Você está na página 1de 30

15 ANOS DEPOIS DE CARACAS

REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA


 Iniciada no fim dos anos de 1970, está ligada
historicamente à Reforma Sanitária, mas, tem suas raízes
em Basaglia, na Itália;
 Seu início se deu com as críticas ao modelo
hospitalocêntrico, aos maus tratos sofridos, à hegemonia
do saber psiquiátrico, ao mercado que havia por detrás
de cada ser humano ali depositado;
 Alguns frutos: CAPS, Lei 10.216/01 (aprovada 12 anos
depois);
REFORMAPSIQUIÁTRICA BRASILEIRA
 A lei 10.216/01 é um importante salto na expansão da
proposta da Reforma;

 A proposta da Reforma é desistitucionalizar, sem, no


entanto, desospitalizar;

 Sai da lógica hospitalocêntrica para a lógica de serviços


abertos, promovendo a reinserção social da loucura e
com isto, promover autonomia e cuidado digno ao
portador de sofrimento psíquico.
ALGUMAS FORMAS DE
DESINSTITUCIONALIZAR...
 Redução e fechamento de leitos nos hospitais
psiquiátricos;

 Fechamento dos próprios hospitais psiquiátricos;

 Residências Terapêuticas;

 Programa de Volta para Casa;


A REDE DE CUIDADOS NA
COMUNIDADE
 A atenção à saúde mental está atrelada ao SUS;

 O SUS regula e organiza em todo o território nacional as


ações e serviços de saúde de forma regionalizada e
hierarquizada, em níveis de complexidade crescente, tendo
direção única em cada esfera de governo: federal,
estadual e municipal ( SOUZA, 2006).
 São princípios norteadores do SUS: universalidade (acesso
universal e gratuito), integralidade ( as ações devem estar
integradas em todos os níveis de complexidade), equidade
( sem que haja precoceito ou privilégios) ;descentralização
político-administrativa; participação e controle social.
PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA REDE
 Compartilhando destes princípios, a rede de atenção à saúde
mental, composta por Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),
Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), Centros de
Convivência, Ambulatórios de Saúde Mental e Hospitais Gerais,
caracteriza-se por ser essencialmente pública, de base municipal
e com um controle social fiscalizador e gestor no processo de
consolidação da Reforma Psiquiátrica ( SOUZA, 2006).
 O papel dos Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional de
Saúde, assim como das Conferências de Saúde Mental, é por
excelência garantir a participação dos trabalhadores, usuários
de saúde mental e seus familiares nos processos de gestão do
SUS, favorecendo assim o protagonismo dos usuários na
construção de uma rede de atenção à saúde mental ( SOUZA,
2006).
REDE E TERRITÓRIO
 A construção de uma rede de atendimento à saúde mental
é de fundamental importância, uma vez que, permite
com que os vários serviços ofertados à saúde mental
estejam referenciados e permitam um melhor
acolhimento ao usuário;

 A noção de território, não está ligada a um fator


geográfico, mas, a um fator social e comunitário. È
perceber enquanto comunidade as potencialidades,
necessidades e vulnerabilidades, para assim atuar e
promover ações concretas e assertivas com relação à
demanda existente.
REDE E TERRITÓRIO
 Trabalhar no território significa assim resgatar todos os
saberes e potencialidades dos recursos da comunidade,
construindo coletivamente as soluções, a multiplicidade
de trocas entre as pessoas e os cuidados em saúde
mental. É a idéia do território, como organizador da
rede de atenção à saúde mental, que deve orientar as
ações de todos os seus equipamentos ( SOUZA, 2006).
O PAPEL ESTRATÉGICO DOS CAPS
 Foi através do surgimentos dos CAPS que pôde- se estruturar uma
realidade de substituinte dos hospitais psiquiátricos;

 Trata-se portanto, do principal fruto da Reforma Psiquiátrica Brasileira;

