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ISSN 2177-3548

Ressurgência comportamental e estratégias de mitigação: Uma


revisão de literatura no Journal of Applied Behavior Analysis
Behavioral resurgence and mitigation strategies: A literature review in the
Journal of Applied Behavior Analysis
Estrategias de mitigación y resurgimiento del comportamiento: una revisión
de la literatura en el Journal of Applied Behavior Analysis
Gabriel Henderson Soares Rolim1, Pedro H. Carvalho1

[1] Faculdade Católica Dom Orione | Título abreviado: Ressurgência comportamental e estratégias de mitigação: Uma revisão | Endereço para correspondência: |
Email: ghendersonpsi@gmail.com | doi: org/10.18761/PAC2021.ago310821

Resumo: Comportamentos que eram frequentes no passado, mas que deixaram de ocorrer,
podem reaparecer sob condições específicas no presente. Ressurgência comportamental é um
dos procedimentos experimentais para estudar o fenômeno da recaída. Por sua relevância clí-
nica, é de suma importância compreender quais variáveis afetam a sua ocorrência. O presente
artigo tem como objetivo o levantamento e análise das publicações realizadas no Journal of
Applied Behavior Analysis entre 2015 a abril de 2020 sobre ressurgência, buscando investigar
as principais aplicações das descobertas da pesquisa básica e aplicada sobre este fenômeno,
identificando os aprimoramentos que uma intervenção comportamental deve seguir para
torná-la mais eficaz. Em geral, os resultados sugerem generalizar do contexto terapêutico ao
contexto natural do cliente, prolongar o tratamento gradativamente, preparar o cliente para o
término do tratamento e ensinar múltiplas formas de comportamento adequado. Todos esses
fatores podem mitigar a ressurgência comportamental.
Palavras-chave: ressurgência, recaída, pesquisa básica, pesquisa aplicada.

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Abstract: Behaviors that were frequent in the past, but that no longer occur, can reappear
under specific conditions in the present. Behavioral resurgence is one of the experimental
procedures to study the phenomenon of relapse. Due to its clinical relevance, it is extremely
important to understand which variables affect its occurrence. This article aims to survey and
analyze the publications made in the Journal of Applied Behavior Analysis between 2015 to
April 2020 on resurgence, seeking to investigate the main applications of the findings of basic
and applied research on this phenomenon, identifying the improvements that a behavioral in-
tervention should follow to make it more effective. In general, the results suggest generalizing
from the therapeutic context to the client’s natural context, prolonging the treatment gradu-
ally, preparing the client for the end of treatment and teaching multiple forms of appropriate
behavior. All of these factors can mitigate behavioral resurgence.
Keywords: resurgence, relapse, basic research, applied research.

Resumen: Las conductas que eran frecuentes en el pasado, pero que ya no ocurren, pueden
reaparecer bajo condiciones específicas en el presente. El resurgimiento conductual es uno
de los procedimientos experimentales para estudiar el fenómeno de la recaída. Debido a su
relevancia clínica, es extremadamente importante comprender cuales variables afectan su
ocurrencia. Este artículo tiene como objetivo relevar y analizar las publicaciones realizadas en
el Journal of Applied Behavior Analysis entre 2015 y abril de 2020 sobre resurgimiento, buscan-
do investigar las principales aplicaciones de los hallazgos de la investigación básica y aplicada
sobre este fenómeno, identificando las mejoras que una intervención conductual debe seguir
para que sea más eficaz. En general, los resultados sugieren generalizar desde el contexto tera-
péutico al contexto natural del cliente, prolongando el tratamiento gradualmente, preparando
al cliente para el final del tratamiento y enseñándole múltiples formas de comportamiento
apropiado. Todos estos factores pueden mitigar el resurgimiento del comportamiento.
Palabras clave: resurgimiento, recaída, investigación básica, investigación aplicada.

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Na psicologia em geral, mais especificamente na alternativo) uma segunda resposta é ensinada ao


