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Solventes e Vapores
Exposição a solventes é inevitável.
Dificuldade da toxicologia ocupacional: saber definir até que ponto uma exposição pode ser responsável, em
termos causativos, e estabelecer relação causa/efeito e com isso ter um impacto menor na saúde das
pessoas inclusivamente no acompanhamento sanitário que possa vir a ter.
à importante: regulação do risco e monitorização da toxicidade do solventes – efeitos tóxicos podem ser
difíceis de distinguir.
O mais limitante para a segurança dos solventes, em termos ocupacionais, é a capacidade de ventilação para
além da monitorização do operador através dos biomarcadores.
Características Físico-Químicas:
- lipófilos: tetracloreto de carbono (muito lipófilo), etanol (solvente hidrófilo)
- voláteis: em 2 estados físicos, líquido ou vapor
à Lipofilia e volatilidade conferem características de permeabilidade: compostos voláteis conseguem ser
inalados e absorvidos para a circulação sistémica a nível alveolar.
- baixo PM e ausência de carga (moléculas neutras) à confere possibilidade de invasão do organismo.
Assim sendo, inalação é a principal via de exposição e há absorção imediata
Vias de penetração: pulmão, pele (contacto com vapores ou direto com o líquido), via oral (vestígios na água
como subprodutos da desinfeção da água por cloração).
- solventes disseminam-se através da atmosfera, ventos e cursos de água: menos densos ficam à superfície
da água e voltam à atmosfera mas os mais densos podem contaminar os cursos de água e chegar às águas
de consumo.
Tipos de exposição:
- pelo ar;
- pela água: contaminação de águas superficiais e profundas, produtos secundários à desinfeção da água
(CHCl3 - clorofórmio);
- ambiental: atmosfera (zonas urbanas), água (CHCl3), efluentes (indústria da borracha, química e
petroquímica) à + relevante: inalação e ingestão de águas contaminadas;
- ocupacional: por inalação e contacto com a pele; + grave em locais confinados com ventilação deficiente;
- em casa: uso de água contaminada com solventes pode resultar em exposição por inalação, ingestão ou
pela pele.
Solventes têm impacto do ponto de vista toxicológico: a nível ambiental (qualidade do ar e água para
consumo), a nível ocupacional (em > grande parte de estudos em humanos), a nível forense (intoxicações
acidentes (crianças) e intencionais (homicídio, suicídio, facilitação de agressão sexual, abuso de solventes)).
Abuso de solventes: álcool é a substância abusada mais maléfica, este abuso só é ultrapassado por drogas
como cocaína e heroína.
Efeitos tóxicos dos solventes dependem: da toxicidade do composto, da via de exposição, do grau de
exposição, duração da exposição, interações com outros compostos.
- quanto > dose e + prolongado o tempo de exposição, há > risco de toxicidade.
Exposição a misturas (fator de incerteza): efeitos aditivos, ações sinérgicas e efeitos antagónicos.
Toxicocinética: estudos essenciais para a avaliação do risco associado à exposição a solventes. Varia de
circunstância para circunstância e varia de indivíduo para indivíduo. Varia em função de:
- dose – processos de absorção, distribuição, metabolismo e eliminação são saturáveis;
- via de exposição – a + provável de ocorrer toxicidade é a inalatória (para doses mais baixas) do que a via
oral;
- espécie animal – extrapolação dos estudos para o Homem nem sempre é fácil;
- variabilidade interindividual.
à toxicocinética permite aumentar o grau de certeza na avaliação do risco para a saúde humana associado
à exposição a solventes.
Volatilidade/Lipofilia
Solventes que causam maior preocupação: lipófilos (atravessam facilmente barreiras), voláteis (facilmente
inalados), de pequeno PM (favorece difusão passiva, ou seja, entrada de solventes no organismo), sem carga
(facilita a passagem livre pelas membranas).
Coeficientes de partilha:
- Sangue (hidrófilo) : Ar (alvéolo pulmonar) à passagem para a circulação sanguínea ocorre por difusão
passiva – quanto + hidrófilo + passagem e afinidade para o sangue. Solventes hidrófilos atingem
concentrações elevadas no sangue e concentrações + baixas no ar. Solventes lipófilos atingem concentrações
maiores no ar. à solvente hidrófilo têm um coeficiente Sangue : Ar superior que um lipófilo.
à quanto > coef partilha Sangue : Ar > extensão de absorção (absorção durante + tempo e de forma +
sustentada) e < extensão de eliminação a nível pulmonar (tendência para ficar retido no sangue é menor).
Quanto > coef partilha Sangue : Ar > tempo de permanência no organismo.
à quanto > lipofilia, + facilmente o solvente foge do sangue e passa para os tecidos com elevado teor
lipídico. Quanto > lipofilia, > coef partilha Tecido : Sangue à lipofilia governa a forma como o solvente é
distribuído e onde fica armazenado e durante quanto tempo fica armazenado. Ex: tricloroetileno é muito
lipófilo.
MAS... A distribuição não depende apenas da lipofilia e hidrofilia, mas depende também das características
do tecido. Assim, a % de gordura corporal e vascularização dos tecidos são determinantes para a distribuição
dos solventes. à ex: cérebro que tem elevado teor lipídico mas é muito vascularizado.
TLV – valor limite para desencadear toxicidade à quanto maior o coef partilha Sangue : Ar (maior dificuldade
em sair do sangue), maior o perigo representado pelo solvente.
Exceções:
- tetracloreto de carbono é muito + tóxico do que o previsto mas devido à sua bioativação metabólica pelo
citocromo P450 na desalogenação redutiva que gera espécies reativas à reatividade gerada pelo
metabolismo é superior à gerada pelas características toxicocinéticas.
- diclorobenzeno – devido à sua lipofilia e volatilidade pensaria-se que teria maior toxicidade do que a que
realmente tem mas devido à reatividade da própria molécula isso não acontece.
