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Toxicologia, Ecotoxicologia e Genotoxicologia

Introdução a Toxicologia
Agentes Tóxicos Ambientais
. O estudo dos agentes tóxicos, notadamente, de seu transporte e destinos
nas diferentes fases do meio ambiente (atmosfera, hidrosfera, litosfera
biosfera) constitui em uma das principais temáticas abordadas pela
Toxicologia Ambiental.

Atmosfera

Agente
Biosfera Tóxico hidrosfera
Ambiental

Litosfera
Transporte de agentes tóxicos no meio ambiente

. Uma vez liberado, o agente tóxico pode entrar na atmosfera, litosfera,


hidrosfera ou biosfera por diferentes mecanismos:

> contaminante pode sair da água por volatilização.

> contaminante transportado pelo ar pode movimentar-se para a fase aquosa por
dissolução.

> contaminante presente no solo pode entrar na água por processo de dessorção.

> contaminante da água pode adsorver-se sobre as partículas do solo.

> contaminante do solo pode ser transportado para o ar circulante pelo processo de
volatilização, o que vai depender da pressão de vapor da substância química e de sua
afinidade com o solo.

> contaminante presentes no meio ambiente pode ser absorvido e bioacumulado pela
biota.
. O comportamento químico de uma substância que entra no ambiente é
influenciado, principalmente, por forças naturais de variáveis abióticas
tais como: temperatura, vento, direção e velocidade do fluxo de água,
radiação solar incidente, pressão atmosférica, umidade, bem como,
concentração do agente tóxico na matrizes (atmosfera, hidrosfera,
litosfera, biosfera).

. Faz-se necessário a avaliação de como as propriedades físico-químicas


influenciam o comportamento de um agente tóxico para estimar as
concentrações de uma substância química e sua especiação nos
diferentes compartimentos ambientais, para caracterização da
exposição ao contaminante de interesse.

. Fundamentalmente, o objetivo é avaliar o potencial de bioconcentração,


ou seja, o ingresso dos contaminantes do ambiente externo nos
organismos e a biomagnificação nos níveis tróficos mais altos.
. A classificação da periculosidade do agente tóxico é muito importante no
aspecto legal e da persistência.

. Pode-se ter 3 categorias quanto à persistência:

Não-degradáveis: permanecem tóxicos


virtualmente em qualquer combinação (ex: arsênio,
cádmio, cromo e mercúrio).

Semi-degradáveis: são aquelas que em condições


normais se degradam muito vagarosamente em
compostos menos tóxicos (ex: hidrocarbonetos
policíclicos aromático e os compostos clorados).

Degradáveis: são aquelas que se transformam


rapidamente em compostos volátil ou menos
perigoso na presença de oxigênio, luz solar ou
bactéria (ex: maioria de agentes tóxicos a base de
nitrogênio, enxofre e fósforo). Benzo[a]pireno
. A transformação, degradação e seqüestro das substância químicas no meio ambiente
podem ocorrer por 3 processos:

Químico: como por exemplo, a oxidação atmosférica pelo O 2 e reações


fotoquímicas.

Biológico: degradação sob a ação de microorganismos, principalmente


bactérias, que ocorre, em geral, no solo e em sedimentos aquáticos.

Físico: por exemplo, solubilidade e sedimentação gravitacional.

. O período entre a liberação do contaminante, transformação e imobilização é variável


e depende:

> características físicas e químicas da substância.

> característica do compartimento ambiental.

> grau que atravessam os compartimentos (ex: tempo de residência na


atmosfera poder ser diferente na estratosfera em relação à troposfera, sendo
que na biosfera a complexidade aumenta).
. Os principais fatores envolvidos no transporte de agentes tóxicos ambientais seriam:

Polaridade e hidrossolubilidade

. Quanto maior a polaridade, maior a capacidade de distribuição no ciclo hidrológico.


. Moléculas polares são mais facilmente dissolvidas do solo e dificilmente se volatilizam
nas águas superficiais.
. Sais inorgânicos de metais alcalinos e alcalinos terrosos são mais hidrossolúveis
(ligações iônicas) e sais metálicos menos hidrossolúveis (ligação covalente).

Coeficiente de partição

. Representa a razão entre a partição na fração lipídica (expressa em solubilidade em


octanol) e partição da fração aquosa (Kow).
. Reflete a concentração da substância nas duas fases quando o equilíbrio é atingido
. Quanto menor a polaridade da substância maior o coeficiente de partição.

Pressão de vapor:

. Reflete a tendência do líquido ou sólido em volatilizar-se com o aumento da


temperatura.

