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ANOTAÇÕES TEORIAS DA EDUCAÇÃO E O PROBLEMA DA MARGINALIDADE

Na América latina em 1970, cerca de 50% dos alunos das escolas primária a abandonavam em
condições de analfabetismo ou semianalfabetismo.

Em 2022, 5,6% da população é analfabeta (cerca de 10 milhões), e a maioria dessa população é


preta ou parda, além de que essa porcentagem cresce quando se trata de população +60 anos.
O abandono escolar entre pessoas de 14 a 29 anos: 40% precisa trabalhar; 25% não tem
interesse em estudar; 9% gravidez; 4,6% tinha de realizar afazeres domésticos; 3,6%
problemas de saúde permanente e 3,2% por não acesso à escola, 14% por outros motivos.
Dados do ensino fundamental de 2016: 54,7% dos alunos tinham níveis insuficientes de leitura
e 33,9% insuficientes de escrita.

É importante destacar que a partir dos 4 anos, a educação básica já é obrigatória, como uma
preparação para a escola (primeiro ano). No ensino básico, a maior parte da população se
encontra em escolas públicas (+77%), o que inverte na educação superior pública (27% da
população).

O que é marginalidade? As taxas de analfabetismo de crianças que passam pela escola e saem;
e o não acesso de muitas crianças à escola.

Em relação à marginalidade, as teorias educacionais se dividem em dois grupos: Teorias


críticas e não críticas. E ambas as teorias entendem a marginalidade a partir da relação entre
educação e sociedade.

Teorias não críticas: vê a educação como um instrumento de equalização social, portanto de


superação da marginalidade. Aqui a sociedade é vista como harmoniosa, e sempre tendendo a
integrar seus membros, e a marginalidade seria um fenômeno acidental que afeta
individualmente, e a educação (força homogeneizadora que reforça laços sociais) emerge para
corrigir essas distorções, promover a coesão e garantir a integração de todos os indivíduos no
corpo social. Diz-se não crítica por desconhecer as determinações sociais do fenômeno
educativo.

Educação com uma ampla margem de autonomia em face da sociedade: como se eu pudesse
corrigir a sociedade com educação, como se a educação não fizesse parte da sociedade

Na transição do feudalismo para o capitalismo, ou seja, na superação do antigo regime, cria-se


o direito de todos à educação (educação institucionalizada), que serve para consolidar o poder
da burguesia. Assim, surge a necessidade de estabelecimento de contratos sociais ‘’livres’’
entre os indivíduos.

Isso não significa que não havia educação antes, a educação familiar existia.

 Pedagogia tradicional: faz-se necessária uma escola para converter os súditos em


cidadãos e transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade, uma vez que a
marginalidade é identificada com a ignorância (serão livres, pois esclarecidos). Logo,
surge a pedagogia tradicional, em que a escola se organiza, como uma agencia
centrada no professor, o qual transmite aos alunos os conhecimentos acumulados pela
humanidade e sistematizados logicamente. O que importa é aprender.

Porém nem todos conseguiram ingressar (não se tornou universal) e, dos que ingressaram,
nem todos foram bem-sucedidos.
 Pedagogia nova: o poder da escola seria de equalização social, pois o marginalizado é o
rejeitado (desadaptado ou desajustado). Surge de experiências individuais
(experiências com crianças anormais, tendo como nome importante Maria
Monteressori) e se generaliza para o sistema escolar. Assim, a escola deve ajustar,
adaptar os indivíduos à sociedade, incutindo neles o sentimento de aceitação (os
membros se aceitem mutuamente e se respeitem na sua individualidade específica). O
que importa é aprender a aprender (a iniciativa se desloca para o aluno).

Biopsicologização da sociedade, da educação e da escola: vai biologizando e psicologizando


crianças, como ‘’ela tem esse transtorno tal’’ então vai individualizar cada criança como ‘’ela
aprende desta forma apenas...’’. Essa inclusão é importante, mas não é acessível. É não
diretivista, pois o professor não dita o que será feito.

O professor agiria como estimulador e orientador da aprendizagem cuja iniciativa principal


caberia aos próprios alunos. Cada professor trabalharia com pequenos grupos de alunos. É um
custo muito alto, por isso ficou restrito à elite (aprimorando o ensino), mas causou o
afrouxamento da disciplina e despreocupação com a transmissão de conhecimento nas classes
mais populares. Se tornou um mecanismo de recomposição da hegemonia da classe
dominante.