 É função dos CAPS prestar atendimento clínico em regime de atenção


diária, evitando assim as internações em hospitais psiquiátricos;
promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais
através de ações intersetoriais; regular a porta de entrada da rede de
assistência em saúde mental na sua área de atuação e dar suporte à
atenção à saúde mental na rede básica. É função, portanto, e por
excelência, dos CAPS organizar a rede de atenção às pessoas com
transtornos mentais nos municípios. Os CAPS são os articuladores
estratégicos desta rede e da política de saúde mental num determinado
território ( SOUZA, 2006).
O PAPEL ESTRATÉGICO DOS CAPS
 Os CAPS devem funcionar como substitutivos e não
como complementares aos hospitais psiquiátricos;
 È finalidade dos CAPS promover a autonomia do sujeito
portador de sofrimento psíquico, tornando-se assim,
protagonista de sua própria história.
 Os CAPS se diferenciam pelo porte, atendimentos ao
tipo de usuário e funcionamento;
O PAPEL ESTRATÉGICO DOS CAPS
 São eles: CAPS I; CAPS II; CAPS III; CAPSi e CAPSad.

 Os CAPS I são os Centros de Atenção Psicossocial de menor


porte, capazes de oferecer uma resposta efetiva às demandas de
saúde mental em municípios com população entre 20.000 e
50.000 habitantes - cerca de 19% dos municípios brasileiros,
onde residem por volta de 17% da população do país. Estes
serviços têm equipe mínima de 9 profissionais, entre
profissionais de nível médio e nível superior, e têm como
clientela adultos com transtornos mentais severos e persistentes
e transtornos decorrentes do uso de álcool e outras drogas.
Funcionam durante os cinco dias úteis da semana, e têm
capacidade para o acompanhamento de cerca de 240 pessoas
por mês ( SOUZA, 2006).
O PAPEL ESTRATÉGICO DOS CAPS
 Os CAPS II são serviços de médio porte, e dão cobertura
a municípios com mais de 50.000 habitantes - cerca de
10% dos municípios brasileiros, onde residem cerca de
65% da população brasileira. A clientela típica destes
serviços é de adultos com transtornos mentais severos e
persistentes. Os CAPS II têm equipe mínima de 12
profissionais, entre profissionais de nível médio e nível
superior, e capacidade para o acompanhamento de cerca
de 360 pessoas por mês. Funcionam durante os cinco
dias úteis da semana ( SOUZA, 2006).
O PAPEL ESTRATÉGICO DOS CAPS
 Os CAPS III são os serviços de maior porte da rede CAPS. Previstos
para dar cobertura aos municípios com mais de 200.000 habitantes,
os CAPS III estão presentes hoje, em sua maioria, nas grandes
metrópoles brasileiras – os municípios com mais de 500.000
habitantes representam apenas 0,63 % por cento dos municípios do
país, mas concentram boa parte da população brasileira, cerca de
29% da população total do país. Os CAPS III são serviços de grande
complexidade, uma vez que funcionam durante 24 horas em todos os
dias da semana e em feriados. Com no máximo cinco leitos, o CAPS
III realiza, quando necessário, acolhimento noturno (internações
curtas, de algumas horas a no máximo 7 dias). A equipe mínima para
estes serviços deve contar com 16 profissionais, entre os profissionais
de nível médio e superior, além de equipe noturna e de final de
semana. Estes serviços têm capacidade para realizar o
acompanhamento de cerca de 450 pessoas por mês ( SOUZA, 2006).
O PAPEL ESTRATÉGICO DOS CAPS
 Os CAPSi, especializados no atendimento de crianças e
adolescentes com transtornos mentais, são equipamentos
geralmente necessários para dar resposta à demanda em
saúde mental em municípios com mais de 200.000
habitantes. Funcionam durante os cinco dias úteis da
semana, e têm capacidade para realizar o
acompanhamento de cerca de 180 crianças e
adolescentes por mês. A equipe mínima para estes
serviços é de 11 profissionais de nível médio e superior
( SOUZA, 2006).
O PAPEL ESTRATÉGICO DOS CAPS
 Os CAPSad, especializados no atendimento de pessoas
que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas, são
equipamentos previstos para cidades com mais de
200.000 habitantes, ou cidades que, por sua localização
geográfica (municípios de fronteira, ou parte de rota de
tráfico de drogas) ou cenários epidemiológicos
importantes, necessitem deste serviço para dar resposta
efetiva às demandas de saúde mental. Funcionam
durante os cinco dias úteis da semana, e têm capacidade
para realizar o acompanhamento de cerca de 240
pessoas por mês. A equipe mínima prevista para os
CAPSad é composta por 13 profissionais de nível médio
e superior ( SOUZA, 2006).
 A estruturação e implantação dos CAPS depende do
perfil populacional dos municípios;

