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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

MESTRADO INTERDISCIPLINAR EM HUMANIDADES DIGITAIS

Isabella Cabral Santana

Evolução Histórica das Humanidades Digitais

As Humanidades Digitais constituem um amplo campo de pesquisa e


atividade acadêmica. Esse domínio não se limita apenas ao uso de métodos digitais
por pesquisadores das artes e humanidades, nem à colaboração desses
especialistas com disciplinas de computação e ciências. Também abrange a
capacidade das artes e humanidades de oferecerem insights únicos sobre os
principais problemas sociais e culturais decorrentes do desenvolvimento das
tecnologias digitais. O trabalho neste campo é necessariamente colaborativo,
envolvendo múltiplas habilidades, disciplinas e áreas de expertise.

Por isso, analisar a sua evolução histórica e o estado atual dessa disciplina
através de uma linha cronológica, em cerca de 7 décadas, torna-se imprescindível
para compreendê-la.

● Década de 1940
A história começa com o trabalho pioneiro do padre Roberto de Busa em
1946, e teve o seu auge em 1949, a partir do índice de 11 milhões de palavras nas
obras de São Tomás de Aquino no projeto Index Thomisticus. O religioso utilizou
computadores da Segunda Guerra Mundial para construir este dicionário digital de
palavras latinas medievais. Este evento marca o início das análises quantitativas de
textos e o uso sistemático de programas computacionais nas ciências humanas.
A Universidade de Cambridge também foi pioneira no desenvolvimento da
computação humanística, com o estabelecimento em 1964 do Centro de
Computação Literária e Linguística sob a presidência de Roy Wisbey. O foco, nesses
primeiros dias, estava no potencial do computador para facilitar a criação e
classificação de grandes índices e tesouros de textos históricos.

● Década de 1950 e 1960


A Universidade de Cambridge foi pioneira no desenvolvimento da
computação humanística, com o estabelecimento em 1964 do Centro de
Computação Literária e Linguística sob a presidência de Roy Wisbey. O foco,
nesses primeiros dias, estava no potencial do computador para facilitar a criação e
classificação de grandes índices e tesouros de textos históricos.

O campo das Humanidades Digitais avançou significativamente com os


progressos na linguística de corpus, culminando na fundação dos periódico
sComputers and the Humanities (CHum) e Literary and Linguistic Computing em
1966. Esses projetos precursores, no entanto, enfrentaram desafios significativos
devido à capacidade limitada de armazenamento, altos custos de hardware e
restrições no poder de processamento, resultando em um progresso inicial
relativamente lento.

● Década de 1970
Ao longo das décadas seguintes, surgiram associações e eventos
acadêmicos, como European Association for Digital Humanities, que impulsionaram
o crescimento das Humanidades Digitais.

Esses projetos iniciais foram prejudicados pela capacidade de


armazenamento, custos de hardware e limitações de processamento; onde o
progresso acontecia, porém, era lendo.

● Década de 1980

A década começou a ser considerado como um período de "consolidação"


dos métodos de análise textual. Com o avanço das capacidades de armazenamento
e processamento de dados no final da década de 1970, houve uma transição
significativa para o uso de textos eletrônicos estruturados.

A capacidade de armazenamento, métodos, análises de textos e arquivos


multimídia, foi o que impulsionou e dominou o campo das Humanidades Digitais
nessa época. Entretanto, um recuo aconteceu devido a críticas sobre estudos
quantitativos, mas o campo continuou a se desenvolver. Neste período, como o foco
principal dessa narrativa foi a análise de textos, com um enfoque crescente em
corpora de tamanho considerável que podiam ser analisados por meio de
computadores. Embora essa perspectiva tenha dominado as visões históricas do
campo, ela suscitou quatro preocupações distintas.

Primeiramente, houve um favorecimento de certas disciplinas, projetos e


ferramentas em detrimento de outras, como a história quantitativa. Em segundo
lugar, a falta de um verdadeiro mapeamento histórico desde os primeiros trabalhos
em análise de texto até as abordagens contemporâneas mais amplas limitou a
compreensão do campo. Além disso, a perspectiva restrita dificultou a
contextualização e historicização de métodos alternativos dentro das Humanidades
Digitais, negligenciando suas interseções com outras disciplinas. Por fim, a ausência
de evidências documentadas contribui para uma narrativa presumida e aplicada, em
vez de uma análise rigorosa das origens e desenvolvimento do campo.

