porque lhes possibilitava
esquecer os problemas da vida” (ANDRADE, DUARTE e OLIVEIRA, 2010, p. 01).
Mas a este aparente desejo de esquecimento vem associado uma série de
comportamentos de risco trazendo sempre desdobramentos negativos (Tabela 03).

Tabela 03 - Comportamentos de Risco.


Universitários COMPORTAMENTOS DE RISCO
pesquisados
18% Dirigiram sob efeito de álcool
27% Pegaram carona com motorista alcoolizado
9% Sem hábito de utilizar métodos contraceptivos
3% Forçaram ou foram forçados a engajar em intercurso sexual
41% Teste para detecção do vírus HIV
8% Já fizeram (ou induziram) aborto
Fonte: Fonte: Andrade, Duarte e Oliveira (2010, p. 01)

A risco de desenvolvimento de dependência química, abordada mais adiante,


foi identificada em relação ao álcool e a maconha (Tabela 04),

Tabela 04 - Risco de Dependência.


Universitários RISCO DE DESENVOLVER
pesquisados DEPENDÊNCIA
22% Álcool
8% Maconha
Fonte: Fonte: Andrade, Duarte e Oliveira (2010, p. 01)

Mas, sem perder de vista o poder destruidor das demais substâncias


psicoativas, foi constatado que:

(...) a prevalência de abuso de álcool foi maior entre os universitários


que na população geral. Já a dependência foi encontrada com maior
prevalência para a população geral. Já o uso de substâncias ilícitas
(geral) é maior entre os universitários das regiões Sul e Sudeste, de
instituições privadas, da área de Humanas, do período noturno e por
universitários com idade acima dos 35 anos. Não foi observada a
interferência de gênero sobre o uso geral de drogas. A prevalência
do uso de álcool, tabaco e drogas ilícitas é semelhante entre
universitários brasileiros e norte-americanos, salvo algumas
particularidades: o uso de maconha é maior entre os universitários
norte-americanos e o uso de inalantes é maior entre os universitários
brasileiros. O risco de desenvolver abuso/dependência para
maconha é maior entre os homens e de anfetamínicos e
20

tranquilizantes entre as mulheres (ANDRADE, DUARTE e OLIVEIRA.


2010, p. 01).

Retomando Galduróz e cols. (2006, p. 388), estas autores verificaram que:


[...] em 2001, 19,4% dos entrevistados já haviam usado algum tipo de
droga e, em 2005 este número foi para 22,8%, o que corresponde a
uma população estimada de aproximadamente 11.603.000 pessoas,
excluindo-se da análise o Álcool e o Tabaco. A comparação das
porcentagens de uso na vida das drogas entre 2001 e 2005 mostrou
que houve aumento para Maconha (6,9% para 8,8%);
Benzodiazepínicos (3,3% para 5,6%); Estimulantes (1,5% para
3,2%); Solventes (5,8% para 6,1%) e Cocaína (2,3% para 2,9%).

Ainda conforme Galduróz e cols. (2006), com relação ao seu “Levantamento


Nacional sobre o uso de Drogas Psicotrópicas das 108 cidades com mais de 200 mil
habitantes do Brasil de 2001 e 2005”, nos quesitos comparação de faixa etária e
classe sócio-econômica dos entrevistados ocorreram as seguintes alterações:

a) Aumento da quantidade de sujeitos mais novos de 12 a 17 anos (41% 


51%) e daqueles entre 25 a 34 anos (18%  23%), diminuição do numero
daqueles com idades entre 18 a 24 anos (21%  16%) e os acima de 35
anos (12%  10%), conforme figura 02.

Figura 02 - Comparação por faixa etária (GALDURÓZ e cols., 2006, p. 307).

b) Apresentou decréscimo na quantidade de usuários de substâncias


psicoativas das classes sócio-econômicas A, B e E entre os anos de 2001
e 2005. Os aumentos populacionais ficaram por conta das classes C (36%
 37%) e D (29%  36%) para o mesmo período (Figura 03).
21

Figura 03. Comparação segundo a classe sócio-econômica (GALDURÓZ e cols., 2006, p.


309)

Segundo Silber e Souza (1998), habitualmente se supõem que o “abuso” de


drogas esteja associado a substâncias como heroína, cocaína e outras drogas
“fortes”. É verdade que tais drogas são danosas, mas de uso muito raro se
comparado com o fumo, o álcool e a maconha.
Ainda segundo estes autores, o álcool está diretamente relacionado à morte
de jovens em acidentes de automóvel. Consideram também que a maconha causa
interferência na aprendizagem e na memória e que é potencialmente de risco, assim
como o álcool e o tabaco, quando usados de forma abusiva (SILBER e SOUZA,
1998).
No estado da Bahia informações colhidas a partir da Coordenação de
Documentação e Estatística Policial da Polícia Civil revelaram que as apreensões de
drogas ilícitas no período de Janeiro a Junho de 2010 (Tabela 05), evidenciam uma
faceta deste universo. Infelizmente não se consegue avaliar com precisão, o quanto
de drogas chegou às mãos do usuário final.

Tabela 05 – Número de apreensões de drogas no período de Janeiro a Junho de


2010 na Bahia.
DROGAS Salvador Região Interior do TOTAL
Metropolitana de Estado Bahia
Salvador
Crack (pedras) 7.632 892 9.511 18.035
Crack (gramas) 2.120 150 70.835 73.105
Maconha (gramas) 249.648 35.901 642.041 927.590
Pés de Maconha 5 4 49.459 49.468
Cocaína (gramas) 9.994 1.226 24.772 35.992
Fonte: Bahia (2010, p. 01).
22

4 DEPENDÊNCIA QUÍMICA

As questões relacionadas às drogas são transdisciplinares, envolvendo as


áreas biomédicas, sociais, psicológicas, educacionais, políticas, sanitárias,
econômicas, religiosas, dentre outras.
Dentre as muitas definições encontradas para a questão, algumas estão em
desuso ou foram substituídas por formas mais adequadas. Uma das maneiras que
as ciências biomédicas encontraram para intervir sobre estes corpos “dependentes”
ou “adictos” foi defini-los a partir da noção de diferença, ou seja, “os indivíduos
dependentes são considerados diferentes moral e fisiologicamente em relação aos
normais” (LOECK, 2009, p. 58).
Segundo Keane (2005, p. 92), esta diferença moral e fisiológica do adicto em
relação ao sujeito normal se deve a um processo de “poluição e corrupção, no qual
substâncias ‘de fora’ quebram o balanço e auto-suficiência originais do corpo”.
A respeito da relação entre o estigma de usuário e a adicção a drogas, Mota
(2005, p. 01) afirmou a existência de uma conotação muito particular, pois a maioria
da população aceita formulações tais como “toda droga leva à morte”, “a droga é a
principal causa da violência nas grandes cidades” ou “toda pessoa que experimentar
uma droga irá tornar-se um viciado”. É possível entender que este tipo de discurso
de demonização das drogas compromete diretamente os usuários, em “uma
representação moral da substância, automaticamente transferida a seus usuários”,
ou seja, “o status de ilegalidade da substância é projetado na personalidade do
usuário” (MOTA, 2005, p. 01).
Neste particular, Velho (1999) demonstrou quais os tipos de restrições que o
usuário de drogas sofre ao ser identificado como consumidor, utilizando o conceito
de “categorias de acusação”, especificamente, a de “drogado”:

(...) drogado é uma acusação moral e médica que assume


explicitamente uma dimensão política, sendo, portanto, também uma
acusação totalizadora. O fato de os acusados serem moralmente
nocivos segundo o discurso oficial, pois têm hábitos e costumes
desviantes, acaba por transformá-los em ameaça ao status quo, logo
em problema político (...); a categoria drogado explicita de imediato,
a problemática de patologia individual. O drogado seria, por definição
médica, um doente. A partir daí, constrói-se todo um discurso sobre a
anormalidade do consumo de drogas e sobre as conseqüências
nefastas para o indivíduo e para a sociedade desse hábito, vício,
dependência, etc. (VELHO, 1999, p. 60-61).
23

Por outro lado, o uso de substâncias psicoativas (SPA), na maioria dos casos,
faz parte de algumas formas de ritualização, muitas delas específicas para algumas
tipos destas substâncias, como afirmou Martine Segalen (2002).
Acerca dos rituais usados para afirmar a permanência de algumas práticas
nas sociedades contemporâneas, a autora afirmou o seguinte:

O rito ou ritual é um conjunto de atos formalizados, expressivos,


portadores de uma dimensão simbólica. O rito é caracterizado por
uma configuração espaço-temporal específica, pelo recurso a uma
série de objetos, por sistemas de linguagem e comportamentos
específicos e por signos emblemáticos cujo sentido codificado
constitui um dos bens comuns de um grupo (...); enquanto conjuntos
fortemente institucionalizados ou efervescentes – quer regulem
situações de adesão comum de valores, quer funcionem como
reguladores de conflitos interpessoais –, os ritos devem ser
considerados sempre como um conjunto de condutas individuais ou
coletivas relativamente codificadas, com suporte corporal (verbal,
gestual e de postura), caráter repetitivo e forte carga simbólica para
atores e testemunhas (...); finalmente, o ritual se reconhece como
fruto de uma aprendizagem, implicando por conseguinte a
continuidade das gerações, dos grupos etários ou dos grupos sociais
dentro dos quais ele se produz (SEGALEN, 2002, p. 31-32).

