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ED18ABR162 NICEIASZANINI Artigo
ED18ABR162 NICEIASZANINI Artigo
net/publication/308034730
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2 authors, including:
Claudia Zanini
Universidade Federal de Goiás (Federal University of Goiás)
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All content following this page was uploaded by Claudia Zanini on 13 September 2016.
Sumário
A hegemonia burguesa nas Diretas Já: o caso de Grécia de cartolina: a estilização das culturas
Campo Grande – MS e os limites da clássica e oriental no pré-modernismo brasileiro –
“redemocratização” - pág. 8 pág. 169
A criação da Escola de Paraquedistas (1945): Música e tempo: o que vem do ser para o próprio
algumas considerações – pág. 38 humano– pág. 203
As visões médicas e jurídicas sobre os serviços de A produção do outro: Johannes Fabian e sua crítica
assistência no Distrito Federal: uma análise sobre à antropologia – pág. 259
as propostas formuladas por Luiz Barbosa e Ataulfo
de Paiva – pág. 91
A fronteira Brasil-Paraguai: Sua história e suas COGGIOLA, Osvaldo. A Segunda Guerra Mundial:
representações discursivas no “Programa Escolas Causas, Estrutura e Consequências. 1º Ed. São
Bilíngues de Fronteira (PEBF)” – pág. 110 Paulo: Editora Livraria da Física, 2015. – pág. 265
Entre a empiria e a erudição: Fundamentos do O Homem que é alto é feliz? Uma introdução ao
olhar corográfico no Brasil e em Minas Gerais, gerativismo.. – pág. 270
século XIX. – pág. 129
Alteridade e etnicidade: Tito e Moisés no Livro V QUEIROZ, Suely Robles Reis de. Escravidão negra
das HISTORIAE de Tácito - pág. 152 em debate. In: Marcos Cézar Freitas. (Org.).
Historiografia Brasileira em perspectiva.
1ed.Bragança: Universidade São
Francisco/Contexto, 1998, v. 01, p. 103-118. – pág.
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Dossiê Humanidades
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Abstract: Music is an important element in human life and is present from the
intrauterine stage. As all human existence is perceived by the time, the music is presented as a
means by which the time is revealed. The elements of time - duration, succession, memory and
change - related to the music, it is a succession of sounds that oscillate in rhythms. This study
deals with a literature search aimed to reflect on the relationship between being, time and music.
The readings showed that the man is the creator and music receiver, this process involves
experiences that evoke feelings and emotions that are in the unconscious of being and can be
revealed through new tapping, emanating memories and new sensations. Thus, one learns that
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the music comes from the man and back to the same and it is time that allows the reframing of
past situations that are experienced in this and will be part of the memories in the future.
Introdução
caráter temporal dos acontecimentos recorremos ao espaço, pois ele nos permite reviver
fisicamente o que foi vivido outrora (DA CÃMARA, 2011).
O tempo apresenta-se com um paradoxo: “ser e não ser, nascer e morrer,
aparecer e desaparecer, criação e destruição, fixidez e mobilidade, estabilidade e
mudança, devir e eternidade” (REIS, 2011, p. 2). Ainda para o autor, é sob essa
dificuldade de sua compreensão que reside a sua inapreensão. O tempo é, pois, aquilo
que não é apreensível, mas apesar de invisível, intocável, impalpável, ele pode ser
percebido. É por meio da natureza, das estações e da diferença entre dia e noite que o
percebemos. Com ele nos deparamos com a nossa própria existência fluindo. Sabemos o
que é, o vivemos a todo o momento. No entanto, quando se questiona sobre o tempo a
pergunta se torna difícil de responder (Ididem).
Para falar do tempo referimo-nos sempre a um passado, em oposição ao presente
e ao que viveremos posteriormente. Esta suposição sugere três modalidades do tempo:
passado, presente e futuro, e sem elas é difícil delimitar as suas dimensões (DA
CÂMARA, 2011).
Compreendo o tempo
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introduz uma existência nova e nega uma dada. Então, o tempo é uma constante redução
do ser ao nada, por meio da descontinuação e sucessão do ser. O tempo escoa e a nossa
vida escoa com ele (Ididem).
