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Desvalorização pelo atraso, dependência química e

impulsividade
Descuento por Demora, Dependencia química e Impulsividad
Delay Discounting, Chemical Addiction and Impulsivity

Adriana da Matta*
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Fábio Leyser Gonçalves
Universidade Estadual Paulista
Lisiane Bizarro
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Doi: dx.doi.org/10.12804/apl32.2.2014.03

Resumo Palavras-chave: Atraso da gratificação, adições, impul-


sividade, intervenção, tratamento
Desvalorização pelo atraso (DA) se refere à escolha
especialmente influenciada pelo grau de imediaticidade Resumen
com que um bem é liberado, havendo a diminuição de
sua preferência em função do atraso em sua liberação. A Descuento por demora (DD) se refiere a la elección, es-
DA se relaciona de forma positiva com a impulsividade e pecialmente influída por el grado de inmediatez con la
está presente em portadores de diversos tipos de depen- que una recompensa es liberada, habiendo disminución
dências químicas e de outros transtornos que envolvem de su preferencia en función del retraso en su liberación.
a impulsividade. Este artigo tem como objetivo apre- El DD se relaciona positivamente con la impulsividad y
sentar a DA e sua relação com a dependência química está presente en pacientes con diversos tipos de adiccio-
a partir de revisão de estudos que verificaram a relação nes y otros trastornos relacionados con la impulsividad.
entre ambos e a aplicabilidade dos resultados como me- Este artículo tiene como objetivo presentar el DD y su
dida de impulsividade. Os estudos demonstraram que a relación con la dependencia química a partir de una re-
desvalorização se associa de forma significativa com o visión de estudios que examinaron la correlación entre
consumo de substâncias e revelaram que sua avaliação ellos y, presentar también, la aplicabilidad de los resul-
pode ser uma importante informação no processo de to- tados como una medida de la impulsividad. Los estudios
mada de decisão no uso de substâncias. Apresentam-se han demostrado que la demora está asociada, de manera
também estratégias de intervenção capazes de controlar significativa, con el uso de sustancias y señalaron que su
e modificar a DA. evaluación puede ser una información importante en el

* Adriana da Matta, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Fábio Leyser Gonçalves, Departamento de Psico-
logia, Universidade Estadual Paulista; Lisiane Bizarro, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A correspondência relacionada com este artigo deve ser direcionada a Adriana da Matta, Instituto de Psicologia - Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Rua Ramiro Barcelos, 2600 - Bairro Santa Cecília, Porto Alegre - RS – Brasil, CEP: 90035-003. Correio eletrônico:
adriza.ez@terra.com.br

Para citar este artigo: Matta, A., Gonçalves, L. F., Bizarro, L. (2014). Desvalorização pelo atraso, dependência química e impulsividade.
Avances en Psicología Latinoamericana, 32(2), 217-230. doi: dx.doi.org/10.12804/apl32.2.2014.03

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proceso de toma de decisiones en el uso de sustancias. Se Diversos estudos selecionados de acordo com
presentan, también, estrategias de intervención capaces sua relevância são descritos e demonstram que a
de controlar y cambiar el DD. desvalorização se associa de forma significativa
Palabras clave: Atraso de gratificación, adiciones, im- com o consumo de substâncias e revelam que
pulsividad, intervención, tratamiento a avaliação da desvalorização pelo atraso, que parte
do estudo de processos psicológicos básicos, pode
Abstract ser uma importante informação enquanto processo
de tomada de decisão no uso de substâncias.
Há poucas, mas sutis, diferenças na forma como
Delay discounting (DD) refers to the choice particularly
o processo de desvalorização pelo atraso (DA) é
influenced by the degree of immediacy with which a
descrito. Ela pode ser definida como depreciação
reward is delivered, presenting a reduction in the prefe-
no valor de uma recompensa em função do tem-
rence for the reward when there is delay in its delivery.
po que ela leva para ser liberada (Tesch & San-
DD relates positively to impulsivity and is present in
fey, 2008), ou o enfraquecimento dos efeitos das
patients with various types of addictions and other
conseqüências no caso de uma demora ou de um
disorders involving impulsivity. This article aims at
atraso em sua liberação (Critchfield & Kollins,
presenting DD and its relation to addiction based on a
2001). É possível defini-lo também como o grau
review of studies that examined this relationship and the
em que o valor subjetivo de um bem diminui em
applicability of the results as a measure of impulsivity.
função da demora em sua liberação (Reynolds &
The studies showed that devaluation is associated in a
Schiffbauer, 2004) ou, simplesmente, a tendência
significant way to substance use and revealed that their
a preferir recompensas menores e mais imediatas
evaluation can be important information in the process
àquelas maiores, talvez mais vantajosas, e tardias
of decision making on substance use. Intervention stra-
(Mar & Robbins, 2007); equivalente à impulsivi-
tegies are also presented to control and change DD.
dade (Bickel & Marsch, 2001; Rachlin, Brown, &
Keywords: Delay of gratification, addiction, impulsive-
Cross, 2000), categoria de comportamentos de que
ness, intervention, treatment
o fenômeno da DA tem se mostrado uma importan-
te medida implícita (Shamosh & Gray, 2008). Altos
índices de desvalorização temporal estão associa-
Desvalorização pelo atraso, desvalorização dos às dependências químicas, ao vício em jogos,
temporal ou delay discounting se refere à escolha à obesidade e a comportamentos de risco em geral
especialmente influenciada pelo grau de imediati- (Shamosh et al., 2008).
cidade com que um resultado é liberado, seja ele Cabe apontar algumas das implicações do com-
uma recompensa ou uma conseqüência punitiva. portamento de desvalorizar, processo cognitivo
Estudos recentes têm verificado que a desvalori- que permite ao indivíduo realizar comparações de
zação pelo atraso se relaciona de forma positiva valores entre o consumo imediato e o atrasado de
com a impulsividade, e está presente em portadores um determinado bem (Loewenstein, 1988). Uma
de diversos tipos de dependências químicas e de dessas implicações diz respeito ao fato que conse-
outros transtornos que envolvem a impulsividade. qüências atrasadas, ou demoradas, têm um impacto
O presente artigo tem como objetivo apresentar ao menor no comportamento presente quando compa-
leitor a relação entre a desvalorização pelo atraso radas a conseqüências imediatas (Baker, Johnson,
e a dependência química a partir de uma revisão & Bickel, 2003b), e que o aumento no atraso de um
de estudos teóricos e de estudos empíricos que determinado evento diminui seu valor e a preferên-
utilizaram tarefas de desvalorização temporal para cia por ele (Coelho, Hanna, & Todorov, 2003). Tal
verificar a relação entre ambos e a aplicabilidade processo indica que o comportamento de pessoas
dos resultados como uma medida implícita da im- que depreciam o valor de conseqüências atrasadas
pulsividade, entre outros elementos específicos a em altos índices tende a ser enviesado em direção
cada um dos estudos. às conseqüências imediatas, o que supera a priori-

