Você está na página 1de 93

Campus de Ilha Solteira

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

“Representação de Linhas de Transmissão, Utilizando


Elementos Discretos de Circuitos, no Domínio das Fases.”

RODRIGO CLEBER DA SILVA

Orientador: Prof. Dr. Sérgio Kurokawa

Dissertação apresentada à Faculdade de


Engenharia - UNESP – Campus de Ilha
Solteira, para obtenção do título de
Mestre em Engenharia Elétrica.
Área de Conhecimento: Automação.

Ilha Solteira – SP
Março/2012
FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação


Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação da UNESP - Ilha Solteira.

Silva, Rodrigo Cleber da.


S586r Representação de linhas de transmissão, utilizando elementos discretos de circuitos,
no domínio das fases / Rodrigo Cleber da Silva. -- Ilha Solteira : [s.n.], 2012
92 f. : il.

Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia de


Ilha Solteira. Área de conhecimento: Automação, 2012

Orientador: Sérgio Kurokawa


Inclui bibliografia

1. Parâmetros discretos. 2. Transitórios eletromagnéticos. 3. Energia elétrica –


Transmissão. 4. Linhas de transmissão. 5. Modelos de linhas de transmissão.
UneSp A UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
CAMPUS DE ILHA SOLTEIRA
FACULDADE DE ENGENHARIA DE ILHA SOLTEIRA

CERTIFICADO DE APROVAÇÃO

T Í T U L O : Representação de Linhas de Transmissão, Utilizando Elementos Discretos de Circuitos,


no Domínio das Fases

AUTOR: R O D R I G O C L E B E R DA S I L V A
O R I E N T A D O R : Prof. Dr. S E R G I O K U R O K A W A

Aprovado como parte das exigências para obtenção do Título de Mestre em Engenharia Elétrica ,
Área: A U T O M A Ç Ã P r P e í a C o m i s s ã o Examinadora:

E ^ r D r . S g ^ G I O KUROKAWA
Departamento de Engenharia Elétrica / Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira

J N A N D O BOVOLATO
Engenharia Elétrica / Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira

Departamento de Tecnologia - DTEC / Universidade Estadual de Feira de Santana

Data da realização: 02 de março de 2012.


Dedico este trabalho primeiramente a Deus,
aos meus pais, minhas irmãs, a Fabiana da
Silva de Campos, a todos os companheiros de
repúblicas e a todos que acreditaram em mim
nessa jornada.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a Deus por todas as oportunidades fornecidas


para realização do curso de pós-graduação em uma universidade conceituada e a saúde
durante todo esse tempo.
Aos meus pais, Olinda Aparecida dos Santos da Silva e Paulo Cleber da Silva, pela a
oportunidade e por acreditarem em mim todos esses anos. As minhas irmãs, Bruna Lidiane da
Silva e Thamara Thaiane da Silva, por torcerem por mim nessa jornada.
Aos companheiros de república, aos todos os outros familiares e todos os amigos em
especial a minha namorada Fabiana da Silva de Campos que me ajudaram em momentos
difíceis.
Ao Prof. Dr. Sérgio Kurokawa pela oportunidade dada para realização deste trabalho.
Por fim, não menos importante, ao CNPq pelo auxílio financeiro para o
desenvolvimento desta pesquisa.
RESUMO

Neste trabalho será mostrado o desenvolvimento de dois modelos de linhas de


transmissão, baseados em elementos discretos de circuitos, que fornecem respostas
diretamente no domínio do tempo e nas fases. Os dois modelos propostos partem da hipótese
de que um pequeno segmento de linha de transmissão pode ser representado por um circuito
. Hipótese esta já validada para linhas monofásicas por diversos autores, e que neste trabalho
será utilizada para representar pequenos segmentos de linhas bifásicas e trifásicas. Deste
modo, tais linhas serão representadas por uma grande quantidade de blocos (constituídos de
elementos discretos de circuitos que representam um pequeno segmento de linha) conectados
em cascata. No primeiro modelo proposto, válido para representar linhas idealmente
transpostas, as fases de cada um dos pequenos segmentos de linha são separados em seus
modos de propagação, e as correntes e tensões são calculadas no domínio modal. No entanto a
conversão fase-modo-fase está inserida nas equações de estado que descrevem as correntes e
tensões ao longo da linha, sendo que não há a necessidade do usuário do modelo conhecer a
teoria de representação de linhas no domínio modal. Uma vez que o modelo não usa
explicitamente o processo de decomposição modal, neste trabalho o mesmo será considerado
como sendo um modelo desenvolvido no domínio das fases sem o uso explícito da teoria de
decomposição modal. Este modelo pode ser utilizado para representar linhas que podem ter
suas fases desacopladas por matrizes reais e invariáveis em relação à frequência. A
representação de pequenos segmentos de linhas por elementos discretos de circuitos também
foi aplicada em linhas bifásicas e trifásicas sem plano de simetria vertical. Neste caso, devido
ao fato de que as matrizes que separam a linha em seus modos de propagação não serem reais
e invariáveis em relação à frequência, o modelo foi desenvolvido diretamente no domínio das
fases sem a utilização de matrizes de decomposição modal.

Palavras-chave: Circuitos π. Transitórios eletromagnéticos. Linhas de transmissão. Modelos


de linha de transmissão.
ABSTRACT

This paper will show the development of two models of transmission lines,
based on discrete circuit elements, which provide answers directly in the time domain
and phase. The two proposed models start from the assumption that a small segment of
transmission line can be represented by a -circuit, this hypothesis has already been
validated for single-phase by several authors and this work will be used to represent
small segments of lines biphasic and triphasic. Thus, these lines will be represented by a
large number of blocks (consisting of discrete circuit elements that represent a small
segment of the line) in cascade. In the first model, valid for ideally transposed lines
represent the phases of each small line segments are separated into their modes of
propagation and the currents and voltages are calculated in the modal domain. However
the conversion phase-mode-phase is inserted into the state equations describing the
currents and voltages along the line being that there is no need for the user the model to
know representation theory of modal lines. Since the model does not explicitly use
modal decomposition process, this paper it will be considered to be a model developed
in the field of the phases without the explicit use of modal decomposition theory. This
model can be used to represent lines that may have decoupled phases for real matrices
and invariant with respect to frequency. The representation of small line segments by
discrete circuit elements has also been applied in biphasic and triphasic lines without
vertical symmetry plane. In this case, due to the fact that the matrices that separate line
in their modes of propagation are not real and invariant with respect to frequency, the
model was developed directly in the field of the phases without the use of modal
decomposition matrices.

Keywords: π-circuits. Electromagnetic transients. Transmission lines. Transmission line


models.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 8

2 EQUAÇÕES DE CORRENTES E TENSÕES DE LINHAS 12


DE TRANSMISSÃO
2.1 Introdução 12
2.2 Linhas monofásicas 12
2.2.1 Equações de corrente e tensão no domínio do tempo 12
2.2.2 Equações de corrente e tensão no domínio da frequência 15
2.3 Linhas com mais de uma fase 17
2.4 Conclusão 22

3 REPRESENTAÇÃO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO 24


IDEALMENTE TRANSPOSTAS
3.1 Introdução 24
3.2 Representação de linha bifásica que possui plano de simetria 24
vertical
3.3 Representação de linhas trifásicas idealmente transpostas 37
3.4 Validação dos modelos desenvolvidos 51
3.4.1 Validação do modelo para linhas bifásicas com plano de 51
simetria vertical
3.4.2 Validação do modelo para linhas trifásicas idealmente 54
transposta
3.5 Conclusão 57

4 REPRESENTAÇÃO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO 58


COM OU SEM TRANSPOSIÇÃO
4.1 Introdução 58
4.2 Algumas considerações a respeito do modelo proposto 58
4.3 Representação de linhas bifásica 60
4.4 Representação de linhas trifásicas 66
4.5 Validação dos modelos desenvolvidos 73
4.5.1 Modelo para linha bifásica 74
4.5.2 Validação do modelo para linhas trifásicas 78
4.6 Conclusão 83

CONCLUSÕES 85

REFERÊNCIAS 87

ANEXO A REPRESENTAÇÃO DE LINHAS TRIFÁSICAS NO 89


DOMÍNIO MODAL
A.1 Introdução 89
A.2 Linha de transmissão idealmente transposta 89
A.3 Linha de transmissão não idealmente transposta com plano 91
de simetria vertical
8

1 INTRODUÇÃO

Sabe-se que uma linha de transmissão de energia elétrica possui uma característica
básica que é o fato de seus parâmetros longitudinais e transversais serem distribuídos ao longo
do comprimento da mesma. Esta característica, juntamente com o fato de que os parâmetros
longitudinais da linha são variáveis em função da frequência, tornam a linha de transmissão
de energia elétrica um elemento com certas particularidades que devem ser levadas em
consideração no momento de sua representação (MARTI, 1982).
A natureza distribuída dos parâmetros longitudinais de uma linha de transmissão
deve ser levada em conta, principalmente, em estudos e simulações de transitórios
eletromagnéticos resultantes de operações de manobras e de descargas atmosféricas que
ocorrem na linha ou próximas à mesma. Nestas situações, as correntes e tensões transitórias
na linha assumem características tais que uma perfeita compreensão das mesmas somente é
possível se tais grandezas forem tratadas como ondas que se propagam ao longo da linha de
transmissão. Esta particularidade faz com que diversos pesquisadores, desde 1960, trabalhem
no desenvolvimento de modelos de linhas de transmissão voltados para análise de transitórios
eletromagnéticos que ocorrem no sistema elétrico devido à distúrbios verificados na linha.
Os parâmetros longitudinais e transversais de uma linha de transmissão de energia
são definidos em função das características geométricas da linha, do meio que envolve seus
condutores (no caso o ar, em se tratando de linhas aéreas) e das características elétricas e
magnéticas dos condutores e do solo sobre o qual a linha foi construída (HOFMANN, 2003).
Todos estes fatores fazem com que os parâmetros longitudinais das linhas aéreas sejam
variáveis em relação à frequência.
Para análise de transitórios eletromagnéticos resultantes de operações de manobras e
de chaveamentos que ocorrem em linhas de transmissão monofásicas, pode-se representar tal
linha por meio de uma cascata de circuitos  (MAMIS, 2005).
O modelo de linha, em que a mesma é representada por meio de uma cascata de
circuitos , pode ser utilizado para representar linhas polifásicas. Neste caso, a linha de n
fases acopladas devido às impedâncias mútuas deve ser separada em seus n modos de
propagação que se comportam, no domínio modal, como n linhas monofásicas totalmente
desacopladas. Em seguida, cada modo de propagação pode ser representado por meio de uma
cascata de circuitos  (MAMIS, 2005). Uma vez calculadas as correntes e tensões em cada
9

um dos modos de propagação, é possível obter as correntes e tensões nas fases da linha. A
conversão fase-modo-fase dá-se por meio do uso de uma matriz de decomposição modal
adequada (WEDEPHOL, 1996).
A representação de linhas polifásicas por meio do modelo descrito anteriormente
tem como vantagem o fato de ser um modelo desenvolvido diretamente no domínio do tempo,
que pode ser facilmente implementado em programas clássicos utilizados em simulações de
transitórios eletromagnéticos em sistemas de energia elétrica (TAVARES, 1999) (como
exemplo de tais programas, é possível citar o Electromagnetic Transients Program - EMTP
(DOMMEL, 1996)). Este modelo também pode ser descrito na forma de equações de estado e
ser utilizado de modo independente sem a necessidade de se dispor de um programa do tipo
EMTP (COSTA, 2010, 2011; KUROKAWA, 2009, 2010).
Com o intuito de facilitar a transformação fase-modo-fase, neste trabalho foi
desenvolvido um modelo de linha de transmissão bifásica e trifásica, fundamentado na cascata
de circuitos π, que a partir da omissão da matriz de transformação é possível obter as
correntes e tensões em qualquer ponto da linha diretamente no domínio do tempo e das fases,
conforme mostrado na figura 1.

Figura 1 – Diagramas de blocos do modelo clássico modal e do modelo proposto.

(a) (b)

Fonte: Produção do próprio autor.

A representação de linhas polifásicas por meio de cascatas de circuitos  tem como


desvantagem o fato de que é necessário representar a linha no domínio modal, onde os modos
de propagação comportam-se como linhas monofásicas independentes. Tal representação
depende da utilização de uma matriz de decomposição modal que, exceto em casos bem
10

específicos, são matrizes pertencentes ao domínio dos números complexos e que não podem
ser diretamente representadas no domínio do tempo.
Somente linhas bifásicas com plano de simetria vertical e linhas trifásicas
idealmente transpostas podem ser separadas em seus modos de propagação a partir de
matrizes reais e independentes da frequência.
Linhas trifásicas não idealmente transpostas, mas que possuem um plano de simetria
vertical também podem, com algumas aproximações, serem representadas no domínio modal.
Assim a representação de linhas de transmissão por meio de cascata de circuitos  é,
até o presente momento, um modelo restrito às linhas idealmente transpostas e/ou que
possuem um plano de simetria vertical. No entanto tal restrição deixaria de existir caso a
necessidade de se utilizar a representação modal, para separar a linha de n fases em n linhas
monofásicas, fosse eliminada.
Deste modo, surgiu a idéia de se desenvolver um modelo de linha de transmissão
trifásica utilizando as mesmas hipóteses utilizadas quando se representa uma linha monofásica
por meio de uma cascata de circuitos , que são:

i) Uma linha longa pode ser representada por uma grande quantidade de
pequenos segmentos de linha;
ii) Um pequeno segmento de linha pode ser representado por elementos discretos
de circuitos (elementos R, L, G e C).

Com base nas hipóteses i e ii, pode-se representar cada fase de uma linha trifásica
(ou com mais fases) como sendo uma cascata de circuitos , desde que seja levado em conta o
acoplamento existente entre as fases desta linha. Deste modo, um pequeno segmento de uma
linha bifásica ou trifásica seria representado por um circuito constituído pelas impedâncias
longitudinais próprias e mútuas e pelas condutâncias entre cada uma das fases e o solo e entre
as fases.
Com base na hipótese de que uma linha bifásica ou trifásica pode ser representada
por uma grande quantidade de pequenos segmentos de linha bifásica ou trifásica, é possível
então obter um modelo de linha bifásica e trifásica diretamente no domínio das fases, ou seja,
sem a necessidade de se separar a linha em seus modos de propagação. Neste modelo, as
correntes e tensões ao longo da linha serão escritas, no domínio do tempo, na forma de
equações de estado.
11

O modelo para linha bifásica ou trifásica, proposto neste trabalho, poderá ser
utilizado em simulações de transitórios eletromagnéticos resultantes de operações de
manobras e chaveamentos que ocorrem em sistemas de energia elétrica, tendo como principal
característica o fato de que o mesmo poderá ser utilizado para representar, diretamente no
domínio do tempo, linhas com e/ou sem plano de simetria vertical. Pode-se dizer que, em se
tratando de modelos a parâmetros discretos, o modelo proposto será mais preciso que os
modelos existentes, pois o mesmo não é baseado na teoria de decomposição modal que, na
maioria das vezes, é utilizada de forma aproximada.
Neste trabalho, inicialmente será apresentado uma introdução sobe a teoria de linhas
de transmissão, onde serão mostradas representações de linhas monofásicas e polifásicas. No
capítulo 3 será mostrado o desenvolvimento do modelo proposto I, este modelo baseia-se no
modelo modal clássico, embutindo as transformações fase-modo-fase de modo a obter uma
única equação de estado. Por fim, será desenvolvido um novo modelo de linha de transmissão
polifásica, sendo que este representado diretamente no domínio das fases e do tempo sem o
uso de qualquer matriz de decomposição modal.
12

2 EQUAÇÕES DE CORRENTES E TENSÕES DE LINHAS DE


TRANSMISSÃO

2.1 Introdução

As linhas de transmissão são caracterizadas por sua capacidade de conduzir a energia


eletromagnética, isto ocorre porque as linhas de transmissão apresentam intrinsicamente
elementos resistivos, capacitivos e indutivos (CHIPMAN, 1976).
Nesse capítulo serão mostradas as equações de correntes e tensões ao longo de linhas
de transmissão monofásicas e polifásicas.

