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GULLEY: O QUE ACONTECE COM AS VERDADES B ÍBLICAS SE A IASD ACEITAR A EVOLUÇÃO TEÍSTA?

Segunda Conferência Internacional sobre Fé e Ciência


Denver, Colorado, Agosto de 2004

O QUE ACONTECE COM AS VERDADES BÍBLICAS SE A IASD ACEITAR A


EVOLUÇÃO TEÍSTA?1
Norman R. Gulley
Southern Adventist University
Collegedale, Tennessee

INTRODUÇÃO
Muito do mundo cristão não mais acredita que Gênesis 1-2 é um relato literal da
criação. O físico Howard Van Till declara: “Eu seria mesmo ousado para acrescentar que o
desentendimento da doutrina histórica da criação pode estar tão disseminada dentro da
comunidade cristã quanto fora dela.”2 Desde de Darwin, processos naturais são imaginados
para explicar a origem da vida, 3 e eruditos cristãos tem tentado acomodar a ciência ao
interpretar o registro de Gênesis à luz da atual cosmovisão4 científica. O teólogo John S.
Feinberg corretamente compara a interpretação de Gênesis 1-2 através da evolução com
interpretar a escatologia bíblica através dos eventos atuais. Ele conclui: “Não penso que os
dados bíblicos permitam um relato ateístico ou evolucionário teístico.... Eu preferiria que
minhas visões fossem consistentes com a Escritura mesmo que isso signifique que elas são
inconsistentes com a ciência.” 5 Em 1991, o teólogo Paul K. Jewett disse que “a forma da
história da criação na Escritura é claramente aquela de uma narrativa histórica, como a
subseqüente narrativa da história da salvação culminando na Encarnação no Pentecoste.” Mas,
“hoje, contudo, poucos que confessam a doutrina crista da criação suporiam que o mundo foi

1
Traduzido por Daniella C. B. A. Virmes e Clacir Virmes Junior.
2
Howard J. Van Till, “The Fully Gifted Creation: Theistic Evolution,” em As três visões sobre Criação e
Evolução, eds. J. P. Moreland e John Mark Reynolds (Grand Rapids, MI: Zondervan, 199), 161.
3
Darwin se opôs à visão de que cada espécie foi criada independentemente (69), que há uma
“imutabilidade das espécies” (317), e apresentou “a teoria da linhagem com modificação através da seleção
natural” (435), The Origin of Species (NY: Gramerey Books, 1979, 1ª Ed., 1859).
4
A Evolução coloca o relato da criação de Gênesis em questionamento. Portanto, muitos teólogos
aceitam o Gênesis como pré-científico, sem qualquer interesse no processo de criação o qual a ciência
alegadamente provê. Por exemplo, Augustus Strong afirmou, “A evolução não cria a idéia de um Criador
supérfluo, porque a evolução é apenas o método de Deus.” Sistematic Theology (Filadélfia, PA: Judson, 1907),
465-466.
5
John S. Feinberg, No one like Him: The Doctrine of God (Wheaton, II: Crossway, 2001), 579, 560.
Embora ele seja inconsistente em aceitar dias de 24 horas modificados, nos quais alguns dias são um pouco mais
longos (615). Seu argumento de que a simetria literária (duas tríades em seis dias) questiona dias solares parece
negligenciar o fato de que Deus faz todas as coisas de forma ordenada, o que a Escritura recomenda aos
humanos (I Cor. 14:40, Col. 2:25) (615-617).
SEGUNDA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE FÉ E CIÊNCIA 2

feito numa semana de tempo somente seis ou dez anos atrás.” Ele então nota algumas
exceções, e citamos uma delas.
...muitos adventistas dos sétimo dia, conhecidos por sua observância do sábado do
sétimo dia, tem seguido Ellen G. White em ver a escolha como sendo entre a Bíblia, que
é a palavra de Deus, e a ciência, que é uma palavra humana. Não fossem os dias de
Gênesis literais, o sábado do sétimo dia não seria literal. Mas se o sábado do sétimo dia
original não foi um sábado literal, então como alguém pode estar certo de que ela
guardava o dia certo como o sábado memorial da criação. Como Deus nos exorta a fazer
no quarto mandamento? Tão longe quanto o planeta Terra esteja preocupado, os dados
aos quais os geólogos apela, encontrados em rochas e fóssil, é visto pelos adventistas
como o resultado catastrófico do dilúvio de Noé. Assim, alguém nem precisa postular
longos períodos de tempo para explicar tais dados. 6

O QUE A EVOLUÇÃO TEÍSTA FAZ COM O PLANO DA SALVAÇÃO E COM A


MISSÃO DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA
Questionando a realidade histórica do relato da criação de Gênesis logicamente
questiona os atos subseqüentes de Deus na história. Não é uma questão confinada a Gênesis
1-2, mas afeta o restante da Escritura. Portanto todo o relato bíblico como história é
enfraquecido pela rejeição da historicidade de Gênesis 1-2, com foi para Rudolf Bultmann,
que relegou a cosmologia bíblica como “pré-científica” com resultados desastrosos.7 A
evolução teísta assume que Deus usa a evolução até chegar a criação dos humanos, que ainda
estão em processo, e algumas formas de evolução vão tão longe a ponto de dizer que os
humanos evoluirão até se tornarem Deus, uma mentira similar àquela sugerida a Eva em
Gênesis 3:1-6.8 Se os seres humanos são o resultado de um progresso dentro do

