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Psicologia Geral e Do Desenvolvimento
Psicologia Geral e Do Desenvolvimento
Geral e do
Desenvolvimento
Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Fernanda de Paula Carvalho
Prof.ª Maria Clara Alves de Barcellos Fernandes
C331p
ISBN 978-85-515-0491-8
CDD 158
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Psicologia Geral e do
Desenvolvimento. A Psicologia é a ciência que se dedica a estudar o comportamento
e os processos mentais humanos (psiquismo). Dessa forma, ao afirmar que se trata
de uma ciência, pressupõe-se entender que a Psicologia é orientada pelas mesmas
leis do método científico, que pautam outras ciências, no sentido de buscar um
conhecimento objetivo, sustentado em fatos empíricos. No entanto, o conhecimento
psicológico precisou percorrer todo um processo para se constituir como ciência.
Bons estudos!
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Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 45
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 92
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................133
UNIDADE 1 —
PSICOLOGIA: AS ORIGENS E
O DESENVOLVIMENTO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 —
A CONSTITUIÇÃO DA PSICOLOGIA
COMO CIÊNCIA PSICOLÓGICA
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos a evolução da Psicologia como ciência. Para tanto,
será feito um resgate histórico do conhecimento psicológico, desde a Filosofia até o que
entendemos como saber próprio da Psicologia.
2 PERSPECTIVAS HISTÓRICAS
Seja qual for a criação humana – um lápis, um dogma, um notebook, uma pintura
ou uma elaboração científica –, vem no rastro de uma composição de diferentes homens,
que, no passado, se questionaram, se intrigaram, fizeram experimentações, produziram
descobertas, criaram técnicas para lidar com essas descobertas e construíram suas
teorias. Logo, na retaguarda de toda a criação material ou espiritual, pressupõe-se uma
história.
Para que possamos entender fenômenos de hoje, precisamos nos deter com
dedicação ao estudo dos acontecimentos que os precederam e entender as razões
pelas quais alguns processos se dão da maneira que são hoje. Dessa forma, entender
algo que faz parte do nosso universo corresponde a trazer de volta a sua história.
3
IMPORTANTE
Passado e futuro sempre estão contidos no presente, seja como
estrutura, seja como referência. Quando o psicólogo atende um
paciente em sofrimento, é preciso entrar em contato com a história
de vida do atendido, recorrer a alguns elementos do passado para
acessar a sua constituição como sujeito e a forma como ele foi
ensinado a responder aos processos de sua vida.
4
humano e compreenderia o pensamento, os sentimentos de amor e ódio, a irracionalidade,
o desejo, a sensação e a percepção. Os filósofos pré-socráticos (assim denominados
por precederam Sócrates, importante filósofo grego) ocupavam-se em estabelecer a
relação do homem com o mundo por meio da percepção. Interrogavam-se entre si se
o mundo existe, porque o homem o percebe ou se o homem percebe um mundo que
já existe. Nesse tempo, existia um embate de concepções entre os idealistas (a ideia
forma o mundo) e os materialistas (a matéria que forma o mundo já é oferecida para a
percepção) (DAVIDOFF, 2001).
FIGURA 1 – FRASE “SÓ SEI QUE NADA SEI” DO FILÓSOFO SÓCRATES, GRAVADA EM UMA PEDRA DE MÁRMORE
5
Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, foi um dos mais renomados
pensadores da História da Filosofia. Sua colaboração possibilitou novas formas de pensar
que alma e corpo não podem ser separados. Para Aristóteles, a psyché se constituiria
como o princípio ativo da vida. Tudo aquilo que cresce, se reproduz e se alimenta tem a
sua psyché ou alma (FIGUEIREDO, 2014).
Próximo ao advento da era cristã, emerge um novo império que iria governar
a Grécia, parte da Europa e do Oriente Médio: o Império Romano. Um dos fundamentais
elementos dessa etapa histórica é o surgimento e crescimento do Cristianismo – uma religião
que, paulatinamente, se constituiu como a política preponderante (FIGUEIREDO, 2014).
Nessa direção, dois notórios filósofos simbolizam esse período: Santo Agostinho
(354-430) e São Tomás de Aquino (1225-1274). Santo Agostinho, seguindo Platão,
também trabalhava com a ideia da separação entre alma e corpo. No entanto, para ele,
a alma não era apenas o lugar da razão, mas a materialização de uma demonstração
divina no homem. A alma era considerada imortal, por ser o elo que liga o homem a
Deus. Considerando a alma também como a morada do pensamento, a Igreja começou
a se ocupar também de sua compreensão (FIGUEIREDO, 2014).
6
Passados pouco mais de 200 anos da morte de São Tomás de Aquino,
emergiu um período de mudanças radicais no mundo europeu, compreendido como
Renascimento ou Renascença. O mercantilismo levou à conquista de novos territórios
(a América, o caminho para as Índias, a rota do Pacífico), movimento que permitiu o
armazenamento de riquezas pelas nações em formação, como França, Itália, Espanha e
Inglaterra (FIGUEIREDO, 2014).
7
ATENÇÃO
Para obter o status de ciência, a Psicologia precisou se desvincular da
Filosofia e começar a seguir as novas metodologias de produção de
conhecimento do século XIX, que corresponderam a:
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2.2 A ESCOLA DO ESTRUTURALISMO
O Estruturalismo está orientado para investigar o mesmo fenômeno que o
Funcionalismo: a consciência. No entanto, distintamente de W. James, Edward Titchener
trabalhou em suas características estruturais, ou seja, os estados elementares da
consciência como estruturas do sistema nervoso central (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2018).
Essa escola foi implementada por Wundt, mas foi seu discípulo, Titchener,
que utilizou a nomenclatura estruturalismo pela primeira vez, com o sentido de distingui-
la do Funcionalismo. O método de observação de Titchener, bem como o de Wundt, é
o introspeccionismo, e os conhecimentos psicológicos fabricados são essencialmente
experimentais, ou seja, constituídos a partir do laboratório (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2018).
2.3 ASSOCIACIONISMO
No Associacionismo, a relevância de Edward L. Thorndike foi ter se configurado
no autor de uma primeira teoria de aprendizagem na Psicologia. Seus estudos se
concentravam mais em uma perspectiva da utilidade desse conhecimento que nas
pretensões filosóficas que atravessam a Psicologia (DAVIDOFF, 2001).
9
Dessa maneira, o organismo irá relacionar essas situações com outras parecidas.
Por exemplo, se, ao pressionarmos um dos botões da televisão, formos “premiados”
com a nossa programação de televisão favorita, em outras situações, pressionaremos o
mesmo botão, assim como generalizaremos essa aprendizagem para outros aparelhos,
como aparelhos de som, gravadores, entre outros.
10
Nesse novo cenário, estavam estipuladas as circunstâncias materiais
necessárias para o progresso da ciência moderna. As propostas dominantes deram base
à essa construção: o conhecimento como efeito da razão e a oportunidade de descobrir
a natureza e suas leis pela observação rigorosa e objetiva. A procura de um método
rigoroso, que oferecesse a observação para a evidenciação dessas leis, direcionava
para a urgência de que os homens edificassem novos modos de produzir conhecimento
– que não era mais fornecido pelos dogmas religiosos e/ou pela autoridade eclesial.
Surgiu a necessidade da ciência (SCHULTZ; SCHULTZ, 2019).
11
Os fisiologistas, daquela época, estudavam a Psicofísica, ou seja, entendiam os
fenômenos psicológicos a partir de uma aliança entre a física, a biologia e a psicologia.
Pesquisavam, por exemplo, a fisiologia do olho e a percepção das cores. As cores eram
explicadas pela Física, e a percepção pela Psicologia (DAVIDOFF, 2001).
NOTA
Uma grande colaboração para o desenvolvimento da Psicologia partiu
de Wilhelm Wundt (1832-1920), que fundou, na Universidade de Leipzig,
Alemanha, o primeiro laboratório para efetuar experimentos na área
de Psicofisiologia. Por esse feito e por sua profícua produção teórica
no campo, ele é denominado como o pai da Psicologia moderna ou
científica (CAMPOS, 2008).
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
13
AUTOATIVIDADE
1 Há cerca de 140 anos, a Psicologia teve seu objeto de estudo definido e seus
fundamentos estabelecidos, tornando-se disciplina independente em relação à
Filosofia. Ao final do século XIX, o método científico foi adotado como recurso para
tentar resolver problemas da Psicologia e, em 1879, foi implantado, na Alemanha, o
primeiro laboratório de Psicologia do mundo. A respeito do autor desse laboratório,
assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Wilhelm Wundt.
b) ( ) Edward Bradford Titchener.
c) ( ) William James.
d) ( ) B. F. Skinner.
2 Para que possamos entender fenômenos da atualidade, precisamos nos deter com
dedicação ao estudo dos acontecimentos que nos precederam e entender as razões
pelas quais alguns processos se dão da maneira que são hoje. Dessa forma, entender
algo que faz parte do nosso universo corresponde a trazer de volta a sua história.
Com base na evolução histórica da Psicologia, analise as afirmativas a seguir:
3 Próximo ao advento da era cristã, emergiu um novo império, que iria governar a Grécia,
parte da Europa e do Oriente Médio: o Império Romano. Um dos principais aspectos
dessa época foi o surgimento e o desenvolvimento do Cristianismo. Nesse contexto,
emergem alguns importantes pensadores que lançariam sementes para a formação
da Psicologia como conhecimento próprio. Considerando as contribuições desses
pensadores da Idade Média e do Renascimento, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
14
( ) Santo Agostinho, inspirado em Platão, também fazia uma separação entre alma
e corpo. Entretanto, para ele, a alma não era apenas o lugar da razão, mas a
confirmação de uma existência divina no homem.
( ) São Tomás de Aquino, inspirado em Aristóteles, afirmava a separação entre essência
e existência. Como Aristóteles, ele acreditava que o homem, em sua essência,
procura a perfeição através de sua existência.
( ) René Descartes (1596-1659), um filósofo muito importante para a constituição da
ciência, propunha o entendimento da inseparabilidade entre mente (alma, espírito)
e corpo, assegurando que o homem possui uma coisa material (res extensa) e uma
coisa pensante (res cogito).
4 A partir da História da Psicologia, foi possível perceber que o seu status de ciência
é conquistado no momento que se “desprende”, pouco a pouco, da Filosofia, que
teve forte contribuição na sua estruturação, convocando novos estudiosos e
pesquisadores, que, sob os novos enquadres de produção de conhecimento, se
autorizam a produzir ciência psicológica. Disserte sobre quais critérios os novos
pesquisadores precisaram assumir para compor pesquisas científicas.
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16
UNIDADE 1 TÓPICO 2 —
PSICOLOGIA DO SÉCULO XX:
PERSPECTIVAS ATUAIS
1 INTRODUÇÃO
A Psicologia como uma vertente da Filosofia investigava a alma. A Psicologia
científica emergiu a partir do momento em que, seguindo com as normas da ciência do
século XIX, Wundt priorizou a Psicologia sem alma, isto é, sem estar mais vinculada à
Filosofia (SCHULTZ; SCHULTZ, 2019).