psicanálise de Freud, o estudo de comportamentos sujeito experimental, enquanto a primeira resposta
que foram extinguidos no passado e voltam a ocor- é colocada em extinção. Na fase 3 (ressurgência) a
rer no momento presente, são vistos pela ótica da resposta alternativa é colocada em extinção e a res-
regressão, mecanismo na qual Freud (1996) concei- posta alvo permanece como na fase 2, em extinção.
tua como um retorno da libido, a anteriores pontos Observa-se nessa última condição, um aumento
de interrupção de seu desenvolvimento infantil. Na da resposta alvo, mesmo não tendo reforços pro-
análise do comportamento, o estudo de compor- gramados para essa resposta na fase 3, ou seja, res-
tamentos que voltam a ocorrer em situações pre- surgência (Epstein, 1985; Kincaid, Lattal, Spence,
sentes específicas, são estudadas pelo conceito de 2015). Variações nesse procedimento são comuns,
ressurgência comportamental (Villas-Bôas, Haydu, pode-se extinguir a resposta alvo em sessões antes
Tomanari, 2010). do treino da resposta alternativa (Cleland, Foster,
Ressurgência é um dos modelos experimentais Temple, 2000), nessas condições, menos ressurgên-
para o estudo da recaída (e.g., renovação, restabe- cia é observado.
lecimento) e se refere a uma recuperação do com- Ressurgência é um fenômeno generalizável en-
portamento que era emitido em certa frequência tre várias espécies, e já foi observado em ratos (e.g.,
no passado e que foi posteriormente extinto, quan- Shahan, Craig, Sweeney, 2015), pombos (e.g., da
do um comportamento atual não é mais efetivo Silva, Maxwell, Lattal, 2008), peixes (e.g., da Silva,
(Epstein, 1983; Shahan, 2020; Lattal et al., 2017). Cançado, Lattal, 2014) galinhas (e.g., Cleland,
O estudo de Lattal et al. (2017) faz uma revisão das Foster, Temple, 2000), macacos (e.g., Mulick,
definições comumente usadas para ressurgência Leitenberg, Rawson, 1976), humanos com desen-
e fazem uma reformulação da definição à luz dos volvimento atípico (Hoffman, Falcomata, 2014) e
dados da pesquisa básica atual, assim, definem-na humanos com desenvolvimento típico (Kuroda,
como “(...) a recorrência transitória, consideran- Cançado, Podlesnik, 2016).
do o contexto de estímulo, de alguma dimensão Muitas variáveis já foram analisadas e testadas
de atividade previamente estabelecida, mas ainda em cada fase do procedimento trifásico padrão para
não presente, quando as condições de reforço do analisar como elas afetam a ressurgência. Aspectos
comportamento atual são agravadas” (p. 90). Ou como a taxa da resposta alvo (da Silva, Maxwell,
seja, não necessariamente a resposta atual precisa Lattal, 2008), magnitude do reforço da resposta
ser extinta, o simples agravamento das condições alvo (Podlesnik, Shahan, 2010), taxa de reforço da
de reforço pode resultar em ressurgência. resposta alternativa (Winterbauer, Bouton, 2010),
Os estudos experimentais sistemáticos desse punição como forma de desvalorização da respos-
fenômeno começam com Epstein na década de 80 ta alternativa (Fontes, Todorov, Shahan, 2018), re-
(e.g., Epstein, Skinner, 1980; Epstein, 1983; 1985), forço e resposta diferentes da fase 1 (Leitenberg et
autor este que utilizou primeiro essa nomenclatura. al., 1975), fornecer reforços independentes da res-
Ainda assim, alguns estudos anteriores já haviam posta em vez de contingente à resposta alternativa
observado a ressurgência de respostas previamen- (Lieving, Lattal, 2003), atraso na apresentação do
te reforçadas, como os estudos de Carey (1951), reforço (Ghaemmaghami, Hanley, Jessel, 2016).
Leitenberg, Rawson, Mulick (1975), Rawson et al. Grande parte dos tratamentos da análise do
(1977). Nenhum desses estudos usam o termo “res- comportamento aplicada para o comportamento
surgência (resurgence, em inglês)”, mesmo descre- problemático se assemelham às fases do procedi-
vendo seu processo. mento experimental da ressurgência (Lattal, Pipkin,
No laboratório, o estudo da ressurgência geral- 2009; Peter, 2015). Durante a primeira fase, busca-
mente é realizado a partir de um procedimento tri- -se identificar os reforçadores de um determinado
fásico (Leitenberg, Rawson, Mulick, 1975; Cançado, comportamento problema, essas contingências de
Hauck, Teixeira, 2016). Na fase 1 (linha de base) reforços foram mantidas durante a história de vida
uma resposta alvo é reforçada em determinado do indivíduo, semelhante à fase de linha de base do
esquema. Na fase 2 (tratamento ou reforçamento procedimento trifásico. Na segunda fase, o clínico