6
Paul K. Jewett, God, Creation & Revelation: A Neo-Evangelical Theology (Grand Rapids, MI:
Eerdmans, 1991), 479, 480.
7
Rudolf Bultmann, “New Testament and Mythology” em Kerygma and Myth: A Theological Debate, ed.,
Hans Werner Bartsch, trans. Reginald H. Fuller (Londres: S.P.C.K., 1964, 1ª ET, 1953), 1-4 (itálicos dele). Ele
abandonou a visão de mundo sobrenatural por uma visão natural, e isso trouxe à questão todos os atos
sobrenaturais de Deus na história. Por exemplo, ele disse, “Ninguém que é velho o suficiente para pensar por si
mesmo supõe que Deus viva num paraíso local. Não há mais qualquer paraíso no sentido tradicional da palavra...
Nós não podemos mais aguardar pelo retorno do Filho do Homem nas nuvens do Céu ou esperar que os fiéis O
encontrarão nos ares (I Tess. 4:15ss)”. “Mesmo se acreditarmos que o mundo como conhecemos vai acabar, nós
esperamos que o fim tome a forma de uma catástrofe natural, não de um evento mítico tal como o Novo
Testamento espera.” Bultmann, Kerygma and Myth, 4-5. Ver também The Gifford Lectures que Bultmann
proferiu na Universidade de Edimburgo em 1955, onde a escatologia está confinada à sempre-repetida vinda do
Espírito Santo em encontros com a existência humana substituindo uma vida final cósmica de Cristo. Essa é a
extensão da reinterpretação e reducionismo da hermenêutica existencial de Bultmann. Rudolf Bultmann, History
and Escathology (Edimburgo: The University Press, 1957).
8
Ver New Age Movement em Norman R. Gulley, Christ is Coming! (Hagerstown, MD: Review and
Herald Publishing Assn., 1998), capítulo 13. Se Deus alegadamente impediu Eva de se tornar como Ele, então
comer o fruto proibido foi um processo alegado natural para alcançar esse fim. Então Satanás não somente fez
com que Eva duvidasse da Palavra de Deus, Seu amor e sabedoria, mas sugeriu um processo natural para
alcançar esse objetivo à parte dEle. Esse é o impulso completo do naturalismo. A evolução é ateísta, e é ilógico
considerá-la teísta.
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desenvolvimento evolucionário natural, então não há lugar para sua queda, morte através do
pecado, sua necessidade da lei de Deus, sua necessidade da revelação da Escritura, sua
necessidade de salvação através de Cristo, sua necessidade do trabalho de nova criação do
Santo Espírito, sua necessidade da atual intercessão de Cristo, a segunda vinda, ou o
julgamento final. Se Deus não tivesse falado para que a criação existisse em Gênesis isso
colocaria em xeque Sua futura palavra criativa para ressuscitar os mortos, e sua criação
sobrenatural dos novos céus e terra. Uma vez que a palavra sobrenatural falada de Deus na
criação é rejeitada, então a palavra sobrenatural falada de Deus na Escritura é rejeitada, e a
Escritura é meramente o produto de uma coleção de fontes orais e humanas. Se a Igreja
Adventista aceitar a evolução teísta ela abandonaria sua base bíblica e missão e simplesmente
se uniria a outras igrejas e teólogos, e desceria ao terreno escorregadio da mudança
doutrinária como descrita por E. Edward Zinke e Angel Manuel Rodriguez. 9 Além disso, se as
verdades da Escritura são enfraquecidas, então o Deus da Escritura que as deu também.
Portanto uma rejeição da criação literal, histórica, sobrenatural de Gênesis questiona a missão
da Igreja Adventista do Sétimo Dia de proclamar Deus como Criador no contexto do
evangelho eterno (Ap 14:6-7).

O QUE A EVOLUÇÃO TEÍSTA FAZ COM A COSMOVISÃO BIBLICAMENTE


CONSTRUÍDA
A evolução teísta é uma visão das origens que aceita Deus ou começando o processo de
evolução ou o começando e superintendendo. Mas esta é uma tentativa de casar duas
cosmovisões mutuamente exclusivas, sobrenaturalismo (teísta) e naturalismo (evolução). O
sobrenaturalismo é Deus criando o mundo sem qualquer dependência da natureza. O
naturalismo é a natureza evoluindo no mundo sem qualquer dependência de Deus. Então, qual
é? Tem de ser uma ou outra, pois um misto das duas não é possível. Por exemplo, por que um
Deus onipotente precisaria de um longo processo? Por que um deus onisciente precisaria
tantas tentativas e erros ao longo do caminho? Porque o deus que pede para que “tudo seja
feito com ordem e decência” (1Co 14:40) faz o oposto no tortuoso processo de mega-tempo?
Por que o Deus que se opõe a salvação pelas obras (Ef 2:9) usaria a sobrevivência como o
melhor método?10 Em todos estes exemplos, a evolução teísta questiona a Palavra de Deus
sobre estes assuntos, apresentando uma cosmovisão humana no lugar da cosmovisão bíblica.
Deve-se manter em mente que a Origem das Espécies de Darwin é uma cosmovisão
para explicar o mal na natureza, 11 enquanto que o Deus da criação através de Cristo (Cl 1:15,

9
Para exemplos do efeito da evolução teísta nas doutrinas, ver E. Edward Zinke, “Theistic Evolution:
Implications for the Role of Creation in Seventh-day Adventist Theology”, em Creation, Catastrophe and
Calvary, Ed., John Templeton Baldwin (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2000), 159-171, e Angel Manuel
Rodriguez, “Theistic Evolution and the Adventist Faith: An Analysis, umpublished manuscript, Biblical
Research Institute, General Conference of SDA.
10
Ver Henry M. Morris, John D. Morris, The Modern Creation Trilogy: Scripture and Creation (Green
Forrest, AR: Master Books, 1996), 40.
11
Veja Cornelius G. Hunter, Darwin’s God: Evolution and the problem of Evil (Grand Rapids, MI:
Brazos, 2001).
SEGUNDA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE FÉ E CIÊNCIA 4

16; Hb 1:1, 2) é através de Alguém que mais tarde revelou Deus como amor (Jo 14:9b; 17:23)
e a Trindade seria tão altruísta e amável na criação como eles são na salvação (Jo 3:16; Hb
13:8). Em forte contraste Satanás é centrado em si mesmo (Is 14:12-15; Ez 28:12-18), lançou
uma guerra contra Deus no céu (Ap 12:3-8) e na terra, que afetou o mundo natural (Gn 3:1-
19).12 Cristo chamou Satanás de “príncipe desse mundo” (Jo 12:30-32), e Paulo o chama de
“deus dessa era” (2Co 4:4) e o mal neste mundo (moral e natural) deve ser creditado a ele,
pois “Deus é amor” (1Jo 4:7-16) e Seu amor derrotou Satanás na cruz (Ap 12:9-13; Jo 12:31,
32). Parece que os evolucionistas teístas não levam em conta a diferença radical entre estas
duas cosmovisões. 13 Se a Igreja Adventista do Sétimo Dia aceitar a evolução teísta ela
inconscientemente se encontraria do lado errado da controvérsia cósmica contribuindo para
uma cosmovisão que distorce a verdade sobre Deus, o cunho da controvérsia.