IMPORTANTE
O saber, entendido como científico, precisava ser aquele construído
em laboratórios, com a utilização de mecanismos de observação e
medição. Se antes a Psicologia estava submetida à Filosofia, no século
XIX, ela começou a coligar-se ao ramo da Medicina, que adotava o
método de investigação das ciências naturais como padrão rígido
de edificação do conhecimento. A Psicologia científica, que consistiu
em três escolas – Associacionismo, Estruturalismo e Funcionalismo
–, sendo substituída no século XX por diferentes teorias. As três
mais relevantes propostas teóricas da Psicologia nesse período são
reconhecidas por diversos pesquisadores como o Behaviorismo ou a
Teoria S-R (do inglês stimuli-respond – estímulo-resposta), a Gestalt e
a Psicanálise (SCHULTZ; SCHULTZ, 2019).
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Neste tópico, abordaremos cada uma dessas importantes escolas teóricas, a
partir da introdução de alguns de seus conceitos básicos.
2 BEHAVIORISMO
A denominação Behaviorismo foi desenvolvida pelo norte-americano John B.
Watson. O termo inglês behavior significa “comportamento” e, por isso, para se referir
a essa vertente teórica, utilizamos Behaviorismo – e também Comportamentalismo, Teoria
Comportamental, Análise Experimental do Comportamento, Análise do Comportamento
(BAUM, 2006).
Nos dias atuais, não se concebe comportamento como uma ação destacada
de um indivíduo, mas, sim, como uma inter-relação entre o que o indivíduo faz e o meio
onde o seu “fazer” acontece. Desse modo, o Behaviorismo se debruça na pesquisa das
inter-relações entre o indivíduo e o seu meio, entre as atividades do indivíduo (suas
respostas) e o seu meio (as estimulações) (BAUM, 2006).
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Na História da Psicologia, localizando os estudiosos do comportamento,
podemos falar sobre a importância de B. F. Skinner (1904-1990) como sucessor de
Watson. O Behaviorismo de Skinner tem uma grande repercussão no trabalho de muitos
psicólogos norte-americanos e de diferentes países, onde a Psicologia norte-americana
tem importante inserção, como o Brasil (BAUM, 2006).
DICA
Para entender o Behaviorismo, sugerimos o filme Laranja Mecânica,
de 1971, uma produção britânico-americana, adaptada, produzida e
dirigida por Stanley Kubrick, que teve como referência o romance de
mesmo título, escrito por Anthony Burgess, em 1962.
19
A terapia rogeriana se afirmou como aposta não diretiva e centrada no
cliente (termo que Rogers elegia como sendo melhor ao termo paciente), pois é de
responsabilidade do cliente a direção e o progresso do tratamento. Na concepção de
Rogers, o terapeuta somente auxilia o processo terapêutico. Já em sua construção de
entendimento na educação, a função do professor é parecida com a do terapeuta e a
do aluno, com a do cliente, ou seja, o papel do professor é intermediar o processo de
ensino-aprendizagem, fornecer o aprendizado que o aluno administrará a sua maneira
(FIGUEIREDO, 2014).
DICA
Para entrar em contato com a obra de Carl Rogers (2009) e
entender a sua teoria, leia o livro Tornar-se Pessoa, a partir do
qual é possível compreender como ele entendia o processo de
tornar-se pessoa, a psicoterapia como uma construção do cliente,
os modos de conceber a ciência e as reflexões sobre o processo
de ensino-aprendizagem. Acesse: https://psicologadrumond.files.
wordpress.com/2013/08/tornar-se-pessoa-carl-rogers.pdf.
20
Rogers acreditava, então, que as pessoas reconhecem o que é interessante para
elas e conseguem achar aquilo de que precisam na natureza e na família. No entanto,
de acordo com o autor humanista, a sociedade e a cultura estruturam instrumentos
que vão ao encontro dessas relações potencialmente saudáveis. Entre os instrumentos
que se entendem como mais perigosos estão a “valorização condicional”, o costume
e a tradição familiar, escolar e de outras instituições sociais, que podem responder às
necessidades do sujeito se ele se garantir merecedor.
Essa ação tem como consequência o que Rogers nomeou como a “consideração
positiva condicional” – em que a manifestação característica é o reconhecimento dos
pais ofertado como recompensa por bom comportamento – e a “autoconsideração
positiva condicional” – produzida pela predisposição que os sujeitos possuem a reter
os atributos culturais e usá-los como medida para o reconhecimento de si mesmos
(FIGUEIREDO, 2014).
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Nessa época, a Psicofísica estava em evidência. O físico Ernst Mach (1838-1916)
e o filósofo e psicólogo Christian von Ehrenfels (1859-1932) elaboravam uma Psicofísica
com pesquisas sobre as sensações (o dado psicológico) de espaço-forma e tempo-
forma (o dado físico) e tiveram seu reconhecimento como os mais diretos precursores
da Psicologia da Gestalt (DAVIDOFF, 2001).
O conflito entre a Gestalt e o Behaviorismo está na concepção que cada uma das
vertentes defende perante o objeto da Psicologia – o comportamento –, porque tanto
um quanto outro entendem a Psicologia como a ciência que investiga o comportamento
(DAVIDOFF, 2001).
22
Na perspectiva dos pesquisadores da Gestalt, o comportamento precisaria ser
investigado nos seus conteúdos mais globais, incluindo as condições que modificam
a percepção do estímulo. Para sustentar essa hipótese, eles se instrumentalizavam
na ideia do isomorfismo, que pressupunha uma unidade no universo, cuja parte está
sempre associada ao todo (DAVIDOFF, 2001).
NOTA
A Gestalt, trabalhando com os fenômenos da percepção, consegue capturar
as condições para o entendimento do comportamento humano. O modo
como percebemos um certo estímulo irá influenciar a manifestação do nosso
comportamento. Em muitos momentos, os nossos comportamentos estão
estritamente ligados aos estímulos físicos, enquanto, em outros, eles são
totalmente diversos do esperado, pois “compreendemos” o meio que nos
cerca de um modo diverso da sua realidade. Um exemplo são as ocasiões
em que acenamos para uma pessoa familiar a distância, mas que, ao
nos aproximarmos, percebemos não a conhecer. Um “equívoco”
de percepção nos conduziu ao comportamento de acenar para o
desconhecido. Nesse caso, quando confundimos a pessoa, estávamos
mesmo acreditando acenar para um conhecido. Esse equívoco mostra
que a nossa percepção do estímulo (a pessoa desconhecida) naquele
contexto, naquelas condições que estão dadas, é intermediada pelo
modo como damos sentido ao conteúdo percebido (DAVIDOFF, 2001).
23
FIGURA 2 – FIGURA IDENTIFICADORA DE FUNDO, SEGUNDO A ESCOLA DE GESTALT
FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/three-times-figureground-perception-face-
vase-1138779650>. Acesso em: 1 mar. 2022.
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3.1 A PSICANÁLISE
O nome Psicanálise é utilizado para designar uma teoria, um método de
investigação e uma prática profissional. Como teoria, ela se afirma por uma coletânea
de saberes organizados sobre o funcionamento da vida psíquica, pois Freud, a partir
de uma vasta obra, documentava suas descobertas e elaborava leis gerais sobre a
estrutura e o funcionamento da psique humana.
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Ganhou uma bolsa de estudo para Paris, onde conheceu Jean Charcot e passou
a trabalhar com ele. Charcot era um psiquiatra francês que cuidava das chamadas
histerias, com o método da hipnose. Em 1886, Freud regressou a Viena e tornou a clinicar,
e sua metodologia de trabalho primordial na extinção dos sintomas dos distúrbios
nervosos foi, naquele primeiro momento, a sugestão hipnótica (DAVIDOFF, 2001).
Tal sumiço não acontecia de modo mágico, mas, sim, pela razão da liberação das
reações emotivas vinculadas a situação traumática – a doença e o desejo inconsciente
da morte do pai doente. Breuer intitulou de método catártico o tratamento que torna
possível a liberação de afetos e emoções conectadas a eventos traumáticos, que não
conseguiram ser manifestos no momento da experiência repugnante ou dolorosa (o
desejo de que o pai doente morresse) (DAVIDOFF, 2001).
DICA
Para entender melhor o percurso do pai da psicanálise Sigmund
Freud e a sua teoria, assista ao filme Freud além da alma, de 1962,
que traz os anos iniciais da montagem da psicanálise de Freud,
a sua teorização inicial sobre o complexo de édipo e os estudos
sobre a histeria. Acesse: https://vimeo.com/142402784.
26
técnica de Breuer, deixando de usar a hipnose como prática, pois nem todos os pacientes
conseguiam se submeter a hipnose. Freud elaborou a técnica de concentração, na qual
a lembrança sucessiva dos fatos era realizada através da conversação normal e, por
fim, após a sugestão de uma jovem paciente, passou a não fazer tantas perguntas e
adotou a técnica da associação livre, em que o paciente se põe a falar de acordo com as
ideias que lhe vêm à mente, com o objetivo de que, nessa associação, adviesse algo do
inconsciente (DAVIDOFF, 2001).
Esse conteúdo esquecido era sempre algo muito difícil para a pessoa – e era
precisamente por ser difícil para a pessoa que era esquecido. Além disso, o difícil não
expressava, obrigatoriamente, sempre algo ruim, mas tinha a possibilidade de estar
atrelado a algo bom, mas que se perdera ou que fora vivamente desejado.
NOTA
O inconsciente representa o agrupamento dos conteúdos não
identificados no momento presente na consciência. É formado por
conteúdos reprimidos, que não possuem entrada aos sistemas
pré-consciente/consciente, pela atividade de censuras internas,
que impedem o seu acesso. Esses conteúdos inconscientes podem
ter sido conscientes, em algum momento, mas foram recalcados,
ou seja, “migraram” para o inconsciente, ou ainda podem ser
verdadeiramente inconscientes. O inconsciente é um sistema do
aparelho psíquico, mantido por leis próprias de funcionamento. Ele
é atemporal, ou seja, não possui as noções de passado e presente
(DAVIDOFF, 2001).
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Com o efeito do recalque que atua para proteger o indivíduo de se haver com uma
lembrança ou pensamento dolorosos, esses conteúdos psíquicos vão para o inconsciente.
Freud concebia, assim, o aparelho psíquico estruturado em três instâncias, conhecidos
como primeira tópica: pré-consciente, consciente e inconsciente. Além disso, ele as
localizava com as suas devidas funções em nosso psiquismo (DAVIDOFF, 2001).
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A teoria de Carl Rogers – que apresentou uma grande coletânea de conceitos próprios –
nasceu como uma terceira via entre os dois campos hegemônicos da psicologia por
volta do século XX.
29
AUTOATIVIDADE
1 A Psicologia, quando vinculada à Filosofia, investigava a alma. A Psicologia científica
emergiu justamente quando, seguindo as normativas para se constituir enquanto
ciência do século XIX, Wundt preconizou a Psicologia sem alma. O saber, lido como
científico, é aquele produzido em laboratórios, com a utilização de ferramentas de
observação e medição. Essa Psicologia Científica, que consistia antes de três escolas
– Associacionismo, Estruturalismo e Funcionalismo –, foi trocada, no século XX, por
novas abordagens. As três correntes teóricas da Psicologia mais relevantes, nesse
século, são encaradas por diversos pesquisadores a partir de uma nomenclatura
específica. A respeito do tema, assinale a alternativa CORRETA:
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Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.
3 Para entender a Psicologia hoje, é preciso passar pela história de sua configuração,
pois isso fornece as bases e os motivos de terem sido utilizados determinados
caminhos ao longo de seu desenvolvimento. A respeito da história da Psicologia
e a história das ideias psicológicas e representações sociais, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:
31
32
UNIDADE 1 TÓPICO 3 —
ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM PSICOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
Anteriormente, vimos a Psicologia como ciência e o seu percurso ao longo dos
anos. Uma ciência que procura entender o homem desde o seu mundo interno, sua
subjetividade, que é a origem das expressões do sujeito, suas atividades, seus sonhos,
seus projetos, suas emoções, sua consciência e seu inconsciente.