2.2 Linhas monofásicas

2.2.1 Equações de corrente e tensão no domínio do tempo

A figura 2 mostra um segmento de linha de comprimento infinitesimal.

Figura 2 – Circuito equivalente de uma linha de transmissão monofásica no domínio do tempo


de comprimento infinitesimal.

Fonte: Chipman, 1976.

No circuito mostrado na figura 2, R e L são, respectivamente, a resistência e a


indutância longitudinal por unidade de comprimento da linha enquanto que C e G são a
capacitância e a condutância transversal da linha por unidade de comprimento. As grandezas
13

i(x,t) e v(x,t) são, respectivamente, a corrente longitudinal e a tensão transversal da linha no


instante t, na posição x ao longo da linha.
Aplicando a 1ª Lei de Kirchhoff (Lei das correntes ou Leis dos nós) no circuito
mostrado na figura 2, obtém-se:
v  x  x, t 
i  x  x, t   i  x, t   Gx.v  x  x, t   Cx (1)
t

Aplicando a 2ª Lei de Kirchhoff (Lei das tensões ou Lei das malhas) no circuito
mostrado na figura 2, obtém-se:

i  x, t 
v  x  x, t   v  x, t   Rx.i  x, t   Lx (2)
t

Dividindo as equações (1) e (2) por Δx e calculando o limite destas equações, para
Δx0, obtém-se:

i  x, t  v  x, t 
 Gv  x, t   C (3)
x t

v  x, t  i  x, t 
  Ri  x, t   L (4)
x t

As equações (3) e (4) são as equações diferenciais, de primeira ordem, que descrevem
o comportamento das tensões e correntes em uma posição x da linha, em um instante de
tempo t. As soluções analíticas destas equações somente são conhecidas para o caso de linhas
sem perdas (R=0 e G=0).
Considerando uma linha sem perdas, as equações (3) e (4) passam a ser escritas como
sendo:

i  x, t  v  x, t 
 C (5)
x t

v  x, t  i  x, t 
 L (6)
x t
14

Derivando a equação (5) em relação à x obtém-se (NAIDU, 1985):

 2i  x, t    v  x, t  
2
 C   (7)
x x  t 

 2i  x, t    v  x, t  
2
 C   (8)
x t  x 

Substituindo a equação (6) na equação (8), obtém-se:

 2i  x, t   i  x, t  
2
 C  L  (9)
x t  t 

 2i  x, t   2i  x, t 
 LC (10)
x 2 t 2

Derivando a equação (6) em relação à x, obtém-se (NAIDU, 1985):

 2 v  x, t    i  x, t  
2
 L   (11)
x x  t 

 2 v  x, t    i  x, t  
 L   (12)
x 2 t  x 

Substituindo a equação (5) na equação (12), obtém-se:

 2 v  x, t   v  x, t  
2
 L  C  (13)
x t  t 

 2 v  x, t   2 v  x, t 
 LC (14)
x 2 t 2

As equações (10) e (14) mostram que, para o caso de uma linha de transmissão sem
15

perdas, a corrente e a tensão ao longo da mesma comportam-se como ondas (CHIPMAN,


1976).

2.2.2 Equações de corrente e tensão no domínio da frequência

As soluções das equações diferenciais de corrente e tensão para uma linha monofásica
com perdas podem ser obtidas no domínio da frequência. Neste caso, deve-se converter as
equações (3) e (4) para o domínio da frequência, obtendo-se (BUDNER, 1970):

dI  x, 
   G  jC  V  x,  (15)
dx

dV  x, 
   R  jL  I  x,  (16)
dx

Reescrevendo as equações (15) e (16), têm-se:

dI  x, 
 Y()V  x,   (17)
dx

dV  x, 
  Z()I  x,   (18)
dx

onde:

Z()   R  jL  (19)

Y()   G  jC  (20)

Derivando as equações (17) e (18) em relação à x, têm-se:

d 2 I  x,   dV  x,  
2
 Y() (21)
dx dx
16

d 2 V  x,  dI  x, 
  Z() (22)
dx 2 dx
Substituindo as equações (18) em (21) e (17) em (22), obtêm-se:

d 2 I  x, 
 Z()Y()I  x,   (23)
dx 2

d 2 V  x,  
 Z()Y()V  x,  (24)
dx 2

Sabe-se que as soluções para as equações (17) e (18) são do tipo (CHIPMAN, 1976):

V(x, )  ax  x  bx x (25)

1  x 1
I(x, )  ae  bex (26)
ZC ZC

Onde, nas equações (25) e (26), γ= Z(  )Y(  ) é a função de propagação e

Z(  )
ZC  é a impedância característica da linha (CHIPMAN, 1976; MARTI,1982).
Y(  )

As equações (25) e (26) podem ser aplicadas para calcular as correntes e tensões em
qualquer posição x da linha. Aplicando estas equações para os extremos da linha, cujo
comprimento é d, obtém-se (BUDNER, 1970):

VB (x, )  VA (x, ) cos h  d   ZC IA (x, )sen h  d  (27)

1
IB (x, )   VA (x, )sen h  d   I A (x, ) cos h  d  (28)
ZC

A figura 3 mostra uma linha de comprimento d cujas correntes e tensões, nos terminais
da mesma, são descritas pelas equações (27) e (28).
17

Figura 3 – Representação das correntes e tensões nos terminais da linha.


IA(x,ω) x=0 x=d IB(x,ω)

A B

VA(x,ω) VB=(x,ω)

solo
Fonte: Produção do próprio autor.

2.3 Linhas com mais de uma fase

As equações diferenciais de primeira ordem para uma linha de transmissão com n


fases, pode ser obtida a partir das equações descritas no item 2.2, por meio das equações (17)
e (18).

d[I(x, )]
 [Y()][V(x, )] (29)
dx

d[V(x, )]
 [Z()][I(x, )] (30)
dx

Nas equações (29) e (30), as matrizes [Z(ω)] e [Y(ω)] são, respectivamente, as


matrizes de impedância longitudinal e de admitância transversal por unidade de comprimento
da linha, e são escritas como sendo:

 y11 () y12 ()  y1( n 1) () y1n () 


 y () y 22 ()  y 2(n 1) () y 2n () 
 21
[Y()]         (31)
 
 y ( n 1)1 () y ( n 1)2 ()  y ( n 1)(n 1) () y ( n 1)n () 
 y n1 ()
 y n 2 ()  y n( n 1) () y nn () 

 z11 () z12 ()  z1(n 1) () z1n () 


 z () z 22 ()  z 2(n 1) () z 2n () 
 21
[Z()]         (32)
 
 z (n 1)1 () z (n 1) 2 ()  z ( n 1)( n 1) () z( n 1)n () 
 z n1 ()
 z n 2 ( )  z n( n 1) () z nn () 
18

Os vetores [V(x,ω)] e [I(x,ω)] são, respectivamente, os vetores com as tensões e


correntes das fases, e são escritas como sendo:

 V1 (x, ) 
 V (x, ) 
 2 
[V(x, )]     (33)
 
 Vn 1 (x, ) 
 Vn (x, ) 

 I1 (x, ) 
 I (x, ) 
 2 
[I(x, )]     (34)
 
 In 1 (x, ) 
 In (x, ) 

Derivando as equações (29) e (30) com relação a x e fazendo as manipulações


matemáticas necessárias, obtêm-se as equações diferenciais de segunda ordem para uma linha
de transmissão com n fases, escritas no domínio da frequência.

d 2 [I(x, )]
 [Y()][Z()][I(x, )] (35)
dx 2

d 2 [V(x, )]
 [Z()][Y()][V(x, )] (36)
dx 2

A variável ω corresponde à frequência angular. Assim, as matrizes de impedância


longitudinal e de admitância transversal por unidade de comprimento, juntamente com os
vetores de tensão e corrente, são variáveis em relação à frequência. Por questão de
simplificação, o termo ω será omitido dessas grandezas no restante deste capítulo.
Omitindo a variáveis x e ω, as equações (29)-(30) e (35)-(36) tornam-se:

d[I]
 [Y][V] (37)
dx
19

d[V]
 [Z][I] (38)
dx

d 2 [I]
 [Y][Z][I] (39)
dx 2

d 2 [V]
 [Z][Y][V] (40)
dx 2

A matriz [Z] leva em consideração o efeito do solo e o efeito pelicular


(DOMMEL,1969, MARTI,1988).
As equações (35) e (36) estão no domínio das fases e são de difícil resolução, uma vez
que os produtos matriciais [Z][Y] e [Y][Z] são distintos (as matrizes [Z] e [Y] não são
matrizes diagonais).
Tais produtos podem ser transformados em matrizes diagonais a partir da utilização de
uma transformada de similaridade (CHEN, 1984). Nesse caso, os produtos matriciais [Z][Y] e
[Y][Z] resultarão em matrizes diagonais cujos elementos são os autovalores dos produtos
matriciais.
A matriz [λV], que é a matriz com os autovalores de [Z][Y] é calculada por meio da
seguinte relação:

[ V ]  [TV ]1[Z][Y][TV ] (41)

Os autovalores [λI] do produto matricial [Y][Z] são:

[ I ]  [TI ]1[Y][Z][TI ] (42)

Nas equações (41) e (42), as matrizes [TV] e [TI] são, respectivamente, as matrizes
cujas colunas são os autovalores das matrizes [Z][Y] e [Y][Z]. As matrizes [TV], [TI], [λI] e
[λV] são complexas e variáveis em relação à frequência.
Os produtos matriciais [Z][Y] e [Y][Z], de maneira genérica são distintos e, portanto,
as matrizes [TV] e [TI] são diferentes. Mas, mesmo sendo [Z][Y] e [Y][Z] matrizes distintas,
seus determinantes e consequentemente seus autovalores [λV] e [λI] são iguais:
20

[V ]  [ I ] (43)

Denominando os autovalores dos produtos [Z][Y] e [Y][Z] de [λm], obtêm-se:

[m ]  [ V ] (44)

[  m ]  [ I ] (45)

Substituindo as equações (44) e (45) nas equações (39) e (40), respectivamente, e


fazendo alguns ajustes, têm-se:

d 2 [I]
 [TI ][ m ][TI ]1[I] (46)
dx 2

d 2 [V]
2
 [TV ][ m ][TV ]1[V] (47)
dx

Multiplicando os dois lados das equações (46) e (47) por [TI]-1 e [TV]-1,
respectivamente, obtêm-se:

d 2 [TI ]1[I]
2
 [ m ][TI ]1[I] (48)
dx

d 2 [TV ]1[V]
 [m ][TV ]1[V] (49)
dx 2

Nas equações (48) e (49), pode-se definir as correntes e tensões modais [Im] e [Vm],
respectivamente como sendo:

[I m ]  [TI ]1[I] (50)

[Vm ]  [TV ]1[V] (51)


21

Substituindo as equações (50) e (51) nas equações (48) e (49), respectivamente,


obtêm-se:

d 2 [I m ]
 [ m ][Im ] (52)
dx 2

d 2 [Vm ]
 [ m ][Vm ] (53)
dx 2

As expressões (52) e (53) são as equações diferenciais dos modos exatos da linha.
Devido ao fato de [λm] ser uma matriz diagonal, as mesmas são idênticas às equações
diferenciais de n linhas monofásicas independentes.
A partir das equações (50) e (51) obtêm-se:

[I]  [TI ][I m ] (54)

[V]  [TV ][Vm ] (55)

Substituindo as equações (54) e (55) nas equações (29) e (30) obtêm-se:

d[TI ][Im ]
  [Y][TV ][Vm ] (56)
dx

d[TV ][Vm ]
  [Z][TI ][Im ] (57)
dx

Multiplicando os dois lados das equações (56) e (57) por [TI]-1 e [TV]-1,
respectivamente, obtêm-se:

d[I m ]
 [TI ]1[Y][TV ][Vm ] (58)
dx

d[Vm ]
 [TV ]1[Z][TI ][Im ] (59)
dx
22

As equações (58) e (59) podem ser escritas como sendo:

d[Im ]
 [Ym ][Vm ] (60)
dx

d[Vm ]
 [Zm ][Im ] (61)
dx

Nas equações (60) e (61), [Zm] e [Ym] são, respectivamente, as matrizes de


impedâncias longitudinais e de admitâncias transversais modais exatas da linha. Essas
matrizes são escritas como sendo:

[Ym ]  [TI ]1[Y][TV ] (62)

[Z m ]  [TV ]1[Z][TI ] (63)

As matrizes [Z m] e [Ym] são matrizes diagonais (KUROKAWA, 2003). Dessa forma,


têm-se:

d 2 [I m ]
 [Z m ][Ym ][I m ] (64)
dx 2

d 2 [Vm ]
 [Zm ][Ym ][Vm ] (65)
dx 2

As equações (64) e (65) são as equações diferenciais modais da linha. Uma vez que as
matrizes [Zm] e [Ym] são diagonais, as equações (64) e (65) representam n linhas monofásicas
independentes cujas equações de correntes e tensões foram mostradas no item 2.2.

2.4 Conclusão

Neste capítulo, foram mostradas as equações diferenciais que representam uma linha
de transmissão cujos parâmetros são uniformemente distribuídos ao longo da linha no
domínio do tempo e no domínio da frequência. Também foi mostrado um modelo para linhas
23

com mais de uma fase, a teoria de decomposição modal de linhas de transmissão, em que uma
linha de transmissão de n fases pode ser representada, no domínio modal, por n linhas
monofásicas independentes.
24

3 REPRESENTAÇÃO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO


IDEALMENTE TRANSPOSTAS

3.1 Introdução

Para se obter as tensões e correntes em uma linha de transmissão com mais de uma
fase, pode-se utilizar a teoria de decomposição modal, de modo a eliminar o acoplamento
entre as fases da linha. Quando uma linha com mais de uma fase é representada no domínio
modal, a mesma é representada por seus modos de propagação que se comportam como linhas
monofásicas totalmente desacopladas. Assim as correntes e tensões são inicialmente
calculadas no domínio modal e em seguida, utilizando uma matriz de decomposição modal
adequada, convertidas para o domínio das fases.
Neste capítulo será apresentado um modelo em que as correntes e tensões podem ser
calculadas diretamente no domínio das fases, sem a utilização explícita da transformação
modal, eliminando assim a necessidade de se fazer a conversão fase-modo-fase.
O modelo proposto pode ser utilizado para representar, diretamente no domínio das
fases, linhas de transmissão idealmente transposta.
O modelo foi utilizado para representar uma linha bifásica que possui plano de
simetria vertical (que comporta-se como uma linha bifásica idealmente transposta) e uma
linha trifásica de 440 kV considerada idealmente transposta.

3.2 Representação de linha bifásica que possui plano de simetria vertical

A figura 4 mostra uma linha de transmissão bifásica com plano de simetria vertical,
devido as fases da linha possuirem a mesma altura e apresentar o mesmo tipo de condutor, os
parâmetros por unidade de comprimento são escritos como sendo:

R ' R '12 
 R '   R '11 R '11 
 /km  (66)
 12

L ' L '12 
 L '   L '11 L '11 
 H/km  (67)
 12
25

C ' C '12 
C '  C '11 C '11 
 F/km  (68)
 12

Figura 4 – Linha de transmissão bifásica.


d

Fonte: Yamanaka, 2009

Na equação (66) e (67) as matrizes [R'] e [L'] representam as matrizes de resistências


e indutâncias longitudinais, respectivamente, enquanto que na equação (68), [C'] é a matriz
com as capacitâncias transversais da linha. As condutâncias transversais da linha, por ser
tratar de linhas aéreas, serão desconsideradas (MARTINEZ, 2005).
Considere que o terminal emissor da linha está conectada às fontes de tensões V1 e V2
conforme mostra a figura 5.