● Década de 1990

No final do século XX, universidades europeias e norte-americanas


intensificaram o investimento nesse campo, resultando em avanços significativos
em softwares, estudos quantitativos de textos e análises automatizadas. Com a
chegada da World Wide Web, a partir dos anos 1990, e o aumento da digitalização
em bibliotecas e arquivos, as Humanidades Digitais começaram a se destacar mais
e a ganhar popularidade.

No entanto, esse desenvolvimento também trouxe controvérsias e


preocupações entre os acadêmicos tradicionais das humanidades, que
questionaram o impacto dessas novas abordagens. A expansão das Humanidades
Digitais é considerada uma resposta às mudanças nas tecnologias digitais e uma
forma de abordar questões contemporâneas nas artes e humanidades por meio de
métodos computacionais e colaborativos.

● Década 2000

Ao longo das décadas seguintes, as Humanidades Digitais expandiram seu


escopo para incluir uma variedade de meios digitais, como imagens, som e
visualizações. Nos anos 2000, houve uma ênfase crescente na colaboração e na
disponibilização digital de pesquisas, impulsionada pelo desenvolvimento
tecnológico e pela crescente disponibilidade de arquivos digitais.

Além disso, o surgimento das Humanidades Digitais com a solidificação do


termo e o estabelecimento de centros de pesquisa, marcado pela publicação do
Companion to Digital Humanities e um crescimento significativo nesse campo,
acompanhado por um aumento no financiamento para pesquisa e prática em
Humanidades Digitais.

● Década 2010

A década viu um crescente envolvimento de historiadores com métodos


digitais, destacando a diversidade de abordagens e preocupações éticas associadas
à digitalização e acesso a fontes primárias. A história digital ganhou destaque como
uma extensão das humanidades digitais, focando em métodos de análise,
apresentação e pesquisa histórica usando mídia digital.

No Brasil e no mundo de língua hispânica, foram criadas associações


nacionais e realizados eventos como o Congresso Internacional de Humanidades
Digitais. Em paralelo, há uma ênfase crescente na colaboração e na
disponibilização digital de pesquisas, impulsionada pelo desenvolvimento
tecnológico e pela crescente disponibilidade de arquivos digitais.

Publicação e reconhecimento acadêmico da história digital tornam-se


questões-chave, com instituições buscando diretrizes para avaliar e reconhecer
bolsas de estudo digitais.
● Década 2020

Esta última década também configura um momento primordial para a história


das Humanidades Digitais influenciado pelo Covid-19, cuja popularização do tema
de estudo foi obrigada a acontecer, assim como muitas coisas no mundo passaram
a ser digitais.

Durante esse período, os pesquisadores se viram cada vez mais compelidos


a fazer uso mais intensivo de seus computadores, explorando a internet de maneira
mais aprofundada e descobrindo as vastas possibilidades de pesquisa oferecidas
por arquivos digitais, bibliotecas online, redes sociais e softwares especializados.
Paralelamente, à medida que as séries de eventos acadêmicos ao vivo se
multiplicavam, observou-se um aumento significativo nas iniciativas para
disponibilizar e promover digitalmente pesquisas e arquivos documentais.

Conclusão

Observa-se então que a evolução cronológica das Humanidades Digitais ao

longo das décadas é fundamental para compreendermos a trajetória e o significado

desse campo de pesquisa e atividade acadêmica.

Desde suas origens na década de 1940, com os primeiros experimentos

computacionais de análise textual, até os desenvolvimentos mais recentes

impulsionados pela digitalização e pelo advento da internet, essa linha do tempo nos

mostra como as Humanidades Digitais se tornaram essenciais para a abordagem de

questões sociais, culturais e históricas contemporâneas.

E com o aumento da disponibilidade de dados digitais e avanços

tecnológicos, as possibilidades de pesquisa e análise nesse campo só tendem a

crescer.

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