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PRÁTICAS

INTEGRATIVAS E
COMPLEMENTARES
EM SAÚDE

Marcella Gabrielle Mendes Machado


Práticas
homeopáticas
e florais de uso
humano
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Reconhecer o histórico e a aplicabilidade de mecanismos homeopáticos


de tratamento.
>> Relacionar homeopáticos e florais na terapia humana.
>> Construir conceitos de similitude no tratamento farmacológico.

Introdução
Dentre as práticas integrativas e complementares em saúde, a homeopatia é
muito utilizada nos serviços públicos no Brasil e em países como Alemanha,
França, Inglaterra, Bélgica e Argentina. Os profissionais de saúde têm apresentado
interesse crescente nessa área, buscando capacitação e conhecimento, uma vez
que os princípios de tratamento da homeopatia são opostos ao da alopatia, tão
difundida nos dias atuais.
A terapia floral também constitui uma prática integrativa e complementar
em saúde, sendo um método terapêutico que busca auxiliar o reestabelecimento
do equilíbrio mental e emocional dos pacientes. Dentre os vários florais de uso
clínico, destacam-se os florais de Bach, criador da técnica.
Neste capítulo, você vai conhecer o histórico e os princípios fundamentais para
entender a homeopatia e o conceito de similitude, assim como os medicamentos
homeopáticos e suas fontes de obtenção. Você ainda conhecerá a aplicabilidade das
essências florais no cuidado ao paciente, com maior enfoque nos florais de Bach.
2 Práticas homeopáticas e florais de uso humano

Princípios e histórico da homeopatia


A homeopatia (do grego homois, “semelhante”, e pathos, “sofrimento”) foi
desenvolvida pelo alemão Samuel Hahnemann no final do século XVIII, após
observações clínicas em pacientes doentes e experimentos em indivíduos
sadios e em si próprio. Ao ingerir por vários dias seguidos a substância
quina, utilizada para o tratamento da malária, ele percebeu que passou
a apresentar diversos sintomas (patogenesia) característicos da malária
(como fraqueza, sonolência, esfriamento da ponta dos dedos das mãos e
dos pés, taquicardia, entre outros), os quais desapareceram ao suspender
o uso do fármaco. A partir dessa observação, e baseado na filosofia de Hi-
pócrates (similia similibus curentur, ou “o semelhante cura o semelhante”),
Hahnemann começou a pensar que deveria existir uma identidade entre a
doença e o fármaco ingerido (FONTES et al., 2018; BERMAR, 2014).

Patogenesia é o conjunto de sintomas físicos, emocionais e mentais


que o organismo de um indivíduo sadio apresenta ao utilizar deter-
minada substância medicinal.

A partir disso, Hahnemann também realizou experimentos administrando


quina em familiares e amigos, e os mesmos resultados foram encontrados
nesses indivíduos. Seu estudo expandiu-se para outros fármacos, e os seus
efeitos no organismo de indivíduos sadios foram catalogados. A partir dos
resultados catalogados em indivíduos sadios, ele decidiu observar se o prin-
cípio da similitude funcionava também em pacientes doentes. A maioria dos
pacientes doentes obteve cura, e, dessa forma, Hahnemann confirmou sua
hipótese (FONTES et al., 2018).
De acordo com o princípio da similitude (ou lei dos semelhantes) e con-
forme relatado por Fontes et al. (2018, p. 5):

[...] qualquer substância capaz de provocar determinados sintomas em seres huma-


nos sadios e sensíveis, em doses adequadas, especialmente preparadas, é capaz
de curar um enfermo que apresente quadro mórbido semelhante, com exceção
das lesões irreversíveis.
Práticas homeopáticas e florais de uso humano 3

Um exemplo da aplicação clínica da lei dos semelhantes é o trata-


mento de um paciente com úlcera gástrica que apresenta hemorragias
frequentes, gosto amargo na boca, inquietação, ansiedade, queimações no
estômago, falta de ar, dentre outros sintomas. O médico homeopata identifica
que esses sintomas são semelhantes aos da ingestão de arsênico. Com isso, o
médico prescreve Arsenicum album em doses extremamente pequenas.