 O critério populacional, no entanto, deve ser


compreendido apenas como um orientador para o
planejamento das ações de saúde. De fato, é o gestor
local, articulado com as outras instâncias de gestão do
SUS, que terá as condições mais adequadas para definir
os equipamentos que melhor respondem às demandas de
saúde mental de seu município ( SOUZA, 2006).
SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA:
ARTICULAÇÃO COM O PROGRAMA SAÚDE DA
FAMÍLIA

 Atendendo ao compromisso da integralidade da atenção


à saúde, o Programa Saúde da Família (PSF), criado na
década de 90, vem investindo na promoção da saúde da
população e na prevenção de doenças, alcançando
resultados importantes para a saúde coletiva ( SOUZA,
2006).
 Essa proximidade às famílias permite com que sejam
detectados problemas como o crescente número de
usuários de álcool e outras drogas e pessoas com algum
nível de sofrimento psíquico;
SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA:
ARTICULAÇÃO COM O PROGRAMA SAÚDE DA
FAMÍLIA
 A atenção básica quando fortalecida pode dar conta destes
casos e neste sentido promover todas as ações sustentadas
pelo SUS.
 Afinal, grande parte das pessoas com transtornos mentais
leves ou severos está sendo efetivamente atendida pelas
equipes de Atenção Básica nos grandes e pequenos
municípios. Assumir este compromisso é uma forma de
responsabilização em relação à produção da saúde, à busca
da eficácia das práticas e à promoção de eqüidade, da
integralidade e da cidadania num sentido mais amplo,
especialmente em relação aos pequenos municípios ( grande
maioria dos municípios brasileiros ), onde não é necessária a
implantação de Centros de Atenção Psicossocial ( SOUZA,
2006).
SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA:
ARTICULAÇÃO COM O PROGRAMA SAÚDE DA
FAMÍLIA

 Uma estratégia interessante de apoio à rede de Atenção


Básica é, que em municípios com menos de 20.000
habitantes, cerca de 70% dos municípios brasileiros
( SOUZA, 2006), a rede de cuidado em saúde mental
seja estruturada a partir da Atenção Básica;

 Assim, pequenas equipes de saúde mental passam a dar


apoio matricial às equipes de Atenção Básica ( SOUZA,
2006).
SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA:
ARTICULAÇÃO COM O PROGRAMA SAÚDE DA
FAMÍLIA

 Que vem promover uma co-responsabilidade nos casos


atendidos, permitindo a redução de encaminhamentos,
aumentando assim a capacidade resolutiva de problemas
pela equipe local, trata-se também de uma forma de
capacitação e supervisão.

 Nos municípios maiores a lógica do apoio matricial


também ocorre;
A REDE DE SAÚDE MENTAL PARA
CRIANÇA E ADOLESCENTE
 Durante muitos anos no Brasil, as atuações frente à
saúde mental de crianças e adolescentes esteve ligadas à
ações filantrópicas ou de cunho privado;

 A partir do ECA as noções de saúde como direito foram


ampliando as ações governamentais em prol das crianças
e dos adolescentes;

 Com o aumento dos CAPSi a atenção à saúde mental da


criança e do adolescente também se configurou;
SAÚDE MENTAL E INCLUSÃO SOCIAL: A
REDE SE AMPLIA
 Uma das maiores dificuldades enfrentadas pela proposta
da Reforma, é de fato reinserir o portador de sofrimento
psíquico dentro da lógica trabalhista de modo que
permita com que este se torne um sujeito autônomo;

