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F228 21 Degradacao de Energia
F228 21 Degradacao de Energia
Degradação de Energia
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CONCEITOS
351
352 9.1. Convertendo energia
Alguns livros textos definem energia como a capacidade de realizar trabalho. Nos dois
capı́tulos anteriores, entretanto, nós vimos que a energia pode fazer mais do que isso. Ela
também pode ser utilizada para esquentar objetos, e nesse capı́tulo nós perguntamos (e res-
pondemos) duas questões importantes sobre energia: Até que ponto nós podemos usar ener-
gia mecânica para aquecimento e calor para realizar trabalho? E, mais especificamente, até
que ponto podemos converter a energia fornecida pela natureza em formas úteis para a tec-
nologia e a sociedade?
Os oceanos do mundo, por exemplo, contêm uma grande quantidade de energia térmica.
Se pudéssemos converter apenas uma pequena fração dessa energia em formas úteis, po-
derı́amos satisfazer as necessidades de energia do mundo por milhares de anos. Por quê um
navio não consegue absorver parte da energia térmica do oceano e usá-lo para propulsão?
Essa situação não viola a lei da energia: a energia térmica seria simplesmente convertida em
uma quantidade igual de energia mecânica. Como veremos neste capı́tulo, no entanto, a lei
da entropia impõe restrições sobre conversões de energia.
9.1 mostra para esses dois tipos de transferências, com setas indicando a transferência de
energia para o sistema e uma seta representando a transferência de energia para fora do sis-
tema. Diagramas que mostram as entradas e saı́das de energia de um sistema são chamados
de diagramas de entrada-saı́da de energia.
Entradas e saı́das de energia são sempre consideradas com o sinal positivo. O trabalho
realizado em um sistema é, portanto, a diferença entre o entrada mecânica de energia e
a saı́da mecânica de energia: W = Win − Wout . Da mesma forma, o calor trasnferido para
um sistema é a diferença entre a entrada de energia térmica e a saı́da de energia térmica:
Q = Qin − Qout .
A Figura 9.1 representa o funcionamento de qualquer dispositivo ou processo industrial.
A Figura 9.2 mostra o diagrama de entrada-saı́da de energia para dois dispositivos: um mo-
tor de carro e uma geladeira. Dentro de um carro, a combustão da gasolina fornece calor
para o motor (o sistema). O motor tem duas saı́das de energia: trabalho para as rodas do o
carro e calor para o ambiente (Figura 9.2 (a)). Em uma geladeira existem duas entradas de
energia (Figura 9.2 (b)): calor proveniente do que há dentro do refrigerador e trabalho rea-
lizado pelo motor do compressor para o resto da geladeira (o sistema). A geladeira também
tem uma saı́da de calor para o ambiente. (Você já deve ter notado que a parte de trás de uma
geladeira fica quente.)
Cada entrada ou saı́da de energia nas Figuras 9.1 e Figura 9.2 é acompanhada por mudanças
na entropia do entorno e do sistema. Para ganhar alguma prática determinando mudanças
de energia e entropia, vamos analisar a seguinte situação: Considere o dispositivo ilustrado
na Figura 9.3. Uma corda é presa a uma roda de pás que está imersa em um lı́quido viscoso
em um recipiente. Conforme a corda é puxada, a roda de pás gira em velocidade constante,
aumentando a temperatura do lı́quido de Ti para Tf .
Figura 9.3: Processo de aquecimento de um lı́quido viscoso utilizando uma corda ligada a
uma roda de pás.
O diagrama de entrada-saı́da de energia para esse sistema, que é formado pela roda de
pás e o lı́quido viscoso, é apresentado na Figura 9.4. Inicialmente, realizamos trabalho no
sistema puxando a corda, correspondendo a uma entrada de energia. Como o sistema não
é isolado termicamente, o trabalho é convertido em calor para o entorno à medida que a
temperatura do sistema aumenta. Por isso, o diagrama da Figura 9.4 (a) têm uma entrada
e uma saı́da. Como a temperatura do sistema aumenta, a energia do sistema aumenta e
então a energia que entra no sistema deve ser maior do que a energia que sai. O aumento da
temperatura do sistema aumenta sua entropia.
Figura 9.4: Diagramas de entrada-saı́da de energia para o processo realizado pelo dispositivo
da Figura 9.3.
Caso a roda de pás parasse de girar quando o sistema atinge Tf e esperássemos o lı́quido
resfriar até atingir Ti , os estados inicial e final do sistema seriam os mesmos, de tal forma
que tanto a mudança de energia quanto de entropia seriam nulas (Figura 9.4 (b)). O trabalho
realizano no sistema seria o mesmo que no caso da Figura 9.4 (a), entretanto o calor liberado
para o entorno seria igual a esse trabalho, uma vez que não há mudanças na energia do
sistema.
Observe que a lei de energia não impõe restrições sobre conversões de energia: A lei da
energia permite que qualquer forma de energia seja convertida inteiramente em qualquer
Capı́tulo 9. Degradação de Energia 355
outra forma. O dispositivo discutido anteriormente, por exemplo, converte trabalho inteira-
mente em calor. Vamos agora olhar para a conversão de calor em trabalho.
Ponto de verificação 21.2: (a) Para a situação ilustrada na Figura 9.5, desenhe
um diagrama de entrada-saı́da de energia para o gás. (b) A energia e a entropia
do gás mudam? Ignore qualquer atrito no pistão e qualquer calor trasnferido
para fora do gás.
Figura 9.5: Quando um volume de gás é aquecido a pressão constante em um cilindro equi-
pado com um pistão móvel, tanto sua temperatura quanto seu volume aumentam.