Velho (1998) constatou que se faz uso de droga como forma de interação
social, em que a iniciação no uso da substância se dá através de atividades grupais.
Buscando caracterizar as questões que envolvem a dependência química a
Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association - APA)
propôs o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and
Statistical Manual of Mental Disorders – DSM) para profissionais da área da saúde
mental. Neste documento está a lista de diferentes categorias de transtornos
mentais e critérios para diagnosticá-los. O manual é de uso difundido ao redor do
mundo por clínicos, pesquisadores, companhias de seguro, indústria farmacêutica,
parlamentos políticos, etc. (DSM-IV, 2011a)
De acordo com o DSM-IV antes de se caracterizar a dependência química,
existe um estágio anterior de comprometimento chamado de ABUSO DE
SUBSTÂNCIAS. Os critérios para defini-lo incluem (DSM-IV, 2011b):
Um padrão mal-adaptativo de uso de substância levando ao
prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo, manifestado por um
(ou mais) dos seguintes aspectos, ocorrendo dentro de um período
de 12 meses:
24

• uso recorrente da substância, resultando em um fracasso em


cumprir obrigações importantes relativas a seu papel no trabalho, na
escola ou em casa;
• uso recorrente da substância em situações nas quais isto
representa perigo físico;
• problemas legais recorrentes relacionados à substância;
• uso continuado da substância, apesar de problemas sociais ou
interpessoais persistentes ou recorrentes;

E para caracterização da DEPENDÊNCIA DE SUBSTÂNCIAS, os critérios do


DSM-IV incluem (DSM-IV, 2011c):
Padrão mal-adaptativo de uso de substância, levando ao
prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo, manifestado por três
(ou mais) dos seguintes critérios, ocorrendo a qualquer momento no
mesmo período de 12 meses:

1) tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos:


a) uma necessidade de quantidades progressivamente maiores
da substância para adquirir a intoxicação ou efeito desejado;
b) acentuada redução do efeito com o uso continuado da
mesma quantidade de substância.

2) abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes


aspectos:
a) síndrome de abstinência característica para a substância;
b) a mesma substância (ou uma substância estreitamente
relacionada) é consumida para aliviar ou evitar sintomas de
abstinência.

3) a substância é freqüentemente consumida em maiores


quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido

4) existe um desejo persistente ou esforços mal-sucedidos no


sentido de reduzir ou controlar o uso da substância

5) muito tempo é gasto em atividades necessárias para a


obtenção da substância (por ex., consultas a múltiplos médicos ou
fazer longas viagens de automóvel), na utilização da substância (por
ex., fumar em grupo) ou na recuperação de seus efeitos;

6) importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas


são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância;

7) o uso da substância continua, apesar da consciência de ter


um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que
tende a ser causado ou exacerbado pela substância (por ex., uso
atual de cocaína, embora o indivíduo reconheça que sua depressão
é induzida por ela, ou consumo continuado de bebidas alcoólicas,
embora o indivíduo reconheça que uma úlcera piorou pelo consumo
do álcool)
25

5 MODELO COGNITIVO

Neste estudo foi necessária a adoção de um modelo de funcionamento


mental que permitisse suportar as interpretações, um modelo cognitivo que admita
que as pessoas muitas vezes tendem a cometer erros em seus pensamentos. Com
frequência, há uma tendência sistemática negativa no processamento cognitivo
daqueles que estão sofrendo de algum mal-estar psicológico e nisso se
enquadrariam os dependentes químicos estudados.
Encontra-se na filosofia de Epíteto (55 a 135 dC) citado por Wright, Basco e
Thase (2008 p. 15) uma referência ao modelo adotado neste trabalho, dada a
importância dos processos cognitivos. Dizem os autores que “os homens não se
perturbam pelas coisas que acontecem, mas sim pelas opiniões sobre as coisas”.
O Modelo Cognitivo considera a existência de três pontos:
a) Uma TRÍADE COGNITIVA relativa aos conceitos primitivos do sujeito sobre
si mesmo, seu mundo externo e seu futuro;
b) DISTORÇÕES COGNITIVAS que são vieses sistemáticos na forma como
as experiências são interpretadas pelos sujeitos, e;
c) ESQUEMAS/CRENÇAS que funcionam como padrões ordenadores da
experiência que ajudam os sujeitos a explicá-la, mediar sua percepção e guiar suas
respostas (Fig. 04) (BECK, 1997).

Figura 04. Modelo Cognitivo (Beck, 1997, p. 33)

As crenças mais arraigadas no sujeito, chamadas de crenças centrais, são


vistas como verdades absolutas e inquestionáveis, “exatamente o modo como as
coisas são” (BECK, 1997, p. 30). Estas influenciam o desenvolvimento de crenças
intermediárias – regras, atitudes e suposições, que por sua vez reforçam o
26

desenvolvimento de Pensamentos Automáticos (Fig. 05), responsáveis por reações


tanto emocionais, comportamentais como fisiológicos do sujeito (BECK, 1997).

Figura 05 - Modelo Cognitivo detalhado (Beck, 1997, p. 33)

O surgimento das Crenças é explicado por Beck (1997), citando Rosen


(1988), que a partir do momento em que se busca extrair um sentido do ambiente,
desde os primeiros estágios de desenvolvimento do sujeito, estas experiências
precisam estar organizadas de uma forma coerente para que possa funcionar de
forma adaptativa. São interações com as pessoas e as situações do mundo que a
cerca em diversos níveis que proporcionam aprendizagens ou entendimentos,
crenças, que podem variar quanto a precisão e funcionalidade.
Beck, Newman e Wright (1993), citados por Scali e Ronzani (2007),
propuseram um novo modelo específico para o uso de substâncias psicoativas,
considerando que situações que atuam como estímulos de alto risco, tanto internos
como externos, ativam as crenças do sujeito acerca dele mesmo, do mundo e do
futuro, além das crenças em relação ao uso de drogas.
De acordo com Scali e Ronzani (2007, p. 04) pode-se considerar quatro tipos
de crenças importantes no campo da dependência de substâncias, inclusive do
álcool:
a) Crenças antecipatórias - refletem a expectativa de recompensa ou prazer;
b) Crenças de alívio - expressam a remoção de algum desconforto ou
sofrimento;
27

c) Crenças permissivas, ou facilitadoras (CP) - avaliam se o uso de


substâncias psicoativas é aceitável ou justificável e;
d) Crenças de controle (CC) - abarcam todas as crenças que diminuem a
possibilidade do uso de tais substâncias.

Assim, segundo Scali e Ronzani (2007), os dependentes químicos lidam com


situações mistas, em que coexistem os diversos tipos de crenças. O modelo da
relação entre as Crenças Controladoras (CC) e as Permissivas (CP) indica que,
quanto mais influente as crenças controladoras na vida do usuário em relação às
crenças permissivas, maior a probabilidade de se alcançar e manter a abstinência às
drogas (Fig. 06).

Figura 06 – Relação entre crenças Permissivas (CP) e crenças controladoras (CC)


(Adaptado de Scali e Ronzani, 2007, p. 04).

Neste sentido, as situações que põem em risco a abstinência a drogas estão


baseadas neste modelo cognitivo, com o desenvolvimento de crenças controladoras
sobre crenças permissivas.
Segundo Range e Marlatt (2008), a exposição e experiência com uso de
drogas é parte desse processo, e crenças particularmente relacionadas ao uso de
drogas serão desenvolvidas, algumas facilitando e outras evitando seu uso.
Em certo ponto o uso contínuo começa, associado a estímulos
internos/externos em risco de uso (por exemplo, num bar, sentindo-
se cansado, entediado ou triste...). Isto deverá ativar crenças sobre
uso de substância (“Sou mais sociável quando bebo”) e certos
pensamentos automáticos (“Só um pouquinho”; “Todos estão se
divertindo”; “Que diabos, eu mereço!”). Como conseqüência, deverá
ser ativada a fissura (imagem de ir ao banheiro como no ritual;
excitado! “Uma ‘carreira’”). Ocorrerá, então, a ativação de crenças
28

facilitadoras (“Todos nesta cidade estão ‘a mil hoje à noite”; “Todos


estão fazendo isso; vai ser só uma carreira) (RANGE e MARLATT,
2008, p. S90).

O modelo cognitivo de abuso de substância, segundo estes autores, é


baseado na pressuposição de que experiências nas fases iniciais da vida são as
bases para o desenvolvimento de problemas dessa natureza. Elas favorecem o
desenvolvimento de esquemas e crenças de toda ordem.
29

6 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO (COPING)

Conforme citado anteriormente, segundo Araujo e colaboradores (2010, p.


36), estima-se que a cocaína e o crack são consumidos por 0,3% da população
mundial e que cerca de 70% deles concentra-se nas Américas. Nas maiores cidades
do Brasil, o uso de cocaína atinge 2.9% da população geral e de crack, 0,7%,
constituindo-se na terceira substância ilícita mais utilizada, atrás dos solventes
(6,1%) e da maconha (8,8%).
A decisão pela interrupção do consumo de drogas é um processo difícil,
sendo influenciada por vários fatores, como estado emocional, dificuldade de seguir
um tratamento ambulatorial de pós-internação, estímulos ambientais, traços
narcisistas e negação, além do craving/fissura, síndrome de abstinência e outros
(ARAUJO e cols., 2010, p. 36).
Numa perspectiva cognitivista Antoniazzi, Dell'Aglio e Bandeira (1998, p. 274
e 276) afirmaram que:

[...] o “enfrentamento” é definido como um conjunto de esforços,


cognitivos e comportamentais, utilizado pelos indivíduos com o
objetivo de lidar com as situações de estresse que são avaliadas
como sobrecarregando ou excedendo seus recursos pessoais. [...]
para adaptarem-se a circunstâncias adversas ou estressantes.

