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Humor Negro
Humor Negro
- TEXTOS CÓMICOS -
VÁRIOS AUTORES
honestamente a vida.
método capaz de evitar ou atenuar este estado de coisas e creio ter chegado
ali são alimentadas com leite materno (que, como se sabe, é gratuito).
alimentar a criança, há que arranjar outro tipo de leite, quer seja de vaca ou
caridade pública.
Ora o meu plano é tão eficaz que, não só evita as despesas feitas pelas
milhares de adultos.
Como se sabe, raras são as crianças que podem trabalhar antes/ dos seis
fábricas, minas ou herdades, depois dos) doze. Mesmo nesta idade valem
muito pouco e alguns pais vendem-nas: por duas ou três libras o que nem
todos esses amos. Para os pobres é pois um mau negócio criar um filho.
favoravelmente.
terra. Entre as crianças que se apurarem, a fim de serem usadas mais tarde
gordos e macios.
Uma só criança dará para um bom jantar de família, ainda que haja
É evidente que este petisco será caro, e só poderá ser apreciado pelos
também o seguinte:
os jovens pobres dos doze aos catorze anos de ambos os sexos, visto
presentemente existe.
ouso manifestar-me contra a sua opinião; no que diz respeito aos jovens do
sexo masculino, fui informado que a sua carne é muito dura, toda nervo,
catorze anos já estão aptas a procriar e abatê-las seria uma medida pouco
económica, pois as crias darão muito mais lucro do que as próprias mães.
Creio que as vantagens desta minha proposta são evidentes e entre elas
destaco as seguintes:
venda dos seus bebés. E o dinheiro bem falta faz para pagar as rendas aos
gordos e tenros.
éguas, que estão para parir, isto é, com todas as atenções, a fim de não
Durante estais férias ide verão habitei uma vivenda vizinha da casa de
uma velha bruxa, a mulher mais odiosa que já me foi dado conhecer.
avareza, tudo isto disfarçado sob uma capa de humildade e devoção levadas
aos extremos:.
minha memória essa aventura como a coisa maia deliciosa que já fiz ao
Aquilo tinha que acontecer. Eu não podia mais! Nem dormia só com a
Num dia em que cairá sobre a região uma forte chuvada, convoquei
tudo enfim que fosse capaz de ajudar a destruir as culturas. Prometi bons
Foi uma razia! Em vinte e quatro horas, árvores, arbustos, flores, erva,
de devastação e deliciei-me.
A minha vizinha saía então de casa para a missa das dez. É impossível
pavor que ela experimentou ao cheirar, numa bela manhã, as suas flores.
um dia ela leu estranhas notícias no seu periódico. Coisas como esta:
isolado...»
auge com uma magistral partida que levou a velha para as mãos de Deus
A noite estava escura. Uma noite sem estrelas e sem lua. Inquieta por
muro que separava os nossos jardins e correu como um louco para a sua
dona.
O leitor já viu alguma vez um gato luminoso surgir das trevas? É um
— Belzebu! Belzebu!
relva.
AUTOR ANÓNIMO
São estes os cheiros que, até agora, foi possível encontrar no seio da
carne putrefacta. Mas outros, certamente, a ciência vai descobrir e, mais dia
perfumes.
cristal.
fase próspera, sem dúvida, pois a matéria prima é inesgotável. Haverá para
todos os gostos. Para compradores requintados destilar-se-ão cadáveres de
os ente queridos que nos deixaram! Hoje, quando morre um ser que muito
cozido.
cheiros.
O INGRATO
EUGÉNE CHAVETTE
altura, e por sorte .sua, uma casa fronteira à praça principal da cidade, onde
gentilezas que devo aos meus superiores. Vou convidá-los para assistir à
ordenado».
Tinha três janelas para o lado da praça; cabia uma boa quantidade de
pessoas. Por isso pediu a um colega, que trabalhava com uma velha
janela, à execução de um feroz criminoso que terá lugar no dia tal às tantas
um convite escrito pelo seu próprio punho, num belo cursivo inglês.
quase entrevado. Um dos ajudantes, tinha fugido da cidade, por ser acusado
de roubo; o outro estava de cama com uma úlcera e muito fraco, dado que
boa vontade da parte do preso, era quase certo que a sentença não seria
correu a notícia de que o condenado não tinha acolhido bem a ideia de ficar
diretor da cadeia, disse que conhecia o preso e que era capaz de o fazer
mudar de decisão.
ouvi dizer?
