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O Assassino Ingles - Daniel Silva
O Assassino Ingles - Daniel Silva
O ASSASSINO INGLÊS
Tradução de VASCO TELES DE MENEZES
2ª Edição
BERTRAND EDITORA, Lisboa 2009
Título original: The English Assassin
Copyright (c) 2008 by Daniel Silva
Todos os direitos para a publicação desta obra em língua
portuguesa, exceto Brasil, reservados por Bertrand Editora, Lda.
Rua Prof. Jorge da Silva Horta, 1
1500-499 Lisboa
Telefone: 217 626 000
Fax: 217 626 150
Correio eletrônico: editora@bertrand.pt
Revisão: Eda Lyra
Pré-impressão: Fotocompográfica, Lda.
Impressão e acabamento: Tipografia Peres
Depósito Legal nº 290 011/09
Acabou de imprimir-se em Março de 2009
ISBN: 978-972-25-1857-4
SINOPSE
JEAN ZIEGLER
The Swiss, The Gold, and The Dead
PRÓLOGO
SUÍÇA, 1975
O PRESENTE
1
LONDRES E ZURIQUE
2
VITORIA, ESPANHA
6
NIDWALDEN, SUÍÇA
7
CÓRSEGA
8
COSTA DE PRATA, PORTUGAL
9
COSTA DE PRATA, PORTUGAL
12
CÓRSEGA
A velha signadora, espécie de rezadeira, morava numa casa
inclinada na aldeia, perto da igreja. Cumprimentou o Inglês como
de costume, com um sorriso de preocupação e uma mão no rosto
dele. Trazia um vestido preto grosso, com uma gola bordada. A
pele era da cor da farinha, os cabelos brancos estavam puxados
para trás, com ganchos de metal a segurá-los. Era curioso o modo
como as marcas da etnia e da origem nacional iam diminuindo
com o tempo, pensou o Inglês. Se não fosse pelo dialeto corso e os
modos católicos místicos, ela bem poderia ser a sua tia Beatrice,
de Ipswich.
— O mal regressou, meu filho — sussurrou ela, acariciando-
lhe o rosto. — Consigo vê-lo nos teus olhos. Sente-se. Deixe-me
ajudar.
A velha acendeu uma vela, enquanto o Inglês se sentava a
uma pequena mesa de madeira. À frente dele, colocou-lhe um
prato de porcelana cheio de água e uma pequena taça de azeite.
— Três gotas — disse. — Depois vamos ver se os meus
medos têm razão de ser. O Inglês molhou o indicador no azeite; a
seguir, esticou-o por cima do prato e deixou que caíssem três
gotas na água. Segundo as leis da física, o azeite deveria ter-se
acumulado num único glóbulo mas, em vez disso, despedaçou-se
num sem-número de gotículas e, passado pouco tempo, já não
havia vestígio dele.
A velha soltou um suspiro profundo e fez o sinal da cruz.
Ali estava ela, a prova inegável de que o occhju, o Mau-Olhado,
tinha invadido a alma do Inglês. Pegou a mão do Inglês e rezou.
Passado um momento, começou a chorar, um sinal de que o
occhju tinha passado do corpo dele para o dela. A seguir, fechou
os olhos e pareceu estar a dormir. Abriu-os no instante seguinte e
ordenou-lhe que repetisse o teste do azeite e da água. Dessa feita,
o azeite juntou-se numa única gota. O mal tinha sido exorcizado.
— Obrigado — disse ele, pegando na mão da velha. Ela
apertou-lhe por uns instantes e depois largou-a, como se ele
tivesse febre. O Inglês perguntou:
— O que se passa?
— Vais ficar no vale durante algum tempo ou vais de novo
embora?
— Lamento mas tenho de ir embora. — Ao serviço do Dou
Orsati?
O Inglês acenou com a cabeça. Não tinha segredos para a
velha signadora.
— Tens o seu amuleto?
Ele abriu a camisa. Tinha um pedaço de coral, com o feitio
de uma mão, pendurado ao pescoço, num fio de couro. Ela pegou
o coral e acariciou-o, como que para verificar se ainda se
mantinha o poder místico para afastar o occhju.
