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REDAÇÃO MODELO – ENEM 2023

No livro “O Segundo Sexo”, Simone de Beauvoir, filósofa existencialista,


explicita como a sociedade estrutura as relações de gênero a partir de espaços
desiguais de poder, ao construir narrativas que condicionam a mulher a lugares
coadjuvantes nos ambientes familiares, econômicos e culturais. Nesse sentido, a
análise da pensadora francesa também pode representar o contexto brasileiro de
hierarquização de gênero, materializado no trabalho de cuidado exercido por
mulheres, que permanece invisibilizado ainda no século XXI. Assim, entre os
fatores que catalisam os desafios para o enfrentamento dessa questão, estão a
concepção patriarcal e a lacuna educacional.

Sob esse viés, torna-se evidente como o machismo estrutural cristaliza


esse panorama. Essa situação surge de um comportamento cultural que impõe
padrões estereotipados, associados à submissão e à dependência da mulher em
relação ao homem, principalmente no ambiente familiar. Desse modo, o exercício
de atividades domésticas, que não recebem prestígio social, é convencionado à
mulher – a exemplo do cuidado de filhos, de idosos e da casa – e a violência
inerente a essas tarefas, como a falta de garantia de direitos trabalhistas, é
relativizada em uma organização social patriarcal. Essa reflexão pode ser
confirmada pelo conceito de “Banalidade do Mal”, de Hannah Arendt, que analisa
a instalação imperceptível da violência em sociedade, que é silenciada ao se
infiltrar na cultura e dificultar o combate à situação problemática, ilustrada, neste
caso, no trabalho de cuidado, que não é problematizado e nem enfrentado.

Além disso, fica claro que o hiato educativo é um dos principais


catalisadores dos desafios envolvendo a questão. Isso ocorre, porque o sistema
educacional adota um viés tradicionalista, que negligencia a abordagem de temas
transversais e polarizados em sociedade, como é o caso da inclusão de minorias,
principalmente na esfera parental. Por conseguinte, o contato dos estudantes com
o trabalho de cuidado exercido por mulheres é precarizado, justamente pela
insuficiência instrutiva, de maneira a perpetuar a consolidação de visões
deturpadas, coniventes e repletas de discriminações acerca desse ato. Nessa
perspectiva, o raciocínio feito pode ser ratificado pelo filósofo alemão Immanuel
Kant, o qual afirma que: “o homem não é nada além daquilo o que a educação faz
dele”, dado que não se pode esperar uma formação de uma sociedade livre de
prejulgamentos sobre a hierarquização de gênero, se a ela, nem mesmo mediante
a educação, foi transmitido esse ensinamento.

Portanto, medidas devem ser tomadas para o enfrentamento dos desafios


do trabalho de cuidado para mulheres brasileiras. Para isso, o Ministério dos
Direitos Humanos – órgão responsável pelo combate à violência de gênero na
esfera federal, junto ao Ministério da Educação, deve, por meio da alteração da
Base Nacional Comum Curricular e de palestras, alertar e instruir a sociedade
acerca dos impasses enfrentados por mulheres no ambiente parental, a fim de
combater a estruturação da violência e, com isso, enfrentar a invisibilidade
imposta à atividade de cuidado condicionada ao público feminino.

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