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EXPANSÃO E

LIMITE DA
POESIA DE
JOÃO CABRAL
ALCIDES VILLAÇA
INTRODUÇÃO

Leitura do capítulo “Expansão e


limite da poesia de João Cabral”,
de Alcides Villaça, presente no
livro Leitura de poesia, de
Alfredo Bosi.

LITERATURA BRASILEIRA: POESIA


TURMA: LL5P48
Douglas Felipe dos Santos F056IA-6
Geovana Nicole de Oliveira Policarpo N40597-0
Jéssica Xavier Marques N53749-3
Josi Roberta Faria Gonzaga D93333-7
Talyssa Monteiro Y Carnero N488EA-0
Thales Henrique Lessa Chagas F01078-3
O capítulo é dividido em cinco partes:

1. Marca de humana oficina


2. Uma arqueologia do sujeito
3. Um salto calculado
4. Objetivação e ética
5. Poética e poesia em dois poemas

Adicionamos à apresentação partes


complementares referentes à obra de João
Cabral.
JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920 - 1999)

■ Recife - PE
■ Diplomata brasileiro
■ Influência surrealista
■ Modernismo
■ Poesia popular
■ Comunicação objetiva
■ Academia Brasileira de Letras - 1969
■ Prêmio Jabuti - 1967 e 1993
■ Prêmio Camões - 1990
ALCIDES VILLAÇA (1946)

■ Atibaia - SP
■ Professor
■ Poeta e crítico literário
■ Letras
■ Universidade de São Paulo
■ O Tempo e Outros Remorsos (1975)
■ Doutorado: A Poesia de Ferreira Gullar (1984)
■ Contribuição:
- Folha de S. Paulo e Cadernos de Literatura Brasileira
1. MARCA DE HUMANA OFICINA
MARCA DE HUMANA OFICINA

■ A diferença entre a visão do leitor para a leitura crítica


■ O leitor emprega a admiração
■ Caráter expansivo da Obra
■ Entrelinhas
■ Leitura crítica busca reconhecer os limites
■ Busca pela compreensão da expansão
■ Fundir a metalinguagem
■ Conjunto de espelhos
2. UMA ARQUEOLOGIA DO SUJEITO
UMA ARQUEOLOGIA DO SUJEITO

■ Junção de natureza psicológica, geracional e cultural


■ Uma Arqueologia do Sujeito
■ Transição do modernismo
■ Esvaziamento do interior e nenhum contato com o humano
■ Paradoxo de ausência
■ Surrealismo seguindo um código apocalíptico
■ Embate com a identidade lírica
■ Fragmentando o mundo
3. UM SALTO CALCULADO
UM SALTO CALCULADO

■ Poesia sentimental está condenada


■ Salto de Cabral
■ Repelir confissões
■ Construir uma matéria poética imune a oscilação e angústia
■ Autônoma e resistente ao desequilíbrio
■ Medida dos versos
■ Unificação das sonoridades
■ Quebra da sintaxe ortodoxa
4. OBJETIVAÇÃO E ÉTICA
OBJETIVAÇÃO E ÉTICA

■ Rigor, clareza verbal e objetividade


■ “Traduzibilidade”
■ Ser Cabral
■ Objetividade real e dramaticidade
■ “A disfarçada rebeldia de uma voz que responde às angústias modernas
com seu próprio mito de totalidade poética”
OBJETIVAÇÃO E ÉTICA

■ Mais que geografia física ou labirintos linguísticos, há História nas histórias


de Cabral.
■ Os adjetivos e advérbios valem como substantivos, assim como podem
nomes próprios qualificar nomes comuns.
■ Seu poema mais famoso - “Morte e Vida Severina” - ofereceu-lhe o retorno
imprevisto de popularidade que a encenação e a musicalização
propiciaram.
■ Morte severa / vida severa
“A MULHER NA JANELA”
Trecho da minissérie Morte e vida severina (1981)
5. POÉTICA E POESIA EM DOIS POEMAS
POÉTICA E POESIA EM DOIS POEMAS
■ Alcides Villaça trabalha dois poemas: O Ferrageiro de Carmona e
Crime na Calle Relator, do livro: Crime na Calle Relator (1987);
■ A explicitação da forma de construir sobre a matéria a apresentar;
■ Poemas em que seres ou fatos da vida avultam para deixar implícito
o projeto de construção.

■ Antonio Carlos Secchin (1952) – premiado poeta e ensaísta e crítico


literário, considerado pelo próprio João Cabral como o maior
conhecedor de sua obra. João Cabral de Ponta a Ponta reúne trinta e
cinco anos de pesquisas sobre o autor.