Parecia satisfeita mas mesmo assim preocupada.
O Inglês perguntou: Vês alguma coisa?
Vejo um homem.
— E como é que é esse homem?
— É como tu, só que um herege. Deves evitá-lo. Vais seguir
as minhas instruções?
— Sigo sempre.
O Inglês beijou-lhe a mão, na qual enfiou um maço de
francos.
— É demais — afirmou ela.
— Diz sempre isso.
— Porque sempre me dá demais.
SEGUNDA PARTE
13
ROMA
14
ROMA
16
PARIS
17
PARIS
18
PARIS
19
LONDRES
21
LYON
22
COSTA DE PRATA, PORTUGAL
23
LISBOA
24
MUNIQUE, ZURIQUE
26
LYON
27
VIENA
28
VIENA
29
ZURIQUE
ZURIQUE
31
BARGEN, SUÍÇA
NIDWALDEN, SUÍÇA
33
LONDRES
34
ZURIQUE
Eva tinha insistido no apartamento caro com vista para
Zurichsee, apesar de ele estar além das possibilidades do
ordenado de funcionário público de Gerhardt Peterson. Durante
os primeiros dez anos de casamento, tinham compensado esse
défice com a herança dela. Mas agora esse dinheiro já tinha
acabado e cabia a Gerhardt a responsabilidade de manter a
mulher no estilo de vida a que ela achava ter direito.
O apartamento estava às escuras quando ele chegou
finalmente a casa. Assim que Peterson entrou pela porta dentro, o
amigável rottweiler de Eva lançou-se sobre ele, no meio da
escuridão total, e atirou a cabeça, que mais parecia uma rocha,
contra a sua rótula.
— Pra baixo, Schultie! Já chega, rapaz. Pra baixo! Raios o
partam, Schultie!
Andou às apalpadelas pela parede e acendeu a luz. O
cachorro lambia seu sapato de camurça.
— Pronto, Schultie. Vai embora, por favor. Já é mais do que
suficiente. O cão afastou-se rapidamente, com as garras a fazerem
barulho no chão de mármore. Peterson foi para o quarto a coxear,
esfregando o joelho. Eva estava sentada na cama, com um
romance de capa dura aberto no colo. Um drama policial
americano estava a passar, sem o som, na televisão. Vestia um
roupão de chiffon colorido. O cabelo tinha acabado de ser
arranjado e ela tinha uma pulseira de ouro, no pulso esquerdo,
que Peterson não reconheceu. O dinheiro que Eva gastava à
superfície de Bahnhofstrasse rivalizava com os fundos que lá
estavam enterrados. — O que tens no joelho? — O seu cão atacou-
me.
— Ele não te atacou. Ele adora-te.
— É demasiado afetuoso.
— É um homem, como tu. Quer a sua aprovação. Se te
lembrasses só de lhe dar um pouquinho de atenção uma vez por
outra, ele não seria tão exuberante quando chegas a casa.
— Foi isso que o terapeuta dele te disse?
— É apenas bom senso, querido.
— Eu nunca quis o raio do cão. É demasiado grande para
este apartamento.
— Ele faz com que eu me sinta segura quando estás fora.
— Este lugar é como uma fortaleza. Ninguém consegue
entrar aqui. E a única pessoa que o Schultie alguma vez ataca sou
eu.
Eva lambeu a ponta do dedo indicador e virou a página do
livro, pondo fim à discussão. Na televisão, policiais americanos
estavam arrombando a porta de um apartamento de um bairro
social. Quando irromperam pela sala dentro, um par de suspeitos
abriu fogo contra eles com armas automáticas. Os polícias
ripostaram, matando os suspeitos. Tanta violência, pensou
Peterson. Ele raramente andava armado e nunca tinha disparado
em serviço.
— Como é que foi Berna?
Peterson mentira-lhe para esconder a visita que fizera a Otto
Gessler.
Sentou-se na borda da cama e tirou os sapatos.
— Berna foi Berna.
— Que bom.