Como você viu no Ponto de Verificação 21.2, o calor trasnferido para o gás realiza trabalho
no pistão, e assim o dispositivo converte calor em trabalho. Como a temperatura do gás sobe,
porém, a energia térmica do gás aumenta. Assim, nem todo o calor é convertido em trabalho
nesse dispositivo.
Para evitar que a energia térmica do gás aumente, poderı́amos imergir a configuração
em um reservatório térmico mantido em alguma temperatura fixa TR , conforme ilustrado
na Figura 9.6. Se removermos lentamente os grãos de areia que estão no topo do pistão, a
força para cima exercida pelo gás no pistão é um pouquinho maior do que a força para baixo
exercida pela areia restante no pistão, e assim o pistão se move para cima. Conforme o gás
se expande, ele realiza trabalho no pistão. Como a temperatura do gás permanece constante,
sua energia térmica não muda e, portanto, a energia necessária para elevar o pistão deve
vir do reservatório na forma de calor. Nessa situação o calor é totalmente convertido em
trabalho.
Como um dispositivo, a configuração da Figura 9.6 não é muito prática porque para
manter o gá a uma temperatura constante, a expansão teria que ocorrer muito lentamente.
Além disso, para o gás continuar a realizar trabalho no pistão, seu volume teria que continuar
se expandindo.
356 9.1. Convertendo energia
Ao projetar dispositivos práticos para converter energia, geralmente queremos que eles
possam operar indefinidamente. Se o dispositivo continuar expandindo seu volume, como
o da Figura 9.6, ou ficar cada vez mais quente ou aumentar a pressão com o tempo, não
poderá ser operado por muito tempo. Por isso queremos que o estado do dispositivo que
converte energia permaneça o mesmo ou retorne ao mesmo estado depois de algum tempo.
Tal dispositivo é chamado de máquinas térmicas. Quando uma máquina térmica evolui de
um estado inicial por meio de uma série de processos e volta ao seu estado inicial, a série de
processos é chamado de ciclo. Durante a operação da máquina, cada ciclo é repetido con-
tinuamente. Para simplificar, devemos assumir que todas as máquinas térmicas envolvem
apenas processos quasistáticos e que nenhuma energia é dissipada por atrito.
Como os estados inicial e final de uma máquina térmica são o mesmo ao longo de um
ciclo, não há mudança na energia do sistema: ΔE = 0. Em um ciclo, portanto, a entrada de
energia deve ser igual à saı́da de energia: Win + Qin = Wout + Qout .
Para ver quais restrições são impostas pela lei da entropia (ΔS > 0 para um sistema fe-
chado se movendo em direção equilı́brio) nas entradas e saı́das de energia de um dispositivo,
examinamos as mudanças de entropia associadas com essas entradas e saı́das de energia. O
dispositivo não é um sistema fechado e, portanto, não podemos aplicar a lei da entropia
a ele. Já o dispositivo e seu entorno constituem um sistema fechado, e podemos escrever
ΔS = ΔSdis + ΔSamb ≥ 0. Como os estados inicial e final do ciclo são o mesmo, sabemos que
não pode haver qualquer mudança na entropia do dispositivo: ΔSdis = 0 para um ciclo. Por-
tanto, precisamos considerar apenas as mudanças de entropia no entorno quando lidamos
com máquinas térmicas e nos certificarmos de que essas mudanças satisfazem ΔSamb ≥ 0.
Como vimos na primeira seção do capı́tulo anterior, nenhuma mudança de entropia está
associada a um processo adiabático quase-estático. Como Q = 0 para entradas e saı́das de
trabalho e como assumimos que os processos em uma máquina térmica são quase-estáticos,
nós temos ΔSamb = 0 para Win e Wout . Portanto, as únicas mudanças na entropia do entorno
que precisamos considerar são aqueles causadas por entradas e saı́das de calor:
Máquinas térmicas operam sob duas restrições: (1) a entrada de energia deve
ser igual à saı́da de energia. (2) as entradas e saı́das de calor do dispositivo
devem aumentar a entropia do entorno (ou deixá-la inalterada).
Figura 9.7: Mudanças de energia e entropia associadas às entradas e saı́das de energia em
uma máquina térmica.
Agora estamos em posição de analisar máquinas térmicas que convertem energia. Pri-
meiro, considere uma máquina térmica que converte trabalho em calor. Tal dispositivo tem
uma entrada de energia na forma de trabalho e uma saı́da na forma de calor (Figura 9.8 (a)).
A entrada de energia não envolve mudanças na entropia do entorno; a saı́da de energia causa
um aumento na entropia do entorno. A entropia do entorno, portanto, aumenta, o que é per-
mitido pela lei da entropia. Isso significa que uma máquina térmica pode converter trabalho
inteiramente em calor.
Figura 9.8: Diagramas de entrada-saı́da de energia para dois tipos de máquinas térmicas.
Em seguida, considere uma máquina térmica que converte calor em trabalho (Figura 9.8
(b)). A entrada de energia causa uma diminuição na entropia do entorno; a saı́da de energia
não envolve mudanças na entropia do entorno. A entropia do entorno, portanto, diminui,
o que não é permitido pela lei da entropia para uma máquina térmica. Portanto, nenhuma
máquina térmica pode converter calor inteiramente em trabalho.
358 9.2. Energia útil
Figura 9.9: (a) Uma barra de cobre em contato térmico com um reservatório térmico de alta
temperatura e um reservatório de baixa temperatura. (b) Diagramas de entrada-saı́da de
energia para a haste e os reservatórios.
A Figura 9.9 (b) mostra os diagramas de entrada-saı́da de energia para a haste e para
os dois reservatórios térmicos. A mudança na energia do reservatório de alta temperatura
é igual ao calor que entra na haste, ΔEH = −Qin , enquanto a mudança na energia do reser-
vatório de baixa temperatura é igual ao calor que sai da haste, ΔEL = Qout . Como o estado
da haste não está mudando, nós sabemos que ΔErod = Qin − Qout = 0, então Qin = Qout e
Capı́tulo 9. Degradação de Energia 359
portanto, ΔEH = −ΔEL . A quantidade de energia que sai do reservatório de alta temperatura
é igual à quantidade de energia que entra no reservatório de baixa temperatura.