CONDENADO — É verdade.
certeza nem te deixaram dormir. Não ficaste intrigado com o barulho? Que
é que pensavas que era? Não me digas que julgavas tratar-se da construção
de algum presépio. Não, meu caro. Tu sabias bem que estavam a construir
a guilhotina e que só podia ser para ti, meu criminosão! Essa não pega. Vá,
CONDENADO — Não.
tens vergonha?
conheces bem o Senhor Conde, não conheces? Sabes que ele já não saía do
seu solar há mais de dois anos. Desde a queda da monarquia. Tinha jurado
não voltar a pôr os pés na rua. (Com ar de triunfo) Pois está ali! Porquê?
Porque te quer ver na guilhotina. Veio por tua causa, meu ingrato. E tu a
Conde.
apresentado.
ESCRITURÁRIO — E eu que te julgava uma pessoa de educação!
Podes ser um assassino, mas isso não impede as boas maneiras. Ah! Já sei!
(Bate na testa) !É o medo de fazer despesas que te não deixa vir! Mas, oh!
ignorante! Não sabes que todas as despesas de execução correm por conta
recebem subsídio do Estado fossem tão suscetíveis como tu, o país estava
rico. Vá, arranja-te. Veste uma camisa lavada. Escusas de pôr o colarinho.
fazem o que lhes apetece? As pessoas fazem o que devem fazer. Não
acreditas?
CONDENADO — Acredito.
ingrato. Por esse mundo fora, desde o Brasil ao Canadá, desde a África às
única ambição, o seu único desejo, é vir morrer à Pátria querida e distante.
minha bela e doce Pátria». Pois bem: tu estás na tua cidade natal, no meio
dos teus compatriotas, e rejeitas esse favor que te fazem. Não achas que é
ser ingrato?
Vá, não sejas criança. Pensa um bocadinho nas vantagens. Antes de ser
E tinhas remorsos, com certeza. Dizias para contigo: «Se me prendem, sou
Foste preso. Foste julgado. Mas tudo passou. O mais difícil está feito.
Agora são mais cinco minutos e pronto... Ainda hesitas? Não compreendo.
A não ser que gostes de estar aqui fechado nesta cela húmida, boa para
CONDENADO — Não,
já não falo no carrasco que, coitado, com oitenta anos de idade e cheio de
asma, não dormiu em toda a noite só para ter a guilhotina bem preparada e
Além disso deve ser este o último trabalho que ele faz. Ao menos podias
amável para comigo que fui teu companheiro de escola e tantas vezes
que me aumentem o ordenado. Faz ao menos isto por mim, que diabo!
Além de que será a primeira execução a que eu assisto. Mas vejo que não
queres proporcionar este pequeno prazer a um amigo de infância. Queres
ou não?
que depois não digas que não te avisei. Hoje dizes que não te apetece, mas
que não. É uma ordem estabelecida. Ei não vais contra a ordem, creio eu...
amigo! Volta a ti. Eu quero ajudar-te. Pensa bem; é tão fácil seres camarada
almoço como o que tens na barriga? Bem poucas, meu caro! Agora vão
tempo passa sem dares por isso. Ao chegares ao cadafalso desces do carro e
ainda que os degraus não sejam altos. Até uma criança de dois anos os
contente.
resumo: se não for hoje é amanhã, ou mesmo sexta-feira, o que te vai trazer
CONDENADO — Não.
assistência.
está interessado nela. Se não estivesse, tinha mudado a pena para prisão
CONDENADO — Pois devias ter-me dito isso há mais tempo que nunca
teu Presidente! E o que acontece? A primeira coisa que ele exige de ti, tu
recusas. Sabes o que ele dirá? Dirá que tu, afinal, não eras do seu partido. À
responde: «Nunca julguei que aquele rapaz me fizesse uma coisa dessas».
(Ao ouvir estas palavras, o condenado levantou-se. Queria falar, mas
uma violenta emoção lhe cortou a voz. No entanto os seus gestos e a sua
Vamos, não tenhas receio. Vês como eu estou tranquilo? Vou dizer ao
senhor carrasco que estás preparado. Agora deixo-te em paz. Tenho que ir
segundo escriturário.
AUTOR ANÓNIMO
— É muito caro!
primeira vez que me pedem abatimento no preço dum funeral... isto depois
— Sim, — disse o empregado, que não achava bem dizer «sim, senhor»
a um mendigo.
pesetas. E agora pede-me uma fortuna! Tem a certeza de que não haverá
qualquer lapso ?
para estar nas condições exigidas, era necessário que lhe faltassem as duas.
e esperou o comboio.