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não reforça mais o comportamento problema, os ressurgimento não ocorre apenas com respostas
reforçadores passam a ser contingentes a um novo operantes simples; (3) a preparação experimental
comportamento adequado. A fase 3 de um proce- usada para estudar o ressurgimento é semelhante
dimento trifásico se relaciona aos tratamentos de aos procedimentos de tratamento comuns na aná-
comportamento problema no sentido que, nem lise aplicada do comportamento; (4) a forma das
sempre o clínico reforça o comportamento ade- respostas ensinadas pode ter importância; (5) pode
quado de seu cliente, falhas na integridade do tra- haver situações em que o ressurgimento é desejável
tamento são comuns, também há as situações do (ou seja, na qual queremos promover o ressurgi-
ambiente natural do cliente, onde as contingências mento); (6) o ressurgimento pode ser diferencial-
são bem diferentes do ambiente terapêutico, nes- mente provável, dependendo do histórico de refor-
ses períodos breves de contato com a extinção, o ços do cliente.
comportamento inadequado pode ressurgir (Lattal, O presente artigo tem como objetivo o levan-
Wacker, 2015; Peter, 2015). tamento e análise das publicações realizadas no
O treinamento de comunicação funcional Journal of Applied Behavior Analysis entre 2015 a
(FCT), por exemplo, é um dos tratamentos com abril de 2020 sobre ressurgência, buscando investi-
grande efetividade no que se refere à intervenção gar as principais aplicações das descobertas da pes-
em comportamentos destrutivos em crianças diag- quisa básica e aplicada sobre este fenômeno, iden-
nosticadas com déficits no desenvolvimento (Tiger, tificando os aprimoramentos que uma intervenção
Hanley, Bruzek, 2008). Inicialmente, uma análise comportamental deve seguir para torná-la mais
funcional é conduzida para identificar os reforça- eficaz e evitar assim a recaída de comportamentos
dores do comportamento problema. Em segundo, o não desejados.
psicólogo coloca o comportamento problema em ex-
tinção e ensina uma nova resposta de comunicação
funcionalmente equivalente (FCR), ou seja, produz Metodologia
os mesmos reforçadores que anteriormente manti-
nham o comportamento problema. Por fim, deve-se O presente artigo trata-se de uma revisão biblio-
afinar os esquemas de reforço para a FCR no intui- gráfica dos artigos publicados no Journal of Applied
to de generalizar ao ambiente natural do cliente(a) Behavior Analysis (JABA). Para isso, foi feito uma
onde nem todas as respostas são reforçadas (Tiger, busca no site “Online wiley library”, que indexa a
Hanley, Bruzek, 2008). Nesse momento final da FCT, revista. No campo de buscas, foram usados os des-
o comportamento problema pode ressurgir. critores “Resurgence” e “Psychology”, demarcando
Esse procedimento, como o reforçamento dife- os resultados para artigos publicados entre 2015 até
rencial do comportamento alternativo (DRA) ou o abril de 2020. Por se tratar de uma revista norte-
reforçamento diferencial de outros comportamen- -americana, todos os artigos selecionados são da
tos (DRO), tem suas semelhanças consideráveis língua inglesa americana. Como resultado da bus-
com o procedimento trifásico padrão de ressurgên- ca, foi obtido acesso a 39 artigos no total, e a partir
cia, e do mesmo modo, quando não implementado desses 39, 15 foram selecionados para a confecção
de forma efetiva ou quando ocorre algum desgaste do presente trabalho.
no tratamento, o comportamento problemático que Importante ressaltar que mesmo usando os des-
foi alvo de intervenção pode ressurgir (Peter, 2015). critores já mencionados, muitos dos artigos obti-
Sendo assim, é de suma importância compre- dos a partir da busca no Journal of Applied Behavior
endermos a ressurgência e suas implicações para a Analysis, ainda assim, fugiam do tema almejado,
prática do psicólogo, pois mesmo com o tratamento por isso, como critério de seleção e exclusão, foram
bem-sucedido, falhas na integridade do tratamento selecionados os artigos que em algum aspecto ana-
podem resultar em recaídas. Peter (2015) dá seis ra- lisaram ou observaram o fenômeno da ressurgência
zões pelo qual os analistas aplicados do comporta- em suas pesquisas. A decisão de utilizar apenas dois
mento devem saber sobre ressurgência, sendo elas: descritores sendo estes “gerais”, é que buscaram-se
(1) é um fenômeno robusto e generalizável; (2) o artigos que não apenas analisaram a ressurgência

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propriamente dita, mas que também, a partir de ressurgência. Portanto, como o Journal of Applied
uma intervenção, puderam observar a recaída da Behavior Analysis é uma revista de psicologia que
resposta anteriormente reforçada. publica pesquisas sobre aplicações da análise ex-
O título dos artigos, autores envolvidos e ano perimental do comportamento a problemas de
de publicação podem ser vistos no quadro 1. Os importância social, os artigos consequentemente
descritores usando na presente pesquisa objeti- se tratam de aplicações e pesquisas translacionais
vam alcançar artigos mais gerais que abordam a sobre ressurgência.

Quadro 1 - Artigos selecionados no Journal of Applied Behavior Analysis (2015-2020)

N° Título do artigo Autor(es) Ano

Implications for practice - Resurgence and differential


01 Sarah E. Bloom; Joseph M. Lambert 2015
reinforcement of alternative responding

Serial alternative response training as intervention for Joseph M. Lambert; Sarah E. Bloom; Andrew L.
02 2015
target response resurgence Samaha; Elizabeth Dayton; Andrew M. Rodewald
A preliminary investigation on improving functional
03 communication training by mitigating resurgence of Ashley M. Fuhrman; Wayne W. Fisher; Brian D. Greer 2016
destructive
Evaluation of multiple schedules with naturally oc- Kenneth D. Shamlian; Wayne W. Fisher; Mark W.
04 curring and therapist‐arranged discriminative stimuli Steege; Brenna M. Cavanaugh; Kristina Samour; Angie 2016
following functional communication training C. Querim
Persistence during and resurgence following noncon-
05 tingent reinforcement implemented with and without Valdeep Saini; Wayne W. Fisher; Maegan D. Pisman 2016
extinction

