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SOLVENTES ORGÂNICOS

NOÇÕES GERAIS

1. Definição
Os solventes são compostos orgânicos que intervêm em diversas operações físicas ou químicas sem serem
destruídos. São compostos líquidos ou mistura de compostos orgânicos líquidos ou aquosos que possuem a
propriedade de dissolver outras substâncias sem se alterarem quimicamente nem modificar as substâncias
dissolvidas. São compostos lipossolúveis. São voláteis e inflamáveis. A ação dos solventes orgânicos no corpo
humano é semelhante ao efeito dos anestésicos, ou seja, inibe a atividade do cérebro e da medula espinhal,
diminuindo a capacidade funcional do sistema nervoso central, tomando-a menos sensível aos estímulos. Os
solventes são substâncias lipofílicas, ou seja, eles apresentam grande afinidade pela gordura, acumulando em órgãos
e tecidos do corpo que possuem tecido adiposo (gorduras). Uma vez depositados, os solventes alteram a
excitabilidade normal das células, suprimindo a condução normal dos impulsos nervosos.
Alguns solventes evaporam rapidamente à temperatura e pressão normal, dando origem a emissões de
compostos orgânicos voláteis (COV). Os COV são compostos que excluindo o metano contém carbono e hidrogênio,
o qual pode ser substituído por outros átomos como os halogênios, o oxigênio, o enxofre, o nitrogênio ou o fósforo,
com exceção do óxido de carbono e dos carbonatos.
As aplicações dos solventes são inúmeras podendo-se mesmo afirmar que o uso de solventes se encontra no
centro da indústria atual. De fato, os solventes estão por todo o lado para desengordurar, solubilizar, limpar,
desempoeirar, retirar as camadas de tintas de aviões, barcos, etc. Entre as atividades que empregam estas
substâncias, destacamos:
- Impressão gráfica
- Produção farmacêutica
- Produção química
- Produção de Tintas e Vernizes e lacas
- Limpeza doméstica e industrial (desengraxe)
- Combustíveis (gasolina, querosene, etc)
- Matérias primas (plásticos, explosivos, etc)
- Indústria de extração (óleos comestíveis, perfumes, etc)
Existem centenas de diferentes solventes orgânicos no mercado e por isso mesmo é muito raro estar-se
exposto a apenas um tipo específico de cada vez. A exposição a misturas é freqüente.

2. Características Químicas
Os grupos químicos principais são: álcoois, cetonas, éteres, ésteres, hidrocarbonetos aromáticos e alifáticos,
halogenados ( clorados, clorofluorcarbonados, etc)
Ex .: Álcoois: etanol, propanol, metano e butanol.
- Cetonas: propanona (acetona comum), metil-etil-cetona, metil-butil-cetona.
- Éteres: éter metílico, éter etílico (éter comum).
- Ésteres: acetato de etila, acetato de propila.
- Halogenados: clorofórmio, tetracloreto de carbono, tricloroetileno, diclorodifluor-
metano (CFC ou Freon).
- Hidrocarbonetos aromáticos: benzeno, tolueno, xileno, estireno.
- Hidrocarbonetos alifáticos: pentano (éter de petróleo), n-hexano (benzina), octano
(presente na gasolina)

2.1 - Produtos Comerciais em que São Encontrados


- gasolina, querosene, removedor, varsol,
- benzina
- cola de sapateiro
- cola de borracha
- tintas e vernizes: misturas (thiners)
- lança-perfume (clorados)
- bebidas (pinga, cervejas, vinhos, etc)

2.2 – Riscos
Explosão e incêndio e intoxicações agudas e crônicas.

3. Toxicologia
A absorção é praticamente instantânea através dos pulmões (difusão pela membrana alvéolo-capilar). Pode
ocorrer a absorção cutânea. É transportado principalmente na fração lipídica do sangue. Chega aos tecidos e atinge
os diferentes órgãos e tecidos. Quanto maior é o teor lipídico de um tecido, maior é a quantidade de solvente
presente.
O equilíbrio entre a concentração no ar ambiente e a concentração nos tecidos é atingido rapidamente
( poucas horas).
Quando o indivíduo sai do ambiente contaminado, o solvente é excretado através dos pulmões, também por
difusão simples. Algumas substâncias possuem grande proporção de biotransformação, como por exemplo, álcool
etílico (quase 80% é biotransformado em ácido acético e 20% sai sem modificação no ar exalado) e benzeno (quase
60% é excretado em forma de fenol na urina e 40% é eliminado através dos pulmões).
Outras sofrem pouca ou nenhuma transformação como o tricloroetileno (97% é excretado sem modificação
pelo ar exalado e apenas 3% é eliminado como ácido tricloroacético na urina), ou diclorodifluormetano (100% é
eliminado sem alteração pelo ar exalado).
Seja qual for o caso, a eliminação é muito rápida (a meia vida de um solvente é de poucas horas).

3.1. Efeitos Inespecíficos ou Comuns


Agudo: Basicamente causa depressão do SNC. Dependendo da dose pode variar de uma leve diminuição de
reflexos e sonolência, até coma e morte por parada cárdio-respiratória. Uma exposição moderada pode causar
tonturas, diminuição dos reflexos e atenção, cefaléia, náuseas e inapetência.
Todos os solventes possuem este efeito indistintamente. Há diferenças de potência entre eles, sendo que os
halogenados são os mais potentes (usados em anestesia).
Crônico: alterações psiconeurológicas como atenção, memória, reflexos, distúrbios de comportamento, etc.
Ocorrem após longos anos de exposição a doses baixas, comuns em ambientes de trabalho. Não são
reversíveis, sendo encarados como seqüela neurológica.
BENZENO (C6H6)

O benzeno é um hidrocarboneto cíclico aromático, líquido, incolor, volátil, com odor agradável de ameixa e
altamente inflamável e os seus vapores são explosivos. É pouco solúvel em água, mas miscível com a maior parte
dos solventes orgânicos. Na sua análise química são utilizadas técnicas de cromatografia de gás para a sua
separação, com detecção por ionização por chama, fotoionização ou espectrometria de massa. É produzido,
principalmente, pela destilação do petróleo ou na siderurgia (como produto secundário do coque metalúrgico). Usado
na produção de álcool anidro (como azeótropo), produção de detergentes, solventes e produção de várias
substâncias químicas. Já foi usado como combustível automotivo, na Europa, misturado à gasolina. É utilizado nas
indústrias químicas como matéria-prima para fabricação de plástico e outros compostos orgânicos (p.e. estireno,
fenóis, ciclohexano, etc.); nas indústrias da borracha; como solvente de tintas e vernizes, colas e semelhantes; como
aditivo nos combustíveis para veículos, substituindo, em parte, o chumbo e limpeza a seco. Atendendo aos seus
efeitos na saúde, foi substituído por outros produtos, neste tipo de utilização.
A intoxicação humana pelo benzeno pode ocorrer por três vias de absorção: respiratória (aspiração por
vapores), cutânea e digestiva. As intoxicações agudas caracterizam-se, sobretudo pelos seus efeitos narcóticos. A
exposição prolongada ao benzeno provoca diversos efeitos no organismo humano, destacando-se entre eles a
mielotoxidade (leucopenia, anemia), a genotoxidade (alterações hereditárias) e a sua ação carcinogênica (leucemias,
linfomas). São conhecidos, ainda, efeitos sobre diversos órgãos como o sistema nervoso central, e os sistemas
endócrino e imunológico. Pode ocorrer, também, toxicidade para o fígado e para os rins, mas os efeitos sobre o
sistema sanguíneo são os mais importantes.