A transferência de calor através da haste causa mudanças na entropia dos dois reser-
vatórios (ambos fazem parte do entorno da haste), embora suas temperaturas permaneçam
inalteradas. Como a energia é transferida para fora do reservatório de alta temperatura, sua
energia diminui, e assim sua entropia diminui também: ΔSH < 0. O aumento da energia
do reservatório de baixa temperatura faz com que sua entropia aumente: ΔSL > 0. Como a
transferência de energia é irreversı́vel, nós sabemos que a entropia do entorno deve aumen-
tar, então ΔSH + ΔSL > 0.
A razão pela qual a entropia aumenta pode ser entendida através da maneira que de-
finimos a temperatura em capı́tulos anteriores: dS/dE ≡ 1/(kB T ).1 A quantidade dS/dE,
chamada de gradiente de entropia, é uma medida da mudança na entropia causada por
uma dada mudança na energia. Pela equação dS/dE ≡ 1/(kB T ) vemos que a magnitude da
mudança de entropia causada por uma transferência de energia para um reservatório ou
saindo dele é inversamente proporcional à temperatura do reservatório. A mudança de en-
tropia ΔS causada por uma dada mudança de energia ΔE é, portanto, maior em magnitude
para o reservatório de baixa temperatura do que para o de alta temperatura. Como ΔSL é
positivo e ΔSH é negativo, segue que ΔSH + ΔSL > 0.
Ponto de verificação 21.4: Quais são os sinais de ΔER , ΔSR e ΔSR /ΔER para uma
transferência de calor (a) que entra e (b) que sai de um reservatório?
Você pode visualizar o gradiente de entropia como o “custo de entropia causado por
uma mudança de energia”. Quanto maior o gradiente de entropia (ou quanto mais baixa a
temperatura), maior será a mudança na entropia causada por uma dada mudança de energia.
Como você viu no Ponto de Verificação 21.4, o gradiente de entropia é sempre positivo,
independentemente da direção da transferência de energia. Isso porque ΔS e ΔE sempre
têm o mesmo sinal algébrico.
Podemos descrever o entorno da haste através de um diagrama em função do seu gra-
diente de entropia. Como o reservatório de alta temperatura tem o gradiente de entropia
menor, o colocamos à esquerda do reservatório de baixa temperatura na escala do gradi-
ente de entropia, como mostrado na Figura 9.10. Se representarmos a transferência de calor
através da haste da Figura 9.11 (a) por meio de uma seta curva, obtemos o diagrama mos-
trado na Figura 9.11 (b). A cauda da seta representa a entrada de calor do reservatório de alta
temperatura, e a ponta representa a saı́da de calor para o reservatório de baixa temperatura.
Figura 9.10: Gradiente de entropia. A região sombreada representa o entorno da haste, que
consiste no reservatório de alta temperatura (H) e o reservatório de baixa temperatura (L).
1 Como fizemos no capı́tulo anterior, assumimos que a energia cinética, a potencial e a energia que mantem
os reservatórios em suas temperaturas permanecem constantes, de modo que ΔE = ΔEth .
360 9.2. Energia útil
Figura 9.11: (a) Reorganizamos o dispositivo da Figura 9.9 para separar o sistema (máquina
térmica) de seu entorno (os reservatórios térmicos). (b) Usando essa montagem, construı́mos
um diagrama de entropia mostrando as conversões e transferências de energia na máquina
térmica. A entrada de calor causa mudanças de entropia no entorno de menor magnitude do
que a saı́da de calor, de tal forma que a entropia do entorno aumenta: ΔSH + ΔSL > 0.
Observe que podemos associar o sinal das mudanças de entropia nos reservatórios com
a direção da seta. A calda da seta (a entrada de energia) aponta para baixo e ΔSH < 0; a
ponta da seta (saı́da de energia) aponta para cima e ΔSL > 0. O diagrama na Figura 9.11 (b),
portanto, nos permite ver que a transferência de energia através da haste aumenta a entropia
do entorno: a haste consome uma certa quantidade de energia do entorno com baixo custo
de entropia (pequeno dS/dE) e retorna a mesma quantidade de energia para o entorno a um
custo de entropia maior (grande dS/dE). A magnitude dessa mudança de entropia causada
pela saı́da é, portanto, maior do que a magnitude da mudança de entropia causada pela
entrada. Como a entrada causa uma diminuição na entropia e o saı́da causa um aumento na
entropia, o efeito combinado é um aumento na entropia do entorno.
Agora, suponha que a barra de cobre de alguma forma transfira energia do reservatório
de baixa temperatura para o de alta temperatura, conforme ilustrado na Figura 9.12. A seta
curva que representa a transferência de energia agora aponta do reservatório de baixa tem-
peratura para o reservatório de alta temperatura e, como você pode verificar prontamente,
os sinais de mudança de entropia são o oposto dos sinais da Figura 9.11. A haste retira uma
certa quantidade de energia do entorno com grande dS/dE e retorna a mesma quantidade de
energia para o entorno com um dS/dE menor. A mudança de entropia do entorno neste pro-
cesso é, portanto, negativa, o que não é permitido pela lei da entropia. Na verdade, ninguém
jamais observou energia sendo transferida na forma de calor de um objeto frio para um
quente sem outras mudanças no sistema ou no entorno (ou seja, o objeto frio ficando mais
frio espontaneamente e o objeto quente ficando mais quente).