É a partir desse lugar que ocupamos que podemos pensar no nosso modo de
pensar e ocupar as diferentes possibilidades de áreas de atuação em Psicologia.
33
2.1 O OBJETIVO DE TRABALHO DO PSICÓLOGO
Quando concebemos o psicólogo como profissional de saúde, entendemos que
cabe a ele aplicar seus conhecimentos em Psicologia para a melhoria da qualidade de
vida no conjunto social em que habita e trabalha, ou seja, que esteja voltado a sua
responsabilidade como cidadão e como profissional.
NOTA
Nesse sentido, é primordial não se esquecer de que o comprometimento
do psicólogo em pensar sobre as condições sociais de vida da população
não comprometerá a sua atuação ao deparar-se com os transtornos
mentais e a importância da cura desses indivíduos. Ao encontrar com
pessoas que manifestem algum tipo de transtorno e sofrimento psíquico,
que precisem de uma interferência clínica curativa, deve-se recorrer a
melhorias por meio de terapias pela palavra ou corporais.
34
A Psicologia possui, como matéria de investigação, o fenômeno psicológico, que
está vinculado a movimentos internos ao indivíduo. A subjetividade, que corresponde
ao seu universo interior, formado no percurso da vida, através das relações sociais e de
suas minúcias, com todas as suas potencialidades e restrições (CAMPOS, 2008).
Como exemplo para ilustrar essa situação, podemos refletir sobre como
constituir um universo psíquico, se não existe matéria-prima própria para isso? As
construções desse psiquismo serão precárias. Em resumo, o psicólogo atua para a
melhoria da saúde, ou seja, para que os indivíduos possam construir um entendimento
cada vez mais amplo de sua vinculação com as relações sociais e de sua formação
histórica e social como ser humano. Quanto mais certo sobre esse processo o sujeito
estiver, melhores serão as capacidades de ele responder às adversidades cotidianas que
o perpassam, estabelecendo o que fazer, planejando ações para mudar a si e a realidade
em que habita, entendendo as relações nas quais está inserido e, assim, estabelecendo
um conhecimento sobre si mesmo e sobre o outro.
35
Evidentemente, o psicólogo deverá lançar mão do conhecimento da Psicologia
para realizar um diagnóstico, intervir e avaliar. A atuação do psicólogo na clínica é muito
reconhecida; visualizamos muitas de suas técnicas, como testes psicológicos, entrevistas
e terapias, pois costuma ser veiculado em novelas, filmes, séries e livros. O senso comum
alude a esse psicólogo como “o terapeuta” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2018).
36
Existe ainda a oportunidade de o psicólogo se candidatar à docência no ensino
superior e à pesquisa, como professor do curso de Psicologia. Esses profissionais estão
mais vinculados à Ciência Psicológica como campo de conhecimentos, construindo e
lecionando esses conhecimentos. Essas áreas são tidas como trabalhos de base na
profissão, posto que, para se formar como psicólogo, as pessoas precisam da produção
do conhecimento e da formação enquanto tal (CAMPOS, 2008).
NOTA
Todas as profissões precisam partir de um conjunto de práticas que
procure abraçar as exigências sociais, orientadas por profissionais
qualificados e padrões técnicos testados, assim como pela presença
de normas éticas que confirmem a apropriada relação de cada
profissional com seus semelhantes e com a sociedade de forma geral.
Para saber mais sobre o Código de Ética Profissional do Psicólogo,
acesse: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-
de-etica-psicologia.pdf.
Ainda assim, para além do guia de práticas fornecido pelo Código de Ética,
existe a construção da ética de cada profissional no exercício de sua atuação, que exige
reflexão, estudos e orientação, como o uso da Psicologia em práticas repressivas de
punição e castigo, que podem ocorrer em escolas, presídios, instituições educacionais
e/ou de reabilitação, hospitais psiquiátricos, entre outros locais.
37
3 O PSICÓLOGO E A EQUIPE MULTIPROFISSIONAL
Tendo expostos os objetivos e as possibilidades de campos de atuação para
o psicólogo, fica evidente, assim, que a Psicologia detém um conhecimento essencial
para o entendimento da realidade e, por isso, ela é usada, por psicólogos ou outros
profissionais, em diferentes espaços de trabalho.
38
NOTA
A interdisciplinaridade é definida pela ajuda mútua, presente entre
diferentes disciplinas ou entre setores distintos de uma mesma ciência.
39
LEITURA
COMPLEMENTAR
REFLEXÕES SOBRE O ESTUDO DA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA
“A reflexão sobre o que é a Psicologia, de onde vem, para que e a quem serve, é
algo tão imprescindível para o psicólogo como o conteúdo de suas teorias e o domínio
de suas técnicas” (ANTUNES, 1989, p. 32-33).
40
O homem, sendo personagem principal desse processo de desenvolvimento
do pensamento, cria ideias, entre elas as ideias psicológicas. Ele cria as ciências
como forma de compreensão do mundo; entre essas ciências cria a psicologia, tendo
como objetivo o entendimento do que hoje chamamos subjetividade, bem como a
interpretação desta na sua relação com o mundo e com outros homens. Isso significa
que a psicologia pode ser considerada uma ciência social, e seu objeto o homem. Ao
falarmos do desenvolvimento da psicologia, estamos, ao mesmo tempo, nos referindo
ao desenvolvimento, ao processo, à elaboração e à criação do pensamento humano.
Ou seja, assumimos e entendemos que o homem está em constante movimento. Como
analisa Lane (1985), ele “fala, pensa, aprende e ensina, transforma a natureza, o homem
é cultura, é história” (p. 12).
O segundo ponto a considerar é que a psicologia, por muito tempo, foi tema da
filosofia. Muitos estudiosos consideram que ela se emancipou da filosofia em meados do
século XIX. Sendo assim, nos parece que não podemos resgatar a história da psicologia
sem entendermos a filosofia como primeira forma de desenvolvimento do pensamento
humano racional, quando das primeiras indagações do homem sobre o mundo.
Sobre esses três pontos é que desenvolvemos algumas reflexões que têm nos
ajudado a compreender e ensinar a história da psicologia.
FONTE: CAMBAÚVA, L. G.; SILVA, L. C. da; FERREIRA, W. Reflexões sobre o estudo da história da Psicologia.
Estudos de Psicologia, [s. l.], v. 3, n. 2, p. 207-227, 1998. Disponível em: https://www.scielo.br/j/epsic/a/
yHVhwWSrcQ7wpJfbGnBjqQK/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 29 dez. 2021.
41
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O psicólogo tem ganhado reconhecimento, sendo posicionado cada vez mais como
profissional de saúde, que, em parceria com muitas outras profissões, emprega
conhecimentos e técnicas da Psicologia para promover a saúde.
• Na maioria dos postos de trabalho, os psicólogos não estão sozinhos, sendo instados a
trabalhar em conjunto com equipes multidisciplinares, em que cada trabalhador, com
seu conhecimento particular, busca juntar suas reflexões e efetivar um entendimento
mais integral do fenômeno pesquisado e uma atuação mais conjunta com os seus pares.
42
AUTOATIVIDADE
1 A Psicologia é um saber que procura entender o homem desde o seu mundo interno,
sua subjetividade, que é a origem das expressões do sujeito, suas atividades, seus
sonhos, seus projetos, suas emoções, sua consciência e seu inconsciente. Sobre
a Psicologia enquanto exercício profissional, com a aplicabilidade dos saberes
construídos pela ciência psicológica, assinale a alternativa CORRETA:
43
3 A Psicologia, ao longo dos anos, conquistou cada vez mais reconhecimento e
valorização e, na esteira desse reconhecimento, ganhou mais espaço, inserindo-se
em diferentes campos de atuação. Assim, em parceria com muitas outras profissões,
o psicólogo emprega conhecimentos e técnicas da Psicologia para promover a saúde.
Sobre as áreas de atuação do psicólogo, classifique V para as sentenças verdadeiras
e F para as falsas:
4 Quando falamos da prática do psicólogo, precisamos atentar aos usos que fazemos
tanto de nossas técnicas quanto da posição que ganhamos da população como
profissionais de saúde. Disserte sobre a ética profissional do psicólogo.
44
REFERÊNCIAS
BAUM, W. M. Compreender o behaviorismo: comportamento, cultura e evolução. 2.
ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
DAVIDOFF, L. L. Introdução à Psicologia. 3. ed. São Paulo: Makron Books do Brasil, 2001.
ROGERS, C. R. Tornar-se pessoa. 6. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
Disponível em: https://psicologadrumond.files.wordpress.com/2013/08/tornar-se-
pessoa-carl-rogers.pdf. Acesso em: 29 dez. 2021.
SEGRE, M.; FERRAZ, F. C. O conceito de saúde. Ponto de Vista: Revista Saúde Pública,
São Paulo, v. 31, n. 5, p. 538-542, 1997. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsp/a/
ztHNk9hRH3TJhh5fMgDFCFj/?lang=pt. Acesso em: 28 dez. 2021.
45
46
UNIDADE 2 —
A PSICOLOGIA DO
DESENVOLVIMENTO
HUMANO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
47
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
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48
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
UM OLHAR SOBRE O
DESENVOLVIMENTO HUMANO
1 INTRODUÇÃO
Para entendermos como mudamos, aprendemos e nos desenvolvemos, existem
teorias que buscam descrever o desenvolvimento humano, ou seja, o que somos
capazes de fazer, aprender e relacionar em cada etapa do nosso desenvolvimento. Em
especial, sobre a relação com os estudos que envolvem a Nutrição, pode surgir a dúvida:
por que estudar o desenvolvimento humano?
49
No entanto, será que todo mundo desenvolve e aprende da mesma forma? Essa
pergunta traduz o grande desafio encontrado pelas ciências, em especial, a Psicologia
ao longo da história. Se não somos iguais, conforme a Psicologia nos ensina, como
podemos criar teorias gerais que explicam quem somos ou como nos desenvolvemos
em cada fase da nossa vida?
IMPORTANTE
É importante ressaltar que, para apresentação de teorias complexas,
é necessária a escolha de elementos prioritários. Assim, podemos
transmitir um conhecimento inicial, que sirva de base para a busca
de outros estudos e possíveis aprofundamentos, já que as teorias
envolvem muito mais discussões e conceitos do que os que serão
apresentados nesta unidade.
De acordo com Hillesheim e Guareschi (2007, p. 84), “Os primeiros estudos sobre
o desenvolvimento infantil no âmbito da Psicologia datam do final do século XIX, a partir
do movimento funcionalista, cujo foco era a adaptação do indivíduo ao meio”. Dessa
forma, próximo ao século XX, as crianças foram vistas e tratadas apenas como pequenos
adultos, fazendo prevalecer, por muitos anos, um grande desconhecimento sobre elas e
reduzindo as possibilidades de compreensão não somente de elementos característicos
da infância, mas também dos aspectos importantes do desenvolvimento nas outras
etapas da vida (RAPPAPORT; FIORI; DAVIS, 1981). Assim, as crianças não eram objeto
de estudo e pouco se compreendia sobre os elementos constitutivos dos processos de
seu desenvolvimento e das diferenças nas subjetividades delas e, consequentemente,
dos adultos.
