O documento discute a relação entre violência, criminalidade e o Estado moderno. Aborda 3 pontos principais: 1) O surgimento do Estado moderno e o monopólio da violência legítima; 2) A redução da violência associada à formação dos Estados nacionais modernos; 3) A segregação socioespacial e a associação equivocada entre pobreza e criminalidade.
O documento discute a relação entre violência, criminalidade e o Estado moderno. Aborda 3 pontos principais: 1) O surgimento do Estado moderno e o monopólio da violência legítima; 2) A redução da violência associada à formação dos Estados nacionais modernos; 3) A segregação socioespacial e a associação equivocada entre pobreza e criminalidade.
O documento discute a relação entre violência, criminalidade e o Estado moderno. Aborda 3 pontos principais: 1) O surgimento do Estado moderno e o monopólio da violência legítima; 2) A redução da violência associada à formação dos Estados nacionais modernos; 3) A segregação socioespacial e a associação equivocada entre pobreza e criminalidade.
Violência e criminalidade Segundo o psicólogo e neurocientista Steven Pinker, não houve um do que os últimos 100 anos. período mais pacífico na história
Como você interpreta a afirmação de Pinker? Com base em seus
conhecimentos sobre o passado, considera que vivemos um período mais pacífico da história ou nos encontramos numa escalada cada vez maior de violência? • Objetivos da unidade: VIOLÊNCIA • compreender o papel do Estado como detentor do monopólio legítimo da força física; • problematizar a relação entre desigualdade social e segregação socioespacial; • desconstruir a noção de senso comum que vincula pobreza e criminalidade; • demonstrar a relação entre corrupção e criminalidade. Surgimento do Estado Moderno • O surgimento do Estado moderno ocorreu em meio ao contexto de transição do feudalismo para o capitalismo, na Europa ocidental, entre os séculos XII (caso de Portugal) e XVIII (casos de Alemanha e Itália). Caracteriza-se pela centralização das atividades administrativas e pela determinação de métodos burocráticos para toda prática social. • Para respondermos a tais questões, devemos primeiro compreender como se estabeleceu, historicamente, a relação entre Estado e violência. Uma importante contribuição acerca de tal relação é a do sociólogo alemão Max Weber. • Ele aponta o surgimento do Estado moderno como instituição que detém não apenas o monopólio do poder jurídico-político, mas também o monopólio do uso da força legítima. Para o autor, o Estado moderno passou a ser responsável pela elaboração de leis e normas, determinando condutas permitidas e proibidas. Ao mesmo tempo, passou a deter o poder de coação física e simbólica dos indivíduos. O Estado seria, portanto, a instituição responsável por impedir ou reprimir as formas ilegais ou ilegítimas de violência. Estado Moderno • O surgimento do Estado moderno • ocorreu em meio ao contexto de transição do feudalismo para o capitalismo, na Europa ocidental, entre os séculos XII (caso de Portugal) e XVIII (casos de Alemanha e Itália). Caracteriza-se pela centralização das atividades • administrativas e pela determinação de métodos burocráticos para toda prática social. Redução da violência com os estados modernos
• MAX WEBER-FORMAÇÃO DO ESTADO MODERNO,
MONOPÓLIO LEGÍTIMO DA VIOLÊNCIA FÍSICA • NOBERT ELIAS- O PROCESSO CIVILIZADOR-associa o surgimento do Estado moderno ao processo de civilizatório, mostrando que ele inseriu um processo de pacificação na medida em que o Estado moderno foi sendo implantado e a lei do dente por dente, olho por olho foi sendo substituída. Monopólio da força física pelo Estado • Isso tudo porque, ao concentrar o monopólio da força, o Estado impedia que as pessoas recorressem à violência como forma de resolução dos conflitos particulares. Considere um caso de furto, por exemplo. Se antes o indivíduo podia tentar resolver esse assunto com o uso de sua própria força física, agora ele depende do Estado para intermediar tal conflito particular, necessitando da atuação policial e judicial. Ou seja, o indivíduo perdeu o direito de “fazer justiça com as próprias mãos”, e essa atribuição passou a ser exclusiva do Estado, por meio de seu sistema judiciário. Por esse motivo, afirma-se que vivemos em um Estado de Direito. • Diante de tal situação, de modo gradativo os indivíduos começaram a refrear seus impulsos e emoções, por meio da aprendizagem do autocontrole e da internalização de comportamentos menos agressivos. Essas transformações Norbert Elias denomina processo civilizador (ver Conceitos sociológicos). Para ele, nem sempre fomos dóceis e gentis. Se pudéssemos ser transportados para o Período Medieval, provavelmente ficaríamos surpresos com a violência em alguns lugares. Afinal, não existiam instituições punitivas que impedissem atrocidades como saques, estupros e assassinatos. Além disso, era comum o uso de medidas como marcar a pele do rosto com ferro quente ou ainda cortar partes do corpo, como uma orelha ou o nariz, para que todos pudessem identificar um criminoso. Elias argumenta que o processo de pacificação da sociedade somente se tornou possível após a centralização política com a formação dos Estados Nacionais Modernos. Com a diminuição dos índices de violência, a aversão a atos hostis entre os indivíduos passou a se disseminar, bem como formas mais pacíficas de convivência social. O ESTADO PRATICA A VIOLÊNCIA?