Capı́tulo 9. Degradação de Energia 361
Os diagramas nas Figuras 9.11 e 9.12 são chamados de diagramas de entropia. Um dia-
grama de entropia mostra as conversões e transferências de energia que ocorrem entre uma
máquina térmica e o seu entorno, esquematizado de acordo com um gradiente de entro-
pia, conforme mostrado na Figura 9.10. Setas no diagrama representam as transferências de
energia através do dispositivo durante um ciclo completo. As caudas das setas representam
entradas de energia para o dispositivo e as pontas representam saı́das de energia. Entradas
de calor (caudas) fazem a entropia do entorno diminuir, enquanto as saı́das de calor (pontas
de seta) fazem a entropia do entorno aumentar.
Os diagramas de entropia nos permitem acompanhar as mudanças de entropia que re-
sultam das conversões de energia por um dispositivo. Em particular:
Uma transferência de energia que aponta para a direita em um diagrama de
entropia causa um aumento na entropia do entorno; uma transferência que
aponta para a esquerda causa uma diminuição na entropia do entorno.
Como veremos mais adiante, os diagramas de entropia podem ser utilizados para derivar
informações quantitativas sobre mudanças de entropia no entorno.
Vamos agora voltar ao exemplo de uma roda de pás em um lı́quido viscoso. Desta
vez, porém, imergimos o recipiente contendo o lı́quido viscoso em um grande reservatório
térmico que mantém o lı́quido viscoso a uma temperatura constante TR (Figura 9.13). As
partes móveis e o lı́quido viscoso agora constituem uma máquina térmica. Uma pessoa tra-
balha no dispositivo puxando a corda e, em seguida, o dispositivo transfere energia para o
reservatório. O dispositivo, portanto, converte trabalho em calor.
Figura 9.13: O dispositivo de roda de pás discutido anteriormente é mantido a uma tempe-
ratura constante TR por um grande reservatório térmico de água.
gradiente de entropia. Lembre-se que realizar trabalho não causa nenhuma mudança na en-
tropia. Portanto ΔS = 0 e então ΔS/ΔE = 0. O gradiente de entropia associado com trabalho
é, portanto, zero. Transferências de trabalho, portanto, sempre aparecem na extremidade
esquerda da escala dS/dE (Figura 9.14).
A única mudança de entropia na Figura 9.14 é causada pela produção de calor. Essa
mudança de entropia é positiva (a seta aponta para cima), e assim a entropia do entorno
aumenta.
O inverso do processo da Figura 9.14, ilustrado na Figura 9.15 - conversão de calor in-
teiramente em trabalho por uma máquina térmica - não pode ocorrer. Nesee processo, o
dispositivo iria retirar calor do entorno e trasnferir trabalho para o entorno. A a seta curva
agora aponta para a esquerda, causando uma diminuição na entropia do entorno, o que é
impossı́vel. Esse processo significaria que a roda de pás na Figura 9.13 poderia rebobinar
a corda e puxar a mão para a esquerda, retirando calor do reservatório e trasnferido para a
corda. A lei da entropia impede que isso aconteça.
Figura 9.15: Diagrama de entropia para a conversão de calor inteiramente em trabalho utili-
zando uma máquina térmica.
Resumindo, vemos que a conversão de energia com um baixo gradiente de entropia para
energia com alto gradiente de entropia utilizando uma máquina térmica (a seta aponta para
a direita no diagrama de entropia) aumenta a entropia do entorno e é permitido pela lei
da entropia. Inversamente, convertendo energia com um alto gradiente de entropia para
energia com um baixo gradiente de entropia utilizando uma máquina térmica (a seta aponta
para a esquerda no diagrama de entropia) diminui a entropia do entorno e não é permitido
pela lei da entropia.
Conforme a energia muda para a direita em um diagrama de entropia, a energia se torna
menos útil para, digamos, aquecer substâncias. Você pode fazer menos com uma banheira
de água morna do que com um balde de água fervente que contém a mesma quantidade de
calor que a banheira. Podemos, portanto, associar o gradiente de entropia com “qualidade”
da energia ou quão útil a energia é: Quanto menor dS/dE, menor será o custo de entropia
e mais energia pode ser utilizada para algum processo (Figura 9.16 (a)). A tendência da
Capı́tulo 9. Degradação de Energia 363
entropia do entorno aumentar faz com que menos energia esteja disponı́vel para a realização
de algum processo (Figura 9.16 (b)). No dispositivo da Figura 9.13, por exemplo, trabalho
capaz de realizar algum processo, como levantar ou acelerar objetos, é irreversivelmente
transformado em calor menos útil.
Figura 9.16: Energia com um grande gradiente de entropia é menos útil para a relaziação de
processos em comparação com a energia com um pequeno gradiente de entropia.
Uma conversão de energia menos útil em para uma mais útil corresponde a uma seta
apontando para a esquerda nos diagramas de entropia e produz uma diminuição da entro-
pia do entorno (Figura Figura 9.16 (c)). Tais conversões não podem ocorrer em máuinas
térmicas que tem uma única entrada de energia e uma única saı́da de energia. Por exemplo,
é impossı́vel converter calor inteiramente em trabalho. É por isso que os navios não podem
ser alimentados pela conversão do calor do oceano inteiramente em trabalho que o permita
se mover.
Ponto de verificação 21.5: Para uma máquina térmica que tem uma única en-
trada de energia e uma única saı́da de energia, a conversão dessa energia para
a realização de processos aumenta, diminui ou permanece a mesma quando a
mudança na entropia do entorno é (a) positiva e (b) nula?
todo o calor recebido em trabalho. A única maneira de uma máquina térmica transformar
calor em trabalho é trasnferir parte desse calor para o entorno de tal forma que a diferença
de entropia desses processos sejam positiva ou zero: ΔSenv = ΔSW + ΔSQ ≥ 0.