Minimizing resurgence of destructive behavior using Wayne W. Fisher; Brian D. Greer; Ashley M. Fuhrman;
06 2018
behavioral momentum theory Valdeep Saini; Christina A. Simmons

Prevalence of resurgence of destructive behavior


Adam M. Briggs; Wayne W. Fisher; Brian D. Greer;
07 when thinning reinforcement schedules during functio- 2018
Ryan T. Kimbal
nal communication training
08 Recurrence of phonetic responding Joshua Garner; Nancy A. Neef; Ralph Gardner 2018
Ryan T. Kimball; Michael E. Kelley; Christopher A.
09 Resurgence with and without an alternative response 2018
Podlesnik; Alex Forton; Brandy Hinkle
Mahshid Ghaemmaghami; Gregory P. Hanley; Joshua 2018
10 Shaping complex functional communication responses
Jessel; Robin Landa
Leslie Neely; Jessica Graber; Shanun Kunnavatana;
11 Impact of language on behavior treatment outcomes 2019
Katherine Cantrell
Resurgence as choice - Implications for promoting
12 Brian D. Greer; Timothy A. Shahan 2019
durable behavior change
DRA contingencies promote improved tolerance to
13 delayed reinforcement during FCT Compared to DRO Melissa A. Drifke; Jeffrey H. Tiger; Madelynn A. Lillie
2020
and fixed time schedules
Increased number of responses may account for redu- Claudia C. Diaz-Salvat; Claire C. St. Peter; Natalie J.
14
ced resurgence following serial training Shuler 2020

Measurement of nontargeted problem behavior during William E. Sullivan; Valdeep Saini; Nicole M. Derosa;
15 2020
investigations of resurgence Andrew R. Craig; Joel E. Ringdahl; Henry S. Roane

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Resultados cial, na magnitude do ressurgimento da resposta


alvo, organizando um esquema múltiplo de dois
A partir da pesquisa bibliográfica realizada, é pos- componentes. Participaram três sujeitos com de-
sível identificar quais vem sendo as variáveis ana- senvolvimento atípico desse estudo. Como resul-
lisadas e os focos de estudos sobre o fenômeno da tado, foi obtido menos ressurgência após o DRA
ressurgência comportamental, bem como que tipos com treinamento em série em comparação ao DRA
de intervenções e que modificações os analistas do tradicional, e foi observado um efeito de recência
comportamento realizam em contextos aplicados. (última resposta treinada ressurgindo primeiro) e
Em resumo, aspectos referentes aos esquemas de reversão (a recuperação de respostas anteriormente
reforçamento utilizado no tratamento, tempo e per- extintas na ordem inversa em que foram reforçadas
sistência do tratamento, aprimoramento do treina- e extintas) no ressurgimento.
mento de comunicação funcional (FCT), uso do Fuhrman, Fisher e Greer (2016) avaliaram em
treinamento em série de resposta alternativa, tes- dois estudos um método para mitigar o ressurgi-
tagem das previsões da teoria do momentum com- mento, conduzindo a FCT e afinando o esquema
portamental (TMC), importância da linguagem de reforço no contexto de um esquema múltiplo
nos tratamentos, ressurgência como escolha (RaC), antes da extinção, onde dois componentes do es-
magnitude do reforçamento alternativo e o uso de quema sinalizava a disponibilidade (SD) ou a in-
reforçamento não contingente (NCR), foram abor- disponibilidade (SΔ) de reforço durante a FCT e
dados nos estudos selecionados. No que se refere a fase 3 (extinção). Crianças diagnosticadas com
ao ano de publicação dos artigos selecionados, dois transtorno do espectro autista (TEA) foram os su-
são de 2015, três são de 2016, nenhum artigo para jeitos. Inicialmente foi realizada a análise funcional
o ano de 2017, cinco artigos em 2018, dois artigos seguida da FCT, depois, o teste de ressurgência foi
são de 2019 e três artigos são de 2020. realizado. Os resultados desse procedimento mos-
Os resultados a seguir seguem a ordem dispos- traram menos ressurgência em comparação a apli-
ta no quadro 1. Primeiramente foi feito um breve cação da FCT tradicional, onde não é apresentado
resumo de cada artigo, considerando os objetivos, o SΔ na fase 2 e na fase 3.
metodologia e os principais resultados obtidos da Shamlian et al. (2016) tiveram como objetivo,
pesquisa. Sendo assim, a partir dos resultados en- em dois experimentos, avaliar os efeitos de SDs
contrados nos artigos revisados, uma discussão a organizados pelo terapeuta e SDs de ocorrência
respeito das implicações desses achados para os natural durante a FCT sobre (a) a velocidade de
tratamentos comportamentais foram consideradas. aquisição de FCRs discriminados, (b) o grau de
Bloom e Lambert (2015) fazem algumas consi- generalização quando introduzido em novos con-
derações adicionais a um artigo anteriormente pu- textos com níveis variados de discriminabilidade e
blicado (Lambert et al. [2015]) sobre a utilidade de (c) os níveis de comportamento problemático (res-
ensinar múltiplas respostas alternativas de forma surgimento). No que se refere ao ressurgimento,
sequencial (treinamento em série), em vez de ensi- os resultados mostraram ressurgência do compor-
nar apenas uma única resposta, como geralmente é tamento problema em dois participantes nos dois
feito em procedimentos de DRA. Os autores suge- experimentos e em ambos os tipos de SDs (organi-
rem que ensinar múltiplas respostas adequadas de zados pelo terapeuta e de ocorrência natural), mas
forma sequencial ao sujeito da intervenção promove em maior magnitude nos SDs de ocorrência natu-
um tratamento mais eficaz e menos suscetível à re- ral, com variabilidade e magnitude distintas entre
caída, pois dada uma situação onde o indivíduo não os participantes.
obtém o reforço, outros comportamentos adequados Saini, Fisher e Pisman (2016) avaliaram a ocor-
podem surgir antes do comportamento problema. rência de ressurgimento após o tratamento em
Lambert et al. (2015) compararam o uso do NCR com extinção e sem extinção, esperando que,
procedimento de DRA tradicional com o uso de segundo a TMC, mais ressurgimento é provável
um DRA com treinamento em série, que ensina após o tratamento NCR sem extinção. Para isso foi
múltiplas respostas alternativas de forma sequen- conduzido um experimento com crianças diagnos-