Partição entre diferentes compartimentos do meio ambiente

. A distribuição entre diferentes fases pode ser descrita por diferentes coeficientes de
partição.
Propriedade físico-químicas de alguns agentes tóxicos

Agente tóxico Solubilidade em Log Kow Pressão de


água vapor
(mg L-1) (Torr)

Malation 145 2,36 1,0 x 10-5

Dicloro Difenil 1,02 x 10 -3


6,96 1,9 x 10 -7

Tricloroetano
(DDT)
Benzo(a)pireno 4,0 x 10 -3
5,97 5,5 x 10-9
Estabilidade da moléculas

. O tempo de residência de uma substância química no meio ambiente e,


conseqüentemente, a distância que ela pode percorrer a partir do ponto de emissão
dependem da estabilidade da molécula às transformações ambientais.

. No meio ambiente os agentes tóxicos podem ser degradados por processo químicos
(ex: hidrólise) e bioquímicos.

. A estabilidade do agente está relacionada a sua estrutura química e a fatores


ambientais (ex: temperatura, nível de radiação solar, pH e concentração de matéria
orgânica).

. Moléculas resistentes à degradação química e bioquímica apresentam meia-vida longa


na biota, no solo, nos sedimentos e na água, causando maior impacto ao ecossistema.

. Algumas moléculas podem sofrer degradação, resultando em produtos com toxicidade


maior do que do precursor.
Transporte no meio aquoso

. Agentes tóxicos presentes nas águas


superficiais podem encontrar-se em solução ou
em suspensão.

. Material em suspensão pode estar na forma


de partículas ou gotículas e os agentes tóxicos
podem estar dissolvidos ou adsorvidos aos
mesmos.

. Estas formas podem ser transportadas pela


água por longas distâncias.

. A distância percorrida depende da


estabilidade e estado físico do agente e do
fluxo do corpo d’água, onde compostos mais
estáveis e em solução tendem a percorrer
distâncias maiores.

. Partículas e gotículas podem depositar-se no


sedimento, dependendo de sua densidade.

. Nos oceanos, as várias correntes superficiais


favorecem o transporte dos agentes tóxicos.
. O destino dos agentes no meio aquoso depende também de suas propriedades
físico-químicas, como lipossolubilidade, pressão de vapor e estabilidade química, onde
compostos menos estáveis são facilmente hidrolisáveis, representando menos risco
para o ecossistema.

. A polaridade é importante na distribuição e na persistência dos agentes em meio


aquoso, onde agentes hidrofílicos tendem a se dissolver no meio e a se distribuir ao
longo da superfície da água. Os lipofílicos associam-se ao material particulado,
especialmente ao sedimento.

. Nos sedimentos de rios, lagos e mares os contaminantes orgânicos adsorvidos às


partículas têm sua mobilidade e disponibilidade reduzida.

. A natureza do agente, da temperatura do meio, do pH e do teor de oxigênio


determinam a disponibilidade química da substância.

. O teor de oxigênio na água determina a natureza e velocidade das transformações


químicas e bioquímicas, sendo que esses teores diferem nos sedimentos .

. No fundo dos oceanos as condições são anaeróbicas, enquanto que nos cursos d’agua
de fluxo intenso os níveis são relativamente elevados.
Transporte na Atmosfera

. A translocação de agentes tóxicos


presentes na atmosfera depende de seu
estado físico e da movimentação das massas
de ar.

. O tempo de residência na atmosfera é


determinado por escalas temporais e
espaciais de dispersão do agente.

. Os processos de remoção dos agentes da


atmosfera compreendem a deposição seca,
úmida ou por reações químicas.

. Os gases solúveis e as partículas presentes


na atmosfera podem ser incorporados às
gotículas de chuva e atingir o solo ou águas
superficiais durante precipitações ou
nevascas.

. Os contaminantes lançados na atmosfera


podem atingir o meio aquoso e o solo por
deposição seca em locais distantes da fonte
de emissão.
. A velocidade de deposição seca depende da partição do composto
entre a fase vapor e a partícula.

. Na fase sólida (aerossóis) o tamanho da partícula determina a


taxa de deposição.

. Compostos orgânicos com pressão de vapor superior a 10 -4 Pa


encontram-se, preferencialmente, na fase gasosa e os de baixa
pressão de vapor tendem a ligar-se aos aerodispersóides.

. A remoção úmida é muito eficiente para material particulado,


sendo que o tamanho da partícula determina a eficiência do
processo de deposição úmida para aerossóis.
Transporte no Solo

. O solo apresenta porosidade variada e ,


geralmente, encontram-se preenchidos por
gases ou fluidos.

. Os agentes que chegam à litosfera se


movimento por difusão por intermédio destes
fluidos ou da movimentação da água pelos
espaços entre as partículas de solo.

. A velocidade da difusão dos agentes


depende do peso molecular, da temperatura e
do pH do solo, do gradiente de concentração
do agente, bem como, dos constituintes do
solo (ex: matéria orgânica, cátions e ânions),
dentre outros fatores.