• Definição de violência: se o Estado Moderno tem o direito de praticar a
violência física quando necessário para a manutenção da ordem, então teoricamente violência seria apenas quando outros a praticam. Ou pelo menos, quando o Estado através de seus aparatos de força não extrapola o seu uso assim como os da justiça, inclusive fazendo com que certos grupos estejam mais submetidos aos seus excessos e mais alijados da justiça isonômica. • • Quais excessos de violência física o Estado exerce? • Quem são os mais afetados? Por que isso ocorre? • Você se sente seguro na sua cidade e bairro? • O que seria essa segregação socioespacial? • A violência urbana se refere a uma multiplicidade de conflitos sociais vinculados ao modo de vida nos centros urbanos e que podem ter motivações distintas. Podem ser citados atos de vandalismo, assaltos, brigas de torcidas, desordens públicas e outras manifestações – ações criminosas individuais ou de grupos. Trata-se, portanto, de um conceito amplo, que aborda uma série de conflitos cotidianos que geram sentimentos compartilhados de medo e insegurança na população. Por isso, pode-se dizer que a violência urbana é uma realidade vivenciada pela maioria dos brasileiros, em particular por aqueles que moram nas médias e grandes cidades. Diante disso, tem-se a percepção de que determinados espaços urbanos são mais suscetíveis à violência, enquanto outros espaços são considerados mais seguros para o trabalho, o lazer, a moradia, etc. Essa classificação dos espaços com base em critérios socialmente estabelecidos é denominada segregação socioespacial Segregação socioespacial • O avanço das desigualdades sociais nas cidades brasileiras incide de maneira direta na organização espacial, produzindo uma apropriação desigual dos espaços urbanos pelas diferentes classes sociais. Esse fenômeno é denominado segregação socioespacial (ver Conceitos sociológicos). Tal processo inicialmente se estruturou nas cidades brasileiras tendo como base a relação entre o centro e a periferia. Assim, até o início da década de 1980, era comum uma organização espacial das cidades que separava geograficamente diferentes grupos sociais: as classes média e alta de um lado e as classes menos favorecidas de outro. Enquanto aquelas ocupavam os bairros centrais, desfrutando de melhor infraestrutura urbana, estas habitavam as regiões periféricas, menos acessíveis e equipadas. FOTO DE FUNDO: PARAISÓPOLIS, UMA FAVELA CRAVADA NO MORUMBI. Falta de infraestrutura nas periferias • Quando paramos para pensar, percebemos que essa segregação surgiu desde o início na década de 30 com a formação dos centros urbanos. O processo de formação de favelas, local onde os escravos libertos foram morar. • Ao contrário do que é disseminado como senso comum, não são apenas as ocupações irregulares que explicam os índices mais altos de violência. Trata-se, na realidade, de uma questão mais complexa, que envolve uma série de variáveis, articuladas em torno de uma estrutura social desigual e injusta. Nessa estrutura, verificam-se a escassez de oportunidades culturais, esportivas e sociais, a ausência de empregos, o baixo grau de escolaridade, a escassez de políticas públicas que diminuam a desigualdade social, a falta de investimentos em infraestrutura urbana, habitação, saúde pública, etc. Embora a violência urbana tenha aspecto multifatorial, centrada na desigualdade social, é comum as ações dos poderes públicos priorizarem políticas de controle e repressão social. Tal compreensão deriva das representações sociais negativas quanto às favelas, centradas na noção de que tais locais são o foco de diversos problemas sociais. Em suma, parece existir na sociedade uma dissociação entre favela e cidade formal. A favela é vista como aglomerado invasor, espaço da violência, do crime e da ilegalidade. Afinal, foi a negligência dos poderes públicos nas áreas com moradores de menos recursos que encorajou o surgimento, nesses lugares, de poderes paralelos ao Estado. VISÃO NEGATIVA DAS PERIFERIAS, ASSOCIANDO POBREZA À VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE. Infraestrutura precária: escolas, esgoto, saúde, oportunidade de emprego. Outro aspecto a ser superado é o entendimento de que as favelas são aglomerados urbanos homogêneos, caracterizados pela pobreza absoluta de seus moradores, que seriam também desprovidos de valores sociais. Embora haja pobreza, isso não significa dizer que se trata de um espaço onde não existam valores como solidariedade, relações de trabalho, etc. Além do mais, não se trata de um espaço alheio ou externo à cidade. Pelo contrário, as favelas fazem parte das dinâmicas urbanas, na medida em que se constata a circulação de pessoas, bens e serviços. Segundo dados do instituto de pesquisa Data Favela, em 2015, a população residente em favelas no Brasil era de aproximadamente 12,3 milhões de pessoas, que movimentam cerca