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dade de conseqüências mais importantes e tardias de reação da escolha (Reynolds & Schiffbauer,
(Epstein et al., 2003). 2004; Robles & Vargas, 2007), e utilizar proce-
dimentos de ajustes programados para otimizar
Desvalorização Temporal: formas de a tarefa e garantir a fidedignidade dos pontos de
avaliação indiferença.
As tarefas apresentam algumas suposições que
Em uma tarefa típica de DA com participantes o participante deve considerar, entre elas o fato de
humanos, o sujeito é apresentado a uma série de que os resultados ocorrerão com certeza; no caso
escolhas em que deve apontar sua preferência na de algum bem de consumo, esse poderá ser consu-
forma como desejaria receber dada magnitude de mido instantaneamente, e cada escolha não deve
um bem, que pode ser dinheiro, saúde, drogas ou ser avaliada no contexto de outras possibilidades
outro elemento que seja objeto de interesse de pes- (Read, 2003). Ao longo de diversas séries de ten-
quisa. Um experimento que tivesse por objeto de tativas, a alternativa menor e imediata pode ser au-
desvalorização o dinheiro, por exemplo, poderia mentada ou diminuída sistematicamente ou, ainda,
oferecer opções entre receber “R$1,00 agora” ou os atrasos ou as quantias podem ser ajustados às
“R$10,00 em uma semana”.1 A orientação para escolhas do sujeito, sendo que se mantém o fato
a execução da tarefa pode envolver a entrega de que, em algum ponto, a maioria dos sujeitos muda
recompensas reais, potencialmente reais (apenas de opção, passando a escolher o valor imediato em
uma alternativa por série de atrasos é selecionada vez do valor atrasado (ou o contrário). Esse ponto
aleatoriamente para recompensar o participante), de mudança de escolha é conhecido como ponto de
ou hipotéticas (Madden et al., 2004). Tarefas para a indiferença, quando a quantia imediata e a quantia
avaliação da desvalorização temporal aplicadas até atrasada são equivalentes em termos de valor sub-
a década de 1990 comumente apresentavam as al- jetivo (Reynolds & Schiffbauer, 2004).
ternativas de escolha em pares de cartões que eram
substituídos sistematicamente pelo pesquisador Avaliação comum das tarefas
(Green, Myerson, Lichtman, Rosen, & Fry, 1996;
Green, Myerson, & Ostaszewski, 1999a, 1999b), A partir de uma série de pontos de indiferença
com um cartão oferecendo a alternativa menor e identificados nos diferentes atrasos, uma curva com
imediata e o outro a alternativa maior e atrasada. os valores subjetivos pode ser gerada para cada par-
Embora ainda se possam encontrar tarefas apre- ticipante, e um índice de desvalorização pode ser
sentadas em cartões na década de 2000 (Odum & computado (Tesch & Sanfey, 2008), sendo que uma
Rainaud, 2003; Ohmura, Takahashi, & Kitamura, das mais utilizadas medidas de avaliação de tare-
2005; Ohmura, Takahashi, Kitamura, & Wehr, fas de DA é justamente a área sob a curva. Quanto
2006), hoje costumam ser apresentadas em com- maior a desvalorização, menor a área sob a curva
putadores pessoais (Gonçalves, 2005; Myerson, será (Myerson, Green, & Warusawitharana, 2001).
Green, Hanson, Holt, & Estle, 2003; Robles & Var- Outra forma de avaliação da DA diz respeito
gas, 2007), sendo a alternativa menor e imediata e ao ajuste dos pontos de indiferença aos modelos
a alternativa maior e atrasada dispostas lado a lado matemáticos. Na linha de estudos de modelos ma-
na tela do computador para serem selecionadas pelo temáticos, há dois modelos predominantemente uti-
próprio participante com o cursor do mouse, o que lizados, que permitem o cálculo da desvalorização:
permite também extrair valores exatos para medi- o modelo exponencial e o modelo hiperbólico. A
das que podem ser interessantes aos objetivos dos equação exponencial tem como pressuposto o fato
estudos, tais como a duração da tarefa ou o tempo que a escolha deve permanecer consistente ao longo

1 A alternativa seguinte poderia ser “R$2,00 agora” ou “R$10,00 em uma semana”, a próxima “R$3,00 agora” ou “R$10,00 em uma semana”,
“R$4,00 agora” ou “R$10,00 em uma semana”, e assim sucessivamente, variando-se as quantias e os atrasos (semanas, meses, anos).