 Apesar de haverem incentivos e muitas cooperativas,


associações e oficinas para a geração de renda;
SAÚDE MENTAL E INCLUSÃO SOCIAL: A
REDE SE AMPLIA
È nesse contexto que surge o Economia Solidária como
movimento de luta contra a exclusão social e econômica,
surge como parceiro natural para a discussão da exclusão
das pessoas com transtornos mentais do mercado de trabalho
( SOUZA, 2006).
 Como horizonte da Economia Solidária está a instauração
da solidariedade como norma social e a construção de
empreendimentos coletivos e autogestionários como resposta
à exclusão do mercado. É através de um diálogo permanente
entre os campos da saúde mental e da economia solidária que
o Programa de Inclusão Social pelo Trabalho das pessoas
com transtornos mentais e transtornos decorrentes do uso de
álcool e outras drogas começa a ser delineado ( SOUZA,
2006).
CENTROS DE CONVIVÊNCIA E
CULTURA: UMA PROPOSTA DE DEBATE
 São dispositivos públicos que fazem parte da rede de
substitutos dos hospitais psiquiátricos, mas tem um
caráter cultural e não voltado à saúde;

 São centros de convivência e cultura que oferece ao


portador de sofrimento psíquico um espaço de
sociabilização;
A PARTICIPAÇÃO DOS FAMILIARES E USUÁRIOS
DO SERVIÇOS E SEU PROTAGONISMO
 Hoje, em quase todos os estados do país, existem
associações de usuários e familiares de saúde mental
( SOUZA, 2006).
 A participação popular é prevista como papel
estruturante do SUS e seus serviços, entretanto, esta não
pode se dar somente por meio legal, mas, deve,
inclusive, ser algo natural para os usuários e familiares
no dia a dia.
 Trata-se de uma forma de empoderamento e participação
social por todas as vias.
A POLÍTICA DE ÁLCOOL E OUTRAS
DROGAS
 A saúde pública brasileira nem sempre se ocupou como
deveria com a problemática do consumo de álcool e
outras drogas;

 A falta de cuidados pelo Estado, gerou o que hoje temos


que são propostas de ações puramente médicas e outras
de cunho religioso. O que não são de todas ruins porque
pôde suprir;
A POLÍTICA DE ÁLCOOL E OUTRAS
DROGAS
 As implicações sociais, psicológicas, econômicas e
políticas do uso de drogas não são consideradas na
compreensão global do problema e a percepção
distorcida da realidade do uso de álcool e outras drogas
acabou por promover a disseminação de uma cultura
que associa o uso de drogas à criminalidade e que
combate substâncias que são inertes por natureza,
fazendo que o indivíduo e o seu meio de convívio fiquem
aparentemente relegados a um plano menos importante (
SOUZA, 2006).
 Em 2002, é implementado o Programa Nacional de
Atenção Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e
Outras Drogas;

 Reconhecendo o problema do uso prejudicial de


substâncias como importante problema da saúde pública e
construindo uma política pública específica para a
atenção às pessoas que fazem uso de álcool ou outras
drogas, situada no campo da saúde mental, e tendo como
estratégia a ampliação do acesso ao tratamento, a
compreensão integral e dinâmica do problema, a
promoção dos direitos e a abordagem de redução de danos
( SOUZA, 2006).
ORGANIZAÇÃO DA REDE DE ATENÇÃO
 Os CAPSad são uma resposta do governo frente as
necessidades de atenção aos usuários das drogas;

 De fato, o desenvolvimento de ações de atenção integral


ao uso de Álcool e drogas deve ser planejado de forma a
considerar toda a problemática envolvida no cenário do
consumo de drogas ( SOUZA, 2006).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 SOUZA, M. E, S. Atenção em Saúde Mental. Minas
Gerais. Secretaria do Estado de Saúde. Belo Horizonte.
2006.

Você também pode gostar