Por uma questão de adequação será usado indistintamente o termo coping


como sinônimo de Estratégias de Enfrentamento.
De acordo com Prochaska, DiClemente e Norcross (1992), citados por Range
e Marlatt (2008), há diversos estágios relacionados a "comportamentos adictivos"
que definirão a prontidão de um sujeito em abandonar o uso de substâncias:
[...] primeiro há um estágio chamado de pré-contemplação, no qual
há uma negação da existência do problema (“Quem tem um
problema? Eu não!”). Segundo, há um estágio de contemplação
(“Isto está começando a me trazer problemas”); depois vem o estágio
de preparação (no qual a pessoa começa a fazer planos concretos
para atingir a mudança); depois desse momento pode ter início o
estágio de ação (redução real e cessação do uso de substância); e
finalmente, um estágio de manutenção, no qual mudanças de
atitudes e estilo de vida em longo prazo resultarão na recuperação
contínua ou em uma nova recaída (RANGE e MARLATT, 2008, p.
S91).

Rudolph e cols. (1995), citados por Antoniazzi, Dell'Aglio e Bandeira (1998, p.


278), consideraram que o coping deveria ser entendido como episódico e composto
30

de três aspectos fundamentais: a) uma resposta de coping; b) um objetivo


subjacente a essa resposta; c) um resultado, diferenciando-se de uma resposta de
estresse, que é não intencional e sem objetivo.
Segundo Antoniazzi, Dell'Aglio e Bandeira (1998), os princípios que regem o
coping são explicados como um processo ou uma interação entre sujeito e ambiente
cuja função é a administração de uma situação estressora e não o domínio da
mesma. Logo pressupõe noções de avaliação, ou seja, como o fenômeno é
percebido, interpretado e avaliado cognitivamente.
Quando se faz a diferenciação dos tipos de respostas apresentadas em
situações de estresse, é possível distinguir aquela emocional ou comportamental
espontânea daquela do coping, caracterizada por ser uma ação intencional, física ou
mental, iniciada em resposta ao estressor com o objetivo da redução do estresse
(ARAUJO e cols., 2010).
Paralelamente, nas estratégias de enfrentamento é possível identificar a
presença das variáveis Moderadoras e Mediadoras. Segundo Antoniazzi, Dell'aglio,
Bandeira (1998), as Moderadoras refletiriam as características pessoais e variáveis
pré-existentes, que influenciam o resultado do enfrentamento como:
1) características pessoais como nível de desenvolvimento, gênero e
experiência prévia;
2) características do estressor como tipo e nível de controlabilidade; e
3) características do contexto como a influência paterna e suporte social.
Os exemplos Moderadores são encontrados na saúde física, experiências
prévias, inteligência, relacionamento conjugal, características familiares, redes
sociais, crenças, recursos financeiros, dentre outros.
Já as Mediadoras são os elementos que seriam acionados durante a resposta
ao estresse como a avaliação cognitiva e o direcionamento da atenção. Sua
característica principal é que eles seriam acionados durante o episódio de
enfrentamento, em oposição aos moderadores, que seriam pré-existentes
(ANTONIAZZI, DELL'AGLIO e BANDEIRA, 1998).
Logo, as estratégias de enfrentamento refletem ações, pensamentos e/ou
comportamentos usados para lidar com o agente estressor, podendo ter focos
diferenciados como:
31

foco na emoção, caracterizado por um esforço para regular o estado


emocional diante do estressor, podendo ser dirigidos tanto ao nível
somático como psíquico. Comumente usado quando a pessoa sente
que ele/a não podem modificar o estressor e que não possui
recursos suficientes para lidar com a demanda; (...)
foco no problema constitui-se em um esforço para atuar na situação
que deu origem ao estresse, tentando mudá-la, (...) alterar o
problema existente na relação entre a pessoa e o ambiente que está
causando a tensão; (...)
foco nas relações interpessoais as pessoas buscam apoio nas
pessoas do seu círculo social (ANTONIAZZI, DELL'AGLIO e
BANDEIRA, 1998, p. 284-285, grifos nosso).

O trabalho de Savóia, Santana e Mejias (1996) na adaptação e validação do


instrumento desenvolvido por Folkman e Lazarus (1984) a partir do estudo sobre
estresse e estratégias de enfrentamento (coping), intitulado INVENTÁRIO DE
ESTRATÉGIAS DE COPING, consiste em oito diferentes “fatores”, sugeridos pela
análise fatorial, cada um avaliando a extensão com que um sujeito utiliza cada
estratégia, trabalho este que contempla estes focos na emoção, no problema e nas
relações interpessoais. Araujo e cols. (2010, p. 38) explicaram que os fatores são
entendidos como:

[...] Confronto - o indivíduo acredita que tem que enfrentar a fissura,


sem se afastar das situações de risco;
Afastamento - há um afastamento dos possíveis ativadores da fissura
no momento em que ela ocorre;
Autocontrole - há uma crença de que deve, simplesmente, haver um
autocontrole para que a fissura passe;
Suporte Social - estratégias pelas quais se busca um auxílio externo,
como amigos ou familiares;
Aceitação de Responsabilidade - se pensa que a fissura é uma
decorrência de suas ações relativas ao uso de drogas e se aceita
sua existência;
Fuga-Esquiva - há uma evitação de possíveis situações de risco de
fissura;
Resolução de Problemas - tentativa de usar técnicas para manejar a
fissura;
Reavaliação Positiva - cujas estratégias procuram avaliar o que tem
de positivo na fissura que o sujeito está sentindo naquele momento.

De qualquer forma, o desenvolvimento de habilidades para enfrentamento


efetivo precisa envolver habilidades sociais básicas, comportamentos assertivos e
habilidades de confronto, que incluem a capacidade de identificar situações de risco,
lidar com emoções e fazer reestruturações cognitivas.
32

7 NARCÓTICOS ANÔNIMOS

Os grupos de ajuda mútua, nas suas mais diversas vertentes, partem de um


pressuposto essencial: a identificação e o compartilhamento de experiências entre
pessoas acometidas por uma mesma condição têm grande valor terapêutico. Outro
fator importante de sua constituição é o fato de não serem grupos compostos por um
corpo de profissionais, pois participam apenas aqueles que se identificam com a
condição a ser tratada. Desta forma, cria-se um ambiente no qual aqueles que estão
participando, por mais diversas que sejam suas histórias de vida, dividem uma coisa
em comum, uma mesma condição de doença – que em princípio proporciona a
igualdade entre todos (LOECK, 2009).
Sobre o surgimento deste tipo de grupos, Mota (2004, p. 41) comentou:

Nascidos a partir da incapacidade das instituições em oferecer-lhes


uma alternativa, os indivíduos procuram nos grupos de ajuda mútua
o apoio para superar problemas que envolvem dependências e
perturbações de ordem psicológica. Os grupos são atrativos para a
contemporaneidade: associações voluntárias com critérios mínimos
para participação, estruturas administrativas sem hierarquias fixas,
além de um ethos baseado em valores relacionais comuns. É fácil
entrar e sair desses grupos e eles constituem um espaço alternativo
ao mundo competitivo e uma oportunidade concreta para o
desenvolvimento de relações íntimas baseadas em inovador sistema
social.

Os grupos de Narcóticos Anônimos (NA) nasceram de dentro dos Alcoólicos


Anônimos, em 1953 na Califórnia – EUA. Estes grupos utilizam de maneira
pragmática o conceito de adicto para o “dependente químico” e “adicção” para o
estado de “dependência química”, considerada uma doença incurável, podendo-se
apenas controlar seus efeitos através da abstinência total de qualquer substância
psicoativa. Segundo consta em uma de suas principais literaturas “nossa
identificação como adictos inclui toda e qualquer substância que modifique o humor
ou altera a mente” (NARCÓTICOS ANÔNIMOS, 1993, p. XIII).
Por uma questão de adequação, neste trabalho os termos “adicto” e
“dependente químico” serão tomados como sinônimos.
A influência de Narcóticos Anônimos na vida das pessoas pode ser medida a
partir de informações publicadas como o próprio endereço eletrônico na internet ou
através da revista internacional The NA Way Magazine. Estudos realizados por
33

Narcóticos Anônimos com 13.500 membros de várias partes do mundo (tabela 06)
permitem traçar um mapa das características do público que freqüenta grupos de
Narcóticos Anônimos como o sexo, idade, etnia, ocupação e tempo de abstinência
(NARCOTICS ANONYMOUS, 2010, p. 02).

Tabela 06 – Informações Demográficas de frequentadores dos grupos de Narcóticos


Anônimos de diversas partes do mundo.
Sexo: 56% do sexo masculino,
44 % do sexo feminino.

Idade 2% 20 anos ou menos,


14% 21-30 anos,
23% 31-40 anos,
37% 41-50 anos,
22% 51-60 anos,
3% acima de 60 anos e
1 % não respondeu.

Etnia 73% brancos,


14% Africano-Americano,
7% de hispânicos e
7% outras

Emprego 69% empregados em tempo integral,


9% empregados a tempo parcial,
7% de desempregados,
6%, aposentados,
4% de donas de casa e
5% de alunos

Abstinência Variou de menos de um ano até 40 anos, com uma


contínua taxa média de 9,1 anos.