50
Com o tempo e o desenvolvimento das ciências, essa compreensão se
modificou. A história da Psicologia e sua consolidação como ciência apresentam novos
temas e perspectivas de investigação. Logo, novos estudos surgiram, por exemplo, a
partir da descrição de comportamentos em cada faixa de idade e a organização de
escalas de desenvolvimento que permitiam medir, comparar e definir comportamentos
e desenvolvimentos considerados “normais” (RAPPAPORT; FIORI; DAVIS, 1981). Assim,
o que se produzia no sentido do conhecimento sobre as crianças, nessa época, seguia
o propósito de construir análises e orientar intervenções baseadas, por exemplo, na ideia
de normalidade ou de necessidade de adaptação, em especial, daqueles que fugiam
dos parâmetros esperados para cada fase da vida.
Dessa maneira, hoje, o caminho que a Psicologia segue nos estudos referentes
às crianças está pautado na diversidade, um elemento inquestionável, assim como no
entendimento da importância das fases e de todo o processo de desenvolvimento humano.
51
Como visto, o interesse pelos estudos da infância foi inexistente por muitos
anos, o que fez com que houvesse um total desconhecimento sobre a criança e
todos os processos que envolvem o seu desenvolvimento. Quando essa compreensão
começou a se modificar, os estudos passaram a apresentar elementos essenciais para
a compreensão tanto da infância como das demais fases do desenvolvimento humano.
Esse é o caso dos autores que conheceremos nesta unidade: Urie Bronfenbrenner
(1917-2005), Henri Wallon (1879-1962), Freud (1856-1939) e Erik Erikson (1902-1994),
Jean Piaget (1896-1980) e Lev Vygotsky (1896-1934).
52
4 DIMENSÕES E PROCESSOS SUBJACENTES AO
DESENVOLVIMENTO HUMANO
Os sujeitos sempre devem ser entendidos em sua integralidade e os elementos
do desenvolvimento humano compreendidos de maneira global. Entretanto, para
fins de estudo e análise, é importante nomear e diferenciar aspectos ou dimensões
do desenvolvimento humano. Bock, Furtado e Teixeira (2004) apresentam uma
sistematização interessante, exemplificando o que são esses aspectos.
IMPORTANTE
A explicação fragmentada dos aspectos do desenvolvimento
humano é sempre uma maneira didática para o entendimento
das propostas teóricas dos autores. Entretanto, para buscarmos
compreender os sujeitos, devemos sempre ter em mente a sua
integralidade, ou seja, que sempre falamos de um indivíduo
integral, e não em partes; indivíduos complexos, compostos
de relações e articulações desses diferentes elementos que,
pedagogicamente, são apresentados separados.
Aspecto Características
São elementos referentes às questões orgânicas e biológicas do corpo,
como desenvolvimento neurológico, fisiológico, motor. Esses aspectos
Aspecto
podem ser reconhecidos, por exemplo, na capacidade motora da criança,
físico-motor
ao fazer o movimento de pinça com os dedos e já conseguir levar sozinha
o alimento à boca.
Esse aspecto diz respeito à capacidade adquirida pela criança, relacionada
a elementos cognitivos, como raciocínio, pensamento. Por exemplo, a
Aspecto intelectual
capacidade da criança em uma certa idade de já resolver tarefas como
encontrar objetos escondidos dentro de caixas.
São elementos relacionados à vivência da afetividade, como as
Aspecto experiências relacionadas às emoções, aos sentimentos. Exemplos são
afetivo-emocional a vergonha, a alegria, o medo. Nessa dimensão, a questão da sexualidade
tem papel importante.
Diz respeito à relação com o outro. São elementos que dizem da
importância das relações, dos contextos e do outro no processo de
Aspecto social
desenvolvimento humano. Por exemplo, as experiências de socialização
das crianças quando brincam, dos adolescentes ao constituir grupos.
53
A partir da caracterização e dos exemplos apresentados no Quadro 1,
resumidamente, podemos observar como os aspectos não acontecem isoladamente. Isso
significa, por exemplo, que a definição de um aspecto como social não exclui a condição
de que aspectos de afetivos-emocionais e intelectuais também estejam acontecendo.
ATENÇÃO
É importante compreendermos que existem diferentes formas
de conceituar e caracterizar os aspectos do desenvolvimento
humano, e é isso que diferencia as abordagens teóricas. As teorias
têm o mesmo objeto – o desenvolvimento humano. Entretanto,
cada teórico o explica a partir de focos e prioridades definidas
pelos seus estudos.
54
há tempos, pelos adultos e pelas teorias de desenvolvimento. Isso significa dizer que
quem representa as crianças são os adultos, que, com o decorrer dos anos, observam,
registram, pesquisam, classificam e produzem conhecimento sobre elas, permitindo
encontrar, ao longo da história, uma série de discursos sobre o que é infância.
55
Outro destaque importante é a ideia de uma adolescência única. Especialmente
as teorias com perspectiva sócio-histórica ou contextuais demonstram como as
experiências, sejam elas afetivas, cognitivas ou sociais, influenciam diretamente na
vivência da adolescência dos sujeitos. Assim, é possível entender que um adolescente
negro, morador de periferia, com acessos restritos a direitos como saúde, educação e
lazer, não terá a mesma experiência de desenvolvimento que um outro sujeito com a
mesma idade, branco, estudante de escola particular e morador de uma região nobre da
cidade. Além disso, são diferentes as experiências de adolescência daqueles que vivem
em regiões rurais, ribeirinhas e quilombolas em relação a adolescentes moradores de
grandes centros e metrópoles.
Portanto, é importante saber que, de acordo com Senna e Dessen (2012, p. 107):
56
Também se entende que ser o adulto que sou ou envelhecer não são meramente
consequências da vivência das outras fases do ciclo da vida (infância, adolescência). De
acordo com Oliveira (1992, p. 214), “a maturação biológica, essencial para o processo de
desenvolvimento, não representa a totalidade do desenvolvimento: as transformações
mais relevantes para a constituição do desenvolvimento tipicamente humano não estão
na biologia do indivíduo, mas na psicologia do sujeito”.
Há um consenso de que isso não é possível, como demonstra Oliveira (1992, p. 215):
Assim, as experiências são várias, e cada pessoa passa pelos ciclos da vida
a partir das suas realidades sociais, culturais e individuais. O psiquismo humano se
constitui em um processo permanente de produção, portanto, tem, nessa relação, a
constituição dos seus aspectos psicológicos, que não são imutáveis, mas, sim, passíveis
de transformação ao longo da vida, o que dá sentido e significado também à produção
de conhecimento sobre essas etapas de desenvolvimento humano.
57
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
58
AUTOATIVIDADE
1 A compreensão do desenvolvimento humano, a partir da noção ampliada, envolve,
além dos diferentes ciclos da vida (infância, adolescência, adultos e velhice), a
perspectiva de que ela deve se dar a partir de diferentes aspectos que contemplam
a complexidade humana. Sobre os aspectos de desenvolvimento, assinale a
alternativa CORRETA:
59
( ) O objeto de estudo da Psicologia do Desenvolvimento se relaciona ao desenvolvi-
mento de pessoas nos diferentes ciclos da vida.
( ) Psicologia do Desenvolvimento é um disciplina que tem o objetivo pesquisar e
conhecer as características específicas da infância.
( ) Os estudos da Psicologia do Desenvolvimento devem-se voltar também para a
orientação de práticas profissionais em diversos campos e saberes.
60
UNIDADE 2 TÓPICO 2 —
CONHECENDO AS TEORIAS DO
DESENVOLVIMENTO HUMANO
1 INTRODUÇÃO
Ao acompanhar um bebê em seu processo de desenvolvimento, descobrindo seu
corpo, o espaço onde está, as pessoas que estão a sua volta, manipulando a comida,
levando objetos a boca, dando os primeiros passos, pode surgir a dúvida: o que vai
acontecer nos próximos anos? Se ele engatinhar, podemos pensar: será que já está na
hora de ele caminhar sozinho? Se ele já levar os alimentos à boca: será que ele já saberá
usar os talheres? Se, ao contar uma história, se observa medo em suas feições: será que
ele entende que isso é uma fantasia?
61
2 URIE BRONFENBRENNER: A TEORIA BIOECOLÓGICA
DO DESENVOLVIMENTO HUMANO
A Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano (TBDH), proposta por Urie
Bronfenbrenner, surgiu no final da década de 1970, em contraposição às teorias do
desenvolvimento que eram referências naquele tempo, especialmente as perspectivas
associacionistas e os modelos experimentais e positivistas de ciência, que, segundo
seu fundador, fragmentavam o estudo do desenvolvimento humano (BENETTI et al.,
2013). A teoria foi reformulada pelo autor ao longo do tempo, passando por adaptações
até chegar ao que se entende como Modelo Bioecológico de desenvolvimento humano.
62
QUADRO 2 – MODELO PPCT, DE BRONFENBRENNER
63
Segundo Galvão (2007), Wallon considera que os estudos da criança permitem
compreender não somente o desenvolvimento humano, mas também contribuem
para a educação, concepção que fez com que seus estudos trouxessem contribuições
importantes também para o campo Pedagogia, à medida que discute o processo de
desenvolvimento e também os processos de ensino-aprendizagem, destacando a
importância dos vínculos entre crianças e adultos como facilitadores desse processo.
Principal(is)
Estágio Idade Características
aprendizagem(ns)
Logo no início da sua vida, a
criança já estabelece com o
ambiente um tipo de relação
Impulsivo- afetiva. Uma relação basicamente “O que eu sou?” –
0 a 1 ano
emocional motora, ainda com movimentos recorte corporal.
descoordenados, mas que tem a
função de chamar atenção para
aquilo que é a sua necessidade.
Fase em que a criança começa a
Sensório-motor se voltar para o mundo externo “Eu sou diferente dos
1 a 3 anos
através da exploração de objetos objetos”.
Projetivo e do próprio corpo.
A criança começa a estabelecer “Eu sou diferente dos
Personalismo 3 a 6 anos um outro tipo de relação, agora outros” – consciência
com um outro. de si.
Criança já se expressa a partir
“O que é o mundo?” –
de gestos coordenados, precisos
descoberta de
e com elaborações mentais. Há
semelhanças e
Categorial 6 a 11 anos a formação do pensamento, a
diferenças entre
partir de categorias que auxiliam
os objetos, ideias,
na organização do mundo, e uma
representações.
compreensão melhor de si.
64
Pensamento categorial fortalecido
“Quem sou eu? Quais
e consciência de si. Constituição
Puberdade- 11 anos em são os meus valores?
de novos contornos para a
adolescência diante Quem serei no futuro?” –
personalidade. Questões morais e
consciência temporal
existenciais à tona.
Reconhecimento de si, de suas
“Eu sei quem sou e o
Adulto possibilidades, limitações, valores,
que esperam de mim”.
sentimentos.
65
anormalidade e distúrbio, que não era comum àquela época, como também apresentou
teorias sobre o desenvolvimento, tendo a criança, ou a infância, como etapa essencial e
especial na constituição da personalidade dos adultos. Assim, a Psicanálise apresentou
ao mundo a importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento psíquico
saudável dos sujeitos, levantando discussões e conceitos importantes para a Psicologia.