— O que estás a ler?
— Não sei. Uma história sobre um homem e uma mulher.
Perguntou a si mesmo por que se daria ela ao trabalho. — Como
estão as meninas?
— Estão ótimas.
— E Stefan?
— Fez-me prometer que iria ao quarto dele dar um beijo de
boa-noite.
— Não quero acordá-lo.
— Não vai acordar. Entre e beije a cabeça.
— Se eu não o acordar, que diferença vai fazer? De manhã,
digo que lhe dei um beijo enquanto ele estava dormindo e ele não
vai perceber nada.
Eva fechou o livro e olhou para ele pela primeira vez desde
que Peterson entrara no quarto.
— Está com um aspecto horrível, Gerhardt. Deve estar
esfomeado. Vai arranjar qualquer coisa para comer.
Ele foi até a cozinha silenciosamente. Vai arranjar qualquer
coisa para comeres. Não se conseguia lembrar da última vez em
que Eva se tinha oferecido para lhe preparar qualquer coisa para
ele comer. Tinha esperado que, uma vez desaparecida a
intimidade sexual entre ambos, outras coisas surgissem em seu
lugar, como o prazer de partilharem uma refeição caseira. Mas
com Eva não. Primeiro, ela tinha fechado à corrente a porta para o
seu corpo; depois, para os seus afetos. Peterson era uma ilha na
sua própria casa.
Abriu o frigorífico e percorreu o deserto de caixas de comida
para levar para casa meio vazias, à procura de qualquer coisa que
não se tivesse estragado ou ganho uma camada de bolor. Numa
embalagem de papel com manchas de gordura, descobriu ouro:
um pequeno monte de raclette de queijo, com massa e bacon. Na
prateleira de baixo, escondidos por trás de uma caixa com queijo
ricota verde, estavam dois ovos. Preparou-os mexidos e aqueceu a
raclette no micro-ondas. A seguir, serviu-se de um copo bem
cheio de vinho tinto e regressou ao quarto. Eva estava a tratar das
unhas dos pés.
— Dividiu a comida com cuidado, para que cada garfada de
ovo fosse acompanhada por um pouco de raclette. Eva achava que
isso era um hábito irritante, o que em parte explicava porque ele o
fazia. Na televisão, continuava a violência desregrada. Os amigos
dos criminosos assassinos tinham vingado agora a morte dos
camaradas, matando os policiais. Mais uma prova para a teoria de
Herr Gessler acerca da natureza circular da vida.
— O Stefan tem um jogo de futebol amanhã. Ela soprou para
os dedos.
— Ele ia gostar que tu fosses.
— Não posso. Surgiu uma coisa no trabalho.
— Ele vai ficar desiludido.
— Lamento, mas não posso fazer nada.
— O que há assim de tão importante no trabalho para não
poderes ir ver o jogo de futebol do seu próprio filho? Além disso,
nunca acontece nada de importante neste país.
Tenho de tratar do assassinato da Anna Rolfe, pensou ele.
Perguntou a si mesmo como reagiria ela se ele o dissesse em voz
alta. Pensou em dizê-lo, só para a testar — para ver se ela alguma
vez ouvia uma só palavra do que ele dizia.
Eva acabou de tratar das unhas dos pés e regressou ao seu
romance. Peterson pousou o prato vazio e os talheres em cima da
mesinha-de-cabeceira e apagou a luz. Logo a seguir, Schultie
entrou pela porta de rompante e começou a lamber os restos de
ovo e gordura da preciosa porcelana, pintada à mão, de Eva.
Peterson fechou os olhos. Eva lambeu a ponta do dedo indicador e
virou mais uma página.
— Como é que foi Berna? — perguntou.
35
CÓRSEGA
36
VENEZA
37
VENEZA
VENEZA
VENEZA
41
MALLES VENOSTA, ITÁLIA
42
MALLES VENOSTA, ITÁLIA
43
44
NIDWALDEN, SUÍÇA
46
NIDWALDEN, SUÍÇA
47
NIDWALDEN, SUÍÇA
51
NIDWALDEN, SUÍÇA