Fonte: Adaptado de Narcotics Anonymous (2010, p. 02)

Avaliaram-se as faixas de tempo de abstinência contínua as drogas em


intervalos de menos de um ano; de um a cinco; de seis a dez; de onze a quinze; de
dezesseis a vinte e finalmente acima de vinte anos. O resultado (Fig. 07) considerou
que a média de tempo de abstinência aumentou de 7,4 anos em 2003 para 9,1 anos
em 2007 (NARCOTICS ANONYMOUS, 2010, p. 02).
34

Figura 07 – Tempo livre de drogas (em anos) dos frequentadores dos grupos de Narcóticos
Anônimos. Fonte: Narcotics Anonymous (2010, p. 02)

As áreas da vida que tiveram melhoria entre os membros de NA que


participaram dessa pesquisa foram as relações familiares citados por 92%, a
conectividade social declarada por 88% dos entrevistados, além de hobbies e
interesses (80%), habitação estável (76%), emprego (72%) e avanço educacional
56% (gráfico 03), considerando que foram permitidas respostas múltiplas
(NARCOTICS ANONYMOUS, 2010, p. 02).

Gráfico 03 – Áreas da vida com melhoria dos frequentadores dos grupos de Narcóticos
Anônimos. Fonte: NARCOTICS ANONYMOUS (2010, p. 02)
35

A avaliação do crescimento de Narcóticos Anônimos é possível através da


medição da expansão do número de reuniões semanais, quantidade de grupos e à
difusão por diversos países (Tabela 07).

Tabela 07 – Narcóticos Anônimos no mundo.


Ano Países Quantidade de grupos Reuniões semanais
1978 3 200 --
1983 10 -- 2.966
1993 60 13.000 19.000
2002 108 20.000 30.000
2005 116 21.500 33.500
2007 127 25.065 43.900
2010 131 58.000
Fonte: Adaptado de Narcotics Anonymous (2010, p. 01)

Nas reuniões de Narcóticos Anônimos são trabalhados diversos aspectos que


auxiliam o sujeito a seguir uma trajetória não só de abstinência, que passa a ser
uma consequência, mas de uma nova maneira de viver. Dentre estas práticas pode-
se identificar in loco:

a) Reconhecer e partilhar sentimentos com autenticidade;


b) Descobrir necessidades de mudanças pessoais, familiares, etc.;
c) Avaliar o plano de ação antes de tomar atitude na prática;
d) Desenvolver o autoconhecimento e a autoconfiança;
e) Alcançar e preservar a sobriedade/abstinência

Alem destes aspectos, existe um estímulo para que ocorram alterações nos
processos cotidianos como a mudança de comportamento e hábitos, melhorar as
atitudes em relação à vida e a mudança do meio ambiente, sejam pessoas e lugares
que outrora era frequentado pelo sujeito.
Neste aspecto, Kaplan, Sadock e Grebb (2006, p. 412) reconheceram a
importância de Narcóticos Anônimos e o recomendaram, por considerarem que o
compartilhamento de métodos de “efetivos de manejo” contribuem para o
tratamento.
Na visão antropológica de Marcel Mauss, citado por Lanna (2000), o
elementar das sociedades, em todos os tempos históricos, é o “intercâmbio e a
36

dádiva”. Nisso os membros de grupos de ajuda mutua como Narcóticos Anônimos


fazem de forma muito particular. Dar, receber e retribuir são, para Mauss, três
momentos distintos cuja diferença é fundamental para a constituição e manutenção
das relações sociais. A dádiva opera uma mistura entre amizade e conflito, interesse
e desinteresse, obrigação e liberdade.
O argumento central do “Ensaio sobre a Dádiva” de Marcel Mauss segundo
LANNA (2000, p.175), é que:
[...] a dádiva produz a aliança, tanto as alianças matrimoniais como
as políticas (trocas entre chefes ou diferentes camadas sociais),
religiosas (como nos sacrifícios, entendidos como um modo de
relacionamento com os deuses), econômicas, jurídicas e
diplomáticas (incluindo-se aqui as relações pessoais de
hospitalidade)

Ao buscar a Teoria da Dádiva, retornando a Marcel Mauss, citado por Mota


(2004), este autor a discute no contexto moderno em face dos problemas atuais,
abrindo uma perspectiva que vai ao encontro do contexto das relações sociais, das
narrativas e ações comunicativas. Identifica-se uma dialética inerente à dádiva:
[...] ao receber alguém estou me fazendo anfitrião, mas também crio,
teórica e conceptualmente, a possibilidade de vir a ser hóspede
deste que hoje é meu hóspede. A mesma troca que me faz anfitrião,
faz-me também um hóspede potencial. Isto ocorre porque “dar e
receber” implica não só uma troca material mas também uma troca
espiritual, uma comunicação entre almas (LANNA, 2000, p.176).

Se as drogas poderiam ter funcionado inicialmente como um agente produtor


de sociabilidade com seu potencial de reunião, encontro e troca – como o álcool –
elas se tornam para uma parcela da população um agente de rupturas no campo
das relações sociais, na família e no trabalho, um fator de dissociação.
Potencialmente funciona também como porta de entrada para experiências com
outras substâncias psicoativas e suas dramáticas conseqüências (MOREIRA, 2004,
p. 1079).
A filosofia dos grupos de NA se constrói pelas duas vertentes: aquela referida
aos doze passos – que vai marcar a vivência de cada pessoa filiada, cada membro;
e a das doze tradições – que marcar as relações de convivência no grupo
(NARCÓTICOS ANÔNIMOS, 1993).
É, portanto a abordagem plural, segundo Moreira (2004, p. 1080), associada
“a uma cultura de recuperação, que não deixa de evocar a religiosidade
37

representada em um ‘ser superior’.” Esta argumenta que a filosofia dos NA e seu


funcionamento coloca em operação o tripé – dar, receber e retribuir – que faz
circular a abstinência como um valor.
Dessa maneira, ainda segundo Moreira (2004, p. 1080), a dádiva da
abstinência é identificada como algo que foi:
[...] recebido gratuitamente, e gratuitamente tem de ser oferecido, se
concretiza nas formas de abordagem, nas finanças [...], no
apadrinhamento, no serviço e na solidariedade.

Ou seja, “as trocas são simultaneamente voluntárias e obrigatórias,


interessadas e desinteressadas [...], mas também simultaneamente úteis e
simbólicas” (LANNA, 2000, p.178).
38

8 METODOLOGIA

8.1 DELINEAMENTO

Este foi um estudo transversal exploratório entre usuários de drogas em


processo de recuperação, que fazem parte, como membros, de Narcóticos
Anônimos na cidade do Salvador no Estado da Bahia.

8.2 PARTICIPANTES

Dentre a totalidade da população estimada de membros regulares de


Narcótico Anônimos na cidade do Salvador no Estado da Bahia, 30% deles compôs
a amostra de respondentes desta pesquisa, escolhidos aleatoriamente nos próprios
locais das reuniões regulares de Narcóticos Anônimos.

9.3 OS INSTRUMENTOS

Foram utilizados dois instrumentos de coleta de dados. Um INVENTÁRIO DE


ESTRATÉGIAS DE COPING de Folkman e Lazarus adaptado e validado para o
Brasil através do trabalho de Savóia, Santana e Mejias (1996) (ANEXO A). O
inventário contém 66 itens que englobam pensamentos e ações que os sujeitos
utilizam para lidar com eventos estressantes específicos, fazendo uso de recursos
internos ou externos e a frequência que estes são utilizados. Paralelamente, utilizou-
se um questionário com dados sócio-demográficos (APÊNDICE B).
Os sujeitos da pesquisa assinalaram uma escala do tipo Likert (com variações
entre 0 - não utiliza, 1 - usa um pouco, 2 - usa bastante e 3 - utiliza em grande
quantidade), referente ao que fez quando teve um evento estressante. Para efeito
desta pesquisa este evento estressor se refere à “última vez que sentiu vontade de
usar drogas”.
Neste Inventário de Estratégias de Coping desenvolvido por Folkman e
Lazarus em 1984, os 66 itens formam uma escala que consiste em 8 diferentes
39

“fatores”, sugeridos pela análise fatorial, cada um avaliando a extensão com que um
sujeito utiliza estratégias de coping.

8.4 PROCEDIMENTOS

Éticos - Antes de iniciar a coleta de dados, este Projeto de Pesquisa foi


submetido a apreciação da representação de Narcóticos Anônimos na Bahia através
da Coordenação do Comitê de Serviço de Área – Bahia (CSA - Base), do qual
obteve-se o consentimento e apoio para aplicação dos instrumentos.
Em seguida foi submetido ao Comitê de Ética na Pesquisa (CEP) da
Faculdade de Tecnologia e Ciências, procurando observar se os procedimentos
propostos estão de acordo com a resolução nº. 196/1996 do Conselho Nacional de
Saúde no que diz respeito à pesquisa com seres humanos. O processo de análise
no CEP recebeu o numero de Protocolo 3194 em 15 de dezembro de 2010.
Recebeu o parecer favorável em 14 de Fevereiro de 2011 (APÊNDICE C)

Coleta de Dados – Os participantes dos grupos de NA foram convidados a


participar da pesquisa e, os que aceitavam assinavam o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido e em seguida recebiam os instrumentos de coleta para
preenchimento em local reservado nas próprias salas de reuniões de Narcóticos
Anônimos ou por meio eletrônico. Portanto, a coleta de dados foi realizada através
de contato pessoal, quando possível, sendo os questionários preenchidos em via
impressa e eletrônica, esta enviada para os endereços de correio eletrônico (e-mail).
A aplicação dos instrumentos seguiu-se a seguinte ordem: Questionário
Sócio-Demográfico seguido do Inventário de Estratégias de Coping de Folkman e
Lazarus. A pesquisa ocorreu nos meses de fevereiro e março de 2011.

