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Modelo Ideal Redação Enem 2023
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"O que eles chamam de amor, nós chamamos de trabalho não remunerado, afirma a intelectual italiana
Silvia Federici, em sua obra O Patriarcado do Salário. Federici chama a atenção para a grande relevância de ações
que combatam uma longa história de percepção da desigualdade de gênero entre homens e mulheres, em relação
ao trabalho, notadamente à realização de tarefas de cuidado não remuneradas, que insistentemente têm
subvalorizado e invisibilizado o valor laboral feminino. Nesse contexto, os desafios para o enfrentamento da
invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres no Brasil estão ligados, principalmente, a questões
de política pública e de cultura econômica machista.
Inicialmente, é mister destacar que as políticas públicas brasileiras historicamente mitigam a importância
do trabalho feminino. Nancy Folbre, economista e escritora feminista, destaca a relevância do trabalho de cuidado
feminino também para a formação da cidadania no Estado de Direito, por meio do cuidado como gestão da cultura
e da educação dos filhos e afirma que esse trabalho, em razão do machismo estrutural programado pelo próprio
Estado, gerido por visão essencialmente patriarcal, tem a importância subestimada. No Brasil, essa situação se
reflete na esmagadora maioria das mulheres, principalmente, aquelas que foram educadas até a geração X (antes
da revolução tecnológica do Vale do Silício, nos Estados Unidos), de forma que, além de subvalorizadas no trabalho
de cuidado familiar, tiveram limitadas suas oportunidades de educação e de emprego, na chamada “economia
formal”. Isso posto, há a concretização – para as mulheres dessa geração - do efeito da psicologia econômica da
subalternidade e da invisibilidade da importância do trabalho de cuidados com os filhos e com os idosos da família,
por exemplo.
Outrossim, é fundamental consignar que a cultura econômica do capitalismo das primeiras revoluções
industriais atribuíram à mulher uma semântica laboral de menor valia. Maria Mies, socióloga alemã, especialista
em ecofeminismo, chama a atenção para a exploração das mulheres no contexto do capitalismo global, de forma
a destacar como o trabalho de cuidado não remunerado é parte essencial da economia capitalista contemporânea,
mas raramente é reconhecido como tal. No Brasil, isso se deve também aos efeitos históricos da estruturação da
Casa Grande, da Senzala e da exploração das mulheres na colônia, o que deixou um legado de desigualdade, em
que as mulheres continuam a ser sobrecarregadas com o trabalho de cuidado doméstico, mesmo ao assumissem
“um papel fora da senzala”. Assim, nota-se um processo de produção em que a mulher, mesmo que gere
dividendos de grande valor humano, por meio do cuidado com os filhos e com os pais; e de paz social, por meio
da boa estruturação familiar, é vista como um ativo econômico menos valorizado em razão do machismo
estrutural.
Verifica-se, portanto, que, para enfrentar a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres
no Brasil, são essenciais ações eficientes do Estado Brasileiro. Assim, o Ministério da Mulher- responsável pela
articulação interministerial e intersetorial das políticas de promoção e de proteção aos direitos das mulheres no
Brasil – implemente, por meio de parceria com o Ministério do Trabalho e com o Congresso Nacional – políticas
públicas de conscientização e ações referentes à valorização do trabalho feminino no Brasil, em todos os setores
da economia, de modo a considerar a casa como um desses setores. Tal ação visar a valorizar o trabalho feminino,
com o fito de dar visibilidade econômico-cultural a ele, para que amor seja realmente amor, e não mais trabalho
não remunerado.