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111 | 2016
Número semitemático
Edición electrónica
URL: http://journals.openedition.org/rccs/6523
DOI: 10.4000/rccs.6523
ISSN: 2182-7435
Editor
Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
Edición impresa
Fecha de publicación: 1 diciembre 2016
Paginación: 160-162
ISSN: 0254-1106
Referencia electrónica
María León Molina, « Miriano, Costanza (2013), Cásate y sé sumisa: experiencia radical para mujeres sin
miedo », Revista Crítica de Ciências Sociais [En línea], 111 | 2016, Publicado el 07 diciembre 2016,
consultado el 23 septiembre 2020. URL : http://journals.openedition.org/rccs/6523 ; DOI : https://
doi.org/10.4000/rccs.6523
Revista Crítica de Ciências Sociais, 111, dezembro 2016: 153‑162
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Wall, Karin; Almeida, Ana N. de; Vieira, Maria M.; Cunha, Vanessa (coords.);
Rodrigues, Leonor; Coelho, Filipa; Leitão, Mafalda; Atalaia, Susana (2015),
Impactos da crise nas crianças portuguesas: indicadores, políticas, repre-
sentações. Lisboa: ICS/OPJ/OFAP, 218 pp.
A recente crise económica portuguesa tem O livro é composto por quatro partes,
manifestado um alcance, em termos dos sendo cada uma delas um capítulo. As duas
seus impactos, que extravasa aquilo que primeiras incidem numa abordagem macro,
é revelado nos indicadores quantitativos, tendo como propósito analisar, desconstruir
geralmente relacionados com uma análise e sistematizar indicadores sociais relativos à
mais extensiva. A obra Impactos da crise nas situação das famílias e das crianças, obser-
crianças portuguesas pretende responder a vando, em simultâneo, as políticas públicas
dois objetivos principais: primeiro, a partir no mesmo domínio, nos últimos anos em
das narrativas das crianças, e reconhecendo Portugal, que correspondem ao período
‑as enquanto vozes legítimas na produção de crise. A terceira parte, correspondente
de discursos, visibilizar os impactos da crise ao terceiro capítulo, situa‑se numa abor-
no seu dia‑a‑dia e respetivas consequências; dagem micro, dando conta dos discursos
em segundo, e de forma mais ampla, dar das crianças sobre a sua perceção da crise
conta de uma série de dados estatísticos e dos respetivos impactos. Na quarta e
que caraterizam a infância em Portugal, última parte estão reunidas as principais
mapeando o papel das políticas públicas com conclusões do estudo realizado, e tecem
repercussões na vida das famílias portugue- ‑se algumas recomendações no sentido de
sas, em geral e das crianças, em particular. contribuir para uma melhoria da situação
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económica das crianças e jovens num con- (40,4%), seguidas das monoparentais
texto de austeridade. (33,1%); também a condição perante o
Em traços gerais, a obra constitui um trabalho é indicadora da taxa de risco
contributo científico para a atual revisão, de pobreza, com maior probabilidade a
sistematização e mapeamento dos indi- verificar‑se nos agregados monoparentais
cadores sociais situados no período da desempregados (90,2%) e agregados com
crise económica portuguesa. Sobretudo, dois adultos desempregados (53,2%);
a análise incisiva ao nível dos indicadores entre 2010 e 2013 o número de casais ins-
permite‑nos ter um olhar mais crítico sobre critos nos centros de emprego passou de
os dados que muitas vezes, ao serem apre- 1530 para 12 065 (um aumento de 688%);
sentados de forma simplista, distorcem o no que respeita à privação material, em 2013,
seu significado. em Portugal, 29,2% das crianças vivia em
Entrevistar crianças e jovens é, também agregados com privação material.