Tricloroetileno Tricloroetano
> Coef partilha Sangue : Ar (+ lipófilo), < coef partilha Óleo à menos extensamente absorvido
: Sangue (absorção extensa e eliminação pulmonar – (concentrações máximas num tempo máximo
extensa), > extensão de metabolismo + curto), > eliminação pulmonar, +
extensamente distribuído, + lentamente
à + extensamente absorvido, < eliminação pulmonar, + eliminado na urina, > tempo de permanência
rapidamente eliminado na urina, < tempo de e + tóxico que o tricloroetileno.
permanência.
1. Absorção
Exposição por:
à inalação: essencialmente nos alvéolos, em < grau pelo trato respiratório superior;
Nos alvéolos: grau de absorção depende do coeficiente de partilha Sangue : Ar favorecendo a absorção dos
solventes + hidrófilos.
Absorção sistémica é favorecida por: ↑volume respiratório (> conc alveolar) e ↑função cardíaca e fluxo
sanguíneo pulmonar. Um débito cardíaco muito elevado faz com que o sangue esteja constantemente a
eliminar o solvente que vai sendo absorvido e há ↓concentração do compartimento sanguíneo e
↑gradiente de concentração à ↑concentração no ar e ↓ no sangue.
NOTA: crianças têm um maior volume respiratório e débito cardíaco, logo estão + sujeitas a intoxicações por
solventes.
Absorção sistémica: %absorvida inicial é elevada mas ↓com a acumulação progressiva nos tecidos e
↑concentração no sangue venoso retornando à circulação pulmonar. à steady state (equilíbrio) depende
da solubilidade no sangue.
- solventes lipófilos: atinge rapidamente, aproximação ao equilíbrio é assimptótica, %absorção mantém-se
relativamente constante durante a exposição e depende essencialmente do metabolismo e acumulação no
tecido adiposo;
- solventes hidrófilos: atinge + lentamente.
à via dérmica: bem absorvidos através da pele, exposição na forma de líquido ou de vapor;
Epiderme não oferece resistência ou barreira à passagem de solventes. Absorção varia em função de:
concentração, lipofilia, PM, área de superfície exposta, duração da exposição, integridade e espessura da
derme.
2. Distribuição
- quando há ingestão, antes do solvente atingir a circulação sistémica, o solvente, a nível do intestino, vai
para o fígado através da veia porta;
- no fígado: solventes são parcialmente metabolizados e, antes que atinja a circulação arterial, o solvente
abandona o fígado pela veia hepática e depois prossegue para veia cava inferior até chegar ao coração e
pulmão;
- como são substâncias voláteis: uma parte é retida no fígado onde é metabolizado e a outra parte chega ao
pulmão e é eliminada no ar exalado.
DISTRIBUIÇÃO
- no trato GI: negligenciável à absorção rápida e ausência de CYP2E1 no epitélio do intestino. Etanol é
exceção pois sofre metabolização pela ADH classe IV gástrica ≠ ADH hepática.
- a nível hepático e a nível pulmonar: os solventes são + extensamente metabolizados e + voláteis, sendo +
eficientemente eliminados antes de atingir a circulação arterial. Quando há inalação, uma parte significativa
do efeito de 1ª passagem desaparece pois há passagem direta para a circulação arterial.
à solventes são transportados pelo sangue arterial e são cedidos em função da irrigação do tecido (+
irrigado + fácil captar o solvente) e do CP Tecido : Sangue.
- no cérebro: é muito irrigado e tem elevado conteúdo lipídico à solventes chegam muito rapidamente e
exercem a sua ação com grande intensidade mas a vascularização permite que o solvente seja eliminado do
órgão-alvo com rapidez;
- no tecido adiposo: há baixa perfusão sanguínea e elevado conteúdo lipídico – aqui o grau de vascularização
é menor à solventes chegam + lentamente e o tempo de permanência é superior quando comparado com
o cérebro, ou seja, o tecido adiposo é um órgão reservatório para solventes. Há acumulação gradual de
solventes lipófilos que são lentamente libertados para a circulação devido ao elevado CP Tecido Adiposo :
Sangue. Quanto + lipófilo, > avidez para o tecido e < facilidade de retenção a nível sanguíneo.
Via inalatória protege-nos face à toxicidade comparativamente à ingestão, onde, para a mesma dose,
estaremos mais desprotegidos face à toxicidade para todos os órgãos-alvo.
Depende do modo de ingestão: administração única de doses elevadas satura a eliminação de 1ª passagem
a nível hepático e pulmonar e as funções protetoras e reparados das células => há exacerbação dos efeitos
tóxicos.
A exposição: repetida, em concentrações elevadas num curto espaço de tempo ou a concentrações baixas
num espaço de tempo prolongado apresenta consequências toxicocinéticas muito marcadas.
3. Metabolismo
É feito maioritariamente pelo citocromo P450, sobretudo pelo CYP2E1. Mas há outras vias metabólicas: ADH
e ALDH – dupla responsável pela bioativação do etanol a acetaldeído (pela álcool desidrogenase) e
destoxificação a ácido acético (pela aldeído desidrogenase); GST – glutationa transferase.
- velocidade e extensão do metabolismo depende do composto e da dose;
- consequências: inativação metabólica em que há diminuição da toxicidade ou ativação metabólica
(citotoxicidade e mutagenicidade);
CYP2E1 – predominantemente hepática mas também em tecidos extra-hepáticos: rim, pulmão, cérebro,
testículos com atividade variável entre espécies e entre indivíduos à etnias: asiáticos têm < expressão de
CYP2E.
- responsável pela bioativação metabólica de hidrocarbonetos halogenados e aromáticos: oxidação
(formação de metabolitos eletrófilos citotóxicos e/ou mutagénicos) e redução (formação de metabolitos
radicalares através de desalogenação redutiva).