66
QUADRO 5 – FASES DO DESENVOLVIMENTO – PSICANÁLISE
67
IMPORTANTE
Freud apresenta a sexualidade infantil a partir de um sentido
diferente do que é comumente associado à sexualidade adulta,
como a relação com o genital, a prática sexual e o biológico. A
sexualidade infantil está na descoberta do próprio corpo e das
questões ligadas ao desejo e à fantasia que permeiam a relação
com os pais.
68
QUADRO 6 – FASES DE ERIK ERIKSON: AS OITO IDADES DO HOMEM
69
As oito fases apresentadas no Quadro 6 representam quando as transformações
dos sujeitos em diferentes aspectos – cognitivos, sexuais, físicos – desencadeiam
crises. A partir da resolução dessas crises internas, terão origem novos processos e
o desenvolvimento dá continuidade. É importante entender que a dimensão de crise,
apresentada por Erickson, não remete a algo negativo, como normalmente é associada,
mas a um momento decisivo e necessário quando o desenvolvimento muda de direção,
mobiliza recursos e realiza uma nova diferenciação.
70
• integridade do ego versus desesperança: momento de segurança do ego, aceitação.
Final do processo psicossocial e momento de avalição das experiências. A perda da
integração é o medo da morte, a desesperança e o descontentamento de si.
ATENÇÃO
A faixa etária indicada pelas teorias deve ser sempre analisada como
uma referência, e não como regra absoluta.
71
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
72
AUTOATIVIDADE
1 Conhecer como o ser humano se desenvolve tem sido, por muito tempo, objeto de
diferentes ciências e filosofias. A Psicologia, ao longo da sua constituição enquanto
ciência, buscou desenvolver uma série de pesquisas e estudos, a fim de compreender
as diferentes fases da vida, assim como quem somos, como aprendemos e como nos
desenvolvemos. Com base nas definições de desenvolvimento humano, assinale a
alternativa CORRETA:
2 Uma das importantes teorias, elaborada por Urie Bronfenbrenner, no final da década
de 1970, foi a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano, que se tornou
referência por apresentar o Modelo Bioecológico de desenvolvimento humano. Com
base nas características da Teoria Bioecológica, analise as afirmativas a seguir:
73
( ) No primeiro estágio do desenvolvimento, denominado impulsivo-emocional, as
crianças expressam sua afetividade em seus movimentos, que, nesse período,
ainda se apresentam desordenados.
( ) É na puberdade que se adquire a consciência corporal e quando se tem, de forma
mais clara, os limites de autonomia e de dependência.
( ) A diferenciação da criança com o mundo externo e a capacidade de se diferenciar
dos objetos são características do período denominado personalismo.
4 Com o surgimento da Psicanálise, o grande desafio enfrentado por Freud foi apresentar
à sociedade e à ciência uma outra dimensão para as discussões sobre a sexualidade
na infância. Entretanto, o sentido dado por Freud à sexualidade tinha características
bem específicas, que, até hoje, acompanham a Teoria Psicanalítica. Disserte sobre
qual é a perspectiva de sexualidade infantil que Freud apresenta em sua teoria.
74
UNIDADE 2 TÓPICO 3 —
O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO:
JEAN PIAGET E LEV VYGOTSKY
1 INTRODUÇÃO
São diversos os estudos e as teorias que apresentam possibilidades de se
compreender o indivíduo e o seu desenvolvimento. Nesse caminho, há duas teorias
com foco no desenvolvimento cognitivo que serviram, e ainda são, grandes referências
aos estudos atuais: a Teoria de Jean Piaget e a Teoria sociocultural, de Lev Vygotsky.
A partir do método clínico, construiu sua teoria tendo como base a experiência
imediata das crianças. Assim, Piaget acompanhava crianças e pedia, por exemplo, para
que elas descrevessem, a partir da proposição de algumas tarefas: o que elas estavam
fazendo, o porquê e como estava fazendo aquela atividade. Assim, ele estudou a:
75
a inteligência humana deve ser entendida como um sistema
cognitivo, sistema eset ao mesmo tempo aberto e fechado; aberto
no sentido em que se alimenta, através da ação e da percepção do
sujeito, de informações extraídas do meio social e físico, e fechado
no sentido em que o sistema em questão não se confunde com
uma página em branco, sobre a qual as informações recebidas
simplesmente se inscreveriam, mas é sim, dotado de capacidade de
organização (ciclos). O desenvolvimento cognitivo ocorre, então, pelo
constante contato do sistema cognitivo com informações vindas
do meio, e pelo não menos constante processo de reestruturação
que visa, justamente, fazer com que o sistema atinja o equilíbrio e
nele permaneça.
Dessa maneira, não é só atingir certa idade que fará com que a criança alcance
determinado estágio do desenvolvimento, uma vez que os estágios são organizados
a partir do surgimento de novas capacidades dos indivíduos em cada momento do
desenvolvimento. Tais capacidades estão relacionadas a quatro fatores principais:
a maturação biológica, o papel da experiência, a transmissão social e a equilibração
(GOMES; BELLINI, 2009).
76
QUADRO 7 – ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, DE JEAN PIAGET
Período/
Idade Características
Estágio
Corresponde ao período do nascimento até a aquisição da
linguagem. Nesse período, acontecem transformações distintas, que
Sensório-
0 a 2 anos se iniciam com os reflexos, depois a organização de percepções e
motor
hábitos até a inteligência sensomotora. Ainda não há diferenciação
entre o eu e o mundo exterior.
Considerada a primeira infância, apresenta mudanças nas
dimensões afetiva e intelectual, a partir da aquisição da linguagem.
A criança torna-se capaz de iniciar um processo de socialização à
medida que já consegue criar narrativas de suas ações e realizar
Pré- trocas entre os indivíduos. Nesse período, ocorre a interiorização
2 aos 7 anos
operatório da palavra, ou seja, o pensamento tem início, a criança já
consegue operar por signos internos. Por fim, também já é capaz
de interiorizar a ação a partir de experiências mentais. Nessa fase,
ainda se desenvolvem sentimentos como simpatia, respeito e uma
afetividade mais estável.
Nessa fase, ocorrem modificações decisivas no desenvolvimento
mental da criança. Corresponde à idade de início escolar. Novas
Período formas de organização permitem mais estabilidade às capacidades
7 aos
operatório adquiridas nas fases anteriores e apresentam novas construções.
12 anos
concreto Quando ocorrem progressos na socialização, a criança torna-se
capaz de cooperar, por passar compreender o ponto de vista do
outro. Reconhecimento de regras. Início das construções lógicas.
Maior equilíbrio ao pensamento e à afetividade que apresentam
Período novas operações ao pensamento e comportamento social
12 anos aos
operatório no nível da afetividade. O adolescente já é capaz de elaborar
15-16 anos
formal teorias e constituir sistemas. Capacidade de abstração-raciocínio
dissociado do conteúdo.
77
Isso quer dizer que a assimilação corresponde ao processo de integração
de elementos novos às estruturas que já existem. É quando aquilo que se aprende
(externo) é “conectado” aos esquemas (internos) dos sujeitos. Por si só, a assimilação
desse novo não corresponde ao desenvolvimento de novas estruturas, pois esse novo
está associado às estruturas já existentes. Para o desenvolvimento de novas estruturas
(o que é importante para a sequência dos estágios de desenvolvimento), é necessário
outro processo complementar: a acomodação.
“Equilíbrio” é uma palavra para qual Piaget chama a atenção, pois o que ele quer
representar não está relacionado à ideia de estabilidade, imobilidade ou de passividade,
sentidos que são normalmente associados ao conceito de equilíbrio. Para ele, o sentido
de equilíbrio é “[…] como um sistema de compensações progressivas, quando estas
compensações são alcançadas, ou melhor, logo que o equilíbrio é obtido, a estrutura
está constituída em sua reversibilidade” (PIAGET, 1999, p. 128). Daí surge a noção de
equilibração ou processo de equilibração (que significaria essa sequência de níveis de
equilíbrio), no qual, para se alcançar determinado nível, é necessário ter atingido o nível
anterior (GOMES; BELLINI, 2009).
78
compreender a realidade e de atuar sobre ela e tenderá a uma forma
final que será atingida na adolescência e que consistirá no padrão
intelectual que persistirá durante a idade adulta (RAPPAPORT; FIORI;
DAVIS, 1981, p. 62).
Dessa forma, para Piaget, cada período se caracteriza por aquilo que o sujeito
é capaz de fazer naquela idade e, portanto, naquele estágio do seu desenvolvimento.
Todos passamos por todas as fases na mesma sequência, porém a maneira, o início e
o término delas será sempre uma questão singular (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2004).
Quanto ao equilíbrio, é importante concebê-lo como algo constante, dinâmico e que se
dá a partir de cada um dos estágios de desenvolvimento.
79
Para elaboração da sua teoria, Vygotsky trabalhou com conceitos importantes,
podendo-se destacar dois elementos centrais: a zona de desenvolvimento proximal e
a linguagem.
80
3.2 A FALA NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
A observação e os experimentos de Vygotsky fizeram com que ele apresentasse
um elemento essencial na sua teoria: a linguagem. Para Vygotsky, a fala da criança é tão
importante quanto a ação, sendo estas duas atividades parte de uma mesma função
psicológica, relacionada à solução de um problema. De acordo com Rodriguero (2000,
p. 102), na concepção de Vygotsky:
Isso significa que, para a criança resolver uma determinada tarefa, ela precisa
tanto da ação – fazer a atividade – quanto da fala, ou seja, dizer, perguntar, usar as
palavras. A partir dessa compreensão, a fala toma um lugar central na teoria sociocultural.
Assim, “[...] antes de controlar o próprio comportamento, a criança começa a controlar
o ambiente com a fala. São produzidas novas relações com o meio, além de nova
organização do próprio comportamento” (RODRIGUERO, 2000, p. 105).
De acordo com Souza e Andrada (2013, p. 358), “A palavra, que era inicialmente
para a criança uma propriedade externa do objeto, passa a ter um significado simbólico,
que o autor denomina de função simbólica da fala. Essa conquista abre portas para a
criança se apropriar de uma gama maior de experiências circundantes em sua realidade”.
81
desenvolvimento infantil, para Vygotsky, pressupõe interação social, que se dá desde
o nascimento da criança, mediada pela fala do adulto. À medida que a criança se
desenvolve, ela ativamente incorpora essa aprendizagem a suas experiências, e seus
processos psicológicos se tornam mais complexos.
DICA
O Instituto Claro lançou uma série de vídeos sobre Pensadores na
Educação, em que especialistas comentam sobre as obras e as
ideias de teóricos importantes. Assista aos episódios sobre Piaget
e Vygotsky, conforme indicado a seguir:
82
LEITURA
COMPLEMENTAR
DESENVOLVIMENTO INFANTOJUVENIL E OS DESAFIOS DA REALIDADE
CONTEMPORÂNEA
Cleon S. Cerezer
83
A forma que escolho para abordar mais especificamente o desenvolvimento
humano neste texto é apresentando as fases do desenvolvimento, baseando-me em
dois referenciais teóricos: o psicanalítico e o piagetiano. É muito difícil prescindir de
uma visão maturacionista para pensar e organizar didaticamente o desenvolvimento
humano para estudo.
84
A primeira fase do desenvolvimento psicossexual infantil é chamada fase oral-
sensorial e o conflito básico seria de confiança x desconfiança (0-1 ano). A zona erógena
predominante é a boca (alimentação) e as relações com o ambiente cuidador é que
vai balizar se o “mundo” (ambiente cuidador) é confiável ou não para este indivíduo se
desenvolver.