9.5 PLANO DE ANÁLISE

As respostas com escala original de 0 a 3 foram quantificadas para cada um


dos oito fatores e seus valores normalizados para 0 a 100. Desta forma foi possível
fazer os cálculos de estatística descritiva (médias e desvios padrões). A
normalização foi realizada a partir da soma ponderada, que considerou a
40

importância crescente das respostas da escala original conforme a equação abaixo


(Eq. 1), sendo atribuindo pesos crescentes a cada uma delas. Esta equação é de
uso geral para quaisquer dos oito fatores identificados pelo Inventário de Estratégias
de Enfrentamento de Folkmam e Lázaros, pois considera o fato de que os fatores
são avaliados com quantidades diferentes de questões.

(Eq. 1)
Legenda:
u0 = Quantidade de respostas zero 0 – não utiliza) – peso 1;
u1 = Quantidade de respostas um 1 – (usa um pouco) – peso 2;
u2 = Quantidade de respostas dois 2 – (usa bastante) – peso 3;
u3 = Quantidade de respostas três 3 – (utiliza em grande quantidade) – peso 4;
Q = Quantidade de questões por fator;

O Inventário de Estratégias de Coping de Folkman e Lazarus tem escore


através da soma de todos os itens por domínio, sendo que os itens denominados
neste estudo como Itens de Confusão (2, 3, 4, 5, 19, 24, 27, 32, 37, 53, 55, 57, 61,
64, 65 e 66) não representam valor no escore.
Os fatores deste instrumento estão identificados na tabela 08.

Tabela 08 – Itens do Inventário de Coping de Folkmam e Lazarus correspondente aos


fatores avaliados.
FATOR Itens do Inventário
Confronto 6, 7, 17, 28, 34 e 46
Afastamento 12, 13, 15, 21, 41 e 44
Autocontrole 10, 14, 35, 43, 54, 62 e 63
Suporte Social 8, 18, 22, 31, 42 e 45
Aceitação de Responsabilidade 9, 25, 29 e 51
Fuga e Esquiva 11, 16, 33, 40, 47, 50, 58 e 59
Resolução de Problemas 1, 26, 39, 48, 49 e 52
Reavaliação Positiva 20, 23, 30, 36, 38, 56 e 60
Fonte: elaborado pelo autor.
A partir da coleta de dados em campo, estes foram digitados em planilha do
Microsoft Windows Excel versão 2003, sistematizados e analisados utilizando
recursos do pacote STATISTICA versão 6.0 e interpretados.
41

O cálculo da matriz de correlação exclui todos os casos que têm falta de


dados em pelo menos uma das variáveis selecionadas, ou seja, pela exclusão
Casewise de dados faltantes. Desta maneira é possível obter uma matriz de
correlação mais fidedigna, onde todas as análises são obtidas a partir do mesmo
conjunto de observações.
A correlação é uma medida da relação entre duas ou mais variáveis. Os
coeficientes podem variar de -1,00 a 1,00. O valor de -1.00 representa uma
correlação negativa perfeita, enquanto um valor de 1,00 representa uma correlação
perfeita positiva. Um valor de 0,00 representa uma falta de correlação.
O uso deste pacote de análises estatísticas foi possível analisar a distribuição
dos dados através de histogramas, fazer correlação entre idade cronológica e tempo
de abstinência e as estratégias de Enfrentamento.
As informações analisadas também foram classificadas segundo dois
critérios: a) conforme a qualidade dos dados disponíveis em ruim, médio e bom e b)
padrão de utilização ou pequeno, médio e grande conforme o caso. Para estas
escalas de três posições optou-se pelo uso dos símbolos abaixo da tabela 09.

Tabela 09 – Significado de cada “símbolo”


Ruim Bom
ou Médio ou
Pequeno Grande
42

9 RESULTADOS

9.1 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA

A amostra foi composta por trinta e três (33) membros de Narcóticos


Anônimos em um universo de aproximadamente cento e vinte participantes
regulares.
No quesito idade, os sujeitos tinham uma média de 37,47 ± 10,31 anos com
um mínimo 22 e o máximo em 57 anos conforme gráfico 04.

Gráfico 04 – Distribuição da idade cronológica dos participantes da pesquisa. Fonte:


elaborado pelo autor.

Outras informações sócio-demográficas desta amostra revelaram que 94%


são homens e 6% mulheres, distribuídos conforme a etnia em 60,6% de brancos,
15,2% de negros e pardos e 6% de morenos. Quanto ao estado civil, 42,42%
encontram-se casados ou em união estável, e 57,6% são solteiros. Com relação a
formação acadêmica, 30,3% concluíram o Ensino Médio, 24,2% estão com o Ensino
Superior incompleto e 45,5% concluíram o Ensino Superior, inclusive com alguns
pós-graduados. No momento, 33,3% continua a estudar ao passo que 66,6%
interrompeu os estudos com ou sem intenção de retomá-los.
Perguntados sobre o exercício de alguma fé religiosa, 81,3% se declararam
praticantes e 15,7% se abstiveram de responder, conforme ilustra o gráfico 05.
43

Gráfico 05 – Prática religiosa dos pesquisados.

A idade mínima de início de uso foi de seis anos e a máxima foi de trinta
anos. A média de idade para inicio de uso nas drogas foi de 15,2 ± 4,2 anos.
Para a quantificação do tempo de abstinência, optou-se por dividir em faixas,
na quais foram classificados os pesquisados. A maior quantidade de abstinentes
está na faixa de 5 a 10 anos (27,3%), seguidos por 10 a 15 anos (18,2%), 3 a 6
meses (15,2%), 2 a 5 anos e até um mês (12,1%), 6 meses a 1 ano (9,1%) e 1 a 2
anos e acima de 15 anos (3 %) conforme Tabela 10.

Tabela 10 - Distribuição do tempo de abstinência


Tempo Abstinência No. de Sujeitos (%)
Menos de 1 mês
12,1
De 1 a 3 meses
0,0
De 3 a 6 meses
15,2
De 6 meses a 1 ano
9,1
De 1 a 2 anos
3,0
De 2 a 5 anos
12,1
De 5 a 10 anos
27,3
De 10 a 15 anos
18,2
Acima de 15 anos
3,0
TOTAL 100,0
44

A distribuição em forma de histograma (Gráfico 06) permite localizar a média


de tempo de recuperação (69,63 ± 66,99 meses) ressaltando, porém, que a
distribuição não se ajusta a uma distribuição normal (Gaussiana).

Gráfico 06 – Distribuição do tempo de abstinência dos pesquisados em meses.

9.2 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

De posse destas informações iniciais, foi confrontada a idade cronológica dos


participantes da pesquisa com o tempo de abstinência, sendo percebida a existência
de uma boa correlação entre elas cujo fator alcança 0,51 de um máximo de 1,00
conforme gráfico 07.

Gráfico 07 – Correlação entre tempo de abstinência (em meses) e idade cronológica (em
anos) dos pesquisados.
45

Em se tratando da média ponderada de uso das estratégias classificadas nos


oito fatores já definidos, foi identificado que as mais usadas são a Reavaliação
Positiva (62,17%), Suporte Social (62,12%), Resolução de Problemas (57,58%) e
Aceitação de Responsabilidade (53,03%), seguidas do Autocontrole (45,65%),
Afastamento (34,85%), Fuga-esquiva (32,32%) e Confronto (29,70%) conforme
Gráfico 08.

100,00

90,00
Soma dos individuos que usaram (2) e usaram muito (3)
80,00

70,00
62,12 62,17
60,00 57,58
53,03
%

50,00 45,65

40,00 34,85
32,32
29,70
30,00

20,00

10,00

0,00
confronto afastamento autocontrole suporte social aceita fuga-esquiva resolução de reavaliação
responsabilidade problemas positiva

Gráfico 08 – Quantidade de sujeitos que usaram as estratégias de enfrentamento.

Ao verificar os padrões de uso das estratégias de enfrentamento em função


do tempo de abstinência, constata-se a existência alterações na média ponderada
de uso, evidenciando que as crenças sobre o uso de drogas se alteram com o tempo
(gráfico 09).
É possível constatar que os sujeitos mais novos em recuperação do uso de
drogas em Narcóticos Anônimos estão buscando apoio junto a outros membros nos
próprios grupos de NA, algo que permanece ao longo do tempo. Aceitar a
responsabilidade de que tem um problema com drogas e que deve buscar resolver
estas dificuldades evitando confronto com situações que podem desencadear o
desejo de uso, bem como fugindo ou se esquivando de pessoas, lugares e hábitos
do passado de drogadição, ajuda na construção de uma visão mais positiva acerca
do problema e da vida com um todo.
46

100,0

90,0

80,0
>5anos
1 a 5 (%)
70,0 <1 (%)
Peercentagem

60,0

50,0

40,0

30,0

20,0

10,0

0,0
confronto afastamento autocontrole suporte social aceita fuga-esquiva resolução de reavaliação
responsabilidade problemas positiva

Gráfico 09 – Uso das estratégias de enfrentamento nas diferentes faixas de abstinência dos membros de NA em Salvador, Bahia
47

A intensidade de uso das estratégias de enfrentamento, analisadas neste


estudo, está ilustrada na tabela 11. O fato de serem muito ou pouco usadas não
representam, necessariamente, algo bom ou ruim. Apenas destaca o quanto estas
estratégias são usadas como ferramentas terapêuticas pelos integrantes de
Narcóticos Anônimos. Por exemplo, o fato do Confronto ser menos usado do que o
Autocontrole não o coloca em segundo plano. Destaca que para estabelecer um
processo de recuperação genuíno é tão importante ter bom Autocontrole como
pouco Confronto.

Tabela 11 – Uso das estratégias de Enfrentamento e no início da Abstinência às drogas em


NA.