"Em O ferrageiro de Carmona, mais uma vez, Cabral se vale de


linguagem (aparentemente) alheia à literatura para defini-la e definir-
se."
Secchin, Antonio Carlos. João Cabral de ponta a ponta (pp. 416-417). Cepe editora. Edição do Kindle.
POÉTICA E POESIA EM DOIS POEMAS

■ “A premência da velocidade, o culto ao imediato e o elogio da


explosão verbal intuitiva não habitam a poesia cabralina. Ela
solicita uma leitura que queira percorrer, lentamente, as muitas
angulações de uma inteligência que se desdobra por meio de
meandros sintáticos, numa discursividade oposta à ideia de
texto como flash ou instantâneo. Um bom símile para sua arte
não seria a fotografia, mas o cinema, com seu espraiar-se no
espaço e no tempo.”

Secchin, Antonio Carlos. João Cabral de ponta a ponta (p. 482). Cepe editora. Edição do Kindle.
O FERRAGEIRO
DE CARMONA
Um ferrageiro de Carmona
que me informava de um balcão:
“Aquilo? É de ferro fundido,
Conhece a Giralda em Sevilha?
foi a fôrma que fez, não a mão.
De certo subiu lá em cima.
Reparou nas flores de ferro
Só trabalho em ferro forjado,
dos quatro jarros das esquinas?
que é quando se trabalha ferro;
então, corpo a corpo com ele,
Pois aquilo é ferro forjado.
domo-o, dobro-o, até o onde quero.
Flores criadas numa outra língua.
Nada têm das flores de fôrma
O ferro fundido é sem luta,
moldadas pelas das campinas.
é só derramá-lo na fôrma.
Não há nele a queda-de-braço
Dou-lhe aqui humilde receita,
e o cara a cara de uma forja.
ao senhor que dizem ser poeta:
o ferro não deve fundir-se,
Existe grande diferença
nem deve a voz ter diarreia.
do ferro forjado ao fundido;
é uma distância tão enorme
Forjar: domar o ferro à força,
que não pode medir-se a gritos.
não até uma flor já sabida,
mas ao que pode até ser flor
se flor parece a quem o diga.
POÉTICA E POESIA EM DOIS POEMAS:
O FERRAGEIRO DE CARMONA
■ Diálogo/ narrativa que logo se transforma;
■ Diferença entre ferro forjado (a mão) e fundido (a fôrma);
■ Relação poeta-ferrageiro e ferrageiro-poeta, duas faces da mesma persona:
Alcides Villaça aponta que esse reconhecimento apresenta maneirismo, mas apenas comparando a complexidade da vida
ao padrão canônico:

"Se considerarmos, porém, a variabilidade das experiências culturais que o alimentam, o cânone se revela sensível a nuances
e particularidades que encenam múltiplas correspondências entre os objetos do mundo, e não deixa de haver surpresa no
reconhecimento, a cada poema. Às "ideias fixas" servem incontáveis imagens em movimento para o mundo exemplar."

■ Retoma primeiro subcapítulo "Matéria de humana oficina":


■ A oficina é a do ferrageiro que forja o ferro e despreza quem o funde.
■ Preferência pelo que é mais trabalhoso – seja pela resistência maior da matéria trabalhada ou pelo esforço que é
demandado em sua transformação.
■ Paradoxo da flor;
■ Não é sobre a flor;
■ É sobre a demonstração da sua técnica como ferrageiro-poeta, poeta-ferrageiro.
■ Trabalho manual do mundo rude e material para a poética sofisticada.
■ Diarreia;
■ Poema deixa de ser uma narrativa para ser uma construção didática. É o que Alcides chama de Limite da poesia de Cabral e
o que constitui uma das duas grandes tendências de sua arte: a de trabalhar os conceitos a partir de uma figuração
exemplar colhida no mundo das experiências.
CRIME NA CALLE
RELATOR

Achas que matei minha avó? Fui a esse bar do Pumarejo


O doutor à noite me disse: quase esquina de San Luís;
ela não passa desta noite; comprei de fiado uma garrafa
melhor para ela, tranquilize-se. de aguardente (cazalla e anis)

À meia-noite ela acordou; que lhe dei cuidadosamente


não de todo, a sede somente; como uma poção de farmácia,
e pediu: Dáme pronto, hijita, medida, como uma poção,
una poquita de aguardiente. como não se mede a cachaça;

Eu tinha só dezesseis anos; que lhe dei com colher de chá


só, em casa com a irmã pequena: como remédio de farmácia:
como poder não atender Hijita, bebí lo bastante,
a ordem da avó de noventa? disse com ar de comungada

Já vi gente ressuscitar Logo então voltou a dormir


com simples gole de cachaça sorrindo em si como beata,
e arrancarse por bulerías um semi-sorriso de gracias
gente da mais encorujada. aos santos óleos da garrafa.