Em 1796, Hahnemann publicou seu primeiro trabalho sobre os efeitos de


diversos fármacos em indivíduo sadios, denominado “Ensaio sobre um novo
princípio para descobrir as propriedades curativas das substâncias medicinais,
seguido de alguns comentários sobre os princípios admitidos até os nossos
dias”. Em 1810, a primeira edição do seu livro Órganon da arte de curar foi
publicado, contendo a doutrina homeopática, ensinamentos e diretrizes
para a anamnese e tratamento do paciente. Outra obra muito famosa de
Hahnemann, intitulada As doenças crônicas, foi lançada em 1828, na qual ele
relata o estudo de diversas substâncias para o tratamento homeopático de
doenças crônicas (FONTES et al., 2018).
Devido aos bons resultados obtidos com a homeopatia, essa ciência
cresceu rapidamente e atraiu a atenção de médicos e pacientes pela Europa.
Atualmente, de acordo com Fontes et al. (2018, p. 6): “[...] a homeopatia é pra-
ticada em diversos países, nos vários continentes, mas está especialmente
bem representada na Alemanha, na Argentina, na Bélgica, no Brasil, na França,
na Índia e na Inglaterra”. Nos Estados Unidos, a homeopatia era muito forte
no início do século XX; no entanto, devido à pressões legais e financeiras,
muitas instituições encerraram suas atividades, e atualmente o governo tem
buscado incentivar essa prática em busca de um renascimento.
No Brasil, a homeopatia foi introduzida pelo médico francês Benoît Jules Mure
em 1840, e difundiu-se nacionalmente pelos seus discípulos. O ensino e prática
da homeopatia ganhou força a partir da proclamação da República, sendo que
figuras importantes, como Rui Barbosa e Monteiro Lobato, eram adeptos dessa
ciência. A partir da década de 1930, a homeopatia perdeu força no país, tendo
seu renascimento na década de 1970. Em 1976, mediante o Decreto nº. 78.841/76,
a parte geral da primeira edição da Farmacopeia Homeopática Brasileira foi
aprovada. Alguns anos mais tarde, em 1980, a homeopatia foi reconhecida
como especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina. Atualmente, a
homeopatia deixou de ser considerada uma terapia “alternativa” para ser uma
prática complementar em saúde, incentivada pelo governo brasileiro, sendo
que a edição mais recente da Farmacopeia Homeopática Brasileira foi aprovada
por meio da Resolução RDC nº 39/2011 (SÃO PAULO, 2019; FONTES et al., 2018).
4 Práticas homeopáticas e florais de uso humano

Doses mínimas
No início da carreira como homeopata, Hahnemann utilizava altas doses de
medicamentos em seus tratamentos, especialmente na forma farmacêutica
de tintura, o que levava a muitos efeitos colaterais, uma vez que os sinto-
mas eram agravados pela soma dos sintomas inerentes à doença com os
sintomas artificiais provocados pelo medicamento. Com o intuito de diminuir
esses efeitos negativos, Hahnemann começou a utilizar doses pequenas
dos medicamentos, a partir de sua diluição em água ou álcool. No entanto,
os medicamentos diluídos não eram potentes o suficiente para promover
a reação orgânica necessária para alcançar os benefícios da homeopatia
(FONTES et al., 2018).
Hahnemann passou então a imprimir agitações violentas, denominadas
sucussões, nos medicamentos previamente diluídos, e percebeu que houve
diminuição dos efeitos tóxicos relacionados às altas doses e também au-
mento da reação orgânica. Com isso, Hahnemann passou a utilizar diluições
infinitesimais do insumo ativo e potencializadas por sucussões, processo
também conhecido como dinamização (FONTES et al., 2018).
De acordo com Agência Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2011,
documento on-line), a dinamização pode ser definida como “[...] processo
de diluições seguidas de sucussões e/ou triturações sucessivas do insumo
ativo em insumo inerte adequado”. A diluição do insumo ativo obedece a uma
progressão geométrica, com o intuito de diminuir sua concentração química
e aumentar sua ação dinâmica, a qual estimula a reação orgânica em direção
à cura. A potência de um medicamento homeopático é dada pelo número de
dinamizações que recebeu (FONTES et al., 2018; BRASIL, 2011).