Figura 5 – Representação dos terminais da linha da figura 4.

#1

#2
V1(t)

V2 (t)

Solo
Fonte: Produção do próprio autor.
Considere que a linha mostrada na figura 5 pode ser representada por uma grande
quantidade de pequenos segmentos de linha e que cada um destes segmentos possui um
comprimento tal que os mesmos possam ser representados por elementos discretos de
26

circuitos. Deste modo é possível representar o j-ésimo segmento de linha por meio do circuito
mostrado na figura 6.

Figura 6 – Representação do j-ésimo segmento de linha utilizando elementos discretos de


circuitos.

Fonte: Produção do próprio autor.

Na figura 6 V1j(t) e V1(j-1)(t) são as tensões nos terminais do j-ésimo segmento da fase 1
da linha enquanto que V2j(t) e V2(j-1)(t) são as tensões nos terminais do j-ésimo segmento da
fase 2 da linha. As grandezas i1j(t) e i2j(t) são as correntes nas fases A e B, respectivamente, do
segmento de linha. As correntes e tensões descritas anteriormente estão no domínio do tempo.
Na figura 6 R11 é a resistência própria das fases 1 e 2 do segmento de linha, enquanto
que L11 é a indutância própria das fases 1 e 2. Este segmento de linha possui capacitâncias
parciais C12 e C01. Observe que os termos mútuos da resistência e da indutância não são
mostrados na figura 6 mas serão levados em consideração durante o desenvolvimento do
modelo.
Em linhas de transmissão aéreas, o valor da condutâncias é muito pequena, ou seja,
não tendo uma influência significativa na forma de onda da corrente e da tensão ao longo da
linha de transmissão (MARTINEZ, 2005).
Os parâmetros longitudinais e transversais do segmento de linha mostrado na figura 6
podem ser escritos na forma matricial como sendo:

R R 12 
 R    R 11 R 11 
  (69)
 12
27

L L12 
 L   L11 L11 
H  (70)
 12

C C12 
C   C11 C11 
 F (71)
 12

Nas equações (69)-(71) têm-se:

d

R11  R11 (72)
n

d

R12  R12 (73)
n

d

L11  L11 (74)
n

d

L12  L12 (75)
n

d

C11  C11 (76)
n

d

C12  C12 (77)
n

Nas equações (72)-(77), d é o comprimento da linha de transmissão e n é o número de


segmentos no qual a linha foi dividida, do tipo mostrado na figura 6, utilizados para
representar a linha.
No domínio da frequência é possível escrever as matrizes de impedâncias
longitudinais e de admitâncias transversais do segmento de linha, mostrados na figura 6,
como sendo:

[Z]  [R]  j[L] (78)


28

[Y]  j[C] (79)

No domínio modal as matrizes de impedância e admitâncias do segmento de linha


mostrado na figura 6 são escritas como sendo:

[Z m ]  [TV ]1[Z][TI ] (80)

[Ym ]  [TI ]1[Y][TV ] (81)

Substituindo as equações (78) e (79) em (80) e (81), respectivamente, e manipulando


estas equações, é possível obter:

[Z m ]  [TV ]1[R][TI ]  j[TV ]1[L][TI ] (82)

[Ym ]  j[TI ]1[C][TV ] (83)

As equações (82) e (83) podem ser escritas como sendo:

[Zm ]  [R m ]  j[L m ] (84)

[Ym ]  j[C m ] (85)

sendo:

1
 R m   TV   R  TI  (86)

1
 L m   TV   LTI  (87)

1
Cm   TI  CTV  (88)
29

As matrizes [Rm], [Lm] e [Cm], mostradas nas equações (86)-(88), são constituídas
pelos parâmetros longitudinais do segmento de linha mostrado na figura 6 quando o mesmo é
representado no domínio modal.
Sabe-se que para uma linha bifásica que possui plano de simetria vertical, as matrizes
[TV] e [TI] podem ser escritas como sendo (YAMANAKA, 2009):

1 1
TV   1 1
(89)

1 1 1 
TI   (90)
2 1 1

Substituindo as equações (69)-(70), (89) e (90) nas equações (86)-(88) e fazendo as


devidas operações matemática, obtêm-se:

 R MA 0 
R m    R MB 
  (91)
 0

 L MA 0 
Lm    L MB 
H (92)
 0

 CMA 0 
Cm    C MB 
 F (93)
 0
sendo:

R11  R12
R MA  (94)
2

R11  R12
R MB  (95)
2

L11  L12
L MA  (96)
2
30

L11  L12
L MB  (97)
2

C MA  2  C11  C12  (98)

C MB  2  C11  C12  (99)

Verifica-se, nas equações (91)-(99), que nas matrizes [Rm], [Lm] e [Cm] os elementos
que não estão na diagonal principal são todos nulos. Isto significa que o segmento de linha
mostrado na figura 6 é representado, no domínio modal, por dois modos de propagação
desacoplados. Cada um destes modos de propagação pode ser representado por um circuito π
conforme mostra a figura 7.

Figura 7 – Representação do segmento de linha no domínio modal.

Modo A Modo B
Fonte: Produção do próprio autor.

Aplicando as Leis de Kirchhoff nos circuitos dos modos de propagação A e B,


mostrados na figura 7, têm-se:

dI MAj (t) R MA 1 1
 I MAj (t)  E MAj (t)  E MA( j1) (t) (100)
dt L MA L MA L MA

dI MBj (t) R MB 1 1
 I MBj (t)  E MBj (t)  E MB( j1) (t) (101)
dt L MB L MB L MB

dE MAj (t) 2
 I MAj (t) (102)
dt C MA
31

dE MBj (t) 2
 I MBj (t) (103)
dt CMB

Escrevendo as correntes e tensões dos modos A e B do segmento de linha na forma de


vetores, obtêm-se:

 I MAj (t) 
[I Mj ]    (104)
 I MBj (t) 

 E MAj (t) 
[E Mj ]    (105)
 E MBj (t) 

 E MA( j1) (t) 


[E M ( j1) ]    (106)
 E MB( j1) (t) 

As relações entre as grandezas de fase e de modo são escritas como sendo:

[I Mj ]  [TI ]1[i Fj ] (107)

[E Mj ]  [TV ]1[VFj ] (108)

onde:

 i1j (t) 
[i Fj ]    (109)
i 2 j (t) 

 V1j (t) 
[VFj ]    (110)
 V2 j (t) 

Substituindo as equações (109) e (110) bem como (89) e (90) nas equações (107) e
(108) obtêm-se:
32

V1j (t)  V2 j (t)


E MAj (t)  (111)
2

V1j (t)  V2 j (t)


E MBj (t)  (112)
2

V1( j1) (t)  V2( j1) (t)


E MA( j1) (t)  (113)
2

V1( j1) (t)  V2( j1) (t)


E MB( j1) (t)  (114)
2

I MAj (t)  i1j (t)  i 2 j (t) (115)

IMBj (t)  i1 j (t)  i 2 j (t) (116)

Substituindo as equações (94)-(99) e (111)-(116) nas equações (100)-(103) e fazendo


as devidas manipulações matemáticas, obtém-se:

di1j (t)
 a 1i1j (t)  a 2 V1j (t)  a 3i 2 j (t)  a 4 V2 j (t)  a 2 V1( j1) (t)  a 4 V2( j1) (t) (117)
dt

di 2 j (t)
 a 3i1j (t)  a 4 V1j (t)  a 1i 2 j (t)  a 2 V2 j (t)  a 4 V1( j1) (t)  a 2 V2( j1) (t) (118)
dt

dV1j (t)
 a 5i1j (t)  a 6 i 2 j (t) (119)
dt

dV2 j (t)
 a 6 i1j (t)  a 5i 2 j (t) (120)
dt

sendo:
33

1  R  R 12 R 11  R12 
a1    11   (121)
2  L11  L12 L11  L12 

1 1 1 
a2      (122)
4  L11  L12 L11  L12 

1  R  R12 R 11  R 12 
a 3    11   (123)
2  L11  L12 L11  L12 

1 1 1 
a4      (124)
4  L11  L12 L11  L12 

 1 1 
a5  2    (125)
 C11  C12 C11  C12 

 1 1 
a6  2   (126)
 C11  C12 C11  C12 

Escrevendo as equações (117)-(120) na forma de equação de estado, obtêm-se:

  [A][x]  [B][u(t)]
[x] (127)

onde:
 di1 j (t) 
 
 dt 
 dV1j (t) 
 
 x    di dt(t)  (128)
 2j 
 dt 
 
 dV2 j (t) 
 dt 

Sendo i1j e i2j as correntes no terminal do segmento de linha, V1j(t) e V2j(t) as tensões
no terminal do segmento de linha, todas no domínio do tempo.
34

O vetor [ x ] é o vetor que contém as derivadas do vetor [x].

 a1 a2 a3 a4 
a 0 a6 0 
[A]  
5
(129)
a 3 a4 a1 a2 
 
 a 6 0 a5 0 

 a 2 a 4 
 0 0 
[B]   (130)
 a 4 a 2 
 
 0 0 

 V1( j1) (t) 


[u(t)]    (131)
 V2( j1) (t) 

A equação (127) descreve as correntes e tensões no segmento de linha mostrado na


figura 6 diretamente no domínio das fases. A solução da equação (127) pode ser obtida por
meio de métodos numéricos de integração (SILVA, 2010).
A equação (127) foi obtida para um único segmento da linha conforme mostrada na
figura 6. No entanto o mesmo raciocínio pode ser utilizado para obter as equações de corrente
e tensão quando a linha é representada por n segmentos de circuitos, do tipo mostrado na
figura 6, conectados em cascata. Deste modo, mostra-se que as correntes e tensões de fase ao
longo da linha, quando a mesma é representada por uma cascata com n circuitos do tipo
mostrado na figura 6, reescrevendo a equação de estado (127), têm-se:

[x]T  i11 (t)  i1n (t) V11 (t)  V1n (t) i 21 (t)  i 2n (t) V21 (t)  V2n (t)  (132)

O vetor [x], na equação (132), possui 4n elementos e é constituído pelas correntes


longitudinais e pelas tensões transversais nas fases da linha representada por uma cascata de n
circuitos do tipo mostrado na figura 6. Deste modo, as grandezas i1j(t) e i2j(t) correspondem às
correntes nas fases 1 e 2, respectivamente, no j-ésimo segmento representado por um circuito
igual ao circuito mostrado na figura 6. De modo análogo, as grandezas V1j(t) e V2j(t)
corresponde às tensões nas fases 1 e 2 no j-ésimo segmento.
35

[A1 ] [A 2 ] [A 3 ] [A 4 ]
[A ] [A 7 ] [A 6 ] [A 7 ]
[A]  
5
(133)
[A3 ] [A 4 ] [A1 ] [A 2 ]
 
[A 6 ] [A 7 ] [A 5 ] [A 7 ]

A matriz [A], na equação (133), é uma matriz quadrada de dimensão 4n. Esta matriz é
constituída por 16 submatrizes quadradas, de dimensão n, que obedece às seguintes regra de
formação:

- Submatrizes [A1] e [A3]: estas submatrizes possuem elementos não nulos somente na
diagonal principal e são escritas como sendo:

a p 
 ap 
 
[A p ]     (134)
 
 ap 
 a p 

A equação (134) é válida para p=1 e p=3, sendo que o elemento ap é calculado a partir
das equações (121)-(126).

- Submatrizes [A2] e [A4]: estas submatrizes possuem elementos não nulos somente na
diagonal principal e na subdiagonal inferior e são escritas como sendo:

 ap 
 a ap 
 p 
[A p ]   a p   (135)
 
  ap 
 a p a p 

A equação (135) é válida para p=2 e p=4, sendo que o elemento ap é calculado a partir
das equações (121)-(126).

- Submatrizes [A5] e [A6]: estas submatrizes possuem elementos não nulos somente na
diagonal principal e na subdiagonal superior e são escritas como sendo:
36

a p a p 
 ap a p 
1 
[A p ]      (136)
2 
 a p a p 
 2a p 

A equação (136) é válida para p=5 e p=6, sendo que o elemento ap é calculado a partir
das equações (121)-(126).
As submatrizes [A7] restantes são matrizes nulas.
A matriz [B] é de ordem 4n x 2 que é escrita como sendo:

 b11 b12 
 0 0 

   
 
 0 0 
[B]  (137)
 b(2n 1)1 b(2n 1)2 
 
 0 0 
   
 
 0 0 

sendo:
b11  a 2 (138)
b12  a 4 (139)
b (n 1)1  a 4 (140)

b (n 1)2  a 2 (141)

Os elementos a2 e a4 são calculados a partir das equações (121)-(126).


E o vetor [u(t)] é escrito como sendo:

 V (t) 
[u(t)]   1  (142)
 V2 (t) 

Sendo V1(t) e V2(t) as fontes conectada, nas fases 1 e 2, no início da linha.


Observa-se que equação (127) é constituída somente por grandezas e parâmetros que
37

estão no domínio da fase e permite obter, diretamente no domínio do tempo, as correntes e


tensões de fase ao longo do comprimento da mesma.

3.3 Representação de linhas trifásicas idealmente transpostas

A figura 8 mostra uma linha de transmissão trifásica que será considerada idealmente
transposta.

Figura 8 – Linha de transmissão trifásica.

1
2 3

Fonte: Kurokawa, 2003.

Devido ao fato de que a linha mostrada na figura 8 ser considerada idealmente


transposta, as matrizes com os parâmetros desta linha são escritas como sendo:

 R '11 R '12 R '12 


[R ']   R '12 R '11 R '12   /km  (143)
 R '12 R '12 R '11 

 L '11 L '12 L '12 


[L ']   L '12 L '11 L '12   H/km  (144)
 L '12 L '12 L '11 

 C '11 C '12 C '12 


[C ']   C '12 C '11 C '12   F/km  (145)
 C '12 C '12 C '11 
38

Na equação (143) e (144) as matrizes [R'] e [L'] representam as matrizes de


resistências e indutâncias longitudinais, respectivamente, enquanto que na equação (145), [C']
é a matriz com as capacitâncias transversais da linha. As condutâncias transversais da linha,
por ser tratar de linhas aéreas, serão desconsideradas (MARTINEZ, 2005).
Considere que o terminal emissor da linha está conectado as fontes de tensões V1(t),
V2(t) e V3(t) conforme mostra a figura 9.

Figura 9 – Representação dos terminais da linha da figura 8.

Fonte: Produção do próprio autor.

Considere que a linha mostrada na figura 9 pode ser representada por uma grande
quantidade de pequenos segmentos de linha, e que cada um destes segmentos possui um
comprimento tal que os mesmos possam ser representados por elementos discretos de
circuitos. Deste modo é possível representar o j-ésimo segmento de linha por meio do circuito
mostrado na figura 10.

Figura 10 – Representação de um segmento de linha por elementos discretos de circuitos.

Fonte: Produção do próprio autor.