O processo ilustrado na Figura 9.17 é uma maneira de combinar dois processos que se
compensam. Uma máquina térmica recebe calor de um reservatório de alta temperatura,
converte parte dessa energia em trabalho, e a outra parte transfere na forma de calor para
um reservatório de baixa temperatura. Este processo é permitido desde que o aumento da
entropia associado com a saı́da de calor seja igual ou maior que a diminuição da entropia
associada com a conversão de parte do calor em trabalho. Uma máquina tpermica desse tipo
é chamada de motor de calor.
Figura 9.17: Diagrama de entropia para um processo que converte uma parte do calor rece-
bido em trabalho útil e descarta a outra parte.
Um motor de calor familiar que executa o processo ilustrado na Figura 9.18 é o motor
de um automóvel que discutimos brevemente no inı́cio do capı́tulo. Conforme mostrado na
Figura 9.18, a entrada de calor é fornecida pela combustão de gasolina em alta temperatura
(cerca de 2700 K). Aproximadamente dois terços dessa energia de entrada são descartados
no meio ambiente pelo sistema de exaustão e refrigeração do carro, ambos os quais estão a
aproximadamente 400 K. O um terço restante da energia é transformado em trabalho para
fazer o carro se mover (parte dessa energia se perde devido ao atrito das partes móveis do
carro). Como você pode ver pelos tamanhos relativos das setas Qout e Wout na Figura 9.18,
em um motor de carro tı́pico, mais energia é convertida em calor não utilizável do que em
trabalho útil a fim de satisfazer a lei de entropia e manter o estado final do motor igual ao
seu estado inicial.
Figura 9.20: Diagrama de entropia para um processo que converte uma certa quantidade de
calor Qout em trabalho útil e desperdiça uma quantidade Qout (compare com a Figura 9.17).
Como as entradas e saı́das de calor ocorrem em diferentes temperaturas, elas são separa-
das na escala dS/dE. Entradas e saı́das de trabalho, no entanto, são sempre localizados em
dS/dE = 0, e assim eles se sobrepõem em um diagrama de entropia. O final de uma seta (ou
retângulo) em dS/dE = 0, portanto, não representa Win ou Wout , mas sim a diferença entre
essas duas quantidades, W = Win −Wout , que é o trabalho realizado no sistema. Quando a seta
aponta para cima, trabalho é transferido do sistema para o seu entorno e, portanto, W < 0
(Figura 9.20). Quando a seta aponta para baixo, o trabalho é feito no sistema, indicando uma
transferência de energia para o sistema, W > 0.
Para uma máquina térmica, a lei da entropia exige que a mudança de entropia no en-
torno seja maior ou igual que zero, e assim a área do retângulo que representa a energia
desperdiçada no reservatório com menor temperatura deve ser maior ou igual à área do
retângulo que representa a energia útil para realizar trabalho. A Figura 9.21 (a) mostra um
processo para o qual essas conversões de energia causam mudanças iguais de entropia. Para
tal processo, a mudança de entropia é zero, então o processo é reversı́vel e permitido. A
Figura 9.21 (b) mostra um processo para o qual a magnitude da mudança de entropia na
conversão de calor em trabalho útil é menor do que a mudança de entropia causada pelo
desperdı́cio de calor. Para tal processo, a mudança de entropia é positiva, então o o processo
é irreversı́vel e permitido. A Figura 9.21 (c) mostra um processo para o qual a magnitude
da mudança de entropia causada pela conversão de calor em trabalho útil é maior do que a
magnitude da mudança de entropia causada pelo desperdı́cio de calor. Para tal processo, a
mudança de entropia é negativa, então o processo é proibido pela lei da entropia.
Figura 9.21: Para uma máquina térmica, a mudança de entropia no entorno deve ser maior
ou igual a zero
O diagrama de entropia para um processo irreversı́vel como o da Figura 9.21 (b) pode ser
visualizado como um diagrama de entropia para um desperdı́cio irreversı́vel de energia (ou
seja, quente para frio) sobreposto a um diagrama de entropia para um processo reversı́vel
(Figura ??). Os retângulos de conversão de calor em trabalho na Figura ?? (a) e (b) são iguais,
mas na Figura ?? (b) a altura do retângulo que representa o desperdı́cio de calor foi ajustada
de modo que as áreas dos retângulos de conversão de calor em trabalho e de desperdı́cio de
Capı́tulo 9. Degradação de Energia 367
calor sejam as mesmas. A mudança de entropia na Figura ?? (b) é, portanto, zero, e o processo
representado por este diagrama de entropia é reversı́vel. A Figura ?? (c) mostra o restante
da energia transferida para o reservatório de baixa temperatura. Esse processo aumenta
a entropia do entorno e é irreversı́vel. O trabalho gerado na Figura ?? (b) é recuperável.
Como o processo é reversı́vel, o trabalho pode ser convertido de volta em calor. A energia na
Figura ?? (c), por outro lado, foi desperdiçada e é irrecuperável. Não pode ser transferida de
volta para o reservatório de alta temperatura sem algum outro desperdı́cio. Por enquanto,
os únicos processos que consideramos são aqueles reversı́veis para os quais a mudança de
entropia é zero.
Ponto de verificação 21.8: Por que o retângulo que representa o desperdı́cio de
calor na Figura 9.21 (a) tem uma altura maior do que o retângulo de conversão
de calor em trabalho?
Para exemplificar a discussão que fizemos nos parágrafos anteriores, vamos considerar
a seguinte situação. Um motor de calor converte parte do calor vindo de um reservatório à
temperatura Ti em trabalho e desperdiça o restante na forma de calor em um reservatório à
temperatura Tout < Tin . Tal processo é esquematizado através de um diagrama de entropia
apresentado na Figura 9.22.