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do tempo, o que não foi corroborado nos estudos atraso é maior do que o obtido pela redução do
selecionados para a presente revisão, enquanto a atraso; o efeito de intervalo, em que, quando con-
equação hiperbólica permite o cálculo da reversão siderados dois pontos no tempo, a desvalorização
da preferência, sendo o valor do reforçador inversa- depende fortemente da extensão do intervalo entre
mente proporcional ao atraso, e a função apresenta esses dois pontos, sendo que intervalos curtos le-
aceleração negativa decrescente, e não constante vam a maior desvalorização por unidade de tempo
como no modelo exponencial (Gonçalves, 2005). (Read, 2003). Embora expliquem parte do compor-
Apesar do sucesso da aplicação do modelo hiperbó- tamento de desvalorizar, as anomalias não serão
lico na descrição da desvalorização, a exigência da foco de revisão do presente artigo.
conversão de valores para parâmetros de equações
gera algumas dificuldades estatísticas, sendo que Desvalorização Temporal e dependência
algumas operações relativas à estatística inferencial química
podem gerar resultados não confiáveis (Myerson,
Green, & Warusawitharana, 2001). Através de tarefas, diferenças robustas têm
sido encontradas no grau de desvalorização pelo
Anomalias esperadas atraso de sujeitos que abusam de drogas, quando
comparados a controles. Na intenção de aprofundar
Um resultado empírico se qualifica como uma o estudo de diversos tipos de dependências quími-
anomalia se é difícil racionalizá-lo ou se suposições cas, as tarefas de DA foram adaptadas, e escolhas
implausíveis são necessárias para explicá-lo dentro unicamente monetárias foram transformadas ou
de um paradigma (Loewenstein & Thaler, 1989). associadas a escolhas de quantias de drogas equi-
As anomalias implicam que as pessoas não aplicam valentes, como cigarros e heroína, ou ganhos em
um índice único de desvalorização a todas as suas saúde equivalentes (Johnson, Bickel, & Baker,
decisões, pelo contrário, tal índice depende do tipo 2007; Odum & Baumann, 2007; Odum, Madden,
de bem e do contexto da escolha (Read, 2003). O Badger, & Bickel, 2000; Odum & Rainaud, 2003;
efeito de domínio indica que o grau de desvalori- Petry, 2003; Tesch & Sanfey, 2008).
zação pelo atraso dependerá do objeto considera- O uso de conceitos econômicos de desvalori-
do, se dinheiro, saúde, comida ou drogas (Baker, zação pode ser útil para o entendimento da impul-
Johnson, & Bickel, 2003a; Chapman & Elstein, sividade em dependentes químicos, bem como para
1995). Outros efeitos comumente relatados nos o desenvolvimento de uma abordagem que possa
estudos empíricos da DA são o efeito magnitude, fornecer um meio para o entendimento da perda de
que implica que o índice de desvalorização é maior controle de usuários de drogas, assim como em seu
para pequenas quantias (a relação inversa entre os tratamento. Um dos trabalhos mais citados sobre
índices de desvalorização e a magnitude da alter- o paradigma da DA em associação com a depen-
nativa); e o efeito de sinal, que se refere ao fato de dência química é o de Bickel e Marsch (2001), um
que ganhos são desvalorizados em índices mais estudo de revisão com uma contextualização do
altos do que perdas (Baker, Johnson, & Bickel, fenômeno do DA no plano da economia compor-
2003b; Chapman & Elstein, 1995; Read, 2003). Há tamental, que explora os modelos econômicos (as
ainda outras anomalias menos citadas, tais como o funções de desvalorização) e a relação entre DA
efeito de seqüência, que diz respeito à influência da e dependência química. Esses autores exploram
seqüência em que as alternativas são apresentadas também a impulsividade, característica dos de-
aos sujeitos de pesquisa, geralmente havendo uma pendentes químicos, e evocam diversas medidas
preferência pelas constantes ou ascendentes (Baker, de impulsividade e de personalidade para atestar
Johnson, & Bickel, 2003b; Chapman & Elstein, a validade ecológica dos modelos de DA em sua
1995; Frederick, Loewenstein, & O’Donoghue, mensuração. Bickel e Marsch (2001) também de-
2002; Read, 2003); o efeito de direção, em que o monstraram alguns fenômenos associados à DA,
índice de desvalorização obtido pelo aumento do como a reversão na preferência e o efeito de sinal.

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Desvalorização pelo atraso, dependência química e impulsividade