Medicamento único
Em seus experimentos e descobertas, Hahnemann administrava os medica-
mentos sempre de forma isolada, a fim de impedir interações medicamen-
tosas e descobrir o medicamento responsável pela cura. Quando o quadro
sintomático do paciente mudava e/ou a resposta ao medicamento não era o
mesma, Hahnemann trocava a medicação, a fim de abranger todos os sinto-
mas percebidos. Baseando-se nos princípios de Hahnemann, o homeopata
unicista deve procurar, sempre que possível, encontrar um medicamento
único (simillimum) que atue na totalidade dos sintomas do doente.
Na prática, embora o simillimum seja um fundamento importante da
homeopatia, nem sempre é possível encontrá-lo. De acordo com o Conselho
Práticas homeopáticas e florais de uso humano 5

Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2019), no Brasil há


outras vertentes de escolas homeopáticas, as quais prescrevem mais de um
medicamento ao paciente:

„„ Alternista/pluralista — prescreve-se dois ou mais medicamentos, a


serem administrados em momentos distintos e de modo alternado,
para que um complemente a ação do outro.
„„ Organicista — a conduta é semelhante à alopatia, com suas especiali-
dades clínicas, pois prescreve o medicamento homeopático de forma
direcionada aos órgãos doentes, considerando as queixas relatadas
pelo paciente, sem levar em consideração sintomas emocionais e
mentais.
„„ Complexista — prescreve dois ou mais medicamentos, os quais são
administrados simultaneamente ao paciente.

Força vital
Dentre os princípios da homeopatia, Hahnemann considerava a força vital
como a responsável por manter o equilíbrio do organismo. A partir desse
ponto de vista, ele acreditava que os microrganismos eram necessários, mas
não suficientes, para causar doenças. Os fungos, por exemplo, não seriam
considerados a única causa das micoses, pois outros fatores (como umidade,
temperatura) devem contribuir para o desenvolvimento fúngico junto com
o comprometimento da força vital, levando ao desenvolvimento desses
microrganismos sempre presentes (FONTES et al., 2018).
O organismo humano saudável encontra-se em equilíbrio nos seus dife-
rentes níveis dinâmicos, que incluem os aspectos físico, emocional e mental.
Quando a força vital é perturbada, são acionados os mecanismos de defesa
do organismo, para tentar restabelecer o equilíbrio. Acredita-se que fatores
endógenos (como sentimentos de tristeza, raiva, etc.) e exógenos (como má
alimentação ou uso de drogas) podem também influenciar de forma negativa
a força vital (FONTES et al., 2018).
De acordo com Fontes et al. (2018, p. 23):

[...] a homeopatia define saúde como um estado de equilíbrio dinâmico que abran-
ge as realidades física e psicomental dos indivíduos em suas interações com o
ambiente natural e social. A doença reflete, mediante os sintomas, o esforço da
força vital na tentativa de restabelecer o equilíbrio.
6 Práticas homeopáticas e florais de uso humano

Medicamentos homeopáticos
Um medicamento homeopático é definido pela Anvisa (BRASIL, 2011, docu-
mento on-line) como: “[...] toda forma farmacêutica de dispensação ministrada
segundo o princípio da semelhança e/ou da identidade, com finalidade curativa
e/ou preventiva. É obtido pela técnica de dinamização e utilizado para uso
interno ou externo.”
Os medicamentos homeopáticos podem ser de origem vegetal, mineral,
animal, fúngica, química, microbiológica ou farmacêutica. Estes últimos ainda
podem ser industrializados ou preparados em farmácia de manipulação. Tais
medicamentos podem ser encontrados em diferentes formas farmacêuticas,
destacando-se os tabletes, glóbulos, líquidos, pós, comprimidos, dentre
outros. Vale ressaltar que essências florais, medicamentos antroposóficos,
cromoterapia e aromaterapia não são medicamentos homeopáticos (SÃO
PAULO, 2019; BERMAR, 2014).
As plantas são as principais fontes de fármacos para a preparação de
medicamentos homeopáticos. Nesse tipo de preparação, prefere-se o uso da
planta in natura (fresca), mas quando não for possível, a planta seca também
pode ser utilizada. Pode-se aproveitar a planta inteira, partes da planta,
produtos extrativos ou de transformação e substâncias produzidas a partir
de estados patológicos (como Ustilago maidis, doença do milho provocada
por fungo) (BERMAR, 2014).
Fontes et al. (2018) relata alguns exemplos de medicamentos homeopáticos
obtidos a partir de plantas,:

