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Curso:

Psicopedagogia

Disciplina:

Distúrbios de Aprendizagem: Aspectos


Neurológicos, Diagnóstico e
Atendimento Educacional

Profa. Dra. Juliana Zantut Nutti


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Unidade 1 -

1. Diferenciando conceitos relativos às alterações no processo de aprendizagem

• Segundo MOOJEN (1999), os termos distúrbios, transtornos, dificuldades e


problemas de aprendizagem veem sendo utilizados de forma bastante aleatória
para designar quadros diagnósticos diferentes, não somente na literatura da área
como também na prática clínica e escolar.
• A
FRANÇA (1996) também afirma que a utilização dos conceitos de distúrbios,
problemas e dificuldades de aprendizagem vem se apresentando como um dos
aspectos mais complexos e inconclusivos para os alunos dos cursos de
Psicopedagogia no Brasil. Para ele, há um consenso de que os defensores da
abordagem comportamentalista costumar utilizar mais o conceito de distúrbio de
aprendizagem, enquanto os socioconstrutivistas parecem ser mais adeptos do
conceito de dificuldade de aprendizagem.

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1.1 Distúrbios de aprendizagem

• De acordo com o autor, a distinção feita entre os termos distúrbios e


dificuldades de aprendizagem esteja baseada na concepção de que o termo
“distúrbio” pressupõe a existência de comprometimentos do sistema nervoso
central, em funções corticais específicas, sendo assim mais utilizado pela
perspectiva clínica ou remediativa da Psicopedagogia; já o conceito
“dificuldade” estaria mais relacionado aos problemas de ordem
psicopedagógica e/ou sócio - culturais, pressupondo que o problema não
estaria centrado apenas no sistema nervoso central do aluno, mas em seu
contexto de vida e experiências acadêmicas, sendo assim mais
frequentemente utilizado em uma perspectiva preventiva.
• COLLARES E MOYSÉS (1992) analisaram o conceito de distúrbios de
aprendizagem do ponto de vista etimológico e a partir do conceito proposto
pelo National Joint Comittee for Learning Disabilities (Comitê Nacional de
Dificuldades de Aprendizagem), Estados Unidos da América.

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• Etimologicamente, a palavra distúrbio é composta pelo radical turbare e pelo
prefixo dis, ou seja, dis turbare. O radical turbare significa, literalmente,
alteração violenta na ordem natural e pode ser identificado também nas
palavras turbilhão, perturbar e conturbar, dentre outras. O prefixo dis tem como
significado alteração com sentido anormal e patológico possuindo assim
uma conotação negativa. Esse prefixo é muito utilizado na terminologia médica,
como nas palavras distensão, distrofia, disartria, dislexia, etc. Em síntese
etimológica, a palavra distúrbio pode então ser entendida como uma
anormalidade patológica por alteração violenta na ordem natural de algum
processo.

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• Segundo as mesmas autoras, seguindo ainda perspectiva etimológica, a
expressão distúrbios de aprendizagem teria o significado de anormalidade
patológica por alteração violenta na ordem natural da aprendizagem,
localizada somente no indivíduo que, supostamente, não aprende como
deveria aprender. Portanto, um distúrbio de aprendizagem remeteria
obrigatoriamente a ideia da presença de um problema ou a uma doença que
acomete o aluno em nível individual e orgânico.
• Segundo o National Joint Comittee for Learning Disabilities (Comitê Nacional
de Dificuldades de Aprendizagem) dos Estados Unidos da América:

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“Distúrbios de aprendizagem” é um termo genérico que se refere a um grupo
heterogêneo de alterações manifestas por dificuldades significativas na
aquisição e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades
matemáticas. Estas alterações são intrínsecas ao indivíduo e
presumivelmente devidas à disfunção do sistema nervoso central. Apesar de
um distúrbio de aprendizagem poder ocorrer concomitantemente com outras
condições desfavoráveis (por exemplo, alteração sensorial, retardo mental,
distúrbio social ou emocional) ou influências ambientais (por exemplo,
diferenças culturais, instrução insuficiente/inadequada, fatores psicogênicos),
não é resultado direto dessas condições ou influências (Collares e Moysés,
1992, p. 32).

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• 1.2 Distúrbios de Aprendizagem e Funções Cerebrais Executivas
• Mais recentemente, as dificuldades de aprendizagem tem sido foco de
estudos da perspectiva neuropsicológica e neurobio­lógica, as quais
enfatizam a relação entre as funções cerebrais executivas e o processo de
aprendizagem.
• Segundo CYPEL (2006) as funções executivas são compostas por áreas
cerebrais que têm como papel principal iniciar e desenvolver atividades
mentais para alcançar objetivos específicos. As funções executivas são
consideradas como responsáveis pela utilização de recursos cognitivo-
comportamentais e auxiliam no controle e planejamento do comportamento;
• CYPEL (2006) ainda adverte que a hipótese da existência de disfunções
cerebrais executivas como causa do distúrbio de aprendizagem no aluno,
leva à necessidade de realização de exames dessas funções nas
avaliações específicas (psicológica, neuropsicológica e psicopedagógica)
realizadas junto aos indivíduos em processo de reabilitação.