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ticadas com TEA. Os resultados demonstraram res- de reforço para ambas as respostas, foi avaliado
surgência após ambos os tratamentos, mas foi mais também a indisponibilidade de emissão da resposta
acentuada após o tratamento de NCR sem extinção. alternativa na fase 3. O estudo foi conduzido com
Para um dos três participantes, a diferença não foi quatro crianças. Para fazer essa avaliação dos dois
estatisticamente significativa. procedimentos, na fase 3, foi utilizado um esque-
Fisher et al. (2018) avaliaram as sugestões da ma múltiplo. Os resultados mostraram ressurgência
teoria do momentum comportamental (TMC) para nos dois tipos de procedimento, mas foi em maior
minimizar o ressurgimento do comportamento magnitude quando não havia a possibilidade de
problema durante a FCT seguindo três previsões emissão da resposta alternativa.
dessa teoria: a) o uso de um esquema com baixa Ghaemmaghami et al. (2018) em dois experi-
taxa de reforço para comportamento alvo na fase mentos, avaliaram a eficácia de um procedimento
1; b), um esquema com baixa taxa de reforço para de modelagem para aumentar a complexidade das
a resposta alternativa durante a fase 2; c) um au- respostas de comunicação adequadas (FCRs) mini-
mento na duração do tratamento. Foi comparado mizando os efeitos colaterais negativos do processo,
o uso da FCT seguindo essas predições com o uso como a ressurgência do comportamento problema.
padrão da FCT. Os resultados mostraram menos Os resultados mostraram que esse procedimento de
ressurgência seguindo as recomendações da TMC modelagem gradual para aumentar a complexidade
(menor taxa de reforço com tratamento longo) do FCR diminuiu os níveis de comportamento pro-
comparados ao uso padrão da FCT (maior taxa de blema de forma eficaz e a sua ressurgência posterior.
reforço com tratamento curto). Neely et al. (2019) avaliaram o papel da lingua-
Briggs et al. (2018) avaliaram a prevalência da gem nos resultados da FCT para três crianças diag-
ressurgência do comportamento problema em um nosticadas com TEA. As crianças frequentavam a
procedimento de afinamento do esquema de refor- escola e a terapia em contextos com a língua inglesa
ço após o tratamento em FCT. Para isso, os autores prevalecente, mas as crianças viam de um ambien-
analisaram os dados de outro estudo (Greer et al. te com o espanhol como língua predominante. Os
[2016]) onde estes implementaram 25 aplicações de pesquisadores analisaram a possibilidade de ressur-
afinamento do esquema de reforço no tratamento gência do comportamento problema quando a FCR
em FCT com 20 indivíduos em sua maioria diag- em inglês era emitida em um contexto de língua
nosticados com deficiência intelectual. Os resulta- espanhola. Os resultados mostraram ressurgência
dos mostraram ressurgência de forma transitória quando a FCR entrava em extinção no contexto de
em 19 das 25 aplicações de diminuições de reforço outra língua a aquela ensinada na intervenção.
do tratamento em FCT. Greer e Shahan (2019) discutem sobre o mo-
Garner, Neef e Gardner (2018) avaliaram a re- delo quantitativo de ressurgência como escolha
corrência de respostas fonéticas após a extinção (RaC) que sugere que o ressurgimento resulta dos
da resposta alternativa que foi reforçada em taxas mesmos processos básicos do comportamento de
diferenciais na fase 2 (VI 5s e VI 20s), e se a mag- escolha, ou seja, da escolha entre resposta alvo e al-
nitude do ressurgimento estava relacionada à taxa ternativa. Os autores fazem críticas ao único outro
de reforço diferencial para o comportamento alter- modelo quantitativo de ressurgência que é a teoria
nativo. Três crianças que frequentavam o jardim de do momentum comportamental (TMC) e sugerem
infância participaram do estudo. Como resultados maneiras pelas quais os analistas do comporta-
foi observado a ressurgência de respostas adequa- mento aplicado podem mitigar o ressurgimento do
das em todos os sujeitos, sendo em maior magni- comportamento problema. Manter respostas alter-
tude no componente relacionado a maior taxa de nativas efetivas, custo de resposta mais favorável
reforço (VI 5s). para a resposta alternativa, manipulação das vari-
Kimball et al. (2018) examinaram um procedi- áveis motivacionais são algumas das sugestões da
mento de ressurgência modificado no qual a res- RaC para promover tratamentos mais persistentes.
posta alternativa estava presente ou ausente duran- Drifke, Tiger e Lillie (2020) avaliaram uso de
te a fase 3. Ou seja, além da não disponibilidade contingências de DRA e DRO como forma de miti-