Geralmente, os estudos que envolvem a DA nitudes das alternativas e pelos atrasos envolvidos
investigam o fenômeno da desvalorização tempo- nas escolhas. (Kirby, Petry, & Bickel, 1999).
ral, a própria tarefa e a associação dos índices de O estudo da DA tornou possível identificar,
desvalorização à dependência química em termos em uma população caracteristicamente impulsi-
de tipo de dependência, grau de dependência e suas va, níveis de impulsividade capazes de prever o
relações com a DA. Entre as dependências quími- comportamento de risco envolvido no ato de com-
cas mais estudadas em associação à DA está a de partilhar seringas de drogas entre os dependentes
opiáceos, em especial, a heroína. Por ser uma das químicos de heroína. Dependentes de heroína que
dependências químicas de efeitos mais extremos compartilhavam injeções da droga (sharers) foram
sobre os usuários, seu estudo acrescentou infor- comparados com dependentes de heroína que não
mações valiosas ao escopo da DA. compartilhavam as injeções (non-sharers) através
de uma tarefa com dinheiro, uma com heroína
Heroína (equivalente a quantias de dinheiro conforme infor-
mado pelo participante) e, finalmente, um último
Usuários de heroína em tratamento mostraram par de alternativas que oferecia ao usuário a opção
índice de DA duas vezes superior ao de controles de utilizar heroína imediatamente em uma seringa
não usuários, independentemente de sua renda. que já havia sido utilizada por um amigo supos-
Utilizando recompensas potencialmente reais, Kir- tamente sem AIDS, ou esperar uma semana para
by, Petry e Bickel (1999) compararam usuários de injetar heroína utilizando uma seringa esterilizada.
heroína em tratamento com controles não usuários A análise dos dados revelou que dependentes de
pareados por sexo, idade e escolaridade, através heroína desvalorizam a droga, mais do que des-
do Kirby Delay-Discounting Questionnaire. Este valorizam o dinheiro. Além disso, os usuários que
instrumento é um questionário padronizado que, compartilhavam as seringas desvalorizaram o din-
embora menos sensível à desvalorização que tare- heiro em níveis significativamente mais elevados
fas computadorizadas, apresenta boas estimativas do que os que não as compartilhavam. Curiosamen-
e permite a aplicação da tarefa em grandes popu- te, não houve diferenças significativas no grau de
lações. Além de desvalorizar mais que controles desvalorização de heroína quando comparados os
não usuários, os usuários de heroína, revelaram dois grupos, o que sugere uma demanda por heroína
maior índice de impulsividade em duas outras similar entre ambos. Esse estudo demonstrou que a
escalas (Questionário Eysenk de Personalidade aferição da DA pode ser de utilidade adicional na
e Barratt’s Impulsivity Scale). Há diversas expli- avaliação da impulsividade, especialmente quando
cações possíveis para seus resultados, entre elas se requer uma medida sensível desse que pode ser
o fato de dependentes químicos necessitarem de um importante aspecto da dependência química
grandes quantias de dinheiro para comprar drogas. (Odum, Madden, Badger, & Bickel, 2000).
No entanto, a quantidade de dinheiro oferecida pe-
lo instrumento dificilmente seria comparável aos Álcool
$36,000 que os dependentes costumam despender
em heroína anualmente. Além disso, os usuários de Variações nos índices de DA também podem ser
heroína do estudo estavam em tratamento, portanto, explicados por diferenças entre graus de consumo
recebendo uma droga que previne os sintomas da e de dependência das substâncias. Os efeitos do
abstinência e bloqueia o efeito de outros opióides, o consumo de álcool sobre comportamentos impulsi-
que permite concluir apenas que existe uma tendên- vos foram avaliados através de uma tarefa de DA e
cia nessa população em priorizar suas necessidades outra de Probability Discounting.2 Os participantes
imediatas, o que fizeram influenciados pelas mag- completaram as tarefas sob efeito de placebo ou de

2 Probability discounting se refere ao fenômeno no qual as pessoas mostram preferência por resultados de maior magnitude, com mínima pro-
babilidade de ocorrência. Embora similar ao DD, onde a incerteza é incorporada ao resultado atrasado (Patak & Reynolds, 2007), passível

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álcool em dose baixa e em dose moderada. Apesar dia) e controles não-tabagistas, partindo de diversas
de ser conhecido que o consumo de álcool produz definições de impulsividade que permitem concluir
alterações psicomotoras, cognitivas e comporta- que indivíduos impulsivos apresentam relativa
mentais, não foi verificada influência sobre os graus preferência por alternativas menores e imediatas,
de desvalorização pelo atraso ou por probabilidade ou maiores e mais arriscadas, ou menores e mais
dos participantes, o que não se mostrou consistente fáceis. Entre as medidas de impulsividade, esta-
com outros estudos, talvez devido às características vam algumas relativas à personalidade, como o
dos participantes (bebedores não dependentes), Questionário Eysenk de Personalidade, Barratt’s
aspectos do ambiente de testagem ou detalhes me- Impulsivity Scale e a Sensation Seeking Scale. Além
todológicos do procedimento (Richards, Zhang, dessas medidas, os participantes completaram três
Mitchell, & De Wit, 1999). Embora esse estudo tarefas comportamentais desenhadas para acessar
não tenha verificado associação de maior índice a impulsividade: uma tarefa computadorizada de
de DA pela influência direta do álcool, o fenô- DA, uma de Probability Discounting e outra que
meno também já foi investigado com dinheiro e dispunha de uma quantia de dinheiro relativa ao
com garrafas de bebida alcoólica em alcoolistas, trabalho de apertar durante determinado tempo um
alcoolistas em abstinência e controles. Nesse caso, dinamômetro manual. Os resultados mostraram
alcoolistas apresentam desvalorização mais rápida que, em todas as medidas psicométricas de impul-
de dinheiro e de álcool quando comparados a con- sividade, os fumantes puderam ser considerados
troles e alcoolistas em abstinência, sendo o álcool significativamente mais impulsivos do que não
desvalorizado ainda mais rápido que o dinheiro. Os fumantes. Entre as tarefas comportamentais, no
alcoolistas em abstinência obtiveram índice de des- entanto, apenas no procedimento que explorou a
valorização intermediário, o que permitiu inferir a DA, os fumantes demonstraram índices significa-
influência direta do consumo do álcool sobre a DA, tivamente superiores de impulsividade, o que não
portanto, sobre a impulsividade dos sujeitos (Petry, impossibilitou que a autora concluísse que, toma-
2001). O mesmo ocorreu quando foram investiga- dos como um todo, tais resultados indiquem que
dos consumidores sociais de álcool. A partir de um fumantes são mais impulsivos do que não fumantes
questionário de rápida aplicação, cujo cenário era (Mitchell, 1999).
um prêmio de loteria em que os participantes deve- Aparentemente, para dependentes químicos, o
riam escolher a forma de receber, foi verificado que valor de sua droga de dependência é depreciado em
participantes que obtiveram índices de DA maiores índices mais altos que outros tipos de bens, tais co-
demonstraram grande aumento no grau de intoxi- mo dinheiro e saúde. Fumantes e ‘nunca-fumantes’
cação e, com base nisso, foi possível concluir que mostraram índices de desvalorização maiores para
o sucesso da DA em explicar as variações no uso ganhos em dinheiro e saúde. Fumantes também re-
de álcool se estende aos ambientes sociais (Moore velaram o mesmo efeito quando avaliados ganhos e
& Cusens, 2010). perdas em cigarros, ou seja, no caso, dependentes
e não dependentes de nicotina podem ser menos
Tabaco impulsivos quando as conseqüências são contex-
tualizadas em termos de perdas do que em termos
O estudo da DA permitiu que se concluísse de ganhos. Ambos os grupos também desvaloriza-
que fumantes tendem a ser mais impulsivos que ram perdas monetárias em índice superior às perdas
não fumantes. Mitchell (1999) administrou uma em saúde. Ganhos em dinheiro ou em saúde, no
gama de medidas validadas de impulsividade em entanto, não revelaram diferenças significativas de
tabagistas (que utilizavam mais de 15 cigarros por desvalorização. Fumantes também desvalorizaram