39

Na figura 10, V1j(t) e V1(j-1) (t) são as tensões nos terminais do j-ésimo segmento da fase
1 da linha enquanto que V2j(t) e V2(j-1)(t) são as tensões nos terminais do j-ésimo segmento da
fase 2 da linha e V3j(t) e V3(j-1)(t) são as tensões nos terminais do j-ésimo segmento da fase 3 da
linha. As grandezas i1j(t), i2j(t) e i3j(t) são as correntes nas fases 1, 2 e 3, respectivamente, do
segmento de linha.
Na figura 10, R11 é a resistência própria das fases 1, 2 e 3 do segmento de linha,
enquanto que L11 é a indutância própria das fases 1, 2 e 3. Observe que os termos mútuos da
resistência e da indutância são representados por R12 e L12. Este segmento de linha possui
capacitâncias parciais C01 e C12.
Os parâmetros longitudinais e transversais, do segmento de linha mostrado na figura
10, podem ser escritos na forma matricial como sendo:

 R 11 R 12 R12 
[R]   R 12 R 11 R12     (146)
 R 12 R 12 R11 

 L11 L12 L12 


[L]   L12 L11 L12   H  (147)
 L12 L12 L11 

 C11 C12 C12 


[C]   C12 C11 C12   F  (148)
 C12 C12 C11 

Nas equações (146)-(148) têm-se:

d

R11  R11 (149)
n

d

R12  R12 (150)
n

d

L11  L11 (151)
n
40

d

L12  L12 (152)
n

d

C11  C11 (153)
n

d

C12  C12 (154)
n

Nas equações (149)-(154), d é o comprimento da linha de transmissão e n é o número


de segmentos no qual a linha foi dividida, do tipo mostrado na figura 10, utilizados para
representar a linha.
No domínio da frequência é possível escrever as matrizes de impedâncias
longitudinais e de admitâncias transversais, do segmento de linha mostrados na figura 10,
como sendo:

[Z]  [R]  j[L] (155)

[Y]  j[C] (156)

No domínio modal as matrizes de impedância e admitâncias do segmento de linha


mostrado na figura 10 são escritas como sendo:

[Z m ]  [TV ]1[Z][TI ] (157)

[Ym ]  [TI ]1[Y][TV ] (158)

Substituindo as equações (155) e (156) em (157) e (158), respectivamente, e


manipulando estas equações, é possível obter:

[Z m ]  [TV ]1[R][TI ]  j[TV ]1[L][TI ] (159)


41

[Ym ]  j[TI ]1[C][TV ] (160)

As equações (159) e (160) podem ser escritas como sendo:

[Zm ]  [R m ]  j[L m ] (161)

[Ym ]  j[C m ] (162)


sendo:

1
 R m   TV   R  TI  (163)

1
 L m   TV   LTI  (164)

1
Cm   TI  CTV  (165)

As matrizes [Rm], [Lm] e [Cm], mostradas nas equações (163)-(165), são constituídas
pelos parâmetros longitudinais do segmento de linha mostrado na figura 10, quando o mesmo
é representado no domínio modal.
Uma vez que a linha é considerada idealmente transposta, é possível considerar [TI]
como sendo a matriz de Clarke, que é escrita como sendo (TAVARES, 1999):

 2 1 
 0 
 6 3
 1 1 1 
[TClar ke ]     (166)
 6 2 3
 1 1 1 
 6 
2 3 

Quando se utiliza a matriz de Clarke como a matriz de transformação, sabe-se que a


matriz [TI] é igual a transposta de [TV].
Substituindo as equações (146)-(148) e (166) nas equações (163)-(165) e fazendo as
devidas operações matemática, obtêm-se:
42

 R MA 0 0 
[R m ]   0 R MB 0     (167)
 0 0 R MC 

 LMA 0 0 
[Lm ]   0 L MB 0   H  (168)
 0 0 L MC 

C MA 0 0 
[C m ]   0 C MB 0   F  (169)
 0 0 C MC 

sendo:

R MA  R11  R12 (170)

R MB  R11  R12 (171)

R MC  R 11  2R 12 (172)

L MA  L11  L12 (173)

L MB  L11  L12 (174)

L MC  L11  2L12 (175)

C MA  C11  C12 (176)

CMB  C11  C12 (177)

C MC  C11  2C12 (178)


43

Verifica-se, nas equações (167)-(169), que nas matrizes [Rm], [Lm] e [Cm] os
elementos que não estão na diagonal principal são todos nulos. Isto significa que o segmento
de linha mostrado na figura 10 é representado, no domínio modal, por três modos de
propagação desacoplados. Cada um destes modos de propagação pode ser representado por
um circuito π conforme mostra a figura 11.

Figura 11 – Representação do segmento de linha no domínio modal.


IMBj(t) RMB LMB

CMB CMB
EMB(j-1) (t) EMBj(t)
2 2

Modo A Modo B

Modo C
Fonte: Produção do próprio autor.

Aplicando as Leis de Kirchhoff no circuito do modo de propagação A, B e C


mostrados na figura 11, têm-se:

dIMAj (t) R MA 1 1
 IMAj (t)  E MAj (t)  E MA( j1) (t) (179)
dt L MA LMA LMA

dIMBj (t) R MB 1 1
 I MBj (t)  E MBj (t)  E MB( j1) (t) (180)
dt LMB L MB L MB

dIMCj (t) R MC 1 1
 IMCj (t)  E MCj (t)  E MC( j1) (t) (181)
dt LMC LMC LMC

dE MAj (t) 2
 IMA (t) (182)
dt CMA
44

dE MBj (t) 2
 IMB (t) (183)
dt CMB

dE MCj (t) 2
 IMC (t) (184)
dt CMC
Escrevendo as correntes e tensões dos modos A, B e C do segmento de linha na forma
de vetores, obtêm-se:

 I MAj (t) 
 
[I Mj ]   I MBj (t)  (185)
 I MCj (t) 
 

 E MAj (t) 
 
[E Mj ]   E MBj (t)  (186)
 E MCj (t) 
 

 E MA( j1) (t) 


 
[E M ( j1) ]   E MB( j1) (t)  (187)
 E MC( j1) (t) 
 

As relações entre as grandezas de fase e de modo são escritas como sendo:

[I Mj ]  [TI ]1[i Fj ] (188)

[E Mj ]  [TV ]1[VFj ] (189)

onde:

 i1j (t) 
 
[i Fj ]  i 2 j (t)  (190)
 i3 j (t) 
 
45

 V1j (t) 
 
[VFj ]   V2 j (t)  (191)
 V3 j (t) 
 

Substituindo as equações (190) e (191) bem como (166) nas equações (188) e (189)
obtêm-se:

2 1 1
E MA (t)  V1j (t)  V2 j (t)  V3 j (t) (192)
6 6 6

1 1
E MB (t)  V2 j (t)  V3 j (t) (193)
2 2

1 1 1
E MC (t)  V1j (t)  V2 j (t)  V3 j (t) (194)
3 3 3

2 1 1
IMA (t)  i1j (t)  i 2 j (t)  i 3 j (t) (195)
6 6 6

1 1
IMB (t)  i 2 j (t)  i3 j (t) (196)
2 2

1 1 1
I MC (t)  i1j (t)  i 2 j (t)  i 3 j (t) (197)
3 3 3

Substituindo as equações (170)-(178) e (192)-(197) nas equações (179)-(184) e


fazendo as devidas manipulações matemáticas, obtêm-se:

di1j (t)
 a1i1j (t)  a 2 V1j (t)  a 3i 2 j (t)  a 4 V2 j (t)  a 3i3 j (t)  a 4 V3 j (t)
dt (198)
 a 2 V1( j1) (t)  a 4 V2( j1) (t)  a 4 V3( j1) (t)

di 2 j (t)
 a 3i1j (t)  a 4 V1j (t)  a1i 2 j (t)  a 2 V2 j (t)  a 3i3 j (t)  a 4 V3 j (t)
dt (199)
 a 4 V1( j1) (t)  a 2 V2( j1) (t)  a 4 V3( j1) (t)
46

di3 j (t)
 a 3i1j (t)  a 4 V1j (t)  a 3i 2 j (t)  a 4 V2 j (t)+a1i3 j (t)  a 2 V3 j (t)
dt (200)
 a 4 V1( j1) (t)  a 4 V2( j1) (t)  a 2 V3( j1) (t)

dV1j (t)
 a 5i1j (t)  a 6i 2 j (t)  a 6i3 j (t) (201)
dt

dV2 j (t)
 a 6i1j (t)  a 5i 2 j (t)  a 5i3 j (t) (202)
dt

dV3 j (t)
 a 6i1j (t)  a 6i 2 j (t)  a 5i3 j (t) (203)
dt

sendo:

1  2(R11  R12 ) R11  2R 12 


a1      (204)
3  L11  L12 L11  2L12 

1 2 1 
a2      (205)
3  L11  L12 L11  2L12 

1  R  R12 R11  2R 12 
a 3   11   (206)
3  L11  L12 L11  2L12 

1 1 1 
a4     (207)
3  L11  L12 L11  2L12 

2 2 1 
a5     (208)
3  C11  C12 C11  2C12 

2 1 1 
a6      (209)
3  C11  C12 C11  2C12 
47

Escrevendo as equações (200)-(203) na forma de equação de estado, obtém-se:

  [A][x]  [B][u(t)]
[x] (210)

onde:

 di1 j (t) 
 
 dt 
 dV1j (t) 
 dt 
 
 di 2 j (t) 
 
 x    dt  (211)
 dV2 j (t) 
 dt 
 
 di3 j (t) 
 dt 
 
 dV3 j (t) 
 dt 

Sendo i1j (t) , i2j (t) e i3j (t) as correntes no terminal do segmento de linha, V1j (t) , V2j (t)
, V3j (t) as tensões no terminal do segmento de linha, todas no domínio do tempo.
O vetor [ x ] é o vetor que contém as derivadas do vetor [x].

 a1 a2 a3 a4 a3 a4 
a 0 a6 0 a6 0 
 5
a3 a4 a1 a2 a3 a4 
[A]    (212)
a 6 0 a5 0 a6 0
a3 a4 a3 a4 a1 a2 
 
a 6 0 a6 0 a5 0 

 a 2 a 4 a 4 
 0 0 0 
 
 a a 2 a 4 
 B   0 4 0 0 
 (213)

 a 4 a 4 a 2 
 
 0 0 0 
48

 V1( j1) (t) 


 u(t)   V2( j1) (t)  (214)
 V3( j1) (t) 

A equação (210) descreve as correntes e tensões no segmento de linha mostrado na


figura 10 diretamente no domínio das fases. A solução da equação (210) pode ser obtida por
meio de métodos numéricos de integração (SILVA, 2010).
A equação (210) foi obtida para um único segmento da linha conforme mostrada na
figura 10. No entanto o mesmo raciocínio pode ser utilizada para obter as equações de
corrente e tensão quando a linha é representada por n segmentos de circuitos, do tipo
mostrado na figura 10, conectados em cascata. Deste modo, mostra-se que as correntes e
tensões de fase ao longo da linha, quando a mesma é representada por uma cascata com n
circuitos do tipo mostrado na figura 10, reescrevendo a equação de estado (210), têm-se:

[x]T  [i11 (t)  i1n (t) v11 (t)  v1n (t) i 21 (t)  i 2n (t) v 21 (t) 
(215)
v 2n (t) i 31 (t)  i3n (t) v 31 (t)  v3n (t)]

O vetor [x], na equação (215), possui 6n elementos e é constituído pelas correntes


longitudinais e pelas tensões transversais nas fases da linha representada por uma cascata de n
circuitos do tipo mostrado na figura 10. Deste modo, as grandezas i1j(t) ,i2j(t) e i3j(t)
correspondem às correntes nas fases 1, 2 e 3, respectivamente, no j-ésimo segmento
representado por um circuito igual ao circuito mostrado na figura 10. De modo análogo, as
grandezas V1j(t), V2j(t) e V3j(t) corresponde às tensões nas fases 1, 2 e 3 no j-ésimo segmento.

[A1 ] [A 2 ] [A 3 ] [A 4 ] [A 3 ] [A 4 ]
[A ] [A 7 ] [A6 ] [A 7 ] [A 6 ] [A7 ]
 5
[A ] [A 4 ] [A1 ] [A 2 ] [A 3 ] [A 4 ]
[A]   3  (216)
[A 6 ] [A 7 ] [A5 ] [A 7 ] [A 6 ] [A7 ]
[A 3 ] [A 4 ] [A 3 ] [A 4 ] [A1 ] [A 2 ]
 
[A 6 ] [A 7 ] [A6 ] [A 7 ] [A5 ] [A7 ]

A matriz [A], na equação (216), é uma matriz quadrada de dimensão 6n. Esta matriz é
constituída por 36 submatrizes quadrada, de dimensão n, que obedece às seguintes regras de
formação:
49

- Submatrizes [A1] e [A3]: estas submatrizes possuem elementos não nulos somente
na diagonal principal e são escritas como sendo

a p 
 ap 
 
[A p ]     (217)
 
 ap 
 a p 

A equação (217) é válida para p=1 e p=3, sendo que o elemento ap é calculado a partir
das equações (204)-(209).

- Submatrizes [A2] e [A4]: estas submatrizes possue elementos não nulos somente na
diagonal principal e na subdiagonal inferior e são escritas como sendo:

 ap 
 a ap 
 p 
[A p ]   a p   (218)
 
  ap 
 a p a p 

A equação (218) é válida para p=2 e p=4, sendo que o elemento ap é calculado a partir
das equações (204)-(209).

- Submatrizes [A5] e [A6]: estas submatrizes possue elementos não nulos somente na
diagonal principal e na subdiagonal superior e são escritas como sendo:

a p a p 
 ap a p 
1 
[A p ]      (219)
2 
 a p a p 
 2a p 

A equação (219) é válida para p=5 e p=6, sendo que o elemento ap é calculado a partir
das equações (204)-(209).
50

As submatrizes [A7] restantes são matrizes nulas.


A matriz [B] é de ordem 6n x 3 que é escrita como sendo:

 b11 b12 b13 


    
 
 0 0 0 
 
 b(2n 1)1 b( 2n 1)2 b(2n 1)3 
 B       (220)
 
 0 0 0 
b b( 4n 1)2 b(4n 1)3 
 (4n 1)1 
    
 0 0 0 

sendo:

b11  a 2 (221)
b12  a 4 (222)
b13  a 4 (223)

b 2n 11  a 4 (224)

b 2n 12  a 2 (225)

b 2n 13  a 4 (226)

b 4n 11  a 4 (227)

b 4n 12  a 4 (228)

b 4n 13  a 6 (229)

Os elementos a2 e a4 são calculados a partir das equações (204)-(209).


O vetor [u(t)] é escrito como sendo:

 V1 (t) 
[u(t)]   V2 (t)  (230)
 V3 (t) 

Sendo V1(t), V2(t) e V3(t) as fontes conectada, nas fases 1, 2 e 3, no inicio da linha.
51

Observa-se que na equação (210) é constituída somente por grandezas e parâmetros


que estão no domínio da fase e permite obter, diretamente no domínio do tempo, as correntes
e tensões de fase ao longo do comprimento da mesma.

3.4 Validação dos modelos desenvolvidos

3.4.1 Validação do modelo para linhas bifásicas com plano de simetria vertical

Para comprovar a validação do modelo proposto I, os resultados obtidos com o mesmo


foram comparados com os resultados obtidos com outros dois modelos que serão
denominados, neste trabalho, modelo clássico modal e modelo EMTP.
O modelo clássico modal consiste em decompor a linha em seus modos de
propagação. Cada modo de propagação é então representado por uma cascata de circuitos π e,
em seguida, calcula-se as correntes e tensões em cada um dos modos de propagação. Em
seguida obtém-se as correntes e tensões nas fases da linha a partir do uso de uma matriz de
transformação modal adequada (TAVARES, 1999; YAMANAKA, 2009). Este modelo foi
implementado na plataforma do MatLab®.
Quanto ao modelo EMTP, trata-se do modelo de linhas bifásicas existente no software
ATPDraw (PROKLER, 2002). Trata-se também de um modelo a parâmetros discretos.
Os três modelos descritos anteriormente foram utilizados para representar uma
hipotética linha bifásica, que possui plano de simetria vertical, cuja silhueta é mostrada na
figura 12.

Figura 12 – Representação da linha de transmissão bifásica.