E mais: se o doutor já dissera De manhã acordou já morta,


que da noite não passaria, e embora fria e de madeira,
por que negar uma vontade tinha defunta o riso ainda
que a um condenado se faria? que a aguardente lhe acendera.
POÉTICA E POESIA EM DOIS POEMAS:
CRIME NA CALLE RELATOR

■ Segunda tendência: figura uma experiência vivida apoiada numa


concepção paradigmática de estilo;
■ Rumor: Cabral teria ouvido essa história diretamente da neta;
■ Questões a levantar:
■ Que interesse a narrativa teria despertado?
■ Como a fala original teria sido ajustada?
■ Que efeitos nascem dessa conjunção?

■ Aspectos técnicos semelhantes ao “Ferrageiro de Carmona”


■ Dramático: construção narrativa se apoia na forma;
■ Quadro social dos personagens e suas relações;
■ Tensão inicial dissipada ao longo do poema;
■ Limites: ponderado e contido;
■ Aspecto restritivo da narrativa;
■ Senso de medida;
■ Arremate: imagem forte;
■ Limites e expansão da imagem;
■ Aspecto restritivo provoca um efeito de alta voltagem poética.
ATIVIDADE DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
“É O CEMITÉRIO”

Na edição #43 da revista Quatro


Cinco Um, lançada em março
deste ano, o poeta João Cabral
aparece não só na capa, mas
também em textos como o do
trecho escolhido para ser citado
aqui, da professora Marise
Hansen, que trazem sua poesia à
luz (ou às trevas) da atualidade.
“A pandemia de Covid-19 deslocou morte, cadáveres, covas e a
heterotopia do cemitério para o proscênio. A reboque, miséria e
desigualdade eclodiram do ponto de vista tanto da “realidade” ou
da estatística quanto da representação midiática. Infelizmente,
parte da representação dos fatos pandêmicos sofre distorção,
manipulação e, em sua face mais perversa, negação. Como faz ver
a série dos cemitérios – de Paisagens com figuras e Quaderna, a
poesia de João Cabral, se traz a morte para a cena cotidiana, não é
e para banalizá-la, muito menos para negá-la; pelo contrário. Por
meio da ironia e da surpresa dos símiles, uma visão perplexa e
crítica lembra que não há negacionismo capaz de fechar os olhos
para as imagens de morte e miséria, nem fechar os ouvidos ao
verso, que, se não é musical, é sonoro e agudo.”
“Autores que respondem
canonicamente à demanda
de suas épocas correm o
risco de desaparecerem
com elas, por não terem
injetado em seus textos um
suplemento de sentido que
os capacitasse a suportar
demandas vindouras.”
“Grandes poetas acrescentam
Secchin, Antonio Carlos. João Cabral de ponta a novos capítulos à história da
ponta (p. 460). Cepe editora. Edição do Kindle.
literatura (...). Mas autores
como João Cabral, em vez de
acrescentarem um capítulo,
conseguem criar uma outra
gramática.”

Secchin, Antonio Carlos. João Cabral de ponta a ponta (p.


480). Cepe editora. Edição do Kindle.
UM ÚLTIMO RECADO
Esta apresentação e conteúdos adicionais estarão disponíveis para a turma através de um link de compartilhamento no
Google Drive chamado “Expansão e limite da poesia de João Cabral – Seminário LL5P48”

MORTE E VIDA SEVERINA MORTE E VIDA SEVERINA


MINISSÉRIE (1981) ANIMAÇÃO (2012)

Recomendamos a leitura do e-Book A minissérie da Rede Globo tem apenas 1h Podemos dizer o mesmo sobre a
“João Cabral de Melo Neto em 8 de duração. Recomendamos a leitura do animação de 2012. Caso não consigam
tempos”, disponível gratuitamente na livro enquanto assistem à minissérie. É acessar pelo PowerPoint, basta buscar por
Amazon. Para baixar, clique aqui uma experiência incrível e está disponível “Morte e Vida Severina” no YouTube que
no YouTube. encontrarão.
FIM
BIBLIOGRAFIA

BOSI, Alfredo; VILLAÇA, Alcides. Leitura de poesia. 1. ed. São Paulo: Ática, 1996.

HANSEN, Marise. É o cemitério. Quatro Cinco Um, São Paulo, v. 43, n. 1, p. 28-29, mar./2021. Disponível em:
https://quatrocincoum.folha.uol.com.br/br/artigos/literatura-brasileira/e-o-cemiterio. Acesso em: 14 abr. 2021.

NETO, J. C. D. M. Morte e vida severina e outros poemas. 1. ed. Rio de Janeiro: MEDIAFashion, 2008.

SECCHIN, Antonio Carlos. João Cabral de Ponta a Ponta. 1. ed. Recife: Cepe, 2020.

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