— Mas o amigo era coxo de uma perna e agora é coxo das duas. Vejo
peseta.
—' Como vê, sou eu. Mas, agora já me faltam ambas as pernas e
O empregado sorriu:
—Você não compreendeu bem as minhas palavras. É verdade que a
duas pernas. Mas oferece apenas uma. A outra terá você que a comprar.
Balançando-se nas muletas dirigiu-se para o troço ide via férrea onde
AUTOR ANÓNIMO
Porém não foi assim. Momentos depois de apagar a luz, ouvi o som,
caindo...
...Uma simples gota que tombava do cadáver do meu tio Gustavo que eu
serviu, quase à justa, para pagar as dívidas de jogo contraídas pelo nosso
Sultão tinha oferecido as peças para montar apenas metade do barco. Esse
Encontrávamos água com abundância, mas nem um animal nem uma planta
negros carregadores.
O primeiro nome que saiu foi o dum preto muito velho e ossudo.
Rejeitámo-lo, dada a sua idade proveta que nos devia merecer respeito e,
repetidas vezes. O excelente negro, Deus tenha a sua alma no céu, deu para
três refeições.
animais tão velozes; era trabalhoso e árduo. Além disso, seria perigoso e
primeiro.
ossudo.
resolvido.
Devo dizer que provocámos, com essa prática, o espanto e o horror das
antropofagia.
A CABEÇA DA BEM AMADA
AUTOR ANÓNIMO
uma índia muito bela por quem se apaixonou. Como a moça lhe recusasse o
seu amor, o meu amigo Jacques Dingue (assim se chamava) foi atacado de
loucura.
morreram todos, exceto o médico (que fugiu para outra região) e o meu
atirando-a para longe e ordenando ao cão que a fosse buscar. Fez isto umas
nariz.
A certa altura porém, Jaques atirou a cabeça com demasiada força e esta
meus pais tinham ali uma mercearia. A família era numerosa. A mamã
ficara com dois filhos do primeiro casamento e, de meu pai, tinha quatro
Escapei à morte porque tinha tirado, nessa manhã, oito tostões da gaveta
ida cómoda para comprar rebuçados. O meu pai pusera-se aos gritos:
cogumelos.
vegetas. À noite havia onze cadáveres em casa. Quem nunca viu onze
demasiado grande para uma pessoa de tão pouca idade. Fui, digamos,
horrorosas, apenas senti que não era merecedor de uma hecatombe daquela
grandeza.
lacónicas:
— Mais um.
Eu ouvia pedaços de diálogo:
— E a avó?
— Então e tu?
— É espantoso!
Era isso que devia pensar o Dr. Lavignac quando me olhava como se olha
— Eu não comi...
— Porquê?
profissional, mas juro que o tom com que pronunciou aquelas palavras era
reprovativo. Repetiu ainda duas ou três vezes: « Porquê ?! Mas porquê ?!»
roubo, uma opinião talvez paradoxal mas que quarenta anos de experiência
não modificaram.
SERVIÇO DE LIQUIDAÇÃO
financeira. O seu tempo era precioso. Não podia perdê-lo com ninharias.
Mas a menina Dale, sua secretária, quando viu um senhor de certa idade,
lhe sem demora a porta do gabinete do senhor Ferguson. — Boa tarde, meu
caro senhor, — disse o recém chegado ao mesmo tempo que a menina Dale
serviço de liquidação...
Ferguson fez uma careta de desagrado* por ver que a secretária tinha
respeitável.
Ferguson levantou-se.
— Bom, cavalheiro. Basta de brincadeira. Pode dizer-me agora o que o
levou a procurar-me?
— Devo concluir então que o senhor não tem necessidade dos nossos
serviços. Que não tem ninguém que o incomode: nem um dos seus amigos,
—'A minha esposa!? Mas o que é que o senhor sabe da minha esposa?!
— Aposto que falou com os vizinhos. Pois fique sabendo que essas
importância.
que me diz. Nem numa só palavra! Mas suponhamos por instantes que o
— E o pagamento ?
diga-me... é doloroso?
— O menos possível.
nisso concordo. É um pouco agressiva,.. Mas creio que não sou obrigado a
— Com certeza que você sabe alguma coisa. Senão, não me vinha
procurar...