Bombas de calor também são usadas para aquecer e resfriar casas. No verão, uma bomba
de calor funciona como um ar-condicionado e esfria uma casa movendo a energia de dentro
da casa para fora (do frio para o quente; Figura 9.24 (a)). No inverno, a mesma bomba de
calor aquece movendo a energia de fora da da casa para dentro (novamente do frio para o
quente, Figura 9.24 (b)).
Figura 9.24: Uma bomba de calor pode servir como um ar-condicionado no verão removendo
a energia de dentro de casa e como um aquecedor no inverno, transferindo calor de fora para
dentro de casa.
reservatório térmico. Em uma usina de energia, a substância de trabalho é a água, que move
as pás das turbinas a vapor. A caldeira a vapor e o ar externo funcionam como reservatórios
térmicos que transferem calor da água e para a água.
Nesta seção, examinamos os processos termodinâmicos que a substância de trabalho so-
fre durante a operação de um motor de calor ou bomba de calor. Como vimos, o motor ou a
bomba é uma máquina térmica: ela deve retornar periodicamente para um certo estado ini-
cial. A substância de trabalho deve, portanto, passar por um processo cı́clico - uma sequência
de etapas em que a substância de trabalho começa e termina no mesmo estado de equilı́brio
térmico. Nessas circunstâncias, a energia e a entropia da substância de trabalho retornam ao
seus valores iniciais em um ciclo.
A Figura 9.25 (a) ilustra um processo cı́clico que envolve uma expansão do estado 1 para
o estado 2 e, em seguida, uma compressão de volta para o estado 1 através de outro caminho.
Vimos no capı́tulo anterior que durante uma expansão o trabalho feito no sistema é negativo
e durante uma compressão o trabalho feito no sistema é positivo. Se a expansão ocorre com
menor pressão do que a compressão (como ocorre na Figura 9.25 (a)), o trabalho feito no
sistema durante a expansão é menor em magnitude do que o trabalho realizado durante a
compressão. Portanto, o trabalho feito no sistema durante um ciclo completo de 1 a 2 e de
volta a 1 é positivo.
Como os motores de calor realizam um trabalho positivo no entorno, seus ciclos são no
sentido horário. O contrário ocorre com o entorno. O entorno realiza trabalho positivo nas
bombas de calor e, portanto, seus ciclos são no sentido anti-horário.
Quais processos termodinâmicos ocorrem em uma máquina de calor? Para responder a
esta pergunta, vamos considerar primeiro o calor que vem do reservatório de alta tempe-
ratura. Esse processo ocorre a uma temperatura constante Tin e, portanto, é isotérmico. O
desperdı́cio de calor occorre no reservatório de baixa temperatura Tout < Tin e o processo
também é isotérmico. Não é possı́vel construir um ciclo de duas isotermas, então precisamos
de outros processos para conectar as duas isotermas. Como nenhuma outra troca de calro
ocorre, esses outros processos que estamos procurando deve ser isentrópico. A Figura 9.26
mostra um ciclo termodinâmico que consiste em dois processos isotérmicos (1 → 2 e 3 → 4)
e dois processos isentrópicos (2 → 3 e 4 → 1). Devido à sua importância na termodinâmica,
esse ciclo é chamado de ciclo de Carnot em homenagem ao fı́sico francês Sadi Carnot (1796-
1832), que produziu a primeira descrição com sucesso do funcionamento dos motores de
calor.
Figura 9.26: Diagrama PV para o processo termodinâmico conhecido como ciclo de Carnot.
Para aliviar esses problemas, queremos evitar isotermas e “abrir” o ciclo para que mais
trabalho seja feito no entorno. Se substituirmos as duas isotermas da Figura 9.26 por curvas
isobáricas, obtemos o ciclo mostrado na Figura 9.27 (a). Esse ciclo, chamado de ciclo de
Brayton, realiza muito mais trabalho sobre o entorno do que o ciclo de Carnot e pode ser
realizado mais rapidamente. Turbinas a gás e motores a jato operam em um ciclo que é
muito próximo do ciclo de Brayton.
Como vimos, a eficiência de um motor de calor é mais alta quando ocorre a entrada de
calor na temperatura mais alta possı́vel e a saı́da na temperatura mais baixa possı́vel. Assim,
a parte do ciclo em que a entrada de calor ocorre em T2 e saı́da ocorre em T4 tem a maior
eficiência. Todos as outras partes do ciclo têm menor eficiência, o que contribui para uma
eficiência geral inferior à eficiência que verı́amos se toda a troca de energia tivesse ocorrido
apenas na temperatura mais alta e mais baixa, T2 e T4 , respectivamente. Por contraste, a
entrada de calor em uma temperatura elevada e fixa e a saı́da em uma temperatura baixa e
fixa é exatamente o que acontece em um ciclo de carnot (Figura 9.28 (b)).
Executando o ciclo de Brayton ao contrário (Figura 9.29 (a)), obtemos uma bomba de
calor. O ciclo usado em refrigeradores, ar condicionado e bombas de calor domésticas é um
pouco mais complexo porque a substância de trabalho nesses dispositivos muda de lı́quido
para vapor e vice-versa. No entanto, se assumirmos que a substância de trabalho é um gás,
os processos termodinâmicos básicos são o isentrópico (3 → 2 e 1 → 4) e o isobárico (2 → 1 e
4 → 3) ilustrados na Figura 9.29 (a).
Figura 9.29: Um ciclo de Brayton executado ao contrário é o ciclo de uma bomba de calor.
A Figura 9.29 (b) mostra um fluxograma dociclo de Brayton reverso que ocorre em uma
374 9.4. Ciclos termodinâmicos
375
376 9.5. Restrições da entropia na transferência de energia
Nós vamos agora quantificar o que foi discutido sobre as variações de entropia no processo
de transferência ou conversão de energia em dispositivos cı́clicos (ou estáveis).