85
Na terceira infância, ocorre o chamado estágio das operações concretas, mais
ou menos dos 7 aos 11 anos: a criança já possui uma organização mental integrada,
os sistemas de ação reúnem-se todos integradamente. Piaget fala em operações de
pensamento ao invés de ações. É capaz de ver a totalidade de diferentes ângulos. A
criança conclui e consolida as conservações do número, da substância e do peso. Apesar
de ainda trabalhar com objetos, agora representados, a flexibilidade de pensamento
permite um sem número de aprendizagens por parte da criança. O conflito básico neste
período é o de atividade x inferioridade (7-11 anos) e corresponde ao chamado Período
de Latência para Freud, conforme já descrito antes.
86
Com relação ao aspecto da sexualidade na adolescência temos de pensar a
partir da puberdade (modificações biológicas) e da mudanças psicossocioculturais que
estão implicadas no processo adolescente. Puberdade é um processo biológico que se
inicia em torno dos 9 anos e estende-se até em torno dos 14 anos. Como fenômeno
orgânico de maciço desenvolvimento hormonal, é o que origina os chamados “caracteres
sexuais secundários”. Percebemos que o adolescente, após isso, já estaria maduro
organicamente para exercer sua genitalidade, porém cabe pensar nesse momento se
estaria “pronto” para viver a plenitude de sua sexualidade. Sabemos que genitalidade e
sexualidade não são sinônimos, ou seja, a primeira significa o ato puro de uma relação
sexual, enquanto a segunda é muito mais abrangente, englobando, além do ato da
relação sexual, todo o envolvimento afetivo necessário para a completude de uma
relação amorosa. Genitalidade está entre as pernas, sexualidade está entre as orelhas.
87
Uma vez ouvi que: “Aos filhos devemos dar raízes e asas”. Embora seja uma
metáfora um pouco incoerente, ela se presta muito para pensarmos a tarefa de cuidar
de uma criança ou adolescente. Raízes seriam de onde vão nutrir-se e sempre terão para
onde voltar. Asas para alçarem voos, inclusive mais altos que os pais. Se dermos muitas
raízes, ficarão dependentes, não irão muito longe. Se dermos muitas asas, poderão
perder-se ou andar sem rumo, sem sentido. No processo do desenvolvimento humano,
para que crianças e adolescentes se desenvolvam saudavelmente, é necessário
proteção e segurança por parte dos ambientes que lhes cuidam. O equilíbrio da proteção
e do cuidado é da ordem que não sufoque e não restrinja o amplo amadurecimento e
permita um viver criativo. O caminho se faz caminhando...
88
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
89
AUTOATIVIDADE
1 Duas importantes Teorias do Desenvolvimento serviram, e ainda são, grandes
referências aos estudos da infância, em especial àqueles que se propõem a conhecer
como as crianças e os adolescentes aprendem: a Teoria cognitiva, de Jean Piaget, e
a Teoria sociocultural, de Lev Vygotsky. Com base nas características dessas teorias,
assinale a alternativa CORRETA:
2 Jean Piaget tem uma teoria muito respeitada sobre o desenvolvimento infantil. Os
estágios de desenvolvimento cognitivos apresentam elementos importantes para
a compreensão das capacidades dos indivíduos, servindo de base para as práticas
profissionais nos mais variados campos de estudos. Tendo como referência os
estágios de desenvolvimento propostos na teoria de Piaget, analise as afirmativas
a seguir:
3 Para construir sua teoria, Vygotsky adotou alguns conceitos importantes, que se
tornaram referência na compreensão sobre o desenvolvimento humano. Um desses
conceitos é a Zona de Desenvolvimento Proximal. Classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
90
( ) O nível de desenvolvimento real é aquilo que o indivíduo é capaz de realizar sem o
auxílio de um outro mais experiente.
( ) O nível de desenvolvimento proximal envolve situações em que os indivíduos
realizam as ações com auxílio de alguém.
( ) Zona de Desenvolvimento Proximal é a distância entre o nível de desenvolvimento
real e o nível de desenvolvimento potencial.
5 Uma importante diferenciação do homem para os demais animais foi, sem dúvida,
a aquisição da linguagem. Na teoria de Vygotsky, a fala se apresenta como elemento
essencial no desenvolvimento cognitivo. Descreva e utilize exemplos da fala no
desenvolvimento das funções psicológicas, segundo Vygotsky.
91
REFERÊNCIAS
BENETTI, I. C. et al. Fundamentos da Teoria Bioecológica de Urie Bronfenbrenner.
Pensando Psicologia, [s. l.], v. 9, n. 16, p. 89-99, 2013. Disponível em: https://revistas.
ucc.edu.co/index.php/pe/article/view/620. Acesso em: 5 jan. 2022.
BRASIL. Lei nº 13.257, de 8 de março de 2016. Dispõe sobre as políticas públicas para a
primeira infância e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e
do Adolescente), o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo
Penal), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452,
de 1º de maio de 1943, a Lei nº 11.770, de 9 de setembro de 2008, e a Lei nº 12.662, de
5 de junho de 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2016/lei/l13257.htm. Acesso em: 1 mar. 2022.
92
LOOS-SANT’ANA, H.; GASPARIM, L. Investigando as interações em sala de aula: Wallon
e as vinculações afetivas entre crianças de cinco anos. Educação em Revista, Belo
Horizonte, v. 29, n. 3, p. 199-230, set. 2013. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/
handle/1884/31025. Acesso em: 5 jan. 2022.
PIAGET, J. Seis estudos de Psicologia. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
1999.
93
SOUZA, V. L. T. de; ANDRADA, P. C. de. Contribuições de Vigotski para a
compreensão do psiquismo. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 30, n. 3,
p. 355-365, jul./set. 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/estpsi/a/
F937bxTgC9GgpBJ8QhCKs6F/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 5 jan. 2022.
94
UNIDADE 3 —
TEMAS EMERGENTES EM
PSICOLOGIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
95
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
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96
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
FAMÍLIA: A BASE PARA O
DESENVOLVIMENTO
1 INTRODUÇÃO
A família é uma temática de suma importância para a Psicologia, pois, a partir
de sua estrutura, podem-se explorar muitas produções tanto dos sujeitos quanto das
sociedades ao longo das épocas. Ao mesmo tempo, não se pode esquecer que a família
é um assunto sobre o qual muitos pesquisadores de diferentes áreas de conhecimento se
debruçam e contribuem para a interlocução e construção do conhecimento psicológico.
97
ATENÇÃO
Ao pensarmos em família, muitas imagens e configurações vêm
a nossa mente. A cultura em que os sujeitos estão inseridos e
os novos modelos de relações humanas, que se estabelecem
de acordo com a conjuntura política, econômica e social de
cada tempo, balizam e permitem o surgimento de diferentes
configurações familiares.
98
Em relação à família monogâmica, a referência de propriedade – produzir, ter e
controlar, por meio de direitos legais, o seu legado para os filhos – é o que caracteriza
esse modelo de estruturação familiar: é preciso a garantia sobre a paternidade dos filhos
e de que o espólio não sairá de dentro da família, isto é, o reino, as terras, as posses, os
escravos, a fábrica, o banco, imóveis etc. (BACAL, 2013).
99
IMPORTANTE
Por ser peça-chave para a sociedade, a família é um grande
veículo de transmissão de princípios ideológicos. O papel social
atrelado à família é passar os preceitos da cultura, as concepções
hegemônicas do momento histórico em que se está inserido,
ou seja, capacitar as novas gerações de acordo com as ideias
vigentes de normas, regras e comportamento. Nessa direção,
pode-se perceber o aspecto tradicional e de conservação social
que a família tem: o seu papel social.
100
século XX e inserido na sua família sob os cuidados intensivos de sua mãe, privado
de escutar conversas de adulto, com temáticas tidas como impróprias (doenças, sexo
etc.), está bem distante da criança de hoje, que precisa ir para a creche, fica sujeita a
uma diversidade de estímulos visuais e auditivos desde que nasce, assiste a vídeos no
celular e escolhe a roupa que vai vestir.
Freud (1914), em seu texto Sobre o narcisismo: uma introdução, afirmava que,
antes mesmo de nascer, a criança já é falada e ocupa um lugar específico no imaginário
dos pais: existe uma preocupação com a cor que o bebê usará, a escolha de seu nome,
a profissão que se deseja que o filho exerça.
101
de afetos, mas também de poder. O medo de perder o amor (e os cuidados) desses
cuidadores, que lhe são tão essenciais, é um forte regulador de seu comportamento.
Assim, a criança pode abraçar uma pessoa que seus pais lhe pediram para abraçar,
ainda que lhe faça mal, apenas para não deixar de ser amada pelos adultos (BUCHER-
MALUSCHKE, 2008).
Outro elemento importante trazido pela família é o modo como ela trata a
questão da sexualidade (no sentido da concepção freudiana de sexualidade).
NOTA
Sigmund Freud compreende a sexualidade um sentido bem mais amplo do
que o comum. Segundo a Psicanálise – que investiga o homem moderno
ocidental e as suas dinâmicas inconscientes –, a sexualidade é constitutiva
da subjetividade humana. A sexualidade vai além do campo da
reprodução e não se define somente pelas atividades prazerosas
atreladas ao aparelho genital.
A sexualidade, para Freud, então, corresponde a um conjunto de
excitações e desejos presentes no sujeito desde a sua infância. Como
exemplo dessa atividade, podemos citar a sucção do bebê, o controle
dos esfíncteres, os exibicionismos, o manejo dos genitais, entre outras.
Por meio dessas atividades, o corpo se transforma em erotizado, desde a
infância, em diversas áreas, tidas como zonas erógenas.
Quando o bebê nasce, ele não consegue se distinguir do que é ele (eu) do que é
o outro (mundo externo). O externo, nesse momento, é representado pela mãe. É como
se o bebê estivesse fusionado com a mãe. Essa distinção progressivamente se constrói
e o tempo (cronológico) que o bebê aguarda para a satisfação de suas necessidades
é fundante para a sua constituição psíquica. A criança sente um incômodo, produzido
pela fome, o qual não é prontamente superado; ela necessita esperar que o seio ou
a mamadeira cheguem, para acabar com o desconforto e, esse movimento está
subordinado à mãe ou ao adulto cuidador. A espera (não muito longa, obviamente), ao
mesmo tempo que é frustrante e traumática, é importante para a base psíquica do bebê,
pois traz o lugar de distinção do eu e produz outras formas de objeto de satisfação para
ele (chuchar a própria boca, chupeta), posto que para além de suprir a fome (FREUD,
1996). Freud (1905) entendeu, assim, que o mecanismo de sucção que o bebê utiliza
para mamar é prazeroso para o bebê.
102
Além dessa dimensão do desejo e da sexualidade, existem outras dimensões que
fazem parte da construção psíquica da subjetividade humana para a Psicanálise. Freud
(1912-1914) em sua obra “Totem e tabu” partiu da mitologia para explicar a constituição
primeira da humanidade: a interdição – lei social que define a necessidade da repressão
do desejo, seja dos impulsos agressivos, seja dos impulsos eróticos para construção
da civilização. Em outras palavras, é preciso que o homem reprima seus impulsos para
poder conviver em sociedade.
A concepção sistêmica tem sido trabalhada pela Biologia, no que tange aos seres
vivos e aos sistemas sociais. O principal entendimento da teoria é que o todo é maior que as
partes, trocando uma proposta linear de causalidade por uma proposta circular, isto é, um
modelo de causa-efeito por um modelo interativo (BUCHER-MALUSCHKE, 2008).