„„ obtenção a partir de plantas inteiras — Belladonna, Drosera rotundifolia,


Pulsatilla nigricans, Hypericum perforatum;
„„ obtenção a partir de partes de plantas — Allium cepa, Colchicum au-
tumnale (bulbo); ipecacuanha, Paeonia officinalis, Lappa major (raiz);
Sanguinaria canadensis, Podophyllum peltatum (rizoma); Coffea cruda,
Nux vomica (sementes); Digitalis purpurea, Tabacum (folhas); Sambu-
cus nigra, Calendula officinalis (flores ou sumidades floridas); Agnus
castus, Carduus marianus (frutos); Lycopodium clavatum (esporos);
Berberis vulgaris (casca da raiz); China officinalis (casca do caule);
Hamamelis virginiana (mistura de cascas do caule e folhas); Crocus
sativus (estigmas); Thuya occidentalis (ramos); Ruta graveolens (parte
aérea); Carbo vegetabilis (lenho);
Práticas homeopáticas e florais de uso humano 7

„„ produtos extrativos ou de transformação — Terebinthina (oleorresina);


Colchicinum (alcaloide); Opium (látex);
„„ produtos patológicos — Ustilago maidis (doença do milho provocada
por fungo); Secale cornutum (esporão-do-centeio).

O reino mineral é a segunda fonte mais importante na obtenção de me-


dicamentos homeopáticos. Dentre os componentes dessa fonte, encontram-
-se os minerais obtidos em seu estado natural (como Sulfur, Phosphorus e
Causticum), os produtos obtidos em laboratórios químico-farmacêuticos pela
extração, purificação e/ou preparação (como Acidum phosphoricum, Kalium
sulfuricum e Sulfanilamidum) e os produtos preparados a partir das fórmulas
de Hahnemann (como Calcarea acetica, Hepar sulfur, Causticum e Mercurius
solubilis) (FONTES et al., 2018).
Alguns medicamentos homeopáticos importantes na prática clínica
possuem fonte animal, como Sepia officinalis e Calcarea carbonica. Outros
exemplos também preparados a partir de animais incluem: Apis mellifica
(abelha europeia), Aranea diadema (aranha-porta-cruz), Cantharis vesicatoria
(cantárida), carbo animalis (couro de boi carbonizado), Crotalus horridus
(veneno da cascavel norte-americana), Diphterinum (membrana diftérica),
Formica rufa (formiga-ruiva), Lachesis muta (veneno da cobra surucucu),
Psorinum (conteúdo seroso da vesícula escabiótica) e Thyroidinum (glândula
tireoide) (FONTES et al., 2018).
Quanto aos medicamentos homeopáticos obtidos a partir de fungos, temos
Agaricus muscarius (agárico-mosqueado), Amanita phalloides (cálice-da-
-morte) e Lycoperdon bovista (bovista). Já dentre os provenientes de bactérias
e de suas toxinas, temos Colibacillinum (Escherichia coli), Diphterotoxinum
(toxina diftérica diluída), Streptococcinum (Streptococcus pyogenes) e Tuber-
culinum (tuberculina bruta de Koch) (FONTES et al., 2018).

Veículos e excipientes
Na preparação de medicamentos homeopáticos, são utilizados veículos e
excipientes, também conhecidos como insumos inertes. Essas substâncias
são empregadas para realizar diluições e dinamizações, e também para
extrair os princípios ativos das drogas vegetais para preparação de tinturas
homeopáticas. A seguir são listados os principais insumos inertes utilizados
na homeopatia (BERMAR, 2014).
8 Práticas homeopáticas e florais de uso humano

