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Resumo - Princípios básicos de toxicologia

Toxicologia: ciência que estuda os efeitos nocivos decorrentes das interações das substâncias
químicas com o organismo, com finalidade de prevenir, diagnosticar e tratar a intoxicação.
Xenobióticos: substâncias químicas estranhas ao organismo sem valor nutritivo.
Agente tóxico: causam danos a um sistema biológico, alterando a função ou levando a morte.
Intoxicação: manifestação do efeito tóxico, conjunto de sinais que revelam o desequilíbrio produzido
pela interação do agente tóxico com o organismo.
Toxicidade: capacidade inerente e potencial do agente tóxico de provocar efeitos nocivos em
organismos vivos, o efeito tóxico é geralmente proporcional à concentração do agente tóxico ao nível
do sítio de ação (tecido alvo).
Ação tóxica: maneira pela qual um agente tóxico exerce sua atividade sobre estruturas teciduais.
Grau de toxicidade: é avaliado quantitativamente pela medida da DL 50.
DL 50: dose de um agente tóxico capaz de produzir morte de 50% da população em estudo, então,
quanto menor for sua DL 50, mais tóxico o agente.
Fracionamento da dose total: reduz a probabilidade de que o agente venha a causar efeitos tóxicos, a
razão para isso é que o corpo pode reparar o dano.
- Ex: 30 mg de estricnina ingerida de uma só vez pode ser fatal para um adulto, enquanto que 3
mg ingeridas a cada dia por 10 dias podem não ser fatais.
Fatores que influenciam a toxicidade:
- frequência de exposição.
- duração da exposição.
- via de administração da substância.
- associação de múltiplas substâncias.
- efeito aditivo: quando o efeito final é a soma dos efeitos de cada um dos agentes
envolvidos.
- efeito sinérgico: quando o efeito final é maior que a soma dos efeitos de cada agente
em separado.
- potencialização: quando o efeito de um agente é aumentado se combinado com
outro agente.
- antagonismo: quando o efeito de um agente é diminuído, inativado ou eliminado se
combinado com outro agente.
- reação alérgica: reação adversa que ocorre após uma prévia sensibilização do
organismo a um agente tóxico.
Classificação das intoxicações:
- tempo de exposição:
- intoxicação aguda: período de tempo aproximado de 24h, os efeitos surgem de
imediato ou no decorrer de alguns dias, no máximo duas semanas.
- intoxicação subaguda ou subcrônica: exposições repetidas a substâncias químicas,
denomina-se intoxicação subaguda quando ocorre exposição durante um período
menor ou igual a um mês, enquanto que, para períodos entre 1 a 3 meses,
classifica-se como intoxicação subcrônica.
- intoxicação crônica: efeito tóxico após exposição prolongada a doses cumulativas
do toxicante, num período prolongado, geralmente maior de 3 meses, chegando até a
anos.
- fases da exposição:
- fase de exposição: é a fase em que as superfícies externa ou interna do organismo
entram em contato com o toxicante - via de introdução é importante no prognóstico.
- fase de toxicocinética: processos envolvidos na relação entre a disponibilidade
química e a concentração do agente nos diferentes tecidos do organismo.
- fase de toxicodinâmica: interação entre as moléculas do toxicante e os sítios de
ação, específicos ou não, dos órgãos e alteração do equilíbrio homeostático.
- fase clínica: é a fase em que há evidências de sinais clínicos, alterações patológicas
detectadas mediante provas diagnósticas, caracterizando os efeitos nocivos
provocados pela interação do toxicante com o organismo.