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gar a ressurgência quando o reforço para uma res- identificadas e manipuladas, novas propostas de
posta alternativa é atrasado (normalmente é a regra descrição e explicação foram sugeridas e aprimo-
do ambiente natural). Três crianças diagnosticadas ramentos práticos em intervenções foram elabora-
com TEA participaram do estudo. Após a FCT das para tornar as intervenções comportamentais
foram estabelecidas três condições em um deline- mais persistentes e efetivas. Vale também destacar
amento de linha de base múltipla: 1) Time-Based o avanço nas pesquisas em relação a outros proce-
Delay, 2) DRO-Based Delay; 3) DRA-Based Delay. dimentos experimentais de recaída, como a reno-
As três envolviam o não reforço para o comporta- vação e o restabelecimento, que também já foram
mento problema, reforço para comportamento al- manipulados em conjunto com o procedimento
ternativo (condição 3), redefinição do atraso após de ressurgência (Liggett, Nastri, Podlesnik, 2018;
o comportamento problema (condição 2). Foi ob- Podlesnik et al., 2019).
servado pouca magnitude de ressurgência após os Os achados da presente pesquisa apontam para
três tipos de atrasos, sendo menos frequente ainda diversas mudanças na aplicação de intervenções
na condição DRA-Based Delay, sugerindo que con- comportamentais que visam mitigar a ressurgencia
tingências de DRA promovem um maior envolvi- do comportamento problema. Diminuir a frequên-
mento em comportamentos adequados. cia do tratamento gradativamente (e.g., Briggs et
Diaz-Salvat, Peter e Shuler (2020) avaliaram se al., 2018), generalizar do contexto terapêutico ao
o treinamento em série (como em Lambert et al. contexto natural do cliente (e.g., Fisher et al., 2018),
[2015]), ou simplesmente o número de respostas ensinar múltiplas formas de comportamento ade-
alternativas disponíveis na fase 2 afeta o ressurgi-quado (e.g., Bloom & Lambert, 2015; Lambert et
mento. Os autores conduziram três experimentos al., 2015), prolongar o tratamento (tempo de trata-
com humanos em desenvolvimento típico, isolando mento) de forma gradual (e.g., Fisher et al., 2018)
o tipo de treinamento (série ou único) ou a quan- e na experiência clínica, ensinar sobre o atraso de
tidade de respostas ensinadas. Os resultados mos- reforçadores (Drifke, Tiger, Lillie, 2020). Esses as-
traram mais influência na quantidade de respostas pectos podem favorecer os tratamentos comporta-
alternativas que eram reforçadas na fase 2, do que mentais, tornando as mudanças mais duradouras e
o tipo de treinamento (série ou único) no ressurgi- diminuindo a probabilidade de recaída.
mento na fase 3. A relevância clínica da ressurgência comporta-
Sullivan et al. (2020) tiveram como objeti- mental dado a semelhança do procedimento com os
vo examinar, em dois experimentos com crian- tratamentos comportamentais, alavancou o número
ças diagnosticadas com TEA, o ressurgimento da de estudos publicados sobre o tema (Lattal, Wacker,
resposta alvo enquanto media simultaneamente a 2015). A recaída de comportamentos problemá-
ocorrência de respostas não alvo, mas que faziam ticos, como o abuso de álcool e outras drogas, ou
parte da mesma classe de resposta. Como resultado, um comportamento agressivo mantido por atenção
em ambos os experimentos foi observado a ressur- em uma criança com TEA, podem ser mitigados
gência da resposta alvo, bem como a ressurgência com estratégias terapêuticas fornecidas pelos estu-
de outros comportamentos, sugerindo que a classe dos sobre ressurgência comportamental. Entender
de respostas ressurgiu, e não apenas uma única res- como esse processo comportamental básico ocorre
posta, mesmo não sendo feito uma análise detalha- também é fundamental para compreender outros
da dessa classe. processos comportamentais, como a criatividade e
a resolução de problemas (Epstein, 2015).
Os estudos da presente revisão tiveram um ca-
Discussão ráter translacional de pesquisa. Segundo Mace e
Critchfield (2010) a pesquisa translacional é uma
A pesquisa básica e aplicada sobre ressurgência investigação que busca abrir novos caminhos ao
comportamental avançou em inúmeros aspectos unir os princípios fundamentais da pesquisa básica
desde o estudo inicial de Epstein (1983). Variáveis com a resolução de problemas atuais. Sendo assim,
que afetam consideravelmente a recaída foram grande parte dos estudos foram realizados em clí-