Efeitos tóxicos
A absorção do benzeno, por via aérea e por via oral, é feita facilmente. A eliminação é feita por via aérea
através do ar expirado. Os metabólitos da decomposição do benzeno no organismo são eliminados principalmente
por via urinária. Por ingestão ou pela via dérmica a absorção é relativamente reduzida.
Foi demonstrado que o benzeno produz um considerável número de efeitos biológicos.
A intoxicação aguda produz irritação de brônquios e laringe, tosse, rouquidão e edema pulmonar.
Concentrações maiores, na intoxicação aguda, podem provocar arritimias ventriculares, paralisia e inconsciência. Os
efeitos agudos do benzeno refletem a sua atividade como anestésico geral e podem conduzir a uma depressão do
sistema nervoso central, causando fadiga, dores de cabeça, tontura, convulsão, perda de consciência, sensibilização
do miocárdio às catecolaminas, coma e morte, dependendo da concentração.
A exposição crônica pode resultar na depressão de medula óssea que provoca leucopenia, anemia, e/ou
trombocitopenia. Este tipo de exposição pode também desencadear uma resposta carcinogénica desenvolvendo
leucemia, e outros cancros. Lesões no aparelho reprodutor e retardamento no crescimento fetal podem também ser
verificados. Os efeitos imunotóxicos do benzeno podem ser observados e estão relacionados com os danos na
medula óssea e as alterações ocorrem na imunidade celular e humoral. O efeito mais relevante do benzeno é a
toxicidade hematopoiética que resulta da lesão da medula óssea. As primeiras manifestações da exposição ao
benzeno são anemia, leucopenia e aplasia. A exposição crónica ao benzeno desencadeia depressão da medula
óssea que é tanto maior quanto maiores forem as doses de exposição (fenómeno dependente da dose). Os
indivíduos que não sofrem ou sobrevivem às primeiras manifestações de toxicidade têm no entanto maior
probabilidade de vir a sofrer de leucemias. Foram estabelecidas relações causais entre: leucemia mielóide aguda,
leucemia linfóide aguda, pré-leucemia, eritroleucemia aguda, leucemia indiferenciada aguda, leucemia pré-
mielocítica, leucemia mielóide e linfóide crónicas, mieloma múltiplo, linfoma de Hodgkin e a exposição ao benzeno. A
intoxicação crônica por benzeno também tem efeitos hepatotóxicos.
Um terceiro tipo de impacto biológico é a produção de respostas teratogênicas tais como aberrações
cromossômicas, trocas de cromatides e micronúcleos.
Na forma de líquido o benzeno é absorvido pela pele, provocando dermatite de contato. Por ser um forte
solvente, provoca bolhas na pele, devido à dissolução de gorduras.
Os seguintes sintomas podem ser indicativos de benzenismo: astenia, infecções repetidas ou oportunistas,
hemorragias e distúrbios neurocomportamentais (cefaléia, tontura, fadiga, sonolência, dificuldade de memorização,
etc.)

Metabolismo
Estas reacções metabólicas ocorrem principalmente no fígado. Os conjugados e outros metabolitos aí
formados são transportados na circulação sanguínea até à medula óssea, onde são hidrolizados e oxidados a
quinonas que exercem efeitos tóxicos.
O metabolismo que ocorre na medula óssea também é importante neste processo e envolve essencialmente
reacções não microssomais das quais resultam quinonas e semiquinonas.
Todos os mecanismos que potenciam a metabolização do benzeno pelas vias referidas aumentam
consequentemente os seus efeitos tóxicos. Ex: a indução do CitP450 (isoenzima CYP2E1) pelo etanol leva ao
aumento da mielotoxicidade.
As investigações demonstram que os metabolitos desencadeiam a sua toxicidade através de vários
mecanismos. Resumidamente pode-se dizer que os metabolitos do benzeno têm a capacidade de se ligar
covalentemente ao DNA, ao RNA e a proteínas. Consequentemente enzimas podem ser inibidas, a produção de
fatores necessários à hematopoiese pode ser alterada, podem ocorrer alterações cromossómicas, etc. O culminar
deste processo são os problemas de saúde já referidos.
A maior parte dos metabolitos são eliminados por via urinária.
Exposição ocupacional
A exposição ao benzeno pode ser medida através de metabolitos urinários específicos como 1,2,4-
triidroxibenzeno; ácido-S-fenilmercapturico e o ácido t,t-mucônico. O catecol, fenol e hidroquinona não são
específicos porque podem ser encontrados na urina de indivíduos não expostos.
É importante ter em consideração que o metabolismo do benzeno é complexo e varia de indivíduo para
indivíduo em função dos seus genes e em função da presença e ou da exposição anterior a outros xenobióticos.
Estudos epidemiológicos demonstram os efeitos mielotóxicos e carcinogénicos do benzeno. Sendo a maior
parte destes estudos realizados na indústria siderúrgica, petroquímica e de síntese.
N-HEXANO (C6 H14)