Fonte: Yamanaka, 2009


52

Considerou-se que cada uma das fases da linha mostrada na figura 12 é constituída de
um condutor com 1cm de raio. Os parâmetros desta linha foram calculados na frequência de
60 Hz, levando em conta os efeitos solo e pelicular. Deste modo, foram obtidos os seguintes
valores para os parâmetros longitudinais e transversais da linha.

0,3947 0,3945 
 R '     /km  (231)
 0,3945 0, 3947 

 1, 60,94746 
 L '    mH/km  (232)
0,94746 1,6 

12,56 4,19 
C '     F/km  (233)
 4,19 12,56 

Considera-se que a linha de transmissão mostrada na figura 12, com 100 km de


comprimento, teve uma das suas fases energizada por uma fonte de tensão constante de 440
kV enquanto que os terminais receptores da linha foram mantidos abertos. A configuração
descrita anteriormente é mostrada na figura 13.

Figura 13 – Teste de validação do modelo para linha de transmissão bifásica.

Fonte: Produção do próprio autor.

O modelo proposto I e os modelos clássico modal e EMTP foram utilizados para


simular as tensões de fase nos terminais da linha mostrada na figura 13.
Nas simulações realizadas com o modelo proposto I a linha foi representada por 100
circuitos do tipo mostrado na figura 6 conectadas em cascata. Quando se utilizou o modelo
clássico modal cada modo da linha foi representado por uma cascata de 100 circuitos π. No
ATPDraw a linha foi representada também por 100 circuitos discretos (cada um
53

representando um pequeno segmento de linha) conectados em cascata.


As figura 14 e 15 mostram, respectivamente, as tensões no receptor das fases 1 e 2 da
linha. A curva a mostra resultados obtidos com o modelo proposto I, enquanto que as curva b
e c mostram os resultados obtidos com os modelos clássico modal e EMTP, respectivamente.

Figura 14 – Tensão no terminal da linha na fase 1: modelo proposto I (curva a), modelo
clássico modal (curva b) e modelo EMTP (curva c).
1000

800
(a)
600 (b)
Tensão [kV]

(c)

400

200

-200
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempo [ms]

Fonte: Produção do próprio autor.

Figura 15 – Tensão no terminal da linha na fase 2: modelo proposto I (curva a), modelo
clássico modal (curva b) e modelo EMTP (curva c).
600

400
(a)
200 (b)
Tensão [kV]

(c)

-200

-400

-600
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempo [ms]

Fonte: Produção do próprio autor.

As figura 14 e 15 mostram que não há diferença entre os resultados obtidos com os


três modelos. Deste modo é possível afirmar que as considerações feitas durante o
desenvolvimento do modelo proposto estão corretas. É importante destacar que o modelo
proposto I possibilita obter os resultados diretamente no domínio das fases, enquanto que os
modelos clássico modal e EMTP utilizam matrizes de decomposição modal.
54

3.4.2 Validação do modelo para linhas trifásicas idealmente transposta

De forma análoga desenvolvida para linha bifásica, para comprovar a validação do


modelo proposto I, os resultados obtidos com o mesmo foram comparados com os resultados
obtidos com outros dois modelos que serão denominado, neste trabalho, modelos clássico
modal e modelo EMTP.
Novamente, o modelo clássico modal consiste em decompor a linha em seus modos de
propagação. Cada modo de propagação é então representado por uma cascata de circuitos π e,
em seguida, calcula-se as correntes e tensões em cada um dos modos de propagação. Em
seguida obtém-se as correntes e tensões nas fases da linha a partir do uso de uma matriz de
transformação modal adequada (TAVARES, 1999; YAMANAKA, 2009). Este modelo foi
implementado na plataforma do MatLab®.
Quanto ao modelo EMTP, trata-se do modelo de linhas trifásicas existente no software
ATPDraw (PROKLER, 2002). Trata-se também de um modelo a parâmetros discretos.
Os três modelos descritos anteriormente foram utilizados para representar uma
hipotética linha trifásica com as linhas idealmente transpostas, conforme silhueta é mostrada
na figura 16.

Figura 16 – Representação da linha de transmissão trifásica.


4 5 (7.51; 36)

2 3 (9.27; 24.4)
3.6 m

Fonte: Kurokawa, 2003.

Considerou-se que cada uma das fases da linha mostrada na figura 16 é constituída de
um condutor com 1cm de raio. Os parâmetros desta linha foram calculados na frequência de
60 Hz, levando a conta os efeitos solo e pelicular. Deste modo, foram obtidos os seguintes
valores para os parâmetros longitudinais e transversais da linha.
55

 0,6667 0,4667 0,4667 


 R '  0,4667 0,6667 0,4667   /km  (234)
 0,4667 0,4667 0,6667 

 1,5 0,5167 0,5167 


 L '  0,5167 1,5 0,5167   mH/km 

(235)
 0,5167 0,5167 1,5 

 0,0075 -0,0018 -0,0018 


C '   -0,0018 0,0075 -0,0018   F/km  (236)
 -0,0018 -0,0018 0,0075 

Considera-se que a linha de transmissão mostrada na figura 16, com 100 km de


comprimento, teve uma das suas fases energizada por uma fonte de tensão constante de 440
kV enquanto que os terminais receptores da linha foram mantidos abertos. A configuração
descrita anteriormente é mostrada na figura 17.

Figura 17 – Teste de validação do modelo para linha de transmissão trifásica

Fonte: Produção do próprio autor.

O modelo proposto I e os modelos clássimo modal e EMTP foram utilizados para


simular as tensões de fase nos terminais da linha mostrada na figura 17.
Nas simulações realizadas com o modelo proposto I, a linha foi representada por 100
circuitos do tipo mostrado na figura 10 conectados em cascata. Quando se utilizou o modelo
clássico modal cada modo da linha foi representado por uma cascata de 100 circuitos π. No
ATPDraw a linha foi representada também por 100 circuitos discretos (cada um
representando um pequeno segmento de linha) conectados em cascata.
As figura 18, 19 e 20 mostram, respectivamente, as tensões no receptor das fases 1, 2 e
3 da linha. A curva a mostra resultados obtidos com o modelo proposto I, enquanto que as
curva b e c mostram os resultados obtidos com os modelos clássico modal e EMTP,
56

respectivamente.

Figura 18 – Tensão no terminal da linha na fase 1: modelo proposto I (curva a), modelo
clássico modal (curva b) e modelo EMTP (curva c).
1000

800
(a)
Tensão [kV]

(b)
600
(c)

400

200

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempo [ms]

Fonte: Produção do próprio autor.

Figura 19 – Tensão no terminal da linha na fase 2: modelo proposto I (curva a), modelo
clássico modal (curva b) e modelo EMTP (curva c).
400

300

200
(a)
Tensão [kV]

100 (b)
(c)
0

-100

-200

-300

-400
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempo [ms]

Fonte: Produção do próprio autor.

Figura 20 – Tensão no terminal da linha na fase 3: modelo proposto I (curva a), modelo
clássico modal (curva b) e modelo EMTP (curva c).
400

300

200
(a)
Tensão [kV]

100 (b)
(c)
0

-100

-200

-300

-400
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempo [ms]

Fonte: Produção do próprio autor.


57

As figura 18, 19 e 20 mostram que não há diferença entre os resultados obtidos com os
três modelos. Deste modo é possível afirmar que as consideração feitas durante o
desenvolvimento do modelo proposto I estão corretas. É importante destacar que o modelo
proposto I possibilita obter os resultados diretamente no domínio das fases, enquanto que os
modelos clássico modal e EMTP utilizam matrizes de decomposição modal.

3.5 Conclusão

Nesse capítulo foi mostrado o desenvolvimento de um novo modelo para linhas de


transmissão bifásicas com plano de simetria vertical e linhas trifásicas idealmente transposta.
O modelo permite calcular as correntes e tensões de fase ao longo da linha, diretamente no
domínio do tempo e sem o uso de matrizes de decomposição modal explicitamente.
As correntes e tensões de fase da linha são escritas na forma de equações de estado,
sendo que as matrizes de estado [A] e [B] possuem apenas parâmetros da linha no domínio
das fases.
Os resultados obtidos com o modelo proposto I mostraram-se idênticos aos
resultados obtidos com outros dois modelos já existentes e bem conhecidos, confirmando
assim que o modelo proposto foi desenvolvido corretamente.
58

4 REPRESENTAÇÃO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO COM


OU SEM TRANSPOSIÇÃO

4.1 Introdução

No Capítulo 3 foi apresentado um modelo para linhas de transmissão que permite


obter as correntes e tensões diretamente no domínio das fases. O modelo é baseado na
representação da linha no domínio modal, mas as transformações fase-modo-fase estão
inseridas nas equações de estado que descrevem as correntes e tensões ao longo da linha,
fazendo com que tais equações estejam escritas no domínio das fases.
O modelo descrito anteriormente parte da hipótese de que a matriz que desacopla a
linha em seus modos de propagação são reais e invariáveis em relação à frequência. No
entanto, esta hipótese só é satisfeita quando se trata de linhas bifásicas com plano de simetria
vertical e linhas trifásicas idealmente transpostas. Deste modo, o modelo proposto no Capítulo
3 não pode ser utilizado para representar a maioria das linhas trifásicas existentes.
Para contornar esta limitação do modelo, neste capítulo será mostrado o
desenvolvimento de um modelo de linha em que as equações de estado, que descrevem as
correntes e tensões de fase da mesma, serão escritas diretamente no domínio das fases, sem a
utilização da transformação modal. O mesmo pode ser utilizado para representar qualquer
linha, independentemente da geometria da mesma, sendo que, neste trabalho será mostrado o
desenvolvimento do modelo para linhas bifásicas e trifásicas.
Em linhas de transmissão aéreas, o valor das condutâncias é muito pequeno, ou seja,
não tendo uma influência significativa na forma de onda da corrente e da tensão ao longo da
linha de transmissão (MARTINEZ, 2005) sendo desconsiderada no equacionamento do
modelo.

4.2 Algumas considerações a respeito do modelo proposto

Sabe-se que os parâmetros longitudinais de uma linha de transmissão são classificados


em parâmetros próprios e mútuos.
Os parâmetros próprios são a resistência e a indutância, sendo que os elementos
próprios são uma resistência e uma indutância própria em cada uma das fases. Quanto aos
parâmetros mútuos, deve-se levar em conta que o fato da linha ser construída sobre um solo
que não pode ser considerado ideal (do ponto de vista de suas características elétricas) faz
59

com que além da indutância mútua, exista também um outro elemento que comporta-se como
uma resistência e que diversos autores denominam de resistência mútua (DOMMEL, 1996).
A queda de tensão em um condutor devido à indutância mútua existente entre o
mesmo e um outro é bastante conhecida e pode ser determinada por meio da lei de Lenz
(HAYT, 2003). Quanto ao efeito de uma resistência mútua, pouca informação foi encontrada
a respeito da mesma.
A dificuldade em se levar em conta o acoplamento existente entre as fases de uma
linha de transmissão geralmente é eliminada quando a mesma é representada no domínio
modal. Neste domínio uma linha de transmissão de n fases é representada no domínio modal
por seus n modos de propagação, que são totalmente desacoplados uns dos outros e são
representados por n linhas monofásicas independentes. No domínio modal, os parâmetros
mútuos da linha são distribuídos entre os modos da mesma na forma de parâmetros
longitudinais próprios e esta característica dos modos de propagação permite equacionar as
correntes e tensões ao longo dos modos de propagação da linha sem que seja levada em conta,
nestas equações, os parâmetros mútuos da linha. Deste modo quando é necessário calcular
correntes e tensões nas fases de uma linha de transmissão, é bastante usual converter esta
linha para o domínio modal, calcular as correntes e tensões em cada um dos modos de
propagação e em seguida converter tais tensões e correntes para o domínio das fases por meio
da utilização de uma matriz de transformação fase-modo adequada.
Recentemente, Schulze (SCHULZE, 2010) propôs um modelo para considerar o efeito
da resistência. No modelo proposto, considerou-se que o efeito de uma resistência mútua
obedece a lei Ohm, ou seja, a resistência mútua entre dois condutores j e k faz com que o
condutor j tenha uma queda de tensão devido à corrente no condutor k e esta queda de tensão
pode ser mensurada por meio de lei de Ohm.
A figura 21 mostra dois condutores j e k acoplados por uma resistência mútua Rm.

Figura 21 – Representação da resistência mútua.


vj(t)
ij(t)

condutor j
Rm
vk(t)
ik(t)
condutor k

Fonte: Produção do próprio autor.


60

Na figura 21 os condutores j e k são alimentados pelas fontes de tensão vj(t) e vk(t),


respectivamente, estão acoplados devido à presença da resistência mútua Rm e são percorridos
pelas correntes ij(t) e ik(t). De acordo com Schulze (SCHULZE, 2010), é possível escrever as
seguintes equações para os condutores:

v ( t) − R i ( t) = 0 (237)

v (t) − R i (t) = 0 (238)

Nas equações (237) e (238) verifica-se que, devido à resistência mútua, o condutor j
sofre uma queda de tensão que é função da corrente no condutor k. O mesmo ocorre com o
condutor k em relação ao condutor j. Verifica-se também que a queda de tensão devido à
resistência mútua obedece à lei de Ohm.
Schulze utilizou o modelo para resistência mútua descrito anteriormente para
descrever as equações de correntes e tensões em uma linha de transmissão trifásica
representada por um único circuito  (SCHULZE, 2010). No entanto, por utilizar somente um
circuito , o modelo proposto por Schulze pode ser utilizado somente para representar linhas
curtas e não permite a visualização da propagação das ondas de correntes ao longo da linha.
Neste capítulo o modelo de resistência mútua proposto por Schulze será extendido
para situações em que linhas bifásicas e trifásicas sem transposição, com geometria genérica,
sejam representadas por uma grande quantidade de circuitos  conectados em cascata, ou seja,
será deduzido um modelo para linhas de transmissão bifásicas e trifásicas de qualquer
comprimento que pode ser utilizado para representar estas linhas em situações em que deve-se
levar em conta que as correntes e tensões ao longo da linha comportem-se como ondas.

4.3 Representação de linhas bifásica

Considere uma linha bifásica genérica, conforme mostra a figura 22.


Figura 22 – Linha de transmissão bifásica genérica.

Fonte: Produção do próprio autor.


61

Na figura 22, as fases A e B da linha possuem alturas h A e hB, respectivamente, em


relação ao solo.
Considerando que um pequeno segmento de linha pode ser representado por elementos
discretos de circuito, é possível representar um pequeno segmento de linha mostrada na
figura 22, pelo circuito mostrado na figura 23.

Figura 23 – Representação de um pequeno segmento de linha bifásica por elementos discretos


de circuitos.

Fonte: Produção do próprio autor.