Em primeiro lugar, lembramos que nesses dispositivos, após um ciclo, o sistema perma-
nece nas mesmas condições, logo,
ΔE = 0 (9.1)
Q+W = 0 (9.2)
ΔSdisp = 0 (9.4)
Mas, para todos os processos, a entropia total deve aumentar ou permanecer a mesma,
logo
Figura 9.30: Diagrama de entropia para a transferência de energia térmica (a) de um resre-
vatório a temperatura alta para um reservatório a temperatura baixa e (b) de um reservatório
a temperatura baixa para um reservatório a temperatura alta.
Q
ΔS = (9.6)
kB T
A energia térmica transferida para fora do reservatório a alta temperatura é QH = −Qin <
0. A variação de entropia do ambiente é, portanto, negativa:
378 9.5. Restrições da entropia na transferência de energia
Qin
ΔSH = − (9.7)
kB Tin
Da mesma forma, a variação de entropia no reservatório a baixa temperatura é
Qout
ΔSL = (9.8)
kB Tout
A variação total de entropia no ambiente será
Qin Q
ΔSamb = ΔSH + ΔSamb = − + out (9.9)
kB Tin kB Tout
Mas,
e temos,
� �
Qout Qout 1 1
ΔSamb = − + = Qout − (9.11)
kB Tin kB Tout kB Tout kB Tin
É fácil verificar que o resultado da nossa conta equivale ao cálculo das áreas referidas na
discussão dos diagramas de entropia.
Como Tout < Tin , a variação de entropia do ambiente é positiva, de acordo com a segunda
lei da Termodinâmica.
Qout
ΔSamb = (9.13)
kB Tout
que é o resultado esperado.
Capı́tulo 9. Degradação de Energia 379
� �
1 1
ΔSdegradar = Qout − (9.15)
kB Tout kB Tin
Para o cálculo de ΔSelevar temos que lembrar que o trabalho realizado sobre o ambiente é
−W onde W = Qout − Qin . Seguindo o diagrama de entropia, lembrando que o retângulo vai
de 0 até 1/kB Tin , temos
� �
1
ΔSelevar = −(Qint − Qout ) (9.16)
kB Tin
ou ainda,
Qin Q
ΔSamb = − + out (9.18)
kB Tin kB Tout
Esse resultado é o mesmo obtido para a variação da entropia para o dispositivo mais
simples no qual ocorria apenas a transferência de energia térmica do reservatório a alta tem-
peratura para o reservatório a baixa temperatura. Isso era esperado uma vez que a realização
de trabalho mecânico não altera a entropia. Apenas as transferências de energia térmica nos
reservatórios contribuem para a variação de entropia.
Para uma máquina térmica reversı́vel, na qual ΔSamb = 0,temos
Qin Q Q T
− + out = 0 → out = out (9.19)
kB Tin kB Tout Qin Tin
Para um dispositivo reversı́vel que transfere energia térmica de um reservatório a tempe-
ratura Tin a energia degradada depende apenas de Tout e não depende do tipo de substância
envolvida no processo.
Vamos analizar agora a eficiência da máquina térmica. A figura 9.32 mostra o diagrama
de entrada e saı́da de energia. A eficiência foi definida como sendo a razão entre o trabalho
realizado sobre o ambiente (−W ) e a energia térmica de entrada, Qin :
−W Qin − Qout Q
η≡ = = 1 − out (9.20)
Qin Qin Qin
Esse resultado é válido para máquinas térmicas reversı́veis e irreversı́veis.
Como discutimos anteriormente, a maior eficiência é obtida para máquinas térmicas re-
versı́veis. Nesse caso, podemos escrever
Se operarmos a máquina térmica de forma revertida temos uma bomba térmica (ver fi-
gura 9.33). Quando a utilizamos para aquecer definimos o coeficiente de rendimento de
aquecimento como
Qout
CRaquec ≡ (9.22)
W
Como W = Win > 0 e W = Qout − Qin , Qout é sempre maior que W e CRaquec é maior que
um. Fazendo as substituições, temos,
Qout 1
CRaquec = = (9.23)
Qout − Qin 1 − Qin /Qout
Para uma bomba térmica reversı́vel, temos
1 Tout
CRaquec,max = = (9.24)
1 − Tin /Tout Tout − Tin
e o rendimento é maior quanto mais próximo de 1 for a razão Tin /Tout .
Para o caso de resfriamento (ar-condicionado ou refrigerador), temos para o coeficiente
de rendimento de resfriamento
Qin
CRresf ≡ (9.25)
W
que podemos escrever na forma
Qout − W Qout
CRresf = = W − 1 = CDaquec − 1 (9.26)
W /
E, para o caso reversı́vel,
Tout Tin
CRresf ,max = −1 = (9.27)
Tout − Tin Tout − Tin
382 9.7. Ciclo de Carnot
Para um refrigerador o coeficiente de rendimento é, em geral, maior que 1 uma vez que
a temperatura no interior é da ordem de 255 K e a diferença de temperatura entre o exterior
e o interior é da ordem de 40 K.
Consideremos agora o ciclo de Carnot (figura 9.35). Parte da energia mecânica recebida
do reservatório a alta temperatura é utilizada em energia mecânica e o resto é degradada e
liberada ao reservatório de baixa temperatura. A transferência de energia térmica acontece
apenas durante os dois processos isotérmicos nas temperaturas Tin e Tout .
Capı́tulo 9. Degradação de Energia 383
Vamos utilizar o gás ideal como substância que opera no dispostivo cı́clico. A tabela 9.34
mostra os resultados para a entropia e a transferência de energia térmica para os processos
envolvidos no ciclo de Carnot, isotérmicos e isentrópicos.
�� � �
V2 V
W = −N kB Tin ln − N kB Tout ln 4 (9.28)
V1 V3
Observe que as contribuições para o trabalho nos processos isentrópicos cancelam-se e
por isso não os incluı́mos acima.