de ser combinado com ele (Yi, de la Piedad, & Bickel, 2006), e correlatos em grandes amostras (Ohmura, Takahashi, Kitamura, & Wehr,
2006), esse fenômeno não será objeto de estudo do presente trabalho.

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Desvalorização pelo atraso, dependência química e impulsividade

ganhos e perdas de cigarros em índice significati- qüências aversivas futuras associadas ao uso de
vamente superior aos que desvalorizaram dinheiro drogas e conseqüências positivas futuras associadas
ou saúde. Nesse experimento, não houve diferenças à abstinência. Sendo assim, diferenças no grau de
quanto aos resultados quando o critério foi o uso de DA podem ser um importante preditor do sucesso
reforçadores reais ou hipotéticos (Baker, Johnson, ou do fracasso no tratamento de tabagistas.
& Bickel, 2003a). Não é a intenção da presente revisão esgotar o
Mesmo níveis moderados de uso de substâncias tema da dependência química em associação com a
podem estar associados com altos índices de des- DA. O tema também já foi estudado em associação
valorização pelo atraso. Johnson, Bickel & Baker com a dependência de cocaína, os resultados mos-
(2007) repetiram exatamente o mesmo experimento trando maiores índices de DA de recompensas mo-
para comparar os dados de fumantes que consu- netárias em usuários, estejam ou não em abstinên-
miam 10 cigarros ou menos por dia, com fuman- cia ou privação da substância (Coffey, Gudleski,
tes que utilizavam mais de 20 cigarros por dia e Saladin, & Brady, 2003; Heil, Johnson, Higgins, &
com nunca-fumantes. Os participantes avaliaram Bickel, 2006), e índices de DA da droga superiores
dinheiro, saúde e cigarros em termos de ganhos e ao de recompensas monetárias (Coffey, Gudleski,
de perdas. Esses autores utilizaram o sistema de Saladin, & Brady, 2003).
recompensa potencialmente real. Os resultados
mostraram que quem fumava menos desvalorizou Abstinência e desvalorização pelo atraso
dinheiro de forma significativamente mais elevada
que os nunca-fumantes, embora não tenham dife- Alguns estudos demonstram que a DA, quando
rido em termos de desvalorização daqueles que associada a uma dependência química, pode ser
fumavam mais. Consistente com o estudo anterior, revertida e controlada quando a droga não está em
os três grupos não diferiram entre si quanto à des- uso. No caso do álcool, são freqüentes os estudos
valorização de conseqüências em saúde, e os dois que identificam uma reversão na preferência pela
grupos de fumantes não diferiram entre si quanto gratificação menor e imediata gerada pela abs-
à desvalorização de cigarros. Os dois grupos de tinência regular, ou, pelo contrário, um aumento
fumantes desvalorizaram os cigarros significativa- na desvalorização provocado pelo consumo agudo
mente mais do que dinheiro e saúde. do álcool. Alcoolistas apresentaram desvalorização
Um aspecto relevante dos estudos de desvalo- mais rápida de dinheiro e de álcool quando com-
rização pelo atraso do tabagismo é sua associação parados a controles e alcoolistas em abstinência,
com estados de privação de nicotina, que parecem sendo o álcool desvalorizado ainda mais rápido que
influenciar diretamente a DA. Fumantes revelaram o dinheiro. Os alcoolistas em abstinência obtive-
maior fissura pelo consumo de cigarros e desvalori- ram índice de desvalorização intermediário, o que
zaram significativamente mais dinheiro e cigarros, permitiu inferir a influência direta do consumo do
quando privados de cigarros (Field, Santarcangelo, álcool sobre a DA, portanto, sobre a impulsividade
Sumnall, Goudie, & Cole, 2006). Além disso, fu- dos sujeitos (Petry, 2001). Consumidores sociais
mantes incapazes de manterem a abstinência (que de doses agudas de álcool também desvalorizaram
produziria gratificações financeiras) durante uma mais do que aqueles que consumiram pequenas
sessão experimental desvalorizaram mais do que quantidades. Nota-se, então, que a DA pode de-
os fumantes que conseguiram manter a abstinên- monstrar aumento, se influenciada pelo grau de
cia. O uso de adesivos de nicotina não alterou este intoxicação ou de dependência (quanto mais
resultado (Dallery & Raiff, 2007). Para indivíduos álcool, maior a DA), ou reversão, ou seja, menos
vulneráveis, mesmo períodos breves de abstinência álcool, menor DA. É possível que, em bebedores
podem promover um aumento da impulsividade sociais, a DA possa ser revertida com a abstinência
na tomada de decisão, elevando o risco de recaída regular, da mesma forma que em dependentes quí-
durante a abstinência aguda. A motivação para a micos, desde que não influenciados por estados de
abstinência influencia a desvalorização de conse- privação que podem levar a respostas impulsivas.