O QUE A EVOLUÇÃO TEÍSTA FAZ COM A VERDADE SOBRE DEUS


Uma “doutrina particular de Deus é um pré-requisito para o sucesso da evolução.”14 Se
Deus escolheu criar através do processo evolucionista natural, no qual os horrores da tortura e
da morte por bilhões de anos foi necessário para criar os seres humanos, isso seria o maior e
mais cruel holocausto jamais imaginado. Por que Deus usaria tão injusta carnificina para criar
quando a justiça é o fundamento de Seu trono (Sl 89:14). Como é possível um tal modelo em
vista de Sua providência na história (Rm 11:36; 8:28-30)? Por que Deus usaria a morte para
criar os seres humanos à Sua imagem (Gn 1:26, 27) que é amor? Se Ele usou a morte para
criar, então porque ele avisou Adão sobre o mal da morte (Gn 2:17) e expôs as profundezas
deste mal através da morte para salvar seres humanos da penalidade da morte (Jo 3:16; Rm
6:23)? Se a morte é o último inimigo a ser destruído no fim da controvérsia (1Co 15:26),
então como poderia Deus usá-la para criar antes e depois do início da controvérsia?
George Bugg (1769-1851) perguntou
Onde está a benevolência, para não dizer justiça de tudo isso? Nem uma criatura capaz
de ofender Seu criador. Ainda assim encontramos todo um gênero e todas as nações de

12
Depois da queda dos seres humanos Deus disse que a terra criaria espinhos e abrolhos (Gn 3:18). No
tempo antes da queda, em Gênesis 1:11, 12, “vegetação” é a palavra hebraica deshe, “plantas que dão sementes”
é ‘evev matsry’ tsr’. Em contraste, Gênesis 2:5 quando se diz que “planta do campo ainda não estava na terra”
“planta” é a palavra hebraica siah. Randall Younker liga isso aos espinhos e abrolhos de Gn 3:18, e portanto é
uma referência ao espinho xerófito. Veja “Genesis 2: A Second Creation Account?” em Creation, Catastrophe
and Calvary, ed. John Templeton Baldwin (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2000), 72-74. Assim como a
queda de Adão causou a morte de toda a raça humana (Rm 5:12), e isso fez com que a morte entrasse no mundo
natural, que conseqüentemente espera por restauração (Rm 8:18-22), o que não aconteceria se a morte fosse o
meio usado por Deus para criar o mundo natural.
13
Alguns teólogos entendem a criacao de Deus como uma expressão do Seu amor. Por exemplo, Yürgen
Moltmann, God and Creation, 75, 76; Wolfhart Pannenberg, Systematic Theology, trad. Geoffrey W. Bromiley
(Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1994, German 1991), 2, 25 e Stanley J. Grenz, Theology for the Community of
God (Nashville, TN: Broadman & Holman, 1994), 133. Alguns teólogos negam a evolução teísta. Por exemplo,
Louis Berkhof, Systematic Theology, 2, 139, 140 e Wayne Grudem, Systematic Theology: An Introduction to
Biblical Doctrine (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1994), 275-279.
14
Darwin’s God: Evolution and the Problem of Evil, 159.
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animais perecendo em sucessão; e estas inúmeras vezes repetidas, como se o seu


Autor...fosse um esporte, formando e destruindo mundos vez após vez! 15
Frederick Nolan, nas palestra de Oxford Bampton em 1833 disse
Durante a imensidade de tempo na qual, estamos seguros, esse desenvolvimento da
natureza aconteceu, a terra é representada como completamente abandonada para
criaturas...monstros das mais hediondas formas e naturezas ferozes. Se a noção de um
Criador for admitida neste esquema, as incongruências morais ... são ... brutais ... ele é
representado como melhorando sobre seus primeiros ensaios; como destruindo em
sucessão suas primeiras e mais rudes obras, pra exercitar sua habilidade na produção de
outros, mais dignos de sua capacidade inventiva. 16
Em 1991 o filosofo da ciência David Hull da Northwestern University avaliou o
processo evoluctivo como
... repleto de acaso, contingencia, desperdício incrível, morte, dor e horror...O Deus
implícito na teoria evolucionista e os dados da história natural... não é o Deus amoroso
que cuida de Suas produções. Ele é...descuidado, indiferente, quase diabólico. Ele
certamente não é o tipo de Deus a quem qualquer um estaria inclinado a orar. 17
Deve-se olhar para todas as verdades bíblicas à luz da maior revelação de Deus no
Calvário. A revelação no Calvário foi feita na história. Houve testemunhas. Como tal ela
prove evidência empírica (histórica) de como o Deus amoroso é, até mesmo pedindo ao Seu
Pai para perdoar aqueles que se lançaram cruelmente sobre Ele (Lc 23:34). Assumir que o
mesmo Cristo Criador (Hb 1:1-2) lançou-se cruelmente sobre os animais, não durante parte de
um dia, mas por bilhões de anos, não é um fato histórico, mas uma pressuposição metafísica
que o Calvário pode justamente questionar. O Calvário foi um holocausto que outros
trouxeram sobre Cristo, mas a dor e a morte de animais por milênios seriam um holocausto
que Ele trouxe sobre o reino animal, o que é incompatível com o amor de Cristo no Calvário.
O fato que o universo expectante gritou de alegria na criação desse mundo (Jó 38:4-7) é
inexplicável se Cristo criou causando sofrimento aos animais por bilhões de anos. Cristo disse
que a criação era “muito boa” (Gn 1:31) e isso é digno de ser louvado, mas quem chamaria o
processo tortuoso da evolução de “muito boa”? Depois da ascensão de Cristo, os seres
celestes adoraram Deus como digno e merecedor de glória por que Ele criou todas as coisa
(Ap 4:10-11). Isso seria impossível se Ele criasse através da crueldade. Uma parte da
mensagem de Deus no tempo do fim chama o mundo para adorar o Criador e dar-Lhe glória
(Ap 14:6-7), o que não poderia ser feito se Ele criasse através da crueldade. A Escritura é
consistente em que Deus é merecedor de glória e adoração como Criador (p. ex. Ap 4:6-11),