O n-hexano é um líquido incolor, volátil, inflamável e de cheiro desagradável, pouco solúvel em água, mas
solúvel na maioria dos solventes orgânicos, incluindo etanol e éter. É constituído por uma mistura de outros solventes
para um número indeterminado de utilizações. O n-hexano é um hidrocarboneto alifático saturado, extraído do
petróleo bruto e do gás natural, o maior componente da gasolina e de uso comum como solvente.
O n-hexano é um produto estável, em condições normais de emprego. O calor pode causar instabilidade
química favorecendo a sua decomposição e assim, libertar gases e vapores tóxicos como o monóxido de carbono.
Pode fazer reação com agentes oxidativos fortes, decompondo-se e causando incêndio e explosões. Não ataca os
metais, mas sim os plásticos, colas e alguns revestimentos. É classificado como inflamável e asfixiante pela NFPA
(National Fire Protection Association).
O n-hexano surge no meio ambiente durante a sua produção e o seu uso. Evapora-se muito facilmente, onde
é degradado em poucos dias. Geralmente não é detectado na alimentação ou em água de consumo, por essa razão
a sua exposição não está relacionada com a ingestão de alimentos ou de bebidas.
Alguns grupos populacionais estão mais expostos a substâncias que contêm n-hexano, tais como:
trabalhadores das refinarias, calçado, técnicos de laboratório, construção civil, pintores, tapeceiros, carpinteiros,
mecânicos de automóveis, entre outros, estando estes mais susceptíveis a efeitos tóxicos.
A forma mais provável de alguém estar exposto ao n-hexano é respirar o ar contaminado com n-hexano, sem
ventilação adequada. Inalar grandes quantidades de n-hexano produz adormecimento de pés e mãos, seguido de
debilidade muscular nas pernas e pés. Uma exposição contínua causa paralisia dos braços e pernas, que é
identificada clinicamente por neuropatia periférica simétrica.
As alterações do sistema nervoso dependem da concentração do n-hexano no ar e da duração de exposição.
Estudos em ratos revelaram que é o 2,5-hexanodiona (produto obtido da degradação do n-hexano) que causa
alterações nervosas e não o próprio n-hexano. O 2,5-hexanodiona é usado como biomarcador da exposição ao n-
hexano. Assim, o doseamento do 2,5-hexanodiona na urina pode detectar a exposição a quantidades perigosas.
Estão descritos estudos efetuados em ratos que demonstram atraso do desenvolvimento pós-natal, quando expostos
a altas concentrações de n-hexano, assim como problemas nos pulmões e nas células que produzem os
espermatozóides.
O n-hexano tem diversos usos comerciais, sendo constituinte de solventes, colas, lacas e adesivos, é
também usado na indústria de borracha, indústria têxtil, indústria mobiliária e processamento de alimentos, incluindo
a extração de óleo vegetal, feijão, soja, amendoim, açafrão, sementes de linho, caroço de algodão e germe de trigo
(contudo, a quantidade de n-hexano detectada nos óleos alimentares usados para a confecção dos alimentos é tão
baixa que, não apresenta qualquer efeito nas pessoas). É ainda utilizado nas formulações de tintas como produto de
limpeza onde se exige um solvente de rápida evaporação. Na indústria do petróleo, é largamente utilizado como
solvente. Nos laboratórios químicos usa-se n-hexano de elevado grau de pureza. Deve ser armazenado em local
ventilado, evitar exposição a temperaturas elevadas, sol e chuva. Manter afastado de ácidos e oxidantes fortes. Em
casos de incêndio utilizar CO2, espuma para hidrocarbonetos ou pó químico e nunca água com jato forte e espuma
para álcool.
Mecanismo de ação
Os efeitos crônicos ocorrem após exposições prolongadas ao n-hexano. Estes efeitos manifestam-se no
sistema nervoso periférico, através da intumescência dos axônios e desmielinização de fibras nervosas. O n-hexano
é metabolizado através da oxidação pelas enzimas hepáticas para 2,5-hexanodiona. Durante a exposição crônica ao
n-hexano, o metabólito 2,5-hexanodiona leva, através de reações químicas, à perda de cargas eléctricas positivas
das proteínas axonais, resultando num bloqueio axonal e na degeneração distal do axônio.
Absorção e penetração
Sendo volátil e lipossolúvel, o n-hexano é absorvido pela via respiratória (15% do total inalado) e através da pele. A
absorção e a distribuição nos tecidos e órgãos (incluindo o sangue) são rápidas. Há pouca informação acerca da
absorção, transformação e mobilização do n-hexano. Sabe-se que, é muito pouco solúvel na água e a absorção
ocorre principalmente por vapores inalados. A solubilidade do n-hexano na água é aumentada pela presença de
metanol. A quantidade absorvida através da pele é extremamente pequena, mas é contudo mais significativa, se o n-
hexano se encontrar misturado com outros solventes.
Distribuição e fixação nos tecidos
Nos mamíferos, o n-hexano é rapidamente absorvido nos pulmões e é distribuído igualmente no corpo de um adulto
como nos tecidos fetais.
Na corrente sanguínea o n-hexano é distribuído através das lipoproteinas plasmáticas, tendo afinidade para o sistema
nervoso, rico em gorduras.
Os picos de maior concentração de n-hexano em laboratório foram encontrados nos nervos periféricos (nervo ciático).
As concentrações médias no sangue, nervo ciático, fígado e pulmão, são diretamente proporcionais ao nível de
exposição, mas há alguma evidência de maior saturação a nível do rim, cérebro e testículo.
As concentrações encontradas no tecido fetal são idênticas à do sangue da mãe.
Biotransformação
O n-hexano é metabolizado no fígado por oxidação em vários metabolitos, sendo o 2,5-hexanodiona o metabolito
tóxico do n-hexano. O n-hexano é também oxidado em 1-hexanol, 2-hexanol ou 3-hexanol. O 2-hexanol pode ser
rápidamente metabolizado em 2,5-hexanodiol (metabolito tóxico para o sistema nervoso). Cada um destes
metabólitos pode sofrer transformações. Após exposição ao tóxico, o metabólito 2-hexanol é o de maior excreção
urinária, seguida do 2,5-hexanodiona.
O 2,5-hexanodiona e o 2-hexanol foram encontrados nos microssomas do fígado.
Estudos recentes demonstraram que durante a inalação do n-hexano, o metabolito 2,5-hexanodiona é formado no
fígado e não no pulmão.
Nos nervos e músculos, o n-hexano é metabolizado em 2-hexanodiol, 2,5-hexanodiona e 5-hidroxi-2-hexanona.
O 2,5-hexanodiona reage com o grupo amina dos aminoácidos como a lisina transformando-se em 2,5-dimetilpirrole.
A formação de pirrole é um passo obrigatório na patogénese e neuropatia causada pelo n-hexano. O 2,5-
hexanodiona aparece como sendo o metabolito ativo neurotóxico.
Eliminação
A eliminação do n-hexano processa-se pela via urinária e respiratória. Diversos estudos tem demostrado a elevada
correlação entre a exposição ao n-hexano e a presença de elevados níveis de 2,5-hexanodiona na urina. Este
metabólito é usado como biomarcador da exposição ao n-hexano e de outros isômeros do n-hexano usados como
solventes orgânicos.
Efeitos de outros químicos no metabolismo do n-hexano
O tratamento com fenobarbital é indutor de oxidação do n-hexano através do citocromo P450.
O isopropanol aumenta a formação de 1-hexanol, 2-hexanol e 3-hexanol no fígado e rim.
O cloranfenicol inibe a acção do 2 e 3-hexanol no pulmão e fígado.
O tolueno é um inibidor não competitivo do metabolismo do n-hexano, pelo que reduz a excreção urinária dos
metabolitos, mas no entanto, os níveis no sangue não são alterados.

Efeitos tóxicos
Toxicidade aguda
As principais vias de absorção são a respiratória e a dérmica. Pode provocar irritação dérmica (eritema e
hiperemia). Os vapores de n-hexano, quando inalados são anestésicos, irritantes das vias aéreas superiores (tosse e
dificuldade respiratória), mas de baixo poder necrosante. É depressor do sistema nervoso central. Os efeitos agudos
ocorrem durante a exposição a altas concentrações, surgindo tonturas, vertigens, naúseas, dor de cabeça, irritação
nos olhos e na garganta. Em animais expostos a concentrações de 30000 ppm, observam-se convulsões e narcose.
Na pele, o n-hexano atua como um irritante, devido à sua ação desengordurante, podendo ser absorvido pela pele.
Quando em contacto com os olhos, provoca irritação. Se ingerido, o n-hexano provoca náuseas, tonturas, irritação
brônquica e intestinal.

Toxicidade crônica
Esta toxicidade surge quando ocorre exposição repetida a vapores que podem irritar o trato respiratório. As
pessoas suscetíveis a dermatites, podem agravar a sua situação após contatos prolongados. Têm também um efeito
sobre o sistema nervoso, por alterar a mielina. A exposição crônica pode provocar neuropatia periférica, diminuição
da memória e da função visual, confusão mental e tonturas.
Sistema nervoso:
o Neuropatia periférica – Os primeiros sintomas de neuropatia são parestesias e fadiga muscular com
distribuição simétrica. Inicialmente estão envolvidos os membros inferiores. Se a exposição ao n-hexano
continuar, as alterações de sensibilidade distribuem-se para os músculos proximais simetricamente. Surge
diminuição do reflexo de Aquiles e diminuição da força dorsiflexão dos dedos dos pés, que leva à alteração
da marcha. Nos estados mais avançados da neuropatia, o doente não consegue a posição ereta, a marcha e
apreensão de objetos. Com a progressão da neuropatia o doente pode desenvolver paralisia.
A gravidade da neuropatia relaciona-se com a concentração de 2,5-hexanodiol no organismo e com o tempo
de exposição. A extensão do processo patológico depende também, da história de exposição a outros
agentes neurotóxicos, que podem aumentar o efeito neurotóxico do n-hexano.

o Visão /nervo óptico – A exposição crônica ao n-hexano pode causar alterações visuais, nomeadamente
visão turva, restrição do campo visual, discromia visual (azul/amarelo), edema macular e atrofia óptica.

Tratamento e prognóstico
O doente deve ser afastado da exposição. Não existe tratamento específico. Em caso de afastamento da
exposição ao n-hexano o prognóstico geralmente é bom. Inicialmente o doente pode sentir agravamento de sintomas
nas primeiras semanas, que depois regride. A recuperação dura habitualmente, de vários meses a vários anos,
dependendo da gravidade da doença. A recuperação é completa nos casos de neuropatia ligeira a moderada. Nos
casos graves a recuperação é mais demorada e pode não ser completa. O doente pode ficar com sequelas,
nomeadamente atrofia muscular residual, espasticidade, caimbras musculares e discromia visual.
No caso do doente continuar exposto ao n-hexano, a neuropatia progride até desenvolver a paralisia. Não foram
relatados casos de exposição letal.