103
Quando falamos da abordagem sistêmica na Psicologia, tratamos de um
conhecimento produzido por diferentes profissionais descontentes com a prática da
terapêutica em família, e não propriamente de um saber acadêmico.
IMPORTANTE
A frequência da repetição de modelos está atrelada ao grau de
diferenciação de cada sujeito componente de uma família. Esse nível
de distinção é influenciado por relações da família biológica, sendo
passado no decorrer das gerações, e está bastante vinculado à
dinâmica emocional da família, bem antes do nascimento do sujeito.
Constituir uma distinção do outro é muito importante para a saúde
mental dos sujeitos, para que seja possível a ele constituir a sua
individuação e seu desenvolvimento psicológico não submetido dos
padrões familiares (BACAL, 2013).
104
As fidelidades inconscientes podem ser vistas na repetição de padrões por
meio das gerações. Esses esquemas familiares podem estar vinculados a uma função
executada por um de seus componentes, a um problema ou a uma reclamação repetitiva,
ou às escolhas pessoais, amorosas e profissionais (BUCHER-MALUSCHKE, 2008).
105
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A família é uma temática de suma importância para a Psicologia, pois, a partir dessa
estrutura, podem-se explorar muitas produções tanto dos sujeitos quanto das
sociedades ao longo das épocas.
106
AUTOATIVIDADE
1 Ao tocar na temática sobre família, aborda-se um tópico de fundamental importância
não só para os estudos da Psicologia, mas também de outras áreas de saber, como
a Sociologia e a Antropologia, que investigam o tema a partir de suas perspectivas.
Sobre a família, assinale a alternativa CORRETA:
107
3 Hoje, temos visto a presença cada vez mais precoce das crianças nas instituições
educacionais. É importante que os pesquisadores considerem esses movimentos
mais como frutos e necessidades de um tempo e analisem os seus efeitos, em vez
de tecerem pareceres de culpabilização das famílias. Classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
108
UNIDADE 3 TÓPICO 2 —
VIOLÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE
1 INTRODUÇÃO
Com base nos diferentes saberes que compuseram a Psicologia tal como ela
se constitui hoje – como campo de conhecimento estruturado e validado –, a Filosofia,
a Sociologia e a Antropologia contribuíram muito para a edificação do conhecimento
sobre o homem.
2 CONCEITOS E CONTEXTUALIZAÇÃO
O filósofo Jean Jacques Rousseau (2011) afirmou que “o ser humano nasce bom,
mas a sociedade o corrompe”, atribuindo as ações do homem a um reflexo do meio em
que ele vive. Já Thomas Hobbes (2019) entendia que “o homem é o lobo do homem”, ou
seja, que o homem é capaz de grandes atrocidades contra a sua própria espécie.
109
ATENÇÃO
É preciso compreender a agressividade como um impulso,
uma energia que está contida em todo o ser humano e que o
impulsiona adiante, para fazer as coisas. A agressividade, então,
constitui a vida psíquica, compondo o binômio amor/ódio, pulsão
de vida/pulsão de morte.
110
A defesa da violência em nosso modo de vida se manifesta, por exemplo, na
guerra, na disputa contra o inimigo religioso ou o inimigo político. A manutenção da
violência acontece quando não se oferecem condições humanas de existência, o
que culmina com a práticas de crimes atrelados a sobrevivência (furtar para comer,
a prostituição precoce de crianças e jovens). A violência também ocorre quando as
circunstâncias de convívio são pouco efetivas para a garantia do crescimento e da
realização pessoal, encaminhando o indivíduo para movimentos de autodestruição,
como o uso de drogas, o alcoolismo e o suicídio (FALBO, 2020).
Desse modo, é preciso levar em conta que a violência não é somente a prática
de delitos e a criminalidade. Essa é uma relação bastante realizada pelos meios de
comunicação de massa (rádio, televisão e internet) e que, culturalmente, reproduzimos.
Entretanto, há outras formas que não associamos como atos de violência e que estão
incorporadas no cotidiano, atos que, por muitas vezes, já nos habituamos, como
a violência doméstica, na escola, no trabalho, do Estado e dos seus aparatos, da
negligência do atendimento à saúde, da repressão à sexualidade etc.
3 SEXUALIDADE
As emoções, por estarem em estreita conexão com a vida afetiva – aos
afetos básicos de amor e ódio –, estão conectadas também à sexualidade. A profusão
de formas de entendimento e manifestação da sexualidade e a incapacidade de
lidarmos e conhecermos todas essas formas nos fazem ficar perdidos e, até mesmo,
criar muitos preconceitos. Ainda que seja a nossa sexualidade, ela emerge como algo
obscuro, envolto por preconceitos, moralismo, incertezas e informações equivocadas.
Essa ambivalência – de ser algo importante e, ao mesmo tempo, algo errado – tem
transformado a sexualidade em um tabu (BOCK et al., 2004).
111
No entanto, não é assim que acontece em nossa sociedade. Por que enfrentamos
tantas restrições e tabus acerca de algo que nos constitui? Entre diferentes áreas do
conhecimento que se debruçaram com o intuito de responder a essa pergunta, veremos
essa vertente através da Psicanálise.
NOTA
Freud (1905) entendia a sexualidade não como algo exclusivamente
atrelado ao coito e à reprodução, mas referente à energia sexual, à
energia que usamos para tudo – para trabalhar, nos relacionarmos
com as outras pessoas, criar conhecimentos, ou seja, a energia
motivadora da criação da civilização humana.
Para Freud (1930), o homem tem impulsos que podem ser destrutivos, logo,
para frear esse movimento de destruição e formar a civilização, foi necessário produzir
restrições e limites para o uso de sua energia sexual, canalizando-a para outros
caminhos, que não o exclusivamente sexual, como o trabalho, as artes, a religião etc.
Esse freio surgiu quando o homem criou leis e normas para barrar o impulso e garantir
a sobrevivência da espécie. O casamento monogâmico, a limitação na escolha dos
parceiros e as limitações sexuais colocadas às crianças são expressões dos modos que
a civilização encontrou para ganhar energia para se sustentar como civilização.
Freud (1930) afirma que, para manter a civilização, o homem substituiu o prazer
pela segurança: renunciou às próprias vontades para atender às necessidades do
coletivo. A essa dinâmica de criar outra rota para a energia sexual para fins não sexuais e
importantes, Freud denominou de sublimação. Por exemplo, durante a leitura, a pessoa
canaliza a energia sexual, sublimando a libido para uma atividade que também é fonte
de prazer.
112
homem, ele será pressionado interna e externamente a se apresentar como forte, viriI,
masculino; já a menina apresentará o tabu da virgindade, o medo da gravidez, os efeitos
da inexperiência sexual, do seu corpo e do ser mulher. Descontentes sexualmente,
nossos cidadãos poderão se dispor, com bastante energia, ao trabalho (FALBO, 2022).
Parece que vivemos um tempo em que a nossa cultura não é mais capaz de
redirecionar a agressividade – presente em todos nós – em produtos mais socialmente
salutares. É como se a energia humana não tivesse vias, modos de se expressar contidos
nas divisórias da lei, das normas. A escalada da violência movimenta a agressividade
como destrutividade: o aniquilamento do outro e de nós mesmos. Dessa forma, se não
banalizamos a violência, é possível encontrá-la em suas mais diversas, minúsculas e
primitivas manifestações em nosso cotidiano (CALHAU, 2010).
Bullying, assim, compreende qualquer ação agressiva, seja ela verbal ou física,
perpetrada entre semelhantes, de forma intencional e com frequência. De acordo
com Calhau (2010), as práticas que configuram o bullying podem ser divididas nos
seguintes tipos:
113
• bullying social: calúnias, exclusão de grupos;
• bullying sexual: carícias, toques sem consentimento;
• ciberbullying: prática de atos agressivos utilizando-se de dispositivos tecnológicos
e do meio digital.
Vítima Agressor
Retraimento Fortalecimento dos comportamentos agressivos/violentos.
Ganhar notoriedade a partir de um tipo de personalidade impulsiva
Baixa autoestima
e agressiva.
Suicídio Restrições ao cumprimento de regras e limites.
Transformar-se
Pouca consideração pelo outro e por seus sentimentos.
em um agressor
FONTE: As autoras
114
A violência contra a mulher pode ser cometida na esfera da vida privada em
práticas individuais, como assédio, violência doméstica, estupro, feminicídio e violência
obstétrica. Entretanto, a violência contra a mulher também pode ser perpetrada como
prática coletiva, como políticas estatais de mutilação genital feminina que, ainda hoje,
ocorrem em alguns lugares do mundo. Além disso, a prática coletiva de violência pode
ser realizada por organizações criminosas, como a rede de tráfico de mulheres para
prostituição coagida (NARVAZ; KOLLER, 2006).
115
ATENÇÃO
A violência contra a mulher tem como mote a produção desigual do
lugar das mulheres e dos homens nas mais diferentes sociedades.
Assim, a desigualdade de gênero é a estrutura em que todos os
modos de violência e destituição contra mulheres se formam, se
apoiam e se conservam.
• violência física: qualquer prática que atinja a dignidade ou a saúde física da mulher;
• violência psicológica: qualquer prática que produza danos à saúde psicológica
e à autonomia, como intimidação, degradação, ridicularização, exclusão, ameaça,
chantagem, controle entre outras da mulher;
116
• violência sexual: qualquer prática que limite a efetuação dos direitos sexuais ou
reprodutivos da mulher, como imposição a presenciar ou participar de relação sexual
sem consentimento, proibição do uso de recursos contraceptivos, incentivo ou
coação ao aborto ou à prostituição etc.;
• violência patrimonial: qualquer prática que represente retenção, roubo, degradação
parcial ou total de objetos, bens, recursos, documentos pessoais, ferramentas de
trabalho etc.;
• violência moral: qualquer prática que represente calúnia, injúria ou difamação.
117
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Bullying compreende qualquer ação agressiva, seja ela verbal ou física, perpetrada
entre semelhantes, de forma intencional e com frequência.
• A violência contra a mulher compreende toda a ação danosa, que tenha como
consequência agravo físico, psicológico, sexual ou patrimonial, com a justificativa
fundamental do gênero, ou seja, é praticada contra mulheres essencialmente pela
circunstância de serem mulheres.
118
AUTOATIVIDADE
1 Muitos são os campos do saber que se detiveram nas pesquisas sobre a violência
e as suas formas de manifestação pelo homem. Podemos destacar a Sociologia, a
Filosofia e a Antropologia como as áreas do conhecimento que contribuem para o
estudo realizado pela Psicologia e pela Psicanálise sobre os fenômenos da violência.
Sobre a perspectiva da Psicanálise quanto aos fenômenos da violência, assinale a
alternativa CORRETA:
119
3 A Psicanálise trouxe, no início do século XX, temáticas bastante polêmicas para
a sua época, ao afirmar, por exemplo, a existência da sexualidade infantil. O risco
que se corre ao julgar essa afirmação é atrelar a sexualidade somente ao sexo e à
reprodução, mas a Psicanálise se propõe a ir além disso. Sobre a sexualidade e o seu
entendimento pela Psicanálise, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para
as falsas:
5 A violência de gênero, não só como agressão física, mas aquela que corresponde ao
desmerecimento e à submissão social da mulher, é uma prática tão antiga quanto a
própria humanidade. Disserte sobre o que é a violência contra a mulher.