As correlações estabelecidas entre os oito fatores do Inventário de Coping


de Lazarus e Folkemam (Confronto, Afastamento, Autocontrole, Suporte social,
Aceitação de responsabilidade, Fuga-esquiva, Resolução de problemas e
Reavaliação positiva) e o tempo de abstinência entre os membros de Narcóticos
Anônimos pesquisados estão ilustradas na Tabela 12.
Considerando que a correlação é uma medida da relação entre duas ou mais
variáveis e que os coeficientes podem variar de -1,00 a 1,00, ou seja, de uma
correlação negativa perfeita (-1.00), até uma correlação positiva perfeita (1,00).
Desta forma, foram selecionados os fatores com melhor correlação:
48

- Autocontrole,
- Aceitação de responsabilidade e
- Reavaliação positiva.
Os demais fatores, mesmo evidenciando utilização elevada por parte dos
membros de NA, apresentam coeficientes de correlação com a abstinência muito
pequenos.

Tabela 12 – Coeficientes de correlação das Estratégias de Enfrentamento em relação à


abstinência e sua qualidade
FATORES Coeficiente de correlação Qualidade da
com a abstinência correlação
Confronto 0,09
Afastamento - 0,14
Autocontrole - 0,36
Suporte social 0,06
Aceitação de responsabilidade - 0,32
Fuga-esquiva - 0,18
Resolução de problemas - 0,03
Reavaliação positiva 0,26

As análises a seguir mostram como ocorrem estas mudanças de uso das


estratégias ao longo do tempo de abstinência para os fatores que tem pequena
correlação ou pouca qualidade da informação como Confronto, Afastamento,
Suporte Social, Fuga-Esquiva e Resolução de Problemas.
Em seguida serão analisados os fatores cuja correlação apresentou os mais
altos valores: Autocontrole, Aceitação de Responsabilidade e Reavaliação Positiva.

9.2.1 Confronto X Abstinência - O início da recuperação do uso das drogas


em NA ocorre nos primeiros momentos de abstinência. O sujeito é estimulado a
buscar um menor confronto com as situações que de alguma forma ofereçam risco.
A quantidade de confrontos tende a ir aumentando com o tempo, uma vez que
aquelas situações que causavam estresse já não são tão desconfortáveis. Existe a
crença entre os membros de NA que se vence a questão das drogas desistindo de
confrontá-las, ou seja, aceitando e reconhecendo que tem problema de adicção
49

(NARCÓTICOS ANÔNIMOS, 1993). Isso explica a menor média de uso inicial desta
estratégia (31,07%) entre os sujeitos pesquisados o que é uma coisa boa, porem o
coeficiente de correlação do fator Confronto com a abstinência é baixo (0,09),
implicando que este fraco relacionamento entre os dois representa também pouca
alteração positiva a medida que os membros de NA vão aumentando seus tempos
limpos.

9.2.2 Afastamento x Abstinência - Com uma maior solidez no processo de


manutenção da abstinência, o afastamento dos possíveis ativadores da fissura,
usados em 38,9% das vezes por membros novos em NA, vai diminuindo a medida
que aumenta o tempo de abstinência, pela aquisição de novas crenças, substituição
de pensamentos disfuncionais, aquisição de novos repertórios, etc.. Os esforços
cognitivos de desprendimento representados pelo afastamento da situação
estressante, que funcionam como uma espécie de “gatilho” para o desejo de usar
drogas é um dos requisitos para a conquista da abstinência. Afastar-se de pessoas,
lugares e hábitos que compunham o ritual de uso de drogas, propicia
gradativamente alívio, certamente pela influencia de outras estratégias na alteração
de crenças originais. Nisso a freqüência às reuniões e eventos de NA, o convívio
com outros membros a adoção de novas e saudáveis rotinas de vida, contribuem
sobremaneira para a afirmação de um novo estilo de vida. Com correlação negativa
de -0,14, considerado baixo em relação a abstinência indica que os membros de NA
vão deixando, com o tempo, de se afastar dos ativadores da fissura.

9.2.3 Suporte Social x Abstinência - Se caracteriza pela busca de auxílio a


partir de elementos externos como informações, convívio com amigos, familiares ou
mesmo suporte emocional, porém, desde o período de abuso de substâncias até a
instalação da dependência, os sujeitos desenvolvem sentimentos de abandono em
intensidade variável, principalmente aqueles que já passaram por experiências de
recaída, ou seja, retornaram ao uso de substancias (COELHO, QUEIROZ E PEREZ-
RAMOS, 2008).
O suporte social, como estratégia de enfrentamento, é muito empregado
(57,1%) desde o início do processo de recuperação das drogas em Narcóticos
Anônimos, e mantém um crescente suave ao longo dos anos, apesar de possuir a
pior correlação com a abstinência (0,06) entre todos os fatores estudados.
50

O acolhimento dado ao sujeito pelos grupos de Narcóticos Anônimos com a


criação de laços de amizade e de interesses comuns termina por implicar
diretamente na melhoria de outras relações sociais, como por exemplo, as
familiares, profissionais e sociais de um modo geral.
Isso está de acordo com os resultados alcançados por Sanchez e Nappo
(2008) sobre a intervenção religiosa na recuperação de dependentes de drogas. As
pesquisadoras constataram que para seus entrevistados, o que os manteve na
abstinência do consumo de drogas...
[...] foi mais do que a fé religiosa. Contribuíram para isso o suporte, a
pressão positiva e o acolhimento recebido no grupo, e a oferta de
reestruturação da vida com o apoio incondicional dos líderes
religiosos (SANCHEZ e NAPPO, 2008, p. 271).

9.2.4 Fuga-esquiva x Abstinência – Usado em 37,5% da vezes no inicio da


recuperação tem uma correlação com a abstinência pequeno (-0,18). Como esta
correlação é negativa indica que as fugas-esquivas ocorrem menos com o tempo de
abstinência. A diminuição de uso desta estratégia é uma clara demonstração de que
houve uma modificação na forma com o agente estressor passou a ser visto pelo
sujeito. O esforço para escapar ou evitar o problema já não é mais tão necessário a
ponto de causar grandes mobilizações, indicando alteração no repertório de
experiências de enfrentamento.

9.2.5 Resolução de problemas x Abstinência - A Resolução de Problemas é a


tentativa de usar técnicas para manejar o desejo de usar drogas. Os esforços
focados sobre o problema buscam alterar a situação estressante ou as emoções
decorrentes. Apesar de ser uma estratégia muito utilizada pelos membros de NA
(55,7%) ao longo dos anos de recuperação, incorporando-se ao repertório do sujeito
a partir da aprendizagem decorrente do dia-a-dia, é uma das mais importantes
ferramentas terapêuticas em Narcóticos Anônimos, em que indivíduos mais
experientes ajudam outros a superarem suas dificuldades. Apesar disso, apresentou
a menor correlação com a abstinência entre todos os fatores estudados (-0,03)
demonstrando que permanece relativamente estável enquanto avança a
recuperação.
Os gráficos a seguir mostram de forma mais detalhada como ocorrem estas
mudanças nos intensidades médias de uso ao longo do tempo de abstinência.
51

9.3 ANÁLISES DOS RESULTADOS MAIS SIGNIFICATIVOS

A análise dos gráficos ressalta a forma como os membros de Narcóticos


Anônimos usam as estratégias de enfrentamento ao longo do tempo.
Na linha da abscissa destes gráficos está representada, em porcentagem, a
média ponderada de uso da respectiva estratégia analisada, e a linha da ordenada
representa o tempo de abstinência em meses. Os gráficos representam a relação
entre estas duas variáveis, ou seja, de que forma se mantém uma estratégia de
enfrentamento às drogas ao longo dos anos, a partir do registro da experiência de
membros com um dia até 16 anos longe das drogas.
O modelo cognitivo que norteia este trabalho faz referencia a Tríade
Cognitiva, ou seja, a conexão existente entre Pensamento, Sentimento e
Comportamento. Segundo Beck (1997) existe uma influencia mútua entre os
elementos desta tríade.
A existência de Crenças Centrais e Intermediárias que influenciam
Pensamentos Automáticos disfuncionais, gerando sentimentos desconfortáveis, está
na raiz da alimentação dos comportamentos ritualísticos que resulta no uso de
drogas. Os dados evidenciam que com o tempo de abstinência dos membros de NA
trouxe mudanças em varias destas crenças conforme ilustram os gráficos a seguir.

9.3.1 Autocontrole x Abstinência - O melhor índice de correlação negativa (-0,36)


entre Autocontrole e Abstinência (gráfico 10) indica que tentar regular os próprios
sentimentos e ações frente à fissura é uma prática muito usada (51,6%) no início da
recuperação para os sujeitos entrevistados, quando ainda contavam com pouco
tempo de abstinência.
52

Gráfico 10 – Autocontrole (%) vs. Abstinência (meses).

O autocontrole é inversamente proporcional ao tempo de abstinência, ou seja,


diminui a medida que vai aumentando a experiência de recuperação. Isso é um
indicador de que o alívio dos desejos de uso de drogas ou de suas fissuras tem sido
eficaz, ou seja, passa a ocorrer com maior intensidade a absorção ou correção de
crenças de autocontrole, ampliando o repertório já existente, que de tão repetidos se
automatizam cognitivamente. A incorporação de outras estratégias, atuando
conjuntamente, como o Suporte Social e a Reavaliação Positiva, etc., podem estar
contribuindo para esta diminuição.