4. Excreção
- após o metabolismo, é sobretudo pela via urinária por haver ↑hidrofilia;
- ar expirado depende de: CP Ar : Sangue, fluxo sanguíneo pulmonar e grau de ventilação alveolar
(↑gradiente de concentração) à solventes + voláteis e lipófilos são +rapidamente eliminados no ar expirado
Acetona – hidrófilo
Tolueno – lipófilo
CRIANÇAS
- absorção sistémica tendencialmente maior: > débito cardíaco e frequência respiratória (↑absorção) mas <
superfície alveolar para absorção (↓absorção);
- < ligação às proteínas plasmáticas: > biodisponibilidade;
Dependendo da fase de desenvolvimento:
- no recém-nascido: > água extracelular > VD para solventes hidrófilos à eliminação + lenta e ação +
prolongada;
- num fase + avançada: > %gordura corporal > acumulação de solventes lipófilos à eliminação + lenta e ação
+ prolongada;
- vida fetal: níveis muito baixos de CYP2E1 – alterações profundas da capacidade metabólica;
- > débito cardíaco facilita eliminação sistémica porém vias de eliminação ainda estão em maturação.
Conclusão: na criança há fatores protetores e desprotetores.
IDOSOS
- apresentam dificuldades na clearance hepática e renal;
- alterações metabólicas com o envelhecimento: ↓capacidade metabólica, afetando a eliminação. Ex. idosos
têm < dificuldade em desativar o etanol, têm + efeitos relativamente ao álcool;
- absorção pela derme é afetada pela perda da integridade, ↓conteúdo lipídico cutâneo e circulação capilar
mas há aumento da gordura corporal;
- ↓absorção e eliminação pulmonar: < superfície alveolar, permeabilidade membranar e volume de sangue
capilar à fator de proteção;
- ↑gordura corporal à custa da ↓massa muscular e água corporal: >VD e acumulação dos solventes lipófilos
para os hidrófilos é o contrário ↓circulação sanguínea;
- > T1/2 e ↓clearance hepática (↓circulação sanguínea e no tamanho do fígado) e ↓função renal.
Alterações toxicodinâmicas:
- envelhecimento do SNC predispõe para a toxicidade com a perda de neurónios, alterações nos
neurotransmissores e recetores, ↓capacidades cognitivas e motoras à efeitos sinérgicos ou aditivos com
exposição a solventes.
2. Género
- absorção GI semelhante;
- absorção pulmonar superior na mulher: > DC, ventilação e superfície pulmonar à nos homens há
favorecimento da absorção de solventes hidrófilos;
- há diferenças na distribuição de solventes hidrófilos e lipófilos: homens têm > massa corporal e muscular
enquanto que mulheres têm > conteúdo lipídico àna mulher há >VD e > persistência de solventes lipófilos
enquanto que no homem há > VD e retenção de solventes hidrófilos.
- diferenças nas enzimas metabólicas: não significativas nas CYP. Mulher produz < ADH na mucosa gástrica,
portanto tem > BD para o etanol e ficam + embriagadas com a mesma quantidade de álcool (JAJÃO);
- gravidez: há > volume plasmático e DC.
3. Genética
Polimorfismo genético do metabolismo:
- > CYP total e CYP2E1 em caucasianos comparativamente com asiáticos;
- ADH e ALDH2: ADH é mais ativa nos asiáticos (permite a conversão em acetaldeído) mas ALDH2 é menos
ativa, portanto, há uma < capacidade de destoxificar o acetaldeído levando a uma > embriaguez e > sensação
dos efeitos da ressaca;
- < atividade GST (fase II) em asiáticos pode proteger contra a bioativação metabólica de solventes – pois,
conjugação com glutationa pode levar à formação de metabolitos mutagénicos ex. diclorometano
O polimorfismo genético está associado à mas também a fatores geográficos, socioeconómicos e culturais
como dietas muito diferentes.
4. Fatores Ambientais
à indução e inibição do citocromo P450:
- indução por: compostos da dieta, fármacos ou exposição ambiental (pré-exposição)
- indução da CYP2E1 por bioativação leva a metabolitos citotóxicos e mutagénicos;
- indução de enzimas como epóxido hidrolase, UGT, SULT: conferem proteção;
A indução é mais importante em solventes pouco extensamente metabolizados como CCL4.
- inibição: flavonóides, furanocumarinas, ginko biloba ànão necessita de pré-exposição em período elevado
à exercício físico: tem impacto na absorção e na eliminação de solventes hidrófilos pois são estes são
dependentes do gradiente de concentração. Durante o exercício físico: ↑DC, ventilação e circulação
pulmonar com ↑absorção pulmonar de solventes hidrófilos; < eliminação renal e hepática por ↓irrigação
sanguínea.
Portanto, em solventes lipófilos não há ↑persistência do solvente e toxicidade e nos solventes hidrófilos há
↑persistência do solvente e toxicidade, ↑exponencialmente com ↑carga.
à Patologias: hepática, renal, diabetes tipo I (indução CYP2E1 apenas em modelos animais), infeções
(endotoxina - ↑suscetibilidade das células ao dano).
EFEITOS TÓXICOS
- efeitos agudos: facilmente e rapidamente discerníveis – estão associados à depressão do SNC e, em caso
de sobredosagem, pode resultar em morte;
- efeitos decorrentes de exposição crónica: mais dificilmente identificáveis – isto porque os efeitos da
exposição crónica são mais difíceis de identificar. Atribuir uma doença ocupacional, idade, entre outros é
difícil devido aos sintomas inespecíficos (comuns a qualquer situação de depressão do SNC ou perda
cognitiva e de memória que acompanha o envelhecimento natural).
ABUSO DE SOLVENTES
Na exposição ocupacional estamos perante uma exposição em doses baixas. Mas no abuso de solventes há
um grande perigo pois as concentrações de exposição são muito elevadas – este abuso é feito
tendencialmente por jovens, adolescentes e pré-adolescentes. Este abuso pode ocorrer por:
- inalação: solventes mais voláteis quando inalados causam um efeito muito rápido que também desaparece
muito rapidamente através da eliminação pelo ar exalado – risco de asfixia e arritmias fatais. Esta inalação
ocorrer por bagging (dentro de saco de plástico) ou por huffing (solvente embebido num pano dentro do
saco de plástico) à quando há exalação do solvente, este volta a ser inalado dentro do saco.