„„ Água: utilizada nas diluições e dinamizações. Deve ser purificada por


destilação ou sistema de purificação, límpida, isenta de impurezas e
armazenada diariamente em recipiente de vidro ou PVC.
„„ Álcool: utilizado nas diluições e dinamizações. Deve-se usar o álcool
etílico bidestilado livre de impurezas.
„„ Glicerina: utilizada nas preparações de animais ou de suas partes. Ob-
tida a partir de destilações sucessivas de desdobramentos de ésteres
glicéricos de ácidos graxos. Deve ser livre de contaminantes como
acroleína, glicose e cloretos, bem como incolor, clara, na consistência
de xarope e de sabor doce.
„„ Soluções alcoólicas: misturas de água purificada e álcool, preparadas
segundo os procedimentos farmacopeicos.
„„ Diluições glicerinadas: constituem uma mistura de glicerina com água
e/ou álcool, preparada segundo os procedimentos farmacopeicos.
„„ Lactose: pó branco, cristalino e inodoro. Obtido a partir do leite de
vaca, deve ser livre de impurezas como amido, sacarose e glicose.
„„ Sacarose: utilizada na preparação de glóbulos, microglóbulos e com-
primidos inertes. É um açúcar purificado obtido da cana-de-açúcar.
Deve ser cristalino, incolor ou branco, ou um pó branco de sabor doce.
„„ Glóbulos inertes: são uma forma farmacêutica homeopática sólida
que se apresenta como pequenas esferas constituídas de sacarose
ou uma mistura sacarose-lactose. Existem três diferentes tamanhos:
nº 3 (30 mg), nº 5 (50 mg) e nº 7 (70 mg).
„„ Microglóbulos inertes: utilizados na escala 50 milesimal, são grãos
brancos, padronizados em 63 mg/100 microglóbulos.
„„ Comprimidos inertes: discos comprimidos constituídos de lactose ou
de uma mistura lactose-sacarose.
„„ Tabletes inertes: discos produzidos por moldagem da lactose em
tableteiro.

Formas farmacêuticas derivadas


De acordo com Bermar (2014, p. 105), as formas farmacêuticas derivadas
constituem “[...] as formas de preparação e/ou dispensação dos medicamentos
homeopáticos pelo processo de dinamização, com decrescente concentração
da droga por meio de diluições e sucussões ou triturações sucessivas”. Para
Práticas homeopáticas e florais de uso humano 9

preparar essas formas farmacêuticas, pode-se utilizar as escalas decimal,


centesimal e 50 milesimal, em que a escala é preparada, respectivamente,
em uma proporção de 1/10, 1/100 e 1/50.000. Tais relações referem-se à pro-
porção entre o insumo ativo e o insumo inerte utilizados na preparação das
diferentes dinamizações.
Para uma melhor compreensão das diluições realizadas em um processo
de dinamização, pode-se observar o esquema descrito por Fontes et al.
(2018, p. 14):

1) Uma parte do insumo ativo + 99 partes do insumo inerte + sucussões = primeira


dinamização centesimal hahnemanniana (1CH).
2) Uma parte da 1CH + 99 partes do insumo inerte + sucussões = segunda dinami-
zação centesimal hahnemanniana (2CH).
3) Uma parte da 2CH + 99 partes do insumo inerte + sucussões = terceira dinami-
zação centesimal hahnemanniana (3CH).
4) E assim sucessivamente.

A Figura 1 ilustra esse conceito.

Figura 1. Exemplo de um processo de dinamização.


Fonte: Fontes et al. (2018, p. 14).
10 Práticas homeopáticas e florais de uso humano

Por sua vez, no Quadro 1 é possível ver alguns efeitos de medicamentos


homeopáticos em diferentes dinamizações.

Quadro 1. Efeitos de medicamentos homeopáticos dinamizados em estudos


in vitro

Medicamento Modelo
e diluição Objetivo experimental Efeitos

Antimonium Mecanismo Co-cultura de Positivo: redução


crudum de ação macrófagos seguida de aumento
30CH, 200CH anti-inflamatória e Leishmania do spreading dos
amazonensis macrófagos; aumento
da percentagem
de internalização
de parasitas;
potenciação da
redução de produção
de citocinas induzida
pelo parasita.

Arnica Efeitos sobre Escherichia Positivo: redução do


montana expressão gênica coli submetida dano do DNA e do
30CH à radiação estresse oxidativo;
ultravioleta hiperexpressão de
genes de reparação
genética.

Arsenicum Autorrecuperação Linfócitos Positivo: aumento da


album de intoxicação humanos MT4 viabilidade celular;
6CH, 30CH, intoxicados máximo efeito
200CH com trióxido de depois de 3 dias de
arsênico (As 2O3) tratamento com Ars
200CH.

Belladonna, Resistência Staphylococcus Positivo: inibição


nosódio bacteriana aureus do crescimento de
6CH, 30CH resistente MRSA, com redução
a meticilina da produção de
(MRSA) DNAse; aumento da
vulnerabilidade à
oxacilina.