. Agente tóxico que apresenta elevada


pressão de vapor e baixa afinidade com os
constituintes do solo, sofre rápida
volatilização e se é hidrossolúvel, pode ser
lixiviado facilmente, atingindo águas
subterrâneas ou aqüíferos.
Degradação do Agente Tóxico do Meio Ambiente

. A degradação consiste na decomposição de moléculas orgânicas complexas em produtos


mais simples (ex: CO2, água e sais).

. Compostos inorgânicos e metais podem se transformar por meio de processos do meio


ambiente, os quais podem elevar ou diminuir a disponibilidade das espécies tóxicas.

. Um agente tóxico lançado no meio ambiente sofre alterações durante seu transporte e
distribuição entre as diferentes fases.

. A degradação é uma das propriedades intrínseca ao agente mais importante na


determinação do dano potencial ao meio ambiente.

. Substâncias não degradáveis persistirão no meio, podendo, conseqüentemente, causar


efeitos crônicos adversos à biota.

. A velocidade de degradação está relacionada ao agente e sua estrutura química e às


condições do compartimento onde foi lançadas, tais como, potencial redox, pH, presença
de microrganismos, concentrações do agente químico e dos constituintes normais do
compartimento.
Degradação Abiótica

. A degradação abiótica compreende as transformações químicas e fotoquímicas

. As transformações químicas principais são a hidrólise, fotólise (primária e


secundária), oxidação e redução.

> Hidrólise

. A hidrólise consiste na reação entre os nucleófilos H 2O e OH com substâncias


químicas, ocorrendo a troca de um grupamento ligado à substância pelo grupo OH.
. Muitos ácidos orgânicos sofrem hidrólise
> Fotólise

. A fotólise ou degradação fotoquímica consiste na transformação causada por


interação com a luz solar.

. A fotólise primária pode ser dividida em direta e indireta, sendo que a direta
consiste na absorção de luz pelo agente, resultando em sua transformação. A
indireta consiste na transferência de energia , elétrons e átomos H para agentes
químicos a partir de espécies excitadas que induz a transformação.

. A fotólise secundária são as reações que ocorrem entre substâncias químicas e as


espécies reativas de meia-vida curta, tais como, radicais hidroxil e peroxil,
(espécies formada em presença de luz).

. Para que ocorra a degradação fotoquímica dos agentes tóxicos é necessário boa
penetração da radiação, incluindo luz ultravioleta, no ambiente atmosférico e
aquoso.

. Após a absorção do fóton por um xenobiótico, sua energia necessita ser


transferida para o sítio ativo dentro da molécula ou ser transferida para outra
molécula, o que pode, subseqüentemente, sofre transformação fotoquímica.
> Oxidação

. Modificação química que envolve transferência de elétrons do xenobiótico para um


aceptor de elétrons (oxidante)

. O oxidação é um dos principais mecanismos de transformação da maioria dos


compostos orgânicos na troposfera e também para vários micronutrientes nas águas
superficiais. Os processos mais freqüentes de oxidação envolve transferência de H,
adição de ligações duplas e de radical OH em compostos aromáticos e transferência de
átomos de O para espécies nucleofílicas.

> Redução

. Modificação química que envolve transferência de elétrons de um agente redutor


para o agente tóxico a ser reduzido.

. Vários micropolientes podem ser removidos do ambiente pelas vias de redução.

. Compostos nitroaromáticos, halogenados alifáticos e aromáticos (incluindo bifenilas


policloradas e dioxonas) e azo-compostos encontrados em esgotos, sistema de
degradação anaeróbica, sedimentos anóxidos entre outros compartimentos, podem ser
reduzidos sob condições anóxicas.
. A taxa de degradação do agente tóxico dependerá de sua
disponibilidade para a reação, da reatividade intrínseca, da
disponibilidade e da reatividade do reagente.

. A disponibilidade e reatividade do agente tóxico e do reagente


dependem, em grande parte, das condições ambientais, como pH,
temperatura, luz solar e condições redox do meio.

. A adsorção/complexação com constituintes orgânicos também é


considerada degradação abiótica, onde no sedimentos e no solo, metais e
outras substâncias inorgânicas podem encontrar-se adsorvidos à
superfície de óxidos ou matéria orgânica.
Degradação Biótica

. Degradação biótica ou biodegradação é o


mecanismo pela qual há a transformação do
agente tóxico por microrganismos do meio.

. No processo biótico, os compostos químicos


podem servir de elementos estruturais para a
célula ou como fonte de energia para o
organismo.

. Em certos casos, os microorganismos são


capazes de produzir moléculas mais simples,
como dióxido de carbono, metano e água, além
de liberar íons cloro (mineralização).