Sinais post-mortem de abuso de inalantes: depósito de pigmentos alojados a nível pulmonar, irritação
cutânea junto do nariz e boca, vestígios de tinta e pgimentos.
Principais compostos:: hidrocarbonetos (HC) alifáticos (butano, hexano, proprano), HC aromáticos (benzeno,
tolueno), mistura de C (gasolina), HC halogenados (clorofórmio, tetracloreto de carbono),
clorofluorocarbons (CFCs: freon 11 e 12), outros (acetona, óxido nitroso).
Presentes em produtos como: solventes, tintas, líquidos corretores de escrita, canetas, marcadores, colas,
adesivos, combustíveis (gasolina), extintores de incêndios, propelentes de aerossóis/sprays de cabelo.
• ETANOL
Consumo crónico: 10% da população de países ocidentais sofre de alcoolismo
- ↑ risco de cancro do esófago e fígado, cirrose hepática, doença cardiovascular, perturbações neurológicas
(demência), teratogénese alcoólica (síndrome alcoólico fetal – exposição crónica da mãe);
- > prevalência nos 30-50 anos, independentemente da etnia e categoria sócio-económica
Metabolismo do etanol
1. Oxidação pela álcool desidrogenase
(citosólica presente no fígado e mucosa
gástrica): CH3CH2OH+ NAD+ àCH3CHO + NADH
Aqui, gera-se o principal metabolito citotóxico
(acetaldeído é muito reativo) e há um
desequilíbrio de NAD+/NADH com alteração do
potencial detox da célula.
- ADH da classe IV (ADH6 – da mucosa gástrica): 30% dos asiáticos são geneticamente deficientes para esta
enzima à < capacidade para metabolização a nível gástrico nas populações asiáticas, o que confere >
biodisponibilidade (> quantidade chega à circulação), há ↓efeito de 1ª passagem.
- ADH da classe I – variante ADH2*2 (ADH hepática): expressa em 90% da população asiática e leva a uma
conversão rápida a acetaldeído mas tem menos capacidade de destoxifica-lo, isto leva a > problemas de
toxicidade. Tem muito < expressão em caucasianos e 0 % em americanos nativos e asiáticos indianos.
- ALDH2 - variante ALDH2 menos ativa (acumulação de acetaldeído): 45-53% da população asiática,
expressão de efeitos tóxicos (náusea, taquicardia, flushing syndrome).
à asiáticos vs caucasianos: AUC etanol 2-3x > e AUC acetaldeído 220x > em homozigóticos ALDH2*2
Tratamento: dissulfiram – inibidor da ALDH usado no alcoolismo à induz uma sensação desagradável cada
vez que o indivíduo consoma álcool.
Mulher vs Homem após a ingestão de igual quantidade de etOH: > concentração plasmática, > efeito tóxico
a nível hepático e da depressão do SNC. Numa situação crónica a cirrose hepática é + grave e tem >
prevalência nas mulheres.
- ADH de classe IV (mucosa gástrica): < atividade em mulheres e < efeito de 1ª passagem;
- volume de distribuição é < em mulheres: < superfície corporal da mulher mas > teor de gordura corporal.
Toxicocinética do etanol
à Excreção:
- maioritariamente, na urina na forma de metabolitos;
- no ar expirado: permite a monitorização – concentração de etanol eliminado no ar exalado é diretamente
proporcional à concentração sanguínea;
- 2-10% sem biotransformação.
- em adultos sem exposição crónica, o declive da reta varia entre 150-200 mg/L/h;
- consumo crónico: o indivíduo tem o metabolismo induzido pela CYP2E1 e a velocidade de eliminação vai
até 300 mg/L/h;
- valor médio da população: 150 mg/L/h (fator ß de Widmark) – variabilidade interindividual 200 +/- 6 mg/L/h
Fatores que afetam a farmacocinética do etanol: variabilidade biológica (capacidade metabólica, género),
grau de habituação (tolerância metabólica e toxicodinâmica), ingestão de alimentos (teor de gordura),
estado do tubo digestivo, terapia medicamentosa (interações), tipo de bebida (elevada volumagem de
bebidas espirituosas irrita a mucosa gástrica e ↑formação de muco que impede absorção do etanol).
TOLERÂNCIA AO ETANOL
à Tolerância metabólica: ↑eliminação – mecanismo provável: indução de CYP2E1
à Tolerância farmacodinâmica: adaptação do SNC a um estímulo depressor
- ↑neurotransmissão glutamatérgica (excitatória);
- ↓neurotransmissão GABAérgica (depressora);
- risco de excitotoxicidade e morte neuronal na síndrome de abstinência.
Numa exposição aguda: há supressão de neurotransmissão glutamatérgica e ↑GABAérgica que é sensível
ao GABA à depressão do SNC.
Numa exposição crónica: ↑neurotransmissão glutamatérgica e repressão da neurotransmissão GABAérgica
(depressora) à problema do síndrome de abstinência: há descontinuação do etanol, o agente depressor sai
e o SNC está regulado positivamente para a excitação – excitotoxicidade.
Etanol: Interações
- alterações farmacocinéticas (indução CYP2E1);
- inibição de ALDH (efeito dissulfiram - promove a acumulação de acetaldeído com a ingestão simultânea
do etanol);
- depressão do SNC (aditividade/sinergismo)...
Exemplos:
- paracetamol: hepatite severa em alcoólicos por indução CYP2E1 e depleção de GSH à alcoólicos crónicos
recorrem + a CYP2E1 e perde a capacidade de desativar metabolicamente o NAPQI;
- outros substratos CYP2E1: cocaína, isoniazida, fenilbutazona
- aspirina, antagonistas 5-HT2: ↓atividade ADH e aceleração do esvaziamento gástrico (< efeito de 1ª
passagem e > conc. sanguínea de etanol) à se inibir a ADH, há inibição do efeito de 1ª passagem
↑concentrações sanguíneas de etanol.
