A produção pesqueira mundial, alcançou um máximo de
aproximadamente 171 milhões de toneladas em 2016. O consumo do pescado aumentou de 9,0 kg em 1961, para 20,2 kg em 2015, com uma taxa de crescimento de 1,5% ao ano. Em 2015, o pescado representou 17% do valor de proteína animal consumida pela população mundial (FAO, 2018). A exploração dos recursos pesqueiros é uma prática que acompanha a humanidade desde seus primeiros tempos. O consumo do pescado foi base alimentar e econômica para muitos povos e civilizações sendo que atualmente, destacam-se países onde o pescado representa-se como uma das principais atividades econômicas (Sikorski,1994). No Brasil, esse crescimento tem acompanhado o panorama mundial, sendo o estado de Santa Catarina um polo do desenvolvimento dessa atividade.
1.2 ESPÉCIES ABORDADAS
1.2.1 Cavalinha (Scomber colias)
É uma espécie de peixe perciforme da família Scombridae, conhecida
comercial por cavala, cavala-comum ou cavalinha. Possui habitat atrelado ao ambiente pelágico costeiro, podendo ser epipelagica a mesopelagica sobre o talude continental (Colette et al, 1983). Distribui-se no oceano Atlântico tanto na costa leste quanto oeste, incluindo o Mediterrâneo e o sul do Mar Negro. Substituído por Scomber japonicus no Indo-Pacífico. Possui preferência por água morna. Adultos e juvenis se alimentam principalmente de zooplâncton, sendo que a importância relativa de organismos maiores como cefalópodes, crustáceos e pequenos peixes pelágicos aumentam com o tamanho dos indivíduos. Capturado principalmente na pesca de cerco e de arrasto pelágico 16
que visa sardinha e/ou anchova. Normalmente considerado bycatch, mas
quando a disponibilidade de espécies-alvo é baixa, esta espécie fornece uma renda alternativa (Martins, 2013). Em 2011, segundo o Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura, a produção total foi de 5.117,1ton.
1.2.2 Tainha (Mugil liza)
Espécie da família Mugilidae, habitam águas marinhas costeiras e
estuários salobros (Thomson, 1968), também encontrado em lagoas hipersalinas e pode entrar em água doce (Cervigón et al, 1992). Nunca longe do mar e forma cardumes consideráveis (Thomson, 1968). Parecem sofrer migrações tróficas ao longo das costas (Keith et al, 2000). Alimenta-se de detritos orgânicos e algas filamentosas (Cervigón, 1993). Ovíparos, os ovos são pelágicos e não adesivos (Breder e Rosen, 1966). Gera vários milhões de ovos (Keith et al, 2000) no mar (Thomson, 1968). Também apanhado com redes de praia (Cervigón et al, 1992). Distribui-se por todo Atlântico Ocidental, desde Bermudas, Flórida (EUA), Bahamas e todo o Mar do Caribe até a Argentina. Em Santa Catarina, é conhecida por aparecer abundantemente na costa durante o inverno. A safra da tainha inicia em maio e perdura até o fim de julho (Bannwart, 2013). Os adultos de Mugil liza abandonam as principais áreas de criação, como a Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, e o Rio da Prata na Argentina, e iniciam sua migração ao longo da costa (CEPSUL, 2007). É durante a migração reprodutiva que ocorre a maior parte da pesca. A produção pesqueira é bastante variável de um ano para outro, sendo extremamente dependente das condições ambientais (Vieira & Scalabrin, 1991). Segundo o SisTainha, a temporada 2021 apresentou um total de capturas de 1.191.533kg (1191,5ton), sendo que 290ton foram oriundas da pesca de cerco/traineira, e 901,5ton da pesca de emalhe anilhado.
1.2.3 Xerelete (Caranx spp.)
17
Espécie de cardume (Cervigón et al, 1992 e Bauchot, 2003) geralmente
não muito distante da costa (Cervigón et al, 1992), em águas costeiras marinhas e salobras até pelo menos 100 m de profundidade (Bauchot, 2003). Juvenis frequentemente encontrados em associação com sargaços flutuantes (Cervigón et al, 1992), muitas vezes entrando em lagoas e estuários (Bauchot, 2003). Os adultos se alimentam de peixes, camarões e outros invertebrados. Eles desovam no mar de janeiro a agosto (Smith, 1997). Os ovos são pelágicos (Smith-Vaniz, 1986). Segundo o Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura de 2011, o Xerelete nesse ano teve uma produção industrial de cerca de 3.360,2ton.
1.2.4 Palombeta (Chloroscombrus chrysurus)
É uma espécie da família Carangidae, que habita aguas tropicais em
profundidades até em torno de 110m. Os adultos são encontrados em fundos arenosos da plataforma continental, as vezes formando cardumes perto da superfície (Cervigón et al, 1992). Espécies pelágicas marinhas muito comuns em lagoas costeiras e estuários (Bauchot, 2003). Alimentam-se de peixes, cefalópodes, zooplâncton e detritos (Diouf, 1996). Juvenis comuns em estuários salobros e frequentemente associados a águas vivas (Cervigón et al, 1992). Possui o corpo fusiforme e comprimido lateralmente, tem coloração prateada com dorso escuro e azul metálico e chega a medir pouco mais de 30 cm de comprimento. Em São Paulo, a Palombeta é o 254º produto mais comercializado na CEAGESP. Em 2017 foram comercializadas 38 toneladas de palombeta, sendo as principais cidades fornecedoras são: Cabo frio- RJ (26%) e Santos- SP (25%).