de R$ 68,6 bilhões por ano. Favela do Alemão /RJ POBREZA ESTÁ REALMENTE ASSOCIADA À CRIMINALIDADE? ENTÃO, TODO POBRE É CRIMINOSO? • Ao questionar a correlação entre pobreza e criminalidade, o sociólogo brasileiro Michel Misse argumenta que, se • a pobreza fosse a causa da criminalidade, a maioria das pessoas pobres seria criminosa. E isso não corresponde à realidade. Para o sociólogo, o fato de a população carcerária ser formada majoritariamente por pessoas de baixa renda é uma consequência imediata do estigma e do preconceito existentes nos sistemas policial e judicial. Segundo dados do ano de 2012, do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), dos quase 550 mil encarcerados, 54% eram negros ou pardos e 55% tinham entre 18 e 29 anos, o que indicava um perfil jovem para os prisioneiros. Quanto à escolaridade, 5,6% eram analfabetos, 13% eram alfabetizados e 46% não completaram o Ensino Fundamental. Tal fato denota pouco estudo e baixa oportunidade de desenvolvimento profissional. Somado a isso, os noticiários e os programas policiais • geralmente enfatizam os crimes que ocorrem nas regiões marginalizadas da cidade, agravando assim a sensação de que a criminalidade é um fenômeno associado à pobreza. • Criminalidade e corrupção • Um dos primeiros estudos sobre os crimes cometidos nas classes sociais mais elevadas foi desenvolvido pelo sociólogo estadunidense Edwin Sutherland (1883- 1950), no fim da década de 1930. Sutherland denominou os crimes cometidos por pessoas que tinham status social elevado de white collar crimes ou, em português, crimes do colarinho-branco. Assim, o foco dos estudos de Sutherland eram os crimes cometidos por empresários e políticos, que na maioria das vezes ficavam impunes ou nem mesmo eram indiciados por esses crimes. • Em suas pesquisas, Sutherland constatou que a punição de condutas criminosas cometidas por pessoas com elevado status social, quando ocorria, era realizada na esfera civil ou administrativa. Portanto, não havia o caráter estigmatizante do processo criminal. Práticas frequentes nos grupos empresariais, como fraudes, suborno de agentes públicos, chantagem, lavagem de dinheiro, falências fraudulentas e propagandas enganosas, não eram identificadas como práticas criminosas Crimes de colarinho branco são realmente crimes? O autor afirma que a maior parte dos delitos perpetrados pela “elite do crime” não tem condenação, tendo em vista que as vítimas são coletividades desorganizadas ou até mesmo toda a sociedade. Por esse motivo, Sutherland aponta a dificuldade em se determinar a frequência dos crimes do colarinho-branco, a extensão dos seus danos e suas variantes. Portanto, são considerados crimes praticamente invisíveis à população. Enquanto os crimes das camadas populares ou crimes de rua são visíveis e aparecem nas estatísticas oficiais, os crimes das elites ficam escondidos ao olhar do público. Isso gera a impressão de que a criminalidade seria exclusiva das populações com menor poder aquisitivo, tal como já observamos. Crimes de colarinho branco no BR?
O que são crimes do colarinho branco? No Brasil
isso existe? Você considera que tais crimes devem ser punidos e qual a severidade que deveria ser empregada para os infratores? COLARINHO BRANCO- Tráfico de influência, nepotismo. O que são os crimes de colarinho branco? • Nos chamados crimes do colarinho-branco, enquadram-se os atos que promovem enriquecimento ilícito ou aquisição de benefícios ou vantagens por meio do uso de posições, cargos ou influências oriundas do serviço público. • Trata-se de corromper os fins do serviço público para obter vantagens pessoais ou para terceiros. Os atos de corrupção • em geral relacionam duas facetas: a do corrupto e a do corruptor. O corrupto é representado por um agente público (podendo ser um funcionário público, um político eleito ou um comissionado nomeado por um político). O corruptor é um ente representante de uma instituição privada (em geral, simbolizado por um empresário) que busca privilégios • e benefícios por vias ilegais. nepotismo/ clientelismo? • Uma prática muito comum nessas relações entre entes privados e públicos é a do tráfico de influências. Nele, ocorre uma “troca de favores” entre as partes de modo que ambas saiam beneficiadas. Um exemplo de tráfico de influência é o acesso privilegiado de um empresário a informações que permitam a ele obter vantagens na participação de uma concorrência pública. Ao conhecer as regras de um edital de licitação de forma antecipada, pode se adiantar a seus concorrentes moldando sua proposta de participação de acordo com os requisitos elegíveis. Isso o coloca em melhores condições de aprovação. Outras formas de corrupção são as práticas de nepotismo (nomeação de parentes para ocupação de cargos públicos) e o clientelismo (obtenção do apoio popular usando a compra do voto com dinheiro ou a concessão de benefícios).