Etanol chega a toda a parte, apresentando capacidade de ser bioativado, embora primeiro no fígado. Todas
as células, com > ou < capacidade, expressam CYP2E1 e as enzimas metabólicas capazes de bioativar o etanol
à alcoolismo traz problemas a todos os níveis do organismo.
Efeitos tóxicos: efeitos sobre o SNC, sobre o fígado e sistema CV, alterações hematológicas, síndrome fetal
alcoólica, carcinogénese à a letalidade do etanol está + relacionada a ação depressora do SNA e ocorrência
de acidentes (morte por trauma).
1. Efeitos do etanol sobre o SNC
à exposição aguda: depressor do SNC, causa disfunção metabólica e necrose tumoral, risco de hemorragia,
edema.
à exposição crónica: lesões neurológicas e mentais (SNC, SNP), estudos post-mortem (>75% alcoólicos
crónicos apresentam danocerebral).
Envolvimento de recetores específicos: ↑inibição sináptica mediada pelo GABA; bloqueia o recetor NMDA
com ↓entrada de Ca2+ nas células; interações com outros recetores (acetilcolina, 5-HT, glicina); inibe a
produção da guanosina monofosfato (GMP) e o transporte da adenosina.
à o mais expressivo: ↑neurotransmissão GABAérgica e repressão de neurotransmissão glutamatérgica;
Alvos principais:
- células de glia (astrócitos, oligodendrócitos): importantes na defesa e na estrutura do SNC, criam um
ambiente pró-inflamatório à dano na célula glia leva a ambiente pró-inflamatório com libertação de
citocinas e, eventualmente, causar morte neuronal;
- terminações sinápticas.
Mecanismos:
- neurotoxciidade: stress oxidativo, alteração da sinalização celular, modificações proteicas e alteração da
expressão genética, acumulação de metabolitos neurotóxicos resultantes da disfunção hepática (amónia,
lípidos e aminoácidos aromáticos);
- deficiências nutricionais: tiamina, folato, piridoxina, zinco – são necessários ao funcionamento do SNC.
Metabolismo ADH e ALDH: ↑ razão NADH/NAD+ com alteração do estado REDOX da célula
- excesso de NADH favorece a síntese e inibe a oxidação de ácidos gordos;
- ↑ razão lactato/piruvato: acidose;
- ↓atividade do ciclo do ácido cítrico.
ADH e ALDH usam NAD+ como cofator com produção de NADH - ↑exacerbação do metabolismo vi ADH e
ALDH.
Há medida que se acumula NADH há uma resposta da célula através da LDH (lactato desidrogenase –
conversão de lactato a piruvato) àMAS com excesso de NADH há inversão do sentido da reação com
↑conversão do piruvato em lactato.
Consequências: há depleção de energia pois há ↓atividade do ciclo do ácido cítrico, inibição da oxidação
dos AG a nível mitocondrial e ácidos devido à acumulação de lactato à morte dos hepatócitos.
à dano mitocondrial
- acumulação de acetaldeído: pois seria destoxificado a acetilCoA na mitocôndria que está a ser atacada.
Quando a mitocôndria falha: há depleção de energia; ativação de mecanismos aeróbios para obtenção de
energia favorecendo a acidose láctica; ↓atividade da cadeia transportadora de eletrões sobrando protões
(acidose láctica e depleção de ATP);
- ↑ROS: numa situação normal ROS são reduzidos a tetravalente do oxigénio a água, mas há eletrões que
escapam e originando danos no DNA mitocondrial e ↑peroxidação lipídica;
- ↓oxidação de ácidos gordos mitocondrial: depleção de ATP.
à Depleção XD/XO (conversão de xantina em ácido úrico): conversão catalisada pela xantina oxidase (existe
em equilíbrio com a xantina desidrogenase) – etanol promove conversão da xantina desidrogenase em
oxidase formando o ácido úrico, cujos subprodutos é o anião superóxido (stress oxidativo).
Ativação das células de Kupffer (macrófagos residentes no fígado): muito sensíveis ao estado pro-
inflamatório à como resultado do stress oxidativo e há ↑ no intestino da produção de endotoxina pelas
bactérias gram negativas:
- o estrogénio ↑ a sensibilidade das células de Kupffer à endotoxina e possível explicação para >
hepatotoxicidade de etanol em mulheres à fator desprotetor de ordem toxicodinâmica.
Outros mecanismos:
- sinalização celular: interação direta do etanol com as proteínas das membranas envolvidas na via de
transdução do sinal;
- distúrbio nutricional: etanol tem capacidade de interferir com a absorção de elementos importantes no
funcionamento do fígado e outros órgãos-alvo à ↓absorção da tiamina, ↓circulação entero-hepática do
folato, degradação do piridoxal-5’-fosfato (vitamina B6), ↓atividade da ADH gástrica, distúrbio do
metabolismo das vitaminas A e D (> degradação microssomal).
Teratogénese do etanol
à Síndrome fetal alcoólica (FAS): causa + comum de retardação mental.
Diagnóstico de FAS:
- consumo exagerado de álcool durante a gestação (mínimo 90-120 mL/dia);
- < crescimento pré e pós-natal, malformações craniofaciais (microcefalia em 80% dos casos);
- atraso no desenvolvimento intelectual e psicomotor;
- quantidades < de álcool: efeitos alcoólicos fetais (FEA), ↓peso à nascença, efeitos neurológicos e
comportamentos menos marcados.
Carcinogénese do etanol:
- estudos epidemiológicos: fator causal de tumores da cavidade oral, faringe, laringe, esófago e fígado;
- não há evidência que etanol seja carcinogénico completo mas promove carcinogénese em modelos animais
e parece atuar como co-carcinogénico (ex: do tabaco e infeção por vírus hepatite B).