1.2.5 Sardinha indiana (Sardinella longiceps)
Espécie de Clupeideo que se distribui pelas partes norte e oeste do
Oceano Índico, Golfo de Aden, Golfo de Omã, do leste ao sul da Índia, na costa leste de Andhra e possivelmente para as Ilhas Andaman. 18
De acordo com Carpenter et al (1997) é um peixe pelágico costeiro.
Forma cardumes em águas costeiras e são fortemente migratórias. Segundo Sommer, Schneider e Poutiers (1996) alimenta-se principalmente de fitoplâncton (especialmente diatomáceas) e pequenos crustáceos. Reproduz uma vez por ano nas costas ocidentais da Índia, quando as temperaturas e a salinidade são baixas durante os meses de monção do sudoeste. Picos de desova em agosto-setembro. Ocorre em temperaturas de 22,0-28,0 °C (Rosa; Laevastu, 1960). Entre as cinco nações que essa espécie (0,572 milhão de toneladas) de suas águas costeiras, a produção média da Índia é a mais alta com 65% (376.189 t), seguida por Omã, 63.439 t, Iêmen, 58.839 t, Irã, 45.800 t e Paquistão, 27.372 t (FAO, 2016). Na ocasião, o pescado foi originado do país Omã, sendo importado inteiro congelado.
1.3 QUALIDADE E INSPEÇÃO DOS ALIMENTOS
A qualidade dos alimentos tem sido um assunto de grande relevância
nos últimos anos, devido a evolução do conhecimento sobre inspeção de produtos de origem animal e sobre a preocupação em fornecer alimentos frescos e com as melhores condições sanitárias e organolépticas possíveis. Tratando-se de qualidade, NUNES et al. (2007) defendem que a qualidade dos alimentos pode ser determinada por diversos aspectos dos quais se destacam: higiene, valor nutricional e dietético, frescor, facilidade de utilização pelo consumidor, suas propriedades intrínsecas (sensoriais) e disponibilidade. Embora sejam conhecidos os benefícios proporcionados pelo consumo de pescado, esse alimento também pode ser fonte de compostos prejudiciais à saúde. Por ser altamente perecível, o frescor representa a característica determinante da qualidade do peixe como alimento, tanto para aqueles consumidos crus ou usados na culinária doméstica, quanto para aqueles que serão processados (MAZORRA-MANZANO et al., 2000). Na indústria de produtos de origem animal, o responsável por garantir a qualidade dos produtos é o controle ou a inspeção industrial e sanitária de 19
produtos de origem animal, que segundo COSTA et al., (2015) consiste na
adoção de um conjunto de normas e procedimentos com a finalidade de se obter um produto (carne, leite, ovos, mel e pescado) isento de qualquer risco e/ou perigo higiênico-sanitário e com alta qualidade comercial e tecnológica, sem afetar ou prejudicar o consumidor e o meio ambiente.
1.3.1 Análises utilizadas na indústria
O artigo 209 do RIISPOA define que o os controles do pescado e dos
seus produtos realizados pelo estabelecimento abrangem, no que for aplicável: I - análises sensoriais; II - indicadores de frescor; III - controle de histamina, nas espécies formadoras; IV - controle de biotoxinas ou de outras toxinas perigosas para saúde humana; e V - controle de parasitas. Neste sentido, a avaliação sensorial se torna um método bastante importante para a avaliação do frescor e qualidade dos produtos da pesca, tanto por consumidores, quanto pelo setor pesqueiro e serviços de inspeção (MARTINSDÓTTIR et al., 2001). Já o Art. 210 afirma que na avaliação dos atributos de frescor do pescado, respeitadas as particularidades de cada espécie, devem ser verificadas as seguintes características sensoriais para: I - peixes: a) superfície do corpo limpa, com relativo brilho metálico e reflexos multicores próprios da espécie, sem qualquer pigmentação estranha; b) olhos claros, vivos, brilhantes, luzentes, convexos, transparentes, ocupando toda a cavidade orbitária; c) brânquias ou guelras róseas ou vermelhas, úmidas e brilhantes com odor natural, próprio e suave; d) abdômen com forma normal, firme, não deixando impressão duradoura à pressão dos dedos; e) escamas brilhantes, bem aderentes à pele, e nadadeiras apresentando certa resistência aos movimentos provocados; f) carne firme, consistência elástica, da cor própria da espécie; g) vísceras íntegras, perfeitamente diferenciadas, peritônio aderente à parede da cavidade celomática; h) ânus fechado; e i) odor próprio, característico da espécie; II- crustáceos: a) aspecto geral brilhante, úmido; b) corpo em curvatura natural, rígida, artículos firmes e resistentes; c) carapaça bem aderente ao corpo; d) coloração própria da espécie, sem qualquer pigmentação 20
estranha; e) olhos vivos, proeminentes; f) odor próprio e suave; e g) lagostas,