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Como no caso do álcool, o tabagismo pode Karraker, Horn e Richards (2003) reuniram diver-
ser associado a um aumento reversível na desva- sos estudos sobre a desvalorização que tiveram co-
lorização pelo atraso. Fumantes desvalorizaram mo sujeitos usuários de drogas em geral (tabagistas,
mais cigarros e quantias em dinheiro atrasados do alcoolistas, dependentes de opióides), pacientes
que não fumantes e ex-fumantes (que não diferi- com transtorno de personalidade borderline e com
ram entre si). Esse dado indica que ou o grau de transtorno bipolar, e encontraram altos índices de
desvalorização diminui após a abstinência ou que DA nessas populações (Reynolds, Karraker, Horn,
pessoas que mais provavelmente se tornem abs- & Richards, 2003), como muitos outros estudos
tinentes desvalorizem menos, o que indicaria um (Bickel & Marsch, 2001; Chapman, 1996; Crean,
viés de seleção (Bickel, Odum, & Madden, 1999), de Wit, & Richards, 2000; Critchfield & Kollins,
que poderia ser esclarecido através de estudos 2001; Dallery & Raiff, 2007; Epstein et al., 2003;
longitudinais. Estle, Green, Myerson, & Holt, 2007; Field, Rush,
Entre as drogas que levam a uma desvalorização Cole, & Goudie, 2007; Green, Myerson, Lichtman,
mais resistente à reversão está a heroína. Usuários Rosen, & Fry, 1996; Heil, Johnson, Higgins, & Bic-
de heroína tratados com metadona abstinentes de kel, 2006; Kollins, 2003; Madden, Begotka, Raiff,
outras drogas foram comparados a usuários de & Kastern, 2003; Myerson, Green, Hanson, Holt,
heroína também tratados com metadona, mas não & Estle, 2003; Odum, Madden, Badger, & Bickel,
abstinentes de outras drogas, e a controles não usuá- 2000; Petry, 2003). Ainda assim, não há concor-
rios. Independentemente do uso de outras drogas, dância entre os autores para afirmar que tarefas de
os dois grupos de usuários de heroína não demons- DA representam uma medida de impulsividade,
traram diferenças entre si, desvalorizaram mais e sendo que alguns pesquisadores não confirmam
revelaram maior impulsividade do que os controles a existência dessa relação (Koff & Lucas, 2011;
(Robles, Huang, Simpson, & McMillan, 2011), o Reynolds, Penfold, & Patak, 2008; White et al.,
que demonstra que nem sempre a abstinência da 1994), talvez em função do uso de diferentes pro-
droga promove uma reversão na desvalorização, cedimentos metodológicos de aferição da DA ou de
pelo menos no caso da heroína. amostras pouco específicas (Mobini, Grant, Kass,
& Yeomans, 2007).
Em humanos o uso de drogas pode ocorrer
Desvalorização pelo atraso e impulsividade primeiro e aumentar a impulsividade, ou a impul-
sividade pode existir antes do uso da droga e atuar
A impulsividade é um conceito controvertido, como um fator de risco (Carroll, Anker, & Perry,
que tem mostrado consistência na correlação com 2009). Além disso, pessoas que utilizam drogas de
altos índices de DA (Robles & Vargas, 2007). A im- forma sistemática freqüentemente preferem breves
pulsividade inferida através de tarefas de DA pode períodos de intoxicação ou de alívio de sintomas
ser considerada cognitiva, ou seja, caracterizada de abstinência a uma variedade de atividades pró-
pela inabilidade de resistir à gratificação imedia- sociais cujos resultados podem se apresentar apenas
ta, apesar de sérias conseqüências futuras (Moore tardiamente (Shamosh & Gray, 2008), além de uma
& Cusens, 2010). O grau com que os indivíduos vida longa (Tesch & Sanfey, 2008) o que tem sido
depreciam o valor de uma conseqüência atrasada relacionado com o fenômeno da desvalorização
tem sido usado como um índice de impulsividade, pelo atraso.
com maiores desvalorizações indicando maior Uma contribuição relevante a respeito do papel
impulsividade (Bickel & Marsch, 2001; Epstein etiológico da impulsividade no desenvolvimento
et al., 2003). das dependências químicas, e, em especial, do taba-
A validade ecológica da DA como uma medida gismo, provém do trabalho de Audrain-McGovern
de impulsividade tem sido atestada pela consistên- e cols. (2009). Esses autores realizaram um estudo
cia dos resultados em muitos estudos. Raynolds, transversal com duração de 4 anos, acompanhando

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Desvalorização pelo atraso, dependência química e impulsividade