15
George Bugg, Scriptural Geology (London: Hatchard and Son, Vol. 2, 1826-1827), 44, citado em
Thane Hutcherson Ury, “The Evolving Face of God as Creator: Early Nineteenth Century Traditionalist and
Accommodationist Theodical Responses in Angelo Religious Thought to Paleo-Natural Evil in the Fossil
Record,” dissertação de Ph.D, Andrews University, 2001, 199.
16
The Analogy of Revelation and Science (London: Oxford, 1833), 130, 131.
17
David Hull, “The God of Galapagos,” Nature 352 (1991), 486.
SEGUNDA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE FÉ E CIÊNCIA 6

pois Sua obra criativa só pode ser entendida com relação ao Seu caráter como um Deus de
amor (1Jo 4:8-16).
A advertência de Cristo a Adão sobre a árvore do conhecimento do bem e do mal,
declarando que comer seu fruto traria morte (Gn 2:17), indica que a morte ainda não era uma
realidade presente. Aqui mal e morte estão associados com desobediência ao Criador. Tal
desobediência traria uma maldição sobre a natureza bem como sobre Adão e Eva (Gn 3:17-
19). Quando Cristo recriar a terra não haverá mais maldição (Ap 22:3). Claramente maldição
e morte estão ligadas à desobediência e não tem nada a ver com o método criativo de Cristo.
Se a nova terra não terá maldição, e as maldições vêm através da queda, e a primeira criação
foi “muito boa” (Gn 1:31), é lógico que a primeira criação não tinha maldição ou morte. Por
isso a Escritura fala da morte como o salário do pecado (Rm 6:23) e como um inimigo (1Co
15:26), e nunca como o método escolhido por Deus para criar.
É por isso que a Escritura diz: “o pecado entrou o mundo através de um homem” (Rm
5:12). Foi Adão e não o Criador que trouxe morte a esse planeta. Foi Cristo que veio morrer
para fazer morrer a morte e libertar a raça caída (Rm 4:25). Foi um único ato do primeiro
Adão que causou esta condenação mortal e um único ato da morte do segundo Adão que
proveu salvação (Rm 5:18). Cristo não usou a morte para criar os seres humanos no Éden, ele
morreu para salvar os seres humanos no Calvário. Dada a controvérsia cósmica na qual
Satanás odeia Cristo e está engajado num processo de desinformação sobre Deus (a palavra
hebraica rekullah de Ezequiel 28:15-16)18 desde o início de sua rebelião, faz sentido que um
método natural de criação através de horror é algo que ele promoveria, pois ele efetivamente
destrói o poder delineado no Calvário. Satanás odeia a cruz porque ela revela o que Deus
realmente é e o que ele (Satanás) realmente é. A criação através do horror é compatível com o
ódio de Satanás contra Cristo na cruz e não com o Criador-Redentor amoroso que morre por
outros (ao invés de infligir a morte). A vida através da morte é um conceito bíblico de
expiação e não um conceito bíblico de criação.
Cristo criou “toda planta verde para comida” para os animais (Gn 1:30). Aparentemente
os animais não foram criados como predadores, nem haverá predadores na nova terra (Is
65:25), como nenhuma morte ou dor haverá lá também (Ap 21:4). Predação é um fenômeno
pós-queda e não deveria ser lido no processo criativo. Como um Deus de amor (1Jo 4:7-16),
Deus criou com amor. O fato de que ele vê a queda de um pardal (Lc 12:6-7), alimenta os
corvos (Lc 12:24), e estava preocupado com “o muito gado” em Nínive se ela fosse destruída
(Jn 4:11), é evidência de que ele não causaria o sofrimento animal em um plano evolucionista
teísta de criação. Como é importante deixar a Escritura interpretar a Escritura (sola Scriptura),
ao invés de que uma idéia não bíblica (naturalismo) tenha essa função.

18
A palavra hebraica rekullah significa “comercializar” ou “futilidades” referindo-se a bens ou fofoca.
Aqui Satanás espalha fofoca sobre Deus. Veja Richard M. Davidson, “Cosmic Metanarrative for the Coming
Millennium,” Journal of the Adventist Theological Society 11, no 1-2 (2000): 108.
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O QUE O EVOLUCIONISMO TEÍSTA FAZ COM O SÁBADO


Em Gênesis 1 há uma correspondência entre os dias 1-3 com os dias 4-6, onde os
primeiros três dias são as áreas formadas por Elohim, o todo poderoso Deus, e os últimos três
dias são as áreas preenchidas por Ele. 19 Isso pode ser demonstrado no seguinte quadro:
Dia 1 – Luz Dia 4 – Luzeiros
Dia 2 – Céu e mar Dia 5 – Pássaro e peixes
Dia 3 – Terra (plantas) Dia 6 – Animais e Homem (plantas para
alimento)
Dia 7 – Sábado20
O clímax não é a criação dos seres humanos, 21 como o é no evolucionismo teísta, mas o
dom do Sábado.22 Pois a narrativa finda com o Sábado em 2:1, reconhecendo que as divisões
em capítulos vieram muito depois do tempo de escrita. Karl Barth diz que o Sábado “é
realmente a coroação de Sua obra” pois “não humano, mas divino descanso no sétimo dia é a
coroa da criação,”23