(Continua)
Práticas homeopáticas e florais de uso humano 11

(Continuação)

Medicamento Modelo
e diluição Objetivo experimental Efeitos

Lycopodium Atividade Células de Positivo: redução


clavatum anticancerosa câncer cervical da proliferação
5CH, 15CH HeLa e células e viabilidade das
mononucleares células cancerosas,
de sangue sem citotoxicidade
periférico sobre PBMCs
(PBMCs) normais; considerável
apoptose das
células cancerosas,
com fragmentação
do DNA, aumento
da expressão das
proteínas caspase
3 e Bax e redução
de Bcl2, Apaf e
da liberação de
citocromo c. Efeito
similar a cisplatina na
sobrevida das células
cancerosas.

Nux vomica, Mecanismo de Células de Positivo: redução


Calendula ação em gastrite carcinoma da expressão
officinalis e úlcera gástrica gástrico genética do fator
10CH, 12CH humano KATO-III de crescimento
epidérmico ligado à
heparina induzida por
H. pylori.

Psorinum Atividade Células de Positivo: inibição da


6DH anticancerosa adenocarcinoma proliferação celular;
epitelial de interrupção do ciclo
pulmão humano celular em estágio
A549 sub-G; produção de
EROs; despolarização
da membrana
mitocondrial; dano
do DNA; promoção
de apoptose por
via mediada por
mitocôndrias
dependente da
caspase.

Fonte: Adaptado de Waisse (2017).


12 Práticas homeopáticas e florais de uso humano

O medicamento homeopático atua por suas características ener-


géticas, não tendo ação em receptores ou moléculas-alvo. Ainda
tem-se muito o que investigar sobre os efeitos e mecanismos de ação dos
medicamentos homeopáticos.

Terapia floral
A terapia floral, ou floralterapia, consiste em um método terapêutico que
busca auxiliar o reestabelecimento do equilíbrio mental e emocional dos
pacientes. Nessa terapia, são utilizadas essências florais, elixires de cristais
e campos ambientais (SÃO PAULO, 2019).
A terapia floral teve origem no começo do século XX na Inglaterra, por
meio das descobertas de Edward Bach, médico, homeopata e herbalista. O
Dr. Bach buscava um sistema de cura simples e, para isso, realizou pesquisas
utilizando desde fármacos convencionais até vacinas, bioterápicos obtidos
pela homeopatia e, por fim, flores silvestres. Ele também observou que o
estado mental e emocional dos pacientes determinava sua resposta aos tra-
tamentos. Com isso, seu objetivo terapêutico era devolver a homeostase aos
pacientes mediante a incorporação das qualidades que esses necessitavam
nas essências florais (SÃO PAULO, 2019).
O sistema de cura desenvolvido pelo Dr. Bach tem como base a respon-
sabilidade do indivíduo pela própria saúde, baseando-se no conceito de
“conhece-te e cura-te a ti mesmo”, sendo as essências florais utilizadas
como substâncias catalisadoras desse processo. Bach buscava encontrar
um método de tratamento aplicável a todos os tipos de pessoas e que pu-
desse ser utilizado sem conhecimento médico. Suas pesquisas resultaram
em 38 substâncias florais, conhecidas como florais de Bach (SÃO PAULO,
2019; BELLO, 2019).
Em meados do século XX, diversos pesquisadores em todo o mundo pas-
saram a usar as técnicas de Edward Bach para desenvolver novos sistemas,
levando à ampliação do número de essências, bem como de biomas utilizados.
Outros sistemas florais citados por Bello (2019) incluem: Essências Florais
da Califórnia (Richard Katz e Patricia Kaminskii), Essências Florais do Bush
Australiano (Ian White), Essências Florais de Minas (Dr. Breno Marques da
Silva e Ednamara Batista Vasconcelos e Marques), Essências da Mata Atlântica
(Sandra Epstein), dentre outros.
Práticas homeopáticas e florais de uso humano 13

No Brasil, as essências florais começaram a ser utilizadas na década de


1980, e na década seguinte deu-se início às primeiras pesquisas nacionais.
Durante muitos anos, as essências florais não tiveram uma regulamentação
por parte do governo brasileiro, embora já fosse bastante difundidas. Em
2009 o termo floralterapia foi citado pela primeira vez em uma resolução e em
2015 o Conselho Federal de Farmácia normatizou a atuação do farmacêutico
nessa área. Em 2018, a terapia de florais foi incorporada pelo Ministério da
Saúde à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (SÃO
PAULO, 2019).
A apresentação das essências florais é mais comum na forma de gotas,
que podem ser administradas diretamente na boca a partir de um frasco, ou
então adicionadas em um copo com água. Aplicações tópicas como sprays
e cremes também são muito comuns. Embora as essências florais não apre-
sentem contra indicações, elas devem ser preparadas de acordo com as
características de cada indivíduo (BELLO, 2019).
Edward Bach e Samuel Hahnemann (criador da homeopatia) apresentavam
propósitos muito semelhantes, pois buscavam na natureza substâncias que
pudessem curar todas as esferas do paciente (físico, mental e emocional).
Embora os florais de Bach e a homeopatia tenham semelhanças, há muitas
diferenças quanto ao modo de preparo, efeitos, etc. O Quadro 2 estabelece
um comparativo entre essas duas práticas.