947 estudantes da adolescência ao início da idade Mas nem apenas traço de personalidade ou de
adulta, quando o hábito do tabagismo tende a se herança genética influenciam a DA. O estudo da
instalar. Os índices de DA na linha de base tiveram DA deve implicar diversos procedimentos para
um efeito significativo positivo, embora modesto, a discriminação das variáveis que possam levar a
sobre a tendência de fumar dos jovens no final do uma escolha. Período de desenvolvimento, ambien-
estudo. Além disso, esses autores também verifica- te, otimismo, histórico de experiências pessoais de
ram que a DA pode ser considerada um traço nesse privações ou de excessos, insegurança financeira,
período que envolve a adolescência e o início da clima macroeconômico inflacionário e caracterís-
idade adulta (Audrain-McGovern et al., 2009). No ticas pessoais como inteligência, impaciência ou
entanto, ainda considerando fumantes, adolescen- impulsividade, entre outros fatores, acrescentam
tes desvalorizaram menos do que jovens adultos, seus elementos ao que determinará as escolhas de
e, dado que a desvalorização geralmente diminui um sujeito.
com a idade, esse achado sugere que a desvalori- Jovens tendem a desvalorizar mais que adultos,
zação pode aumentar com a exposição ao cigarro que, por sua vez, desvalorizam mais do que idosos
(Reynolds, 2004). (Green, Myerson, & Ostaszewski, 1999b). Soma-se
Há outras evidências que sugerem que a DA a isso o fato de que adolescentes tem pouca idade,
pode ser definida como um traço de personalida- o que implica que uma extensão de tempo futuro é
de, uma característica relativamente estável, pré- experienciada subjetivamente como mais distante
existente, que envolve a tendência de responder do que para adultos (Steinberg et al., 2009). Outros
de determinadas formas em certas circunstâncias. fatores subjacentes às diferenças entre faixas etá-
Odum (2011) reuniu cinco estudos que utilizaram rias, tais como a falta de pensamento operacional,
mesmo método de avaliação da DA em diferentes limitações na memória de trabalho, lenta maturação
populações (fumantes, dependentes de opióides, es- do córtex pré-frontal associada a um aumento na
tudantes, membros da comunidade em geral) e suas saliência do incentivo e mudanças hormonais po-
conclusões estenderam as de Audrain-McGovern dem ser responsáveis por diferenças na DA (Blume
e cols. (2009), demonstrando que a DA pode ser & Marlatt, 2009; Steinberg et al., 2009).
considerada um traço de personalidade de base epi- Além disso, crianças desfavorecidas econo-
genética. Para essa autora, a DA é relativamente es- micamente tendem a não escolher inicialmente a
tável ao longo do tempo, mesmo considerando mu- recompensa maior e atrasada, como crianças em
danças experimentais e relativas ao desenvolvimen- melhores condições econômicas, mas puderam
to, apresenta correlação com diferentes domínios fazê-lo quando submetidas a uma série de expe-
de decisão, está associada à atividade em regiões riências em que promessas de gratificações poste-
particulares do cérebro, e parece ser hereditária. riores foram realmente cumpridas (Walls & Smith,
Outro estudo apóia a hipótese de que a DA 1970). Adultos de baixa renda mostraram maiores
tenha um componente genético. Michell (2011) índices de DA do que adultos e jovens de renda
revisou a hipótese de que DA e dependência do superior, sendo que, quando a renda é constante, o
álcool apresentem relação genética e, embora ten- grau de DA diminui marcadamente entre os 20 e
ha encontrado poucos estudos que examinassem os 30 anos, demonstrando a diminuição da impul-
a hereditariedade da DA e que verificassem que sividade com a idade (Green, Myerson, Lichtman,
alguns dos mesmos genes se relacionam à escol- Rosen, & Fry, 1996). Amostras oriundas de um
ha de recompensas imediatas em paradigmas de contexto macroeconômico inflacionário tendem a
auto-administração de álcool, concluiu que existe desvalorizar mais do que aquelas que não tem essa
um componente genético para a DA que pode ter característica (Coelho, Hanna, & Todorov, 2003;
elementos genéticos em comum com a dependência Critchfield & Kollins, 2001).
do álcool, ainda que os genes e suas redes não ten- Extroversão, interagindo de forma significati-
ham sido determinados, demonstrando que muito va com habilidades cognitivas (Hirsh, Morisano,
há para ser descoberto nesse campo. & Peterson, 2008), níveis aumentados de estresse

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Adriana da Matta, Fábio Leyser Gonçalves, Lisiane Bizarro

(interferindo na tolerância ao atraso da gratifi- bimento das recompensas (Shamosh et al., 2008).
cação) (Metcalfe & Mischel, 1999), privação de Além disso, pesquisas que investigam déficits na
sono e fadiga (Reynolds & Schiffbauer, 2004), função executiva da memória de trabalho os asso-
níveis aumentados de testosterona (apenas na des- ciam a altos índices de impulsividade (Blume &
valorização de ganhos) (Takahashi, Sakaguchi, Marlatt, 2009).
Oki, Homma, & Hasegawa, 2006) e otimismo Evidências sugerem que a melhora nas funções
(Berndsen & Van der Pligt, 2001) são exemplos de executivas aumenta as chances de mudança no uso
outras condições não necessariamente patológicas de substâncias. O desenvolvimento de melhores
já estudadas em associação com maiores índices de habilidades de atenção e concentração podem pre-
desvalorização temporal. Indivíduos com QI supe- dizer uma redução no consumo de bebidas alcoó-
rior, pelo contrário, tendem a demonstrar menores licas, ainda que modestamente (Blume & Marlatt,
índices de DA (Shamosh & Gray, 2008), bem como 2009). Recentemente foi publicado um autodecla-
aqueles com mais anos de estudo (Jaroni, Wright, rado primeiro estudo de intervenção em humanos
Lerman, & Epstein, 2004). envolvendo treinamento de memória de trabalho
Algumas distorções cognitivas (a exigência com a finalidade de avaliar seu impacto sobre a DA,
de gratificação imediata, o foco em prazos curtos sendo encontradas correlações significativas entre
e a leitura mental) também já foram associadas a DA e trabalhar o desempenho da memória entre
maiores índices de desvalorização temporal (Mobi- dependentes de estimulantes (Bickel, Yi, Landes,
ni, Grant, Kass, & Yeomans, 2007). Esses estudos Hill, & Baxter, 2011).
demonstram que alguma mudança de contingência, Ainda que pouco seja conhecido a respeito
diferenças individuais e ambiente podem ser de- dos efeitos da terapia cognitivo-comportamental
cisivos na influência da desvalorização temporal. sobre as funções executivas e, portanto, sobre a
Tais estudos permitem concluir que estratégias de DA, supõe-se que esta apresente alguma eficácia,
intervenção focadas nas funções executivas que já que inclui monitoramento e treinamento de ha-
dizem respeito ao autocontrole e à autorregulação bilidades que se destinam a melhorar a atenção,
podem ser eficazes na modificação da DA. a conscientização, o planejamento, a concentração, a
organização, a resolução de problemas e a autorre-
Da impulsividade à intervenção gulação do comportamento, bem como a prevenção
da recaída, uma estratégia da terapia cognitivo-
Funções executivas têm sido estudadas em seu comportamental que tem por objetivo manter a
impacto sobre importantes variáveis associadas à mudança no uso da substância sob controle ao
mudança no uso de substâncias (Blume & Marla- longo do tempo, envolve o controle dos impulsos,
tt, 2009). O treinamento da memória de trabalho resolução de problemas e estratégias de tomada
(definida como a habilidade para manter ativas de decisão e de regulação das emoções (Blume
representações de informações relevantes ao obje- & Marlatt, 2009). Da mesma forma, embora não
tivo, apesar da competição de outras informações) tenham sido encontrados estudos que envolvam a
de acordo com a abordagem da reabilitação cog- abordagem motivacional na dependência química,
nitiva, pode ser eficaz na modificação da DA. A mais especificamente, da entrevista motivacional,
memória de trabalho é correlata à inteligência geral é possível inferir que esta possa modelar a DA, já
e provavelmente também correlata à DA, já é que que envolve a contemplação de incentivos futuros
necessária para realizar tarefas de DA, seja para para a abstinência.
manter em mente os valores da gratificação, quer Estratégias de intervenção como as utilizadas
seja para manipular e integrar diversas informações em programas do tipo “12 passos”, que estimu-
para escolher entre as alternativas. Tarefas de DA lam a participação da família e dos pares, podem
envolvem a integração de processos cognitivos e melhorar a conscientização e promover a autorre-
afetivos, a avaliação de aspectos concretos e abs- gulação do comportamento. Tais programas, que
tratos dos eventos imaginados relativos ao rece- utilizam a aprendizagem através de repetição e