9.3.2 Aceitação de responsabilidade x Abstinência - Muito utilizado na recuperação


às drogas em Narcóticos Anônimos (60,5%), conta com o reconhecimento do papel
do próprio sujeito na situação e na tentativa de recompor o problema.
Estratégia mais utilizada ainda no estágio inicial de recuperação vai aos
poucos diminuindo à medida que a recuperação se afirma pela abertura de outras
possibilidades, tanto pessoais como profissionais, que reforçam a decisão pela
abstinência, (Gráfico 11). Segundo Narcóticos Anônimos (1993, p. 10), “não somos
culpados pela nossa doença, mas somos responsáveis pela nossa recuperação” dá
a dimensão precisa desta Estratégia.
53

Gráfico 11 – Aceitação de responsabilidade (%) vs. Abstinência (meses).

Estando em franco processo de recuperação a automatização destes


processos cognitivos, libera o sujeito para atuar em áreas de sua própria vida que
foram prejudicadas pelo uso de SPA, bem como passe a atuar, aplicando estas
novas técnicas em áreas ainda inexploradas.

9.3.3 Reavaliação positiva x Abstinência - Estas estratégias procuram avaliar o que


tem de positivo nas situações estressantes com a criação de novos significados,
inclusive podendo apresentar uma dimensão religiosa ou espiritual. Neste ponto, o
pensamento de Marcel Mauss citado por Martins (2005, p. 56),
[...] se caracteriza pela presença da vontade, da pressão da
consciência de uns sobre outros, das comunicações de idéias, da
linguagem, das artes plásticas e estéticas, dos agrupamentos e
religiões [...] rompe com uma concepção positivista de sociedade que
privilegia um recorte empirista e materialista da realidade social para
incluir as dimensões gestuais, afetivas e ritualísticas.
54

Gráfico 12 – Reavaliação positiva (%) vs. Abstinência (meses)

O uso de elementos de reavaliação positiva coincide com as afirmações dos


autores Edwards, Marshall e Cook (1999) citados por Coelho, Queiroz e Perez-
Ramos (2008), para os quais “a reabilitação parece estar ligada ao
redimensionamento dos objetivos pessoais” (gráfico 12).
Este trabalho avaliou as alterações destas crenças ou os pensamentos
automáticos, permitindo constatar o efeito das mudanças cognitivas através destes
fatores indicando mudanças nas crenças básicas, com reflexos nas crenças
intermediárias, por fim nos pensamentos automáticos e consequentemente na
conduta dos sujeitos.
55

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho procurou-se demonstrar uma faceta da experiência contida nos


membros de Narcóticos Anônimos através dos saberes e práticas para “vencer” a
vontade de usar drogas e conseguirem manterem-se “limpos” ao longo de meses e
anos.
O papel de grupos de ajuda-mútua como Narcóticos Anônimos na
recuperação de dependentes químicos, os adictos, não só no Brasil como em vários
países, assim como o papel das relações sociológicas de reciprocidade, dar/receber,
fundamentados na teoria da Dádiva de Mauss.
Como objetivo considerou-se que existem peculiaridades relacionadas às
atividades desenvolvidas por membros de Narcóticos Anônimos que propiciam o
desenvolvimento de estratégias de enfrentamento ao desejo (ou fissura) de usar
drogas e que estas aumentam a probabilidade da abstinência.
Especificamente buscou-se descrever as estratégias de enfrentamento
(coping) usadas para manutenção da abstinência, nas situações que causam
estresse que estejam relacionadas ao desejo de usar drogas.
Analisados os resultados chegou-se às seguintes conclusões:
1. O uso das estratégias de enfrentamento muda de intensidade com o tempo.
2. Algumas estratégias muito utilizadas no início da recuperação às drogas
continuam importantes ao longo do tempo, como a Reavaliação Positiva, o
Suporte Social e a Resolução de Problemas.
3. Confronto foi a estratégia que apresentou a menor média de uso, refletindo uma
mudança de postura em relação as circunstâncias que oferecem risco.
Combinado com a Fuga-Esquiva geram um elemento de proteção a mais para o
indivíduo se manter abstinente.
4. As estratégias estatisticamente mais significativas foram o Autocontrole, a
Aceitação de Responsabilidade e a Reavaliação Positiva.
5. O uso do Autocontrole é muito utilizado por membros de Narcóticos Anônimos,
mantendo uma alta correlação inversa com a abstinência, ou seja, o avanço do
tempo de abstinência diminui o uso do Autocontrole. Isso é explicado pela
absorção de novas crenças, ampliando o repertório já existente, que repetido,
automatizam-se cognitivamente.
56

6. Aceitação de Responsabilidade é uma das mais importantes estratégias, sendo


usada em 60,5% das vezes. Desta forma, constitui-se pelo reconhecimento do
papel do próprio sujeito na situação-problema na tentativa de reparação.
7. Reavaliação Positiva tem seu uso aumentado com o tempo. Isso é evidencia de
uma mudança de postura em relação ao mundo que cerca o indivíduo com a
criação de novos significados e novas interpretações.
8. A estrutura das redes sociais de ajuda-mutua constituída pelos grupos de
Narcóticos Anônimos inserem-se nas discussões sobre os sistemas de
reciprocidade, e vai ao encontro da Teoria da Dádiva de Mauss.

Por fim, o processo de manutenção da recuperação ao uso de drogas nestes


grupos, enriquecido das mudanças de ambientes e de inserção em redes saudáveis
de relações interpessoais, é de suma importância para garantir um período
considerável de recuperação, funcionando muito como uma espécie de portal para
um convívio sadio com a sociedade encarando os desafios com um olhar
diferenciado, munidos de repertório adequado de enfrentamento.
Em outras palavras, é possível parar de usar drogas, perder o desejo de usá-
las e encontrar uma nova maneira de viver sem elas.
57

REFERÊNCIAS

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Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre
Universitários das 27 Capitais Brasileiras/Secretaria Nacional de Políticas sobre
Drogas; GREA/IPQ-HC/FMUSP. Brasília: SENAD, 2010. 284 p. Disponível em
http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Publicacoes/Univ
ersitarios_2010/328160.pdf. Acessado em 07 set 2010 às 12h.

ANTONIAZZI, A. S.; DELL'AGLIO, D. D.; BANDEIRA, D. R. O conceito de Coping:


uma revisão teórica. Estudos de Psicologia. Natal, v. 3, n. 2, p. 273-294. Jul/dez,
1998. Disponível em http://hdl.handle.net/10183/23114. Acessado em 09 fev 2010
às 17h28.

ARAUJO, R. B.; PANSARD, M.; BOEIRA, B. U.; ROCHA, N. S. As estratégias de


coping para o manejo da fissura de dependentes de crack. Revista Científica do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre v. 10, n. 1, p. 36-42, 2010. Disponível
em http://seer.ufrgs.br/index.php/hcpa/article/view/11572/7509. Acessado em 06
nov 2010 às 21h30.

BAHIA. Coordenação de Documentação e Estatística Policial da Polícia Civil do


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64

APÊNDICE A

FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS


PSICOLOGIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


Pesquisa: ABSTINÊNCIA A DROGAS EM MEMBROS DE NARCÓTICOS
ANÔNIMOS E AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO.

A. Proposta

José Lamartine de Andrade Lima Neto, estudante do curso de Psicologia da


Faculdade de Tecnologia e Ciências realizará uma pesquisa para identificar quais as
variáveis reforçadoras da abstinência em Narcóticos Anônimos (NA) na cidade do
Salvador, para a qual concordo com sua presença dentro das salas de reuniões.

B. A participação é voluntária

Estou sendo solicitado(a) a aceitar que questionários sobre o tema apresentado


sejam aplicados a membros de NA, sem nenhum ganho posterior e estou ciente que
isso é um ato voluntário.

C. Procedimentos

Concordar em participar deste estudo, significa que aceitarei a visita dos


pesquisadores em horários previamente acordados. O tempo das visitas poderá
variar de acordo com a disponibilidade dos pesquisadores e em acordo com o
pesquisado.

D. Riscos e desconfortos

A participação nesta pesquisa, não trará nenhum risco aos envolvidos. Caso não se
sinta à vontade, a qualquer momento poderão comunicar ao pesquisador a decisão
de não mais participar, assim como poderão pedir mais informações sobre o estudo
sempre que acharem necessário.

E. Confidencialidade

Devido a participação nesta pesquisa é possível que os pesquisadores cheguem a


saber de aspectos privados e íntimos da vida dos pesquisados. Comprometemo-nos
a proteger a privacidade dos pesquisados(as), por tanto não haverá nenhuma forma
de identificar os participantes desta pesquisa, garantindo assim seu anonimato. Os
nomes não aparecerão em nenhum documento deste trabalho, bem como não os
65

identificaremos. Apenas neste documento de consentimento e esclarecimento, que


será guardado pelos pesquisadores em um lugar separado de todos os outros
materiais da pesquisa.

F. Custos e Benefícios

NA não terá nenhum gasto para participar deste estudo, apenas o tempo que é
dedicado a atender os pesquisadores. Também não haverá benefícios diretos para
os participantes desta pesquisa. Porém, assumimos o compromisso de realizar uma
apresentação sobre o tema pesquisado, em data e horário a ser acertado, quando
da conclusão desta pesquisa.

G. Consentimento

Declaro que este documento me foi explicado e todas as minhas duvidas foram
esclarecidas.

Nome do pesquisador: ...........................................................................

Data ....../................./...........

Nome do(a) participante: .................................................................................