Indicadores Biológicos de Exposição


2,5-hexanodiona na urina
O metabolito de n-hexano, 2,5-hexanodiona é excretado na urina e o seu doseamento pode ser efectuado
porque a sua semi-vida é de 7 horas. Se um indivíduo está em contacto diário com o n-hexano no seu local de
trabalho, este pode acumular-se no organismo durante a semana. Portanto o doseamento de 2,5-hexanodiona na
urina deve ser realizado passados 2-3 dias da exposição ao n-hexano. É importante o doseamento simultâneo da
creatinina porque a concentração de 2,5-hexanodiona depende do débito urinário. Deve ter-se em conta que quase
todas as pessoas são expostas ao n-hexano em quantidades mínimas e na população em geral os níveis urinários de
2,5-hexanodiona não excedem 1mg/g creatinina.

n-hexano no ar expirado n-hexano no sangue


O n-hexano é rapidamente eliminado do sangue pela via respiratória. Depois de cessar a exposição ao n-
hexano, a sua eliminação do sangue é rápida e bifásica. A semi-vida é de 12 minutos na fase rápida e de 120 minutos
na fase lenta. O doseamento destes dois últimos indicadores (n-hexano no ar expirado e no sangue) deve ser
realizado durante a exposição. Estes doseamentos necessitam de mais estudos para a sua validação.

Metanol (CH3OH)

O metanol é um líquido volátil, límpido, incolor e possui um odor suave na temperatura ambiente. É um
agente tóxico encontrado principalmente em solventes, anticongelantes, vernizes, combustíveis, detergentes e tintas.
Desde sua descoberta, no final do século XVII, o metanol evoluiu para ser uma das matérias-primas mais consumidas
na indústria química. Seus principais usos concentram-se na produção de formaldeído, metil tert-butil éter (MTBE) -
aditivo para gasolina - e como combustível puro ou em mistura com gasolina para veículos leves.

Toxicologia
O metanol possui propriedades narcóticas peculiares, sendo também um irritante para as mucosas. Seu
principal efeito tóxico é exercido sobre o sistema nervoso, particularmente os nervos ópticos e possivelmente a retina.
Devido à lentidão com a qual é eliminado, deve ser considerado como um veneno de efeito cumulativo. Ainda que
exposições curtas aos vapores não devam causar efeitos prejudiciais, quando se tornam diárias podem resultar em
acúmulo de metanol suficiente para provocar danos à saúde. O estado de coma produzido por ingestão massiva pode
durar de 2 a 4 dias. No corpo, os produtos formados a partir de sua oxidação são o formaldeído e o ácido fórmico,
ambos tóxicos. Quando é ingerido é metabolizado a formaldeído e posteriormente a ácido fórmico, sendo este último
o maior agente tóxico. Os sintomas iniciais são causados pelo próprio metanol, mas as últimas sequelas neurológicas
são da responsabilidade dos metabólitos.
1. Vias de exposição: ingestão, inalação, contacto ocular e cutâneo
2. Efeitos agudos/sintomas:
- À inalação: a inalação de concentrações elevadas de vapores de metanol (acima de 2.000 ppm) provoca irritação
das membranas mucosas do trato respiratório e sinais e sintomas de efeitos sistêmicos: Distúrbios neurológicos ( dor
de cabeça, fadiga, insônia, vertigens, tremores, ruído nos ouvidos, visão turva, visão dupla e cegueira), Distúrbios
locais (irritação e coceira na pele, dermatite e eczema), Distúrbios digestivos (náuseas, vômito e cólica).
A exposição a concentrações de 25.000 ppm é imediatamente perigosa para a vida e a saúde.
- À ingestão: o metanol é rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal e pode levar ao aparecimento dos efeitos
mais graves na intoxicação pela substância.
Uma dose de 30-100 mL pode ser fatal para o homem. Surgem então: Distúrbios digestivos (náuseas, vômitos,
diarréia e dor abdominal), Distúrbios neuropsíquicos (dor de cabeça, vertigens, embriaguez, astenia, sonolência,
coma, dilatação das pupilas, diminuição da acuidade visual e cegueira, devido à degeneração das terminações da
retina e do nervo óptico), Hemorragia cerebral, lesões do cérebro e cerebelo e Distúrbios hemodinâmicos
(hipotensão e insuficiência cardíaca). A morte pode ser em conseqüência de insuficiência respiratória ou cardíaca.
- Ao contato com os olhos: irritação da córnea e raramente opacificação no contato com os olhos na forma líquida do
metanol.
- Ao contato com a pele: o metanol é absorvido através da pele e o contato com o líquido provoca
desengorduramento e dermatite.
3. Efeitos crônicos:
A exposição continuada através de inalação ou absorção causa envenenamento sistêmico, perturbações cerebrais,
diminuição de visão e cegueira. A inalação pode piorar condições anteriores, tais como enfisema ou bronquite e o
contacto cutâneo repetido pode causar irritação cutânea, secura e pele estalada.
Na biotransformação do metanol, formam-se os metabólitos ácido fórmico e formaldeído pela ação enzimática da
álcool desidrogenase. Esses metabólitos exercem efeitos tóxicos no sistema nervoso central, levando, após
exposições prolongadas, a lesões no nervo óptico com surgimento de embaçamento da visão, dores nos olhos e
cegueira. A enzima desidrogenase alcoólica, que transforma metanol em formaldeído, é a mesma que atua sobre o
etanol (álcool etílico) tranformando-o em acetaldeído. Esta enzima tem maior preferência pelo etanol. Assim, quando
são administrados juntos, grante parte do metanol não é biotransformada em seus metabólitos tóxicos. É este o
mecanismo de antídoto do álcool etílico na intoxicação pelo metanol. Outros efeitos sobre o sistema nervoso incluem:
náuseas, dor de cabeça, vertigens e alterações da atividade elétrica cerebral. O acúmulo de ácido fórmico provoca
lesões no fígado e no pâncreas. As exposições severas podem causar vertigem, perda de consciência e paradas
respiratória e cardíaca. A ingestão oral de 25 a 100 mL já pode ser fatal.

Obsevações
- A exposição grave ao metanol, quer através de ingestão ou respiração de altas concentrações do produto
evaporado, pode ter como resultado o surgimento de sintomas entre 40 minutos a 72 horas após a exposição.
Normalmente, os sintomas e sinais são limitados a SNC, olhos e trato gastrointestinal. Devido aos efeitos iniciais
sobre o SNC, dores de cabeça, tonturas, letargia e confusão poderão dar a impressão de intoxicação por metanol. A
visão enevoada, redução de acuidade visual e fotofobia são queixas comuns.
A lavagem interna é indicado para qualquer paciente que apresente estes sintomas dentro das duas horas após a
ingestão. Uma acidose metabólica profunda ocorre em envenenamento grave e os níveis de bicarbonato de soro são
uma medida mais precisa de gravidade do que os níveis de soro de metanol.
- É bem absorvido da mucosa do tracto GI e também pela pele e pulmões. Tanto a inalação como a exposição
transdérmica podem resultar em toxicidade. Uma vez absorvido, o metanol é rapidamente distribuído pela água
corporal com um pico sérico 30 a 90 minutos após a exposição.
É metabolizado no fígado pelo álcool desidrogenase a formaldeído o qual é metabolizado pelo aldeído desidrogenase
com a formação de ácido fórmico. Como há um atraso na formação destes metabolitos tóxicos observa-se um
período de latência entre o aparecimento dos sinais e sintomas de intoxicação e o aparecimento de uma acidose
metabólica profunda. Se o etanol não estiver presente, 2 a 5% do metanol é excretado intato pelos rins e uma
pequena parte é excretada pelos pulmões. Com baixos níveis sanguíneos, o do metanol é 2-3h. Se os níveis
sanguíneos chegam a 300 mg/dl as enzimas que metabolizam o metanol começam a ficar saturadas e o tempo de
meia-vida aumenta para 27h. Quando isto ocorre, uma grande quantidade de metanol é eliminado intato pelos rins e
pulmões. Durante a terapia com etanol o tempo de meia-vida fica entre 30-50h.
- Danos visuais : A ingestão de metanol causa atrofia óptica por perda de mielina devido ao efeito mielinoclástico do
ácido fórmico. Esta atrofia óptica faz com que o doente exiba uma visão turva que pode evoluir para cegueira ou que
poderá persistir indefinidamente.
Danos relativos ao envenenamento com metanol indicam uma mortalidade de 26 a 50 % apresentando 20% dos
sobreviventes sequelas ao nível da visão. Essas sequelas podem surgir mesmo o doente tendo sido tratado.