Na figura 23 vAj(t) e vA(j-1)(t) são as tensões de fase, na fase A, nos extremos do


segmento de linha enquanto que vBj(t) e vB(j-1)(t) são as tensões de fase, na fase B, no mesmo
segmento. As grandezas iAj(t) e iBj(t) são as correntes, nas fases A e B respectivamente, no
segmento de linha. As grandezas RA e RB são, respectivamente, as resistências longitudinais
nas fases A e B do segmento de linha enquanto que LA e LB são as indutâncias longitudinais
das fases A e B, respectivamente. Ainda, no circuito mostrado na figura 23, será levado em
consideração a resistência e a indutância mútuas que, devido à dificuldade de representação,
não são mostradas na figura 23. O segmento de linha possui também as capacitâncias
transversais parciais CAB, CPA e CPB.
A partir do circuito mostrado na figura 23 é possível obter as seguintes equações:

diAj (t)
 a11i Aj (t)  a13i Bj (t)  a12 v Aj (t)  a14 vBj (t)  a12 vA( j1) (t)  a14 vB( j1) (t) (239)
dt

dv Aj (t)
 a 21i Aj (t)  a 23i Bj (t) (240)
dt
62

diBj (t)
 a 31i Aj (t)  a 33i Bj (t)  a 32 vAj (t)  a 34 vBj (t)  a 32 vA( j1) (t)  a 34 vB( j1) (t) (241)
dt

dv Bj (t)
 a 41i Aj (t)  a 43i Bj (t) (242)
dt

sendo:

 R A LB  R AB L AB 
a11   2  (243)
 L A LB  LAB 
 L B 
a12 =  2  (244)
 L A LB  L AB 
  R AB L B  R B L AB 
a13   2  (245)
 L A L B  L AB 

 L AB 
a14   2  (246)
 L A L B  L AB 

 CPB 
a 21  2  2  (247)
 C PA C PB  C AB 

 C AB 
a 23  2  2  (248)
 C PA CPB  C AB 
 R AB L A  R A L AB 
a 31   2  (249)
 L A LB  LAB 
 L AB 
a 32   2  (250)
 L A L B  L AB 

 R B L A  R AB L AB 
a 33   2  (251)
 L A L B  L AB 

 LA 
a 34   2  (252)
 L A L B  L AB 

 C AB 
a 41   2  (253)
 C PA CPB  CAB 
63

 C PA 
a 43   2  (254)
 C PA C PB  C AB 
Escrevendo a equação (239)-(242) na forma de equação de estado obtém-se:

  [A][x]  [B][u(t)]
[x] (255)
sendo:

 a11 a12 a13 a14 


a 0 a 23 0 
 A    a 21 a 32 a 33 a 34 
(256)
31
 
a
 41 0 a 43 0 

 a12 a14 
 0 0 
[B]   (257)
 a 32 a 34 
 
 0 0 

 di (t) dv Aj (t) di Bj (t) dv Bj (t) 


 T   Aj
[x]  (258)
 dt dt dt dt 

[u(t)]T   VA( j1) VB( j1)  (259)

Na equação (258), [ x ] T é o vetor [ x ] transposto e na equação (259), [u(t)]T é o


vetor [u(t)] transposto.
A equação (255) permite calcular as correntes e tensões de fase nos terminais de um
pequeno segmento da linha, mostrada na figura 23, diretamente no domínio das fases
independentemente da geometria da linha.
Considerando agora que a linha é representada por n segmentos, do tipo mostrado na
figura 23, é possível reescrever a equação (255) como sendo:

[x]T  i A1 (t)  i An (t) VA1 (t)  VAn (t) i B1 (t)  i Bn (t) VB1 (t)  VBn (t)  (260)

O vetor [x], na equação (260), possui 4n elementos e é constituído pelas correntes


longitudinais e pelas tensões transversais nas fases da linha, representada por uma cascata de
64

n circuitos do tipo mostrado na figura 23. Deste modo, as grandezas iAj(t) e iBj(t)
correspondem às correntes nas fases A e B, respectivamente, no j-ésimo segmento
representado por um circuito igual ao circuito mostrado na figura 23. De modo análogo, as
grandezas vAj(t) e vBj(t) corresponde às tensões nas fases A e B no j-ésimo segmento.

[A11 ] [A12 ] [A13 ] [A14 ] 


[A ] [A 22 ] [A 23 ] [A 24 ]
[A]   21 (261)
[A31 ] [A32 ] [A 33 ] [A34 ]
 
[A 41 ] [A 42 ] [A 43 ] [A 44 ]

A matriz [A], na equação (261), é uma matriz quadrada de dimensão 4n. Esta matriz é
constituída por 16 submatrizes quadrada, de dimensão n, que obedece às seguintes regras de
formação:

- Submatrizes [A11], [A13], [A31] e [A33]: estas submatrizes possuem elementos não nulos
somente na diagonal principal e são escritas como sendo:

a pq 
 a pq 
 
[A pq ]     (262)
 
 a pq 
 a pq 

A equação (262) é válida para p = 1, 3 e q = 1, 3, sendo que o elemento apq é
calculado a partir das equações (243)-(254).

- Submatrizes [A12], [A14], [A32] e [A34]: estas submatrizes possuem elementos não nulos
somente na diagonal principal e na subdiagonal inferior e são escritas como sendo:

 a pq 
 a a pq 
 pq 
[A pq ]   a pq   (263)
 
  a pq 
 a pq a pq 

A equação (263) é válida para p = 1, 3 e q = 2, 4, sendo que o elemento apq é


calculado a partir das equações (243)-(254).
65

- Submatrizes [A21], [A23], [A41] e [A43]: estas submatrizes possuem elementos não nulos
somente na diagonal principal e na subdiagonal superior e são escritas como sendo:

a pq a pq 
 a pq a pq 
1 
[A pq ]      (264)
2 
 a pq a pq 
 2a pq 

A equação (264) é válida para p = 2, 4 e q = 1, 3, sendo que o elemento apq é


calculado a partir das equações (243)-(254).
As submatrizes [Apq] restantes são matrizes nulas.
Na equação (255), [B] é uma matriz de ordem 4n x 2 que é escrita como sendo:

 b11 b12 
 0 0 

   
 
0 0 
[B]   (265)
 b (2n 1)1 b(2n 1) 2 
 
 0 0 
   
 
 0 0 
sendo:
b11  a 12 (266)
b12  a 14 (267)
b (n 1)1  a 32 (268)
b (n 1) 2  a 34 (269)

Os elementos a12, a14, a32 e a34 são calculados a partir das equações (243)-(254).
Na equação (255) o vetor [u(t)] é escrito como sendo:

 v (t) 
[u(t)]   A  (270)
 v B (t) 
66

Sendo vA(t) e vB(t) as fontes conectadas, nas fases A e B, no início da linha.


Observa-se que equação (255) é constituída somente por grandezas de fase da linha e
permite obter, diretamente no domínio do tempo, as correntes e tensões de fase ao longo do
comprimento da linha, sem a necessidade de aplicar qualquer matriz de transformação.

4.4 Representação de linhas trifásicas

Considere uma linha trifásica genérica, conforme mostra a figura 24.

Figura 24 – Linha de transmissão trifásica genérica.

Fonte: Produção do próprio autor.

Na figura 24, as fases A, B e C da linha possuem alturas hA, h B e h C respectivamente,


em relação ao solo.
Considerando que um pequeno segmento de linha pode ser representado por elementos
discretos de circuito, é possível representar um pequeno segmento de linha mostrada na
figura 24 pelo circuito mostrado na figura 25.

Figura 25 – Representação de um pequeno segmento de linha bifásica por elementos discretos


de circuitos.
67

Fonte: Produção do próprio autor.


Na figura 25 vAj(t) e vA(j-1)(t) são as tensões de fase, na fase A, nos extremos do
segmento de linha enquanto que vBj(t) e vB(j-1)(t) são as tensões de fase, na fase B, no mesmo
segmento e vCj(t) e vC(j-1)(t) são as tensões de fase, na fase C, do segmento mostrado. As
grandezas iAj (t), iBj(t) e iCj(t) são as correntes, nas fases A, B e C respectivamente, no
segmento de linha. As grandezas RA, RB e RC são, respectivamente, as resistências
longitudinais faz fases A, B e C do segmento de linha enquanto que LA, LB e LC são as
indutâncias longitudinais das fases A, B e C, respectivamente. Ainda, no circuito mostrado na
figura 25, será levado em consideração as resistências e as indutâncias mútuas que, devido à
dificuldade de representação, não são mostradas na figura 25. O segmento de linha possui
também as capacitâncias transversais parciais CAB, CBC, CAC, C0A, C0B e C0C.
A partir do circuito mostrado na figura 25 é possível obter as seguintes equações:

di Aj (t)
 i Aj (t)a11  i Bj (t)a13  iCj (t)a15  v Aj (t)a12  v Bj (t)a14  v Cj (t)a16 
dt (271)
v A( j1) (t)(a12 )  v B( j1) (t)( a14 )  v C( j1) (t)( a16 )

dv Aj (t)
 i Aj (t)a 21  i Bj (t)a 23  i Cj (t)a 25 (272)
dt
di Bj (t)
 i Aj (t)a 31  i Bj (t)a 33  iCj (t)a 35  v Aj (t)a 32  v Bj (t)a 34  v Cj (t)a 36 
dt (273)
v A( j1) (t)(a 32 )  v B( j1) (t)(a 34 )  v C( j1) (t)( a 36 )

dvBj (t)
 i Aj (t)a 41  i Bj (t)a 43  i Cj (t)a 45 (274)
dt

diCj (t)
 i Aj (t)a 51  i Bj (t)a 53  iCj (t)a 55  v Aj (t)a 52  v Bj (t)a 54  v Cj (t)a 56 
dt (275)
v A( j1) (t)(a 52 )  v B( j1) (t)( a 54 )  v C( j1) (t)( a 56 )

dvCj (t)
 i Aj (t)a 61  i Bj (t)a 63  i Cj (t)a 65 (276)
dt

sendo:
68

 
 R A L2BC  LB LC  R AB  L C L AB  LAC L BC   R AC  L B L AC  LAB L BC  
a11    (277)
 L A LB LC  LA L2BC  LB L2AC  L C L2AB  2L AB LAC L BC 
 

 L2BC  L B L C 
a12   2 2 2  (278)
 L A L B L C  L A L BC  L B L AC  L C L AB  2L AB L AC L BC 

 
 R AB L2BC  LB LC  R B  LC L AB  L AC L BC   R BC  LB LAC  L AB L BC  
a13    (279)
 L A LB LC  LA L2BC  L B L2AC  LC L2AB  2L AB L AC LBC 
 
 L C L AB  L AC LBC 
a14   2 2 2  (280)
 LA L B LC  L A L BC  L B L AC  L C L AB  2L AB L AC L BC 

 
 R AC L2BC  LB LC  R BC  LC LAB  LAC LBC   R C  LB LAC  L AB L BC  
a15    (281)
 L A LB LC  LA L2BC  LB L2AC  L C L2AB  2L AB LAC L BC 
 

 L B L AC  L AB L BC 
a16   2 2 2  (282)
 L A L B L C  L A L BC  L B L AC  L C L AB  2L AB L AC L BC 

  C  C AB  C BC  C 0C  C AC  C BC   C BC
2

a 21  2  0B  (283)
 
 
 C  C  C AC  C BC   C AC C BC 
a 23  2  AB 0C  (284)
  
 C  C  C AB  CBC   C AB C BC 
a 25  2  AC 0B  (285)
  

a 31  
 
 R A  LC L AB  L AC L BC   R AB L2AC  L A LC  R AC  LA L BC  LAB LAC  
 (286)
 L A LB LC  LA L2BC  LB L2AC  LC L2AB  2LAB LAC L BC 
 
  LC LAB  L AC L BC 
a 32   2 2 2  (287)
 LA L B LC  L A L BC  L B L AC  L C L AB  2L AB L AC L BC 

 
 R AB  LC L AB  L AC LBC   R B L2AC  LA LC  R BC  L A L BC  L AB L AC  
a 33    (288)
 LA L B LC  L A L2BC  L B L2AC  LC L2AB  2LAB L AC LBC 
 

  L2AC  L A L C 
a 34   2 2 2  (289)
 L A L B L C  L A L BC  L B L AC  L C L AB  2L AB L AC L BC 

a 35  
 
 R AC  LC L AB  L AC LBC   R BC L2AC  L A LC  R C  LA L BC  LABL AC  
 (290)
 L A LB LC  LA L2BC  LB L2AC  LC L2AB  2LAB LAC L BC 
 
69

 L A LBC  L AB L AC 
a 36   2 2 2  (291)
 LA L B LC  L A L BC  L B L AC  L C L AB  2L AB L AC L BC 
 C  C  C AC  C BC   C AC C BC 
a 41  2  AB 0C  (292)
  
2
  C  C AB  CAC  C0C  CAC  CBC   CAC 
a 43  2  0A  (293)
 
 
 C  C  C AB  C AC   C AC C AB 
a 45  2  BC 0A  (294)
  


 R A  L B L AC  LAB L BC   R AB  L A LBC  L AB L AC   R AC L2AB  L A L B
a 51  
 
(295)
 L A LB L C  LA L2BC  LB L2AC  LC L2AB  2L AB L AC L BC 
 

  LB LAC  L AB L BC 
a 52   2 2 2  (296)
 LA L B LC  L A L BC  L B L AC  L C L AB  2L AB L AC L BC 


 R AB  L B L AC  LAB LBC   R B  LA L BC  LAB LAC   R BC L2AB  LA L B
a 53  
 
(297)
 L A LB LC  LA L2BC  LB L2AC  LC L2AB  2LAB LACL BC 
 

 L A L BC  L AB L AC 
a 54   2 2 2  (298)
 L A L B L C  L A L BC  L B L AC  L C L AB  2L AB L AC L BC 


 R AC  L B L AC  LAB LBC   R BC  L A LBC  L AB L AC   R C L2AB  LA L B
a 55  
 
(299)
 L A LB L C  LA L2BC  LB L2AC  LC L2AB  2L AB L AC L BC 
 

 L2AB  LA L B 
a 56   2 2 2  (300)
 LA L B LC  L A L BC  L B L AC  L C L AB  2L AB L AC L BC 
 C  C  CAB  CBC   CABCBC 
a 61  2  AC 0B  (301)
  
 C  C  C AB  CAC   CABCAC 
a 63  2  BC 0A  (302)
  
2
  C0A  CAB  CAC  C0B  CAB  CBC   C AB 
a 65  2   (303)
  
onde:

   C0A  CAB  CAC  C0B  CAB  CBC  C0C  CAC  CBC  


2 2
 C0A  CAB  CAC  CBC   C0B  CAB  CBC  CAC  (304)
2
 C0C  CAC  CBC  CAB  2CABCBC CAC
70

Escrevendo a equação (271)-(276) na forma de equação de estado obtém-se:

  [A][x]  [B][u(t)]
[x] (305)
sendo:

 a11 a12 a13 a14 a15 a16 


a 0 
 21 0 a 23 0 a 25
 a 31 a 32 a 33 a 34 a 35 a 36 
[A]    (306)
a 41 0 a 43 0 a 43 0
 a 51 a 52 a 53 a 54 a 55 a 56 
 
 a 61 0 a 63 0 a 65 0 

 a12 a14 a14 


 0 0 0 

 a a 34 a 36 
 B   032 0 0 
 (307)

 a 32 a 36 a 34 
 
 0 0 0 

 di Aj (t) dv Aj (t) di Bj (t) dv Bj (t) di Cj (t) dv Cj (t) 


 x T    (308)
 dt dt dt dt dt dt 

T
 u(t)   VA( j1) (t) VB( j1) (t) VC( j1) (t)  (309)

Na equação (308), [ x ] T é o vetor [ x ] transposto e na equação (309), [u(t)]T é o


vetor [u(t)] transposto.
A equação (305) permite calcular as correntes e tensões de fase nos terminais de um
pequeno segmento da linha mostrada na figura 25 diretamente no domínio das fases
independentemente da geometria da linha.
Considerando agora que a linha é representada por n segmentos do tipo mostrado na
figura 25 é possível reescrever a equação (305) como sendo:

[x]T  [i A1 (t)  i An (t) v A1 (t)  v An (t) i B1 (t)  i Bn (t) v B1 (t) 


(310)
vBn (t) iC1 (t)  iCn (t) v C1 (t)  v Cn (t)]

O vetor [x], na equação (310), possui 6n elementos e é constituído pelas correntes


longitudinais e pelas tensões transversais nas fases da linha representada por uma cascata de n
71

circuitos do tipo mostrado na figura 25. Deste modo, as grandezas iAj(t), iBj(t) e iCj(t)
correspondem às correntes nas fases A, B e C, respectivamente, no j-ésimo segmento
representado por um circuito igual ao circuito mostrado na figura 25. De modo análogo, as
grandezas vAj(t), vBj(t) e vCj(t) corresponde às tensões nas fases A, B e C no j-ésimo segmento.