.....................................................................
Assinatura do(a) participante (a)

.....................................................................
Assinatura do pesquisador.
66

APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO SÓCIO DEMOGRÁFICO

Pesquisa: Abstinência a Drogas Em Membros de Narcóticos Anônimos e as


Estratégias de Enfrentamento

Idade atual
Sexo
Escolaridade
Estado civil
Fonte de renda
Etnia
Idade de início de uso __________anos
Ultimo dia de consumo de drogas
Idade em NA ____a,_____m
Tempo de abstinência ____a,_____m,____d
No. reuniões semanais em NA
psiquiatria
12 passos
No. de
outros
internações
67

ANEXO A - INVENTÁRIO DE ESTRATÉGIAS DE COPING DE FOLKMAN E


LAZARUS

Leia atentamente cada item abaixo, fazendo um círculo na categoria apropriada ao


que você fez na ultima vez que sentiu vontade de usar drogas, de acordo com a
seguinte classificação:
0 não usei essa estratégia
1 usei um pouco
2 usei bastante
3 usei em grande quantidade

1. Concentrei-me no que deveria ser feito em seguida, no próximo passo. 0 1 2 3


2. Tentei analisar o problema para entendê-lo melhor. 0 1 2 3
3. Procurei trabalhar ou fazer alguma atividade para me distrair. 0 1 2 3
4. Deixei o tempo passar - a melhor coisa que poderia fazer era esperar - o tempo é o 0 1 2 3
melhor remédio.
5. Procurei tirar alguma vantagem da situação. 0 1 2 3
6. Fiz alguma coisa que acreditava não daria resultados, mas ao menos estava fazendo 0 1 2 3
alguma coisa.
7. Tentei encontrar a pessoa responsável para mudar suas idéias. 0 1 2 3
8. Conversei com outra(s) pessoa (s) sobre o problema, procurando mais dados sobre a 0 1 2 3
situação.
9. Critiquei-me, repreendi-me. 0 1 2 3
10. Tentei não fazer nada que fosse irreversível, procurando deixar outras opções. 0 1 2 3
11. Esperei que um milagre acontecesse. 0 1 2 3
12. Concordei com o fato, aceitei o meu destino. 0 1 2 3
13. Fiz como se nada tivesse acontecido. 0 1 2 3
14. Procurei guardar para mim mesmo (a) os meus sentimentos. 0 1 2 3
15. Procurei encontrar o lado bom da situação. 0 1 2 3
16. Dormi mais que o normal. 0 1 2 3
17. Mostrei a raiva para as pessoas que causaram o problema. 0 1 2 3
18. Aceitei a simpatia e a compreensão das pessoas. 0 1 2 3
19. Disse coisas a mim mesmo (a) que me ajudassem a sentir bem. 0 1 2 3
20. Inspirou-me a fazer algo criativo. 0 1 2 3
21. Procurei a situação desagradável. 0 1 2 3
22. Procurei ajuda profissional. 0 1 2 3
23. Mudei ou cresci como pessoa de uma maneira positiva. 0 1 2 3
24. Esperei para ver o que acontecia antes de fazer alguma coisa. 0 1 2 3
25. Desculpei ou fiz alguma coisa para repor os danos. 0 1 2 3
26. Fiz um plano de ação e o segui. 0 1 2 3
27. Tirei o melhor que poderia da situação, que não era o esperado. 0 1 2 3
28. De alguma forma extravasei os meus sentimentos. 0 1 2 3
29. Compreendi que o problema foi provocado por mim. 0 1 2 3
68

30. Saí da experiência melhor do que eu esperava. 0 1 2 3


31. Falei com alguém que poderia fazer alguma coisa concreta sobre o problema. 0 1 2 3
32. Tentei descansar, tirar férias a fim de esquecer o problema. 0 1 2 3
33. Procurei me sentir melhor, comendo, fumando, utilizando drogas ou medicação. 0 1 2 3
34. Enfrentei como um grande desafio, fiz algo muito arriscado. 0 1 2 3
35. Procurei não fazer nada apressadamente, ou seguir o meu primeiro impulso. 0 1 2 3
36. Encontrei novas crenças. 0 1 2 3
37. Mantive meu orgulho não demonstrando os meus sentimentos. 0 1 2 3
38. Redescobri o que é importante na vida. 0 1 2 3
39. Modifiquei aspectos da situação para que tudo desse certo no final. 0 1 2 3
40. Procurei fugir das pessoas em geral. 0 1 2 3
41. Não deixei me impressionar, recusava-me a pensar muito sobre essa situação. 0 1 2 3
42. Procurei um amigo ou parente para pedir conselhos. 0 1 2 3
43. Não deixei que os outros soubessem da verdadeira situação. 0 1 2 3
44. Minimizei a situação recusando-me a me preocupar seriamente com ela. 0 1 2 3
45. Falei com alguém sobre como estava me sentindo. 0 1 2 3
46. Recusei recuar e batalhei pelo que eu queria. 0 1 2 3
47. Descontei minha raiva em outra(s) pessoa (s). 0 1 2 3
48. Busquei nas experiências passadas uma situação similar. 0 1 2 3
49. Eu sabia o que deveria ser feito, portanto dobrei meus esforços para fazer o que 0 1 2 3
fosse necessário.
50. Recusei a acreditar que aquilo estava acontecendo. 0 1 2 3
51. Prometi a mim mesmo que as coisas serão diferentes da próxima vez. 0 1 2 3
52. Encontrei algumas soluções diferentes para o problema. 0 1 2 3
53. Aceitei, nada poderia ser feito. 0 1 2 3
54. Procurei não deixar que meus sentimentos interferissem muito nas outras coisas que 0 1 2 3
eu estava fazendo.
55. Gostaria de poder mudar o que tinha acontecido ou como me senti. 0 1 2 3
56. Mudei alguma coisa em mim, modifiquei-me de alguma forma. 0 1 2 3
57. Sonhava acordado (a) ou imaginava um lugar ou tempo melhores do que aqueles 0 1 2 3
em que eu estava.
58. Desejei que a situação acabasse ou que de alguma forma desaparecesse. 0 1 2 3
59. Tinha fantasias de como as coisas iriam acontecer, como se encaminhariam. 0 1 2 3
60. Rezei. 0 1 2 3
61. Preparei-me para o pior. 0 1 2 3
62. Analisei mentalmente o que fazer e o que dizer. 0 1 2 3
63. Pensei em uma pessoa que admiro e em como ela resolveria a situação e a tomei 0 1 2 3
como modelo.
64. Procurei ver as coisas sob o ponto de vista da outra pessoa. 0 1 2 3
65. Eu disse a mim mesmo(a) “que as coisas poderiam ter sido piores”. 0 1 2 3
66. Corri, ou fiz exercícios. 0 1 2 3
69

ANEXO B
70

ANEXO C - OS 12 PASSOS DE NARCÓTICOS ANÔNIMOS

1) Admitimos que éramos impotentes perante a nossa adicção, que nossas


vidas tinham se tornado incontroláveis.

2) Viemos a acreditar que um Poder maior do que nós poderia devolver-nos


à sanidade.

3) Decidimos entregar nossa vontade e nossas vidas aos cuidados de Deus,


da maneira como nós O compreendíamos.

4) Fizemos um profundo e destemido inventário moral de nós mesmos.

5) Admitimos a Deus, a nós mesmos e a outro ser humano a natureza exata


das nossas falhas.

6) Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses


defeitos de caráter.

7) Humildemente pedimos a Ele que removesse nossos defeitos.

8) Fizemos uma lista de todas as pessoas que tínhamos prejudicado, e


dispusemo-nos a fazer reparações a todas elas.

9) Fizemos reparações diretas a tais pessoas, sempre que possível, exceto


quando fazê-lo pudesse prejudicá-las ou a outras.

10) Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados,


nós o admitíamos prontamente.

11) Procuramos, através de prece e meditação, melhorar o nosso contato


consciente com Deus, da maneira como nós O compreendíamos, rogando
apenas o conhecimento da Sua vontade em relação a nós, e o poder de
realizar essa vontade.

12) Tendo experimentado um despertar espiritual, como resultado destes


passos, procuramos levar esta mensagem a outros adictos e praticar estes
princípios em todas as nossas atividades.
71

ANEXO D - AS 12 TRADIÇÕES DE NARCÓTICOS ANÔNIMOS

1) O nosso bem-estar comum deve vir em primeiro lugar; a recuperação


individual depende da unidade de NA.

2) Para nosso propósito comum existe apenas uma única autoridade – um


Deus amoroso que pode se expressar na nossa consciência coletiva.
Nossos líderes são apenas servidores de confiança, eles não governam.

3) O único requisito para ser membro é o desejo de parar de usar.

4) Cada grupo deve ser autônomo, exceto em assuntos que afetem outros
grupos ou NA como um todo.

5) Cada grupo tem apenas um único propósito primordial – levar a


mensagem ao adicto que ainda sofre.

6) Um grupo de NA nunca deverá endossar, financiar ou emprestar o nome


de NA a nenhuma sociedade relacionada ou empreendimento alheio, para
evitar que problemas de dinheiro, propriedade ou prestígio nos desviem do
nosso propósito primordial.

7) Todo grupo de NA deverá ser totalmente auto-sustentado, recusando


contribuições de fora.

8) Narcóticos Anônimos deverá manter-se sempre não profissional, mas


nossos centros de serviço podem contratar trabalhadores especializados.

9) NA nunca deverá organizar-se como tal; mas podemos criar quadros de


serviço ou comitês diretamente responsáveis perante àqueles a quem
servem.

10) Narcóticos Anônimos não tem opinião sobre questões alheias; portanto o
nome de NA nunca deverá aparecer em controvérsias públicas.

11) Nossa política de relações públicas baseia-se na atração, não em


promoção; na imprensa, rádio e filmes precisamos sempre manter o
anonimato pessoal.

12) O anonimato é o alicerce espiritual de todas as nossas Tradições,


lembrando-nos sempre de colocar princípios acima de personalidades.

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