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2. Transtornos de aprendizagem
• Outra terminologia recorrente na literatura especializada é o conceito de
“transtorno de aprendizagem”.
• Segundo a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da
Classificação Internacional de Doenças – 10 (CID – 10), elaborada pela
Organização Mundial de Saúde:
O termo “transtorno” é usado por toda a classificação, de
forma a evitar problemas ainda maiores inerentes ao uso de
termos tais como “doença” ou “enfermidade”. “Transtorno”
não é um termo exato, porém é usado para indicar a
existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos
clinicamente reconhecível associado, na maioria dos casos, a
sofrimento e interferência com funções pessoais (CID - 10,
1993, p. 5).

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• A Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID - 10
situa os problemas referentes à aprendizagem na classificação de
Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares
(F81) a qual, por sua vez, está inserida na categoria mais ampla de
Transtornos do desenvolvimento psicológico (que está classificada de F80 a
F89).

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• Segundo o CID – 10 todos os transtornos incluídos na categoria
Transtornos do desenvolvimento psicológico (F80 a F89), inclusive os
Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares
(F81), possuem os seguintes aspectos em comum:
- iniciam-se invariavelmente no decorrer da primeira infância (desde a
concepção do bebê até o momento em que a criança ingressa na
educação formal, ou seja, dos 0 aos 6 anos);
- indivíduos com esse transtorno apresentam comprometimento ou atraso
no desenvolvimento de funções fortemente relacionadas à maturação
biológica do Sistema Nervoso Central;
- apresentam um curso estável que não envolve remissões
(desaparecimentos) nem recaídas, características muito comuns a outros
transtornos mentais, como a esquizofrenia.
Ainda segundo o CID – 10, as funções afetadas incluem a linguagem, as
habilidades visuoespaciais e a coordenação motora fina e/ou grossa.

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• O diagnóstico desses tipos de transtornos é realizado a partir de cinco tipos
de dificuldades identificadas, dos quais se destacam:
- a necessidade de diferenciar transtornos de aprendizagem das variações
normais existente no desempenho escolar, especialmente no primeiro e
segundo ano de escolaridade;
- a necessidade de levar em consideração o curso do desenvolvimento, já que
o significado do atraso de um ano em leitura na idade de 7 anos é
significativamente diferente do atraso de um ano em leitura as 14 anos de
idade. Além disso, é comum que um atraso de linguagem nos anos pré -
escolares desapareça, no que diz respeito à linguagem falada, mas seja
seguido por um atraso específico na leitura o qual, por sua vez, pode diminuir
na adolescência, evidenciando que a condição é a mesma ao longo do tempo,
mas o padrão se altera com o aumento da idade;
- o fato de que as habilidades escolares são fruto do processo ensino –
aprendizagem e que não são apenas o resultado da maturação biológica ou de
determinação genética; dessa maneira, as habilidades escolares sempre
dependerão de fatores como as circunstâncias familiares e a qualidade do
ensino, além das características individuais. 11
• Um fator diagnóstico importante para o diagnóstico é que os transtornos
surjam nos primeiros anos de escolaridade. Segundo o o CID – 10 (1992),
o atraso do desempenho em crianças em um estágio posterior de suas
vidas escolares, devido à falta de interesse, a um ensino deficiente, às
perturbações emocionais ou ao aumento e/ou mudança no padrão de
exigência das tarefas acadêmicas, não pode ser considerado como
Transtornos Específicos do Desenvolvimento das Habilidades Escolares.
• O conceito de Transtornos de Aprendizagem proposta pelo do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ou DSM – IV (Moojen,
1992).
• No DSM – V (2013), o termo Transtorno Específico da Aprendizagem é
alocado na categoria Transtornos do Neurodesenvolvimento, subdividido
nos seguintes níveis: com prejuízo na leitura (315.0), com prejuízo na
expressão escrita (315.2) e com prejuízo na matemática (315.1).

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• O Transtorno Específico da Aprendizagem pode ser diagnosticado quando
o desempenho de indivíduos em testes padronizados de leitura,
matemática ou expressão escrita está significativamente abaixo do
esperado para a idade, escolarização e nível de inteligência.
3. Dificuldades ou problemas de aprendizagem
• Ao lado de um pequeno grupo de crianças que pode apresentar
Transtornos de Aprendizagem decorrentes de imaturidade do
desenvolvimento e/ou disfunção psiconeurológica, há ainda um grupo muito
maior de crianças que apresentam baixo rendimento escolar porém em
decorrência de fatores específicos ou em interação simultânea (Moojen,
1999).

