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Presentation 3
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Mais de sessenta anos depois de terem adquirido a sua independência das potências
coloniais europeias, os países africanos continuam a comercializar matérias-primas.
Além disso, a ascensão da China como potência industrial global renovou a corrida
pelos recursos naturais africanos, levantando preocupações de sustentabilidade.
Contudo¸ esta sustentabilidade muitas vezes é medida em termos economicos e
ambientais.
Assim sendo, pretendemos mudar a discussão sobre as consequências desta nova corrida
pelos recursos naturais africanos, das narrativas de esgotamento e degradação ambiental
e olharmos para os recursos naturais e a sua sustentabilidade sustentabilidade do ponto
de vista cultural visto que, em África há uma ligação muito forte entre o ambiental e a
espiritual.
Na mesma senda, Elias Bongmba examinando as interações entre as crenças religiosas africanas
e as práticas ambientais destaca que as tradições espirituais africanas frequentemente incluem
rituais de adoração e reverência à natureza, promovendo uma relação de respeito e harmonia
com o ambiente natural.
No actual cenário internacional, tem se verificado que a China passou para a posição de
principal receptor das exportações africanas bem como, em termos de cooperação, um
dos principais parceiros do continente. A presença económica chinesa em Moçambique
intensificou diversos acordos bilaterais de cooperação técnica, empréstimos,
investimentos, projectos de contratação, concessão de subcídios directos para as obras
públicas e cancelamento de dívidas a serem rubricados.
Verifica-se que, para a exploração dos recursos naturais no país, tem se recorrido ao
processo de reassentamento das populações das zonas de exploração para outros locais.
DINGSHENG
Esta actividade criou diversas consequências a nível cultural para as populações locais
das quais se destacam:
Destruição de santuários
Em algumas zonas de origem dessas populações, ora reassentadas, relata-se que existia
um santuário que era frequentado durante a realização de cerimónias e rituais. Com o
processo de reassentamento, este local deveria ser destruido. Para Achile Mbembe
(2017), a perda desses locais sagrados é uma forma de violência simbólica que mina a
identidade cultural e espiritual das comunidades africanas. A destruição de santuários
não apenas causa danos ambientais, mas também perpetua a marginalização das
comunidades locais.
Nesse contexto, Chris Wet (2006) sustenta que "um processo de reassentamento feito
para responder a interesses económicos não é suficiente para responder de forma justa à
dimensão cultural, que é complexa e multidimensional, ou seja, os reassentamentos não
1
MUAGA, David Fortunato. Expectativas de desenvolvimento resultantes do reassentamento mineiro no bairro de Nwahamuza,
distrito de Chibuto, Moçambique. Maputo: Departamento de Arqueologia e Antropologia- Universidade Eduardo Mondlane, 2021.
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devem só restaurar os rendimentos da população, mas olhar para o que constitui o
reassentamento e o que o envolve, utilizando termos sociológicos."
Recomendações
Além disso, a falta de consideração pela dimensão espiritual pode minar a coesão social
e a resiliência das comunidades, prejudicando sua capacidade de enfrentar desafios
econômicos e ambientais. Ao reconhecer e honrar as crenças e práticas espirituais das
comunidades, o desenvolvimento económico pode promover o equilíbrio entre as
necessidades materiais e espirituais das pessoas e do meio ambiente visto que os
mundos material e espiritual tornam-se entrelaçados pela maneira como as pessoas se
relacionam com seus ambientes.