Quadro 2. Florais de Bach versus homeopatia

Florais de Bach Homeopatia

Características „„ Não é uma „„ É uma especialidade


especialidade médica. médica.
„„ Quem orienta é o „„ A prescrição é
terapeuta floral, que realizada por médicos,
pode ser médico médicos veterinários
ou qualquer outro ou dentistas
profissional capacitado. especializados.
„„ Não é considerado „„ Farmacêuticos podem
medicamento e sim prescrever somente
remédio floral. medicamentos isentos
de prescrição médica.
„„ É considerado
medicamento
homeopático.

(Continua)
14 Práticas homeopáticas e florais de uso humano

(Continuação)

Florais de Bach Homeopatia

Campo de ação „„ Age apenas no campo „„ Pode agir no campo


emocional, podendo físico, mental e
refletir em outros emocional.
corpos ou níveis.

Origem „„ Apenas do Reino „„ Nos quatro reinos:


Vegetal, exceto Rock vegetal, mineral, animal
Water, que é de origem e fungi.
mineral.

Método de „„ Extração das vibrações „„ Diluições em água e/


preparo e essências da planta ou etanol em diversas
com água pelo método graduações, seguidas
solar ou de fervura. Em de trituração ou
seguida, ocorrem várias sucussões.
diluições em Brand até
chegar-se ao frasco de
tratamento.

Apresentação „„ Em gotas, cremes, géis, „„ Em gotas, cremes,


pastilhas, chicletes e géis, papéis, tabletes,
spray. glóbulos, injetáveis.

Reações adversas „„ Não possui (às vezes „„ Poderá haver.


sintomas suprimidos
podem vir à tona
temporariamente).

Interações „„ Não há. „„ Poderá haver.


medicamentosas

Como atua „„ A pessoa busca sua „„ Princípio da


própria cura com o semelhança:
auxílio das vibrações “semelhante cura
sutis que as essências semelhante”.
florais possuem.

Fonte: Adaptado de Ribeiro (2020).

De acordo com Bello (2019, documento on-line), “[...] as essências florais


são extratos líquidos sutis de natureza vibracional, por incorporarem os
padrões energéticos de cada flor. Atuam nos vários campos de energia do ser
humano, influenciando no bem-estar mental, emocional e físico”. Assim, os
florais não atuam diretamente sobre as funções fisiológicas e a bioquímica
do organismo, como os fármacos tradicionais. Bello (2019, documento on-line)
ainda acrescenta que, quando as essências florais são ingeridas:
Práticas homeopáticas e florais de uso humano 15

[...] as energias nelas contidas são potencializadas e assimiladas com o auxílio de


um extraordinário sistema de energia biocristalina existente no interior do corpo
físico. Esse sistema cristalino apresenta determinadas propriedades semelhantes
às do quartzo, as quais tornam possível a transferência ressonante das energias do
remédio floral para o corpo físico, a fim de que elas possam alcançar os corpos sutis.
De forma simples, a ressonância ocorre quando um sistema de vibração é estimu-
lado por uma força externa que combine com sua frequência natural de vibração.

Cada um dos remédios descobertos pelo Dr. Bach são utilizados para
equilibrar uma determinada característica ou estado emocional específico.
Os florais de Bach e suas aplicações são listados a seguir (BACH CENTRE, 2020):

„„ Agrimony — tortura mental detrás de um rosto alegre;