19
Gordon J. Wenhem, Word Biblical Commentary: Gênesis 1-15, 6-7.
20
Gordon J. Wenhem, Word Biblical Commentary: Gênesis 1-15, 7. Derek Kidmer em Tyndale O.T.
Commentaries, Gen. ed. D.J. Wiseman, Genesis (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1967), 46, arranja os seis dias
como segue:
Forma Plenitude
Dia 1 luz e escuridão Dia 4 luzes do dia e da noite
Dia 2 mar e céu Dia 5 criaturas do água e ar
Dia 3 terra fértil Dia 6 criaturas da terra
O arranjo de Wayne Grudem, em Sistematic Theology (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1994), 301, arranja
os seis dias como segue:
Dias de formação Dias de preenchimento
Dia 1 luz e escuridão separadas Dia 4 sol, lua e estrelas, luzes no céu
Dia 2 céu e águas separados Dia 5 peixes e pássaros
Dia 3 terra seca e mar separados Dia 6 animais e homem
plantas e árvores
21
Humanos são “a coroação da Criação” nas Crenças Fundamentais ASD, nº 6 (que compara humanos
com outras coisas criadas no espaço). Davis A. Young considera humanos como “o clímax da criação” neste
sentido em Creation and the Flood: An Alternative Flood Geology and Theistic Evolution, (Grand Rapids, MI:
Baker, 1977), 89.
22
John S. Feinberg em No One Like Him: The Doctrine of God nota que o mandamento do Sábado está
ligado à narrativa da criação de Gênesis 1 e 2. Ele considera isto como “inegavelmente um tema significativo
destes capítulos”, embora não sejam o objetivo completo deles. Ele também nota que “o resto do Pentateuco
deixa bem claro que um maior propósito daquele dia é louvar o grande Deus que fez todas as coisas” (573).
Compare com Henri Blocher, In the Beginning, trans. David G. Preston (Downers Grove, II: InterVarsity, 1984),
52-59 onde o climax da criação é o Sábado.
23
Karl Barth, Church Dogmatics, (Edimburgo: T & T Clark, 1958), vol. 3/1, 223.
SEGUNDA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE FÉ E CIÊNCIA 8

A primeira referência ao Sábado (Gn 2:2-3) é uma estrutura quiástica, onde ela é central
e portanto enfatiza sua importância.
A. Deus termina sua obra (verso 2)
B. E Ele descansou no sétimo dia de toda sua obra que havia feito (verso 2)
C. Então, Deus abençoou o sétimo dia e o santificou (verso 3)
B. Pois nele Deus descansou de toda a sua obra que havia feito (verso 3)
A. Na criação (verso 3 cont.)24
A bênção de Deus (Heb. barak) foi dada apenas para o sétimo dia. Ele foi separado dos
outros seis e dessa maneira foi santificado. A palavra Sábado é derivada da palavra sbt, que
significa “cessar” ou “desistir” de uma atividade prévia. No sexto dia, Deus julgou a criação
“muito boa” (Gn 1:31) e portanto completa (Gn 2:3). Pois “em seis dias, fez o SENHOR os
céus e a terra, e, ao sétimo dia, descansou, e tomou alento” (Êx 31:17). Portanto Suas “obras
estivessem concluídas desde a fundação do mundo.” Claramente a obra da criação foi
terminada no sexto dia da semana da criação, ao contrário de alguns daqueles que crêem em
um processo macro evolucionário em andamento.
Na Escritura o Sábado é uma celebração das obras finalizadas de Cristo, na criação (Gn
2:1-3, Êx 20:8-11), na libertação do Mar Vermelho (Dt 5:15) e na sexta-feira da crucifixão (Jo
19:30). Cristo criou Adão na sexta-feira e na sexta-feira da crucifixão Ele se tornou o segundo
Adão para o mundo em Sua morte (Lc 23:44-24:6). A sexta-feira da crucifixão, como a sexta-
feira da criação, foi um início para a raça. O Sábado celebra (1) a obra finalizada de criação
de Cristo para Adão e Eva, (2) a obra finalizada de libertação de Cristo para uma nação, e (3)
o sacrifício finalizado de Cristo para um mundo. A primeira obra finalizada de Cristo é tão
literal quanto as outras duas obras finalizadas. Cristo não foi mais dependente de um processo
evolucionista do que Ele foi para qualquer outro processo nestes milagres do Seu divino
poder.
Aqueles que negam uma semana de criação literal de sete dias e tentam encontrar o
Sábado na prática de observância do Sábado de Cristo, negligenciam o fato de que o pré-
encarnado Cristo, que deu a Moisés os dez mandamentos no Sinai, escreveu a seguinte
revelação em pedra (Êx 24:12): “porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e
tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado
e o santificou” (Êx 20:11). Deus criou todas as coisas através de Cristo (Hb 1:1-2). No quarto
mandamento Cristo estava escrevendo sobre Sua própria experiência na história humana no
fim da semana da criação (Gn 2:1-3, cf. Jo 1:1-3, 14; Cl 1:15-16). Cristo como “Senhor do
sábado” (Mc 2:28) fez o sábado para todos os seres humanos (Mc 2:27). O ensino do pré-
encarnado Cristo sobre o Sábado é claramente endossou a semana da criação em seis dias,
onde os dias foram literais, históricos, consecutivos, contíguos, de 24 horas, cada um formado
por uma “tarde e manhã” (Gn 1:5, 6, 13, 19, 23, 31) e não meramente dias de revelação com

24
Kenneth Strand, “The Sabbath”, Handbook of Seventh-day Adventist Theology, The SDA Bible
Commentary, vol. 12, 493-495.
GULLEY: O QUE ACONTECE COM AS VERDADES B ÍBLICAS SE A IASD ACEITAR A EVOLUÇÃO TEÍSTA? 9

milhões de anos entre eles. Ao guardar o Sábado durante sua vida na terra, Cristo endossou o
relato da criação em seis dias. Em Sua morte, os seguidores de Cristo “no sábado,
descansaram, segundo o mandamento” (Lc2 23:56b; cf. Êx 20:8-11).
Então não é possível fundamentar a prática e ensino encarnacionais de Cristo sem
referência à semana da criação, porque Ele começou Sua prática de guardar o sábado no fim
da semana da criação e apresenta o relato da criação de Gênesis como história literal em Seu
ensino pré-encarnado – porque Ele estava lá. Não surpreende que o Cristo encarnado fale da
criação de Adão e Eva como um fato literal (Mt 19:4-5) e Paulo fale de sua criação e queda
como fatos históricos (1Tm 2:13,14).
Antes de Darwin, houve a crenca geral de que os dias da criação foram literais. 25 Alguns
até mesmo se referiam aos dias da criação como literais por causa de um Sábado literal, 26 ou
se referiam ao sábado da semana da criação.27 Ao negar os dias literais da criação, e portanto
negar uma semana de criação literal, a evolução teísta remove o fundamento dado por Deus
para o Sábado do sétimo dia.