Os elementos do tempo são: duração, sucessão, memória, mudança (DA
CÃMARA, 2011), e estes elementos também se relacionam com a música. Neste
sentido, o tempo pode ser representado por metáforas, assim como a música, que por se
tratar de sucessão de sons que oscilam em ritmos, como um rio que desce e nunca
retorna (REIS, 2011).
Na mitologia grega o tempo podia ser compreendido a partir de duas definições:
o tempo de Kronos (em grego, κρόνος, isto é, a duração controlada) e o tempo de Kairós
(em grego, καιρός, o momento certo ou oportuno). Estas palavras eram utilizadas para
designar o tempo vivido que era vinculado a uma representação divina. Da palavra
Kronos originou-se a cronômetro, cronológico, cronograma etc.; todas revelam o
aspecto de um tempo que é controlado e que se finda (RIBEIRO, 2012).
Já Kairós “é irredutível e transcorre de uma forma relativa à presentificação de
cada um que o percebe e o vivencia” (RIBEIRO, 1962, apud MARTINS et al, 2012,
p.2). Na terminologia grega, Kairós se remete a “ponto no tempo”, “oportunidade
favorável”, “tempo certo”, “ocasião oportuna”, “época conveniente” (HAHN, 2000, p.
2458). Kairós também se remete a oportunidade, a momentos vividos, acontecimentos
específicos e histórias ocorridas no tempo Kronos. É singular, assim como a escuta
musical, pois é percebido de forma subjetiva e apenas pode ser explicado por quem o
vivencia em determinado momento.
Neste sentido, o tempo é concebido por duas categorias:
a primeira é uma lógica, contabilizável, quantificável,
comum e previsível, que pode ser mensurada e dividida em anos,
meses, dias, horas minutos e segundos, um tempo universal e que
serve de norteador para vários processos sociais. A segunda categoria
é um tempo não racional, qualificável, pessoal, imprevisível e
mutável, que não pode ser compartilhado com o outro, que, mesmo
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Música e tempo
construções narrativas verbalmente partilhadas. Esta parece ser a razão para o modo
peculiar com que se esta apreciação se estabelece” (p.135).
A apreciação musical também pode ser considerada como a mais introspectiva
quando comparada a outras formas de expressão artística, devido a sua característica de
sempre requerer um tempo de duração “indivisível” para se revelar, pois nela
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corpo da mãe com o comprimento e vigor das frases intimamente ligada à saúde e à
confiança que o feto tem na mesma (Idem).
Benenzon (1988) denomina estes acontecimentos sonoros intrauterinos de
“fenômenos acústicos”. Nestes fenômenos incluem-se: “o roçar das paredes uterinas,
fluxo sanguíneo das veias e artérias, ruídos intestinais, sons da voz materna, respiração e
inspiração, atritos viscerais, musculares e articulares e outros” (p. 13). Estes
movimentos ordenados em um ritmo contínuo e regular é que vão formar o fraseado
musical uterino, que juntos permitem que o bebê vivencie seu primeiro contato com o
universo sonoro.
No nascimento, o fraseado é o mais importante e está formatado por meio da
duração das contrações, respirações e gritos. Estes são “inextrincavelmente ligados à
pressão, liberação versus liberação e confinamento versus liberdade” (BRUSCIA, 1999,
p. 3). Nos últimos quatro meses de gestação Parncutt (1993) e Lecanuet (1996) mostram
que os bebês já respondem a estimulações sonoras externas ao útero por intermédio de
movimentos. Isto pode ser constatado por meio de medições do ritmo cardíaco e
respostas neuronais durante a exposição sonora do feto (apud REIGADO; ROCHA,
RODRIGUES, 2007).
Após o nascimento, o bebê estabelece uma relação rítmica regular com a mãe
por intermédio do movimento de sucção. O movimento também é acompanhado pelo
ritmo da alimentação e respiração, e pode ser embalado com uma canção de ninar ou o
balanço. Pesquisas comprovam que as crianças mamam mais tranquilas do lado
esquerdo do peito, no qual está localizado o coração permitindo que o bebê sinta os
batimentos cardíacos que o mantém mais calmo. O movimento de sucção está
intimamente ligado ao ritmo cardíaco do bebê, pois se mantém no mesmo andamento1
rítmico (BENENZON, 1985).