• METANOL
Semelhante ao etanol mas tem elevado peso molecular e o seu potencial de toxicidade é muitíssimo +
elevado. Está presente no ar exalado, sangue, urina, saliva e leite materno. As suas origens são:
- consumo de bebidas alcoólicas, frutos e vegetais (pectina), fermentação anaeróbia pela microflora
intestinal, vias metabólicas da S-adenosilmetionina (hidrólise de ésteres metílicos) à ou seja, em condições
fisiológicas e moderadas há metanol na circulação.
Metabolitos do etanol: ácido fórmico e formaldeído (muito reativo) à em doentes neurológicos e idosos,
há exposição endógena deste e potencial envolvimento em patologia humana.
Formaldeído apresenta formas endógenas e exógenas, como: desaminação oxidativa da metilamina,
conversão da glicina em serina pelo THF (metabolismo de aa), desmetilação da lisina (metabolismo de aa),
dieta (café, carne), fármacos (selegilina).
Usos: solvente, desnaturante do etanol, contaminante de bebidas alcoólicas (ilegal), agente anticongelante
(carros, tentativa de suicídio), fonte de combustível.
Toxicidade para o homem à concentrações fisiológicas normais (80,2-5,4 mg/L) são 400-100x inferiores às
concentrações tóxicas: ingestão de 10-15mL leva a cegueira, ingestão de 30mL pode ser fatal, dose letal por
via oral é 1mL/kg à há fatores de grande interindividualidade (até podem ser concentrações <).
Sintomas de intoxicação
- ligeira inebriação (semelhante ao etanol);
- 12-24h após ingestão: período assintomático – devido à demora da bioativação metabólica;
- 18-48h após ingestão: distúrbios visuais, náuseas, vómitos, dores abdominais, tonturas, cefaleias, coma,
edema cerebral e morte.
À semelhança do etanol, há efeitos tóxicos devido à bioativação metabólica pelo álcool e aldeído
desidrogenase com desequilíbrio NADH/NAD+ levando a alteração do potencial redox das células e produção
energética.
Na fase de destoxificação: ácido fórmico converte-se em CO2. Ácido fórmico existe em equilíbrio
dependendo do pH – na forma ionizada permanece no sangue mas em acidose está na forma não ionizada
(ácido fórmico) e atinge o interior celular.
Acidose metabólica
- ↑razão NADH/NAD+ - há ↑NADH, a LDH vai converter o piruvato em lactato (sentido inverso da reação);
- inibição da citocromo oxidase mitocondrial (pelo ácido fórmico) – ou seja, há inibição do complexo final da
cadeia transportadora de eletrões na mitocôndria à processos aeróbios de produção de energia ficam
inibidos e há necessidade de ativar processos anaeróbios (acumulação de lactato);
- acumulação de lactato e ácido fórmico, ambos metabolitos acídicos.
Depressão do SNC
- acidose favorece acumulação de ácido fórmico na forma não ionizada no SNC;
- circulus hypoxicus (ciclo vicioso): ↓pH resulta na ↓concentração de formato e ↑ácido fórmico com >
capacidade de penetrar no SNC;
- acidose metabólica potencia a toxicidade do formato e leva a inibição da citocromo oxidase que ↑ com
↓pH.
Cegueira: células da retina e do nervo ótico são muito dependentes da produção energética das
mitocôndrias, logo são suscetíveis a este mecanismo de toxicidade do metanol. Inibição da citocromo
oxidase e ↓ATP por dissipação do gradiente de protões da cadeira respiratória vão comprometer as funções
do nervo ótico.
Biomarcadores
- níveis de ácido fórmico no sangue e tecidos: é o + comum – há correlação direta entre a letalidade e a
acumulação de ácido fórmico (há danos visuais permanentes em conc > 7 mM);
- níveis de metanol no sangue e cérebro: + útil post mortem, metanol acumula-se + no cérebro;
• BENZENO
Biomarcadores
à biomarcadores de exposição:
- níveis de benzeno no ar expirado são semelhantes aos níveis sanguíneos;
- metabolitos urinários (melhores e suficientemente específicos):
- fenol, catecol, 1,2,4-triidroxibezeno, ácido mucónico: não sensíveis nem específicos;
- ácido s-fenilmercaptúrico: único admitido por ser específico com T1/2 +/- longo;
à biomarcadores de efeito:
- hemograma: contagem de células sanguíneas para verifica pancitopenia;
- aductos/dano no DNA: detetado em trabalhadores expostos a benzeno. Correlação entre níveis de aductos
na MO e suscetibilidade à genotoxicidade e carcinogenicidade em roedores – aductos com Hb e proteínas
apenas encontrados em roedores. Em humanos, ainda não são aceites como biomarcador;
à biomarcadores de suscetibilidade: polimorfismo das enzimas metabólicas
- CYP2E1 (polimorfismo pode afetar suscetibilidade ao benzeno): quanto > atividade CYP2E1, > probabilidade
do dano e desproteção contra o dano;
- NQO1 (NADPH quinona oxirredutase 1): reduz espécies fortemente oxidantes – confere proteção.
• HIDROCARBONETOS HALOGENADOS
Importantes a nível industrial e doméstico, apesar da sua toxicidade, por serem pouco inflamáveis tornando-
se mais seguros. São poluentes ambientais persistentes que afetam tanto a água como o ar.
à intermediários de síntese química; solventes pouco inflamáveis (lipófilos); pesticidas; exposição
ocupacional e ambiental; por serem muito lipossolúveis são rapidamente absorvidos por inalação ou
ingestão; depressores do SNC (alterações comportamentais).
DICLOROMETANO
- exposição por inalação: ocupacional e doméstica;
- presentes nos efluentes e no ar;
- usado como: agente desengordurante, na remoção de tintas e vernizes, na indústria alimentar, no fabrico
de plásticos, propelente de aerossóis.