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nicas/laboratórios com determinado rigor expe- Estudos que foram embasados pela teoria do
rimental, também em alguns estudos, utilizou-se momentum comportamental (TMC) e pela ressur-
respostas análogas ao comportamento socialmente gência como escolha (RaC) também propuseram
relevante, mas em todos os trabalhos, os autores formas de mitigar a ressurgência. Como Fisher et
buscaram determinar em suas discussões a relevân- al. (2018), Saini, Fisher e Pisman (2016), Greer e
cia prática de seus achados. Shahan (2019). Em conjunto, essas teorias sugerem:
A recaída do comportamento problemático fornecer uma taxa de reforço baixa para o compor-
após falhas na integridade de uma intervenção tamento problema e alternativo; aumento na dura-
aplicada é um ponto de preocupação para os psicó- ção do tratamento; quando próximo do término do
logos clínicos, pois as intervenções devem buscar tratamento, diminuir de forma gradativa; tornar o
a persistência de seus efeitos quando o tratamen- custo de resposta mais favorável à resposta alterna-
to é de alguma forma agravado (Nevin & Wacker, tiva; manipular variáveis motivacionais. Essas ma-
2013). Portanto, os estudos sobre ressurgência pos- nipulações podem mitigar a recaída do comporta-
sibilitam o desenvolvimento de práticas que podem mento problema.
mitigar ou favorecer, quando necessário, a ressur- A maioria dos estudos selecionados dessa re-
gência comportamental. visão usaram o treinamento de comunicação fun-
Os estudos de Fuhrman, Fisher e Greer (2016) cional (FCT) como intervenção principal para
e Shamlian et al. (2016) manipularam aspectos de o comportamento problema, e avaliaram quais
estímulos/contexto e obtiveram menos ressurgên- modificações poderiam ser realizadas para torná-
cia após a FCT. Mais especificamente, no ensino da -la mais efetiva. Como já mencionado, ao final
resposta alternativa, pode-se utilizar SDs e SΔs para da FCT, busca-se reduzir a frequência de refor-
tornar a resposta mais discriminada e persistente. ços com o intuito de generalizar para o ambiente
SDs arranjados pelo terapeuta/cuidador mostra- natural do cliente (Tiger, Hanley e Bruzek, 2008).
ram-se mais efetivas em comparação com SDs de Por exemplo, Fuhrman, Fisher e Greer (2016),
ocorrência natural. A manipulação do controle de Drifke, Tiger e Lillie (2020), Briggs et al. (2018)
estímulos, como ensinar que respostas podem ser e Ghaemmaghami et al. (2018) modificaram al-
reforçada em um contexto (SD) e em outro con- guns aspectos da FCT, tais como: períodos de
texto não (SΔ), possibilita uma generalização mais sinalização de não reforço para a resposta alter-
eficiente para o contexto natural do cliente, per- nativa, afinamento gradual do esquema de refor-
mite comportamentos adequados mais resistentes ço, atraso de reforços, modelar respostas simples
à extinção, assim, diminui a possibilidade das no- para complexas gradualmente. Buscaram a partir
vas respostas aprendidas entrar em contato com a disso, simular o ambiente natural onde o reforço
extinção, ou que quando entre, o comportamento não é disponibilizado de forma imediata e a cada
adequado seja mais persistente, e o comportamento resposta. A partir dessas modificações, os autores
problema menos provável de ocorrer. obtiveram menos ressurgência.
O ensino de múltiplas respostas alternativas Alguns estudos tiveram objetivos bem específi-
também foi sugerido como forma de mitigar a res- cos com pouca literatura disponível até o momento.
surgência, como nos estudos de Bloom e Lambert Neely et al. (2019) estudaram os efeitos da lingua-
(2015), Diaz-Salvat, Peter e Shuler (2020), Lambert gem na FCT, onde o tratamento era na língua in-
et al. (2015). Quando mais respostas adequadas são glesa e o ambiente que os clientes viviam tinham o
ensinadas para um cliente, há uma maior proba- espanhol como língua predominante. Garner, Neef
bilidade de que o comportamento adequado res- e Gardner (2018) examinaram o ressurgimento
surja antes do comportamento problema. Pode-se de respostas fonéticas adequadas e Kimball et al.
ensinar respostas de forma sequencial ou de forma (2018) avaliaram o ressurgimento quando a res-
isolada como os estudos mostraram. O aspecto im- posta alternativa era impossibilitada de ser emitida.
portante é que o ensino de um repertório compor- Esses estudos abrem fronteiras para futuras pesqui-
tamental adequado amplo pode promover práticas sas que buscam identificar novas variáveis que afe-
mais eficazes. tam a probabilidade de ressurgência.