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Desvalorização pelo atraso, dependência química e impulsividade

resolução de problemas, e a divisão de objetivos compensas não são distantes no tempo. Programas
maiores em objetivos pequenos e negociáveis, são de 12 passos, como o dos Alcoólicos/Narcóticos
úteis para promover a abstinência e a recuperação anônimos, também são coerentes com o paradig-
das funções executivas (Blume & Marlatt, 2009), ma do DA, já que fornecem suporte social para a
o que envolve a DA. abstinência a cada dia. Similarmente, programas
Reconhecer um dos processos que identifica a de tratamento através do gerenciamento de con-
vulnerabilidade (Bickel, Madden, & Petry, 1998), tingências, que fornecem recompensas tangíveis,
gera e mantém uma dependência química é pres- como certificados, equipamentos esportivos, en-
suposto fundamental para desenvolver estratégias tradas para cinemas, em troca de uma amostra de
de intervenção eficazes. Em estudos pré-clínicos urina livre de marcadores para drogas têm se mos-
de DA em que animais foram treinados a escolher trado bastante efetivos (Heil, Johnson, Higgins, &
a recompensa maior e tardia, a impulsividade dire- Bickel, 2006; Higgins et al., 2006; Kirby, Petry, &
cionada à comida e às drogas foi significativamente Bickel, 1999).
reduzida (Carroll, Anker, & Perry, 2009). Índices A abordagem da DA pode fornecer um modelo
de DA podem ser utilizados para determinar a pro- experimental para a ‘perda do controle’ presente
babilidade de sucesso em programas de tratamento na dependência de drogas e, assim, tratá-la com
para usuários de drogas (Bickel & Marsch, 2001), metodologia comportamental ou farmacológica.
bem como para determinar a magnitude do refor- A DA pode ser o mecanismo que explica por que
çamento necessário à abstinência. certos eventos levam ao uso impulsivo de drogas,
e as pequenas magnitudes de ganhos (mais desva-
Conclusões lorizadas) podem fornecer evidências empíricas
aos padrões de respostas que levam à miríade
Diversos fatores possuem influência substancial de problemas evidentes na vida de dependentes
no desenvolvimento e na persistência do abuso de químicos (Bickel, Madden, & Petry, 1998). No-
drogas; no entanto, eles não operam independente- vas abordagens de tratamento que promovam a
mente, cada fator interage com muitos outros e, em redução da DA parecem ser o próximo passo no
muitos casos, eles são ‘aditivos’ (Carroll, Anker, & desenvolvimento de terapias mais efetivas para a
Perry, 2009). Dessa forma, um perfil do risco cumu- dependência química.
lativo deve ser determinado para o indivíduo, e a se-
veridade de tal risco poderia determinar a estratégia Referências
de intervenção mais adequada. É na contribuição a
esse perfil do risco cumulativo que a avaliação da Audrain-McGovern, J., Rodríguez, D., Epstein, L. H.,
DA pode se fazer sobremaneira útil. O conceito de Cuevas, J., Rodgers, K. & Wileyto, E. P. (2009).
DA pode ser útil no entendimento da impulsivida- Does delay discounting play an etiological role in
de evidente em dependentes químicos, fornecendo smoking or is it a consequence of smoking? Drug
subsídios para a compreensão da perda de controle and Alcohol Dependence, 103(3), 99-106.
durante o uso de drogas (Bickel & Marsch, 2001). Baker, F., Johnson, M. W. & Bickel, W. K. (2003a).
Os dados gerados nestas tarefas também fornecem Decision-making in state lotteries: Half now or
subsídios importantes para se determinar um tipo all of it later? Psychonomic Bulletin & Review,
de reforçamento a ser utilizado para estimular a 10(4), 965-970.
abstinência, sua magnitude e sua freqüência. Baker, F., Johnson, M. W. & Bickel, W. K. (2003b).
O paradigma da DA pode explicar porque pro- Delay Discounting in Current and Never-Before
gramas que enfatizam recompensas imediatas para Cigarette Smokers: Similarities and Differences
a abstinência podem ter uma melhor chance de Across Commodity, Sign, and Magnitude. Journal
competir contra o uso de drogas, pois essas re- of Abnormal Psychology, 112(3), 382-392.

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Recebido em: 14 de março de 2012


Aprovado em: 4 de fevereiro de 2014

230 Avances en Psicología Latinoamericana/Bogotá (Colombia)/Vol. 32(2)/pp. 217-230/2014/ISSNe2145-4515

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