em si, inovador. Como referem as autoras, A segunda parte da obra elenca os dife-
estes sujeitos são normalmente invisibili- rentes apoios sociais facultados através
zados, não tendo lugar para produzir os das políticas públicas, no contexto de
seus próprios discursos, sendo substituídos crise. Os dados mostram que, entre 2010
pelas vozes dos adultos. No entanto, torna e 2013, assistiu‑se a uma redução das
‑se importante trazer para esta reflexão crí- formas de apoio económico, por parte do
tica a posição privilegiada que as crianças Estado, às famílias portuguesas. Prestações
e jovens têm relativamente aos impactos de caráter pecuniário, tais como o abono
da crise e ao modo como a sentem, sendo de família, ação social escolar, subsídios
importante recuperar as funções que as/os sociais de parentalidade, rendimento
filhas/os assumem nas famílias portuguesas social de inserção e subsídio social de
contemporâneas, e relembrar o peso que a desemprego, tornaram‑se mais restritas,
dimensão afetiva1 alcança. Podemos, assim, diminuindo a elegibilidade das famílias.
admitir que os impactos e as consequên- Também a fiscalidade foi alvo de atenção,
cias da crise chegam às/aos mais novas/ revelando‑se uma subida da carga fiscal,
/os, já com algum “amortecimento” afetivo. o aumento dos preços e do custo de vida
A primeira parte apresenta a situação em geral (salienta‑se o aumento do IVA
atual das crianças e jovens a partir dos entre 2010/2012 e a atualização do valor
indicadores sociais. No primeiro capí- patrimonial dos imóveis, traduzindo‑se
tulo são apresentados indicadores de num imposto municipal sobre imóveis
pobreza, exclusão e de bem‑estar infan- mais elevado e com menos regalias em
til. É importante destacar alguns dos termos da sua isenção). Numa análise
resultados: desde 2008 que as crianças comparativa face aos restantes países
e jovens constituem a faixa etária com da OCDE em 2012, relativa à despesa
maior risco de pobreza em Portugal; as pública com prestações familiares – seja
famílias com crianças a cargo têm maior em dinheiro, serviços ou deduções fiscais –,
incidência do risco de pobreza, em detri- Portugal surge na vigésima terceira posi-
mento das famílias sem crianças; esse risco ção, no quadro dos 34 membros da orga-
aumenta sobretudo nas famílias numerosas nização.
1
É possível confirmar a importância das/os filhas/os através das suas funções no trabalho de Cunha,
Vanessa (2005), “As funções dos filhos na família”, in Karin Wall (org.), Famílias em Portugal
– Percursos, interacções, redes sociais. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 465-497.
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Na terceira parte do livro são apresenta- relacionada com a estrutura que é adotada
dos os resultados da abordagem empírica, e a forma como condiciona a análise é
em termos micro, a partir de 77 entrevistas realizada; a segunda, sobre a adequação do
realizadas a crianças e jovens. As autoras modelo de consentimento informado para
procuraram compreender a sua perceção os diferentes grupos de entrevistadas/os.
da atual crise, e a forma como identificam A forma como o livro está disposto permite
os seus impactos no quotidiano. As variá- ler cada parte, individualmente, sem preju-
veis sociodemográficas da amostra dicar a compreensão do que é apresentado
estruturaram‑se em oito critérios: idade em cada capítulo. Assim, esta organização
(8‑12; 14‑17); sexo (masculino e feminino); permite a leitura dissociada entre o nível
regiões de Portugal continental (Norte, extensivo e intensivo da análise que foi
Centro e Sul do país); local de residência realizada. Contudo, sendo o objetivo
(urbana, suburbana e rural); classe social principal das autoras dar voz às crianças
(baixa, média e alta); tipos de família e jovens através da técnica de entrevista,
(monoparental, nuclear ou recomposta); afirmando‑as enquanto sujeitos capazes de
vulnerabilidade económica (sem, alguma reconhecer os impactos da crise e detento-
ou alta); e outras vulnerabilidades (onde ras de uma perspetiva fundamentada sobre
as autoras integraram a deficiência – física o tema, teria sido interessante ir mais além
ou mental – , doença crónica e minoria e cruzar os dados obtidos na abordagem
étnica). O conteúdo deste capítulo está macro, com os discursos das crianças e
organizado em torno de quatro eixos de jovens entrevistadas//os, materializando
análise: definir a crise; os seus impactos; os indicadores sociais e dando um rosto
como vencer a crise (estratégias e solu- aos indicadores.