Tratamento
No caso de haver indícios de intoxicação com metanol o tratamento deve iniciar-se quanto antes.
- lavagem gástrica até 2h depois (para eliminar eventuais resíduos de metanol que ainda estejam no estômago).
- solução salina contendo 5% de etanol (é usado para diminuir a metabolização do metanol. A álcool desidrogenase,
existente ao nível do fígado, atua no metanol e no etanol e é o passo limitante da metabolização destes álcoois. A
enzima álcool desidrogenase exibe uma afinidade 5-10 vezes maior para o etanol que para o metanol. Desta forma,
na presença de etanol, a velocidade da metabolização do metanol nos seus metabolitos tóxicos diminui
drasticamente. Consumidores crônicos de etanol precisam de doses mais elevadas visto possuírem níveis maiores de
álcool desidrogenase).
- 4-metilpirazol (atua ao inibir a enzima hepática álcool desidrogenase inibindo a formação de metabolitos tóxicos com
menos consequências do que a terapia tradicional com etanol, possui ação terapêutica mais prolongada que o
etanol).

Etanol (CH3CH2OH)

O etanol é um líquido incolor, volátil, inflamável, possuindo um odor agradável e característico e tem sido
descrito como um dos mais peculiares compostos orgânicos contendo oxigênio, dado sua combinação de
propriedades como solvente, germicida, anticongelante, combustível, depressivo, componente de bebidas, além de
grande versatilidade como intermediário químico para outros produtos.
Suas propriedades físicas e químicas dependem primeiramente do grupo hidroxila (-OH) o qual imputa
polaridade à molécula, além de promover interações intermoleculares via ligações de hidrogênio. Essas duas
características ocasionam as diferenças observadas entre os álcoois de baixo peso molecular (incluídos aí o metanol
e o etanol) e os respectivos hidrocarbonetos.

Toxicologia
O etanol não é considerado como sendo muito tóxico, de tal forma que em um ambiente apropriadamente
ventilado, a probabilidade de intoxicação por inalação é baixa. O valor limite de tolerância para o vapor no ar foi
determinado em 1000 ppm, para uma exposição temporal média de 8 horas. A quantidade mínima detectada pelo
odor é referida como sendo de 350 ppm. Exposições a concentrações de 5000 a 10000 ppm resultam em irritação
dos olhos e das membranas e mucosas do trato respiratório superior. Quando mantidas por uma hora ou mais,
podem causar entorpecimento e perda de sentidos.
O etanol não tem efeito cumulativo no corpo, já que é completamente oxidado a CO2 e água em um breve
intervalo de tempo. Menos de 10% do álcool absorvido é excretado, principalmente na urina, no ar expirado, e na
transpiração. A intoxicação e o envenenamento por etanol são provocados quase que invariavelmente pela sua
ingestão como bebida, e não pela inalação de vapores. Assim, uma pessoa de 70 Kg deverá ser intoxicada por uma
ingestão de etanol de 75 a 80 g, sofrerá entorpecimento com 150 a 200 g e poderá morrer com 250 a 500 g.
Existe alguma controvérsia sobre o fato de ser possível ou não a embriaguez resultante de inalação de
vapores do etanol. A experiência tem demonstrado que ela é rara. Não há também evidência concreta de que a
inalação do vapor possa causar cirrose. Exposições repetidas, por outro lado, desenvolvem a tolerância no indivíduo,
sem que haja uma adaptação fisiológica concomitante.

Metabolismo do etanol
- Maior parte (90%) é catabolizada no fígado, rins, músculos e células digestivas e cérebro.
- Menos de 2% é eliminado sem transformação prévia.
- Altera quase todas vias metabólicas do fígado
- Diminui via glicolítica e ciclo de Krebs
- Inibe a beta-oxidação
- Aumenta concentração de lactato  acidose lática
- Diminui excreção de ácido Úrico  gota
- Inibe a gliconeogênese

Ação do álcool
- Doses iniciais desencadeiam sintomas de euforia, bem-estar;
- O aumento do consumo produz descoordenação motora, ataxia;
- Níveis acentuados causam sonolência, sedação e em casos mais graves coma;
Efeitos do abuso de etanol
- Alivia a ansiedade;
- Relaxa e tranquiliza todo o Sistema Nervoso;
- Taxa de 0,5% - os músculos relaxam, o stress é reduzido e a ansiedade aliviada;
- Taxa de 1,5% - ligeiramente tóxica (pensamentos e fala inibidos);
- Taxa > 2,5% - graves sintomas de intoxicação com perda do controle;
- Taxa de 4,5% - Apresenta perigo de vida;

Intoxicação aguda
- A embriaguez é caracterizada fundamentalmente pelos sintomas e sinais clínicos;
- A clássica exteriorização do alcoolismo agudo é a ebriedade, sendo suas principais manifestações: alterações
digestivas (dor epigástrica e secura na boca, sendo acompanhadas de náuseas, vômitos e às vezes diarréia) e
alterações nervosas ou psíquicas [Fase eufórica – 1º período: de euforia com extroversão exagerada; Fase agitada –
2º período médico-legal: (perturbações psicosensoriais profundas), com dificuldades mentais e falta de auto-controle
e Período comatoso (arreflexia, atonia, midríase, pulso lento, hipotensão e hipotermia)];

Intoxicação crônica
Considerado uso crônico o consumo acima de 80g de etanol diárias (1/4 de garrafa de cachaça):
- Deficiências vitamínicas (dieta deficiente e alteração TGI compromete a absorção; a lesão hepática prejudica o
armazenamento, aumentando a excreção; as principais deficiências são de tiamina (B1), piridoxina (B6), folato (B9),
vitaminas C, D e niacina podem estar deficientes também, em casos mais severos);
- Distúrbios neurológicos;
- Agravamento da gota;
- Doença hepática alcoólica;
- Esteatose hepática  Hiperlipidemia  CIRROSE
- Na intoxicação crônica por etanol podem ocorrer as seguintes alterações no organismo: transtornos
transtornos digestivos
(anorexia e intolerância gástrica) que pode levar à gastrite e úlcera gástrica, transtornos hepáticos (esteatose,
hepatite alcoólica e cirrose), transtornos cardiovasculares (miocardite tóxica -dilatação cardíaca, favorecendo a
aterosclerose), transtornos
transtornos sanguíneos (ligeira
(ligeira anemia) e transtornos
transtornos endócrinos (podendo
(podendo ocasionar impotência,
esterilidade e outras perturbações diversas);