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Ressurgência comportamental e estratégias de mitigação: Uma revisão de literatura no Journal of Applied Behavior Analysis 419-431

Em resumo, é necessário um maior cuidado ao Apesar disso, os artigos revisados preservam sua
implementar alguma intervenção psicológica/com- relevância clínica e social, pois direcionam para um
portamental cujo foco é o ensino de um novo com- planejamento maior durante o processo de elabo-
portamento ou formas de se comportar mais ade- ração de práticas e a aplicação de intervenções. Do
quadas. Mesmo que no momento da aplicação seja mesmo modo, os estudos ressaltam a importância
observado uma melhora significativa, deve-se pen- de se pensar sobre o término do tratamento. Esses
sar se esses efeitos prevalecerão em outros ambien- cuidados podem fornecer intervenções que promo-
tes que não seja aquele onde ocorre a intervenção vam mudanças comportamentais mais duradouras,
(Nevin & Wacker, 2013). O término da intervenção, acarretando um melhor bem-estar para os indivídu-
como um encerramento de uma terapia, pode re- os que necessitam do trabalho do psicólogo.
sultar no reaparecimento dos comportamentos que Por fim, espera-se que para além do avanço
foram extinguidos. Se o objetivo do psicólogo for das pesquisas básicas e aplicadas sobre ressurgên-
evitar a recaída do comportamento problemático, cia comportamental, descobrindo variáveis que
então é fundamental uma revisão de suas práticas exercem controle nesse processo comportamental,
visando os aprimoramentos que os estudos sobre espera-se que as descobertas possam influenciar
ressurgência comportamental vêm sugerindo. nas práticas de profissionais da psicologia para
que possa ser pensado em estratégias de preven-
ção a recaída.
Considerações Finais
O presente estudo buscou investigar as principais Referências
aplicações das descobertas da pesquisa básica e
aplicada sobre o fenômeno da ressurgência com- Bloom, S. E., & Lambert, J. M. (2015). Implications
portamental, discutindo como esses estudos podem for practice: Resurgence and differential rein-
favorecer as intervenções comportamentais tornan- forcement of alternative responding. Journal of
do-as mais eficazes, diminuindo a probabilidade de applied behavior analysis, 48(4), 781-784. doi:
recaída do comportamento problemático. Os 15 ar- 10.1002/jaba.266
tigos selecionados para a presente revisão buscaram Briggs, A. M., Fisher, W. W., Greer, B. D., &
estudar a ressurgência com rigor metodológico e Kimball, R. T. (2018). Prevalence of resurgence
experimental, ao mesmo tempo em que destaca a of destructive behavior when thinning rein-
relevância clínica de seus achados. forcement schedules during functional com-
Uma limitação do presente estudo foi o uso de munication training. Journal of applied behavior
apenas uma revista como fonte de trabalhos. Mesmo analysis, 51(3), 620-633. doi: 10.1002/jaba.472
o JABA tendo um enfoque em pesquisas aplicadas Cançado, C. R. X., Hauck, F., & Teixeira, Í. S. C.
translacionais, outras revistas de psicologia po- (2016). Quando o passado retorna: ressurgência
dem oferecer um leque maior de trabalhos dado a comportamental. Em Soares, P. G; De Almeida,
baixa quantidade de artigos obtidos nesta revista. J. H; Cançado, C. R. X. (Ed.). Experimentos clás-
Trabalhos futuros que buscam sistematizar a litera- sicos em Análise do Comportamento. Instituto
tura disponível sobre ressurgência comportamental Walden4.
podem buscar outros bancos de dados e utilizar um Cançado, C. R. X., Lattal, K. A., Carpenter, H. K.,
número maior de descritores do que os usados aqui. & Solley, E. A. (2017). Resurgence of time al-
Do mesmo modo, estudos futuros podem optar por location. Journal of the Experimental Analysis
uma meta-análise como forma de analisar os dados, of Behavior, 108(3), 398-413. https://doi.
compilando um maior número de trabalhos e fazen- org/10.1002/jeab.288
do uma análise quantitativa. Devido ao pouco nú- Carey, J. P. (1951). Reinstatement of previously
mero de trabalhos enquadrados nos descritores en- learned responses under conditions of ex-
contrados no JABA e suas diferenças metodológicas, tinction: A study of “regression” [Abstract].
optou-se por uma revisão de literatura. American Psychologist, 6, 284.

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Informações do Artigo

Histórico do artigo:
Submetido em: 01/06/2021
Aceito em: 16/08/2021
Editora Associada: Marcelo V. Silveira

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