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• Esse grupo mais amplo apresentam alterações que podem ser designadas como
dificuldades de aprendizagem.
• Atrasos no desempenho escolar devido a falta de interesse nos estudos,
perturbações emocionais, inadequações metodológicas ou avaliativas, baixa
qualidade de ensino ou mudanças nos padrões de exigência da escola,
consideradas anteriormente como alterações evolutivas normais passam a ser
consideradas alterações patológicas dentro do contexto educacional de hoje
(Moojen, 1992).
• PAIN (1981, citada por Rubinstein, 1996) considera a dificuldade para aprender como
um sintoma, o qual cumpre uma função positiva como qualquer outro sintoma de
doenças físicas ou mentais e é integrativo como o aprender.
• Na função de sintoma, o não – aprender sinaliza que há algo afetando o processo de
aprendizagem do indivíduo e pode ser determinado por:
• a) Fatores orgânicos: envolvem a problemas do funcionamento anatômico ou
fisiológico, como alteração dos órgãos dos sentidos e/ou do Sistema Nervoso
Central;
• b) Fatores específicos: envolvem dificuldades específicas do indivíduo, mas que
não são passíveis de constatação orgânica e que podem se manifestar na
linguagem, organização espacial e temporal;
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• c) Fatores psicógenos: aqui se faz necessária a distinção entre
dificuldades de aprendizagem decorrentes de um sintoma ou inibição da
capacidade de aprender. Quando relacionado ao um sintoma, o não -
aprender pode estar relacionado a problemas emocionais e/ou afetivos de
caráter inconsciente; no caso da inibição da capacidade de aprender,
parece se tratar de retração intelectual do indivíduo, causando uma
diminuição das capacidade cognitivas, as quais acarretam problemas ou
dificuldade para aprender;
• d) Fatores ambientais: estão relacionados às condições objetivas e
ambientais no entorno do indivíduo e que acabam por favorecer ou não a
aprendizagem (má qualidade do ensino, falta de estímulo para a
aprendizagem, falta de acesso à escolarização, dentre outros).
• A origem das dificuldades ou problemas de aprendizagem não se
relacionariam somente ao indivíduo, mas também à sua estrutura familiar.

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• A psicopedagoga argentina Alicia Fernández, na mesma perspectiva de PAIN, considera as
dificuldades de aprendizagem como “fraturas” do processo de aprendizagem, no qual estão em
jogo quatro níveis: o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo.
• Para FERNÁNDEZ (1991), as dificuldades para aprender seriam assim o resultado da anulação
das capacidades bloqueamento das possibilidades de cognitivas de um indivíduo, utilizando o
termo inteligência aprisionada (ou atrapada, no idioma castelhano).

4. Em busca de uma síntese ainda que provisória:


• Em uma tentativa de síntese, apresentaremos a análise de ROMERO (2004, citado em Coll,
Palácios e Marchezi, 2004), dos modelos explicativos que pretendem esclarecer as causas das
dificuldades aprendizagem
• Segundo o autor, em geral, as causas das dificuldades de aprendizagem são atribuídas a:
• 1. Variáveis pessoais: heterogeneidade de estilos cognitivos ou existência de lesões no Sistema
Nervoso Central;
• 2. Variáveis ambientais: ambientes familiares e educacionais inadequados;
• 3. Combinação interativa de ambos os tipos.
• As diversas teorias ou modelos explicativos das dificuldades de aprendizagem situam-se em um
contínuo pessoa - ambiente, dependendo da ênfase na responsabilidade da pessoa ou do
ambiente atribuída como causa da dificuldade.

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MOREIRA, M. A. Mapas Conceituais e Aprendizagem Significativa. Disponível em
http://www.if.ufrgs.br/~moreira/mapasport.pdf Acesso: 27 fev. 2016.
NUTTI, J. Z. Mapas Conceituais. Disponível em http://pt.slideshare.net/thorzinho/mapas-conceituais-15775068
Acesso: 25 fev 2016
NUTTI, J. Z. Teoria da Aprendizagem Signigicativa de Ausubel. Disponível em
http://pt.slideshare.net/thorzinho/aprend-significativa-ausub Acesso: 25 fev. 2016.
PRÃSS, A. R. Teorias da Aprendizagem. Disponível em https://issuu.com/fisicanet/docs/teorias_de_aprendizagem
Acesso: 25 fev. 2016.
PRÃSS, A. R. Teorias da Aprendizagem. Disponível em
http://pt.scribd.com/doc/69659325/Teorias-de-Aprendizagem#scribd Acesso: 26 fev. 2016

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