120
UNIDADE 3 TÓPICO 3 —
MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA
1 INTRODUÇÃO
Os meios de comunicação de massa têm cumprido função social essencial nas
últimas décadas. Pela extensão de sua possibilidade de alcance e domínio da opinião
pública, muitos denominam esses veículos de “o quarto poder”.
2 A TELEVISÃO E O CINEMA
A comunicação é uma das estruturas da constituição humana. Foi através dela
que, enquanto seres humanos, conseguimos edificar as nossas produções e (sobre)
viver em sociedade (BOCK et al., 2004).
Como parte integrante, nossa função na evolução histórica da espécie foi agregar
e maximizar os modos de comunicação, como a criação dos meios de comunicação.
Do mesmo modo como aconteceu com a ferramenta, os utensílios de trabalho, que
assumiram a função de intercessores entre o ser humano e a natureza, os meios de
comunicação são os intercessores entre a produção simbólica e a sua propagação, visto
que possibilitam que o emissor de uma mensagem consiga alcançar muitos receptores
através do assunto emitido. Esse é o mecanismo da comunicação de massa.
121
e, até mesmo, as estradas de rodagem, ferrovias, hidrovias e rotas aéreas. De acordo
com a necessidade de estabelecer uma maior relação com o outro, principalmente com
os movimentos de globalização, mais ferramentais tecnológicos são produzidos (BOCK
et al., 2004).
IMPORTANTE
Quando falamos do papel dos meios de comunicação de massa, é
importante lembrar que eles são cruciais na formação da opinião pública,
haja visto que a veiculação não é neutra. Os programas de televisão e
rádio, a difusão de notícias e as análises de acontecimentos (políticos,
econômicos, esportivos, do cotidiano, artísticos etc.) são regidos por uma
linha editorial, sendo possível perceber uma vertente mais conservadora
ou progressista conforme a linha editorial de cada veículo.
É claro que existe o aspecto ético, que precisa ser garantido pelos donos
de jornais, emissoras de rádio, canais de televisão e sites informativos na internet,
elaborado a partir de um acordo coletivo. Avalia-se o grau de regulação midiática a partir
das leis, da cultura e do quadro político de cada país – em alguns lugares, não existe a
regulamentação e o que se encontra é o controle da informação pelo poder político ou
pelo poder econômico (BOCK et al., 2004).
Quando falamos sobre o cinema e a sua linguagem, podemos dizer que ela
pode ser utilizada como fonte de pensamento, mas também de propaganda ideológica,
manipulando a opinião pública. Um exemplo foi o período durante e pós-Segunda Guerra
Mundial, em que o cinema foi instrumentalizado pelos norte-americanos com finalidades
publicitárias. Os alemães também utilizaram o mesmo artifício e Goebbels, ministro da
propaganda de Hitler, foi tido como um grande publicitário pelo modo como conquistou
e convenceu, com a sua propaganda, boa parte do povo alemão a se associar aos ideais
nazistas. Após a derrota do nazismo, os norte-americanos passaram a utilizar a indústria
cinematográfica para engrandecer o american way of life (o jeito norte-americano de viver
a vida). Percebemos essa influência do cinema norte-americano na produção de outros
países, mas também nos nossos modos de viver (BOCK et al., 2004).
122
A linguagem cinematográfica é a linguagem da imagem, a qual traz elementos
subjetivos de maneira bem singular. Nas campanhas eleitorais, são disponibilizados
todos os artifícios de mídia e de linguagem cinematográfica para a exibição de projetos
de governo ou de atividade parlamentar, garantindo a essas campanhas uma proximidade
cada vez maior com a da linguagem publicitária (os denominados “marqueteiros”
políticos) e se afastando da disputa ideológica. Quando se consegue manter uma
campanha mais para o campo das posições políticas, é importante se questionar acerca
da influência dos meios de comunicação de massa nessa disputa.
3 RÁDIO
Quando falamos sobre as rádios na contemporaneidade, não podemos dizer que
elas apresentam toda a expressividade de outros tempos. No entanto, as denominadas
rádios livres ou comunitárias ainda representam um importante papel no movimento
de problematização do monopólio de alguns poucos grupos econômicos que estão
no controle das rádios de maior alcance. No Brasil, encontramos apenas nove famílias
gerenciando 85% dos meios de comunicação (BOCK et al., 2004).
4 PROPAGANDA
A publicidade também se localiza no campo dos meios de comunicação. Os
comerciais têm por objetivo não abordar questões produtoras de conflitos em seu
público. Trabalham com a exibição de um universo mais puro e ideal, atrelando o produto
à venda a uma realidade sem defeitos ou conflitos (BOCK et al., 2004).
123
Em paralelo, é preciso que conservem dados de semelhança com a realidade,
para que o público não se sinta afastado do universo proporcionado pela propaganda:
embora a pessoa não tenha aquilo está no alcance de suas mãos, aquela seria a
realidade ao adquirir determinado produto. É nesse instante que a nossa subjetividade é
conquistada e aprisionada. Esse aprisionamento acontece de modo muito imperceptível,
fato que impossibilita oferecer alguma resistência a esse movimento (BOCK et al., 2004).
124
O lugar da publicidade, nesse processo, é nos oferecer/vender recorrentemente
o modo de vida perfeito, a possibilidade de crescimento financeiro, o sonho e a
materialização dele em possibilidade, aspectos que a cultura e as limitações políticas e
econômicas barram ou tornam bem mais difíceis. É esse o mecanismo de produção de
subjetividades operado pelos meios de comunicação (BOCK et al., 2004).
125
expansão do uso e da relevância da tecnologia, e principalmente das redes sociais nos
dias de hoje, é fundamental debater sobre os efeitos desses dispositivos virtuais nas
transformações da subjetividade humana (SIBILIA, 2016).
DICA
O filme-documentário Dilema das Redes, dirigido por Jeff Orlowski,
lançado em 2020, é uma excelente dica para entender melhor
o impacto das redes sociais em nossa subjetividade, pois traz
depoimentos de especialistas na área de tecnologia e construções
de argumentos para mostrar os efeitos sociais do crescimento do
uso das redes em nossa vida.
Com a expansão cada vez mais ampla da tecnologia na vida social da população,
a procura por jogos eletrônicos como modo de distração também cresceu, estando
disponíveis em diferentes plataformas, como celulares, computadores ou consoles. Por
exemplo, uma pessoa, que chega cansada depois de uma exaustiva rotina de trabalho,
inclina-se a buscar por jogos que acalmem e relaxem a sua mente.
Os jogos eletrônicos cada vez mais têm um protagonismo na faixa etária infantil,
superando as antigas brincadeiras como esconde-esconde e pique-pega, que já não
compõem com efusiva atenção o leque de distrações das gerações nascidas no século
XXI. Atualmente, é difícil vermos as crianças se distraírem, por exemplo, sem o uso de
um smartphone ou de jogos eletrônicos (SANTAELLA, 2010).
126
No entanto, entre os pontos positivos dos jogos eletrônicos, grosso modo,
podemos citar a demanda por atenção, foco, trabalho em equipe, raciocínio lógico e
veloz, capacidade de resolução de problemas, aprimorando, assim, a coordenação
motora e fortalecendo a habilidade de o jogador em lidar com as frustrações. Dessa
forma, através desse mecanismo lúdico produzido pelos jogos, o indivíduo consegue
transportar esse aprendizado para a sua realidade material (SANTAELLA, 2010).
Ademais, os jogos, para além do seu caráter de distração, também podem ser
usados para a educação, trabalhados por programadores em aliança com pedagogos,
psicólogos e professores. Com o apoio do professor, podem contribuir bastante para o
ensino-aprendizado (SANTAELLA, 2010).
127
LEITURA
COMPLEMENTAR
CONSIDERAÇÕES SOBRE O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO
Gisele Falbo
Introdução
128
Todavia, ainda que não compartilhe dessa utopia, Freud acredita que, se no
curso do tempo, o ser humano não for capaz de “distrair” seus impulsos agressivos
do ato de destruir sua própria espécie, se continuarmos a odiar uns aos outros por
pequenas disputas e a matar por ganhos mesquinhos, em face ao progresso científico,
será difícil preservar a existência da humanidade em meio ao conflito entre nossa
“natureza” e as exigências da civilização. O escrito de Freud não visa, como os do
poeta, a trazer conforto e refrigério ao leitor, mas a apresentar um caminho de análise
do sujeito e reflexão sobre a sociedade. Assim, se, em O mal-estar, Freud advoga em
favor do estabelecimento de algum modo de unidade, ele não o faz por sentimentalismo
ou idealismo, mas por motivos “econômicos”, pois, frente às tendências destrutivas e
ao modo como se estabelecem os laços entre os homens, ele é forçado a considerar
o esforço de Eros necessário à preservação da humanidade. Contudo, não o faz sem
indicar seu limite, Tanatos, e sem nos advertir sobre a contrapartida que acompanha a
unidade estabelecida pelo amor: o incremento da agressividade inerente à dimensão
dual e a exacerbação da severidade do supereu.
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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Quando falamos sobre o cinema e a sua linguagem, podemos dizer que ele pode
ser utilizado como fonte de pensamento, mas também de propaganda ideológica,
manipulando a opinião pública. A linguagem cinematográfica é a linguagem da
imagem, a qual traz elementos subjetivos de maneira bem singular.
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AUTOATIVIDADE
1 Para ampliar as nossas possibilidades de comunicação e, assim, permitir a
progressão do desenvolvimento humano, o homem criou inúmeros dispositivos
de comunicação. Os meios de comunicação de massa conquistaram um lugar tão
especial na constituição humana que, pela sua capacidade de influência e alcance,
muitos os denominam de o quarto poder. Sobre a publicidade e a propaganda e a sua
interferência na produção da subjetividade, assinale a alternativa CORRETA:
2 A comunicação é uma das bases da constituição humana. Foi através dela que,
enquanto seres humanos, conseguimos fabricar as nossas produções e (sobre)
viver em sociedade. Essa competência nos particulariza diante dos outros animais e
constrói o psiquismo humano. Sobre os meios de comunicação de massa, analise as
afirmativas a seguir:
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Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.
4 Com o avanço tecnológico, percebemos as redes sociais cada vez mais integradas ao
cotidiano das pessoas, transformando-se em um canal de socialização fundamental
na contemporaneidade. Disserte sobre as redes sociais e os efeitos na produção da
subjetividade.
5 Com a expansão cada vez mais ampla da tecnologia na vida social da população,
a procura por jogos eletrônicos como modo de distração, diversão, socialização e
educação cresceu nos últimos tempos. Apesar dos efeitos positivos que os jogos
podem trazer, também podem trazer efeitos nocivos ao indivíduo. Disserte acerca
dos efeitos nocivos dos jogos eletrônicos.
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REFERÊNCIAS
AGÊNCIA BRASIL. OMS inclui vício em videogame em classificação internacional de
doença. Agência Brasil, Brasília, 2018. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.
com.br/saude/noticia/2018-06/oms-inclui-vicio-em-videogame-em-classificacao-
internacional-de-doenca. Acesso em: 28 jan. 2022.
BOCK, A. M. B. et al. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. São
Paulo: Saraiva, 2004.
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FREUD, S. O mal-estar na civilização. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das
obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996 (1930 [1929]). v. XXI.
FREUD, S. Totem e tabu. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1990 (1913). v. 13.
FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: FREUD, S. Edição standard
brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996
(1905). v. VII.
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