- via oxidativa: intermediário cloreto de formilo pode ser oxidado a monóxido de carbono ou conjugar
diretamente com o nucleófilo (glutationa) à complexo cloreto de formilho + glutationa oxidado leva a
produção de CO2 que é depois eliminado pelo ar exalado. à há depleção da glutationa (antioxidante cel).
CLORETO DE VINILO
- é um gás mantido na forma líquida sob pressão (solvente extraordinariamente lipófilo);
- não tem utilização doméstica mas sim industrial – matéria prima na síntese de plásticos (cloreto de
polivinilo, PVC). Importância em intoxicações ocupacionais.
- muito bem absorvido através da pele;
- carcinogéneo animal e humano: angiossarcoma
no fígado, tumores no pulmão e sistema
hematopoiética, e possivelmente no cérebro.
Intoxicações
- cenário acidental à exposição aguda: há depressão do SNC (narcose);
- cenário ocupacional à intoxicação crónica: Doença de Cloreto de Vinilo/ Fenómeno de Raynaud – há
alterações imunológicas devido à reatividade dos metabolitos que alteram proteínas e formam antigénios,
ex: espamos e oclusão das artérias digitais originando alterações na pele e ossos das mãos;
- alterações imunológicas: ↑imunoglobulinas plasmáticas, ativação do complemento - síndrome
manifestado por fibrose pulmonar, hepática e do baço e esclerose da pele;
- lesão hepática: hepatomegalia;
- efeitos sobre a função reprodutora em ambos os sexos;
- carcinogénese: hemangiossarcomas em humanos (tumores das células sinusoidais da vasculatura
hepática); é carcinogénico em humanos e mutagénico/carcinogénico em animais.
• MONÓXIDO DE CARBONO
- características: inodoro, incolor, não irritante, sem paladar;
- exposições: muito frequentes e independentes do poder económico de cada país. Podem ser voluntárias
ou acidentais (domésticas como em materiais de aquecimento ou ocupacionais). A nível de exposição
ambiental, CO é o + abundante material antropogénico emitido anualmente – em centro urbano é >
concentração relativamente a zonas urbanas e residenciais. Locais perto de autoestradas: conc > 87 ppm.
Origens: fontes naturais (oxidação atmosférica de metano, oceanos), combustão incompleta de matéria
orgânica, exaustão de automóveis, fumo do cigarro (carbo-hemiglobinémia), combustão de plástico,
metabolização de diclorometano, incêndios.
à principal causa de morbilidade mortalidade por envenenamento nos EUA: 64% por aquecimento
defeituoso 5600 mortes/ano por inalação de fumo, > nos meses frios.
à em Portugal, também é um importante agente de envenenamento.
Toxicocinética:
- absorção: via pulmonar como exposição – todo CO inalado é absorvido. Há produção endógena através do
catabolismo do grupo heme (no fígado, baço e cérebro) – em não fumadores, níveis normais: até 5%;
- absorção de CO exógeno depende: concentração da atmosfera, da duração de exposição e da capacidade
de ventilação do indivíduo (arejamento rápido do local pode se salvar o indivíduo);
- distribuição: CO transportado no sangue ligado à Hb disponível, permanece no sangue mas cerca de 15%
pode passar para os tecidos por ligação à mioglobina;
- eliminação: pulmonar e T1/2 = 252 min (249-320 min).
Morbilidade vs mortalidade
à danos cognitivos persistentes em cerca de 50% dos doentes com intoxicações sintomáticas (mesmo
quando sobrevivem, há neurotoxicidade persistente). A > ou < probabilidade desenvolver neurotoxicidade
retardada, já depois da recuperação, não consegue ser explicada à não há correlação direta entre grau de
hipoxia/níveis de COHb e gravidade da intoxicação.
- monóxido deve atuar por mecanismos complementares que explicarão a toxicidade adicional.
3- Interação com: mioglobina (contém ferro), citocromo P450 (ligação ao Fe2+), enzimas (guanilato
ciclase, NADPH oxidase, xantina oxidase – ficam ação comprometida), canais iónicos (inibição destes
a nível neuronal, CV e no SNC – elevada neurotoxicidade), NO e NO sintetase (libertação é ↑ levando
a hipotensão, morte celular e ativação do SI).
Intoxicação Aguda
• Patologia
Alterações a nível do SNC e CV: neuropatia periférica, disfunção neuronal e do miocárdio, danos neuronais
das células + sensíveis à hipoxia (gânglios basais, hipocampo, córtex cerebral e células de Purkinje), danos
para as células vasculares endoteliais e do músculo liso, hemorragias no cérebro, pleura e pulmão, alterações
isquémicas no coração e necrose muscular, cefaleias severas resultantes de edema cerebral e pressão
intracraneal ↑ à morte por hipoxia e falha respiratória (depressão do SNC);
• Diagnóstico
- evidências circunstanciais: exemplo – vítimas de incêndio;
- doseamento de carboxihemoglobina no sangue: permite diagnosticar e iniciar o tratamento. Doseamento
em situações post-mortem: disfarce de uma morte – análise de %COHb (quando a pessoa já estava morta
antes do incêndio, não vai ter níveis elevados de carboxihemoglobina no sangue porque não estaria a
respirar já durante o incêndio) ou doseamento em paralelo de outros agentes presentes num incêncio (HCN,
HCL).
Efeitos teratogénicos: inalação de CO durante a gravidez por fumo de tabaco (consumo elevado) resulta no
↑significativo de níveis COHb e ↓capacidade de oxigenação dos tecidos fetais. Isto causa efeitos
indesejáveis no feto (baixo peso à nascença, sequelas neurológicas) e sobre o SNC.
• CIANETOS
Usos: fumigante, esterilização de solos, síntese química (HCN e sais), na metalúrgica (forma complexos com
metais), limpeza de metias, aplicações domésticas (polimento de pratas, inseticidas e rodenticidas), presente
em vários alimentos* e como conservante alimentar, combustão de HCN (em plásticos, lã, seda...), é um
metabolito do nitroprussiato de sódio (grave em doente mal nutridos – depleção de sulfato endógeno).