O QUE A EVOLUÇÃO TEÍSTA FAZ COM A PALAVRA DE DEUS


Por detrás de tudo o que foi dito, a evolução teísta questiona a palavra de Deus e
portanto questiona as verdade que ela apresenta. Ao negar os dias literais de 24 horas de
Gênesis 1-2, a evolução teísta inconscientemente questiona a Palavra de Deus. 28 Robert
Reymond dá sete princípios hermenêuticos para interpretar os dias da criação. (1) O
significado preponderante de um termo deve ser mantido a menos que considerações textuais
sugiram outro. A palavra hebraica para dia yom no singular, dual ou plural ocorre 2.225 vezes
no Antigo Testamento e a maioria esmagadora designa um período de 24 horas. Nenhuma
demanda textual é apresentada em Gênesis 1 para se considerar outro significado. (2) A
repetida frase “tarde e manhã” (Gn 1:5, 8, 13, 19, 23, 31) ocorre em 37 versos fora de Gênesis
(p. ex. Êx 18:13; 27:21) e sempre designa um período de 24 horas. (3) Os números ordinais
(1º, 2º, 3º) usados com yom (os mesmos textos anteriores) ocorrem centenas de vezes no
Antigo Testamento (p. ex. Êx 12:15; 24:16; Lv 12:3) e sempre designa um período de 24
horas. (4) A criação do sol “para governar o dia” e da lua “para governar a noite” (Gn 1:16-

25
Por exemplo, João Calvino, Calvin’s Commentaries: Genesis, trans. John King (Grand Rapids, MI:
Baker, 1989), 1. 92; John Brown (1772-1787), Systematic Theology (Ross-shire, Escócia: Christian Focus,
2002), 170; Heinrich Heppe, Reformed Dogmatics, ed. Ernst Bizer, trans., G. T. Thomson (Londres: Wakeman
Trust, 1950, 1st 1861), 199.
26
Por exemplo, Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology, trans. George Musgrave Giger, ed.,
James T. Dennison Jr. (Phillipsburg, PA: Presbyterian and reformed, 1992), 1. 444-452 e Louis Berkhof,
Systematic Theology (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1996, inclui os volumes de 1932 e 1938), 155.
27
Por exemplo, Martinho Lutero, Luther’s Works, ed., Jaroslav Pelikan (St. Louis: Concordia, 1958),
1.80, ver 3-82.
28
Há aqueles que não aceitam a evolução teísta, mas que questionam se Deus criou o mundo em seis dias
literais. Eles honram o poder criador de Deus, e não questionam Sua habilidade de fazer tudo em seis dias, mas
parecem hesitantes em outros terrenos. Em contraste a Escritura tem uma certeza que pode ajudá-los a ter
também.
SEGUNDA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE FÉ E CIÊNCIA 10

18) no quarto dia sugere dias literais de 24 horas para os dias 4-7 e nada no texto sugere que
os dias 1-3 foram diferentes. (5) A Escritura interpreta melhor a Escritura (analogia
Scritpturae), onde uma passagem menos clara é interpretada por uma ou mais passagens mais
claras. O quarto mandamento de Êxodo 20:11 (cf. Êx 31:15-17) documenta que os dias da
criação foram literais. (6) O plural dias (Heb. yamim) ocorre 608 vezes no Antigo Testamento
e sempre designa períodos de 24 horas. (7) Se Moisés pretendeu significar dia-era ao invés de
um período de 24 horas, ele teria usado o termo hebraico ‘olam.29
Em todos exceto um dos dias “Deus disse” (Gn 1:3, 6, 9, 14, 20, 24) é seguido por “e
assim se fez,” proclamando o poder de Suas ordens. O poder sobrenatural da palavra criativa
de Deus é demonstrada pela velocidade com que Suas ordens são cumpridas, pois os dias da
criação foram literais, contínuos, contíguos, períodos de tempo de 24 horas, pois a palavra
hebraica para dia “yom” quando usada com ordinais (2º, 3º, 4º, etc) é sempre um dia literal. 30
Sua ordens tem resposta instantâneas. É por isso que ele pôde dizer que cada dia de nova
criação criada foi “bom” (Gn 1:3, 10, 13, 19, 20, 24). Não há espaço para o naturalismo sobre
mega-tempo neste contexto. A evolução teísta precisa tomar a palavra criativa de Deus
seriamente tanto quanto Sua Palavra escrita que apóia uma criação histórica literal. Deve-se
ter em mente que se a duração dos dias da criação são eras, então como a vegetação criada no
terceiro dia (Gn 1:11-13) sobreviveria até o quarto dia quando o sol foi criado (Gn 1:14-19)?
Isso é contrário à ciência e é outra razão contextual para que os dias de Gênesis 1-2 sejam
períodos literais de 24 horas.
Todo o livro de Gênesis é estruturado pela palavra “gerações” (toledot), assim a
declaração “esta é a gênese dos céus e da terra” no relato da criação em Gênesis 2:4 é tão
literal quanto “esta é a história de Noé” (Gn 6:9) ou tão literal quanto a promessa de
estabelecer Sua aliança com Abraão “e a tua descendência no decurso das suas gerações” (Gn
17:7). A Escritura apresenta a criação como um dos poderosos atos de Deus. “Pois ele falou, e
tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir” (Salmo 33:9). “Pela fé, entendemos que foi o
universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que
não aparecem.” (Hebreus 11:3).
Gênesis não é apenas um dos cinco livros que Moisés escreveu sob a guia de Deus. Os
seus outros livros interpretam a semana da criação como literal? Para todas as referências
subseqüentes de Moisés à semana da criação 31 são interpretações literais. Por exemplo, (1) o