Doença hepática alcoólica


- Alcoolismo principal causa de doenças hepáticas;
- Entretanto, apenas de 10 a 20 % dos alcoólatras crônicos evoluem para cirrose;
- Evolução pode durar de 6 a 20 anos, dependendo da quantidade diária ingerida;
- Inicia com acúmulo de triacilgliceróis no fígado (Esteatose);
- Alterações de estruturas das células;
- Hepatite alcoólica: lesão inflamatória e degenerativa;
- Cirrose hepática: fígado diminui de tamanho (fibrose) e apresenta nódulos regenerativos que ainda mantém alguma
função;
- Insuficiência hepática progressiva;

Observações:
- Na intoxicação aguda pelo metanol, etilenoglicol e dietilenoglicol o etanol é usado como antídoto, esse funciona
como substrato competitivo preferencial da desidrogenase láctica, diminuindo a formação de metabolitos tóxicos de
outros álcoois (metanol – ácido fórmico; etilenoglicol e dietilenoglicol – ácidos glicólico e oxálico). É administrado por
via oral e por via intravenosa.
- Pode aumentar o efeito tóxico do clorofórmio e do paracetamol;
- Possui uma interação com alguns agentes hepatotóxicos, como é o caso do CCl4, potencializando o seu efeito;

Diclorometano (CH2Cl2)

O diclorometano, conhecido também como cloreto de metileno, é um líquido denso, incolor, volátil, neutro
com odor característico não desagradável e irritante em altas concentrações. É bem miscível em solventes orgânicos,
mas não em água. O diclorometano pode ser usado onde seja requerido um solvente de rápida ação de dissolução e
onde por razões de segurança (risco de incêndio), o uso de um solvente inflamável é excluído. É de fácil remoção e
apresenta um comportamento uniforme na ebulição.

Utilização
- Na formulação de tintas como solvente ou então como veículo no caso de tintas de secagem rápida.
As principais vantagens para esta aplicação são o elevado poder de solvência, baixa toxidade, não inflamável e
possui taxa de evaporação adequada.
- É o ingrediente ativo em quase todas as formulações de removedores de tinta do tipo orgânico, devido às suas
características de não inflamabilidade, baixa toxidade, elevado poder de solvência, estabilidade química, rápida ação,
odor agradável, e por ser um produto não corrosivo.
- A habilidade em dissolver uma grande variedade de termoplásticos, a baixa toxidade e o adequado tempo de
secagem, fizeram do diclorometano o solvente mais utilizado na preparação de adesivos com base em poliestireno,
metacrilato de metila, resinas epoxi e outros.
- Tem uma extraordinária capacidade de reduzir a inflamabilidade de outros solventes. Freqüentemente, pequenas
quantidades de diclorometano reduzem ou mesmo eliminam as características de inflamabilidade dos solventes
derivados de petróleo.
- As principais razões para o uso do diclorometano em formulações de produtos em aerosol são a sua elevada
solvência à maioria dos ingredientes ativos, essências e perfumes, e a sua excelente ação como redutor da pressão
de vapor e inflamabilidade de alguns propelentes. Além disto, o diclorometano apresenta elevada estabilidade, baixa
corrosividade e não inflamabilidade.
- É usado para extração de uma grande variedade de óleos, gorduras, ceras, essências e medicamentos. O seu
elevado poder de solvência, baixo ponto de ebulição e baixo calor de vaporização proporcionam grandes economias
nas operações de extração e recuperação, sem danificar os produtos sensíveis a altas temperaturas, como por
exemplo: essências aromáticas, óleos essenciais, manteiga de cacau, óleo de rícino e café descafeínado. Além disto,
o diclorometano não apresenta o grande perigo de inflamabilidade encontrado nos derivados de petróleo.
- É também utilizado na indústria de óleo na desparafinação. O óleo cru é livrado de frações aromáticas e o gasóleo
que sai pelo topo anteriormente, é processado para óleo lubrificante. Deste é retirada a cera para obter um óleo
lubrificante com baixo ponto de congelamento. Para este propósito o óleo mineral é misturado com o diclorometano.
A mistura é esfriada e a cera de parafina precipitada é separada por filtros apropriados. O solvente pode ser
recuperado do óleo por aquecimento e subseqüente tratamento à vácuo.
- Serve como um agente expansor na manufatura de espumas de poliuretano semi-rígido largamente usado na
indústria automobilística para enchimento de painel de instrumentos, descanso de braços e encosto de cabeça. Tem
um efeito benéfico na qualidade superficial dos compostos da espuma.
- Tem um poder de solvência dos mais elevados entre os solventes clorados e os solventes derivados de petróleo, o
que o torna extremamente efetivo na dissolução de materiais não afetados por outros solventes. O diclorometano
dissolve uma série de materiais. Por exemplo: gorduras, óleos, ceras, resinas naturais, resinas sintéticas, borracha
natural, borracha sintética, derivados de celulose (exceto nitrocelulose), etc..
- Em contato com superfícies extremamente quentes, chama direta ou luz UV, o diclorometano é susceptível de
decomposição, liberando ácido clorídrico, monóxido de carbono, dióxido de carbono e pequenas quantidades de
fosgênio.
- O diclorometano tem uma taxa de evaporação adequada a inúmeras aplicações, tais como adesivos, aerosóis,
certos produtos de limpeza, extração por solvente na indústria alimentícia e farmacêutica, etc..

Toxicologia
Pode causar a morte se inalado em grandes quantidades, a decomposição térmica gera produtos tóxicos e
corrosivos, é um produto classificado pela ONU como nocivo. É um depressor do sistema nervoso central (SNC) e
irritante de mucosas, em grandes concentrações o vapor ataca o SNC, e em caso extremos causa a morte. O
diclorometano é facilmente absorvido pela via respiratória e dérmica.
De acordo com as diferentes vias de exposição:
- A toxidade oral para uma única dose é considerada baixa. Pequenas quantidades ingeridas acidentalmente, durante
operações de manuseio normais não têm probabilidade de causar danos, mas em grandes quantidades sim. Se
aspirado (líquido dentro do pulmão), pode ser rapidamente absorvido pelos pulmões e resultar em danos a outros
sistemas do corpo.
- O contato direto com o líquido por exposições repetidas ou prolongadas podem provocar irritação cutânea e
dermatose, devido às propriedades desengordurantes do produto e possíveis queimaduras. Pode causar efeitos
ainda mais fortes se for mantido sobre a pele.
- Em contato com os olhos pode causar dor e causar irritação moderada nos olhos e leve lesão da córnea. Os
vapores podem irritar os olhos e o contato direto com o líquido é extremamente irritante para os olhos. Pode ocorrer
também uma eventual conjuntivite temporária.
Em áreas confinadas ou pouco ventiladas, os vapores podem se acumular rapidamente e causar inconsciência e até
a morte. Em fortes concentrações eventual irritação das vias respiratórias.
-Toxicidade aguda: Sinais e sintomas produzidos por uma exposição excessiva podem ter efeitos sobre o sistema
nervoso central. Uma exposição excessiva pode causar carboxihemoglobinemia, anulando, portanto, a capacidade do
sangue de transportar oxigênio. Em animais de laboratório, foram observados efeitos no fígado e rins.
-Toxicidade Crônica: algumas zonas são afetadas por fortes concentrações como a hemoglobina, sistema nervoso
central, fígado, rins. Este produto está classificado como um cancerígeno potencial. O diclorometano apresentou
aumento de incidências de tumores malignos em ratos e benignos em ratas. Os estudos demonstraram que os
tumores observados em ratos são os únicos para estas espécies. Outros estudos em animais, assim como estudos
epidemiológicos em humanos, não apresentaram formação de tumores. Não se supõe que o diclorometano apresente
um risco mensurável de câncer para os seres humanos quando manuseado segundo as recomendações.
Risco saúde
Todos os profissionais da área como pesquisadores científicos, universitários, industriais de filmes fotográficos, fibras
sintéticas, agentes de refrigeração, prepotentes de aerossóis, removedores de tintas, fumigantes agrícolas,
trabalhadores envolvidos na extração de substâncias naturais como
óleo vegetais, cacau e cafeína, auxiliar de limpeza de motores, etc. Além do uso de EPIs, devem prestar atenção em
sintomas da saúde e procurar um médico do trabalho.