*glicosídeos cianogénicos – amigdalina e linamarina – sofrem hidrólise a ácido cianídrico, mas se esta
hidrólise não for suficientemente longa, o consumo deixa de ser seguro à vit B12 na destoxificação.
Ex: amigdalina – se encontrar beta-glucosidase a nível intestinal, há libertação de ácido cianídrico e
benzaldeído (cheiro de amêndoas amargas).
Toxicocinético
à dose necessária para produzir toxicidade depende:
- HCN vs CN-: ácido é + toxico que o ião cianeto pois o ião carregado tem > capacidade de permeação e
difusão das barreiras celulares;
- duração da exposição;
- via de exposição: inalação é + perigoso, ingestão é necessário + tempo e dose + ↑), dérmica.
Absorção e distribuição: há equilíbrio HCNàCN- (pH fisiológico predomina HCN) – há > predomínio do ácido
para o interior das células, com difusão rápida pelas membranas e atingimento rápido dos órgãos alvo.
Eliminação: <15% sofre metabolismo total com conversão em ácido carboxílico ou cianocobalamina (B12)
mas a via principal: conversão irreversível em tiocianato (destoxificação) mas isto não é isento de toxicidade
– tem efeitos na tiroide. CN- + S2O32- - SCN- + SO32- à com recurso à rodanase (ubiquitária,
predomina no fígado) e beta-mercaptopiruvato-cianeto sulfotransferase.
Mecanismo de ação: elevada afinidade para Fe3+ leva à reação com este ião na citocromo oxidase da
mitocôndria (complexo terminal da cadeia transportadora de eletrões), inibindo a respiração celular e
causando hipoxia citotóxica.
Consequências: ↓síntese ATP, stress oxidativo (redução univalente de O2, ROS), acidose lática (acumulação
de H+ e lactato, > NADH/NAD+, hipoxia), inibição da dissociação de O2Hb*
*diferente do CO – O2 não é utilizado, ↑tensão periférica de O2 (oxigenação de sangue venoso) à estímulo
inibitório da dissociação de Hb e O2 não chega aos tecidos.
Mecanismo de ação
Cianetos interrompem a cadeia transportadora de eletrões por inibição do último complexo, ou seja,
citocromo oxidase mitocondrial – processos aeróbios de produção de energia são interrompidos. Há
necessidade de obter energia através da glicose anaeróbia com conversão da glucose em piruvato, havendo
assim acumulação de NADH. A LDH consome o NADH com conversão do piruvato a lactato à acumulação
anormal deste a nível intracelular.
Devido à sobra de protões e eletrões, é favorecida a redução univalente do oxigénio e há formação de ROS
à fenómenos de stress oxidativo e < síntese de ATP leva a acidose.
Oxigénio não vai ser usado, há ↑tensão periférica de oxigénio e há um estímulo inibitório à dissociação da
oxiemoglobina à hipoxia – sangue venoso tem oxigenação normal e pessoas ficam com coloração rosada.
Intoxicação aguda
• Tempo para que ocorram sintomas
- segundos após inalação de HCN o CN- intravenoso;
- minutos após ingestão de sais de CN (oral);
- horas/dias após ingestão de compostos cianogénicos, dependendo da velocidade de metabolização,
quantidade enzimática e microbiota intestinal, capacidade de > ou < libertação dos cianetos;
• Sintomas
- SNC: sintomas de hipoxia – dor de cabeça, ansiedade, agitação, letargia, convulsões e soma;
- Sintomas CV: perda da força contráctil, depressão do miocárdio, bradicardia e hipotensão;
- trato GI: inflamação da mucosa gástrica, hemorragia gástrica, corrosão do trato GI, dor abdominal, cómito
e náusea;
- pulmão: edema pulmonar (cardiogénico) e dano pulmonar agudo (neurogénico ou dano direto nos
penumócitos);
- trato respiratório: corrosão moderada da mucosa por inalação de HCN.
à morte: resulta da paragem respiratória (efeito central nas células do centro respiratório que são
particularmente seníveis à hipoxia) – toxinas asfixiantes.
à após recuperação: há sequências neurológicas.
Manifestações clínicas retardadas (semanas ou meses): podem resultar de dano direto do SNC ou
secundárias à hipoxia à sequelas neurológicas persistentes (doença de Parkinson, alterações
extrapiramidais reversíveis ou não), afeta áreas + dependentes de O2 no cérebro (cerebelo, córtex motor e
sensorial, gânglios basais, globus pallidus, putamen, hipocampo).
Toxicidade crónica
- neuropatias: nos trópicos – consumo de mandioca não. Corretamente processada com ↑teor de
linamarina e ciano-hidrina associada a baixa ingestão de B12 e fontes de sulfatos na dieta;
- danos endócrinos: disfunção da tiróide (hipotiroidismo), SCN compete com absorção do iodo para a tiroide;
Diagnóstico de intoxicação: provas circunstanciais, acidose metabólica (↑lactato, desequilíbrio de pH
sanguíneo), oxigenação do sangue venoso, quantificação de CN em soro ou sangue total (CN sequestrado
nos eritrócitos, CN na urina, SCN na urina e no soro – marcador de exposição).
[CN] em sangue total: 0,02-0,5 μg/mL normal em não-fumadores | > 0,5 μg/mL: possível toxicidade em não-
fumadores | > 2,5 μg/mL: coma e depressão respiratória | > 3 μg/mL: morte;
à em níveis fisiológicos são muito baixos.
Tratamento de intoxicações
- metahemogloinémia (desviar CN da cadeia transportadora de eletrões): administração de nitrito de amilo
por inalação e logo que possível administração de nitrito de sódio IV: favorece oxidação da HB a Meta-HB;
- administração de 4-dimetilaminofenol IV;
- fornecimento de O2 (100% ou hiperbárico) para combater hipoxia e NaHCO3 para combater acidose.