No período de seis a vinte quatro meses a criança entoa balbucios mais longos
denominados “canção de baleia”, pois enunciam os futuros contornos melódicos da
música e aprende também fragmentos de sílabas ou canções ouvidas anteriormente.
Entre dois e sete anos a criança inicia o ordenamento rítmico entre fala cantada e canto
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ele não deixa de ser percebido como tal, como algo que acontece fora de nós, mas
simultaneamente nos acontece, é algo que nos envolve, nos transporta e, ainda, nos
transforma. Na experiência musical, o tempo é sempre o tempo vivido de alguém e, esta
experiência, não se efetiva sem emoção. Emoção e tempo são constitutivos da
experiência musical (CÂMARA, 2011).
Juntos, a música, o acontecimento musical e a experiência musical, não
remeteriam a outra coisa senão à memória. Trazemos conosco os sons escutados que
conseguimos guardar do que ele nos deu. Então, é a memória que nos permite
experienciar o fenômeno musical novamente, que fica apenas na memória, pois não
necessita do espaço para acontecer (CÂMARA, 2011).
Esta música que traz à memória as recordações de outros tempos e lugares
coloca em movimento a energia corporal e psíquica, permitindo “transgredir padrões
pré-estabelecidos: desenvolver relações intra e interpessoais: propiciar transformações
psicoemocionais, cognitivas e espirituais”. É a música resgatando memória
ontogenéticas e filogenéticas (Craveiro de Sá; Teixeira, s/d, p.3).
Este percurso permite concluir que a música vem do homem/sujeito e volta para
ele, com força total, tocando-o nas mais variadas dimensões: biológica, pessoal, cultural
e arquetípica. Este percurso não é de difícil compreensão, pois a música é quem o rege
por meio de sua capacidade de conectar os acontecimentos musicais a fazer uma
ressignificação e uma nova forma de se ver no mundo (Op. Cit., p. 3).
A música é, senão aquilo que, por meio da escuta de elementos sonoros, nos
conduz a outros lugares, percepções, sentimentos subjetivos que cada um recebe de
forma individual, considerando os elementos culturais e pessoais de cada um. Assim, a
ela pode levar, a diferentes caminhos por intermédio do mesmo som, da mesma escuta.
A forma de sua transmissão influencia na maneira em que o sujeito recebe e interpreta
os símbolos que ela pode comunicar.
Para Zanini (2002), ao se contextualizar música e ser:
Quando se tem a possibilidade de unir os três tempos,
passado, presente e futuro, alcança-se a integralização do ser. Esta
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Nota
1. Musicalmente o andamento está relacionado à velocidade na qual a música será
executada. Pode se configurar em lento, rápido e moderado
Fonte da Imagem
I. NICEIAS, Mayara Divina Teles. Música e Tempo. Portfólio apresentado
como requisito para aprovação na disciplina de Psicologia da Música no Mestrado em
Música da Escola de Música e Artes Cênicas. Goiânia: UFG, 2015.
Referências
BENENZON, Rolando O. Teoria da Musicoterapia, Rio de Janeiro, ed.
Enelivros, 1988.
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PINTO, Marly Chagas Oliveira; PEDRO, Rosa Maria Leite Ribeiro. Música,
modos de subjetivação e sociedade. In: SBS – XIII Congresso Brasileiro de
Sociologia. UFPE, Recife, 2007.
REIGADO, J; ROCHA, A; RODRIGUES,H. Reflexões sobre a
aprendizagem musical na primeira infância. In: Conferência Nacional do Ensino
Artístico, Casa de Música, Outubro 29-31, Porto, 2007.
REIS, José Carlos. O Tempo Histórico como Representação Social. Revista
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Disponível em: www.revistafenix.pro.br. Acesso em 17/01/2016
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ZAMPRONHA, M. L. S. Da música, seus usos e recursos. 2.ed. ver. e
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ZANINI, Claudia Regina de Oliveira. Coro Terapêutico - um olhar do
musicoterapeuta para o idoso no novo milênio. Dissertação (Mestrado em Música) -
Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2002.
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