Observações
- Esforço físico realizado durante a exposição ao diclorometano aumenta o teor de carboxihemoglobina no sangue. A
biotransformação do diclorometano em monóxido de carbono é inibida pelo tolueno e por álcoois, diminuindo a
concentração da carboxihemoglobina. O hábito de fumar eleva consideravelmente os níveis de carboxihemoglobina
no sangue.
- Fumaça tóxica é liberada em situações de fogo. Prejudicial se inalado. Pode causar a morte se inalado em grandes
quantidades.
- Produz monóxido de carbono no organismo, o que impossibilita o transporte do oxigênio para os tecidos,
provocando hipóxia.
- Efeitos anestésicos ou narcóticos mínimos podem ser observados na faixa de 500-1000ppm de diclorometano.
Níveis progressivamente maiores que 1000ppm podem causar tontura e vertigem. Níveis maiores que 10000ppm
podem causar inconsciência e até a morte. Estes níveis altos podem causar arritmia cardíaca (irregularidade dos
batimentos cardíacos).
- Não foi observada mutagenicidade em células mamíferas ou de animais.
- Miscível com água podendo contaminar esgotos, rios, córregos e outras correntes de água.
- Possibilidade de efeitos cancerígenos.
- Não facilmente biodegradável. Pode ocorrer biodegradação sob condições aeróbicas e anaeróbicas. A velocidade
de biodegradação pode aumentar no solo e/ou com aclimatação. Calcula-se que a degradação na atmosfera ocorre
em meses a anos.
- Praticamente não bioacumulável.
- Pode haver contaminação do meio ambiente.

Clorofórmio (CHCl3)

O clorofórmio, conhecido também por triclorometano, é um líquido incolor, volátil, apresenta um odor etéreo
agradável, não irritante e que produz efeito anestésico. Tem um sabor ardente, levemente adocicado e não é
inflamável. É ligeiramente solúvel em água e miscível com os principais solventes orgânicos, etanol, éter, tetracloreto
de carbono e benzeno. Trata-se de uma substância instável quando exposta ao ar, luz e/ou calor. Reage
violentamente com metais alcalinos como o sódio e potássio. É oxidado por oxidantes fortes, reage explosivamente
com o flúor, alumínio e lítio e explode quando em contato com pó de alumínio ou de magnésio. A mistura do
clorofórmio com o nitrometano é considerada detonável. Na forma líquida é corrosivo para alguns plásticos, borracha
e certos tipos de revestimentos.
Por ser muito volátil absorve calor da pele, o que ocorre é que com a temperatura reduzida, os nervos
sensitivos não exercem suas funções e a sensação de dor também é diminuída, este composto pode causar
toxicodependência.
Descoberto em 1831, o clorofórmio substituía o álcool por provocar euforia e desinibição. Foi utilizado como
anestésico em cirurgias e partos. O abandono dele como anestésico se deu comprovação de que esta droga poderia
ocasionar morte súbita por depressão circulatória.
O clorofórmio produz dependência e suas principais vias de contato compreendem a ingestão, a inalação e o contato
dérmico. Provoca irritação à pele, olhos e trato respiratório. Atinge o sistema nervoso central, rins, sistema
cardiovascular, e fígado. Pode causar câncer dependendo do nível e da duração da exposição. A inalação do
clorofórmio causa desde excitação, euforia, impulsividade, agressividade, confusão, desorientação, visão
embaralhada, perda de autocontrole, alucinação, sonolência, inconsciência até convulsões, decorrentes de estágios
mais graves onde há intoxicação.
O clorofórmio é usado ilegalmente por um grande número de meninos de rua e estudantes de primeiro e
segundo graus, é popularmente conhecido como “loló”, “cola de sapateiro”, “cheirinho” e “lança perfume”. Ao cheirar
seus vapores, ocorre um estado de agitação geral não muito pronunciado, seguido da perda da sensibilidade e do
conhecimento, podendo ocorrer profunda narcose, a qual é perigosa, sobretudo para os cardíacos, enfermos
vasculares e hepáticos. Se a inalação é prolongada, pode ocorrer a paralisia respiratória.

Utilização
- A principal aplicação do clorofórmio é na produção do HCFC-22 , que é usado como refrigerante ou como matéria-
prima na síntese de fluoropolímeros.
- Como solvente analítico e industrial, na extracção e purificação de: antibióticos; alcalóides; vitaminas; gorduras;
óleos; graxas; resinas; lacas; borracha; gomas; agentes de polimento; adesivos na produção de seda artificial;
- Como agente propelente;
- Nas lavagens a seco para a remoção de nódoas;
- Nos extintores como meio condutor de calor;
- Como intermediário químico na produção de corantes e pesticidas;
- Como agente fumigante na armazenagem de cereais;
- Era usado como anestésico antes da segunda guerra mundial

Toxicologia
O clorofórmio possui risco de efeitos graves para a saúde em caso de exposição prolongada por inalação e
ingestão. Exposição contínua provoca redução na pressão sangüínea e depressão respiratória. Concentrações acima
de 2% podem levar a bloqueio respiratório e morte cardíaca. 5000 ppms por um breve intervalo de tempo causam
estado de desorientação, 1000 ppms em 5 a 10 minutos depressão. Pode ser fatal se for aspirado ou inalado. Pode
causar câncer dependendo do nível e duração de exposição.
1.Absorção
Inalação
Esta é talvez a mais frequente e importante via de exposição, onde 64-67% do clorofórmio inspirado é retido
no corpo. Os envenenamentos por esta via são os mais conhecidos devido ao seu uso como anestésico no passado,
até ter sido definitivamente substituído por outros compostos menos tóxicos. O clorofórmio é bem absorvido por via
respiratória (77 a 94%), mas depende de vários fatores como: a concentração verificada no ar inspirado; o tempo de
exposição; o coeficiente de solubilidade ar/sangue e a solubilidade do tóxico nos vários tecidos. Atua como um
anestésico relativamente potente. Irrita área respiratória afeta o sistema nervoso central e causa enxaqueca,
sonolência, vertigem. Exposição a concentrações mais altas pode resultar em inconsciência e morte. Pode causar
desordens sangüíneas. Exposição prolongada pode conduzir a morte devido ao batimento irregular do coração e
desordens de fígado e rim.
Como exemplos de locais de elevado risco (decorrentes da geração de clorofórmio ou do seu uso como solvente),
podemos falar de diversos tipos de indústrias:
- Construção civil;
- Produção do próprio clorofórmio (ou derivados);
- Tratamento do ferro e aço;
- Fabrico de motores de combustão interna;
- Produção de pesticidas;
- Cervejarias;
- Lavagem a seco;
- Branqueamento de papel;
- Processamento de comida;
- Estações de tratamento de águas/águas residuais;
- Incineradoras;
- Aterros;
Ingestão
Causas queimaduras severas na boca e garganta, dor no tórax e vômito. Quantidades grandes podem causar
sintomas semelhantes aos causados pela inalação e pode ser letal. Os envenenamentos agudos por ingestão de
clorofórmio geralmente devem-se a atos deliberados (tentativa de suicídio) ou a acidentes. O clorofórmio é muito bem
absorvido por esta via (cerca de 100%). O pico sanguíneo surge uma hora após a ingestão.
Dérmica
Causa irritação à pele, sendo os sintomas mais freqüentes vermelhidão, coceira e dor. Pode ser absorvido pela
pele.Embora absorção por esta via não seja significativa, podem ocorrer efeitos sistêmicos semelhantes aos
encontrados por via aérea.
Outras vias
Via ocular - O contacto do clorofórmio com o olho pode causar irritação, vermelhidão e dor,mas a quantidade
absorvida é insignificante.
Via parenteral – poderá decorrer de um ato de auto-envenenamento, criminal ou erro médico. Neste caso a
absorção é máxima.