. A biodegradação microbiana de agente tóxico


desempenha papel crucial não remoção desses
compostos do ambiente, principalmente nos
casos em que a degradação abiótica não ocorre
facilmente.
. No ambiente anaeróbico, a degradação microbiana é geralmente mais lenta e nem
sempre resulta na mineralização completa de uma substância química.

. Em certos casos, a biodegradação pode ser tão lenta que leva à bioacumulação,
comprometendo a saúde do organismo.

. Os microorganimos heterotróficos possuem ampla versatilidade catabólica, capaz


de torná-los adaptados à presença de diferentes tipos de agentes tóxicos.

. Uma mistura complexa de microorganismos pode se adaptar à presença de


determinados agentes tóxicos, de forma a aproveitar ao máximo os metabólitos
produzidos entre as diferentes espécies, aumentando a eficiência do processo de
biodegradação e de eliminação do agente da biosfera.

. Os sistemas enzimáticos dos micoorganismos consistem em enzimas constitutivas


envolvidas em processo metabólicos e enzimas indutíveis ou adaptativas.
. Dentre as variáveis ambientais que o afetam a degradação biótica se encontram:

Temperatura:

. Em geral, com o aumento da temperatura há o aumento da atividade biológica até


a desnaturação enzimática.

. A atividade microbiana é encontrada no meio ambiente em temperaturas que


variam de 0 a 100oC, sendo que , em geral, a temperatura ótima de biodegradação
varia de 10 a 30oC.

pH

. O pH ideal para a biodegradação é próximo ao neutro (6 a 8), sendo que para


maioria das espécies é em pH ligeiramente alcalino (pH>7).

. Para pH <5 a atividade bacteriana encontra-se significativamente diminuída.

. Para fungos, condições ligeiramente ácidas favorecem a atividade, sendo o pH


ótimo de 5 a 6.
Potencial redox

. Na biodegradação aeróbica a presença de oxigênio é fundamental, uma vez que as


etapas iniciais do catabolismo envolvem a oxidação dos substratos por oxigenases.

. O teor de oxigênio e o potencial redox relacionados determinam a presença de


diferentes tipos de microorganismos (aeróbicos e anaeróbicos).

. A decomposição anaeróbica de hidrocarbonetos ocorre muito lentamente em alguns


casos (ex: compostos do petróleo).

. Compostos como benzoato, hidrocarbonetos clorados, benzeno, tolueno, xileno,


naftaleno e acenafteno são degradados na ausência de oxigênio.
Concentração do contaminante

. Em geral, o crescimento dos microorganismos competentes não ocorre quando a


concentração do agente tóxico se encontra abaixo do valor limite, uma vez nesta
condição não há estímulo suficiente para iniciar resposta enzimática.

Número de microrganismos viáveis

. A biodegradação depende da presença de microorganismos competentes em número


suficiente no ambiente.

. A comunidade microbiana natural consiste numa biomassa diversa e, quando uma nova
substância é introduzida em concentração suficientemente elevada, a biomassa deve
se adaptar para degradar a substância.

. Freqüentemente, a adaptação da população microbiana é causada pelo crescimento de


espécies capazes de degradar substâncias.

. Outros processos podem ocorrer durante a adaptação, tais como, indução enzimática,
troca de material genético e desenvolvimento de tolerância à toxicidade do
contaminante em questão.
Tempo de adaptação

. Adaptação consiste no intervalo decorrido entre a exposição e o início da efetiva


degradação, o que depende da presença das espécies competentes.

. Quanto maior a ubiqüidade do contaminante maior a probabilidade de encontrar


espécies competentes e menor o tempo de adaptação.

Quantidade e qualidade de nutrientes, vitaminas e traços de metais

. No solo deve estar presentes macro e micronutrientes essenciais em quantidades


adequadas para manter o crescimento microbiano (N, P, Na, S, Ca, Mg, Fe, Mn, Zn, Cu).

Quantidade de água

. A quantidade de água do solo contaminado afeta a biodegradação em razão da


dissolução dos componentes residuais, da ação dispersora da água e pelo fato de a
mesma ser necessária ao metabolismo microbiano.

. A quantidade de água afeta também a locomoção bacteriana, a difusão do soluto, o


suprimento do agente e a remoção dos produtos do metabolismo.
Referências

AZEVEDO, Fausto Antonio de; CHASIN, Alice Aparecida da Matta.


As bases toxicológicas da ecotoxicologia. São Paulo: Rima, 2003.
322 p.

OGA, Seizi; ZANINI, Antonio Carlos. Fundamentos de Toxicologia.


2.ed. São Paulo:Atheneu, 2003. 474 p.

COSTA, Carla Regina; OLIVI, Paulo; BOTTA, Clarice M. R.;


ESPINDOLA, Evaldo L. G.. A toxicidade em ambientes aquáticos:
discussão e métodos de avaliação. Quim. Nova, Vol. 31, No. 7,
1820-1830, 2008

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