ções); retratos sociológicos das crianças A segunda questão diz respeito à indiferen-
e jovens. A informação apresentada é ciação que foi dada ao modelo do consenti-
extremamente interessante, mas o texto mento informado, na recolha de dados com
coloca‑se num plano predominantemente crianças e jovens. Quando consultamos o
descritivo. Uma reflexão mais aprofundada documento (modelo de consentimento),
e um maior detalhe analítico a partir dos a exposição que é feita relativamente aos
discursos seria relevante. Por exemplo, objetivos de estudo facultados às crianças
há uma indiferenciação de pistas analíticas entre os 8‑12 anos é de igual modo dada aos
ao longo dos tópicos que são apresenta- jovens entre os 14‑17 anos, questionando
dos e verifica‑se a dificuldade em situar a adequação da mensagem ao primeiro
os discursos num antes e depois da crise. grupo etário.
Finalmente, na quarta parte é apresentada A obra é um importante contributo para
uma súmula dos resultados obtidos nos conhecer os impactos da crise económica
três capítulos anteriores e são propostas e social do país, ajudando a desbravar um
recomendações relativamente à proteção terreno tantas vezes esquecido nas discus-
e melhoria da situação das crianças e jovens sões políticas, pese embora a sua relevância
no período de crise. social – as condições de vida das crianças
Não obstante o interesse manifesto do tema portuguesas.
tratado e dos resultados obtidos, a obra
suscita duas observações críticas: a primeira Andreia Barbas
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1
Carreño, Manuel Antonio (1998), Manual de urbanidad y buenas maneras. Colombia: Plaza y
Janés Editores [ed. orig.: 1853].
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humano) o sin ninguna relación, fue publi- que entre la época de su abuela Gina y ella
cado en italiano en 2011 y traducido en apareció el feminismo. Entonces ahora se
Noviembre de 2013 al español, por disposi- volvió “obligatorio” trabajar. Para la perio-
ción del Arzobispado de Granada, España. dista esto en lugar de volverse un derecho,
Desde el inicio la autora deja claras tres se convirtió en una desventaja pues las
cosas: la primera es que tener amigos sirve mujeres se volvieron hombres.
“fundamentalmente” para repartir consejos, Sus hijas, y los lectores en general, son enton-
aunque ellos ni los necesiten o menos aún los ces llamados a aprender de su experiencia
soliciten, porque esta actividad de aleccionar y “sabiduría” pues ella cree conocer cuál es
a los demás le parece sumamente gratifi- el secreto de ser una buena mujer. Misterio
cante. La segunda es que las proclamaciones contenido en un antiguo refrán italiano che
hechas para pedir el respeto al cuerpo de la piaccia, che taccia e che stia in casa. Traducido
mujer y su autonomía, carecen de relevancia significa: que guste de ti, que se quede
para quienes denomina de “mujeres norma- callada y que se quede en casa.
les”, sobre todo, en momentos como efec- Con un tono irónico y una narrativa ligera,
tuar el supermercado y recoger a los hijos de y que mezcla peligrosamente algunas bro-
las clases de catecismo. Y la tercera es que mas para ganar la simpatía de los lectores,
las mujeres tienen como tarea suprema dar la va luego incrementando algunas lecturas
vida y engendrar tal como la Iglesia defiende. literales del libro gordo del catolicismo. Ahí
Todo esto en la Introducción del texto que desde el Génesis se habla de las diferencias
sirve básicamente para que el lector recono- básicas entre hombre y mujer y es también
zca cuáles son las supuestas causas de la ines- allí donde Miriano encuentra el sentido
tabilidad en las familias de la época actual. por el que la mujer necesita ser sumisa y
Ya en la página 27 viene la primera epístola obediente como un “acto de generosidad
dirigida a Mónica. ¿Cómo es posible que con los hombres”.