2. Distribuição
A distribuição no organismo é sensivelmente equivalente, qualquer que seja a via de administração. O clorofórmio é
rapidamente absorvido e distribuído por todos os tecidos do organismo. Devido à sua elevada lipofilia, tem elevada
apetência para as zonas mais lipofílicas, acumulando-se no sistema nervoso central, no rim, no fígado, e também no
tecido adiposo. O clorofórmio mantém-se nestes tecidos durante várias horas após a exposição. Outro fato importante
está na capacidade que o clorofórmio tem de atravessar a placenta, atingindo rapidamente a circulação sanguínea do
feto, causando efeitos fetotóxicos e teratogénicos.

3. Metabolização
O clorofórmio é substancialmente metabolizado no fígado e em muito menor extensão, no rim e no nariz
(administração nasal). O fosgénio, o carbeno e o cloro são alguns dos metabolitos responsáveis pela citotoxicidade. A
metabolização do clorofórmio pode seguir 2 vias, uma oxidativa e outra redutora. O dióxido de carbono é o principal
metabolito gerado pela via oxidativa “in vivo”. Esta via também gera outros compostos como o fosgénio, enquanto a
via redutora é responsável pela formação de radicais livres de diclorometilcarbeno. Ambas as vias são dependentes
do processo de ativação da enzima citocromo P-450. O balanço entre o metabolismo oxidativo e redutor depende de
vários fatores como os tecidos característicos de cada espécie, a dose e a tensão.

4. Eliminação
A eliminação não é qualitativamente afetada pela via de exposição. Cerca de 60-70% é eliminada pelo ar expirado,
uma parte não sofre modificações e outra é metabolizada a dióxido de carbono (os valores variam consoante a dose
administrada). Apenas 30-40% da quantidade administrada é metabolizada e excretada na urina e fezes. O
metabolismo depende da dose e quanto menor esta for, maior será a quantidade de composto metabolizado.

Efeitos Sistêmicos
1. Efeitos respiratórios
A falência do sistema respiratório após exposição aguda a grandes quantidades de clorofórmio é provavelmente
provocada por um efeito direto ao nível do centro respiratório no sistema nervoso central. Uma diminuição da pressão
sistólica poderá contribuir também para a falência respiratória. Os efeitos respiratórios são mais prováveis de
acontecer após inalação de altas concentrações de clorofórmio. Foi demonstrado que o clorofórmio tinha uma
influência destrutiva no líquido surfactante pulmonar. Este efeito pode dever-se à solubilidade dos fosfolípidos
existentes na monocamada de surfactante que pode provocar um colapso nos bronquíolos devido a um aumento
exagerado da tensão de inalação. A morte imediata após a ingestão deve-se principalmente a este efeito a nível
respiratório.
2. Efeitos cardiovasculares
O clorofórmio induz uma arritmia em doentes anestesiados com clorofórmio. A hipotensão (causada por uma
diminuição do poder contráctil do miocárdio e por uma vasodilatação devida à estimulação do nervo vago foi
observada em alguns pacientes anestesiados pelo clorofórmio. A morte por exposição ao clorofórmio poderá ser
causada por uma fibrilação auricular decorrente de um efeito direto do clorofórmio na estimulação vagal ou na
sensibilização às catecolaminas endógenas e exógenas.
3. Efeitos gastrointestinais
Náusea e vómitos são comuns não só em pacientes anestesiados com clorofórmio, mas também nos pacientes
expostos a concentrações mais baixas deste composto. Nos pacientes que ingeriram grandes quantidades de
clorofórmio, intencional ou acidentalmente, foi observada uma dispepsia com vômitos, desconforto, e dor durante a
deglutição. A ingestão de clorofórmio também causa irritação da mucosa gastrointestinal e pode até causar
queimaduras internas. A irritação só é sentida quando a dose ingerida é elevada. O xenobiótico induz o vômito
principalmente através de uma estimulação do nervo vago, apesar de também poder ter um efeito direto.
4. Efeitos hematológicos
Foi observado um decréscimo no nível de tempo de protrombina após a anestesia com clorofórmio. Este efeito traduz
uma toxicidade a nível hepático já que a protrombina é produzida no fígado. O clorofórmio também pode danificar a
membrana celular dos eritrócitos.
5. Efeitos hepáticos
O fígado é um dos alvos primários de toxicidade do clorofórmio em humanos e animais após exposição oral e por
inalação. Os danos causados parecem ser reversíveis.
O mecanismo responsável pela toxicidade hepática poderá envolver um metabolito intermédio reativo, o fosgénio,
que se liga aos lípidos e proteínas do retículo endoplasmático ou à peroxidação lípidica . Estas reacções podem
conduzir a uma necrose hepática que vai suscitar um aumento das concentrações de bilirrubina e transaminases.
Pode também surgir uma deficiência em protrombina e fibrinogênio.
6. Efeitos Renais
A lesão renal é menos comum que a lesão hepática mas pode ocorrer após exposição aguda. Relatórios clínicos
indicam que o dano renal é maior quando o paciente que foi anestesiado com clorofórmio está em anoxia. Nos
indivíduos que ingeriram intencional ou acidentalmente elevadas quantidades de clorofórmio as análises bioquímicas
ao sangue revelavam uma certa lesão a nível renal. Em estudos animais demonstrou-se que a intoxicação aguda
após ingestão de elevadas quantidades de clorofórmio provoca: uma nefrite tóxica aguda, dilatação tubular, necrose,
inflamação crônica, formação de tecido hialino e degeneração do tecido gordo. Por inalação, os efeitos observados
compreendem a necrose tubular, calcificação tubular, aumento do peso do rim, mineralização do córtex e nefrite
intersticial.
A sensibilidade do rim à toxicidade do clorofórmio está relacionada com a maior ou menor capacidade de metaboliza-
lo a fosgênio. A ativação da metabolização do clorofórmio pode ser inibida pelo monóxido de carbono.

4. Efeito neurológico
1. Sistema nervoso central
O clorofórmio é um depressor do sistema nervoso central e pode até induzir o coma se a dose for muito elevada.
Podem também surgir convulsões e paralisação do centro respiratório. Uma exposição crônica ao clorofórmio resulta
numa sensação de exaustão, falta de concentração, depressão, irritabilidade, convulsões, ataxia, disartria, tremor da
língua e dedos, e insônia.
2. Sistema nervoso autônomo
O clorofórmio é capaz de induzir a estimulação do nervo vagal. A estimulação deste nervo está associada à dilatação
das pupilas, náusea, vómitos, salivação e sodurese profusa. A estimulação do coração pelo nervo vago causa
diversos distúrbios a nível cardíaco e circulatório.

Observações
- Não é tóxico a vida aquática.
- Não é significativamente bioacumulado.
- Pode produzir monóxido de carbono, gás carbônico, cloreto de hidrogênio e fosgênio quando aquecido.
- Estável sob condições ordinárias de uso e armazenamento. O pH diminui em exposição prolongada a luz e ar
devido a formação de HCl.
- Após o contato com pele: Efeito desengordurante com formação de pele áspera e gretada. Risco de reabsorção
cutânea.
- Após ingestão: Se a substância for ingerida acidentalmente ela pode criar problemas de aspiração. Ao penetrar nos
pulmões pode verificar-se um quadro clínico semelhante ao de uma pneumonia (pneumonite química).
- Após longa exposição ao produto: Queda da pressão arterial, cefaléia, alteração da coordenação motora, queixas
gastrintestinais, doenças cardiovasculares. Danos no fígado, rins e coração. Efeito potenciado pelo etanol.

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