29
Robert L. Raymond, A New Systematic Theology of The Christian Faith (Nashville, TN: Nelson, 1998),
393, 394.
30
O contexto decide o significado da palavra hebraica para dia (yôm). Por exemplo: (1) “Esta é a gênese
dos céus e da terra quando foram criados” (Gên. 2:4). A palavra “quando” em hebraico é yôm, significando “no
dia em que foram criados”. Dia=seis dias. (2) “As riquezas de sua casa serão transportadas; como água serão
derramadas no dia da ira de Deus” (Jó 20:28). Dia=período da ira de Deus (também, “Como o frescor de neve no
tempo da ceifa” (Pv 25:13). Tempo=período de tempo). (3) Na semana da criação os seis dias são designados
dentro do tempo de uma tarde e uma manhã (Gn 1:5, 8, 13, 19, 23, 31), e o sétimo dia (Gn 2:2-3) e o Sábado é o
sétimo dia após seis dias de criação no quarto mandamento (Êx 20:8-11).
31
Mesmo a repetição do mandamento do Sábado com seu significado e propósito adicional (celebrar a
libertação no Mar Vermelho – descanso dos inimigos Dt 5:15) é prefaciada pela referência ao Sábado como dia
santo de descanso depois de seis dias de trabalho (Dt 5:12-14), baseado no santo Sábado da Criação seguinte aos
seis dias de criação (Gn 2:1-2).
GULLEY: O QUE ACONTECE COM AS VERDADES B ÍBLICAS SE A IASD ACEITAR A EVOLUÇÃO TEÍSTA? 11

mana caiu por seis dias, mas não no Sábado do sétimo dia (Êx 16:-4-6, 21-23). (2) O Sábado
do quarto mandamento está baseado no sétimo dia o qual Deus abençoou depois dos seis dias
da criação (Êx 20:8-11). (3) O Sábado é um sinal entre Deus e Seu povo, “porque, em seis
dias, fez o SENHOR os céus e a terra, e, ao sétimo dia, descansou, e tomou alento” (Êx 31:16-
17). Para interpretar o registro da criação como não literal não faz sentido em vista destas
referências subseqüentes.
Ler o relato da criação de Gênesis à luz da criação de divina da humanidade pelo Deus-
homem (Jo 1:1, 14; Mt 1:20), a criação do primeiro Adão à luz da encarnação do segundo
Adão (1Co 15:45, cf. Rm 5:18-19), encontramos o tipo/antítipo do dom do amor que é
completamente compatível com o dom divino do amor no Calvário (Jo 3:16). Aqui está o
Deus de amor bíblico e não o Deus da evolução teísta. Os dois são distintamente diferentes.
A evidência anterior para os dias de criação literais precisa corrigir a Igreja Católica 32 e
mesmo os teólogos evangélicos que de outra maneira acreditam na inerrância da Escritura, 33
pois sua dúvida nos dia literais da criação (inconscientemente certeza para alguns) nega um
detalhe da Palavra de Deus. Há qualquer diferença no tipo de questionamento de Satanás no
detalhe da Palavra de Deus sobre morrer se o fruto proibido fosse comido (Gn 2:16)? Aquele
questionamento da Palavra de Deus levou à queda da raça humana (Gn 3:1-19). Eva caiu
porque ouviu ao questionamento da Palavra de Deus. Se ela houvesse confiado na Palavra de
Deus ela teria avaliado a alegada evidência empírica de Satanás pelo que isso era – uma
rejeição da Palavra de Deus. Quando Eva viu “que a árvore era boa para se comer, agradável
aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu” (Gn 3:6).
Ela colocou sua fé no que lhe pareceu evidência empírica que duvidou da Palavra de Deus. 34
Esse é o desafio fundamental que enfrentamos nesse final de Conferência sobre Fé e Ciência –

32
Por exemplo, o segundo Concílio Vaticano (1963-1965) abordou a relação entre a Escritura e a ciência.
Ele fala “da legítima independência da ciência” (Documents of Vatican II, Ed. Walter M. Abbott, S. J. trans. Ed.,
Very Rev. Msgr. Joseph Gallagher [Londres: Geoffrey Chapman, 1967,], 234), e da “legítima autonomia da
cultura humana e especialmente das ciências” (265). Isso está de acordo com a divisão católica entre Escritura e
tradição. No Documento sobre a Revelação, “a sagrada tradição” está colocada antes da “sagrada revelação”
(117). Do mesmo modo se espera que a ciência tome a precedência sobre a Escritura na área da evolução. O
último Catechism of the Catholic Church (1994) diz, “A questão sobre as origens do mundo e do homem têm
sido o objeto de muitos estudos científicos os quais têm esplendidamente enriquecido o conhecimento da idade e
das dimensões do cosmo, o desenvolvimento das formas de vida e o surgimento do homem.” O documento
agradece a Deus “pelo entendimento e sabedoria que ele dá aos eruditos e pesquisadores” e mesmo teólogos
evangélicos que de maneira diversa acreditam na inerrância da Escritura (Liguori, MO: Liguori Publications,
1994), e vêem o relato da criação em Gênesis como simbólico (87).
33
Por exemplo, Carl Henry disse, “A Bíblia não requer a crença nos seis dias literais de 24 horas da
criação com base em Gênesis 1 e 2” (God, Revelation and Authority [Waco, TX: Word, 1983], vol. 6, 226).
Millard Erickson diz, no “presente, a visão que eu acho mais satisfatória é uma variação da teoria dia-era”,
embora ele sabiamente diga “não podemos ser dogmáticos” (Christian Theology [Grand Rapids, MI: Baker, 2ª
Ed., 1998] 407). Wayne Grudem considera que “a possibilidade de que Deus escolheu não nos dar informação
suficiente para chegar a uma clara decisão nessa questão deve ser deixada aberta” (Systematic Theology [Grand
Rapids, MI: Zondervan, 1990] vol. 2, 44). Então há hesitação considerável em ver os dias da criação de Gênesis
como literal.
34
Cristo o Criador deu a Eva vida, um esposo, um jardim, o mundo, o Sábado, e Ele mesmo em uma
amizade próxima com Javé com um aviso sobre o fruto proibido. Ainda assim Satanás, que não lhe deu nada,
exceto uma reivindicação contrária à de Cristo, foi aceito. Tal é o poder ilusório de duvidar da palavra de Deus
porque a evidência empírica parece colocar isso em questão.
SEGUNDA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE FÉ E CIÊNCIA 12

colocaremos nossa fé na Palavra de Deus ou numa evidência empírica que parece questioná-
la?35