A variação de entropia total do ciclo deve ser zero. Somando as entropias da Tabela,
temos
� � � �
V2 V
N ln + N ln 4 (9.29)
V1 V3
� � � �
V2 V
→ ln = − ln 4 (9.30)
V1 V3
ou ainda,
V2 V3
= (9.31)
V1 V4
Substituindo na expressão para o trabalho, temos
� �
V
W = −N kB (Tin − Tout ) ln 2 (9.32)
V1
Como V2 > V1 e Tin −Tout > 0, W é negativo. Ou seja, o trabalho realizado sobre o ambiente
é positivo (estamos considerando a orientação horária para o ciclo).
O reservatório a alta temperatura transfere energia térmica durante o primeiro processo
isotérmico (Tin . A grandeza Qin é igual a energia transferida termicamente no primeiro
processo isotérmico, ou seja,
� �
V
Qin = Q1→2 = N kB Tin ln 2 (9.33)
V1
Podemos agora calcular a eficiência,
�V �
−W N kB (Tin − Tout ) ln V1
2
T − Tout
η= = �V � = in (9.34)
Qin N kB Tin ln V 2 Tin
1
O ciclo de Carnot tem a eficiência máxima, para qualquer máquina térmica, indepen-
dente do dispositivo utilizado.
W = −Q = −N CP (T2 − T1 + T4 − T3 ) (9.35)
Capı́tulo 9. Degradação de Energia 385
Figura 9.36: Energia e entropia para a substância que compõe o dispositivo no ciclo de Bray-
ton.
Para calcularmos a eficiência, temos que ter −W e Qin , ambos valores positivos. Como
T2 > T1 , Q é positivo durante o primeiro processo isobárico (1 → 2) a alta pressão, PH . Da
mesma forma, T4 < T3 , Q é negativo durante o segundo processo isobárico (3 → 4) a baixa
pressão, PL . A energia transferida termicamente do ambiente para o sistema é igual a energia
transferida termicamente durante o processo isobárico 1 → 2:
−W T2 − T1 + T4 − T3 T − T4
η≡ = = 1− 3 (9.37)
Qin T2 − T1 T2 − T1
Vamos trabalhar essa expressão usando o fato que a variação da entropia do sistema
(dispositivo) deve ser zero. Temos então
� � � �
N CP T2 N CP T
ln + ln 4 = 0 (9.38)
kb T1 kb T3
� � � � � �
T2 T4 T
ln = − ln = ln 3 (9.39)
T1 T3 T4
ou seja,
T2 T3
= (9.40)
T1 T4
Temos então para a eficiência,
� �
T4 (T3 /T4 ) − 1 T
η = 1− = 1− 4 (9.41)
T1 (T2 /T1 ) − 1 T1
A temperatura T4 é a temperatura mais baixa do ciclo. A temperatura T1 é a tembperatura
do sistema quando a compressão isentrópica se encerra. Durante a compressão isentrópica,
temos
9.9 Problemas
Atividade 9.1 O snowboarder da figura comoeça no topo da colina com neve e desce
a colina, o que produz uma variação de entropia ΔS1 . Uma vez atingindo o final da
colina, ele desliva sobre uma região de grama, a qual rapidamente diminui sua veloci-
dade produzindo uma mudança de entropia ΔS2 . Volta a subir a colina e desliza para
o outro lado, o qual é coberto de gelo em vez de neve, produziondo uma variação de
entropia ΔS3 . Classifique as variações de entropia pelo seu valor absoluto, começando
pela menor.
Capı́tulo 9. Degradação de Energia 387
Figura 9.39
Figura 9.40
Exercı́cio 9.1 Qual dos quatro ciclos termodinâmicos da figura 9.39 tem maior
eficiência?
Exercı́cio 9.2 Ciclos de Carnot A e B operam com a mesma substância e retiram suas
energias térmicas do mesmo reservatório a alta temperatura. Os dois ciclos começa a
operar ocupando diferentes volumes. Durante a expansão isotérmica, o ciclo A dobra
seu colume e o ciclo B triplica seu volume. Se o ciclo A realiza o dobro do trabalho do
ciclo B, qual dos ciclos é o mais eficiente e por quanto?
Exercı́cio 9.3 Uma bomba de calor elétrica opera em um ciclo de Carnot e é utlizada
para resfriar o interior de uma casa para 20 graus C em um dia cuja temperatura ex-
terna é de 38 graus C. (a) Para cada 1,0 J de energia elétrica utilizada, qual é a energia
térmica removida da casa? (b) Qual é o coeficiente de rendimento de resfriamento da
bomba?
Problema 9.1 O calor extraı́do de um refrigerador Qin e o trabalho realizado nele Win
podem ser definidos como
�
Qin = dQ (9.45)
�
Win = dW (9.46)
dW <0
�
onde refere-se a uma integral sobre um ciclo completo, na direção horária. A razão
entre as duas grandezas define o coeficiente de rendimento do refrigerador (CRresf , η =
Qin /Win . Aplique essa definiçõ e calcule o coeficiente em um refrigerador de Carnot
para um gás ideal monoatômico.
Problema 9.2 (a) Considere um ciclo circular no plano P −V dado por x2 +y 2 = 1 onde
x = (P − 2P0 )/P0 e y = (V − 2V0 )/V0 . Se esse ciclo opera como uma máquina térmica,
qual sera sua eficiência? A substância que o compõe é um gás ideal monoatômico. (b)
Encontre a variação de entropia por partı́cula nesse sistema na parte do ciclo onde o
calor está entrando. (c) Se o ciclo opera como um refrigerador, qual será o valor de
CRresf ?
Capı́tulo 9. Degradação de Energia 389
Figura 9.41