— Seja como for, ou já passei a idade em que urna pessoa pode refazer a
sua vida. Mas suponhamos que eu não era casado e queria estabelecer
uma... digamos... uma ligação com... por exemplo, com a minha secretária.
destinadas ao sucesso.
antes dessa hora. O meu tempo é precioso. Temos imenso que fazer.
— Está bem. (Ferguson teve um riso cavernoso) Mas fique sabendo que
eu não acredito uma palavra dessa sua história. O senhor nem sequer me
posição.
— Evidentemente.
ouvidos.
A menina Dale entrou com o correio para assinar e ele olhou os seios
se movimentava.
que era impossível trabalhar sob aquela tensão nervosa, decidiu regressar
imediatamente a casa.
atrasado. Seria possível que a menina viesse fazer serão dois ou três dias
esta semana?
— Incomodo-te?
— Está lá?
— Daqui Ferguson.
— Bem...
casado. Dezassete anos! Tinham vivido bons momento®, ambos. Era justo
um grande peso.
carneiro... um prato que sempre detestara. Mas não tinha importância. Era
A campainha tocou.
lavandaria.
Pelas seis horas da tarde fui beber um copo ide cerveja ao bar do hotel e
perto de mim.
Falava com, um sotaque que tanto podia ser espanhol como italiano.
Respondi que ide facto o tempo estava magnífico e que era muito agradável
senhor sabe?
— Obrigado.
— Apostar?
— Com certeza. Não seria esta a primeira vez que apostava. O homem
disse lentamente.
— Bom, vamos entrar no hotel. Nos meus aposentos não corre vento e
assim o seu isqueiro tem mais possibilidade de o não deixar ficar mal.
— Tanto melhor para si. Agora escute. Eu sou um homem bastante rico.
de luxo. Acende o isqueiro dez vezes seguidas e o carro é seu. Com certeza
Qualquer coisa que, se você perder, não ficará mais pobre por isso.
— Por exemplo?...
com o dedo mindinho da sua mão esquerda, que, certamente, mão vai
— Mas isso é uma ideia absurda! Não. Aposto um dólar contra um dólar,
assunto.
as suas: mãos.
com a proposta absurda que lhe tinha sido feita. Mexia-se nervosamente na
acender...
—Se acender ganha-me o carro. Mas é melhor não pensar mais nisso.
— Com certeza que não. Se você perdesse talvez não tivesse coragem de
deixar cortar o dedo voluntariamente. O que eu faria era amarrar a sua mão
a uma mesa antes de começarmos. Punha-me ao seu lado com uma faca.
imediatamente.
pena falar no carro, visto que você tem medo de apostar. Os americanos
— Também eu, —acrescentou a moça, que até então não havia dito
— Bom... Vamos lá... Mas repito que esse jogo não me agrada nada.
espetadora.
— É aquele. Gosta?
— Ainda bem que lhe agrada. Vamos então subir para poder ganhá-lo.
chamar o criado.
libra.
— Um cutelo?
— Sim, desses que se usam para cortar carne. Deve haver na cozinha.
estava de pé, ainda em fato de banho, com o ar grave. A moça olhava para
ele com os grandes olhos azuis. Eu perguntava a mim próprio o que iria
perdoa. Com certeza que lhe cortava o dedo. Teríamos que levar o moço ao
hospital, talvez no Cadillac que ele não havia ganho. Que coisa absurda!
moça.
— Vamos começar.
Desocupou uma mesa que estava no meio do aposento e cravou nela dois
atividade do homem.
A moça, no seu fato de banho azul pálido, estava de pé, atrás da cadeira
— Estou.
Parecia muito calmo. A sua mão direita segurava o isqueiro e não tremia.
— Pode começar.
saltou.
fixas no isqueiro.
— Três.
— Quatro.
— Cinco.
— Seis
— Sete
— Oito.
para ver entrar uma mulher de certa idade que parou olhando a cena.
— Carlos! Carlos!
Voltou-se para nós: e soltou um suspiro de alívio quando viu a mão intacta
do rapaz.
internar.
— Mas ele não tem carro nenhum! O Cadillac que está lá fora é meu, o
mesa.
— Mas. era só uma apostazinha...—tornou a gemer o homem de branco.
— Ele inventa mil processos para fazer uma aposta. E não tem dinheiro
Então todos pudemos ver que, na sua mão, só restavam dois dedos: o
indicador e o polegar.