[A11 ] [A12 ] [A13 ] [A14 ] [A15 ] [A16 ] 


[A ] [A 22 ] [A 23 ] [A 24 ] [A 25 ] [A 26 ]
 21
[A ] [A 32 ] [A 33 ] [A 34 ] [A35 ] [A 36 ]
[A]   31  (311)
[A 41 ] [A 42 ] [A 43 ] [A 44 ] [A 45 ] [A 46 ]
[A 51 ] [A 52 ] [A 53 ] [A 54 ] [A55 ] [A 56 ]
 
[A 61 ] [A 62 ] [A 63 ] [A 64 ] [A 65 ] [A 66 ]

A matriz [A], na equação (305), é uma matriz quadrada de dimensão 6n. Esta matriz é
constituída por 36 submatrizes quadrada, de dimensão n, que obedece às seguintes regras de
formação:

- Submatrizes [A11], [A13], [A15], [A31], [A33], [A35], [A51], [A53] e [A55]: estas submatrizes
possuem elementos não nulos somente na diagonal principal e são escritas como sendo:

a pq 
 a pq 
 
[A pq ]     (312)
 
 a pq 
 a pq 

A equação (312) é válida para p = 1, 3, 5 e q = 1, 3, 5, sendo que o elemento a pq é


calculado a partir das equações (277)-(303).

- Submatrizes [A12], [A14], [A16], [A32], [A34], [A36], [A52], [A54] e [A56]: estas submatrizes
possuem elementos não nulos somente na diagonal principal e na subdiagonal inferior e são
escritas como sendo:

 a pq 
 a a pq 
 pq 
[A pq ]   a pq   (313)
 
  a pq 
 a pq a pq 

72

A equação (313) é válida para p = 1, 3, 5 e q = 2, 4, 6, sendo que o elemento a pq é


calculado a partir das equações (277)-(303).

- Submatrizes [A21], [A23], [A25], [A41], [A43], [A45], [A61], [A63] e [A65]: estas submatrizes
possue elementos não nulos somente na diagonal principal e na subdiagonal superior e são
escritas como sendo:

a pq a pq 
 a pq a pq 
1 
[A pq ]      (314)
2 
 a pq a pq 
 2a pq 

A equação (314) é válida para p = 2, 4, 5 e q = 1, 3, 5, sendo que o elemento a pq é
calculado a partir das equações (277)-(303).
As submatrizes [Ap,q] restantes são matrizes nulas.
Na equação (305), [B] é uma matriz de ordem 6n x 3 que é escrita como sendo:
 b11 b12 b13 
    
 
 0 0 0 
 
 b(2n 1)1 b( 2n 1)2 b(2n 1)3 
 B       (315)
 
 0 0 0 
b b( 4n 1)2 b(4n 1)3 
 (4n 1)1 
    
 0 0 0 

sendo:

b11  a12 (316)


b12  a14 (317)

b13  a14 (318)

b 2n 11  a 32 (319)

b 2n 12  a 34 (320)
73

b 2n 13  a 36 (321)

b 4n 11  a 52 (322)

b 4n 12  a 54 (323)

b 4n 13  a 56 (324)

Os elementos a12, a14, a16, a32, a34, a 36, a52, a54 e a 56 são calculados a partir das
equações (277)-(303).
Na equação (305) o vetor [u(t)] é escrito como sendo:

[u(t)]T   vA (t) vB (t) vC (t)  (325)

Sendo vA(t), vB(t) e vC(t) as fontes conectada, nas fases A, B e C, no inicio da linha.
Observa-se que equação (305) é constituída somente por grandezas de fase da linha e
permite obter, diretamente no domínio do tempo, as correntes e tensões de fase ao longo do
comprimento da linha, sem a necessidade de aplicar qualquer matriz de transformação.

4.5 Validação dos modelos desenvolvidos

Para comprovar a validação do modelo proposto II, os resultados obtidos com o


mesmo foram comparados com os resultados obtidos com outros dois modelos que serão
denominados, neste trabalho, modelo clássico modal e modelo EMTP.
O modelo clássico modal consiste em decompor a linha em seus modos de
propagação. Cada modo de propagação é então representado por uma cascata de circuitos π e,
em seguida, calculam-se as correntes e tensões em cada um dos modos de propagação. Em
seguida obtêm-se as correntes e tensões nas fases da linha a partir do uso de uma matriz de
transformação modal adequada (TAVARES, 1999; YAMANAKA, 2009). Este modelo foi
implementado na plataforma do MatLab®.
Quanto ao modelo EMTP, trata-se do modelo de linhas bifásicas e trifásica existente
no software ATPDraw (PROKLER, 2002). Trata-se também de um modelo a parâmetros
discretos.
Os três modelos descritos anteriormente foram utilizados para representar uma
hipotética linha bifásica e uma linha trifásica.
74

4.5.1 Modelo para linha bifásica


Situação 1
Seja uma linha de transmissão bifásica conforme mostra a figura 26:

Figura 26 – Representação espacial da linha de transmissão bifásica com plano de simetria.

Fonte: Yamanaka, 2009.

Considerou-se que cada uma das fases da linha mostrada na figura 26 é constituída de
um condutor com 1cm de raio. Os parâmetros desta linha foram calculados na frequência de
60 Hz, levando em conta os efeitos solo e pelicular. Deste modo, foram obtidos os seguintes
valores para os parâmetros longitudinais e transversais da linha.

0,3947 0, 3945 
 R '   0,39450,3947 
 /km  (326)

 1, 6 0,94746 
 L '  0,94746 1, 6 
 mH/km  (327)

12,56 4,19 
 C '   4,19
12,56 
 F/km  (328)

As capacitâncias parciais são dadas por: CPA=CPB= 8,35 ηF/km e CAB= 4,19 ηF/km.
Considera-se que a linha de transmissão mostrada na figura 26, com 100 km de
75

comprimento, teve uma das suas fases energizada por uma fonte de tensão constante de 440
kV enquanto que os terminais receptores da linha foram mantidos abertos. A configuração
descrita anteriormente é mostrada na figura 27.

Figura 27 – Teste de validação do modelo para linha de transmissão bifásica: situação1.

Fonte: Produção do próprio autor.

O modelo proposto II e os modelos clássico modal e EMTP foram utilizados para


simular as tensões de fase nos terminais da linha mostrada na figura 27.
Nas simulações realizadas com o modelo proposto II a linha foi representada por 100
circuitos do tipo mostrado na figura 23 conectada em cascata. Quando se utilizou o modelo I
cada modo da linha foi representada por uma cascata de 100 circuitos π. No ATPDraw a linha
foi representada também por 100 circuitos discretos (cada um representando um pequeno
segmento de linha) conectados em cascata.
As figura 28 e 29 mostram, respectivamente, as tensões no receptor das fases 1 e 2 da
linha. A curva a mostra resultados obtidos com o modelo proposto II, enquanto que as curva b
e c mostram os resultados obtidos com os modelos clássico modal e EMTP, respectivamente.

Figura 28 – Tensão no terminal da linha na fase 1: modelos proposto II (curva a), modelo
clássico modal (curva b) e modelo EMTP (curva c).
1000

800
(a)
(b)
600 (c)
Tensão [kV]

400

200

-200
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempos [ms]

Fonte: Produção do próprio autor.


76

Figura 29 – Tensão no terminal da linha na fase 2: modelo proposto II (curva a), modelo
clássico modal (curva b) e modelo EMTP (curva c).
600

400
(b) (a)
200 (c)
Tensão [kV]

-200

-400

-600
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempos [ms]

Fonte: Produção do próprio autor.

As figuras 28 e 29 mostram que não há diferença entre os resultados obtidos


com os três modelos. Deste modo é possível afirmar que a consideração feita durante o
desenvolvimento do modelo proposto II está correta. É importante destacar que o modelo
proposto possibilita obter os resultados diretamente no domínio das fases, enquanto que os
modelos clássico modal e EMTP utilizam matrizes de decomposição modal.

Situação 2
Seja uma linha de transmissão bifásica conforme mostra a figura 30:

Figura 30 – Representação espacial da linha de transmissão bifásica sem plano de simetria.

Fonte: Produção do próprio autor.

Considerou-se que cada uma das fases da linha mostrada na figura 30 é constituída de
um condutor com 1cm de raio. Os parâmetros desta linha foram calculados na frequência de
60 Hz, levando em conta os efeitos solo e pelicular. Deste modo, foram obtidos os seguintes
valores para os parâmetros longitudinais e transversais da linha.
77

 0,1392 0, 05795
 R '     /km  (329)
0, 05795 0,1395 

 2,55 0,9943
 L '     mH/km  (330)
 0,9943 2,549 

 6,5174 0,8468 
C '     F/km  (331)
 0,8468 6,6894 

As capacitâncias parciais são dadas por: CPA= 5,6706 ηF/km, CPB= 5,8426 ηF/km e
CAB= 0.8468 ηF/km.
Considera-se que a linha de transmissão mostrada na figura 30, com 100 km de
comprimento, teve uma das suas fases energizada por uma fonte de tensão constante de 440
kV enquanto que os terminais receptores da linha foram mantidos em aberto. A configuração
descrita anteriormente é mostrada na figura 31.

Figura 31 – Teste de validação do modelo para linha de transmissão bifásica: situação 2.

Fonte: Produção do próprio autor.


O modelo proposto II e o modelo EMTP foram utilizados para simular as tensões de
fase nos terminais da linha mostrada na figura 31. O motivo de não utilizar o modelo clássico
modal é que quando os condutores estão em alturas distintas a matriz de transformação modal
passa a ser uma matriz complexa.
Nas simulações realizadas com o modelo proposto a linha foi representada por 100
circuitos, do tipo mostrado na figura 23, conectada em cascata. No ATPDraw a linha foi
representada também por 100 circuitos discretos (cada um representando um pequeno
segmento de linha) conectada em cascata.
As figuras 32 e 33 mostram, respectivamente, as tensões no receptor das fases 1 e 2 da
linha. A curva a mostra resultados obtidos com o modelo proposto II, enquanto que a curva b
78

mostram os resultados obtidos com o modelo EMTP.

Figura 32 – Tensão no terminal da linha na fase 1: modelos proposto II (curva a) e modelo


EMTP (curva b).
1200

1000

800
Tensão [kV]

(a)
600 (b)

400

200

-200
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempos [ms]

Fonte: Produção do próprio autor.

Figura 33 – Tensão no terminal da linha na fase 2: modelo proposto II (curva a) e modelo


EMTP (curva b).
600

400

200
Tensão [kV]

(a)
(b)
0

-200

-400

-600
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempos [ms]

Fonte: Produção do próprio autor.

As figuras 32 e 33 mostram que não há diferença entre os resultados obtidos


com os dois modelos. Deste modo é possível afirmar que a consideração feita durante o
desenvolvimento do modelo proposto II está correta. É importante destacar que o modelo
proposto II possibilita obter os resultados diretamente no domínio das fases, enquanto que o
modelo EMTP utiliza matriz de decomposição modal.

4.5.2 Validação do modelo para linhas trifásicas


Situação 1
Seja uma linha de transmissão trifásica idealmente transposta, conforme mostra a
figura 34:
79

Figura 34 – Representação da linha de transmissão trifásica.


4 5 (7.51; 36)

2 3 (9.27; 24.4)

3.6 m

Fonte: Kurokawa, 2003.

Considerou-se que cada uma das fases da linha mostrada na figura 34 é constituída de
um condutor com 1cm de raio. Os parâmetros desta linha foram calculados na frequência de
60 Hz, levando a conta os efeitos solo e pelicular. Deste modo, foram obtidos os seguintes
valores para os parâmetros longitudinais e transversais da linha.

 0,6667 0,4667 0,4667 


 R '   0,4667 0,6667 0,4667   /km  (332)
 0,4667 0,4667 0,6667 

 1,5 0,5167 0,5167 


 L '  0,5167 1,5 0,5167 

 mH/km  (333)
 0,5167 0,5167 1,5 

 0,0075 -0,0018 -0,0018 


C '  -0,0018 0,0075 -0,0018   F/km  (334)
 -0,0018 -0,0018 0,0075 

As capacitâncias parciais são dadas por: C0A=C0B=C0C= 0,0075 ηF/km e


CAB=CAC=CBC= 0.0018 ηF/km.
Considerando-se que a linha de transmissão mostrada na figura 34, com 100 km de
comprimento, teve uma das suas fases energizada por uma fonte de tensão constante de 440
kV enquanto que os terminais receptores da linha foram mantidos abertos. A configuração
descrita anteriormente é mostrada na figura 35.
80

Figura 35 – Teste de validação do modelo para linha de transmissão trifásica

Fonte: Produção do próprio autor.

O modelo proposto II e os modelos clássico modal e EMTP foram utilizados para


simular as tensões de fase nos terminais da linha mostrada na figura 35.
Nas simulações realizadas com o modelo proposto II a linha foi representada por 100
circuitos do tipo mostrado na figura 25 conectada em cascata. Quando se utilizou o modelo
clássico modal cada modo da linha foi representada por uma cascata de 100 circuitos π. No
ATPDraw a linha foi representada também por 100 circuitos discretos (cada um
representando um pequeno segmento de linha) conectados em cascata.
As figuras 36, 37 e 38 mostram, respectivamente, as tensões no receptor das fases 1, 2
e 3 da linha. A curva a mostra resultados obtidos com o modelo proposto II, enquanto que as
curva b e c mostram os resultados obtidos com os modelos clássico modal e EMTP,
respectivamente.

Figura 36 – Tensão no terminal da linha na fase 1: modelo proposto II (curva a), modelo
clássico modal (curva b) e modelo EMTP (curva c).
1000

800

(a)
Tensão [kV]

600 (b)
(c)
400

200

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempos [ms]

Fonte: Produção do próprio autor.


81

Figura 37 – Tensão no terminal da linha na fase 2: modelo proposto II (curva a), modelo
clássico modal (curva b) e modelo EMTP (curva c).
400

300

200
(a)
Tensão [kV]

100
(b)
0 (c)

-100

-200

-300

-400
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempos [ms]

Fonte: Produção do próprio autor.

Figura 38 – Tensão no terminal da linha na fase 3: modelo proposto II (curva a), modelo
clássico modal (curva b) e modelo EMTP (curva c).
400

300

200
(a)
Tensão [kV]

100
(b)
0 (c)

-100

-200

-300

-400
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempos [ms]

Fonte: Produção do próprio autor.

As figuras 36, 37 e 38 mostram que não há diferença entre os resultados obtidos com
os três modelos. Deste modo é possível afirmar que as considerações feitas, durante o
desenvolvimento do modelo proposto, estão corretas. É importante destacar que o modelo
proposto II possibilita obter os resultados diretamente no domínio das fases sem o uso de
qualquer matriz de transformação real, enquanto que os modelos clássico modal e EMTP
utilizam matrizes de decomposição modal.