siris e caranguejos, estarem vivos e vigorosos; O parágrafo 4º desse mesmo artigo indica que nos casos em que a avaliação sensorial revele dúvidas acerca do frescor do pescado, deve-se recorrer a exames físico-químicos complementares 21
1.3.2 Alterações pós morte e alteração da qualidade do pescado
A qualidade sensorial da carne de pescado está relacionada a diversos
processos, podendo ser oriundos de mecanismos bioquímicos, químicos e microbiológicos. A perda de frescor do pescado refrigerado é o reflexo da atividade desses processos (STONE & SIDEL, 1993). NUNES et al. (2007) classificam essas alterações em três fases distintas. A primeira, designada de pre rigor, o musculo do peixe mantém a flacidez, durante períodos variáveis que dependem das suas características intrínsecas e da temperatura. A segunda fase, chamada de rigor mortis, é caracterizada pelo endurecimento do músculo e pelo desaparecimento do odor característico. A duração dessa fase é determinada, em particular, pela condição física do peixe e pela temperatura de armazenamento. Já na última 22
fase, denominada de post rigor mortis, existem já condições que permitem e
potenciam o crescimento microbiano e desenrolar de reações químicas que se manifestam não só na aparência, mas também no cheiro do pescado. Os parâmetros ideais para a carne de pescado são definidos pelo Artigo 11 do RIISPOA, onde diz que pescado fresco é aquele que atende aos seguintes parâmetros físico-químicos complementares, sem prejuízo da avaliação das características sensoriais: I- pH da carne inferior a 7,00 (sete inteiros) nos peixes; II- pH da carne inferior a 7,85 (sete inteiros e oitenta e cinco décimos) nos crustáceos; III - pH da carne inferior a 6,85 (seis inteiros e oitenta e cinco décimos) nos moluscos; e IV - bases voláteis total inferiores a 30 mg (trinta miligramas) de nitrogênio/100g (cem gramas) de tecido muscular. Entre os produtos de origem animal, o pescado representa o mais susceptível ao processo de deterioração. Isso se deve à associação de fatores intrínsecos e extrínsecos. Entre os fatores intrínsecos, apresentam maior relevância: a elevada atividade de água dos tecidos, o teor elevado de nutrientes que podem facilmente ser utilizados pelos micro-organismos, a rápida ação destrutiva das enzimas naturais presentes nos tecidos, a alta taxa de atividade metabólica da microbiota, a grande quantidade de lipídeos insaturados e pH próximos à neutralidade (Soares et al, 1998).
1.3.3 Histamina
Outro importante aspecto associado à qualidade do pescado é o risco de
intoxicação por histamina, que é uma amina não volátil que pode ser produzida em algumas espécies de pescado a partir da histidina livre. O que torna a histamina perigosa é o fato de ser uma enzima termotolerante, ou seja, não é destruída no processo de cozimento do alimento. Iglesias e Takemoto (2018) relataram 3 surtos de intoxicação por atuns na região nordeste, entre 2007 e 2009, que acometeram 25 pessoas. Outro surto ocorrido em 2013, numa escola pública de São Paulo, 78 alunos foram alimentados com salada contendo atum, 18 apresentaram edema de face e vermelhidão pelo corpo, no atum preparado e nos fragmentos de atum os teores encontrados foram de 1076,5 e 1534,7 mg/kg, respectivamente. Em 23
2015, registrou-se outro surto em Campinas envolvendo uma família. Após 30
minutos da ingestão de bonito assado as quatro pessoas adoeceram. Os sintomas relatados foram dor de cabeça, náuseas, moleza no corpo, queda de pressão, manchas vermelhas pelo corpo, muita coceira e falta de ar. A mãe foi levada ao hospital e necessitou de internação. O pescado assado foi analisado, sendo que o teor de histamina encontrado foi de 6407,9 mg/kg. No Brasil, os casos de intoxicação histamínica são pouco relatados devido à dificuldade de associar sintomas à intoxicação, que são relativamente leves.
1.4 VALIDAÇÃO DO MÉTODO ANALÍTICO
Validação do método analítico é a confirmação por exame e
fornecimento de evidência objetiva de que os requisitos específicos para um determinado uso pretendido são atendidos (NBR ISO/IEC 17025, 2001). A validação do método analítico permite demonstrar que o método é "adequado ao uso" pretendido. A validação inclui a especificação dos requisitos do método; determinação das características do método; verificação de que os requisitos podem ser atendidos com o uso do método e uma declaração sobre a validade do método (NBR ISO/IEC 17025, 2001). Este estudo tem o objetivo de validar a aplicação do Método de Índice de Qualidade empregado em uma indústria de beneficiamento de pescados, utilizando como base resultados de análises de pH e testes de método de cocção.