„„ Aspen — medo de coisas desconhecidas;
„„ Beech — intolerância;
„„ Centaury — dificuldade em dizer não;
„„ Cerato — falta de confiança nas suas próprias decisões;
„„ Cherry Plum — medo de perder o controle;
„„ Chestnut Bud — incapacidade de aprender com seus próprios erros;
„„ Chicory — egoísmo e possessividade;
„„ Clematis — sonhar com o futuro sem trabalhar no presente;
„„ Crab Apple — remédio para limpeza e para o sentimento de autorre-
jeição por desagrado;
„„ Elm — sensação de sobrecarga por excesso de responsabilidade;
„„ Gentian — desânimo depois de uma contrariedade;
„„ Gorse — desespero;
„„ Heather — excesso de preocupação por si mesmo, personalidade
egoísta;
„„ Holly — ódio, inveja e ciúme;
„„ Honeysuckle — viver no passado;
„„ Hornbeam — sentimento de cansaço só de pensar em fazer algo;
„„ Impatiens — impaciência;
„„ Larch — falta de confiança;
„„ Mimulus — medo de coisas conhecidas e timidez;
„„ Mustard — tristeza profunda e sem motivo aparente;
„„ Oak — para a pessoa impassível e persistente que avança e aguenta
além do limite das suas capacidades;
„„ Olive — exaustão após esforço mental ou físico;
„„ Pine — culpa;
16 Práticas homeopáticas e florais de uso humano

„„ Red Chestnut — excesso de preocupação pelo bem-estar de seus entes


queridos;
„„ Rock Rose — terror e medo paralisante;
„„ Rock Water — autonegação e repressão por rigidez;
„„ Scleranthus — dificuldade de optar entre várias possibilidades;
„„ Star of Bethlehem — choque;
„„ Sweet Chestnut — angústia mental extrema, quando todas as hipóteses
parecem esgotadas e a pessoa não vê luz no fim do túnel;
„„ Vervain — excesso de entusiasmo;
„„ Vine — excesso de autoridade, despotismo;
„„ Walnut — proteção de influências indesejadas e em caso de mudança;
„„ Water Violet — para equilibrar personalidades reservadas e distantes;
„„ White Chestnut — pensamentos indesejados e incontroláveis, conflitos
mentais;
„„ Wild Oat — dúvidas sobre que direção tomar na vida;
„„ Wild Rose — sensação de andar à deriva, apático e resignado;
„„ Willow — autocomiseração e ressentimento.

A partir do conteúdo abordado, percebe-se que as aplicações da home-


opatia e das essências florais são práticas complementares em saúde. A
homeopatia e a terapia floral representam hoje uma alternativa ao uso da
alopatia em uma população cada vez mais preocupada com saúde e bem-estar,
e acometida por diversos distúrbios emocionais. A aplicação clínica dessas
terapias tem sido também incentivada por órgãos federais. É importante
conhecer, porém, seus conceitos, métodos de preparo e indicações, a fim de
alcançar o benefício terapêutico proposto por essas terapias.

Referências
BACH CENTRE. Guia de remédios. [S. l.: s. n.], 2020. Disponível em: https://www.bachcen-
tre.com/pt/os-florais/os-38-remedios/guia-de-remedios/. Acesso em: 25 out. 2020.
BELLO, S. R. Terapia floral. São Paulo: APANAT, 2019. Disponível em: http://apanat.org.
br/terapia-floral/. Acesso em: 25 out. 2020.
BERMAR, K. C. O. Farmacotécnica: técnicas de manipulação de medicamentos. São
Paulo: Érica, 2014. (Série Eixos).
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Farmacopeia homeopática brasi-
leira. 3. ed. Brasília: ANVISA, 2011. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/
assuntos/farmacopeia/farmacopeia-homeopatica/arquivos/8048json-file-1. Acesso
em: 25 out. 2020.
FONTES, O. L. et al. Farmácia homeopática: teoria e prática. 5. ed. Barueri, SP: Manole,
2018.
Práticas homeopáticas e florais de uso humano 17

RIBEIRO, J. Diferenças e semelhanças entre homeopatia e florais. [S. l.: s. n.], 2020.
Disponível em: https://drajulianaribeiro.com.br/ebook. Acesso em: 14 out. 2020.
SÃO PAULO. Conselho Regional de Farmácia. Homeopatia. 3. ed. São Paulo: CRF-SP, 2019.
Disponível em: http://www.crfsp.org.br/images/cartilhas/homeopatia.pdf. Acesso
em: 25 out. 2020.
WAISSE, S. Efeito de ultradiluições homeopáticas em modelos in vitro: revisão da
literatura. Revista de Homeopatia, v. 80, n. 1/2, p. 98–112, 2017. Disponível em: https://
pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/hom-11972. Acesso em: 25 out. 2020.

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