Situação 2
Na situação 2 será considera a mesma linha representada na figura 34, entretanto, a
linha de transmissão não terá transposição entre as fases.
Com isso, a linha mostrada na Figura 34, com 100 km de comprimento, terá os novos
seguintes parâmetros longitudinais e transversais:
82

 0.8 0.5 0.5 


 R '   0.5 0.6 0.4   /km  (335)
 0.5 0.4 0.6 
1.44 0.56 0.56 
 L '  0.56 1.47 0.43  mH/km  (336)
 0.56 0.43 1.47 
 0,0063 -0,0024 -0,0024 
C '  -0,0024 0,0081 -0,0006   F/km  (337)
 -0,0024 -0,0006 0,0081 

As capacitâncias parciais são dadas por: C0A= 0,0063 ηF/km, C0B=C0C= 0,0081
ηF/km, CAB=CAC= 0,0024 ηF/km e CBC= 0.0006 ηF/km.
Considera-se que a linha de transmissão mostrada na figura 34, com 100 km de
comprimento, teve uma das suas fases energizada por uma fonte de tensão constante de 440
kV enquanto que os terminais receptores da linha foram mantidos em aberto.
O modelo proposto II e os modelos clássico modal e EMTP foram utilizados para
simular as tensões de fase nos terminais da linha mostrada na figura 35.
Nas simulações, realizadas com o modelo proposto, a linha foi representada por 100
circuitos do tipo mostrado na figura 25 conectado em cascata. Quando se utilizou o modelo I
cada modo da linha foi representada por uma cascata de 100 circuitos π. No ATPDraw a linha
foi representada também por 100 circuitos discretos (cada um representando um pequeno
segmento de linha) conectados em cascata.
As figuras 39, 40 e 41 mostram, respectivamente, as tensões no receptor das fases 1, 2
e 3 da linha. A curva a mostra resultados obtidos com o modelo proposto II, enquanto que as
curva b e c mostram os resultados obtidos com os modelos clássico modal e EMTP,
respectivamente.

Figura 39 – Tensão no terminal da linha na fase 1: modelo proposto II (curva a), modelo
clássico modal (curva b) e modelo EMTP (curva c).
1000

800 (a) (c)


Tensão [kV]

600
(b)
400

200

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempos [ms]
Fonte: Produção do próprio autor.
83

Figura 40 – Tensão no terminal da linha na fase 2: modelo proposto II (curva a), modelo
clássico modal (curva b) e modelo EMTP (curva c).
400

300 (b)
200

(a) (c)
Tensão [kV]

100

-100

-200

-300

-400
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempos [ms]

Fonte: Produção do próprio autor.

Figura 41 – Tensão no terminal da linha na fase 3: modelo proposto II (curva a), modelo
clássico modal (curva b) e modelo EMTP (curva c).
400

300 (b)
200

(a) (c)
Tensão [kV]

100

-100

-200

-300

-400
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempos [ms]

Fonte: Produção do próprio autor.

As figuras 39, 40 e 41 mostram que entre as curvas a e c não há diferença entre os


resultados obtidos. Entretanto, em relação do modelo proposto II com o modelo clássico
modal existiu uma diferença no módulo da tensão; isto ocorre devido à aproximação da matriz
de composição modal (Anexo A), já que, para o caso de linhas não transposta o
desacoplamento das fases é feito de forma aproximada. Deste modo é possível afirmar que as
considerações feitas durante o desenvolvimento do modelo proposto II estão corretas. É
importante destacar que o modelo proposto II possibilita obter os resultados diretamente no
domínio das fases sem o uso de qualquer matriz de transformação real, enquanto que os
modelos I e II utilizam matrizes de decomposição modal.

4.6 Conclusão

Neste capítulo foi apresentado um novo modelo de linhas de transmissão bifásica e


trifásica que determinam as correntes e tensões em todos os pontos da linha.
84

Este modelo foi validado a partir de outros dois modelos de linha já existente na
literatura. O primeiro é um método matemático que desacopla a linha, omitindo os valores de
resistências, indutâncias e capacitâncias mútuas, facilitando a resolução dos problemas. O
segundo método é um software computacional bastante conhecido para a resolução de
problemas em sistemas de potência.
No caso de linhas bifásicas, foram comparados os métodos em duas situações. A
primeira considerou-se uma linha com plano de simetria vertical, cujas respostas foram
satisfatórias. A segunda situação considerou uma linha sem plano de simetria vertical, com a
qual o modelo proposto foi apenas comparado com o modelo EMTP e as respostas foram
idênticas.
No caso de linhas trifásicas, foram comparados os métodos em duas situações. A
primeira considerou-se a linha idealmente transposta, cujas respostas de todos os modelos
foram iguais. Na segunda situação, o modelo clássico modal apresentou uma variação em
relação aos demais métodos, entretanto o modelo proposto estudado foi similar ao modelo
EMTP utilizado como base em estudos de sistemas de potência.
A partir da análise feita é possível validar os modelos desenvolvidos neste capítulo.
85

CONCLUSÕES

Uma representação clássica de linhas de transmissão, diretamente no domínio do


tempo, consiste em separar a linha em seus modos de propagação e representar cada um
destes modos por meio de elementos discretos de circuitos. Neste modelo, a cada instante de
tempo é necessário representar a linha no domínio modal, calcular as correntes e tensões em
cada um dos modos de propagação da linha e, em seguida, converter os valores calculados
para o domínio das fases (modelo clássico modal).
Com o objetivo de se obter um modelo diretamente no domínio do tempo e das fases,
neste trabalho foi proposto desenvolver dois modelos de linha de transmissão. O primeiro
modelo (modelo proposto I) criado foi uma evolução do modelo clássico que utiliza uma
matriz de decomposição modal. Este modelo, em vez de fazer a transformação fase-modo-
fase a cada instante de tempo, omite a matriz de decomposição modal e o resultado é dado
diretamente no domínio do tempo e nas fases.
O modelo proposto I tem a necessidade de utilizar de forma implícita uma matriz de
decomposição. Com isso, para obter bons resultados há a necessidade da linha de transmissão
ser idealmente transposta e/ou possuir um plano de simetria vertical. Para demais
configurações de linha este modelo não é recomendado devido a matriz de decomposição
modal ser complexa.
De forma a eliminar está dificuldade, o segundo modelo (modelo proposto II) foi
desenvolvido sem a utilização de qualquer matriz de decomposição. Este novo modelo se
baseia em representar um segmento de linha por elementos discretos de circuito. Com a
utilização das leis de circuitos foi possível obter uma equação de estado contendo as
impedâncias e admitâncias sem introduzir nenhuma aproximação.
Os dois modelos foram desenvolvido para uma linha de transmissão bifásica e
trifásica.
Para a validação do modelo proposto I, utilizou-se como base o modelo clássico que
utiliza a transformada modal (modelo clássico modal) e o software de simulação ATPDraw
(modelo EMTP). No caso do modelo proposto I, foi utilizado para simular a energização de
uma linha de transmissão bifásica, com plano de simetria vertical, e trifásica, onde se utilizou
a matriz de Clarke para a decomposição modal. Os resultados obtidos foram satisfatórios
mostrando que o modelo foi desenvolvido de maneira correta.
A principal vantagem do modelo proposto I está no fato de que não há a necessidade
86

de se converter a linha, a cada instante de tempo, para o domínio modal. Deste modo, o
mesmo pode ser mais facilmente utilizado por usuários que não tenham familiaridade com a
teoria de decomposição modal.
Para a validação do modelo proposto II, utilizou-se como base o modelo clássico que
utiliza a transformada modal (modelo clássico modal) e o software de simulação ATPDraw
(modelo EMTP). No caso da linha bifásica, em todas as situações simuladas obteve solução
satisfatória.
Já no caso de uma linha trifásica, na situação 1 obteve-se resultado satisfatório.
Entretanto, na situação 2 ocorreu uma pequena diferença entre os resultados gerados. Na
situação 2, a linha de transmissão considerada não foi idealmente transposta, ou seja, a
utilização de Clarke como sendo a matriz de decomposição modal, como provado no Anexo
A, por tratar-se de um método que possui algumas aproximações, houve variações na resposta
do modelo proposto II e com a resposta obtida no software ATPDraw. Ao comparar o modelo
proposto II com o modelo do software ATPDraw, o resultado foi muito satisfatório, apenas
existindo uma pequena variação na transição no período da forma de onda.
Porém, a partir da análise feita é possível validar o novo método desenvolvido. A
grande vantagem deste método é que este modelo pode ser aplicado para qualquer
configuração de linha polifásicas. Ressaltando que o modelo não utiliza nenhum tipo de
matriz de decomposição modal.
87

REFERÊNCIAS

BUDNER, A. Introduction of frequency-dependent line parameters into an electromagnetic


transients program. IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, Piscataway, v.
PAS-89, n. 1, p. 88-97, jan. 1970.

CHEN, C. T. Linear system theory and desing. New York: Holt, Rinehart and Winston,
1984.

CHIPMAN, R. A. Teoria e problemas de linhas de transmissão. São Paulo: McGraw-Hill


do Brasil Ltda, 1976.

COSTA, E. C. M. et al. Proposal of na alternative transmission line model for symmetrical


and asymmetrical configurations. International Journal of Electrical Power and Energy
Systems, Oxford, v. 33, n. 8, p. 1375-1383, oct. 2011.

COSTA, E. C. M. et al. Efficient procedure to evaluate electromagnetic transients on three-


phase transmission lines. IET Generation, Transmission & Distribution, Herts, v. 4, n. 9, p.
1069-1081, 2010.

DOMMEL, H. W. Digital computer solution of electromagnetic transients in single and


multiphase networks. IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, Piscataway, v.
PAS-88, n 4, p. 388-399, 1969.

DOMMEL, H. W. EMTP theory book. Vancouver: Microtran Power System Analysis


Corporation, 1996.

HAYT, W. H.; BUCK, J. A. Eletromagnetismo. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001.

HOFMANN, L. Series expansions for line series impedances considering diferent specific
resistances, magnetic permeabilities and dielectric permittivities of conductors, air and
ground. IEEE Transactions on Power Delivery, Piscataway, v. 18, n, 2, p, 564-570, abr.
2003.

KUROKAWA, S. Parâmetros longitudinais e transversais de linhas de transmissão


calculados a partir das correntes e tensões de fase. 2003. 151 f. Tese (Doutorado em
Engenharia Elétrica) – Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação, Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 2003.

KUROKAWA, S. et al. Alternative proposal for modal representation of a non-transposed


three-phase transmission line with a vertical symmetry plane. IEEE Latin America
Transaction, Piscataway, v. 7, n. 2, p. 182-189, jun. 2009.

KUROKAWA, S. et. al. Proposal of a transmission line model based on lumped elements.
Electric Power Components and Systems, Philadelphia, v. 38, n. 14, p. 1577-1594, 2010.

MAMIS, M. S.; MERAL, M. E. State-space modeling and analysis of fault arcs. Electric
Power Systems Reserch, Lausanne, v. 76, p. 46-51, set. 2005.
88

MARTÍ, J. R. Accurate modelling of frequency-dependent transmission lines in


electromagnetic transient simulations. IEEE Transactions on Power Apparatus and
Systems, Piscataway, v. PAS-101, n. 1, p. 147-155, 1982.

MARTÍ, L. Simulation of transients in underground cables with frequency-dependent modal


transformation matrices. IEEE Transactions on Power Delivery, Piscataway, v. 3, n. 3, p.
1099-1110, 1988.

MARTINEZ, J. A.; GUSTAVSEN, B.; DURBAK D. Parameter determination for modeling


system transients—part I: overhead lines. IEEE Transactions on Power Delivery,
Piscataway, v. 20, n. 3, p. 2038-2044, jul. 2005.

NAIDU, S. R. Transitórios eletromagnéticos em sistemas de potência. Campina-Grande:


Grafset, 1985.

PROKLER, L.; HOIDALEN, H. K. ATPDraw: users’ manual. [S.l.: s.n.], out. 2002.

SILVA, R., C.; KUROKAWA, S. Integration methods used in numerical simulations of


electromagnetic transients. IEEE Latin America Transactions, Piscataway, v. 9, n. 7, p.
1060-1065, dez. 2011.

SCHULZE, R.; SCHEGNER, P.; ZIVANOVIC, R. Parameter identification of unsymmetrical


transmission lines using fault records obtained from protective relays. IEEE Transactions on
Power Delivery, Piscataway, v. 26, n. 2, p. 1265-1272, dez. 2010.

TAVARES, M. C.; PISSOLATO, J.; PORTELA, C. M. Mode domain multiphase transmission


line model: use in transient studies. IEEE Transactions on Power Delivery, Piscataway, v.
14, n. 4, p. 1533-1544, out. 1999.

WEDEPHOL, L. M.; NGUYEN, H. V.; IRWIN, G. D. Frequency-dependent transformation


matrices for untransposed transmission lines using Newton-Raphson Method. IEEE
Transactions on Power Systems, Piscataway, v. 11, n. 3, p. 1538-1546, ago. 1996.

YAMANAKA, F. N. R. Inclusão do efeito da frequência nas equações de estado de linhas


bifásicas: análise no domínio do tempo. 2009. 108 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Elétrica) – Faculdade de Engenharia Elétrica de Ilha Solteira, Universidade Estadual Paulista,
Ilha Solteira, 2009.
89

ANEXO A
REPRESENTAÇÃO DE LINHAS TRIFÁSICAS NO
DOMÍNIO MODAL

A.1 Introdução

Uma forma de determinar as correntes e tensões no estudo de linha de polifásica é


representar a linha em seus modos de propagação. Este modelo se baseia em representar uma
linha de n fases em n linhas monofásicas (conhecida como modo de propagação). Sabe-se que
linhas trifásicas idealmente transpostas podem ser representadas em seus modos de
propagação a partir da matriz de Clarke como sendo uma matriz de decomposição modal.
No caso de linhas trifásicas que não podem ser consideradas idealmente transpostas
mas que possui um plano de simetria vertical, a matriz de Clarke pode ser considerada de
maneira aproximada, e algumas situações, como sendo uma matriz de decomposição modal.
A matriz de Clarke é real e independente da frequência e é escrita como sendo:

 2 1 
 0 
 6 3
1 1 1 
TCk     (338)
 6 2 3
 1 1 1 
 6 
2 3 

A.2 Linha de transmissão idealmente transposta

A figura 42 mostra a disposição dos condutores de uma linha de transmissão trifásica


idealmente transposta.
Para esta configuração de linha tem-se a seguinte matriz de impedância da linha:

A B B 
 Z   B C D   /km  (339)
 B D C 
90

Figura 42 – Linha de transmissão trifásica.

y
1
2 3

Fonte: Kurokawa, 2003.

Considerando que a linha mostrada na figura 42 é idealmente transposta, pode-se


reescrever a equação (339) como sendo:

X W W
 Z   W X W   /km  (340)
 W W X 

onde:
ACC
X (341)
3

B BD
W (342)
3
A matriz de impedância longitudinal, no domínio modal é escrita como sendo:

T
 ZM   TI   ZTI  (343)

Considerando que a matriz de Clarke é a matriz de decomposição modal tem-se:

1
 ZM   TCk   Z TCk  (344)

Substituindo as equações (338) e (340) na equação (344) obtém-se:


91

X  W 0 0 
 0 
 ZM    0 X  W (345)
 0 0 X  2W 

A partir do resultado obtido na equação (345), nota-se que para uma linha idealmente
transposta a matriz de Clarke desacopla a linha trifásica perfeitamente.

A.3 Linha de transmissão não idealmente transposta com plano de simetria vertical

A equação (338) mostra os parâmetros da linha para uma linha sem transposição, com
configuração apresentada na figura 42. Da mesma forma do caso anterior, substituindo as
equações (338) e (339) em (344), tem-se:

 2 1 1   2 1 
     0 
 6 6 6 A B B  6 3
 
1 1   1 1 1 
 ZM    0   B C D    (346)
2 2  6 2 3 
  B D C  
 1 1 1   1 1 1 
 3 3 
3   6 
2 3 
 

Desenvolvendo-se a equação (346), tem-se:

 z 0 z 0 
 ZM    0 z 0  (347)
 z0 0 z 0 

onde:
1
z   2A  C  4B  D  (348)
3

z  C  D (349)

1
z0   A  2C  4B  2D  (350)
3
92

2
z0   A  C  B  D (351)
3

z 0   z 0 (352)

A partir do resultado obtido na equação (347), nota-se que para uma linha não
transposta, a matriz de Clarke não desacopla a linha trifásica perfeitamente. Ou seja, quando
utiliza-se este método para determinar tensão e corrente da linha, este método acaba não
sendo exato mas apresentando, em algumas situações, uma boa aproximação.

Você também pode gostar