O SARGENTO COM OS QUEIXOS DE PAU-SANTO
do heroico militar (que era fraca) como o cérebro (que também não era
Não era sem tempo pois, quando ali chegou, ia quase morto e não
soldados que simulavam doenças para não irem combater para a frente,
explicou ao cabo-enfermeiro:
um cinzel.
médico muito senhor de si e da sua ciência. — Com certeza que não vamos
enfermeiro.
uma pergunta: assim, sem cabeça, como é que o homem vai lembrar-se das
— Ora, ora, meu coronel. Não tem nada que raciocinar. Basta seguir os
inimigo. Para isso ainda lhe resta um bocadinho de massa cerebral. Vou
lhe os maxilares de pau. Para isso pediu que lhe procurassem um cepo de
desenferrujar línguas (muita gente o usa e logo se põe a falar com grande
desembaraço) o sargento emitiu algumas palavras em latim. Depois
muito dado a tais manifestações e, para dizer a verdade, era até bastante
Assim, mercê daquela bala que lhe escaqueirou a cabeça, o nosso herói
não ignoram os que foram à tropa) necessitam de gritar aos soldados alguns
bem.
COZINHA ANTROPOFÁGICA
políticas mas, neste estudo, a única coisa que nos interessa é o aspeto
sacrifício e que, se não têm aplicação culinária, mão sei na verdade, que
crer que o hábito de comer carne humana, visto à luz da gastronomia, não é
Para justificar esta afirmação, o senhor Varigny fala ide umas rãs que
alimentou durante algum tempo com carne de outras rãs. A carne de rã tem
Vem tudo isto a propósito duma ideia que eu tive: com a falta cada vez
A gente engorda para aí tanto tipo inútil! Creio que nem eles próprios
proteínas.
O RAJÁ QUE SOFRIA DE TÉDIO
Sofre terrivelmente de tédio e nada pode mitigar a sua dor, porque ele
sofrimento dum Rajá. Só quem já algum dia foi Rajá, emprego que, creio
Mas um gesto ide tédio do Rajá indica ao intendente que o senhor não
aborrecido.
Mas esperem: está ali uma bailadeira, muito bela, que, pela primeira vez,
E a bailadeira dança.
Oh! Como dança bem! Que encanto, que graça, que leveza nos seus
movimentos!
— Tira mais!!!
— Mais ainda!
algum pedaço de tecido que porventura esquecesse. Mas não: está nua e
— Mais ainda!
A moça suporta a operação por amor do Rajá. Para que o Rajá não se
aborreça!
E eis que agora a bela bailadeira não é mais do que uma peça anatómica,
sangrando e fumegando.
1.° ACTO
mulher. Mas devias lembrar-te que hoje é o dia da caridade e costumo ter,
todos os anos, um pobre sentado à mesa para jantar comigo. Onde é que
MARQUÊS —Que ingrato! Enfim... (sus piro) Mas tu não vai® querer-
me fazer acreditar que não haja um pobre nesta região... E a Maria Coxa?
MORDOMO — Reformou-se.
MARQUÊS — E o Pilha-Galinhas?
MARQUÊS — Não o deixarão sair por uma hora apenas, para vir jantar
comigo?
menos uma vez por ano? Ai que desgraçada vida... Ih! Ih! (chora).
Pronto.
(Música)
2.° ACTO
MARQUÊS— Um quê?
MORDOMO—Um pobre.
MARQUÊS — Já era tempo. Estou com uma fome de lobo. Como é que
ele é?
anedotas. O que tivemos o ano passado era sinistro. Passou todo o jantar de
Mas trata-se de um falso cego. Usa esse truque porque, segundo diz, é o
sai.)
MARQUÊS—(monologando) É um costume bem simpático, este de
cima. Ele cheira mal... (Ao pobre:) Aqui em casa há o costume de aspergir
POBRE — Hããã...
Esta besta deve ter piolhos. (Para o pobre:) Senta-te, bom homem. Não
POBRE — Hãããã...
água de Colónia.)
POBRE — Não.
POBRE — Não.
MARQUÊS — Come então o que mais te apetecer.
MARQUÊS — Não me faças rir. Um pobre que não tem fome! Mas que
Cura...
MARQUÊS — É extraordinário!
a gente para fazer o jeito. Mas agora não posso mais. Se engolisse mais
deliciado).
POBRE — Não como, não como e não como, raios. Já disse que não
como.
(Mete-lhe uma colher de puré na boca.) Vês como não custa nada?
(Irónico) Vá, mais uma colher pelo senhor marquês... outra pela senhora
marquesa... outra pelo Baptista... outra pelo notário... outra pelo senhor