Teve força no Brasil no século 30. Hoje podemos comparar essa escola nova ao novo ensino
médio, pois em teoria é bom, mas funciona mais para elite. A desilusão da escola nova levou a:
escola nova popular de Freire e/ou aumento da preocupação com métodos pedagógicos,
fazendo surgir a pedagogia tecnicista.

 Pedagogia tecnicista: surge com o pressuposto de neutralidade científica e inspirado


nos princípios de racionalidade, eficiência e produtividade, de maneira a tornar o
processo educativo mais objetivo e operacional (como fábricas). Padronização do
sistema de ensino a partir de esquemas de planejamento previamente formulados aos
quais devem se ajustar as diferentes modalidades de disciplinas (o elemento principal
passa a ser a organização racional dos meios, enquanto que o aluno e professor ficam
secundários). Marginalizado será o incompetente (ineficiente e improdutivo). A
educação seria então um subsistema cujo funcionamento eficiente é essencial ao
equilíbrio do sistema social. O que importa é aprender a fazer.

Propostas pedagógicas: enfoque sistêmico, microensino, teleensino, instrução programada,


máquinas de ensinar.
Há burocratização das escolas, organizando-a de maneira a minimizar as interferências
subjetivas que coloquem em risco a eficiência. O problema da marginalidade se agravou:
conteúdo do ensino tornou-se ainda mais rarefeito e aumentou os índices de evasão e
repetência

Teorias crítico-reprodutivistas: educação como instrumento de discriminação social, logo fator


de marginalização. A sociedade é vista como essencialmente marcada pela divisão entre
grupos ou classes antagônicas que se relacionam à base da força, e a marginalidade é inerente
à estrutura da sociedade, pois o grupo dominante se apropria da produção social e relega aos
demais a condição de marginalizados. Assim, a educação, dependente da estrutura social
geradora de marginalidade, é também fator de marginalização (marginalização social gerada
pela cultural- escolar-). É dita crítica pois postulam não ser possível compreender a educação
senão a partir dos seus condicionantes sociais, e reprodutivistas por dizer que a função própria
da educação consiste na reprodução da sociedade em que ela se insere.

 Teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica: toda e qualquer sociedade


se estrutura como um sistema de relações de força material entre grupos ou classes, e
a partir disso constrói-se um sistema de relações de força simbólica cujo papel é
reforçar, por dissimulação, as relações de força material.

Violência material: dominação econômica; violência simbólica: dominação cultural. Formas


de manifestação da violência simbólica: meio de comunicação de massa, pregação
religiosa, expressão artística e religiosa, propaganda e moda, educação familiar e escola.

A ação pedagógica é a imposição da cultura das classes ou grupos dominantes às classes


ou grupos dominados e o trabalho pedagógico é fazer com que o indivíduo interiorize a
cultura e que isso permaneça em suas práticas.

Assim, a função da educação é a de reprodução das desigualdades sociais, que parte da


reprodução cultural. Assim, marginalizados (social, por não possuírem capital, e simbólica)
são os grupos ou classes dominadas.

Teoria baseada no livro ‘’A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino’’,
que é dividido em 2 partes.

 Teoria da escola enquanto aparelho ideológico de Estado (AIE): no Estado existem


aparelhos repressivos como Governo, Administração, Exército, Polícia, tribunais e
pressão, que usam primeiro a violência e, em segundo plano, existem os aparelhos
ideológicos (religioso, escolar, familiar, jurídico, sindical, cultural etc.). A ideologia se
materializa nessas instituições materiais que envolve todo o contexto capitalista.

Marginalização se insere nas próprias relações de produções capitalistas, marginalizados são a


classe trabalhadora. O AIE escolar constitui um mecanismo construído pela burguesia para
garantir a perpetuação de seus interesses, pois a maioria da população que entra se incorpora
no processo produtivo como mão de obra, e poucos sobem aos níveis altos e se tornam parte
repressora do Estado. Isso pode ser comparado ao novo ensino médio técnico.

 Teoria da escola dualista: a escola é dividida em duas grandes redes, as quais


correspondem à divisão da sociedade capitalista em duas classes fundamentais:
proletariado e burguesia.
Existe uma rede secundária superior e uma rede primária trabalhadora. A função da escola
como aparelho ideológico seria formação da força de trabalho e a inculcação da ideologia
burguesa, por meio da inculcação explícita da teoria burguesa e recalcamento e disfarce da
ideologia proletária (impedir ideias ‘revolucionárias’ proletárias).

Os marginalizados são os trabalhadores, tanto marginalizados em relação à cultura burguesa e


em relação ao próprio movimento proletário, pois a escola tenta tirar do âmbito do
movimento (não se vestir de um jeito, ouvir uma música etc.)

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