Durante a toxicocinética, o organismo age sobre o agente tóxico de modo a reduzir suas ações
nocivas, resultando daí a quantidade de toxicante disponível para interação com o local-alvo. O
trânsito desse composto desde a entrada no corpo até a sua eliminação envolve o transporte de
membranas celulares, dividindo-se em absorção, distribuição, biotransformação e excreção.
- ABSORÇÃO: definida pela passagem do toxicante do meio externo para um meio interno com
introdução na circulação sanguínea sistêmica. O mecanismo de entrada do organismo
depende de fatores intrínsecos ao contaminante e às células, podendo ocorrer pelas vias
respiratória, dérmica ou gastrointestinal.
- via dérmica: no estado íntegro, a pele constitui uma barreira efetiva contra a
penetração de substâncias químicas exógenas. Alguns compostos, no entanto,
podem sofrer absorção cutânea, dependendo de fatores tais como a anatomia e as
propriedades fisiológicas da pele e das características físico-químicas dos agentes.
O contato entre o organismo e o meio externo pode ser feito pelos folículos pilosos e
glândulas sebáceas/sudoríparas. É a principal porta de entrada de intoxicações por
agrotóxico, os fatores ligados a absorção via dérmica são o tempo de exposição,
hidro e lipossolubilidade, tamanho da molécula, temperatura do corpo e do ambiente
e volatilidade. Os efeitos do agente tóxico na pele podem ser tópicos (corrosão,
sensibilização e mutação), ou sistêmicos (afetando tecidos distantes).
- via respiratória: o fluxo sanguíneo contínuo exerce uma boa ação de dissolução e
muitos agentes químicos podem ser absorvidos rapidamente a partir dos pulmões.
Os agentes passíveis de sofrerem absorção pulmonar são os gases, vapores e os
aerodispersóides. Essas substâncias poderão ser absorvidas tanto nas vias aéreas
superiores quanto nos alvéolos. Algumas partículas podem ser retiradas na VAS por
seu elevado diâmetro e hidrossolubilidade. Nos alvéolos, o gás inalado entra em
contato com o sangue circulante, que se comporta de uma entre duas formas:
dissolvendo o tóxico ou reagindo quimicamente com ele. As moléculas do agente
que não sofrem modificação permanecem no local.
- via gastrointestinal: a absorção de um tóxico no TGI pode ocorrer desde a boca até o
reto. Poucas são as substâncias que sofrem absorção oral, dado o pequeno tempo
de contato nesta região. Caso não consiga ser captado neste momento, o toxicante
poderá ser absorvido no TGI nas porções onde se depositam maiores quantidades de
material lipossolúvel, captado pelas microvilosidades (que aumentam a superfície de
contato).
- DISTRIBUIÇÃO: o agente tóxico é transportado para o restante do organismo, deslocando-se
para um grande número de células e tecidos. A concentração do toxicante não é a mesma
em todo corpo, nem se distribui proporcionalmente à área afetada. Em sua circulação, tal
contaminante pode ser biotransformado, ligar-se a locais de ação, proteínas de membrana ou
eritrócitos, ser eliminado ou armazenado. Os fatores que influem na distribuição e acúmulo
estão relacionados com a irrigação do órgão, pois uma maior vascularização facilita o
contato do agente tóxico, o conteúdo aquoso ou lipídico e a integridade do órgão. Os
principais locais de armazenamento são: proteínas plasmáticas, fígado e rins, tecido ósseo,
tecido adiposo, placenta, leite materno e pelos. A saída definitiva do composto será mediada
por biotransformação e excreção.
- BIOTRANSFORMAÇÃO: para reduzir a possibilidade de uma substância desencadear uma
resposta tóxica, o organismo apresenta mecanismos de defesa que buscam diminuir essa
quantidade que chega de forma ativa ao tecido alvo, assim como reduzir o tempo de
permanência em seu sítio de ação. Logo, a biotransformação pode ser compreendida como
um conjunto de alterações químicas ou estruturais que as substâncias sofrem no organismo,
geralmente ocasionadas por processos enzimáticos, com o objetivo de diminuir ou cessar a
toxicidade e facilitar a excreção. Os locais de desenvolvimento desse processo são o
intestino, os rins, pulmões, testículos, a placenta e o fígado (principal ponto de metabolização
de substâncias endógenas e exógenas). A biotransformação é efetuada geralmente por
enzimas. A eficiência do processo depende de fatores como a dose e a frequência de
exposição, espécie, idade, gênero, variabilidade genética, estado nutricional, estado
patológico e a exposição a outros agentes.
- EXCREÇÃO: os toxicantes que penetram no organismo são, posteriormente excretados
através da urina, bile, fezes, ar expirado, leite, suor e outras secreções, sob forma inalterada
ou modificada quimicamente. A excreção pode ser vista como um processo inverso ao da
absorção, pois os fatores que interferem na entrada do contaminante no organismos podem
dificultar sua saída, a saber:
- via de introdução: interfere na velocidade de absorção, de biotransformação e
também na excreção.
- afinidade por elemento do sangue e outros tecidos: geralmente o agente tóxico na
sua forma livre está disponível à eliminação.
- facilidade de biotransformação: com o aumento da polaridade a secreção por via
urinária fica facilitada.
- frequência respiratória: acelera as trocas gasosas auxiliando na excreção pulmonar.
- função renal/hepática: por ser a principal via de eliminação de contaminantes,
qualquer disfunção dos órgãos irá interferir na velocidade e proporção de excreção.
- TOXICODINÂMICA: é caracterizada pela presença, em sítios específicos, do agente tóxico ou
dos produtos de biotransformação que ao interagirem com as moléculas orgânicas
constituintes das células produzem alterações bioquímicas, morfológicas e funcionais que
caracterizam o processo de intoxicação. Nessa etapa podem ocorrer interações de adição,
sinergismo, potenciação e antagonismo entre as substâncias, podendo aumentar ou diminuir
os efeitos tóxicos.

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