pienses en no casarte?! Interpela la autora La periodista italiana continúa así su redac-
y refuerza un consejo no solicitado, pero ción donde intenta persuadir sobre cómo
publicado, con sus justificaciones conserva- la sumisión es un acto de libertad y que fue
doras/religiosas: la mujer fue llamada para el primer gran acto de reivindicación del
dar la vida y para eso es imprescindible obte- cristianismo hacia la mujer. Se olvida así de
ner el sacramento del matrimonio. Tienes pensar en aquel best seller (la Biblia) como
que aprender a ser sometida como dice San un texto escrito por hombres que debe ser
Pablo. O sea, quedarte debajo de tu marido y leído y revisado con ojos críticos. Sea por
tus hijos, aceptando y dejando pasar las cosas. católicos o no católicos.
En las otras 10 epístolas los reclamos, juicios No piensa además en los avances que la
y defensa de los estereotipos continúan. propia Teología ha efectuado sobre estos
Sus propias hijas llegan a ser incluidas en temas. En cómo la Teología Feminista sur-
el discurso; solo que con ellas trabaja bajo gió como una derivación de la Teología de
la narración y el símbolo del príncipe azul. la Liberación y efectúa continuos llamados
Aquel por quien se debe esperar bien para establecer relaciones libres y recí-
maquillada y sin cuestionarse sobre lo que procas, sin sumisión ni dominio por nin-
se puede desear en la vida. La respuesta guno de los individuos que la conforman.
sobre el futuro de toda mujer ya fue dic- Costanza Miriano hace básicamente todo
tada: serás madre y esposa. lo contrario a lo que los defensores de
Así fue en la época de sus abuelas y así derechos y, alguna vez, la propia Iglesia ha
debería ser ahora, argumenta Miriano, solo reclamado: es necesario buscar prácticas
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y dichos contradictorios contra las mujeres, “vieja escuela” puede llegar a cerrar los hori-
para luego llegar al camino de su liberación. zontes que se abrieron en algún momento
Miriano encuentra hechos y dichos, pero los para buscar la equidad?
usa para fortalecer cadenas. Pero también ¿por qué la postura institu-
El camino de la lucha constante no es uno cional crítica solo llegó del Estado Español
que la autora esté dispuesta a explorar. Para que pidió –sin ser escuchado– retirar el
ella quien lo hace se convierte en alguien libro de la venta, pero no de la Conferencia
insoportable, sobre todo, si es una mujer. Episcopal Española ni del Vaticano?
“El mundo está en nuestras manos, por Miriano tiene con seguridad una visión
tanto, está en un mal lugar porque nosotras femenina del matrimonio, pero nunca ten-
–mujeres– nos hemos extraviado”, asegura drá una postura feminista sobre él. Parece
en la página 58. más una discípula perezosa y acomodada
Sin embargo las críticas que su libro pro- de las jerarquías donde la costumbre del
voca no quedan solo para quien lo escribió. patriarcado vuelve la lucha menos volumi-
El hecho de que el Arzobispado de Granada nosa, pero también infructífera.
apoyó su traducción y publicación provoca
preguntarse ¿hasta dónde el catolicismo de María León Molina
Miguel Oliveira
Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra
Colégio de S. Jerónimo, Largo D. Dinis, Apartado 3087, 3000‑995 Coimbra, Portugal
Contacto: moliveira@ces.uc.pt
Andreia Barbas
Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra
Av. Dr. Dias da Silva, 165, 3004‑512 Coimbra, Portugal
Contacto: andreia_barbas@hotmail.com
Leonida Correia
Centro de Estudos Transdisciplinares para o Desenvolvimento (CETRAD), Departamento
de Economia, Sociologia e Gestão (DESG), Universidade de Trás‑os‑Montes e Alto Douro (UTAD)
Escola de Ciências Humanas e Sociais – Pólo II, Quinta de Prados, 5000‑801 Vila Real, Portugal
Contacto: lcorreia@utad.pt