CONCLUSÃO
A esmagadora evidência no registro da criação em Gênesis, em outros livros de Moisés
e na Escritura inteira36 leva a conclusão de que Deus criou durante seis dias literais seguidos
por um Sábado literal. Qualquer acomodação da semana histórica literal da criação com a
evolução teísta (1) questiona a Palavra de Deus não apenas em Gênesis, mas através de toda a
Escritura e substitui o plano da salvação, e é contrario à missão da Igreja Adventista do
Sétimo Dia, (2) substitui a cosmovisão bíblica construída, com uma que concorre com o
questionamento da controvérsia cósmica da Palavra e natureza de Deus, (3) substitui o amor
de Deus por um Deus que criou através de bilhões de anos de sofrimento, o que O retrata de
uma maneira incompatível com o Calvário, (4) remove um Sábado literal como o clímax de
uma semana criativa literal o que questiona o quarto mandamento (Êx 20:8-11) e (5) rejeita a
Palavra de Deus em Gênesis 1-2 o que é tão destrutivo quanto a rejeição de Eva para com a
Palavra de Deus em Gênesis 3.37
Portanto, a Igreja Adventista do Sétimo Dia deve rejeitar a evolução teísta como o
método criativo de Deus ou terminará questionando a Palavra de Deus através da Escritura,
abandonará sua singular missão no tempo do fim, e falhara como Eva falhou. Não devemos
permitir que a Palavra de Deus seja colocada em dúvida através da evidência empírica, mas
testar a evidência empírica pela Palavra de Deus. 38 Pois no tempo do fim há escarnecedores

35
O registro da criação de Gênesis faz diferença entre Deus como Elohim (transcendente, onipotente),
que cria (bara) trazendo coisas à existência com sua palavra em Gênesis 1:3, 6, 9, 11, 14, 20, 24, 26, do nome
acrescentado Javé (iminente, pacto) o Deus que forma (yasar) humanos em Gênesis 2:21-22. Javé Elohim é
apenas introduzido em Gênesis 2, onde Ele é sempre Javé Elohim (11 vezes). Aqui está Deus criando os
humanos de perto de uma maneira distinta da Sua criação de todo o resto da realidade em Gênesis 1, e em
contraste com a evolução teísta onde humanos são produtos da mutação randômica. Dizer que Deus interferiu no
processo não é evolução, nem o processo concorda com Gênesis 1-2.
36
Embora além do escopo deste trabalho, há várias referências a respeito de Israel manter o Sábado do
sétimo dia (Êx 16:23-26, 31:16, Ez 20:12-24), bem como pessoas não-étnicas (“estrangeiros dentro das suas
portas” Êx 20:10b), a prática de Cristo de guardar o Sábado (Lc 4:16), a guarda do Sábado após o Calvário (Mt
24:20), a guarda do sábado por todos os humanos (Mc 2:27), a guarda do Sábado no fim dos tempos por causa
do evangelho eterno, para todas as nações, chama a todos para adorarem a Cristo como Criador, com as palavras
quem “fez os céus, a terra, o mar e as fontes das águas”, que recitam uma parte do mandamento do Sábado (Êx
20:11a), e a guarda do sábado para todos os redimidos na nova terra (Is 66:22, 23).
37
Satanás enganou Eva fazendo-a acreditar que ela poderia se tornar como Deus rejeitando Sua palavra
(Gn 3:1-6) o que era um tipo de “evolução” natural à parte de Deus. A teoria evolucionista que nega a palavra de
Deus (como visto neste trabalho) é igualmente uma evolução à parte de Deus, pois a evolução teísta é um termo
impróprio, porque é equivalente a dizer que Deus cria através da evolução natural à parte de Sua palavra sobre a
criação sobrenatural em Gênesis 1-2. Tal premissa questiona a confiança da palavra de Deus sobre uma criação
sobrenatural na história (Gn 1-2) tanto quanto Satanás coloca em questão uma parte do registro da criação ao
tentar Eva (Gn 2:16, 17, 3:1-6).
38
O mesmo princípio se aplica a testar milagres, afirmações proféticas e falar em línguas. A palavra de
Deus é o padrão divino que determina o que é genuíno e o que é contrafação (por exemplo, confira 1Ts 5:20, 21;
1Jo 4:2, 3; Mt 7:20 – Gl 5:22, 23; Jr 28:9, confira Dt 18:20-22).
GULLEY: O QUE ACONTECE COM AS VERDADES B ÍBLICAS SE A IASD ACEITAR A EVOLUÇÃO TEÍSTA? 13

que “deliberadamente esquecem”que os céus e a terra foram criados “pela palavra de Deus”
(2Pe 3:5) e crentes que “pela fé entendemos que foi o universo formado pela palavra de
Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hb 11:3). Essa
criação sobrenatural é unanimemente atestada através da Escritura, não deixando espaço para
a evolução teísta (Êx 20:11; Ne 9:6; Jó 26:7, 13; Sl 8:3; 33:6; 96:5; 102:25; 104:24, 30;
115:15; 121:2; 124:8; 134:3; 136:5; 146:6; 148:4, 5; Pv 3:19; 8:22-30; Ec 12:1; Is 37:16;
40:12, 26-28; 43:7; 44:24; 45:17, 18; 51:13, 16; Jr 51:15; Zc 12:1; Mc 13:19; Jo 1:1-3; At
4:24; 14:15; 17:24; Ef 3:9; Cl 1:16; Hb 1:1-2; Ap 4:11; 10:6; 14:7).

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